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MESTRADO EM
DESIGN INDUSTRIAL
E DE PRODUTO
Bernardo Ghelli
M
2020
Orientador:
Coorientador na empresa:
1
MESTRADO EM DESIGN INDUSTRIAL E DE PRODUTO
UNIVERSIDADE DO PORTO
O JÚRI
PRESIDENTE
ORIENTADOR
ARGUENTE
16
04 DEZEMBRO 2020
Resumo
Com o uso já bastante difundido no setor de embalagens, a polpa de papel moldada é uma
alternativa sustentável ao uso de polímeros como o EPS (poliestireno expandido) ou o EPE (polietileno
expandido), pois além de ser produzida com material reciclado é reciclável, compostável domesticamente
e biodegradável. Como desafio ao desenvolvimento de embalagens, a polpa de papel apresenta as
características inerentes a um material natural, que se refletem na imprevisibilidade da resposta do
material à tensão ocorrida em um impacto. Assim, é necessário aprofundar o conhecimento sobre o
material para que seja possível prever seu comportamento mecânico, para com isso viabilizar o uso do
design na otimização de suas capacidades de proteção aos produtos embalados.
Abstract
Over the past few decades, the need to reduce the production of harmful materials to the
environment has become increasingly urgent. One of the most sensitive areas to the theme is the
production of packaging, which mainly manufactures single-use items. In order to reduce its
ecological footprint, Bosch Building Technologies has invested in researching materials and
technologies that can make its logistical operations environmentally cleaner, and one of these
research is on the material molded pulp.
With its widespread use in the packaging industry, molded paper pulp is a sustainable
alternative to the use of polymers such as EPS (styrofoam) or EPE (polyethylene foam), because in
addition to being produced with recycled material, it is recyclable, compostable and biodegradable.
As a challenge to the development of packaging, the paper pulp has inherent characteristics of a
natural material, which are reflected in the unpredictability of the mechanical response to the stress
that occurs in an impact. Therefore, it is necessary to deepen the knowledge about the material in
order to better predict its mechanical behavior and take advantage of its capabilities for product
protection.
The present work was developed during the internship at Bosch Security Systems, and seeks
to characterize the mechanical properties of the molded pulp used by the company, to compile best
practice information for the development of packaging with molded pulp and to enable the use of
finite element analysis (FEA), for considering these steps as primordials for the use of the material in
the packaging design process.
Agradecimentos
Não cabem neste espaço os nomes de todas as pessoas a quem eu gostaria de agradecer por
terem colaborado, direta ou indiretamente, na minha trajetória profissional. Foram professores (de
todas as séries), amigos, colegas de trabalho, mentores, escritores e, principalmente, minha família,
que fomentaram minha curiosidade e minha vontade de criar, características pessoais que me
guiaram até o Design. Agradeço a todos pelas dicas, conversas, perguntas, e até mesmo pelas broncas
que, apesar de amargas no momento, muitas vezes nos trazem outros pontos de vista e nos mostram
caminhos melhores.
Dito isto, agradeço aqui por ordem cronológica aos que tiveram influência mais direta sobre
este momento e compartilharam comigo algumas das alegrias e angústias que resultaram na
conclusão deste trabalho. Primeiramente agradeço aos meus pais por todo o apoio e dedicação ao
longo da vida. Obrigado mesmo! Por tudo! Agradeço também aos meus irmãos, Lívia e Tarso, com
quem sempre pude contar e sei que sempre poderei. Agradeço à minha mulher, Emilene, e minha
filha, Alice, que além de todo o suporte que me deram, tiveram toda a paciência do mundo com
minha falta de tempo e foram meu oásis nos momentos mais difíceis.
Agradeço aos meus professores do Brasil, Eduardo Troia e Marco Maia, e aos meus
professores da Universidade do Porto, Jorge Lino, Bárbara Rangel e Marco Parente. A influência de
cada um deles foi muito importante para este trabalho. Agradeço também à Ana Pais, do LDPS –
FEUP, pela grande ajuda durante a fase experimental da pesquisa.
Por último, mas não menos importante, agradeço à toda equipe da Bosch Ovar, em especial
ao Luis Ferreira, grande líder, ao André Vieira, ao João Araújo, grande amigo, Pedro Batista, Raquel
Torres, Carolina Silva, Robert Gonçalves e André Fontes. Sou-lhes muito grato pelo aprendizado
que me proporcionaram e pelo acolhimento na equipa.
x
xi
Índice
Resumo ...................................................................................................................................... v
Agradecimentos ........................................................................................................................ ix
Índice ......................................................................................................................................... xi
1 Introdução .......................................................................................................................... 2
3.6.4 Discussão............................................................................................................ 89
5 Bibliografia ........................................................................................................................ 96
xiv
xv
Índice de figuras
Figura 1-1- Moby Chair (Kyostila 2020) ..................................................................................... 3
Figura 1-2 - Paper Pulp Helmet (The Method Case 2013) ......................................................... 3
Figura 1-3 - Pulp Task Lamp (Inhabitat 2011) ............................................................................ 3
Figura 1-4 - Materiais reciclados nos EUA - 2017 (traduzida de Paper Recycles (2019)). ......... 5
Figura 1-5 - Processo atual de desenvolvimento no MKM1 (imagem do autor). ..................... 8
Figura 1-6 - Processo FEA para polpa moldada (imagem do autor). ......................................... 9
Figura 2-1 – Imagem das fibras do papel (Tutus, Ates e Deniz 2010). .................................... 12
Figura 2-2 - Processo de reciclagem para polpa de papel (esquema do autor). ..................... 14
Figura 2-3 - Hidrapulper e lâmina rotatória (Zhucheng 2020)................................................. 15
Figura 2-4 - Corrente ragger (Parason Machinery 2019). ........................................................ 16
Figura 2-5 - Refinador de polpa de papel (Calpher 2016). ...................................................... 16
Figura 2-6 - Linha transfer molding (adaptada de Martínez, Toso e Morabito (2016)). ......... 17
Figura 2-7 - Molde fabricado em alumínio (Hebei Sanhe Machinery Co. 2018). .................... 18
Figura 2-8 - Tela metálica aplicada sobre molde (Stratasys 2015). ......................................... 19
Figura 2-9 – a: Paper Pulp printer (Holthuis 2018); b: Candeeiro (Holthuis 2018)................. 24
Figura 2-10 - Mapa impresso 3D papel (engineering.com 2019). ........................................... 25
Figura 2-11- Laranja impressa 3D papel (impresoras3d.com 2017). ....................................... 25
Figura 2-12 - Impressora e produtos impressos (Highcon Systems 2020). ............................. 25
Figura 2-13- Suporte de vinhos Impresso em papel (Highcon Systems 2020). ....................... 25
Figura 2-14 - Molde impresso por tecnologia FDM e polpa moldada (Mackay 2013). ........... 26
Figura 2-15 - Experimento sobre amortecimento de embalagens.(Mindlin 1945). ................ 29
Figura 2-16 - Gráfico curvas de impacto (traduzida de Khangaldy e Schueneman (2000)). ... 31
Figura 2-17 – EPE Foam (Changzhou Co 2018). ....................................................................... 32
Figura 2-18 - PU Foam (Firm Fix 2019)..................................................................................... 32
Figura 2-19 - Green Cell Foam (GreenCell 2016). .................................................................... 32
Figura 2-20 - Myco Foam (Matter 2017). ................................................................................ 32
Figura 2-21 - PS termoformado (GC Industrial Sourcing 2017). .............................................. 33
Figura 2-22 - PET termoformado (Slavin 2017). ...................................................................... 33
Figura 2-23 - Polpa de bagaço de cana-de-açúcar (Restokart 2019). ...................................... 33
xvi
Figura 3-21 - Provetes para testes de flexão, tração e compressão (imagem do autor). ....... 60
Figura 3-22 - Provete tronco de pirâmide (imagem do autor). ............................................... 60
Figura 3-23- Insertos A e B, face inferior. Diferença de superfície (imagem do autor). ......... 61
Figura 3-24- Insertos A e B, face superior (imagem do autor). ............................................... 61
Figura 3-25- Polpas A e B. Diferença de massa (imagem do autor). ....................................... 62
Figura 3-26 - Medição de espessura polpas A e B (imagem do autor). ................................... 62
Figura 3-27 - Parâmetros de climatização dos provetes (imagem do autor). ......................... 63
Figura 3-28 - Ensaio de tração (imagem do autor). ................................................................. 64
Figura 3-29 - Ensaio compressão (imagem do autor). ............................................................. 64
Figura 3-30 - Novo ensaio de compressão (imagem do autor). .............................................. 65
Figura 3-31 - Pinças ensaio de compressão (Imagem do autor). ............................................ 65
Figura 3-32 - Ensaio de flexão (imagem do autor)................................................................... 66
Figura 3-33 - Ensaio de compressão (imagem do autor). ........................................................ 66
Figura 3-34 - Comparativo tensão/deformação (imagem do autor). ...................................... 67
Figura 3-35 - Provetes polpa A (imagem do autor). ................................................................ 68
Figura 3-36 - Provetes polpa B (imagem do autor).................................................................. 68
Figura 3-37 - Comparativo de flexão entre polpas A e B (imagem do autor).......................... 68
Figura 3-38 – Provetes ensaiados de flexão polpa A (imagem do autor). ............................... 69
Figura 3-39 - Provetes ensaiados de flexão polpa B (imagem do autor)................................. 69
Figura 3-40 - Gráfico de compressão a várias velocidades (MKM1, 2020). ............................ 69
