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XII CONGRESSO INTERNACIONAL

DE EQUOTERAPIA

XII INTERNATIONAL CONGRESS


OF THERAPEUTIC RIDING

TEXTOS COMPLETOS

COMPLETE TEXTS

FRDI ANDE-BRASIL
XII CONGRESSO INTERNACIONAL
DE EQUOTERAPIA

Desenho Logomarca: Ana Maria Bonfim

TEXTOS COMPLETOS

Brasília – Brasil
FRDI 2006 ANDE-BRASIL
APRESENTAÇÃO

A Comissão Organizadora do XII Congresso Internacional de Equoterapia,


realizado pela The Federation of Riding for the Disabled International (FRDI) e
pela Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL), tem a satisfação de
divulgar a Coletânea com textos completos da maioria dos trabalhos do
Congresso.

Por diferentes razões, alguns textos não foram recebidos pela Comissão e, em
conseqüência, não constam desta Coletânea.

Seria interessante enfatizar o desejo de todos para fazer a entrega do presente


material já durante o Congresso. Isso traz uma satisfação muito grande,
principalmente pelo aspecto prático.

Outro caminho, sem pressa, talvez pudesse favorecer um pouco mais a qualidade
dos trabalhos escritos. Isso, certamente, implicaria consultas e debates com alguns
autores, solicitando-lhes análise e eventuais reformulações. Vale recordar as
dificuldades inerentes de alguns em redigir no idioma oficial da FRDI – o inglês
- quando diferente de sua linguagem materna.

A Comissão Organizadora optou pela primeira alternativa, reproduzindo os


textos conforme foram recebidos inicialmente, sob a responsabilidade dos
respectivos autores, de acordo com as Instruções para Elaboração de Trabalhos,
divulgadas previamente.
SUMÁRIO

Comunicação Oral.

EQUOTERAPIA HOLÍSTICA: REEDUCAR DE UMA FORMA ECOLÓGICA


E INTEGRADA PARA UMA NOVA ERA DE CONSCIÊNCIA ......................................................... 17
Autor: Claudia Tannus de Mesquita - Brasil

CHAMADO DA NATUREZA – PSICOTERAPIA COM CAVALOS .................................................. 24


Autor: Monika Mehlem - Alemanha

MODELO INTEGRATIVO SUPRAPARADIGMÁTICO: O PONTO


DE CONVERGÊNCIA DA PSICOLOGIA NA EQUOTERAPIA ....................................................... 30
Autor: Francisco Javier Urra Riveros - Chile

O PROFISSIONAL DE PSICOLOGIA NA EQUOTERAPIA: ATIVIDADES,


TÉCNICAS E DIFICULDADES ..................................................................................................... 36
Autor principal: Juliana Prado Ferrari - Brasil
Co-autor: Sueli Galego de Carvalho

CAVALO E PSICOLOGIA - A BUSCA PELA MELHOR QUALIDADE


DE VIDA EM NEUROSES E PSICOSES ........................................................................................ 41
Autor: Gabriele Brigitte Walter - Brasil
Co-author: Ute Hesse

A INFLUÊNCIA DA POSTURA SOBRE O CAVALO E A VELOCIDADE


DO PASSO NA ATIVAÇÃO DOS MÚSCULOS ERETORES LOMBARES
ATRAVÉS DA ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFÍCIE ..................................................................... 47
Autora: Rebeca de Barros Santos - Brasil
Co-autores: Fábio Navarro Cyrillo, Mayari Ticiani Sakakura,
Adriana Pagni Perdigão, Camila Torriani

COLETE DE SEGURANÇA NO TRATAMENTO COM EQUOTERAPIA ........................................... 54


Autor : Ana Rita Landerdahl Abreu - Brasil
Co-autor: Sérgio Antonio Brondani

PROGRAMA DE ATENDIMENTO EQUOTERÁPICO NOS DISTÚRBIOS


DE APRENDIZAGEM (PAEDA) ................................................................................................... 60
Autora: Claudia da Costa Mota - Brasil

“REPARANDO” A PERSONALIDADE OU DANDO APOIOS PARA O ........................................... 70


COTIDIANO. EPMT – EQUITAÇÃO PSICOMOTORATERAPÊUTICA
Autor: Ulrike Thiel - The Netherlands
ALTERNATIVAS PEDAGÓGICAS PARA MINIMIZAR A ANSIEDADE E AUMENTAR A
CONCENTRAÇÃO EM CRIANÇAS COM O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO
E HIPERATIVIDADE –TDAH: OS SALTOS DA EQUOTERAPIA EM QUESTÃO; ............................ 84
Autor: Antonieta Martins Alves - Brasil

A INFLUÊNCIA RÍTMICA DO VOLTEIO TERAPÊUTICO NA REABILITAÇÃO ................................ 93


Autor: Adriana Perdigão - Brasil
Co-autores: Érika Quartim; Rebeca Santos

MOZART, MEU CAVALO E EU ................................................................................................. 100


Autor: Francisco Muñoz Hinojosa - México

TRANSDISCIPLINARIDADE: UM NOVO PARADIGMA NA EQUOTERAPIA .............................. 107


Autor: Amauri Solon Ribeiro - Brasil

O EFEITO DA EQUOTERAPIA EM PACIENTES COM DOENÇA


DE MENIÉRE: UM ESTUDO DE CASO ..................................................................................... 117
Autor: Alessandra de Toledo Corlatti - Brasil
Co-autores: Dr Reinaldo Ragazzo; Kellen Christien Kamiya

PÔNEIS COMO FACILITADORES NA EQUOTERAPIA .............................................................. 126


Autora: Heloisa Bruna Grubits Freire - Brasil

ANÁLISE COMPARATIVA ELETROMIOGRÁFICA DO MÚSCULO


ERETOR LOMBAR EM PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL
QUE TOMAM DIFERENTES POSIÇÕES SOBRE O CAVALO ...................................................... 132
Autor: Mayari Ticiani Sakakura - Brasil
Co-autores: Rebeca de Barros Santos, Fábio Navarro Cyrillo,
Adriana Pagni Perdigão, Camila Torriani

MEMÓRIA E AUTO-ESTIMA NA SÍNDROME DE DOWN:


A EQUOTERAPIA TEM ALGUM EFEITO SIGNIFICATIVO? ........................................................ 140
Autor: Elisa Useli- Belgica

SEGURANÇA NA EQUOTERAPIA: MINIMIZANDO RISCOS E PROMOVENDO


UM MELHOR E MAIS INTENSO CONTATO ENTRE PRATICANTE E CAVALO ........................... 152
Autor: Kether van Prehn Arruda - Brasil

EQUOTERAPIA NA RECUPERAÇÃO DA COORDENAÇÃO MOTORA,


EQUILÍBRIO E APOIO PLANTAR, NO PACIENTE HEMIPARÉTICO POR
SEQÜELA DE GERMINOMA DE PINEAL – ESTUDO DE CASO ................................................. 161
Autora: Thais Lydiani Manzolin - Brasil

A UTILIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E/OU


ALTERNATIVA (CSA) NA EQUOTERAPIA ................................................................................ 168
Autora: Ana Paula Nóbrega de Melo Neves - Brasil
Co-autor: René Garrigue

O MUNDO DOS CAVALOS: POSSIBILIDADE DE ALFABETIZAÇÃO ........................................ 170


Autora: Nilce da Silva - Brasil
Co-autoras: Birgit Gisela Marica Von Pescatore da Silva Araújo
e Raquel Y. Arantes Baccarin
EQUITAÇÃO PARA DEFICIENTES – UM ENCONTRO COM
A NATUREZA E A ARTE .......................................................................................................... 176

Autoral: Anna Strumiñska - Polônia


CAVALO AMIGO .................................................................................................................... 181
Autora: Maya Boss Jaccard - Brasil

DETERMINAÇÃO DA ROTAÇÃO DE GARUPA ATRAVÉS DE


PARÂMETROS BIOMECÂNICOS DOS CAVALOS COMO MEDIDA
INDIRETA DA ROTAÇÃO DE CINTURA EM PRATICANTES ...................................................... 189
Autor: Ana Heloísa Arruda - Brasil
Co-autores: Cláudio Maluf Haddad; Adalto P. Toledo; Fabiana Villa Alves;
Léa Matt de Assis Figueiredo

USO DA EQUOTERAPIA COMO ESTRATÉGIA DE TRATAMENTO


FISIOTERAPÊUTICO PARA MELHORA DO EQUILÍBRIO POSTURAL
EM AMPUTADOS DE MEMBRO INFERIOR: UM ESTUDO PILOTO. ........................................... 194
Autor: Thaís Borges de Araujo - Brasil
Co-autores: Rosângela Araújo, Levy Aniceto Santana,
Myrian Lopes, Carlos Roberto Franck

SENTE-SE ERETO! ........................................................................................................... 203


Autor: Lynne Munro - Inglaterra
Co-autor: Penny Butler

MELHORANDO AS APTIDÕES COMUNICATIVAS DE CRIANÇAS


QUE DEMONSTRAM HABILIDADES DA FALA SUB-DESENVOLVIDAS
DURANTE A EQUOTERAPIA .................................................................................................. 208
Autor: Joanna Dzwonkowska - Polônia

CRITÉRIO BÁSICO PARA AVALIAÇÃO DA EQUOTERAPIA EM INDIVÍDUOS


AFETADOS POR TRANSTORNO NEUROMOTOR: METODOLOGIA,
AVALIAÇÃO, RESULTADOS .................................................................................................... 212
Autor: Anna Pasquinelli - Italia
Co-autores: Paola Allori, Elena Ajello, Massimo Papini

ANÁLISE BIOMECÂNICA DE UM CAVALO DE TERAPIA: A INTERFERÊNCIA


DO PESO CORPORAL E DA SIMETRIA POSTURAL DO PRATICANTE
NA QUALIDADE DO PASSO DO CAVALO ............................................................................. 218
Autor: Luciana Ramos Rosa - Brasil

A INFLUÊNCIA DA EQUOTERAPIA NO EQUILÍBRIO DE INDIVÍDUOS


COM ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS UTILIZANDO A ESCALA DE BERG ............................... 230
Autor: Eveli Maluf - Brasil

A AÇÃO DA EQUOTERAPIA NA POSTURA E NO EQUILÍBRIO DE UM


INDIVÍDUO HEMIPARÉTICO APÓS ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ............................... 236
Co-autores: Ana Paola Negri;
Co-autores:Ana Paula M. Caldas; Thais P. G. de Oliveira;
Daniela Garbellini; Cláudio M. Haddad.
EQUOTERAPIA: O QUE A FASE PRÉ-ESPORTIVA AUXILIA
NO PRATICANTE COM SÍNDROME DE DOWN ...................................................................... 242
Autora: Valéria de Sá Barreto Gonçalves - Brasil
Co-autoras: Iana Maria Costa de Alencar Lima
Maria das Neves Cavalcanti

EQUOTERAPIA E PONTOS MOTORES DA FACE: ALONGAMENTOS


ATIVOS EM PRATICANTE COM PARALISIA CEREBRAL ............................................................. 248
Autora: Iana Maria Costa de Alencar Lima - Brasil
Co-autora: Valéria de Sá Barreto Gonçalves

O EFEITO DA EQUOTERAPIA NO TÔNUS MUSCULAR DE MEMBROS


INFERIORES E NO DESEMPENHO MOTOR EM CRIANÇAS
PORTADORAS DE PARALISIA CEREBRAL DO TIPO ESPÁSTICA ............................................... 253
Autora: Andréa Baraldi Cunha - Brasil
Co-authors: Novaes, G. F.; Rezende, L. C.; Corrêa, M.M.D.; Garbellini, D.;
Maluf, E; Negri A.P.; Caldas, A.P.; Oliveira T.P.G; Haddad C.M.

ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO EQUOTERÁPICO PARA O ATENDIMENTO


DE CRIANÇAS AUTISTAS. UTILIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO VISUAL
BASEADA NO MÉTODO TEACCH .......................................................................................... 260
Autora: Fabiana T. Riskalla - Brasil
Colaboradoras: Bruna M. Sabbag; Shirlei S. Kucek

EQUOTERAPIA E A INTEGRAÇÃO MULTISSENSORIAL


DO EQUILÍBRIO DA POSTURA .......................................................................................... 268
Autor: Satu Selvinen - Finland

EQUITAÇÃO TERAPÊUTICA E SEUS BENEFÍCIOS EM PSICOPATOLOGIA ................................ 271


Autor: Ute Hesse - Brasil

MANEIRAS DE INTERVENÇÃO NA EQUITAÇÃO TERAPÊUTICA


E HIPOTERAPIA. ESTUDANDO, ANALISANDO,
CATEGORIZANDO, CLASSIFICANDO............................................................................. 288
Autor: Ioannis Nikolaou - Grecia
Co-autores: Nikolaos Nikolaidis; Nikolaos Polizos

MEDIAÇÃO TRANSDISCIPLINAR – CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E EXEMPLOS


PRÁTICOS QUE JUSTIFICAM UMA ATUAÇÃO FUNCIONAL E ATUAL .................................... 282
Autor: Ana Paula Gatti Panizza - Brasil
Co-autor: Kether Van Prehn Arruda

MEDIDA DA INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL E ALIANÇA


TERAPÊUTICA: SEUS PAPÉIS NA CONSTRUÇÃO E AVALIAÇÃO
DE UM PROGRAMA DE REABILITAÇÃO .................................................................................. 290
Autora: Antonella Artuso - Italia

MEU CAVALO, MINHA FAMÍLIA E EU: UMA AVALIAÇÃO POR MEIO


DE DESENHOS (EU DESENHO MEU MUNDO INTERIOR). ..................................................... 296
Autora: Rossella Frascoli - Italia
Co-autora: Antonella Artuso
O QUE SE CONHECE SOBRE A EQUOTERAPIA: COM A PALAVRA
PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA CIDADE DE FRANCA-SP ....................................................... 306
Autor: Roberta Gimenes - Brasil
Co-autor: Denise Emilia de Andrade

A POSTURA MONTADA COM MEMBROS INFERIORES CRUZADOS


FACILITANDO A ORGANIZAÇÃO NA ESPASTICIDADE .......................................................... 314
Autor: Carlos Roberto Franck da Rocha - Brasil

EFEITO DA EQUOTERAPIA NA POSTURA DE TRONCO


DE CRIANÇAS DIPLÉGICAS SENTADAS ................................................................................. 321
Autor: Rosana Cruz Barbosa - Brasil
Co-autores: Lílian de Miranda Belmonte; Raquel Aboudib Assad;
Gustavo de Azevedo Carvalho

ATIVIDADE PSICOMOTORA EQUESTRE ................................................................................. 329


Autor: Aldo Lauhirat - Argentina

REABILITAÇÃO EQÜESTRE DE CRIANÇA PROFUNDAMENTE


MULTIDEFICIENTE – O PRÍNCIPE ........................................................................................... 333
Autor: Maria Nieto Arana - Argentina

A UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS NA DESOBSTRUÇÃO BRÔNQUICA EM


PACIENTES COM DISFUNÇÃO NEUROMOTORA NA EQUOTERAPIA .................................... 334
Autor: Mylena Medeiros - Brasil

A EQUOTERAPIA COMO TRATAMENTO ADICIONAL NA AQUISIÇÃO


DE UM MELHOR ALINHAMENTO DE TRONCO EM PORTADOR DE
PC DO TIPO QUADRIPLEGIA ESPÁSTICA MODERADA UTILIZANDO
A CIF COMO BASE PARA AVALIAÇÃO E ELABORAÇÃO DE
ATIVIDADES - RELATO DE CASO ............................................................................................ 337
Autora: Manuela Vieira - Brasil
Co-autora: Mariana Maia

ENSINANDO E MANTENDO CAVALOS NO PROGRAMA TERAPÊUTICO ............................... 340


Autora: Mary L. Longden - Australia

NO COMEÇO HAVIA UMA LIGAÇÃO ..................................................................................... 343


Autor: Brigitte Martin - France
Co-autor: Dominique Darques

EQUOTERAPIA PARA CRIANÇAS COM MÚLTIPLAS DEFICIÊNCIAS ........................................ 349


Autor: Laurent Bailly - France

Poster

EQUOTERAPIA E SEGURANÇA - DOIS AMIGOS SEGUROS .................................................... 357


Autor: Jose Miguel Manzo Ruiz - Chile
ANÁLISE ELETROMIOGRÁFICA COMPARATIVA DO RECRUTAMENTO
MUSCULAR DE ERETORES LOMBARES NA POSTURA PARADO E EM
POSTURAS TERAPÊUTICAS SOBRE O CAVALO AO PASSO ..................................................... 361
Autora: Rebeca de Barros Santos - Brasil
Co-autores: Fábio Navarro Cyrillo, Mayari Ticiani Sakakura,
Adriana Pagni Perdigão, Camila Torriani

ANÁLISE ELETROMIOGRÁFICA DA INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE


MUSCULAR DE ERETORES LOMBARES NA LATERALIDADE DO
TRONCO DURANTE A EQUITAÇÃO TERAPÊUTICA ................................................................ 367
Autor: Rebeca de Barros Santos - Brasil
Co-autores: Fábio Navarro Cyrillo, Mayari Ticiani Sakakura,
Adriana Pagni Perdigão, Érika Martins Quartim, Camila Torriani

A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM DO CAVALO NA TERAPIA ...................................................... 372


Autor: Maylu Botta Hafner - Brasil
Co-autores: Thaís Pezzato Gonçalves of Oliveira;
Ana Paula Margarido Caldas; Eveli Maluf; Cláudio Maluf Haddad

ANÁLISE COMPARATIVA DE POSTURA EM TERRA E NA


EQUITAÇÃO DE UM PACIENTE COM PARALISIA CEREBRAL ................................................... 375
Autor: Mayari Ticiani Sakakura - Brasil
Co-autores: Rebeca de Barros Santos, Fábio Navarro Cyrillo,
Adriana Pagni Perdigão, Camila Torriani

GESTALT-TERAPIA E EQUOTERAPIA:UMA RELAÇÃO AMIGÁVEL ............................................ 382


Autora: Ana Paula Lucchesi Leandrin - Brasil

A INFLUÊNCIA DA EQUOTERAPIA NA FORÇA DOS MÚSCULOS


INSPIRATÓRIOS EM PRATICANTE COM SÍNDROME DE DOWN –
ESTUDO DE CASO .......................................................................................................... 384
Autora: Maria Caroline Robacher - Brasil
Co-autora: Regina Ferrari

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DO FONOAUDIÓLOGO COM CRIANÇAS


PORTADORAS DE PARALISIA CEREBRAL NA EQUOTERAPIA ................................................. 390
Autora: Ana Paula Nóbrega de Melo Neves - Brasil
Co-autor: René Garrigue

PROGRESSÃO TERAPÊUTICA EM CASO DE MIELOMENINGOCELE ........................................ 394


Autora: Thaís Pezzato Gonçalves de Oliveira - Brasil
Co-autores: Ana Paula Margarido Caldas; Eveli Maluf ;
Ana Paola Negri; Cláudio Maluf Haddad

MELHORA OBJETIVA DE CIFOSE-ESCOLIOSE EM UM PACIENTE


COM PARALISIA CEREBRAL EM TRATAMENTO DE TERAPIA EQÜINA
COM SEIS MESES DE DURAÇÃO ............................................................................................ 400
Autora: Liliana Aguirre - Argentina
Co-autores: Mercedes Ruffo; Beatriz Sánchez; Marta Torrado
A INFLUÊNCIA DA EQUOTERAPIA SOBRE A FUNÇÃO SOCIAL,
AUTO-CUIDADO E MOBILIDADE COM PRATICANTE COM
ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA ................................................................... 402
Autora: Ana Paula Margarido Caldas - Brasil
Co-autores: Ana Paola Negri; Daniela Garberllini; Eveli Maluf;
Thaís Pezzato Gonçalves de Oliveira; Cláudio Maluf Haddad

A EQUOTERAPIA MOSTRANDO RESULTADOS EM PACIENTES


COM SÍNDROME DE WILLIAMS E SÍNDRONE DE SMITH-LEMLI-OPITZ .................................. 408
Autora: Paula Gaêta - Brasil
Co-autores: Ana Paula G. V. Bassoli; Andressa L. L. Lopes;
Teresa Cristina Tornazella Gaspar; Liane R. Giuliani; Luiza Helena Caran

O EFEITO DE ATIVIDADES PSICOMOTORAS COM E SEM O USO


DO CAVALO EM CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN ..................................................... 413
Autor: Fernando Copetti - Brasil
Co-autores: Susane Graup; Luis Felipe Dias Lopes;
Laboratory of Research and Teaching Human Movement:
Center of Physical Education and Sports: Federal University of Santa Maria-RS.

AVALIAR A EFICÁCIA DO TRATAMENTO DE EQUOTERAPIA


NA RIGIDEZ ARTICULAR DE MEMBROS INFERIORES E MARCHA
EM PACIENTE COM MAL DE PARKINSON .............................................................................. 422
Autor: Ana Paula G. V. Bassoli - Brasil
Co-autores: Andressa L. L. Lopes ; Paula Gaêta; Teresa Cristina Tornazella Gaspar;
Liane R. Giuliani; Luiza Helena Caran; Ramo Gustavo Oliveira

VIVÊNCIA DE PAIS – UM INSTRUMENTO MEDIADOR ENTRE A FAMÍLIA


E OS RECURSOS UTILIZADOS NESTE MÉTODO TERAPÊUTICO ........................................ 427
Autora: Daniela Perri Hortale - Brasil
Co-author: Gisele Andreani Perondi da Costa

MENSURAÇÃO DOS EFEITOS PRODUZIDOS PELO TRATAMENTO COM


EQUOTERAPIA EM UM PACIENTE COM SEQÜELAS DE PARALISIA
CEREBRAL (ESTUDO DE CASO) ...................................................................................... 433
Autor: Edilene C. Cardim F. de Almeida R. - Brasil
Co-autoras: Luciane Ap. Sande; Cyntia R. de Jesus Alves

IMPLANTAÇÃO DE UM PROJETO DE EQUOTERAPIA: UMA VISÃO


DO TRABALHO PSICOLÓGICO .............................................................................................. 442
Autor: Roberta Gimenes - Brasil
Co-autor: Denise Emilia de Andrade

A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE BIOMECÂNICA DA


QUARTELA PARA A EQUOTERAPIA ........................................................................................ 449
Autor: Marco Antonio Carvalho Câmara - Brasil
Co-autores: Cristiane Garcia Marques Câmara, Rodrigo Gustavo da Silva Carvalho,
Harlen Carvalho Ribeiro.
HIPOTERAPIA, UMA EXCELENTE OPORTUNIDADE PARA O
APRENDIZADO MOTOR: UMA DISCUSSÃO DE FATORES
\NEURO-MOTORES E PSICOLÓGICOS CHAVE ...................................................................... 455
Autor: Dorothée Debuse - United Kingdon

A EQUOTERAPIA RESSIGNIFICANDO A VIDA ........................................................................ 461


Autora: Maria Cristina Guimarães Brito - Brasil
Co-autora : Marcelle Santos Guimarães

EQUOTERAPIA COM BEBÊS E CRIANÇAS ............................................................................... 466


Autor: Karol Hornacek - Slovak Republic
Comunicação Oral
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

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EQUOTERAPIA HOLÍSTICA: REEDUCAR DE
FORMA ECOLÓGICA E INTEGRADA PARA
UMA NOVA ERA DE CONSCIÊNCIA

Autor: Claudia Tannus de Mesquita - Brasil

PANORAMA: CAVALO E HOMEM – AMIGOS EM CONTATO DESDE SEMPRE

Os destinos do homem e do cavalo têm se cruzado faz muito tempo, desde que o homem e
cavalo estabeleceram uma relação no começo das eras. O cavalo foi reconhecido e apreciado
pelo homem, muito por conta de sua relevante contribuição para o desenvolvimento da
espécie humana desde sempre. No passado, o cavalo foi um inestimável instrumento tanto
na alimentação, quando era caçado para comer, como no transporte – ele mudou a perspectiva
do homem acerca do mundo, pois tornou possível viajar por distâncias antes inimagináveis
naquele tempo. Desde então, as conquistas do mundo se converteram em trabalho humano,
fazendo com que o homem usasse o cavalo como instrumento de guerra.

Nos dias de hoje, felizmente, este papel foi transformado: os cavalos passaram a ser
amplamente reconhecidos como agentes de processos de reabilitação e de cura para pessoas
com “descapacidades” funcionais, ou como preferivelmente referimos, necessidades especiais.

E mais recentemente, tem sido também, pouco a pouco, reconhecido como um importante
agente de reconexão do homem com sua verdadeira essência, qualidades de sua
inteligência espiritual e de suas habilidades metafísicas de transformação de si mesmo e
do seu entorno.

Aqueles que praticam a equoterapia podem alcançar um estado de união com os cavalos, o
que os habilita a atuar como uma unidade, estabelecendo uma sincera e harmônica relação
entre ambos, com afetividade e confiança que certamente crescem juntas.

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Esta conexão não só propicia uma reabilitação física, porém mais contundentemente, reabilita
a alma, o espírito, a conexão com a energia vital. Na visão quântica da física, essa energia
é traduzida como energia quântica, a essência da vida.

BENEFÍCIOS DESTA CONEXÃO: QUEM SÃO AS PESSOAS ESPECIAIS?

A gana de investigar e descobrir novas soluções para as necessidades humanas tem tornado
possível desenvolver atividades dentro do contexto educacional da equoterapia, levando ao
desenvolvimento de melhor qualidade de vida para pessoas muito especiais.

E aqui, gostaríamos de fazer algumas questões deveras interessantes:

• Quem são esses que chamamos de pessoas especiais?

17
• Serão somente aqueles que possuem alguma “descapacidade” aparente que devem
ter um diagnóstico médico? Serão essas as únicas pessoas que poderiam beneficiar-
se de uma interação saudável e curadora?
• Serão esses os que necessitam de apoio médico, os únicos que podem obter as enormes
vantagens de participar de um programa alternativo terapêutico e educacional
em equoterapia?

• Não estará toda a espécie humana em geral, necessitada de uma extremamente


importante reconexão de consciência, no aspecto de sua saúde integral e holística?

• Não podemos também, nós, seres aparentemente sem nenhuma “necessidade


especial”, sermos beneficiados com esta valiosa ajuda da equoterapia como elemento
para o desenvolvimento de importantes habilidades educativas nas múltiplas
inteligências?

ARGUMENTO: PRECISAMOS DE CONTATO CONOSCO MESMO E COM OS


DEMAIS

Todos nós estamos conscientes da necessidade de uma educação mais completa,


multidisciplinar e para a vida diante este novo mundo que se cria e se recria o tempo todo.
Esta nova era de consciência exige uma revisão de valores, de interesses, de metas, de
objetivos, de políticas, de educação, etc. Exige uma real e sólida avaliação destes valores
que norteiam as decisões do futuro do planeta.

Nós despertamos nossas consciências para a importância do desenvolvimento das múltiplas


inteligências, habilidades emocionais e mentais que não estão presentes nem nas escolas,
pelo menos não nas tradicionais, e tampouco, estão presentes nos sistemas de assistência
médica ou psicológica na maioria dos países.

Para nos habilitarmos a prover e desenvolver valores essenciais para esta nova geração
são necessários novos programas de educação complementária. Não somente para poder
educar para a desafiadora realidade do mundo globalizado, mas e principalmente, pela
difícil tarefa que é para famílias, escolas e profissionais de saúde, criar no mundo um ambiente
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social de harmonia e equilíbrio no dias de hoje.

ENFERMIDADE OU VISÃO INTERNA

Todos somos capazes de reconhecer o quão desequilibrado está o nosso planeta em vários
aspectos. A cultura está focada na informação. O homem moderno utiliza quase que 100%
de seu tempo para fazer dinheiro, não importa o quanto de dinheiro ele possui ou é capaz
de fazer. Este feito, na maioria dos casos, não lhe traz a felicidade que eles está buscando.
Na outra parte do tempo que lhe resta, no tempo de ócio, ele gasta o dinheiro que faz e isso,
tampouco, o deixa felizes.

Algo deve estar errado. Deve haver algo que se perdeu nos séculos passados e, está prestes
a submergir na presente era. Valores. Valores essenciais que conectem o homem ao seu
verdadeiro espírito. Reconexão com um estilo de vida que possa trazer de volta ao homem
a sua qualidade de vida, perdida há tempos.
18
Nenhuma tecnologia é capaz de substituir a falta da “Natureza” que o homem moderno
está a experimentar. A tecnologia está a evoluir sempre, a medicina também, mas onde
ficou nossa capacidade de responder por nós mesmos? Onde foi parar?

Estamos todos tão apegados à ajuda que vem de fora que não podemos sequer sobreviver a
uma dor de cabeça sem tomar imediatamente algum componente químico sem ao menos
perguntar: O que se passa? O que acontece comigo neste exato momento?

Está tão distante de nós a idéia de que somos capazes de administrar nossa própria qualidade
de vida, estamos tão vitimizados por tudo que gira ao nosso redor, que nós sequer sabemos
o que é sentir-nos em liberdade. Não mais sabemos, sequer, o que é estar livre de um
analgésico para a dor.

Nossa qualidade de vida está limitada a um pequeno espaço em nossas vidas, e este espaço
está a desaparecer. Não nos sentimos confortáveis em escolher, não sabemos quem somos e
tampouco, o que é que realmente queremos.

Nós dizemos para nós mesmos que queremos algo, seguimos trabalhando como loucos
durante todo o mês para conseguir o dinheiro para adquirir tal desejo de consumo, mas
depois de comprá-lo, o prazer já foi embora, tão rápido como veio.

Qualidade de vida é, mais que tudo, uma consciência ecológica: é o desenvolvimento de


uma base de valores e habilidades que possam responder às demandas das necessidades
individuais e coletivas.

Começa com um contato, um profundo e interno contato. Um contato com um amigo. O


primeiro amigo que tivemos quando nascemos. O primeiro amigo com o qual estabelecemos
um compromisso que nos reconecta aos nossos valores pessoais e inteligências múltiplas: é o
fato de nos sentirmos nossos próprios melhores amigos!

Conexão entre amigos começa de dentro para fora.

Não é possível ensinar a uma criança ou a um jovem a ser amigável, estabelecer relações
saudáveis e cooperativas se eles não têm um contato harmônico e uma comunicação fluída

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consigo mesmo.

Neste mundo moderno podemos ver um grande número de desarmonias de comportamento,


falta de valores, falta de habilidades interpessoais, e eles não necessariamente são
diagnosticados como enfermidades. Portanto, eles não são necessariamente tratados como
um problema de saúde. Porque nós ainda pensamos e entendemos saúde como algo que a
medicina entende e reconhece como “ausência de enfermidade”.

Enquanto isso, vários problemas como falta de capacidade de adaptação, inflexibilidades


mental e emocional, falta de apreço pessoal e baixa auto-estima, timidez excessiva, falta de
energia corporal, falta de interesse em aprender, agressividade, excesso de competitividade,
etc., estão se manifestando como enfermidades em nossas crianças e jovens.

E a maior parte delas está sem os cuidados necessários e, geralmente, se estão sendo tratadas,
o são com interferência química, que geralmente suprime os sintomas, mas não empreende
19
a busca da causa real. É certo que a indústria química tem interesse que esta prática de cura
se perpetue.

Desta forma, fica fácil entender a razão dos absurdamente baixos orçamentos para a
educação, que são geralmente nos países de Terceiro Mundo ou países em desenvolvimento
também causadores de tanta desarmonia social. Estes países, em sua maioria, estão a comprar
sua “saúde” destas corporações da indústria química multinacional.

Nenhuma escola diz aos seus alunos que possíveis causas de tantas desarmonias estão
frequentemente associadas à desconexão com o verdadeiro espírito humano, ou com o
verdadeiro propósito de vida de cada pessoa. Nenhum médico avalia o que ocorre com esta
criança em aspectos profundos de sua vida interna, simplesmente avalia seus corpos físicos
e, na melhor das hipóteses, aspectos de sua psicologia, mas trata o dano como se fosse
meramente físico ou comportamental.

Em uma visão holística da saúde, na maioria das vezes, a causa de tais desarmonias está
conectada com o abandono dos sonhos da criança interna. Mas esses sonhos foram há
muito abandonados por quase toda a humanidade. A era mecanicista, a idade da tecnologia
trouxe ao homem uma maneira fragmentada de pensar e perceber a si mesmo e seu entorno.
É como se as pessoas fossem semelhantes a um relógio e pudessem ser “reparadas” com a
troca de algumas das suas peças ou de lubrificar algumas outras com drogas químicas.

Mas ainda existe uma semente de consciência oculta em alguma parte de nossas inteligências
que está a nos chamar. Pede ajuda e, por isso, algumas formas de experimentar perceber o
mundo e de viver emergem por todo o planeta. Uma nova medicina está emergindo e
formando parte da cura da humanidade para um mundo melhor. A medicina da alma.

É tempo de trazer de volta essa consciência à superfície, é tempo de correr contra os ventos
e encontrar uma nova forma de viver e de ser saudável. De dentro para fora. Desde os
nossos mais profundos sonhos para a nossa vocação. De volta àquilo que nós viemos
realmente ser e fazer nesta Terra; aos nossos talentos e habilidades, que são únicos.

CONECTANDO NOSSOS SONHOS INTERNOS PESSOAIS: UM CAMINHO PARA


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A CURA

Que maravilhosa oportunidade para reconectar a criança interna e seus sonhos, galopando
no dorso de um cavalo. A equoterapia holística é uma das mais amplas ferramentas para
programas de educação complementar. Ela traz a oportunidade para que a visão de alma
seja resgatada, porque ela conecta o homem à sua natureza essencial, aos seus conhecimentos
ancestrais e com suas capacidades visionárias. Também traz um novo significado para a
vida, liberdade e habilidades para experimentar ser seu próprio comandante, seu capitão.
Traz habilidades de liderança para um contexto de bem maior, de cooperação e jogo limpo,
onde todos têm a mesma oportunidade de ganhar.

Com o exercício de “tornar-se um”, que está presente na prática da equoterapia, cavaleiro e
cavalo podem experimentar e responder de uma maneira que nenhum outro método
educativo proporciona. Valores como cooperação, fluidez, honestidade, pensamento positivo,
auto-estima podem ser experimentados.
20
Também traz a experiência de sentir que, na Natureza e no planeta, todos estamos conectados
de alguma maneira e que a escolha de um cria ondas que afetam os demais, não importa o
quão distantes estejam.

Não existe outra maneira de ter êxito, a não ser através da arte de escutar e reconhecer as
necessidades dos demais, incluindo o meio ambiente. O jogo é o de tentar “dançar conforme
a música” e “caminhar com os mocassins do outro”, de forma consciente, e com a certeza de
que estamos fazendo de forma única e excepcional, para que o UNO possa SER como
indivíduo participante da diversidade.

Essa consciência de identidade diferenciada (não egóica) é a única que responde com
habilidade (=s responsabilidade) às necessidades da educação para o mundo moderno, que
propõe criar e construir uma Nova Era de Consciência Ambiental, generosidade e paz no
planeta.

Conexão entre amigos começa de dentro para fora: inteligências transdisciplinares e


multidisciplinares.

A experiência de aprender de dentro para fora dá ao homem a possibilidade de transformar


tudo o que experimenta em habilidades para a vida:

• conectar-se consigo mesmo em um exercício de compartilhar de amor;


• isso o conduz a criar e a manter relacionamentos pacíficos;
• liderança cooperativa;
• empatia Intencional;
• personalidade criativa e generosa;
• consciência de abundância e felicidade.

Essas são algumas das experiências que a equoterapia educativa fomenta para se ancorem e
as mesmas se reconheçam pelas habilidades cognitivas. Porque o processo de aprendizagem
pela experiência própria é a única forma de aprender verdadeiramente. Porque o
conhecimento sem ação não é sabedoria, é somente informação. Nós precisamos mais que
informação nessa nova era de consciência, nós precisamos de transformação. Paulo Freire,

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


educador popular há tempos já dizia: “Ninguém educa ninguém, o homem aprende por si,
em contato consigo mesmo e com o mundo”.

A conexão entre amigos evoluirá até mudar o mundo

A relação única que o cavalo brinda ao homem é muito vívida e muito diferente de todas as
demais. É absolutamente necessário que o papel do cavalo em nossas vidas humanas seja
devidamente reconhecido, com uma visão e jornada totalmente novas.

Cavalos não são mais instrumentos de guerra, mas sim guardiões da paz. Eles nos ajudam
a descobrir onde está o elemento que nos move e que está há tempos oculto e incompreendido
dentro de nós mesmos, de nossas almas e corações. A afetividade e o amor que desenvolvemos
na conexão com o cavalo, comparado a outros animais de estimação, que também têm lições
para, nos ensinar, têm uma diferença fundamental.

21
O cachorro, por exemplo, é tão incondicional em seu amor, que pode vir a nós mesmo quando
o tratamos mal e nos portamos mal com ele. Assim está a nos ensinar sobre o amor
incondicional e a fidelidade; aproxima-se sempre com aquela vontade de brincar peculiar,
que nos relembra nossa criança, e está a nos ensinar a receber.

Já os gatos, em sua forma única de ser, nos ensinam a estar à sua disposição, já que eles
fazem o que querem, quando querem e têm vontade. Ensinam-nos acerca de nos mantermos
firmes em nossa verdade pessoal, e a cuidar de nós mesmos em primeiro lugar. Estão a nos
ensinar a sermos generosos e a dar.

O cavalo nos ensina ambos os lados da moeda, ambos os caminhos e principalmente a forma
de discerni-lo, quando e como fazê-lo, nos ensinando, então, a sermos sábios.

Consciência é ir mais além das fronteiras do bem e do mal, é não somente ser capaz de dar e
receber, mas sim, de estar conscientes de quando e como fazer. Aprendendo os ritmos da
vida, seus ciclos, sua sabedoria natural pode nos trazer de volta para o nosso real lugar de
origem.

A equoterapia com uma abordagem educacional nos dá a oportunidade de criar qualidade


de vida, aprendendo a discernir, com sabedoria e equilíbrio, como escolher uma vida melhor,
passo a passo.

Da mesma maneira que o cavalo escolhe seus caminhos, passo a passo e em um ritmo
cadenciado, será possível aprender como viver a vida desta maneira. Dando o passo e
escutando... E se por acaso, em algum momento não sabemos o que fazer, simplesmente
deixar as rédeas, soltando-as para que o cavalo nos conduza. Ele saberá conduzir-nos no
caminho de volta para casa. Parafraseando a Dory no filme de desenho animado “Procurando
Nemo”: Simplesmente siga cavalgando... siga cavalgando... cavalgando... cavalgando…

Projeto WAKAN TANKA® Equoterapia Educacional Complementária


Desenvolvimento de Valores e Múltiplas Inteligências.

Projeto WAKAN TANKA®: Seus princípios inovadores e diferenciais


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

contundentes

É o “espírito” que permite que nós encontremos o caminho de superação daquilo que
aparentemente é impossível.

A visão de saúde que traz o Projeto WAKAN TANKA® passa pelo processo da consciência.
Nosso trabalho propõe criar e permitir, através da equoterapia, possibilidades de um
autoconhecimento que conduza a essa consciência, a esse “espírito”.

Com um enfoque não somente para um público de “necessidades especiais” em geral, mas
também para pessoas que, aparentemente, não sofram nenhuma “descapacidade”.

Pessoas que, em seu dia-a-dia, tratam de lidar com seus problemas, suas dúvidas, seus
descontentamentos e seus vícios, mesmo que nem sequer tenham consciência deles, já que
22 simplesmente sentem, cada vez mais, uma espécie de insatisfação, que não sabem de onde
vem. Que experimentam um vazio que muitas vezes as leva a abandonar seus sonhos, a se
sentir sem entusiasmo pela vida, a não ser feliz...

O ProJeto WAKAN TANKA® acontece no Ce. Na. F.R.E. (Centro de Fomento y Rehabilitación
Ecuestre), que funciona nas instalações da Escuela de Equitación del Ejército, “Grito de
Asencio” em Montevidéu, no Uruguai.

Ali já acontece um trabalho de equoterapia de reabilitação há mais de dez anos. O Projeto


WAKAN TANKA® se soma ao trabalho deste Centro, ampliando suas atividades para um
novo foco: a educação complementar, o crescimento humano enfocando o Desenvolvimento
de Valores e de Múltiplas Inteligências.

É um tema absolutamente inovador, que nos países sul-americanos recentemente passou a


ter mais transcendência. Ainda existem muito poucos profissionais da área de educação no
meio da equoterapia com foco educativo para pessoas que não necessariamente sofrem do
alguma das várias “necessidades especiais” reconhecidas como enfermidades.

O Projeto WAKAN TANKA® tem como propósito atrair para esta inovadora forma de
equoterapia públicos de estudantes, criança, jovens e adultos, que tenham o desejo de ter
melhor qualidade de vida e percebam a necessidade de desenvolver-se como indivíduos
para viver melhor num mundo tão desafiador como este no qual vivemos.

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23
CHAMADO DA NATUREZA – PSICOTERAPIA COM CAVALOS

Autor: Monika Mehlem* - Alemanha

INTRODUÇÃO

“Torne-se o que você é” é um dito grego e “torne-se o que você é” é também uma das
principais idéias da psicoterapia moderna.

“Tornar-se o que você é” – esta sentença contém para alguém uma orientação na presença,
no “aqui e agora”, que é contido na parte “o que você é”, neste exato momento.

Estamos falando sobre um estado de percepção atenta para si e para tudo ao redor, um
estado de presença, consciência e “atenção”(i.e mente e coração abertos) a todo momento.

O segundo aspecto após o Ser é o Tornar-se: antes que a folha de uma planta se modifique,
um campo energético desta folha já existia e já continha a futura forma da folha.

A folha modifica-se em sua forma, bem como uma pessoa pode crescer em seu potencial, a
menos que temores, deficiências e hesitação a impeçam. Este movimento é encontrado em
“torna-se.. (o que você é”). Essas quatro palavras contêm o “ser” (quem sou eu) assim como
o tornando-se (o que eu possa ser, usando todos os meus potenciais).

Sintomas psicossomáticos e sofrimento mental surgem quando uma pessoa é perturbada, é


enfraquecida ou é bloqueada em seu fluxo de vida. Com muita freqüência a causa de uma
doença está na tentativa (inconsciente) de uma pessoa ser alguém diferente do que ela é.

Uma nova pesquisa mostra que pessoas em profissões nas quais precisam ser extremamente
adaptadas socialmente, por exemplo comissários de bordo, demonstram um risco de doenças
estatisticamente mais alto.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Tornar-se saudável significa começar a procurar o âmago do ser, o significado e o destino de


cada vida individual. Não há melhor companheiro no caminho do que o cavalo. O cavalo,
sem preocupar-se com o futuro e sempre vivendo o presente, traz a pessoa de volta ao Aqui
e Agora e em contato consigo.

O cavalo, com seus incomparáveis sentidos acurados descobre as emoções verdadeiras de


uma pessoa atrás da fachada.

O cavalo reconhece a pessoa mesmo aí, onde a pessoa não se conhece. A pessoa encontra
sua própria verdade, sua natureza verdadeira no espelho do cavalo. Passo a passo, ao
encontrar o cavalo, ela pode redescobrir e recapturar partes reprimidas, negligenciadas ou
não vividas de sua personalidade e encontrar uma unidade de cura.

* Dipl. Psych. Monika Mehlem In der Haarwiese 36; 53773 Hennef Germany Phone:+49-2248-5007;
24 email:monika.mehlem@onlinehome.de
Psicoterapia por meio do cavalo – o básico

Desenvolvimento na Alemanha
Em 2001, um grupo chamado “FAPP” (uma equipe de especialistas trabalhando com cavalos
em psicoterapia) foi fundado na Alemanha.

Cerca de 20 psicoterapeutas que trabalham com cavalos uniram-se, com a meta de pesquisar,
descrever e desenvolver o conceito “psicoterapia com o cavalo”.

Depois de muitas discussões e com base em meus 20 anos de experiência de trabalho


terapêutico com cavalos, as seguintes idéias podem descrever o que eu quero dizer quando
falo em ‘psicoterapia com o cavalo’:

A psicoterapia é sempre um processo individual


“A vida de cada pessoa vale um romance “, diz o título de um livro sobre gestalt terapia, de
Erving Polster. Cada processo terapêutico, cada sessão de terapia, cada nova conexão entre
cliente e cavalo é um novo capítulo e um outro passo no caminho do desenvolvimento.
Terapia significa “serviço” ou “acompanhando pelo caminho”, e me vejo como um ajudante
e escolta para o cliente na busca por si mesmo, que começou com a ajuda do cavalo.

Nenhuma sessão é igual a outra e eu não sei antes do tempo o que irá se desenvolver entre a
pessoa e o cavalo. Mas podemos supor que um tema emergirá, isso é “maduro” e importante
para o desenvolvimento do cliente. O cliente é convidado a se deixar guiar por seus impulsos
interiores espontâneos, sobre os quais o cavalo reage diretamente. Se a pessoa e o cavalo
estão em harmonia, nós podemos supor que a pessoa está bem conectada consigo e é
“autêntica”. Se há dissonâncias, começaremos um processo de busca, que normalmente
leva a temas inconscientes reprimidos.

Um exemplo
Uma jovem mulher queria nada mais que um galope. Seu cavalo estava na guia (long line),
mas, apesar de muitas tentativas de fazê-lo ir mais rápido, o marchador se recusava. Pelo
contrário, ele ficou mais e mais lento até que finalmente parou e abaixou a cabeça. A mulher
ficou confusa. A princípio ela estava zangada, e então desesperada em seu desamparo.
Sobre a pergunta se havia algo mais que ela queria fazer, ela deixou-se cair sobre o pescoço

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do cavalo, e chorou durante muito tempo.

Este curto mas impressionante incidente fez a mulher compreender que durante anos ela
constantemente esperou demais de si. Ela tentou alcançar êxito e reconhecimento através de
seu desempenho e de riscos, enquanto não reconhecia suas necessidades de entrega e apoio.
Durante a sessão seguinte o cavalo estava disposto a atendê-la e ofereceu-lhe um galope
alegre.

O Cenário

Equilíbrio entre Segurança e Liberdade


O cenário terapêutico deve ser o mais seguro possível. A segurança é uma das necessidades
básicas da pessoa e o pré-requisito para o cliente ser capaz de confiar e abrir-se.

Segurança significa que o cavalo é confiável e bem treinado. Isso não quer dizer que o cavalo
não possa ser percebido como uma ameaça pessoal. A segurança também significa proteção
contra dano físico, assim como contra espectadores e o público. 25
Também significa um relacionamento de confiança para o terapeuta, que pode mediar e
traduzir entre cliente e cavalo e, se for necessário, proteger.

Segurança também significa que a situação com o cavalo não inicia novos temores nem
ameaças, mas deixa espaço suficiente para reconhecer temores e conflitos existentes.

Por outro lado, a situação terapêutica deve ser o mais livre possível, tanto para o cliente
como para o cavalo.

E permitido que a pessoa encontre a proximidade ou distância do cavalo que ela necessita,
mas o cavalo também deve ser livre para mostrar sua reação à pessoa.

O cavalo deve ser livre para mover-se numa área cercada (paddock, pista de equitação,
redondel, etc.) quando está encontrando o cliente.

Ainda que um cavalo seja segurado, guiado ou arreado, ele necessita de liberdade o suficiente
para expressar o próprio estado de espírito e a reação ao cliente (dentro dos limites de
segurança) e deve ser capaz de confrontar e espelhar o cliente.

Isso assegura o bem-estar psicológico do cavalo por um lado e, por outro, um evento
terapêutico importante só pode ocorrer quando o cliente pode experimentar a reação pessoal
do cavalo a ele. Isso não é possível se o cavalo está amarrado com nós cruzados durante o
asseio, ou com rédeas laterais apertadas.

Para a terapia é muito importante que o cavalo trabalhe voluntariamente. Muitos dos meus
clientes experimentaram violência explícita ou oculta, física e psicológica em suas vidas.
Porque os clientes se identificam, freqüentemente, com o cavalo, é necessário que nós não
façamos do cavalo (consciente ou inconscientemente) algo semelhante ao que talvez tenha
causado a doença de nossos clientes.

Nicole, uma jovem mulher severamente traumatizada, descreve seus sentimentos, enquanto
identificada com o cavalo:
“Um cavalo não é um cavalo seguro se ele é forçado a fazer algo. Eventualmente o cavalo explodirá.
É importante para mim que eu possa estar aqui e que o cavalo possa estar e ele não tem que
funcionar como uma máquina.
O cavalo tem o direito de mostrar sua própria natureza e ter vontade própria…”
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Diferentes Níveis do Trabalho Terapêutico


Aqui e Agora - Regressão - Potencial
A base do trabalho terapêutico por meio do cavalo é a “conexão”. A conexão entre uma
pessoa e um cavalo no plano horizontal (encarar), conexão de uma pessoa consigo mesma
em forma da consciência do aqui e agora (centrar) e conexão de uma pessoa a suas partes
psicológicas inconscientes no plano vertical do nível intrapessoal de regressão.

No ‘Aqui e Agora’ o cavalo ensina atenção e consciência à pessoa. Somente se o cavalo


sente a presença da pessoa, ele se interessa numa conexão e estará disposto a trabalhar em
conjunto. A pessoa aprende a escutar como o cavalo e como comunicar-se com a mais sutil
linguagem corporal. Durante o encontro com o cavalo, os padrões adquiridos de como a
pessoa forma relacionamentos estão emergindo:

– Quem inicia e quem guia?


26 • Onde estão os limites da proximidade e distâncias?
• Onde está a ‘distância correta’?
• Qual tópico é dominante durante o contato (atração, poder versus impotência,
medo, desamparo, resignação, autonomia versus dependência, conexão,
confluência, projeção, etc.)
– Que novas experiências são possíveis dentro dos relacionamentos?

Conflitos psicológicos sempre são causados num relacionamento e portanto só podem ser
curados dentro de um relacionamento. No relacionamento entre um cliente e um cavalo
torna-se aparente como a pessoa aprendeu a estruturar seus relacionamentos para proteger-
se de (velhas e novas) feridas. O cavalo reage diretamente e não se deixa envolver em emoções
e contratransferência, como o terapeuta. Portanto, a parte do cliente é muito mais visível e,
para si, óbvia.

Muitas vezes as pessoas parecem mais jovens do que realmente são quando se sentam no
cavalo ou estando em contato próximo com o cavalo. O cavalo acorda energias infantis e a
regressão espontânea, porque, possivelmente, o sentar no cavalo, lembra o sentimento de
ser carregada quando bebê. Outra explicação talvez seja que o cavalo oferece movimento e
contato que corresponde a sentimentos profundos e reações espontâneas, que freqüentemente
são enterradas na idade adulta. Se o cliente segue estes impulsos espontâneos para mover-
se, eles podem dirigi-lo a bloqueios e fixações de fontes de energia vital esquecidas.

Variações triangulares da relação

Cliente - Terapeuta - Cavalo


Há várias constelações no relacionamento triangular entre cliente, terapeuta e cavalo.
Normalmente, o foco está no relacionamento entre o cliente e o cavalo. Especialmente se os
terapeutas trabalham com os próprios cavalos, o cliente pode ver o terapeuta e o cavalo
como uma unidade ou como um par, no melhor cenário como bons pais ou amigos afetuosos.
O terapeuta ajuda e permite ao cliente que construa o relacionamento com o cavalo. Se há
uma conexão emotiva forte entre o terapeuta e o cavalo, talvez seja um presente para o
cliente ser permitido trabalhar com o cavalo do terapeuta e ter a experiência do terapeuta
num nível mais pessoal do que ocorre numa terapia verbal (Barbara Groth). Por outro lado,
críticas narcisistas podem emergir, o que pode resultar em sentimentos de competição,
rivalidade e impotência como ‘o terapeuta gosta mais do cavalo do que de mim,’ou ’o cavalo

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só escuta o terapeuta, não a mim, entre outros’ etc.

O cavalo é insubstituível para o diagnóstico psicodinâmico, assim como um co-terapeuta


durante o processo de cura. Se o terapeuta sabe como ler os sinais do cavalo, ele pode pegar
dicas em relação à psicodinâmica do cliente. Essas são ferramentas diagnósticas muito mais
específicas e exatas, do que quaisquer outras. O cavalo reage ao tom do corpo, à postura, ao
carisma, ao ser energético da pessoa. Onde somos enganados pela linguagem ou aparências
externas, o cavalo já reconhece a “alma” da pessoa. O cavalo desvenda a dinâmica
inconsciente e os temas ocultos, mas essenciais. Eles passam a ser acessíveis e prontos para
serem modificados.

Aspectos da terapia focada no corpo


Corpo, mente e alma nunca podem ser separados. Intervenções psicoterapêuticas que
concentram-se somente nos aspectos cognitivos verbais negligenciam os aspectos físicos das
emoções e produzem uma separação artificial. Enquanto que, trabalhando com o cavalo, o
27
que sempre envolve tocar, mover e estar ciente, esta separação é dissolvida e o acesso
às questões suprimidas do cliente pode ser reproduzido. Supõe-se que o corpo armazena
todas as experiências e memórias da pessoa em suas células, músculos e líquidos,
independentemente do fato – se são acessíveis, suprimidas ou partidas.

Mecanismos de proteção físicos e psicológicos levam à supressão, o que significa que emoções
assustadoras e insuportáveis são empurradas para fora do alcance do consciente.

São necessários energia e força muscular para manter essa supressão, e pode levar a problemas
físicos crônicos (tensão, problemas respiratórios, etc). O potencial saudável está disponível
sob as camadas de proteção, mas, com freqüência, a pessoa não tem acesso a isso.

Tais memórias suprimidas podem ser reativadas por conexão, por exemplo, através do toque,
movimento, respiração, consciência aumentada, e então podem ser integradas, de uma
maneira saudável, à personalidade. Para mudar estas camadas protetoras permanentemente,
é necessário descobrir e renovar a conexão com as emoções que as causaram originalmente.

Sabe-se que o êxito de uma terapia não depende, em primeiro lugar, da metodologia. Depende
principalmente das mensagens de relacionamento do terapeuta e a seu respeito, amor e
aceitação, juntamente a uma confrontação corajosa. Melhor que qualquer terapeuta, o cavalo
pode fornecer essas qualidades:

– toque físico sem ambiguidade (nenhuma intrusão);


– o sentimento de ser carregado;
– retorno e resposta diretos, sem críticas - porque não há interesses narcisistas;
– interesse e curiosidade;
– confrontação “Direta”;
– acompanhamento estável por todos níveis das emoções.

É tarefa do terapeuta apoiar o processo e desempenhar um papel catalisador no


relacionamento entre o cavalo e o cliente. Comparado a um relacionamento terapêutico
tradicional, o terapeuta permanece mais ao fundo durante o trabalho com o cavalo. Apóia,
explica, traduz e às vezes, quando necessário, interpreta para apoiar a consciência do
processo emotivo do cliente.
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Os Cavalos de Terapia
Um cavalo de terapia, trabalhando com psicoterapia, precisa ter características e habilidades
especiais. Naturalmente, ele precisa ser confiável e estável. Deve ser interessado nas pessoas
sem ter medo ou ser submisso. Em vez de obediência cega, nós procuramos um cavalo com
individualidade, receptividade, auto-estima e sensibilidade. O cavalo de terapia não só deve
reagir a sinais aprendidos. Em vez de apenas funcionar, agir, ele deve cooperar. Deve ajustar-
se individualmente e independentemente a cada novo contato.

Para ser capaz de lidar com esta tarefa difícil, ele precisa confiar plenamente em seu dono
(no caso ideal, este seria o terapeuta).

Por esta razão, eu prefiro trabalhar com cavalos inteligentes e bastante dominantes. O cavalo
de terapia precisa saber seus limites, mas pode expressar-se dentro destes limites livremente.
Por exemplo, um bom cavalo de terapia não obedecerá aos comandos para andar, se o
cavaleiro realmente não decidiu andar, mesmo que as ajudas possam ter sido aplicadas
28
corretamente. Somente se o cavalo ajuda a confrontar o cliente com seus impulsos invisíveis,
pode a dinâmica inconsciente tornar-se ‘o tópico’ no processo terapêutico.

Além da importância de alguns procedimentos dos estábulos (portões abertos/corridas nos


potreiros e a vida toda numa situação consistente de rebanho), há métodos de treinamento
que ajudam a promover as características especiais que mencionei anteriormente. Por
exemplo, o TT. E. A. M. – Treinamento de Linda Tellington-Jones é ideal. O treinamento
apóia a auto-estima do cavalo e o sentimento para o seu corpo. Ensina o cavalo a estar mais
ciente de si e a desenvolver um equilíbrio estável. Enquanto o cavalo torna-se um verdadeiro
parceiro e co-trabalhador, o treinador precisa possuir um nível alto de auto-reflexão e precisa
abster-se do poder.

O Terapeuta
A psicoterapia com o cavalo exige muito da pessoa do terapeuta. Seu treinamento
psicoterápico básico deve incluir a psicoterapia orientada ao corpo ou deve ter extensa
educação ou experiências na área de psicoterapia orientada ao corpo. Ele precisa ser capaz
de reconhecer e de interpretar posturas corporais e padrões de movimento e desenvolver
intervenções que iniciam, apoiam e concluem o processo psicodinâmico no nível físico.

Ele precisa ter segurança no treinamento e manipulação de cavalos. Ele deve ser capaz de
entender o comportamento do cavalo, de traduzir/interpretar a linguagem do cavalo. Deve
conhecer bem os cavalos com os quais trabalha. Num caso ideal, esses cavalos pertenceriam
a ele. A vantagem de trabalhar com cavalos próprios é que o terapeuta conhece seus cavalos
tão bem, que pode reconhecer os sinais muito pequenos e reações e os pode comparar a
esses em outras situações.

Os cavalos são mais bem motivados se têm um relacionamento bom com o terapeuta. São
basicamente co-trabalhadores e sabem exatamente onde são necessários. Se o relacionamento
entre o terapeuta e os cavalos está numa base boa, os cavalos trabalham mais independen-
temente, e o terapeuta tem mais liberdade para prestar assistência às necessidades do cliente.

É importante que o terapeuta saiba não só como cavalgar, mas também esteja familiarizado
com o processo de autoconsciência, para o qual ele acompanha o cliente. No relacionamento
com o cavalo, ele precisa ser capaz de ter autoridade suficiente para que então o cavalo se
sinta seguro em todas vezes e atos, respectivamente. A segurança durante a psicoterapia
com o cavalo depende, principalmente, da confiança entre o cavalo e o terapeuta.

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Uma supervisão é de ajuda, porque o terapeuta pode estar envolvido em um nível muito
pessoal. Se os cavalos são muito próximos a ele, ele se torna vulnerável ao ofercer seus
cavalos ao cliente.

Ele é desafiado a constantemente refletir suas próprias partes e diferenciar entre transferência,
identificação e realidade, enquanto, ao mesmo tempo, precisa exigir e permitir respeito mútuo
entre cavalo e cliente.

A prática da psicoterapia com o cavalo mostra que diferentes estilos de terapias são muito
pessoais, individuais e diferentes. A terapia é formada pela escolha do método, tal como
pela escolha do cavalo e ambiente. Não é possível falar da psicoterapia com o cavalo.

A psicoterapia com o cavalo é uma nova e jovem intervenção terapêutica, uma direção para
a qual nós certamente podemos olhar muito no futuro. Devido à constelação especial, é
possível um eficaz e profundo trabalho emocional. A presença do cavalo não nos permite
pensar em termos patológicos, mas nos lembra, a cada momento, dos sempre-correntes
rios da vida. 29
MODELO INTEGRATIVO SUPRAPARADIGMÁTICO: O PONTO DE
CONVERGÊNCIA DA PSICOLOGIA NA EQUOTERAPIA

Autor: Francisco Javier Urra Riveros - Chile

INTRODUÇÃO

A equoterapia é um método educacional e terapêutico baseado na Teoria da


Neuroplasticidade, e neurorrestauração, que utiliza o cavalo como um agente curativo ou
de estimulação, dentro de uma abordagem multidisciplinar nas áreas da educação (psico-
educacional), saúde e equitação, com papéis bem definidos, programas e uma proposta
elaborada sequencialmente, buscando o desenvolvimento Biopsicossocial de pessoas
portadoras de deficiência e/ou com necessidades especiais (BARBOSA, 2002 ).

Esta jovem e particular alternativa terapêutica luta permanentemente observando o


cumprimento das definições e estruturas acadêmicas de cada uma das disciplinas que a
integram em sua interdisciplinaridade para obter crédito (LAUHIRAT, 2004). Deste ponto,
nasce a necessidade de perseguir o desenvolvimento da equoterapia num sistema de
reabilitação integral como parte de um processo guiado por equipe interdisciplinar, na qual
o psicólogo desempenha papel fundamental.

A Psicologia no campo da equoterapia é praticamente nova, e os psicólogos especialistas


formados na área são escassos. No ano de 2003, no qual foi realizado o XI Congresso
Internacional de Equoterapia do FRDI (Federation of Riding for the Disabled International),
em Budapeste-Hungria, o Brasil apresentou 280 psicólogos de renome na área, por meio da
ANDE-BRASIL, em comparação aos 506 fisioterapeutas especialistas (PROENÇA, 2003).
Meu país, até a presente data, não conta com psicólogos especialistas em estudos formais na
área, o que nos leva a reconhecer o papel importante dos psicólogos que trabalham na
equoterapia, aquele de encontrar um equilíbrio dinâmico para conjugar diferentes
paradigmas psicológicos para serem depois aplicados à equoterapia.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Sob esta perspectiva será importante lembrar nosso ator principal, “O Cavalo”, o qual é
definido na faculdade da medicina de Bobigny, pela psicóloga Claire Mauchard, como “meio,
par, mediador, estrutura maternal, função emocional e fonte de ilusões.” Tantas descrições,
um número infinito de investigações, trabalhos e resultados nos quais a população beneficiada
pela equoterapia é múltipla: o mundo da doença mental e das inconveniências psicológicas,
dos desajustes sociais e das deficiências físicas.

Juliana Prado (2004), durante o desenvolvimento do primeiro Congresso Latino-Americano


de Equoterapia, apresentaria uma primeira aproximação do papel do psicólogo como parte
de uma equipe interdisciplinar em sua tese de graduação validada junto a Universidade
Mackenzie (Brasil), ao dizer que, em investigação, pode-se observar que o psicólogo, em seu
papel, realizaria as seguintes atividades: orientação e ajuda a família, apoio à equipe,
desenvolvimento de entrevistas anaminésicas, programa do paciente, desenvolvimento das
potencialidades dos pacientes, contato e aproximação do paciente com o cavalo, planejamento
das sessões, desenvolvimento de nova capacidade para enfrentar situações, desenvolvimento
30
da capacidade de tolerar a frustração, e outras expressões de sentimentos, socialização,
auto-estima e etc. Não obstante, os psicólogos não apresentaram um papel definido dentro
do time da equoterapia; uma falta de comunicação seria observada entre eles e uma falta de
coerência na maneira como os pacientes atendidos eram orientados devido à epistemiologia
pessoal e ao modelo de psicologia – a inexistência de critérios para uma unificação
paradigmática para o trabalho na equoterapia.

Consistente com o anterior e tendo presente que muitas das técnicas e métodos aplicados na
terapia corriam em direta relação com as características diagnosticadas, psicopatologia e
tipo de deficiência apresentada pelo paciente, seria impossível realizar uma terapia baseada
num único modelo ou paradigma, motivo pelo qual será importante resgatar o paciente e o
posicionar como único objetivo na terapia de uma perspectiva biopsicosocial, baseada no
Modelo Integrativo Supraparadigmático (MIS) na Psicologia.

DESENVOLVIMENTO

Um paradigma refere-se a uma junção de pressupostos gerais que dão forma à metodologia
empregada na investigação, à concepção da natureza da teoria que será usada e aos tipos
de problemas dignos de estudo. Um paradigma compartilhado ou integrado não só facilita
a comunicação, mas também oferece ordem através de um histórico etiológico que dará
linhas para trabalhos futuros e investigações na equoterapia, implicará uma atitude aberta,
um método, uma epistemiologia clara e uma estrutura ampla. Um modelo integrativo permite
incluir qualquer conhecimento valioso como é a equoterapia e deve prever um critério básico
para selecionar e entregar uma estrutura geral para a sua contextualização.

Este modelo supõe que na psicoterapia alguns tipos de conhecimento são melhores que outros
e que a tarefa do clínico é descobrir que ação será moldada da melhor forma em determinada
situação. No caso da equoterapia, a metodologia correta dependerá do tipo de paciente com
que trabalhamos, por exemplo, um bom procedimento para trabalhar as condutas nos
pacientes em equoterapia pode ser um mau procedimento para trabalhar as emoções.

Deste paradigma derivaria o conceito de unidade cognitiva biológica e ambiental, a qual

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compreende que componentes biológicos (atividade do sistema nervoso) e componentes
ambientais (estímulos, experiências) existem em cada unidade de conhecimento e ambos
fazem parte do todo cognitivo.

O modelo integrativo assumirá que o mesmo dará significado à experiência, e os


psicoterapeutas tentarão procurar e criar significados aos pacientes. O presente modelo
entende os seguintes paradigmas, claramente aplicáveis aos nossos objetivos na equoterapia:

1 - O P aradigma Biológico
Paradigma

Diz das características genéticas e neurofisiológicas que podem influenciar a gênesis das
emoções, cognições e condutas, sob este paradigma que nós podemos reconhecer e avaliar
nas entrevistas anamnésicas anteriores, como organicidade, o uso de medicamentos no
paciente, condições médicas, em síntese o eixo/axis III do DSM-IV.
31
Na equoterapia nós seríamos capazes de tomar isso como base para entender o trabalho
com os pacientes com síndrome de Down, entre outras.

Na equoterapia, que decisões tomar sob este paradigma?

• na entrevista anamnésica, antecedentes mórbidos;


• emprego de farmacoterapia;
• observar a presença de alguma contra-indicação médica;
• situações de dano cerebral orgânico para então aplicar teste ao paciente (Ex.:Luria
Nebraska).

2 - O paradigma da conduta do ambiente

Diz que a característica que você especifica do ambiente pode influenciar a gênese de
cognições, emoções e condutas; sob esta perspectiva, nós podemos incluir o condicionamento
clássico e o operacional aplicado à equoterapia, sobretudo em pacientes com déficit de atenção
hipercrítico. Neste paradigma, nós podemos avaliar os reforços a empregar na equoterapia,
as expectativas de auto-eficácia, a tensão etc.

Na equoterapia, que decisões tomar ou tarefas realizar sob este paradigma?

• avaliar todos os instrutores de equitação nos implementos a serem empregados na


terapia;
• avaliar os tipos de reforços a serem aplicados para se atingir a mudança da conduta
dos pacientes harmônicos em suas características (E.g.: déficit de atenção);
• avaliar a dinâmica a ser empregada na escola de equitação para se trabalhar a atenção
e retenção nos pacientes;
• empregar técnicas de modelamento, programas de aproximação sucessiva e
conecção, utilizando os próprios estímulos da equoterapia.

3 - O P aradigma emocional
Paradigma
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Implica que eventos emocionais e suas estruturas podem influenciar a gênese de cognições,
emoções e comportamentos. As emoções podem inferir no processo do pensar, podem
influenciar a concentração e a atenção. Na equoterapia podemos avaliar, sob este paradigma,
a ansiedade em nossos pacientes, motivação, agressividade, tolerância à frustração, etc.

Na equoterapia, que decisões tomar ou tarefas realizar sob este paradigma?

• decidir trabalhar com alguma figura significativa de apego: por exemplo no cavalgar
baseando-se na terapia de contenção;
• avaliar no caso da criança com inconveniências de desenvolvimento (autismo) o
critério diagnóstico significante para se tomar, sendo o emocional para trabalhar
com máximo contato direto com o cavalo, baseado no princípio do calor corporal
(39º no cavalo) como base para o desenvolvimento da emoção (Teoria de Harlow);
• ideal para o trabalho com crianças em situação de abandono ou risco social.

32
4 - O Paradigma Inconsciente

Atividades nas quais o paciente não percebe que opera fora da “consciência”, que podem
influenciar na gênese dos sentimentos, pensamentos e emoções. Sob este paradigma nos
será possível avaliar pacientes em equoterapia com mecanismos de defesa, e claramente a
linguagem não-verbal, sobretudo quando em contato com o cavalo.

Na equoterapia, que decisões tomar ou tarefas realizar sob este paradigma?

• Em pacientes com inconveniências do desenvolvimento e emocionais, trabalhar o


efeito creadiling, e retroceder à comunicação emocional primária.

• Trabalhar a base dos arquétipos e fantasias inconscientes do garoto para com o


cavalo (Jung).

5 - O paradigma sistêmico

Um sistema implica uma totalidade e esta, por si só, pode ser entendida como uma função
do sistema total, as partes interagem de forma recíproca. Na equoterapia, podemos observar
o sistema “interdisciplinário de equipe”, em que cada membro apresentará papéis e
permeabilidade limitada. Neste paradigma, a homeostasis será a tendência ao equilíbrio do
sistema.

Na equoterapia, que decisões tomar ou tarefas realizar sob este paradigma?

• as influências das relações paternais subsidiárias, os estilos dos pais e como podem
afetar positiva ou negativamente o desenvolvimento da terapia, por exemplo: pais
muito apreensivos que limitam o desenvolvimento do processo ou, no outro extremo,
pais ausentes.
• avaliar a razão dos possíveis temores a apresentar para o paciente: sejam estes quanto
ao cavalo, à altura do animal ou à separação da figura significativa;
• avaliar se é recomendável, ou não, o trabalho com irmãos, sendo estes integrados ao
desenvolvimento das sessões.

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6 - O paradigma Cognitivo

As atividades ou acontecimentos cognitivos específicos podem influenciar na gênese de


pensamentos e emoções; quando estas estruturas são afetadas, levam a erros cognitivos,
pensamentos automáticos, distorções cognitivas etc. Sob este paradigma, na equoterapia
será possível de avaliar a imagem de um carro, estruturas cognitivas, estilos atribucionais,
por exemplo: atribuir certas virtudes ou propriedades ao cavalo.

Na equoterapia, que decisões tomar ou tarefas realizar sob este paradigma?

• trabalho com base cognitiva de conduta aplicável, sobretudo, em pacientes em risco


social e dependentes químicos;
• avaliar seus pensamentos e distorções cognitivas, de modo a então desenvolver
estratégias de intervenção e extinção de condutas;

33
• avaliação quanto à aplicação de testes de inteligência, antes e depois do processo
terapêutico.

O EU:
O modelo integrativo pressupõe que os seis paradigmas vistos anteriormente estão conectados,
coordenados e integrados ao IF SAME (próprio eu) da pessoa, sendo este o ponto de encontro
da Psicologia aplicada à equoterapia. As funções fundamentais serão identidade, experiências
significativas, controle e noção de vida.

CONCLUSÕES

Para os psicólogos especialistas em equoterapia, é exigida uma constante atualização na


área, aprofundando os estudos e a investigação, o que contribuirá para que a mesma seja
validada como uma ciência.

Os paradigmas da MIS contribuem para a comodidade psicoterapêutica, para que o sistema


do EU do paciente se transforme em ESTIMULS TROOPS – tropas de estímulos, isto é, ao
mobilizar a experiência da mudança do anterior, facilitado em um meio próprio da
equoterapia, como a mudança de “cenário” terapêutico da terapia tradicional.

O modelo integrativo supraparadigmático aplicado à equoterapia possibilita a criação de


uma PSICOTERAPIA INTEGRATIVA que vai além de uma mera aproximação eclética.

Isso permite concordar com uma PERCEPÇÃO DE 360 GRAUS da dinâmica psicológica e
resgatar cada força aportativa de mudança, qualquer que seja sua origem.

Isso permite contribuir para apresentar as questões adequadas, para orientar a investigação,
organizar os dados, usar uma linguagem comum e promover a psicoterapia.

Esse modelo consegue INTEGRAR-SE como uma forma de ganhar profundidade na teoria e
poder nas forças de mudança.
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A equoterapia possibilita o trabalho AQUI E AGORA, mesmo quando o histórico é integrado


como fonte de diagnóstico, “consciência” e aprendizado.

Finalmente e de acordo com o que foi previamente exposto, nós podemos contribuir com
uma nova definição da equoterapia (equinoterapia, em espanhol) graças à psicologia:

Equoterapia (BR); Equestrian Rehabilitation or riding therapy (equinoterapia=espanhol):

“Psicoterapia integrativa supraparadigmática complementar, em estrita severidade


sistêmica, devido à integração de equipes interdisciplinares, família, voluntário e o cavalo
como agentes de mudança, o último sob um contexto humanista no qual a característica
principal será a mudança do cenário terapêutico e dos princípios do humanismo (Burgental),
empregando em sua intervenção técnicas de condução cognitiva diretas em crianças e adultos
portadores de alguma deficiência física e/ou mental e com necessidades educacionais
especiais, para a participação ativa do cavalo, que de acordo com suas características naturais
34
e princípios terapêuticos, irá intervir sob o paradigma do inconsciente como uma figura de
transição de vínculos (Winniecot) e arquétipo” (URRA, 2005)

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35
O PROFISSIONAL DE PSICOLOGIA NA EQUOTERAPIA:
ATIVIDADES, TÉCNICAS E DIFICULDADES

Autor : Juliana Prado Ferrari - Brasil


Co-autor: Sueli Galego de Carvalho

APRESENTAÇÃO

O primeiro contato com a equoterapia ocorreu durante minha graduação em 2000. Não
sabia que poderia algum dia conciliar duas áreas distintas e de grande paixão, para mim, a
psicologia e a equitação, em um método terapêutico que trabalha com pessoas deficientes
com auxílio de cavalos. O interesse em pesquisar sobre a equoterapia teve início no ano de
2001. Nessa época, atuava como voluntária de um centro de equoterapia na cidade de São
Paulo - Brasil, e o contato com a prática levou a alguns questionamentos quanto às
metodologias adotadas: Como é a prática do psicólogo em outros centros de equoterapia?
Será que as técnicas utilizadas são as mesmas praticadas por outros centros de equoterapia?
Existem técnicas que desconheço e que possuem resultados positivos e satisfatórios? Como
posso contribuir para o desenvolvimento da área da psicologia na equoterapia? As reflexões
quanto à prática do psicólogo dentro da equipe de equoterapia permitiram a busca de maior
conhecimento por meio de cursos, leituras, discussões com os profissionais da equipe e com
outros das áreas da saúde, educação e equitação. Esses contatos despertaram minha
curiosidade e interesse em conhecer a prática do psicólogo nos diversos centros localizados
próximos da minha área de atuação.

A primeira pesquisa (“A prática do psicólogo na Equoterapia”) foi realizada em 2002/2003,


como trabalho de conclusão de curso da Faculdade de Psicologia da Universidade Mackenzie
(São Paulo-Brasil), como parte do requisito para a obtenção do grau de psicólogo. Com a
divulgação deste trabalho na revista eletrônica de equoterapia, em Encontros de Iniciação
Científica e apresentação de curso de extensão sobre o tema, venho obtendo inúmeros contatos
com psicólogos e estudantes de psicologia de todo o Brasil interessados em conhecer o trabalho
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

do profissional da psicologia na equoterapia.

Assim, em agosto de 2003, quando iniciei o Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento,


obtive grande contato com materiais científicos e leituras que possibilitaram maior crítica,
reflexão e preocupação quanto à pesquisa iniciada em 2002. Concomitantemente, neste
período iniciei a minha carreira profissional e mudei minha residência para uma região em
que a prática da equoterapia é pouco desenvolvida, essencialmente quanto à atuação do
psicólogo, apesar de possuir um ambiente rico e estimulador por apresentar grande extensão
de área verde e criação de cavalos. Assim, esses fatores me estimularam, ainda mais, a
pesquisar a respeito da prática do profissional da psicologia com o objetivo de verificar as
técnicas utilizadas em outros centros de equoterapia. Além disso, havia um grande interesse
em conhecer as atividades desse profissional e os obstáculos e dificuldades encontrados em
sua prática a fim de facilitar e divulgar o trabalho dos profissionais que atuam na equoterapia.
Por isso, optei por realizar este trabalho sobre as atividades, técnicas e dificuldades encontradas
pelos profissionais de psicologia na equoterapia, por meio de uma pesquisa com 6 (seis)
36 psicólogos que atuam em 6 (seis) centros de equoterapia da cidade de São Paulo (Brasil).
INTRODUÇÃO

A equoterapia vem recebendo uma atenção considerável e uma significativa divulgação


pelos meios de comunicação em todo o Brasil. Por apresentar um rico contato com a natureza
e trabalhar com o cavalo de forma lúdica e prazerosa, a utilização do cavalo na reabilitação
tornou-se uma alternativa para o tratamento terapêutico, diversificando as estruturas
convencionais dos clássicos consultórios e clínicas. A literatura aborda vários métodos
terapêuticos e de reabilitação para trabalhar com pessoas que apresentam alguma deficiência.
A equoterapia, apesar de ser um método implantado recentemente (1989) em nosso país,
vem se desenvolvendo consideravelmente nos aspectos práticos, éticos e científicos, tornando-
se uma fonte significativa de estudos, sendo cada vez mais freqüente os trabalhos nessa
área. O interesse pelo tema tem partido dos diferentes profissionais que trabalham no meio,
dentre eles, profissionais de psicologia.

OBJETIVO

This work has had as its objective, to characterize the actuation of Psychology professionals
who work in Equine Therapy centers in the city of São Paulo. The specific objectives have
been: identifying and describing the techniques applied to the patient´s treatment in Equine
Therapy; learning difficulties and obstacles faced by the professional in his/her daily practice.
This study has the following survey question: how does the psychologist develop and direct
his/her techniques towards the patient with disability and/or special necessities in Equine
Therapy?

METODOLOGIA

Os dados da pesquisa foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada com seis
psicólogos, que trabalham em centros de equoterapia da cidade de São Paulo. Foram
entrevistados quatros psicólogos que atuam nos centros de equoterapia registrados pela Ande-
Brasil (Associação Nacional de Desenvolvimento da Equoterapia - Brasília - Brasil) e dois
psicólogos que atuam em centros de equoterapia não cadastrados, mas reconhecidos
regionalmente.Utilizou-se um roteiro não-estruturado por meio do qual o entrevistado foi

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


solicitado a expressar-se livremente sobre os temas abordados na entrevista, sendo possível
descobrir os fatores implícitos e determinantes nos fenômenos estudados. Dessa maneira,
pode-se obter informações quanto às experiências, às atitudes, às opiniões, às dificuldades e
obstáculos, e ao comportamento de cada profissional de psicologia que atua nos principais
centros de equoterapia na cidade de São Paulo. Por meio da análise de conteúdo pode-se
chegar a três categorias com catorze subcategorias que foram estipuladas levando-se em
consideração o maior número de respostas semelhantes em relação ao conteúdo levantado.

RESULTADOS

Pode-se perceber que o psicólogo, na equoterapia, inicia sua atuação com a avaliação
psicológica dos seus praticantes, por meio de anamnese com os pais ou praticantes, observação
lúdica e realização de testes psicológicos, dependendo do comprometimento e da idade de
cada indivíduo. Os psicólogos entrevistados atuam na equitação terapêutica, conforme os
conteúdos afetivos aflorados pelo praticante, ou projetados no cavalo, e sinalizam os principais
37
aspectos a serem trabalhados no indivíduo, de forma verbal ou por meio de atividades lúdicas,
de acordo com o referencial teórico, com a idade, com o comprometimento e com o objetivo
de cada praticante. Quanto aos cursos de formação em equoterapia e à própria demanda de
praticantes em centros de equoterapia, eles são pouco voltados para os aspectos emocionais.
Muitos centros de equoterapia, como aqueles em que os psicólogos entrevistados atuam, são
voltados às deficiências físicas, priorizando, dessa forma, o comprometimento físico, a
habilitação ou reabilitação motora dos praticantes. Além disso, a realidade socioeconômica
de cada centro de equoterapia é um fator a ser considerado, pois, dependendo da
característica da instituição (filantrópica ou particular), poderá haver comprometimento na
qualidade do atendimento, já que grande quantidade de praticantes são atendidos em um
curto período de tempo.

CONCLUSÃO

A utilização do referencial teórico não é suficiente para embasar a prática do psicólogo na


equitação terapêutica, já que, em muitos casos, torna-se indispensável a utilização da
criatividade, da intuição e experiência clínica, e por se trabalhar em um ambiente tão diferente
do convencional, é permitido ao psicólogo maior espontaneidade e flexibilidade em relação
à neutralidade. Muitos profissionais da psicologia que trabalham na equoterapia apresentam
dúvidas quanto ao seu próprio papel e questionam: “Será que o que estou fazendo está
correto?” Podemos perceber que há falta de comunicação e divulgação de pesquisas técnico-
científicas entre os profissionais da psicologia que atuam na equoterapia. Cabe ainda, ressaltar
que, devido à delimitação deste trabalho, os resultados obtidos não devem ser generalizados,
pois o objetivo geral dele foi caracterizar a atuação dos profissionais da psicologia nos centros
de equoterapia da cidade de São Paulo. Assim, os resultados obtidos e analisados são
referentes à realidade dos centros de equoterapia, nos quais os psicólogos entrevistados
trabalham. No entanto, espera-se, com a presente pesquisa, contribuir para despertar nos
profissionais envolvidos no trabalho com equoterapia, a conscientização da importância de
se realizarem em pesquisas teórico-científicas sobre a equoterapia para maior
desenvolvimento, respeito e divulgação desse método terapêutico.

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Palavras-chave: Equoterapia; Psicologia; Deficiência; Reabilitação.


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

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CAVALO E PSICOLOGIA - A BUSCA PELA MELHOR QUALIDADE
DE VIDA EM NEUROSES E PSICOSES

Autor: Gabriele Brigitte Walter - Brasil


Co-author: Ute Hesse

RESUMO

As questões são: com o cavalo ou a cavalo? Em grupo ou sozinho? Como definir para “aquela”
pessoa a atividade eqüestre adequada?

As respostas estão contidas no estudo das diversas afecções da área psicológica. Como
funcionam e que estruturas físicas e/ou emocionais e sociais estão lesadas nas diversas
patologias vão indicar a abordagem correta dentro da equoterapia. Conhecer e reconhecer
as necessidades individuais do sujeito se torna primordial na correta programação terapêutica.
O aspecto do autocontrole, auto-estima, vivência de falhas e frustrações, lidar com o medo e
ansiedade, aprender a negociar a integração social são apenas algumas das muitas facetas
abordadas dentro da equoterapia. A semelhança de comportamentos etológicos de cavalo e
ser humano pode ser utilizada para o tão necessário autoconhecimento imprescindível para
o reconhecimento das próprias necessidades e gestão das mesmas. A faculdade de análise,
monitoramento de ações, antevisão de atitudes e planejamento são aspectos necessários
para um aprendizado efetivo de vida.

A utilização adequada dos recursos oferecidos pelo cavalo levarão a alterações internas
construídas passo a passo durante e após a sessão levando à busca da cura. A sessão
verdadeiramente se inicia com o propósito em comparecer ao local: sair do mundo externo
e entrar no mundo quente e vivo do cavalo e , após a sessão, ter que vivenciar a despedida
representando a perda do conquistado , muitas vezes é uma perspectiva nada agradável.
Durante a terapia vivencia-se o reconhecimento das respostas, e a oportunidade de transpo-
las para o dia-a-dia constitui o resultado esperado.

A equitação terapêutica assume, no tratamento da pessoa (no sentido mais amplo) com

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doença psíquica, uma posição intermediária entre medicina, psicologia, pedagogia e esporte.
A muilticasualidade, do ponto de vista de sua gênese , das doenças psiquiátricas, apresenta
uma potencialidade de inúmeras abordagens para a determinação de diagnóstico, tratamento
e prognóstico. O reconhecimento adequado destas facetas é imprescindível para a adequada
execução da equitação terapêutica.

Convém separar o enfoque terapêutico e programação nas condições de atraso mental,


drogadição, psicoses, borderlines, neuroses e doenças psicossomáticas. Cada uma destas
condições requerer uma abordagem distinta, que deverá ser estudada no presente trabalho.

A psiquiatria, sendo o estudo das terapias das emoçõs e sentimentos, é um campo da medicina
mas apresenta pontos de contato com a psicologia, psicoterapia, pedagogia e filosofia. Neste
sentido, podemos considerar que as doenças psiquiátricas abrangem um campo muito vasto
e que devem ser abordadas de forma particular e individualizada. Visto por este angulo, o
atendimento do paciente psiquiátrico situa-se num campo entre a medicina, a psicologia, a
pedagogia e o esporte, com abordagens, alternadamente, assumindo importância, de acordo
com as fases de externação patológica. 41
Inicia-se, originalmente, a abordagem pela psicoanálise buscando as direções iniciais de
tratamento, sem a abordagem simultânea da psicoterapia. Atualmente este enfoque mudou
e busca-se a multiplicidade das abordagens terapêuticas. É neste enfoque que a equitação
terapêutica assume seu papel mediador, ligando medicina, psicologia, pedagogia e esporte.
Especificamente, na abordagem da doença mental, podemos visualizar sua importância
diagnóstica, analítica, psicodinâmica e de aprendizado com uma orientação processual
individualizada.

A multiplicidade de diagnósticos, a necessidade do conhecimento da genese diagnóstica, a


casualidade patológica indicarão a abordagem e o objetivo de cada fase do tratamento. O
conhecimento da origem diagnóstica, a estruturação e modo de evolução de cada diagnóstico
é fundamental para a estruturação desta abordagem. Existe, porém, um ponto em comum
nas doenças psiquiátricas: uma alteração, variada em cada processo, da capacidade de
relacionamento intra e interpessoal. Neste ponto atua o cavalo.

Doenças mentais e emocionais, ou “sofrimento da alma”, exteriorizam-se em sintomatologia


corporal e alterações de comportamento. Freqüentemente as relações sociais e/ou capacidade
para o trabalho são afetadas cruelmente. As causas e retaguardas destes sintomas podem
ser procuradas no início do desenvolvimento do indivíduo e, em regra, estão relacionadas
com as primeiras experiências de relacionamento interpessosal. Estas experiências de
relacionamento social, na primeira infância, se “armazenam” corporalmente e dificilmente
são verbalizadas. Manifestam-se, por exemplo, na postura corporal, autoconhecimento
(portanto, auto-reconhecimento) ou interconhecimento alterado, reconhecimento da
realidade ou formação dos contatos. Mantêm-se no campo subliminar, não-verbal, escondido
no remoto da lembrança e, portanto, sem possibilidade de ser vivenciado, ou seja, no abstrato.

O relacionamento com o outro traz a sensação de perigo pelo medo de “reviver” experiências
traumáticas e estressantes e que poderiam desencadear o surto neurótico ou psicótico.

CLASSIFICAÇÃO SINTOMÁTICA

0-1 DISTÚRBIOS DO SONO


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0-1 DISTÚRBIOS DA ALIMENTAÇÃO


1-2 DISTÚRBIOS DA MOTRICIDADE
2-3 DISTÚRBIOS DA PALAVRA E LINGUAGEM
3-4 DISTÚRBIOS DA SOCIABILIDADE
4-5 DISTÚRBIOS DA SEXUALIDADE
5-6 HÁBITOS E MANIPULAÇOES
6-7 DISTÚRBIOS DA ESCOLARIDADE
7-8 BIRRA E CIÚMES
9-10 MEDOS
10-11 CRISES DE ANSIEDADE

FOBIAS OBSESSÕES HISTERIA DELINQÜENCIA PSICOSE COMPULSÕES


42
CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA
IDADE NECESSIDADE CARACTERÍSTICAS DESVIOS DA ATITUDES
PSICOLÓGICAS PERSONALIDADE CONDUTA
DO ADULTO

INFÂNCIA Cuidados Dependência Ressentimento Superproteção


ATÉ completos físicos completa e agressiva contra a criança sono
1 ½ ANOS e emocionais do adulto nos 1ºs 6 Medo de falhar Ansiedade
meses, pelo menos como mãe
Rejeição da função Alimentação
biológica de ser
mãe Rejeição motricidade
INFÂNCIA Treino Rebelde na Compulsividade Perfeccionismo
DE 1 1/ A 3 Necessidade dependência ou exigências Linguagem
ANOS de amor nas Desinterese Abandono
atitudes Sociabilidade
manipulação
PRÉ-ESCOLAR Sociabilidade Curiosidades sexuais Problemas sexuais Sedução
interesses por – hostilidade à Problemas em Sexualidade
coisas exteriores autoridade familiar aceita a Hostilidade
e aceitação hostilidade escolaridade
ESCOLAR Identificação com Diminuição da Dificuldades Malformações birra
os pais dependência. educacionais
Adequada Educacionais
identificação Ciúmes
ansiedade
ADOLESCÊNCIA Emancipaçao, Tempestuoso. Defesa dos pais Rigidez
flexibilidade dos Independência, contra impulsos Deliqüencia
adultos em sua dependência (criança delinqüenciais em Recusa
aceitação e adulto) si mesmos neurose
Medo de envelhecer
dos pais superpermissividade
Imaturidade dos
pais que não
conseguem assumir
responsabilidades

A utilização do cavalo se torna útil neste ponto. Ele é nitidamente diferente das pessoas de
relacionamentos anteriores ou atuais. Ele permite a experiência do relacionamento sem o
medo do reencontro de experiências relacionais traumáticas, sejam elas de repulsa ou de
dependência, afasta o medo da rejeição e da incompreensão. Agora o paciente pode se
relacionar através do seu verdadeiro EU, sentindo algo como “harmonia”, sem necesitar do

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disfarce ou dissimulação. O cavalo pode ajudar o paciente psicótico a ter o contato ausente
da realidade, atendendo à necessidade da cumplicidade sem censura e mostrar o caminho
para a realidade.

Neste relacionameno o cavalgar não está necessariamente em primeiro plano, mas sim o
relacionamento com o cavalo. É uma oportunidade de, na lida com o cavalo, para o
esquizofrênico ou adolescente ou criança com grave distúrbio de comportamento, ter uma
chance de se relacionar de modo lógico e feliz com a realidade. O paciente com “EGO”
muito frágil e enfraquecido (psicoses, depressaõ, autismo, etc.) terá uma abordagem de
fortalecimento de sua auto-estima, o que o ajuda a não tentar se refugiar na regressão e na
negação da realidade.

Como atividade para esta população patológica, pode-se, por exemplo, trabalhar com o
tratar, conduzir, cavalgar... resumindo: lidar com o cavalo, o que “obriga” a se comunicar
com o outro para poder trabalhar com ele (cavalo).
43
O paciente neurótico, ao contrário, sofre por submeter seus desejos, necessidades e anseios a
um rígido “super-ego’ que exige a perfeição inalcansável. Aqui podemos relacionar patologias
como fobias, depressões neuróticas, doenças psicossomáticas, dependências. O cavalo assume,
neste caso, a figura de projeção das necessidades, angústias e desejos reprimidos. É a chance
de trazer para o consciente perguntas e oferecer respostas.

Orientando a terapia para o cavalgar sendo conduzido, vivencia-se a experiência de se deixar


carregar, externar confiança, melhorar a autoconfiança e se sentir seguro. Esta experiência
pode mobilizar lembranças de experiências anteriores em que se sentia seguro ou inseguro
levando a uma verbalização ou esternação gráfica.

Conhecendo o mecanismo que rege as patologias que levam ao surto neurótico ou psicótico
podemos visualizar, com mais clareza, como organizar uma programação no âmbito da
equitação terapêutica.

EVOLUÇÃO DO MEDO

MEDO BIOLÓGICO

MEDO PSICOLÓGICO
MEDO CONDICIONADO

Perda de controle intelectual

ANSIEDADE

FOBIA

PRIVAÇÃO DE AMOR
Necessidade ou procura de amor
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Atitude externa Atitude interna


Desejo de chamar a atenção Desejo de permanecer criança
Exibicionismo Imaturidade emocional
Necessidade de companhia Dependência da família ou do ambiente
Desejo de manter fontes de amor
Sugestionabilidade

UTILIZAÇÃO DO CAVALO

• Observação: a observação do cavalo em liberdade permite ao paciente detectar


diferenças e semelhanças, à distância, mantendo-se em área segura e “protegida”.
Visualiza como esse animais se agrupam, como se defendem, como se relacionam.
Cavalos curiosos se aproximam espontaneamente, buscando contato e levando o
44 desafio de uma resposta contatual. O galope do cavalo em liberdade fascina, assusta
e mobiliza emoções que podem ser reconhecidas e dominadas. O tema “medo do
desconhecido” pode ser bem abordado aqui. Os sonhos não realizados são também
mobilizados pelo cavalo. É um campo de reflexão sobre fantasias e tabus pelo uso do
arquétipo simbólico da “ Grande Mãe”, que carrega, mas também “engole”, do “Sábio
Pai” provedor e castigador, é o desafio ao ânimo da criança buscando proteção,
coragem e liberdade.
• Penso e o encilhamento: exige contato restrito ao campo da realidade e o domínio de
seqüências lógicas. Permite a observação de reações individualizadas de cada cavalo.
O medo do contato físico com o “ouro” é gradualmente desmontado.
• Voltear: no cavalo desencilhado (equipado apenas com o cilhão de volteio) é possível
o contato estreito com o movimento do cavalo. O sentimento corporal entra no ambito
da consciência, permitindo uma integração do esquema corporal de forma muito
positiva.
• A montaria independente acaba sendo uma conseqüência natural do processo. O
trabalho terapêutico visa obter auto-reconhecimento, perseverança, aumento do
domínio do “eu” ante situações inesperadas, melhor capacidade de gestão e tomadas
de desição. O uso do adestramento, pelas figuras e andamentos, é um ótimo exercício
para esta finalidade. O ambiente da natureza fornece a alegria de viver e a sensação
de libertação e liberdade (que também deve ser administrada pelo praticante).
• Condução: à mão, executada pelo praticante, é um exercício que coloca em pauta a
condição de gestar os próprios impulsos de liderança, promove a perseverança e o
domínio do próprio “eu” reconhecido durante a tarefa. A oportunidade de testar ,
promover e se submeter a ordens como são externadas e interpretadas, como lidar
com a frustração da não obediência ao ‘outro” são temas a serem trabalhados neste
exercício.

Em todos estes exercícios, a diversidade de personalidade dos cavalos é de importância


fundamental, podendo espelhar o comportamento subconsciente do praticante.

Individual ou em grupo? É uma questão que será definida pelo padrão do diagnóstico. Por
exemplo, o atendimento individual na debilidade psicomotora, inicialmete, é importante,
pois o indivíduo apresenta uma melhor resposta não sendo colocado em confronto com o
grupo. Apesar do atendimento individual, na verdade, o paciente já se confronta e tem que

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administrar um grupo: cavalo e terapeuta. Este relacionamento determina a dinâmica da
sessão. Transferência e contratransferência são feitas pelo terceiro elemento – o cavalo –
com significado importante no contexto. É um grupo no qual se aprende logo a ser um
grupo de apoio e não de confronto. Aprende a dominar a angústia de ser observado e
“avaliado” em sua performance.

Por outro lado, ao lidar com o indivíduo com inibição psicomotora, o atendimento em grupo
favorece melhor resposta, pois ele se supera quando colocado em situações de confronto.

O terapeuta

Cabe aqui o enfoque da formação profissional necessária para a abordagem da equitação


terapêutica. Por mais agradável e entusiasmante que possa parecer essa abordagem, cabe
lembrar a dificuldade e particulariedade que é o tratamento do paciente psiquiátrico. A
execução da terapia com cavalos pressupõe um ótimo conhecimento, primeiramente, das
doenças mentais e sua psicodinâmica, pois nem tudo que é feito com a melhor das intenções 45
é verdadeiramente útil para o desenvolvimento positivo da personalidade do paciente. Cabe
um alerta contra a, assim chamada, síndrome da ajuda, que se manifesta cada vez que o
terapeuta, com o intuito de ajudar o paciente, na verdade, busca a solução de seus próprios
problemas de relacionamento. O conhecimento de que o cavalo, sozinho, não traz a alteração
da problemática nem a cura é fundamental. Amor ao cavalo e bom senso, claro, são
necessários, mas não suficientes para uma abordagem, de fato, terapêutica. Além de uma
formação de base são necessários conhecimentos teóricos e práticos no âmbito da psiquiatria.
Vale ressaltar a necessidade de um acompanhamento pessoal psicoterápico do próprio
terapeuta.

Quando falamos de conhecimento de cavalo, não nos referimos meramente a saber cavalgar,
mas a conhecer “cavalo” no mais amplo sentido da palavra. É o nosso instrumento de trabalho
e deve ser reconhecido como um co-terapeuta, portanto, necessita de um conhecimento
mais profundo sobre suas origens, modo de vida, simbologias, abordagens e manuseio..

REFERÊNCIAS

ICH TRÄUMTE VON EINEM WEISEN SCHIMMEL, DER MIR DEN WEG ZEIGTE
Scheidhacker, Michaela, Wolfram Bender, BKH Haar, München – GE 2004

PSYCHOTHERAPIE MIT DEM PFEERD


Beiträge aus der Praxis, Fachgruppe Arbeit mit dem Pferd in der Psychotherapie
Deusches Kuratorium für Therapeutisches Reiten (DKThR), Warendorf - GE 2005

THERAPEUTIC RIDING IN GERMANY


Selected Contributions from the Special Brochures of the DKThR, Issued by DKThR
München – GE 1998

LA REEDUCATION PAR L’EQUITATION


Departement des Sciences et Techniques Sociales, Ecole Nationale de la Sante Publique
Paris – França 2000

L’ÉQUITATION, LE CHEVAL ET L’ÉTHOLOGIE


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Colloque du 18 Setembre 1999 à L’ÉCOLE NATIONALE D’ÉQUITATION


Editins-belin Paris – França 1999

COACH WITH COURAGE


Longden, Mary L., Australia 1999

DISTÚRBIOS NEURÓTICOS DA CRIANÇA


Grünspun, Haim 4ª edição Editora Atheneu São Paulo – Brasil 1998

46
A INFLUÊNCIA DA POSTURA SOBRE O CAVALO E A VELOCIDADE
DO PASSO NA ATIVAÇÃO DOS MÚSCULOS ERETORES
LOMBARES ATRAVÉS DA ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFÍCIE

Autora: Rebeca de Barros Santos - Brasil


Co-autores: Fábio Navarro Cyrillo,
Mayari Ticiani Sakakura,
Adriana Pagni Perdigão,
Camila Torriani

RESUMO

Introdução: Uma vez montado no cavalo, o indivíduo está exposto aos movimentos deste,
recebendo estímulos neuromotores, transmitidos pelo dorso do cavalo, estando este mantendo
a andadura ao passo. Estes estímulos requerem ajustes musculares do tronco do homem,
tendo como objetivo o controle da atividade muscular e manutenção do alinhamento postural
mais adequado para cada paciente na postura terapêutica montado sobre o cavalo. A
variabilidade de exercícios terapêuticos que os fisioterapeutas utilizam durante uma sessão
de hippoterapia inclui não só mudanças posturais, como também variação de velocidade do
passo do cavalo, com passo lento ou rápido. Eletromiografia de superfície é uma técnica de
mensuração que quantifica, através de valores quantitativos, a ativação muscular.

Objetivo: O objetivo deste estudo foi verificar a influência da variação de postura montada e
velocidade do passo do cavalo, no recrutamento dos músculos eretores lombares, através de
eletromiografia de superfície.

Método: Foram selecionados 9 sujeitos, com idades de 20 a 25 anos, sexo feminino, sem
alterações neurológicas. Para coleta dos dados utilizaram-se eletromiógrafo de quatro canais
da marca Miotec® e software Myography®, eletrodos de cloreto de prata da marca, espaçados
com 2,5 cm., no ponto motor dos músculos eretores lombares, posicionados de acordo com

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a técnica sugerida por Cram et al (1998). A velocidade do passo do cavalo variou entre lento
e acelerado, num percurso de 20 metros lineares. Os dados obtidos foram analisados
considerando a média máxima de recrutamento em cada tarefa, de acordo com a análise do
Teste de Wilcoxon, com nível de significância em 0,05 (5%).

Resultados: Os resultados mostrados através da análise eletromiográfica mostraram,


comparando-se a média de recrutamento muscular dos sujeitos montados na posição frontal,
durante o passo lento, 30,0µV e 38,0µV no passo acelerado (p=0,009). Os valores da média
do pico de recrutamento foram 57,11µV no passo lento, e 67,44µV no rápido (p=0,107).
Montado de costas no cavalo (postura dorsal), em passo lento, a média foi de 56,89µV, e
77,22 µV na velocidade rápida (p=0,001). Para a média do pico durante o passo lento na
postura dorsal o valor foi de 103,11µV, e 142,44µV rápido (p=0,004). Analisando os valores,
e comparando as posturas, vemos ativação de 38,0µV ao passo rápido na postura de frente,
e 72,22µV na dorsal (p=0,002). O valor de pico de ativação muscular foi 67,44µV frontal e
142,44µV dorsal, ambas com cavalo ao passo rápido (p=0,006).
47
Discussão/Conclusão: O conhecimento dos processos fisiológicos envolvidos no controle
postural e os valores encontrados durante a montaria são essenciais para uma intervenção
terapêutica mais efetiva e segura. Os resultados mostraram que a maior ativação dos músculos
extensores ocorreu com o cavalo ao passo rápido. Portanto, considerando média e pico, há
diferenças estatisticamente significantes na postura dorsal em velocidade aumentada de
passo. É possível notar que, em ambas as situações, a maior média foi sempre com o cavalo
no passo rápido. A aplicabilidade clínica destes dados é importante para fisioterapeutas que
fazem uso de métodos de trabalho postural na área da neurologia. Conhecer as variações do
tônus é a base para guiar a conduta naqueles pacientes em que se trabalha a melhora da
extensão do tronco, sendo posicionados preferencialmente na postura de costas no cavalo.
Portanto, quando possível e seguro, resultados mostraram que o aumento da velocidade do
passo do cavalo solicita mais a musculatura extensora do tronco. Considerando as diversas
possibilidades terapêuticas sobre o cavalo, recursos que quantifiquem seus ganhos são de
suma importância para o melhor programa de equitação terapêutica.

Palavras-chave: Equitação Terapêutica; Eletromiografia de Superfície; Análise Biomecânica.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento motor normal é caracterizado pelas aquisições nos sentidos crânio-caudais


e próximo-distais, ou seja, iniciando o ganho do controle postural pela musculatura cervical,
seguida de tronco e pelve. O desenvolvimento próximo-distal se inicia pelas articulações
mais próximas da linha média, para então as mais laterais. Segundo Kandel; Schwartz e
Jessel (1997), os músculos axiais (tronco) e apendiculares (proximais) do homem são usados
na manutenção do equilíbrio postural, enquanto os músculos distais são utilizados para
atividades manipulatórias. A importância do controle postural e da manutenção do equilíbrio
se dá pelo fato da necessidade destes para um bom desempenho nas atividades motoras
finas, como preensão, alcance e escrita.

Assim, segundo Medeiros e Dias (2002), o ato motor baseia-se em duas atividades: a de
sentir e perceber, e a de realizar movimentos. Estimulando os três sistemas sensoriais (sistema
vestibular, sistema visual e sistema proprioceptivo), a equitação terapêutica facilitará o
aprendizado motor, levando a mudanças na organização e número das conexões neurais,
chamado de plasticidade neuronal.
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O sistema vestibular é estimulado a partir da movimentação da endolinfa. O aparelho


vestibular é o órgão que detecta as sensações de equilíbrio, e é composto por um sistema de
tubos e câmaras no labirinto ósseo. Dentro deste está o labirinto membranoso, que é composto
pela cóclea, por três canais semicirculares e por duas grandes câmaras chamadas utrículo e
sáculo, responsáveis pelo equilíbrio.3

Os três canais semicirculares são sensíveis às acelerações angulares (rotações). O utrículo e


sáculo são sensíveis às acelerações lineares (translações e a gravidade). A combinação dos
dois sistemas assegura a percepção de todas as acelerações possíveis.

O processo de estimulação vestibular se inicia com o fundamento da semelhança da marcha


humana com o andar do cavalo. É através do conhecido movimento tridimensional que o
cavalo promove no corpo do indivíduo montado sobre seu dorso, que a musculatura do
tronco é ativada, de maneira a impedir a queda pelas oscilações constantes.
48
Movimentos verticais da garupa
Baumann (1978) extraída de Uzun (2005)

Quando sobre o cavalo, o indivíduo está exposto a estas oscilações de maneira bem peculiar.
Partido do animal parado, e iniciando o seu deslocamento pela pata posterior direita, o
membro seguinte a se deslocar será a pata anterior esquerda. Desta maneira, a pelve do
cavaleiro recebe estes movimentos, desencadeando o processo de recrutamento muscular e
ajuste tônico para evitar a queda.

Movimentos átero-laterais da garupa


Baumann (1978) extraída de Uzun (2005)

Nos casos de lesões neurológicas, onde estas reações estarão comprometidas, o cavalo beneficia
o aprendizado motor através da repetição dos movimentos oscilatórios da pelve e tronco.

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Sendo a hipoterapia uma técnica essencialmente direcionada à reabilitação, é voltada para
pessoas portadoras de deficiência física e/ou mental.9 A escolha adequada do animal, ou
seja, a freqüência do passo, é de suma importância para se obterem as respostas posturais
adequadas para cada paciente.

O animal que apresentar um número maior de passadas por minuto (antepistar) irá ativar
os receptores proprioceptivos intrafusais, que só respondem a estímulos rápidos, como
também os receptores articulares que respondem à pressão, gerando aumento do tônus,
indicado para pacientes hipotônicos.

Em contrapartida, quando o cavalo apresentar uma freqüência baixa de passos (transpistar),


diminuirá a velocidade de inputs dos estímulos proprioceptivos, mantendo o movimento
rítmico e cadenciado, estimulando assim o sistema vestibular de forma lenta, contribuindo
para diminuição do tônus muscular de todo o corpo, sendo indicados principalmente para
pacientes hipertônicos.

49
Freqüência do cavalo transpistar
(Medeiros, Dias, 2002)

Para melhor análise das atividades musculares realizadas durante estas terapias, observamos
inicialmente indivíduos sem alterações neurológicas, analisando assim apenas variações de
recrutamento muscular, sem possíveis interferências de espasmos musculares ou desvios
posturais.

MÉTODO

Sujeitos
Participaram deste estudo 9 sujeitos, com idades entre 20 a 25 anos, sexo feminino, sem
alterações motoras. O critério de inclusão no estudo foi apresentar bom estado geral, sem
dores ou alterações posturais.

A montaria foi realizada em uma égua de 13 anos, sem raça definida. O espaço utilizado foi
um picadeiro de 20 X 60 metros, solo de areia.

Material
Para análise quantitativa dos resultados, foram utilizados aparelho de eletromiografia de
superfície da marca MIOTEC® e software Myography® com 4 canais.

Para a montaria, foi utilizada manta de atendimento, tipo “galope”, sem alças ou estribos.
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Procedimento
A coleta era iniciada com a colocação de eletrodos circulares pré-geldados de cloreto de
prata Medtrace®, espaçados 2.5cm entre eles, sendo posicionados no ponto motor dos músculos
eretores lombares, de acordo com a técnica sugerida por Cram et al. (1998). Os sujeitos
foram observados primeiramente no solo, para então montarem no cavalo.

Todas as posturas foram coletadas no mesmo dia, sendo que a ordem da coleta foi,
respectivamente: com o cavalo ao passo, no qual o sujeito se encontrava montado com o
corpo direcionado para a frente, sempre tendo como referência a cabeça do cavalo, e de
costas à cabeça do cavalo – dorsal. Com o cavalo ao passo rápido foram coletadas as mesmas
posturas, num percurso linear de 20 metros.

Durante este período os sujeitos se mantiveram por todo o tempo se sustentando sozinhos,
sem auxílio de qualquer terapeuta, porém ao lado havia dois terapeutas, para a segurança
do paciente, e um condutor para o cavalo.
50
Para coleta dos dados, foi utilizado notebook conectado ao aparelho eletromiográfico, sobre
um suporte estável, porém móvel, que se manteve acompanhando lateralmente o cavalo
durante as coletas.

Para análise dos dados foi considerada a média do recrutamento muscular em cada tarefa.
O estudo foi baseado na análise dos dados obtidos do resultado da eletromiografia. A análise
estatística utilizada foi o Teste de Wilcoxon, que possui nível de significância de 0,05 (5%).

RESULTADOS

Analisando os dados obtidos, comparamos as seguintes posturas, iniciando pelos resultados


da comparação dos movimentos para a posição frontal:

Média Pico
Frontal Frontal Frontal Frontal
Lento Rápido Lento Rápido
Média 30,00 38,00 57,11 67,44
Mediana 25,5 28,5 47 65,5
Desvio Padrão 21,40 24,70 39,20 31,12
Limite Inferior 20,11 26,59 39,00 53,07
Limite Superior 39,89 49,41 75,22 81,82
p-valor 0,009 0,107

Concluímos que existe diferença média estatisticamente significativa entre as velocidades


para a posição Frontal somente nos valores de média, onde inclusive, a média da velocidade
rápida é de fato maior que a média da velocidade lenta. Para pico não foi encontrada diferença
significante entre as velocidades.

Continuaremos comparando as velocidades, mas agora para a posição de dorsal.

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Média Pico
Dorsal Dorsal Dorsal Dorsal
Lento Rápido Lento Rápido
Média 56,89 77,22 103,11 142,44
Mediana 47,5 56 75 85,5
Desvio Padrão 44,92 61,31 89,81 120,77
Limite Inferior 36,14 48,90 61,62 86,65
Limite Superior 77,64 105,54 144,60 198,24
p-valor 0,001 0,004

Para a posição de dorsal, concluímos que existe diferença significante entre as velocidades,
tanto para a média quanto para o pico. Averiguamos ainda que em ambas as situações a
maior média se encontra sempre na velocidade rápida.

51
Continuando, vamos comparar a posição frontal versus dorsal para o passo rápido:

Média Pico
Frontal Frontal Frontal Frontal
Rápido Rápido Rápido Rápido
Média 38,00 77,22 67,44 142,44
Mediana 28,5 56 65,5 85,5
Desvio Padrão 24,70 61,31 31,12 120,77
Limite Inferior 26,59 48,90 53,07 86,65
Limite Superior 49,41 105,54 81,82 198,24
p-valor 0,002 0,006

Averiguamos que, também para o movimento rápido, existe diferença entre as posições que
são consideradas estatisticamente significantes, tanto em média quanto em pico. Verificamos
ainda que a média da posição dorsal é sempre a maior que a média da posição frontal.

DISCUSSÃO

O presente estudo foi realizado apenas em indivíduos sem comprometimento motor, com o
intuito de excluir possíveis interferências de tônus ou alterações de equilíbrio. A análise
comparativa foi realizada através de testes estatísticos individuais, ou seja, a variação do
recrutamento muscular foi vista de acordo com os dados do indivíduo com ele mesmo, para
então serem pareados com os demais.

Com isto, pudemos observar a interferência direta da velocidade da andadura do cavalo no


grau de recrutamento muscular, como também a mudança de postura variando
significativamente o recrutamento muscular.

A variação do passo no cavalo, velocidade, estimulação da direção e equilíbrio têm como


resposta o deslocamento do centro de gravidade do paciente, facilitando na dinâmica da
estabilização postural e restabelecimento da desordem motora.1,4,7,8 Portanto, é necessário
que o paciente aumente o recrutamento muscular para manter-se sobre o cavalo, o que se
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pôde observar na diferença de ativação da musculatura analisada deste em quaisquer das


posturas, em comparação tanto com o cavalo no passo lento, como deslocando-se em maior
velocidade – sempre mantendo a andadura ao passo.

O sistema nervoso central interpreta estes desequilíbrios como instabilidades posturais


capazes de provocar queda, respondendo com aumento do tônus postural. Assim, os eretores
da coluna são ativados como forma de manter suas reações de equilíbrio. Gusman e Torre
(1998) definem que as reações de equilíbrio servem para ajustar a postura, manter e recuperar
o equilíbrio antes, durante e depois do deslocamento do seu centro de gravidade.

O estudo da atividade muscular durante os movimentos do passo do cavalo é de suma


importância para o fisioterapeuta, podendo este, a partir destes dados, realizar as mudanças
posturais de forma mais direcionada a cada paciente. Com os resultados obtidos, pudemos
concluir que a postura dorsal solicitou sempre maior ativação muscular dos eretores lombares,
conseqüentemente, é a postura que irá trabalhar com maior intensidade o controle do tronco.
52
Na prática clínica nos deparamos com alguns pacientes que apresentam limitações articulares,
decorrentes de espasticidade severa, encurtamentos musculares, e outras complicações. Estas
limitações muitas vezes impedem as mudanças posturais que poderiam ser realizadas numa
sessão de hipoterapia. Com isto, o trabalho baseado na velocidade do passo do cavalo torna-
se essencial para o direcionamento do ganho motor desejado a determinados pacientes.

Vimos neste estudo que o recrutamento muscular variou significativamente nas mudanças
da velocidade do passo do cavalo, o que na prática significa que, mesmo sem alterar a postura
sentada no cavalo, podemos recrutar de diferentes formas e intensidades a musculatura do
tronco, variando assim a intensidade do trabalho postural, sem precisar deslocar o paciente
sobre o cavalo.

Com isto, sugerem-se futuros estudos aplicados a patologias diversas, traçando assim a
conduta terapêutica mais adequada para cada patologia tratada.

REFERÊNCIAS

FREEMAN G. “Therapeutic horseback riding” Clinical Management 4: 21-4, 1984

GUSMAN, S. TORRE, C. “Paralisia cerebral, aspectos práticos: fisioterapia na paralisia cerebral”


São Paulo: Memnon, 1998

GUYTON, A.C. “Tratado de Fisiologia Médica” 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan,


1992

HEIPERTZ W. “Therapeutic Riding: Medicine, Education, and Sports” Otawa, Canada: Greenbelt
Riding Association, 1977

KANDEL, E.R. SCHWARTZ, J.H. JESSEL, T.M. “Fundamentos da neurociência e do


comportamento” Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1997

MEDEIROS, M. DIAS, E. “Equoterapia Bases & Fundamentos” Rio de Janeiro: Revinter, 2002

RIEDE D. “Physiotherapy on the Horse” Riderwood, MD: Therapeutic Riding Services, 1988

STRAUSS I. “Hippotherapy: Neurophysiological Therapy on the horse” Ontario: Ontario XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Therapeutic Riding association, 1995

UZUN, A.L.L. “Equoterapia: Aplicação em distúrbios do equilíbrio” São Paulo, 2005

53
COLETE DE SEGURANÇA NO TRATAMENTO
COM EQUOTERAPIA

Autor : Ana Rita Landerdahl Abreu - Brasil


Co-autor: Sérgio Antonio Brondani

RESUMO

O desenvolvimento de novos produtos e equipamentos têm uma significativa importância


para a sociedade. Assim surge o profissional do design, tendo como principal meta o
reconhecimento das necessidades dos usuários, para interpretá-los e apontar-lhes as soluções
possíveis. A configuração de novos projetos deve proporcionar que os produtos sirvam, da
melhor maneira possível, às nossas necessidades do dia-a-dia.

Design é resultado de estudos e pesquisas que abrangem não somente estética, mas também
aspectos funcionais e psicológicos que envolvem técnicas construtivas, materiais, ergonomia
e metodologias projetuais. Nessa linha de pensamento, alguns autores, como Baxter e Löbach,
abordam o tema de maneira sistemática, caracterizando a importância para a atividade
profissional do designer.

Nesta pesquisa, tem-se como principal objetivo o desenvolvimento de um equipamento para


auxiliar no tratamento na equoterapia, buscando a melhoria da qualidade de vida para
pessoas portadoras de necessidades especiais e para facilitar o trabalho dos profissionais
envolvidos com essa terapia. O desenvolvimento deste produto teve uma abordagem
interdisciplinar que envolveu designers, fisioterapeutas e profissionais de equoterapia.

A pesquisa é parte das atividades acadêmicas do Curso de Design – Projeto de Produto, do


Centro Universitário Franciscano (Unifra), Santa Maria/RS, tendo seu desenvolvimento
acompanhado por profissionais do Curso de Fisioterapia da Escola de Equitação da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Centro de Equoterapia da Sociedade da
Estância do Minuano. A proposta foi desenvolvida para atender um público infantil, com
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

idade entre três e onze anos.

A metodologia de pesquisa foi realizada por meio da análise ergonômica, em que é avaliada
a demanda, tarefa e atividade, como etapas para a apresentação do diagnóstico e o
desenvolvimento do projeto de um novo equipamento. Como resultado da metodologia
desenvolvida, foi criado o novo equipamento que, além de proporcionar segurança, permite
a liberdade de movimentos dos usuários e auxilia no trabalho dos profissionais. Em relação
a esses profissionais, atende-se a uma demanda inicialmente identificada como fadiga
muscular, decorrente de posturas inadequadas durante o acompanhamento na equoterapia.
Na avaliação de uso do equipamento, verificou-se que ele atende às necessidades para o
qual foi projetado.

INTRODUÇÃO

A pesquisa faz parte das atividades das disciplinas projetuais do Curso de Design do
54 Centro Universitário Franciscano (Unifra), teve seu desenvolvimento acompanhado por
profissionais do Curso de Fisioterapia e da Escola de Equitação da Universidade Federal de
Santa Maria – UFSM/RS. Inicialmente foram indicados os problemas que mais se
evidenciaram nos procedimentos terapêuticos adotados.

Na realização dos exercícios, mesmo com todos os cuidados com a segurança, os acidentes
ocorrem. Assim, o objetivo da pesquisa é o desenvolvimento de um novo equipamento que
forneça segurança (principalmente para evitar quedas) aos usuários em tratamento.
Especificamente, este equipamento vem em auxílio da mobilidade do paciente e das ações
dos profissionais envolvidos nas sessões.

01. Caracterização da cena, com o envolvimento dos profissionais.

No registro da figura 01 é caracterizado o cotidiano das sessões de equoterapia. A atenção


especial é dada para evitar que ocorra a queda da montaria.

O público-alvo da pesquisa possui idade que varia de 3 a 11 anos. Pois é a partir do 3 anos de
idade que se pode iniciar o tratamento, até os 11 anos, quando a criança já começa ter
autonomia para se equilibrar sobre o cavalo com segurança.

A pesquisa envolve abordagens em diferentes áreas, como a fisioterapia, equoterapia,


psicologia e design, buscando com o uso de novos materiais e desenvolvimento de novos

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


equipamentos maior segurança e conforto por meio de adequação ergonômica.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A seguir, assuntos relevantes para o desenvolvimento do projeto.

A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro


de uma abordagem interdiciplinar, nas áreas da saúde, educação e equitação,
buscando o desenvolvimento biopsicossocial das pessoas portadoras de
deficiências e/ou necessidades especiais. (ANDE, 1999)

No Brasil, a partir dos anos 80, quando foi criada a Ande – Brasil (Associação Nacional de
Equoterapia), esse tratamento tomou maior impulso, mas somente nos últimos 6 anos se
pôde notar o verdadeiro crescimento dessa terapia, haja vista o número crescente de centros
de equoterapia em todo o território nacional. 55
A equoterapia foi reconhecida como método terapêutico, em 1997, pelo Conselho Federal
de Medicina. O Curso básico de Equoterapia da Ande – Brasil aponta, entre muitos,
alguns benefícios dessa terapia.

- melhora do equilíbrio e da postura;


- desenvolve a coordenação de movimentos entre tronco, membros e visão;
- estimula os sentidos por meio do ambiente e pelos trabalhos com o cavalo;
- promove a organização e consciência do corpo;
- desenvolve e estimula a força muscular;
- oferece sensações de ritmo;
- aumenta a auto-estima, facilitando a integração social;
- desenvolve a coordenação motora fina;
- estimula o bom funcionamento dos órgãos internos;
- reforça a capacidade sensitiva, motora e criativa;
- informa sobre a rotina e o ambiente do cavalo.

Esses benefícios ajudam no tratamento de portadores de várias patologias, como: paralisia


cerebral, síndrome de Down, síndrome de Moebius, síndrome de Eduards, hidrocefalia, AVC
( acidente vascular cerebral ), autismo, disfunção cerebral, distúrbios de aprendizagem e
comportamento, vítimas de acidentes e traumas.

Quanto à segurança, na prática da equoterapia existem leis relativas ao uso de equipamentos.


De acordo com “The riding for disabled association” (1990), os equipamentos:
- devem ser usados somente quando extremamente necessários ou proveitosos;
- não devem prender o praticante ao animal de maneira alguma;
- não podem restringir ou interferir no equilíbrio, movimento e contato do animal
com o praticante;
- não devem irritar o cavalo, causando desconforto, para que não aconteçam acidentes;
- devem ser confortáveis;
- devem ser apropriados às necessidades dos praticantes.
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De acordo com Lermontov, (2004), a equoterapia é uma terapia que utiliza o cavalo como
ferramenta de trabalho para estimular o desenvolvimento motor, emocional e social de
pessoas especiais. Esses aspectos são trabalhados na busca da melhoria da qualidade de
vida de seus praticantes.

Para Kovács, (1997), quando se pensa em qualidade de vida, pensa-se em dignidade, em


respeito à pessoa e controle sobre a própria vida. Segundo a Organização Mundial da
Saúde, a qualidade de vida está ligada ao bem-estar, satisfação com as circunstâncias vitais,
diminuição do sofrimento físico, psíquico, social e espiritual.

Existem cuidados necessários ao desenvolver equipamentos para portadores de necessidades


especiais. Segundo Gomes Filho (2003), o papel da ergonomia no design de produtos para
portadores de necessidades especiais é de extrema importância. Esse design deve atende às
necessidades físicas, funcionais, ao aspectos psicológicos do usuários, e também fazer o uso
56 de dados antropométricos.
METODOLOGIA

O desenvolvimento da pesquisa foi estruturado conforme as etapas da análise ergonômica.


Com a aplicação de questionários e registros fotográficos dos pacientes e terapeutas, a
demanda foi identificada in loco. Do universo pesquisado, 83% indicaram a segurança como
item mais importante a ser observado. Além da segurança, apareceram ainda itens com
12% para a postura e movimento do usuário e 5% para a adequação do material utilizado.

A análise de tarefa se revelou de significativa importância, e tanto o guia como os terapeutas


discutiram e apontaram as condições ideais para a prática da equoterapia. Foi o momento
em que a pesquisa talvez tenha propiciado, pela primeira vez, a troca de informações entre
os profissionais envolvidos com a causa.

Finalmente, na análise de tarefa foi observada efetivamente a ação e assim justificado o


problema da demanda inicial. À medida que o equipamento foi confeccionado, foi sendo
ajustado e colocado em uso (teste) a cada nova etapa pesquisada, sendo concluído com uma
performance de uso ideal para o paciente.

RESULTADOS E DISCUSSÕES.

Dentro do que denominamos configuração do projeto, algumas novas alternativas de


equipamentos foram geradas, observando-se algumas condições consideradas indispensáveis:

- segurar a criança ao cavalo sem prendê-la;


- não vetar (inibir) os movimentos da criança;
- não interferir na interação criança/ cavalo;
- evitar o desconforto para a criança e para o animal.

Motivado pela necessidade de também solucionar a fadiga reclamada pelos terapeutas,


causada principalmente pela posição e na forma de segurar a criança, foi escolhida então a
alternativa que melhorava esse desconforto.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

02. Esboço colete. 03. Esboço lateral.


57
Para oferecer a segurança contra quedas do cavalo, o colete possui duas tiras laterais com
velcro que são fixadas à manta (capa sobre o cavalo). Isso retarda a velocidade da queda,
proporcionando assim um tempo adequado para que os acompanhantes seguram a criança
por alguma das três alças que compõem o colete.

04. Vista Frontal do equipamento. 05. Ilustração do colete.

Os materiais utilizados na construção do colete são lona, fibra sintética, tactel, cadarços e
velcro. Os testes estão sendo avaliados com o uso em criança que se adapte ao tamanho em
que foi confeccionado.
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06. Postura do usuário com o colete 07. Sistema de fixação e alças de segurança.

A figura 06 mostra a postura do paciente com o equipamento, e a figura 07 mostra a fixação


das alças e o terapeuta segurando a criança por uma das três alças existentes no colete.
58
09. Liberdade dos movimentos
para a frente e para trás.

08 Liberdade dos movimentos laterais.

As imagens 08 e 09 demonstram que o equipamento não inibe os movimentos da criança.

CONCLUSÃO

A proposta do equipamento desenvolvido favorece não só os portadores de necessidades


especiais, mas também as que estão tendo seus primeiros contatos com o cavalo.

Sobre as avaliações do uso, inicialmente, foi constatado o acerto do desenvolvimento proposto.


A aceitação é devido principalmente à segurança e à postura dos pacientes. Em continuidade
ao processo de avaliação, estão em observação a resistência, a durabilidade, o baixo custo e
a facilidade de higienizarão dos materiais utilizados.

Há uma ampla aceitação da proposta quanto à sua condição de uso e manejo, tanto por
parte dos profissionais quanto dos usuários da equoterapia.

REFERÊNCIAS

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


CURSO BÁSICO DE EQUOTERAPIA. Material de montaria. ANDE – Brasil
CURSO BÁSICO DE EQUOTERAPIA. A equoterapia e seus benefícios. ANDE – Brasil
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FILHO, João Gomes. Ergonomia do objeto. São Paulo: Ed. Escrituras, 2003. 255 p.
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KOVÁCS, Maria Julia. MASINI, Elcie. BECKER, Elizabeth. AMARAL, Ligia. AMIRALIAN,
Maria Lucia. Deficiências: Alternativas de intervenção. Ed Casa do Psicólogo, 1997.
PANERO, Julius. ZELNIK, Martin. Las dimensiones humanas em los espacios interiores. México:
Ed. G. Gili.8ª edição, 1998. 320 p.
OFFICIAL MANUAL. The riding for the disabled association. Ed. Hollen Sreet Press Ltd.
59
PROGRAMA DE ATENDIMENTO EQUOTERÁPICO NOS
DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM (PAEDA)

Autora: Claudia da Costa Mota - Brasil

RESUMO

Utilizar o cavalo como principal instrumento para promover ganhos nas habilidades
cognitivas de crianças com distúrbios de aprendizagem foi o aspecto norteador deste trabalho.

Pretende-se apresentar o Paeda (Programa de Atendimento Equoterápico nos Distúrbios de


Aprendizagem) aos fonoaudiólogos e profissionais que atuam em equoterapia. O Paeda é
um protocolo de sugestões estratégicas para o trabalho com as habilidades que estão na
base da aprendizagem, favorecendo o raciocínio clínico fonoaudiológico no contexto
equoterápico.

Palavras-chave: Paeda; Equoterapia; Distúrbio de aprendizagem; Competências; Habilidades


cognitivas; Linguagem oral; Memória; Atenção; Eqüestre; Dislexia congênita; Dislexia
adquirida.

INTRODUÇÃO
No decorrer da prática como profissional atuante em equoterapia e na criação do Paeda,
diversos questionamentos surgiram em torno do papel do fonoaudiólogo nessa prática
terapêutica. Através de experimentos durante cinco anos de trabalho utilizando materiais
pedagógicos de apoio, ou utilizando somente o cavalo e materiais do contexto eqüestre, foi
possível a comparação de resultados e identificação pessoal de um modo de trabalho
considerado, pela autora, mais efetivo e condizente com a proposta de equoterapia.

Segundo a Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasila), a equoterapia é um método


terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar,
nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de
pessoas portadoras de deficiência e/ou com necessidades especiais. Ela emprega o cavalo
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

como agente promotor de ganhos físicos, psicológicos e educacionais.

O presente trabalho visa fornecer sugestões de estratégias terapêuticas utilizando o cavalo


para desenvolver as habilidades básicas necessárias à alfabetização, que se encontram em
defasagem nas crianças com distúrbios de aprendizagem. A escassez de publicações nacionais
referentes a estratégias no ambiente equoterápico para o trabalho de competências e
habilidades específicas relacionadas à base da aprendizagem foi a motivação principal da
construção do Paeda, como também a necessidade de solidificar a atuação do fonoaudiólogo
dentro do tratamento de equoterapia.

O fonoaudiólogo pode ter vários campos de atuação, como clínicas, empresas, consultórios,
hospitais, asilos, entre outros; e atualmente é um profissional que está cada vez mais atuante
na equipe interdisciplinar da equoterapia. Refletir sobre esse papel do fonoaudiólogo na
equoterapia é também um objetivo do presente trabalho.
* Fonoaudióloga e psicodramatista, profissional da equoterapia atuando no Instituto Passo a Passo-Itatiba-SP
60
Considerando que a aprendizagem escolar é um processo complexo que envolve vários
sistemas e habilidades, e que um determinado fator não seja o único responsável pela
dificuldade para aprender, neste momento de apresentação do Paeda será dada ênfase aos
aspectos da atenção, memória e estruturação da linguagem oral.

Favorecendo experienciações no ambiente eqüestre e com o cavalo, o Paeda possibilitará a


aprendizagem de competências e habilidades que estão na base da aprendizagem. Para
Piaget (1983), a aprendizagem é um processo provocado por diversas situações, tais como
experimentos psicológicos e influências externas.

Mesmo sabendo que a equoterapia proporciona uma estimulação global nos campos cognitivo,
afetivo, social e motor, o Paeda focou o trabalho de atenção, memória e linguagem oral,
sendo que estas características apresentam deficitárias em crianças com distúrbios de
aprendizagem.

De acordo com a definição estabelecida em 1981 pelo National Joint Comittee for Learning
Disabilities (Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem), nos Estados Unidos da
América,
Distúrbios de aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo
de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição,
fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas alterações são
intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso
central. Apesar de um distúrbio de aprendizagem poder ocorrer concomitantemente com
outras condições desfavoráveis (por exemplo, alteração sensorial, retardo mental,
distúrbio social ou emocional) ou influências ambientais (por exemplo, diferenças
culturais, instrução insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos), não é resultado direto
dessas condições ou influências. (Collares e Moysés, 1992: 32)

Observa-se que o termo distúrbio de aprendizagem muitas vezes é utilizado de modo genérico;
ressalta-se que, neste trabalho, as crianças com dificuldades escolares foram diagnosticadas
com distúrbios de aprendizagem de origem neurológica, portanto são consideradas crianças
disléxicas.

Segundo a atual definição de 2003 (Susan Brady, Hugh Catts, Emerson Dickman, Guinevere
Eden, Jack Fletcher, Jeffrey Gilger, Robin Moris, Harley Tomey and Thomas Viall, apud

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Vallet, 2003):
“Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem neurológica. É caracterizada
pela dificuldade com a fluência correta na leitura e por dificuldade na habilidade de
decodificação e soletração. Essas dificuldades resultam tipicamente do déficit no
componente fonológico da linguagem que é inesperado em relação a outras habilidades
cognitivas consideradas na faixa etária”.

Segundo Johnson e Myklebust (1983), a dislexia raramente é encontrada de forma isolada.


As dificuldades severas para ler e escrever corretamente encontram-se associadas a distúrbios
de memória, atenção, imagem corporal, aspecto motor, orientação temporal e espacial e
lateralidade.

Com relação às estratégias terapêuticas para o tratamento equoterápico de crianças com


distúrbios de aprendizagem, a autora preocupou-se em criar estratégias que levassem em
consideração a relação homem versus cavalo, favorecendo o contato, a experienciação e a
possibilidade de uma aprendizagem ativa. Acredita-se que através de um protocolo de
61
sugestões terapêuticas o fonoaudiólogo possa conduzir a sua sessão e o tratamento de modo
mais organizado e com a segurança de uma avaliação mais precisa dos resultados objetivados.

Como a equoterapia é um método terapêutico que possibilita trabalhar vários aspectos


simultaneamente, o profissional que conduz uma sessão pode desfocar facilmente os seus
objetivos.

Utilizando o Paeda como um protocolo de sugestões estratégicas, o fonoaudiólogo poderá


organizar a sessão e o tratamento de uma forma didática e flexível, proporcionando melhor
avaliação dos resultados a serem obtidos.

OBJETIVOS

Geral
eral

Com o uso do cavalo e do ambiente eqüestre como principais instrumentos da equoterapia,


pretendeu-se criar o Paeda (Programa de Atendimento Equoterápico nos Distúrbios de
Aprendizagem) cujas estratégias, neste momento, serão para trabalhar a atenção, memória
e estruturação da linguagem oral.

Específicos
specíficos

Demonstrar as estratégias do Paeda para outros profissionais atuantes em equoterapia;

Refletir sobre o papel do fonoaudiólogo dentro da equoterapia.

MÉTODO

Local
ocal

A pesquisa foi realizada num instituto de equoterapia no interior do estado de São Paulo.
Este instituto é composto por uma equipe interdisciplinar com uma psicóloga, duas
fonoaudiólogas, duas fisioterapeutas, alguns médicos, dois condutores técnicos e dois
auxiliares laterais. Destaca-se que todos os profissionais, com exceção dos médicos, são
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equitadores.

Sujeitos
ujeitos

As estratégias foram utilizadas em quinze sujeitos de 07 a 12 anos atendidos em equoterapia,


com diagnóstico de dislexia congênita e um com dislexia adquirida. Alguns com atendimentos
em duplas, outros em grupos selecionados a partir da idade ou demanda terapêutica.

Procedimentos
rocedimentos

Após avaliação interdisciplinar, envolvendo contato e/ou questionário escolar, os sujeitos


foram submetidos a sessões semanais de equoterapia em duplas ou grupos, com duração de
uma hora, sendo utilizada para essa pesquisa, a observação de 24 sessões.

Todas as sessões foram registradas pela pesquisadora, algumas fotografadas ou filmadas.


62
As estratégias terapêuticas da pesquisa foram divididas em enfoque na atenção, memória e
estruturação da linguagem oral.

No início do tratamento os praticantes eram informados dos objetivos e, quando necessário,


foi retomado o setting terapêutico, ou seja, o contrato de atendimento, relembrando o motivo
de cada praticante estar realizando a equoterapia.

Algumas estratégias utilizadas serão descritas a seguir, lembrando que tais estratégias não
foram realizadas necessariamente na ordem que estão sendo expostas.

1. Atividades que priorizam a linguagem oral

a) Objetivo: ampliação do vocabulário e evocação da memória imediata

Execução: em solo, durante a escovação do animal, os praticantes nomeiam três instrumentos


– escova, rasqueadeira e limpa-casco.

Durante a atividade cada praticante deve falar o nome de um instrumento para que outro
colega do grupo o pegue e o utilize, e assim intercalam os papéis entre nomear e realizar a
atividade de limpeza do animal antes que ele se encilhado.

Uma variação dessa atividade é acrescentar as partes do corpo do animal, que podem ser
variadas: dorso, barriga, pescoço, chanfro, face, boleto, anca, espádua, ranilha, entre outras.
Os praticantes devem dar a seguinte ordem: use a rasqueadeira na anca, use o limpa-casco
na ranilha, e assim por diante. Quando esquecem algum nome, a terapeuta ou outro integrante
do grupo diz o primeiro fonema (unidade mínima sonora), ou a primeira sílaba, se for
necessário.

Verifica-se que esta atividade é mais complexa que a descrita anteriormente, sendo que as
crianças devem formar sentenças mais complexas e lembrar de uma quantidade maior de
nomes que, para elas, não são comuns.

Figura 1: Foto ilustrativa de atividade em solo

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Com essas atividades, os praticantes
inserem novas palavras em seu
vocabulário de uma forma vivencial,
dinâmica e dentro do contexto da
equoterapia. Sabe-se que crianças
disléxicas têm uma história de deficiências
de linguagem oral no período pré-escolar,
que pode se prolongar na fase escolar. De
acordo com Vallet (1990), as dificuldades
de linguagem oral mais freqüentes em
crianças disléxicas são dificuldades para
dar nomes e encontrar palavras,
problemas para lembrar palavras,
memória fraca para dígitos e sentenças, além de uma articulação e ordenação pobres dos
sons da fala. Alguns estudos citados por Bryden (1972), Ealck (1978) e Spring (1976)
confirmam deficiências significativas de memória auditiva em crianças disléxicas.
63
Nestas atividades, o trabalho com a memória auditiva é facilitado com atividades que ajudam
a evocação da palavra, como pistas fonológicas (por exemplo, começa com “e”); pistas
semânticas (por exemplo, é um objeto que serve para limpeza); ou gestuais, realizando
o gesto do uso de tal instrumento. Segundo Santos e Navas (2002), muitas vezes é
difícil determinar se a dificuldade do paciente é de memória ou de evocação lexical.
O fato é que ele não consegue eliciar o vocábulo desejado. Por essa razão, além de
estimulá-lo a formar melhores redes de associação entre as palavras, devemos ajudá-lo a
evocar os vocábulos o mais rapidamente possível, evitando as hesitações que interferem em
seu desempenho.

Ainda segundo as autoras, todas essas atividades de linguagem podem e devem ser associadas
com outras de coordenação motora, a fim de que se tornem mais dinâmicas e interessantes
para o paciente.

Nessas atividades do Paeda, todas as atividades são dinâmicas e possibilitam a estimulação


multissensorial, pois organização e movimento de corpo são combinados com outras
habilidades de tato, percepção, linguagem e pensamento.

b) Objetivo: organização do discurso oral e memória seqüencial

Execução: após a ordem da mediadora para a atividade de realização de um circuito, cada


praticante repete a ordem com suas palavras, sem esquecer das etapas e com atenção na
estruturação sintática do discurso.

Exemplo: com o cavalo à mão direita ao trote elevado, o grupo deve fazer uma volta completa
no picadeiro, realizar uma troca de mão pela diagonal em M a K, e uma meia volta reversa
em B com posterior alto em A.

Observação: esta atividade deve levar em consideração o nível de memorização do grupo,


sendo que as ordens vão se tornando mais complexas à medida do aprendizado gradativo.

De acordo com Santos e Navas (2002), a expressão oral dos pacientes com dislexia é pouco
organizada, seus relatos têm pobre construção frasal, faltando-lhes muitas vezes coerência e
coesão. Também apresentam dificuldade de memória verbal, vocabulário, nomeação e acesso
lexical ou evocação. Essas autoras sugerem que o terapeuta deve ajudar e orientar o paciente
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a organizar o mundo das palavras, das idéias e das percepções, de modo lúdico e atraente.

Na atividade descrita acima, os praticantes, após organizar o seu discurso referente ao circuito
dado, realizam a atividade de acordo com a seqüência orientada, e fazem uma reflexão
sobre o desempenho de cada um e do grupo. Essa atividade pode ser realizada a passo e
posteriormente em andaduras mais rápidas, como o trote e o galope, provocando uma
aceleração na evocação da memória para o circuito e ajustes motores.

Segundo Valett (1989), atividades sensoriais e motoras sobrepostas e estruturadas ajudam a


tornar o corpo mais bem organizado e têm uma influência direta nos centros de organização
neurológica do próprio cérebro.

