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CAPÍTULO IV

CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA DO
ALVO ESTRELA (Cu-Au),
SERRA DOS CARAJÁS, PARÁ

ZARA GERHARDT LINDENMAYER


ANDRÉ FLECK
CRISTIANE HEREDIA GOMES
ANTÔNIO BENVINDO SOUZA SANTOS
ROGÉRIO CARON
FERNANDO DE CASTRO PAULA
JORGE HENRIQUE LAUX
MÁRCIO MARTINS PIMENTEL
ALEX DE SOUZA SARDINHA
SUMÁRIO

CAPÍTULO IV
CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA DO ALVO ESTRELA (Cu-Au),
SERRA DOS CARAJÁS, PARÁ

RESUMO .................................................................................................................................................................................... 157


ABSTRACT ............................................................................................................................................................................... 158

I. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 159

II. TRABALHOS REALIZADOS – MATERIAIS E MÉTODOS ................................................... 159

III. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL .................................................................................... 161


Depósitos Minerais ............................................................................................................................ 163

IV. GEOLOGIA DO ALVO ESTRELA ............................................................................................... 165

V. PETROGRAFIA ............................................................................................................................. 168


Andesitos e Gabros ........................................................................................................................................ 168
Veios .............................................................................................................................................................. 172
Minério ...................................................................................................................................................................... 174
Riolitos ............................................................................................................................................................ 178
Zonas Miloníticas ...................................................................................................................................................... 180
Formações Ferríferas ..................................................................................................................................... 181
Arenitos .......................................................................................................................................................... 181
Arcóseos ................................................................................................................................................................... 181
Litoarenito feldspátco ................................................................................................................................................ 182
Rochas Intrusivas ........................................................................................................................................... 182
Rochas Intrusivas Paleoproterozóicas ...................................................................................................................... 182
Quartzo diorito ........................................................................................................................................................... 183
Quartzo-álcali-feldspato sienito (episienito) ............................................................................................................. 184
Albita-ortoclásio granito ........................................................................................................................................... 185
Diabásio ..................................................................................................................................................................... 186

VI. QUÍMICA MINERAL .................................................................................................................... 186


Feldspatos ....................................................................................................................................................... 186
Anfibólios ........................................................................................................................................................ 187
Micas .............................................................................................................................................................. 187
Turmalinas ...................................................................................................................................................... 188
Cloritas ............................................................................................................................................................ 189
Outros minerais .............................................................................................................................................. 189
VII. LITOGEOQUÍMICA ...................................................................................................................... 191
Gabros e Andesitos ........................................................................................................................................ 191
Riolitos ............................................................................................................................................................ 194
Formação ferrífera e Arenitos ........................................................................................................................ 198
Rochas intrusivas ........................................................................................................................................... 198
Granitos ...................................................................................................................................................................... 198
Quartzo diorito ........................................................................................................................................................... 199
Diabásio ..................................................................................................................................................................... 200

VIII. INCLUSÕES FLUIDAS ................................................................................................................. 201


Descrições petrográficas ............................................................................................................................... 201
Inclusões fluidas associadas aos veios da alteração potássica ...................................................................... 204
Inclusões fluidas associadas à greisenização ................................................................................................. 204
Inclusões fluidas associadas á carbonatação ................................................................................................. 204
Fases sólidas das inclusões fluidas ................................................................................................................. 205
Microtermometria ........................................................................................................................................... 205
Potassificação ................................................................................................................................................ 205
Greisenização ................................................................................................................................................. 206
Carbonatação ................................................................................................................................................. 206
Espectrometria Raman ................................................................................................................................... 207
Conclusões...................................................................................................................................................... 207

IX. ISÓTOPOS ESTÁVEIS .................................................................................................................. 209


Isótopos de oxigênio em rocha total ............................................................................................................... 209
Isótopos de oxigênio e deutério em minerais ................................................................................................. 210
Isótopos de enxofre em sulfetos..................................................................................................................... 211
Isótopos de carbono e oxigênio em carbonatos ............................................................................................. 212
Conclusões...................................................................................................................................................... 213

X. GEOCRONOLOGIA ...................................................................................................................... 214


Andesitos e gabros ......................................................................................................................................... 214
Rochas intrusivas ........................................................................................................................................... 214
Minério. .......................................................................................................................................................... 215
Minério venular. ......................................................................................................................................................... 215
Discussões e conclusões. ............................................................................................................................... 216

XI. ALTERAÇÃO HIDROTERMAL. ................................................................................................. 217

XII. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES .................................................................................................... 219

XIII. AGRADECIMENTOS ................................................................................................................... 222

XIV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 223


Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA DO ALVO ESTRELA (Cu-Au),


SERRA DOS CARAJÁS, PARÁ

Zara Gerhardt Lindenmayer1, André Fleck1, Cristiane Heredia Gomes1, Antônio Benvindo Souza Santos2,
Rogério Caron1, Fernando de Castro Paula1, Jorge Henrique Laux3, Márcio Martins Pimentel3, Alex de
Souza Sardinha4.

1
Universidade Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. São Leopoldo - RS – zara@unisinos.br; fleck.andre@gmail.com
2
Companhia Vale do Rio Doce – CVRD – benvindo.santos@cvrd.com.br
3
Universidade de Brasília – UnB. Brasília - DF – lauxjh@unb.br; marcio@unb.br
4
Universidade Federal do Pará – UFPA. Belém - PA – sardinha@ufpa.br

RESUMO semelhante. Os padrões de ETR do albita-ortoclásio granito


extremamente semelhantes aos de biotita, fluorita e turmalina da ganga
Os andesitos e gabros mineralizados do Alvo Estrela ocorrem dos veios do minério, indicam que fluidos provenientes do granito
diretamente sobre a cúpula de albita-ortoclásio granito. As rochas foram os responsáveis pela concentração do minério no Alvo Estrela.
encaixantes do minério são andesitos cálcio-alcalinos alterados, gabros O quartzo diorito pórfiro é a rocha mais enriquecida em Au (5 a 50
e riolitos do Grupo Grão Pará. A idade isotópica Sm-Nd de cerca de ppb) encontrada na área. Seu padrão de ETR normalizado pelo condrito
2.76 Ga corresponde, provavelmente, à idade de cristalização das mostra grande semelhança e paralelismo com a rocha greisenizada rica
rochas vulcânicas originais e gabros do alvo, coincidente com a idade em Rb (>1000ppm) e Li (1080 ppm). A zona mineralizada parece
das rochas do Alvo Gameleira e do Grupo Salobo-Pojuca, da base do estar controlada por splays da Falha Carajás, encontrando-se em faixa
Supergrupo Itacaiunas. Os riolitos são formados por fenocristais de de andesitos e gabros subordinados, balizada a NE e SW por riolitos.
oligoclásio, quartzo e ortoclásio imersos em matriz de oligoclásio, Existe um zoneamento dos sulfetos no Alvo Estrela, com predomínio
ortoclásio, quartzo e Fe-biotita. São quimicamente semelhantes aos de pirita e pirrotita em direção ao norte e oeste nos riolitos, e calcopirita
riolitos da Serra Norte, embora mais alterados e enriquecidos em ETR, e pirita a sul e leste, nos andesitos e gabros. A razão S/Cu do minério,
Rb, Ce, Th, Nb, Sm e Y. As rochas intrusivas paleoproterozóicas em geral, é mais elevada do que nos depósitos da região norte da Serra
compreendem quartzo-diorito pórfiro (1881 ± 5 Ma, U-Pb em zircão), dos Carajás, como Salobo, Pojuca-Gameleira e Igarapé Bahia-Alemão,
albita-ortoclásio granito e quartzo-álcali-feldspato sienito (episienito) onde predominam bornita-calcosita, calcopirita-bornita e calcopirita,
vermelho (1875 ±1,5 Ma, U-Pb em monazita), cujas idades isotópicas respectivamente. Os estilos de mineralização compreendem veios,
coincidem com a formação do minério, de ca. 1,85 Ga (Sm-Nd, isócrona brechas e stockworks. Os principais minerais de minério são
em rocha total). O ortoclásio-albita granito (OAG), composto por calcopirita, pirita, pirrotita, molibdenita e bornita, além de magnetita,
quartzo, feldspato e protolitionita, é peraluminoso e alcalino. Trata- acompanhados da ganga de quartzo, fluorita, albita, siderofilita,
se de granito sódico, com razão FeO/Fe2O3 entre 9 e 14. O episienito turmalina, epidoto, chamosita e topázio. A calcopirita, mineral de
- quartzo-álcali-feldspato sienito (QAFS) vermelho é constituído por cobre mais importante, é aurífera (0,177 apfu de Au). A pirita é
feldspato potássico, fluorita, clorita e magnetita. É álcali-cálcico, cobaltífera (Co = 0,012-1,756 apfu) e a pirrotita é niquelífera (Au =
metaluminoso e rico em Ba (1220ppm) e Cu (1590ppm). Há perfeita 0-0,139, Ni = 0,147-0,375 apfu). A sucessão mineral descrita sugere
coincidência entre os padrões de ETR do OAG e QAFS, exceto pela que o fluido era inicialmente neutro a alcalino e oxidante, passando a
ausência de anomalia negativa de Eu no QAFS, sugerindo que o último ácido e redutor durante o estágio de greisenização. Na fase tardia final
seja uma fácies hidrotermalizada do OAG. Os granitóides mostram e escassa os carbonatos ocorrem acompanhados de quartzo e fluorita,
valores de d18O‰ entre +7,0 e +10,0, dentro do intervalo esperado sugerindo diminuição na pressão de PCO2 e alta razão Ca/Na. As
para rochas desta natureza. inclusões fluidas revelam flutuações de salinidade ao longo dos eventos
Os andesitos e gabros são rochas muito alteradas, embora ainda de alteração hidrotermal da área. A coexistência geral de inclusões
portadoras de texturas ofíticas e subofíticas. Os efeitos da alteração fluidas bifásicas aquosas e trifásicas/multifásicas saturadas, juntamente
hidrotermal encontrada nessas rochas são representados por três tipos com a ampla variação de salinidade, indica fluidos hidrotermais com
principais de assembléias minerais. A assembléia mais antiga e menos importante contribuição granítica, podendo ser explicados por processo
hidratada é composta por anfibólio, do tipo hastingsita, pargasita e de reação contínua entre o fluido e a rocha encaixante durante a queda
Fe-hornblenda e plagioclásio reliquiar ígneo substituído, em graus de temperatura. Participaram também desse sistema hidrotermal
variados, por sericita, carbonato e/ou albita, juntamente com titano- fluidos provenientes das rochas máficas, possivelmente já
magnetita e epidoto. Essa é a assembléia predominante em gabros e metamorfisadas, conforme indicado pela assinatura isotópica de
corresponde à alteração cálcico-sódica precoce, embora a coexistência oxigênio e deutério, e que contribuíram com alguns metais, tais como
de epidoto, albita, carbonato e clorita em algumas amostras sugira Ni e Co, imprimindo à assembléia mineral caráter bimodal. A
preservação parcial de assembléia metamórfica mais antiga. Segue-se biotitização leva d18O das amostras de gabros e andesitos para valores
a alteração potássica, junto com ferrificação moderada e sulfetação, próximos dos granitos, cujos fluidos foram possivelmente os
dada pela presença de Fe-biotita marrom e verde, junto com siderofilita responsáveis pela alteração. Valores mais baixos de d18O mostram
e magnetita esqueletal, substituindo minerais máficos e plagioclásio. que a alteração fílica e greisenização nos andesitos e gabros foi mais
A essa fase está relacionada a mineralização venular. Um estágio de intensa quanto mais empobrecida em d 18O se mostra a rocha.
greisenização, tardio e localizado, é representado por Li-muscovita e Greisenização e brechação tardias tiveram importante contribuição de
zinnwaldita, junto com turmalina, quartzo, fluorita, topázio e clorita. águas meteóricas, embora quartzo do veio de greisen tenha se
Carbonatos sucedem a mineralização. Os gabros e andesitos menos equilibrado com fluidos metamórficos. O valor de d18O‰ = +5,3‰
alterados têm assinaturas isotópicas de oxigênio próximas de 5,0-5,5 do oxigênio do fluido, em equilíbrio com quartzo dos veios, na
d18O‰, característicos de rochas não alteradas de composição temperatura de 250°C, indica fluidos de origem metamórfica para a

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Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

greisenização. Os fluidos tardios (d18O‰ = +1,3), em temperatura de também as razões de elementos traços menos móveis, pode-se
equilíbrio isotópico do oxigênio de 165°C, possuíam já forte influência especular que o continente do arco magmático Grão Pará estava situado
de águas meteóricas. A alteração potássica, responsável pela formação ao sul da Serra dos Carajás, possivelmente no Bloco Rio Maria.
maciça de biotita-siderofilita na área, juntamente com a sulfetação, Sintetizando, compreendem os principais vetores para exploração
teve influência de fluidos magmáticos derivados dos granitos (o que de depósitos minerais paleoproterozóicos, híbridos e semelhantes ao
concorda com os valores de d 18 O de rocha total). Já fluidos Alvo Estrela, na região da Serra de Carajás:
metamórficos foram possivelmente preponderantes no transporte e • Controle estrutural marcado por splays NS da falha Carajás;
deposição de metais. À medida que o sistema esfriava, a mistura de • Existência de andesitos reativos, balizados por zonas
fluidos tornava-se maior e os fluidos meteóricos passaram a ter papel impermeáveis, representadas por milonitos silicificados ou
importante quando do fechamento do sistema, em regime rúptil, abaixo intrusões tabulares, propícias à canalização dos fluidos
de 200°C. Os valores de d34S de calcopirita (+0,1 a +3,5) e pirita hidrotermais;
(+0,6 a +4,1), além de molibdenita (+0,9) indicam fonte magmática • Alta razão rochas máficas reativas/rochas félsicas menos
para o enxofre. Nos carbonatos dos veios tardios d13C de calcita é reativas aos fluidos hidrotermais;
compatível com origem magmática, enquanto o de siderita poderia ser • Presença de granitos paleoproterozóicos, fonte de calor e
atribuído a carbono crustal, com influência de fluidos hidrotermais. metais, refletida por intensa biotitização das rochas
Alteração hidrotermal intensa e extensa, juntamente com formação encaixantes;
dos veios mineralizados em Cu-Au, teve lugar em ca. 1,85 Ga. Os • Ausência de grandes massas de magnetita, ou mesmo
valores fortemente negativos de eNd(T) dos veios sugerem derivação desaparecimento de rochas regionais ricas em ferro, devido à
de fluidos a partir de fonte com assinatura isotópica de Nd arqueana. lixiviação do Fe pelos fluidos ácidos, responsáveis pela
A idade Re-Os de 2,7 Ga em molibdenita deformada na borda de um greisenização e deposição dos minerais ricos em Li e Rb;
veio mineralizado de idade isocrônica Sm-Nd de 1857 ± 98 Ma, junto • Presença de sulfetos de alta razão S/Cu, como pirita, pirrotita,
com a presença de molibdenita não deformada e mais jovem, sugere calcopirita;
fortemente que haja mais de uma geração de molibdenita na área. A • Discreta alteração cálcico-sódica;
idade da molibdenita não reflete necessariamente a idade da • Presença maciça de fluorita, associada às micas litiníferas
mineralização cupro-aurífera dos depósitos de Cu-Au da região da incolores a castanho-claras em amostras de mão (protolitionita,
Serra dos Carajás. Os dados isotópicos e geocronológicos demonstram Li-muscovita e zinnwaldita), juntamente com turmalina e
que a mineralização de Cu-Au e o evento hidrotermal associado são clorita. em zonas greisenizadas tardias.
paleoproterozóicos, sem associação com os eventos ígneos arqueanos.
A comparação com os depósitos do Salobo, Bahia-Alemão e mesmo ABSTRACT
Gameleira mostra que no Alvo Estrela não ocorrem as grandes massas
de magnetita, características dos depósitos de óxido de Fe, Cu-Au. A The Estrela Cu-Au deposit in the Serra dos Carajás region is
alteração cálcico-sódica que antecede a mineralização carece de fases hosted by altered andesites and gabbros and rhyolites of the Grão
como escapolita e as assembléias minerais vinculadas a esse estágio Pará Group, Itacaiunas Supergroup, formed at 2.76 Ga (Sm-Nd
são raras, podendo muitas vezes ser atribuídas a metamorfismo isochronic age). The deposit is in a 400 m thick sequence of altered
regional, anterior à intrusão granítica. Superposta à alteração potássica andesites, and minor gabbros composed of biotite, quartz, albite,
dominante, na qual Fe-biotita e siderofilita são os principais minerais, tourmaline, fluorite, hastingsite, pargasite, Fe-hornblende, and
ocorre greisenização em faixas localizadas, caracterizada por quartzo, magnetite, cut by Paleoproterozoic porphyritic quartz diorite,
topázio, fluorita, turmalina, clorita e micas litiníferas, como orthoclase-albite granite, topaz-orthoclase-albite granite and quartz-
protolitionita, Li-muscovita e zinnwaldita; as rochas que as contêm alkali-feldspar syenite (episyenite). These rocks intruded the volcanic
apresentam teores de Li acima de 1000 ppm. Estes dados parecem sequence after the onset of the mylonitic foliation and prior to the
caracterizar um depósito de tipo híbrido, com algumas características episode of brittle deformation. The mineralization is epigenetic, mostly
comuns aos depósitos de óxido de Fe, Cu-Au e de cobre pórfiro de in quartz veins, disseminated in the host rocks, filling foliation
alto enxofre nos estágios precoces, evoluindo para greisenização tardia. fissures, or forming the matrix of brecciated quartz veins. Main sulfides
As feições regionais que controlam os demais depósitos de óxido de are chalcopyrite, pyrite, and pyrrhotite, with traces of bornite,
Fe, Cu-Au de Carajás estão também presentes no Alvo Estrela, como molybdenite, and gold. There is a sulfide zonation in the ore, with
o controle a partir de splays da Falha Carajás, a concentração do pyrite and pyrrhotite dominating in the rhyolites to the north and
minério em andesitos reativos, balizados por duas falhas silicificadas, west, and chalcopyrite and pyrite prevailing in the intermediate to
que poderiam ter agido como barreiras na canalização dos fluidos mafic rocks to the south and east of the prospect. The S/Cu ratio is
hidrotermais, e a relação direta com granitos, fontes de calor, fluidos higher than in the major deposits situated to the north of the Serra dos
Carajás: Salobo, Pojuca-Gameleira, and Igarapé Bahia, where bornite-
e alguns metais, como mostram os elementos associados F, U, ETRL,
chalcocite, chalcopyrite-bornite and chalcopyrite dominate,
Mo, K, Rb, B e Li. Os valores negativos de eNd(T) das rochas do Alvo
respectively. The host rocks of Estrela Cu-Au deposit were affected
Estrela sugerem contaminação com material crustal mais antigo, tal
by early calcic-sodic alteration followed by potassic alteration,
como o complexo Xingu na região do Bloco Rio Maria, que é
accompanied by moderate ferrification and sulfidation, which
discordantemente recoberto pelas rochas vulcânicas do Supergrupo
transformed the igneous protoliths into biotite-rich rocks. Based on
Itacaiunas, na Região da Serra do Rabo. Da mesma forma, as razões
specific paragenetic sequences of mineral replacements, and mass
Th/Yb versus Ta/Yb dos riolitos sugerem ambiente de margem
balance calculations, most of the major and many of the minor and
continental ativa. A comparação dos resultados das datações isotópicas
trace elements have been mobilized during deformation and
Sm-Nd de Salobo, Gameleira (Pimentel et al., 2003) e do Alvo Estrela
hydrothermal alteration. The hydrothermally altered calc-alkaline
sugerem que as rochas hospedeiras são cronocorrelatas. Todavia, os
andesites and cogenetic gabbros of the Estrela deposit have been
valores de eNd(T) das rochas do Alvo Estrela (-3,2), Gameleira (-1,4
dated at 2579±150 Ma with eNd (T) of –3.2. The Na:Ca ratio in the
em andesitos, –0,8 em gabros) e Salobo (-0,1) sugerem que elas não
fluid probably increased with declining temperatures. This was
são cogenéticas. O valor menos negativo para a isócrona, quando as
recorded by succeeding mineral assemblages in andesites and gabbros,
rochas vulcânicas do Salobo são analisadas junto com as do Alvo
that went from hastingsite, Fe-pargasite, albite, biotite, and quartz
Gameleira, sugere que as rochas do Salobo são menos contaminadas
towards the Ca-poor association of biotite, siderophyllite, albite,
com crosta continental (Pimentel et al., 2003). Levando-se em conta tourmaline, and fluorite, to the late alteration assemblage of fluorite,

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Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

topaz, chlorite, tourmaline, quartz, zinnwaldite, and Li-muscovite. A at 1857±98 Ma (Sm-Nd, isochron). Geological and isotopic data
water-rich, variably saline hydrothermal fluid was characterized by support correlation of the Estrela host rocks with the basaltic andesites
fluid inclusion studies. Association of CO2-deficient inclusions and quartz diorite sills of the N4 iron mine, and of the Gameleira
presenting a wide range of homogenization temperatures and salinities deposit. This volcanic and intrusive rock association belongs to the
has been described in the literature as typical of fluids holding a Parauapebas Formation, Grão Pará Group, which has been generated
strong magmatic (granitic) inheritance. Hotter fluids, responsible for in a collisional setting of an Archean continental margin. The early
potassic alteration and albitization were oxidizing alkaline and held mineralizing fluids were metamorphic in origin, as attested by d18O
high K and Cl activities, in addition to high Na:Ca ratios. These fluids and dD values in quartz veins and fluid inclusions. The decreasing of
turned into acidic and reducing towards the late greisenization stage. d18O values accompanied by temperature dropping suggests a mixing
During cooling, decreasing of the Na:Ca ratio probably occurred, of the hot fluid with meteoric water. This is in accordance with the
accompanied by sharp increasing of F activity, as evidenced by the d18O values of +5.3 to +1.3 ‰ calculated for the mineralizing fluid as
massive presence of fluorite. Rare epidote and calcite attest to the indicative of a metamorphic origin, with metal precipitation produced
slightly growing Ca activity towards the latest hydrothermal phase. by fluid mixing. The ranges of d13CPDB and d18OSMOW in two calcite
Textural data from Estrela, where the REE minerals are always samples from veins of the Estrela deposit are -3.15 to -4.82‰ and
associated with sulfide veins, and occur as inclusions in biotite and +9.08 to +10.66, respectively and -15.56 ‰ and to +21.84‰ in one
siderophyllyte indicate that crystallization of F-rich biotite, fluorite siderite sample. The calcite samples plot very close to the magmatic
and metallic phases would be the main mechanisms responsible for water field, and the siderite almost overlaps with samples of siderite
the crystallization of REE minerals. The inequivocal relationship of from the Igarapé Bahia deposit. A magmatic source for sulfur is indicated
Cu-Au mineralization with the orthoclase-albite granite of Estrela is by the d34S of chalcopyrite (+0.1‰ to +3.5‰), pyrite (+0.6‰ to
mainly attested by the perfect coincidence of REE patterns of fluorite, 4.1‰), and molybdenite (+0.9‰). It seems that the presence of some
tourmaline, biotite, and orthoclase-albite granite. Presence of silicified ingredients, which lead to the metal concentration are very important:
shear zones at the andesite contacts, acting as a rigid and impermeable splays of regional-scale shear zones together with reactive basaltic
body, played an important role for the channeling of the circulating rocks, a granitic intrusion as the source of fluids, an impermeable unit
hydrothermal fluids. The vein mineralization was simultaneous with to act as a barrier to the magmatic-hydrothermal mineralized fluids, and
the quarz-alkali-feldspar syenite (episyenite) (1875±1.5 Ma, U-Pb, a high basaltic to felsic host rock ratio. The sulfur concentration increases
zircon) and quartz diorite 1880±5.1Ma, U-Pb monazite) emplacement, along with the granitic-to-mafic volume ratio of the host rocks.

I. INTRODUÇÃO IOCG até alteração do tipo fílica dominante, com estágio


intermediário de alto enxofre, semelhante aos depósitos
O Alvo Estrela (Cu-Au) está localizado na porção les- de cobre pórfiro.
te da Serra dos Carajás, na denominada Serra do Rabo, A comparação das idades isotópicas e composição de
no extremo SE do município de Parauapebas, sudeste do diversos desses depósitos indica variação secular do esti-
Estado do Pará (Figura 1). Cobrindo superfície de 2 km2, lo de alteração regional, com os fluidos, inicialmente
a área foi pesquisada pela Docegeo no período compre- oxidantes e alcalinos, evoluindo para ácidos e redutores.
endido entre 1998 e 2001. A seleção da área foi fruto da Todos esses depósitos são muito enriquecidos nos gran-
presença de anomalias geoquímicas, já detectadas na des íons litófilos (LILE) e também em Co, Ni e Cr, signi-
década de 80, e levantamentos aerogeofísicos, além de ficando que a composição dos fluidos mineralizantes mo-
trabalhos mais recentes de magnetometria e dificou-se por interação com rochas máficas e graníticas.
gamaespectrometria terrestre. A pesquisa contou com O Alvo Estrela, aqui descrito, guarda feições de todas
levantamentos geoquímicos de solo e geofísicos terres- estas variações seculares no estilo de mineralização.
tres (IP e TEM), além de sondagem exploratória. Os tra-
balhos foram suspensos em 2002 devido aos resultados II. TRABALHOS REALIZADOS – MATE-
pouco promissores, com a estimativa de reserva potenci- RIAIS E MÉTODOS
al da ordem de 230 Mt a 0,5% Cu. O estudo do Alvo
Estrela foi patrocinado pelo CT-Mineral-ADIMB-FINEP- A caracterização geológica do Alvo Estrela está ba-
DNPM e teve por objetivo principal o estabelecimento de seada nos dados de Docegeo (2002) e nos trabalhos exe-
parâmetros para caracterização de áreas com cutados pelos autores, compreendendo descrições
mineralização paleoproterozóica em Carajás, tal como o macroscópicas detalhadas de 4152m de testemunhos de
Alvo Gameleira. sondagem provenientes de furos localizados em duas se-
Os depósitos de Carajás parecem compreender uma ções, situados na zona mineralizada (3400 SE e 3800 SE),
variedade singular de mineralizações arqueanas a além da descrição parcial de quatro seções (1600 SE,
paleoproterozóicas em uma mesma região. Num extre- 4100 SE, 4700 SE e 5200 SE), seguida da coleta de 423
mo estão depósitos do tipo Salobo, IOCG clássicos amostras, das quais 212 foram selecionadas para confec-
(Lindenmayer 2003), e no outro extremo parece estar ção de lâminas delgadas e polido-delgadas.
Breves, englobando processos sucessivos de alteração, A preparação de amostras para análises químicas foi
em modelo híbrido entre óxido de Fe, Cu-Au, cobre pórfiro efetuada nos laboratórios da Universidade do Vale do Rio
e Sn-W relacionado a granito (Botelho et al. 2004, dos Sinos – UNISINOS, bem como a confecção e des-
Tallarico et al., 2004), sugerindo um continuum desde crição das lâminas delgadas, polido-delgadas e bi-polidas.

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Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

A preparação das amostras, tanto para análise química foram lavadas e secadas completamente por meio de jato
total, quanto para isótopos de oxigênio, em número de 49 de ar comprimido. Foram então colocadas em sacos plás-
e 20, respectivamente, constou do corte de fatias de ro- ticos, revestidos externamente por papel, sobre uma pla-
chas, medindo 10 a 12 cm de comprimento e cerca de 1 ca de aço e quebradas a marteladas. Subseqüentemente
cm de espessura. Essas fatias, após serem lixadas para as amostras foram pulverizadas em fração inferior a 200
eliminar os vestígios da serra, caneta ou fitas adesivas, mesh, em moinho de anéis do tipo Shatter Box.

Figura 1 – Mapa de localização do Alvo Estrela (modificado de Docegeo 2002).

