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Discipulado para uma nova

1
O Padrão
Divino
O discipulado segundo o modelo de Jesus Cristo

Josadak Lima
O Padrão
Divino
O discipulado segundo o modelo de Jesus Cristo
1ª edição
São Bernardo do Campo - SP - 2016
Copyright
© 2016, Josadak Lima
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Secretaria Editorial Joana D’Arc Meireles Capa


Fabio Nelson Marchiori Diagramação Alexandre Paes Dias Revisão
Celena Alves
Lima, Josadak.
O Padrão Divino - O discipulado segundo o modelo de Jesus Cristo. Volume
1 – São Bernardo do Campo, SP: Editeo, 2016.
p. 64
ISBN: 978-85-8046-040-7 1. Discipulado. 2. Missão 3. Santidade

Sumário
Capítulo 1
Seguir Jesus: o mais desafiador projeto de vida
...................................................11 Capítulo 2
Conhecendo a escola de discipulado de Jesus
.....................................................17 Capítulo 3
O que significa quando Jesus disse: “Siga-me”?
...................................................25 Capítulo 4
O Processo do discipulado segundo o padrão de Jesus
......................................33 Capítulo 5
A formação de uma comunidade discipuladora a partir de Jesus
....................39 Capítulo 6
Promovendo encontros transformadores
............................................................45 Capítulo 7
Discernindo a quem atende a sua voz
..................................................................51 Capítulo 8
Como saber em quem investir a vida?
..................................................................59

Apresentação
O PADRÃO DIVINO – O discipulado segundo o modelo de Jesus Cristo
é o título que não contém apenas conceitos de discipulado. É o resultado de
uma jornada na busca de ser e fazer discípulos por mais de duas décadas.

A grandeza de ser um discípulo é sua relação com Jesus, numa caminhada de


fé seguindo suas pisadas. Uma jornada repleta de novos começos e novas
descobertas; de novas compreensões e experiências, no encontro com novas
pessoas na caminhada, novas situações e lugares onde a formação espiritual
brota da vida iluminada pela fé em Jesus, tornando-se uma grande sinfonia de
louvor a Deus.

Qual a contribuição desta obra para tal processo? Primeiro, este livro nasce
da convicção de que Jesus é o modelo de como ser e fazer discípulos. Por
isso, seu intuito é convidar-nos a voltar às práticas do discipulado, de acordo
com o padrão divino observado no Mestre dos mestres.

Segundo, é que trata de conceitos transferíveis e vivenciais, que passa


primeiramente pela vida cotidiana, na qual o discípulo se move e se regula
pela graça, para se dedicar e amar mais a Deus.

Josadak Lima Pastor Metodista da Sexta Região Eclesiástica

Capítulo 1 Seguir Jesus: O mais desafiador projeto de


vida
O autêntico no seguimento de Jesus implica na busca permanente de ser
como ele, onde crendo, se segue e, se crê, seguindo. Refletir sobre a Pessoa
de Jesus como nosso referencial nos permite entender o discipulado como o
mais fascinante projeto de vida, pois discipulado não é um método ou uma
estratégia, mas um estilo de vida.

É por isso que a prática da Palavra se faz extremamente necessária na


transformação do homem, de dentro para fora. Neste caso, o ato de seguir
Jesus não deve ser compreendido como uma forma de submissão legalista,
mas sim, como um diálogo, como que ao redor de uma mesa.
12Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora.
13Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a
verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e
vos anunciará o que há de vir.(Jo 16.12-13)

O ideal de discipulado que temos à nossa frente é totalmente humano, mas é


também totalmente divino. É a Pessoa de Jesus Cristo que nos convida a tê-lo
como Mestre. Jesus nos convida a um exercício constante de humildade e
mansidão; nos chama para uma caminhada sob o seu jugo suave e leve, para
não cairmos na tentação de fazer aquilo que ele não fez.

Portanto, neste primeiro capítulo, abordaremos o discipulado segundo Jesus


Cristo, com o objetivo de avultar a figura de Jesus, de modo a poder obter a
graça de conhecê-lo internamente para amá-lo e segui-lo. É fundamental que,
como discípulos e discípulas, estejamos em sintonia com o pensamento e
estilo de vida de Jesus.

Jesus não foi um mero personagem histórico. Um homem comum. Jesus não
foi apenas outra pessoa, ou uma pessoa boa, ou um líder importante de uma
religião. Jesus é o personagem mais surpreendente da Escritura Sagrada e da
história humana. Por isso que é necessário imitá-lo para se progredir orgânica
e harmoniosamente na vida espiritual e comunitária.

Jesus é o exemplo da graça e do amor de Deus imerecidamente à


humanidade. Portanto, faz todo sentido a vida cristã ser uma imitação da vida
de Jesus. Pois todo o Evangelho se faz carne e gesto na pessoa de Jesus
Cristo e deve ser o mesmo para quem o segue.
Jesus – Deus em carne humana – foi assim que ele mesmo se apresentou e,
assim, devemos aceitá-lo e segui-lo. A compreensão da figura de Jesus
descrita pelos Evangelhos deve ser discernida a partir de sua historicidade
(sua relação sociopolítica-econômica-cultural e religiosa), que sempre aponta
para o “Jesus histórico” como opção para se concretizar o caminhar do cristão
com Deus.

É a partir dessa compreensão histórica, culturalmente situada, da comunidade


de crentes em Jesus que chegamos a compreensão do Cristo como nosso
referencial de vida. Tudo no cristianismo histórico tem a sua iluminação a
partir da Pessoa de Jesus Cristo. Logo, o nosso caminhar com Deus significa,
em primeira ordem, entrar no caminho de Jesus, para conhecê-lo histórico e
espiritualmente.

A forma de como fazer isto, é seguir de “perto”, imitar Jesus, como o


apóstolo Paulo fazia: “Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo”
(1Co 11.1). Isto significa que seguir Jesus implica em permanecer na sua
Palavra; requer convicção e não mero interesse intelectual.

Ninguém deve seguir a Cristo apenas por curiosidade, é preciso ser constante.
Seguir Jesus Cristo é um estilo de vida. Nesta jornada, diariamente somos
colocados sob o teste da perseverança. O verdadeiro discípulo é a pessoa que,
perseverantemente, “permanece” nos mandamentos de Jesus.

Jesus é verdadeiro homem, verdadeiro Deus. Ele tinha duas naturezas: a


divina e a humana, que não implica em duas personalidades ou pessoas.

Desejamos enfatizar o fato de que Jesus foi mais do que apenas nosso
Salvador. Essa não é uma afirmação desrespeitosa e não causa nenhum
conflito com a doutrina.O propósito do Filho de Deus era redimir-nos, mas
também mostrar-nos a maneira correta de viver. Qualquer coisa que esteja
aquém desse objetivo duplo empobrece a vida em abundância que Jesus
promete aos seus seguidores, em João 10.10. 1
1 HABERMAS, Ronald. Discipulado completo. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2009, p. 226.
A pessoa de Jesus como referencial humano de uma vida centrada em Deus

Jesus Cristo – homem – nenhuma outra expressão pode estimular mais


intensamente o nosso coração do que ele. Assim, como existem diversos
textos que provam a divindade de Jesus, como em João 1.1-2, há também
inúmeros textos que asseveram sua humanidade (Mt 1.18, 20; 21.18; 26.3). A
natureza divina de Jesus é comprovada pelo seu extraordinário ministério
terreno, seus nomes e títulos, e também por suas declarações explícitas. Os
Evangelhos também revelam que Jesus possuía atributos próprios do ser
humano, exceto quanto ao pecado.

Jesus propõe aos seus seguidores um novo coração. Um transplante de


coração. Um coração novo, sincero de fé, de amor, que produz um
comportamento reto e transparente. Jesus falou do “jugo” do discipulado (Mt
11.29-30), como algo leve e suave. Em outra parte, ele afirmou: “Eu lhes dei
o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz” (Jo 13.15).

Os rabinos, do tempo de Jesus, frequentemente falavam acerca de tomar


sobre si “o jugo da Lei”, e sob a orientação deles, aquele fardo poderia se
tornar pesado. O “jugo” de Jesus, ao contrário, é suave, não por seu chamado
ao discipulado ser menos exigente, mas porque esse jugo nos torna pupilos
daquele que é “manso e humilde de coração”.

O segredo do discipulado de Jesus, portanto, consiste num convite pessoal:


“vinde a mim” (Mt 11.28). Não é um convite para uma religião, mas para um
relacionamento comprometido e pessoal! Ele nos chama para um jugo leve e
suave. A opressão religiosa gera peso e dúvida. A “dúvida”, quando causada
pela ação inescrupulosa de líderes que só se importam consigo mesmos,
oprime a alma do individuo. O melhor caminho mesmo é aprender de Jesus.

Os relatos dos evangelhos mostram que Jesus nos deixou o exemplo em tudo.
Segui-lo fielmente depende de você. A Bíblia ensina que devemos seguir os
passos de Jesus. Por quê? Todos os registros bíblicos da revelação de Deus,
tanto do Antigo como do Novo Testamento, devem ser interpretados a partir
da Pessoa de Jesus Cristo. Jesus nos deixou o padrão de vida moral e ético
para que sigamos o seu exemplo.