Maria Montessori, em 1964, foi uma das primeiras técnicas a formular a hipótese de que se
pode fazer a mente crescer e se desenvolver através do uso de métodos educacionais especiais,
que usam jogos cognitivos e jogos sensório-motores relacionados.
64
2- Atividades que priorizam a atenção

a) Objetivo: trabalho com a atenção seletiva

Execução: em montaria, utilizar palavras que foram trabalhadas no momento do trabalho


em solo, podendo ser classificadas em materiais de encilhamento, partes do corpo do animal,
pelagens, e associá-las aos exercícios de aquecimento a cavalo.

Quando a mediadora da sessão diz uma palavra, o praticante deve associá-la ao ato motor
correspondente. Por exemplo: cada vez que a mediadora disser “manta”, o praticante deve
girar o braço esquerdo; quando a mediadora diz “sela”, o praticante deve girar o braço
direito; e quando a mediadora diz “estribo”, o praticante deve ficar em pé com postura de
equilíbrio. Essas palavras podem ser ditas em ordem e depois essa ordem pode ser aleatória,
dificultando o exercício.

Observações: as palavras e exercícios poderão ser em número maior, a partir da aprendizagem


e memorização gradativa das ordens. Uma variação desse exercício é dar a ordem através
de números, por exemplo, cada número corresponde a um ato motor, e esses números podem
ser falados na seqüência ou fora dela, dificultando o exercício.

b) Objetivo: trabalho com a atenção seletiva

Execução: em montaria com o cavalo a passo, os praticantes devem manter uma distância
de animal para animal, de modo que cada um esteja posicionado à frente de uma letra que
marca o picadeiro. Enquanto dois praticantes estão em postura de equilíbrio, o praticante
do meio deve encontrar-se em postura de base (sentado à sela). A medida que os praticantes
e seus cavalos chegam na próxima letra do picadeiro, as posturas devem ser modificadas, ou
seja, os praticantes que estavam em pé em postura de equilíbrio se sentam, enquanto o
praticante que estava em postura de base levanta-se para a postura de equilíbrio. Além da
atenção para o momento da transição de postura, os praticantes devem coordenar a distância
entre os cavalos para que o exercício ocorra de modo harmonioso.

Durante essas atividades a diversão é geral, pois inicialmente os praticantes podem confundir-
se na ordem do exercício. Além da realização do exercício proposto, o praticante está em
movimento, ou seja, trabalho motor constante, e tendo que manter uma distância segura

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dos outros animais.

Muitos estudos confirmam que a dificuldade primária de crianças disléxicas é a inabilidade


de focalizar a atenção e conservar na mente diversas parcelas de informação, até que possam
ser sintetizadas. Segundo Zorzi (2003), a atenção é a capacidade para selecionar os estímulos
sobre os quais nossa atenção e nossa inteligência irão se concentrar. A atenção depende da
curiosidade pelas coisas, do interesse, da capacidade de compreensão, das condições do
ambiente e de nossas capacidades de detectar estímulos e selecionar, entre muitos que estão
ocorrendo simultaneamente, aqueles que nos interessam.

Nesta atividade proposta o terapeuta auxilia o treinamento da atenção, colocando atividades


sensoriais (memória auditiva) em relação a atividades motoras. Segundo Santos & Navas
(2002), para que a criança aprenda na escola, ela deve ter boa detecção de sons e ainda ser
capaz de separar sons de fala de outros sons ambientais, isto é, ter boa atenção dividida ou
seletiva. Quando isso não ocorre, torna-se muito difícil aprender sem assistência especial,
mesmo tendo inteligência normal, motivação e saúde. 65
3- Atividades que priorizam a memória

a) Objetivo: trabalho com a memória auditiva imediata seqüencial

Execução: com o cavalo engatado numa guia longa para o trabalho com o “volteio”, o
mediador dá a ordem verbal para uma seqüência de movimentos. Por exemplo: com o cavalo
a passo, será realizado um “moinho”, postura de joelhos, ficar em pé e logo em seguida a
postura de base.

Observação: conforme a memorização da ordem, o exercício pode ir tornando-se mais


complexo. As variações dessa atividade podem ser realizadas de acordo com a atividade da
equitação proposta.

Variações:
b- Montados e conduzindo o cavalo a passo, os
praticantes seguem uma seqüência de figuras de
picadeiro solicitada pela mediadora. Por exemplo:
com o cavalo a passo será realizada uma volta
completa no picadeiro, com uma troca de mão pela
diagonal F a H , com um círculo em B, e um semi-
círculo em E tendo o alto em C. Logicamente, na
primeira realização desse exercício as ordens são
menores, e vão se tornando mais complexas à
medida que a memorização do exercício vai
ocorrendo.
Figura 2: Ilustração da estratégia 3b do
Paeda

c- Conduzindo o cavalo a passo, trote ou galope,


os praticantes seguem uma seqüência de
obstáculos, nomeados adequadamente, de acordo
com os princípios da modalidade eqüestre de salto.
Como por exemplo: com o cavalo ao trote o
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cavaleiro deve passar pelo obstáculo em “X”, em


seguida na “paralela”, passando pelo obstáculo
duplo e realizando o alto em seguida. Todos os
exercícios podem ser propostos numa ordem
inversa.
Figura 3: Foto ilustrativa da estratégia 3c do
PAEDA
Em todas essas atividades, os praticantes deverão
memorizar uma seqüência, sendo que cada uma tem um vocabulário específico, que vai
depender de o terapeuta mediador da sessão estar utilizando técnicas da equitação clássica
voltadas para o adestramento, volteio ou salto.

Essa memória seqüencial é muito importante de ser trabalhada em crianças com quadro de
dislexia, pois, segundo Moraes (1997) essas crianças têm dificuldades para recordar
seqüências, e de lembrar séries, como por exemplo, dias da semana e os meses do ano.
66
DISCUSSÃO E RESULTADOS

A utilização do Paeda durante as sessões de equoterapia com crianças disléxicas possibilitou


a organização didática das terapias. A equipe interdisciplinar observou que o conhecimento
da equitação relacionado aos objetivos terapêuticos claramente definidos proporcionou
ganhos significativos nos aspectos da linguagem oral, atenção e memória dos praticantes
atendidos. Além da melhora evidente no ambiente equoterápico, tanto as famílias como as
professoras relataram sobre a evolução das crianças atendidas nos aspectos que foram
trabalhados.

O Paeda proporcionou, à equipe interdisciplinar, uma forma organizada de realizar o


raciocínio de atendimento equoterápico para as crianças com distúrbios de aprendizagem,
pois a dislexia é um quadro muito complexo, com várias habilidades e competências
prejudicadas que merecem atenção para que a criança possa progredir no seu ambiente
escolar.

Longe de ser um simplificador, o PAEDA buscou uma organização das estratégias utilizando
o cavalo como agente provedor da educação. Pôde-se observar, que em nenhum momento
das estratégias foi utilizado qualquer instrumento que não fizesse parte do contexto eqüestre.

Uma abordagem equoterápica que utiliza o Paeda deve dar ênfase não somente às funções
neuropsicomotoras, conhecidas como a lista de habilidades necessárias à aprendizagem da
leitura e da escrita, como linguagem oral, memória e atenção (descritas neste trabalho)
lateralização, discriminação visual e auditiva, coordenação viso–motora, orientação espaço
- temporal, inteligência emocional, entre outras que serão abordadas na proposta de
ampliação do Paeda. Mas também à valorização da competência lingüística, das capacidades
da criança na busca do conhecimento, das oportunidades de vivenciar situações concretas
de aprendizagem e acima de tudo utilizar o instrumento principal da equoterapia como
meio dessa aprendizagem – o cavalo.

A equoterapia é uma abordagem terapêutica que possibilita o trabalho concomitante de


todos os aspectos do desenvolvimento, sendo eles o cognitivo, motor, afetivo e social. Cabe
ao profissional estabelecer a prioridade dos seus objetivos em concordância com as

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necessidades familiares e escolares, como também buscar o conhecimento da etologia do
cavalo e da equitação, para que o conjunto desses fatores seja favorável para um programa
de atendimento eficaz.

Vallet (1974) também sugere uma abordagem terapêutica que organiza 53 capacidades de
aprendizagem em habilidades e tarefas. Coloca seis categorias principais: tarefas motoras
grosseiras, tarefas sensório-motoras, tarefas perceptivo-motoras (incluindo auditivas, visuais
e visual-motora), habilidades conceituais, sociais e de linguagem. Essas habilidades e tarefas
estão organizadas em seu programa em uma hierarquia que considera as necessidades
educacionais das crianças disléxicas.

É importante salientar que as divisões de objetivos e estratégias propostas nestes trabalhos


devem ser vistas sempre de modo orientador, pois devemos ter o cuidado em olhar o ser
humano numa perspectiva holística.

67
CONCLUSÃO

Podemos concluir que o Paeda contribuiu para o ganho significativo das habilidades de
atenção, memória e linguagem oral dos praticantes que foram submetidos ao programa. O
Paeda propõe uma gama de estratégias dentro de uma abordagem terapêutica tão ampla
como a equoterapia, e que proporciona o trabalho de todas as habilidades
concomitantemente, vindo a contribuir para que os profissionais reflitam sobre o quanto
podemos extrair do cavalo e do ambiente eqüestre, desde que estes sejam conhecidos por
toda a equipe interdisciplinar.

Devido a esta proposta, a autora reflete sobre o papel do fonoaudiólogo dentro da equoterapia.
Segundo ela, este deve ser um profissional polivalente, que tenha o conhecimento específico
de sua área, aprofunde-se numa área de atuação dentro da fonoaudiologia, e conheça
principalmente a etologia do cavalo e a equitação para que possa utilizar a principal
ferramenta da equoterapia, que é o cavalo e o ambiente eqüestre.

Além das qualidades técnicas, o profissional da equoterapia deve ser criativo, saber trabalhar
em equipe, ter qualidades morais e humanas.

Apesar de a autora ter enfocado as habilidades necessárias para a alfabetização, alerta que
qualquer que seja o aspecto fonoaudiológico a ser trabalhado, o importante é que o profissional
não tente levar o consultório para cima do cavalo, e sim desenvolver um raciocínio clínico
dentro do contexto equoterápico. Que o fonoaudiólogo, numa constante troca com a equipe
interdisciplinar, consiga utilizar o cavalo como principal agente promotor de ganhos no
desenvolvimento, seja da linguagem oral, escrita, voz, audição ou motricidade oral.

A autora do trabalho está ampliando a gama de estratégias para trabalhar outros aspectos
que se encontram em defasagem na criança com distúrbios de aprendizagem. Sugere ainda
a continuidade da aplicação das estratégias sugeridas pelo Paeda por outros centros de
equoterapia, levantando uma amostra significativa de sujeitos para uma próxima pesquisa
e possibilitando a validação do programa e o intercâmbio das instituições.
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REFERÊNCIAS

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COLLARES, C. A. L. e MOYSÉS, M. A. A. A História não Contada dos Distúrbios de


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ZORZI, J.L. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita- Questões clínicas e educacionais.


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XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

69
“REPARANDO” A PERSONALIDADE OU DANDO APOIOS PARA O
COTIDIANO. EPMT – EQUITAÇÃO PSICOMOTORATERAPÊUTICA

Autor: Ulrike Thiel - The Netherlands*

A equitação terapêutica com êxito pode ser usada dentro de modelos diferentes para objetivos
de recuperação (psicoterapêutica). PMTV é uma forma de psicoterapia psicodinâmica voltada
para o corpo, baseada em montaria de recuperação (Kröger, 1977, 1982, 1990, 1996, Kröger
et al. 1997) e PBSP uma terapia psicomotora (Sistema Pesso-Boyden de Terapia Psicomotora),
juntamente com uma metodologia baseada no entendimento de desenvolvimento físico e
psicológico humano. Além do mais, a equitação terapêutica psicomotora é um processo no
qual interação, resposta e projeção precisam ser mantidos sobre controle, i.e., parece ser útil
estruturar os elementos envolvidos e criar situações de terapia variadas e sistematicamente
definidas, em que clientes se sentem seguros para reunir experiências em cooperação com o
cavalo, quando assistidos pelo terapeuta. A base terapêutica escolhida é a do Sistema Pesso-
Boyden de Terapia Psicomotora.

As razões são as seguintes: (1) é uma forma de terapia orientada pelo desenvolvimento, (2)
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estrutura os impulsos que os clientes experimentam durante o processo, (3) trabalha exercícios
claros e orientados, e (4) usa situações seguras e bem-definidas para este propósito. Na
“variante eqüina” de PBSP, a interação entre o cavalo e o cliente convida o último a embarcar
numa viagem de autodescoberta. Administrado pelo terapeuta, ele/ela pode encontrar
conflitos emocionais do passado mal resolvidos através das reações instantâneas emotivas e
físicas que são desencadeadas por exercícios com o cavalo e no cavalo. Os clientes são
conscientizados destas reações, às quais são dados nomes para fazê-las menos ameaçadoras,
retomadas desde suas origens e confrontadas em seu contexto histórico.

O caminho em direção à cura é feito pela definição e estruturação de sentimentos que foram
uma vez opressores e sensações corpóreas seguidas por sua digestão e transposição na vida
diária. Sob a terapia de Pesso, os participantes normalmente trabalham individualmente

Psicóloga Clínica, Equoterapeuta. HippoCampus, Institute for Equitherapy and Equine Sport Psychology. De Bult
70 2 NL 6027 RG Soerendonk The Netherlands. Telefone: 0031-495- 45 37 57. E-mail: hippocampus@iae.nl
durante sua “estrutura” dentro de um grupo, i.e. cada cliente trabalha em seu processo
individual, enquanto os outros membros do grupo, que fazem o mesmo durante seu próprio
tempo de “estrutura”, agem como acomodadores. Sob PMTV, o cavalo adota o papel do
parceiro humano (membros do grupo). No entanto, não substitui os modelos do papel
humano. Ao contrário, espera-se que guie os clientes em direção a eles. E ao fazê-lo, satisfaz
diferentes funções em todo o processo terapêutico e muda de papéis durante a fase simbólica
de digerir as experiências recém-adquiridas. Este trabalho compara abordagens pedagógicas
e corretivas na equitação terapêutica a abordagens psicoterápicas. Os modelos básicos são
discutidos e ilustrados com alguns exemplos do uso prático com adultos, crianças e jovens.

De uma abordagem pedagógica a uma psicoterapêutica no trabalho com cavalos


A psicoterapia com parceiros eqüinos na Europa de fala alemã evoluiu geralmente do trabalho
terapêutico em contextos sociais e educacionais em combinação ao passado psicoterapêutico.
Esse também foi o caso comigo. Baseada em meu treinamento em equitação terapêutica
(equitação de recuperação/corretiva) e em meu passado como uma psicoterapeuta centrada
no cliente e na orientação corporal, desenvolvi minha própria versão de equitação terapêutica
psicomotora (PMTV). Este método tem provado seu valor por mais de dez anos e agora é
ensinado a estudantes equoterapeutas em programas de equitação terapêutica holandeses
reconhecidos SHP-E (NL) (Nederlandse Stichting Helpen met Paarden). Uma vez que na
Holanda, psicoterapeutas e pedagogos são conjuntamente treinados em equitação
terapêutica, nós também demos uma olhada cuidadosa nos paralelos e diferenças das duas
abordagens para trabalhar com cavalos baseadas no processo. Os fundamentos da
abordagem psicoterapêutica Pesso em termos de um modelo psicodinâmico definido pela
satisfação de necessidades humanas básicas e a autodefinição dos clientes e aceitação por
interação com o parceiro resultou numa estrutura formal e de conteúdo muito clara, que
pode ser muito útil no trabalho prático, não só para psicoterapeutas mas também para
pedagogos. Ao mesmo tempo, também oferece uma base metodológica prática para o meu
conceito de equitação terapêutica psicomotora (PMTV). PMTV fornece um vasto leque de
aplicações para uma variedade de indicações, desde sérias desordens psiquiátricas crônicas
a grupos de autoconsciência para cavaleiros que querem saber mais sobre si mesmos e sobre
seu relacionamento com cavalos. Meus clientes, meus cavalos e eu realmente aproveitamos
esta forma de terapia como um tipo de expedição comum pelo corpo e a mente. PMTV
também oferece aos estudantes equoterapeutas uma boa ferramenta para o trabalho
psicoterápico com cavalos, baseado em sua experiência de equitação de recuperação. Além
do mais, este modelo ajuda a administrar a transição de medidas educacionais a processos

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terapêuticos, como é freqüentemente necessário para clientes jovens.

Redefinição de si próprio na interação


Ambos os conceitos, i.e., o educacional e a forma psicoterápica de trabalhar com cavalos,
começam pela suposição de que você quer dar a oportunidade para clientes embarcarem em
uma viagem a seu interior, a suas possibilidades e limites, dentro de um romance, uma
situação não- negativa com cavalo e terapeuta, para compreender e experimentar alternativas
a situações diárias e interações e, finalmente, levar consigo estas outras possibilidades em
seu dia-a-dia para usá-las para melhorar sua qualidade de vida. Em ambos os casos presume-
se que os clientes têm necessidades que não podiam e não podem ser (adequadamente)
satisfeitas em seus contextos prévio e atual de vida, e que agora têm designados um lugar no
triângulo terapêutico formado por cavalo, cliente e terapeuta. Em ambos os casos, não vemos
nosso trabalho como orientado por problemas, mas sim como uma abordagem holística que
não se propõe a reparar quaisquer déficits, mas usar as possibilidades e as forças dos clientes
para ajudá-los a ver mais que o que eles já sabem de si, ajudá-los avaliar e apreciar suas
71
possibilidades e limites. Isto acontece numa atmosfera na qual clientes se sentem seguros,
mas em que eles também são convidados e motivados a ousar em território desconhecido
com o seu corpo e interagir com outros. Uma esfera de possibilidade é criada - um estado
em que eles podem descobrir possibilidades. A relação que os clientes estabelecem com o
cavalo, com o terapeuta e, talvez também com outros participantes, fará com que reúnam
experiências, boas e dolorosas, e os integrará no quadro que eles têm de si e de seu mundo.
Isto levará a uma redefinição de si mesmos em interação com o mundo. Como este mundo
e suas próprias personalidades agora experimentados os levarão a novas vias de ação.

Processos de desenvolvimento continuado versus digerir cenas históricas


O salto/equitação num contexto pedagógico de recuperação é um conceito holístico, que
interfere em um (ainda) contínuo processo de desenvolvimento e oferece opções
suplementares que as crianças e os jovens não experimentam na vida cotidiana. Ele/a abre
novas avenidas de percepção e modalidades de experiência, e convida clientes a testar
alternativas de ação. As ofertas feitas são baseadas no que clientes atualmente fazem e
experimentam, e normalmente são aceitos hesitante, mas alegremente. Em salto/equitação
psicoterápico, temos de contar com aspectos parcialmente não satisfatórios, em grande parte
concluídos de processos de desenvolvimento. Os clientes responderam (freqüentemente,
durante anos) com vários mecanismos de negação, repressão e suporte. Embora tais
mecanismos gerem sofrimento, eles são firmemente entrincheirados e impedem o processo
terapêutico porque, como o abandono, ou temporariamente desviando-se destas “estratégias
tentadas e testadas de sobrevivência”, podem ser um cenário muito ameaçador para os
clientes. Doravante temos que esperar defesa e reações de anulação determinadas por uma
biografia individual. Nós não devemos ser surpreendidos com tais reações, nem devíamos
julgá-las negativamente. Isto é onde o cavalo nos ajudará aceitar os resultantes desafios
terapêuticos. O especial “triângulo de relacionamento” entre cliente, cavalo e terapeuta faz
uso ideal deste diálogo com equilíbrio, sensações, ritmo natural de movimento, calor do
corpo forte do cavalo e sua ação tridimensional. Facilita ter acesso a sentimentos de outra
forma reprimidos ou negados, a autopercepção, e mesmo localizar necessidades não
realizadas, que anseiam por tal, e mecanismos historicamente crescidos. Este “triângulo de
relacionamento equoterapêutico” usa o contato do cliente com o cavalo para espelhar o eu
deste cliente. Uma confrontação consigo mesmo que, se induzida somente pelo terapeuta,
os clientes não admitiriam de forma alguma, ou somente sob grandes dificuldades. A
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personalidade do cavalo tem um papel chave neste contexto: cavalos não serão
impressionados e enganados por “Lebenslügen”, ou mentiras da vida, e ainda estão prontos
para aceitar seus parceiros humanos como são.

Trabalho de processo dirigido dentro do triângulo relacionamento com o cavalo (o grupo)


e o terapeuta
Apesar de tudo, nós não devemos ingênua e inquestionavelmente contar com os efeitos de
catalisador do cavalo. Para usar este triângulo de relacionamento em doses apropriadas e
numa maneira focada e significativa para o cliente, dentro de um processo integrado, e
para fornecer a opção de transpor experiências à vida cotidiana, também necessitamos um
conceito bem-estruturado. Precisamos de uma situação de terapia que ofereça a segurança
necessária, enquanto convidando clientes a experimentar consigo mesmos, seus corpos, suas
sensações, sentimentos e polaridades contraditórias na associação com o cavalo. Em linha
com o trabalho pedagógico com o cavalo, esta segura e encorajadora tríade tem um papel
chave. É o que Pesso chama de “esfera de possibilidade”, i.e., oferecer uma gama de
72
possibilidades (Pesso, 1986). Nós não queremos apenas que os clientes se sintam bem com o
cavalo, aprendam mais sobre si, a avaliar e apreciar o próprio raro eu em interação com o
terapeuta e o cavalo de terapia. Também queremos que levem para casa as introspecções
recentemente ganhas e as usem em sua vida “normal” para melhorar a qualidade de vida
em interação consigo e outro ser humano. Não queremos alcançar o que muitos cavaleiros
com sofrimento pessoal tentam procurar através da “autoterapia” com seu cavalo:
substituindo o “parceiro humano” com o “parcerio eqüino”. É absolutamente necessário
permitir que o cavalo permaneça um cavalo, enquanto nós seres humanos temos que tentar
procurar satisfação de nosso ser e necessidades interpessoais em nós mesmos ou em parceiros
humanos. No vaulting para recuperação, a maneira de manipular a situação pela equitação
pedagógica no “aqui e agora” em cooperação com o outro participante normal, previne
qualquer projeção indesejável de comportamento humano, desejo e necessidade sobre o
cavalo. Dentro de um processo terapêutico, no entanto, projeções apontadas realmente são
desejadas, e somente se fornecidas com acompanhamento profissional. Por exemplo, a função
do cavalo no processo terapêutico - o cavalo tornando-se temporariamente um objeto de
transição ou um símbolo ideal - claramente deve ser definida em termos de um papel simbólico
realizado pelo cavalo durante o processo e deixado depois. Não deve tornar-se um parceiro
de ersatz! Além do mais, temos de procurar possibilidades de termos uma gama limitada de
transferência, contratransferência e projeções dentro do processo, baseado no cavalo e
designando uma função significativa. O cliente, também, tem uma responsabilidade definida
e clara pelo que acontece na terapia, pelo diálogo de relacionamento e a esfera de
possibilidade. É o cliente que freqüentemente determina, com a ajuda do cavalo, o tema,
ritmo e profundidade do processo.

Figura 1 - Distribuição das tarefas no triângulo terapêutico

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Experimentar, abrir-se para, nomear e digerir a experiência


Assim como no trabalho de recuperação com o cavalo, nossa terapia toma o corpo e suas
ações e sentimentos como um ponto de começo. Isto é, onde a intervenção terapêutica, com
todas as sensações envolvidas e informações armazenadas, tentará ter acesso ao cliente. 73
Assim como no salto [vaulting] de recuperação, a consciência do próprio corpo e suas
possibilidades já incita os clientes a melhor apreciarem-se, e os capacita a abrirem-se em
direção ao outro. Em termos psicoterapêuticos isto então levará a experimentar com as
“histórias corporais” baseadas nesta “percepção” de sinais corporais e as “histórias” que
eles contam. Os clientes serão recapacitados para reconhecer outros (nesta situação primeiro
o cavalo), a ajustar-se, e entrar num diálogo com eles. Assim como em trabalho de
recuperação, este diálogo é mais fácil ser aceito pelo cliente já que, inicialmente, é de uma
natureza puramente física, como é o contato entre mãe e criança nas primeiras etapas de
desenvolvimento. Dirigido pelo terapeuta, este diálogo entre ser humano e corpos dos animais
lentamente desenvolve-se em comunicação análoga, e mais tarde em verbalização (dando
um nome ao desconhecido) e reflexão (entender o que acontece). Idealmente, o processo
terapêutico resultará no controle ponderado da vontade e baseado na ação do que foi sentido
e descoberto anteriormente (assim como poderia ter acontecido caso a história de
desenvolvimento do indivíduo tivesse sido boa e sem frustrações). Ao passo que, no salto
[vaulting] de recuperação, freqüentemente basta haver experiências concretas para o processo
ter fortemente com a compartimentalização e digestão das experiências e sensações, verbal
e mentalmente dentro de seu contexto histórico. Ao passo que, no salto de recuperação, e
especial na sua aplicação a crianças, freqüentemente basta fazer os clientes agirem e
descobrirem ações alternativas ou experimentarem suas próprias ações em relação às do
sócio (cavalo ou outro membro do grupo), o contexto psicoterápico freqüente pede a
verbalização (se o último não dominar) como um componente importante do processo ao
lado da ação e sensação.

Rastreando déficits e trabalhando nestes retroativa e simbolicamente


Já que a situação terapêutica lida com efeitos últimos de aspectos “não-ideais” de uma
história de desenvolvimento da pessoa, nós descobriremos déficits em clientes adultos que
deixaram seus vestígios, assim como descobrimos tais déficits no trabalho pedagógico com
crianças e jovens. Eles vêm à frente através de sensações físicas sentidas pelo corpo em
situações específicas. Isto permite-nos deduzir o, historicamente acrescido, “déficit anterior”.
Assim como damos a oportunidade para crianças numa situação pedagógica de satisfazer a
necessidade de ter um lugar, para segurança e proteção, para apoio e alimentação (também
em termos espirituais), nós também damos a oportunidade para adultos satisfazerem tais
necessidades “retroativa” e simbolicamente. Tal satisfação de necessidades não repara o
déficit experimentado, mas oferece um novo “desenho técnico” de como coisas também
poderiam ter sido. Onde possível, a satisfação de necessidades não realizadas da infância é
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experimentada simbolicamente “aqui e agora” com o cavalo na equoterapia, tal como ser
carregado por uma figura de pai ou de mãe ideal (o tipo de pai que o cliente teria gostado de
ter) e levar esta experiência ao lar, na atual situação de vida real.

A estrutura é importante
Assim como no salto [vaulting] de recuperação, uma estrutura específica, uma abordagem
às vezes cíclica é muito útil para o cliente, o terapeuta e o cavalo. Variando da primeira
realização de sinais de corpo, a sua utilização terapêutica e evolução, este processo acontece
dentro de fases individuais e definidas no modelo de PMTV, onde o cavalo satisfaz várias
funções. O que nós certamente não esperamos é uma “máquina de salto” que trabalha com
o apertar de um botão e continua andando, ritmicamente, não importando o que acontece
nas suas costas. Pelo contrário, o cavalo pode e deve reagir claramente ao que o cliente sente
e faz, como as reações do cavalo podem ser um gatilho, tanto para o cliente como para o
terapeuta. Em completa oposição ao salto [vaulting] de recuperação, na psicoterapia é esta
reação do cavalo (também enquanto “carregando” e em contato com o cliente) que fornece
significativos pontos inciais para achar o “gatilho interior” do cliente. Enquanto o salto de
74 recuperação focaliza mais em abrir possibilidades de percepção e experiência, e de ter
comportamentos corrigidos e limitados pelo cavalo, PMTV atribui muita importância maior
às funções espelho do cavalo, e.g. sentir e responder ao estado interior do cliente. O cavalo
pode parar de andar ou ganhar velocidade se sentir este impulso no cliente.

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Foto 1: Conhecendo e apreciando a si mesmo (o seu próprio valor) através do valioso contato com o cavalo
Foto 4: Transformando a defesa em prazer na amorosa descoberta de suas próprias “deficiências”
Foto 6: Abrindo-se ao ritmo do outro “abre” o diálogo
Foto 7: Entrando em contato consigo mesmo e com o corpo do cavalo, abre o caminho para sensações ocultas

75
Clientes sabem o que é bom para eles
Assim como no trabalho adequado, centrado no cliente, no salto de recuperação ou na
promoção do desenvolvimento da criança com o cavalo, nós presumirmos que,
intrinsecamente, os clientes sabem muito bem o que é bom para eles. Normalmente, sabem
melhor que qualquer terapeuta com qualquer hipótese. Ao responder às necessidades dos
clientes, o cavalo ajuda o terapeuta a ser guiado por tais necessidades reais. Isto é quando o
terapeuta ocasionalmente tem que largar uma hipótese, não importando quão tentandora, e
rapidamente ajustar-se ao que a situação atual exige. Com sorte, o cavalo nos ajudará a
aprender a aceitar limites colocados pelo cliente no processo, ajudando-nos a manter o passo
com o cliente, algo que o cavalo, freqüentemente, pode fazer melhor que o terapeuta.
Freqüentemente, também ajuda uma pausa para as coisas importantes, aquelas que importam
e não teriam sido vistas na tentativa do terapeuta de manter o processo, andando e
prosseguindo depois de sua própria hipótese terapêutica.

Uma rede de relações, responsabilidade e ação

O conceito terapêutico:
A terapia acontece dentro de uma boa “esfera de possibilidade”, conhecida da Terapia
Pesso-Boyden do Sistema Psicomotor. Tentamos alcançá-la dentro de uma estrutura, um
seguro e convidativo triângulo de relacionamento formado por cliente, cavalo e terapeuta,
onde o cavalo interage com os clientes, assim ajudando-os a embarcar numa viagem de
descoberta. Para este propósito, clientes são ajudados por um número de exercícios físicos e
intervenções dentro de um processo cíclico. Guiado pelo terapeuta, ou melhor, enquanto o
terapeuta e/ou o cavalo oferecem várias possibilidades, os clientes podem decidir por si o
que eles querem iniciar e em que modo eles querem ter acesso seu “pensamentos corporais.
Eles podem entrar em contacto com suas necessidades (e.g. necessidades anteriormente não-
realizadas, pouco realizadas, realizadas pela pessoa errada, na maneira errada) que ainda
anseiam por realização, embora sob vários “disfarces”. Conflitos emocionais, não-resolvidos
do passado, podem ser descobertos por reações emotivas e físicas repentinas, a serem definidas
dentro de seu contexto histórico, dado uma estrutura, digerida num nível simbólico baseado
na experiência no “aqui e agora” e, antes de tudo, fisicamente sentido com todos os sentidos.
O objetivo é capacitar clientes num ato simbólico a experimentar com o todo seu corpo e
alma, sua “pele, cabelo e sentidos” como é (ou teria sido no passado) ter sucesso em realizar
estas necessidades adequadamente, embora só simbolicamente. Ao passo que no trabalho
de Terapia de Pesso é feito individualmente, dentro de um grupo, com outros membros de
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grupo agindo como acommodadoras (figuras e personagens atuando como pessoas


importantes, de referência), o cavalo (às vezes ajudado pela voz do terapeuta)
temporariamente assumirá o papel do querido parceiro humano ou o parceiro mais cedo
perdido, mas não substitui este parceiro. Na verdade, guia os clientes a este parceiro, adotando
vários papéis durante a terapia. Portanto, o cavalo realiza funções específicas em todas as
fases do processo acompanhado de apropriada intervenção do terapeuta. Por exemplo, o
cavalo pode assumir o papel de “figura de patrocinador”, ao carregar o cliente, enquanto a
voz do terapeuta comenta sobre o paciente sendo carregado: “...Se eu estivesse lá, naqueles
dias eu teria gostado de te carregar...”

Um processo cíclico gradual em várias fases:


O processo terapêutico é projetado como um processo cíclico gradual, baseado em (1) a
interação entre terapeuta, cliente e cavalo, dentro de uma situação segura e convidativa, (2)
os problemas individuais do cliente e (3) o atual nível alcançado na terapia; (4) exercícios
específicos voltados a estes problemas e níveis, (5) a intervenção do terapeuta e, finalmente,
76 (6) a resposta individual do cliente a tudo isto:
Figura 2 - O processo cíclico

Nesta forma de acrobacia terapêutica sobre o cavalo [therapeutic vaulting], os fatores anteriores
estão isolados intencionalmente, definidos individualmente e então variados, combinados e
usados nas várias fases do processo terapêutico em linha com os objetivos atuais. Assim
como no vaulting de recuperação, a estrutura da sessão terapêutica, e de todo o processo
(incluindo numerosas sessões) tem um papel importante. Em analogia a tais fases como
aquecimento, movimento de diversão, exercícios individuais e com parceiro, exercícios
escolhidos pelo cliente e o momento final, nós também usamos fases bem-definidas que o
cliente pode claramente entender. Idealmente, os ciclos graduais ajudam o cliente a passar
pelas cinco fases seguintes, do processo terapêutico. Estas fases são definidas por seus objetivos
dentro do processo terapêutico global, a função fase-específica do cavalo, o tipo de exercícios
e intervenções atualmente envolvidas e o nível terapêutico (profundidade) alcançado no
trabalho com o cliente. Naturalmente, as fases sobrepõem-se e eventualmente se tornarão
integradas dentro deste processo. É importante para o terapeuta manter em mente os objetivos
que deveriam determinar cada exercício, o papel atualmente realizado pelo cavalo e o nível

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atingido pelo cliente, a fim de de ser capaz de ajustar suas intervenções.

O trabalho é feito com o cavalo solto no picadeiro, o cavalo em corda e cabresto, na área de
limpeza e com a rédea longa quando saltando e também quando dirigido pelo terapeuta.
Devemos ter um cavalo com disposição cooperativa tratado pelo terapeuta (e pelo cliente)
com respeito. Não é esperado que ele obedeça, incondicionalmente, e coopere tacitamente.
Ele é recompensado, nos desculpamos ao cavalo quando necessário e tenta-se entender por
que ele, às vezes, não dá a resposta esperada. Ele socializa bem com cavalos e seres humanos,
foi treinado, no contato com o cliente, em situações normais incluindo treinamento elementar
adequado na rédea longa e sob um cavaleiro (e.g. movimentos com as costas descontraídas,
tem um impulso dianteiro flexível/sutil, mas entusiástico e passos equilibrados). Idealmente,
tolera o cliente sem manta, mas com a amarra da terapia diretamente nas suas costas e
também tolera uma insegurança do cliente. No entanto, definitivamente, responde a clientes
“perdendo seu equilíbrio” também em sentido figurativo (tal como agressão aberta ou oculta,
tristeza ou alegria) e indica, inconfundivelmente, do que gosta e com o que antipatiza.
Ocasionalmente, pode até surpreender ou ameaçar quando confrontado com agressão
escondida. A experiência mostra que os cavalos bons para terapia “por convicção” são 77
perfeitamente capazes de distinguir entre situações em que o cliente precisa ser entendido
ou tem que responder aos sinais do terapeuta. Ser capaz de lidar com seu “trabalho”, ao
cavalo tem de ser dado lazer suficiente para relaxar em pastos na companhia de outros
cavalos ou em estábulos de grupo. É usado só moderadamente na equoterapia e respeitado
como uma personalidade no seu próprio direito. Isto é por que cavalos de terapia do
HipoCampo são mantidos, treinados e tratados de acordo com as diretrizes “manutenção
do cavalo simbiótico” (BOON-THIEL 1995b).

Desde tornar-se ciente dos sinais corporais até digerir os déficits de desenvolvimento
Assim como (plenamente não “equilibradas”) crianças no salto[vaulting] de recuperação,
clientes em psicoterapia ficarão conhecendo o seu corpo e seus impulsos em situações que
são novas para eles e que ainda não carregam qualquer conotação negativa. Eles se arriscam
em território não-mapeado/desconhecido em contato com e no cavalo em movimento, alí
perdendo e recuperando o equilíbrio, que tem um papel crucial. Enquanto no salto [vaulting]
de recuperação o foco está em achar alternativaa a ação e experiência no aqui e agora,
PMTV gira ao redor da consciência de sentimentos e o desenvolvimento resultante dos
processos (que também poder virar as costas para o passado). PMTV quer ajudar clientes a
elaborar déficits históricos no aqui e agora. Nós o fazemos, ao oferecer - assim como no
salto [vaulting] de recuperação - alternativas ao que realmente aconteceu. Isto, no entanto,
é feito numa maneira simbólica que serve às situações históricas, mas ainda pode ser sentido
e experimentado.

Figura 3 - As fases do processo e suas funções


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“Tornar-se ciente” de sinais corporais, em várias situações, “desencadeadas” por exercícios


no cavalo, nos ajudará a ter acesso a sensações físicas agradáveis e desagradáveis. Os clientes
altamente cognitivos ou verbais freqüentemente precisam não só aprender, mas também
exercitar isto com o auxílio do terapeuta. Armazenada como informação cognitiva, esta
informação corporal está proximamente ligada a uma história pessoal de desenvolvimento
do cliente e, assim, à sua experiência, autopercepção e interação com o ambiente à luz desta
78 história. As situações do passado que carregam conotações desagradáveis não podem ser
desfeitas, nem reparadas retroativamente, mas por uma forma simbólica de digestão no
“aqui e agora”, no cavalo, nós podemos enriquecê-los com impressões agradáveis que servem
como novos “arquivos”, atuais, como antípodas e contrapeso à informação anterior
desagradável, ou até mesmo traumática. Idealmente, clientes terão sucesso em “neutralizar”
o efeito de “arquivos” mais velhos, com a experiência atual e a vida em si. Por exemplo, um
cliente que nunca recebeu ajuda e apoio de sua mãe, pode trabalhar nestes déficits
simbolicamente ao “ser carregado pelo cavalo”, com o cavalo tornando-se a figura materna
ideal. Esta nova experiência, eventualmente, permanecerá como um contrapeso aos déficits
sofridos cedo na infância. Isto pode mudar expectativas atuais, tais como as expectativas de
um cliente do sexo masculino em relação a parceiras do sexo feminino. O cavalo aqui é
usado para assumir o papel simbólico do “parceiro ideal de carregamento”, com todas as
sensações do cliente sendo inclusas neste contexto e armazenadas no “novo arquivo”. Depois
o cavalo deixa sua função simbólica, que é o que nós chamamos de “descaracterização”.

• Foto 11:a: Olhando para o que nos move


• Foto 11b: Desta forma, admitindo e tolerando sensações negativas
• Foto 11c: Cedendo a impulsos motores e vendo como os vivemos completamente
• Foto 11d: Auto-apreciação capacita-nos a abrirmo-nos aos outros. A experiência
conjunta de mover-se ajuda.

O processo PMTV:
As fases individuais são definidas por seus objetivos dentro do processo global, a função
fase-específica do cavalo, o tipo de exercícios e intervenções usadas pelo terapeuta para
acompanhar a ação e o nível terapêutico (profundidade) alcançado pelo cliente
voluntariamente.

Fase Introdutória (Eu quero):


Pode ser considerada como um tipo de “aquecimento”, com o cavalo tentando motivar o
cliente a entrar na nova situação. Antes da terapia, cliente e terapeuta encontraram-se para
uma entrevista de admissão, o cliente visitou os estábulos de terapia, foi guiado pelo terapeuta
pelas instalações e (basicamente) sabe que o que esperar da “equitação terapêutica”, e.g.
definitivamente não como a forma convencional de equitação. Doravante, a experiência
prévia em equitação de um cliente não impedirá o processo nem será necessária em si. A
visita, também, inclui encontrar o cavalo de terapia no pasto, em seu ambiente natural, na

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companhia de outros cavalos. No começo da terapia, as possibilidades e limites não são
ainda definidos, mas se desenvolverão muito naturalmente pelo contato do cliente com o
animal dentro de uma clara e estruturada situação, que é controlada pelo terapeuta. Isto
inclui ficar conhecendo o cavalo junto com o terapeuta, que ajuda o cliente a retirar o cavalo
do rebanho para trabalhar com ele. O cavalo se tornará o parceiro de terapia durante a
próxima hora. Estar com o cavalo na área de preparação, cuidando do cavalo antes e depois
do trabalho e despedir-se depois das sessões possibilita aos clientes estabelecer um
relacionamento com o animal. Eles ficam conhecendo o cavalo, uma criatura forte e vivaz,
mas também gentil, que pode estar, ocasionalmente, precisando de ajuda. Ficam conhecendo
o cavalo com todas suas polaridades e maneiras diretas de comunicação. Os clientes também
podem ver que cavalo e terapeuta tratam um ao outro com respeito e têm prazer trabalhando
junto. Os clientes só são confrontados com tanta “natureza” e “força” quando são capazes
de enfrentar em qualquer dada situação. Podem determinar para si o tipo de distância que
eles querem ter com relação ao cavalo. Uma rotina desenvolve-se e mais tarde sinalizará o
começo e o fim de cada sessão de terapia, e facilitará a transição de vida cotidiana à terapia
e vice-versa. Esta é a fase em que nós colocamos a pedra-angular para a assim chamada, 79
“esfera de possibilidade” necessária em fases posteriores da terapia, querendo dizer a criação
de um leque de possibilidades descobertas pelos clientes na associação com o terapeuta. Eles
podem escolher possibilidades diferentes deste leque e usá-las ou fazer experiências com
elas, como for a necessidade. Isto é como os clientes aprendem a explorar seus desejos e
limites, comunicá-los ao terapeuta e examinar, junto ao terapeuta se são praticáveis em
cooperação com o cavalo. Se os clientes têm sucesso ao fazer isto, eles serão quem determinará
a intensidade, profundidade e velocidade dos processos terapêuticos que seguirão. Esta fase
introdutória também tem como intenção fazer o cliente descobrir o cavalo. Com este propósito,
nós usamos vários exercícios com o cavalo em corda e cabresto ou movendo-se livremente
no picadeiro. A maneira como os clientes descobrem o cavalo, o seu corpo, suas formas de
comunicação e movimento capacita-os a aprender mais não só sobre seu parceiro eqüino e
tornar-se familiar a ele, mas também sobre a própria curiosidade e como eles lidam com tais
situações (como querem estabelecer contato, o que esperam e como administram tais
expectativas e também decepções).

Fase do Exercício (Eu posso fazer algo)


Este é a fase em que, realmente, a equitação acrobática [vaulting] começa. Os clientes ficam
conhecendo os movimentos do cavalo e as possibilidades do próprio corpo e os limites pela
interação com o cavalo. Isto normalmente começa com os clientes escolhendo a distância
para andar ao lado do cavalo, ajustando ao andar do cavalo, tornando-se cientes que são
movidos pelo cavalo e que estão em contato com o corpo do cavalo, quando o montam e são
carregados por ele. Eles podem fazer movimentos de sua vontade no cavalo em movimento,
com atenção especial ao equilíbrio, à própria postura e impulsos. Gradualmente, a habilidade
e a coragem dos clientes aumentarão. Quanto mais eles confiarem na criatura que se move,
e no terapeuta que assiste e, especialmente, nas próprias sensações, maior será seu êxito.
Logo aprenderão sobre alternativas ao seu repertório prévio de movimento / percepção /
comunicação, mas também sobre seus limites, sobre o que é praticável e o que não é. Durante
esta fase, as intervenções do terapeuta focalizam-se em apoiar clientes em sua tentativa de
permitir novas impressões de movimento e percepção através de exercícios com e no cavalo.
É quando o cavalo assume o papel de ajudante, contato e ativador, prontamente capacitando
clientes a reunir todas estas impressões e fazer experimentos com elas. O cavalo é o fator
familiar, o fator a ser confiado dentro deste cenário, o cooperativo parceiro, mas, também, o
parceiro que reagirá imediatamente se algo for mal ou estiver “fora de sincronia”.
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Fase da Experiência e Sensação (Eu sinto)


Nesta fase, os clientes são levados além da experimentação e ação com relação às suas
próprias percepções e sensações geradas pelos exercícios com o cavalo. Eles aprendem a
observar o próprio corpo, o que ele faz, o que pode ser percebido pelos sentidos e que
impressões tudo isto deixa para trás. A idéia é deixar as sensações agradáveis, as menos
agradáveis e impulsos que acontecem, para aceitá-los e aprender como lidar com eles. Os
exercícios usados dentro desta fase são os “clássicos” da equitação acrobática[vaulting] de
recuperação mas também variações dos exercícios corporais usados na Terapia de Pesso
(Boon-Thiel 1996b; Perquin 1995; Perquin e Pesso 1994; Perquin e Pesso 1995; Pesso 1972;
Pesso e Crandell 1990) e modificações desenvolvidas de variações de exercícios criados por
Klüwer e Straussfeld (Boon-Thiel 1996a; Boon-Thiel 1996b; Klüwer 1989; Klüwer 1990;
Straussfeld 1992). Agora o terapeuta faz o cliente designar, descrever e conversar sobre
suas percepções. O cavalo evoca todas estas sensações, permite que aconteçam, deixa-as
como elas são, sem criticar ou passar julgamentos de valor, assim capacitando os clientes a
80 admitir, aceitar e, ajudados pelo terapeuta, examiná-las mais facilmente por si mesmos.
Fase do Entendimento (Eu entendo o que isso significa para mim)
Esta fase envolve elaborar possibilidades pessoais, limites, necessidades e emoções, partes
do que pode ter emergido em fases anteriores. Os clientes são guiados em direção a tornarem-
se cientes e a designar conflitos e desejos que tornaram-se manifestos no seu corpo e respostas
emotivas. Alternativas positivas são oferecidas para substituir padrões negativos de resposta
expressada por sentimentos fortes tal como raiva, cólera, fúria e agressão. A agressão, por
exemplo, pode ser transformada em movimento ativo controlado, sem descartar a emoção
em si. As emoções são aceitas porque são uma parte de nós, somente seus efeitos são
conscientemente alterados. As reações naturais do cavalo ajudam os clientes a distinguir
entre agressão aceita e respostas ajustadas a emoções “julgadas como negativas”. Os clientes
aprendem a usar nuances e deixam as polaridades como são. Por exemplo, aprender que
“… há muitas nuances entre firmemente sentar-se no cavalo e cair o cavalo..” pode ajudar
os clientes a “relativizar” a clássica “percepção preto e branco”. Esta é também a fase na
qual os clientes podem ter suas necessidades, insatisfeitas de infância, realizadas
simbolicamente pelo cavalo “no aqui e agora”. Os déficits no desenvolvimento de uma pessoa
e os conflitos que seguem são descobertos e estruturados, capacitando os clientes a
desenvolverem, junto com o cavalo, uma alternativa de “como poderia ter sido se ao menos
…” Aqui é onde o cavalo pode tomar o papel de uma figura simbólica, um plano de projeção
ou transição. A fabricação de tais experiências, envolvendo todos os sentidos e especialmente
físicos de alternativas ao “déficit histórico”, desencadearão o processo de cura. Elas capacitam
os clientes a perceber novos acontecimentos de um ângulo diferente e os coloca dentro de
outro contexto. Elas impedirão clientes de procurar satisfação de sensações previamente
perdidas em outras pessoas e, como isto é fadado ao fracasso, de permanecer num círculo
malicioso de repetição da velha história (cheia de frustração, medo e mecanismos
relacionados), de insistir em suas “profecias de auto-realização” que impedem os clientes de
se “abrirem” a coisas novas.

Fase da Transição (Eu posso usar isso):


Esta é a fase em que as experiências feitas dentro de uma situação específica de PMTV com
o cavalo são transpostas para a vida diária “sem o cavalo”. O terapeuta começará a construir
uma ponte dentro do triângulo de relacionamento existente para ser cruzada pelos clientes,
com a ajuda de suas capacidades induzidas pela equoterapia. A vida cotidiana espera os
clientes do outro lado. Nesta fase, clientes despedem-se do cavalo. Agora ele não é mais o
seu plano de projeção e a figura representativa. Ele será “descaracterizado” e retornará a
ser um cavalo, o parceiro de exercícios com quem tudo começou e, finalmente, o simples

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


cavalo voltando ao seu rebanho. É importante fazer os clientes compreenderem que o cavalo,
temporariamente, os ajudou a construir a ponte em direção à interação consigo mesmo e
com outros, mas que eles próprios terão de assumir a responsabilidade pelo que acontecerá
em sua comunicação e interação com outros parceiros humanos.

Aplicações práticas:
Esse conceito fornece uma larga gama de aplicações para diferentes indicações, indo de
desordens pricossomáticas e psiquiátricas crônicas sérias a grupos de autoconsciência para
cavaleiros que desejam saber mais sobre si mesmos e sobre sua relação com o cavalo, ou que
são confrontados com (ocasionalmente “inexplicável”) ansiedade ou tensões quando
praticando seu esporte, i.e. sentimentos cujas causas são mais profundas e que não podem
ser melhorados pelas técnicas de equitação. Também uso esse método com jovens
traumatizados, indivíduos que abusam de substâncias e pacientes depressivos em longos
tratamentos, mas também com clientes que se vêem presos no seu desenvolvimento familiar
ou profissional e que desejam aprender mais sobre si mesmos, para seguir em frente. Os
clientes, entretanto, devem ser capazes de elaborar símbolos e estarem prontos a investir 81
paciência e tempo nos “passos de exercícios” individuais, até que consigam administrar a
técnica. Além disso, devem estar prontos para se adaptar aos sinais de seus corpos. O exemplo
de um cliente, que me foi indicado por um terapeuta ocupacional e somente precisava de
terapia curta, mostra que – desde que você tenha um cliente “adequado” – até mesmo
poucas sessões podem ser suficientes na condução dos processos cíclicos postulados, com
suas várias fases, e são completas para finalizar o resultado e ter uma clara transferência da
experiência com o cavalo, para a vida diária sem o cavalo. Como na equitação terapêutica
ou na promoção do desenvolvimento, o cavalo não ajuda somente o cliente, mas também o
terapeuta. Eu, com certeza, não posso mais conceber a psicoterapia sem a assistência de
meus cavalos.

REFERÊNCIAS

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geistig abnorme Rechtsbrecher in den Niederlanden. In Arbeitstagung “Die Arbeit mit dem
Pferd in Psychiatrie und Psychotherapie”, ed. DKThR:89-95. Munich: DKThR.
BOON-THIEL, U. 1995b. Versuch der Verwirklichung von Symbiotischer Pferdehaltung
beim Aufbau einer Praxis für Therapeutisches Reiten. In Freiheit erfahren, Grenzen erkennen,
ed. M. Scheidacker:174-190. Munich: DKThR.
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körperorientierter Psychotherapie nach PESSO, Paper presented at the 9th International
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Psycho/Motor Therapeutic Vaulting (PMTV). Proceedings of the 10th International
Therapeutic Riding Congress “It’s the horse that makes the difference”, Angers, April 26-
29, 2000, Federation Nationale Handi Cheval, Parthenay France
BOON-THIEL U. 2002: The Horse As Equine Intermediary during the Healing Process in
Psycho-Motor Therapeutic Vaulting (PMTV), Scientific and Educational Journal of
Therapeutic Riding Number 8, 2002
BOON-THIEL.U. Ich suchte ein Pferd und fand – mich selbst. Lecture at the 11th congress
on therapeutic riding in Budapest, June 2003, Proceedings
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

KLÜWER, B 1994 Der Einsatz des Pferdes als Medium der Selbsterfahrung im Kontext
psychomotorischer Entwicklung und Therapie . Med.Diss.:Techn.Hochschule Achen.
KLÜWER, C. 1990. Selbsterfahrung durch das Medium Pferd. In Heilpädagogisches
Voltigieren und Reiten, ed. M. Gäng:210-226. Basel: Reinhardt.
KRÖGER, A. 1990. Heilpädagogisches Voltigieren. In Heilpädagogisches Voltigieren und
Reiten, ed. M. Gäng:97-120. Basel: Reinhardt.
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PERQUIN, L. 1995. Öfening met drie bewegings-modaliteiten. Pesso-Bulletin 11/1: 48-51.

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82
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PESSO, A. 1972. Experience in Action, A Psychomotor Psychology. New York: New York
University Press.

PESSO, A. 1986. Dramaturgie des Unbewussten. Stuttgart: Klett-Cotta.

PESSO, A. and J. Crandell, eds. 1990. Structured exercises as therapeutic tools in Pesso
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PESSO, A. and Crandell J. 1991. Moving Psychotherapy: theory and applications of the
Pesso System/Psychomotor Therapy. New York: rookline Books.

A autora: (Boon)-Thiel Ulrike, Dra. (nascida a 20.5.1953 em Viena)

Psicóloga de Desenvolvimento, psicóloga clínica, psicoterapeuta, psicóloga de esportes


eqüestres, treinada em equitação de recuperação e de saltos (ÖKThR), instrutora de equitação
para deficientes (ÖKThR), instrutora de equitação para amadores (FENA), instrutora de
saltos (FENA), treinadora de equoterapia (SHP-NL). Depois que um número de outros cargos,
Ulrike Thiel agora possui um consultório de terapia. Há dez anos, fundou o Instituto
HippoCampus onde trabalha nas áreas universitária, científica e clínica, como psicóloga de
prisão, perito judicial e psicóloga para o escritório de bem-estar de juventude. HippoCampus
é também o centro onde oferece equoterapia, juntamente, com seus seis co-terapeutas de
quatro patas, treina estudantes equoterapeutas na estrutura da SHP-NL (Stichting Helpen
met Paarden) e tenta ensinar a cavaleiros instrutores de equitação a comunicação entre dois
seres, que vai além de mera mestria de técnica. HippoCampus (Institute for Equitherapy
and Equine Sport Psychology - Instituto para Equoterapia e Psicologia de Esportes Eqüestres)
De Bult 2, NL-6027 RG Soerendonk, tel :[+ 31] (0)495-45 37 57, e-mail: Hippocampus@iae.nl,
homepage: www.hippocampus-nl.com

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83
ALTERNATIVAS PEDAGÓGICAS PARA MINIMIZAR A ANSIEDADE
E AUMENTAR A CONCENTRAÇÃO EM CRIANÇAS COM O
TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
– TDAH: OS SALTOS DA EQUOTERAPIA EM QUESTÃO;

Autor: Antonieta Martins Alves - Brasil

JUSTIFICATIVA

As dificuldades de apredizado apresentadas por pupilos com necessidades educacionais,


em especial aqueles diagnosticados com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH), no âmbito da rede de educação pública do DF, tanto como a angústia dos professores
em busca de alternativas pedagógicas para resolver estes problemas têm motivado esta
pesquisa.

Ao mesmo tempo, nós observamos as dificuldades encontrada por educadores em concordar


num processo de desenvolvimento destas crianças, e também a escassez de recursos oferecidos
às agências representativas para a resolução do problema.

Além destas dificuldades, também a falta de concentração e a ansiedade apresentada por


essas crianças são identificadas como causas do não-aprendizado.

Desta maneira, nós questionamos: qual a importância ou necessidade daquilo que nós
ensinamos e do que é aprendido à construção social e relacional do Ser? Onde este
aprendizado pode ou vai contribuir para sua construção do mundo?

Evidentemente, não temos a resposta a todas essas perguntas, portanto se faz necessária a
busca de novos instrumentos que se constituam em alternativas pedagógicas viáveis para
estes pupilos com TDAH, uma doença neurobiológica de componente principalmente genético
(BARKLEY, 2002), para que nos tornemos então capazes de ajudá-los na construção do
pensar –operando como ator e espectador da sociedade onde eles estão inseridos.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

O salto da equoterapia – modalidade esportiva da ginástica olímpica, o cavalo vem sendo


usado na conquista de auto-estima e autocontrole, usando elementos como atenção,
concentração e, principalmente, a relação confiável entre todos os envolvidos: professor,
pupilos/alunos e cavalo – seres vivos em troca permanente.

OBJETIVO
Identificar se o salto equoterápico, enquanto alternativa pedagógica e como um instrumento
(sinais/mediação), torna possível a redução da ansiedade e um aumento na concentração
em crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Analisar se o controle da ansiedade e a melhora nos níveis de concentração produzem


84 resultados positivos em sala de aula.
Analisar, e aqui entram as diversas questões inseridas neste trabalho, se é possível controlar
a ansiedade e aumentar o nível de concentração por intermédio da equoterapia e se essa
intervenção pedagógica –como instrumento (sinais/mediação) – produz resultados positivos
em sala de aula.

Identificar se o salto equoterápico melhora a relação da criança com o mundo e com si


mesma.

BASE TEÓRICA

De acordo com Vygotsky (1991) a origem cultural das funções psíquicas, os sistemas de
sinais (mediação) e o funcionamento psicológico são decorrentes da relação entre o individual
e a sociedade, e o cérebro a maior agência de atividade mental. Dessa forma, se faz necessária
a busca de novos instrumentos que se constituam em alternativas pedagógicas viáveis para
estes pupilos com TDAH, doença principalmente neurológica com componente genético
(Barkley, 2002), para que possamos nos tornar capazes de ajudar na construção do
pensamento e operando como esse observador ator na sociedade onde ele está inseridos.

A busca pela modificação do comportamento apropriado em ações que demandam coragem,


equilíbrio, concentração e companheirismo fortalecem a confiança em si e no outro,
modificando, conseqüentemente, também o ambiente, integrando os aspectos biológico-sociais
da criança.

A equoterapia pode constituir uma “ferramenta auxiliar” na construção de conceitos que


podem funcionar como meio assistentes para inclusão dos indivíduos com diagnóstico de
TDAH usando a própria relação animal (cavalo)/professor/pupilo.

De acordo com Vygotsky, “o uso de instrumentos e sinais, mesmo que diferentes, está
entrelaçado à longa evolução da espécie humana e ao desenvolvimento de cada indivíduo”
(Rego, 2002, p.50) justificando, assim, o uso de instrumentos e a função mediadora dos
mesmos, tão como as transformações psicológicas que ocorrem.

Vygotsky (1991), enfatizando a relação entre o pedagógico e a psicologia, avalia e retira a

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


importância social das intervenções na Zona de Desenvolvimento Proximal Inerente para
todas as pessoas que aprendem com outra.

Desta forma, para o autor, o completo desenvolvimento do ser humano depende do


aprendizado que atravessa em definitivo grupo cultural da interação com outros indivíduos
da mesma espécie, ou ainda, “o aprendizado humano estima uma natureza social específica
e o processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual que as cercam”
(Vygotsky, 1991, p.99). Portanto, o aprendizado se transforma especificamente no veículo
das características psicológicas culturalmente organizadas e dos seres humanos.

De um ponto de vista neurológico, o homem desenvolveu a agência básica que torna possível
este “milagre” da equitação –um cérebro capaz de estabelecer enormes sequências de
correlações entre fenômenos naturais, transformando-se numa máquina para aprender, no
The Centaur Legacy, Bjarke (2004, p.1) afirma que “quando o homem e o cavalo concluem
tarefas conjuntas, se eles se estabelecem em uma unidade biológica única, formam uma rede
de cooperação neuropsicológica entre os parceiros.
85
É neste ponto que vemos a inserção da –e eu torno a repetir- ginástica no cavalo, “como as
acrobacias feitas no circo” (Salvagni, 199, p.45), onde cavalo e cavaleiro evoluem no cavalgar
como um único ser, em perfeita harmonia com o ritmo e os movimentos do cavalo, com
gestos, sentidos e objetos comuns, atraindo a atenção, concentração e controlando a ansiedade,
esta é a união homosapiens/ equuscaballus.

Pontos de pesquisa guiados e e atividades físicas realizadas de maneira sistemática formam


o instrumento para aumentar a auto-estima e garantir a sensação de segurança pessoal e a
capacidade de suportar um estado de frustração. Essas atividades, quando realizadas com
cavalo, têm dificuldades aumentadas e potencialidade de conquistas.

Desta forma, as funções psicológicas superiores, como fator de desenvolvimento psicológico,


podem ser distinguidas em “ duas linhas qualitativas diferentes de desenvolvimento,
diferenciando-se na sua origem: de um lado os processos elementares de origem biológica;
de outro, as funções psicológicas superiores, de origem sociocultural. A história do
comportamento da criança nasce do entrelaçamento dessas duas linhas” (Vygotsky, 1991,
p.52).

Nesta direção, na interrelação que nós queremos construir entra a informação adquirida
cultural e biologicamente e, apontando para, no que diz respeito à equoterapia, ser um
“método terapêutico que usa o cavalo como um instrumento de intermediação do cidadão
com o meio, promovendo e obtendo, ainda, uma interação e ação intencional de prazerosa
estimulação e resposta afetiva” (Alves, 2003, p.16), (e) isso contribui para a construção de
um sistema psicológico de transição.

METODOLOGIA

Esta pesquisa de natureza qualitativa usou os seguintes instrumentos: comentário direto


(notas individuais de campo, em equipe), entrevistas semi-estruturadas com pais e professores
regentes no começo e fim desta pesquisa, respectivamente de 19 de abril a 15 de dezembro
de 2005, análise documentarial visando à obtenção da história de vida dos sujeitos, aplicando
pagamento diário e pós-testes: escalas RAVEM, em especial até os onze anos; e o primeiro
RAVEM gradual para jovens/pessoas com mais de 12 anos (o teste verifica a capacidade
intelectual do indivíduo); Teste de Organização Perceptual/ Sensorial Motora: BENDER
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(informações dadas sobre idade motora, indicações de algumas disfunções cerebrais). Para
avaliação física usamos: Teste de Salto Vertical: força explosiva; Burpee: cordenação entre
os movimentos do tronco, membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII); Teste
“Sente e Alcance”: flexibilidade; Teste do Equilíbrio do Flamingo: equilíbrio estático; força
Abdominal; Flexão e Extensão dos Membros Superiores (test aplicado/específico: barra);
Escala e Índice de Curvas para pais e professores.

INDIVÍDUOS ENVOLVIDOS

Foram selecionados 5 (cinco) alunos da Rede de Educação Pública em Sobradinho (DF) do


sexo masculino, com idades entre 10 e 14 anos no início do programa, com diagnóstico
neurológico de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade –TDAH. Quatro
frequentavam a 4ª série do ensino fundamental e um a 5ª. Os cinco indivíduos foram
distribuídos em dois grupos: dois no Grupo de Intervenção – que neste texto eu passo a
86
chamar GI, que realizou trabalhos, em pares, com e sobre o cavalo e os outros três no Grupo
de Controle – Equoterapia, neste texto denominado pela sigla GC, onde cada criança foi
responsável pela condução de sua montaria. Quatro (4) crianças fizeram uso de medicação
(Ritalina). As ações iniciais e finais dos dois grupos foram iguais (antes da montaria: buscar
os cavalos, limpá-los, colocar a sela e funções de horse-boy; depois disso à montaria; e colocar
os cavalos em seus currais e retirar a sela).

A inclusão dos alunos se deu encontros depois, realizando o Termo de Livre e Claro
Consentimento da parte dos pais e de avaliações das áreas médica, psicológica e
fisioterapêutica.

MEDIDAS E AVALIAÇÕES

A coleta dos dados foi realizada em espaços diferenciados, salas de aula e escola –sob a
responsabilidade do professor regente, casas –sob a responsabilidade da família, campo de
pesquisa da Fazenda Canabrava onde as sessões de equoterapia foram realizadas sob a
responsabilidade do pesquisador e de outros profissionais da área. A aplicação dos testes
Raven e Bender, bem como as suas análises, ficaram sob a responsabilidade do psicólogo do
Centro Médico de Orientação Psico-Pedagógica –COMPP.

ARGUMENTAÇÃO E RESULTADOS

Os resultados foram baseados nos dados colhidos de 4 entre os 5 indivíduos selecionados,


devido ao fato que um deles, integrante do GC, apresentou-se ausente por certo tempo, por
ter abandonado a escola, e paradoxalmente, também foi abandonado por ela.
Os dados foram classificados em quatro categorias: avaliações físicas e psicopedagógicas,
índices e escalas de curvas de pais e professores, entrevistas com professores e pais
apresentadas no volume das outras avaliações.

Analisando os Testes Físicos


Testes
Sobre a Coordenação Motora (teste aplicado: Burpee), observamos que havia aumentado
em todos os indivíduos envolvidos e, de forma geral, foi maior no GI, como no Gráfico 1.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

O Gráfico 2 acima, verifica o Equilíbrio Estático (teste aplicado: Flamingo); observamos que,
de forma geral, quase todos reduziram de forma significativa o número de tentativas de
manutenção do equilíbrio estático, indicando que as atividades eqüestres contribuíram para
uma melhora desse fator.
87
O teste de Flexão e Extensão dos Membros Superiores (teste aplicado: Bar) teve uma
performance baixa em quase todos os indivíduos, com exceção do indivíduo 1 –GI que
facilmente demonstrou uma observável evolução na execução da parada com três suportes
no cavalo ao trote, exercício requisitado somente ao GI. Sobre o GC, a fraqueza muscular foi
provavelmente a responsável pela não execução do mesmo teste (pagamento diário e após).
Para o teste de Força Abdominal (Gráficos 3 e 4), observamos um aumento na execução
para todos os indivíduos participantes da pesquisa. Nos comentários detalhados dos gráficos
podemos verfificar que havia uma pequena diferença para maior no GI, perfeitamente
justificável para este grupo, pelas qualidades dos estimuladores que fizeram atividades que
demandaram uma força abdominal maior.

Ao analisar o Gráfico 5 – Salto Vertical, observamos um aumento no potencial dos dois


grupos, GI e GC, contudo no Gráfico 5a, observamos que o crescimento no GI, em valores
absolutos, apresenta-se maior que os do GC, também compreensível pelo tipo de requisitos
das atividades realizadas no salto, como por exemplo montar e desmontar com o cavalo em
movimento sendo usados o impulso próprio e o cavalo.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

O ponto delicado para quase todos os indivíduos na pesquisa foi a flexibilidade. Os resultados
deste teste teriam que ser trabalhados numa escala de valores negativa, sendo o indicativo
da necessidade de maiores investimentos em atividades eqüestres que trabalhem este aspecto
em específico.

Nós verificamos que tanto o GC quanto o GI, de forma global, apresentaram evolução do
ponto de vista motor, com maiores índices para o Grupo de Intervenção. E importante ressaltar
que os pais também notaram os benefícios físicos, principalmente aqueles sobre a coordenação
motora de seus filhos.

Analisando os Testes RAVEM e BENDER*


Para o Indivíduo 1 – GI (11 anos, 4ª série do ensino fundamental), um pré-teste significativo
foi observado, decorrente de sua imaturidade emocional e idade motora; contudo, o pós-
88
teste demonstra um desenvolvimento equivalente a dois anos num período de seis meses,
sendo classificado como um bom resultado. É pertinente o aumento de escolaridade em dois
anos. Ele tem bom potencial para se desenvolver se estimulado corretamente. Ele por sua
vez apresenta desenvolvimento neurológico aquém de sua idade cronológica e é
emocionalmente infantil; nós observamos neste apecto que a visão da família é similar.

O Indivíduo 2 – GI (11 anos, 4ª série do ensino fundamental), também apresentou melhora


significativa no período de 6 meses, com capacidade intelectual mediana e potencial para
desenvolvimento acadêmico. O que prejudica este crescimento está diretamente ligado ao
aspecto emocional e sua imaturidade. Foi observado uma evolução motora em um ano,
exatamente por isso encontra-se em desequilíbrio para com a idade cronológica. O cérebro
ainda não amadureceu o suficiente, o que pode ser confundido com alguma desfunção
cerebral, devido ao TDAH. Há um bom prognóstico se bem estimulado.

No Indivíduo 3 – GC (12 anos, 4ª série do ensino fundamental), não foi observado nenhum
bom desenvolvimento percepto-motor, mantendo-se aproximandamente a referente idade
motora de 9 anos, no entanto pertencendo a uma maturidade escolar referente à 4ª série do
ensino fundamental, de acordo com pré-testes, nos quais iremos nos basear –em uma ocasião
houve uma degradação para a 3ª série do ensino fundamental em um pós-teste. Sua
imaturidade percepto-motora, bem como suas dificuldades emocionais, confundem-no na
obtenção de bons resultados acadêmicos. De acordo com sua mãe, a família o classifica
como imaturo.

No Indivíduo 4 – GC (11 anos, 2ª série do ensino fundamental), evidenciou-se que ele se


manteve pertencente a idade escolar da 2ª série do ensino fundamental, sua idade motora
não evoluiu para além dos 7 anos, apresentando problemas de relacionamento com o mundo,
como os outros; no entanto, emocionalmente, pode ser mais maduro que os outros, não
sendo observado no teste emocional de nível de maturidade. De acordo com seus professores
“está mais seguro, melhorou a concentração, tendo evoluido ainda para a letra cursiva”.
Precisa trabalhar mais o nível motor e a terapia pedagógica. É válido ressaltar que foi o
único indivíduo da pesquisa a ser promovido para o próximo ano da educação fundamental.
Para a análise dos testes podemos identificar que todos os indivíduos da pequisa têm potencial
para o aprendizado, sendo necessário mais investimento nos trabalhos de nível motor e
terapia pedagógica.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Apesar de poder identificar benefícios do ponto de vista acadêmico, até o momento isso não
se refletiu no que diz ao avanço escolar de 80% dos indivíduos da pesquisa (incialmente
eram 5), que não foram promovidos academicamente na escola que estavam cursando. Todos
os professores, apesar de se revelarem receptivos à pesquisa, consideraram como possíveis
causas “ausência de suporte pedagógico por parte da instituição, não-familiaridade com o prévio
diagnóstico do aluno, um grande grupo sem redução prevista em lei, também como o não
acompanhamento da criança nas atividades extra-curriculares (dois professores).”

As crianças analisadas (resultado das 4 que permaneceram na pesquisa) apresentam bom


potencial de autodesenvolvimento e obtiveram bom crescimento proporcionado pela
estimulação da equoterapia, indicando que a psicoterapia e o trabalho psicomotor
(equoterapia) buscam o desenvolvimento em nível cerebral.Nós observamos ainda que os
dois primeiros indivíduos – Grupo de Intervenção – em que o trabalho realizado com o
cavalo foi o salto, obtiveram melhores resultados no período correspondente aos seis meses
de coleta de dados para esta pesquisa, indicando a eficiência desta modalidade de intervenção.
89
Analisando Índices e Escalas das Curvas para Pais e Professores
Quando analisamos os Gráficos 6 e 7 abaixo, Índice de Curvas, observamos uma inversão
da percepção dos comportamentos classificados como indesejáveis entre pais e professores,
no GC, os pais os observam mais que os professores. Para o GI o comentário foi inverso, ou
melhor, para os professores, os indivíduos neste estudo apresentaram uma incidência maior
dos comportamentos classificados como indesejáveis.

Na Escala de Curvas, Gráficos 8 e 9 abaixo, comparando o pré-teste e o pós-teste se percebe


uma redução da ocorrência e o desaparecimento de comportamentos indesejados como:
desatenção, não realcionamento com o grupo, impulsividade, falta de autonomia, não-
confiabilidade e dificuldade de pensamento. Os comentários foram feitos para todos os
indivíduos pesquisados; no entanto, dado o espaço reduzido, optamos por usar gráficos
demonstrativos do Indivíduo 4, apresentados de uma maneira em que se distingue melhor
entre o pré-teste e o pós-teste para pais e professores.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

CONCLUSÃO
Analisando os instrumentos usados na avaliação, observamos que pais e professores registram
realizações de atividades antes não executadas, melhora na cordenação motora, maior
consciência das capacidades de superar as dificuldades de alguma forma, tanto para o GC
quanto para o GI.

A análise global de todos os gráficos, questionários, tabelas e avaliações psicopedagógicas


reforçam a informação acima em um nível diferenciado, provando que no Grupo de
Intervenção conseguimos resultados mais significativos na ampliação da cordenação motora,
força, agilidade, cooperação entre os indivíduos, autocontrole emocional e benefícios
acadêmicos, exatamente quando isso não era promoção para o novo ano acadêmico.

A questão da não-evolução acadêmica está contida numa variável não controlável, que não
é o conhecimento ou a aplicação de instrumentos de metodologia científica à condução dos
90 trabalhos na sala de aula por parte dos professores, para este tipo de clientela.
Sobre os objetivos considerados para a pesquisa, observamos redução nos níveis de ansiedade,
como, o respeito ao “tempo” do outro, a esperar sua vez sentado. De uma forma mais
acentuada, o Grupo de Intervenção desenvolveu, principalmente, uma grande capacidade
de contribuição e concentração porque, durante as atividades de salto realizadas em pares
sobre o cavalo, pedia mais atenção e responsabilidade com a própria segurança e a do outro.

Esses resultados reforçam a pesquisa que aponta que atividades físicas guiadas e sistemáticas
são instrumentos para aumentar a auto-estima, a sensação de segurança pessoal e a
capacidade de suportar um estado de frustração. Foi verificado ainda que estas atividades,
quando realizadas no cavalo, valorizam as conquistas, contribuindo para aumentar a auto-
estima.

Nós concluímos que a equoterapia foi fator importante para a evolução e mudança de atitude
das crianças pesquisadas e que o uso do salto representou um diferencial para este resultado.
Nós indicamos, portanto, a inserção do salto como um intrumento de mediação para este
tipo de clientela fruto deste estudo, recomendando, ainda, iniciar com crianças pequenas e
que a duração desta intervenção seja definida pelas ações conjuntas dos segmentos envolvidos
(saúde, educação, a família e o profissionais de equoterapia).

Nós concluímos, ainda, que há necessidade de intensificar a ação da escola, e abordar o


trabalho acadêmico – pedagógico na sala de aula com o “Pedagógico da Arena – em sala e
ao ar livre” (terminologia usada pelo pequisador para classificar a ação pedagógica realizada
na equoterapia), enfatizando portanto que a construção das intervenções conhecidamente
necessárias sejam articuladas entre todos os segmentos da sociedade, utrapassando a sala
de aula.

REFERÊNCIAS

ALVES. A. M. Equoterapia, Estimulação Precoce e Síndrome de Down: quando as partes se


completam formando um todo – relatando uma experiência bem sucedida. Monografia de
Especialização em Equoterapia – Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2003. 113 f..

BARKLEY, R.A. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH): guia completo e


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2002.

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Disponível em <http://cerebrito.com> Acesso em 14 set. 2004.

MARINS, J.C.B e GIANNICHI, R.S. Avaliação e prescrição de atividade física: guia prático. 3
ed. Rio de Janeiro, Shape, 2003.

RAVEN, J.C. Matrizes Progressivas Coloridas, Escala Especial. São Paulo, SP. Centro Editor de
Testes e Pesquisas em Psicologia LTDA. 1992.

91
REGO, T.C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 13 ed. Petrópolis, RJ,
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www.desempenho.esp.br/livro/get_capitulo.cfm?id=82&f_imp=1>. Acesso em: 14 set. 2004.

SALVAGNI, Graziela. O volteio na equoterapia: reabilitação, atividade lúdica, integração social


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VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos


superiores. 4ed. São Paulo, Martins Fontes, 1991. 168 p.

WODRICH, David L. Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder: What Every Parents Wants Know.


Second Edition, Paul H Brooks Publishing Co, Inc. 2000.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

92
A INFLUÊNCIA RÍTMICA DO VOLTEIO TERAPÊUTICO
NA REABILITAÇÃO

Autor: Adriana Perdigão - Brasil


Co-autores: Érika Quartim;
Rebeca Santos

RESUMO

Introdução: Volteio é uma modalidade eqüestre de técnica e equilíbrio, que tem como objetivo
o aprimoramento da harmonia e do sincronismo com o cavalo em movimento.

É uma atividade adaptável que une a prática do exercício físico ao interesse pelos cavalos,
considerando que o volteador e o cavalo formam uma equipe e dependem mutuamente um
do outro. A união permite ao volteador ajustar-se ao movimento e ritmo do cavalo, harmonia
também exigida nas funções globais do indivíduo, auxiliando no desenvolvimento das
principais capacidades e habilidades motoras, psicológicas e cognitivas.Objetivo: Avaliar a
evolução funcional e emocional do indivíduo no decorrer das sessões com a utilização do
volteio terapêutico. Métodos: Aplicou-se como método de avaliação a Medida de
Independência Funcional (MIF) composta por dezoito itens com cotação máxima de sete
pontos e mínima de um ponto, sendo que esta é fundamental para que as alterações funcionais
sejam observadas com sensibilidade suficiente. Resultado e Conclusão: De acordo com os
dados obtidos através da Medida de Independência Funcional, pôde-se concluir que o volteio
terapêutico torna-se uma técnica de reabilitação física adaptável com primacia em ritmo e
harmonia de movimentos, que visa otimizar as atividades de vida diária, a auto-estima e
confiança de cada indivíduo.

INTRODUÇÃO

A história do volteio partiu da habilidade de subir e descer do cavalo em movimento que


consistia em habilidade guerreira, utilizada como um ato de sobrevivência numa época

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


marcada por guerras. Em seguida, foi usado como forma de desenvolver o equilíbrio, agilidade
e elegância do cavaleiro no Antigo Império Romano, quando os cavaleiros realizavam
acrobacias sobre o cavalo em movimento nos Jogos Romanos. Assim surgiu o volteio artístico,
caracterizado por critérios artísticos como precisão, dificuldade e harmonia.

Com o passar do tempo, seguindo o ideal de perfeição criado pelo Renascimento, a estética
do movimento passou a ser valorizada, e o movimento, então, deveria demonstrar beleza,
leveza, segurança, exatidão e perfeição. Após a 2ª Guerra Mundial, o volteio foi desenvolvido
na Alemanha. Daquela época até o momento tem sido utilizado também como forma de
iniciação à equitação, oferecendo ao iniciante uma maneira de tornar mais envolvido com
os esportes eqüestres.

O volteio é definido como uma atividade que envolve exercícios característicos da ginástica
artística, com movimentos dinâmicos e estáticos, além de acrobáticos, combinados a elementos
da dança sobre o cavalo no galope, sendo que no volteio terapêutico as terapias são realizadas
nas três andaduras, de acordo com a independência do indivíduo.
93
Consiste em uma variedade de exercícios classificados em obrigatórios e livres que podem
ser executados individualmente, em duplas ou trios. As séries de volteio seguem um critério
estético, em que são utilizadas as capacidades físicas específicas para a realização da técnica
correta dos exercícios, que devem estar em plena harmonia com a interpretação coreográfica
e com o acompanhamento musical.

Foram analisadas as figuras de volteio, individualmente correlacionadas com seus prováveis


benefícios motores e terapeuticamente adaptadas. Estas posturas foram aplicadas em quatro
pacientes com idades entre 14 e 26 anos, portadoras de encefalopatia crônica não-progressiva
e paraparesia espástica familiar.

A paraparesia espástica familiar (PEF) constitui um grupo de doenças neurodegenerativas,


sendo genética e clinicamente heterogênea, caracterizada por hiper-reflexia e espasticidade
progressivas dos membros inferiores.

A encefalopatia crônica não-progressiva é uma condição clínica e etiologicamente


heterogênea, que se caracteriza por alterações do tônus muscular, da postura e dificuldades
funcionais nos movimentos. Pode gerar movimentos involuntários, alterações do equilíbrio,
da marcha, da fala, da visão, da audição, da expressão facial e em casos mais graves pode
haver comprometimento mental (Nitrini et al, 2003)

Embasado nestes conceitos, este artigo foi elaborado com o objetivo de aplicar o volteio
terapêutico e a música como recurso auxiliar para estimular experimentação sensorial, o
ritmo, o desenvolvimento motor e a sociabilização de portadores de necessidades especiais.
Foi possível então avaliar a evolução funcional e emocional, através do método de avaliação
da Medida de Independência Funcional (MIF), que possui estimativas importantes sobre os
domínios da atividade quotidiana de um indivíduo.

DESCRIÇÃO DOS EXERCÍCIOS OBRIGATÓRIOS

BASE
Na posição básica, o volteador deve estar sentado imediatamente atrás do cilhão, olhando
para a frente, com uma perna de cada lado da coluna do cavalo, segurando uma alça do
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

cilhão em cada mão. A pelve deve acompanhar o movimento do cavalo. Os MMII devem
envolver o cavalo, em contato suave. Os pés devem apontar para o solo, mantendo o
alinhamento da perna, o dorso do pé deve estar apontado para a frente.

Variação: o volteador mantém a posição básica com abdução dos membros superiores. Os
MMSS, pescoço e ombros devem estar alongados elasticamente, e não devem ser rígidos.

Atividade Motora: melhora equilíbrio de tronco, principalmente com o auxílio da variação


do exercício; melhora na postura e absorção da oscilação do cavalo ao passo; o cavalo em
círculo, conduzido por guia longa, favorece as reações de proteção e endireitamento do
indivíduo.

Adaptação: correção postural, não utilização do cilhão por encurtamento da musculatura


adutora, espasticidade e/ou déficit de força muscular.Variações com os membros superiores
para maior recrutamento de equilíbrio e coordenação motora. Manter a dorsiflexão em casos
94 de inibição de padrão patológico.
MOINHO

A partir da posição básica, o volteador executa uma rotação completa sobre o cavalo, em
quatro fases de tempo iguais.

Fase 1 : a perna externa passa sobre o pescoço do cavalo (externa em relação a parte interior
do círculo), cada alça é largada e retomada à medida que a perna passa por ela. Esta fase
termina com o volteador sentado de lado voltado para o interior do círculo, sobre o quadril,
pernas unidas envolvendo o cavalo.

Fase 2 : a outra perna passa então sobre a garupa do cavalo, termina com o volteador sentado
na posição básica invertida.

Fase 3 : a perna interna passa sobre a garupa do cavalo, e o volteador senta de lado voltado
para o exterior do círculo.

Fase 4 : a perna que está junto ao cilhão passa sobre o pescoço do cavalo, cada alça é largada
e retomada à medida que a perna passa por ela, termina com o volteador na posição básica.
O moinho é executado com ritmo de contagem em quatro tempos, cada perna deve descrever
um arco uniforme e amplo, idealmente na vertical. A cabeça e os ombros devem acompanhar
a rotação de cada perna com manutenção de postura.

Atividade Motora: ritmo, coordenação motora, fortalecimento muscular (músculos adutores


e abdutores de quadril, flexores de quadril e abdominal).

Adaptação: as alças do cilhão podem ser de tamanho menor e evoluírem para as de tamanho
normal, devido à presença de encurtamento muscular e/ou espasticidade. Pode ser realizado
primeiramente com o auxílio de um terapeuta lateral durante as transferências com o cavalo
parado, evoluindo para a realização das mudanças de postura com o cavalo em movimento.

AJOELHADO / ESTANDARTE
A partir da posição básica, o volteador passa à posição ajoelhada. Suavemente, com os dois
joelhos simultaneamente, o dorso dos pés, os tornozelos e após estes os joelhos devem tocar
a garupa do cavalo.

O volteador deve estar sempre olhando para a frente, a perna externa deve cruzar XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
diagonalmente sobre a coluna do cavalo, com o pé interno do volteador colocado no lado
externo também. O peso deve estar distribuído uniformemente através da perna, tornozelo
e dorso do pé, o joelho interno deve estar ligeiramente à frente da coxa, a fim de auxiliar o
joelho e quadril a absorverem suavemente o movimento do cavalo.

A perna externa é então estendida, a fim de que o pé fique colocado acima da linha horizontal
formada através dos ombros e quadril do volteador, ao mesmo tempo o braço interno é
alongado para a frente.

A planta do pé externo deve estar virada para cima e a palma da mão interna para baixo,
com os dedos fechados. A mão externa permanece na alça, com o braço ligeiramente
flexionado para absorver o movimento do cavalo. A silhueta do volteador deve formar um
arco suave e equilibrado, desde a ponta dos dedos da mão até os dedos do pé. O eixo
longitudinal do corpo do volteador deve estar no mesmo alinhamento da coluna do cavalo.
95
Atividade Motora: descarga de peso, equilíbrio dinâmico, fortalecimento muscular (músculos
flexores de quadril, glúteo médio e mínimo, paravertebrais), reações de proteção e
endireitamento, noção espacial, lateralidade, postura.

Adaptação: o exercício pode ser iniciado no colchonete, depois no barril e/ou com o cavalo
parado e com as mãos nas alças, evoluindo para a liberação das mãos alternadamente. A
evolução do ajoelhado é o estandarte que pode ser feito primeiramente sem a liberação das
mãos, apenas com a extensão de uma perna e evoluir para a retirada e extensão do braço
contralateral; pode ser realizado no colchonete e no barril como preparação para o
movimento.

EM PÉ
A partir da posição básica, o volteador passa suavemente à posição de joelhos
simultaneamente com as duas pernas, o dorso dos pés, o tornozelo e os joelhos devem tocar
as costas do cavalo suavemente. Imediatamente o volteador transfere o peso do corpo para
os braços e pula para de pé, apoiando-se na planta dos pés, que devem estar apontando
para a frente. Para compensar o movimento em círculo do cavalo, a descarga de peso deve
estar no pé interno do volteador. A evolução do exercício é extensão de tronco e encaixe de
quadril; quando estiver em equilíbrio com o movimento tridimensional do cavalo solta as
alças e eleva os ombros até chegar à posição vertical, quando então abre os braços
lateralmente. O movimento do cavalo é absorvido pelos tornozelos, joelhos e quadril do
volteador; seu peso deve estar bem distribuído na planta dos pés, que devem estar em contato
total com o cavalo (Paes et al, 2001).

Atividade Motora: adequação tônica, descarga de peso, equilíbrio dinâmico, fortalecimento


muscular de MMII, reações de proteção e equilíbrio, postura.

Adaptação: é uma das figuras mais difíceis, pois requer maior concentração e habilidade
motora. Pode ser realizada com um terapeuta montado na cernelha e/ou dois terapeutas
laterais, com o cavalo parado ou em barril de volteio para adaptar o indivíduo à postura;
pode-se iniciar esta postura com o cavalo ao passo e em direção linear. O cavalo em círculo
seria uma evolução do exercício porque exige do volteador maior habilidade e equilíbrio.
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MÉTODO

Sujeitos
Participaram deste estudo quatro pacientes, dois portadores de encefalopatia crônica não-
progressiva e dois portadores de paraparesia espástica familiar, respectivamente B.G., 14
anos, sexo feminino, M.H., 18 anos, sexo feminino, V.S., 24 anos, sexo feminino, A S., 26
anos, sexo feminino.

Todas realizam atendimento fisioterápico complementar e já realizavam equoterapia há


mais de um ano.

Material
Foram utilizados para as terapias: aparelho de som, CD, manta de volteio, cilhão de volteio,
rédeas fixas, rédeas auxiliares, cabeçada, guia longa e chicote de volteio.
96
Procedimento
No período correspondente a agosto de 2004 a novembro de 2005, foram realizadas as
terapias com a introdução do volteio terapêutico, semanalmente com duração de quarenta
e cinco minutos.

Previamente os indivíduos selecionados foram submetidos a uma avaliação fisioterápica e à


aplicação da Medida de Independência Funcional. A avaliação nos permitiu conhecer mais
detalhadamente o potencial e dificuldades de cada indivíduo, possibilitando listar as
atividades que seriam viáveis de execução e elaborar melhor as sessões.

Todos as terapias foram precedidas de adequação tônica, alongamento e aquecimento; e


finalizadas com relaxamento. Os exercícios obrigatórios eram utilizados como base para as
sessões. A cada indivíduo foi oferecido um enfoque individualizado de coreografia, no qual
ele pôde expressar sua criatividade, suas emoções e sua musicalidade.

RESULTADOS

Cada um dos dezoito itens da MIF tem uma cotação máxima de sete pontos e a cotação
mínima é de um ponto. A cotação mais elevada é, portanto, de 126 e a mais baixa é de 18.

A cotação em sete níveis é fundamental para que as alterações funcionais sejam observadas
com uma sensibilidade suficiente.

Avaliação de Medida de Independência Funcional, realizada em agosto de 2004 e novembro


de 2005.

Resultados B.G M.H A.S V.S

2004 106 120 98 96


2005 111 125 102 103

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Os quatro indivíduos analisados obtiveram uma boa média nos resultados da M.I.F, que foi
utilizada como parâmetro para a iniciação do volteio terapêutico. Ao final do estudo todos
os indivíduos aumentaram significativamente suas médias.

Ao analisarmos os resultados, consideramos então a evolução dos indivíduos nos aspectos


geral, ritmo, desenvolvimento e sociabilização.

No aspecto geral os resultados foram satisfatórios, pois ao final do primeiro ano conseguimos
elaborar, montar e apresentar uma coreografia. A coreografia foi montada com a colaboração
dos indivíduos, que também escolheram a música a ser trabalhada.

No aspecto ritmo pôde-se observar melhoras funcionais, pois os indivíduos conseguiram


adquirir habilidades para acompanhar a marcação de tempo nos exercícios propostos por
palmas e contagem numérica realizada pelo terapeuta.
97
Em relação ao desenvolvimento motor, foram observadas melhoras significativas, pois
verificamos que os movimentos utilizados na coreografia foram automatizados e
memorizados, sendo realizados com harmonia e equilíbrio.

Em relação à sociabilização, no início todos os indivíduos otimizaram a idéia, porém houve


um caso de rejeição às terapias em dupla. Foi possível visualizar a melhora na auto-estima
por meio da crescente preocupação das alunas com o asseio pessoal e com o visual.

DISCUSSÃO/CONCLUSÃO

O desenvolvimento de um indivíduo normal depende de sua capacidade de movimentar-se


e experimentar sensações. As experiências favorecem a assimilação de novas estruturas, ou
seja, o ato motor promove aprendizagens que facilitarão futuras aquisições básicas (Zaniolo
e Kubo, 1993).

Segundo Bobath, o desenvolvimento perceptual e visuomotor do indivíduo é influenciado


pelo seu desenvolvimento motor; portanto, se ocorrerem dificuldades na movimentação e
exploração do próprio corpo, ocorrerão dificuldades no seu desenvolvimento global (Bobath,
1990).

Os indivíduos portadores de necessidades especiais exploram e relacionam-se pobremente


com seu próprio corpo e com o meio externo, devido às dificuldades na execução dos
movimentos, dificultando assim a aquisição de novas habilidades e experiências.

As atividades rítmicas permitem ao indivíduo expressar o movimento e o seu estado de


ânimo momentâneo. Por intermédio de atividades rítmicas é possível realizar contração e
relaxamento muscular, forte ou fraco, rápido ou lento, com velocidade acelerada ou
diminuída e com durações diferentes (M.P.E., 1990).

Estas atividades desenvolvidas com portadores de necessidades especiais têm como objetivos
proporcionar prazer, estimular a experimentação de movimentos livres, naturais e específicos
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para que possam expressar a alegria do movimento, desenvolver a capacidade de


concentração e preparar-se para as atividades de vida diária (Holle, 1976).

O Volteio como recurso terapêutico tem como objetivo desenvolver movimentos rítmicos, a
coordenação motora, a harmonia e controle de movimentos, postura, propriocepção e reações
de equilíbrio criando habilidades motrizes básicas e artísticas.

A partir dos resultados alcançados acreditamos que com a música e o volteio terapêutico
possibilitamos, a estes indivíduos, experiências novas e agradáveis estimulando suas vias
sensoriais e motoras e conseqüentemente um desenvolvimento psicomotor mais próximo
dos padrões da normalidade.

98
REFERÊNCIAS

BOBATH, K. Uma base neurofisiológica para o tratamento da paralisia cerebral. São Paulo: Manole,
1990.

BRACCILAI, L.M.P; Ravazzi, R.M.Q. Dança: influência no desenvolvimento da criança com


paralisia cerebral. Temas sobre Desenvolvimento, v.7, n.38, p.22-25, 1998.

HOLLE, B. Desenvolvimento Motor na Criança Normal e Deficiente. São Paulo: Manole, 1976.

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LONG, T.M.; Cintas, H.L. Manual de Fisioterapia Pediátrica. Rio de Janeiro: Revinter; 2001.

NITRINI, Ricardo. A neurologia que todo médico deve saber. 2a ed. São Paulo: Atheneu; 2003.

PAES, Eva. Brasil Volteio [apostilado]. Rio de Janeiro: Confederação Brasileira de Hipismo;
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The Recognized Training Guide of The United States Cerebral Palsy Athletic Association. 3. ed.
USA, M.P.E., 1990.

ZANIOLO, L.O; KUBO, M. Procedimento de dança como estratégia de ensino. Temas em


educação especial (UFScar), v.2, 1993.

http://www.americanvaulting.org/

http://www.orpha.net/consor/cgibin/OC_Exp.php?Lng=PT&Expert=685

http://www.vaulting.org.uk/history.htm

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

99
MOZART, MEU CAVALO E EU

Autor: Francisco Muñoz Hinojosa - México

ELEMENTOS DA COMPOSITOR ORQUESTRA


PARTITURA DIRETOR

O corpo humano funciona como uma orquestra sinfônica, onde cada elemento deve estar
em perfeita harmonia. O cérebro desempenha a função da trilha musical, que define a melodia
(funções) que deve ser tocada pela orquestra; e, da melodia, quais notas devem ser tocadas
por cada instrumentoo do corpo humano. Todo o corpo humano, tal como a orquestra, deve
ser coordenado pelo diretor, que controla o tempo e o ritmo. No caso do corpo humano, o
diretor é o coração e seus ritmos cardíacos, como se segue:

IDADE DA PESSOA RCB RCN RCA


RECÉM NASCIDO ATÉ 1 ANO 100 130 160
CRIANÇA DE 1 A 10 ANOS 70 100 120
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CRIANÇA MAIOR DE 10 ANOS E ADULTOS 60 80 100


ATLETAS DE ALTA PERFORMANCE 40 50 60

200 - (idade) = Ritmo Cardíaco Máximo


MCR X 0.7 = Ritmo Cardíaco Normal
MCR X 0.6 = Ritmo Cardíaco Baixo
MCR X 0.8 = Ritmo Cardíaco Alto

NOTA: O ritmo cardíaco varia com o peso e a altura da pessoa, e também com a altura acima do nível
do mar.

100
O corpo humano é uma máquina perfeita, portanto, é
importante que, para cada atividade, todos os
elementos tenham a mesma trilha sonora (programa
de funções do cérebro) e desempenhem a melodia no
mesmo ritmo (ritmo cardíaco); isso é definido como
harmonia.

Se um intrumento externo é adicionado a uma


orquestra, esse novo instrumento deve ser adaptado à
trilha sonora e ao ritmo do resto da orquestra, ou
ainda, estaria fora do tom, isto é, dissonante com o
resto dos instrumentos. É mais fácil ajustar o novo instrumento para a orquestra, do que
ajustar a orquestra, o diretor e as trilhas sonoras ao novo elemento adicionado. Da mesma
forma, é necessário que qualquer atividade externa deva ser ajustada ao corpo humano, de
forma que todo o time funcione em harmonia.

Quando ouvimos música, esta deve estar em concordância


com nosso humor emocional, hábitos, tradições, sentimentos
e educação musical; por exemplo, a música de Mozart foi
criada de acordo com o ritmo do corpo humano. Por essa
razão, quando a ouvimos, experimentamos uma sensação de
prazer e nosso corpo produz endorfina. Um grande
sentimento de segurança permanente pode ser percebido em
suas composições. Não há momentos incomuns; tudo está
perfeitamente sincronizado; suas obras são desenvolvidas sem
surpresas ou rupturas. Essa é a razão pela qual Mozart se
tornou acessível a todos e nunca nos cansamos de ouvi-lo.

O universo está repleto de


ritmos. Tudo tem seu ciclo, tudo é periódico: os anos, as
estações das chuvas, o dia e a noite, os movimentos do
planeta, os ciclos da vida, as batidas do coração, a respiração,

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o movimento do átomo, etc.

O mundo foi harmonizado em ressonância com o ritmo de


seu metrônomo do coração. Seu coração de criança marca
as modulações da expressão de sua alma direta e belamente
conectado ao seu próprio estilo.

Em Mozart, a diferença do tempo entre uma nota e outra é


de 0.5 segundos. Isso significa que os acordes são tocados a
um quarto de nota em um compasso de 4 tempos. Então,
um espaço de 0.5 segundos equivalente a 2 para cada
compasso, significando 120 quartos de notas (semínima) por minuto, ou um tempo de 120.
Isso sem considerar a velocidade de execução.

101
Do ponto de vista de sua aparência, o cavalo é um animal
estético com curvas simétricas, harmônicas e elegantes que
produzem satisfação visual, de acordo com a harmonia básica
de que todos gostam. Suas proporções, cores e dimensões
criam um conjunto simétrico com o ritmo da apreciação visual.

O movimento na equitação é harmônico, juntamente ao ritmo


do corpo humano, não apenas pela sua similaridade com a
dinâmica nos padrões de marcha, mas também pela
freqüência nas pegadas do cavalo, que vão junto ao ritmo do coração com uma cadência de
40 a 60 passos por minuto. Isso é igual ao que o
cavalo suporta em cada passada, direita e
esquerda, nos dando um ritmo entre 80 e 120
pegadas por minuto, com o mesmo ritmo da
música de Mozart. Essa harmonia homem-cavalo
se dá de uma forma natural e cria uma sensação
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de satisfação, favorecendo a produção de


endorfina (a droga da felicidade, endógena,
peptídica).

Se o cavalo que estamos cavalgando galopa, nosso corpo produz adrenalina, acelerando
nosso ritmo do coração; e novamente o movimento do cavalo entra em ressonância com o
ritmo do coração de nosso corpo.

Sem levarmos em conta se gostamos ou não da


equitação, e se sabemos ou não como montar, o
movimento do cavaleiro no cavalo nos dá satisfação e
prazer.

Para integrar uma orquestra, precisamos de um diretor,


um compositor, algumas partituras e os elementos da
orquestra.
102
O compositor deve saber quais elementos da orquestra ele tem e quais são suas habilidades,
para que os integre e possam interpretar sua música de forma ritmica. Ele comporá sua
música, dependendo do público e dos elementos de sua orquestra.

Em condições normais, esse processo é automático e não requer


ajuda externa.

Um problema aparecerá quando um ou vários músicos não


tocarem corretamente, se o compositor não conhece bem os
membros da orquestra, se suas partituras têm erros, ou se ele
não é um bom compositor.

O mesmo ocorre com o corpo humano, se o cérebro não integra


seus elementos corretamente (integração sensorial), se alguns
dos elementos não desempenham suas funções corretamente,
se o cérebro tem algum dano. Se uma ou várias destas situações ocorre, o trabalho coordenado
do corpo humano não desempenha suas funções corretamente. Esse é o momento em que o
hipoterapeuta é solicitado como um instrutor, para que a pessoa faça o que deve fazer, e
pare de fazer o que não deveria.

Juntamente a uma equipe interdisciplinar de médicos e


peritos em equitação, um diagnóstico é necessário para
interagir, de forma que cada elemento funcione de acordo
com um programa conhecido por ontogênese da
psicomotricidade.

A função de integração sensorial implica em carga


genética, funções cérebrais com seus sensores internos
integrados (propioceptivo e vestíbulo) e sensores externos
(visão, audição, olfato e paladar, somato-sensoriais).

O tecido epitelial é também sensível ao


som, ao contrário do que normalmente
se pensa. Investigações nos permitiram
supor que os receptores do tecido epitelial

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são o resultado de adaptações celulares
da linha lateral do feixe inferior. Estas
células teriam dado origem às células
Corti e às células do tecido epitelial,
verdadeiros elementos da adaptação à
vida aérea desta célula primária
excepcional.

“Todo ser vivo vibra”. Tudo que é organizado para atingir uma participação reflexiva sobre
a vida, demonstratada por ritmos, ciclos e seqüências, é orientado ao desenvolvimento do
sistema nervoso. Tudo prova que a atividade do sistema depende da quantidade de estímulos
recebida.

O efeito de ressonância, entre a música de Mozart, a andadura do cavalo (passo) e o ritmo


do coração, produz um efeito denominado “portador”.
103
Deixe-me explicar brevemente o que é um portador:

Os sons são ondas que oscilam em uma classificação de 20 a 20.000 ciclos por segundo
(Hertz) e sua propagação é de curta distância. Entretanto, existem altas freqüências que
propagam-se em longas distâncias na atmosfera. Portanto, tiramos vantagem destas altas
freqüências como um meio de transporte, para levar freqüências de sons e conseguir que tais
sons cheguem a grandes distâncias. Este conceito deu origem à rádio-comunicação.

Da mesma forma, processos neuro-fisiológicos de reabilitação são mais efetivos se utilizamos


um portador. Neste caso, tiramos vantagem do movimento tridimensional do cavalo, a fim
de obter status mental máximo e fazer a integração dos estímulos neuro-sensoriais mais
eficiente no cérebro, ao aumentar as conexões neurais e a plasticidade. Uma atividade
prazerosa é mais eficiente e produz melhores resultados, então usamos a endorfina como
um meio prazeroso de reduzir a dor, minimizando desconfortos da terapia.

O movimento do cavaleiro durante a hipoterapia normaliza


inicialmente o tronco cerebral (complexo R) formado pelo gânglio
basal, o eixo cerebral e o sistema reticular, melhorando a vida
instintiva e a sobrevivência: comer, beber, temperatura corporal,
sexo, territorialidade, autoproteção, ciclo de sono e vigília,
respiração, etc.

A hipoterapia normaliza o velho


cérebro mamífero (sistema límbico) formado pelo tálamo, pela
amídala, pelo hipotálamo, o núcleo septal e o hipocampo. É nesta
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área onde estão as glândulas endócrinas mais importantes do ser


humano: pineal e pituitária, melhorando sensações de prazer e
dor, nutrição, oralidade, proteção, hostilidade, socialização,
sexualidade, mémoria de longo prazo, processos emocionais,
relação de presente-passado, etc.

Finalmente, interagimos com o córtex cerebral (neocortex) a


mais avançada área no desenvolvimento do cérebro,
principalmente constituída pelo cérebro cortical, em seus dois
hemisférios, específicamente na região frontal, favorecendo
um modo superior de atenção voluntária, conjunto de ações
de intenções, planos e programas, que constitui a base de
quase toda forma de atividade específica humana. É um
método para a organização de quase todas as formas de
comportamento humano, já que favorece a integração
sensorial, o equilibrio estático, coordenação de movimentos
104
(partes do corpo), coordenação visual e de movimentos, coordenação de áudio e movimento,
percepção, retenção e evocação da memória, auto-estima, formas superiores de
comportamento, criatividade, arte, linguagem, etc.

Os processos mentais superiores dependem do estímulo que,


em grande parte, são largamente dependentes da audição
interna e de estímulos de percepção auditiva, visual e tátil.
Esta função é estimulada pelo ritmo e cadência transmitidos
pelo cavalo ao cavaleiro.

De fato, a força da
gravidade permanentemente compele o corpo a
manter um verdadeiro diálogo com o ambiente. Em
conseqüência, quanto maior a posição vertical, melhor
a estimulação nervosa, e maior será a habilidade de
movimento. O movimento, a posição vertical e a carga
cortical estão intimamente ligados.

Deixe-me lembrá-los que o ouvido interno contém, no


labirinto dois grupos de atividades aparentemente
diferentes: o vestíbulo e a cóclea; e que constituem apenas
um órgão, que foi melhorado à perfeição a fim de
responder às novas atividades com que deve ligar.

Cérebro Primata

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Cérebro Humano

Vermelho –Zona Primária Azul – Zona Secundária Branco – Terceira Zona

105
CONCLUSÕES:

Benefícios da hipoterapia

SIMILAR AO RC ABAIXO DO RC ACIMA DO RC

Endorfinas são produzidas Endorfinas são produzidas Endorfinas são produzidas


Melhora:Humor Melhora:Humor Melhora:Humor
emocionalProduto emocionalProduto emocionalProduto
analgésicoSinapse neuronal analgésicoSinapse neuronal analgésicoSinapse neuronal
Status mentalIntegração Status mentalIntegração Status mentalIntegração
sensorial Equilíbrio estático sensorial Equilíbrio estático sensorial Equilíbrio estático
RC= Ritmo cardíaco
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

106
TRANSDISCIPLINARIDADE:
UM NOVO PARADIGMA NA EQUOTERAPIA

Autor: Amauri Solon Ribeiro - Brasil

“Nous savons que le mode de pensée ou de connaissance parcellaire,


compartimenté, monodisciplinaire, quantificateur nous conduit à une
intelligence aveugle, dans la mesure même où l’aptitude humaine normale à
relier les connaissances s’y trouve sacrifiée au profit de l’aptitude non moins
normale à séparer.”
Edgar Morin, in Réforme de Pensée, Transdisciplinarité, Réforme de L’Université

I. PRÓLOGO
Sensível ao toque
Lady Di Mas não podia tocar
Sensível à luz
Diversidade é meu nome Mas não podia vê-la
Nasci
Do útero da Mãe Terra Pai Homem
Abandonou-me
Sou diferente Feia lagarta me chamava
Especial
Mãos invisíveis teceram meu ninho Esgueirando-me pela vida fui
Raios de luz Até que mãos cuidadosas me ampararam
Acordes de sons Diversidade era meu nome
Ondas de cores
Me deram vida Diferente e especial eu era
Como uma princesa vinda de lugar nenhum
Irmão Sol Nascida da Mãe Terra
Irmã Lua Abandonada pelo Pai Homem
Céu e Inferno As sutilezas do universo
Tio Marte Eram minhas companheiras

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Tia Vênus Quando transmutei
Acariciaram minha alma que florescia
Múltiplos seios me alimentaram Desdobrei minhas asas
De verme inviável
Meus olhos não podiam ver da forma Desgarrei-me
Como todos vêem De meu casulo aprisionador
No entanto podiam enxergar mais fundo Coroada Lady Di
Minhas pernas não podiam andar Sob acordes Bachianos
Como todos andam Eu fui
No entanto podiam levar-me mais longe
Minhas maneiras de ser eram desajeitadas Minhas asas agora azuis
Meus modos agora divinos
Nasci Meus sonhos realizados
No meio do nada Meu completo ser agora em mim
Faminto e estranho Levaram-me ao espaço maior
Voando
Livre 107
II. INTRODUÇÃO

Espera-se que o prólogo seja sempre auto-explicativo. Receio que este não o seja. Portanto,
acrescento algumas palavras. Aqui estão.

1. Há um tributo à Lady Di, a princesa, sem dúvida. Em 1987, quando muitos ainda
acreditavam que o vírus HIV poderia ser contraído através do toque e seus portadores
eram cruelmente discriminados, a princesa Diana sentou-se numa cama onde se
deitava um aidético e segurou sua mão. Isso ajudou a mudar a opinião do mundo,
mostrou uma forma de lidar com a diferença. E contribuiu também para salvar
pessoas em risco. Foi um exemplo de solidariedade, de compaixão. Lady Di, de certo
modo, foi também uma história de metamorfose.
2. Há também uma referência à identidade. Menção especial àqueles de nós que somos
especiais de algum modo. Quem não é? Do mesmo modo, para aqueles de nós
portadores de alguma deficiência. Quem não é?
3. A natureza está presente: nós e nosso entorno. O meio-ambiente: planeta Terra, o
Sistema Solar. O tema das fronteiras naturais. Quem somos? Para onde vamos?
4. Há, certamente, o tema da liberdade. Liberdade do quê? Liberdade para quê?
5. Transformação, metamorfose: nosso modo permanente de ser.
6. Todos esses temas, e muitos outros, estão presentes na essência do trabalho que
fazemos: equoterapia. E eles podem ser muito bem representados por este importante
fenômeno: diversidade.

E aqui está o desafio: como lidar com tais questões, especialmente com a diversidade?

Como encaramos a diversidade em nosso trabalho, em termos das metodologias terapêuticas,


de reabilitação, de reeducação que devemos conduzir com as pessoas que nos procuram?

Como lidamos com a diversidade em nossas próprias equipes, entre nós? Quem é terapeuta,
quem é paciente?

Será que o paradigma Cartesiano/Newtoniano tradicional que ainda impera na Idade


Moderna atende às nossas necessidades, nos ajudam a responder nossas dúvidas?
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É imperioso que um novo paradigma seja discutido: transdisciplinaridade. Tal é o escopo do


presente trabalho.

CONCEITOS BÁSICOS

A história da produção do conhecimento chegou a nossos dias enfatizando a ciência como


o modo hegemônico de produção. Outros tipos de conhecimento foram negados ou relegados
a planos secundários. A ciência estabeleceu-se através da fragmentação do todo em partes
de modo a permitir seu conhecimento. Isto levou ao surgimento de um grande número de
disciplinas e especialidades. Baseada no conhecimento técnico, a ciência deu o passo
gigantesco que produziu a revolução industrial e mudou a face de nosso planeta.

No século 20, a aceleração da revolução técnica enrijeceu a estrutura da produção disciplinar


108 do conhecimento científico e suscitou o questionamento dos axiomas dos paradigmas
mecanicistas. A Teoria dos Quanta provocou uma nova revolução na física e na ciência.
Novas necessidades tornaram imperioso o surgimento de equipes multi e interdisciplinares
em todos os campos da ciência. Mais do que isso, o grau de complexidade dos fatos, desafios
e problemas do mundo globalizado impôs a necessidade de resgatar a legitimidade do
conhecimento aquém e além da ciência formal reconhecida.

A transdisciplinaridade, como um paradigma emergente, propõe transcender o universo


hermético da ciência e trazer para a superfície a multiplicidade fantástica dos modos de
produção de conhecimento, assim como o reconhecimento da multiplicidade e diversidade
de produtores de tal conhecimento. E assim nasce a necessidade de reforçar o valor de cada
indivíduo-sujeito como produtor e portador de conhecimento legítimo.

A transdisciplinaridade chama nossa atenção para a diversidade. Somos chamados à


consciência da potencialidade das formas heterogêneas, em contraste com as tendências
homogeneizantes de nossos tempos.

Como afirmado por Morin (2002), para que a prática da transdisciplinaridade seja uma
solução, uma “reforma do pensamento” faz-se necessária. Os princípios científicos estão em
permanente processo de desenvolvimento, e sabemos hoje que eles não são um reflexo
exclusivo da realidade objetiva. A estrutura do espírito humano e o conhecimento dos
condicionantes socioculturais são também partes inseparáveis deles.

O paradigma tradicional que ainda hoje prevalece está em meio a uma crise, e um novo
paradigma surge como uma saída para a ultra-especialização do conhecimento científico.

De acordo com Santos (1996), as principais características do novo paradigmas são as


seguintes:

- a. o fim da dicotomia ciências naturais/ciências sociais, tanto quanto a superação


de outras dicotomias, como natural/artificial, mente/matéria, observador/
observado, coletivo/individual;

- b. a superação da fragmentação do conhecimento e do reducionismo arbitrário, com


a busca do conhecimento do todo – conhecimento que não é nem determinista nem

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descritivo, estabelecido através de uma pluralidade de metodologias;

- c. a necessidade de uma nova forma de conhecimento que inclua o sujeito; um


conhecimento compreensivo e íntimo que pode ser transformado em sabedoria no
viver quotidiano; uma forma de conhecimento que permita a contemplação do
mundo, mais do que as tentativas de controlá-lo;

- d. o resgate do bom senso, proporcionando o enriquecimento de suas dimensões


utópicas e libertadoras através do diálogo com o conhecimento científico.

A transdisciplinaridade foi pioneiramente mencionada por Piaget em 1970, quando ele propôs
um nível superior de relações interdisciplinares. Ele considerava tais relações no bojo de um
sistema total, sem fronteiras entre as disciplinas. Era como um sonho para Piaget. Foi a
partir dos anos 80 que novos movimentos em diversos campos caracterizaram o novo
paradigma. E essas correntes têm convergências claras em pensamentos que estão atualmente
109
em discussão: autopoiesis, auto-organização, pensamento complexo, inteligência coletiva,
teoria das redes e muitos outros. Transdisciplinaridade e pensamento complexo contêm a
diversidade e se constituem em poderosas ferramentas para se compreendê-la. E, para
colocá-la em prática, é necessário, de acordo com Morin (2002), restabelecer as ligações
entre os conhecimentos, implicando um novo processo de reaprendizagem da produção
científica.

A tendência no sentido da transdisciplinaridade não pode mais ser negada. O Primeiro


Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, no Convento da Arrábida, Portugal, de 2 a 6
de novembro de 1994, estabeleceu as bases definitivas. Assinada por Lima de Freitas, Edgar
Morin e Basarab Nicolescu, a Carta da Transdisciplinaridade foi então adotada. Sua
subscrição estava então, e ainda está, aberta a todos. É nossa vez de subscrevê-la. Ela precisa
ser lida em sua totalidade, mas aqui transcrevemos seus quatro primeiros artigos:

Artigo 1:
Toda e qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma definição e de dissolvê-lo no meio
de estruturas formais, sejam quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar.

Artigo 2:
O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regidos por lógicas diferentes, é
inerente à atitude transdisciplinar. Toda tentativa de reduzir a realidade a um só nível, regido por
uma lógica única, não se situa no campo da transdisciplinaridade.

Artigo 3:
A transdisciplinaridade é complementar à abordagem disciplinar; ela faz emergir novos dados a
partir da confrontação das disciplinas que os articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da
natureza da realidade. A transdisciplinaridade não procura a mestria de várias disciplinas, mas a
abertura de todas as disciplinas ao que as une e as ultrapassa.

Artigo 4:
A pedra angular da transdisciplinaridade reside na unificação semântica e operativa das acepções
através e além das disciplinas. Ela pressupõe uma racionalidade aberta a um novo olhar sobre a
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relatividade das noções de “definição” e de “objetividade”. O formalismo excessivo, a rigidez das


definições e a absolutização da objetividade, incluindo-se a exclusão do sujeito, conduzem ao
empobrecimento.

O que quero enfatizar ao escolher os quatro artigos iniciais para representar os fundamentos
básicos da transdisciplinaridade? Mais uma vez aqui está a diversidade em minha mente.
Em primeiro lugar, a recusa a reduzir o ser humano a quaisquer que sejam as definições
oferecidas pelas filosofias disponíveis. Em segundo lugar, a aceitação de diferentes níveis de
realidade regidos por diferentes tipos de lógica. Em terceiro, a abordagem das disciplinas
oferecida pela transdisciplinaridade, inclusive a nova visão da natureza e da realidade, tanto
quanto a recusa da superioridade de uma determinada disciplina sobre qualquer outra. E a
unificação prática e semântica de significados que transpassam e vão além de todas as
disciplinas.

Estamos ainda sujeitos a condicionamentos mecanicistas e reducionistas implícitos no


110 paradigma Cartesiano/Newtoniano. O homem foi feito máquina. E assim, tornou-se objeto
de técnicos. Além disso, os meios e as relações de produção capitalistas geraram um profundo
processo de ruptura, de fragmentação, de egocentrismo, de desintegração da solidariedade.
O homem é partido em múltiplas e conflitivas personae, a maioria delas determinadas pelas
necessidades de produção e pelas demandas da sociedade capitalista. Bens de consumo
baratos produzidos em larga escala são a fonte de poluição e degradação que estão ameaçando
o meio ambiente em que vivemos. Fundamentalismos religiosos, sectarismos de diversos tipos,
cegueiras e loucuras políticas, extremas avareza e cobiça sob o título de livre mercado são a
fonte de miséria extrema, guerras e degradação humana.

No campo da saúde humana, processos semelhantes acontecem. Pesquisas médicas são


direcionadas às doenças geradoras de lucros e às suas drogas curativas. Parquíssimos recursos
são destinados à prevenção, educação e saúde pública. O corpo humano é retalhado em
partes e entregue aos cuidados de diferentes técnicos e técnicas. Sem alma, sem totalidade,
sem ternura. Avareza e corrupção emergem. Ao final de tudo, pode-se concluir que as práticas
políticas e as teorias econômicas ainda prevalentes abrem caminho para considerar todas
essas perversidades como valores básicos, quando são de fato cruéis, fragmentadoras e
polimórficas patologias humanas.

Em julho de 1997, em uma entrevista para a revista Label France conduzida por Anne Rapin,
quando perguntado sobre globalização e a “era planetária”, Edgar Morin respondeu que
“…De fato, porque a globalização está fora de controle, ela é acompanhada por muitas instâncias de
regressão. Mas, é uma possibilidade que poderia ser desejável. Obviamente, a globalização tem um
aspecto muito destrutivo: ela gera anonimato, reduz as culturas individuais a um denominador
comum e padroniza identidades. Contudo, ela é também uma oportunidade única para promover a
comunicação e o entendimento entre as várias culturas dos povos do planeta e encorajar sua mistura
(blending). Este novo capítulo acontecerá apenas quando nos tornemos inteiramente conscientes do
fato de que somos cidadãos do planeta antes de tudo, e então europeus, franceses, africanos,
americanos... o planeta é nosso lar, um fato que não nega os lares individuais de outros. A consciência
de nosso destino global como uma comunidade é o pré-requisito para a mudança que nos permitiria
agir como co-pilotos do planeta, cujos problemas se tornaram inseparavelmente inter-relacionados.
Caso contrário, iremos experimentar um destino semelhante àquele da “balcanização”, uma retaliação
violenta e defensiva contra etnias específicas ou identidades religiosas, o que é o oposto deste processo
de unificação e solidariedade através do planeta.”

Agora, a globalização aqui está, a diversidade está aqui; o pensamento linear causa-efeito XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
ainda regula nosso mundo moderno. Como podemos lidar com um tão vasto universo de
disciplinas? Como a transdisciplinaridade pode nos ajudar?

O CAMPO DA EQUOTERAPIA

O campo atual da equoterapia em todo o mundo é ainda fortemente marcado pelo paradigma
tradicional Cartesiano. A Babel de expressões que perpassa nosso campo de trabalho é um
sintoma preocupante, mais do que uma salutar diversidade. Marguerite Malone (Serendipity
Farm, Tuscaloosa/Alabama) chamou-me a atenção para um artigo de autoria de Ann C.
Alden, ex-presidente da EFMHA, no qual se empenha em listar e definir os vários
anacronismos usados no campo e que ela chama de “Sopa de Alfabeto”, que poderíamos
chamar de “Sopa de Letrinhas”. Para ilustrar o sintoma acima descrito, apresentamos a
111
seguir uma breve lista de denominações usadas para identificar o que fazemos. É possível
que todas estejam representadas neste Congresso.

– Riding therapy (terapia através de equitação);


– Therapeutic riding (equitação terapêutica);

– Riding for the handicapped (equitação para deficientes);

– Riding for the disabled (equitação para incapacitados);

– Hippotherapy, hippotherapie (hipoterapia);

– Equinoterapia;

– Equotherapy, equoterapia;

– Equine Assisted Therapy (terapia com auxílio de eqüino);

– Equine Facilitated Therapy (terapia facilitada pela utilização de eqüinos);

– Horseback Assisted Therapy (terapia com apoio de montaria a cavalo);

– Equestrian re-education (reeducação eqüestre);

– Equestrian rehabilitation (reabilitação eqüestre).

Sofremos todos, com certeza, as conseqüências de nossa “Sopa de Alfabeto”, em nossa querida
Torre de Babel. Comunicações difíceis, algumas vezes impossível, para dizer o menos. Não
apenas entre nós, mas também com nossos associados, patrocinadores, praticantes e suas
famílias e com o público.

Embora não seja o propósito deste trabalho justificar e explorar a necessidade de adoção de
uma linguagem unificada, este autor sugere enfaticamente a expressão equoterapia, cunhada
pela Ande Brasil – Associação Nacional de Equoterapia. Esta palavra simples e densa inclui
os termos “Equus” e “therapeia”. A expressão equoterapia está ainda livre de conotações
comprometedoras e pode bem representar a abordagem transdisciplinar para as atividades
terapêuticas conduzidas com a ajuda de um eqüino e de uma equipe multiprofissional. É
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

seguro que uma palavra universalmente aceita muito contribuiria para unificar o campo
das terapias com auxílio do cavalo e o aproximaria muito do paradigma transdisciplinar.

Mais sintomático do que a diversidade de denominações para nossa atividade profissional é


o modo como categorizamos nossos procedimentos técnicos. Em geral, os procedimentos
terapêuticos são classificados de acordo com “programas”, ou metodologias específicas,
especializadas, baseadas em um dado modo de perceber a patologia do cliente e suas
necessidades percebidas. Eles são muito bem fundamentados, mas são também absolutamente
fragmentadores. Eles são diretamente derivados dos paradigmas fragmentários e são por
eles condicionados.

Programas fragmentários, não importa o quanto sejam bem fundamentados, partem de


uma concepção de um sujeito fragmentado e levam a abordagens fragmentárias, a equipes
fragmentadas. Não podemos desconsiderar os efeitos condicionadores de estigmas avaliativos
apoiados em técnicas de diagnóstico fragmentárias, baseados em simples percepções pessoais
112
ou preconceitos institucionalmente predefinidos: equitação para deficientes ou para
incapacitados.

A diversidade de campos possíveis de conhecimento capazes de contribuir para a amenização


do sofrimento humano com a ajuda de eqüinos é imensa. Assim também o número de pessoas
capazes de ajudar. Mas, elas estão longe de nós. Elas não atendem aos nossos “elevados”
padrões e requerimentos. Elas não estão formalmente incluídas no mundo científico.
Pretendemos utilizar metodologias “inclusivas”, mas excluímos mais do que incluímos. De
certo modo, agrada-nos sermos “exclusivos”, “prime”. Não é mera coincidência que as
estratégias de marketing explorem tanto tais expressões. E elas nos fisgam.

III. A PRÁTICA DA EQUOTERAPIA

É nosso desafio diário colocar em prática o novo paradigma em nossas atividades, em nossos
procedimentos terapêuticos. Se a concepção programática é adotada, cai-se facilmente no
velho paradigma. Mesmo quando se tem o discurso do novo paradigma, é extremamente
difícil colocá-lo em ação. Nossas qualificações profissionais, nossa formação acadêmica, nossos
treinamentos e experiências em campos específicos, nosso compromisso formal com limites
legais e profissionais, tudo isso contribui para a adesão ao velho paradigma. E esses tópicos
não são nada simples.

Permitam-me ilustrar meu ponto de vista utilizando o Equovida, um centro de equoterapia


no Rio de Janeiro, Brasil, no qual o autor exerce um papel de coordenação. Somos atualmente
uma equipe de 14 profissionais: 3 psicólogos, 5 fisioterapeutas, 3 fonoaudiólogos,
1 arte-terapeuta, 2 profissionais de equitação, e dispomos de cinco cavalos. Esta equipe
desenvolveu-se através de um processo de seleção natural, com muita discussão.

Quem deve conduzir o cavalo? Quem conduz a sessão terapêutica?

Consideremos um primeiro caso: uma menina com paralisia cerebral. Este é um caso para
hipoterapia, certo? O equitador conduz o cavalo, o fisioterapeuta conduz a sessão, certo?
O psicólogo conversa com a família, certo?

Vejamos o segundo caso: um menino autista. Este é um caso para o psicólogo, que conduz a

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


sessão, certo? O equitador conduz o cavalo, certo?

Posso ousar dizer que a resposta pode ser não, que não está certo?

A menina com a paralisia cerebral pode ter sérios problemas de comunicação, possivelmente
devidos a uma certa ordem de deficiências. O menino autista pode também apresentar sérios
problemas de comunicação, possivelmente devidos a outros tipos de mau funcionamento.
Nós reconhecemos que também nós temos sérios problemas de comunicação. Discutimos os
casos. Todos da equipe. Todos, mesmo: psicólogo, fisioterapeuta, fono, arte-terapeuta,
equitador. E outros profissionais, caso os tivéssemos. Após a discussão, três ou quatro de nós
vamos para a pista, todos ao mesmo tempo. Nossas sessões são sempre individuais, no que
diz respeito ao praticante. Um praticante, três ou quatro terapeutas. Algumas vezes, duas
sessões ocorrem ao mesmo tempo: dois praticantes, cada um com sua equipe. Os praticantes
escolhem o seu parceiro principal e certamente nos ajudam a escolher o cavalo.

113
O parceiro principal conduz a sessão. As intervenções fluem. Algumas vezes, o equitador
faz a interlocução com o praticante, o fisioterapeuta conduz o cavalo, a fono faz o apoio
lateral, a arte-terapeuta conversa com a família. Ao final do dia, mais discussões em equipe.
A interpenetração é permanente, os quebra-cabeças são compostos de peças que mudam de
forma e apresentam figuras diferentes. Nenhuma peça é rígida, fixa. Muitas vezes, o estresse
emerge. O caminho mais curto não é necessariamente o melhor caminho. Mais discussão é
necessária.

Quando o sol começa a se pôr atrás das montanhas e a luz amarelo-alaranjado do entardecer
se filtra através das folhas da grande mangueira, um halo mágico ilumina a pista. As selas,
brinquedos, cabeçadas são recolhidos e guardados. Grupos se reúnem; vozes, emoções, piadas,
abraços, despedidas. Outro longo e exaustivo dia acaba. Esta é a nossa equoterapia.

IV. O DIÁLOGO

Um diálogo imaginário é aqui introduzido para explicitar e ilustrar os principais vetores do


paradigma transdisciplinar. É uma espécie de conversa de ego com alter-ego, meu ego
representando todos os meus condicionamentos tradicionais, cartesianos e meu alter-ego.

Meu Ego Meu Alter-Ego


Velho Paradigma Novo Paradigma Transdisciplinar

Dualidade sujeito-objeto: Eu sou um e separado Não-dualidade: Eu e o universo somos partes


do universo. interdependentes de um sistema indissolu-
velmente associado.
Matéria, vida e informação são coisas também Matéria, vida e informação são manifestações da
separadas no universo. mesma energia. Elas provêm do mesmo espaço e
são partes do mesmo sistema.
Todo fenômeno tem uma causa e é efeito de uma Há uma circularidade causa-efeito. Possibilidade
causa. Impossibilidade de fenômeno sem uma de fenômeno sem uma causa.
causa.
Acredito que o todo contém as partes, mas não pode Acredito que todas as partes estão no todo, assim
ser contido por elas. como o todo está em todas as partes, como em um
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holograma.
Posso observar e não interferir no objeto ou Sei que minha simples presença interfere naquilo
fenômeno observado, independentemente de mim que estou observando. Resulta que o conhecimento
ou de minha mente. é o produto da mente do observador, do objeto
observado e do processo de observação, tudo ao
mesmo tempo.
A observação científica assim implica a exclusão Torno-me parte do que observo, assim, sou ao
do observador. mesmo tempo sujeito e objeto do conhecimento.
Uso meu raciocínio para processar os dados que Uso tudo isso, mais meus sentimentos mais
coleto com meus cinco sentidos. Uso meu intelecto. profundos, minhas sensações e minha intuição.
Posso pesquisar apenas aquilo que posso Posso integrar qualidade à quantidade e posso
quantificar. utilizar ambos.
Os fins justificam os meios, e esta é a ética da Nada está acima do respeito à vida e à espécie
ciência. humana. A bioética deve estar presente em todas
as ciências.

114
Meu Ego Meu Alter-Ego
Velho Paradigma Novo Paradigma Transdisciplinar

Quando cheguei ao centro de reabilitação, vi muitas Muitas pessoas com capacidades que eu não
pessoas incapacitadas. conhecia estavam presentes quando cheguei ao
centro de saúde.
Planejamos o que temos de fazer e cada um de nós Planejamos e trabalhamos juntos, todos ao mesmo
faz seu trabalho na sua vez. tempo na pista.
Sei que sou um psicólogo e supõe-se que meu Sempre me esforço para engajar as pessoas com as
paciente se beneficie de minhas qualificações. O quais trabalhamos no processo terapêutico. E estou
mesmo é verdadeiro para cada colega e somos consciente de como isso pode ser benéfico para
responsáveis pelo processo. mim. O mesmo é verdadeiro para todos os nossos
parceiros. A responsabilidade é compartilhada.
Meus colegas médicos, fisioterapeutas, fonos, Sempre trocamos informação e experiência.
psicólogos e equitadores têm uma consciência clara Embora eu não seja um equitador, muitas vezes
de seus campos de ação e eles não interferem com conduzo o cavalo. O mesmo é verdadeiro para
os outros, embora sejamos uma equipe. todos os outros. Algumas vezes, olhando a uma
certa distância, você não saberia quem é quem.
Sou muito competente em minha área de Estou consciente de minha necessidade de
qualificação e estou em processo permanente de competência no campo que escolhi. Mas descobri
especialização. recentemente que este campo é muito mais amplo
do que eu imaginava. Não sei mais em que grau
sou um especialista ou um generalista.
Uma distância adequada deve ser mantida entre A cada dia sinto-me mais próximo das pessoas
nós e nossos pacientes, de modo a que possa com quem trabalhamos e estou certo de que este é o
ocorrer o adequado processo terapêutico. melhor caminho para assegurar que lhes dou o
melhor de mim e recebo o melhor delas.
Hierarquia é essencial para o bom trabalho em Temos uma espécie de liderança “flutuante” e
equipe e para nosso pessoal administrativo. respeito é a base de nosso relacionamento. As
responsabilidades são sempre compartilhadas.

V. EPÍLOGO

Meu diálogo está longe do fim. De fato, apenas começou. As dúvidas surgem com maior
velocidade do que consigo achar respostas. Não sei se estou em um bom caminho ou em um

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caminho cheio de problemas. Mas de uma coisa estou certo: este é um caminho que tem
coração.

E o epílogo, assim como o prólogo, também precisa de uma explicação. Mas não sei qual ela
será, nem quando poderá acontecer.

VI. REFERÊNCIAS

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CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1982.

D’AMBROSIO, Ubiratan. Transdisciplinaridade. São Paulo, Brasil: Palas Athena, 1997.

HENAGULPH, Seb. Three Pillars of Transdisciplinarity. In www.goodshare.org, 2000.


115
MARIOTTI, Humberto. As Paixões do Ego – Complexidade, Política e Solidariedade. São Paulo,
Brasil: Palas Athena, 2000.

MARIOTTI, Humberto. A Era da Avareza (A Concentração de Renda como Patologia Bio-


Psico Social). In Pluriversu, www.geocities.com, 2001.

MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A Árvore do Conhecimento – as bases biológicas


da compreensão humana. São Paulo, Brasil: Palas Athena, 1984.

MITTELSTRASS, Jürgen. Transdisciplinarity. In Panorama, 1955.

MORIN, Edgar. Réforme de Pensée, Transdisciplinarité, Réforme de L’Université. In


Pluriversu, www.geocities.com, 1997.

MORIN, Edgar. Antropologia da Liberdade. Translated from Anthropologie de la Liberté,


GRASCE Entre Systémique et Complexité, Chemin Faisant Mécanges [cf.] en l’Honneur du Professor
Jean-Louis Le Moigne. Paris: Presses Universitaires de France, 1999, págs. 157-170. In Pluriversu,
www.geocities.com.

MORIN, Edgar. Interview to Anne Rapin, Label France, 1997.

MORIN, Edgar, FREITAS, Lima de, BASARAB, Nicolescu. Charter of Transdisciplinarity.


International Center for Transdisciplinary Research.

http://perso.club-internet.fr/nicol/ciret/ , 2002.

WEILL, Pierre, D’AMBROSIO, Hubiratan, CREMA, Roberto. Rumo à Nova


Transdisciplinaridade. São Paulo, Brasil: Summus, 1993.
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116
O EFEITO DA EQUOTERAPIA EM PACIENTES COM DOENÇA
DE MENIÉRE: UM ESTUDO DE CASO

Autor: Alessandra de Toledo Corlatti - Brasil


Co-autores: Dr Reinaldo Ragazzo;
Kellen Christien Kamiya

RESUMO

INTRODUÇÃO: A doença de Meniére é uma vestibulopatia periférica, de causa


desconhecida, cujos sintomas são vertigem aguda, sensação de plenitude e tinido no ouvido,
oscilopscia, náuseas, vômitos e perda de audição flutuante. O tratamento clínico, até então,
é baseado em drogas e, nos casos extremos, secção cirúrgica do nervo vestibular e a destruição
do labirinto por injeção de drogas. O trabalho de reabilitação vestibular é uma das terapias
propostas como coadjuvante no tratamento que pode ser proporcionada pelo movimento
tridimensional do cavalo. OBJETIVO: O objetivo deste estudo foi verificar o efeito da
equoterapia em pacientes portadores de doença de Meniére não responsíveis ao tratamento
tradicional. METODOLOGIA: Foram tratados 5 pacientes, com 40-50 anos de idade, de
ambos os sexos, extremamente tensos, todos diagnosticados ao exame eletrococleografia e
eletronistagmografia com vestibulopatia periférica deficitária, não responsíveis à medicação.
Os pacientes, sob medicação suspensa, foram submetidos a uma sessão semanal de 30 minutos
de equoterapia durante dois meses. Foi realizado o exame eletrococleografia antes e depois
do tratamento para comparação de diagnósticos clínicos. RESULTADOS: Comparando os
resultados dos exames inicial e final, observamos que a equoterapia demonstrou ser eficaz
como tratamento complementar da reabilitação vestibular na doença de Meniére.

ABSTRACT

Introduction: The Meniére Disease is an outlying vestibulopatia, wich etiology has not been
estabilished yet, whose symptoms are: exercise vertigo, fullness sensation and, tinnitus in

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the ear, dizziness sensation position, nauseas, vomits and loss of flotation audition. The
clinical treatment, until then, is based on drugs such as betahistidine, cinnarizine, clonazepam,
diazepam, dimenhydrinate + pyridoxine, domperidone, flunarizine, Ginko biloba, meclizine,
ondansetron, pentoxyfylline or promethazire that are recommended to minimize or eliminate
vertigo and associated symptoms. In extreme cases, the surgical section of the vestibular
nerve and the destruction of the labyrinth due to drug injections. The rehabilitation is one of
the therapies proposed in the treatment that can provided by the three-dimensional movement
of the horse.

Objective: The objective of this study was to verify the effect of the therapeutic riding in
patient with Meniére disease no responding to the traditional clinical treatment along 8-15
years. Methodology: 5 patients were treated, aged at 40-50, male and female, extremely
tense, all diagnosed by electrocochleography and electronystagmography exam with deficient
outlying vestibulopatia, no responding to the medication along 8-15 years. The patients,
under suspended medication, were submitted to a 30 minute weekly section of therapeutic
riding for 2 months. Techniques of sensorial-motor stimulation that unbalance the practitioner 117
and activate the proprioceptores of the muscular spindle had been used during the therapy
sessions. The electrocochleography exam was accomplished before and after the treatment
for comparison of clinical diagnoses. Results: Although some scholars believe that the
vestibular system can supply other systems, but cannot be supplied, we observed, compared
the initial and final exam results that the therapeutic riding contributed to the initial and
final exam results that the therapeutic riding contributed to the work as an auxiliary method
for vestibular rehabilitation in Meniére disease.

1-INTRODUÇÃO

O sistema vestibular, também chamado de órgão do equilíbrio (Douglas, 1999) é composto


por um aparelho vestibular, núcleos vestibulares e conexões com o córtex cerebral (Machado,
2000). O aparelho vestibular é o órgão que detecta as sensações de equilíbrio e sua parte
funcional, chamada labirinto, é composta pela cóclea, por três canais semicirculares e duas
câmaras chamadas utrículo e sáculo (Guyton, 1992).

De acordo com Ganança e cols (2004), a disfunção do sistema vestibular pode ser causada
por afecções no sistema nervoso central (vestibulopatia central) ou periférico (vestibulopatia
periférica) e ocorre com maior incidência no sexo feminino.

A doença de Meniére é uma vestibulopatia periférica, de etiologia e fisiopatologia


desconhecidas, com incidência variável entre 10 a 150 casos a cada 100.000 pessoas. É uma
doença crônica, de piora progressiva, relacionada à pressão anormal do labirinto pela
expansão da endolinfa. Apresenta como sinais clínicos peculiares vertigem aguda, sensação
de plenitude e tinido no ouvido, oscilopscia, náuseas, vômitos e perda de audição flutuante
(Kandel e cols, 1997). De acordo com Schessel (1990), a vertigem é infreqüente, enquanto a
surdez, a falta de equilíbrio e a oscilopsia (sensação subjetiva de objetos visuais saltando
para cima e para baixo) são sintomas comuns da doença.

Os autores Schessel (1990) e Ganança (2004b) afirmam que o tratamento clínico para a
doença de Meniére é, geralmente, baseado em drogas que apenas suprimem as vertigens;
nos casos extremos o nervo vestibular pode ser seccionado cirurgicamente para aliviar os
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

sintomas, e/ou a destruição do labirinto por injeção de drogas também pode ser usada para
controlar as náuseas e vômitos. Por outro lado, os autores Ramos( 2000); Ganança (1996);
Barbosa e cols (1995) e Hecker e cols (1974) citam outros tipos de tratamentos complementares
para a reabilitação do sistema vestibular, como exercícios específicos para o equilíbrio,
alimentação específica e a correção de hábitos e vícios que estão relacionados aos fatores de risco.

A equoterapia, segundo Texeira (1999), é um dos tratamentos que proporciona benefícios


ao sistema vestibular por ser capaz de suprir o déficit de estimulação tátil-proprioceptiva e
vestibular. O autor afirma que o movimento tridimensional, rítmico e balançante
proporcionado pelo cavalo ao praticante estimula o sistema vestibular, melhora a consciência
espaço-temporal, a concentração, o equilíbrio e consolida a segurança gravitacional (Uzun, 2005).

Na equoterapia, o cavalo é o mediador responsável pela reabilitação, pois, quando está ao


passo, seu dorso promove no cavaleiro movimentos tridimensionais (deslocamentos em 3
eixos: vertical, horizontal e diagonal) e também movimentos de translação e rotação de 5º
118
da cintura pélvica, exigindo deste a participação do corpo inteiro (ANDE, 2004a; ANDE,
2004b; ANDE, 2005 e Cazzarim, 2005).

Assim, os movimentos multidirecionais proporcionados pelo cavalo ao passo acionam o


sistema nervoso central do indivíduo, atuando, portanto como instrumento
cinesioterapêutico, proprioceptivo e facilitador do processo ensino-aprendizagem (ANDE
2005 e Severo, 2005).

Walter & Vendramini (2000) e Cirillo (2005) enfatizam que a equoterapia proporciona aos
praticantes benefícios físicos, psicológicos, educacionais e sociais. Relatam que essa atividade
exige a participação do corpo inteiro, contribuindo, assim, para o desenvolvimento do tônus
e da força muscular, relaxamento, conscientização do próprio corpo, equilíbrio, o
aperfeiçoamento da coordenação motora, melhora da autoconfiança e da auto-estima.

Segundo Strauss (2000), a reabilitação do equilíbrio é possível porque este é estimulado durante
a equoterapia. Durante o passo do cavalo, os movimentos multidirecionais desequilibram o
corpo do indivíduo em relação à linha mediana gravitacional, e para que ele consiga manter-
se sobre o cavalo, é necessário que reaja aos deslocamentos através da coordenação de todo
o aparelho locomotor e das reações de equilíbrio e endireitamento.

