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Expediente
Editor
Amaral Cavalcante
Produção
Sônia Pedrosa
Design Gráfico
Ananda Barreto
Clara Macedo
Felipe Ferreira
José Clécio
Designer Convidado: Marcos Ribas
Revisão
Rosilene Santos
Vanessa Góes
Assessoria Técnica
Jeferson Melo
Cumbuca
Ano II | Número 8
cumbuca@segrase.se.gov.br
(79)3205-7421
Rua Propriá, 227 - Centro
Aracaju - SE
Governador Diretor-Presidente
Jackson Barreto Jorge Carvalho do Nascimento
Cumbuca conta com o apoio da Secretaria de Comunicação Social do Governo do Estado de Sergipe.
Ao Leitor
Ao Leitor sumário
sumário
Abre esta edição matéria sobre o ilustrador ser- 32 - POESIAS
gipano Cândido Aragonez de Faria, nascido no ano
Carlos Cauê
de 1849, na cidade de Laranjeiras, então conhecida
como a Athenas Sergipana. Reconhecido como um Wagner da Silva Ribeiro
mestre na produção de peças publicitárias para es-
petáculos da cena parisiense, no final do século XIX, 66 - SÉRGIO BOTTO
e como produtor de cartazes dos primeiros filmes
produzidos no nascedouro da indústria cinematográ-
Marcos Melo CÂNDIDO LEONARDO FÁBIO SAMPAIO
fica, o sergipano Aragonez contribuiu com o seu tra- ARAGONEZ ALENCAR
ço para consolidar o designer característico da Belle 80 - CULTURAS POPULARES
Époque, atuando como ilustrador na célebre Casa José Paulino da Silva
Pathê, em Paris. Informações e vasta iconografia so-
bre esse ilustre sergipano encontram-se aqui, em ar-
86 - LIVROS EDISE Danielle Virginie Mário Britto Fernanda Kolmingm
tigo assinado pela pesquisadora Danielle Virgine.
Ainda na área das artes plásticas, Cumbuca traz
matérias com os pintores Leonardo Alencar, assi-
nada por Mário Britto e Fábio Sampaio, produzida
por Fernanda Kolmingm. Antônio da Cruz aborda a
obra do fotógrafo Nailson Moura em artigo ilustrado
com uma seleção de fotos, da autoria de Nailson.
Os poetas Carlos Cauê e Wagner Ribeiro publi-
cam aqui uma mostra do trabalho que desenvol-
vem, e o escritor Jorge Carvalho do Nascimento
traz-nos uma breve análise sobre a relação entre a
historiadora Maria Thetis Nunes e os intelectuais do NAILSON MARIA THETIS MEMÓRIAS DE
seu tempo. MOURA NUNES IBIÚNA
Reavivando a memória da nossa História recen-
te, os ativistas políticos João Augusto Gama e Bos-
co Rollemberg lembram-nos a violência sofrida por
estudantes sergipanos presos pela ditadura militar Jorge Carvalho do
no episódio do Congresso Estudantil de Ibiúna, em Antônio da Cruz Nascimento João Augusto Gama
1968. Ainda no campo da memória, o Jornalista
Luiz Eduardo Costa discorre sobre o contravertido
bandido Pititó, que, no final da década de 1950,
atanazou a vida social e o aparelho policial sergipa-
no, com suas diabruras.
O músico Sérgio Botto é homenageado nesta
edição com depoimentos dos seus amigos Mar-
cos Melo e Clínio Carvalho Guimarães. Já o músico
Nino Karvan tem o seu trabalho abordado pelo blo-
gueiro Igor Bacelar.
Finalmente, o jornalista Lelê Teles discorre sobre a
evolução da Cultura chamada “da periferia” e o pes-
QUANDO O CAMALEÃO DE PERIFERIA
quisador José Paulino da Silva escreve artigo sobre MATARAM PITITÓ SIMÃO DIAS
o que ele denomina de “Culturas Populares”, funda- José Clécio com
mentando esta denominação na pluralidade delas.
ilustração de
Cândido Aragonez Luiz Eduardo Costa Igor Bacelar Lelê Teles
Amaral Cavalcante
Editor
CÂNDIDO
ARAGONEZ
DE FARIA
Um sergipano na Belle Epoque
Danielle Virginie
“
rado por Sophie Seydoux, presidente da fundação, dos finais do século XIX, Faria era o arauto das
“referência para a história do próximas projeções das Casas Pa-
cinema e da publicidade”. O thé. Conta Felipe Aragonez, neto
ilustrador, que trabalhou para de Faria que esteve algumas vezes
as casas Pathé de 1902 até sua em Sergipe a convite de Luiz An-
Fundação Jérôme Seydoux-
morte em 1911, terá exibida tônio Barreto, que seu avô não era -Pathé, situada no prédio do
a sua produção relacionada à Faria começou muito exclusivamente cartazista das Casas antigo Théâtre des Gobelins,
casa até 4 de novembro deste cedo a trabalhar Pathé, mas que, assim como Tou-
em Paris.
ano. São incontáveis cartazes com arte. Sua louse-Lautrec, Georges De Feure e
produzidos para a divulgação formação deu-se Jules Chéret, pintou as apresenta-
de filmes entre 1906 e 1907, ções da dançarina Loïe Fuller, cujas
no Rio de Janeiro
na época em que as projeções performances deixavam boquiaber-
ainda ocorriam em circos. onde, ainda muito tas o público da noite parisiense.