O testemunho de Paulo, em Gálatas 6.11-18, expõe sua posição em gloriar


-se tão somente na cruz de Cristo e na mensagem da Graça centralizada no
Evangelho. Porquanto, no final dos tempos, todos os seres humanos, tanto os
que o receberam quanto os que o rejeitaram, dobrarão seus joelhos diante
dele, conforme os textos afirmam em Romanos 14.9; Filipenses 2.11).

O chamado de Jesus ao discipulado é o chamado para submeter-se ao seu


senhorio. No discipulado de Jesus, o quebrantamento interior é a base da
obediência e do coração ensinável. A expressão de Jesus “os humildes de
espírito” (Mt 5.5), está relacionada à ideia de quebrantamento. Uma pessoa
humilde de espírito reconhece que é espiritualmente necessitado, dependente
da Graça e Misericórdia de Deus.

Portanto, só atende o chamado ao discipulado as pessoas que têm coragem de


correr riscos, de sair de seu casulo, de pensar a história pelo reverso da lógica
imperante. Neste caminho só atinge a sabedoria quem “vê” o visível e o
invisível, o real e o sonhado, a injustiça e a justiça, o óbvio e desejável, a
certeza contra toda a desesperança que um novo dia ainda vai renascer e as
nossas exigências ganharão mais encanto a partir desse mundo.

Além disto, seguir Cristo implica em uma atitude de humildade. A respeito


da humildade, a bíblia ensina: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo
Jesus” (Fl 2.5). Ao exortar os crentes em Éfeso para que vivessem em retidão
e não como antes, Paulo escreveu: “Todavia, não foi isso que vocês
aprenderam de Cristo” (Ef 4.20).

Não podemos deixar de ser como Jesus, que aconselhava quando era
solicitado e quando não solicitado. Ele orientava seus discípulos com palavra
e vida para que, assim, pudessem orientar as próximas gerações de discípulos
e discípulas.

Capítulo 2 Conhecendo a escola de discipulado de Jesus


O processo de discipulado não deve se limitar apenas a contemplação, mas
deve nos conduzir ao encontro de Jesus Cristo e à identificação com ele.
Desde o início do seu ministério, Jesus atraiu muitos discípulos, mas
selecionou e treinou um grupo especial de seguidores comprometidos; estes
chegaram a conhecer melhor nosso Senhor e acompanhá-lo nas atividades
ministeriais diárias. “Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem
iremos? Tu tens as palavras da vida eterna”. (Jo 6.68)
O próprio Jesus tomou a iniciativa da seleção dos Doze. Primeiro, ele
convocou quatro (Mc 1.16-20), e em seguida, convidou os demais para o
seguirem. Eram homens rudes, não muito cultos, aparentemente com poucas
possibilidades. Com efeito, Jesus sabia muito bem o que fazia.

O discipulado é a nossa oportunidade de utilizarmos os infini - tos recursos


de Deus. É a chance de mudar nossa vida da mediocridade para uma vida que
tenha significado. No discipulado não estamos fazendo favor a Deus. Ele que
está nos fazendo um favor. É vital que o discípulo agarre-se a este importante
conceito. 2

Qual foi o principal trabalho de Jesus aqui na terra? Foi fazer discípulos!
Segundo Jesus (Mt 28.19), discipular implica em equipar pessoas enquanto
caminha com elas. Significa investir em pessoas anônimas e transformá-las
em gigantes da fé.

Assim, como foi com Jesus, a formação da próxima geração de discípulos


não acontece por acidente. É um processo intencional focado em
relacionamentos comprometidos e pessoais, no contexto do discipulado.

Jesus orou ao Pai antes de ir para o Getsêmani: “Eu te glorifiquei na terra,


completando a obra que me deste para fazer” (Jo 17.4). Observe que isto foi
antes da cruz, mas Jesus fala que ele já completou “a obra que me deste para
fazer”. Esta obra, sem dúvida, trata-se do discipulado dos doze!
2 HENDRICHSEN, Walter. Discípulos são feitos, não nascem prontos. São Paulo: Atos, 2002, p. 29.

Com efeito, como afirma Kornfield3, Jesus tinha duas obras para consumar:
uma por meio de sua morte e outra por meio de sua vida. Quando declarou
“Está consumado!” e rendeu seu espírito (Jo 19.30), consumou sua obra
redentora. Mas existiu outra obra. Ele teve uma obra vocacional: o propósito
de andar conosco aqui na terra, ministrando durante três anos, foi à formação
dos discípulos.

Paramos muitas vezes para refletir sobre a obra consumada em sua morte,
que é o centro do evangelho e o coração tanto da Ceia como do Batismo. Mas
refletimos muito pouco sobre o trabalho principal de sua vida, possivelmente
porque nem sabemos que o fazer discípulos foi tal trabalho.4
Jesus é o Filho de Deus, mas é também o filho de Maria. Portanto, toda
essência da vida cristã depende da pessoa histórica de Jesus Cristo. A vida
que ele viveu aqui na terra é o tipo de vida que seus seguidores devem viver.

Creio que grande número de cristão são “ateus praticantes” – creem que a
porção divina de Je-sus dominava seu lado humano. Para eles, Jesus foi como
o incrível Hulk. Quem se deixa levar por essa falsidade precisa relembrar
alguns trechos bastante explícitos das Escrituras, como Hebreus 2.17; 4.15. 5

Inseridos na escola de Jesus

Jesus escolheu e deu instruções para seus discípulos. O convite ao


discipulado não foi um evento de um só momento ou de uma só vez, mas foi
feito por meio de repetidos chamados e convites. A maioria dos que foram
chamados já lhe conhecia. Tiveram a oportunidade de vê-lo e ouvi-lo. Sabiam
quem era o Mestre, como ele vivia e o que pensava. Era Jesus mesmo que
tomava a iniciativa do convite: passa, olha e chama.

O convite de Jesus ao discipulado, à primeira vista, parece ser algo que não
custa nada, mas acolher este convite requer decisão e compromisso. A pessoa
deve está disposta a abandonar tudo e assumir, ao lado de Jesus, um estilo de
vida itinerante. Na prática, o convite coincide com a convivência formadora,
que durou três anos.
3 KORNFIELD, David. As bases na formação de discipuladores. São Paulo: Sepal, 1994, p. 10.
4 KORNFIELD, David. As bases na formação de discipuladores. São Paulo: Sepal, 1994, p. 11
5 HABERMAS, Ronald. Discipulado Completo. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2009, p. 152.

O texto bíblico acerca da formalização do grupo dos doze é Marcos 3.13-14.


Neste texto, está registrado que Jesus primeiro orou ao Pai para ouvir dele
sobre quem deveria ser parte, de forma definitiva, do grupo seleto. Escolheu
aqueles cujos perfis ele havia observado de perto e que foram aprovados pelo
Pai Celeste. Não escolheu a elite religiosa, nem pessoas altamente
qualificadas. Escolheu gente simples dispostas a obedecer. Foi com este
grupo que Jesus começou a maior revolução da histórica.

Jesus tinha uma visão de longo alcance com seus discípulos (Mc 3.13-14).
Ele não se preocupava só com o imediato, olhava lá na frente, para os
milhares que deveriam ser alcançados pelo evangelho. Para que isto
acontecesse, Jesus precisou treinar alguns poucos discípulos para assumirem
a tarefa de pregar o Reino de Deus e discipular as nações. Equipar discípulos
é indispensável para que alcancemos a realização e a plenitude do Evangelho
no mundo.

Com efeito, a preparação dos doze envolvia instrução a respeito de diversos


aspectos de como ser e fazer discípulos. Os doze aprendiam pela experiência
do cotidiano com Jesus, mas era necessário mais que isso, uma instrução
especial para aclarar o entendimento quanto a missão.

Considerando que o discípulo é basicamente um aluno, um dos aspectos do


discipulado é a informação. Para se tornar discípulo, você deve adquirir e
dominar um conjunto de conhecimentos. Portanto, o ensino sempre faz parte
do discipulado. Em Marcos 4, por exemplo, Jesus conta diversas parábolas,
com a finalidade de instruir os discípulos sobre a natureza da tarefa de semear
a Palavra, sobre a autenticidade da vida e sobre a natureza e funcionamento
do Reino de Deus.

Marcos, capítulo 4, começa com a seguinte declaração: “novamente Jesus


começou a ensinar”. Quando olhamos todo o Evangelho de Marcos
observamos que o ensino ocupou lugar importante no ministério de Jesus:

• Jesus começou seu ministério ensinando na sinagoga (1.21);


• ensinou dentro de uma casa (2.2);
• ensinou num barco (4.1);
• ensinou andando pelo caminho (10.17).

Uma das grandes características de Jesus, que deve estar presente na vida de
cada pessoa discipuladora é a adaptabilidade, ou a capacidade de ensinar em
qualquer circunstância e a qualquer número de pessoas.

O evangelho de João, do capítulo 13 ao 17, mostra, de forma mais


detidamente, as últimas instruções de Jesus aos doze. De fato, Jesus queria
um grupo preparado, equipado para a tarefa, e por isto se propôs a ensiná-los
aproveitando todas as oportunidades que surgiam no dia a dia (Mc 10.17-22;
12.17-27), extraindo o conteúdo do ensino da vida diária e o apresentando
com argumentação simples, linguagem direta e não abstrata, método
adequado para o exercício do discipulado (Mt 5.13; 6.28; Mc 4.3).

