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DE EQUOTERAPIA
TEXTOS COMPLETOS
COMPLETE TEXTS
FRDI ANDE-BRASIL
XII CONGRESSO INTERNACIONAL
DE EQUOTERAPIA
TEXTOS COMPLETOS
Brasília – Brasil
FRDI 2006 ANDE-BRASIL
APRESENTAÇÃO
Por diferentes razões, alguns textos não foram recebidos pela Comissão e, em
conseqüência, não constam desta Coletânea.
Outro caminho, sem pressa, talvez pudesse favorecer um pouco mais a qualidade
dos trabalhos escritos. Isso, certamente, implicaria consultas e debates com alguns
autores, solicitando-lhes análise e eventuais reformulações. Vale recordar as
dificuldades inerentes de alguns em redigir no idioma oficial da FRDI – o inglês
- quando diferente de sua linguagem materna.
Comunicação Oral.
Poster
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EQUOTERAPIA HOLÍSTICA: REEDUCAR DE
FORMA ECOLÓGICA E INTEGRADA PARA
UMA NOVA ERA DE CONSCIÊNCIA
Os destinos do homem e do cavalo têm se cruzado faz muito tempo, desde que o homem e
cavalo estabeleceram uma relação no começo das eras. O cavalo foi reconhecido e apreciado
pelo homem, muito por conta de sua relevante contribuição para o desenvolvimento da
espécie humana desde sempre. No passado, o cavalo foi um inestimável instrumento tanto
na alimentação, quando era caçado para comer, como no transporte – ele mudou a perspectiva
do homem acerca do mundo, pois tornou possível viajar por distâncias antes inimagináveis
naquele tempo. Desde então, as conquistas do mundo se converteram em trabalho humano,
fazendo com que o homem usasse o cavalo como instrumento de guerra.
Nos dias de hoje, felizmente, este papel foi transformado: os cavalos passaram a ser
amplamente reconhecidos como agentes de processos de reabilitação e de cura para pessoas
com “descapacidades” funcionais, ou como preferivelmente referimos, necessidades especiais.
E mais recentemente, tem sido também, pouco a pouco, reconhecido como um importante
agente de reconexão do homem com sua verdadeira essência, qualidades de sua
inteligência espiritual e de suas habilidades metafísicas de transformação de si mesmo e
do seu entorno.
Aqueles que praticam a equoterapia podem alcançar um estado de união com os cavalos, o
que os habilita a atuar como uma unidade, estabelecendo uma sincera e harmônica relação
entre ambos, com afetividade e confiança que certamente crescem juntas.
A gana de investigar e descobrir novas soluções para as necessidades humanas tem tornado
possível desenvolver atividades dentro do contexto educacional da equoterapia, levando ao
desenvolvimento de melhor qualidade de vida para pessoas muito especiais.
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• Serão somente aqueles que possuem alguma “descapacidade” aparente que devem
ter um diagnóstico médico? Serão essas as únicas pessoas que poderiam beneficiar-
se de uma interação saudável e curadora?
• Serão esses os que necessitam de apoio médico, os únicos que podem obter as enormes
vantagens de participar de um programa alternativo terapêutico e educacional
em equoterapia?
Para nos habilitarmos a prover e desenvolver valores essenciais para esta nova geração
são necessários novos programas de educação complementária. Não somente para poder
educar para a desafiadora realidade do mundo globalizado, mas e principalmente, pela
difícil tarefa que é para famílias, escolas e profissionais de saúde, criar no mundo um ambiente
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Todos somos capazes de reconhecer o quão desequilibrado está o nosso planeta em vários
aspectos. A cultura está focada na informação. O homem moderno utiliza quase que 100%
de seu tempo para fazer dinheiro, não importa o quanto de dinheiro ele possui ou é capaz
de fazer. Este feito, na maioria dos casos, não lhe traz a felicidade que eles está buscando.
Na outra parte do tempo que lhe resta, no tempo de ócio, ele gasta o dinheiro que faz e isso,
tampouco, o deixa felizes.
Algo deve estar errado. Deve haver algo que se perdeu nos séculos passados e, está prestes
a submergir na presente era. Valores. Valores essenciais que conectem o homem ao seu
verdadeiro espírito. Reconexão com um estilo de vida que possa trazer de volta ao homem
a sua qualidade de vida, perdida há tempos.
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Nenhuma tecnologia é capaz de substituir a falta da “Natureza” que o homem moderno
está a experimentar. A tecnologia está a evoluir sempre, a medicina também, mas onde
ficou nossa capacidade de responder por nós mesmos? Onde foi parar?
Estamos todos tão apegados à ajuda que vem de fora que não podemos sequer sobreviver a
uma dor de cabeça sem tomar imediatamente algum componente químico sem ao menos
perguntar: O que se passa? O que acontece comigo neste exato momento?
Está tão distante de nós a idéia de que somos capazes de administrar nossa própria qualidade
de vida, estamos tão vitimizados por tudo que gira ao nosso redor, que nós sequer sabemos
o que é sentir-nos em liberdade. Não mais sabemos, sequer, o que é estar livre de um
analgésico para a dor.
Nossa qualidade de vida está limitada a um pequeno espaço em nossas vidas, e este espaço
está a desaparecer. Não nos sentimos confortáveis em escolher, não sabemos quem somos e
tampouco, o que é que realmente queremos.
Nós dizemos para nós mesmos que queremos algo, seguimos trabalhando como loucos
durante todo o mês para conseguir o dinheiro para adquirir tal desejo de consumo, mas
depois de comprá-lo, o prazer já foi embora, tão rápido como veio.
Não é possível ensinar a uma criança ou a um jovem a ser amigável, estabelecer relações
saudáveis e cooperativas se eles não têm um contato harmônico e uma comunicação fluída
E a maior parte delas está sem os cuidados necessários e, geralmente, se estão sendo tratadas,
o são com interferência química, que geralmente suprime os sintomas, mas não empreende
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a busca da causa real. É certo que a indústria química tem interesse que esta prática de cura
se perpetue.
Desta forma, fica fácil entender a razão dos absurdamente baixos orçamentos para a
educação, que são geralmente nos países de Terceiro Mundo ou países em desenvolvimento
também causadores de tanta desarmonia social. Estes países, em sua maioria, estão a comprar
sua “saúde” destas corporações da indústria química multinacional.
Nenhuma escola diz aos seus alunos que possíveis causas de tantas desarmonias estão
frequentemente associadas à desconexão com o verdadeiro espírito humano, ou com o
verdadeiro propósito de vida de cada pessoa. Nenhum médico avalia o que ocorre com esta
criança em aspectos profundos de sua vida interna, simplesmente avalia seus corpos físicos
e, na melhor das hipóteses, aspectos de sua psicologia, mas trata o dano como se fosse
meramente físico ou comportamental.
Em uma visão holística da saúde, na maioria das vezes, a causa de tais desarmonias está
conectada com o abandono dos sonhos da criança interna. Mas esses sonhos foram há
muito abandonados por quase toda a humanidade. A era mecanicista, a idade da tecnologia
trouxe ao homem uma maneira fragmentada de pensar e perceber a si mesmo e seu entorno.
É como se as pessoas fossem semelhantes a um relógio e pudessem ser “reparadas” com a
troca de algumas das suas peças ou de lubrificar algumas outras com drogas químicas.
Mas ainda existe uma semente de consciência oculta em alguma parte de nossas inteligências
que está a nos chamar. Pede ajuda e, por isso, algumas formas de experimentar perceber o
mundo e de viver emergem por todo o planeta. Uma nova medicina está emergindo e
formando parte da cura da humanidade para um mundo melhor. A medicina da alma.
É tempo de trazer de volta essa consciência à superfície, é tempo de correr contra os ventos
e encontrar uma nova forma de viver e de ser saudável. De dentro para fora. Desde os
nossos mais profundos sonhos para a nossa vocação. De volta àquilo que nós viemos
realmente ser e fazer nesta Terra; aos nossos talentos e habilidades, que são únicos.
A CURA
Que maravilhosa oportunidade para reconectar a criança interna e seus sonhos, galopando
no dorso de um cavalo. A equoterapia holística é uma das mais amplas ferramentas para
programas de educação complementar. Ela traz a oportunidade para que a visão de alma
seja resgatada, porque ela conecta o homem à sua natureza essencial, aos seus conhecimentos
ancestrais e com suas capacidades visionárias. Também traz um novo significado para a
vida, liberdade e habilidades para experimentar ser seu próprio comandante, seu capitão.
Traz habilidades de liderança para um contexto de bem maior, de cooperação e jogo limpo,
onde todos têm a mesma oportunidade de ganhar.
Com o exercício de “tornar-se um”, que está presente na prática da equoterapia, cavaleiro e
cavalo podem experimentar e responder de uma maneira que nenhum outro método
educativo proporciona. Valores como cooperação, fluidez, honestidade, pensamento positivo,
auto-estima podem ser experimentados.
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Também traz a experiência de sentir que, na Natureza e no planeta, todos estamos conectados
de alguma maneira e que a escolha de um cria ondas que afetam os demais, não importa o
quão distantes estejam.
Não existe outra maneira de ter êxito, a não ser através da arte de escutar e reconhecer as
necessidades dos demais, incluindo o meio ambiente. O jogo é o de tentar “dançar conforme
a música” e “caminhar com os mocassins do outro”, de forma consciente, e com a certeza de
que estamos fazendo de forma única e excepcional, para que o UNO possa SER como
indivíduo participante da diversidade.
Essa consciência de identidade diferenciada (não egóica) é a única que responde com
habilidade (=s responsabilidade) às necessidades da educação para o mundo moderno, que
propõe criar e construir uma Nova Era de Consciência Ambiental, generosidade e paz no
planeta.
Essas são algumas das experiências que a equoterapia educativa fomenta para se ancorem e
as mesmas se reconheçam pelas habilidades cognitivas. Porque o processo de aprendizagem
pela experiência própria é a única forma de aprender verdadeiramente. Porque o
conhecimento sem ação não é sabedoria, é somente informação. Nós precisamos mais que
informação nessa nova era de consciência, nós precisamos de transformação. Paulo Freire,
A relação única que o cavalo brinda ao homem é muito vívida e muito diferente de todas as
demais. É absolutamente necessário que o papel do cavalo em nossas vidas humanas seja
devidamente reconhecido, com uma visão e jornada totalmente novas.
Cavalos não são mais instrumentos de guerra, mas sim guardiões da paz. Eles nos ajudam
a descobrir onde está o elemento que nos move e que está há tempos oculto e incompreendido
dentro de nós mesmos, de nossas almas e corações. A afetividade e o amor que desenvolvemos
na conexão com o cavalo, comparado a outros animais de estimação, que também têm lições
para, nos ensinar, têm uma diferença fundamental.
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O cachorro, por exemplo, é tão incondicional em seu amor, que pode vir a nós mesmo quando
o tratamos mal e nos portamos mal com ele. Assim está a nos ensinar sobre o amor
incondicional e a fidelidade; aproxima-se sempre com aquela vontade de brincar peculiar,
que nos relembra nossa criança, e está a nos ensinar a receber.
Já os gatos, em sua forma única de ser, nos ensinam a estar à sua disposição, já que eles
fazem o que querem, quando querem e têm vontade. Ensinam-nos acerca de nos mantermos
firmes em nossa verdade pessoal, e a cuidar de nós mesmos em primeiro lugar. Estão a nos
ensinar a sermos generosos e a dar.
O cavalo nos ensina ambos os lados da moeda, ambos os caminhos e principalmente a forma
de discerni-lo, quando e como fazê-lo, nos ensinando, então, a sermos sábios.
Consciência é ir mais além das fronteiras do bem e do mal, é não somente ser capaz de dar e
receber, mas sim, de estar conscientes de quando e como fazer. Aprendendo os ritmos da
vida, seus ciclos, sua sabedoria natural pode nos trazer de volta para o nosso real lugar de
origem.
Da mesma maneira que o cavalo escolhe seus caminhos, passo a passo e em um ritmo
cadenciado, será possível aprender como viver a vida desta maneira. Dando o passo e
escutando... E se por acaso, em algum momento não sabemos o que fazer, simplesmente
deixar as rédeas, soltando-as para que o cavalo nos conduza. Ele saberá conduzir-nos no
caminho de volta para casa. Parafraseando a Dory no filme de desenho animado “Procurando
Nemo”: Simplesmente siga cavalgando... siga cavalgando... cavalgando... cavalgando…
contundentes
É o “espírito” que permite que nós encontremos o caminho de superação daquilo que
aparentemente é impossível.
A visão de saúde que traz o Projeto WAKAN TANKA® passa pelo processo da consciência.
Nosso trabalho propõe criar e permitir, através da equoterapia, possibilidades de um
autoconhecimento que conduza a essa consciência, a esse “espírito”.
Com um enfoque não somente para um público de “necessidades especiais” em geral, mas
também para pessoas que, aparentemente, não sofram nenhuma “descapacidade”.
Pessoas que, em seu dia-a-dia, tratam de lidar com seus problemas, suas dúvidas, seus
descontentamentos e seus vícios, mesmo que nem sequer tenham consciência deles, já que
22 simplesmente sentem, cada vez mais, uma espécie de insatisfação, que não sabem de onde
vem. Que experimentam um vazio que muitas vezes as leva a abandonar seus sonhos, a se
sentir sem entusiasmo pela vida, a não ser feliz...
O ProJeto WAKAN TANKA® acontece no Ce. Na. F.R.E. (Centro de Fomento y Rehabilitación
Ecuestre), que funciona nas instalações da Escuela de Equitación del Ejército, “Grito de
Asencio” em Montevidéu, no Uruguai.
O Projeto WAKAN TANKA® tem como propósito atrair para esta inovadora forma de
equoterapia públicos de estudantes, criança, jovens e adultos, que tenham o desejo de ter
melhor qualidade de vida e percebam a necessidade de desenvolver-se como indivíduos
para viver melhor num mundo tão desafiador como este no qual vivemos.
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CHAMADO DA NATUREZA – PSICOTERAPIA COM CAVALOS
INTRODUÇÃO
“Torne-se o que você é” é um dito grego e “torne-se o que você é” é também uma das
principais idéias da psicoterapia moderna.
“Tornar-se o que você é” – esta sentença contém para alguém uma orientação na presença,
no “aqui e agora”, que é contido na parte “o que você é”, neste exato momento.
Estamos falando sobre um estado de percepção atenta para si e para tudo ao redor, um
estado de presença, consciência e “atenção”(i.e mente e coração abertos) a todo momento.
O segundo aspecto após o Ser é o Tornar-se: antes que a folha de uma planta se modifique,
um campo energético desta folha já existia e já continha a futura forma da folha.
A folha modifica-se em sua forma, bem como uma pessoa pode crescer em seu potencial, a
menos que temores, deficiências e hesitação a impeçam. Este movimento é encontrado em
“torna-se.. (o que você é”). Essas quatro palavras contêm o “ser” (quem sou eu) assim como
o tornando-se (o que eu possa ser, usando todos os meus potenciais).
Uma nova pesquisa mostra que pessoas em profissões nas quais precisam ser extremamente
adaptadas socialmente, por exemplo comissários de bordo, demonstram um risco de doenças
estatisticamente mais alto.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
O cavalo reconhece a pessoa mesmo aí, onde a pessoa não se conhece. A pessoa encontra
sua própria verdade, sua natureza verdadeira no espelho do cavalo. Passo a passo, ao
encontrar o cavalo, ela pode redescobrir e recapturar partes reprimidas, negligenciadas ou
não vividas de sua personalidade e encontrar uma unidade de cura.
* Dipl. Psych. Monika Mehlem In der Haarwiese 36; 53773 Hennef Germany Phone:+49-2248-5007;
24 email:monika.mehlem@onlinehome.de
Psicoterapia por meio do cavalo – o básico
Desenvolvimento na Alemanha
Em 2001, um grupo chamado “FAPP” (uma equipe de especialistas trabalhando com cavalos
em psicoterapia) foi fundado na Alemanha.
Cerca de 20 psicoterapeutas que trabalham com cavalos uniram-se, com a meta de pesquisar,
descrever e desenvolver o conceito “psicoterapia com o cavalo”.
Nenhuma sessão é igual a outra e eu não sei antes do tempo o que irá se desenvolver entre a
pessoa e o cavalo. Mas podemos supor que um tema emergirá, isso é “maduro” e importante
para o desenvolvimento do cliente. O cliente é convidado a se deixar guiar por seus impulsos
interiores espontâneos, sobre os quais o cavalo reage diretamente. Se a pessoa e o cavalo
estão em harmonia, nós podemos supor que a pessoa está bem conectada consigo e é
“autêntica”. Se há dissonâncias, começaremos um processo de busca, que normalmente
leva a temas inconscientes reprimidos.
Um exemplo
Uma jovem mulher queria nada mais que um galope. Seu cavalo estava na guia (long line),
mas, apesar de muitas tentativas de fazê-lo ir mais rápido, o marchador se recusava. Pelo
contrário, ele ficou mais e mais lento até que finalmente parou e abaixou a cabeça. A mulher
ficou confusa. A princípio ela estava zangada, e então desesperada em seu desamparo.
Sobre a pergunta se havia algo mais que ela queria fazer, ela deixou-se cair sobre o pescoço
Este curto mas impressionante incidente fez a mulher compreender que durante anos ela
constantemente esperou demais de si. Ela tentou alcançar êxito e reconhecimento através de
seu desempenho e de riscos, enquanto não reconhecia suas necessidades de entrega e apoio.
Durante a sessão seguinte o cavalo estava disposto a atendê-la e ofereceu-lhe um galope
alegre.
O Cenário
Segurança significa que o cavalo é confiável e bem treinado. Isso não quer dizer que o cavalo
não possa ser percebido como uma ameaça pessoal. A segurança também significa proteção
contra dano físico, assim como contra espectadores e o público. 25
Também significa um relacionamento de confiança para o terapeuta, que pode mediar e
traduzir entre cliente e cavalo e, se for necessário, proteger.
Segurança também significa que a situação com o cavalo não inicia novos temores nem
ameaças, mas deixa espaço suficiente para reconhecer temores e conflitos existentes.
Por outro lado, a situação terapêutica deve ser o mais livre possível, tanto para o cliente
como para o cavalo.
E permitido que a pessoa encontre a proximidade ou distância do cavalo que ela necessita,
mas o cavalo também deve ser livre para mostrar sua reação à pessoa.
O cavalo deve ser livre para mover-se numa área cercada (paddock, pista de equitação,
redondel, etc.) quando está encontrando o cliente.
Ainda que um cavalo seja segurado, guiado ou arreado, ele necessita de liberdade o suficiente
para expressar o próprio estado de espírito e a reação ao cliente (dentro dos limites de
segurança) e deve ser capaz de confrontar e espelhar o cliente.
Isso assegura o bem-estar psicológico do cavalo por um lado e, por outro, um evento
terapêutico importante só pode ocorrer quando o cliente pode experimentar a reação pessoal
do cavalo a ele. Isso não é possível se o cavalo está amarrado com nós cruzados durante o
asseio, ou com rédeas laterais apertadas.
Para a terapia é muito importante que o cavalo trabalhe voluntariamente. Muitos dos meus
clientes experimentaram violência explícita ou oculta, física e psicológica em suas vidas.
Porque os clientes se identificam, freqüentemente, com o cavalo, é necessário que nós não
façamos do cavalo (consciente ou inconscientemente) algo semelhante ao que talvez tenha
causado a doença de nossos clientes.
Nicole, uma jovem mulher severamente traumatizada, descreve seus sentimentos, enquanto
identificada com o cavalo:
“Um cavalo não é um cavalo seguro se ele é forçado a fazer algo. Eventualmente o cavalo explodirá.
É importante para mim que eu possa estar aqui e que o cavalo possa estar e ele não tem que
funcionar como uma máquina.
O cavalo tem o direito de mostrar sua própria natureza e ter vontade própria…”
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Conflitos psicológicos sempre são causados num relacionamento e portanto só podem ser
curados dentro de um relacionamento. No relacionamento entre um cliente e um cavalo
torna-se aparente como a pessoa aprendeu a estruturar seus relacionamentos para proteger-
se de (velhas e novas) feridas. O cavalo reage diretamente e não se deixa envolver em emoções
e contratransferência, como o terapeuta. Portanto, a parte do cliente é muito mais visível e,
para si, óbvia.
Muitas vezes as pessoas parecem mais jovens do que realmente são quando se sentam no
cavalo ou estando em contato próximo com o cavalo. O cavalo acorda energias infantis e a
regressão espontânea, porque, possivelmente, o sentar no cavalo, lembra o sentimento de
ser carregada quando bebê. Outra explicação talvez seja que o cavalo oferece movimento e
contato que corresponde a sentimentos profundos e reações espontâneas, que freqüentemente
são enterradas na idade adulta. Se o cliente segue estes impulsos espontâneos para mover-
se, eles podem dirigi-lo a bloqueios e fixações de fontes de energia vital esquecidas.
Mecanismos de proteção físicos e psicológicos levam à supressão, o que significa que emoções
assustadoras e insuportáveis são empurradas para fora do alcance do consciente.
São necessários energia e força muscular para manter essa supressão, e pode levar a problemas
físicos crônicos (tensão, problemas respiratórios, etc). O potencial saudável está disponível
sob as camadas de proteção, mas, com freqüência, a pessoa não tem acesso a isso.
Tais memórias suprimidas podem ser reativadas por conexão, por exemplo, através do toque,
movimento, respiração, consciência aumentada, e então podem ser integradas, de uma
maneira saudável, à personalidade. Para mudar estas camadas protetoras permanentemente,
é necessário descobrir e renovar a conexão com as emoções que as causaram originalmente.
Sabe-se que o êxito de uma terapia não depende, em primeiro lugar, da metodologia. Depende
principalmente das mensagens de relacionamento do terapeuta e a seu respeito, amor e
aceitação, juntamente a uma confrontação corajosa. Melhor que qualquer terapeuta, o cavalo
pode fornecer essas qualidades:
Os Cavalos de Terapia
Um cavalo de terapia, trabalhando com psicoterapia, precisa ter características e habilidades
especiais. Naturalmente, ele precisa ser confiável e estável. Deve ser interessado nas pessoas
sem ter medo ou ser submisso. Em vez de obediência cega, nós procuramos um cavalo com
individualidade, receptividade, auto-estima e sensibilidade. O cavalo de terapia não só deve
reagir a sinais aprendidos. Em vez de apenas funcionar, agir, ele deve cooperar. Deve ajustar-
se individualmente e independentemente a cada novo contato.
Para ser capaz de lidar com esta tarefa difícil, ele precisa confiar plenamente em seu dono
(no caso ideal, este seria o terapeuta).
Por esta razão, eu prefiro trabalhar com cavalos inteligentes e bastante dominantes. O cavalo
de terapia precisa saber seus limites, mas pode expressar-se dentro destes limites livremente.
Por exemplo, um bom cavalo de terapia não obedecerá aos comandos para andar, se o
cavaleiro realmente não decidiu andar, mesmo que as ajudas possam ter sido aplicadas
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corretamente. Somente se o cavalo ajuda a confrontar o cliente com seus impulsos invisíveis,
pode a dinâmica inconsciente tornar-se ‘o tópico’ no processo terapêutico.
O Terapeuta
A psicoterapia com o cavalo exige muito da pessoa do terapeuta. Seu treinamento
psicoterápico básico deve incluir a psicoterapia orientada ao corpo ou deve ter extensa
educação ou experiências na área de psicoterapia orientada ao corpo. Ele precisa ser capaz
de reconhecer e de interpretar posturas corporais e padrões de movimento e desenvolver
intervenções que iniciam, apoiam e concluem o processo psicodinâmico no nível físico.
Ele precisa ter segurança no treinamento e manipulação de cavalos. Ele deve ser capaz de
entender o comportamento do cavalo, de traduzir/interpretar a linguagem do cavalo. Deve
conhecer bem os cavalos com os quais trabalha. Num caso ideal, esses cavalos pertenceriam
a ele. A vantagem de trabalhar com cavalos próprios é que o terapeuta conhece seus cavalos
tão bem, que pode reconhecer os sinais muito pequenos e reações e os pode comparar a
esses em outras situações.
Os cavalos são mais bem motivados se têm um relacionamento bom com o terapeuta. São
basicamente co-trabalhadores e sabem exatamente onde são necessários. Se o relacionamento
entre o terapeuta e os cavalos está numa base boa, os cavalos trabalham mais independen-
temente, e o terapeuta tem mais liberdade para prestar assistência às necessidades do cliente.
É importante que o terapeuta saiba não só como cavalgar, mas também esteja familiarizado
com o processo de autoconsciência, para o qual ele acompanha o cliente. No relacionamento
com o cavalo, ele precisa ser capaz de ter autoridade suficiente para que então o cavalo se
sinta seguro em todas vezes e atos, respectivamente. A segurança durante a psicoterapia
com o cavalo depende, principalmente, da confiança entre o cavalo e o terapeuta.
Ele é desafiado a constantemente refletir suas próprias partes e diferenciar entre transferência,
identificação e realidade, enquanto, ao mesmo tempo, precisa exigir e permitir respeito mútuo
entre cavalo e cliente.
A prática da psicoterapia com o cavalo mostra que diferentes estilos de terapias são muito
pessoais, individuais e diferentes. A terapia é formada pela escolha do método, tal como
pela escolha do cavalo e ambiente. Não é possível falar da psicoterapia com o cavalo.
A psicoterapia com o cavalo é uma nova e jovem intervenção terapêutica, uma direção para
a qual nós certamente podemos olhar muito no futuro. Devido à constelação especial, é
possível um eficaz e profundo trabalho emocional. A presença do cavalo não nos permite
pensar em termos patológicos, mas nos lembra, a cada momento, dos sempre-correntes
rios da vida. 29
MODELO INTEGRATIVO SUPRAPARADIGMÁTICO: O PONTO DE
CONVERGÊNCIA DA PSICOLOGIA NA EQUOTERAPIA
INTRODUÇÃO
Sob esta perspectiva será importante lembrar nosso ator principal, “O Cavalo”, o qual é
definido na faculdade da medicina de Bobigny, pela psicóloga Claire Mauchard, como “meio,
par, mediador, estrutura maternal, função emocional e fonte de ilusões.” Tantas descrições,
um número infinito de investigações, trabalhos e resultados nos quais a população beneficiada
pela equoterapia é múltipla: o mundo da doença mental e das inconveniências psicológicas,
dos desajustes sociais e das deficiências físicas.
Consistente com o anterior e tendo presente que muitas das técnicas e métodos aplicados na
terapia corriam em direta relação com as características diagnosticadas, psicopatologia e
tipo de deficiência apresentada pelo paciente, seria impossível realizar uma terapia baseada
num único modelo ou paradigma, motivo pelo qual será importante resgatar o paciente e o
posicionar como único objetivo na terapia de uma perspectiva biopsicosocial, baseada no
Modelo Integrativo Supraparadigmático (MIS) na Psicologia.
DESENVOLVIMENTO
Um paradigma refere-se a uma junção de pressupostos gerais que dão forma à metodologia
empregada na investigação, à concepção da natureza da teoria que será usada e aos tipos
de problemas dignos de estudo. Um paradigma compartilhado ou integrado não só facilita
a comunicação, mas também oferece ordem através de um histórico etiológico que dará
linhas para trabalhos futuros e investigações na equoterapia, implicará uma atitude aberta,
um método, uma epistemiologia clara e uma estrutura ampla. Um modelo integrativo permite
incluir qualquer conhecimento valioso como é a equoterapia e deve prever um critério básico
para selecionar e entregar uma estrutura geral para a sua contextualização.
Este modelo supõe que na psicoterapia alguns tipos de conhecimento são melhores que outros
e que a tarefa do clínico é descobrir que ação será moldada da melhor forma em determinada
situação. No caso da equoterapia, a metodologia correta dependerá do tipo de paciente com
que trabalhamos, por exemplo, um bom procedimento para trabalhar as condutas nos
pacientes em equoterapia pode ser um mau procedimento para trabalhar as emoções.
1 - O P aradigma Biológico
Paradigma
Diz das características genéticas e neurofisiológicas que podem influenciar a gênesis das
emoções, cognições e condutas, sob este paradigma que nós podemos reconhecer e avaliar
nas entrevistas anamnésicas anteriores, como organicidade, o uso de medicamentos no
paciente, condições médicas, em síntese o eixo/axis III do DSM-IV.
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Na equoterapia nós seríamos capazes de tomar isso como base para entender o trabalho
com os pacientes com síndrome de Down, entre outras.
Diz que a característica que você especifica do ambiente pode influenciar a gênese de
cognições, emoções e condutas; sob esta perspectiva, nós podemos incluir o condicionamento
clássico e o operacional aplicado à equoterapia, sobretudo em pacientes com déficit de atenção
hipercrítico. Neste paradigma, nós podemos avaliar os reforços a empregar na equoterapia,
as expectativas de auto-eficácia, a tensão etc.
3 - O P aradigma emocional
Paradigma
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Implica que eventos emocionais e suas estruturas podem influenciar a gênese de cognições,
emoções e comportamentos. As emoções podem inferir no processo do pensar, podem
influenciar a concentração e a atenção. Na equoterapia podemos avaliar, sob este paradigma,
a ansiedade em nossos pacientes, motivação, agressividade, tolerância à frustração, etc.
• decidir trabalhar com alguma figura significativa de apego: por exemplo no cavalgar
baseando-se na terapia de contenção;
• avaliar no caso da criança com inconveniências de desenvolvimento (autismo) o
critério diagnóstico significante para se tomar, sendo o emocional para trabalhar
com máximo contato direto com o cavalo, baseado no princípio do calor corporal
(39º no cavalo) como base para o desenvolvimento da emoção (Teoria de Harlow);
• ideal para o trabalho com crianças em situação de abandono ou risco social.
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4 - O Paradigma Inconsciente
Atividades nas quais o paciente não percebe que opera fora da “consciência”, que podem
influenciar na gênese dos sentimentos, pensamentos e emoções. Sob este paradigma nos
será possível avaliar pacientes em equoterapia com mecanismos de defesa, e claramente a
linguagem não-verbal, sobretudo quando em contato com o cavalo.
5 - O paradigma sistêmico
Um sistema implica uma totalidade e esta, por si só, pode ser entendida como uma função
do sistema total, as partes interagem de forma recíproca. Na equoterapia, podemos observar
o sistema “interdisciplinário de equipe”, em que cada membro apresentará papéis e
permeabilidade limitada. Neste paradigma, a homeostasis será a tendência ao equilíbrio do
sistema.
• as influências das relações paternais subsidiárias, os estilos dos pais e como podem
afetar positiva ou negativamente o desenvolvimento da terapia, por exemplo: pais
muito apreensivos que limitam o desenvolvimento do processo ou, no outro extremo,
pais ausentes.
• avaliar a razão dos possíveis temores a apresentar para o paciente: sejam estes quanto
ao cavalo, à altura do animal ou à separação da figura significativa;
• avaliar se é recomendável, ou não, o trabalho com irmãos, sendo estes integrados ao
desenvolvimento das sessões.
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• avaliação quanto à aplicação de testes de inteligência, antes e depois do processo
terapêutico.
O EU:
O modelo integrativo pressupõe que os seis paradigmas vistos anteriormente estão conectados,
coordenados e integrados ao IF SAME (próprio eu) da pessoa, sendo este o ponto de encontro
da Psicologia aplicada à equoterapia. As funções fundamentais serão identidade, experiências
significativas, controle e noção de vida.
CONCLUSÕES
Isso permite concordar com uma PERCEPÇÃO DE 360 GRAUS da dinâmica psicológica e
resgatar cada força aportativa de mudança, qualquer que seja sua origem.
Isso permite contribuir para apresentar as questões adequadas, para orientar a investigação,
organizar os dados, usar uma linguagem comum e promover a psicoterapia.
Esse modelo consegue INTEGRAR-SE como uma forma de ganhar profundidade na teoria e
poder nas forças de mudança.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Finalmente e de acordo com o que foi previamente exposto, nós podemos contribuir com
uma nova definição da equoterapia (equinoterapia, em espanhol) graças à psicologia:
REFERÊNCIAS
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photocopied for the practical classes of the Professorship Psicodiagnóstic University of the
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URRA F. (2003) The equinoterapia applied children you kill of child abuse and social depravation,
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Budapeste -Hungria.
URRA F. (2004) The horse in the perspective existential Humanist as tool for the Human
rehabilitation; palestra apresentada no I Congresso Latino Americano de Equoterapia, (ANDE-
BRASIL) Salvador, Bahia, Brasil.
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O PROFISSIONAL DE PSICOLOGIA NA EQUOTERAPIA:
ATIVIDADES, TÉCNICAS E DIFICULDADES
APRESENTAÇÃO
O primeiro contato com a equoterapia ocorreu durante minha graduação em 2000. Não
sabia que poderia algum dia conciliar duas áreas distintas e de grande paixão, para mim, a
psicologia e a equitação, em um método terapêutico que trabalha com pessoas deficientes
com auxílio de cavalos. O interesse em pesquisar sobre a equoterapia teve início no ano de
2001. Nessa época, atuava como voluntária de um centro de equoterapia na cidade de São
Paulo - Brasil, e o contato com a prática levou a alguns questionamentos quanto às
metodologias adotadas: Como é a prática do psicólogo em outros centros de equoterapia?
Será que as técnicas utilizadas são as mesmas praticadas por outros centros de equoterapia?
Existem técnicas que desconheço e que possuem resultados positivos e satisfatórios? Como
posso contribuir para o desenvolvimento da área da psicologia na equoterapia? As reflexões
quanto à prática do psicólogo dentro da equipe de equoterapia permitiram a busca de maior
conhecimento por meio de cursos, leituras, discussões com os profissionais da equipe e com
outros das áreas da saúde, educação e equitação. Esses contatos despertaram minha
curiosidade e interesse em conhecer a prática do psicólogo nos diversos centros localizados
próximos da minha área de atuação.
OBJETIVO
This work has had as its objective, to characterize the actuation of Psychology professionals
who work in Equine Therapy centers in the city of São Paulo. The specific objectives have
been: identifying and describing the techniques applied to the patient´s treatment in Equine
Therapy; learning difficulties and obstacles faced by the professional in his/her daily practice.
This study has the following survey question: how does the psychologist develop and direct
his/her techniques towards the patient with disability and/or special necessities in Equine
Therapy?
METODOLOGIA
Os dados da pesquisa foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada com seis
psicólogos, que trabalham em centros de equoterapia da cidade de São Paulo. Foram
entrevistados quatros psicólogos que atuam nos centros de equoterapia registrados pela Ande-
Brasil (Associação Nacional de Desenvolvimento da Equoterapia - Brasília - Brasil) e dois
psicólogos que atuam em centros de equoterapia não cadastrados, mas reconhecidos
regionalmente.Utilizou-se um roteiro não-estruturado por meio do qual o entrevistado foi
RESULTADOS
Pode-se perceber que o psicólogo, na equoterapia, inicia sua atuação com a avaliação
psicológica dos seus praticantes, por meio de anamnese com os pais ou praticantes, observação
lúdica e realização de testes psicológicos, dependendo do comprometimento e da idade de
cada indivíduo. Os psicólogos entrevistados atuam na equitação terapêutica, conforme os
conteúdos afetivos aflorados pelo praticante, ou projetados no cavalo, e sinalizam os principais
37
aspectos a serem trabalhados no indivíduo, de forma verbal ou por meio de atividades lúdicas,
de acordo com o referencial teórico, com a idade, com o comprometimento e com o objetivo
de cada praticante. Quanto aos cursos de formação em equoterapia e à própria demanda de
praticantes em centros de equoterapia, eles são pouco voltados para os aspectos emocionais.
Muitos centros de equoterapia, como aqueles em que os psicólogos entrevistados atuam, são
voltados às deficiências físicas, priorizando, dessa forma, o comprometimento físico, a
habilitação ou reabilitação motora dos praticantes. Além disso, a realidade socioeconômica
de cada centro de equoterapia é um fator a ser considerado, pois, dependendo da
característica da instituição (filantrópica ou particular), poderá haver comprometimento na
qualidade do atendimento, já que grande quantidade de praticantes são atendidos em um
curto período de tempo.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
____. Conceituando deficiência. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 34, n. 1, fev. 2000,
p. 97-103.
_____. Centros Filiados, Cadastrados ou Relacionados. Brasília, 2004. Disponível em: <http://
38 www.equoterapia.org.br/centros.html>. Acesso em 29 jan. 2005.
BARBA, B.E. The positive influence of animals: animal-assisted therapy in acute care. Clinical
Nurse Specialist, v. 9, n. 4, p. 199-202, USA, 1995.
BARDIM, L. Análise de conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Edições 70.
Universitaires de France, 1977.
BECK, A.M. & KATCHER, A.H. Between pets and people: the importance of animal
companionship. New York: Puam Brooks, Inc, 1983.
BECKER, M. [1954]. O poder curativo dos bichos: como aproveitar a incrível capacidade dos
bichos de manter as pessoas felizes e saudáveis. Trad. A. B. Pinheiro de Lemos. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2003, 322 p.
FERRARI, J.P.; MORETE, M. C. Reações dos pais diante do diagnóstico de paralisia cerebral
em crianças com até quatro anos. V Encontro de Iniciação Científica e VIII Mostra de Pós-
Graduação: A Iniciação Científica no Contexto Brasileiro: contribuições da pesquisa no
desenvolvimento científico nacional. Universidade Presbiteriana Mackenzie, Set, 2004, p. 49.
KLINGER, K. Pesquisas mostram benefícios do convívio com animais. Jornal Folha de São
Paulo. 26, ago, 2004. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/folha/equilíbrio/noticias/
ult263u3714shtml>Acesso em: 21 fev. 2005.
40
CAVALO E PSICOLOGIA - A BUSCA PELA MELHOR QUALIDADE
DE VIDA EM NEUROSES E PSICOSES
RESUMO
As questões são: com o cavalo ou a cavalo? Em grupo ou sozinho? Como definir para “aquela”
pessoa a atividade eqüestre adequada?
As respostas estão contidas no estudo das diversas afecções da área psicológica. Como
funcionam e que estruturas físicas e/ou emocionais e sociais estão lesadas nas diversas
patologias vão indicar a abordagem correta dentro da equoterapia. Conhecer e reconhecer
as necessidades individuais do sujeito se torna primordial na correta programação terapêutica.
O aspecto do autocontrole, auto-estima, vivência de falhas e frustrações, lidar com o medo e
ansiedade, aprender a negociar a integração social são apenas algumas das muitas facetas
abordadas dentro da equoterapia. A semelhança de comportamentos etológicos de cavalo e
ser humano pode ser utilizada para o tão necessário autoconhecimento imprescindível para
o reconhecimento das próprias necessidades e gestão das mesmas. A faculdade de análise,
monitoramento de ações, antevisão de atitudes e planejamento são aspectos necessários
para um aprendizado efetivo de vida.
A utilização adequada dos recursos oferecidos pelo cavalo levarão a alterações internas
construídas passo a passo durante e após a sessão levando à busca da cura. A sessão
verdadeiramente se inicia com o propósito em comparecer ao local: sair do mundo externo
e entrar no mundo quente e vivo do cavalo e , após a sessão, ter que vivenciar a despedida
representando a perda do conquistado , muitas vezes é uma perspectiva nada agradável.
Durante a terapia vivencia-se o reconhecimento das respostas, e a oportunidade de transpo-
las para o dia-a-dia constitui o resultado esperado.
A equitação terapêutica assume, no tratamento da pessoa (no sentido mais amplo) com
A psiquiatria, sendo o estudo das terapias das emoçõs e sentimentos, é um campo da medicina
mas apresenta pontos de contato com a psicologia, psicoterapia, pedagogia e filosofia. Neste
sentido, podemos considerar que as doenças psiquiátricas abrangem um campo muito vasto
e que devem ser abordadas de forma particular e individualizada. Visto por este angulo, o
atendimento do paciente psiquiátrico situa-se num campo entre a medicina, a psicologia, a
pedagogia e o esporte, com abordagens, alternadamente, assumindo importância, de acordo
com as fases de externação patológica. 41
Inicia-se, originalmente, a abordagem pela psicoanálise buscando as direções iniciais de
tratamento, sem a abordagem simultânea da psicoterapia. Atualmente este enfoque mudou
e busca-se a multiplicidade das abordagens terapêuticas. É neste enfoque que a equitação
terapêutica assume seu papel mediador, ligando medicina, psicologia, pedagogia e esporte.
Especificamente, na abordagem da doença mental, podemos visualizar sua importância
diagnóstica, analítica, psicodinâmica e de aprendizado com uma orientação processual
individualizada.
O relacionamento com o outro traz a sensação de perigo pelo medo de “reviver” experiências
traumáticas e estressantes e que poderiam desencadear o surto neurótico ou psicótico.
CLASSIFICAÇÃO SINTOMÁTICA
A utilização do cavalo se torna útil neste ponto. Ele é nitidamente diferente das pessoas de
relacionamentos anteriores ou atuais. Ele permite a experiência do relacionamento sem o
medo do reencontro de experiências relacionais traumáticas, sejam elas de repulsa ou de
dependência, afasta o medo da rejeição e da incompreensão. Agora o paciente pode se
relacionar através do seu verdadeiro EU, sentindo algo como “harmonia”, sem necesitar do
Neste relacionameno o cavalgar não está necessariamente em primeiro plano, mas sim o
relacionamento com o cavalo. É uma oportunidade de, na lida com o cavalo, para o
esquizofrênico ou adolescente ou criança com grave distúrbio de comportamento, ter uma
chance de se relacionar de modo lógico e feliz com a realidade. O paciente com “EGO”
muito frágil e enfraquecido (psicoses, depressaõ, autismo, etc.) terá uma abordagem de
fortalecimento de sua auto-estima, o que o ajuda a não tentar se refugiar na regressão e na
negação da realidade.
Como atividade para esta população patológica, pode-se, por exemplo, trabalhar com o
tratar, conduzir, cavalgar... resumindo: lidar com o cavalo, o que “obriga” a se comunicar
com o outro para poder trabalhar com ele (cavalo).
43
O paciente neurótico, ao contrário, sofre por submeter seus desejos, necessidades e anseios a
um rígido “super-ego’ que exige a perfeição inalcansável. Aqui podemos relacionar patologias
como fobias, depressões neuróticas, doenças psicossomáticas, dependências. O cavalo assume,
neste caso, a figura de projeção das necessidades, angústias e desejos reprimidos. É a chance
de trazer para o consciente perguntas e oferecer respostas.
Conhecendo o mecanismo que rege as patologias que levam ao surto neurótico ou psicótico
podemos visualizar, com mais clareza, como organizar uma programação no âmbito da
equitação terapêutica.
EVOLUÇÃO DO MEDO
MEDO BIOLÓGICO
MEDO PSICOLÓGICO
MEDO CONDICIONADO
ANSIEDADE
FOBIA
PRIVAÇÃO DE AMOR
Necessidade ou procura de amor
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
UTILIZAÇÃO DO CAVALO
Individual ou em grupo? É uma questão que será definida pelo padrão do diagnóstico. Por
exemplo, o atendimento individual na debilidade psicomotora, inicialmete, é importante,
pois o indivíduo apresenta uma melhor resposta não sendo colocado em confronto com o
grupo. Apesar do atendimento individual, na verdade, o paciente já se confronta e tem que
Por outro lado, ao lidar com o indivíduo com inibição psicomotora, o atendimento em grupo
favorece melhor resposta, pois ele se supera quando colocado em situações de confronto.
O terapeuta
Quando falamos de conhecimento de cavalo, não nos referimos meramente a saber cavalgar,
mas a conhecer “cavalo” no mais amplo sentido da palavra. É o nosso instrumento de trabalho
e deve ser reconhecido como um co-terapeuta, portanto, necessita de um conhecimento
mais profundo sobre suas origens, modo de vida, simbologias, abordagens e manuseio..
REFERÊNCIAS
ICH TRÄUMTE VON EINEM WEISEN SCHIMMEL, DER MIR DEN WEG ZEIGTE
Scheidhacker, Michaela, Wolfram Bender, BKH Haar, München – GE 2004
46
A INFLUÊNCIA DA POSTURA SOBRE O CAVALO E A VELOCIDADE
DO PASSO NA ATIVAÇÃO DOS MÚSCULOS ERETORES
LOMBARES ATRAVÉS DA ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFÍCIE
RESUMO
Introdução: Uma vez montado no cavalo, o indivíduo está exposto aos movimentos deste,
recebendo estímulos neuromotores, transmitidos pelo dorso do cavalo, estando este mantendo
a andadura ao passo. Estes estímulos requerem ajustes musculares do tronco do homem,
tendo como objetivo o controle da atividade muscular e manutenção do alinhamento postural
mais adequado para cada paciente na postura terapêutica montado sobre o cavalo. A
variabilidade de exercícios terapêuticos que os fisioterapeutas utilizam durante uma sessão
de hippoterapia inclui não só mudanças posturais, como também variação de velocidade do
passo do cavalo, com passo lento ou rápido. Eletromiografia de superfície é uma técnica de
mensuração que quantifica, através de valores quantitativos, a ativação muscular.
Objetivo: O objetivo deste estudo foi verificar a influência da variação de postura montada e
velocidade do passo do cavalo, no recrutamento dos músculos eretores lombares, através de
eletromiografia de superfície.
Método: Foram selecionados 9 sujeitos, com idades de 20 a 25 anos, sexo feminino, sem
alterações neurológicas. Para coleta dos dados utilizaram-se eletromiógrafo de quatro canais
da marca Miotec® e software Myography®, eletrodos de cloreto de prata da marca, espaçados
com 2,5 cm., no ponto motor dos músculos eretores lombares, posicionados de acordo com
INTRODUÇÃO
Assim, segundo Medeiros e Dias (2002), o ato motor baseia-se em duas atividades: a de
sentir e perceber, e a de realizar movimentos. Estimulando os três sistemas sensoriais (sistema
vestibular, sistema visual e sistema proprioceptivo), a equitação terapêutica facilitará o
aprendizado motor, levando a mudanças na organização e número das conexões neurais,
chamado de plasticidade neuronal.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Quando sobre o cavalo, o indivíduo está exposto a estas oscilações de maneira bem peculiar.
Partido do animal parado, e iniciando o seu deslocamento pela pata posterior direita, o
membro seguinte a se deslocar será a pata anterior esquerda. Desta maneira, a pelve do
cavaleiro recebe estes movimentos, desencadeando o processo de recrutamento muscular e
ajuste tônico para evitar a queda.
Nos casos de lesões neurológicas, onde estas reações estarão comprometidas, o cavalo beneficia
o aprendizado motor através da repetição dos movimentos oscilatórios da pelve e tronco.
O animal que apresentar um número maior de passadas por minuto (antepistar) irá ativar
os receptores proprioceptivos intrafusais, que só respondem a estímulos rápidos, como
também os receptores articulares que respondem à pressão, gerando aumento do tônus,
indicado para pacientes hipotônicos.
49
Freqüência do cavalo transpistar
(Medeiros, Dias, 2002)
Para melhor análise das atividades musculares realizadas durante estas terapias, observamos
inicialmente indivíduos sem alterações neurológicas, analisando assim apenas variações de
recrutamento muscular, sem possíveis interferências de espasmos musculares ou desvios
posturais.
MÉTODO
Sujeitos
Participaram deste estudo 9 sujeitos, com idades entre 20 a 25 anos, sexo feminino, sem
alterações motoras. O critério de inclusão no estudo foi apresentar bom estado geral, sem
dores ou alterações posturais.
A montaria foi realizada em uma égua de 13 anos, sem raça definida. O espaço utilizado foi
um picadeiro de 20 X 60 metros, solo de areia.
Material
Para análise quantitativa dos resultados, foram utilizados aparelho de eletromiografia de
superfície da marca MIOTEC® e software Myography® com 4 canais.
Para a montaria, foi utilizada manta de atendimento, tipo “galope”, sem alças ou estribos.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Procedimento
A coleta era iniciada com a colocação de eletrodos circulares pré-geldados de cloreto de
prata Medtrace®, espaçados 2.5cm entre eles, sendo posicionados no ponto motor dos músculos
eretores lombares, de acordo com a técnica sugerida por Cram et al. (1998). Os sujeitos
foram observados primeiramente no solo, para então montarem no cavalo.
Todas as posturas foram coletadas no mesmo dia, sendo que a ordem da coleta foi,
respectivamente: com o cavalo ao passo, no qual o sujeito se encontrava montado com o
corpo direcionado para a frente, sempre tendo como referência a cabeça do cavalo, e de
costas à cabeça do cavalo – dorsal. Com o cavalo ao passo rápido foram coletadas as mesmas
posturas, num percurso linear de 20 metros.
Durante este período os sujeitos se mantiveram por todo o tempo se sustentando sozinhos,
sem auxílio de qualquer terapeuta, porém ao lado havia dois terapeutas, para a segurança
do paciente, e um condutor para o cavalo.
50
Para coleta dos dados, foi utilizado notebook conectado ao aparelho eletromiográfico, sobre
um suporte estável, porém móvel, que se manteve acompanhando lateralmente o cavalo
durante as coletas.
Para análise dos dados foi considerada a média do recrutamento muscular em cada tarefa.
O estudo foi baseado na análise dos dados obtidos do resultado da eletromiografia. A análise
estatística utilizada foi o Teste de Wilcoxon, que possui nível de significância de 0,05 (5%).
RESULTADOS
Média Pico
Frontal Frontal Frontal Frontal
Lento Rápido Lento Rápido
Média 30,00 38,00 57,11 67,44
Mediana 25,5 28,5 47 65,5
Desvio Padrão 21,40 24,70 39,20 31,12
Limite Inferior 20,11 26,59 39,00 53,07
Limite Superior 39,89 49,41 75,22 81,82
p-valor 0,009 0,107
Para a posição de dorsal, concluímos que existe diferença significante entre as velocidades,
tanto para a média quanto para o pico. Averiguamos ainda que em ambas as situações a
maior média se encontra sempre na velocidade rápida.
51
Continuando, vamos comparar a posição frontal versus dorsal para o passo rápido:
Média Pico
Frontal Frontal Frontal Frontal
Rápido Rápido Rápido Rápido
Média 38,00 77,22 67,44 142,44
Mediana 28,5 56 65,5 85,5
Desvio Padrão 24,70 61,31 31,12 120,77
Limite Inferior 26,59 48,90 53,07 86,65
Limite Superior 49,41 105,54 81,82 198,24
p-valor 0,002 0,006
Averiguamos que, também para o movimento rápido, existe diferença entre as posições que
são consideradas estatisticamente significantes, tanto em média quanto em pico. Verificamos
ainda que a média da posição dorsal é sempre a maior que a média da posição frontal.
DISCUSSÃO
O presente estudo foi realizado apenas em indivíduos sem comprometimento motor, com o
intuito de excluir possíveis interferências de tônus ou alterações de equilíbrio. A análise
comparativa foi realizada através de testes estatísticos individuais, ou seja, a variação do
recrutamento muscular foi vista de acordo com os dados do indivíduo com ele mesmo, para
então serem pareados com os demais.
Vimos neste estudo que o recrutamento muscular variou significativamente nas mudanças
da velocidade do passo do cavalo, o que na prática significa que, mesmo sem alterar a postura
sentada no cavalo, podemos recrutar de diferentes formas e intensidades a musculatura do
tronco, variando assim a intensidade do trabalho postural, sem precisar deslocar o paciente
sobre o cavalo.
Com isto, sugerem-se futuros estudos aplicados a patologias diversas, traçando assim a
conduta terapêutica mais adequada para cada patologia tratada.
REFERÊNCIAS
HEIPERTZ W. “Therapeutic Riding: Medicine, Education, and Sports” Otawa, Canada: Greenbelt
Riding Association, 1977
MEDEIROS, M. DIAS, E. “Equoterapia Bases & Fundamentos” Rio de Janeiro: Revinter, 2002
RIEDE D. “Physiotherapy on the Horse” Riderwood, MD: Therapeutic Riding Services, 1988
STRAUSS I. “Hippotherapy: Neurophysiological Therapy on the horse” Ontario: Ontario XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Therapeutic Riding association, 1995
53
COLETE DE SEGURANÇA NO TRATAMENTO
COM EQUOTERAPIA
RESUMO
Design é resultado de estudos e pesquisas que abrangem não somente estética, mas também
aspectos funcionais e psicológicos que envolvem técnicas construtivas, materiais, ergonomia
e metodologias projetuais. Nessa linha de pensamento, alguns autores, como Baxter e Löbach,
abordam o tema de maneira sistemática, caracterizando a importância para a atividade
profissional do designer.
A metodologia de pesquisa foi realizada por meio da análise ergonômica, em que é avaliada
a demanda, tarefa e atividade, como etapas para a apresentação do diagnóstico e o
desenvolvimento do projeto de um novo equipamento. Como resultado da metodologia
desenvolvida, foi criado o novo equipamento que, além de proporcionar segurança, permite
a liberdade de movimentos dos usuários e auxilia no trabalho dos profissionais. Em relação
a esses profissionais, atende-se a uma demanda inicialmente identificada como fadiga
muscular, decorrente de posturas inadequadas durante o acompanhamento na equoterapia.
Na avaliação de uso do equipamento, verificou-se que ele atende às necessidades para o
qual foi projetado.
INTRODUÇÃO
A pesquisa faz parte das atividades das disciplinas projetuais do Curso de Design do
54 Centro Universitário Franciscano (Unifra), teve seu desenvolvimento acompanhado por
profissionais do Curso de Fisioterapia e da Escola de Equitação da Universidade Federal de
Santa Maria – UFSM/RS. Inicialmente foram indicados os problemas que mais se
evidenciaram nos procedimentos terapêuticos adotados.
Na realização dos exercícios, mesmo com todos os cuidados com a segurança, os acidentes
ocorrem. Assim, o objetivo da pesquisa é o desenvolvimento de um novo equipamento que
forneça segurança (principalmente para evitar quedas) aos usuários em tratamento.
Especificamente, este equipamento vem em auxílio da mobilidade do paciente e das ações
dos profissionais envolvidos nas sessões.
O público-alvo da pesquisa possui idade que varia de 3 a 11 anos. Pois é a partir do 3 anos de
idade que se pode iniciar o tratamento, até os 11 anos, quando a criança já começa ter
autonomia para se equilibrar sobre o cavalo com segurança.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
No Brasil, a partir dos anos 80, quando foi criada a Ande – Brasil (Associação Nacional de
Equoterapia), esse tratamento tomou maior impulso, mas somente nos últimos 6 anos se
pôde notar o verdadeiro crescimento dessa terapia, haja vista o número crescente de centros
de equoterapia em todo o território nacional. 55
A equoterapia foi reconhecida como método terapêutico, em 1997, pelo Conselho Federal
de Medicina. O Curso básico de Equoterapia da Ande – Brasil aponta, entre muitos,
alguns benefícios dessa terapia.
De acordo com Lermontov, (2004), a equoterapia é uma terapia que utiliza o cavalo como
ferramenta de trabalho para estimular o desenvolvimento motor, emocional e social de
pessoas especiais. Esses aspectos são trabalhados na busca da melhoria da qualidade de
vida de seus praticantes.
RESULTADOS E DISCUSSÕES.
Os materiais utilizados na construção do colete são lona, fibra sintética, tactel, cadarços e
velcro. Os testes estão sendo avaliados com o uso em criança que se adapte ao tamanho em
que foi confeccionado.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
06. Postura do usuário com o colete 07. Sistema de fixação e alças de segurança.
CONCLUSÃO
Há uma ampla aceitação da proposta quanto à sua condição de uso e manejo, tanto por
parte dos profissionais quanto dos usuários da equoterapia.
REFERÊNCIAS
RESUMO
Utilizar o cavalo como principal instrumento para promover ganhos nas habilidades
cognitivas de crianças com distúrbios de aprendizagem foi o aspecto norteador deste trabalho.
INTRODUÇÃO
No decorrer da prática como profissional atuante em equoterapia e na criação do Paeda,
diversos questionamentos surgiram em torno do papel do fonoaudiólogo nessa prática
terapêutica. Através de experimentos durante cinco anos de trabalho utilizando materiais
pedagógicos de apoio, ou utilizando somente o cavalo e materiais do contexto eqüestre, foi
possível a comparação de resultados e identificação pessoal de um modo de trabalho
considerado, pela autora, mais efetivo e condizente com a proposta de equoterapia.
O fonoaudiólogo pode ter vários campos de atuação, como clínicas, empresas, consultórios,
hospitais, asilos, entre outros; e atualmente é um profissional que está cada vez mais atuante
na equipe interdisciplinar da equoterapia. Refletir sobre esse papel do fonoaudiólogo na
equoterapia é também um objetivo do presente trabalho.
* Fonoaudióloga e psicodramatista, profissional da equoterapia atuando no Instituto Passo a Passo-Itatiba-SP
60
Considerando que a aprendizagem escolar é um processo complexo que envolve vários
sistemas e habilidades, e que um determinado fator não seja o único responsável pela
dificuldade para aprender, neste momento de apresentação do Paeda será dada ênfase aos
aspectos da atenção, memória e estruturação da linguagem oral.
Mesmo sabendo que a equoterapia proporciona uma estimulação global nos campos cognitivo,
afetivo, social e motor, o Paeda focou o trabalho de atenção, memória e linguagem oral,
sendo que estas características apresentam deficitárias em crianças com distúrbios de
aprendizagem.
De acordo com a definição estabelecida em 1981 pelo National Joint Comittee for Learning
Disabilities (Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem), nos Estados Unidos da
América,
Distúrbios de aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo
de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição,
fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas alterações são
intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso
central. Apesar de um distúrbio de aprendizagem poder ocorrer concomitantemente com
outras condições desfavoráveis (por exemplo, alteração sensorial, retardo mental,
distúrbio social ou emocional) ou influências ambientais (por exemplo, diferenças
culturais, instrução insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos), não é resultado direto
dessas condições ou influências. (Collares e Moysés, 1992: 32)
Observa-se que o termo distúrbio de aprendizagem muitas vezes é utilizado de modo genérico;
ressalta-se que, neste trabalho, as crianças com dificuldades escolares foram diagnosticadas
com distúrbios de aprendizagem de origem neurológica, portanto são consideradas crianças
disléxicas.
Segundo a atual definição de 2003 (Susan Brady, Hugh Catts, Emerson Dickman, Guinevere
Eden, Jack Fletcher, Jeffrey Gilger, Robin Moris, Harley Tomey and Thomas Viall, apud
OBJETIVOS
Geral
eral
Específicos
specíficos
MÉTODO
Local
ocal
A pesquisa foi realizada num instituto de equoterapia no interior do estado de São Paulo.
Este instituto é composto por uma equipe interdisciplinar com uma psicóloga, duas
fonoaudiólogas, duas fisioterapeutas, alguns médicos, dois condutores técnicos e dois
auxiliares laterais. Destaca-se que todos os profissionais, com exceção dos médicos, são
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
equitadores.
Sujeitos
ujeitos
Procedimentos
rocedimentos
Algumas estratégias utilizadas serão descritas a seguir, lembrando que tais estratégias não
foram realizadas necessariamente na ordem que estão sendo expostas.
Durante a atividade cada praticante deve falar o nome de um instrumento para que outro
colega do grupo o pegue e o utilize, e assim intercalam os papéis entre nomear e realizar a
atividade de limpeza do animal antes que ele se encilhado.
Uma variação dessa atividade é acrescentar as partes do corpo do animal, que podem ser
variadas: dorso, barriga, pescoço, chanfro, face, boleto, anca, espádua, ranilha, entre outras.
Os praticantes devem dar a seguinte ordem: use a rasqueadeira na anca, use o limpa-casco
na ranilha, e assim por diante. Quando esquecem algum nome, a terapeuta ou outro integrante
do grupo diz o primeiro fonema (unidade mínima sonora), ou a primeira sílaba, se for
necessário.
Verifica-se que esta atividade é mais complexa que a descrita anteriormente, sendo que as
crianças devem formar sentenças mais complexas e lembrar de uma quantidade maior de
nomes que, para elas, não são comuns.
Ainda segundo as autoras, todas essas atividades de linguagem podem e devem ser associadas
com outras de coordenação motora, a fim de que se tornem mais dinâmicas e interessantes
para o paciente.
Exemplo: com o cavalo à mão direita ao trote elevado, o grupo deve fazer uma volta completa
no picadeiro, realizar uma troca de mão pela diagonal em M a K, e uma meia volta reversa
em B com posterior alto em A.
De acordo com Santos e Navas (2002), a expressão oral dos pacientes com dislexia é pouco
organizada, seus relatos têm pobre construção frasal, faltando-lhes muitas vezes coerência e
coesão. Também apresentam dificuldade de memória verbal, vocabulário, nomeação e acesso
lexical ou evocação. Essas autoras sugerem que o terapeuta deve ajudar e orientar o paciente
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a organizar o mundo das palavras, das idéias e das percepções, de modo lúdico e atraente.
Na atividade descrita acima, os praticantes, após organizar o seu discurso referente ao circuito
dado, realizam a atividade de acordo com a seqüência orientada, e fazem uma reflexão
sobre o desempenho de cada um e do grupo. Essa atividade pode ser realizada a passo e
posteriormente em andaduras mais rápidas, como o trote e o galope, provocando uma
aceleração na evocação da memória para o circuito e ajustes motores.
Maria Montessori, em 1964, foi uma das primeiras técnicas a formular a hipótese de que se
pode fazer a mente crescer e se desenvolver através do uso de métodos educacionais especiais,
que usam jogos cognitivos e jogos sensório-motores relacionados.
64
2- Atividades que priorizam a atenção
Quando a mediadora da sessão diz uma palavra, o praticante deve associá-la ao ato motor
correspondente. Por exemplo: cada vez que a mediadora disser “manta”, o praticante deve
girar o braço esquerdo; quando a mediadora diz “sela”, o praticante deve girar o braço
direito; e quando a mediadora diz “estribo”, o praticante deve ficar em pé com postura de
equilíbrio. Essas palavras podem ser ditas em ordem e depois essa ordem pode ser aleatória,
dificultando o exercício.
Execução: em montaria com o cavalo a passo, os praticantes devem manter uma distância
de animal para animal, de modo que cada um esteja posicionado à frente de uma letra que
marca o picadeiro. Enquanto dois praticantes estão em postura de equilíbrio, o praticante
do meio deve encontrar-se em postura de base (sentado à sela). A medida que os praticantes
e seus cavalos chegam na próxima letra do picadeiro, as posturas devem ser modificadas, ou
seja, os praticantes que estavam em pé em postura de equilíbrio se sentam, enquanto o
praticante que estava em postura de base levanta-se para a postura de equilíbrio. Além da
atenção para o momento da transição de postura, os praticantes devem coordenar a distância
entre os cavalos para que o exercício ocorra de modo harmonioso.
Durante essas atividades a diversão é geral, pois inicialmente os praticantes podem confundir-
se na ordem do exercício. Além da realização do exercício proposto, o praticante está em
movimento, ou seja, trabalho motor constante, e tendo que manter uma distância segura
Execução: com o cavalo engatado numa guia longa para o trabalho com o “volteio”, o
mediador dá a ordem verbal para uma seqüência de movimentos. Por exemplo: com o cavalo
a passo, será realizado um “moinho”, postura de joelhos, ficar em pé e logo em seguida a
postura de base.
Variações:
b- Montados e conduzindo o cavalo a passo, os
praticantes seguem uma seqüência de figuras de
picadeiro solicitada pela mediadora. Por exemplo:
com o cavalo a passo será realizada uma volta
completa no picadeiro, com uma troca de mão pela
diagonal F a H , com um círculo em B, e um semi-
círculo em E tendo o alto em C. Logicamente, na
primeira realização desse exercício as ordens são
menores, e vão se tornando mais complexas à
medida que a memorização do exercício vai
ocorrendo.
Figura 2: Ilustração da estratégia 3b do
Paeda
Essa memória seqüencial é muito importante de ser trabalhada em crianças com quadro de
dislexia, pois, segundo Moraes (1997) essas crianças têm dificuldades para recordar
seqüências, e de lembrar séries, como por exemplo, dias da semana e os meses do ano.
66
DISCUSSÃO E RESULTADOS
Longe de ser um simplificador, o PAEDA buscou uma organização das estratégias utilizando
o cavalo como agente provedor da educação. Pôde-se observar, que em nenhum momento
das estratégias foi utilizado qualquer instrumento que não fizesse parte do contexto eqüestre.
Uma abordagem equoterápica que utiliza o Paeda deve dar ênfase não somente às funções
neuropsicomotoras, conhecidas como a lista de habilidades necessárias à aprendizagem da
leitura e da escrita, como linguagem oral, memória e atenção (descritas neste trabalho)
lateralização, discriminação visual e auditiva, coordenação viso–motora, orientação espaço
- temporal, inteligência emocional, entre outras que serão abordadas na proposta de
ampliação do Paeda. Mas também à valorização da competência lingüística, das capacidades
da criança na busca do conhecimento, das oportunidades de vivenciar situações concretas
de aprendizagem e acima de tudo utilizar o instrumento principal da equoterapia como
meio dessa aprendizagem – o cavalo.
Vallet (1974) também sugere uma abordagem terapêutica que organiza 53 capacidades de
aprendizagem em habilidades e tarefas. Coloca seis categorias principais: tarefas motoras
grosseiras, tarefas sensório-motoras, tarefas perceptivo-motoras (incluindo auditivas, visuais
e visual-motora), habilidades conceituais, sociais e de linguagem. Essas habilidades e tarefas
estão organizadas em seu programa em uma hierarquia que considera as necessidades
educacionais das crianças disléxicas.
67
CONCLUSÃO
Podemos concluir que o Paeda contribuiu para o ganho significativo das habilidades de
atenção, memória e linguagem oral dos praticantes que foram submetidos ao programa. O
Paeda propõe uma gama de estratégias dentro de uma abordagem terapêutica tão ampla
como a equoterapia, e que proporciona o trabalho de todas as habilidades
concomitantemente, vindo a contribuir para que os profissionais reflitam sobre o quanto
podemos extrair do cavalo e do ambiente eqüestre, desde que estes sejam conhecidos por
toda a equipe interdisciplinar.
Devido a esta proposta, a autora reflete sobre o papel do fonoaudiólogo dentro da equoterapia.
Segundo ela, este deve ser um profissional polivalente, que tenha o conhecimento específico
de sua área, aprofunde-se numa área de atuação dentro da fonoaudiologia, e conheça
principalmente a etologia do cavalo e a equitação para que possa utilizar a principal
ferramenta da equoterapia, que é o cavalo e o ambiente eqüestre.
Além das qualidades técnicas, o profissional da equoterapia deve ser criativo, saber trabalhar
em equipe, ter qualidades morais e humanas.
Apesar de a autora ter enfocado as habilidades necessárias para a alfabetização, alerta que
qualquer que seja o aspecto fonoaudiológico a ser trabalhado, o importante é que o profissional
não tente levar o consultório para cima do cavalo, e sim desenvolver um raciocínio clínico
dentro do contexto equoterápico. Que o fonoaudiólogo, numa constante troca com a equipe
interdisciplinar, consiga utilizar o cavalo como principal agente promotor de ganhos no
desenvolvimento, seja da linguagem oral, escrita, voz, audição ou motricidade oral.