Cinco amostras de fluorita, turmalina e biotita, seleci- ICP com fusão por metaborato/tetraborato de lítio; ele-
onadas para análises de elementos maiores e traços e 5 mentos traços e ETR foram analisados por ICP-MS, tam-
amostras de quartzo, biotita e clorita para análises isotó- bém com fusão das amostras por metaborato/tetraborato
picas de oxigênio e deutério, foram obtidas por catação de lítio. FeO foi determinado por titulação e Au por fire
manual sob lupa binocular, tendo sido posteriormente pul- assay seguido de determinação por AA, no laboratório
verizadas da mesma maneira que as amostras de rocha. ACTLABS, Canadá.
Grãos de molibdenita, para datações Re - Os, foram obti- Sulfetos para análises de isótopos de enxofre (17
dos também por catação manual sob lupa binocular. amostras) e carbonatos para análises de isótopos de
Os elementos maiores SiO2, Al2O3, TiO2, Fe2O3 , MnO, carbono e oxigênio (3 amostras) foram extraídos e pul-
MgO, CaO, K2O, Na2O e P2O5, foram analisados por verizados por meio de broca de dentista dotada de pon-

160
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

ta fina de vídia, sendo a seleção final dos grãos efetua- grafia da UNISINOS, com a platina Chaix Meca (Poty
da sob lupa binocular. et al., 1976) instalada sobre microscópio Olympus BH2.
As análises isotópicas de enxofre foram realizadas no A reprodutibilidade das medidas efetuadas é de aproxi-
Laboratório de Isótopos estáveis da Universidade de Cal- madamente 0,2ºC. A curva de calibração do aparelho foi
gary, Canadá, de acordo com os procedimentos descritos construída a partir de dados obtidos com inclusão fluida
por Iyer et al (1992). Para as análises de isótopos de natural rica em CO2 puro (-56,6ºC), água desmineraliza-
enxofre, SO2 foi liberado de mistura da amostra com SiO2- da (0,0ºC) e produtos MERCK indicadores de tempera-
V2O5, em sistema de linha de extração de vácuo ajustado tura (40ºC, 100ºC, 135ºC, 200ºC, 306,8ºC e 398ºC). Fo-
a espectrômetro de massa, usando componentes Micro- ram confeccionadas lâminas bipolidas com espessuras em
mass 602. As amostras foram aquecidas a 800°C e SO2 torno de 0,3 a 0,5 mm, coladas a frio com Entelan e des-
foi separado a partir dos gases liberados, especialmente coladas com Xylol (Merck art. 8687) para evitar altera-
CO2 e vapor d’água, por meio de destilação fracionada, ções devidas à preparação das amostras. Os cálculos de
usando diferentes misturas congelantes. As razões isotó- salinidade, densidade, isócoras e estimativas de pressão
picas das amostras foram comparadas com gás padrão foram realizados utilizando o programa MacFlinCor (Bro-
do laboratório. As razões isotópicas são dadas em rela- wn e Hagemann 1994).
ção a CDT (Canyon Diablo Troilite) e a precisão da aná- O código de todas as amostras apresentadas neste
lise é de ± 0,2‰. A acuracidade das análises foi verifica- texto corresponde ao número do furo de sondagem, se-
da por meio da utilização de padrões fornecidos pelo Na- guido da profundidade na qual foram coletadas.
tional Bureau of Standards (NBS). Colaboraram nas diversas fases deste trabalho: Dr.
As análises isotópicas de carbono e oxigênio foram João Batista Guimarães Teixeira (UFBA-CNPq), Dra.
realizadas no Laboratório de geoquímica isotópica da Kerry Klasten (Queen’s University, Canadá), Dra. Ho-
Universidade Federal de Pernambuco. CO2 gás foi ex- lly Stein (Colorado State University), Dr. Sundaram S.
traído dos carbonatos pulverizados, em linha de alto vá- Iyer (University of Alberta, Canadá), Dr. Alcides Nó-
cuo, depois de reagir com ácido fosfórico 100%, a tem- brega Sial (UFPE), Dr. Luiz Henrique Ronchi (UNISI-
peratura de 25°C por um dia (três dias no caso de dolo- NOS), Daniel Piraine Travassos (UNISINOS-DTI/
mitos ou misturas de calcita-dolomita) e limpas criogeni- CNPq), Tatiana Rennau dos Santos (UNISINOS), Ja-
camente, de acordo com o método descrito por McCrea nice Caldas Araújo (UNISINOS) e Ana Carolina No-
(1950). O gás CO2 liberado foi analisado para isótopos de watzki (UNISINOS).
C e O em espectrômetro de massa SIRA II, usando como
referência gás BSC (Borborema Skarn Calcite), o qual, III. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL
calibrado pelos padrões NBS-18, NBS-19 e NBS-20, tem
δ18O de -11,28 ‰ PDB e δ13C de -8,58 ‰ PDB. Os A Serra dos Carajás, a maior província mineral brasi-
resultados são expressos na notação δ ‰ em relação à leira, está situada no leste do Cráton Amazônico e é com-
escala internacional do belemnito PeDee (PDB). parável às grandes províncias minerais que ocorrem em
A determinação das idades isotópicas Sm-Nd e U-Pb outros locais do planeta, tais como a Província Andina e a
foi efetuada no Laboratório de Geocronologia do Institu- do oeste da Austrália. Os depósitos mais importantes da
to de Geociências da Universidade de Brasília, coordena- Serra dos Carajás, além das jazidas de Fe, são os do tipo
do pelo Prof. Dr. Márcio Martins Pimentel. As datações óxido de Fe, Cu-Au, cujas reservas e recursos têm au-
Re-Os em molibdenita foram realizadas no laboratório de mentado constantemente devido a novas descobertas. A
Geocronologia da Colorado State University (AIRE), sob província foi formada e estabilizada tectonicamente no
responsabilidade da Profa. Dra. Holly Stein. Arqueano, tendo sido extensivamente afetada por evento
As análises isotópicas de oxigênio e deutério foram magmático paleoproterozóico, representado por diversas
realizadas no Laboratório de Isótopos Estáveis da Uni- intrusões de granitos anorogênicos (Figuras 2 e 3).
versidade de Queen’s, Ontário, Canadá, pela Dra. Kerry O embasamento da região da Serra dos Carajás é
Klasten. dominado por gnaisses graníticos, tonalíticos e trondhje-
As análises minerais, em número de 198 pontos, foram míticos, anfibolitos e quartzitos do Complexo Xingu (Silva
realizadas na Microssonda eletrônica marca Cameca, mo- et al. 1974), formados há 2.859 ± 2 Ma e migmatizados
delo Camebax SX50 da Universidade de Brasília. Foi utili- há 2.851± 4 Ma (U-Pb, Machado et al. 1991).
zada a voltagem de excitação de 15 kV, corrente de 25 h A Núcleos granulíticos mais antigos, como o Complexo
e diâmetro de feixe de 5 mm. Os padrões utilizados consis- Pium, alongados segundo E-W e dispostos a sul da Serra
tiram em minerais naturais, vidros sintéticos e metais. dos Carajás, foram individualizados por Araújo & Maia
O estudo microtermométrico das inclusões fluidas foi (1991). Ocupam áreas restritas e são compostos por gra-
efetuado em 9 lâminas bi-polidas no laboratório de petro- nulitos máficos e félsicos, enderbitos e charnoquitos de

161
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

idades em torno de 3,0 Ga (Pidgeon et al. 2000), inter- de arcos magmáticos. (eNd(T)= -1,8). A comparação dos
pretados como fragmentos da crosta inferior, colocados resultados das datações isotópicas Sm-Nd de Salobo
ao longo de zonas de cisalhamento regionais (Araújo & (eNd(T)= -0,1) e Gameleira sugerem que elas sejam cro-
Maia 1991). nocorrelatas, todavia, os valores de eNd(T) dessas ro-
O Supergrupo Itacaiúnas recobre discordantemente chas são indício de que elas não são cogenéticas (Pi-
os gnaisses do Complexo Xingu. As rochas englobadas mentel et al., 2003).
no supergrupo compreendem andesitos basálticos e ro- O Grupo Grão Pará (Beisiegel et al. 1973) é formado
chas vulcânicas félsicas, nas quais se intercalam forma- por três unidades. A unidade inferior (Formação Paraua-
ções ferríferas bandadas, rochas vulcanoclásticas e sedi- pebas, DOCEGEO 1988) é constituída por rochas meta-
mentares clásticas. vulcânicas bi modais, dominadas na base por basaltos to-
O Supergrupo Itacaiúnas foi dividido em três grupos leiíticos continentais (Gibbs et al. 1986, Olszewsky et al.
(DOCEGEO 1988), denominados Salobo-Pojuca, Grão 1989), ou basaltos shoshoníticos (Meirelles e Dardenne
Pará e Igarapé Bahia. Idades isotópicas recentes demons- 1991) ou ainda andesitos basálticos e quartzo dioritos cál-
traram que estas unidades são cronocorrelatas, embora cio-alcalinos, os últimos com afinidades shoshoníticas
não sejam cogenéticas. (Teixeira & Eggler (1994). No topo da Formação Parau-
O Grupo Salobo-Pojuca compreende faixa deforma- apebas dominam rochas vulcânicas félsicas, traquiande-
da, de direção WNW, que baliza a norte a região da sitos e riolitos, cuja efusão deu-se entre 2.743 ± 11 Ma
Serra dos Carajás. É composto por rochas vulcanosse- (U-Pb, zircão, Trendall et al. 1998) e 2.759 ± 2 Ma (U-
dimentares, tais como anfibolitos, xistos, formações fer- Pb, Machado et al. 1991). Estes dados indicam sincro-
ríferas, metagrauvacas e quartzitos depositados entre nismo entre a Formação Parauapebas e a deposição do
2.732 e 2.742 Ma (U-Pb, Machado et al. 1991). Essas Grupo Salobo-Pojuca.
rochas, descritas no depósito de Cu-Au do Salobo inici- A unidade intermediária do Grupo Grão Pará, denomi-
almente como metamórficas (Lindenmayer 1990), fo- nada Formação Carajás (Beisiegel et al. 1973), é com-
ram reinterpretadas como provenientes de processos de posta por jaspilitos esferulícos e formações ferríferas
alteração hidrotermal que acompanharam a deposição bandadas, que correspondem ao protominério do ferro
dos sulfetos de Cu (Lindenmayer & Teixeira 1999). laterítico das grandes jazidas de Carajás. Sua idade míni-
Rochas vulcânicas andesíticas descritas recentemente ma é determinada por soleira máfica que a corta, datada
no Alvo Gameleira indicaram proveniência de magma em 2.740 ± 8 Ma (U-Pb, zircão, Trendall et al. 1998).
cálcio-alcalino, geoquimicamente análogo aos magmas

Figura 2 – Esboço Geológico da região da Serra dos Carajás (modificado de Docegeo 2002).

162
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

A unidade superior (seqüência paleovulcânica superi- tos Salobo e Itacaiúnas, respectivamente há 2.573 ± 2
or, Beisiegel et al. 1973; DOCEGEO, 1988 ou upper Ma (U-Pb em zircão, Machado et al. 1991) e 2.560 ± 37
metasedimentary sequence, Gibbs et al. 1986), com- Ma (Pb-Pb, zircão, Souza et al. 1996). Estes granitos
preende rochas vulcânicas, metagrauvacas, filitos e are- possuem também afinidade alcalina, são peraluminosos a
nitos, com derrames basálticos, tufos e arenitos tufáceos metaluminosos, e foram afetados por deformação dúctil
intercalados (Gibbs et al. 1986). (Barros et al. 1997; Lindenmayer et al. 2003).
O Grupo Bahia, de ocorrência restrita à área da Mina A história tectônica da região da Serra dos Carajás
de Au do mesmo nome, é dominado por rochas metasse- envolve uma fase de convergência arqueana, seguida pela
dimentares (pelitos e ritmitos) e metavulcanoclásticas atividade de uma pluma mantélica. A subducção ocorreu
félsicas a máficas, nas quais se intercalam metavulcâni- abaixo da porção sul da região de alto grau do Complexo
cas e intrusivas máficas (DOCEGEO 1988). Idade isotó- Xingu (Complexo Pium), entre 2,76 e 2,74 Ga. Antes da
pica obtida em rocha vulcânica máfica (2.745 ± 1 Ma, colisão, ambas as margens continentais haviam tido his-
Galarza et al. 2001) mostrou definitivamente o sincronis- tória geológica complexa. A margem passiva encontra-se
mo entre as rochas do Supergrupo Itacaiunas. na borda norte do terreno granito-greenstone do Bloco
Todas as unidades anteriormente descritas foram dis- Rio Maria, situado a sul, enquanto que a margem ativa foi
cordantemente recobertas há 2.681 ± 5 Ma (U-Pb, zir- também desenvolvida sobre crosta continental antiga,
cão vulcânico sin-deposicional, Trendall et a. 1998) pelos onde atualmente se situa a Bacia Carajás. No período
depósitos clásticos, marinhos rasos a fluviais da Forma- entre 1,89 e 1,87 Ga os terrenos de alto e baixo grau fo-
ção Águas Claras (Araújo & Maia 1991, Nogueira e Tru- ram invadidos por dezenas de plutões graníticos anorogê-
ckenbrodt 1994), anteriormente denominada de Grupo Rio nicos, representados na área pelos granitos Carajás, Ci-
Fresco (DOCEGEO 1988) e Formação Gorotire (Beisie- gano, Pojuca e Salobo Jovem. Os granitos paleoprotero-
gel et al. 1973). A denominação de Formação Gorotire zóicos de Carajás foram colocados em níveis crustais ra-
tem sido utilizada recentemente para designar conglome- sos, durante regime tectônico extensional, em resposta à
rados e arenitos conglomeráticos que ocorrem a sul, na atividade de pluma mantélica que deu origem ao vulca-
região da Serra do Rabo, onde está localizado o Alvo Es- nismo continental em todo o Cráton Amazônico entre 1,88
trela (Docegeo 2002) e na região da Serra do Cinzento, e 1,76 Ga (Figura 2).
ao norte (Pinheiro & Holdsworth 1997).
Reativações de grandes falhas do embasamento, do Depósitos Minerais
tipo direcional e em regime rúptil-dúctil (Pinheiro & Hol-
dsworth 1997), que ocorreram entre ca. 2.581 e 2.519 Os maiores depósitos de Cu-Au, atualmente conheci-
Ma, levaram à formação das grandes zonas de falha EW, dos na região da Serra de Carajás, encontram-se hospe-
denominadas de Carajás e Cinzento, concomitantemente dados em rochas do Supergrupo Itacaiunas: Grupos Iga-
ao desenvolvimento de assembléias minerais de baixo grau rapé Bahia (Au Bahia e Cu-Au Alemão), Salobo-Pojuca
metamórfico (Pinheiro & Holdsworth 1997), compostas (Cu-Au Salobo, Cu-Au Gameleira e Cu-Zn Pojuca) e Grão
por clorita e titanita. Durante esta importante reativação, Pará (Cristalino, Sossego e Alvo 118). Depósitos meno-
colocaram-se diversos sills de gabro-diorito, hoje encai- res, como Águas Claras e Breves, estão hospedados nos
xados nas rochas do Grupo Bahia (Ferreira Fº 1985), nos arenitos da Formação Águas Claras. A variedade das
arenitos da Formação Águas Claras (Barros et al. 1994, rochas encaixantes aponta para depósitos epigenéticos
Dias et al. 1996), nas formações ferríferas da Formação (Tallarico et al., 2000, 2004, Lindenmayer 2003, Botelho
Carajás na Serra Norte (Teixeira & Eggler 1994) e na et al., 2004).
Serra Sul (Lindenmayer et al. 2002). Os dados disponíveis atualmente fizeram com que o
Granitos neoarqueanos alcalinos e metaluminosos de- modelo óxido de Fe-Cu-Au passasse a ser aceito sem
formados, tais como os da Suíte Plaquê (Araújo et al. restrições pela grande maioria da comunidade geológica.
1994), com idade de 2.727 ± 29 Ma (Macambira et al. O modelo, porém, tornou-se muito amplo, a ponto de abri-
1996), do Complexo Granítico Estrela (2.763 ± 7 Ma, gar extensa gama de subtipos, cada um deles com suas
Barros et al. 2001), o granito Planalto (2747 ±2 Ma, Huhn peculiaridades e controles próprios.
et al. 1999) e o Granito Serra do Rabo (2.743 ± 1,6 Ma, A assembléia de minerais de alteração, a paragênese
Sardinha 2003), marcam a existência de fase de defor- sulfetada e a associação de metais (Fe-Cu-Au-Mo-Co-
mação regional importante na região (Barros et al. 2001), U-F-ETR) encontradas nos depósitos de Carajás, em
concomitante com a efusão dos basaltos do Supergrupo geral, assemelham-se muito às dos depósitos do distrito
Itacaiunas. de Cloncurry, na Austrália, formados em temperaturas e
Durante as reativações tectônicas ocorridas no perío- profundidades relativamente grandes, tais como Ernest
do entre ca. 2.581 e 2.519 Ma foram colocados os grani- Henry, Monakoff e Mount Kalbadon (Williams 2000).

163
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

Figura 3 – Evolução tectônica da Província Mineral de Carajás (Teixeira & Lindenmayer, 2006).

164
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Os depósitos de Fe-Cu-Au proterozóicos ocorrem em IV. GEOLOGIA DO ALVO ESTRELA


terrenos cratônicos, são controlados por grandes estrutu-
ras tectônicas e se associam com magmatismo anorogê- O Alvo Estrela está localizado na Serra do Rabo, ex-
nico, ou magmatismo ensiálico, embora depósitos amag- tensão leste da Serra dos Carajás, situada no extremo SE
máticos sejam também encontrados (Williams 2000, Po- do município de Parauapebas, sudeste do Estado do Pará
llard 2000). Estão concentrados em rochas de idade des- (DOCEGEO 2002). Encontra-se em faixa de direção
de paleoproterozóica superior até mesoproterozóica infe- WNW, com foliação de direção NW e mergulhos próxi-
rior (1,8–1,4 Ga), mos da vertical, sub-paralela à falha Carajás (DOCEGEO
Os depósitos de Fe-Cu-Au de Carajás parecem apre- 2002).
sentar quase todas as feições acima referidas. As exten- O depósito mineral estudado se encontra diretamente
sas falhas do embasamento foram reativadas diversas sobre a cúpula de granito. Há apenas dois afloramentos
vezes (Pinheiro e Holdsworth 1997). Essas reativações na área, um de formação ferrífera e outro de quartzo
envolveram as grandes zonas de falha EW, denominadas diorito. Em conseqüência, a geologia da área, apresenta-
de Carajás e Cinzento, formadas entre ca. 2.581 e 2.519 da a seguir, baseia-se na descrição de testemunhos de
Ma e reativadas em torno de 1.8 Ga. As características furos de sondagem e interpretações das seções 3400 SE
estruturais e micro-estruturais descritas no Grupo Salo- e 3800 SE e descrições parciais das seções 1600 SE, 4100
bo-Pojuca, no depósito do Alvo Gameleira, mostram os SE, 4700 SE e 5200 SE, juntamente com reinterpretação
domínios de extensa zona de falha transcorrente, impor- do mapa geológico da área, elaborado por geólogos da
tante em escala regional. Trata-se, possivelmente, de es- CVRD, em 2002.
trutura de segunda ordem ligada à Falha Carajás (Lin- Dominam na área rochas neoarqueanas do Grupo Grão
denmayer et al. 2001). Em falhas secundárias, associa- Pará, constituídas por vulcânicas andesíticas, gabros e
das a essas grandes falhas regionais, estão igualmente riolitos e lentes de formações ferríferas bandadas, estas
diversos depósitos. últimas representantes da Formação Carajás. Arenitos
Tendo-se em conta as idades isotópicas disponíveis atribuídos à Formação Gorotire ocorrem no sudoeste da
para os minerais de minério de Carajás (sem levar em área. O pacote é cortado por rochas paleoproterozóicas,
consideração as possíveis diferenças ocasionadas por compreendendo ortoclásio-albita granito, não aflorante e
métodos de análises isotópicas distintos), houve três fa- quartzo diorito. O ortoclásio-albita granito apresenta duas
ses de recorrência das mineralizações, todas elas produ- fácies: episienito (quartzo-álcali-feldspato sienito verme-
zindo depósitos minerais com características geológicas lho, ocupando a parte norte da área (Figura 4), e topázio-
muito semelhantes. ortoclásio-albita granito. Diques de diabásio, orientados
Parece haver um possível zoneamento da razão Cu/S segundo falhas de direção norte-sul são também freqüen-
em escala regional. Esta razão diminui de NW para SE. tes.
Bornita e calcosita predominam no depósito do Salobo, Todas as rochas encontradas no alvo, com exceção
Gameleira mostra calcopirita>bornita, Bahia apresenta dos diques de diabásio, apresentam intensidades variadas
calcopirita >> bornita, enquanto no Alvo Estrela a assem- de alteração hidrotermal.
bléia dominante corresponde a calcopirita>pirotita>pirita. A zona mineralizada parece estar controlada por splays
Os grandes depósitos têm as brechas como o tipo prin- da Falha Carajás (DOCEGEO 2002), encontrando-se
cipal de minério (sendo Salobo, aparentemente uma ex- preferencialmente em faixa de andesitos e gabros subor-
ceção). As encaixantes máficas também parecem ser dinados, balizada a NE e SW por riolitos. O minério de
condição importante para os depósitos maiores. Aparen- Cu-Au é venular e muitas vezes brechado ou formando
temente algumas feições que levaram á concentração de stockworks. Os principais minerais de minério são
metais são muito importantes, tais como splays de gran- calcopirita, pirita, pirrotita, molibdenita e bornita, além de
des falhas regionais, juntamente com a presença de ro- magnetita.
chas vulcânicas máficas reativas, intrusões graníticas como As rochas vulcânicas félsicas são riolitos porfiríticos
fontes de fluidos, uma unidade impermeável agindo como que balizam o pacote principal de andesitos mineralizados,
barreira aos fluidos mineralizantes hidrotermais-magmá- tanto a NE quanto a SW da área nas seções estudadas
ticos e alta razão máfico-félsicas das rochas hospedeiras (Figuras 5, 6 e 7). O pacote de riolito que se encontra a
(Lindenmayer et al. 2001). NE da área é bem definido e mais espesso, com espessu-
Todos os depósitos são enriquecidos em LILE a tam- ras aparentes entre 300 e 500m, enquanto o riolito que se
bém em Co, Ni e Cr, indicando que a composição do flui- encontra a SW apresenta espessuras aparentes meno-
do mineralizante variou após a interação com rochas gra- res, entre 20 e 50m. O contato entre os pacotes riolítico e
níticas e máficas. andesítico se dá por meio de zonas de falha, muitas vezes
intensamente brechadas e/ou milonitizadas, como no con-

165
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

tato a NE, onde a zona brechada é acompanhada por de quartzo subédrico e fedspato euédrico, por vezes cor-
pronunciada silicificação do riolito. Essas zonas apresen- roídos, imersos em matriz de granulação fina onde predo-
tam tanto brechas com fragmentos de brechas pré-exis- minam quartzo, feldspato e mica branca, embora em al-
tentes, como milonitos brechados, indicando que foram guns locais a matriz apresente biotita verde e clorita su-
reativadas diversas vezes sob regimes dúcteis e rúpteis. bordinada, emprestando à rocha coloração esverdeada,
O riolito é predominantemente composto por fenocristais diversa da coloração cinza clara usual. Pirita euédrica,

SE

SE
800

100
LT-3
9299000 N

LT-4
SE
400
LEGENDA
LT-3
Canga laterítica
FD-24 FD-17
Diabásios

Episienito
9298000 N

Arenitos arcoseanos - Fm. Gorotire

Gabros

Riolitos
Grão Pará
Formação ferrífera bandada
FD-15 FD-14
FD-44
FD-11 FD-09 Andesitos
FD-21 FD-43
Granito Serra do Rabo
FD-02 FD-07
9297000 N

FD-41 FD-16
S D FD-18
FD-37
FD-01/04
CONVENÇÕES
FD-42
FD-06
FD-03
Malha Topográfica
FD-25

Falha inferida
Falha
9296000 N

S Falha normal
D
FD-23
Furo de sondagem

ESCALA 1: 10.000
0 200 400m

648000 E 649000 E 650000 E 651000 E 652000 E 653000 E

Figura 4 – Mapa geológico do Alvo Estrela (modificado de Docegeo 2002).

Figura 5 – Seção geológica 3400 SE (modificado de Docegeo 2002).

166
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

calcopirita e pirrotita ocorrem disseminadas na matriz do em o principal hospedeiro da mineralização, em zonas in-
riolito. tensamente venuladas.
O pacote de andesito tem espessuras aparentes entre Os gabros alterados, ocorrem sob forma de apófises
400 e 650m. Essas rochas são maciças ou foliadas e pos- de corpo máfico encaixado em riolitos a norte da zona
suem textura subofítica fina ou textura de fluxo reliquiar. mineralizada. As apófises de gabro são observadas em
São compostas por plagioclásio, anfibólios cálcicos e biotita intercalações medindo 3 a 35 metros ao longo do eixo dos
(siderofilita, protolitionita), assim como turmalina, quart- furos de sondagem, penetrando nos andesitos e riolitos. A
zo, mica branca, apatita e epidoto. Os andesitos constitu- apófise encaixada nos derrames andesíticos têm conta-

Figura 6 – Seção geológica 3800 SE (modificado de Docegeo 2002).

Figura 7 – Seção geológica 4100 SE (modificado de Docegeo 2002).

167
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

tos difusos. Os gabros têm textura ofítica a subofítica e veis conglomeráticos, de cor esverdeada e brechados, em
granulação média a grossa, tendo anfibólio cálcico ou contato por falha com a formação ferrífera da Formação
biotita e plagioclásio como minerais de alteração princi- Carajás.
pais. O contato entre andesito e gabro se dá de forma O granito Serra do Rabo aflora a sudeste da área do
gradual, sendo que andesito apresenta com maior freqüên- Alvo Estrela. Trata-se de um biotita-hornblenda-micro-
cia zonas intensamente biotitizadas, o que dificulta a de- clínio granito arqueano (2743 ± 1,6 Ma, U-Pb) de assina-
terminação da sua espessura, mesmo que aparente. Zo- tura geoquímica alcalina e metaluminosa (Sardinha 2002).
nas intensamente brechadas, venuladas e mineralizadas As rochas intrusivas paleoproterozóicas da área com-
também são encontradas nos gabros, embora bem menos preendem quartzo diorito pórfiro e albita-ortoclásio grani-
representativas do que as existentes nos andesitos. to apresentando fácies topázio-albita-ortoclásio granito e
Existe zoneamento dos sulfetos no Alvo Estrela, com quartzo-álcali-feldspato sienito (episienito) vermelho. O
predomínio de pirita e pirrotita em direção ao norte e oes- quartzo diorito é rocha cinza escura, formada por
te, que parece estar relacionado à rocha encaixante: fenocristais euédricos a subédricos de feldspato, imersos
calcopirita e pirita predominam nos andesitos e gabros e em matriz de Fe-biotita, quartzo e feldspatos. O ortoclásio-
pirita e pirrotita dominam nos riolitos. A razão S/Cu do albita granito apresenta uma variedade de cor rósea com
minério, em geral, é mais elevada do que nos depósitos protolitionita (entre 5 e 10%) e outra de cor cinza clara,
da região norte da Serra dos Carajás, como Salobo, por vezes bandada e composta por quartzo, feldspato e
Pojuca-Gameleira e Igarapé Bahia, onde predominam protolitionita (entre 10 e 15%). O episienito - quartzo-
bornita-calcosita, calcopirita-bornita e calcopirita, respec- álcali-feldspato sienito vermelho é constituído por feldspato
tivamente. potássico, fluorita, clorita e magnetita. O topázio-albita
Os intervalos mineralizados podem variar de centíme- granito é cinza claro e de granulação fina composto por
tros a vários metros e os veios são compostos por quart- quartzo, albita, ortoclásio, zinnwaldita, Li-muscovita e
zo, turmalina, fluorita, biotita verde, apatita, epidoto, topázio topázio. Veios de calcopirita com biotita, feldspato
e mica branca, juntamente com calcopirita, pirita, pirrotita potássico róseo e quartzo são freqüentemente observa-
e muito subordinadamente bornita, junto com magnetita e dos nas rochas intrusivas.
ilmenita. São freqüentes as zonas de minério brechado Diversos diques de diabásio cortam a área
com espessuras aparentes entre 0,5 cm e 10 m. As bre- mineralizada. São nitidamente posteriores aos eventos
chas são clasto suportadas e nelas, fragmentos angulosos mineralizantes, uma vez que cortam todos os litotipos pre-
de andesitos são cimentados por fluorita, quartzo, Fe- sentes e não apresentam resquícios de alteração
biotita, siderofilita, albita, calcopirita, pirita e pirrotita. hidrotermal. Os diques têm espessuras aparentes desde
Observam-se zonas greisenizadas, com aspecto alguns centímetros até 25 metros. Os mais possantes
bleached, de cor cinza clara, granulometria fina e espes- mostram bordos vítreos e granulação muito fina passan-
sura aparente entre 6 e 10 metros, cortando as rochas do a média à medida que aumenta a distância dos bordos
vulcânicas e os granitos. Contêm quartzo, turmalina, em direção ao centro do corpo. Sua textura varia de ofítica
clorita, topázio, zinnwaldita e protolitionita. a subofítica, com plagioclásio imerso em matriz de
A formação ferrífera bandada, da Formação Carajás, clinopiroxênio e plagioclásio, além de quantidades signifi-
ocorre em lentes intercaladas no pacote vulcânico, nas cativas de magnetita.
porções NW e SE do Alvo Estrela, desaparecendo com-
pletamente na zona do minério. Formação ferrífera V. PETROGRAFIA
bandada, senso estrito, foi encontrada raramente devido
à deformação intensa a que essas rochas foram submeti-
das. Na seção 1600 SE, no extremo NW do Alvo, a lente Andesitos e gabros
de formação ferrífera, com espessura aparente de cerca
de 20 m, encontra-se em contato por falha com arenitos Os andesitos são rochas marrons esverdeadas, vari-
Gorotire brechados. A SE da zona mineralizada, seção ando de maciças a foliadas. São cortadas por diversas
5200 SE, a lente com a mesma espessura aparente da famílias de veios (Figura 8c) e mostram textura subofítica
anterior , mostra contato com gabro também por meio de fina reliquiar e são compostas principalmente por
falha. plagioclásio e biotita, esta última, em substituição aos mi-
Arenitos, atribuídos à formação Gorotire (Docegeo nerais máficos originais, juntamente com hastingsita-
2002), ocorrem no extremo oeste da área. Estes arenitos pargasita, turmalina, quartzo, mica branca, pirita, calcopirita
foram interceptados unicamente pelo furo 24, situado na e pirrotita, além de magnetita. Agregados arredondados
Seção 1600 SE. Trata-se de intervalo com cerca de 55m de quartzo ocorrem dispersos na matriz biotitizada, ocasi-
de espessura aparente de arenitos feldspáticos com ní- onalmente apresentando aspecto macroscópico de amíg-

168
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

dalas. Quando imersos em matriz de biotita deformada e sociada à sulfetação. Posteriormente, forma-se uma as-
foliada, correspondem a augen de quartzo que sociação mineral tardia composta por quartzo, turmalina,
freqüentemente estão nas zonas de cisalhamento no con- mica branca (Li-muscovita e zinnwaldita), clorita e topázio,
tato entre andesito e riolito (Figura 8b). Há também agre- em zonas localizadas. Os detalhes dessas substituições
gados irregulares de biotita (Figura 8a), com aspecto de são apresentados a seguir e estão resumidos na figura 9.
amígdalas, representando, possivelmente, veios cortados O plagioclásio mais antigo (oligoclásio-andesina, Ab68-75)
perpendicularmente à direção de percolação dos fluidos. é subédrico a euédrico e parcial ou completamente subs-
Os andesitos têm foliação marcada pela orientação tituído por albita (Ab99). Mede entre 75 ìm e 0,83 mm e
dos filossilicatos e dos minerais radioativos da matriz, prin- apresenta geminações reliquiares do tipo albita-carlsbad.
cipalmente próximo das zonas milonitizadas dos contatos Suas bordas são parcial ou completamente corroídas pela
com riolito. Nessas zonas há um grau de orientação cres- Fe-biotita marrom ou verde e por hastingsita. Por vezes
cente de agregados de quartzo em mosaico, desde irre- ocorrem ripas maiores (2 a 3 mm) imersas em matriz
gulares, ainda com resquícios de plagioclásio, até agrega- subofítica, resquícios de provável textura porfirítica. Nas
dos de quartzo com textura augen ou oceolar zonas mais alteradas aglomerados de Fe-biotita verde ou
(protomilonito), chegando a milonito. Nos milonitos ob- marrom expandem-se, destruindo a textura subofítica ori-
servam-se ainda bandas de quartzo levemente dobradas, ginal (Figura 9b).
intercaladas com bandas de Fe-biotita marrom, nas quais A Fe-biotita marrom ocorre, por vezes, como grandes
se distribuem trilhas de minerais radioativos (Figura 8b). lamelas (0,38 a 2 mm), preservando no seu interior a
A assembléia mineral mais antiga dos andesitos, sobre clivagem do máfico predecessor, na forma de agulhas de
a qual se observam as substituições minerais posteriores, rutilo (Figura 9c). As lamelas de Fe-biotita provavelmen-
é composta por hastingsita-pargasita, albita, quartzo, te correspondem a geração mais antiga do que a Fe-biotita
magnetita e ilmenita, correspondendo à fase de alteração verde, pois têm suas bordas corroídas por diminutos cris-
pré-mineralização, de natureza cálcico-sódica. Em algu- tais (15 ìm a 0,75mm) desta última. Geração tardia de
mas amostras a assembléia mineral consiste em Fe-biotita marrom, presente na matriz da rocha em zonas
hastingsita-Fe-pargasita, clorita, albita, quartzo, epidoto e indeformadas, tem a forma de lamelas decussatas me-
biotita, sugerindo a existência de fase metamórfica ante- dindo entre 15ìm e 0,15 mm, corroendo os cristais de
rior à alteração cálcico-sódica. Essa assembléia é substi- plagioclásio remanescentes do protólito, assim como a
tuída por biotita, albita, quartzo, turmalina, fluorita, flúor- albita neoformada.
apatita e titanita, juntamente com calcopirita, pirita, pirrotita Shorlita precoce, associada à Fe-biotita marrom, é
e molibdenita, caracterizando a alteração potássica, as- euédrica a subédrica, formando aglomerados ou em for-

(a) (b) (c)

(d) (e) Figura 8 – (a), (b) e (c) – Aspectos


macroscópicos dos andesitos. (a) Textura
subofítica fina composta de biotita mar-
rom e plagioclásio, onde ocorrem agre-
gados de biotita verde; (b) Andesito
foliado com matriz de biotita marrom, com
augen de quartzo; (c) Andesito venulado
(veios de quartzo e fluorita) e brechado,
com matriz de biotita verde e plagioclásio.
(d) e (e) Aspecto macroscópico dos
gabros. (d) Gabro com veios de quartzo e albita cortando a matriz parcialmente biotitizada; (e) Gabro com textura ofítica
reliquiar, composto de anfibólios cálcicos, plagioclásio e biotita, cortado por veios de quartzo, biotita verde e albita. As
escalas medem 2cm.