A vida disciplinada e o seguimento de Jesus

Quem se dedica a cavar fundo e com perseverança no discipulado, descobre


um verdadeiro e autêntico tesouro espiritual com significado para a vida.
A imagem utilizada pelo apóstolo Paulo, em Filipenses 3.12-13, é de um
corredor espichando-se para frente ou esticando-se com todas as forças, sem
olhar para trás, nem comparando sua posição com a posição relativa aos
demais participantes da corrida. Essa atitude dá sentido à disciplina no
seguimento de Jesus, no processo da maturação cristã cuja a disciplina é um
meio, não um fim. Ou seja, o discipulado é a jornada do fim ao meio.
Os verbos utilizados em Filipenses 3.12-13 - prosseguir, esquecer e avançar
- mostram o quanto Paulo estava sendo pessoal, como alguém comprometido
com o discipulado cristão. Ele não faz uma aplicação de natureza coletiva,
focalizando a igreja de Filipos, mas se refere a si mesmo.
Sua motivação, para tanto, é o fato de ter sido alcançado por Cristo Jesus, ou
seja, Jesus o salvou no caminho de Damasco; ali foi o começo e não fim da
corrida. Agora a sua prioridade de vida é “conhecer a Cristo”, apropriar-se
dele cada vez mais.
Da mesma forma, o autor da carta aos Hebreus dirige-se aos cristãos que,
pelo tempo de caminhada, já deveriam está ensinando outras pessoas, mas
continuavam neófitos na fé (Hb 5.11-14). A causa básica do problema está
apresentada, no versículo 11, que é a negligência para “ouvir”. Então, o autor
apresenta uma proposta concreta, convincente e válida, baseada na
experiência (versículo 14). Não se trata de uma imposição, mas de uma livre
decisão de optar ou não pelo crescimento espiritual.
Com efeito, os cristãos hebreus tinham muito que saber acerca de Jesus, mas
ainda não estavam em condições de compreender, em virtude da negligência.
Quando se lê “lentos para aprender”, deve-se entender um sentido ético
correspondente à preguiça, ou indisposição de se dedicar a ouvir e a aprender.
Certamente, este comportamento se constitui num grande obstáculo para se
cultivar um coração ensinável.
Devemos entender que a vida espiritual é semelhante à natural. Em todos os
seus estágios depende de fatores para o desenvolvimento. O problema é que,
a exemplo dos cristãos Hebreus, o período da “infância espiritual” (normal ao
novo convertido), pode ser prorrogado abusivamente, tornando a pessoa
incapaz para absorver instruções mais madura (“alimento sólido”, versículo
14).
Todavia, na vida cristã não pode haver prorrogação, pois do contrário, nunca
estará preparado para a etapa seguinte. Por outro lado, um crescimento sadio
dá condições de se apropriar do que seria impossível no estágio anterior.
Um pouco mais adiante (Hb 6.1), o autor fala acerca de “ensinos
elementares”, referindo-se a rudimentos básicos ou iniciais da fé, o ABC da
vida cristã. Pelo fato deles estarem ainda na “infância” espiritual,
apresentavam dificuldade em discernir corretamente entre o bem e o mal.
Qual o resultado disso? A cogitação infantil de tomar uma terrível decisão:
rejeitar a Cristo. Eles não tinham a consciência de que isso significava o
maior mal.
De fato, esses cristãos eram inexperientes, imaturos e despreparados para
refletirem sobre assuntos de grande vulto do pensamento cristão. Não tinham
capacidade para considerações mais profundas a respeito de temas difíceis.
Entretanto, havia um problema mais sério: esses cristãos não queriam crescer.
Por quê? Haviam se tornando empedernidos e insensíveis, mentes
preguiçosas.
De onde o construtor começa a construir o edifício? Não é a partir dos
alicerces? Quanto mais alto for o edifício, mais profundo precisa ser o
alicerce. Porém, para um edifício ser construído é necessário ir além dos
alicerces. Quais as consequências de não irmos além dos alicerces?
Dependência doentia, superficialidade, inexperiência e meninice. O resultado
disto é uma igreja apenas de pessoas cheias de caprichos carnais, de “não me
toques” e bebês que não sabem alimentar-se sozinhos.
A rigor, não vamos conseguir maturidade cristã ficando sempre
condicionados aos primeiros estágios da caminhada, tais como Jesus Cristo
salva, Jesus Cristo cura, Jesus Cristo voltará etc. Quem estaciona nesse
estágio elementar, está insuficientemente instruído, não cresceu ainda a ponto
de poder explicar, a quem perguntar, a razão de sua esperança em Cristo; não
cresceu na compreensão inabalável de que o cristianismo é superior, de que a
salvação que Jesus veio oferecer é a grande salvação eterna, ancorada no céu
pela obra realizada por Jesus Cristo.

Capítulo 3 O que significa quando Jesus disse: “Siga-


me”?
“Seguir Jesus” era o termo que fazia parte do sistema do discipulado na época
do Novo Testamento, onde o relacionamento mestre-discípulo é diferente do
relacionamento professor-aluno. O aluno assiste a aulas, mas não convive
com o professor, enquanto que os discípulos, à semelhança do
relacionamento pai-filho, se formam na convivência. Os pais não dão aulas
para seus filhos, mas convivem.

Todas as exigências do Reino de Deus ficam explícitas no chamado de Jesus


ao discipulado. John MacArthur, em seu livro Evangelho Segundo Jesus
Cristo, faz excelentes abordagens a este respeito. Vejamos como ele expõe
esta questão:

1) Quando Jesus chamava os discípulos, ele os instruía cuidadosamente


quanto ao custo de segui-lo. Pessoas de coração dúbio, que não estavam
dispostas a comprometer-se com ele, não o seguiam. Desse modo, ele
afastava os que relutavam em pagar o preço, como no caso do jovem rico. Ele
advertia a todos os que pensavam tornar-se discípulos a que calculassem o
preço disso cuidadosamente.

2) Em países em que a civilização cristã se espalhou, grande número de


pessoas se cobre com uma capa decente, mas frágil, de cristianismo. Se
permite certo envolvimento com o cristianismo; o suficiente para se tornarem
pessoas respeitadas, mas não perseguidas. Sua religião é uma almofada
grande e macia que as protege das agruras da vida e, ao mesmo tempo, aceita
mudanças de lugar e forma para amoldar-se às conveniências. Não é de se
admirar que os cínicos falem de hipócritas na igreja e dispensem a religião,
por considerá-la um escapismo.

3) Cristão não é quem simplesmente faz um “seguro contra incêndio”, quem


se alista para fugir de uma vida pós-morte desagradável. Cristão, é alguém
que segue a Cristo como seu Senhor e Salvador; alguém que deseja agradar a
Deus. Seu objetivo fundamental é ser em tudo um discípulo de Jesus Cristo.
Quando peca, busca perdão e dispõe-se a continuar avante. Este é o seu
espírito e o seu caminhar.

4) O chamado ao discipulado cristão exige explicitamente dedicação total.


Compromisso pleno, sem que nada fique intencionalmente retido. As pessoas
que pensam poder simplesmente fazer profissão de uma série de fatos do
evangelho e continuar vivendo de qualquer forma, conforme bem entendem,
deveriam examinar a si mesmos e verificar se realmente estão na fé (2Co
13.5).

Por que o discipulado de Jesus é tão importante? 6

Há pelo menos quatro razões, qualquer uma deve ser suficiente mesmo sem
as outras, para que nós nos comprometamos a ver o discipulado como o
principal trabalho de nossa vida.

1) O discipulado é tão importante porque o amor de Deus e seus


propósitos para conosco só podem ser comunicados por meio de uma
relação comprometida e pessoal.

Jesus deu o exemplo. Como? O Verbo divino tornou-se, em tudo, semelhante


a nós, exceto quanto à natureza pecaminosa (Jo 1.14). Embora a palavra
“encarnação” não apareça nas Escrituras, mas seus componentes sim (“em” e
“carne”). Assim, o “Verbo” tornou-se o conteúdo, o mestre, o ambiente, a
verdade visível de Deus.

À luz de Filipenses 2.5-8, a encarnação de Jesus consistiu no esvaziamento


do Verbo divino. O termo “esvaziamento” (do grego ekenosen) trata da
renúncia de Jesus ao assumir a natureza humana, sendo Deus, sem deixar de
ser Deus.

Convém ressaltar que este “esvaziamento”, não é de sua divindade, mas de


sua glória, visto que Jesus deixou o Céu, despojando de sua própria
majestade. Seu despojamento aconteceu por vontade própria. Foi uma
limitação de si mesmo para um propósito.

Portanto, a teoria de que Jesus renunciou a sua divindade quando se


encarnou, isto é: deixou de ser Deus, é contrária ao ensino das Escrituras
Sagradas. Desta maneira, ao se esvaziar, Jesus estaria renunciando sua
natureza divina, e teríamos nele, unicamente, uma pessoa humana. Mas, não
é isto que a Bíblia ensina.

2) O discipulado é tão importante porque é o mandamento de Cristo


O discipulado é o mandamento de Cristo indiretamente porque somos
mandados a imitá-lo, e diretamente porque a Grande Comissão, segundo
Mateus 28.18-20, foram suas últimas palavras:
6 Adaptado de KORNFIELD, David. As bases na formação de discipuladores. São Paulo: Sepal, 1994.