Figura 3-41 - Insertos inferior e superior Atlantis (imagem do autor). ................................... 70
Figura 3-42 - Teste de compressão polpa moldada com câmera (imagem do autor). ........... 72
Figura 3-43 - Máquina de testes de queda Bosch (imagem do autor). ................................... 72
Figura 3-44 – Faces da embalagem para teste de queda adaptada de Bosch (2020b). .......... 73
Figura 3-45 - Localização do acelerômetro (imagem do autor). ............................................. 73
Figura 3-47 - Força/Deslocamento inserto inferior com câmera (MKM1, 2020). ................... 74
Figura 3-48 - Deformação compressão (imagem do autor). ................................................... 74
Figura 3-49 - Gráficos de aceleração face 3 Atlantis (MKM1, 2019). ...................................... 75
Figura 3-50 – Deformação queda (imagem do autor). ............................................................ 75
Figura 3-51- Módulo Property Abaqus (imagem do autor). .................................................... 78
xviii
Índice de tabelas
Tabela 2-1 - Fabricação versus reciclagem de papel. Adaptada de Recicloteca (2013). ......... 13
Tabela 2-2 - Tipos de polpa moldada segundo IMFA. Adaptada de Howe (2010). ................. 18
Tabela 2-3 – Valores aceitáveis de aceleração (adaptada de Quality Foam (2007))............... 30
Tabela 2-4 - Alturas típicas de queda (adaptada de Quality Foam (2007)). ............................ 30
Tabela 2-5 - Comparativo polpa kraft versus polímeros. Adaptada de Jacobsen (2017) . ...... 35
Tabela 2-6 – Dados de queda - face inferior da embalagem Atlantis (Bosch, 2019). ............. 38
Tabela 2-7 - Parâmetros descritos por autores pesquisados. ................................................. 41
Tabela 2-8 - Temas e estudos pesquisados na revisão. ........................................................... 45
Tabela 3-1 - Ampliação em 500x dos testes de impressão (imagens do autor). ..................... 56
Tabela 3-2 - Parâmetros de impressão FDM utilizados. .......................................................... 57
Tabela 3-3 – Dimensões dos provetes. .................................................................................... 60
Tabela 3-4 - Massa dos provetes (dados do autor). ................................................................ 62
Tabela 3-5 - Espessura dos provetes (dados do autor). .......................................................... 62
Tabela 3-6 - Resultados tração polpas A e B (dados do autor)................................................ 68
Tabela 3-7 - Força máxima de compressão (MKM1, 2020). .................................................... 70
Tabela 3-8 - Comparativo de desaceleração dos insertos de polpa A, B e PPA. ..................... 75
Tabela 3-9 – Unidades consistentes Abaqus (adaptada de CAE Assistant (2019)). ................ 77
Tabela 3-10 - Parâmetros dos elementos analisados na simulação (dados do autor). ........... 86
xxi
xxii
Abreviaturas e símbolos
° Graus
°C Graus Celsius
3D Tridimensional
BT Building Technologies
cm Centímetro
g Grama
G Gravidade
GPa Gigapascal
xxiii
h Altura
kg Quilograma
kJ Quilojoule
m³ Metro cúbico
mm Milímetro
MPa Megapascal
ms Milissegundos
N Newtons
PC Policarbonato
PE Polietileno
PP Polipropileno
PS Poliestireno
s Segundos
Capítulo l
2
1 Introdução
1.1 Contextualização
Produtos feitos em polpa de papel moldada (molded pulp) têm como função principal sua
aplicação em embalagens. O material normalmente é produzido a partir da reciclagem das fibras da
madeira encontradas no papel, e podem passar por diferentes processos para a fabricação de produtos
em polpa moldada (Jacobsen 2017), mas o que é comum a todos os processos é a dissolução das fibras
do papel em água, até formar uma polpa para, em seguida, prensá-las num molde para conseguir a
forma necessária. Por fim, a peça (já conformada ou ainda no molde, a depender do processo
utilizado) é enviada para secagem. Este processo já é realizado há mais de um século para produção
de embalagens como a dos ovos, e ao longo do tempo mostrou-se útil também em outras áreas. Hoje
a polpa moldada é encontrada em embalagens diversas, como as de eletrônicos, alimentos e até
mesmo como produto final, como capacetes e peças de mobiliário, conforme exemplificado da
Figura 1-1 à Figura 1-3.
A polpa moldada tem atraído cada vez mais interesse da sociedade principalmente por
questões ambientais, mas também pelo seu baixo custo para produção em grande escala (Gurav et al.
2003). A fabricação do material recicla grandes quantidades de resíduos de papel, e assim evita que
árvores sejam derrubadas e que mais resíduos vão para os aterros sanitários. Além disso, o produto
gerado também é idealmente reciclável, biodegradável e compostável domesticamente (Didone et al.
2017; Martínez, Toso e Morabito 2016).
3
Figura 1-1- Moby Chair (Kyostila Figura 1-2 - Paper Pulp Helmet Figura 1-3 - Pulp Task Lamp
2020) (The Method Case 2013) (Inhabitat 2011)
É importante notar as medidas que vêm sendo tomadas pela indústria da embalagem com o
objetivo de chegar ao equilíbrio ambiental. Para este setor o tema é fundamental, pois os produtos
fabricados são, basicamente, itens de uso único que serão imediatamente descartados após
cumprirem sua função de acondicionar o produto principal, este sim do interesse dos consumidores.
Devido ao volume de resíduos gerados pelo setor de embalagens, inúmeras pesquisas (Bajpai 2018a;
Jacobsen 2017; Ma et al. 2018; Silva 2018) têm sido feitas para desenvolver materiais e processos que
resultem em produtos mais sustentáveis, e as empresas têm investido em produtos, processos e
materiais com as seguintes características, que podem apresentar-se individualmente ou em
conjunto, a depender do material utilizado:
- Reciclável: Produtos recicláveis são feitos com materiais que, após processamento, podem
retornar à cadeia produtiva como matéria-prima para fabricação de novos produtos. É uma
característica muito importante para produtos fabricados com materiais que não se degradam com
facilidade, como a maioria dos polímeros usados para embalagens, e que podem permanecer séculos
a impactar negativamente o ambiente. O benefício desta característica só é efetivo caso exista uma
estrutura eficiente de reciclagem, pois um produto reciclável que seja descartado incorretamente
4
pode ser tão prejudicial quanto um produto não reciclável. Outro ponto importante da reciclagem
é a geração de empregos através da economia circular;
- Compostável Industrialmente: Materiais que devem ser inseridos num ciclo industrial para
que sua deterioração ocorra (Silva 2018).
Nota-se que os pontos principais a serem alcançados são a baixa emissão de poluentes
durante fabricação e uso, e a redução do descarte de resíduos no ambiente após o uso do produto.
Para que estes objetivos sejam alcançados, além da questão do desenvolvimento do produto pesa
também o envolvimento da sociedade para a continuidade do ciclo, e neste aspecto qualquer fator
que dificulte a destinação correta de resíduos pode resultar em custo ambiental. Para as empresas
desenvolvedoras de embalagens é preciso, não apenas, ter cuidado com os materiais usado numa
embalagem, mas evitar a necessidade de separação de materiais para descarte (através do uso de
grupos de materiais compatíveis entre si), facilitar a separação para o descarte caso seja necessário o
uso conjunto de materiais incompatíveis (como embalagens que contenham papeis e plásticos, por
exemplo), sinalizar claramente a forma correta de descarte para cada material e certificar-se de que
existe nos locais de comercialização da embalagem uma estrutura funcional de recolhimento e
processamento dos materiais em uso. Diante deste quadro, a polpa de papel moldada apresenta-se
com vantagem, pois:
- Produtos feitos com polpa de papel sem adição de aditivos impermeabilizantes são
facilmente recicláveis;
- Caso não sejam descartadas corretamente, as embalagens produzidas com polpa de papel
rapidamente se degradam em contato com agentes ambientais;
Figura 1-4 - Materiais reciclados nos EUA - 2017 (traduzida de Paper Recycles (2019)).
1.2 Justificativa
1.2.1 O estágio
O presente estudo foi desenvolvido como parte da pesquisa da Bosch Security Systems para
otimizar o desenvolvimento de embalagens sustentáveis para os produtos da empresa. O estudo teve
início com trabalhos acadêmicos desenvolvidos durante o curso de mestrado em design industrial e
de produto na Universidade do Porto, e foi aprofundado durante estágio profissional no
departamento MKM1 da Bosch Security Systems, localizada em Ovar, Portugal. Outros trabalhos
6
com este objetivo foram desenvolvidos como parte da pesquisa da empresa, assim como as pesquisas
de Silva (2018) e Oliveira (2020).
1.2.2 O problema
Diante destas questões, a cada novo projeto são avaliados materiais como espumas de
polietileno e poliuretano, papel cartão, airpacks e outros, e a polpa de papel moldada tem sido vista
como material importante para a produção de embalagens no departamento, por cumprir
satisfatoriamente os requisitos necessários. Ainda assim há alguns pontos negativos no
desenvolvimento de embalagens em polpa moldada que por vezes fazem com que o uso do material
seja desconsiderado, e estes pontos negativos estão mais ligados à falta de informação do que ao
material propriamente dito. São eles:
produtivo de desenvolvimento, ainda há o tempo ocioso dos designers, à espera por novos moldes e
remessas de protótipos para então testar novamente a embalagem, que pode necessitar de novas
alterações. Para além do custo financeiro inicial, o custo de tempo pode inviabilizar o uso da polpa,
e é importante salientar que em alguns casos o tempo ocioso pode superar o tempo produtivo dos
designers. Estas limitações restringem a experimentação no processo de design e pressionam os
profissionais e adotar soluções tradicionais, que ofereçam menos risco de elevar o custo do projeto.
que, entre outras análises, podem realizar a análise da deformação a que a embalagem é submetida
durante impacto, por exemplo. Através da divisão do modelo 3D da embalagem em pequenos
elementos (os elementos finitos) o software pode realizar uma aproximação do comportamento do
objeto completo através da análise de cada elemento, e sua consequente interação com outros
elementos, através de cálculos matemáticos (Zaheer 2016).
É importante notar que esta classe de softwares realiza aproximações, e não previsões perfeitas
do comportamento da embalagem sob tensão. Essas aproximações se assemelham mais à realidade de
acordo com a maior qualidade da definição das propriedades do material e das Boundary Conditions
definidas pelo utilizador do software, mas os resultados devem ser sempre avaliados com cautela pelo
utilizador.