Se os filmes eram mudos, jovem, ingressou na Prova disso é que ela foi retratada
se eram em preto e branco, a Academia Imperial de por, aproximadamente, setenta ar-
divulgação feita por Faria gri- Belas Artes. Iniciou tistas, segundo o historiador e estu-
tava em cores fortes e lumino- suas atividades como dioso da cor John Gage.
sas, o que era quase uma regra Quando escreveu sobre os ar-
caricaturista em 1865,
nas artes gráficas da transição tistas sergipanos que viveram em
do século XIX para o século com apenas 16 anos. Paris no final dos oitocentos, Luiz
XX. Quando Faria se estabele- Antonio Barreto nos apresentou a
ceu em Paris, no ano de 1882, aquela cidade era o relação entre Faria e outro sergipano que viveu e
palco de uma importante ruptura no universo da trabalhou em Montmartre, Horácio Hora. Morto
arte. A geração de 1885, que compreende artistas em 1890, Hora não teve tempo de acompanhar as
como Cézanne, Gauguin, Van Gogh, empreendia inovações trazidas pelo cinema e como isso se re-
uma reação ao Impressionismo. Para Gauguin e fletiu na arte ao redor dos filmes. Segundo Sophie
Cézanne, os impressionistas “procuram ao redor Seydoux, “para cada filme produzido pelas Casas
do olho e não no centro misterioso do pensamen- Pathé, mesmo os mais curtos, era criada uma ilus-
to”. Para Cézanne, Monet “não é mais que um tração”, o que significa afirmar que o cinema ativou Jules Chéret, Folies Bergère. Henri de Toulouse-Lautrec.
La Loïe Fuller, France, 1893. Troupe de Mlle Elegantine
olho”. A esses artistas não etiquetáveis foi dada a a produção gráfica, com cartazes publicitários, pan- (cartaz de 1896).
alcunha de “pós-impressionistas”, que, diferentes fletos e divulgação de projeções em revistas.
ANTES DE PARIS
perial de Belas Artes. Iniciou suas atividades como América do Sul, cuja técnica passou a dominar, e
caricaturista em 1865, com apenas 16 anos, e cola- utilizar amplamente, inclusive em seus trabalhos
borou com diversos jornais na capital fluminense. no ateliê de Paris. Faria deixou Buenos Aires e foi
Criou seu próprio jornal O Mosquito (1869) e, em para a França em 1882, onde se radicou.
junho de 1974, editou o semanário Mefistófeles, to- O alcance da arte de Faria foi descrito por
talmente ilustrado por ele. Luiz Antonio Barreto: “O micro exemplo é o de
Em 1878, Cândido Faria foi morar em Porto Aracaju, onde o Teatro Carlos Gomes, que sur-
Alegre, cidade onde se tornou conhecido, inicial- giu em 1903, cedeu sua sala para as apresentações
mente, como professor de desenho, pintura a óleo do cinematógrafo, novidade que logo passou a ser
e de aquarela, por ministrar aulas em colégios parti- empresariada. Foi a época dos cinemas, que pre-
culares e por dar cursos em seu ateliê. No Rio Gran- encheram a vida local, antes que o teatro Carlos
de do Sul, sabe-se que Faria manteve a publicação Gomes passasse a ser Cine-Teatro Carlos Gomes,
O Fígaro, com edição feita pela gráfica do jornal depois Rio Branco. Os equipamentos e filmes das
alemão Deutsche Zeitung. Casa Pathé traziam a Sergipe os cartazes produzi-
Após sua permanência na capital gaúcha, trans- dos por Cândido Faria”.
feriu-se para Buenos Aires em 1879. Trabalhando O artista faleceu em Paris, em 17 de setembro
outra vez em jornais, semanários, dentre outros pe- de 1911, e foi enterrado no cemitério de Saint-
riódicos, após três anos na Argentina, era notável Vincent de Montmartre, conhecido como o cemi-
o amadurecimento de sua técnica. Lá, participou tério dos artistas. Seu ateliê permaneceu funcio-
da introdução da litogravura colorida, inovação na nando graças a seu filho Jacques Faria, até 1956.
Leonardo
também professor da Escola Na- Frank e A Guerra dos Mundos. Em Kennedy Bahia, Raimundo Oli-
cional de Belas Artes (ENBA), 1961, transferiu-se para Salvador, veira, Lênio Braga, Genaro de
Jordão de Oliveira. onde, inicialmente, foi bolsista Carvalho, Ângelo Roberto, Ema-
Amigo de Jordão de Oliveira, no curso de gravura da Escola de nuel Araújo, Mirabeau Sampaio,
Alencar
Leonardo Alencar, em suas cons- Belas Artes da Universidade da Jorge Amado; dos radicados baia-
tantes visitas que fazia ao mestre, Bahia (UFBA); e, em 1963, passa nos, Floriano Teixeira, Carybé e
em seu ateliê, no Rio de Janeiro, a ser aluno regular nessa universi- Hansen Bahia, além dos conter-
acompanhou os primeiros esbo- dade. No ano seguinte, contrata- râneos Jenner Augusto, Zé de
poeta das cores, pintor das letras ços do que seriam hoje os painéis do como professor, participou da Dome e Nelson de Araújo.