18 Então, Jesus aproximou-se deles e disse: foi-me dada toda a autoridade


nos céus e na terra. 19Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20ensinando-os
a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até
o fim dos tempos.

Fazer discípulos, segundo Jesus, é equipar pessoas enquanto caminha com


elas, moldando o seu caráter. Significa investir em pessoas anônimas e
transformá-las em gigantes da fé.

Quando Jesus disse “vão e façam discípulos”, mostrou que discipulado se faz
por meio de relacionamentos pessoais. Mas também o discipulado implica
em: ensinar, corrigir e santificar.

Ensinar é o mesmo que discipular? Não! Segundo o pastor contemporâneo


Ed Renê,

[...] para a primeira tarefa (“ensinar as coisas”), precisamos de boas salas,


apostilas, bons métodos didáticos e mestres que conheçam profundamente o
assunto. Mas, para a segunda (“ensi- nar a obedecer as coisas”), precisamos
de modelos, exemplos, referenciais, e assim poderemos aprender não apenas
o que Jesus mandou que fizéssemos,mas também como podemos fazê-
-lo. Não fazemos discipulado do púlpito, ou da classe de Escola bíblica, mas
sim na dinâmica dos nossos relacionamentos.7

3) O discipulado é tão importante pela quantidade de resultados


(reprodução geométrica).
O discipulado é um processo que dura toda a vida. Se o discipulado não se
reproduz, morre. Por meio do discipulado o processo da multiplicação
continua de geração em geração, como está escrito em 2 Timóteo 2.2: “E as
palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confia-as a
homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros”.
Note que este versículo fala de quatro gerações de discípulos: 1) Paulo, 2)
Timóteo, 3) homens fiéis e 4) outros. Num contexto mais amplo, podemos
observar três aspectos do método de fazer discípulos:

• escolha cuidadosa, em oração, de pessoas fiéis;


• concessão da visão gloriosa a eles;
• enviar esses pessoas para que discipulem (Mt 28.19).
7 KIVITZ, Ed Renê. Koinonia. São Paulo: Abba Press, 1994, p. 28.
Com efeito, 2 Timóteo 2.2, trata de um processo multiplicativo.

Enquanto os homens fiéis estão ensinando ou-tros,Timóteo está no processo


de levantar mais homens fiéis, que estejam aptos a ensinar. Im-plantar esta
visão de multiplicação de discípulos constitui o único caminho que a
Comissão de cristo pode ser cumprida,no final das contas.Outros ministérios
e outras formas podem ser úteis, mas nunca irão substituir o discipulado.8

4) O discipulado é tão importante pela qualidade dos resultados.

A palavra-chave de Efésios 4.12 é “preparar” ou aperfeiçoar (do grego


katartizo), que tem o mesmo significado de “restaurar”, em Gálatas 6.2; e
“consertando” as redes, em Marcos 1.19. Qualquer que seja o caso, sempre
quer dizer a mesma coisa.

O verbo “preparar” foi utilizado pelos antigos escritores para descrever o ato
de um cirurgião pondo no lugar ossos fraturados. Como diz Marcos
Monteiro, “significa uma correção de osso partido, ou seja, a cura de uma
fratura óssea pela exata restauração de suas partes” 9. É isto que também
ocorre espiritualmente com os discípulos de Jesus. Certamente, na igreja
local, por meio da pregação e do ensino bíblico formal, pode-se chegar a
unidade da fé, mas não tão eficientemente como por meio do discipulado.

A ideia que o verbo “aperfeiçoar” (Ef 4.12) comunica é que se aquilo que
queremos utilizar não estiver “pronto”, deve ser melhorado e alinhado. Pense
nisto, na perspectiva da formação espiritual de um discípulo: ele não está
totalmente preparado, é necessário suprir certas deficiências ou corrigir e
ajustar certas coisas erradas.
Este é o processo pelo qual o discípulo participa da construção da comunhão,
chegando juntos a uma compreensão lúcida e equilibrada dos princípios do
evangelho e os utilizando como um modo de vida prático e de ajuda mútua,
de dependência entre si. O fim de tudo é a “unidade da fé”, que significa
dizer a mesma coisa, crer na mesma coisa, na mesma doutrina. É o mesmo
que ser “um” na verdade de Deus, a sã doutrina.

Essa busca da qualidade nos resultados inclui também os dons espirituais.


Ajudar o discípulo descobrir e desenvolver seus dons e colocá-lo a serviço
uns dos outros e não a serviço próprio é um dos alvos do discipulado segundo
Jesus Cristo.
8 HENRICHSEN, Walter. Discípulos são feitos, não nascem prontos. São Paulo: Atos, 2002, p. 11. 9
MONTEIRO, Marcos A. L. Em diálogo com a Bíblia: Efésios. Curitiba: Encontro, 1994.

4Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. 5E há diversidade


de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. 6E há diversidade de operações,
mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. 7Mas a manifestação do
Espírito é dada a cada um, para o que for útil. (1Co 12.4-7)

Na variedade dos dons revela-se a unidade da igreja que não é uniformidade,


mas diversidade. O discípulo de Jesus não se relaciona passivamente com os
dons nem faz deles o palco para sua projeção, pois o verdadeiro protagonista
deste processo, dessa superabundância de dons, é o próprio Deus.

Capítulo 4 Processo do discipulado segundo o padrão de


Jesus
O discipulado cristão tem como modelo, sobretudo, o proceder de Jesus, que,
a partir da convivência com os doze, estabeleceu o padrão da perfeição cristã,
que é nosso ideal de vida hoje.

Ao escolher os doze discípulos e formalizá-los Jesus demonstra nitidamente


que queria um grupo preparado espiritualmente e equipado para a tarefa de
expandir o Reino de Deus. Por isto, se propôs a ensiná-los, aproveitando
todas as oportunidades que surgiam no cotidiano (Mc 10.17-22; 12.17-27),
extraindo o conteúdo do ensino da vida diária, e o apresentando com
argumentação simples, linguagem direta e não abstrata, método adequado
para a formação deles (Mt 5.13, 6.28; Mc 4.3).

O discipulado é a nossa oportunidade de utilizarmos os infini - tos recursos


de Deus. É a chance de mudar nossa vida da mediocridade para uma vida que
tenha significado. No discipulado não estamos fazendo favor a Deus. Ele que
está nos fazendo um favor. É vital que o discípulo agarre-se a este importante
conceito.10

Aspectos do padrão de Jesus:


visão, compromisso e ritmo de vida

No Antigo Testamento, os Dez Mandamentos é o padrão divino para o estilo


de vida em harmonia com a vontade de Deus. Por meio deles o povo de Israel
cumpriria sua parte do acordo da Aliança (Êx 19.5).

Dentro deste padrão divino, o mais importante vem primeiro. A ordem dos
mandamentos, de Êxodo 20.1-17, por exemplo, é altamente significativa. Os
quatro primeiro tratam da questão fundamental da relação do homem com
Deus. Estes introduzem os outros seis, que dizem respeito ao comportamento
humano na comunidade ou a sua relação com o semelhante.
10 HENRICHSEN, Walter. Discípulos são feitos, não nascem prontos. São Paulo: Atos, 2002, p. 2.

No Novo testamento aparece esse mesmo padrão: a nova vida em Cristo está
disponível - e de graça - para todas as pessoas, mas requer, que vivamos de
forma agradável a Deus: “Se guardardes os meus mandamentos,
permanecerei no meu amor” (Jo 15.10). Tal estilo de vida espiritual deve ser
encarnada na existência de cada pessoa que segue Jesus, praticando as
virtudes para fecundidade da ação divina. A própria conformação a Cristo
requer, por assim dizer, o respirar um clima de amizade e de encontro pessoal
com ele.

Neste sentido, o desenvolvimento da cultura da formação espiritual requer, a


priori, o padrão divino que oriente o coração humano para Deus. Por causa
das numerosas demandas da vida frenética do mundo contemporâneo estamos
expostos, hoje mais do que nunca, a uma série fatores que nos tira do padrão
de vida requerido por Jesus. Segundo Kornfield 11, o padrão divino no
discipulado é quando acontecem três coisas:

1) visão;
2) o crescente compromisso;
3) ritmo de vida de várias pessoas coincidem.

No discipulado dos doze, começando pelo chamado, em Marcos 1.16-18,


podemos identificar pelo menos três aspectos do padrão divino de Jesus:
16Andando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e seu irmão André
lançando redes ao mar, pois eram pescadores. 17E disse Jesus: Sigam-me, e
eu os farei pescadores de homens. 18No mesmo instante eles deixaram as
suas redes e o seguiram. (Mc 1.16-18)

1) Visão: “eu vos farei pescadores de homens”. O discipulado é um


ministério estratégico que reconstrói a autoestima do discípulo. O chamado
de Jesus inclui o trabalho de fazer discípulos, e o seu discipulado contém
todos os ingredientes importantes para o desenvolvimento do tipo de pessoa
que Deus quer.

2) Crescente compromisso: “No mesmo instante eles deixaram as suas


redes”. Devemos fazer discípulos e ensiná-los a se envolver paulatinamente
com os objetivos e padrões que Jesus mostrou.

3) Ritmo de vida juntos: “e o seguiram”. Não podemos seguir Jesus sem


uma meta. Nossa meta deve ser o seguimento de Jesus.