10
1.2.3 Metodologia
Capítulo ll
2 Revisão de Literatura
Apesar de ter seu nome derivado do papel egípcio, produzido desde 3000 A.C. a partir da
planta aquática denominada cyperus papyrus, o papel utilizado atualmente teve origem na China há
aproximadamente dois mil anos (Hayasaka e Nishida 2009). O papel chinês foi produzido através da
extração de fibras vegetais provenientes de cascas de árvores, pedaços de tecidos e outras fontes do
material, como o cânhamo, para produção de uma polpa que seria, em seguida, espalhada sobre uma
tela e posta a secar sob o calor do Sol. Após a secagem obtinha-se o papel como uma folha de espessura
fina.
Conforme explica Popil (2017, p.18, tradução do autor), “o termo papel aplica-se aqui a todo
material à base de fibras de madeira e formado pelo processo de secagem de fibras aplicadas a
húmido”, e após dois milênios, apesar da semelhança essencial com o processo chinês, a evolução
tecnológica possibilita hoje a produção de diferentes tipos de papel, a serem usados nos mais variados
campos, como impressão, embalagem, higiene, isolamento, aplicações industriais, entre outros.
Figura 2-1 – Imagem das fibras do papel (Tutus, Ates e Deniz 2010).
A polpa utilizada para fabricação dos diferentes tipos de papel pode ter duas origens: Matéria
virgem, ou reciclada. A matéria virgem é extraída das cascas de árvores por processos mecânicos ou
químicos, e a polpa produzida a partir deste material possui fibras de maior qualidade pincipalmente
devido ao seu tamanho, pois a cada etapa de processamento as fibras são danificadas e encurtam em
comprimento. Devido a isto, a polpa de matéria virgem normalmente é utilizada na produção de
papéis de maior resistência.
- Pré-consumo: Aparas, que são refugos provenientes da indústria papeleira, como sobras
de recorte, material inutilizado, embalagens utilizadas dentro da própria indústria;
- Pós-consumo: Papéis velhos coletados após o descarte pelo utilizador final, como papéis
impressos, jornais, revistas, papel cartão proveniente de embalagens e outros.
químicos para o clareamento da polpa, etapa poluente e atuante na acidificação ambiental resultante
processo de produção de polpa de papel (Didone et al. 2017).
processo de retirada de impurezas é a parte mais importante da reciclagem, como aponta Bajpai
(2018a).
Após a polpação e retirada de resíduos, a polpa passa pelo despastilhador e pelo refinador
(Figura 2-5), máquinas cujo objetivo é desfazer aglomerações de polpa (denominadas pastilhas) e
tornar o material mais homogêneo, de modo a otimizar seu uso nos processos seguintes. A partir
deste ponto a polpa pode receber corantes e aditivos, e já está pronta para ser utilizada no processo
de fabrico de polpa moldada. A água que foi utilizada durante a desagregação é direcionada para um
equipamento que, através de pressurização, separa as partículas contaminantes do líquido para que
a água retorne ao início do processo, onde será reutilizada.
2.1.2 Fabricação
Figura 2-6 - Linha transfer molding (adaptada de Martínez, Toso e Morabito (2016)).
18
Didone et al. (2017) apontam que apesar da polpa poder ser produzida em um local diferente
da fabricação dos produtos em polpa moldada, esta opção resultará num maior impacto ambiental e
financeiro por obrigar a repetir o processo de desagregação, que consome água e energia, e por causa
da etapa adicional de transporte, que apresenta grande impacto sobre o processo. Os autores sugerem
que o ideal é que tanto a reciclagem, quanto a fabricação, ocorram na mesma linha de produção.
Tabela 2-2 - Tipos de polpa moldada segundo IMFA. Adaptada de Howe (2010).
Figura 2-7 - Molde fabricado em alumínio (Hebei Sanhe Machinery Co. 2018).
19
O tipo de metal a ser escolhido para fabricação do molde deve levar em conta a função, preço
e durabilidade prevista de uso. A durabilidade dos moldes de alumínio é de aproximadamente 5 anos,
a dos moldes de bronze é de 10 a 15 anos, e a durabilidade dos moldes de aço inoxidável é de 20 anos
(BST 2020).
Apesar de no passado a moldagem ser feita com uso de ar comprimido para distribuir a polpa
sobre o molde (Schueneman e Schwinghammer 2011), os processos atuais realizam esta tarefa com
o uso de vácuo. Os moldes machos (convexos) são mergulhados num tanque com a polpa, e o vácuo
suga as fibras que estão em suspensão na parte superior do líquido. Após a sucção da água, as fibras
agrupam-se na superfície do molde já na forma inicial do produto. Os produtos da categoria thick
walled contam apenas com esta etapa para conformação, e a partir deste momento são transferidos
diretamente para a secagem em forno. Por isso apresentam baixa precisão dimensional e uma das
faces sem nenhum tipo de acabamento, pois só tocam o molde com a face interior.
Conforme apresentado na introdução deste trabalho, uma das vantagens dos produtos
fabricados em polpa moldada é justamente o reduzido impacto ambiental que resulta de seu ciclo de
vida, desde a reciclagem de fibras para sua fabricação ao descarte dos resíduos que já não suportam
um novo reprocessamento. Por se tratarem, essencialmente, de um aglomerado de fibras naturais, os
produtos em polpa moldada podem passar por diferentes processos após sua vida útil sem oferecer
problemas ambientais.
Como opções principais ao pós vida destes produtos, Didone et al. (2017) apontam a
reciclagem, a compostagem ou a simples biodegradação (deixar que o produto se deteriore em
contato com elementos ambientais, como oxigênio, humidade e radiação UV). Os autores também
tratam em seu estudo da possibilidade de envio do material a aterros sanitários, mas chamam atenção
ao fato de que, quando decomposta na ausência de ar, a polpa moldada pode gerar gás metano, agente
ativo do efeito estufa e consequentemente do aquecimento global. Os autores ainda explicam que
21
este revés pode ser evitado com o uso de aterros sanitários fechados, preparados para lidar com o gás
e evitar sua emissão à atmosfera.
Stenström (2019) sugere que além da dificuldade em tornar o processo de impulse drying
mais eficiente energeticamente com a tecnologia atual, a qualidade da polpa deve ser elevada para que
a matéria prima passe pelo processo sem resultar em delaminação do produto final. Didone e Tosello
(2019) afirmam que é possível reduzir a incidência de delaminação em polpa termo formada ao
controlar o momento de aplicação de calor e a descompressão da peça. Os autores concluíram que a
liberação da compressão só deve ocorrer após a redução do nível de humidade da peça, pois ao
descomprimir a peça, o escape de vapor excessivo do interior da polpa promove a delaminação.
22
Em seu trabalho, Huo e Saito (2009) realizaram uma ampla avaliação LCA (Life Cycle
Assessment) de 3 empresas chinesas de produção de polpa moldada, com o intuito de identificar
parâmetros indicadores de eficiência que pudessem otimizar a produção de polpa moldada. A etapa
de secagem da polpa de papel moldada apresentou o maior custo de todo o processo analisado, e a
depender da fonte de energia utilizada para a tarefa, a etapa pode responder pelo uso de 30% dos
recursos totais do processo, como ocorreu com a secagem alimentada por diesel. Os autores
concluíram que o uso de permutador de calor a vapor, alimentado por energia elétrica, apresentou o
menor custo em comparação ao diesel e ao carvão. Em relação ao custo total do processo, os números
encontrados pelos autores para os custos da etapa de secagem foram de 30% com o uso de diesel, 18%
com carvão e 7% com aquecimento a vapor.
No estudo de 2019, Stenström afirma que o uso de energia para secagem da polpa na Suíça é
de 20% do consumo energético total da indústria produtora de polpa moldada. O autor destaca que
o método de secagem predominante no país é o aquecimento a vapor, e que o calor é gerado através
da queima de resíduos da produção de polpa, que também gera eletricidade pelo uso de turbinas
alimentadas pelo gás de escape da queima. Segundo o autor, um sistema otimizado consome
aproximadamente 3000 kJ/kg de água evaporada. Stenström também compila diferentes estudos
sobre otimização dos parâmetros de secagem e reaproveitamento de energia térmica resultante dos
processos da indústria. Um dos pontos defendidos pelo autor é que o escoamento de água durante a
conformação da peça seja priorizado em detrimento da secagem, para reduzir o consumo energético
da secagem por calor. Didone e Tosello (2019) analisaram quatro parâmetros da etapa de secagem,
nomeadamente tempo de contato com o molde, tempo de vácuo, temperatura do molde e pressão
aplicada, e concluíram que os parâmetros que tiveram maior efeito positivo no processo de secagem
foram a temperatura do molde e a duração da sucção por vácuo.
Além das fibras de celulose que compõem a polpa moldada, outros materiais são
frequentemente pesquisados para adição à polpa com o objetivo de melhorar suas características, e
alguns serão analisados a seguir.
23
Algumas fibras naturais, denominadas como fibras non-wood, já foram testadas não só em
adição à polpa de papel (Curling et al. 2017), mas também como matéria prima exclusiva na
fabricação de polpa. Estas fibras têm origem principalmente no reaproveitamento de resíduos
agrícolas, como fibra de palma, bagaço de cana de açúcar, palha de arroz, e mesmo palha.
Rattanawongkun et al. (2020) fabricaram e compararam variações de polpas moldadas produzidas a
partir de fibras non-wood. As matérias primas estudadas foram palha de arroz, fibra de bananeira e
folha de abacaxi. A polpa produzida com palha de arroz foi a que apresentou maior resistência à
tração (62 MPa), seguida da folha de abacaxi (57 MPa) e da bananeira (37 MPa). A conclusão dos
autores é de que a palha de arroz é uma opção viável para substituir outras fibras non-wood, e
promissora para substituir as fibras de madeira.