Uzun (2005) cita do Manual de R.E./ANIRE, que o corpo quente do cavalo, a pressão sobre
as articulações da pélvis e da coluna vertebral e as modificações no tempo e no espaço são
percepções sensoriais proporcionadas ao praticante que constituem os elementos de uma
intensa estimulação sensório-motora.

Sendo assim, a equoterapia é um método extremamente benéfico ao portador da síndrome


vestibular periférica, por proporcionar o reequilíbrio dos sistemas sensoriais, físico e psicológico
do indivíduo. Sabe-se que os movimentos contínuos promovidos pelo cavalo proporcionam
inputs no sistema vestibular, ocorrendo reajustes constantes pelas reações de equilíbrio e
endireitamento para o desenvolvimento do controle potural (Hammer, 2004).

Para ISONI, o movimento cadenciado a cavalo educa a mente e predispõe o praticante a


novas atitudes, maior atenção, melhor equilíbrio e coordenação (ANDE, 2004a; ANDE, 2004b;
ANDE, 2005).

“A interferência da equoterapia no equilíbrio da coluna e pelve por meio da XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
adequação do tônus, ritmo e simetria se exercita nas articulações intervertebrais,
o que leva a uma postura fisiologicamente correta. Existe uma estimulação
permanente e constante dos órgãos do equilíbrio, o que leva a um aprendizado
sensório-motor, conseguido com o movimento global de todo o corpo”
(BAUMANN, 1978).

Ganança e cols (2004a) demonstraram em pesquisa que pacientes com síndrome vestibular
periférica deficitária / irritativa apresentaram prejuízo na qualidade de vida, tanto em relação
aos aspectos físicos, como funcionais e emocionais, verificados à aplicação do DHI brasileiro
(questionário elaborado pelos autores da pesquisa com o objetivo de mensurar os efeitos
impostos pela vertigem nas funções de vida diária destes pacientes). A equoterapia seria
portanto mais uma alternativa de tratamento para a melhora da qualidade de vida destes
pacientes.

119
2 - OBJETIVO

O objetivo deste estudo foi verificar, através de mensurações concretas, o efeito da equoterapia
em pacientes portadores de doença de Meniére não responsíveis ao tratamento tradicional.

3 - METODOLOGIA

Participaram da pesquisa seis pacientes, adultos, de ambos os sexos, com idade variável
entre 40 e 50 anos, encaminhados pelo mesmo médico otorrinolaringologista, com diagnóstico
de síndrome de Meniére associada à síndrome vestibular periférica deficitária (SVPD) ou
irritativa (SVPI) que não respondiam ao tratamento medicamentoso há 8-17 anos em média
(tabela 1).

O grupo foi submetido aos exames eletrococleografia (ECG) e vecto-eletronistagmografia


(VENG), exames estes capazes de mensurar as vestibulopatias em seus diferentes graus de
evolução, antes e depois do tratamento de equoterapia para comparação de diagnóstico
clínico.

O exame VENG é muito importante pelo diagnóstico diferencial entre as síndromes


vestibulares periféricas (SVP) e as síndromes vestibulares centrais (SVC). Ele permite uma
análise quantitativa através da utilização de três canais de inscrição que registram a
movimentação ocular nos sentidos horizontal, rotacional e vertical ou oblíqua.

O exame ECG é responsável por diagnosticar a presença da síndrome de Meniére.

A partir dos exames VENG e ECG, foram selecionados os pacientes que apresentaram
diagnóstico de síndrome vestibular periférica deficitária ou irritativa associada à síndrome
de Meniére.

Todos os pacientes, sob medicação suspensa, foram submetidos a oito sessões, ininterruptas,
de 30 minutos de equoterapia, uma vez por semana.

O percurso utilizado durante as sessões foi em terreno irregular, para provocar maior número
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

de ajustes tônicos. O redondel foi utilizado para estimular o labirinto; movimentos em


ziguezague para trabalhar o equilíbrio; e as ações de stop and go para provocar reação de
equilíbrio, proteção e endireitamento.

Foi priorizado o uso de manta para aumentar o estímulo vestibular, pois este equipamento
proporciona maior contato entre o praticante e o cavalo e isto favorece o trabalho
proprioceptivo para maior estímulo sensório-motor.

4 - RESULTADOS

A caracterização do grupo de estudo, demonstrada no Quadro 01, compõe-se de seis


praticantes, sendo quatro do sexo feminino (66,67%) e dois do sexo masculino (33,33%). A
média de idade varia em torno de 45 anos, sendo que as mulheres atuam em trabalhos
domésticos, e os homens como motoristas. O tempo de diagnóstico da patologia resulta
120 numa média de treze anos.
QUADRO 01 - Características dos Praticantes

Praticante Sexo Idade Profissão. D.I.S.


01 F 49 anos Do lar 1992
02 F 54 anos Do lar 1989
03 M 40 anos motorista 1997
04 M 50 anos motorista 1993
05 F 37 anos doméstica 1998
06 F 44 anos Do lar 1989
Legenda: F: feminino; M: masculino; D.I.S.: data do início dos sintomas.

No quadro 02, apresenta-se o diagnóstico ao exame vecto-eletronistagmografia demonstrando


a evolução dos praticantes, sendo que os praticantes 01 e 03 evoluíram da síndrome vestibular
periférica deficitária (SVPD) para a síndrome vestibular periférica irritativa (SVPI).

Quadro 02 - Exame1: Vecto-eletronistagmografia

Praticante 1º DIAGnóstico 2º dIAGnóstico


01 SVPDd S.V.P.I.
02 S.V.P.D. normalidade
03 S.V.P.D.e. S.V.P.I.
04 S.V.P.D.e. S.V.P.D.e. com melhora da audiometria tonal
05 S.V.P.I.e. S.V.P.I.
06 S.V.P.D.bilateral S.V.P.I.d.
Legenda: SVPDe: síndrome vestibular periférica deficitária à esquerda; SVPDd: síndrome
vestibular periférica deficitária à direita; SPDI: síndrome vestibular periférica irritativa.

O indivíduo 02, com o diagnóstico inicial de SVPD, após o tratamento, apresentou


normalidade aos exames.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


O praticante 06, com quadro inicial de SVPD bilateral, evoluiu para a SVPI unilateral à
direita.

Os respectivos pacientes 04 e 05 apresentaram leve melhora, com o quadro de SVPDe e


SVPIe para a estabilização do quadro com melhora apenas na audiometria tonal, e para
SVPI.

5- DISCUSSÃO

No presente estudo, pôde-se verificar que a busca pelo atendimento predominante foi do
sexo feminino, talvez podendo ser confirmada por Barbosa e cols (1995) e Assunção e cols.
(2002), quando citam que a disfunção do sistema vestibular, principalmente as afecções
vestibulares periféricas, ocorre com maior incidência no sexo feminino. No entanto, a amostra
não é quantitativamente suficiente para a comprovação do mesmo.

121
A média entre as idades dos pacientes desta pesquisa foi de 45 anos. Ganança e cols. (2004a)
realizaram uma pesquisa com uma população mais velha, média de 67 anos, afirmando que
o quadro vertiginoso pode estar associado à senilidade pelo uso de medicamentos contínuos.
Já para Netto (1997ª) e Netto (1997b), o processo de envelhecimento humano inicia-se a
partir dos 30 anos de idade, quando todo o sistema do organismo começa a sofrer modificações.
Rosenhall (1975) afirma que o sistema vestibular inicia este processo, com maior freqüência,
a partir dos 40 anos de idade, quando começa a ocorrer a diminuição da excitabilidade do
sistema vestibular periférico e central, redução na capacidade de compensação dos reflexos
vestíbulo-ocular e vestíbulo-espinal, diminuição do nistagmo optocinético (do movimento,
de perseguição e dos sacádicos) e redução dos testes calórico e rotacional.

Lourenço e cols. (2005) encontraram prevalência numa faixa etária menor, equivalente a
20-39 anos, seguida da idade entre 40-59 anos. Assunção e cols. (2002) observaram que a
idade predominante está entre 38 a 46 anos, média próxima desta pesquisa.

No início da pesquisa, somente um praticante não apresentava o quadro da síndrome


vestibular periférica deficitária (SVPD), que é a considerada com pior prognóstico em relação
à SVPI, com perda considerável da função vestibular (Ganança, 2004a).

O trabalho de reabilitação vestibular é uma das terapias propostas como coadjuvante no


tratamento do indivíduo portador de síndrome vestibular periférica e é muito utilizado na
fisioterapia neurológica que trabalha a estimulação sensório-motora do paciente através de
movimentos antero-posterior, laterolateral e craniocaudal, com bola e rolo (Bobath, 1982 e
Uzun, 2005).

Uzun (2005) relata que, apesar de existirem na fisioterapia neurológica técnicas específicas
e métodos avançados para a reabilitação vestibular, o movimento multidirecional e o despertar
de um conjunto de emoções proporcionadas pelo cavalo ao paciente faz da equoterapia um
método de reabilitação diferente de qualquer outro método terapêutico, capaz de auxiliar
de maneira rápida e positiva o reequilíbrio do sistema vestibular do indivíduo portador de
síndrome vestibular periférica.

Os praticantes estavam somente realizando o tratamento com a equoterapia, e conseguiram


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

evoluir devido ao movimento tridimensional proporcionado pelo cavalo, pois as oscilações


promovidas por este movimento estimulam o sistema vestibular pela necessidade de ocorrer
as reações de endireitamento e equilíbrio para a manutenção do alinhamento corporal
(Hammer e cols, 2004).

Conforme dito anteriormente, o cavalo ao passo faz com que a pessoa que o monte execute,
mesmo que involuntariamente, movimentos semelhantes aos realizados durante a marcha
humana, isto é, como já dito por Strauss (2000), é um andar sem pernas, pois o cavalo
caminha pelo paciente. Movimentos tridimensionais nas horizontais (direita, esquerda, frente
e trás) e nas verticais (para cima e para baixo) e movimentos de translação e rotação de 5º da
cintura pélvica são transmitidos do dorso do cavalo ao corpo do cavaleiro. Assim, conforme
demonstrado em pesquisas e citado por Calill (2004), após 30 minutos de montaria ao passo,
os movimentos proporcionados pelo cavalo promovem em média 30 mil ajustes tônicos no
corpo do praticante. Estes movimentos deslocam o corpo do indivíduo de seu centro de
gravidade, e assim a participação do corpo inteiro é exigida para que ele consiga permanecer
122 sobre o cavalo. Todo este processo, que está diretamente relacionado com a propriocepção e
reação de endireitamento, que resultam no desenvolvimento do equilíbrio, da normatização
do tônus muscular, do controle postural, da coordenação, redução de espasmos, melhora da
respiração e das informações proprioceptivas que estimulam não apenas o funcionamento
dos ângulos articulares, como também dos músculos e da circulação sanguínea.

Sendo assim, o movimento tridimensional estimula o SNC do cavaleiro que transmite


simultaneamente estímulos nervosos aos proprioceptores da musculatura do pescoço (via
retículo-espinal) e ao sistema vestibular (via vestíbulo-espinal), resultando no equilíbrio
postural que ocorre se houver coordenação motora e sincronismo entre contração e
relaxamento dos músculos necessários à marcha ritmada e cadenciada. Portanto os
movimentos proporcionados pelo passo do cavalo ao cavaleiro promovem, mesmo que
involuntariamente, os benefícios resultantes de um trabalho de estimulação sensório-motora.

“Citterio (1999), considera como hipótese a ação cinética e dinâmica realizada


pelo cavalo e a relativa reação desenvolvida pelo sujeito com patologias cerebrais
nos três eixos do espaço. Relata que fica evidente a necessidade de movimentos
de antecipação, orientação e adaptação que envolvam o sistema nervoso
neuromotor e neuropsíquico e também nas funções corticais superiores” (UZUN,
2005, p.85-86.).

Também estão associados ao trabalho todos os sistemas sensoriais, como o proprioceptivo e


visual, que são colaboradores do equilíbrio.

Segundo ISONI (2002), o movimento cadenciado do cavalo ao passo educa a mente e


predispõe o praticante a novas atitudes, maior atenção, melhor equilíbrio e coordenação
(ANDE, 2004a e ANDE, 2005).

O cavalo serve de motivador não somente da reabilitação sensório-motora, mas também da


emocional. Ganança (2004a) afirma que os pacientes portadores da SVPD apresentam uma
qualidade de vida inferior e quadro emocional instável, e todos os que apresentavam esse
quadro evoluíram para SVPI.

Como não se sabe a etiologia e fisiopatologia exatas da doença de Meniére, também não se
sabe ao certo a melhor forma de tratamento da patologia.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Embora a pesquisa tenha sido realizada com um número limitado de pacientes, a melhora
demonstrada nos exames foi bastante significativa, se considerarmos o reduzido número de
sessões que foram realizadas sem interferência de qualquer outro tipo de tratamento e ainda
os muitos anos de medicamentos aos quais estes pacientes foram submetidos sem atingir
melhora do quadro. A este estudo é dada uma conotação inovadora, e sugere-se a necessidade
de maior número de pesquisas neste aspecto de terapia.

6 - CONCLUSÃO

A equoterapia mostra-se eficaz no tratamento das vestibulopatias, como a doença de Meniére.


Embora a pesquisa tenha sido realizada com um número limitado de pacientes, a melhora
demonstrada nos exames foi bastante significativa se considerarmos o reduzido número de
sessões que foram realizadas sem a interferência de qualquer outro tipo de tratamento. A
123
este estudo é dada uma conotação inovadora, e sugere-se a necessidade de mais estudos
neste aspecto de terapia.

7 - REFERÊNCIAS

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125
PÔNEIS COMO FACILITADORES NA EQUOTERAPIA

Autora: Heloisa Bruna Grubits Freire - Brasil

EQUOTERAPIA

Uma análise da relação cavalo/ser humano revela a ausência de preconceitos já que, quando
demonstrando afeição, o animal desconsidera qualquer “dano” na aparência da criança ou
adulto. Além disso, como um ser vivo, o cavalo tem suas próprias reações e demanda
compreensão, atenção e afeição de quem o monta. A estimulação fornecida pelo animal
pode também ser aumentada através de trabalho complementar com exercícios e propostas
que levem a pessoa a buscar soluções criativas para seu crescimento e desenvolvimento
biopsicossocial.

As terapias que usam animais fornecem benefícios em termos de bem-estar físico e emocional.
Muitos estudos mostram os ganhos trazidos pela interação homem-animal. Essa relação é
geralmente classificada de duas maneiras: como promotora da saúde humana e como terapia
específica (FINE, 2000).

“As terapias que utilizam cavalos podem ser consideradas como um conjunto de técnicas
reeducativas que auxiliam na superação de danos sensoriais, motores, cognitivos e
comportamentais, através de atividades desportivas/lúdicas usando um cavalo”
(CITTERIO,1991).

Além do mais, os aspectos social, orgânico e afetivo são tratados conjuntamente à terapia
em si, atingindo, portanto, os objetivos de uma reabilitação global. Ainda de acordo com
este autor, a equoterapia favorece a reintegração social pelo contato do indivíduo com outros
pacientes, a equipe de cuidados e o animal, que o traz mais próximo à sociedade na qual ele
vive.

Além de sua função cinético-terapêutica, o uso de cavalos em tratamentos tem uma


participação importante no aspecto psíquico, já que o indivíduo usa o animal para desenvolver
e modificar suas atitudes e comportamentos (GAVARINI, 1997).
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Quanto à psicomotricidade, nós observamos que o contato físico dinâmico com o animal
induziu o aprendizado de movimentos rítmicos, a aquisição de equilíbrio, desinibição,
confiança e autoconsciência motora (SALVAGNI, 1999).

De acordo com Garrigue (1999), tais efeitos incluem os seguintes aspectos:

Relacionamento

A plena valorização do indivíduo no cavalo, comunicação, autoconfiança, autocontrole,


supervisão, monitoramento do relacionamento, atenção e tempo de atenção.

Psicomotricidade

Melhorou a tonicidade, mobilização da articulação da espinha e pelve, melhor equilíbrio e


126 postura do tronco ereto, obtenção de lateralidade foi favorecida, melhor percepção do
diagrama do corpo, melhor conhecimento de posições do próprio corpo e também as do
cavalo.

Natureza técnica (o cavalo)

Aprendizado relacionado aos cuidados ao animal: estábulos, alimentação, compressas,


colocação da sela e o arreamento e, acima de tudo, técnicas de montaria.

A integração à sociedade

O contato com o animal, com a equipe do centro de equitação, com os outros membros do
grupo, com os outros cavaleiros no centro de equitação, e, quando possível, com os habitantes
da vizinhança, durante as cavalgadas.

AUTISMO

De acordo com o DSM-IV (2003), o distúrbio autista ou o autismo pré-infantil é um distúrbio


de desenvolvimento permeado, definido pela presença de desenvolvimento anormal e/ou
comprometido, que se manifesta antes da idade de três anos e por um tipo característico de
funcionamento anormal em três áreas: interação social, comunicação e comportamento
repetitivo e restrito. Sua ocorrência é de 4 a 5 para 10.000, e é preponderante em indvíduos
do sexo masculino (3:1 ou 4:1), derivando de um vasto leque de condições pré, peri e pós-
natais.

De acordo com Scwartzman (1995, p. 17), o autismo de infantil “é uma síndrome


caracterizada por mudanças presentes desde idades razoavelmente tenras e sempre
manifesta-se por desvios nas áreas do relacionamento interpessoal, linguagem / comunicação
e comportamento”.

EQUOTERAPIA E AUTISMO

O desenvolvimento da função motora através da equoterapia é muito significativo em autistas


e pode ter impacto imediato nos hábitos de independência, sugerindo a necessidade de um
trabalho intensivo como meio de ter impacto sobre os aspectos afetivo, cognitivo e também

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


social (FREIRE, 1999).

Este recurso terapêutico pode melhorar as relações sociais de crianças autistas com o
favorecimento de uma melhor percepção do mundo externo e adequação nos ajustes tônico-
posturais (FREIRE, 2003).

De acordo com Roberts (2002), há semelhanças entre comportamentos autistas e algumas


atitudes do cavalo. Barulhos fortes, mudanças na rotina e ambientes desconhecidos causam
insegurança em ambos, e grande parte da comunicação que eles estabelecem depende de
linguagem corporal.

Eles toleram uma quantidade restrita de contatos físicos, que nunca ocorrem por imposição.
De acordo com este autor, a capacidade instintiva do cavalo de perceber as intenções do
cavaleiro leva o animal a acalmar-se quando montado por um autista. O contato com animais
pode gerar troca de expectativas e de representação de regras sociais, quando usado em
terapias (WILSON & TURNER, 1998). 127
Do primeiro contato e cuidados preliminares ao cavalgar em si, a interação com cavalos
também desenvolve novas formas de comunicação, socialização, autoconfiança e auto-estima.
Deve-se ter em mente que crianças podem ter dificuldades em aprender por instruções verbais
e que uma repetição constante e orientação de corpo por gestos e mímicas são necessárias.
As crianças freqüentemente mostram pouco ou nenhum interesse para com os cavalos, ou
aos outros cavaleiros ou instrutores. Não obstante, ao progredir, elas gradualmente se apegam
a um cavalo ou a uma pessoa.

Em trabalhos com crianças psicóticas, pôneis são usados para entrar em “contato”. Isso as
ajuda a entrar em “nosso” mundo por abrir um canal de comunicação “social” (RAPENE,
1998). O autista pode olhar, tocar, e este “objeto” não está estático. Além de suas utilidades
e possibilidades, tal conhecimento gera comparações entre as partes do corpo do cavalo e o
da própria criança. Os cavalos não são predadores e suas reações de alerta servem como
uma defesa contra atacantes e garante sua proteção. A criança começa a perceber as reações
do pônei e sente-se estimulada a aproximar-se dele.

Os aspectos principais a serem observados no comportamento do autista durante sua


aproximação ao cavalo são percepção do outro, atenção (auditiva ou visual) focalizada em
um membro da equipe, imitação, jogo social, tagarelar comunicativo, mímicas, linguagem
falada, sorrisos como resposta, postura corporal ou gestos para começar ou modular interação,
percepção relacionada ao mundo externo, reação de evitamento ao cavalo, estado de
excitação, aversão ao contato físico, obediência a ordens simples, percepção, exploração e
relacionamento com o animal, iniciativa própria e dispersão (FREIRE, 1999).

O TRABALHO COM PÔNEIS

O objetivo deste estudo é ilustrar o processo de percepção da criança autista em relação ao


cavalo e sua aproximação a ela, seus relacionamentos com a equipe, seu superar de temores
e aquisição de confiança e como, por esta proximidade, fomos capazes de obter ganhos no
nível terapêutico.

Este trabalho é caracterizado como um estudo de caso de validação clínica com uma
abordagem qualitativa, cujo sujeito foi um garoto de 3 anos com distúrbios autistas,
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

classificados de acordo com o DSM-IV (2003).

O tratamento equoterapêutico recorreu a um minipônei com uma sela australiana, tapa-


olhos e cabrestos.

Os pôneis apresentam características que ajudam o trabalho de aproximação, tais como: sua
altura, que os torna menos ameaçadores; docilidade; facilidade de andar em vários lugares,
freqüentemente inacessíveis a cavalos mais altos.

Para registrar as sessões, nós usamos o padrão PROEQUO de registros diários, registro
contínuo, tabelas de observação de comportamento autista na equoterapia (ECCA,1999),
fotografias e entrevistas com familiares.

O tratamento aconteceu no Instituto São Vicente, a escola universitária de fazenda que rege
o Programa de Equoterapia da Universidade Católica Dom Bosco (PROEQUO-UCDB).
128
O tratamento foi administrado por dois estudantes universitários, recrutas no curso de
psicologia, um psicólogo e um fisioterapeuta.

As sessões de 30 minutos aconteceram a cada semana durante dois períodos escolares, e os


dados foram coletados por observação, registro contínuo e fotos.

O tratamento visou ter o paciente aceitando o cavalo, usando o espaço existente no


PROEQUO, permitindo assim sua adaptação aos membros da equipe de cuidados e para a
exploração do lugar, onde a natureza é abundante e oferece caminhos nos bosques, vários
tipos de superfície (areia, ervas daninhas, água) e uma escola de equitação a céu aberto.

Relatamos abaixo alguns fragmentos de sessões:

Durante as primeiras sessões, C. não aceitou nenhum contato com a equipe, e permaneceu
somente com sua mãe.

Os membros da equipe inicialmente procuraram estabelecer contato com a criança usando


os recursos naturais existentes no lugar (lagoa, árvores, o canto dos pássaros, texturas de
materiais achados na natureza), e sempre tentaram despertar seu interesse e atenção. Depois
deste período, o sujeito pôde permanecer só com os terapeutas.

Depois deste contato inicial (aproximadamente três semanas), o cavalo entrou neste
relacionamento, e os jogos sempre aconteceram na presença do potro. C. ignorou-o e todas
as tentativas de aproximá-lo foram recusadas com lágrimas e gritos. Ele normalmente fugiu,
correndo, embora tenha parado rapidamente algumas vezes para olhar para trás, como se
pedisse para que nós o seguíssemos para longe do animal.

A escolha de um minipônei foi feita por sua pequena estatura e sua docilidade, o que facilita
seu manuseio e companhia durante o tratamento, e ajuda a reduzir o temor da criança, já
que lida com um animal menor nesta fase inicial.

Começamos a compreender que C. às vezes parou para observar algumas reações do cavalo.
Daí em diante, temos relatórios de suas conversas como: “Olá Renatinho” (o nome do pônei).
Todas as nossas tentativas de pôr C. no cavalo foram frustradas, já que ele só ficaria mais
próximo a ele quando quisesse.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Com o andamento das sessões, percebemos que C. tornava-se crescentemente curioso sobre
o animal e explorava o ambiente, o que chamou a atenção do pônei. Quando o cavalo
pastava, ele arrancava mato do chão ao seu lado e o dava ao terapeuta, puxando sua mão,
sinalizando para que ele desse o (mato) ao cavalo.

Quando entrou na floresta ao lado de “Renatinho”, ele sentiu as reações atentas do animal,
parou de andar e olhou ao redor, demonstrando que percebeu o ambiente.

Durante o trabalho, ele começou a explorar a sela, observando suas partes e dando tapinhas
no assento.

Em sua primeira montaria, parou na frente do cavalo e tocou sua face com uma das mãos.
Ele então parou ao lado e fez o mesmo na sela; depois segurou-o e gesticulou como se fosse
montar. Nós o sentamos no cavalo e ele deu algumas voltas antes de tentar descer, de modo
129
que o ajudamos. Pela primeira vez, despediu-se da equipe e foi embora. Enquanto cavalgava,
ele cantou.

Daí em diante, quando C. chegava às sessões, ele corria para ver os cavalos que estavam
amarrados, brincava com eles, mas recusou-se a montar ou pedia por gestos para fazê-lo e
permanecia no cavalo durante um curto período de tempo.

Pelo fim do segundo período de trabalho, C. já aceitava cavalos maiores e começou a mostrar
sinais de relaxamento, explorava as partes do animal durante sua cavalgada e chamava a
atenção da equipe através de “pequenos golpes” e risadas.

A mãe de C. contou-nos que ele estava verbalizando mais e observava mais situações e
objetos.

Nossas conclusões demonstram que o contato com a equipe de cuidados e o cavalo gerou
ganhos mesmo quando a equitação de fato não ocorreu. O cavalo tornou-se atraente para o
autista, estimulou seu contato visual e expressão corporal, mais uma vez tendo o papel de
um facilitador no relacionamento social destas crianças.

Tal evidência corrobora com a literatura, em que Roberts (2002) menciona que andar de
cavalo não só estimula o desenvolvimento do ser humano como um todo, mas também tem
aumentado os benefícios através do estímulo do ambiente; o barulho das folhas das árvores,
a sensação do vento no rosto, e a experimentação de uma variedade de aromas.

Quando se trabalha com autistas, a equipe tem de entender qual momento de seu
relacionamento com o cavalo os pacientes estão experimentando, de modo que possam ficar
mais próximos, já que perceber e aceitar o animal pressupõe curiosidade e contato com a
realidade experimentada em tal momento.

Usar um pônei permitiu-nos compreender de ficar mais próximo ao animal é menos


ameaçador por causa de sua pequena estatura. A criança facilmente pode tocá-lo, explorar
suas partes e interagir com ele, sentindo de perto suas reações. O trabalho de descoberta
também tornou-se mais seguro, já que foi dada mais liberdade ao terapeuta para preocupar-
se com a criança.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Tanto com o cavalo mais alto quanto com o pônei, a percepção do momento que a criança
experimentava foi crucial nas tentativas de trazê-la mais próximo ao animal.

Durante os dois períodos, quando tentamos tê-lo mais próximo, todos os familiares
confirmaram nossas conclusões durante o trabalho, já que fora do ambiente da equoterapia,
ele começou a observar o mundo ao redor de si, fazer mais gestos com a intenção de se
comunicar e seu comportamento permitiu uma aproximação e a ter contato com as pessoas.
Concluímos que o pônei também facilitou nosso paciente a ficar mais próximo devido ao seu
aspecto brincalhão, o que permitiu que este “jogo” fosse posteriormente transferido ao cavalo
mais alto.

Os resultados confirmam a teoria que diz que a percepção que as crianças apresentam do
outro, do jogo social, da mímica, da postura de seu corpo ou dos gestos para estabelecer ou
modular interação, do mundo externo, da exploração e relacionamento com o animal, e de
que possui iniciativa, de acordo com Freire (1999), são pontos importantes.
130
Este estudo não procura generalizações, mas demonstra que o trabalho envolvendo animais
é extremamente importante e que seus resultados são válidos quando aplicados a crianças
autistas. Em nosso caso, facilitou o cavalgar e melhorou os aspectos cognitivos, afetivos e
sociais.

Programa de Equoterapia da Universidade Católica Dom Bosco / PROEQUO-UCDB


freirejb@terra.com.br

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131
ANÁLISE COMPARATIVA ELETROMIOGRÁFICA DO MÚSCULO
ERETOR LOMBAR EM PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL
QUE TOMAM DIFERENTES POSIÇÕES SOBRE O CAVALO

Autor: Mayari Ticiani Sakakura - Brasil


Co-autores: Rebeca de Barros Santos,
Fábio Navarro Cyrillo,
Adriana Pagni Perdigão,
Camila Torriani

Introduction: Cerebral Palsy appears frequently in neurological rehabilitation. This pathology


is mostly characterized by a motor disturb during the first childhood, as a result of some
cerebral disorders. Central Nervous System lesions are a constant challenger for rehabilitation
professionals, due to diverses tonus pathological disorders. The therapeutic horse riding is a
complement to rehabilitation program, the integration with this animal helps patients,
stimulating neuropsychomotor reorganization. Objective: The aim of present study was
analyze the lumbar erector muscle recruitment, comparing with postures on land and over
the back of the horse. Using these data, hippotherapy programe may become more specific,
getting biomechanical evidences on rehabilitation program. Method: Participated on this
study a 8 years old female bearer cerebral palsy subject, caracterized by distonic tetraparesis,
having as maining motor disorder trunk and members incoordination, with lumbar erector
muscle deficit. Before data colection, skin asepsis with an alcohol field cotton was done.
Using Electromyography surface MIOTEC® and a software Myography with 4 channels,
bipolar circle surface silver electrodes Medtrace® spacing=2.5cm, was used positioned at
erector lumbar muscle motor point, according to the technique suggested by Cram et al.
(1998). The posture variations were seated on horse back: frontal posture, right lateral side
(related to horse’s head), left lateral side and dorsal seated posture. Each variation was
analized with the horse stopped and walking on a straight direction, during 30 seconds.
Results: Using Surface Electromyographic analizes, the muscle recruitment was of 32,10µV
on the right side and 46,00µV on the left side with the patient on the frontal posture and the
horse stopped. When the horse was walking, muscle activity were 57,70µV on the right side
and de 67,33µV on the left side. On the right lateral posture with the horse stopped, muscle
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

recruitment was 30,36µV on the right side and 35,57µV on the left; with horse walking,
muscle activity was 51,57µV on the right and 50,17µV on the left. On the left lateral posture
with the horse stopped, erector lumbar muscle recruitment was 9,77 µV on the right side
and 8,98µV on the left; when the horse was walking, muscle activity was 98,55µV on the
right and 95,46µV on the left side. At dorsal posture with the horse stopped, muscle
recruitment was 26,02µV at right and 31,32µV at left side; and with the horse walking the
activity was 112,06µV on the right and 109,89µV on the left side. Discussion and Conclusion:
Biomechanical knowlege is a fundamental resource for health professional, specially when
therapists aims to work motor control, know when use each posture. Thus, recruiting better
these muscle groups, specially trunk extensors muscle, is essential to get to a better therapeutic
result. The posterior posture showed that recruits more muscle fibers when compared to the
other postures, so the work on this posture could offer a better muscle contraction intensity,
giving many therapeutic benefits to this patient. From this results, it turns necessary to get to
deeper on this line of research.
132
INTRODUÇÃO

A domesticação do cavalo e a descoberta da equitação tornam os destinos do homem e desse


animal inseparáveis através dos séculos, representando um salto no progresso da
humanidade. O cavalo foi utilizado como meio de veneração e de crença, na fabricação do
soro e da vacina, no transporte, no trabalho, no lazer e no esporte, sendo esse último
considerado, sob ótica da era moderna, o mais complexo, por nenhum outro desafiar tanto
a mente, mobilizando e interligando conexões neurais e combinação com a execução de
movimentos complexos para o praticante deste esporte. Atualmente lhe é dado grande
destaque na habilitação e educação no tratamento de pessoas portadoras de deficiências e/
ou com necessidades especiais (Medeiros, Dias, 2002).

O uso do cavalo como um agente facilitador no tratamento de doenças não é recente. Em


458-377 a.C., “com compêndio” de Hipócrates referiu-se à equitação como fator regenerador
da saúde, em especial no tratamento da insônia, além de afirmar que a “equitação praticada
ao ar livre faz com que os músculos melhorem o seu tônus”. Asclepíades de Prusia, em 124
a.C., indicou a equitação para tratamento de epilepsia e vários tipos de paralisia. No ano de
1569, Merkurialis descreveu em sua obra “De Arte Gymnástica”, que a prática eqüestre
reveste um rol importante e premente de exercícios, exercitando não só o corpo, mas também
os sentidos. Em 1704 Fuller publicou em seu livro “De Medical Gymnástica”, os efeitos
benéficos da equitação sobre o corpo e a psique, principalmente em indivíduos com
hipocondria. Samuel Theodor Quelmaz de Lipsia, em 1747, fez a primeira referência ao
movimento tridimensional do dorso do cavalo (ANDE-Brasil, 1992; Medeiros, Dias, 2002).

Já em 1782, Joseph C. Tissot, em sua obra “Gymnástica Médica ou Cirúrgica”, colocou em


evidência pela primeira vez as contra-indicações da prática excessiva desse esporte, além de
se referir aos benefícios dela. Goethe reconheceu o valor salutar das oscilações do corpo
acompanhando o movimento do animal, a distenção benéfica da coluna vertebral,
determinada pela posição do cavaleiro sobre a sela e o estímulo delicado, porém constante,
feito à circulação sanguínea (Ande-Brasil, 1992; Medeiros, Dias, 2002).

Segundo a Associação Americana de Hipoterapia, equitação terapêutica é definida como


um termo que se refere à utilização dos movimentos do cavalo como uma ferramenta por
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e profissionais de distúrbio de fala no tratamento
de debilidades físicas, limitações funcionais e deficiências físicas em pacientes com disfunção

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neuro-músculo-esquelética. Esta ferramenta é utilizada como parte de um programa de
tratamento integrado cujo objetivo é atingir resultados funcionais (Baker, Benjamin, 2001).
É desta forma que a equitação terapêutica vem se tornando um meio de habilitação física.
No tratamento clínico pode-se observar a evolução dos pacientes, porém é necessário
quantificar essa evolução. Com este objetivo este trabalho analisa quantitativamente pelo
meio da eletromiografia de superfície, o recrutamento da musculatura extensora de tronco
na criança com paralisia cerebral em diversas posturas sobre o cavalo (de frente, de lado
direito e esquerdo e de costas), facilitando assim entender a importância terapêutica da
equitação terapêutica no controle de tronco em crianças com paralisia cerebral.

“A paralisia cerebral é uma alteração da postura e do movimento, permanente mas não


imutável, resultante de uma desordem no cérebro, não progressiva, devido a fatores
hereditários, eventos ocorridos durante a gravidez, parto, período neonatal ou durante os
dois primeiros anos de vida” (Bobath, 1997).

133
Os primeiros relatos de paralisia cxerebral foram descritos em 1843 por William John Little,
um cirurgião inglês, que a definiu como uma patologia ligada a diferentes causas e
características, principalmente por rigidez muscular. O autor a caracterizava como uma
lesão que paralisava crianças no primeiro ano de vida, causando enrijecimento e espasticidade
muscular em suas pernas e em menor nível nos braços. Essa doença foi caracterizada por
vários anos como doença de Little, e atualmente é conhecida como paralisia cerebral a diplegia
espástica. Little sugeriu que crianças que nasciam após um parto complicado e tendo como
resultado a falta de oxigênio, tinham prejudicados os tecidos sensíveis do cérebro responsáveis
pelo controle do movimento (Diament, Cypel, 1996, NINDS, 1997, Rotta, 2002).

Os tetraplégicos são os grandes encefalopatas, cujo desenvolvimento psicomotor é


praticamente nulo. Permanecem deitados com os membros superiores em flexão e os inferiores
em extensão. Conseguem, quando o fazem, no máximo, permanecer sentados com apoio,
atados ao espaldar do leito ou da cadeira de rodas. Não conseguem manipular objetos ou se
alimentarem sozinhos (Rosemberg, 1995).

No subgrupo distônico, a desordem motora é caracterizada por uma súbita mudança


generalizada e anormal do tônus muscular. Especialmente, aumento no tônus muscular dos
extensores do tronco induzidos por estímulo emocional ou mudanças na postura dos músculos
do pescoço em movimentos e atos intencionais. Nesses casos, ocorre sempre uma forte
atividade reflexa primitiva que interfere no esforço motor voluntário. Esses pacientes também
têm uma tendência repetitiva de assumir posturas torcidas e manterem-se distorcidos, no
mesmo padrão estereotipado (Aicardi, Bax, 1992)

A criança com paralisia cerebral apresenta como principal o distúrbio motor, que por muitas
vezes leva à dificuldade na marcha por diversos fatores, entre eles a falta de controle do
tronco e desequilíbrio tônico.

A oscilação provocada pelo movimento tridimensional do cavalo pode produzir na cintura


pélvica do paciente montado movimentos correspondentes ao da pelve durante a marcha
(Fleck, 1992).

É de suma importância salientar que pelo alinhamento gravitário homem/cavalo, consegue-


se acionar o sistema nervoso central, alcançando objetivos neuromotores diversos, tais como:
melhora do equilíbrio, ajuste tônico, alinhamento corporal, consciência corporal, coordenação
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motora e força muscular (Medeiros, Dias, 2002).

Potenciais elétricos do músculo podem ser detectados por meio de eletrodos de superfície no
tecido muscular, que correspondem ao sinal eletromiográfico detectado no monitor
(Basmajiian, 1963; Basmajian, 1975; Smith et al, 1997; Binder-Macleod, 2001; Low e Reed,
2001).

A eletromiografia de superfície (EMGs) é o registro da atividade elétrica da membrana do


músculo em resposta à sua ativação fisiológica (Andrews et al, 2000; Kubler et al, 2001;
Robinson et al, 2001; Torriani e Cyrillo, 2003).

Os eletrodos são colocados sob a pele, captando a soma da atividade elétrica de todas as
fibras musculares ativas. Caracteriza-se por ser um método não invasivo e de fácil execução,
sendo largamente utilizado em áreas como o estudo cinesiológico e neurofisiológico dos
músculos superficiais.
134
MÉTODOS
Sujeitos
Participaram da coleta uma égua, sem raça definida; e uma paciente portadora de paralisia
cerebral do tipo tetraparesia distônica, do sexo feminino, com 8 anos de idade, atendida
previamente pela equitação terapêutica. A paciente não apresentava nenhuma restrição
para a montaria, como no caso de instabilidade atlanto-axial ou luxação de quadril. O
ambiente no que foi realizada a coleta era um picadeiro retangular aberto, com a pista
totalmente coberta por areia fofa, onde, durante o tempo de coleta, o ambiente não impedia
o movimento do cavalo.

Procedimentos
Foram realizados assepsia da pele com algodão embebido em álcool a 58%, colocado, na
região do ponto motor do músculo eretor lombar, dos eletrodos circulares pré-geldados de
cloreto de prata da marca MedTrace® e captação do sinal mioelétrico com o aparelho de
eletromiografia de superfície de 4 canais da marca Miotec®.

O tempo da coleta foi de 30 segundos em cada postura, e no caso o cavalo realizava 84


passos / minuto. Durante este período o paciente se manteve por todo o tempo sustentando-
se sozinho, sem auxílio de qualquer terapeuta; porém ao lado do paciente haviam dois
terapeutas, para a segurança do mesmo, e um condutor para o cavalo.

Realizada em ambiente aberto e em movimento constante, tanto o eletromiógrafo quanto o


notebook utilizado para o armazenamento dos dados foram adaptados de modo que se
mantivessem estáveis, conectados aos eletrodos de superfície por meio de cabo longo, e ao
mesmo tempo que acompanhavam a marcha do cavalo.

O estudo foi baseado na análise dos dados obtidos do resultado da eletromiografia, sem
análise estatística por se tratar do estudo de um caso, além do fato de o objetivo do trabalho
ser analisar comparativamente o músculo eretor lombar nas diferentes posturas sobre o
cavalo em apenas um paciente. As posturas coletadas do paciente sobre o cavalo foram
respectivamente com o cavalo estático e ao movimento; frontal, lateral direita, lateral esquerda
e dorsal.

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RESULTADOS

Analisando a coleta eletromiográfica realizada na paciente do estudo de caso, sexo feminino,


8 anos de idade, foram observados os seguintes resultados:

TABELA 1: Dados da coleta eletromiográfica do músculo eretor lombar direito e esquerdo.


Posturas Eretor lombar D Eretor lombar E
No cavalo estático de frente 32,10 46,00
No cavalo ao passo de frente 57,70 67,33
No cavalo estático lado D 30,36 35,57
No cavalo ao passo lado D 51,57 50,17
No cavalo estático lado E 9,77 8,98
No cavalo ao passo lado E 98,55 95,46
No cavalo estático de costas 26,02 31,32
No cavalo ao passo de costas 112,06 10 9,89
135
DISCUSSÃO

De acordo com os dados citados na tabela 1, pôde-se observar o nítido aumento do


recrutamento dos músculos eretores lombares quando o cavalo está ao passo, isto comparado
ao cavalo estático em quaisquer posturas. O maior grau de ativação muscular, ocorreu quando
o paciente foi colocado de costas no cavalo com este em movimento.

A variação do passo no cavalo, velocidade, estimulação da direção e equilíbrio têm como


resposta o deslocamento do centro de gravidade do paciente, facilitando na dinâmica da
estabilização postural e restabelecimento da desordem motora (Heipertz, 1977, Freeman,
1984, Riede, 1988, Strauss, 1995). Portanto, é necessário que o paciente se utilize de suas
reações de equilíbrio, aumentando o recrutamento muscular para manter-se sobre o cavalo
em movimento, preservando assim, o seu equilíbrio na postura realizada.

Gusman e Torre (1998) definem que as reações de equilíbrio servem para ajustar a postura,
manter e recuperar o equilíbrio antes, durante e depois do deslocamento do seu centro de
gravidade.

Severo (1999) define o equilíbrio como uma função essencial às posições estáticas e de
locomoção, centrada no sistema vestibular bilateralmente e em íntima ligação com as funções
cerebelares. Há uma verdadeira função orgânica e funcional entre a propriocepção, o
equilíbrio, a coordenação cerebelar, a visão e o próprio sistema motor de forma globalizada.
Segundo Kandel; Schwartz e Jessel (1997), os músculos axiais (tronco) e apendiculares
(proximais) do homem são usados na manutenção do equilíbrio postural, enquanto os
músculos distais são utilizados para atividade manipulatórias.

Então, além de beneficiar o equilíbrio, estabilizar a postura, restabelecer a desordem motora


do paciente, este ainda pode vivenciar a marcha. Portanto, na terapia, o paciente se beneficia
em muitos sentidos, obtendo melhor adequação postural, fortalecendo assim os músculos
que promovêm a estabilização do tronco, como no caso os eretores lombares.

A finalidade preliminar da terapia dos pacientes com PC é de manter a postura ereta estática,
que é a base para outras atividades motoras mais complexas. A equitação terapêutica utiliza
o contrapeso do corpo, junto com a variedade de balanços, como as estimulações aplicadas
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na pelve e ao corpo inteiro, desenvolve melhores reações do equilíbrio, melhora do controle


postural do tronco, ativa articulações da pelve e do quadril, resultando em uma melhor
adequação tônica (Bertoti, 1988).

No presente estudo de caso pôde-se observar por meio da eletromiografia de superfície, as


posturas sobre o cavalo, nas quais ficou evidente, pelo grau de recrutamento muscular, que
o cavalo proporciona ao indivíduo maior desequilíbrio quando está ao passo se comparado
ao cavalo estático, assim provocando a maior contração muscular do músculo eretor lombar.

O passo se caracteriza por uma andadura ritmada, cadenciada e em quatro tempos, ou seja,
ouvem-se quatro batidas distintas, nítidas e compassadas que correspondem ao pousar dos
membros do animal (Medeiros, Dias, 2002).

Para o trabalho da equitação terapêutica, o passo é o andamento ideal, e isto se dá a partir


da característica do passo, citadas anteriormente e pela principal característica descrita pelos
autores citados a seguir:
136
Segundo Medeiros e Dias (2002), na marcha, o ser humano se locomove utilizando as suas
pernas alternadamente. Enquanto uma perna estiver na fase de sustentação, a outra se
encontra na sustentação dupla ou na fase de impulsão. O peso corpóreo desloca-se durante
a marcha para adiante (anteriormente) pelo deslocamento do centro de gravidade e, para
não cairmos, ocorre o passo, reconstruindo o equilíbrio. O tronco gira em torno do seu eixo
vertical, a cintura escapular e a da pelve se contrapõem, dissociando-se. Durante o ciclo da
marcha ocorre um deslocamento de peso de um lado para o outro, que corresponde no
adulto a aproximadamente 0,5 cm.

O passo produz no cavalo e transmite ao cavaleiro uma série de movimentos tridimensionais,


que se traduz em plano vertical em um movimento para cima e para baixo e, no plano
horizontal, em um movimento para direita e para esquerda, segundo o eixo transversal do
cavalo, e segundo o eixo longitudinal, um movimento para a frente e para trás. Esse
movimento é completado por uma pequena torção de pelve do cavaleiro, que é provocada
pelas inflexões laterais do dorso do animal (Buchene, Savini, 1996 citado em Uzun, 2005).

A equitação terapêutica é uma abordagem de tratamento do paciente que deve ser realizada
de forma global. Por este motivo, devem ser estimuladas diversas posturas, algumas com
objetivo de trabalho motor, em especial neste caso fortalecimento muscular, outras com
objetivo da vivência sensorial por meio do contado do paciente com o cavalo, integrando
sensorialmente ambos.

CONCLUSÃO

Baseando-se nos resultados da coleta eletromiográfica do músculo eretor lombar, observamos


que o maior grau de recrutamento muscular dentre as diferentes posturas analisadas foi
com o paciente posicionado de costas para o cavalo, e ainda mais expressivo com o cavalo
ao passo lento.

Portanto, a equitação terapêutica se mostra neste caso um ótimo recurso terapêutico ao se

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tratar de posturas, tendo em vista que o movimento tridimensional provocado nas oscilações
do cavalo provoca desequilíbrios que desencadeiam uma série de contrações musculares
reflexas, em especial do músculo eretor lombar, que em conjunto a outros músculos mantém
o indivíduo sobre o dorso do cavalo.

No caso deste paciente, se o objetivo da terapia for fortalecer músculos extensores de tronco,
o trabalho deve ser enfatizado de costas para o cavalo, tendo em vista que esta postura é que
mais recruta fibras musculares para a estabilização de tronco e vivência do balanço provocado
pelo movimento tridimensional do cavalo, de maneira simétrica, reproduzindo desta forma
as oscilações do quadril durante a marcha humana. Se em outro caso, o objetivo for fortalecer
outros grupos musculares, torna-se interessante realizar um estudo eletromiográfico, obtendo-
se, assim, subsídios para avaliação da postura adequada, visando ao objetivo terapêutico
mais individualizado para cada caso abordado, embasando melhor a conduta de atendimento
dentro da equitação terapêutica.
137
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XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

139
MEMÓRIA E AUTO-ESTIMA NA SÍNDROME DE DOWN:
A EQUOTERAPIA TEM ALGUM EFEITO SIGNIFICATIVO?

Autor: Elisa Useli - Belgica

INTRODUÇÃO

A terapia assistida por animal, também conhecida como terapia com animal de estimação,
usa animais de estimação para ajudar as pessoas com necessidades especiais, afetando
positivamente sua saúde e bem-estar psicológico (Del Negro, 2004). De acordo com Soares
(1985, citado em Siegel, 1990) considera-se que animais de estimação fornecem a seus
proprietários diferentes benefícios, tais como companhia, auxílio à saúde e ao descanso,
proteção, aceitação sem julgamento, e amor. Também se pensa que somente no afagar um
animal, a pressão arterial animal é reduzida e a longevidade no idoso é melhorada (Katcher
e Friedman, n.d., citado em Pascale, 1998). Pesquisa conduzida sobre os efeitos da posse de
animal de estimação nos idosos mostrou que participantes com animais de estimação
informaram ter tido menos contato com o médico em comparação com os não-proprietários
durante o estudo de ano (Siegel, 1990). O relatório de um rapaz com paralisia cerebral,
descrito por Suzik (1998), testemunhou que na presença do seu cão os músculos rígidos do
rapaz relaxaram.

Animais de estimação não são os únicos animais que melhoram a saúde em geral e o bem-
estar nos seres humanos. Cavalos e golfinhos também têm tido importante papel no cenário
terapêutico (Britton, 1991; Universidade de Padova, 1997). Terapia com cavalos é também
conhecida como equoterapia, e é usada para descrever todos os usos reabilitativos do cavalo
(Engel, 1994). A equoterapia pode ser dividida em três partes principais: terapia pura (médica),
lazer e terapia combinados (educacional) e lazer puro (esporte) (Wolf, 1979). De acordo
com Danelle Kern (2000), andar a cavalo pode ser uma ferramenta para o tratamento de
diferentes tipos de distúrbios neurológicos, ósseos, musculares e emocionais. Todavia, fatores
como o tipo e severidade da deficiência e o nível da motivação do cavaleiro podem influenciar
o que uma pessoa deficiente ganha com a equoterapia (Lessick, et al., 2004, p.48). Os efeitos
positivos dessa terapia têm sido demonstrados através de melhoras de comunicação em
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

indivíduos com autismo (Citterio, 2001), e redução de crises epiléticas em indivíduos epiléticos
(Clay, 2004). O aspecto médico da terapia, também chamada equoterapia, refere-se a “uma
forma passiva de equitação na qual o paciente senta-se no cavalo e permite que o cavalo o
movimente” (Biery, 1985, p.346).

A resposta ao movimento do cavalo é inconsciente. O paciente beneficia-se desta terapia


física por experimentar os três movimentos dimensionais do cavalo e por receber informação
sensorial por todos os sentidos (Lucioni, et al., n.d.). De fato, os grupos musculares do cavalo
movimentam-se de lado a lado, para frente e para trás e para cima e para baixo, o que imita
proximamente o andar humano, que não pode ser experimentado usando uma máquina
(Kern, 2000). Os movimentos repetitivos rítmicos do cavalo trabalham na melhoria da
tonicidade muscular, equilíbrio, postura, coordenação, força, flexibilidade e habilidades
cognitivas (Borzo, 2002). Uma pesquisa comparando exames fMRI ao longo do tempo
descobriu que o movimento repetitivo, da montaria incita mudanças físicas no cérebro,
especificamente por refazer as redes dentro do cerebelo e do sistema motor no cerebrum
140
(Bluestone, 1999). Os caminhos dentro do cérebro tornam-se reforçados com o tempo,
permitindo ao cérebro compensar e melhorar uma função motora particular. O mero aspecto
da equitação pode ser considerado um meio de reintegrar algumas das capacidades do
cérebro ao “sistema de processamento” (Baker, 1997). O aspecto educacional dessa terapia,
também conhecida como equitação terapêutica (ou montaria terapêutica), se refere ao “uso
do cavalo e atividades de orientação eqüestre para atingir objetivos terapêtuticos, incluindo
físicos, emocionais, sociais, comportamentais e educacionais. Ela não só abrange várias
atividades de lazer e terapêuticas, mas também coloca ênfase no desenvolvimento da relação
entre cavalo e cavaleiro.” (Lessick, el al., 2004, p.48).

A melhora de equilíbrio, coordenação, consciência de corpo, agilidade, orientação, memória


e destreza estão entre os diferentes benefícios físicos e cognitivos, que podem ser ganhos
através da equoterapia (Gambini, 2002; Walker, 1978; Britton, 1991). Também, em indivíduos
com deficiências, que têm na maioria dos casos nenhuma capacidade para andar nem fazer
cooper, a equitação pode melhorar suas funções cardíorrespiratórias (Henriksen, 1971). Além
do mais, a equoterapia poder remediar alguns problemas sociais e psicológicos por aumentar
a sensação de normalidade, confiança, comunicação, paciência, auto-estima e autoconsciência
(Britton, 1991; Gambini, 2002; Wollrab, 1998). Também foi declarado que o leque de interações
sociais pode aumentar por se trabalhar com um animal (Hart, 2000, citado em Bizub, Joy &
Davidson, 2003).

Para certos indivíduos com deficiências o cavalo pode agir como um motivator (Britton,
1991; Borzo, 2002). O excitamento de andar a cavalo e a superação dos desafios propostos
pela equitação podem estimular uma melhora nas capacidades e habilidades do cavaleiro
(Lessick, et al., 2004; Arachi & Rugiero, 2001). Além do mais, foi sugerido que estar de “bom
humor” faz o tratamento mais eficiente (Kern, 2000). Ao cavalgar, o cavaleiro absorve grandes
quantidades de insumos sensoriais (Baker, 1996). Tentar processar esses insumos, criando
resultados funcionais, e a motivação para andar a cavalo forçam o cavaleiro a usar a memória,
como uma ajuda no apredizado e como uma ferramenta de como alcançar metas diferentes
(e.g. : manter uma postura correta e fazer o cavalo dar a volta) (Biery, 1985). Como
conseqüência, andar a cavalo parece ajudar o cérebro do cavaleiro a organizar-se, fornecendo
um insumo forte, motivante e multissensorial (Baker, 1996). Além do mais, de acordo com
Biery (1985), atividades eqüino-orientadas, tais como escovar e a gerência de estábulos podem
ajudar a estimular e melhorar a memória.

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Talvez dois dos maiores benefícios da equoterapia para as pessoas com deficiências sejam as
melhoras em confiança e auto-estima (Tudo et al, 1999, citado em Lessick, et al., 2004).
Primeiramente, a melhora na confiança parece ocorrer porque o cavalo é visto como um
“animal majestoso” (Pascale, 1998). Ser capaz de controlar e manobrar tal animal tem grande
impacto sobre a auto-estima (Lessick, et al., 2004).

A pesquisa conduzida por Gatty (n.d.) sobre o impacto da equoterpia na auto-estima


comparou as contagens médias da auto-estima de cinco participantes que apresentavam
deficiências físicas e cognitivas. Para ser capaz de definir a auto-estima dos participantes,
uma forma revisada do questionário de escala de auto-estima de Rosenberg foi usada. Os
resultados mostraram que as contagens da média de auto-estima dos participantes depois
de cavalgar eram significativamente mais altas que as contagens médias obtidas antes de
andar a cavalo. A experiência de Gatty, no entanto, apresentou uma grave falha
metodológica: a ausência de um grupo de controle. Além do mais, havia alguns fatores
alheios que poderiam ter afetado o desempenho dos participantes do estudo. Também, a
pesquisa não podia ser generalizada a todos os cavaleiros em sessões de equoterapia, por 141
causa da falta de variabilidade na amostra. Como conseqüência, suposições seguras não
podem ser feitas se o tratamento equoterapêutico teve qualquer efeitos significativos nos
participantes.

Uma pequisa realizada por Bizub, Joy e Davidson (2003) conduziu um estudo qualitativo
para analisar a eficácia de um programa de equoterapia de dez semanas. Pedindo aos cinco
participantes que descrevessem suas experiências, os pesquisadores descobriram que positivos
ganhos psicológicos, tais como um senso aumentado de auto-eficácia e auto-estima, foram
alcançados. Além disso, por analisar as experiências dos participantes, a equitação tornou-
se uma experiência de “normalização”. A ligação percebida, estabelecida pelos participantes
com relação aos cavalos, ajudou-os a diminuir o próprio senso de isolamento ou diferença.
Além do mais, o cavalo foi percebido como uma fonte incondicional (sem julgamentos) de
apoio. No entanto, o relacionamento que se desenvolveu entre os pesquisadores e os cavaleiros
poderia ter influenciado as declarações pessoais dadas pelos participantes. Como uma
conseqüência, para evitar este efeito, foi sugerido promover estudos qualitativos considerando
ter uma pessoa pouco conhecida entrevistando os participantes.

Outra pesquisa conduzida por Burgon (2003) monitorou seis adultos com problemas de
saúde mental, andando a cavalo uma vez por semana, durante um período de tempo de seis
meses. O estudo achou que a confiança era um dos aspectos que fortemente aumentou nos
participantes. Três razões principais foram dadas para os resultados obtidos. Primeiramente,
a equitação, trabalhada como uma motivação para que os participantes tentassem e se
acostumassem a uma nova experiência. Em segundo lugar, os cavaleiros não viam o ambiente
onde a terapia acontecia como julgador, e por conseqüência eles perceberam-no como seguro.
Finalmente, os participantes sentiram que poderiam transferir a confiança ganha para outras
situações sociais, fora da instituição de equoterapia.

Considerando a motivação e os estímulos sensoriais obtidos ao cavalgar, é provável que


cavaleiros com uma incapacidade (neste caso, indivíduos com síndrome de Down) sejam
melhores numa tarefa de memória (cartão). Os resultados serão comparados com um grupo
de controle de indivíduos com a mesma incapacidade (síndrome de Down). O grupo de
controle não tomará parte em qualquer atividade equoterapêutica e fará a mesma tarefa de
memória, como o do grupo de cavaleiros. Portanto, de acordo com o que foi declarado
previamente, o objetivo do presente estudo é testar se a equoterapia pode ser ligada ao
desempenho da memória em indivíduos com síndrome de Down (primeira hipótese). Além
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do mais, porque a terapia e, portanto, equoterapia, parece ter um impacto maior em indivíduos
com incapacidades quando estão de “bom humor”; o estudo também tentará avaliar se o
humor pode influenciar a recordação da memória em indivíduos com síndrome de Down
(segunda hipótese). Finalmente, levando em conta que a equoterapia melhora a auto-estima,
esta deve ser mais alta em cavaleiros com uma deficiência comparados com um grupo de
controle de “não-cavaleiros” com a mesma deficiência. Como uma conseqüência do que foi
declarado previamente, o presente estudo observará se a equoterapia influencia a auto-
estima em indivíduos com síndrome de Down (terceira hipótese).

MÉTODO

Participantes
Dezessete indivíduos com síndrome de Down participaram da pesquisa. Eles foram divididos
em dois grupos: grupo A e grupo B. O grupo A foi composto de 9 participantes com síndrome
142 de Down (3 mulheres e 6 homens). Eles tinham uma gama de idades de 8 a 51 anos
(média=33.78; desvio padrão=16.60). Oito participantes eram cavaleiros no Beechley Riding
Centre para Deficientes (Liverpool), enquanto o outro participante era cavaleiro no Bowlers
Riding School (Formby, Liverpool). Todos os participantes cavalgavam uma vez por semana
em dias e horários diferentes. A idade com a qual os participantes começaram a cavalgar
variou de pessoa para pessoa.

O grupo B foi composto de 8 participantes com síndrome de Down (4 mulheres, 4 homens),


tendo uma gama de idades de 30 a 54 anos (média=39.38; desvio padrão=7.44). Exceto por
um, todos os participantes foram recrutados de creches em Liverpool (6 da Creche Lancaster
e 1 da Creche Beechley).

Materiais

Dezessete folhas de Informação ao Participante, nas quais a informação com respeito à


pesquisa era explicada, e 17 folhas de Consentimento do Participante, nas quais o
consentimento dos responsáveis e as informações do participante (nome, sobrenome, idade,
data de nascimento, sexo, tempo de equitação) estavam impressos.

Para medir a recordação da memória, a pesquisa utilizou 20 cartões. (9 cm x 14.5 cm) que
exibiam imagens coloridas de plantas (flor, limões, maçã, cerejas, cenouras, bananas, cebolas),
objetos (papel higiênico, televisão, cadeira, relógio, mesa, escova de dente), animais (cachorro,
raposa, coruja, pato, águia) ou diversos (nuvens, céu). As imagens nos cartões foram
selecionadas de endereços da Internet. Para que fosse possível lembrar em que ordem os
cartões foram mostrados, cada um era numerado no verso, e o nome da imagem representada
estava escrito em preto, abaixo de cada gravura. Para se conseguir registrar quais e quantos
cartões o participante lembrou, uma folha de memória foi usada. Para testar a auto-estima
dos participantes, um questionário foi criado para o propósito da pesquisa. Dezessete
questionários foram usados na pesquisa. Cada questionário apresentava 16 perguntas.

Procedimento

Para obter a aprovação dos tutores ou pais dos participantes, 17 Folhas de Informação ao
Participante e 17 Folhas de Consentimento do Participante foram distribuídas a diferentes
instituições em Liverpool. Dependendo se os participantes estariam também participando
da equitação, ou não, eles foram divididos em dois grupos: grupo A (grupo teste) e grupo B

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(grupo controle). Participantes de ambos freqüentaram a pesquisa em diferentes dias e
horários. A pesquisa foi conduzida em diversas instituições.

Aos participantes no grupo A foi pedido que fizessem a prova de memória depois da sua
lição semanal de equitação (duração da lição: aproximadamente 30 minutos). Primeiro o
participante foi levado a um quarto, onde foi pedido que se sentasse. O pesquisador sentou-
se à frente dele/a. Na primeira vez em que um participante era encontrado, o pesquisador
apresentava-se e também explicava o propósito do estudo. Em cada sessão, ao participante
era indagado se estava disposto(a) a fazer a prova e, se a resposta fosse positiva, era-lhe
perguntado se poderia ler e como se sentia naquele momento. Uma descrição do humor do
próprio participante foi considerada como positiva, quando a resposta à pergunta era
qualquer “bom” ou “bem”. Caso a resposta fosse “má” ou “não tão bem”, o humor do
participante, era considerado como negativo.

Em seguida, foi explicada a prova de memória com os cartões. Eles foram mostrados um à
um ao participante, numa distância que convinha à sua visão. Enquanto mostrava os cartões, 143
o pesquisador lia o nome da imagem exibida em cada cartão ao participante, que deveria
repeti-lo. Depois que todos os cartões fossem mostrados, o pesquisador pedia: (“Então, o que
você viu nos cartões?” e/ou “O que você lembra?”). O tempo dado ao participante era o
necessário para que lembrasse tantos cartões quanto possível. No entanto, se o participante
demonstrasse indecisão ou dissesse que não podia lembrar-se de qualquer outro cartão,
fazia-se a pergunta “Você pode lembrar-se de qualquer outro cartão? Tem certeza” No fim
de cada prova semanal, foi dado ao participante um retorno sobre quantos cartões ele/ela
pôde lembrar-se. Quais e quantos cartões cada participante lembrara, em cada semana,
foram registrados na Folha de Memória.

O grupo B seguiu o mesmo procedimento do grupo A. Embora a prova de memória não


tenha sido ministrada depois da lição de equitação com os participantes do grupo B, mas
depois que o pesquisador chegava na instituição, os participantes eram encontrados em um
quarto, um de cada vez, acompanhado por um tutor. No último dia da pesquisa, para testar
auto-estima, o Questionário de Auto-estima foi entregue aos participantes para ser
preenchido. Nos casos em que o participante não pudesse ler, o pesquisador lia as perguntas.
Nos grupos A e B os tutores ou pais estavam presentes quando a tarefa de memória e o
Questionário de Auto-estima foram avaliados. Caso o participante não pudesse entender o
que foi exigido, ou o pesquisador não pudesse entender o participante, pais e tutores
ajudavam, agindo como mediadores entre participantes e pesquisador.

RESULTADOS

Os dados coletados durante as seis semanas foram analisados da seguinte forma. Primeiro,
os cartões lembrados durante as seis semanas para ambos os grupos (o dos “Cavaleiros” e o
dos “Não-Cavaleiros) foram agrupados em três diferentes conjuntos, somando a semana 1 e
a 2 a 3 e 4, 5 e 6. Isso foi feito para facilitar a pesquisa, devido a dados perdidos na folha de
pontuação final.

Então, a média para cada conjunto de semanas foi calculada. As médias com relação ao
grupo dos “Cavaleiros” durante as semanas 1 e 2 (média=7.33; desvio padrão=3.42), semanas
3 e 4 (média=9.50; desvio padrão=3.35) e semanas 5 e 6 (média=10.00; desvio padrão=4.58)
são um pouco maiores que as médias do grupo dos “Não-Cavaleiros” durante as semanas 1
e 2 (média=6.90; desvio padrão=3.40), semanas 3 e 4 (média=7.81; desvio padrão=3.18) e
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semanas 5 e 6 (média=9.50; desvio padrão=4.35). Isso sugeriu que participantes do grupo


dos “Cavaleiros” tiveram uma performance um pouco melhor na lembrança dos cartões
durante cada conjunto de semanas (semana 1 e semana 2; semana 3 e semana 4; semana 5
e semana 6) comparados aos participantes do grupo dos “Não-Cavaleiros”. A média global
para os três conjuntos de semanas, independentemente de ser do grupo dos “Cavaleiros” ou
“Não-Cavaleiros” mostrou que há uma diferença entre quantos cartões foram lembrados
durante as semanas 1 e 2 (média=7.10; desvio padrão=0.83), semanas 3 e 4 (média=8.67;
desvio padrão=0.80), e as semanas 5 e 6 (média=9.75; desvio padrão=1.09). Além disso, a
média global do grupo dos “Cavaleiros” (média=8.94; desvio padrão=1.18) é um pouco
maior que a do grupo dos “Não-Cavaleiros” (média=8.06; desvio padrão=1.25), mostrando
que os participantes do grupo dos “Cavaleiros” tiveram uma performance global melhor em
lembrar os cartões comparados aos participantes do grupo dos “Não-Cavaleiros”. Em casos
onde havia dados perdidos, as médias foram calculadas com as pontuações existentes.

As estruturas em caixa foram usadas para avaliar a distribuição dos dados para ambos os
144 grupos durante os três diferentes conjuntos de semanas na prova de memória. Os dados
relativos a quantos cartões o grupo dos “Cavaleiros” (média=7.33; desvio padrão=3.42) e o
grupo dos “Não-Cavaleiros” (média=6.90; desvio padrão=3.40) lembraram durante a
primeira e segunda semana estão normalmente distribuídos. Os dados envolvendo quantos
cartões foram lembrados durante a terceira e quarta semanas pelo grupo dos “Cavaleiros”
(média=9.50; desvio padrão= 3,35) são deixados distorcidos, enquanto os dados envolvendo
quantos cartões foram lembrados durante a terceira e quarta semanas pelo grupo dos “Não-
Cavaleiros” (média=7.81; desvio padrão=3.18) estão normalmente distribuídos. Finalmente,
os dados relativos a quantos cartões foram lembrados durante a quinta e sexta semanas pelo
grupo dos “Cavaleiros” (média=10.00; desvio padrão=4.58) estão normalmente distribuídos,
enquanto para o grupo dos “Não-Cavaleiros” (média=9.50; desvio padrão=4.35) são deixados
distorcidos (divergentes).

Para testar a primeira hipótese, se a equotrerapia produz alguma diferença na memória em


indivíduos com síndrome de Down, uma análise de variação com sujeitos mistos 2x3
(ANOVA) com medições repetidas para o segundo fator foi usada. Primeiro uma prova
Mauchly de esfericidade foi avaliada para testar a homogeneidade da co-variância dos dados.
A não-importância da estatística de Mauchly para a prova da homogeneidade da co-variância
indica que a suposição da esfericidade da co-variância é sustentável.

Um teste 2X3 ANOVA com medições repetidas para o segundo fator foi então calculado,
mostrando significativo efeito principal sobre as semanas (F (2, 30)=11.90; p<0.05), o qual
sugeriu que os participantes aumentaram o número de cartões lembrados a cada semana,
independentemente do grupo a que pertenciam (média (desvio padrão): semana 1 e semana
2 < semana 3 e semana 4 < semana 5 e semana 6 respectivamente 7.10 (0.83)<8.67 (0.80)<9.75
(1.09)). No entanto, nenhum efeito significativo principal de grupos de participantes (F
(1,15)=0.82; p>0.05) foi encontrado, sugerindo que o grupo no qual os participantes estavam
(Grupo do “Cavaleiros”: média=8.94; desvio padrão=1.18; e “Não-Cavaleiros” média=8.06;
desvio padrão=1.25) não teve influência significativa em quantos cartões os participantes
estavam lembrando. Além disso, nenhuma interação significativa foi encontrada entre as
semanas nas quais os participantes tinham que lembrar os cartões e a que grupo (“Cavaleiros”
ou “Não-Cavaleiros) pertenciam (F (2,30)=0.82; p>0.05), sugerindo que ambos os grupos e
as semanas não tiveram nenhuma influência significativa na memória dos participantes
(média (desvio padrão) do grupo dos “Cavaleiros” durante as semanas 1 e 2, semanas 3 e 4,
semanas 5 e 6 respectivamente: 7.33 (3.42); 9.50 (3.35); 10.00 (4.58)) (média (desvio padrão)

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dos participantes do grupo dos “Não-Cavaleiros” durante as semanas 1 e 2, semanas 3 e 4,
semanas 5 e 6, respectivamente: 6.90 (3.40); 7.81 (3.18); 9.50 (4.35)).

Para testar e segunda hipótese, se o humor influencia a memória, a pesquisa usou uma
correlação bivariada. Por causa da falta de variância percebida nos dados mostrando o
humor dos participantes durante os três conjuntos de semanas, os cartões foram lembrados
durante as 6 semanas para ambos os grupos (“Cavaleiros” e “Não-Cavaleiros”) coletados
em dois grupos diferentes pela soma das semanas 1, 2 e 3, e somando as semanas 4, 5 e 6.

Os resultados de como os participantes se sentiam foram somados em dois conjuntos,


agrupando a média de ambos os grupos dos “Cavaleiros” e dos “Não-Cavaleiros” durante
as primeiras três semanas (Mood123 – Humor123) e durante as últimas três (Mood456 –
Humor456). Para ser capaz de fazê-lo, o humor de “Cavaleiros” e “Não-Cavaleiros” foi
definido como positivo (P) ou negativo (N), dando a P uma contagem de “2” e a N uma
contagem de “1”. Em caso de dados perdidos, a média foi calculada considerando as contagens
disponíveis. 145
Então as médias para cada conjunto de semanas foram calculadas independentemente de
serem do grupo de “Cavaleiros” ou “Não-Cavaleiros”. A média de quantos cartões foram
lembrados para ambos durante as semanas 1, 2 e 3 (média=7.40; desvio padrão=3.14) é
menor do que a média de ambos os grupos de participantes durante as semanas 4, 5 e 6
(média=9.67; desvio padrão=4.02), sugerindo que a performance de ambos em lembrar os
cartões aumentou. Também a média de como os participantes se sentiam (humor) para
ambos sugeriu que o humor era um pouco diferente durante os dois conjuntos de semanas,
sendo mais próximo a 2 (=P+P+P) durante as semanas 1, 2 e 3 (média=1.91; desvio
padrão=0.14) comparado às semanas 4, 5 e 6 (média=1.78; desvio padrão=0.31). Uma
correlação de Spearman então foi conduzida, não mostrando nenhuma correlação
significativa entre as semanas 1, 2 e 3 e Mood123 (rs=0.24; n=17; p>0.05). No entanto, uma
correlação significativa foi encontrada entre as semanas 4, 5 e 6 e Mood456 (rs=0.60; n=17;
p<0.05). Isso sugeriu que havia maior co-relação do humor dos participantes durante o
segundo conjunto de semanas (média=1.78; desvio padrão=0.31) comparado ao primeiro
conjunto de semanas (média=1.91; desvio padrão=0.14).

Para testar a última hipótese, se a equoterapia influencia a auto-estima em indivíduos com


síndrome de Down, um teste independente de amostragem-t foi conduzido.

Primeiramente, as médias dos questionários de auto-estima foram calculadas. Os participantes


no grupo dos “Cavaleiros” (média=47,78; desvio padrão=5,91) tiveram uma média maior
que participantes no grupo de “Não-Cavaleiros” (média=38,75; desvio padrão=2,92). Os
histogramas foram usados para avaliar a distribuição dos dados. Os dados referentes aos
“Cavaleiros” não estão normalmente distribuídos (média=47,78; desvio padrão=5,91),
enquanto os dados relativos aos “Não-Cavaleiros” estão normalmente distribuídos
(média=38,75; desvio padrão=2,92). Uma prova Lavene de homogeneidade de variância foi
usada para avaliar a igualdade da variabilidade dos dados. A não-importância da estatística
de Lavene para a prova de homogeneidade de variabilidade (p>0.05) indica que a suposição
de homogeneidade de variabilidade é sustentável. Um teste de amostragem-t independente
foi calculado mostrando diferença significativa entre as contagens dos participantes no
Questionário de Auto-estima para o grupo dos “Cavaleiros” e o dos “Não-Cavaleiros” (t
(15) = 3,91; p<0.05). De acordo com estes resultados participantes no grupo dos “Cavaleiros”
(média=47,78; desvio padrão=5,91) podem ser considerados como tendo auto-estima mais
alta que participantes no grupo dos “Não-Cavaleiros” (média=38,75; desvio padrão=2,92).
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DISCUSSÃO

Por causa dos resultados de não-importância obtidos no projeto de sujeitos mistos, o presente
estudo não conseguiu demonstrar que participantes com síndrome de Down tendo lições/
sessões de equoterapia mostraram uma diferença, maior desempenho da memória (primeira
hipótese). A motivação dos cavaleiros pensou-se ser uma das causas mais importantes da
estimulação e, portanto, melhoria da memória (Arachi & Rugiero, 2001). Também, os insumos
sensoriais adquiridos durante a montaria e o processamento destes devem forçar o cavaleiro
a usar a memória como uma ajuda em aprender e para alcançar diferentes metas (Biery,
1985). O presente estudo, no entanto, não conseguiu alcançar as mesmas conclusões como
as alcançadas por Arachi & Rugiero, (2001) e Biery (1985). Aliás, o estudo atual não achou
nenhuma diferença significativa entre o grupo dos participantes cavaleiros e o grupo de
controle. É verdade que os resultados mostraram aumento a memória em ambos os grupos,
e que os dois grupos tiveram leve diferença em quão bem executaram, durante as semanas,
146
o lembrar dos cartões. Além do mais, a diferença leve na média entre os dois grupos não foi
suficiente para a análise de variância para produzir resultados significativos.

Pode se argumentar que enquanto as outras declarações referiam-se à motivação (Lessick, et


al., 2004; Arachi & Rugiero, 2001) e insumos sensoriais influenciando a memória (Biery,
1985), o presente estudo somente analisou a memória sem testar a motivação ou os insumos
sensoriais. Como conseqüência, o estudo não teve sucesso em descobrir se era a equoterapia
influenciando a motivação estimulando a memória, nem se era a equoterapia influenciando
os insumos sensoriais estimulando a memória. Futuros estudos devem considerar testar
participantes em motivação e insumos sensoriais adquiridos dando uma tarefa antes, durante,
e depois de estar num cavalo para testar se haveria uma diferença real. O grupo de controle,
ainda que não se suponha seja influenciado por estes fatores, deve ter três grupos diferentes
de tarefas que devem ser equivalentes aos do grupo de cavaleiros.

Também os estímulos a serem lembrados (cartões) podiam ser melhorados, escolhendo uma
gama de imagens que possam se adequar ao conhecimento de todos os participantes de
ambos os grupos. Aliás, durante o estudo, foi o pesquisador que notou que nem todos os
participantes conheciam o que foi representado nos cartões. Por causa disto, podia ser
argumentado que alguns participantes, tendo melhor conhecimento dos estímulos
apresentados, poderiam ter estado em vantagem comparativa com relação aos outros
participantes. E também, os objetos que aparecem em cada cartão apresentavam tanto o
nome quanto a gravura do que representavam. Os participantes que soubessem como ler
poderiam ter estado em vantagem comparativa com relação àqueles que não poderiam ler.
Aliás, os indivíduos incapazes de ler poderiam ter se lembrado dos cartões por causa das
imagens e por causa de o pesquisador ter lido o nome em cada cartão. Mais estudos poderiam
usar tipos de estímulos diferentes para testar a memória, que devem ser conhecidos por
todos os participantes.

Além do mais, as diferenças entre os participantes, tais como idade e sexo, em ambos os
grupos, poderiam ter influenciado os resultados em quão bem os participantes executavam
a tarefa. Uma pesquisa futura podem combinar os participantes por seu Q.I., por exemplo,
para controlar estes fatores. Também, antes de ter os participantes comparados a apenas
um grupo de controle, pode ser interessante tê-los comparados com ambos, um grupo de
controle e outro grupo de indivíduos com a mesma incapacidade fazendo uma terapia
convencional. Isto pode ser um meio de testar se a equoterapia tem qualquer influência

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sobre a memória.

O presente estudo não conseguiu reafirmar a declaração de que estar de “bom humor”
torna o tratamento mais eficaz (Kern, 2000) (segunda hipótese). Aliás, o estudo não achou
durante o primeiro conjunto de semanas (primeira, segunda e terceira semanas), uma
correlação significativa entre o humor dos participantes em ambos grupos e quantos cartões
eles lembravam. No entanto, durante o segundo conjunto de semanas (quarta, quinta e
sexta semana), os resultados mostraram uma correlação significativa entre o humor e quantos
cartões os participantes lembravam. Isto talvez possa ser por causa de uma falta de variância
nos resultados com respeito ao humor dos participantes durante a primeira, segunda e terceira
semanas. A pesquisa também levou em consideração ambos grupos de participantes
simultaneamente, enquanto poderia ter sido melhor comparar o grupo de cavaleiros com o
grupo de controle. Como resultado, pode se argumentar que o estudo presente afirmou só
que o humor deve fazer uma diferença em quantos cartões foram lembrados. Não forneceu
também nenhuma evidência de que andar a cavalo altera o humor e, portanto, faz alguma
diferença na tarefa de memorizar. 147
Por causa destes resultados, pode-se sugerir que alguns participantes não declararam seus
sentimentos verdadeiros para agradar o pesquisador. Porque, caso os participantes não
conhecessem o pesquisador anteriormente à pesquisa, não poderiam ter se sentido
suficientemente confiantes para declarar seus sentimentos. Adicionalmente, porque os
resultados relativos a esta hipótese não eram suficientemente fortes, e o humor dos indivíduos
difícil de definir, estas afirmações devem ser criticamente consideradas.

Mais estudos poderiam melhorar a metodologia usada perguntando o humor do participante


antes e depois da sessão de equitação, para ver se haverá uma variação em conseqüência do
andar a cavalo. O grupo de controle deve ser indagado sobre sua disposição antes da tarefa
e pouco depois de certo tempo, que será o mesmo tempo gasto andando a cavalo.

O andar a cavalo influencia a auto-estima em indivíduo com síndrome de Down (terceira


hipótese). O resultado no estudo conduzido por Gatty (n.d.) mostrou que as contagens médias
de auto-estima do participante depois de andar a cavalo eram significativamente mais altas
que as contagens médias achadas antes de fazê-lo . No entanto, suposições seguras nos
resultados da pesquisa conduzida por Gatty não podem ser feitas, porque à pesquisa faltou
um grupo de controle. E também a amostragem não mostrou grande variabilidade. O estudo
presente, por adicionar um grupo de controle, e basear a pesquisa em indivíduos com síndrome
de Down, tentou superar defeitos metodológicos da pesquisa anterior. O estudo atual achou
uma diferença significativa entre o grupo de cavaleiros e o grupo de controle, e portanto os
resultados estão em acordo com aqueles obtidos por Gatty.

De acordo com pesquisa conduzida por Burgon (2003), confiança foi um dos aspectos que
cresceu fortemente nos participantes. O presente estudo não comparou a auto-estima a outros
aspectos psicológicos que poderiam se beneficiar da equoterapia. Além disso, a pesquisa
conduzida por Burgon encontrou resultados sobre a confiança, enquanto o presente estudo
testou os participantes sobre sua auto-estima. Pode se argumentar que auto-estima e confiança
são inter-relacionados, porém mais estudos sobre a equoterapia devem ser necessários para
avaliar esta afirmação.

A pesquisa conduzida por Bizub, Joy & Davidson (2003) verificou que a auto-estima era um
dos benefícios psicológicos ganhos após um programa de equoterapia. O presente estudo
apoiou a pesquisa de Bizub, Joy & Davidson, por encontrar maior auto-estima nos
participantes frequentando lições de equoterapia, quando comparados aos participantes do
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

grupo de controle. Todavia, esse estudo foi baseado em entrevistas sem um grupo de controle,
enquanto para testar a auto-estima o presente estudo usou um questionário e grupo de
controle. De qualquer modo, mesmo que ambos os estudos tenham diferido quanto ao método
de coleta de dados utilizado, eles obtiveram os mesmos resultados. E também, nenhum outro
ganho psicológico foi observado.

Pode-se argumentar que o questionário usado para medir a auto-estima nesta pesquisa não
foi relevante o suficiente. De fato, o questionário foi criado para o propósito do estudo. Além
disso, o pesquisador percebeu que participantes de ambos os grupos não conseguiram
entender algumas das perguntas feitas no questionário e precisaram da ajuda dos pais ou
responsáveis. Para analisar a auto-estima, estudos mais aprofundados devem considerar o
uso do presente questionário para testar sua validade. As declarações podem ter sido
influenciadas pela presença do pesquisador durante o preenchimento dos questionários.
Em consequência, como anteriormente sugerido por Bizub, Joy & Davidson (2003), estudos
mais aprofundados poderiam considerar ter uma pessoa estranha aplicando o teste aos
148 participantes.
Um número de questões deve ser levantado sobre o quão genéricos os presentes resultados
podem ser. De fato, o estudo pode somente ser considerado com resultados em relação à
população com síndrome de Down. Além disso, já que o estudo foi baseado em resultados
quantitativos, a amostragem pode ser considerada muito pequena. Estudos mais
aprofundados deveriam observar os efeitos da equoterapia em uma amostra maior de
participantes. A pesquisa não analisou se havia uma diferença com relação ao tempo em
que os participantes tinham estado cavalgando. Poderia ser interessante observar se estar
cavalgando por mais tempo teria algum efeito sobre as tarefas de memória ou sobre a auto-
estima.

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XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

151
SEGURANÇA NA EQUOTERAPIA: MINIMIZANDO RISCOS
E PROMOVENDO UM MELHOR E MAIS INTENSO
CONTATO ENTRE PRATICANTE E CAVALO

Autor: Kether van Prehn Arruda - Brasil

INTRODUÇÃO

A equoterapia, apesar de ter sua origem em um período anterior ao nascimento de Cristo,


aparecendo em livros de Hipócrates de Loo, entre outros, de fato se difundiu mundialmente
a partir de 1952, com o caso da atleta Olímpica Lis Hartel. Junto à crescente prática desta
terapia se fez necessária a comprovação científica de seus benefícios, em que o objeto da
maioria das pesquisas já realizadas teve como foco o mais visível e mensurável: os benefícios
físicos provenientes do movimento tridimensional do cavalo.

Hoje, porém, há espaço para a verificação de outros aspectos, como os cognitivos,


psicomotores, emocionais, sociais, esportivos, entre outros. Sabe-se atualmente que a
equoterapia é competente no desenvolvimento global das pessoas. Pude verificar durante a
minha experiência e comprovar em estudos de caso que esta terapia propicia algumas
condições mínimas e suficientes para que o praticante se envolva com o seu processo de
recuperação e desbloqueie a sua tendência ao desenvolvimento global. A esse fenômeno
Carl R. Rogers (1958) chamou de “condições mínimas e suficientes para se estabelecer uma relação
de ajuda”. Segundo Rogers, tais condições são:

1. Terapeuta e cliente têm que estar no mesmo ambiente e na mesma hora. No caso da
equoterapia, inclui-se o cavalo como parte integrante e indispensável ao setting terapêutico.

2. Congruência: o terapeuta deve ser unificado, integrado, congruente; deve ser na relação
exatamente aquilo que é, de maneira franca e verdadeira e não uma fachada ou um papel.

3. Consideração positiva incondicional: trata-se de uma aceitação total dos sentimentos e


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expressões sinceras do cliente, sem julgamentos ou preconceitos.

4. Compreensão empática: captar o mundo interior do cliente como se fosse o seu próprio,
mas não confundi-lo como tal.

5. Transmissão: que o cliente perceba minimamente a congruência, a aceitação e a


compreensão empática do terapeuta.

Como tenho relatado em trabalhos anteriores, acredito que o cavalo, de certo modo, contém
todas as características citadas, porém, mesmo o cavalo tendo uma função ímpar e
inquestionável nesta terapia, quem vai estabelecer a dinâmica da relação praticante-cavalo
são as pessoas envolvidas neste encontro, e questiono: será que o mediador da terapia também
promove condições facilitadoras - congruência, aceitação incondicional, empatia e transmissão?
Quando Rogers identificou essas condições facilitadoras, provavelmente desconhecia a
equoterapia. Ousando imaginá-lo no ambiente equoterapêutico, arriscaria dizer que uma
152 das condições seria: ‘Estabelecer o contato praticante-cavalo preservando a integridade emocional
e física do cliente’. Apesar da importância de todas as condições e atitudes citadas, o foco
deste trabalho encontra-se na responsabilidade do mediador em formar um contato intenso,
real e muito seguro, seja do ponto de vista físico, seja emocional.

SOBRE RISCOS E TRAUMAS

1) Exemplos Práticos

Um processo terapêutico em franca evolução pode ser interrompido a qualquer momento


por um trauma físico e/ou emocional.

O trauma físico pode se dar numa queda do praticante, numa resposta agressiva de um
cavalo, numa cabeçada do animal ao se coçar, numa pisada no pé do praticante, ou qualquer
outro evento que traga danos físicos justamente a quem, cuja condição global, estávamos
tentando melhorar. Os traumas emocionais podem ocorrer ainda mais facilmente, em
conjunto com o trauma físico ou isoladamente. Quando, por exemplo, um mediador diz ao
praticante que não há perigo nenhum ao alimentar um cavalo com uma cenoura, mas o
animal, faminto, acaba por morder o dedo do praticante. Nesta situação, a confiança é
abalada e o desejo do praticante em participar deste processo diminui. Também, o cavalo
pode assustar-se com algo e o mediador, distraído ou despreparado, também pode assustar-
se com o evento; naturalmente o praticante será acometido pelo mesmo sentimento de
insegurança e o processo terapêutico estará ameaçado. Nesses casos, estaríamos desabilitando
e não habilitando.

Muitas vezes os mediadores expõem os seus praticantes a traumas por não saberem dos
riscos que envolvem aquela operação. Os exemplos citados ilustram que para proteger física
e emocionalmente um praticante, o mediador tem de estar preparado para o maior número
de situações de risco possíveis, sendo congruente com as possibilidades.

Ilustro esta questão com um episódio ocorrido durante um atendimento que mediei; o que a
princípio pode parecer um comportamento de superproteção, será claramente elucidado.

Tive a oportunidade de acompanhar praticantes que evoluíram física, emocionalmente e

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também como equitadores, chegando ao nível pré-esportivo. Um deles foi um garoto de 14
anos com síndrome de Down. Em determinado momento das práticas, ele já estava apto a
colocar o cabresto no cavalo, encilhar, montar, apear e conduzir ao passo, sem o meu auxílio.
O próximo degrau seria o trote. Ressalto aqui que todos os equitadores que conheço já caíram
muitas vezes do cavalo, e desde o início das montarias desse praticante, eu lhe explicava que
isso um dia iria ocorrer com ele também, já que estava se tornando um equitador. Além de
avisá-lo, passava-lhe dicas de como minimizar os traumas físicos, usando estratégias para
cair em pé. Passamos a treinar o trote em retas, eu andava ao seu lado, como auxiliar lateral,
testando o seu domínio. Em determinado momento, o praticante demonstrou que queria
trotar sozinho e eu lhe avisei que ele ainda não estava pronto. Na prática seguinte, ele resolveu
colocar o cavalo para trotar dentro do redondel, onde seu equilíbrio seria muito mais exigido,
devido à força centrípeta. Eu lhe disse que parasse, mas ele desobedeceu – como um filho
querendo mostrar ao pai que este estava errado – e, neste momento, desequilibrou-se e
começou a cair para o lado; o cavalo estacou e ele passou ao lado do pescoço do animal,
porém estava segurando em sua crina, como eu lhe havia ensinado, e caíra em pé,
imediatamente deitando de costas no chão de areia. 153
Logo o menino se levantou e ameaçou correr; eu o segurei e lembrei-lhe dos avisos que havia
dado, também falei que já havia caído muitas vezes. Ao falar com ele, o que dizia estava
totalmente congruente com o que eu estava sentindo e com o que já havia dito outras vezes.
Ao perceber que o seu coração estava batendo muito rápido, disse-lhe que sentir muito
medo é normal na primeira queda, e que, como ele, o cavalo estava muito assustado. Pedi
então que me acompanhasse para acalmar o seu amigo cavalo; fomos de mãos dadas até o
animal, ele sentiu os batimentos do cavalo, percebeu que o amigo partilhava o susto e se
acalmou. Em seguida, disse ao praticante que para ambos não ficarem com um sentimento
ruim deste momento, ele e o cavalo precisavam dar mais uma volta juntos. O praticante
montou novamente e o episódio foi comentado ao pai com muita alegria e risadas.

Quando o praticante me desobedeceu, estava claro que o final seria a queda, mas o ambiente
era perfeito para que isso ocorresse e o episódio seria bem vindo para fazê-lo aprender mais.
Após este evento, o nosso vínculo de confiança aumentou ainda mais e o seu fluxo de
desenvolvimento fluiu com mais intensidade.

O que aconteceria se nós não contássemos com uma possível queda? E se eu também me assustasse
com o ocorrido? E se eu tivesse omitido esta possibilidade? E se ele não tivesse sido treinado para
evitar se machucar numa queda? E se ele não tivesse montado logo em seguida?

Não sabemos exatamente o que poderia acontecer, o que sabemos é que, neste caso, um
conjunto de cuidados levou um episódio de riscos traumáticos a otimizar o processo de
evolução da terapia.

2) Sobre Montanhas e Cavalos

Os efeitos terapêuticos acontecem à medida que se constrói a relação praticante-cavalo, e


quem vai definir ou promover a qualidade desta construção é o equoterapeuta. Se o
profissional entender que a base desta construção é a segurança do praticante, mais sólidos
serão os benefícios do tratamento.

Para ilustrar e exemplificar a importância da segurança neste trabalho, recorro a uma outra
atividade a que me dedico há mais tempo – o montanhismo. Venho praticando este esporte
há 12 anos, sou atual presidente da Associação de Montanhismo da minha região e há oito
anos me dedico a ministrar cursos de escalada em rocha.
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A escalada é um esporte praticado da melhor forma em duplas unidas por uma corda, onde
o primeiro da cordada é o escalador guia e o outro é o escalador participante. Enquanto o
guia abre caminho, levando a ponta da corda para cima da montanha, prendendo-se a
pontos de segurança e arriscando-se a cair entre eles, o participante controla a corda para
impedir que o guia toque o chão em caso de queda. Do alto, o guia, já preso a um ponto fixo,
faz a segurança para o participante, que escala sem risco de queda, pois está sendo segurado
pela corda de cima.

Segundo Graydon e col. (1992), quem está à frente de uma escalada é o responsável pelo
desfecho da empreitada. O guia tem de estar pronto para uma possível queda, para um
ataque de abelhas escondidas em uma fenda, tem que conhecer o caminho, tem que saber as
condições do tempo, as vestes, os equipamentos e os suprimentos necessários, o tempo que a
dupla vai levar para subir e descer da montanha e, o mais importante de tudo, é responsável
por saber o que fazer se algo der errado, como se começar a chover, o quê em uma escalada
154 na rocha, deixa muito perigosa ou até impossível a ascensão.
Quando vamos escalar, não esperamos que esses imprevistos aconteçam, mas temos que
saber como agir se acontecerem, porque mais dia menos dia eles acontecerão. Por isso, o
guia deve ser um escalador que gradativamente adquiriu experiência e conhece sobre tais
variáveis e riscos e, mais do que isso, sabe como evitá-los ou minimizá-los.

Os estudos estatísticos fornecidos pelo grupo de estudo Segurança em Montanha mostram


que uma fatalidade ocorre na proporção de uma para cada mil comportamentos de risco.

Fonte: http://www.segurancaemmontanha.com.br

Analisando a Pirâmide dos Acidentes, muitas vezes chamada de Iceberg da Fatalidade,


podemos ver que na base estão os comportamentos de risco, mas por não aparecerem, não
recebem a importância devida. A maioria das pessoas só lembra da segurança quando
acontece uma fatalidade.

As variáveis são muitas e nós não temos controle sobre todas elas. Muitas vezes, o escalador
conhece muito dos nós, equipamentos, desenvolve técnica e força escalando em ginásios;
sente-se um escalador completo, mas quando está numa montanha, tem que lidar com
fenômenos naturais que não pode controlar, como chuva, vento, sol, abelhas, insetos, vertigem
e tantas outras variáveis circunstanciais.

Esse escalador de ginásio pode ser comparado ao profissional da saúde que domina a sua
área, seja fisioterapia, psicologia, ou qualquer outra, e já tem sucesso nos seus atendimentos
em consultório. Então, faz um curso de Equoterapia, aprende sobre os benefícios desta prática
e inicia os seus atendimentos no picadeiro como um mediador equoterapeuta. Está

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entusiasmado e empolgado com esta terapia, mas será que conhece as possíveis reações que um
cavalo pode ter? Consegue observar seus sinais? Sabe como controlar o cavalo? Sabe como retirar o
praticante de cima do cavalo em qualquer circunstância? Sabe como acompanhar os movimentos do
cavalo, mantendo-se ao lado do praticante sem assustar o animal? Será que ele sabe se proteger do
animal em caso de uma esquiva abrupta para o seu lado? Se este profissional tiver sorte, os seus
comportamentos de risco não vão promover traumas graves aos seus praticantes e, com o
tempo, ele conhecerá os riscos inerentes à equoterapia e aprenderá a evitá-los. Mas será que
temos o direito de contar com a sorte e trair a confiança que nos foi entregue pelo praticante e seus
familiares? Acredito que isso realmente não seja ético.

3) A Questão da Segurança e a Lei

Para os profissionais que acham que estão seguros por ‘Termos de Responsabilidade’ que os
pais assinam, vale ressaltar que, no Brasil, isso não tem valor legal caso uma família sinta-se
prejudicada pela equoterapia, quer seja material, quer seja moralmente.
155
A lei é imperativa, e vale tanto para o dono do centro de equoterapia quanto para os
profissionais envolvidos com o atendimento. Os danos causados a praticantes provenientes
do processo terapêutico e seus acidentes estarão sujeitos às penas do novo Código Civil e
Criminal.
Segundo o Código de Processo Civil Lei Federal nº 10.406, de 10/01/2002:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se
não provar culpa da vítima ou força maior.
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras
reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o
luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se
em conta a duração provável da vida da vítima.
Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o
ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da
convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.
Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o
seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a
indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da
convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para
que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por
negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-
lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.”
O Código Penal prevê em Decreto-Lei nº 2848, de 07/12/40:
“Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável
a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
resultado não teria ocorrido.
2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir
para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
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b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;


c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
...II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,
negligência ou imperícia.”

O código penal é muito claro: com a negligência vem a culpa. Portanto, mediar uma sessão
de equoterapia sem conhecer as principais variáveis de risco é negligenciar.

PREP ARANDO OS MEDIADORES


PREPARANDO

Sabemos que existem muitas providências a serem tomadas em direção a um atendimento


mais seguro, como a preparação dos cavalos, a manutenção das instalações físicas do C.E. e
do equipamento, etc., mas neste trabalho focaremos a preparação dos mediadores e auxiliares,
a fim de torná-los capazes de prevenir e evitar um trauma físico e/ou emocional ao praticante.
156
O treinamento é o caminho preventivo para a segurança e conseqüente evolução do processo
terapêutico.

Assim como para um escalador participante vir a ser um guia instrutor ele tem de passar por
vivências, às vezes anos de escalada, para conseguir enxergar as variáveis, visualizar os
riscos envolvidos e daí partir para uma tomada de decisão e guiar uma cordada, na
equoterapia, considero que existam dois tipos de profissionais que participam do atendimento:
os mediadores (guias) e os auxiliares (participantes). Como na escalada, tanto um como o
outro são essenciais ao processo, mas o mediador tem de ter muita vivência, conhecer as
possibilidades, prever os movimentos tanto do cavalo como do praticante, e dominar o
ambiente à sua volta.

O mediador tem que conhecer muito bem as variáveis: CAVALO–AMBIENTE–


PRATICANTE – EQUIPAMENTO.

Como instrutor de escalada, aprimorei o meu curso básico focando nos conteúdos
fundamentais para que o aluno pudesse dar continuidade em sua evolução dentro do esporte.
Concentrei-me nos aspectos de segurança, pois praticando de forma prudente, os alunos
teriam tempo para adquirir experiência. No decorrer das aulas, percebi que os conteúdos
ministrados na própria montanha, com exemplos práticos, eram aprendidos mais facilmente.

Piaget (1982) nos elucida este fato quando explica o processo de aprendizagem ocorrendo
através da assimilação, acomodação e adaptação, em que o indivíduo busca adaptar-se às
novas situações assimilando os estímulos externos e os acomodando junto aos seus
conhecimentos anteriores, atualizando os seus conceitos e incrementando a sua cognição.

Mas como assimilar algo à distância? Apesar de o ser humano ter a capacidade de visualizar
e imaginar situações e sensações que serão vividas, a precisão deste mundo imaginário,
virtual, dificilmente compreende a totalidade da realidade e acaba por produzir
pseudoconhecimentos. Por isso, passei a possibilitar que meus alunos construíssem o seu
aprendizado na área de escalada, levando-os à rocha logo no primeiro dia, construindo o
aprendizado com a prática em tempo e situação reais, monitorando as possibilidades de
risco, mas oferecendo uma estimulação multissensorial e emocional, resultante do contato
com o maior número de variáveis reais que iriam encontrar no dia-a-dia da prática.

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Foi a partir da experiência como instrutor de escalada, equitador e equoterapeuta, e da
necessidade de montar uma equipe de mediadores em Equoterapia que desenvolvi o Pegasus
Preventivo – Conhecendo e minimizando os riscos da prática equoterapêutica – um programa de
treinamento que busca, através de vivências e simulações de situações cotidianas na
Equoterapia, propiciar aos profissionais uma conscientização dos riscos envolvidos no
trabalho, construindo na prática uma conduta com atitudes seguras e, conseqüentemente,
prevenindo a ocorrência de traumas.

1) O Treinamento:
Treinamento:

Sujeitos: equipe multiprofissional de atendimento a pessoas com necessidades especiais:


três psicólogas, duas fonoaudiólogas, uma terapeuta ocupacional, uma fisioterapeuta, uma
musicoterapeuta e uma psicopedagoga, coordenadas pelo equoterapeuta, equitador e
psicólogo Kether van Prehn Arruda.

157
Local: Estudos teóricos: Associação Beneficente São Lucas, Bragança Paulista, SP –
instituição cuja demanda permitiu gerar o programa de Equoterapia Pegasus;

Práticas: Centro Hípico Viverde – local em que os cavalos são mantidos, parceiro
que tornou possível a prática da Equoterapia Pegasus.

Duração: 20 horas de estudos teóricos na instituição;

20 horas práticas no Centro de Equoterapia;

02 meses de atendimento supervisionado.

Método: o programa dividiu-se em três fases distintas:

a) 1ª. FASE - Conhecendo melhor o parceiro-cavalo.

b) 2ª. FASE – Situações de risco e emergência: como evita-las e como sair delas.

c) 3ª. FASE – Supervisão da prática.

2) Fases do treinamento

a) Conhecendo melhor o parceiro– cavalo

Iniciamos o trabalho de formação da equipe com estudos teóricos sobre as relações: cavalo
versus cavalo e homem versus cavalo.

Partimos da história do cavalo no planeta, seu histórico junto ao homem, sua constituição
física, raças, cores, alimentação, o movimento tridimensional e também o estudo das relações
entre cavalos (comunicação, liderança, proteção e acolhimento). Então direcionamos para a
relação cavalos versuspessoas, nosso principal foco.

Para promover um contato maior com os conteúdos, utilizei-me de textos de Monty Roberts
e de um filme inspirado em seus feitos, O Encantador de Cavalos. Este material foi capaz de
homogeneizar os conhecimentos da equipe sobre o comportamento do nosso parceiro.

O contato prático foi realizado de maneira gradativa e seqüencial, a fim de facilitar a


aproximação e o aprendizado dos profissionais. Iniciamos com uma revisão das aulas teóricas,
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abrangendo aspectos como a constituição física dos cavalos, cores, etc., e o primeiro contato
com os animais se deu através dos seus cuidados. Os profissionais tiveram que buscar os
cavalos nas baias, escovar, pentear, rasquear, lavar, limpar as ranilhas e alimentá-los.

Quanto aos equipamentos de montaria, eles foram apresentados enquanto cada participante
ajudava a encilhar um cavalo com sela, manta e cabeçada. Durante a vivência, sempre que
possível, sinalizei aos profissionais as diversas reações dos cavalos e o que significavam,
como morder ao apertar a cilha, pisar no pé durante a escovação, e vivenciamos, na prática,
o posicionamento de proteção que o mediador deve ter quando ensina estes procedimentos
aos praticantes.

Este treinamento foi direcionado a pessoas que, em sua maioria, já tinham contato com
equoterapia e ou realizado o Curso Básico da Ande; portanto, foi uma revisão dos aspectos
citados acima, porém com enfoque na segurança ao lidar com o animal, sempre sinalizando
aos alunos, durante a execução das atividades, as possíveis reações dos cavalos.
158
À esquerda, Carolina Castro em seu primeiro contato com o cavalo e à direita, Ana Paula Panizza escovando o
cavalo, utilizando técnica de proteção, mantendo sempre a mão em contato com o cavalo para evitar ser pisada ou
mordida.

Após a aproximação e o treinamento de tratos, partiu-se para a condução do parceiro-


cavalo, o que nos tomou 5 horas de equitação no picadeiro, consolidando a relação de
dominância.

Neste momento os profissionais tiveram a oportunidade de testar a sua capacidade de se


comunicar com o seu parceiro-cavalo e diante desta comunicação, estabelecer uma relação
na qual um dos dois iria dominar. É claro que é uma construção e, diga-se de passagem, é
engraçado ver os cavalos testando a dominância dos novos equitadores. O mediador não
precisa ser um profissional da equitação, mas tem que estabelecer tal relação de dominância.
Falo de uma relação que os cavalos habitualmente procuram; na manada, um é líder e os
outros são protegidos por ele. Os cavalos nos oferecem a liderança e se sentem seguros com
um líder compreensivo. Na mediação, esta relação tem que estar bem definida: o mediador
é o líder. Nas aulas de equitação me foquei em mostrar, exemplificar e treinar os comandos
de condução dos animais, sinalizar o teste de dominância ao qual os terapeutas estavam
sendo submetidos, e os auxiliei a estabelecer uma relação de liderança e respeito com os cavalos.

Mediando com segurança

A equipe passou 10 horas simulando situações cotidianas de riscos presentes na equoterapia.

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Nesta ocasião os profissionais já conheciam de forma satisfatória o cavalo, os equipamentos,
e já tinham estabelecido uma relação de liderança com os cavalos. Já conheciam muitas das
principais variáveis que compõem um atendimento de equoterapia e que influem diretamente
na segurança, como o cavalo, suas reações e como dominá-lo. Faltava agora saber agir quando
não se pode dominar o cavalo. Partindo então da ordem dos acontecimentos em um
atendimento, simulamos atendimentos de pessoas com patologias diversas, inclusive
tetraplégicos adultos, espásticos, autistas, praticantes sem reflexos de proteção, agressivos
que se autoflagelavam e agrediam o cavalo. Todos os profissionais representaram os diversos
personagens do setting terapêutico; auxiliar guia, auxiliar lateral, mediador e praticante,
realizando a aproximação, alimentação com cenoura e feno, formas de montar e apear;
simulamos os exercícios de flexibilização sobre o cavalo, volteio terapêutico, mudanças
posturais e condução na guia. Focamos, nesta etapa, a construção de procedimentos mais
seguros ao mediar a relação praticante versus cavalo e saber sair de possíveis riscos de traumas.
Exemplificando situações de risco, além de os profissionais se revezarem nos papéis,
vivenciando de distintos pontos de vista os procedimentos, emoções e riscos inerentes à
prática, finalizei estes procedimentos com uma avaliação prática na qual eu era um praticante 159
sem reflexo de proteção, e pedia para que os profissionais realizassem diversas mudanças
posturais, tentava me jogar do cavalo sempre que tinha oportunidade e os terapeutas tinham
que contornar a situação.

Supervisão da prática dos atendimentos

Após o treinamento, iniciamos os atendimentos propriamente ditos, todos precedidos de


avaliação médica, avaliação de todos os profissionais envolvidos, construção interdisciplinar
do planejamento e avaliação sobre o cavalo. Nesta etapa, atuei inicialmente como mediador
de todos os atendimentos, até passar a supervisor. Neste período, percebi que os profissionais
puderam consolidar o conhecimento que haviam construído durante o treinamento e
passaram a ter uma consciência maior dos riscos envolvidos e de como evitá-los.

Como equipe, conseguimos construir uma consciência uniforme quanto à segurança,


formando uma base sólida e preparada para a evolução da equipe, cuja formação gerou
outro trabalho apresentado neste congresso, que aborda a equipe interdisciplinar com
mediação transdisciplinar.

O mediador, Kether Arruda, e o auxiliar, Paulo, em posição


para evitar uma cabeçada, enquanto o praticante acaricia em
segurança a sua égua favorita, Lux. Contato do autor:
ketherarruda@hotmail.com

REFERÊNCIAS

AMARAL, P.L. Relatórios de Acidentes em Esportes de Montanha. http://


www.segurancaemmontanha.com.br. Acessado em 25/01/2006, às 14:00h.
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ARRUDA, K. P. O Cavalo Como Agente Libertador do Fluxo ao Desenvolvimento Completo dos


Indivíduos. Salvador, BA: Anais do Primeiro Congresso Ibero Americano e Terceiro Congresso
Nacional de Equoterapia, 2004.

Código Civil Brasileiro (Lei nº 10.406, de 10/01/2002 e suas atualizações).

Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei nº 2848, de 07/12/1940 e suas atualizações).

GRAYDON, D. Mountaineering: The Freedom of the Hills. 5a. ed, Seattle, USA: The
Mountaineers, 1992.

PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

ROBERTS, M. O Homen que Ouve Cavalos. 8. ed., Betrand Brasil LTDA, 2005.

ROGERS, C. R. Sobre o Poder Pessoal. (Trad. Wilma Millan Alves Penteado; Rev. Estela dos
160 Santos Abreu). São Paulo: Martins Fontes, 1978.
EQUOTERAPIA NA RECUPERAÇÃO DA COORDENAÇÃO
MOTORA, EQUILÍBRIO E APOIO PLANTAR, NO PACIENTE
HEMIPARÉTICO POR SEQÜELA DE GERMINOMA
DE PINEAL – ESTUDO DE CASO

Autora: Thais Lydiani Manzolin - Brasil

INTRODUÇÃO

Segundo Merrit, os germinomas são mais comuns em meninos na infância ou na adolescência,


e apesar de suas características malignas, podem ser curados em mais de 80% dos pacientes,
devido a sua sensibilidade à radioterapia e quimioterapia. A glândula pineal está localizada
na parede posterior do III ventrículo e tem relação estreita com o sistema nervoso profundo,
formado pelas veias cerebrais internas que correm junto ao teto do III ventrículo e se juntam
formando a veia cerebral magna. Por ser uma região muito vascularizada, os tumores que
crescem nessa região comprimem estruturas nervosas e vasculares, fazendo então com que
desenvolvam sinais da doença, tais como: síndrome da hipertensão intracraniana ( causada
pela hidrocefalia), síndrome de Parinaud (causando incapacidade de olhar para cima, pupilas
poucas dilatadas), letargia, perda de memória, ataxia de marcha (devido principalmente à
dilatação ventricular), ataxia de extremidades, bem como movimentos coreiformes e
debilidade espástica (MERRIT, 1997).

A equoterapia atua como forma de minimizar alguns dos sintomas causados pela patologia,
pois o movimento tridimensional do cavalo (cima/baixo, frente/trás, direita/esquerda),
transmite ao praticante a partir do seu contato pela pelve, movimentos de inclinações laterais
de tronco, rotações para dissociação de cinturas e movimentações de báscula anterior e
posterior de pelve, proporcionando a este, diversos benefícios, tais como: estimular a
sensibilidade tátil, visual, auditiva e olfativa pelo ambiente e pelos trabalhos com o cavalo;
promover a organização e a consciência do corpo (esquema corporal); desenvolver a
modulação tônica; estimular força muscular; aumentar a auto-estima, facilitando a integração
social; ajudar a superar fobias; estimular afetividade pelo contato com o animal; melhorar a

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


memória; motiva o aprendizado; estimular a lateralidade, além do equilíbrio e coordenação
motora.

O equilíbrio pode ser definido como a capacidade que o indivíduo tem de controlar a
estabilidade, ou seja, capacidade de manter constante em relação à gravidade, a sua posição.
A capacidade de se equilibrar está relacionada principalmente ao labirinto e cerebelo, o qual
exerce grande influência sobre o equilíbrio, pois controla a coordenação de todos os
movimentos (HOLLE, 1990).

Segundo Thomas Schmitz, coordenação é a capacidade de executar movimentos regulares


acurados e controlados. A capacidade de produzir esses movimentos é um processo complexo
dependente de um sistema neuromuscular completamente intacto. Os movimentos
coordenados se caracterizam por uma velocidade, distância, direção, ritmo e tensão muscular
apropriados (SCHMITZ, 1993 apud O’SULLIVAN, 1993).

Hemiparesia, segundo Susan B. O‘Sullivan é a paralisia parcial ou incompleta, afetando


apenas uma das metades do corpo. (O’SULLIVAN, 1993). 161
Objetivo geral

O trabalho tem como objetivo analisar a coordenação motora, equilíbrio e apoio plantar em
um paciente portador de hemiparesia à direita, devido à seqüela de germinoma de pineal,
através do método da equoterapia, de forma a verificar se este traz ou não benefícios para
este praticante.

Metodologia

Para a realização do trabalho, a amostra foi composta por um paciente (o qual teve
autorização para realização da pesquisa requerida a um de seus responsáveis), 17 anos, do
sexo masculino, identificado como J.L.S., hemiparético à direita devido seqüela de germinoma
de pineal. O diagnóstico de germinoma de pineal foi dado a este paciente em agosto de
1998. No período entre 1999 a 2000, o praticante realizou sessões de radioterapia e
quimioterapia. Desde o término desses tratamentos são realizados apenas controles de
imagem, hematológico e clínico.

Os dados foram coletados mediante avaliações da coordenação motora, equilíbrio (através


de testes específicos) e apoio plantar (no aparelho baropodômetro), ambas realizadas antes
e depois do tratamento equoterápico, para posterior comparação de resultados e avaliação
evolutiva em relação ao equilíbrio, coordenação motora e apoio plantar do praticante
estudado.

As sessões constaram de 30 minutos cada, com freqüência de duas vezes semanais, no período
de outubro a novembro de 2003, totalizando 15 sessões. Durante esse período de tratamento
equoterápico, o paciente não realizou fisioterapia convencional. A prática equoterápica foi
realizada na Instiuição Pequeno Cotolengo do Paraná – Dom Orione.

Testes aplicados

Para as avaliações de coordenação motora e equilíbrio foram realizados os seguintes testes,


segundo Thomas J. Schmitz (SCHMITZ, 1993 apud O’SULLIVAN, 1993) que serão descritos
a seguir: dedo ao nariz; dedo ao dedo do terapeuta; oposição dos dedos; de pé, pés unidos;
de pé, sobre um dos pés; andar de lado e para trás; marcha no lugar; iniciar e para
abruptamente a caminhada; andar em círculos; andar sobre os calcanhares.
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Para obter dados mais fidedignos para estes testes, foi utilizada uma escala de pontuação,
em que o nível de desempenho é determinado através de uma escala arbitrária:

Quadro 1: Escala de pontuação dos testes.

0 – Incapaz de desempenhar a atividade.


1 – Observada grande dificuldade; os movimentos são muito arrítmicos; são
observados: significativa instabilidade, oscilações e/ou movimentos estranhos.
2 – Moderada dificuldade é demonstrada durante a realização da atividade; os
movimentos são arrítmicos e o desempenho deteriora com o aumento da
velocidade.
3 – Movimento concretizado apenas com ligeira dificuldade.
4 – Desempenho normal.
FONTE: (SCHMITZ ,Thomas J., 1993, p.147 apud O’SULLIVAN, 1993).
162
Intervenções

Durante o tratamento equoterápico foram realizados diversos exercícios e posturas que


estimulassem a melhora da coordenação motora, equilíbrio e conseqüentemente melhora do
apoio plantar. As atividades realizadas durante o tratamento foram escovação do cavalo
(coordenação motora e atenção); alimentar o cavalo; jogos com bolas; jogos de encaixe e
montagem (coordenação motora e atenção); atividades com elementos da natureza (por
exemplo, retirar folhas das árvores, desta maneira trabalhando coordenação motora); pegar
bolas na anca do cavalo, realizando rotação de tronco (dissociação de cinturas pélvica e
escapular); com o cavalo ao passo, diferentes posições de membros superiores (abduzidos,
acima da cabeça, mãos na cabeça, estimulando o equilíbrio); montado de lado e montaria
invertida.

RESULTADOS

Os resultados obtidos em relação à coordenação motora e equilíbrio do praticante J.L.S.,


antes e depois do tratamento equoterápico, estão elucidados abaixo.

No teste “Dedo ao nariz” (gráfico 01) com a mão direita, antes do tratamento o praticante
foi incapaz de realizar o teste (escore 0) e depois do tratamento o realizou com ligeira
dificuldade (escore 3); com a mão esquerda, antes do tratamento atingiu escore 3 e após o
tratamento, realizou o teste normalmente, atingindo escore 4.

Gráfico 01: Teste dedo ao nariz com olhos abertos.

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Pôde-se observar no teste “Dedo ao nariz” (gráfico 02) com a mão direita, antes do tratamento
o praticante foi incapaz de realizar o teste (escore 0) e depois do tratamento o realizou com
ligeira dificuldade (escore 3); com a mão esquerda, antes do tratamento atingiu escore 3 e
após o tratamento, realizou o teste normalmente, atingindo escore 4.

Gráfico 02: Teste dedo ao nariz com olhos fechados. 163


De acordo com o gráfico 03, no teste “Dedo ao dedo do terapeuta” com os olhos abertos com
a mão direita, o praticante realizou com moderada dificuldade (escore 2) o teste antes do
tratamento, sendo que depois atingiu escore 3, ou seja, realizou-o com apenas ligeira
dificuldade, com a mão esquerda, o praticante foi incapaz de realizar o teste (escore 0) antes
do tratamento, e depois do tratamento equoterápico, realizou-o normalmente, atingido o
escore 4.

Gráfico 03: Teste dedo ao dedo do terapeuta com olhos abertos.

Após o tratamento equoterápico, no teste “Dedo ao dedo do terapeuta” com os olhos fechados
mão direita, o paciente realizou o teste com moderada dificuldade (escore 2), apresentando
movimentos arrítmicos. Com a mão esquerda o paciente foi incapaz de realizar o teste (escore
0), sendo que antes do tratamento o paciente foi incapaz (escore 0) de realizar o teste com
ambas as mãos, tanto de olhos abertos como fechados.

Segundo as informações do gráfico 04, do teste “Oposição dos dedos” com os olhos abertos,
antes do tratamento, atingiu escore 2 com a mão direita e escore 3 com a mão esquerda,
após o tratamento, tanto com a mão direita quanto com a esquerda, o paciente conseguiu
realizar o teste normalmente (escore 4),
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Gráfico 04: Teste oposição dos dedos com olhos abertos.

No teste “Oposição dos dedos” com os olhos fechados, tanto com a mão direita quanto com
a esquerda, após o tratamento, o paciente conseguiu realizar o teste normalmente (escore 4),
sendo que, antes do tratamento, o paciente o realizou com moderada dificuldade (escore 2)
com a mão direita e atingiu escore 3 com a mão esquerda.

No teste “De pé, pés unidos”, com olhos abertos e fechados o paciente antes do tratamento
atingiu escore 1 (realizou com grande dificuldade) e após o tratamento o realizou com apenas
ligeira dificuldade (escore 3). Com mãos na cabeça, membros superiores abduzidos e acima
da cabeça, realizou-o normalmente (escore 4) ao término do tratamento, sendo que antes do
164 tratamento o realizou com ligeira dificuldade (escore 3) .
O teste “De pé, sobre um dos pés” (gráfico 05) com olhos abertos, fechados, mãos na cabeça
e membros superiores abduzidos foi realizado após o tratamento com ligeira dificuldade
(escore 3), já com os membros superiores acima da cabeça, com moderada dificuldade (escore
2). Antes do tratamento este teste foi realizado com os membros superiores abduzidos e
acima da cabeça com grande dificuldade (escore 1).

Gráfico 05: Teste de pé sobre um dos pés.

O teste “De pé, alternar entre a flexão de tronco e retorno ao normal” foi realizado antes do
tratamento com ligeira dificuldade (escore 3) e após o tratamento com olhos abertos e fechados
sem nenhuma dificuldade, atingindo escore 4.

Nota-se no teste “Andar de lado” (gráfico 06) que, tanto com olhos abertos quanto fechados
foi realizado após o tratamento normalmente (escore 4), sendo que antes do tratamento
realizou o teste com olhos abertos com ligeira dificuldade (escore 3) e com olhos fechados
com moderada dificuldade (escore 2).

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Gráfico 06: Teste andar de lado.

No teste “Andar para trás” notou-se que antes do tratamento o praticante atingiu escore 2,
ou seja, realizou-o com ligeira dificuldade, e após o tratamento o teste foi concretizado
normalmente (escore 4), tanto com olhos abertos como fechados.

O teste “Marcha no lugar” foi realizado antes do tratamento com os olhos abertos com
ligeira dificuldade (escore 3) e fechados com moderada dificuldade (escore 2); após o
tratamento, ambos foram realizados sem nenhuma dificuldade (escore 4).

O teste “Iniciar e parar abruptamente a caminhada” com olhos abertos e fechados foi
concretizado após o tratamento equoterápico, com ligeira dificuldade (escore 3), e antes do
165
tratamento com olhos abertos atingiu escore 2 (moderada dificuldade) e com olhos fechados
escore 1 (grande dificuldade).

Pode-se observar no gráfico 07 do teste “Andar em círculo” que, no sentido horário e anti-
horário com olhos abertos, antes do tratamento o praticante o realizou com ligeira dificuldade
(escore 2) e após o tratamento, realizou-o normalmente (escore 4); com os olhos fechados a
dificuldade apresentada foi maior, pois, antes do tratamento o realizou com grande
dificuldade (escore 1) e após o tratamento realizou-o com moderada dificuldade (escore 3).

Gráfico 07: Teste andar em círculo sentido horário e anti-horário.

Após o tratamento com a equoterapia, o teste “Andar sobre os calcanhares” com olhos
abertos e fechados foi realizado pelo paciente com ligeira dificuldade, atingindo escore 3,
sendo que antes do tratamento foi realizado com grande dificuldade (escore 1).

Nos resultados comparativos entre a primeira e a segunda avaliação no aparelho


baropodômetro, pode-se observar que, no pé direito, após o tratamento equoterápico, o
praticante passou a apresentar melhor distribuição de peso, passando a apresentar pressão
em região lateral, diminuiu a pressão em calcanhar, houve uma redução na pressão de
hálux, além de aumento discreto na distribuição de peso em região de metatarsos. No pé
esquerdo, após o tratamento equoterápico, houve diminuição de pressão em calcanhar, bem
como diminuição na região lateral do pé, passou a apresentar pequeno aumento de pressão
em região de metatarsos, principalmente na região próxima ao 5o metatarso. Mesmo após o
tratamento equoterápico, o paciente não apresentou pressão em região de artelhos de pé
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esquerdo.

Também se nota que o centro de gravidade apresentou uma variação de 17,4 cm para 14,7
cm, ou seja, ocorreu uma diminuição na base de sustentação.

Figura 01: Avaliação de ambos os pés do paciente J.L.S., no aparelho baropodômetro F-scan,
166 realizada antes do tratamento.
Figura 02: Avaliação de ambos os pés do paciente J.L.S., no aparelho baropodômetro
F-scan, realizada depois do tratamento.

CONCLUSÃO

A equoterapia proporcionou ao praticante analisado grandes melhoras em relação ao


equilíbrio, coordenação motora e distribuição do apoio plantar. Observou-se também melhora
na qualidade de vida, bem como aumento da auto-estima, o qual pôde ser verificado com o
depoimento a seguir, dado pelo praticante:

“Gostei muito de ter tido a oportunidade de conhecer e também praticar a equoterapia,


além de ser divertido foi muito bom para minha recuperação motora como também meu
problema emocional, eu já estava entrando em depressão e agora estou bem melhor (...).
Valeu a pena esse tempo que pude fazer, me ajudou muito”.

Esta pesquisa mostrou que a equoterapia pode promover nos pacientes oncológicos uma
melhora na qualidade de vida, proporcionando-lhes ganho da auto-estima e confiança em
suas próprias vidas.

REFERÊNCIAS

CURSO BÁSICO DE EQUOTERAPIA, 44.,2002, Brasília. Equoterapia... Brasília: Associação


Nacional de Equoterapia, 2002.
DUARTE, Marcos.Equilíbrio. Disponível em: www.usp.br/eef/lob/pe/. Acesso em : 09
dez.2003.
FREIRE, Heloísa Bruna Grubis. Equoterapia. Uma experiência com crianças autistas. 1. ed. São

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Paulo: Vetor, 2000.
HALL, Susan J. Biomecânica Básica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
O´SULLIVAN,Susan B.; SCHMITZ, Thomas J. Fisioterapia: avaliação e tratamento. 2.ed. São
Paulo: Manole, 1993.
PIRET, Suzanne; BÉZIERS, Marie-Madeleine. A coordenação motora: aspecto mecânico da
organização psicomotora do homem. 2. ed. São Paulo: Summus, 1992.
ROBACHER, Maria Caroline; et al. Análise Fisioterapêutica da marcha de pacientes hemiplégicos
espásticos utilizando a Equoterapia. 2002. 107 pg. Trabalho de Conclusão de Curso de
Fisioterapia – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2002.
ROWLAND, Lewis P.; MERRITT, H. Houston. Merritt tratado de neurologia.9. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.
SIQUEIRA, Mario G.; NOVAES, Virgilio. Tumores intracranianos: biologia, diagnóstico e
tratamento. Rio de Janeiro: Revinter, 1999. 167
A UTILIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E/OU
ALTERNATIVA (CSA) NA EQUOTERAPIA

Autora: Ana Paula Nóbrega de Melo Neves - Brasil


Co-autor: René Garrigue

Projeto realizado no Centro Interdisciplinar de Equoterapia: Cel. Sylvio de Mello Cahú.


Recife-PE. Centro filiado à Ande-Brasil (Associação Nacional de Equoterapia - Brasil).

Introdução: O objetivo principal deste trabalho é contribuir para o processo de normalização


das pessoas portadoras de necessidades especiais (PPNE) que, por razões diversas, encontram-
se muito limitadas para se comunicar pela fala ou escrita natural. As abordagens terapêuticas
e educacionais recentes baseiam-se no conceito de habilitação, estabelecendo o interesse e o
reconhecimento das diferenças individuais e a aceitação de novas formas de comunicação e
de participação social, capazes de conceder às pessoas deficientes o lugar que lhes corresponde
em todos os âmbitos da vida. Estas abordagens sustentam que a intervenção deve dirigir-se
tanto à pessoa quanto ao meio. E é na equoterapia, um meio naturalmente estimulador de
interação, contatos e comunicação, que poderemos conseguir o máximo desenvolvimento
das habilidades das pessoas com deficiência, fazendo deste tão prazeroso meio um trampolim
para o uso da comunicação num contexto social mais amplo, através de estratégias de
intervenção utilizando a CSA

Palavras-chaves: Equoterapia. Comunicação suplementar e/ou alternativa. Distúrbios de


comunicação.

Definição de CSA: É uma área de atuação clínica, educacional e de pesquisa que objetiva
compensar e facilitar (temporária ou permanentemente) os prejuízos ou incapacidades de
indivíduos com sérios distúrbios da comunicação expressiva e/ou distúrbios da compreensão.
(ASHA, 1991).

Quem se beneficia com o uso da CSA? Pacientes com a fala oral prejudicada: PC, autismo.
Condição temporária (pós-trauma com possibilidade de reversão. Condição estabilizada
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(quadro clínico neurológico irreversível, pós TCE / AVC) e condição degenerativa (patologias
degenerativas – comprometimento da inteligibilidade da fala, disartria severa – ELA,
Parkinson).

Sistemas de sinais e técnicas: São diversos os sistemas de sinais e as ajudas técnicas para a
CSA disponíveis atualmente, a fim de adaptar-se às necessidades de uma população com
características e necessidades muito diversificadas, como as que temos no Cepom-PE. No
Brasil o uso da CSA é limitado, pois poucos profissionais têm acesso ao conhecimento desta
técnica. O sistema de sinais mais utilizado em nosso país, na Europa e nos EUA é o PCS
(Pictures Communication Symbols), e é o que utilizamos também no Cepom-PE.

SPC (Sistema Pictográfico de Comunicação): O PCSâ (Mayer Johnson, 1981, 1985, 1989,
1992) é um sistema pictográfico, pois utiliza desenhos lineares simples, icônicos, fáceis de

*
anpneves@hotmail.com.br
168 **
55 81 34 12 17 39
aprender e memorizar. Conta com um vocabulário de 3.000 símbolos divididos em 6
categorias (pessoas e pronomes pessoais, verbos, adjetivos, advérbios, substantivos e termos
sociais). Seu uso é indicado para diferentes grupos etários e de deficiência (PC, RM, autismo,
atraso de linguagem, disartrofonias, etc).

A utilização da CSA na equoterapia: Serão apresentadas através de fotos slides as medidas


habilitadoras tomadas para o uso da CSA no Cepom-PE, durante as práticas equoterápicas,
como: adequação do espaço físico (materiais ao alcance, uso dos materiais...), ajudas técnicas
(pranchas de comunicação, brinquedos adaptados, vocalizador portátil...), utilizando alta
ou baixa tecnologia sobre o cavalo e com o cavalo.

Conclusão: Com o presente trabalho procuro implementar novas possibilidades de promover


a integração social de pessoas que por algum motivo não se comunicam naturalmente pela
fala, utilizando o ambiente da equoterapia, procurando reestruturá-las com algumas idéias
práticas sobre adaptações simples que podemos criar com facilidade, gerando recursos de
ação para as pessoas portadoras de necessidades especiais, oferecendo oportunidades
inestimáveis para que elas sejam protagonistas ativas, para que obtenham experiências e,
decididamente, que se comuniquem.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

169
O MUNDO DOS CAVALOS: POSSIBILIDADE DE ALFABETIZAÇÃO1.

Autora: Nilce da Silva - Brasil


Co-autoras: Birgit Gisela Marica Von Pescatore da Silva Araújo e
Raquel Y. Arantes Baccarin

“Cavaleiro e cavalo formam uma unidade centáurea, como o homem e sua sombra, o
homem superior e o inferior, ou a consciência do eu e a sombra (...)”.
(Jung)

“É educando o cavalo que o cavaleiro se educa a si mesmo: é no jogo de reflexos sutis, na


sensibilidade dos movimentos de aproximação, na permuta de arrebatamentos de simpatia
instintiva e na harmonização das regras de domínio que se concretizam os fundamentos
mais delicados de uma educação solidamente baseada nas leis da natureza”.
(C. Freinet)

“Um homem confiante faz um cavalo confiante”.

( Provérbio milenar)
INTRODUÇÃO

A importância da relação entre o ser humano e o cavalo já nos foi revelada em 377 a.C. por
Hipócrates. Inspirados e intrigados pela afirmação do Pai da Medicina, apresentaremos
algumas reflexões advindas do projeto de pesquisa, ensino e extensão, em desenvolvimento,
intitulado O Mundo dos Cavalos: Possibilidade de Alfabetização.

Há de se ressaltar que, no cenário da educação brasileira, o sucesso dos alunos acontece de


modo desigual nos diferentes grupos socioculturais que constituem a população escolar e é
influenciado por aspectos macroestruturais, tais como condições sociais e tipo de socialização
que as crianças e adolescentes têm na família, no bairro e no grupo com o qual interagem, e
por aspectos microestruturais, como dificuldades individuais de aprendizagem. E, como é
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

conhecimento veiculado tanto no meio acadêmico como na imprensa, muitas crianças


colecionam uma série de fracassos ao longo de suas vidas escolares.

Neste contexto, um fato tem chamado a atenção dos pesquisadores de diferentes áreas: a
ampliação dos locais em que se realizam as práticas educativas. Atualmente elas transpõem
o circuito das escolas, encaminhando-se de uma maneira mais decisiva para a ocupação de
novos espaços socioculturais.

Acrescenta-se a esta situação, o fato de que a vida cotidiana, principalmente em cidades


como São Paulo, afasta-nos cada vez mais da natureza, e já que somos parte dela, distanciamo-
nos de nós mesmos.

1
Este trabalho conta com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo, da Pró-Reitoria de
170 Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo, do CNPq, da Fapesp e da SME-SP.
Tais têm sido as preocupações deste trabalho, pois o mesmo tem como objetivo primeiro
atender às demandas sociais e educativas da população mais carente da região de Campo
Limpo, na cidade de São Paulo, e compreendê-la, por meio do estabelecimento de relações
mais próximas e participativas – característica da metodologia de investigação adotada
pesquisa-ação-formação - com parceria entre a Faculdade de Educação, Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia, ambas da Universidade de São Paulo, e a Hípica Recanto
dos Cavaleiros, local em que o contato com a natureza é privilegiado.

Basicamente, este projeto envolve contribuições dos seguintes autores: D. W. Winnicott; C.


G. Jung e Paulo Freire, aliadas às considerações advindas da prática da equoterapia.

Sendo assim, apresentaremos em seguida, ainda que rapidamente, conceitos-chave dos


autores que sustentam este projeto, assim como as contribuições advindas dos estudos
pertinentes à equoterapia, e, finalmente, teceremos considerações finais acerca das
possibilidades e limites da alfabetização por meio do “Mundo dos Cavalos”.

O “ESPAÇO DE CRIAÇÃO” E A IMPORTÂNCIA DO CAVALO COMO


“ARQUÉTIPO” DA MÃE NO APRENDIZADO NA LÍNGUA MATERNA

A situação atual de diversas crianças que ainda atingem as séries finais do primeiro ciclo do
Ensino Fundamental com letrismo a-funcional2 expõe como a situação se torna um sério
problema educacional brasileiro, uma vez que alunos concluem a educação básica sem ter
se apossado do mundo letrado funcional e, ainda, sem que a instituição sequer perceba isso.
Quando o fato é percebido, os alunos podem passar por diversos processos de exclusão e
discriminação ao serem taxados de alunos fracassados, problemáticos e, muitas vezes, incapazes
de aprender.Tal situação deve-se a inúmeras causas, desde a falta de continuidade das
políticas públicas, até o acúmulo de fracassos escolares na vida destes alunos, que lhes corrói
a auto-estima e, assim, a possibilidade do aprendizado.

Autores clássicos da pedagogia, especificamente do movimento Escola-Nova, já no início do


século passado, apresentavam a natureza (vide obras de C. Freinet) como centro de interesse,
conceito desenvolvido por O. Decroly como altamente eficaz para a promoção do aprendizado
das crianças.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Em consonância com os estudos destes grandes pedagogistas, acrescentamos as contribuições
da psicanálise, mais especificamente de C. G. Jung e D. W. Winnicott, especialmente para
justificar a escolha do “cavalo”, dentre a generosidade de opções oferecidas pela natureza.

O suíço Carl Gustav Jung alertou-nos para a existência do inconsciente coletivo – conceito que
significa o conjunto do aprendizado da espécie humana ao longo dos tempos e que herdamos
individualmente. Motivos mitológicos, lendas, histórias, ou seja, as heranças espirituais de
cada cultura constituem-se como arquétipos, que cristalizados organizam o nosso conteúdo
inconsciente e, finalmente, representam-no, assumindo matizes que variam de acordo com
a nossa individualidade e, assim, renascendo dentro da singularidade de cada pessoa.

2
Termo utilizado por Biarnés, que compreende a idéia que a dificuldade/ recalque de sujeitos para com as letras
é conseqüência de “um amplo sistema de significações diversas em que o ‘sujeito em relação com o seu meio’
atribui à sua própria relação com a letra” (1998), ou seja, que os problemas da alfabetização vão além da
dificuldade de compreensão e associação. 171
Nas palavras de Jung, percebemos claramente a importância que ele dá ao “cavalo”.

’Cavalo’ é um arquétipo amplamente presente na mitologia e no folclore. Enquanto animal


representa a psique não-humana, o infra-humano, a parte animal e, por conseguinte, a
parte psíquica inconsciente; por este motivo encontramos no folclore os cavalos ‘clarividentes’
e ‘clariaudientes’, que às vezes até falam. Enquanto animais de carga, a sua relação com o
arquétipo da mãe e das mais próximas (as valquírias que carregam o herói morto até Walhalla,
o cavalo de Tróia, etc). Enquanto inferiores aos homens representam o ventre e o mundo
instintivo que dele descende. O cavalo é ‘dynamis’ e veículo, somos por ele levados como por
um impulso, mas como os impulsos, está sujeito ao pânico, por lhe faltarem as qualidades
superiores de consciência. Tem algo a ver com a magia, isto é, com a esfera do irracional, do
mágico, principalmente os cavalos pretos (da noite), que anunciam a morte” (JUNG, 1987, p. 96).

Não nos faltarão oportunidades para tratar das histórias, lendas, histórias religiosas, contos
folclóricos, tais como: cavalos como poderes mágicos e de cura entre os buriatas, a história
do mitológico Pégasus, a história da independência do Brasil com D. Pedro em seu cavalo às
margens do Ipiranga, diversas história das cavalhadas e romarias, a história bíblica que nos
mostra a relação do filho de Deus com o jumento, a história de Bucéfalo, cavalo de Alexandre,
as lendas dos unicórnios, o mito do Odin cuja mãe era um corcel assustador, dentre tantas
outras, igualmente fascinantes. Para os fins deste artigo, esperamos ter podido claramente
estabelecer um paralelismo do motivo mitológico (arquétipo) – CAVALO – e as diferentes
culturas humanas.

Entretanto, ainda de acordo com Jung, de todas as possibilidades que apresentamos até
aqui, uma delas tem sido objeto das nossas reflexões: trata-se do CAVALO como
representante da força vital, tal como a MÃE3, e ainda o seu modo de carregar o ser humano,
mais uma vez, implica a FIGURA MATERNA. Jung afirma: “Assim sendo, o ‘cavalo’ é um
equivalente de ‘mãe4’, com uma tênue diferença na nuança do significado, sendo o de uma, vida
originária e o de outra, a vida puramente animal corporal” (JUNG, 1987, p. 97).

Nos nossos estudos, quando nos remetemos à relação entre mãe e seu filho, não poderíamos
deixar de relacionar alguns conceitos básicos de D. Winnicott, com a segura citação acima
de Jung. Para nossos fins, o conceito winnicottiano espaço de criação é indispensável.

De acordo com Winnicott, nas primeiras semanas deste ato, o bebê pensa que ele é o próprio
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seio da mãe, pois quando mama a sua satisfação é total, é uterina, ou seja, é de completude
e satisfação. Aos poucos, com o distanciamento da mãe e todo o processo de desenvolvimento
neurológico sofrido pelo bebê, ele começa a perceber que o seio materno não está sempre à
disposição dele e que, portanto, o seio da mãe não é ele, bebê. A distância entre mãe (realidade
externa) e bebê (eu interior) foi definida por Winnicott com o conceito de espaço de criação ou
espaço potencial. Ã medida que o bebê percebe que ele não é a mãe e que, entre ele e a mãe,
existe um ‘espaço’ - físico e temporal - ou ainda que a mãe é realidade exterior a ele - o bebê
faz inúmeras tentativas para preencher este ‘espaço’ e diminuir a sua angústia pela espera
do seio materno. Para preencher este espaço, o bebê precisa ‘inventar’ algo, colocar algum
‘substituto’ da mãe enquanto a aguarda, ou seja, ele precisa CRIAR para não sofrer. E assim,
o bebê, enquanto a mãe não vem, contenta-se com uma mamadeira, com uma chupeta, com
um paninho ou mesmo com o seu dedo. Estes ‘objetos’ que se encontram entre a espera do

3
Nas obras de Jung, encontramos vastos e interessantes estudos acerca do arquétipo “mãe”. Recomendamos
vivamente a leitura dessas obras.
172 4
O arquétipo de mãe ocupa grande parte da obra de C. G. Jung. Recomendamos a leitura de seus escritos.
bebê pela mãe e a chegada da mãe, objetos que minimizam a angústia foram chamados por
Winnicott de ‘objetos transicionais’, e o despertar da criatividade para a solução da angústia
da separação foram conceituados como ‘fenômenos transicionais’.

Há que se entender que os ‘objetos transicionais’ não pertencem totalmente à realidade interior
do bebê, porém nela influenciam diretamente; nem ao mundo externo, propriamente dito,
pois são substitutos da mãe que o bebê ainda crê que faz parte de si.

Segundo Winnicott, esta situação de ‘ilusão’ - quando o bebê pensa que o seio da mãe é ele
mesmo e a situação de ‘desilusão’ - quando a criança percebe que o seio da mãe não está
sempre à disposição, repete-se na relação que o ser humano estabelece ao longo da vida
entre ‘ele’ e a realidade exterior a ele. E sendo assim, para que este ser humano se torne
saudável, faz-se mister ‘criar’, produzir ‘fenômenos de transição’. Só assim, um diálogo
interno poderá ocorrer, o que fará cada ser humano tranqüilizar-se diante da eterna questão
que nos acompanha: Quem sou eu?

“A criatividade é manutenção, através da vida, de algo que pertence à experiência infantil: a


capacidade de criar o mundo” (WINNICOTt In DIAS, 2003, p. 170).

Assim, nesta ousada síntese, entendemos que o CAVALO, por estar para o ser humano
assim como está o arquétipo da MÃE, e ainda, por constituir-se em objeto transicional, possui
dupla qualidade como facilitador para o aprendizado da língua materna escrita e falada.

Em suma, (....) durante o desenvolvimento do ego, na etapa matriarcal, a criança sente o corpo da
mãe como um prolongamento do seu. Na vida adulta, pode ocorrer uma continuidade dessa projeção
sobre o cavalo. Ao carregar o cavaleiro, esse animal – tal como a mãe fazia com a criança – o embala
e o remete às lembranças e sensações infantis. Assim, passa a substituir a mãe como extensão do
corpo e libido do cavaleiro. (RAMOS, 2005, p.87).

Inspiração freiriana e o universo vocabular do mundo dos cavalos

Feitas estas considerações pertinentes aos fundamentos da prática pedagógica do


alfabetizador, trataremos agora de complementar nossa exposição à luz dos trabalhos de
Paulo Freire.