169
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

ma de leque. Geralmente zonada, apresenta bordas de A mica branca tardia invade a matriz de Fe-biotita
cor marrom acastanhado e centro azul (Figuras 9c e 9d). marrom dos andesitos, sob forma de lamelas diminutas
A shorlita tardia ocorre como cristais isolados ou agrega- (15 ìm a 0,17 mm) arranjadas na forma de agregados
dos sob forma de roseta. Apresenta cores variadas de arredondados a subangulosos (Figura 9f). Nesses agre-
pleocroismo, desde marrom acastanhado a azul, e seções gados de mica branca observam-se shorlita, albita,
basais zonadas, variando de marrom acastanhado nas magnetita ou ainda fragmentos da matriz de Fe-biotita
bordas a azul no centro. Fe-biotita e chamosita ocasio- marrom.
nalmente corroem a shorlita (Figura 9b). O gabro tem granulação média a grossa e textura
Flúor-apatita precoce é subédrica (75 ìm a 2,13 mm), ofítica ou subofítica, sendo composto por anfibólios
e fraturada, tendo as bordas corroídas por Fe-biotita ver- cálcicos (hastingsita, Fe-pargasita e Fe- hornblenda),
de (Figura 9d). plagioclásio e biotita subordinada. Tem cores que variam
Fluorita é mineral muito abundante nas rochas do Alvo entre cinza esverdeado e cinza amarronzado (Figura 8b).
Estrela, sendo observada na matriz de Fe-biotita verde e A cor cinza esverdeada indica o predomínio de anfibólios
hastingsita, circundada por auréolas de minerais radioati- e biotita verde, enquanto a cor cinza amarronzada denota
vos, juntamente com aglomerados semicirculares de mica a presença de biotita marrom, substituindo os anfibólios.
branca, além de epidoto, magnetita, calcopirita e Junto com biotita observa-se ainda turmalina, apatita,
molibdenita. Forma, muitas vezes, cintas em torno de cris- fluorita, quartzo e mica branca.
tais de calcopirita e epidoto, isolando estas fases cristali- Zonas venuladas cortam o gabro (Figura 8c). Os vei-
nas do contato direto com a biotita. os compostos por quartzo, biotita verde, mica branca,
A chamosita é alteração esporádica de Fe-biotita. No topázio, fluorita, turmalina, epidoto, albita, clorita e carbo-
andesito tem razão Fe/Fe+Mg entre 0,88 e 0,91, enquan- natos, podem ou não estar acompanhados de fases
to no gabro é mais magnesiana (Fe/Fe+Mg 0,634 e 0,65). sulfetadas como pirita, calcopirita, pirrotita, bornita (su-
O epidoto (Fe-epidoto com PS= 27,43-28,84) associa- bordinada), molibdenita e magnetita.
se, na maioria das vezes, a auréolas de minerais radioati- O gabro apresenta zonas intensamente brechadas, nas
vos e ou fluorita. quais os fragmentos da matriz encontram-se cloritizados

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

Figura 9 – Fotomicrografias da matriz do andesito. (a) Textura subofítica reliquiar, composta de plagioclásio albitizado,
hastingsita e Fe-biotita verde que corrói as bordas destes minerais; (b) Textura subofítica reliquiar parcialmente substituída
por Fe-biotita marrom que também corrói as bordas do cristal de shorlita. Notável é presença de minerais radioativos em meio
à Fe-biotita; (c) Grandes lamelas de Fe-biotita marrom com bordas corroídas pela Fe-biotita verde, percebe-se também a
grande quantidade de cristais de shorlita, albita e quartzo disseminados na matriz de Fe-biotita verde; (d) Fe-biotita (Z=
verde) corrói as bordas de cristais de F-apatita e shorlita; (e) Fotomicrografia do andesito deformado, com augen de quartzo
parcialmente recristalizado envolto por chamosita; (f) Fe-biotita marrom corroendo os aglomerados de albita. Observar o
aglomerado de mica branca, com cristais de shorlita no seu interior, invadindo a Fe-biotita marrom.

170
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

e cimentados por quartzo e albita e quartzo, fluorita e Os anfibólios cálcicos são hastingsita e Fe-hornblenda,
epidoto. Por vezes, essas zonas brechadas encontram-se com pleocroísmo de verde claro a verde escuro azulado.
superimpostas às antigas zonas venuladas, indicando São subédricos a anédricos, e estão parcial ou completa-
recorrência de eventos rúpteis. mente substituídos por siderofilita, Fe-biotita e Mg-biotita
Tal como nos andesitos, as zonas de textura subofítica (Figura 10c).
reliquiar e assembléias minerais compostas por anfibólios Nas zonas menos alteradas ocorrem ainda cristais
cálcicos, plagioclásio, quartzo, magnetita, ilmenita e anédricos de Fe-epidoto (PS = 28,71-33,29), por vezes
subordinadamente siderofilita e biotitas correspondem à apresentando suas bordas corroídas pelos anfibólios (Fi-
alteração sódico-cálcica. As assembléias minerais forma- gura 10b).
das por siderofilita, biotitas, turmalinas, chamosita, quart- A alteração potássica é representada principalmente
zo, albita, fluorita, Fe-epidoto, apatita, minerais radioati- por biotita, marrom quando Fe-biotita e marrom castanho
vos e sulfetos correspondem à alteração potássica. Já as a bege, quando Mg-biotita. Ambas formam lamelas de-
rochas constituídas por quartzo, chamosita, turmalinas, cussatas, medindo entre 75mm e 0,1 mm, concentrando-
topázio, fluorita, titanita, zinnwaldita e Li-muscovita se em aglomerados irregulares em torno de magnetita
correspondem a greisenização incipiente tardia. esqueletal (pseudomórfica de mineral máfico), em coe-
Gradativamente as texturas ofíticas e subofíticas do xistência com siderofilita (Figura 10d). Biotita marrom
gabro são destruídas, devido à substituição tanto dos chega a dominar completamente, juntamente com aglo-
anfibólios quanto do plagioclásio pela siderofilita (verde) merados irregulares de titanita, fluorita subarredondada e
e por ambas as biotitas (Figura 10a), que tendem a pre- quartzo.
dominar na matriz, neste caso, com textura decussatada, Dravita subédrica a euédrica e com zonação de cas-
acompanhadas de epidoto, turmalina, titanita, fluorita, tanho nas bordas a azul no centro está presente de forma
quartzo e minerais radioativos. isolada ou em aglomerados em meio à matriz de siderofi-
O plagioclásio mais antigo (oligoclásio, Ab70-75) é subs- lita, Fe-biotita e Mg-biotita (Figura 10e).
tituído por albita (Ab98-99) e ambos apresentam bordas Minerais radioativos (incluindo uraninita) são freqüen-
parcial ou completamente corroídas por anfibólios e por temente observados junto à siderofilita verde e à biotita
biotitas (Figura 10b). marrom, como aglomerados circulares que dão origem a

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

Figura 10 – Fotomicrografias dos gabros. (a) Matriz composta por plagioclásio, anfibólios cálcicos e siderofilita; (b) Fe-
epidoto fraturado e plagioclásio corroídos por anfibólios cálcicos; )c) Plagioclásio e anfibólios cálcicos corroídos por Fe-
biotita marrom e siderofilita; (d) Núcleos de Mg- e Fe-biotitas com magnetita esqueletal, junto com siderofilita substituindo
textura subofítica reliquiar; (e) Fe-biotita e Mg-biotita apresentando minerais radioativos orientados em trilhas e dravita
zonada; (f) Mg- e Fe-biotita corroendo cristais de albita, além de aglomerados de zinnwaldita e Li-muscovita invadindo a
matriz.

171
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

halos pleocróicos distribuidos em trilhas orientadas (Figu- cote rochoso. O conjunto é formado por veios e vênulas
ra 10e). com assembléias minerais distintas em andesito e gabro.
A siderofilita verde e tardia compreende lamelas de- Todas as espessuras referidas são aparentes, pois foram
cussatas, medindo entre 25mm e 1 mm. Substitui os anfi- medidas em testemunhos de sondagem.
bólios e corrói os plagioclásios gradativamente até predo- As vênulas e veios variam em espessura desde alguns
minar sobre toda a matriz. Em geral apresenta-se parcial milímetros, como as vênulas de quartzo-fluorita medindo
ou completamente transformada em Mg-chamosita. entre 1 e 5mm, até dezenas de centímetros, como os vei-
Em meio à rocha ainda com textura subofítica reliquiar, os de biotita verde-quartzo-epidoto (15cm) e de quartzo-
constituída de plagioclásio, Mg-biotita e Fe-biotita, ocorrem mica branca-fluorita–calcopirita (30cm). As zonas
aglomerados arredondados a semi-angulosos de brechadas apresentam espessuras entre 5cm e quase 1m,
zinnwaldita e Li-muscovita incolores, tardios e formados compreendendo brechas de fluxo em que fragmentos
por indivíduos muito pequenos (15ìm e 0,18 mm). Os angulosos da matriz da rocha, na maioria das vezes
aglomerados apresentam por vezes no seu interior cristais biotitizados ou cloritizados, são cimentados por fluorita,
de dravita com bordas corroídas pelas micas, magnetita quartzo e biotita verde, ou ainda por quartzo e magnetita.
esqueletal ou ainda fragmentos da matriz composta por No gabro as vênulas são de quartzo-fluorita e calcopirita
biotita (Figura 10f). e os veios maiores, chegando até a 30-40 cm de espessu-
ra, são de biotita verde, quartzo, fluorita e calcopirita.
Veios A descrição detalhada dos testemunhos de sondagem
permitiu identificar a presença de veios com assembléias
O minério de Cu-Au do Alvo Estrela é tipicamente minerais distintas, assim como suas relações de contato,
venular, sendo notável a quantidade e variedade de veios, possibilitando vislumbrar a sucessão mineral e a seqüên-
veios brechados e brechas mineralizadas cortando o pa- cia dos veios:

Figura 11 – Estágios de alteração hidrotermal observados em gabro e andesitos

172
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(a)
A – quartzo e veios de magnetita dobrados; (b)
G – veios de quartzo (figura 12a, 12e).
B – quartzo + albita (figura 12a); quartzo + albita + Nos andesitos quartzo anédrico a euédrico mede en-
calcopirita e pirrotita; quartzo + pirita e veios de tre 15ìm e 7 mm, distribuindo-se nas laterais dos veios,
biotita verde + quartzo; freqüentemente com textura em pente (figura 12b), e tam-
C – quartzo + turmalina + calcopirita>pirrotita; bém no interior dos mesmos. Nos gabros aparece em pente
D – biotita verde + quartzo + fluorita + calcopirita + (figura 23A) ou mosaico no interior de veios de quartzo +
pirita + molibdenita; de biotita verde + quartzo + biotita verde + turmalina e de quartzo + turmalina +
fluorita + calcopirita + pirita +calcita; quartzo + calcopirita.
turmalina + biotita verde + albita + epidoto +fluorita Albita é subédrica a anédrica, distribuindo-se junto com
(figura 12b e 12d); quartzo e calcopirita nos gabros.
E – quartzo + biotita verde; quartzo + biotita verde + Siderofilita verde ocorre como lamelas de vários ta-
feldspato potássico; biotita verde + quartzo + manhos (25 ìm a 7 mm) com textura em pente, ocupando
calcopirita> pirrotita (figura 12c); as bordas junto com siderofilita + quartzo + fluorita (figu-
F – quartzo + calcopirita + pirita; quartzo + mica bran- ra 13c e 13d) nos andesitos e junto com siderofilita + quart-
ca + turmalina + clorita; quartzo + mica branca + zo e quartzo + siderofilita + turmalina (figura 13b) nos
turmalina + topázio; gabros. Alternativamente, distribui-se na forma de finís-
(c)
G – quartzo + fluorita; veios de quartzo (figura 12b). (d)lamelas no interior dos veios, em meio a outros mi-
simas
A seqüência das venulações encontrada nos gabros é nerais, tanto nos gabros como nos andesitos.
apresentada a seguir: Schorlita apresenta-se zonada com cores de pleocrois-
A – veios de quartzo dobrados e veios de quartzo + mo variando de marrom nas bordas a azul no centro nos
magnetita ; andesitos, e azul marinho a azul claro nos gabros. Muito
B – quartzo +albita + calcopirita; quartzo + calcopirita fraturada, está na zona interna de veios de quartzo + tur-
+ pirita + magnetita; malina + calcopirita>pirrotita, ou nas laterais daqueles
C – biotita verde + quartzo; contendo quartzo + turmalina + biotita verde + albita +
D – quartzo + biotita verde + turmalina; quartzo + epidoto + fluorita. Nos últimos apresenta textura em pen-
turmalina + calcopirita; te e por vezes cresce em continuidade óptica com sidero-
E – quartzo + turmalina + fluorita; biotita verde + filita (figura 13c). Schorlita também se encontra em meio
fluorita + calcopirita (figura 12b); a cristais de quartzo e mica branca, apresentando bordas
F – quartzo + mica branca + turmalina + clorita + corroídas por esta, ou sendo substituída por clorita, prin-
epidoto; quartzo + mica branca + turmalina + cipalmente em veios de quartzo + mica branca + schorlita
topázio e vênulas de quartzo e fluorita; + topázio.
(e) (f)
(a) (b) (c)

Figura 12 – Aspecto macroscópico de


(d) (e) veios em andesito e gabro. (a) Zona
stockwork com veios de quartzo e albita
em andesito, (b) Veio de biotita verde,
quartzo e turmalina cortado por vênulas
de quartzo, (c) Veio de biotita verde,
quartzo, fluorita e calcopirita, (d) Veio
de biotita verde, fluorita roxa e epidoto.
(e) Veios de biotita verde e quartzo cor-
tados por vênulas de quartzo. A escala
mede 2cm.

173
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

Nos andesitos epidoto está nas bordas de veios de Lamelas de chamosita (Fe/Fe+Mg entre 0,88 e 0,91),
quartzo + turmalina + siderofilita + albita + epidoto + medindo entre 5 ìm e 0,3 mm, substituem siderofilita e
fluorita, vinculado a minerais radioativos. Nos gabros en- turmalina. Em veios monominerálicos têm textura em
contra-se com quartzo e mica branca em veios de quart- chama (figura 13c, 13e, 13f).
zo + zinnwaldita + turmalina + clorita + epidoto.
Fluorita encontra-se em meio aos outros minerais, na Minério
maioria das vezes, restringindo-se ao interior de veios de
quartzo + fluorita, freqüentemente junto com sulfetos (fi- O minério do Alvo Estrela é constituído por calcopirita,
guras 13d e 14b) e circundando-os (figura 14c), como pirita, pirrotita, bornita (subordinada) ± molibdenita, junto
nos veios de siderofilita + quartzo + fluorita + calcopirita com magnetita, acompanhados de ganga de quartzo,
+ pirita + molibdenita. fluorita, albita, siderofilita, turmalina, epidoto, chamosita,
Zinnwaldita forma lamelas muito finas que medem topázio e esporadicamente calcita.
entre 1 e 2 ìm nos andesitos e entre 20 e 50 ìm nos gabros, O minério sulfetado está visivelmente associado aos
distribuindo-se às vezes nas bordas junto com quartzo + veios hospedados no andesito (Figuras 15a, b, c, d). Ape-
mica branca + turmalina + clorita. Concentra-se também sar da estreita relação dos sulfetos com os veios, calcopirita
nas zonas centrais e circunda quartzo, corroendo-o nos também está disseminada na matriz do andesito.
veios de quartzo e turmalina (figura 13a, 13b e 13f). Nos Calcopirita disseminada é invariavelmente circundada por
gabros é distribuída em meio aos cristais de quartzo, em halos de fluorita, isolando-a do contato direto com as Fe-
geral na parte interna de veios de quartzo + zinnwaldita + biotitas marrons e verdes.
turmalina + clorita + epidoto e veios de quartzo + Os veios mais antigos e que antecedem a mineralização
zinnwaldita + turmalina + topázio. consistem em quartzo e quartzo + magnetita. São
Topázio anédrico a subédrico associa-se a quartzo e geralmente deformados, estirados, dobrados e rompidos,
turmalina em veios de quartzo+ topázio e de quartzo + sendo cortados por diversas famílias de veios portadores
zinnwaldita + turmalina + topázio. de assembléias minerais variadas. Os veios mineralizados

(a) (b)
(c)

(d) (e) (f)

Figura 13 – Fotomicrografias. (a) Vênula de quartzo, turmalina (rara) e zinnwaldita no centro. Observe que mica branca
corrói os cristais de quartzo da zona central. Observar também shorlita na matriz do andesito (b) Vênula de cristais de quartzo
com textura em pente nas bordas, tendo seu interior preenchido por quartzo e mica branca que corrói este último. (c) Borda
de veio preenchido por fina película de quartzo, seguida de siderofilita com textura em chama e shorlita em continuidade
óptica com siderofilita. O interior do veio é composto de quartzo e fluorita. (d) Borda de veio preenchido por grandes lamelas
de siderofilita seguidas de cristais de calcopirita que preenchem a clivagem da siderofilita. A parte interna do veio é composta
por fluorita. (e) Borda de veio brechado de chamosita com textura em chama. O centro é preenchido por quartzo. (f) Brecha
apresentando clastos do andesito com matriz cloritizada e clasto composto de mica branca, todos cimentados por albita com
textura em pente.

174
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(a) (b) (c)

(d) Figura 14 – Fotomicrografias de veios. (a) Borda de veio


composto de quartzo, albita com textura em pente e siderofilita.
(b) Borda de veio com siderofilita com textura em pente,
turmalina fraturada, fluorita e quartzo no interior. (c) Borda
de veio com siderofilita, quartzo e clorita, além de fluorita,
que circundam grande cristal de calcopirita (opaco). (d) Bre-
cha apresentando clastos de gabro com matriz cloritizada,
cimentados por albita iron coated com textura em pente.

(a) (b) (c)

(d)
Figura 15 – Veios em andesito. (a) Veio de calcopirita, quart-
zo e magnetita dobrado. (b) Calcopirita em veio de quartzo,
biotita verde e turmalina. (c) Veio de pirrotita, calcopirita e
quartzo. (d) Veio de biotita verde (bordas) e calcopirita. A
escala mede 2 cm.

compreendem quartzo com calcopirita e pirita; quartzo, Calcopirita é o mineral de cobre mais importante na
albita, calcopirita, pirita e pirrotita; quartzo, turmalina, área. Análises efetuadas em microssonda eletrônica re-
fluorita, biotita verde, calcopirita e pirrotita; e biotita verde, velaram até 0,177 (átomos por unidade fórmula - apfu)
quartzo, fluorita, calcopirita, pirita e molibdenita. de ouro em sua estrutura cristalina. Seus grãos têm for-
Minério brechado também é observado, sendo mais mas variadas, medindo entre 4 ìm e 12,5 mm. Os indiví-
importantes as brechas do tipo break up, nas quais frag- duos menores estão dispostos na matriz dos andesitos e
mentos angulosos, tanto de andesito, como de gabro são gabros, próximos do contato com os veios. Calcopirita
cimentados por quartzo, fluorita, albita, calcopirita, pirita, também cimenta alguns veios, circundando e preenchen-
pirrotita, e magnetita. Veios não mineralizados, formados do as fraturas de fases silicatadas como turmalina ou ain-
por quartzo e fluorita, sucedem a mineralização. da interpenetrando planos de clivagem de siderofilita.

175
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

As texturas secundárias indicam que a calcopirita foi longo de fraturas em calcopirita (Figura 17a), até substi-
substituída, tanto por pirrotita que pode dispor-se ao lon- tuições mais pervasivas, em que calcopirita apresenta
go de fraturas (Figura 16a) e gerar estruturas do tipo estruturas do tipo “atol” (Figura 16d). Embora pirrotita
“atol” (Figura 16d), quanto por pirita que utilizou irregula- substitua principalmente calcopirita, pirita com estrutura
ridades e fraturas para se instalar e dar início ao proces- do tipo “atol”, indicando o inverso, também é observada
so de substituição (Figura 17f). Calcopirita substitui pirita, (Figura 17b).
chegando a originar estruturas em “ilha” (Figura 16a), Molibdenita (Mo = 32,757-33,116, Cu = 0,461-1,132,
apesar de algumas raras texturas de substituição revela- Au = 0-0,133 apfu) mede entre 0,25 e 7,5 mm, restringin-
rem o contrário. do sua ocorrência aos veios, em que constitui dois tipos
Pirita é cobaltífera e varia de anédrica a euédrica, texturais distintos, indicando ter se formado em duas ge-
medindo entre 4 ìm e 2,25 mm (Cu = 0-0,822, Au = 0- rações diferentes. Lamelas deformadas encontram-se
0,04, Co = 0,012-1,756 puf). Texturas primárias de depo- presentes nas bordas externas dos veios (Figura 16e),
sição são evidenciadas a partir da presença de cristais sendo representantes de geração antiga e deformada.
com faces bem desenvolvidas e de formas semicircula- Lamelas diminutas, não deformadas e distribuídas em tri-
res ou aleatórias nos veios (Figuras 17c e d). As texturas lhas ao longo da lateral interna dos veios, representam a
secundárias indicam que pirita é substituída tanto por segunda geração (Figura 16f). Ambos os tipos texturais
calcopirita, como se observa na figura 16a, quanto por estão associados a calcopirita não deformada.
pirrotita em estruturas do tipo “atol” (Figura 17 B). Magnetita (5ìm a 4 mm), assim como molibdenita, apre-
A maioria das texturas secundárias de substituição senta também mais de uma geração. A geração mais an-
revela que pirita é substituída por outras fases sulfetadas. tiga corresponde a cristais esqueletais, provavelmente
Todavia, ela também substitui calcopirita como mostrado remanescentes pseudomórficos dos minerais ferro-
na figura 17f. magnesianos originais das rochas máficas (Figura 16b),
Pirrotita é niquelífera e ocorre somente nos veios em substituídos pela Fe-biotita marrom. Magnetita venular,
indivíduos anédricos a subédricos com dimensões entre 5 mais nova, pode ser subédrica (Figura 16e) e constituir
ìm e 4mm (Au = 0-0,139, Ni = 0,147-0,375 apfu). Pirrotita grandes cristais, ou euédrica associada a calcopirita e pirita
substitui calcopirita em diferentes níveis de intensidade, (Figura 16c). Magnetita euédrica, inclusa em calcopirita
desde cristais orientados em “trilhas” que se alojaram ao é parcialmente substituída por este último mineral.

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

Figura 16 – Fotomicrografias de minerais de minério. (a) Pirita com estrutura em “ilha” substituída por calcopirita; (b)
Magnetita esqueletal marcando a clivagem de mineral máfico anterior à Fe-biotita; (c) Cristais de magnetita com textura
primária, parcialmente substituídos por calcopirita; (d) Estrutura do tipo “atol” decorrente da substituição de calcopirita
por pirrotita; (e) Molibdenita deformada da geração mais antiga e calcopirita, em veio de quartzo-turmalina-fluorita; (f)
Molibdenita não deformada da geração tardia.

176
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

Figura 17 – Fotomicrografias de minerais de minério. (a) Pirrotita substituindo calcopirita ao longo das fraturas. (b) Pirita
com estrutura em “atol” parcialmente substituída por pirrotita. (c) Pirita euédrica distribuída em círculo. (d) Pirita e
calcopirita anédricas distribuídas aleatoriamente. (e) Magnetita euédrica e subédrica associada a calcopirita anédrica. (f)
Calcopirita maciça com bordas irregulares. parcialmente substituída por pirita.

Figura 18 – Sucessão mineral dos veios de minério do Alvo Estrela.

Ilmenita euédrica a subédrica distribui-se em meio a A sucessão mineral do minério do Alvo Estrela encon-
siderofilita e a quartzo de veios, além de ocorrer inclusa tra-se sumarizada no quadro da figura 18.
em calcopirita, geralmente ocupando as bordas dos cristais.

177
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

Riolitos

Os riolitos apresentam coloração acinzentada e


granulação média a fina, mostrando textura porfirítica e
matriz criptocristalina a microcristalina e microporfirítica
com matriz criptocristalina. Ambos os tipos de matriz são
cortados por veios de sericita, albita, Fe-biotita, turmalina, Figura. 19 – Contato entre riolito menos alterado, observado
calcopirita, epidoto, fluorita, quartzo e sericita. do lado esquerdo, e riolito alterado do lado direito da foto.
Os riolitos situados mais próximos do contato com os
granitos apresentam grau de alteração hidrotermal mais de pirita, calcopirita, pirrotita, magnetita, molibdenita e
pronunciado. São de coloração acinzentada, ou localmente hematita.
esverdeada, em geral, exibindo feições de substituição por Quartzo foi observado sob três formas distintas, deno-
siderofilita mais pronunciadas, que correspondem a minadas Qz1, Qz2, e Qz3. Qz1 é fenocristal; Qz2 ocorre
potassificação incipiente, concomitante à albitização. sob a forma de grãos isolados e com a metade do tama-
Os riolitos foram agrupados segundo o grau de altera- nho de Qz1; Qz3 corresponde a agregados cristalinos
ção: incipiente (A) ou intensa (B) (Figura 19). O contato observados somente em veios.
do riolito A com o riolito B é difuso e transicional, com Os cristais de Qz1 têm hábito subédrico com dimen-
progressiva diminuição da quantidade de quartzo e de sões maiores que 2,0 mm e extinção ondulante (Figura
fenocristais, ao mesmo tempo em que aumenta a porcen- 20a). Em geral formam cristais isolados com as bordas
tagem modal de siderofilita. Observa-se também ora arredondadas, ora circundadas por agregados de
cloritização da siderofilita, arredondamento nos cristais quartzo Qz3. Raras são as bordas com textura em penei-
de agregados cristalinos de quartzo e foliação progressi- ra, em que siderofilita é englobada, indicando que quartzo
vamente mais acentuada com a proximidade de zonas da borda é mais jovem que quartzo do núcleo e siderofilita.
deformadas. As inclusões de ortoclásio, fluorita incolor e epidoto são
O riolito é composto por fenocristais de oligoclásio, freqüentes, concentrando-se principalmente no núcleo dos
quartzo e ortoclásio imersos em matriz de oligoclásio, cristais de Qz1, juntamente com allanita e albita substitu-
ortoclásio, quartzo e Fe-biotita, juntos com siderofilita, ídas por siderofilita. Fraturas preenchidas por mica bran-
sericita, clorita, zircão, allanita, epidoto, turmalina, fluorita, ca, Fe-biotita, siderofilita, clorita, agregados de quartzo
minerais radioativos (uraninita?), topázio e siderita, além Qz3 e fluorita cortam os cristais de Qz1.

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

Figura 20 – (a) Fenocristais de Qz1. (b) Cristais de Qz2 na matriz. (c) Fenocristal de Qz1 cortado por veios de Qz3. (d)
Oligoclásio (Ol) fraturado, deformado e albitizado. (e) Cristais de ortoclásio (Or) em veio. (f) Siderofilita (Sid) e turmalina
(Tur).