Outros elementos naturais que têm sido pesquisados são a celulose nanofibrilada e suas
variações. Microfibra separada da celulose pelo processo de fibrilação, o elemento tem a capacidade
de aumentar algumas propriedades mecânicas do papel por preencher vãos entre fibras e aumentar a
união entre elas, criando uma nanoestrutura. Viana et al. (2018) apontam que o material é renovável,
biodegradável e de baixo custo. Os autores realizaram teste mecânicos e concluíram que a adição de
10% de nanocelulose à polpa de papel aumenta em aproximadamente 100% a resistência do material
à tração e ao rasgo. Os autores também destacam que o efeito positivo da nanocelulose é maior em
polpa reciclada a partir de papel cartão e papel de escrita. A polpa reciclada de papel jornal apresentou
os menores índices de melhoria.
Jacobsen (2017) testou a adição de celulose microfibrilada (MFC) à polpa, e apesar dos bons
resultados mecânicos, o autor salienta que um acréscimo de mais de 4% (de massa, em relação às fibras
secas) do material aumenta consideravelmente o tempo de secagem da peça. Isto pode ser um
problema para a fabricação de embalagens, por ser a secagem o processo de maior impacto financeiro
e ambiental da indústria de embalagens em polpa de papel moldada. Os testes realizados pelo autor
apresentam aumento de aproximadamente 25% na resistência à tração para a polpa que recebeu 4%
de MFC em relação à polpa pura.
Também é possível adicionar fibras sintéticas à polpa. É o caso do PEAD (polietileno de alta
densidade) fibrilado. As fibras, de alta complexidade tridimensional, unem-se à polpa de papel
através do processo de moldagem termoformada e geram peças mais resistentes e duráveis se
24
comparadas à polpa pura. Leht (2016) ressalta que a adição de 5% desta fibra sintética à polpa pode
melhorar o desempenho de amortecimento da polpa moldada em até 600%. Hyde (2015) afirma que
produtos em polpa moldada com teor de até 15% de PEAD fibrilado podem ser reciclados
novamente.
Embora não haja informação sobre o período de decomposição do material ou de seu efeito
sobre a biodegradabilidade da polpa moldada, a fibra sintética pode ser interessante para substituir
embalagens cujos requisitos mecânicos somente sejam alcançados através do uso de polímeros
expandidos, pois pode possibilitar a redução expressiva da quantidade de polímero usada na
embalagem.
Figura 2-9 – a: Paper Pulp printer (Holthuis 2018); b: Candeeiro (Holthuis 2018).
25
Figura 2-10 - Mapa impresso 3D papel (engineering.com 2019). Figura 2-11- Laranja impressa 3D papel
(impresoras3d.com 2017).
Figura 2-12 - Impressora e produtos impressos Figura 2-13- Suporte de vinhos Impresso em
(Highcon Systems 2020). papel (Highcon Systems 2020).
26
O custo dos moldes de metal muitas vezes acaba por inviabilizar a produção de embalagens
em baixa tiragem e, conforme foi visto em Portugal durante a pesquisa, mesmo que o custo inicial
seja viável, a empresa fabricante no país não se dispõe a interromper a produção de embalagens
alimentícias, que são produzidas em grande escala. Este obstáculo financeiro para produzir polpa
moldada em baixa tiragem dificulta o uso do material por empresas que não precisam de milhões de
embalagens por ano. A fabricação de moldes em impressão 3D pode vir a modificar este quadro.
Figura 2-14 - Molde impresso por tecnologia FDM e polpa moldada (Mackay 2013).
Ainda segundo Mackay (2013), os moldes impressos podem ser acoplados diretamente às
máquinas de produção convencionais, substituindo diretamente os moldes metálicos. Deste modo
também é possível usar a tecnologia de impressão para produzir protótipos de moldes durante o
desenvolvimento, para em seguida fabricar o molde final em metal.
O método de impressão 3D sugerido para a impressão dos moldes é a FDM (Fused Deposition
Modeling) por sua dinâmica construtiva facilitar a criação de canais no molde, essenciais para a
27
distribuição correta de vácuo sobre a polpa. O método FDM consiste em depositar camadas
sucessivas de polímero para construção da peça, e a configuração dessas camadas define a
permeabilidade do objeto impresso, como pesquisaram Gordeev, Galushko e Ananikov (2018) .
Alguns testes de impressão 3D FDM foram realizados para o presente estudo com o objetivo
de produzir moldes para polpa de papel, e serão apresentados na fase experimental do trabalho.
Para otimizar a produção de moldes metálicos permeáveis, Zeng et al. (2019) realizaram
experimentos de impressão pelo método SLM com o uso de agente expansivo, e criaram uma
estrutura porosa adequada ao uso em moldes de injeção de polímeros, que permite a saída dos gases
durante a injeção, mas impede a saída do polímero. O processo pode ser interessante para o
escoamento da água durante a moldagem da polpa de papel.
Fette et al. (2015) fabricaram, pelo método SLM, um molde para conformação de peças em
compósitos de fibra de vidro, e apontaram como pontos positivos a facilidade de distribuir canais de
28
Como pontos negativos dos processos SLM e DMLS, constam a necessidade de pós
processamento nos moldes impressos para ajustes dimensionais e estéticos (Fette et al. 2015), alto
custo do processo (Ederer e Stark (2019) apontam que o preço/kg do aço inoxidável impresso por
SLM custa aproximadamente U$400,00, enquanto o preço do aço fundido é de até U$32,00/kg) e
lentidão do processo em comparação com métodos convencionais (Jones 2019).
Uma das propostas do projeto é que as fibras e as partículas não fibrosas que ficam retidas
nas telas de filtragem sejam transformados em materiais compósitos, com possibilidades de uso
inclusive para construção civil. Outra proposta sugere que parte dos resíduos passem por um
processo de pirólise que separe os materiais de preenchimento normalmente usados na produção de
papel, de forma a que possam ser reutilizados. Para as fibras já inadequadas a um novo processo de
reciclagem a proposta é que sejam transformadas em bio óleo e biogás, para alimentação de caldeiras.
O princípio geral do projeto é que as empresas papeleiras possam tornar-se empresas multimateriais
através do redesenho geral de processos, aumentando assim sua eficiência.
A conclusão do autor foi de que para definir um sistema eficiente de proteção é necessário
conhecer três variáveis: A fragilidade do produto, a aceleração transmitida ao produto pelo elemento
de amortecimento e a duração do impacto.
Sem uma definição correta da resistência do produto ao impacto, a embalagem poderá ser
subdimensionada e acarretar danos ao produto durante o transporte, ou superdimensionada, e
resultar em custos desnecessários com fabricação e transporte devido a dimensões exageradas.
A terceira variável a ser definida, a duração do impacto, deve ser conferida nos testes de queda
dos protótipos de embalagem. Ao efetuar um teste de queda, os dados numéricos resultantes de força
e duração do impacto são convertidos em curvas para que sejam analisados graficamente. O
momento de maior desaceleração gera um pico nas curvas, e o amortecimento realizado pela
embalagem visa suavizar a curva de impacto através da distribuição da força por um maior período
de tempo, consequentemente reduzindo a intensidade do pico (Figura 2-16). Em situações limite,
quando mesmo após o amortecimento pela embalagem a força resultante é o limite suportado pelo
produto, o tempo de exposição do produto à esta força poderá definir se haverá danos.
Segundo Wever et al. (2005), pesquisas da Philips concluíram que o impacto ambiental do
transporte de produtos eletrônicos é duas vezes maior do que o impacto gerado pelos materiais da
embalagem, e que o mesmo ocorre com o custo. Mais adiante o autor faz um levantamento do
transporte de eletrônicos da empresa que revela que as cargas destes equipamentos embalados têm
densidade inferior ao limite dos containers utilizados. Com isso conclui que o volume é o parâmetro
mais importante para a eficiência de uma embalagem de eletrônicos, e isto reforça a necessidade de
conhecer as propriedades do produto e do material a ser usado como amortecimento, pois uma
embalagem superdimensionada terá impacto negativo em toda a cadeia de distribuição.
Os materiais usados para amortecimento em embalagens podem ser divididos em duas classes
segundo sua dinâmica de funcionamento: Amortecimento flexível e amortecimento deformável.
32
Figura 2-17 – EPE Foam (Changzhou Co 2018). Figura 2-18 - PU Foam (Firm Fix 2019).
Figura 2-19 - Green Cell Foam (GreenCell 2016). Figura 2-20 - Myco Foam (Matter 2017).
Figura 2-21 - PS termoformado (GC Industrial Sourcing Figura 2-22 - PET termoformado (Slavin 2017).
2017).
Figura 2-23 - Polpa de bagaço de cana-de-açúcar Figura 2-24 - Paper Foam (Paperfoam 2018).
(Restokart 2019).
Economia de espaço em armazém por serem encaixáveis, economia de espaço durante o transporte
das embalagens, aparência (a depender do material usado), baixo custo em comparação com as
espumas, menor volume de material utilizado, o que reduz a geração de resíduos descartados. Ambos
os tipos de amortecimento podem ter boas características ambientais, porém as espumas ecológicas
ainda apresentam preço elevado e reduzida oferta no mercado, o que deve mudar nos próximos anos.
Quanto à desvantagem do sistema deformável em relação ao nível de proteção após a primeira queda,
Hoffmann (2000) afirma que “do ponto de vista prático, é raro que um produto caia várias vezes
sobre a mesma face” (p.220, tradução do autor).
Tabela 2-5 - Comparativo polpa kraft versus polímeros. Adaptada de Jacobsen (2017) .
Como defeitos que a polpa moldada pode apresentar, Jacobsen (2017) lista os seguintes
como principais:
Bolsas de água: Espaço entre fibras ocupado por quantidades de água ou vapor aprisionados
pela pressão e temperatura da moldagem termo formada. Segundo o autor esses acúmulos de água
podem afetar o acabamento da superfície da polpa e deixar marcas na peça;
37
O estudo de Schueneman e Schwinghammer (2011) chama atenção para o fato de que antes
de ocorrer a deformação e o consequente amortecimento das embalagens em polpa, o impacto pode
ser significativo, e afirma que o design deve ser otimizado para que este impacto não seja danoso ao
produto. Esta característica foi percebida nos testes realizados nos laboratórios da Bosch ao testar
uma versão de embalagem a diferentes alturas de queda. A desaceleração resultante do impacto
aumenta com a altura da queda, até que o impacto resulte em energia suficiente para deformar a
embalagem e iniciar o amortecimento. (Tabela 2-6).