Este grande educador brasileiro afirma que o processo de alfabetização se constitui por meio XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
do diálogo entre aquele que educa e aquele que aprende. Desde modo, há que se alfabetizar
a partir da fala de nossos alunos. Por isso, muitos livros didáticos, cartilhas e outros materiais
utilizados em ambiente educativo se tornam vazios e sem sentido para aqueles que estão em
processo de aprendizagem da escrita e leitura da língua escrita. Para não incorrer nesta
falta de interlocução, Freire propõe que o trabalho do educador se inicie por uma pesquisa
do vocabulário usado pelos alunos e que decorre, certamente, da realidade local em que
estão inseridos. A partir do levantamento destas palavras, o educador - levando em
consideração a riqueza fonêmica e fonética da palavra e o seu potencial para propiciar
discussões político-sociais entre os alunos – seleciona, em torno de 25 palavras, palavras
geradoras, que servirão como eixo norteador do processo de ensino e aprendizagem do grupo
de alfabetizandos.

No caso deste trabalho, assim como Freire indicou, nós poderíamos nos inserir no cotidiano
destes 80 alunos da zona sul da cidade de São Paulo e, por meio do vocabulário utilizado 173
pelos mesmos, alfabetizarmos tal qual o Mestre nos ensinou. Entretanto, por nossa vez,
sempre respeitando os trabalhos do Grande Educador, preferimos inovar e inserir estes alunos
das escolas municipais em um mundo novo, vocabular inclusive: o mundo dos cavalos. E a
partir deste novo universo sociocultural de inserção, apresentar e construir um universo
vocabular juntamente com nossos alunos.

Desta realidade sociocultural, deparamo-nos com contos, lendas, histórias, mitos que em
que os CAVALOS (arquétipo/ mãe – relembremo-nos) são os protagonistas.

Iniciamos assim, o trabalho pedagógico de alfabetização propriamente dito com as histórias


dos próprios cavalos do Recanto dos Cavaleiros. Ou seja, coletamos este material e o
transcrevemos procurando seguir a orientação do gênero conto fantástico ou crônica. Estes
“heróis” também foram desenhados e transformados em outro gênero textual: as histórias
em quadrinhos.

Feito este preparo de material, o conteúdo da língua portuguesa passou a ser inserido
juntamente com as aulas de equitação, freqüentadas por nossos alunos, e ainda, por meio de
atividades didáticas que privilegiam tanto o esforço e persistência para sua realização, como
o aspecto lúdico da tarefa, e ainda, o favorecimento de condições para que a criatividade
pudesse vir à tona, sempre levando em consideração os aspectos fonológicos, fonográficos,
semânticos e morfossintáticos da língua portuguesa.

Tudo indica que, a partir do segundo semestre deste ano, possamos prosseguir nossos trabalhos
utilizando histórias de cavalos de “outros tempos” e “outros lugares” que constituirão nosso
objeto essencial de trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Até o momento esperamos ter explicitado como o CAVALO, tanto do ponto de vista da
psicanálise, como a partir da abordagem freiriana, constitui-se figura ideal no âmbito da
alfabetização.

Além disto, e não menos importante, gostaríamos de considerar que os estudos e resultados
advindos da equoterapia são elementos de extrema importância para os objetivos deste projeto.
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Limitamo-nos a escrever pouco, porém apontamos que um dos aspectos fundamentais da


equoterapia, ou mesmo do trabalho desenvolvido com os cavalos, é a constituição de um
certo ritual, tão importante para os seres humanos, pois pertence ao mundo do sagrado, e,
infelizmente tão bruscamente retirado da prática cotidiana dos primeiros anos da
escolarização, referimo-nos especificamente à tão esperada formatura da quarta-série, que
marcava a passagem para o mundo dos leitores. No trabalho que desenvolvemos, a criança
chega, “fala” com os cavalos, prepara-os para a montaria, relaciona-se intimamente com
eles na aula de equitação, despede-se deles, e, em seguida, terá a oportunidade de escutar
histórias sobre eles, de fazer desenhos das suas aventuras com ele, dentre outras atividades
que, com o passar do tempo, constituir-se-ão numa rotina que possibilitará a formação do
vínculo entre cavalo e cavaleiro. Ou dito de outro modo, parafraseando o título deste evento,
haverá um encontro entre dois amigos.

Na tentativa de sintetizar os benefícios advindos da equoterapia, relembramos aqui o parecer


06/97 do Conselho Federal de Medicina, de 9 de abril de 1997: “Equoterapia é um método
174
terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas
de saúde, educação e equitação (....)”.

Dito de outro modo, o trabalho aqui apresentado, em andamento, procurará estimular a


autoconfiança, auto-estima, fala, linguagem, estimulação tátil, lateralidade, cor, organização
e orientação espacial e temporal, memória, percepção visual e auditiva, direção, análise e
síntese, raciocínio, além de outros aspectos cognitivos e da aquisição das habilidades de
leitura e escrita da língua portuguesa dos alunos envolvidos. Procuraremos propiciar aos
nossos alunos a possibilidade de elevar sua auto-estima, construir amizades e exercitar
comportamentos, tais como ajudar e ser ajudado, trabalhar com pessoas de diferentes ritmos
e aceitar suas limitações.

E, finalmente, ao estudarmos com nossos alunos mitos, lendas, histórias fantásticas –


concomitantemente às aulas de equitação – pretendemos apresentar pistas para a organização
do inconsciente desconhecido de cada um deles. Talvez, assim esperamos, que depois deste
trabalho, cada um dos envolvidos perceba que a vida vale a pena de ser vivida, apesar das
dificuldades que a mesma nos impõe.

REFERÊNCIAS

ABADI, Sonia.(1998) Transições: o modelo terapêutico de D. W. Winnicott. São Paulo: Casa


do Psicólogo.

BIARNÈS, Jean.(1998) O ser e as letras: da voz à letra – um caminho que construímos todos.
Revista da Faculdade de Educação de São Paulo, jul. /dez. 1998.

JUNG, C. G. (1988) Obras Completas: A Prática da Psicoterapia. Vol. XVI. Rio de Janeiro:
Vozes.

____________. (2000) Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Rio de Janeiro: Vozes.

____________. (1992) O inconsciente pessoal e coletivo. Rio de Janeiro: Vozes.

RAMOS, D. G. et alli.(2005) Os Animais e a Psique. São Paulo, Summus. V. 1

WINNICOTT, D. W. (1985) A criança e seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar Editores.

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____________. (1983) A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes.

____________.(1983) O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas.

____________. (1993) Conversando sobre crianças [com os pais]. São Paulo: Martins Fontes.

Parecer 06/97 do Conselho Federal de Medicina, de 9 de abril de 1997. Brasília, Brasil

175
EQUITAÇÃO PARA DEFICIENTES – UM ENCONTRO
COM A NATUREZA E A ARTE

Autoral: Anna Strumiñska - Polônia

Quando organizamos tours de equitação de dois dias de duração para o grupo de Apoio a
Crianças Deficientes Hipoterapia, estávamos curiosos para saber como os deficientes mentais,
autistas e pessoas emocionalmente instáveis iriam se portar em circunstâncias difíceis e
desconhecidas. Entretanto, primeiramente estávamos focados em oferecer-lhes uma
experiência emocional autêntica relacionada a cavalos e à natureza. Um passeio (tour) de
equitação nos dá a chance para uma aventura real; é uma fonte de conhecimento sobre o
mundo à nossa volta e desperta a paixão pelo aprendizado que acompanha todo viajante.
Um verdadeiro viajante deve rapidamente aprender hábitos estranhos para ele, deve
facilmente se acomodar a novas condições e habilidosamente superar obstáculos incomuns.
Nosso objetivo foi de ensinar aos nossos participantes essas habilidades, tão úteis não somente
durante esse tipo de viagem, mas também enquanto viajando nos caminhos da vida.

O passeio de cavalgada a ser descrito aqui ocorreu no outono de 2004 e seus participantes
foram jovens de 13 a 16 anos. O grupo já possuía pouco mais de um ano de experiência de
trabalho nos estábulos, e praticava equitação no Clube de Equitação para Deficientes aos
Sábados, organizado por nosso centro de hipoterapia. O grupo consistiu de três meninas
com deficiência mental moderada, incluindo duas com síndrome de Down, e dois meninos,
um com síndrome de Asperger, e o outro com desordens emocionais. Eles foram
acompanhados por quatro hipoterapeutas, graduados em pedagogia, psicologia e reabilitação.

Nosso passeio foi organizado com os cavalos e a assistência de uma fazenda turística na
fronteira leste da Polônia. O primeiro dia foi dedicado à adaptação às novas condições e
situação, a testes de cavalgada e escolha dos cavalos. As tarefas de estábulo e cozinha foram
distribuídas entre os participantes. No segundo dia, fizemos um tour de 18 kilômetros a uma
cabana na floresta. Fomos acompanhados por uma carroça com nossas bagagens e um guia
que conhecia o caminho. Os membros da equipe cavalgaram sozinhos, embora, por razões
de segurança, os cavalos fossem também conduzidos por terapeutas caminhando a seu lado.
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Tivemos bastante tempo para admirar o caminho pela floresta magnífica, repleta de antigas
árvores majestosas, com o soprar do vento e canto dos pássaros. Houve algumas paradas
para descanso, não apenas para os participantes, mas também para os cavalos. Pudemos
compartilhar nossas impressões sobre o dia à luz da fogueira, à noite. No dia seguinte,
tivemos que voltar por uma trilha mais longa de 20 km, novamente cheia de impressões, e, o
que pareceu, mais exaustiva. Voltávamos para a fazenda como um lugar seguro e familiar.
Depois de chegarmos a nosso destino, tivemos algum tempo para trabalhar nossa experiência,
desenhando, escrevendo pequenos poemas e confeccionando (desenhando) as camisetas de
montaria.

Deixemos que nossos jovens cavaleiros tenham a palavra. Os poemas que escreveram durante
esses dias refletem perfeitamente seu humor e as emoções experimentadas.

Sem dúvidas, os cavalos são o mais importante durante o passeio de cavalgada, e os nossos
estavam perfeitamente preparados, de modo que nossos cavaleiros se sentissem seguros e
176 competentes com eles. Os poemas dedicados aos nossos companheiros refletem essa relação.
Cavalo
Cavalo,
Experiente, sábio,
Saltos, galopes, relinchos,
Gentilmente, bravamente
Cavalo.

Os participantes das primeiras cavalgadas que organizamos ficaram com medo de seus
cavalos. Isso podia ser visto não só durante a cavalgada em si, mas também nos desenhos
mostrando os cavalos como monstros dentuços com pequenos humanos indefesos sentados
em suas costas. O segundo grupo viu o cavalo como uma criatura experiente, sábia, paciente
e até sorridente. O cavaleiro em seu dorso parece competente e satisfeito. De fato, os
cavaleiros, enquanto montados, reagiram adequadamente à situação e habilidosamente
cuidaram de seus cavalos ao final do passeio.

A floresta que cruzamos durante grande parte de nossa viagem evocou emoções ligeiramente
diferentes. A floresta Knyszyñska é realmente impressionante e, nas horas passadas na sela
sem ver quaisquer sinais de ocupação humana, pode parecer assustadora para jovens criados
nas cidades.

Floresta
Floresta,
Profunda, escura e assustadora,
Rosnados, molha, sussurros,
Vagarosamente, alto com uma voz forte,
Floresta.

Árvores
Árvores,
Altas, cheias de galhos,
O assustam, acenam, e o avisam na noite
Por causa do vento,
Árvores.

Entretanto, alguns dos participantes perceberam propriedades terapêuticas e relaxantes da

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floresta e das árvores.

Floresta
Floresta
Sempre verde, ampla.
Sussurros, desenvolve a sabedoria,
Acalma as memórias,
Floresta.

Árvores
Árvores,
Altas e pequenas,
Bebem água, dão oxigênio e alegria,
Árvores.

177
Como os participantes da cavalgada avaliaram a jornada em si, em relação a tempo e espaço,
cavalgando no ritmo que permitisse observar as imagens e os fenômenos que passavam?
Que tipos de emoções acompanharam suas descobertas do mundo e deles mesmos?

Viagem
Viagem,
Longa, feliz,
Movendo, passando, alcançando,
Tudo bem, estamos em casa,
Viagem.

Como pode ser visto, a viagem evocou várias emoções positivas nos participantes, mas seu
elemento vital foi, na maioria dos casos, o retorno para casa. A “Casa” era a nossa segura e
conhecida fazenda, mas não apenas isso. Fundamentalmente, era a casa da família aparecendo
como um oásis de paz e segurança.

Aqui, chegamos ao ponto de darmos uma olhada mais próxima nos membros de nossa equipe.
Vamos novamente ouvi-los falar sobre o ser humano, com um toque autobiográfico nas
entrelinhas.

Homem
Homem,
Pequeno, curioso,
Bebe, come, excreta,
Sonhador, homem, mulher,
Homem.

Esta é Marta, pequena e curiosa, absorvendo o conhecimento da escola e também tudo o que
acontece à sua volta. Ela gosta de manhãs solitárias perto do fogo e de converser com um
cachorro, coelhos ou com seu cavalo. Marta diz que ela é um menino, e tenta comportar-se
e vestir-se de acordo. Ela se deixa impressionar por homens adultos, como seu pai, e também
por aqueles encontrados no passeio. Em seus sonhos, ela não é uma mulher, mas um homem
forte e grande, e certamente no sonho ela não tem sindrome de Down. Sem muita ênfase,
tratamos Marta como uma garota, e tentamos revelar a ela as vantagens de ser uma mulher,
particularmente uma mulher independente e forte.
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Homem
Homem,
Comum, sorridente,
Cavalga, pega folhas para o cavalo,
Olha em frente por entre as orelhas de Galicja,
Homem.

Monika era assim durante o passeio, mas não desde o primeiro dia. O início foi duro. Monika
fez o que pode para chamar nossa atenção para ela. Ela emitia sons estranhos no carro logo
após nossa partida, depois ficou reclamando sobre sua garganta inflamada e resfriado.
Entretanto, ela rapidamente se esqueceu de suas queixas. Ela foi uma das mais persistentes
cronistas, e se mostrou realmente dedicada em manter um diário de viagem, a tarefa realizada
efetivamente por mais ou menos todos os participantes. O diário de Monika era
inesperadamente detalhado e limpo. Ela acha difícil falar por seu discurso ser indistinto,
178
mas o que tem a dizer é maduro e interessante. Ela era muito independente, no tocante às
atividades da viagem, e.g. enquanto fazendo as malas ela lembrou-se de cada item e tratou
de guardar tudo bem organizado em sua mala.

Homem
Homem,
Rabugento, preguiçoso,
Está sonolento, olha para a tela, sonha
As vezes no futuro em frente à lareira,
Homem.

Por sorte, não foi assim tão ruim, embora Ula fosse um dos participantes menos ativos do
tour. Todas as tarefas passadas a ela foram realizadas com consciência, mas ela não mostrou
sinal algum de iniciativa própria. Com uma exceção: foi ela quem “em um ato de revanche
pelo mau comportamento da Monika” planejou um esquema contra ela e Marta, e como
resultado os óculos de Monika foram queimados na fogueira. Marta foi quem os jogou lá,
portanto Ula não se sentiu culpada, mas teve que admitir que, depois de retirados da fogueira,
os óculos não poderiam ser mais usados.

Homem
Homem
Bom, legal,
Limpa as selas do cavalo
Precisamente, com cuidado.
Homem.

Na superfície este foi Andrzej. Ele não expressou iniciativa, mas freqüentemente estava
sentado em algum lugar à volta com um sorriso misterioso no rosto. Quando pedido, ele
faria sua atividade cuidadosamente, “normalmente”, como costumou repetir em seus poemas,
mas um pouco automaticamente. Andrzej era a pessoa com os problemas mais sérios no que
se referiu à integração com o grupo. Houve alguns fatores que influenciaram, como uma
bolsa cheia de comida que ele recebeu em casa, que ele preferia à companhia do grupo, e a
levou durante as refeições e alguns eventos, incluindo a leitura da noite. O tempo todo ele
falava em voltar a Varsóvia. Os cinco dias longe de casa e o tour cavalgando foram
indubitavelmente muito difíceis par ele. Foi a primeira vez que ele saiu de casa sem sua

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família, e a quantidade de coisas que mudaram a sua volta e os fenômenos que ele presenciou
por vezes ultrapassaram seus limites. Foi o único do grupo a afirmar que não iria a qualquer
lugar novamente conosco.

O último participante do tour que eu gostaria de apresentar é Filip.

Homem
Homem,
Deficiente, delicado
Pensa devagar, tem sentimentos,
Sofre sozinho sem palavras,
Homem.

Filip é um garoto sensível e inteligente. Ele ficou realmente impressionado a cada encontro
com os outros membros dos grupo. Nós o vemos como um cavaleiro muito disciplinado
179
durante a terapia. Durante nossa viagem foi pedido a ele que ajudasse outros cavaleiros
menos competentes, e ele foi uma mão amiga mostrando iniciativa. Por outro lado, seu
poema revelou as emoções obscuras que ele sentia nesse período difícil que é a adolescência.
Seu estado de espírito nos surpreendeu e nos assustou. A jornada e a trilha que os outros
retrataram naturalmente em seus poemas, para ele foram uma jornada e uma trilha pela
vida, dramática e difícil, cheia de medos existenciais e um senso de estar indefeso.

Viagem
Viagem,
Entre palavras, sem destino,
Chora, tenta se agarrar, espera pelo pão
Pacientemente com esperança,
Viagem.

Estrada
Estrada,
Com dor, reconhecida,
Longa, cheia de mistérios,
Na pobreza criando uma criança
Como um bom homem,
Estrada.

Árvores
Árvores,
Caídas, sem vida,
Elas são fardos para a terra,
Decompõem-se após a morte,
Árvores.

Felizmente, mesmo nesses poemas podemos encontrar um traço de esperança por um futuro
melhor (“espera pelo pão com esperança”) e fé com efeitos positivos no processo educacional
(“cria uma criança na pobreza para ser um bom homem”). Assim, Filip evitou o pessimismo
extremo compartilhado pela maioria dos existencialistas.

Esses cinco dias juntos nos possibilitaram aprender mais sobre nossas cargas. Eles nos
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surpreenderam com sua maturidade, complexidade de idéias e experiências, e também com


seu poder criativo de lidar com elas.

Não temos idéia se, graças a essa jornada, eles sorrirão com mais frequência. Não sabemos
se eles confiarão em si e se outras pessoas confiarão neles. Não sabemos se isso mudará
alguma coisa em suas vidas difíceis. Tudo o que sabemos é que valeu a pena tentar.

180
CAVALO AMIGO

Autora: Maya Boss Jaccard - Brasil

AMIZADE=COMPREENSÃO & COMUNICAÇÃO


CEE EQUILÍBRIO, AVARÉ SP, BRASIL

No fim do século 19, com a crescente mecanização, foram construídos vários modelos de
cavalos mecânicos para utilização terapêutica. Mas logo se descobriu que faltava um elemento
essencial para a equoterapia: o lado afetivo, emocional, com todos os seus benefícios:
motivação, alegria de viver, o mundo abrindo-se através do relacionamento com um ser
vivo de outra espécie.

A fascinação milenar do homem pelo cavalo é um fator importante na equoterapia como na


sociedade moderna. Sociedade que sofre cada vez mais da solidão e do isolamento do
individuo, seja ele portador de necessidades especiais ou não. Esta fascinação é ambivalente,
composto de atração e medo documentados na arte pré-histórica, nas lendas e mitologia.

Com a mudança da utilização, mudou o relacionamento. Depois de séculos considerado um


meio de transporte perigoso, que devia ser dominado e subjugado por meios mecânicos,
para garantir eficiência militar, começou uma “humanização” inadequada do cavalo, um
antropomorfismo exagerado, atribuindo-lhe sentimentos e reações humanas exagerados.

O profissional que lida com cavalos não tem o direito de ficar no campo da fascinação,
fantasias, tradições ou projeções de seus sentimentos e conflitos. Como veremos adiante, o
cavalo, pela sua percepção aguçada e alta sensibilidade, é um espelho das pessoas que lidam
com ele.

A equoterapia é relativamente dispendiosa, comparada com outras terapias. Ela sempre

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será tão boa ou ruim quanto sua compreensão e seu relacionamento com os cavalos de
terapia e o bem-estar físico e emocional destes. Portanto, vamos investir tempo e esforço
para conhecê-los e compreendê-los. (Sem isto será muito mais adequado ficar na sala de
terapia, sem cavalo.) Somente podemos falar de equoterapia no seu sentido mais amplo e
benéfico, quando vamos além de utilizar o cavalo como mero aparelho de ginástica e
descobrimos seu imenso potencial para abrir um novo horizonte, tanto para o praticante
quanto para o terapeuta.

Somente quando existe COMPREENSÃO E COMUNICAÇÃO podemos falar de contato


entre amigos ou AMIZADE.

Podemos observar a comunicação e comunhão espontânea entre crianças e cavalos, muito


melhor do que a de muitos adultos: porque é intuitiva e sem preconceitos. Ou pertencemos
aos poucos felizes que souberam manter esta comunicação, ou devemos aprender a substituir
os preconceitos por conceitos corretos obtidos através de muita observação, reflexão e estudo.

181
Devemos entender o cavalo como um ser vivo de outra espécie, com as características de sua
espécie, sem falso sentimentalismo. (Nenhuma outra atividade economicamente tão
importante baseia-se tanto em superstição e tradição, ignorando ou desprezando os resultados
das pesquisas científicas.)

A domesticação do cavalo, que se discute entre 6-10.000 anos, é muito recente em termos de
evolução e não mudou muito seu comportamento instintivo desde o estado selvagem ou
natural. Freqüentemente confundimos selvagem com feroz, mas veremos que no cavalo
selvagem, instintivo apenas quer dizer pronto para a fuga, ou se essa está impedida, para
pânico e defesa.
O estudo científico do comportamento instintivo, da personalidade e das necessidades físicas,
fisiológicas e psicológicas do cavalo e sua aplicação no manejo, no treinamento e no trabalho
/ terapia diário influenciam decisivamente sua saúde, segurança e desempenho, portanto a
qualidade da terapia. Podemos escolher se queremos um trabalho escravo, mal executado
ou uma colaboração voluntária, quando o cavalo se realmente torna um parceiro, um co-
terapeuta.

A ETOLOGIA estuda o comportamento, do ponto de vista biológico ou de sobrevivência: se


uma espécie desenvolveu certo comportamento, sempre há uma razão que provou ser útil
para a sobrevivência do indivíduo ou da espécie. Se um ser vivo não vive de acordo com seu
programa genético, sua sobrevivência está ameaçada. As conseqüências visíveis são doenças
ou comportamentos que nós chamamos de inadequados, que podem ser até fatais. Na
realidade são válvulas de escape, reações de defesa a um ambiente inadequado, alterado
além do limite de tolerância.

O estudo etológico do cavalo no seu ambiente natural permite estabelecer seu ETOGRAMA:
inventário do repertório comportamental de uma espécie, mostrando seu potencial, suas
limitações e suas necessidades instintivas, genéticas.

Devemos analisar sempre, ampliar e entender melhor o etograma do cavalo, conhecer as


bases físicas, fisiológicas e psíquicas do seu comportamento, para melhorar nossa
compreensão e relacionamento. O cavalo sempre agirá de acordo com seu programa genético,
instintivo. Do ponto de vista biológico ou etológico:
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O CAVALO TEM SEMPRE RAZÃO.

Um pequeno extrato do
ETOGRAMA DO CAVALO

CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS CONSEQUÊNCIAS

MAMÍFERO: SNC: MESENCÉFALO \


SISTEMA LÍMBICO / muito bem desenvolvido:
- afetividade possível
(todo sistema neuro- e senso-motor extremamente bem desenvolvido e rápido)

CORTEX proporcionalmente pequeno: - raciocínio somente associativo


- não causal

HERBÍVORO: não agressivo, sem defesas naturais > ANIMAL DE FUGA


- grande motricidade
182 - alta percepção aos menores sinais de perigo
visão: independente: olhos separados lateralmente,
- detalhista, sem visão ou
compreensão global
sem transferência simétrica
sem focalização gradual: - 2 pontos de focalização
próximo à boca: alimentação
distante: aproximação de inimigos
(para ajustar o foco, precisa
levantar cabeça), alerta
imprecisa: movimentos bruscos assustam

SOCIAL: vida gregária (em manada): - a manada dá segurança e


relacionamento afetivo
- comunicação mediante linguagem
corporal e sons
- código de manada
HIERARQUIA: - estruturação social assegurada
pela estruturação espacial

DOMESTICAÇÃO: Neotaenia, manutenção de características juvenis, permitindo o APRENDIZADO,


mesmo adulto

Analisemos apenas três fatores que influenciam nosso trabalho:

-I O SISTEMA NEUROLÓGICO, QUE PERMITE ESTABELECER LAÇOS AFETIVOS


- II A MANEIRA DE ALIMENTAÇÃO
- III A VIDA SOCIAL

I SISTEMA NEUROLÓGICO
Observando o cérebro do cavalo, a quantidade e a profundidade dos “giros” chamam nossa
atenção, contrastando com a opinião popular que o cavalo seja relativamente “burro”,
principalmente mais burro do que o cachorro, que possui menos giros e mais rasos. Este
aspecto do seu cérebro nos obriga a questionar talvez nossos testes de inteligência ou de

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comparação. Também devemos lembrar que a inteligência não depende somente do potencial
cerebral, mas também da possibilidade de desenvolvê-lo, dos estímulos recebidos, do ambiente.
Quando lembramos das celas solitárias às quais hoje a maioria dos cavalos são confinados
(chamados de baias ou boxes), freqüentemente escuras, sem estímulos e sem contato com o
mundo exterior, gostaria de perguntar aos presentes: que grau de inteligência vocês
conseguirão desenvolver nestas condições? Ou comparando a “vida” do cavalo com a “vida
de cão”, que desde filhote vive grande parte do dia em contato com o ser humano e pelo
menos na liberdade relativa da moradia deste, as oportunidades de desenvolvimento da
inteligência são muito melhores. Existem experiências (D. Gossin, França) que conseguiram
ensinar mais de 500 comandos verbais a um cavalo, mais do que os símbolos de surdos-
mudos ensinados aos chimpanzés na famosa experiência dos Gardners.

Observamos que o cerebelo do cavalo está muito desenvolvido: é responsável por todas as
funções de equilíbrio, de locomoção e coordenação e das funções parassimpáticos. Seu
mesencéfalo esta igualmente bem desenvolvido, permitindo o desenvolvimento da afetividade,
183
criação de vínculos e de memória, aliás excelente. (Portanto habituação e rotina são
extremamente importantes para o cavalo e a base de nossa colaboração.)
Igualmente o lóbulo olfático é muito desenvolvido e intimamente ligado com a hipófise, que
comanda o sistema hormonal e emocional. Podemos dizer que o cavalo só acredita, não
vendo, mas cheirando.

Analisemos os receptores do mundo externo: OS CINCO SENTIDOS:

VISÃO: os olhos são diferentes, proporcionalmente os maiores de todos os mamíferos. O


músculo ziliar é pouco desenvolvido, utilizando outros meios de “acomodação”, como
levantar a cabeça. A localização lateral (comum a todos herbívoros), permite simultaneamente
vigiar à distancia para perceber a aproximação de eventuais predadores enquanto ele
pastoreia. Possui um campo de visão monocular de 330-350 º, mas somente dois pontos
“nítidos”: longe e perto, o resto está “fora de foco”. Seu olho grande, juntamente com o
“tapetum” que multiplica incidência da luz, permite boa visão noturna. Visão colorida:
possui cones e pigmentos, que deixam supor visão colorida.

AUDIÇÃO: É o “radar” do cavalo, vigiando 24 horas por dia seu ambiente. Cada orelha
possui 13 pares de músculos, permitindo movimentos independentes, possibilitando um
controle completo e preciso do ambiente, além de dar sinais precisos de comunicação. Não
encontrei testes de audição que definem as freqüências que o cavalo escuta, mas sabemos
que pode diferenciar vozes de pessoas ou de cavalos. Pode distinguir palavras (sons) diferentes
e pode ser treinado para obedecer diferentes comandos verbais.

OLFATO: extremamente importante: cavidades nasais enormes, revestidas com várias


camadas de mucosa olfática.

PALADAR: eles distinguem os mesmos quatro básicos como o ser humano: sal, doce, azedo,
amargo. Apreciam coisas que para nós são muito amargas. Existem poucas pesquisas sobre
seu paladar, mas deve ser importante, já que não têm a possibilidade de vomitar, se ingerirem
alimento inconveniente. Na natureza procuram uma alimentação bastante equilibrada,
inclusive às vezes cascas de árvores, para obter alguns minerais. Não falamos de pastos
excessivamente adubados e desequilibrados...

TÁTIL: muito desenvolvido, com grande sensibilidade no corpo todo.


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Nossa comunicação, uma vez montada, não é somente cinestésica como senestésica: pela
sensibilidade tátil; lembrar: quanto mais fina nossa comunicação, mais precisa ela fica. Quanto
mais bruta, mais força mecânica nós usamos, mais o cavalo vai ficar insensível, “calejado”,
protegendo-se ou rebelando-se.

Resumindo: em vez de questionar se o cavalo tem um sexto sentido, como outros animais
(sonar do morcego, visão da polarização da luz da abelha etc.) sabemo que a percepção dos
seus cinco sentidos é muito mais aguçada e o tempo de reação a um estímulo é muito mais
curto que o nosso. O cavalo, como animal de fuga, precisa reagir imediatamente, no nível
instintivo de seu programa genético. Se nos lembramos da evolução do cérebro, no momento
de perigo o acesso aos níveis superiores fica bloqueado, e o primitivo tronco cerebral no nível
reflexo/instintivo domina, resultando em reação extremamente rápida, em que raciocínio e
aprendizado não entram. Pode acontecer, por exemplo, enquanto montamos a cavalo e
acontece de escutarmos algum barulho assustador, já estamos sentados no chão. O cavalo
184
pesa entre 300 e 500 quilos; nós, entre 50 e 100 quilos. Portanto, será mais inteligente usar
nosso cérebro para prevenir situações perigosas, do que a força. Nós podemos aguçar nossa
percepção para melhorar nossa compreensão e comunicação, mas principalmente podemos
melhorar a confiança do cavalo em nós (pela maneira que agimos, como veremos mais adiante)
e no ambiente através de habituação lenta e gradual a toda novidade, melhorando sua
estabilidade emocional e aumentando o nível de sua tolerância.

II A MANEIRA DA ALIMENTAÇÃO influencia fundamentalmente o comportamento de


uma espécie. Portanto nunca esqueçamos que o cavalo é um HERBÍVORO.

SOMENTE HERBÍVORO

Um herbívoro é um colecionador pacífico e sistemático, que precisa conseguir juntar vegetais


suficientes para suprir suas necessidades nutritivas e energéticas.

1) O aparelho digestivo do cavalo obriga-o a procurar e ingerir pequenas quantidades de


alimento continuamente durante 16 a 18 horas, locomovendo-se sempre, com mais de 30.000
movimentos de mastigação por dia. Não tem nem energias nem tempo supérfluo para
desperdiçar em correrias desnecessárias (com exceção dos jovens, nos quais o jogo é o meio
de aprendizagem e o leite o alimento mais rico, portanto, têm mais tempo disponível).

2) Na cadeia alimentar ele sempre é caça, vítima. Algumas espécies têm armas, como chifres,
para lutar pela sua sobrevivência. O cavalo não tem nem isto. Portanto somente lhe resta
uma maneira de sobreviver: A FUGA. Para isto, o desenvolvimento de grande velocidade
(os cascos que permitem esta velocidade em qualquer terreno) e a percepção aguçada do
menor sinal dos companheiros ou de outras espécies indicando perigo fazem parte primordial
do seu programa instintivo de sobrevivência.

NÃO EXISTE AGRESSIVIDADE NO PROGRAMA GENÉTICO DO CAVALO

ALERTA ( MEDO) CONSTANTE É A BASE DA SUA SOBREVIVÊNCIA!


Qualquer ato que nos possa parecer agressivo é unicamente DEFESA. Depois de muitas
experiências ruins, esta defesa pode tornar-se uma defesa antecipada.

O cavalo não possui nem agressividade intra-específica necessária para defender o território. XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
Ele possui seu espaço individual “impenetrável”, um território ambulante, que podemos
chamar de bolha. Na natureza, como animal nômade, o garanhão marca com ferormônios
voláteis o território que a manada ocupa temporariamente, evitando assim invasão por outras
manadas ao mesmo tempo. Dentro da manada, violações do espaço individual são prevenidas
por gestos ritualizados, ou ameaças virtuais, que raramente se concretizam, ou somente
com interferência indevida humana. Mesmo as “lutas” de garanhões pela “posse” de alguma
égua na maioria das vezes ficam no campo ritual. Quando passam para a luta física, servem
para estabelecer a hierarquia, quem é o vencedor. Desde que o vencido emite ritual de
submissão, é aceito e permanece na manada. Ferimentos graves são raríssimos e mortes
somente acidentais.

O comportamento do CARNÍVORO é completamente oposto: a agressividade é essencial


para a caça, sua sobrevivência. A caça exige focalização, planejamento e um esforço intenso,
durante um curto espaço de tempo. Depois sacia sua fome e descansa um ou vários dias.
185
Freqüentemente existe uma ação conjunta, um “planejamento”, organização, que envolve
raciocínio causal. O cavalo só precisa abaixar a cabeça para pastar, exigindo somente as
camadas associativas do seu cérebro.

Quando o carnívoro sente nosso medo, este sinaliza uma caça em potencial para ele, e pode
provocar um ataque.

Freqüentemente ouço a pergunta: se o cavalo percebe nosso medo? Obviamente, já que a


percepção dele é excelente, ele percebe nosso medo mesmo quando para nós é inconsciente.
Somente sua “interpretação” é oposta à do carnívoro: nosso medo para ele sinaliza um
perigo comum em potencial, despertando o instinto de fuga ou a defesa.

Com ou sem medo, o ser humano, como onívoro, carrega a ambivalência resultante: ora
extremamente pacífico, ora extremamente agressivo. Como caçadores, emitimos
inconscientemente muitos sinais de agressividade, como o fato de andar nas nossas “patas”
trazeiras, o que na naturez sempre indica ataque – ou gesticulando com nossas “garras”.
Assim a nossa atitude e expressão corporal são uma ameaça permanente para o cavalo
como caça, causando stress e despertando o instinto de fuga. Quando esta é impedida, na
baia à qual ele estende seu espaço individual (ou bolha), ou quando é encurralado num
canto, ele passa para a defesa, que pode ser perigoso para todos. Quanto mais suavemente
e controladamente nos nos movemos, mais transmitimos segurança e confiança.

NA NATUREZA, COM ESPAÇO, O CAVALO JAMAIS AGRIDE, SEMPRE FOGE!

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Como a maioria dos herbívoros, o cavalo é um animal social, a companhia de seus congêneres
dá-lhe segurança e tranqüilidade, além de suprir suas necessidades afetivas e relacionais.
Na natureza um cavalo sozinho é um cavalo morto, porque é este que os predadores atacam
primeiro.

Existe um vínculo mãe – potro muito mais estreito do que na maioria das outras espécies
herbívoras. O potro é um “SEGUIDOR” devido principalmente a dois fatores:
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primeiro: como animal de fuga, poucas horas após o parto, o potro deve seguir a mãe e a
manada para sobreviver.

Segundo: pelo seu estomago pequeno mama freqüentemente, até 8 vezes por hora, exigindo
a companhia constante da mãe.

Durante toda a vida permanece um vínculo muito estreito entre mãe e filhas e em menor
grau filhos. O grupo familial matriarcal é a base da sua organização social. Observações das
interações afetivas e agressivas mostraram quase o triplo de afetivos, positivas: num total de
288 horas de observações foram constatadas 1.349 interações: 979 amistosas e somente 370
ameaças, conforme Marthe Kiley-Worthington.

Algumas teorias atuais gostam de falar do garanhão Alf, o centro da manada. Isto é pura
fantasia ou projeção. Dentro do manada a égua líder é responsável pela ordem e segurança,
o garanhão se mantém sempre fora, normalmente levemente atrás, para supervisionar melhor
186 e garantir a segurança externa.
A hierarquia à qual o potro é submetido desde seu nascimento garante a tranqüilidade e o
bom funcionamento da comunidade. Quando os machos atingem a maturidade sexual eles
podem querer estabelecer nova hierarquia, por isto eles necessitam líderes decididos.

O cavalo aprende desde muito cedo a ficar atento ao menor sinal de seus congêneres e
obedecer imediatamente às ordens dos líderes e dominantes. Quando os jovens adolescentes
começam a se comportar inadequadamente, são mandados para a periferia da manada ou
propriamente expulsos, o que significa a punição máxima. Isto ilustra porque é tão importante
que o cavalo passe sua juventude numa manada, e não no isolamento de uma baia, para
tornar-se um adulto emocionalmente estável e educado.

O respeito e a utilização do espaço individual (bolha) fazem parte de estabelecer e manter a


hierarquia.

Toda vida em comunidade exige comunicação. Um animal ameaçado por inúmeros


predadores necessariamente emite um mínimo de sons para não atrair atenção, e somente
em situações extremas, mas comunica-se através de linguagem corporal. Com sua percepção
aguçada reage às mínimas mudanças de atitude corporal ou da fisionomia de seus congêneres
ou de outras espécies que lhe interessam.

Na natureza existem apenas TRÊS FORMAS DE RELACIONAMENTOS POSSÍVEIS:

Caçador – Caça (agressivo, cobiça – defensivo, medo) + -

Indiferença (sem interesse e sem perigo) 0 0

Atração (interesse comum ) + +

Durante milênios o homem era caçador de cavalos. Podemos continuar agindo dentro do
primeiro nível: ser caçador / predador: uma ameaça constante do ponto de vista do cavalo,
precisando mantê-lo sob domínio mecânico e stress permanente.

Ou podemos utilizar os conhecimentos acima mencionados para aprender a trabalhar dentro


do terceiro nível, estabelecendo um novo relacionamento simbiótico, positivo para todos.

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Pela diferença fundamental dos nossos programas genéticos de comportamento, nós podemos
modificar nosso comportamento quando lidamos com o cavalo, para não transmitir nossa
agressividade de predador. Sempre ouço falar: vou trabalhar meu cavalo. Se nós começamos
a nos trabalhar e aprender a comportar-nos “cavalarmente” correto, utilizando este código
de manada, transmitindo segurança e confiança, estabelecendo um vínculo, comunicando-
nos claramente, teremos a chave para obter a obediência espontânea e a colaboração
incondicional, garantindo a segurança de todos.

Resumindo:

NÃO EXISTEM CAVALOS PROBLEMAS, NEM COM CÓLICAS, VÍCIOS E TARAS


NA NATUREZA.

Nós criamos problemas e condições de vida insuportáveis para eles. Em mais de 500 cavalos
em fazendas, vivendo soltos e em grupos, não pude observar um único problema, desses que
187
matam tantos cavalos preciosos de baia. Pangaré corre menos perigo de morrer de cólica ou
de tédio.

Como a segurança do cavalo é tão precária, a SENSAÇÃO DE SEGURANÇA, que é


fundamental para o bem-estar de todo ser vivo, É PRIMORDIAL para o cavalo. Se isolamos
um cavalo na baia, impedindo sua necessidade de locomoção constante, e o privamos do
contato social indispensável, transformamos qualquer ser saudável num PSICOPATA.

Em vez de investir em construções luxuosas, e desnecessárias, devemos investir em espaços


para os cavalos movimentar-se livremente várias horas por dia, de preferência em companhia,
(se não temos nada mais que a pista de trabalho, soltemos os cavalos pelo menos aí), em
tempo para observá-los e na COMPREENSÃO E COMUNICAÇÃO, aprendendo com eles,
como diz o mestre J. C. Barrey: PENSAR CAVALO. Eu gostaria de ampliar: sentir como
cavalo, ou aprender: SER CAVALO - LíDER

REFERÊNCIAS

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CLAUDIA FEH GRANDIR EN LIBERTÉ » (ISBN 2-904971-28-92Optipress 1989)
DANIÈLE GOSSIN PSYCHOLOGIE ET COMPORTEMENT DU CHEVAL (ISBN 2-224-
02588-2, MALOINE 1999)
DESMOND MORRIS “ HORSEWATCHING” , “ BODYWATCHING” (Jonathan Cape,
London, 1988)
J. C. BARREY “Hierarchie des Comportements, Comportements D’Apétence (1990);
“LE CHEVAL DANS SON ESPACE (1987); “LA STRUCTURE DE L’ESPACE PROCHE
CHEZ LE CHEVAL; L’EQUITATION, LE CHEVAL & L’ÉTHOLOGIE; COLLOQUE
À L’ÉNÉ, FRANCE (ISBN 2-7011-2745-9, BELRIN 99)
KONRAD LORENZ “AGRESSION” “A AGRESSÃO: UMA HISTÓRIA NATURAL DO
MAL”; “OS FUNDAMENTOS DA ETOLOGIA”· (Editora Unesp); “E O HOMEM
ENCONTROU O CÃO” (Editora Relógio); “LEBEN IST LERNEN” (Piper 223); “ ÜBER
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

TIERISCHES UND MENSCHLICHES VERHALTEN” (Piper 361)


MARTHE KILEY WORTHINGTON “THE BEHAVIOR OF HORSES” in relation management
& training (ISBN 3-275-00960-5 ALLEN)
MAURICE HONTANG “A PSICOLOGIA DO CAVALO” (Coleção agricultura Globo)
MAYA BOSS JACCARD « NECESSIDADES VITAIS DO CAVALO DE EQUOTERAPIA»
(ANDE 4 -2000)
R. H. SMYTHE “ A PSIQUE DO CAVALO” (ITD,International Data AS –Livraria
Varela1990)
REMY CHAUVIN “ L’ETHOLOGIE” (PUF 1975)

188
DETERMINAÇÃO DA ROTAÇÃO DE GARUPA ATRAVÉS DE
PARÂMETROS BIOMECÂNICOS DOS CAVALOS COMO MEDIDA
INDIRETA DA ROTAÇÃO DE CINTURA EM PRATICANTES

Autor: Ana Heloísa Arruda - Brasil


Co-autores: Cláudio Maluf Haddad; Adalto P. Toledo;
Fabiana Villa Alves; Léa Matt de Assis Figueiredo

INTRODUÇÃO

Ao interagir com o cavalo, o praticante instaura um complexo relacionamento constituído,


entre outros fatores, por contínuas e recíprocas interações físico-sensoriais (Giovagnoli, 2001)
(Figura 1).

O equilíbrio dinâmico dos dois elementos do sistema cavalo-cavaleiro prevê que as “reações”
do cavaleiro sejam “estímulos” para o cavalo e que, portanto, possam induzir, por sua vez,
modificações adaptativas do comportamento ou da mecânica do animal (Giovagnoli et al,
2000).

Considerando que praticantes com deficiência motora apresentam alteração de marcha, a


qualidade do passo do cavalo e a rotação de cintura produzida no praticante representam
recursos importantes na qualidade do trabalho realizado em programas de hipoterapia.

Figura 1. Esquema simplificado dos estímulos que o cavalo pode transmitir ao cavaleiro e o
potencial do mesmo na Reeducação Eqüestre (Adaptado de Giovagnoli, 2001).

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189
Durante seu deslocamento, o cavalo movimenta seus membros anteriores ou posteriores de
forma alternada, isto é, quando um membro avança, o seu correspondente atrasa. Na
seqüência do movimento, seus quatro membros variam de posição e, durante uma passada
completa (stride), passam sucessivamente por 4 apoios tripedais, intercalados por apoios dos
bípedes diagonais e dos bípedes laterais. Ao iniciar o movimento, o cavalo avança um
posterior direito enquanto o posterior esquerdo se distende, deslocando-se para a frente.
Esta posição faz com que a anca direita também avance e a anca esquerda recue (Wickert,
1999).

A linha que une as duas ancas (largura de garupa) acompanha este deslocamento e sofre
uma “torção”, deslocando a coluna para o lado do posterior que ficou para trás. Para completar
este deslocamento e poder movimentar o seu centro de gravidade para a frente, o cavalo
executa uma inflexão para o lado contrário (esquerdo) com o pescoço, mantendo solidária
com a garupa a parte da coluna que fica sobre as suas espáduas (Wickert, 1999).

A utilização da mensuração das diversas partes anatômicas do animal é considerada um


critério objetivo de avaliação da conformação (Mota, 1999). Entretanto, não existe ainda
método objetivo de avaliação da intensidade da torção ou rotação da cintura do cavaleiro.
O objetivo do presente estudo é determinar a rotação de garupa através de parâmetros
biomecânicos dos cavalos como medida indireta da rotação de cintura em praticantes.

MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi realizado no Departamento de Zootecnia, Setor de Eqüinocultura, da


Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, ESALQ/ USP, Piracicaba, no âmbito do
Projeto Equoterapia.

Foram analisados dez animais usados em equoterapia, sendo dois Anglo-Árabe, dois Crioulo,
quatro Mangalarga e dois Mangalarga marchador.

Através do ANALOC-E (Toledo, 1995), aparelho que analisa os momentos de apoio e de suspensão
de cada membro do cavalo durante a locomoção, foram obtidos o comprimento da passada ou
rendimento (R ou stride) e o comprimento do passo (R/2 ou step).
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Todos os cavalos analisados completaram, na passagem pela pista de 10 metros de


comprimento, 3 (três) passadas completas.

A largura de garupa foi mensurada com o uso de um hipômetro.

Calculou-se o ângulo equivalente de rotação da garupa do cavalo por meio da fórmula:

tg rc = R/6 G (Figura 2)

onde,
tg = tangente do ângulo
rc = ângulo de rotação equivalente de garupa, em graus;
R = rendimento da passada, em m;

190 G = largura da garupa, em m;


Figura 2. Esquema dos principais parâmetros utilizados no algoritmo para o cálculo
do ângulo de rotação de garupa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na tabela 1, são apresentados os principais parâmetros obtidos.

Tabela 1. Principais parâmetros obtidos de cavalos a passo.

Variável nº observações Média Desvio padrão Mínimo máximo


Garupa (m) 10 0,52 0,02 0,47 0,55
Comprimento

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da Passada (m) 10 1,49 0,17 1,28 1,72
Passo (R/2) (m) 10 0,75 0,08 0,64 0,86
Rc 10 0,48 0,05 0,40 0,54
Rotação (graus) 10 25,39 2,53 21,9 28,4

Os valores de rotação de garupa observados apresentaram-se entre 21,9 e 28,4 (média de


25,39). Van der Linden et al (2002), em estudos realizados com crianças, observaram valores
de rotação de cintura entre 24 e 29 graus, com média em 27 graus.

Na Tabela 2, pode-se observar a comparação dos parâmetros obtidos entre as diferentes


raças.

191
Tabela 2. Análise de variância dos parâmetros analisados em 10 cavalos utilizados em
equoterapia.

QM

FV GL Garupa1 Rend. Passo2 tg rc3 Rotação Cadência Passada Velocidade


Passada

Tratamento 3 0,41 0,06** 0,16** 0,06 13,12 1.888,96** 53.124,49** 8,69**


ERRO 6 0,63 0,01 0,03 0,01 3,07 214,80 4,558,53 1,30
MÉDIA 0,52 1,49 0,75 0,48 25,39 156,77 788,27 7,12
CV% 4,80 6,78 6,78 8,00 6,90 9,35 8,57 13,01
1
Estimativa do QM multiplicada por 10-3
2
Estimativa do QM multiplicada por 10-1
3
Estimativa do QM multiplicada por 10-1
**
Significativo a 5%

Não foram detectadas diferenças significativas na largura de garupa e rotação de garupa


entre as raças.

Tabela 3. Análise do coeficiente de correlação de Pearson para os parâmetros obtidos:


garupa, passada, passo, tgrc e rotação.

Garupa Passada Passo Tgrc Rotação

Garupa 0.12571 0.12571 - 0.29763 - 0.30518


0.7293 0.7293 0.3912 0.403
Passada 1.00000 0.90598 0.90925
<.0001 0.0003 0.0003
Passo 0.90598 0.90925
0.0003 0.0003
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Tgrc 0.99973
<.0001

Pode-se observar correlação significativa entre rotação e passada, rotação e passo e rotação
e tangente. Não foi observada correlação significativa entre rotação e garupa.

CONCLUSÕES

De acordo com Riede (1988 apud Rolandelli e Dunst, 2003), o movimento do cavalo ao passo
assemelha-se à marcha humana. Este fato pode ser comprovado a partir dos resultados do
presente estudo, que observou a rotação média de garupa de 25,39º em cavalos ao passo,
valor semelhante à rotação de tronco observada por Van der Linden (2002) e colaboradores
192 em crianças sem alteração.
Riede (1988 apud Rolandelli e Dunst, 2003), também ressalta que, à medida que o centro da
massa se altera, em resposta ao movimento do cavalo, o praticante deve realizar ajustes
musculares para manter o equilíbrio e conseguir manter a postura ereta sobre o cavalo.
Desta forma, é possível inferir que, quanto maior a rotação de garupa do cavalo, maior a
rotação de cintura do praticante e melhor a solicitação muscular.

Os resultados do presente estudo também demonstraram não haver diferença entre as raças
avaliadas. Adicionalmente, verificou-se que parâmetros como passo e passada possuem direta
relação com rotação, não sendo observada esta correlação significativa com largura de
garupa.

Pode-se considerar, a partir destes resultados iniciais, que parâmetros biomecânicos são
decisivos para a escolha do cavalo a ser utilizado na equoterapia, em detrimento de parâmetros
como raça e largura de garupa.

Tais conclusões poderão ser usadas como referência em estudos futuros e como orientação
nas sessões de equoterapia.

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193
USO DA EQUOTERAPIA COMO ESTRATÉGIA DE TRATAMENTO
FISIOTERAPÊUTICO PARA MELHORA DO EQUILÍBRIO POSTURAL
EM AMPUTADOS DE MEMBRO INFERIOR: UM ESTUDO PILOTO.

Autor: Thaís Borges de Araujo - Brasil


Co-autores: Rosângela Araújo,
Levy Aniceto Santana,
Myrian Lopes, Carlos Roberto Franck

RESUMO

Este estudo teve por objetivo quantificar o efeito de um tratamento de equoterapia nos
parâmetros estabilométricos de pessoas que possuem amputação em membro inferior. A
análise do equilíbrio postural (estabilometria) dos praticantes de equoterapia, no presente
estudo, foi realizada pré-equoterapia e pós-equoterapia. Foi desenvolvido um estudo tipo
relato de casos, com a participação de três praticantes com amputação transfemural unilateral,
selecionados entre os atendidos no setor de fisioterapia para amputados do Hospital da
Universidade Católica de Brasília (HUCB). A aquisição dos dados da estabilometria pré-
equoterapia foi realizada no Laboratório de Biomecânica e análise dos Movimentos Humanos
da Universidade Católica de Brasília por meio do sistema F-Scan e software versão 4.21,
com sensor F-Mat modelo 3100. Os parâmetros estabilométricos adotados foram freqüência
de aquisição de 100Hz, tempo de cada teste igual a 30segundos. Foram repetidas três
aquisições para cada situação de teste: (1) apoio bipodal pés afastados livremente e olhos
abertos; (2) apoio bipodal pés afastado livremente e olhos fechados. As sessões de equoterapia
foram realizadas no Centro Básico de Equoterapia “Gen. Carracho” da Associação Nacional
de Equoterapia (Ande-Brasil) e ocorreram no período de setembro a dezembro de 2005,
totalizando 20 sessões. Em dezembro de 2005 foi realizada aquisição dos dados
estabilométricos pós-equoterapia, obedecendo à mesma metodologia adotada na aferição
pré-intervenção. Por se tratar de um estudo inédito, os resultados encontrados não foram
comparados com outros estudos. Não houve uma homogeneização nos valores dos
parâmetros estabilométricos aferidos pré e pós-equoterapia; no entanto, todos os praticantes
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apresentaram mudanças nesses valores.

INTRODUÇÃO

A equoterapia, método terapêutico que utiliza o cavalo como instrumento de trabalho, foi
reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como um recurso terapêutico de reabilitação
motora no dia 9 de abril de 1997 (Nóvoa et al., 2005; Ferreira, 2003). Os portadores de
necessidades especiais que fazem uso dessa terapia são denominados praticantes de
equoterapia (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA, 2001).

O cavalo possui ciclos de movimentação análogos aos ciclos do homem durante sua andadura
natural, o passo. O paralelismo entre o andar humano e o do cavalo é evidenciado pelo
movimento tridimensional de ambos (Ferreira, 2003). O movimento tridimensional da marcha
eqüina é utilizado por um fisioterapeuta ou outro profissional de saúde (McGibbon et al.,
194
1998), visando à melhora do ajuste tônico, alinhamento corporal, equilíbrio postural (EP) e
função global de pessoas portadoras de necessidades especiais (Ferreira, 2003; Brenda et al.,
2003). Os estudos de McGibbon et al.,1998, Brenda et al., 2003 e Lechner et al., 2003 mostram
que essa movimentação eqüina análoga ao movimento da marcha humana, a descarga de
peso em membros inferiores sobre o estribo e a dissociação de cintura pélvica e escapular
podem ajudar o praticante a melhorar sua marcha, postura e EP.

Bertoni (1988) estudou os efeitos da equoterapia em 11 crianças com diplegia espástica e


após dez semanas de sessões de equoterapia, realizadas duas vezes por semana, descreveu
que observou melhora do EP em oito crianças. Calverley (1990) utilizou a equoterapia em
cinco crianças com paralisia cerebral e idade entre nove e onze anos, descrevendo que após
20 sessões de equoterapia observou-se melhora do EP sentado durante o movimento frontal
em todas as crianças estudadas. McGibbon et al. (1998) constataram melhora da relação do
EP durante o movimento frontal nas cinco crianças presentes em seu estudo, após 16 sessões
de equoterapia.

Em recente revisão bibliográfica não foram encontrados estudos pesquisando os efeitos da


equoterapia em indivíduos amputados. Amputação é uma palavra derivada do latim, ambi
= ao redor de/em volta de e putatio = podar/retirar. Segundo Carvalho (2003), podemos
definir o termo amputação como sendo a retirada, em geral cirúrgica, total ou parcial de um
membro. Willian et al. (2001) afirmam que pessoas com amputações em membro inferior
possuem alto risco de quedas, sendo que 52% das pessoas com amputação de membro inferior
nos níveis transtibial e transfemural relatam ter sofrido ao menos um episódio de queda nos
últimos 12 meses.

O EP pode ser avaliado por testes clínicos, entretanto, uma forma quantitativa de registrá-lo
e analisá-lo comparativamente é por meio da estabilometria, na qual as oscilações nos eixos
ântero-posterior (AP) e médio-lateral (ML), que são representados respectivamente pelos
eixos y e x, são estudados em termos de deslocamento do centro de pressão (CP) (Oliveira et
al., 1992; Oliveira, 1998; Barros et al 1998; Prieto et al., 1996). Essas são medidas que
caracterizam o desempenho estático do sistema de controle postural (Prieto et al., 1996).

A manutenção do EP envolve uma complexa integração dos sistemas proprioceptivo,


vestibulare óculo-motor (Tookuni et al., 2005; Oliveira, 1992; Oliveira et al., 1996; Barros et

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al; Prieto et al., 1996). O sistema proprioceptivo é composto por diversos receptores que
percebem a posição e a velocidade de todos os segmentos corporais; o sistema vestibular é
sensível às acelerações lineares e angulares; e o sistema visual possibilita que a pessoa
mantenha razoavelmente o EP (Tookuni et al., 2005). Desordens acometendo qualquer um
desses sistemas, como no caso dos pacientes amputados, que possuem uma diminuição da
propriocepção, podem levar a um aumento da oscilação postural e perda potencial do EP
(Tanaka et al., 1999; Dornan et al., 1978 ).

Summers et al. (1987) e Lord e Smith (1984), utilizando uma plataforma de força Doublé
Vídeo (DVP), mostraram que a maioria dos amputados de membro inferior, principalmente
aqueles que fazem uso de prótese acima do joelho, não conseguem fazer transferência ideal
de peso no membro protetizado. A equoterapia, como descrito anteriormente, contribui para
melhora do EP, portanto, é provável que a equoterapia contribua para melhorar a distribuição
do peso ortostático de forma simétrica entre o membro não amputado e o membro protetizado,
conseqüentemente melhorando o EP de amputados em membro inferior.
195
O objetivo desse estudo piloto é quantificar o efeito de um tratamento de equoterapia nos
parâmetros estabilométricos de pessoas que possuem amputação transfemural unilateral e
estender o debate acerca da eficiência da equoterapia para pacientes com este perfil.

METODOLOGIA

1 - Amostra

São relatados os casos de três praticantes de equoterapia com amputação transfemural


unilateral, selecionados entre os atendidos no setor de fisioterapia para amputados do Hospital
da Universidade Católica de Brasília (HUCB), que se disponibilizaram para realização do presente
estudo. Os pacientes tinham um ano ou mais de protetização, sendo que um dos participantes
já havia concluído o processo de reabilitação e os demais ainda estavam neste processo.

Foram incluídos no estudo os praticantes que conseguiam ficar em pé, sem apoio, sobre a
plataforma, durante trinta segundos; que não apresentavam outras patologias ortopédicas,
neurológicas e cerebelares (confirmadas pelos testes index-index, index-naríz e Romberg)
ou alguma alteração da sensibilidade no pé não amputado (confirmado pela estesiometria)
e ainda aqueles que não apresentavam fobia ao animal. Todos os praticantes leram e
assinaram o termo de consentimento, concordando em participar do estudo. O protocolo
experimental utilizado foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade
Católica de Brasília – UCB.

2 – Registro da estabilometria

Os testes estabilométricos foram realizados no Laboratório de Biomecânica e análise dos


Movimentos Humanos da UCB por meio do sistema F-Scan com software versão 4.21 e
sensor tipo plataforma F-Mat (figura 1) modelo 3100 (Tekscan, Inc., South Boston, MA),
conectado a um computador modelo Pentium III.

Figura 1: Plataforma F-Mat


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Fonte: www. camatsystem.com/ bilder/storfmat.jpg

Os praticantes foram submetidos ao exame estabilométrico antes da primeira sessão de


equoterapia e o teste foi repetido após a 20º sessão.

A plataforma foi calibrada antes do registro estabilométrico de cada praticante, seguindo a


metodologia proposta pelo fabricante. Para obtenção de um valor médio, foram realizadas
196
três coletas de 30 segundos cada com o praticante de olhos abertos e mais três com olhos
fechados e, em cada coleta, os indivíduos eram orientados a pisar na plataforma com o
primeiro pé na sua livre escolha e a adotar a postura em pé sobre a mesma com os pés, não
amputado e o da prótese, descalços e afastados livremente, braços relaxados ao longo do
corpo e cabeça ereta direcionada para um referencial fixado na parede. Entre as coletas, o
praticante descansou sentado em uma cadeira durante 60 segundos. A freqüência de
aquisição do registro foi de 100Hz.

Para o processamento, os sinais foram filtrados por um filtro digital Butterworth passa-
baixa de quarta ordem, com fase zero, com freqüência de corte de 5Hz, usando o software
LabVIEW versão 5.0 e exportados para o cálculo dos parâmetros estabilométricos em planilha
excel desenvolvida pelos autores. Foram descartados os primeiros 10 segundos da aquisição,
pois a literatura considera esse tempo inicial como adaptação à posição ortostática (Prieto et
al., 1996).

Seguindo sugestão da Sociedade Internacional de Posturografia (1981) (citado por, Prieto et


al., 1996), utilizam-se os parâmetros estabilométricos referentes à velocidade média (excursão
total do CP dividido pelo tempo de aquisição), e a distância rms (raiz quadrática média da
distância entre um CP médio e cada par das coordenadas na série temporal) nos seus valores
totais e nas direções ântero-posterior (AP) e médio-lateral (ML) para comparações pré e pós-
intervenção de cada praticante, por meio de estatística descritiva. Esses parâmetros são
importantes porque segundo Prieto et al. (1996), a velocidade média apresenta relação
diretamente proporcional à quantidade de atividade regulatória do sistema de controle
postural e a distância rms apresenta relação inversamente proporcional ao nível de
estabilidade apresentado pelo sujeito.

3 – Equoterapia

As sessões equoterápicas foram realizadas no Centro Básico de Equoterapia da Associação


Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil), localizada na Granja do Torto, Brasília DF. Não há
consenso na literatura sobre o número adequado de sessões de tratamento necessárias para
obter melhora do EP dos praticantes. Em nosso estudo, foram realizadas 20 sessões de
equoterapia, no período de setembro a dezembro de 2005. Os praticantes foram instruídos
quanto à utilização de vestimentas apropriadas para a prática da equoterapia, consistindo
de calça e camiseta de malha, que permitam boa mobilidade dos membros, e uso de tênis e

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capacete.

Visando a um estímulo tridimensional do cavalo mais intenso em membros inferiores e cintura


pélvica, foram selecionados três cavalos que transpistavam, ou seja, que possuíam uma
passada mais ampla e conseqüentemente de baixa freqüência, permitindo um movimento
rítmico e cadenciado.

Todos os praticantes fizeram uso de sela australiana para montaria, pois esse tipo de sela
possui um assento mais amplo (que acompanha melhor a anatomia do assoalho pélvico do
praticante) e alça anterior, que permite maior estabilidade para a montaria, além de
intensificar os estímulos tridimensionais em cintura pélvica.

Foram utilizados estribos mais baixos, de modo que as articulações dos ombros, da coluna
vertebral, dos quadris, dos joelhos e tornozelos ficassem alinhadas, facilitando o enfoque do
tratamento na melhora do EP durante o ortostatismo.
197
Os cavalos foram conduzidos somente ao passo, guiados por um condutor. Em todas as
sessões os praticantes foram acompanhados individualmente por um terapeuta.

Cada sessão de equoterapia consistiu das seguintes etapas: (1) Com o intuito de facilitar a
montaria, o praticante utilizava uma plataforma para estratégia de montar e apear (figura
2); (2) aproximação: o praticante aproximava-se do cavalo demonstrando intimidade, afeição
e o acariciava; (3) alongamento e relaxamento muscular: ao início de cada sessão, o terapeuta
orientava os praticantes a relaxarem e sentirem o movimento rítmico do cavalo alongando
coluna vertebral, membros inferiores e superiores; (4) consciência corporal e sensibilização:
os praticantes eram posicionados em frente a um espelho para percepção da imagem corporal,
(5) realização de alinhamento postural e EP sentado. Para isso, era solicitado ao praticante:
(a) soltar as mãos da alça da sela; (b) abduzir os braços; (6) exercícios ativos do tronco e
extremidades (flexão e extensão); (7) movimentação do cavalo em serpentina, círculo, aclive
e declive; (8) despedida: término da atividade sobre o dorso do cavalo, na qual o praticante
acariciava e despedia-se afetivamente do cavalo.

Figura 2 - Plataforma estratégica de montar e apear

RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Praticante 1 - M.B, 73 anos, sexo masculino, sofreu amputação nível transfemural em membro
inferior direito em fevereiro de 1999 devido à trombose venosa profunda (TVP), sendo
protetizado em setembro de 2004, e desde então faz uso de prótese endo-esquelética com
encaixe quadrilátero, joelho trava manual externa e pé SACH. Desde abril de 2003 vem
sendo acompanhado pelo Serviço de Fisioterapia para amputados do Hospital da
Universidade Católica de Brasília (HUCB), onde atualmente realiza treino de marcha com
muletas axilares bilaterais em 4 pontos, embora ainda utilize a cadeira de rodas como principal
meio de locomoção.

Conforme resultados descritos na tabela 1, observa-se que todos os parâmetros


estabilométricos apresentaram valores maiores pós-equoterapia quando o praticante foi
avaliado com os olhos abertos, indicando um aumento da atividade do sistema de controle
postural (demonstrado pelo aumento da velocidade média) e uma diminuição do EP após as
sessões de equoterapia (demonstrado pelo aumento dos valores de distância).
198
Porém, quando avaliado com os olhos fechados, com exceção da velocidade média na direção
AP, que aumentou, os demais parâmetros apresentaram valores menores pós-equoterapia,
indicando resultados inversos à situação com os olhos abertos.

Tabela 1. Comparação dos parâmetros estabilométricos pré e pós-equoterapia do


praticante 1.

Parâmetros Olhos abertos Olhos fechados


Pré Pós Pré Pós
Distância rms (mm) 0,27 0,67 1,52 0,88
Distância rms ML (mm) 0,18 0,27 0,75 0,57
Distância rms AP (mm) 0,20 0,62 1,32 0,68
Velocidade média (mm/s) 0,88 1,57 2,99 2,69
Velocidade média ML (mm/s) 0,46 0,63 1,95 1,37
Velocidade média AP (mm/s) 0,67 1,33 1,86 2,01
Legenda: rms (root mean square); ML (direção médio-lateral): AP (direção ântero-posterior)

Praticante II – L.M, 47 anos, sexo feminino, foi vítima de atropelamento em julho de 2002,
sofrendo uma amputação traumática, nível transfemural em membro inferior esquerdo, sendo
protetizada em abril de 2004. Esta praticante utiliza prótese endo-esquelética, com encaixe
quadrilátero, joelho autobloqueante e pé SACH. Desde março de 2004 vem sendo
acompanhada pelo Serviço de Fisioterapia para amputados do Hospital da Universidade
Católica de Brasília (HUCB), e atualmente seu principal meio de locomoção é a marcha, em
dois pontos, com uma muleta canadense ipsilateral ao membro protetizado.
Conforme resultados descritos na tabela 2, observa-se que todos os parâmetros
estabilométricos apresentaram valores menores pós-equoterapia quando o praticante foi
avaliado com os olhos abertos, indicando que apesar de apresentar uma diminuição da
atividade do sistema de controle postural (demonstrado pela diminuição da velocidade
média), seu EP melhorou após as sessões de equoterapia (demonstrado pela diminuição dos
valores de distância).

Tabela 2. Comparação dos parâmetros estabilométricos pré e pós-equoterapia do praticante 2. XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Parâmetros Olhos abertos Olhos fechados


Pré Pós Pré Pós
Distância rms (mm) 0,46 0,32 0,28 0,49
Distância rms ML (mm) 0,29 0,23 0,15 0,25
Distância rms AP (mm) 0,36 0,23 0,24 0,42
Velocidade média (mm/s) 1,68 1,30 1,16 1,84
Velocidade média ML (mm/s) 1,04 0,86 0,56 0,82
Velocidade média AP (mm/s) 1,12 0,84 0,95 1,52
Legenda: rms (root mean square); ML (direção médio-lateral): AP (direção ântero-posterior)
199
Porém, quando avaliado com os olhos fechados, os parâmetros apresentaram valores maiores
pós-equoterapia, indicando resultados inversos à situação com os olhos abertos, ou seja,
piora do EP e aumento da atividade do sistema de controle postural.

Praticante III – J.A, 63 anos, sexo masculino, portador de diabetes mellitus tipoII, com
histórico de neuropatia periférica e formação de úlceras no pé direito, o que levou à amputação
transfemural em maio de 2003, sendo protetizado em maio de 2004. O praticante faz uso de
prótese endo-esquelética, com encaixe quadrilátero, joelho auto-bloqueante e pé SACH. Foi
atendido no setor de fisioterapia para amputados do Hospital da Universidade Católica de
Brasília (HUCB) durante três meses (fevereiro, março e abril de 2005), recebendo alta da
fisioterapia em abril de 2005. Atualmente seu principal meio de locomoção é a marcha em 4
pontos com auxílio locomoção de uma muleta canadense ipsilateral e uma bengala do tipo
cajado contralateral ao membro protetizado.

Conforme resultados descritos na tabela 3, observa-se que, quando medidos de olhos abertos,
os valores relativos à distância rms diminuíram e os valores relativos à velocidade média
aumentaram pós-equoterapia, indicando que tanto o EP quanto a atividade do sistema de
controle postural aumentaram.

Porém, quando avaliado com os olhos fechados, com exceção da velocidade média na direção
AP, os resultados são contrários aos resultados de olhos abertos.

Tabela 3. Comparação dos parâmetros estabilométricos pré e pós-equoterapia do praticante 3.

Parâmetros Olhos abertos Olhos fechados


Pré Pós Pré Pós
Distância rms (mm) 0,49 0,36 0,63 0,70
Distância rms ML (mm) 0,33 0,21 0,48 0,54
Distância rms AP (mm) 0,36 0,30 0,40 0,45
Velocidade média (mm/s) 1,18 1,39 2,79 2,68
Velocidade média ML (mm/s) 0,81 0,85 1,88 1,67
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Velocidade média AP (mm/s) 0,69 0,93 1,64 1,78


Legenda: rms (root mean square); ML (direção médio-lateral): AP (direção ântero-posterior)

No presente estudo, em todos os praticantes os resultados dos testes com os olhos fechados
são opostos aos encontrados com os olhos abertos. Este fato pode ser justificado pela ausência
do input visual, que exige maior atividade do sistema proprioceptivo dos membros inferiores.
Esses achados estão de acordo com os encontrados por Dorna et.al., (1978), que avaliando a
importância do input visual no sistema de controle postural utilizando dois transdutores de
deslocamento com um alcance de 8,5cm operado pela tração em um arame ligeiramente
tencionado que se auto-recolhia, com um transdutor conectando este aparato a um
microcomputador que captava o deslocamento dos sujeito durante o período de um minuto
em 144 voluntários, 39 sujeitos com amputação transtibial e 105 sujeitos não amputados
(grupo controle), concluíram que a contribuição do sistema visual no controle do EP é de
particular importância quando o sistema proprioceptivo está reduzido, como no caso dos
200
amputados transfemurais em que a perda da propriocepção é compensada pelo aumento
da dependência do sistema visual.

Entretanto, não houve um padrão referente aos resultados apresentados pelos praticantes.
Esse fato pode ter ocorrido porque a amostra era de apenas três casos que apresentavam
características diferentes quanto à idade, gênero, causa de amputação e o nível de segurança
e estabilidade durante a marcha.

Ensaios clínicos com uma amostra maior, mais homogênea e que contemple grupo controle
são necessários para maior aprofundamento no conhecimento dos efeitos da equoterapia no
EP de amputados de membro inferior.

CONCLUSÃO

Este foi um estudo-piloto que teve como objetivo apresentar o caso de três praticantes de
equoterapia com amputação transfemural unilateral e criar discussões a respeito do
tratamento equoterápico em praticantes amputados de membro inferior. Por não houver
sido encontrado na literatura pesquisas abordando o tema, este é um estudo inédito e, por
isso, seus resultados não puderam ser comparados.

Todos os praticantes apresentaram mudanças nos valores dos parâmetros estabilométricos


aferidos após a realização da equoterapia, tanto relacionados à melhora quanto à piora do
EP, assim como aumento ou diminuição da atividade do sistema de controle postural. Porém,
não houve tendência padronizada nas respostas apresentadas pelos praticantes. São
necessários estudos futuros em perspectiva com maior número de praticantes, com objetivo
de proporcionar maior compreensão sobre os efeitos da equoterapia no EP de pacientes
amputados de membros inferiores.

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202
SENTE-SE ERETO!

Autor: Lynne Munro - Inglaterra


Co-autor: Penny Butler

INTRODUÇÃO

Freqüentemente, cavaleiros em equoterapia são instruídos a “sentarem-se eretos” por


instrutores, terapeutas e guias para melhorar sua postura ao sentar-se de lado, olhando
para a frente, num cavalo parado e em movimento. Esta instrução pode não levar a uma
mudança duradoura de postura, apesar das instruções repetidas para “sentar-se ereto”.
Este artigo explora o conceito teórico da Cadeia Cinética Aberta Controlada (Cadeia Aberta)
e Cadeia Cinética, Fechada Controlada (Cadeia Fechada) (Butler e Major, 2003) para
entender a postura dos cavaleiros durante a equoterapia e explorar por que a instrução
“sente-se ereto” nem sempre resulta em mudança duradoura de postura.

Postura Ideal
Olhando um cavaleiro de qualquer um dos lados, a postura ideal é descrita por uma linha
imaginária vertical, que pode ser desenhada da orelha do cavaleiro, tocando ombro e quadril
e terminando no calcanhar (Wanless, 1998; Swift 1985) e que tem o centro de gravidade do
cavaleiro dentro da base de apoio. Esta postura é semelhante ao ser humano em pé no solo.

Cadeias Abertas e Fechadas


O corpo humano pode ser pensado como uma estrutura multisegmentada com os ossos
como segmentos, as juntas do esqueleto como articulações em conjunto do esqueleto e os
músculos como geradores de movimento girando as articulações (Mordomo e Munro 2005).
O conceito de uma cadeia dentro do corpo humano é uma junção de elos rígidos articulados
formados pelos ossos e juntas. A estrutura humana exige controle ativo para manter uma
postura ereta antigravitacional dentro do ambiente gravitacional. De uma perspectiva de
biomecânica, o controle ativo de uma junta do esqueleto pode ser considerado como a
capacidade do corpo de responder a uma mudança na direção do momento externo, agindo
sobre a junta e assim prevenindo o colapso ou produzindo o movimento pretendido.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


O momento externo pode mudar de uma flexão (dobra) para uma extensão (esticamento)
ou vice-versa. Um exemplo disto é visto na posição em pé ereta na qual, o dobrar do joelho
é impossibilitado pela ação do músculo anterior da coxa, produzindo a extensão de joelho.
Em posição ereta com um joelho reto, a força de reação do solo, que é igual e oposta à força
exercida para baixo pelo sujeito, passa para cima, para perto e à frente do centro da junta
do joelho. No entanto, se o joelho é flexionado, a força de reação do solo passa por trás do
centro do joelho. A distância perpendicular da junta à força de reação do solo é o braço de
momento e o comprimento do braço estica com o aumento da flexão do joelho. Um momento
de força é a força de reação do solo multiplicado pelo braço de momento. Quão maior o
momento de força, maior será a ação necessária do músculo para manter a posição de uma
junta.

Na situação de equitação se cria a hipótese de que há uma força de reação do cavalo


semelhante à força de reação do solo, que é exercida em direção ao alto, sobre o cavaleiro da
interface cavalo/cavaleiro e que exige controle equilibrado dos músculos posteriores e
anteriores do tronco para manter a postura ereta ideal. 203
O desvio desta postura ideal inevitavelmente aumenta o momento de força que
correspondentemente requer maior atividade dos múculos anteriores ou posteriores do tronco
para manter a posição ereta. O produto final do controle ativo na junta ou juntas é a realização
de uma meta funcional tal como chutar uma bola, ou no caso de equitação terapêutica,
manter uma postura ereta anti-gravitacional enquanto se resiste às perturbações transferidas
pelo cavalo em movimento, essencialmente “sentando-se ereto”. A tarefa dentro da equitação
terapêutica e equoterapia é ajudar o cavaleiro no ganho do controle ativo de momentos e
braços de momento para manter uma postura de Cadeia Aberta que se contrapõe à força
gerada em cada membro posterior enquanto o cavalo se move.

A Cadeia Aberta é percebida na estrutura humana quando o terminal final, geralmente a


cabeça, está livre de restrições e o controle ativo é necessário em todas as juntas para manter
a posição. Em contraste, numa situação de Cadeia Fechada, as exigências de controle são
mínimas e a postura pode ser mantida pelo controle ativo de uma ou duas juntas. No entanto,
a característica crucial de uma Cadeia Fechada é que é impossível saber, com uma simples
inspeção visual, sobre quais juntas o controle ativo está sendo exercido, e algumas pessoas
podem usar uma junta específica para controlar uma posição/postura enquanto outra pessoa
pode usar uma estratégia de controle diferente das juntas. A análise das Cadeias Aberta e
Fechada descrita aqui não deve ser confundida com Exercício de Cadeias Aberta e Fechada
frequentemente descrita na medicina desportiva, a qual usa uma definição diferente e não
foca no requisito de controle. O uso seletivo da Cadeia Aberta é passível de prevenir o
desenvolvimento de habilidades, já que há apenas uma estratégia disponível para o uso.

Desenvolvimento
Uma das características que identifica o desenvolvimento humano é a transição de deitar
para sentar e andar ereto, tipicamente aos 18 meses de idade. A capacidade de alcançar
estes marcos importantes do desenvolvimento indica um sistema neuromuscular e sensorial
que é capaz de reagir ao constante efeito da gravidade. Como andar independente é
estabelecido alarga-se a disponibilidade de experiências sensório-motoras, e as crianças
participam de uma gama de atividades físicas, possivelmente incluindo a equitação. Para
uma criança com dificuldades de controle de movimento, estas oportunidades são diminuídas
como as oportunidades de movimento de habilidade inevitavelmente exigem controle da
posição ereta, num estreita base de apoio, com mudanças rápidas de direção e um gradual
e seletivo recrutamento muscular e.g. ginástica, tênis e futebol. As crianças com problemas
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

de controle de movimento freqüentemente exigem uma base aumentada de apoio para


promover estabilidade e o uso prolongado das suas mãos ajudar no equilíbrio e locomoção.
Assim, ereto, em movimento adiante em outro que uma normalmente lenta velocidade
selecionada é somente possível com o uso de alguma forma de ajuda de mobilidade, tal
como um carro ou cadeira de rodas, e a velocidade e direção destes são governadas por
outros, a menos que se use uma cadeira de rodas elétrica ou assitente de caminhada. Estas
situações não oferecem a oportunidade de desenvolver o controle de postural enquanto em
movimento. A criança responderá usando uma estratégia de Cadeia Fechada para enfrentar
as perturbações freqüentes causadas por mudanças de direção. As conseqüências eventuais
do uso exclusivo da Cadeia Fechada possívelmente são: incômodo, encurtamento do tecido
macio e músculos com deformidade das juntas levando a dificuldades duradouras e invasivas
de postura e para o continuado e forçado uso da Cadeia Fechada.

Equitação Terapêutica e Equoterapia


A equitação terapêutica e a equoterapia oferecem a oportunidade de experimentar movimento
204 para cima e para a frente (dianteiro) numa base aumentada de apoio/interface das pernas
no assento. Também dá o tempo de preparação necessário para antecipar a perturbação de
postura experimentada quando o cavalo caminha para a frente. A tarefa fundamental para
o cavaleiro na equitação terapêutica e equoterapia é manter seu centro de gravidade dentro
da base de apoio, do contrário a perda inevitável do equilíbrio ocorrerá.

Crianças e adultos que rotineiramente necessitam de extensivo apoio de assento quando


desmontados do cavalo inicialmente são provavelmente incapazes de recrutar o controle de
tronco necessário e a estabilidade central para serem capazes de sentar-se num cavalo em
movimento em alinhamento ideal de tronco, doravante à instrução freqüentemente repetida
“sente-se ereto”. Estes cavaleiros revertem a usar uma estratégia de Cadeia Fechada para
conferir alguma estabilidade e manter sua posição no cavalo e resistir às perturbações. Uso
prolongado da estratégia de Cadeia Fechada provavelmente tem conseqüências na postura
de longo prazo e se torna improvável progredir no desenvolvimento verdadeiro de
habilidades.

A instrução « sente-se ereto » pode levar às respostas mostradas na Tabela 1.

Tabela 1: Reações do cavaleiro à instrução “sente-se ereto”

• O cavaleiro pode fazer e manter a mudança necessária de postura por um variável


e crescente período de tempo (Cadeia Aberta)
• O cavaleiro pode fazer e manter a mudança necessária de postura por um variável
e crescente período de tempo (Cadeias Aberta e Fechada)
• O cavaleiro pode, brevemente, tentar a mudança de postura pedida, mas é incapaz
de sustentar a mudança (Cadeias Aberta e Fechada)
• O cavaleiro é incapaz de tentar a mudança de postura pedida (Cadeia Fechada com
possível progressão para uma Cadeia Aberta)

As primeiras três respostas são fluidas e interligadas dentro da oportunidade de aprendizado


motor oferecida pelo cavalo. A quarta resposta pode parecer ser inicialmente estática, mas
também pode ser capaz de mudar, dependendo da prontidão e capacidade do cavaleiro de
participar no processo de mudança. Todas as respostas são dependentes do entendimento e

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


interpretação da instrução a “sente-se ereto” e são relacionadas à capacidade cognitiva,
motivação, prontidão e vontade de mudar, ao estado físico do cavaleiro e à seleção e uso do
cavalo. Loch (1988) resume isto ao dizer “cavalgar é muito uma questão de sentir, não só
com o corpo, mas com a mente e espírito”. Isto implica que todos os sistemas do corpo
trabalham em harmonia e são complementares. Em todas situações no cavalgar, não só na
Equitação Terapêutica (Therapeutic Riding) e equoterapia (hipoterapia), a meta é alcançar
a primeira resposta, de permanecer em equilíbrio com o cavalo indefinidamente, usando
uma estratégia de Cadeia Aberta em todas situações enquanto montado.

Análise do Status das Cadeias Aberta e Fechada


Evidência fotográfica de adultos e crianças cavalgando dentro das sessões de equoterapia
do «Cavalgar para o Deficiente (Reino Unido) - Equitação Terapêutica» Riding for The
Disabled (UK) e de crianças recebendo equoterapia (hipoterapia) individual foram
examinadas para identificar o status das Cadeias Fechada e Aberta.
205
RESULTADOS

Pela análise, notou-se que havia posturas de Cadeia Fechada freqüentemente observadas
tanto em adultos quanto em crianças com incapacidades divergentes. Algumas posturas
eram muito óbvias e espelhavam posturas vistas em cavaleiros sem deficiência, mas havia
também Cadeias Fechadas que eram mais sutis, nas quais se pode supor que um nível mais
alto de habilidade tenha sido alcançado, do que estava realmente presente. Importantes
achados, via observação, estão na tabela abaixo:

Tabela 2: Exemplos de um status de Cadeia Fechada observados na Equitação Terapêutica


e Equoterapia

• Pelve posteriormente girada e espinha lombar flexionada


• Pelve anteriormente girada e espinha lombar hiperestendida
• Obliquidade pélvica e escoliose espinhal para ambos os lados
• Cifose de espinha torácica e espinha cervical flexionada ou hiperestendida
• Uso das mãos para apoio, segurar-se ou escorar o tronco
• Uso das rédeas como auxílio ao equilíbrio

O efeito de uma Cadeia Fechada pareceu prevenir a transferência fluida das três forças
dimensionais do cavalo em movimento ao cavaleiro. O que é observado é a ausência de
movimento em uma parte do tronco, freqüentemente associado a uma postura fixa nessa
área, e movimento excessivo em outra área do corpo. A ansiedade, tensão muscular e a
retenção do fôlego também produziram formas mais sutis da Cadeia Fechada. Muitos
cavaleiros foram observados segurando as rédeas e tentando controlar a direção do cavalo,
mas eram dependentes do uso das rédeas como uma ajuda ao equilíbrio.

Consequências da Cadeia Fechada

O uso exclusivo de uma estratégia de Cadeia Fechada finalmente prevenirá o desenvolvimento


de habilidades mais altas. Alguns cavaleiros parecem ter alcançado um nível de competência
mas, ao observar de perto, a base necessária de um estado de Cadeia Aberta não foi alcançada
– por exemplo, pode haver uma pelve imóvel, fixa, devido a um encurtamento muscular e
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

do tecido macio. A conseqüência de Cadeias Fechadas persistentes pode ser a dor, como em
hiperlordose da região lombar (Auvinet, 2000).

No entanto, o uso seletivo da Cadeia Fechada permite a prática como uma habilidade maior
que se desenvolve - e.g. um bebê aprendendo a sentar-se inicialmente usará ambas as mãos
para apoio (Cadeia Fechada), antes de adquirir o controle necessário de tronco para libertar
uma mão para alcançar os brinquedos (Cadeia ainda Fechada), e antes de aprender a sentar-
se independentemente, com as mãos livres e uma pelve móvel (Cadeia Aberta). Neste exemplo,
s
a Cadeia Fechada é transitória e, portanto, não é um problema. Todavia, para uma criança
com paralisia cerebral, por exemplo, para alcançar qualquer posição de assento
independentemente, ela pode ser permanentemente dependente das suas mãos para apoio
(Cadeia Fechada) já que o controle adequado de tronco e as reações de equilíbrio são atrasadas.

Na equitação terapêutica e equoterapia, a Cadeia Fechada pode ser deliberadamente


encorajada como um meio de conferir estabilidade na ausência de uma completa e equilibrada
atividade muscular. Um exemplo disso pode estar em encorajar criança com paralisia cerebral
206
com controle incompleto de cabeça a usar ambas as mãos para apoio enquanto usa
movimentos graduados seletivos do cavalo visando ao controle ativo da cabeça. Como o
controle de cabeça melhora, a criança é encorajada a reduzir a dependência em seu apoio
de mão. Alguns exercícios comumente usados pela da equitação terapêutica e equoterapia
freqüentemente envolvem o levantamento de ambas as mãos para o alto, tal como tentando
alcançar ao céu, ou pondo ambas as mãos na cabeça do próprio cavaleiro.

Se há um controle muscular de tronco inadequado para aguentar a complexidade aumentada


enquanto os braços levantados, em compensação, o tronco adotará uma posição de Cadeia
Fechada para conferir estabilidade enquanto tenta a tarefa, e uma queda para o lado pode
ser vista. A tarefa foi alcançada, mas a um custo postural, e não se pode dizer que algum
aprendizado motor verdadeiro tenha acontecido.

CONCLUSÃO

O reconhecimento das Cadeias Fechada e Aberta pode levar a maior entendimento do


verdadeiro nível de habilidade do cavaleiro e às razões pelas quais alterações à postura ideal
são freqüentemente vistas. A instrução para “sentar-se ereto” não resolve completamente as
questões envolvidas. O uso seletivo, mas não persistente, da Cadeia Fechada pode ser
encorajado como parte do processo de aprendizado motor. No entanto, o uso pervasivo da
estratégia da Cadeia Fechada prevenirá o desenvolvimento de habilidades mais difíceis de
equitação e pode levar a problemas duradouros de postura tanto para o cavaleiro quanto
para o cavalo.

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207
MELHORANDO AS APTIDÕES COMUNICATIVAS DE CRIANÇAS
QUE DEMONSTRAM HABILIDADES DA FALA
SUBDESENVOLVIDAS DURANTE A EQUOTERAPIA

Autor: Joanna Dzwonkowska - Polônia

Eu tenho trabalhado nos últimos 12 anos como uma equoterapeuta com crianças de diferentes
tipos e graus de deficiência. Muitos dos meus pacientes experimentam sérias dificuldades
em comunicar-se com o que os rodeia devido a severas deficiências mentais, danos ao sistema
nervoso central ou atraso no desenvolvimento da fala. Estes são manifestados na falta ou
dificuldade de expressão verbal ou na ausência de qualquer forma inteligível de transmitir
uma mensagem usando sons ou gestos.

Graças a situações naturais durante as sessões com o cavalo, o equoterapeuta monitora a


interação constante com o pequeno paciente. Isso dá a oportunidade de ensiná-lo a reconhecer
toda a riqueza das emoções que acompanham essas sessões, nomeando-as e copiando-as.
Um terapeuta faz a criança perceber sua existência através da relação com o cavalo e um
outro ser humano e começa a sentir a necessidade de se comunicar com eles. Este é o primeiro
passo fundamental na complicada arte da comunicação com o mundo externo. Mais ainda,
a naturalidade das situações encontradas dá a chance de enriquecer o vocabulário nas
circunstâncias atraentes para a criança. O envolvimento emocional causa um desejo de
dividir esses estados (emocionais), permitindo à criança aprender a se expressar naturalmente.

Eu desejo apresentar neste artigo meus pensamentos e experiência no trabalho com crianças
com sérias dificuldades comunicativas, e a maneira na qual as sessões de equoterapia são
úteis para desenvolver esta habilidade.

Para começar vamos examinar algumas noções relacionadas à comunicação.

O que é a comunicação?
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Comunicação é trocar informações. É um processo de


reciprocidade/duas vias, envolvendo ambos emissor e receptor.
Sua ferramente básica é a língua. Os participantes do processo
têm duas funções ao mesmo tempo, eles enviam e recebem
mensagens, que devem ser claras e inteligíveis para ambos parceiros
da interação.

A comunicação não é só verbal. Meios poderosos de enviar/


transmitir informações são os movimentos do corpo, gestos,
postura, expressão facial e aspectos característicos da nossa voz,
como volume, timbre e ritmo da fala.

Por que nós nos comunicamos?

208
O objetivo maior da comunicação é estabelecer relações. Do momento em que nascemos
estamos equipados para respirar e nos alimentar, e rapidamente dominamos o
relacionamento com as pessoas mais próximas, o que nos prepara para estabelecer relações
com outras pessoas. A parte vital deste processo é a comunicação.

A habilidade de se comunicar, como todas as outras habilidades, é sujeita ao aperfeiçoamento.


A ferramenta básica de comunicação é o grito entendido pelos pais como uma mensagem. O
pequeno aprendiz usa o grito mais conscientemente como informações sobre estados ou
necessidades como fome, medo ou desconforto. Não entendendo ainda as palavras, a pequena
criança reaje à voz, toque e expressão facial da mãe ou de outras pessoas próximas. Suas
habilidades comunicativas desenvolvem-se com o passar do tempo, no que diz respaito aos
meios de enviar ou transmitir informação ou recebê-la do entorno, devido ao desenvolvimento
da fala. Ele (aprendiz) adquire a habilidade de compreender o significado das palavras que
descrevem os fenômenos ocorrendo nas suas vicinidades, e começa a usar a língua para
transmitir informações sobre si e seus estados, mas também recebe o retorno.

A fala é a base da comunicação, e a comunicação é uma das mais importantes habilidades


necessárias para funcionar na vida social. O funcionamento adequado do indivíduo é
manifestado por um comportamento acomodado.

As crianças com distúrbios da apreensão da fala experimentam muitas dificuldades na


acomodação/inclusão social.

Quando planejando o trabalho com um jovem paciente, eu sempre me pergunto como eu


poderia libertar ou desenvolver suas habilidades comunicativas? Como iniciar meu trabalho
para fazer este jovem ver a razão para comunicar-se com seu entorno? Antes de construir
um plano de possível terapia, eu observo cuidadosamente e interpreto o comportamento
comunicativo da criança e verifico o nível do seu entendimento da fala. Dependendo do
nível de eficiência comunicativa, o alvo da terapia para algumas crainças será desenvolver a
competência comunicativa, e para outras estimular a ânsia para comunicar-se. Para crianças
que já atingiram um certo nível de desenvolvimento da fala e usam palavras ou onomatopéias,
será o aprendizado do falar através de novas noções e palavras. Para outras, os meios de
transmitir informação será o sorriso, vocalização, toque, expressão facial ou gesto. Essas
mensagem mudas podem incluir um significado preciso como “Estou com medo”, “Eu gosto

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


(disso)”, “Eu gosto de você”, “Eu gosto do meu cavalo”, “Eu me sinto desconfortável” e
muitos outros.

A maneira como nós, os terapeutas, nos dirigimos à criança é incrivelmente importante. Nós
queremos ser entendidos e portanto nós proferimos sentenças formuladas com claridade e
fáceis de entender. Um terapeuta trabalhando com uma criança deve ajustar a maneira
como ele fala à capacidade de entendimento do paciente. Deve ser frisado novamente que
ele (o terapeuta) deve ter consciência do nível da fala do paciente e, principalmente, seu
entendimento.

A situação de contexto para o processo comunicativo tem um papel importante nesta troca
verbal e não-verbal. Isso consiste na organização do que circunda a criança de uma maneira
que faça o entendimento da informação enviada a ela e a expressão de seus sentimentos,
necessidades e pensamentos possível ou mais fáceis. Toda a atividade e sensualidade da
crainça se tornam uma fonte de troca com o ambiente, alargando assim a área de significação

209
na qual a criança pode enviar e receber. Dentre os meios naturais usados na contrução e
fortalecimento do sistema de comunicação individual, os mais comuns são os seguintes:

– vocalizações;
– ver e apontar com os olhos;
– gestos naturais e preparados;
– expressões facias;
– reações físicas incluindo reações gerais do corpo todo.

As reações mencionadas acima são geralmente a resposta das crianças ao comportamento,


apresentação de objetos ou declarações dos seus parceiros de comunicação.

Assume-se que as sessões de equoterapia libertem/soltem de uma maneira natural a


necessidade da criança de se comunicar. Primeiramente, isso significa comunicar-se com o
cavalo. Fascinada com o cavalo, a criança ansiosamente cria um relacionamento com as
pessoas acompanhantes, tratando-as como uma adição natural. Consequentemente, praticar
as funções sociais da língua se torna uma tarefa mais fácil do que nas formas tradicioniais de
terapia. Graças ao seu apelo, forma constante e caráter repetitivo de alguns elementos dos
encontros, as sessões a cavalo dão o significado comunicativo, portanto sendo de ajuda no
desenvolvimento da consciência e da habilidade de se comunicar.

Estes elementos constantes e repetitivos incluem:

– saudar o terapeuta e o cavalo;


– dar sinal para andar;
– parar;
– despedir-se;
– estrutura inalterada dos exercícios.

As ferramentas aplicadas nos itens acima são gestos acompanhados por um som, onomatopéia
ou palavra, dependendo da capacidades da criança. O papel do terapeuta é combinar
comportamento com a necessidade manifestada, e escolher do registro comportamental da
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

criança aquele que deve ser reforçado.

O que se deve fazer então é:

– observar o comportamento da criança, adequadamente reconhecer a razão e


responder/reagir à mensagem enviada pela criança;
– escolher um comportamento para torná-lo um sinal;
– consistentemente reforçar o sinal;
– confirmar à criança que o sinal dela é compreendido, claro e efetivo.

Exemplo: A criança quer fazer o cavalo parar tentando bufar com os lábios, em vez do
geralmente utilizado “whoa”.

Não nos esqueçamos que a comunicação não-verbal é primordial no desenvolvimento humano


e portanto mais acessível no estágio inicial da vida, e tão importante no nosso trabalho com
210
pacientes deficientes. A criança pode não entender a situação por completo e nem nossas
expectativas no começo da terapia. Então o terapeuta, como se representando ambos os
papéis, por exemplo dizendo as palavras da crianças e as próprias, ensinando a criança
certos comportamentos comunicativos. O objetivo de fazê-lo é para trazer à tona o prazer
de falar e a vontade de informar também como atrair a atenção da criança para uma palavra
ou som proferido por ela, com certo significado, e as vantagens de utilizá-lo.

A criança vindo aos estábulos saúda de maneiras diferentes o terapeuta e a pessoa que
segura o cavalo, ou através de um aperto de mãos e uma palavra ou som, ou então acariciando
o abdômen, pescoço e afagando o nariz do cavalo. O próximo estágio é montar o cavalo e
andar. Depois de um tempo a criança tenta fazer seu cavalo preferido se mover, parar ou
trotar sem ajuda alheia. Depois de muitas repetições acompanhadas por uma descrição de
toda a situação e uso dos mesmos anúncios, a criança associaria certas atividades com seus
resultados, e.g. para fazer o cavalo mover-se, tem que se dar o sinal dizendo a palavra
“giddy-up!” ou o som simplificado como “up” ligado ao movimento dos quadris. Temos de
ser observadores cuidadosos para reagir adequadamente, como o anúncio enviado pela
criança pode ser transmitido através de um gesto, movimento do corpo ou som. A iniciativa
tomada pelo paciente, mesmo que pequena, tem de ser reconhecida e apoiada. O sentimento
de ser percebido e reconhecido dá satisfação e pode levar à outra iniciativa para interagir e
até à necessidade de diálogo sem palavras. Devido à previsibilidade, que está proximamente
relacionada à repetição de algumas tarefas e a situações constantes e organizadas com as
quais nós lidamos durante as sessões com os cavalos, a criança aprende e pratica esses
comportamentos de acordo com suas próprias possibilidades.

Uma relação próxima com um animal, seu ambiente, a natureza e situações diretamente
relacionados à vida do cavalo podem estimular as crianças a enriquecer seu vocabulário
passivo com itens relacionados ao seu animal favorito, à vida das pessoas e às mudanças
que ocorrem na natureza. As novas palavras são dominadas mais rapidamente durante as
sessões de equoterapia do que nas sessões tradicionais de fonoaudiologia. O elemento crucial
parece ser o envolvimento emocional. A criança participante das sessões de equoterapia
enfrenta várias situações, às vezes engraçadas, às vezes tristes, estranhas ou estressantes.
Ela geralmente reage às situações e tenta chamar nossa atenção, porque ela deseja demonstrar
emoções através de expressões faciais, gestos ou vocalização.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

211
CRITÉRIO BÁSICO PARA AVALIAÇÃO DA EQUOTERAPIA EM
INDIVÍDUOS AFETADOS POR TRANSTORNO NEUROMOTOR:
METODOLOGIA, AVALIAÇÃO, RESULTADOS

Autor: Anna Pasquinelli - Italia


Co-autores: Paola Allori, Elena Ajello, Massimo Papini

Institute of Child Neurology and Psychiatry, Department of Neurological and Psychiatric


Sciences, University of Florence, Italy

Instituto de Neurologia Infantil e Psiquiatria, Departamento de Ciências Neurológicas e


Psiquiátricas, Universidade de Florença, Itália

A administração repetida da nossa “Escala de Avaliação Equoterápica Extrapiramidal dos


Transtornos” (Escala de Avaliação EET) (Pasquinelli et al, 1997, 2000) confirmou que a
confiabilidade científica e utilidade clínica da escala de avaliação quantitativa da equoterapia,
na definição dos objetivos da equoterapia, sua duração e manutenção a longo prazo com
base nos efeitos positivos observados na montaria (“indíce de manutenção no solo”), o qual
é o alvo verdadeiro de qualquer tratamento reabilitativo. Enquanto isso, os dados que surgiram
da escala sugeriram o aconselhamento de um aumento no número e gama de itens para
uma avaliação mais ampla e detalhada para a sua aplicação aos transtornos neuromotores
além do ET. Nós, portanto, procedemos:

1) a revisar a “Escala de Avaliação EET”, consistindo de:

a) aumento da gama da pontuação: que passou de 0-3 para 0-4 pontos. A possibilidade
de conferir ½ ponto também foi introduzida, quando a expressão de um sintoma ou
a competência neuromotora em questão não é suficiente para alcançar o próximo
ponto inteiro, mas é signifactivo no nível de reabilitação clínica. Tudo isso tem o
propósito de estabelecer uma melhor graduação na codificação de até mesmo
pequenas modificações semiológicas, de outra maneira não objetivamente
classificáveis;
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

b) ajuste do método de pontuação: estabelecimento de uma definição precisa dos


critérios quantitativos e funcionais para sintomas-alvo, mecanismos de consenso
(ajustes de tom, tempo, força) e competências funcionais (veja escala anexada);
c) inclusão de itens para a avaliação de todos os transtornos neuromotores: espásticos,
distônicos e trantornos do cerebelo;
d) identificar os mesmos itens (“Itens Comuns”) que estão presente e são avaliáveis
no solo e na montaria para a avaliação da “ relação de efeito solo/montaria” (índice
S/M) e o “índice de manutenção no solo”;
e) identificar os itens que serão avaliados individualmente no solo e em montaria
(“itens específicos”);
f) análise aprofundada do “RT”, por exemplo., o tempo requisto/requerido à
estabilização dos efeitos positivos enquanto em montaria (“RT em montaria”) e no
solo (“RT no solo”), para estabelecer uma duração útil do RT, com a definição do
212
“RT mínimo” e do “RT máximo”, indicando, respectivamente, o tempo mínimo e
máximo requerido para mudanças positivas nos itens avaliados;
g) ajustar a pontuação e o modo de avaliar o “Índice S/M”, assim como o “índice de
manutenção no solo”;

2) elaborar uma nova escala chamada “ESCALA RT DE AVALIAÇÃO DOS


TRANSTORNOS NEURO-MOTORES” (“Escala de Avaliação RT TNM”), que pode se
aplicar tanto a crianças quanto adultos, em formas puras ou mistas;

3) elaborar um banco de dados específico.

SUJEITOS (TAB.1)

Nós aplicamos a escala revisada a um grupo selecionado de sujeitos (S). Critérios de seleção:
S afetado por transtornos neuromotores, puros e mistos; estabilidade do quadro clínico por
pelo menos 4 anos; ausência de fatores de interferência significantes (epilepsia sem controle,
doenças graves,etc.); manutenção de tratamento terapêutico quando presente.

Nós selecionamos 12 S (7 mulheres, 5 homens).


Idade média no início do RT: 17 anos e 7 meses (gama: 6a 9 m – 57a 1m): crianças-
adolescentes: 8 S (gama: 6a 9 m-13a 7m); jovem-adultos – adultos: 4 S (gama: 21a 10m – 57a
1m).
Acompanhamnto de RT: média: 5a 5m (gama: 1a 6m – 8a 2m); no S 8 o seguimento do RT
durou mais de 4a 10m (no S 5 8a). 5 S (BE, QS, RF, TG, ZM) já tinham sido avaliados pelo
protocolo antecedente, no entanto, com um período de acompanhamento menor em 3 S
(BE, TG, ZM), portanto, foi possível fazer uma comparação pertinente, relevante às duas
escalas.
Etiopatogênese: paralisia cerebral em 10 S; transtornos adquiridos em dois adultos (RF, TG)
(tendo o evento patológico ocorrido muitos anos antes que o RT tivesse início: 10 e 13 anos,
respectivamente).
Formas clínicas: formas puras: 7 S (5 espásticos e 2 distônicos), formas mistas: 5 S.
Nível de deficiência: (de acordo com “Gross Motor Function Classification System - Sistema

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de Classificação de Função Motora Rudimentar”, Palisano et al, 1997): deficiência grave
está presente em 6 S (nível 5: controle da cabeça ausente em 3 S, nível 3: paraplegia em 3 S).
Retardo Mental: 8 S (grave/moderado: 5 S; leve: 3S).
Envolvimento Psiquiátrico: 2 S.
Movimentos Involuntários: (IM): 4 S (BD, QS, TG, ZM): movimentos coreoatetóides, caretas.

MÉTODO

VR serial e observações tanto montando quanto no solo em intervalos estabelecidos (0-3-6-


12- e subsequentemente uma vez por ano ou com mais freqüência quando necessário) e
analisados de acordo com nossa escala revisada de modo a examinar:
A) modificações neuromotoras observadas em montaria e modificações de longo prazo
no solo com avaliação dos seguintes itens: 1) sintomas alvo; 2) mecanismos de
consenso (ajuste de tom, tempo, força); 3) competências funcionais; 213
B) possíveis modificações imediatas após sessão de equoterapia (até 30 minutos); isso
serve para avaliar a continuação temporária no solo dos maiores efeitos positivos
observados em montaria, contra a situação inicial;
C) habilidades de equitação adquiridas.

Os efeitos da equoterapia sobre os sintomas-alvo, mecanismos de consenso, competências


funcionais são pontuados. Então nós avaliamos o “Tempo Mínimo E” e o “Tempo Máximo
E”, onde E refere-se à “Equoterapia”, e o Índice S/M para poder estabelecer o “Índice de
Manutenção no Solo” (Pasquinelli et al., 1997, 2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Resultados positivos foram observados em todos os S e em todos os itens, apesar de com uma
diferente distribuição e graduação. Dentro do contexto dessa resposta global dos sintomas,
achados mais específicos sobre os tempos e graus de resposta são analisados por:

AVALIAÇÃO NEUROMOTORA EM MONTARIA (TAB. 2, 3, 4)

SINTOMAS-ALVO e MECANISMOS DE CONSENSO: ampla variedade nos resultados


com a presença de muitas respostas de valor Excelente (9 S) e alguns com um valor Discreto
(2S). Nenhuma melhora foi observada em 2 itens (Latência e Ajuste de Tempo) no S1 com
deficiência grave (BM) (nível 5 + multideficiente). A imediata e particular sensibilidade do
IM foi confirmada: Boa/Excelente em 3/4S, também como a particular sensibilidade de
sintomas muito incapacitantes como rigidez, flexão, opisthotonos/retropunção, torção,
inconsistência segmentária, sobressalto.

COMPETÊNCIAS FUNCIONAIS: variedade similar na distribuição; resultados muito


significativos no Assentar e Função dos Membros Inferiores (100%), Planejamento/
Cordenação Motora (91.96%) e Controle da Cabeça (77.77%). Um percentual mais baixo
para Reações de Equilíbrio (66.66%) e Função dos Membros Superiores (58.33%). Nenhuma
melhora foi observada em 4S: em 2S gravemente afetados (BE, BM) relevante à Função dos
Membros Superiores, Reações de Equilíbrio e Planejamento/Cordenação Motora (apenas
no BM) e em 2S (BD, LG) (deficiência nível 3) relevante ao Controle de Cabeça, dado o já
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“bom” nível anterior de competência.

Deve ser observado que o controle de Padrões de Postura (PP) e Padrões Motores (PM)
altamente incapacitantes, a marcada redução da Rigidez e os bons resultados conseguidos
nos Mecanismos de Consenso permitem a acquisição de competências funcionais tais como,
por exemplo, controle da cabeça mesmo nos sujeitos mais deficientes.

TEMPO E em Montaria: 0-5 anos


Observe que, para PP e PM de alta incapacitação como Sobressalto, Torção, Opisthotonos/
Retropunção, para a Rigidez e MI o tempo E é com frequência 0 (=immediate improvement).
Em geral, no entanto, uma primeira melhora (“Tempo E mínimo”) nos itens ocorre em até
6m/meses em 82.73% dos casos, e também (muito raramente) em não mais que 3a/três
anos (BE) em sujeitos altamente/seriamente deficientes. Melhoras mais significativas podem
ser todavia observadas, mesmo que esporadicamente, até no 5a/quinto ano (“Tempo E
máximo”) mas não além deste tempo.
214
AVALIAÇÃO NEUROMOTORA NO SOLO (TAB. 2, 3, 4)
Ao todo, bons resultados foram encontrados em manter as respostas em montaria, apesar
dos resultados serem claramente de um grau mais baixo: nenhuma pontuação “Excelente”
e menos dos “Bons”.

SINTOMAS-ALVO
Bom: em alguns dos sujeitos meio-leve: latência 3/11S (LBG, BD, ZM), inconsistência
segmentária 1/9S (ZM);

Moderada: a maioria dos sintomas está distribuida nessa categoria em altas porcentagens
(55 – 80%); valores mais baixos foram encontrados para Sobressalto e, sobretudo, para IM,
o que foi confirmado com a resposta imediata em montaria, mas fraca manutenção no solo/
solo (1/4S);
Nenhum: distribuição desigual com alta predominância do IM (3/4S).

MECANISMOS DE CONSENSO e COMPETÊNCIAS FUNCIONAIS: distribuição


principalmente na categoria Moderada com porcentagem de resposta variando de 50% a
80% para todos os itens, exceto Reações de Equilíbrio e Função dos Membros Superiores,
para os quais a resposta é menor que 50%.

Nenhum: Ajuste de Tempo/Ritmo em um S severamente afetado (BM); Controle de Cabeça


e Assentar do S já com uma “boa” competência básica.

Observe que, mesmo no solo, todos os sujeitos altamente incapacitados demonstraram


adquirir controle de cabeça e do sentar (valores Leves/Moderados), mesmo depois de um
longo tempo de acompanhamento (2-3 anos).

TEMPO E em Solo: 3 meses – 5 anos


A aparição de uma primeira melhora (“Tempo E mínimo”) ocorre em até 1 ano em 73% dos
casos, em outros mais tarde, mas não acima de 4 anos, especialmente nos S severamente
incapacitados. A melhora pode continuar ainda mais, mas não acima dos 5 anos (“Tempo
E máximo”).

AVALIAÇÃO NEUROMOTORA NO SOLO NO INICIO E LOGO APÓS O FIM DA


SESSÃO (até 30 minutos)

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Mudanças positivas foram observadas em todos os sujeitos, o que constantemente foi um
prelúdio para a melhora de competências no solo mais tarde. Nos sujeitos severamente
deficientes, o “Tempo E mínimo” é 1-2 anos, e nos casos menos severos de 6-18 meses; nos
últimos parece ser tendenciosamente mais tempo para as competências que começam de
um nível bom e das quais a modificação envolve a realização de várias habilidades complexas.

HABILIDADES DE MONTARIA/ EQUITAÇÃO

Os resultados relatados acima, alcançados em montaria e sua manutenção, permitiram aos


S adquirir habilidades de montaria.
- Devido à severidade neuropsíquica, 8 S começaram com equoterapia (E) e
permaneceram neste módulo, enquanto 3 S (BD, BM, CN) permaneceram no nível
iniciante, com melhora na execução, os outros 5 (BE,GE,LG, LBG, RM) mostraram
uma melhora progressiva, indo aos níveis (diferença de até 2-3 níveis).
215
- 1S (RF, Deficiência Nível 2) começa com equoterapia e depois de 15 minutos muda
ao Programa de Equitação Remedial/Educacional (PER).
- 3 S (QS, TG, ZM) (Deficiência Nível 1) começam com o PER. Os bons (TG, ZM) e
excelentes (QS) resultados alcançados nesses S no que diz respeito às habilidades
neuromotoras em montaria, especialmente com relação à habilidade de planejar
movimentos e cordená-los, permitindo que eles possam prosseguir em um bom trote
(trote de assento –TG, e trote de posicionamento/posterior –QS, ZM-) e também
realizar exercícios na arena (corrida com obstáculos (slalom), trabalhando sobre
barras) (QS, ZM)

AVALIAÇÃO GLOBAL E CONSIDERAÇÕES GERAIS

ÍNDICE S/M: “Bom” em 10 S (TAB. 5) sem diferenças significantes de resultados dentro da


gama deles em relação à idade, forma clínica, nível de invalidez, duração do
acompanhamento; “Moderada” em 2 S (BE, TG). Foi confirmada a imediata resposta
demonstrada em estudos anteriores com invalidante PP e PM (torção, opisthotono/
retropunção) e no IM com o TE em montaria freqüentemente atingindo 0, com confirmação
da indicação particularmente apropriada da E para sujeitos distônicos. Resultados positivos
são também observados em todos os sujeitos espásticos com relação a alvos específicos da
forma, tais como hipertonia, agarramento, estenia, sobressalto, do qual o desaparecimento
imediato na montaria é digno de nota.

No todo, bom “Índice Manutenção no Solo” das aquisições conseguidas na montaria foi
confirmado. O resultado dessa reabilitação até permitiu para 3S a TRANSIÇÃO PARA
UM OUTRO NÍVEL DE DEFICIÊNCIA NO SOLO: CN, do nível 5 para o 4, LG e LBG do
nível 2 para o 3.

O acompanhamento longo em 8 S durando mais de 4 anos e 10meses (em 5S 8a) tornou


possível evidenciar a possibilidade de uma melhora gradual e contínua dos Sintomas-Alvo e
em Competências Funcionais correlatas, tanto nos S severamente deficientes (Level 5), nos
quais a aquisição de uma nova competência pôde até ser observada (controle da cabeça,
assento), e também nos deficientes leves (ZM), relevante às mais complexas competências.
Note que, nos sujeitos mais deficientes, a melhora pode começar em até depois de 3 anos de
equoterapia. No entannto, nenhuma mudança, tanto a cavalo quanto no solo, foi observada
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após estes 5 anos, do que se pode deduzir que a utilidade reabilitativa da E em formas
fixas é de 5 anos.

CONCLUSÃO

A análise comparativa das duas escalas mostra um aumento decisivo na sensibilidade da


escala atual quando comparada com a anterior, na medida em que oferece um espectro de
avaliação mais amplo e preciso, sensível também para determinar mudanças mínimas tanto
nos sujeitos altamente incapacitados quanto nos levemente afetados, observável em todos
itens, nos três grupos de avaliação. Tudo isso traduz-se num melhor entendimento dos
resultados para cada sujeito em particular, e no geral aumenta o conhecimento relevante à
receptividade de cada sintoma a E, portanto tornando a indicação mais específica. A indicação
particularmente específica da E para sintomas altamente incapacitantes, raramente suscetíveis
à mudança com os métodos terapêuticos usuais/tradicionais, e a validade da “Escala de
216
Avaliação de Transtornos Neuromotores na E” em sujeitos com idades e patologias diversas,
foi amplamente confirmada.

REFERÊNCIAS

MILANI COMPARETTI A (1978) - “Classification des infermités motrices cérébrales”. Méd


Hyg 36: 2024-2029.

PALISANO R, ROSENBAUM P, WALTER S ET AL (1997) - Development and reliability of


a system to classify gross motor function in children with cerebral palsy. Dev Med Child
Neurol 39 (4): 214-223.

PAPINI M, PASQUINELLI A, FILIPPINI A, LANDI N (1990) - Non progressive


Extrapyramidal Syndromes in infancy and childhood. Prototypical clinical pictures and
natural history. In: Papini M, Pasquinelli A, Gidoni EA eds. “Development, Handicap,
Rehabilitation. Practice and Theory”. ICS; Elsevier Sci Publ BV, Amsterdam,1990; 103-119.

PASQUINELLI A, ALLORI P, MURANO A C, BIAGINI B, PAPINI M (1997) - Therapeutic


Riding in Patients Affected by Progressive and Non-Progressive Extrapyramidal Disorders.
In: Proceed IXth Intern Therapeutic Riding Congr “Riding the Winds of Progress” Denver,
Co, USA, July 14-19, 1997. NAHRA Ed, Denver, USA: 90 -109.

PASQUINELLI A, ALLORI P, MENCARONI M, DI STEFANO M (2000) - Focus on some


basic criteria for an objective Therapeutic Riding evaluation. Application and results in subjects
affected by Extrapyramidal Disorders. In: Proceed X Intern Therapeutic Riding Congress,
Angers, France, April 26-29, 2000.Fèdèration Nationale Handi Cheval (Ed): 84-91 e In: FRDI
(Ed), Scientific & Educational J Therapeutic Riding 2001: 18-37.

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217
ANÁLISE BIOMECÂNICA DE UM CAVALO DE TERAPIA:
A INTERFERÊNCIA DO PESO CORPORAL E DA SIMETRIA
POSTURAL DO PRATICANTE NA QUALIDADE DO PASSO DO CAVALO

Autor: Luciana Ramos Rosa - Brasil

CONSIDERAÇÃO INICIAL

Esta pesquisa piloto foi desenvolvida por Luciana Ramos Rosa como aluna do Programa de
Treinamento para Professores 2002 – 2004 com Especialização na Área de Equoterapia no
Japão, na Universidade de Yamanashi, Faculdade de Educação & Ciências Humanas,
Departamento de Educação Física, Esportes e Ciências da Saúde. Durante seus estudos, foi
supervisionada por Kiyomi Ueya, Orientador Acadêmico, Mestre em Educação Física e Doutor
em Biomecânica.

INTRODUÇÃO
Esta pesquisa é um estudo descritivo, um caso, que relata dados somente de um sujeito.
Estudos descritivos também são chamados de observativos, porque observam os sujeitos
sem intervenções. O sujeito deste tema é um cavalo de terapia, uma raça japonesa – Dosanko,
de Hokkaido. Esse estudo foi feito para descrever e analisar os movimentos de um cavalo
sobre quatro diferentes condições. Análise de vídeo foi utilizada para medir características
temporais do passo do cavalo. O cavalo foi preparado com marcadores reflexivos adaptados
e filmado por sete câmeras diferentes.

Hipoterapia Clássica

Na hipoterapia clássica, é somente o movimento do cavalo que influencia o praticante. O


praticante pode ser posicionado sobre o cavalo de diferentes maneiras: sentado de frente, de
costas ou de lado, decúbitos ventral ou dorsal. O praticante passivamente interage com, e
responde ao movimento do cavalo. A responsabilidade do mediador é de continuamente
analisar as respostas do praticante e, de acordo, ajustar a maneira na qual o cavalo está se
movendo. Por esta razão, o mediador deve ter conhecimento suficiente do movimento do
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cavalo, para direcionar o experiente auxiliar-guia e para alterar o tempo e a direção do


cavalo como indicado pelas respostas do praticante. (Barbara Heine, Abril 1997).

Equoterapia

A equoterapia é uma abordagem de tratamento que utiliza o movimento do cavalo baseado


na metodologia da hipoterapia clássica, com a inclusão de princípios de tratamento que se
aplicam à profissão particular de cada mediador que realiza o atendimento. A combinação
única do cavalo, do movimento do cavalo e de um ambiente não-clínico produz um
extraordinário esforço em todos os sistemas do corpo. Portanto, embora a equoterapia seja
freqüentemente utilizada para atingir objetivos físicos, também possibilita ganhos efetivos
nos domínios psicológicos, cognitivos, sociais, comportamentais e comunicativos. A
equoterapia é verdadeiramente uma forma de tratamento multidisciplinar e pode ser aplicada
por diferentes profissionais. A equoterapia utiliza atividades no cavalo que são significativas
para o praticante e visa especificamente objetivos individuais. Fornece um ambiente
218
controlado e estímulos sensoriais graduais criados para incitar respostas adaptadas,
apropriadas do praticante. Produz uma base ampliada de funções neuromotoras e uma
adequação no processamento sensorial que podem ser generalizados a uma grande variedade
de atividades fora do tratamento.

Por que o cavalo?


A Equoterapia utiliza os movimentos multidimensionais do cavalo para atingir resultados
funcionais terapêuticos específicos. Mediadores especialmente treinados usam cavalos
selecionados como ferramentas de tratamento terapêutico. O passo do cavalo fornece estímulo
sensorial através do movimento, que é variável, rítmico e repetitivo. As respostas de
movimento resultantes no praticante são similares aos padrões de movimento da pélvis do
homem enquanto anda. A variabilidade do passo do cavalo possibilita ao mediador classificar
o grau de estímulo sensorial dado ao praticante e então, utilizar esse movimento em
combinação com outras estratégias de tratamento para atingir os resultados desejados. Os
praticantes respondem entusiasticamente a essa experiência prazerosa em um cenário natural.
Os movimentos rítmicos e repetitivos do cavalo propiciam significativas melhoras no tônus
muscular, no equilíbrio, na postura, na coordenação, na força, na flexibilidade e nas
habilidades cognitivas. Além disso, o ajuste e a acomodação aos movimentos do cavalo
aumentam a integração sensório-motora.

O que é biomecânica?
A biomecânica aplica princípios mecânicos ao estudo de sistemas vivos. Neste caso, o sistema
em que estamos interessados é o cavalo e, mais especificamente, estamos utilizando técnicas
biomecânicas para estudar como o cavalo se locomove. Esse processo, que é conhecido como
análise biomecânica do passo, mede o desempenho do cavalo objetivamente e nos permite
quantificar alguns aspectos da performance que não são visíveis ao olho humano.

O passo
O passo é um andamento de quatro batidas rítmicas, o que significa que ao menos um membro
está no solo a todo o momento, e que não há fase de suspensão. Esses fatos se aplicam a
todos os tipos e velocidades de passo. Outra característica consistente do passo é a seqüência
de pouso dos membros no solo. Um membro posterior é sempre seguido por um membro
anterior do mesmo lado do corpo (Seqüência Lateral de Colocação dos Membros), e um membro
anterior é sempre seguido pelo membro posterior do lado oposto do corpo (Seqüência Diagonal

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de Colocação dos Membros).

Qualidade do passo
De acordo com a pesquisa de Hilary M. Clayton, a qualidade do passo do cavalo é
demonstrada através do tempo, dos padrões de coordenação dos membros e do alcance do
movimento das articulações, todas estas características são extremamente importantes. O
propósito deste estudo foi de medir apenas o tempo e a coordenação dos membros. O passo
é distinguido pela seqüência e tempo de pouso dos membros no solo, que se repete de maneira
cíclica. Um passo completo é a unidade básica do andar do cavalo e tal unidade será
denominada de Passada. Uma passada começa e termina no mesmo ponto do ciclo de
movimentos dos membros. Tempo (ou índice de passada) é o número de repetições das
passadas. É normalmente medido em passadas por minuto. O Ritmo descreve o tempo de
pouso dos membros em cada passada. A Seqüência de Apoio é a seqüência de combinações
dos membros que apóiam o peso do corpo durante a passada. A Coordenação dos Membros
descreve o ritmo de pouso dos membros no solo. (Hilary M. Clayton, Abril 23-28, 1998).
Seqüência de Apoio
219
A seqüência de apoio descreve o número de membros que apóiam o corpo seqüencialmente durante
a passada. No passo, o peso do cavalo é apoiado alternadamente por três membros (Apoio Tripedal)
e por dois membros (Apoio Bipedal). Há oito fases de apoio em cada passada. (Figura 1).

Figura 1. Fases de apoio na passada.

PD-AD-PE: AD-PE: AD-PE-AE: PE-AE: PE-AE-PD: AE-PD: AE-PD-AD: PD-AD

Leia-se: PD – posterior direito; PE – posterior esquerdo; AD – anterior direito; AE – anterior esquerdo.

Enquanto a velocidade aumenta, cada membro tende a estar no solo por um período mais
curto (uma menor fase de apoio), criando menos sobreposições entre as várias fases de apoio
dos membros. Isso se traduz em períodos de apoio tripedal mais curtos nos passos médio e
alongado. Há períodos de apoio tripedal mais longos no passo reunido, o que dá ao cavalo
uma maior base de apoio e o ajuda a manter seu equilíbrio em velocidades mais baixas.

Velocidades do passo

Transições entre os vários tipos de passo envolvem mudanças distintas de velocidade: de 82


metros por minuto (3.0 milhas por hora) no passo reunido, a 104 mpm (3.8 mph) no passo
médio e 109 mpm (4.0 mph) no passo alongado. A velocidade de um andamento é calculada
como descrito a seguir:
Velocidade (metros por minuto) = Comprimento da passada (metros) x Tempo (passadas
por minuto)
Comprimento ajustado da passada, tempo, ou ambos mudam a velocidade do andamento.
Cavalos à vontade ajustam tanto o comprimento da passada quanto o tempo.

Comprimento da passada

O comprimento da passada é a distância entre contatos sucessivos com o solo (marcas dos
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cascos no solo) pelo mesmo casco. Essa distância é a soma da Distância Lateral (a distância
entre o membro posterior e o membro anterior do mesmo lado) e da Distância de Pista (a
distância entre o pousar do membro anterior e o pousar do membro posterior do mesmo
lado). Quando o membro traseiro pisa atrás do membro dianteiro, a distância de pista é
negativa: dizemos que o cavalo está antepistando. Quando o membro traseiro pisa sobre a
marca deixada pelo membro anterior, a distância de pista é igual a zero e diz-se que o cavalo
está sobrepistando. Quando o membro traseiro pisa à frente do membro dianteiro, a distância
de pista é positiva e diz-se que o cavalo está transpistando, indo além. Sobrepistar e transpistar
são considerados desejáveis porque indicam que os membros traseiros estão pisando bem
adiante, abaixo do corpo do cavalo.

Entretanto, a distância de pista de qualquer cavalo aumenta com a velocidade de seu passo.
Cavalos não são criados iguais em termos de sua habilidade de transpistar; conformação e
flexibilidade desempenham papéis importantes. Em geral, membros longos e dorso curto
facilitam o transpistar, como também dorso lateralmente flexível. Cavalos com tais atributos
220
tendem a demonstrar distâncias de posição maiores do que aqueles com membros curtos,
dorso longo e menos flexível lateralmente. A melhor maneira de ampliar o transpistar no
passo é trabalhar o relaxamento e a flexibilidade do dorso do cavalo.

Tempo

Idealmente um cavalo de adestramento mantém o mesmo tempo (índice de passada) nos


diferentes tipos de passos. A maioria dos cavalos mantém bem o tempo de passo durante as
transições, embora o passo reunido tenda a ter um tempo ligeiramente mais lento (cerca de
52 passadas por minuto, em comparação com a média de 55 passadas por minuto nos passos
médio e alongado).

Ritmo

O passo deve ter um ritmo regular de quatro batidas em que cada membro toque o chão
separadamente e distintivamente. Em um ritmo regular, o pouso dos membros no solo é
separado por intervalos de tempo iguais. Portanto, um - quarto da passada deve caber entre
cada pouso de membro no solo. Uma das características visuais de um cavalo que anda em
um ritmo regular é que, enquanto seu membro posterior move para frente, forma um “V”
com o membro anterior que está prestes a deixar o solo. (Figura 2).

Figura 2. Ritmo de passo regular. O membro anterior (aqui, o esquerdo) deixa o solo um
pouco antes de o membro posterior fazer contato. Os dois membros formam um “V”
característico. (Cortesia de Hilary Clayton)

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Fases de apoio e balanço

Cada passada consiste em uma fase de apoio e uma fase de balanço. A fase de apoio é o
período quando o membro está em contato com o solo e está suportando peso, e a fase de
balanço é o período quando o membro está fora do solo. No passo, a fase de apoio constitui
mais de 50 por cento da duração da passada – típico de andamentos que não apresentam
fase de suspensão. Os membros posteriores têm uma fase de apoio mais longa do que os
membros anteriores, o que é uma característica geral da reunião. Durante a fase de balanço,
o membro se move para frente; e quanto maior a passada, mais longe deve o membro se
221
mover. Para ter passadas mais longas, os membros devem ter um maior raio de movimento
desde seu ponto pivô. No passo, os membros anteriores articulam com escápula e os posteriores
com a pelve.

Qualidade de movimento do cavalo de terapia

De acordo com Jan Spink, M. A.1993, o cavalo de terapia fornece motivação, uma base
segura, e uma fonte de movimento para o praticante. Para atingir objetivos terapêuticos, o
cavalo deve ser altamente treinado e atento a sinais de comandos. Cavalos que são
considerados clinicamente instáveis por um médico veterinário não devem ser aceitos para
o propósito de reabilitação psicomotora ou física. Isso seria um desserviço para o praticante,
que perde a essência do tratamento e, portanto o efeito total que somente cavalos propriamente
treinados, condicionados fisicamente e equilibrados podem oferecer. Um bom cavalo de
terapia tem características básicas de movimento que são similares àquelas de qualquer cavalo
de adestramento de primeiro e segundo níveis. O movimento do cavalo deve seguir a regra
principal da teoria de equitação básica: “Pra frente, flexível, ereto e puro no andamento”.

Um cavalo que naturalmente se move dessa maneira pode ser desenvolvido para fornecer
estímulo terapeuticamente correto e apropriado. Esse tipo de cavalo é também mais agradável
e confiável de se montar. Um bom cavalo de terapia disposto vai adiante e assim permanece
por um período de tempo que iguala sua preparação e nível de desenvolvimento muscular.
Seu dorso é arredondado, com seus posteriores ativamente engajados. Sua cabeça deve estar
na vertical durante o passo de trabalho. Sua nuca sempre deve ser o ponto mais alto, e os
seus membros devem se locomover com retidão, a menos que esteja sendo pedido ao cavalo
para apresentar-se em duas pistas como em trabalhos laterais. De acordo com Mary
L.Longden, 1999 os fundamentos de adestramento fornecem as habilidades básicas necessárias
para um bom cavalo de terapia. O adestramento é o método de treinamento mais adequado
para atingir o equilíbrio, a flexibilidade, a força e a leveza de todo o corpo.

Características comportamentais: inatas e treinadas


Independentemente da raça, há uma série de áreas comportamentais que devem ser
consideradas no momento da seleção, do treinamento e do uso de um cavalo com propósitos
terapêuticos. São elas:
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1. Relação: O nível de confiança e respeito geral do cavalo pelo ser humano dentro de
uma perspectiva de dominante e dominado.

2. Submissão: A consistência do cavalo ao tentar colaborar de maneira obediente e


cooperativa para com aquilo que está sendo pedido a ele.

3. Desensibilização: A consistência do cavalo em responder ao treinamento utilizando


a recompensa para controlar instintos mais primitivos, quando encarando estímulos
incomuns ou potencialmente ameaçadores.

4. Sensibilização Seletiva: A habilidade do cavalo de, especificamente, se sintonizar e


se tornar altamente receptivo a estímulos controlados ou seletivos, tais como a
habilidade de executar as figuras básicas do adestramento utilizadas pelo mediador
e auxiliar-guia, as quais são parte de um repertório de objetivos e técnicas terapêuticas.

222
QUESTÃO PROBLEMA

O peso corporal e a simetria postural do praticante interferem na qualidade do movimento


do cavalo?

HIPÓTESE
O excesso de peso e a assimetria postural do praticante interferem na qualidade de
movimento do cavalo ao passo no que diz respeito a parâmetros cinemáticos específicos, tais
como: velocidade, comprimento da passada, tempo, distância lateral e distância de pista.

OBJETIVOS

1. Estudar os efeitos do peso e da simetria postural de três diferentes praticantes sobre


a qualidade de movimento do passo de um cavalo específico usado para terapia.
2. Investigar as diferenças de velocidade, comprimento de passada, tempo, distância
lateral e distância de pista durante o passo do cavalo sob quatro diferentes condições.

METODOLOGIA

Este é um estudo quantitativo descritivo que analisou alguns parâmetros cinemáticos


específicos através de uma análise videográfica combinada com componentes de um software
comercial japonês – FRAME DIAS II.

A Vídeografia é um método popular de análise cinemática dos cavalos. A análise cinemática


mede a geometria do movimento sem considerar as forças que causam o
movimento. Quantifica as características dos andamentos que são avaliados qualitativamente
durante um exame visual. Neste estudo, o resultado está na forma temporal (tempo) e linear
(distância).

Em cavalos saudáveis, a cinemática é bem estável e a análise de um número relativamente

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pequeno de passadas é representativa do padrão do andamento. Foi sugerido que de três a
cinco passadas são suficientes para a análise cinemática (Drevemo et al., 1980). As amostras
que descrevem um número igual de passadas para cada membro são a média e consideradas
“representativas” para aquele membro. O valor mínimo é então usado em estágios avançados
da análise como representante da variável para um membro em particular de um cavalo. A
maioria das variáveis das passadas demonstra boa repetição a curto e longo prazo (Drevemo
et al., 1980; Weeren et al., 1993).

PASSOS DOS SISTEMAS VIDEOGRÁFICOS NAS ANÁLISES TRIDIMENSIONAIS


1. Marcadores Reflexivos – Este processo consiste em selecionar pontos no cavalo que
são comumente usados para a colocação de marcadores de pele para análise
cinemática. Marcadores apropriados são colocados na pele e a luz (reflexo) é

223
controlada para fornecer contraste suficiente entre o limite dos marcadores e as
imediações.

2. Gravação de Vídeo – Nesta fase, câmeras são usadas em diferentes posições em um


circuito específico. Visão lateral (direita e esquerda), frontal e posterior.

3. Calibração – Para estudos tridimensionais uma estrutura de calibração com pontos


não coplanares é usada. A precisão da calibração determina por completo a precisão
dos dados tridimensionais finais.

4. Digitalização – Através do processo de digitalização as coordenadas dos marcadores


corporais são determinadas em espaços tridimensionais.

5. Transformação – Esse processo integra a informação da calibração com as


coordenadas digitalizadas para graduar os dados.

6. Suavização – Durante a digitalização, pequenos erros são introduzidos, o que


constitui “ruído” no sinal. Como uma base, um filtro digital de alta freqüência com
freqüência de corte de 10-15 Hz é adequado para a maioria dos estudos videográficos
do andar eqüino.

7. Normalização – A normalização dos dados facilita comparações entre diferentes


cavalos ao padronizar certos parâmetros.

A SELEÇÃO DOS PRATICANTES

Neste estudo três praticantes específicos foram selecionados.

1. Sujeito Número 1 – Sexo masculino, 21 anos de idade, 60 kg, sem deficiências, nunca
havia montado a cavalo.

2. Sujeito Número 2 – Sexo feminino, 17 anos de idade, 58, 65kg, síndrome de


Moyamoya, discreto desnível pélvico, sendo o lado esquerdo mais baixo que o direito,
induzindo a uma pequena escoliose à direita e nunca havia montado a cavalo.
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3. Sujeito Número 3 – Sexo masculino, 18 anos de idade, 114,15kg, deficiência mental


e nunca havia montado a cavalo.

A SELEÇÃO DO CAVALO

Uma raça japonesa de Hokkaido, Dosanko, égua, 08 anos de idade, 386 kg, 1.39cm.
Apresenta boa conformação para os padrões da raça, clinicamente saudável, excelente
comportamento e docilidade, naturalmente transpistava, não utilizava ferraduras.
Integrante do grupo de cavalos de um pequeno Centro Eqüestre – Shirane Horse Riding
Welfare Park. O centro atendia, esporadicamente, de maneira recreativa pessoas com
necessidades especiais. Segue abaixo foto da égua já preparada para iniciar a filmagem,
encilhada e com os marcadores reflexivos.

224
ETAPAS DE FILMAGEM

Uma trilha especial foi preparada para este procedimento. Inicialmente o cavalo percorria
88 metros em cada uma das quatro situações pré-estabelecidas, descritas abaixo. Em seguida,
se dirigia para trilha de filmagem de 05 metros. Sete câmeras digitais da Sony foram
posicionadas estrategicamente em torno dessa trilha – 03 câmeras do lado direito, 02 câmeras
do lado esquerdo, 01 câmera de frente e 01 câmera de trás. A equipe de filmagem foi
composta por nove membros do Laboratório de Biomecânica da Universidade de Yamanashi.
A égua foi conduzida por Luciana Ramos Rosa em todas as situações de filmagem na tentativa
de interferir o menos possível no andamento da mesma.

1. Situação “A”: Cavalo + Auxiliar-Guia

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225
2. Situação “B”: Cavalo + Auxiliar-Guia + Sujeito Número 1

3. Situação “C”: Cavalo + Auxiliar-Guia + Sujeito Número 2

4. Situação “D”: Cavalo + Auxiliar-Guia + Sujeito Número 3


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226
IMAGEM SEQUENCIAL DAS SITUAÇÕES INVESTIGADAS

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227
RESULTADOS

Situação “A” Situação “B” Situação “C” Situação “D”


Velocidade (m/s) 1.3 1.2 1.1 1.0
Comprimento da Passada (m) 1.55 1.53 1.44 1.35
Tempo (passadas/min) 54 53 51 50
Distância Lateral (cm) 145 144 140 139
Distância de Pista (cm) 10 nove cinco -8

A velocidade e o comprimento da passada foram significativamente menores nas situações


“C” e “D” quando comparadas com as situações “A” e “B”. O tempo (passadas/minuto)
na situação “D” foi significativamente menor em relação à situação “A”. Os valores
apresentados nas situações “A” e “B”, quando comparados, não alteraram de maneira
significativa. A maioria das alterações evidenciadas na velocidade foi definida por mudanças
ocorridas no comprimento das passadas. O constante decréscimo evidenciado no
comprimento das passadas é resultante do também decréscimo mostrado na distância de
pista, ou seja, a égua não conseguiu permanecer com sua habilidade natural de transpistar
quando montada pelos sujeitos das situações “C” e “D”.

CONCLUSÃO

O estudo procurou investigar somente as diferenças de velocidade, comprimento de passada,


tempo, distância lateral e distância de pista do passo de um mesmo cavalo sob quatro
diferentes condições. Obviamente, que tal investigação apresenta limitações importantes,
dentre elas é possível ressaltar: amostra de apenas um cavalo, o que impossibilita
generalizações, aspectos angulares não foram analisados e o software de análise em língua
japonesa, tornando a manipulação de dados bastante complexa.

Entretanto, ficou evidenciado que o cavalo alterou sua qualidade de andamento nas situações
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

em que os sujeitos apresentavam características especiais como: desnível pélvico e excesso


de peso corporal. Fica evidente a relação intrínseca entre movimento do cavalo e movimento
do praticante, ambos se conectando e alterando. O importante nesse processo de interação
de movimento é a identificação de aspectos positivos e negativos tanto para o praticante
quanto para o cavalo.

O binômio Praticante/Cavalo precisa manter uma relação harmoniosa, principalmente, no


que diz respeito a desconforto físico e psicológico. Sendo assim, é fundamental que o cavalo
de terapia tenha extremo potencial de movimento e docilidade, pois somente assim, o
praticante receberá um tratamento de qualidade, realmente efetivo e prazeroso, acelerando
assim, o processo terapêutico e reabilitativo. Portanto, os cavalos de terapia necessitam de
treinamento constante para manterem suas qualidades físicas e seu padrão de movimento.
O treinamento dos cavalos de terapia está centrado na base da equitação, ou seja, no
adestramento. A sustentação do andamento de um cavalo está baseada no ritmo, na
flexibilidade, na impulsão, no apoio, na retidão e na reunião. Todos esses elementos são
trabalhados através do adestramento, portanto, um bom cavalo de terapia deve apresentar
228
habilidades básicas de adestramento e somente o treinamento constante previne o cavalo da
contínua e gradual perda da qualidade de movimento. O fato é que os cavalos de terapia
vivenciam diariamente estresse físico e psicológico, precisamos nos conscientizar dessa
problemática, e com isso criar estratégias efetivas de prevenção para nos garantirmos da
qualidade de atendimento oferecida aos praticantes, os quais são a essência da equoterapia.
Dessa maneira estaremos melhorando os serviços de atendimentos equoterápicos nos diversos
centros de equoterapia do Brasil e do mundo.

REFERÊNCIAS

CLAYTON, M. HILARY and SCHAMHARDT C. HENK. Measurement Techniques for Gait


Analysis. In: Equine Locomotion. Eds W. Back and H.M. Clayton. W.B. Saunders Company,
London, 2000: pp 193-226.

CLAYTON, M. HILARY. Biomechanics of the Horse. This presentation was given by Dr.
Clayton at the United States Dressage Federation Convention on December 6th, 1997 as
part of the USDF University Programs section of the convention.

__________. Gait Analysis of Dressage Performance. A presentation given by Dr. Clayton


at the CESMAS Equine Sports Medicine Conference, Cordova, Spain, April 23-28, 1998.

__________. Gait Analysis: Past, Present & Future. The McPhail Chair Lecture given by Dr.
Clayton at the annual Michigan Veterinary Conference on January 23rd, 1998.

__________. The Changing Face of Gait Analysis. Equine Nutrition and Physiology
Symposium, Lansing, Michigan, 2003.

__________. Walk This Way. Learn to discern the fine points of this all-important basic gait.
Veterinary Connection. April 2002: pp 39-41.

__________. The Value of Video. Published in Dressage and CT, September 1998.

HEINE, BARBARA. Introduction to Hippotherapy. NAPDA Strides Magazine, April 1997,


vol.3, N. 2.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


JAN SPINK, M. A. Developmental Riding Therapy. A Team Approach to Assessment and
Treatment. Therapy Skill Builders, USA, 1993: pp 93-113.
LONGDEN, MARY L. Coach with Courage. Thoughts on teaching horses and riders of all
abilities. Published by Mary L. Longden and Riding for the Disabled Association of Australia,
1999.

229
A INFLUÊNCIA DA EQUOTERAPIA NO EQUILÍBRIO DE
INDIVÍDUOS COM ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS
UTILIZANDO A ESCALA DE BERG

Autor: Eveli Maluf - Brasil


Co-autores: Ana Paola Negri;
Ana Paula M. Caldas;
Thais P. G. de Oliveira;
Daniela Garbellini;
Cláudio M. Haddad.

INTRODUÇÃO

Para o ser humano, a preservação do equilíbrio e a estabilidade da postura corporal são


consideradas funções principais, e quando ameaçadas, todos os segmentos do corpo são
recrutados para realizar a manutenção deste equilíbrio (EDWARDS, 1999).