que ornam o foyer do Museu-Palá- implantação da cadeira de Artes Em 1971, Leonardo Alencar
Mário Britto cio Olímpio Campos, encomen- Visuais da Escola de Belas Artes recebeu uma bolsa de artista re-
Fotos: Justo Ruiz Photography
sidente para morar na Europa, atuando como formador de opi- rincões, em Aracaju, nas décadas Geral do Estado de Sergipe, ten- land, em 1995; e em Boston, em
quando se fixou em Londres, nião, ora quebrando paradigmas de 60, 80, 90; e, nos anos de do uma de suas obras estampada 1996. Leonardo Alencar tem rea-
onde desenhou para a revis- e emprestando a sua intelectuali- 2001, 2002, 2003 e 2004; em na capa da 7ª edição da Revista lizado e participado de inúmeras
ta Time Out. Em 1974, retornou dade aos movimentos de transfor- Salvador, nas décadas de 60, 80, da PGE. exposições. Nunca as artes plásti-
ao Brasil, passando a morar em mação e renovação das artes. Le- 90 e 2000; em Brasília, nos anos Em comemoração aos seus cas sergipanas estiveram tão bem
Salvador até a década de 1980, onardo é um turbilhão na arte de 1984 e 1993; em Recife, em 51 anos de carreira, em 2011, representadas.
quando voltou para Aracaju, ci- criar, possui uma inesgotável fon- 1987; em Curitiba, em 1989; Leonardo Alencar realizou a ex- Em sua virtuosa iconogra-
dade em que, atualmente, reside, te criativa e sempre se supera em São Paulo, em 2000; no Rio de posição Terra Adentro, Mar Afo- fia, além das telas, xilogravuras e
desenvolve a sua arte e ministra suas criações. Sua arte é genuína, Janeiro, nos anos 1961, 1964, ra, na Galeria Manuel Bandeira, ilustrações para livros, Leonardo
cursos de pintura e de história da brota de suas entranhas. É atem- 1969 e 1987. na Academia Brasileira de Letras, Alencar vem produzindo impor-
arte. Leonardo ama o seu ofício e poral, sem prazo de validade. Sua Em 2006, o presidente da ocasião em que apresentou pintu- tantes murais e painéis temáticos,
dele sobrevive. inteligência não o faz arrogante, Academia Sergipana de Letras, ras, desenhos e xilogravuras. Em destacando-se: Morte e Ressurrei-
Completo, ousado e atuante, pelo contrário, sua humildade faz o escritor José Anderson Nasci- 2012, participou da coletiva Co- ção de Jesus Cristo, para a Igreja
Leonardo Alencar é um artista parte de sua sabedoria. mento, lançou o livro Metáfora leção Mário Britto, edição especial São José, pintura sobre parede,
divisor de águas na cena artística Depois de sua estreia, em dos Arlequins, as cores na arte de Mostra Aracaju e, em 2013, da em 1993; os painéis do Hospital
sergipana. Ele tem ab- 1959, em uma exposição cole- Leonardo Alencar, e, em 2009, exposição Um sentir sobre as artes João Alves Filho, acrílica sobre
soluta consciência tiva no Palácio-Museu Olímpio com o patrocínio do Banco do visuais em Sergipe - 50 artistas, sob tela, em 1997; Alegoria ao Tra-
de seu relevante Campos, em Aracaju/SE, Leo- Estado de Sergipe, foi publicado a curadoria de Mário Britto. balho, para o Tribunal Regional
papel nesse ce- nardo realizou a sua primeira in- o catálogo de arte Terra Adentro, No exterior, já expôs no Pa- do Trabalho, em Sergipe, acríli-
nário como ar- dividual, em 1960, e, desde en- Mar Afora!, Pinturas e Xilogra- namá, em 1966; em Londres, em ca sobre tela, em 2006; Evolução
tista e como tão, vem expondo rotineiramen- vuras. Em outubro de 2009, foi 1971; em Paris, em 1971; em Li- da Eletricidade, para a Energisa,
cidadão, ora te em todo o Brasil, entre outros homenageado pela Procuradoria verpool, em 1972; em Rhode Is- acrílica sobre tela, em 2010; Nas-
“
propriedade, como podemos sentir criativo, a obra passa por diversas obra estabelece um diálogo vivo
nos seus trabalhos para a exposição e constante nos espaços urbanos,
“Anotações para um Roteiro”. uma vez que caminha no vaivém
Nesses trabalhos, agencia uma da cidade com muita proprieda-
justaposição de objetos desconexos, de. A poética de Fábio Sampaio
como botões, relógio, cartas de Ele não utiliza apenas nos remete às palavras de Kevin
baralho, notas fiscais, senhas, Lynch: “A cada instante, há mais
sua paleta de cores,
imagens de santos, brinquedos, do que o olho pode ver, mais do
entre outros. Estes elementos são mais sim todos os que o ouvido pode perceber, um
associados e agregados à superfície materiais percebidos cenário ou uma paisagem espe-
da tela. Ele não utiliza apenas sua pelos olhos, que se rando para serem explorados.
paleta de cores, mais sim todos tornam ferramentas Nada é vivenciado em si mesmo,
os materiais percebidos pelos necessárias para a mas sempre em relação aos seus
olhos, que se tornam ferramentas arredores, [...] conduzem, à lem-
construção de sua
necessárias para a construção de brança de experiências passadas”.
sua poética. poética. A obra de Fábio Sampaio é,
Sampaio concede, assim, uma de fato, fruto de um olhar inqui-
nova importância aos objetos co- hipóteses: “No momento da cons- sidor, que contextualiza, que dá
muns do cotidiano. Ele estabelece trução da obra, hipóteses de natu- sentido a tudo o que é produzido
Exposição Anotações para um Roteiro, 2012. uma relação com as imagens frag- rezas diversas são levantadas e vão na paisagem, que nossos olhos
mentadas da memória, numa ten- sendo postas à prova. São feitas não mais conseguem ver, pois no
sociedade, as quais estão sempre “Creio que a Arte é a única forma deve ter consciência da sua in- tativa de comunicação direta entre seleções e opções que geram alte- horizonte contemporâneo não
abertas a mudanças pela constante de atividade pela qual o homem dividualidade, do seu eu, de ter obra, artista e público. Por meio rações e que, por sua vez, concre- há tempo para a contemplação.
