Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/232031746
CITATIONS READS
0 412
1 author:
Rodolfo Caesar
Federal University of Rio de Janeiro
13 PUBLICATIONS 13 CITATIONS
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Rodolfo Caesar on 02 June 2014.
Rodolfo Caesar
Escola de Música - UFRJ
Abstract: Development of a sonological research into the relations between visual, iconographic and
listening instances, focusing the esthetoscope, first auscultation device and forerunner of the
microphone. The cylindrical shape would imply a non-casual relation between eroticism, morality and
distanced interpretation. The birth of Semiology coincided with a disembodied cartesian distancing
between body-object and mind-subject. The purpose of this paper is to delve into this relationship in
order to address a critical view on the absence of a clear perceptual separation between a ‘physical
signal’ and an emotional or eroticized stimulus.
1. Hipótese
Os sons fonográficos (em geral e na música eletroacústica) fixavam-se (Chion
1991) em sulcos na superfície de discos, mais tarde em partículas imantadas da fita
magnética, e atualmente se abrigam nos micro-sulcos para leitura e gravação a laser, HD,
SSD, etc. Quando não sintetizados, os sons provinham - e ainda provém - de gravações já
existentes ou especificamente realizadas para a produção em curso. Em ambas situações
empregam-se materiais sonoros captados inicialmente por via mecânica, a que se somou,
mais tarde, tecnologia eletro-eletrônica. O microfone, ferramenta captora de sons, veio a
desempenhar na música um papel significativamente erotizado, ainda hoje implicado em sua
forma cilíndrica, sonora e visualmente aproveitada por cantores lânguidos. Acredito haver
algo digno de atenção na função e no formato desse objeto, que aponta para momentos
críticos na época da cristalização das ciências modernas e da música. Hoje ‘re-sensualizando’
o som, o microfone devolve à escuta um toque corporal que havia sido afastado por seu
ancestral, o estetoscópio. Do grego στήθος, sthétos – peito e σκοπή, skopé – exame).
XXI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Uberlândia - 2011
2. A Semiologia Médica
Manuais de Medicina e médicos são unânimes em apontar a origem do termo
Semiologia a Émile Littré, no Dictionnaire de la langue française, de sua autoria, publicado
em 1863. Uma consulta ao dicionário indica que, para Littré, o termo não era novidade, nem
invenção sua:
SÉMIOLOGIE
"(sé-mi-o-lo-jie) s.f.
Terme de médecine. Partie de la médecine qui traite des signes des maladies. Du
grec, signe, et, doctrine." (Littré 1863)
Para Ferrater-Mora:
3. O primeiro estetoscópio
Até inicios do séc. XIX, os médicos faziam o exame baseado na escuta colando a
orelha no corpo do doente. O procedimento foi alterado nos primeiros anos do século XIX.
Talvez algum pesquisador venha a investigar por que razão Laënnec foi pintado
em afresco na Sorbonne (por Theobold Chartan) em cena na qual o paciente é do sexo
masculino. A posição do estetoscópio, no quadro, também é rica de insinuações, permitindo-
nos inferir possível lapso psicanalítico.
4. O estetoscópio moderno
A medicina e a semiologia médica buscaram patamar mais pudibundo livrando-se
do sugestivo cilindro, chegando finalmente ao desenho do chamado estetoscópio binaural,
usado em tempos atuais. Somente um renovado esforço pelo decoro justifica a transformação.
O novo formato não propicia significativa melhoria acústica: no que concerne a escuta não há
exploração efetiva da suposta binauralidade sugerida no novo artefato. (Só pode haver
experiência binaural de fato quando dois captadores mantém a individualidade de sua
informação até a chegada aos ouvidos, o que não é o caso dos estetoscópios binaurais, que
levam às duas orelhas, por caminhos separados, o sinal acústico de um só captador). A
XXI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Uberlândia - 2011
Seria apenas por acaso que desta vez o instrumento abandona sua forma fálica
para se assemelhar ao aparelho reprodutor feminino? Qual seria o objetivo oculto desse
lapso? Estaria a engenharia médica já marcando passos à espera do início de uma ‘era da
reprodutibilidade técnica’?
5. O microfone
Com certeza o “bourgeois decorum” dos médicos da época desempenha papel
importante, tendo quase certamente coadjuvado na introdução, para a música, do conceito de
organicidade ( (Dahlhaus 1989), ainda muito caro à Análise Musical. Mas por que razão um
instrumento de escuta devolveria tanta carga simbólica para os dias de hoje?
Referências
Chion, Michel. “La tentation de Saint Antoine.” La tentation de Saint Antoine / La Ronde.
Comp. Michel Chion. INAC2002, INAC2003. 1991.
—. L'art des sons fixés, ou la musique concrètement. 1a Ed. Fontaine: Métamkine, 1991.
Dahlhaus, Carl. The idea of absolute music. Tradução: Roger Lustig. Chicago: The
University of Chicago Press, 1989.
Ferrater-Mora, José. Dicionário de Filosofia. Barcelona: Editora Ariel, 1994.
Littré, Émile. Dictionnaire de la langue française. Paris: Hachette, 1863.
XXI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Uberlândia - 2011
1 'O ouvido, este órgão do medo, só alcançou tanta grandeza na noite e na penumbra de cavernas obscuras e
florestas, bem de acordo com o modo de viver da era do receio'...'Na claridade do dia o ouvido é menos
necessário. Foi assim que a música adquiriu o caráter de arte da noite e da penumbra.' 'Nacht und Musik - das
Ohr, das Organ der Furcht, hat sich nur in der Nacht und in der Halbnacht dunkler Wälder und Höhlen so reich
entwickeln koennen, wie essich entwickelt hat, gemaess der Lebensweise des Furchtsamen, das heisst, des
allerlängsten menschlischen Zeitalter, welches es gegeben hat: im Hellen ist das Ohr weniger nöthig. daher der
Charakter der Musik, als einer Kunst der Nacht und Halbnacht.' Morgenröth, (1881), aforisma 250. (Nietzsche
1881, 125)
2 ‘The natural tendency to relate sounds to supposed sources and causes, and to relate sounds to each other
because they appear to have shared or associated origins.’ (Smalley 1994, 36)