Segundo Enoka (2000) um sistema está em equilíbrio mecânico quando a somatória de forças
que atuam sobre ele é igual a zero. Entretanto, esse sistema tem estabilidade somente se,
após uma perturbação, o mesmo retornar à sua posição de equilíbrio.

O equilíbrio ou controle postural é dependente da interação entre o sistema músculo-


esquelético e o sistema neural. Referem-se ao sistema músculo esquelético o tônus e a força
muscular, a amplitude de movimento articular, a coordenação de movimentos sinérgicos e o
alinhamento corporal, que devem estar inalterados para que a manutenção do equilíbrio
seja perfeita (SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003).

Em relação ao sistema neural, estamos nos referindo ao sistema sensorial (vestibular, visual
e somatossensorial) e a interpretação destas informações para que sejam geradas respostas
motoras adequadas para o controle postural (SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003).

As informações somatosensoriais são baseadas nas informações colhidas a partir do contato


com o meio, através de receptores localizados na pele, nos músculos, tendões e ligamento,
articulações e órgãos internos que são sensíveis a deformidades mecânicas na superfície do
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

corpo, fornecendo a posição do corpo no espaço, a direção e a intensidade do movimento,


também chamado de propriocepção (ROTHWELL, 1996; LATASH, 1998; apud SHUMWAY-
COOK & WOOLLACOTT, 2003).

O sistema vestibular está relacionado com o controle postural, sendo constituído por três
componentes: um sistema sensorial periférico, um processador central e um mecanismo de
resposta motora. Os aparelhos periféricos são sensores de movimento que enviam informações
ao sistema nervoso central (cerebelo e complexo nuclear vestibular) sobre a velocidade angular
da cabeça, a aceleração linear e a orientação cefálica em relação ao eixo gravitacional
(SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003).

As informações visuais relacionam-se com a forma, cor e movimento dos objetos e do próprio
corpo, sendo estas importantes, mas não imprescindíveis para o controle postural (HORAK
& SHUPERT, 1994; apud SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003; WIECZOREK, 2003).

A integridade do sistema músculo-esquelético garante a força e o tônus muscular adequados,


230 permitindo a execução dos reflexos tônicos de postura (SANVITO, 2002).
Assim sendo, quando o conjunto de informações visuais, labirínticas e proprioceptivas não
é integrado corretamente no SNC, origina-se uma perturbação do estado de equilíbrio,
levando a uma possibilidade de queda e redução no nível de independência (RIBEIRO & PEREIRA,
2005).

No paciente neurológico existe uma grande variedade de alterações que podem interferir no
controle do equilíbrio, sendo elas divididas em dois grandes grupos: problemas nos
componentes motores e/ou nos componentes sensoriais (SHUMWAY-COOK &
WOOLLACOTT, 2003).

Com relação à parte motora, o que pode ocorrer é uma incoordenação (desorganização
sinérgica da contração muscular), além de desordens no alinhamento postural, restrição do
arco de movimento articular, mudanças na estrutura, função e força muscular, disfunções
estas músculo-esqueléticas, muito freqüentes no paciente neurológico (SHUMWAY-COOK
& WOOLLACOTT, 2003).

Quando há um comprometimento sensitivo, pode haver uma redução das informações


sensoriais, uma dificuldade para integrar essas informações às demandas ambientais ou até
mesmo problemas de organização sensorial (HORAK & SHUPERT, 1994; apud SHUMWAY-
COOK & WOOLLACOTT, 2003).

No presente estudo participaram pacientes com AVE, seqüela de pós-operatório de um tumor


cerebelar e PC, que segundo Ghez, 1991, citado por Shumway-Cook & Woollacott (2003),
têm respectivamente tendência de ficar em pé com o peso deslocado para o lado não afetado,
a ficar em pé com uma base alargada de apoio, e apresentam contraturas que resultam
numa postura atípica, fatores que levam a uma alteração do equilíbrio.

Segundo Medeiros e Dias (2002), somente pelo alinhamento gravitário homem/cavalo, já é


possível acionar o sistema nervoso, alcançando objetivos tais como: melhora do equilíbrio,
ajuste tônico, alinhamento e consciência corporal, coordenação motora e força muscular.

A equoterapia pode contribuir, pois estimula os vários sistemas responsáveis pelo equilíbrio;
o sistema vestibular é estimulado pelas mudanças de posição, o sistema visual será estimulado
principalmente pela mudança do campo de visão que o cavaleiro tem quando está sobre o
cavalo. No sistema somatossensorial, há estimulação de todo o corpo do cavaleiro, que é
desencadeada pelo cavalo e pelo movimento tridimensional do passo do cavalo, possibilitando

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


uma nova propriocepção (MEDEIROS & DIAS, 2002).

Esta experiência sensório-motora envolve também aferência vestibular, que estimula as


respostas de endireitamento do praticante e equilíbrio, como ajustes constantes com as
variações no passo, velocidade e direção. O calor e a adaptação do cavaleiro ao ritmo do
cavalo exigem contração e relaxamento simultâneos dos músculos agosnistas e antagonistas,
promovendo o relaxamento, o que irá ajudar a reduzir a espasticidade muscular (HEIPERTZ-
HENGST C., 1994; apud FONSECA, 2004).

OBJETIVOS

O principal objetivo deste estudo foi de analisar de forma quantitativa através da EEB -
Escala de Equilíbrio de Berg (SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003) o efeito da
equoterapia na melhora do equilíbrio em cinco praticantes com diferentes quadros
neurológicos.
231
Além disso, também se pretende fortalecer a sugestão de alguns autores para a utilização
desta escala na avaliação do paciente neurológico com déficit de equilíbrio, uma vez que sua
utilização é mais freqüente na população idosa.

MATERIAIS E MÉTODOS

Local do Estudo
Este estudo foi realizado no Projeto Equoterapia ESALQ-USP na cidade de Piracicaba,
contando com a colaboração dos profissionais e praticantes da equoterapia.

Participantes
Foram selecionados cinco praticantes e classificados de A a E, sendo necessário que tivessem
a capacidade de permanecer em pé sem auxílio por pelo menos dois minutos, realizassem
marcha (com ou sem auxílio), possuíssem habilidade preservada para compreender ordens
simples e complexas e tivessem um escore máximo de 50 na EEB. A média de idade dos
praticantes foi igual a 36,6 (DP = 21,04), sendo dois do sexo feminino e três do sexo masculino;
dois portadores seqüelas de acidente vascular encefálico (AVE), um portador de seqüela de
um pós-operatório de tumor cerebelar, e dois portadores de paralisia cerebral

Procedimentos
Os praticantes foram avaliados na sala de avaliações do Projeto Equoterapia ESALQ-USP,
pelo mesmo examinador (inicial e final) através da EEB aplicada inicialmente e após dez
sessões, que ocorreram semanalmente e com duração de trinta minutos.

Materiais
Os equipamentos necessários para esta avaliação foram um cronômetro (ou relógio comum
com ponteiro dos segundos), uma régua ou outro medidor de distância com fundos de escala
de 5, 12,5 e 25cm, cadeiras que devem ser (de altura razoável) com e sem apoio para os
braços, um degrau ou um banco (da altura de um degrau).

A escala de equilíbrio funcional desenvolvida por Berg em 1993 e adaptada por Bronstein
em 1996 é composta por 14 tarefas comuns que envolvem o equilíbrio estático e dinâmico,
tais como alcançar, girar, transferir-se, permanecer em pé e levantar-se. Cada item pode
pontuar desde incapacidade (escore = zero) até um nível de independência (escore = quatro)
para cada uma das funções, totalizando no máximo 56 pontos (MIYAMOTO et. al., 2004;
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

BERG et. al., 2003).

Para o processo terapêutico dos praticantes foi utilizado um cavalo preparado para
equoterapia, uma manta adequada para tal, cabeçada, cabresto e guia, além de materiais
lúdicos como bastões, bolas e arcos para a realização de exercícios visando a aprimorar
ainda mais o equilíbrio.

Para a análise dos resultados obtidos foi utilizado o Teste t com índice de significância p < 0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A opção pela utilização da EEB deu-se por ser esta uma escala de grande sensibilidade e
especificidade que, segundo estudo de Shumway-Cook et. al (1997), é de 91% e 82%
respectivamente, além de ser simples em sua aplicação e equipamentos e de não necessitar
de muito tempo para sua aplicação.
232
A tabela 1 reporta a relação dos cinco praticantes que foram submetidos ao tratamento,
bem como seus escores e médias iniciais e finais da EEB.

Tabela 1 – Relação de Praticantes

Praticante Sexo Patologia Escore Inicial Escore Final


A Masculino AVC 48 50
B Masculino PC 29 32
C Masculino AVC 50 52
D Feminino Seqüela de tumor cerebelar 37 43
E Feminino PC 48 48
Média 42,4 45

O resultado revela uma diferença estatisticamente significativa p = 0,028, que pode ser
observada no gráfico 1 através da comparação dos escores iniciais e finais de cada um dos
praticantes, onde há, exceto em E, uma tendência evolutiva.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


O praticante A, embora tenha reduzido sua pontuação nas tarefas 10 e 13, apresentou um
ganho em seu equilíbrio geral, através de melhor execução das tarefas 8 e 14, apresentando
assim pontuação inicial de 48 e final de 50.

Da mesma forma, o praticante B apresentou uma pontuação reduzida na tarefa 7 e 12


porém através de sua pontuação geral, inicial de 29 e final de 32, dada pelos ganhos nas
atividades 1, 4, 5, 9 e 10, foi possível observar uma melhora em seu equilíbrio.

No caso do praticante C não se notou qualquer redução de pontuação, apenas ganhos nas
tarefas 11 e 14, o que fez sua pontuação inicial passar de 50 para uma final de 52.

A praticante D também não apresentou déficit na pontuação de qualquer tarefa, apenas


ganhos nas tarefas 7, 8 e 12, apresentando uma pontuação inicial de 37 e final de 43 denotando
o melhor resultado dos casos apresentados.
233
Já a praticante E, embora tenha apresentado melhor desempenho na tarefa de número 12,
não modificou seu resultado geral, pois decaiu em duas outras tarefas, tendo seu resultado
inicial de 48 mantido.

De acordo com Berg e colaboradores (1992), citado por Shumway-Cook & Woollacott (2003),
a espasticidade altera as propriedades das fibras musculares, o que contribui para os déficits
de coordenação observados nos praticantes com espasticidade. Desta forma, podemos inferir
que uma das causas da melhora do equilíbrio, avaliado neste estudo, se dá pela adequação
no tônus muscular dos praticantes que realizaram o tratamento em equoterapia.

Já Botelho e colaboradores (2004) nos trazem, após sua pesquisa para verificar a influência
da equoterapia no tônus muscular, que o movimento tridimensional do cavalo provoca no
cavaleiro várias oscilações nos planos frontal, sagital e horizontal, causando flexo-extersão
passiva de vários músculos do corpo humano, o que leva a uma redução da hiperexcitabilidade
dos motoneuronios alfa 10, contribuindo então para a redução da espasticidade e assim
melhora do equilíbrio.

Reforçando os resultados obtidos neste estudo, Bertotit (1988), citado por Fonseca (2004),
avaliou as alterações posturais em 11 praticantes com paralisia cerebral espástica, após a
participação num programa de dez sessões de equoterapia em que foi encontrada diferença
estatisticamente significativa, tendo a postura em pé melhorada em 8 dos 11 praticantes.

Da mesma forma, Mc Gibbon e colaboradores (1998), também citado por Fonseca (2004),
avaliaram os efeitos da equoterapia nas características da marcha, no gasto energético e
função motora, em cinco portadores de paralisia cerebral espástica, e todos mostraram
decréscimo no gasto de energia durante a marcha e aumento também significativo na
realização motora avaliada antes e depois do programa pelo teste da função motora GMFM.

Todos os trabalhos relacionados à equoterapia, assim como este, demonstraram melhoras


significativas que irão culminar no ganho do equilíbrio, seja pela adequação do tônus e da
força muscular, seja através de melhoras na postura e na função motora, ou até mesmo pela
ativação do sistema sensorial responsável pelo equilíbrio.

CONCLUSÃO
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Neste estudo demonstrou-se que com a utilização da EEB foi possível detectar alterações no
equilíbrio de pacientes neurológicos, e não somente em idosos, como é usualmente aplicada
esta escala.

Através da observação do gráfico 1, foi possível verificar que a maioria dos praticantes
apresentou um quadro evolutivo com relação ao seu equilíbrio, o que nos permite dizer que,
para a grande maioria dos casos apresentados, a equoterapia com um número igual a dez
sessões mostra-se eficiente com relação à estimulação do equilíbrio, dado este estatisticamente
significativo de acordo com a análise dos resultados médios; média inicial de 42,4 pontos e
final de 45 (p = 0,028).

Assim, incentivamos que pacientes neurológicos devem ser submetidos a tratamento com
equoterapia, visto que além de oferecer bons resultados referentes ao ganho de equilíbrio, a
equoterapia é um trabalho complementar, lúdico e muito prazeroso para quem o pratica.
234
REFERÊNCIAS

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de Equoterapia, III Congresso Brasileiro de Equoterapia. Salvador BA: 25 a 27.Nov.2004, 393 -
396.

EDWARDS, S. Fisioterapia Neurológica – Uma Abordagem Centrada na Resolução de Problemas.


Ed. Artes Médicas Sul, Porto Alegre, 1999.

ENOKA, R. M. Bases neuromecânicas da cinesiologia, 2ª ed., São Paulo: Manole, 2000.

FONSECA, M. J., A hipoterapia como terapia complementar nas doenças neurológicas da


criança e do jovem – Potencialidade e Limites. In: I Congresso Ibero Americano de Equoterapia,
III Congresso Brasileiro de Equoterapia. Salvador BA: 25 a 27.Nov.2004, 13 - 24.

FREIRE, H.B.G.; Equoterapia – Teoria e Técnica – Uma experiência com crianças autistas. São
Paulo Vetor, 1999.

MEDEIROS, M.; DIAS, E., Equoterapia – Bases e Fundamentos. Rio de Janeiro: Revinter, 2002.

MIYAMOTO, S.T., LOMBARDI JUNIOR, I., BERG, K.O. et al. Brazilian version of the Berg
balance scale. Braz J Med Biol Res, Sept. 2004, vol.37, no.9

OLIVEIRA, L.F.; IMBIRIBA, L.A.; GARCIA, M.A.C. Índice de estabilidade para avaliação
do equilíbrio postural. Revista Brasileira de Biomecânica. Ano 1, n. 1, nov. 2000, 33-38.

RIBEIRO, A. S. B.; PEREIRA, J. S. Melhora do equilíbrio e redução da possibilidade de queda


em idosas após os exercícios de cawthorne e cooksey. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia.
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SANVITO, R. B., Propedêutica Neurológica Básica. São Paulo: Ed. Athenus, 2002.

SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACATT. Controle motor: teoria e aplicações práticas. São Paulo:
Manole, 2003.

SHUMWAY-COOK A, BALDWIN M, POLISSAR NL, GRUBER W. Predicting the probability


for falls in community-dwelling older adults. Phys Ther 1997.

WIECZOREK, S. A. Equilíbrio em adultos e idosos: relação entre tempo de movimento e acurácia XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
durante movimentos voluntários na postura em pé. 2003. Dissertação (mestrado) – Escola de
Ed. Física e Esporte. Universidade de São Paulo, São Paulo.

235
A AÇÃO DA EQUOTERAPIA NA POSTURA E NO EQUILÍBRIO
DE UM INDIVÍDUO HEMIPARÉTICO APÓS ACIDENTE
VASCULAR ENCEFÁLICO

Autor: Ana Paola Negri


Co-autores: Eveli Maluf; Daniela Garbellini;
Ana Paula M. Caldas; Thais P. G. de Oliveira;
Cláudio M. Haddad

ESTUDO DE CASO

INTRODUÇÃO

A hemiparesia é um déficit de movimentação voluntária de um lado do corpo, sendo um


sinal clássico de doença neurovascular no cérebro freqüentemente associada a acidente
vascular encefálico (AVE), resultando em deficiência neurológica repentina e persistente
(UNPHRED, 2004).

Ocorre na hemiparesia uma modificação na posição do corpo em relação à gravidade e a


base de suporte, levando a uma assimetria, com descarga de peso para o lado não afetado,
promovendo um prejuízo na manutenção da postura e do equilíbrio, bem como dificuldade
para liberar os membros para função (PAI et al, 1994). Há relatos também, de pacientes que
resistem a qualquer tentativa de correção passiva da sua postura, se empurrado fortemente
para o lado hemiplégico, como descrito na Síndrome de Pusher por Davies (1996).

Marisco e colaboradores (2002) afirmam que a posição ereta se configura como a “posição
de repouso ou equilíbrio” favorecida pelo perfeito sinergismo entre os músculos agonistas e
antagonistas, que com sua tensão harmoniosa mantêm o corpo em estado de repouso
dinâmico. Já Shumway-Cook & Woollacott (2003) salientam que o alinhamento ideal na
postura vertical permite que o corpo seja mantido em equilíbrio com um gasto mínimo de
energia interna.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Nos indivíduos pós-sequela de AVE, a presença de reações de endireitamento e equilíbrio


varia de acordo com o grau de tônus anormal e com a qualidade da motricidade voluntária
presente (UMPHRED, 2004). As tentativas para manter o equilíbrio e o alinhamento são
feitas pelas atividades voluntárias remanescentes, geralmente insuficientes (BOBATH, 1978).
O alinhamento do corpo refere-se à organização dos segmentos, assim como a posição
corpórea em referência à gravidade e à base de apoio, sendo que mudanças no alinhamento
podem ser interpretadas como um comprometimento musculoesquelético ou uma estratégia
para compensar outros comprometimentos (SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003).
O controle postural é complexo e depende da integração entre informações sensoriais
advindas dos sistemas visual, proprioceptivo e vestibular (NASHNER, 1982; SANVITO, 2002;
SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003). Tais vias fornecem informações sobre a
posição e os movimentos do corpo em relação ao ambiente. Normalmente, estas informações
são processadas por estruturas neurais, que produzem resposta reflexa motora organizada
(CHANDLER, 2002), porém no portador de seqüela de AVE ocorre um feedback sensorial
anormal da periferia para o sistema nervoso central – SNC (UNPHRED, 2004), o que
prejudica essa resposta.
236
A equoterapia é utilizada como recurso terapêutico para portadores de patologias
neurológicas, promovendo uma melhora funcional e motora. Segundo MEDEIROS & DIAS
(2002), é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem
interdisciplinar, nas áreas da saúde, educação e equitação buscando o desenvolvimento
biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiências e/ou com necessidades especiais.

A equoterapia apresenta como objetivos principais estimular os ajustes tônicos, melhorar a


postura e o equilíbrio, estimular a lateralidade, melhorar o controle de cabeça e de tronco e
promover um alinhamento corporal (SEVERO et al., 2000). Há ainda melhora na coordenação
têmporo-espacial, consciência de esquema corporal, inibição de reflexos, com conseqüente
relaxamento, o que pode ser muito útil para os casos de espasticidade e outras alterações de
tônus muscular (ANDRADE, 1999).

Outro ponto importante a salientar é que a prática da equoterapia se dá em pleno contato


com a natureza, proporcionando formas de aplicação de exercícios de psicomotricidade, de
recuperação e integração, complementando as terapias convencionais realizadas em clínicas
e consultórios.

Baseando-se na seguinte citação de MEDEIROS & DIAS, (2002) que diz que somente pelo
alinhamento gravitário homem/cavalo, já é possível acionar o sistema nervoso, alcançando
objetivos tais como: melhora do equilíbrio, ajuste tônico, alinhamento e consciência corporal,
coordenação motora e força muscular, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da
equoterapia sobre a postura e sua relação direta com o equilíbrio em um praticante
hemiparético pós-seqüela de acidente vascular encefálico (AVE), através da utilização da
Fotometria e Escala de Equilíbrio Funcional (Bronstein et al., Berg Balance Test).

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho foi desenvolvido no Projeto Equoterapia ESALQ/ USP, localizado na cidade
de Piracicaba/SP, contando com a colaboração dos profissionais e dos voluntários do projeto.
O praticante A.S. é do gênero masculino, com 60 anos de idade, hemiparético à direita, com
predomínio crural, apresentando seqüela de AVE desde 1995, cognitivo preservado, e sem
dificuldades de comunicação. Ele foi convidado verbalmente a participar e recebeu todas as
orientações e esclarecimentos sobre os procedimentos experimentais a serem realizados.

A coleta das imagens fotográficas e da avaliação de equilíbrio foi feita na sala de avaliação

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do Projeto Equoterapia ESALQ-USP, antes de iniciada a equoterapia e retomadas após dez
sessões, sendo estas realizadas semanalmente com duração de trinta minutos.

Para a realização das fotos, foi utilizada uma câmera digital Sony DSC W1 com definição de
5.1 megapixeis, posicionada na altura da cicatriz onfálica, a uma distância de 180 cm do
simetrógrafo, atrás do qual se encontrava o praticante. Para a análise das fotos foi utilizado
o programa Corel Draw11.

As fotos foram feitas nas vistas anterior, lateral esquerda, lateral direita, através da realização
de uma série de fotos iniciais antes da sessão de equoterapia e outra série de fotos logo após
a 10ª sessão equoterápica para registrar os efeitos da equoterapia sobre o alinhamento corporal
e o equilíbrio.

As medidas analisadas na fotometria na vista lateral foram: anteriorização cervical;


horizontalidade do olhar; cifose torácica; lordose lombar; e na vista anterior foram: desvio
cervical da linha média; diferença de altura de ombros; diferença de altura de mamilos;
desvio da cicatriz onfálica da linha média.
237
Para a avaliação do equilíbrio foi utilizada a Escala de Equilíbrio Funcional (Bronstein et al.,
Berg Balance Test) e os materiais listados a seguir: fita métrica, cronômetro, um banco mais
baixo, outro mais alto, uma cadeira sem braços e outra com braços e uma bolinha, tudo isto
para a realização do teste.

A escala foi desenvolvida por Berg em 1993 e adaptada por Bronstein em 1996 e é composta
por 14 itens graduados de zero a quatro, com pontuação máxima de 56 pontos. O praticante
é instruído a manter uma posição por tempo determinado. Se ele não conseguir ou necessitar
de auxilio externo para a execução da tarefa, são subtraídos alguns pontos de acordo com o
auxílio prestado (BRONSTEIN et al., 1996), além do que as instruções ao praticante devem
ser objetivas, sempre priorizando a manutenção do equilíbrio em todos os itens (BERG, 1992;
MIYAMOTO et al., 1996).
Para o processo terapêutico do praticante, o cavalo utilizado possuía uma manta com alça
flexível, estribo, sendo este utilizado esporadicamente para a execução de algumas atividades,
como por exemplo, descarga de peso nos membros inferiores, além de materiais como bastões,
bolas e arcos para a realização de exercícios visando ao equilíbrio e postura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na avaliação inicial, o praticante apresentava uma postura assimétrica, com inclinação do


tronco para a direita, assimetria de ombros, sendo o direito mais baixo, desvio da cicatriz
onfálica para a direita; isto sugere que, apesar de existir relato de tendência para inclinar-se
para o lado comprometido, como na Síndrome de Pusher (DAVIES, 1996), este praticante
não apresenta as outras características relatadas, como heminegligência corporal e espacial,
abandono contralateral à lesão, comprometimento do equilíbrio na posição sentada, perda
da capacidade deambulativa, déficit visual e auditivo do lado comprometido, voz monótona
e carência da expressão facial. Desta forma, a avaliação postural sugere diminuição acentuada
da consciência corporal em cintura escapular e tronco do lado direito, provocando os desvios
relatados acima.

Kendal (1995) salienta que a postura padrão é aquela que envolve uma quantidade mínima
de esforço e sobrecarga, e conduz à eficiência máxima do corpo. Os desvios dos vários pontos
de referência a partir do fio de prumo revelam a extensão na qual o alinhamento da pessoa
é deficiente. Ao visualizar a postura em pé, o fio de prumo, neste caso a linha traçada pelo
computador, representa a linha média do corpo e uma projeção da linha de gravidade. Ela
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começa no meio do caminho entre os calcanhares, estende-se para cima entre os membros
inferiores, através da linha média da pelve, coluna, esterno e crânio. Na vista posterior, a
linha de referência coincide com a linha média da cabeça e com os processos espinho-cervicais,
e a cabeça não se acha inclinada, nem rodada.

Tabela 1. Medidas analisadas na vista anterior: desvio cervical da linha média (cm), diferença
de altura de ombros (cm), diferença de altura de mamilos (cm) e desvio da cicatriz onfálica
da linha média (cm).

PRÉ PÓS
Desvio cervical da linha média (cm) 3,09 0,20
Desvio da cicatriz onfálica da linha média (cm) 2,13 1,06
Diferença de altura de ombros (cm) 2,76 1,33
Diferença de altura de mamilos (cm) 2,26 1,50
238 (PRÉ) Antes da intervenção; (PÓS) Imediatamente após a 10ª intervenção.
De acordo com a tabela 1., o resultado da avaliação fotométrica, referente ao critério postural
analisado na vista anterior, mostrou diferenças entre as imagens registradas nas duas
avaliações pré e pós-terapia, sendo que, ao final da décima sessão o praticante apresentou
melhora da habilidade postural estática, como se pode observar através da melhora da
simetria. Isto se verifica, pois ele obteve diminuição dos valores para desvio cervical da linha
média: pré:3,09cm, pós:0,20cm; desvio da cicatriz onfálica da linha média: pré:2,13cm,
pós:1,06cm; diferença de altura de ombros: pré:2,76cm, pós:1,33cm e diferença de altura de
mamilos: pré:2,26cm, pós:1,50cm, aproximando-se da linha média.

Na vista lateral, o fio de prumo, neste caso a linha traçada pelo computador, que representa
a linha de gravidade no plano médio-coronal, passa levemente anterior ao maléolo lateral,
levemente anterior ao eixo da articulação do joelho, levemente posterior ao eixo da articulação
do quadril, sobre os corpos das vértebras lombares, articulação do ombro, meato acústico
externo e levemente posterior ao ápice da sutura coronal (KENDAL, 1995). Através da análise
qualitativa, a postura do praticante na vista lateral apresentava-se com anteriorização
cervical, protusão de ombros, hipercifose dorsal, protusão abdominal, antepulsão,
caracterizando uma “postura desleixada”.

Tabela 2. Medidas analisadas na vista lateral: anteriorização cervical (cm),


horizontalidade do olhar (cm), cifose torácica (graus) e lordose lombar (graus).

DIREITO ESQUERDO

PRÉ PÓS PRÉ PÓS


Anteriorização cervical (cm) 4,77 0,57 5,13 4,33
Horizontalidade do olhar (cm) 2,46 2,19 2,54 1,92
Cifose torácica (graus) 137º 143º 136º 137º
Lordose lombar (graus) 149º 149º 150º 152º
(PRÉ) Antes da intervenção; (PÓS) Imediatamente após a 10ª intervenção.

Analisando quantitativamente o critério postural na vista lateral, observa-se diferença entre


as imagens registradas nas duas avaliações pré e pós-terapia (tabela 2.), sendo que, para os

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itens estudados, o praticante apresentava: anteriorização cervical em cm, lado direito pré:4,77
e pós:0,57; lado esquerdo pré:5,13 e pós:4,33. O valor final sugere que o praticante possa ter
apresentado um componente rotacional e, por ser multidirecional, não foi avaliado, mas a
anteriorização cervical é sugestão para medida indireta de rotação, e desta forma o maior
desvio à esquerda poderia estar associado a maior rotação, afastando o lóbulo da orelha da
linha média. Para horizontalidade do olhar, os valores foram em cm: lado direito pré:2,46,
pós:2,19; esquerdo pré:2,54, pós:1,92.

No estudo realizado por Duarte (2004), através da avaliação fotométrica, para comparação
do ângulo de Cobb modificado com o ângulo por tangente em 52 pacientes submetidos à
bandagem funcional, observou-se que o valor angular médio para região torácica é de 147,12
± 3,88º, e o valor angular médio para região lombar é de 146,96 ± 5,21º. No caso do praticante
em questão, pode-se observar na análise da região lombar que apresentava um valor dentro
do fisiológico mesmo antes do tratamento e se manteve após a terapia. Já para a região
torácica, o praticante apresentava um aumento da cifose torácica, pois os valores estavam
abaixo dos valores de referência e se manteveram pós-tratamento (tabela 2.).
239
No resultado da avaliação de equilíbrio aplicada no praticante, pode-se observar que houve
aumento do escore geral na Escala de Equilíbrio, sendo inicial de 50 e final de 52. As melhoras
foram observadas nas seguintes tarefas; “11 – girando 360 graus” e “14 – em pé, apoiando
um dos pés”, tendo aumento de um ponto para cada uma delas. Isto significa que para o
item 11 o praticante foi capaz de virar 360 graus para os dois lados com maior segurança,
num tempo menor e com descarga de peso adequada, sendo que antes fazia somente para
um lado; analisando o item 14, ele foi capaz de levantar a perna independentemente e
manter por mais de 10 segundos, o que antes fazia com menos tempo.

Foi possível observar, pelos dados anteriormente descritos, que houve melhora do alinhamento
postural através da melhora da simetria observada pela diferença de altura de ombros e
mamilos e pelo desvio da cicatriz onfálica da linha média, além do melhor posicionamento
cervical observado pelos valores de anteriorização cervical, horizontalidade do olhar e desvio
cervical da linha média.

Desta forma, sugere-se que a equoterapia possa ter auxiliado na melhora do equilíbrio,
decorrente da melhora no posicionamento cervical e simetria, visto que o praticante não
realizava outra atividade terapêutica. Como também observado por FREIRE (1999), o
tratamento equoterápico proporcionou uma melhora neuromotora sobre a cabeça, tronco e
quadril do praticante, além de influenciar no desenvolvimento do esquema corporal,
organização espaço temporal e melhora do equilíbrio, observado pelo aumento da pontuação
da Escala de Equilíbrio Funcional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos neste estudo, nas condições experimentais utilizadas, mostraram


qualitativamente e quantitativamente que a equoterapia possa ser um método terapêutico
coadjuvante no tratamento de portadores de AVE, pois além de contribuir com o controle
postural também tem influência sobre o equilíbrio funcional.

REFERÊNCIAS
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p.182.

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ande gait. Noa Iorque: Arnold, 1996.

CHANDLER, J.M. Equilíbrio e quedas no idoso: Questões sobre a avaliação e o tratamento.


In: GUCCIONE, A.A. Fisioterapia geriátrica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002,
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DAVIES, P. M. Passos a seguir. Um manual para o tratamento da hemiplegia no adulto. 1ª edição.


Editora Manole, São Paulo, 1996, p.279-298.
240
DUARTE, M. S. Estudo Comparativo do ângulo de Cobb e do ângulo por tangente para
avaliação da influencia da bandagem funcional sobre as curvaturas lombar e torácica.
Dissertação de mestrado (mestrado em Fisioterapia). Programa de Pós-graduação em Fisioterapia,
Universidade Metodista de Piracicaba, 2004, 66f.

FREIRE, H.B.G. Equoterapia – Teoria e Técnica – Uma experiência com crianças autistas. Vetor
editora psico-pedagógica, São Paulo, 1999, p.25-54, 83-94, 241.

KENDALL, F. P; McCREARY, E. K; PROVANCE, P. G. Músculos provas e funções. 4º ed.


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MIYAMOTO, S. T.; LOMBARDI, I. J.; BERG K. O.; RAMOS L.R. Brazilian version of
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241
EQUOTERAPIA: O QUE A FASE PRÉ-ESPORTIVA AUXILIA
NO PRATICANTE COM SÍNDROME DE DOWN

Autora: Valéria de Sá Barreto Gonçalves - Brasil


Co-autoras: Iana Maria Costa de Alencar Lima;
Maria das Neves Cavalcanti

RESUMO

Introdução: A equoterapia, enquanto técnica, tem proporcionado nas áreas de saúde,


educação e equitação, benefícios biopsicossocias, nos quais se destacam a adequação do
tônus muscular, a coordenação, o equilíbrio, o desenvolvimento da força, a conscientização
corporal, a autoconfiança, a sociabilidade, entre outros. Esses ganhos são importantes no
tratamento das diversas patologias, físicas ou mentais, dentre elas a síndrome de Down.
Objetivo: Avaliar a evolução do praticante com síndrome de Down na fase pré-esportiva,
em específico, no salto e na pista de areia. Metodologia: Esta pesquisa caracterizou-se por
ser descritiva e exploratória como estudo de caso, visando a demonstrar, através de análise
qualitativa, a evolução de uma praticante com síndrome de Down. A técnica utilizada para
a coleta de dados foi a de observação direta intensiva, utilizando plano terapêutico
direcionado para a praticante e suas necessidades na fase pré-esportiva. As situações
terapêuticas foram desenvolvidas no Centro onde a referida pesquisa foi realizada, no período
de janeiro a dezembro de 2005. Resultados: Passou a atender ordens simples, diminuiu
auxílio em algumas atividades da vida diária, como vestuário e alimentação; aumentou a
interação com o ambiente, passou a assimilar conceitos como em cima, em baixo, alto, baixo.
Conclusão: O meio de alcançar os objetivos nessa modalidade terapêutica é o cavalo, pois
esta prática exige a participação do corpo inteiro do praticante, de todos os músculos e de
todas as articulações. Pode-se verificar que a equoterapia traz benefícios complementares,
mas não substitui outras terapias. Nenhum tipo de terapia propõe a cura, e sim, auxilia ao
tratamento de acordo com os limites de cada indivíduo, proporcionando melhor qualidade
de vida.

Palavras-chaves: Equoterapia; Síndrome de Down; Qualidade de vida.


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INTRODUÇÃO

A equoterapia, enquanto técnica, tem proporcionado nas áreas de saúde, educação e


equitação, benefícios biopsicossocias, nos quais são destacados a normalização do tônus
muscular, a coordenação, o equilíbrio, o desenvolvimento da força, a conscientização corporal,
a autoconfiança, a sociabilidade, entre outros. Esses ganhos são importantes no tratamento
das diversas patologias, físicas ou mentais, dentre elas a síndrome de Down.

O praticante da equoterapia é levado a acompanhar os movimentos do cavalo, tendo de


manter o equilíbrio e coordenação para movimentar simultaneamente tronco, braços, ombros,
cabeça e o restante do corpo, dentro de seus limites. O movimento tridimensional do cavalo
provoca um deslocamento do centro gravitacional do praticante, desenvolvendo o equilíbrio,
a normalização do tônus, o controle postural, a coordenação, a redução de espasmos,
respiração e informações proprioceptivas, estimulando não apenas o funcionamento de
242 ângulos articulares, como o de músculos e circulação sangüínea.
Em equoterapia há uma gama de profissionais atuando, tais como: fisioterapeutas,
fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, pedagogos, professores de educação física,
instrutores de equitação, psicólogos e médicos, o que resulta em um trabalho interdisciplinar
e multidisciplinar.

Nesse método, o cavalo atua como agente cinesioterapêutico, pois o seu movimento rítimico-
tridimensional estimula o metabolismo, regula o tônus e melhora os sistemas cardiovasculares
e respiratório, atuando nos sistemas extrapiramidais como facilitador do processo de ensino-
aprendizagem, e como agente de inserção e reinserção social.

O meio de alcançar os objetivos nessa modalidade terapêutica é o cavalo, pois esta prática
exige a participação do corpo inteiro do praticante, de todos os músculos e de todas as
articulações. O movimento rítmico, preciso e tridimensional do cavalo, que ao caminhar se
desloca para frente e para trás / para um lado e para o outro / para cima e para baixo /
pode ser comparado com a ação da pelve humana no andar, permitindo a todo instante
entradas sensoriais em forma de propriocepção profunda, estimulações vestibular, olfativa,
visual, auditiva e cinestésica.

A equoterapia possibilita uma relação concreta e humana, mediada pelo cavalo, com técnicas
de equitação juntamente a uma equipe inter e multidisciplinar. Este método terapêutico
complementa na criança a evolução no processo de desenvolvimento da linguagem e favorece
a sua independência, considerando as diferenças individuais e tendo como referência seu
potencial de desenvolvimento.

O objetivo desta pesquisa foi avaliar a evolução do praticante com síndrome de Down na
fase pré-esportiva, em específico, no salto e na pista de areia, objetivando melhor inserção
social.

Em João Pessoa, o centro equoterápico onde as crianças são atendidas realiza atendimento
no Parque de Exposição, cujo nome é Centro de Equoterapia da Paraíba (Cenep) fundado
em outubro de 2000. Atualmente, atende às mais diversas patologias, alcançando conquistas
expressivas.

Segundo Mustacchi e Peres (2000), a síndrome de Down é observada no mundo inteiro,


independentemente de cultura, raça ou classe social. Ocorre devido a uma anomalia do

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cromossomo 21, geralmente sob a forma de cromossomo 21 supranumerário – trissomia –,
resultando em um total de 47 cromossomos.

Na equoterapia o portador de síndrome de Down é avaliado pelo médico através dos raios-
X, com a finalidade de verificar a existência ou não da instabilidade atlanto-axial causada
pela frouxidão dos ligamentos das primeiras vértebras da coluna cervical. A existência da
instabilidade é uma contra-indicação para a prática da equoterapia. A incidência desta
instabilidade gira em torno de 10 a 20%. Na síndrome de Down só é permitida a prática
terapêutica a partir de três anos de idade.

O praticante portador de síndrome de Down é levado a acompanhar os movimentos do


cavalo, através de exercícios de equitação, procurando manter o equilíbrio e coordenação
para movimentar simultaneamente tronco, membros e cabeça, trabalhando também tônus
baixo, falta de atenção, concentração e hiperatividade, características da síndrome de Down.
Com a manutenção da postura, obtém-se melhor respiração, e como conseqüência, um
aumento no desenvolvimento da linguagem e do vocabulário. 243
As atividades trabalhadas durante as sessões terapêuticas são identificadas como interação
inicial com terapeutas, interação com o cavalo, monta, ordem de saída, observação de
iniciativas, objetos e pessoas; atividades lúdicas que incluem: atividade verbal orientada,
localização espacial e brinquedo cantado; a despedida do cavalo; apeio; e despedidas dos
terapeutas.

METODOLOGIA

Esta pesquisa caracterizou-se por ser descritiva e exploratória como estudo de caso, e visa a
descrever por meio de análise qualitativa a evolução de uma praticante na fase pré-esportiva,
em específico, no salto e na pista de areia, objetivando melhor inserção social. O procedimento
utilizado para a coleta de dados foi o de observação direta intensiva, comparando cada
variável ao estado do paciente apresentado, antes da observação e após as terapias realizadas.

O universo da pesquisa foi constituído por uma praticante de equoterapia, do sexo feminino,
com seis anos de idade, que apresenta como hipótese diagnóstica fonoaudiológica atraso de
linguagem secundário por síndrome de Down com atendimento no Centro de Equoterapia
da Paraíba – Cenep no período de janeiro a dezembro de 2005. Esta criança está devidamente
regulamentada e autorizada para realização deste estudo, conforme a Resolução 196/96,
do Conselho Nacional de Saúde.

Com relação ao instrumento utilizado, foi elaborada a matriz de análise das atividades lúdicas
realizadas, baseada nos exercícios propostos pelo Cenep. Esta matriz foi o referencial para a
análise qualitativa e contém as categorias de atividades identificadas nas sessões de
equoterapia, sendo elas: interação inicial com terapeutas; interação com o cavalo; monta;
ordem de saída; observação de iniciativas, objetos e pessoas; atividade responsável; atividade
verbal orientada; localização espacial; brinquedo cantado; despedida do cavalo; apeio; e
despedidas dos terapeutas.

Estas categorias de atividades foram avaliadas por meio dos seguintes parâmetros:

• Iniciativa (ação da criança propondo ou executando atividades realizadas pela


criança antes do comando dos terapeutas);
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• Atenção e concentração (expressões atuais da criança que evidenciam atenção e


concentração nas atividades lúdicas propostas pelos terapeutas);
• Limitações apresentadas pela criança (resistência à realização das tarefas mais
complexas e a perseverança demonstrada nas atividades propostas; vontade de
vencer o seu próprio limite);
• Progresso relativo à inserção social demonstrado através do aumento de
independência das atividades da vida diária.

RESULTADOS

Os resultados favoráveis obtidos através da equoterapia se devem ao diferencial de utilizar


o animal, o que permite trabalhar mais o afeto, a autonomia do ir e vir. “A conotação de
liberdade, de se locomover, é essencial e, além disto, há o ganho físico, proporcionado pelo
movimento do cavalo, além do ganho emocional”, segundo a Associação Nacional de
244 Equoterapia (2002).
Foi observada maior iniciativa quanto à atenção e concentração, bem como a realização das
atividades propostas pelos terapeutas. O incentivo à contribuição das atividades lúdicas
realizadas ao longo das sessões demonstra que a equoterapia, quando vista em sua totalidade,
contribui de forma positiva para o desenvolvimento da independência e inserção social, pois
estas colaboraram com o crescimento e melhoria da qualidade de vida.

Apesar das dificuldades apresentadas pela criança em realizar algumas tarefas, e dos medos
de transpor essas dificuldades, significando vencer seu próprio limite, este estudo mostrou
que o uso do brinquedo cantado pôde proporcionar a estimulação auditiva, a melodia e o
ritmo vocal, como também, uma progressão espontânea. A evolução aconteceu
gradativamente desde a tarefa mais simples, como “fazer-de-conta”, ao retirar a fruta da
árvore, dividi-la e comê-la, até as mais complexas, como encaixar a argola no cone com o
cavalo andando, trotar e dominar as rédeas, em que vê uma evolução quanto ao domínio
psicomotor.

Além das considerações anteriores, os resultados deste estudo permitem afirmar que o cavalo
pode transmitir estímulos que vão além do movimento tridimensional, atuando no
desenvolvimento das funções psicológicas e cognitivas; funções estas citadas por Vygotsky
(OLIVEIRA, 1997), quando relata que a linguagem é uma função psicológica, característica
da espécie humana. O cavalo pôde ser visto como um canalizador da atenção, concentração
e iniciativa tanto do praticante como dos terapeutas, representando um fator de união, um
elo que se firma desde a primeira sessão, quando se faz a mostragem do animal à criança.
Cria-se assim um vínculo mediador entre as relações afetivas, recíproco e tranqüilo entre o
praticante e a equipe, efetuando o processo de desenvolvimento da linguagem oral
intrapsíquica e interpsíquica.

Em equoterapia existe possibilidade de proporcionar atividades, que desenvolvam a


responsabilidade de forma equilibrada, provocando o aumento da auto-estima e
independência por meio de comandos sobre o cavalo, e ao mesmo tempo, induzindo à
aprendizagem de uma função solidária por meio das atividades de ajuda.

O cavalo é o objeto intermediário que possibilita o aparecimento dos porquês de uma forma
enriquecedora, permitindo aos terapeutas intervir no momento adequado. A riqueza dos
estímulos e a motivação pela presença desse animal proporcionam tanto quanto que os
terapeutas possam construir um repertório amplo de atividades, o que sugere que essa terapia

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é capaz de provocar um forte impacto sobre o desenvolvimento e assim, afetar positivamente
a inserção social do praticante.

DISCUSSÃO

Decorrido um ano de atividades equoterápicas, foi realizada a aferição dos resultados obtidos
com o trabalho. Quanto às atividades lúdicas relacionadas diretamente à psicomotricidade,
pois essa é uma ciência que estuda o homem através do movimento do seu corpo e as relações
com o mundo interno e externo, usada na equoterapia, bem como as que a praticante consegue
executar, e o tempo médio previsto para automatização de cada atividade.

Relacionado ao esquema corporal, Wallon (apud ANDE-BRASIL, 2002) relata que este é um
elemento indispensável à formação da personalidade da criança. Na equoterapia, é por
meio do desenvolvimento do esquema corporal que a criança toma consciência de seu corpo
e das possibilidades de expressar-se por meio desse corpo. A criança em estudo realizou
discernimento deste tipo de atividade após quatro meses de tratamento. 245
A organização espacial, segundo Tasset (apud ANDE-BRASIL, 2002), ao mencionar a
orientação e a estruturação do mundo exterior, refere-se primeiro ao seu conjunto de
elementos, depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em movimento. Na
equoterapia, primeiramente acontece a tomada de consciência do corpo em relação ao meio
ambiente, juntamente com as coisas e com as pessoas que o cercam. Seria a possibilidade
para o sujeito de organizar-se perante o mundo que o cerca, de organizar as coisas entre si,
de colocá-las em um lugar, e de movimentá-las. A criança apresenta flutuações quanto ao
desenvolvimento desse tipo de atividade, visto que é considerada complexa para o seu nível
de entendimento.

Com relação à lateralidade, a criança conseguiu realizar o automatismo desta atividade


depois de oito meses de sessões equoterápicas, visto que a complexidade desta atividade
requer também um desenvolvimento dos padrões cognitivos. Limongi (2000) descreve que a
atividade motora e a aprendizagem inicialmente caminham juntas; a aprendizagem conduz
à construção de relações novas.

Com referência à orientação temporal, esta atividade corresponde à capacidade de relacionar


ações a uma determinada dimensão de tempo, em que sucessões de acontecimentos e de
intervalo de tempo são fundamentais. A praticante apresentou automatismo desta função
durante os quatro meses de sessões. Segundo Medeiros e Dias (2002), a organização temporal
é proporcionada pela cadência do passo do cavalo (ritmo) e também pela estruturação de
cada sessão, tendo início, meio e fim.

A coordenação global, segundo Costallat (apud ANDE-BRASIL, 2002) é definida como a


colocação em ação simultânea de grupos musculares diferentes, com vistas à execução de
movimentos amplos e voluntários mais ou menos complexos, envolvendo principalmente o
trabalho de membros inferiores e tronco. Refere-se também à atividade conseguida com
esforço após dez meses de terapia, visto que a praticante apresenta bom controle de força
muscular.

A aquisição de confiança é o primeiro item a ser desenvolvido nas sessões, uma vez que este
é a base para se estabelecer um vínculo entre cavalo-cavaleiro, devendo ser colocado em
prática com a aproximação do praticante conduzido pelo terapeuta. Levar o cavaleiro a
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perder o temor inicial pelo animal é desenvolvido através do contato físico, do simples gesto
de passar a mão no cavalo e sentir o seu pêlo, percebendo a diferença entre a “nossa pele e
a pele do animal”.

A independência das ajudas foi desenvolvida no sentido de a praticante conseguir adquirir


liberdade de movimentos, a execução do comando da saída do cavalo; os exercícios de
psicomotricidade; a capacidade de manter-se sobre uma base de sustentação do corpo, ou
seja, em cima do cavalo foram direcionadas ao emprego das pernas para obtenção de força
muscular e a soltura das mãos do cilhão com a finalidade de desenvolver segurança e
independência emocional.

A busca da flexibilidade e o desembaraço, referentes à posição da praticante, atualmente


com a ajuda dos profissionais, são obtidos através de movimentos que indicam a descontração
das articulações; a flexibilidade de ombros, braços e punho; e complementando a flexibilidade
da região lombar.
246
CONSIDERAÇÕES

O meio de alcançar os objetivos nessa modalidade terapêutica é o cavalo, pois esta prática
exige a participação do corpo inteiro do praticante, de todos os seus músculos e de todas as
articulações.

Desde a mais tenra infância a criança é exposta a inúmeras possibilidades de interação com
os mais variados ambientes sociais, bem como com seu próprio comportamento. A inserção
social é um fator que auxilia no desenvolvimento humano e, à medida que ela se desenvolve,
essas interações vão sendo gravadas e tornando mais complexo o seu comportamento
conceitual, com base em controles por estímulos cada vez mais sofisticados.

A maior recompensa é ter hoje a certeza de que esta pesquisa ultrapassou os objetivos
propostos, pois as barreiras do medo e as limitações apresentadas pela criança puderam ser
transpostas, tendo-se encontrado o caminho para o desenvolvimento de forma harmoniosa.

Pode-se verificar que a equoterapia traz benefícios complementares, mas não substitui outras
terapias. Nenhum tipo de terapia propõe a cura, e sim, auxilia ao tratamento de acordo com
os limites de cada indivíduo, proporcionando melhor qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA. Curso Básico de Equoterapia. Brasília. 2002.

LERMONTOV, T. A psicomotricidade na equoterapia. Aparecida, São Paulo: Idéias e Letras,


2004.

LÓPEZ, M., LAURENTYS-MEDEIROS, J. Semiologia Médica: as bases do diagnóstico clínico.


Volume II. Revinter 4ª ed. Rio de Janeiro: 1999.

MACHADO, A. B. M. Neuroanatomia Funcional. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2000. MEDEIROS,


M.; DIAS, E. Equoterapia: Bases e Fundamentos. Rio de Janeiro: Revinter, 2002.

MUSTACCHI, Z. PERES, S. Genética Baseada em Evidências: Síndromes e Heranças. CID. São

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Paulo: 2000.

OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo histórico. São


Paulo: Scipione, 1997. 111p.

SANVITO, W. L. Síndromes Neurológicas. Atheneu 2ª ed. São Paulo: 1997.

WICKERT, H. – O cavalo como instrumento cinesioterapêutico. In: I CONGRESSO BRASILEIRO


DE EQUOTERAPIA – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA (ANDE–BRASIL).
Brasília. 1999. Coletânea de trabalhos. Brasília. 1999. p.101-5.

WIEDEMANN, H. R.; GROSSE, F, R,; DIBERN, H. Atlas de Síndromes Clínicas Dismórficas. 2


ed. Manole. SãoPaulo: 1992.

247
EQUOTERAPIA E PONTOS MOTORES DA FACE: ALONGAMENTOS
ATIVOS EM PRATICANTE COM PARALISIA CEREBRAL

Autora: Iana Maria Costa de Alencar Lima - Brasil


Co-autora: Valéria de Sá Barreto Gonçalves

RESUMO

Introdução: A utilização dos alongamentos ativos referentes aos pontos motores da face é
uma alternativa dentro da fonoaudiologia e, na equoterapia, é adaptada aos exercícios
executados em cima do cavalo, trazendo benefícios aos praticantes permitindo adequar as
estruturas orais e favorecer ao desenvolvimento da articulação das palavras. Objetivo: Aplicar
técnicas de alongamentos ativos com praticante de paralisia cerebral, e verificar a evolução
das alterações oromiofuncionais e padrão articulatório. Método: Caracterizou-se por ser
descritiva e exploratória como estudo de caso. A técnica utilizada para a coleta de dados foi
a de observação direta intensiva e anotações relevantes contidas nos prontuários que registram
as situações terapêuticas desenvolvidas no Centro de Equoterapia da Paraíba (Cenep).
Resultados: Com a execução dos alongamentos ativos houve minimização das alterações
das estruturas orofaciais com relação à motricidade e mobilidade de lábios e língua, além da
adequação das funções de sucção e deglutição, comprovando que a equoterapia proporcionou
ao praticante ajuste tônico através do movimento tridimensional do cavalo, das diferentes
andaduras, juntamente com as manobras aplicadas pelos terapeutas, resultando também
em melhor padrão articulatório. Conclusão: Observaram-se benefícios quanto às alterações
orofaciais, considerando-se as limitações do paciente, pois através da equoterapia, houve a
maximização das potencialidades do praticante e melhoria do seu padrão muscular.

Palavras chaves: Equoterapia; Paralisia Cerebral; Alongamentos ativos.

INTRODUÇÃO
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

O método equoterápico age através dos movimentos tridimensionais do cavalo (látero-lateral/


ântero-posterior e longitudinal), que transmitem grande quantidade de diferentes impulsos
para os praticantes. A interação cavalo-cavaleiro propicia ganhos na parte biológica: controle
de postura, normalização do tônus muscular, melhoria da coordenação motora, redução de
espasmos, estimulação tátil e vestibular, entre outros. Na parte psicológica, provoca o
aumento da autoestima, da autoconfiança e da auto determinação. Na parte social, a maior
integração com a família, que geralmente participa do processo de forma ativa, e também
com os amigos.

No aspecto fonoaudiológico auxilia no desenvolvimento da linguagem e na adequação, ou


mesmo na minimização das alterações encontradas na comunicação oral, bem como a
estimulação do desenvolvimento da capacidade psicomotora; busca também melhor
estruturação das funções estomatognáticas e a reorganização do tônus e dos órgãos
fonoarticulatórios, visando ao desenvolvimento físico, cognitivo, emocional, de linguagem e
de aprendizagem de crianças e adultos com distúrbios mentais, sociais, emocionais e da
fala.
248
A competência do fonoaudiólogo na equoterapia é comumente à clínica e, segundo o
Conselho responsável, consiste em avaliar os praticantes, traçar metodologias adequadas,
participar na escolha e confecção dos materiais didáticos; participar da elaboração de
planejamentos; desenvolver trabalhos de prevenção no que se refere à área de comunicação
escrita e oral, voz e audição e, por fim, efetuar encaminhamentos, caso o praticante necessite
de terapias específicas além do tratamento que está sendo desenvolvido.

O portador de necessidades especiais, que apresenta um atraso significativo nas funções


motoras elementares, reflete essa situação no seu comportamento psicomotor, prejudicando
e defasando o desenvolvimento global. Neste sentido a equoterapia apresenta-se como
facilitadora, proporcionando a interação ao meio físico e social, e trabalhando a relação
entre a consciência do sujeito e o mundo que o cerca. Este método terapêutico completa o
processo de desenvolvimento da linguagem e favorece a sua independência, considerando
as diferenças individuais, tendo como referência seu potencial de desenvolvimento.

O Centro de Equoterapia da Paraíba – Cenep, localizado em João Pessoa, onde esta pesquisa
foi desenvolvida, faz prática desse método completo que é a equoterapia. Atuando desde
outubro de 2000, atualmente, atende às mais diversas patologias, sendo elas: paralisia cerebral,
autismo, disartria decorrente de paralisia cerebral, distúrbio motor leve, síndrome de Down
e síndrome de Dande Walker. Essas patologias ocasionam atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor, déficits motores, físicos, lingüísticos e de aprendizagem.

A encefalopatia crônica não-progressiva pode ser definida como uma incapacidade


neurológica causada por uma lesão nos centros motores do cérebro. Não acarreta somente
uma perda do controle muscular funcional, mas também alterações do sistema sensorial.
Tais alterações devem ocorrer nos dois primeiros anos de vida da criança, que é o período
mais importante de maturação neurológica, e também, quando ocorrem as primeiras
aquisições nos níveis motor e perceptual (LIMOGI, 2000).

Segundo Finnie (2000), paralisia cerebral (PC) é um distúrbio de movimento e postura não-
progressivo, mas constante, que se inicia nos primeiros anos de vida. É causada por dano ao
cérebro imaturo, ou seja, sempre tem início na infância.

Os pacientes com PC apresentam problemas nas estruturas orais, que segundo Marinelli

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


apresentam algumas dificuldades que se manifestam com mais freqüência (CURSO
AVANÇADO, 2003).

Na mandíbula, a habilidade rápida de transferir alimento de um lado para o outro e


movimentos precisos dos lábios podem estar ausentes. A cabeça para trás – mandíbula aberta,
dificuldade em fechá-la, movimentos excessivos de abertura e fechamento na sucção – a
amamentação é lenta e demorada, com ingestão de ar (causando cólica).

A língua apresenta movimento de cabeça associado, assim como de cintura escapular e de


pescoço, e estes podem influenciar a amplitude e o tipo de movimento desta estrutura. A
retração de pescoço, ou seja, ponta do queixo voltada para cima, retração de língua (diminuição
da orofaringe – diminuição da passagem de ar), tentativa da criança de tensionar o dorso no
palato duro, para não prejudicar a respiração, problemas com alimentação, sucção
dificultada, e sons da fala.

249
Os lábios e bochechas são estruturas que trabalham juntas. O tônus muscular baixo –
bochechas não criam uma barreira suficiente para a comida se mover contra a gengiva e os
dentes – caem no vestíbulo – lábios não vedam – comida e saliva dentro da boca são difíceis
de serem mantidas. Tônus muscular alto – lábios e bochechas são puxados para fora da
retração – dificulta sucção, introdução de colher e corpo – transferência do alimento – lábios
franzidos podem ser encontrados na tentativa de diminuir a retração.

Existe influência dos componentes estomatognáticos na produção fonética normal da fala, o


que é comprovado por autores que relatam que a articulação dos sons requer fluxo respiratório
apropriado, bom mecanismo de válvula com palato mole, língua, lábios, estrutura dental e
alveolar suficientes para manter a tonicidade labial, liberdade de movimento da mandíbula
e um sistema nervoso intacto (FELÍCIO, 1999).

O objetivo desta pesquisa foi aplicar técnicas de alongamentos ativos com praticante de
paralisia cerebral, e verificar a evolução das alterações oromiofuncionais e padrão
articulatório.

METODOLOGIA

Esta pesquisa se caracterizou por ser descritiva e exploratória como estudo de caso. A técnica
utilizada para a coleta de dados foi a de observação direta intensiva, durante as situações
terapêuticas desenvolvidas no Centro de Equoterapia da Paraíba (Cenep).

A coleta de dados foi realizada no período de abril/2005 a abril/2006. Quanto à interpretação


dos dados, esta foi obtida pelo método qualitativo dos dados sob cada aspecto levantado.

O primeiro passo consistiu em analisar a contribuição que as atividades lúdicas proporcionam


para minimizar as alterações oromiofuncionais; o segundo passo foi a identificação dos
diferentes tipos de posturas realizadas ao longo das sessões que favoreçam a adequação do
sistema estomatognático; o terceiro passo foi descrever a presença de dificuldades em realizar
as atividades apresentadas no que diz respeito ao déficit motor oral apresentado, e para
finalizar, procedeu-se à análise por meio dos prontuários, registrando o desenvolvimento e
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

relatando a diminuição das alterações oromiofuncionais do praticante com PC.

O universo da pesquisa constituiu-se de um praticante com seis anos de idade, do sexo


masculino, que está em atendimento uma vez por semana, com trinta minutos por sessão,
na cidade de João Pessoa, no Estado da Paraíba.

Esse praticante apresenta como hipótese diagnóstica fonoaudiológica: atraso de linguagem


e distúrbios oromiofuncionais decorrentes da paralisia cerebral. Para esta pesquisa o enfoque
principal foi dado aos distúrbios oromiofuncionais, e o paciente recebeu atendimento
terapêutico referente aos alongamentos ativos.

Os exercícios utilizados no praticante seguiram uma abordagem mioterápica com estimulação


de pontos motores da face, potencializando a distenção das fibras musculares estimuladas,
visando a obter melhorias das alterações oromiofuncionais e padrão articulatório.

250
RESULTADOS

Com a execução dos alongamentos ativos houve minimização das alterações oromiofuncionais
com relação à motricidade e mobilidade de lábios e língua além da adequação das funções
de sucção e deglutição, comprovando que a equoterapia proporcionou ao praticante ajuste
tônico através do movimento tridimensional do cavalo nas diferentes andaduras, juntamente
com as manobras aplicadas pelos terapeutas, resultando também em melhor padrão
articulatório.

Na face, foram realizadas atividades como franzir a testa (FT), fazer cara de bravo (CB) e
fechar os olhos (FO), em que o praticante apresentou inicialmente dificuldades no sistema
motor oral, resultando em déficit na mobilidade e motricidade de tais estruturas. No entanto,
com o decorrer das sessões, ao final de um ano notaram-se melhoras significativas quanto
aos movimentos antes realizados com muita dificuldade.

Nos lábios, os exercícios propostos foram o bico (B), sorriso aberto (SA), estalo de lábios
unidos (ELU) e estalo de lábios retraídos (ELR). Durante a execução destes exercícios, o lábio
inferior sempre evertia; repetindo os movimentos e corrigindo-os durante as sessões, o
praticante já consegue realizar tais movimentos sem everter o lábio inferior.

Lermontov (2004) relata que um praticante, quando faz equoterapia, tem os músculos
responsáveis pela produção da fala influenciados pelo movimento tridimensional do cavalo.
Isso dá um impacto nos músculos da cavidade oral, nas pregas vocais, nos músculos da
laringe e nos músculos da respiração.

No paciente com PC a função motora se encontra prejudicada, pois parte do cérebro foi
lesada, não podendo haver desenvolvimento. Puyelo (2001) afirma que os problemas motores
de expressão na paralisia cerebral podem ser múltiplos e afetar de maneiras diferentes, de
acordo com o caso, a expressão do indivíduo.

Na equoterapia, os movimentos rítmicos, lentos, uniformes e constantes do cavalo provocam


no praticante um embalo relaxante e adormecedor, estimulando uma diminuição no nível
de tônico muscular. Assim, a espasticidade, por exemplo, é diminuída com o movimento

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


rítmico do cavalo. O aumento de tônus muscular é obtido pelas informações dadas pelo
trote, por ser este um movimento vertical e saltitante, ou pelo passo alongado, pois ambos
determinam uma ação reflexógena muito estimulante, favorecendo o aumento de tônus
muscular (LERMONTOV, 2004). Isso resulta em posturas favoráveis ao praticante de
equoterapia com alterações de tônus que vão favorecer, também, a diminuição das alterações
oromiofuncionais relativas a tônus muscular.

Na língua, exercícios de afilamento (A) e rotação (R), se mostraram complexos para o


praticante, que desconhecia o local onde seria colocada a língua, pois tinha dificuldade na
propriocepção, executando até os dias atuais esses movimentos com dificuldades.

A utilização dos alongamentos ativos, referentes aos pontos motores da face, é uma
alternativa dentro da fonoaudiologia, que pode ser utilizada também pela equoterapia,
alcançando resultados positivos.

251
CONCLUSÃO

A equoterapia contribui para minimizar as alterações oromiofuncionais encontradas no


paciente com PC, que, associada aos alongamentos ativos, cotizou de maneira significante
na minimização dessas alterações, uma vez que utiliza as diferentes andaduras do cavalo,
dos diferentes tipos de passada, dos estímulos aplicados via medula até chegar ao sistema
nervoso central, do movimento tridimensional, do ajuste tônico e das atividades que os
terapeutas desenvolvem em cada sessão, resultado também em relatos do familiar, que após
o emprego de tais exercícios observou melhoria no padrão articulatório.

Observaram-se benefícios quanto às alterações oromiofuncionais, considerando-se as


limitações do paciente, pois através da equoterapia, houve a maximização das potencialidades
do praticante e melhoria do seu padrão muscular.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA. Curso avançado de equoterapia. Brasília,


2003.

FELÍCIO, C.M. Fonoaudiologia aplicada a casos ortodônticos: Motricidade oral e audiologia.


São Paulo: Pancast, 1999.

FINNIE, N. R. O manuseio em casa da criança com paralisia cerebral. 3. ed. São Paulo: Manole,
2000.

LERMONTOV, T. A psicomotricidade na equoterapia. Aparecida, São Paulo: Idéias e Letras,


2004.

LIMONGI, S. C. O. Paralisia cerebral: processo terapêutico em linguagem e cognição (pontos


de vista e abrangência). Carapicuíba. São Paulo: Pró-Fono, 2000.

MACHADO, A. B. M. Neuroanatomia funcional. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2000.

MEDEIROS, M.; DIAS, E. Equoterapia: bases e fundamentos. Rio de Janeiro: Revinter, 2002.
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PUYUELO, M.; POÓ, P.; BASIL, C.; MÉTAYER, M. L. A Fonoaudiologia na paralisia cerebral:
Diagnóstico e Tratamento. São Paulo: Santos, 2001.

ZEMLIN, W. R. Princípios de Anatomia e Fisiologia em Fonoaudiologia. 4. ed. Porto Alegre:


Artes Médicas Sul, 2000.

252
O EFEITO DA EQUOTERAPIA NO TÔNUS MUSCULAR DE
MEMBROS INFERIORES E NO DESEMPENHO MOTOR EM
CRIANÇAS PORTADORAS DE PARALISIA CEREBRAL
DO TIPO ESPÁSTICA

Autora: Andréa Baraldi Cunha - Brasil


Co-authors: Novaes, G. F.;
Rezende, L. C.;
Corrêa, M.M.D.; Garbellini, D.; Maluf, E;
Negri A.P.; Caldas, A.P.;
Oliveira T.P.G; Haddad C.M.

INTRODUÇÃO

A paralisia cerebral pode ser definida como uma afecção do sistema nervoso central de
caráter não progressivo e não é considerada uma doença, mas sim um grupo de distúrbios
crônicos cerebrais devido a alguma lesão ou anomalias no desenvolvimento ocorrido durante
a vida fetal, durante o parto ou até os três primeiros anos de vida (LIANZA, 1995). Em
geral, crianças portadoras de paralisia cerebral têm dificuldade de equilibrar a ação de grupos
musculares para uma função motora suave, coordenada e eficiente; pois em vez disso, usam
mais o músculo agonista (TECKLIN, 2002). A paralisia do tipo quadriplegia é a mais grave
e geralmente associada à espasticidade (TACHDIJEAN, 1995), e a causa da espasticidade
seria explicada por uma diminuição da inibição pré-sinaptica dos motoneurônios alfa,
originando um ganho exagerado do reflexo de estiramento (CASALIS, 1990). Nesta patologia
ocorre lesão no SNC que resulta em uma alteração de tônus, levando a movimentos deficitários.
Para que ocorra uma função motora normal, alguns fatores devem ser considerados, dentre
eles: tônus postural normal inervação recíproca, feedback e feedforward sensório-motor, reações
de equilíbrio, de retificação e de proteção e propriedades biomecânicas dos músculos
(Edwards, 1999).

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Assim, na paralisia cerebral o dano neurológico é manifestado por incapacidade física diversa.
Em certas condições, a presença de tônus anormal domina o quadro. Fatores ambientais,
como posicionamento correto e movimentos para manter e, quando necessário, recuperar o
músculo e a amplitude articular, são essenciais para garantir o ótimo nível de função de
cada indivíduo (Edwards, 1999).

Portanto, ressalta-se a importância de um tratamento com a finalidade de contar com as


vantagens da plasticidade e adaptações neuronais, possibilitando à criança a experimentação
de movimentos e posturas aos quais ela não teria possibilidade de manutenção devido ao
seu quadro neurológico. Então, é necessário um trabalho em equipe e como coadjuvante ao
tratamento de base, a equoterapia (BOTELHO, 2003).

Foi escolhida a equoterapia que é, segundo a Ande-Brasil, um método terapêutico e


educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de
saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas
portadoras de deficiência e/ou com necessidades especiais.
253
Quando o cavalo se desloca ao passo, ele produz um movimento tridimensional no seu
dorso, nos três eixos, para cima e para baixo, para a frente e para trás, para direita e para a
esquerda, além de um componente rotacional que faz a pelve do cavaleiro sofrer uma rotação
como se ele estivesse andando.

Os benefícios dessa terapia ocorrem pois são gerados estímulos com ritmo, amplitude e
velocidade capazes de diminuir o tônus muscular pela estimulação vestibular lenta. As
informações proprioceptivas que o praticante recebe quando está sobre o cavalo favorece a
adequação do seu tônus muscular e facilita a função motora normal (FREIRE, 1999).

OBJETIVO

Analisar longitudinalmente os efeitos da equoterapia na alteração de tônus muscular dos


membros inferiores e no desempenho motor, utilizando, respectivamente, a Escala de
Avaliação de Tono Muscular Durigon e Piemonte (1993) pré e pós-terapia e Avaliação
GMFM, em crianças portadoras de paralisia cerebral do tipo espástico.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho foi desenvolvido no Projeto Equoterapia ESALQ - USP (Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz – Universidade São Paulo), na cidade de Piracicaba – SP.

Tabela 1: Praticantes classificados de acordo com etiologia, topografia, tônus e GMFCS:

Praticantes Etiologia Topografia Tônus GMFCS


A.A.R. Anoxia Perinatal Quadriplegia Misto Nível V
D.S.V.S. Prematuridade Quadriplegia Misto Nível V
G.M.C. Doença cardíaca congênita Diparesia Misto Nível III
G.C.F.A Distúrbios Perinatais Diparesia Espástico Nível III
G. H.S. Prematuridade Quadriplegia Espástico Nível V
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J. D.G.R. Convulsão Pós-Parto Diparesia Misto Nível III


T. M.S. Distúrbios Perinatais+hidrocefalia Diparesia Espástico Nível II

Foram avaliados sete praticantes, todos portadores de paralisia cerebral com idade entre 4
e 12 anos.

Foram utilizados diversos materiais de equitação, dentre eles, mantas, estribos, selas,
selecionados de acordo com cada caso clínico.

Os praticantes foram avaliados pela GMFM antes da primeira sessão e antes da décima
primeira sessão, ou seja, cada praticante foi submetido a dez sessões de equoterapia. As
terapias foram semanais com duração de trinta minutos.

A avaliação do desempenho motor foi realizada por meio do GMFM, que é um instrumento
254 de observação padronizado e permite avaliar o quanto uma criança realiza de função
motora grossa, sendo composto por 88 itens, divididos em cinco dimensões: A) deitar e
rolar, B) sentar, C) engatinhar e ajoelhar, D) ficar em pé, E) andar, correr e pular. É aceitável
fazer o teste em qualquer ordem, tendo a criança três tentativas para cada item, sendo que
o escore atribuído será o da melhor performance, além de a criança ter que realizar os
movimentos espontaneamente sem ajuda do examinador, que pode auxiliar somente com
comandos verbais. A pontuação dos escores é baseada numa escala de 4 pontos para cada
item, da seguinte forma: 0 = não inicia, 1= inicia (menor que 10%), 2 = parcialmente completa
(maior que 10% e menor que 100%) e 3 = completa (100%) (RUSSELL et al, 1993).

Os praticantes foram classificados de acordo com o Sistema de Classificação da Função


Motora Global (GMFCS). Este é baseado no movimento auto-iniciado, contendo cinco níveis
diferenciados entre si pela limitação funcional e necessidade de assistência externa
(PALISANO et al, 1997).

As crianças do nível I da GMFCS têm escores (%) maiores na GMFM, são crianças cujas
limitações funcionais não são tão pronunciadas, têm diagnóstico de PC leve ou com baixa
severidade. No nível II, as crianças apresentam dificuldades em realizar funções motoras,
como correr e pular. Para as crianças de nível III na GMFCS há dificuldade em balanço e
mobilidade, afetando principalmente a marcha independente sem dispositivo auxiliar. Em
relação ao nível IV, há funcionalidade apenas na postura sentada. O nível V da GMFCS são
crianças com múltiplas desordens que apresentam restrições no controle voluntário dos
movimentos e na habilidade de manter postura antigravitacional do pescoço e do tronco,
apresentando escore baixo na GMFM (PALISANO et al, 1997).

Foi realizada também avaliação de tônus muscular com pontuação de 1 a 10 segundo

Durigon e Piemonte, (1993), pré e pós-terapia. Esta atividade foi realizada em uma sala,
utilizando uma maca, sendo sempre feita pelo mesmo avaliador. Os movimentos analisados
foram dorsiflexão de tornozelo e abdução de quadril com o praticante posicionado em
decúbito dorsal, flexão e extensão de joelho e extensão de quadril em decúbito lateral, sempre
o posicionando na linha média.

Para análise dos resultados foi utilizado o Teste t com significância p d” 0,05.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base nos dados obtidos na Escala de Avaliação de Tono Muscular Durigon e Piemonte
(1993) pré e pós-terapia, observa-se que o movimento de dorsiflexão do tornozelo
(bilateralmente) teve melhora significativa da graduação, ou seja, de 6,36 para 5,03 no lado
direito (p=0) e 5,96 para 4,57 no lado esquerdo (p=0); os movimentos de extensão de joelho
direito e extensão de quadril esquerdo também apresentaram resultado significativo,
diminuindo de 3,37 para 2,83 (p=0) e de 2,56 para 2,31 (p=0,01), respectivamente, e a abdução
de quadril teve uma diminuição de 4,22 para 3,15 (p=0). Nos demais movimentos (flexão de
joelho bilateralmente, extensão de joelho esquerdo e extensão de quadril direito), os resultados
não foram significativos.

É importante ressaltar que o movimento de flexão de joelho se manteve próximo da


normalidade (pontuada como grau 2) na maioria dos praticantes, o que justifica o resultado
não significativo, por não apresentar alterações importantes. Já os resultados significativos
nos movimentos de extensão em joelho direito e extensão de quadril esquerdo podem ser 255
justificados por alguns praticantes apresentarem maior comprometimento muscular de um
lado que do outro, e por eles não terem sido avaliados individualmente, mas sim, de uma
maneira geral.

Outro resultado a ser destacado é do movimento de abdução, demonstrando que houve


relaxamento de tônus muscular dos adutores de quadril.

Tabela 2: Resultados da Avaliação de Tono Muscular Durigon e Piemonte, 1993

Pré Pós
Dorsiflexão de tornozelo direito 6,36 5,03*
Dorsiflexão de tornozelo esquerdo 5,96 4,57*
Flexão de joelho direito 2,94 2,67
Flexão de joelho esquerdo 2,93 2,65
Extensão de joelho direito 3,37 2,83*
Extensão de joelho esquerdo 3,00 2,78
Extensão de quadril direito 2,31 2,18
Extensão de quadril esquerdo 2,56 2,31*
Abdução de quadril 4,22 3,15*

Figura 1: Gráfico de Resultados da Avaliação de Tono Muscular Durigon e Piemonte, 1993,


somente valores com pd”0,05
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Um dos nossos praticantes avaliado foi classificado no nível II da GMFCS. Três foram
classificados no nível III, e como características apresentaram escores altos em determinadas
dimensões (dimensões A, B e C) e baixos em outros, sendo essas determinadas como metas
para o tratamento fisioterapêutico.

Três praticantes foram classificados no nível V, então foram avaliadas apenas as


dimensões A e B, obtendo baixos escores nas mesmas.

Com relação à Escala GMFM, os resultados não foram significativos, demonstrando que
256 essa melhora no tônus muscular não foi suficiente para gerar uma melhora na função motora,
possivelmente pelo baixo número de sessões, tendo em vista que a melhora no desempenho
motor está relacionada ao exercício repetitivo e prolongado e a manutenção da postura
sentada durante a terapia (que não permite a exploração de muitas transições) (BERTOTI,
1983; CALVELEY, 1998). Deve-se levar em consideração que a análise dos dados foi feita de
forma geral, e que na análise individual um praticante obteve melhora nas dimensões A e B
da escala.

De acordo com Copetti (2004), foi constatada uma melhora da habilidade motora de andar
devido ao movimento tridimensional do cavalo, que durante a prática da equoterapia gera
movimentos mais complexos de rotação e translação, e as informações proprioceptivas são
interpretadas por órgãos sensores de equilíbrio e postura exigindo ajustes da criança para
manter-se sobre o cavalo. O passo do cavalo estimula as reações de equilíbrio, proporcionando
a restauração do centro de gravidade dentro da base de sustentação.

Em um estudo semelhante, de Padra e colaboradores (2004), foi avaliada a função motora


grossa em três praticantes portadores de paralisia cerebral através da aplicação do teste
GMFM. Foi constatada melhora de 20,95% na dimensão A, 20,73% na dimensão B, e 21,55%
na dimensão C, obtendo um ganho médio de 20,92% em dez sessões de equoterapia.

Ainda segundo Padra e colaboradores (2004), durante observação dos resultados de seu
estudo, nas 3 dimensões da GMFM, verificou-se que pacientes submetidos a sessões de
equoterapia obtiveram como maior benefício o controle e conseqüentemente o alinhamento
postural, concordando com os achados na literatura que mostram melhora da manutenção
da postura sentada e na simetria desta mesma função

Em outro trabalho, Rodrigues e colaboradores (2004) notaram que um grupo (idade média
de 43 meses) apresentou escores significamente maiores nas dimensões deitar e rolar, sentar
e andar, correr e pular na segunda avaliação da GMFM, comprovando que a equoterapia é
uma boa indicação terapêutica em pacientes com pobre controle de tronco.

Especificamente na população infantil, estudos demonstram que o ritmo do passo do cavalo


promove co-contração que leva a acarretar atividade de glúteos hipotônicos e liberar o
músculo íliopsoas de sua espasticidade em crianças com distúrbios neuromotores, e isso não
é observado em outros meios de intervenção (ANDE-1996).

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Em um outro trabalho, Fonseca (2004) afirma que o calor e a adaptação do cavaleiro ao
ritmo do cavalo exige contração e descontração simultânea dos músculos agonistas e
antagonistas, promovendo o relaxamento, e também podem ajudar a reduzir a espasticidade
muscular, especialmente nos adutores dos membros inferiores.

Isso é confirmado no estudo de Botelho e colaboradores (2003), que notaram melhora da


espasticidade nos 14 casos avaliados através da escala de Asworth modificada, além de
registrar também um aumento da amplitude de abdução dos quadris, mensurada através
da distância intercondilar, com movimentos bruscos e lentos. Isso mostra que a equoterapia
é um método coadjuvante válido para reduzir espasticidade e para aumentar a amplitude
de abdução dos quadris.

Complementando esses estudos, segundo Magalhães (1997); Motta et al., (2001); Medeiros e
Dias (2003 apud Leite et al., 2004) ainda temos que a estimulação sensorial proporcionada
pelo cavalo de forma prazerosa, ao ser oferecida na quantidade e na qualidade ideais à
257
organização destas informações, facilita o processo neurológico de integração sensorial, o
que pode ser traduzido em uma melhora motora, perceptiva, cognitiva e emocional do
praticante.

CONCLUSÃO

A presente pesquisa revelou que nos sete casos de espasticidade observados houve melhora
significativa no tônus, apesar de não se observar melhora da função motora.

Concluímos que a Equoterapia, com um número de sessões igual a 10, pode ser um método
coadjuvante válido para reduzir a espasticidade, sendo um agente facilitador da adequação
do tônus muscular.

Embora esse estudo tenha demonstrado a eficácia da Equoterapia em crianças portadoras


de Paralisia Cerebral, sugere-se que sejam realizadas demais pesquisas com maior número
de sessões, para possibilitar resultados mais significativos, relacionados a função motora.

REFERÊNCIAS

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XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

259
ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO EQUOTERÁPICO PARA O
ATENDIMENTO DE CRIANÇAS AUTISTAS. UTILIZAÇÃO DA
COMUNICAÇÃO VISUAL BASEADA NO MÉTODO TEACCH

Autora: Fabiana T. Riskalla - Brasil


Colaboradoras: Bruna M. Sabbag; Shirlei S. Kucek

AUTISMO

HISTÓRICO E CONCEITOS

Os pioneiros a identificar e referenciar, em crianças, características de isolamento social


extremo e incapacidade de estabelecer relacionamentos foram Leo Kanner (1943) e Hans
Asperger (1944). Ambos descreveram o transtorno autista e publicaram, separadamente,
descrições detalhadas de casos de autismo. Os dois autores acreditavam que havia nas crianças
observadas, desde o nascimento, um transtorno básico que originava problemas altamente
característicos. O termo autismo já havia sido empregado pelo psiquiatra Eugen Bleuler, em
1911, para identificar um transtorno básico em esquizofrenia, em que ocorria uma dificuldade
no relacionamento com as pessoas e com o meio externo. Sendo assim, a origem da palavra
“autista” vem do grego autos, que significa “próprio” e atualmente é empregada,
exclusivamente, para identificar o transtorno de desenvolvimento autista, no qual diferentes
crianças apresentam em comum características singulares, principalmente dificuldade
congênita em desenvolver relação afetiva normal, o que contrasta com o conceito de
esquizofrenia de Bleuler (MELLO, p.13)

Salomão Schwartzman (1997) considerou o autismo como um “distúrbio do desenvolvimento


caracterizado por um quadro comportamental peculiar e que envolve sempre as áreas de
interação social, da comunicação e do comportamento em graus variáveis de severidade;
este quadro é, possivelmente, inespecífico e representaria uma forma particular de reação
do sistema nervoso central ante grande variedade de insultos que podem afetar, de forma
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

similar, determinadas estruturas do sistema nervoso central em períodos precoces de seu


desenvolvimento.” Estes três desvios qualitativos na interação, comunicação e na imaginação,
que aparecem juntos no autismo, foram chamados de “tríade” por Lorna Wing e Judith
Gould (1979). Esta tríade é responsável por um padrão de comportamento repetitivo e restrito,
porém com condições intelectuais variáveis: de retardo mental grave a QI acima da média.

O autismo é uma dificuldade de aprendizagem social diferente de um déficit intelectual e,


portanto, pode ocorrer em qualquer nível cognitivo genérico. Geralmente se reporta a pessoas
com autismo e inteligência normal ou supernormal, como portadoras da síndrome de
Asperger; todas, porém, que estão no assim chamado espectro autístico, compartilham
dificuldades não só nas áreas da tríade (interação social, comunicação e imaginação), mas
também no funcionamento cognitivo, no processamento sensorial e repertório de
comportamento.

Na atualidade, fala-se muito no espectro autista: condições autísticas e similares ao autismo


que o indivíduo apresenta. Como estas características são amplas, principalmente em autismo
260
associado a outras condições, torna-se mais difícil a identificação do autismo e o diagnóstico
precoce. Gillbert (1991) já mencionava a existência de várias formas de autismo
acompanhadas de um espectro de sintomas que variam de leves a graves.

Facilitando o entendimento, Inger Nilson(2003) dividiu o autismo em três níveis de explicação:


Nível sintomático, no qual se descrevem os dados originários da observação do modo de
comportamento das pessoas com autismo; nível cognitivo, em que se questiona como a
percepção e interpretação da realidade diferem da normal; e o nível biológico, em que se
questiona o que ocorre em suas mentes, que funcionam de modo diferente.

Estatísticas americanas recentes mostram que de 1/1000 crianças são autistas clássicos e 1/
250 englobam todos os tipos de autismo. Segundo dados demonstrados por Ami Klin (2005)
no centro de pesquisas e diagnóstico em autismo na Universidade de Yale (Yale Child Study
Center), o diagnóstico e tratamento precoce do autismo melhorou muito em todos os aspectos:
80% dos casos podem ser diagnosticados antes de um ano de vida; 100% nos primeiros dois
anos de vida. No Centro de Yale já se faz o diagnóstico no primeiro ano de vida. Com isso
houve uma melhora no prognóstico para o autista clássico, que, de um percentual 2% com
prognóstico para trabalhar e ter uma vida independente, passa a ser hoje de 30% e, de 50%
que não falavam, passa hoje a ser de 20% a 30%.

Gillberg (2003), em sua passagem pelo Brasil (In Curso Conviver, p 05.), mencionou a
incidência de 1 a 2/1000 crianças com autismo clássico e de 3 a 7/1000 crianças com síndrome
de Asperger e autismo atípico. Também citou conclusões importantes, entre elas: a incidência
entre meninos e meninas, atualmente, é quase igual e quando se apresenta em meninas,
geralmente estas tendem a ser mais agressivas e comprometidas intelectualmente; 5% das
crianças em idade escolar são autistas, cerca de 70% possuem algum nível de retardo mental
associado, e 20% possuem inteligência na média ou acima dela.

Em palestra no Brasil (III Jornada conviver de autismo), Ami Klin(2005) mencionou que
60% possuem déficit mental e 40% não possuem, ressaltando que o aumento na incidência
dos casos de autismo se dá pelo fato da possibilidade atual de um diagnóstico mais precoce
e do aumento da conscientização das pessoas, o que leva a uma facilidade maior em detectar
os casos, porém alertou que no Brasil esta conscientização da sociedade e profissionais da
saúde e educação, no geral, ainda é muito pequena, tornando o assunto um problema de
saúde pública.

Portanto, o profissional de equoterapia, no seu papel social, precisa se posicionar como agente XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

propagador de informações e aos poucos desmitificar a visão social do autista distante e


introspectivo, pois, na realidade, autistas têm uma maneira diferente de se comunicar e
expressar. Cabe ao profissional difundir formas de abordagem para comunicação com o
autista, formas estas que se caracterizam pelo ver o mundo com olhos do autista, posição
que jamais pode ser ignorada.

ABORDAGEM TERAPÊUTICA

Apesar de a pessoa autista apresentar dificuldades e características inerentes ao grau de


comprometimento pela síndrome, através de um tratamento específico e precoce poderá
superar várias barreiras e aprender padrões “normais” de comportamento, exercitar sua
cidadania e desenvolver habilibilades de comunicação para sua integração na sociedade.
261
Na organização e elaboração do tratamento é preciso priorizar a forma de comunicação
com o autista, , ou seja, evitar a utilização de linguagem abstrata, tendo em vista que ele
possui um pensamento concreto (cada palavra leva exatamente o seu significado) e pensa
por imagens. Também se deve levar em conta outros prejuízos autísticos:

– Prejuízos na função executiva: dificuldade de planejamento, organização,


focalização, generalização e priorização;

– Prejuízos nos processos mentais: dificuldade de abstração e de compreensão do que


o outro sente;

– Disfunção no sistema sensorial: dificuldade em processar todas as informações


sensoriais (algumas mais, outras menos, de acordo com cada um). Por isso, trabalha-
se um estímulo por vez, por exemplo, se está sendo trabalhado aspecto visual, evita-
se sobrecarga verbal e auditiva;

– Dificuldade de desenvolver jogos e imaginação (objetos não possuem sentido


simbólico). Intervenção: pelo concreto, palavras diretas e objetivas, evitando a
conotação de dupla mensagem;

– Dificuldades de comunicação verbal e não-verbal. Intervenção: comunicação por


dicas visuais;

– Resistência em mudar rotinas. Intervenção: flexibilização da rotina;

– Dificuldade em partilhar experiências em grupo;

– Dificuldade em mudar regras já aprendidas. Esse fato exige muito cuidado ao se


trabalhar com o aluno autista, pois uma vez internalizada uma informação, torna-
se uma regra fixa de difícil reelaboração;

– Aversão a novidades e surpresas. Intervenção: planejamento de previsibilidade


e organização informativa de tudo o que se quer comunicar ao aluno.(VIANNA,
p.7-9)

Técnicas educacionais TEACCH


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

O método Treatment and Education of Autistic and related Communication handicapped


Children (TEACCH) é um programa que envolve esferas de atendimento educacional e
clínico em uma prática predominantemente psicopedagógica direcionada a crianças autistas
e com déficit relacionados à comunicação. Teve sua criação na década de 60, quando o Dr.
Eric Shopler entrou para um grupo de pesquisadores psicanalistas da Universidade da
Carolina do Norte -(EUA), que realizavam estudos baseados na observação criteriosa dos
comportamentos autistas em diferentes ambientes e formas de estímulos. Os resultados destas
observações foram, principalmente, a melhora apresentada quando o autista era submetido
a propostas de trabalho diretas e não em situações tão livres, a estímulos visuais e não
auditivos, e quando conseguia se expressar e entender o que se era esperado dele. Aos poucos,
o método foi sendo reconhecido nos EUA e, em 1972, foi legitimado pela legislação do estado
da Carolina do Norte como o primeiro programa estadual para atendimento vitalício ao
autista e suas famílias. Atualmente, cada cidade tem um centro de treinamento TEACCH,
de acordo com o perfil da criança, com o objetivo de garantir o desenvolvimento de amplos
serviços para o atendimento desta. (VIANNA, p. 10-12; MELLO, p. 27-28)
262
As técnicas educacionais do TEACCH englobam:

– Apresentação visual da informação para comunicar o que se quer, ou seja, promover


uma previsibilidade, fazendo do TEACCH um sistema de comunicação receptiva.;

– Estratégias de trabalho no sentido da esquerda para a direita e de cima para baixo


(sempre da mesma forma, pela dificuldade do autista em seqüenciar, já facilitando
o sentido da escrita);

– Utilização do conceito do “acabou” de forma concreta, demarcando assim claramente


o término da atividade (existe um local específico para se colocar a atividade quando
chega ao seu final);

– Utilização do painel de informação diária contendo a rotina que o aluno deverá


seguir (esta rotina possui uma flexibilidade incorporada e sendo que o educador
poderá alterar o painel da forma que achar necessário para isso o aluno deverá estar
ambientalizado com o sistema e confiar neste painel);

– Individualização: programa de atividades desenvolvido sempre individualmente para


a necessidade de cada criança, cuidando em mantê-lo sempre motivador e criativo,
sem atividades em excesso.

A organização física deverá sempre informar:

– O que a criança irá fazer (limite físico do espaço);


– Quando irá fazer (painéis);

– Qual ordem irá fazer;

– O que acontecerá após;

– Como usar o material (começo-meio-fim da atividade).

A estrutura física deverá:

– Conter informações sobre o que é solicitado ao aluno;

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– Ser organizada por setor;

– Ser previsível;

– Oferecer contexto de aprendizagem objetivo (espaço para trabalho independente,


espaço para brincar ou descansar, espaço para aprender e espaço para trabalho em
grupo) (VIANNA, p.14-19)

Estudo de caso - Estratégias desenvolvidas para a organização do ambiente equoterápico


e atendimento do aluno observado

Vista a necessidade de dar seqüência ao trabalho que o aluno autista realiza em sala TEACCH
e a possibilidade de melhora adaptativa e quantitativa que este aluno pode obter com a
organização, dentro de um contexto equoterápico mais pertinente à sua forma de
compreensão e comunicação, desenvolvemos algumas estratégias para o recebimento de
263
alunos autistas no Centro de Equoterapia Horse Place. A princípio, o ambiente foi organizado
para o recebimento de um aluno específico, com o propósito de observarmos seu
comportamento em relação a nossa comunicação, se esta era adequada, de fácil compreensão
sobre o que ele iria fazer em que ordem, o que viria após uma atividade terminada, onde
aconteceriam e se o ambiente transmitiria a segurança e previsibilidade necessárias para
evitar crises e ansiedades, comumente desencadeadas no autista em relação às novas
informações e situações.

O aluno selecionado tem 11 anos de idade e realiza tratamento no Centro Conviver de


Autismo (Curitiba-PR), com o método TEACCH, desde fevereiro de 2005. Após sete meses
de trabalho na clínica, o aluno já estava ambientado com o método, e portanto resolvemos
encaminhá-lo para a equoterapia, priorizando os objetivos seguintes: aceitação do aluno de
contato e aproximação com o eqüino (contato no solo, aceitação do uso do capacete e
montaria); aceitação de permanecer no ambiente, incluindo a presença de outros animais,
como cachorro e gatos (o aluno tinha muita fobia aos animais e reagia com gritos e esquiva
ao vê-los) e da facilitação das respostas adaptativas físicas e emocionais apropriadas para a
execução das atividades com o eqüino.

Optamos pela utilização de uma quantidade mínima de dicas visuais, somente para situar o
aluno nos espaços demarcados para cada momento e atividades. Para os momentos anteriores
e posteriores à sessão de equoterapia, escolhemos dicas visuais que comunicavam e promoviam
maior relaxamento, tendo em vista que queríamos destacar a sessão com o eqüino como
sendo o objetivo de “trabalho” e o tempo restante como o objetivo de “lazer” durante as
tardes de equoterapia. Escolhemos uma rotina preestabelecida de informações, a qual foi
flexibilizada somente durante a sessão de equoterapia com variações na quantidade e tipos
de atividades aplicadas (promovendo de certa forma, pequenas “novidades”, para aos poucos
ajudá-lo a aceitar com maior tranqüilidade situações inesperadas, assim como predispor o
aluno a flexibilizar as informações em outros momentos).

Seqüência das dicas visuais utilizadas:


– Cartão 1 - dica visual de equoterapia no painel de sala na clínica (colocado no painel
de rotina, estruturado diariamente antes da chegada do aluno em sala);

– Cartão 2 - dica visual do carro (comunicando a hora de ir para o transporte que leva
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os alunos até o centro de equoterapia);

– Cartão 3 - dica visual da cadeira (indicando o local que ele deve se dirigir ao descer
do carro e aguardar o atendimento equoterápico);

– Cartão 4 - dica visual do cavalo (indicando o momento de se dirigir com o terapeuta


para a sessão de equoterapia);

– Cartão 5 - dica visual da cadeira (indicando o local de retorno após a sessão);

– Cartão 6 - dica visual do banheiro (normalmente oferecida de duas a três vezes


durante a tarde: após sessão de equoterapia, após o lanche e antes de ir embora);

– Cartão 7 - dica visual do lanche (indicando o lanche, sempre na mesma hora);

– Cartão 8 - dica visual do brincar (indicando o espaço para pintar, rabiscar, manusear
revistas e massinha);
264
– Cartão 9 - dica visual do descansar (indicando local para sentar ou deitar ao ar
livre);

– Cartão 10 - dica visual do caminhar (esta atividade é adicionada de acordo com a


condição do tempo);

– Cartão11- dica visual do carro (indicando o momento de término do tempo de


permanência no centro de equoterapia e retorno à clínica).

Observações
– Durante o momento da realização da sessão de equoterapia, optamos em não utilizar
dicas visuais (para promover flexibilização de rotina), porém manter uma seqüência
de atividades sempre em uma mesma ordem: duas a três atividades iniciais de solo
para demarcar o início da sessão (pareamento de cores e animais, encaixes diversos,
quebra-cabeça e seleção de animais); colocação do capacete e atividades com o aluno
montado no eqüino, demarcando o meio da sessão; retirada do capacete e alimentar
o eqüino, demarcando o término da sessão;

– A ordem de utilização das dicas visuais, do início do atendimento até o presente


momento, são cartão de cadeira, cartão de equoterapia, cartão de cadeira, cartão de
banheiro, cartão de descansar ou brincar, cartão de lanche, cartão de banheiro e
cartão de descansar, brincar, cadeira ou caminhada(variando entre estas opções);

– As próximas dicas que pretendemos acrescentar são cartão de bola (para promover
mais uma opção de atividade lúdico-motora) e televisão (para dias chuvosos);

– Previamente ao início das atividades foram realizados alguns dias de observação do


padrão de comportamento do aluno na clínica e uma investigação das atividades de
lazer que ele mais gostava de fazer para serem utilizadas na escolha das dicas no
trabalho de equoterapia (por exemplo: rabiscar, revista e massinha);

– Cada dica visual possui um local predeterminado e não variável para serem colocados
pelo aluno após este recebê-las. Este local chama-se check in (cada check in possui
uma dica visual idêntica ao que o aluno recebeu, para comunicar claramente que
aquele é o local onde deve ser deixado o cartão que recebeu).

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Comentários das observações psicomotoras e do comportamento do aluno em um período
de seis meses (setembro de 2005 a março de 2006) de trabalho equoterápico

– Aumento na tolerância de permanência próxima aos animais (quando se aproxima


algum cão ou outro animal, o aluno somente o fita com o olhar e normalmente
permite que estes se aproximem, não mais emitindo os gritos de ansiedade e esquiva
corporal como no início);

– Manifestação mais clara de prazer e satisfação no momento em que lhe é oferecida


a indicação da hora em que deve realizar o trabalho com o eqüino(ao pegar a dica
visual, frequentemente sorri e emite sons de alegria, expressando o sentimento de
gostar de entrar em contato com o eqüino);

– Aumento na capacidade de percepção corporal durante o movimento do eqüino,


realizando corretamente o endireitamento postural na manta (inicialmente, ao
265
deslizar para os lados na manta, necessitava de indicação corporal da terapeuta
para centralizar seu corpo);

– Compreensão de solicitações breves verbais em relação ao contato com o eqüino e


execução destas com maior facilidade, disposição e atenção (Exemplo: “ Faça um
carinho no cavalo.” ou “ Dê capim para o cavalo.”);

– Ausência de sinais de expressão de aumento de ansiedade; sentimento de


desorganização interna ou resistência a alguma proposta (durante o contato com o
ambiente e seus variados sons e movimentos, permanece com semblante de
tranqüilidade, indicando segurança e confiabilidade no que tem de realizar).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossa equipe de equoterapia acredita na facilitação comunicativa que o sistema de


organização física e visual do TEACCH promove. Nossa sistemática de trabalho está em
processo inicial de aplicação. Atualmente mais um aluno está sendo atendido com o mesmo
procedimento. Temos a intenção de dar continuidade a esse experimento, enriquecendo
nosso banco de dados a fim de avaliar o efeito desse método em diferentes indivíduos.

Concluímos nossas considerações com a síntese do objetivo maior do método TEACCH


expressa por Inger Nilsson (2003): “O propósito deste trabalho é com o tempo criar maior
independência real e sentimentos de sucesso, promovendo capacidade de entender o seu
dia-a-dia sem a ajuda constante da equipe terapêutica e familiares. Além de ensiná-la a
aceitar mudanças, aumentando a flexibilidade de sua vida através de um sistema em que
possa confiar.”

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XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

267
EQUOTERAPIA E A INTEGRAÇÃO MULTISSENSORIAL DO
EQUILÍBRIO DA POSTURA

Autor: Satu Selvinen, Finland

Sistemas Sensoriais de Equilíbrio: Pode a melhora do equilíbrio na equoterapia ser explicada


por mudanças na neurofisiologia?

Quando falamos sobre os efeitos da equoterapia, sempre mencionamos a melhora no


equilíbrio. Mas o que exatamente é o equilíbrio e como a equoterapia o melhora?

Equilíbrio é definido como manter o centro de massa sobre a base de suporte. É atingido
através de um processo complexo envolvendo a recepção e integração de estímulos sensoriais,
planejamento motor, atenção e execução muscular. Qualquer dano em qualquer uma destas
áreas afeta o equilíbrio.

A pesquisa sugere que a habilidade de relacionar estímulos sensoriais a uma reação motora
forma a base do desenvolvimento do controle da postura. A resposta sensorial é uma parte
integrante do conjunto do sistema motor e é crítica na modificação de programas motores
gerados pela CPG em adaptações em linha (online) para o meioambiente.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Geradores de Padrão Central (GPCs) são redes funcionais da espinha, nas quais o caminhar,
o controle de postura, e outros comportamentos rítmicos, como a alimentação e respiração,
estão baseados. O dar-passos infantil é uma evidência da existência dos GPCs e demonstra
que GPCs são controladores ativos dos movimentos humanos.

Os movimentos rítmicos do cavalo ativam os GPCs e isso pode ser uma explicação para os
efeitos positivos da equoterapia, especialmente melhoras no caminhar.

Em minha apresentação irei focar os sistemas sensoriais envolvidos no controle do equilíbrio.

A habilidade de manter equilíbrio depende da informação sensorial que o cérebro recebe de


quatro diferentes sistemas; sistemas de propriocepção, tátil, vestibular e visual. Cada um
desses sistemas sensoriais envia informações sob a forma de impulsos nervosos dos receptores
sensoriais para o cérebro, e eles provêm informações tanto únicas quanto redundantes para
o equilíbrio.
268
Receptores mecânicos do sistema tátil estão na pele e dão informações sobre toque e pressão.
Proprioreceptores localizados nas juntas, ligamentos, músculos e na pele fornecem
informações sobre comprimento, estiramento, tensão e contração muscular e posição das
articulações. A visão central permite a orientação ambiental, contribui para a percepção da
verticalidade e do movimento de objetos. A visão periférica detecta o movimento do “eu”
em relação ao ambiente. O sistema vestibular fornece informação sobre o movimento da
cabeça e sua posição em relação à gravidade e outras forças de inércia.

No entanto, ambigüidades existem em cada sentido. O sistema somatossensorial por si só


não distingue entre uma mudança de inclinação de superfície e mudanças de inclinação do
corpo. O sistema visual sozinho não consegue discriminar movimento no ambiente do
movimento próprio. O sistema vestibular sozinho não consegue determinar se o movimento
da cabeça sinalizado pelos canais semicirculares é causado por uma flexão do pescoço ou
dos quadris, ou se o movimento da cabeça sinalizado pelos otolitos se deve a uma inclinação
da cabeça, ou à acelaração ou desaceleração linear.

A integração multissensorial permite a resolução dessas ambigüidades usando-se


informações recebidas simultaneamente através dos outros sentidos, que podem ou não ser

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


consistentes com a informação adquirida de uma única modalidade.

Por vezes, as atividades integradoras são mais complicadas do que em outras ocasiões. Por
exemplo, há ocasiões em que o estímulo sensorial que nós recebemos de uma das fontes está
em conflito com o estímulo de outra. Por exemplo, quando nos sentamos em um trem e o
trem próximo a nós se move. No começo nosso sistema visual diz que o nosso trem está se
movendo, mas quando o sistema vestibular reage ele dá mais informações, e nós percebemos
que o trem próximo a nós é que está se movendo.

Enquanto a integração dos estímulos sensoriais ocorre, o cérebro envia impulsos aos músculos.
Esses músculos fazem cabeça e pescoço, olhos, pernas e o resto do corpo se mover e permite
que se mantenha o equilíbrio e se tenha uma visão clara enquanto se move.

Processos sensoriais e sua contribuição são importantes na construção das representações


funcionais do corpo, chamados esquemas corporais. Eles são necessários para o controle
269
do movimento, para a construção da auto-imagem e para sentir a propriedade sobre o próprio
corpo, também chamado de consciência corporal. Sabe-se que os transtornos de
processamento da informação sensorial perturbam o desenvolvimento de esquemas corporais
funcionais, os quais também são importantes para o controle do equilíbrio.

Equilíbrio fraco é freqüentemente associado com distúrbios neurológicos, e há com frequência


deteriorações nos sistemas sensoriais por trás dos problemas de equilíbrio. Especialmente
nestes casos a equoterapia pode ser de ajuda.

Eu apresentarei um único estudo de caso dos efeitos da equoterapia sobre um homem de 28


anos, que sofre de EM (esclerose múltipla). Ele tem grandes problemas com seu controle de
equilíbrio e precisa, portanto, usar a cadeira de rodas. As causas do fraco equilíbro deste
paciente são ataxia, problemas visuais e déficits somatossensoriais.

Para a avaliação dos efeitos da equoterapia, utilizamos a técnica de plataforma de força. O


equilíbrio do paciente foi medido antes e depois de três sessões de equoterapia. Os resultados
mostraram uma oscilação menor do corpo após cada uma dessas sessões, quando comparada
à oscilação anterior à equoterapia. Melhoras no equilíbrio também foram observadas no
caminhar do paciente.

Como uma pessoa com problemas sensoriais pode ser capaz de controlar seu equilíbrio?

Uma explicação é a integração multissensorial. Nenhum sistema único pode dar informações
suficientes para manter-se o equilíbrio, mas a integração multissensorial é capaz de fazê-lo.

Por sorte, o sistema nervoso central também tem propriedades plásticas. Em uma pessoa
cega, por exemplo, a apresentação do sistema somatossensorial no cérebro se torna maior, o
que fará o sistema mais sensível. Portanto, ele tem um papel mais importante no controle do
equilíbrio do que em outras pessoas que confiam fortemente em seu sistema visual.

Montado no cavalo, o cavaleiro recebe um montante enorme de estímulos sensoriais, e todos


os sistemas sensoriais envolvidos no equilíbrio são ativados, permitindo que a integração
multissensorial ocorra. O treinamento do equilíbrio sobre o cavalo não é só eficiente, é também
motivador e divertido. O cavalo tem um papel por dar amizade e contato, o que dá força
aos movimentos do cavalo.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

270
EQUITAÇÃO TERAPÊUTICA E SEUS BENEFÍCIOS
EM PSICOPATOLOGIA

Autor: Ute Hesse - Brasil

RESUMO

A literatura disponível no Brasil é escassa para esclarecer a complexidade do método que


utiliza o cavalo como agente terapêutico nas intervenções psicoterapêuticas. O presente
estudo visa contextualizar a teoria da equitação terapêutica e os seus benefícios em
psicopatologia encontrada na literatura alemã, com a prática da equoterapia desenvolvida
no Brasil. A equitação terapêutica atua de modo diferenciado para cada quadro clínico da
psicopatologia, possuindo um caráter multifocal que considera o diagnóstico, planejamento
das estratégias, bem como o prognóstico. É possível registrar no setting com o cavalo, o papel
que este desempenha para os praticantes na elaboração de certos conflitos. Ao longo do
processo da equitação terapêutica, o terapeuta encontra espaço para descrever o que observou
de fenômenos psicopatológicos na relação do praticante com o cavalo, e conforme este vai
adquirindo recursos internos para reconhecê-los e elaborá-los, os progressos vão acontecendo,
tornando visíveis as mudanças e os benefícios para os praticantes. O setting da equitação
terapêutica antecede uma investigação minuciosa das expectativas, queixas e solicitações
do praticante para o terapeuta. O presente estudo mostrou a necessidade de mais publicações
sobre o método da equitação terapêutica nas psicopatologias, uma vez que verificou-se sua
eficácia nos atendimentos realizados no Brasil, que por sua vez vão ao encontro da literatura
alemã. No Brasil a utilização do cavalo como agente terapêutico tem aumentado
significativamente nos últimos anos, porém ainda não há cursos oferecendo especializações
na área da equitação terapêutica, com enfoque na formação dos profissionais no atendimento
dos praticantes com psicopatologias.

Palavras chaves: equoterapia; equitação terapêutica; psicopatologia; benefícios; setting;

INTRODUÇÃO

O interesse dos psicólogos em utilizar o cavalo nas intervenções psicoterapêuticas aumenta XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
a cada ano, no entanto, a literatura disponível no Brasil ainda é escassa para esclarecer a
complexidade deste método, suas possibilidades e limitações.

No levantamento bibliográfico realizado, foram encontradas poucas pesquisas na área da


equitação terapêutica no nosso país, e estas se restringem aos benefícios dos praticantes com
diagnóstico de autismo ou deficiência mental. Não foram encontradas referências sobre
trabalhos psicoterapêuticos com o cavalo no tratamento da esquizofrenia, do transtorno
bipolar, dos transtornos depressivos, dos transtornos de ansiedade e outros transtornos
psicopatológicos, bem como, registros referentes à realização dos planejamentos e das
estratégias terapêuticas do método de utilização do cavalo como agente psicoterapêutico, e
também dos pré-requisitos necessários ao psicólogo, à equipe e aos cavalos da equitação
terapêutica.

* Psicóloga, Profissional da Equoterapia atuando no Instituto Passo a Passo - Itatiba - SP- BRASIL 271
A Alemanha, porém, possui uma tradição de mais de vinte anos nesta área, com diversas
publicações. Os estudos alemães mostram que cada programa da equoterapia tem sua
indicação específica da medicina, psicologia, pedagogia e do esporte, sendo que eles devem
ser compreendidos numa atuação em que exista um campo de inter-relacionamento e de
interesse comum. A equitação terapêutica se localiza neste campo e permeia todos os
programas em que são atendidos os pacientes que apresentam algum tipo de psicopatologia.
Na equitação terapêutica são utilizadas as indicações de cada programa, correlacionando-
as com as fases da doença dos pacientes, chamados de praticantes.

Na Alemanha a denominação deste campo de inter-relacionamento foi dada pela Dra.


Michaela Scheidhacker como “Psychoherapeutisches Reiten” (Equitação Psicoterapêutica);
entretanto, no Brasil não se discutiu ainda esta nomenclatura, sendo que neste trabalho o
termo equitação terapêutica representa a equitação psicoterapêutica sugerida pela autora
alemã.

A Dra. Michaela Scheidhacker também é a fundadora da escola de Equitação


Psicoterapêutica de Munique. Esta escola desenvolve seu trabalho junto ao hospital
psiquiátrico de Munique, “Bezirkskrankenhaus Haar-BKH”, onde são realizados atendimentos
em equitação terapêutica com pacientes psiquiátricos, pesquisas e cursos, há quase duas
décadas. A atuação psicoterapêutica junto ao cavalo vem crescendo a cada ano e assim na
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Alemanha foi fundada em 2001 a associação “Fachgruppe Arbeit mit dem Pferd in der
Psychotherapie – FAPP” (Grupo Específico do Trabalho com o Cavalo em Psicoterapia),
reconhecida também pela associação alemã da Equitação Terapêutica, “Deutsches Kuratorium
für Therapeutisches Reiten e.V. – DKThR”.

O presente estudo visa a contextualizar a teoria da equitação terapêutica e os seus benefícios


em psicopatologia encontrada na literatura alemã, com a prática da equoterapia desenvolvida
no Brasil.

No Brasil a Dra. Gabriele Brigitte Walter vem contribuindo para a divulgação da complexidade
das possíveis intervenções dos aspectos psíquicos no setting terapêutico com o cavalo. Há
muito tempo ela vem apontando nos seus cursos, que realiza na Fundação Rancho GG,
272 Centro de Treinamento, Pesquisa e Ensino de Equoterapia, os benefícios da equitação
terapêutica no caso das psicopatologias. Como pesquisadora, psicóloga, fisioterapeuta e
instrutora de equitação, a doutora Gabriele possui um conhecimento e experiência
significativos no campo da equitação terapêutica, contribuindo para fundamentação das
intervenções psicoterapêuticas no trabalho com o cavalo no nosso país.

As intervenções feitas na equitação terapêutica são de caráter multifocal, considerando o


diagnóstico, planejamento das estratégias, bem como o prognóstico. Porém, não é discutida
uma abordagem específica da psicologia para esse método psicoterapêutico que utiliza o
cavalo.

Segundo Scheidhacker (1998, p. 16) “Psychoterapeutische Ansätze gehen über von dem Körper
- und bewegungstherapeutischen Gesichtspunken über erzieherische Mabnahmen bis hin zu
verhaltenstherapeutischen, tiefenpsychologischen und analytischen behandlungsform”. (As
referencias psicoterapêuticas utilizadas possuem aspectos das terapias voltadas para o corpo
e o movimento, terapias cognitivistas e comportamentais, como também das terapias
psicanalíticas ou as chamadas psicoterapias profundas).

A equitação terapêutica atua de modo diferenciado para cada quadro clínico da


psicopatologia. Assim os praticantes com retardo mental são portadores de lesões cerebrais
e muitas vezes não há cognição suficiente para a auto-reflexão proposta nas terapias
psicoterapêuticas convencionais. Mas na terapia proposta com o cavalo, são possíveis
atuações que envolvem os aspectos da aprendizagem, atividades esportivas e a reinserção
social, também utilizadas no Brasil em equoterapia.

Os praticantes portadores de uma dependência química inicialmente não apresentam lesões


cerebrais, mas muitas vezes manifestam transtornos de personalidade com dificuldades de
relacionamento, e nestes casos possuem uma tendência a distorções da auto-imagem,
complexo de inferioridade e desejo de regressão a estágios primários. O cavalo, na proposta
terapêutica, atua aqui como um elemento que possibilita reforçar a personalidade fragilizada,
proporcionando equilíbrio nos aspectos narcisísticos da pessoa, pois o praticante projeta no
cavalo seu desejo de posse, beneficiando-se da imponência e da beleza do animal.

Os benefícios aos praticantes com diagnóstico de psicose, ou borderline, sofrendo de alterações


de delírios e alucinações freqüentes, se justificam pelo fato de que estes pacientes são solicitados
a estabelecer contatos e relações novas com o cavalo, obtendo uma melhora na percepção

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corporal. Conforme Scheidhacker 1998, p. 14), “Konkrete Lerninhalte bei der Pflege der Pferde
födern zielgerechtetes denken und Handeln.” (Aprendizagens concretas no trato do cavalo
estimulam pensamentos e ações objetivas).

O cavalo pode significar um objeto de projeção ou um meio de catarse para os praticantes,


no qual podem ser eliminadas excitações nervosas e tensões. Os praticantes muitas vezes
“confessando-se” ao cavalo passam por uma descarga afetiva com lágrimas e cólera, podendo
obter certo alívio momentâneo. É possível registrar, no setting com o cavalo, o papel que este
desenpenha para os praticantes na elaboração de certos conflitos.

A seguir, o relato de um dos casos atendidos pela autora deste trabalho: E.A.P praticante de
43 anos com diagnóstico CID-10, F31.4 - Transtorno afetivo bipolar, episódio atual misto,
agitada para a sessão, ficou por mais de meia hora chorando, abraçando e beijando uma
égua: “ te amo, te amo... você é a razão de eu existir, você não contamina, te amo, te amo,
obrigada... muito obrigada por existir...”. “Você é maravilhosa, você é maravilhosa, é você
que me entende... você que me entende... obrigada, obrigada”. A terapeuta acolheu esta 273
situação a uma pequena distância e a praticante saiu em silêncio, agradecendo a terapeuta
pelo tempo que pôde estar com o cavalo, a sós.

Nos transtornos depressivos podem ocorrer alterações da imagem ou esquema corporal;


segundo Dalgalarrondo (2000, p. 154), “o deprimido vive seu corpo como algo pesado, lento,
difícil, fonte de sofrimento e não de prazer. Sente-se fraco, esgotado, incapaz de fazer frente
às exigências da vida.” Assim como nos quadros ansiosos graves, os praticantes sentem o
corpo comprimido, asfixiado, com despersonalização corporal e com a sensação que o corpo
entra em colapso ou está a desorganizar-se. Nestes casos o movimento tridimensional do
cavalo faz com que o praticante seja estimulado a uma percepção corporal adequada e a
uma busca constante do equilíbrio. Esta busca do equilíbrio não se restringe a aspectos físicos
do praticante, mas está inerentemente ligado à autopercepção do “eu quero”e “eu posso”
Gäng (2003, p. 75).

Foi possível observar o caso de um adulto diagnosticado com CID-10, F32.2 - Episódios
depressivos graves sem sintomas psicóticos, uma melhora significativa após três meses de
equitação terapêutica, quando conseguiu conduzir o cavalo com autonomia, cavalgando a
passo sobre um obstáculo sem altura. A atividade, além da exigência física, proporcionou
uma representação simbólica, fazendo o praticante sentir-se capaz, superando crenças
irracionais preestabelecidas.

A neurose é tratada em psicoterapia quando os conflitos internos começam a ter uma


relevância e chegam a diminuir a produtividade e a manifestação do entusiasmo para a
vida cotidiana do sujeito. Os praticantes com quadros neuróticos possuem freqüentemente
uma experiência corporal relacionada a um sentimento de inferioridade ou castração.
Segundo Dalgalarrondo (2000, p. 75), “Seu corpo é sentido como impotente, fraco ou doente.
Sente-se corporalmente como uma criança ou um velho”. O montar o cavalo, nestes casos,
contribui para a diminuição dos mecanismos de defesa, agindo diretamente sobre a percepção
corporal. A pessoa é mobilizada pelo balanço do cavalo aos níveis emocional, cognitivo e
físico, colaborando assim com a aquisição da capacidade de assumir responsabilidade sobre
si mesma.

A equitação terapêutica proporciona um espaço no qual o praticante possa conhecer suas


competências, sem pressão e sem cobranças em ser produtivo. Isso é relevante para a maior
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parte dos pacientes psiquiátricos, pois muitos são inativos na vida profissional há algum
tempo. Segundo Gäng (2003 p. 74), “Trotz intensiver Therapieversuche und medicamentöse
Behandlung ist der Patient Häufig in seiner Kranheit gefangen” (Mesmo com terapia intensiva
e acompanhamento medicamentoso, o praticante psiquiátrico é muitas vezes preso nos
sintomas da sua psicopatologia) e pouco capaz de relacionar-se de maneira satisfatória. A
falta da comunicação eficaz neste pacientes gera agressões, insegurança e medos em que o
cavalo possibilita uma nova forma de poder se comunicar.

Segundo Walter (2004 p. 76), a união pode ser tal que o cavalo é sentido como um
companheiro muito próximo, mesmo como um prolongamento do corpo, um corpo que
agita, companheiro de fantasias e de loucuras, permitindo talvez, ao cavaleiro, a descoberta
a si mesmo.”

O cavalo é franco e autêntico na relação com ou outro, espelhando com eficácia a inadequação
do praticante, porém sem punição ou julgamento. Assim, para o terapeuta é possível, por
274 meio do cavalo, identificar os mecanismos da psicopatologia do praticante, como também o
seu funcionamento psicodinâmico. Isso é possível pois na relação com o cavalo o praticante
reproduz as suas limitações como, por exemplo, as dificuldades em estabelecer novos vínculos,
atitudes agressivas, a falta da tomada de iniciativas, entre outras. “Der Therapeut fungiert als
Bindelgied zur Realität und als Mittler zwischen Pferd und Patient.” (O terapeuta atua como elo
da realidade e como mediador entre cavalo e praticante) (Gäng, 2003, p. 75).

Ao longo do processo da equitação terapêutica, o terapeuta encontra espaço para descrever


o que observou de fenômenos psicopatológicos na relação do praticante com o cavalo, e
conforme este vai adquirindo recursos internos para reconhecê-los e elaborá-los, os progressos
vão acontecendo, tornando visíveis as mudanças e os benefícios para os praticantes. Segundo
Scheidhacker (1998, p. 17)“Das Pferd allein bringt noch keine Änderung und keine Heilung”. (O
cavalo por si só não proporciona mudanças ou a cura), é necessária a significação da dinâmica
tripla entre o cavalo, praticante e o terapeuta. A partir desta significação o praticante pode
ter os insights necessários, contribuindo com sua melhora.

As estratégias terapêuticas variam conforme as situações e os aspectos psicopatológicos de


cada praticante e não devem ser compreendidas como seqüenciais, necessariamente. Podem
ser utilizadas de maneira variada numa mesma sessão. Na literatura são encontrados
exemplos que sugerem as estratégias da equitação terapêutica com os cavalos em liberdade,
em que cada pessoa se identifica de modo subjetivo com as mais diversas características dos
animais, das suas andaduras e os seus fenômenos grupais. O cavalo surge como objeto de
identificação em que o praticante projeta suas demandas psíquicas.

O manejo com os animais, como os cuidados básicos de alimentação, de limpeza e o


encilhamento correto estimulam, assim, desde a aproximação até os processos complexos de
trabalho. Nesta estratégia os praticantes podem superar o medo de entrar em contato com o
outro, como também desenvolver novas capacidades práticas. As atividades do manejo do
animal proporcionam situações concretas que envolvem novas aprendizagens, ações positivas
e pensamentos concretos nos pacientes psiquiátricos.

O volteio realizado com a manta proporciona um contato físico maior para o praticante, e
assim há uma conscientizaçao do próprio corpo a partir do movimento ritmado do cavalo,
podendo vir a libertar emoções reprimidas, como por exemplo agressões não manifestadas,
que causam no praticante rigidez e tensões. Aqui a variação de diversos cavalos com
andaduras diferentes estimula uma percepção positiva do próprio corpo.

O montar a cavalo com autonomia passa pelo volteio até a condução independente na sela XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

ou manta. Esta estratégia estimula as capacidades como a tomada de decisões, a autonomia


nos aspectos subjetivos e na estruturação do ego do praticante. Também um passeio externo
na natureza estimula a vontade e a alegria na vida, motivando assim para novos desafios e
maturidade pessoal dos praticantes psiquiátricos.

Contudo pode-se afirmar que na equitação terapêutica as possibilidades das estratégias são
muitas, porém o profissional deve possuir conhecimento específico da psicopatologia e
psicodinâmica. Também os autores alemães fazem referência à importância de que os
psicólogos que utilizam o cavalo nas intervenções psicoterapêuticas não só devem ter uma
formação sólida na sua área específica, como também devem conhecer bem a etologia do
cavalo e ter uma equitação avançada.

Assim os cavalos utilizados na equitação terapêutica necessitam treinamentos específicos


após cada dia de trabalho, garantindo a sua saúde física e mental. A autora Scheidhacker 275
(2005 p. 117) afirma que “...das Pferd als Reit-und Therapiepferd ist auf seinen Ausbilder
angewiesen,” (o cavalo que é utilizado no esporte ou em terapia depende necessariamente do
seu treinador). Um cavalo desunido passa tensão e insegurança para o praticante, um cavalo
jovem e desequilibrado transmite a necessidade ser conduzido, e o cavalo doente solicita
proteção e cuidados. Estas responsabilidades da preparação de cada cavalo cabem ao
terapeuta-equitador, não ao praticante.

A necessidade de assegurar um contrato rigoroso na equitação terapêutica é grande,


garantindo assim o sucesso do tratamento e não colocando o praticante em riscos
desnecessários. Este setting antecede uma investigação minuciosa das expectativas, queixas
e das solicitações do praticante para o terapeuta. Pois muitas vezes o setting da terapia é
confundido com aulas de equitação e infelizmente podemos ver, na prática, que até os
profissionais confundem o esporte com uma proposta terapêutica. “O setting está sob uma
contínua ameaça em vir a ser desvirtuado tanto pelo analisando como também pelo analista,
em função do impacto de constantes e múltiplas pressões de toda ordem”. Zimerman (1999,
p. 301).

Como também nas terapias convencionais, o terapeuta deve ter um autoconhecimento e


saber as razões pelas quais deseja trabalhar com cavalos nos seu setting. “Immer wieder hört
man, das Pferde uns etwas geben, das unserer Seele gut tut.” (Sempre podemos escutar que o
cavalo nos dá alguma coisa, que faz bem à nossa alma). (Witter, 1998, p. 186). Porém há o
risco de que o método com cavalo seja utilizado, pelo terapeuta, para uma atuação que
satisfaça a si mesmo e suas necessidades, proporcionando sucessos falsos ao praticante, ao
sabor do profissional.

Portanto, os critérios são diversos para que o profissional da atuação psicoterapêutica


convencional possa ser eficiente no metodo que utliza o cavalo. A autora Scheidhacker refere-
se ao autoconhecimento do terapeuta como indispensável, incluindo também o conhecimento
das suas representações próprias em relação ao cavalo. Pois esta relação, do terapeuta com
o cavalo, passa por mudanças ao longo do tempo, em que há um amadurecimento do
terapeuta em relação aos seus motivos em querer utilizar o cavalo para seu trabalho
psicoterapêutico. Nesta significação o cavalo deixa de ser o objeto de prazer, tornando-se
realmente o co-terapeuta e facilitador do profissional.

Na escola de Equitação Psicoterapêutica de Munique, são realizados grupos de estudos em


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

que não são analisados os fenômenos dos praticantes exclusivamente, mas sim a atuação do
terapeuta, refletindo como este compreende a relação do praticante com o cavalo. Para este
trabalho a doutora Scheidacker usa toda a fundamentação teórica do método Balint. Este
cursos têm se mostrado muito eficazes, pois não ficam restritos a explanações teóricas, mas
sim promovem autoconhecimento e reflexões dos terapeutas na sua prática psicoterapêutica
com os cavalos.

CONCLUSÃO

O presente estudo mostrou a necessidade de mais publicações sobre o método da equitação


terapêutica nas psicopatologias, uma vez que se verificou sua eficácia nos atendimentos
realizados no Brasil, que por sua vez vão ao encontro da literatura alemã. Por isso, há a
necessidade da tradução das referências utilizadas nesta pesquisa, para que outros
profissionais brasileiros, que não dominam a língua alemã, possam ter acesso a este
276 conhecimento.
A pesquisa ilustrou a variedade das estratégias possíveis na intervenção com praticantes e
suas psicopatologias, utilizando o cavalo como principal agente terapêutico. Para cada
demanda específica, a equitação terapêutica pode trazer benefícios nas causas e sintomas
das psicopatologias, constituindo-se no método exclusivo ou complementar, dependendo
de cada caso.

O setting com o cavalo deve ser estabelecido rigorosamente para cada demanda dos
praticantes, podendo constar de atendimentos individuais ou grupais. O terapeuta deve ter
um conhecimento profundo da psicopatologia, da psicodinâmica, da equitação terapêutica
e da equitação, como também ter um autoconhecimento das representações do cavalo para si.

No Brasil, a utilização do cavalo como agente terapêutico tem aumentado significativamente


nos últimos dez anos e a Ande-Brasil (Associação Nacional de Equoterapia do Brasil) tem
contribuído muito com a normatização e o controle da qualidade deste método. Porém ainda
não há cursos oferecendo especializações na área da equitação terapêutica, com enfoque na
formação dos profissionais no atendimento dos praticantes com psicopatologias.

REFERÊNCIAS

ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE – OPAS E ORGANIZAÇÃO MUNDIAL


DE SAÚDE-OMS: CID-10/Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde; 10ª ed., Volume 1., 2003, Editora da Universidade de São Paulo-USP

DALGALARRONDO. P: Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais; Porto Alegre,


Artes Médicas, 2000.

FAAP: Psychotherapie mit dem Pferd, Beiträge aus der Praxis; 2005 Warendorf, DKThR FN-
Verlag

GÄNG. M: Reittherapie; 2003 Ernst Reinhard, GmbH & Co KG, Verlag München

GÄNG. M: Heilpädagogisches Reiten und Voltieren; 5ª ed. 2004 Ernst Reinhard, GmbH & Co
KG, Verlag München

SCHEIDHACKER. M: Ich träumte von einem weisen Schimmel, der mir den Weg zeigte..., 10

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


JahreTerapeutisches Reiten im Bezirkskrankenhaus Haar; 1998 BKH Haar

WITTER R.F: Horse Power, Lebensenergie und Erfolg durch die Kraft der Pferde. 2001, by Müller
Rüschlikon Verlags AG, Cham

WALTER. G.B: Apostilha Curso de Formação em Equoterapia. Fundação Rancho GG, Centro
de Treinamento, Pesquisa e Ensino de Equoterapia, 2004.

ZIMERMAN D.E.: Fundamentos Psicanalíticos, teoria, técnica e clínica, Editora Artes Médicas
Sul Ltda. Porto Alegre, 1999.

277
MANEIRAS DE INTERVENÇÃO NA EQUITAÇÃO TERAPÊUTICA
E HIPOTERAPIA: ESTUDANDO, ANALISANDO,
CATEGORIZANDO, CLASSIFICANDO.

Autor: Ioannis Nikolaou - Grecia


Co-autores: Nikolaos Nikolaidis;
Nikolaos Polizos

Companhia Científica para Equitação Terapêutica e Hipoterapia, Associação de


Hipoterapeutas Helênicos e Instrutores de Equitação Terapêutica.

O fato de que vários anos se passaram após os primeiros esforços de colocar os programas
científicos de equitação terapêutica em prática, e, infelizmente, a existência de poucos artigos
científicos em comparação ao número geral, deixam óbvio que a equitação terapêutica não
progrediu tanto quanto todos esperávamos. Na maioria das vezes, o trabalho voluntário, no
qual a maioria das equipes estavam baseadas, não deu lugar a equipes cientificamente
qualificadas, como deveria.

No melhor dos casos, não obtemos do cavalo o que ele tem a oferecer.

A maioria dos programas de grupo insiste apenas na diversão que pode ser dada, e assim
limitam-se as opções disponíveis de tratamento.

Somente se considerarmos esses problemas com seriedade e sem medo é que estaremos aptos
a continuar em maior desenvolvimento.

A Companhia Científica para Equitação Terapêutica e Hipoterapia, fundada na Grécia,


juntamente com a Associação de Hipoterapeutas Helênicos e Instrutores de Equitação
Terapêutica, que constitui o corpo oficial dos cientistas no trabalho com equitação terapêutica
e hipoterapia na Grécia, preocupada com a evolução da equitação terapêutica, apresenta
esse trabalho, com os seguintes objetivos:
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

– estudar exatamente como e de que forma a equitação terapêutica funciona;


– compreender os mecanismos que a tornam eficiente;
– estudar as entidades patológicas e meios de implementar nossa eficiência.

A busca, portanto, de uma forma mais efetiva de intervir pela equitação terapêutica, levou-
nos a perceber a necessidade de melhor compreender o cavalo, bem como os meios
terapêuticos, e todos os outros meios utilizados para atingir a cura. Acreditamos que o registro
de todos esses elementos será benéfico para:

1. a criança ou adulto que participa do processo terapêutico;


2. o próprio terapeuta que põe em prática esse tipo de terapia;
3. melhor cooperação entre terapeutas (tanto de dentro como fora da equipe).
278
Para conduzir a sessão terapêutica com o cavalo, o terapeuta deve ser
especialista por que:
Ele então saberá como usar o cavalo como um meio de tratamento.
Ele será capaz de adaptar-se e poderá ajudar o paciente a adaptar-se a condições
especiais características da área de tratamento, i.e. a arena.
Estando ciente de vários tipos de disfunções e familiarizado com o desenvolvimento
normal de uma criança, ele poderá então modificar a sessão terapêutica.
Ele saberá como gerar o estímulo certo e qual resposta deverá receber.
Ele poderá dar à criança a chance de se adaptar e aprender por tentativas e erros.
Este trabalho foca no estudo, na análise e no registro dos meios mais importantes,
bem como dos modos de intervenção que constituem as ferramentas da equitação
terapêutica e hipoterapia.

O trabalho lida com:


• a categorização das posições no cavalo, analisando-as e citando os casos nos quais
devem ser praticadas.
Dessa forma, atingem-se o treinamento gradual e o alongamento de diferentes grupos
musculares, com a conseqüente reeducação do equilíbrio, dando diferentes respostas
de equilíbrio em diferentes posições e intensamente estimulando o aparato vestibular.
Temos então uma maior gama de possibilidades de manipulações – facilitações, de
acordo com as necessidades.
O paciente recebe estímulos diferentes (ótico, cinestésico, etc.)
A possibilidade de alongar vários grupos musculares está facilmente disponível.
A possibilidade de múltiplos jogos terapêuticos está presente.

• O insumo de mudança de curso, modificação na velocidade, iniciar e parar, inclinação


do solo, direção do cavalo na arena, etc.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Com a mudança de curso, a resposta do paciente para um estímulo, intenso ou não, é
aumentada à medida que queremos (estímulo como desvio da linha de gravidade e
colocação compulsória do peso).
Diferentes partes do corpo são educadas, o lado (semi)hemiplégico é reeducado e a
contração alternada dos protagonistas – antagonistas e estabilizadores é gerada.
Dependendo da velocidade selecionada a cada vez, a intensidade e o ritmo dos estímulos
recebidos pelo paciente são diversificados. Parâmetros, tais como oscilação e
frequência de estímulo, requerem a diversificação dos pré-requisitos por parte do
paciente, no que se refere à coordenação, equilíbrio e tônus muscular. O estado
psicológico da criança deve sempre ser levado em conta.
Iniciar e parar dá espaço às respostas de equilíbrio, alternação de estratégias musculares
para controlar o corpo, e, claro, à participação da criança em todo o processo, o que
aumenta a sua autoconfiança e auto-estima, e seus níveis de atenção e alerta.

279
A inclinação do solo causa intensa expansão diagonal e a educação no nível dos ombros
e pélvis, diversificação da inclinação da pélvis, mudança do centro de gravidade, e
um estímulo particularmente intenso que, na maioria das vezes, é agradável.
Não se deve esquecer que a exposição repetitiva a uma combinação de estímulos,
por exemplo um fraco e um forte, com a gradual retirada do estimulo forte, resulta
em um estímulo fraco, produzindo o resultado desejado.

• O papel do andar do cavalo, seu tamanho, sua altura, forma, etc.


Os ítens acima constituem elementos muito importantes, não somente pela
aproximação inicial do paciente, mas também pelo programa que se segue.
O andar do cavalo, por exemplo, está ligado à qualidade do estímulo e seu ritmo
(comprimento da passada, movimento tridimensional da pélvis no espaço, etc.).
Seu tamanho está ligado ao ritmo e à velocidade necessários. Além disso, seu tamanho,
altura e cor são importantes para o primeiro estímulo dado à criança, especialmente
no contato visual. Psicologicamente, assim, todos esses elementos, ou outros ainda
mais pessoais, específicos de cada cavalo, desempenham um papel importante na
aproximação inicial.
Seu tamanho relaciona-se a elementos-chave de tratamento, tais como a abdução
dos quadris, a base de apoio, e também a elementos práticos, como o tamanho e o
peso da criança.
Todos esses elementos acima também dependem do programa a ser seguido e do
tipo de equitação terapêutica solicitada, dependendo do incidente.

• Trata e registra os apoios e alças (grips) implementados pelos terapeutas.


Os apoios e alças (grips) constituem uma das partes mais importantes da equitação
terapêutica e especialmente da hipoterapia. Originaram-se da necessidade de
programas mais seguros e eficientes.
As pessoas responsáveis por selecioná-los e implementá-los são os terapeutas do
grupo. Eles são autorizados a modificar os já existentes, e até mesmo planejar
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

(projetar) seus próprios grips, quando considerado necessário para as necessidades


personalizadas de cada incidente, e sempre dentro do escopo da anatomia e
cinesiologia.
Deve-se sempre ter em mente que, através dos apoios e alças (grips), o paciente deve
ser assistido somente na medida necessária.
Certamente, a utilidade dos apoios e alças (grips) é múltipla:
Razões psicológicas: através dos grips, o sujeito sente-se seguro e, assim, torna-se mais
eficiente.
Segurança: a segurança durante a sessão é maior, pois ambos, o sujeito e o andar do
cavalo estão controlados, combinados com o incessante contato visual.
Facilita o movimento ativo em qualquer estágio, e intercepta modelos motores
patológicos, de forma que a criança experimente um movimento natural voluntário.

280
Estas técnicas incluem a interceptação de reflexos primários e de atividade reflexiva
tônica com facilitação simultânea das reações automáticas de equilíbrio, sempre em
comparação à sucessão normal de desenvolvimento.
O apoio manual (handling) é usado para otimizar a simetria do corpo, limitar ou
obliterate o tonus anormal, regular o tônus, fornecer a sensação de modelos motores
normais e promover modelos motores ativos.

ESTABILIZA AS ARTICULAÇÕES

Além desses, mais dois capítulos, ambos de igual importância, incluem a terminologia e o
jogo (meio).

• Jogo
O jogo constitui um comportamento com motivação interna.
O jogo terapêutico visa a integrar os modelos motores fundamentais e habilidades
necessárias em um conjunto de brincadeira, aprendizado, competição e cooperação,
e enriquecê-los com habilidades motoras-perceptivas complexas, que caracterizam
o comportamento e o movimento normais.

• Terminologia
A existência de uma terminologia comumente aceitável é necessária para que a
comunicação entre os terapeutas, tanto do mesmo grupo quanto de outros grupos,
seja segura. Seu uso também fornece velocidade de comunicação, bem como maior
eficiência nas sessões; o uso unificado pelos terapeutas, havendo a necessidade de
mais de um presente nas sessões, que usem os mesmos termos para com a criança e,
assim, a simplificação de ordens para o grupo é atingida. Além disso, facilita a
avaliação e o registro de cada sessão.
Este trabalho difícil e laborioso é o resultado de longo estudo e observação, e fruto
de nossas idéias e filosofia, de que nada deve ser feito acidentalmente, e de que tudo
deve ter uma base científica. Esperamos que este trabalho tenha fornecido mais
motivação, e também informações úteis a todos os terapeutas envolvidos com

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


equitação terapêutica e hipoterapia.

281
MEDIAÇÃO TRANSDISCIPLINAR – CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E
EXEMPLOS PRÁTICOS QUE JUSTIFICAM UMA ATUAÇÃO
FUNCIONAL E ATUAL

Autor: Ana Paula Gatti Panizza - Brasil


Co-autor: Kether Van Prehn Arruda

INTRODUÇÃO

Aproveitando o momento em que a produção científica a respeito da inter e da


transdisciplinaridade está em alta, é favorável para a equoterapia refletir sobre e considerar
os diferentes níveis de relação que podem existir num trabalho de equipe, buscando a eficiência
no nosso próprio trabalho, através da estruturação de uma equipe que seja articulada de
maneira coerente aos princípios e objetivos desta terapia.

Para tanto, buscamos desde a descrição de um breve histórico dos termos utilizados, a passar
pela definição de disciplina e suas derivações: multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade,
interdisciplinaridade e, enfim, transdisciplinaridade. Busca-se discorrer teoricamente sobre
as diversas visões e maneiras em que as disciplinas se relacionam, a fim de demonstrar na
prática quais as suas diferenças, compreender os seus conceitos e repensar as relações atuais
em nossos centros de equoterapia; chegando à realidade da equipe interdisciplinar e da
mediação transdisciplinar, o que segundo nossa própria experiência prática tem alcançado
resultados satisfatórios até o momento.

INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE

HISTÓRICO

A transdisciplinaridade é um princípio teórico do qual decorrem várias conseqüências práticas,


tanto nas metodologias de ensino e proposta curriculares e pedagógicas, quanto no
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desenvolvimento das relações disciplinares, enquanto ciências em contato. Contudo, a idéia


não é tão nova. Segundo o Programa de Educação Continuada do Instituto Paulo Freire, ela
remonta aos ideais pedagógicos do início do século XX, quando se falava em ensino global e
do qual trataram famosos educadores, entre eles, os franceses Ovídio Decroly (1871-1932) e
Celestin Freinet (1896-1966), os norte-americanos John Dewey (1852-1952) e William
Kilpatrick (1871-1965) e os soviéticos Pier Blonsky (1884-1941) e Nadja Krupskaia (1869-
1939). O conceito de transdisciplinaridade é uma “evolução” do conceito de
interdisciplinaridade.

A interdisciplinaridade, como questão gnosiológica – dos limites e das condições da existência


do conhecimento, enquanto relação entre um sujeito e um objeto – surgiu no final do século
XIX. As ciências haviam-se dividido em muitas disciplinas e a interdisciplinaridade
restabelecia, pelo menos, um diálogo entre elas, embora não resgatasse ainda a unidade e a
totalidade do saber.
282
É na área da educação que, desde então, o conceito de interdisciplinaridade vem se
desenvolvendo mais. O termo apareceu com clareza em 1912, com a fundação do Instituto
Jean-Jacques Rousseau, em Genebra, por Edward Claparède, mestre de Piaget. Nesta época,
toda uma discussão foi travada sobre a relação entre as ciências mães e as ciências aplicadas
à educação: por exemplo, a sociologia (da educação), a psicologia (da educação), entre outras,
e noções correlatas foram surgindo, como os conceitos de pluridisciplinaridade e
transdisciplinaridade.

Após a II Guerra Mundial, a interdisciplinaridade aparece como preocupação humanista


além da preocupação com as ciências. Desde então, parece que todas as correntes de
pensamento se ocuparam com esta questão.

Primeiro, a teologia fenomenológica encontrou nesse conceito uma chave para o diálogo
entre igreja e mundo; segundo, o existencialismo, buscando dar às ciências uma “cara
humana”; então, o neopositivismo que buscava no interior do positivismo a solução para o
problema da unidade das ciências; e, também, o marxismo que buscava uma via diferente
para a restauração da unidade entre todo e parte.

O projeto de interdisciplinaridade nas ciências passou de uma fase filosófico-humanista de


definição e explicitação terminológica na década de 70, para uma segunda fase, mais científica,
de discussão do seu lugar nas ciências humanas e na educação, na década de 80.

Atualmente, a interdisciplinaridade visa a garantir a construção de um conhecimento


globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas. Para isso, integrar conteúdos não
seria suficiente. Seria preciso uma atitude e postura interdisciplinar. Atitude de busca,
envolvimento, compromisso, reciprocidade diante do conhecimento – atitudes mínimas
necessárias ao profissional da equoterapia.

CONCEITOS TEÓRICOS E PRÁTICOS

Para conceituar, além de contextualizar os termos inter e transdisciplinaridade, partimos do


termo disciplina, no qual e encontramos inúmeros autores e conceitos, entre os quais
escolhemos algumas definições exemplificativas e ressaltamos aquelas que iremos usar para

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desenvolver nosso trabalho.