aceleração das transformações no se manifesta como indivíduo. Só um olhar amadurecido, pois no de signos e símbolos retirados do tizam-se em novas formas. É neste Enfim, podemos dizer que Fábio
tempo e no espaço, pois estão in- por ela pode superar o estado ani- processo de criação ficarão regis- seu imaginário, que são motivados momento de testagem que novas Sampaio é um artista contempo-
timamente ligadas com sentimen- mal, porque a Arte desemboca em tradas todas as suas inquietações, por questões do seu tempo atual, realidades são configuradas, ex- râneo, que compreende e adapta
tos que levam a produzir imagens regiões que nem o tempo nem o o que é e como pensa. O artista, o artista reproduz imagens que em cluindo outras. […] Tudo é mutá- suas formas e cores na descober-
que o artista faz de si, para si e espaço dominam. Viver é crer – ao então, deixa seu legado, seus pen- alguns momentos são irônicas. vel, mas nem sempre é mudado”. ta de novas possibilidades. Ele
para outro. A arte é, de fato, algo menos é isto o que eu creio”. samentos, suas memórias, suas Logo, o trabalho do artista é Assim, a obra desse impor- encontra, dessa forma, a simples
muito individual, conforme afir- Assim como Duchamp, Fá- lembranças em diversos momen- pautado em constantes reflexões, tante artista pulsa em sua rela- razão de se ter tornado artista, ou
ma o pintor francês Duchamp: bio Sampaio, afirma que o artista tos de sua criação. estabelecidas através de diálogos ção com Aracaju. Seu olhar via- seja, de criar para todos.
Carlos Para cuidares dessa fome, dou-me a ti, Quero os desvãos da tua curvatura
(Amorável, 2014)
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POESIA
“
Em 2008, foi homenageada pela ção cristã ocidental, como fazem crescimento. Para ela, Labriola as-
Sociedade Brasileira de História sinala com razão que exatamente
da Educação, durante o V Con- esta instabilidade, bem como os
gresso Brasileiro de História da movimentos sociais e as lutas de
Educação, realizado em Aracaju. classes sociais pela História en-
Maria Thetis Nunes gendradas preservam os homens
foi fundamentalmente da paralisação intelectual.
A Intérprete da História Esse modo de ler a História
uma intérprete da
foi aperfeiçoado por Maria Thetis
Maria Thetis Nunes foi funda- História de Sergipe, durante o período em que atuou
mentalmente uma intérprete da debruçada sobre a como bolsista-estagiária do Insti-
História de Sergipe, debruçada análise da Economia, tuto Superior de Estudos Brasi-
sobre a análise da Economia, da da vida social, das leiros – o ISEB. O Instituto agru-
vida social, das atividades lúdicas, atividades lúdicas, das pava as mais diversas tendências
das atividades intelectuais, dos ideológicas, buscando interpretar
atividades intelectuais,
estudos biográficos. Ao tomar a realidade nacional, de modo a
posse na Academia Sergipana de dos estudos arrancar o Brasil do subdesen-
Lançamento do livro Sergipe Provincial II (1840-1889), no auditório do Centro de Letras, em abril de 1983, ela ma- biográficos. volvimento para levá-lo ao que
Aperfeiçoamento de Recursos Humanos Professor Fernando Lins de Carvalho
(Cemarh), em 2006.
“
Borges, “os problemas de inter- aspectos da vida cultural e atender experiência histórica e da vivên-
pretação de uma vida são riquís- cia dos homens que analisou.
simos, pois nos defrontam com Ao verificar essa experiência, ela
tudo que constitui nossa própria trabalhou o sentido da constru-
vida e as dos que nos cercam. ção de um passado glorioso para
Num círculo vicioso, exigem de Creio na marcha da Sergipe e os seus intelectuais, ten-
nós autoconhecimento e preo- História, no devenir, no tando demonstrar os momentos
cupação com a compreensão dos advento de um mundo nos quais intelectuais sergipanos
outros seres humanos; mas, ao mais justo e mais se puseram à frente dos seus pares
mesmo tempo, podem acabar por humano. Apesar de ter de outras regiões do Brasil. Foi
reforçar em nós tudo isso”. explícita em relação a esse tipo
vivido parte da minha
Ao estudar a trajetória dos de problema ao falar de Tobias
intelectuais, é necessário com- vida sob dois regimes Barreto e da defesa que fez este
preender as pressões sociais que ditatoriais, cultuo a autor em relação aos direitos da
atuam sobre o indivíduo. Este é liberdade. mulher, e também quando apre-
um esforço presente nos estudos sentou o trabalho do historiador
de Thetis Nunes. Não basta ape- a interesses específicos. Mas, há, e político Felisbelo Freire. Neste
nas produzir uma narrativa histó- também, trabalhos em anais de último, afirmou que o regimen-
rica, mas, como faz a autora, de eventos científicos dos quais ela to da instrução pública aprovado
certa maneira, é necessário tam- participou, e onde divulgou parte por aquele governante do Estado
bém elaborar um modelo teórico. dessa produção, além das separa- de Sergipe, no período republi-
Ela busca apreender na estrutura tas que produziu. A maior parte cano, antecipou a reforma Ben-
os modos através dos quais a so- dessas histórias de vida apresen- jamim Constant, implementada
ciedade atua no indivíduo, uma tadas por Maria Thetis se pautou posteriormente a partir do Rio
vez que, como entende, mesmo em dados que, invariavelmente, de Janeiro, a capital da nascen-
sendo autônomo, o intelectual incluem data e local de nascimen- te República. Esta era uma dis-
está subordinado a tal estrutura, to, filiação, prole, formação edu- cussão ao gosto da historiadora
posto ser simplesmente impos- cacional, profissão, exercício de Maria Thetis Nunes: a polêmica
sível para uma pessoa ter uma funções públicas e morte. a respeito do pertencimento das
propensão natural geneticamente Em Thetis Nunes, os estudos ideias e a busca incansável das no-
enraizada de fazer algo. sobre intelectuais cumpriram di- vidades nascidas na periferia.