11 KORNFIELD, David. As base na formação de discipuladores. São Paulo: Sepal, p. 29-43.

É na caminhada do discipulado, que pouco a pouco, ganhamos a mesma


visão, desenvolvemos um crescente compromisso e chegamos a ter um ritmo
de vida juntos. O alvo desta caminhada é a maturação espiritual e integração
de toda a vida como um projeto orgânico de formação espiritual pelo
discipulado, formando uma verdadeira comunidade de discípulos do Senhor
que sirva como ponto de referência para outros, educando na fé.

O processo do discipulado de Jesus torna-se facilitado pelo fato da


comunicação de Deus por meio dele ser pura graça. É dom gratuito e não
fruto solidário da nossa cooperação. Jesus toma a iniciativa; ele não fica
esperando que os discípulos lhe procurem. Ele procurou ter aprendizes, no
intuito de mais tarde enviá-los para fazer discípulos (Mt 28.19).

Na relação de Jesus e os doze há uma palavra-chave para entender o caminho


formativo dos discípulos: imitação. Trata-se de recopiar virtudes e estilo de
vida de quem se segue. Que no caso dos cristãos, não pode ser nada além de
Jesus Cristo: caminhar sobre suas pegadas (1Pe 2.21). Esta relação é
absolutamente pessoal e situa-se no centro da vida da pessoa que está em
discipulado. Esta vai progredindo pelo caminho, efetivando mudança de
direção na própria vida.

A “imitação” não tem como referência os aspectos da conduta exterior.


Mesmo sendo uma progressiva adequação comportamental, o foco do imitar
é sempre as virtudes. Desta forma, o mais importante não é o caminho a ser
percorrido, mas o Mestre Amado, seguido e servido, com o coração e afetos.

Discipulando dentro do padrão divino

Não há caminhos prontos, acabados, definitivos. Caminhos de Deus com as


pessoas são feito no caminhar, na história, na companhia do outro. Dizemos
que Jesus Cristo é o “Caminho”, mas muitos não aprenderam a caminhar
como convém aos verdadeiros seguidores do Mestre. O mais importante é o
sentido e direção para onde se caminha.

O contínuo processo de aperfeiçoamento pessoal, seguimento de Jesus, só


tem relevância se não for uma caminhada solitária, por mais que pareça ser.
O evangelho de João mostra que os primeiros discípulos haviam tido algum
contato com João Batista antes de se tornarem discípulos de Jesus.

Assim, por mais preparados que alguém possa estar, virá o tempo, para cada
um de nós, em que o chamado de Jesus chegará pessoalmente e teremos que
tomar a decisão de segui-lo ou não.12 Isto começou com os primeiros
discípulos por ganhar a visão do discipulado de Jesus, passando por um
crescente compromisso com ele, até alcançarem um ritmo de vida juntos.
12 CARSON, D.A. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 1.430.
O Reino de Deus foi revelado em primeiro lugar na vida de Jesus e, depois,
na vida de seus seguidores fiéis. A Bíblia é a nossa regra de fé e prática. Veja
uma breve ilustração disto, no texto de Mateus 5.17-32:

• Os versículos 17-20 nos dão o padrão ético do Reino de Deus. A ética, do


ponto de vista divino, possui princípios morais imutáveis, que é
responsabilidade cristã.
• Os versículos 21-26 nos dão o padrão do relacionamento pessoal (respeito,
reparação da ofensa, companheirismo), onde diz que o conviver sem
ressentimento com o próximo é mais uma das nossas responsabilidades
cristãs.
• Os versículos 27-32 nos dão o padrão do comportamento sexual que
devemos ter.

A Bíblia diz que “não havendo profecia, o povo se corrompe” (Pv 29.18). O
termo “profecia” se refere à mensagem de Deus dada por meio de um profeta.
Se refere a uma visão profética ou o ensino do profeta acerca da vontade e do
propósito de Deus. Essa revelação é indispensável na formação discipular,
sem a qual, anda cego, tropeçando, sem direção e confiança.

Capítulo 5 A formação de uma comunidade


discipuladora a partir de Jesus
O desejo de Jesus, a exemplo do grupo dos doze, foi estabelecer uma
comunidade de imitadores, vivendo a plenitude da graça, expressa na
transformação pessoal e serviço mútuo.

Compreender o que é Igreja é menos importante do que viver o seu real


significado. Mas o processo de procurar entender o que ela é, nos conduz
num aprendizado sobre sua natureza como comunhão viva a partir do exame
dos valores do Reino de Deus. O que estou afirmando é que, a priori, não
existe desenvolvimento integral de um discípulo sem o Evangelho de Cristo e
a orientação do Espírito Santo.

Ao formar sua comunidade, Jesus teve como objetivo ajudar quem persistia
na tarefa de conquistar novas pessoas para o discipulado, preservar quem já
estava envolvido e reconquistar quem, por qualquer razão, havia se afastado
da fé. Jesus lhes apresentou, primeiro, o Evangelho (Mc 1.14-15). Ora, não
podemos orientar alguém no caminho do Senhor e a tomar com clareza essa
importante decisão na vida sem levar em consideração o Evangelho.

Essa construção de Jesus tem na base uma singela missão: abrir seu ângulo de
visão para enxergar nas pessoas, que as rodeiam, possíveis novos parceiros de
caminhada, e, por outro lado, fortalecer ainda mais os laços dos que estão
integrados.

A comunidade inclusiva de Jesus

Jesus – verdadeiro Deus, verdadeiro homem – alcançou às diversas camadas


da sociedade, indistinta e simultaneamente, com sua mensagem simples e
profunda do Evangelho, sempre preservando a dignidade do homem.

Com efeito, Jesus não fazia diferenciação entre às pessoas: ricos e pobres,
cultos e ignorantes, homens e mulheres. Seu convite ao discipulado se dirigia
a todos, sem exceção:
• chamou pessoas simples do povo (Mc 1.14-20);
• chamou quem era marginalizado pela sociedade (Mt 9.9-13);
• chamou quem estava oprimido pelas imposições religiosas (Mt 11.28-30);
• chamou a liderança rica da comunidade (Lc 1.18-30);
• chamou qualquer pessoas que o desejasse seguir (Mt 22.1-14).

Aprendemos assim, que o cristianismo se caracteriza, essencialmente, por ser


a religião do Deus que busca os homens; do pastor que, deixando as noventa
e nove ovelhas num lugar seguro, sai à procura daquela que se perdeu. Onde
dizer sim para Deus é dizer sim para o seu amor; amor como surpresa e como
evento que acontece na singularidade e simplicidade da vida. Desta forma,
podemos observar no discipulado de Jesus três propósitos básicos:

1) A glória de Deus: isto é, tudo que Jesus fazia teve como ponto referencial
e ideal a glorificação do Pai;
2) O bem das pessoas: ou seja, o propósito do Evangelho é realizar a pessoa
em sua plenitude; em todas as suas faculdades, emoções e trabalho;
3) O bem da comunidade: pois a vontade de Deus não coexiste com o
egoísmo ou individualismo, mas sim com o bem comum.
As implicações práticas de seguir Jesus Cristo

Com efeito, a abordagem do homem Jesus em sua extrema humanidade e


grandeza, como nosso Salvador e Mestre, carrega algumas implicações
quanto o segui-lo. Desde o início, o entusiasmo dos discípulos de Jesus era
grande. Neles havia um crescente compromisso, pois era o entusiasmo do
primeiro amor.

Para alguns do grupo dos doze, tudo começou com um convite à beira do mar
da Galileia. Eram pescadores e esta era a profissão deles. Jesus passa e os
convida. Eles largam tudo e o seguem.

Na raiz deste grande entusiasmo inicial está a pessoa de Jesus que chama, a
Boa-Nova do Reino que os atrai! Eles ainda não percebem todo o alcance que
o contato com Jesus implica para a vida deles, mas isto, por enquanto, não
importa! O que im- porta é eles poderem seguir Jesus que anuncia a tão
esperada Boa-Nova do Reino,até que,enfim,o Reino chegou.(Mc 1.15)13
Seguir Jesus pressupõe ruptura! O compromisso desses primeiros discípulos
foi crescendo pouco a pouco até alcançarem uma participação efetiva e plena
na missão de Jesus (Mc 6.7-13). De fato, em Jesus, tudo é ação formadora.
13 FIGUEIRA, Eulálio; JUNQUEIRA, Sergio. Teologia e educação: educar para a caridade e
solidariedade. São Paulo: Paulinas, 2011, p 147.

• Na maneira de conviver com os discípulos;


• na forma como se envolvia com eles;
• no processo da missão de anunciar as Boas-Novas do Reino;
• na metodologia de ensino participativo, especialmente pelas parábolas;
• nas estratégias de acompanhamento dos discípulos em seu processo de
formação.

Assim, em torno da pessoa de Jesus, formaram-se alguns grupos, um deles,


um grupo menor de doze (Mc 3.14), à semelhança das doze tribos de Israel
(Mt 19.28). Dentro deste grupo, Jesus se relacionava, por assim dizer, com
subgrupos:

1) um grupo mais amplo de setenta e, dentre eles, dois seguidores (Lc 10.1);
2) uma comunidade ampla de homens e mulheres (Lc 8.1-3);
3) as multidões, que se reuniam para ouvir sua mensagem.