A autora do trabalho está ampliando a gama de estratégias para trabalhar outros aspectos
que se encontram em defasagem na criança com distúrbios de aprendizagem. Sugere ainda
a continuidade da aplicação das estratégias sugeridas pelo Paeda por outros centros de
equoterapia, levantando uma amostra significativa de sujeitos para uma próxima pesquisa
e possibilitando a validação do programa e o intercâmbio das instituições.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
REFERÊNCIAS
68
PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Editora
Zahar, 1983.
SANTOS, M.T.M & NAVAS, A.L.G.P Distúrbios de Leitura e Escrita – Teoria e Prática. São
Paulo: Editora Manole, 2002.
SPACHE, G. Diagnosing and correcting reading disabilities. Boston: Allyn and Bacon, 1976a.
VALETT, R.E. Dislexia – uma abordagem neuropsicológica para a educação de crianças com graves
desordens de leitura. Trad. Martha Rosemberg. São Paulo: Editora Manole, 1989.
69
“REPARANDO” A PERSONALIDADE OU DANDO APOIOS PARA O
COTIDIANO. EPMT – EQUITAÇÃO PSICOMOTORATERAPÊUTICA
A equitação terapêutica com êxito pode ser usada dentro de modelos diferentes para objetivos
de recuperação (psicoterapêutica). PMTV é uma forma de psicoterapia psicodinâmica voltada
para o corpo, baseada em montaria de recuperação (Kröger, 1977, 1982, 1990, 1996, Kröger
et al. 1997) e PBSP uma terapia psicomotora (Sistema Pesso-Boyden de Terapia Psicomotora),
juntamente com uma metodologia baseada no entendimento de desenvolvimento físico e
psicológico humano. Além do mais, a equitação terapêutica psicomotora é um processo no
qual interação, resposta e projeção precisam ser mantidos sobre controle, i.e., parece ser útil
estruturar os elementos envolvidos e criar situações de terapia variadas e sistematicamente
definidas, em que clientes se sentem seguros para reunir experiências em cooperação com o
cavalo, quando assistidos pelo terapeuta. A base terapêutica escolhida é a do Sistema Pesso-
Boyden de Terapia Psicomotora.
As razões são as seguintes: (1) é uma forma de terapia orientada pelo desenvolvimento, (2)
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
estrutura os impulsos que os clientes experimentam durante o processo, (3) trabalha exercícios
claros e orientados, e (4) usa situações seguras e bem-definidas para este propósito. Na
“variante eqüina” de PBSP, a interação entre o cavalo e o cliente convida o último a embarcar
numa viagem de autodescoberta. Administrado pelo terapeuta, ele/ela pode encontrar
conflitos emocionais do passado mal resolvidos através das reações instantâneas emotivas e
físicas que são desencadeadas por exercícios com o cavalo e no cavalo. Os clientes são
conscientizados destas reações, às quais são dados nomes para fazê-las menos ameaçadoras,
retomadas desde suas origens e confrontadas em seu contexto histórico.
O caminho em direção à cura é feito pela definição e estruturação de sentimentos que foram
uma vez opressores e sensações corpóreas seguidas por sua digestão e transposição na vida
diária. Sob a terapia de Pesso, os participantes normalmente trabalham individualmente
Psicóloga Clínica, Equoterapeuta. HippoCampus, Institute for Equitherapy and Equine Sport Psychology. De Bult
70 2 NL 6027 RG Soerendonk The Netherlands. Telefone: 0031-495- 45 37 57. E-mail: hippocampus@iae.nl
durante sua “estrutura” dentro de um grupo, i.e. cada cliente trabalha em seu processo
individual, enquanto os outros membros do grupo, que fazem o mesmo durante seu próprio
tempo de “estrutura”, agem como acomodadores. Sob PMTV, o cavalo adota o papel do
parceiro humano (membros do grupo). No entanto, não substitui os modelos do papel
humano. Ao contrário, espera-se que guie os clientes em direção a eles. E ao fazê-lo, satisfaz
diferentes funções em todo o processo terapêutico e muda de papéis durante a fase simbólica
de digerir as experiências recém-adquiridas. Este trabalho compara abordagens pedagógicas
e corretivas na equitação terapêutica a abordagens psicoterápicas. Os modelos básicos são
discutidos e ilustrados com alguns exemplos do uso prático com adultos, crianças e jovens.
personalidade do cavalo tem um papel chave neste contexto: cavalos não serão
impressionados e enganados por “Lebenslügen”, ou mentiras da vida, e ainda estão prontos
para aceitar seus parceiros humanos como são.
experimentada simbolicamente “aqui e agora” com o cavalo na equoterapia, tal como ser
carregado por uma figura de pai ou de mãe ideal (o tipo de pai que o cliente teria gostado de
ter) e levar esta experiência ao lar, na atual situação de vida real.
A estrutura é importante
Assim como no salto [vaulting] de recuperação, uma estrutura específica, uma abordagem
às vezes cíclica é muito útil para o cliente, o terapeuta e o cavalo. Variando da primeira
realização de sinais de corpo, a sua utilização terapêutica e evolução, este processo acontece
dentro de fases individuais e definidas no modelo de PMTV, onde o cavalo satisfaz várias
funções. O que nós certamente não esperamos é uma “máquina de salto” que trabalha com
o apertar de um botão e continua andando, ritmicamente, não importando o que acontece
nas suas costas. Pelo contrário, o cavalo pode e deve reagir claramente ao que o cliente sente
e faz, como as reações do cavalo podem ser um gatilho, tanto para o cliente como para o
terapeuta. Em completa oposição ao salto [vaulting] de recuperação, na psicoterapia é esta
reação do cavalo (também enquanto “carregando” e em contato com o cliente) que fornece
significativos pontos inciais para achar o “gatilho interior” do cliente. Enquanto o salto de
74 recuperação focaliza mais em abrir possibilidades de percepção e experiência, e de ter
comportamentos corrigidos e limitados pelo cavalo, PMTV atribui muita importância maior
às funções espelho do cavalo, e.g. sentir e responder ao estado interior do cliente. O cavalo
pode parar de andar ou ganhar velocidade se sentir este impulso no cliente.
Foto 1: Conhecendo e apreciando a si mesmo (o seu próprio valor) através do valioso contato com o cavalo
Foto 4: Transformando a defesa em prazer na amorosa descoberta de suas próprias “deficiências”
Foto 6: Abrindo-se ao ritmo do outro “abre” o diálogo
Foto 7: Entrando em contato consigo mesmo e com o corpo do cavalo, abre o caminho para sensações ocultas
75
Clientes sabem o que é bom para eles
Assim como no trabalho adequado, centrado no cliente, no salto de recuperação ou na
promoção do desenvolvimento da criança com o cavalo, nós presumirmos que,
intrinsecamente, os clientes sabem muito bem o que é bom para eles. Normalmente, sabem
melhor que qualquer terapeuta com qualquer hipótese. Ao responder às necessidades dos
clientes, o cavalo ajuda o terapeuta a ser guiado por tais necessidades reais. Isto é quando o
terapeuta ocasionalmente tem que largar uma hipótese, não importando quão tentandora, e
rapidamente ajustar-se ao que a situação atual exige. Com sorte, o cavalo nos ajudará a
aprender a aceitar limites colocados pelo cliente no processo, ajudando-nos a manter o passo
com o cliente, algo que o cavalo, freqüentemente, pode fazer melhor que o terapeuta.
Freqüentemente, também ajuda uma pausa para as coisas importantes, aquelas que importam
e não teriam sido vistas na tentativa do terapeuta de manter o processo, andando e
prosseguindo depois de sua própria hipótese terapêutica.
O conceito terapêutico:
A terapia acontece dentro de uma boa “esfera de possibilidade”, conhecida da Terapia
Pesso-Boyden do Sistema Psicomotor. Tentamos alcançá-la dentro de uma estrutura, um
seguro e convidativo triângulo de relacionamento formado por cliente, cavalo e terapeuta,
onde o cavalo interage com os clientes, assim ajudando-os a embarcar numa viagem de
descoberta. Para este propósito, clientes são ajudados por um número de exercícios físicos e
intervenções dentro de um processo cíclico. Guiado pelo terapeuta, ou melhor, enquanto o
terapeuta e/ou o cavalo oferecem várias possibilidades, os clientes podem decidir por si o
que eles querem iniciar e em que modo eles querem ter acesso seu “pensamentos corporais.
Eles podem entrar em contacto com suas necessidades (e.g. necessidades anteriormente não-
realizadas, pouco realizadas, realizadas pela pessoa errada, na maneira errada) que ainda
anseiam por realização, embora sob vários “disfarces”. Conflitos emocionais, não-resolvidos
do passado, podem ser descobertos por reações emotivas e físicas repentinas, a serem definidas
dentro de seu contexto histórico, dado uma estrutura, digerida num nível simbólico baseado
na experiência no “aqui e agora” e, antes de tudo, fisicamente sentido com todos os sentidos.
O objetivo é capacitar clientes num ato simbólico a experimentar com o todo seu corpo e
alma, sua “pele, cabelo e sentidos” como é (ou teria sido no passado) ter sucesso em realizar
estas necessidades adequadamente, embora só simbolicamente. Ao passo que no trabalho
de Terapia de Pesso é feito individualmente, dentro de um grupo, com outros membros de
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Nesta forma de acrobacia terapêutica sobre o cavalo [therapeutic vaulting], os fatores anteriores
estão isolados intencionalmente, definidos individualmente e então variados, combinados e
usados nas várias fases do processo terapêutico em linha com os objetivos atuais. Assim
como no vaulting de recuperação, a estrutura da sessão terapêutica, e de todo o processo
(incluindo numerosas sessões) tem um papel importante. Em analogia a tais fases como
aquecimento, movimento de diversão, exercícios individuais e com parceiro, exercícios
escolhidos pelo cliente e o momento final, nós também usamos fases bem-definidas que o
cliente pode claramente entender. Idealmente, os ciclos graduais ajudam o cliente a passar
pelas cinco fases seguintes, do processo terapêutico. Estas fases são definidas por seus objetivos
dentro do processo terapêutico global, a função fase-específica do cavalo, o tipo de exercícios
e intervenções atualmente envolvidas e o nível terapêutico (profundidade) alcançado no
trabalho com o cliente. Naturalmente, as fases sobrepõem-se e eventualmente se tornarão
integradas dentro deste processo. É importante para o terapeuta manter em mente os objetivos
que deveriam determinar cada exercício, o papel atualmente realizado pelo cavalo e o nível
O trabalho é feito com o cavalo solto no picadeiro, o cavalo em corda e cabresto, na área de
limpeza e com a rédea longa quando saltando e também quando dirigido pelo terapeuta.
Devemos ter um cavalo com disposição cooperativa tratado pelo terapeuta (e pelo cliente)
com respeito. Não é esperado que ele obedeça, incondicionalmente, e coopere tacitamente.
Ele é recompensado, nos desculpamos ao cavalo quando necessário e tenta-se entender por
que ele, às vezes, não dá a resposta esperada. Ele socializa bem com cavalos e seres humanos,
foi treinado, no contato com o cliente, em situações normais incluindo treinamento elementar
adequado na rédea longa e sob um cavaleiro (e.g. movimentos com as costas descontraídas,
tem um impulso dianteiro flexível/sutil, mas entusiástico e passos equilibrados). Idealmente,
tolera o cliente sem manta, mas com a amarra da terapia diretamente nas suas costas e
também tolera uma insegurança do cliente. No entanto, definitivamente, responde a clientes
“perdendo seu equilíbrio” também em sentido figurativo (tal como agressão aberta ou oculta,
tristeza ou alegria) e indica, inconfundivelmente, do que gosta e com o que antipatiza.
Ocasionalmente, pode até surpreender ou ameaçar quando confrontado com agressão
escondida. A experiência mostra que os cavalos bons para terapia “por convicção” são 77
perfeitamente capazes de distinguir entre situações em que o cliente precisa ser entendido
ou tem que responder aos sinais do terapeuta. Ser capaz de lidar com seu “trabalho”, ao
cavalo tem de ser dado lazer suficiente para relaxar em pastos na companhia de outros
cavalos ou em estábulos de grupo. É usado só moderadamente na equoterapia e respeitado
como uma personalidade no seu próprio direito. Isto é por que cavalos de terapia do
HipoCampo são mantidos, treinados e tratados de acordo com as diretrizes “manutenção
do cavalo simbiótico” (BOON-THIEL 1995b).
Desde tornar-se ciente dos sinais corporais até digerir os déficits de desenvolvimento
Assim como (plenamente não “equilibradas”) crianças no salto[vaulting] de recuperação,
clientes em psicoterapia ficarão conhecendo o seu corpo e seus impulsos em situações que
são novas para eles e que ainda não carregam qualquer conotação negativa. Eles se arriscam
em território não-mapeado/desconhecido em contato com e no cavalo em movimento, alí
perdendo e recuperando o equilíbrio, que tem um papel crucial. Enquanto no salto [vaulting]
de recuperação o foco está em achar alternativaa a ação e experiência no aqui e agora,
PMTV gira ao redor da consciência de sentimentos e o desenvolvimento resultante dos
processos (que também poder virar as costas para o passado). PMTV quer ajudar clientes a
elaborar déficits históricos no aqui e agora. Nós o fazemos, ao oferecer - assim como no
salto [vaulting] de recuperação - alternativas ao que realmente aconteceu. Isto, no entanto,
é feito numa maneira simbólica que serve às situações históricas, mas ainda pode ser sentido
e experimentado.
O processo PMTV:
As fases individuais são definidas por seus objetivos dentro do processo global, a função
fase-específica do cavalo, o tipo de exercícios e intervenções usadas pelo terapeuta para
acompanhar a ação e o nível terapêutico (profundidade) alcançado pelo cliente
voluntariamente.
Aplicações práticas:
Esse conceito fornece uma larga gama de aplicações para diferentes indicações, indo de
desordens pricossomáticas e psiquiátricas crônicas sérias a grupos de autoconsciência para
cavaleiros que desejam saber mais sobre si mesmos e sobre sua relação com o cavalo, ou que
são confrontados com (ocasionalmente “inexplicável”) ansiedade ou tensões quando
praticando seu esporte, i.e. sentimentos cujas causas são mais profundas e que não podem
ser melhorados pelas técnicas de equitação. Também uso esse método com jovens
traumatizados, indivíduos que abusam de substâncias e pacientes depressivos em longos
tratamentos, mas também com clientes que se vêem presos no seu desenvolvimento familiar
ou profissional e que desejam aprender mais sobre si mesmos, para seguir em frente. Os
clientes, entretanto, devem ser capazes de elaborar símbolos e estarem prontos a investir 81
paciência e tempo nos “passos de exercícios” individuais, até que consigam administrar a
técnica. Além disso, devem estar prontos para se adaptar aos sinais de seus corpos. O exemplo
de um cliente, que me foi indicado por um terapeuta ocupacional e somente precisava de
terapia curta, mostra que – desde que você tenha um cliente “adequado” – até mesmo
poucas sessões podem ser suficientes na condução dos processos cíclicos postulados, com
suas várias fases, e são completas para finalizar o resultado e ter uma clara transferência da
experiência com o cavalo, para a vida diária sem o cavalo. Como na equitação terapêutica
ou na promoção do desenvolvimento, o cavalo não ajuda somente o cliente, mas também o
terapeuta. Eu, com certeza, não posso mais conceber a psicoterapia sem a assistência de
meus cavalos.
REFERÊNCIAS
KLÜWER, B 1994 Der Einsatz des Pferdes als Medium der Selbsterfahrung im Kontext
psychomotorischer Entwicklung und Therapie . Med.Diss.:Techn.Hochschule Achen.
KLÜWER, C. 1990. Selbsterfahrung durch das Medium Pferd. In Heilpädagogisches
Voltigieren und Reiten, ed. M. Gäng:210-226. Basel: Reinhardt.
KRÖGER, A. 1990. Heilpädagogisches Voltigieren. In Heilpädagogisches Voltigieren und
Reiten, ed. M. Gäng:97-120. Basel: Reinhardt.
KRÖGER, A. 1996. Kommunikation beim heilpädagogischen Voltigieren in Theorie und
Praxis. Therapeutisches Reiten 3/96.
KRÖGER, A. et al. 1997 Partnerschaftlich miteinander umgehen, Warendorf, FN-Verlag.
PERQUIN, L. 1995. Öfening met drie bewegings-modaliteiten. Pesso-Bulletin 11/1: 48-51.
PESSO, A. 1972. Experience in Action, A Psychomotor Psychology. New York: New York
University Press.
PESSO, A. and J. Crandell, eds. 1990. Structured exercises as therapeutic tools in Pesso
psychotherapy. Cambridge: Brooklyn Books.
PESSO, A. and Crandell J. 1991. Moving Psychotherapy: theory and applications of the
Pesso System/Psychomotor Therapy. New York: rookline Books.
83
ALTERNATIVAS PEDAGÓGICAS PARA MINIMIZAR A ANSIEDADE
E AUMENTAR A CONCENTRAÇÃO EM CRIANÇAS COM O
TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
– TDAH: OS SALTOS DA EQUOTERAPIA EM QUESTÃO;
JUSTIFICATIVA
Desta maneira, nós questionamos: qual a importância ou necessidade daquilo que nós
ensinamos e do que é aprendido à construção social e relacional do Ser? Onde este
aprendizado pode ou vai contribuir para sua construção do mundo?
Evidentemente, não temos a resposta a todas essas perguntas, portanto se faz necessária a
busca de novos instrumentos que se constituam em alternativas pedagógicas viáveis para
estes pupilos com TDAH, uma doença neurobiológica de componente principalmente genético
(BARKLEY, 2002), para que nos tornemos então capazes de ajudá-los na construção do
pensar –operando como ator e espectador da sociedade onde eles estão inseridos.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
OBJETIVO
Identificar se o salto equoterápico, enquanto alternativa pedagógica e como um instrumento
(sinais/mediação), torna possível a redução da ansiedade e um aumento na concentração
em crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
BASE TEÓRICA
De acordo com Vygotsky (1991) a origem cultural das funções psíquicas, os sistemas de
sinais (mediação) e o funcionamento psicológico são decorrentes da relação entre o individual
e a sociedade, e o cérebro a maior agência de atividade mental. Dessa forma, se faz necessária
a busca de novos instrumentos que se constituam em alternativas pedagógicas viáveis para
estes pupilos com TDAH, doença principalmente neurológica com componente genético
(Barkley, 2002), para que possamos nos tornar capazes de ajudar na construção do
pensamento e operando como esse observador ator na sociedade onde ele está inseridos.
De acordo com Vygotsky, “o uso de instrumentos e sinais, mesmo que diferentes, está
entrelaçado à longa evolução da espécie humana e ao desenvolvimento de cada indivíduo”
(Rego, 2002, p.50) justificando, assim, o uso de instrumentos e a função mediadora dos
mesmos, tão como as transformações psicológicas que ocorrem.
De um ponto de vista neurológico, o homem desenvolveu a agência básica que torna possível
este “milagre” da equitação –um cérebro capaz de estabelecer enormes sequências de
correlações entre fenômenos naturais, transformando-se numa máquina para aprender, no
The Centaur Legacy, Bjarke (2004, p.1) afirma que “quando o homem e o cavalo concluem
tarefas conjuntas, se eles se estabelecem em uma unidade biológica única, formam uma rede
de cooperação neuropsicológica entre os parceiros.
85
É neste ponto que vemos a inserção da –e eu torno a repetir- ginástica no cavalo, “como as
acrobacias feitas no circo” (Salvagni, 199, p.45), onde cavalo e cavaleiro evoluem no cavalgar
como um único ser, em perfeita harmonia com o ritmo e os movimentos do cavalo, com
gestos, sentidos e objetos comuns, atraindo a atenção, concentração e controlando a ansiedade,
esta é a união homosapiens/ equuscaballus.
Nesta direção, na interrelação que nós queremos construir entra a informação adquirida
cultural e biologicamente e, apontando para, no que diz respeito à equoterapia, ser um
“método terapêutico que usa o cavalo como um instrumento de intermediação do cidadão
com o meio, promovendo e obtendo, ainda, uma interação e ação intencional de prazerosa
estimulação e resposta afetiva” (Alves, 2003, p.16), (e) isso contribui para a construção de
um sistema psicológico de transição.
METODOLOGIA
(informações dadas sobre idade motora, indicações de algumas disfunções cerebrais). Para
avaliação física usamos: Teste de Salto Vertical: força explosiva; Burpee: cordenação entre
os movimentos do tronco, membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII); Teste
“Sente e Alcance”: flexibilidade; Teste do Equilíbrio do Flamingo: equilíbrio estático; força
Abdominal; Flexão e Extensão dos Membros Superiores (test aplicado/específico: barra);
Escala e Índice de Curvas para pais e professores.
INDIVÍDUOS ENVOLVIDOS
A inclusão dos alunos se deu encontros depois, realizando o Termo de Livre e Claro
Consentimento da parte dos pais e de avaliações das áreas médica, psicológica e
fisioterapêutica.
MEDIDAS E AVALIAÇÕES
A coleta dos dados foi realizada em espaços diferenciados, salas de aula e escola –sob a
responsabilidade do professor regente, casas –sob a responsabilidade da família, campo de
pesquisa da Fazenda Canabrava onde as sessões de equoterapia foram realizadas sob a
responsabilidade do pesquisador e de outros profissionais da área. A aplicação dos testes
Raven e Bender, bem como as suas análises, ficaram sob a responsabilidade do psicólogo do
Centro Médico de Orientação Psico-Pedagógica –COMPP.
ARGUMENTAÇÃO E RESULTADOS
O Gráfico 2 acima, verifica o Equilíbrio Estático (teste aplicado: Flamingo); observamos que,
de forma geral, quase todos reduziram de forma significativa o número de tentativas de
manutenção do equilíbrio estático, indicando que as atividades eqüestres contribuíram para
uma melhora desse fator.
87
O teste de Flexão e Extensão dos Membros Superiores (teste aplicado: Bar) teve uma
performance baixa em quase todos os indivíduos, com exceção do indivíduo 1 –GI que
facilmente demonstrou uma observável evolução na execução da parada com três suportes
no cavalo ao trote, exercício requisitado somente ao GI. Sobre o GC, a fraqueza muscular foi
provavelmente a responsável pela não execução do mesmo teste (pagamento diário e após).
Para o teste de Força Abdominal (Gráficos 3 e 4), observamos um aumento na execução
para todos os indivíduos participantes da pesquisa. Nos comentários detalhados dos gráficos
podemos verfificar que havia uma pequena diferença para maior no GI, perfeitamente
justificável para este grupo, pelas qualidades dos estimuladores que fizeram atividades que
demandaram uma força abdominal maior.
O ponto delicado para quase todos os indivíduos na pesquisa foi a flexibilidade. Os resultados
deste teste teriam que ser trabalhados numa escala de valores negativa, sendo o indicativo
da necessidade de maiores investimentos em atividades eqüestres que trabalhem este aspecto
em específico.
Nós verificamos que tanto o GC quanto o GI, de forma global, apresentaram evolução do
ponto de vista motor, com maiores índices para o Grupo de Intervenção. E importante ressaltar
que os pais também notaram os benefícios físicos, principalmente aqueles sobre a coordenação
motora de seus filhos.
No Indivíduo 3 – GC (12 anos, 4ª série do ensino fundamental), não foi observado nenhum
bom desenvolvimento percepto-motor, mantendo-se aproximandamente a referente idade
motora de 9 anos, no entanto pertencendo a uma maturidade escolar referente à 4ª série do
ensino fundamental, de acordo com pré-testes, nos quais iremos nos basear –em uma ocasião
houve uma degradação para a 3ª série do ensino fundamental em um pós-teste. Sua
imaturidade percepto-motora, bem como suas dificuldades emocionais, confundem-no na
obtenção de bons resultados acadêmicos. De acordo com sua mãe, a família o classifica
como imaturo.
CONCLUSÃO
Analisando os instrumentos usados na avaliação, observamos que pais e professores registram
realizações de atividades antes não executadas, melhora na cordenação motora, maior
consciência das capacidades de superar as dificuldades de alguma forma, tanto para o GC
quanto para o GI.
A questão da não-evolução acadêmica está contida numa variável não controlável, que não
é o conhecimento ou a aplicação de instrumentos de metodologia científica à condução dos
90 trabalhos na sala de aula por parte dos professores, para este tipo de clientela.
Sobre os objetivos considerados para a pesquisa, observamos redução nos níveis de ansiedade,
como, o respeito ao “tempo” do outro, a esperar sua vez sentado. De uma forma mais
acentuada, o Grupo de Intervenção desenvolveu, principalmente, uma grande capacidade
de contribuição e concentração porque, durante as atividades de salto realizadas em pares
sobre o cavalo, pedia mais atenção e responsabilidade com a própria segurança e a do outro.
Esses resultados reforçam a pesquisa que aponta que atividades físicas guiadas e sistemáticas
são instrumentos para aumentar a auto-estima, a sensação de segurança pessoal e a
capacidade de suportar um estado de frustração. Foi verificado ainda que estas atividades,
quando realizadas no cavalo, valorizam as conquistas, contribuindo para aumentar a auto-
estima.
Nós concluímos que a equoterapia foi fator importante para a evolução e mudança de atitude
das crianças pesquisadas e que o uso do salto representou um diferencial para este resultado.
Nós indicamos, portanto, a inserção do salto como um intrumento de mediação para este
tipo de clientela fruto deste estudo, recomendando, ainda, iniciar com crianças pequenas e
que a duração desta intervenção seja definida pelas ações conjuntas dos segmentos envolvidos
(saúde, educação, a família e o profissionais de equoterapia).
REFERÊNCIAS
CLAWSAN, A. Bender Infantil: manual diagnóstico clínico. Tradução de Jurema Alcides Cunha,
Porto Alegre, RS. Artes Médicas, 1992.
CONNERS, C. K. Transtorno por Déficit de Atenção – Escala de Conners para Pais e Professores.
Disponível em <http://cerebrito.com> Acesso em 14 set. 2004.
MARINS, J.C.B e GIANNICHI, R.S. Avaliação e prescrição de atividade física: guia prático. 3
ed. Rio de Janeiro, Shape, 2003.
RAVEN, J.C. Matrizes Progressivas Coloridas, Escala Especial. São Paulo, SP. Centro Editor de
Testes e Pesquisas em Psicologia LTDA. 1992.
91
REGO, T.C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 13 ed. Petrópolis, RJ,
Vozes, 2002.
RINK, Bjarke. O milagre da neurofisiologia da equitação. 1., 1-3. Disponível em: <http://
www.desempenho.esp.br/livro/get_capitulo.cfm?id=82&f_imp=1>. Acesso em: 14 set. 2004.
92
A INFLUÊNCIA RÍTMICA DO VOLTEIO TERAPÊUTICO
NA REABILITAÇÃO
RESUMO
Introdução: Volteio é uma modalidade eqüestre de técnica e equilíbrio, que tem como objetivo
o aprimoramento da harmonia e do sincronismo com o cavalo em movimento.
É uma atividade adaptável que une a prática do exercício físico ao interesse pelos cavalos,
considerando que o volteador e o cavalo formam uma equipe e dependem mutuamente um
do outro. A união permite ao volteador ajustar-se ao movimento e ritmo do cavalo, harmonia
também exigida nas funções globais do indivíduo, auxiliando no desenvolvimento das
principais capacidades e habilidades motoras, psicológicas e cognitivas.Objetivo: Avaliar a
evolução funcional e emocional do indivíduo no decorrer das sessões com a utilização do
volteio terapêutico. Métodos: Aplicou-se como método de avaliação a Medida de
Independência Funcional (MIF) composta por dezoito itens com cotação máxima de sete
pontos e mínima de um ponto, sendo que esta é fundamental para que as alterações funcionais
sejam observadas com sensibilidade suficiente. Resultado e Conclusão: De acordo com os
dados obtidos através da Medida de Independência Funcional, pôde-se concluir que o volteio
terapêutico torna-se uma técnica de reabilitação física adaptável com primacia em ritmo e
harmonia de movimentos, que visa otimizar as atividades de vida diária, a auto-estima e
confiança de cada indivíduo.
INTRODUÇÃO
Com o passar do tempo, seguindo o ideal de perfeição criado pelo Renascimento, a estética
do movimento passou a ser valorizada, e o movimento, então, deveria demonstrar beleza,
leveza, segurança, exatidão e perfeição. Após a 2ª Guerra Mundial, o volteio foi desenvolvido
na Alemanha. Daquela época até o momento tem sido utilizado também como forma de
iniciação à equitação, oferecendo ao iniciante uma maneira de tornar mais envolvido com
os esportes eqüestres.
O volteio é definido como uma atividade que envolve exercícios característicos da ginástica
artística, com movimentos dinâmicos e estáticos, além de acrobáticos, combinados a elementos
da dança sobre o cavalo no galope, sendo que no volteio terapêutico as terapias são realizadas
nas três andaduras, de acordo com a independência do indivíduo.
93
Consiste em uma variedade de exercícios classificados em obrigatórios e livres que podem
ser executados individualmente, em duplas ou trios. As séries de volteio seguem um critério
estético, em que são utilizadas as capacidades físicas específicas para a realização da técnica
correta dos exercícios, que devem estar em plena harmonia com a interpretação coreográfica
e com o acompanhamento musical.
Embasado nestes conceitos, este artigo foi elaborado com o objetivo de aplicar o volteio
terapêutico e a música como recurso auxiliar para estimular experimentação sensorial, o
ritmo, o desenvolvimento motor e a sociabilização de portadores de necessidades especiais.
Foi possível então avaliar a evolução funcional e emocional, através do método de avaliação
da Medida de Independência Funcional (MIF), que possui estimativas importantes sobre os
domínios da atividade quotidiana de um indivíduo.
BASE
Na posição básica, o volteador deve estar sentado imediatamente atrás do cilhão, olhando
para a frente, com uma perna de cada lado da coluna do cavalo, segurando uma alça do
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
cilhão em cada mão. A pelve deve acompanhar o movimento do cavalo. Os MMII devem
envolver o cavalo, em contato suave. Os pés devem apontar para o solo, mantendo o
alinhamento da perna, o dorso do pé deve estar apontado para a frente.
Variação: o volteador mantém a posição básica com abdução dos membros superiores. Os
MMSS, pescoço e ombros devem estar alongados elasticamente, e não devem ser rígidos.
A partir da posição básica, o volteador executa uma rotação completa sobre o cavalo, em
quatro fases de tempo iguais.
Fase 1 : a perna externa passa sobre o pescoço do cavalo (externa em relação a parte interior
do círculo), cada alça é largada e retomada à medida que a perna passa por ela. Esta fase
termina com o volteador sentado de lado voltado para o interior do círculo, sobre o quadril,
pernas unidas envolvendo o cavalo.
Fase 2 : a outra perna passa então sobre a garupa do cavalo, termina com o volteador sentado
na posição básica invertida.
Fase 3 : a perna interna passa sobre a garupa do cavalo, e o volteador senta de lado voltado
para o exterior do círculo.
Fase 4 : a perna que está junto ao cilhão passa sobre o pescoço do cavalo, cada alça é largada
e retomada à medida que a perna passa por ela, termina com o volteador na posição básica.
O moinho é executado com ritmo de contagem em quatro tempos, cada perna deve descrever
um arco uniforme e amplo, idealmente na vertical. A cabeça e os ombros devem acompanhar
a rotação de cada perna com manutenção de postura.
Adaptação: as alças do cilhão podem ser de tamanho menor e evoluírem para as de tamanho
normal, devido à presença de encurtamento muscular e/ou espasticidade. Pode ser realizado
primeiramente com o auxílio de um terapeuta lateral durante as transferências com o cavalo
parado, evoluindo para a realização das mudanças de postura com o cavalo em movimento.
AJOELHADO / ESTANDARTE
A partir da posição básica, o volteador passa à posição ajoelhada. Suavemente, com os dois
joelhos simultaneamente, o dorso dos pés, os tornozelos e após estes os joelhos devem tocar
a garupa do cavalo.
O volteador deve estar sempre olhando para a frente, a perna externa deve cruzar XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
diagonalmente sobre a coluna do cavalo, com o pé interno do volteador colocado no lado
externo também. O peso deve estar distribuído uniformemente através da perna, tornozelo
e dorso do pé, o joelho interno deve estar ligeiramente à frente da coxa, a fim de auxiliar o
joelho e quadril a absorverem suavemente o movimento do cavalo.
A perna externa é então estendida, a fim de que o pé fique colocado acima da linha horizontal
formada através dos ombros e quadril do volteador, ao mesmo tempo o braço interno é
alongado para a frente.
A planta do pé externo deve estar virada para cima e a palma da mão interna para baixo,
com os dedos fechados. A mão externa permanece na alça, com o braço ligeiramente
flexionado para absorver o movimento do cavalo. A silhueta do volteador deve formar um
arco suave e equilibrado, desde a ponta dos dedos da mão até os dedos do pé. O eixo
longitudinal do corpo do volteador deve estar no mesmo alinhamento da coluna do cavalo.
95
Atividade Motora: descarga de peso, equilíbrio dinâmico, fortalecimento muscular (músculos
flexores de quadril, glúteo médio e mínimo, paravertebrais), reações de proteção e
endireitamento, noção espacial, lateralidade, postura.
Adaptação: o exercício pode ser iniciado no colchonete, depois no barril e/ou com o cavalo
parado e com as mãos nas alças, evoluindo para a liberação das mãos alternadamente. A
evolução do ajoelhado é o estandarte que pode ser feito primeiramente sem a liberação das
mãos, apenas com a extensão de uma perna e evoluir para a retirada e extensão do braço
contralateral; pode ser realizado no colchonete e no barril como preparação para o
movimento.
EM PÉ
A partir da posição básica, o volteador passa suavemente à posição de joelhos
simultaneamente com as duas pernas, o dorso dos pés, o tornozelo e os joelhos devem tocar
as costas do cavalo suavemente. Imediatamente o volteador transfere o peso do corpo para
os braços e pula para de pé, apoiando-se na planta dos pés, que devem estar apontando
para a frente. Para compensar o movimento em círculo do cavalo, a descarga de peso deve
estar no pé interno do volteador. A evolução do exercício é extensão de tronco e encaixe de
quadril; quando estiver em equilíbrio com o movimento tridimensional do cavalo solta as
alças e eleva os ombros até chegar à posição vertical, quando então abre os braços
lateralmente. O movimento do cavalo é absorvido pelos tornozelos, joelhos e quadril do
volteador; seu peso deve estar bem distribuído na planta dos pés, que devem estar em contato
total com o cavalo (Paes et al, 2001).
Adaptação: é uma das figuras mais difíceis, pois requer maior concentração e habilidade
motora. Pode ser realizada com um terapeuta montado na cernelha e/ou dois terapeutas
laterais, com o cavalo parado ou em barril de volteio para adaptar o indivíduo à postura;
pode-se iniciar esta postura com o cavalo ao passo e em direção linear. O cavalo em círculo
seria uma evolução do exercício porque exige do volteador maior habilidade e equilíbrio.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
MÉTODO
Sujeitos
Participaram deste estudo quatro pacientes, dois portadores de encefalopatia crônica não-
progressiva e dois portadores de paraparesia espástica familiar, respectivamente B.G., 14
anos, sexo feminino, M.H., 18 anos, sexo feminino, V.S., 24 anos, sexo feminino, A S., 26
anos, sexo feminino.
Material
Foram utilizados para as terapias: aparelho de som, CD, manta de volteio, cilhão de volteio,
rédeas fixas, rédeas auxiliares, cabeçada, guia longa e chicote de volteio.
96
Procedimento
No período correspondente a agosto de 2004 a novembro de 2005, foram realizadas as
terapias com a introdução do volteio terapêutico, semanalmente com duração de quarenta
e cinco minutos.
RESULTADOS
Cada um dos dezoito itens da MIF tem uma cotação máxima de sete pontos e a cotação
mínima é de um ponto. A cotação mais elevada é, portanto, de 126 e a mais baixa é de 18.
A cotação em sete níveis é fundamental para que as alterações funcionais sejam observadas
com uma sensibilidade suficiente.
No aspecto geral os resultados foram satisfatórios, pois ao final do primeiro ano conseguimos
elaborar, montar e apresentar uma coreografia. A coreografia foi montada com a colaboração
dos indivíduos, que também escolheram a música a ser trabalhada.
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
Estas atividades desenvolvidas com portadores de necessidades especiais têm como objetivos
proporcionar prazer, estimular a experimentação de movimentos livres, naturais e específicos
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
O Volteio como recurso terapêutico tem como objetivo desenvolver movimentos rítmicos, a
coordenação motora, a harmonia e controle de movimentos, postura, propriocepção e reações
de equilíbrio criando habilidades motrizes básicas e artísticas.
A partir dos resultados alcançados acreditamos que com a música e o volteio terapêutico
possibilitamos, a estes indivíduos, experiências novas e agradáveis estimulando suas vias
sensoriais e motoras e conseqüentemente um desenvolvimento psicomotor mais próximo
dos padrões da normalidade.
98
REFERÊNCIAS
BOBATH, K. Uma base neurofisiológica para o tratamento da paralisia cerebral. São Paulo: Manole,
1990.
HOLLE, B. Desenvolvimento Motor na Criança Normal e Deficiente. São Paulo: Manole, 1976.
LONG, T.M.; Cintas, H.L. Manual de Fisioterapia Pediátrica. Rio de Janeiro: Revinter; 2001.
NITRINI, Ricardo. A neurologia que todo médico deve saber. 2a ed. São Paulo: Atheneu; 2003.
PAES, Eva. Brasil Volteio [apostilado]. Rio de Janeiro: Confederação Brasileira de Hipismo;
2001.
United States Cerebral Palsy Athletic Association – Training guide to cerebral palsy sports.
The Recognized Training Guide of The United States Cerebral Palsy Athletic Association. 3. ed.
USA, M.P.E., 1990.
http://www.americanvaulting.org/
http://www.orpha.net/consor/cgibin/OC_Exp.php?Lng=PT&Expert=685
http://www.vaulting.org.uk/history.htm
99
MOZART, MEU CAVALO E EU
O corpo humano funciona como uma orquestra sinfônica, onde cada elemento deve estar
em perfeita harmonia. O cérebro desempenha a função da trilha musical, que define a melodia
(funções) que deve ser tocada pela orquestra; e, da melodia, quais notas devem ser tocadas
por cada instrumentoo do corpo humano. Todo o corpo humano, tal como a orquestra, deve
ser coordenado pelo diretor, que controla o tempo e o ritmo. No caso do corpo humano, o
diretor é o coração e seus ritmos cardíacos, como se segue:
NOTA: O ritmo cardíaco varia com o peso e a altura da pessoa, e também com a altura acima do nível
do mar.
100
O corpo humano é uma máquina perfeita, portanto, é
importante que, para cada atividade, todos os
elementos tenham a mesma trilha sonora (programa
de funções do cérebro) e desempenhem a melodia no
mesmo ritmo (ritmo cardíaco); isso é definido como
harmonia.
101
Do ponto de vista de sua aparência, o cavalo é um animal
estético com curvas simétricas, harmônicas e elegantes que
produzem satisfação visual, de acordo com a harmonia básica
de que todos gostam. Suas proporções, cores e dimensões
criam um conjunto simétrico com o ritmo da apreciação visual.
Se o cavalo que estamos cavalgando galopa, nosso corpo produz adrenalina, acelerando
nosso ritmo do coração; e novamente o movimento do cavalo entra em ressonância com o
ritmo do coração de nosso corpo.
“Todo ser vivo vibra”. Tudo que é organizado para atingir uma participação reflexiva sobre
a vida, demonstratada por ritmos, ciclos e seqüências, é orientado ao desenvolvimento do
sistema nervoso. Tudo prova que a atividade do sistema depende da quantidade de estímulos
recebida.
Os sons são ondas que oscilam em uma classificação de 20 a 20.000 ciclos por segundo
(Hertz) e sua propagação é de curta distância. Entretanto, existem altas freqüências que
propagam-se em longas distâncias na atmosfera. Portanto, tiramos vantagem destas altas
freqüências como um meio de transporte, para levar freqüências de sons e conseguir que tais
sons cheguem a grandes distâncias. Este conceito deu origem à rádio-comunicação.
De fato, a força da
gravidade permanentemente compele o corpo a
manter um verdadeiro diálogo com o ambiente. Em
conseqüência, quanto maior a posição vertical, melhor
a estimulação nervosa, e maior será a habilidade de
movimento. O movimento, a posição vertical e a carga
cortical estão intimamente ligados.
Cérebro Primata
Cérebro Humano
105
CONCLUSÕES:
Benefícios da hipoterapia
106
TRANSDISCIPLINARIDADE:
UM NOVO PARADIGMA NA EQUOTERAPIA
I. PRÓLOGO
Sensível ao toque
Lady Di Mas não podia tocar
Sensível à luz
Diversidade é meu nome Mas não podia vê-la
Nasci
Do útero da Mãe Terra Pai Homem
Abandonou-me
Sou diferente Feia lagarta me chamava
Especial
Mãos invisíveis teceram meu ninho Esgueirando-me pela vida fui
Raios de luz Até que mãos cuidadosas me ampararam
Acordes de sons Diversidade era meu nome
Ondas de cores
Me deram vida Diferente e especial eu era
Como uma princesa vinda de lugar nenhum
Irmão Sol Nascida da Mãe Terra
Irmã Lua Abandonada pelo Pai Homem
Céu e Inferno As sutilezas do universo
Tio Marte Eram minhas companheiras
Espera-se que o prólogo seja sempre auto-explicativo. Receio que este não o seja. Portanto,
acrescento algumas palavras. Aqui estão.
1. Há um tributo à Lady Di, a princesa, sem dúvida. Em 1987, quando muitos ainda
acreditavam que o vírus HIV poderia ser contraído através do toque e seus portadores
eram cruelmente discriminados, a princesa Diana sentou-se numa cama onde se
deitava um aidético e segurou sua mão. Isso ajudou a mudar a opinião do mundo,
mostrou uma forma de lidar com a diferença. E contribuiu também para salvar
pessoas em risco. Foi um exemplo de solidariedade, de compaixão. Lady Di, de certo
modo, foi também uma história de metamorfose.
2. Há também uma referência à identidade. Menção especial àqueles de nós que somos
especiais de algum modo. Quem não é? Do mesmo modo, para aqueles de nós
portadores de alguma deficiência. Quem não é?
3. A natureza está presente: nós e nosso entorno. O meio-ambiente: planeta Terra, o
Sistema Solar. O tema das fronteiras naturais. Quem somos? Para onde vamos?
4. Há, certamente, o tema da liberdade. Liberdade do quê? Liberdade para quê?
5. Transformação, metamorfose: nosso modo permanente de ser.
6. Todos esses temas, e muitos outros, estão presentes na essência do trabalho que
fazemos: equoterapia. E eles podem ser muito bem representados por este importante
fenômeno: diversidade.
E aqui está o desafio: como lidar com tais questões, especialmente com a diversidade?
Como lidamos com a diversidade em nossas próprias equipes, entre nós? Quem é terapeuta,
quem é paciente?
CONCEITOS BÁSICOS
Como afirmado por Morin (2002), para que a prática da transdisciplinaridade seja uma
solução, uma “reforma do pensamento” faz-se necessária. Os princípios científicos estão em
permanente processo de desenvolvimento, e sabemos hoje que eles não são um reflexo
exclusivo da realidade objetiva. A estrutura do espírito humano e o conhecimento dos
condicionantes socioculturais são também partes inseparáveis deles.
O paradigma tradicional que ainda hoje prevalece está em meio a uma crise, e um novo
paradigma surge como uma saída para a ultra-especialização do conhecimento científico.
A transdisciplinaridade foi pioneiramente mencionada por Piaget em 1970, quando ele propôs
um nível superior de relações interdisciplinares. Ele considerava tais relações no bojo de um
sistema total, sem fronteiras entre as disciplinas. Era como um sonho para Piaget. Foi a
partir dos anos 80 que novos movimentos em diversos campos caracterizaram o novo
paradigma. E essas correntes têm convergências claras em pensamentos que estão atualmente
109
em discussão: autopoiesis, auto-organização, pensamento complexo, inteligência coletiva,
teoria das redes e muitos outros. Transdisciplinaridade e pensamento complexo contêm a
diversidade e se constituem em poderosas ferramentas para se compreendê-la. E, para
colocá-la em prática, é necessário, de acordo com Morin (2002), restabelecer as ligações
entre os conhecimentos, implicando um novo processo de reaprendizagem da produção
científica.
Artigo 1:
Toda e qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma definição e de dissolvê-lo no meio
de estruturas formais, sejam quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar.
Artigo 2:
O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regidos por lógicas diferentes, é
inerente à atitude transdisciplinar. Toda tentativa de reduzir a realidade a um só nível, regido por
uma lógica única, não se situa no campo da transdisciplinaridade.
Artigo 3:
A transdisciplinaridade é complementar à abordagem disciplinar; ela faz emergir novos dados a
partir da confrontação das disciplinas que os articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da
natureza da realidade. A transdisciplinaridade não procura a mestria de várias disciplinas, mas a
abertura de todas as disciplinas ao que as une e as ultrapassa.
Artigo 4:
A pedra angular da transdisciplinaridade reside na unificação semântica e operativa das acepções
através e além das disciplinas. Ela pressupõe uma racionalidade aberta a um novo olhar sobre a
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
O que quero enfatizar ao escolher os quatro artigos iniciais para representar os fundamentos
básicos da transdisciplinaridade? Mais uma vez aqui está a diversidade em minha mente.
Em primeiro lugar, a recusa a reduzir o ser humano a quaisquer que sejam as definições
oferecidas pelas filosofias disponíveis. Em segundo lugar, a aceitação de diferentes níveis de
realidade regidos por diferentes tipos de lógica. Em terceiro, a abordagem das disciplinas
oferecida pela transdisciplinaridade, inclusive a nova visão da natureza e da realidade, tanto
quanto a recusa da superioridade de uma determinada disciplina sobre qualquer outra. E a
unificação prática e semântica de significados que transpassam e vão além de todas as
disciplinas.
Em julho de 1997, em uma entrevista para a revista Label France conduzida por Anne Rapin,
quando perguntado sobre globalização e a “era planetária”, Edgar Morin respondeu que
“…De fato, porque a globalização está fora de controle, ela é acompanhada por muitas instâncias de
regressão. Mas, é uma possibilidade que poderia ser desejável. Obviamente, a globalização tem um
aspecto muito destrutivo: ela gera anonimato, reduz as culturas individuais a um denominador
comum e padroniza identidades. Contudo, ela é também uma oportunidade única para promover a
comunicação e o entendimento entre as várias culturas dos povos do planeta e encorajar sua mistura
(blending). Este novo capítulo acontecerá apenas quando nos tornemos inteiramente conscientes do
fato de que somos cidadãos do planeta antes de tudo, e então europeus, franceses, africanos,
americanos... o planeta é nosso lar, um fato que não nega os lares individuais de outros. A consciência
de nosso destino global como uma comunidade é o pré-requisito para a mudança que nos permitiria
agir como co-pilotos do planeta, cujos problemas se tornaram inseparavelmente inter-relacionados.
Caso contrário, iremos experimentar um destino semelhante àquele da “balcanização”, uma retaliação
violenta e defensiva contra etnias específicas ou identidades religiosas, o que é o oposto deste processo
de unificação e solidariedade através do planeta.”
Agora, a globalização aqui está, a diversidade está aqui; o pensamento linear causa-efeito XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
ainda regula nosso mundo moderno. Como podemos lidar com um tão vasto universo de
disciplinas? Como a transdisciplinaridade pode nos ajudar?
O CAMPO DA EQUOTERAPIA
O campo atual da equoterapia em todo o mundo é ainda fortemente marcado pelo paradigma
tradicional Cartesiano. A Babel de expressões que perpassa nosso campo de trabalho é um
sintoma preocupante, mais do que uma salutar diversidade. Marguerite Malone (Serendipity
Farm, Tuscaloosa/Alabama) chamou-me a atenção para um artigo de autoria de Ann C.
Alden, ex-presidente da EFMHA, no qual se empenha em listar e definir os vários
anacronismos usados no campo e que ela chama de “Sopa de Alfabeto”, que poderíamos
chamar de “Sopa de Letrinhas”. Para ilustrar o sintoma acima descrito, apresentamos a
111
seguir uma breve lista de denominações usadas para identificar o que fazemos. É possível
que todas estejam representadas neste Congresso.
– Equinoterapia;
– Equotherapy, equoterapia;
Sofremos todos, com certeza, as conseqüências de nossa “Sopa de Alfabeto”, em nossa querida
Torre de Babel. Comunicações difíceis, algumas vezes impossível, para dizer o menos. Não
apenas entre nós, mas também com nossos associados, patrocinadores, praticantes e suas
famílias e com o público.
Embora não seja o propósito deste trabalho justificar e explorar a necessidade de adoção de
uma linguagem unificada, este autor sugere enfaticamente a expressão equoterapia, cunhada
pela Ande Brasil – Associação Nacional de Equoterapia. Esta palavra simples e densa inclui
os termos “Equus” e “therapeia”. A expressão equoterapia está ainda livre de conotações
comprometedoras e pode bem representar a abordagem transdisciplinar para as atividades
terapêuticas conduzidas com a ajuda de um eqüino e de uma equipe multiprofissional. É
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
seguro que uma palavra universalmente aceita muito contribuiria para unificar o campo
das terapias com auxílio do cavalo e o aproximaria muito do paradigma transdisciplinar.
É nosso desafio diário colocar em prática o novo paradigma em nossas atividades, em nossos
procedimentos terapêuticos. Se a concepção programática é adotada, cai-se facilmente no
velho paradigma. Mesmo quando se tem o discurso do novo paradigma, é extremamente
difícil colocá-lo em ação. Nossas qualificações profissionais, nossa formação acadêmica, nossos
treinamentos e experiências em campos específicos, nosso compromisso formal com limites
legais e profissionais, tudo isso contribui para a adesão ao velho paradigma. E esses tópicos
não são nada simples.
Consideremos um primeiro caso: uma menina com paralisia cerebral. Este é um caso para
hipoterapia, certo? O equitador conduz o cavalo, o fisioterapeuta conduz a sessão, certo?
O psicólogo conversa com a família, certo?
Vejamos o segundo caso: um menino autista. Este é um caso para o psicólogo, que conduz a
Posso ousar dizer que a resposta pode ser não, que não está certo?
A menina com a paralisia cerebral pode ter sérios problemas de comunicação, possivelmente
devidos a uma certa ordem de deficiências. O menino autista pode também apresentar sérios
problemas de comunicação, possivelmente devidos a outros tipos de mau funcionamento.
Nós reconhecemos que também nós temos sérios problemas de comunicação. Discutimos os
casos. Todos da equipe. Todos, mesmo: psicólogo, fisioterapeuta, fono, arte-terapeuta,
equitador. E outros profissionais, caso os tivéssemos. Após a discussão, três ou quatro de nós
vamos para a pista, todos ao mesmo tempo. Nossas sessões são sempre individuais, no que
diz respeito ao praticante. Um praticante, três ou quatro terapeutas. Algumas vezes, duas
sessões ocorrem ao mesmo tempo: dois praticantes, cada um com sua equipe. Os praticantes
escolhem o seu parceiro principal e certamente nos ajudam a escolher o cavalo.
113
O parceiro principal conduz a sessão. As intervenções fluem. Algumas vezes, o equitador
faz a interlocução com o praticante, o fisioterapeuta conduz o cavalo, a fono faz o apoio
lateral, a arte-terapeuta conversa com a família. Ao final do dia, mais discussões em equipe.
A interpenetração é permanente, os quebra-cabeças são compostos de peças que mudam de
forma e apresentam figuras diferentes. Nenhuma peça é rígida, fixa. Muitas vezes, o estresse
emerge. O caminho mais curto não é necessariamente o melhor caminho. Mais discussão é
necessária.
Quando o sol começa a se pôr atrás das montanhas e a luz amarelo-alaranjado do entardecer
se filtra através das folhas da grande mangueira, um halo mágico ilumina a pista. As selas,
brinquedos, cabeçadas são recolhidos e guardados. Grupos se reúnem; vozes, emoções, piadas,
abraços, despedidas. Outro longo e exaustivo dia acaba. Esta é a nossa equoterapia.
IV. O DIÁLOGO
holograma.
Posso observar e não interferir no objeto ou Sei que minha simples presença interfere naquilo
fenômeno observado, independentemente de mim que estou observando. Resulta que o conhecimento
ou de minha mente. é o produto da mente do observador, do objeto
observado e do processo de observação, tudo ao
mesmo tempo.
A observação científica assim implica a exclusão Torno-me parte do que observo, assim, sou ao
do observador. mesmo tempo sujeito e objeto do conhecimento.
Uso meu raciocínio para processar os dados que Uso tudo isso, mais meus sentimentos mais
coleto com meus cinco sentidos. Uso meu intelecto. profundos, minhas sensações e minha intuição.
Posso pesquisar apenas aquilo que posso Posso integrar qualidade à quantidade e posso
quantificar. utilizar ambos.
Os fins justificam os meios, e esta é a ética da Nada está acima do respeito à vida e à espécie
ciência. humana. A bioética deve estar presente em todas
as ciências.
114
Meu Ego Meu Alter-Ego
Velho Paradigma Novo Paradigma Transdisciplinar
Quando cheguei ao centro de reabilitação, vi muitas Muitas pessoas com capacidades que eu não
pessoas incapacitadas. conhecia estavam presentes quando cheguei ao
centro de saúde.
Planejamos o que temos de fazer e cada um de nós Planejamos e trabalhamos juntos, todos ao mesmo
faz seu trabalho na sua vez. tempo na pista.
Sei que sou um psicólogo e supõe-se que meu Sempre me esforço para engajar as pessoas com as
paciente se beneficie de minhas qualificações. O quais trabalhamos no processo terapêutico. E estou
mesmo é verdadeiro para cada colega e somos consciente de como isso pode ser benéfico para
responsáveis pelo processo. mim. O mesmo é verdadeiro para todos os nossos
parceiros. A responsabilidade é compartilhada.
Meus colegas médicos, fisioterapeutas, fonos, Sempre trocamos informação e experiência.
psicólogos e equitadores têm uma consciência clara Embora eu não seja um equitador, muitas vezes
de seus campos de ação e eles não interferem com conduzo o cavalo. O mesmo é verdadeiro para
os outros, embora sejamos uma equipe. todos os outros. Algumas vezes, olhando a uma
certa distância, você não saberia quem é quem.
Sou muito competente em minha área de Estou consciente de minha necessidade de
qualificação e estou em processo permanente de competência no campo que escolhi. Mas descobri
especialização. recentemente que este campo é muito mais amplo
do que eu imaginava. Não sei mais em que grau
sou um especialista ou um generalista.
Uma distância adequada deve ser mantida entre A cada dia sinto-me mais próximo das pessoas
nós e nossos pacientes, de modo a que possa com quem trabalhamos e estou certo de que este é o
ocorrer o adequado processo terapêutico. melhor caminho para assegurar que lhes dou o
melhor de mim e recebo o melhor delas.
Hierarquia é essencial para o bom trabalho em Temos uma espécie de liderança “flutuante” e
equipe e para nosso pessoal administrativo. respeito é a base de nosso relacionamento. As
responsabilidades são sempre compartilhadas.
V. EPÍLOGO
Meu diálogo está longe do fim. De fato, apenas começou. As dúvidas surgem com maior
velocidade do que consigo achar respostas. Não sei se estou em um bom caminho ou em um
E o epílogo, assim como o prólogo, também precisa de uma explicação. Mas não sei qual ela
será, nem quando poderá acontecer.
VI. REFERÊNCIAS
http://perso.club-internet.fr/nicol/ciret/ , 2002.
116
O EFEITO DA EQUOTERAPIA EM PACIENTES COM DOENÇA
DE MENIÉRE: UM ESTUDO DE CASO
RESUMO
ABSTRACT
Introduction: The Meniére Disease is an outlying vestibulopatia, wich etiology has not been
estabilished yet, whose symptoms are: exercise vertigo, fullness sensation and, tinnitus in
Objective: The objective of this study was to verify the effect of the therapeutic riding in
patient with Meniére disease no responding to the traditional clinical treatment along 8-15
years. Methodology: 5 patients were treated, aged at 40-50, male and female, extremely
tense, all diagnosed by electrocochleography and electronystagmography exam with deficient
outlying vestibulopatia, no responding to the medication along 8-15 years. The patients,
under suspended medication, were submitted to a 30 minute weekly section of therapeutic
riding for 2 months. Techniques of sensorial-motor stimulation that unbalance the practitioner 117
and activate the proprioceptores of the muscular spindle had been used during the therapy
sessions. The electrocochleography exam was accomplished before and after the treatment
for comparison of clinical diagnoses. Results: Although some scholars believe that the
vestibular system can supply other systems, but cannot be supplied, we observed, compared
the initial and final exam results that the therapeutic riding contributed to the initial and
final exam results that the therapeutic riding contributed to the work as an auxiliary method
for vestibular rehabilitation in Meniére disease.
1-INTRODUÇÃO
De acordo com Ganança e cols (2004), a disfunção do sistema vestibular pode ser causada
por afecções no sistema nervoso central (vestibulopatia central) ou periférico (vestibulopatia
periférica) e ocorre com maior incidência no sexo feminino.
Os autores Schessel (1990) e Ganança (2004b) afirmam que o tratamento clínico para a
doença de Meniére é, geralmente, baseado em drogas que apenas suprimem as vertigens;
nos casos extremos o nervo vestibular pode ser seccionado cirurgicamente para aliviar os
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
sintomas, e/ou a destruição do labirinto por injeção de drogas também pode ser usada para
controlar as náuseas e vômitos. Por outro lado, os autores Ramos( 2000); Ganança (1996);
Barbosa e cols (1995) e Hecker e cols (1974) citam outros tipos de tratamentos complementares
para a reabilitação do sistema vestibular, como exercícios específicos para o equilíbrio,
alimentação específica e a correção de hábitos e vícios que estão relacionados aos fatores de risco.
Walter & Vendramini (2000) e Cirillo (2005) enfatizam que a equoterapia proporciona aos
praticantes benefícios físicos, psicológicos, educacionais e sociais. Relatam que essa atividade
exige a participação do corpo inteiro, contribuindo, assim, para o desenvolvimento do tônus
e da força muscular, relaxamento, conscientização do próprio corpo, equilíbrio, o
aperfeiçoamento da coordenação motora, melhora da autoconfiança e da auto-estima.
Segundo Strauss (2000), a reabilitação do equilíbrio é possível porque este é estimulado durante
a equoterapia. Durante o passo do cavalo, os movimentos multidirecionais desequilibram o
corpo do indivíduo em relação à linha mediana gravitacional, e para que ele consiga manter-
se sobre o cavalo, é necessário que reaja aos deslocamentos através da coordenação de todo
o aparelho locomotor e das reações de equilíbrio e endireitamento.
Uzun (2005) cita do Manual de R.E./ANIRE, que o corpo quente do cavalo, a pressão sobre
as articulações da pélvis e da coluna vertebral e as modificações no tempo e no espaço são
percepções sensoriais proporcionadas ao praticante que constituem os elementos de uma
intensa estimulação sensório-motora.
“A interferência da equoterapia no equilíbrio da coluna e pelve por meio da XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
adequação do tônus, ritmo e simetria se exercita nas articulações intervertebrais,
o que leva a uma postura fisiologicamente correta. Existe uma estimulação
permanente e constante dos órgãos do equilíbrio, o que leva a um aprendizado
sensório-motor, conseguido com o movimento global de todo o corpo”
(BAUMANN, 1978).
Ganança e cols (2004a) demonstraram em pesquisa que pacientes com síndrome vestibular
periférica deficitária / irritativa apresentaram prejuízo na qualidade de vida, tanto em relação
aos aspectos físicos, como funcionais e emocionais, verificados à aplicação do DHI brasileiro
(questionário elaborado pelos autores da pesquisa com o objetivo de mensurar os efeitos
impostos pela vertigem nas funções de vida diária destes pacientes). A equoterapia seria
portanto mais uma alternativa de tratamento para a melhora da qualidade de vida destes
pacientes.
119
2 - OBJETIVO
O objetivo deste estudo foi verificar, através de mensurações concretas, o efeito da equoterapia
em pacientes portadores de doença de Meniére não responsíveis ao tratamento tradicional.
3 - METODOLOGIA
Participaram da pesquisa seis pacientes, adultos, de ambos os sexos, com idade variável
entre 40 e 50 anos, encaminhados pelo mesmo médico otorrinolaringologista, com diagnóstico
de síndrome de Meniére associada à síndrome vestibular periférica deficitária (SVPD) ou
irritativa (SVPI) que não respondiam ao tratamento medicamentoso há 8-17 anos em média
(tabela 1).
A partir dos exames VENG e ECG, foram selecionados os pacientes que apresentaram
diagnóstico de síndrome vestibular periférica deficitária ou irritativa associada à síndrome
de Meniére.
Todos os pacientes, sob medicação suspensa, foram submetidos a oito sessões, ininterruptas,
de 30 minutos de equoterapia, uma vez por semana.
O percurso utilizado durante as sessões foi em terreno irregular, para provocar maior número
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Foi priorizado o uso de manta para aumentar o estímulo vestibular, pois este equipamento
proporciona maior contato entre o praticante e o cavalo e isto favorece o trabalho
proprioceptivo para maior estímulo sensório-motor.
4 - RESULTADOS
5- DISCUSSÃO
No presente estudo, pôde-se verificar que a busca pelo atendimento predominante foi do
sexo feminino, talvez podendo ser confirmada por Barbosa e cols (1995) e Assunção e cols.
(2002), quando citam que a disfunção do sistema vestibular, principalmente as afecções
vestibulares periféricas, ocorre com maior incidência no sexo feminino. No entanto, a amostra
não é quantitativamente suficiente para a comprovação do mesmo.
121
A média entre as idades dos pacientes desta pesquisa foi de 45 anos. Ganança e cols. (2004a)
realizaram uma pesquisa com uma população mais velha, média de 67 anos, afirmando que
o quadro vertiginoso pode estar associado à senilidade pelo uso de medicamentos contínuos.
Já para Netto (1997ª) e Netto (1997b), o processo de envelhecimento humano inicia-se a
partir dos 30 anos de idade, quando todo o sistema do organismo começa a sofrer modificações.
Rosenhall (1975) afirma que o sistema vestibular inicia este processo, com maior freqüência,
a partir dos 40 anos de idade, quando começa a ocorrer a diminuição da excitabilidade do
sistema vestibular periférico e central, redução na capacidade de compensação dos reflexos
vestíbulo-ocular e vestíbulo-espinal, diminuição do nistagmo optocinético (do movimento,
de perseguição e dos sacádicos) e redução dos testes calórico e rotacional.
Lourenço e cols. (2005) encontraram prevalência numa faixa etária menor, equivalente a
20-39 anos, seguida da idade entre 40-59 anos. Assunção e cols. (2002) observaram que a
idade predominante está entre 38 a 46 anos, média próxima desta pesquisa.
Uzun (2005) relata que, apesar de existirem na fisioterapia neurológica técnicas específicas
e métodos avançados para a reabilitação vestibular, o movimento multidirecional e o despertar
de um conjunto de emoções proporcionadas pelo cavalo ao paciente faz da equoterapia um
método de reabilitação diferente de qualquer outro método terapêutico, capaz de auxiliar
de maneira rápida e positiva o reequilíbrio do sistema vestibular do indivíduo portador de
síndrome vestibular periférica.
Conforme dito anteriormente, o cavalo ao passo faz com que a pessoa que o monte execute,
mesmo que involuntariamente, movimentos semelhantes aos realizados durante a marcha
humana, isto é, como já dito por Strauss (2000), é um andar sem pernas, pois o cavalo
caminha pelo paciente. Movimentos tridimensionais nas horizontais (direita, esquerda, frente
e trás) e nas verticais (para cima e para baixo) e movimentos de translação e rotação de 5º da
cintura pélvica são transmitidos do dorso do cavalo ao corpo do cavaleiro. Assim, conforme
demonstrado em pesquisas e citado por Calill (2004), após 30 minutos de montaria ao passo,
os movimentos proporcionados pelo cavalo promovem em média 30 mil ajustes tônicos no
corpo do praticante. Estes movimentos deslocam o corpo do indivíduo de seu centro de
gravidade, e assim a participação do corpo inteiro é exigida para que ele consiga permanecer
122 sobre o cavalo. Todo este processo, que está diretamente relacionado com a propriocepção e
reação de endireitamento, que resultam no desenvolvimento do equilíbrio, da normatização
do tônus muscular, do controle postural, da coordenação, redução de espasmos, melhora da
respiração e das informações proprioceptivas que estimulam não apenas o funcionamento
dos ângulos articulares, como também dos músculos e da circulação sanguínea.
Como não se sabe a etiologia e fisiopatologia exatas da doença de Meniére, também não se
sabe ao certo a melhor forma de tratamento da patologia.
6 - CONCLUSÃO
7 - REFERÊNCIAS
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UZUN, A.L.L. Equoterapia: aplicação em distúrbios do equilíbrio. São Paulo: Vetor, 2005.
125
PÔNEIS COMO FACILITADORES NA EQUOTERAPIA
EQUOTERAPIA
Uma análise da relação cavalo/ser humano revela a ausência de preconceitos já que, quando
demonstrando afeição, o animal desconsidera qualquer “dano” na aparência da criança ou
adulto. Além disso, como um ser vivo, o cavalo tem suas próprias reações e demanda
compreensão, atenção e afeição de quem o monta. A estimulação fornecida pelo animal
pode também ser aumentada através de trabalho complementar com exercícios e propostas
que levem a pessoa a buscar soluções criativas para seu crescimento e desenvolvimento
biopsicossocial.
As terapias que usam animais fornecem benefícios em termos de bem-estar físico e emocional.
Muitos estudos mostram os ganhos trazidos pela interação homem-animal. Essa relação é
geralmente classificada de duas maneiras: como promotora da saúde humana e como terapia
específica (FINE, 2000).
“As terapias que utilizam cavalos podem ser consideradas como um conjunto de técnicas
reeducativas que auxiliam na superação de danos sensoriais, motores, cognitivos e
comportamentais, através de atividades desportivas/lúdicas usando um cavalo”
(CITTERIO,1991).
Além do mais, os aspectos social, orgânico e afetivo são tratados conjuntamente à terapia
em si, atingindo, portanto, os objetivos de uma reabilitação global. Ainda de acordo com
este autor, a equoterapia favorece a reintegração social pelo contato do indivíduo com outros
pacientes, a equipe de cuidados e o animal, que o traz mais próximo à sociedade na qual ele
vive.
Quanto à psicomotricidade, nós observamos que o contato físico dinâmico com o animal
induziu o aprendizado de movimentos rítmicos, a aquisição de equilíbrio, desinibição,
confiança e autoconsciência motora (SALVAGNI, 1999).
Relacionamento
Psicomotricidade
A integração à sociedade
O contato com o animal, com a equipe do centro de equitação, com os outros membros do
grupo, com os outros cavaleiros no centro de equitação, e, quando possível, com os habitantes
da vizinhança, durante as cavalgadas.
AUTISMO
EQUOTERAPIA E AUTISMO
Este recurso terapêutico pode melhorar as relações sociais de crianças autistas com o
favorecimento de uma melhor percepção do mundo externo e adequação nos ajustes tônico-
posturais (FREIRE, 2003).