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“A UNE SOMOS NÓS!
Há outro quadro, também publicado por Ibarê Dantas, contendo uma relação complementar
com os nomes de mais cinco estudantes a serem punidos pela Reitoria da Universidade Federal NOSSA FORÇA, NOSSA VOZ!”
de Sergipe, elaborada em janeiro de 1970 pelo brigadeiro Armando Tróia, diretor da Divisão de Um grito da juventude
Segurança e Informação do Ministério da Educação e Cultura: pela liberdade
SEGUNDA RELAÇÃO DOS ALUNOS DE SERGIPE A SEREM PUNIDOS - 1970 João Bosco Rollemberg Cortes
“
Depois disso, correu a notícia Pititó voltou a aparecer em Ara- onde hoje funciona a Federação
de que uma outra e mais poderosa caju, no interior, envolveu-se em da Agricultura. A família Ribeiro
volante seria mandada a Serra Ne- sempre teve poder, posses e mui-
gra, dessa vez, para matar Pititó, ta influência política. O usineiro
decepar-lhe a cabeça, que deveria Pedro Ribeiro era meio irmão do
ser trazida a Aracaju como troféu ex-deputado estadual Rosendo Ri-
e prova definitiva de que o temi- beiro e do ex-prefeito de Lagarto,
do homem estava mesmo morto. Pititó não era um Jose Raimundo Ribeiro, o Cabo
Quando soube que a volante es- pistoleiro no sentido Zé. Nem o pai, nem os tios, nem
tava prestes a ser despachada para comum da palavra. os irmãos, Idélio e Pempo, imagi-
a macabra empreitada, Pedro Ri- Não alugava o seu naram qualquer forma de vingan-
beiro colocou na camionete Fargo braço para matar, nem ça, admitindo que quem escolhe a
que costumeiramente usava, uma violência, sempre terá um fim vio-
pagava a pistoleiros
metralhadora Thompson e foi à lento e isso era o que todos espe-
casa do amigo e compadre, o jor- para que matassem. ravam que acontecesse com Pititó.
nalista e promotor público Paulo Os policiais que mataram Pi-
Costa. A conversa não foi longa, titó continuaram sossegados em
mas foram muitos os fumarentos novas refregas sangrentas, matou relação à vida deles. O sargento
charutos que nervosamente Pedro um policial, e aí tornou-se inimi- reformado da PM, Sobral, que
Ribeiro consumiu em tão pouco go número um da policia militar, comandou a patrulha, bem idoso,
tempo. Disse que não tinha dúvi- que decidiu exterminá-lo. Uma vive hoje cuidando de uma pe-
das de que o seu filho seria morto patrulha comandada pelo sargen- quena propriedade em Canindé
violentamente, pelo modo de vida to Sobral o surpreendeu num ca- do São Francisco. Recebe quem
que ele escolhera, e que a Justiça baré em Carmopólis. Ele foi atin- chega à sua acolhedora casa, no
e a polícia cumpriam o seu o pa- gido por vários tiros de revólver e povoado Capim Grosso, com
pel ao tentar prendê-lo, mas não fuzil; o irmão, Pempo, que estava uma xícara de café bem quente,
admitiria que depois de morto com ele, conseguiu fugir. Pititó servido pela sua atenciosa esposa.
lhe decepassem a cabeça. Se isso cambaleou até a porta e caiu no Porém, é preciso vencer-lhe uma
acontecesse, ele se consideraria meio da rua, agonizando, mas enorme resistência para que ele
ofendido como pai, e teria de usar investindo contra os policiais, admita relembrar daquele episó-
a metralhadora contra as autori- tentando retirar das costas o seu dio em Carmópolis.
Primeiro ele veio com a “Mangaba Madura”, em 2001, mais de uma década
depois de ter iniciado sua carreira como artista. O título do registro foi uma
brincadeira com as qualidades deste fruto bastante regional, que quando
maduro tem qualidades medicinais e quando verde é tóxico.
quem não sabe, aquarela é uma trabalhos artísticos. Todos eles Na canção “Ribeira” do
técnica de pintura na qual se di- representando a diversidade de “Aquarela pra Pandeiro”, regis-
luem várias tintas na água). Após cores como o seu protagonista. tro inteiramente influenciado
um longo intervalo de sete anos, Seja por meio da versatilidade pelo xote, xaxado e baião, por
agora em 2014, ele publicou o de estilos nos quais Nino desfila exemplo, o cabra consegue, de
seu mais novo trabalho: “José”. tranquilamente, seja através da forma extremamente fácil, dizer
Sua capa traz um registro foto- naturalidade com que cantarola que “o anarquismo nunca rimou
gráfico antigo dele mesmo e al- os seus versos multiplurais. com bagunça e ele apenas desar-
guns familiares, composto mar- As cores e Nino são parcei- ruma o estado que é ruim; e a
cadamente pelas cores primárias ros desde sua estreia em um fes- burguesia dá o golpe e se apru-
azul, vermelho e amarelo. tival nos anos 80, quando tinha ma metendo chute na bunda do
A mudança de cores, se não apenas 17 anos. Nessa ocasião, leitor de Bakunin”. Isso sem soar
for a mais importante ferramen- ganhou o primeiro lugar com a proselitista ou forçado. Inclusi-
ta do camaleão, é sem dúvida composição “a cor linda que in- ve, nesta canção digladiam duas
a que mais o caracteriza. José comoda”, que tratava da opressão questões quase que antagônicas
Lucivaldo Carvalho Silveira, aos negros. Isso durante o cente- em sua visão de mundo: o amor
Nininho Silveira, Nino Karva e nário de abolição da escravatura. e a luta de classes.