38
Tabela 2-6 – Dados de queda - face inferior da embalagem Atlantis (Bosch, 2019).
Por serem fabricadas em moldes, as peças de polpa moldada não podem apresentar paredes
em ângulo reto com a base, pois seria muito trabalhoso retirar a peça do molde e muitas seriam
estragadas no processo. Além de ser imprescindível para a desmoldagem, o ângulo de saída também
é importante para definição dos pontos de deformação inicial da peça. Como a força do impacto na
polpa moldada é amortecida pelas paredes da embalagem, o uso de ângulo de saída nas paredes do
elemento amortecedor faz com que a extremidade mais estreita do elemento tenha menos área de
suporte, e por isso deforme primeiro em função do impacto (Figura 2-29). Em seguida a deformação
é distribuída ao longo do elemento amortecedor, com resistência progressivamente maior em função
da maior área de suporte. Khangaldy e Schueneman (2000) sugerem que o ponto de deformação
inicial esteja de preferência em contato com a caixa, ao invés de com o produto, para que a
deformação não ocorra próximo ao produto, e assim a embalagem tenha uma melhor apresentação
ao chegar ao cliente. Wang, Cai e Jing (2012) concluíram que ângulos de saída acima de 7° resultam
em redução da resistência à compressão, e Hoffmann (2000) analisa cones com ângulos de saída de
15° a 30° e conclui que quanto maior o ângulo, maiores são as deformações e menores são os valores
G atingidos, porém afirma que a diferença é pequena para impactos e maior nos testes de
compressão. No MKM1 o ângulo de saída utilizado é de 8°.
Segue a fórmula:
2.5 𝑋𝑋 ℎ
𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 =
𝐺𝐺
Equação 1
Dada a alta variabilidade encontrada nos produtos de polpa moldada, é necessário fazer testes
que permitam conhecer as propriedades mecânicas da polpa utilizada, de modo a poder realizar
previsões sobre o comportamento do material sob tensão, como destaca Melo (2008). Para o autor
“É muito importante obter pelo menos um par de ensaios mecânicos diferentes, significativos para
uma determinada aplicação.” No caso das embalagens é necessário realizar testes tanto ao nível do
material, quanto ao nível estrutural da peça.
impacto é calculada (exemplos: ASTM D1596-14 e GB/T 8167). Nos testes de compressão (Figura
2-31) uma superfície plana desce sobre a embalagem a uma velocidade definida, e a relação
tensão/deformação é analisada (exemplos: ISO 12048 e TAPPI T 804).
Figura 2-30 - Teste de impacto (imagem do autor). Figura 2-31 - Teste de compressão (imagem do autor).
Na Tabela 2-7 são exibidas algumas propriedades mecânicas estabelecidas nos estudos
pesquisados. Para facilitar a comparação, os valores de módulo de elasticidade foram convertidos
para MPa quando necessário.
Com origem nos anos 40, impulsionada pelas indústrias da aeronáutica e da construção civil
(Fadiji et al. 2018), a análise de elementos finitos tem a função de realizar previsões sobre eventos
físicos complexos, para otimizar o processo de desenvolvimento de produtos, sejam eles aviões,
represas ou ferramentas manuais. O termo “elementos finitos” é descritivo do método, que consiste
42
em dividir os objetos a serem analisados em uma malha composta por pequenos elementos, como os
exemplos da Figura 2-32, e calcular o deslocamento nos pontos destes elementos ao longo dos
eventos analisados. A deformação do elemento é calculada através de interpolações, que podem ser
lineares ou quadráticas, a depender do tipo de elemento escolhido. Este processo fornece
informações importantes, como o comportamento do objeto a esforços, transferência térmica e
dinâmica de fluidos, segundo Fadiji et al. (2018). Os autores ainda explicam que o método “é
utilizado como alternativa a testes experimentais caros e demorados” (p.21, tradução do autor).
Figura 2-33 - a. Inserto polpa; b. Modelo 3D; c. Malha de elementos (imagens do autor).
Como a análise FEA realiza aproximações (não reproduções perfeitas), e pode consumir
muito tempo ao longo do processo, o bom resultado da análise idealmente é o ponto de equilíbrio
entre o tempo dedicado ao processo e a validade dos dados resultantes. Assim, a qualidade dos dados
e definições fornecidas pelo utilizador na etapa de pré-processamento é o que vai garantir a eficácia
do estudo, e algumas diretrizes básicas para isto são: O modelo deve ser simplificado quando
necessário (para evitar cálculos desimportantes para a análise); as propriedades mecânicas dos
materiais envolvidos devem ser obtidas de fontes fiáveis (bibliotecas de materiais, literatura ou
ensaios); as interações e restrições a que estão sujeitos os objetos do modelo devem representar
corretamente a dinâmica do projeto real; a malha deve ser adequada, em dimensões e elementos
utilizados, ao estudo em questão. Neste sentido, Tadepalli, Erdemir e Cavanagh (2011) afirmam que
para a análise de objetos de forma complexa, a aplicação de malha composta por hexaedros pode ser
responsável pela maior parte do tempo dedicado ao pré-processamento, e sugerem que o uso de
malha composta por tetraedros quadráticos pode oferecer a mesma eficácia com menor tempo de
44
pré-processamento, devido à sua aplicação automatizada. Os autores apontam este método como o
padrão utilizado para análises biomecânicas de formas complexas no setor de calçados.
Devido aos altos requisitos de proteção dos produtos eletrônicos e à pressão ambiental por
materiais sustentáveis e volume reduzido, a análise FEA tem sido adotada pela indústria de
embalagens para investigar o comportamento de estruturas complexas, como a polpa de papel
moldada e o cartão corrugado, sob esforços inerentes à atividade, e alguns estudos sobre o tema serão
abordados a seguir.
Gurav et al. (2003) realizaram e compararam análises FEA com testes em embalagens de
polpa de papel moldada, e concluíram que o método apresenta boa previsão do comportamento do
material. Os autores apontam que a ferramenta facilita a experimentação no design e a avaliação da
influência de diferentes parâmetros incorporados ao sistema de embalagem. Os autores também
destacam a velocidade a obter resultados válidos nas análises em comparação com o processo
convencional de desenvolvimento de embalagens em polpa de papel moldada.
Wang e Li (2014) realizaram ensaios de compressão a 12 mm/min e de quedas a 2,2, 3,1 e 3,9
m/s para estudar o efeito da taxa de deformação em embalagens de polpa de papel moldada, e
posteriormente realizaram análises FEA para comparação dos resultados. Os autores conseguiram
resultados condizentes entre ensaios e análises, e concluíram que tanto a tensão de cedência, quanto
a absorção de energia do material aumentam com a velocidade de deformação.
Zaheer (2016) utilizou análise FEA em comparação a ensaios realizados em caixas de cartão
corrugado. Além do estudo de diferentes parâmetros nas caixas, como altura total e cortes nas quinas
para facilitar a dobra, o autor testou diferentes dimensões de malha, e concluiu que quanto maiores
os elementos da malha, maior é a força resultante do esforço na análise. Também em pesquisa sobre
cartão corrugado, Zhang et al. (2014) analisaram a influência da geometria do flute (camada interior,
corrugada, do material) sobre a resistência mecânica do cartão, e com o uso do método de elementos
finitos constataram os efeitos mecânicos da altura, inclinação e raio do flute no comportamento do
material.
Embora não relacionada à embalagem, a pesquisa de Bhandari (2017) realizou análises FEA
a moldes impressos pelo método FDM, para avaliar a possibilidade de seu uso na conformação de
compósitos poliméricos termoformados. O autor aponta que a análise é fiel ao comportamento do
45
Temas: Impacto Composição Fabrico Outras 3D Print Moldes Embalagem Propriedades Diretrizes Ensaios FEA
ambiental do papel da polpa fibras papel polpa moldada de design
Estudos
Bajpai (2018a) x x x
Bhandari (2017) x x
Curling et al. (2017) x x x
Didone e Tosello (2016) x x x x x
Didone e Tosello (2019) x x x
Didone et al. (2017) x x x x x x x
Engineering.com (2019) x
Fadiji et al. (2018) x x
Gordeev, Galushko e Ananikov (2018) x
Gurav et al. (2003) x x x x x x
Highcon Systems (2020) x
Hoffmann (2000) x x x
Holthuis (2018) x
Hua et al. (2020) x x x x x
Huo e Saito (2009) x x x x
Jacobsen (2017) x x x x x x
Khangaldy e Schueneman (2000) x x
Leht (2016) x x x x x
Mackay (2013) x
Martínez, Toso e Morabito (2016) x x
Mindlin (1945) x
Oliveira (2020) x x x x
Popil (2017) x x x
Rattanawongkun et al. (2020) x x x
Schueneman e Schwinghammer (2011) x x x x x x
Silva (2018) x x x
Stenström (2019) x x
Tadepalli, Erdemir e Cavanagh (2011) x
Viana et al. (2018) x x x x x
Wang e Li (2014) x x x x
Wang, Cai e Jing (2012) x x x x
Wever et al. (2005) x x x
Wu e Wang (2012) x x x
Xiao e Shao (2015) x x
Zaheer (2016) x x
Zhang et al. (2014) x
46
Capítulo lll
3 Fase Experimental
3.1 Objetivos
Nesta etapa da pesquisa o objetivo é realizar experimentos com a polpa que permitam
compilar informações a respeito do desenvolvimento de produto com o material e definir suas
propriedades mecânicas, de modo a aprofundar o conhecimento sobra a polpa de papel moldada.
Por fim, esses dados serão utilizados nas simulações FEA para validar seu uso na análise de
embalagens com o material, de modo que o designer possa prever o comportamento da embalagem
antes de passar por todo o processo de desenvolvimento e prototipagem, e assim reduzir o tempo de
desenvolvimento e lançamento no mercado de embalagens eficientes.