Berger (1972) tem por disciplina um conjunto específico de conhecimentos que têm as suas
características próprias no terreno do ensino, da formação, dos mecanismos, dos métodos e
dos materiais. Palmade (1979) afirma que uma disciplina trata de certa categoria de fenômenos
que visa a tornar inteligíveis e a propósito dos quais procura fazer previsões possíveis ou,
mais geralmente, estabelecer correspondências.

Tomaremos por disciplina a definição de Heckhausen (1972), no qual o termo pode ser
usado no mesmo sentido que o de ciência, usando sete critérios que permitem distinguir
uma disciplina de outras: 1) o domínio material ou objeto de estudo; 2) o conjunto possível
de fenômenos observáveis; 3) o nível de integração teórica; 4) os métodos; 5) os instrumentos
de análise; 6) as aplicações práticas; e, 7) as contingências históricas.

De “disciplina”, nos deparamos com a necessidade do conceito de “disciplinaridade”.


283
Heckausen (1972) entende por disciplinaridade “a exploração científica especializada de
um domínio determinado e homogêneo, exploração que consiste em produzir conhecimentos
novos que vão substituir os antigos. A atividade disciplinar conduz a uma formulação e
reformulação contínua do atual corpo de conhecimentos sobre o domínio em questão”. E
Japiassu (1976) completa que ao tomar disciplina pelo mesmo sentido que ciência, a
disciplinaridade nos permite evocar um conjunto sistemático e organizado de conhecimentos
com características próprias em seus planos de ensino, de formação, dos métodos e das
matérias.

Alcançamos aqui dois dos termos que necessitamos: tomaremos “disciplina” por ciência e
seguiremos o conceito de Japiassu (1976) para “disciplinaridade”.

Lembramos, porém, que toda ciência é uma disciplina, mas nem toda disciplina é uma ciência;
e uma disciplina sempre depende da interação com outras diferentes disciplinas. Assim, é
preciso estabelecer níveis de agrupamento para as disciplinas em contato, quando, enfim,
entramos nos conceitos de multi, pluri, inter e transdisciplinaridade, nosso principal objeto
teórico.

O primeiro nível é o da multidisciplinaridade.

Berger (1972) e Jantsch (1972) colocam o termo como uma justaposição de disciplinas diversas,
às vezes sem relação aparente entre elas.

Piaget (1972) se utiliza do termo quando a solução de um problema requer a obtenção de


informações de uma ou mais ciências ou setores do conhecimento, sem que as disciplinas
que são convocadas por aqueles que as utilizam sejam alteradas ou enriquecidas por isso.

Japiassu (1976) sintetiza tais idéias quando coloca que a descrição geral de
multidisciplinaridade evoca uma gama de disciplinas propostas simultaneamente, mas sem
fazer aparecer diretamente as relações que podem existir entre elas. Trata-se de um tipo de
sistema de um só nível e de objetivos múltiplos; não havendo nenhuma cooperação entre as
disciplinas.

No entanto, a ausência de uma articulação não significa uma ausência de relação. O fato é
que os profissionais, nesse caso, estão inseridos em um esquema automático, o qual não gera
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espaço para uma articulação como em outras modalidades da disciplinaridade (Iribarry,


2002). É como buscar profissionais como o gastrologista, dermatologista e psicólogo para
resolver sintomas oriundos de uma crise de stress. Sabe-se que há uma relação entre as
causas psicossomáticas e as manifestações orgânicas, mas, nesse momento, o paciente procura
profissionais isoladamente, sem estabelecer contato entre eles.

A multidisciplinaridade orienta-se para a interdisciplinaridade quando as relações de


interdependência entre as disciplinas emergem. Passa-se então do simples “intercâmbio de
idéias” a uma cooperação e a certa compenetração das disciplinas (Palmade, 1979).

O segundo nível é a pluridisciplinaridade e evoca conceitos diversos e, às vezes, divergentes,


de diferentes autores.

Berger (1972) coloca o termo como uma justaposição de disciplinas mais ao menos próximas
nos seus campos de conhecimento.
284
Delattre (1973) o define como simples associação de disciplinas que concorrem para uma
realização comum, mas sem que cada disciplina tenha que modificar sensivelmente a sua
própria visão de coisas e os seus métodos próprios.

Cooperação de caráter metodológico e instrumental entre disciplinas e que não implica uma
integração conceitual interna (Palmade, 1979). Resweber (1981) compartilha desta idéia
quando afirma ser uma colocação face a face de diversas disciplinas, visando a análise de
um mesmo objeto e sem implicar a elaboração de uma síntese.

Gusdorf (1990) afirma, de maneira contundente, ser uma justaposição de especialistas


estranhos uns aos outros. Ponto de vista estritamente qualitativo e algo ingênuo. Consiste
em reunir pessoas que nada têm em comum, cada qual falando sem escutar os outros, aos
quais nada tem a dizer e dos quais nada quer ouvir.

Talvez, a colocação de Japiassu (1976), exemplificada por Iribarry (2002), chegue a um


conceito único de pluridisciplinaridade. Sua descrição geral envolve a justaposição de diversas
disciplinas situadas geralmente no mesmo nível hierárquico e agrupadas de modo que
apareçam as relações existentes entre elas. É um tipo de sistema de um só nível e de objetivos
múltiplos; há cooperação, mas sem coordenação (Japiassu, 1976). Quando, por exemplo,
um paciente procura atendimento psiquiátrico e, após receber orientação e prescrição
psicofarmacológica, é encaminhado, pelo próprio psiquiatra, a um psicólogo para um
trabalho de psicoterapia. Os profissionais cooperam, mas não se articulam necessariamente
de maneira coordenada. Nesse caso, a cooperação não é automática, mas cumpre a finalidade
de estabelecer contatos entre os profissionais e suas áreas de conhecimento (Iribarry, 2002).
Surgem os “famosos” encaminhamentos.

Chegamos, afinal, ao nível interdisciplinar de interação entre disciplinas.

O prefixo “inter”, segundo Gusdorf (1990), não indica apenas uma pluralidade, uma
justaposição; evoca também um espaço comum, um fator de coesão entre saberes diferentes.
Os especialistas das diversas disciplinas devem estar animados de uma vontade e aceitam
esforçar-se fora do seu domínio próprio e da sua própria linguagem técnica para aventurar-
se num domínio em que não é o proprietário exclusivo. A interdisciplinaridade supõe abertura
de pensamento, curiosidade que se busca além de si mesmo.

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Berger, em 1972, já afirmava ser uma interação existente entre duas ou mais disciplinas, que
pode ir desde a simples comunicação das idéias até a integração mútua dos conceitos diretivos,
da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da
organização da investigação e do ensino correspondentes. Um grupo interdisciplinar compõe-
se de pessoas que receberam formação nos diferentes domínios do conhecimento (disciplinas),
tendo cada um conceitos, métodos, dados e temas próprios. Piaget, na mesma época, definia
interdisciplinaridade como o intercâmbio mútuo e integração recíproca entre várias ciências,
tendo como resultado um enriquecimento recíproco.

Marion (1978) ressalta a cooperação de várias disciplinas científicas no exame de um mesmo


e único objeto.

Portanto, a interdisciplinaridade ultrapassa a pluridisciplinaridade porque vai mais longe


na análise e confrontação das conclusões, porque procura a elaboração de uma síntese em
nível de métodos, leis e aplicações, porque preconiza um regresso ao fundamento da disciplina,
285
porque revela de que modo a identidade do objeto de estudo se complexifica através dos
diferentes métodos das várias disciplinas e explicita a sua problematicidade e mútua
relatividade (Resweber, 1981), acrescentando aqui, em termos práticos, a introdução de
uma coordenação das disciplinas que parte de um nível central (ou superior) e reúne tais
disciplinas com o foco na finalidade dos processos (Japiassu, 1976).

Iribarry (2002) nos presenteia no exemplo de uma equipe para atendimento ambulatorial de
gestantes adolescentes de baixa renda. A equipe é formada por um médico pediatra, um
médico psiquiatra, um psicólogo, um assistente social, uma psicopedagoga, uma enfermeira
e uma secretária. Cada área mencionada agrega ainda estudantes que realizam estágio no
ambulatório. Todavia, o que prevalece é o saber médico, cabendo a coordenação e a tomada
de decisão aos profissionais da área médica, que dirigem e orientam a equipe em seu trabalho.

E, finalmente, chegamos ao termo transdisciplinaridade.

Segundo Piaget (1972), o termo corresponde à integração global das várias ciências. À etapa
das relações interdisciplinares sucede-se uma etapa superior, que seria a transdisciplinaridade
que, não só atingiria as interações ou reciprocidades entre investigações especializadas, mas
também situaria estas relações no interior de um sistema total, sem fronteiras estáveis entre
as disciplinas. Tratar-se-ia de uma teoria geral de sistemas ou estruturas que incluiria estruturas
operativas, estruturas regulatórias e sistemas probabilísticos e que uniria estas diversas
possibilidades por meio de transformações reguladas e definidas.

Japiassu (1976) completa tal conceito, referindo-se a um tipo de sistema de níveis e objetivos
múltiplos em que a coordenação propõe uma finalidade comum dos sistemas .

Gusdorf (1990) afirma que a transdisciplinaridade evoca uma perspectiva de transcendência


que se aventura para além dos limites do saber propriamente dito. Se cada disciplina propõe
um caminho de aproximação ao saber, se cada aproximação revela um aspecto da verdade
global, a transdisciplinaridade aponta para um objeto comum, situado além do horizonte
da investigação epistemológica, nesse ponto imaginário em que todas as paralelas acabam
por se encontrar.

De acordo com Caon (1998), é um desafio colocado pelo interesse de uma equipe de
profissionais que estão reunidos pela metáfora proposta por uma situação de
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transdisciplinaridade, na qual cada pesquisador problematiza os conceitos de diferentes


campos. Cada um entra na disciplina do colega e olha pela luneta do outro pesquisador,
interrogando os dispositivos práticos e teóricos utilizados pelo pesquisador anfitrião e com
os quais ele vê aquilo que diz ver. Em transdisciplinaridade, os dispositivos utilizados para
equacionar o problema são mais importantes do que a solução do mesmo.

Por exemplo (Iribarry, 2002), numa equipe de posto de saúde, encontram-se diversos
profissionais reunidos. Pode-se tomar como exemplo a equipe que recebe pacientes com
problemas mentais. Esta equipe, muito provavelmente, reunirá profissionais como psicólogos,
psiquiatras, enfermeiros, assistentes sociais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, neurologistas,
clínicos gerais, etc. Quando o paciente chega para uma avaliação, todos irão assisti-lo e
buscarão formular um diagnóstico acerca do caso. Para que esse diagnóstico seja dado em
situação de transdisciplinaridade, não basta apenas que cada profissional opine a partir de
sua área e, finalmente, um tratamento seja indicado; para que a configuração transdisciplinar
seja alcançada é preciso que esses profissionais, fundamentalmente, estejam reciprocamente
286 situados em sua área de origem e na área de cada um dos colegas.
Cabe salientar que o nível da transdisciplinaridade não é um estilo de interação superior em
relação aos demais níveis.Trata-se, pura e simplesmente, de um nível a ser buscado pelos
benefícios que traz em sua gestão, mas que preserva as outras modalidades de níveis de
funcionamento. Estas modalidades são naturais e fazem parte do funcionamento de qualquer
grupo ou equipe que está reunida para desenvolver algum trabalho (Iribarry, 2002).

INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE NA PRÁTICA

Praticar a interdisciplinaridade enquanto processo de integração recíproca entre várias


disciplinas e campos de conhecimento, “capaz de romper as estruturas de cada uma delas
para alcançar uma visão unitária e comum do saber trabalhando em parceria”, conforme
afirma Palmade (1979), é, sem dúvida, uma tarefa que demanda um grande esforço de
nossa parte.

O princípio da interdisciplinaridade permitiu um grande avanço na idéia de integração,


porém, os interesses próprios de cada disciplina são preservados. O princípio da
transdisciplinaridade busca superar o conceito de disciplina. Aqui, busca-se uma
intercomunicação entre elas, tratando efetivamente de um tema/objetivo comum, transversal.

Assim, só faz sentido trabalhar inter e transdisciplinaridade por meio de projetos que integrem
as diversas disciplinas. Projeto vem de projetar, atirar-se para a frente. Na prática, elaborar
um projeto é o mesmo que elaborar um plano para realizar determinada idéia. Portanto, um
projeto supõe a realização de algo que não existe, um futuro possível. Tem a ver com a
realidade em curso e com a utopia possível, realizável, concreta.

A metodologia do trabalho interdisciplinar implica:

1) integração de conteúdos;

2) passar de uma concepção fragmentária para uma concepção unitária do conhecimento;

3) superar a dicotomia entre ensino e pesquisa, teoria e prática, a partir da contribuição das
diversas ciências;

4) planejamento e prática centrados numa visão de que aprendemos ao longo do caminho,

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de que estamos em processo.

APLICAÇÃO

Em março de 2005, após passar por uma profunda reestruturação da equipe profissional, a
Associação Beneficente São Lucas, instituição que se situa em Bragança Paulista e oferece
diferentes tratamentos a pessoas com necessidades especiais, visando à inclusão global, incluiu
a equoterapia no seu quadro de atendimentos, mediante parceria com o Centro Hípico Viverde
e com a experiência profissional de Kether van Prehn Arruda, fundador do projeto
Equoterapia Pegasus.

A equipe profissional da instituição era multidisciplinar, composta por três psicólogas, uma
musicoterapeuta, uma fisioterapeuta, uma terapeuta ocupacional, uma psicopedagoga e

287
duas fonoaudiólogas, além de outros profissionais da área administrativa. Os atendimentos
clínicos costumavam ser pluridisciplinares, ou seja, os contatos eram feitos via
encaminhamentos e relatórios entre os profissionais.

Para formar a equipe que atuaria em equoterapia, os profissionais começaram a reunir-se


semanalmente às segundas-feiras, construindo-se rapidamente uma equipe interdisciplinar,
graças à iniciativa e à experiência profissional do equoterapeuta Kether e a grupos de estudo
sobre desenvolvimento cognitivo-afetivo e inclusão.

O treinamento da equipe, ministrado por Kether, envolveu 20 horas de estudos teóricos


sobre equoterapia e 20 horas práticas junto aos cavalos. Dessa equipe, quatro profissionais
passaram a mediar as terapias, e aos demais profissionais couberam as funções de avaliação,
indicação e planejamento de atendimento. Didaticamente, acabamos separando essas funções
em profissionais mediadores e profissionais avaliadores. Das pessoas treinadas, três já tinham o
curso básico da ANDE Brasil e duas já estavam atendendo em outro centro de equoterapia.
Nunca se havia trabalhado desta forma anteriormente e atribuímos à equoterapia o exemplo
mais real e concreto de inter e transdisciplinaridade a que chegamos na prática atual.

A partir daí, um possível praticante de equoterapia passaria por uma avaliação em cada
área em que precisasse de tratamento; essa avaliação transformava-se de pluri à
interdisciplinar no momento em que os profissionais das diferentes áreas se reuniam para
fazer o planejamento terapêutico daquele caso. Cada um explicitava as necessidades a serem
trabalhadas em sua área e, com uma atenção especial aos relatos dos colegas, incrementava
o planejamento de maneira global, opinando nas outras áreas. Esse planejamento ia desde
as prioridades evolutivas do praticante, até a escolha do cavalo e materiais a serem utilizados
no encilhamento e nas práticas.

Para nossa comemoração, vivenciamos a transdisciplinaridade quando formamos mediadores


capazes de utilizarem estratégias terapêuticas de todas as áreas envolvidas no processo de
cada praticante, ou seja, independentemente de ser formado psicólogo, fisioterapeuta,
fonoaudiólogo ou equitador, o profissional equoterapeuta vai colocar em prática, no seu
atendimento, todas as estratégias e atividades que o grupo interdisciplinar planejou,
estudando e aprofundando-se nas áreas requisitadas, compreendendo a importância de se
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

saber a maneira de executar as diferentes intervenções com o praticante e realizando os


atendimentos, trabalhando o desenvolvimento global da pessoa atendida.

Portanto, formamos uma equipe interdisciplinar com mediação transdisciplinar.

Apesar dos nobres princípios institucionais e dos excelentes resultados obtidos (16 praticantes
que, entre 02 a 04 meses de atendimento, tiveram melhoras observadas, relatadas e
comprovadas, nunca antes conseguidas em atendimento clínico convencional), a Associação
Beneficente São Lucas não pode manter o mesmo trabalho, principalmente devido a questões
financeiras, o que fez com que o Pegasus, até então um programa de atendimento da
instituição, batesse suas asas para mais alto, tornando-se, em janeiro de 2006, um Centro de
Equoterapia em si, ainda parceiro do Centro Hípico Viverde, que oferece atendimentos
particulares e filantrópicos, expandindo seu campo de atuação e que, irreversivelmente,
mantém os princípios de equipe e mediação que alcançou em sua presente atuação.

288
EQUIPE INTERDISCIPLINAR

MEDIAÇÃO TRANSDISCIPLINAR

Contatos dos autores: appanizza@hotmail.com / ketherarruda@hotmail.com

REFERÊNCIAS

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L’interdisciplinarité. Problèmes d’enseignement et de recherche dans les Université. Paris:
UNESCO/OCDE, 1972 p. 21-24.

FREIRE, P. Educação e Mudança. , 14ª ed, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

GUSDORF, G. Réflexions sur l’interdisciplinarité. in Bulletin de Psychologie, XLIII, 397, 1990,


pp. 847-868.

HECKHAUSEN, H. Discipline et interdisciplinarité. In Ceri (eds.) L’interdisciplinarité. Problèmes


d’enseignement et de recherche dans les Universités. Paris: UNESCO/OCDE, 1972, pp. 83-90
(Trad. port. in Mathesis (ed.) Antologia I, pp. 71-86).

INSTITUTO PAULO FREIRE. Inter-transdisciplinaridade e transversalidade. Programa de


Educação Continuada. http://www.inclusao.com.br/projeto_textos_48.htm

Acessado em dia 08/02/2006 às 09:30h.

IRIBARRY, I.N. Aproximações sobre a Transdisciplinaridade: Algumas Linhas Históricas,


Fundamentos e Princípios Aplicados ao Trabalho de Equipe. http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722003000300007. Acessado em 03/07/2005,
às 23:17h.

JANSTCH, E. Vers l’interdisplinarité et la transdisciplinarité dans l’enseignement et


l’innovation. In Ceri (eds.) L’interdisciplinarité. Problèmes d’enseignement et de recherche dans
les Universités. Paris: UNESCO/OCDE, 1972, pp. 98-125.

MARION, J.L. A interdisciplinaridade como questão para a Filosofia. In Presença Filosófica,

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Volume IV, nº 1, 1978, pp. 15-27.

PALMADE, G. Interdisciplinaridad e ideologias. Madrid: Narcea, 1979.

PIAGET, J. Epistemologie des rélations interdisciplinaires. In Ceri (eds.) L’interdisciplinarité.


Problèmes d’enseignement et de recherche dans les Universités. Paris: UNESCO/OCDE, 1972,
pp. 131-144.

RESWEBER, J. La méthode interdisciplinaire. Paris: Puf, 1981.

SIQUEIRA, H. S. G. & PEREIRA, M. A. A Interdisciplinaridade como superação da fragmentação.


Caderno de Pesquisa” (n.o 68 - Setembro de 1995), programa de pós-graduação em Educação
da UFSM, sob o título: “Uma nova perspectiva sob a ótica da interdisciplinaridade”.

THOM, R. Vertus et dangers de l’interdisciplinarité. In Apologie du Logos. Paris: Hachette,


1990, pp. 636-643.

289
MEDIDA DA INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL E ALIANÇA
TERAPÊUTICA: SEUS PAPÉIS NA CONSTRUÇÃO E AVALIAÇÃO DE
UM PROGRAMA DE REABILITAÇÃO

Autora: Antonella Artuso - Italia

INTRODUÇÃO

O cavalo é um meio de reabilitação que fornece muitos estímulos diferentes ao paciente.


Como consequência, a pessoa com deficiência recebe uma grande ajuda para atingir o melhor
nível possível de autonomia nas atividades do cotidiano e em sua vida relacional. Até agora,
muitos autores descreveram os efeitos e as vantagens da equoterapia (ET) em patologias
como em crianças com paralisia cerebral e a marcante eficácia deste tratamento tanto nas
funções motoras quanto no status comportamental e cognitivo (Frascarelli et al. 2001, Barolin
et al. 1991, McGibbon et al. 1998). Vantagens resultantes têm sido observadas também em
muitas patologias neurológicas adultas (Freeman et al. 1997) e, mais recentemente, em
diferentes doenças/males ortopédicos (Rothhaupt et al. 1997, Gottwald et al. 1981). Em
verdade, o movimento tridimensional da espinha dorsal do cavalo pode induzir um movimento
correspondente no aparato pélvico do deficiente, o que reproduz os movimentos do caminhar
humano; mais ainda, as variações do passo do cavalo, também como as mudanças em
velocidade e direção, estimulam o equilíbrio e facilitam a estabilização postural [Tauffkirchen
1978, Freeman et al. 1984]. Além do mais, devido ao contato emocional com o animal, muitos
efeitos psicogênicos são adicionados para o benefício da função motora [Exner et al. 1994].
Finalmente, algumas observações realizadas sobre a demanda energética de tal atividade
aos deficientes demonstraram que a ET está relacionada a um metabolismo elevado e
representa um tipo de treinamento muscular (Veicstenas et al. 1994).

Um dos principais alvos da ET é transferir a melhora das funções comprometidas ao cotidiano


do paciente, para atingir uma maior independência nas atividades comuns e relacionais.
Todavia, apesar de todos os benefícios mencionados acima, algumas questões levantadas
recentemente sobre a possível transferibilidade destas vantagens da ET ao cotidiano do
paciente, vizando atingir uma boa auto-eficiência. Neste contexto, é de importância
fundamental usar instrumentos padronizados e validados no julgamento da eficácia da ET,
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

como também requer os padrões de garantia de qualidade aplicados aos serviços de


reabilitação (UNI EN ISO 9000, 1994, Johnston et al. 1992). Em um de nossos recentes
trabalhos nós tentamos coletar dados objetivos da eficácia da ET através da escala MIF
(Medida da Independência Funcional) [Artuso et al. 2002], uma escala padronizada e válida
que mede diferentes características dos resultados da reabilitação em termos de auto-eficiência
motora e relacional (Uniform Data System for Medical Rehabilitation. 1992; Granger et al.
1990, Msall et al. 1994, Sperle et al. 1997).

Apesar de depois de 6 meses de ET termos observado uma melhora significativa na pontuação


MIF nos pacientes inscritos, havia ainda pouca indicação de uma eficaz transferabilidade
dos resultados obtidos no cenário clínico ao ambiente do cotidiano [Weiner at al. 1993].
Portanto, nós hipotetisamos que uma transferência bem-sucedida dos resultados da ET ao
cotidiano do paciente poderia não só depender dos benefícios reabilitativos obtidos no cenário
clínico, mas também na disponibilidade de um “aliado” (geralmente um parente do paciente,
mas também um educador ou professor) que poderia facilitar a transferência das competências

290
adquiridas na ET ao ambiente do lar. Este guia familiar pode ser descrito como um “aliado
terapêutico”.

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho era avaliar a importância e a contribuição dos aliados terapêuticos
na transferência dos resultados obtidos dentro do cenário terapêutico (aparentemente
limitado ao ambiente eqüestre) da ET ao cotidiano e aos relacionamentos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Sujeitos

Avaliamos uma amostra de n=50 sujeitos (22 mulheres, 28 homens; idades 21.4±10.6 anos
[m±DS]) com danos neuromotores, psicomotores, psiquiátricos e mistos. Todos os sujeitos
faziam parte de um programa de reabilitação eqüestre com duração de 8 meses (duas sessões
de terapia por semana; 45minutos por sessão).

Cenário terapêutico

O cenário terapêutico da escola de equitação era um típico “cenário fechado”, onde a


atividade reabilitativa era estruturada na tríade típico reabilitador-paciente-cavalo. Tal
cenário foi aberto ocasionalmente para fora do “controle do projeto reabilitativo”, um evento
com uma grade horária programada, no qual a figura do aliado terapêutico foi admitido e
pôde observar a completa sessão de reabilitação diretamente no cenário clínico.

Procedimentos Experimentais

Medições foram feitas com a escala MIF em duas diferentes fases do programa reabilitativo:
no começo e depois de 8 meses de reabilitação. A amostra foi dividida em dois subgrupos de
25 sujeitos, com equivalentes idades, sexo e distribuição patológica (Tabela 1), baseada na
presença de um aliado terapêutico.

Table 1. Distribuição dos pacientes inscritos baseada em condições patológicas, idade, sexo XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
e disponibilidade de aliados terapêuticos.

Aliados Terapêuticos (A) SEM Aliados Terapêuticos (B)

Grupo Patológico n Idade(anos) Sexo(m/f ) N Idade(anos) Sexo(m/f )


Neuromotor 4 30±17 0/4 6 28±15 4/2
Psicomotor 1 14±0 1/0 3 21±15 3/0
Psiquiátrico 7 13±6 4/3 5 29±11 2/3
Misto 13 19±6 9/4 11 20±8 5/6
Total 25 19±9 14/11 25 24±11 14/11

291
No primeiro subgrupo (Grupo A), durante todo o período de reabilitação, os aliados
terapêuticos (pais, parentes, educadores, professores) têm estado ativamente envolvidos com
uma grade horária (chamada “controles do projeto reabilitativo”, na 10.a, 20.a, 30.a, 40.a,
sessão de ET). A inclusão de critérios para a definição de um aliado terapêutico foi a seguinte:
a) sua presença no cenário terapêutico foi inserida no boletim clínico do paciente na ocasião
de sua primeira visita; b) ele/ela aceitou expressamente participar no projeto reabilitativo;
c) ele/ela esteve sempre presente na ocasião de cada um dos controles do projeto (a cada 10
sessões de ET). Para o segundo grupo de pacientes (Grupo B) os aliados terapêuticos não se
envolveram ativamente, devido a problemas práticos e/ou objetivos.

Todos os pacientes ou seus tutores legais deram seu consentimento ilustrado para participar
deste estudo, cujo idealização foi aprovada pelo Comité Local de Ética (Don C. Gnocchi
Foundation).

Análise estatística

Se não declarados de outra forma, dados são expressos como média±desvio padrão (m±DP).
Diferenças entre média pontuação MIF, para ambos, o total e os itens MIF individuais, nos
Grupos A e B foram testados por meio de um teste Estudantil t para dados não comparados.
A comparação estatística entre pré e pós-tratamento foi executada por meio de um teste
Estudantil t para datas comparadas. A relação entre as variáveis foi avaliada por meio de
uma simples análise de regressão linear. Significância estatística foi estabelecida em P<0.05.

RESULTADOS

Ao fim do programa de ET, todos os pacientes demonstraram um significativo aumento na


pontuação MIF total (Figura 1) também em como a pontuação MIF se relacionaram às
diferentes áreas reabilitativas consideradas (P<0.05).

Figura 1. Relação entre a pontuação MIF total na admissão e na dispensa da ET: todos os
pacientes
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

292
Todavia, a diferença média entre pré e pós-tratamento na pontuação MIF total foi
significantemente menor no Grupo B do que no Grupo A (P<0.01)(Figura 2).

Figura 2. Diferença entre a pontuação MIF total pré e pós-tratamento dividida pela presença
(Grupo A: barra branca) ou ausência (Grupo B: barra cinza) de aliados terapêuticos no
cenário reabilitativo. *: P<0.05 entre os grupos.

Semelhantemente, uma diferença significativa foi observada na pontuação MIF para todos
os itens individuais (cuidados pessoais, controle do esfincter, mobilidade, locomoção,
comunicação, capacidade relacional/cognitiva) avaliada em ambos os grupos (exceto para
o controle do esfincter no Grupo B, o qual demonstrou uma tendência não significante à
uma melhora). Todavia, a diferença da pontuação MIF individual entre o pré e o pós-
tratamento foi novamente significantemente menor no Grupo B em relação ao Grupo A
(Figura 3).

Figure 3. Diferença entre o pré e o pós-tratamento nos itens MIF individuais divididos pela
presença (Grupo A: barras brancas) ou ausência (Grupo B: barras cinzas) de aliados
terapêuticos no cenário reabilitativo. *: P<0.05 entre os grupos.

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DISCUSSÃO

O principal resultado deste trabalho é o uso de uma escala válida e padronizada para a
avaliação de um tratamento reabilitativo, como a ET parece ser confiável e eficaz em avaliar 293
mesmo as menores porém significativas mudanças nos diferentes itens/áreas pertencentes à
auto-suficiência do paciente. Além disso, a aplicação da pontuação MIF em vários momentos
do processo reabilitativo pode permitir uma monitoração eficiente dos progressos da terapia,
como previamente demonstrado em outros cenários (Yung et al. 1999). Como a pontuação
MIF total e individual melhoraram significantemente ao fim do programa de ET em todos os
pacientes, isso confirma que a equoterapia pode ser considerada uma estratégia que promete
na recuperação da auto-suficiência em pacientes com dano neuro e psicomotores (Riesser
1975). Além do mais, a evolução da pontuação MIF individual em cada paciente pode ajudar
o reabilitador a otimizar as estratégias teapêuticas focando naquelas áreas que precisam ser
mais trabalhadas. Todavia, somente quando o benefício obtido no cenário clínico é eficaz ao
ambiente dos lares do pacientes é que a ET pode ser definida como eficaz. Importantemente,
este trabalho também demonstrou através da aplicação da pontuação MIF que o trabalho
terapêutico é muito mais eficaz quando outras pessoas estão ativamente envolvidas como
aliados terapêuticos no processo reabilitativo.

Todos os progressos observados na pontuação MIF individual mostraram uma diferença


significativa entre os grupos de pacientes sem ou com aliados terapêuticos, sugerindo que
esta figura “intermediária” é de enorme importância na transferência dos benefícios obtidos
no cenário reabilitativo à vida cotidiana e relacional dos pacientes.

Portanto, a figura chave do aliado terapêutico parece garantir a correta transferibilidade


dos resultados do ambiente clínico para o ambiente do lar dos pacientes; esta ajuda crítica à
maximização do processo de recuperação da autonomia individual nas atividades do dia-a-
dia.

Centre of Therapeutic Horse Riding, Don C. Gnocchi Foundation ONLUS, Milan, Italy.

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295
MEU CAVALO, MINHA FAMÍLIA E EU: UMA AVALIAÇÃO POR
MEIO DE DESENHOS (EU DESENHO MEU MUNDO INTERIOR).

Autora: Rossella Frascoli - Italia


Co-autora: Antonella Artuso

INTRODUÇÃO

A equoterapia é uma ferramenta multidimensional de reabilitação, que pode ser usada por
diferentes profissionais com vários fins. Como psicóloga, foquei minha atenção durante as
sessões terapêuticas em como os pacientes sentem e percebem a si mesmos em relação ao
ambiente que os cerca. Como ambiente me refiro ao terapeuta, o assistente, outros pacientes
e, sobretudo, o cavalo. Na equoterapia nós podemos observar, com freqüência, uma melhora
na vida social dos pacientes. Essa mudança não se limita à relações que eles têm com o meio
terapêutico. De fato, observamos aumento significativo nos relacionamentos e na vida social
cotidiana, em suas famílias como também nos mundos escolar e profissional. Também
pensamos que uma das intenções da equoterapia é formar uma correta percepção do próprio
corpo (autoconhecimento) que possa permitir o alcance de uma boa experiência corporal
(autoconsciência). Esse feito é um dos principais componentes de uma autoimagem positiva
e de boas relações de tempo e espaço. Quando estes objetivos são atingidos, o paciente irá
construir uma autoconfiança e auto-estima mais fortes. Isso, por sua vez, o ajudará na sua
vida emocional e integração social (Bracken, 1996).

Um bom indicador de autoconhecimento e consciência é o conceito do esquema corporal. O


esquema corporal foi descrito de várias maneiras. Bonnier (1905) utilizou este termo
significando um conceito de corpo que permite uma orientação ao meio externo. Schilder
(1935) descreveu o esquema corporal como uma representação mental que a pessoa tem do
próprio corpo. O importante é que o corpo assume uma valência psicológica. De fato, o
esquema corporal é construído não somente através de sensações e percepções, mas também
através de emoções, sentimentos e valores da vida inteira de uma pessoa.

Particularmente as crianças constroem seu esquema corporal gradualmente (Carbonara-


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Savarese, 1994). Quando elas adquirem a permanência dos objetos, podem mais facilmente
desenvolver o conceito de seus corpos como independentes de outros corpos (Le Boulch,
1981). Crianças entram gradualmente em contato com seus corpos e aprendem como
representá-los mentalmente, no geral e em detalhe. Quando a função simbólica aparece,
podemos ter a passagem do esquema corporal para a imagem corporal.

Uma das mais recentes definições faz distinção entre esquema e imagem corporal: o esquema
corporal é a representação mental do corpo como uma entidade espacial, construída com
base cognitiva e perceptiva; a imagem corporal é a representação mental que todos têm do
próprio corpo, contruída com base na experiência pessoal e psicológica (Russo, 2000). Há
diferentes ferramentas de avaliação do esquema e imagem corporal. Uma destas é o desenho.
O desenho de figuras é uma técnica de projeto-construção (Lindzey, 1959) em que um
indivíduo é instruído a desenhar uma pessoa, objeto ou situação para que o funcionamento
cognitivo, interpessoal ou psicológico possa ser avaliado. Um teste de projeção é aquele em
que o examinado reage ou fornece estímulos ambíguos, abstratos ou desestruturados,
296
freqüentemente sob a forma de desenhos. Na maioria dos casos, testes de desenho de figuras
são passados às crianças. Isso ocorre porque é uma tarefa simples, de fácil gestão, com a
qual as crianças se identificam e desfrutam. Wildlocher (1972) apontou que um psicanalista
que lê um desenho não tem que tirar conclusões apressadas. Alguns testes de desenho são
medidas das habilidades ou desenvolvimento cognitivo. Tais testes consideram quão bem a
criança desenha e conteúdo do seu desenho. Em outros, relações interpessoais são avaliadas
fazendo a criança desenhar uma família ou alguma outra situação na qual mais de uma
pessoa esteja presente. Alguns testes são usados para a avaliação de abuso infantil. Ainda
outros envolvem interpretação de personalidade através de desenhos de objetos, tais como
uma árvore ou uma casa, assim como pessoas. Finalmente, alguns testes de desenho de
figuras são usados como parte do diagnóstico de tipos específicos de prejuízo psicológico ou
neuropsicológico, tais como disfunção do sistema nervoso central ou retardo mental. Os
testes de projeção mais reconhecidos e difundidos são: o desenho da figura humana
(Goodenough, 1926; Harris, 1963; Machover, 1948); o desenho da família (Appel, 1931;
Porot, 1952; Corman, 1967; Burns e Kaufman, 1970); o desenho da pessoa-árvore-casa (Buck,
1948) e o desenho da árvore (Koch, 1958).

O teste “Desenhe Um Homem” (Goodenough, 1926), foi o primeiro teste formal de desenho
de figuras. Era usado para fazer estimativas das habilidades cognitivas e intelectuais refletidas
na qualidade do desenho. O teste foi revisado mais tarde por Harris em 1963 como o
Goodenough Harris Drawing Test, que incluía um sistema detalhado de pontuação e era
permitido para desenhos de homens, mulheres e de si mesmo. O sistema refletia principalmente
a maneira pela qual a criança está amadurecendo cognitivamente.

O teste “Desenhe Uma Pessoa” (Machover, 1948) usava desenhos de figura de uma maneira
mais projetiva, focando em como os desenhos refletiam as ansiedades, impulsos, auto-estima,
e personalidade do examinado. Neste teste, crianças são primeiramente convidadas a
desenhar a gravura de uma pessoa. Então, são convidadas a desenhar a gravura de uma
pessoa do sexo oposto ao primeiro desenho. Às vezes, as crianças também são convidadas a
desenhar uma figura de si mesma ou de seus familiares. Então, faz-se uma série de perguntas
sobre elas mesmas e sobre os desenhos. Essas perguntas podem ser sobre o humor, as
ambições/aspirações e as qualidades das pessoas nos desenhos. As gravuras e as perguntas
neste teste têm o intuito de elicitar informações sobre as ansiedades, impulsos e a personalidade
em geral da criança. O teste “Desenhe Uma Pessoa” é o teste com figuras usado com maior
frequência hoje em dia. É geralmente interpretado em três diferentes níveis: gráfico; formal;

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conteúdo. Na desenho da figura humana a criança inconscientemente representa a si mesma.
Uma figura com estrutura proporcional, geralmente, indica uma boa percepção do esquema
corporal. Precisão nos detalhes faciais sugere boas habilidades comunicativas e relacionais/
interpessoais. É muito interessante observar: as dimensões do desenho, sua posição no papel,
proporções (cabeça, tronco, membros), o traço (curvo ou angulado, forte ou fraco), as cores
utilizadas. Atualmente, há duas principais abordagens de interpretação do desenho da figura
humana. A primeira, a “abordagem particular”, é baseada na teoria de Machover e tira suas
referências de características isoladas do desenho (e.g. o tamanho dos olhos). De acordo
com esta metodologia, alguns indicadores particulares têm sido associados a traços específicos
da personalidade e/ou psicopatologia (e.g. olhos arregalados são relacionados com suspeita
ou paranóia; o apagar freqüente está relacionado à ansiedade). A “abordagem global”, têm
sido desenvolvida por Koppitz (1968), que introduziu o sistema de pontuação com 30
indicadores, os quais levam à pontuação global.

O teste “Desenhe Sua Família” foi desenvolvido por diferentes autores. O primeiro a usá-lo
foi Appel (1931). As revisões mais reconhecidas são as de Porot (1952) e Corman (1967). 297
Este teste permite comprender diversas questões importantes tais como situações e
sentimentos, por vezes não expressos, como o medo, dificuldades, como também o amor e os
desejos. Num desenho familiar há diversos aspectos para se levar em conta: representação
gráfica; amplitude e força do traço do lápis; ordem do desenho (especialmente qual é o
primeiro e o último personagem desenhado); o posicionamento dos personagens e sua relação
espacial; personagens apagados, deixados de fora ou adicionados; expressões faciais; posição
das pernas, braços e mãos.

A “Técnica do Desenho Familiar Cinético” (Burns e Kaufman, 1970), pede ao examinado


que desenhe uma gravura de sua família, incluindo a si mesmo, “fazendo algo”. Essa gravura
tem o intuito de elicitar as atitudes da criança para com sua família e sua dinâmica geral.
Esse teste é, às vezes, interpretado como parte da avaliação de abuso infantil.

O teste Casa-Árvore-Pessoa (Buck, 1948) fornece uma medida da autopercepção e atitudes


pedindo ao examinado que desenhe uma casa, uma árvore e uma pessoa. A figura da casa
representa uma expressão ou projeção dos sentimentos da criança para com sua família.
Também pode representar sua auto-imagem infantil. A figura da árvore elucida os sentimentos
de força ou fraqueza. A figura da pessoa, como em outros testes de desenhar figuras, elucida
informações sobre o conceito da criança de si mesma. Este teste, apesar de dado principal-
mente a crianças e adolescentes, é apropriado para todos acima da idade de três anos.

Anteriormente avaliamos a aplicabilidade da interpretação de desenhos com pacientes,


crianças e adultos, com diferentes patologias. Um desenho feito por alguém com uma
patologia intelectual geralmente reflete uma desarmonia na estruturação e organização do
esquema corporal também em relação ao mundo externo. Estes desenhos terão diferenças
estruturais que se alteram dependendo, especificamente, da patologia. Pessoas com patologias
intelectuais geralmente desenham rostos sem expressões faciais ou conotações emocionais.
Alguém que sofre de epilepsia geralmente desenha figuras humanas desproporcionais, com
cabeças volumosas e membros pequenos, ou ausentes. Pessoas com patologias psicóticas
geralmente desenham figuras humanas pequenas, que parecem perdidas no vazio. Muitas
vezes esses personagens são privados de orgãos “relacionais” como olhos, ouvidos, mãos.
Freqüentemente há quebras, desmembramentos, transparências, apontando a confusão
generalizada entre o interno e o externo, o que é frequente nestas patologias. Com frequência
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

o esquema corporal é reduzido a figuras pequenas, lineares e simbólicas, geralmente


geométricas, que têm forte função de reforço. Quem sofre de esquizofrenia paranóica desenha
de uma maneira rígida e simétrica. Suas figuras humanas estão normalmente no meio do
papel, com cabeças grandes e enormes, escuros e penetrantes olhos (Carlino Bandinelli –
Manes, 2004).

Nós decidimos usar o desenho da figura humana (Machover, 1948) e o desenho da família
(Corman, 1967) para avaliar como a equoterapia poderia afetar o autoconceito do paciente
e a percepção corporal, também sua vida relacional. Além destes dois testes, decidimos
utilizar as regras gerais da interpretação de desenhos a um outro sujeito, o que é certamente
significativo e motivador para todos os (nossos) pacientes: o cavalo. Já que o cavalo é o
“príncipal” veículo do nosso trabalho terapêutico, ele tem enorme impacto nos pacientes, e
a maneira como eles o desenham permite que seja usado como um meio para avaliar como
o cavalo é percebido e sentido pelo próprio paciente. O cavalo também pode representar o
próprio paciente, devido aos importantes processos de projeção e identificação que
298 ele cria.
MATERIAIS E MÉTODOS

Sujeitos
• 50 PACIENTES (28 MULHERES ; 22 HOMENS).

• IDADE : de 8 a 46 anos (média : 14 anos e 9 meses) divididos em três grupos : de 8-


15 ; 16-23 ; 24-46 anos.

• PATOLOGIAS: síndrome de Down; paralisia cerebral infantil; retardo mental;


epilepsia; psicose autista; síndrome de má-formação; distúrbios do comportamento;
retardo evolutivo; psicose; seqüelas de trauma craniano; cerebropatia; ataxia
cerebelar; hidrocéfalo, psicose enxertada em intelecto deficiente; retardo lingüístico;
consequências da prematuridade; encefalopatia; desarmonia evolucionária; neurose
obsessiva-compulsiva; problemas escolares e comportamentais; distúrbio
hipercinético.

PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

Duas sessões de desenho foram organizadas: a primeira depois de 4 sessões de equoterapia


e a segunda depois de 30. Não tivemos uma sessão de desenho ao início do tratamento
porque queríamos que o paciente se familiarizasse um pouco com o cavalo antes de ter a
chance de desenhá-lo. O espaço de tempo entre a 4ª e a 30ª sessão de equoterapia foi, em
média, de 4 meses, com duas sessões semanais. Somente o terapeuta estava com o paciente,
em uma sala vazia. O paciente primeiro era convidado a inicialmente desenhar a si mesmo,
depois uma família e finalmente o seu cavalo, com um lápis, numa folha em branco. A
sessão de desenho geralmente teve a duração de aproximadamente 45 minutos. Cada paciente
produziu 3 desenhos por sessão. A produção global foi, portanto, de 300 desenhos.

– Para o desenho da figura humana, o pedido foi: “Desenhe a você mesmo”

– Para o desenho da família o pedido foi: “Desenhe uma família, uma família
inventada por você”. Se o paciente não entendeu este pedido, pediu-se que fosse
desenhada a família de um animal, para ajudar o processo de projeção (Corman,

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1976). Enquanto o paciente estava desenhando, a ordem de aparição dos personagens
foi gravada. Depois do desenho pedimos, para cada personagem: nome, papel, sexo,
idade. Então propusemos as seguintes questões:

1) Quem é o(a) mais legal? Por quê?

2) Quem é o(a) menos legal? Por quê?

3) Quem é o(a) mais feliz?

4) Quem é o(a) menos feliz? Por quê?

5) De quem você gosta mais? Por quê?

6) Quem você gostaria de ser? Por quê?

– Para o desenho do cavalo o pedido foi: “Desenhe seu cavalo”.


299
RESULTADOS

Os desenhos revelaram uma melhora geral depois da terapia na maneira pela qual o paciente
representa a si e ao cavalo. Em contraste, não houve mudanças significativas nos desenhos
das famílias. Em muitos casos, o segundo desenho mostrou detalhes importantes como mãos,
braços ou orelhas que estavam ausentes no primeiro desenho. Não houve diferença entre
amostras do sexo masculino ou feminino.

A faixa etária que mostrou maior número de mudanças foi o grupo com idades entre 8 e 15
anos. Pacientes entre as idades de 16 e 23 geralmente mostraram mudanças menos evidentes.
Em dois desses casos o desenho até demonstrou leve piora na maneira como eles desenharam
a si ou o cavalo. Isso ocorreu somente com pacientes de idade acima de 29: uma senhora de
46 anos com diagnóstico de psicose autista e severo retardo mental e uma senhora de 39
anos que sofre de seqüelas de traumatismo craniano. Em nossa opinião, isso pode ter ocorrido
devido ao fato de que desenhar é, às vezes, visto como uma atividade infantil, portanto a
motivação dos pacientes mais velhos para desenhar, na segunda sessão, pode ter sido menor.

O resultado mais evidente foi que um número significativo de pacientes, durante a segunda
sessão, decidiu se desenhar com o cavalo, às vezes quando convidados a desenhar a si mesmos,
às vezes quando convidados a desenharem o cavalo. O paciente parece encarar o cavalo
como uma parte integrante e distinta dele mesmo, de sua personalidade, sua maneira de ser,
que não pode portanto ser omitida em uma auto-representação.

Alguns dos desenhos mais representativos são os seguintes.

C.R. - Homem - Idade: 10 – Diagnóstico: retardamento de desenvolvimento


No primeiro desenho de figura humana, seus dedos parecem garras, geralmente um sinal de
agressão. Na segunda figura humana ele se desenha no cavalo e os dedos parecem redondos
e abertos num (gesto de) abraço. O cavalo é representado com três dentes: uma interpretação
poderia ser de que o paciente achou uma maneira funcional de projetar seus impulsos
agressivos. Durante as sessões de terapia ele era, primeiramente, muito rígido, inseguro,
pessimista. Agora ele tem uma autoconfiança aumentada e também maior espírito de
inciativa.
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C.M. - Mulher - Idade: 15 – Diagnóstico: retardamento de desenvolvimento psicomotor;


psicose; síndorme de má formação; broncopatia crônica.
Na primeira figura humana há muitas áreas pretas, especialmente nos olhos, orelhas, boca
e braços. No segundo desenho, mesmo que ainda uma representação incompleta e vazia,
300
existe uma maneira mais harmônica e menos conflituosa de desenhar a si mesma. Durante
as sessões de terapia ela se tornou menos rígida e muito mais calma e auto-confiante.

R.F. - Homem - Idade: 13 – Diagnóstivo: retardamento mental, lingüístico e evolucionário.


No primeiro desenho da figura humana há evidente desproporção entre a cabeça, que é
muito pequena, e o resto do corpo. No segundo desenho a figura é maior, mais proporcional
e bem estruturada. Durante as sessões de terapia ele é mais autônomo e independente e
também toma mais iniciativas. Ele está também fazendo um grande esforço para desenvolver
suas habilidades lingüísticas.

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301
S.G. - Homem - Idade: 9 – Diagnóstico: retardamento evolutivo.
No primeiro desenho da figura humana ele desenha a si mesmo quase emagado por um céu
escuro e plano. No segundo desenho ele levanta braços e mãos, e o céu parece mais longe e
leve. Isso parece ser uma expressão de novas possibilidades e esperanças, quase como se a
criança agora, com a ajuda do cavalo, sentisse como se pudesse também voar, se ele quisesse,
como a nuvem e as abelhas voam à sua volta. Durante as sessões de terapia ele está um
pouco mais autônomo e autoconfiante, mas ainda procura a aprovação do terapeuta com
freqüência.

S.A. - Mulher - Idade: 14 – Diagnóstico: neurose obsessivo-compulsiva.


No primeiro desenho da família ela representa os personagens frontalmente. Eles parecem
olhar à sua volta de uma maneira esquiva, e seus sorrisos parecem esticados e falsos. No
segundo desenho os personagens se tocam de uma maneira mais afetiva, se entre-olham,
com olhos grandes e abertos, e um novo bebê chegou. Vestidos de uma maneira menos
formal e a sensação geral é de maior possibilidade para se relaxar e ser você mesmo. Em
ambos os desenhos, o sol (geralmente o pai) aparece como algo que deve ser protegido, no
primeiro, óculos escuros e uma árvore, e no segundo óculos escuros e uma pequena nuvem.
Durante as sessões de terapia ela se tornou mais autônoma e independente.
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302
M.F. - Mulher - Idade: 11 – Diagnóstico: desarmonia evolutiva.
No primeiro desenho do cavalo ela desenha o cavalo dentro da caixa. O traço é forte,
persistente, o cavalo parece perigoso. Ela tenta fazê-lo inofensivo colocando-o num tipo de
jaula, que também está banida para um canto do papel. No segundo desenho, o cavalo está
no meio da cena e a criança está perto dele. Ela ainda desenha um tipo de barreira protetora,
mas abre um sorriso e os braços demonstram um grande desejo de estar muito próxima do
cavalo. Durante as sessões de terapia ela se tornou mais autoconfiante, autônoma e aberta
no relacionamento com o terapeuta e outros pacientes. Ela agora tem uma orientação melhor
de tempo-espaço.

T.M. - Mulher - Idade: 11 – Diagnóstico: cerebropatia do hemisfério direito –hemiparese


No primeiro desenho do cavalo ela desenha somente o cavalo e o amarra a uma cerca. No
segundo desenho, ela no cavalo, e está no comando. Durante as sessões de terapia ela
costumava evitar, assim que o terapeuta não estivesse olhando, usar a mão direita, e.g.
para limpar e escovar o cavalo. Ela na verdade não desenhou a parte direita do seu corpo,
e ela a mantém no fundo. Mais tarde ela ainda precisava ser encorajada, mas usava a mão
direita com mais freqüência. Sua atitude para com o terapeuta era, inicialmente, um pouco
insegura e preocupada. Ela se tornou muito mais relaxada e menos preocupada sobre o
julgamento (alheio).

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

303
DISCUSSÃO

Os resultados encontrados são uma ajuda útil para entender a maneira como os pacientes
percebem a si, o ambiente e o cavalo. O desenho da figura humana parece ser o que mostra
as importantes mudanças e melhoras no esquema e imagem corporal também como no
aspecto psicológico e emocional. O desenho da família, o qual é a expressão mais “relacional”,
não deu resultados significativos. Talvez uma ferramenta melhor para explorar o mundo
relacional do paciente devesse ainda ser avaliada.

Além disso, o desenho do cavalo parece ser uma ferramenta de avaliação de grande ajuda.
A maneira pela qual o paciente desenha o cavalo nos diz muito sobre seu esquema corporal,
sua consciência de tempo-espaço, sua experiência sensomotora. Por exemplo, nós podemos
tirar dos desenhos uma imagem clara e se ele está e como o paciente está consciente de seu
corpo por inteiro, seu hemisoma, membros superiores e inferiores, seus eixos corporais, seu
lugar e movimento no espaço, o seu processamento do ambiente.

A maneira pela qual ele (o paciente) se desenha com o cavalo, tanto como a decisão de
desenhar só o cavalo, são ambas indicações significativas de como o paciente percebe a si em
relação ao cavalo e ao ambiente. Esse tipo de desenho é relacionado à experiência do desfrute
e realização ou, mais raramente, da frustração e incapacidade que o paciente experimenta
durante as sessões de terapia.

Para concluir, os desenhos parecem representar uma janela privilegiada que tem como vista
a dimensão afetiva do paciente. Desta janela nós podemos dar uma olhada discreta e não-
intrusiva neste mundo interior.

Dr. Rossella Frascoli, Psychologist - Fondazione Don Carlo Gnocchi ONLUS - Milano, Italy
Dr. Antonella Artuso, MD - Fondazione Don Carlo Gnocchi ONLUS - Milano, Italy

REFERÊNCIAS

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APPEL, N. (1931) Drawings of children as aids of personality studies; American Journal of


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305
O QUE SE CONHECE SOBRE A EQUOTERAPIA: COM A PALAVRA
PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA CIDADE DE FRANCA-SP

Autor: Roberta Gimenes - Brasil


Co-autor: Denise Emilia de Andrade

RESUMO

Esta pesquisa é parte do Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia e teve como objetivo
verificar o que os profissionais da área de saúde conhecem sobre a equoterapia. A pesquisa
foi composta por uma entrevista aplicada em 50 profissionais da área de saúde: l0 psicólogos,
l0 fisioterapeutas, l0 neurologistas, l0 ortopedistas e l0 pediatras. Os resultados foram
agrupados em categorias de análise quantitativa e qualitativa dos dados gerais. Pôde-se
concluir que os profissionais possuem pouco conhecimento acerca da equoterapia, com
exceção dos fisioterapeutas e psicólogos. O trabalho também foi uma forma de divulgação
desta prática terapêutica.

Palavras-chave: Equoterapia; Profissionais da área de Saúde.

ABSTRACT

This research is part of a Psychology Monograph and had as objective to verify what the
Health professionals know on the Equoterapy. The research was composed for an interview
applied in 50 Health professionals: l0 Psychologists, l0 Physiotherapists, l0 Neurologists, l0
Orthopedists and l0 Pediatricians. The results had been grouped in categories of quantitative
and qualitative analysis of the general data. It could be concluded that the professionals
possess little knowledge concerning the Equoterapy, with exception of the Physiotherapists
and Psychologists. The work also was a form of spreading of this therapeutical practice.

Key-words: Equotherapy, Health professionals.


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

INTRODUÇÃO

O Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia partiu do interesse em pesquisar o que os


profissionais da área da saúde conhecem sobre a equoterapia.

Sendo a equoterapia uma técnica existente no Brasil há cerca de 20 anos, ainda é pouco
difundida no meio profissional e populacional, principalmente em cidades do interior, como
Franca-SP (local onde foi realizada a pesquisa). Assim, o objetivo da pesquisa foi verificar o
que os profissionais da área de saúde da cidade de Franca conhecem acerca da Equoterapia.
A hipótese das pesquisadoras foi a de que tais profissionais apresentam pouco conhecimento
acerca deste recurso terapêutico, visto que o mesmo ainda é pouco difundido na cidade.
Observando-se os inúmeros benefícios biopsicossociais, faz-se de primordial importância
que a equoterapia seja conhecida pelos profissionais das áreas da saúde. Acredita-se que a
equoterapia é um novo campo de atuação para o psicólogo, cuja área de atuação tem se
306
ampliado cada vez mais com o intuito de criar mais recursos para a saúde e o bem-estar do
indivíduo.

A realização desta pesquisa é uma maneira de divulgar o trabalho da equoterapia. Acredita-


se que o estudo contribuirá para o aumento de pesquisas acerca do tema.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa se refere ao que os profissionais da área de saúde da cidade de Franca conhecem


sobre a equoterapia.

Durante o processo, as pesquisadoras fizeram o levantamento bibliográfico acerca do tema,o


qual é escasso devido ao fato de ser uma ciência nova no Brasil e ainda pouco explorada.
Inicialmente, foi realizado um estudo piloto com 10 profissionais das áreas da saúde e
educação. Posteriormente, realizou-se uma entrevista semidirigida composta por sete
perguntas que serão expostas na discussão dos resultados.

Foram entrevistados 50 profissionais da área da saúde: 10 psicólogos, 10 fisioterapeutas, 10


neurologistas, 10 pediatras e 10 ortopedistas. Desses profissionais, seis se recusaram a
responder a entrevista (três neurologistas, dois ortopedistas e um pediatra). Um dos
profissionais de Fisioterapia já trabalhou com esta prática terapêutica.

Apesar de a equoterapia ser realizada por uma equipe interdisciplinar, optou-se pela escolha
dos profissionais da área da saúde, considerando o tempo para a realização da pesquisa.
Quanto aos neurologistas, 57% são do sexo masculino e 43% do sexo feminino. A faixa
etária varia de 28 a 54 anos, não ocorrendo acúmulo em nenhuma categoria analisada
(média = 42 anos). O tempo de formação destes profissionais é de 2 a 27 anos (média = 16
anos).

Todos os ortopedistas entrevistados pertencem ao sexo masculino (100%). A faixa etária é


de 32 a 57 anos de idade (média = 35 anos). Quanto ao tempo de formação, destaca-se de 8
a 30 anos de profissão (média = 15 anos).

Quanto aos pediatras, 55% são do sexo masculino e 45% do sexo feminino. A idade varia de

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


36 a 65 anos (média= 51 anos). Quanto ao tempo de formação, os intervalos variam de 12 a
32 anos (média = 24 anos).

Em relação aos fisioterapeutas, 80% são do sexo feminino e 20% são do sexo masculino. A
faixa etária varia de 25 a 39 anos de idade (média = 27 anos). Quanto ao tempo de formação,
os intervalos variam de 1 ano e meio a 9 anos (média = 4 anos).

Quanto aos psicólogos, 80% são do sexo feminino e 20% do sexo masculino. A faixa etária
varia de 26 a 47 anos de idade (média = 36 anos). Em relação ao tempo de formação, os
intervalos variam de 2 anos e meio a 25 anos de profissão (média = 11 anos).

Utilizaram-se materiais de áudio (gravador), papel, caneta, computador.

As entrevistas foram gravadas visando-se a obter maior fidelidade aos dados informados,
evitando ao máximo a interferência das pesquisadoras.
307
No final das entrevistas, foi entregue um informativo referente à equoterapia, sendo esta
uma forma de divulgar mais acerca desta prática em expansão.

A tabulação dos dados foi feita perante categorização de profissionais de cada área (psicólogo,
fisioterapeuta, neurologista, pediatra e ortopedista) e também uma categorização geral de
todos os profissionais entrevistados, a qual será exposta no artigo em questão.

As categorias foram analisadas quantitativa e qualitativamente.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

DADOS DE PROFISSIONAIS DA ÁREA DE SAÚDE (GERAL) (N = 44)

Tabela 1 - O que você entende por equoterapia?

DEFINIÇÃO DE EQUOTERAPIA Freqüência %


Correto 27 22,32%
Desconhecimento da equoterapia 11 9,09%
Incorreto 83 68,59%
TOTAL 121 100%

A tabela apresenta o que os profissionais entendem por equoterapia. 22,32% das respostas
apontaram a definição correta de equoterapia, ou seja, uma terapia que utiliza o cavalo. Em
respeito ao desconhecimento da equoterapia, observa-se 9,09% das respostas. Cerca de 68,59%
das respostas foram consideradas incorretas, devido ao fato de não abordarem a definição
em si desta prática. No entanto, ressalta-se que foram respostas pertinentes ao tema, porém
que não responderam corretamente à pergunta, tais como: terapia que melhora o
desenvolvimento motor, terapia que melhora o desenvolvimento emocional.

Tabela 2 - Para você, a equoterapia se utiliza de quais materiais para ser realizada?
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

MATERIAIS UTILIZADOS NA Freqüência %


EQUOTERAPIA
Desconhecimento dos materiais 19 18,62%
Incorreto 33 32,35%
Correto 50 49,03%
TOTAL 102 100%

A tabela refere-se aos materiais utilizados na equoterapia. 18,62% das respostas referiram-
se ao desconhecimento dos materiais. 32,35% das respostas foram incorretas, ou seja,
praticante e profissionais especializados. Estes tópicos são imprescindíveis para a realização
da equoterapia, porém não são considerados materiais. Em relação às respostas corretas
(49,03%); destacam-se o cavalo, os materiais de encilhamento e os materiais pedagógicos.
308
Tabela 3 - Quais os profissionais que trabalham com a equoterapia?

PROFISSIONAIS QUE TRABALHAM Freqüência %


COM A EQUOTERAPIA
Fonoaudiólogo 02 2,25%
Pedagogo 02 2,25%
Professor de Educação Física 04 4,49%
Terapeuta Ocupacional 07 7,86%
Psicólogo 16 17,97%
Fisioterapeuta 33 37,07%
Neurologista 05 5,62%
Ortopedista 03 3,37%
Médico 02 2,25%
Instrutor de equitação 02 2,25%
Psiquiatra 01 1,13%
Desconhecimento dos profissionais 12 13,49%
TOTAL 89 100%

Em relação aos profissionais que trabalham com a equoterapia, 1,13% das respostas apontam
o psiquiatra; 2,25% referem-se aos seguintes profissionais: fonoaudiólogo, pedagogo, instrutor
de equitação e médico de qualquer especialidade. 3,37% das respostas citaram os ortopedistas.
4,49% das respostas foram referentes ao professor de educação física. Quanto aos
neurologistas, observa-se 5,62% das respostas. 7,86% das respostas apontaram o terapeuta
ocupacional. Em relação ao psicólogo, pode-se observar 17,97% das respostas. Em 37,07%
das respostas, destacou-se o fisioterapeuta. Em relação ao desconhecimento dos profissionais,
observa-se 13,49%.

Tabela 4 - A Equoterapia é indicada para quais pessoas?

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INDICAÇÕES DA EQUOTERAPIA Freqüência %
Correto 138 90,19%
Incorreto 07 4,58%
Desconhecimento das indicações 08 5,23%
TOTAL 153 100%

A tabela é referente às indicações da equoterapia. 90,19% das respostas foram consideradas


corretas, tais como: pacientes neurológicos, deficientes físicos, problemas emocionais, dentre
outros. 4,58% das respostas foram consideradas incorretas. Quanto ao desconhecimento
das indicações, pode-se observar 5,23%.

309
Tabela 5 - Na equoterapia, o que é esperado que os praticantes desenvolvam ou melhorem?

BENEFÍCIOS DE EQUOTERAPIA Freqüência %


Benefícios físicos/psicomotores 97 62,18%
Benefícios psicológicos/emocionais 33 21,15%
Benefícios sociais 16 10,25%
Desconhecimento dos benefícios 10 6,42%
TOTAL 156 100%

A tabela aponta os benefícios da equoterapia. 62,18% das respostas dizem respeito aos
benefícios físicos/psicomotores (melhora no tônus muscular, concentração, postura). 21,15%
das respostas referem-se aos benefícios emocionais (segurança, auto-estima, afetividade).
10,25% das respostas referem-se aos benefícios sociais (socialização, comunicação). 6,42%
das respostas se referiram ao desconhecimento dos benefícios.

Tabela 6 - Para você, existe diferença entre equoterapia e equitação?

DIFERENÇA ENTRE EQUOTERAPIA Freqüência %


E EQUITAÇÃO
Sim 38 84,45%
Desconhecimento das diferenças 07 15,55%
TOTAL 45 100%

A tabela diz respeito à diferença entre equoterapia e equitação. 84,45% dos profissionais
entrevistados apontaram diferenças entre as duas práticas. A equitação é considerada um
esporte, podendo ser indicada para qualquer indivíduo e pode utilizar qualquer cavalo. A
equoterapia foi definida como um recurso terapêutico que visa à reabilitação, sendo indicada
para pessoas com alguma patologia, utilizando-se de cavalos apropriados a esta prática.
15,55% das respostas apontaram o desconhecimento das diferenças entre equoterapia e
equitação.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Tabela 7 - Outras observações que você queira fazer acerca do assunto.

OBSERVAÇÕES ACERCA DA Freqüência %


EQUOTERAPIA
Desconhecimento da equoterapia 06 15%
Necessidade de maior divulgação 16 40%
para população e profissionais
Importância da equipe interdisciplinar 05 12,5%
na equoterapia
Envolvimento dos profissionais 08 20%
entrevistados com o tema
Necessidade de melhor preparo 01 2,5%
dos profissionais
310 Contin ua,,,,,
OBSERVAÇÕES ACERCA DA Freqüência %
EQUOTERAPIA
Promove ganhos emocionais 01 2,5%
Terapia elitista 01 2,5%
Promove benefícios globais 02 5%
TOTAL 40 100%

A tabela refere-se às observações que os profissionais fizeram acerca do tema. 15% das
respostas destacaram o desconhecimento da equoterapia pelas pessoas; e 40% apontam que
há maior necessidade de divulgar o tema tanto para os profissionais, quanto para a população
geral. 12,5% das respostas referem-se à importância da equipe interdisciplinar para a prática
da equoterapia. Em 20% das respostas observou-se o envolvimento dos profissionais com o
tema. Em relação à necessidade de melhor preparo dos profissionais, no que diz respeito a
supervisões, especializações, nota-se 2,5% das respostas. 2,5% das respostas também são
referentes aos benefícios emocionais obtidos com a prática da equoterapia. 2,5% das respostas
apontam a equoterapia como uma terapia elitista e 5% das respostas comentaram sobre os
benefícios globais obtidos com a prática da equoterapia.

Foram procurados 50 profissionais para a realização da entrevista. No entanto, 6 se recusaram


a responder à mesma, alegando a indisponibilidade do tempo, a falta de conhecimento sobre
o tema e o receio em assinar o termo de compromisso.

Alguns aspectos que merecem ser destacados ante os dados colhidos.

Em relação ao que os profissionais entendem por equoterapia, foi percebido um


reconhecimento maior de respostas incorretas (65,88%). As mesmas foram consideradas
incorretas devido ao fato de não abordarem a definição correta desta prática, ou seja, uma
terapia que se utiliza o cavalo. Esse fato pode ter ocorrido devido a uma desatenção dos
profissionais em questão para com a pergunta ou mesmo devido a uma má formação dos
profissionais em português, afinal a pergunta foi simples e direcionada.

Quanto aos materiais utilizados na equoterapia, percebe-se um reconhecimento maior de


respostas corretas (46,73%) (cavalo, materiais de encilhamento e materiais pedagógicos).

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Em contrapartida, observou-se (30,84%) de respostas incorretas referentes aos materiais
(praticante, equipe interdisciplinar e espaço físico adequado). Conclui-se assim, que os
profissionais, de um modo geral, possuem conhecimento acerca dos materiais utilizados na
equoterapia.

Em relação aos profissionais que trabalham com esta prática terapêutica, o fisioterapeuta foi
o profissional mais citado (35,10%). Tal aspecto pode ser devido ao fato de equoterapia ser
muitas vezes confundida com uma área da fisioterapia, associando-a com um reconhecimento
maior de respostas referentes aos benefícios físicos/psicomotores (60,25%) propiciados com
a prática desta terapia (melhora do tônus muscular, equilíbrio, postura, dentre outros). Duran
(2005) afirma que do ponto de vista neurológico, pode-se justificar a equoterapia como um
processo terapêutico que facilita as integrações das funções corticais superiores e organização
funcional cerebral por meio do movimento, ajuste tônico, associação e ritmo. Ressalta-se que
os profissionais entrevistados apontaram os benefícios físicos e psicomotores, porém não
atentaram quantos aos aspectos neurológicos.
311
A segunda categoria de profissionais mais citados que poderiam trabalhar com a equoterapia
foram os psicólogos (17,02%), o que pode estar correlacionado à segunda categoria dos
benefícios, como sendo benefícios psicológicos/emocionais (20,50%) (segurança, auto-estima,
autoconfiança). Tais benefícios são intensificados devido ao fato de se usar um ser vivo
como mediador terapêutico.

Quanto às indicações da equoterapia, observou-se um índice elevado de respostas corretas


(87,34%), o que denota o conhecimento dos profissionais.

Quanto às diferenças entre equoterapia e equitação, observou-se um índice elevado de


respostas corretas (76%).

A respeito das observações referentes ao tema, as respostas mais apresentadas se referiram


ao desconhecimento da equoterapia (15% das respostas), necessitando assim, de maior
divulgação para a população e para os profissionais (40% das respostas). Além disso, foi
possível observar o envolvimento dos profissionais com o tema (20%), bem como o destaque
para a importância da equipe interdisciplinar (12,50%).

Fazenda (1994) afirma que a interdisciplinaridade é uma exigência natural das ciências, no
sentido de melhor compreensão da realidade que elas nos fazem conhecer.

Sendo a pesquisa referente a um Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia, destaca-se


a importância deste novo campo de atuação para o psicólogo. Apesar de a área clínica estar
bastante associada ao consultório individual, os profissionais estão buscando novas formas
de atuação no contexto social. De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (1994), o
eixo que conduz a inserção do psicólogo nas ações de saúde é, talvez, o mais importante
dentre outros que estão imprimindo mudanças na atuação do psicólogo clínico. O psicólogo
atuando na equoterapia e num contexto social mantém um olhar clínico sobre a dinâmica
do praticante.

Discute-se hoje um trabalho em que o psicólogo esteja mais integrado a um grupo não só
voltado para o individual. E um grande diferencial da equoterapia é fato de a mesma ser um
trabalho multiprofissional, pois cada sessão tem no mínimo três profissionais, sendo o
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

fisioterapeuta, o psicólogo e o instrutor de equitação. Percebe-se uma grande parceria dos


profissionais, proporcionando uma visão holística do praticante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho foi significativo para nosso aprendizado e para nossa profissão. Pudemos verificar
o quanto a equoterapia ainda é uma técnica pouco explorada em nosso meio e, ao mesmo
tempo, o quanto precisa ser divulgada.

Este trabalho vem enriquecer a psicologia, abordando questões referentes à ampliação do


campo de atuação do psicólogo, considerando que este profissional é imprescindível na equipe
interdisciplinar que atua nesta prática terapêutica. Vale ressaltar que tivemos dificuldades
no acesso a alguns profissionais da área médica, o que pode ter sido decorrente do fato de
não possuírem conhecimentos sobre o assunto.
312
Concluiu-se, com a realização da pesquisa que a equoterapia ainda é uma prática pouco
conhecida na área de saúde da cidade de Franca, necessitando assim de maior divulgação
da mesma tanto para os profissionais, quanto para a população em geral.

REFERÊNCIAS

DURAN, M.H.C. O médico na Equoterapia. IN: CATALANO, Y.M. Apostila do Curso Básico
de Equoterapia. Brasília: Equoliber, 2004.

FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 8. ed. Campinas: Papirus,


2001

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

313
A POSTURA MONTADA COM MEMBROS INFERIORES CRUZADOS
FACILITANDO A ORGANIZAÇÃO NA ESPASTICIDADE

Autor: Carlos Roberto Franck da Rocha

Summary: The therapeutic horse riding can be applied to practitioner who shows diverse
characteristics and, in a calm environment of hypo therapy’s program, the physiotherapy
can use several techniques from a simple clinical situation to the most severe case. Object:
This text aims to suggest assistance based on accomplished gains with horse therapy for
children with sequels of infancy’s cerebral paralysis, quadriplegic, with diminishing of muscle
tone on trunk and with spasm and/or tone increasing on body extremities. The practitioners
are assessed about their support mechanism against gravity’s action, about their mechanism
for posture correction, protection of reaction and correction of reactions. It is observed with
more emphasis over the facts related to the seating position and the ability on keep an
independent position or with minimum of support. The assessments are made before the
beginning the horse therapy assistance program, re-evaluated after 10 sessions and again at
the end of the semester. Methods: Based on assistance program development offered to the
practitioner with the same physical diagnosis. The horse therapy sessions are offered in the
Therapeutic Horse Riding Basic Center of ANDE-Brasil, with frequency of once per week,
but it can be developed to twice a week. The average time of the sessions is about 30 minutes,
where the practitioner is kept on the horse with its crossed legs and with its trunk on the
most possible vertical position. To accomplished the gains on both cervical control and trunk
control it is mandatory the presence of two therapists, the first one is for keeping the inferior
member grabbed in the crossed position to block the extender pattern of that segments, and
the other one is to give support on the trunk’s base, while with his fingers stimulates the
extender muscles of back spine on the portions where the muscular contraction is more
precarious. Results: The analysis of results have been made over the period of assistance
period where we could observe that; on the seating position, the practitioner tend to fall to
the back, being necessary to bend its shoulder and to flex the trunk to the front position,
increasing the dorsal cyphosis. Therefore, the importance of wearing the pattern extender
block on his inferior members. From this block, the high part of the trunk is liberated to react
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

to the digital stimulus applied by the therapist on his back muscles and trapezium. Addicting
to the therapist stimulus, there are the step-riding-horse-three-dimensional movement of
the horse inducing to the automatic reaction. At this moment, the practitioner´s base trunk
is between on his high corporal mass himself, pressed by the gravity action and the horse
back, pushing the practitioner’s body from down to up on every new step. To this, the
animal is conduced on regular movements and according with the level of corporal control
acquired from every practitioner. The observed children came to the therapeutic horse riding,
without cervical control and without trunk control either but improved their corporal sense.
With this gain, they accomplished to localize every muscle portion to be flexed and from this
point; they got a cervical extension till the trunk. Thus, coming to offer more credit to the
therapeutic horse riding practice as a scientific method to the treatment of postural stability
improvement in case of neurological compromise.

Carlos Roberto Franck da Rocha


Fisioterapeuta
314
INTRODUÇÃO

O desenvolvimento sensório motor global ocorre obedecendo a princípios como mobilidade,


estabilidade, noção de linha média, ritmo, dissociação de movimentos e estimulação do meio
ambiente. É preciso que se tenha uma base estável para desenvolver habilidades de
movimento. Sem estabilidade, a mobilidade é pouco controlada, podendo ser desorganizada.
A mobilidade e a estabilidade influenciam no desenvolvimento das habilidades ventilatórias,
orais e digestivas, visto que estas dependem do controle de pescoço e ombros que, por sua
vez, depende da estabilidade do tronco e da pélvis.

As crianças portadoras de necessidades especiais com seqüelas de paralisia cerebral com


espasticidade tendem a desenvolver deformidades articulares porque o músculo espástico
não tem crescimento normal. Rotação interna e adução dos quadris e pés eqüinos são as
deformidades mais freqüentes. Além destas, a criança com tetraplegia espástica pode
desenvolver luxação paralítica dos quadris e escoliose.

A equoterapia pode ser aplicada a pessoas que se apresentem com várias características
físicas, psicológicas e sociais. No universo rico do ambiente equoterápico, a fisioterapia pode
utilizar uma gama de alternativas e suas técnicas desde os quadros clínicos com diagnósticos
mais brandos até os mais severos, promovendo um alinhamento biomecânico e favorecendo
a simetria. Os objetivos de atendimento visam a facilitar a funcionalidade dos órgãos vitais
e do aparelho músculo-esquelético, principalmente, para melhorar a qualidade de vida do
praticante e da família.

Durante a marcha natural ao passo, o cavalo tem ciclos de movimentação semelhantes ao


humano, e esse paralelo pode ser evidenciado pelo movimento tridimensional de ambos.
(Ferreira, 2003). A equoterapia usa essas características a partir dos conhecimentos dos
profissionais de saúde que compõem a equipe interdisciplinar visando à melhora do ajuste
tônico, do alinhamento corporal, do equilíbrio postural e da função global de pessoas
portadoras de necessidades especiais (Ferreira, 2003; Brenda, 2003). Quando montado no
cavalo, observamos que a movimentação eqüina pode ajudar o cavaleiro, praticante, a
melhorar sua marcha, postura e equilíbrio, por ser análoga ao movimento da marcha humana.
Soma-se a isso, a descarga de peso do assoalho pélvico sobre a manta ou sela acrescida da
dissociação das cinturas pélvica e escapular.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Este texto tem por objetivo apresentar os ganhos alcançados com o tratamento de equoterapia
em praticantes com seqüelas de paralisia cerebral com tetraplegia e avaliar o efeito do
tratamento sugerido como mais uma alternativa ao ganho do controle cervical e de tronco.
Os resultados mais imediatos foram constatados pelos familiares, particularmente, nos
momentos de refeição, quando já não acontecia mais a regurgitação nem engasgos. A
ventilação pulmonar também é outro fato evidenciado nos relatos do lar e nas reavaliações
feitas durante os atendimentos.

METODOLOGIA

São relatados os casos de três praticantes de equoterapia com seqüelas de paralisia cerebral
com tetraplegia espástica, apresentando diminuição do tônus muscular em tronco e aumento
do tônus em extremidades, seus membros inferiores posicionam-se cruzados em tesoura
pela adução de quadris. Os praticantes são da faixa etária de 6 até 8 anos de idade e só
315
haviam participado de sessões de equoterapia posicionados em decúbito ventral ou dorsal,
durante o semestre anterior a pesquisa. Nessa nova proposta de tratamento, eles foram
posicionados sobre o cavalo com seus membros inferiores cruzados em posição de lótus. Os
três foram selecionados entre os praticantes atendidos pelo Setor de Fisioterapia, do Centro
Básico de Equoterapia “General Carracho”, da Associação Nacional de Equoterapia (Ande-
Brasíl), que se disponibilizaram para realização do presente estudo.

Os praticantes foram avaliados fisicamente quanto a seus mecanismos de apoio contra a


ação da gravidade e quanto a suas reações de endireitamento. Enfatizaram-se mais os fatores
relativos à posição sentada, basicamente, na habilidade em manter-se de modo independente
na posição ou com o mínimo de apoio. As avaliações foram executadas antes do início do
programa de atendimento com a hipoterapia, reavaliados a cada 10 sessões e após o final do
semestre planejado.

Método de atendimento: baseado no desenvolvimento de programas de atendimento


oferecidos a praticantes com diagnósticos físicos semelhantes. A praticantes com essas
características, o programa indicado é o da hipoterapia, na qual o cavalo é conduzido ao
passo organizado, passando por trajetos simples em terreno plano, gramado ou de areia
firme. Para que o praticante consiga reagir adequadamente a cada novo estímulo de
endireitamento, o passo do cavalo precisa ser harmônico e lento, de modo que oscile
lateralmente em pequenas amplitudes enquanto desloca-se à frente. Isso é conseguido
orientando que a passada do cavalo seja executada de modo que a pata traseira de um lado
não repouse na frente da marca deixada no solo pela pata anterior do mesmo lado.

Os parâmetros: as sessões de equoterapia foram oferecidas no Centro Básico de Equoterapia,


da Ande-Brasil, na freqüência de uma vez por semana e no tempo médio de 30 minutos,
quando o praticante precisava ser mantido sobre o cavalo com as pernas cruzadas e com o
tronco na posição mais próxima da vertical possível. Para atingir os ganhos no controle
cervical e de tronco foi necessária a presença de dois terapeutas, um para manter os membros
inferiores fixados na posição cruzada para bloquear o padrão extensor daqueles segmentos
e o outro para oferecer apoio na base do tronco enquanto estimulava com seus dedos os
músculos extensores da coluna vertebral nas porções onde a contração se encontrava mais
precária.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

RESUL
RESULTTADOS

A análise dos resultados foi sendo feita ao longo do período de atendimento com fotografias
e filmagens em perfil, de frente para trás e de trás para a frente. Com esses registros,
conseguimos observar que, na posição sentada, os membros inferiores tendiam a ir para a
frente e o tronco do praticante tendia a cair para trás, precisando encurvar os ombros e
flexionar o tronco à frente, aumentando a cifose dorsal, daí, a importância de se usar o
bloqueio do padrão extensor nos membros inferiores mantendo os mesmos cruzados
passivamente e sentar em lótus. A partir do bloqueio oferecido, a parte alta do tronco ganha
liberdade para reagir aos estímulos digitais aplicados pelo terapeuta em seus músculos
paravertebrais e trapézio, desde que o sacro esteja também fixado na vertical, evitando sua
inclinação posterior. Somando-se aos estímulos do terapeuta, ocorrem os estímulos do
movimento tridimensional do cavalo ao passo, induzindo às reações automáticas. Nesse
momento, a base do tronco do praticante encontra-se pressionada entre sua massa corporal
alta devido à ação da gravidade e entre o corpo do cavalo, empurrando-o de baixo para
316
cima a cada novo passo. Para que isso aconteça, o animal foi conduzido de forma que
produzisse movimentos regulares e de acordo com o grau de controle corporal adquirido
por cada indivíduo.

Os praticantes observados iniciaram a equoterapia sem controle cervical nem de tronco e


melhoraram sua conscientização corporal. Com esse ganho, conseguiram localizar cada
porção muscular a ser contraída e, daí, chegaram à extensão cervical e até do tronco, vindo
a oferecer ainda mais crédito à prática da equoterapia como um método científico ao
tratamento na melhora da estabilidade postural em casos de comprometimento neurológico.

Por se tratar de um estudo do tipo relato de casos, cada praticante será descrito de modo
individual, a partir de comparações das imagens fotográficas de antes, durante e depois da
pesquisa e a partir dos relatórios de cada sessão e do relatório final.

Praticante 1 – A.B. S. B., 6 anos, sexo masculino, paralisado cerebral, atendido uma vez por
semana na equoterapia e, ao longo da semana, por equipe multiprofissional, na Associação
de Mães, Pais e Amigos da Reabilitação - Ampare.

A estratégia adotada no seu atendimento foi a de estimular o controle cervical e do tronco


oferecendo apoio na lombar e na base do crânio devido à tendência de compensar a falta de
controle muscular causando aumento da lordose cervical. Como o praticante era muito
pequeno para abduzir os quadris para montar, adotamos a posição de sentado em lótus.
Inicialmente, esta postura requeria ser alternada com o decúbito ventral devido à baixa
resistência muscular à fadiga. Após 10 sessões, o praticante já conseguiu manter-se por 20
minutos com o tronco na vertical e, a partir daí, seus progressos foram sendo constantes, de
modo gradual e de acordo com seu potencial físico. O centro de gravidade foi sendo
encontrado pelo praticante com mais facilidade, demonstrando maior resistência à fadiga
ao permanecer sentado. Por fim, conseguimos com que conseguisse manter-se em pé, a partir
de apoio em quadris. Além desse sucesso, também tem sido incentivado a buscar apoio em
membros superiores e encontrar o posicionamento correto de cabeça.

Praticante 2 – V. H. A. R, 7 anos, sexo masculino, paralisado cerebral, atendido uma vez


por semana com equoterapia, e duas vezes por semana, com fisioterapia, em clínica particular.

Conseguimos oferecer suporte à região cervical e ao tronco, o que foi facilitando seu controle

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


corporal. Seus membros inferiores cruzados passivamente na posição de lótus facilitam o
ajuste da base da coluna vertebral, induzindo à posição vertical de toda coluna. Com
estímulos digitais em músculos paravertebrais cervicais e dorsais, conseguimos ativar a
musculatura local para que estendesse o tronco de modo correto e permanecesse bem
posicionado. Todas as atividades foram propostas de modo gradual, de acordo com o potencial
físico do praticante. Alternávamos a postura de tronco ereta com momentos em decúbito
ventral, sendo que, nesses instantes, o praticante era solicitado à contração muscular dos
paravertebrais com estímulos digitais, numa forma de repouso que lhe exigisse atividade
muscular constante.

Praticante freqüentemente risonho passou a receber apoio apenas na base de tronco e cabeça,
obtendo momentos de extensão da coluna sem os estímulos táteis. Conseguiu manter-se
recebendo apoio apenas nos braços e em base do tronco, chegando a atingir 30 minutos de
bom controle corporal, a partir das fixações e mantido sentado com os membros inferiores
cruzados.
317
Atualmente, não ocorre mais adução com extensão involuntária em quadris, possibilitando
que se monte em posição de montaria clássica com os membros inferiores pendendo
normalmente, necessitando de apoio apenas em um dos braços.

Praticante 3 – D. S. R., 8 anos, sexo masculino, paralisado cerebral, atendido uma vez por
semana pela equoterapia e, ao longo da semana, por equipe multiprofissional, na Associação
de Mães, Pais e Amigos da Reabilitação (Ampare).

Seus membros inferiores eram bloqueados em posição sentada de lótus sobre a manta no
dorso do cavalo, o que inibe o padrão extensor e facilita a extensão da coluna vertebral.
Houve momentos de queixas por causa da dor nas mobilizações dos quadris, devido ao
esquerdo tender à rotação interna, mas o praticante sempre finalizava as sessões com
satisfação e um belo sorriso nos lábios. O mesmo riso acontece nas estimulações digitais em
musculatura paravertebral para corrigir tendência à cifose dorsal, o que facilitou muito na
interação terapeuta e praticante.

Observamos o quanto a equoterapia tem sido benéfica ao quadro clínico do praticante,


melhorando a consciência corporal, o controle do tronco e a funcionalidade dos membros
superiores, chegando a conseguir montar com montaria clássica, não necessitando mais ser
posicionado em posição de lótus. Por tudo o que observamos, os objetivos de tratamento
continuam os mesmos e com as mesmas atividades, devido ao excelente prognóstico que
observamos ao seu controle cervical e de tronco.

DISCUSSÃO

Montar com os membros inferiores cruzados em posição de lótus facilita a forma de o


praticante ser apoiado sobre o cavalo, possibilitando que o mesmo possa usufruir os benefícios
da equoterapia, justamente por permitir ótimo apoio manual na base do tronco.

Para Andrade (2000), a posição com os membros inferiores cruzados ou posição de lótus
proporciona vantagens e desvantagens ao paciente com paralisia cerebral. Esta posição tem
a vantagem de impedir a posição de “W” ou sapo, mas tem a desvantagem de bloquear os
movimentos de membros inferiores, dificultando as reações de equilíbrio das transferências
de peso. Na equoterapia também se pode pensar contrariamente a essa forma de se montar,
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

pela possibilidade de o praticante vir a sentar no cóccix, em vez de sobre os ísquios, devido
à tendência de a pelve inclinar para trás quando não estiver bem apoiada.

Outros argumentos contrários à montaria em lótus baseiam-se no fato de que ela induz ao
encurtamento dos músculos ísquio-crurais e panturrilhas, além de tirar a propriocepção
originada em todas as estruturas localizadas nos membros inferiores, no assoalho pélvico e
nas faces internas das coxas e das pernas, além do apoio podal, naqueles praticantes que
conseguem apoiar os pés nos estribos. Também diminui a orientação espacial do praticante
por perder a relação da postura do tronco na vertical com os membros inferiores que estariam
mais abaixo.

A postura ideal para se montar mantém os pés apoiados nos estribos e os membros inferiores
para baixo, estimulando a noção de direção à frente. O uso da linha média do cavalo facilita
essa organização e o tronco estando orientado estimula a melhor controle cervical e do
olhar. A postura adequada favorece a linha média e a simetria, fornecendo ainda estabilidade
318
aos funcionamentos motor oral, da ventilação, digestivo, circulatório, visual e do aparelho
músculo-esquelético, melhorando a qualidade de vida do praticante.

Na montaria em posição de lótus, o apoio das mãos sobre os joelhos e a própria tendência à
extensão dos membros superiores auxilia na transmissão dos impactos do movimento do
cavalo aos ombros, transmitindo o peso aos ombros, distribuindo-o de um lado para outro,
equilibrando o peso entre os ombros e quadris e melhorando assim a linha vertical.

O objetivo principal deste trabalho foi o de avaliar a influência da equoterapia na melhora


do controle cervical de do tronco utilizando um outro modo de se iniciar a montar e, daí,
assumir a postura de montaria clássica. Neste caso, os três praticantes atendidos na postura
montada de lótus conseguiram extensão cervical e de tronco ao final do período proposto,
chegando a alcançar a forma de montaria clássica, ou seja, com as pernas pendentes e sem
necessitar do apoio posterior para verticalizar a pelve, evidenciando a eficiência da proposta
ora oferecida. Primeiramente, foi estimulado o controle de cervical e tronco, conseguindo a
possibilidade de se montar; posteriormente, iniciaremos programa para alcançar o apoio
dos pés nos estribos, diminuindo as chances do encurtamento muscular nos músculos
posteriores das pernas, além de estimular a funcionalidade dos membros inferiores em apoiar
no solo.

A literatura ainda registra poucas formas de atendimento ao praticante com as características


físicas semelhantes, e espera-se que este estudo possa colaborar para incentivar os profissionais
da equoterapia a continuar nas pesquisas e na busca de novos desafios que tenham por
finalidade a qualidade de vida dos praticantes e de seus familiares. É importante destacarmos
a interdisciplinariedade presente na equoterapia, pois é com a participação de todos que
conseguimos estímulos necessários para persistir na busca dos bons resultados.

REFERÊNCIAS

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first year of live. Therapy Skill Builders, Tucson, Arizona, 1985.

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ROGERS, B. & CAMPBELL, J. – Pediatric and neurodevelopmental evaluation. In:


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management. San Diego, Singular Publishing Group, inc., 1993. p.53-91.

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Trad. por CARELLI, C. 1994. Apostila do Curso Bobath.

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319
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MACHADO, Angelo B. Neuroanatomia Funcional; Livraria Atheneu, Rio de Janeiro-RJ; 1988.


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

320
EFEITO DA EQUOTERAPIA NA POSTURA DE TRONCO DE
CRIANÇAS DIPLÉGICAS SENTADAS

Autor: Rosana Cruz Barbosa - Brasil


Co-autores: Lílian de Miranda Belmonte;
Raquel Aboudib Assad;
Gustavo de Azevedo Carvalho

INTRODUÇÃO

Paralisia Cerebral (PC) ou encefalopatia crônica não-progressiva da infância é um conjunto


de distúrbios cerebrais, de caráter estacionário, causado por alguma lesão ocorrida no período
pré, peri ou pós-natal ou durante os primeiros anos de vida, que se caracterizam por alterações
no controle dos movimentos, por adaptações no comprimento dos músculos e, em alguns
casos, por deformidades ósseas. Os distúrbios motores são classificados de acordo com a
parte do corpo comprometida, com os movimentos involuntários e com as características
clínicas do tônus muscular (SHEPHERD, 1998).

É importante determinar a etiologia e o tipo específico de PC para levar a um prognóstico e


a um programa de tratamento apropriado. A classificação da PC pode ser dada de acordo
com o movimento, padrão de comprometimento motor, gravidade, além da alteração do
tônus muscular, que é caracterizado pelo grau de resistência ao alongamento passivo, de
acordo com Katz e Rymer (1989, citado por Iwabe e Piovesana, 2003).

A diplegia espástica é o tipo mais comum de PC verificada em prematuros (RATLIFFE, 2000).


A condição é caracterizada por moderada espasticidade dos membros inferiores (MMII)
com envolvimento mínimo dos membros superiores (MMSS) (TACHDJIAN, 1995).

A espasticidade tem grande influência na postura das crianças com diplegia. Na clínica, a
postura normal é visualizada pelo alinhamento e simetria das partes do corpo e pela co-
contração de músculos em torno das articulações, o que somado, resulta em um equilíbrio
global (BERTOTI, 1988).

Muitas crianças com PC, até mesmo aquelas com espasticidade de leve a moderada, XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
apresentam uma hipercifose torácica quando sentadas. A criança portadora de PC se utiliza
deste mecanismo compensatório para alinhar a cintura escapular e a cintura pélvica, devido
ao tônus extensor aumentado. Estas crianças apresentam uma flexão de quadril inadequada
com conseqüente encurtamento da cadeia posterior dos MMII. Para compensar a pouca
flexão do quadril, na posição sentada, é feita uma retroversão da pelve, o que leva a criança
a sentar-se no sacro em vez das tuberosidades isquiáticas. Para evitar queda para trás, a
criança move o centro de gravidade para a frente, flexionando a coluna e produzindo uma
postura cifótica (REID, 1996).

Com base na observação dos pacientes no ambiente ambulatorial e no relato dos cuidadores,
as crianças com diplegia passam a maior parte do tempo na posição sentada. Devido ao
aumento da cifose, ocorrem desvantagens como compressão e diminuição da expansibilidade
da caixa torácica, dificuldade na fonação, na deglutição, no uso dos membros e limitação do
campo visual do paciente (TACHDJIAN, 1995). 321
O objetivo do tratamento da PC é potencializar as funções e prevenir o desenvolvimento de
outros problemas, como contraturas e necessidade de cirurgia, além de permitir que a criança
participe de atividades normais com as outras pessoas (MERENGILLANO, 2004).

A longo prazo, a fisioterapia diminui o impacto das múltiplas incapacidades, enquanto


melhora o alinhamento postural e as habilidades motoras. Contudo, o trabalho terapêutico
repetitivo é muitas vezes cansativo e, por isso, requer criatividade por parte do terapeuta
para conseguir manter a adesão e o entusiasmo da criança. Neste caso, a equoterapia aparece
como uma estratégia benéfica à medida que os pacientes se mantêm altamente motivados
(BENDA, MCGIBBON e GRANT, 2003). Além disso, ela age diretamente nas deficiências
motoras e reflete nas vias sensoriais, devido à utilização de estímulos proprioceptivos, táteis,
vestibulares, visuais e auditivos (MEDEIROS e DIAS, 2002).

“A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma


abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o
desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência e/ou necessidades
especiais” (ANDE, 1999).

Atualmente conta-se com vários instrumentos para avaliação da condição das curvaturas e
da mobilidade espinhal, sendo que o Método Flexicurva vem ganhando um destaque crescente,
haja vista uma série de vantagens apresentadas por ele e que serão descritas oportunamente.
Este instrumento tem várias formas de apresentação comercial, mas de maneira geral pode
ser descrito como uma régua flexível em material emborrachado, com alma interna de
chumbo com liga especial, permitindo flexibilidade e funcionalidade para a confecção de
moldes e/ou curvas. A técnica de aplicação para uso clínico normalmente corresponde em
colocar a haste ao longo da superfície que se quer medir, tendo o cuidado de modelar seu
trajeto de acordo com os formatos ou ângulos a serem avaliados.

O Método Flexicurva foi sujeito a uma série de experiências de confiabilidade e validação


(TILLOTSON e BURTON, 1991; CAINE, MCCONNELL e TAYLOR, 1996). Os dados sugerem
que a técnica Flexicurva é menos sujeita a erro do que outros métodos (THOMPSON e EALES,
1994).

Somando-se a isto, o Método Flexicurva apresenta diversas vantagens, tais como baixo custo
e peso, reprodução do ângulo da curva espinhal por meio de um desenho e maior validade
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

e reprodutibilidade em medidas consecutivas (THOMPSON e EALES, 1994). Essas


características qualificam o método como acessível, além de ser também confiável e de fácil
utilização.

O objetivo deste artigo foi verificar se existe melhora da postura de tronco em crianças
diplégicas, sentadas, após a prática de equoterapia, uma vez que esta é a posição adotada
pelas crianças na maioria das atividades de vida diária (AVDs).

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente artigo é um estudo de caso, realizado na Clínica Escola de Fisioterapia do Hospital


da Universidade Católica de Brasília (HUCB) e no Regimento de Polícia Montada do Distrito
Federal (RPMON/DF), no turno matutino, durante 10 semanas, com a aprovação do Comitê
de Ética da mesma universidade.
322
Foram selecionadas crianças portadoras de PC do tipo diplegia espástica, de ambos os sexos
e idades entre 31 e 72 meses, sendo uma amostra de conveniência dentre crianças já
submetidas ao tratamento fisioterapêutico convencional atendidas na referida clínica. Como
critérios de inclusão, os pacientes deveriam apresentar diagnóstico de PC do tipo diplegia
espástica de leve a moderada, não estarem previamente inseridos na prática de equoterapia,
montarem sozinhos, não apresentarem nenhuma contra-indicação à prática equoterápica,
tais como: alergia ao pêlo do cavalo, hiperlordose, subluxação de quadril, escoliose estrutural,
osteoporose, hérnia de disco, doença de Schuerman e cardiopatia grave (MEDEIROS e DIAS,
2002) e assinatura de um termo de consentimento pelo responsável. Os critérios de exclusão
foram outros tipos de PC e falta em mais de três sessões.

Inicialmente foi realizada uma avaliação no HUCB com o paciente na postura sentada, em
um banco sem apoio dorsal e braços repousando sobre as pernas, que se encontravam a 90º
de flexão de joelhos e tornozelos, com apoio quando necessário. A criança não foi orientada
a corrigir a postura, permanecendo em sua posição normal. Uma vez alcançada a estabilidade
nesta posição, a régua flexível foi aplicada acompanhando as curvaturas da coluna. Em
seguida foi feita a transferência do formato da régua para uma folha de papel milimetrado.
No desenho foram destacados os pontos correspondentes aos processos espinhosos de T1 e
T11-T12, previamente identificados na coluna da criança com etiquetas autoadesivas de 13
mm de diâmetro.

A técnica de medição da cifose foi aplicada conforme sugere Burton (1986, citado por Tillotson
e Burton, 1991) e teve como principal instrumento uma régua flexível (flexicurva) de 60 cm
de comprimento da marca Trident®. Esta etapa foi realizada por uma única avaliadora,
previamente treinada em relação à marcação por anatomia palpatória dos processos
espinhosos das vértebras predeterminadas e ao manuseio da régua.

Para a obtenção dos resultados referentes aos graus de cifose de cada criança, foi medido
com régua comum o ponto mais distante entre a reta traçada de T1 a T11-T12 e a concavidade
do desenho. Os dados correspondentes às distâncias foram analisados em um software
específico, usando-se a ferramenta Excel, com base em uma fórmula(“unpublished
observations”) desenvolvida no Laboratório de Biomecânica da UCB pelo Prof. Dr. Gustavo
de A. Carvalho para convertê-los em graus.

Após as avaliações, o estudo passou a ser realizado no RPMON-DF, uma vez por semana,

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no período matutino, com sessões de 30 minutos de duração.

No início e no final de cada sessão, a criança era avaliada quanto ao grau de abdução,
através da manobra de adução dos quadris (ABPC, 1998). Após a medição inicial era
realizada a primeira fase da equoterapia, em que há uma aproximação do praticante com o
cavalo, estabelecendo-se um vínculo afetivo.

O material de encilhagem utilizado foi manta com cilhão e estribo. Com auxílio de uma
rampa, o praticante era ajudado por uma equipe a montar sozinho. Esta equipe era composta
por um auxiliar-guia, responsável pelo controle do cavalo e pela andadura ritmada ao passo,
e dois auxiliares laterais, responsáveis pelo apoio físico, participação nas atividades propostas
e observação da postura do praticante. Os auxiliares guia e laterais permaneceram os mesmos
até o final do estudo.

Durante a montaria, eram realizadas atividades para melhora do equilíbrio, dissociação de


cinturas, retificação do tronco, estimulação da coordenação motora, alongamento e
323
fortalecimento muscular, alinhamento corporal, orientação e organização espacial, além da
consciência corporal e da função psicossocial, aplicados da mesma forma para todos os
praticantes.

Ao final de dez sessões de tratamento foi realizada uma nova avaliação com o Método
Flexicurva, seguindo os mesmos passos utilizados inicialmente para observar possíveis
alterações pós-intervenção.

Para realizar a análise estatística foi utilizado o SPSS (statistical package for the social sciences)
10.0 for windows. Foi realizado um teste “t” pareado para avaliar se havia diferença no
ângulo de cifose após prática de equoterapia em crianças diplégicas.

RESULTADOS

A análise estatística descritiva dos dados mostrou que, dentre as crianças estudadas, cinco
eram do sexo feminino e três do sexo masculino, com idades variando entre 31 e 72 meses,
com média de 58,25 meses e desvio padrão de +13,7.

A tabela 1 ilustra os graus de cifose apresentados pelas crianças antes e após o período de
tratamento. Os valores referentes à média e ao desvio padrão foram respectivamente 31,62
e + 4,51 pré-equoterapia e 26,55 e + 5,58 pós-equoterapia. Observa-se ainda que em seis
casos houve melhora na postura cifótica após a intervenção e em apenas dois casos houve
aumento no ângulo da cifose. É importante considerar o fato de que estas duas crianças
apresentavam as maiores idades e o tônus mais aumentado dentro da amostra.

Tabela 1: Graus de Cifose pré e pós-equoterapia.

Amostra Pré-Equoterapia(em graus) Pós-Equoterapia(em graus)


A 21,12 31,17
B 34,37 24,98
C 35,52 20,84
D 30,48 17,04
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E 33,85 28,88
F 32,83 27,13
G 33,07 27,81
H 31,77 34,56
Média 31,62 26,55
Desvio Padrão 4,51 5,58
Fonte: Autor

Uma característica relevante desta amostra foi que três crianças apresentavam marcha
independente, uma apresentava marcha com auxílio e quatro eram totalmente dependentes
na locomoção. Outra característica que merece destaque é o tônus muscular levemente
aumentado de uma das crianças, assim como comprometimento cognitivo grave e suspeita
324 de autismo.
Foram ainda obtidos dados a respeito do ângulo de abdução, antes e após cada sessão de
equoterapia, com base na manobra de adução dos quadris. De acordo com esta manobra,
houve aumento da angulação em seis casos, podendo-se inferir uma melhora no tônus. É
importante destacar que em apenas dois casos o ângulo obtido na primeira sessão coincidiu
com o da última.

A análise demonstrou uma diferença significativa na redução do ângulo de cifose [t(7) =


2,95; p=0,021], verificando-se a melhora do paciente após a equoterapia. Para o estudo foi
adotado um intervalo de confiança de 95% (pd”0,05).

DISCUSSÃO

A equoterapia não só promove estimulação física, cognitiva, emocional e social, assim como
ensina e desenvolve capacidades não aprendidas através do tratamento convencional. Apesar
da natureza não usual da equoterapia, seus fundamentos estão baseados nas atuais teorias
do desenvolvimento e controle motor, estabelecendo princípios de tratamento
neurofisiológicos. A exposição às contínuas mudanças do ambiente, a movimentação do
cavalo, manter-se sentado com as pernas em abdução, além dos múltiplos estímulos nos
sistemas sensorial, motor, cognitivo e límbico do paciente facilitam o desenvolvimento de
novas formas de movimento que não são adquiridas com as técnicas tradicionais de
tratamento (BENDA, MCGIBBON e GRANT, 2003).

Os resultados iniciais deste estudo sugerem que, a equoterapia tem influências na postura
de crianças com PC. No caso da postura de tronco de crianças diplégicas, estes ganhos
podem ser observados conforme os dados da tabela 1, que indicam uma redução nos ângulos
de cifose em seis crianças pós-intervenção. Isto confirma os achados de outros autores que
documentaram uma melhora significativa na postura de crianças com PC espástica, após a
prática da equoterapia (BERTOTI, 1988; BENDA, MCGIBBON e GRANT, 2003). Sentar com
as pernas abduzidas, além dos estímulos variados aplicados à pelve e a todo o corpo,
aprimoram as reações de equilíbrio, controle postural de tronco, ativação da pelve e das
articulações, contribuindo para a normalização do tônus muscular. Todos estes fatores
colaboram para a melhora postural (KUCZIÑSKI e S£ONKA, 1999).

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Entretanto, é interessante notar que duas crianças tiveram aumento no ângulo da cifose. Foi
possível constatar que, além de apresentarem o tônus mais aumentado, elas eram também
as com mais idade dentro do grupo. Contudo, não se pode traçar uma relação direta entre
estes dois achados e o aumento do ângulo cifótico, uma vez que a amostra era muito pequena
e que existem outros fatores que podem explicar melhor tal resultado. De fato, esta piora no
quadro pode ser devida principalmente à confiabilidade intra-avaliador e às condições psico-
emocionais da criança no momento da avaliação.

Em relação às medidas feitas pelo avaliador, sabe-se que, apesar da boa reprodutibilidade
do Método Flexicurva (THOMPSON e EALES, 1994), “a própria globalidade do indivíduo
faz com que possam ocorrer compensações diversas, o que pode gerar baixa correlação
intra-avaliador” (SPOLAOR e MARQUES, 1999). Além disso, o estado emocional da criança,
no dia da avaliação, pode ter influenciado o tônus de forma não favorável, visto que este
não é apenas um aspecto da ação física e muscular, mas reflete também o aspecto psicológico
325
e emocional (LERMONTOV, 2004), prejudicando assim, uma avaliação precisa. De fato, a
hipertonia pode alterar a postura, fazendo com que a criança busque com dificuldade
alternativas para se estabilizar numa determinada posição, pois os músculos hipertônicos
tendem ao encurtamento, dificultando ainda mais a ação dos antagonistas na correção
postural (ANDE-BRASIL, 2004). Contudo, isto não significa que não houve outros ganhos
posturais, uma vez que montar a cavalo requer coordenação e equilíbrio (LERMONTOV,
2004), requisitos estes que não foram avaliados por não fazerem parte direta do estudo.

Foram observados também valores referentes à manobra de adução, que testa principalmente
os músculos grácil, adutores longo e curto. Estes valores foram medidos antes e após cada
sessão, porém as medidas mais relevantes para o estudo foram os ângulos obtidos antes da
primeira e antes da última sessão. Os dados sugerem que, com base no aumento do ângulo
de abdução, seis crianças tiveram uma melhora do tônus e também da cifose, o que pode ser
explicado devido ao movimento cadenciado do cavalo que, juntamente com o calor do corpo
do animal, promove o relaxamento, especialmente dos MMII, contribuindo assim, para a
diminuição da espasticidade (LERMONTOV, 2004). Destaca-se o fato de que os ângulos da
manobra não se mantiveram de uma sessão para outra, apesar de ter havido aumento da
angulação antes e após cada sessão.

Por fim, apesar de favoráveis, os resultados ainda não se mostraram absolutamente


conclusivos. O número da amostra foi reduzido, impondo certo limite à pesquisa e
impossibilitando uma análise estatística mais precisa, o que desfavorece uma comprovação
mais ampla dos dados. Além disso, cada criança apresenta deficiências e limitações funcionais
únicas, criando dificuldades em reunir uma amostra homogênea da população, além de o
benefício da equoterapia ser multifatorial, fazendo com que seja difícil discernir a relação de
causa e efeito absoluta (BENDA, MCGIBBON e GRANT, 2003).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos no presente estudo, apesar de constituírem um passo inicial, são de


grande valia, uma vez que, no estágio atual, existem poucas pesquisas relacionando
equoterapia e diplegia espástica. A maioria dos estudos relacionados à equoterapia fornece
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

apenas dados qualitativos. Além disso, a análise específica dos ganhos na posição sentada é
bastante relevante, pois é nesta posição que a criança passa a maior parte do tempo e realiza
suas AVDs.

De acordo com os objetivos traçados inicialmente, a equoterapia mostrou-se uma alternativa


que, somada ao tratamento convencional, apresentou bons resultados em relação à postura
sentada das crianças diplégicas, além de ter tido uma ótima adesão por parte dos praticantes
e dos pais, que relataram melhora na postura e no equilíbrio.

Finalmente, sugere-se que sejam feitos outros estudos relativos ao tema, com uma amostra
maior, para que a análise estatística venha a ser mais profunda e conclusiva. É importante
também a inclusão de um grupo controle, pois a equoterapia não é realizada isoladamente,
ou seja, as crianças normalmente realizam outras atividades terapêuticas. Sugere-se também,
a análise de outras variáveis, tais como: equilíbrio, coordenação motora, imagem e esquema
corporal, cognição, fala e linguagem, tempo de duração dos efeitos e ganhos nas AVDs.
326
REFERÊNCIAS

ANDE-BRASIL, Associação Nacional de Equoterapia – Curso Básico de Equoterapia,


Brasília, 1999.

ANDE-BRASIL, Associação Nacional de Equoterapia – Coordenação de Ensino, Pesquisa e


Extensão – COEPE – Curso Avançado de Equoterapia, 2004.

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São Paulo: Memnon, 1998.

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Alternative and Complementary Medicine, v. 9, n. 6, p. 817-825, 2003.

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cerebral tetraparética em crianças com lesões predominantemente corticais ou subcorticais
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assessing curvature of the spine. Journal of medical Engineering & Technology, v. 18, n. 4,
p.143-147, 1994.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

328
ATIVIDADE PSICOMOTORA EQÜESTRE

Autor: Aldo Lauhirat - Argentina

O objetivo deste trabalho é articular o estímulo neuromotor que o cavalo dá, com a atividade
psicomotora em clínica de transferência, na construção da criança.

O método para um lado e táticas e estratégias em atividade neuromotora do sujeito, no


outro. Não há dúvidas sobre o potencial do cavalo e a equitação como geradores de estímulos
sensitivos.

Nossa intenção é integrar, pôr em prática, a atividade psicomotora em clínica de transferência,


o terceiro corte evolutivo da atividade psicomotora com nosso método de trabalho. (Método
Daniele).

Desde seu início em 1900 com Jenry Wallon, a atividade psicomotora registrou três cortes
evolucionários, cada um deles com suas próprias características especiais por ajudar o sujeito
a integrar, corpo, gestos e posição ante os olhos dos outros, mãe, pai, terapeuta.
Desta maneira, ele/ela começa construindo um conceito de corpo – corpo imaginário- corpo
simbólico.

Esta tática e estratégias compreendem as capacidades e incapacidades do sujeito, e constroem


laços desde que numa trama de transferência.

O objetivo deste trabalho é de que a criança com patologias possa reconhecer-se e existir
como um sujeito no qual sua imagem do corpo está em jogo.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Um modo particular de abordar um paciente, onde dois campos se encontram, o orgânico e


a subjetividade, e quando eles se entrelaçam o ponto de encontro surge, que é a atividade
psicomotora.

Historia
Anatomía
Representación
Fisiología
Juegos
Biomecanica
Escenas
Punto
de
encuentro
Campo de la
Campo de la
Medicina kinesiologica estructuración
subjetiva
329
Estes dois campos são representados por duas esferas que parecem estar lutando para impor
seu próprio peso. Na esfera do campo orgânico estão a anatomia, a fisiologia, a patologia, e
a reabilitação cinética; na esfera do campo subjetivo estão a história, os jogos, e as
representações.

Em um lado, a ciência empírica e as técnicas derivadas, que não podem exceder seus próprios
limites, que são os de ponderar e medir, ou seja, é o campo orgânico, cuja palavra moderna
parece ter mais importância.

No outro lado, o campo da subjetividade, onde nós não podemos parar de nos perguntar
que tipo de artifício pode medir o entusiasmo ou o tédio, o interesse ou a apatia, o prazer ou
a indiferença, e a incontável quantidade de ponderações que a relação ser humano-cavalo-
natureza produz.

E neste ponto de união aparecem algumas diferenças básicas, especialmente entre o conceito
de reabilitação equestre e a restauração do termo (usado pela OMS).

Na reabilitação clássica, um movimento é melhor que o anterior, o objetivo é normalizar o


tom. Em nosso trabalho, o movimento é um gesto feito para ser visto pelo outro, e nós não
podemos dizer que este gesto é melhor que o anterior.

O mesmo acontece com nossa leitura do tom transformado em posição na estrutura do


sujeito. E por esta razão que nós temos adotamos a denominação de Atividade Psicomotora
Eqüestre, que implica uma modificação no conceito clássico de reabilitação, não sendo apenas
um nível atingível de função ou estados, como o único parâmetro evolutivo na direção do
tratamento e na relação que a transferência ocupa na etapa central.

A atividade psicomotora na transferência clínica analisa a dificuldade de representar o corpo


e o movimento, relacionamentos de espaço e tempo, onde o sintoma psicomotor está em
vista não como o sinal de dano, mas como o resultado de um epifenômeno. Nesta clínica, a
transferência vem especificamente para as exigências particulares da criança e para a sua
família, que coloca o terapeuta, que representa – aquele outro – numa posição de poder em
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

que ele ou ela não pode escolher ser ou não, está outorgada a capacidade de produzir o que
está em jogo neste espaço clínico, apoiado pela psicanálise, e é onde o conhecimento corporal
está representado e mais relacionado; e também ao esquema corporal, o que acontece e
como curá-lo, do que à imagem física.

Não há clínica psicomotora, sem corpo, sem um olhar e sem os movimentos de um sujeito;
trabalha-se entre o pulso do corpo e o corpo em si, entre o pulso do movimento e a operação
da função motora.

A presença de patologias neuromotoras implica o uso de métodos cinéticos até pelos sintomas
e sinais que são visíveis em cada patologia. A maneira que eles estão localizados no sujeito
responde ao singular histórico na estrutura do sujeito.

Sobre o nascimento, a criança traz um equipamento básico neuromotor do sentido físico do


termo que satisfará a função motora na ordem psicológica. Nós falamos de naturalidade e
330
crescimento, que têm uma legalidade temporal. Para que estas funções se complementem,
devem passar pelo campo do outro, mãe, pai, de modo que possam formar sua própria
imagem, a função como criança, e a operação da função motora.

Esta operação da função motora coloca prazer no movimento, pulsa, exige que o outro a
estimule e erotize, move-se pelo prazer da reunião e divisão. Esta escritura pulsante de
movimento cruzado pela linguagem começa a construir a imagem inconsciente do corpo e
do projeto motor.

Deve haver uma impressão deixada que liga com uma história o que a criança construiu e
constrói, que liga a infantilidade à infância. A realização é da ordem do acontecimento,
uma experiência singular, estabelecida por exemplo nas conquistas de postura. Estas não
são somente um ato mecânico, são partes de cenas que os outros constroem onde ele existe
como sujeito. A postura é conquistada em reunião e superações do campo do outro, é uma
realização psicomotora, é espacial, temporária, o ritmo varia de uma postura para outra, o
eixo do corpo será o pólo de integração das sensações cinéticas que esboçará a orientação
dos corpo.

Até que a criança possa construir sua própria auto–imagem, as sensações são fragmentadas,
não há “eu” das funções imaginárias, o sujeito será capaz de apropriar a realidade,
contrariamente, o músculo será mantido fora do discurso.

A area clínica apresenta-se em problemas novos e diversos:

- a estrutura do corpo, a lingual e o outro;


- imagem e esquema corporal;
- a estrutura dos sintomas psicomotores;
- a transferência na clínica de atividade psicomotora;
- a direção da cura;
- o psicomotor no autismo e na psicose.

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A atividade psicomotora eqüestre levanta diferenças com a prática na cirurgia.

A presença de um ser vivo em cena. Qual é o seu papel em cena?

Pode tornar-se uma figura importante para aquelas crianças com quem não conseguimos
nos comunicar.

A presença de outros operadores como suporte técnico. Qual é o seu papel, ativo ou passivo?

A transferência na equitação muda o espaço de poder? Coloca-nos mais perto do


conhecimento da equitação do que do terapêutico? Como podemos reverter isso?

A cena é mais ampla, e em contato com a natureza os riscos são também grandes, mas as
cenas são limitadas nessa área.
331
As cenas e a espontaneidade das criações são limitadas por razões de segurança.

A duração do tempo de terapia não é mais limitado às demandas da atividade neuromotora,


elas são mais longas.
Sobre os diferentes passos epistemológicos:

Se usamos o primeiro corte, permaneceremos ancorados na figura tridimensional da


montaria, manobras de controle do tom muscular, teremos uma criança passiva, algo comum
para crianças. Um terapeuta ativo e um cavalo no papel de “terapeuta”.

Se nos colocarmos no segundo corte, que é concentrado no tom afetivo e emocional, estaremos
“bancando” a mãe, e a criança se tornará presa à afeição e ao prazer maternal de alguém
que não deveria exercitar esse papel.

A prática equestre somente será significativa se o que é produzido pelo cavalo, facilitado
pelo caráter tridimensional da montaria, facilitando a operação da função na ausência do
corpo durar e for reproduzido no solo.
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332
REABILITAÇÃO EQÜESTRE DE CRIANÇA PROFUNDAMENTE
MULTIDEFICIENTE – O PRÍNCIPE

Autor: Maria Nieto Arana - Argentina

Este testemunho de alta qualidade feito por uma equipe de jornalistas, sem nossa participação,
nos permite analisar a reabilitação equestre por um ponto de vista diferente.

Está é a história de Leonel, uma criança profundamente multideficiente, afetada nas áreas
motora, sensorial, cognitiva e comunicativa, nas palavras de sua mãe.

Andrea Frohlich define tal criança como tendo atingido apenas o desenvolvimento
neuropostural de uma criança de seis meses de idade, aproximadamente.

Eu considero este o período como o momento no qual a relação mãe-criança começa a se


distanciar, já que seu sistema de percepções, movimentos e comunicação difere do dela de
tal forma que seu ambiente pode receber uma forma ativa, não dependendo da mediação
exclusiva de um adulto.

Uma história que se inicia horas antes de seu nascimento, quando um erro médico iniciou
um verdadeiro drama. Cruelmente relaciona o grau de vulnerabilidade que as famílias dessas
crianças têm nos países em desenvolvimento, às limitações dos serviços de saúde, e à falta de
recursos para pagar tratamentos caros.

A chance de encontrar uma proposta distinta, a reabilitação eqüestre.

A demanda da família e suas expectativas. Sua relação com o cavalo.

A surpresa na evolução de Leonel. Um foco humanista da técnica, uma comparação com


outras terapias alternativas. A sua recuperação desde seu nascimento nos mostra pelo ponto
de vista dele os limites das terapias, em comparação à reabilitação eqüestre.

A história dele nos mostra que a multideficiência não é a justaposição das desordens de uma
pessoa, mas seus resultados específicos da inter-relação das desordens em si mesmas, e mais,

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fundamentalmente em que posição essa inter-relação de desordens e anormalidades coloca
a criança, e o respeito de sua família a ela.

Onde o tratamento não é a junção de diferentes tratamentos de acordo com a área afetada,
mas um tratamento específico e individual que considera suas deficiências, seu sofrimento e
sua família.

Sobre o material do testemunho, a Associação de Hipoterapia de Olavarria organizou imagens


de arquivos que nos permitem observar Leonel trabalhando no Programa de Hipoterapia
com o “Método Daniele”, e sua evolução postural durante o período de quatro anos de
trabalho com uma única terapia.

Paralelamente, táticas e estratégias são usadas na Atividade Psicomotora na Clínica de


Transferência com Leonel, que está agora com quinze anos de idade, incapaz de usar discurso
verbal, mas que consegue se comunicar apenas por gestos com o propósito de dar razão às
sensações corporais produzidas pelo “caráter tridimencional da cavalgada”, de tal forma
que possa construir representações e conseguir desenvolvimento psicomotor.
333
A UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS NA DESOBSTRUÇÃO
BRÔNQUICA EM PACIENTES COM DISFUNÇÃO
NEUROMOTORA NA EQUOTERAPIA

Autor: Mylena Medeiros - Brasil

É consenso que a equoterapia, através do deslocamento tridimensional do centro gravitário


do cavalo, ajustado ao do cavaleiro, propicia a este a estimulação de seus sistemas
neuromotor, músculo-esquelético, sensorial, cardiorrespiratório, digestivo e paralelamente
psicoemocional, porém para que todos estes benefícios sejam otimizados, faz-se necessária a
intervenção terapêutica de acordo com os objetivos específicos.

Os músculos respiratórios, como os outros músculos estriados esqueléticos, têm participação


direta na atividade voluntária e em reações automáticas de alto grau de integração
neurológica. São mantenedores da postura, equilibrando constantemente o tronco, que é o
centro do controle dos membros.

Durante a evolução normal, os músculos respiratórios ganham comprimento e força de


acordo com a vivência corporal do bebê. As posturas e movimentos experimentados até os
dezoito meses modificam a configuração do tórax, através dos alongamentos dos músculos
inspiratórios e do fortalecimento dos expiratórios, e reforçam a propriocepção diafragmática.

A evolução motora normal, equilibra tórax e abdômen, ajustando a capacidade residual


funcional e mantendo um ponto de equilíbrio entre estas duas cavidades.A incapacidade
para manter a qualidade da postura e dos movimentos reflete-se sobre o tronco, alterando a
harmonia da mecânica da expiração, modificando as pressões torácicas e abdominais.

A disfunção neuromotora é definida como distúrbio cerebral não-progressivo que leva a


uma incapacidade ou dificuldade em usar voluntariamente os músculos, podendo ou não
ocorrer um atraso intelectual, com diferentes formas de apresentação clínica e de etiologia
múltipla.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Os pacientes portadores de disfunção neuromotora em sua grande maioria apresentam ou


apresentaram atrasos no desenvolvimento decorrentes de alterações no tônus e força
muscular, nas reações de endireitamento e equilíbrio, assim como presença de padrões de
movimentos anormais que desencadeiam distorções posturais, contribuindo com o
aparecimento dos distúrbios ventilatórios e conseqüentes afecções pulmonares.

O presente estudo visa a apresentar técnicas fisioterapêuticas que têm por objetivo incentivar
a ventilação pulmonar e promover a higiene brônquica através da reorganização torácica e
conseqüente sinergismo muscular respiratório. As medidas terapêuticas para alcançar tal
objetivo baseiam-se no alongamento e fortalecimento dos músculos respiratórios, além da
adequação tônica.

A primeira orientação para aplicação das técnicas baseia-se na observação do padrão postural
que o paciente apresenta, e conseqüente padrão respiratório.
334
As técnicas não se constituem de manobras isoladas, mas de um manuseio dinâmico,
orientado pela biomecânica respiratória normal, caracterizadas por posicionamento
biomecânico adequado, alongamentos passivos, apoios manuais e mobilizações( ginga).

A aplicação adequada das técnicas deve resultar em redução do esforço muscular


ventilatório, remoção das secreções e diminuição das afecções respiratórias.

POSICIONAMENTO BIOMECÂNICO

O posicionamento adequado na postura sentada sobre o cavalo, desde que atendendo aos
componentes de alinhamento do centro gravitário, pelve na postura neutra e retificação de
tronco, facilitará uma melhor incursão respiratória, favorecendo a ventilação pulmonar.

ALONGAMENTOS PASSIVOS

Os alongamentos específicos a cada quadro clínico promoverão maior simetria torácica e


sinergismo toraco-abdominal.

APOIOS

Os apoios abdominais e toraco-abdominais têm por objetivo e função estimular e fortalecer


o músculo diafragma, melhorando a área de justaposição, aumentando o tônus e força dos
músculos abdominais para que estes desempenhem com eficiência suas funções inspiratórias
e expiratórias.

GINGA TORÁCICA

A ginga torácica tem por objetivo promover a mobilização de secreções broncopulmonares,


através da movimentação seletiva das costelas e da geração de melhor fluxo expiratório. É
geralmente utilizada após o alongamento dos músculos inspiratórios, quando o retrocesso

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elástico da caixa torácica aumenta, tornando-a mais maleável e permitindo a aplicação de
pressão sobre a parede torácica sem os efeitos de compressão dinâmica sobre as vias aéreas,
o que contribuiria para o fechamento precoce destas.

AMOSTRA

O estudo utilizou-se de uma amostra que constou de cinco pacientes com disfunção
neuromotora em diferentes idades, entre 03 e 09 anos, com distribuição topográfica do tipo
quadriplégica, com variações quanto ao tônus.

Todos os pacientes mantiveram a freqüência de passo e cavalo inicialmente escolhidos para


a patologia, estando todos na fase da hipoterapia, trabalho com carona do terapeuta.

Os pacientes em intervenção foram observados durante o período de um ano, sendo o método


aplicado somente quando estes apresentavam intercorrências pulmonares. 335
Durante os episódios de comprometimento respiratório, foram observadas na ausculta
pulmonar de todos os pacientes presença de ruídos adventícios e diminuição ventilatória.
Utilizou-se da ausculta pulmonar e mensuração da freqüência respiratória como método de
mensuração, sendo estas realizadas antes e após o atendimento.

RESULTADO

Ao final dos atendimentos, foi notória a melhora da ausculta pulmonar e freqüência


respiratória em todos os pacientes.

Observou-se diminuição de 60% das intercorrências pulmonares durante o ano de


atendimento, calculando a média dos últimos dois anos, em 4 dos 5 pacientes.

REFERÊNCIAS

Souchard, Philippe. O Diafragma – Ed. Summus, 1989

Pinheiro, Mariangela. Reequilíbrio Toracoabdominal – Atualização em Terapia Intensiva Pediátrica


– Ed. Interlivros, 1996

Edwards R. H. T., Faulkner J. Structure and function of the respiratory muscles: The thorax, part
A, New York, Marcel Dekker, 1986

Umphred, Darcy Ann. Fisioterapia Neurológica – Ed. Manole, 1994.


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

336
A EQUOTERAPIA COMO TRATAMENTO ADICIONAL NA
AQUISIÇÃO DE UM MELHOR ALINHAMENTO DE TRONCO EM
PORTADOR DE PC DO TIPO QUADRIPLEGIA ESPÁSTICA
MODERADA UTILIZANDO A CIF COMO BASE PARA AVALIAÇÃO
E ELABORAÇÃO DE ATIVIDADES - RELATO DE CASO

Autora: Manuela Vieira - Brasil


Co-autora: Mariana Maia

Este relato de caso tem como proposta verificar a importância da utilização da equoterapia
na reabilitação de um paciente de 4 anos, portador de paralisia cerebral (PC) do tipo
quadriplegia espástica moderada, visto que este tipo de tratamento beneficia tanto a parte
motora como a pscicossocial.

O paciente foi acompanhado a partir de uma avaliação baseada na Classificação


Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) da Organização Mundial de
Saúde (OMS) e adaptada para crianças com PC, onde, através de uma função
predeterminada foram analisados e quantificados os ganhos nos sistemas neuromotor e
músculo-esquelético do paciente, utilizando-se da equoterapia como um tratamento de
suporte.

O enfoque principal do tratamento foi o tronco, visando a melhor alinhamento biomecânico,


ativação e controle, tendo em vista que a criança com PC possui um mecanismo de reação
postural insuficiente por apresentar atraso do desenvolvimento sensoriomotor, sendo
imprescindíveis o controle dos movimentos e a estabilidade do tronco.

A CIF tem como objetivo geral proporcionar uma linguagem unificada e padronizada como
um sistema de descrição da saúde e de estados relacionados a ela. Essa classificação registra
o estado funcional da pessoa portadora de deficiência.

A versão da CIF divide o sistema de classificação em cinco componentes: a função corporal XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
e a estrutura do corpo relacionam-se com deficiência; a atividade social e participação social
retratam a incapacidade; e os fatores ambientais registram o impacto sobre a incapacidade,
quantificando os aspectos positivos e negativos.

Por ser uma classificação ela é utilizada como modelo para a avaliação da incapacidade em
muitos contextos e na reabilitação permitirá que a pessoa seja periodicamente reavaliada.
Cabe ressaltar que ela não mede doenças, e sim as capacidades do indivíduo.

Com base na CIF, a PC pode apresentar conseqüências variadas. No que se refere à função
de órgãos e sistemas, geralmente interfere no funcionamento do sistema neuromotor e
músculo-esquelético, e neste nível, as características associadas a esta patologia incluem
distúrbios de tônus muscular, postura e movimentação voluntária. Além das deficiências
337
neuromotoras e musculoesqueléticas, a PC pode resultar em incapacidades, ou seja, limitações
no desempenho de atividades funcionais.

Na avaliação do paciente constaram coletas de dados, observações clínicas, capacidades


funcionais mais elevadas, limitações funcionais mais importantes e deficiências globais
(relacionadas ao órgão ou sistema). Cabe aqui enfatizar que na versão original da CIF todos
os sistemas são considerados e neste trabalho foram analisados somente os sistemas
neuromotor e músculo-esquelético.

Além disso, foi feita uma análise do paciente sobre o dorso do cavalo, observando o nível de
capacidade de autonomia do mesmo, tanto do ponto de vista físico quanto emocional.

A partir da observação e análise dos dados obtidos, foi estabelecida uma função simbólica,
que foi dirigir um caminhão utilizando o bambolê como volante, e por meio dela foram
observadas as deficiências primárias e secundárias da criança, sendo traçado um plano de
tratamento baseado nos componentes de movimentos necessários para a realização da função
proposta, utilizando-se de atividades lúdicas.

O paciente foi acompanhado por uma equipe de quatro fisioterapeutas e um auxiliar-guia,


sempre com duas auxiliares-laterais. Houve ainda acompanhamento multidisciplinar externo
de hidroterapia e fisioterapia convencional.

O cavalo escolhido foi um puro sangue inglês, de freqüência baixa, o que diminui o estímulo
proprioceptivo que é transmitido ao paciente, sendo assim mais adequado para a criança
espástica. Além disto é um animal longilíneo, o que facilita a abdução do quadril no momento
da montaria.

O tratamento foi realizado no Núcleo de Equoterapia Country Side em Piratininga, Niterói,


Rj, no período de seis meses. No total, foram realizadas 24 sessões de meia hora de duração
cada.

Em cada sessão foram mensurados os tempos de realização adequada da função e esta foi
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repetida em todas as sessões para fins comparativos, o que tornou possível obter melhor
comparação do alinhamento do tronco em tempos diferentes.

Para mensurar os ganhos obtidos foram cronometrados os tempos que o paciente conseguiu
realizar a função proposta na postura adequada. Estes tempos foram cronometrados a partir
da 9ª sessão, quando o paciente conseguiu permanecer por 5 segundos na postura adequada
com apoio da terapeuta em caixa torácica. Para isso foi utilizada a tabela de mensuração a
seguir:

338
Tabela de mensuração dos tempos de realização adequada da função*
Número da Ajuda dada Tempo de
sessão de pela realização
atendimento terapeuta. da função
9° Em caixa torácica 5 seg
10° Em caixa torácica 6,5 seg
11° Em caixa torácica 7 seg
12° Em caixa torácica 10 seg
13° Nos cotovelos 12 seg
14° Nos cotovelos 12,2 seg
15° Nos cotovelos 13,5 seg
16° Nos cotovelos 14 seg
17° Nos cotovelos 15 seg
17° Sem ajuda 5 seg
18° Nos cotovelos 15,3 seg
18° Sem ajuda 4 seg
19° Nos cotovelos 15 seg
19° Sem ajuda 5 seg
20° Nos cotovelos 17 seg
20° Sem ajuda 5,77 seg
21° No esterno 13,4 seg
21° Sem ajuda 4,98 seg
22° No esterno 15,6 seg
22° Sem ajuda 5,1 seg
23° No esterno 15,3 seg
23° Sem ajuda 5,8 seg
24° No esterno 15,4 seg
24° Sem ajuda 5,7 seg
* Na contagem dos tempos foram levados em consideração os reajustes
posturais feitos pelo paciente durante a execução da tarefa.

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CONCLUSÃO

A presente pesquisa revelou, mediante a análise dos dados obtidos e da constatação de que
o paciente realiza atendimento de reabilitação há pelo menos quatro anos, que a equoterapia
foi um agente facilitador para a aquisição de um melhor alinhamento biomecânico, ativação
e controle de tronco na postura sentada, proporcionando, contudo, melhor desempenho do
paciente. Estimulou-se dessa maneira a autoconfiança, a melhora do relacionamento
interpessoal e da qualidade de vida do paciente em questão. Cabe salientar que a utilização
da CIF como base para a avaliação e elaboração das atividades foi de fundamental importância
no que se refere ao acompanhamento funcional do paciente.

339
ENSINANDO E MANTENDO CAVALOS
NO PROGRAMA TERAPÊUTICO

Autora: Mary L. Longden - Australia

Um programa terapêutico, recreacional ou esportivo é somente tão bom quanto os cavalos e


pôneis utilizados. Cabe ao comitê administrativo perceber a importância de apoiar o
treinamento e a manutenção dos cavalos. Os cavalos são seres vivos e como os humanos não
permanecem constantes em seu peso, tonicidade muscular e forma física sem alimentação e
exercitação corretas.

Não é aceitável dizer que tanto trabalhadores pagos quanto voluntários não têm tempo
para treinar os cavalos. Não é uma opção. É vital e uma consideração necessária quando
planejando grades horárias. Centros que têm horários de treinamento específicos para seus
cavalos percebem que eles permanecem sãos/firmes e contentes quando são ensinados
regularmente. Os cavaleiros são capazes de cavalgar muito mais independemente do que
em cavalos não treinados.

Há dois aspectos:

• o treinamento do cavalo;
• a forma física e o desenvolvimento muscular e manutenção.

Eles são igualmente importantes e podem ser incorporados na mesmas sessões de treinamento.

Novos cavalos precisam ser acostumados aos cavaleiros com deficiências. Eles então precisam
ser treinados para o programa geral. Depois que eles estão confiantes e obedientes, podem
ser treinados para cavaleiros individuais.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Há muito debate sobre o perfil no qual o cavalo deve trabalhar. Se o cavalo é para estar
confiante no programa, e portanto seguro para nossos cavaleiros, ele deve estar num perfil
que não lhe cause desconforto. Se no cavalo for permitido cavalgar em um perfil de ‘cabeça-
para-baixo’, ele ficará com a coluna dolorida. Os cavalos vêm de todas as formas, tamanhos
e idades, e um perfil precisa ser considerado para cada cavalo individualmente.

Cavalos e voluntários vêm aos programas de uma variedade de históricos, experiências e


treinamento. Nossos cavaleiros variam muito em tamanho, habilidade e ambição. Há muitas
variáveis para fazer regras rápidas para o treinamento. Deve haver ambos um programa de
treinamento geral e planos individuais de treinamento para cada cavalo.

O cavalo ideal é obediente, move-se livremente, é constante em seu perfil, leve às mãos e
suave em seus músculos costais. Ele será capaz de interpretar a ajuda de cavaleiros ou
manuseadores. Terá uma boa musculatura nas costas, para não ficar machucado com
cavaleiros sem equilíbrio ou assimétricos. Este é o objetivo. Sem um objetivo você certamente
não alcançará resultados.
340
O treinamento dos voluntários é um exercício contínuo, já que novos voluntários juntam-se
ao programa e os preexistentes desenvolvem melhores habilidades.

Há sempre debate sobre se um cavalo deve ter somente um treinador ou ser capaz de adaptar-
se a diferentes pessoas. Pessoalmente, eu acredito que o treinador inicial deveria trabalhar
com o cavalo até que o treinamento se estabeleça. No entanto, se houver um choque de
personalidades, mude o treinador.

A condução lateral se tornou meu método de treinamento favorito para os cavalos


terapêuticos. Eu tenho percebido que muitos voluntários com algum conhecimento eqüestre
aprendem boas habilidades rapidamente. Trabalhando com os cavalos eles não são
cavalgados, não tendo a carga/tensão extra nas costas. Os cavalos aprendem a ir para a
frente bem e num perfil circular. Quando os cavalos são treinados em grupo, é divertido e
pode ser competitivo para os manuseadores. É um ambiente de aprendizado ideal para
manuseadores iniciantes, já que eles podem trabalhar com cavalos experientes e também
aprender métodos eficazes dos treinadores mais experientes que estarão trabalhando com
os cavalos inexperientes ou difíceis. Muitos instrutores não seriam capazes de cavalgar ‘na
marcha, mas eles podem desfrutar da sensação de ter um cavalo trabalhando ‘com’ eles
quando conduzindo corretamente.

As pessoas podem aprender habilidades úteis de manuseio com as quais podem então usar
com seus próprios cavalos. Voluntários que não são adequados para cavalgar podem ainda
sentir-se envolvidos nos trabalhos de treinamento e exercitação do cavalo.

A teoria da correta condução de cavalos é a mesma de quando cavalgando. Eles devem:

• ir para a frente com um comando;


• manter o movimento no tempo e ritmo requisitado;
• parar com um leve comando;
• virar com um leve comando;
• ir confortavelmente em qualquer trajeto que lhes seja pedido.

Quando ensinando um novo comando ao cavalo, por exemplo preparando-o para um

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


cavaleiro paraplégico quem usa dois chicotes em vez das pernas, use o novo comando
primeiro e depois siga com o antigo. Continue repetindo o novo comando e então o velho
até que o cavalo interprete que o novo comando é similar ao antigo. Repita o novo comando
apenas mais algumas vezes e, se isso obtiver êxito o cavalo acaba de aprender uma nova
maneira de fazer algo. Não importa quanto tempo um cavalo leva para aprender um novo
comando. O que é importante é que o aprendizado tenha ocorrido de maneira correta.

Muitos de nossos cavaleiros usam comandos de virar diferentes. Quando incialmente


treinando um cavalo para o programa, ensine-o de maneiras diferentes –rédeas abertas,
rédeas viradas como as usadas na vestimenta, guiar as rédeas no pescoço com a mão esquerda
e com a mão direita. Quando usando voluntários ou instrutores numa sessão de treinamento
baseada na equitação, cavalgue num quadrado. Uma vez que o cavalo tenha aprendido os
diferentes comandos de virada, veja se os cavalos conseguem virar com um comando diferente
em cada canto (do quadrado).

341
Há três tipos diferentes de condução com os quais o cavalo deve ser familiarizado. O aspecto
principal é que o cavalo mantenha-se indo para a frente em qualquer perfil que lhe seja
pedido. Isso pode ser aprendido das seguintes maneiras:

• nivele com a cabeça quando há um ajudante lateral por trás;


• ao ombro quando há somente uma pessoa naquele lado;
• nivele com o ombro do cavaleiro quando ensinando habilidades independentes de
equitação.

Há também perfis diferentes. O cavalo pode estar:

• livre com o nariz de fora;


• em um perfil baixo e circular;
• em um perfil ‘de trabalho’;
• em um perfil recolhido.

Quando sendo trabalhado do chão em um perfil circular, as rédeas podem estar:

• sobre o pescoço com as mãos do treinador em posição de cavalgar em cima da parte


mais alta das costas do cavalo, entre os ombros;
• sobre o pescoço com as mãos do treinador embaixo da cabeça do cavalo.

Quando ensinando pôneis é muito eficaz ter o braço mais próximo às costas do cavalo na
área mais alta. A rédea exterior pode ser usada eficazmente para controlar o passo e o perfil.

O treinamento pode ser feito em grupo. Isso é divertido para os treinadores de cavalo e mais
fácil para o treinador-chefe organizar. Os treinadores menos experientes podem aprender
observando os outros. Cavalos e treinadores de níveis diferentes podem todos trabalhar
juntos. É divertido fazer pequenas competições, como conduzir o cavalo por uma serpentina
de três voltas mostrando diferenças de flexão e curvatura. Isso é um grande motivador para
os treinadores, e eles desfrutam o desenvolvimento de suas habilidades e o sentimento de
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

que o cavalo anda corretamente.

Mary L. Longden
BHSI, M.Sp.Ed.

Longhope Lodge,
95 Berry Lane, Bunyip, 3815,
Victoria, Australia.
Email: <longden@sympac.com.au>

342
NO COMEÇO HAVIA UMA LIGAÇÃO

Autor: Brigitte Martin - France


Co-autor: Dominique Darques

LIGAÇÃO

A teoria da ligação encontra sua origem na etiologia animal. Em 1935, K. Lorenz começou
observar o fenômeno da impressão que é um comportamento inato, irreversível, que ocorre
desde o nascimento da criança. A criança segue o primeiro objeto em movimento que percebe,
o que quer que este objeto seja, mas isso geralmente é adequado e é representado pela mãe.
Em mamíferos o olfato entra em jogo primeiro. A mãe lambe seu jovem ainda impregnado
com o cheiro do seu líquido amniótico e assim ela pode reconhecê-lo formalmente. É um
impulso e comportamento de reforço recíproco.

O potro rapidamente entende que suas patas podem achar apoio no chão e que ele pode se
mover empurrando com as pernas posteriores e guiando com as da frente. A exploração do
lugar de vida começa com formas de movimento mantendo a mãe como o marco central. O
potro se move inicialmente num raio pequeno. Assim nascem suas primeiras ações
locomotoras de equilíbrio e orientação.

BOWLBY (1958-1980) foi quem fez a ligação entre a ligação animal e a humana, e cria uma
nova teoria psicanalítica. De acordo com ele, a ligação humana e o laço emotivo mantém
aptidões inatas que se mostram quando a mãe as solicita.