Agora, vejamos as três dimensões do processo de formação dos discípulos,


que faz de nós hoje uma comunidade discipuladora:

1) Ter em nós a vida de Jesus, como experiência pessoal da presença de


Cristo ressuscitado, onde refazemos nossas vidas à luz do padrão do Mestre e
na companhia dele. Isto requer de nós uma entrega radical e continua.

2) Imitar o exemplo de Jesus, recriando em nós a vida dele, por meio da


convivência diária com seu povo, permitindo um confronto constante dos
nossos erros, pelo espelho da vida de Jesus.

3) Participar do destino de Jesus, na disposição de carregar a cruz e morrer


com Jesus. Isto exige de nós um compromisso concreto e diário com a missão
do Senhor, e com seu ideal comunitário, tal como Jesus foi fiel ao Pai celeste.

Concluindo, o seguir Jesus implica em realizar sua missão no mundo. E mais:

1) O seguimento apaixonado e radical de Jesus deve ser o centro de toda


nossa vida cristã.
2) O dom espiritual básico deve ser vivido com integridade e criatividade no
contexto comunitário e no mundo, frutificando para o Reino de Deus.
3) Vivência dos valores do Evangelho (amor, obediência etc.), abrangendo
todas as áreas da vida.
4) Viver em harmonia uns com os outros, sendo disponível e assumindo
responsabilidade, superando o individualismo e os inevitáveis conflitos.
5) Educar a vida contemplativa, para que a vida de oração e estudo da Palavra
ilumine o trabalho e a vida comunitária, criando profunda harmonia em nosso
homem interior.

Capítulo 6 Promovendo encontros transformadores


Não é possível vivenciar o discipulado de Jesus a partir de situações de
imprevistos. É preciso ser intencional e percorrer com paciência, passo a
passo, o caminho da formação espiritual, onde o divino e o humano de
fundem.
Jesus era humano, muito humano! Mas ele disse: “Quem vê a mim, vê o Pai”
(Jo 14.9). Desse modo, pelo jeito de ser, e pelo seu testemunho de vida, Jesus
encarnou Deus e o revelou aos discípulos que o acompanhavam por todas as
partes: desde as sinagogas até as casas de pecadores marginalizados da
sociedade.

Enquanto age, acontece a ação formadora, os discípulos participavam na


dureza da jornada de Jesus. Houve momentos em que o grupo não tinha
tempo nem para comer, tamanha era a demanda do povo que os procuravam.
Contudo, a convivência se tornou íntima e familiar: comiam juntos, andavam
juntos, se alegravam e sofriam juntos. E eram essas coisas que marcavam a
vida dos discípulos.

Enquanto convivia diariamente com os doze, Jesus formava-os para a vida e a


missão. O ambiente amigável e acolhedor, estabelecido pelo Mestre do amor,
facilitava a intimidade dos discípulos com o Pai celeste. Esta era a maneira de
Jesus dar sentido à existência dos seus seguidores, pautada na experiência
com Deus, vivida por meio de “encontros” marcantes e transformadores.

À medida que crescia nele a intimidade com o Pai, Jesus adquiria um olhar
diferente para ler e entender a Bíblia e a vida. A Bíblia era ensinada pelos
fariseus e pelos escribas a partir de uma determinada ideia de Deus. Jesus,
que experimentava Deus como Pai, já não podia concordar com tudo que se
ensinava na sinagoga. 14

A formação intelectual privilegia a mente, mas não transforma o caráter da


pessoa. O verdadeiro discipulado não faz apologia à ignorância, nem tão
pouco ao conhecimento, mas o que vale mesmo são as experiências com o
sobrenatural de Deus.
14 FIGUEIRA, Eulálio; JUNQUEIRA, Sergio. Teologia e educação: educar para a caridade e
solidariedade. São Paulo: Paulinas, 2011, p. 136.
O Padrão Divino

A personalidade e a identidade do seguidor de Jesus serão perfeitas a medida


que se fundem com a maturidade dele, por meio de uma relação
comprometida e pessoal com as outras pessoas discípulas de Jesus.
De fato, leva tempo para que a pessoa cristã alcance a maturidade. Jesus
nunca exigiu mais do que seus discípulos pudessem dar. Também nunca lhe
pediu algo que não pudessem fazer.

Nenhum de nós já chegou à plena maturidade – não estamos suficientemente


amadurecidos em nenhuma esfera da vida. Quando nos julgamos “perfeitos”
estamos apenas revelando nossa própria imaturidade e incapacidade
espiritual. Com efeito, a maturidade não é uma posição a qual chegar, mas
um processo pelo qual passamos.

Assim, todos nós precisamos de ajuda para perseverarmos na fé; precisamos


de auxílio para conseguir enxergar nossos problemas e de cuidado para
melhor solucioná-los.

C. S. Lewis explicou, assim, este conceito, dizendo não conseguir motivar


-se por mero esforço moral e que compreendemos que, após darmos os
primeiros passos na vida cristã, tudo que necessita ser mudado no nosso
íntimo só pode ser feito pelo intermédio de Deus.

Jesus serviu de modelo para seus discípulos e os discipulou rumo à


maturidade. A formação espiritual, unida às demais facetas da formação
humana, como a formação psicológica, favorece a maturidade.

Quando Jesus discipulou os doze, usou pelo menos cinco processos chaves:
O primeiro deles foi os encontros transformadores, os outros quatro veremos
nos capítulos seguintes deste livro.

O que são encontros transformadores?

Encontros transformadores são encontros pessoais onde a vida de alguém é


marcada por receber sabedoria, direção ou poder de Deus pela ajuda de outra
pessoa.

Quando lemos, por exemplo, João 1.35-42, podemos identificar alguns desses
encontros transformadores:
35No dia seguinte João estava ali novamente com dois dos seus discípulos.
36Quando viu Jesus passando, disse: Vejam: É o Cordeiro de Deus!
37Ouvindo-o dizer isso, os dois discípulos seguiram Jesus. 38Voltando-se e
vendo que os dois o seguiam, perguntou-lhes: O que você querem? Eles
disseram: Rabi (que significa Mestre), onde estás hospedado?. 39Respondeu
ele:Venham e verão. Então foram, por volta

das quatro horas da tarde, viram onde ele estava hospedado e passaram com
ele aquele dia. 40André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham
ouvido o que João dissera e que haviam seguido Jesus. 41O primeiro que ele
encontrou foi Simão, seu irmão, e lhe disse: Achamos o Messias (isto é, o
Cristo) 42E o levou a Jesus. Jesus olhou para ele e disse:Você é Simão, filho
de João. Será chamado Cefas (que traduzido é Pedro). (Jo 1.35-42)

Há pelo menos três desses encontros transformadores, nesta passagem:


• a revelação do Cordeiro de Deus: “Vejam: É o Cordeiro de Deus!” (v. 36);
• impacto pelo contato pessoal: “passaram com ele aquele dia” (v. 39).
• mudança de identidade: Jesus olhou para ele e disse: “Você é Simão, filho

de João. Será chamado Cefas (que traduzido é Pedro)”.

Segundo os relatos dos evangelhos, este foi o primeiro contato pessoal desses
discípulos com Jesus. A resposta deles à pergunta de Jesus e o modo como se
referiu a ele, “Rabi”, 15 mostra a intenção séria de segui-lo.

O principal objetivo de encontros transformadores é a renovação espiritual. A


espiritualidade é, sem dúvida, uma das áreas mais profundas da teologia.
Suas dimensões são ricas em significado e chamado.

Todavia, no tocante a espiritualidade, há muitas misturas hoje em dia. Não


pode haver verdadeira espiritualidade quando se diz experimentar o derramar
do Espírito e se divorciar do profundo compromisso com a Palavra de Deus e
vice-versa.

Para alguns, “igreja espiritual” se justifica com aquele ambiente marcado por
muito ruído, instrumentos musicais tocando com bastante volume. Pode até
ser que haja espiritualidade nisso, mas o que a Bíblia define como
espiritualidade cristã é outra coisa. No Novo Testamento o termo espiritual
vem da palavra Espírito Santo, que se revela especialmente através dos seus
frutos.

Tem havido uma tremenda confusão entre espiritualidade cristã e


espiritualismo. Todavia, espiritualismo é filosofia. O sufixo “ismo” leva a
isso. É uma doutrina que admite a existência do espírito. Admitindo também
a imortalidade da alma, o espiritualismo deixa implícito sua crença na
existência de Deus. Aqui, não se deve confundir espiritualismo com
espiritismo.

Já a espiritualidade cristã é uma cultura bíblico-espiritual. É o relacionamento


do crente com Deus e sua vida no Espírito como membro do Corpo de Cristo.
O discipulado propõe a construção da verdadeira espiritualidade, por meio do
estudo da Palavra, da oração, comunhão e adoração.
15 O título “Rabi” era de respeito e não se referia, como veio a acontecer mais tarde, àquele que tinha
sido treinado nas escolas rabínicas.

Capítulo 7 Discernindo a quem atende a sua voz


“Aquele que quiser estar só e sem arrimo de mestre e guia será como a
árvore do campo isolada e sem dono, que, por mais frutos que dê, os
viajantes os colhem antes de amadurecer”(João da Cruz16)

Não existe discipulado fácil. Se for fácil não é discipulado! No “exame” para
o discipulado de Jesus não há condições de “colar” as respostas, pois o
“exame” é individual e as respostas somente podem ser dadas por quem
percorre o caminho e se identifica com ele.