Eles toleram uma quantidade restrita de contatos físicos, que nunca ocorrem por imposição.
De acordo com este autor, a capacidade instintiva do cavalo de perceber as intenções do
cavaleiro leva o animal a acalmar-se quando montado por um autista. O contato com animais
pode gerar troca de expectativas e de representação de regras sociais, quando usado em
terapias (WILSON & TURNER, 1998). 127
Do primeiro contato e cuidados preliminares ao cavalgar em si, a interação com cavalos
também desenvolve novas formas de comunicação, socialização, autoconfiança e auto-estima.
Deve-se ter em mente que crianças podem ter dificuldades em aprender por instruções verbais
e que uma repetição constante e orientação de corpo por gestos e mímicas são necessárias.
As crianças freqüentemente mostram pouco ou nenhum interesse para com os cavalos, ou
aos outros cavaleiros ou instrutores. Não obstante, ao progredir, elas gradualmente se apegam
a um cavalo ou a uma pessoa.
Em trabalhos com crianças psicóticas, pôneis são usados para entrar em “contato”. Isso as
ajuda a entrar em “nosso” mundo por abrir um canal de comunicação “social” (RAPENE,
1998). O autista pode olhar, tocar, e este “objeto” não está estático. Além de suas utilidades
e possibilidades, tal conhecimento gera comparações entre as partes do corpo do cavalo e o
da própria criança. Os cavalos não são predadores e suas reações de alerta servem como
uma defesa contra atacantes e garante sua proteção. A criança começa a perceber as reações
do pônei e sente-se estimulada a aproximar-se dele.
Este trabalho é caracterizado como um estudo de caso de validação clínica com uma
abordagem qualitativa, cujo sujeito foi um garoto de 3 anos com distúrbios autistas,
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Os pôneis apresentam características que ajudam o trabalho de aproximação, tais como: sua
altura, que os torna menos ameaçadores; docilidade; facilidade de andar em vários lugares,
freqüentemente inacessíveis a cavalos mais altos.
Para registrar as sessões, nós usamos o padrão PROEQUO de registros diários, registro
contínuo, tabelas de observação de comportamento autista na equoterapia (ECCA,1999),
fotografias e entrevistas com familiares.
O tratamento aconteceu no Instituto São Vicente, a escola universitária de fazenda que rege
o Programa de Equoterapia da Universidade Católica Dom Bosco (PROEQUO-UCDB).
128
O tratamento foi administrado por dois estudantes universitários, recrutas no curso de
psicologia, um psicólogo e um fisioterapeuta.
Durante as primeiras sessões, C. não aceitou nenhum contato com a equipe, e permaneceu
somente com sua mãe.
Depois deste contato inicial (aproximadamente três semanas), o cavalo entrou neste
relacionamento, e os jogos sempre aconteceram na presença do potro. C. ignorou-o e todas
as tentativas de aproximá-lo foram recusadas com lágrimas e gritos. Ele normalmente fugiu,
correndo, embora tenha parado rapidamente algumas vezes para olhar para trás, como se
pedisse para que nós o seguíssemos para longe do animal.
A escolha de um minipônei foi feita por sua pequena estatura e sua docilidade, o que facilita
seu manuseio e companhia durante o tratamento, e ajuda a reduzir o temor da criança, já
que lida com um animal menor nesta fase inicial.
Começamos a compreender que C. às vezes parou para observar algumas reações do cavalo.
Daí em diante, temos relatórios de suas conversas como: “Olá Renatinho” (o nome do pônei).
Todas as nossas tentativas de pôr C. no cavalo foram frustradas, já que ele só ficaria mais
próximo a ele quando quisesse.
Quando entrou na floresta ao lado de “Renatinho”, ele sentiu as reações atentas do animal,
parou de andar e olhou ao redor, demonstrando que percebeu o ambiente.
Durante o trabalho, ele começou a explorar a sela, observando suas partes e dando tapinhas
no assento.
Em sua primeira montaria, parou na frente do cavalo e tocou sua face com uma das mãos.
Ele então parou ao lado e fez o mesmo na sela; depois segurou-o e gesticulou como se fosse
montar. Nós o sentamos no cavalo e ele deu algumas voltas antes de tentar descer, de modo
129
que o ajudamos. Pela primeira vez, despediu-se da equipe e foi embora. Enquanto cavalgava,
ele cantou.
Daí em diante, quando C. chegava às sessões, ele corria para ver os cavalos que estavam
amarrados, brincava com eles, mas recusou-se a montar ou pedia por gestos para fazê-lo e
permanecia no cavalo durante um curto período de tempo.
Pelo fim do segundo período de trabalho, C. já aceitava cavalos maiores e começou a mostrar
sinais de relaxamento, explorava as partes do animal durante sua cavalgada e chamava a
atenção da equipe através de “pequenos golpes” e risadas.
A mãe de C. contou-nos que ele estava verbalizando mais e observava mais situações e
objetos.
Nossas conclusões demonstram que o contato com a equipe de cuidados e o cavalo gerou
ganhos mesmo quando a equitação de fato não ocorreu. O cavalo tornou-se atraente para o
autista, estimulou seu contato visual e expressão corporal, mais uma vez tendo o papel de
um facilitador no relacionamento social destas crianças.
Tal evidência corrobora com a literatura, em que Roberts (2002) menciona que andar de
cavalo não só estimula o desenvolvimento do ser humano como um todo, mas também tem
aumentado os benefícios através do estímulo do ambiente; o barulho das folhas das árvores,
a sensação do vento no rosto, e a experimentação de uma variedade de aromas.
Quando se trabalha com autistas, a equipe tem de entender qual momento de seu
relacionamento com o cavalo os pacientes estão experimentando, de modo que possam ficar
mais próximos, já que perceber e aceitar o animal pressupõe curiosidade e contato com a
realidade experimentada em tal momento.
Tanto com o cavalo mais alto quanto com o pônei, a percepção do momento que a criança
experimentava foi crucial nas tentativas de trazê-la mais próximo ao animal.
Durante os dois períodos, quando tentamos tê-lo mais próximo, todos os familiares
confirmaram nossas conclusões durante o trabalho, já que fora do ambiente da equoterapia,
ele começou a observar o mundo ao redor de si, fazer mais gestos com a intenção de se
comunicar e seu comportamento permitiu uma aproximação e a ter contato com as pessoas.
Concluímos que o pônei também facilitou nosso paciente a ficar mais próximo devido ao seu
aspecto brincalhão, o que permitiu que este “jogo” fosse posteriormente transferido ao cavalo
mais alto.
Os resultados confirmam a teoria que diz que a percepção que as crianças apresentam do
outro, do jogo social, da mímica, da postura de seu corpo ou dos gestos para estabelecer ou
modular interação, do mundo externo, da exploração e relacionamento com o animal, e de
que possui iniciativa, de acordo com Freire (1999), são pontos importantes.
130
Este estudo não procura generalizações, mas demonstra que o trabalho envolvendo animais
é extremamente importante e que seus resultados são válidos quando aplicados a crianças
autistas. Em nosso caso, facilitou o cavalgar e melhorou os aspectos cognitivos, afetivos e
sociais.
REFERÊNCIAS
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Practice. San Diego: Academic Press, 2000.
ROBERTS, M. Violência não é a resposta: Usando a sabedoria gentil dos horses para enriquecer
nossas relações em casa e no trabalho. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
131
ANÁLISE COMPARATIVA ELETROMIOGRÁFICA DO MÚSCULO
ERETOR LOMBAR EM PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL
QUE TOMAM DIFERENTES POSIÇÕES SOBRE O CAVALO
recruitment was 30,36µV on the right side and 35,57µV on the left; with horse walking,
muscle activity was 51,57µV on the right and 50,17µV on the left. On the left lateral posture
with the horse stopped, erector lumbar muscle recruitment was 9,77 µV on the right side
and 8,98µV on the left; when the horse was walking, muscle activity was 98,55µV on the
right and 95,46µV on the left side. At dorsal posture with the horse stopped, muscle
recruitment was 26,02µV at right and 31,32µV at left side; and with the horse walking the
activity was 112,06µV on the right and 109,89µV on the left side. Discussion and Conclusion:
Biomechanical knowlege is a fundamental resource for health professional, specially when
therapists aims to work motor control, know when use each posture. Thus, recruiting better
these muscle groups, specially trunk extensors muscle, is essential to get to a better therapeutic
result. The posterior posture showed that recruits more muscle fibers when compared to the
other postures, so the work on this posture could offer a better muscle contraction intensity,
giving many therapeutic benefits to this patient. From this results, it turns necessary to get to
deeper on this line of research.
132
INTRODUÇÃO
133
Os primeiros relatos de paralisia cxerebral foram descritos em 1843 por William John Little,
um cirurgião inglês, que a definiu como uma patologia ligada a diferentes causas e
características, principalmente por rigidez muscular. O autor a caracterizava como uma
lesão que paralisava crianças no primeiro ano de vida, causando enrijecimento e espasticidade
muscular em suas pernas e em menor nível nos braços. Essa doença foi caracterizada por
vários anos como doença de Little, e atualmente é conhecida como paralisia cerebral a diplegia
espástica. Little sugeriu que crianças que nasciam após um parto complicado e tendo como
resultado a falta de oxigênio, tinham prejudicados os tecidos sensíveis do cérebro responsáveis
pelo controle do movimento (Diament, Cypel, 1996, NINDS, 1997, Rotta, 2002).
A criança com paralisia cerebral apresenta como principal o distúrbio motor, que por muitas
vezes leva à dificuldade na marcha por diversos fatores, entre eles a falta de controle do
tronco e desequilíbrio tônico.
Potenciais elétricos do músculo podem ser detectados por meio de eletrodos de superfície no
tecido muscular, que correspondem ao sinal eletromiográfico detectado no monitor
(Basmajiian, 1963; Basmajian, 1975; Smith et al, 1997; Binder-Macleod, 2001; Low e Reed,
2001).
Os eletrodos são colocados sob a pele, captando a soma da atividade elétrica de todas as
fibras musculares ativas. Caracteriza-se por ser um método não invasivo e de fácil execução,
sendo largamente utilizado em áreas como o estudo cinesiológico e neurofisiológico dos
músculos superficiais.
134
MÉTODOS
Sujeitos
Participaram da coleta uma égua, sem raça definida; e uma paciente portadora de paralisia
cerebral do tipo tetraparesia distônica, do sexo feminino, com 8 anos de idade, atendida
previamente pela equitação terapêutica. A paciente não apresentava nenhuma restrição
para a montaria, como no caso de instabilidade atlanto-axial ou luxação de quadril. O
ambiente no que foi realizada a coleta era um picadeiro retangular aberto, com a pista
totalmente coberta por areia fofa, onde, durante o tempo de coleta, o ambiente não impedia
o movimento do cavalo.
Procedimentos
Foram realizados assepsia da pele com algodão embebido em álcool a 58%, colocado, na
região do ponto motor do músculo eretor lombar, dos eletrodos circulares pré-geldados de
cloreto de prata da marca MedTrace® e captação do sinal mioelétrico com o aparelho de
eletromiografia de superfície de 4 canais da marca Miotec®.
O estudo foi baseado na análise dos dados obtidos do resultado da eletromiografia, sem
análise estatística por se tratar do estudo de um caso, além do fato de o objetivo do trabalho
ser analisar comparativamente o músculo eretor lombar nas diferentes posturas sobre o
cavalo em apenas um paciente. As posturas coletadas do paciente sobre o cavalo foram
respectivamente com o cavalo estático e ao movimento; frontal, lateral direita, lateral esquerda
e dorsal.
Gusman e Torre (1998) definem que as reações de equilíbrio servem para ajustar a postura,
manter e recuperar o equilíbrio antes, durante e depois do deslocamento do seu centro de
gravidade.
Severo (1999) define o equilíbrio como uma função essencial às posições estáticas e de
locomoção, centrada no sistema vestibular bilateralmente e em íntima ligação com as funções
cerebelares. Há uma verdadeira função orgânica e funcional entre a propriocepção, o
equilíbrio, a coordenação cerebelar, a visão e o próprio sistema motor de forma globalizada.
Segundo Kandel; Schwartz e Jessel (1997), os músculos axiais (tronco) e apendiculares
(proximais) do homem são usados na manutenção do equilíbrio postural, enquanto os
músculos distais são utilizados para atividade manipulatórias.
A finalidade preliminar da terapia dos pacientes com PC é de manter a postura ereta estática,
que é a base para outras atividades motoras mais complexas. A equitação terapêutica utiliza
o contrapeso do corpo, junto com a variedade de balanços, como as estimulações aplicadas
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
O passo se caracteriza por uma andadura ritmada, cadenciada e em quatro tempos, ou seja,
ouvem-se quatro batidas distintas, nítidas e compassadas que correspondem ao pousar dos
membros do animal (Medeiros, Dias, 2002).
A equitação terapêutica é uma abordagem de tratamento do paciente que deve ser realizada
de forma global. Por este motivo, devem ser estimuladas diversas posturas, algumas com
objetivo de trabalho motor, em especial neste caso fortalecimento muscular, outras com
objetivo da vivência sensorial por meio do contado do paciente com o cavalo, integrando
sensorialmente ambos.
CONCLUSÃO
No caso deste paciente, se o objetivo da terapia for fortalecer músculos extensores de tronco,
o trabalho deve ser enfatizado de costas para o cavalo, tendo em vista que esta postura é que
mais recruta fibras musculares para a estabilização de tronco e vivência do balanço provocado
pelo movimento tridimensional do cavalo, de maneira simétrica, reproduzindo desta forma
as oscilações do quadril durante a marcha humana. Se em outro caso, o objetivo for fortalecer
outros grupos musculares, torna-se interessante realizar um estudo eletromiográfico, obtendo-
se, assim, subsídios para avaliação da postura adequada, visando ao objetivo terapêutico
mais individualizado para cada caso abordado, embasando melhor a conduta de atendimento
dentro da equitação terapêutica.
137
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139
MEMÓRIA E AUTO-ESTIMA NA SÍNDROME DE DOWN:
A EQUOTERAPIA TEM ALGUM EFEITO SIGNIFICATIVO?
INTRODUÇÃO
A terapia assistida por animal, também conhecida como terapia com animal de estimação,
usa animais de estimação para ajudar as pessoas com necessidades especiais, afetando
positivamente sua saúde e bem-estar psicológico (Del Negro, 2004). De acordo com Soares
(1985, citado em Siegel, 1990) considera-se que animais de estimação fornecem a seus
proprietários diferentes benefícios, tais como companhia, auxílio à saúde e ao descanso,
proteção, aceitação sem julgamento, e amor. Também se pensa que somente no afagar um
animal, a pressão arterial animal é reduzida e a longevidade no idoso é melhorada (Katcher
e Friedman, n.d., citado em Pascale, 1998). Pesquisa conduzida sobre os efeitos da posse de
animal de estimação nos idosos mostrou que participantes com animais de estimação
informaram ter tido menos contato com o médico em comparação com os não-proprietários
durante o estudo de ano (Siegel, 1990). O relatório de um rapaz com paralisia cerebral,
descrito por Suzik (1998), testemunhou que na presença do seu cão os músculos rígidos do
rapaz relaxaram.
Animais de estimação não são os únicos animais que melhoram a saúde em geral e o bem-
estar nos seres humanos. Cavalos e golfinhos também têm tido importante papel no cenário
terapêutico (Britton, 1991; Universidade de Padova, 1997). Terapia com cavalos é também
conhecida como equoterapia, e é usada para descrever todos os usos reabilitativos do cavalo
(Engel, 1994). A equoterapia pode ser dividida em três partes principais: terapia pura (médica),
lazer e terapia combinados (educacional) e lazer puro (esporte) (Wolf, 1979). De acordo
com Danelle Kern (2000), andar a cavalo pode ser uma ferramenta para o tratamento de
diferentes tipos de distúrbios neurológicos, ósseos, musculares e emocionais. Todavia, fatores
como o tipo e severidade da deficiência e o nível da motivação do cavaleiro podem influenciar
o que uma pessoa deficiente ganha com a equoterapia (Lessick, et al., 2004, p.48). Os efeitos
positivos dessa terapia têm sido demonstrados através de melhoras de comunicação em
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
indivíduos com autismo (Citterio, 2001), e redução de crises epiléticas em indivíduos epiléticos
(Clay, 2004). O aspecto médico da terapia, também chamada equoterapia, refere-se a “uma
forma passiva de equitação na qual o paciente senta-se no cavalo e permite que o cavalo o
movimente” (Biery, 1985, p.346).
Para certos indivíduos com deficiências o cavalo pode agir como um motivator (Britton,
1991; Borzo, 2002). O excitamento de andar a cavalo e a superação dos desafios propostos
pela equitação podem estimular uma melhora nas capacidades e habilidades do cavaleiro
(Lessick, et al., 2004; Arachi & Rugiero, 2001). Além do mais, foi sugerido que estar de “bom
humor” faz o tratamento mais eficiente (Kern, 2000). Ao cavalgar, o cavaleiro absorve grandes
quantidades de insumos sensoriais (Baker, 1996). Tentar processar esses insumos, criando
resultados funcionais, e a motivação para andar a cavalo forçam o cavaleiro a usar a memória,
como uma ajuda no apredizado e como uma ferramenta de como alcançar metas diferentes
(e.g. : manter uma postura correta e fazer o cavalo dar a volta) (Biery, 1985). Como
conseqüência, andar a cavalo parece ajudar o cérebro do cavaleiro a organizar-se, fornecendo
um insumo forte, motivante e multissensorial (Baker, 1996). Além do mais, de acordo com
Biery (1985), atividades eqüino-orientadas, tais como escovar e a gerência de estábulos podem
ajudar a estimular e melhorar a memória.
Uma pequisa realizada por Bizub, Joy e Davidson (2003) conduziu um estudo qualitativo
para analisar a eficácia de um programa de equoterapia de dez semanas. Pedindo aos cinco
participantes que descrevessem suas experiências, os pesquisadores descobriram que positivos
ganhos psicológicos, tais como um senso aumentado de auto-eficácia e auto-estima, foram
alcançados. Além disso, por analisar as experiências dos participantes, a equitação tornou-
se uma experiência de “normalização”. A ligação percebida, estabelecida pelos participantes
com relação aos cavalos, ajudou-os a diminuir o próprio senso de isolamento ou diferença.
Além do mais, o cavalo foi percebido como uma fonte incondicional (sem julgamentos) de
apoio. No entanto, o relacionamento que se desenvolveu entre os pesquisadores e os cavaleiros
poderia ter influenciado as declarações pessoais dadas pelos participantes. Como uma
conseqüência, para evitar este efeito, foi sugerido promover estudos qualitativos considerando
ter uma pessoa pouco conhecida entrevistando os participantes.
Outra pesquisa conduzida por Burgon (2003) monitorou seis adultos com problemas de
saúde mental, andando a cavalo uma vez por semana, durante um período de tempo de seis
meses. O estudo achou que a confiança era um dos aspectos que fortemente aumentou nos
participantes. Três razões principais foram dadas para os resultados obtidos. Primeiramente,
a equitação, trabalhada como uma motivação para que os participantes tentassem e se
acostumassem a uma nova experiência. Em segundo lugar, os cavaleiros não viam o ambiente
onde a terapia acontecia como julgador, e por conseqüência eles perceberam-no como seguro.
Finalmente, os participantes sentiram que poderiam transferir a confiança ganha para outras
situações sociais, fora da instituição de equoterapia.
do mais, porque a terapia e, portanto, equoterapia, parece ter um impacto maior em indivíduos
com incapacidades quando estão de “bom humor”; o estudo também tentará avaliar se o
humor pode influenciar a recordação da memória em indivíduos com síndrome de Down
(segunda hipótese). Finalmente, levando em conta que a equoterapia melhora a auto-estima,
esta deve ser mais alta em cavaleiros com uma deficiência comparados com um grupo de
controle de “não-cavaleiros” com a mesma deficiência. Como uma conseqüência do que foi
declarado previamente, o presente estudo observará se a equoterapia influencia a auto-
estima em indivíduos com síndrome de Down (terceira hipótese).
MÉTODO
Participantes
Dezessete indivíduos com síndrome de Down participaram da pesquisa. Eles foram divididos
em dois grupos: grupo A e grupo B. O grupo A foi composto de 9 participantes com síndrome
142 de Down (3 mulheres e 6 homens). Eles tinham uma gama de idades de 8 a 51 anos
(média=33.78; desvio padrão=16.60). Oito participantes eram cavaleiros no Beechley Riding
Centre para Deficientes (Liverpool), enquanto o outro participante era cavaleiro no Bowlers
Riding School (Formby, Liverpool). Todos os participantes cavalgavam uma vez por semana
em dias e horários diferentes. A idade com a qual os participantes começaram a cavalgar
variou de pessoa para pessoa.
Materiais
Para medir a recordação da memória, a pesquisa utilizou 20 cartões. (9 cm x 14.5 cm) que
exibiam imagens coloridas de plantas (flor, limões, maçã, cerejas, cenouras, bananas, cebolas),
objetos (papel higiênico, televisão, cadeira, relógio, mesa, escova de dente), animais (cachorro,
raposa, coruja, pato, águia) ou diversos (nuvens, céu). As imagens nos cartões foram
selecionadas de endereços da Internet. Para que fosse possível lembrar em que ordem os
cartões foram mostrados, cada um era numerado no verso, e o nome da imagem representada
estava escrito em preto, abaixo de cada gravura. Para se conseguir registrar quais e quantos
cartões o participante lembrou, uma folha de memória foi usada. Para testar a auto-estima
dos participantes, um questionário foi criado para o propósito da pesquisa. Dezessete
questionários foram usados na pesquisa. Cada questionário apresentava 16 perguntas.
Procedimento
Para obter a aprovação dos tutores ou pais dos participantes, 17 Folhas de Informação ao
Participante e 17 Folhas de Consentimento do Participante foram distribuídas a diferentes
instituições em Liverpool. Dependendo se os participantes estariam também participando
da equitação, ou não, eles foram divididos em dois grupos: grupo A (grupo teste) e grupo B
Aos participantes no grupo A foi pedido que fizessem a prova de memória depois da sua
lição semanal de equitação (duração da lição: aproximadamente 30 minutos). Primeiro o
participante foi levado a um quarto, onde foi pedido que se sentasse. O pesquisador sentou-
se à frente dele/a. Na primeira vez em que um participante era encontrado, o pesquisador
apresentava-se e também explicava o propósito do estudo. Em cada sessão, ao participante
era indagado se estava disposto(a) a fazer a prova e, se a resposta fosse positiva, era-lhe
perguntado se poderia ler e como se sentia naquele momento. Uma descrição do humor do
próprio participante foi considerada como positiva, quando a resposta à pergunta era
qualquer “bom” ou “bem”. Caso a resposta fosse “má” ou “não tão bem”, o humor do
participante, era considerado como negativo.
Em seguida, foi explicada a prova de memória com os cartões. Eles foram mostrados um à
um ao participante, numa distância que convinha à sua visão. Enquanto mostrava os cartões, 143
o pesquisador lia o nome da imagem exibida em cada cartão ao participante, que deveria
repeti-lo. Depois que todos os cartões fossem mostrados, o pesquisador pedia: (“Então, o que
você viu nos cartões?” e/ou “O que você lembra?”). O tempo dado ao participante era o
necessário para que lembrasse tantos cartões quanto possível. No entanto, se o participante
demonstrasse indecisão ou dissesse que não podia lembrar-se de qualquer outro cartão,
fazia-se a pergunta “Você pode lembrar-se de qualquer outro cartão? Tem certeza” No fim
de cada prova semanal, foi dado ao participante um retorno sobre quantos cartões ele/ela
pôde lembrar-se. Quais e quantos cartões cada participante lembrara, em cada semana,
foram registrados na Folha de Memória.
RESULTADOS
Os dados coletados durante as seis semanas foram analisados da seguinte forma. Primeiro,
os cartões lembrados durante as seis semanas para ambos os grupos (o dos “Cavaleiros” e o
dos “Não-Cavaleiros) foram agrupados em três diferentes conjuntos, somando a semana 1 e
a 2 a 3 e 4, 5 e 6. Isso foi feito para facilitar a pesquisa, devido a dados perdidos na folha de
pontuação final.
Então, a média para cada conjunto de semanas foi calculada. As médias com relação ao
grupo dos “Cavaleiros” durante as semanas 1 e 2 (média=7.33; desvio padrão=3.42), semanas
3 e 4 (média=9.50; desvio padrão=3.35) e semanas 5 e 6 (média=10.00; desvio padrão=4.58)
são um pouco maiores que as médias do grupo dos “Não-Cavaleiros” durante as semanas 1
e 2 (média=6.90; desvio padrão=3.40), semanas 3 e 4 (média=7.81; desvio padrão=3.18) e
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
As estruturas em caixa foram usadas para avaliar a distribuição dos dados para ambos os
144 grupos durante os três diferentes conjuntos de semanas na prova de memória. Os dados
relativos a quantos cartões o grupo dos “Cavaleiros” (média=7.33; desvio padrão=3.42) e o
grupo dos “Não-Cavaleiros” (média=6.90; desvio padrão=3.40) lembraram durante a
primeira e segunda semana estão normalmente distribuídos. Os dados envolvendo quantos
cartões foram lembrados durante a terceira e quarta semanas pelo grupo dos “Cavaleiros”
(média=9.50; desvio padrão= 3,35) são deixados distorcidos, enquanto os dados envolvendo
quantos cartões foram lembrados durante a terceira e quarta semanas pelo grupo dos “Não-
Cavaleiros” (média=7.81; desvio padrão=3.18) estão normalmente distribuídos. Finalmente,
os dados relativos a quantos cartões foram lembrados durante a quinta e sexta semanas pelo
grupo dos “Cavaleiros” (média=10.00; desvio padrão=4.58) estão normalmente distribuídos,
enquanto para o grupo dos “Não-Cavaleiros” (média=9.50; desvio padrão=4.35) são deixados
distorcidos (divergentes).
Um teste 2X3 ANOVA com medições repetidas para o segundo fator foi então calculado,
mostrando significativo efeito principal sobre as semanas (F (2, 30)=11.90; p<0.05), o qual
sugeriu que os participantes aumentaram o número de cartões lembrados a cada semana,
independentemente do grupo a que pertenciam (média (desvio padrão): semana 1 e semana
2 < semana 3 e semana 4 < semana 5 e semana 6 respectivamente 7.10 (0.83)<8.67 (0.80)<9.75
(1.09)). No entanto, nenhum efeito significativo principal de grupos de participantes (F
(1,15)=0.82; p>0.05) foi encontrado, sugerindo que o grupo no qual os participantes estavam
(Grupo do “Cavaleiros”: média=8.94; desvio padrão=1.18; e “Não-Cavaleiros” média=8.06;
desvio padrão=1.25) não teve influência significativa em quantos cartões os participantes
estavam lembrando. Além disso, nenhuma interação significativa foi encontrada entre as
semanas nas quais os participantes tinham que lembrar os cartões e a que grupo (“Cavaleiros”
ou “Não-Cavaleiros) pertenciam (F (2,30)=0.82; p>0.05), sugerindo que ambos os grupos e
as semanas não tiveram nenhuma influência significativa na memória dos participantes
(média (desvio padrão) do grupo dos “Cavaleiros” durante as semanas 1 e 2, semanas 3 e 4,
semanas 5 e 6 respectivamente: 7.33 (3.42); 9.50 (3.35); 10.00 (4.58)) (média (desvio padrão)
Para testar e segunda hipótese, se o humor influencia a memória, a pesquisa usou uma
correlação bivariada. Por causa da falta de variância percebida nos dados mostrando o
humor dos participantes durante os três conjuntos de semanas, os cartões foram lembrados
durante as 6 semanas para ambos os grupos (“Cavaleiros” e “Não-Cavaleiros”) coletados
em dois grupos diferentes pela soma das semanas 1, 2 e 3, e somando as semanas 4, 5 e 6.
DISCUSSÃO
Por causa dos resultados de não-importância obtidos no projeto de sujeitos mistos, o presente
estudo não conseguiu demonstrar que participantes com síndrome de Down tendo lições/
sessões de equoterapia mostraram uma diferença, maior desempenho da memória (primeira
hipótese). A motivação dos cavaleiros pensou-se ser uma das causas mais importantes da
estimulação e, portanto, melhoria da memória (Arachi & Rugiero, 2001). Também, os insumos
sensoriais adquiridos durante a montaria e o processamento destes devem forçar o cavaleiro
a usar a memória como uma ajuda em aprender e para alcançar diferentes metas (Biery,
1985). O presente estudo, no entanto, não conseguiu alcançar as mesmas conclusões como
as alcançadas por Arachi & Rugiero, (2001) e Biery (1985). Aliás, o estudo atual não achou
nenhuma diferença significativa entre o grupo dos participantes cavaleiros e o grupo de
controle. É verdade que os resultados mostraram aumento a memória em ambos os grupos,
e que os dois grupos tiveram leve diferença em quão bem executaram, durante as semanas,
146
o lembrar dos cartões. Além do mais, a diferença leve na média entre os dois grupos não foi
suficiente para a análise de variância para produzir resultados significativos.
Também os estímulos a serem lembrados (cartões) podiam ser melhorados, escolhendo uma
gama de imagens que possam se adequar ao conhecimento de todos os participantes de
ambos os grupos. Aliás, durante o estudo, foi o pesquisador que notou que nem todos os
participantes conheciam o que foi representado nos cartões. Por causa disto, podia ser
argumentado que alguns participantes, tendo melhor conhecimento dos estímulos
apresentados, poderiam ter estado em vantagem comparativa com relação aos outros
participantes. E também, os objetos que aparecem em cada cartão apresentavam tanto o
nome quanto a gravura do que representavam. Os participantes que soubessem como ler
poderiam ter estado em vantagem comparativa com relação àqueles que não poderiam ler.
Aliás, os indivíduos incapazes de ler poderiam ter se lembrado dos cartões por causa das
imagens e por causa de o pesquisador ter lido o nome em cada cartão. Mais estudos poderiam
usar tipos de estímulos diferentes para testar a memória, que devem ser conhecidos por
todos os participantes.
Além do mais, as diferenças entre os participantes, tais como idade e sexo, em ambos os
grupos, poderiam ter influenciado os resultados em quão bem os participantes executavam
a tarefa. Uma pesquisa futura podem combinar os participantes por seu Q.I., por exemplo,
para controlar estes fatores. Também, antes de ter os participantes comparados a apenas
um grupo de controle, pode ser interessante tê-los comparados com ambos, um grupo de
controle e outro grupo de indivíduos com a mesma incapacidade fazendo uma terapia
convencional. Isto pode ser um meio de testar se a equoterapia tem qualquer influência
O presente estudo não conseguiu reafirmar a declaração de que estar de “bom humor”
torna o tratamento mais eficaz (Kern, 2000) (segunda hipótese). Aliás, o estudo não achou
durante o primeiro conjunto de semanas (primeira, segunda e terceira semanas), uma
correlação significativa entre o humor dos participantes em ambos grupos e quantos cartões
eles lembravam. No entanto, durante o segundo conjunto de semanas (quarta, quinta e
sexta semana), os resultados mostraram uma correlação significativa entre o humor e quantos
cartões os participantes lembravam. Isto talvez possa ser por causa de uma falta de variância
nos resultados com respeito ao humor dos participantes durante a primeira, segunda e terceira
semanas. A pesquisa também levou em consideração ambos grupos de participantes
simultaneamente, enquanto poderia ter sido melhor comparar o grupo de cavaleiros com o
grupo de controle. Como resultado, pode se argumentar que o estudo presente afirmou só
que o humor deve fazer uma diferença em quantos cartões foram lembrados. Não forneceu
também nenhuma evidência de que andar a cavalo altera o humor e, portanto, faz alguma
diferença na tarefa de memorizar. 147
Por causa destes resultados, pode-se sugerir que alguns participantes não declararam seus
sentimentos verdadeiros para agradar o pesquisador. Porque, caso os participantes não
conhecessem o pesquisador anteriormente à pesquisa, não poderiam ter se sentido
suficientemente confiantes para declarar seus sentimentos. Adicionalmente, porque os
resultados relativos a esta hipótese não eram suficientemente fortes, e o humor dos indivíduos
difícil de definir, estas afirmações devem ser criticamente consideradas.
De acordo com pesquisa conduzida por Burgon (2003), confiança foi um dos aspectos que
cresceu fortemente nos participantes. O presente estudo não comparou a auto-estima a outros
aspectos psicológicos que poderiam se beneficiar da equoterapia. Além disso, a pesquisa
conduzida por Burgon encontrou resultados sobre a confiança, enquanto o presente estudo
testou os participantes sobre sua auto-estima. Pode se argumentar que auto-estima e confiança
são inter-relacionados, porém mais estudos sobre a equoterapia devem ser necessários para
avaliar esta afirmação.
A pesquisa conduzida por Bizub, Joy & Davidson (2003) verificou que a auto-estima era um
dos benefícios psicológicos ganhos após um programa de equoterapia. O presente estudo
apoiou a pesquisa de Bizub, Joy & Davidson, por encontrar maior auto-estima nos
participantes frequentando lições de equoterapia, quando comparados aos participantes do
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
grupo de controle. Todavia, esse estudo foi baseado em entrevistas sem um grupo de controle,
enquanto para testar a auto-estima o presente estudo usou um questionário e grupo de
controle. De qualquer modo, mesmo que ambos os estudos tenham diferido quanto ao método
de coleta de dados utilizado, eles obtiveram os mesmos resultados. E também, nenhum outro
ganho psicológico foi observado.
Pode-se argumentar que o questionário usado para medir a auto-estima nesta pesquisa não
foi relevante o suficiente. De fato, o questionário foi criado para o propósito do estudo. Além
disso, o pesquisador percebeu que participantes de ambos os grupos não conseguiram
entender algumas das perguntas feitas no questionário e precisaram da ajuda dos pais ou
responsáveis. Para analisar a auto-estima, estudos mais aprofundados devem considerar o
uso do presente questionário para testar sua validade. As declarações podem ter sido
influenciadas pela presença do pesquisador durante o preenchimento dos questionários.
Em consequência, como anteriormente sugerido por Bizub, Joy & Davidson (2003), estudos
mais aprofundados poderiam considerar ter uma pessoa estranha aplicando o teste aos
148 participantes.
Um número de questões deve ser levantado sobre o quão genéricos os presentes resultados
podem ser. De fato, o estudo pode somente ser considerado com resultados em relação à
população com síndrome de Down. Além disso, já que o estudo foi baseado em resultados
quantitativos, a amostragem pode ser considerada muito pequena. Estudos mais
aprofundados deveriam observar os efeitos da equoterapia em uma amostra maior de
participantes. A pesquisa não analisou se havia uma diferença com relação ao tempo em
que os participantes tinham estado cavalgando. Poderia ser interessante observar se estar
cavalgando por mais tempo teria algum efeito sobre as tarefas de memória ou sobre a auto-
estima.
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151
SEGURANÇA NA EQUOTERAPIA: MINIMIZANDO RISCOS
E PROMOVENDO UM MELHOR E MAIS INTENSO
CONTATO ENTRE PRATICANTE E CAVALO
INTRODUÇÃO
1. Terapeuta e cliente têm que estar no mesmo ambiente e na mesma hora. No caso da
equoterapia, inclui-se o cavalo como parte integrante e indispensável ao setting terapêutico.
2. Congruência: o terapeuta deve ser unificado, integrado, congruente; deve ser na relação
exatamente aquilo que é, de maneira franca e verdadeira e não uma fachada ou um papel.
4. Compreensão empática: captar o mundo interior do cliente como se fosse o seu próprio,
mas não confundi-lo como tal.
Como tenho relatado em trabalhos anteriores, acredito que o cavalo, de certo modo, contém
todas as características citadas, porém, mesmo o cavalo tendo uma função ímpar e
inquestionável nesta terapia, quem vai estabelecer a dinâmica da relação praticante-cavalo
são as pessoas envolvidas neste encontro, e questiono: será que o mediador da terapia também
promove condições facilitadoras - congruência, aceitação incondicional, empatia e transmissão?
Quando Rogers identificou essas condições facilitadoras, provavelmente desconhecia a
equoterapia. Ousando imaginá-lo no ambiente equoterapêutico, arriscaria dizer que uma
152 das condições seria: ‘Estabelecer o contato praticante-cavalo preservando a integridade emocional
e física do cliente’. Apesar da importância de todas as condições e atitudes citadas, o foco
deste trabalho encontra-se na responsabilidade do mediador em formar um contato intenso,
real e muito seguro, seja do ponto de vista físico, seja emocional.
1) Exemplos Práticos
O trauma físico pode se dar numa queda do praticante, numa resposta agressiva de um
cavalo, numa cabeçada do animal ao se coçar, numa pisada no pé do praticante, ou qualquer
outro evento que traga danos físicos justamente a quem, cuja condição global, estávamos
tentando melhorar. Os traumas emocionais podem ocorrer ainda mais facilmente, em
conjunto com o trauma físico ou isoladamente. Quando, por exemplo, um mediador diz ao
praticante que não há perigo nenhum ao alimentar um cavalo com uma cenoura, mas o
animal, faminto, acaba por morder o dedo do praticante. Nesta situação, a confiança é
abalada e o desejo do praticante em participar deste processo diminui. Também, o cavalo
pode assustar-se com algo e o mediador, distraído ou despreparado, também pode assustar-
se com o evento; naturalmente o praticante será acometido pelo mesmo sentimento de
insegurança e o processo terapêutico estará ameaçado. Nesses casos, estaríamos desabilitando
e não habilitando.
Muitas vezes os mediadores expõem os seus praticantes a traumas por não saberem dos
riscos que envolvem aquela operação. Os exemplos citados ilustram que para proteger física
e emocionalmente um praticante, o mediador tem de estar preparado para o maior número
de situações de risco possíveis, sendo congruente com as possibilidades.
Ilustro esta questão com um episódio ocorrido durante um atendimento que mediei; o que a
princípio pode parecer um comportamento de superproteção, será claramente elucidado.
Quando o praticante me desobedeceu, estava claro que o final seria a queda, mas o ambiente
era perfeito para que isso ocorresse e o episódio seria bem vindo para fazê-lo aprender mais.
Após este evento, o nosso vínculo de confiança aumentou ainda mais e o seu fluxo de
desenvolvimento fluiu com mais intensidade.
O que aconteceria se nós não contássemos com uma possível queda? E se eu também me assustasse
com o ocorrido? E se eu tivesse omitido esta possibilidade? E se ele não tivesse sido treinado para
evitar se machucar numa queda? E se ele não tivesse montado logo em seguida?
Não sabemos exatamente o que poderia acontecer, o que sabemos é que, neste caso, um
conjunto de cuidados levou um episódio de riscos traumáticos a otimizar o processo de
evolução da terapia.
Para ilustrar e exemplificar a importância da segurança neste trabalho, recorro a uma outra
atividade a que me dedico há mais tempo – o montanhismo. Venho praticando este esporte
há 12 anos, sou atual presidente da Associação de Montanhismo da minha região e há oito
anos me dedico a ministrar cursos de escalada em rocha.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
A escalada é um esporte praticado da melhor forma em duplas unidas por uma corda, onde
o primeiro da cordada é o escalador guia e o outro é o escalador participante. Enquanto o
guia abre caminho, levando a ponta da corda para cima da montanha, prendendo-se a
pontos de segurança e arriscando-se a cair entre eles, o participante controla a corda para
impedir que o guia toque o chão em caso de queda. Do alto, o guia, já preso a um ponto fixo,
faz a segurança para o participante, que escala sem risco de queda, pois está sendo segurado
pela corda de cima.
Segundo Graydon e col. (1992), quem está à frente de uma escalada é o responsável pelo
desfecho da empreitada. O guia tem de estar pronto para uma possível queda, para um
ataque de abelhas escondidas em uma fenda, tem que conhecer o caminho, tem que saber as
condições do tempo, as vestes, os equipamentos e os suprimentos necessários, o tempo que a
dupla vai levar para subir e descer da montanha e, o mais importante de tudo, é responsável
por saber o que fazer se algo der errado, como se começar a chover, o quê em uma escalada
154 na rocha, deixa muito perigosa ou até impossível a ascensão.
Quando vamos escalar, não esperamos que esses imprevistos aconteçam, mas temos que
saber como agir se acontecerem, porque mais dia menos dia eles acontecerão. Por isso, o
guia deve ser um escalador que gradativamente adquiriu experiência e conhece sobre tais
variáveis e riscos e, mais do que isso, sabe como evitá-los ou minimizá-los.
Fonte: http://www.segurancaemmontanha.com.br
As variáveis são muitas e nós não temos controle sobre todas elas. Muitas vezes, o escalador
conhece muito dos nós, equipamentos, desenvolve técnica e força escalando em ginásios;
sente-se um escalador completo, mas quando está numa montanha, tem que lidar com
fenômenos naturais que não pode controlar, como chuva, vento, sol, abelhas, insetos, vertigem
e tantas outras variáveis circunstanciais.
Esse escalador de ginásio pode ser comparado ao profissional da saúde que domina a sua
área, seja fisioterapia, psicologia, ou qualquer outra, e já tem sucesso nos seus atendimentos
em consultório. Então, faz um curso de Equoterapia, aprende sobre os benefícios desta prática
e inicia os seus atendimentos no picadeiro como um mediador equoterapeuta. Está
Para os profissionais que acham que estão seguros por ‘Termos de Responsabilidade’ que os
pais assinam, vale ressaltar que, no Brasil, isso não tem valor legal caso uma família sinta-se
prejudicada pela equoterapia, quer seja material, quer seja moralmente.
155
A lei é imperativa, e vale tanto para o dono do centro de equoterapia quanto para os
profissionais envolvidos com o atendimento. Os danos causados a praticantes provenientes
do processo terapêutico e seus acidentes estarão sujeitos às penas do novo Código Civil e
Criminal.
Segundo o Código de Processo Civil Lei Federal nº 10.406, de 10/01/2002:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se
não provar culpa da vítima ou força maior.
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras
reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o
luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se
em conta a duração provável da vida da vítima.
Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o
ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da
convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.
Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o
seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a
indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da
convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para
que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por
negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-
lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.”
O Código Penal prevê em Decreto-Lei nº 2848, de 07/12/40:
“Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável
a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
resultado não teria ocorrido.
2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir
para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
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O código penal é muito claro: com a negligência vem a culpa. Portanto, mediar uma sessão
de equoterapia sem conhecer as principais variáveis de risco é negligenciar.
Assim como para um escalador participante vir a ser um guia instrutor ele tem de passar por
vivências, às vezes anos de escalada, para conseguir enxergar as variáveis, visualizar os
riscos envolvidos e daí partir para uma tomada de decisão e guiar uma cordada, na
equoterapia, considero que existam dois tipos de profissionais que participam do atendimento:
os mediadores (guias) e os auxiliares (participantes). Como na escalada, tanto um como o
outro são essenciais ao processo, mas o mediador tem de ter muita vivência, conhecer as
possibilidades, prever os movimentos tanto do cavalo como do praticante, e dominar o
ambiente à sua volta.
Como instrutor de escalada, aprimorei o meu curso básico focando nos conteúdos
fundamentais para que o aluno pudesse dar continuidade em sua evolução dentro do esporte.
Concentrei-me nos aspectos de segurança, pois praticando de forma prudente, os alunos
teriam tempo para adquirir experiência. No decorrer das aulas, percebi que os conteúdos
ministrados na própria montanha, com exemplos práticos, eram aprendidos mais facilmente.
Piaget (1982) nos elucida este fato quando explica o processo de aprendizagem ocorrendo
através da assimilação, acomodação e adaptação, em que o indivíduo busca adaptar-se às
novas situações assimilando os estímulos externos e os acomodando junto aos seus
conhecimentos anteriores, atualizando os seus conceitos e incrementando a sua cognição.
Mas como assimilar algo à distância? Apesar de o ser humano ter a capacidade de visualizar
e imaginar situações e sensações que serão vividas, a precisão deste mundo imaginário,
virtual, dificilmente compreende a totalidade da realidade e acaba por produzir
pseudoconhecimentos. Por isso, passei a possibilitar que meus alunos construíssem o seu
aprendizado na área de escalada, levando-os à rocha logo no primeiro dia, construindo o
aprendizado com a prática em tempo e situação reais, monitorando as possibilidades de
risco, mas oferecendo uma estimulação multissensorial e emocional, resultante do contato
com o maior número de variáveis reais que iriam encontrar no dia-a-dia da prática.
1) O Treinamento:
Treinamento:
157
Local: Estudos teóricos: Associação Beneficente São Lucas, Bragança Paulista, SP –
instituição cuja demanda permitiu gerar o programa de Equoterapia Pegasus;
Práticas: Centro Hípico Viverde – local em que os cavalos são mantidos, parceiro
que tornou possível a prática da Equoterapia Pegasus.
b) 2ª. FASE – Situações de risco e emergência: como evita-las e como sair delas.
2) Fases do treinamento
Iniciamos o trabalho de formação da equipe com estudos teóricos sobre as relações: cavalo
versus cavalo e homem versus cavalo.
Partimos da história do cavalo no planeta, seu histórico junto ao homem, sua constituição
física, raças, cores, alimentação, o movimento tridimensional e também o estudo das relações
entre cavalos (comunicação, liderança, proteção e acolhimento). Então direcionamos para a
relação cavalos versuspessoas, nosso principal foco.
Para promover um contato maior com os conteúdos, utilizei-me de textos de Monty Roberts
e de um filme inspirado em seus feitos, O Encantador de Cavalos. Este material foi capaz de
homogeneizar os conhecimentos da equipe sobre o comportamento do nosso parceiro.
abrangendo aspectos como a constituição física dos cavalos, cores, etc., e o primeiro contato
com os animais se deu através dos seus cuidados. Os profissionais tiveram que buscar os
cavalos nas baias, escovar, pentear, rasquear, lavar, limpar as ranilhas e alimentá-los.
Quanto aos equipamentos de montaria, eles foram apresentados enquanto cada participante
ajudava a encilhar um cavalo com sela, manta e cabeçada. Durante a vivência, sempre que
possível, sinalizei aos profissionais as diversas reações dos cavalos e o que significavam,
como morder ao apertar a cilha, pisar no pé durante a escovação, e vivenciamos, na prática,
o posicionamento de proteção que o mediador deve ter quando ensina estes procedimentos
aos praticantes.
Este treinamento foi direcionado a pessoas que, em sua maioria, já tinham contato com
equoterapia e ou realizado o Curso Básico da Ande; portanto, foi uma revisão dos aspectos
citados acima, porém com enfoque na segurança ao lidar com o animal, sempre sinalizando
aos alunos, durante a execução das atividades, as possíveis reações dos cavalos.
158
À esquerda, Carolina Castro em seu primeiro contato com o cavalo e à direita, Ana Paula Panizza escovando o
cavalo, utilizando técnica de proteção, mantendo sempre a mão em contato com o cavalo para evitar ser pisada ou
mordida.
REFERÊNCIAS
GRAYDON, D. Mountaineering: The Freedom of the Hills. 5a. ed, Seattle, USA: The
Mountaineers, 1992.
ROBERTS, M. O Homen que Ouve Cavalos. 8. ed., Betrand Brasil LTDA, 2005.
ROGERS, C. R. Sobre o Poder Pessoal. (Trad. Wilma Millan Alves Penteado; Rev. Estela dos
160 Santos Abreu). São Paulo: Martins Fontes, 1978.
EQUOTERAPIA NA RECUPERAÇÃO DA COORDENAÇÃO
MOTORA, EQUILÍBRIO E APOIO PLANTAR, NO PACIENTE
HEMIPARÉTICO POR SEQÜELA DE GERMINOMA
DE PINEAL – ESTUDO DE CASO
INTRODUÇÃO
A equoterapia atua como forma de minimizar alguns dos sintomas causados pela patologia,
pois o movimento tridimensional do cavalo (cima/baixo, frente/trás, direita/esquerda),
transmite ao praticante a partir do seu contato pela pelve, movimentos de inclinações laterais
de tronco, rotações para dissociação de cinturas e movimentações de báscula anterior e
posterior de pelve, proporcionando a este, diversos benefícios, tais como: estimular a
sensibilidade tátil, visual, auditiva e olfativa pelo ambiente e pelos trabalhos com o cavalo;
promover a organização e a consciência do corpo (esquema corporal); desenvolver a
modulação tônica; estimular força muscular; aumentar a auto-estima, facilitando a integração
social; ajudar a superar fobias; estimular afetividade pelo contato com o animal; melhorar a
O equilíbrio pode ser definido como a capacidade que o indivíduo tem de controlar a
estabilidade, ou seja, capacidade de manter constante em relação à gravidade, a sua posição.
A capacidade de se equilibrar está relacionada principalmente ao labirinto e cerebelo, o qual
exerce grande influência sobre o equilíbrio, pois controla a coordenação de todos os
movimentos (HOLLE, 1990).
O trabalho tem como objetivo analisar a coordenação motora, equilíbrio e apoio plantar em
um paciente portador de hemiparesia à direita, devido à seqüela de germinoma de pineal,
através do método da equoterapia, de forma a verificar se este traz ou não benefícios para
este praticante.
Metodologia
Para a realização do trabalho, a amostra foi composta por um paciente (o qual teve
autorização para realização da pesquisa requerida a um de seus responsáveis), 17 anos, do
sexo masculino, identificado como J.L.S., hemiparético à direita devido seqüela de germinoma
de pineal. O diagnóstico de germinoma de pineal foi dado a este paciente em agosto de
1998. No período entre 1999 a 2000, o praticante realizou sessões de radioterapia e
quimioterapia. Desde o término desses tratamentos são realizados apenas controles de
imagem, hematológico e clínico.
As sessões constaram de 30 minutos cada, com freqüência de duas vezes semanais, no período
de outubro a novembro de 2003, totalizando 15 sessões. Durante esse período de tratamento
equoterápico, o paciente não realizou fisioterapia convencional. A prática equoterápica foi
realizada na Instiuição Pequeno Cotolengo do Paraná – Dom Orione.
Testes aplicados
Para obter dados mais fidedignos para estes testes, foi utilizada uma escala de pontuação,
em que o nível de desempenho é determinado através de uma escala arbitrária:
RESULTADOS
No teste “Dedo ao nariz” (gráfico 01) com a mão direita, antes do tratamento o praticante
foi incapaz de realizar o teste (escore 0) e depois do tratamento o realizou com ligeira
dificuldade (escore 3); com a mão esquerda, antes do tratamento atingiu escore 3 e após o
tratamento, realizou o teste normalmente, atingindo escore 4.
Após o tratamento equoterápico, no teste “Dedo ao dedo do terapeuta” com os olhos fechados
mão direita, o paciente realizou o teste com moderada dificuldade (escore 2), apresentando
movimentos arrítmicos. Com a mão esquerda o paciente foi incapaz de realizar o teste (escore
0), sendo que antes do tratamento o paciente foi incapaz (escore 0) de realizar o teste com
ambas as mãos, tanto de olhos abertos como fechados.
Segundo as informações do gráfico 04, do teste “Oposição dos dedos” com os olhos abertos,
antes do tratamento, atingiu escore 2 com a mão direita e escore 3 com a mão esquerda,
após o tratamento, tanto com a mão direita quanto com a esquerda, o paciente conseguiu
realizar o teste normalmente (escore 4),
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No teste “Oposição dos dedos” com os olhos fechados, tanto com a mão direita quanto com
a esquerda, após o tratamento, o paciente conseguiu realizar o teste normalmente (escore 4),
sendo que, antes do tratamento, o paciente o realizou com moderada dificuldade (escore 2)
com a mão direita e atingiu escore 3 com a mão esquerda.
No teste “De pé, pés unidos”, com olhos abertos e fechados o paciente antes do tratamento
atingiu escore 1 (realizou com grande dificuldade) e após o tratamento o realizou com apenas
ligeira dificuldade (escore 3). Com mãos na cabeça, membros superiores abduzidos e acima
da cabeça, realizou-o normalmente (escore 4) ao término do tratamento, sendo que antes do
164 tratamento o realizou com ligeira dificuldade (escore 3) .
O teste “De pé, sobre um dos pés” (gráfico 05) com olhos abertos, fechados, mãos na cabeça
e membros superiores abduzidos foi realizado após o tratamento com ligeira dificuldade
(escore 3), já com os membros superiores acima da cabeça, com moderada dificuldade (escore
2). Antes do tratamento este teste foi realizado com os membros superiores abduzidos e
acima da cabeça com grande dificuldade (escore 1).
O teste “De pé, alternar entre a flexão de tronco e retorno ao normal” foi realizado antes do
tratamento com ligeira dificuldade (escore 3) e após o tratamento com olhos abertos e fechados
sem nenhuma dificuldade, atingindo escore 4.
Nota-se no teste “Andar de lado” (gráfico 06) que, tanto com olhos abertos quanto fechados
foi realizado após o tratamento normalmente (escore 4), sendo que antes do tratamento
realizou o teste com olhos abertos com ligeira dificuldade (escore 3) e com olhos fechados
com moderada dificuldade (escore 2).
No teste “Andar para trás” notou-se que antes do tratamento o praticante atingiu escore 2,
ou seja, realizou-o com ligeira dificuldade, e após o tratamento o teste foi concretizado
normalmente (escore 4), tanto com olhos abertos como fechados.
O teste “Marcha no lugar” foi realizado antes do tratamento com os olhos abertos com
ligeira dificuldade (escore 3) e fechados com moderada dificuldade (escore 2); após o
tratamento, ambos foram realizados sem nenhuma dificuldade (escore 4).
O teste “Iniciar e parar abruptamente a caminhada” com olhos abertos e fechados foi
concretizado após o tratamento equoterápico, com ligeira dificuldade (escore 3), e antes do
165
tratamento com olhos abertos atingiu escore 2 (moderada dificuldade) e com olhos fechados
escore 1 (grande dificuldade).
Pode-se observar no gráfico 07 do teste “Andar em círculo” que, no sentido horário e anti-
horário com olhos abertos, antes do tratamento o praticante o realizou com ligeira dificuldade
(escore 2) e após o tratamento, realizou-o normalmente (escore 4); com os olhos fechados a
dificuldade apresentada foi maior, pois, antes do tratamento o realizou com grande
dificuldade (escore 1) e após o tratamento realizou-o com moderada dificuldade (escore 3).
Após o tratamento com a equoterapia, o teste “Andar sobre os calcanhares” com olhos
abertos e fechados foi realizado pelo paciente com ligeira dificuldade, atingindo escore 3,
sendo que antes do tratamento foi realizado com grande dificuldade (escore 1).
esquerdo.
Também se nota que o centro de gravidade apresentou uma variação de 17,4 cm para 14,7
cm, ou seja, ocorreu uma diminuição na base de sustentação.
Figura 01: Avaliação de ambos os pés do paciente J.L.S., no aparelho baropodômetro F-scan,
166 realizada antes do tratamento.
Figura 02: Avaliação de ambos os pés do paciente J.L.S., no aparelho baropodômetro
F-scan, realizada depois do tratamento.
CONCLUSÃO
Esta pesquisa mostrou que a equoterapia pode promover nos pacientes oncológicos uma
melhora na qualidade de vida, proporcionando-lhes ganho da auto-estima e confiança em
suas próprias vidas.
REFERÊNCIAS
Definição de CSA: É uma área de atuação clínica, educacional e de pesquisa que objetiva
compensar e facilitar (temporária ou permanentemente) os prejuízos ou incapacidades de
indivíduos com sérios distúrbios da comunicação expressiva e/ou distúrbios da compreensão.
(ASHA, 1991).
Quem se beneficia com o uso da CSA? Pacientes com a fala oral prejudicada: PC, autismo.
Condição temporária (pós-trauma com possibilidade de reversão. Condição estabilizada
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(quadro clínico neurológico irreversível, pós TCE / AVC) e condição degenerativa (patologias
degenerativas – comprometimento da inteligibilidade da fala, disartria severa – ELA,
Parkinson).
Sistemas de sinais e técnicas: São diversos os sistemas de sinais e as ajudas técnicas para a
CSA disponíveis atualmente, a fim de adaptar-se às necessidades de uma população com
características e necessidades muito diversificadas, como as que temos no Cepom-PE. No
Brasil o uso da CSA é limitado, pois poucos profissionais têm acesso ao conhecimento desta
técnica. O sistema de sinais mais utilizado em nosso país, na Europa e nos EUA é o PCS
(Pictures Communication Symbols), e é o que utilizamos também no Cepom-PE.
SPC (Sistema Pictográfico de Comunicação): O PCSâ (Mayer Johnson, 1981, 1985, 1989,
1992) é um sistema pictográfico, pois utiliza desenhos lineares simples, icônicos, fáceis de
*
anpneves@hotmail.com.br
168 **
55 81 34 12 17 39
aprender e memorizar. Conta com um vocabulário de 3.000 símbolos divididos em 6
categorias (pessoas e pronomes pessoais, verbos, adjetivos, advérbios, substantivos e termos
sociais). Seu uso é indicado para diferentes grupos etários e de deficiência (PC, RM, autismo,
atraso de linguagem, disartrofonias, etc).
169
O MUNDO DOS CAVALOS: POSSIBILIDADE DE ALFABETIZAÇÃO1.
“Cavaleiro e cavalo formam uma unidade centáurea, como o homem e sua sombra, o
homem superior e o inferior, ou a consciência do eu e a sombra (...)”.
(Jung)
( Provérbio milenar)
INTRODUÇÃO
A importância da relação entre o ser humano e o cavalo já nos foi revelada em 377 a.C. por
Hipócrates. Inspirados e intrigados pela afirmação do Pai da Medicina, apresentaremos
algumas reflexões advindas do projeto de pesquisa, ensino e extensão, em desenvolvimento,
intitulado O Mundo dos Cavalos: Possibilidade de Alfabetização.
Neste contexto, um fato tem chamado a atenção dos pesquisadores de diferentes áreas: a
ampliação dos locais em que se realizam as práticas educativas. Atualmente elas transpõem
o circuito das escolas, encaminhando-se de uma maneira mais decisiva para a ocupação de
novos espaços socioculturais.
1
Este trabalho conta com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo, da Pró-Reitoria de
170 Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo, do CNPq, da Fapesp e da SME-SP.
Tais têm sido as preocupações deste trabalho, pois o mesmo tem como objetivo primeiro
atender às demandas sociais e educativas da população mais carente da região de Campo
Limpo, na cidade de São Paulo, e compreendê-la, por meio do estabelecimento de relações
mais próximas e participativas – característica da metodologia de investigação adotada
pesquisa-ação-formação - com parceria entre a Faculdade de Educação, Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia, ambas da Universidade de São Paulo, e a Hípica Recanto
dos Cavaleiros, local em que o contato com a natureza é privilegiado.
A situação atual de diversas crianças que ainda atingem as séries finais do primeiro ciclo do
Ensino Fundamental com letrismo a-funcional2 expõe como a situação se torna um sério
problema educacional brasileiro, uma vez que alunos concluem a educação básica sem ter
se apossado do mundo letrado funcional e, ainda, sem que a instituição sequer perceba isso.
Quando o fato é percebido, os alunos podem passar por diversos processos de exclusão e
discriminação ao serem taxados de alunos fracassados, problemáticos e, muitas vezes, incapazes
de aprender.Tal situação deve-se a inúmeras causas, desde a falta de continuidade das
políticas públicas, até o acúmulo de fracassos escolares na vida destes alunos, que lhes corrói
a auto-estima e, assim, a possibilidade do aprendizado.
O suíço Carl Gustav Jung alertou-nos para a existência do inconsciente coletivo – conceito que
significa o conjunto do aprendizado da espécie humana ao longo dos tempos e que herdamos
individualmente. Motivos mitológicos, lendas, histórias, ou seja, as heranças espirituais de
cada cultura constituem-se como arquétipos, que cristalizados organizam o nosso conteúdo
inconsciente e, finalmente, representam-no, assumindo matizes que variam de acordo com
a nossa individualidade e, assim, renascendo dentro da singularidade de cada pessoa.
2
Termo utilizado por Biarnés, que compreende a idéia que a dificuldade/ recalque de sujeitos para com as letras
é conseqüência de “um amplo sistema de significações diversas em que o ‘sujeito em relação com o seu meio’
atribui à sua própria relação com a letra” (1998), ou seja, que os problemas da alfabetização vão além da
dificuldade de compreensão e associação. 171
Nas palavras de Jung, percebemos claramente a importância que ele dá ao “cavalo”.
Não nos faltarão oportunidades para tratar das histórias, lendas, histórias religiosas, contos
folclóricos, tais como: cavalos como poderes mágicos e de cura entre os buriatas, a história
do mitológico Pégasus, a história da independência do Brasil com D. Pedro em seu cavalo às
margens do Ipiranga, diversas história das cavalhadas e romarias, a história bíblica que nos
mostra a relação do filho de Deus com o jumento, a história de Bucéfalo, cavalo de Alexandre,
as lendas dos unicórnios, o mito do Odin cuja mãe era um corcel assustador, dentre tantas
outras, igualmente fascinantes. Para os fins deste artigo, esperamos ter podido claramente
estabelecer um paralelismo do motivo mitológico (arquétipo) – CAVALO – e as diferentes
culturas humanas.
Entretanto, ainda de acordo com Jung, de todas as possibilidades que apresentamos até
aqui, uma delas tem sido objeto das nossas reflexões: trata-se do CAVALO como
representante da força vital, tal como a MÃE3, e ainda o seu modo de carregar o ser humano,
mais uma vez, implica a FIGURA MATERNA. Jung afirma: “Assim sendo, o ‘cavalo’ é um
equivalente de ‘mãe4’, com uma tênue diferença na nuança do significado, sendo o de uma, vida
originária e o de outra, a vida puramente animal corporal” (JUNG, 1987, p. 97).
Nos nossos estudos, quando nos remetemos à relação entre mãe e seu filho, não poderíamos
deixar de relacionar alguns conceitos básicos de D. Winnicott, com a segura citação acima
de Jung. Para nossos fins, o conceito winnicottiano espaço de criação é indispensável.
De acordo com Winnicott, nas primeiras semanas deste ato, o bebê pensa que ele é o próprio
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seio da mãe, pois quando mama a sua satisfação é total, é uterina, ou seja, é de completude
e satisfação. Aos poucos, com o distanciamento da mãe e todo o processo de desenvolvimento
neurológico sofrido pelo bebê, ele começa a perceber que o seio materno não está sempre à
disposição dele e que, portanto, o seio da mãe não é ele, bebê. A distância entre mãe (realidade
externa) e bebê (eu interior) foi definida por Winnicott com o conceito de espaço de criação ou
espaço potencial. Ã medida que o bebê percebe que ele não é a mãe e que, entre ele e a mãe,
existe um ‘espaço’ - físico e temporal - ou ainda que a mãe é realidade exterior a ele - o bebê
faz inúmeras tentativas para preencher este ‘espaço’ e diminuir a sua angústia pela espera
do seio materno. Para preencher este espaço, o bebê precisa ‘inventar’ algo, colocar algum
‘substituto’ da mãe enquanto a aguarda, ou seja, ele precisa CRIAR para não sofrer. E assim,
o bebê, enquanto a mãe não vem, contenta-se com uma mamadeira, com uma chupeta, com
um paninho ou mesmo com o seu dedo. Estes ‘objetos’ que se encontram entre a espera do
3
Nas obras de Jung, encontramos vastos e interessantes estudos acerca do arquétipo “mãe”. Recomendamos
vivamente a leitura dessas obras.
172 4
O arquétipo de mãe ocupa grande parte da obra de C. G. Jung. Recomendamos a leitura de seus escritos.
bebê pela mãe e a chegada da mãe, objetos que minimizam a angústia foram chamados por
Winnicott de ‘objetos transicionais’, e o despertar da criatividade para a solução da angústia
da separação foram conceituados como ‘fenômenos transicionais’.
Há que se entender que os ‘objetos transicionais’ não pertencem totalmente à realidade interior
do bebê, porém nela influenciam diretamente; nem ao mundo externo, propriamente dito,
pois são substitutos da mãe que o bebê ainda crê que faz parte de si.
Segundo Winnicott, esta situação de ‘ilusão’ - quando o bebê pensa que o seio da mãe é ele
mesmo e a situação de ‘desilusão’ - quando a criança percebe que o seio da mãe não está
sempre à disposição, repete-se na relação que o ser humano estabelece ao longo da vida
entre ‘ele’ e a realidade exterior a ele. E sendo assim, para que este ser humano se torne
saudável, faz-se mister ‘criar’, produzir ‘fenômenos de transição’. Só assim, um diálogo
interno poderá ocorrer, o que fará cada ser humano tranqüilizar-se diante da eterna questão
que nos acompanha: Quem sou eu?
Assim, nesta ousada síntese, entendemos que o CAVALO, por estar para o ser humano
assim como está o arquétipo da MÃE, e ainda, por constituir-se em objeto transicional, possui
dupla qualidade como facilitador para o aprendizado da língua materna escrita e falada.
Em suma, (....) durante o desenvolvimento do ego, na etapa matriarcal, a criança sente o corpo da
mãe como um prolongamento do seu. Na vida adulta, pode ocorrer uma continuidade dessa projeção
sobre o cavalo. Ao carregar o cavaleiro, esse animal – tal como a mãe fazia com a criança – o embala
e o remete às lembranças e sensações infantis. Assim, passa a substituir a mãe como extensão do
corpo e libido do cavaleiro. (RAMOS, 2005, p.87).
Este grande educador brasileiro afirma que o processo de alfabetização se constitui por meio XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
do diálogo entre aquele que educa e aquele que aprende. Desde modo, há que se alfabetizar
a partir da fala de nossos alunos. Por isso, muitos livros didáticos, cartilhas e outros materiais
utilizados em ambiente educativo se tornam vazios e sem sentido para aqueles que estão em
processo de aprendizagem da escrita e leitura da língua escrita. Para não incorrer nesta
falta de interlocução, Freire propõe que o trabalho do educador se inicie por uma pesquisa
do vocabulário usado pelos alunos e que decorre, certamente, da realidade local em que
estão inseridos. A partir do levantamento destas palavras, o educador - levando em
consideração a riqueza fonêmica e fonética da palavra e o seu potencial para propiciar
discussões político-sociais entre os alunos – seleciona, em torno de 25 palavras, palavras
geradoras, que servirão como eixo norteador do processo de ensino e aprendizagem do grupo
de alfabetizandos.
No caso deste trabalho, assim como Freire indicou, nós poderíamos nos inserir no cotidiano
destes 80 alunos da zona sul da cidade de São Paulo e, por meio do vocabulário utilizado 173
pelos mesmos, alfabetizarmos tal qual o Mestre nos ensinou. Entretanto, por nossa vez,
sempre respeitando os trabalhos do Grande Educador, preferimos inovar e inserir estes alunos
das escolas municipais em um mundo novo, vocabular inclusive: o mundo dos cavalos. E a
partir deste novo universo sociocultural de inserção, apresentar e construir um universo
vocabular juntamente com nossos alunos.
Desta realidade sociocultural, deparamo-nos com contos, lendas, histórias, mitos que em
que os CAVALOS (arquétipo/ mãe – relembremo-nos) são os protagonistas.