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de Nino) e Dudu Prudente, em longa data. A reunião de lados
junção com um grupo de música opostos do atlântico conflui para
instrumental belga chamado Tur- conceber uma mistura em sinto-
dus Philomelos. Todo esse time nia com as novas relações do in-
é elencado por músicos extrema- divíduo global com o espaço. O
mente competentes e engajados sintoma dos novos tempos.
em uma proposta consistente. Depois de uma turnê, ocor-
rida entre junho e agosto deste
ano, passando por alguns países
europeus, o grupo recém-forma-
do se consolida cada vez mais
escrevendo músicas juntos e em
“Anavantou!” é a processo de gravação desta par-
miscigenação do ceria internacional. A ideia desta
grupo instrumental nova banda, que vem surpreen-
sergipano dendo pelos palcos mundo afo-
“Membrana” que ra, permeada por apresentações
conta com as instigantes e bastante performá-
ticas, teve surgimento em uma
participações de conversa entre dois amigos: o
Pedrinho Mendonça, percussionista Dudu Prudente
de Júlio Rego e de e o cineasta belga Damien Che-
Dudu Prudente, min. Pensar em um intercâmbio
em junção com um musical se fazia necessário na-
grupo de música quele momento.
O episódio ocorreu quando
instrumental belga, Dudu estava na Bélgica para
Turdus Philomelos. finalizar a trilha de sua autoria
para o longa, rodado em Araca-
ju, “A Pelada”. O filme, lançado
Os trabalhos de Nino, da em 2013 e recentemente dis-
Membrana e da Turdus Philome- tribuído pela Paris Filmes, é a
los têm características em comum. primeira produção da indústria trado aulas de luteria para adoles- desde a infância, quando come-
São profundamente pautados em cinematográfica brasileira (ape- centes em situação de risco, atra- çou a se interessar por pintura.
experimentações com as raízes tra- sar de ser uma produção franco- vés da Fundação Municipal do A partir de 2007, Nino reto-
dicionais de suas realidades em fu- -belga-brasileira) gravada 100% Trabalho. Em 2006, viajou para a mou essa paixão da infância e
são com outros gêneros musicais. em Aracaju, com a maior parte Esta ideia semântica, que norteia pretensão genuína. Como Chico China, onde expôs seus violões e voltou a pintar. O seu estilo
Forró, maracatu e pífano amalga- da equipe e do elenco composta a base rítmica e harmônica desse Science dizia: “Pernambuco em- cavaquinhos na II Expo Brasil, a é eclético e não se considera
mando-se com o folclore europeu. por profissionais sergipanos. novo projeto, se confunde com a baixo dos pés e a mente na imen- convite do Instituto de Coopera- seguidor de nenhuma esco-
Aliás, o forró que tem origem nas A palavra anavantou, que sig- essência latente de Nino. Parafra- sidão”. E as coisas vão acontecen- ção Internacional, e também reali- la, apenas experimenta o que
danças de salão europeias, com nifica “avante” em francês, é uma seando um mártir contemporâ- do quando tem que acontecer. zou shows em casas noturnas e na o seu inconsciente lhe trás de
um pouco de influência do toré expressão popularmente utilizada neo sob um cajueiro em um dia Nino já trabalhou muito tem- Universidade de Beijing. imagens e registra isso em tela,
indígena, não faz mais do que re- nas quadrilhas juninas para mar- bastante ensolarado, o camaleão po como luthier, fabricando ins- As atividades artísticas ma- madeira etc, sempre utilizando
encontrar-se com um amigo de car o movimento dos dançarinos. de Simão Dias não disfarça a sua trumentos musicais, tendo minis- nuais sempre o acompanharam, as tintas acrílicas.
Anotações biográficas
S
Botto compondo. Botto ensaiando com Ivana Dantas.
érgio Mauricio Petersen Bot- – Sociedade de Cultura Artística tica romântica com uma boa dose
muito proveitoso, fez-me senti- que intitulei “A Música Instru- Augusto Gama da Silva. A ex- to de Barros, o nosso Sér- de Sergipe, tendo como atores de sergipanidade, sempre tendo o
mentalmente retornar à América mental de Sérgio Botto”. Ten- periência foi tão auspiciosa que, gio Botto, pianista, violonista e Orlando Vieira, João Costa, Luiz samba e a bossa nova como pano
dos anos 70, quando lá residi. As- cionávamos, também, gravar um dias antes de falecer, Sérgio es- compositor, nasceu em Aracaju, Antônio Barreto, Francisco Va- de fundo. Isso mesmo! Sérgio
sim, foram 36 temas compostos CD dedicado à bossa nova. Sér- tava harmonizado um repertório (SE) em 12 de Dezembro de rella, João Augusto Gama, Antô- adotou a bossa nova como seu gê-
entre junho e novembro daquele gio chegou a compor 5 belíssimas de sambas-canções de Dolores 1949 e faleceu na madrugada de nio Joaquim Filho, entre outros. nero preferido para o exercício do
ano. Este primeiro CD, um ma- canções que intenciono gravá-las Duran, Antonio Maria, Lupicí- 30 de Setembro de 2013, tam- Dono de um talento extraor- enorme prazer de fazer música,
ravilhoso presente de Marcos, re- com os mesmos músicos. nio Rodrigues e outros clássicos bém em sua cidade natal, viti- dinário, percorreu todos os me- e compartilhar com os inúmeros
úne 16 dessas 36 canções, que ele Nos últimos anos, completa- do gênero, que gravei com Siri. mado por um infarto. andros da música desde a erudita, amigos.