O movimento se desloca, decisivamente, do exterior (da religiosidade) para o


interior, dos comportamentos à essência do ser, dos gestos ao coração,
sentimentos puros, motivações corretas e paixão; onde Cristo se torna, de
fato, a forma, no sentido profundo e multifacetário.

A relação a ser vivida na dimensão afetivo-relacional-espiritual com Cristo


tem um alto preço. Quem não pagar o primeiro “preço” – a fé e o
arrependimento – jamais poderá dar início à caminhada do discipulado.

No processo dessa caminhada educativo-formativa, as raízes profundas do


nosso eu vão sendo atingidas, expondo suas fraquezas e vulnerabilidades,
gerando mudanças radicais de dentro para fora.

Portanto, no discipulado de Jesus, para obter sucesso, existem algumas


implicações e uma delas são as altas exigências. Jesus estava constantemente
desafiando os discípulos e as multidões. Suas palavras fugiam do ordinário,
do comum.

Com o convite às pessoas que desejassem ser seus discípulos, Jesus sempre
conseguia uma reação: por vezes a ira e a indignação, como no caso dos
líderes religiosos; outras vezes, o assombro, o espanto, a perplexidade por
parte dos ouvintes por falar com tanta autoridade e poder.
16 João da Cruz (1542-1591). Teólogo espanhol que se destacou pelo misticismo e exercícios
espirituais. É o autor das seguintes obras: Subida ao Monte Carmelo, Noite Escura, Chama Viva de
Amor e Cântico Espiritual.

O Senhor Jesus fez severas exigências àqueles que seriam seus discípulos –
exigências que são totalmente desprezadas nestes dias de vida voltada ao
luxo. É como vermos o cristianismo simplesmente como uma fuga do inferno
e uma garantia de se chegar ao céu. Além disso, sentimos que temos todo o
direito de desfrutar do melhor que esta vida tem a oferecer. Estamos cientes
da existência daqueles versículos incisivos na Bíblia que falam sobre o
discipulado,mas temos dificuldade de conciliá-los com nossas vidas sobre
como o cristianismo deveria ser.17

Jesus deixava muito claro que havia um preço a pagar em ser seu discípulo: a
nossa própria vida, o próprio eu. Na visão de Jesus, discipulado é um estilo
de vida. Portanto, quem acha que já aprendeu tudo deixou de ser discípulo e
passou a ser “mestre”

É necessário estabelecer altas exigências

O discipulado de Jesus exige renúncia, autonegação e disposição completa.


Jesus estabeleceu critérios claros para quem queria segui-lo.
Jesus foi categórico: “não pode ser meu discípulo” (Lc 14.27), sem que antes
haja formado a consciência: é preciso abandonar tudo; é esta a recomendação
de Jesus! Ou seja:
Para ser discípulo do Senhor Jesus, é preciso abandonar tudo. Esse é o
significado inequívoco das palavras do Salvador. Não importa quanto
possamos reclamar de tal exigência “estrema”; não importa quanto possamos
nos rebelar contra uma política tão “impossível” e “insensata”; permanece o
fato de que essa é a palavra do Senhor, e ele deseja exatamente o que disse.18

Lendo os Evangelhos, descobrimos que Jesus não procurou grande número


de pessoas para discipular. Ele procurou o tipo de pessoa que valesse a pena
reproduzir. Veja isto:
25 Uma grande multidão ia acompanhando Jesus; este, voltando-se para ela,
disse: 26Se alguém vem a mim e ama a seu pai, sua mãe, sua mulher, seus
filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não
pode ser meu discípulo. 27E aquele que não carregar sua cruz e não me
segue não pode ser meu discípulo. (Lc 14.25-27)
17 MACDONAL William. O discipulado verdadeiro. 2.ed. ampl. São Paulo: Mundo Cristão, 2009, pp.
12-13 18 Ibidem, p.18.

Afinal, qual é o custo do discipulado de Jesus? O custo é “tudo” (Mt 14.33).


Tudo o quê? Tudo o que somos e o que temos. Segundo William Macdonald,
quando lemos Lucas 14.33, devemos encarar algumas verdades poderosas:

• Jesus não exigiu isso de certa classe seleta de trabalhadores cristãos, mas de
todos. Ele disse; “qualquer de vocês...”.
• Jesus não disse que devemos simplesmente estar dispostos a abandonar
tudo. Ele disse: “qualquer de vocês que não renunciar”.
• Jesus não disse que devemos renunciar apenas uma parte de nossa riqueza.
Ele disse: “Qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui”
• Jesus não disse que se apegar aos seus tesouros teria diante de si a
possibilidade de viver uma forma diluída de discipulado. Ele disse: “não pode
ser meu discípulo”.

Este desafio do discipulado de Jesus só será aceito quando nós estivermos


dispostos a “perder” a vida (Mc 8.35), e este “perder a vida” implica em viver
em função do amor de Cristo e do seu evangelho.

Amor a Cristo significa viver em conformidade com o que ele ordenou (Jo
15.9-12; 1Jo 2.3-11). Amor ao evangelho significa que as boas-novas que
Jesus veio fazer devem ser prioridades em nossas vidas.

De volta a João 6, versículo 60, vemos que alguns ouvintes de Jesus reagiram
à sua mensagem, dizendo: “Dura é essa palavra. Quem pode suportá-la?” O
discurso era duro porque era ao mesmo tempo difícil e aparentemente
ofensivo. Difícil porque até aquele momento nenhum mestre havia sido tão
ousado ao ponto de utilizar tanto o “eu sou” como Jesus o fez e, ainda com
uma terminologia que o povo nunca tinha ouvido: “Eu sou o pão da vida” (v.
47), “Eu sou o pão vivo que desceu do céu” (v. 51). Quando as palavras e
atos de Jesus eram favoráveis às pessoas, em multidão, o seguiam. Mas
quando a Palavra era dura e o desafio era maior, poucos permaneciam.

A mensagem era aparentemente ofensiva, pois, Jesus se “colocou” acima de


Moisés, ao declarar que o pão que foi dado ou maná, saciou a fome, mas não
deu vida; ele, sim, sendo o “pão da vida”, faria com que a pessoa tivesse vida
eterna. Jesus também pareceu ofensivo ao declarar que teriam que comer a
sua carne e beber o seu sangue, algo ofensivo para os judeus.

Mas Jesus era o Mestre que ensina com coragem e intrepidez, com a marca
das altas exigências. Naquele contexto Jesus tinha que ser direto e duro,
assim é no discipulado, não podemos fazer concessões, baixar as exigências.

Indo um pouco mais fundo, em João 6.68-69, à luz da confissão de Pedro,


podemos ressaltar três perspectivas do discipulado de Jesus:
1) A exclusividade da fé: só Jesus tinha, e obviamente tem, as palavras de
vida eterna;
2) A estabilidade da fé: os discípulos já tinham crido. A expressão “temos
crido” indica o resultado de um ato anteriormente feito, que foi o de crer em
Jesus;
3) A finalidade da fé: que é o reconhecimento da divindade de Jesus.

Jesus falou diversas vezes sobre a recompensa do discipulado, por meio da


expressão: “Quem acha a sua vida a perderá, e quem perde a sua vida por
minha causa a encontrará” (Mt 10.39; 16.25; Mc 8.35; Lc 9.24, 17.33; Jo
12.25).

Por que isto foi repetido tantas vezes? Não seria porque esta frase estabelece
um dos princípios mais fundamentais da vida cristã, a saber, que a vida
guardada para si mesmo é vida perdida, enquanto vida derramada para o
Senhor é vida encontrada, salva, alegre e mantida pela eternidade. 19

O que significa manter as altas exigências no discipulado? O próprio


discipulado, em si, é uma alta exigência, pois ser discípulo significa ser
aluno, ser aprendiz. Significa estar na escola de Jesus; adotar uma postura de
aprendizado, e aprendizado não consiste apenas em ouvir certas lições sobre
determinado assunto da Bíblia; antes é ouvir e praticar o que foi ensinado.

Cada um de nós é responsável diante de Jesus quanto a exigência de


“abandonar tudo”. É um assunto absolutamente particular, e por isso, não
podemos estipular o que a pessoas tem de “abandonar”.

As exigências do discipulado devem ser altas. É aqui que começa a seleção


entre o verdadeiro e o falso discípulo. Se em nosso discipulado não
mantivermos altas exigências, teremos crentes esquentando bancos, ao invés
de líderes que se tornem discipuladores que se multiplicam. Este deve ser o
nosso alvo: multiplicar discipuladores.