Feito este preparo de material, o conteúdo da língua portuguesa passou a ser inserido
juntamente com as aulas de equitação, freqüentadas por nossos alunos, e ainda, por meio de
atividades didáticas que privilegiam tanto o esforço e persistência para sua realização, como
o aspecto lúdico da tarefa, e ainda, o favorecimento de condições para que a criatividade
pudesse vir à tona, sempre levando em consideração os aspectos fonológicos, fonográficos,
semânticos e morfossintáticos da língua portuguesa.
Tudo indica que, a partir do segundo semestre deste ano, possamos prosseguir nossos trabalhos
utilizando histórias de cavalos de “outros tempos” e “outros lugares” que constituirão nosso
objeto essencial de trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Até o momento esperamos ter explicitado como o CAVALO, tanto do ponto de vista da
psicanálise, como a partir da abordagem freiriana, constitui-se figura ideal no âmbito da
alfabetização.
Além disto, e não menos importante, gostaríamos de considerar que os estudos e resultados
advindos da equoterapia são elementos de extrema importância para os objetivos deste projeto.
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REFERÊNCIAS
BIARNÈS, Jean.(1998) O ser e as letras: da voz à letra – um caminho que construímos todos.
Revista da Faculdade de Educação de São Paulo, jul. /dez. 1998.
JUNG, C. G. (1988) Obras Completas: A Prática da Psicoterapia. Vol. XVI. Rio de Janeiro:
Vozes.
____________. (1993) Conversando sobre crianças [com os pais]. São Paulo: Martins Fontes.
175
EQUITAÇÃO PARA DEFICIENTES – UM ENCONTRO
COM A NATUREZA E A ARTE
Quando organizamos tours de equitação de dois dias de duração para o grupo de Apoio a
Crianças Deficientes Hipoterapia, estávamos curiosos para saber como os deficientes mentais,
autistas e pessoas emocionalmente instáveis iriam se portar em circunstâncias difíceis e
desconhecidas. Entretanto, primeiramente estávamos focados em oferecer-lhes uma
experiência emocional autêntica relacionada a cavalos e à natureza. Um passeio (tour) de
equitação nos dá a chance para uma aventura real; é uma fonte de conhecimento sobre o
mundo à nossa volta e desperta a paixão pelo aprendizado que acompanha todo viajante.
Um verdadeiro viajante deve rapidamente aprender hábitos estranhos para ele, deve
facilmente se acomodar a novas condições e habilidosamente superar obstáculos incomuns.
Nosso objetivo foi de ensinar aos nossos participantes essas habilidades, tão úteis não somente
durante esse tipo de viagem, mas também enquanto viajando nos caminhos da vida.
O passeio de cavalgada a ser descrito aqui ocorreu no outono de 2004 e seus participantes
foram jovens de 13 a 16 anos. O grupo já possuía pouco mais de um ano de experiência de
trabalho nos estábulos, e praticava equitação no Clube de Equitação para Deficientes aos
Sábados, organizado por nosso centro de hipoterapia. O grupo consistiu de três meninas
com deficiência mental moderada, incluindo duas com síndrome de Down, e dois meninos,
um com síndrome de Asperger, e o outro com desordens emocionais. Eles foram
acompanhados por quatro hipoterapeutas, graduados em pedagogia, psicologia e reabilitação.
Nosso passeio foi organizado com os cavalos e a assistência de uma fazenda turística na
fronteira leste da Polônia. O primeiro dia foi dedicado à adaptação às novas condições e
situação, a testes de cavalgada e escolha dos cavalos. As tarefas de estábulo e cozinha foram
distribuídas entre os participantes. No segundo dia, fizemos um tour de 18 kilômetros a uma
cabana na floresta. Fomos acompanhados por uma carroça com nossas bagagens e um guia
que conhecia o caminho. Os membros da equipe cavalgaram sozinhos, embora, por razões
de segurança, os cavalos fossem também conduzidos por terapeutas caminhando a seu lado.
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Tivemos bastante tempo para admirar o caminho pela floresta magnífica, repleta de antigas
árvores majestosas, com o soprar do vento e canto dos pássaros. Houve algumas paradas
para descanso, não apenas para os participantes, mas também para os cavalos. Pudemos
compartilhar nossas impressões sobre o dia à luz da fogueira, à noite. No dia seguinte,
tivemos que voltar por uma trilha mais longa de 20 km, novamente cheia de impressões, e, o
que pareceu, mais exaustiva. Voltávamos para a fazenda como um lugar seguro e familiar.
Depois de chegarmos a nosso destino, tivemos algum tempo para trabalhar nossa experiência,
desenhando, escrevendo pequenos poemas e confeccionando (desenhando) as camisetas de
montaria.
Deixemos que nossos jovens cavaleiros tenham a palavra. Os poemas que escreveram durante
esses dias refletem perfeitamente seu humor e as emoções experimentadas.
Sem dúvidas, os cavalos são o mais importante durante o passeio de cavalgada, e os nossos
estavam perfeitamente preparados, de modo que nossos cavaleiros se sentissem seguros e
176 competentes com eles. Os poemas dedicados aos nossos companheiros refletem essa relação.
Cavalo
Cavalo,
Experiente, sábio,
Saltos, galopes, relinchos,
Gentilmente, bravamente
Cavalo.
Os participantes das primeiras cavalgadas que organizamos ficaram com medo de seus
cavalos. Isso podia ser visto não só durante a cavalgada em si, mas também nos desenhos
mostrando os cavalos como monstros dentuços com pequenos humanos indefesos sentados
em suas costas. O segundo grupo viu o cavalo como uma criatura experiente, sábia, paciente
e até sorridente. O cavaleiro em seu dorso parece competente e satisfeito. De fato, os
cavaleiros, enquanto montados, reagiram adequadamente à situação e habilidosamente
cuidaram de seus cavalos ao final do passeio.
A floresta que cruzamos durante grande parte de nossa viagem evocou emoções ligeiramente
diferentes. A floresta Knyszyñska é realmente impressionante e, nas horas passadas na sela
sem ver quaisquer sinais de ocupação humana, pode parecer assustadora para jovens criados
nas cidades.
Floresta
Floresta,
Profunda, escura e assustadora,
Rosnados, molha, sussurros,
Vagarosamente, alto com uma voz forte,
Floresta.
Árvores
Árvores,
Altas, cheias de galhos,
O assustam, acenam, e o avisam na noite
Por causa do vento,
Árvores.
Floresta
Floresta
Sempre verde, ampla.
Sussurros, desenvolve a sabedoria,
Acalma as memórias,
Floresta.
Árvores
Árvores,
Altas e pequenas,
Bebem água, dão oxigênio e alegria,
Árvores.
177
Como os participantes da cavalgada avaliaram a jornada em si, em relação a tempo e espaço,
cavalgando no ritmo que permitisse observar as imagens e os fenômenos que passavam?
Que tipos de emoções acompanharam suas descobertas do mundo e deles mesmos?
Viagem
Viagem,
Longa, feliz,
Movendo, passando, alcançando,
Tudo bem, estamos em casa,
Viagem.
Como pode ser visto, a viagem evocou várias emoções positivas nos participantes, mas seu
elemento vital foi, na maioria dos casos, o retorno para casa. A “Casa” era a nossa segura e
conhecida fazenda, mas não apenas isso. Fundamentalmente, era a casa da família aparecendo
como um oásis de paz e segurança.
Aqui, chegamos ao ponto de darmos uma olhada mais próxima nos membros de nossa equipe.
Vamos novamente ouvi-los falar sobre o ser humano, com um toque autobiográfico nas
entrelinhas.
Homem
Homem,
Pequeno, curioso,
Bebe, come, excreta,
Sonhador, homem, mulher,
Homem.
Esta é Marta, pequena e curiosa, absorvendo o conhecimento da escola e também tudo o que
acontece à sua volta. Ela gosta de manhãs solitárias perto do fogo e de converser com um
cachorro, coelhos ou com seu cavalo. Marta diz que ela é um menino, e tenta comportar-se
e vestir-se de acordo. Ela se deixa impressionar por homens adultos, como seu pai, e também
por aqueles encontrados no passeio. Em seus sonhos, ela não é uma mulher, mas um homem
forte e grande, e certamente no sonho ela não tem sindrome de Down. Sem muita ênfase,
tratamos Marta como uma garota, e tentamos revelar a ela as vantagens de ser uma mulher,
particularmente uma mulher independente e forte.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Homem
Homem,
Comum, sorridente,
Cavalga, pega folhas para o cavalo,
Olha em frente por entre as orelhas de Galicja,
Homem.
Monika era assim durante o passeio, mas não desde o primeiro dia. O início foi duro. Monika
fez o que pode para chamar nossa atenção para ela. Ela emitia sons estranhos no carro logo
após nossa partida, depois ficou reclamando sobre sua garganta inflamada e resfriado.
Entretanto, ela rapidamente se esqueceu de suas queixas. Ela foi uma das mais persistentes
cronistas, e se mostrou realmente dedicada em manter um diário de viagem, a tarefa realizada
efetivamente por mais ou menos todos os participantes. O diário de Monika era
inesperadamente detalhado e limpo. Ela acha difícil falar por seu discurso ser indistinto,
178
mas o que tem a dizer é maduro e interessante. Ela era muito independente, no tocante às
atividades da viagem, e.g. enquanto fazendo as malas ela lembrou-se de cada item e tratou
de guardar tudo bem organizado em sua mala.
Homem
Homem,
Rabugento, preguiçoso,
Está sonolento, olha para a tela, sonha
As vezes no futuro em frente à lareira,
Homem.
Por sorte, não foi assim tão ruim, embora Ula fosse um dos participantes menos ativos do
tour. Todas as tarefas passadas a ela foram realizadas com consciência, mas ela não mostrou
sinal algum de iniciativa própria. Com uma exceção: foi ela quem “em um ato de revanche
pelo mau comportamento da Monika” planejou um esquema contra ela e Marta, e como
resultado os óculos de Monika foram queimados na fogueira. Marta foi quem os jogou lá,
portanto Ula não se sentiu culpada, mas teve que admitir que, depois de retirados da fogueira,
os óculos não poderiam ser mais usados.
Homem
Homem
Bom, legal,
Limpa as selas do cavalo
Precisamente, com cuidado.
Homem.
Na superfície este foi Andrzej. Ele não expressou iniciativa, mas freqüentemente estava
sentado em algum lugar à volta com um sorriso misterioso no rosto. Quando pedido, ele
faria sua atividade cuidadosamente, “normalmente”, como costumou repetir em seus poemas,
mas um pouco automaticamente. Andrzej era a pessoa com os problemas mais sérios no que
se referiu à integração com o grupo. Houve alguns fatores que influenciaram, como uma
bolsa cheia de comida que ele recebeu em casa, que ele preferia à companhia do grupo, e a
levou durante as refeições e alguns eventos, incluindo a leitura da noite. O tempo todo ele
falava em voltar a Varsóvia. Os cinco dias longe de casa e o tour cavalgando foram
indubitavelmente muito difíceis par ele. Foi a primeira vez que ele saiu de casa sem sua
Homem
Homem,
Deficiente, delicado
Pensa devagar, tem sentimentos,
Sofre sozinho sem palavras,
Homem.
Filip é um garoto sensível e inteligente. Ele ficou realmente impressionado a cada encontro
com os outros membros dos grupo. Nós o vemos como um cavaleiro muito disciplinado
179
durante a terapia. Durante nossa viagem foi pedido a ele que ajudasse outros cavaleiros
menos competentes, e ele foi uma mão amiga mostrando iniciativa. Por outro lado, seu
poema revelou as emoções obscuras que ele sentia nesse período difícil que é a adolescência.
Seu estado de espírito nos surpreendeu e nos assustou. A jornada e a trilha que os outros
retrataram naturalmente em seus poemas, para ele foram uma jornada e uma trilha pela
vida, dramática e difícil, cheia de medos existenciais e um senso de estar indefeso.
Viagem
Viagem,
Entre palavras, sem destino,
Chora, tenta se agarrar, espera pelo pão
Pacientemente com esperança,
Viagem.
Estrada
Estrada,
Com dor, reconhecida,
Longa, cheia de mistérios,
Na pobreza criando uma criança
Como um bom homem,
Estrada.
Árvores
Árvores,
Caídas, sem vida,
Elas são fardos para a terra,
Decompõem-se após a morte,
Árvores.
Felizmente, mesmo nesses poemas podemos encontrar um traço de esperança por um futuro
melhor (“espera pelo pão com esperança”) e fé com efeitos positivos no processo educacional
(“cria uma criança na pobreza para ser um bom homem”). Assim, Filip evitou o pessimismo
extremo compartilhado pela maioria dos existencialistas.
Esses cinco dias juntos nos possibilitaram aprender mais sobre nossas cargas. Eles nos
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Não temos idéia se, graças a essa jornada, eles sorrirão com mais frequência. Não sabemos
se eles confiarão em si e se outras pessoas confiarão neles. Não sabemos se isso mudará
alguma coisa em suas vidas difíceis. Tudo o que sabemos é que valeu a pena tentar.
180
CAVALO AMIGO
No fim do século 19, com a crescente mecanização, foram construídos vários modelos de
cavalos mecânicos para utilização terapêutica. Mas logo se descobriu que faltava um elemento
essencial para a equoterapia: o lado afetivo, emocional, com todos os seus benefícios:
motivação, alegria de viver, o mundo abrindo-se através do relacionamento com um ser
vivo de outra espécie.
O profissional que lida com cavalos não tem o direito de ficar no campo da fascinação,
fantasias, tradições ou projeções de seus sentimentos e conflitos. Como veremos adiante, o
cavalo, pela sua percepção aguçada e alta sensibilidade, é um espelho das pessoas que lidam
com ele.
181
Devemos entender o cavalo como um ser vivo de outra espécie, com as características de sua
espécie, sem falso sentimentalismo. (Nenhuma outra atividade economicamente tão
importante baseia-se tanto em superstição e tradição, ignorando ou desprezando os resultados
das pesquisas científicas.)
A domesticação do cavalo, que se discute entre 6-10.000 anos, é muito recente em termos de
evolução e não mudou muito seu comportamento instintivo desde o estado selvagem ou
natural. Freqüentemente confundimos selvagem com feroz, mas veremos que no cavalo
selvagem, instintivo apenas quer dizer pronto para a fuga, ou se essa está impedida, para
pânico e defesa.
O estudo científico do comportamento instintivo, da personalidade e das necessidades físicas,
fisiológicas e psicológicas do cavalo e sua aplicação no manejo, no treinamento e no trabalho
/ terapia diário influenciam decisivamente sua saúde, segurança e desempenho, portanto a
qualidade da terapia. Podemos escolher se queremos um trabalho escravo, mal executado
ou uma colaboração voluntária, quando o cavalo se realmente torna um parceiro, um co-
terapeuta.
O estudo etológico do cavalo no seu ambiente natural permite estabelecer seu ETOGRAMA:
inventário do repertório comportamental de uma espécie, mostrando seu potencial, suas
limitações e suas necessidades instintivas, genéticas.
Um pequeno extrato do
ETOGRAMA DO CAVALO
I SISTEMA NEUROLÓGICO
Observando o cérebro do cavalo, a quantidade e a profundidade dos “giros” chamam nossa
atenção, contrastando com a opinião popular que o cavalo seja relativamente “burro”,
principalmente mais burro do que o cachorro, que possui menos giros e mais rasos. Este
aspecto do seu cérebro nos obriga a questionar talvez nossos testes de inteligência ou de
Observamos que o cerebelo do cavalo está muito desenvolvido: é responsável por todas as
funções de equilíbrio, de locomoção e coordenação e das funções parassimpáticos. Seu
mesencéfalo esta igualmente bem desenvolvido, permitindo o desenvolvimento da afetividade,
183
criação de vínculos e de memória, aliás excelente. (Portanto habituação e rotina são
extremamente importantes para o cavalo e a base de nossa colaboração.)
Igualmente o lóbulo olfático é muito desenvolvido e intimamente ligado com a hipófise, que
comanda o sistema hormonal e emocional. Podemos dizer que o cavalo só acredita, não
vendo, mas cheirando.
AUDIÇÃO: É o “radar” do cavalo, vigiando 24 horas por dia seu ambiente. Cada orelha
possui 13 pares de músculos, permitindo movimentos independentes, possibilitando um
controle completo e preciso do ambiente, além de dar sinais precisos de comunicação. Não
encontrei testes de audição que definem as freqüências que o cavalo escuta, mas sabemos
que pode diferenciar vozes de pessoas ou de cavalos. Pode distinguir palavras (sons) diferentes
e pode ser treinado para obedecer diferentes comandos verbais.
PALADAR: eles distinguem os mesmos quatro básicos como o ser humano: sal, doce, azedo,
amargo. Apreciam coisas que para nós são muito amargas. Existem poucas pesquisas sobre
seu paladar, mas deve ser importante, já que não têm a possibilidade de vomitar, se ingerirem
alimento inconveniente. Na natureza procuram uma alimentação bastante equilibrada,
inclusive às vezes cascas de árvores, para obter alguns minerais. Não falamos de pastos
excessivamente adubados e desequilibrados...
Nossa comunicação, uma vez montada, não é somente cinestésica como senestésica: pela
sensibilidade tátil; lembrar: quanto mais fina nossa comunicação, mais precisa ela fica. Quanto
mais bruta, mais força mecânica nós usamos, mais o cavalo vai ficar insensível, “calejado”,
protegendo-se ou rebelando-se.
Resumindo: em vez de questionar se o cavalo tem um sexto sentido, como outros animais
(sonar do morcego, visão da polarização da luz da abelha etc.) sabemo que a percepção dos
seus cinco sentidos é muito mais aguçada e o tempo de reação a um estímulo é muito mais
curto que o nosso. O cavalo, como animal de fuga, precisa reagir imediatamente, no nível
instintivo de seu programa genético. Se nos lembramos da evolução do cérebro, no momento
de perigo o acesso aos níveis superiores fica bloqueado, e o primitivo tronco cerebral no nível
reflexo/instintivo domina, resultando em reação extremamente rápida, em que raciocínio e
aprendizado não entram. Pode acontecer, por exemplo, enquanto montamos a cavalo e
acontece de escutarmos algum barulho assustador, já estamos sentados no chão. O cavalo
184
pesa entre 300 e 500 quilos; nós, entre 50 e 100 quilos. Portanto, será mais inteligente usar
nosso cérebro para prevenir situações perigosas, do que a força. Nós podemos aguçar nossa
percepção para melhorar nossa compreensão e comunicação, mas principalmente podemos
melhorar a confiança do cavalo em nós (pela maneira que agimos, como veremos mais adiante)
e no ambiente através de habituação lenta e gradual a toda novidade, melhorando sua
estabilidade emocional e aumentando o nível de sua tolerância.
SOMENTE HERBÍVORO
2) Na cadeia alimentar ele sempre é caça, vítima. Algumas espécies têm armas, como chifres,
para lutar pela sua sobrevivência. O cavalo não tem nem isto. Portanto somente lhe resta
uma maneira de sobreviver: A FUGA. Para isto, o desenvolvimento de grande velocidade
(os cascos que permitem esta velocidade em qualquer terreno) e a percepção aguçada do
menor sinal dos companheiros ou de outras espécies indicando perigo fazem parte primordial
do seu programa instintivo de sobrevivência.
O cavalo não possui nem agressividade intra-específica necessária para defender o território. XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Ele possui seu espaço individual “impenetrável”, um território ambulante, que podemos
chamar de bolha. Na natureza, como animal nômade, o garanhão marca com ferormônios
voláteis o território que a manada ocupa temporariamente, evitando assim invasão por outras
manadas ao mesmo tempo. Dentro da manada, violações do espaço individual são prevenidas
por gestos ritualizados, ou ameaças virtuais, que raramente se concretizam, ou somente
com interferência indevida humana. Mesmo as “lutas” de garanhões pela “posse” de alguma
égua na maioria das vezes ficam no campo ritual. Quando passam para a luta física, servem
para estabelecer a hierarquia, quem é o vencedor. Desde que o vencido emite ritual de
submissão, é aceito e permanece na manada. Ferimentos graves são raríssimos e mortes
somente acidentais.
Quando o carnívoro sente nosso medo, este sinaliza uma caça em potencial para ele, e pode
provocar um ataque.
Com ou sem medo, o ser humano, como onívoro, carrega a ambivalência resultante: ora
extremamente pacífico, ora extremamente agressivo. Como caçadores, emitimos
inconscientemente muitos sinais de agressividade, como o fato de andar nas nossas “patas”
trazeiras, o que na naturez sempre indica ataque – ou gesticulando com nossas “garras”.
Assim a nossa atitude e expressão corporal são uma ameaça permanente para o cavalo
como caça, causando stress e despertando o instinto de fuga. Quando esta é impedida, na
baia à qual ele estende seu espaço individual (ou bolha), ou quando é encurralado num
canto, ele passa para a defesa, que pode ser perigoso para todos. Quanto mais suavemente
e controladamente nos nos movemos, mais transmitimos segurança e confiança.
ORGANIZAÇÃO SOCIAL
Como a maioria dos herbívoros, o cavalo é um animal social, a companhia de seus congêneres
dá-lhe segurança e tranqüilidade, além de suprir suas necessidades afetivas e relacionais.
Na natureza um cavalo sozinho é um cavalo morto, porque é este que os predadores atacam
primeiro.
Existe um vínculo mãe – potro muito mais estreito do que na maioria das outras espécies
herbívoras. O potro é um “SEGUIDOR” devido principalmente a dois fatores:
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
primeiro: como animal de fuga, poucas horas após o parto, o potro deve seguir a mãe e a
manada para sobreviver.
Segundo: pelo seu estomago pequeno mama freqüentemente, até 8 vezes por hora, exigindo
a companhia constante da mãe.
Durante toda a vida permanece um vínculo muito estreito entre mãe e filhas e em menor
grau filhos. O grupo familial matriarcal é a base da sua organização social. Observações das
interações afetivas e agressivas mostraram quase o triplo de afetivos, positivas: num total de
288 horas de observações foram constatadas 1.349 interações: 979 amistosas e somente 370
ameaças, conforme Marthe Kiley-Worthington.
Algumas teorias atuais gostam de falar do garanhão Alf, o centro da manada. Isto é pura
fantasia ou projeção. Dentro do manada a égua líder é responsável pela ordem e segurança,
o garanhão se mantém sempre fora, normalmente levemente atrás, para supervisionar melhor
186 e garantir a segurança externa.
A hierarquia à qual o potro é submetido desde seu nascimento garante a tranqüilidade e o
bom funcionamento da comunidade. Quando os machos atingem a maturidade sexual eles
podem querer estabelecer nova hierarquia, por isto eles necessitam líderes decididos.
O cavalo aprende desde muito cedo a ficar atento ao menor sinal de seus congêneres e
obedecer imediatamente às ordens dos líderes e dominantes. Quando os jovens adolescentes
começam a se comportar inadequadamente, são mandados para a periferia da manada ou
propriamente expulsos, o que significa a punição máxima. Isto ilustra porque é tão importante
que o cavalo passe sua juventude numa manada, e não no isolamento de uma baia, para
tornar-se um adulto emocionalmente estável e educado.
Durante milênios o homem era caçador de cavalos. Podemos continuar agindo dentro do
primeiro nível: ser caçador / predador: uma ameaça constante do ponto de vista do cavalo,
precisando mantê-lo sob domínio mecânico e stress permanente.
Resumindo:
Nós criamos problemas e condições de vida insuportáveis para eles. Em mais de 500 cavalos
em fazendas, vivendo soltos e em grupos, não pude observar um único problema, desses que
187
matam tantos cavalos preciosos de baia. Pangaré corre menos perigo de morrer de cólica ou
de tédio.
REFERÊNCIAS
188
DETERMINAÇÃO DA ROTAÇÃO DE GARUPA ATRAVÉS DE
PARÂMETROS BIOMECÂNICOS DOS CAVALOS COMO MEDIDA
INDIRETA DA ROTAÇÃO DE CINTURA EM PRATICANTES
INTRODUÇÃO
O equilíbrio dinâmico dos dois elementos do sistema cavalo-cavaleiro prevê que as “reações”
do cavaleiro sejam “estímulos” para o cavalo e que, portanto, possam induzir, por sua vez,
modificações adaptativas do comportamento ou da mecânica do animal (Giovagnoli et al,
2000).
Figura 1. Esquema simplificado dos estímulos que o cavalo pode transmitir ao cavaleiro e o
potencial do mesmo na Reeducação Eqüestre (Adaptado de Giovagnoli, 2001).
189
Durante seu deslocamento, o cavalo movimenta seus membros anteriores ou posteriores de
forma alternada, isto é, quando um membro avança, o seu correspondente atrasa. Na
seqüência do movimento, seus quatro membros variam de posição e, durante uma passada
completa (stride), passam sucessivamente por 4 apoios tripedais, intercalados por apoios dos
bípedes diagonais e dos bípedes laterais. Ao iniciar o movimento, o cavalo avança um
posterior direito enquanto o posterior esquerdo se distende, deslocando-se para a frente.
Esta posição faz com que a anca direita também avance e a anca esquerda recue (Wickert,
1999).
A linha que une as duas ancas (largura de garupa) acompanha este deslocamento e sofre
uma “torção”, deslocando a coluna para o lado do posterior que ficou para trás. Para completar
este deslocamento e poder movimentar o seu centro de gravidade para a frente, o cavalo
executa uma inflexão para o lado contrário (esquerdo) com o pescoço, mantendo solidária
com a garupa a parte da coluna que fica sobre as suas espáduas (Wickert, 1999).
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram analisados dez animais usados em equoterapia, sendo dois Anglo-Árabe, dois Crioulo,
quatro Mangalarga e dois Mangalarga marchador.
Através do ANALOC-E (Toledo, 1995), aparelho que analisa os momentos de apoio e de suspensão
de cada membro do cavalo durante a locomoção, foram obtidos o comprimento da passada ou
rendimento (R ou stride) e o comprimento do passo (R/2 ou step).
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
tg rc = R/6 G (Figura 2)
onde,
tg = tangente do ângulo
rc = ângulo de rotação equivalente de garupa, em graus;
R = rendimento da passada, em m;
RESULTADOS E DISCUSSÕES
191
Tabela 2. Análise de variância dos parâmetros analisados em 10 cavalos utilizados em
equoterapia.
QM
Tgrc 0.99973
<.0001
Pode-se observar correlação significativa entre rotação e passada, rotação e passo e rotação
e tangente. Não foi observada correlação significativa entre rotação e garupa.
CONCLUSÕES
De acordo com Riede (1988 apud Rolandelli e Dunst, 2003), o movimento do cavalo ao passo
assemelha-se à marcha humana. Este fato pode ser comprovado a partir dos resultados do
presente estudo, que observou a rotação média de garupa de 25,39º em cavalos ao passo,
valor semelhante à rotação de tronco observada por Van der Linden (2002) e colaboradores
192 em crianças sem alteração.
Riede (1988 apud Rolandelli e Dunst, 2003), também ressalta que, à medida que o centro da
massa se altera, em resposta ao movimento do cavalo, o praticante deve realizar ajustes
musculares para manter o equilíbrio e conseguir manter a postura ereta sobre o cavalo.
Desta forma, é possível inferir que, quanto maior a rotação de garupa do cavalo, maior a
rotação de cintura do praticante e melhor a solicitação muscular.
Os resultados do presente estudo também demonstraram não haver diferença entre as raças
avaliadas. Adicionalmente, verificou-se que parâmetros como passo e passada possuem direta
relação com rotação, não sendo observada esta correlação significativa com largura de
garupa.
Pode-se considerar, a partir destes resultados iniciais, que parâmetros biomecânicos são
decisivos para a escolha do cavalo a ser utilizado na equoterapia, em detrimento de parâmetros
como raça e largura de garupa.
Tais conclusões poderão ser usadas como referência em estudos futuros e como orientação
nas sessões de equoterapia.
REFERÊNCIAS
GIOVAGNOLI, G., REITANO, M., FRASCARELLI, M. et al. Azione e reazioni muscolari tra
cavallo e cavaliere: studi preliminari, Atti del 2º A.N.I.R.E. International Congress, San
Giovanni Rotondo, 13-16 aprile 2000.
MATTILA-RAUTIAINEN, Sanna. Biomechanical aspects to study riders lumbar and spinal area
movements in therapeutic riding. Scientific & Educational journal of Therapeutic Riding,
Austrália, p. 61-76, 2000.
TOLEDO, A.P. Tecnologia não invasiva para a análise da locomoção dos eqüídeos. São
Paulo: Editora Nova Aldeia, 1995. 109p.
VAN DER LINDEN, M.L.; KERR, A.M.; HAZLEWOOD, M.E.; HILLMAN, S.J.; ROBB, J.E.
Kinematics and kinetic gait characteristics of normal children walking at a range of clinically relevant
speeds. Journal of Pediatric Orthopaedics, v.22, n.6, p. 800-806, 2002.
193
USO DA EQUOTERAPIA COMO ESTRATÉGIA DE TRATAMENTO
FISIOTERAPÊUTICO PARA MELHORA DO EQUILÍBRIO POSTURAL
EM AMPUTADOS DE MEMBRO INFERIOR: UM ESTUDO PILOTO.
RESUMO
Este estudo teve por objetivo quantificar o efeito de um tratamento de equoterapia nos
parâmetros estabilométricos de pessoas que possuem amputação em membro inferior. A
análise do equilíbrio postural (estabilometria) dos praticantes de equoterapia, no presente
estudo, foi realizada pré-equoterapia e pós-equoterapia. Foi desenvolvido um estudo tipo
relato de casos, com a participação de três praticantes com amputação transfemural unilateral,
selecionados entre os atendidos no setor de fisioterapia para amputados do Hospital da
Universidade Católica de Brasília (HUCB). A aquisição dos dados da estabilometria pré-
equoterapia foi realizada no Laboratório de Biomecânica e análise dos Movimentos Humanos
da Universidade Católica de Brasília por meio do sistema F-Scan e software versão 4.21,
com sensor F-Mat modelo 3100. Os parâmetros estabilométricos adotados foram freqüência
de aquisição de 100Hz, tempo de cada teste igual a 30segundos. Foram repetidas três
aquisições para cada situação de teste: (1) apoio bipodal pés afastados livremente e olhos
abertos; (2) apoio bipodal pés afastado livremente e olhos fechados. As sessões de equoterapia
foram realizadas no Centro Básico de Equoterapia “Gen. Carracho” da Associação Nacional
de Equoterapia (Ande-Brasil) e ocorreram no período de setembro a dezembro de 2005,
totalizando 20 sessões. Em dezembro de 2005 foi realizada aquisição dos dados
estabilométricos pós-equoterapia, obedecendo à mesma metodologia adotada na aferição
pré-intervenção. Por se tratar de um estudo inédito, os resultados encontrados não foram
comparados com outros estudos. Não houve uma homogeneização nos valores dos
parâmetros estabilométricos aferidos pré e pós-equoterapia; no entanto, todos os praticantes
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
INTRODUÇÃO
A equoterapia, método terapêutico que utiliza o cavalo como instrumento de trabalho, foi
reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como um recurso terapêutico de reabilitação
motora no dia 9 de abril de 1997 (Nóvoa et al., 2005; Ferreira, 2003). Os portadores de
necessidades especiais que fazem uso dessa terapia são denominados praticantes de
equoterapia (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA, 2001).
O cavalo possui ciclos de movimentação análogos aos ciclos do homem durante sua andadura
natural, o passo. O paralelismo entre o andar humano e o do cavalo é evidenciado pelo
movimento tridimensional de ambos (Ferreira, 2003). O movimento tridimensional da marcha
eqüina é utilizado por um fisioterapeuta ou outro profissional de saúde (McGibbon et al.,
194
1998), visando à melhora do ajuste tônico, alinhamento corporal, equilíbrio postural (EP) e
função global de pessoas portadoras de necessidades especiais (Ferreira, 2003; Brenda et al.,
2003). Os estudos de McGibbon et al.,1998, Brenda et al., 2003 e Lechner et al., 2003 mostram
que essa movimentação eqüina análoga ao movimento da marcha humana, a descarga de
peso em membros inferiores sobre o estribo e a dissociação de cintura pélvica e escapular
podem ajudar o praticante a melhorar sua marcha, postura e EP.
O EP pode ser avaliado por testes clínicos, entretanto, uma forma quantitativa de registrá-lo
e analisá-lo comparativamente é por meio da estabilometria, na qual as oscilações nos eixos
ântero-posterior (AP) e médio-lateral (ML), que são representados respectivamente pelos
eixos y e x, são estudados em termos de deslocamento do centro de pressão (CP) (Oliveira et
al., 1992; Oliveira, 1998; Barros et al 1998; Prieto et al., 1996). Essas são medidas que
caracterizam o desempenho estático do sistema de controle postural (Prieto et al., 1996).
Summers et al. (1987) e Lord e Smith (1984), utilizando uma plataforma de força Doublé
Vídeo (DVP), mostraram que a maioria dos amputados de membro inferior, principalmente
aqueles que fazem uso de prótese acima do joelho, não conseguem fazer transferência ideal
de peso no membro protetizado. A equoterapia, como descrito anteriormente, contribui para
melhora do EP, portanto, é provável que a equoterapia contribua para melhorar a distribuição
do peso ortostático de forma simétrica entre o membro não amputado e o membro protetizado,
conseqüentemente melhorando o EP de amputados em membro inferior.
195
O objetivo desse estudo piloto é quantificar o efeito de um tratamento de equoterapia nos
parâmetros estabilométricos de pessoas que possuem amputação transfemural unilateral e
estender o debate acerca da eficiência da equoterapia para pacientes com este perfil.
METODOLOGIA
1 - Amostra
Foram incluídos no estudo os praticantes que conseguiam ficar em pé, sem apoio, sobre a
plataforma, durante trinta segundos; que não apresentavam outras patologias ortopédicas,
neurológicas e cerebelares (confirmadas pelos testes index-index, index-naríz e Romberg)
ou alguma alteração da sensibilidade no pé não amputado (confirmado pela estesiometria)
e ainda aqueles que não apresentavam fobia ao animal. Todos os praticantes leram e
assinaram o termo de consentimento, concordando em participar do estudo. O protocolo
experimental utilizado foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade
Católica de Brasília – UCB.
2 – Registro da estabilometria
Para o processamento, os sinais foram filtrados por um filtro digital Butterworth passa-
baixa de quarta ordem, com fase zero, com freqüência de corte de 5Hz, usando o software
LabVIEW versão 5.0 e exportados para o cálculo dos parâmetros estabilométricos em planilha
excel desenvolvida pelos autores. Foram descartados os primeiros 10 segundos da aquisição,
pois a literatura considera esse tempo inicial como adaptação à posição ortostática (Prieto et
al., 1996).
3 – Equoterapia
Todos os praticantes fizeram uso de sela australiana para montaria, pois esse tipo de sela
possui um assento mais amplo (que acompanha melhor a anatomia do assoalho pélvico do
praticante) e alça anterior, que permite maior estabilidade para a montaria, além de
intensificar os estímulos tridimensionais em cintura pélvica.
Foram utilizados estribos mais baixos, de modo que as articulações dos ombros, da coluna
vertebral, dos quadris, dos joelhos e tornozelos ficassem alinhadas, facilitando o enfoque do
tratamento na melhora do EP durante o ortostatismo.
197
Os cavalos foram conduzidos somente ao passo, guiados por um condutor. Em todas as
sessões os praticantes foram acompanhados individualmente por um terapeuta.
Cada sessão de equoterapia consistiu das seguintes etapas: (1) Com o intuito de facilitar a
montaria, o praticante utilizava uma plataforma para estratégia de montar e apear (figura
2); (2) aproximação: o praticante aproximava-se do cavalo demonstrando intimidade, afeição
e o acariciava; (3) alongamento e relaxamento muscular: ao início de cada sessão, o terapeuta
orientava os praticantes a relaxarem e sentirem o movimento rítmico do cavalo alongando
coluna vertebral, membros inferiores e superiores; (4) consciência corporal e sensibilização:
os praticantes eram posicionados em frente a um espelho para percepção da imagem corporal,
(5) realização de alinhamento postural e EP sentado. Para isso, era solicitado ao praticante:
(a) soltar as mãos da alça da sela; (b) abduzir os braços; (6) exercícios ativos do tronco e
extremidades (flexão e extensão); (7) movimentação do cavalo em serpentina, círculo, aclive
e declive; (8) despedida: término da atividade sobre o dorso do cavalo, na qual o praticante
acariciava e despedia-se afetivamente do cavalo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Praticante 1 - M.B, 73 anos, sexo masculino, sofreu amputação nível transfemural em membro
inferior direito em fevereiro de 1999 devido à trombose venosa profunda (TVP), sendo
protetizado em setembro de 2004, e desde então faz uso de prótese endo-esquelética com
encaixe quadrilátero, joelho trava manual externa e pé SACH. Desde abril de 2003 vem
sendo acompanhado pelo Serviço de Fisioterapia para amputados do Hospital da
Universidade Católica de Brasília (HUCB), onde atualmente realiza treino de marcha com
muletas axilares bilaterais em 4 pontos, embora ainda utilize a cadeira de rodas como principal
meio de locomoção.
Praticante II – L.M, 47 anos, sexo feminino, foi vítima de atropelamento em julho de 2002,
sofrendo uma amputação traumática, nível transfemural em membro inferior esquerdo, sendo
protetizada em abril de 2004. Esta praticante utiliza prótese endo-esquelética, com encaixe
quadrilátero, joelho autobloqueante e pé SACH. Desde março de 2004 vem sendo
acompanhada pelo Serviço de Fisioterapia para amputados do Hospital da Universidade
Católica de Brasília (HUCB), e atualmente seu principal meio de locomoção é a marcha, em
dois pontos, com uma muleta canadense ipsilateral ao membro protetizado.
Conforme resultados descritos na tabela 2, observa-se que todos os parâmetros
estabilométricos apresentaram valores menores pós-equoterapia quando o praticante foi
avaliado com os olhos abertos, indicando que apesar de apresentar uma diminuição da
atividade do sistema de controle postural (demonstrado pela diminuição da velocidade
média), seu EP melhorou após as sessões de equoterapia (demonstrado pela diminuição dos
valores de distância).
Tabela 2. Comparação dos parâmetros estabilométricos pré e pós-equoterapia do praticante 2. XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Praticante III – J.A, 63 anos, sexo masculino, portador de diabetes mellitus tipoII, com
histórico de neuropatia periférica e formação de úlceras no pé direito, o que levou à amputação
transfemural em maio de 2003, sendo protetizado em maio de 2004. O praticante faz uso de
prótese endo-esquelética, com encaixe quadrilátero, joelho auto-bloqueante e pé SACH. Foi
atendido no setor de fisioterapia para amputados do Hospital da Universidade Católica de
Brasília (HUCB) durante três meses (fevereiro, março e abril de 2005), recebendo alta da
fisioterapia em abril de 2005. Atualmente seu principal meio de locomoção é a marcha em 4
pontos com auxílio locomoção de uma muleta canadense ipsilateral e uma bengala do tipo
cajado contralateral ao membro protetizado.
Conforme resultados descritos na tabela 3, observa-se que, quando medidos de olhos abertos,
os valores relativos à distância rms diminuíram e os valores relativos à velocidade média
aumentaram pós-equoterapia, indicando que tanto o EP quanto a atividade do sistema de
controle postural aumentaram.
Porém, quando avaliado com os olhos fechados, com exceção da velocidade média na direção
AP, os resultados são contrários aos resultados de olhos abertos.
No presente estudo, em todos os praticantes os resultados dos testes com os olhos fechados
são opostos aos encontrados com os olhos abertos. Este fato pode ser justificado pela ausência
do input visual, que exige maior atividade do sistema proprioceptivo dos membros inferiores.
Esses achados estão de acordo com os encontrados por Dorna et.al., (1978), que avaliando a
importância do input visual no sistema de controle postural utilizando dois transdutores de
deslocamento com um alcance de 8,5cm operado pela tração em um arame ligeiramente
tencionado que se auto-recolhia, com um transdutor conectando este aparato a um
microcomputador que captava o deslocamento dos sujeito durante o período de um minuto
em 144 voluntários, 39 sujeitos com amputação transtibial e 105 sujeitos não amputados
(grupo controle), concluíram que a contribuição do sistema visual no controle do EP é de
particular importância quando o sistema proprioceptivo está reduzido, como no caso dos
200
amputados transfemurais em que a perda da propriocepção é compensada pelo aumento
da dependência do sistema visual.
Entretanto, não houve um padrão referente aos resultados apresentados pelos praticantes.
Esse fato pode ter ocorrido porque a amostra era de apenas três casos que apresentavam
características diferentes quanto à idade, gênero, causa de amputação e o nível de segurança
e estabilidade durante a marcha.
Ensaios clínicos com uma amostra maior, mais homogênea e que contemple grupo controle
são necessários para maior aprofundamento no conhecimento dos efeitos da equoterapia no
EP de amputados de membro inferior.
CONCLUSÃO
Este foi um estudo-piloto que teve como objetivo apresentar o caso de três praticantes de
equoterapia com amputação transfemural unilateral e criar discussões a respeito do
tratamento equoterápico em praticantes amputados de membro inferior. Por não houver
sido encontrado na literatura pesquisas abordando o tema, este é um estudo inédito e, por
isso, seus resultados não puderam ser comparados.
REFERÊNCIAS
CALVELEY,J. The effect of horse riding upon sitting balance in people with cerebral palsy.
Paper presented at the sixth International Therapeutic Riding Congress, p. 23-27, Ago 1990.
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XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
TOOKUNI,K.S., NETO, R.B., PEREIRE, C.A.M., SOUZE, D.R., GREVE, J.M., AYALA, A.
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WILLIAN, C.M., DEATHE, A.B., SPEECHLEY, M., KOVAL, J.K. The Influence of Falling,
Fear of Falling, and Balance Confidence on Prosthetic Mobility and Social Activity Among
Individuals With a Lower Extremity Amputation. Arch Phys Med Rehabil, v. 82, p. 1238-
1244. Sep 2001.
202
SENTE-SE ERETO!
INTRODUÇÃO
Postura Ideal
Olhando um cavaleiro de qualquer um dos lados, a postura ideal é descrita por uma linha
imaginária vertical, que pode ser desenhada da orelha do cavaleiro, tocando ombro e quadril
e terminando no calcanhar (Wanless, 1998; Swift 1985) e que tem o centro de gravidade do
cavaleiro dentro da base de apoio. Esta postura é semelhante ao ser humano em pé no solo.
Desenvolvimento
Uma das características que identifica o desenvolvimento humano é a transição de deitar
para sentar e andar ereto, tipicamente aos 18 meses de idade. A capacidade de alcançar
estes marcos importantes do desenvolvimento indica um sistema neuromuscular e sensorial
que é capaz de reagir ao constante efeito da gravidade. Como andar independente é
estabelecido alarga-se a disponibilidade de experiências sensório-motoras, e as crianças
participam de uma gama de atividades físicas, possivelmente incluindo a equitação. Para
uma criança com dificuldades de controle de movimento, estas oportunidades são diminuídas
como as oportunidades de movimento de habilidade inevitavelmente exigem controle da
posição ereta, num estreita base de apoio, com mudanças rápidas de direção e um gradual
e seletivo recrutamento muscular e.g. ginástica, tênis e futebol. As crianças com problemas
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Pela análise, notou-se que havia posturas de Cadeia Fechada freqüentemente observadas
tanto em adultos quanto em crianças com incapacidades divergentes. Algumas posturas
eram muito óbvias e espelhavam posturas vistas em cavaleiros sem deficiência, mas havia
também Cadeias Fechadas que eram mais sutis, nas quais se pode supor que um nível mais
alto de habilidade tenha sido alcançado, do que estava realmente presente. Importantes
achados, via observação, estão na tabela abaixo:
O efeito de uma Cadeia Fechada pareceu prevenir a transferência fluida das três forças
dimensionais do cavalo em movimento ao cavaleiro. O que é observado é a ausência de
movimento em uma parte do tronco, freqüentemente associado a uma postura fixa nessa
área, e movimento excessivo em outra área do corpo. A ansiedade, tensão muscular e a
retenção do fôlego também produziram formas mais sutis da Cadeia Fechada. Muitos
cavaleiros foram observados segurando as rédeas e tentando controlar a direção do cavalo,
mas eram dependentes do uso das rédeas como uma ajuda ao equilíbrio.
do tecido macio. A conseqüência de Cadeias Fechadas persistentes pode ser a dor, como em
hiperlordose da região lombar (Auvinet, 2000).
No entanto, o uso seletivo da Cadeia Fechada permite a prática como uma habilidade maior
que se desenvolve - e.g. um bebê aprendendo a sentar-se inicialmente usará ambas as mãos
para apoio (Cadeia Fechada), antes de adquirir o controle necessário de tronco para libertar
uma mão para alcançar os brinquedos (Cadeia ainda Fechada), e antes de aprender a sentar-
se independentemente, com as mãos livres e uma pelve móvel (Cadeia Aberta). Neste exemplo,
s
a Cadeia Fechada é transitória e, portanto, não é um problema. Todavia, para uma criança
com paralisia cerebral, por exemplo, para alcançar qualquer posição de assento
independentemente, ela pode ser permanentemente dependente das suas mãos para apoio
(Cadeia Fechada) já que o controle adequado de tronco e as reações de equilíbrio são atrasadas.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
AUVINET, B (2000). Medicine and equestrian activity the paradox of lumbodynia. Proceedings
of 10th International Therapeutic Riding Conference, 65-70. Fédération Nationale Handi
Cheval, France.
BUTLER, P B and Munro L (2005). A new way of looking at movement control. Proceedings of
The Chartered Society of Physiotherapy Annual Conference, 133-135.
207
MELHORANDO AS APTIDÕES COMUNICATIVAS DE CRIANÇAS
QUE DEMONSTRAM HABILIDADES DA FALA
SUBDESENVOLVIDAS DURANTE A EQUOTERAPIA
Eu tenho trabalhado nos últimos 12 anos como uma equoterapeuta com crianças de diferentes
tipos e graus de deficiência. Muitos dos meus pacientes experimentam sérias dificuldades
em comunicar-se com o que os rodeia devido a severas deficiências mentais, danos ao sistema
nervoso central ou atraso no desenvolvimento da fala. Estes são manifestados na falta ou
dificuldade de expressão verbal ou na ausência de qualquer forma inteligível de transmitir
uma mensagem usando sons ou gestos.
Eu desejo apresentar neste artigo meus pensamentos e experiência no trabalho com crianças
com sérias dificuldades comunicativas, e a maneira na qual as sessões de equoterapia são
úteis para desenvolver esta habilidade.
O que é a comunicação?
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
208
O objetivo maior da comunicação é estabelecer relações. Do momento em que nascemos
estamos equipados para respirar e nos alimentar, e rapidamente dominamos o
relacionamento com as pessoas mais próximas, o que nos prepara para estabelecer relações
com outras pessoas. A parte vital deste processo é a comunicação.
A maneira como nós, os terapeutas, nos dirigimos à criança é incrivelmente importante. Nós
queremos ser entendidos e portanto nós proferimos sentenças formuladas com claridade e
fáceis de entender. Um terapeuta trabalhando com uma criança deve ajustar a maneira
como ele fala à capacidade de entendimento do paciente. Deve ser frisado novamente que
ele (o terapeuta) deve ter consciência do nível da fala do paciente e, principalmente, seu
entendimento.
A situação de contexto para o processo comunicativo tem um papel importante nesta troca
verbal e não-verbal. Isso consiste na organização do que circunda a criança de uma maneira
que faça o entendimento da informação enviada a ela e a expressão de seus sentimentos,
necessidades e pensamentos possível ou mais fáceis. Toda a atividade e sensualidade da
crainça se tornam uma fonte de troca com o ambiente, alargando assim a área de significação
209
na qual a criança pode enviar e receber. Dentre os meios naturais usados na contrução e
fortalecimento do sistema de comunicação individual, os mais comuns são os seguintes:
– vocalizações;
– ver e apontar com os olhos;
– gestos naturais e preparados;
– expressões facias;
– reações físicas incluindo reações gerais do corpo todo.
As ferramentas aplicadas nos itens acima são gestos acompanhados por um som, onomatopéia
ou palavra, dependendo da capacidades da criança. O papel do terapeuta é combinar
comportamento com a necessidade manifestada, e escolher do registro comportamental da
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Exemplo: A criança quer fazer o cavalo parar tentando bufar com os lábios, em vez do
geralmente utilizado “whoa”.
A criança vindo aos estábulos saúda de maneiras diferentes o terapeuta e a pessoa que
segura o cavalo, ou através de um aperto de mãos e uma palavra ou som, ou então acariciando
o abdômen, pescoço e afagando o nariz do cavalo. O próximo estágio é montar o cavalo e
andar. Depois de um tempo a criança tenta fazer seu cavalo preferido se mover, parar ou
trotar sem ajuda alheia. Depois de muitas repetições acompanhadas por uma descrição de
toda a situação e uso dos mesmos anúncios, a criança associaria certas atividades com seus
resultados, e.g. para fazer o cavalo mover-se, tem que se dar o sinal dizendo a palavra
“giddy-up!” ou o som simplificado como “up” ligado ao movimento dos quadris. Temos de
ser observadores cuidadosos para reagir adequadamente, como o anúncio enviado pela
criança pode ser transmitido através de um gesto, movimento do corpo ou som. A iniciativa
tomada pelo paciente, mesmo que pequena, tem de ser reconhecida e apoiada. O sentimento
de ser percebido e reconhecido dá satisfação e pode levar à outra iniciativa para interagir e
até à necessidade de diálogo sem palavras. Devido à previsibilidade, que está proximamente
relacionada à repetição de algumas tarefas e a situações constantes e organizadas com as
quais nós lidamos durante as sessões com os cavalos, a criança aprende e pratica esses
comportamentos de acordo com suas próprias possibilidades.
Uma relação próxima com um animal, seu ambiente, a natureza e situações diretamente
relacionados à vida do cavalo podem estimular as crianças a enriquecer seu vocabulário
passivo com itens relacionados ao seu animal favorito, à vida das pessoas e às mudanças
que ocorrem na natureza. As novas palavras são dominadas mais rapidamente durante as
sessões de equoterapia do que nas sessões tradicionais de fonoaudiologia. O elemento crucial
parece ser o envolvimento emocional. A criança participante das sessões de equoterapia
enfrenta várias situações, às vezes engraçadas, às vezes tristes, estranhas ou estressantes.
Ela geralmente reage às situações e tenta chamar nossa atenção, porque ela deseja demonstrar
emoções através de expressões faciais, gestos ou vocalização.
211
CRITÉRIO BÁSICO PARA AVALIAÇÃO DA EQUOTERAPIA EM
INDIVÍDUOS AFETADOS POR TRANSTORNO NEUROMOTOR:
METODOLOGIA, AVALIAÇÃO, RESULTADOS
a) aumento da gama da pontuação: que passou de 0-3 para 0-4 pontos. A possibilidade
de conferir ½ ponto também foi introduzida, quando a expressão de um sintoma ou
a competência neuromotora em questão não é suficiente para alcançar o próximo
ponto inteiro, mas é signifactivo no nível de reabilitação clínica. Tudo isso tem o
propósito de estabelecer uma melhor graduação na codificação de até mesmo
pequenas modificações semiológicas, de outra maneira não objetivamente
classificáveis;
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
SUJEITOS (TAB.1)
Nós aplicamos a escala revisada a um grupo selecionado de sujeitos (S). Critérios de seleção:
S afetado por transtornos neuromotores, puros e mistos; estabilidade do quadro clínico por
pelo menos 4 anos; ausência de fatores de interferência significantes (epilepsia sem controle,
doenças graves,etc.); manutenção de tratamento terapêutico quando presente.
MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Resultados positivos foram observados em todos os S e em todos os itens, apesar de com uma
diferente distribuição e graduação. Dentro do contexto dessa resposta global dos sintomas,
achados mais específicos sobre os tempos e graus de resposta são analisados por:
Deve ser observado que o controle de Padrões de Postura (PP) e Padrões Motores (PM)
altamente incapacitantes, a marcada redução da Rigidez e os bons resultados conseguidos
nos Mecanismos de Consenso permitem a acquisição de competências funcionais tais como,
por exemplo, controle da cabeça mesmo nos sujeitos mais deficientes.
SINTOMAS-ALVO
Bom: em alguns dos sujeitos meio-leve: latência 3/11S (LBG, BD, ZM), inconsistência
segmentária 1/9S (ZM);
Moderada: a maioria dos sintomas está distribuida nessa categoria em altas porcentagens
(55 – 80%); valores mais baixos foram encontrados para Sobressalto e, sobretudo, para IM,
o que foi confirmado com a resposta imediata em montaria, mas fraca manutenção no solo/
solo (1/4S);
Nenhum: distribuição desigual com alta predominância do IM (3/4S).
No todo, bom “Índice Manutenção no Solo” das aquisições conseguidas na montaria foi
confirmado. O resultado dessa reabilitação até permitiu para 3S a TRANSIÇÃO PARA
UM OUTRO NÍVEL DE DEFICIÊNCIA NO SOLO: CN, do nível 5 para o 4, LG e LBG do
nível 2 para o 3.
após estes 5 anos, do que se pode deduzir que a utilidade reabilitativa da E em formas
fixas é de 5 anos.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
217
ANÁLISE BIOMECÂNICA DE UM CAVALO DE TERAPIA:
A INTERFERÊNCIA DO PESO CORPORAL E DA SIMETRIA
POSTURAL DO PRATICANTE NA QUALIDADE DO PASSO DO CAVALO
CONSIDERAÇÃO INICIAL
Esta pesquisa piloto foi desenvolvida por Luciana Ramos Rosa como aluna do Programa de
Treinamento para Professores 2002 – 2004 com Especialização na Área de Equoterapia no
Japão, na Universidade de Yamanashi, Faculdade de Educação & Ciências Humanas,
Departamento de Educação Física, Esportes e Ciências da Saúde. Durante seus estudos, foi
supervisionada por Kiyomi Ueya, Orientador Acadêmico, Mestre em Educação Física e Doutor
em Biomecânica.
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa é um estudo descritivo, um caso, que relata dados somente de um sujeito.
Estudos descritivos também são chamados de observativos, porque observam os sujeitos
sem intervenções. O sujeito deste tema é um cavalo de terapia, uma raça japonesa – Dosanko,
de Hokkaido. Esse estudo foi feito para descrever e analisar os movimentos de um cavalo
sobre quatro diferentes condições. Análise de vídeo foi utilizada para medir características
temporais do passo do cavalo. O cavalo foi preparado com marcadores reflexivos adaptados
e filmado por sete câmeras diferentes.
Hipoterapia Clássica
Equoterapia
O que é biomecânica?
A biomecânica aplica princípios mecânicos ao estudo de sistemas vivos. Neste caso, o sistema
em que estamos interessados é o cavalo e, mais especificamente, estamos utilizando técnicas
biomecânicas para estudar como o cavalo se locomove. Esse processo, que é conhecido como
análise biomecânica do passo, mede o desempenho do cavalo objetivamente e nos permite
quantificar alguns aspectos da performance que não são visíveis ao olho humano.
O passo
O passo é um andamento de quatro batidas rítmicas, o que significa que ao menos um membro
está no solo a todo o momento, e que não há fase de suspensão. Esses fatos se aplicam a
todos os tipos e velocidades de passo. Outra característica consistente do passo é a seqüência
de pouso dos membros no solo. Um membro posterior é sempre seguido por um membro
anterior do mesmo lado do corpo (Seqüência Lateral de Colocação dos Membros), e um membro
anterior é sempre seguido pelo membro posterior do lado oposto do corpo (Seqüência Diagonal
Qualidade do passo
De acordo com a pesquisa de Hilary M. Clayton, a qualidade do passo do cavalo é
demonstrada através do tempo, dos padrões de coordenação dos membros e do alcance do
movimento das articulações, todas estas características são extremamente importantes. O
propósito deste estudo foi de medir apenas o tempo e a coordenação dos membros. O passo
é distinguido pela seqüência e tempo de pouso dos membros no solo, que se repete de maneira
cíclica. Um passo completo é a unidade básica do andar do cavalo e tal unidade será
denominada de Passada. Uma passada começa e termina no mesmo ponto do ciclo de
movimentos dos membros. Tempo (ou índice de passada) é o número de repetições das
passadas. É normalmente medido em passadas por minuto. O Ritmo descreve o tempo de
pouso dos membros em cada passada. A Seqüência de Apoio é a seqüência de combinações
dos membros que apóiam o peso do corpo durante a passada. A Coordenação dos Membros
descreve o ritmo de pouso dos membros no solo. (Hilary M. Clayton, Abril 23-28, 1998).
Seqüência de Apoio
219
A seqüência de apoio descreve o número de membros que apóiam o corpo seqüencialmente durante
a passada. No passo, o peso do cavalo é apoiado alternadamente por três membros (Apoio Tripedal)
e por dois membros (Apoio Bipedal). Há oito fases de apoio em cada passada. (Figura 1).
Enquanto a velocidade aumenta, cada membro tende a estar no solo por um período mais
curto (uma menor fase de apoio), criando menos sobreposições entre as várias fases de apoio
dos membros. Isso se traduz em períodos de apoio tripedal mais curtos nos passos médio e
alongado. Há períodos de apoio tripedal mais longos no passo reunido, o que dá ao cavalo
uma maior base de apoio e o ajuda a manter seu equilíbrio em velocidades mais baixas.
Velocidades do passo
Comprimento da passada
O comprimento da passada é a distância entre contatos sucessivos com o solo (marcas dos
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
cascos no solo) pelo mesmo casco. Essa distância é a soma da Distância Lateral (a distância
entre o membro posterior e o membro anterior do mesmo lado) e da Distância de Pista (a
distância entre o pousar do membro anterior e o pousar do membro posterior do mesmo
lado). Quando o membro traseiro pisa atrás do membro dianteiro, a distância de pista é
negativa: dizemos que o cavalo está antepistando. Quando o membro traseiro pisa sobre a
marca deixada pelo membro anterior, a distância de pista é igual a zero e diz-se que o cavalo
está sobrepistando. Quando o membro traseiro pisa à frente do membro dianteiro, a distância
de pista é positiva e diz-se que o cavalo está transpistando, indo além. Sobrepistar e transpistar
são considerados desejáveis porque indicam que os membros traseiros estão pisando bem
adiante, abaixo do corpo do cavalo.
Entretanto, a distância de pista de qualquer cavalo aumenta com a velocidade de seu passo.
Cavalos não são criados iguais em termos de sua habilidade de transpistar; conformação e
flexibilidade desempenham papéis importantes. Em geral, membros longos e dorso curto
facilitam o transpistar, como também dorso lateralmente flexível. Cavalos com tais atributos
220
tendem a demonstrar distâncias de posição maiores do que aqueles com membros curtos,
dorso longo e menos flexível lateralmente. A melhor maneira de ampliar o transpistar no
passo é trabalhar o relaxamento e a flexibilidade do dorso do cavalo.
Tempo
Ritmo
O passo deve ter um ritmo regular de quatro batidas em que cada membro toque o chão
separadamente e distintivamente. Em um ritmo regular, o pouso dos membros no solo é
separado por intervalos de tempo iguais. Portanto, um - quarto da passada deve caber entre
cada pouso de membro no solo. Uma das características visuais de um cavalo que anda em
um ritmo regular é que, enquanto seu membro posterior move para frente, forma um “V”
com o membro anterior que está prestes a deixar o solo. (Figura 2).
Figura 2. Ritmo de passo regular. O membro anterior (aqui, o esquerdo) deixa o solo um
pouco antes de o membro posterior fazer contato. Os dois membros formam um “V”
característico. (Cortesia de Hilary Clayton)
Cada passada consiste em uma fase de apoio e uma fase de balanço. A fase de apoio é o
período quando o membro está em contato com o solo e está suportando peso, e a fase de
balanço é o período quando o membro está fora do solo. No passo, a fase de apoio constitui
mais de 50 por cento da duração da passada – típico de andamentos que não apresentam
fase de suspensão. Os membros posteriores têm uma fase de apoio mais longa do que os
membros anteriores, o que é uma característica geral da reunião. Durante a fase de balanço,
o membro se move para frente; e quanto maior a passada, mais longe deve o membro se
221
mover. Para ter passadas mais longas, os membros devem ter um maior raio de movimento
desde seu ponto pivô. No passo, os membros anteriores articulam com escápula e os posteriores
com a pelve.
De acordo com Jan Spink, M. A.1993, o cavalo de terapia fornece motivação, uma base
segura, e uma fonte de movimento para o praticante. Para atingir objetivos terapêuticos, o
cavalo deve ser altamente treinado e atento a sinais de comandos. Cavalos que são
considerados clinicamente instáveis por um médico veterinário não devem ser aceitos para
o propósito de reabilitação psicomotora ou física. Isso seria um desserviço para o praticante,
que perde a essência do tratamento e, portanto o efeito total que somente cavalos propriamente
treinados, condicionados fisicamente e equilibrados podem oferecer. Um bom cavalo de
terapia tem características básicas de movimento que são similares àquelas de qualquer cavalo
de adestramento de primeiro e segundo níveis. O movimento do cavalo deve seguir a regra
principal da teoria de equitação básica: “Pra frente, flexível, ereto e puro no andamento”.
Um cavalo que naturalmente se move dessa maneira pode ser desenvolvido para fornecer
estímulo terapeuticamente correto e apropriado. Esse tipo de cavalo é também mais agradável
e confiável de se montar. Um bom cavalo de terapia disposto vai adiante e assim permanece
por um período de tempo que iguala sua preparação e nível de desenvolvimento muscular.
Seu dorso é arredondado, com seus posteriores ativamente engajados. Sua cabeça deve estar
na vertical durante o passo de trabalho. Sua nuca sempre deve ser o ponto mais alto, e os
seus membros devem se locomover com retidão, a menos que esteja sendo pedido ao cavalo
para apresentar-se em duas pistas como em trabalhos laterais. De acordo com Mary
L.Longden, 1999 os fundamentos de adestramento fornecem as habilidades básicas necessárias
para um bom cavalo de terapia. O adestramento é o método de treinamento mais adequado
para atingir o equilíbrio, a flexibilidade, a força e a leveza de todo o corpo.
1. Relação: O nível de confiança e respeito geral do cavalo pelo ser humano dentro de
uma perspectiva de dominante e dominado.
222
QUESTÃO PROBLEMA
HIPÓTESE
O excesso de peso e a assimetria postural do praticante interferem na qualidade de
movimento do cavalo ao passo no que diz respeito a parâmetros cinemáticos específicos, tais
como: velocidade, comprimento da passada, tempo, distância lateral e distância de pista.
OBJETIVOS
METODOLOGIA
223
controlada para fornecer contraste suficiente entre o limite dos marcadores e as
imediações.
1. Sujeito Número 1 – Sexo masculino, 21 anos de idade, 60 kg, sem deficiências, nunca
havia montado a cavalo.
A SELEÇÃO DO CAVALO
Uma raça japonesa de Hokkaido, Dosanko, égua, 08 anos de idade, 386 kg, 1.39cm.
Apresenta boa conformação para os padrões da raça, clinicamente saudável, excelente
comportamento e docilidade, naturalmente transpistava, não utilizava ferraduras.
Integrante do grupo de cavalos de um pequeno Centro Eqüestre – Shirane Horse Riding
Welfare Park. O centro atendia, esporadicamente, de maneira recreativa pessoas com
necessidades especiais. Segue abaixo foto da égua já preparada para iniciar a filmagem,
encilhada e com os marcadores reflexivos.
224
ETAPAS DE FILMAGEM
Uma trilha especial foi preparada para este procedimento. Inicialmente o cavalo percorria
88 metros em cada uma das quatro situações pré-estabelecidas, descritas abaixo. Em seguida,
se dirigia para trilha de filmagem de 05 metros. Sete câmeras digitais da Sony foram
posicionadas estrategicamente em torno dessa trilha – 03 câmeras do lado direito, 02 câmeras
do lado esquerdo, 01 câmera de frente e 01 câmera de trás. A equipe de filmagem foi
composta por nove membros do Laboratório de Biomecânica da Universidade de Yamanashi.
A égua foi conduzida por Luciana Ramos Rosa em todas as situações de filmagem na tentativa
de interferir o menos possível no andamento da mesma.
225
2. Situação “B”: Cavalo + Auxiliar-Guia + Sujeito Número 1
226
IMAGEM SEQUENCIAL DAS SITUAÇÕES INVESTIGADAS
227
RESULTADOS
CONCLUSÃO
Entretanto, ficou evidenciado que o cavalo alterou sua qualidade de andamento nas situações
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
REFERÊNCIAS
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229
A INFLUÊNCIA DA EQUOTERAPIA NO EQUILÍBRIO DE
INDIVÍDUOS COM ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS
UTILIZANDO A ESCALA DE BERG
INTRODUÇÃO
Segundo Enoka (2000) um sistema está em equilíbrio mecânico quando a somatória de forças
que atuam sobre ele é igual a zero. Entretanto, esse sistema tem estabilidade somente se,
após uma perturbação, o mesmo retornar à sua posição de equilíbrio.
Em relação ao sistema neural, estamos nos referindo ao sistema sensorial (vestibular, visual
e somatossensorial) e a interpretação destas informações para que sejam geradas respostas
motoras adequadas para o controle postural (SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003).
O sistema vestibular está relacionado com o controle postural, sendo constituído por três
componentes: um sistema sensorial periférico, um processador central e um mecanismo de
resposta motora. Os aparelhos periféricos são sensores de movimento que enviam informações
ao sistema nervoso central (cerebelo e complexo nuclear vestibular) sobre a velocidade angular
da cabeça, a aceleração linear e a orientação cefálica em relação ao eixo gravitacional
(SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003).
As informações visuais relacionam-se com a forma, cor e movimento dos objetos e do próprio
corpo, sendo estas importantes, mas não imprescindíveis para o controle postural (HORAK
& SHUPERT, 1994; apud SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003; WIECZOREK, 2003).
No paciente neurológico existe uma grande variedade de alterações que podem interferir no
controle do equilíbrio, sendo elas divididas em dois grandes grupos: problemas nos
componentes motores e/ou nos componentes sensoriais (SHUMWAY-COOK &
WOOLLACOTT, 2003).
Com relação à parte motora, o que pode ocorrer é uma incoordenação (desorganização
sinérgica da contração muscular), além de desordens no alinhamento postural, restrição do
arco de movimento articular, mudanças na estrutura, função e força muscular, disfunções
estas músculo-esqueléticas, muito freqüentes no paciente neurológico (SHUMWAY-COOK
& WOOLLACOTT, 2003).
A equoterapia pode contribuir, pois estimula os vários sistemas responsáveis pelo equilíbrio;
o sistema vestibular é estimulado pelas mudanças de posição, o sistema visual será estimulado
principalmente pela mudança do campo de visão que o cavaleiro tem quando está sobre o
cavalo. No sistema somatossensorial, há estimulação de todo o corpo do cavaleiro, que é
desencadeada pelo cavalo e pelo movimento tridimensional do passo do cavalo, possibilitando
OBJETIVOS
O principal objetivo deste estudo foi de analisar de forma quantitativa através da EEB -
Escala de Equilíbrio de Berg (SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003) o efeito da
equoterapia na melhora do equilíbrio em cinco praticantes com diferentes quadros
neurológicos.
231
Além disso, também se pretende fortalecer a sugestão de alguns autores para a utilização
desta escala na avaliação do paciente neurológico com déficit de equilíbrio, uma vez que sua
utilização é mais freqüente na população idosa.