imortaliza com a competência e a mente dedicado à composição, Lamentavelmente, não deu para Iniciou seus estudos de piano passando pelo rock, jazz e a bossa Até hoje, todos que vivemos
beleza do seu sopro, juntamente Sérgio havia deixado de lado o que ele pusesse suas sofisticadas no ano de 1954, e em 1964, com nova, adotando o violão (sem ja- o seu tempo, lembramos com
com esses maravilhosos músicos talentoso tecladista e violonis- harmonias ao teclado. o pianista e concertista Fernando mais abandonar o piano) como muito carinho, as reuniões lí-
que são Siri na guitarra, o Barrão ta que era. Por insistência mi- Enfim, o maestro Sérgio Botto Lopes, no Curso Livre de Música seu instrumento preferido e de tero/etílico/musicais nas casas
no baixo e o Nelsinho na bateria. nha, ele colocou suas precisas viverá eternamente nas 700 mú- da Universidade Federal da Bahia, onde tirava acordes excepcional- dos amigos Lineu Lins e Alberto
Bela retribuição! Obrigado, mes- e sofisticadas harmonias num sicas que compôs ao longo de sua os aprimorava, tornando-se um mente modernos na melhor esco- Carvalho, recortadas com perfor-
mo! (Sérgio Botto)”. CD contendo Standards e uma fascinante trajetória existencial e virtuose aos 16 anos. Em 1966, la de Baden Powell e Tom Jobim mances poéticas de “seu” Clodo-
Planejamos que o Vol. 2 se- lindíssima composição sua – artística. Caberá a Maurício Bar- participou como pianista do me- seus músicos referenciais. aldo e Hunald Alencar, Amaral
ria lançado num encarte duplo, Your Eyes – que gravei com Siri, ros, seu sobrinho querido, filho morável espetáculo “Recital sem No final dos anos sessenta e Cavalcante, Nubia Marques,
enfeixando as 36 composições, acompanhando-me na guitarra. in pectore e herdeiro desse vasto Opus”, peça teatral do Professor início dos setenta, Sérgio Botto Jane Ribeiro, com a prosa poé-
mas, seu inesperado falecimento, Intitulado “S’ Romantic Jam”, cabedal, conservá-lo e divulgá-lo João Costa, com músicas de Luiz começou sua carreira de compo- tica de Gélio Albuquerque, com
em outubro de 2013, frustrou esse CD teve boa aceitação pe- porque se trata de um formidável Antônio Barreto, encenado pelo sitor. Em parceria com Hunald a estética de Lineu, com as vozes
esse intento. Em abril deste ano, los que apreciam a música ro- acervo da moderna cultura sergi- TECA – Teatro Cultura Artísi- Alencar, produziu belíssimas can- de Nelsão, Jane Vieira, com os
então, reuni 17 temas num CD mântica, incluindo o expert João pana e brasileira. tica, sob o patrocínio da SCAS ções com inspiração afro e temá- “causos” de Chico Varela, e etecé-
cantora carioca Denise Pinaud, seu precoce desaparecimento. O Roney, Júlio de Lima, Pequeno,
que interpretou a canção “Primei- sentimento de perda dessas meni- Adriana, Nurimar, Gentil) e do
ra Audição”, de sua autoria em nas é enorme, uma vez que viam Rio (o incrível pianista Cristó-
parceria com Guilherme Godoy no talentoso e experiente músico vão Bastos, Jurim Moreira, Ro-
durante a apresentação do Proje- que era Sérgio uma maneira das berto Stepheson, Gretel Paganini
to Pixinguinha em caravana que mais acessíveis ao aprimoramen- e José Carlos Santos) para, sob a
contou com as presenças de Celso to de seus talentos individuais. batuta dos talentosos Melquise-
Viáfora, Fabiana Cozza e Francis Sua partida aconteceu num deck (nosso diretor musical em
Hime, além da própria Denise. momento dos mais profícuos, Sergipe) e do maestro Jorge Car-
Lembro de tê-lo visto comen- quando, em parceria com o po- valho, o Jorjão – radicado no Rio
tar sobre a excelência da música eta Marcelo Ribeiro, dava re- de Janeiro, são dele os arranjos
feita por aqui a partir da convi- toques finais ao projeto do CD de nove das canções, gravadas no
vência mais próxima de Ismar “Fina Flor” a ser lançado em STUDIO UP –, não deixarmos
Barreto, Guilherme Mannis, Ser- breve aqui em Aracaju e sobre o que seja esquecido o memorável
gio Maestro e o Grupo Vocal Vi- qual assim se referiu seu parcei- Sérgio Petersen Botto”.
vace que incluiu no CD “Música ro: “Este CD é uma liliputiana Foi o seu canto de cisne no
Erudita em Sergipe – Sec XX” a homenagem que prestamos – eu dizer do amigo e parceiro Mar-
canção Mercedes de sua autoria e outros admiradores – à me- cos Melo.
