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A fé de nossas mães

A historia da igreja ficaria muito diferente sem essas mães notáveis


Elesha Coffman

Parece que os livros de história da igreja estão cheios de homens pálidos que já
morreram, mas as mães sempre foram figuras centrais na tradição cristã desde que
Maria disse a Gabriel “Faça-se em mim conforme a sua palavra”. Algumas das
mulheres cristãs mais notáveis tem sido lembradas por orarem sempre pelos seus
filhos, terem uma fé exemplar e ensinarem seus filhos no caminho em que devem
andar.

Orações é lágrimas

A mãe cristã mais conhecida da antiguidade é Mônica (331-387), uma figura


marcante na biografia de Agostinho chamada de “Confissões”. Mãe de três filhos,
tendo uma pessoa difícil como marido, ela sempre procurava garantir todas as
coisas boas para Agostinho. Matriculou-o nas melhores escolas, ajudou-o em sua
carreira, e o protegeu de um casamento socialmente desvantajoso. Depois passou
a se dedicar a levar seu filho para o Reino de Deus de todas as formas possíveis.

Mônica tinha muito com que se preocupar sobre a vida espiritual de seu filho. Ele
roubou peras do vizinho, gostando muito do que fez. Com todas suas forças ele
quis satisfazer suas paixões. Ele valorizava mais o estudo que a santidade. Abraçou
uma filosofia oposta ao cristianismo chamada maniqueísmo. Várias vezes, ele fugiu
de casa para escapar da influência piedosa de sua mãe.

Enquanto Agostinho não a ouvia, Mônica orava e chorava pelo seu filho levado.
Agostinho escreveu que sua mãe chorava mais pela morte espiritual dele do que
outras mulheres chorariam pela morte física de seus filhos. Certa vez ela desabafou
com um bispo chamado Ambrósio que lhe garantiu que certamente suas lágrimas
dariam fruto.

Depois de anos de súplica, as orações de Mônica foram atendidas. Agostinho


abraçou o cristianismo, e admirou muito a batalha espiritual de sua mãe por ele.
Ela pode ver seu filho se tornar um ministro do evangelho e morreu em paz depois
de lhe dizer: “Só havia uma razão pela qual queria viver um pouco mais, era para
vê-lo tornar-se um cristão antes de partir. Deus concedeu o que eu desejava e
muito mais.

O exemplo de Mônica inspirou muitas mães cristãs na Idade Média. Bridget da


Suécia (1303-1373), casou-se aos 13 anos com um nobre piedoso, teve oito filhos
e perdeu o marido. Um desses filhos chamados Bengt, ficou doente na sua
juventude. Com medo de que tivessem sido os seus pecados que causaram a
condição terrível de seu filho, ela clamou a Deus. Deus a consolou mostrando que a
doença tinha sido por causas naturais, e se ele morresse, ele iria para o céu. Mas o
desafio com seu irmão Carlos foi maior.

Carlos era a ovelha negra da família e deu muita preocupação a Bridget. Enquanto
chorava e orava por ele, ela teve uma visão de seu filho diante de Cristo, com
Maria e um anjo representando a sua defesa e o diabo representando a acusação.
O diabo tentava condenar Carlos com um saco imenso cheio de pecados. O saco
desapareceu e repentinamente o diabo esqueceu-se dos pecados dele e até do
nome daquele que tanto acusava. O anjo explicou que o nome dele era Carlos,
conhecido no céu como o “filho das lágrimas”, e que ele tinha sido perdoado.
Exemplos de fé

Perpétua (182-203), uma jovem de posses em Cartago, mal tinha dado a luz a
seu primeiro filho quando foi envolvida em uma perseguição severa contra os
cristãos. Seu pai suplicou para que ela renunciasse a sua fé, por amor de sua
própria vida e de seu filho, mas ela recusou. Depois ela foi levada para a arena
para ser despedaçada por animais selvagens. De acordo com o relato famoso de
sua morte ela aconselhou aos irmãos que a assistiam “Permaneçam firmes na fé”.
Não se sabe o que aconteceu com seu filho, mas sua lenda inspirou centenas de
cristãos que sofriam.