MATERIAIS E MÉTODOS
Local do Estudo
Este estudo foi realizado no Projeto Equoterapia ESALQ-USP na cidade de Piracicaba,
contando com a colaboração dos profissionais e praticantes da equoterapia.
Participantes
Foram selecionados cinco praticantes e classificados de A a E, sendo necessário que tivessem
a capacidade de permanecer em pé sem auxílio por pelo menos dois minutos, realizassem
marcha (com ou sem auxílio), possuíssem habilidade preservada para compreender ordens
simples e complexas e tivessem um escore máximo de 50 na EEB. A média de idade dos
praticantes foi igual a 36,6 (DP = 21,04), sendo dois do sexo feminino e três do sexo masculino;
dois portadores seqüelas de acidente vascular encefálico (AVE), um portador de seqüela de
um pós-operatório de tumor cerebelar, e dois portadores de paralisia cerebral
Procedimentos
Os praticantes foram avaliados na sala de avaliações do Projeto Equoterapia ESALQ-USP,
pelo mesmo examinador (inicial e final) através da EEB aplicada inicialmente e após dez
sessões, que ocorreram semanalmente e com duração de trinta minutos.
Materiais
Os equipamentos necessários para esta avaliação foram um cronômetro (ou relógio comum
com ponteiro dos segundos), uma régua ou outro medidor de distância com fundos de escala
de 5, 12,5 e 25cm, cadeiras que devem ser (de altura razoável) com e sem apoio para os
braços, um degrau ou um banco (da altura de um degrau).
A escala de equilíbrio funcional desenvolvida por Berg em 1993 e adaptada por Bronstein
em 1996 é composta por 14 tarefas comuns que envolvem o equilíbrio estático e dinâmico,
tais como alcançar, girar, transferir-se, permanecer em pé e levantar-se. Cada item pode
pontuar desde incapacidade (escore = zero) até um nível de independência (escore = quatro)
para cada uma das funções, totalizando no máximo 56 pontos (MIYAMOTO et. al., 2004;
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Para o processo terapêutico dos praticantes foi utilizado um cavalo preparado para
equoterapia, uma manta adequada para tal, cabeçada, cabresto e guia, além de materiais
lúdicos como bastões, bolas e arcos para a realização de exercícios visando a aprimorar
ainda mais o equilíbrio.
Para a análise dos resultados obtidos foi utilizado o Teste t com índice de significância p < 0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A opção pela utilização da EEB deu-se por ser esta uma escala de grande sensibilidade e
especificidade que, segundo estudo de Shumway-Cook et. al (1997), é de 91% e 82%
respectivamente, além de ser simples em sua aplicação e equipamentos e de não necessitar
de muito tempo para sua aplicação.
232
A tabela 1 reporta a relação dos cinco praticantes que foram submetidos ao tratamento,
bem como seus escores e médias iniciais e finais da EEB.
O resultado revela uma diferença estatisticamente significativa p = 0,028, que pode ser
observada no gráfico 1 através da comparação dos escores iniciais e finais de cada um dos
praticantes, onde há, exceto em E, uma tendência evolutiva.
No caso do praticante C não se notou qualquer redução de pontuação, apenas ganhos nas
tarefas 11 e 14, o que fez sua pontuação inicial passar de 50 para uma final de 52.
De acordo com Berg e colaboradores (1992), citado por Shumway-Cook & Woollacott (2003),
a espasticidade altera as propriedades das fibras musculares, o que contribui para os déficits
de coordenação observados nos praticantes com espasticidade. Desta forma, podemos inferir
que uma das causas da melhora do equilíbrio, avaliado neste estudo, se dá pela adequação
no tônus muscular dos praticantes que realizaram o tratamento em equoterapia.
Já Botelho e colaboradores (2004) nos trazem, após sua pesquisa para verificar a influência
da equoterapia no tônus muscular, que o movimento tridimensional do cavalo provoca no
cavaleiro várias oscilações nos planos frontal, sagital e horizontal, causando flexo-extersão
passiva de vários músculos do corpo humano, o que leva a uma redução da hiperexcitabilidade
dos motoneuronios alfa 10, contribuindo então para a redução da espasticidade e assim
melhora do equilíbrio.
Reforçando os resultados obtidos neste estudo, Bertotit (1988), citado por Fonseca (2004),
avaliou as alterações posturais em 11 praticantes com paralisia cerebral espástica, após a
participação num programa de dez sessões de equoterapia em que foi encontrada diferença
estatisticamente significativa, tendo a postura em pé melhorada em 8 dos 11 praticantes.
Da mesma forma, Mc Gibbon e colaboradores (1998), também citado por Fonseca (2004),
avaliaram os efeitos da equoterapia nas características da marcha, no gasto energético e
função motora, em cinco portadores de paralisia cerebral espástica, e todos mostraram
decréscimo no gasto de energia durante a marcha e aumento também significativo na
realização motora avaliada antes e depois do programa pelo teste da função motora GMFM.
CONCLUSÃO
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Neste estudo demonstrou-se que com a utilização da EEB foi possível detectar alterações no
equilíbrio de pacientes neurológicos, e não somente em idosos, como é usualmente aplicada
esta escala.
Através da observação do gráfico 1, foi possível verificar que a maioria dos praticantes
apresentou um quadro evolutivo com relação ao seu equilíbrio, o que nos permite dizer que,
para a grande maioria dos casos apresentados, a equoterapia com um número igual a dez
sessões mostra-se eficiente com relação à estimulação do equilíbrio, dado este estatisticamente
significativo de acordo com a análise dos resultados médios; média inicial de 42,4 pontos e
final de 45 (p = 0,028).
Assim, incentivamos que pacientes neurológicos devem ser submetidos a tratamento com
equoterapia, visto que além de oferecer bons resultados referentes ao ganho de equilíbrio, a
equoterapia é um trabalho complementar, lúdico e muito prazeroso para quem o pratica.
234
REFERÊNCIAS
FREIRE, H.B.G.; Equoterapia – Teoria e Técnica – Uma experiência com crianças autistas. São
Paulo Vetor, 1999.
MEDEIROS, M.; DIAS, E., Equoterapia – Bases e Fundamentos. Rio de Janeiro: Revinter, 2002.
MIYAMOTO, S.T., LOMBARDI JUNIOR, I., BERG, K.O. et al. Brazilian version of the Berg
balance scale. Braz J Med Biol Res, Sept. 2004, vol.37, no.9
OLIVEIRA, L.F.; IMBIRIBA, L.A.; GARCIA, M.A.C. Índice de estabilidade para avaliação
do equilíbrio postural. Revista Brasileira de Biomecânica. Ano 1, n. 1, nov. 2000, 33-38.
SANVITO, R. B., Propedêutica Neurológica Básica. São Paulo: Ed. Athenus, 2002.
SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACATT. Controle motor: teoria e aplicações práticas. São Paulo:
Manole, 2003.
WIECZOREK, S. A. Equilíbrio em adultos e idosos: relação entre tempo de movimento e acurácia XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
durante movimentos voluntários na postura em pé. 2003. Dissertação (mestrado) – Escola de
Ed. Física e Esporte. Universidade de São Paulo, São Paulo.
235
A AÇÃO DA EQUOTERAPIA NA POSTURA E NO EQUILÍBRIO
DE UM INDIVÍDUO HEMIPARÉTICO APÓS ACIDENTE
VASCULAR ENCEFÁLICO
ESTUDO DE CASO
INTRODUÇÃO
Marisco e colaboradores (2002) afirmam que a posição ereta se configura como a “posição
de repouso ou equilíbrio” favorecida pelo perfeito sinergismo entre os músculos agonistas e
antagonistas, que com sua tensão harmoniosa mantêm o corpo em estado de repouso
dinâmico. Já Shumway-Cook & Woollacott (2003) salientam que o alinhamento ideal na
postura vertical permite que o corpo seja mantido em equilíbrio com um gasto mínimo de
energia interna.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Baseando-se na seguinte citação de MEDEIROS & DIAS, (2002) que diz que somente pelo
alinhamento gravitário homem/cavalo, já é possível acionar o sistema nervoso, alcançando
objetivos tais como: melhora do equilíbrio, ajuste tônico, alinhamento e consciência corporal,
coordenação motora e força muscular, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da
equoterapia sobre a postura e sua relação direta com o equilíbrio em um praticante
hemiparético pós-seqüela de acidente vascular encefálico (AVE), através da utilização da
Fotometria e Escala de Equilíbrio Funcional (Bronstein et al., Berg Balance Test).
MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho foi desenvolvido no Projeto Equoterapia ESALQ/ USP, localizado na cidade
de Piracicaba/SP, contando com a colaboração dos profissionais e dos voluntários do projeto.
O praticante A.S. é do gênero masculino, com 60 anos de idade, hemiparético à direita, com
predomínio crural, apresentando seqüela de AVE desde 1995, cognitivo preservado, e sem
dificuldades de comunicação. Ele foi convidado verbalmente a participar e recebeu todas as
orientações e esclarecimentos sobre os procedimentos experimentais a serem realizados.
A coleta das imagens fotográficas e da avaliação de equilíbrio foi feita na sala de avaliação
Para a realização das fotos, foi utilizada uma câmera digital Sony DSC W1 com definição de
5.1 megapixeis, posicionada na altura da cicatriz onfálica, a uma distância de 180 cm do
simetrógrafo, atrás do qual se encontrava o praticante. Para a análise das fotos foi utilizado
o programa Corel Draw11.
As fotos foram feitas nas vistas anterior, lateral esquerda, lateral direita, através da realização
de uma série de fotos iniciais antes da sessão de equoterapia e outra série de fotos logo após
a 10ª sessão equoterápica para registrar os efeitos da equoterapia sobre o alinhamento corporal
e o equilíbrio.
A escala foi desenvolvida por Berg em 1993 e adaptada por Bronstein em 1996 e é composta
por 14 itens graduados de zero a quatro, com pontuação máxima de 56 pontos. O praticante
é instruído a manter uma posição por tempo determinado. Se ele não conseguir ou necessitar
de auxilio externo para a execução da tarefa, são subtraídos alguns pontos de acordo com o
auxílio prestado (BRONSTEIN et al., 1996), além do que as instruções ao praticante devem
ser objetivas, sempre priorizando a manutenção do equilíbrio em todos os itens (BERG, 1992;
MIYAMOTO et al., 1996).
Para o processo terapêutico do praticante, o cavalo utilizado possuía uma manta com alça
flexível, estribo, sendo este utilizado esporadicamente para a execução de algumas atividades,
como por exemplo, descarga de peso nos membros inferiores, além de materiais como bastões,
bolas e arcos para a realização de exercícios visando ao equilíbrio e postura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Kendal (1995) salienta que a postura padrão é aquela que envolve uma quantidade mínima
de esforço e sobrecarga, e conduz à eficiência máxima do corpo. Os desvios dos vários pontos
de referência a partir do fio de prumo revelam a extensão na qual o alinhamento da pessoa
é deficiente. Ao visualizar a postura em pé, o fio de prumo, neste caso a linha traçada pelo
computador, representa a linha média do corpo e uma projeção da linha de gravidade. Ela
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
começa no meio do caminho entre os calcanhares, estende-se para cima entre os membros
inferiores, através da linha média da pelve, coluna, esterno e crânio. Na vista posterior, a
linha de referência coincide com a linha média da cabeça e com os processos espinho-cervicais,
e a cabeça não se acha inclinada, nem rodada.
Tabela 1. Medidas analisadas na vista anterior: desvio cervical da linha média (cm), diferença
de altura de ombros (cm), diferença de altura de mamilos (cm) e desvio da cicatriz onfálica
da linha média (cm).
PRÉ PÓS
Desvio cervical da linha média (cm) 3,09 0,20
Desvio da cicatriz onfálica da linha média (cm) 2,13 1,06
Diferença de altura de ombros (cm) 2,76 1,33
Diferença de altura de mamilos (cm) 2,26 1,50
238 (PRÉ) Antes da intervenção; (PÓS) Imediatamente após a 10ª intervenção.
De acordo com a tabela 1., o resultado da avaliação fotométrica, referente ao critério postural
analisado na vista anterior, mostrou diferenças entre as imagens registradas nas duas
avaliações pré e pós-terapia, sendo que, ao final da décima sessão o praticante apresentou
melhora da habilidade postural estática, como se pode observar através da melhora da
simetria. Isto se verifica, pois ele obteve diminuição dos valores para desvio cervical da linha
média: pré:3,09cm, pós:0,20cm; desvio da cicatriz onfálica da linha média: pré:2,13cm,
pós:1,06cm; diferença de altura de ombros: pré:2,76cm, pós:1,33cm e diferença de altura de
mamilos: pré:2,26cm, pós:1,50cm, aproximando-se da linha média.
Na vista lateral, o fio de prumo, neste caso a linha traçada pelo computador, que representa
a linha de gravidade no plano médio-coronal, passa levemente anterior ao maléolo lateral,
levemente anterior ao eixo da articulação do joelho, levemente posterior ao eixo da articulação
do quadril, sobre os corpos das vértebras lombares, articulação do ombro, meato acústico
externo e levemente posterior ao ápice da sutura coronal (KENDAL, 1995). Através da análise
qualitativa, a postura do praticante na vista lateral apresentava-se com anteriorização
cervical, protusão de ombros, hipercifose dorsal, protusão abdominal, antepulsão,
caracterizando uma “postura desleixada”.
DIREITO ESQUERDO
No estudo realizado por Duarte (2004), através da avaliação fotométrica, para comparação
do ângulo de Cobb modificado com o ângulo por tangente em 52 pacientes submetidos à
bandagem funcional, observou-se que o valor angular médio para região torácica é de 147,12
± 3,88º, e o valor angular médio para região lombar é de 146,96 ± 5,21º. No caso do praticante
em questão, pode-se observar na análise da região lombar que apresentava um valor dentro
do fisiológico mesmo antes do tratamento e se manteve após a terapia. Já para a região
torácica, o praticante apresentava um aumento da cifose torácica, pois os valores estavam
abaixo dos valores de referência e se manteveram pós-tratamento (tabela 2.).
239
No resultado da avaliação de equilíbrio aplicada no praticante, pode-se observar que houve
aumento do escore geral na Escala de Equilíbrio, sendo inicial de 50 e final de 52. As melhoras
foram observadas nas seguintes tarefas; “11 – girando 360 graus” e “14 – em pé, apoiando
um dos pés”, tendo aumento de um ponto para cada uma delas. Isto significa que para o
item 11 o praticante foi capaz de virar 360 graus para os dois lados com maior segurança,
num tempo menor e com descarga de peso adequada, sendo que antes fazia somente para
um lado; analisando o item 14, ele foi capaz de levantar a perna independentemente e
manter por mais de 10 segundos, o que antes fazia com menos tempo.
Foi possível observar, pelos dados anteriormente descritos, que houve melhora do alinhamento
postural através da melhora da simetria observada pela diferença de altura de ombros e
mamilos e pelo desvio da cicatriz onfálica da linha média, além do melhor posicionamento
cervical observado pelos valores de anteriorização cervical, horizontalidade do olhar e desvio
cervical da linha média.
Desta forma, sugere-se que a equoterapia possa ter auxiliado na melhora do equilíbrio,
decorrente da melhora no posicionamento cervical e simetria, visto que o praticante não
realizava outra atividade terapêutica. Como também observado por FREIRE (1999), o
tratamento equoterápico proporcionou uma melhora neuromotora sobre a cabeça, tronco e
quadril do praticante, além de influenciar no desenvolvimento do esquema corporal,
organização espaço temporal e melhora do equilíbrio, observado pelo aumento da pontuação
da Escala de Equilíbrio Funcional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
FREIRE, H.B.G. Equoterapia – Teoria e Técnica – Uma experiência com crianças autistas. Vetor
editora psico-pedagógica, São Paulo, 1999, p.25-54, 83-94, 241.
MARSICO, V.; MORETTI, B.; PATELLA, V. et al. Analisi baropodometrica del passo in
soggetti sani anziani ed in pazienti gonartrosici prima e dopo intervento di artroprotesi di
ginocchio. G Ital Med Lav Erg. v.24, n.1, 2002, p. 72-83.
MEDEIROS, M.; DIAS, E. Equoterapia – Bases e Fundamentos. Revinter, Rio de Janeiro 2002.
MIYAMOTO, S. T.; LOMBARDI, I. J.; BERG K. O.; RAMOS L.R. Brazilian version of
the Berg balance scale. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v.37, 2004,
p.1411-1421.
PAI, Y-C et al. Alterations in Weight-transfer capabilities in adults with hemiparesis. Physical
Therapy, v.74, n.07, jul.1994, p.647-659.
241
EQUOTERAPIA: O QUE A FASE PRÉ-ESPORTIVA AUXILIA
NO PRATICANTE COM SÍNDROME DE DOWN
RESUMO
INTRODUÇÃO
Nesse método, o cavalo atua como agente cinesioterapêutico, pois o seu movimento rítimico-
tridimensional estimula o metabolismo, regula o tônus e melhora os sistemas cardiovasculares
e respiratório, atuando nos sistemas extrapiramidais como facilitador do processo de ensino-
aprendizagem, e como agente de inserção e reinserção social.
O meio de alcançar os objetivos nessa modalidade terapêutica é o cavalo, pois esta prática
exige a participação do corpo inteiro do praticante, de todos os músculos e de todas as
articulações. O movimento rítmico, preciso e tridimensional do cavalo, que ao caminhar se
desloca para frente e para trás / para um lado e para o outro / para cima e para baixo /
pode ser comparado com a ação da pelve humana no andar, permitindo a todo instante
entradas sensoriais em forma de propriocepção profunda, estimulações vestibular, olfativa,
visual, auditiva e cinestésica.
A equoterapia possibilita uma relação concreta e humana, mediada pelo cavalo, com técnicas
de equitação juntamente a uma equipe inter e multidisciplinar. Este método terapêutico
complementa na criança a evolução no processo de desenvolvimento da linguagem e favorece
a sua independência, considerando as diferenças individuais e tendo como referência seu
potencial de desenvolvimento.
O objetivo desta pesquisa foi avaliar a evolução do praticante com síndrome de Down na
fase pré-esportiva, em específico, no salto e na pista de areia, objetivando melhor inserção
social.
Em João Pessoa, o centro equoterápico onde as crianças são atendidas realiza atendimento
no Parque de Exposição, cujo nome é Centro de Equoterapia da Paraíba (Cenep) fundado
em outubro de 2000. Atualmente, atende às mais diversas patologias, alcançando conquistas
expressivas.
Na equoterapia o portador de síndrome de Down é avaliado pelo médico através dos raios-
X, com a finalidade de verificar a existência ou não da instabilidade atlanto-axial causada
pela frouxidão dos ligamentos das primeiras vértebras da coluna cervical. A existência da
instabilidade é uma contra-indicação para a prática da equoterapia. A incidência desta
instabilidade gira em torno de 10 a 20%. Na síndrome de Down só é permitida a prática
terapêutica a partir de três anos de idade.
METODOLOGIA
Esta pesquisa caracterizou-se por ser descritiva e exploratória como estudo de caso, e visa a
descrever por meio de análise qualitativa a evolução de uma praticante na fase pré-esportiva,
em específico, no salto e na pista de areia, objetivando melhor inserção social. O procedimento
utilizado para a coleta de dados foi o de observação direta intensiva, comparando cada
variável ao estado do paciente apresentado, antes da observação e após as terapias realizadas.
O universo da pesquisa foi constituído por uma praticante de equoterapia, do sexo feminino,
com seis anos de idade, que apresenta como hipótese diagnóstica fonoaudiológica atraso de
linguagem secundário por síndrome de Down com atendimento no Centro de Equoterapia
da Paraíba – Cenep no período de janeiro a dezembro de 2005. Esta criança está devidamente
regulamentada e autorizada para realização deste estudo, conforme a Resolução 196/96,
do Conselho Nacional de Saúde.
Com relação ao instrumento utilizado, foi elaborada a matriz de análise das atividades lúdicas
realizadas, baseada nos exercícios propostos pelo Cenep. Esta matriz foi o referencial para a
análise qualitativa e contém as categorias de atividades identificadas nas sessões de
equoterapia, sendo elas: interação inicial com terapeutas; interação com o cavalo; monta;
ordem de saída; observação de iniciativas, objetos e pessoas; atividade responsável; atividade
verbal orientada; localização espacial; brinquedo cantado; despedida do cavalo; apeio; e
despedidas dos terapeutas.
Estas categorias de atividades foram avaliadas por meio dos seguintes parâmetros:
RESULTADOS
Apesar das dificuldades apresentadas pela criança em realizar algumas tarefas, e dos medos
de transpor essas dificuldades, significando vencer seu próprio limite, este estudo mostrou
que o uso do brinquedo cantado pôde proporcionar a estimulação auditiva, a melodia e o
ritmo vocal, como também, uma progressão espontânea. A evolução aconteceu
gradativamente desde a tarefa mais simples, como “fazer-de-conta”, ao retirar a fruta da
árvore, dividi-la e comê-la, até as mais complexas, como encaixar a argola no cone com o
cavalo andando, trotar e dominar as rédeas, em que vê uma evolução quanto ao domínio
psicomotor.
Além das considerações anteriores, os resultados deste estudo permitem afirmar que o cavalo
pode transmitir estímulos que vão além do movimento tridimensional, atuando no
desenvolvimento das funções psicológicas e cognitivas; funções estas citadas por Vygotsky
(OLIVEIRA, 1997), quando relata que a linguagem é uma função psicológica, característica
da espécie humana. O cavalo pôde ser visto como um canalizador da atenção, concentração
e iniciativa tanto do praticante como dos terapeutas, representando um fator de união, um
elo que se firma desde a primeira sessão, quando se faz a mostragem do animal à criança.
Cria-se assim um vínculo mediador entre as relações afetivas, recíproco e tranqüilo entre o
praticante e a equipe, efetuando o processo de desenvolvimento da linguagem oral
intrapsíquica e interpsíquica.
O cavalo é o objeto intermediário que possibilita o aparecimento dos porquês de uma forma
enriquecedora, permitindo aos terapeutas intervir no momento adequado. A riqueza dos
estímulos e a motivação pela presença desse animal proporcionam tanto quanto que os
terapeutas possam construir um repertório amplo de atividades, o que sugere que essa terapia
DISCUSSÃO
Decorrido um ano de atividades equoterápicas, foi realizada a aferição dos resultados obtidos
com o trabalho. Quanto às atividades lúdicas relacionadas diretamente à psicomotricidade,
pois essa é uma ciência que estuda o homem através do movimento do seu corpo e as relações
com o mundo interno e externo, usada na equoterapia, bem como as que a praticante consegue
executar, e o tempo médio previsto para automatização de cada atividade.
Relacionado ao esquema corporal, Wallon (apud ANDE-BRASIL, 2002) relata que este é um
elemento indispensável à formação da personalidade da criança. Na equoterapia, é por
meio do desenvolvimento do esquema corporal que a criança toma consciência de seu corpo
e das possibilidades de expressar-se por meio desse corpo. A criança em estudo realizou
discernimento deste tipo de atividade após quatro meses de tratamento. 245
A organização espacial, segundo Tasset (apud ANDE-BRASIL, 2002), ao mencionar a
orientação e a estruturação do mundo exterior, refere-se primeiro ao seu conjunto de
elementos, depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em movimento. Na
equoterapia, primeiramente acontece a tomada de consciência do corpo em relação ao meio
ambiente, juntamente com as coisas e com as pessoas que o cercam. Seria a possibilidade
para o sujeito de organizar-se perante o mundo que o cerca, de organizar as coisas entre si,
de colocá-las em um lugar, e de movimentá-las. A criança apresenta flutuações quanto ao
desenvolvimento desse tipo de atividade, visto que é considerada complexa para o seu nível
de entendimento.
A aquisição de confiança é o primeiro item a ser desenvolvido nas sessões, uma vez que este
é a base para se estabelecer um vínculo entre cavalo-cavaleiro, devendo ser colocado em
prática com a aproximação do praticante conduzido pelo terapeuta. Levar o cavaleiro a
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
perder o temor inicial pelo animal é desenvolvido através do contato físico, do simples gesto
de passar a mão no cavalo e sentir o seu pêlo, percebendo a diferença entre a “nossa pele e
a pele do animal”.
O meio de alcançar os objetivos nessa modalidade terapêutica é o cavalo, pois esta prática
exige a participação do corpo inteiro do praticante, de todos os seus músculos e de todas as
articulações.
Desde a mais tenra infância a criança é exposta a inúmeras possibilidades de interação com
os mais variados ambientes sociais, bem como com seu próprio comportamento. A inserção
social é um fator que auxilia no desenvolvimento humano e, à medida que ela se desenvolve,
essas interações vão sendo gravadas e tornando mais complexo o seu comportamento
conceitual, com base em controles por estímulos cada vez mais sofisticados.
A maior recompensa é ter hoje a certeza de que esta pesquisa ultrapassou os objetivos
propostos, pois as barreiras do medo e as limitações apresentadas pela criança puderam ser
transpostas, tendo-se encontrado o caminho para o desenvolvimento de forma harmoniosa.
Pode-se verificar que a equoterapia traz benefícios complementares, mas não substitui outras
terapias. Nenhum tipo de terapia propõe a cura, e sim, auxilia ao tratamento de acordo com
os limites de cada indivíduo, proporcionando melhor qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
247
EQUOTERAPIA E PONTOS MOTORES DA FACE: ALONGAMENTOS
ATIVOS EM PRATICANTE COM PARALISIA CEREBRAL
RESUMO
Introdução: A utilização dos alongamentos ativos referentes aos pontos motores da face é
uma alternativa dentro da fonoaudiologia e, na equoterapia, é adaptada aos exercícios
executados em cima do cavalo, trazendo benefícios aos praticantes permitindo adequar as
estruturas orais e favorecer ao desenvolvimento da articulação das palavras. Objetivo: Aplicar
técnicas de alongamentos ativos com praticante de paralisia cerebral, e verificar a evolução
das alterações oromiofuncionais e padrão articulatório. Método: Caracterizou-se por ser
descritiva e exploratória como estudo de caso. A técnica utilizada para a coleta de dados foi
a de observação direta intensiva e anotações relevantes contidas nos prontuários que registram
as situações terapêuticas desenvolvidas no Centro de Equoterapia da Paraíba (Cenep).
Resultados: Com a execução dos alongamentos ativos houve minimização das alterações
das estruturas orofaciais com relação à motricidade e mobilidade de lábios e língua, além da
adequação das funções de sucção e deglutição, comprovando que a equoterapia proporcionou
ao praticante ajuste tônico através do movimento tridimensional do cavalo, das diferentes
andaduras, juntamente com as manobras aplicadas pelos terapeutas, resultando também
em melhor padrão articulatório. Conclusão: Observaram-se benefícios quanto às alterações
orofaciais, considerando-se as limitações do paciente, pois através da equoterapia, houve a
maximização das potencialidades do praticante e melhoria do seu padrão muscular.
INTRODUÇÃO
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
O Centro de Equoterapia da Paraíba – Cenep, localizado em João Pessoa, onde esta pesquisa
foi desenvolvida, faz prática desse método completo que é a equoterapia. Atuando desde
outubro de 2000, atualmente, atende às mais diversas patologias, sendo elas: paralisia cerebral,
autismo, disartria decorrente de paralisia cerebral, distúrbio motor leve, síndrome de Down
e síndrome de Dande Walker. Essas patologias ocasionam atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor, déficits motores, físicos, lingüísticos e de aprendizagem.
Segundo Finnie (2000), paralisia cerebral (PC) é um distúrbio de movimento e postura não-
progressivo, mas constante, que se inicia nos primeiros anos de vida. É causada por dano ao
cérebro imaturo, ou seja, sempre tem início na infância.
Os pacientes com PC apresentam problemas nas estruturas orais, que segundo Marinelli
249
Os lábios e bochechas são estruturas que trabalham juntas. O tônus muscular baixo –
bochechas não criam uma barreira suficiente para a comida se mover contra a gengiva e os
dentes – caem no vestíbulo – lábios não vedam – comida e saliva dentro da boca são difíceis
de serem mantidas. Tônus muscular alto – lábios e bochechas são puxados para fora da
retração – dificulta sucção, introdução de colher e corpo – transferência do alimento – lábios
franzidos podem ser encontrados na tentativa de diminuir a retração.
O objetivo desta pesquisa foi aplicar técnicas de alongamentos ativos com praticante de
paralisia cerebral, e verificar a evolução das alterações oromiofuncionais e padrão
articulatório.
METODOLOGIA
Esta pesquisa se caracterizou por ser descritiva e exploratória como estudo de caso. A técnica
utilizada para a coleta de dados foi a de observação direta intensiva, durante as situações
terapêuticas desenvolvidas no Centro de Equoterapia da Paraíba (Cenep).
250
RESULTADOS
Com a execução dos alongamentos ativos houve minimização das alterações oromiofuncionais
com relação à motricidade e mobilidade de lábios e língua além da adequação das funções
de sucção e deglutição, comprovando que a equoterapia proporcionou ao praticante ajuste
tônico através do movimento tridimensional do cavalo nas diferentes andaduras, juntamente
com as manobras aplicadas pelos terapeutas, resultando também em melhor padrão
articulatório.
Na face, foram realizadas atividades como franzir a testa (FT), fazer cara de bravo (CB) e
fechar os olhos (FO), em que o praticante apresentou inicialmente dificuldades no sistema
motor oral, resultando em déficit na mobilidade e motricidade de tais estruturas. No entanto,
com o decorrer das sessões, ao final de um ano notaram-se melhoras significativas quanto
aos movimentos antes realizados com muita dificuldade.
Nos lábios, os exercícios propostos foram o bico (B), sorriso aberto (SA), estalo de lábios
unidos (ELU) e estalo de lábios retraídos (ELR). Durante a execução destes exercícios, o lábio
inferior sempre evertia; repetindo os movimentos e corrigindo-os durante as sessões, o
praticante já consegue realizar tais movimentos sem everter o lábio inferior.
Lermontov (2004) relata que um praticante, quando faz equoterapia, tem os músculos
responsáveis pela produção da fala influenciados pelo movimento tridimensional do cavalo.
Isso dá um impacto nos músculos da cavidade oral, nas pregas vocais, nos músculos da
laringe e nos músculos da respiração.
No paciente com PC a função motora se encontra prejudicada, pois parte do cérebro foi
lesada, não podendo haver desenvolvimento. Puyelo (2001) afirma que os problemas motores
de expressão na paralisia cerebral podem ser múltiplos e afetar de maneiras diferentes, de
acordo com o caso, a expressão do indivíduo.
A utilização dos alongamentos ativos, referentes aos pontos motores da face, é uma
alternativa dentro da fonoaudiologia, que pode ser utilizada também pela equoterapia,
alcançando resultados positivos.
251
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
FINNIE, N. R. O manuseio em casa da criança com paralisia cerebral. 3. ed. São Paulo: Manole,
2000.
MEDEIROS, M.; DIAS, E. Equoterapia: bases e fundamentos. Rio de Janeiro: Revinter, 2002.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
PUYUELO, M.; POÓ, P.; BASIL, C.; MÉTAYER, M. L. A Fonoaudiologia na paralisia cerebral:
Diagnóstico e Tratamento. São Paulo: Santos, 2001.
252
O EFEITO DA EQUOTERAPIA NO TÔNUS MUSCULAR DE
MEMBROS INFERIORES E NO DESEMPENHO MOTOR EM
CRIANÇAS PORTADORAS DE PARALISIA CEREBRAL
DO TIPO ESPÁSTICA
INTRODUÇÃO
A paralisia cerebral pode ser definida como uma afecção do sistema nervoso central de
caráter não progressivo e não é considerada uma doença, mas sim um grupo de distúrbios
crônicos cerebrais devido a alguma lesão ou anomalias no desenvolvimento ocorrido durante
a vida fetal, durante o parto ou até os três primeiros anos de vida (LIANZA, 1995). Em
geral, crianças portadoras de paralisia cerebral têm dificuldade de equilibrar a ação de grupos
musculares para uma função motora suave, coordenada e eficiente; pois em vez disso, usam
mais o músculo agonista (TECKLIN, 2002). A paralisia do tipo quadriplegia é a mais grave
e geralmente associada à espasticidade (TACHDIJEAN, 1995), e a causa da espasticidade
seria explicada por uma diminuição da inibição pré-sinaptica dos motoneurônios alfa,
originando um ganho exagerado do reflexo de estiramento (CASALIS, 1990). Nesta patologia
ocorre lesão no SNC que resulta em uma alteração de tônus, levando a movimentos deficitários.
Para que ocorra uma função motora normal, alguns fatores devem ser considerados, dentre
eles: tônus postural normal inervação recíproca, feedback e feedforward sensório-motor, reações
de equilíbrio, de retificação e de proteção e propriedades biomecânicas dos músculos
(Edwards, 1999).
Os benefícios dessa terapia ocorrem pois são gerados estímulos com ritmo, amplitude e
velocidade capazes de diminuir o tônus muscular pela estimulação vestibular lenta. As
informações proprioceptivas que o praticante recebe quando está sobre o cavalo favorece a
adequação do seu tônus muscular e facilita a função motora normal (FREIRE, 1999).
OBJETIVO
MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho foi desenvolvido no Projeto Equoterapia ESALQ - USP (Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz – Universidade São Paulo), na cidade de Piracicaba – SP.
Foram avaliados sete praticantes, todos portadores de paralisia cerebral com idade entre 4
e 12 anos.
Foram utilizados diversos materiais de equitação, dentre eles, mantas, estribos, selas,
selecionados de acordo com cada caso clínico.
Os praticantes foram avaliados pela GMFM antes da primeira sessão e antes da décima
primeira sessão, ou seja, cada praticante foi submetido a dez sessões de equoterapia. As
terapias foram semanais com duração de trinta minutos.
A avaliação do desempenho motor foi realizada por meio do GMFM, que é um instrumento
254 de observação padronizado e permite avaliar o quanto uma criança realiza de função
motora grossa, sendo composto por 88 itens, divididos em cinco dimensões: A) deitar e
rolar, B) sentar, C) engatinhar e ajoelhar, D) ficar em pé, E) andar, correr e pular. É aceitável
fazer o teste em qualquer ordem, tendo a criança três tentativas para cada item, sendo que
o escore atribuído será o da melhor performance, além de a criança ter que realizar os
movimentos espontaneamente sem ajuda do examinador, que pode auxiliar somente com
comandos verbais. A pontuação dos escores é baseada numa escala de 4 pontos para cada
item, da seguinte forma: 0 = não inicia, 1= inicia (menor que 10%), 2 = parcialmente completa
(maior que 10% e menor que 100%) e 3 = completa (100%) (RUSSELL et al, 1993).
As crianças do nível I da GMFCS têm escores (%) maiores na GMFM, são crianças cujas
limitações funcionais não são tão pronunciadas, têm diagnóstico de PC leve ou com baixa
severidade. No nível II, as crianças apresentam dificuldades em realizar funções motoras,
como correr e pular. Para as crianças de nível III na GMFCS há dificuldade em balanço e
mobilidade, afetando principalmente a marcha independente sem dispositivo auxiliar. Em
relação ao nível IV, há funcionalidade apenas na postura sentada. O nível V da GMFCS são
crianças com múltiplas desordens que apresentam restrições no controle voluntário dos
movimentos e na habilidade de manter postura antigravitacional do pescoço e do tronco,
apresentando escore baixo na GMFM (PALISANO et al, 1997).
Durigon e Piemonte, (1993), pré e pós-terapia. Esta atividade foi realizada em uma sala,
utilizando uma maca, sendo sempre feita pelo mesmo avaliador. Os movimentos analisados
foram dorsiflexão de tornozelo e abdução de quadril com o praticante posicionado em
decúbito dorsal, flexão e extensão de joelho e extensão de quadril em decúbito lateral, sempre
o posicionando na linha média.
Para análise dos resultados foi utilizado o Teste t com significância p d” 0,05.
Com base nos dados obtidos na Escala de Avaliação de Tono Muscular Durigon e Piemonte
(1993) pré e pós-terapia, observa-se que o movimento de dorsiflexão do tornozelo
(bilateralmente) teve melhora significativa da graduação, ou seja, de 6,36 para 5,03 no lado
direito (p=0) e 5,96 para 4,57 no lado esquerdo (p=0); os movimentos de extensão de joelho
direito e extensão de quadril esquerdo também apresentaram resultado significativo,
diminuindo de 3,37 para 2,83 (p=0) e de 2,56 para 2,31 (p=0,01), respectivamente, e a abdução
de quadril teve uma diminuição de 4,22 para 3,15 (p=0). Nos demais movimentos (flexão de
joelho bilateralmente, extensão de joelho esquerdo e extensão de quadril direito), os resultados
não foram significativos.
Pré Pós
Dorsiflexão de tornozelo direito 6,36 5,03*
Dorsiflexão de tornozelo esquerdo 5,96 4,57*
Flexão de joelho direito 2,94 2,67
Flexão de joelho esquerdo 2,93 2,65
Extensão de joelho direito 3,37 2,83*
Extensão de joelho esquerdo 3,00 2,78
Extensão de quadril direito 2,31 2,18
Extensão de quadril esquerdo 2,56 2,31*
Abdução de quadril 4,22 3,15*
Um dos nossos praticantes avaliado foi classificado no nível II da GMFCS. Três foram
classificados no nível III, e como características apresentaram escores altos em determinadas
dimensões (dimensões A, B e C) e baixos em outros, sendo essas determinadas como metas
para o tratamento fisioterapêutico.
Com relação à Escala GMFM, os resultados não foram significativos, demonstrando que
256 essa melhora no tônus muscular não foi suficiente para gerar uma melhora na função motora,
possivelmente pelo baixo número de sessões, tendo em vista que a melhora no desempenho
motor está relacionada ao exercício repetitivo e prolongado e a manutenção da postura
sentada durante a terapia (que não permite a exploração de muitas transições) (BERTOTI,
1983; CALVELEY, 1998). Deve-se levar em consideração que a análise dos dados foi feita de
forma geral, e que na análise individual um praticante obteve melhora nas dimensões A e B
da escala.
De acordo com Copetti (2004), foi constatada uma melhora da habilidade motora de andar
devido ao movimento tridimensional do cavalo, que durante a prática da equoterapia gera
movimentos mais complexos de rotação e translação, e as informações proprioceptivas são
interpretadas por órgãos sensores de equilíbrio e postura exigindo ajustes da criança para
manter-se sobre o cavalo. O passo do cavalo estimula as reações de equilíbrio, proporcionando
a restauração do centro de gravidade dentro da base de sustentação.
Ainda segundo Padra e colaboradores (2004), durante observação dos resultados de seu
estudo, nas 3 dimensões da GMFM, verificou-se que pacientes submetidos a sessões de
equoterapia obtiveram como maior benefício o controle e conseqüentemente o alinhamento
postural, concordando com os achados na literatura que mostram melhora da manutenção
da postura sentada e na simetria desta mesma função
Em outro trabalho, Rodrigues e colaboradores (2004) notaram que um grupo (idade média
de 43 meses) apresentou escores significamente maiores nas dimensões deitar e rolar, sentar
e andar, correr e pular na segunda avaliação da GMFM, comprovando que a equoterapia é
uma boa indicação terapêutica em pacientes com pobre controle de tronco.
Complementando esses estudos, segundo Magalhães (1997); Motta et al., (2001); Medeiros e
Dias (2003 apud Leite et al., 2004) ainda temos que a estimulação sensorial proporcionada
pelo cavalo de forma prazerosa, ao ser oferecida na quantidade e na qualidade ideais à
257
organização destas informações, facilita o processo neurológico de integração sensorial, o
que pode ser traduzido em uma melhora motora, perceptiva, cognitiva e emocional do
praticante.
CONCLUSÃO
A presente pesquisa revelou que nos sete casos de espasticidade observados houve melhora
significativa no tônus, apesar de não se observar melhora da função motora.
Concluímos que a Equoterapia, com um número de sessões igual a 10, pode ser um método
coadjuvante válido para reduzir a espasticidade, sendo um agente facilitador da adequação
do tônus muscular.
REFERÊNCIAS
BERTOTI, B.B. Effect of therapeutic horseback riding on posture in children with cerebral palsy.
Physical Therapy, v.10, p.1505-15012, 1988.
BOTELHO, L.A.A . et al. O efeito da Equoterapia na espasticidade dos membros inferiores. Medicina
de Reabilitação, v.22, jan/abr, 2003.
CALVELEY, J. The effect of horse riding upon sitting balance in people qith cerebral palsy. In:
Paper Presented at the Sixth International Therapeutic Kiding Congress Toronto, august
23-25, 1998.
COPETTI, et al. Efeito da equoterapia sobre o padrão motor da marcha em crianças com Síndrome
de Down - uma análise biomecânica In: I Congresso Ibero Americano de Equoterapia, III
Congresso Brasileiro de Equoterapia. Salvador BA: 25 a 27. nov/2004, 14-20.
EDWARDS, S.. Fisioterapia Neurológica. 1.ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
FREIRE, H.B.G.. Equoterapia – Teoria e Técnica – Uma experiência com crianças autistas. São
258 Paulo: Psico-pedagógica, 1999.
LEITE, A.K.F., SILVA, M.R., RABELO, A.R.M. O Cavalo como Facilitador do Processo
Neurológico de Integração Sensorial. In: I Congresso Ibero Americano de Equoterapia, III
Congresso Brasileiro de Equoterapia. Salvador BA: 25 a 27. nov/2004, 297-301.
LIANZA, S. Medicina de Reabilitação. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1995, p.288;
298-301.
PALISANO et al. Gross Motor Function Classification System for Cerebral Palsy. Dev Med
Child Neurology, 1997, p.214-223.
RODRIGUES, C.S., et al. Análise do Controle de Tronco em Crianças com Paralisia Cerebral:
Equoterapia Versus Fisioterapia. In: I Congresso Ibero Americano de Equoterapia, III Congresso
Brasileiro de Equoterapia. Salvador BA: 25 a 27. nov/2004, 105-114.
RUSSELL, D.; ROSENBAUM, P.; GROWLAND, C.; HARDY, S.; LANE, M.; PLEWS, N.;
McGAVIN, H.; CADMAN, D.; JARVIS, S. Administration and Scoring. In: Gross Motor
Function Measure Manual. McMaster University: Toronto, 1993.
259
ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO EQUOTERÁPICO PARA O
ATENDIMENTO DE CRIANÇAS AUTISTAS. UTILIZAÇÃO DA
COMUNICAÇÃO VISUAL BASEADA NO MÉTODO TEACCH
AUTISMO
HISTÓRICO E CONCEITOS
Estatísticas americanas recentes mostram que de 1/1000 crianças são autistas clássicos e 1/
250 englobam todos os tipos de autismo. Segundo dados demonstrados por Ami Klin (2005)
no centro de pesquisas e diagnóstico em autismo na Universidade de Yale (Yale Child Study
Center), o diagnóstico e tratamento precoce do autismo melhorou muito em todos os aspectos:
80% dos casos podem ser diagnosticados antes de um ano de vida; 100% nos primeiros dois
anos de vida. No Centro de Yale já se faz o diagnóstico no primeiro ano de vida. Com isso
houve uma melhora no prognóstico para o autista clássico, que, de um percentual 2% com
prognóstico para trabalhar e ter uma vida independente, passa a ser hoje de 30% e, de 50%
que não falavam, passa hoje a ser de 20% a 30%.
Gillberg (2003), em sua passagem pelo Brasil (In Curso Conviver, p 05.), mencionou a
incidência de 1 a 2/1000 crianças com autismo clássico e de 3 a 7/1000 crianças com síndrome
de Asperger e autismo atípico. Também citou conclusões importantes, entre elas: a incidência
entre meninos e meninas, atualmente, é quase igual e quando se apresenta em meninas,
geralmente estas tendem a ser mais agressivas e comprometidas intelectualmente; 5% das
crianças em idade escolar são autistas, cerca de 70% possuem algum nível de retardo mental
associado, e 20% possuem inteligência na média ou acima dela.
Em palestra no Brasil (III Jornada conviver de autismo), Ami Klin(2005) mencionou que
60% possuem déficit mental e 40% não possuem, ressaltando que o aumento na incidência
dos casos de autismo se dá pelo fato da possibilidade atual de um diagnóstico mais precoce
e do aumento da conscientização das pessoas, o que leva a uma facilidade maior em detectar
os casos, porém alertou que no Brasil esta conscientização da sociedade e profissionais da
saúde e educação, no geral, ainda é muito pequena, tornando o assunto um problema de
saúde pública.
Portanto, o profissional de equoterapia, no seu papel social, precisa se posicionar como agente XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
ABORDAGEM TERAPÊUTICA
– Ser previsível;
Vista a necessidade de dar seqüência ao trabalho que o aluno autista realiza em sala TEACCH
e a possibilidade de melhora adaptativa e quantitativa que este aluno pode obter com a
organização, dentro de um contexto equoterápico mais pertinente à sua forma de
compreensão e comunicação, desenvolvemos algumas estratégias para o recebimento de
263
alunos autistas no Centro de Equoterapia Horse Place. A princípio, o ambiente foi organizado
para o recebimento de um aluno específico, com o propósito de observarmos seu
comportamento em relação a nossa comunicação, se esta era adequada, de fácil compreensão
sobre o que ele iria fazer em que ordem, o que viria após uma atividade terminada, onde
aconteceriam e se o ambiente transmitiria a segurança e previsibilidade necessárias para
evitar crises e ansiedades, comumente desencadeadas no autista em relação às novas
informações e situações.
Optamos pela utilização de uma quantidade mínima de dicas visuais, somente para situar o
aluno nos espaços demarcados para cada momento e atividades. Para os momentos anteriores
e posteriores à sessão de equoterapia, escolhemos dicas visuais que comunicavam e promoviam
maior relaxamento, tendo em vista que queríamos destacar a sessão com o eqüino como
sendo o objetivo de “trabalho” e o tempo restante como o objetivo de “lazer” durante as
tardes de equoterapia. Escolhemos uma rotina preestabelecida de informações, a qual foi
flexibilizada somente durante a sessão de equoterapia com variações na quantidade e tipos
de atividades aplicadas (promovendo de certa forma, pequenas “novidades”, para aos poucos
ajudá-lo a aceitar com maior tranqüilidade situações inesperadas, assim como predispor o
aluno a flexibilizar as informações em outros momentos).
– Cartão 2 - dica visual do carro (comunicando a hora de ir para o transporte que leva
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
– Cartão 3 - dica visual da cadeira (indicando o local que ele deve se dirigir ao descer
do carro e aguardar o atendimento equoterápico);
– Cartão 8 - dica visual do brincar (indicando o espaço para pintar, rabiscar, manusear
revistas e massinha);
264
– Cartão 9 - dica visual do descansar (indicando local para sentar ou deitar ao ar
livre);
Observações
– Durante o momento da realização da sessão de equoterapia, optamos em não utilizar
dicas visuais (para promover flexibilização de rotina), porém manter uma seqüência
de atividades sempre em uma mesma ordem: duas a três atividades iniciais de solo
para demarcar o início da sessão (pareamento de cores e animais, encaixes diversos,
quebra-cabeça e seleção de animais); colocação do capacete e atividades com o aluno
montado no eqüino, demarcando o meio da sessão; retirada do capacete e alimentar
o eqüino, demarcando o término da sessão;
– As próximas dicas que pretendemos acrescentar são cartão de bola (para promover
mais uma opção de atividade lúdico-motora) e televisão (para dias chuvosos);
– Cada dica visual possui um local predeterminado e não variável para serem colocados
pelo aluno após este recebê-las. Este local chama-se check in (cada check in possui
uma dica visual idêntica ao que o aluno recebeu, para comunicar claramente que
aquele é o local onde deve ser deixado o cartão que recebeu).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
MELLO, R.S.M. Ana de. Autismo-guia prático. 3ªed. São Paulo: AMA; Brasília: CORDE, 2004,
p. 14-16;27.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
SCHWARZMAN. S. José. Autismo Infantil. São Paulo: Memnon, 2003, p.5-8; 12-14; 15-27.
KLIN, Ami. Contra o autismo da sociedade. Gazeta do povo, Curitiba, p.3, 10 de Julho.2005.
KLIN,Ami. Autismo. Pesquisas em Yale Child Study Center. In:III Jornada Conviver de Autismo,
2005, Curitiba.
JORNADA CONVIVER DE AUTISMO, 3., 2005, Curitiba. Anais da III Jornada Conviver.
Curitiba: Conviver, 2005.
GILBERG, C.; STEFFEMBURG, S.; SCHAUMANN, H. Is autism more common now than ten
years ago?. Br. J. Psychiat, v.158,p.403-409,1991.
267
EQUOTERAPIA E A INTEGRAÇÃO MULTISSENSORIAL DO
EQUILÍBRIO DA POSTURA
Equilíbrio é definido como manter o centro de massa sobre a base de suporte. É atingido
através de um processo complexo envolvendo a recepção e integração de estímulos sensoriais,
planejamento motor, atenção e execução muscular. Qualquer dano em qualquer uma destas
áreas afeta o equilíbrio.
A pesquisa sugere que a habilidade de relacionar estímulos sensoriais a uma reação motora
forma a base do desenvolvimento do controle da postura. A resposta sensorial é uma parte
integrante do conjunto do sistema motor e é crítica na modificação de programas motores
gerados pela CPG em adaptações em linha (online) para o meioambiente.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Geradores de Padrão Central (GPCs) são redes funcionais da espinha, nas quais o caminhar,
o controle de postura, e outros comportamentos rítmicos, como a alimentação e respiração,
estão baseados. O dar-passos infantil é uma evidência da existência dos GPCs e demonstra
que GPCs são controladores ativos dos movimentos humanos.
Os movimentos rítmicos do cavalo ativam os GPCs e isso pode ser uma explicação para os
efeitos positivos da equoterapia, especialmente melhoras no caminhar.
Por vezes, as atividades integradoras são mais complicadas do que em outras ocasiões. Por
exemplo, há ocasiões em que o estímulo sensorial que nós recebemos de uma das fontes está
em conflito com o estímulo de outra. Por exemplo, quando nos sentamos em um trem e o
trem próximo a nós se move. No começo nosso sistema visual diz que o nosso trem está se
movendo, mas quando o sistema vestibular reage ele dá mais informações, e nós percebemos
que o trem próximo a nós é que está se movendo.
Enquanto a integração dos estímulos sensoriais ocorre, o cérebro envia impulsos aos músculos.
Esses músculos fazem cabeça e pescoço, olhos, pernas e o resto do corpo se mover e permite
que se mantenha o equilíbrio e se tenha uma visão clara enquanto se move.
Como uma pessoa com problemas sensoriais pode ser capaz de controlar seu equilíbrio?
Uma explicação é a integração multissensorial. Nenhum sistema único pode dar informações
suficientes para manter-se o equilíbrio, mas a integração multissensorial é capaz de fazê-lo.
Por sorte, o sistema nervoso central também tem propriedades plásticas. Em uma pessoa
cega, por exemplo, a apresentação do sistema somatossensorial no cérebro se torna maior, o
que fará o sistema mais sensível. Portanto, ele tem um papel mais importante no controle do
equilíbrio do que em outras pessoas que confiam fortemente em seu sistema visual.
270
EQUITAÇÃO TERAPÊUTICA E SEUS BENEFÍCIOS
EM PSICOPATOLOGIA
RESUMO
INTRODUÇÃO
O interesse dos psicólogos em utilizar o cavalo nas intervenções psicoterapêuticas aumenta XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
a cada ano, no entanto, a literatura disponível no Brasil ainda é escassa para esclarecer a
complexidade deste método, suas possibilidades e limitações.
* Psicóloga, Profissional da Equoterapia atuando no Instituto Passo a Passo - Itatiba - SP- BRASIL 271
A Alemanha, porém, possui uma tradição de mais de vinte anos nesta área, com diversas
publicações. Os estudos alemães mostram que cada programa da equoterapia tem sua
indicação específica da medicina, psicologia, pedagogia e do esporte, sendo que eles devem
ser compreendidos numa atuação em que exista um campo de inter-relacionamento e de
interesse comum. A equitação terapêutica se localiza neste campo e permeia todos os
programas em que são atendidos os pacientes que apresentam algum tipo de psicopatologia.
Na equitação terapêutica são utilizadas as indicações de cada programa, correlacionando-
as com as fases da doença dos pacientes, chamados de praticantes.
Alemanha foi fundada em 2001 a associação “Fachgruppe Arbeit mit dem Pferd in der
Psychotherapie – FAPP” (Grupo Específico do Trabalho com o Cavalo em Psicoterapia),
reconhecida também pela associação alemã da Equitação Terapêutica, “Deutsches Kuratorium
für Therapeutisches Reiten e.V. – DKThR”.
No Brasil a Dra. Gabriele Brigitte Walter vem contribuindo para a divulgação da complexidade
das possíveis intervenções dos aspectos psíquicos no setting terapêutico com o cavalo. Há
muito tempo ela vem apontando nos seus cursos, que realiza na Fundação Rancho GG,
272 Centro de Treinamento, Pesquisa e Ensino de Equoterapia, os benefícios da equitação
terapêutica no caso das psicopatologias. Como pesquisadora, psicóloga, fisioterapeuta e
instrutora de equitação, a doutora Gabriele possui um conhecimento e experiência
significativos no campo da equitação terapêutica, contribuindo para fundamentação das
intervenções psicoterapêuticas no trabalho com o cavalo no nosso país.
Segundo Scheidhacker (1998, p. 16) “Psychoterapeutische Ansätze gehen über von dem Körper
- und bewegungstherapeutischen Gesichtspunken über erzieherische Mabnahmen bis hin zu
verhaltenstherapeutischen, tiefenpsychologischen und analytischen behandlungsform”. (As
referencias psicoterapêuticas utilizadas possuem aspectos das terapias voltadas para o corpo
e o movimento, terapias cognitivistas e comportamentais, como também das terapias
psicanalíticas ou as chamadas psicoterapias profundas).
A seguir, o relato de um dos casos atendidos pela autora deste trabalho: E.A.P praticante de
43 anos com diagnóstico CID-10, F31.4 - Transtorno afetivo bipolar, episódio atual misto,
agitada para a sessão, ficou por mais de meia hora chorando, abraçando e beijando uma
égua: “ te amo, te amo... você é a razão de eu existir, você não contamina, te amo, te amo,
obrigada... muito obrigada por existir...”. “Você é maravilhosa, você é maravilhosa, é você
que me entende... você que me entende... obrigada, obrigada”. A terapeuta acolheu esta 273
situação a uma pequena distância e a praticante saiu em silêncio, agradecendo a terapeuta
pelo tempo que pôde estar com o cavalo, a sós.
Foi possível observar o caso de um adulto diagnosticado com CID-10, F32.2 - Episódios
depressivos graves sem sintomas psicóticos, uma melhora significativa após três meses de
equitação terapêutica, quando conseguiu conduzir o cavalo com autonomia, cavalgando a
passo sobre um obstáculo sem altura. A atividade, além da exigência física, proporcionou
uma representação simbólica, fazendo o praticante sentir-se capaz, superando crenças
irracionais preestabelecidas.
parte dos pacientes psiquiátricos, pois muitos são inativos na vida profissional há algum
tempo. Segundo Gäng (2003 p. 74), “Trotz intensiver Therapieversuche und medicamentöse
Behandlung ist der Patient Häufig in seiner Kranheit gefangen” (Mesmo com terapia intensiva
e acompanhamento medicamentoso, o praticante psiquiátrico é muitas vezes preso nos
sintomas da sua psicopatologia) e pouco capaz de relacionar-se de maneira satisfatória. A
falta da comunicação eficaz neste pacientes gera agressões, insegurança e medos em que o
cavalo possibilita uma nova forma de poder se comunicar.
Segundo Walter (2004 p. 76), a união pode ser tal que o cavalo é sentido como um
companheiro muito próximo, mesmo como um prolongamento do corpo, um corpo que
agita, companheiro de fantasias e de loucuras, permitindo talvez, ao cavaleiro, a descoberta
a si mesmo.”
O cavalo é franco e autêntico na relação com ou outro, espelhando com eficácia a inadequação
do praticante, porém sem punição ou julgamento. Assim, para o terapeuta é possível, por
274 meio do cavalo, identificar os mecanismos da psicopatologia do praticante, como também o
seu funcionamento psicodinâmico. Isso é possível pois na relação com o cavalo o praticante
reproduz as suas limitações como, por exemplo, as dificuldades em estabelecer novos vínculos,
atitudes agressivas, a falta da tomada de iniciativas, entre outras. “Der Therapeut fungiert als
Bindelgied zur Realität und als Mittler zwischen Pferd und Patient.” (O terapeuta atua como elo
da realidade e como mediador entre cavalo e praticante) (Gäng, 2003, p. 75).
O volteio realizado com a manta proporciona um contato físico maior para o praticante, e
assim há uma conscientizaçao do próprio corpo a partir do movimento ritmado do cavalo,
podendo vir a libertar emoções reprimidas, como por exemplo agressões não manifestadas,
que causam no praticante rigidez e tensões. Aqui a variação de diversos cavalos com
andaduras diferentes estimula uma percepção positiva do próprio corpo.
O montar a cavalo com autonomia passa pelo volteio até a condução independente na sela XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Contudo pode-se afirmar que na equitação terapêutica as possibilidades das estratégias são
muitas, porém o profissional deve possuir conhecimento específico da psicopatologia e
psicodinâmica. Também os autores alemães fazem referência à importância de que os
psicólogos que utilizam o cavalo nas intervenções psicoterapêuticas não só devem ter uma
formação sólida na sua área específica, como também devem conhecer bem a etologia do
cavalo e ter uma equitação avançada.
que não são analisados os fenômenos dos praticantes exclusivamente, mas sim a atuação do
terapeuta, refletindo como este compreende a relação do praticante com o cavalo. Para este
trabalho a doutora Scheidacker usa toda a fundamentação teórica do método Balint. Este
cursos têm se mostrado muito eficazes, pois não ficam restritos a explanações teóricas, mas
sim promovem autoconhecimento e reflexões dos terapeutas na sua prática psicoterapêutica
com os cavalos.
CONCLUSÃO
O setting com o cavalo deve ser estabelecido rigorosamente para cada demanda dos
praticantes, podendo constar de atendimentos individuais ou grupais. O terapeuta deve ter
um conhecimento profundo da psicopatologia, da psicodinâmica, da equitação terapêutica
e da equitação, como também ter um autoconhecimento das representações do cavalo para si.
REFERÊNCIAS
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Verlag
GÄNG. M: Reittherapie; 2003 Ernst Reinhard, GmbH & Co KG, Verlag München
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KG, Verlag München
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de Treinamento, Pesquisa e Ensino de Equoterapia, 2004.
ZIMERMAN D.E.: Fundamentos Psicanalíticos, teoria, técnica e clínica, Editora Artes Médicas
Sul Ltda. Porto Alegre, 1999.
277
MANEIRAS DE INTERVENÇÃO NA EQUITAÇÃO TERAPÊUTICA
E HIPOTERAPIA: ESTUDANDO, ANALISANDO,
CATEGORIZANDO, CLASSIFICANDO.
O fato de que vários anos se passaram após os primeiros esforços de colocar os programas
científicos de equitação terapêutica em prática, e, infelizmente, a existência de poucos artigos
científicos em comparação ao número geral, deixam óbvio que a equitação terapêutica não
progrediu tanto quanto todos esperávamos. Na maioria das vezes, o trabalho voluntário, no
qual a maioria das equipes estavam baseadas, não deu lugar a equipes cientificamente
qualificadas, como deveria.
No melhor dos casos, não obtemos do cavalo o que ele tem a oferecer.
A maioria dos programas de grupo insiste apenas na diversão que pode ser dada, e assim
limitam-se as opções disponíveis de tratamento.
Somente se considerarmos esses problemas com seriedade e sem medo é que estaremos aptos
a continuar em maior desenvolvimento.
A busca, portanto, de uma forma mais efetiva de intervir pela equitação terapêutica, levou-
nos a perceber a necessidade de melhor compreender o cavalo, bem como os meios
terapêuticos, e todos os outros meios utilizados para atingir a cura. Acreditamos que o registro
de todos esses elementos será benéfico para:
279
A inclinação do solo causa intensa expansão diagonal e a educação no nível dos ombros
e pélvis, diversificação da inclinação da pélvis, mudança do centro de gravidade, e
um estímulo particularmente intenso que, na maioria das vezes, é agradável.
Não se deve esquecer que a exposição repetitiva a uma combinação de estímulos,
por exemplo um fraco e um forte, com a gradual retirada do estimulo forte, resulta
em um estímulo fraco, produzindo o resultado desejado.
280
Estas técnicas incluem a interceptação de reflexos primários e de atividade reflexiva
tônica com facilitação simultânea das reações automáticas de equilíbrio, sempre em
comparação à sucessão normal de desenvolvimento.
O apoio manual (handling) é usado para otimizar a simetria do corpo, limitar ou
obliterate o tonus anormal, regular o tônus, fornecer a sensação de modelos motores
normais e promover modelos motores ativos.
ESTABILIZA AS ARTICULAÇÕES
Além desses, mais dois capítulos, ambos de igual importância, incluem a terminologia e o
jogo (meio).
• Jogo
O jogo constitui um comportamento com motivação interna.
O jogo terapêutico visa a integrar os modelos motores fundamentais e habilidades
necessárias em um conjunto de brincadeira, aprendizado, competição e cooperação,
e enriquecê-los com habilidades motoras-perceptivas complexas, que caracterizam
o comportamento e o movimento normais.
• Terminologia
A existência de uma terminologia comumente aceitável é necessária para que a
comunicação entre os terapeutas, tanto do mesmo grupo quanto de outros grupos,
seja segura. Seu uso também fornece velocidade de comunicação, bem como maior
eficiência nas sessões; o uso unificado pelos terapeutas, havendo a necessidade de
mais de um presente nas sessões, que usem os mesmos termos para com a criança e,
assim, a simplificação de ordens para o grupo é atingida. Além disso, facilita a
avaliação e o registro de cada sessão.
Este trabalho difícil e laborioso é o resultado de longo estudo e observação, e fruto
de nossas idéias e filosofia, de que nada deve ser feito acidentalmente, e de que tudo
deve ter uma base científica. Esperamos que este trabalho tenha fornecido mais
motivação, e também informações úteis a todos os terapeutas envolvidos com
281
MEDIAÇÃO TRANSDISCIPLINAR – CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E
EXEMPLOS PRÁTICOS QUE JUSTIFICAM UMA ATUAÇÃO
FUNCIONAL E ATUAL
INTRODUÇÃO
Para tanto, buscamos desde a descrição de um breve histórico dos termos utilizados, a passar
pela definição de disciplina e suas derivações: multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade,
interdisciplinaridade e, enfim, transdisciplinaridade. Busca-se discorrer teoricamente sobre
as diversas visões e maneiras em que as disciplinas se relacionam, a fim de demonstrar na
prática quais as suas diferenças, compreender os seus conceitos e repensar as relações atuais
em nossos centros de equoterapia; chegando à realidade da equipe interdisciplinar e da
mediação transdisciplinar, o que segundo nossa própria experiência prática tem alcançado
resultados satisfatórios até o momento.
INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE
HISTÓRICO
Primeiro, a teologia fenomenológica encontrou nesse conceito uma chave para o diálogo
entre igreja e mundo; segundo, o existencialismo, buscando dar às ciências uma “cara
humana”; então, o neopositivismo que buscava no interior do positivismo a solução para o
problema da unidade das ciências; e, também, o marxismo que buscava uma via diferente
para a restauração da unidade entre todo e parte.
Berger (1972) tem por disciplina um conjunto específico de conhecimentos que têm as suas
características próprias no terreno do ensino, da formação, dos mecanismos, dos métodos e
dos materiais. Palmade (1979) afirma que uma disciplina trata de certa categoria de fenômenos
que visa a tornar inteligíveis e a propósito dos quais procura fazer previsões possíveis ou,
mais geralmente, estabelecer correspondências.
Tomaremos por disciplina a definição de Heckhausen (1972), no qual o termo pode ser
usado no mesmo sentido que o de ciência, usando sete critérios que permitem distinguir
uma disciplina de outras: 1) o domínio material ou objeto de estudo; 2) o conjunto possível
de fenômenos observáveis; 3) o nível de integração teórica; 4) os métodos; 5) os instrumentos
de análise; 6) as aplicações práticas; e, 7) as contingências históricas.
Alcançamos aqui dois dos termos que necessitamos: tomaremos “disciplina” por ciência e
seguiremos o conceito de Japiassu (1976) para “disciplinaridade”.
Lembramos, porém, que toda ciência é uma disciplina, mas nem toda disciplina é uma ciência;
e uma disciplina sempre depende da interação com outras diferentes disciplinas. Assim, é
preciso estabelecer níveis de agrupamento para as disciplinas em contato, quando, enfim,
entramos nos conceitos de multi, pluri, inter e transdisciplinaridade, nosso principal objeto
teórico.
Berger (1972) e Jantsch (1972) colocam o termo como uma justaposição de disciplinas diversas,
às vezes sem relação aparente entre elas.
Japiassu (1976) sintetiza tais idéias quando coloca que a descrição geral de
multidisciplinaridade evoca uma gama de disciplinas propostas simultaneamente, mas sem
fazer aparecer diretamente as relações que podem existir entre elas. Trata-se de um tipo de
sistema de um só nível e de objetivos múltiplos; não havendo nenhuma cooperação entre as
disciplinas.
No entanto, a ausência de uma articulação não significa uma ausência de relação. O fato é
que os profissionais, nesse caso, estão inseridos em um esquema automático, o qual não gera
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Berger (1972) coloca o termo como uma justaposição de disciplinas mais ao menos próximas
nos seus campos de conhecimento.
284
Delattre (1973) o define como simples associação de disciplinas que concorrem para uma
realização comum, mas sem que cada disciplina tenha que modificar sensivelmente a sua
própria visão de coisas e os seus métodos próprios.
Cooperação de caráter metodológico e instrumental entre disciplinas e que não implica uma
integração conceitual interna (Palmade, 1979). Resweber (1981) compartilha desta idéia
quando afirma ser uma colocação face a face de diversas disciplinas, visando a análise de
um mesmo objeto e sem implicar a elaboração de uma síntese.
O prefixo “inter”, segundo Gusdorf (1990), não indica apenas uma pluralidade, uma
justaposição; evoca também um espaço comum, um fator de coesão entre saberes diferentes.
Os especialistas das diversas disciplinas devem estar animados de uma vontade e aceitam
esforçar-se fora do seu domínio próprio e da sua própria linguagem técnica para aventurar-
se num domínio em que não é o proprietário exclusivo. A interdisciplinaridade supõe abertura
de pensamento, curiosidade que se busca além de si mesmo.
Iribarry (2002) nos presenteia no exemplo de uma equipe para atendimento ambulatorial de
gestantes adolescentes de baixa renda. A equipe é formada por um médico pediatra, um
médico psiquiatra, um psicólogo, um assistente social, uma psicopedagoga, uma enfermeira
e uma secretária. Cada área mencionada agrega ainda estudantes que realizam estágio no
ambulatório. Todavia, o que prevalece é o saber médico, cabendo a coordenação e a tomada
de decisão aos profissionais da área médica, que dirigem e orientam a equipe em seu trabalho.