em parceria com Godoy. mória de Sérgio, um competen- Pra mim, sua precoce parti-
Sendo ele um entusiasta da te, dedicado e versátil músico e da foi uma perda pessoal mui-
música instrumental, compôs compositor. Primordialmente, to grande. O Baixinho, como o
36 temas jazzísticos de altíssima uma singular figura humana. tratava, foi dos primeiros amigos
qualidade, gravados ao sax tenor Juntos, produzimos cerca de oito que fiz aqui em Aracaju quando
de Marcos Melo, acompanhado ou nove dezenas de canções. Tra- aportei vindo do interior no re-
por um grupo de músicos bra- go a público algumas gotas do cuado ano de 1964. Quiseram
silienses e registrados em dois seu borbulhante oceano criativo. todos os santos e orixás que,
SongBooks imperdíveis. Neste trabalho, assino eu as le- após nos deleitarmos com o ser-
Do mesmo modo, achou esti- tras e ele as enriquece com o in- gipano Zé da Velha e seu parcei-
mulante o encontro com canto- contestável talento melódico. Ta- ro Silvério Pontes, num memo-
res e intérpretes locais, alguns já rimbados cantores da terra (Luiz rável show no Teatro Atheneu
conhecidos e com as jovens can- Arnaldo, Nino Karvan, Paulo em 29/09/2013, nos despedísse-
toras que conheceu aqui e proje- Lobo, Tom Robson, Neu Fontes, mos com um encontro marcado
tou a divulgação de suas compo- Dana Estavo, Cris Assunção) e para o dia seguinte que nunca
sições, com a participação ativa alguns de fora (Indiana Nomma, aconteceu. Só queríamos ouvir
muito incorporada à cena da ci- Andréa Montezuma e Toni Bar- uns sambinhas! Sergipe perdia,
dade, projeto esse apenas parcial- reto) aliam-se a valorosos músi- naquele 30/09/2013 um de seus
mente executado em função do cos daqui (João Ventura, Lito, mais talentosos artistas.
3. 4.
Com pleno emprego, o país ofe- A introdução da periferia, como de bom por lá, entrevistando es-
rece mais oportunidades, mais cenário e como tema principal, are- critores, poetas, músicos, atletas,
qualificação e melhor remunera- jou a nossa literatura no início do dançarinos, acadêmicos e empre-
ção, microcrédito para empreen- século XX, saindo do lugar-comum endedores. O programa, pela for-
dedores e os pontos de cultura, e monótono em que sempre esteve. ça de sua temática e a qualidade
espalhados por todas as periferias Foi também a entrada da pe- de sua produção, foi exibido em
do país, e criou uma nova pers- riferia como tema principal que 69 países pela TV Brasil.
pectiva para a moçada, com a renovou o nosso cinema, em fil- Antes cabisbaixo e subalterno,
profissionalização de toda a ca- mes como Cidade de Deus e os hoje o jovem periférico quer mais
deia produtiva cultural. Tropa de Elite. é ser visto, quer mais é aparecer,
Essa é a Periferia que aparece Em Sergipe, um grupo de jo- quer dar rolé no shopping, quer
no programa Esquenta, alegre, vens antenados a essa nova força ostentar, não quer mais se aceitar
orgulhosa de si mesma, talentosa, motriz social, criou um programa inferior e subalterno. Quer cada
irreverente, negra, socialmente de TV, Estação Periferia, que per- vez mais visibilidade.
bem resolvida e economicamente corria todas as quebradas do Bra- Você não entra na periferia,
*Dados do livro Um Paí Chamado Favela, de em ascensão. sil mostrando tudo o que ocorre mas a periferia entra em você.
Renato Meirelles e Celso Athayde.
cial, à cultura popular, apenas responsabilidade de próxima com a cultura popular a presença de dois poetas violeiros
aos governantes. A sociedade, apoio à cultura e, em partir do meu convívio de meni- repentistas causou uma grande
através de suas organizações e, especial, à cultura no junto a contadores de histó- surpresa no meio acadêmico.
sobretudo, as instituições de en- popular, apenas rias, ouvindo leituras de folhetos Alguns colegas chegaram a me
sino e de pesquisa devem e po- aos governantes. A de cordel, vendo e ouvindo toca- sensurar por aquela iniciativa.
dem fazer sua parte. Neste senti- dores de viola nas cantorias, as- Entretanto não me preocupei.
sociedade, através
do, chamo especial atenção para sistindo apresentação de mamu- Sentí o quanto os alunos gosta-
de suas organizações lengo, vendo pastoril profano, ram da experiência. Tinha certeza
o papel social das nossas univer-
e, sobretudo, as
Referências: [1] Bernardo Kliksberg – O mito do desenvolvimento social. Ed Cortês/Unesco, São Paulo, 2001, p.141.
LIVROS
e estruturação do ensino secundário, na Província da Parahyba
do Norte imperial, onde foram realizadas experiências de escola-
rização, tanto no funcionamento das aulas avulsas, quanto no Ly-
ceu Provincial que, alguns anos depois, passou a se chamar Lyceu
Parahybano. Cristiano Ferronato delimitou o seu estudo entre os
anos de 1836, ano de criação do Lyceu Provincial, e 1884, ano
em que o mesmo foi fechado durante quase oito meses para dar
lugar à primeira escola normal da Província. Todavia, o projeto
malogrou, fazendo com que o Lyceu recobrasse a sua identidade
enquanto espaço privilegiado de estudos propedêuticos e prepa-
ratórios para o ensino superior.