3.2 Metodologia
De acordo com o esperado, foi possível moldar a polpa de papel em formato de cone
truncado, porém sem rigor dimensional (Figura 3-2), e sua parede apresentou alta variação de
espessura, entre 4 e 6 mm. Como dimensões externas a peça apresentou diâmetro de 45,5 mm e altura
de 40 mm.
Para a segunda etapa de testes foi fresado um molde tripartido em madeira (Figura 3-3a), com
o objetivo de analisar a produção de peças com maior rigor dimensional. O corpo do molde foi
perfurado e revestido por tela plástica para possibilitar a saída de água da polpa (Figura 3-3b). O
processo de conformação da polpa e escoamento da água foi realizado através de compressão
mecânica.
Conforme o esperado, foi possível atingir maior rigor dimensional com o molde fresado em
madeira (Figura 3-4), e sua composição tripartida facilitou a desmoldagem da peça. O provete
apresentou diâmetro de 45 mm, altura de 40 mm e sua parede oscilou entre 1,25 e 1,70 mm.
O método escolhido para conformação do material foi a compressão por vácuo em molde
fêmea, impresso pela tecnologia FDM, numa adaptação do processo de infusão de resina por vácuo.
Apesar de não ser um método comum para a conformação de polpa de papel, o método é
comercialmente utilizado para a infusão de resina na fabricação de peças complexas em materiais
compósitos, como por exemplo as peças de embarcações, carros e aeronaves reforçadas com fibras
como as de carbono, vidro e kevlar.
50
O molde foi impresso em PLA (Figura 3-5), por ser um material com boa relação entre custo
e benefício no que se refere à rigidez, facilidade de impressão e disponibilidade no mercado. Suas
dimensões são 389 x 239 x 115 mm, com espessura de 3 mm. Para facilitar os processos de impressão
do molde (devido ao tamanho da área de impressão) e desmoldagem da polpa, o molde foi produzido
em sete peças. As laterais do molde posteriormente foram coladas com cianoacrilato, resultando em
um molde de 5 partes (topo, frontal, traseira e laterais). As divisões foram projetadas de modo a
respeitar o ângulo de saída adequado às diferentes regiões da carroceria pronta. A análise do ângulo
de saída (análise da parte frontal na Figura 3-6) foi realizada no software Solidworks.
Figura 3-5 - Molde impresso em PLA (imagem do autor). Figura 3-6 - Análise draft (imagem do autor).
A matéria-prima utilizada para produção da polpa foi cartão corrugado proveniente de caixas
descartadas, e o material passou pelo processo de polpação através de máquinas residenciais,
nomeadamente liquidificador e “varinha mágica”. Quando em estado de polpa, o material foi
aplicado manualmente ao molde (Figura 3-7), e em seguida uma película de polietileno foi utilizada
para envolver o conjunto e possibilitar a compressão do material através de uma bomba de vácuo de
4 bar (Figura 3-8).
51
Figura 3-7 - Aplicação da polpa (imagem do autor). Figura 3-8 - Aplicação de vácuo (imagem do autor).
Para a secagem, o conjunto (polpa e molde) foi aquecido em forno a 60°C por 12 horas
(Figura 3-9), condição térmica considerada suficiente para evaporar a água da polpa sem danificar o
molde, fabricado em polímero termoplástico.
A desmoldagem foi rápida e fácil, e o produto final foi uma carroceria que apresentou ótima
rigidez e paredes de aproximadamente 3 mm de espessura (Figura 3-10), com dimensões de 357 x 190
x 102 mm. Durante o processo de moldagem foi percebida a importância da fase de despastilhamento
e refino da polpa, pois blocos de polpa não refinados atrapalham a correta distribuição do material
52
sobre o molde. Foi notado também que a polpa tende a acumular-se em maior proporção nas partes
côncavas do molde e a ocupar menos as partes convexas do molde, o que pode potenciar o
surgimento de falhas e vazios na estrutura. Felizmente estes problemas puderam ser solucionados
após algumas tentativas de conformação.
Já com acesso à impressora 3D da Bosch (modelo Ultimaker 3) foi possível realizar testes de
conformação de polpa de papel com o uso de moldes impressos pelo processo FDM. O molde foi
impresso em PLA (Figura 3-12) e suas dimensões foram projetadas para que as peças produzidas em
polpa pudessem ser testadas no laboratório de ensaios mecânicos da FEUP. O objetivo nesta etapa
foi analisar o comportamento da impressão FDM em PLA durante a moldagem da polpa e realizar
ensaios mecânicos nos provetes produzidos para comparar suas propriedades mecânicas com a polpa
moldada recebida pela Bosch. O objetivo final aqui é validar a possibilidade de prototipagem rápida
de embalagens de polpa moldada, com o intuito de produzir e testar rapidamente novos conceitos
de embalagens.
Foi possível produzir experimentalmente dois provetes (Figura 3-13) com o molde. A
qualidade requerida para realização de ensaios mecânicos não foi atingida, pois o molde não
apresentava furos para escoamento da água e secagem da polpa, como foi constatado no primeiro
teste. Para o segundo teste alguns furos foram feitos no molde, e com isso foi possível atingir maior
nível de qualidade na peça moldada. Duas hipóteses foram levantadas para explicar a reação
analisada. Além do melhor escoamento de água viabilizar uma melhor compressão da polpa, o
desmolde da peça ocorre mais facilmente com a entrada de ar gerada pelos furos. Sem a passagem de
ar pelas superfícies, o processo de desmoldagem resulta em pressão negativa entre a polpa e o molde.
Isto dificulta a separação entre polpa e molde e acaba por deformar a polpa moldada.
Por padrão as peças FDM são impressas numa disposição “sanduíche”, e apresentam assim
um preenchimento limitado por paredes exteriores e interiores (Figura 3-14). No processo FDM é
possível alterar essas configurações através do controle da deposição de polímero pela impressora.
Para isso é necessário definir o tipo, a forma e a percentagem de preenchimento da impressão, o que
pode exigir algumas tentativas para chegar a uma permeabilidade distribuída de forma homogênea
por todas a superfície do molde. Foram impressas uma peça nas configurações padrão, com paredes
e preenchimento triangles, e duas peças sem paredes, com diferentes opções de preenchimentos,
nomeadamente grid e zigzag.
Por considerar que a presença de furos na peça reduz sua resistência mecânica, para os objetos
impressos sem parede optou-se por utilizar 80% de preenchimento, para a partir deste número definir
a permeabilidade necessária à moldagem com o maior uso possível de material.
Para esta pesquisa o software utilizado na impressão 3D foi o Cura (Ultimaker), e a Figura
3-15 apresenta três formas impressas em PLA com diferentes parâmetros de impressão, que serão
apresentados adiante. A impressora usada é a mesma em que foi impresso o molde visto
anteriormente.
56
Na Tabela 3-1 são apresentadas imagens ampliadas das superfícies das peças impressas. O
teste a., produzido pelo perfil de impressão padrão da impressora para PLA é o único que apresenta
paredes. Os testes b. e c. não possuem paredes e por isso exibem, como superfície, a geometria de seu
preenchimento. A Tabela 3-2 apresenta os parâmetros de impressão FDM utilizados.
Pela comparação entre as peças é possível perceber que o uso de paredes (em sua configuração
padrão) inviabiliza a impressão de peças permeáveis, necessárias à produção de moldes para peças em
polpa de papel. Já as peças sem paredes apresentaram distribuição desigual de furos entre os topos e
as faces verticais, o que pode resultar numa má distribuição de polpa sobre a peça devido à
distribuição irregular do vácuo no momento da moldagem, com risco de gerar peças defeituosas em
polpa moldada.
O estudo deste tema mostrou-se inviável no âmbito do estágio devido ao tempo necessário
para ajuste fino da impressão 3D, então a partir deste ponto a impressão 3D de moldes exige mais
investigação sobre os parâmetros necessários para chegar ao nível de impressão adequado para
prototipagem de moldes.
Figura 3-17 - Insertos em cartão (Bosch, 2019). Figura 3-18 - Híbridos em cartão e EPE (Bosch, 2019)
Figura 3-19 - Insertos em EPE (Bosch, 2019). Figura 3-20 - Insertos em polpa moldada (Bosch 2019).
Nesta etapa do presente estudo será avaliado o desempenho da polpa de papel moldada
utilizada na fabricação da embalagem Atlantis como elemento de proteção. Também será
comparado o material dos insertos recebidos em diferentes lotes para averiguar a variação
constitutiva da polpa moldada fornecida pela empresa fabricante do material (Decapulp). Como o
objetivo do estudo é a caracterização do material utilizado na embalagem, o objeto de estudo será o
inserto inferior da embalagem, e para os testes de queda serão analisados os dados da queda da
embalagem em sua posição vertical, com impacto no fundo da embalagem.
Para investigação da polpa de papel utilizada na fabricação dos insertos analisados, deu-se
preferência a seguir as normas ISO, que é um padrão utilizado pela Bosch e tem reconhecimento
internacional. As normas e testes definidos para este estudo são:
Os provetes utilizados nos ensaios (Figura 3-21) foram cortados de insertos da embalagem da
câmera Atlantis fabricados pela Decapulp e entregues à Bosch durante o período de desenvolvimento
da embalagem. Para os ensaios de tração, compressão e flexão, duas variações de polpa moldada
foram selecionadas para efeito de comparação de seu desempenho, visto apresentarem diferenças
construtivas. Outro tipo de provete, em formato de tronco de pirâmide (Figura 3-22), foi cortado de
uma versão anterior da embalagem para realização de testes de compressão a diferentes velocidades.
Todos os provetes foram cortados com o uso de x-ato com lâminas especiais, com afiação superior.
- Polpa A: provetes de acordo com as normas ISO para testes de tração, compressão e flexão;
- Polpa B: provetes de acordo com as normas ISO para testes de tração, compressão e flexão;
Figura 3-21 - Provetes para testes de flexão, tração e compressão (imagem do autor).