178
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Qz2 ocorre como grãos isolados e com a metade do sentando inclusões de minerais radioativos que formam
tamanho do Qz1 (0,8 mm) (Figura 20b). Tem hábito halos pleocróicos.
subédrico e euédrico e em geral seus cristais são límpidos, Siderofilita com pleocroismo em tons esverdeados é a
porém alguns indivíduos apresentam trilhas de albita e mica mais comum (Figura 20f), aumentando sua propor-
siderofilita, formando rendilhado xadrez. ção na medida em que a rocha se mostra mais hidroter-
Qz3 corresponde a agregados cristalinos observados malizada. Os cristais têm dimensões que variam de 0,08
somente em veios. Em geral os indivíduos têm dimensões mm a 0,4 mm. Siderofilita tem as bordas corroídas e in-
próximas de 0,5 mm e extinção ondulante (Figura 20c). tensa alteração para clorita. Na forma venular, siderofili-
Ocorrem em veios junto com fluorita roxa e calcopirita e ta, corta Qz1 e aglomerados de fluorita lilás e cimenta
também selam veios posteriores aos de siderofilita. veios com este mineral, bem como substituí ortoclásio,
Plagioclásio está representado por duas gerações di- oligoclásio e epidoto. Siderofilita é substituída por protoli-
ferentes. A primeira aparenta ser ainda ígnea (An21-27) e tionita e clorita, sendo que alguns cristais desenvolvem
a segunda é de albita quase pura (An1–1,5). Oligoclásio coroas de fluorita com feições texturais tipo atol, eviden-
forma cristais prismáticos com dimensões entre 1,0 a 4,0 ciando reação de substituição entre siderofilita e fluorita.
mm, apresentando geminação albita (por vezes, interrom- Protolitionita e zinnwaldita são incolores e ocorrem em
pida) e/ou Carlsbad (às vezes, reliquiar). Alguns continuidade óptica com siderofilita, formando zonas ir-
fenocristais têm as bordas arredondadas e outros, irregu- regulares e com contatos difusos.
lares, corroídas pela matriz. Turmalina (dravita e shorlita) é euédrica, zonada,
Normalmente os fenocristais mostram antipertitas com pleocróica de verde claro a verde azulado e seus cristais
forma de chama (Figura 20d). São substituídos por sericita, variam de 0,1 a 1 mm. É rara no riolito A, tornando-se
siderofilita e epidoto ao longo dos planos de clivagem e mais importante na medida em que aumenta a quantidade
fraturas, principalmente no núcleo. Clorita e Qz3 adentram de siderofilita na rocha. Nas rochas com alteração
os cristais de oligoclásio na forma de gotículas, imprimin- incipiente, turmalina é intersticial ao oligoclásio. Nas rochas
do aspecto pontilhado. com alteração intensa está presente na matriz e como um
Albita ocorre ao redor do antigo oligoclásio e em con- dos constituintes dos veios. Palhetas de clorita envolvem
tinuidade óptica. Em cristais individuais apresenta e penetram os cristais de turmalina na matriz e por vezes
geminação em chama. Pode estar associada a Qz3 em é englobada por fluorita. Também se desenvolve na
vênulas que cortam a primeira geração de plagioclásio matriz, substituindo siderofilita (Figura 20f). Nos veios
junto com siderofilita cloritizada. Albita também foi ob- ocorre entre fluorita que a sela e epidoto que a bordeja.
servada englobando Fe-biotita, mica branca e epidoto em Clorita nos riolitos é produto de corrosão de Fe-biotita
coroas de substituição. Apresenta-se quebrada e cimen- e siderofilita nas rochas com alteração menos
tada por siderofilita. pronunciada. Quando a alteração é mais acentuada,
Ortoclásio ocorre como prismas fraturados e zonados, clorita forma ramificações que adentram a matriz
tendo sido observado somente em veios (Figura 20e) com siderofilítica e ortoclásio que ainda resta. Fraturas
dimensões individuais de 1 a 2 mm e intensa alteração preenchidas por clorita cortam os cristais de calcopirita
para siderofilita e clorita nas bordas. Os indivíduos são e pirita, sendo ainda observada como inclusão em
pertíticos, mostram fantasmas de geminação Carlsbad e calcopirita, em associação com fluorita, hematita e,
muitas inclusões de fluorita. Suas fraturas são preenchi- subordinadamente, rutilo. Clorita apresenta também
das por Fe-biotita e turmalina. inclusões de cristais euédricos de pirita.
A matriz consiste em massa de Qz2 com textura em Flúor-topázio euédrico (0,2-0,5 mm) é pouco fraturado
mosaico e foliação marcada por Fe-biotita e siderofilita, e por vezes zonado. Suas bordas são arredondadas e
oligoclásio substituído por biotita verde e albita quase to- apresenta inclusões de siderofilita cloritizada e fluorita.
talmente transformada em mica branca, além dos mine- Em geral é constituinte de veios, mas também foram
rais descritos a seguir. observados cristais subédricos na matriz do riolito.
Mica é representada por quatro gerações. A mais an- Epidoto tem a forma de prismas curtos, cujo
tiga é Fe-biotita, a segunda é siderofilita, a terceira é pleocroísmo varia de incolor a verde pálido. Aglomerados
protolitionita e a quarta geração é zinnwaldita. Fe-biotita de até 2,5 mm de comprimento ocupam as bordas de veios
da matriz está junto com fenocristais de oligoclásio, com textura em pente, parcialmente substituídos por
ortoclásio e Qz1 e na forma de vênulas. Nas rochas me- siderofilita. Cristais de epidoto concentrados no núcleo
nos alteradas Fe-biotita com pleocroísmo verde acasta- de fenocristais de oligoclásio e englobados por albita são
nhado está geralmente associada a mica branca, apre- restritos.

179
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

Allanita é rara e foi observada como cristais alonga- andesito. Têm espessura aparente não superior a 50 m e
dos de 0,03 a 0,4 mm. Minerais radioativos penetram as balizam esses dois pacotes rochosos.
fraturas de allanita, mascarando e interferindo em sua Os milonitos apresentam coloração acinzentada e
cor. Ocorre ainda inclusa em Qz1 e em albita, sendo granulometria média a fina. São compostos por quartzo,
comumente substituída por siderofilita. ortoclásio, siderofilita, clorita e sericita. Os minerais
Pirita é euédrica e subédrica com dimensões de 0,2 a acessórios são epidoto, allanita, titanita, fluorita e
0,3 mm. Foi observada inclusa em calcopirita e também turmalina, além de calcopirita, pirita, molibdenita e
apresentando inclusões de calcopirita, molibdenita e ilmenita. Essas rochas mostram foliação moderada
pirrotita, o que lhe concede textura em peneira. Raros caracterizada pela alternância de leitos ricos em
aglomerados de pirita euédrica são cimentados por siderofilita, clorita e sericita, as quais formam a matriz,
calcopirita. Calcopirita é anédrica (0,02 a 0,6 mm), estan- junto com lentes de quartzo recristalizado e porfiroclastos
do principalmente em veios e, subordinadamente, disse- de quartzo e albita.
minada associada a fluorita, clorita e siderofilita. Quartzo geralmente se desenvolve sob a forma de
Molibdenita é rara e mostra dimensões em torno de grãos de 0,1 a 0,5 mm, ocorrendo também como
0,01 mm; está presente no riolito na forma de lamelas porfiroclastos anédricos e subédricos (0,5 a 1,0 mm).
deformadas e dobradas. Magnetita, também rara, é Os grãos formam lentes de agregados policristalinos
anédrica (0,5 mm) e está em vênulas ou disseminada na recristalizados, com subgrãos e novos grãos com ou
rocha. Apresenta inclusões de calcopirita e pirita. sem extinção ondulante, paralelos e semiparalelos à
Siderita subédrica a euédrica sela veios, juntamente foliação, que contorna os porfiroclastos de ortoclásio
com clorita e quartzo. (Figura 21a).
Diversas gerações de veios cortam os riolitos. Em geral, Também são observados agregados policristalinos
são constituídos por ortoclásio, albita, epidoto, calcopirita, recristalizados com migração do limite de grãos e com
siderofilita, clorita, topázio e siderita. textura em mosaico, pseudomórficos de porfiroclastos tipo
s mais antigos. Fitas subhorizontais em relação à foliação,
Zonas Miloníticas formadas pelo estiramento de cristais únicos, também se
fazem presentes. Os novos grãos, possivelmente, foram
As zonas miloníticas no Alvo Estrela correspondem à formados por alongamento dos grãos que compõem os
zona de cisalhamento que marca o contato entre riolito e agregados policristalinos (Figura 21b, d).

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

Figura 21 – Fotomicrografias de milonitos. (a) Porfiroclasto de quartzo. (b) Lamelas de siderofilita (Sid) que delimitam a
foliação da rocha. (c) Turmalina (Tur). (d) Lentes de agregados policristalinos recristalizados de quartzo e novo grão. (e)
Ortoclásio (Or) e quartzo (Qz). (f) Quartzo e siderofilita.

180
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Os porfiroclastos de quartzo apresentam extinção on- Formações ferríferas


dulante e são do tipo s e d com asas marcadas por agre-
gados de quartzo recristalizado e com fraturas preenchi- A formação ferrífera é extremamente deformada.
das por siderofilita, além de lamelas de deformação e fi- Quando não deformada, é finamente bandada, com ban-
tas descontínuas em direção oblíqua ao sentido das das de 1 a 2 mm de espessura compostas essencialmente
lamelas. Esses porfiroclastos se apresentam também de- por magnetita e quartzo recristalizado, sendo cortada por
formados com sombras de pressão formadas por muitas vênulas de quartzo e epidoto. Biotita verde e
siderofilita. Os porfiroclastos também apresentam as bor- grunerita são também observadas. Apresenta zonas com
das circundadas por lentes de siderofilita, clorita, mine- bandamento transposto, além de microfalhas e brechas.
rais radioativos e sericita. Nas rochas com alteração in- Nas zonas de deformação dúctil são freqüentes bandas
tensa quartzo ocorre intercrescido com albita, e interstcial de magnetititos, com 3 a 4 cm de espessura, intercaladas
a siderofilita (Figuras 21d, e). por pods de quartzo interconectados (Figura 22).
Os porfiroclastos de ortoclásio são subédricos (0,5 a A formação ferrífera bandada é composta essencial-
1,0 mm), pouco alongados, tipo s e f e com alteração mente por bandas de quartzo recristalizado, com textura
incipiente para siderofilita que preenche suas fraturas, em mosaico e bandas de agregados de magnetita. Nas
além de raros cristais que preservam geminação Carlsbad zonas deformadas observam-se raras placas de mica bran-
e tipo vela. Sericita (<0,1 mm) se restringe à alteração ca, biotita verde e grunerita.
dos porfiroclastos de ortoclásio.
Siderofilita está presente na matriz, sob a forma de Arenitos
lamelas milimétricas verdes que delimitam os planos de
foliação da rocha. Esta mica, que parece ser a mais anti-
Os arenitos foram interceptados unicamente pelo furo
ga dos milonitos, apresenta substituição por micas incolo-
24, situado na Seção 1600 SE. Trata-se de intervalo com
res a verde pálido, que se concentram no núcleo dos cris-
cerca de 55m de espessura aparente de arcóseos e lito-
tais de siderofilita (Figura 21b).
arenitos feldspáticos com níveis conglomeráticos, de cor
Clorita está em veios que cortam os porfiroclastos,
esverdeada e brechados, em contato por falha com a for-
formando teias por entre calcopirita e pirita, além de subs-
mação ferrífera (Figura 23).
tituir siderofilita.
Calcopirita, pirita, molibdenita e ilmenita apresentam
formas alongadas, segundo a foliação. São curvilíneas e Arcóseos
tem estrutura esqueletal. São observadas muitas vezes
disseminadas na matriz sem direção preferencial, junta- Os arcóseos são compostos por clastos de quartzo,
mente com turmalina. feldspato potássico, plagioclásio, biotita, clorita, sericita e
Os minerais acessórios (epidoto, allanita, titanita, minerais opacos, cimentados por óxido de ferro.
fluorita e turmalina) são orientados conforme a foliação, Quartzo é monocristalino e policristalino com
sugerindo que são sin- ou pré-deformacionais. Turmalina esfericidade moderada. Observam-se dois tipos, um
é decussata, sugerindo formação posterior à milonitização característico de veio, formando agregados com cristais
(Figura 21c). de 0,5 a 2mm e extinção ondulante, e um metamórfico,
Estes dados indicam que siderofilita foi o mineral de em mosaico com faces retas, disperso na matriz e em
alteração dominante durante a milonitização das zonas de veios. O feldspato potássico é microclínio, angular a
cizalhamento na área. Suas plaquetas marcam a foliação subangular (0,3 a 1mm), fraturado, deformado e corroído
nos milonitos, indicando formação sin-tectônica, ao con- pelo cimento. Plagioclásio também é angular a subangular
trário de clorita, minerais de minério e turmalina que são (0,1 a 0,4mm), ocorrendo com resquícios de macla
posteriores à deformação. polissintética. Biotita é angular <0,1mm e marrom.

(a) (b)
Figura 22 – Fotografias de formações
ferríferas. (a) Formação ferrífera
bandada. Observar as micro-falhas. (b)
Formação ferrífera deformada.Ver as
lentes e pods de quartzo A maior exten-
são das fitas mede 2 cm.

181
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

(a) (b)
Figura 23 – Aspecto macroscópico dos
arenitos conglomeráticos da Formação
Gorotire. Observar os clastos angulosos
e mal classificados. A maior extensão das
fitas mede 2 cm.

Constitui o cimento, juntamente com sericita. Esta última ortoclásio granito. A percentagem modal das rochas
é mais abundante (0,1 a 0,3mm) e também substitui intrusivas paleoproterozóicas graníticas se encontra
plagioclásio. representada no diagrama QAP (Streckeisen 1976),
Minerais opacos (0,1mm), com formas alongadas, (Figura 24).
preenchem as interfaces de clastos de plagioclásio e
feldspatos potássicos. Rochas Intrusivas Paleoproterozóicas

Litoarenito feldspátco O quartzo diorito (QD) aflora em um único local e foi


observado nas seções 3800 e 4100 SE. A rocha tem textura
O litoarenito feldspático é composto por fragmentos porfirítica que varia de fina a média, portadora de
líticos, quartzo, feldspato, biotita, clorita, opacos e minerais fenocristais de andesina arredondados e zonados, quartzo
radioativos. estirado e matriz hipidiomórfica granular (Figura 25a) e
Os fragmentos líticos, possivelmente vulcânicos, são mirmequítica, com quartzo, albita, biotita, andesina e
angulares a sub-angulares, de baixa esfericidade e com
dimensões entre 1 e 4mm. São mascarados por substitui-
ção de quartzo policristalino, clorita, biotita e óxido de Fe.
Quartzo é muito angular (0,1 a 0,4mm), apresentando-se
em agregados policristalinos de forma sub-esférica, com
extinção ondulante. Ocorre também preenchendo veios
de espessuras variadas, em torno de 0,5 a 1,5mm. O
feldspato é angular a subangular, prismático, formando
clastos com 0,5 a 1,0mm. Encontra-se alterado para car-
bonato, biotita, clorita e subordinadamente óxido de Fe.
Em alguns cristais é possível observar vestígios da macla
Carlsbad. Cristais angulares constituem microclastos no
cimento. Clorita verde clara é o mais importante mineral
de alteração, ocupando os planos de clivagem dos mine-
rais em alguns litoclastos. Biotita de coloração castanha
escura (siderofilita) associa-se aos fragmentos líticos e a Figura 24 – Diagrama de classificação modal das rochas
graníticas do alvo Estrela.
clorita, além de minerais opacos e radioativos. Pirita cú-
bica (0,9mm) é observada em veios, juntamente com
quartzo e minerais radioativos. Tabela 1 – Percentagem modal das amostras de albita-
ortoclásio granito do Alvo Estrela.
Rochas Intrusivas

No Alvo Estrela ocorrem rochas intrusivas de idade


isotópica paleoproterozóica e diques de diabásio,
provavelmente fanerozócos, além dos gabros alterados.
As rochas intrusivas paleoproterozóicas, como será
discutido no item 10, compreendem quartzo diorito,
quartzo-álcali-feldspato sienito (episienito) e albita-
* calcopirita, pirita, ilmenita e magnetita.

182
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

calcopirita. A granulometria é média a fina e a coloração Tabela 2 – Percentagem modal das amostras de quartzo-ál-
cinza média. O contato com andesito e com albita- cali-feldspato sienito vermelho (episienito) do Alvo Estrela.
ortoclásio granito é discordante, marcado por zonas
brechadas. Observam-se alguns xenólitos de andesito
deformado e de gnaisse inclusos nessa rocha.
O quartzo-álcali-feldspato sienito vermelho (episienito) * calcopirita, pirita, ilmenita e magnetita.

corresponde a uma fácies do AOG. Ocupa a porção norte


do alvo, tendo sido interceptado pelos furos de sondagem com o andesito é dado por zonas de fraturas e brechas
EF-06 e EF-17. Trata-se de rocha de granulometria média mineralizadas. Essas zonas são marcadas por vênulas de
a grossa, coloração rósea avermelhada característica, e quartzo, biotita verde + calcopirita ± molibdenita +
textura granular composta essencialmente por feldspato protolitionita + quartzo + turmalina + fluorita roxa. Uma
potássico róseo, fluorita, clorita e quartzo (Figura 25b). O terceira fácies, de ocorrência restrita, foi identificada.
contato com o andesito é discordante e marcado por Trata-se de topázio-albita-ortoclásio granito caracterizado
biotitização e cloritização intensa em ambas as rochas. por granulação fina, cor cinza clara e presença de topázio
O albita-ortoclásio granito (AOG) não aflora, tendo (Figura 25f).
sido interceptado em profundidades variando entre 150 e Zonas greisenizadas de cor cinza clara e granulometria
350 metros nas seções 3800 e 4100 SE. Como não aflora, fina ocorrem nos granitos e invadindo os andesitos e
sua forma e dimensões são incertas. Apresenta textura gabros. São rochas com contatos abruptos e aspecto
granular hipidiomórfica e granulometria variando de fina descolorido (bleached), ocasionalmente brechadas e
a grossa. Próximo ao topo do granito é cinza a rosa (Figura compostas por quartzo, epidoto, turmalina, fluorita, clorita,
25d) com protolitionita entre 1 e 5%. Em profundidade topázio, protolitionita, Li-muscovita, zinnwaldita, calcopirita
observa-se uma variedade localmente bandada, contendo e pirrotita.
protolitionita entre 7 e 19% (Figura 25e). Ambas as
variedades são cortadas por veios de calcopirita, junto Quartzo diorito
com biotita, feldspato potássico róseo e epidoto. Próximo
às zonas venulares o albita-ortoclásio granito apresenta A assembléia mineral do quartzo diorito é constituída
enriquecimento em feldspato róseo e epidoto, além de por fenocristais de andesina e ortoclásio, quartzo, albita e
diminuição considerável do conteúdo de biotita. O contato Fe-biotita, imersos em matriz de quartzo, ortoclásio, albita

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

Figura 25 – (a) Quartzo diorito com fenocristais de andesina arredondados e zonados em matriz biotitica. (b) Quartzo-álcali-
feldspato sienito (episienito) com feldspato róseo, fluorita e clorita. (c) Contato entre quartzo-álcali-feldspato sienito
(episienito) e andesito marcado pelo aumento da proporção de biotita e clorita em ambas as rochas. (d) Albita-ortoclásio
granito. (e) Albita-ortoclásio granito composto por feldspato potássico, quartzo, protolitionita e albita. (f) Contato entre
topázio-albita-ortoclásio granito e andesito. A fita mede 2 cm.

183
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

e Fe-biotita. Os minerais acessórios são biotita verde, A matriz é formada por cristais de quartzo, ripas de
clorita, sericita, fluorita, titanita, leucoxênio, calcita, zircão, ortoclásio substituído por sericita, lamelas de Fe-biotita
minerais radioativos (uraninita?) e, subordinadamente, alteradas para biotita verde, clorita e epidoto intersticiais
ilmenita, calcopirita e pirita (Figuras 26a, b, c, d). a ortoclásio e Fe-biotita e, subordinadamente, titanita,
Ortoclásio é a fase mais abundante. De um modo fluorita, leucoxênio, calcopirita e pirita (Figura 26d).
geral, é subédrico a anédrico. Seus cristais têm Quartzo comumente ocorre sob a forma de
dimensões que variam de 0,2 a 0,5 mm. Raramente intercescimento mirmequítico com albita. Grandes cristais
possui geminação Carlsbad. Tem as bordas em continuidade óptica e sem vestígios de extinção
irregulares devido ao intercrescimento gráfico com ondulante, englobando os minerais da matriz, sugerem ser
quartzo (Figura 26b). Os principais produtos de produto de silicificação tardia.
alteração são sericita e biotita verde. Albitização de Calcopirita e pirita são raras, disseminadas e inclusas
ortoclásio é restrita, geralmente ocorre em cristais em calcita. Também são venulares, selando veios
bastante sericitizados, podendo ser observadas associados a biotita verde, fluorita e epidoto.
texturas do tipo swapped-rims incompletas. Raros
indivíduos (Figura 26c) apresentam grande quantidade Quartzo-Álcali-Feldspato Sienito (episienito)
de inclusões avermelhadas (iron coated) e alguns têm
O quartzo-álcali-feldspato sienito vermelho (episienito)
fraturas preenchidas por clorita.
é composto por feldspato potássico, fluorita, clorita e
Há duas gerações de plagioclásio. A primeira é
quartzo, juntamente com magnetita, ilmenita, calcopirita
andesina (An34-47) e a segunda albita. Andesina parece
e pirita. Apresenta textura granular hipidiomórfica
ser magmática. Apresenta hábito subédrico, geminação
contendo antigos espaços vazios preenchidos por fluorita
albita e bordas interpenetradas com quartzo. Encontra-se
roxa, magnetita, minerais radiativos e mais raramente
substituída por albita, sericita, epidoto, fluorita e clorita.
quartzo secundário.
(Figura 26a). Albita (0,3 a 0,8 mm) ocorre também
Feldspato potássico é subédrico e prismático e seus
intercrescida com quartzo, como mirmequitos
As micas também apresentam duas gerações distintas. cristais têm dimensões que variam de 0,5 a 4 mm. Em
A primeira é composta por Fe-biotita e a segunda é geral, o feldspato tem as bordas corroídas por fluorita,
representada por biotita verde. Fe-biotita é subédrica e quartzo e clorita vermicular. Inclusões avermelhadas
seu pleocroismo varia de castanho claro a castanho (hematita?) mascaram os cristais, imprimindo neles
esverdeado, tem inclusões de ilmenita esqueletal e bordas coloração acastanhada. São cortados por fraturas
irregulares substituídas por biotita verde, anédrica e com preenchidas por clorita e fluorita.
pleocroísmo variando de amarelo pálido a verde oliva. Seu Vestígios de biotita pleocróica, de amarelo pálido a
produto de alteração é clorita. verde escura, ocorrem substituídos por clorita, que é o

(a) (b) (c)

(d)
Figura 26 – (a) Fenocristal de andesina (And) bordejado
por albita (alb) e quartzo (Qzo). (b) Ortoclásio com
intercrescimento gráfico de quartzo. (c) Ortoclásio (Or) iron
coated substituído por clorita em leque (CL) e clorita
vermicular (CV). (d) Ilmenita (Il) esqueletal em Fe-biotita
substituída por biotita verde (Bio V).

184
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

mineral máfico dominante. Clorita forma também onita e clorita. Em geral, seus cristais se mostram mas-
aglomerados com dimensões que variam de 0,05 a 3 mm carados por trilhas de fluorita incolor e lilás e protoliti-
que se desenvolvem a partir de microfraturas, sendo onita (Figura 27a, b, d).
posterior à fluorita. Magnetita, ilmenita, calcopirita e pirita Há três tipos texturais de quartzo. Qz1, Qz2 e Qz3.
estão disseminadas em torno da fluorita, ocorrendo Qz1 tem extinção ondulante, Qz2 não apresenta extinção
também em vênulas. ondulante e Qz3 é quartzo de veio. Qz1 ocorre na forma
de cristais isolados intersticiais ao ortoclásio,
Albita-ortoclásio granito caracterizando processo de silicificação da rocha. Qz2
forma aglomerados de dimensões entre 0,1 a 0,5 mm, os
O albita-ortoclásio granito é constituído por ortoclásio, quais se arranjam em trilhas entre os cristais de oligoclásio,
quartzo, albita, sericita e protolitionita, com lepidolita, ortoclásio e Qz1, sempre junto com epidoto, protolitionita
turmalina, clorita, fluorita, siderita, allanita, topázio, zircão, e clorita (Figuras 27a, e).
minerais radioativos (uraninita?), calcopirita, pirita, ilmenita Plagioclásio é albita (An1,5) euédrica, com geminação
e magnetita como minerais acessórios. bem desenvolvida e límpida, que ocorre como ripas inclusas
Foram distinguidos dois tipos texturais de ortoclá- em fenocristais de Qz1. Um segundo tipo textural de albita,
sio. O ortoclásio mais antigo (FK1) é subédrico e for- menos comum, tem as bordas arredondadas e substituição
ma prismas curtos (1,0 mm). Tem geminação Carls- por sericita, além de inclusões de ortoclásio tabular, fluorita
bad e se apresenta bastante fraturado. Encontra-se e quartzo. Fluorita é intersticial na matriz, junto com
substituído por albita na forma de lamelas irregulares quartzo (Figura 27d).
tipo vela e, subordinadamente, por protolitionita, seri- Sericita é geralmente substituída por protolitionita e
cita (a)
e fluorita. Microfraturas preenchidas por turmali- (b)
posteriormente por lepidolita. Protolitionita (0,1 a 0,8 mm)
na, fluorita, calcopirita e pirita foram observadas. FK2 é pleocróica em tons de castanho claro a verde e incolor
é anédrico (0,5 a 2 mm) e tem bordas irregulares inter- a verde pálido. Substitui parcialmente oligoclásio, epidoto
penetradas por Qz1 e FK1. Ocasionalmente é pertíti- e sericita, sendo substituída por fluorita, lepidolita, turmalina
co. Seus principais produtos de alteração são protoliti- e clorita.

(a) (b) (c)

(c) (d)
(d) (e) (f)

Figura 27 – (a)Albita-ortoclásio granito com quartzo 2 (Qz2) e protolitionita (Prot). (b) Albita-ortoclásio granito com
ortoclásio corroído por protolitionita (Or) e FK1 albitizado (FAb). (c) Albita-ortoclásio granito com FK1, fragmentos de FK2
corroídos por protolitionita (Prot) e clorita (Cl). (d) Albita-ortoclásio granito com quartzo 2 (Qz2) e albita euédrica (AbE)
inclusos em quartzo 1 (Qz1). (e) Topázio-albita-ortoclásio granito com Fk1 fragmentado e corroído pela matriz de sericita,
protolitionita, lepidolita e zinnwaldita, fenocristal de quartzo 1 (Qz1) e fragmentos de ortoclásio (Or) intensamente alterado
pela matriz. (f) Topázio-albita-ortoclásio granito, topázio (Tz), fenocristais de quartzo 1 (Qz1), clorita (Cl), allanita (Al) e
fluorita (Fl).

185
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

Topázio é subédrico a euédrico. Tem dimensões entre Tabela 3 – Análises de Feldspatos no Alvo Estrela
0,5 a 1,5 mm, sendo intersticial ao quartzo. Tem bordas
arredondadas e raras inclusões de protolitionita. Pirita é
euédrica e rara, formando cristais diminutos (0,2 mm),
envolvidos por fluorita, assim como calcopirita. Allanita
zonada e titanita são acessórios raros. As feições texturais
do topázio-albita-ortoclásio granito podem ser observadas
nas figuras 27e e 27f.

Diabásio

Diversos diques de diabásio, de direção NS, cortam


a área do Alvo Estrela. Nas seções estudadas são
interceptados pelos furos de sondagem E-FD-16, E-
FD–11 e E-FD–01. São rochas verdes, escuras com
textura ofítica ou subofítica e granulação fina a muito
fina nos bordos, tornando-se média em direção os
centro dos diques mais espessos. Compõem-se de
plagioclásio e clinopiroxênio, além de quantidades
apreciáveis de magnetita, que fazem com que a rocha
seja magnética. FeOt: analisado como ferro total e recalculado somente para Fe2+
O diabásio caracteriza-se microscopicamente por por unidade de formula (puf).
X = Si + Al; Z = Ti + Fe2+ + Mg + Ca + Na + K.
apresentar textura subofítica, fina formada por minerais
Parâmetros de classificação baseados em Deer et al, (1982): An =
euédricos a subédricos. A rocha é composta por andesina- 100 * Ca / (Ca + Na + K); Or = 100 * K / (Ca + Na + K); Ab = 100
labradorita, augita, olivina invariavelmente fraturada, * Na / (Ca + Na + K).
intersticial e anédrica, minerais opacos disseminados, 1 a 4 – albita-ortoclásio granito, 5 a 7 – quartzo diorito pórfiro, 8 –
andesito, 9 e 10 - riolito
actinolita e espinélio.

VI. QUÍMICA MINERAL

Foram analisados em microssonda eletrônica 206


pontos distribuídos em silicatos, carbonatos, fosfatos,
óxidos e sulfetos, com o objetivo de classificar e
caracterizar os principais minerais das rochas
hospedeiras e do minério do Alvo Estrela. Os minerais
analisados foram feldspatos, anfibólios, micas,
turmalinas, cloritas, epidotos, estilpnomelano, titanita,
apatita, topázio, carbonatos, magnetita, ilmenita, pirita,
pirrotita, calcopirita e molibdenita. Os resultados se
encontram nas tabelas 3 a 10.