A TEORIA DA LIGAÇÃO E A EQUOTERAPIA

a) A teoria da ligação

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


A teoria da ligação não está reservada a crianças de 0 a 3 anos. Ela toca a todos porque ela
intervém por toda a vida.

‘A ligação vai do berço ao túmulo’ –John Bowlby.

Ligação é um sistema inato de programação (é uma necessidade fundamental como comer


ou dormir), que vem com o bebê em direção à sua figura de ligação e então em direção à sua
figura secundária de ligação.

A figura de ligação é qualquer pessoa que se empenha numa interação animada, durável e
social e que responde aos sinais da criança. Essa é a razão pela qual esta pessoa geralmente
é a mãe.

343
criança Figura de
Ligação

A princípio geneticamente programada, a ligação é fixada e enriquecida pelo social. A ligação


é baseada em comportamentos de procura da proximidade da figura de ligação, especialmente
em situações de alarme ou angústia.

Comportamentos ativos: aproximar-se, seguir, agarrar.


Dirigem a criança em direção à figura de ligação (FL).

Os comportamentos mais típicos são os de aversão: grito e choro. Eles trazem “a FL –Figura
de Ligação às crianças.”

Comportamentos de sinalização: vocalizações e sorriso


que trazem “FL” em direção à criança para interação
positiva.

A proximidade restaurada com a criança, cada vez que ela necessita, confirma sua idéia
que sua “FL” está disponível para ela e que ela merece isso. Esta proximidade, esta confiança
na disponibilidade da mãe, a capacitará então a sentir-se segura e portanto ela não precisa
ativar seu sistema de ligação.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Esta desativação capacita a ativação do seu sistema de exploração do ambiente. De sua base
de segurança, a criança pode estar interessada, por exemplo, em brinquedos e, quando for
mais velha, sair fisicamente. No mais leve sobreaviso, a criança dá a volta e retorna para
perto de sua “FL”, que, da base de segurança, torna-se um refúgio de segurança.

Base de
segurança exploração

Refúgio de
segurança busca pela proximidade

344 b) Noções de ligação na equoterapia


Na hora de um pedido de cuidado, emanando da família ou do paciente em si, há uma
situação de alarme ou angústia que traz esta família ou este paciente para ser consultado.
O terapêuta, recebendo este sofrimento, toma parte no acordo da base de segurança que
vai favorecer a aliança terapêutica. Representando uma base de segurança, o terapeuta
capacita os pacientes a recordar os aspectos dolorosos de sua vida ou expressar sua atual
psiqué. Ser uma base de segurança signnifica ser de confiança, atento, empático, gentil (nos
dois significados…com as duas direções do termo), para favorecer o processo de ligação
e destrancar o sistema de exploração, porque, como acabamos de ver, estes dois sistemas
são proximamente interligados.

Base de segurança
terapêutica exploração

Refúgio de segurança
terapêutica busca pela proximidade

Na equoterapia, propomos várias situações de relacionamento que podem causar tensão


ou alarme e que podem reativar o sistema de ligação, desde a presença do cavalo, que é um
animal freqüentemente raro no ambiente próximo do paciente.

Terapeuta Paciente
Cavalo

Nossa estrutura terapêutica e nossa maneira de conduzir o paciente na sua descoberta do


outro são de primeira importância.

confiáveis
Temos que ser suficientemente consistentes para nos tornamos uma base de segurança. XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

receptivos
sensíveis

Demonstrando através de nossa disponibilidade que o paciente merece ser escutado e


ajudado. Com esta base de segurança adquirida, o paciente pode ativar seu sistema de
exploração, permitindo-se fazer várias experiências de relacionamento, com o cavalo, com
o mundo à sua volta…

De acordo com as patologias e necessidades do paciente, o terapeuta e o cavalo acompanham


ou solicitam o paciente em suas descobertas. De acordo com os estudos mais recentes sobre
ligações, o perfil dos pais que, mais freqüentemente que as mães, se movimentam, vão com
a criança, apoiam-na e a ajudam em sua exploração do mundo.
345
Ao passo que com as mães, a criança parte da base e volta, e os pais acompanham-na (isto
não existe com o cavalo):

Mãe Retorno
Exploração Pai e criança

Criança

“O pai entra no psiquismo da criança diretamente pelos canais sensoriais de comunicação,


da mesma maneira que a mãe. Ele está submisso/submetido às mesmas leis biológicas”
(Boris Cyrulnick)

Na equoterapia, nós também capacitamos pacientes a viver experiências corpóreas que são
acompanhadas por emoções. Tomamo-las em conta para restituí-las verbalmente aos
pacientes e dar significado a suas experiências reais. Isso é o que a figura de ligação (FL) faz
que são as fontes mais significativas para interpretar as crianças e dar um significado à
emoção da criança, que não pode/consegue metabolizá-la ainda (função alfa, conceito de
BION).

c) As competências básicas:

AINSWORTH (1973-1979) estudou qualidades da ligação e situações que envolvem uma


ligação segura ou insegura. Na França, H.MONTAGNER estudou várias ligações e
comportamentos ligados a elas. Ele define as competências básicas como uma nova
ferramenta que possibilita a análise da organização original e as interações que resultam
dela.

Trabalhamos com crianças que sofrem com deficiências pesadas: sensoriais, físicas e/ou
mentais. Suas deficiências significam uma precoce disfunção de relacionamento. O sofrimento
e a ruptura são significantes. A equoterapia propõe um novo ponto de encontro para crianças
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

e pais quando tomam parte na terapia. Esse lugar possibilita experiências multissensoriais.

1. Constante atenção visual

Esta é uma base essencial ao estabelecimento e


desenvolvimento de várias funções.
O « olho-no-olho » torna possível imergir num
banho de som, produção lingüística e vocal, e
ativa os processos cognitivos.
A atenção visual da criança, em conjunto, envolve
o olhar da mãe.
A exploração visual apoia uma ligação pluralista
(criança, parente).
346
A leitura diferenciada das emoções e afetos transmitidos pelo olhar e pelo rosto capacita a
adaptação das emoções entre os vários parceiros.

2. O traço para a interação

Através de contato corporal próximo ou distante, a criança reage por comportamentos que
induzem reações em favor dos outros parceiros. As emoções percebidas e afetos mobilizam
a todos e interpretações ou representações apoiam o acordo emocional.

Estes momentos de contato corporal com o cavalo ajudam a reviver as interações desde
cedo, em situações mais satisfatórias. A questão é uma criação e pesquisa comuns. Então um
acordo é possível entre a criança e o terapeuta ou o parente presente (Stern).

3. Comportamentos de relacionamento

Estes são todos os comportamentos percebidos como apropriados para com o outro: sorrisos,
júbilos, carícias, apontar de dedos, agarrar do corpo, abraços. A equoterapia é um espaço
muito propício para experimentar estes comportamentos. O cavalo está, freqüentemente,
no meio das demonstrações de afeto. Estes comportamentos carregam interações sociais e
restauram uma confiança mútua.

4. Uma organização gestual dirigida e estruturada

Isto é o agarrar e apreender dos objetos. Capacita a organização gestual com a adaptação
de tom. Vemos isso no cuidado com o corpo do cavalo e na introdução de atividades de jogo
inventadas pelo paciente. Isto o capacita a tornar-se ciente de sua capacidade de ação.

5. A imitação

A imitação direta, e depois a adiada, envolve


esquemas motores. O cuidado dado aos cavalos,
trabalho em liberdade ou montaria, são
momentos quando os atos dos parceiros podem

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


ocorrer em espelho. Se a isopraxia tráz à tona
uma imitação inconsciente, o terapêuta pode usá-
la para ajuda à imitação.

CONCLUSÃO

Encontro após encontro, interações são feitas, um acordo entre o paciente, o cavalo e o
terapeuta – ou o parente – é executado, permitindo a possibilidade de reafirmação de uma
ligação e um vínculo seguros. A comunicação é restaurada numa procura pela compreensão
mútua. Essa é a razão pela qual o terapeuta deve deixar a iniciativa motora ao paciente. A
atitude benevolente do terapeuta contribuirá à expressão espontânea e à autenticidade de
cada um. O espaço terapêutico sentido como bases de segurança abaixará o nível de ansiedade
de separação.
347
Quais são os diferentes elementos que podem diminuir a ansiedade de separação?

Mecanismos psíquicos em terapia são estudados por muitos autores. As neurociências


contribuem para responder a esta pergunta. De fato, uma substância foi notada como
biologicamente ativa na noção de paternalidade/paternidade e funções de segurança:
ocitocina. Ela dá partida ao circuito de recompensa e este é liberado quando a criança
retoma, fisicamente, o contato com sua mãe (Pierrehumbert).

Sua função foi sublinhada em tratamento para


relaxamento também, como sendo central em
toda estimulação dos outros hormônios ou
neurotransmissores (Kersting Uvnas-Moberg).
Podemos propor a hipótese que, em um toque
corporal, em satisfatório afinidade afetiva, o
circuito de recompensa é ativado. Então a
inibição da ação poderia ser atenuada e ajudaria
o paciente a satisfazer-se.

REFERÊNCIAS

COLLOQUE de l’hôpital Bichat. (2005). L’attachement. Paris

CYRULNIK, B. (1989). Sous le signe du lien. Paris : Hachette.

Fondation pour l’enfance (2005). L’attachement. Lettre de la fondation pour l’enfance.

http://www.fondation-enfance.org/final/publications/Lettre46/lettre.htm

LORENZ, K. (1984). Les fondements de l’éthologie. Paris : Flammarion.

MILJKOVITCH, R. (2001). L’attachement au cours de la vie. Paris : PUF.

MONTAGNER, H., STEVENS, Y. (2003). L’attachement. Des liens pour grandir plus libre.
Paris : L’Harmattan.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

PIERREHUMBERT, B. (2003). Le premier lien. Paris : Odile Jacob.

_____________ , B. (2005). Amour et attachement. Conférence du CIRSAM. Dijon.

348
EQUOTERAPIA PARA CRIANÇAS COM
MÚLTIPLAS DEFICIÊNCIAS

Autor: Laurent Bailly - France

DEFINIÇÃO DE MÚLTIPLAS DEFICIÊNCIAS

“Pessoas com múltiplas deficiências são afetadas por inúmeros


fatores de interação que combinam função motora prejudicada com
severo ou profundo prejuízo mental, resultando em extrema restrição
de sua autonomia, capacidade de percepção, auto-expressão e
formação de relacionamentos.”

Etiologia das múltiplas deficiências

Essas crianças sofreram sérios danos cerebrais cedo, que causaram múltiplos distúrbios
mentais e severos obstáculos para o desenvolvimento psicológico. O dano pode ter ocorrido
durante ou como resultado de:

- Maturação cerebral
- Organogênese
- Complicações pós-parto
- Parto
- Genética
- Fertilização

As desvantagens específicas das crianças com múltiplas deficiências XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Numerosos distúrbios ocorrem como reultado de múltiplas deficiências, e essas por sua vez
podem gerar fraquezas, também como obstáculos aos seguintes tipos de desenvolvimento:

- Mental
- Psicológico
- Motor
- Comunicativo
- Fisiológico
- Cognitivo
- Social
349
Obstáculos ao desenvolvimento mental

Falta de autonomia motora (global)

Inabilidade de ter experiências motoras e espaciais


Falha na apropriação do espaço

Impossibilidade de estruturar o sistema mental

Obstáculos ao desenvolvimento psicológico

Inabilidade de segurar/pegar objetos e usar ferramentas


Inabilidade de desenvolver movimentos relacionados às necessidades básicas
individuais

Manutenção do status e identidade dos neonatos

Obstáculos ao desenvolvimento motor

Imobilidade Corporal

Retração muscular e dos tendões


Declínio na noção de espaço
Postura física inadequada à apropriação do ambiente próprio

Postura de retração mental

Obstáculos ao desenvolvimento comunicativo

Distúrbios neurológicos e pós-efeitos

Deterioração do sistema fonatorio –phonatory- (físico e mental)


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Expressividade perturbarda
Reações/ respostas prejudicadas

Declínio ou desaparecimento das interações

Obstáculos ao desenvolvimento fisiológicos

Prejuízo das funções naturais

Deglutição inadequada
Não-absorção
Distúrbios Digestivos
350
Incontinência
Desidratação, subnutrição

Fragilidade, vulnerabilidade, osteomalacia

Obstáculos ao desenvolvimento cognitivo

Faculdades mentais subdesenvolvidas ou não desenvolvidas


+ Imaturidade psicológica
+ Falha na apropriação do próprio ambiente
+ Falta de interações
+ Vulnerabilidade fisiológica
= Severos obstáculo à aquisição de conhecimento

Obstáculos ao desenvolvimento social

À luz de todas as fraquezas e prejuízos mencionados anteriormente, contato social normal


é improvável.

E ainda assim contato social está na raiz do desenvolvimento dos outros aspectos de uma
pessoa.

Nós devemos nos lembrar de que como seres sociais, as pessoas constroem suas próprias
personalidades no contexto de seus relacionamentos com os outros.

O círculo vicioso autoconsolidante


Prejuízo fisiológico

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Prejuízo Mental
Prejuízo Motor

Prejuízo Psicológico
Prejuízo Cognitivo

Prejuízo Social

351
Como equipes multidisciplinares respodem

Devido à ampla gama de deficiência observadas, equipes multidisciplinares se propõem a


responder a diferentes conjuntos de problemas combinando suas perícias.

Cada especialista, trabalhando em seu campo, faz sugestões relevantes ao cuidado e apoio
do paciente.

Um grande número de serviços e códigos de prática são portanto necessários.

Cada um desses profissionais visa uma área específica mas sempre em ligação com uma
abordagem multidisciplinar. É vital que se perceba a criança como um todo e não reduzi-la
a um conjunto de problemas para os quais cada especialista tem uma perícia específica (e
portanto soluções específicas).

Aqui também, todavia, temos que combater o perigo de reforçar, e então piorar o problema
inicial:

“Através de suas relações com os outros e com o mundo em geral, as crianças com múltiplas
deficiências são passíveis de serem encaradas como pacientes em vez de pessoas”.

Lista das respostas fornecidas

1. Equipamento
2. Banhos de imersão
3. Psicomotricidade
4. Fonoaudiologia
5. Adaptação ergonômica
… e…

Equoterapia para crianças com múltiplas deficiências


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Equoterapia para crianças com múltiplas deficiências não é mais uma panacéia do que
qualquer outra terapia.

Todavia, ela oferece vantagens específicas as quais queremos contar aqui.

Equoterapia ajuda as crianças a deixarem para trás por um período a restrição da cadeira
de rodas ou outro equipamento, e encoraja o envolvimento corporal: uma nova visão de
suas fronteiras e imagem corporal.

O cavalo tem uma natureza amigável e sente a necessidade de se comunicar, mas isso não o
faz intrusivo, como um cachorro por exemplo. O cavalo está em busca de um relacionamento
respeitoso, no qual as interações aconteçam “à distância correta”.

Lidar com o corpo de uma criança com múltiplas deficiências, com a necessidade de
segurança, implica um superenvolvimento que pode ser sentido como sufocante. Num cavalo,
acima e a uma distância do terapêuta, a criança acha seu espaço pessoal.
352
Na equoterapia, crianças são atores nos seus próprios movimentos, lidando em vez de serrem
lidados. Em vez de liderar, o terapeuta segue.

Como se andando de triciclo, a equoterapia encoraja a lateralização.

Em termos de postura, sentar no cavalo dá à criança maior flexibilidade aos múculos adutores,
diminui a retração, torna mais fácil sentar-se ereta e reduz os movimentos atetósicos.
A postura também ajuda a melhorar a digestão, a qual é com frequência perturbarda nessas
crianças.

Sentando com o terapreuta, costas contra o estômago, relembra a segurança do ventre


materno, ajudando a criança a relaxar. Em um nível psicoafetivo, isso encoraja abertura ao
próximo e, em nível fisiológico, relaxamento muscular.

Apoiadas pelo terapeuta, as crianças adotam uma postura de maior abertura ao ambiente,
e começam a procurar o equilíbrio vestibular, anticipar movimento(s) e se tornam mais
conscientes de seus corpos ocupando o espaço.

Encontrando uma relativa liberdade de movimento novamente, as crianças procuram e


percebem experiências sensoriais e motoras / sensório-motoras relacionadas às suas
necessidades.

O prazer que as crianças experimentam as levam a procurá-lo de novo. Motivadas, elas


ficam eretas, se movem…têm desejos.

Tentando quebrar o círculo vicioso

Prazer Digestão
Desejos Absorção
Ação

Prejuízo Fisiológico

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Prejuízo Mental Prejuízo Motor

Espaço pessoal Flexibilidade


Liberdade Sentar-se ereto
Envolvimento

Prejuízo Psicológico Prejuízo Cognitivo

Interações Prejuízo Social Experiência

Abertura Relaxamento

353
CONCLUSÃO

Interações
Espaço pessoal
Ação
Flexibilidade
Sentar-se ereto
Relaxamento
Abertura
Liberdade
Anticipação do movimento
Experiência
Prazer
Desejos
Envolvimento corporal

…e carinho
... e e ...

Laurent Bailly, professor especialista, equoterapeuta, F.E.N.T.A.C., França


vingtdeux@laposte.net
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

354
Poster

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

355
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

356
EQUOTERAPIA E SEGURANÇA - DOIS AMIGOS SEGUROS

Autor: Jose Miguel Manzo Ruiz - C hile

OBJETIVO

Disponibilizar aos terapeutas de língua hispânica um manual de segurança baseado nas


experiências vividas na equitação e na equoterapia, focado na prevenção e baseado na ética
profissional.

METODOLOGIA
A prática da equoterapia significa, para muitas pessoas, uma alternativa inovadora de
tratamento e, simultaneamente, uma possibilidade de deixar a atmosfera rotineira da
reabilitação e entrar num mundo de comunicação e inter-relação social com amigos, sendo
o mais importante destes o cavalo. Para que esta amizade cresça e, simultaneamente, deixe
crescer as pessoas que procuram uma melhora em sua qualidade de vida, um trabalho de
coleta de experiências e conhecimento foi feito, focado na ética profissional e na prevenção
de acidentes na equoterapia.

A equoterapia é uma modalidade terapêutica que tem o propósito de obter benefícios físicos,
psicológicos ou sociais nas pessoas com necessidades especiais. Trabalhar com risco significa
pôr em perigo a integridade dos pacientes, portanto, esta atividade sem a correspondente
segurança não pode ser concebida.

Este manual é uma compilação do autor, baseado em 26 anos de experiência e trabalho,


reunindo experiências em particular na manipulação de cavalos, e oito anos de experiência
contínua em projetos de equoterapia. Tudo que é mencionado é conhecido por experiências
vividas ou transmissão direta de outros.

A responsabilidade do conteúdo nos assuntos que são expostos é obrigação do instrutor de


equoterapia e, em geral, vai diretamente para guiar aqueles que projetam em conformidade
com uma equipe multidisciplinar de equoterapia, como profissionais da equitação.

O conteúdo deste poster é uma parte do manual. Os assuntos que na opinião do autor têm XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
relevância maior aparecerão.

TERAPEUTAS, ASSISTENTES E VOLUNTÁRIOS QUE AMAM CAVALOS E NÃO TÊM


MEDO
Os componentes de uma equipe multidisciplinar de equoterapia devem ter condições
importantes para fazer esta atividade. Além de seu espírito para o serviço e vocação
filantrópica, seu amor para com os cavalos deve ser um sentimento necessário na execução
da equoterapia. Idealmente os que são dedicados a fazer isto devem sentir que trabalham
em seu passatempo, que eles fazem a tarefa que amam executar e, além do mais, seu contato
com os pacientes e os cavalos deve ser para eles uma atividade que estimula e causa
felicidade.

Não deve haver temor ao cavalo, mas precaução e respeito. O temor é insegurança e nesta
atividade essa é uma palavra que não é permitida. Um terapeuta com temor não pode 357
trabalhar, pois essa atitude é um problema para os demais (da equipe), que seguramente estarão
retidos em sua avidez para promover o crescimento pessoal do paciente. (foto/figura 1).

LOCAIS APROPRIADOS
O local apropriado para a terapia geralmente dependerá das condições climáticas, da área
geográfica onde será executada, geralmente será um clube ou centro de equitação, que assimile
a terapia a suas atividades. Idealmente o local deverá ter uma arena coberta, um retângulo
ou quadra e caminhos de terra.

A Arena
A arena com telhado é um lugar fechado, com uma forma retangular de 20 a 60 metros
quadrados aproximadamente, onde geralmente se trabalha quando as condições do tempo
tornam difícil trabalhar ao ar livre. Este lugar, minimamente, terá que ter as seguintes
condições:

– Uma estrutura forte


– Proteção correspondente para os fatores do clima (sol, vento e chuva)
– Chão macio ausente de pedras, tropeços ou elementos agudos
– Livre de cães e outros animais, no momento da terapia
– De superfície plana
– De dimensões, embora não-prescrito, mínimas 40 x 20 metros
– Com acesso à irrigação para evitar o pó em suspensão (foto 2)

Arena ou pátio
A arena ou pátio é um lugar fechado, ao ar livre, de medidas prescritas, no caso da arena, e
sem medidas estabelecidas no caso do pátio, que geralmente é menor que a primeira.

As condições deste lugar são semelhantes às da arena, com a diferença de que este não tem
um telhado, portanto será usado quando o tempo está bom. (foto 3)

Caminho de terra
A rota de terra é um lugar aberto, mas numa certa área, adequadamente delimitada com
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

cercamentos adequados (parede ou cerca de arame), de superfície plana e não ondulada,


com declives praticáveis, a serem montados pelos pacientes, idealmente com vegetação
abundante e arredores naturais atraentes, de modo a estimular o tratamento terapêutico.

Outros locais
Há outros lugares para o trabalho que são usados em diferentes atividades eqüestres e que,
devido a suas características, podem ser usados para a terapia, devendo ter as condições de
segurança necessárias; e, entre outras, nós encontramos as seguintes:
– Arena elíptica de salto a mão
– Arenas circulares ou tróias
– Meia-lua chilena de rodeio

OS FREIOS E AS RÉDEAS PARA GUIAR


Para guiar um cavalo, à mão ou montado, sempre se deve usar o freio bem colocado, com a
358 mordida e as rédeas correspondentes.
Às vezes, devido à confiança que há nos cavalos, por causa de sua docilidade e quietude,
normalmente é usado um manipulador de couro, para guiar o cavalo na terapia. Isto não é
correto e é um risco, já que o cavalo sem controle da mordida não é controlável caso se
assuste, ou ante uma simples queda por escorrego. (foto 4)

No caso de cavaleiros que guiam o cavalo, não é correto usar outro tipo de parada que não
o freio, como um bocal eqüino por exemplo, já que isto, manipulado por alguém que não
tem um domínio exato da tensão necessária, pode causar um pinote e o desequilíbrio pode
fazer com que o cavalo caia para trás com o cavaleiro em suas costas. (fotos 5 e 6)

RÉDEAS PARA GUIAR COM A MÃO


Para guiar o cavalo à mão, recomenda-se usar rédeas curtas. Podem ser de material sintético
(comumente chamada de cinto de racksack-corda de nylon). Estas devem ser feitas, já que
elas não serão achadas em nenhuma loja. A idéia é que, pendurando-as do freio posto no
cavalo, as rédeas estejam ao menos 20 centímetros longe do chão, evitando então que, por
uma negligência do condutor do cavalo, quando penduradas, não se emaranhem entre as
patas do cavalo, produzindo o escorrego e a queda do animal.(foto 7)

CALÇADO E ROUPAS ADEQUADOS PARA TERAPEUTAS E EQUIPE DE APOIO


Calçado
O calçado do terapeuta e da equipe de apoio (voluntários) deve ser resistente às pisadas do
cavalo. No inverno ou em climas frios sapatos fechados normalmente serão usados (botas
ou meias-botas), os quais são ideais como uma proteção. No entanto, no verão ou em climas
quentes, o habitual seria usar calçados leves e frescos como tênis (em nenhuma hipótese é
aceitável usar sandálias). Se tênis são usados, estes terão que ser suficientemente resistentes
para proteger o pé de uma pisada, considerando a dor e o perigo de uma ferida causada
pelo peso do cavalo apoiado nas suas patas ou pernas com ferraduras. Geralmente, e assim
deve ser, o chão dos lugares será uma mistura de areia e raspas, isto é, uma superfície muito
macia, ideal como medida de segurança em casos de queda. É muito difícil de andar nela, já
que sua moleza faz o andar muito cansativo, além do mais, se o calçado não é fechado, as
raspas entram nos sapatos ou no tênis, causando incômodo ao andar, por esta razão é
recomendado usar meias-botas confortáveis e macias. Uma experiência boa é o uso de meias-
botas com espartilhos. (foto 8)

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Roupas
As roupas devem ser confortáveis e leves, e devem permitir a montaria com a flexibilidade
de movimentos correspondente, ou caminhar a superfície da arena e outros locais comuns
de terapia.

Evite as roupas que se agitam com vento, cores ou tecidos brilhantes, uso de xales, casacos
longos e toda a roupa que não seja confortável e flexível, dificultando a liberdade de
movimentos.(fotos 9 e 10)

O PROCEDIMENTO PARA O DESMONTE DE EMERGÊNCIA


Sabe-se bem que a equoterapia deve estar ausente de riscos, pelo controle prévio do lugar e
das características dos cavalos que são usados, e é também necessário antecipar o que fazer
com o paciente em caso de uma disparada. A solução é lógica e não exige muita
argumentação, terá que ser quase instintiva, "desmontar o paciente ". Mas, como isto será
feito?
359
1º Antes do começo da sessão, se o trabalho será feito com um terapeuta e um terapeuta
assistente, o que dirige a terapia vai designar quem cuidará do paciente em caso de
emergência; geralmente será o que for mais alto e forte da equipe. O que foi
mencionado antes, logicamente, totalmente exclui o condutor do cavalo, que sempre
será encarregado do animal e em caso de disparada, de acalmá-lo e recuperar o
controle.
2º O condutor do cavalo deverá saber, claramente, que sua única direção de avanço
em caso de emergência é diretamente à frente.
3º Aquele que tem a responsabilidade de desmontar o paciente o fará
perpendicularmente à trajetória de marcha do cavalo, virando e mostrando suas
costas ao cavalo, como uma proteção para o paciente.

FAZER O CAVALO FLATULAR ANTES DE MONTAR

A alimentação do cavalo é baseada em verduras (aveia e grama) e isso implica que sua
digestão seja lenta e que o processo produza um inchaço da barriga pela acumulação de
gás. Geralmente, os cavalos que pertencem a clubes eqüestres permanecem em estábulos e
depois de comer sua porção, permanecem quietos nesse lugar, o que os impede de mover-se
para liberar a energia e os gases acumulados.

De acordo com o que foi mencionado previamente, é necessário, como uma medida de
saúde física e mental do rebanho que, ao menos uma vez ao dia, eles se movam ou "flatulem",
isto é, soltá-los num espaço aberto, de modo que eles possam correr para relaxar os seus
músculos e eliminar os gases acumulados nos intestinos, recebendo o último maior importância
no momento de trabalhar a terapia, já que é fundamental que os cavalos estejam confortáveis.
(foto 11)

O USO DE MANEQUINS OU BONECAS DE PANO PARA ENSINAR

O mais lógico ao ensinar técnicas de trabalho em equitação a terapeutas ou para assistentes


de terapeutas que começam na equoterapia, por meio de cursos, é trabalhar com bonecas de
pano, pois eles nunca praticarão com pacientes em uma lição, como seria dito em um
escritório, o trabalho primeiro será feito como um esboço.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Uma vez que eles dominem as técnicas com bonecas de trapo ou manequins, é possível
continuar a trabalhar com os mesmos estudantes, isto quer dizer, a prática em pares; só
quando os professores e instrutores de equoterapia estão seguros que os estudantes são
suficientemente capazes de trabalhar com os pacientes, o tratamento de reabilitação seria
projetado.(foto 12)

PRECAUÇÃO AO INCORPORAR PESSOAS COM ANTECEDENTES EM CRIMES


SEXUAIS

Na época de receber voluntários ou empregar pessoas para o serviço de manutenção dos


cavalos, é uma obrigação tomar a precaução de exigir referências e, se há dúvidas na questão,
referentes a antecedentes de abusos sexuais ou crimes com estas características, uma prova
de aptidão será aplicada junto a uma entrevista de um psicólogo. Se as dúvidas persistirem
e a pessoa já estiver empregada, o contrato será terminado. Ao lidar com voluntários, será
agradecida sua cooperação e será explicado a eles que sua presença não é mais necessária,
porque não há espaço suficiente para receber outras pessoas que desejem tomar parte desta
360 atividade.
ANÁLISE ELETROMIOGRÁFICA COMPARATIVA DO
RECRUTAMENTO MUSCULAR DE ERETORES LOMBARES
NA POSTURA PARADO E EM POSTURAS TERAPÊUTICAS
SOBRE O CAVALO AO PASSO

Autora: Rebeca de Barros Santos - Brasil


Co-autores: Fábio Navarro Cyrillo,
Mayari Ticiani Sakakura,
Adriana Pagni Perdigão, Camila Torriani

RESUMO

Introdução: Desde a antiguidade o cavalo vem sendo utilizado como um agente promotor da
saúde. Há alguns anos estudos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de comparar e
entender a semelhança biomecânica e anatômica entre o homem e o cavalo. Estudar e entender
os aspectos fisiológicos do corpo humano permite a aplicabilidade de seus conhecimentos
na reabilitação, para elaborar programas mais individualizados e efetivos para cada paciente.

Em diversos aspectos da reabilitação neurológica, as limitações físicas muitas vezes impedem


o paciente de adotar e manter a postura ortostática, o que dificulta o trabalho de ativação
muscular do tronco nestes pacientes. Para tanto, mudanças posturais durante a sessão de
equitação terapêutica objetivam ativar ou inibir o recrutamento muscular de diversas
maneiras. Baseando-se nestes conceitos, a eletromiografia de superfície aplica-se como técnica
de avaliação e mensuração do recrutamento muscular, mostrando quantitativamente os
estímulos neuromusculares que estão sendo transmitidos ao sistema nervoso central, através
do cavalo ao paciente montado, resultando em respostas específicas de controle postural.
Objetivo: Este estudo teve como objetivo analisar o recrutamento muscular dos músculos
eretores lombares em indivíduos saudáveis, comparando o recrutamento muscular necessário
para a manutenção da postura ortostática, e sua relação com o recrutamento para a
manutenção das posturas sobre o cavalo. Método: Foram selecionados 9 sujeitos, com idades
de 20 a 25 anos, sexo feminino, sem alterações neurológicas.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Para coleta dos dados utilizou-se eletromiógrafo de quatro canais da marca Miotec® e software
Myography®, eletrodos de cloreto de prata posicionados no ponto motor dos músculos eretores
lombares, posicionados de acordo com a técnica sugerida por Cram et al 1998. A velocidade
do passo do cavalo variou entre lento e acelerado, num percurso de 20 metros lineares. A
postura ortostática foi analisada por 30 segundos. Os dados obtidos forma analisados
considerando a média máxima de recrutamento em cada tarefa, de acordo com a análise do
Teste de Wilcoxon, com nível de significância em 0,05 (5%). Resultados: Os resultados são,
comparando os valores dos músculos requisitados medidos na posição ortostática, 18,78µV,
enquanto sentado no cavalo parado, tendo o sujeito sentado de frente, a média foi 20,83 µV,
e na posição dorsal 21,61 µV (p=0,206). No pico máximo do músculo requisitado, os valores
tomados na posição ortostático, de frente e na posição dorsal no cavalo foram,
respectivamente, 28,56µV, 39,83µV e 43,06µV (p=0,108). Entretanto com o cavalo ao passo,
a posição frontal obteve a média de 30,00µV, e na dorsal 56,89µV (p=0,001). Para o
recrutamento muscular o pico de valores obtidos na posição frontal e dorsal foi
respectivamente 57,11µV e 103,11µV (p=0.002). Discussão/Conclusão: No processo de
361
reabilitação, inibir ou facilitar padrões posturais é uma das bases para o sucesso terapêutico.
Vendo as várias capacidades físicas, nós questionamos se a média similar não existe, ela não
é considerada estatisticamente significativa no recrutamento muscular quando comparado
na posição parada e montado no dorso do cavalo, e tanto frontal quanto dorsal, no pico e na
média. Portanto, nós consideramos que estas posições não tiveram diferença estatisticamente
significante, o que mostrou ativação muscular semelhante no tronco quando sentado no
dorso do cavalo comparado ao da posição em pé no solo. Já comparado montado em diferentes
posturas, dados indicam a relação biomecânica entre a posição dorsal e frontal, considerada
satisfatoriamente significativa. Desta forma, nos podemos dizer que na posição dorsal nós
temos sempre, com maior intensidade, ativação muscular de eretores lombares.

Palavras-chave: Equitação Terapêutica, Controle Postural, Reabilitação

INTRODUÇÃO

Como todos os sólidos, o corpo humano está submetido às leis da gravidade. Segundo
teorema, “um corpo está em equilíbrio quando a vertical traçada a partir de seu centro de
gravidade cai na base de sustentação”. Quando esta vertical se encontra no centro da base
de sustentação, o corpo se encontra em equilíbrio estável. Quando se desloca de um lado ou
de outro, é um equilíbrio instável, que deverá evoluir no sentido de estabilizar-se quando a
retomada do equilíbrio for possível.

A freqüência dos desequilíbrios dinâmicos será dada em função do comprimento do passo e


da velocidade da andadura do cavalo. Analisando o deslocamento de um cavalo ao passo,
ao final do primeiro minuto, será possível obter quantas passadas foram realizadas, que
podem variar de 48 a 70.6

O cavalo ao passo exige do cavaleiro ajustes tônicos para adaptar seu equilíbrio a cada
movimento. Visto que cada passo do cavalo produz de 1 a 25 movimentos por segundo, em
30 minutos de terapia o paciente executa de 1.800 a 2.250 ajustes tônicos e 180 oscilações
por minuto, através das vibrações produzidas pelos deslocamentos da cintura pélvica.3,4
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

O ajuste do tônus postural é acionado através da estimulação constante do sistema vestibular.


Uma vez estimulado este sistema irá controlar o tônus postural através das reações de
endireitamento e equilíbrio do tronco. Segundo Bobath (1990), as reações de equilíbrio são
respostas automáticas complexas e altamente integradas às mudanças de postura e
movimentos, destinadas a restabelecer o equilíbrio alterado.

O sistema vestibular capta as alterações do equilíbrio através de uma estrutura chamada


canais semicirculares. Estes canais estão dispostos de modo bastante peculiar, dado que um
deles se dispõe seguindo um plano horizontal, captando variações espaciais neste plano,
como movimentos de rotação da cabeça. Outro canal semicircular se dispõe seguindo o
plano frontal, captando variações envolvidas neste plano, como os deslocamentos para a
direita e para esquerda. E o terceiro canal semicircular se dispõe no plano sagital, captando
informações envolvidas neste plano, ou seja, mudanças de flexo-extensão da cabeça.5

Assim, com o objetivo de manter a cabeça alinhada verticalmente, ao mesmo tempo em que
362 os olhos se alinham horizontalmente, o sistema proprioceptivo irá controlar estas constantes
perdas do centro de gravidade que o cavalo provoca a cada mudança de base de sustentação.
Com isto, o equilíbrio do tronco do paciente é trabalhado por desequilíbrios constantes
oferecidos pelo animal. Para que este trabalho muscular seja otimizado, e o processo de
reabilitação esteja direcionado a cada caso específico, realizar análise adequada é de suma
importância, qualificando ou especificando melhor a terapia com a postura adequada para
cada caso.

MÉTODO

Sujeitos

Participaram deste estudo 9 sujeitos, com idades entre 20 a 25 anos, sexo feminino, sem
alterações motoras. O critério de inclusão no estudo foi apresentar bom estado geral, sem
dores ou alterações posturais.

A montaria foi realizada em uma égua de 13 anos, sem raça definida. O espaço utilizado foi
um picadeiro de 20 X 60 metros, solo de areia.

Material

Para análise quantitativa dos resultados, foi utilizado aparelho de eletromiografia de superfície
da marca Miotec® e software Myography® com 4 canais.

Para montaria foi utilizada manta de atendimento, tipo “galope”, sem alças ou estribos.

Procedimento

A coleta era iniciada com a colocação de eletrodos circulares pré-geldados de cloreto de


prata Medtrace®, espaçados 2.5cm entre eles, sendo posicionados no ponto motor dos músculos
eretores lombares, de acordo com a técnica sugerida por Cram et al. 1998. Os sujeitos foram
observados primeiramente no solo, para então montarem no cavalo.

Todas as posturas foram coletadas no mesmo dia, sendo que a ordem da coleta foi,

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


respectivamente: em pé em solo cimentado, com o cavalo ao passo no qual o sujeito se
encontrava montado com o corpo direcionado para a frente, sempre tendo como referência
a cabeça do cavalo e de costas a cabeça do cavalo – dorsal. Com o cavalo ao passo rápido
foram coletadas as mesmas posturas, num percurso linear de 20 metros. A postura ortostática
foi mantida para coleta durante 30 segundos.

Durante este período os sujeitos se mantiveram por todo o tempo se sustentando sozinhos,
sem auxílio de qualquer terapeuta, porém ao lado havia dois terapeutas, para a segurança
do mesmo, e um condutor para o cavalo.

Para coleta dos dados, foi utilizado notebook conectado ao aparelho eletromiográfico, sobre
um suporte estável, porém móvel, que se manteve acompanhando lateralmente o cavalo
durante as coletas.

Para análise dos dados foi considerada a média do recrutamento muscular em cada tarefa.
O estudo foi baseado na análise dos dados obtidos do resultado da eletromiografia, a análise
estatística utilizada foi o Teste de Wilcoxon, qual possui nível de significância de 0,05 (5%). 363
RESULTADOS
Iniciamos comparando os valores para: Em pé versus Frontal versus Dorsal.
Média Pico
Em pé Frontal Dorsal Em pé Frontal Dorsal
Média 18,78 20,83 21,61 28,56 39,83 43,06
Mediana 15,5 15,5 16,5 26,5 28 28,5
Desvio Padrão 11,65 15,80 19,01 15,57 27,16 37,11
Limite Inferior 13,40 13,53 12,83 21,36 27,29 25,91
Limite Superior 24,16 28,13 30,39 35,75 52,38 60,20
p-valor 0,206 0,108

Averiguamos que não existe diferença média que seja considerada estatisticamente
significante entre “Em pé”, “Frontal” e “Dorsal”, tanto para Pico quanto Média. Assim,
consideramos que estas posições possuem um resultado médio estatisticamente igual, do
ponto de vista muscular, exigindo semelhantes graus de recrutamento muscular.

Média Pico
Frontal Dorsal Frontal Dorsal
Média 30,00 56,89 57,11 103,11
Mediana 25,5 47,5 47 75
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Desvio Padrão 21,40 44,92 39,20 89,81


Limite Inferior 20,11 36,14 39,00 61,62
Limite Superior 39,89 77,64 75,22 144,60
p-valor 0,001 0,002

364
Seguindo, vamos comparar os valores de Frontal versus Dorsal para o passo.
Concluímos que tanto para Média quanto Pico, existe diferença entre as posições que são
consideradas estatisticamente significantes. Desta forma, podemos dizer que na posição dorsal
temos sempre a maior média.

DISCUSSÃO

Com este estudo, temos duas comparações com fatores estáticos e dinâmicos em cada uma.
Primeiramente a postura ortostática foi analisada, observando-se então quanto estaria a
postura sentada sobre o cavalo parado, próximo ou não desta. Com os dados obtidos, vimos
que não houve estatística significância nestas comparações, sugerindo que o esforço muscular
necessário para a manutenção de ambas as posturas é semelhante.

Na aplicabilidade clínica este dado nos leva a crer que, nos casos em que a postura ortostática
não é possível de ser adotada, o cavalo beneficiará o trabalho de fortalecimento e controle
postural, uma vez que os músculos estudados são agonistas desta atividade e o recrutamento
muscular, de acordo com a coleta eletromiográfica, é correspondente ao se tratar de ativação
muscular.

Na Lei das Compensações, “para que nosso corpo fique em condições de equilíbrio, qualquer
desequilíbrio deverá ser compensado por um desequilíbrio inverso, de mesmo valor e no
mesmo plano”.1 Não há desequilíbrio segmentar sem compensação. Assim, a contração
reflexa ao desequilíbrio é o mecanismo fisiológico de proteção à queda.

Partindo do animal parado, e iniciando o seu deslocamento pela pata posterior direita, o
membro seguinte a se deslocar será a pata anterior esquerda. Assim, o sentido de aceleração
será sempre póstero-anterior.

A compreensão do vetor de aceleração constante do passo do cavalo se aplica quando


observamos os resultados comparatórios da montaria nas posturas frontal e dorsal. A estatística
significativa favorece a postura dorsal, com maior recrutamento muscular, onde tivemos p-
valor 0,001.

Para um tratamento mais direcionado e com maior grau de dificuldade, o paciente

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montado de costas no cavalo terá que manter uma ativação muscular muito mais
alta, mesmo quando comparado ao ortostatismo, em que a média encontrada foi,
respectivamente, 56,89 µV e 18,78 µV.

No presente trabalho, em que foram avaliadas através da eletromiografia as posturas sobre


o cavalo, comparadas ao ortostatismo, pôde-se observar que a postura sentado de costas no
cavalo exige maior recrutamento muscular, sendo este o posicionamento mais indicado
no trabalho de controle de tronco. Através destes achados, torna-se viável cada
terapeuta aplicá-los na sua prática clínica, avaliando o paciente e os objetivos motores
a serem alcançados em cada conduta.

REFERÊNCIAS

BIENFAIT, M. “Os Desequilíbrios Estáticos: Filosofia, Patologia e Tratamento Fisioterápico” 3ª


edição, ed. Summus, São Paulo, 1995 365
BOBATH, K. “Uma base neurofisiológica para o tratamento de paralisia cerebral” 2 ed. São
Paulo:Manole, 1990

CATALANO, Y.M. “A Equoterapia: histórico, abrangência, bases e fundamentos”, apostila ANDE


Brasil, São Paulo, 2003

CIRILLO, L.C. “Fundamentos doutrinários da Equoterapia no Brasil”, apostila ANDE Brasil,


São Paulo, 2002

DOUGLAS, C.R. “Tratado de fisiologia aplicado à ciência da saúde” 4ª ed. São Paulo: Robe
Editorial, 1999

MEDEIROS, M., DIAS, E. “Equoterapia Bases & Fundamentos” Rio de Janeiro: Revinter, 2002
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

366
ANÁLISE ELETROMIOGRÁFICA DA INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE
MUSCULAR DE ERETORES LOMBARES NA LATERALIDADE DO
TRONCO DURANTE A EQUITAÇÃO TERAPÊUTICA

Autor: Rebeca de Barros Santos - Brasil


Co-autores: Fábio Navarro Cyrillo,
Mayari Ticiani Sakakura,
Adriana Pagni Perdigão,
Érika Martins Quartim,
Camila Torriani

RESUMO

Introdução: O cavalo proporciona diversos estímulos neuropsicomotores durante as sessões


de equitação terapêutica. O processo de reabilitação visa a otimizar e direcionar estes
estímulos para o melhor aproveitamento motor para cada caso tratado, treinando e facilitando
as Atividades da Vida Diária. Recentemente, mensurar e comprovar estes estímulos vindo
do passo do cavalo é um importante caminho para dar bases terapêuticas benéficas para o
processo de reabilitação geral. A eletromiografia se torna um instrumento capaz de nos
mostrar como estes estímulos são interpretados pelo sistema nervoso central.

Objetivo: O objetivo deste estudo foi comparar o recrutamento muscular em indivíduos


saudáveis, analisando a influência da ativação durante a manutenção do equilíbrio lateral
do tronco, em sujeitos na postura lateral sobre o cavalo ao passo.

Método: Utilizaran-se aparelho de eletromiografia de superfície da marca Miotec® e software


Myography® de 4 canais, utilizando eletrodos de cloreto de prata pré-geldados da marca
Medtrace®, espaçados 2,5 cm entre si, posicionados nos pontos motores dos músculos eretores
lombares, de acordo com a técnica sugerida por Cram et al 1998. A velocidade do passo do
cavalo manteve-se lenta, num percurso de 20 metros linear. Os dados obtidos forma analisados
considerando a média máxima de recrutamento em cada tarefa, de acordo com a análise do
Teste de Wilcoxon, com nível de significância em 0,05 (5%).

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Resultados: Na postura lateral direito no cavalo, durante o passo lento, o músculo eretor
lombar direito teve um recrutamento médio de 97.11µV e 128,67µ do lado esquerdo (p=0,044).
N postura lateral esquerdo, o recrutamento médio foi de 82,0µV e 94,0µV para o eretor
lombar esquerdo (p=0,049). Considerando o recrutamento médio do músculo na mesma
posição montando com o cavalo parado, os valores foram 50,78µV para o lado direito e
62,11µV para o esquerdo (p=0,477) na posição lateral direito do cavalo. Na postura lateral
esquerdo do cavalo, os dados foram 42,0µV para o lado direito, e 50,56µV para os eretores
lombares esquerdos (p=0,514).

Discussão e conclusão: O recrutamento muscular é de suma importância para uma possível


aplicabilidade destes dados na criação de procedimentos terapêuticos. Além disso, é
importante estabelecer e direcionar a melhor seqüência de mudança de postura, fazendo a
sessão mais específica possível, para cada paciente. Baseado numa larga gama de variações
de postura diferentes que podem ser executadas no dorso do cavalo, é essencial que o terapeuta
tenha conhecimento específico sobre o processo fisiológico envolvido na manutenção dessas
posições. Durante o processo de reabilitação, inibir ou facilitar padrões de postura é o conceito
367
mais importante para o sucesso terapêutico. Conclui-se que há uma diferença significativa
nas médias obtidas quando o paciente se encontra na postura lateral direito e esquerdo no
dorso do cavalo. Este recrutamento assimétrico guiará os terapeutas para posicionar os
pacientes com desvios laterais do tronco. Conseqüentemente, isso sugere que, escolher as
posturas sobre o dorso do cavalo durante a montaria, é essencial para o recrutamento direto
do músculo, melhorando os desvios de postura tridimensionais, e dando assim modos de
comprovar que os dados estatísticos podem beneficiar a saúde do paciente junto com a
equoterapia.

INTRODUÇÃO

Existem três sistemas sensoriais que provêm informações relativas ao endireitamento, ou


seja, à posição em relação à gravidade e ao meio ao redor. Esses sistemas são o vestibular, o
proprioceptivo e o visual. O sistema vestibular provê as informações relativas à posição em
relação à gravidade e ao movimento linear e rotatório da cabeça. Os proprioceptivos são
aqueles associados à articulação e aos músculos axiais, e fornecem informações sobre o
movimento dos segmentos corporais de uns sobre os outros. Já o visual fornece informações
sobre a posição do corpo em relação ao meio externo (Torriani, C. et al, 2005).

O equilíbrio é uma reação inconsciente contra uma instabilidade, modulada pelo Sistema
nervoso central, onde os sistemas motores cerebelar, reticular e principalmente o vestibular
excitam os músculos apropriados para a manutenção do equilíbrio adequado (Guyton, 1996).
A cada passo do cavalo o centro de gravidade do paciente é defletido da linha média,
estimulando as reações de equilíbrio, o sistema vestibular é assim repetidamente solicitado
estimulando continuamente suas conexões entre os canais semicirculares onde, as células
ciliares e os otólitos captam as oscilações da endolinfa provocadas pelos movimentos da
cabeça através do cerebelo, tálamo, córtex cerebral, medula espinhal e nervos periféricos em
ambos os sentidos, ascendente e descendente (Ganança et al, 1999).

O passo é a andadura básica na equoterapia, é uma andadura ritmada e cadenciada a


quatro tempos, e ainda simétrica, lenta e basculante. Simétrica porque as variações da coluna
vertebral em relação ao cavalo são simétricas, basculante em conseqüência dos movimentos
do pescoço e a quatro tempos porque os membros se elevam e pousam sucessivamente sempre
na mesma ordem ( Stashak, 1994).
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Utilizando-se destes princípios foi possível elaborar um estudo eletromiográfico de superfície


dos eretores lombares, de maneira a avaliar a ativação desta musculatura com indivíduos
em postura lateral direita e esquerda sobre o cavalo ao passo.

MÉTODO

Sujeitos

Fizeram parte deste estudo nove sujeitos, com idades entre 20 e 25 anos, sexo feminino, sem
alterações motoras. O critério de inclusão no estudo foi apresentar bom estado geral, sem
dores ou alterações posturais e não atletas, para que não houvesse algum tipo de interferência
nos resultados.

O estudo foi realizado em uma égua de 13 anos, sem raça definida, em um picadeiro de 20
X 60 metros, solo de areia.
368
MATERIAL

Para análise quantitativa dos resultados, foi utilizado aparelho de eletromiografia de superfície
da marca Miotec e software Myography® com 4 canais.

Para o estudo foi utilizada manta, tipo “galope”, sem alças ou estribos.

A coleta foi iniciada com a colocação de eletrodos circulares pré-geldados de cloreto de


prata Medtrace®, espaçados 2.5cm entre eles, sendo posicionados no ponto motor dos músculos
eretores lombares, de acordo com a técnica sugerida por Cram et al. 1998. Os indivíduos
foram observados primeiramente no solo, para então montarem no cavalo.

PROCEDIMENTO

Todas as posturas foram coletadas no mesmo dia, sendo que a ordem da coleta foi,
respectivamente: com o cavalo ao passo, no qual o indivíduo se encontrava montado em
postura lateral direita e esquerda, com manutenção de postura ereta exigida verbalmente
pelo avaliador, num percurso linear de 20 metros.

Durante este período os sujeitos se mantiveram por todo o tempo se sustentando sozinhos,
sem auxílio de qualquer terapeuta, porém ao lado havia dois terapeutas laterais para a
segurança dos pacientes e um condutor para o cavalo.

Para coleta dos dados, foi utilizado notebook conectado ao aparelho eletromiográfico, sobre
um suporte estável, porém móvel, que se manteve acompanhando lateralmente o cavalo
durante as coletas.

Para análise dos dados foi considerada a média do recrutamento muscular em cada tarefa.
O estudo foi baseado na análise dos dados obtidos no resultado da eletromiografia; a análise
estatística utilizada foi o Teste de Wilcoxon, qual possui nível de significância de 0,05 (5%).

RESULTADOS

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Através desta tabela pôde-se comparar as lateralizações. As comparações dar-se-ão levando
em consideração os lados direito e esquerdo.
Média Pico

D E D E

Lateral D Lateral E Lateral D Lateral E Lateral D Lateral E Lateral D Lateral E

Média 50,78 42,00 62,11 50,56 85,44 72,11 119,56 87,89


Mediana 48 42 53 52 70 63 74 85
Desvio Padrão 24,90 26,83 41,72 27,24 48,04 46,39 93,22 40,14
Limite Inferior 34,51 24,47 34,85 32,76 54,06 41,80 58,65 61,67
Limite Superior 67,05 59,53 89,37 68,35 116,83 102,42 180,46 114,11
p-valor 0,407 0,374 0,767 0,440
369
Concluímos que em nenhuma das posições existe diferença média entre lateral D e lateral E
que possa ser considerada estatisticamente significativa.

Compararemos novamente a lateral D versus a lateral E para o movimento de passo.

Média Pico

D E D E
Lateral D Lateral E Lateral D Lateral E Lateral D Lateral E Lateral D Lateral E
passo passo passo passo passo passo passo passo

Média 50,78 42,00 62,11 50,56 85,44 72,11 119,56 87,89


Média 97,11 82,00 128,67 94,00 160,44 124,89 229,22 155,78
Mediana 96 80 115 98 152 111 253 157
Desvio Padrão 37,83 31,52 57,08 38,24 72,48 48,34 132,67 64,54
Limite Inferior 72,40 61,41 91,38 69,02 113,09 93,31 142,55 113,61
Limite Superior 121,82 102,59 165,96 118,98 207,80 156,47 315,90 197,94
p-valor 0,110 0,066 0,139 0,110
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Novamente, concluímos que não existe diferença média entre lateral D e lateral E que possa
ser considerada estatisticamente significativa.

Analisando os dados obtidos, comparamos as seguintes posturas, iniciando pelos resultados


da comparação dos movimentos para a posição fsrontal:
370
Média Pico
Frontal Lento Frontal Lento
Média 30,00 57,11
Mediana 25,5 47
Desvio Padrão 21,40 39,20
Limite Inferior 20,11 39,00
Limite Superior 39,89 75,22
p-valor 0,009 0,107

Concluímos que existe diferença média estatisticamente significativa entre as posturas para
a posição lateral, não somente nos valores de pico como também nos valores de média, onde
inclusive, o pico de ativação lateral é de fato maior que o de frontal lento.

DISCUSSÃO

Com o objetivo de alcançarmos resultados mais neutros, a análise destas atividades


musculares foi realizada inicialmente com indivíduos sem alterações neurológicas, analisando
assim apenas variações de recrutamento muscular, sem possíveis interferências de espasmos
musculares ou desvios posturais.

Com isto, pudemos observar a interferência das transferências de postura em relação à


variação significante de recrutamento muscular, quando comparada com a postura frontal.

O alinhamento corporal está associado ao ajuste tônico e à organização biomecânica (Bienfait,


1995). Com o deslocamento do centro de gravidade, o sistema vestibular é solicitado ativando
a musculatura de sustentação de tronco e cabeça, os estímulos proprioceptivos articular de
pressão, somatossensorial e visual também contribuirão para o ajuste postural adequado,
estabilizando os membros superiores e cintura escapular para que possam existir movimentos
seletivos e controlados promovendo alinhamento e estabilidade, facilitando a execução da
função (Medeiros M., 2003).

O estudo da atividade muscular durante os movimentos do passo do cavalo é de suma


importância para o fisioterapeuta, podendo este, a partir destes dados, realizar as mudanças

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posturais de forma mais direcionada a cada paciente no decorrer das sessões.

REFERÊNCIAS

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Torriani C. et al. Estudo comparativo do equilibrio de pacientes com disfunção cerebelar e com
seqüelas de acidente vascular encefálico. São Paulo, 2005. 371
A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM DO CAVALO NA TERAPIA

Autor: Maylu Botta Hafner - Brasil


Co-autores: Thaís Pezzato Gonçalves of Oliveira;
Ana Paula Margarido Caldas; Eveli Maluf;
Cláudio Maluf Haddad

INTRODUÇÃO

Reconhecer a importância da imagem do cavalo na terapia tem grande importância para


alcançarmos melhor desenvolvimento. Cada animal tem uma imagem diferente para cada
cavaleiro deficiente, e cada cavaleiro deficiente chega com uma imagem preestabelecida que
deve ser desmitificada durante a hipoterapia. Essa mudança de ponto de vista do cavaleiro
deficiente deve ser trabalhada em direção a tornar possível uma melhor progressão da
hipoterapia.

O cavalo é visto de formas diferentes, de acordo com a cultura em que está inserido, possuindo
significados variados, que vão desde “morte” até “vitória”. A imagem do animal vem também
aliada a algumas de suas características, como cor, gênero, estatura, entre outras.

Uma imagem previamente estabelecida pode vir cheia de medos, desconfianças e bloqueios,
impossibilitando um trabalho multidisciplinar, no qual a privacidade entre o praticante e o
cavalo se torna necessária.

O presente trabalho pretende mostrar a importância da imagem do cavalo e a importância


de o terapeuta conhecer essas representações na terapia, com o propósito de escolher o
animal correto a ser trabalhado em cada união.

METODOLOGIA

Sujeito
R.S. é um homem de meia idade, com deficiência cerebral, mas capaz cognitivamente, que
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possui graduação universitária. Ele tem como característica predominante sua independência
nas atividades diárias.

Local
Esalq-Usp Projeto de Hipoterapia, localizado em Piracicaba - SP - Brasil.

Recursos Utilizados
Dois cavalos treinados para hipoterapia, um de cada sexo, um cobertor, um cabresto e uma
guia longa.

Procedimento
O praticante iniciou seu tratamento em março de 2005 e continua, atualmente, a participar
de sessões semanais de 30 minutos com estratégias previamente estabelecidas pela equipe.

O processo terapêutico é dividido em três estágios, e no último, mudanças nos materiais


372 foram feitas para um maior progresso do praticante. Os estágios são: aproximação, montaria
dupla e montaria individual. A mudança de material foi a alternação de dois animais de
sexos diferentes. A troca dos animais se deu sem nenhuma escala. Isto se justifica pelo fato
de que o cavaleiro deficiente apresentou medo do animal escolhido para sua terapia (macho).

Os dados foram colhidos com relatórios diários durante 15 sessões, comportamentos e


conversas foram analisados, evidenciando mudanças que vão além dos animais de diferentes
gêneros.

Aproximação: essa fase foi muito rápida devido ao entendimento dos cidadãos sobre os
benefícios trazidos pelo uso do animal. Na primeira sessão, o cavaleiro deficiente já foi capaz
de montar, mas pediu que fosse seguido pelo terapeuta. O animal era observado a certa
distância pelo cavaleiro deficiente. Este não queria falar ou tocar o cavalo. O animal era um
macho.

Montaria Dupla: essa apenas apareceu no final da primeira sessão e no começo da segunda.
Durante essa fase, R. afirmou várias vezes que seu desejo era montar sozinho. O animal era
uma fêmea.

Montaria Individual: R. apresentou-se calmo durante as sessões seguintes, realizando os


exercícios e falando suficientemente. Esse colóquio referiu-se apenas ao contato com o
terapeuta, ignorando o contato com o cavalo. Demonstrou confiança em suas conversas e
comportamento.

Na sexta sessão o cavalo foi trocado novamente, voltando o mesmo macho usado na sessão
de aproximação. Nesse momento, R. disse não confiar em tal cavalo, justificando que era
“grande demais” e “macho”. Ele disse que preferia montar a fêmea por que o novo cavalo
tinha movimentos mais fortes se comparado ao anterior. Durante as atividades desenvolvidas
com facilidade nas sessões anteriores, R. não conseguiu relaxar, apresentando contração
dos membros e segurando com força a alça do cobertor. Ele expressou-se dizendo “oh meu
Deus” durante a terapia.

Na sessão seguinte, a fêmea foi usada para verificar qual seria a reação do praticante quanto
ao retorno do animal. Ao ver o animal, de imediato reconheceu o cavalo, e disse estar com
saudade de casa. R. estava relaxado, realizou as atividades estabelecidas, falou o suficiente,
comportamento contrário ao que apresentou na sessão anterior. Antes de descer do animal,

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o acariciou e abraçou pela primeira vez.

A partir da oitava sessão passamos a usar o animal macho, uma vez que percebemos a
necessidade de o praticante desmitificar a imagem de macho mau e perigoso e fêmea
boazinha. Nessa sessão R. ainda demonstrou não gostar do animal, dizendo que era “uma
criança” e que o cavalo era “bravo”. Ao final dessa sessão, estratégias foram estabelecidas
para modificar a imagem do animal perante o cavaleiro deficiente. Atividades como falar
com o animal, pedir permissão para realizar as atividades enquanto montando, comandar e
se mostrar agradecido, tudo para que se estabelecessem laços entre ele e o animal.

Nas sessões seguintes, expressões orais e comportamentais demonstraram um progresso na


relação de ambos, e a conseqüente eliminação da imagem de macho malvado. Os exercícios
foram realizados com um pouco de dificuldade, mostrando a confiança de R. no animal
durante as atividades. Algumas conversas demonstraram a mudança da imagem dos cavalos
para R., indicando se sentir seguro, dizendo “Eu amo esse animalzinho” e informando que
373
achava o cavalo mais manso e mais lento, e até não acreditando que fosse o mesmo animal
que montara na primeira sessão. Nestas sessões, as demonstrações de afeto estiveram sempre
presentes.

RESULTADOS

No início da terapia, percebeu-se um grande medo do animal macho por parte do praticante,
que não foi observado quando próximo ao animal fêmea. Foram criadas atividades para
estabelecer laços entre os animais e o praticante, na tentativa de remover a imagem de macho
malvado.

Como resultado tivemos uma grande aproximação do praticante e do animal macho,


removendo a imagem anterior. Esta aproximação e o estabelecimento de laços afetivos entre
o animal e o praticante foram de extrema importância para o desenvolvimento global da
terapia.

A aproximação tornou possível um nível maior de confiança no cavalo e, assim, um


relaxamento, que é necessário para a realização das atividades de diferentes áreas, atingindo
o progresso esperado.

CONCLUSÃO

Pelos comentários pode ser vista a imagem do cavalo que é trazida pelo deficiente e com essa
informação se pode trabalhar para produzir as condições necessárias para um melhor
desenvolvimento da hipoterapia.

REFERÊNCIAS

CHEVALIER, J. and GHEERBRANT, A. Dictionary of the Symbols. R.J. José Olímpio, 1997.

MEDEIROS, M. and DAYS, E. Hipotherapy - Bases and Foundations. Publisher Revinter


Ltd., p.7. 2002.
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LERMONTOV, T. Psicomotricidade in Hipoterapia. Ideas and Letters. p.97. 2004.

374
ANÁLISE COMPARATIVA DE POSTURA EM TERRA E NA
EQUITAÇÃO DE UM PACIENTE COM PARALISIA CEREBRAL

Autor: Mayari Ticiani Sakakura - Brasil


Co-autores: Rebeca de Barros Santos,
Fábio Navarro Cyrillo,
Adriana Pagni Perdigão,
Camila Torriani

Introduction: Cerebral Palsy appears frequently in neurological rehabilitation. It’s


characterized mostly by a motor disturb during the first childhood as a result of a central
nervous system disorder. The therapeutic horse riding is a complement to the rehabilitation
program, being the integration with this animal a help to patients in their neuropsychomotor
reorganization. Objective: To analyze and compare the muscular behavior of a 8 years female
patient, with cerebral palsy with lesion topography as dystonic tetraparetic characterized
by motor incoordination and muscle deficit of lumbar erectors muscles, in different positions
on the horse, comparing to land seated position. Methods: It’s being realized skin asepsis
with an alcohol field cotton before starting collect data with Electromyography surface
MIOTEC® and a software Myography with 4 channels, bipolar circle surface silver electrodes
Medtrace® spacing=2.5cm, was positioned at erector lumbar muscle motor point, according
to the technique suggested by Cram et al. (1998). The analyzed postures were: seated on a
chair without back and arms support, on a stand and walking horse, in frontal seated position;
always during 30 seconds in a straight direction. Results: It’s being observed a muscle
recruitment of 12,37µV on the right side and 9,10µV on the left side when the subject seated
on chair. When seated on stand posture, muscle recruitment was 32,10µV on the right and
46,00µV at left. When the horse was walking, the muscle activity was 57,70µV on the right
side and 67,33µV on left. Lumbar D Lumbar E Seated on chair 12,37 µV 9,10 µV Seated on
horseback stopped 32,10 µV 46,00 µV Seated on horseback walking 57,70 µV 67,33 µV
Discussion and conclusion: Based on upon results, muscle recruitment was more significant
when seated over horseback, while this kept a regular gait, when compared to the other
postures. When therapists aims to work trunk motor control, know with posture can recruit
better these muscle groups is essential to get to a better therapeutic result. Understanding

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and analyzing the biomechanical processes of therapeutic horseback riding, rehabilitation
procedures can be guide for a safer and more effective motor improvement. From now on
it’s necessary to get to the bottom of this line of research.

INTRODUÇÃO

Os primeiros relatos de paralisia cerebral foram descritos em 1843 por William John Little,
um cirurgião inglês, que a definiu como uma patologia ligada a diferentes causas e
características, principalmente por rigidez muscular. O autor caracterizava como uma lesão
que paralisava crianças no primeiro ano de vida, causando enrijecimento e espasticidade
muscular em suas pernas e em menor nível nos braços. Essa doença foi caracterizada por
vários anos como Doença de Little, e atualmente é conhecida como paralisia cerebral a
diplegia espástica. Little sugeriu que crianças que nasciam após um parto complicado e
tendo como resultado a falta de oxigênio tinham prejudicados os tecidos sensíveis do cérebro
responsáveis pelo controle do movimento (Diament, Cypel, 1996, NINDS, 1997, Rotta, 2002). 375
“A paralisia cerebral é uma alteração da postura e do movimento, permanente mas não
imutável, resultante de uma desordem no cérebro, não progressiva, devido a fatores
hereditários, eventos ocorridos durante a gravidez, parto, período neonatal ou durantes ou
dois primeiros anos de vida” (Bobath, 1997).

A criança com paralisia cerebral apresenta como principal o distúrbio motor, que por muitas
vezes leva à dificuldade na marcha por diversos fatores, entre eles a falta de controle do
tronco e desequilíbrio tônico.

No subgrupo distônico a desordem motora é caracterizada por uma súbita mudança


generalizada e anormal do tônus muscular. Especialmente, aumento no tônus muscular dos
extensores do tronco induzidos por estímulo emocional ou mudanças na postura dos músculos
do pescoço em movimentos e atos intencionais. Nesses casos, ocorre sempre uma forte
atividade reflexa primitiva que interfere no esforço motor voluntário. Esses pacientes também
têm uma tendência repetitiva de assumir posturas torcidas e manterem-se distorcidos, no
mesmo padrão estereotipado (Aicardi, Bax, 1992).

Os tetraplégicos são os grandes encefalopatas, cujo desenvolvimento psicomotor é


praticamente nulo. Permanecem deitados com os membros superiores em flexão e os inferiores
em extensão. Conseguem, quando o fazem, no máximo, permanecer sentados com apoio,
atados ao espaldar do leito ou da cadeira de rodas. Não conseguem manipular objetos ou se
alimentarem sozinhos (Rosemberg, 1995).

Segundo a Associação Americana de Hipoterapia, equitação terapêutica é definida como


um termo que se refere à utilização dos movimentos do cavalo como uma ferramenta por
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e profissionais de distúrbio de fala no tratamento
de debilidades físicas, limitações funcionais e deficiências físicas em pacientes com disfunção
neuro-músculo-esquelética. Esta ferramenta é utilizada como parte de um programa de
tratamento integrado cujo objetivo é atingir resultados funcionais (Baker, Benjsmin, 2001).

Walter e Vendramini (2000) enfatizam que a equoterapia emprega as técnicas de equitação


e atividades eqüestres para proporcionar ao praticante benefícios físicos, psicológicos,
educacionais e sociais. Essa atividade exige a participação do corpo inteiro, contribuindo,
assim, para o desenvolvimento, a conscientização do próprio corpo, o equilíbrio, o aperfeiçoamento
da coordenação motora, a atenção, a autoconfiança e auto-estima. Assim, a equoterapia é
um método de reabilitação e educação que trabalha o praticante de forma global.
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Permitir àquele que está a cavalo com fins terapêuticos viver por toda parte em melhores
condições neuromotoras, descobrir o prazer, relacionar-se com o outro, ganhar autonomia e
independência cada vez maiores, compatíveis com sua deficiência, tais são as possibilidades
que lhe oferece a terapia eqüestre (Lallery, 1988).

Potenciais elétricos do músculo podem ser detectados por meio de eletrodos de superfície no
tecido muscular, que correspondem ao sinal eletromiográfico detectado no monitor
(Basmajian, 1963; Basmajian, 1975; Smith et al, 1997; Binder-Macleod, 2001; Low e Reed, 2001).

A eletromiografia de superfície (EMGs) é o registro da atividade elétrica da membrana do


músculo em resposta à sua ativação fisiológica (Andrews et al, 2000; Kubler et al, 2001;
Robinson et al, 2001; Torriani e Cyrillo, 2003).

Os eletrodos são colocados sob a pele, captando a soma da atividade elétrica de todas as
fibras musculares ativas. Caracteriza-se por ser um método não invasivo e de fácil execução,
sendo largamente utilizado em áreas como o estudo cinesiológico e neurofisiológico dos
376
músculos superficiais.
MÉTODOS

Sujeitos
Participaram da coleta uma égua, sem raça definida; e uma paciente portadora de paralisia
cerebral do tipo tetraparesia distônica, do sexo feminino, com 8 anos de idade, atendida
previamente pela equitação terapêutica. A paciente não apresentava nenhuma restrição
para a montaria, como no caso de instabilidade atlanto-axial ou luxação de quadril. O
ambiente no que foi realizada a coleta era um picadeiro retangular aberto, com a pista
totalmente coberta por areia fofa, onde, durante o tempo de coleta, o ambiente não impedia
o movimento do cavalo.

Procedimentos
Foram realizados assepsia da pele com algodão embebido em álcool a 58%, colocação na
região do ponto motor do músculo eretor lombar, dos eletrodos circulares pré-geldados de
cloreto de prata da marca MedTrace® e captação do sinal mioelétrico com o aparelho de
eletromiografia de superfície de 4 canais da marca Miotec®.

O tempo da coleta foi de 30 segundos em cada postura, e o cavalo realizava 84 passos /


minuto. Durante este período o paciente se manteve por todo o tempo se sustentando sozinho,
sem auxílio de qualquer terapeuta; porém ao lado do paciente haviam dois terapeutas para
a segurança do mesmo, e um condutor para o cavalo.

Realizada em ambiente aberto e em movimento constante, tanto o eletromiógrafo quanto o


notebook utilizado para o armazenamento dos dados foram adaptados de modo que se
mantivessem estáveis, conectados aos eletrodos de superfície por um de cabo longo, ao mesmo
tempo que acompanhavam a marcha do cavalo.

O estudo foi baseado na análise dos dados obtidos do resultado da eletromiografia, sem
análise estatística por se tratar do estudo de um caso, além do fato de o objetivo do trabalho
ser analisar comparativamente o músculo eretor lombar nas diferentes posturas sobre o
cavalo em apenas um paciente. As posturas coletadas do paciente sobre o cavalo foram
respectivamente: sentado no banco sem o apoio de pés no chão, com o cavalo estático e em
movimento (passo) com o paciente de frente para o cavalo.

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RESULTADOS

Analisando a coleta eletromiográfica realizada na paciente do estudo de caso, sexo feminino,


8 anos de idade, foram observados os seguintes resultados:

TABELA 1: Dados da coleta eletromiográfica do músculo eretor lombar direito e esquerdo.

Posturas Eretor lombar D Eretor lombar E


Sentado no banco 12,37 9,10
No cavalo estático de frente 32,10 46,00
No cavalo ao passo de frente 57,70 67,33

377
DISCUSSÃO

No presente estudo de caso pôde-se observar por meio da eletromiografia de superfície, as


posturas sobre cavalo e do solo (tabela 1), onde ficou evidente, pelo grau de recrutamento
muscular, que o cavalo proporciona ao indivíduo maior desequilíbrio quando está ao passo,
se comparado ao cavalo estático e ao solo, provocando assim maior recrutamento muscular
do músculo eretor lombar.

Walter e Vendramini (2000) enfatizam que, sobre o cavalo, do paciente é exigida a


participação do seu corpo inteiro, contribuindo, assim, para o desenvolvimento, a
conscientização do próprio corpo, o equilíbrio, o aperfeiçoamento da coordenação motora,
a atenção, a auto-confiança e auto-estima. Assim, a equitação terapêutica é um método de
reabilitação e educação que trabalha o praticante de forma global.

A oscilação provocada pelo movimento tridimensional do cavalo pode produzir na cintura


pélvica do paciente montado movimentos correspondentes ao da pelve durante a marcha
(Fleck, 1992).

Os constantes desequilíbrios provocados pelo passo do cavalo junto ao seu movimento


tridimensional levam o paciente a buscar reações de equilíbrio para se manter sobre o cavalo.
Gusman e Torre (1998) definem que as reações de equilíbrio servem para ajustar a postura,
manter e recuperar o equilíbrio antes, durante e depois o deslocamento do seu centro de
gravidade.

Então, além de beneficiar o equilíbrio, estabilizar a postura, restabelecer a desordem motora


do paciente, este ainda pode vivenciar a marcha; portanto, na terapia o paciente se beneficia
de muitos sentidos, obtendo melhor adequação postural, fortalecendo assim os músculos
que promovem a estabilização do tronco, no caso os eretores lombares.

Segundo Kandel; Schwartz e Jessel (1997) os músculos axiais (tronco) e apendiculares


(proximais) do homem são usados na manutenção do equilíbrio postural, enquanto os
músculos distais são utilizados para atividade manipulatórias.
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A finalidade preliminar da terapia dos pacientes com PC é de manter a postura ereta estática,
que é a base para outras atividades motoras mais complexas. A equitação terapêutica utiliza
o contrapeso do corpo, junto com a variedade de balanços, como as estimulações aplicadas
na pelve e ao corpo inteiro, desenvolve melhores reações do equilíbrio, melhora o controle
postural do tronco, ativa articulações da pelve e do quadril, resultando em uma melhor
adequação tônica (Bertoti, 1988).

É de suma importância salientar que pelo alinhamento gravitário homem/cavalo, consegue-


se acionar o sistema nervoso central, alcançando objetivos neuromotores diversos, tais como:
melhora do equilíbrio, ajuste tônico, alinhamento corporal, consciência corporal, coordenação
motora e força muscular. O paralelismo entre o andar humano e o andar do cavalo se
evidenciam pelo movimento tridimensional, favorecendo assim a construção da percepção
deste movimento (Medeiros, Dias, 2002).

O passo produz no cavalo e transmite ao cavaleiro uma série de movimentos tridimensionais,


378 que se traduz em plano vertical em um movimento para cima e para baixo e, no plano
horizontal, em um movimento para direita e para esquerda, segundo o eixo transversal do
cavalo, e segundo o eixo longitudinal, um movimento para frente e para a trás. Esse movimento
é completado por uma pequena torção de pelve do cavaleiro, que é provocada pelas inflexões
laterais do dorso do animal (Buchene, Savini, 1996 citado em Uzun, 2005).

Para o trabalho da equitação terapêutica, o passo é o andamento ideal; isto se dá a partir da


sua característica, sendo uma andadura rolada ou marchada, ou seja, sempre existe um ou
mais membros em contato com o solo; é simétrico, todo o movimento produzido de um lado
do animal ocorre de forma igual do outro lado, em relação ao eixo longitudinal; é lento, e as
reações que ele produz são mais lentas e duradouras. (Uzun, 2005).

Segundo Medeiros e Dias (2002) na marcha, o ser humano se locomove utilizando as suas
pernas alternadamente. Enquanto uma perna estiver na fase de sustentação, a outra se
encontra na sustentação dupla ou na fase de impulsão. O peso corpóreo desloca-se durante
a marcha para adiante (anteriormente) pelo deslocamento do centro de gravidade e, para
não cairmos, ocorre o passo, reconstruindo o equilíbrio. O tronco gira em torno do seu eixo
vertical, a cintura escapular e a da pelve se contrapõem, dissociando-se. Durante o ciclo da
marcha ocorre um deslocamento de peso de um lado para o outro, que corresponde no
adulto a aproximadamente 0,5 cm.

Na equitação terapêutica o tratamento do paciente é realizado de forma global, e por este


motivo devem ser estimuladas diversas posturas, algumas com objetivo de trabalho motor,
em especial neste caso fortalecimento muscular, outras com objetivo da vivência sensorial
por meio do contado do paciente com o cavalo, integrando sensorialmente ambos.

Kandel; Schwartz e Jessel (1997) abordam o fato de que os sistemas sensoriais fornecem
uma representação interna do mundo exterior, e uma das principais funções dessa
representação é guiar os movimentos que compõem nosso repertório comportamental. Esses
movimentos são controlados pelos sistemas motores do encéfalo e da medula espinal, o que
nos permite manter o equilíbrio e a postura, mover nosso corpo, nossos membros e olhos.

Kugler (1980), em seu livro Rudolf Steiner und die Anthroposophie, aborda a semelhança entre
o cavalo e o homem, recomendando o uso do animal para o equilíbrio da mente. O autor

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compara o andar do cavalo e os batimentos cardíacos do homem, observando que as batidas
dos membros posteriores do cavalo são mais fortes que as dos membros anteriores,
representando a sístole e a diástole, respectivamente.

O calor externo do cavalo é igual ao calor interno do ser humano, sendo este o único mamífero
que transpira no corpo todo, assim como o homem. Desta maneira o autor afirma que, pelo
seu tamanho e aspecto físico, o cavalo realmente induz o homem a se sentir potente, ao
mesmo tempo que é abrigado e aconchegado. Assim, quando o cavalo carrega o ser humano
em seu dorso, simula o embalo da pelve humana, transmitindo as sensações recebidas na
vida intra-uterina.

Como já foi mencionado anteriormente, o cavalo, além de proporcionar benefícios


terapêuticos motores ao paciente, proporciona também vivências sensoriais e psicológicas
através de sua temperatura corporal, altura e balanços, sendo assim a principal vantagem
sensorial do paciente sobre o dorso do cavalo a relação do ser vivo e animal.
379
CONCLUSÃO

Baseando-se nos resultados da coleta eletromiográfica do músculo eretor lombar, observamos


que o maior grau de recrutamento muscular dentre as diferentes posturas analisadas foi
com o paciente posicionado sobre o cavalo ao passo.

Wickert (1999) apresenta em seu estudo motivos históricos, psicológicos e físicos para o uso
do cavalo como terapia. Históricos, pois o cavalo vem acompanhando o homem em toda a
sua evolução e o tem carregado sobre o dorso na formação histórica de quase todos os países;
psicológicos, pois a sensação de força está ligada ao cavalo, pois o homem conquistou e
dominou seus adversários sobre o dorso deste; e físicos, pois o movimento tridimensional e
multidirecional realiza deslocamentos em várias direções, tornando a equitação terapêutica
diferente de qualquer outro método de reabilitação física e mental.

Portanto a equitação terapêutica se mostra neste caso um ótimo recurso terapêutico ao tratar
de posturas, tendo em vista que o movimento tridimensional provocado nas oscilações do
cavalo provoca desequilíbrios que desencadeiam uma série de contrações musculares reflexas,
em especial do músculo eretor lombar, que em conjunto a outros músculos mantém o
indivíduo sobre o dorso do cavalo.

No caso deste paciente, além do benefício ao sistema sensorial que o cavalo o transmite, o
indivíduo ainda se beneficia na parte motora, porque trabalho na postura sentado ao passo
pode fortalecer músculos extensores de tronco, comparado ao cavalo parado ou ao solo,
tendo em vista que ao passo é a postura que mais recruta fibras musculares para a estabilização
de tronco, havendo ainda estimulação do movimento tridimensional do cavalo, de maneira
simétrica, reproduzindo desta forma as oscilações do quadril durante a marcha humana. Se
em outro caso, o objetivo for fortalecer outros grupos musculares, torna-se interessante realizar
um estudo eletromio gráfico, obtendo-se assim, subsídios para avaliação da postura adequada,
visando ao objetivo terapêutico mais individualizado para cada caso abordado, embasando
melhor a conduta de atendimento dentro da equitação terapêutica.

REFERÊNCIAS
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381
GESTALT-TERAPIA E EQUOTERAPIA:
UMA RELAÇÃO AMIGÁVEL

Autora: Ana Paula Lucchesi Leandrin - Brasil

INTRODUÇÃO

O meu interesse pela equoterapia resulta da proximidade que sempre tive com cavalos e por
acreditar nos benefícios que esse animal pode proporcionar ao ser humano nas mais diversas
áreas, inclusive nos aspectos psicológicos.

Por identificação pessoal, optei pela Gestalt-terapia, visando ao aprofundamento teórico


deste campo de estudo, assim como suas implicações práticas.

OBJETIVO

Demonstrar que a Gestalt-terapia é indicada para ser utilizada


pelo psicólogo nas sessões de equoterapia.

JUSTIFICATIVA

A Gestalt-terapia é um método terapêutico que objetiva trabalhar vários aspectos físicos e


psíquicos do paciente que, ao se relacionar com o cavalo, com o ambiente e com os
profissionais envolvidos no processo, consegue ter um contato mais direto e diferenciado
com o mundo das relações.

O criador da Gestalt-terapia foi Frederick Perls, que assim nomeou a estruturação de um


novo campo clínico. Neste, articulou teorias e técnicas de trabalho, para dar ao homem as
condições necessárias para seu próprio crescimento (RODRIGUES, 2000).

Como este tipo de terapia abrange diferentes áreas de conhecimentos, bons resultados só
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

serão alcançados mediante a atuação de profissionais dessas áreas em um trabalho de equipe.


Assim como há necessidade de conhecimentos sobre as peculiaridades do cavalo, do ambiente,
das posturas corporais corretas e outras condições próprias dos procedimentos dos
profissionais envolvidos, é fundamental a abordagem da psicologia, uma vez que todo o
objetivo da terapia é o bem-estar do paciente, no que se refere às suas relações emocionais,
psíquicas e sociais. “(...) O estudo do modo que o ser humano funciona no seu meio é o
estudo do que ocorre na fronteira de contato entre indivíduo e seu meio. É neste limite de
contato que ocorrem eventos psicológicos. Nossos pensamentos, ações, comportamentos e
nossas emoções são a nossa maneira de vivenciar e encontrar esses fatos limítrofes.” (PERLS,
1988, p. 31).

Dentro da psicologia, a Gestalt-terapia oferece para o trabalho da equoterapia meios para


reconhecer, resgatar e integrar as partes alienadas da personalidade total do indivíduo. É
uma psicoterapia vivencial baseada na abordagem fenomenológica que tem como única
finalidade a consciência, sendo a sua metodologia a da awareness com fontes no existencialismo
dialógico (YONTEF, 1998, p. 234). Seu conceito básico e sua visão de mundo apóiam-se no
382 holismo e na teoria de campo.
Basicamente beneficiam-se da equoterapia pessoas com distúrbios emocionais, deficientes
físicos e/ou mentais.

Para alcançar um bom resultado é fundamental que o gestalt-terapeuta conheça a etologia


do cavalo, que saiba fazer uma leitura dos comportamentos e atitudes do animal, para que
possa, durante a sessão, observar e colher informações resultantes do encontro do paciente
com o cavalo. O cavalo é um animal de manada que usa seu corpo para se comunicar, o que
o torna um verdadeiro especialista da linguagem corporal. Ele pouco entende da
compreensão da palavra, mas percebe o que o corpo do ser humano demonstra, podendo
assim detectar no paciente as suas verdadeiras manifestações. Além de transmitir vida,
felicidade, perfeição, afeto, sentimentos de liberdade e evocar emoções, o cavalo também
tem como qualidade a franqueza, o que facilita a autenticidade das observações obtidas pelo
terapeuta. O cavalo então servirá de tela projetiva para o paciente, no qual depositará os
seus conteúdos e as suas partes alienadas, que servirão como material a ser trabalhado na
sua conscientização através desta experiência vivida. O gestalt-terapeuta procura integrar o
paciente de modo a restabelecer a sua capacidade de discriminar e descobrir o que ele é e o
que é capaz de conseguir, auxiliando-o a encontrar o próprio equilíbrio e o limite entre ele e
o meio que o cerca.

METODOLOGIA

Pesquisa bibliográfica que reúne a proposição do trabalho do psicólogo através da abordagem


gestáltica para o atendimento na equoterapia, buscando evidenciar a relação do cavalo com
o paciente.

CONCLUSÃO

Conforme Ribeiro (1997, p.15), “a Gestalt-terapia está centrada no conceito contato e na


natureza das relações da pessoa consigo mesma e com o mundo exterior”; logo a equoterapia
pode em sua formulação de trabalho, compor todo tratamento baseando-se na Gestalt-terapia
mediante técnicas para criar e facilitar para o paciente situações favoráveis ao setting
terapêutico, visando ao autocrescimento e ao restabelecimento do seu equilíbrio através de
uma interação com o meio.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Existe um entrelaçamento possível de se fazer entre a equoterapia e a Gestalt-terapia, sendo
que esta parece ser indicada para fundamentar o entendimento e as intervenções no âmbito
psicológico levando em consideração o ambiente como um todo.

REFERÊNCIAS

PERLS, F. S. A abordagem gestáltica: testemunha ocular da terapia. 2.ed. Rio de Janeiro:


Livros Técnicos e Científicos, 1988.

RIBEIRO, J. P. O ciclo do contato: temas básicos na abordagem gestáltica. 2 ed. São Paulo:
Summus, 1997.
RODRIGUES, H.E. Introdução à Gestalt-terapia: conversando sobre os fundamentos da
abordagem gestáltica. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
YONTEF, G. M. Processo, Diálogo e Awareness: ensaios em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus,
1998. 383
A INFLUÊNCIA DA EQUOTERAPIA NA FORÇA DOS MÚSCULOS
INSPIRATÓRIOS EM PRATICANTE COM SÍNDROME DE DOWN
– ESTUDO DE CASO

Autora: Maria Caroline Robacher - Brasil


Co-autora: Regina Ferrari

Trabalho de Pós-graduação em Equoterapia da Universidade Tuiuti do Paraná.

RESUMO

O presente artigo refere-se ao estudo da força muscular inspiratória de um portador de


síndrome de Down, que realiza equoterapia. A síndrome de Down é a síndrome genética
mais conhecida. Sua causa é devida ao excesso de material genético proveniente do
cromossomo 21. Uma das principais características clínicas do portador de síndrome de
Down é a hipotonia muscular generalizada. Em conseqüência de sua postura e da hipotonia
muscular que afeta também o trato respiratório, o Down apresenta acúmulo de secreção
que o predispõe a problemas respiratórios. A predisposição à hipoventilação está
necessariamente vinculada à hipotonia. O tônus muscular e a postura interferem na função
respiratória. Como a equoterapia favorece a regulação do tônus muscular, adequação da
postura e estimulação da força muscular, o praticante com síndrome de Down pode
beneficiar-se tendo melhor desempenho em relação a sua função respiratória, à medida que
sua musculatura de tronco e musculatura respiratória são estimuladas em cima do cavalo.
Com a musculatura respiratória e a postura mais adequada pode-se prevenir complicações
respiratórias, melhorando a qualidade de vida desses indivíduos. O estudo foi realizado
com um portador de síndrome de Down, sendo avaliada sua força muscular no início e no
final do tratamento equoterápico, no qual foram analisados valores de pressão inspiratória
(Pi) e pressão inspiratória máxima (Pi Máx) obtidos através da manovacuometria, com o
objetivo de demonstrar a influência da equoterapia na musculatura inspiratória do Down.
Obteve-se como resultado a melhora da força dos músculos inspiratórios, havendo aumento
dos valores de pressão inspiratória e pressão inspiratória máxima, após o tratamento
equoterápico aplicado.
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PALAVRAS-CHAVES: Equoterapia; Músculos Inspiratórios; Síndrome de Down.

ABSTRACT

The present article refers to the study of the inhaling muscular strength of a bearer of Down
Syndrome, that realizes Hippotherapy. The Down Syndrome is the genetic syndrome most
known. Its cause is due to the excess of genetic material originating from the chromosome
21. One of the main clinic characteristics of the bearers of Down Syndrome is the generalized
muscular hypotonia. As a consequence of his posture and of the muscular hypotonia that
also affects the respiratory system, the Down presents an accumulation of secretion which
prejudices him for respiratory problems. The predisposition for hypoventilation is necessarily
linked to the hypotonia. The muscular tonus and the posture interfere in the respiratory
function. As the Hippotherapy benefits the regulation of the muscular tonus, adaptation of
384
the posture and muscular strength stimulation, the practitioner with Down Syndrome can
benefit having a better performance regarding his respiratory function, while his trunk
musculature and respiratory musculature are stimulated on the horse. With the respiratory
musculature and the posture more adequate one can prevent respiratory complications,
improving the life quality of these individuals. The study was carried out with a bearer of
Down Syndrome, being evaluated his muscular strength in the beginning and in the end of
the hippotherapeutic treatment, in which were analysed values of inhaling pressure (Ip)
and maxim inhaling pressure (Max Ip) obtained through the manuvacuummetry with the
aim of demonstrating the influence of the Hippotherapy in the inhaling musculature of the
Down. One obtained as a result an improvement of the strength of the inhaling muscles,
happening an increase of the inhaling pressure and max inhaling pressure values, after the
applied hippotherapeutic treatment.

KEY WORDS: Hippotherapy; Inhaling Muscles, Down Syndrome.

INTRODUÇÃO

A equoterapia busca o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência


e/ou com necessidades especiais. O movimento do cavalo é a base desse método de
tratamento, a sua marcha tridimensional é muito semelhante à do homem, oferece movimentos
de inclinações laterais de tronco, rotações para dissociação de cinturas e movimentações de
báscula anterior e posterior da pelve. Essas oscilações ocorrem nos mesmos planos de
movimento humano e são interpretadas como movimentos fisiológicos pelos canais
semicirculares do aparelho vestibular. A adaptação do cavaleiro ao ritmo do passo do cavalo
exige contração e descontração silmutânea dos músculos agonistas e antagonistas. “(...) esta
atividade exige a participação do corpo inteiro, contribuindo assim para o desenvolvimento
da força muscular, relaxamento, conscientização do próprio corpo, aperfeiçoamento da
coordenação e equilíbrio” (PROENÇA, 2002).

A equoterapia é indicada aos portadores de síndrome de Down, porém deve-se ficar atento
em relação à frouxidão ligamentar e à instabilidade articular, principalmente na articulação
atlanto-axial. É necessário o laudo do exame de Raio-x da coluna cervical em hiperflexão e
hiperextensão, para iniciar-se o atendimento equoterápico (LOPES, 2002).

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A primeira descrição clínica da síndrome de Down foi publicada por Langdon Down, em
1866. A síndrome se caracteriza por alterações fenotípicas, incluindo o déficit intelectual. É
causada por excesso de material genético devido à existência de três cromossomos 21, sendo
que o normal são dois (GONZALEZ, 1981). De acordo com RATLIFFE, as principais
características físicas são: baixo tônus muscular, lassidão articular, perfil facial achatado,
olhos inclinados para cima, ponte nasal plana, orelhas pequenas, língua grande e protuída,
mãos pequenas e curtas com dedo mínimo curvado para dentro e prega palmar transversal
(RATLIFFE, 2000).

O retardo no desenvolvimento motor e as hérnias umbilicais e inguinais, além das diástases


dos músculos retos abdominais, são relacionados à hipotonia dos músculos esqueléticos
estriados no Down. O mesmo tipo de repercussão ocorre nos aparelhos que representam a
musculatura lisa, onde se apóia o epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado, que vibra,
produzindo o movimento do muco gerado pelas células caliciformes. “Uma provável
diminuição das vibrações ciliares pode decorrer da hipotonia da musculatura lisa,
385
caracterizando uma alteração inter-relação do conjunto epitélio respiratório e sua
musculatura, favorecendo um acúmulo de secreção e produzindo meio adequado, por estase,
para a proliferação bacteriana” (MUSTACCHI E ROZONE, 1990). O portador da síndrome
de Down é hipersecretor, apresenta predisposição imunológica, e em conseqüência de sua
postura tem um diafragma muito débil, tornando-o portanto predisposto a constantes
resfriados e infecções respiratórias.

As doenças do aparelho respiratório formam o grupo de patologias que mais incidem no


portador da síndrome de Down, sendo a pneumonia a causa de óbito mais freqüente
(BURNS, 1997).

Os músculos respiratórios são responsáveis diretos pelo adequado funcionamento do sistema


respiratório. O mecanismo da ventilação ocorre graças à contração e ao alongamento
coordenado dos músculos adjacentes à caixa torácica. O diafragma é o principal músculo
inspiratório. A eficácia do diafragma em alterar as dimensões do tórax está relacionada com
sua força de contração e à sua forma quando relaxado. Em repouso, a inspiração normal é
devida quase que exclusivamente a este músculo. Durante a inspiração é necessária uma
pressão negativa intratorácica para deslocar o ar de fora para dentro. Admite-se que a
expiração normal seja um processo passivo, no qual os músculos inspiratórios relaxam e os
pulmões voltam a se encolher (SHEPHERD, 1996).

Para medir a força dos músculos respiratórios utiliza-se o aparelho manovacuômetro, no


qual se obtêm valores conhecidos por pressão inspiratória (Pi) e pressão inspiratória máxima
(Pimax). Segundo WINKELMANN apud AZEREDO, o valor normal no adulto jovem varia
de -90 a -120 cmH2O (WINKELMANN, 2003).

As medidas das pressões respiratórias máximas são úteis para a avaliação funcional dos
músculos respiratórios. O ato de tossir também depende dos valores das pressões respiratórias
máximas, pois quando se tem uma musculatura respiratória fraca, torna-se difícil a eliminação
de secreções, o que pode levar a complicações pulmonares (FERREIRA, 1999).

Este estudo teve como objetivo analisar se a equoterapia proporciona melhora na força dos
músculos inspiratórios do praticante com síndrome de Down.
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MATERIAL E MÉTODO

Para a realização da pesquisa foi estudado 1 (um) praticante com síndrome de Down, do
sexo masculino, com 29 anos de idade, que realizou sessões de equoterapia uma vez por
semana, com duração de trinta minutos cada, durante 2 meses, totalizando 8 sessões, na
Fundação Ecumênica de Proteção ao Excepcional – Complexo Educacional Juril Carnasciali.
As sessões de equoterapia foram realizadas com montarias e exercícios diversos, enfatizando-
se a adequação do tônus muscular, melhora da postura e ganho de força em musculatura de
tronco. Como esse praticante tem condições de exercer alguma atuação sobre o animal e
conduzí-lo, dependendo em menor grau do auxiliar-guia e do auxiliar-lateral, foram
realizados alguns exercícios em que o praticante guiou o cavalo ao passo, desenvolvendo
também sua auto-estima e autoconfiança. Também foi proposta a atividade de escovação e
encilhamento do animal.
386
Para a avaliação da força dos músculos inspiratórios foi utilizado o aparelho
manovacuômetro, no qual foram obtidos os valores de pressão inspiratória (Pi) e pressão
inspiratória máxima (Pi Máx), valores esses que se referem à força da principal musculatura
respiratória (diafragma). Essa avaliação foi realizada no início do tratamento e após os dois
meses, no término da pesquisa. As avaliações foram realizadas na Clínica de Fisioterapia da
Universidade Tuiuti do Paraná, com a colaboração do fisioterapeuta Dr. Marcelo Márcio
Xavier. Durante o tempo de realização da pesquisa o praticante realizou somente a
equoterapia.

O praticante foi filmado e fotografado durante o tratamento, mediante autorização dos


responsáveis.

3 RESULTADOS

Os resultados obtidos através da manovacuometria realizada antes e depois do tratamento


equoterápico seguem no quadro abaixo (Quadro 1).

Quadro 1 – Manovacuometria realizada antes e depois do tratamento equoterápico.

Manovacuomteria Antes do tratamento Depois do tratamento


Pressão Inspiratória (Pi.) - 30 cmH2O - 34 cmH2O
Pressão Inspiratória Máxima (Pimax.) - 42 cmH2O - 60 cmH2O

Analisando-se os resultados pode-se observar que houve melhora na força da musculatura


inspiratória do praticante estudado. Nota-se um aumento de 4 cmH2O na força inspiratória
e um aumento de 18 cmH2O na força inspiratória máxima, após o tratamento equoterápico.
No Gráfico 1, pode-se observar o desempenho da força da musculatura inspiratória em
relação aos valores de pressão inspiratória e pressão inspiratória máxima, analisados antes
e depois do tratamento equoterápico.

Gráfico 1 – Desempenho da força muscular inspiratória em relação aos valores de Pressão


Inspiratória e Pressão Inspiratória Máxima.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

387
DISCUSSÃO

A partir dos dados obtidos, pode-se observar uma melhora na força da musculatura
inspiratória do praticante estudado, benefício este devido à atuação da equoterapia. Não foi
encontrada outra pesquisa científica sobre a atuação da equoterapia nos músculos
inspiratórios de praticante com síndrome de Down.

Busca-se a preservação da função respiratória pelo do desenvolvimento da postura e


expressão corporal, devido ao trabalho da musculatura abdominal e torácica (LUSTOSA,
2002). Para um funcionamento físico o mais próximo do normal no organismo de um paciente
neurológico, observa-se a necessidade da conscientização corporal e posicionamento do corpo
em ortostatismo. O movimento rítmico transmitido pela andadura do cavalo exige do cavaleiro
novos ajustes posturais, além de que, a sensação do ritmo oferece inúmeros benefícios, pois
o ritmo está presente em nossas vidas desde a gestação, nas batidas do coração, na respiração,
etc. Para estimular a integração sensorial, pode-se adotar posturas em decúbitos, enfatizando
a conscientização da ventilação pulmonar (ROCHA, 2002).

No Down, fatores como obesidade, hipotonia, abdome globoso e hiperlordose acabam gerando
dificuldade na movimentação, distúrbio de lateralidade, esquema corporal, alterações na
retificação, entre outros; somado a isso, atraso no desenvolvimento psicomotor, causando
assim, posturas anormais como escoliose e cifose e função respiratória também prejudicada.
A equoterapia apresenta-se como um método bastante eficaz ao praticante com síndrome
de Down, pois trabalha o corpo de forma global, oferecendo diversos estímulos e informações
para o seu melhor desenvolvimento biopsicossocial.

É importante salientar a necessidade de aprofundamento e realização de novas pesquisas


sobre a influência da equoterapia na função respiratória do praticante, tendo em vista os
dados obtidos neste estudo. Desta forma contribui-se para o melhor desenvolvimento do
praticante de equoterapia.

CONCLUSÃO

Conclui-se que a equoterapia mostrou-se eficiente para a melhora da força dos músculos
inspiratórios do praticante com síndrome de Down. Após o tratamento equoterápico, o
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

praticante analisado apresentou melhora na força inspiratória, representada pelos valores


de pressão inspiratória (Pi) e pressão inspiratória máxima (Pi Máx). Através da equoterapia
obtiveram-se resultados positivos em relação à função respiratória do praticante, contribuindo
assim para sua melhor qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

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LUSTOSA, Juliana G. A Fonoaudiologia na Equoterapia. In: CURSO BÁSICO DE


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MORELI, Sabrina P.; VENTURINI, Paula J. F. Fisioterapia e Equoterapia: uma importante


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ROCHA, Carlos R. F. Fisioterapia aplicada a Equoterapia. In: CURSO BÁSICO DE


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WINKELMANN, Eliane R; et al. Efeito do Treinamento e Destreinamento da Força Muscular


Respiratória em Soldados. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 16, n. 3, p. 35-42, jul./set.
2003.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

389
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DO FONOAUDIÓLOGO
COM CRIANÇAS PORTADORAS DE PARALISIA
CEREBRAL NA EQUOTERAPIA

Autora: Ana Paula Nóbrega de Melo Neves - Brasil


Co-autor: René Garrigue

Instituição: Interdisciplinary Center of « Equoterapia3»: Cel. Sylvio de Mello Cahú/Recife-


PE/Brazil.

OBJETIVO

Apresentar a importância da fonoaudiologia na equoterapia no trabalho com crianças


neuropatas.

INTRODUÇÃO

Na equoterapia utiliza-se o cavalo como instrumento cinesioterapêutico para a reabilitação


de portadores de deficiências físicas e/ ou mentais. A atuação do fonoaudiólogo na
equoterapia é de extrema importância, uma vez que tem amplos objetivos na reabilitação de
Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais (PPNE), como adequação do sistema sensório-
motor-oral, das funções estomatognáticas e da comunicação e linguagem.

No trabalho específico do fonoaudiólogo na equoterapia, o terapeuta e o paciente se


beneficiarão dos ajustes tônicos proporcionados pelo cavalo, em importantes ganhos que se
evidenciam em alinhamento corporal (biomecânico), reações de equilíbrio, retificação e
proteção (“balance”), controle cervical de tronco, normalização do tônus,..., imprescindíveis
para um melhor funcionamento oromotor, respiratório-fonatório e sensório motor (Neves,
2000, 2002).

Conceito neuroevolucionista e neurofuncional


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Baseada no conceito de tratamento neuroevolutivo – conceito Bobath (2000) a reabilitação


fonoaudiológica tem ênfase no trabalho com as funções estomatognáticas de alimentação,
respiração, mímica e fonoarticulação; visando ao aprimoramento do SSMO. As técnicas de
facilitação buscam o surgimento das reações de endireitamento, proteção e equilíbrio
precursoras da postura antigravitacional, sendo o manuseio nos planos de movimento.

Os movimentos do corpo humano ocorrem dentro de três planos: sagital (flexão e extensão),
frontal (adução, abdução e inclinação lateral) e transverso (rotações). Pela ação sinérgica
baseada na contração excêntrica dos músculos, dá-se propriocepção para possibilitar uma
ação dissociada da cintura escapular, tronco, cintura pélvica e região oral, Bly (1994). Estes
seguem uma hierarquia, à qual correspondem as etapas do desenvolvimento motor, sendo o
plano transverso o mais aprimorado.

*: anpneves@hotmail.com.br
390 *: rene.garrigue@wanadoo.fr; (: 55 81 34 12 17 39
Temos na equoterapia o uso do cavalo - um corpo cilíndrico de reações – com movimentos
tridimensionais, onde o manuseio será dinâmico através do movimento, promovendo um
uso ativo da musculatura, desenvolvendo o funcionamento bem coordenado oromotor,
respiratório e fonoarticulatório. Neves (2000, 2002).

Bobath (2000) afirma que as alterações de tônus observadas em crianças neuropatas


determinam dificuldades nos ganhos posturais. Pois na tentativa de realizar o movimento
utilizam padrões anormais, instalando-se desta forma as fixações, as quais levam as limitações
de movimento nos três planos.

A UTILIZAÇÃO NA EQUOTERAPIA

O fonoaudiologo na equoterapia utilizará técnicas específicas reeducativas visando à


adequaçao de todo complexo orofacial, levando a uma melhoria das funções
estomatognáticas.

Na equoterapia as técnicas de manuseio de facilitação estarão diretamente relacionadas


com os componentes da pré-fala, nos casos de hipotonia (floppy), hipertonia (espasticidade),
ou mesmo em crianças com flutuação de tônus (atetose), associadas à estimulação na
movimentação no plano transverso para proporcionar a dissociação dos movimentos do
SSMO, podendo este trabalho ser precursor da oralização.

É imprescindível que o fonoaudiólogo analise os problemas na região orofacial juntamente


com os problemas gerais, uma vez que o tratamento específico é apenas parte da reabilitação.
Para decidir o que é indicado e o que é contra-indicado, é necessário um conhecimento
global de cada quadro patológico, pois o complexo orofacial pode ser afetado pelas mais
diversas patologias.

Conhecer a biomecânica corporal é importante para entender os mecanismos acionados


pelos movimentos. Bly (2000)

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

391
Vejamos este esquema da função segundo Brodie, modificado por Castillo Morales (1999):

O fonoaudiólogo tem como objetivo principal adequar posturas e movimentos que gerarão
funções mais próximas da normalidade. No manuseio do praticante são utilisadas técnicas
similares às usadas por outros profissionais (FISIO, TO) porém com o objetivo especifico de
adequar as alterações funcionais do SSMO. Existem duas maneiras de abordar o paciente: a
abordagem indireta que consiste dos beneficios proporcionados pelo movimento do cavalo e
a abordagem direta que consiste na atuação direta no praticante (os manuseios e estimulações
corporais gerais e no complexo orofacial) Neves (2000, 2002)

O manuseio sobre o cavalo é dinâmico, com movimentação tridimensional, que promove o


uso ativo da musculatura global e em consequência o uso da musculatura do complexo
orofacial.

A atuação do fonoaudiólogo não se restringe ao plano físico. Cabe-lhe também o trabalho


envolvendo a comunicação, desde a forma mais ampla até os usos e funções da linguagem.
É indispensável que o fonoaudiólogo tenha uma boa formação profissional, pois deverá
fazer uma avaliação criteriosa que irá influenciar no tratamento. A avaliação dos componentes
e das funções do aparelho estomatognático requer um conhecimento anatômico funcional
bem aprofundado. O planejamento deve ter finalidade bem definida e a utilização das técnicas
no tratamento visam a abordagem diretas ou indiretas para se conseguir o equilíbrio
funcional. O tratamento é único para cada caso (Garrigue, 1999).

Exemplos de possibilidades de atuação do fonoaudiólogo com crianças portadoras de paralisia


cerebral (Neves, 2000,2002).

– adequação do tônus muscular global, principalmente os envolvidos com o complexo


orofacial;

– promover o alinhamento corporal (biomecânico) para o equilíbrio entre o complexo


orofacial e os demais sistemas orgânicos do corpo;

– oferecer experiências sensório-motoras diversas, ajudando no desenvolvimento


adequado dos sistemas motor e somasossensorial;
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

– estimular o desenvolvimento e o estabelecimento da comunicação entre o praticante,


cavalo, terapeutas, pais e outros praticantes...

As possibilidades deste trabalho serão apresentadas através de projeções audiovisuais (slides


e vídeos), onde levarei os ouvintes a compreenderem como eu trato crianças neuropatas na
equoterapia, desde a definição do tema aos procedimentos terapêuticos utilizados para tal,
ilustrando com casos (praticantes) atendidos no CEPOM-PE.

REFERÊNCIAS

Bobath Center – Notes to accompany the 8th Basic Course in Cerebral Palsy, 1997. Traduzido
para o curso Bobath, 2000. Brasil

392
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2000. Brasil

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1999 España

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Memnon, 1999. Brasil

Neves, A.P.N.M. – A Fonoaudilogia na Equoterapia. Curso Básico de Equoterapia promovido


pelo Cepom-PE, Recife-PE, 2000 e 2002.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

393
PROGRESSÃO TERAPÊUTICA EM CASO
DE MIELOMENINGOCELE

Autora: Thaís Pezzato Gonçalves de Oliveira - Brasil


Co-autores: Ana Paula Margarido Caldas; Eveli Maluf ;
Ana Paola Negri; Cláudio Maluf Haddad

INTRODUÇÃO

A mielomeningocele, um tipo de espinha bífida cística, é a forma mais comum e grave da


doença. Trata-se de um defeito de fechamento do tubo neural e nos arcos vertebrais
posteriores, que ocorre ainda no útero materno, durante a formação do sistema nervoso. Há
um crescimento anormal da medula e um percurso tortuoso dos elementos neurais que
resultam em uma incapacidade sensorial e motora, sendo na grande maioria dos casos
paralisia flácida no nível da lesão e espástica abaixo do nível da lesão (UMPHRED, 2004).

De acordo com Umphred, entre outras complicações a hidrocefalia está presente em 80 a


90% dos casos. Ela resulta em um bloqueio do fluxo normal do líquido cerebrospinal (LCS)
entre os ventrículos e o canal espinhal, que se não drenado, pode levar a lesões cerebrais
maiores e até a morte. Outra que freqüentemente pode estar presente é a disfunção intestinal
e urinária, isto pelo comprometimento do plexo sacral, o esvaziamento incompleto da bexiga
preocupa, pois pode gerar infecção do trato urinário e ainda possíveis danos renais.

A equoterapia como método interdisciplinar complementar busca melhorar a qualidade de


vida de seus praticantes. Essa terapia utiliza o cavalo, pois é através de seu movimento
tridimensional, amplamente citado na literatura especializada, e da imagem desse animal,
que se podem alcançar grandes benefícios em diferentes casos.

Com relação a aspectos físicos, a equoterapia “tem como objetivo auxiliar na aquisição e
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desenvolvimento das funções motoras, por intermédio da utilização do cavalo como


instrumento terapêutico, exigindo do cavaleiro planejamento e criação de estratégias,
desenvolvendo e/ou potencializando as habilidades motoras e as atitudes conceituais
diversas.” (Dias e Medeiros, p. 7, 2002).

Além disso, com a da imagem do cavalo pode-se alcançar benefícios relacionados à auto-
estima e autoconfiança. Fato justificado por Chevalier e Gheerbrant ao afirmarem que o
cavalo é uma figura representante de beleza e potencialidade, elevando o indivíduo a
sentimentos de glória, triunfo e domínio.

O estabelecimento do vínculo entre a criança e o cavalo, principalmente em casos de


praticantes que apresentam medo no início do tratamento, é o fator de maior importância.
Sem a relação de afetividade e prazer entre o praticante e o cavalo não há harmonia, e sem
harmonia os benefícios se tornam difíceis de serem alcançados.
394
Os trabalhos equoterápicos são divididos em três programas básicos: hipoterapia, educação/
reeducação e pré-esportivo/esportivo. Neste trabalho será apresentada a progressão
terapêutica em um programa de hipoterapia em que o praticante não apresenta condições
físicas e/ou mentais para manter-se sozinho em montaria comandando o animal, por isso
faz-se necessário o uso de um auxiliar-guia, para conduzir o cavalo, de um terapeuta para
executar o trabalho estabelecido e de um auxiliar lateral, oferecendo maior segurança ao
praticante.

O caso apresentado refere-se a uma criança de seis anos de idade, portadora de


mielomeningocele associado à hidrocefalia. O quadro psicológico observado inicialmente foi
de grande medo do cavalo e o quadro físico de uma hipostesia dos membros inferiores com
ausência de qualquer atividade muscular funcional nos mesmos, o que lhe gera um grande
desequilíbrio. Esse fato acaba potencializando seu medo e tornando a montaria seu maior
desafio principalmente por não estar no colo de sua mãe ou de outra pessoa que lhe transmita
confiança. Segundo Umphred, (2004), devido à perda sensorial já comentada anteriormente,
a criança portadora de mielomeningocele tem que confiar na visão e em outros sistemas
sensoriais para substituir essa perda.

Ao se deparar com a imagem de um animal de grande porte, esta criança pode se ver numa
situação de risco e a princípio rejeitar a possibilidade de iniciar um vínculo ou uma “amizade”
com ele.

Este caso teve início em fevereiro de 2003 e paciente continua no tratamento equoterápico
até os presentes dias.

OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é demonstrar como a equoterapia pode eliminar o medo, aumentar
a auto-estima e autoconfiança do indivíduo em questão através do estabelecimento de um
vínculo entre a praticante e o cavalo, à medida que cria confiança no mesmo e nas terapeutas,
visando a mais independência e melhores relacionamentos interpessoais da praticante, por
meio de melhor comunicação e linguagem.

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METODOLOGIA

Sujeito
Uma criança do sexo feminino, com seis anos de idade, portadora de mielomeningocele
associado à hidrocefalia.

Local
Projeto Equoterapia Esalq-Usp, situado na cidade de Piracicaba-SP.

Recursos Utilizados
Um cavalo preparado para o desenvolvimento da equoterapia, uma manta, uma sela
adaptada, uma cabeçada, um cabresto, uma guia longa, bolas pequenas e uma cesta com
frutas.
395
Procedimento
A praticante iniciou seu tratamento em fevereiro de 2003 e continua até os dias atuais
participando de sessões semanais de trinta minutos, com a utilização de estratégias
previamente estipuladas pelas terapeutas responsáveis em cada fase de progressão. O processo
foi dividido nas seguintes etapas:

Aproximação
Essa é a fase do início do estabelecimento do vínculo entre a praticante e o cavalo; foi uma
fase difícil para a praticante devido a ela apresentar medo pelo animal. Para que fosse iniciado
um vínculo entre a praticante e o animal, a terapeuta lhe apresentou o cavalo. Já de início
ela não quis tocá-lo, não chegava perto e dificilmente o olhava, nem mesmo para apontar as
partes do corpo do animal que eram nomeadas pela terapeuta. Apesar disso, ao ser
questionada, respondia que queria montar na próxima vez.

Montaria dupla
No segundo dia a praticante aceitou montar juntamente com a terapeuta, mesmo
apresentando medo. Por isso o trabalho de estabelecimento de vínculo entre a praticante e o
cavalo ainda deveria continuar nessa fase de montaria dupla. O material utilizado no animal
foi a manta, pois o contato com o animal seria mais intenso, além de neste caso, ser o material
considerado ideal para este tipo de montaria.

Assim, durante as sessões a terapeuta a estimulava a acariciar o cavalo, sendo-lhe sugerido


“arrumá-lo” para ficar bonito para a terapia, “penteando”, pregando presilhas em sua crina,
espirrando perfume e alimentando-o com cenouras. Após cinco sessões seguidas nesse mesmo
trabalho, a praticante já não se apresentava tão resistente perante o cavalo, mas se recusava
a tirar o sapato para que uma das terapeutas pudesse realizar um trabalho de exterocepção
em todo o membro inferior.

Pelo fato de a criança gostar de esmaltes de unha, a terapeuta então sugeriu trazê-los e
pintar as unhas da praticante e também o casco do cavalo. Imediatamente a praticante
concordou com entusiasmo e assim o fizeram na próxima sessão, deixando - a satisfeita e
aceitando tirar o sapato sempre que necessário em cima de seu novo “amigo”. Esse fato foi
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

de extrema importância para que fosse possível observar uma considerável redução do medo
da praticante pelo cavalo.

Vencida esta etapa, o objetivo foi garantir que a praticante permanecesse sozinha em cima
do animal. Para tanto a terapeuta foi diminuindo gradualmente seu tempo de montaria
dupla, sempre com a justificativa de melhorar a brincadeira que estava sendo executada.
Foi facilitadora desta etapa a sugestão da praticante de brincar de esconde-esconde com a
terapeuta, pois a mesma precisava desmontar o cavalo para “se esconder”. No início a
praticante parecia indecisa, mas depois acabou aceitando que a terapeuta descesse do animal,
dando continuidade à brincadeira. Portanto, de trinta minutos de montaria dupla, passou
para vinte e cinco minutos e assim por diante, até a permanência total de apenas a praticante
em montaria. Desta forma pode-se também iniciar uma fase de trabalho fisioterápico visando
a estimular o equilíbrio, pois montando sozinha a praticante necessita ajustar-se para buscar
seu equilíbrio sentando-se em uma superfície instável. Essa etapa teve a duração de
aproximadamente vinte sessões.
396
Montaria Individual
Embora o vínculo da criança com o animal já estivesse estabelecido, a mesma necessitava de
motivos prazerosos para permanecer em montaria individual, pois algumas de suas atitudes
ainda demonstravam medo. Para encilhar o cavalo, iniciou-se então o uso da cela adaptada,
que poderia lhe oferecer mais independência.

Assim foram utilizados procedimentos como guiar o cavalo em ziguezague, encontrar, pegar
e nomear frutas espalhadas pelo picadeiro, estimulando desse modo seus membros superiores,
impedindo que a praticante segurasse a alça da cela. Todo momento oportuno a praticante
recebia incentivos e elogios e era constantemente lembrada de acariciar seu “companheiro”
de terapia, e o cavalo era parado toda vez que a praticante demonstrasse medo. Nessas
horas era mostrado a ela que o animal não lhe faria mal e que sempre que quisesse era apenas
dizer para pará-lo, pois ela seria logo atendida, sem precisar ficar com medo.

Durante os jogos as terapeutas sempre pediam sugestões de outras brincadeiras para a


praticante, que no início não sugeria nada; com o passar das sessões, devido ao fato de seu
relacionamento com as terapeutas e outras pessoas já estar mais próximo e de confiança, a
praticante começou a expor suas idéias de músicas e brincadeiras.

Para o desenvolvimento de sua independência foi utilizado o recurso “charrete”, onde o


guia conduzia o cavalo atrás da garupa do mesmo, fazendo com que a praticante imaginasse
que estava guiando seu cavalo sozinha. Através desse recurso pode-se trabalhar toda a
parte educacional, como a atenção e a concentração através dos comandos que ela deveria
utilizar para fazer o cavalo seguir (mandar beijo), parar (emitir com a boca o som: shiu), e
virar do lado direito (virar a rédea para este lado) e esquerdo (virar a rédea deste lado).

Após seis meses utilizando esse recurso, as terapeutas voltaram à técnica tradicional, ou
seja, o guia à frente, para se trabalhar aspectos como comunicação, linguagem, manutenção
da independência, socialização e aspectos emocionais através de brincadeiras de faz de
conta como casinha, compras e restaurante. Nessas brincadeiras foi possível observar a
resistência que a praticante apresentava em tomar sucos, por isso, no faz-de-conta, quando
se brincava que todos estavam em um restaurante, a praticante pedia refrigerante e os demais
suco, que sempre ofereciam a ela, até que um dia por imitação de uma das terapeutas resolveu
aceitar. Com isso, as terapeutas orientaram a mãe da criança que trouxesse suco na próxima
sessão, com o objetivo de incentivá-la a beber sucos em sua vida diária. Assim, após a

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montaria, era levada para a sala onde o suco era repartido e degustado entre as terapeutas
e a praticante. Na primeira vez, a praticante não queria aceitar, por isso a terapeuta criou
uma situação lúdica em que se competia quanto à rapidez com que se tomava o suco,
entusiasmando-a a tomar e terminar primeiro.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No decorrer das sessões foi possível observar que a praticante conseguiu vencer seu medo a
partir do momento que conseguiu montar no cavalo, principalmente após a fase de montaria
dupla, podendo-se observar um considerável aumento de sua auto-estima e confiança. Ou
seja, no início seu comportamento era de esquiva em relação ao animal: não olhava para ele
e não o acariciava. Atualmente encontra-se em montaria individual.

“Ter controle sobre um animal muito maior e mais forte do que o praticante faz com que a
autoconfiança se processe, o que se torna algo grandioso para ele. Pela execução de pequenas 397
tarefas com habilidades mais avançadas, a confiança passa a ser adquirida gradualmente.”
(Lermontov, p.97, 2004).

Sua independência ficou visível, pois no início não dava suas opiniões, mostrando-se sempre
introvertida; com o passar do tempo conseguiu demonstrar suas vontades e oferecer sugestões
de brincadeiras. No que diz respeito às relações interpessoais, houve significativa melhora
de sua comunicação e linguagem trabalhadas a todo o momento, desde o simples
“bate- papo” até as brincadeiras lúdicas e de faz-de-conta que conseguiram fazer com que a
praticante levasse suas conquistas para as suas atividades de vida diária, como alimentação
e relacionamentos interpessoais.

Para mostrar a condição do indivíduo com relação à sua comunicação no início de seu
tratamento equoterápico e depois de iniciá-lo, foi utilizada a técnica fonoaudiológica de
observação direta, registrada nos prontuários, sendo que para a avaliação da praticante foi
desenvolvida uma Escala de Avaliação fonoaudiológica na qual foram observados e
pontuados os seguintes itens, como mostra a tabela abaixo:

Escala de Avaliação Fonoaudiológica para Interação, Aspectos


Fonológicos e Expressões Verbais e Não-Verbais

A - Intenção comunicativa
1 Nunca
2 Às vezes
3 Sempre

B- Expressões não verbais: gestos, mímicas e ações


1 Choro e resmungo sem significado
2 Choro e resmungo com significado
3 Choro, resmungo,expressão facial e ações com significado

C - Expressão oral
1 Vocábulos isolados
2 Frases aleatórias
3 Frases justapostas

D - Aspectos fonológicos
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1 Trocas articulatórias sistemáticas


2 Trocas articulatórias assistemáticas
3 Sem trocas articulatórias
Aplicação da Escala de Avaliação Fonoaudiológica para Interação,
Aspectos Fonológicos e Expressões Verbais e Não-Verbais.

Praticante: T.S.C
Avaliação Inicial: Fev. 03
Avaliação Final: Out. 04

Item Avaliado Pontuação I Pontuação F


A 1 3
B 2 3
D 1 3
C 1 3
398
CONCLUSÃO

Durante todo o processo terapêutico, foi possível observar o quanto a equoterapia contribuiu
para o bem-estar e avanço no desenvolvimento da praticante, visto que todo o trabalho foi
desenvolvido com embasamento em atividades lúdicas e próximas às cotidianas, buscando
que a praticante generalizasse seu “aprendizado terapêutico” para sua vida.

No caso apresentado, aspectos psicológicos como medo, dificuldade de socialização,


resistência em realizar vínculos, baixa auto-estima e autoconfiança, motivados especialmente
pelo desequilíbrio que a alteração sensorial lhe causa quando montada no cavalo, foram
vencidos em sua maioria, tornando a praticante mais confiante e segura de suas atitudes,
preparada para enfrentar situações novas em seu cotidiano.

Além disso, o trabalho do fisioterapeuta no caso relatado foi facilitado pelo psicólogo, visto
que seria impossível estimular o equilíbrio e trabalhar atividades com os membros superiores
livres levando em consideração a insegurança apresentada pela praticante.

O trabalho interdisciplinar, juntamente com fatores da equoterapia, cavalo e ambiente,


permitiu que a praticante tivesse a necessidade de traduzir oralmente suas experiências,
desejos e emoções, expressando também que a brincadeira simbólica obteve ganhos em relação
à qualidade vocal utilizando intensidade e entonação adequadas na situação dialógica,
eliminando a fala infantilizada e sussurrada, além de permitir trabalhar aspectos fonético –
fonológicos.

Foi possível observar que a equoterapia como uma terapia complementar é benéfica no caso
de um indivíduo incapaz de locomover membros inferiores, não somente dessa patologia
como também de outras parecidas, pois as estratégias utilizadas podem ser iguais ou
semelhantes, mas o objetivo acaba se tornando o mesmo, ou seja, melhorar a qualidade de
vida em vários aspectos, como psicológico, físico e fonoaudiológico do indivíduo.

REFERÊNCIAS

SCHNEIDER, J. W.; KROSSCHELL, K. J. Lesão Medular Congênita. In: Darcy A. UMPHRED

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Reabilitação Neurológica. 4ª edição, editora Manole, 2004, p.475-505.

CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário dos Símbolos. R.J. José Olímpio, 1997.

MEDEIROS, M. e DIAS, E. Equoterapia – Bases e Fundamentos. Editora Revinter Ltda., p.7.


2002.

LERMONTOV, T. Psicomotricidade na Equoterapia. Idéias e Letras. p.97. 2004.

399
MELHORA OBJETIVA DE CIFOSE-ESCOLIOSE EM UM PACIENTE
COM PARALISIA CEREBRAL EM TRATAMENTO DE TERAPIA
EQÜINA COM SEIS MESES DE DURAÇÃO

Autora: Liliana Aguirre - Argentina


Co-autores: Mercedes Ruffo;
Beatriz Sánchez;
Marta Torrado M.D

FUNDACION DE EQUINOTERAPIA SAN JUAN EN ARGENTINA


Fundação de Equoterapia San Juan - Argentina

OBJETIVO

Evolução favorável de um caso de equoterapia.

METODOLOGIA

• Sujeito: 9 anos de idade – sexo feminino


• Diagnóstico: paralisia cerebral com disparesia reduzida, com trauma generalizado
de desenvolvimento, com deficiência mental. Síndrome convulsiva, surdez do ouvido
esquerdo, miopia, estrabismo, astigmatismo, regressão cerebral cortical, psicose,
autismo.
• Medicação: Clobazam 5 mg/dia
Sodium Divalproato: 357 mg./dia
Risperidona: 0.5 mg/dia

Medicação prescrita e controlada por médico encarregado.


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• Ethiologia: Hypoxia-encefalopatia perinatal, sepsis pós-natal, síndrome convulsiva.


• Técnica: Terapia Eqüina
Equoterapia

Essas técnicas viabilizam interação entre um instrutor de montaria e um fisioterapeuta com


vasta experiência em deficiências múltiplas.

Desenvolvimento: o sujeito é conduzido a essa forma particular de terapia a fim de melhorar


a postura, sendo que nenhuma melhora aconteceu com outras várias terapias, e nas quais o
sujeito também demonstrou sérias falhas comportamentais: desordens psicoafetivas e autistas
(raios-x frontais e de perfil sentado de 2002, figuras 1 e 2).

• Até 2005 uma melhora radical no que se refere aos controles posturais é demonstrada
quando sentando, através da caminhada assistida e nos hábitos da postura da cabeça
400 e do torso superior (raios-x frontais e de perfil sentado de 2005).
Nota: Avaliação e relatório médico da Dra. Beatriz Sánchez
Melhora subjetiva é observada em 6 meses de tratamento, enquanto a objetiva é controlada
por raios-x.

A equipe considerou para ela, a paciente, a eqüinoterapia passiva.


Decidiram que o cavalo certo para ela primeiramente seria o Chocolate.
Chocolate é um cavalo de 1,45 m de altura, a qual consideramos a altura certa para os
auxiliares em ambos os lados do cavalo trabalharem confortavelmente.
Ele também foi escolhido por seu comportamento e experiência na equoterapia.
A característica mais importante foi também a caminhada biomecânica.
Precisamos começar essa terapia com um cavalo que não faça movimentos exagerados. Seu
andar deve fazê-la confiar no cavalo e tornar o trabalho da equipe mais fácil.
Na primeira vez ela veio com sua mãe e com a doutora Sanchez; dois cães, Fernet (um collie
preto) e Felipe (um basset hound) a prepararam para seu primeiro contato com os animais.
Ela aprendeu como limpá-los e como brincar com eles em uma rampa, de forma que ela
pôde perceber que o cavalo não era tão grande.
Cavalgamos juntas até que consideramos que ela estava pronta para cavalgar sozinha,
enquanto a assistíamos.

Cavalgamos por lugares onde árvores, patos, água e cisnes a ajudavam na sua estimulação.
Neste caso nós trabalhamos com cores diferentes para fazer o cavalo virar à esquerda ou à
direita. Escolhemos vermelho e amarelo por serem cores mais fáceis para a paciente. No
segundo nível, trabalhamos com um cavalo chamado Gringo. Ele tem um ótimo
comportamento e tem experiência nesse trabalho.

Em ambos os casos nós usamos os dois cavalos para ajudá-la com sua adaptação e mudanças.
Sua mãe estava presente, mas nem sempre trabalhava com ela. Quando solicitado a ela que
participasse, ela concordava; cavalgaram juntas várias vezes.

OBJETIVO

Correção postural para melhorar o controle cefálico, alinhamento correto, vasculação da


pélvis, abdução dos membros inferiores que estão em rotação interna e adução.
Melhorar a coordenação e o equilíbrio

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Estimular a percepção
Estimulação vestibular, trabalhando com diferentes posições no cavalo
Coordenação óculo-motriz
Disassociação dos movimentos
Lateralidade
Localização espacial
Estimular a concentração e atenção
Reforçar a auto-estima
Criar vínculos
Recreação
Reabilitá-los brincando
Atenção e concentração
Melhorar o tônus muscular através do cavalgar
Estereotipias
Auto-agressão – hetero-agressão
401
A INFLUÊNCIA DA EQUOTERAPIA SOBRE A FUNÇÃO SOCIAL,
AUTO-CUIDADO E MOBILIDADE COM PRATICANTE COM
ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA.

Autora: Ana Paula Margarido Caldas - Brasil


Co-autores: Ana Paola Negri;
Daniela Garberllini; Eveli Maluf;
Thaís Pezzato Gonçalves de Oliveira;
Cláudio Maluf Haddad

ESTUDO DE CASO

INTRODUÇÃO

A paralisia cerebral pode ser definida como uma lesão persistente, porém não-progressiva,
de caráter sensório-motor, causada por uma lesão no cérebro desde a vida fetal até a infância,
de etiologia variada (FISCHINGER, 1984; BROWER E ASHBY, 1991). Para ser classificada
como paralisia cerebral, a lesão deve ocorrer até os três primeiros anos de vida, época em
que termina a mielinização dos neurônios motores (DIAMENTE E CYPEL, 1996). Por ser de
caráter sensório-motor, afeta de maneira não uniforme a postura, tônus e movimento,
predominantemente sobre as possíveis seqüelas cognitivas (EDWARDS, 1999).

Segundo Styer-Acevedo (2002) a PC não deve ser considerada uma doença, mas uma
categoria de deficiências que abrange pacientes com distúrbios crônicos não-progressivos de
movimento ou postura com início precoce. O termo PC não é totalmente satisfatório, pois
paralisia não é o que se observa na maioria dos pacientes, que mais comumente apresentam
paresia ou exibem outros tipos de distúrbios. Além disso, o termo cerebral sugere o
acometimento apenas dos hemisférios cerebrais, mas as lesões responsáveis também podem
acometer a região mesodiencefálica, tronco cerebral e/ou cerebelo (FURLANI, 2004). Desta
forma, uma denominação mais atual é encefalopatia vrônica não-progressiva (ECNP).
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

Fazendo-se uma relação entre a linguagem e o sistema postural, vê-se que no início do
desenvolvimento da criança o sistema vestibular é revestido de grande importância em tal
integração, considerando-se que as primeiras conexões ativas com o meio exterior são
realizadas logo a partir do controle de cabeça (LIMONGI, 1998).

A produção dos sons está relacionada à maturação do sistema miofuncional oral e às funções
neurovegetativas (respiração, sucção, mastigação e deglutição). A articulação é uma função
da comunicação que envolve aspectos lingüísticos, motores, orgânicos, cognitivos e ambientais
(WERTZNER, 1999).

Os problemas encontrados na comunicação das crianças portadoras de ECNP podem variar.


Podem ser desde ausência de atitude comunicativa, passando por grandes dificuldades na
comunicação oral devido a alterações nas estruturas e função relacionada à fala, que impeçam
a articulação dos sons, palavras e frases (referindo-se às condições práxicas), até distúrbios
no nível de linguagem. Nesta área as dificuldades são sentidas no nível sintático e/ou
402
semântico, em que podem ser encontradas frases com inversão na ordem dos elementos ou
ausência de alguns dos mesmos, desprovidos de significação ou ainda com características
afasíacas. Deve-se ainda considerar o caso em que a comunicação oral se encontra totalmente
ausente, e a atitude comunicativa está presente por meio de gestos, sinais, algumas poucas
vocalizações (LIMONGI, 1996).

A equoterapia implica obrigatoriamente ação interdisciplinar, em função da natureza de


integração da saúde e educação. Ao andar, o cavalo exige do cavaleiro o ajuste tônico para
adaptar seu equilíbrio a cada movimento (HADDAD et al. 2005).

O movimento tridimensional do cavalo influencia diretamente músculos do controle postural,


músculos da capacidade oral, músculos da laringe e músculos da respiração. Portanto, temos
a ação direta do cavalo favorecendo a adequação de tônus, da postura, da sensibilidade, da
propriocepção e da respiração. Para que ocorra a produção da fala também é necessária
adequação do tônus postural, ritmo, posicionamentos de cabeça e corpo, controle respiratório,
coordenação fonorrespiratória. (LERMONTOV, 2004).

O movimento provoca um deslocamento na pelve do cavaleiro, com rotação estimada de


oito graus, que equivale ao deslocamento sofrido pela pelve humana durante a marcha em
pé (CITERIO, 1998).

O cavalo é o elemento terapêutico que proporciona ganho diferenciado para o praticante


pela afetividade, pelo movimento tridimensional, pelo contexto do ambiente e pela
interdisciplinaridade (CALDAS, 2003).

O ambiente da equoterapia proporciona ao praticante novas experiências, com situações


ricas em desafios que contribuem para seu desenvolvimento, aprimorando suas
potencialidades e abrangendo as áreas de motricidade oral, linguagem, voz e audição
(CALDAS, 2004).

O fonoaudiólogo se beneficiará dos ajustes tônicos proporcionados pelo cavalo, em grandes


ganhos que se evidenciam em alinhamento corporal (biomecânico), reações de equilíbrio,
retificação e proteção (balance), controle de tronco e cervical, adequação de tônus,
imprescindíveis para melhor funcionamento oromotor, respiratório-fonatório e sensório-
motor. E ainda, a atuação do fonoaudiólogo não se restringe ao plano físico. Cabe-lhe também

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


o trabalho envolvendo a comunicação, desde a forma mais ampla até os usos e funções da
linguagem (NEVES ,2000, 2002).

Atualmente, a ênfase está na documentação e observação sistemática do desempenho


funcional da criança, salientando sua movimentação espontânea no ambiente (MANCINI,
2001). Neste contexto, segundo Tecklin (2002), a Avaliação Pediátrica do Inventário de
Incapacidades – PEDI (Pediatric Evaluation of Disability Inventory) foi desenvolvida para
atender às necessidades por um instrumento válido e confiável para a avaliação do estado
funcional em bebês e crianças pequenas, por fisioterapeutas e outros profissionais de
reabilitação devido à metodologia rigorosa para seu desenvolvimento.

São inúmeros os fatores que contribuem para a extensa variabilidade e complexidade dos
distúrbios da comunicação na Paralisia Cerebral (LIMONGI, 2003). Há relação entre as
alterações sensoriomotoras encontradas nas crianças paralíticas cerebrais e a necessidade
deste sistema íntegro para um adequado desenvolvimento cognitivo e de linguagem.
403
(LIMONGI, 2000). Os diferentes processos cognitivos, tais como a percepção visual, memória,
atenção, dependem de processo de significação com estrutura e funcionamento modificados
pela linguagem na relação com o interlocutor, ou seja, o terapeuta, e com o recurso terapêutico
do cavalo tanto no aspecto afetivo, na atividade simbólica e pelo movimento tridimensional.

OBJETIVO

Verificar os resultados obtidos com o Inventário de Avaliação Pediátrica de Disfunção (PEDI)


na equoterapia, com uma praticante portadora de ECNP enfocando os aspectos
fonoaudiológicos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Sujeito: O estudo relata o caso da paciente, G.M.C., de seis anos, sexo feminino, portadora
de ECNP do tipo quadriplégica espástica com maior predomínio à direita, decorrente de
lesão encefálica após cirurgia cardíaca para correção de transposição de grandes válvulas,
aos 34 dias de vida.

Procedimento: A coleta de dados foi realizada na sala de avaliação do Projeto Equoterapia


ESALQ-USP, em três etapas: avaliação inicial, intervenção equoterápica durante 10 meses e
reavaliação com o protocolo Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI), com sessões
semanais de equoterapia de 30 minutos. Utilizou-se o Inventário de Avaliação Pediátrica de
Disfunção (PEDI) para informar as habilidades da criança no desempenho de atividades e
tarefas do cotidiano nas áreas funcionais de autocuidado (73 itens), mobilidade (59 itens) e
função social (65 itens). Estes itens são pontuados em 1, se a criança for capaz de desempenhar
a atividade funcional em sua rotina diária, ou 0, se a criança não for capaz (MANCINI et
al., 2002a; MANCINI et al, 2002b e BRENNEMAN apud TECKLIN, 2002).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quadro 01. Dados obtidos por meio da escala PEDI referente à pontuação das habilidades
funcionais pré-intervenção.
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Escore Escore Erro Escore Erro


Bruto Normativo Padrão Contínuo padrão
Autocuidado 19 - - 40,4 1,8
Habilidades
Função Social 9 - - 32,09 1,7
Funcionais
Mobilidade 4 - - 18,2 3,8

Quadro 02. Dados obtidos por meio da escala PEDI referente à pontuação das habilidades
funcionais pós-intervenção.

Escore Escore Erro Escore Erro


Bruto Normativo Padrão Contínuo padrão
Autocuidado 58 - - 67,6 1,8
Habilidades
Função Social 26 - - 47,9 2,1
Funcionais
404 Mobilidade 56 - - 66 1,7
Os resultados apresentados com maior significância na área de autocuidado foram: uso de
utensílios, utilização de recipiente para beber, higiene oral, cuidado com os cabelos, cuidados
com o nariz, lavar as mãos, lavar corpo e face, tarefa de toalete, controle urinário e intestinal.
Em relação à função social, foram compreensão do significado da palavra, compreensão de
sentenças complexas, uso funcional da comunicação, complexidade da comunicação
expressiva, resolução de problema, jogo social interativo, interação com os companheiros,
brincadeiras com objetos, auto-informação e orientação temporal. Na área de mobilidade, a
praticante apresentou melhora significativa nas transferências no chuveiro e locomoção em
ambiente interno.

Tabela 01. Avaliação da função motora grossa por meio da Escala GMFM antes e após a 10ª
sessão de equoterapia.

PRÉ PÓS
Dimensão A (%) 51 51
Dimensão B (%) 48 56
Dimensão C (%) 29 29
Dimensão D (%) 11 11
(PRÉ) Antes da intervenção; (PÓS) Imediatamente após a 10ª intervenção.

A avaliação do desempenho motor foi realizada por meio do GMFM, instrumento de


observação padronizado que permite avaliar quanto uma criança realiza de função motora
grossa, sendo composto por 88 itens, divididos em cinco dimensões: A) deitar e rolar,
B) sentar, C) engatinhar e ajoelhar, D) ficar em pé, E) andar, correr e pular. De acordo com
o quadro acima, observou-se um ganho para a dimensão B referente a sentar, sendo que as
outras permaneceram iguais antes e após a 1ª sessão de equoterapia.

Quadro 03. Escala de avaliação fonoaudiológica para interação, aspectos fonológicos e


expressões verbais e não-verbais.

A técnica fonoaudiológica utilizada para a coleta de dados foi a de observação direta,


registrada nos prontuários no Projeto Equoterapia ESALQ/USP, sendo que para a avaliação
da praticante foi desenvolvida uma escala de avaliação fonoaudiológica na qual foram
observados e pontuados os seguintes itens, como mostra a tabela abaixo:

A - Intenção comunicativa XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


1 Nunca
2 Às vezes
3 Sempre

B- Expressões não verbais: gestos, mímicas e ações


1 Choro e resmungo sem significado
2 Choro e resmungo com significado
3 Choro, resmungo,expressão facial e ações com significado

C - Expressão oral
1 Vocábulos isolados
2 Frases aleatórias
3 Frases justapostas 405
D - Aspectos fonológicos
1 Trocas articulatórias sistemáticas
2 Trocas articulatórias assistemática
3 Sem trocas articulatórias

Aplicação da Escala de Avaliação Fonoaudiológica para Interação,


Aspectos Fonológicos e Expressões Verbais e Não Verbais.

Praticante: G.M.C
Avaliação Inicial: Fev. 04
Avaliação Final: Dez. 04

Item Avaliado Pontuação I Pontuação F


A 2 3
B 3 3
D 1 3
C 1 2

CONCLUSÃO

Em relação à intenção comunicativa, expressões verbais e não-verbais e expressão oral,


concluímos que a melhora do endireitamento de tronco, com postura neutra de cabeça
comprovada pelo GMFM, mostrou a horizontalidade do olhar, muito importante para a
interação com o interlocutor.

No estudo “Equoterapia: Uma perspectiva para o desenvolvimento da linguagem”,


constatou-se que este método está intimamente ligado à fonoaudiologia, pois além de favorecer
o desenvolvimento da linguagem, também se trabalha adequação de funções estomatognáticas
e órgãos fonoarticulatórios, incluindo a melhora da capacidade respiratória e da coordenação
pneumofonoarticulatória. Esses fatores são muito importantes para a comunicação, e
interagindo com o meio ambiente o praticante aumenta sua capacidade cognitiva (SANTOS,
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

1999).

Os resultados obtidos neste estudo mostraram que a equoterapia pode ser um método
terapêutico coadjuvante no tratamento de portadores de ECNP, favorecendo o
desenvolvimento da linguagem e sua funcionalidade social comprovados quantitativamente
com a melhora na pontuação obtida pelo PEDI. Por meio do GMFM, constatou-se melhoria
na pontuação da postura sentada, influenciando o endireitamento de tronco, postura neutra
de cabeça e horizontalidade do olhar, favorecendo maior conhecimento do mundo e
melhorando a interação com os interlocutores, e qualitativamente por meio da escala de
avaliação fonoaudiológica elaborada para análise dos aspectos fonoaudiológicos para
interação, aspectos fonológicos e expressões verbais e não-verbais.