3.4.3 Equipamentos
O paquímetro utilizado nas medições é da marca Mitutoyo e tem resolução de 0,01 mm;
Antes da realização dos ensaios os provetes foram condicionados por 72 horas sob
temperatura de 24°C e humidade relativa de 50%, de acordo com a norma ISO 187:1990. Para tal, os
provetes foram mantidos em ambiente controlado, com a temperatura regulada por um
condicionador de ar Emmeti Nature 407 e humidade regulada por um desumidificador MEI
DH5020 (Figura 3-27).
Outro ensaio de compressão foi realizado (Figura 3-30), e para isso foram desenhadas novas
pinças de fixação dos provetes, que foram fabricadas na oficina de mecânica da FEUP. As pinças
65
3.4.9 Resultados
- Ensaio de tração
A partir dos resultados dos ensaios de tração foram calculadas a tensão e a deformação
resultantes. As fórmulas utilizadas foram:
𝐹𝐹
𝜎𝜎 =
𝐴𝐴
Equação 2 - Cálculo de tensão.
∆𝑙𝑙
𝜀𝜀 =
𝑙𝑙0
Equação 3 - Cálculo de deformação.
Os dados obtidos foram utilizados para gerar o gráfico tensão/deformação (Figura 3-34) das
polpas A e B.
Na Tabela 3-6 são apresentadas as propriedades mecânicas dos materiais comparados, e nas
Figura 3-35 e 3-36 são vistas as fotos dos provetes ensaiados. O módulo de elasticidade foi calculado
no software Abaqus.
Figura 3-35 - Provetes polpa A (imagem do autor). Figura 3-36 - Provetes polpa B (imagem do autor).
- Ensaio de flexão
A seguir, na Figura 3-37, é apresentado o gráfico dos ensaios de flexão das polpas A e B. A
rigidez à flexão da polpa A apresentou variação entre 249 N.mm e 330 N.mm, com média de 277
N.mm. A rigidez à flexão da polpa B apresentou variação entre 173 N.mm e 284 N.mm, com média
de 228 N.mm. As fotos dos provetes podem ser vistas nas Figura 3-38 e 3-39. O deslocamento
máximo do ensaio foi definido em 6,6 mm, conforme cálculo sugerido na norma.
Com espessura média de 1,52 ± 0,07 mm, massa média de 10,10 ± 0,36 g e densidade de 450
kg/m³, o tronco de pirâmide apresentou os resultados vistos no gráfico da Figura 3-40 e na Tabela
3-7.
Velocidade (mm/min)
3 100 200 300
Força (N) 431 ± 17 438 ± 1 467 ± 20 470 ± 22
Através da execução dos ensaios foi possível definir as propriedades mecânicas das polpas A
e B para alimentação de análises de elementos finitos. Os resultados dos ensaios também confirmam
as previsões realizadas na revisão de literatura, em que a densidade desempenha papel fundamental
nas características mecânicas do material. Pesa a favor desta hipótese o fato de que mesmo com
espessura maior, a polpa B apresentou propriedades mecânicas inferiores aos da polpa A. Outra
confirmação da revisão de literatura obtida é quanto a sensibilidade da polpa de papel moldada à
velocidade de deformação. Neste sentido, apesar de tratar-se de ensaio estático, com velocidade de
compressão muito abaixo da velocidade de uma queda a 970 mm, já foi possível perceber que a polpa
de papel moldada oferece maior resistência ao esforço quando elevada a velocidade de deformação.
Para os testes de compressão e queda descritos a seguir foram utilizados os inlays da câmera
Atlantis (Figura 3-41) em suas versões com a polpa A e polpa B. Embora a embalagem completa
tenha sido testada, o objeto de estudo deste trabalho é o inserto inferior.
Além das polpas A e B, um terceiro inserto inferior produzido com a finalidade de teste
volumétrico, e fabricado com polpa de menor densidade, também foi testado em queda de modo a
comparar os efeitos da densidade no desempenho da polpa. Pela disponibilidade de um único inserto
deste tipo, não foi possível realizar outros ensaios ao material. Este inserto será tratado por PPA.
As dimensões nominais dos insertos inferiores são 286 x 253 x 150mm, e do insertos
superiores 286 x 253 x 100mm. Os insertos foram pesados com o uso de uma balança Kern DS, com
precisão de 0,5 g.
Antes da realização dos testes, as embalagens ficaram por semanas no laboratório do MKM1,
sob temperatura de 22°C e humidade relativa de 50%, o que atende às condições climáticas
especificadas na norma ISO 187:1990 para condicionamento de papel. A condição climática no
laboratório é mantida por um condicionador de ar da marca Sanyo.
Figura 3-42 - Teste de compressão polpa moldada com câmera (imagem do autor).
As faces da caixa a ser testada são numeradas de acordo com a Figura 3-44, e para os
testes apresentados as quedas seguem a sequência de faces 3, 1, 2, 4, 5 e 6.
73
Figura 3-44 – Faces da embalagem para teste de queda adaptada de Bosch (2020b).
Para captura dos dados de queda foi utilizado um acelerômetro PCB Piezotronics - 356B21
SN LW265056, fixado ao corpo da câmera dentro da carenagem exterior (Figura 3-45). Para os testes
foram utilizados como parâmetros largura de banda de 10240 Hz e resolução de 2,5 Hz.
3.5.5 Resultados
Compressão
A seguir são apresentados o gráfico (Figura 3-47) e as fotos (Figura 3-48) do teste de
compressão dos insertos inferiores produzidos com as polpas A e B. Devido à disponibilidade de
insertos de polpa B, apenas um ensaio de compressão foi realizado com este material.
Polpa A Polpa B
Queda
Abaixo são apresentados os gráficos de aceleração dos insertos inferiores das polpas A, B e
PPA (Figura 3-49), os resultados dos testes para todas as faces da embalagem (Tabela 3-8) e as fotos
dos insertos inferiores deformados após os testes (Figura 3-50).
75
3.5.6 Discussões
Pelos resultados dos testes de tração e compressão, é possível perceber que a polpa A
apresenta maior resistência mecânica tanto à compressão quanto ao impacto em relação às outras
polpas analisadas. Os resultados acompanham o que foi apurado nos ensaios dos provetes, e visto na
revisão de literatura (Wang e Li 2014) do presente estudo. A principal hipótese que explique a maior
resistência da polpa A em relação às outras polpas é a diferença de densidade entre os tipos de polpa.
É interessante notar que o amortecimento aumenta em função da redução da densidade do material,
devido à maior deformação resultante do impacto, porém no caso da polpa de menor densidade o
limite de falha do material é inferior.
Neste capítulo será realizada a análise de elementos finitos à embalagem completa da câmera
Atlantis, e sua comparação com os testes de queda a que foram submetidas as embalagens reais. De
modo a cumprir o propósito principal do presente estudo, que é a viabilização do uso de análise de
elementos finitos no MKM1, esta etapa da pesquisa tem dois objetivos principais, que são
educacional e validação do método. Além de funcionar como guia para o primeiro contato com o
software Abaqus, o estudo procura avaliar a eficácia da simulação da polpa de papel moldada com
uso de malha de elementos tetraédricos. O interesse por este tipo de elemento deve-se à simplicidade
de sua aplicação à análise, que por ocorrer de forma automatizada pode facilitar o acesso de novos
utilizadores ao software.
Inicialmente será feita uma apresentação do programa Abaqus, onde serão abordadas as
configurações gerais necessárias para rodar uma simulação de teste de queda. Posteriormente serão
77
- É importante ter atenção à consistência de unidades, pois o Abaqus não indica unidades de
medida. O utilizador deve escolher uma das linhas da Tabela 3-9 e converter os valores necessários à
análise para adequá-los à linha escolhida.
Tabela 3-9 – Unidades consistentes Abaqus (adaptada de CAE Assistant (2019)).
- Ao invés de definir a altura de queda e utilizar a gravidade como força, é mais eficiente (do
ponto de vista computacional) posicionar os objetos próximos ao “chão” e definir uma velocidade
equivalente à resultante da queda. O cálculo da velocidade pode ser feito em:
http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/flobi.html
- Para os testes de queda de embalagens não é importante avaliar a deformação dos produtos
embalados. Assim, é possível definir estas partes como objetos rígidos, de modo a reduzir o tempo
necessário ao processamento do teste. Apesar de fazer parte da dinâmica do teste, objetos rígidos não
apresentam alterações de formas e por isso não requerem processamento adicional.
- Início
78
1 – Ao abrir o Abaqus, selecione a opção Explicit Model. Selecione File > Import > Part e
escolha o arquivo STP a ser analisado.
- Módulo Part
2 – No módulo Part, crie o chão a partir do botão “Create Part” (Parâmetros: 3D / Discrete
Rigid / Shell). Crie o Reference Point (menu Tools) para as partes que serão consideradas “Rigid” na
análise. Para o piso também é necessário definir a Surface de contato (menu Tools).
Objetos rígidos não sofrem deformação. Receberão malha, como um objeto comum, mas
seus pontos não serão calculados. Objetos podem ser criados como rígidos desde o começo, ou pode-
se usar uma Boundary Condition > “Rigid Body” em um objeto deformável para que ele se comporte
como rígido na análise (esta opção será abordada no módulo Interaction).
- Módulo Property
3 – Para criar materiais (Figura 3-51), incluir a densidade na aba General, e incluir as
propriedades mecânicas necessárias na aba Mechanical. Deve-se criar Sections com os materiais
adicionados anteriormente. Assign sections às partes a serem analisadas.
- Módulo Assembly
4 – Criar Instances (Cópias das partes. São os elementos que realmente serão analisados).
Podem ser criadas várias instâncias de uma mesma parte. Neste módulo pode-se mover e girar
as instâncias para montar o conjunto a ser analisado (Rotate e Translate Instance). Neste módulo o
chão deve ser posicionado no local correto.
- Módulo Step
5 – Criar Step “Colisão” (Figura 3-52) – “Procedure Type: General >Dynamic Explicit”. Time
Period: 12 (milissegundos). NIgeom deve estar habilitado (cálculo de grandes deformações).
Aqui deve-se criar um Field Output, definir a quantidade de pontos de análise e selecionar as
informações que serão calculadas durante a análise.