Na prática, uma das altas exigências do discipulado, por exemplos, é separar


tempo para nos dedicar, na companhia de outros seguidores de Jesus, para o
nosso crescimento pessoal, especialmente no contexto de um grupo pequeno,
os quais são indispensáveis para cultivar a identidade de família.
19 MACDONAL William. O discipulado verdadeiro. 2.ed. ampl. São Paulo: Mundo Cristão, 2009, p.
90.
Identificando quem atende a sua voz

Discernimento quanto a quem atende a sua voz é o quarto processo utilizado


por Jesus no discipulado dos doze.
Relembrando meus mais de vinte anos caminhando no discipulado, acredito
ser este o critério que tive (e continuo tendo) mais dificuldade de aplicar.
Requer quebrantamento interior, submissão de coração e obediência
intencional.
Costumamos dizer que pelo menos 50% do sucesso do discipulado depende
da seleção do início. Se não selecionarmos bem, não teremos um movimento
que cumpra com a grande comissão para chegar a “todas as nações” e “até a
consumação do século”. Portanto, um dos critérios da seleção é discernir
quem atende a sua voz.
Para Jesus o “peneiramento” na seleção de seus seguidores era inevitável.
Deste modo, se revelariam quem de fato eram discípulos de verdade, pois
para seguir Jesus era necessário muito mais que um simples deixar suas
ocupações profissionais, assim como fizeram alguns pescadores.
Nos tempos bíblicos, o pastor não chamava ovelhas aleatoriamente. Chamava
somente as que lhe pertenciam. As ovelhas reconheciam a voz do seu pastor e
atendiam somente a ele! Observe o ensino de Jesus:
2 Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas 3O porteiro abre-lhe a
porta, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as suas ovelhas pelo nome e
as leva para fora. 4Depois de conduzir para fora todas as suas ovelhas, vai
adiante delas, e estas o seguem, porque conhecem a sua voz [...] 16Tenho
outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu as conduza
também. Elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor
[...] 27As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me
seguem. (Jo 10.2-5, 16,27)

No contexto do discipulado, distinguir a voz e atendê-la é uma questão chave.


Só é nosso “discípulo” quem ouvir a nossa voz (ou comando). O importante
aqui é o relacionamento entre as ovelhas e o pastor. Não pode haver um
conhecimento mais íntimo que esse (vs. 14-15).

Outro princípio que merece um destaque especial é o fato de que o


discipulado de Jesus implica em reconhecer que sua autoridade tem como
base a sua divindade.

No discipulado é necessário uma fonte de autoridade para comandar nossas


vidas. Esta autoridade precisa ser coerente, justa e que sirva de parâmetro
seguro para guiar nossa existência. Jesus é a nossa autoridade suprema.

Capítulo 8 Como saber em quem investir a vida?


O exercício do discipulado não deve ser por meio de imposição, mas de uma
relação simples de ajuda fraterna que não obriga a pessoa a colocar em
prática as orientações recebidas. Cada pessoa é livre para fazer escolhas e
assumir suas responsabilidades. Ninguém pode escolher e assumir
responsabilidade pelos outros.

Mas no processo de investir nossa vida em razão da vida de outras pessoas,


temos de levar muito a série a oração como critério de seleção. Nisto Jesus é
o Mestre por excelência. E, nós como seus discípulos, devemos nos portar
como aprendizes de oração.

É orando que Jesus nos ensina a orar (Lc 11.1). Observe como Lucas inseriu
o pedido dos discípulos – “Senhor, ensina-nos a orar” - no momento em que
eles já tinham crescido na formação interior ou para destacar que a pergunta
nasceu das muitas vezes que viram Jesus orando.

Jesus ensinou os discípulos a orar com fé, perseverança e humildade (Lc


11.5-11; Mt 7.7). Esforçando-se sempre por cumprir a vontade do Pai celeste
(Mt 7.21).

Para cultivar uma vida cristã vitoriosa, mesmo em meio às agitações da vida
cotidiana, precisamos perseverar em oração, pois esta pratica alicerça bem
nossa vida para que nos momentos difíceis não venhamos a naufragar diante
das ondas agitadas pelo vento.

Assim, temos de compreender “sacrifício” como necessidade para alcançar o


ideal (1Co 9.24-25), ou seja, o discipulado é um treino permanente nas
competições da vida, para o discernimento. Nos evangelhos encontramos
elementos suficientes para fundamentar a formação espiritual, pelo
“sacrifício”, como necessidade de educar para a vida.

A oração, que eleva a alma para Deus em íntimo diálogo de amor, é uma
disciplina espiritual discernidora. Desta forma, o olhar atento nos favorece
uma conscientização de que, sem a oração, não é possível uma vida interior
de piedade e discernimento.

O Padrão Divino

Precisamos aprender que somente olhando para o Autor e Consumador da fé,


poderemos aprender o novo método relacional com Deus, ensinado por Jesus
(Lc 11.1). Não me refiro ao método de oração, há muitos livros que ensinam
isto, refirme ao estilo de vida permanente e constante como caminho para
buscar a Deus e relacionar-se com ele como alguém vivo e pessoal e fazer as
escolhas certas.

Somente na escola de oração de Jesus é que percebemos o quanto somos


precipitados, mas a confiança em Deus cresce em nós à medida que
mantemos nossa comunhão com o Senhor pela oração. É na presença de Deus
que nos sentimos pequenos, porém confiantes. Nos sentimos fortalecidos,
porém humildes, perfeitamente humanos, porém envolvidos pela graça.

Como podemos desenvolver uma vida de oração que nos possibilita discernir
em que investir a vida?

• Entendendo que o poder da oração está ligado a abertura sincera de nosso


coração a Deus.
• Discernindo que a oração não pode ser utilizada para fins egoístas.
• Tendo cuidado para não usar a oração como cúmplice de nossas ações
injustas.
• Acreditando sempre que a oração de fé é restauradora.
• Compreendendo que a oração não um monopólio clerical – é privilégio de
qualquer pessoa.
• Praticando a oração mútua – uns pelos outros.

Com efeito, a oração é uma experiência transcendental, que coloca nosso


homem interior em contato com Deus. A oração, na prática, é uma das armas
do cristão para seu crescimento espiritual.

A oração foi um dos processos utilizado por Jesus no discipulado dos doze.
Jesus passava noites inteiras intercedendo pelos seus discípulos.
12Num daqueles dias,Jesus saiu para o monte a fim de orar,e passou a noite
orando a Deus. 13Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze
deles, a quem também designou apóstolos.(Lc 6.12-13)

Observe que antes de Jesus formalizar os doze, ele retirou-se e passou a noite
em oração. Uma ocasião desta tão importante e com tantas implicações para o
futuro do seu trabalho teria de ser “banhado” em oração.
Assim como Jesus, a pessoa que discipula deve orar até sentir que o próprio
Deus está lhe indicando as pessoas nas quais deve investir sua vida. Em
suma:
1) O discipulado implica em obediência radical a Jesus. Esta é a condição

básica do verdadeiro discipulado.


2) É um perigo afirmar que “reconhece” a autoridade de Jesus Cristo só em
palavras, e não na forma de estilo de vida.
3) A perseverança é um dos critérios para o discipulado. O discípulo só
permanece quando começa de forma correta. Ser atraído pelos milagres não é
uma
forma correta. Jesus censurou a atitude da multidão ao procurá-lo apenas por
haver multiplicado o pão (Jo 6.25-27), e tal atitude se deu pelo fato de a
mesma
estar equivocada sobre a natureza do ministério de Jesus.
4) De fato, Jesus quer ver uma confissão de fé sincera, como aquela que
Pedro fez: “Senhor, para onde iremos? Tu tens as palavras de vida eterna.
Nós
cremos e sabemos que és o Santo de Deus” (Jo 6.68-69).
O caminho do discípulo do preparo para superar qualquer tipo de tentação
ou prova é pela oração. Como aprendizes de Jesus, precisamos estar sempre
desejando mais falar com ele e ouvir dele, em forma de diálogo, a fim de
tomar
a decisão certa. Sim! Pois, a oração não é alienação.
É, pela oração, que concluímos o que é melhor a se fazer e o que não fazer.
Sobretudo, em quem investir a vida! Além da oração, aqui estão os principais
processos para nos dirigir retamente no caminho do Senhor:

• A Palavra de Deus – o ponto referencial de toda prática cristã;


• Experiência mística – não basta saber sobre Deus, é preciso viver a
experiência da comunhão com ele;
• Relacionar-se bem uns com os outros – com a consciência de que não
somos donos da vida de ninguém, e nem podemos moldá-los à nosso modo
de ser ou pensar.

Bibliografia sugerida para leitura


BRISCOE, Stuart. Discipulado diário para pessoas comuns. São Paulo: Vida,
1992.
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. Porto Alegre: Sinodal, 1989.
CAMPANHÃ, Josué. Discipulado transformando igrejas. São Paulo: Eclésia,
2002.
CÉSAR, Elben M. Lenz. Não perca Jesus de vista. Varginha, MG: Ultimato,
1997. COLEMAN, Robert. O Plano Mestre de evangelismo. São Paulo:
Mundo Cristão, 2006.
EVANS, Tony. Discipulado espiritual e dinâmico. São Paulo: Vida, 2000.
HARBERMAS, Ronald. O discipulado completo. Rio de Janeiro: Central
gospel, 2008.
HENRICHSEN, Walter. Discípulos são feitos, não nascem prontos. São
Paulo: Atos, 2002.
JONES, Milton. Discipulado: o ministério da multiplicação. São Paulo: Vida
Cristã, 1996.
KORNFIELD, David. As bases na formação de discipuladores. São Paulo:
Sepal, 1994.
MACARTHUR, John. Chaves para o crescimento espiritual. São Paulo: Fiel,
2000.

OGDEN, Greg. Elementos essenciais do discipulado. São Paulo: Vida, 2010.


PETERSEN, Willian. O Discipulado de Timóteo. São Paulo: Vida, 1986.
PHILLIPS, Keith. A formação de um discípulo. São Paulo: Vida, 1990.

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