Feldspatos

Os feldspatos foram analisados em andesitos, gabros,


riolito, albita-ortoclásio-granito e quartzo diorito (Tabela Figura 28 – Diagrama de classificação dos feldspatos
3, Figura 28). mostrando as composições analisadas no Alvo Estrela.
Triângulos verdes – gabros, triângulos azuis – andesitos ,
Os feldspatos do andesito e do gabro são albita quase
círculos marrons – ortoclásio-albita granito, pontos
pura, com composição Ab99 An0,7 Or0,3 no andesito e Ab98- vermelhos – quartzo diorito pórfiro, quadrados verdes -
99
An0,6-1,6 Or0,1-0,4 no gabro. Nos riolitos há fenocristais riolitos. Os triângulos verdes e azuis correspondentes a albitas
de ortoclásio primário (Or98,2 – 98,5 Ab1,4 – 1,8 An0 – 0,1) e albita de gabro e andesito estão superpostos pelo quadrado verde
(Ab98,5 – 99,1) secundária. No ortoclásio-albita granito a representando a albita do quartzo diorito pórfiro (Observar
composição do feldspato varia entre ortoclásio (Or89,9 a tabela 3).

186
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Tabela 4 – Análises de Anfibólios no Alvo Estrela

Figura 30 – Diagrama binário (Mg/Mg+Fe2+)- Si (puf) de


classificação dos anfibólios cálcicos (Leake et al, 1997), mos-
trando análise de anfibólio de gabro.

97,5
Ab2,5 a 10,1 An0) e albita (Ab98,5). Somente andesina foi
analisada no quartzo diorito pórfiro, cuja composição
encontrada está no intervalo An47,7 – 34,7 Ab63,6 - 48.6 Or 1,6 –
3,9
. Conforme as relações texturais observadas, e já
descritas no item petrografia, albita é mineral de alteração
em todas as rochas descritas.

Anfibólios

Anfibólios são minerais relativamente escassos no Alvo


Estrela, tendo sido observados principalmente em gabro
e, subordinadamente, em andesito. Em ambos os casos,
os anfibólios são cálcicos - hastingsita nos andesitos e
hastingsita, Fe-pargasita e Fe-hornblenda nos gabros
(Tabela 4, Figuras 29 e 30).
Hastingsita do andesito tem razões Fe2+/(Fe 2+ + Mg)
entre 0,80 e 0,81, ao passo que Fe-hornblenda, hastingsita,
pargasita do gabro têm razões entre 0,61 e 0,72. O número
de análises (7) não permite maiores interpretações desses
dados. O conteúdo de Fe maior, apresentado pelos
anfibólios cálcicos do andesito, tanto pode ser devido à
composição original da rocha, quanto ao processo de
alteração posterior, pois os andesitos são, em geral, rochas
1 a 3 – Anfibólio em andesito; 4 a 6 – anfibólio em gabro; 7 – anfibólio muito mais hidrotermalizadas do que os gabros.
em andesito.
Os anfibólios cálcicos do andesito são ainda mais
enriquecidos em Cl, K, Ti e Aliv do que os anfibólios do
gabro, que é mais rico em F.

Micas

As micas são os minerais mais abundantes na área


em estudo. Relações texturais, mostrando substituição de
anfibólio e plagioclásio por micas, indicam que são produto
da alteração potássica pervasiva, associada à
mineralização sulfetada. Ocorrem em todos os litotipos e
Figura 29 – Diagrama binário (Mg/Mg+Fe2+)- Si(puf) de também como ganga do minério venular, além de serem
classificação dos anfibólios cálcicos (Leake et al, 1997), mos- minerais importantes na fase de greisenização posterior
trando a composição dos anfibólios cálcicos do Alvo Estre- à mineralização cupro-aurífera. As micas litiníferas foram
la: ferropargasita em gabro (triângulos verdes), hastingsita identificadas nos gabros, riolitos, quartzo diorito e
em andesito (quadrados azuis). ortoclásio-albita granito (Figura 31, Tabela 5).

187
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

Tabela 5 – Resultados de Análises de Micas do Alvo Estrela

Figura 31 – Diagrama de classificação das micas em função


da composição química e ocupação do sítio octaédrico
(Tischendorf et al, 1997). Triângulo verde – gabro, quadrado
azul – andesito, círculo vermelho – ortoclásio-albita grani-
to, ponto vermelho – quartzo diorito, quadrado verde – riolito
menos alterado (a), quadrado rosa – riolito mais alterado
(b), quadrado xadrez laranja – milonito.

As micas são, em geral, pleocróicas em tons de verde


e marrom. Lepidolita e zinnwaldita são brancas.
Variedades marrom esverdeadas dessas duas micas são
também encontradas. Biotita verde é Fe-biotita, enquanto
a marrom varia entre Fe-biotita, Mg-biotita, siderofilita e
protolitionita. Fe-biotita do quartzo diorito é marrom e
protolitionita do ortoclásio-albita granito é verde.
Dois elementos distinguem quimicamente as micas
dos três litotipos félsicos: Ti e Mg, Fe-biotita do quartzo
diorito possui Ti superior a 2% e Mg superior a 9%. Fe-
biotita e siderofilita de riolito apresentam Ti inferior a
0,6% e Mg entre 4 e 7,9%, enquanto protolitionita do
leucogranito contém Ti inferior a 0,03% e Mg inferior a
0,02%.
Todas as amostras de micas estudadas foram
classificadas de acordo com os parâmetros utilizados por
Tischendorf et al, (1997) e com auxílio do programa
LIMICA (Yavuz 2001).

Turmalinas

A assinatura geoquímica de turmalinas é


particularmente importante na definição dos diversos
tipos de depósitos hidrotermais, pois diferentes processos
de concentração de metais imprimem a elas composições 1-2 – biotita verde em gabro, 3-4 biotita marrom em gabro, 5 biotita
verde em andesito, 6-7 – biotita marrom em andesito.
químicas distintas (Henry & Dutrow 1996). No Alvo
Estrela turmalina é mineral importante de ganga
posterior a biotita, tanto nos veios quanto na rocha, sendo como shorlita. Nos riolitos mais alterados (B) foi
encontrada tanto associada à potassificação quanto à identificada também F-shorlita; no ortoclásio-albita
greisenização. granito turmalina é F-foitita. A composição química das
Todas as turmalinas analisadas são alcalinas e turmalinas analisadas é apresentada na tabela 6 e figura
características de granitos (Henry & Dutrow 1996). 32. O conteúdo de alguns elementos, tais como Fe3+,
Nos riolitos, gabros e andesitos ocorrem tanto dravita Li e H2O foram calculados com auxílio do programa

188
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Tabela 6 – Resultados de Análises de Turmalina no Alvo Es- Clorita


trela
Clorita é produto de alteração de anfibólios, micas e
turmalinas. Constitui um dos minerais essenciais das
rochas greisenizadas e participa do estágio final da
selagem dos veios, juntamente com carbonatos e quartzo.
Todas cloritas analisadas são chamosita (Figura 33). A
composição desses minerais foi utilizada para cálculos
geotermométricos de acordo com a equação de Cathelineu
& Nieva (1985) com a correção de Zang & Fyfe (1995)
para cloritas ricas em ferro. A temperatura média obtida
foi de 250 ± 5°C, correspondente ao estágio final de
cloritização de rochas e veios.

Outros Minerais

Além dos minerais citados anteriormente, foram ana-


lisados epidoto, carbonato, topázio, estilpnomelano, titanita,
apatita, magnetita, ilmenita, pirita, calcopirita, pirrotita e
molibdenita.

Epidoto

Epidoto foi analisado em quartzo diorito, gabro e


andesito. Sua composição varia entre PS27,48 a > 35,00%,,
correspondendo a Fe-epidoto, segundo a classificação de
Holdaway (1972).

Carbonatos

A composição de calcita e siderita de veio está repre-


sentada no diagrama da figura 34.

Topázio

Os cristais de topázio ocorrem em todos os litotipos da


área, principalmente em veios, como cristais euédricos e,
subordinadamente, disseminados nas rochas como cris-
tais subédricos. O topázio de veios em riolito e andesito
foi classificado como flúor-topázio, contendo 15,19 a
17,74% de flúor. Todos os pontos analisados mostraram
excesso de Si no sítio tetraédrico.
FeO* analisado como FeO total e recalculado para Fe 2+ e Fe3+ a partir do
cálculo: Fe 3+=Fe2+-(3-Mg)-Ca); Li c: Li=3-ΣY; OH+F=4; B2O3=B=3 (puf). Apatita
Apatita encontra-se em todas as rochas da área,
Clastour (Yavus et al, 2002, Lynch & Ortega 1997). principalmente em andesito alterado, no qual é flúor-
O conteúdo de Li, B e OH foi calculado por apatita, com quantidades muito pequenas de La2O3 e
estequiometria, assumindo-se que os sítios V e W estão CeO 2, conforme pode ser visto no diagrama ternário
totalmente ocupados por OH, flúor e cloro. A da Figura 35.
classificação segue Hawthorne & Henry (1999).

189
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

Figura 32 – Diagramas de classificação de turmalina


(Hawthorne & Henry 1999). Triângulo verde – gabro, qua-
drado azul – andesito, quadrado rosa – riolito B, círculo
vermelho – ortoclásio-albita granito.

Figura 34 – Diagrama ternário CaCO3 - MgCO3 - FeCO3 re-


presentando as amostras de calcita e siderita.

Figura 33 – Diagrama ternário Ca - Fe2+ - Mn mostrando a


composição de chamosita do Alvo Estrela, segundo a classi-
ficação de Bailey (1988).

Magnetita
Magnetita esqueletal e os cristais encontrados em veios
Figura 35 – Diagrama ternário Cl-F-OH, onde os círculos
mostraram-se quase como membros finais puros, com vermelhos representam os pontos analisados em apatita de
ínfimas quantidades de elementos traços. andesito.

190
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Sulfetos andesito apresenta teores de Au mais elevados do que a


de gabro; pirrotita de veio é niquelífera, contendo tam-
Dentre os sulfetos analisados (Tabelas 8 a 10) obser- bém Au e Cu.
va-se que pirita é cuprífera e cobaltífera; calcopirita de

Tabela 7 – Resultados de análises de Clorita no Alvo Estrela Tabela 8 – Resultados de análises de Calcopirita no Alvo
Estrela

Amostras 1 e 2: calcopirita em gabro. Amostra 3: calcopirita em andesito.


Amostras 4 e 5: calcopirita em andesito.

la. A escolha das amostras foi efetuada com o intuito de


caracterizar as rochas encaixantes e hospedeiras do mi-
FeO* analisado como FeO total e recalculado para Fe 2+ e Fe3+ a partir do
cálculo: 20-Σcátions-(F-OH-Cl)
nério, bem como seus padrões de alteração.
O=F, Cl*: calculado a partir da equação [O/(2*F)]*F e [O/(2*Cl)]Cl
OH*: estimado a partir do S de cátions por unidade de fórmula – 36
Classificação baseada nos parâmetros de Bayllis (1975)
Gabros e Andesitos

Os efeitos da alteração hidrotermal encontrados em


VII. LITOGEOQUÍMICA gabros e andesitos são representados por três tipos prin-
cipais de assembléias minerais. A assembléia mais anti-
Foram realizadas 49 análises químicas de rocha total, ga e menos hidratada é composta por anfibólio, do tipo
abrangendo todos os litotipos identificados no Alvo Estre- hastingsita, pargasita e Fe-hornblenda e plagioclásio

191
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

Tabela 9 – Resultados de análises de Pirrotita no Alvo Estrela Tabela 10 – Resultados de Análises de Pirita no Alvo Estrela

Amostras de pirrotita em gabro. Amostras de pirita em andesito.

reliquiar ígneo substituído, em graus variados, por sericita, Por isto, foram realizados cálculos de balanço de massa
carbonato e/ou albita, juntamente com titano-magnetita pelo método proposto por Gresens (1967), com o objetivo
e epidoto. Essa é a assembléia predominante em gabros de determinar as perdas e ganhos dos componentes quí-
e corresponde à alteração cálcico-sódica precoce, em- micos ocorridos durante a alteração hidrotermal das ro-
bora a coexistência de epidoto, albita, carbonato e clorita chas máficas, encaixantes do minério de Cu-Au do Alvo
em algumas amostras sugira preservação parcial de as- Estrela. Foram utilizadas oito amostras, sendo quatro de
sembléia metamórfica mais antiga. Segue-se a altera- andesito e as restantes de gabro. O fator volume de cada
ção potássica, junto com ferrificação moderada a baixa uma foi assumido como a média aritmética dos fatores
e sulfetação, dada pela presença de Fe-biotita marrom volumes calculados para TiO 2 e Al 2O 3 , visto que
e verde, junto com siderofilita e magnetita esqueletal, petrograficamente sempre há formação de fases mine-
substituindo minerais máficos e plagioclásio. A essa fase rais portadoras desses componentes, tais como
está relacionada a mineralização venular, composta por ilmenomagnetita, titanita, leucoxênio, clorita e micas. O
calcopirita, pirita e pirrotita. Greisenização tardia e lo- critério de escolha das rochas mães baseou-se na predo-
calizada é representada por protolitionita e zinnwaldita, minância das assembléias minerais menos hidratadas,
junto com turmalina, quartzo, fluorita, topázio e clorita. dadas pela menor percentagem de perda ao fogo nos
Carbonatos são minerais tardios e sucedem a andesitos e gabros, associadas à presença de texturas
mineralização. ígneas reliquiares, e baixo teor de K2O. Dessa forma,
Tendo em vista toda essa seqüência de alteração pro- para os elementos maiores e traços dos andesitos houve
funda pela qual passaram as rochas hospedeiras do mi- ganhos de Fe2O3 (+1,49 a +4,82 g para cada 100g do
nério, torna-se necessário que os dados relativos à óxido original da rocha mãe), FeO (+3,37 a +8,24 g/100g),
geoquímica das rochas do Alvo sejam examinados com MgO (+1,04 a +8,57 g/100g), K2O (+0,32 a +5,05 g/100g),
muita cautela. Ba (+26,05 a +851,94 µg/100g), Rb (+28,24 a +1474,21
µg/100g), Zn (+8,91 a +74,08 µg/100g), Ni (+31,43 a +153,8

192
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

µg/100g), Co (+28,1 a +45,91 µg/100g), Sn (+8,43 a +88,54 Tabela 11 – Resultado dos cálculos de balanço de massa das
µg/100g), Cr (+0,95 a +768,8 µg/100g) além de Y, Sr, Sc, amostras de andesito, mostrando as perdas e ganhos (PG) de
Zr e U. SiO2, Al2O3, CaO, Na2O, Cu e V mostraram-se massa das rochas filhas em relação à massa total do óxido ou
móveis devido a perdas em algumas amostras e ganhos elemento da rocha mãe (EF11-415,10). Perdas e ganhos da-
dos em g/100g para os elementos maiores e mg/g para os
em outras. As pequenas variações de TiO2, MnO, P2O5 e
elementos traços (Dens.- densidade, Kv- fator volume).
W demonstram seu comportamento aparentemente imó-
vel. Já as amostras de gabro demonstraram ganhos de
K2O (+1,42 a +2,10 g/100g), Ba (+15,99 a +32,38 µg/
100g), Rb (+330,34 a +1290,20 µg/100g), Cu (+401,62 a
+759,49 µg/100g), Ni (+3,38 a +17,93 µg/100g), W (+0,79
a +16,78 µg/100g) e Sn (+4,75 a +86,32 µg/100g). Em
contraposição, perdas foram constatadas em SiO2 (-0,28
a -4,9 g/100g), CaO (-3,5 a -6,0 g/100g), Sr (-59,36 a -
78,24 µg/100g), V (-34,96 a -43,57 µg/100g) e Co (-6,55 a
-19,10 µg/100g). O comportamento móvel de Al2O3, Fe2O3,
FeO, MgO, Na2O, Zn e Cr é demonstrado pela perda em
algumas amostras e ganho em outras. TiO2, MnO e P2O5
revelaram variações muito pequenas, indicando seu pos-
sível comportamento imóvel. Os resultados se encontram
nas tabelas 11 e 12 e nas Figuras 36 a 39.
Em suma, perdas e ganhos calculados coincidem com
os processos de alteração observados a partir das descri-
ções petrográficas.
Tendo todos esses dados em mente, pode-se discutir a
litogeoquímica das rochas hospedeiras do minério do alvo.
Os conteúdos de SiO2 variam no andesito de 42,9 a
54,52% e de 40,05 a 51,39 no gabro, TiO2 no andesito
varia entre 0,76 e 1,64% e entre 0,77 e 1,27% no gabro.
Já os conteúdos de Al2O3 variam entre 10,97 e 19,22%
no andesito e entre 13,91 e 18,05 no gabro, enquanto Fe2O3
varia entre 1,56 e 4,02% em andesito e entre 0,83 e 7,77%
em gabro.
Diagramas binários de elementos de alto campo
de força, como Zr, Nb e Th sugerem trend de diferenci-
ação, no qual gabro seria mais primitivo que os andesitos.
Todavia, o espalhamento dos pontos de andesito parece
estar relacionado à alteração, como já sugerido pelos cál-
culos de balanço de massa. (figura 40).
Segundo Pearce & Norry (1979), elementos como Ti,
Zr, Y e Nb via de regra são considerados como imóveis,
não sendo transportados na forma de fluido aquoso, a não
ser que o fluido apresente alta atividade de agentes
complexantes como F-, fato que ocorre na fase de altera-
ção potássica, quando há maior aporte de F, evidenciado
pela presença marcante de fluorita, bem como de F pre-
sente na estrutura de biotita e de siderofilita. (Hollings & Kerrich, 2000) e La Ronge Domain (Watters
As razões Sc/Ti e Sc/Ga parecem auxiliar na suges- & Pearce, 1987), cuja idade e quimismo são semelhantes
tão de ambiente tectônico, embora não levem a dados (ver figura 41), percebe-se que as amostras de arco apre-
conclusivos. Basaltos de arco insular (IAB) apresentam sentam razões Sc/Ti mais elevadas, enquanto rochas que
razões Sc/Ti e Sc/Ga mais altas em relação a basaltos de apresentam contribuição de crosta continental apresen-
bacias de retro-arco (Woodhead et al., 1993). Ao com- tam razões Sc/Ti menores. Assim sendo, os valores mais
parar as razões Sc/Ti das rochas máficas do Alvo Estrela baixos de Sc/Ti verificados nas amostras de andesito e
(andesito e gabro) com basaltos da região de Birch-Uchi gabro do Alvo Estrela podem tanto indicar que estas ro-

193
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

chas provêm de magmas mais evoluídos, nos quais há


contribuição de origem continental, como também podem
indicar maior influência dos fluidos de origem granítica.
Evidência de contaminação pela crosta mais antiga é dada
por eNd (T) =-3,2 obtido tanto em andesito como em ga-
bro do Alvo Estrela, o que também é evidenciado pelos
valores de idades modelo TDM de cerca de 3,0 a 3,1 Ga
(capítulo 10).
O gabro apresenta conteúdo de ETR entre 16,83 e
88,70 vezes o condrito, fracionamento moderado a alto Figura 36 – Diagrama de representação de perdas e ganhos
dos ETRL (La/Smcn = 1,010-6,360), anomalia positiva a dos elementos maiores devidos à alteração hidrotermal nos
negativa de Eu (Eu/Eu* = 1,038-0,434) e padrão relativa- andesitos.
mente achatado de ETRP (Gd/Ybcn = 0,312-1,654), ao
passo que o andesito apresenta conteúdo de ETR entre
34,81 e 96,58 vezes o condrito, alto fracionamento e enri-
quecimento de ETRL (La/Smcn = 1,650-3,241), anomalia
negativa a fracamente positiva de Eu (Eu/Eu* = 0,0294-
1,037) e fracionamento de ETRP (Gd/Yb = 0,843-1,983).
O fato do andesito ser mais enriquecido em ETR do
que o gabro (ΣETR = 90,52 a 471,67 ppm no andesito e
43,76 a 230,57 ppm no gabro), pode refletir tanto o maior
grau de alteração, quanto a proveniência de magma mais
evoluído (Tabela 12).
Ao comparar o padrão de ETR, tanto do andesito,
quanto do gabro com o padrão de ETR de andesitos de Figura 37 – Diagrama de representação de perdas e ganhos
dos elementos traços devidos à alteração hidrotermal em
2,5-3,5 Ga (Condie 1989), percebe-se semelhanças entre
andesitos.
estes, embora as rochas do Alvo Estrela tenham anoma-
lias negativas de Eu, provavelmente relacionadas à subs-
tituição do plagioclásio original por albita e sua subse-
qüente destruição devida à intensa biotitização. Neste
processo de substituição Ca e Sr são lixiviados, sendo
freqüentemente acompanhados por Eu (Figura 42).
Os efeitos da alteração podem ser observados no dia-
grama da figura 43, onde os resultados das análises de
gabros e andesitos, normalizados pelo basalto de cadeia
oceânica NMORB (Pearce 1983), foram representados
juntamente com basaltos de arco de idade 2,5 e 1,8 Ga
das regiões de Birch Uchi e La Ronge Domain, respecti-
vamente. Figura 38 – Diagrama de representação das perdas e ganhos
Neste diagrama observa-se que as rochas do alvo dos elementos maiores em gabros.
estão empobrecidas em Sr e Ba, devido à destruição do
plagioclásio cálcico e remoção de Ca nos estágios pre-
coces da alteração cálcico-sódica, já descrita. Os gabros
e andesitos encontram-se também enriquecidos em Rb,
que acompanha o potássio, no processo de alteração
potássica. Os pontos restantes da curva de andesitos e
gabros são coincidentes com as rochas utilizadas para
comparação.

Riolitos

Os riolitos encontram-se muito menos alterados do que


gabros e andesitos. Embora algumas amostras exibam Figura 39 – Diagrama de representação de perdas e ganhos
alguns efeitos possivelmente atribuíveis à alteração dos elementos traços em gabros.

194
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 40 – Diagramas binários das rochas máficas do Alvo Tabela 12 – Resultado dos cálculos de balanço de massa das
Estrela. Os quadrados correspondem aos andesitos e os amostras de gabro, mostrando as perdas e ganhos (PG) de
triângulos aos gabros. massa das rochas filhas em relação à massa total do óxido ou
elemento da rocha mãe (EF15-34,00). Perdas e ganhos dados
em g/100g para os elementos maiores e mg/g para os elementos
potássica, albitização e silicificação, as amostras menos traços (Dens.- densidade, Kv- fator volume).
hidrotermalizadas, provavelmente, têm composições ain-
da próximas da original, principalmente aquelas denomi-
nadas petrograficamante de riolitos A, menos alterados.
A composição normativa dos riolitos pórfiros (Tabela
13) também pode ser examinada à luz da intensa altera-
ção hidrotermal a que esse pacote rochoso foi submetido.
Os teores de albita e anortita normativos são geralmente
inferiores aos esperados em riolitos, o que pode ser resul-
tado da ateração cálcico-sódica. O conteúdo elevado de
coríndon, principalmente nas rochas biotitizadas, deve
refletir, tal como nos gabros e andesitos, o processo de
dessilicificação concomitante com a alteração potássica.
Magnetita e ferrossilita normativas, em valores muito mais
elevados do que esperados, devem ser provenientes do
processo de ferrificação moderada que acompanhou a
biotitização na área.
O riolito A, menos alterado, é formado por fenocristais
de oligoclásio, ortoclásio e quartzo imersos em matriz de
fragmentos finos de ortoclásio alterado para Fe-biotita,
com posterior siderofilitização e albita substituída por
sericita e quartzo. Também ocorrem epidoto, allanita,
turmalina, clorita, pirita, calcopirita, molibdenita, pirrotita,
magnetita e siderita.
Essa rocha possui valores de SiO2 entre 72 e 75%,
TiO2 0,2%, Al2O3 entre 12,17 e 13%, MgO entre 1,62 e
1,89%, K2O entre 1,77 e 4,15%, Na2O entre 1,75 e 5,55%
e CaO entre 0,07 e 0,3%. A razão Fe/(Fe + Mg) varia de
0,60 a 0,67. O conteúdo de ETR é de 28 a 29 vezes o
condrito, apresentando enriquecimento em ETRL (La/Smn
= 6,1 – 6,6), anomalia negativa acentuada de Eu (Eu/Eu*
= 0,33 – 0,49) e padrão achatado de ETRP (Gd/Ybn = 1,3
– 1,4) (Figura 44a).
O riolito B, mais alterado, é composto pela mesma
assembléia mineral do riolito A, mas apresenta maior quan-
tidade de siderofilita, Fe-biotita e allanita, com posterior
cloritização desses minerais, além de diminuição da quan-
tidade de quartzo e dos fenocristais.

195
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

0,03 1000

Amostras/ Condrito
0,02
100
Sc/Ti

0,01
10

0,00
0 100 200
Zr 1
La Pr Eu Tb Ho Tm Lu
Figura 41 – Diagrama Zr-Sc/Ti, onde os quadrados vazados Ce Nd Sm Gd Dy Er Yb
azuis correspondem a andesito, os triângulos vazados verdes
a gabro do Alvo Estrela. Os triângulos invertidos roxos Figura 42 – Diagrama de ETR padronizados segundo Sun &
correspondem a basaltos evoluídos de arco e os círculos ver- McDonough (1989). Andesito – quadrados vazados azuis e
melhos a basaltos primitivos de arco, ambos do greenstone gabro – a triângulos vazados verdes. Os círculos azuis são os
belt Birch-Uchi; os losangos azuis correspondem a andesitos (2,5-3,5 Ga) de Condie (1989), para comparação.
metabasaltos do greenstone La Ronge Domain.
4000 Tabela 13 – Composição normativa dos riolitos
1000
Amostras/NMORB

100

10

0,1
.05
Sr Rb Th Nb P Hf Ti Yb
K Ba Ta Ce Zr Sm Y
Figura 43 – Andesitos (quadrados vazados azuis) e gabros
(triângulos verdes) normalizados segundo N-MORB (Pearce
1983). Basaltos cálcio-alcalinos evoluídos de arco (triângu-
los invertidos roxos), basaltos primitivos de arco (círculos
vermelhos), ambos de Birch-Uchi; metabasaltos de La Ronge
Domain.(losangos azuis).

(a) (b)
Amostra/Granito Cadeia Oceânica

3000 400

1000 100
Amostra/condrito

100 10

10 1

1 .1
La Pr Eu Tb Ho Tm Lu K2ORb Ba Th Ta Nb Ce Hf Zr Sm Y Yb
Ce Nd Sm Gd Dy Er Yb
Figura 44 – (a) Diagrama de elementos terras raras normalizado ao condrito (Sun & MacDonough 1989), mostrando os
padrões de ETR dos riolitos A e B do Alvo Estrela e riolito da Serra Norte. Quadrados sólidos: riolito A, triângulo vazado:
riolito B, triângulos sólidos: riolito Serra Norte. (b) Diagrama representando os riolitos normalizados pelo granito de cadeia
oceânica. Riolitos da Serra Norte (Gibbs et al. 1986) em roxo, para comparação.

196
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

O riolito B tem valores de SiO2 entre 56 e 70%, 0,05%


de TiO2, Al2O3 entre 9,79 e 11,9%, MgO entre 1,76 e OA ACM WPVZ
4,10%, K2O entre 2,31 e 5,07%, Na2O entre 1,21 e 3,23%
WPB
e CaO entre 1,34 e 4,13%. A razão Fe/(Fe + Mg) varia
de 0,74 a 0,78. Possui conteúdo de ETR entre 28 e 31
vezes o condrito, fracionamento moderado de ETRL (La/
Smn = 7,6 – 8,4), anomalia negativa pronunciada de Eu
(Eu/Eu* = 0,26 – 0,28) e padrão achatado de ETRP (Gd/
Ybn = 0,8 – 1,9) (Figura 44A). MORB
Os riolitos apresentam padrão de ETR normalizado
pelo condrito bastante semelhante aos riolitos da Serra
Norte (Gibbs et al. 1986) representados também na figu-
ra 44a. Os riolitos do Alvo Estrela são mais enriquecidos
em ETR do que os da Serra Norte. Isso é devido à altera-
ção hidrotermal, o que é mostrado também na figura 44b,
onde estão representadas todas as amostras dos riolitos Figura 45 – Diagrama Th/Yb versus Ta/Yb (Gorton & Schandl
normalizadas pelo granito de cadeia oceânica (Pearce et 2000), mostrando as amostras de riolito A e B do Alvo Estrela
e o riolito da Serra Norte. Quadrados sólidos: riolito A, tri-
al. 1984). Os riolitos pórfiros do Alvo Estrela são enri-
ângulo vazado: riolito B, triângulos sólidos: riolito Serra
quecidos em Rb, Ce, Th, Nb, Sm e Y, e empobrecidos em Norte. OA: Arco Oceânico; ACM: Margem Continental Ativa,
Ba, em relação aos riolitos pórfiros da Serra Norte. WPVZ: Zona vulcânica intraplaca. Os campos WPB (Basalto
Apesar dos riolitos estarem hidrotermalmente altera- intraplaca) e MORB representam as zonas definidas por
dos, tentou-se discriminar seu ambiente tectônico a partir Pearce (1983).
das razões Th/Yb versus Ta/Yb (Gorton & Schandl 2000)
para rochas vulcânicas intermediárias e ácidas. Como te ocupam o campo correspondente à margem continen-
pode ser observado no diagrama da figura 45, a maioria tal ativa, interpretação coincidente com os dados isotópicos
das amostras dos riolitos do Alvo Estrela e da Serra Nor- obtidos em gabros e andesitos, referidos no capítulo 10.

200 20 10
100 10
Amostra/Condrito
Amostra/Condrito

Amostra/Condrito

10 (a) (b) 1 (c)


1

0.1 0.1
0.1

.01 .01 .01


La Pr Eu Tb Ho Tm Lu La Eu Ho Lu La Eu Ho Lu
Ce Nd Sm Gd Dy Er Yb Ce Nd Sm Gd Dy Er Yb Ce Nd Sm Gd Dy Er Yb

200 100
100

(d) (e)
Amostra/Condrito

Amostra/Condrito

10
10

1
1

0.1 0.1

.01 .01
La Eu Ho Lu La Eu Ho Lu
Ce Nd Sm Gd Dy Er Yb Ce Nd Sm Gd Dy Er Yb

Figura 46 – Diagramas de representação de elementos terras raras normalizados pelo condrito (Sun & MacDonough 1989).
(a) Pontos roxos, arenitos Gorotire do Alvo Estrela. Triângulos verdes, formação ferrífera bandada da Formação Carajás do
Alvo Estrela. (b) Formação ferrífera bandada da Formação Carajás, no N4. (c) Formação ferrífera da Mina do Igarapé
Bahia. (d) Arenitos e ritmitos da Mina do Igarapé Bahia. (e) Quartzitos do depósito de Cu-Au do Salobo.