Os Steps são as etapas de análises do evento. O software cria automaticamente um Step Initial,
e o utilizador deve criar um novo step para cada tipo de análise. Como a análise de interesse é de
impacto, criamos um step dinâmico explícito, e devemos definir o tempo de análise do step.
A velocidade de impacto será definida no step inicial, mas o impacto acontecerá no step criado
pelo utilizador (assunto abordado no módulo Load).
- Módulo Interaction
6 – Criar interações (Figura 3-53): É necessário definir o contato entre as peças, mas para isso
é preciso criar Interaction Property previamente. Para teste de impacto, a Interaction Property deve
ser do tipo Contact. Para teste de impacto da polpa de papel moldada deve-se adicionar as
propriedades mecânicas:
Após a criação da Interaction Property pode-se criar a interação (Create Interaction > General
Contact). Na caixa de seleção que aparece a seguir deve-se escolher a Interaction Property criada
anteriormente.
Se algum objeto da análise deva ser considerado como rígido, nesta etapa deve-se criar uma
“Constraint > Rigid Body”. Para isto deve-se selecionar o objeto e um Reference Point (criado no
módulo Part).
81
- Módulo Load
7. Nesta etapa serão definidas a velocidade de impacto (definida para o Step Initial) e a
fixação espacial do “chão”. A velocidade deve ser definida no botão “Create Predefined Field > Step:
Initial > Category Mechanical” (Figura 3-54). Seleciona-se os objetos que estão em aceleração e
define-se a velocidade em V2 (eixo Y). Após a confirmação, setas indicam no desenho a direção do
deslocamento.
A fixação do chão é feita através do botão “Create Boundary Condition > Mechanical >
Encastre”. A BC também deve ser criada para o Step Initial. A região selecionada para encastre deve
ser o Reference Point do “chão”.
- Módulo Mesh
8 – A mesh (malha) deve ser aplicada individualmente a cada peça. O botão “Seed Part”
define o espaçamento de pontos que formará a malha. Quanto mais pontos, melhor a malha e maior
82
o tempo necessário para processamento da análise. Deve-se chegar ao equilíbrio entre qualidade da
malha e tempo de processamento.
O botão “Assign Mesh Controls” permite alterar o tipo de elemento da malha. “Hex” é mais
eficiente e preciso, porém mais difícil de aplicar por necessitar do particionamento da peça, enquanto
o elemento “Tet” é menos eficiente e preciso, porém mais fácil de aplicar. O particionamento das
partes não será abordado aqui devido à sua complexidade, mas o processo resume-se em dividir a
parte em pedaços menores, com formas mais simples, para que a malha possa ser distribuída
adequadamente no objeto em análise.
Após a criação da malha (botão “Mesh Part”) é possível verificar se há erros na malha com o
uso da ferramenta “Verify Mesh”.
- Módulo Job
9 – Com o botão “Create Job” (Figura 3-55) cria-se a análise e define-se as configurações de
processamento (quantidade de memória e de processamento alocados ao software). Para submeter o
Job ao processamento, clica-se com o botão direito sobre o Job na área esquerda da tela e seleciona-se
“Submit”. Da mesma forma, é possível acompanhar a evolução da análise ao escolher a opção
“Monitor” e visualizar informações como alertas de erros e o andamento da análise.
- Módulo Visualization
Para simplificar a etapa de aplicação da malha na simulação, optou-se por dividir os objetos
da análise em elementos tetraédricos e testá-los em 2 configurações: Lineares e quadráticos.
Inicialmente testou-se o uso de elementos tetraédricos lineares, que oferecem menor precisão e
consomem menos processamento durante a análise, e em seguida testou-se malha de elementos
tetraédricos quadráticos, elementos de maior precisão, que exigem mais tempo de processamento.
Para a simulação com elementos lineares, a dimensão da malha do inserto inferior foi definida
em 3 mm (Figura 3-58). Não foi possível realizar testes com elementos menores do que 3 mm, pois
o custo computacional mostrou-se muito elevado. Com exceção da caixa, com malha de 50 mm, os
restantes objetos receberam malha de 13 mm, inclusive o inserto superior (objeto deformável). Esta
medida foi tomada para reduzir o tempo de processamento através da redução do número de
elementos a serem analisados.
85
Inicialmente a análise com elementos quadráticos também foi realizada com as mesmas
dimensões de malha da análise com elementos lineares. Posteriormente a dimensão da malha do
inserto inferior foi definida como 5 mm e a do inserto superior como 8mm (Figura 3-59).
À exceção dos insertos em polpa moldada, todos os outros objetos foram definidos como
rígidos para reduzir o tempo de processamento. A definição do inserto superior como elemento
rígido não foi considerada para este estudo devido à atuação do objeto no amortecimento do impacto
86
do disco de aço, que é distribuído sobre a polpa inferior. As partes utilizadas na simulação são
apresentadas na Figura 3-60, e os parâmetros utilizados na caracterização das partes podem ser vistos
na Tabela 3-10.
3.6.3 Resultados
Figura 3-60 - Pico de impacto em análise com E=445 MPa (imagem do autor).
3.6.4 Discussão
Através das análises de elementos finitos realizadas, é possível perceber que o uso de
elementos tetraédricos lineares na malha não é adequado à análise de impacto da polpa de papel
90
moldada. O resultado obtido pelo método (Figura 3-62) apresentou pico de 185 G, 120% maior do
que o observado no teste de queda do inserto de polpa A, que foi de 84 G.
As primeiras análises com o uso de elementos quadráticos foram realizadas com malha de 3
mm, e a configuração “precisão simples” durante o processamento. Apesar de terem números mais
próximos aos do teste de queda real (como o da Figura 3-63), seu tempo de processamento estava
muito alto (24 h de duração) devido ao elevado número de elemento da malha, e os picos de
aceleração do gráfico ainda estavam desordenados para o que se esperava da análise. Optou-se então
por aumentar o tamanho da malha do inserto inferior para 5 mm e realizar o processamento da
análise com precisão dupla, opção disponível na janela de configuração da análise (job, como é
apresentado no software). Esta alteração reduziu o tempo de processamento para aproximadamente
7 horas de duração, e resultou em curvas muito semelhantes à observada no teste de queda da
embalagem real. Quanto aos valores de aceleração da análise, não houve discrepância entre os
resultados com o uso de malha de 3 ou 5 mm, o que indica que 5 mm é uma dimensão adequada à
malha do objeto na presente análise.
Com a elasticidade da polpa moldada definida em 360 MPa, valor próximo ao médio
identificado através dos ensaios de tração da polpa A, os valores de aceleração aferidos na simulação
ficam abaixo do observado no teste de queda da embalagem real, o que já era esperado devido à maior
velocidade de carregamento resultante do impacto quando comparada à velocidade de carregamento
utilizada nos testes de tração, processo de aquisição do módulo. A curva de aceleração resultante da
análise também apresenta dinâmica muito próxima ao observado no teste de queda da embalagem
real.
A análise com elasticidade da polpa definida em 445 MPa apresenta gráfico de aceleração
ainda mais semelhante ao do teste de queda da embalagem, o que sugere que o valor utilizado no
módulo é adequado para simular o material já considerando os efeitos da velocidade de deformação
sobre o comportamento do material.
91
Capítulo lV
4 Considerações finais
A polpa de papel moldada é um material versátil e de interesse crescente, que tem sido
utilizado para diferentes fins, desde a fabricação de produtos de uso único, como as embalagens, a
produtos duráveis, como candeeiros e mobiliário, porém a alta variabilidade do material dificulta a
previsão de seu comportamento e limita a adoção de seu uso como elemento amortecedor nas
embalagens, por dificultar o processo de validação do design desenvolvido.
Foram realizadas análises de elementos finitos com elementos tetraédricos lineares (menor
custo computacional e menor precisão) e quadráticos (maior custo computacional e maior precisão),
e concluiu-se que os elementos lineares não apresentam precisão suficiente para simulação de testes
de queda, com resultados de desaceleração 120 % maior do que os obtidos no teste de queda do
produto. As análises realizadas com elementos quadráticos apresentaram valores de desaceleração
93
coerentes, mais próximos dos valores obtidos no teste de queda da câmera, com grande semelhança
também nos gráficos de aceleração do impacto. Concluiu-se também a importância de definir o
processamento da análise com dupla precisão no software.
Embora ainda seja necessária mais investigação sobre o software para que seu uso seja
implementado cotidianamente no MKM1, o presente estudo cumpriu o desafio de motivar a adoção
da análise de elementos finitos no departamento, ferramenta fundamental para potencializar o
avanço do design de embalagens em polpa de papel moldada. O uso da análise de elementos finitos e
a parceria entre engenheiros e designers fomentada no MKM1 podem elevar o design de embalagens
em polpa de papel moldada a um nível mais sustentável, com embalagens mais eficientes, que além
da redução do uso de material resulte também na redução da emissão de carbono consequente da
atividade de transporte dos produtos embalados.
É importante realizar testagem mais ampla entre insertos recebidos, de modo a determinar os
valores máximos e mínimos possíveis de desaceleração conseguidos com a embalagem. Esta
informação poderá ser usada em futuros projetos para garantir que toda a faixa de amortecimento
oferecida pela polpa moldada esteja de acordo com os requisitos de proteção do produto.
95
Investigar a resposta da polpa de papel moldada a esforços dinâmicos, com testes de impacto
a diferentes velocidades e com diferentes massas, para melhor compreender o efeito da velocidade de
deformação no material, e seu comportamento em relação à energia do impacto.
Por fim, após obter dados mais completos sobre as propriedades mecânicas da polpa de papel
moldada e suas capacidades de amortecimento, um caminho futuro interessante para o design de
embalagens pode ser o desenvolvimento de uma aplicação que, recebendo dados como peso do
produto, altura da queda e aceleração aceitável, sugira informações como a quantidade de material e
a quantidade de elementos de suporte necessárias para o amortecimento eficiente do produto, que
podem servir como ponto de partida para o desenvolvimento de novos projetos.
96
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