Macrina, a Mãe (que morreu em 340) também perseverou na fé em meio à


perseguição. Ao ouvir a pregação de Gregório Operador de Maravilhas, ela e seu
marido tinham acabado de se converter ao cristianismo na Ásia Menor (Turquia
atual). Durante a ultima perseguição geral contra os cristãos do Império Romano,
Macrina e seu marido fugiram da cidade em que nasceram. De acordo com a
tradição, o casal passou sete anos em uma floresta, quase morrendo de fome
várias vezes. Quando receberam permissão para voltar para casa, o império
confiscou o que eles tinham. Por ter perdido o marido, ela era considerada a
padroeira das viúvas.

Ainda assim, o compromisso de Macrina persistiu e floresceu pelas gerações


seguintes. Três de seus netos se tornaram cristãos conhecidos de sua era. Basílio o
Grande e Gregório de Nissa desenvolveram a teologia cristã e Basílio também
fundou uma ordem de monges. Macrina, a Filha, inspirou os seus irmãos e liderou
uma comunidade de mulheres cristãs devotas.

Helena (250-330), a mãe do imperador Constantino, só se tornou cristã depois da


conversão de seu filho, mas depois disso mostrou grande zelo. O historiador real
Eusébio registrou relatos de suas orações e peregrinações para a Terra Santa. Ela
tinha um cuidado em redescobrir locais importantes para a história da igreja, retirar
adaptações pagãs e consagrá-los ao culto a Deus. Ao reconstituir os passos de
Jesus e dedicar marcos pelo caminho, ela dedicou o fruto de sua piedade para as
gerações futuras. Ela também possuía outras virtudes. Dava dinheiro aos pobres,
lutou para dar liberdade a prisioneiros, e repatriar exilados. Quando ela ia adorar a
Deus, ela se vestia de forma simples, andando em comunhão com os crentes de
classe social mais baixa. Ela também doou recursos para igrejas por todo o império,
construindo ou reconstruindo propriedades nos lugares onde o cristianismo tinha
sido somente uma seita perseguida alguns anos antes.

Educadoras da primeira infância

Antusa (347-407) viveu em Antioquia, a base das viagens missionárias de Paulo, e


teve um filho chamado João pouco antes de seu marido falecer. Apesar da
população da cidade de Antioquia contar com praticamente a metade de cristãos,
Antusa tinha medo que a sociedade corrompesse a João, então ela lhe ensinou em
casa tudo o que sabia sobre os autores clássicos e sobre a fé cristã. Ao completar a
sua formação moral, ela o enviou para ser treinado por um orador experiente, que
aperfeiçoou os dons naturais que João tinha para se comunicar. João se tornou um
dos pregadores mais renomados da igreja primitiva. As pessoas de sua época o
chamaram de Crisóstomo, ou “Boca de Ouro”.

Catarina Lutero (1499-1552), esposa do reformador protestante Martinho Lutero,


deu formação escolar a um grupo bem grande dentro de casa, que ia sempre se
renovando. Ela teve seis filhos, criou quatro órfãos, e geralmente orientava os
estudantes da universidade que Martinho trazia para casa. Às vezes tinha trinta
pessoas debaixo de seu teto, buscando aprender tudo o que podiam de Martinho e
Catarina. Lutero não estava brincando muito quando ele se referia a ela como “Kate
meu senhor feudal”.

Susana Wesley (1669-1742), mãe de John e Carlos, também é chamada de mãe


dos metodistas. Ela administrava com mão forte sua casa por necessidade, porque
seu marido só recebia um salário de pastor e ela teve 17 filhos, dos quais nove
morreram na infância. A cargo de todas as tarefas da casa, ela era professora de
seus filhos, ensinando o temor de Deus e as disciplinas escolares. Cada filho tinha
tarefas para cumprir, passagens da Bíblia para ler, e questões do caráter para
trabalhar. Cada filho tinha um momento a sós com ela toda semana, para receber
carinho e apoio.

Não é difícil perceber como a disciplina integral do sistema metodista surgiu do que
John Wesley viveu na infância. Ao contrário da Igreja Anglicana, uma hierarquia
onde as tarefas religiosas cabiam geralmente para os clérigos e a supervisão
espiritual não recebia muito cuidado, o metodismo dava grande importância aos
grupos pequenos onde cada membro prestava conta de seus estudos bíblicos, do
quanto se corrigiam e edificavam uns aos outros e de quanto trabalhavam para o
Senhor.

Apesar de Susana não ter vivido o suficiente para ver as reuniões de avivamento
promovidas por John, ela ficaria muito orgulhosa do movimento religioso que ele
fundou seguindo muitos dos seus princípios.

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