197
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

A geoquímica de riolitos é influenciada pela composi- com a natureza arcosiana dos arenitos, já descrita
ção química de suas rochas fonte. O enriquecimento pro- petrograficamente. Seus padrões de ETR são semelhan-
gressivo em Th reflete o aumento da contribuição de com- tes aos dos ritmitos da Mina do Igarapé Bahia, como pode
ponente de arco para as lavas. Também o aumento pro- ser observado na figura 46 d, e.
gressivo em Th e Ta sugere contribuição de crosta conti-
nental mais antiga a partir de magmas gerados em ambi- Rochas Intrusivas
ente de margem continental ativa (Gorton & Schandl
2000). Embora os valores de Ta e Th possam ser prove- Conforme já referido, as rochas intrusivas encontradas
nientes de metassomatismo granítico, essas sugestões são no Alvo Estrela correspondem a granitos, quartzodiorito
compatíveis também com os valores de εNd (T)= –3,2 e diversos diques de diabásio.
encontrados em gabros e andesitos associados a esses
riolitos na área. Granitos

Formação Ferrífera e Arenitos Os granitos compreendem ortoclásio-albita granito


e suas fácies episienítica – quartzo-álcali-feldspato
As características geoquímicas das formações ferrí- sienito vermelho – e topázio-ortoclásio-albita granito.
feras e dos arenitos serão tratadas de maneira mais su- Zonas greisenizadas, portadoras de micas litiníferas
perficial por consistirem de rochas sedimentares sem re- e relacionadas aos granitos, são comuns na área do
lação direta com o minério. alvo.
As formações ferríferas são compostas essencialmen- O ortoclásio-albita granito apresenta valores de SiO2
te por Fe e Si (FeO + SiO2 = 99,56 a 99,99%), tendo, entre 70 e 71%, TiO2 0,004 – 0,008%, MgO 0,02%, CaO
portanto, conteúdos muito baixos dos outros elementos, 0,2 a 0,6% e P2O5 0,01 – 0,02%, sendo enriquecido em
mesmo traços e ETR (Figura 46a). Seus padrões de ETR Rb (945ppm), Nb (72,4ppm), U (9,6ppm), Ni (704ppm),
são bastante diferentes de outras formações ferríferas Cr (377ppm) e Ta (76ppm) em relação ao episienito
da Formação Carajás, como pode ser observado pela (quartzo-álcali-feldspato sienito). É peraluminoso, de
comparação com as formações ferríferas de N4 (Figura acordo com o índice de Shand, alcalino, conforme o índice
46b) e do Igarapé Bahia (Figura 46c). de Wright (1969) e cálcico de acordo com o índice álcali-
Os arenitos Gorotire apresentam-se muito enriqueci- cálcico de Peacock (1931) (Figura 47a, b). Trata-se de
dos em ETR, em relação tanto a arenitos arqueanos quanto granito sódico que apresenta razão FeO/Fe2O3 entre 9 e
a arenitos proterozóicos. Os padrões de ETR, 14, sendo mais reduzido do que o quartzo diorito. O
normalizados pelo condrito, das rochas sedimentares de- conteúdo de ETR é de 20 a 22 vezes o condrito, mostrando
pendem principalmente das áreas fonte, que devem ser fracionamento dos ETRL (La/Smn = 2,6 – 3,0) e dos ETRP
analisadas e comparadas em detalhe. Os valores de ETR (Gd/Ybn = 0,3 a 0,4). bem como pronunciada anomalia
obtidos nesses arenitos podem refletir fonte crustal, tal negativa de Eu (Eu/Eu* = -1,8 a -1,9) (Figura 48).
como o embasamento do Complexo Xingu. A anomalia O episienito (quartzo-álcali-feldspato sienito vermelho)
positiva de Eu, (Eu/Eu* = 1,14 a 1,09) está de acordo é potássico e tem SiO2 entre 54 e 55%, MgO 0,3 a 0,4%,

(a) (b)
15.0 3.0
Alkalic A-C C-A Calcic 2.8 Metaluminous Peraluminous
2.6
12.0 2.4
2.2
Na2O+K2O

9.0 2.0
ANK

1.8
1.6
6.0 1.4
1.2
3.0 1.0
Peralkaline
0.8
0.6
0.0 0.4
40 50 60 70 80 0.5 1.0 1.5 2.0
SiO2 ACNK
Figura 47 – Amostras dos granitos estudados representados nos diagramas de Peacock (1931) e Shand (1950) mostrando que
QAFS – episienito (losango azul) é álcali-cálcico e metaluminoso e que OAG (círculos vermelhos) é cálcico e peraluminoso.

198
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 48 – Padrão de elementos terras raras de amostras de Figura 49 – Padrão de elementos terras raras de amostras de
ortoclásio-albita granito (círculos vermelhos) e episienito fluorita (triângulo cinza), biotita verde (losango), turmalina
(quartzo-álcali-feldspato sienito) (losângos azuis), (cruz) e ortoclásio-albita granito (círculos vermelhos),
normalizados pelo condrito (Sun & Mcdonough 1989). normalizados pelo condrito (Sun & Mcdonough 1989).

CaO 9,0 a 10%, Na2O 0,09 a 0,05% e P2O5 entre 0,03 a seja controlado pelos minerais acessórios, como descri-
0,04%. É álcali-cálcico e metaluminoso, enriquecido em to por Öhlander et al., (1989) para os aplitos
Ba (1220ppm) e Cu (1590ppm) comparado com o albita- mineralizados a molibdenita no Paleoproterozóico da
ortoclásio granito. A baixa sílica deve-se à lixiviação de Suécia. Assim, a anomalia de Eu, pelo menos no
quartzo devida a alteração hidrotermal tardi a pós ortoclásio-albita granito, estaria relacionada a biotita rica
magmática, de alta temperatura, característica do processo em ETR, indicando que os fluidos formadores do miné-
de episienitização, conforme definido por Lacroix (1920). rio e da ganga dos veios do Alvo Estrela foram proveni-
O baixo sódio sugere que a lixiviação da sílica não tenha entes do OAG.
sido acompanhada por albitização. A lixiviação do quartzo
teria aumentado a porosidade da rocha, permitindo que Quartzo diorito
os espaços intergranulares fossem preenchidos por
fluorita, o que é refletido pelo elevado cálcio. O aumento O quartzo diorito apresenta SiO2 (61,3 - 63.54%), TiO2
de Ca, acompanhado de Eu, teria sido a causa do (0,97 - 1,0%), CaO (2,52 - 3,06%), razões FeO/Fe2O3
desaparecimento da pronunciada anomalia negativa de entre 6,05 e 9,42, e K2O/Na2O 1,05-1,19, U (4 – 5 ppm),
Eu do episienito, em comparação com AOG. O conteúdo Li até 208 ppm e Au entre 5 e 50 ppb. A composição
de ETR é de 20 a 25 vezes o condrito, mostrando padrão normativa do quartzo diorito pode ser observada na tabe-
de ETR normalizado pelo condrito (Sun & Mcdonough la 14.
1989) em forma de gaivota, característico. Apresenta
ΣETR = 164 a 1399 ppm e sua curva padronizada pelo
condrito tem fracionamento de ETRL (La/Sm)n = 1,5-5,2
e ETRP (Gd/Yb)n = 0,2 a 0,3 e discreta anomalia negativa
de Eu (Eu/Eu* = 0,09-0,43). (Figura 48).
Exceto pela acentuada anomalia negativa de Eu do
ortoclásio-albita granito (OAG) e fraca anomalia positiva
do episienito - quartzo-álcali-feldspato sienito (QAFS), há
perfeita coincidência entre eles, no que tange aos padrões
de ETR. O padrão do quartzo-álcali-feldspato granito
coincide, ainda melhor, com aqueles das fácies mais evo-
luídas do (OAG) (Figura 48).
A perfeita correlação entre os padrões de ETR de
fluorita, biotita verde e turmalina da ganga dos veios Tabela 14– Composição normativa do quartzo diorito.
mineralizados do alvo e do ortoclásio-albita granito (Fi-
gura 49) sugere que o conteúdo de ETR dessa rocha

199
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

A rocha é muito rica em ETR (ΣETR = 1.726 a 2.200


ppm). A curva padronizada pelo condrito mostra forte
fracionamento de ETRL (La/Sm)n = 6,4-6,7),
fracionamento menos pronunciado de ETRP (Gd/Yb)n =
1,7 a 2,1 e anomalia negativa de Eu (Eu/Eu* = 0,58-0,69).
Deve-se notar a semelhança e o paralelismo dos padrões
de ETR do quartzo diorito e da rocha greisenizada (F1-
193.85) apresentada na figura 50. Essa amostra
corresponde a uma zona descolorida (bleached), cuja
análise revelou altos valores de Rb e Li (>1000 e 1080
ppm, respectivamente). Estudos adicionais são necessá-
rios para verificar se há relação entre as rochas
greisenizadas e o quartzo diorito pórfiro.

Diabásio

Os diabásios analisados são derivados de basaltos


Tabela 15 – Composição normativa dos diabásios.
toleiíticos continentais e intra-placa, tais como os diabásios
que cortam a área do Salobo e a Mina do Igarapé Bahia.
Apresentam padrão de ETR paralelo ao do diabásio da de basaltos fanerozóicos (figura 51). Como se trata de
mina do Igarapé Bahia, sendo, todavia, relativamente mais rochas não alteradas, sua composição normativa é com-
ricos em ETR (ΣETR 438 – 426 ppm) do que os últimos patível com a de rochas derivadas de magma basáltico
(ΣETR = 28,51-30,69). Este comportamento é esperado toleiítico continental.

Figura 50 – Diagrama mostrando o padrão de ETR normalizado pelo condrito do quartzo diorito (pontos vermelhos) e da
rocha greisenizada (triângulos roxos) e do episienito (losangos azuis). Os círculos vermelhos mostram o padrão do OAG, para
comparação. 50(a) – Observar a semelhança entre os padrões do quartzo diorito e da rocha greisenizada. 50(b) – Observar
o paralelismo entre o OAG e o episienito e do quartzo diorito e da rocha greisenizada.

200
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(a) (b)

(c) (d)

(e)

Figura 51 – (a) Diagrama de classificação Na2O + K2O versus SiO2 do diabásio. (b) Diagrama AFM mostrando composição
toleiítica do diabásio. (c) Diagrama de ETR, normalizado pelo condrito (Sun & MacDonough 1989), do diabásio do Alvo
Estrela. (d) Diagrama de ETR, normalizado pelo condrito (Sun & MacDonough 1989), do diabásio da mina do Igarapé
Bahia. (e) Diagrama Zr versus Zr/Y de classificação de ambiente tectônico de magmas basálticos (Pearce e Norry 1979).
Observar os pontos correspondentes às amostras do diabásio inseridas no campo dos basaltos intra-placa.

VIII. INCLUSÕES FLUIDAS temente deformadas. Em uma lâmina o veio aparece


brechado e recortado por veios preenchidos com fluorita,
Descrição Petrográfica clorita e mica branca (Figura 52c). Quando associados
à greisenização os cristais de quartzo são menos defor-
A descrição petrográfica das inclusões fluidas (Ifs) mados, com formas subédricas e anédricas (Figura 52d),
foi executada por meio de lâminas bipolidas em quartzo, o mesmo acontecendo nos cristais associados à
fluorita, carbonato e topázio, que ocorrem em veios as- carbonatação (Figura 52f). No geral, apresentam tama-
sociados a eventos de alteração hidrotermal de nhos variáveis de 0,05 a 12mm.
potassificação, greisenização e carbonatação, sendo pri-
meiramente descritos em lâminas delgadas e polido-del- Fluorita
gadas, os minerais hospedeiros das inclusões fluidas.
Fluorita, que juntamente com quartzo ocorre em todas
Quartzo as fases de alteração hidrotermal, apresenta-se como
grãos subédricos a anédricos, com tamanho variando de
Quartzo é o mineral predominante nos veios associ- 0,05 a 10mm (Figura 52d e f).
ados à alteração potássica e greisenização. Nos veios
relacionados a potassificação, o quartzo apresenta-se Carbonato
com forma anédrica e extinção ondulante, que evolui
para textura de subgrão (Figura 52a) e raramente Os cristais de carbonato analisados variam em tama-
recristalização (Figura 52b). Quando recristalizado, as nho de 0,4 a 6mm, possuem forma subédrica a anédrica e
inclusões fluidas (Ifs) apresentam-se crepitadas ou for- não apresentam sinais evidentes de deformação ou

201
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

recristalização, possivelmente por serem a última fase As Ifs presentes nesses minerais foram identificadas
mineral a se formar (Figura 52f). e classificadas como (Figura 53):
• Tipo M: monofásicas claras e escuras;
Topázio • Tipo L: bifásicas aquosas;
• Tipo S: aquosas com sólido, subdivididas em dois
Topázio só ocorre nos veios relacionados a subtipos:
greisenização, com cristais subédricos e anédricos (Figu-
• S1: aquosas trifásicas com um sólido;
ra 52e), sendo esse último mais abundante; possuem ta-
• S2: aquosas multifásicas com dois ou mais sólidos;
manhos variáveis entre 0,06 e 2mm. Em alguns cristais
pode-se perceber zonação marcada por trilhas de Ifs pa- • Tipo C: aquo-carbônicas;
ralelas às linhas de crescimento. • Tipo Cs: aquo-carbônicas com um ou mais sólidos.

(a) (c)
(b)

(d)
(f)
(e)

Figura 52 – Fotomicrografias. (a) Quartzo com textura de sub-grão; notar a permanência de trilhas de inclusões fluidas após
a deformação (potassificação). (b) Quartzo dobrado com faixas recristalizadas (potassificação). (c) Veio de quartzo brechado,
com fraturas preenchidas por fluorita, clorita e mica branca (potassificação). (d) Veio de quartzo e fluorita, com biotita e
clorita nas bordas (greisenização). (e) Cristal de topázio em veio associado a greisenização; notar as trilhas de inclusões
fluidas paralelas às linhas de crescimento. (f) Veio preenchido por carbonato, quartzo e fluorita (carbonatação).

(b) (c)

(a)

202
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(d) (e) (f)

(g) (h) (i)

(j) (m)
(l)

(n) (o)

(q)

(p)
(r)

Figura 53 – Inclusões fluidas presentes nos veios do Alvo Estrela: Fluorita – Ifs tipo L (a), tipo L em trilhas pseudo-secundá-
rias (b), ifs tipo S1 (c) e tipo S2 (d), ifs tipo M clara (e) e escura (f). Quartzo – Ifs tipo L juntamente com tipo S2 (g), Ifs tipo
M claras e escuras (h), If tipo S2 (i), If tipo Cs (j), If tipo C (l), Ifs tipo S2 com sólido vermelho (m e n). Carbonato – Ifs tipo L
e S1 (o), Ifs tipo S1 e S2 (p), Ifs tipo M escuras (q) e claras (r).

203
Inclusões Fluidas nos veios associados à alteração Fluorita
potássica
Foram identificadas em abundância Ifs do tipo M es-
Quartzo curas e tipo L. As Ifs L possuem grau de preenchimento
da fase vapor entre 20 e 30%. Raramente estão presen-
As Ifs presentes nos cristais de quartzo associados à tes Ifs S1 (preenchimento entre 30 e 60%). Todos os ti-
alteração hidrotermal de potassificação são do tipo L, pos estão dispostos irregularmente ou em trilhas pseudo-
encontradas em grande quantidade, com o grau de pre- secundárias, com tamanho variando entre 1 a 15µm. Quan-
enchimento da fase vapor variando entre 20 e 30%. Es- to à forma, são poligonais ou arredondadas, apresentando
tão presentes também em grande quantidade Ifs do tipo com freqüência sinais evidentes de estrangulamento.
M claras e escuras e ainda Ifs tipos S1 e S2 com preen- Topázio
chimento de 20 a 80%. Todos os tipos possuem tamanho
de 1 a 30 µm e apresentam-se distribuídas aleatoriamente As Ifs identificadas nos cristais de topázio são do tipo
nos cristais, caracterizando formação primária ou distri- L, apresentando tamanho entre 1 e 10µm e grau de pre-
buídas em trilhas pseudo-secundárias. São poligonais ou enchimento da fase vapor de 30%. Provavelmente devi-
arredondadas, apresentando com freqüência sinais evi- do às características desse mineral, em especial sua
dentes de estrangulamento. clivagem, nota-se que a preservação das inclusões é me-
Inclusões fluidas do tipo C e Cs coexistem em peque- nor, tornando-as muito estranguladas e em sua grande
na quantidade com as Ifs acima descritas somente no maioria crepitadas, o que dificultou a seleção de Ifs para
quartzo associado à alteração potássica. Distribuem-se microtermometria.
aleatoriamente nos cristais de quartzo, possuem tamanho
Inclusões Fluidas no veio associado à carbonatação
que varia de 1 a 20µm e o grau de preenchimento da fase
vapor está entre 40 a 80%. Quartzo

Fluorita As ifs presentes são do tipo L e estão associadas em


grupos ou trilhas que podem ser caracterizadas como pri-
Contém com freqüência Ifs tipo L, com grau de pre- márias ou pseudo-secundárias, tamanhos entre 1 e 20 µm,
enchimento da fase vapor entre 20 a 30%. Estão presen- formas tabulares, arredondadas, poligonais e eventualmen-
tes ainda Ifs tipo M claras e escuras e raramente dos te com evidências sugerindo estrangulamento. O grau de
tipos S1 e S2 (preenchimento total das fases vapor e só- preenchimento da fase vapor é variável entre 20 e 30%.
lida entre 20-60%). Todos os tipos distribuem-se aleatori- Foram identificadas também Ifs tipo M claras e escuras.
amente nos cristais de fluorita ou em trilhas
Fluorita
intragranulares, o que caracteriza origens primária e
pseudo-secundária, respectivamente. Quanto ao tamanho, Na fluorita associada a carbonatação, as Ifs são do
as Ifs acima descritas têm entre 1 e 20µm, com formas tipo L, tipo S1 e tipo M claras e escuras. Estão distribuí-
poligonais ou arredondadas, freqüentemente com sinais das aleatoriamente ou em trilhas pseudo-secundárias. As
evidentes de estrangulamento. Ifs tipo L possuem grau de preenchimento da fase vapor
entre 20 e 30% e as do tipo S1 entre 20 e 50%. Todos os
Inclusões Fluidas nos veios associados à tipos possuem tamanhos variáveis entre 1 e 25 µm e for-
greisenização mas tabulares, poligonais e arredondadas, freqüentemente
com sinais evidentes de estrangulamento.
Quartzo
Carbonato
Nos cristais de quartzo associados à greisenização são
As Ifs presentes em abundância no carbonato são do
abundantes Ifs dos tipos L, M escuras e S1, sendo menos
tipo M escuras, tipo L (preenchimento da fase vapor 20 a
freqüentes as do tipo S2. Ifs do tipo L apresentam grau
30%) e raramente Ifs tipo S1 e S2 (preenchimento total
de preenchimento da fase vapor variando entre 1 e 30%
entre 30 e 40%). Essas Ifs possuem tamanhos variáveis
e o grau de preenchimento total do sólido e fase vapor
entre 1 e 16µm e formas arredondadas ou poligonais com
nas do tipo S1 e S2 varia entre 20 e 50%. Todos os tipos
sinais evidentes de estrangulamento. Distribuem-se irre-
possuem tamanho de 1 a 30 µm e distribuem-se de forma
gularmente ou dispostas em trilhas pseudo-secundárias.
aleatória ou em trilhas pseudo-secundárias. No geral, pos-
suem formas arredondadas ou poligonais com sinais evi-
dentes de estrangulamento.

204
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Fases sólidas presentes nas inclusões fluidas vas da fase de greisenização e uma pertencente à fase
de carbonatação.
Com exceção do topázio associado a greisenização,
todos os outros minerais hospedam inclusões fluidas dos Potassificação
tipos S1 e S2, inclusive Ifs tipo Cs em quartzo associado
Temperatura de fusão do gelo
a potassificação.
De acordo com o espectro do detector EDS (Figura Os minerais presentes nos veios associados à
54), acoplado ao microscópio eletrônico de varredura, os potassificação são quartzo e fluorita. Quartzo, mineral mais
dois sólidos encontrados e analisados são constituídos de abundante na maioria dos veios dessa fase de alteração,
NaCl (halita), porém, por limitações operacionais do apa- apresenta variação na temperatura da fusão do gelo, em
relho, esses sólidos não foram encontrados dentro das Ifs aquosas bifásicas, em faixa de –1 a –21 °C, na qual
cavidades das Ifs, mas sim sobre o mineral hospedeiro da se sobressaem dois picos principais em –9 e –15 °C.
mesma. As Ifs analisadas na fluorita resultaram em faixa de
Além de halita, outros sólidos presentes constituem- temperaturas de fusão do gelo de 0 a –16 °C, com con-
se em material amorfo de cor vermelha (Figura 53m e n), centração maior de 0 a –6 °C e dispersão em –8 e –9 °C
possivelmente óxido de ferro e prováveis cristais de silvita e –15 °C (Figura 55a).
e carbonato.
Temperatura de homogeneização total
Microtermometria
As temperaturas de homogeneização total das Ifs em
Para análise microtermométrica foram seleciona- quartzo dos veios associados a potassificação apresen-
das nove lâminas (Tabela 17) representativas dos vei- tam variação de 80 a 480 °C, com pico em 160 °C que
os associados às fases de alterações hidrotermais an- por sua vez é cercado por dispersão aproximadamente
teriormente descritas. Das nove lâminas, seis são de normal.
veios associados à potassificação, que representa a Na fluorita as temperaturas variam entre 120 e 260°C,
principal fase de mineralização, duas são representati- com pico principal em 150/160 °C e picos menos repre-
sentativos em 190 e 240 °C. (Figura 56d)

Figura 54 – Imagem backscattering de cubos de halita (NaCl) sobre fluorita (CaF2) do microscopio eletrônico de varredura
e análise semi-quantitativa de EDS (Energy Dispersive System) da amostra F11-212,00 metalizada com película de carbono.

205
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

Greisenização Espectrometria Raman


Temperatura de fusão do gelo Tabela 16 – Resultado das análises por Espectrometria
Raman.
Devido ao fato das Ifs bifásicas aquosas apresenta-
rem tamanho muito reduzido para análise
microtermométrica em uma das lâminas, a temperatura
de fusão do gelo em quartzo dos veios associados a
greisenização está representada por medidas efetuadas
em uma lâmina. Essas temperaturas são variáveis entre
–8 e –24°C, com concentração maior de freqüência em
–11°C.
Os resultados de temperaturas de fusão do gelo para
fluorita variam entre –8 e –24°C, com picos em –11 e –
19°C.
Tabela 17 – Relação de lâminas estudadas por
A dificuldade de encontrar-se Ifs em topázio que não microtermometria
apresentam sinais de estrangulamento, somada à pouca
quantidade desse mineral nos veios, possibilitou apenas a
realização de seis medidas. A freqüência é de uma medi-
da em 0, –2 e –10°C e duas medidas em –1°C (Figura
55b).
Temperatura de homogeneização total
As temperaturas de homogeneização total nas Ifs pre-
sentes em quartzo associado à greisenização apresentam
variação entre 130 e 430°C, com maior concentração em
260/270°C e 170/190°C. Nas Ifs presentes em fluorita os resultados estão en-
Na fluorita as temperaturas variam entre 120 e 210 tre 80 e 190°C, com pequeno pico em 110°C. Houve ain-
°C, com um pico principal em 130/140°C. da duas medidas dispersas em 270 e 320°C.
Das seis medidas obtidas nas Ifs presentes em topázio, No carbonato as Ifs apresentaram resultados de tem-
três ficaram em 190°C, duas em 200°C e uma em 180°C peraturas de homogeneização total variáveis entre 120 e
(Figura 56e). 180°C, com pico em 140°C. Como em fluorita, foram
obtidas duas medidas dispersas em 320 e 350 °C (Figura
Carbonatação 56f).
Temperatura de fusão do gelo
Conclusões
Quanto aos resultados obtidos nas Ifs presentes em
quartzo associado a carbonatação, a variação está entre Os tipos de inclusões fluidas mais comuns, distribuí-
–3 e –24°C, distribuída de forma completamente aleató- das aleatoriamente nos cristais ou em trilhas pseudo-se-
ria. cundárias, caracterizando origem primária e coexistindo
Em fluorita os resultados variaram entre 0 e –25°C, em todos os veios associados aos diferentes tipos de alte-
com maior concentração de 21 a 23°C. ração hidrotermal em quartzo, fluorita e carbonato
No carbonato a distribuição está entre –2 e –5°C e – correspondem a:
10 e –15°C. Nesse último, é onde se concentra o maior M: monofásicas claras e escuras
número de medidas com pico em 13/14°C (Figura 55c). L: bifásicas aquosas
S: aquosas com sólido, divididas em dois subtipos:
Temperatura de homogeneização total S1: aquosas trifásicas com um sólido
S2: aquosas multifásicas com dois ou mais sólidos
Os resultados de temperatura de homogeneização to- C: aquo-carbônicas
tal em quartzo associado a carbonatação são também dis- Cs: aquo-carbônicas com um ou mais sólidos
tribuídos de forma aleatória, entre 90 e 160°C. As duas últimas ocorrem em muito pouca quantidade
apenas nos veios associados a potassificação, onde coe-
xistem com os outros tipos de inclusões fluidas.

206
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(a) (d)

(b) (e)

(c) (f)

Figura 55 – Histogramas dos resultados de temperatura de Figura 56 – Histogramas dos resultados de temperatura de
fusão do gelo: (a) Ifs em quartzo e fluorita relacionados à homogeneização total: (d) Ifs em quartzo e fluorita relacio-
potassificação. (b) Ifs em quartzo, fluorita e topázio relacio- nados a potassificação. (e) Ifs em quartzo, fluorita e topázio
nados à greisenização. (c) Ifs em quartzo, fluorita e carbona- relacionados a greisenização. (f) Ifs em quartzo, fluorita e
to relacionados à carbonatação. carbonato relacionados à carbonatação.

Os resultados de Espectroscopia Raman demonstram entre 30 e 45 % eq. Peso de NaCl, com temperaturas
a ausência de CO2 nas IF do tipo L e M claras. Nas IF do de homogeneização variáveis entre 110 e 220 °C (Figu-
tipo C ocorrem CO2 e CH4, bem como nas IF do tipo M ra 58).
escuras. 3)Inclusões fluidas bifásicas aquosas associadas a
Quanto aos resultados microtermométricos verificou- carbonatização apresentaram salinidades variáveis entre
se que: 1 e 23 % eq. Peso de NaCl e inclusões fluidas saturadas
1)Inclusões fluidas bifásicas aquosas associadas à entre 30 e 42 % eq. Peso de NaCl, com temperaturas de
potassificação apresentaram salinidades variáveis entre homogeneização variáveis entre 80 e 180 °C (Figura 59).
1 a 22 % eq. Peso de NaCl e inclusões fluidas saturadas A coexistência geral de inclusões fluidas bifásicas aquo-
entre 30 e 50 % eq. Peso de NaCl, com temperaturas de sas e trifásicas/multifásicas saturadas, juntamente à am-
homogeneização variáveis entre 100 e 250 °C (Figura 57). pla variação de salinidade, indicam fluidos hidrotermais
2)Inclusões fluidas bifásicas aquosas associadas à com importante contribuição granítica, podendo ser ex-
greisenização apresentaram salinidades variáveis entre plicados por processo de reação contínua entre o fluido e
1 e 22 % eq. Peso de NaCl e inclusões fluidas saturadas a rocha encaixante durante a queda de temperatura.

207
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

Figura 57 – Diagrama binário Temperatura de homogenização – salinidade (% eq. Peso NaCl) das inclusões fluidas associadas
à fase de potassificação, indicando:
Salinidade: Tipo L ⇒ 1 – 22% eq. Peso NaCl (o intervalo entre 22 e 30% eq. Peso NaCl corresponde a um bem conhecido intervalo
de metaestabilidade), Tipo S ⇒ 30 – 50% eq. Peso NaCl e Temperatura de homogeneização: 100 – 250 °C. No tipo S são representadas
as TH do sólido e parcial da fase vapor.