Segundo Piaget (1972), o termo corresponde à integração global das várias ciências. À etapa
das relações interdisciplinares sucede-se uma etapa superior, que seria a transdisciplinaridade
que, não só atingiria as interações ou reciprocidades entre investigações especializadas, mas
também situaria estas relações no interior de um sistema total, sem fronteiras estáveis entre
as disciplinas. Tratar-se-ia de uma teoria geral de sistemas ou estruturas que incluiria estruturas
operativas, estruturas regulatórias e sistemas probabilísticos e que uniria estas diversas
possibilidades por meio de transformações reguladas e definidas.
Japiassu (1976) completa tal conceito, referindo-se a um tipo de sistema de níveis e objetivos
múltiplos em que a coordenação propõe uma finalidade comum dos sistemas .
De acordo com Caon (1998), é um desafio colocado pelo interesse de uma equipe de
profissionais que estão reunidos pela metáfora proposta por uma situação de
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Por exemplo (Iribarry, 2002), numa equipe de posto de saúde, encontram-se diversos
profissionais reunidos. Pode-se tomar como exemplo a equipe que recebe pacientes com
problemas mentais. Esta equipe, muito provavelmente, reunirá profissionais como psicólogos,
psiquiatras, enfermeiros, assistentes sociais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, neurologistas,
clínicos gerais, etc. Quando o paciente chega para uma avaliação, todos irão assisti-lo e
buscarão formular um diagnóstico acerca do caso. Para que esse diagnóstico seja dado em
situação de transdisciplinaridade, não basta apenas que cada profissional opine a partir de
sua área e, finalmente, um tratamento seja indicado; para que a configuração transdisciplinar
seja alcançada é preciso que esses profissionais, fundamentalmente, estejam reciprocamente
286 situados em sua área de origem e na área de cada um dos colegas.
Cabe salientar que o nível da transdisciplinaridade não é um estilo de interação superior em
relação aos demais níveis.Trata-se, pura e simplesmente, de um nível a ser buscado pelos
benefícios que traz em sua gestão, mas que preserva as outras modalidades de níveis de
funcionamento. Estas modalidades são naturais e fazem parte do funcionamento de qualquer
grupo ou equipe que está reunida para desenvolver algum trabalho (Iribarry, 2002).
Assim, só faz sentido trabalhar inter e transdisciplinaridade por meio de projetos que integrem
as diversas disciplinas. Projeto vem de projetar, atirar-se para a frente. Na prática, elaborar
um projeto é o mesmo que elaborar um plano para realizar determinada idéia. Portanto, um
projeto supõe a realização de algo que não existe, um futuro possível. Tem a ver com a
realidade em curso e com a utopia possível, realizável, concreta.
1) integração de conteúdos;
3) superar a dicotomia entre ensino e pesquisa, teoria e prática, a partir da contribuição das
diversas ciências;
APLICAÇÃO
Em março de 2005, após passar por uma profunda reestruturação da equipe profissional, a
Associação Beneficente São Lucas, instituição que se situa em Bragança Paulista e oferece
diferentes tratamentos a pessoas com necessidades especiais, visando à inclusão global, incluiu
a equoterapia no seu quadro de atendimentos, mediante parceria com o Centro Hípico Viverde
e com a experiência profissional de Kether van Prehn Arruda, fundador do projeto
Equoterapia Pegasus.
A equipe profissional da instituição era multidisciplinar, composta por três psicólogas, uma
musicoterapeuta, uma fisioterapeuta, uma terapeuta ocupacional, uma psicopedagoga e
287
duas fonoaudiólogas, além de outros profissionais da área administrativa. Os atendimentos
clínicos costumavam ser pluridisciplinares, ou seja, os contatos eram feitos via
encaminhamentos e relatórios entre os profissionais.
A partir daí, um possível praticante de equoterapia passaria por uma avaliação em cada
área em que precisasse de tratamento; essa avaliação transformava-se de pluri à
interdisciplinar no momento em que os profissionais das diferentes áreas se reuniam para
fazer o planejamento terapêutico daquele caso. Cada um explicitava as necessidades a serem
trabalhadas em sua área e, com uma atenção especial aos relatos dos colegas, incrementava
o planejamento de maneira global, opinando nas outras áreas. Esse planejamento ia desde
as prioridades evolutivas do praticante, até a escolha do cavalo e materiais a serem utilizados
no encilhamento e nas práticas.
Apesar dos nobres princípios institucionais e dos excelentes resultados obtidos (16 praticantes
que, entre 02 a 04 meses de atendimento, tiveram melhoras observadas, relatadas e
comprovadas, nunca antes conseguidas em atendimento clínico convencional), a Associação
Beneficente São Lucas não pode manter o mesmo trabalho, principalmente devido a questões
financeiras, o que fez com que o Pegasus, até então um programa de atendimento da
instituição, batesse suas asas para mais alto, tornando-se, em janeiro de 2006, um Centro de
Equoterapia em si, ainda parceiro do Centro Hípico Viverde, que oferece atendimentos
particulares e filantrópicos, expandindo seu campo de atuação e que, irreversivelmente,
mantém os princípios de equipe e mediação que alcançou em sua presente atuação.
288
EQUIPE INTERDISCIPLINAR
MEDIAÇÃO TRANSDISCIPLINAR
REFERÊNCIAS
FREIRE, P. Educação e Mudança. , 14ª ed, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
289
MEDIDA DA INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL E ALIANÇA
TERAPÊUTICA: SEUS PAPÉIS NA CONSTRUÇÃO E AVALIAÇÃO DE
UM PROGRAMA DE REABILITAÇÃO
INTRODUÇÃO
290
adquiridas na ET ao ambiente do lar. Este guia familiar pode ser descrito como um “aliado
terapêutico”.
OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho era avaliar a importância e a contribuição dos aliados terapêuticos
na transferência dos resultados obtidos dentro do cenário terapêutico (aparentemente
limitado ao ambiente eqüestre) da ET ao cotidiano e aos relacionamentos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Sujeitos
Avaliamos uma amostra de n=50 sujeitos (22 mulheres, 28 homens; idades 21.4±10.6 anos
[m±DS]) com danos neuromotores, psicomotores, psiquiátricos e mistos. Todos os sujeitos
faziam parte de um programa de reabilitação eqüestre com duração de 8 meses (duas sessões
de terapia por semana; 45minutos por sessão).
Cenário terapêutico
Procedimentos Experimentais
Medições foram feitas com a escala MIF em duas diferentes fases do programa reabilitativo:
no começo e depois de 8 meses de reabilitação. A amostra foi dividida em dois subgrupos de
25 sujeitos, com equivalentes idades, sexo e distribuição patológica (Tabela 1), baseada na
presença de um aliado terapêutico.
Table 1. Distribuição dos pacientes inscritos baseada em condições patológicas, idade, sexo XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
e disponibilidade de aliados terapêuticos.
291
No primeiro subgrupo (Grupo A), durante todo o período de reabilitação, os aliados
terapêuticos (pais, parentes, educadores, professores) têm estado ativamente envolvidos com
uma grade horária (chamada “controles do projeto reabilitativo”, na 10.a, 20.a, 30.a, 40.a,
sessão de ET). A inclusão de critérios para a definição de um aliado terapêutico foi a seguinte:
a) sua presença no cenário terapêutico foi inserida no boletim clínico do paciente na ocasião
de sua primeira visita; b) ele/ela aceitou expressamente participar no projeto reabilitativo;
c) ele/ela esteve sempre presente na ocasião de cada um dos controles do projeto (a cada 10
sessões de ET). Para o segundo grupo de pacientes (Grupo B) os aliados terapêuticos não se
envolveram ativamente, devido a problemas práticos e/ou objetivos.
Todos os pacientes ou seus tutores legais deram seu consentimento ilustrado para participar
deste estudo, cujo idealização foi aprovada pelo Comité Local de Ética (Don C. Gnocchi
Foundation).
Análise estatística
Se não declarados de outra forma, dados são expressos como média±desvio padrão (m±DP).
Diferenças entre média pontuação MIF, para ambos, o total e os itens MIF individuais, nos
Grupos A e B foram testados por meio de um teste Estudantil t para dados não comparados.
A comparação estatística entre pré e pós-tratamento foi executada por meio de um teste
Estudantil t para datas comparadas. A relação entre as variáveis foi avaliada por meio de
uma simples análise de regressão linear. Significância estatística foi estabelecida em P<0.05.
RESULTADOS
Figura 1. Relação entre a pontuação MIF total na admissão e na dispensa da ET: todos os
pacientes
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
292
Todavia, a diferença média entre pré e pós-tratamento na pontuação MIF total foi
significantemente menor no Grupo B do que no Grupo A (P<0.01)(Figura 2).
Figura 2. Diferença entre a pontuação MIF total pré e pós-tratamento dividida pela presença
(Grupo A: barra branca) ou ausência (Grupo B: barra cinza) de aliados terapêuticos no
cenário reabilitativo. *: P<0.05 entre os grupos.
Semelhantemente, uma diferença significativa foi observada na pontuação MIF para todos
os itens individuais (cuidados pessoais, controle do esfincter, mobilidade, locomoção,
comunicação, capacidade relacional/cognitiva) avaliada em ambos os grupos (exceto para
o controle do esfincter no Grupo B, o qual demonstrou uma tendência não significante à
uma melhora). Todavia, a diferença da pontuação MIF individual entre o pré e o pós-
tratamento foi novamente significantemente menor no Grupo B em relação ao Grupo A
(Figura 3).
Figure 3. Diferença entre o pré e o pós-tratamento nos itens MIF individuais divididos pela
presença (Grupo A: barras brancas) ou ausência (Grupo B: barras cinzas) de aliados
terapêuticos no cenário reabilitativo. *: P<0.05 entre os grupos.
DISCUSSÃO
O principal resultado deste trabalho é o uso de uma escala válida e padronizada para a
avaliação de um tratamento reabilitativo, como a ET parece ser confiável e eficaz em avaliar 293
mesmo as menores porém significativas mudanças nos diferentes itens/áreas pertencentes à
auto-suficiência do paciente. Além disso, a aplicação da pontuação MIF em vários momentos
do processo reabilitativo pode permitir uma monitoração eficiente dos progressos da terapia,
como previamente demonstrado em outros cenários (Yung et al. 1999). Como a pontuação
MIF total e individual melhoraram significantemente ao fim do programa de ET em todos os
pacientes, isso confirma que a equoterapia pode ser considerada uma estratégia que promete
na recuperação da auto-suficiência em pacientes com dano neuro e psicomotores (Riesser
1975). Além do mais, a evolução da pontuação MIF individual em cada paciente pode ajudar
o reabilitador a otimizar as estratégias teapêuticas focando naquelas áreas que precisam ser
mais trabalhadas. Todavia, somente quando o benefício obtido no cenário clínico é eficaz ao
ambiente dos lares do pacientes é que a ET pode ser definida como eficaz. Importantemente,
este trabalho também demonstrou através da aplicação da pontuação MIF que o trabalho
terapêutico é muito mais eficaz quando outras pessoas estão ativamente envolvidas como
aliados terapêuticos no processo reabilitativo.
Centre of Therapeutic Horse Riding, Don C. Gnocchi Foundation ONLUS, Milan, Italy.
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295
MEU CAVALO, MINHA FAMÍLIA E EU: UMA AVALIAÇÃO POR
MEIO DE DESENHOS (EU DESENHO MEU MUNDO INTERIOR).
INTRODUÇÃO
A equoterapia é uma ferramenta multidimensional de reabilitação, que pode ser usada por
diferentes profissionais com vários fins. Como psicóloga, foquei minha atenção durante as
sessões terapêuticas em como os pacientes sentem e percebem a si mesmos em relação ao
ambiente que os cerca. Como ambiente me refiro ao terapeuta, o assistente, outros pacientes
e, sobretudo, o cavalo. Na equoterapia nós podemos observar, com freqüência, uma melhora
na vida social dos pacientes. Essa mudança não se limita à relações que eles têm com o meio
terapêutico. De fato, observamos aumento significativo nos relacionamentos e na vida social
cotidiana, em suas famílias como também nos mundos escolar e profissional. Também
pensamos que uma das intenções da equoterapia é formar uma correta percepção do próprio
corpo (autoconhecimento) que possa permitir o alcance de uma boa experiência corporal
(autoconsciência). Esse feito é um dos principais componentes de uma autoimagem positiva
e de boas relações de tempo e espaço. Quando estes objetivos são atingidos, o paciente irá
construir uma autoconfiança e auto-estima mais fortes. Isso, por sua vez, o ajudará na sua
vida emocional e integração social (Bracken, 1996).
Savarese, 1994). Quando elas adquirem a permanência dos objetos, podem mais facilmente
desenvolver o conceito de seus corpos como independentes de outros corpos (Le Boulch,
1981). Crianças entram gradualmente em contato com seus corpos e aprendem como
representá-los mentalmente, no geral e em detalhe. Quando a função simbólica aparece,
podemos ter a passagem do esquema corporal para a imagem corporal.
Uma das mais recentes definições faz distinção entre esquema e imagem corporal: o esquema
corporal é a representação mental do corpo como uma entidade espacial, construída com
base cognitiva e perceptiva; a imagem corporal é a representação mental que todos têm do
próprio corpo, contruída com base na experiência pessoal e psicológica (Russo, 2000). Há
diferentes ferramentas de avaliação do esquema e imagem corporal. Uma destas é o desenho.
O desenho de figuras é uma técnica de projeto-construção (Lindzey, 1959) em que um
indivíduo é instruído a desenhar uma pessoa, objeto ou situação para que o funcionamento
cognitivo, interpessoal ou psicológico possa ser avaliado. Um teste de projeção é aquele em
que o examinado reage ou fornece estímulos ambíguos, abstratos ou desestruturados,
296
freqüentemente sob a forma de desenhos. Na maioria dos casos, testes de desenho de figuras
são passados às crianças. Isso ocorre porque é uma tarefa simples, de fácil gestão, com a
qual as crianças se identificam e desfrutam. Wildlocher (1972) apontou que um psicanalista
que lê um desenho não tem que tirar conclusões apressadas. Alguns testes de desenho são
medidas das habilidades ou desenvolvimento cognitivo. Tais testes consideram quão bem a
criança desenha e conteúdo do seu desenho. Em outros, relações interpessoais são avaliadas
fazendo a criança desenhar uma família ou alguma outra situação na qual mais de uma
pessoa esteja presente. Alguns testes são usados para a avaliação de abuso infantil. Ainda
outros envolvem interpretação de personalidade através de desenhos de objetos, tais como
uma árvore ou uma casa, assim como pessoas. Finalmente, alguns testes de desenho de
figuras são usados como parte do diagnóstico de tipos específicos de prejuízo psicológico ou
neuropsicológico, tais como disfunção do sistema nervoso central ou retardo mental. Os
testes de projeção mais reconhecidos e difundidos são: o desenho da figura humana
(Goodenough, 1926; Harris, 1963; Machover, 1948); o desenho da família (Appel, 1931;
Porot, 1952; Corman, 1967; Burns e Kaufman, 1970); o desenho da pessoa-árvore-casa (Buck,
1948) e o desenho da árvore (Koch, 1958).
O teste “Desenhe Um Homem” (Goodenough, 1926), foi o primeiro teste formal de desenho
de figuras. Era usado para fazer estimativas das habilidades cognitivas e intelectuais refletidas
na qualidade do desenho. O teste foi revisado mais tarde por Harris em 1963 como o
Goodenough Harris Drawing Test, que incluía um sistema detalhado de pontuação e era
permitido para desenhos de homens, mulheres e de si mesmo. O sistema refletia principalmente
a maneira pela qual a criança está amadurecendo cognitivamente.
O teste “Desenhe Uma Pessoa” (Machover, 1948) usava desenhos de figura de uma maneira
mais projetiva, focando em como os desenhos refletiam as ansiedades, impulsos, auto-estima,
e personalidade do examinado. Neste teste, crianças são primeiramente convidadas a
desenhar a gravura de uma pessoa. Então, são convidadas a desenhar a gravura de uma
pessoa do sexo oposto ao primeiro desenho. Às vezes, as crianças também são convidadas a
desenhar uma figura de si mesma ou de seus familiares. Então, faz-se uma série de perguntas
sobre elas mesmas e sobre os desenhos. Essas perguntas podem ser sobre o humor, as
ambições/aspirações e as qualidades das pessoas nos desenhos. As gravuras e as perguntas
neste teste têm o intuito de elicitar informações sobre as ansiedades, impulsos e a personalidade
em geral da criança. O teste “Desenhe Uma Pessoa” é o teste com figuras usado com maior
frequência hoje em dia. É geralmente interpretado em três diferentes níveis: gráfico; formal;
O teste “Desenhe Sua Família” foi desenvolvido por diferentes autores. O primeiro a usá-lo
foi Appel (1931). As revisões mais reconhecidas são as de Porot (1952) e Corman (1967). 297
Este teste permite comprender diversas questões importantes tais como situações e
sentimentos, por vezes não expressos, como o medo, dificuldades, como também o amor e os
desejos. Num desenho familiar há diversos aspectos para se levar em conta: representação
gráfica; amplitude e força do traço do lápis; ordem do desenho (especialmente qual é o
primeiro e o último personagem desenhado); o posicionamento dos personagens e sua relação
espacial; personagens apagados, deixados de fora ou adicionados; expressões faciais; posição
das pernas, braços e mãos.
Nós decidimos usar o desenho da figura humana (Machover, 1948) e o desenho da família
(Corman, 1967) para avaliar como a equoterapia poderia afetar o autoconceito do paciente
e a percepção corporal, também sua vida relacional. Além destes dois testes, decidimos
utilizar as regras gerais da interpretação de desenhos a um outro sujeito, o que é certamente
significativo e motivador para todos os (nossos) pacientes: o cavalo. Já que o cavalo é o
“príncipal” veículo do nosso trabalho terapêutico, ele tem enorme impacto nos pacientes, e
a maneira como eles o desenham permite que seja usado como um meio para avaliar como
o cavalo é percebido e sentido pelo próprio paciente. O cavalo também pode representar o
próprio paciente, devido aos importantes processos de projeção e identificação que
298 ele cria.
MATERIAIS E MÉTODOS
Sujeitos
• 50 PACIENTES (28 MULHERES ; 22 HOMENS).
PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
– Para o desenho da família o pedido foi: “Desenhe uma família, uma família
inventada por você”. Se o paciente não entendeu este pedido, pediu-se que fosse
desenhada a família de um animal, para ajudar o processo de projeção (Corman,
Os desenhos revelaram uma melhora geral depois da terapia na maneira pela qual o paciente
representa a si e ao cavalo. Em contraste, não houve mudanças significativas nos desenhos
das famílias. Em muitos casos, o segundo desenho mostrou detalhes importantes como mãos,
braços ou orelhas que estavam ausentes no primeiro desenho. Não houve diferença entre
amostras do sexo masculino ou feminino.
A faixa etária que mostrou maior número de mudanças foi o grupo com idades entre 8 e 15
anos. Pacientes entre as idades de 16 e 23 geralmente mostraram mudanças menos evidentes.
Em dois desses casos o desenho até demonstrou leve piora na maneira como eles desenharam
a si ou o cavalo. Isso ocorreu somente com pacientes de idade acima de 29: uma senhora de
46 anos com diagnóstico de psicose autista e severo retardo mental e uma senhora de 39
anos que sofre de seqüelas de traumatismo craniano. Em nossa opinião, isso pode ter ocorrido
devido ao fato de que desenhar é, às vezes, visto como uma atividade infantil, portanto a
motivação dos pacientes mais velhos para desenhar, na segunda sessão, pode ter sido menor.
O resultado mais evidente foi que um número significativo de pacientes, durante a segunda
sessão, decidiu se desenhar com o cavalo, às vezes quando convidados a desenhar a si mesmos,
às vezes quando convidados a desenharem o cavalo. O paciente parece encarar o cavalo
como uma parte integrante e distinta dele mesmo, de sua personalidade, sua maneira de ser,
que não pode portanto ser omitida em uma auto-representação.
301
S.G. - Homem - Idade: 9 – Diagnóstico: retardamento evolutivo.
No primeiro desenho da figura humana ele desenha a si mesmo quase emagado por um céu
escuro e plano. No segundo desenho ele levanta braços e mãos, e o céu parece mais longe e
leve. Isso parece ser uma expressão de novas possibilidades e esperanças, quase como se a
criança agora, com a ajuda do cavalo, sentisse como se pudesse também voar, se ele quisesse,
como a nuvem e as abelhas voam à sua volta. Durante as sessões de terapia ele está um
pouco mais autônomo e autoconfiante, mas ainda procura a aprovação do terapeuta com
freqüência.
302
M.F. - Mulher - Idade: 11 – Diagnóstico: desarmonia evolutiva.
No primeiro desenho do cavalo ela desenha o cavalo dentro da caixa. O traço é forte,
persistente, o cavalo parece perigoso. Ela tenta fazê-lo inofensivo colocando-o num tipo de
jaula, que também está banida para um canto do papel. No segundo desenho, o cavalo está
no meio da cena e a criança está perto dele. Ela ainda desenha um tipo de barreira protetora,
mas abre um sorriso e os braços demonstram um grande desejo de estar muito próxima do
cavalo. Durante as sessões de terapia ela se tornou mais autoconfiante, autônoma e aberta
no relacionamento com o terapeuta e outros pacientes. Ela agora tem uma orientação melhor
de tempo-espaço.
303
DISCUSSÃO
Os resultados encontrados são uma ajuda útil para entender a maneira como os pacientes
percebem a si, o ambiente e o cavalo. O desenho da figura humana parece ser o que mostra
as importantes mudanças e melhoras no esquema e imagem corporal também como no
aspecto psicológico e emocional. O desenho da família, o qual é a expressão mais “relacional”,
não deu resultados significativos. Talvez uma ferramenta melhor para explorar o mundo
relacional do paciente devesse ainda ser avaliada.
Além disso, o desenho do cavalo parece ser uma ferramenta de avaliação de grande ajuda.
A maneira pela qual o paciente desenha o cavalo nos diz muito sobre seu esquema corporal,
sua consciência de tempo-espaço, sua experiência sensomotora. Por exemplo, nós podemos
tirar dos desenhos uma imagem clara e se ele está e como o paciente está consciente de seu
corpo por inteiro, seu hemisoma, membros superiores e inferiores, seus eixos corporais, seu
lugar e movimento no espaço, o seu processamento do ambiente.
A maneira pela qual ele (o paciente) se desenha com o cavalo, tanto como a decisão de
desenhar só o cavalo, são ambas indicações significativas de como o paciente percebe a si em
relação ao cavalo e ao ambiente. Esse tipo de desenho é relacionado à experiência do desfrute
e realização ou, mais raramente, da frustração e incapacidade que o paciente experimenta
durante as sessões de terapia.
Para concluir, os desenhos parecem representar uma janela privilegiada que tem como vista
a dimensão afetiva do paciente. Desta janela nós podemos dar uma olhada discreta e não-
intrusiva neste mundo interior.
Dr. Rossella Frascoli, Psychologist - Fondazione Don Carlo Gnocchi ONLUS - Milano, Italy
Dr. Antonella Artuso, MD - Fondazione Don Carlo Gnocchi ONLUS - Milano, Italy
REFERÊNCIAS
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304
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RUSSO, R.C. (2000) Diagnosi e terapia psicomotoria”; Casa Editrice Ambrosiana, Milano.
305
O QUE SE CONHECE SOBRE A EQUOTERAPIA: COM A PALAVRA
PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA CIDADE DE FRANCA-SP
RESUMO
Esta pesquisa é parte do Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia e teve como objetivo
verificar o que os profissionais da área de saúde conhecem sobre a equoterapia. A pesquisa
foi composta por uma entrevista aplicada em 50 profissionais da área de saúde: l0 psicólogos,
l0 fisioterapeutas, l0 neurologistas, l0 ortopedistas e l0 pediatras. Os resultados foram
agrupados em categorias de análise quantitativa e qualitativa dos dados gerais. Pôde-se
concluir que os profissionais possuem pouco conhecimento acerca da equoterapia, com
exceção dos fisioterapeutas e psicólogos. O trabalho também foi uma forma de divulgação
desta prática terapêutica.
ABSTRACT
This research is part of a Psychology Monograph and had as objective to verify what the
Health professionals know on the Equoterapy. The research was composed for an interview
applied in 50 Health professionals: l0 Psychologists, l0 Physiotherapists, l0 Neurologists, l0
Orthopedists and l0 Pediatricians. The results had been grouped in categories of quantitative
and qualitative analysis of the general data. It could be concluded that the professionals
possess little knowledge concerning the Equoterapy, with exception of the Physiotherapists
and Psychologists. The work also was a form of spreading of this therapeutical practice.
INTRODUÇÃO
Sendo a equoterapia uma técnica existente no Brasil há cerca de 20 anos, ainda é pouco
difundida no meio profissional e populacional, principalmente em cidades do interior, como
Franca-SP (local onde foi realizada a pesquisa). Assim, o objetivo da pesquisa foi verificar o
que os profissionais da área de saúde da cidade de Franca conhecem acerca da Equoterapia.
A hipótese das pesquisadoras foi a de que tais profissionais apresentam pouco conhecimento
acerca deste recurso terapêutico, visto que o mesmo ainda é pouco difundido na cidade.
Observando-se os inúmeros benefícios biopsicossociais, faz-se de primordial importância
que a equoterapia seja conhecida pelos profissionais das áreas da saúde. Acredita-se que a
equoterapia é um novo campo de atuação para o psicólogo, cuja área de atuação tem se
306
ampliado cada vez mais com o intuito de criar mais recursos para a saúde e o bem-estar do
indivíduo.
MATERIAIS E MÉTODOS
Apesar de a equoterapia ser realizada por uma equipe interdisciplinar, optou-se pela escolha
dos profissionais da área da saúde, considerando o tempo para a realização da pesquisa.
Quanto aos neurologistas, 57% são do sexo masculino e 43% do sexo feminino. A faixa
etária varia de 28 a 54 anos, não ocorrendo acúmulo em nenhuma categoria analisada
(média = 42 anos). O tempo de formação destes profissionais é de 2 a 27 anos (média = 16
anos).
Quanto aos pediatras, 55% são do sexo masculino e 45% do sexo feminino. A idade varia de
Em relação aos fisioterapeutas, 80% são do sexo feminino e 20% são do sexo masculino. A
faixa etária varia de 25 a 39 anos de idade (média = 27 anos). Quanto ao tempo de formação,
os intervalos variam de 1 ano e meio a 9 anos (média = 4 anos).
Quanto aos psicólogos, 80% são do sexo feminino e 20% do sexo masculino. A faixa etária
varia de 26 a 47 anos de idade (média = 36 anos). Em relação ao tempo de formação, os
intervalos variam de 2 anos e meio a 25 anos de profissão (média = 11 anos).
As entrevistas foram gravadas visando-se a obter maior fidelidade aos dados informados,
evitando ao máximo a interferência das pesquisadoras.
307
No final das entrevistas, foi entregue um informativo referente à equoterapia, sendo esta
uma forma de divulgar mais acerca desta prática em expansão.
A tabulação dos dados foi feita perante categorização de profissionais de cada área (psicólogo,
fisioterapeuta, neurologista, pediatra e ortopedista) e também uma categorização geral de
todos os profissionais entrevistados, a qual será exposta no artigo em questão.
A tabela apresenta o que os profissionais entendem por equoterapia. 22,32% das respostas
apontaram a definição correta de equoterapia, ou seja, uma terapia que utiliza o cavalo. Em
respeito ao desconhecimento da equoterapia, observa-se 9,09% das respostas. Cerca de 68,59%
das respostas foram consideradas incorretas, devido ao fato de não abordarem a definição
em si desta prática. No entanto, ressalta-se que foram respostas pertinentes ao tema, porém
que não responderam corretamente à pergunta, tais como: terapia que melhora o
desenvolvimento motor, terapia que melhora o desenvolvimento emocional.
Tabela 2 - Para você, a equoterapia se utiliza de quais materiais para ser realizada?
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
A tabela refere-se aos materiais utilizados na equoterapia. 18,62% das respostas referiram-
se ao desconhecimento dos materiais. 32,35% das respostas foram incorretas, ou seja,
praticante e profissionais especializados. Estes tópicos são imprescindíveis para a realização
da equoterapia, porém não são considerados materiais. Em relação às respostas corretas
(49,03%); destacam-se o cavalo, os materiais de encilhamento e os materiais pedagógicos.
308
Tabela 3 - Quais os profissionais que trabalham com a equoterapia?
Em relação aos profissionais que trabalham com a equoterapia, 1,13% das respostas apontam
o psiquiatra; 2,25% referem-se aos seguintes profissionais: fonoaudiólogo, pedagogo, instrutor
de equitação e médico de qualquer especialidade. 3,37% das respostas citaram os ortopedistas.
4,49% das respostas foram referentes ao professor de educação física. Quanto aos
neurologistas, observa-se 5,62% das respostas. 7,86% das respostas apontaram o terapeuta
ocupacional. Em relação ao psicólogo, pode-se observar 17,97% das respostas. Em 37,07%
das respostas, destacou-se o fisioterapeuta. Em relação ao desconhecimento dos profissionais,
observa-se 13,49%.
309
Tabela 5 - Na equoterapia, o que é esperado que os praticantes desenvolvam ou melhorem?
A tabela aponta os benefícios da equoterapia. 62,18% das respostas dizem respeito aos
benefícios físicos/psicomotores (melhora no tônus muscular, concentração, postura). 21,15%
das respostas referem-se aos benefícios emocionais (segurança, auto-estima, afetividade).
10,25% das respostas referem-se aos benefícios sociais (socialização, comunicação). 6,42%
das respostas se referiram ao desconhecimento dos benefícios.
A tabela diz respeito à diferença entre equoterapia e equitação. 84,45% dos profissionais
entrevistados apontaram diferenças entre as duas práticas. A equitação é considerada um
esporte, podendo ser indicada para qualquer indivíduo e pode utilizar qualquer cavalo. A
equoterapia foi definida como um recurso terapêutico que visa à reabilitação, sendo indicada
para pessoas com alguma patologia, utilizando-se de cavalos apropriados a esta prática.
15,55% das respostas apontaram o desconhecimento das diferenças entre equoterapia e
equitação.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
A tabela refere-se às observações que os profissionais fizeram acerca do tema. 15% das
respostas destacaram o desconhecimento da equoterapia pelas pessoas; e 40% apontam que
há maior necessidade de divulgar o tema tanto para os profissionais, quanto para a população
geral. 12,5% das respostas referem-se à importância da equipe interdisciplinar para a prática
da equoterapia. Em 20% das respostas observou-se o envolvimento dos profissionais com o
tema. Em relação à necessidade de melhor preparo dos profissionais, no que diz respeito a
supervisões, especializações, nota-se 2,5% das respostas. 2,5% das respostas também são
referentes aos benefícios emocionais obtidos com a prática da equoterapia. 2,5% das respostas
apontam a equoterapia como uma terapia elitista e 5% das respostas comentaram sobre os
benefícios globais obtidos com a prática da equoterapia.
Em relação aos profissionais que trabalham com esta prática terapêutica, o fisioterapeuta foi
o profissional mais citado (35,10%). Tal aspecto pode ser devido ao fato de equoterapia ser
muitas vezes confundida com uma área da fisioterapia, associando-a com um reconhecimento
maior de respostas referentes aos benefícios físicos/psicomotores (60,25%) propiciados com
a prática desta terapia (melhora do tônus muscular, equilíbrio, postura, dentre outros). Duran
(2005) afirma que do ponto de vista neurológico, pode-se justificar a equoterapia como um
processo terapêutico que facilita as integrações das funções corticais superiores e organização
funcional cerebral por meio do movimento, ajuste tônico, associação e ritmo. Ressalta-se que
os profissionais entrevistados apontaram os benefícios físicos e psicomotores, porém não
atentaram quantos aos aspectos neurológicos.
311
A segunda categoria de profissionais mais citados que poderiam trabalhar com a equoterapia
foram os psicólogos (17,02%), o que pode estar correlacionado à segunda categoria dos
benefícios, como sendo benefícios psicológicos/emocionais (20,50%) (segurança, auto-estima,
autoconfiança). Tais benefícios são intensificados devido ao fato de se usar um ser vivo
como mediador terapêutico.
Fazenda (1994) afirma que a interdisciplinaridade é uma exigência natural das ciências, no
sentido de melhor compreensão da realidade que elas nos fazem conhecer.
Discute-se hoje um trabalho em que o psicólogo esteja mais integrado a um grupo não só
voltado para o individual. E um grande diferencial da equoterapia é fato de a mesma ser um
trabalho multiprofissional, pois cada sessão tem no mínimo três profissionais, sendo o
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho foi significativo para nosso aprendizado e para nossa profissão. Pudemos verificar
o quanto a equoterapia ainda é uma técnica pouco explorada em nosso meio e, ao mesmo
tempo, o quanto precisa ser divulgada.
REFERÊNCIAS
DURAN, M.H.C. O médico na Equoterapia. IN: CATALANO, Y.M. Apostila do Curso Básico
de Equoterapia. Brasília: Equoliber, 2004.
313
A POSTURA MONTADA COM MEMBROS INFERIORES CRUZADOS
FACILITANDO A ORGANIZAÇÃO NA ESPASTICIDADE
Summary: The therapeutic horse riding can be applied to practitioner who shows diverse
characteristics and, in a calm environment of hypo therapy’s program, the physiotherapy
can use several techniques from a simple clinical situation to the most severe case. Object:
This text aims to suggest assistance based on accomplished gains with horse therapy for
children with sequels of infancy’s cerebral paralysis, quadriplegic, with diminishing of muscle
tone on trunk and with spasm and/or tone increasing on body extremities. The practitioners
are assessed about their support mechanism against gravity’s action, about their mechanism
for posture correction, protection of reaction and correction of reactions. It is observed with
more emphasis over the facts related to the seating position and the ability on keep an
independent position or with minimum of support. The assessments are made before the
beginning the horse therapy assistance program, re-evaluated after 10 sessions and again at
the end of the semester. Methods: Based on assistance program development offered to the
practitioner with the same physical diagnosis. The horse therapy sessions are offered in the
Therapeutic Horse Riding Basic Center of ANDE-Brasil, with frequency of once per week,
but it can be developed to twice a week. The average time of the sessions is about 30 minutes,
where the practitioner is kept on the horse with its crossed legs and with its trunk on the
most possible vertical position. To accomplished the gains on both cervical control and trunk
control it is mandatory the presence of two therapists, the first one is for keeping the inferior
member grabbed in the crossed position to block the extender pattern of that segments, and
the other one is to give support on the trunk’s base, while with his fingers stimulates the
extender muscles of back spine on the portions where the muscular contraction is more
precarious. Results: The analysis of results have been made over the period of assistance
period where we could observe that; on the seating position, the practitioner tend to fall to
the back, being necessary to bend its shoulder and to flex the trunk to the front position,
increasing the dorsal cyphosis. Therefore, the importance of wearing the pattern extender
block on his inferior members. From this block, the high part of the trunk is liberated to react
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
to the digital stimulus applied by the therapist on his back muscles and trapezium. Addicting
to the therapist stimulus, there are the step-riding-horse-three-dimensional movement of
the horse inducing to the automatic reaction. At this moment, the practitioner´s base trunk
is between on his high corporal mass himself, pressed by the gravity action and the horse
back, pushing the practitioner’s body from down to up on every new step. To this, the
animal is conduced on regular movements and according with the level of corporal control
acquired from every practitioner. The observed children came to the therapeutic horse riding,
without cervical control and without trunk control either but improved their corporal sense.
With this gain, they accomplished to localize every muscle portion to be flexed and from this
point; they got a cervical extension till the trunk. Thus, coming to offer more credit to the
therapeutic horse riding practice as a scientific method to the treatment of postural stability
improvement in case of neurological compromise.
A equoterapia pode ser aplicada a pessoas que se apresentem com várias características
físicas, psicológicas e sociais. No universo rico do ambiente equoterápico, a fisioterapia pode
utilizar uma gama de alternativas e suas técnicas desde os quadros clínicos com diagnósticos
mais brandos até os mais severos, promovendo um alinhamento biomecânico e favorecendo
a simetria. Os objetivos de atendimento visam a facilitar a funcionalidade dos órgãos vitais
e do aparelho músculo-esquelético, principalmente, para melhorar a qualidade de vida do
praticante e da família.
METODOLOGIA
São relatados os casos de três praticantes de equoterapia com seqüelas de paralisia cerebral
com tetraplegia espástica, apresentando diminuição do tônus muscular em tronco e aumento
do tônus em extremidades, seus membros inferiores posicionam-se cruzados em tesoura
pela adução de quadris. Os praticantes são da faixa etária de 6 até 8 anos de idade e só
315
haviam participado de sessões de equoterapia posicionados em decúbito ventral ou dorsal,
durante o semestre anterior a pesquisa. Nessa nova proposta de tratamento, eles foram
posicionados sobre o cavalo com seus membros inferiores cruzados em posição de lótus. Os
três foram selecionados entre os praticantes atendidos pelo Setor de Fisioterapia, do Centro
Básico de Equoterapia “General Carracho”, da Associação Nacional de Equoterapia (Ande-
Brasíl), que se disponibilizaram para realização do presente estudo.
RESUL
RESULTTADOS
A análise dos resultados foi sendo feita ao longo do período de atendimento com fotografias
e filmagens em perfil, de frente para trás e de trás para a frente. Com esses registros,
conseguimos observar que, na posição sentada, os membros inferiores tendiam a ir para a
frente e o tronco do praticante tendia a cair para trás, precisando encurvar os ombros e
flexionar o tronco à frente, aumentando a cifose dorsal, daí, a importância de se usar o
bloqueio do padrão extensor nos membros inferiores mantendo os mesmos cruzados
passivamente e sentar em lótus. A partir do bloqueio oferecido, a parte alta do tronco ganha
liberdade para reagir aos estímulos digitais aplicados pelo terapeuta em seus músculos
paravertebrais e trapézio, desde que o sacro esteja também fixado na vertical, evitando sua
inclinação posterior. Somando-se aos estímulos do terapeuta, ocorrem os estímulos do
movimento tridimensional do cavalo ao passo, induzindo às reações automáticas. Nesse
momento, a base do tronco do praticante encontra-se pressionada entre sua massa corporal
alta devido à ação da gravidade e entre o corpo do cavalo, empurrando-o de baixo para
316
cima a cada novo passo. Para que isso aconteça, o animal foi conduzido de forma que
produzisse movimentos regulares e de acordo com o grau de controle corporal adquirido
por cada indivíduo.
Por se tratar de um estudo do tipo relato de casos, cada praticante será descrito de modo
individual, a partir de comparações das imagens fotográficas de antes, durante e depois da
pesquisa e a partir dos relatórios de cada sessão e do relatório final.
Praticante 1 – A.B. S. B., 6 anos, sexo masculino, paralisado cerebral, atendido uma vez por
semana na equoterapia e, ao longo da semana, por equipe multiprofissional, na Associação
de Mães, Pais e Amigos da Reabilitação - Ampare.
Conseguimos oferecer suporte à região cervical e ao tronco, o que foi facilitando seu controle
Praticante freqüentemente risonho passou a receber apoio apenas na base de tronco e cabeça,
obtendo momentos de extensão da coluna sem os estímulos táteis. Conseguiu manter-se
recebendo apoio apenas nos braços e em base do tronco, chegando a atingir 30 minutos de
bom controle corporal, a partir das fixações e mantido sentado com os membros inferiores
cruzados.
317
Atualmente, não ocorre mais adução com extensão involuntária em quadris, possibilitando
que se monte em posição de montaria clássica com os membros inferiores pendendo
normalmente, necessitando de apoio apenas em um dos braços.
Praticante 3 – D. S. R., 8 anos, sexo masculino, paralisado cerebral, atendido uma vez por
semana pela equoterapia e, ao longo da semana, por equipe multiprofissional, na Associação
de Mães, Pais e Amigos da Reabilitação (Ampare).
Seus membros inferiores eram bloqueados em posição sentada de lótus sobre a manta no
dorso do cavalo, o que inibe o padrão extensor e facilita a extensão da coluna vertebral.
Houve momentos de queixas por causa da dor nas mobilizações dos quadris, devido ao
esquerdo tender à rotação interna, mas o praticante sempre finalizava as sessões com
satisfação e um belo sorriso nos lábios. O mesmo riso acontece nas estimulações digitais em
musculatura paravertebral para corrigir tendência à cifose dorsal, o que facilitou muito na
interação terapeuta e praticante.
DISCUSSÃO
Para Andrade (2000), a posição com os membros inferiores cruzados ou posição de lótus
proporciona vantagens e desvantagens ao paciente com paralisia cerebral. Esta posição tem
a vantagem de impedir a posição de “W” ou sapo, mas tem a desvantagem de bloquear os
movimentos de membros inferiores, dificultando as reações de equilíbrio das transferências
de peso. Na equoterapia também se pode pensar contrariamente a essa forma de se montar,
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
pela possibilidade de o praticante vir a sentar no cóccix, em vez de sobre os ísquios, devido
à tendência de a pelve inclinar para trás quando não estiver bem apoiada.
Outros argumentos contrários à montaria em lótus baseiam-se no fato de que ela induz ao
encurtamento dos músculos ísquio-crurais e panturrilhas, além de tirar a propriocepção
originada em todas as estruturas localizadas nos membros inferiores, no assoalho pélvico e
nas faces internas das coxas e das pernas, além do apoio podal, naqueles praticantes que
conseguem apoiar os pés nos estribos. Também diminui a orientação espacial do praticante
por perder a relação da postura do tronco na vertical com os membros inferiores que estariam
mais abaixo.
A postura ideal para se montar mantém os pés apoiados nos estribos e os membros inferiores
para baixo, estimulando a noção de direção à frente. O uso da linha média do cavalo facilita
essa organização e o tronco estando orientado estimula a melhor controle cervical e do
olhar. A postura adequada favorece a linha média e a simetria, fornecendo ainda estabilidade
318
aos funcionamentos motor oral, da ventilação, digestivo, circulatório, visual e do aparelho
músculo-esquelético, melhorando a qualidade de vida do praticante.
Na montaria em posição de lótus, o apoio das mãos sobre os joelhos e a própria tendência à
extensão dos membros superiores auxilia na transmissão dos impactos do movimento do
cavalo aos ombros, transmitindo o peso aos ombros, distribuindo-o de um lado para outro,
equilibrando o peso entre os ombros e quadris e melhorando assim a linha vertical.
REFERÊNCIAS
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Munchen, Alemanha; 1990.
319
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LIANZA, Sergio. Medicina de Reabilitação; Ed. Guanabara Koogan S.A.; Rio de Janeiro-RJ;
1985.
320
EFEITO DA EQUOTERAPIA NA POSTURA DE TRONCO DE
CRIANÇAS DIPLÉGICAS SENTADAS
INTRODUÇÃO
A espasticidade tem grande influência na postura das crianças com diplegia. Na clínica, a
postura normal é visualizada pelo alinhamento e simetria das partes do corpo e pela co-
contração de músculos em torno das articulações, o que somado, resulta em um equilíbrio
global (BERTOTI, 1988).
Muitas crianças com PC, até mesmo aquelas com espasticidade de leve a moderada, XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
apresentam uma hipercifose torácica quando sentadas. A criança portadora de PC se utiliza
deste mecanismo compensatório para alinhar a cintura escapular e a cintura pélvica, devido
ao tônus extensor aumentado. Estas crianças apresentam uma flexão de quadril inadequada
com conseqüente encurtamento da cadeia posterior dos MMII. Para compensar a pouca
flexão do quadril, na posição sentada, é feita uma retroversão da pelve, o que leva a criança
a sentar-se no sacro em vez das tuberosidades isquiáticas. Para evitar queda para trás, a
criança move o centro de gravidade para a frente, flexionando a coluna e produzindo uma
postura cifótica (REID, 1996).
Com base na observação dos pacientes no ambiente ambulatorial e no relato dos cuidadores,
as crianças com diplegia passam a maior parte do tempo na posição sentada. Devido ao
aumento da cifose, ocorrem desvantagens como compressão e diminuição da expansibilidade
da caixa torácica, dificuldade na fonação, na deglutição, no uso dos membros e limitação do
campo visual do paciente (TACHDJIAN, 1995). 321
O objetivo do tratamento da PC é potencializar as funções e prevenir o desenvolvimento de
outros problemas, como contraturas e necessidade de cirurgia, além de permitir que a criança
participe de atividades normais com as outras pessoas (MERENGILLANO, 2004).
Atualmente conta-se com vários instrumentos para avaliação da condição das curvaturas e
da mobilidade espinhal, sendo que o Método Flexicurva vem ganhando um destaque crescente,
haja vista uma série de vantagens apresentadas por ele e que serão descritas oportunamente.
Este instrumento tem várias formas de apresentação comercial, mas de maneira geral pode
ser descrito como uma régua flexível em material emborrachado, com alma interna de
chumbo com liga especial, permitindo flexibilidade e funcionalidade para a confecção de
moldes e/ou curvas. A técnica de aplicação para uso clínico normalmente corresponde em
colocar a haste ao longo da superfície que se quer medir, tendo o cuidado de modelar seu
trajeto de acordo com os formatos ou ângulos a serem avaliados.
Somando-se a isto, o Método Flexicurva apresenta diversas vantagens, tais como baixo custo
e peso, reprodução do ângulo da curva espinhal por meio de um desenho e maior validade
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
O objetivo deste artigo foi verificar se existe melhora da postura de tronco em crianças
diplégicas, sentadas, após a prática de equoterapia, uma vez que esta é a posição adotada
pelas crianças na maioria das atividades de vida diária (AVDs).
MATERIAIS E MÉTODOS
Inicialmente foi realizada uma avaliação no HUCB com o paciente na postura sentada, em
um banco sem apoio dorsal e braços repousando sobre as pernas, que se encontravam a 90º
de flexão de joelhos e tornozelos, com apoio quando necessário. A criança não foi orientada
a corrigir a postura, permanecendo em sua posição normal. Uma vez alcançada a estabilidade
nesta posição, a régua flexível foi aplicada acompanhando as curvaturas da coluna. Em
seguida foi feita a transferência do formato da régua para uma folha de papel milimetrado.
No desenho foram destacados os pontos correspondentes aos processos espinhosos de T1 e
T11-T12, previamente identificados na coluna da criança com etiquetas autoadesivas de 13
mm de diâmetro.
A técnica de medição da cifose foi aplicada conforme sugere Burton (1986, citado por Tillotson
e Burton, 1991) e teve como principal instrumento uma régua flexível (flexicurva) de 60 cm
de comprimento da marca Trident®. Esta etapa foi realizada por uma única avaliadora,
previamente treinada em relação à marcação por anatomia palpatória dos processos
espinhosos das vértebras predeterminadas e ao manuseio da régua.
Para a obtenção dos resultados referentes aos graus de cifose de cada criança, foi medido
com régua comum o ponto mais distante entre a reta traçada de T1 a T11-T12 e a concavidade
do desenho. Os dados correspondentes às distâncias foram analisados em um software
específico, usando-se a ferramenta Excel, com base em uma fórmula(“unpublished
observations”) desenvolvida no Laboratório de Biomecânica da UCB pelo Prof. Dr. Gustavo
de A. Carvalho para convertê-los em graus.
Após as avaliações, o estudo passou a ser realizado no RPMON-DF, uma vez por semana,
No início e no final de cada sessão, a criança era avaliada quanto ao grau de abdução,
através da manobra de adução dos quadris (ABPC, 1998). Após a medição inicial era
realizada a primeira fase da equoterapia, em que há uma aproximação do praticante com o
cavalo, estabelecendo-se um vínculo afetivo.
O material de encilhagem utilizado foi manta com cilhão e estribo. Com auxílio de uma
rampa, o praticante era ajudado por uma equipe a montar sozinho. Esta equipe era composta
por um auxiliar-guia, responsável pelo controle do cavalo e pela andadura ritmada ao passo,
e dois auxiliares laterais, responsáveis pelo apoio físico, participação nas atividades propostas
e observação da postura do praticante. Os auxiliares guia e laterais permaneceram os mesmos
até o final do estudo.
Ao final de dez sessões de tratamento foi realizada uma nova avaliação com o Método
Flexicurva, seguindo os mesmos passos utilizados inicialmente para observar possíveis
alterações pós-intervenção.
Para realizar a análise estatística foi utilizado o SPSS (statistical package for the social sciences)
10.0 for windows. Foi realizado um teste “t” pareado para avaliar se havia diferença no
ângulo de cifose após prática de equoterapia em crianças diplégicas.
RESULTADOS
A análise estatística descritiva dos dados mostrou que, dentre as crianças estudadas, cinco
eram do sexo feminino e três do sexo masculino, com idades variando entre 31 e 72 meses,
com média de 58,25 meses e desvio padrão de +13,7.
A tabela 1 ilustra os graus de cifose apresentados pelas crianças antes e após o período de
tratamento. Os valores referentes à média e ao desvio padrão foram respectivamente 31,62
e + 4,51 pré-equoterapia e 26,55 e + 5,58 pós-equoterapia. Observa-se ainda que em seis
casos houve melhora na postura cifótica após a intervenção e em apenas dois casos houve
aumento no ângulo da cifose. É importante considerar o fato de que estas duas crianças
apresentavam as maiores idades e o tônus mais aumentado dentro da amostra.
E 33,85 28,88
F 32,83 27,13
G 33,07 27,81
H 31,77 34,56
Média 31,62 26,55
Desvio Padrão 4,51 5,58
Fonte: Autor
Uma característica relevante desta amostra foi que três crianças apresentavam marcha
independente, uma apresentava marcha com auxílio e quatro eram totalmente dependentes
na locomoção. Outra característica que merece destaque é o tônus muscular levemente
aumentado de uma das crianças, assim como comprometimento cognitivo grave e suspeita
324 de autismo.
Foram ainda obtidos dados a respeito do ângulo de abdução, antes e após cada sessão de
equoterapia, com base na manobra de adução dos quadris. De acordo com esta manobra,
houve aumento da angulação em seis casos, podendo-se inferir uma melhora no tônus. É
importante destacar que em apenas dois casos o ângulo obtido na primeira sessão coincidiu
com o da última.
DISCUSSÃO
A equoterapia não só promove estimulação física, cognitiva, emocional e social, assim como
ensina e desenvolve capacidades não aprendidas através do tratamento convencional. Apesar
da natureza não usual da equoterapia, seus fundamentos estão baseados nas atuais teorias
do desenvolvimento e controle motor, estabelecendo princípios de tratamento
neurofisiológicos. A exposição às contínuas mudanças do ambiente, a movimentação do
cavalo, manter-se sentado com as pernas em abdução, além dos múltiplos estímulos nos
sistemas sensorial, motor, cognitivo e límbico do paciente facilitam o desenvolvimento de
novas formas de movimento que não são adquiridas com as técnicas tradicionais de
tratamento (BENDA, MCGIBBON e GRANT, 2003).
Os resultados iniciais deste estudo sugerem que, a equoterapia tem influências na postura
de crianças com PC. No caso da postura de tronco de crianças diplégicas, estes ganhos
podem ser observados conforme os dados da tabela 1, que indicam uma redução nos ângulos
de cifose em seis crianças pós-intervenção. Isto confirma os achados de outros autores que
documentaram uma melhora significativa na postura de crianças com PC espástica, após a
prática da equoterapia (BERTOTI, 1988; BENDA, MCGIBBON e GRANT, 2003). Sentar com
as pernas abduzidas, além dos estímulos variados aplicados à pelve e a todo o corpo,
aprimoram as reações de equilíbrio, controle postural de tronco, ativação da pelve e das
articulações, contribuindo para a normalização do tônus muscular. Todos estes fatores
colaboram para a melhora postural (KUCZIÑSKI e S£ONKA, 1999).
Em relação às medidas feitas pelo avaliador, sabe-se que, apesar da boa reprodutibilidade
do Método Flexicurva (THOMPSON e EALES, 1994), “a própria globalidade do indivíduo
faz com que possam ocorrer compensações diversas, o que pode gerar baixa correlação
intra-avaliador” (SPOLAOR e MARQUES, 1999). Além disso, o estado emocional da criança,
no dia da avaliação, pode ter influenciado o tônus de forma não favorável, visto que este
não é apenas um aspecto da ação física e muscular, mas reflete também o aspecto psicológico
325
e emocional (LERMONTOV, 2004), prejudicando assim, uma avaliação precisa. De fato, a
hipertonia pode alterar a postura, fazendo com que a criança busque com dificuldade
alternativas para se estabilizar numa determinada posição, pois os músculos hipertônicos
tendem ao encurtamento, dificultando ainda mais a ação dos antagonistas na correção
postural (ANDE-BRASIL, 2004). Contudo, isto não significa que não houve outros ganhos
posturais, uma vez que montar a cavalo requer coordenação e equilíbrio (LERMONTOV,
2004), requisitos estes que não foram avaliados por não fazerem parte direta do estudo.
Foram observados também valores referentes à manobra de adução, que testa principalmente
os músculos grácil, adutores longo e curto. Estes valores foram medidos antes e após cada
sessão, porém as medidas mais relevantes para o estudo foram os ângulos obtidos antes da
primeira e antes da última sessão. Os dados sugerem que, com base no aumento do ângulo
de abdução, seis crianças tiveram uma melhora do tônus e também da cifose, o que pode ser
explicado devido ao movimento cadenciado do cavalo que, juntamente com o calor do corpo
do animal, promove o relaxamento, especialmente dos MMII, contribuindo assim, para a
diminuição da espasticidade (LERMONTOV, 2004). Destaca-se o fato de que os ângulos da
manobra não se mantiveram de uma sessão para outra, apesar de ter havido aumento da
angulação antes e após cada sessão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
apenas dados qualitativos. Além disso, a análise específica dos ganhos na posição sentada é
bastante relevante, pois é nesta posição que a criança passa a maior parte do tempo e realiza
suas AVDs.
Finalmente, sugere-se que sejam feitos outros estudos relativos ao tema, com uma amostra
maior, para que a análise estatística venha a ser mais profunda e conclusiva. É importante
também a inclusão de um grupo controle, pois a equoterapia não é realizada isoladamente,
ou seja, as crianças normalmente realizam outras atividades terapêuticas. Sugere-se também,
a análise de outras variáveis, tais como: equilíbrio, coordenação motora, imagem e esquema
corporal, cognição, fala e linguagem, tempo de duração dos efeitos e ganhos nas AVDs.
326
REFERÊNCIAS
FELDKAMP, M. Motor goals of therapeutic horseback riding for cerebral palsied children.
Rehabilitation, v.18, n. 2, p. 56-61, 1979.
MEDEIROS, M.; DIAS, E. Equoterapia – Bases e Fundamentos. 1. ed. Rio de Janeiro: Revinter,
2002.
MEREGILLANO, G. Hippotherapy. Phys Med Rehabil Clin N Am, n. 15, p. 843-854, 2004.
STERBA, J.A.; ROGERS, B.T.; FRANCE, A.P. Et al. Horseback riding in children with cerebral
palsy: effect on gross motor function. Dev Med Child Neurol, v. 44, n. 5, p. 301-8, 2002.
328
ATIVIDADE PSICOMOTORA EQÜESTRE
O objetivo deste trabalho é articular o estímulo neuromotor que o cavalo dá, com a atividade
psicomotora em clínica de transferência, na construção da criança.
Desde seu início em 1900 com Jenry Wallon, a atividade psicomotora registrou três cortes
evolucionários, cada um deles com suas próprias características especiais por ajudar o sujeito
a integrar, corpo, gestos e posição ante os olhos dos outros, mãe, pai, terapeuta.
Desta maneira, ele/ela começa construindo um conceito de corpo – corpo imaginário- corpo
simbólico.
O objetivo deste trabalho é de que a criança com patologias possa reconhecer-se e existir
como um sujeito no qual sua imagem do corpo está em jogo.
Historia
Anatomía
Representación
Fisiología
Juegos
Biomecanica
Escenas
Punto
de
encuentro
Campo de la
Campo de la
Medicina kinesiologica estructuración
subjetiva
329
Estes dois campos são representados por duas esferas que parecem estar lutando para impor
seu próprio peso. Na esfera do campo orgânico estão a anatomia, a fisiologia, a patologia, e
a reabilitação cinética; na esfera do campo subjetivo estão a história, os jogos, e as
representações.
Em um lado, a ciência empírica e as técnicas derivadas, que não podem exceder seus próprios
limites, que são os de ponderar e medir, ou seja, é o campo orgânico, cuja palavra moderna
parece ter mais importância.
No outro lado, o campo da subjetividade, onde nós não podemos parar de nos perguntar
que tipo de artifício pode medir o entusiasmo ou o tédio, o interesse ou a apatia, o prazer ou
a indiferença, e a incontável quantidade de ponderações que a relação ser humano-cavalo-
natureza produz.
E neste ponto de união aparecem algumas diferenças básicas, especialmente entre o conceito
de reabilitação equestre e a restauração do termo (usado pela OMS).
que ele ou ela não pode escolher ser ou não, está outorgada a capacidade de produzir o que
está em jogo neste espaço clínico, apoiado pela psicanálise, e é onde o conhecimento corporal
está representado e mais relacionado; e também ao esquema corporal, o que acontece e
como curá-lo, do que à imagem física.
Não há clínica psicomotora, sem corpo, sem um olhar e sem os movimentos de um sujeito;
trabalha-se entre o pulso do corpo e o corpo em si, entre o pulso do movimento e a operação
da função motora.
A presença de patologias neuromotoras implica o uso de métodos cinéticos até pelos sintomas
e sinais que são visíveis em cada patologia. A maneira que eles estão localizados no sujeito
responde ao singular histórico na estrutura do sujeito.
Esta operação da função motora coloca prazer no movimento, pulsa, exige que o outro a
estimule e erotize, move-se pelo prazer da reunião e divisão. Esta escritura pulsante de
movimento cruzado pela linguagem começa a construir a imagem inconsciente do corpo e
do projeto motor.
Deve haver uma impressão deixada que liga com uma história o que a criança construiu e
constrói, que liga a infantilidade à infância. A realização é da ordem do acontecimento,
uma experiência singular, estabelecida por exemplo nas conquistas de postura. Estas não
são somente um ato mecânico, são partes de cenas que os outros constroem onde ele existe
como sujeito. A postura é conquistada em reunião e superações do campo do outro, é uma
realização psicomotora, é espacial, temporária, o ritmo varia de uma postura para outra, o
eixo do corpo será o pólo de integração das sensações cinéticas que esboçará a orientação
dos corpo.
Até que a criança possa construir sua própria auto–imagem, as sensações são fragmentadas,
não há “eu” das funções imaginárias, o sujeito será capaz de apropriar a realidade,
contrariamente, o músculo será mantido fora do discurso.
Pode tornar-se uma figura importante para aquelas crianças com quem não conseguimos
nos comunicar.
A presença de outros operadores como suporte técnico. Qual é o seu papel, ativo ou passivo?
A cena é mais ampla, e em contato com a natureza os riscos são também grandes, mas as
cenas são limitadas nessa área.
331
As cenas e a espontaneidade das criações são limitadas por razões de segurança.
Se nos colocarmos no segundo corte, que é concentrado no tom afetivo e emocional, estaremos
“bancando” a mãe, e a criança se tornará presa à afeição e ao prazer maternal de alguém
que não deveria exercitar esse papel.
A prática equestre somente será significativa se o que é produzido pelo cavalo, facilitado
pelo caráter tridimensional da montaria, facilitando a operação da função na ausência do
corpo durar e for reproduzido no solo.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
332
REABILITAÇÃO EQÜESTRE DE CRIANÇA PROFUNDAMENTE
MULTIDEFICIENTE – O PRÍNCIPE
Este testemunho de alta qualidade feito por uma equipe de jornalistas, sem nossa participação,
nos permite analisar a reabilitação equestre por um ponto de vista diferente.
Está é a história de Leonel, uma criança profundamente multideficiente, afetada nas áreas
motora, sensorial, cognitiva e comunicativa, nas palavras de sua mãe.
Andrea Frohlich define tal criança como tendo atingido apenas o desenvolvimento
neuropostural de uma criança de seis meses de idade, aproximadamente.
Uma história que se inicia horas antes de seu nascimento, quando um erro médico iniciou
um verdadeiro drama. Cruelmente relaciona o grau de vulnerabilidade que as famílias dessas
crianças têm nos países em desenvolvimento, às limitações dos serviços de saúde, e à falta de
recursos para pagar tratamentos caros.
A história dele nos mostra que a multideficiência não é a justaposição das desordens de uma
pessoa, mas seus resultados específicos da inter-relação das desordens em si mesmas, e mais,
Onde o tratamento não é a junção de diferentes tratamentos de acordo com a área afetada,
mas um tratamento específico e individual que considera suas deficiências, seu sofrimento e
sua família.
O presente estudo visa a apresentar técnicas fisioterapêuticas que têm por objetivo incentivar
a ventilação pulmonar e promover a higiene brônquica através da reorganização torácica e
conseqüente sinergismo muscular respiratório. As medidas terapêuticas para alcançar tal
objetivo baseiam-se no alongamento e fortalecimento dos músculos respiratórios, além da
adequação tônica.
A primeira orientação para aplicação das técnicas baseia-se na observação do padrão postural
que o paciente apresenta, e conseqüente padrão respiratório.
334
As técnicas não se constituem de manobras isoladas, mas de um manuseio dinâmico,
orientado pela biomecânica respiratória normal, caracterizadas por posicionamento
biomecânico adequado, alongamentos passivos, apoios manuais e mobilizações( ginga).
POSICIONAMENTO BIOMECÂNICO
O posicionamento adequado na postura sentada sobre o cavalo, desde que atendendo aos
componentes de alinhamento do centro gravitário, pelve na postura neutra e retificação de
tronco, facilitará uma melhor incursão respiratória, favorecendo a ventilação pulmonar.
ALONGAMENTOS PASSIVOS
APOIOS
GINGA TORÁCICA
AMOSTRA
O estudo utilizou-se de uma amostra que constou de cinco pacientes com disfunção
neuromotora em diferentes idades, entre 03 e 09 anos, com distribuição topográfica do tipo
quadriplégica, com variações quanto ao tônus.
RESULTADO
REFERÊNCIAS
Edwards R. H. T., Faulkner J. Structure and function of the respiratory muscles: The thorax, part
A, New York, Marcel Dekker, 1986
336
A EQUOTERAPIA COMO TRATAMENTO ADICIONAL NA
AQUISIÇÃO DE UM MELHOR ALINHAMENTO DE TRONCO EM
PORTADOR DE PC DO TIPO QUADRIPLEGIA ESPÁSTICA
MODERADA UTILIZANDO A CIF COMO BASE PARA AVALIAÇÃO
E ELABORAÇÃO DE ATIVIDADES - RELATO DE CASO
Este relato de caso tem como proposta verificar a importância da utilização da equoterapia
na reabilitação de um paciente de 4 anos, portador de paralisia cerebral (PC) do tipo
quadriplegia espástica moderada, visto que este tipo de tratamento beneficia tanto a parte
motora como a pscicossocial.
A CIF tem como objetivo geral proporcionar uma linguagem unificada e padronizada como
um sistema de descrição da saúde e de estados relacionados a ela. Essa classificação registra
o estado funcional da pessoa portadora de deficiência.
A versão da CIF divide o sistema de classificação em cinco componentes: a função corporal XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
e a estrutura do corpo relacionam-se com deficiência; a atividade social e participação social
retratam a incapacidade; e os fatores ambientais registram o impacto sobre a incapacidade,
quantificando os aspectos positivos e negativos.
Por ser uma classificação ela é utilizada como modelo para a avaliação da incapacidade em
muitos contextos e na reabilitação permitirá que a pessoa seja periodicamente reavaliada.
Cabe ressaltar que ela não mede doenças, e sim as capacidades do indivíduo.
Com base na CIF, a PC pode apresentar conseqüências variadas. No que se refere à função
de órgãos e sistemas, geralmente interfere no funcionamento do sistema neuromotor e
músculo-esquelético, e neste nível, as características associadas a esta patologia incluem
distúrbios de tônus muscular, postura e movimentação voluntária. Além das deficiências
337
neuromotoras e musculoesqueléticas, a PC pode resultar em incapacidades, ou seja, limitações
no desempenho de atividades funcionais.
Além disso, foi feita uma análise do paciente sobre o dorso do cavalo, observando o nível de
capacidade de autonomia do mesmo, tanto do ponto de vista físico quanto emocional.
A partir da observação e análise dos dados obtidos, foi estabelecida uma função simbólica,
que foi dirigir um caminhão utilizando o bambolê como volante, e por meio dela foram
observadas as deficiências primárias e secundárias da criança, sendo traçado um plano de
tratamento baseado nos componentes de movimentos necessários para a realização da função
proposta, utilizando-se de atividades lúdicas.
O cavalo escolhido foi um puro sangue inglês, de freqüência baixa, o que diminui o estímulo
proprioceptivo que é transmitido ao paciente, sendo assim mais adequado para a criança
espástica. Além disto é um animal longilíneo, o que facilita a abdução do quadril no momento
da montaria.
Em cada sessão foram mensurados os tempos de realização adequada da função e esta foi
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
repetida em todas as sessões para fins comparativos, o que tornou possível obter melhor
comparação do alinhamento do tronco em tempos diferentes.
Para mensurar os ganhos obtidos foram cronometrados os tempos que o paciente conseguiu
realizar a função proposta na postura adequada. Estes tempos foram cronometrados a partir
da 9ª sessão, quando o paciente conseguiu permanecer por 5 segundos na postura adequada
com apoio da terapeuta em caixa torácica. Para isso foi utilizada a tabela de mensuração a
seguir:
338
Tabela de mensuração dos tempos de realização adequada da função*
Número da Ajuda dada Tempo de
sessão de pela realização
atendimento terapeuta. da função
9° Em caixa torácica 5 seg
10° Em caixa torácica 6,5 seg
11° Em caixa torácica 7 seg
12° Em caixa torácica 10 seg
13° Nos cotovelos 12 seg
14° Nos cotovelos 12,2 seg
15° Nos cotovelos 13,5 seg
16° Nos cotovelos 14 seg
17° Nos cotovelos 15 seg
17° Sem ajuda 5 seg
18° Nos cotovelos 15,3 seg
18° Sem ajuda 4 seg
19° Nos cotovelos 15 seg
19° Sem ajuda 5 seg
20° Nos cotovelos 17 seg
20° Sem ajuda 5,77 seg
21° No esterno 13,4 seg
21° Sem ajuda 4,98 seg
22° No esterno 15,6 seg
22° Sem ajuda 5,1 seg
23° No esterno 15,3 seg
23° Sem ajuda 5,8 seg
24° No esterno 15,4 seg
24° Sem ajuda 5,7 seg
* Na contagem dos tempos foram levados em consideração os reajustes
posturais feitos pelo paciente durante a execução da tarefa.
CONCLUSÃO
A presente pesquisa revelou, mediante a análise dos dados obtidos e da constatação de que
o paciente realiza atendimento de reabilitação há pelo menos quatro anos, que a equoterapia
foi um agente facilitador para a aquisição de um melhor alinhamento biomecânico, ativação
e controle de tronco na postura sentada, proporcionando, contudo, melhor desempenho do
paciente. Estimulou-se dessa maneira a autoconfiança, a melhora do relacionamento
interpessoal e da qualidade de vida do paciente em questão. Cabe salientar que a utilização
da CIF como base para a avaliação e elaboração das atividades foi de fundamental importância
no que se refere ao acompanhamento funcional do paciente.