406
REFERÊNCIAS

FISCHINGER, B.S., Considerações sobre a paralisia cerebral. São Paulo: Panamed, 1984.
p. 13-53;107-153

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subjects with Cerebral Palsy. Brain, v.114,n.3,p.1395-1407,1991.

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EDWARDS,SUSAN. Uma abordagem centrada na resolução de problemas. Fisioterapia


Neurológica. Porto Alegre; Artmed,1999.p.75-98

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Dezembro 2005

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Editrice U. Murcia,1998.120 p.

LERMONTOV, T. A visão da fonoaudiologia na equoterapia. O uso do cavalo como instrumento


facilitador na fonoaudiologia. Rio de Janeiro: Centro de Equoterapia Pratique. Disponível em
http://www.equoterapia.com.br. Acesso em 30/ agosto/ 2004.

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– nº 10 – dez 2004

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– TABITY,Jr.A São Paulo:Cortez,2000.pág.74

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CEFAC (monografia), 1999

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XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Pernambuco de equoterapia. Centro interdisciplinar de equoterapia. Cel. Sylvio de Melo
Cahú – CEPOM – PE. Recife. 2000 e 2002.

407
A EQUOTERAPIA MOSTRANDO RESULTADOS
EM PACIENTES COM SÍNDROME
DE WILLIAMS E SÍNDRONE DE SMITH-LEMLI-OPITZ

Autora: Paula Gaêta - Brasil


Co-autores: Ana Paula G. V. Bassoli;
Andressa L. L. Lopes;
Teresa Cristina Tornazella Gaspar;
Liane R. Giuliani;
Luiza Helena Caran

APAE-BATATAIS SP
anabassoli@zipmail.com.br/paulapejo@hotmail.com/
andresa.lopes@hotmail.com.br/ lrossog@yahoo.com/tete@com4.com.br/
lenacaran@com4.com.br

INTRODUÇÃO

A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma


abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando com isso o
desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência e/ou necessidades
especiais.

Emprega o cavalo como agente promotor de ganhos fisicos, e psíquicos. Esta atividade exige
a participação do corpo inteiro, contribuindo assim para o desenvolvimento da força
muscular, relaxamento, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamento da coordenação
motora e do equilíbrio.

A abordagem terapêutica em pacientes com síndromes genéticas é multidisciplinar,


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

considerando-se as particularidades de cada síndrome. A Síndrome de Williams (SW),


microdeleção em 7q11.23; apresentam deficiência mental, baixa estatura, cardiopatia e face
típica; são amáveis, ansiosos, com dificuldade no processo de memória visual e hiperacusia;
têm alteração motora. A síndrome de Smith-Lemli-Opitz (SLO) de etiologia autossômica
recessiva, resulta da deficiência da enzima 7-dehidrocolesterol redutase, que acarreta
malformações múltiplas, deficiência mental, sindactilia de 2º/3º pododáctilos e déficits de
ganho pôndero-estatural e de linguagem, distúrbio do sono, sintomas autísticos; área motora
global mais alterada que a motora fina.

A equoterapia é um método terapêutico-educacional cuja abordagem interdisciplinar


contribui para o desenvolvimento da força muscular, relaxamento, conscientização do próprio
corpo e aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio, além da socialização,
autoconfiança, auto-estima e educação.

Tendo em vista todos esses beneficios, escolhemos a equoterapia para dar qualidade de vida
ao grupo escolhido.
408
MATERIAIS E MÉTODOS

Foram selecionados dois grupos de pacientes em equoterapia há um ano , três pacientes com
SW , cuja a avaliação por FISH demonstrou microdelação 7q11.23; dois com SLO, com
dosagem de 7-dehidrocolesterol elevadas.

Todos passaram por avaliações médica, fonoterápica, fisioterápica, psicológica e pedagógica.


Nas avaliações foram constatados diminuição de tônus muscular, área motora grossa e fina
precária, postura cifótica, aumento de ansiedade, falta de concentração, equilíbrio precário,
falta de controle esfincteriano, sem consciência de esquema corporal, memória precária,
alterações de fala e linguagem, comportamentos inadequados, dificuldade de estabelecer
vínculos e socialização.

Devido ao que foi constatado nas avaliações iniciais, estabeleceram-se os seguintes planos
de trabalho:

FASE DE APROXIMAÇÃO
• aproximação entre praticante e cavalo
• eliminação de medos, indiferença, medo do desconhecido

ATIVIDADES
• aproximação - levar a conhecer o cavalo
• aprender a identificar as partes do corpo do animal
• conhecer as necessidades básicas do animal (alimentação,limpeza e cuidados, etc.)

FASE DE DESCOBERTA
• explorar a anatomia do animal
• explorar o solo por meio dos sentidos (pode ser com o animal parado)

O mediador encoraja o praticante a controlar as suas emoções: medo, insegurança,

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


agressividade, passividade, agitação, com isso há formação de vínculo entre praticante -
cavalo - mediador.

ATIVIDADES
• identificar partes do corpo do animal
• conhecer o equipamento utilizado
• montar e desmontar
• exercícios relativos à postura (posicionamento de tronco, identificando as partes do
corpo humano).

FASE EDUCATIVA

O praticante toma consciência de que o cavalo não é apenas um objeto, e sim um ser com
sensibilidade e reações.
409
O cavalo terá andadura ao passo, para oferecer o máximo de informações sensitivas e
psicomotoras.

A verbalização do mediador é primordial, bem como a disponibilidade de atenção do


praticante.

ATIVIDADES

• exercícios de aquecimento e relaxamento


• exercícios respiratórios com membros e troncos
• movimentos de braços separadamente e alternados
• contato maior sobre o cavalo,envolvendo diversas posições do corpo sobre o animal
(de pé, ajoelhado, sentado, de olhos fechados, de forma a conseguir descontração e
relaxamento sobre este)
• exercícios de concentração
• exercícios de equilibrio – trabalho de membros inferiores, facilitando o afinamento
do equilíbrio físico com alinhamento de cabeça, tronco e quadril
• lateralidade – levar as mãos sobre as diversas partes do corpo do animal e do
praticante fixando conceitos: frente, atrás, em cima, embaixo, direita,
esquerda,dentro, fora, alto, baixo, rápido, lento
• flexibilidade – sentar-se e elevar-se sobre a sela, forçando a musculatura das pernas
e articulação do joelho
• coordenação motora e flexibilidade - formação de círculo, oito, exercícios em linha
reta, zigue-zague, brincadeiras com bola, arremesso, exercícios de interação e
socialização, jogar bola um para outro, segurar bastão e exercícios para memória e
concentração
• consciência corporal e esquema corporal
• noção de limites
• estruturação tempo/espaço
• melhora na auto-estima e autoconfiança
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

FASE DE RUPTURA
• acompanhamento até a baia
• retirada de arreamento
• alimentação animal
• acariciamento

RESULTADOS

PACIENTE 1 - 06 ANOS ( SW )

Em janeiro de 2004, apresentava em avaliação inicial: falta de controle esfincteriano,postura


cifótica, área motora fina e grossa precária e diminuição de tônus orofaciais, falta de
concentração e vocabulário pobre.
410
Em janeiro de 2005 após 29 sessões, uma vez por semana, observamos que o paciente
conseguiu controlar o esfincter, sua postura melhorou muito devido à realização de tapping
em região da coluna, com conscientização corporal, além de mostrar uma ótima evolução
em área motora global e concentração, realizando todos os exercícios propostos pelo mediador,
com melhora de coordenação motora fina (pinça) e expansão vocabular.

PACIENTE 2 - 11 ANOS ( SW )

Em janeiro de 2004 apresentava coordenação motora global precária, aumento da ansiedade


(não conseguindo se controlar na espera de sua vez, falando sem parar repetindo sempre a
mesma coisa, rasgando a roupa) e sem nenhuma concentração, dispersando-se com qualquer
coisa.

Em janeiro de 2.005, após 29 sessões, uma vez por semana, a praticante consegue controlar
sua ansiedade, conseguindo esperar a sua vez para terapia, melhorou muito a concentração,
prestando mais atençao nos exercícios propostos pelo mediador, executando-os até o final.
Postura e coordenação motora global também apresentaram uma boa evolução. Diminuiu a
fala repetitiva e também o controle de comportamentos inadequados,ou seja, não está
rasgando mais a roupa durante a terapia , e esporadicamente em ambientes como a sala de
aula. Segundo relatos da professora , a praticante apresentou melhora quanto à ansiedade ,
e diz a equoterapia ‘ser legal”(sic).

PACIENTE 3 – 54 ANOS ( SW )

Em janeiro de 2004 este praticante apresenta, além da síndrome de Willians, também,


componentes psiquiátricos. Observam-se postura cifótica; diminuição de tônus muscular e
nenhuma concentraçao.

Em janeiro de 2.005, realizadas 20 sessões, uma vez por semana, iniciadas com montaria
dupla para sua maior confiança, conseguimos que ele interagisse melhor com o meio. Depois
passamos para montaria simples, na qual observamos melhora em sua postura, às vezes
conseguindo que ele realizasse algumas atividades propostas , com ajuda do mediador
auxiliando nos exercícios. Percebeu-se satisfação em sua montaria com o simples cavalgar e
percepção dos estímulos do meio.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


PACIENTE 4 – 13 ANOS (SLO )

Em janeiro de 2004 apresentou postura cifótica, diminuição de tônus muscular, memória


precária,área motora global prejudicada, falta de concentração de conscientização corporal.

Em janeiro de 2005, após 32 sessões, duas vezes por semana, conseguiu boa evolução na
área motora global, aumentou o tônus muscular, obteve postura mais correta e melhorou
conscientização corporal e memória. Devido à boa evolução, conseguimos que o praticante
saísse da fase de hipoterapia e fosse para reeducação/educação, na qual está se saindo bem.
Em sala de aula houve melhora em sua, autoconfiança e demais áreas do desenvolvimento,
além do interesse pelo atendimento equoterápico.

PACIENTE 5-15 ANOS ( SLO )

Em janeiro de 2004, a praticante apresentou falta de concentração, memória precária, área


motora global prejudicada, sem conscientização corporal, diminuição de tônus muscular e
postura cifótica.
411
Em janeiro de 2005, após 44 sessões, duas vezes por semana, constatou-se grande evolução
em sua concentração, realizando todas as atividades propostas pelo mediador, postura mais
ereta, melhorou a memória e conscientização corporal, aumentou tônus muscular e sua
área motora global evoluiu muito.

Devido à boa evolução, o praticante conseguiu passar para a fase de reeducação/educação


, demonstrando autoconfiança na realização de atividades e bons resultados em todas as
areas do desenvolvimento.

CONCLUSÃO

Observamos que a equoterapia foi um agente facilitador para aquisição de concentração,


postura adequada, melhora do tônus muscular, equilíbrio, memória e coordenação motora
global em todos os pacientes. Houve uma melhora significativa em relação inicial aos casos.
O grupo da SW obteve melhora mais significativa na área de comportamento e na
comunicação oral, enquanto o grupo de SLO teve melhor evolução na área de conscientização
corporal, memória e área motora. Com a equoterapia também foi estimulada a autoconfiança,
com melhora em relacionamentos interpessoais e na qualidade de vida dos praticantes.

REFERÊNCIAS

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no Brasil. Brasília, 2002

BALTIERI,S. C. A equoterapia e a equitação lúdica na infância. São Paulo: Sinopse de Pediatria.


Vol.9 n.2, julho/2003.

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DYKENS,E. M.; HODAPP,R.M.; FINUCANE B.M. Genetics and mental retardation syndromes:
A new look at bahavior and interventions.Baltimor: Brookes Publishing Co, 2000.
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MEDEIROS, M. DIAS, E. Equoterapia: bases e fundamentos. Rio de Janeiro: Reventor, 2002.

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WILSON, G. N.; COOLEY, W.C. Informação adaptada de preventive managmente fo children


with congenital anomalius and syndromes. Disponível em www.chc.min-saude.pt/hp/genética/
willians.htm.2000. Acesso em 18/05/2005

412
O EFEITO DE ATIVIDADES PSICOMOTORAS COM E SEM O USO
DO CAVALO EM CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN

Autor: Fernando Copetti - Brasil


Co-autores: Susane Graup;
Luis Felipe Dias Lopes;
Laboratory of Research and Teaching Human Movement:
Center of Physical Education and Sports:
Federal University of Santa Maria, RS, Brazil.

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi estudar o efeito da inserção de atividades psicomotoras na


rotina das sessões de equoterapia de crianças com síndrome de Down. Nossa hipótese é que
as atividades psicomotoras podem promover melhorias na equilibração, lateralização, noção
de corpo e estruturação espaço-temporal, principalmente quando associadas com o cavalo.
Uma série de atividades psicomotoras foi organizada para ser realizada durante as sessões
de equoterapia, adaptadas para duas situações, uma sobre o cavalo e outra no solo, sem o
animal. Os grupos foram organizados da seguinte maneira: 1) atividades psicomotoras
realizadas sobre o cavalo (GPO1); 2) atividades psicomotoras realizadas no solo (GPO2); e
3) grupo controle (GPO3). Os tratamentos tiveram duração de 13 sessões, com freqüência de
uma vez por semana. Para o GPO1 foi fixado um protocolo de 20 minutos com o cavalo
andando ao passo e 10 minutos de atividades livres sobre o cavalo. Uma escala psicomotora
(6)
foi utilizada para avaliar as condutas psicomotoras. As condutas investigadas foram
equilibração, lateralização, noção de corpo e estruturação espaço-temporal, com valores
variando de 1 a 4 pontos. Foram avaliados nove sujeitos com idades entre 4 e 13 anos, sendo
7 do sexo masculino e 2 do feminino. Para o tratamento dos resultados foram utilizados os
testes de Kruskal-Wallis e Wilcoxon. Os grupos GPO1 e GPO2, que receberam tratamento
apresentaram melhorias nos resultados. As mais expressivas mudanças ocorreram do pré
para o pós teste com a conduta de equilibração. Não se observaram melhoras concomitantes
para todas as condutas analisadas. Os resultados sugerem que a introdução de atividades
psicomotoras no tratamento de crianças com síndrome de Down resultou em importantes
melhorias em suas condições e desenvolvimento. O GPO1 apresentou resultado geral melhor

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


no pós-teste do que os demais grupos. No entanto, os dados não afirmam estatisticamente
que a presença do cavalo foi responsável pelas melhoras nos escores dos sujeitos. Isso poderia
ser justificado em função do tempo de experimento.

ABSTRACT

The objective of this research was to study the effect of psychomotor activities inserted in the
riding therapy routine of children with Down’s Syndrome. Our hypothesis is that
psychomotor activities can promote improvements in stabilization, lateralization, body
awareness, and space-time structuring, especially when it is associated with horse. Therefore
a series of psychomotor activities were arranged within the equine therapy session and
adapted for execution on both the horse and on the ground. Three groups were organized:
1) psychomotor activities were done on the horse (GPO1); 2) psychomotor activities were
done on the ground (GPO2); and 3) not treated (GPO3). Treatments were conducted for 13
sessions, once a week. For G1, there was a fixed protocol of 20 minutes of riding at a walk
413
and 10 minutes of free activities on the horse. The instrument used to evaluate the
psychomotor conducts was the Psychomotor Scale. The scale was used to evaluate balance,
lateralization, body awareness, and space-time structuring. The conducts were evaluated
on a scale of 1 to 4. Nine subjects were evaluated ranging in age from 4 to 13 years with 7
being male and 2 being female. The statistical tests of Kruskal-Wallis and Wilcoxon were
used for the treatment of the data. Groups GPO1 and GPO2 that received treatment showed
improvement. The most important improvements between pre-test and post-test results
occurred with equilibration. There was not concomitant improvement for all investigated
conducts. The data suggest that introducing psychomotor development activities into the
treatment of children with Down’s Syndrome resulted in expressive improvements in their
condition and development. G1 presented a better overall result in the post-test than the
other groups. However, the data did not statistically affirm that the presence of the horse
was responsible for the improved scores of the subjects. It could be justified by the time of
the experiment.

INTRODUÇÃO

A síndrome de Down é uma anomalia cromossômica que apresenta como principais


deficiências neurológicas o retardo mental e a hipotonia infantil. O corpo da criança com
essa síndrome é flácido e apresenta dificuldade para adquirir força e tônus muscular adequado
para se manter nas diversas posturas que lhe são solicitadas no dia-a-dia. Além disso, a
presença de deficiência cognitiva é um fator que também está relacionado a problemas na
aquisição de controle motor e na realização de movimentos.

Apesar de tais fatores contribuírem para o atraso na aquisição motora, as crianças com
síndrome de Down conseguem atingir os marcos do desenvolvimento, porém em ritmo mais
lento , apresentando dessa forma uma trajetória análoga à de uma criança normal. Embora
em um ritmo considerado diferente, são observados os mesmos processos de mudança, só
que acompanhados de retardos e em padrões anormais de postura e movimento. Insuficiência
da percepção e do controle do próprio corpo, transtornos de atenção, incapacidade de
controle respiratório, distúrbio de equilíbrio, orientação deficitária e dificuldade de
organização espaço-temporal também estão associados à síndrome de Down A autora
enfatiza ainda que essa instabilidade motora acontece pela incapacidade de conservar uma
atitude, de fixar a atenção e de continuar uma ação, indicando a necessidade de um trabalho
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

de educação psicomotora para melhorar a capacidade mental, bem como a aquisição e o


controle motor.

Para a psicomotricidade, o desenvolvimento global e harmônico do indivíduo desde o


nascimento depende da ligação entre o psiquismo e a motricidade. Ela se apresenta como
uma ciência cuja prática pode ser aplicada no tratamento das crianças portadoras de síndrome
de Down por oferecer bases para atingir os objetivos requeridos no trabalho com essas
crianças, e principalmente, por enfocar o desenvolvimento em seu sentido mais amplo,
abrangendo o desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo. Para o autor, a psicomotricidade
objetiva ajudar o indivíduo com essa síndrome a explorar melhor o seu meio e captar mais
adequada e rapidamente seus estímulos, proporcionando uma melhora motora e postural,
tendo em vista o desenvolvimento psicomotor consciente. Dessa forma, comportamento motor
é visto como sendo psicomotor em função do envolvimento cognitivo e afetivo na maior
parte dos movimentos executados.

414
Autores têm relacionado positivamente a psicomotricidade com a prática de atividades que
utilizam o cavalo, entre elas a equoterapia, pela riqueza de estímulos que essa intervenção
pode proporcionar ao praticante. A equoterapia utiliza o cavalo como instrumento de trabalho
baseado na prática de atividades eqüestres e técnicas de equitação, e pode ser considerada
um conjunto de técnicas reeducativas que atuam para superar danos sensoriais, cognitivos
e comportamentais. Desta forma, apresenta-se com um grande potencial para intervenções
terapêuticas.

Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi verificar se a inserção de um programa de


atividades psicomotoras incorporada à rotina das sessões de equoterapia em crianças com
síndrome de Down pode promover melhoras nas condutas de equilibração, lateralização,
noção corporal e estruturação espaço-temporal.

METODOLOGIA

O grupo de estudo foi selecionado intencionalmente, tendo sido composto por 9 crianças
portadoras de síndrome de Down, sendo 7 do sexo masculino e 2 do sexo feminino, com
idades entre 5 e 12 anos. Todos os sujeitos do estudo freqüentavam uma associação específica
para pessoas com síndrome de Down. Os indivíduos analisados possuíam liberação médica
para a monta, incluindo Raio-X atlanto-axial. Apresentavam marcha independente e
compreensão de ordens. Freqüentavam escola normal e não realizavam nenhum tipo de
terapia. Não possuíam experiências anteriores com o cavalo ou participação em sessões de
equoterapia. Antes do início do estudo e do consentimento para participarem da pesquisa,
os familiares foram esclarecidos sobre os objetivos do mesmo.

Os participantes foram separados aleatoriamente em três grupos: o primeiro realizou atividades


psicomotoras sobre o cavalo (GPO1); o segundo realizou atividades psicomotoras no solo
(GPO2); o terceiro foi o grupo controle (GPO3), o qual não recebeu nenhum tipo de intervenção.

O tratamento constituiu-se de 13 sessões com um intervalo de sete dias entre cada uma
delas. A variável independente inserida no estudo foi uma proposta de atividades
psicomotoras. Estas atividades foram elaboradas para serem realizadas em duas situações
distintas, uma sobre o cavalo (GPO1) e outra no solo (GPO2). A proposta consistiu de
atividades que continham estimulação para as condutas de equilibração, lateralização, noção

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


de corpo e estruturação espaço-temporal. Para o GPO1, houve um protocolo fixo de 20
minutos de andadura ao passo e 10 minutos de atividades variadas sobre o cavalo; com o
GPO2 foram realizados 30 minutos de atividades de estimulação psicomotora, visando a
realizar o mesmo trabalho, porém sem o cavalo.

O protocolo fixo do GPO1 era realizado na pista de areia e possuía duas estações, uma para
mudança de cadência e ritmo a outra para mudança de direção. Os primeiros 5 minutos de
cada sessão eram realizados com o cavalo ao passo, sem nenhum outro tipo de estimulação
além do movimento produzido pelo andar do cavalo. Nos minutos seguintes eram realizadas
as passagens pelas estações, sendo que a velocidade do passo aumentava gradativamente a
cada cinco minutos. Nos dez minutos finais, as atividades variavam para tornar as sessões
mais motivadoras. Eram inseridos materiais didáticos para desenvolver a noção de tamanho
e formas, e instrumentos musicais (pandeiro, chocalho) utilizados para introduzir ritmo.
Outros materiais (bolas de diferentes tamanhos, aros, maça de ginástica) eram utilizados na
adaptação de jogos e brincadeiras, visando a proporcionar o máximo de experiências
415
psicomotoras. As trajetórias de deslocamento do cavalo percorridas dentro da pista de areia
incluíam movimentos circulares, em forma de “S” e em forma de “8”. Como equipamento
foi utilizado um conjunto completo de montaria estilo militar, freio sem articulações, bem
como capacetes para proteção dos participantes.

As atividades desenvolvidas com o GPO2 ocorreram na mesma pista de areia e foram


compostas por estímulos semelhantes aos do GPO1. As atividades executadas sobre o cavalo
foram adaptadas para serem realizadas sem ele, incluindo as trajetórias percorridas e os
objetos utilizados. As sessões ocorriam no mesmo dia, em horários diferentes, para ambos os
grupos.

As atividades foram realizadas nas instalações do 1º Regimento de Polícia Montada da


Brigada Militar. Foi utilizada uma pista de areia com dimensões de 20 metros por 40 metros.
As pessoas responsáveis pelas atividades psicomotoras receberam treinamento específico
para conduzir a rotina de atividades com os dois grupos.

Para avaliar as condutas psicomotoras foi utilizada a bateria psicomotora proposta por
Fonseca. Para a conduta de equilibração foram realizados os subtestes de imobilidade; apoio
retilíneo, ponta dos pés e apoio em um pé (direito e esquerdo), que compuseram a avaliação
do equilíbrio estático. A marcha controlada, salto com um pé (direito e esquerdo), salto para
a frente, salto para trás e salto para a frente com os olhos fechados constituíam o teste de
equilíbrio dinâmico. Para a conduta de lateralização foram aplicados os subtestes de observação
lateral ocular, ouvido preferencial, simular escrever e cortar e simular um passo gigante.
Para a conduta de noção de corpo, os subtestes foram os de sentido cinestésico, reconhecimento
direita/esquerda, auto-imagem, imitação de gestos e desenho do corpo. Finalmente, para a
quarta conduta, estruturação espaço-temporal, foram avaliadas a organização, estrutura
dinâmica e estrutura rítmica. Cada subteste era pontuado entre 1 (perfil apráxico) a 4 (perfil
hiperpráxico), o que gerou diferentes valores de somatório para cada conduta. Para a conduta
equilibração, os valores mínimos e máximos estavam entre 11 e 44 pontos; para a
lateralização, entre 1 e 4 pontos; para a noção corporal, entre 5 e 20 pontos, e para a
estruturação espaço-temporal entre 3 e 12 pontos. O total da avaliação psicomotora deveria
estar entre 20 e 80 pontos. Foram retirados da bateria psicomotora os subtestes cujos sujeitos
não tinham compreensão ou demonstraram-se incapazes de executá-los (na conduta de
lateralização foram retirados os subtestes realizados na trave e na conduta estruturação
espaço-temporal foi retirado o subteste de organização topográfica). A bateria foi aplicada
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

por três avaliadores previamente treinados.

Os dados foram digitados em uma planilha do programa Excel. Após conferência esses
foram transportados para o programa SAS 8.02 para tratamento estatístico. Foi realizada a
estatística descritiva para obter a média e desvio padrão dos resultados. Para verificar a
normalidade dos dados foi utilizado o teste de Shapiro Wilk, e para comparar os grupos o
Teste de Kruskal-Wallis. O dados de pré e pós-testes foram comparados pelo teste de Wilcoxon.
O nível de significância assumido foi de 5%.

RESULTADOS

Os resultados observados neste estudo, cujo propósito foi verificar se a inserção de um


programa de atividades psicomotoras incorporadas à rotina das sessões de equoterapia em
crianças com síndrome de Down pode promover melhoras nas condutas de equilibração,
416
lateralização, noção corporal e estruturação espaço temporal, estão apresentados nas Tabelas
1 e 2. Nos valores apresentados pode-se observar o somatório dos escores obtidos em cada
conduta psicomotora, por indivíduo (Tabela 1), bem como o somatório total das mesmas
com suas médias e variações (Tabela 2).

Tabela 1 – Somatório dos valores individuais observados no pré e pós-testes para cada
conduta psicomotora.

CONDUTA PSICOMOTORA
Estruturação
Noção de Espaço- TOTAL
Grupo Sujeito Equilibração Lateralidade Corpo temporal PSICOMOTOR
(11 - 44)* (01 - 04)* (05 - 20)* (03 - 12)*
Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós
(GPO1) 1 25 32 3 4 10 16 4 5 42 57
2 15 24 4 4 8 14 3 3 30 45
3 23 32 4 4 11 15 4 7 42 58
(GPO2) 1 30 33 3 4 15 16 8 8 56 61
2 21 25 4 4 5 11 3 3 33 43
3 14 17 4 4 6 6 3 3 27 30
(GPO3) 1 11 11 4 4 5 5 3 3 23 23
2 12 16 3 3 8 8 3 3 26 30
3 12 14 4 4 5 7 3 3 24 28
* valores mínimo e máximo para a conduta psicomotora

Tabela 2 – Valores médios e desvios padrão de pré e pós-testes para cada conduta psicomotora
por grupo.

CONDUTA PSICOMOTORA
Estruturação
Noção de Espaço- TOTAL
Grupo Sujeito Equilibração Lateralidade Corpo temporal PSICOMOTOR
X sd X sd X sd X sd X sd
GPO1 Pré 21.00 5.29 3.67 0.58 9.67 1.53 3.67 0.58 38.00 6.93
Pós 29.33 4.62 4.00 0.00 15.00 1.00 5.00 2.00 53.33 7.23

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GPO2 Pré 21.67 8.02 3.67 0.58 8.67 5.51 4.67 2.89 38.67 15.31
Pós 25.00 8.00 4.00 0.00 11.00 5.00 4.67 2.89 44.67 15.57
GPO3 Pré 11.67 0.58 3.67 0.58 6.00 1.73 3.00 0.00 24.33 1.53
Pós 13.67 2.52 3.67 0.58 6.67 1.53 3.00 0.00 27.00 3.61

* valores mínimo e máximo para a conduta psicomotora

A análise comparativa dos resultados do pré-teste mostrou que os grupos não apresentaram
médias estatisticamente diferentes entre si no início do estudo. Após as 13 semanas de
tratamento, os resultados mostraram que as duas formas de intervenção propostas, (sobre o
cavalo e no solo) não foram capazes de desencadear alterações significativas nas condutas
psicomotoras.

Os resultados observados no pós-teste dos sujeitos do GPO1 e GPO2 apresentam variações


mais expressivas quando comparados com os do grupo controle. Ao observarmos os resultados
dos grupos que receberam tratamento, GPO1 e GPO2, os valores atingidos ao final do
417
experimento pelo grupo que realizou as atividades sobre o cavalo (GPO1), no somatório das
condutas psicomotoras, foi consideravelmente superior ao grupo que realizou as atividades
no solo (GPO2); todavia, essas diferenças não são estatisticamente suportadas. A diferença
média do número de pontos obtidos por cada grupo, entre a pontuação do pré para o pós-teste, foi
de 15,33 pontos para o GPO1, contra 6 pontos para o GPO2 e 2,67 pontos para o GPO3.

A análise feita por conduta psicomotora nos mostra que cada uma variou de maneira diferente
em função das intervenções. Alterações mais expressivas foram observadas nas condutas de
noção de corpo e equilibração. Na equilibração, alterações significativas foram observadas
nos subtestes de apoio retilíneo (p<0,0446) e equilíbrio estático (p<0,0484) para os grupos que
receberam tratamento, quando comparados ao grupo controle. Na conduta lateralização,
dos 9 sujeitos investigados, 6 apresentaram lateralização bem definida no pré-teste, alcançando
o escore máximo para a conduta, sendo que após o período de tratamento somente um
indivíduo do grupo controle não apresentou alteração. Na conduta de estruturação espaço-
temporal, somente o GPO1 apresentou variação entre as avaliações. No entanto, as diferenças
não se apresentaram estatisticamente significativas. Para as quatro condutas psicomotoras
avaliadas, foi possível identificar maiores diferenças positivas nos resultados do pré para o
pós-teste em favor do GPO1. Nos outros dois grupos não foram observadas alterações nos
escores da conduta de estruturação espaço-temporal no GPO2 e GPO3, e de lateralização
no GPO3, no qual os escores permaneceram constantes entre pré e pós-teste. Apesar de se
observarem incrementos nas médias finais do estudo, nenhuma delas foi estatisticamente
significativa.

DISCUSSÃO

A criança com síndrome de Down apresenta como uma das maiores deficiências neurológicas
a redução do tônus postural, típico da síndrome 11. Dessa forma, programas e intervenções
que direcionem suas ações para atividades que desencadeiem ajustes tônicos posturais
estariam contribuindo para ganhos no equilíbrio. Estudos que investigam a intervenção
terapêutica com o cavalo, em especial o efeito do movimento multidimensional gerado pela
andadura do mesmo, vêm apresentando bons resultados, demonstrando que essa terapia é
capaz de promover melhorias no tratamento de distúrbios ou deficiências neuromotoras .
Tais ganhos ocorrem devido às combinação de estimulações sensoriais e componentes de
reabilitação motora gerados em todos os sistemas básicos que, em conjunto, resultam em
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uma integração motora e sensorial ampliada. Desta forma, a equoterapia vem sendo indicada
como um valioso recurso terapêutico.

A principal conduta que a equoterapia solicita é o equilíbrio. Sobre a base desta conduta são
constituídas todas as faculdades psicomotoras (8) . O sistema vestibular é solicitado
repetidamente, estimulando as conexões entre os canais semicirculares, onde as células ciliares
otólitos atraem as oscilações de endolinfa, causadas pelos movimentos da cabeça. A repetição
do movimento provoca a reeducação do mecanismo de reflexos posturais e a noção da posição
dos vários segmentos corporais no espaço.

Apesar de não utilizarem o mesmo tipo de teste para mensurar o equilíbrio, estudos têm
demonstrado fortes implicações da equoterapia sobre esta variável. Considerando que a
hipotonia e o controle postural são problemas primários presentes no indivíduo com síndrome
de Down, programas de atividades de estimulação variada apresentam bons resultados
sobre esta variável, o que explicaria o aumento nos escores dos dois grupos que receberam a
418
intervenção psicomotora, em especial para os subtestes de apoio retilíneo e equilíbrio estático.
Maiores variações nos resultados observados para o GPO1 podem ser conseqüência da
estimulação diferenciada deste grupo, que além de receber a estimulação das atividades
psicomotoras, obteve estímulos gerados pelo movimento do cavalo.

A intervenção pela equoterapia, no que diz respeito às condutas psicomotoras, pode promover
a obtenção de uma lateralidade bem definida, melhorar a percepção do esquema corporal e
noção corporal, favorecer a referência de espaço e de tempo, permitir melhor conhecimento
de posições do próprio corpo e do corpo do cavalo. Além disso, pode melhorar o tônus
muscular, o qual é o alicerce fundamental para a organização da psicomotricidade.

Embora as diferenças não tenham sido estatisticamente significativas, as alterações na conduta


de noção corporal observadas eram esperadas. Isso se deve, presumivelmente, uma vez que
a organização motora da criança se dá a partir de um conjunto de referências oriundas da
experiência individual, que são elaboradas e depois integradas, partindo de coordenadas
espaciais (27). Sendo assim, a prática da equoterapia permite à criança a criação de esquema
motores novos, através de informações proprioceptivas recebidas pelas articulações e
músculos. O estudo das atitudes e das posturas permite compreender facilmente este modelo,
pois a posição de cada um dos membros ou segmentos fica então perfeitamente delimitada
de acordo com três dimensões do espaço, o que vem ao encontro do movimento tridimensional
do cavalo.

Considerando que a estruturação espaço-temporal é dependente das condutas psicomotoras


que antecedem sua estrutura organizacional (6), esperava-se que melhoras nos resultados de
equilibração, lateralidade e noção de corpo viessem a refletir sobre essa conduta, o que somente
foi observado no GPO1. Esse resultado sugere que a estimulação proporcionada somente
pelas atividades psicomotoras não foram suficientes para desencadear alterações nessa
conduta nas crianças do GPO2, o que poderia indicar a ação promovida pelo cavalo como
sendo um diferencial. A aceleração e a desaceleração proporcionada pela variação da
andadura do cavalo proporcionam novas dimensões de espaço e tempo, estimulando de
forma elementar certas áreas de percepção, exigindo assim uma ampliação da estruturação
espaço temporal.

Os resultados obtidos neste estudo, de maneira geral, apontam para um problema similar
aos encontrados na análise feita por Pauw, em estudos que envolvem a equoterapia. A

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análise qualitativa dos dados aponta para uma discrepância entre os resultados estatísticos
obtidos e os resultados positivos observados pelos terapeutas, familiares e profissionais da
saúde. As evidências mostram que GPO1 e GPO2 melhoraram seus escores do pré-teste
para o pós-teste, sendo o GPO1 com os valores mais expressivos. O número reduzido de
sujeitos para cada grupo neste estudo pode ser um fator que compromete a análise estatística
dos resultados. De qualquer maneira, a hipótese de que o uso do cavalo associado a um
programa de atividades psicomotoras poderia apresentar melhores resultados do que o mesmo
programa sem a presença do cavalo não pode ser estatisticamente aceita neste estudo.

CONCLUSÃO

Os resultados observados nestes estudo sugerem que a inserção de um programa de atividades


orientado para o desenvolvimento psicomotor em crianças com síndrome de Down apresenta
indicadores positivos na produção de alterações psicomotoras nas condutas investigadas.
419
Apesar de as atividades realizadas utilizando o cavalo terem apresentado maiores variações
dos resultados no pós-teste do que os demais grupos, estes achados não permitem afirmar
estatisticamente que o cavalo seja o responsável por tais escores. Pesquisas que contemplem
maior número de sujeitos investigados e período mais amplo de tempo de intervenção devem
ser considerados para estudos futuros.

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421
AVALIAR A EFICÁCIA DO TRATAMENTO DE EQUOTERAPIA NA
RIGIDEZ ARTICULAR DE MEMBROS INFERIORES E MARCHA EM
PACIENTE COM MAL DE PARKINSON

Autor: Ana Paula G. V. Bassoli - Brasil


Co-autores: Andressa L. L. Lopes ;
Paula Gaêta;
Teresa Cristina Tornazella Gaspar;
Liane R. Giuliani;
Luiza Helena Caran;
Ramo Gustavo Oliveira

ABADEF-Associação Batataense dos Deficientes Físicos-Batatais SP


anabassoli@zipmail.com.br / paulapejo@hotmail.com /
andresa.lopes@hotmail.com.br / lrossog@yahoo.com/ tete@com4.com.br/
rgol@netsite.com.br/ lenacaran@com4.com.br

INTRODUÇÃO

Estudos recentes têm demonstrado que uma terapia não – convencional, a equoterapia, vem
proporcionando inúmeros benefícios aos seus praticantes(Chernget et al.2004; Sterba, Rogers,
France et al. 2002; Winchester et al. 2002; Krapivkin et al. 2001) Esta é uma terapia que
utiliza o cavalo como instrumento terapêutico e educacional dentro de uma abordagem
interdisciplinar nas áreas da saúde, educação e equitação,buscando o desenvolvimento
biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiências e/ou necessidades especiais (Ande
Brasil, 2003).Tal método terapêutico exige a participação de todo o corpo, contribuindo
assim para o desenvolvimento da força muscular, relaxamento, conscientização do próprio
corpo, aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio, além de novas formas de
socialização e também melhorando a auto-estima.
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A doença de Parkinson, descrita por James Parkinson em 1817, é uma doença


neurodegenerativa caracterizada pela perda progressiva de neurônios dopaminérgicos
nigrais, estrutura do cerébro que participa do controle e da coordenação dos movimentos,
assim como da manutenção do tônus muscular e postura. Os sinais cardinais da doença de
Parkinson são tremor, sobretudo em repouso, rigidez muscular, bradicinesia e disfunção da
marcha e perda de reflexos posturais (Tapia-Nunez e Chana-Cuevas P., 2004)

O padrão de marcha do paciente com doença de Parkinson é altamente estereotipado,


caracterizado pelo emprobrecimento dos movimentos. O paciente anda com passos mais
lentos e pode apresentar alguma dificuldade para equilibrar-se. A postura geral do paciente
modifica-se: existe predominância dos músculos flexores, de modo que a cabeça permanece
fletida sobre o tronco, este sobre o abdômen, e os membros superiores são mantidos
ligeiramente à frente, com os antebraços semifletidos na altura do cotovelo. A rigidez da
musculatura leva a adotar uma postura curvada , como um esquiador. (Sullivan O, et al,
422 1993 ).
Objetivo primário do estudo: avaliar o efeito da equoterapia em paciente com doença de
Parkinson, fase avançada.

MATERIAL E MÉTODO

O trabalho foi realizado com o praticante SAMT, masculino, 66 anos, dentista aposentado
por invalidez, portador de doença de Parkinson diagnosticada em 1988, quando iniciaram
“fraque” de membro superior esquerdo e depressão. Em 1998, os sintomas se agravaram,
oorrendo dificuldade na marcha, porem só iniciou fisioterapia convencional em 2001, quando
também iniciou fonoterapia e musicoterapia.

Atualmente faz tratamento medicamentoso com parlodel, sinemet, prolopa, mantidan,


fluoxetina,seroquel, fisioterapia em solo três vezes por semana, fonoterapia uma vez por
semana e equoterapia uma vez por semana.

Para obtenção de dados, foi feita análise da marcha através de observação e tomada de
tempo, para a qual foram utilizados fita métrica e cronômetro. O praticante foi avaliado
sempre no início e final de cada sessão.

Utilizamos apenas um cavalo para todas as terapias com andadura ao passo.

RESULTADOS

Em julho de 2005 iniciou atendimento equoterápico, no programa hipoterapia, com sessões


semanais com duração de 20 a 30 minutos, de acordo com o estado geral do praticante.

Na avaliação inicial, constataram-se postura cifótica, equilíbrio precário, rigidez articular


em membros superiores e inferiores, marcha em padrão festinado com uso de andador.

Não houve dificuldade na fase de aproximação e conhecimento do local e nem com o contato
com o animal.

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O praticante, nos primeiros atendimentos, apresentou dificuldade em chegar até o local de
montaria, tendo dificuldade em montar.

Durante as sessões foram trabalhados exercícios de aquecimento e relaxamento, exercícios


respiratórios, movimentos de braços separadamente e alternados, exercícios de equilíbrio,
lateralidade, coordenação motora e flexibilidade tais como sentar e levantar-se sobre a sela,
estimulando a musculatura das pernas e articulação do joelho- realizado após 5 sessões de
terapia.

A prática de tais exercícios objetivou manter a amplitude de movimentos e mobilidade,


manter ou aumentar a expansibilidade torácica, melhorar reações de equilíbrio, diminuir
contraturas e rigidez, restabelecer funções, melhorando força muscular e resistência, e orientar
o uso de andador.

Procuramos utilizar uma abordagem terapêutica voltada para o ser humano em sua essência
e totalidade, com ênfase na melhora da função do praticante em seu meio, proporcionando-
lhe o máximo de independência possível. 423
Após oito sessões de equoterapia, o praticante adquiriu maior confiança, a postura e o
equilíbrio progrediram, foram observados melhora da conscientização corporal, coordenação
motora, rigidez articular em membros inferiores, conseguindo até a posição de decúbito
dorsal no cavalo. Atualmente, ao término da terapia, deambula melhor, com dissociação de
cintura pélvica, marcha próxima ao normal sem uso de andador e percorre a distância
predeterminada em tempo menor.

A distância analisada é de 25 metros e 10 centímetros, que equivale ao início da marcha até


a montaria, antes do atendimento e do apear até o ponto de partida, depois do atendimento.

O tempo medido foi o seguinte:

DATA ANTES DO DEPOIS DO DURAÇÃO DO


ATENDIMENTO ATENDIMENTO ATENDIMENTO
30/09/05 2’54’’00 3’54’’00 28’
06/10/05 0’55’’27 1’31’’03 20’
14/10/05 4’13’’43 2’55’’83 20’
21/10/05 1’59’’69 1’57’’72 20’
04/11/05 3’42’’81 2’19’’53 20’
13/11/05 3’33’’50 3’30’’50 20’
6/11/05 5’20’’00 5’10’’00 20’pa baixa

DISCUSSÃO

Observou-se, por parte do praticante, o constante empenho nas atividades propostas em


busca de aperfeiçoamento, assim como a sustentabilidade de ânimo e independência,
sugerindo-nos portanto, que tal ganho motor possa estar ligado à persistente e positiva
superação, potencializando os resultados.

O andar do cavalo produz um movimento tridimensional do praticante nos sentidos vertical


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– para cima e para baixo-, horizontal – para a frente e para trás –, e lateral – para direita e
para esquerda. A cada passo do cavalo o centro de gravidade do cavaleiro é defletido da
linha média, estimulando as reações de equilíbrio que proporcionam a restauração do centro
de gravidade da base de sustentação (Botelho, 1997).

Segundo Teixeira (2001), os movimentos e respostas equilibratórias que o cavaleiro deverá


executar para manter–se sobre o cavalo são os mesmos necessários para a marcha humana.
Acreditamos que, neste paciente, conseguimos uma melhora no equilíbrio ao caminhar pelo
estímulo equoterápico. Relacionamos também esses benefícios pelo alinhamento gravitário
homem/cavalo, observando-se que estes são imóveis em relação ao solo, alcançando assim,
objetivos neuromotores (Medeiros e Dias, 2002).

A instabilidade postural representa um dos mais incapacitantes sintomas motores na doença


de Parkinson, e pacientes são mais susceptíveis de quedas que a população idosa em geral
(Nevitt et al., 1989; Fletcher e Hirdes 2002).Segundo relato do paciente, ele observou que,
após iniciar a equoterapia, sente-se mais disposto, com mais iniciativa, notou melhora em
424
seu equilíbrio e não teve mais quedas, que ocorriam com freqüência anteriomente. Nos
membros inferiores, os movimentos dos quadris, joelho e tornozelos estão reduzidos, com
falta generalizada de extensão nas três articulações. Os movimentos do tronco e da pelve
também estão reduzidos, resultando em diminuição do comprimento dos passos e da oscilação
recíproca dos braços. Os pacientes, caracteristicamente, andam com uma marcha lenta e
arrastada. O persistente posicionamento da cabeça e tronco para a frente, tipicamente, desloca
o centro da gravidade para adiante, podendo resultar um padrão de marcha em festinação.
Então, num esforço para facilitar a mobilidade diante da bradicinesia, pacientes com doença
de Parkinson inadvertidamente podem substituir sua postura inicial, reduzindo a habilidade
em manter-se eretos (Jacobs JV et al., 2005). Acreditamos que neste paciente o trabalho
realizado para manter-se equilibrado na sela propiciou uma melhora na percepção do
equilíbrio postural, melhorando a postura para a marcha. Vale salientar que o paciente
voltou a andar sem o andador.

CONCLUSÃO

Considerando os resultados obtidos podemos concluir que a equoterapia foi agente facilitador
não só para melhora da marcha do paciente, mas também, interferindo diretamente na sua
qualidade de vida.

Este é apenas um caso no qual vimos que a equoterapia proporcionou benefícios a um portador
de mal de Parkinson, e como terapia nova, não há relatos na literatura sobre estes
benefícios.Mais estudos são necessários para determinar se equoterapia pode realmente
melhorar o equilíbrio do paciente com doença de Parkinson.

Como foi observado benefício importante, fica como sugestão a avaliação desta modalidade
terapêutica para um maior número de pacientes com doença de Parkinson.

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Physical e Occupational Therapy in Pediatrics.22(3-4): 37-50,2002
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

426
VIVÊNCIA DE PAIS – UM INSTRUMENTO MEDIADOR
ENTRE A FAMÍLIA E OS RECURSOS UTILIZADOS
NESTE MÉTODO TERAPÊUTICO

Autora: Daniela Perri Hortale - Brasil


Co-author: Gisele Andreani Perondi da Costa

INTRODUÇÃO

Este trabalho visa a mostrar a importância da Atividade de Vivência de Pais no início do


tratamento equoterápico, considerando que os períodos de adaptação são momentos cujo
significado não pode ser subestimado nos processos terapêuticos. Neles, os elementos de
base das estruturas de inter-relações, que possibilitarão que as ações terapêuticas se efetivem,
se organizam para desenvolvimentos posteriores.

As características específicas do processo de adaptação no trabalho equoterápico estão


relacionadas não apenas aos nossos praticantes e conhecimentos das características desse
novo ambiente terapêutico (espaço físico, cavalos), mas também ao olhar cuidadoso para
estas famílias que na maioria das vezes apresentam um conhecimento nebuloso dos objetivos
e dos recursos oferecidos por este método.

Do primeiro ambiente da criança – a família – origina-se obviamente o ponto inicial. Dessa


maneira, é na interação com a família, enquanto primeiro meio social ao qual pertence, que
se favorece a produção de conhecimentos e se estrutura o pensamento e a cognição da
criança.

Ao se valorizarem as experiências e conhecimentos que os pais têm acerca do desenvolvimento


dos filhos, eles passam a se comprometer com os tratamentos realizados, auxiliando os
terapeutas com informações e cooperando na estimulação adequada nas atividades
cotidianas. Esta troca de informação profissional/terapeuta é fundamental em todo esse
processo.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


Neste contexto, devemos priorizar o papel da família no processo terapêutico, pois ela,
enquanto referência da criança, é quem irá participar da sua formação como indivíduo
biopsicossocial e, conseqüentemente, favorecer o elo entre o profissional e a criança,
propiciando que o tratamento se efetue.

Manter-se em contato com a realidade é também reconhecer que há coisas que podemos
mudar e outras coisas que não podemos. A tarefa para todos nós é aprender quais coisas
podemos mudar e passar a fazer isso. (Smith, 1985, apud Legen et al.,1993, p. 27)

MATERIAL E MÉTODO

A Vivência de Pais foi desenvolvida nos Centros de Atendimento da Associação Equoterapia,


localizados no Horto Municipal de São Vicente (SP) e Horto Portuário de Santos (SP), com
capacidade de atendimento de 72 praticantes em cada um dos centros.
427
A freqüência deste projeto é de um encontro anual, atendendo os pais dos praticantes que
iniciam o tratamento, o qual tem a duração de um ano-terapia ( 12 meses).

A duração deste encontro é de aproximadamente 3 horas, em que são proporcionadas


atividades que fazem parte da rotina de uma sessão de equoterapia, como as de aproximação
e montaria. Para tais atividades foram utilizados 4 cavalos de características diferentes (raça,
cor de pelagem, altura e temperamento).

A equipe multidisciplinar, composta por profissionais das áreas de pedagogia, fisioterapia e


psicologia definiu os critérios para a formação dos grupos. Os pais foram divididos em dois
grupos, e dois profissionais de cada área acompanharam cada grupo na realização das
propostas. Como instrumento de avaliação, recorremos à observação direta quanto ao
comportamento dos pais na realização das atividades, e registro fotográfico.

DISCUSSÃO

Mediante os atendimentos e observação realizados nos Centros de Atendimento da Associação


Equoterapia, foi diagnosticadas pela equipe multidisciplinar, a necessidade de se desenvolver
um projeto no qual aproximássemos as famílias dos nossos praticantes aos benefícios que a
equoterapia proporciona na reabilitação e ou habilitação de indivíduos portadores de
necessidades especiais.

Na Atividade de Vivência de Pais, a família tomou conhecimento dos recursos oferecidos


por este método terapêutico nas áreas de saúde, educação e equitação, utilizados e
desenvolvidos com as atividades realizadas em uma sessão de equoterapia. Esse momento
possibilitou à equipe a explicação técnico – científica do método terapêutico pelas das diversas
áreas (psicologia, fisioterapia e pedagogia) aos familiares.

Foram utilizadas para o desenvolvimento deste encontro as atividades de alimentação dos


cavalos, encilhamento, condução terapêutica e montaria.

Em todos esses momentos o objetivo da equipe era fundamentar os recursos oferecidos em


cada uma das atividades aos profissionais, como também proporcionar um conhecimento
mais amplo deste ambiente terapêutico (espaço físico e cavalos).
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

A família estável assume o papel de oferecer um campo de treinamento seguro,


onde as crianças possam desenvolver suas potencialidades, aprender a amar e
se relacionar com o meio, construindo assim sua auto-imagem e favorecendo a
sua inserção na sociedade mais ampla da qual fazem parte.

Direitos dos pais, segundo Buscaglia:

1. Os pais têm o direito a todo tempo necessário para vencer os inúmeros


sentimentos de confusão e dor que acompanham o fato de haverem procriado
um filho deficiente.

2. Os pais têm o direito a uma informação precisa, do ponto de vista médico,


psicológico e educacional sobre as condições reais e as possibilidades futuras
do filho.
428
3. Os pais têm o direito a uma compreensão clara de sua função pessoal no
atendimento das necessidades específicas do filho.

4. Os pais têm o direito de participar da reavaliação periódica dos programas


terapêuticos e do planejamento contínuo dos novos objetivos que podem
tornar-se necessários em conseqüência do tempo, dos progressos e das novas
observações realizadas durante o tratamento.

5. Os pais têm o direito de participar das atividades de tratamento e reabilitação


do filho.

6. Os pais têm o direito à informação sobre o sistema de assistência existente


na comunidades para o atendimento de suas necessidades econômicas,
intelectuais e emocionais.

7. Os pais têm o direito de estabelecer contato com outros pais de crianças


deficientes, a fim de partilhar com eles seus sentimentos e esperanças, assim
como suas atitudes humanas frente ao desafio que é a reabilitação de uma
criança deficiente.

8. Os pais têm o direito de se desenvolver como pessoas, inclusive no que se


refere à sua condição de pais de crianças deficiente. (Buscaglia, 1983, apud
Brito, 2000, p. 26)

ALIMENT AÇÃO
ALIMENTAÇÃO

Na alimentação procuramos fundamentar a importância da escolha do cavalo na realização


desta atividade, levando em consideração principalmente o seu temperamento de acordo
com os objetivos que cada profissional pretende desenvolver. Entre outros, o estabelecimento
de vínculo afetivo é um dos maiores ganhos durante a realização da alimentação.

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429
ESCOVAÇÃO

Entre outras descobertas, os pais tiveram a oportunidade de perceber que a comunicação


existente entre eles e o cavalo não é verbal, vivenciando quais ações são agradáveis ao animal
e a maneira de aproximar-se aceita por ele.

Esta aceitação e conquista são efetivadas por ações e sensações agradáveis e/ou desagradáveis,
através da exploração do corpo do animal, intensidade do toque enquanto ele é escovado.
Neste momento, a percepção corporal e espacial em relação ao corpo do cavalo está bastante
explícita.

ENCILHAMENTO

O mesmo ocorre nesta atividade, no qual o cavalo será recíproco com a ação do indivíduo
que realiza o encilhamento. Além, disso encontram-se presentes neste momento aspectos
como a orientação espacial, coordenação viso-motora, lateralidade, coordenação motora
fina, entre outros. A confiança passada ao animal por quem realiza a tarefa de encilhamento
é fundamental.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

CONDUÇÃO TERAPÊUTICA

Os pais foram levados a experimentar uma característica peculiar aos cavalos, pois assim
que esta relação se efetiva , o cavalo passa a aceitar o comando. Apesar de imponente, forte,
ele espera que o cavaleiro mostre o que e como ele deve fazer, e o condutor passa a assumir
o papel de líder.

O ritmo, a orientação espacial, a tomada de decisão, atenção e a comprovação de que nem


sempre é preciso ser forte para estar no comando estão em jogo nesta atividade.
430
“...o cavalo é o ser da confiança e da troca afetiva e corporal”

Montaria

Iniciamos esta atividade com uma breve apresentação sobre a hipologia e a respeito do
cavalo ideal para a prática da equoterapia, pois consideramos importante que os pais tenham
melhor informação a respeito das características do membro mais importante da equipe –
O CAVALO.

Dando seqüência, apresentamos os equipamentos de montaria e de segurança utilizados


durante uma sessão de equoterapia, ressaltando que a indicação destes é feita a partir dos
objetivos que queremos alcançar e da patologia de cada praticante.

Os terapeutas procuraram ressaltar o estímulo causado pelo movimento tridimencional no


cavaleiro, como também a coordenação de ações que a montaria exige do mesmo (motoras,
cognitivas e afetivas) para que ele possa manter-se sobre o cavalo.

Acreditamos que este foi o momento mais esperado pelos pais, quando cada um,
acompanhado pelos terapeutas, realizou a montaria, experimentando sentimentos que são
inspirados pelo cavalo: o temor, até o medo, mas também a admiração.

Ele dá ao homem o desejo de dominá-lo primeiro, depois, através do


entendimento, dividir com ele o prazer. (D. Verniére)

COMUNICAÇÃO CAVALO VERSUS SERES VIVOS

PALAVRA representa 7%
TOM DE VOZ representa 38%
LINGUAGEM CORPORAL representa 55%

O CORPO FALA MAIS ALTO QUE A VOZ.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

431
RESULTADOS

Os resultados observados foram uma melhora significativa no vínculo afetivo família-


terapeuta, maior comprometimento com o tratamento, como também em relação às
orientações feitas pela equipe multidisciplinar durante o ano-terapia. Promoveu-se maior
assiduidade e pontualidade às sessões. Dentre estas, a mais significativa foi a modificação
do olhar de cada pai em relação a seu filho, passando a perceber de uma maneira mais
ampla suas potencialidades .

CONCLUSÃO

Após a implantação da Atividade de Vivência de Pais, foi possível concluir que estes encontros
proporcionaram aos familiares a oportunidade de experimentar quais sentimentos e desafios
estão em jogo em cada etapa de uma sessão de equoterapia, ampliar o conhecimento dos
benefícios trazidos pelas sessões de equoterapia às pessoas portadoras de necessidades
especiais, como também os recursos oferecidos por este ambiente terapêutico aos profissionais
das áreas de saúde e educação.

REFERÊNCIAS

BRITO, M.C. Minha Caminhada II – Cavalgar é preciso. Salvador. Oiti, 2000.

BUSCAGLIA, L. O Papel da Família na Reabilitação da Criança Deficiente. Rio de Janeiro: Record,


1983.

III CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA. Coletânea de trabalhos. ANDE Brasil,


2004.

WALTER, Gabriele. Manual do Curso sobre Equoterapia. Fundação Rancho GG- Centro de
Treinamento e Pesquisa e Ensino de Equoterapia. Ibiúna, SP, 2001.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

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MENSURAÇÃO DOS EFEITOS PRODUZIDOS PELO TRATAMENTO
COM EQUOTERAPIA EM UM PACIENTE COM SEQÜELAS DE
PARALISIA CEREBRAL (ESTUDO DE CASO)

Autor: Edilene C. Cardim F. de Almeida R.1 - Brasil


Co-autoras: Luciane Ap. Sande2
Cyntia R. de Jesus Alves3

RESUMO

Este estudo teve como objetivo avaliar a funcionalidade e os efeitos do tratamento com
equoterapia em uma criança com paralisia cerebral (hemiparesia espásia leve), que freqüenta
o centro de Equoterapia em Luiz Antônio (SP), através do teste funcional padronizado (GMFM
– avaliação motora grossa). A escala foi plicada antes do tratamento e após 12 semanas. Os
atendimentos foram realizados em sessões 30 minutos, duas vezes na semana, sem terapias
paralelas. O paciente iniciou o tratamento com 81 % de funcionalidade egundo a escala
GMFM, e ao término do período estava com 95%, sendo que, dentre os itens analisados, a
maior evolução foi notada na função sentar, que de 78,33%, passou a 100% de funcionalidade.

ABSTRACT

The present study amed to do a functional evaluation and to analyse the equoterapy effects
on a child with cerebral palsy, using the GMFM scale. This test was applied before end after
twelve weeks of treatment, shich was conducted two times in a week with on thirty minutes.
The subject started the treatment with 81% offunctionally and at the end of the perod, this
number increased to 95%, the greatest improve was noted in the sitting activity (from 78,33%
to 100%).

INTRODUÇÃO

A paralisia cerebral (PC), também denominada encefalopatia crônica não-progressiva da

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


infância, é uma lesão anatomopatológica ou anomalia estacionária, que agiu num SNC em
plena maturação estrutural e funcional, ocorrida, portanto, na vida fetal ou nos primeiros
meses de vida, caracterizada por falta de controle motor e por modificações adaptativas do
comprimento muscular, algumas vezes chegando a apresentar deformidades ósseas. A criança
com PC adquire habilidade e vence etapas da evolução neuropsicomotora, fazendo com que seu
transtorno funcional se estruture no tempo (DIAMENT, 1996; SHEPHERD, 1996).

O SNC é uma rede precisa, formada por mais de 100 bilhões de neurônios interconectados
em sistemas que produzem a percepção do mundo exterior, fixam a atenção e controlam a
ação do indivíduo. Assim, qualquer que seja o comportamento do indivíduo, ele é gerado

1
Pós graduada, especialista em fisioterapia neuromuscular Lato sensu. Equoterapeuta responsável pela implantação
do centro de equoterapia em Luiz Antonio (SP), onde continua atuando.
2
Doutoranda em biologia molecular e funcional, mestre, atuando na área de neurologia como docente;
3
Mestre, atuando na área de neurologia, como docente.
433
por muitas células nervosas, sendo que a medição neural deste comportamento é subdividida
em 3 etapas distintas: a entrada sensorial, o processamento intermediário e a saída motora.
Cada um destes componentes é mediado por um grupo definitivo de neurônios e um só
componente recruta, muitas vezes, diversos grupos neuronais paralelos.

Assim, um simples comportamento voluntário requer vários tipos de informações sensoriais


tanto acerca do movimento em si, como também a posição das diversas partes do corpo no
espaço, fazendo com que as áreas de associação do córtex, onde o movimento é planejado,
sejam retroalimentadas por informações sensoriais, gerando comandos ligados à antecipação;
e a realização é a correção do movimento (Kandel e colaboradores, 1991).

Desde algumas décadas, procedimentos fisioterapêuticos têm sido postos em prática,


admitindo-se suas ações reflexos pelas vias nervosas, mas sem conhecer exatamente o que
promovem no tecido nervoso (Costa, 1991).

Entretanto, no decorrer dos últimos anos, tem se observados que o córtex humana apresenta
a capacidade de se reorganizar após sofrer alguma lesão, principalmente se esta tiver ocorrido
nos primeiros anos de vida. Estes mecanismos ainda não estão bem esclarecidos, mas tem se
percebido que em cada caso esta recuperação funcional ocorre de maneira singular e individual
(Nikko e colaboradores, 1991) fazendo com que, atualmente, a interpretação dos mecanismos
que agem no SNC depois de uma lesão sofra mudanças radicais. Assim, a neuroplasticidade
passou a ser considerada como um dos maiores acontecimentos científicos na reabilitação
de pacientes com lesão cerebral (Costa, 1991).

Cada neurônio é constantemente bombardeado por entradas sinapticas, que podem ser
excitatórias, inibitórias, fortes ou fracas, podendo reforçar ou cancelar umas às outras, gerando
um mecanismo de somação destas entradas, conhecido por integração neuronal, no qual o
neurônio passa por um processo de tomada de decisão sobre gerar ou não um potencial de
ação (Kandel e colaboradores, 1991).

Através de um estudo de imagens por RNM em PCs hemplégicos, Cione e colaboradores


(1999) dividiram os pacientes em quatro grupos, de acordo com a patofisiologia da lesão
encefálica, o momento em que ocorreu, sua localização e extensão:

grupo I: lesões ocorridas nos dois primeiros trimestres da gestação, levando a malformações
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

encefálicas complexas (displasia cortical, esquizoencefalia, heterotopia, hemimegaencefalia,


cistos aracnóides), principalmente causadas por proliferação e migração precocemente
alteradas, com uma grande proporção de disfunção motora à esquerda, metade apresentava
quadro convulsivo e 30% apresentava deficiência mental;
grupo II: lesões ocorridas no 3° trimestre gestacional, devidas às hemorragias parenquimatosas
ou leucomalácia periventricular, levando a lesões da substância branca periventricular, com
a presença de membro inferior; a grande maioria apresentava funções cognitivas normais
sem eventos convulsivos;
grupo III: lesões perinatais devidas a infarto de alguma artéria principal, ou ramo importante,
podendo envolver ramos profundos, levando a lesões cortico – subcorticiais, incluindo algumas
vezes estruturas diencefálicas, cápsula interna, tálamo e núcleos da base com importância
relevante à lesão do putamen nas formas distônicas, com maior envolvimento de um membro
superior e prevalência levemente maior em distúrbios motores à direita, sendo que mais da
metade apresentava comprometimento cognitivo e 18% quadros convulsivos;
434
grupo IV: lesões pós-natais, ocorridas nos 3 primeiros anos de vida, por meio de infartos ou
hemorragias devido a traumatismo ou problemas vasculares, ou por causa de encefalites
infecciosas, com quadros clínicos e de RNM semelhantes ao apresentados por adultos
hemiplégicos.

Além disso, Cione e colaboradores (1999) encontraram alterações eletroencefalográficas na


maioria dos pacientes, inclusive nos que não apresentaram quadros convulsivos. Também
foram encontradas lesões bilaterais na maioria dos pacientes, principalmente nos do grupo
2, sendo que só no grupo 3 as lesões eram principalmente monolaterais. Seus dados sugeriram
que o hemisfério direito imaturo (no período gestacional) está mais predisposto a lesões,
enquanto durante o período perinatal o sistema vascular do hemisfério esquerdo é mais
vulnerável, e que o prognóstico é menos favorável quanto mais precoce a lesão e conforme a
ocorrência de eventos convulsivos, os quais podem indicar uma disfunção neurológica mais
difusa, que interfere mais na capacidade de reorganização do encéfalo lesado.

Dentre as abordagens do tratamento para pacientes com seqüelas motoras


geradas pela PC, existe a equoterapia que, além de ser terapêutica, é também um
médoto educacional que busca o desenvolvimento biopsicossocial (Citterio,
1982).

Friedman (1994) e Bertoti (1998) usaram e mostraram os benefícios da equoterapia em crianças


com PC, trazendo as primeiras medidas objetivas de sua eficácia na avaliação postural. O
Friedman test usa os intervalos pré-teste antes do tratamento, o teste (durante o processo) é
(pós-teste após a intervenção para verificar os resultados obtidos pelo paciente) (Vin Bertoti.

Vale ressaltar aqui, algumas vantagens da equoterapia, como o efeito tridimensional produzido
pelo dorso do cavalo quando caminha, muito semelhante à marcha humana (Friedman,
1994). O ambiente da terapia, perante o contato com a natureza, proporciona ganhos físicos
e psicológicos. O cavalo e o balanço ritmado ao passo do cavalo, que promovem o relaxamento
dos músculos, também permitem ajustes tônicos (Satter, 1978).

Outro aspecto observado por Tanffkrchen (1978) foi a forma intensa com que é solicitado o
sistema vestibular, estimulando as conexões com o cerebelo, córtex cerebral, medula e nervos
periféricos importantes para o controle dos movimentos, equilíbrio e postura.

O método foi criado pelo neurologista Kaeser (1966) e tem como indicação todas as patologias XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA
relacionadas ao SNC; porém há algumas contra indicações, como convulsões freqüentes,
síndromes desconhecidas, doenças em processo agudo, sensibilidade diminuída na região
das costas, intolerância à movimentação da coluna lombar, luxação no quadril.

Como em qualquer método, é importante que a criança, antes de realizar o tratamento, seja
avaliada, e indicada a terapia por um médico ou fisioterapeuta, evitando-se com isso, qualquer
ocorrência incômoda.

Além dos aspectos citados, Gibbon (1998) explorou efeitos da equoterapia utilizando a GMFM
(RUSSEL, 1993) e encontrou diminuição e gastos energéticos na marcha e melhora na função
motora grossa, em criança com paralisia cerebral.

435
Foram avaliadas 11 crianças com seqüela de diplegia espática, com idade entre 2 e 9 anos,
praticando 2 vezes na semana, num período de 10 semanas. Os resultados se mostraram
positivos, principalmente na postura, dissociação de cinturas e mobilidade, melhora geral
na habilidade, marcha e equilíbrio.

OBJETIVOS

A pesquisa teve como objetivos gerais:

Conhecer e ampliar conhecimentos sobre equoterapia;

- Contribuir para continuidade de novas pesquisas;


- Demonstrar a eficácia da equoterapia em pacientes com seqüelas de hemiparesia
espástica, comprovada através da escala GMFM (medição da função motora grossa)
O GMFM é um instrumento de observação padronizada usada em clínica e em
pesquisa, criado para medir a mudança que ocorre com o passar do tempo, na função
motora grossa das crianças com paralisia cerebral.

OBJETIVO ESPECÍFICO

Avaliar a eficácia do tratamento da equoterapia em uma criança com PC, seqüela hemiparesia
espástica a D, medida pela escala Russel, (1993).

METODOLOGIA

1. Histórico e características do paciente.

MS, 03 anos e 3 meses, sexo masculino, diagnóstico de PC confirmado por RN, lesão na
coroa radiada em hemisfério E, seqüela hemiparesia espástica leve à direita. Nascido através
de parto normal, sem intercorrência com apgar 9 e 10, segundo informações da mãe.

Na evolução clínica o paciente apresentou-se taquipnêico e foi para encubadora. Aos 9 dias
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

de vida foi submetido à cirurgia de pulmão, devido a uma doença cística congênita. Até os
10 anos de vida a família notou déficit no desenvolvimento, apresentando boa evolução.

Aos 16 meses, a mãe procurou o tratamento fisioterapêutico, pois M.S. sofria quedas
constantes, durante a marcha, e apresentava assimetria do hemicorpo. Foi então encaminhada
para o neurologista, que solicitou os exames de RM e escanometria.

Escanometria: perna direita encurtada 1,5, em relação E.

Realizou o tratamento fisioterapêutico convencional, duas vezes na semana, com duração


de 30 minutos, durante 12 meses.

Após intervalo de 4 meses, o tratamento convencional foi interrompido, e a mãe procurou


tratamento da equoterapia.

436
PROCEDIMENTOS

Quando o tratamento foi implementado, seu quadro era de assimetria do hemicorpo D, leve
hipotrofia e espasticidade também D, diminuição de equilíbrio dinâmico e na dissociação de
cintura, dificuldade para realizar trocas posturais, diminuição de ADM nos membros direitos,
déficit no esquema corporal, leve negligencia do hemicorpo D.

Foi realizada avaliação e a partir dela, traçaram-se os seguintes objetivos:

- melhorar esquema corporal


- ganhar equilíbrio na postura sentada, em pé e de gato
- realizações de melhores trocas posturais, facilitando os ajustes tônicos
- ganhar ADM ativa em todo o hemicorpo D
- melhorar a dissociação de cinturas
- melhorar coordenação motora grossa.

O estudo de caso paciente M.S foi Iniciado com avaliação convencional inicial, que apresentou
os seguintes dados;

- assimetria do hemicorpo D
- leve hipotrofia espasticidade a D
- diminuição de equilíbrio dinâmico
- diminuição na dissociação de cinturas
- dificuldades para realizar trocas posturais
- diminuição de ADM no hemicorpo D
- déficit no esquema corporal
- leve negligência no hemicorpo D

A seguir foi aplicada avaliação pela escala GMFM forem traçados os seguintes objetivos:

- melhora do esquema corporal XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

- ganho de equilíbrio na postura sentada, em pé e de gato


- realização de melhores trocas posturais, facilitando os ajustes tônicos
- ganho de ADM ativa em todo hemicorpo D
- melhora na dissociação de cinturas escapular e pélvica
- melhora da coordenação motora grossa

Implantação e implementação do tratamento de equoterapia

Foram realizadas sessões de 30 minutos, com ritmo de marcha ao passo, com o objetivo de
melhorar o tônus.

437
Algumas vezes o paciente montava acompanhado do terapeuta, outras montava sozinho
com o terapeuta ao lado, apoiando-se e aplicando as técnicas de fisioterapia.

Ao término de 12 semanas, foi aplicada novamente a Escala GMFM.

Os resultados obtidos são mostrados nas figuras 1 e 2.

Fig. 1 - Exemplo de algumas posições usadas

Fig. 2 - Cálculo do Encore da Escala GMFM antes e após o tratamento


XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

DIMENSÃO CÁLCULO EM % ÁREA META %


Início Após 12 Início Após 12
1meses meses
A) Deitar 42 x 100 41 x 100 82,3% 100%
51 51
Rolar
B) Sentar 47 x 100 60 x 100 78,33% 100%
60 60
C) Engatinhar/ 38 x 100 40 x 100 90,47% 95,2%
ajoelhar 51 51
D) Em pé 28 x 100 35 x 100 71,79% 89,7%
369 39
E) Andar / ’59 x 100 ó4 x 100 71,79% 89,7%
Correr e Pular 72 72
438
Gráfico 1 - Demonstrativo da eficácia do tratamento equoterápico (em valores percentuais)

• Início

D Após 12 semanas de tratamento

Material

Este paciente foi submetido a avaliação com escala GMFM. A escala GMFM (Russel, 1993) é
um instrumento de observação padronizado, criado para medir a mudança que ocorre,
com o passar do tempo, na função motora grossa, em crianças com paralisia cerebral,
avaliando o quanto de um item cada criança pode realizar.

O GMFM consiste em 88 itens, os quais foram agrupados em 5 diferentes dimensões da


função motora grossa:

a) deitar e rolar;
b) sentar;
c) engatinhar e ajoelhar;
d) ficar em pé;

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA


e) andar, correr e pular.

RESULTADOS

Os resultados obtidos através da aplicação da escala GMFM (tab I) revelam melhor


desempenho do paciente nos itens habilidade motora e função motora grossa.

O gráfico 1 ilustra, em percentuais, a eficácia do tratamento equoteraplco, através da


comparação de dados do início e do pós-tratamento.

Os objetivos traçados antes da implementação do tratamento foram alcançados plenamente.

Relatos da mãe da criança informam que a evolução foi positiva nos itens sentar, ficar em pé,
correr e pular.
439
Atualmente, o paciente anda de bicicleta em terrenos irregulares, não sofre quedas constantes,
não apresenta dificuldades para correr, nem negligencia o hemicorpo D, obtendo também,
excelente evolução no equilíbrio.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo forneceram novas informações sobre os efeitos produzidos pelo
tratamento com equoterapia, tais como:

– A função motora grossa muda com o passar do tempo, e a GMFM sendo um


instrumento de observação padronizado, é adequada para avaliar crianças com
paralisia cerebral. Neste caso, especificamente, ela quantificou a evolução obtida
após a intervenção da equoterapia.
– Através da aplicação da escala GMFM se consegue avaliar o quanto de um item
uma criança pode realizar. Há 88 itens agrupados em 5 diferentes dimensões,
possibilitando perceber as melhoras do desempenho após determinado tempo de
intervenção.
– A GMFM pode ser utilizada por profissionais da área da saúde, nas clínicas ou em
pesquisas, podendo auxiliar na decisão sobre os procedimentos terapêuticos
adequados para crianças com características semelhantes às do paciente estudado.

O uso de avaliação padronizada como GMFM é vantajoso por permitir a comparação de


dados entre os clientes e um grupo normativo, entre momentos diferentes do próprio cliente,
o cliente e resultado publicado, entre outros.

Por se figurarem como avaliações funcionais, estes instrumentos permitem aos terapeutas a
identificação do impacto das ações propostas e realizadas para redução do déficit funcional.

Como assinalam Mandich e colaboradores (2002), mensuração é essencial à pesquisa e prática


clínica, e quanto mais precisas e apropriadas forem as avaliações, mais sensíveis serão as
pesquisas e mais relevantes e individualizadas as necessidades do clientes serão as
intervenções propostas.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

CONCLUSÃO

A equoterapia foi eficaz para este paciente, como pode ser constatado pelos resultados
apresentados após aplicação da Escala GMFM, que também se mostrou confiável na avaliação
dos efeitos após a intervenção do tratamento equoterápico.

REFERÊNCIAS

ALLEGNCATTI, A.LC; MANANI, M.C; SCHWARTZMAN, J.S. – Estudo do desempenho


funcional de crianças com paralisia cerebral diparética espática utilizando o pediatrica.
Evatuation of disability inventory (PEDI). Temas sobre desenvolvimento, v.11, n.64, p.5-11,
2002.

440
BERTOLTI, D.B. - Effect of therapeutic horsiback reding on posture in children with cerebral
palsy. Nome da Revista, v.68, n.10, p.1505-1512, 1988.

MOURA, E.W; MAKITA, L.M; OLIVEIRA, M.C. - Utilização do pedi e GMFM no


planejamento de tratamento de criança com paralisia cerebral do tipo atetoide e paralisia
braquial obstétrica. Temas sobre desenvolvimento, v.13, n.73, p.41-46, 2004.

RUSSEL, D. e colaboradores. - Administration and scoring. In: Gross Motor Funetion mesuare
manual Me Master University. 2.ed. Toronto: EDITORA, 1993. p. 103.

Silva, R.K. - A neuroplasticidade no desenvolvimento de criança com paralisia cerebral. p.


62- 68

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

441
IMPLANTAÇÃO DE UM PROJETO DE EQUOTERAPIA:
UMA VISÃO DO TRABALHO PSICOLÓGICO

Autor: Roberta Gimenes - Brasil


Co-autor: Denise Emilia de Andrade

RESUMO

Em maio de 2004, foi implantado um projeto de equoterapia na Sociedade Hípica de Franca.


O presente trabalho objetivou revelar os benefícios da equoterapia a partir do ponto de vista
psicológico. O projeto procurou atender crianças e adolescentes da rede municipal de ensino,
por estarem apresentando problemas no comportamento e/ou aprendizagem. As sessões
de equoterapia foram realizadas uma vez na semana, com duração de 40minutos, para
cada dupla de praticantes. O período em que ocorreu a equoterapia, foi de maio a dezembro
de 2004. Primeiramente fez-se uma entrevista de anamnese com os pais, e em seguida, os
praticantes foram entrevistados e observados, objetivando ter maior compreensão dos
mesmos. A entrevista foi feita de forma aberta, com a utilização do desenho livre. Com os
resultados alcançados através da equoterapia, pôde-se notar que a implantação deste projeto
foi realizada com sucesso. Pudemos revelar os benefícios ocorridos em vários aspectos,
principalmente no psicológico.

Palavras-chave: Implantação; Equoterapia; Aprendizagem; Comportamento; Psicologia.

ABSTRACT

In May of 2004, a project of Therapeutic Riding was implanted in the Franca Riding Society.
The present work objectified to disclose the benefits of the Therapeutic Riding from the
psychological point of view. The project looked for to take care of to children and adolescents
of the educational municipal net, for being presenting problems in the behavior and/or
learning. The sessions of Therapeutic Riding had been carried through a time in the week,
with duration of 40 minutes, for each pair of practitioners. The period where the Therapeutic
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Riding occurred, was from May to December of 2004. First it was done an interview of
Anamnese with the parents became, and after that, the practitioners had been interviewed
and observed, objectifying to have a bigger understanding of the same ones. The interview
was made of opened form, with the use of the free drawing. With the results reached through
the Therapeutic Riding, it could be noticed that the implantation of this project was carried
through successfully. We could disclose the benefits occurred in some aspects, mainly in the
psychological one.

Word-key: implantation; Therapeutic Riding; learning; behavior; psychology.

INTRODUÇÃO

A prática do hipismo há 11 anos e a conclusão do curso de Psicologia na Universidade de


Franca, em 2005, me possibilitou-me acreditar na importância da implantação de um projeto
442 em equoterapia na cidade, que pudesse aliar conhecimentos teóricos e práticos de forma
diferenciada. Com isso, despertou-me o interesse em realizar o Curso Básico de Equoterapia,
bem como o curso Avançado, na cidade de Brasília.

De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia ANDE/BRASIL, a palavra equoterapia,


vem do latim “EQUO”, que é espécie caballus, ou seja, significa cavalo. A “TERAPIA” vem
do grego Therapia, parte da área da medicina que trata da aplicação de conhecimentos técnico-
científico no campo da reabilitação e reeducação.

A equoterapia trabalha o indivíduo como um todo, isto é, na forma biopsicossocial. Utiliza-


se o cavalo como instrumento reabilitador, buscando a reabilitação do praticante (nome
dado ao paciente de equoterapia) de forma integral. Portanto, emprega o cavalo como agente
promotor de ganhos físicos, psicológicos e educacionais (BITAR et al., 2004). É desenvolvida
ao ar livre, onde o indivíduo estará intimamente ligado com a natureza, proporcionando
assim a execução de exercícios psicomotores, de recuperação e integração, completando as
terapias tradicionais em clínicas e consultórios.

Deve-se ressaltar que o ambiente equoterápico deve seguir normas específicas da ANDE-
BRASIL, sejam de qualificação estrutural, assim como de ordem de acolhimento do praticante.
De acordo com Rosa (2002), como no ambiente equoterápico o praticante é o centro das
atenções, é fundamental estabelecer conhecimentos, técnicas, estratégias, procedimentos para
recebê-lo com carinho, respeito, compreensão e segurança.

É importante considerar que o cavalo de equoterapia deve ser selecionado e treinado pelo
profissional adequado. Analisar o comportamento do animal a partir desse conhecimento
permite encontrar, em seu manejo e treinamento, as causas e soluções para os problemas.
No entanto, o cavalo não pode ser considerado somente um instrumento, objeto, mas sim
um ser vivo que possui instintos, comportamentos, reflexos e necessidades (ROSA, 2002).

Nesta terapia, a psicologia não realiza aquilo que costuma chamar de psicoterapia “clássica”,
ou seja, na equoterapia há maior diretividade do trabalho, isto porque o ambiente em que se
desenvolve possui estímulos variados, tais como o espaço físico, as atividades pré-
programadas, o cavalo, os terapeutas e os acompanhantes do praticante.

A equoterapia baseia-se numa relação transferencial e triangular entre terapeuta-praticante-


cavalo, o que poderá possibilitar ao indivíduo o acesso entre seu mundo imaginário e a

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realidade. Ao mesmo tempo, o cavalo emprega uma função de intermediário entre o mundo
intrapsíquico do praticante, composto de desejos, fantasmas, angústias, e o mundo externo,
ocupando o espaço lúdico do praticante (LALLERY, 1988; HERZOG, 1989 apud ARLAQUE
et al., 1997).
Tendo em vista a importância da equoterapia e que Franca não possuía tal
serviço, realizou-se um projeto para a implantação do mesmo. O objetivo,
portanto, deste trabalho, é apresentar essa implantação, sob o ponto de vista do
psicólogo.

A procura pelo atendimento nesse serviço implantado surgiu pelo fato de crianças e
adolescentes da rede municipal de ensino estarem enfrentando problemas na aprendizagem
e/ou no comportamento. Deste modo, as professoras dessas escolas encaminharam os alunos,
com o intuito de melhorar estes aspectos, já que os alunos se encontravam deficitários.

Ao participar de competições de hipismo em várias cidades, pude presenciar sessões de


equoterapia com pessoas portadoras de necessidades especiais. Tive a oportunidade de 443
conversar com vários profissionais que trabalham na área, e percebi que os resultados são
realmente bastante significativos, em todos os aspectos. Deste modo, passei a me interessar
cada vez mais pela área, e assim cheguei a conhecer vários outros lugares que se desenvolve
esse tipo de terapia, além de realizar vários cursos em equitação e principalmente em
equoterapia.

Do ponto de vista psicológico, a equoterapia tem por objetivo acompanhar e orientar os


praticantes e seus familiares. E por meio de instrumentos lúdicos, como jogos, brincadeiras,
transposição de situações, diálogos, o profissional auxilia na elaboração de aspectos
emocionais, conflitos e situações.

Na equoterapia, o psicólogo realiza avaliações psicológicas com a família e, principalmente,


com o praticante, para ter uma maior compreensão do caso. Além disso, auxilia na
aproximação do praticante com o animal, o que é crucial para o desenvolvimento do
tratamento. O psicólogo ajuda na montaria, que ocorre a partir do momento em que se
estabelece um vínculo afetivo entre o indivíduo e o cavalo, encontrando assim, confiança
para montar. Porém, quando há dificuldade em montar o animal, é realizado o processo de
maternagem, isto é, o terapeuta monta juntamente com o praticante, objetivando fornecer-
lhe maior segurança. Desta forma, a função do psicólogo é acompanhar diretamente cada
praticante, durante o processo de aproximação e separação do animal (MASIERO, 2004).

Assim, percebe-se a importância de um trabalho desse tipo a ser oferecido às crianças e


adolescentes que apresentam problemas ou dificuldades.

MATERIAIS E MÉTODOS

Em agosto de 2003, funcionava na SHF o projeto “Educação pela Equitação”, que tinha por
objetivo ensinar às crianças e aos adolescentes da rede municipal de ensino, os fundamentos
básicos da equitação. A partir de Maio de 2004, percebendo a necessidade dos alunos em ter
um acompanhamento mais integrado por parte de outros profissionais, inclusive da
psicologia, foi implantado um projeto de equoterapia no local.

A equoterapia foi implantada com bases psicológicas, tendo na equipe uma fisioterapeuta,
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um instrutor de equitação e uma psicóloga. Dos onze praticantes que participaram do projeto,
foram observados e analisados, durante oito meses, quatro deles, sendo três adolescentes de
12 anos, e uma criança de 6 anos, todos do sexo masculino. Somente quatro alunos foram
analisados, devido ao fato de terem sido os primeiros a se submeterem ao tratamento.

Neste projeto, a Sociedade Hípica de Franca cedeu os animais, mantendo assim os custos de
estadia e alimentação, e a Prefeitura Municipal de Franca, através da Secretaria da Educação,
cedeu o transporte do aluno e do acompanhante. Vale ressaltar que a idéia de implantação
partiu de um trabalho totalmente voluntário, por parte de toda a equipe.

Os alunos foram encaminhados pelas professoras das escolas municipais por estarem com
problemas de aprendizagem e/ou comportamento.

Inicialmente, foi realizada uma entrevista de anamnese com os pais ou responsáveis, com
duração média de 40 minutos.
444
Na avaliação com os praticantes, foi estabelecido primeiramente o rapport e em seguida foi
pedido que realizassem o desenho livre. A avaliação teve duração média de 30 minutos.

A equoterapia foi desenvolvida uma vez na semana, com duração de 40 minutos para cada
dupla de praticantes.

No que diz respeito às faltas, foi estipulado a cada aluno que, não haveria abono sem
justificativa, permitindo-se então, somente três faltas.

Os materiais utilizados para a execução desta prática terapêutica foram dois cavalos,
equipamentos especiais de montaria, como capacete, uniforme, manta e cabeçada, além de
uma pista de areia de 30m x 20m. Foram disponibilizados uma sala para a realização de
avaliações, um escritório, uma sala para recepção, papéis, canetas, fichas de avaliação e
computador.

Foram usados também bolas, giz de cera, papéis, argolas, cubos, balizas, varas, cavaletes,
entre outros materiais e jogos pedagógicos. Quanto aos materiais de higiene do animal,
utilizaram-se escovas, pentes, xampus, raspadeiras, limpador de casco.

No início do mês de dezembro, foi realizada uma reunião com os responsáveis


dos praticantes, para avaliar o desempenho e o progresso dos mesmos durante
o período que praticaram a equoterapia.

Ao final foram feitas as análises das avaliações, dos registros, dos protocolos, fotos, para as
conclusões finais do trabalho.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A proposta de implantação do projeto de equoterapia em Franca surgiu a partir do momento


em que se pôde observar a necessidade dos alunos da rede municipal de ensino terem um
acompanhamento não somente do instrutor de equitação, como também do psicólogo e do
fisioterapeuta. Pôde-se perceber que os praticantes, por enfrentarem dificuldades na escola
e, também, por terem problemas de comportamento, obtiveram efeitos positivos com trabalho

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de equoterapia.

O ato de cavalgar em um animal manso, porém de porte avantajado, possibilita ao praticante


experimentar sentimentos de independência, liberdade e capacidade, contribuindo assim
para o desenvolvimento da afetividade, autoconfiança, auto-estima, a organização do
esquema corporal, responsabilidade, atenção, concentração, memória, criatividade,
socialização, entre outros. Pelo seu tamanho, ele impõe respeito e limites, sem envolver-se
emocionalmente, facilitando assim a aceitação de regras de segurança e disciplina. Portanto,
engloba ao mesmo tempo, as qualidades de um terapeuta, um educador e um motivador
(ROSA, 2002).

É importante pensar que a psicologia, vem ampliando cada vez mais seu campo de atuação,
a fim de criar recursos para a saúde e o bem-estar do indivíduo. É de extrema importância
aumentar a diversidade de recursos terapêuticos, pois, por meio destes, criaremos condições
para o crescimento e para a vida. A intenção de implantar a equoterapia na cidade de

445
Franca procurou revelar os resultados a partir do ponto de vista psicológico, mostrando
assim, mais uma modalidade de trabalho para o profissional de psicologia.
Quando questionamos sobre a atuação do psicólogo, geralmente pensamos em um tratamento
que ocorre individualmente, ou seja, a relação terapêutica é exercida em sua maioria entre
paciente e terapeuta. Na equoterapia, o atendimento ocorre de maneira interdisciplinar, isto
é, há grande parceria entre profissionais das áreas da saúde, educação e equitação, que
estão envolvidos no tratamento do praticante. Trabalhar interdisciplinarmente é um processo
muito rico, pois podemos trocar nossos conhecimentos com profissionais de outras áreas.
Desta maneira, temos a oportunidade de conhecer o indivíduo como um todo e não
fragmentado.

Fazenda (1994) afirma que a interdisciplinaridade é uma exigência natural das ciências, no
sentido de uma melhor compreensão da realidade que elas nos fazem conhecer. É uma
questão que parte das indagações, do diálogo, da troca de informações, da humildade, enfim,
da reciprocidade.

O trabalho desenvolvido na Sociedade Hípica de Franca ocorreu de forma interdisciplinar,


havendo assim, uma parceria entre os membros envolvidos, como o instrutor de equitação,
a fisioterapeuta e a psicóloga.

A entrevista realizada com os praticantes ocorreu de forma aberta, com a utilização do


desenho livre.

Arno Stern (apud PILLAR, 1996) afirma que a criança, ao desenhar, não produz lembranças
visuais, mas traduz claramente sensações e pensamentos. O desenho é, portanto, a expressão
do que a criança sente e pensa, isto é, é um espelho, uma imagem representativa dela mesma.
Durante os oito meses de atividades equoterápicas, pôde-se observar que os praticantes
obtiveram resultados significativos tanto na aprendizagem, quanto no comportamento.

No que diz respeito à aprendizagem, foi observado que, ao realizarem atividades de percurso
com varas, números e letras, obtiveram uma melhora significativa na atenção, concentração
e na memória. Através dos jogos pedagógicos, pôde-se notar melhora no raciocínio, na
aceitação de regras e perdas.
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Em relação ao comportamento, foi observado um progresso nos aspectos da comunicação,


socialização, medo, limites, disciplinas e a responsabilidade, por meio de outras atividades e
jogos, além do contato e manuseio do animal, durante as sessões.

De acordo com FONSECA (apud MENDES, 2004), a Equoterapia se introduz no contexto da


aprendizagem, sobretudo quando se trata de crianças que apresentam dificuldades na área
da escrita, matemática, leitura, psicomotricidade ou social. A atenção, concentração e
memória, também são trabalhadas nesta terapia, pois é necessário que o praticante mantenha
a atenção concentrada durante os trinta minutos em que é desenvolvida a sessão. Este é um
fator bastante importante para o bom desempenho do aluno na escola, pois a atenção é a
base do aprendizado. O indivíduo, estando atento, conseqüentemente selecionará o que
realmente quer aprender e guardar em sua memória para utilizar em outros momentos.

Pode-se dizer que a terapia inicia-se no momento em que o praticante entra em contato com
o animal. Em um primeiro momento, o cavalo representa para o indivíduo uma situação
446
diferente, com a qual o praticante terá que saber lidar, aprendendo a forma correta de
interagir, de montar e comandá-lo.

No que diz respeito aos pais dos praticantes, pôde-se notar que houve grande interesse por
parte dos mesmos. Tiveram a oportunidade de acompanhar a evolução de seus filhos durante
o atendimento. Na reunião de finalização, foi possível perceber que as mães ficaram contentes
com o progresso dos seus filhos, embora tivessem outros aspectos a serem alcançados. O
contexto da reunião contribuiu também para as mães conversarem e refletirem sobre suas
dificuldades, dúvidas, medos, angústias, sentimentos de culpa em relação a seus filhos.

De acordo com Madureira e Souza (2001, p. 6), “a necessidade de orientação e


acompanhamento psicológico aos pais de praticantes de equoterapia é tão importante quanto
os cuidados técnicos”. A família traz consigo expectativas por um novo atendimento,
melhoras, perspectivas, sentimentos de culpa, insegurança, medo, ansiedade, incerteza, entre
outros sentimentos.

A valorização da família auxilia no trabalho com o praticante, podendo assim, realizar um


trabalho em conjunto com os pais, de modo a orientá-los em comportamentos referentes à
história pessoal e familiar, favorecendo uma mudança em suas percepções e valores de suas
realidades.

Enfim, compreender a equoterapia em sua totalidade é tarefa de todos os profissionais


envolvidos. O dia-a-dia equoterápico está impregnado de buscas infinitas. As respostas às
dúvidas também são complexas e desafiadoras. Todo esse esforço tem um motivo
indescritivelmente maravilhoso – o praticante (ROSA, 2002).

CONCLUSÃO

Com a implantação da equoterapia na cidade de Franca, verificou-se através dos resultados,


que os praticantes foram influenciados pelo atendimento equoterápico, adquirindo assim,
melhoras significativas, principalmente nos aspectos psicológicos.

Foi possível perceber que a implantação deste serviço realmente foi de grande valia. É

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importante ressaltar que tanto os profissionais quanto os pais e praticantes acreditaram no
tratamento, procurando assim conduzi-lo com afinco e satisfação.

Pode-se considerar que a equoterapia é uma área em construção, e o percurso das etapas
dessa construção é bastante complexo.

Com a descoberta dos benefícios trazidos ao ser humano por essa terapia, percebeu-se a
necessidade de divulgar esta nova modalidade terapêutica, para que outros profissionais e
pessoas possam utilizar esse novo método. Embora o cavalo seja um recurso, do qual quase
todas as pessoas têm proximidade e acesso, ainda não se têm consciência dos benefícios que
este animal pode proporcionar.

Posso dizer que a experiência em trabalhar com a equoterapia foi muito importante tanto
para minha vida, quanto para minha profissão. Embora seja um método terapêutico ainda
novo, vem proporcionando grandes avanços nos aspectos psicológico, físico, cognitivo, social.
447
Durante esses dez anos praticando o hipismo, e há pouco tempo atuando com a equoterapia,
percebi que o cavalo é realmente um animal que beneficia todas as pessoas, sejam elas
especiais ou “normais”.
REFERÊNCIAS

ARLAQUE, P. et al.Psicologia na equoterapia: uma experiência em equipe transdisciplinar.


Boletim Informativo da Associação Nacional de Equoterapia, Brasília, ano 6, n. 2, p. 1-3, jun.
1997.

BITAR, A. de. et al.Os benefícios da equoterapia para o desenvolvimento cognitivo e linguagem


nos portadores de paralisia cerebral. Revista da Associação Nacional de Equoterapia, Brasília,
ano 6, n. 9, p. 6-10, dez. 2004.

BRENTEGANI, T. R. A Equoterapia no ponto de vista do Psicólogo. Disponível em: <http: //


www.equoterapia.com.br. Acesso em: 8 mai. 2004.

FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 8. ed. Campinas: Papirus,


2001.

MASIERO, C. O Psicólogo na Equoterapia. XI Curso Básico de Equoterapia. São Paulo:


EQUOLIBER, abr. 2004. 125p (Apostila xerocada).

MENDES, A. M. Os benefícios da equoterapia para crianças com necessidades educativas especiais.


Disponível em: <http://www.equoterapia.com.br/artigos>. Acesso em: 8 mai. 2004.

PILLAR, A. D. Desenho e escrita como sistema de representação. Porto Alegre: Artes Médicas,
1996.

ROSA, L. R. Reflexões sobre a complexidade equoterápica. Revista da Associação Nacional de


Equoterapia, Brasília, ano 5, n. 6, p. 8-11, dez. 2002.

SOUZA, M. d’ A.; MADUREIRA, N. M. Reflexão sobre a necessidade de atendimento


psicológico aos pais dos praticantes. Revista da Associação Nacional de Equoterapia, Brasília,
ano 4, n. 5, p. 6-7, ago. 2001.
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

448
A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE BIOMECÂNICA DA
QUARTELA PARA A EQUOTERAPIA

Autor: Marco Antonio Carvalho Câmara - Brasil


Co-autores: Cristiane Garcia Marques Câmara,
Rodrigo Gustavo da Silva Carvalho,
Harlen Carvalho Ribeiro.

RESUMO

A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma


abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o
desenvolvimento biopsicosocial de pessoas portadoras de deficiência e ou necessidades
especiais. A utilização das medidas das diversas partes anatômicas do animal como critério
objetivo de avaliação da conformação tem longa história. Nem todos os ângulos têm a mesma
ação e efeito.

Na equoterapia o profissional tem que saber identificar alguns fatores importantes para
obter o resultado esperado com o paciente, tais como: cadência do passo, velocidade, largura
das passadas e a angulação da quartela. Portanto, o objetivo deste estudo é como analisar
biomecanicamente a angulação da quartela e sua importância para a equoterapia.

Foram utilizados 5 eqüinos (1 fêmea e 4 machos), de diferentes linhagens. O procedimento


principal adotado foi determinar o ângulo da quartela.

Os valores mínimos e máximos dos ângulos das quartelas foram de 52 a 67º (±5,7) para
posterior esquerda, 50 a 68º (±7,3) para posterior direita, 51 a 70º (±8,5) para anterior esquerda
e 55 a 73º (±7,5) para anterior direita.

Conforme a angulação da quartela, é estabelecida para qual o tipo de tratamento é eficaz o


cavalo.

Atualmente não há uma classificação do cavalo para a equoterapia em relação à angulação

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da quartela; o presente estudo então revela a importância da relação do tratamento com o
ângulo da quartela.

Palavras-Chaves: Equoterapia; Ângulo da quartela; Biomecânica.

INTRODUÇÃO

A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma


abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o
desenvolvimento biopsicosocial de pessoas portadoras de deficiência e ou necessidades
especiais [1].

Quando o homem e o cavalo, ao realizarem tarefas conjuntas, se fundem numa única unidade
biológica, forma-se uma rede de cooperação neurofisiológica entre os parceiros. Esta interação
entre os sistemas nervosos do Homo e do Equus ocorre nas diversas modalidades eqüestres,
em graus diferentes, e esta variação determina a dificuldade e a qualidade da equitação. 449
Podemos afirmar que a equitação é um milagre de coincidências biológicas que, à primeira
vista, o bom senso julgaria impossível de acontecer – isto porque só um milagre permitiria
que dois seres programados pela natureza para a realização de tarefas vitais tão diferentes
pudessem unir os seus complexos recursos fisiológicos para realizar uma mesma tarefa – e
com o alto grau de eficiência verificada em algumas modalidades eqüestres [2].

Encontram-se também na conformação do cavalo algumas coincidências que favorecem a


ajuste com a morfologia do homem. Um costado com a largura adequada para Homo abraçar
com as pernas, um lugar para o cavaleiro se posicionar sobre o dorso, no final da cernelha,
ideal para o alinhamento do seu centro de gravidade com o do cavalo. O corpo relativamente
inflexível do Equus caballus é, no entanto, um dos principais elementos a favorecer a equitação.
Se o cavalo tivesse um dorso flexível como o de um gato, seria impossível de ser equitado. Se
tivesse a pele solta como a do cachorro, também. As coincidências psicomotoras também
são notáveis. Se o cavalo fosse carnívoro e tivesse um sistema nervoso com os reflexos rápidos
de um gato, seria impossível montá-lo. A coincidência de temperamentos é outro fator que
permite a fusão neurofisiológica do conjunto. O grande elenco de movimentos naturais do
cavalo é inteiramente utilizado na equitação moderna e totalmente administrável pelo homem
treinado para a equitação. No aspecto psicológico existem também as semelhanças necessárias para
completar o milagre da equitação. Sentimentos como o medo, o prazer, a confiança, a curiosidade e
a determinação fazem parte da psicologia tanto do Homo quanto do Equus e também são responsáveis
para o sucesso da fusão psiconeurofisiológica da equitação. E, talvez, campos magnéticos e outras
‘ondas’ elétricas ainda desconhecidas pela ciência possam também ser responsáveis pelo
sincronismo de movimentos e o senso simultâneo de direção e velocidade verificado nos
grandes conjuntos eqüestres [2, 3].

A equitação de alto desempenho é provavelmente uma das tecnologias biológicas mais


complexas já dominadas pelo homem. A capacidade de interagir com o complexo sistema
nervoso do cavalo, que produz um processo de feedback entre os parceiros, exige do equitador
respostas reflexas instantâneas aos reflexos incessantes produzidos pelo cavalo. Administrar
as ações de um cérebro estruturado para mobilizar um organismo muitas vezes mais potente
do que a do homem é um enorme desafio para os 10 bilhões de células nervosas que compõem
o tronco cerebral, o cerebelo e o cérebro do Homo sapiens. Felizmente, a neurociência já
começa a nos fornecer dados reveladores para analisarmos os princípios da equitação [2, 3].

A articulação do cavalo é uma maravilha da engenharia biológica, considerando as enormes


pressões exercidas pelo esqueleto do eqüino em movimento (Figura 1). Os ossos envolvidos
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

podem deslizar sem nenhuma fricção dentro dessa estrutura Os efeitos da utilização do
cavalo sob condições extremas, piso ruim, defeitos de conformação ou de ferrageamento
podem ativar a deterioração da cartilagem. Pode ocorrer em qualquer articulação, mas
preferentemente atinge as articulações de grande amplitude de movimentação, como boletos
e jarretes, e depende do trabalho exigido deste cavalo [4, 5, 6].

A) B)

450 Figura 1: A: representação do esqueleto de um cavalo. B: representação dos ângulos de cavalo.


A utilização das medidas das diversas partes anatômicas do animal como critério objetivo
de avaliação da conformação tem longa história. Nem todos os ângulos têm a mesma ação e
efeito [5].

Um dos fatores mais importantes de ser analisado é a quartela, região súbita entre o boleto e
a coroa. Base: 1o falange e parte da 2o falange (Figura 2). A quartela anterior é mais larga
mais curta e mais inclinada que a posterior. Volumosa, seca, de comprimento médio, flexível
e bem dirigido. Sendo forte, indica boa constituição e resistência; quando seca, revela nobreza.
No cavalo de corrida e no marchador, a quartela é comprida; no trotador e no cavalo de
tração, é curta. Neste último caso é forte, mas pouco flexível, com menor ação amortecedora
durante os andamentos. No 1o caso é flexível, porém impõe os tendões a se relaxarem. A
quartela de comprimento médio, em geral, é a mais favorável em todos os serviços. A região
vista de frente não deve mostrar desvios laterais; vista de perfil apresenta inclinação variável,
mas sempre deve ser paralela à pinça do casco. A flexibilidade da quartela aumenta com
sua inclinação [7].

Figura 2: Posição Correta para medir a angulação da quartela.

Sabe-se que no caso de uma espasticidade deve-se diminuir o tônus do paciente, desta forma
dá-se preferência a cavalos com quartelas menos anguladas e maiores, proporcionando maior
conforto e relaxamento ao praticante e menor estresse nas articulações dos membros do
cavalo. No caso da hipotonia se deve aumentar os estímulos e reações de equilíbrio para o
paciente buscar uma maior ativação muscular, assim aumentando seu tônus. Portanto,

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priorizam-se cavalos com angulações maiores de quartelas e mais curtas, em que o praticante
possui maior dificuldade de se equilibrar durante a montaria neste tipo de animal [1,8].

A importância deste estudo é mostrar que o cavalo de equoterapia não pode ser qualquer
animal, ele deve ser perfeito no aspecto da morfologia, e não deve possuir deformidades ou
compensações em seu movimento; sendo assim, a harmonia do tratamento não será da
forma mais perfeita possível, levando à gama de estímulos necessária para a reabilitação dos
pacientes. Em razão de algumas angulações diferentes no cavalo, as metas dependerão do
objetivo a ser alcançado na equoterapia, mas para isso, o cavalo deverá ser ideal para se
obter um tratamento perfeito.

Na equoterapia o profissional tem de saber identificar alguns fatores importantes para obter
o resultado esperado com o paciente, tais como: cadência do passo, velocidade, largura das
passadas e a angulação da quartela [1]. Portanto, o objetivo deste estudo é como analisar
biomecanicamente a angulação da quartela e sua importância para a equoterapia.
451
MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado no Centro de Equitação Terapêutica Passo a Passo. Foram utilizados
cinco eqüinos (uma fêmea e quatro machos), de diferentes raças: dois Árabes, um Quarto de
Milha com Inglês, um Brasileiro de Hipismo e um Mangalarga Marchador.

Os procedimentos adotados foram: medir o casco (pinça-talão) com a fita métrica (Sanny),
o diâmetro da falange proximal (Paquímero-Sanny), sendo importantes estas medidas para
estabelecer o posicionamento do goniômetro. O fulcro foi colocado na metade do tamanho
do casco (Figura 2), a haste fixa rente ao chão e a móvel passando pela metade da falange
proximal, determinando assim o ângulo da quartela. As medidas foram obtidas utilizando-
se um goniômetro (Carci). Os animais foram mensurados posicionados em estação forçada,
sobre piso de cimento, menos irregular possível e sem declividade.

RESULTADOS

Os valores mínimo e máximo da angulação das quartelas foram de 52 a 67º (±5,7) para
posterior esquerda, 50 a 68º (±7,3) para posterior direita, 51 a 70º (±8,5) para anterior esquerda
e 55 a 73º (±7,5) para anterior direita.

A figura 3 representa a dispersão de cada cavalo em relação aos ângulos de suas quartelas.

Figura 3: Cada cavalo e seus valores de angulação em relação a cada quartela. Sendo 1 para
anterior direita, 2 para anterior esquerda, 3 para posterior direito e 4 para posterior esquerda.
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A Figura 4 apresenta as médias dos ângulos das quartelas e seu desvio padrão.

Figura 4: Apresenta as médias e o desvio padrão dos ângulos das quartelas de todos os
cavalos.

452
DISCUSSÃO

Nos dois cavalos Árabes foram identificadas quartelas mais anguladas e tamanhos médios,
no Quarto de Milha com Inglês as quartelas são mais anguladas que as Árabes e de maior
comprimento. Os três primeiros cavalos poderão ser indicados para o tratamento de pacientes
hipotônicos em relação às quartelas. No Brasileiro de Hipismo as quartelas são menos
anguladas e de menores comprimentos, assim como no Mangalarga Marchador. Nos dois
últimos cavalos, poderão ser indicados para o tratamento pacientes espásticos [1, 3, 8, 9, 10, 11].

Os dados demonstram que há uma diferença entre os ângulos das quartelas em um mesmo
cavalo, dos cinco analisados: um apresenta mais uniformes os ângulos – cavalo 5, o cavalo 4
apresenta ângulos menores nas quartelas dianteiras enquanto as posteriores maiores, e os
cavalos 1,2 e 3 são ao contrário encontrado no cavalo 4 (Figura 3).

As maiores médias apresentaram nas quartelas anteriores (dianteiras), e as menores nas


posteriores (traseiras) (Figura 4).

A melhora do equilíbrio, o ajuste tônico, o alinhamento corporal e o desempenho motor são


os principais objetivos do tratamento com equoterapia, e diversos fatores contribuem para
atingir esses objetivos, inclusive a angulação da quartela [12, 13, 3, 5, 8].

Conforme a angulação da quartela, é estabelecida para qual o tipo de tratamento é eficaz o


cavalo [1].

As angulações das quartelas são bastantes variáveis, e vários fatores internos e externos
podem influenciar em seus ângulos, como deformidades articulares, traumas, cascos mal
cuidados, mal ferrageamento ou casqueamento e diversos outros fatores. Desta forma o
cavalo de equoterapia tem de ser muito bem cuidado, pois este é o terapeuta principal do
tratamento em que todo o resultado dependerá de seu movimento correto e harmônico [1].

CONCLUSÃO

Atualmente não há uma classificação do cavalo para a equoterapia em relação à angulação


da quartela, pois não quer dizer que outros cavalos da mesma raça terão as mesmas medidas

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encontradas nos cavalos desta pesquisa, e também a escolha de um cavalo próprio para
cada tipo de tratamento não depende apenas da escolha da quartela e sim de vários fatores
morfológicos que compõe o cavalo, como altura, comprimento, largura, aprumos, biomecânica
do movimento, velocidade do movimento, largura das passadas, assim como seu ritmo e
cadência. O presente estudo então revela a importância da relação do tratamento dos
pacientes e seus objetivos a alcançar, de acordo com o ângulo da quartela. Por isso a
importância de ter um profissional qualificado para escolher os animais próprios para a
equoterapia, na hora de determinar um plano de tratamento.

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e-mail dos autores:

Marco Antonio de Carvalho Câmara


marcoantoniocamara@yahoo.com.br

Cristiane Garcia Marques Câmara


cristianegcamara@yahoo.com.br

454
HIPOTERAPIA, UMA EXCELENTE OPORTUNIDADE PARA O
APRENDIZADO MOTOR: UMA DISCUSSÃO DE FATORES NEURO-
MOTORES E PSICOLÓGICOS CHAVE

Autor: Dorothée Debuse - United Kingdon

INTRODUÇÃO

Os efeitos da hipoterapia nas pessoas com paralisia cerebral têm sido descritos e pesquisados
por um número de autores (Casady e Nichols-Larsen, 2004; Debuse et al., 2005; Heine 1997;
Künzle, 2000; Strauß, 1998; 2000; Tauffkirchen, 1996; Would, 1998; 2000; 2003). Dorothée
Debuse foi a primeira pesquisadora a explorar em detalhes os efeitos completos da hipoterapia
de uma perspectiva do usuário. Em 2003 e 2004, ela conduziu grupos focados / entrevistas
semi-estruturadas com 31 crianças e adultos com paralisia cerebral +/- seus pais em seis
centros na Alemanha e no Reino Unido. Os dados resultantes foram muito ricos, não somente
em termos dos efeitos físicos da hipoterapia nas pessoas com paralisia cerebral, mas,
importantemente, também nos efeitos psicológicos que os acompanham, e parecem estar em
“sinergia” com os efeitos físicos.

Uma das principais conclusões foi de que a hipoterapia é mais eficiente para os participantes
do estudo que a fisioterapaia convencional. Vários participantes descreveram como eles
mesmos ou seus filhos apenas desenvolveram certas habilidades motoras depois de iniciada
a hipoterapia, ainda que tivessem sido tratados com fisioterapia convencional por anos. Foi
importante examinar a origem dessa observação. Portanto, as conclusões foram examinadas
e trianguladas com a literatura existente sobre neuroplasticidade/aprendizagem motora e
psicologia/pedagogia. Baseado nestas fontes, um esquema conceitual foi desenvolvido para
explicar por que a hipoterapia constitui tão eficiente aprendizado motor. Este artigo/poster
irá introduzir o esquema conceitual de aprendizado motor na hipoterapia (ver Figura 1),
que foi desenvolvido baseado nos achados do estudo.

Figura 1: Esquema Conceitual do aprendizado motor na hipoterapia

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

455
UMA EXPERIÊNCIA MULTISSENSORIAL

A hipoterapia claramente se constitui como uma experiência multissensorial. O cavalo em


movimento expoe o usuário a uma grande variedade de estímulos sensoriais via:

• toque suave e forte;


• propriocepção (recepção de estímulos);
• temperatura (a temperatura do corpo do cavalo é um grau mais alta que a dos
humanos; quando o usuário monta o cavalo sem qualquer proteção, pode sentir
essa diferença);
• insumo vestibular através do movimento no espaço (aceleração, desaceleração,
mudanças de direção);
• visão; e
• cheiro.

Muitas pessoas com paralisia cerebral nunca têm uma experiência de movimento no espaço
(relativamente sem esforços). Pessoas com paralisia cerebral que não se movimentam
normalmente não experimentam uma base de apoio móvel ou instável da pélvis. Isto é
significativo. Há um reconhecimento crescente do fato de que indivíduos com paralisia
cerebral não estão expostos aos mesmos estímulos sensoriais e de movimento como as pessoas
não-deficientes, que contribui significativamente para sua deficiência. Em outras palavras,
sua falta de movimentos normais não se deve apenas à sua produção motora anormal, mas
também à falta de insumo sensorial, e assim, da oportunidade de experimentar e paticar
respostas de movimentos normais (Leonard, 1994; Schulz, 1998; Shumway-Cook e
Woollacott, 2001; You et al., 2005). O cavalo como uma “base móvel” e seus movimentos no
espaço fornecem uma oportunidade única neste contexto. Um dos participantes de nosso
estudo relatou:

“o cavalo o movimenta de uma forma, simplesmente pelo ritmo de seus movimentos, o


que você nunca conseguiria realizar por si só. Na cadeira de rodas você está estável; o
movimento [no cavalo] é uma sensação completamente nova, realmente, que não se
consegue em outra vezes … Manter seu equilíbrio é realmente um sentimento
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completamente novo, ao qual você nunca fora exposto”.

UMA EXPERIÊNCIA DE MOVIMENTO ÚNICA (E REPETITIVA)

O participante citado acima expressou claramente que a hipoterapia lhe dá uma experiência
de movimento única.

O que é tão especial sobre a hipoterapia é que o movimento que o cavalo “fornece” não é só
repetitivo, mas também típico do andar humano (Dvorakova et al., 2003; Riede, 1986; Schirm,
e Riede, 1998). Assim, a facilitação do controle do tronco via o andar do cavalo é algo que,
de fato, aproxima-se do movimento normal para muitos indivíduos com paralisia cerebral e
outros déficits neuromotores. Esse treinamento do tronco em um padrão que muito lembra
o andar humano (Dvorakova et al., 2003; Riede, 1986; Schirm e Riede, 1998; Strauß, 2000)
é único para a hipoterapia e é experimentado como tal por seus usuários. Um participante
de nosso estudo, que não é capaz de andar, disse:
456
“no cavalo eu sinto como se eu estivesse andando. Posso me deixar levar completamente
[pelo movimento], e o cavalo o transmite para mim”.

O cavalo em movimento transmite de 90 a 120 impulsos de movimentos por minuto para a


pessoa em seu dorso; uma sessão de hipoterapia dura por volta de 20-30 minutos.

Strauß (2000) enfatiza que nenhum outro meio terapêutico além do cavalo pode realizar
isso. Para uma discussão dos efeitos das diferenças na qualidade da hipoterapia nessa
experiência de movimento única, como também da oportunidade de aprendizado motor
que fornece, favor consultar Debuse et al (2006).

O cavalo fornece um estímulo de movimento repetitivo (e sua relevância foi discutida em


relação à neuroplasticidade (Dobkin, 2004; Grillner, 2003)), que requer uma resposta motora
contínua da pessoa em seu dorso. O cavalo move a pelvis do paciente em um padrão que em
muito se parece com o andar humano (Dvorakova et al., 2003; Riede 1986; Schirm e Riede
1998; Strauß 2000) e dá ao paciente em suas costas um constante feedback de sua performance
(Casady e Nichols-Larsen, 2004). Vários autores observaram que a hipoterapia também
regula o tônus anormal dos membros (Would 1998; 2000), um efeito que foi confirmado
independentemente por todos os participantes de nosso estudo. E com importância, as
mudanças no tônus e na produção motora durante a hipoterapia deram aos usuários novos
insumos sensoriais. E juntamente, estes fatores permitem que os usuários pratiquem novos e
corretos padrões motores a cada passo do cavalo.

UMA SENSAÇÃO DE CONQUISTA

Um aspecto-chave no contexto do aprendizado motor é que usuários e pais experimentam a


hipoterapia não como fisioterapia, mas como montaria. A hipoterapia é prazerosa para os
usuários, muitos dos quais cansados das outras terapias. Há evidências de que (Chen et al.,
2001; Rubie et al., 2004; Stine, 1997) a satisfação imediata, o interesse, a motivação e a auto-
estima promovem o aprendizado. Esse efeito motivacional dos cavalos de facilitar o
aprendizado motor não pode ser subestimado. Também relevante é que crianças e adultos
participantes de nosso estudo expressaram que sua participação em um “esporte” também
lhes dá uma sensação de conquista e deixa os pais orgulhosos de seus filhos (menos hábeis).
A habilidade motora melhorada dos usuários (por exemplo a habilidade de andar sem uma

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bengala, ou não cair mais) também aumenta a auto-estima.

É interessante que também as expectativas dos pais exercem uma influência direta na
performance da criança. Crianças cujos pais pensam que elas irão melhorar em seu
desempenho escolar, realmente vão ser melhores que as crianças cujos pais têm baixas
expectativas. Por sua vez, a boa performance na escola aumenta a confiança dos pais em
seus filhos, que já estão confiantes quanto à própria performance, o que cria um “círculo
virtuoso”. Parece que as crianças cujos pais acreditam têm maior confiança e, portanto,
aproximam-se das situações de aprendizado mais positivamente, enquanto aquelas crianças
cujos pais revelam baixas expectativas têm pouca autoconfiança e, com isso, evitam as
situações de aprendizado que lhes parecem difíceis (Aunola et al., 2003; Bandura, 1982).

Os relatos dos usuários em nosso estudo demonstraram que esse princípio se aplica também
à hipoterapia: suas habilidades motoras melhoradas fazem com que os usuários se sintam
mais confiantes no decorrer da hipoterapia. Como resultado, eles (bem-sucedidamente) tentam
457
participar de tarefas motoras que não haviam tentado antes, resultando em uma atividade
e participação melhoradas. A observação seguinte de uma mãe de uma criança de cinco
anos ilustra esse ponto:

“Ele costumava cair e não saía com os outros para o jardim com seus brinquedos … mas
agora [desde a hipoterapia] está claro que ele pode fazer mais, e quanto mais ele é
capaz de fazer, mais eles [seu irmão e irmã] se envolvem com ele também.”

NEUROPLASTICIDADE

No que se refere ao aprendizado motor / neuroplasticidade, “quando uma atividade motora


é combinada com atenção visual… a ativação cortical é mais intensa que a soma das ativações
durante apenas o movimento ou a atenção visual” (Steven e Blakemore, 2004). Também,
quanto mais intensa e prolongada a exposição à experiência de movimento, mais eficiente
será o aprendizado motor (Shumway-Cook e Woollacott, 2001), e mais centros são envolvidos
(motor, sensorial, afetivo), e mais eficiente a neuroplasticidade (Butler, 2000; Elbert, et al.,
1994; Flor et al., 1997).

A hipoterapia fornece estímulos motores e sensoriais únicos em um prolongado período de


tempo. Usuários têm a oportunidade de praticar suas respostas a estes estímulos a cada
passo do cavalo. O fato de que tudo isso ocorre em um padrão de movimento do tronco que
muito se parece com o andar humano (Dvorakova et al. 2003; Riede 1986; Schirm e Riede,
1998; Strau,ß 2000) ajudaria a explicar a notável melhora no controle do tronco e na
habilidade de andar, como observam alguns autores (Strauß, 1998; 1999; 2006; Would, 1998;
2000; 2003) e também vários clínicos que seguem a hipoterapia.

Entretanto, e sem dúvidas, além de seus únicos estímulos sensoriais e motores, o cavalo na
hipoterapia envolve os usuários em um nível emocional / afetivo, criando uma oportunidade
não somente física mas também psicológica ideal para o aprendizado motor, que envolve
centros motores, sensoriais e afetivo do cérebro. De acordo com o background científico da
neuroplasticidade desenhado acima, não é surpreendente que a hipoterapia apresente tais
condições favoráveis ao aprendizado motor.
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CONCLUSÃO

Uma conclusão muito importante de nosso estudo foi que todos os usuários adultos e a
maioria dos pais expressaram achar a hipoterapia mais eficiente que a psicoterapia
convencional. Isto é extraordinário. E reflete as observações de vários psicoterapeutas que
participaram da fase inicial do estudo (Debuse et al. 2005) e a larga crença na Alemanha de
que a hipoterapia é a escolha de tratamento para crianças com paralisia cerebral (Riesser,
1996).

Enquanto se tem escrito sobre os efeitos individuais da hipoterapia, nenhuma tentativa foi
feita para relacionar efeitos individuais entre si, e examinar suas interações, baseada na
ampla literatura. Do conhecimento da autora, a Figura 1 é a primeira estrutura conceitual
de seu tipo a expressar as complexas interações entre aspectos individuais da hipoterapia e
seus efeitos para explicar por que a hipoterapia constitui-se como uma eficiente oportunidade
de aprendizado motor. Ainda que não se alegue completo, esperamos que esse esquema
458 conceitual traga uma importante contribuição ao debate e ao entendimento da área.
REFERÊNCIAS

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A EQUOTERAPIA RESSIGNIFICANDO A VIDA

Autora: Maria Cristina Guimarães Brito - Brasil


Co-autora : Marcelle Santos Guimarães

RESUMO

A utilização do cavalo como recurso educacional, psicoterapêutico e esportivo, somados a


participação afetiva e efetiva da família, promove a socialização da pessoa com necessidades
especiais. A equoterapia com vista à interdisciplinaridade possibilita ao praticante ser
acompanhado por profissionais diferenciados num mesmo momento, contribuindo para a
melhoria da qualidade de vida, tanto para o praticante como para sua família. Com isso, a
equoterapia de forma significativa busca contribuir nos campos físico, psíquico, moral e
espiritual na relação estabelecida entre o homem e a natureza, reforçando a necessidade de
que o praticante aprenda a conhecer, a fazer, a viver e a constituir-se como único e
insubstituível, além de útil à sociedade.

Diante do exposto, a equoterapia, método interdisciplinar, difere de outros métodos, pois


possibilita o envolvimento simultâneo de um grupo de profissionais, objetivando dar sentido
à vida do praticante. Sendo o cavalo ferramenta imprescindível neste método, a sua
contribuição vem permitir ao portador de necessidades especiais a satisfação da sua prática,
possibilitando ao mesmo uma meta para convivência de modo consciente na diversidade.

Com isso, torna-se importante perceber que a qualidade do ambiente familiar auxilia no
desenvolvimento da pessoa com deficiência, assegurando-lhe confiança em si e no outro e o
sentimento de pertencimento ao núcleo familiar. Age como fator estimulante para o
desenvolvimento psíquico e motor, concordando com a possibilidade de mudança na estrutura
cognitiva do deficiente.

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Para BRITO (2000), “Geralmente quando nasce uma criança, há quem diz ...é a cara do
pai!.. Outros acham que é a cara da mãe!... Mas, quando nasce uma criança especial, poucos
se arriscam a dizer com quem se parece...porém, sem dúvida, é a cara da família e o corpo
da sociedade”.

Palavras-chave: Equoterapia; Educação; Saúde e Integração.

A utilização do cavalo como recurso educacional, psicoterapêutico, esportivo e provedor na


socialização não é uma descoberta recente. A sua expansão, cada vez mais, confirma os
seus benefícios e sua eficácia no roteiro de atividades da pessoa com deficiência e/ou
necessidades especiais. A união perfeita do homem com a natureza favorece, de maneira
harmônica, a prática da equoterapia, proporcionando ao praticante prazer e bem-estar e,
conseqüentemente, resultados satisfatórios
461
Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, estima-se que 10% da população de
países em desenvolvimento apresenta algum tipo de deficiência. Com vista a esta população,
ora se fala cada vez mais em uma sociedade inclusiva, tendo como base a Educação para
Todos. Daí a importância da equoterapia, na sua postura interdisciplinar, pois além de
possibilitar uma relação harmônica e afetiva com o animal, transmite ao praticante uma
gama de estímulos sensório-motores, favorecendo valorar o sujeito, na suas competências e
potencialidades dentro da complexidade deste processo, canalizando-o para a educação
formal e para o mercado de trabalho, socializando-o para dar sentido à sua vida.
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A equoterapia nasceu e vem crescendo com a missão de contribuir para o desenvolvimento


do Ser social, integrado, dando sentido à vida das pessoas com deficiências, auxiliando de
forma decisiva na formação do cidadão que se faz a cada dia. Segundo RODRIGUES (1989),
462 o homem mostra, com a logoterapia, um propósito essencial na vida e inerente a ele mesmo:
a procura de um sentido ou um significado de cunho imaterial, de uma meta que signifique
a realização de valores na área moral, ética e que o dignifique como pessoa humana. Propósito
este que é fator motivador para todos os que participam da atividade, já que esta constitui e
é constituída por subjetividades, na qual cada um contribui para a expressão de novas
sensações em um ciclo vicioso e irreproduzível.

Em face do exposto, a equoterapia, método interdisciplinar, difere de outros métodos, pois


possibilita o envolvimento simultâneo de um grupo de profissionais, objetivando dar sentido
à vida do praticante. Sendo o cavalo ferramenta imprescindível neste método, a sua
contribuição vem permitir ao portador de necessidades especiais a satisfação da sua prática,
possibilitando ao mesmo uma meta para convivência de modo consciente na diversidade.
Com isso, a equoterapia de forma global busca, na relação estabelecida entre o homem e a
natureza, conscientizar pessoas e autoridades quanto à sua importância, nos campos físico,
psíquico, moral e espiritual.

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Para FRANKL (1991), o sentido da vida sempre se modifica, jamais deixa de existir. De
acordo com a logoterapia, podemos descobrir este sentido na vida através de três diferentes
formas: 1 – experimentando algo ou encontrando alguém (valores vivenciais ou de
experiência); 2 – criando um trabalho ou praticando um ato (valores criativos) e, por fim; 3
– pela atitude que tomamos em relação ao inevitável. Com base nessa afirmativa, o sofrimento
inevitável que vivenciam as famílias com os portadores de deficiência é sustentado na Fé
inabalável e na sua incansável caminhada, refletindo-se a cada conquista do praticante na
equoterapia e estimulando a construção de um pensamento educacional e reabilitacional
para a inclusão destes na sociedade. 463
Com isso, torna-se importante perceber que a qualidade do ambiente familiar auxilia no
desenvolvimento da pessoa com deficiência, assegurando-lhe confiança em si e no outro e o
sentimento de pertencimento ao núcleo familiar. Age como fator estimulante para o seu
desenvolvimento psíquico e motor, concordando com a possibilidade de mudança na estrutura
cognitiva do deficiente.

Temos de aceitar que é possível mudar a estrutura cognitiva do deficiente. Por definição,
não há nem pode haver deficientes ineducáveis. Por efeitos da educação e da reabilitação
precoces, podemos transformar o deficiente num ser autônomo, independente e capaz de
aprendizagem. Aprender a aprender é possível também nos deficientes. Por mais condições
adversas que se levantem, o organismo humano é um sistema aberto e sistêmico e, como tal,
a inteligência só pode ser concebida como um processo interacional, flexível, plástico,
dinâmico e auto-regulado de forma que as aprendizagens humanas desenvolvem-se passo a
passo num ambiente psicológico adequado e identificador. Quando o ambiente não é
adequado o desenvolvimento das capacidades de aprendizagem fica comprometido
(FONSECA, 1995, p.73).

A participação da família no contexto educacional, psicoterapêutico, social e espiritual na


vida do portador de necessidades especiais atesta sua importância para o desenvolvimento
do mesmo, elegendo-os como “os principais e diretos animadores da sensibilidade dos seus
filhos” (GUTIERRES FILHO, 2001).Este feedback da família, aliado ao trabalho da equipe
interdisciplinar, é fundamentado na programação de assistência ao portador de deficiência,
além da formação teórica, pedagógica e pessoal do profissional de equoterapia.
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MORIN afirma (1982, p.217):” ... a interdisciplinaridade controla tanto as disciplinas como
a ONU controla as nações. Cada disciplina pretende primeiro fazer reconhecer a sua
soberania territorial, e, à custa de algumas magras trocas, as fronteiras confirmam-se em
vez de se desmoronarem.” Nesse sentido, cria-se um ambiente facilitador, estimulando as
pessoas com necessidades especiais na sua recuperação, já que, muitas vezes, elas são
submetidos a tratamentos de longo prazo, cujos resultados são também muito lentos, gerando
cansaço e impaciência na família.

A estimulação proveniente do ambiente e dos movimentos oscilatórios tridimensionais do


cavalo gera no paciente uma sensação de espontaneidade e prazer, fazendo-o sentir-se
autoconfiante, melhorando sua auto-estima, a percepção espacial, estimulando-o de forma
sensorial, visual, na acústica, na percepção da auto-imagem e na organização espaço-temporal,
proporcionando melhor utilização de seu componente afetivo (SANTOS, 2000, p.57).
464
Mediante a este processo de sociedade inclusiva, o Relatório para a Unesco da Comissão
Internacional Sobre Educação para o Século XXI, coordenado por Jacques Delors, remete-
nos ao suporte dos “quatro pilares” da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a viver juntos, aprender a ser.

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(apud Morin 1982, p.217). Petrópolis: Vozes, 2003, p115.

S, Fernanda Paula Ribeiro dos. Equoterapia: Uma Perspectiva Para Desenvolvimento da


Linguagem. Revista CEFAC - Associação Científica em Fonoaudiologia, local, vol.2, nº. 2,
págs. 55 à 61, 2000.

XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

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EQUOTERAPIA COM BEBÊS E CRIANÇAS

Autor: Karol Hornacek - Slovak Republic

EQUOTERAPIA COM BEBÊS E CRIANÇAS

Apesar de a postura da criança continuar amadurencendo até o final de seu 3° ano, há mais
boas razões para iniciar uma criança de apenas poucos meses na ET. O posicionamento
dorsal, abdominal, deitando de lado e, mais tarde, sentado, são todos utilizados. A suposição
é feita de que através dos vários posicionamentos, fases de desenvolvimento da ontogênese
motora e postural são passo a passo facilitadas: estágios de movimento individual dos
membros, sentar de lado, rastejar, engatinhar, sentar, andar e habilidades motoras finas.
Esses procedimentos inovadores usados na ET e reabilitação infantil estão ainda em
desenvolvimento.

A primeira posição dada à criança é baseada na sua idade de desenvolvimento, transtorno


e diagnóstico clínico. Durante todo processo da ET, a criança é cuidadosamente observada
em suas expressões emocionais (choro, riso, etc.) e motoras (uma cabeça caída/baixa, cansaço,
etc.). Com isso em mente, aspectos individuais da terapia são então modificados. Em caso de
um transtorno grave com relação à ontogênese postural, a criança é colocada de bruço,
transversalmente nas costas do cavalo enquanto este está parado. Mais tarde, apesar de
cuidadosamente e somente por curtos intervalos, o cavalo é guiado a uma gentil caminhada.
No caso de crianças muito pequenas e bebês, esta posição anti-espástica não foi a preferida,
já que a espasticidade nas crianças pequenas não é ainda muito forte. Atualmente, no entanto,
esta posição tem sido usada com sucesso em crianças sob cuidados. Via de regra, as crianças
reagem bem a ela. Derkits supõe que ao colocar o paciente ao longo das costas do cavalo,
com a cabeça voltada para o interior do círculo da pista do cavalo, elas alcançam a facilitação
do movimento holocinético individual dos membros, tal como o desenvolvimento do rastejar
através do uso da força centrífuga. Essas posições têm sido usadas com adultos para imitação
e facilitação das primeiras fases do desenvolvimento motor. Começamos a usar essas posições
com bebês (do maternal) e crianças que podemos classificar de uma idade em fase do
XII CONGRESSO BRASILEIRO DE EQUOTERAPIA

movimento holocinético.

Mais tarde, dependendo da progressão da terapia com ênfase na idade da criança, ela é
colocada de bruços na costas do cavalo na longitudinal, com o rosto descansando nas mesmas,
como Hermannová sugeriu. As crianças são capazes de manter esta posição deitadas de
costas somente próximo ao fim da ET. Do ponto de vista da ontogênese, este posicionamento
é aplicado, primeiramente, quando o cavalo está parado. Depois, a criança é colocada na
direção oposta à do andar do cavalo, e finalmente na mesma direção do andar do cavalo.
Todos os membros superiores e inferiores são posicionados num ângulo de 80° com joelhos
e cotovelos levemente dobrados.

Gradualmente, dependendo da idade e da progressão terapêutica, algumas crianças são


colocadas no cavalo numa postura de padrão normal, apoiadas em seus cotovelos e nas
palmas das mãos (abertas), em algum momento próximo ao fim do 1° trimestre. Mais tarde,
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baseado nos resultados do tratamento e no desenvolvimento da criança, ela é reposicionada
suavemente em ritmo com o andar do cavalo, seus cotovelos extendidos.
Assim, a criança é colocada numa posição de postura padrão normal ao fim do 2° trimestre.
A noção de “posicionamento estimulante no cavalo” dá a imagem apropriada de como a
equoterapia é realizada com bebês e crianças (pequenas) e claramente manifesta seu princípio
básico. Analisando o processo do aspecto do desenvolvimento cinesiológico, acredita-se que
as posições acima mencionadas no 1° e 2° trimestres imitam e facilitam as importantes fases
do desenvolvimento, tais como o arrastar-se e engatinhar, principalmente através da
estimulação do padrão primário de postura. Depois, outros estágios de desenvolvimento,
como o sentar, andar e as habilidades motoras mais finas são também facilitados.

Acredita-se que uma estimulação similar também é trazida à tona pelo correto contra-assento
e o assento normal, o qual é gradualmente aplicado mais tarde. As várias posições de assento
usadas na ET facilitam o sentar, andar e habilidades motoras saudáveis. Estas posições de
assento da ET correspondem à posição do bebê, cuja idade postural é 3 meses, deitado de
costas. Por estas razões, no caso de crianças especiais que foram principalmente reabilitadas
usando o método Vojta, é recomendado que este método seja complementado com o suporte
da estimulação da postura padrão primária através do ET.

Se tecnicamente possível, o estímulo de posições laterais deve ser usado tanto na posição
deitada quanto na sentada. Pode-se supor que deitar de lado longitudinalmente no cavalo
(direito e esquerdo) nas costas do cavalo estimula a idade de rolar sobre si, arrastar-se, apoiar-
se sentado com suporte lateral às mãos da criança e avançados estágios da ortogênese postural
(EOP). Deitar-se de lado de comprimento pode ser usado em três diferentes modificações
evolutivas. Primeiramente, o paciente deita de lado. Depois, deita de lado apoiando-se em
seu cotovelo flexionado. Em seguida, deita-se de lado apoiando-se na extremidade superior
– ela está meio sentada, meio deitada. Sentar-se de lado facilita a fase de navegação (movendo-
se para os lados) de uma cirança em pé usando algum tipo de apoio (e.g. mobília como uma
poltrona ou armário). O efeito da facilitação pode ser acentuado pela estimulação de uma
área de ativação durante a ET. Se a criança já é capaz de ficar em pé, uma posição em pé no
cavalo também pode ser utilizada, facilitando uma boa postura em uma superfície móvel e
viva (tabela).

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Tabela1: Posicionamento Estimulativo em Cavalo

Posição do Paciente Posição do Cavalo Desenvolvimento Facilitado


Deitado de bruços transversalmente Movimento holocinético involuntário
ou longitudinalmente(comprimento) dos membros
nas costas do cavalo Parado Últimos Estágios de Ontogênse Postural
(EOP): arrastar-se, engatinhar, rolar
para a posição sentado, sentar-se, andar
e habilidades motoras delicadas
Deitado de bruços transversalmente nas – Movimento holocinético involuntário
costas do cavalo - Olhando para dentro dos membros & EOP
do círculo da pista -Olhando para fora Andando
– Arrastar-se para a frente & EOP
do círculo da pista

Continua... 467
Continuação
Posição do Paciente Posição do Cavalo Desenvolvimento Facilitado
Deitado de bruços longitudinalmente nas – Arrastar-se e engatinhar para trás, rolar
costas do cavalo na posição de arrasto para uma posição de assento & EOP -
– Na direção oposta ao andar (gait) Andando Arrastar-se e engatinhar para a frente,
do cavalo rolar para uma posição de assento & EOP
– Na direção do andar do cavalo
Deitado de bruços longitudinalmente nas
costas do cavalo, debruçado nos
– Arrastar-se e engatinhar para trás,
cotovelos e palmas das mãos (PPC
rolar para uma posição de assento & EOP
normal ao fim do primeiro trimestre)
Andando – Arrastar-se e engatinhar para a frente,
– Na direção oposta ao andar
rolar para uma posição de assento & EOP
(gait) do cavalo
– Na direção do andar do cavalo
Deitado de lado longitudinalmente
(direito e esquerdo) nas costas do cavalo
– 3 posições:-Primeiro, paciente deita-
se de lado. -Segundo, paciente deita-se
de lado debruçado nos cotovelos Virar-se, rolar para uma posição de
flexionados – Terceiro, deitado de lado Parado assento & EOP
apoiado na extremidade superior –meio Andando
sentado e meio deitado.
: Na direção oposta ao andar (gait) do
cavalo
: Na direção do andar do cavalo

Sentado de lado nas costas do cavalo Parado Sentar-se e dar passos laterais
Andando
Sentado – Sentar-se, scooting back & EOP
– Virado ao lado oposto da cabeça do – Sentar-se, caminhar pra a frente & EOP
cavalo Parado
– Posição correta de assento (virado para Andando
a cabeça do cavalo)
Parado Apoio do treinamento de equilíbrio e de
Colocado em pé nas costas do cavalo
Andando ficar em pé

Além de usar certos elementos aplicáveis do método Vojta, elementos do conceito ‘Baby
Bobath’ também são recomendados para complementar a ET com bebês e crianças (pequenas).
Entre outras coisas, ambos os métodos influenciam a tonificação muscular, e mantêm o
terapeuta e o paciente se movendo juntos em ritmo e uma abordagem jocosa, fazendo-os
parceiros de terapia perfeitos.

Na criação de programas novos e facilitações de programas antigos, a enorme capacidade


do cerébro de aprender e se adaptar é utilizada, especialmente na infância, junto com a
ativação do sistema límbico trazida à tona pelo positivo impulso emocional encorajado
durante a ET (baseado no conceito holográfico Pribram).
Há agora evidência convincente para dar apoio à crença de que a idade limite mínima de 3
anos para a ET não é mais justificada. Ontogeneticamente, o uso da ET é completamente
justificável. Essa opinião é também apoiada pela observação da população de idade escolar
que sofre de má postura. É evidente que esses transtornos de postura são resultado de um
desenvolvimento inadequado no 1° trimestre, não somente o resultado de uma postura
préviamente correta supertrabalhada.

Baseado na atual comprensão neurofisiológica e na experiência prática com a ET, pensa-se


que essa idade jovem é particularmente apropriada para o uso da ET. É especialmente útil
para crianças que sofrem de paralisia cerebral e outros transtornos neurológicos como de
deficiências ortopédicas. A adaptabilidade do sistema nervoso central como uma unidade
de controle do sistema músculo-esquelético está durante este período da vida no seu estado
mais maleável. Sua influência no sistema músculo-esquelético (a performance e os elementos
sensoriais) como fonte de informações estimulantes é intensa. A boa experiência tem ocorrido
com crianças mais jovens, usando elementos do salto e equitação da educação remedial, e.g.
com crianças autistas.

É um axioma que a ET com bebês e crianças (pequenas) deve ser aplicada com a sensibilidade
de uma equipe experiente, uma vez que os diagnósticos e corretas transferências tenham
sido feitas pelos psiquiatras, em coperação próxima com fisioterapeutas. Este posicionamento
estimulante sobre um cavalo apresenta um método efetivo e abrangente que enriquece os
procedimentos de reabilitação entre os nossos pacientes mais jovens.

Quando considerando o próximo passo no tratamento terapêutico no caso de pacientes


incapazes de sentar-se sozinhos ou manter sua cabeça erguida, é vital decidir continuar ou
não na ET a estimulação de posições ou ter uma posição de assento assistida usando um
fisioterapeuta. No que diz respeito aos pacientes mais velhos, nem Hermanova nem Derkits
recomendam usar qualquer posição da ET que não tenha sido atingida no desenvolvimento
da postura, no caso daquele paciente em particular. Temos usado posições assistidas para os
pacientes que já tenham atingido um dado estágio evolutivo ou com outros pacientes
dependendo de sua idade, condição clínica e prognose.

REFERÊNCIAS

Hermannova, H. Application of developmental kinesiology pinciples in hippotherapy of


children under the age of 3 years. XI. International Congres – The complex influence of
therapeutic horse riding. Budapest, 11 – 14. jún, 2003, Budapest

Hornacek, K., Palenikova, A.: Hippotherapy with several months old babies (video). XI.
International Congres – The complex influence of therapeutic horse riding. Budapest, 11 –
14. Jun, 2003, Budapest

Hornacek K: Basal, Though Overlooked Factors Affecting Posture in Therapeutic Riding.


Scientific and Educational Journal of Therapeutic Riding, Massey University Printery – New
Zealand, 2004, pp.39-44

Homepage: www.sha.szm.sk, www.sha.handicap.sk


Email: sha@szm.sk, hippoterapia@centrum.sk
Phone: 00421-907- 726 329

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