Figura 58 – Diagrama binário Temperatura de homogenização – salinidade (% eq. Peso NaCl) das inclusões fluidas associadas
à fase de greisenização, indicando:
Salinidade: Tipo L ⇒ 1 – 22% eq. Peso de NaCl; Tipo S ⇒ 30 – 45% eq. Peso de NaCl
Temperatura de homogeneização: 110 – 220 °C

208
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 59 – Diagrama binário Temperatura de homogenização – salinidade (% eq. Peso NaCl) das inclusões fluidas associadas
à fase de carbonatação, indicando: Salinidade: Tipo L ⇒ 1 – 23% eq. Peso de NaCl; Tipo S ⇒ 30 – 42% eq. Peso de NaCl
Temperatura de homogeneização: 80 – 180 °C

IX. ISOTÓPOS ESTÁVEIS (SMOW)


obtidos foram 3,4 – 6,0 nos gabros, 7,0 – 4,3 nos
andesitos, 3,5 na brecha feldspática, 7,8 no riolito, 8,2 no
As relações isotópicas entre diversos minerais, espe- quartzo diorito, 8,6 – 9,7 no granito, 7,4 – 8,0 no episienito
cialmente as relacionadas ao equilíbrio ou desequilíbrio, vermelho e 8,4 – 9,1 no Granito Serra do Rabo.
permitem estimar a temperatura da mineralização, os De acordo com Taylor (1974), as rochas ígneas
mecanismos de geração, fonte e deposição de metais, apresentam valores de δ18O‰ (SMOW) entre +5,5 e +10,
sulfetos e gangas silicáticas e carbonáticas (Ohmoto e sendo que os gabros e andesitos são caracterizados por
Goldhaber, 1997). valores em torno de +5,5 e os granitos entre +7,0 e +10,0.
Análises de isótopos estáveis de oxigênio, deutério, Rochas alteradas por fluidos com contribuição de águas
enxofre e carbono foram efetuadas em amostras do Alvo meteóricas mostram depleção de δ18O, com o conseqüente
Estrela com o intuito de determinar a origem dos fluidos enriquecimento da água em δ18 O.
mineralizantes, responsáveis também pela alteração A partir das descrições petrográficas dos gabros e
hidrotermal das rochas hospedeiras do minério de Cu- andesitos analisados, verifica-se que as amostras que pro-
Au, a temperatura de equilíbrio do minério e ganga, a ori- duziram os valores próximos de 5,0-5,5 δ18O‰ são aque-
gem do enxofre dos sulfetos e do carbono dos carbonatos las nas quais as texturas ígneas se encontram mais pre-
dos veios tardios. servadas, bem como se observa a maior quantidade de
anfibólio cálcico, do tipo hastingsita-pargasita, indicativo
Isótopos de oxigênio em rocha total da fase de alteração precoce cálcico-sódica ou
metamorfismo. Os valores mais elevados de δ18 O estão
Foram realizadas 20 análises isotópicas de oxigênio, nas rochas nas quais a biotitização está mais avançada e
englobando todos os litotipos observados na área: gabros, a textura original (subofítica) foi destruída. Em outras
andesitos, quartzo diorito, ortoclásio-albita-granito e quart- palavras, a biotitização, produto da alteração potássica
zo-álcali-feldspato-sienito (episienito) vermelho, além do vinculada aos granitos, leva δ18O da amostra para valo-
Granito Serra do Rabo e uma amostra de brecha res próximos dessas rochas, cujos fluidos foram possivel-
feldspática (Tabela 18, Figura 60). Os valores de δ18O‰ mente os responsáveis pela alteração, pois as descrições

209
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

petrográficas, os dados litogeoquímicos e as datações Tabela 18 – Resultados de δ 18O (SMOW)


das rochas do Alvo
isotópicas discutidos anteriormente indicam que o miné- Estrela.
rio está relacionado aos granitos paleoproterozóicos (Fi-
gura 60).
Por outro lado, a diminuição da razão δ18O‰, em ro-
chas alteradas tem sido atribuída à interação com fluidos
meteóricos (Taylor, 1974; Zheng, 1993). Isto pode ser
verdadeiro em relação à amostra de rocha quartzo-
feldspática brechada (δ18 O = 3,5), pois dados discutidos
a seguir sugerem que também a clorita de veio brechado
tenha interagido com água meteórica. Todavia, verifica-
se também que as amostras de gabro e andesito caracte-
rizadas por valores mais baixos de δ18O mostram altera-
ção fílica e greisenização tanto mais intensa quanto mais
depletada em δ18O se mostra a rocha. Como a alteração
fílica e a greisenização são alterações provenientes de
fluidos mais ácidos, redutores e tardios, pode-se especu-
lar sobre a possibilidade de contribuição de fluidos
meteóricos neste estágio. Contudo, não deve se perder
de vista o número reduzido de amostras estudadas.

Isótopos de oxigênio e deutério em minerais

Isótopos de oxigênio e hidrogênio foram analisados em


5 minerais procedentes de veios. O par quartzo-biotita
encontra-se em veio formado por quartzo, biotita verde
com textura em leque, turmalina, albita, fluorita e
calcopirita, representante do estágio principal de
mineralização e que corta andesito ainda portador de tex-
tura subofítica reliquiar. A outra amostra de quartzo ana-
lisada ocorre em veio, cuja assembléia mineral represen-
ta o estágio de alteração fílica/greisenização, sendo com-
posto por quartzo, siderofilita intercrescida com clorita,
albita parcialmente substituída por mica branca, fluorita,
calcopirita subordinada e topázio. O par quartzo-clorita
foi analisado em veio brechado, tardio, sem mineralização
sulfetada e formado por fragmentos de andesito, quartzo
e clorita botrioidal, preenchendo espaços vazios. Os re-
sultados das análises encontram-se na Tabela 19.
A biotita do veio tem assinatura isotópica semelhante
à de biotita ígnea (Taylor 1974). O valor de δ18O ligeira-
mente mais leve (+3,7) pode sugerir contribuição de águas
meteóricas ao fluido hidrotermal magmático com o qual
esse mineral provavelmente se equilibrou. A assinatura
da clorita do veio brechado tardio (δ18O = 1,2‰ e δD‰
= -47) mostra forte influência de águas meteóricas, suge-
rindo que tenha havido mistura de fluidos à medida que o
sistema hidrotermal esfriava, pois a clorita é sempre pos-
terior à biotita na sucessão mineral observada. A tempe-
ratura de equilíbrio isotópico clorita-quartzo, calculada Figura 60 – Diagrama mostrando a distribuição dos valores
conforme a equação de Wenner e Taylor (1971), revelou de d18O das rochas do Alvo Estrela.

210
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

165°C o que deve, possivelmente, assinalar o fechamen- Tabela 19 – Resultados de análises de δ 18O e δD em pares de
to do sistema hidrotermal, já em regime rúptil. Cálculos minerais de veios e δD nas inclusões fluidas de quartzo dos
de temperatura de equilíbrio isotópico de oxigênio no par mesmos veios.
biotita-quartzo (Bottinga e Javoy. 1973; Zheng, 1993) pro-
duziram temperaturas negativas, sugerindo que não foi
atingido o equilíbrio isotópico nesse par.
A assinatura isotópica calculada do oxigênio do fluido
em equilíbrio com quartzo dos veios (Matsuhisa et al.,
1979), na temperatura de 250°C, correspondente à média
obtida pelo geotermômetro da clorita em veios
mineralizados de gabros e andesitos, estimada de acordo
com Zang e Fyfe (1995), revelou o valor de +5,3‰ para
o fluido dos veios de biotita e da alteração fílica/greisen e
+1,3‰ para o fluido do veio brechado tardio. No diagra-
ma δ18O‰ versus δD‰ da (figura 61) observa-se que a
biotita do veio está localizada próximo do campo da biotita
magmática, enquanto clorita encontra-se mais próxima
Observação:. 1 - Veio brechado em andesito, composto por quartzo,
da linha das águas meteóricas. No mesmo diagrama fo- clorita e fluorita. A clorita é botrioidal, corrói quartzo e desenvolve-se
ram representados δ18O‰ calculados dos fluidos em equi- na borda de microshear. 2. Veio de biotita verde em leque, quartzo e
turmalina em andesito. O contato entre esses minerais é corroído por
líbrio com quartzo de veio versus δD‰ analisado nas albita. Há ainda fluorita e calcopirita. 3. Veio de quartzo, turmalina,
inclusões fluidas dos cristais de quartzo das mesmas amos- biotita verde parcialmente substituída por clorita, fluorita, calcopirita,
tras. Os resultados indicam que os fluidos responsáveis pirita, pirrotita e molibdenita

pela mineralização tinham assinaturas metamórficas, pos-


sivelmente com alguma contribuição meteórica. Os flui-
dos finais, com os quais se equilibraram clorita botrioidal
e quartzo do veio brechado, possuíam forte influência de
águas meteóricas.
Pode-se inferir que a alteração potássica, responsável
pela formação maciça de biotita na área, juntamente com
a sulfetação, teve forte influência de fluidos magmáticos
derivados dos granitos (o que está de acordo com os va-
lores de δ18O de rocha total). Já fluidos metamórficos
foram possivelmente preponderantes no transporte e de-
posição de metais. À medida que o sistema esfriava, os
fluidos meteóricos passaram a ter papel importante, pre-
dominando quando do fechamento do sistema, em regime
rúptil, abaixo de 200°C.

Isótopos de enxofre em sulfetos



A associação constante de todos os tipos de sulfeto

com fluorita e/ou albita, biotita e minerais radiativos, 
juntamente com a biotitização das rochas hospedeiras, e
da presença de biotita com assinatura isotópica
semelhante à de biotita ígnea, sugere fortemente que a Figura 61 – Diagrama binário δ 18O e δD mostrando a assina-
mineralização epigenética foi depositada por fluidos tura isotópica de biotita e clorita dos veios, juntamente com
hidrotermais de origem metamórfica, conforme os dados a representação dos valores de δ 18O‰ calculados para os
fluidos em equilíbrio com quartzo e δD‰ analisado nas inclu-
dos isótopos de oxigênio e deutério. Os valores de δ34S
sões fluidas dos mesmos cristais de quartzo. Campos de Taylor
de calcopirita (+0,1 a +3.5), e pirita (+0,6 a +4,1), além de (1974).
molibdenita (+0,9) indicam fonte magmática para o
enxofre, da mesma forma que os valores de δ34S dos

211
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

sulfetos do Alvo Gameleira (Tabela 20, Figura 62). Os Tabela 20 – Resultados de análises de δ34S (‰)CDT de sulfetos
intervalos dos valores de δ34S (‰) dos sulfetos do Alvo do Alvo Estrela.
Estrela são semelhantes aos dos outros depósitos de Cu-
Au hidrotermais-magmáticos, tais como das classes de
cobre pórfiros, óxido de ferro, Cu-Au e mesmo o
depósito de Cu-Au de Gameleira, em Carajás (Figura
63). A molibdenita analisada apresenta lamelas
deformadas e contorcidas, dispostas nas bordas de veio
que contém calcopirita, quartzo, biotita, fluorita e
turmalina. Essa molibdenita corresponde a uma geração
antiga (Figura 17e) de sulfetos deformados e raros, sem
associação com minério não deformado dos veios. Como
foi visto no capítulo que trata da minerografia, foi
observado na área outro tipo textural de molibdenita, sem
deformação e mais jovem, que ocorre com pirita e
calcopirita nos veios (Figura 17 f).
O enxofre da molibdenita mais antiga não atingiu o
equilíbrio isotópico com o enxofre da calcopirita do
minério, o que é evidenciado pela temperatura de equilíbrio
isotópico negativa, obtida por meio da aplicação da equação
do geotermômetro de Surorova (1974) ao par molibdenita-
calcopirita. Esses dados reforçam o que foi apresentado
no capítulo de geocronologia. As idades isotópicas Sm-
Nd do minério dos veios em rocha total produziram idade
isocrônica de 1857±98 Ma, enquanto a molibdenita
deformada forneceu idade isotópica Re-Os de 2,7 Ga.
Estudos adicionais se fazem necessários para a
confirmação da existência de mais de uma geração de
molibdenita na região, nenhuma das quais necessariamente
associadas à mineralização de Cu-Au.
Figura 62 – Histograma dos resultados de δ34S (‰)CDT de
Isótopos de carbono e oxigênio em carbonatos sulfetos do Alvo Estrela comparados com dados dos sulfetos
do Alvo Gameleira.
Devido à raridade de veios carbonáticos no Alvo
Estrela, foram realizadas análises em apenas três amostras
de veios, duas em calcita e uma em siderita (Tabela 21).
A assinatura isotópica da siderita (δO18 SMOW de +21,84 e
δ13C PDB –15,56) é semelhante à siderita do depósito do
Igarapé Bahia – Alemão (Dreher 2004), ficando próxima
do campo da siderita de formações ferríferas (figura 64.
Os resultados das análises de δO18 SMOW (+ 9,08 a +10,
66) e δC13 PDB (-3,15 a -4,82) de calcita indicam assinatura
magmática para o carbono.
Como visto anteriormente, a temperatura de equilíbrio
isotópico quartzo-clorita foi estimada em torno de 165°C
em veios tardios. Como os carbonatos são posteriores à
clorita, a temperatura de equilíbrio desses minerais deve Figura 63 – Diagrama mostrando o intervalo dos valores de
ter sido inferior. δ34S (‰)CDT do Alvo Estrela, comparados com as assinaturas
Para temperaturas <300°C, intervalo no qual não se isotópicas de enxofre de algumas classes de depósitos mine-
estabelece equilíbrio isotópico entre CO2 e CH4, os valores rais. Dados do diagrama de Oreskes e Einaud, 1992, Ohmoto
1986, Hoefs 1997, Lindenmayer et al. 2001)

212
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

de δ13C obtidos podem ser utilizados diretamente para a Tabela 21 – Resultado de análises de isótopos de carbono e
estimativa da fonte (Ohmoto e Goldhaber, 1997). Assim, oxigênio em carbonatos de veios do Alvo Estrela.
o δ 13 C da calcita é compatível com uma origem
magmática, enquanto o da siderita poderia ser atribuído a
carbono crustal, com influência de fluidos hidrotermais,
possivelmente, em interação com as formações ferríferas
da Formação Carajás.
1 – Siderita cimentando brecha no contato entre andesito e topo do
álcali-feldspato-granito. 2 e 3 – Calcita em veio cortando sienito ver-
Conclusões melho.

Os gabros e andesitos menos alterados


hidrotermalmente, isto é, os portadores de associação
mineral típica de alteração cálcico-sódica e com textura
ígnea preservada e possivelmente vestígios de assembléia
metamórfica, produziram valores próximos de 5,0-5,5
δ 18 O‰, característicos de rochas não alteradas de
composição semelhante. Os granitóides mostram valores
de δ18O‰ entre +7,0 e +10,0, também no intervalo
esperado para rochas desta natureza.
A biotitização, produto da alteração potássica associada
à mineralização e vinculada aos granitos, leva o δ18O das
amostras de gabros e andesitos para valores próximos
dos granitos, cujos fluidos foram possivelmente os
responsáveis pela alteração.
As amostras de gabro e andesito caracterizadas pelos
valores mais baixos de δ18O mostram alteração fílica e Figura 64 – Diagrama δO18PDB - δO18SMOW (por mil), mos-
greisenização tanto mais intensa quanto mais empobrecida trando carbonatos do depósito do Bahia-Alemão (pontos
coloridos Dreher 2004), juntamente com siderita e calcita do
em δ 18 O é a rocha. A amostra de rocha quartzo-
Alvo Estrela (em estrelas preta e azul), juntamente com os
feldspática brechada revelou o menor δ18 O‰ = 3,5, campos de carbonatos de: 1 – (Bahia-Alemão, Tazava et al.,
sugerindo que greisenização e brechação tardias tiveram 2000), 2 – depósitos do tipo VMS, 3 – depósitos do tipo
importante contribuição de águas meteóricas, embora Besshi, 4 – carbonatos marinhos, 5 – carbono magmático, 6 –
quartzo do veio de greisen tenha se equilibrado com fluidos carbono orgânico, 7 – calcita do depósito de Gameleira
metamórficos. (Lindenmayer et al., 2001). Modificado de Xavier e Dreher
Biotita de veio tem assinatura isotópica semelhante à (2001),
de biotita ígnea. O δ18O ligeiramente mais leve (+3,7‰)
pode sugerir contribuição de águas meteóricas ao fluido
hidrotermal magmático com o qual esse mineral magmáticos derivados dos granitos (o que concorda com
provavelmente se equilibrou durante a alteração potássica. os valores de δ18O de rocha total). Já fluidos metamórficos
A assinatura isotópica calculada do oxigênio do fluido, foram possivelmente preponderantes no transporte e
em equilíbrio com quartzo dos veios na temperatura de deposição de metais. À medida que o sistema esfriava, a
250°C revelou o valor de +5,3‰ para os veios de biotita mistura de fluidos tornava-se maior e os fluidos meteóricos
e da alteração fílica/greisen, compatível com fluidos de passaram a ter papel importante quando do fechamento
origem metamórfica. do sistema, em regime rúptil, abaixo de 200°C.
Os fluidos tardios (δ18O‰ = +1,3), com os quais se Os valores de δ34S de calcopirita (+0,1 a +3.5) e pirita
equilibraram clorita botrioidal e quartzo do veio brechado, (+0,6 a +4,1), além de molibdenita (+0,9) indicam fonte
em temperatura de equilíbrio isotópico do oxigênio de magmática para o enxofre.
165°C, possuíam já forte influência de águas meteóricas. Nos carbonatos dos veios tardios δ13C de calcita é
Pode-se inferir que a alteração potássica, responsável compatível com origem magmática, enquanto o da siderita
pela formação maciça de biotita-siderofilita na área, poderia ser atribuído a carbono crustal, com influência de
juntamente com a sulfetação, teve influência de fluidos fluidos hidrotermais.

213
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

X. GEOCRONOLOGIA

Análises isotópicas Sm-Nd, U-Pb e Re-Os foram


realizadas em diversas rochas do Alvo Estrela, com o
objetivo de investigar os principais eventos de formação
de rochas, a alteração hidrotermal e a idade do minério.
Os dados obtidos também forneceram indicações sobre a
natureza do magmatismo máfico/intermediário da área.
Os resultados se encontram nas tabelas 22 a 25.

Andesitos e gabros
Figura 65 – Isócrona de rocha total de gabros e andesitos do
Dados isotópicos Sm-Nd foram obtidos em três amos- Alvo Estrela.
tras de andesitos e quatro amostras de gabro hospedeiras
do minério. A isócrona de rocha total construída a partir
dos dados (Figura 65) indica a idade de 2579 ± 150 Ma e
εNd(T) = –3,2 (MSWD = 10,9). Isto pode ser interpreta-
do como indicação da idade de cristalização dessas ro-
chas. Considerando a elevada incerteza, típica de isócro-
nas Sm-Nd de rocha total, essa idade concorda grossei-
ramente com a idade 2757 ± 79 Ma (Sm-Nd, rocha total)
das rochas máficas do Alvo Gameleira (Pimentel et al.,
2003) e com a idade U-Pb de 2.73-2.74 Ga do Grupo
Salobo-Pojuca (Machado et al. 1991). Os valores negati-
vos de εNd(T) indicam contaminação do magma original
com crosta continental mais antiga. Isto é também indi-
cado pelas idades TDM entre 3,09 e 3,18 Ga das amostras
com baixas razões Sm/Nd. Figura 66 – Diagrama U-Pb do quartzo diorito pórfiro.
A comparação dos resultados das datações isotópicas
Sm-Nd de Salobo, Gameleira (Pimentel et al., 2003) e do
Alvo Estrela sugerem que são cronocorrelatas, todavia,
os valores de εNd(T) das rochas do Alvo Estrela (-3,2),
Gameleira (-1,4 em andesitos, –0,8 em gabros) e Salobo
(-0,1) sugerem que não são cogenéticas. O valor menos
negativo para a isócrona, quando as rochas vulcânicas do
Salobo são analisadas junto com as do Alvo Gameleira,
sugere que as rochas do Salobo são menos contaminadas
com crosta continental (Pimentel et al., 2003). Em outras
palavras, levando-se em conta também as razões de
elementos traços menos móveis, pode-se especular que o
continente do arco magmático Grão Pará estava situado
ao Sul da Serra dos Carajás. Figura 67 – Diagrama concordia U-Pb para monazita do
quartzo-álcali-feldspato sienito vermelho (episienito).
Rochas intrusivas

As amostras do ortoclásio-albita granito não foram responsáveis pela concentração do minério de Cu-
apresentaram zircão. Todavia, a datação isotópica obtida Au do Alvo Estrela.
de sua fácies episienítica (quartzo-álcali-feldspato sienito) Zircões extraídos do quartzo diorito pórfiro foram
e seus padrões de ETR, idênticos aos dos minerais de analisados, indicando idade U-Pb de 1881 ± 5 Ma (Figura
ganga dos veios sulfetados, turmalina, biotita e fluorita, 66). Monazita do episienito (quartzo-álcali-feldspato sienito
são evidência de que fluidos provenientes desse granito vermelho) revelaram idade U-Pb de 1875 ± 1,5 Ma (Figura

214
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

67). Todavia, relações de campo mostram que o episienito


é mais jovem, pois corta e cimenta blocos brechados do
quartzo diorito. O quartzo diorito pórfiro tem razões 147Sm/
144
Nd entre 0,1020 e 0,1075 e idade modelo (TDM) de 2,8
Ma, sugerindo que é derivado de fusão de rochas crustais
do Complexo Xingu.

Minério

O minério venular de Cu-Au

Dez amostras de veios foram analisadas. Sete


correspondem a veios mineralizados, contendo calcopirita, Figura 68 – Isócrona de rocha total dos veios mineralizados
pirita, quartzo, albita, biotita, siderofilita, fluorita, turmalina em Cu-Au do Alvo Estrela.
e clorita e mais raramente mica branca, magnetita, siderita,
molibdenita e topázio. Os outros três não contêm sulfetos
Tabela 22 – Resultados das análises isotópicas Sm-Nd de
e são formados por biotita, quartzo, turmalina, mica branca, gabros e andesitos do Alvo Estrela
fluorita e clorita. As amostras dos veios revelaram amplos
intervalos de razões Sm/Nd (147Sm/144Nd entre 0,134 e
0,385) e conteúdos de ETR muito variados (Nd entre 10,25
e 1377 ppm), sugerindo grande fracionamento entre Sm e
Nd durante a formação dos veios, além de enriquecimento
extremo em ETR. Os dados analíticos se alinham em
isócrona com idade de 1857 ± 98 Ma (1σ) (MSDW = 32)
e εNd(T) fortemente negativo (– 10.7) (Figura 68). Este
valor sugere que os fluidos originais percolaram e
lixiviaram rochas com assinaturas isotópicas arqueanas
(rochas supracrustais ou granitos paleoproterozóicos
Análises realizadas no Laboratório de Geocronologia da Universidade de
também crustais). Esta é a melhor estimativa para a idade Brasília - Instituto de Geociências (Dezembro/2002)
do minério do Alvo Estrela, pois as maiores concentrações AND – andesito; GB – gabro; EF2 – quartzo diorito pórfiro
de sulfetos se encontram nos veios.
As idades modelo (TDM) dos veios F-11-122,0 e F-15- Tabela 23 – Resultados das análises isotópicas Sm-Nd dos
486,50 (ambos veios englobando fragmentos de milonitos veios mineralizados do Alvo Estrela
brechados) são 3,8 e 3,3 Ga, respectivamente. Esses dados,
juntamente com valores fortemente negativos de εNd
inicial, sugerem que os veios são derivados de rochas
antigas do embasamento ou de granitos com assinatura
crustal.
Determinação isotópica pelo método Re-Os realizada
no Laboratório de Geocronologia da Colorado State
University (AIRIE), pela Dra. Holly Stein, revelou a idade
de ca. 2,7 Ga em molibdenita deformada presente na borda
de um veio mineralizado. O mesmo veio (F15-474,0) foi
submetido a analise isotópica Sm-Nd e forneceu,
juntamente com outras oito amostras, idade isocrônica de
1857±98 Ma. Esses dados, adicionados ao fato de que o
enxofre da molibdenita não atingiu o equilíbrio isotópico
com a calcopirita do veio, reforçam a observação Análises realizadas no Laboratório de Geocronologia da Universidade de
microscópica textural que mostra a presença de duas Brasília - Instituto de Geociências (Dezembro/2002)
gerações de molibdenita na área do Alvo Estrela. De
acordo com o descrito no item 5.3 deste trabalho (Figuras

215
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

16e, f), há uma geração de molibdenita deformada e antiga Tabela 24 – Resultados das análises isotópicas U-Pb em zircão
e outra não deformada e mais nova, esta associada à de quartzo diorito pórfiro do Alvo Estrela
calcopirita dos veios. Desta maneira, a idade da
molibdenita não parece indicar necessariamente a idade
do minério de Cu-Au. Trabalhos de pesquisa adicionais
são necessários para que a relação temporal molibdenita-
minério de Cu-Au seja perfeitamente esclarecida.

Discussão e Conclusões

As conclusões principais são resumidas abaixo:


A idade de cerca de 2.76 Ga é provavelmente a de
cristalização das rochas vulcânicas originais e gabros do
Alvo Estrela e, portanto, coincidente com as rochas do
Alvo Gameleira e do Grupo Salobo-Pojuca, da base do
Supergrupo Itacaiunas.
Os valores negativos de εNd(T) das rochas do Alvo
Estrela sugerem contaminação com material crustal mais
antigo, tal como o complexo Xingu na região do Bloco
Rio Maria, que é discordantemente recoberto pelas rochas
vulcânicas do Supergrupo Itacaiunas, na Região da Serra Análises realizadas no Laboratório de Geocronologia da Universidade
do Rabo. de Brasília - Instituto de Geociências (Dezembro/2002)

Alteração hidrotermal intensa e extensa, juntamente


com formação dos veios mineralizados em Cu-Au, teve Tabela 25 – Resultados das análises isotópicas U-Pb em
lugar ca. 1,85 Ga. Os valores fortemente negativos de monazita do quartzo-álcali-feldspato sienito (episienito) do
Alvo Estrela
ε Nd (T) (– 10.7) sugerem que os fluidos originais
percolaram e lixiviaram rochas com assinaturas isotópicas
arqueanas (rochas supracrustais ou granitos
paleoproterozóicos também crustais), o que concorda com
a assinatura bi-modal do minério (F, Mo, ETR, U - Ni,
Co, além de Cu-Au). Assim, colocação do minério deu-
se concomitantemente à intrusão do quartzo diorito pórfiro
(1881 ± 5 Ma) e do quartzo-álcali-feldspato sienito
(episienito, fácies do albita-ortoclásio granito) (1875 ±1,5
Ma), ambas idades isotópicas indicadas pelo método U-
Pb em zircão e monazita, respectivamente. Os padrões
de ETR do albita-ortoclásio granito são semelhantes aos
de biotita, fluorita e turmalina da ganga dos veios de
minério, indicando também que fluidos provenientes do
granito foram os responsáveis pela concentração do
minério no Alvo Estrela.
A idade Re-Os de 2,7 Ga em molibdenita deformada
na borda de um veio mineralizado de idade Sm-Nd
isocrônica de 1857 ± 98 Ma, junto com a presença de
molibdenita não deformada e mais jovem, sugere
fortemente que haja mais de uma geração de molibdenita
na área.
Resumindo, tal como no Alvo Gameleira, os dados
isotópicos e geocronológicos demonstram que a
mineralização de Cu-Au e o evento hidrotermal associado
Análises realizadas no Laboratório de Geocronologia da Universidade de
Brasília - Instituto de Geociências (Dezembro/2002)

216
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

são paleoproterozóicos, sem associação com os eventos parte de Ca ainda tenha permanecido na estrutura de Fe-
ígneos arqueanos. epidoto e principalmente na de fluorita. Isto está de acordo
A comparação dos resultados das datações isotópicas com os dados de inclusões fluidas que revelaram, nas
Sm-Nd de Salobo, Gameleira (Pimentel et al., 2003) e do inclusões saturadas, salinidade entre 30-50% eq. peso
Alvo Estrela sugerem que as mineralizações são NaCl. Esse estágio da alteração apresenta ainda alguns
cronocorrelatas, todavia, os valores de εNd(T) das rochas ganhos de FeO, principalmente em andesito, e que se
do Alvo Estrela (-3,2), Gameleira (-1,4 em andesitos e – encontra na estrutura de biotita (Fe/Fe+Mg= 0,44-0,73),
0,8 em gabros) e Salobo (-0,1) sugerem que elas não são shorlita (Fe/Fe+Mg= 0,88-0,98), Fe-epidoto (Fe= 0,76-1,08
cogenéticas. O valor menos negativo da isócrona, quando apfu), chamosita (Fe/Fe+Mg=0,63-0,91), assim como na
as rochas vulcânicas do Salobo são analisadas junto com de magnetita e de pirita, calcopirita e pirrotita. O aumento
as do Alvo Gameleira, sugere que as rochas do Salobo do conteúdo de SiO2 e Al2O3, principalmente em andesito,
sejam menos contaminadas com crosta continental pode estar vinculado à grande diversidade de fases
(Pimentel et al., 2003). Em outras palavras, levando-se aluminossilicatadas presentes, bem como sugerem
em conta também as razões de elementos traços menos mudança na temperatura do fluido ou mudança do pH
móveis, pode-se especular que o continente do arco (Rimstidt 1997), diminuindo a solubilidade da sílica.
magmático Grão Pará estava situado ao Sul da Serra dos O predomínio de filossilicatos como siderofilita e Fe-
Carajás, possivelmente no Bloco Rio Maria. Mg biotita sugere condições de pH próximas da
neutralidade para este estágio de alteração, ao passo que
XI. ALTERAÇÃO HIDROTERMAL a presença de chamosita, equilibrada em temperatura 230
± 5°C (calculada de acordo com Cathelineau & Nieva,
A sucessão mineral indica que o sistema hidrotermal 1985), com correção de Zang & Fyfe (1995)), sugere ter
inicialmente dominado por fluidos quentes (>500°C), havido variação nas condições de pH do sistema (Beane
compatíveis com a estabilidade da assembléia hastingsita, 1994), mudança esta que é sugerida também pela presença
albita, turmalina e biotita, esfriou progressivamente. marcante de turmalina, estável em meio a fluidos levemente
Flutuações na salinidade desses fluidos são sugeridas pelos ácidos a muito ácidos (Henry & Dutrow 1996).
estudos microtermométricos. Sua origem é metamórfica, A diminuição da razão Cl/F (0,65-0,062) em siderofilita
conforme as assinaturas isotópicas de oxigênio e deutério. e biotita em relação à razão Cl/F dos anfibólios (2,97-
Fluidos quentes, salinos e alcalinos poderiam ter 24,24), somada à presença marcante de fluorita, indica o
ocasionado a lixiviação de SiO2 evidenciada pelo balanço aumento da atividade de F nesse sistema. É provável que
de massa, uma vez que a solubilidade do quartzo aumenta nessa etapa da alteração F tenha exercido importante
em decorrência do aumento da salinidade e conseqüente papel como complexante ou do enxofre, ou dos metais
aumento do pH (Rimstidt 1997), sugerindo pH alcalino a que deram origem aos sulfetos e que a cristalização da
neutro nesse estágio de alteração. A ausência de fases fluorita esteja relacionada ao aumento da atividade de S
como siderofilita e fluorita sugere também que os fluidos e deposição desses sulfetos.
apresentavam baixa atividade de K e F e, O estágio de alteração subseqüente, tardi a pós-
conseqüentemente, baixa concentração de HF, o que mineralização Cu-Au, compreende processo de
contribuiria também para reduzir a solubilidade da sílica greisenização, no qual predominam fases cristalinas como
(Zaraisky 1995). Também é possível que nesse estágio quartzo, dravita e shorlita, fluorita, topázio (em veios),
tenha ocorrido o processo de episienitização de parte do clorita, titanita, F-apatita e minerais radioativos junto com
ortoclásio-albita granito na zona de falha no norte da área zinnwaldita e Li-muscovita, que substituem siderofilita e
do Alvo Estrela. biotita, bem com a albita remanescente. A substituição de
Com o avanço da alteração, as assembléias minerais micas ferromagnesianas por zinnwaldita e Li-muscovita,
formadas durante o estágio inicial foram parcial ou somada à presença de quartzo, topázio e turmalinas,
completamente obliteradas por intensa potassificação em sugerem sistema com pH mais ácido, no qual teria havido
andesito e com menor intensidade em gabro. A alteração diminuição da atividade de K (Beane 1994) e lixiviação
potássica é representada por Fe e Mg-biotita e siderofilita, parcial de Fe. É provável que exista uma relação desse
que substituem anfibólios cálcicos, assim como albita, sistema, sob condições de pH baixo, com baixas
explicando os ganhos de Rb (>1000 ppm) e Nb (460 ppm) quantidades de óxidos de ferro (magnetita e hematita) na
presentes na estrutura dos filossilicatos e revelados pelo zona mineralizada, que são observados de forma
balanço de massa. Com a destruição de plagioclásio e significativa apenas em formações ferríferas na porção
anfibólios cálcicos, houve lixiviação de Na e Ca, embora NW da área estudada.