339
ENSINANDO E MANTENDO CAVALOS
NO PROGRAMA TERAPÊUTICO
Não é aceitável dizer que tanto trabalhadores pagos quanto voluntários não têm tempo
para treinar os cavalos. Não é uma opção. É vital e uma consideração necessária quando
planejando grades horárias. Centros que têm horários de treinamento específicos para seus
cavalos percebem que eles permanecem sãos/firmes e contentes quando são ensinados
regularmente. Os cavaleiros são capazes de cavalgar muito mais independemente do que
em cavalos não treinados.
Há dois aspectos:
• o treinamento do cavalo;
• a forma física e o desenvolvimento muscular e manutenção.
Eles são igualmente importantes e podem ser incorporados na mesmas sessões de treinamento.
Novos cavalos precisam ser acostumados aos cavaleiros com deficiências. Eles então precisam
ser treinados para o programa geral. Depois que eles estão confiantes e obedientes, podem
ser treinados para cavaleiros individuais.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Há muito debate sobre o perfil no qual o cavalo deve trabalhar. Se o cavalo é para estar
confiante no programa, e portanto seguro para nossos cavaleiros, ele deve estar num perfil
que não lhe cause desconforto. Se no cavalo for permitido cavalgar em um perfil de ‘cabeça-
para-baixo’, ele ficará com a coluna dolorida. Os cavalos vêm de todas as formas, tamanhos
e idades, e um perfil precisa ser considerado para cada cavalo individualmente.
O cavalo ideal é obediente, move-se livremente, é constante em seu perfil, leve às mãos e
suave em seus músculos costais. Ele será capaz de interpretar a ajuda de cavaleiros ou
manuseadores. Terá uma boa musculatura nas costas, para não ficar machucado com
cavaleiros sem equilíbrio ou assimétricos. Este é o objetivo. Sem um objetivo você certamente
não alcançará resultados.
340
O treinamento dos voluntários é um exercício contínuo, já que novos voluntários juntam-se
ao programa e os preexistentes desenvolvem melhores habilidades.
Há sempre debate sobre se um cavalo deve ter somente um treinador ou ser capaz de adaptar-
se a diferentes pessoas. Pessoalmente, eu acredito que o treinador inicial deveria trabalhar
com o cavalo até que o treinamento se estabeleça. No entanto, se houver um choque de
personalidades, mude o treinador.
As pessoas podem aprender habilidades úteis de manuseio com as quais podem então usar
com seus próprios cavalos. Voluntários que não são adequados para cavalgar podem ainda
sentir-se envolvidos nos trabalhos de treinamento e exercitação do cavalo.
341
Há três tipos diferentes de condução com os quais o cavalo deve ser familiarizado. O aspecto
principal é que o cavalo mantenha-se indo para a frente em qualquer perfil que lhe seja
pedido. Isso pode ser aprendido das seguintes maneiras:
Quando ensinando pôneis é muito eficaz ter o braço mais próximo às costas do cavalo na
área mais alta. A rédea exterior pode ser usada eficazmente para controlar o passo e o perfil.
O treinamento pode ser feito em grupo. Isso é divertido para os treinadores de cavalo e mais
fácil para o treinador-chefe organizar. Os treinadores menos experientes podem aprender
observando os outros. Cavalos e treinadores de níveis diferentes podem todos trabalhar
juntos. É divertido fazer pequenas competições, como conduzir o cavalo por uma serpentina
de três voltas mostrando diferenças de flexão e curvatura. Isso é um grande motivador para
os treinadores, e eles desfrutam o desenvolvimento de suas habilidades e o sentimento de
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Mary L. Longden
BHSI, M.Sp.Ed.
Longhope Lodge,
95 Berry Lane, Bunyip, 3815,
Victoria, Australia.
Email: <longden@sympac.com.au>
342
NO COMEÇO HAVIA UMA LIGAÇÃO
LIGAÇÃO
A teoria da ligação encontra sua origem na etiologia animal. Em 1935, K. Lorenz começou
observar o fenômeno da impressão que é um comportamento inato, irreversível, que ocorre
desde o nascimento da criança. A criança segue o primeiro objeto em movimento que percebe,
o que quer que este objeto seja, mas isso geralmente é adequado e é representado pela mãe.
Em mamíferos o olfato entra em jogo primeiro. A mãe lambe seu jovem ainda impregnado
com o cheiro do seu líquido amniótico e assim ela pode reconhecê-lo formalmente. É um
impulso e comportamento de reforço recíproco.
O potro rapidamente entende que suas patas podem achar apoio no chão e que ele pode se
mover empurrando com as pernas posteriores e guiando com as da frente. A exploração do
lugar de vida começa com formas de movimento mantendo a mãe como o marco central. O
potro se move inicialmente num raio pequeno. Assim nascem suas primeiras ações
locomotoras de equilíbrio e orientação.
BOWLBY (1958-1980) foi quem fez a ligação entre a ligação animal e a humana, e cria uma
nova teoria psicanalítica. De acordo com ele, a ligação humana e o laço emotivo mantém
aptidões inatas que se mostram quando a mãe as solicita.
a) A teoria da ligação
A figura de ligação é qualquer pessoa que se empenha numa interação animada, durável e
social e que responde aos sinais da criança. Essa é a razão pela qual esta pessoa geralmente
é a mãe.
343
criança Figura de
Ligação
Os comportamentos mais típicos são os de aversão: grito e choro. Eles trazem “a FL –Figura
de Ligação às crianças.”
A proximidade restaurada com a criança, cada vez que ela necessita, confirma sua idéia
que sua “FL” está disponível para ela e que ela merece isso. Esta proximidade, esta confiança
na disponibilidade da mãe, a capacitará então a sentir-se segura e portanto ela não precisa
ativar seu sistema de ligação.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Esta desativação capacita a ativação do seu sistema de exploração do ambiente. De sua base
de segurança, a criança pode estar interessada, por exemplo, em brinquedos e, quando for
mais velha, sair fisicamente. No mais leve sobreaviso, a criança dá a volta e retorna para
perto de sua “FL”, que, da base de segurança, torna-se um refúgio de segurança.
Base de
segurança exploração
Refúgio de
segurança busca pela proximidade
Base de segurança
terapêutica exploração
Refúgio de segurança
terapêutica busca pela proximidade
Terapeuta Paciente
Cavalo
confiáveis
Temos que ser suficientemente consistentes para nos tornamos uma base de segurança. XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
receptivos
sensíveis
Mãe Retorno
Exploração Pai e criança
Criança
Na equoterapia, nós também capacitamos pacientes a viver experiências corpóreas que são
acompanhadas por emoções. Tomamo-las em conta para restituí-las verbalmente aos
pacientes e dar significado a suas experiências reais. Isso é o que a figura de ligação (FL) faz
que são as fontes mais significativas para interpretar as crianças e dar um significado à
emoção da criança, que não pode/consegue metabolizá-la ainda (função alfa, conceito de
BION).
c) As competências básicas:
Trabalhamos com crianças que sofrem com deficiências pesadas: sensoriais, físicas e/ou
mentais. Suas deficiências significam uma precoce disfunção de relacionamento. O sofrimento
e a ruptura são significantes. A equoterapia propõe um novo ponto de encontro para crianças
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
e pais quando tomam parte na terapia. Esse lugar possibilita experiências multissensoriais.
Através de contato corporal próximo ou distante, a criança reage por comportamentos que
induzem reações em favor dos outros parceiros. As emoções percebidas e afetos mobilizam
a todos e interpretações ou representações apoiam o acordo emocional.
Estes momentos de contato corporal com o cavalo ajudam a reviver as interações desde
cedo, em situações mais satisfatórias. A questão é uma criação e pesquisa comuns. Então um
acordo é possível entre a criança e o terapeuta ou o parente presente (Stern).
3. Comportamentos de relacionamento
Estes são todos os comportamentos percebidos como apropriados para com o outro: sorrisos,
júbilos, carícias, apontar de dedos, agarrar do corpo, abraços. A equoterapia é um espaço
muito propício para experimentar estes comportamentos. O cavalo está, freqüentemente,
no meio das demonstrações de afeto. Estes comportamentos carregam interações sociais e
restauram uma confiança mútua.
Isto é o agarrar e apreender dos objetos. Capacita a organização gestual com a adaptação
de tom. Vemos isso no cuidado com o corpo do cavalo e na introdução de atividades de jogo
inventadas pelo paciente. Isto o capacita a tornar-se ciente de sua capacidade de ação.
5. A imitação
CONCLUSÃO
Encontro após encontro, interações são feitas, um acordo entre o paciente, o cavalo e o
terapeuta – ou o parente – é executado, permitindo a possibilidade de reafirmação de uma
ligação e um vínculo seguros. A comunicação é restaurada numa procura pela compreensão
mútua. Essa é a razão pela qual o terapeuta deve deixar a iniciativa motora ao paciente. A
atitude benevolente do terapeuta contribuirá à expressão espontânea e à autenticidade de
cada um. O espaço terapêutico sentido como bases de segurança abaixará o nível de ansiedade
de separação.
347
Quais são os diferentes elementos que podem diminuir a ansiedade de separação?
REFERÊNCIAS
http://www.fondation-enfance.org/final/publications/Lettre46/lettre.htm
MONTAGNER, H., STEVENS, Y. (2003). L’attachement. Des liens pour grandir plus libre.
Paris : L’Harmattan.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
348
EQUOTERAPIA PARA CRIANÇAS COM
MÚLTIPLAS DEFICIÊNCIAS
Essas crianças sofreram sérios danos cerebrais cedo, que causaram múltiplos distúrbios
mentais e severos obstáculos para o desenvolvimento psicológico. O dano pode ter ocorrido
durante ou como resultado de:
- Maturação cerebral
- Organogênese
- Complicações pós-parto
- Parto
- Genética
- Fertilização
As desvantagens específicas das crianças com múltiplas deficiências XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Numerosos distúrbios ocorrem como reultado de múltiplas deficiências, e essas por sua vez
podem gerar fraquezas, também como obstáculos aos seguintes tipos de desenvolvimento:
- Mental
- Psicológico
- Motor
- Comunicativo
- Fisiológico
- Cognitivo
- Social
349
Obstáculos ao desenvolvimento mental
Imobilidade Corporal
Expressividade perturbarda
Reações/ respostas prejudicadas
Deglutição inadequada
Não-absorção
Distúrbios Digestivos
350
Incontinência
Desidratação, subnutrição
E ainda assim contato social está na raiz do desenvolvimento dos outros aspectos de uma
pessoa.
Nós devemos nos lembrar de que como seres sociais, as pessoas constroem suas próprias
personalidades no contexto de seus relacionamentos com os outros.
Prejuízo Psicológico
Prejuízo Cognitivo
Prejuízo Social
351
Como equipes multidisciplinares respodem
Cada especialista, trabalhando em seu campo, faz sugestões relevantes ao cuidado e apoio
do paciente.
Cada um desses profissionais visa uma área específica mas sempre em ligação com uma
abordagem multidisciplinar. É vital que se perceba a criança como um todo e não reduzi-la
a um conjunto de problemas para os quais cada especialista tem uma perícia específica (e
portanto soluções específicas).
Aqui também, todavia, temos que combater o perigo de reforçar, e então piorar o problema
inicial:
“Através de suas relações com os outros e com o mundo em geral, as crianças com múltiplas
deficiências são passíveis de serem encaradas como pacientes em vez de pessoas”.
1. Equipamento
2. Banhos de imersão
3. Psicomotricidade
4. Fonoaudiologia
5. Adaptação ergonômica
… e…
Equoterapia para crianças com múltiplas deficiências não é mais uma panacéia do que
qualquer outra terapia.
Equoterapia ajuda as crianças a deixarem para trás por um período a restrição da cadeira
de rodas ou outro equipamento, e encoraja o envolvimento corporal: uma nova visão de
suas fronteiras e imagem corporal.
O cavalo tem uma natureza amigável e sente a necessidade de se comunicar, mas isso não o
faz intrusivo, como um cachorro por exemplo. O cavalo está em busca de um relacionamento
respeitoso, no qual as interações aconteçam “à distância correta”.
Lidar com o corpo de uma criança com múltiplas deficiências, com a necessidade de
segurança, implica um superenvolvimento que pode ser sentido como sufocante. Num cavalo,
acima e a uma distância do terapêuta, a criança acha seu espaço pessoal.
352
Na equoterapia, crianças são atores nos seus próprios movimentos, lidando em vez de serrem
lidados. Em vez de liderar, o terapeuta segue.
Em termos de postura, sentar no cavalo dá à criança maior flexibilidade aos múculos adutores,
diminui a retração, torna mais fácil sentar-se ereta e reduz os movimentos atetósicos.
A postura também ajuda a melhorar a digestão, a qual é com frequência perturbarda nessas
crianças.
Apoiadas pelo terapeuta, as crianças adotam uma postura de maior abertura ao ambiente,
e começam a procurar o equilíbrio vestibular, anticipar movimento(s) e se tornam mais
conscientes de seus corpos ocupando o espaço.
Prazer Digestão
Desejos Absorção
Ação
Prejuízo Fisiológico
Abertura Relaxamento
353
CONCLUSÃO
Interações
Espaço pessoal
Ação
Flexibilidade
Sentar-se ereto
Relaxamento
Abertura
Liberdade
Anticipação do movimento
Experiência
Prazer
Desejos
Envolvimento corporal
…e carinho
... e e ...
354
Poster
355
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
356
EQUOTERAPIA E SEGURANÇA - DOIS AMIGOS SEGUROS
OBJETIVO
METODOLOGIA
A prática da equoterapia significa, para muitas pessoas, uma alternativa inovadora de
tratamento e, simultaneamente, uma possibilidade de deixar a atmosfera rotineira da
reabilitação e entrar num mundo de comunicação e inter-relação social com amigos, sendo
o mais importante destes o cavalo. Para que esta amizade cresça e, simultaneamente, deixe
crescer as pessoas que procuram uma melhora em sua qualidade de vida, um trabalho de
coleta de experiências e conhecimento foi feito, focado na ética profissional e na prevenção
de acidentes na equoterapia.
A equoterapia é uma modalidade terapêutica que tem o propósito de obter benefícios físicos,
psicológicos ou sociais nas pessoas com necessidades especiais. Trabalhar com risco significa
pôr em perigo a integridade dos pacientes, portanto, esta atividade sem a correspondente
segurança não pode ser concebida.
O conteúdo deste poster é uma parte do manual. Os assuntos que na opinião do autor têm XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
relevância maior aparecerão.
Não deve haver temor ao cavalo, mas precaução e respeito. O temor é insegurança e nesta
atividade essa é uma palavra que não é permitida. Um terapeuta com temor não pode 357
trabalhar, pois essa atitude é um problema para os demais (da equipe), que seguramente estarão
retidos em sua avidez para promover o crescimento pessoal do paciente. (foto/figura 1).
LOCAIS APROPRIADOS
O local apropriado para a terapia geralmente dependerá das condições climáticas, da área
geográfica onde será executada, geralmente será um clube ou centro de equitação, que assimile
a terapia a suas atividades. Idealmente o local deverá ter uma arena coberta, um retângulo
ou quadra e caminhos de terra.
A Arena
A arena com telhado é um lugar fechado, com uma forma retangular de 20 a 60 metros
quadrados aproximadamente, onde geralmente se trabalha quando as condições do tempo
tornam difícil trabalhar ao ar livre. Este lugar, minimamente, terá que ter as seguintes
condições:
Arena ou pátio
A arena ou pátio é um lugar fechado, ao ar livre, de medidas prescritas, no caso da arena, e
sem medidas estabelecidas no caso do pátio, que geralmente é menor que a primeira.
As condições deste lugar são semelhantes às da arena, com a diferença de que este não tem
um telhado, portanto será usado quando o tempo está bom. (foto 3)
Caminho de terra
A rota de terra é um lugar aberto, mas numa certa área, adequadamente delimitada com
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Outros locais
Há outros lugares para o trabalho que são usados em diferentes atividades eqüestres e que,
devido a suas características, podem ser usados para a terapia, devendo ter as condições de
segurança necessárias; e, entre outras, nós encontramos as seguintes:
– Arena elíptica de salto a mão
– Arenas circulares ou tróias
– Meia-lua chilena de rodeio
No caso de cavaleiros que guiam o cavalo, não é correto usar outro tipo de parada que não
o freio, como um bocal eqüino por exemplo, já que isto, manipulado por alguém que não
tem um domínio exato da tensão necessária, pode causar um pinote e o desequilíbrio pode
fazer com que o cavalo caia para trás com o cavaleiro em suas costas. (fotos 5 e 6)
Evite as roupas que se agitam com vento, cores ou tecidos brilhantes, uso de xales, casacos
longos e toda a roupa que não seja confortável e flexível, dificultando a liberdade de
movimentos.(fotos 9 e 10)
A alimentação do cavalo é baseada em verduras (aveia e grama) e isso implica que sua
digestão seja lenta e que o processo produza um inchaço da barriga pela acumulação de
gás. Geralmente, os cavalos que pertencem a clubes eqüestres permanecem em estábulos e
depois de comer sua porção, permanecem quietos nesse lugar, o que os impede de mover-se
para liberar a energia e os gases acumulados.
De acordo com o que foi mencionado previamente, é necessário, como uma medida de
saúde física e mental do rebanho que, ao menos uma vez ao dia, eles se movam ou "flatulem",
isto é, soltá-los num espaço aberto, de modo que eles possam correr para relaxar os seus
músculos e eliminar os gases acumulados nos intestinos, recebendo o último maior importância
no momento de trabalhar a terapia, já que é fundamental que os cavalos estejam confortáveis.
(foto 11)
Uma vez que eles dominem as técnicas com bonecas de trapo ou manequins, é possível
continuar a trabalhar com os mesmos estudantes, isto quer dizer, a prática em pares; só
quando os professores e instrutores de equoterapia estão seguros que os estudantes são
suficientemente capazes de trabalhar com os pacientes, o tratamento de reabilitação seria
projetado.(foto 12)
RESUMO
Introdução: Desde a antiguidade o cavalo vem sendo utilizado como um agente promotor da
saúde. Há alguns anos estudos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de comparar e
entender a semelhança biomecânica e anatômica entre o homem e o cavalo. Estudar e entender
os aspectos fisiológicos do corpo humano permite a aplicabilidade de seus conhecimentos
na reabilitação, para elaborar programas mais individualizados e efetivos para cada paciente.
INTRODUÇÃO
Como todos os sólidos, o corpo humano está submetido às leis da gravidade. Segundo
teorema, “um corpo está em equilíbrio quando a vertical traçada a partir de seu centro de
gravidade cai na base de sustentação”. Quando esta vertical se encontra no centro da base
de sustentação, o corpo se encontra em equilíbrio estável. Quando se desloca de um lado ou
de outro, é um equilíbrio instável, que deverá evoluir no sentido de estabilizar-se quando a
retomada do equilíbrio for possível.
O cavalo ao passo exige do cavaleiro ajustes tônicos para adaptar seu equilíbrio a cada
movimento. Visto que cada passo do cavalo produz de 1 a 25 movimentos por segundo, em
30 minutos de terapia o paciente executa de 1.800 a 2.250 ajustes tônicos e 180 oscilações
por minuto, através das vibrações produzidas pelos deslocamentos da cintura pélvica.3,4
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Assim, com o objetivo de manter a cabeça alinhada verticalmente, ao mesmo tempo em que
362 os olhos se alinham horizontalmente, o sistema proprioceptivo irá controlar estas constantes
perdas do centro de gravidade que o cavalo provoca a cada mudança de base de sustentação.
Com isto, o equilíbrio do tronco do paciente é trabalhado por desequilíbrios constantes
oferecidos pelo animal. Para que este trabalho muscular seja otimizado, e o processo de
reabilitação esteja direcionado a cada caso específico, realizar análise adequada é de suma
importância, qualificando ou especificando melhor a terapia com a postura adequada para
cada caso.
MÉTODO
Sujeitos
Participaram deste estudo 9 sujeitos, com idades entre 20 a 25 anos, sexo feminino, sem
alterações motoras. O critério de inclusão no estudo foi apresentar bom estado geral, sem
dores ou alterações posturais.
A montaria foi realizada em uma égua de 13 anos, sem raça definida. O espaço utilizado foi
um picadeiro de 20 X 60 metros, solo de areia.
Material
Para análise quantitativa dos resultados, foi utilizado aparelho de eletromiografia de superfície
da marca Miotec® e software Myography® com 4 canais.
Para montaria foi utilizada manta de atendimento, tipo “galope”, sem alças ou estribos.
Procedimento
Todas as posturas foram coletadas no mesmo dia, sendo que a ordem da coleta foi,
Durante este período os sujeitos se mantiveram por todo o tempo se sustentando sozinhos,
sem auxílio de qualquer terapeuta, porém ao lado havia dois terapeutas, para a segurança
do mesmo, e um condutor para o cavalo.
Para coleta dos dados, foi utilizado notebook conectado ao aparelho eletromiográfico, sobre
um suporte estável, porém móvel, que se manteve acompanhando lateralmente o cavalo
durante as coletas.
Para análise dos dados foi considerada a média do recrutamento muscular em cada tarefa.
O estudo foi baseado na análise dos dados obtidos do resultado da eletromiografia, a análise
estatística utilizada foi o Teste de Wilcoxon, qual possui nível de significância de 0,05 (5%). 363
RESULTADOS
Iniciamos comparando os valores para: Em pé versus Frontal versus Dorsal.
Média Pico
Em pé Frontal Dorsal Em pé Frontal Dorsal
Média 18,78 20,83 21,61 28,56 39,83 43,06
Mediana 15,5 15,5 16,5 26,5 28 28,5
Desvio Padrão 11,65 15,80 19,01 15,57 27,16 37,11
Limite Inferior 13,40 13,53 12,83 21,36 27,29 25,91
Limite Superior 24,16 28,13 30,39 35,75 52,38 60,20
p-valor 0,206 0,108
Averiguamos que não existe diferença média que seja considerada estatisticamente
significante entre “Em pé”, “Frontal” e “Dorsal”, tanto para Pico quanto Média. Assim,
consideramos que estas posições possuem um resultado médio estatisticamente igual, do
ponto de vista muscular, exigindo semelhantes graus de recrutamento muscular.
Média Pico
Frontal Dorsal Frontal Dorsal
Média 30,00 56,89 57,11 103,11
Mediana 25,5 47,5 47 75
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
364
Seguindo, vamos comparar os valores de Frontal versus Dorsal para o passo.
Concluímos que tanto para Média quanto Pico, existe diferença entre as posições que são
consideradas estatisticamente significantes. Desta forma, podemos dizer que na posição dorsal
temos sempre a maior média.
DISCUSSÃO
Com este estudo, temos duas comparações com fatores estáticos e dinâmicos em cada uma.
Primeiramente a postura ortostática foi analisada, observando-se então quanto estaria a
postura sentada sobre o cavalo parado, próximo ou não desta. Com os dados obtidos, vimos
que não houve estatística significância nestas comparações, sugerindo que o esforço muscular
necessário para a manutenção de ambas as posturas é semelhante.
Na aplicabilidade clínica este dado nos leva a crer que, nos casos em que a postura ortostática
não é possível de ser adotada, o cavalo beneficiará o trabalho de fortalecimento e controle
postural, uma vez que os músculos estudados são agonistas desta atividade e o recrutamento
muscular, de acordo com a coleta eletromiográfica, é correspondente ao se tratar de ativação
muscular.
Na Lei das Compensações, “para que nosso corpo fique em condições de equilíbrio, qualquer
desequilíbrio deverá ser compensado por um desequilíbrio inverso, de mesmo valor e no
mesmo plano”.1 Não há desequilíbrio segmentar sem compensação. Assim, a contração
reflexa ao desequilíbrio é o mecanismo fisiológico de proteção à queda.
Partindo do animal parado, e iniciando o seu deslocamento pela pata posterior direita, o
membro seguinte a se deslocar será a pata anterior esquerda. Assim, o sentido de aceleração
será sempre póstero-anterior.
REFERÊNCIAS
DOUGLAS, C.R. “Tratado de fisiologia aplicado à ciência da saúde” 4ª ed. São Paulo: Robe
Editorial, 1999
MEDEIROS, M., DIAS, E. “Equoterapia Bases & Fundamentos” Rio de Janeiro: Revinter, 2002
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
366
ANÁLISE ELETROMIOGRÁFICA DA INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE
MUSCULAR DE ERETORES LOMBARES NA LATERALIDADE DO
TRONCO DURANTE A EQUITAÇÃO TERAPÊUTICA
RESUMO
INTRODUÇÃO
O equilíbrio é uma reação inconsciente contra uma instabilidade, modulada pelo Sistema
nervoso central, onde os sistemas motores cerebelar, reticular e principalmente o vestibular
excitam os músculos apropriados para a manutenção do equilíbrio adequado (Guyton, 1996).
A cada passo do cavalo o centro de gravidade do paciente é defletido da linha média,
estimulando as reações de equilíbrio, o sistema vestibular é assim repetidamente solicitado
estimulando continuamente suas conexões entre os canais semicirculares onde, as células
ciliares e os otólitos captam as oscilações da endolinfa provocadas pelos movimentos da
cabeça através do cerebelo, tálamo, córtex cerebral, medula espinhal e nervos periféricos em
ambos os sentidos, ascendente e descendente (Ganança et al, 1999).
MÉTODO
Sujeitos
Fizeram parte deste estudo nove sujeitos, com idades entre 20 e 25 anos, sexo feminino, sem
alterações motoras. O critério de inclusão no estudo foi apresentar bom estado geral, sem
dores ou alterações posturais e não atletas, para que não houvesse algum tipo de interferência
nos resultados.
O estudo foi realizado em uma égua de 13 anos, sem raça definida, em um picadeiro de 20
X 60 metros, solo de areia.
368
MATERIAL
Para análise quantitativa dos resultados, foi utilizado aparelho de eletromiografia de superfície
da marca Miotec e software Myography® com 4 canais.
Para o estudo foi utilizada manta, tipo “galope”, sem alças ou estribos.
PROCEDIMENTO
Todas as posturas foram coletadas no mesmo dia, sendo que a ordem da coleta foi,
respectivamente: com o cavalo ao passo, no qual o indivíduo se encontrava montado em
postura lateral direita e esquerda, com manutenção de postura ereta exigida verbalmente
pelo avaliador, num percurso linear de 20 metros.
Durante este período os sujeitos se mantiveram por todo o tempo se sustentando sozinhos,
sem auxílio de qualquer terapeuta, porém ao lado havia dois terapeutas laterais para a
segurança dos pacientes e um condutor para o cavalo.
Para coleta dos dados, foi utilizado notebook conectado ao aparelho eletromiográfico, sobre
um suporte estável, porém móvel, que se manteve acompanhando lateralmente o cavalo
durante as coletas.
Para análise dos dados foi considerada a média do recrutamento muscular em cada tarefa.
O estudo foi baseado na análise dos dados obtidos no resultado da eletromiografia; a análise
estatística utilizada foi o Teste de Wilcoxon, qual possui nível de significância de 0,05 (5%).
RESULTADOS
D E D E
Média Pico
D E D E
Lateral D Lateral E Lateral D Lateral E Lateral D Lateral E Lateral D Lateral E
passo passo passo passo passo passo passo passo
Novamente, concluímos que não existe diferença média entre lateral D e lateral E que possa
ser considerada estatisticamente significativa.
Concluímos que existe diferença média estatisticamente significativa entre as posturas para
a posição lateral, não somente nos valores de pico como também nos valores de média, onde
inclusive, o pico de ativação lateral é de fato maior que o de frontal lento.
DISCUSSÃO
REFERÊNCIAS
Ganança M.M., Munhoz M.S.L. Equilibriometria Clínica. São Paulo: Atheneu; 1999.
Guyton e Hall. Tratado de fisiologia médica. 9a ed. São Paulo: Guanabara Koogan; 1997.
Stashak T.S. Claudicação em eqüinos segundo Adams. 4a ed. São Paulo: Roca; 1994.
Torriani C. et al. Estudo comparativo do equilibrio de pacientes com disfunção cerebelar e com
seqüelas de acidente vascular encefálico. São Paulo, 2005. 371
A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM DO CAVALO NA TERAPIA
INTRODUÇÃO
O cavalo é visto de formas diferentes, de acordo com a cultura em que está inserido, possuindo
significados variados, que vão desde “morte” até “vitória”. A imagem do animal vem também
aliada a algumas de suas características, como cor, gênero, estatura, entre outras.
Uma imagem previamente estabelecida pode vir cheia de medos, desconfianças e bloqueios,
impossibilitando um trabalho multidisciplinar, no qual a privacidade entre o praticante e o
cavalo se torna necessária.
METODOLOGIA
Sujeito
R.S. é um homem de meia idade, com deficiência cerebral, mas capaz cognitivamente, que
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
possui graduação universitária. Ele tem como característica predominante sua independência
nas atividades diárias.
Local
Esalq-Usp Projeto de Hipoterapia, localizado em Piracicaba - SP - Brasil.
Recursos Utilizados
Dois cavalos treinados para hipoterapia, um de cada sexo, um cobertor, um cabresto e uma
guia longa.
Procedimento
O praticante iniciou seu tratamento em março de 2005 e continua, atualmente, a participar
de sessões semanais de 30 minutos com estratégias previamente estabelecidas pela equipe.
Aproximação: essa fase foi muito rápida devido ao entendimento dos cidadãos sobre os
benefícios trazidos pelo uso do animal. Na primeira sessão, o cavaleiro deficiente já foi capaz
de montar, mas pediu que fosse seguido pelo terapeuta. O animal era observado a certa
distância pelo cavaleiro deficiente. Este não queria falar ou tocar o cavalo. O animal era um
macho.
Montaria Dupla: essa apenas apareceu no final da primeira sessão e no começo da segunda.
Durante essa fase, R. afirmou várias vezes que seu desejo era montar sozinho. O animal era
uma fêmea.
Na sexta sessão o cavalo foi trocado novamente, voltando o mesmo macho usado na sessão
de aproximação. Nesse momento, R. disse não confiar em tal cavalo, justificando que era
“grande demais” e “macho”. Ele disse que preferia montar a fêmea por que o novo cavalo
tinha movimentos mais fortes se comparado ao anterior. Durante as atividades desenvolvidas
com facilidade nas sessões anteriores, R. não conseguiu relaxar, apresentando contração
dos membros e segurando com força a alça do cobertor. Ele expressou-se dizendo “oh meu
Deus” durante a terapia.
Na sessão seguinte, a fêmea foi usada para verificar qual seria a reação do praticante quanto
ao retorno do animal. Ao ver o animal, de imediato reconheceu o cavalo, e disse estar com
saudade de casa. R. estava relaxado, realizou as atividades estabelecidas, falou o suficiente,
comportamento contrário ao que apresentou na sessão anterior. Antes de descer do animal,
A partir da oitava sessão passamos a usar o animal macho, uma vez que percebemos a
necessidade de o praticante desmitificar a imagem de macho mau e perigoso e fêmea
boazinha. Nessa sessão R. ainda demonstrou não gostar do animal, dizendo que era “uma
criança” e que o cavalo era “bravo”. Ao final dessa sessão, estratégias foram estabelecidas
para modificar a imagem do animal perante o cavaleiro deficiente. Atividades como falar
com o animal, pedir permissão para realizar as atividades enquanto montando, comandar e
se mostrar agradecido, tudo para que se estabelecessem laços entre ele e o animal.
RESULTADOS
No início da terapia, percebeu-se um grande medo do animal macho por parte do praticante,
que não foi observado quando próximo ao animal fêmea. Foram criadas atividades para
estabelecer laços entre os animais e o praticante, na tentativa de remover a imagem de macho
malvado.
CONCLUSÃO
Pelos comentários pode ser vista a imagem do cavalo que é trazida pelo deficiente e com essa
informação se pode trabalhar para produzir as condições necessárias para um melhor
desenvolvimento da hipoterapia.
REFERÊNCIAS
CHEVALIER, J. and GHEERBRANT, A. Dictionary of the Symbols. R.J. José Olímpio, 1997.
374
ANÁLISE COMPARATIVA DE POSTURA EM TERRA E NA
EQUITAÇÃO DE UM PACIENTE COM PARALISIA CEREBRAL
INTRODUÇÃO
Os primeiros relatos de paralisia cerebral foram descritos em 1843 por William John Little,
um cirurgião inglês, que a definiu como uma patologia ligada a diferentes causas e
características, principalmente por rigidez muscular. O autor caracterizava como uma lesão
que paralisava crianças no primeiro ano de vida, causando enrijecimento e espasticidade
muscular em suas pernas e em menor nível nos braços. Essa doença foi caracterizada por
vários anos como Doença de Little, e atualmente é conhecida como paralisia cerebral a
diplegia espástica. Little sugeriu que crianças que nasciam após um parto complicado e
tendo como resultado a falta de oxigênio tinham prejudicados os tecidos sensíveis do cérebro
responsáveis pelo controle do movimento (Diament, Cypel, 1996, NINDS, 1997, Rotta, 2002). 375
“A paralisia cerebral é uma alteração da postura e do movimento, permanente mas não
imutável, resultante de uma desordem no cérebro, não progressiva, devido a fatores
hereditários, eventos ocorridos durante a gravidez, parto, período neonatal ou durantes ou
dois primeiros anos de vida” (Bobath, 1997).
A criança com paralisia cerebral apresenta como principal o distúrbio motor, que por muitas
vezes leva à dificuldade na marcha por diversos fatores, entre eles a falta de controle do
tronco e desequilíbrio tônico.
Permitir àquele que está a cavalo com fins terapêuticos viver por toda parte em melhores
condições neuromotoras, descobrir o prazer, relacionar-se com o outro, ganhar autonomia e
independência cada vez maiores, compatíveis com sua deficiência, tais são as possibilidades
que lhe oferece a terapia eqüestre (Lallery, 1988).
Potenciais elétricos do músculo podem ser detectados por meio de eletrodos de superfície no
tecido muscular, que correspondem ao sinal eletromiográfico detectado no monitor
(Basmajian, 1963; Basmajian, 1975; Smith et al, 1997; Binder-Macleod, 2001; Low e Reed, 2001).
Os eletrodos são colocados sob a pele, captando a soma da atividade elétrica de todas as
fibras musculares ativas. Caracteriza-se por ser um método não invasivo e de fácil execução,
sendo largamente utilizado em áreas como o estudo cinesiológico e neurofisiológico dos
376
músculos superficiais.
MÉTODOS
Sujeitos
Participaram da coleta uma égua, sem raça definida; e uma paciente portadora de paralisia
cerebral do tipo tetraparesia distônica, do sexo feminino, com 8 anos de idade, atendida
previamente pela equitação terapêutica. A paciente não apresentava nenhuma restrição
para a montaria, como no caso de instabilidade atlanto-axial ou luxação de quadril. O
ambiente no que foi realizada a coleta era um picadeiro retangular aberto, com a pista
totalmente coberta por areia fofa, onde, durante o tempo de coleta, o ambiente não impedia
o movimento do cavalo.
Procedimentos
Foram realizados assepsia da pele com algodão embebido em álcool a 58%, colocação na
região do ponto motor do músculo eretor lombar, dos eletrodos circulares pré-geldados de
cloreto de prata da marca MedTrace® e captação do sinal mioelétrico com o aparelho de
eletromiografia de superfície de 4 canais da marca Miotec®.
O estudo foi baseado na análise dos dados obtidos do resultado da eletromiografia, sem
análise estatística por se tratar do estudo de um caso, além do fato de o objetivo do trabalho
ser analisar comparativamente o músculo eretor lombar nas diferentes posturas sobre o
cavalo em apenas um paciente. As posturas coletadas do paciente sobre o cavalo foram
respectivamente: sentado no banco sem o apoio de pés no chão, com o cavalo estático e em
movimento (passo) com o paciente de frente para o cavalo.
377
DISCUSSÃO
A finalidade preliminar da terapia dos pacientes com PC é de manter a postura ereta estática,
que é a base para outras atividades motoras mais complexas. A equitação terapêutica utiliza
o contrapeso do corpo, junto com a variedade de balanços, como as estimulações aplicadas
na pelve e ao corpo inteiro, desenvolve melhores reações do equilíbrio, melhora o controle
postural do tronco, ativa articulações da pelve e do quadril, resultando em uma melhor
adequação tônica (Bertoti, 1988).
Segundo Medeiros e Dias (2002) na marcha, o ser humano se locomove utilizando as suas
pernas alternadamente. Enquanto uma perna estiver na fase de sustentação, a outra se
encontra na sustentação dupla ou na fase de impulsão. O peso corpóreo desloca-se durante
a marcha para adiante (anteriormente) pelo deslocamento do centro de gravidade e, para
não cairmos, ocorre o passo, reconstruindo o equilíbrio. O tronco gira em torno do seu eixo
vertical, a cintura escapular e a da pelve se contrapõem, dissociando-se. Durante o ciclo da
marcha ocorre um deslocamento de peso de um lado para o outro, que corresponde no
adulto a aproximadamente 0,5 cm.
Kandel; Schwartz e Jessel (1997) abordam o fato de que os sistemas sensoriais fornecem
uma representação interna do mundo exterior, e uma das principais funções dessa
representação é guiar os movimentos que compõem nosso repertório comportamental. Esses
movimentos são controlados pelos sistemas motores do encéfalo e da medula espinal, o que
nos permite manter o equilíbrio e a postura, mover nosso corpo, nossos membros e olhos.
Kugler (1980), em seu livro Rudolf Steiner und die Anthroposophie, aborda a semelhança entre
o cavalo e o homem, recomendando o uso do animal para o equilíbrio da mente. O autor
O calor externo do cavalo é igual ao calor interno do ser humano, sendo este o único mamífero
que transpira no corpo todo, assim como o homem. Desta maneira o autor afirma que, pelo
seu tamanho e aspecto físico, o cavalo realmente induz o homem a se sentir potente, ao
mesmo tempo que é abrigado e aconchegado. Assim, quando o cavalo carrega o ser humano
em seu dorso, simula o embalo da pelve humana, transmitindo as sensações recebidas na
vida intra-uterina.
Wickert (1999) apresenta em seu estudo motivos históricos, psicológicos e físicos para o uso
do cavalo como terapia. Históricos, pois o cavalo vem acompanhando o homem em toda a
sua evolução e o tem carregado sobre o dorso na formação histórica de quase todos os países;
psicológicos, pois a sensação de força está ligada ao cavalo, pois o homem conquistou e
dominou seus adversários sobre o dorso deste; e físicos, pois o movimento tridimensional e
multidirecional realiza deslocamentos em várias direções, tornando a equitação terapêutica
diferente de qualquer outro método de reabilitação física e mental.
Portanto a equitação terapêutica se mostra neste caso um ótimo recurso terapêutico ao tratar
de posturas, tendo em vista que o movimento tridimensional provocado nas oscilações do
cavalo provoca desequilíbrios que desencadeiam uma série de contrações musculares reflexas,
em especial do músculo eretor lombar, que em conjunto a outros músculos mantém o
indivíduo sobre o dorso do cavalo.
No caso deste paciente, além do benefício ao sistema sensorial que o cavalo o transmite, o
indivíduo ainda se beneficia na parte motora, porque trabalho na postura sentado ao passo
pode fortalecer músculos extensores de tronco, comparado ao cavalo parado ou ao solo,
tendo em vista que ao passo é a postura que mais recruta fibras musculares para a estabilização
de tronco, havendo ainda estimulação do movimento tridimensional do cavalo, de maneira
simétrica, reproduzindo desta forma as oscilações do quadril durante a marcha humana. Se
em outro caso, o objetivo for fortalecer outros grupos musculares, torna-se interessante realizar
um estudo eletromio gráfico, obtendo-se assim, subsídios para avaliação da postura adequada,
visando ao objetivo terapêutico mais individualizado para cada caso abordado, embasando
melhor a conduta de atendimento dentro da equitação terapêutica.
REFERÊNCIAS
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
AICARDI, J. & BAX, M. Cerebral palsy. In: AICARDI, J. Diseases of the nervous system in childhood.
Clinic in developmental medicine. London: Mac Keith Press, 1992, p. 330-374.
ANDREWS, J.R.; HARRELSON, G.L.; WILK, K.E. Reabilitação física das lesões desportivas. 2°
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
BASMAJIAN, J.V. Control and training of individual motor units. Science, n.141, p.440-441,
1963.
BASMAJIAN, J.V.; et al. Biofedback treatment of foot – drop after stroke compared with standard
rehabilitation technique: effect on voluntary control and strength. Arch Phys Med Rehabil, n. 56,
p. 231-236, june 1975.
BERTOTI, D.B Effect of therapeutic horse riding on posture in children with cerebral palsy. Phys
Ther 1988, 68: 1505-12.
380
BINDER- MACLEOD, S.A. Biofedback eletromiográfico para melhorar o controle motor voluntário.
In ROBINSON, A.J.; SNYDER-MACKLER, L. Eletrofisiologia clínica-eletroterapia e teste
eletrofisiológico. Porto alegre: Art Med, 2001.
BOBATH, Centro. XXVI curso Bobath, método de tratamento neuroevolutivo (Apostila). São
Paulo, 1997.
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GUSMAN, S.; TORRE, C. Paralisia cerebral, aspectos práticos: fisioterapia na paralisia cerebral.
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WALTER, G. B.; VENDRAMINI, O. M. Equoterapia: terapia com o uso do cavalo. Minas Gerais:
CPT/CEE-UFV, 2000. (Manual).
381
GESTALT-TERAPIA E EQUOTERAPIA:
UMA RELAÇÃO AMIGÁVEL
INTRODUÇÃO
O meu interesse pela equoterapia resulta da proximidade que sempre tive com cavalos e por
acreditar nos benefícios que esse animal pode proporcionar ao ser humano nas mais diversas
áreas, inclusive nos aspectos psicológicos.
OBJETIVO
JUSTIFICATIVA
Como este tipo de terapia abrange diferentes áreas de conhecimentos, bons resultados só
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
METODOLOGIA
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
RIBEIRO, J. P. O ciclo do contato: temas básicos na abordagem gestáltica. 2 ed. São Paulo:
Summus, 1997.
RODRIGUES, H.E. Introdução à Gestalt-terapia: conversando sobre os fundamentos da
abordagem gestáltica. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
YONTEF, G. M. Processo, Diálogo e Awareness: ensaios em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus,
1998. 383
A INFLUÊNCIA DA EQUOTERAPIA NA FORÇA DOS MÚSCULOS
INSPIRATÓRIOS EM PRATICANTE COM SÍNDROME DE DOWN
– ESTUDO DE CASO
RESUMO
ABSTRACT
The present article refers to the study of the inhaling muscular strength of a bearer of Down
Syndrome, that realizes Hippotherapy. The Down Syndrome is the genetic syndrome most
known. Its cause is due to the excess of genetic material originating from the chromosome
21. One of the main clinic characteristics of the bearers of Down Syndrome is the generalized
muscular hypotonia. As a consequence of his posture and of the muscular hypotonia that
also affects the respiratory system, the Down presents an accumulation of secretion which
prejudices him for respiratory problems. The predisposition for hypoventilation is necessarily
linked to the hypotonia. The muscular tonus and the posture interfere in the respiratory
function. As the Hippotherapy benefits the regulation of the muscular tonus, adaptation of
384
the posture and muscular strength stimulation, the practitioner with Down Syndrome can
benefit having a better performance regarding his respiratory function, while his trunk
musculature and respiratory musculature are stimulated on the horse. With the respiratory
musculature and the posture more adequate one can prevent respiratory complications,
improving the life quality of these individuals. The study was carried out with a bearer of
Down Syndrome, being evaluated his muscular strength in the beginning and in the end of
the hippotherapeutic treatment, in which were analysed values of inhaling pressure (Ip)
and maxim inhaling pressure (Max Ip) obtained through the manuvacuummetry with the
aim of demonstrating the influence of the Hippotherapy in the inhaling musculature of the
Down. One obtained as a result an improvement of the strength of the inhaling muscles,
happening an increase of the inhaling pressure and max inhaling pressure values, after the
applied hippotherapeutic treatment.
INTRODUÇÃO
A equoterapia é indicada aos portadores de síndrome de Down, porém deve-se ficar atento
em relação à frouxidão ligamentar e à instabilidade articular, principalmente na articulação
atlanto-axial. É necessário o laudo do exame de Raio-x da coluna cervical em hiperflexão e
hiperextensão, para iniciar-se o atendimento equoterápico (LOPES, 2002).
As medidas das pressões respiratórias máximas são úteis para a avaliação funcional dos
músculos respiratórios. O ato de tossir também depende dos valores das pressões respiratórias
máximas, pois quando se tem uma musculatura respiratória fraca, torna-se difícil a eliminação
de secreções, o que pode levar a complicações pulmonares (FERREIRA, 1999).
Este estudo teve como objetivo analisar se a equoterapia proporciona melhora na força dos
músculos inspiratórios do praticante com síndrome de Down.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
MATERIAL E MÉTODO
Para a realização da pesquisa foi estudado 1 (um) praticante com síndrome de Down, do
sexo masculino, com 29 anos de idade, que realizou sessões de equoterapia uma vez por
semana, com duração de trinta minutos cada, durante 2 meses, totalizando 8 sessões, na
Fundação Ecumênica de Proteção ao Excepcional – Complexo Educacional Juril Carnasciali.
As sessões de equoterapia foram realizadas com montarias e exercícios diversos, enfatizando-
se a adequação do tônus muscular, melhora da postura e ganho de força em musculatura de
tronco. Como esse praticante tem condições de exercer alguma atuação sobre o animal e
conduzí-lo, dependendo em menor grau do auxiliar-guia e do auxiliar-lateral, foram
realizados alguns exercícios em que o praticante guiou o cavalo ao passo, desenvolvendo
também sua auto-estima e autoconfiança. Também foi proposta a atividade de escovação e
encilhamento do animal.
386
Para a avaliação da força dos músculos inspiratórios foi utilizado o aparelho
manovacuômetro, no qual foram obtidos os valores de pressão inspiratória (Pi) e pressão
inspiratória máxima (Pi Máx), valores esses que se referem à força da principal musculatura
respiratória (diafragma). Essa avaliação foi realizada no início do tratamento e após os dois
meses, no término da pesquisa. As avaliações foram realizadas na Clínica de Fisioterapia da
Universidade Tuiuti do Paraná, com a colaboração do fisioterapeuta Dr. Marcelo Márcio
Xavier. Durante o tempo de realização da pesquisa o praticante realizou somente a
equoterapia.
3 RESULTADOS
387
DISCUSSÃO
A partir dos dados obtidos, pode-se observar uma melhora na força da musculatura
inspiratória do praticante estudado, benefício este devido à atuação da equoterapia. Não foi
encontrada outra pesquisa científica sobre a atuação da equoterapia nos músculos
inspiratórios de praticante com síndrome de Down.
No Down, fatores como obesidade, hipotonia, abdome globoso e hiperlordose acabam gerando
dificuldade na movimentação, distúrbio de lateralidade, esquema corporal, alterações na
retificação, entre outros; somado a isso, atraso no desenvolvimento psicomotor, causando
assim, posturas anormais como escoliose e cifose e função respiratória também prejudicada.
A equoterapia apresenta-se como um método bastante eficaz ao praticante com síndrome
de Down, pois trabalha o corpo de forma global, oferecendo diversos estímulos e informações
para o seu melhor desenvolvimento biopsicossocial.
CONCLUSÃO
Conclui-se que a equoterapia mostrou-se eficiente para a melhora da força dos músculos
inspiratórios do praticante com síndrome de Down. Após o tratamento equoterápico, o
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
REFERÊNCIAS
388
FLINKERBUSCH, Ana E. Fisioterapia preventiva nas alterações respiratórias em crianças
portadoras da Síndrome de Down, institucionalizadas no Município de Curitiba. 1992. 65 pág.
Trabalho de conclusão de curso (conclusão do curso de fisioterapia) – Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, Curitiba, 1992.
RATLIFFE, Katherine T. Fisioterapia Clínica Pediátrica. 1 ed. São Paulo: Santos, 2000.
389
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DO FONOAUDIÓLOGO
COM CRIANÇAS PORTADORAS DE PARALISIA
CEREBRAL NA EQUOTERAPIA
OBJETIVO
INTRODUÇÃO
Os movimentos do corpo humano ocorrem dentro de três planos: sagital (flexão e extensão),
frontal (adução, abdução e inclinação lateral) e transverso (rotações). Pela ação sinérgica
baseada na contração excêntrica dos músculos, dá-se propriocepção para possibilitar uma
ação dissociada da cintura escapular, tronco, cintura pélvica e região oral, Bly (1994). Estes
seguem uma hierarquia, à qual correspondem as etapas do desenvolvimento motor, sendo o
plano transverso o mais aprimorado.
*: anpneves@hotmail.com.br
390 *: rene.garrigue@wanadoo.fr; (: 55 81 34 12 17 39
Temos na equoterapia o uso do cavalo - um corpo cilíndrico de reações – com movimentos
tridimensionais, onde o manuseio será dinâmico através do movimento, promovendo um
uso ativo da musculatura, desenvolvendo o funcionamento bem coordenado oromotor,
respiratório e fonoarticulatório. Neves (2000, 2002).
A UTILIZAÇÃO NA EQUOTERAPIA
391
Vejamos este esquema da função segundo Brodie, modificado por Castillo Morales (1999):
O fonoaudiólogo tem como objetivo principal adequar posturas e movimentos que gerarão
funções mais próximas da normalidade. No manuseio do praticante são utilisadas técnicas
similares às usadas por outros profissionais (FISIO, TO) porém com o objetivo especifico de
adequar as alterações funcionais do SSMO. Existem duas maneiras de abordar o paciente: a
abordagem indireta que consiste dos beneficios proporcionados pelo movimento do cavalo e
a abordagem direta que consiste na atuação direta no praticante (os manuseios e estimulações
corporais gerais e no complexo orofacial) Neves (2000, 2002)
REFERÊNCIAS
Bobath Center – Notes to accompany the 8th Basic Course in Cerebral Palsy, 1997. Traduzido
para o curso Bobath, 2000. Brasil
392
Bly, L. – Motor skills acquisition in the first year: An illustrated guide to normal development.
San Antonio, TX: Therapy Skill Builders, 1994. USA
Bly, L. – Curso Teórico-Prático Biomecânica e NTD Course. Apostila Autora, Recife – PE,
2000. Brasil
Morales, Rodolfo Castillo e Col. – Terapia de regulação orofacial: Conceito RCM. São Paulo,
Memnon, 1999. Brasil
393
PROGRESSÃO TERAPÊUTICA EM CASO
DE MIELOMENINGOCELE
INTRODUÇÃO
Com relação a aspectos físicos, a equoterapia “tem como objetivo auxiliar na aquisição e
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Além disso, com a da imagem do cavalo pode-se alcançar benefícios relacionados à auto-
estima e autoconfiança. Fato justificado por Chevalier e Gheerbrant ao afirmarem que o
cavalo é uma figura representante de beleza e potencialidade, elevando o indivíduo a
sentimentos de glória, triunfo e domínio.
Ao se deparar com a imagem de um animal de grande porte, esta criança pode se ver numa
situação de risco e a princípio rejeitar a possibilidade de iniciar um vínculo ou uma “amizade”
com ele.
Este caso teve início em fevereiro de 2003 e paciente continua no tratamento equoterápico
até os presentes dias.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é demonstrar como a equoterapia pode eliminar o medo, aumentar
a auto-estima e autoconfiança do indivíduo em questão através do estabelecimento de um
vínculo entre a praticante e o cavalo, à medida que cria confiança no mesmo e nas terapeutas,
visando a mais independência e melhores relacionamentos interpessoais da praticante, por
meio de melhor comunicação e linguagem.
Sujeito
Uma criança do sexo feminino, com seis anos de idade, portadora de mielomeningocele
associado à hidrocefalia.
Local
Projeto Equoterapia Esalq-Usp, situado na cidade de Piracicaba-SP.
Recursos Utilizados
Um cavalo preparado para o desenvolvimento da equoterapia, uma manta, uma sela
adaptada, uma cabeçada, um cabresto, uma guia longa, bolas pequenas e uma cesta com
frutas.
395
Procedimento
A praticante iniciou seu tratamento em fevereiro de 2003 e continua até os dias atuais
participando de sessões semanais de trinta minutos, com a utilização de estratégias
previamente estipuladas pelas terapeutas responsáveis em cada fase de progressão. O processo
foi dividido nas seguintes etapas:
Aproximação
Essa é a fase do início do estabelecimento do vínculo entre a praticante e o cavalo; foi uma
fase difícil para a praticante devido a ela apresentar medo pelo animal. Para que fosse iniciado
um vínculo entre a praticante e o animal, a terapeuta lhe apresentou o cavalo. Já de início
ela não quis tocá-lo, não chegava perto e dificilmente o olhava, nem mesmo para apontar as
partes do corpo do animal que eram nomeadas pela terapeuta. Apesar disso, ao ser
questionada, respondia que queria montar na próxima vez.
Montaria dupla
No segundo dia a praticante aceitou montar juntamente com a terapeuta, mesmo
apresentando medo. Por isso o trabalho de estabelecimento de vínculo entre a praticante e o
cavalo ainda deveria continuar nessa fase de montaria dupla. O material utilizado no animal
foi a manta, pois o contato com o animal seria mais intenso, além de neste caso, ser o material
considerado ideal para este tipo de montaria.
Pelo fato de a criança gostar de esmaltes de unha, a terapeuta então sugeriu trazê-los e
pintar as unhas da praticante e também o casco do cavalo. Imediatamente a praticante
concordou com entusiasmo e assim o fizeram na próxima sessão, deixando - a satisfeita e
aceitando tirar o sapato sempre que necessário em cima de seu novo “amigo”. Esse fato foi
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
de extrema importância para que fosse possível observar uma considerável redução do medo
da praticante pelo cavalo.
Vencida esta etapa, o objetivo foi garantir que a praticante permanecesse sozinha em cima
do animal. Para tanto a terapeuta foi diminuindo gradualmente seu tempo de montaria
dupla, sempre com a justificativa de melhorar a brincadeira que estava sendo executada.
Foi facilitadora desta etapa a sugestão da praticante de brincar de esconde-esconde com a
terapeuta, pois a mesma precisava desmontar o cavalo para “se esconder”. No início a
praticante parecia indecisa, mas depois acabou aceitando que a terapeuta descesse do animal,
dando continuidade à brincadeira. Portanto, de trinta minutos de montaria dupla, passou
para vinte e cinco minutos e assim por diante, até a permanência total de apenas a praticante
em montaria. Desta forma pode-se também iniciar uma fase de trabalho fisioterápico visando
a estimular o equilíbrio, pois montando sozinha a praticante necessita ajustar-se para buscar
seu equilíbrio sentando-se em uma superfície instável. Essa etapa teve a duração de
aproximadamente vinte sessões.
396
Montaria Individual
Embora o vínculo da criança com o animal já estivesse estabelecido, a mesma necessitava de
motivos prazerosos para permanecer em montaria individual, pois algumas de suas atitudes
ainda demonstravam medo. Para encilhar o cavalo, iniciou-se então o uso da cela adaptada,
que poderia lhe oferecer mais independência.
Assim foram utilizados procedimentos como guiar o cavalo em ziguezague, encontrar, pegar
e nomear frutas espalhadas pelo picadeiro, estimulando desse modo seus membros superiores,
impedindo que a praticante segurasse a alça da cela. Todo momento oportuno a praticante
recebia incentivos e elogios e era constantemente lembrada de acariciar seu “companheiro”
de terapia, e o cavalo era parado toda vez que a praticante demonstrasse medo. Nessas
horas era mostrado a ela que o animal não lhe faria mal e que sempre que quisesse era apenas
dizer para pará-lo, pois ela seria logo atendida, sem precisar ficar com medo.
Após seis meses utilizando esse recurso, as terapeutas voltaram à técnica tradicional, ou
seja, o guia à frente, para se trabalhar aspectos como comunicação, linguagem, manutenção
da independência, socialização e aspectos emocionais através de brincadeiras de faz de
conta como casinha, compras e restaurante. Nessas brincadeiras foi possível observar a
resistência que a praticante apresentava em tomar sucos, por isso, no faz-de-conta, quando
se brincava que todos estavam em um restaurante, a praticante pedia refrigerante e os demais
suco, que sempre ofereciam a ela, até que um dia por imitação de uma das terapeutas resolveu
aceitar. Com isso, as terapeutas orientaram a mãe da criança que trouxesse suco na próxima
sessão, com o objetivo de incentivá-la a beber sucos em sua vida diária. Assim, após a
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No decorrer das sessões foi possível observar que a praticante conseguiu vencer seu medo a
partir do momento que conseguiu montar no cavalo, principalmente após a fase de montaria
dupla, podendo-se observar um considerável aumento de sua auto-estima e confiança. Ou
seja, no início seu comportamento era de esquiva em relação ao animal: não olhava para ele
e não o acariciava. Atualmente encontra-se em montaria individual.
“Ter controle sobre um animal muito maior e mais forte do que o praticante faz com que a
autoconfiança se processe, o que se torna algo grandioso para ele. Pela execução de pequenas 397
tarefas com habilidades mais avançadas, a confiança passa a ser adquirida gradualmente.”
(Lermontov, p.97, 2004).
Sua independência ficou visível, pois no início não dava suas opiniões, mostrando-se sempre
introvertida; com o passar do tempo conseguiu demonstrar suas vontades e oferecer sugestões
de brincadeiras. No que diz respeito às relações interpessoais, houve significativa melhora
de sua comunicação e linguagem trabalhadas a todo o momento, desde o simples
“bate- papo” até as brincadeiras lúdicas e de faz-de-conta que conseguiram fazer com que a
praticante levasse suas conquistas para as suas atividades de vida diária, como alimentação
e relacionamentos interpessoais.
Para mostrar a condição do indivíduo com relação à sua comunicação no início de seu
tratamento equoterápico e depois de iniciá-lo, foi utilizada a técnica fonoaudiológica de
observação direta, registrada nos prontuários, sendo que para a avaliação da praticante foi
desenvolvida uma Escala de Avaliação fonoaudiológica na qual foram observados e
pontuados os seguintes itens, como mostra a tabela abaixo:
A - Intenção comunicativa
1 Nunca
2 Às vezes
3 Sempre
C - Expressão oral
1 Vocábulos isolados
2 Frases aleatórias
3 Frases justapostas
D - Aspectos fonológicos
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Praticante: T.S.C
Avaliação Inicial: Fev. 03
Avaliação Final: Out. 04
Durante todo o processo terapêutico, foi possível observar o quanto a equoterapia contribuiu
para o bem-estar e avanço no desenvolvimento da praticante, visto que todo o trabalho foi
desenvolvido com embasamento em atividades lúdicas e próximas às cotidianas, buscando
que a praticante generalizasse seu “aprendizado terapêutico” para sua vida.
Além disso, o trabalho do fisioterapeuta no caso relatado foi facilitado pelo psicólogo, visto
que seria impossível estimular o equilíbrio e trabalhar atividades com os membros superiores
livres levando em consideração a insegurança apresentada pela praticante.
Foi possível observar que a equoterapia como uma terapia complementar é benéfica no caso
de um indivíduo incapaz de locomover membros inferiores, não somente dessa patologia
como também de outras parecidas, pois as estratégias utilizadas podem ser iguais ou
semelhantes, mas o objetivo acaba se tornando o mesmo, ou seja, melhorar a qualidade de
vida em vários aspectos, como psicológico, físico e fonoaudiológico do indivíduo.
REFERÊNCIAS
399
MELHORA OBJETIVA DE CIFOSE-ESCOLIOSE EM UM PACIENTE
COM PARALISIA CEREBRAL EM TRATAMENTO DE TERAPIA
EQÜINA COM SEIS MESES DE DURAÇÃO
OBJETIVO
METODOLOGIA
• Até 2005 uma melhora radical no que se refere aos controles posturais é demonstrada
quando sentando, através da caminhada assistida e nos hábitos da postura da cabeça
400 e do torso superior (raios-x frontais e de perfil sentado de 2005).
Nota: Avaliação e relatório médico da Dra. Beatriz Sánchez
Melhora subjetiva é observada em 6 meses de tratamento, enquanto a objetiva é controlada
por raios-x.
Cavalgamos por lugares onde árvores, patos, água e cisnes a ajudavam na sua estimulação.
Neste caso nós trabalhamos com cores diferentes para fazer o cavalo virar à esquerda ou à
direita. Escolhemos vermelho e amarelo por serem cores mais fáceis para a paciente. No
segundo nível, trabalhamos com um cavalo chamado Gringo. Ele tem um ótimo
comportamento e tem experiência nesse trabalho.
Em ambos os casos nós usamos os dois cavalos para ajudá-la com sua adaptação e mudanças.
Sua mãe estava presente, mas nem sempre trabalhava com ela. Quando solicitado a ela que
participasse, ela concordava; cavalgaram juntas várias vezes.
OBJETIVO
ESTUDO DE CASO
INTRODUÇÃO
A paralisia cerebral pode ser definida como uma lesão persistente, porém não-progressiva,
de caráter sensório-motor, causada por uma lesão no cérebro desde a vida fetal até a infância,
de etiologia variada (FISCHINGER, 1984; BROWER E ASHBY, 1991). Para ser classificada
como paralisia cerebral, a lesão deve ocorrer até os três primeiros anos de vida, época em
que termina a mielinização dos neurônios motores (DIAMENTE E CYPEL, 1996). Por ser de
caráter sensório-motor, afeta de maneira não uniforme a postura, tônus e movimento,
predominantemente sobre as possíveis seqüelas cognitivas (EDWARDS, 1999).
Segundo Styer-Acevedo (2002) a PC não deve ser considerada uma doença, mas uma
categoria de deficiências que abrange pacientes com distúrbios crônicos não-progressivos de
movimento ou postura com início precoce. O termo PC não é totalmente satisfatório, pois
paralisia não é o que se observa na maioria dos pacientes, que mais comumente apresentam
paresia ou exibem outros tipos de distúrbios. Além disso, o termo cerebral sugere o
acometimento apenas dos hemisférios cerebrais, mas as lesões responsáveis também podem
acometer a região mesodiencefálica, tronco cerebral e/ou cerebelo (FURLANI, 2004). Desta
forma, uma denominação mais atual é encefalopatia vrônica não-progressiva (ECNP).
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Fazendo-se uma relação entre a linguagem e o sistema postural, vê-se que no início do
desenvolvimento da criança o sistema vestibular é revestido de grande importância em tal
integração, considerando-se que as primeiras conexões ativas com o meio exterior são
realizadas logo a partir do controle de cabeça (LIMONGI, 1998).
A produção dos sons está relacionada à maturação do sistema miofuncional oral e às funções
neurovegetativas (respiração, sucção, mastigação e deglutição). A articulação é uma função
da comunicação que envolve aspectos lingüísticos, motores, orgânicos, cognitivos e ambientais
(WERTZNER, 1999).
São inúmeros os fatores que contribuem para a extensa variabilidade e complexidade dos
distúrbios da comunicação na Paralisia Cerebral (LIMONGI, 2003). Há relação entre as
alterações sensoriomotoras encontradas nas crianças paralíticas cerebrais e a necessidade
deste sistema íntegro para um adequado desenvolvimento cognitivo e de linguagem.
403
(LIMONGI, 2000). Os diferentes processos cognitivos, tais como a percepção visual, memória,
atenção, dependem de processo de significação com estrutura e funcionamento modificados
pela linguagem na relação com o interlocutor, ou seja, o terapeuta, e com o recurso terapêutico
do cavalo tanto no aspecto afetivo, na atividade simbólica e pelo movimento tridimensional.
OBJETIVO
MATERIAIS E MÉTODOS
Sujeito: O estudo relata o caso da paciente, G.M.C., de seis anos, sexo feminino, portadora
de ECNP do tipo quadriplégica espástica com maior predomínio à direita, decorrente de
lesão encefálica após cirurgia cardíaca para correção de transposição de grandes válvulas,
aos 34 dias de vida.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quadro 01. Dados obtidos por meio da escala PEDI referente à pontuação das habilidades
funcionais pré-intervenção.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Quadro 02. Dados obtidos por meio da escala PEDI referente à pontuação das habilidades
funcionais pós-intervenção.
Tabela 01. Avaliação da função motora grossa por meio da Escala GMFM antes e após a 10ª
sessão de equoterapia.
PRÉ PÓS
Dimensão A (%) 51 51
Dimensão B (%) 48 56
Dimensão C (%) 29 29
Dimensão D (%) 11 11
(PRÉ) Antes da intervenção; (PÓS) Imediatamente após a 10ª intervenção.
C - Expressão oral
1 Vocábulos isolados
2 Frases aleatórias
3 Frases justapostas 405
D - Aspectos fonológicos
1 Trocas articulatórias sistemáticas
2 Trocas articulatórias assistemática
3 Sem trocas articulatórias
Praticante: G.M.C
Avaliação Inicial: Fev. 04
Avaliação Final: Dez. 04
CONCLUSÃO
1999).
Os resultados obtidos neste estudo mostraram que a equoterapia pode ser um método
terapêutico coadjuvante no tratamento de portadores de ECNP, favorecendo o
desenvolvimento da linguagem e sua funcionalidade social comprovados quantitativamente
com a melhora na pontuação obtida pelo PEDI. Por meio do GMFM, constatou-se melhoria
na pontuação da postura sentada, influenciando o endireitamento de tronco, postura neutra
de cabeça e horizontalidade do olhar, favorecendo maior conhecimento do mundo e
melhorando a interação com os interlocutores, e qualitativamente por meio da escala de
avaliação fonoaudiológica elaborada para análise dos aspectos fonoaudiológicos para
interação, aspectos fonológicos e expressões verbais e não-verbais.
406
REFERÊNCIAS
FISCHINGER, B.S., Considerações sobre a paralisia cerebral. São Paulo: Panamed, 1984.
p. 13-53;107-153
CITERIO, D.N. II cavallo come strumento nella rieducazione del disturbi neuromotori. Milão,
Editrice U. Murcia,1998.120 p.
SANTOS, F.P.R. Equoterapia: uma perspectiva para o desenvolvimento da linguagem. São Paulo:
CEFAC (monografia), 1999
407
A EQUOTERAPIA MOSTRANDO RESULTADOS
EM PACIENTES COM SÍNDROME
DE WILLIAMS E SÍNDRONE DE SMITH-LEMLI-OPITZ
APAE-BATATAIS SP
anabassoli@zipmail.com.br/paulapejo@hotmail.com/
andresa.lopes@hotmail.com.br/ lrossog@yahoo.com/tete@com4.com.br/
lenacaran@com4.com.br
INTRODUÇÃO
Emprega o cavalo como agente promotor de ganhos fisicos, e psíquicos. Esta atividade exige
a participação do corpo inteiro, contribuindo assim para o desenvolvimento da força
muscular, relaxamento, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamento da coordenação
motora e do equilíbrio.
Tendo em vista todos esses beneficios, escolhemos a equoterapia para dar qualidade de vida
ao grupo escolhido.
408
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram selecionados dois grupos de pacientes em equoterapia há um ano , três pacientes com
SW , cuja a avaliação por FISH demonstrou microdelação 7q11.23; dois com SLO, com
dosagem de 7-dehidrocolesterol elevadas.