217
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

O último estágio de alteração que sucede a


mineralização Cu-Au e a greisenização compreende a
formação de veios de calcita e siderita, minerais
encontrados também substituindo albita e clorita, ainda
junto com fluorita. A presença de fluorita e calcita aponta
para a existência de alta razão Ca/Na e diminuição de
P CO2 (Rimstidt 1997). A presença de chamosita e
turmalinas sugere que mesmo neste estágio final de
alteração, ainda havia alta atividade de Mg e de Fe no
sistema (Beane & Titley, 1981).
A correlação entre texturas primárias e secundárias
de substituição nos minerais de minério indica que as
primeiras fases a cristalizarem em meio aos silicatos
correspondem à segunda geração de magnetita e ilmenita Figura 69 – Diagrama de estabilidade de sulfetos e óxidos
em condições compatíveis com o tampão quartzo- em função da a (S2) e a (O2), a 300°C. cp- calcopirita, py-
magnetita. A substituição de pirita por calcopirita e vice- pirita, po- pirrotita, bn- bornita, cc- calcocita, mag- magnetita,
versa sugere que durante a deposição dos minerais de hem- hematita. (Beane e Titley (1981).
minério o fluido passou por sucessivas flutuações com
relação à atividade de oxigênio, enxofre e ferro e à a não ser que este fosse transportado como Au (HS)-2, ou
salinidade. É provável que também tenha havido seja em fluidos com alto H2S e pH > 5,5, caso em que
flutuação na atividade de Cu, em decorrência da uma diminuição no pH causaria a precipitação de ouro.
substituição de pirita por calcopirita (Beane e Titley, 1981) Embora simples mudanças de temperatura do fluido en-
(Figura 69). tre 250 e 350°C não causem a precipitação de Au (Hayashi
A substituição de pirita por calcopirita indica que a & Ohmoto, 1991), o resfriamento acompanhado por mu-
primeira deve ter tido papel importante na deposição da danças nas concentrações de H2 ou H2S no fluido, quan-
segunda. Em soluções hidrotermais Cu migra predomi- do este é tamponado pelo tampão pirita-pirrotita-magne-
nantemente como CuCl2-( Zotov et al. ,1995). Contudo, tita, pode causar a precipitação de Au.
em zonas de alteração potássica cobre é transportado em Em que pese o número reduzido de análises, constata-
fluidos hidrotermais salinos relativamente oxidados (fO2 se que Au se encontra em maior quantidade na estrutura
NNO-MH) e de alta temperatura (>700-350°C) como de pirrotita e principalmente de calcopirita, fato que pro-
CuCl0 (Rowins 2000). Considerando que Cu é transpor- vavelmente está relacionado à maior capacidade destes
tado como Cu+, há a necessidade da existência de meca- minerais de seqüestrar o Au do fluido em elevadas tem-
nismo de oxidação para a deposição da calcopirita que peraturas (>300°C) (Cygan e Candela 1995).
contém Cu++ (Ohmoto & Goldhaber, 1997). Em conseqü- Segundo Liu e McPhail (2005), a solubilidade de cal-
ência, em depósitos hidrotermais é freqüente a presença copirita calculada sob diferentes temperaturas (300-
de calcopirita depositada a partir da substituição de sulfe- 400°C), pressão, pH, concentrações de cloreto e potenci-
tos anteriores (Ohmoto & Goldhaber 1997), como no caso ais de oxidação indica que soluções hipersalinas, neutras
dos veios do Alvo Estrela nos quais substitui pirita. a fracamente ácidas e intermediárias a redutoras podem
Au é transportado como complexos de cloreto ou de transportar grandes quantidades de cobre, em tempera-
bissulfeto, sendo que o aumento na atividade de H2 no turas de ≥400°C. De acordo com estes autores, a tempe-
fluido mineralizante e o decréscimo em fO2 são mecanis- ratura corresponde ao principal fator que controla a solu-
mos eficientes de precipitação de Au (Hayashi & Ohmo- bilidade da calcopirita. A queda da temperatura causa a
to 1991). É provável que Au nos sulfetos do Alvo Estrela diminuição na solubilidade do mineral, enquanto a pres-
tenha sido transportado como HAu(HS)02, pois o padrão são demonstra comportamento inverso, havendo um au-
de alteração, sugerido pela ganga que acompanha os sul- mento na solubilidade da calcopirita com a diminuição da
fetos nos veios, indica que, embora tenha havido flutua- pressão. A concentração de cloreto no fluido também
ções do pH do fluido, este tende a ficar mais ácido com o desempenha papel importante na solubilidade da calcopi-
avanço da alteração hidrotermal. Ao ser transportado rita, uma vez que a solubilidade decresce com a diminui-
como HAu(HS)02 em fluidos contendo H2S e pH > 5,5 ção da concentração de cloreto, bem com da fO2 e au-
uma mudança no pH não causaria a precipitação de Au, mento do pH e fS2. A diminuição da concentração de clo-

218
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

retos em fluidos mineralizantes pode ocorrer devido à mente, ainda com interação com as formações ferríferas
mistura de fluidos magmáticos hipersalinos e fluidos de da Formação Carajás.
origem meteórica ou águas conatas menos salinas (Liu e
McPhail 2005), como sugerem os dados isotópicos do Alvo XII. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Estrela, apontando para mistura com fluidos meteóricos,
à medida que o sistema esfriava. Os andesitos e gabros mineralizados do Alvo Estrela
O predomínio de fases sulfetadas em veios formados ocorrem diretamente sobre a cúpula de albita-otoclásio
durante a alteração potássica, cuja assembléia apresenta granito. O minério venular e brechado está diretamante
maior diversidade de fases silicatadas, provavelmente está relacionado ao granito, como mostram os elementos as-
relacionado a condições de pH próximas da neutralidade sociados F, U, ETRL, Mo, K, Rb, B e Li. Por outro lado,
e temperaturas mais elevadas do fluido, enquanto a etapa participaram também desse sistema hidrotermal, instala-
de alteração seguinte apresenta assembléia que sugere do junto à cúpula, fluidos provenientes das rochas máfi-
condições de pH mais ácidas, aumentando a solubilidade cas, possivelmente já metamorfisadas, conforme indica-
da calcopirita, que constitui o principal sulfeto da minera- do pela assinatura isotópica de oxigênio e deutério, e que
lização cupro-aurífera. Os dados de isótopos estáveis em contribuíram com alguns metais, tais como Ni e Co, im-
cristais de quartzo, clorita e biotita estão de acordo com primindo caráter bimodal à assembléia mineral.
essas sugestões, pois a biotita de veio apresenta assina- A comparação com os depósitos do Salobo (Linden-
tura isotópica (δ18O = 3,7‰, δD-7,8‰) semelhante à bi- mayer 2003), Bahia-Alemão (Ronzê et al., 2000; Tallari-
otita magmática, embora o δ18O da biotita analisada se co et al; 2000) e mesmo Gameleira (Lindenmayer et al.,
apresente um pouco mais leve, sugerindo contribuição de 2001) mostra que no Alvo Estrela não ocorrem as gran-
águas meteóricas ao fluido hidrotermal magmático com o des massas de magnetita, características de depósitos de
qual esse mineral teria se equilibrado. A assinatura isotó- óxido de Fe, Cu-Au. Também a alteração cálcico-sódica
pica de chamosita, de um veio tardio e brechado, posteri- que antecede a mineralização carece de fases como es-
or à etapa de greisenisação, mostra por sua vez forte in- capolita e as assembléias minerais vinculadas a esse es-
fluência de águas meteóricas (δ18O = 1,2‰, δD-47‰), tágio são raras, podendo ser atribuídas a metamorfismo
sendo a temperatura de equilíbrio isotópico clorita-quart- regional, anterior à intrusão granítica. Entretanto, no atu-
zo, calculada de acordo com a equação de Wenner e al estágio de conhecimento da área, a proximidade do
Taylor (1971), de 165°C, o que deve provavelmente cor- granito e a intensidade da alteração potássica impedem
responder ao fechamento do sistema hidrotermal, já em distinções conclusivas. Além disto, superposta à altera-
estágio rúptil. Os dados isotópicos de quartzo de veio su- ção potássica dominante, na qual Fe-biotita e siderofilita
gerem que os fluidos mineralizantes tinham assinaturas são os principais minerais, ocorre greisenização em fai-
metamórficas, com alguma contribuição meteórica. A xas localizadas, caracterizada por quartzo, topázio, fluori-
ausência de quantidade significativa de sulfetos, vincula- ta, turmalina, clorita e micas litiníferas, como protolitioni-
da a veios relacionados à greisenização, embora esta es- ta e zinnwaldita, sendo que as rochas que os contém apre-
teja associada a diminuição de fO2 dos fluidos e apresen- sentam teores de Li acima de 1000 ppm.
te menor salinidade (diminuição na concentração de clo- Estes dados parecem caracterizar um depósito de tipo
retos), pode estar associada às condições de pH mais híbrido, com algumas características comuns aos depósi-
ácido em comparação com o estágio de alteração potás- tos de óxido de Fe, Cu-Au e de cobre pórfiro de alto en-
sica anterior. xofre nos estágios precoces (Botelho et al., 2004), evolu-
As relações, descritas anteriormente, entre as dife- indo para uma greisenização tardia.
rentes fases minerais formadas durante a alteração hi- Por outro lado, as feições regionais que controlam os
drotemal, sugerem que o fluido era inicialmente neutro a demais depósitos de óxido de Fe, Cu-Au de Carajás pa-
alcalino, salino e oxidante, passando a ácido e redutor recem estar também presentes no Alvo Estrela, como o
durante o estágio de greisenização. Na fase tardia final e controle a partir de splays da Falha Carajás, a concen-
escassa, carbonatos ocorrem acompanhados de quartzo tração do minério em andesitos reativos, balizados por
e fluorita, sugerindo diminuição na pressão de PCO2 (Ri- duas falhas silicificadas, que poderiam ter agido como
mstidt 1997) e existência de alta razão Ca/Na. O δ13C de barreiras na canalização dos fluidos hidrotermais, e a re-
calcita é compatível ainda com uma origem magmática, lação direta com granitos, fontes de calor, fluidos e al-
enquanto a da siderita poderia ser atribuída a carbono guns metais.
crustal, com influência de fluidos hidrotermais, possivel- As rochas encaixantes do minério do Alvo Estrela são
andesitos cálcio-alcalinos alterados, gabros e riolitos do

219
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

Grupo Grão Pará. Ocorrem ainda na área do Alvo Estre- O quartzo diorito pórfiro é a rocha mais enriquecida
la lentes de formações ferríferas bandadas, da Formação em Au (entre 5 e 50 ppb) encontrada na área. Seu padrão
Carajás e arenitos da Formação Gorotire. de ETR normalizado pelo condrito mostra grande seme-
A idade isotópica Sm-Nd de cerca de 2.76 Ga é pro- lhança e o paralelismo com a rocha greisenizada rica em
vavelmente idade de cristalização das rochas vulcânicas Rb (>1000ppm) e Li (1080 ppm).
originais e gabros do Alvo Estrela e, portanto, coincidente A zona mineralizada parece estar controlada por splays
com as rochas do Alvo Gameleira e do Grupo Salobo- da Falha Carajás, encontrando-se preferencialmente em
Pojuca, da base do Supergrupo Itacaiunas. faixa de andesitos e gabros subordinados, balizada a NE
Os riolitos são compostos por fenocristais de oligoclá- e SW por riolitos. O minério de Cu-Au é venular e muitas
sio, quartzo e ortoclásio imersos em matriz de oligoclásio, vezes brechado ou formando stockworks. Os principais
ortoclásio, quartzo e Fe-biotita, tendo siderofilita, sericita, minerais de minério são calcopirita, pirita, pirrotita, molib-
clorita, zircão, allanita, epidoto, turmalina, fluorita, urani- denita e bornita, além de magnetita.
nita, topázio e siderita como minerais acessórios. São Existe um zoneamento dos sulfetos no Alvo Estrela,
quimicamente semelhantes aos riolitos da Serra Norte, com predomínio de pirita e pirrotita em direção ao norte e
embora mais alterados e enriquecidos em ETR, Rb, Ce, oeste, que parece estar relacionado à rocha encaixante:
Th, Nb, Sm e Y. calcopirita e pirita predominam nos andesitos e gabros e
Os andesitos e gabros são rochas muito alteradas, ain- pirita e pirrotita dominam nos riolitos. A razão S/Cu do
da portadoras de texturas ofíticas e subofíticas, compos- minério, em geral, é mais elevada do que nos depósitos
tas por Fe-biotita, siderofilita, albita, quartzo, hastingsita, da região norte da serra dos Carajás, como Salobo, Poju-
Fe-pargasita, turmalina, fluorita, chamosita, Fe-epidoto, ca-Gameleira e Igarapé Bahia-Alemão, onde predomi-
pirita, calcopirita, pirrotita e magnetita. nam bornita-calcosita, calcopirita-bornita e calcopirita,
As rochas intrusivas paleoproterozóicas do alvo com- respectivamente.
preendem um quartzo diorito pórfiro e um albita-ortoclá- O minério é paleoproterozóico. Os estilos de minerali-
sio granito. zação compreendem veios, brechas e stockworks. Alte-
O quartzo diorito pórfiro (1881 ± 5 Ma) e o episienito ração hidrotermal intensa e extensa, juntamente com for-
- quartzo-álcali-feldspato sienito vermelho (1875 ±1,5 Ma) mação dos veios mineralizados em Cu-Au, teve lugar em
forneceram idades isotópicas (obtidas pelo método U-Pb ca. 1,85 Ga. Os valores fortemente negativos de εNd(T)
em zircão e monazita, respectivamente) coincidentes com apresentados pelos veios sugerem derivação de fluidos a
a formação do minério. Os padrões de ETR do albita- partir de fonte com assinatura isotópica de Nd arqueana.
ortoclásio granito são semelhantes aos de biotita, fluorita O minério do Alvo Estrela é constituído por calcopiri-
e turmalina da ganga dos veios do minério, indicando que ta, pirita, pirrotita, bornita (subordinada) e ± molibdenita,
fluidos provenientes desse granito/sienito foram os res- junto com magnetita, acompanhados da ganga de quart-
ponsáveis pela concentração do minério no Alvo Estrela. zo, fluorita, albita, siderofilita, turmalina, epidoto, chamo-
O ortoclásio-albita granito (OAG) apresenta uma ve- sita, topázio. Calcopirita, mineral de cobre mais impor-
riedade de cor rósea com protolitionita (entre 5 e 10%) e tante na área, é aurífera (0,177 apfu de Au). Pirita é co-
outra cinza clara, por vezes bandada e composta por quart- baltífera (Co = 0,012-1,756 apfu) e pirrotita é niquelífera
zo, feldspato e protolitionita (entre 10 e 15%). Esse gra- (Au = 0-0,139, Ni = 0,147-0,375 apfu).
nito é peraluminoso, alcalino e cálcico. Trata-se de grani- A idade Re-Os de 2,7 Ga em molibdenita deformada
to sódico que apresenta razão FeO/Fe2O3 entre 9 e 14. na borda de um veio mineralizado de idade isocrônica Sm-
Ele apresenta também uma fácies episienítica e outra por- Nd de 1857 ± 98 Ma, junto com a presença de molibdeni-
tadora de topázio e micas litiníferas. O episienito (quart- ta não deformada e mais jovem, sugere fortemente que
zo-álcali-feldspato sienito - QAFS) vermelho é constituí- haja mais de uma geração de molibdenita na área. Em
do por feldspato potássico, fluorita, clorita e magnetita. É outras palavras, a idade da molibdenita não reflete ne-
álcali-cálcico, metaluminoso e rico em Ba (1220ppm) e cessariamente a idade da mineralização cupro-aurífera
Cu (1590ppm). A perfeita coincidência entre os padrões dos depósitos de Cu-Au da região da Serra dos Carajás.
de ETR de OAG e QAFS, exceto pela ausência de ano- Os efeitos da alteração hidrotermal encontrados nos
malia negativa de Eu, devida ao aporte de Ca e Eu, do gabros e andesitos são representados por três tipos prin-
QAFS, indica que o último é uma fácies hidrotermalizada, cipais de assembléias minerais. A assembléia mais antiga
do OAG. O topázio-ortoclásio-albita granito é composto e menos hidratada é composta por anfibólio, do tipo has-
por ortoclásio, albita, quartzo, Li-muscovita, zinnwaldita e tingsita, pargasita e Fe-hornblenda e plagioclásio reliquiar
topázio. ígneo substituído, em graus variados, por sericita, carbo-

220
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

nato e/ou albita, juntamente com titano-magnetita e epi- As inclusões fluidas revelaram flutuações de salinida-
doto. Essa é a assembléia predominante nos gabros e de ao longo dos eventos de alteração hidrotermal da área.
corresponde à alteração cálcico-sódica precoce. Embo- As inclusões fluidas bifásicas aquosas associadas à po-
ra, a coexistência de epidoto, albita, carbonato e clorita tassificação apresentaram salinidades variáveis entre 1 e
em algumas amostras sugira preservação parcial de uma 22 % eq. Peso de NaCl e inclusões fluidas saturadas en-
assembléia metamórfica mais antiga. tre 30 e 50 % eq. Peso de NaCl, com temperaturas de
Segue-se a alteração potássica, junto com ferrifica- homogeneização variáveis entre 100 e 250 °C.
ção moderada e sulfetação, dada pela presença de Fe- As inclusões fluidas bifásicas aquosas associadas à
biotita marrom e verde, junto com siderofilita e magnetita greisenização apresentaram salinidades variáveis entre 1
esqueletal, substituindo minerais máficos e plagioclásio. e 22 % eq. Peso de NaCl e inclusões fluidas saturadas
A essa fase está relacionada a mineralização venular. entre 30 e 45 % eq. Peso de NaCl, com temperaturas de
Estágio de greisenização tardio e localizado é repre- homogeneização variáveis entre 110 e 220 °C.
sentado por protolitionita e zinnwaldita, junto com turma- As inclusões fluidas bifásicas aquosas associadas a
lina, quartzo, fluorita, topázio e clorita. Carbonatos são carbonatização apresentam salinidades variáveis entre 1
posteriores à mineralização. e 23 % eq. Peso de NaCl e inclusões fluidas saturadas
Cálculos de balanço de massa indicaram que da fase entre 30 e 42 % eq. Peso de NaCl, com temperaturas de
de alteração cálcico-sódica para a potássica houve gan- homogeneização variáveis entre 80 e 180 °C.
hos nos andesitos de: Fe2O3 (+1,49 a +4,82 g para cada A coexistência geral de inclusões fluidas bifásicas aquo-
100g do óxido original da rocha mãe), FeO (+3,37 a +8,24 sas e trifásicas/multifásicas saturadas, juntamente com a
g/100g), MgO (+1,04 a +8,57 g/100g), K2O (+0,32 a +5,05 ampla variação de salinidade, indica fluidos hidrotermais
g/100g), Ba (+26,05 a +851,94 µg/100g), Rb (+28,24 a com importante contribuição granítica, podendo ser ex-
+1474,21 µg/100g), Zn (+8,91 a +74,08 µg/100g), Ni plicados por processo de reação contínua entre o fluido e
(+31,43 a +153,8 µg/100g), Co (+28,1 a +45,91 µg/100g), a rocha encaixante durante a queda de temperatura.
Sn (+8,43 a +88,54 µg/100g), Cr (+0,95 a +768,8 µg/100g) Os gabros e andesitos menos alterados hidrotermal-
além de Y, Sr, Sc, Zr e U. mente, isto é, os portadores de associação mineral típica
SiO2, Al2O3, CaO, Na2O, Cu e V foram móveis devi- de alteração cálcico-sódica, com textura ígnea preserva-
do a perdas em algumas amostras e ganhos em outras. da e possivelmente vestígios de assembléia metamórfica,
As pequenas variações de TiO2, MnO, P2O5 e W suge- produziram assinaturas isotópicas de oxigênio próximas
rem que seu comportamento tenha sido aparentemente de 5,0-5,5 δ18O‰, característicos de rochas frescas de
imóvel. composição semelhante. Os granitóides mostram valores
Nos gabros houve ganhos de K2O (+1,42 a +2,10 g/ de δ18O‰ entre +7,0 e +10,0, também dentro do interva-
100g), Ba (+15,99 a +32,38 µg/100g), Rb (+330,34 a lo esperado para rochas desta natureza.
+1290,20 µg/100g), Cu (+401,62 a +759,49 µg/100g), Ni A biotitização, produto da alteração potássica associ-
(+3,38 a +17,93 µg/100g), W (+0,79 a +16,78 µg/100g) e ada a mineralização e vinculada aos granitos, leva o δ18 O
Sn (+4,75 a +86,32 µg/100g). das amostras de gabros e andesitos para valores próxi-
Perdas foram constatadas em SiO2 (-0,28 a -4,9 g/ mos dos granitos, cujos fluidos foram possivelmente os
100g), CaO (-3,5 a -6,0 g/100g), Sr (-59,36 a -78,24 µg/ responsáveis pela alteração.
100g), V (-34,96 a -43,57 µg/100g) e Co (-6,55 a -19,10 As amostras de gabro e andesito portadoras dos valo-
µg/100g). O comportamento móvel de Al2O3, Fe2O3, FeO, res mais baixos de δ18O mostram alteração fílica e grei-
MgO, Na2O, Zn e Cr é sugerido pela perda em algumas senização tanto mais intensa quanto mais empobrecida
amostras e ganho em outras. TiO2, MnO e P2O5 revela- em δ18O é a rocha. A amostra de rocha quartzo-feldspá-
ram variações muito pequenas, indicando seu possível tica brechada revelou o menor δ18O‰ = 3,5, sugerindo
comportamento imóvel. que a greisenização e brechação tardias tiveram impor-
As relações, descritas anteriormente, entre as dife- tante contribuição de águas meteóricas, embora o quart-
rentes fases minerais formadas durante a alteração hi- zo do veio de greisen tenha se equilibrado com fluidos
drotemal, sugerem que o fluido era inicialmente neutro a metamórficos.
alcalino e oxidante, passando a ácido e redutor durante o A biotita de veio tem assinatura isotópica semelhante
estágio de greisenização. Na fase tardia final e escassa, à de biotita magmática. O δ18O ligeiramente mais leve
carbonatos ocorrem acompanhados de quartzo e fluorita, (+3,7‰) pode sugerir contribuição de águas meteóricas
sugerindo diminuição na pressão de PCO2 (Rimstidt 1997) ao fluido hidrotermal magmático com o qual esse mineral
e existência de alta razão Ca/Na.

221
Caracterização Geológica do Alvo Estrela (Cu-Au), Serra dos Carajás, Pará

provavelmente se equilibrou durante a alteração potássi- A comparação dos resultados das datações isotópicas
ca. Sm-Nd de Salobo, Gameleira (Pimentel et al., 2003) e do
A assinatura isotópica calculada do oxigênio do fluido, Alvo Estrela sugerem que esses depósitos são cronocor-
em equilíbrio com o quartzo dos veios, na temperatura de relatas. Entretanto, os valores de εNd(T) das rochas do
250°C revelou o valor de +5,3‰ para os veios de biotita Alvo Estrela (-3,2), Gameleira (-1,4 em andesitos, –0,8
e da alteração fílica/greisen, compatível com fluidos de em gabros) e Salobo (-0,1) sugerem que elas não são
origem metamórfica. cogenéticas. O valor menos negativo para a isócrona,
Os fluidos tardios (δ18O‰ = +1,3), com os quais se quando as rochas vulcânicas do Salobo são analisadas
equilibraram clorita botrioidal e quartzo do veio brechado, junto com as do Alvo Gameleira, sugere que as rochas do
numa temperatura de equilíbrio isotópico do oxigênio de Salobo são menos contaminadas com crosta continental
165°C, possuíam já forte influência de águas meteóricas. (Pimentel et al., 2003). Em outras palavras, levando-se
Pode-se inferir que a alteração potássica, responsável em conta também as razões de elementos traços menos
pela formação maciça de biotita-siderofilita na área, jun- móveis, pode-se especular que o continente do arco mag-
tamente com a sulfetação, teve influência de fluidos mag- mático Grão Pará estava situado ao Sul da Serra dos
máticos derivados dos granitos (o que concorda com os Carajás, possivelmente no Bloco Rio Maria.
valores de δ18O de rocha total). Já fluidos metamórficos Sintetizando, os principais vetores para exploração de
foram possivelmente preponderantes no transporte e de- depósitos minerais Paleoproterozóicos, híbridos e semelhan-
posição de metais. À medida que o sistema esfriava, a tes ao Alvo Estrela, na região de Carajás compreendem:
mistura de fluidos tornava-se maior e os fluidos meteóri- • Controle estrutural marcado por splays NS da fa-
cos passaram a ter papel importante quando do fecha- lha Carajás;
mento do sistema, em regime rúptil, abaixo de 200°C • Existência de andesitos reativos, balizados por zo-
Os valores de δ34S de calcopirita (+0,1 a +3.5) e pirita nas impermeáveis, representadas por milonitos si-
(+0,6 a +4,1), além de molibdenita (+0,9), indicam fonte licificados ou intrusões tabulares, propícias à cana-
magmática para o enxofre. lização dos fluidos hidrotermais;
Nos carbonatos dos veios tardios, δ13C de calcita é • Presença de granitos Paleoproterozóicos, fonte de
compatível com origem magmática, enquanto a da sideri- calor e metais, refletidos por intensa biotitização
ta poderia ser atribuída a carbono crustal, com influência das rochas encaixantes;
de fluidos hidrotermais. • Ausência de grandes massas de magnetita, ou
Alteração hidrotermal intensa e extensa, juntamente mesmo desaparecimento de rochas regionais ricas
com formação dos veios mineralizados em Cu-Au, teve em ferro, devido à lixiviação do Fe pelos fluidos
lugar em ca. 1,85 Ga. Os valores fortemente negativos ácidos, responsáveis pela greisenização e deposi-
de εNd(T) apresentados pelos veios sugerem derivação ção dos minerais ricos em Li e Rb;
de fluidos a partir de fonte com assinatura isotópica de • Presença de sulfetos de alta razão S/Cu, como pi-
Nd arqueana. A colocação do minério deu-se concomi- rita, pirrotita, calcopirita;
tantemente à intrusão do quartzo diorito pórfiro (1881 ± 5 • Discreta alteração cálcico-sódica;
Ma) e do quartzo-álcali-feldspato sienito vermelho (1875 • Presença maciça de fluorita, associada às micas
±1,5 Ma), ambas idades isotópicas obtidas pelo método litiníferas incolores a castanho-claras em amostras
U-Pb em zircão e monazita, respectivamente. de mão (protolitionita, Li-muscovita e zinnwaldita),
Resumindo, tal como no Alvo Gameleira, os dados iso- juntamente com turmalina e clorita em zonas grei-
tópicos e geocronológicos demonstram que a mineraliza- senizadas tardias.
ção de Cu-Au e o evento hidrotermal associado são pale-
oproterozóicos, sem associação com os eventos ígneos Agradecimentos
arqueanos.
Os valores negativos de εNd(T) das rochas do Alvo Os autores agradecem à Companhia Vale do Rio Doce
Estrela sugerem contaminação com material crustal mais pela liberação dos dados e amostras, bem como pelo apoio
antigo, tal como o complexo Xingu na região do Bloco de campo que possibilitaram o desenvolvimento deste tra-
Rio Maria, que é discordantemente recoberto pelas ro- balho. Agradecem especialmente aos geólogos Anselmo
chas vulcânicas do Supergrupo Itacaiunas, na Região da Viana Soares, Fabrício Ely e Carlos Alberto Monte Lopes
Serra do Rabo. Da mesma forma, as razões Th/Yb ver- pelas estimulantes discussões e apoio de campo. Os au-
sus Ta/Yb dos riolitos sugerem ambiente de margem con- tores são gratos ao senhor Onésio Rodrigues Filho pelo
tinental ativa auxílio nas análises em microssonda eletrônica. Esta pes-

222
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

quisa não poderia ter sido efetuada sem o apoio da gratos. Os recursos para o trabalho foram provenientes
ADIMB, na figura dos Doutores Onildo João Marini e do CT-Mineral-FINEP-ADIMB-DNPM e de empresas
Waldir Ramos, aos quais os autores são imensamente associadas ao Projeto como um todo.

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