Devido ao que foi constatado nas avaliações iniciais, estabeleceram-se os seguintes planos
de trabalho:
FASE DE APROXIMAÇÃO
• aproximação entre praticante e cavalo
• eliminação de medos, indiferença, medo do desconhecido
ATIVIDADES
• aproximação - levar a conhecer o cavalo
• aprender a identificar as partes do corpo do animal
• conhecer as necessidades básicas do animal (alimentação,limpeza e cuidados, etc.)
FASE DE DESCOBERTA
• explorar a anatomia do animal
• explorar o solo por meio dos sentidos (pode ser com o animal parado)
ATIVIDADES
• identificar partes do corpo do animal
• conhecer o equipamento utilizado
• montar e desmontar
• exercícios relativos à postura (posicionamento de tronco, identificando as partes do
corpo humano).
FASE EDUCATIVA
O praticante toma consciência de que o cavalo não é apenas um objeto, e sim um ser com
sensibilidade e reações.
409
O cavalo terá andadura ao passo, para oferecer o máximo de informações sensitivas e
psicomotoras.
ATIVIDADES
FASE DE RUPTURA
• acompanhamento até a baia
• retirada de arreamento
• alimentação animal
• acariciamento
RESULTADOS
PACIENTE 1 - 06 ANOS ( SW )
PACIENTE 2 - 11 ANOS ( SW )
Em janeiro de 2.005, após 29 sessões, uma vez por semana, a praticante consegue controlar
sua ansiedade, conseguindo esperar a sua vez para terapia, melhorou muito a concentração,
prestando mais atençao nos exercícios propostos pelo mediador, executando-os até o final.
Postura e coordenação motora global também apresentaram uma boa evolução. Diminuiu a
fala repetitiva e também o controle de comportamentos inadequados,ou seja, não está
rasgando mais a roupa durante a terapia , e esporadicamente em ambientes como a sala de
aula. Segundo relatos da professora , a praticante apresentou melhora quanto à ansiedade ,
e diz a equoterapia ‘ser legal”(sic).
PACIENTE 3 – 54 ANOS ( SW )
Em janeiro de 2.005, realizadas 20 sessões, uma vez por semana, iniciadas com montaria
dupla para sua maior confiança, conseguimos que ele interagisse melhor com o meio. Depois
passamos para montaria simples, na qual observamos melhora em sua postura, às vezes
conseguindo que ele realizasse algumas atividades propostas , com ajuda do mediador
auxiliando nos exercícios. Percebeu-se satisfação em sua montaria com o simples cavalgar e
percepção dos estímulos do meio.
Em janeiro de 2005, após 32 sessões, duas vezes por semana, conseguiu boa evolução na
área motora global, aumentou o tônus muscular, obteve postura mais correta e melhorou
conscientização corporal e memória. Devido à boa evolução, conseguimos que o praticante
saísse da fase de hipoterapia e fosse para reeducação/educação, na qual está se saindo bem.
Em sala de aula houve melhora em sua, autoconfiança e demais áreas do desenvolvimento,
além do interesse pelo atendimento equoterápico.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
DYKENS,E. M.; HODAPP,R.M.; FINUCANE B.M. Genetics and mental retardation syndromes:
A new look at bahavior and interventions.Baltimor: Brookes Publishing Co, 2000.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
412
O EFEITO DE ATIVIDADES PSICOMOTORAS COM E SEM O USO
DO CAVALO EM CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN
RESUMO
ABSTRACT
The objective of this research was to study the effect of psychomotor activities inserted in the
riding therapy routine of children with Down’s Syndrome. Our hypothesis is that
psychomotor activities can promote improvements in stabilization, lateralization, body
awareness, and space-time structuring, especially when it is associated with horse. Therefore
a series of psychomotor activities were arranged within the equine therapy session and
adapted for execution on both the horse and on the ground. Three groups were organized:
1) psychomotor activities were done on the horse (GPO1); 2) psychomotor activities were
done on the ground (GPO2); and 3) not treated (GPO3). Treatments were conducted for 13
sessions, once a week. For G1, there was a fixed protocol of 20 minutes of riding at a walk
413
and 10 minutes of free activities on the horse. The instrument used to evaluate the
psychomotor conducts was the Psychomotor Scale. The scale was used to evaluate balance,
lateralization, body awareness, and space-time structuring. The conducts were evaluated
on a scale of 1 to 4. Nine subjects were evaluated ranging in age from 4 to 13 years with 7
being male and 2 being female. The statistical tests of Kruskal-Wallis and Wilcoxon were
used for the treatment of the data. Groups GPO1 and GPO2 that received treatment showed
improvement. The most important improvements between pre-test and post-test results
occurred with equilibration. There was not concomitant improvement for all investigated
conducts. The data suggest that introducing psychomotor development activities into the
treatment of children with Down’s Syndrome resulted in expressive improvements in their
condition and development. G1 presented a better overall result in the post-test than the
other groups. However, the data did not statistically affirm that the presence of the horse
was responsible for the improved scores of the subjects. It could be justified by the time of
the experiment.
INTRODUÇÃO
Apesar de tais fatores contribuírem para o atraso na aquisição motora, as crianças com
síndrome de Down conseguem atingir os marcos do desenvolvimento, porém em ritmo mais
lento , apresentando dessa forma uma trajetória análoga à de uma criança normal. Embora
em um ritmo considerado diferente, são observados os mesmos processos de mudança, só
que acompanhados de retardos e em padrões anormais de postura e movimento. Insuficiência
da percepção e do controle do próprio corpo, transtornos de atenção, incapacidade de
controle respiratório, distúrbio de equilíbrio, orientação deficitária e dificuldade de
organização espaço-temporal também estão associados à síndrome de Down A autora
enfatiza ainda que essa instabilidade motora acontece pela incapacidade de conservar uma
atitude, de fixar a atenção e de continuar uma ação, indicando a necessidade de um trabalho
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
414
Autores têm relacionado positivamente a psicomotricidade com a prática de atividades que
utilizam o cavalo, entre elas a equoterapia, pela riqueza de estímulos que essa intervenção
pode proporcionar ao praticante. A equoterapia utiliza o cavalo como instrumento de trabalho
baseado na prática de atividades eqüestres e técnicas de equitação, e pode ser considerada
um conjunto de técnicas reeducativas que atuam para superar danos sensoriais, cognitivos
e comportamentais. Desta forma, apresenta-se com um grande potencial para intervenções
terapêuticas.
METODOLOGIA
O grupo de estudo foi selecionado intencionalmente, tendo sido composto por 9 crianças
portadoras de síndrome de Down, sendo 7 do sexo masculino e 2 do sexo feminino, com
idades entre 5 e 12 anos. Todos os sujeitos do estudo freqüentavam uma associação específica
para pessoas com síndrome de Down. Os indivíduos analisados possuíam liberação médica
para a monta, incluindo Raio-X atlanto-axial. Apresentavam marcha independente e
compreensão de ordens. Freqüentavam escola normal e não realizavam nenhum tipo de
terapia. Não possuíam experiências anteriores com o cavalo ou participação em sessões de
equoterapia. Antes do início do estudo e do consentimento para participarem da pesquisa,
os familiares foram esclarecidos sobre os objetivos do mesmo.
O tratamento constituiu-se de 13 sessões com um intervalo de sete dias entre cada uma
delas. A variável independente inserida no estudo foi uma proposta de atividades
psicomotoras. Estas atividades foram elaboradas para serem realizadas em duas situações
distintas, uma sobre o cavalo (GPO1) e outra no solo (GPO2). A proposta consistiu de
atividades que continham estimulação para as condutas de equilibração, lateralização, noção
O protocolo fixo do GPO1 era realizado na pista de areia e possuía duas estações, uma para
mudança de cadência e ritmo a outra para mudança de direção. Os primeiros 5 minutos de
cada sessão eram realizados com o cavalo ao passo, sem nenhum outro tipo de estimulação
além do movimento produzido pelo andar do cavalo. Nos minutos seguintes eram realizadas
as passagens pelas estações, sendo que a velocidade do passo aumentava gradativamente a
cada cinco minutos. Nos dez minutos finais, as atividades variavam para tornar as sessões
mais motivadoras. Eram inseridos materiais didáticos para desenvolver a noção de tamanho
e formas, e instrumentos musicais (pandeiro, chocalho) utilizados para introduzir ritmo.
Outros materiais (bolas de diferentes tamanhos, aros, maça de ginástica) eram utilizados na
adaptação de jogos e brincadeiras, visando a proporcionar o máximo de experiências
415
psicomotoras. As trajetórias de deslocamento do cavalo percorridas dentro da pista de areia
incluíam movimentos circulares, em forma de “S” e em forma de “8”. Como equipamento
foi utilizado um conjunto completo de montaria estilo militar, freio sem articulações, bem
como capacetes para proteção dos participantes.
Para avaliar as condutas psicomotoras foi utilizada a bateria psicomotora proposta por
Fonseca. Para a conduta de equilibração foram realizados os subtestes de imobilidade; apoio
retilíneo, ponta dos pés e apoio em um pé (direito e esquerdo), que compuseram a avaliação
do equilíbrio estático. A marcha controlada, salto com um pé (direito e esquerdo), salto para
a frente, salto para trás e salto para a frente com os olhos fechados constituíam o teste de
equilíbrio dinâmico. Para a conduta de lateralização foram aplicados os subtestes de observação
lateral ocular, ouvido preferencial, simular escrever e cortar e simular um passo gigante.
Para a conduta de noção de corpo, os subtestes foram os de sentido cinestésico, reconhecimento
direita/esquerda, auto-imagem, imitação de gestos e desenho do corpo. Finalmente, para a
quarta conduta, estruturação espaço-temporal, foram avaliadas a organização, estrutura
dinâmica e estrutura rítmica. Cada subteste era pontuado entre 1 (perfil apráxico) a 4 (perfil
hiperpráxico), o que gerou diferentes valores de somatório para cada conduta. Para a conduta
equilibração, os valores mínimos e máximos estavam entre 11 e 44 pontos; para a
lateralização, entre 1 e 4 pontos; para a noção corporal, entre 5 e 20 pontos, e para a
estruturação espaço-temporal entre 3 e 12 pontos. O total da avaliação psicomotora deveria
estar entre 20 e 80 pontos. Foram retirados da bateria psicomotora os subtestes cujos sujeitos
não tinham compreensão ou demonstraram-se incapazes de executá-los (na conduta de
lateralização foram retirados os subtestes realizados na trave e na conduta estruturação
espaço-temporal foi retirado o subteste de organização topográfica). A bateria foi aplicada
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Os dados foram digitados em uma planilha do programa Excel. Após conferência esses
foram transportados para o programa SAS 8.02 para tratamento estatístico. Foi realizada a
estatística descritiva para obter a média e desvio padrão dos resultados. Para verificar a
normalidade dos dados foi utilizado o teste de Shapiro Wilk, e para comparar os grupos o
Teste de Kruskal-Wallis. O dados de pré e pós-testes foram comparados pelo teste de Wilcoxon.
O nível de significância assumido foi de 5%.
RESULTADOS
Tabela 1 – Somatório dos valores individuais observados no pré e pós-testes para cada
conduta psicomotora.
CONDUTA PSICOMOTORA
Estruturação
Noção de Espaço- TOTAL
Grupo Sujeito Equilibração Lateralidade Corpo temporal PSICOMOTOR
(11 - 44)* (01 - 04)* (05 - 20)* (03 - 12)*
Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós
(GPO1) 1 25 32 3 4 10 16 4 5 42 57
2 15 24 4 4 8 14 3 3 30 45
3 23 32 4 4 11 15 4 7 42 58
(GPO2) 1 30 33 3 4 15 16 8 8 56 61
2 21 25 4 4 5 11 3 3 33 43
3 14 17 4 4 6 6 3 3 27 30
(GPO3) 1 11 11 4 4 5 5 3 3 23 23
2 12 16 3 3 8 8 3 3 26 30
3 12 14 4 4 5 7 3 3 24 28
* valores mínimo e máximo para a conduta psicomotora
Tabela 2 – Valores médios e desvios padrão de pré e pós-testes para cada conduta psicomotora
por grupo.
CONDUTA PSICOMOTORA
Estruturação
Noção de Espaço- TOTAL
Grupo Sujeito Equilibração Lateralidade Corpo temporal PSICOMOTOR
X sd X sd X sd X sd X sd
GPO1 Pré 21.00 5.29 3.67 0.58 9.67 1.53 3.67 0.58 38.00 6.93
Pós 29.33 4.62 4.00 0.00 15.00 1.00 5.00 2.00 53.33 7.23
A análise comparativa dos resultados do pré-teste mostrou que os grupos não apresentaram
médias estatisticamente diferentes entre si no início do estudo. Após as 13 semanas de
tratamento, os resultados mostraram que as duas formas de intervenção propostas, (sobre o
cavalo e no solo) não foram capazes de desencadear alterações significativas nas condutas
psicomotoras.
A análise feita por conduta psicomotora nos mostra que cada uma variou de maneira diferente
em função das intervenções. Alterações mais expressivas foram observadas nas condutas de
noção de corpo e equilibração. Na equilibração, alterações significativas foram observadas
nos subtestes de apoio retilíneo (p<0,0446) e equilíbrio estático (p<0,0484) para os grupos que
receberam tratamento, quando comparados ao grupo controle. Na conduta lateralização,
dos 9 sujeitos investigados, 6 apresentaram lateralização bem definida no pré-teste, alcançando
o escore máximo para a conduta, sendo que após o período de tratamento somente um
indivíduo do grupo controle não apresentou alteração. Na conduta de estruturação espaço-
temporal, somente o GPO1 apresentou variação entre as avaliações. No entanto, as diferenças
não se apresentaram estatisticamente significativas. Para as quatro condutas psicomotoras
avaliadas, foi possível identificar maiores diferenças positivas nos resultados do pré para o
pós-teste em favor do GPO1. Nos outros dois grupos não foram observadas alterações nos
escores da conduta de estruturação espaço-temporal no GPO2 e GPO3, e de lateralização
no GPO3, no qual os escores permaneceram constantes entre pré e pós-teste. Apesar de se
observarem incrementos nas médias finais do estudo, nenhuma delas foi estatisticamente
significativa.
DISCUSSÃO
A criança com síndrome de Down apresenta como uma das maiores deficiências neurológicas
a redução do tônus postural, típico da síndrome 11. Dessa forma, programas e intervenções
que direcionem suas ações para atividades que desencadeiem ajustes tônicos posturais
estariam contribuindo para ganhos no equilíbrio. Estudos que investigam a intervenção
terapêutica com o cavalo, em especial o efeito do movimento multidimensional gerado pela
andadura do mesmo, vêm apresentando bons resultados, demonstrando que essa terapia é
capaz de promover melhorias no tratamento de distúrbios ou deficiências neuromotoras .
Tais ganhos ocorrem devido às combinação de estimulações sensoriais e componentes de
reabilitação motora gerados em todos os sistemas básicos que, em conjunto, resultam em
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
uma integração motora e sensorial ampliada. Desta forma, a equoterapia vem sendo indicada
como um valioso recurso terapêutico.
A principal conduta que a equoterapia solicita é o equilíbrio. Sobre a base desta conduta são
constituídas todas as faculdades psicomotoras (8) . O sistema vestibular é solicitado
repetidamente, estimulando as conexões entre os canais semicirculares, onde as células ciliares
otólitos atraem as oscilações de endolinfa, causadas pelos movimentos da cabeça. A repetição
do movimento provoca a reeducação do mecanismo de reflexos posturais e a noção da posição
dos vários segmentos corporais no espaço.
Apesar de não utilizarem o mesmo tipo de teste para mensurar o equilíbrio, estudos têm
demonstrado fortes implicações da equoterapia sobre esta variável. Considerando que a
hipotonia e o controle postural são problemas primários presentes no indivíduo com síndrome
de Down, programas de atividades de estimulação variada apresentam bons resultados
sobre esta variável, o que explicaria o aumento nos escores dos dois grupos que receberam a
418
intervenção psicomotora, em especial para os subtestes de apoio retilíneo e equilíbrio estático.
Maiores variações nos resultados observados para o GPO1 podem ser conseqüência da
estimulação diferenciada deste grupo, que além de receber a estimulação das atividades
psicomotoras, obteve estímulos gerados pelo movimento do cavalo.
A intervenção pela equoterapia, no que diz respeito às condutas psicomotoras, pode promover
a obtenção de uma lateralidade bem definida, melhorar a percepção do esquema corporal e
noção corporal, favorecer a referência de espaço e de tempo, permitir melhor conhecimento
de posições do próprio corpo e do corpo do cavalo. Além disso, pode melhorar o tônus
muscular, o qual é o alicerce fundamental para a organização da psicomotricidade.
Os resultados obtidos neste estudo, de maneira geral, apontam para um problema similar
aos encontrados na análise feita por Pauw, em estudos que envolvem a equoterapia. A
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Márcia Eliana Migotto. Equoterapia: aspectos para compreensão e prática com
portadores de deficiência. Monografia de especialização. UFSM – Santa Maria, 1999.
CHERNG, R.; LIAO, H.; LEUNG, H. W. C.; HWANG, A. The effectiveness of therapeutic
horseback riding in children with spastic cerebral palsy. Adapted Physical Activity Quarterly,
21 (2), April 2004.
COPETTI, F.; MOTA, C. B.; GRAUP, S.; OLIVEIRA, R. M.; LINK, D. M. Efeito da Equoterapia
sobre o padrão motor da marcha em crianças com Síndrome de Down: Uma análise
biomecânica. IN: Coletânea de Trabalhos. I Congresso Ibero-Americano de Equoterapia e III
Congresso Brasileiro de Equoterapia. Salvador-Bahia, 2004.
420
MURPHY, N.; SUCH-NEIBAR, T. Cerebral palsy diagnosis and management the state of
the art. Current Problems in Pediatric and Adolescent Health Care. May/June 2003: 146-169.
SHEPHERD, R.B. Fisioterapia em Pediatria. 3ª ed. São Paulo: Santos Livraria Editora, 1996.
STERBA, J. A.; ROGERS, B. T.; FRANCE, A. P.; VOKES, D. A. Horseback riding in children
with cerebral palsy: effect on gross motor function. Dev Med Child Neurol. May 44 (55): 301-
8, 2002.
WELLER, M. J. Equitação e volteio com crianças carentes: uma proposta educacional. Dissertação
de mestrado. Universidade Estadual de Campinas – Faculdade de Educação Física. Campinas,
1998.
421
AVALIAR A EFICÁCIA DO TRATAMENTO DE EQUOTERAPIA NA
RIGIDEZ ARTICULAR DE MEMBROS INFERIORES E MARCHA EM
PACIENTE COM MAL DE PARKINSON
INTRODUÇÃO
Estudos recentes têm demonstrado que uma terapia não – convencional, a equoterapia, vem
proporcionando inúmeros benefícios aos seus praticantes(Chernget et al.2004; Sterba, Rogers,
France et al. 2002; Winchester et al. 2002; Krapivkin et al. 2001) Esta é uma terapia que
utiliza o cavalo como instrumento terapêutico e educacional dentro de uma abordagem
interdisciplinar nas áreas da saúde, educação e equitação,buscando o desenvolvimento
biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiências e/ou necessidades especiais (Ande
Brasil, 2003).Tal método terapêutico exige a participação de todo o corpo, contribuindo
assim para o desenvolvimento da força muscular, relaxamento, conscientização do próprio
corpo, aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio, além de novas formas de
socialização e também melhorando a auto-estima.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
MATERIAL E MÉTODO
O trabalho foi realizado com o praticante SAMT, masculino, 66 anos, dentista aposentado
por invalidez, portador de doença de Parkinson diagnosticada em 1988, quando iniciaram
“fraque” de membro superior esquerdo e depressão. Em 1998, os sintomas se agravaram,
oorrendo dificuldade na marcha, porem só iniciou fisioterapia convencional em 2001, quando
também iniciou fonoterapia e musicoterapia.
Para obtenção de dados, foi feita análise da marcha através de observação e tomada de
tempo, para a qual foram utilizados fita métrica e cronômetro. O praticante foi avaliado
sempre no início e final de cada sessão.
RESULTADOS
Não houve dificuldade na fase de aproximação e conhecimento do local e nem com o contato
com o animal.
Procuramos utilizar uma abordagem terapêutica voltada para o ser humano em sua essência
e totalidade, com ênfase na melhora da função do praticante em seu meio, proporcionando-
lhe o máximo de independência possível. 423
Após oito sessões de equoterapia, o praticante adquiriu maior confiança, a postura e o
equilíbrio progrediram, foram observados melhora da conscientização corporal, coordenação
motora, rigidez articular em membros inferiores, conseguindo até a posição de decúbito
dorsal no cavalo. Atualmente, ao término da terapia, deambula melhor, com dissociação de
cintura pélvica, marcha próxima ao normal sem uso de andador e percorre a distância
predeterminada em tempo menor.
DISCUSSÃO
– para cima e para baixo-, horizontal – para a frente e para trás –, e lateral – para direita e
para esquerda. A cada passo do cavalo o centro de gravidade do cavaleiro é defletido da
linha média, estimulando as reações de equilíbrio que proporcionam a restauração do centro
de gravidade da base de sustentação (Botelho, 1997).
CONCLUSÃO
Considerando os resultados obtidos podemos concluir que a equoterapia foi agente facilitador
não só para melhora da marcha do paciente, mas também, interferindo diretamente na sua
qualidade de vida.
Este é apenas um caso no qual vimos que a equoterapia proporcionou benefícios a um portador
de mal de Parkinson, e como terapia nova, não há relatos na literatura sobre estes
benefícios.Mais estudos são necessários para determinar se equoterapia pode realmente
melhorar o equilíbrio do paciente com doença de Parkinson.
Como foi observado benefício importante, fica como sugestão a avaliação desta modalidade
terapêutica para um maior número de pacientes com doença de Parkinson.
REFERÊNCIAS
JACOBS JV, Dimitrova DM, Nutt JG, Horak FB. Can stooped posture explain multidirectional
postural instability in patients with Parkinson’s disease?
NEVITT MC, Cummings SR, Kidd S, Black D. Risk factors for recurrent nonsyncopal falls. A
prospective study. JAMA. 1989; 261: 2663–2668.
426
VIVÊNCIA DE PAIS – UM INSTRUMENTO MEDIADOR
ENTRE A FAMÍLIA E OS RECURSOS UTILIZADOS
NESTE MÉTODO TERAPÊUTICO
INTRODUÇÃO
Manter-se em contato com a realidade é também reconhecer que há coisas que podemos
mudar e outras coisas que não podemos. A tarefa para todos nós é aprender quais coisas
podemos mudar e passar a fazer isso. (Smith, 1985, apud Legen et al.,1993, p. 27)
MATERIAL E MÉTODO
DISCUSSÃO
ALIMENT AÇÃO
ALIMENTAÇÃO
429
ESCOVAÇÃO
Esta aceitação e conquista são efetivadas por ações e sensações agradáveis e/ou desagradáveis,
através da exploração do corpo do animal, intensidade do toque enquanto ele é escovado.
Neste momento, a percepção corporal e espacial em relação ao corpo do cavalo está bastante
explícita.
ENCILHAMENTO
O mesmo ocorre nesta atividade, no qual o cavalo será recíproco com a ação do indivíduo
que realiza o encilhamento. Além, disso encontram-se presentes neste momento aspectos
como a orientação espacial, coordenação viso-motora, lateralidade, coordenação motora
fina, entre outros. A confiança passada ao animal por quem realiza a tarefa de encilhamento
é fundamental.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
CONDUÇÃO TERAPÊUTICA
Os pais foram levados a experimentar uma característica peculiar aos cavalos, pois assim
que esta relação se efetiva , o cavalo passa a aceitar o comando. Apesar de imponente, forte,
ele espera que o cavaleiro mostre o que e como ele deve fazer, e o condutor passa a assumir
o papel de líder.
Montaria
Iniciamos esta atividade com uma breve apresentação sobre a hipologia e a respeito do
cavalo ideal para a prática da equoterapia, pois consideramos importante que os pais tenham
melhor informação a respeito das características do membro mais importante da equipe –
O CAVALO.
Acreditamos que este foi o momento mais esperado pelos pais, quando cada um,
acompanhado pelos terapeutas, realizou a montaria, experimentando sentimentos que são
inspirados pelo cavalo: o temor, até o medo, mas também a admiração.
PALAVRA representa 7%
TOM DE VOZ representa 38%
LINGUAGEM CORPORAL representa 55%
431
RESULTADOS
CONCLUSÃO
Após a implantação da Atividade de Vivência de Pais, foi possível concluir que estes encontros
proporcionaram aos familiares a oportunidade de experimentar quais sentimentos e desafios
estão em jogo em cada etapa de uma sessão de equoterapia, ampliar o conhecimento dos
benefícios trazidos pelas sessões de equoterapia às pessoas portadoras de necessidades
especiais, como também os recursos oferecidos por este ambiente terapêutico aos profissionais
das áreas de saúde e educação.
REFERÊNCIAS
WALTER, Gabriele. Manual do Curso sobre Equoterapia. Fundação Rancho GG- Centro de
Treinamento e Pesquisa e Ensino de Equoterapia. Ibiúna, SP, 2001.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
432
MENSURAÇÃO DOS EFEITOS PRODUZIDOS PELO TRATAMENTO
COM EQUOTERAPIA EM UM PACIENTE COM SEQÜELAS DE
PARALISIA CEREBRAL (ESTUDO DE CASO)
RESUMO
Este estudo teve como objetivo avaliar a funcionalidade e os efeitos do tratamento com
equoterapia em uma criança com paralisia cerebral (hemiparesia espásia leve), que freqüenta
o centro de Equoterapia em Luiz Antônio (SP), através do teste funcional padronizado (GMFM
– avaliação motora grossa). A escala foi plicada antes do tratamento e após 12 semanas. Os
atendimentos foram realizados em sessões 30 minutos, duas vezes na semana, sem terapias
paralelas. O paciente iniciou o tratamento com 81 % de funcionalidade egundo a escala
GMFM, e ao término do período estava com 95%, sendo que, dentre os itens analisados, a
maior evolução foi notada na função sentar, que de 78,33%, passou a 100% de funcionalidade.
ABSTRACT
The present study amed to do a functional evaluation and to analyse the equoterapy effects
on a child with cerebral palsy, using the GMFM scale. This test was applied before end after
twelve weeks of treatment, shich was conducted two times in a week with on thirty minutes.
The subject started the treatment with 81% offunctionally and at the end of the perod, this
number increased to 95%, the greatest improve was noted in the sitting activity (from 78,33%
to 100%).
INTRODUÇÃO
O SNC é uma rede precisa, formada por mais de 100 bilhões de neurônios interconectados
em sistemas que produzem a percepção do mundo exterior, fixam a atenção e controlam a
ação do indivíduo. Assim, qualquer que seja o comportamento do indivíduo, ele é gerado
1
Pós graduada, especialista em fisioterapia neuromuscular Lato sensu. Equoterapeuta responsável pela implantação
do centro de equoterapia em Luiz Antonio (SP), onde continua atuando.
2
Doutoranda em biologia molecular e funcional, mestre, atuando na área de neurologia como docente;
3
Mestre, atuando na área de neurologia, como docente.
433
por muitas células nervosas, sendo que a medição neural deste comportamento é subdividida
em 3 etapas distintas: a entrada sensorial, o processamento intermediário e a saída motora.
Cada um destes componentes é mediado por um grupo definitivo de neurônios e um só
componente recruta, muitas vezes, diversos grupos neuronais paralelos.
Entretanto, no decorrer dos últimos anos, tem se observados que o córtex humana apresenta
a capacidade de se reorganizar após sofrer alguma lesão, principalmente se esta tiver ocorrido
nos primeiros anos de vida. Estes mecanismos ainda não estão bem esclarecidos, mas tem se
percebido que em cada caso esta recuperação funcional ocorre de maneira singular e individual
(Nikko e colaboradores, 1991) fazendo com que, atualmente, a interpretação dos mecanismos
que agem no SNC depois de uma lesão sofra mudanças radicais. Assim, a neuroplasticidade
passou a ser considerada como um dos maiores acontecimentos científicos na reabilitação
de pacientes com lesão cerebral (Costa, 1991).
Cada neurônio é constantemente bombardeado por entradas sinapticas, que podem ser
excitatórias, inibitórias, fortes ou fracas, podendo reforçar ou cancelar umas às outras, gerando
um mecanismo de somação destas entradas, conhecido por integração neuronal, no qual o
neurônio passa por um processo de tomada de decisão sobre gerar ou não um potencial de
ação (Kandel e colaboradores, 1991).
grupo I: lesões ocorridas nos dois primeiros trimestres da gestação, levando a malformações
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Vale ressaltar aqui, algumas vantagens da equoterapia, como o efeito tridimensional produzido
pelo dorso do cavalo quando caminha, muito semelhante à marcha humana (Friedman,
1994). O ambiente da terapia, perante o contato com a natureza, proporciona ganhos físicos
e psicológicos. O cavalo e o balanço ritmado ao passo do cavalo, que promovem o relaxamento
dos músculos, também permitem ajustes tônicos (Satter, 1978).
Outro aspecto observado por Tanffkrchen (1978) foi a forma intensa com que é solicitado o
sistema vestibular, estimulando as conexões com o cerebelo, córtex cerebral, medula e nervos
periféricos importantes para o controle dos movimentos, equilíbrio e postura.
O método foi criado pelo neurologista Kaeser (1966) e tem como indicação todas as patologias XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
relacionadas ao SNC; porém há algumas contra indicações, como convulsões freqüentes,
síndromes desconhecidas, doenças em processo agudo, sensibilidade diminuída na região
das costas, intolerância à movimentação da coluna lombar, luxação no quadril.
Como em qualquer método, é importante que a criança, antes de realizar o tratamento, seja
avaliada, e indicada a terapia por um médico ou fisioterapeuta, evitando-se com isso, qualquer
ocorrência incômoda.
Além dos aspectos citados, Gibbon (1998) explorou efeitos da equoterapia utilizando a GMFM
(RUSSEL, 1993) e encontrou diminuição e gastos energéticos na marcha e melhora na função
motora grossa, em criança com paralisia cerebral.
435
Foram avaliadas 11 crianças com seqüela de diplegia espática, com idade entre 2 e 9 anos,
praticando 2 vezes na semana, num período de 10 semanas. Os resultados se mostraram
positivos, principalmente na postura, dissociação de cinturas e mobilidade, melhora geral
na habilidade, marcha e equilíbrio.
OBJETIVOS
OBJETIVO ESPECÍFICO
Avaliar a eficácia do tratamento da equoterapia em uma criança com PC, seqüela hemiparesia
espástica a D, medida pela escala Russel, (1993).
METODOLOGIA
MS, 03 anos e 3 meses, sexo masculino, diagnóstico de PC confirmado por RN, lesão na
coroa radiada em hemisfério E, seqüela hemiparesia espástica leve à direita. Nascido através
de parto normal, sem intercorrência com apgar 9 e 10, segundo informações da mãe.
Na evolução clínica o paciente apresentou-se taquipnêico e foi para encubadora. Aos 9 dias
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
de vida foi submetido à cirurgia de pulmão, devido a uma doença cística congênita. Até os
10 anos de vida a família notou déficit no desenvolvimento, apresentando boa evolução.
Aos 16 meses, a mãe procurou o tratamento fisioterapêutico, pois M.S. sofria quedas
constantes, durante a marcha, e apresentava assimetria do hemicorpo. Foi então encaminhada
para o neurologista, que solicitou os exames de RM e escanometria.
436
PROCEDIMENTOS
Quando o tratamento foi implementado, seu quadro era de assimetria do hemicorpo D, leve
hipotrofia e espasticidade também D, diminuição de equilíbrio dinâmico e na dissociação de
cintura, dificuldade para realizar trocas posturais, diminuição de ADM nos membros direitos,
déficit no esquema corporal, leve negligencia do hemicorpo D.
O estudo de caso paciente M.S foi Iniciado com avaliação convencional inicial, que apresentou
os seguintes dados;
- assimetria do hemicorpo D
- leve hipotrofia espasticidade a D
- diminuição de equilíbrio dinâmico
- diminuição na dissociação de cinturas
- dificuldades para realizar trocas posturais
- diminuição de ADM no hemicorpo D
- déficit no esquema corporal
- leve negligência no hemicorpo D
A seguir foi aplicada avaliação pela escala GMFM forem traçados os seguintes objetivos:
Foram realizadas sessões de 30 minutos, com ritmo de marcha ao passo, com o objetivo de
melhorar o tônus.
437
Algumas vezes o paciente montava acompanhado do terapeuta, outras montava sozinho
com o terapeuta ao lado, apoiando-se e aplicando as técnicas de fisioterapia.
• Início
Material
Este paciente foi submetido a avaliação com escala GMFM. A escala GMFM (Russel, 1993) é
um instrumento de observação padronizado, criado para medir a mudança que ocorre,
com o passar do tempo, na função motora grossa, em crianças com paralisia cerebral,
avaliando o quanto de um item cada criança pode realizar.
a) deitar e rolar;
b) sentar;
c) engatinhar e ajoelhar;
d) ficar em pé;
RESULTADOS
Relatos da mãe da criança informam que a evolução foi positiva nos itens sentar, ficar em pé,
correr e pular.
439
Atualmente, o paciente anda de bicicleta em terrenos irregulares, não sofre quedas constantes,
não apresenta dificuldades para correr, nem negligencia o hemicorpo D, obtendo também,
excelente evolução no equilíbrio.
DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo forneceram novas informações sobre os efeitos produzidos pelo
tratamento com equoterapia, tais como:
Por se figurarem como avaliações funcionais, estes instrumentos permitem aos terapeutas a
identificação do impacto das ações propostas e realizadas para redução do déficit funcional.
CONCLUSÃO
A equoterapia foi eficaz para este paciente, como pode ser constatado pelos resultados
apresentados após aplicação da Escala GMFM, que também se mostrou confiável na avaliação
dos efeitos após a intervenção do tratamento equoterápico.
REFERÊNCIAS
440
BERTOLTI, D.B. - Effect of therapeutic horsiback reding on posture in children with cerebral
palsy. Nome da Revista, v.68, n.10, p.1505-1512, 1988.
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manual Me Master University. 2.ed. Toronto: EDITORA, 1993. p. 103.
441
IMPLANTAÇÃO DE UM PROJETO DE EQUOTERAPIA:
UMA VISÃO DO TRABALHO PSICOLÓGICO
RESUMO
ABSTRACT
In May of 2004, a project of Therapeutic Riding was implanted in the Franca Riding Society.
The present work objectified to disclose the benefits of the Therapeutic Riding from the
psychological point of view. The project looked for to take care of to children and adolescents
of the educational municipal net, for being presenting problems in the behavior and/or
learning. The sessions of Therapeutic Riding had been carried through a time in the week,
with duration of 40 minutes, for each pair of practitioners. The period where the Therapeutic
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Riding occurred, was from May to December of 2004. First it was done an interview of
Anamnese with the parents became, and after that, the practitioners had been interviewed
and observed, objectifying to have a bigger understanding of the same ones. The interview
was made of opened form, with the use of the free drawing. With the results reached through
the Therapeutic Riding, it could be noticed that the implantation of this project was carried
through successfully. We could disclose the benefits occurred in some aspects, mainly in the
psychological one.
INTRODUÇÃO
Deve-se ressaltar que o ambiente equoterápico deve seguir normas específicas da ANDE-
BRASIL, sejam de qualificação estrutural, assim como de ordem de acolhimento do praticante.
De acordo com Rosa (2002), como no ambiente equoterápico o praticante é o centro das
atenções, é fundamental estabelecer conhecimentos, técnicas, estratégias, procedimentos para
recebê-lo com carinho, respeito, compreensão e segurança.
É importante considerar que o cavalo de equoterapia deve ser selecionado e treinado pelo
profissional adequado. Analisar o comportamento do animal a partir desse conhecimento
permite encontrar, em seu manejo e treinamento, as causas e soluções para os problemas.
No entanto, o cavalo não pode ser considerado somente um instrumento, objeto, mas sim
um ser vivo que possui instintos, comportamentos, reflexos e necessidades (ROSA, 2002).
Nesta terapia, a psicologia não realiza aquilo que costuma chamar de psicoterapia “clássica”,
ou seja, na equoterapia há maior diretividade do trabalho, isto porque o ambiente em que se
desenvolve possui estímulos variados, tais como o espaço físico, as atividades pré-
programadas, o cavalo, os terapeutas e os acompanhantes do praticante.
A procura pelo atendimento nesse serviço implantado surgiu pelo fato de crianças e
adolescentes da rede municipal de ensino estarem enfrentando problemas na aprendizagem
e/ou no comportamento. Deste modo, as professoras dessas escolas encaminharam os alunos,
com o intuito de melhorar estes aspectos, já que os alunos se encontravam deficitários.
MATERIAIS E MÉTODOS
Em agosto de 2003, funcionava na SHF o projeto “Educação pela Equitação”, que tinha por
objetivo ensinar às crianças e aos adolescentes da rede municipal de ensino, os fundamentos
básicos da equitação. A partir de Maio de 2004, percebendo a necessidade dos alunos em ter
um acompanhamento mais integrado por parte de outros profissionais, inclusive da
psicologia, foi implantado um projeto de equoterapia no local.
A equoterapia foi implantada com bases psicológicas, tendo na equipe uma fisioterapeuta,
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
um instrutor de equitação e uma psicóloga. Dos onze praticantes que participaram do projeto,
foram observados e analisados, durante oito meses, quatro deles, sendo três adolescentes de
12 anos, e uma criança de 6 anos, todos do sexo masculino. Somente quatro alunos foram
analisados, devido ao fato de terem sido os primeiros a se submeterem ao tratamento.
Neste projeto, a Sociedade Hípica de Franca cedeu os animais, mantendo assim os custos de
estadia e alimentação, e a Prefeitura Municipal de Franca, através da Secretaria da Educação,
cedeu o transporte do aluno e do acompanhante. Vale ressaltar que a idéia de implantação
partiu de um trabalho totalmente voluntário, por parte de toda a equipe.
Os alunos foram encaminhados pelas professoras das escolas municipais por estarem com
problemas de aprendizagem e/ou comportamento.
Inicialmente, foi realizada uma entrevista de anamnese com os pais ou responsáveis, com
duração média de 40 minutos.
444
Na avaliação com os praticantes, foi estabelecido primeiramente o rapport e em seguida foi
pedido que realizassem o desenho livre. A avaliação teve duração média de 30 minutos.
A equoterapia foi desenvolvida uma vez na semana, com duração de 40 minutos para cada
dupla de praticantes.
No que diz respeito às faltas, foi estipulado a cada aluno que, não haveria abono sem
justificativa, permitindo-se então, somente três faltas.
Os materiais utilizados para a execução desta prática terapêutica foram dois cavalos,
equipamentos especiais de montaria, como capacete, uniforme, manta e cabeçada, além de
uma pista de areia de 30m x 20m. Foram disponibilizados uma sala para a realização de
avaliações, um escritório, uma sala para recepção, papéis, canetas, fichas de avaliação e
computador.
Foram usados também bolas, giz de cera, papéis, argolas, cubos, balizas, varas, cavaletes,
entre outros materiais e jogos pedagógicos. Quanto aos materiais de higiene do animal,
utilizaram-se escovas, pentes, xampus, raspadeiras, limpador de casco.
Ao final foram feitas as análises das avaliações, dos registros, dos protocolos, fotos, para as
conclusões finais do trabalho.
É importante pensar que a psicologia, vem ampliando cada vez mais seu campo de atuação,
a fim de criar recursos para a saúde e o bem-estar do indivíduo. É de extrema importância
aumentar a diversidade de recursos terapêuticos, pois, por meio destes, criaremos condições
para o crescimento e para a vida. A intenção de implantar a equoterapia na cidade de
445
Franca procurou revelar os resultados a partir do ponto de vista psicológico, mostrando
assim, mais uma modalidade de trabalho para o profissional de psicologia.
Quando questionamos sobre a atuação do psicólogo, geralmente pensamos em um tratamento
que ocorre individualmente, ou seja, a relação terapêutica é exercida em sua maioria entre
paciente e terapeuta. Na equoterapia, o atendimento ocorre de maneira interdisciplinar, isto
é, há grande parceria entre profissionais das áreas da saúde, educação e equitação, que
estão envolvidos no tratamento do praticante. Trabalhar interdisciplinarmente é um processo
muito rico, pois podemos trocar nossos conhecimentos com profissionais de outras áreas.
Desta maneira, temos a oportunidade de conhecer o indivíduo como um todo e não
fragmentado.
Fazenda (1994) afirma que a interdisciplinaridade é uma exigência natural das ciências, no
sentido de uma melhor compreensão da realidade que elas nos fazem conhecer. É uma
questão que parte das indagações, do diálogo, da troca de informações, da humildade, enfim,
da reciprocidade.
Arno Stern (apud PILLAR, 1996) afirma que a criança, ao desenhar, não produz lembranças
visuais, mas traduz claramente sensações e pensamentos. O desenho é, portanto, a expressão
do que a criança sente e pensa, isto é, é um espelho, uma imagem representativa dela mesma.
Durante os oito meses de atividades equoterápicas, pôde-se observar que os praticantes
obtiveram resultados significativos tanto na aprendizagem, quanto no comportamento.
No que diz respeito à aprendizagem, foi observado que, ao realizarem atividades de percurso
com varas, números e letras, obtiveram uma melhora significativa na atenção, concentração
e na memória. Através dos jogos pedagógicos, pôde-se notar melhora no raciocínio, na
aceitação de regras e perdas.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Pode-se dizer que a terapia inicia-se no momento em que o praticante entra em contato com
o animal. Em um primeiro momento, o cavalo representa para o indivíduo uma situação
446
diferente, com a qual o praticante terá que saber lidar, aprendendo a forma correta de
interagir, de montar e comandá-lo.
No que diz respeito aos pais dos praticantes, pôde-se notar que houve grande interesse por
parte dos mesmos. Tiveram a oportunidade de acompanhar a evolução de seus filhos durante
o atendimento. Na reunião de finalização, foi possível perceber que as mães ficaram contentes
com o progresso dos seus filhos, embora tivessem outros aspectos a serem alcançados. O
contexto da reunião contribuiu também para as mães conversarem e refletirem sobre suas
dificuldades, dúvidas, medos, angústias, sentimentos de culpa em relação a seus filhos.
CONCLUSÃO
Foi possível perceber que a implantação deste serviço realmente foi de grande valia. É
Pode-se considerar que a equoterapia é uma área em construção, e o percurso das etapas
dessa construção é bastante complexo.
Com a descoberta dos benefícios trazidos ao ser humano por essa terapia, percebeu-se a
necessidade de divulgar esta nova modalidade terapêutica, para que outros profissionais e
pessoas possam utilizar esse novo método. Embora o cavalo seja um recurso, do qual quase
todas as pessoas têm proximidade e acesso, ainda não se têm consciência dos benefícios que
este animal pode proporcionar.
Posso dizer que a experiência em trabalhar com a equoterapia foi muito importante tanto
para minha vida, quanto para minha profissão. Embora seja um método terapêutico ainda
novo, vem proporcionando grandes avanços nos aspectos psicológico, físico, cognitivo, social.
447
Durante esses dez anos praticando o hipismo, e há pouco tempo atuando com a equoterapia,
percebi que o cavalo é realmente um animal que beneficia todas as pessoas, sejam elas
especiais ou “normais”.
REFERÊNCIAS
PILLAR, A. D. Desenho e escrita como sistema de representação. Porto Alegre: Artes Médicas,
1996.
448
A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE BIOMECÂNICA DA
QUARTELA PARA A EQUOTERAPIA
RESUMO
Na equoterapia o profissional tem que saber identificar alguns fatores importantes para
obter o resultado esperado com o paciente, tais como: cadência do passo, velocidade, largura
das passadas e a angulação da quartela. Portanto, o objetivo deste estudo é como analisar
biomecanicamente a angulação da quartela e sua importância para a equoterapia.
Os valores mínimos e máximos dos ângulos das quartelas foram de 52 a 67º (±5,7) para
posterior esquerda, 50 a 68º (±7,3) para posterior direita, 51 a 70º (±8,5) para anterior esquerda
e 55 a 73º (±7,5) para anterior direita.
INTRODUÇÃO
Quando o homem e o cavalo, ao realizarem tarefas conjuntas, se fundem numa única unidade
biológica, forma-se uma rede de cooperação neurofisiológica entre os parceiros. Esta interação
entre os sistemas nervosos do Homo e do Equus ocorre nas diversas modalidades eqüestres,
em graus diferentes, e esta variação determina a dificuldade e a qualidade da equitação. 449
Podemos afirmar que a equitação é um milagre de coincidências biológicas que, à primeira
vista, o bom senso julgaria impossível de acontecer – isto porque só um milagre permitiria
que dois seres programados pela natureza para a realização de tarefas vitais tão diferentes
pudessem unir os seus complexos recursos fisiológicos para realizar uma mesma tarefa – e
com o alto grau de eficiência verificada em algumas modalidades eqüestres [2].
podem deslizar sem nenhuma fricção dentro dessa estrutura Os efeitos da utilização do
cavalo sob condições extremas, piso ruim, defeitos de conformação ou de ferrageamento
podem ativar a deterioração da cartilagem. Pode ocorrer em qualquer articulação, mas
preferentemente atinge as articulações de grande amplitude de movimentação, como boletos
e jarretes, e depende do trabalho exigido deste cavalo [4, 5, 6].
A) B)
Um dos fatores mais importantes de ser analisado é a quartela, região súbita entre o boleto e
a coroa. Base: 1o falange e parte da 2o falange (Figura 2). A quartela anterior é mais larga
mais curta e mais inclinada que a posterior. Volumosa, seca, de comprimento médio, flexível
e bem dirigido. Sendo forte, indica boa constituição e resistência; quando seca, revela nobreza.
No cavalo de corrida e no marchador, a quartela é comprida; no trotador e no cavalo de
tração, é curta. Neste último caso é forte, mas pouco flexível, com menor ação amortecedora
durante os andamentos. No 1o caso é flexível, porém impõe os tendões a se relaxarem. A
quartela de comprimento médio, em geral, é a mais favorável em todos os serviços. A região
vista de frente não deve mostrar desvios laterais; vista de perfil apresenta inclinação variável,
mas sempre deve ser paralela à pinça do casco. A flexibilidade da quartela aumenta com
sua inclinação [7].
Sabe-se que no caso de uma espasticidade deve-se diminuir o tônus do paciente, desta forma
dá-se preferência a cavalos com quartelas menos anguladas e maiores, proporcionando maior
conforto e relaxamento ao praticante e menor estresse nas articulações dos membros do
cavalo. No caso da hipotonia se deve aumentar os estímulos e reações de equilíbrio para o
paciente buscar uma maior ativação muscular, assim aumentando seu tônus. Portanto,
A importância deste estudo é mostrar que o cavalo de equoterapia não pode ser qualquer
animal, ele deve ser perfeito no aspecto da morfologia, e não deve possuir deformidades ou
compensações em seu movimento; sendo assim, a harmonia do tratamento não será da
forma mais perfeita possível, levando à gama de estímulos necessária para a reabilitação dos
pacientes. Em razão de algumas angulações diferentes no cavalo, as metas dependerão do
objetivo a ser alcançado na equoterapia, mas para isso, o cavalo deverá ser ideal para se
obter um tratamento perfeito.
Na equoterapia o profissional tem de saber identificar alguns fatores importantes para obter
o resultado esperado com o paciente, tais como: cadência do passo, velocidade, largura das
passadas e a angulação da quartela [1]. Portanto, o objetivo deste estudo é como analisar
biomecanicamente a angulação da quartela e sua importância para a equoterapia.
451
MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi realizado no Centro de Equitação Terapêutica Passo a Passo. Foram utilizados
cinco eqüinos (uma fêmea e quatro machos), de diferentes raças: dois Árabes, um Quarto de
Milha com Inglês, um Brasileiro de Hipismo e um Mangalarga Marchador.
Os procedimentos adotados foram: medir o casco (pinça-talão) com a fita métrica (Sanny),
o diâmetro da falange proximal (Paquímero-Sanny), sendo importantes estas medidas para
estabelecer o posicionamento do goniômetro. O fulcro foi colocado na metade do tamanho
do casco (Figura 2), a haste fixa rente ao chão e a móvel passando pela metade da falange
proximal, determinando assim o ângulo da quartela. As medidas foram obtidas utilizando-
se um goniômetro (Carci). Os animais foram mensurados posicionados em estação forçada,
sobre piso de cimento, menos irregular possível e sem declividade.
RESULTADOS
Os valores mínimo e máximo da angulação das quartelas foram de 52 a 67º (±5,7) para
posterior esquerda, 50 a 68º (±7,3) para posterior direita, 51 a 70º (±8,5) para anterior esquerda
e 55 a 73º (±7,5) para anterior direita.
A figura 3 representa a dispersão de cada cavalo em relação aos ângulos de suas quartelas.
Figura 3: Cada cavalo e seus valores de angulação em relação a cada quartela. Sendo 1 para
anterior direita, 2 para anterior esquerda, 3 para posterior direito e 4 para posterior esquerda.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
A Figura 4 apresenta as médias dos ângulos das quartelas e seu desvio padrão.
Figura 4: Apresenta as médias e o desvio padrão dos ângulos das quartelas de todos os
cavalos.
452
DISCUSSÃO
Nos dois cavalos Árabes foram identificadas quartelas mais anguladas e tamanhos médios,
no Quarto de Milha com Inglês as quartelas são mais anguladas que as Árabes e de maior
comprimento. Os três primeiros cavalos poderão ser indicados para o tratamento de pacientes
hipotônicos em relação às quartelas. No Brasileiro de Hipismo as quartelas são menos
anguladas e de menores comprimentos, assim como no Mangalarga Marchador. Nos dois
últimos cavalos, poderão ser indicados para o tratamento pacientes espásticos [1, 3, 8, 9, 10, 11].
Os dados demonstram que há uma diferença entre os ângulos das quartelas em um mesmo
cavalo, dos cinco analisados: um apresenta mais uniformes os ângulos – cavalo 5, o cavalo 4
apresenta ângulos menores nas quartelas dianteiras enquanto as posteriores maiores, e os
cavalos 1,2 e 3 são ao contrário encontrado no cavalo 4 (Figura 3).
As angulações das quartelas são bastantes variáveis, e vários fatores internos e externos
podem influenciar em seus ângulos, como deformidades articulares, traumas, cascos mal
cuidados, mal ferrageamento ou casqueamento e diversos outros fatores. Desta forma o
cavalo de equoterapia tem de ser muito bem cuidado, pois este é o terapeuta principal do
tratamento em que todo o resultado dependerá de seu movimento correto e harmônico [1].
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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www.desempenho.esp.br/livro/lista_capitulo.cfm?livro=18 453
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necesidades humanas básicas afetadas. Acta Cirúrgica Brasileira. 2003; 18(Suppl 4); 40.
454
HIPOTERAPIA, UMA EXCELENTE OPORTUNIDADE PARA O
APRENDIZADO MOTOR: UMA DISCUSSÃO DE FATORES NEURO-
MOTORES E PSICOLÓGICOS CHAVE
INTRODUÇÃO
Os efeitos da hipoterapia nas pessoas com paralisia cerebral têm sido descritos e pesquisados
por um número de autores (Casady e Nichols-Larsen, 2004; Debuse et al., 2005; Heine 1997;
Künzle, 2000; Strauß, 1998; 2000; Tauffkirchen, 1996; Would, 1998; 2000; 2003). Dorothée
Debuse foi a primeira pesquisadora a explorar em detalhes os efeitos completos da hipoterapia
de uma perspectiva do usuário. Em 2003 e 2004, ela conduziu grupos focados / entrevistas
semi-estruturadas com 31 crianças e adultos com paralisia cerebral +/- seus pais em seis
centros na Alemanha e no Reino Unido. Os dados resultantes foram muito ricos, não somente
em termos dos efeitos físicos da hipoterapia nas pessoas com paralisia cerebral, mas,
importantemente, também nos efeitos psicológicos que os acompanham, e parecem estar em
“sinergia” com os efeitos físicos.
Uma das principais conclusões foi de que a hipoterapia é mais eficiente para os participantes
do estudo que a fisioterapaia convencional. Vários participantes descreveram como eles
mesmos ou seus filhos apenas desenvolveram certas habilidades motoras depois de iniciada
a hipoterapia, ainda que tivessem sido tratados com fisioterapia convencional por anos. Foi
importante examinar a origem dessa observação. Portanto, as conclusões foram examinadas
e trianguladas com a literatura existente sobre neuroplasticidade/aprendizagem motora e
psicologia/pedagogia. Baseado nestas fontes, um esquema conceitual foi desenvolvido para
explicar por que a hipoterapia constitui tão eficiente aprendizado motor. Este artigo/poster
irá introduzir o esquema conceitual de aprendizado motor na hipoterapia (ver Figura 1),
que foi desenvolvido baseado nos achados do estudo.
455
UMA EXPERIÊNCIA MULTISSENSORIAL
Muitas pessoas com paralisia cerebral nunca têm uma experiência de movimento no espaço
(relativamente sem esforços). Pessoas com paralisia cerebral que não se movimentam
normalmente não experimentam uma base de apoio móvel ou instável da pélvis. Isto é
significativo. Há um reconhecimento crescente do fato de que indivíduos com paralisia
cerebral não estão expostos aos mesmos estímulos sensoriais e de movimento como as pessoas
não-deficientes, que contribui significativamente para sua deficiência. Em outras palavras,
sua falta de movimentos normais não se deve apenas à sua produção motora anormal, mas
também à falta de insumo sensorial, e assim, da oportunidade de experimentar e paticar
respostas de movimentos normais (Leonard, 1994; Schulz, 1998; Shumway-Cook e
Woollacott, 2001; You et al., 2005). O cavalo como uma “base móvel” e seus movimentos no
espaço fornecem uma oportunidade única neste contexto. Um dos participantes de nosso
estudo relatou:
O participante citado acima expressou claramente que a hipoterapia lhe dá uma experiência
de movimento única.
O que é tão especial sobre a hipoterapia é que o movimento que o cavalo “fornece” não é só
repetitivo, mas também típico do andar humano (Dvorakova et al., 2003; Riede, 1986; Schirm,
e Riede, 1998). Assim, a facilitação do controle do tronco via o andar do cavalo é algo que,
de fato, aproxima-se do movimento normal para muitos indivíduos com paralisia cerebral e
outros déficits neuromotores. Esse treinamento do tronco em um padrão que muito lembra
o andar humano (Dvorakova et al., 2003; Riede, 1986; Schirm e Riede, 1998; Strauß, 2000)
é único para a hipoterapia e é experimentado como tal por seus usuários. Um participante
de nosso estudo, que não é capaz de andar, disse:
456
“no cavalo eu sinto como se eu estivesse andando. Posso me deixar levar completamente
[pelo movimento], e o cavalo o transmite para mim”.
Strauß (2000) enfatiza que nenhum outro meio terapêutico além do cavalo pode realizar
isso. Para uma discussão dos efeitos das diferenças na qualidade da hipoterapia nessa
experiência de movimento única, como também da oportunidade de aprendizado motor
que fornece, favor consultar Debuse et al (2006).
É interessante que também as expectativas dos pais exercem uma influência direta na
performance da criança. Crianças cujos pais pensam que elas irão melhorar em seu
desempenho escolar, realmente vão ser melhores que as crianças cujos pais têm baixas
expectativas. Por sua vez, a boa performance na escola aumenta a confiança dos pais em
seus filhos, que já estão confiantes quanto à própria performance, o que cria um “círculo
virtuoso”. Parece que as crianças cujos pais acreditam têm maior confiança e, portanto,
aproximam-se das situações de aprendizado mais positivamente, enquanto aquelas crianças
cujos pais revelam baixas expectativas têm pouca autoconfiança e, com isso, evitam as
situações de aprendizado que lhes parecem difíceis (Aunola et al., 2003; Bandura, 1982).
Os relatos dos usuários em nosso estudo demonstraram que esse princípio se aplica também
à hipoterapia: suas habilidades motoras melhoradas fazem com que os usuários se sintam
mais confiantes no decorrer da hipoterapia. Como resultado, eles (bem-sucedidamente) tentam
457
participar de tarefas motoras que não haviam tentado antes, resultando em uma atividade
e participação melhoradas. A observação seguinte de uma mãe de uma criança de cinco
anos ilustra esse ponto:
“Ele costumava cair e não saía com os outros para o jardim com seus brinquedos … mas
agora [desde a hipoterapia] está claro que ele pode fazer mais, e quanto mais ele é
capaz de fazer, mais eles [seu irmão e irmã] se envolvem com ele também.”
NEUROPLASTICIDADE
Entretanto, e sem dúvidas, além de seus únicos estímulos sensoriais e motores, o cavalo na
hipoterapia envolve os usuários em um nível emocional / afetivo, criando uma oportunidade
não somente física mas também psicológica ideal para o aprendizado motor, que envolve
centros motores, sensoriais e afetivo do cérebro. De acordo com o background científico da
neuroplasticidade desenhado acima, não é surpreendente que a hipoterapia apresente tais
condições favoráveis ao aprendizado motor.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
CONCLUSÃO
Uma conclusão muito importante de nosso estudo foi que todos os usuários adultos e a
maioria dos pais expressaram achar a hipoterapia mais eficiente que a psicoterapia
convencional. Isto é extraordinário. E reflete as observações de vários psicoterapeutas que
participaram da fase inicial do estudo (Debuse et al. 2005) e a larga crença na Alemanha de
que a hipoterapia é a escolha de tratamento para crianças com paralisia cerebral (Riesser,
1996).
Enquanto se tem escrito sobre os efeitos individuais da hipoterapia, nenhuma tentativa foi
feita para relacionar efeitos individuais entre si, e examinar suas interações, baseada na
ampla literatura. Do conhecimento da autora, a Figura 1 é a primeira estrutura conceitual
de seu tipo a expressar as complexas interações entre aspectos individuais da hipoterapia e
seus efeitos para explicar por que a hipoterapia constitui-se como uma eficiente oportunidade
de aprendizado motor. Ainda que não se alegue completo, esperamos que esse esquema
458 conceitual traga uma importante contribuição ao debate e ao entendimento da área.
REFERÊNCIAS
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XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
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460 Developmental Medicine and Child Neurology, 47: 628-35.
A EQUOTERAPIA RESSIGNIFICANDO A VIDA
RESUMO
Com isso, torna-se importante perceber que a qualidade do ambiente familiar auxilia no
desenvolvimento da pessoa com deficiência, assegurando-lhe confiança em si e no outro e o
sentimento de pertencimento ao núcleo familiar. Age como fator estimulante para o
desenvolvimento psíquico e motor, concordando com a possibilidade de mudança na estrutura
cognitiva do deficiente.
Para FRANKL (1991), o sentido da vida sempre se modifica, jamais deixa de existir. De
acordo com a logoterapia, podemos descobrir este sentido na vida através de três diferentes
formas: 1 – experimentando algo ou encontrando alguém (valores vivenciais ou de
experiência); 2 – criando um trabalho ou praticando um ato (valores criativos) e, por fim; 3
– pela atitude que tomamos em relação ao inevitável. Com base nessa afirmativa, o sofrimento
inevitável que vivenciam as famílias com os portadores de deficiência é sustentado na Fé
inabalável e na sua incansável caminhada, refletindo-se a cada conquista do praticante na
equoterapia e estimulando a construção de um pensamento educacional e reabilitacional
para a inclusão destes na sociedade. 463
Com isso, torna-se importante perceber que a qualidade do ambiente familiar auxilia no
desenvolvimento da pessoa com deficiência, assegurando-lhe confiança em si e no outro e o
sentimento de pertencimento ao núcleo familiar. Age como fator estimulante para o seu
desenvolvimento psíquico e motor, concordando com a possibilidade de mudança na estrutura
cognitiva do deficiente.
Temos de aceitar que é possível mudar a estrutura cognitiva do deficiente. Por definição,
não há nem pode haver deficientes ineducáveis. Por efeitos da educação e da reabilitação
precoces, podemos transformar o deficiente num ser autônomo, independente e capaz de
aprendizagem. Aprender a aprender é possível também nos deficientes. Por mais condições
adversas que se levantem, o organismo humano é um sistema aberto e sistêmico e, como tal,
a inteligência só pode ser concebida como um processo interacional, flexível, plástico,
dinâmico e auto-regulado de forma que as aprendizagens humanas desenvolvem-se passo a
passo num ambiente psicológico adequado e identificador. Quando o ambiente não é
adequado o desenvolvimento das capacidades de aprendizagem fica comprometido
(FONSECA, 1995, p.73).
MORIN afirma (1982, p.217):” ... a interdisciplinaridade controla tanto as disciplinas como
a ONU controla as nações. Cada disciplina pretende primeiro fazer reconhecer a sua
soberania territorial, e, à custa de algumas magras trocas, as fronteiras confirmam-se em
vez de se desmoronarem.” Nesse sentido, cria-se um ambiente facilitador, estimulando as
pessoas com necessidades especiais na sua recuperação, já que, muitas vezes, elas são
submetidos a tratamentos de longo prazo, cujos resultados são também muito lentos, gerando
cansaço e impaciência na família.
REFERÊNCIAS
FONSECA, Vitor da. Educação Especial: Programa de Estimulação Precoce - uma Introdução às
Idéias de Feuerstein e Vitor da Fonseca. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1995.
GUTIERRES FILHO, Paulo A Psicomotricidade Relacional em Meio Aquático. Barueri, SP: Marrole,
2003.
465
EQUOTERAPIA COM BEBÊS E CRIANÇAS
Apesar de a postura da criança continuar amadurencendo até o final de seu 3° ano, há mais
boas razões para iniciar uma criança de apenas poucos meses na ET. O posicionamento
dorsal, abdominal, deitando de lado e, mais tarde, sentado, são todos utilizados. A suposição
é feita de que através dos vários posicionamentos, fases de desenvolvimento da ontogênese
motora e postural são passo a passo facilitadas: estágios de movimento individual dos
membros, sentar de lado, rastejar, engatinhar, sentar, andar e habilidades motoras finas.
Esses procedimentos inovadores usados na ET e reabilitação infantil estão ainda em
desenvolvimento.
movimento holocinético.
Mais tarde, dependendo da progressão da terapia com ênfase na idade da criança, ela é
colocada de bruços na costas do cavalo na longitudinal, com o rosto descansando nas mesmas,
como Hermannová sugeriu. As crianças são capazes de manter esta posição deitadas de
costas somente próximo ao fim da ET. Do ponto de vista da ontogênese, este posicionamento
é aplicado, primeiramente, quando o cavalo está parado. Depois, a criança é colocada na
direção oposta à do andar do cavalo, e finalmente na mesma direção do andar do cavalo.
Todos os membros superiores e inferiores são posicionados num ângulo de 80° com joelhos
e cotovelos levemente dobrados.
Acredita-se que uma estimulação similar também é trazida à tona pelo correto contra-assento
e o assento normal, o qual é gradualmente aplicado mais tarde. As várias posições de assento
usadas na ET facilitam o sentar, andar e habilidades motoras saudáveis. Estas posições de
assento da ET correspondem à posição do bebê, cuja idade postural é 3 meses, deitado de
costas. Por estas razões, no caso de crianças especiais que foram principalmente reabilitadas
usando o método Vojta, é recomendado que este método seja complementado com o suporte
da estimulação da postura padrão primária através do ET.
Se tecnicamente possível, o estímulo de posições laterais deve ser usado tanto na posição
deitada quanto na sentada. Pode-se supor que deitar de lado longitudinalmente no cavalo
(direito e esquerdo) nas costas do cavalo estimula a idade de rolar sobre si, arrastar-se, apoiar-
se sentado com suporte lateral às mãos da criança e avançados estágios da ortogênese postural
(EOP). Deitar-se de lado de comprimento pode ser usado em três diferentes modificações
evolutivas. Primeiramente, o paciente deita de lado. Depois, deita de lado apoiando-se em
seu cotovelo flexionado. Em seguida, deita-se de lado apoiando-se na extremidade superior
– ela está meio sentada, meio deitada. Sentar-se de lado facilita a fase de navegação (movendo-
se para os lados) de uma cirança em pé usando algum tipo de apoio (e.g. mobília como uma
poltrona ou armário). O efeito da facilitação pode ser acentuado pela estimulação de uma
área de ativação durante a ET. Se a criança já é capaz de ficar em pé, uma posição em pé no
cavalo também pode ser utilizada, facilitando uma boa postura em uma superfície móvel e
viva (tabela).
Continua... 467
Continuação
Posição do Paciente Posição do Cavalo Desenvolvimento Facilitado
Deitado de bruços longitudinalmente nas – Arrastar-se e engatinhar para trás, rolar
costas do cavalo na posição de arrasto para uma posição de assento & EOP -
– Na direção oposta ao andar (gait) Andando Arrastar-se e engatinhar para a frente,
do cavalo rolar para uma posição de assento & EOP
– Na direção do andar do cavalo
Deitado de bruços longitudinalmente nas
costas do cavalo, debruçado nos
– Arrastar-se e engatinhar para trás,
cotovelos e palmas das mãos (PPC
rolar para uma posição de assento & EOP
normal ao fim do primeiro trimestre)
Andando – Arrastar-se e engatinhar para a frente,
– Na direção oposta ao andar
rolar para uma posição de assento & EOP
(gait) do cavalo
– Na direção do andar do cavalo
Deitado de lado longitudinalmente
(direito e esquerdo) nas costas do cavalo
– 3 posições:-Primeiro, paciente deita-
se de lado. -Segundo, paciente deita-se
de lado debruçado nos cotovelos Virar-se, rolar para uma posição de
flexionados – Terceiro, deitado de lado Parado assento & EOP
apoiado na extremidade superior –meio Andando
sentado e meio deitado.
: Na direção oposta ao andar (gait) do
cavalo
: Na direção do andar do cavalo
Sentado de lado nas costas do cavalo Parado Sentar-se e dar passos laterais
Andando
Sentado – Sentar-se, scooting back & EOP
– Virado ao lado oposto da cabeça do – Sentar-se, caminhar pra a frente & EOP
cavalo Parado
– Posição correta de assento (virado para Andando
a cabeça do cavalo)
Parado Apoio do treinamento de equilíbrio e de
Colocado em pé nas costas do cavalo
Andando ficar em pé
Além de usar certos elementos aplicáveis do método Vojta, elementos do conceito ‘Baby
Bobath’ também são recomendados para complementar a ET com bebês e crianças (pequenas).
Entre outras coisas, ambos os métodos influenciam a tonificação muscular, e mantêm o
terapeuta e o paciente se movendo juntos em ritmo e uma abordagem jocosa, fazendo-os
parceiros de terapia perfeitos.
É um axioma que a ET com bebês e crianças (pequenas) deve ser aplicada com a sensibilidade
de uma equipe experiente, uma vez que os diagnósticos e corretas transferências tenham
sido feitas pelos psiquiatras, em coperação próxima com fisioterapeutas. Este posicionamento
estimulante sobre um cavalo apresenta um método efetivo e abrangente que enriquece os
procedimentos de reabilitação entre os nossos pacientes mais jovens.
REFERÊNCIAS
Hornacek, K., Palenikova, A.: Hippotherapy with several months old babies (video). XI.
International Congres – The complex influence of therapeutic horse riding. Budapest, 11 –
14. Jun, 2003, Budapest