Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
TRIBUTÁRIO.
Resumo: Este trabalho tem por escopo uma breve análise do modelo de processo
administrativo tributário adotado no Brasil, bem como a aplicabilidade, supletiva ou
subsidiária, por força do art. 15 do NCPC, das normas processuais ali contidas,
mais especificamente quanto à obrigatoriedade de fundamentação das decisões e o
uso da teoria dos precedentes no âmbito do processo administrativo tributário.
1. Introdução
1
Procurador do Município de Camaçari/Bahia, atuando na Procuradoria Fiscal. Mestrando como
aluno especial em Direito, Governança e Políticas Públicas pela UNIFACS. Pós-Graduado em
Direito Público e Controle Municipal pela FUNDACEM, Direito do Estado pela JusPodivm/Unyahnna
e Direito do Trabalho pela Faculdade Baiana de Direito.
2 Procuradora do Município de Camaçari/Bahia, atuando como Chefe da Procuradoria Fiscal.
Mestranda como aluna especial em Direito, Governança e Políticas Públicas pela UNIFACS. Pós-
Graduada em Direito do Estado pela JusPodivm/Unyahnna.
Buscando equalizar questões relativas à isonomia e à segurança jurídica,
estabeleceu dispositivo que prevê o incidente de resolução de demanda repetitiva.
Não parece despiciendo lembrar como são heterogêneas as decisões exaradas
pelos mais diversos tribunais nacionais, nas suas mais variadas instâncias, e como
isso revela-se nocivo ao princípio da segurança jurídica, uma vez que, não é
possível prever em que direção virá a sentença a ser exarada.
3 Art. 15 do CPC. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou
administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.
contenda surgida entre o administrado e a administração no campo tributário.
6
MACHADO, Hugo de Brito. Mandado de segurança em matéria tributária. 8ª ed. São Paulo:
Dialética, 2013, p. 264.
7 SILVA, Daniela. Aplicação Supletiva e Subsidiária do Código de Processo Civil aos
Processos Administrativos e seus Reflexos na Jurisdição Administrativa. Disponível em:<
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/111082/aplicacao_supletiva_subsidiaria_silva.pdf> Acesso
em 15/11/2018.
de litígios, administrativos ou não, somente adquire definitividade quando
emanadas no âmbito das instituições judiciais. Neste, o Judiciário, além das
demandas entre particulares, aprecia e julga, ainda, as lides decorrentes da relação
jurídico-administrativa, englobando as questões de responsabilidade estatal, os
atos administrativos, bem como as relações firmadas entre Administração e
administrados.
Como bem observa Lobato e Teixeira9 (2016. p.36), à primeira vista, denota-
se plausível uma inquirição acerca da constitucionalidade da função judicante
exercida pela Administração em razão do quanto previsto na Constituição Federal,
todavia, vê-se que, historicamente, as nossas constituições costumam prever, o
exercício de tal função atípica pela Administração, mediante a possibilidade de
8 LOBATO, Valter; TEIXEIRA, Tiago. Impactos do CPC/2015 no Processo Tributário
Administrativo e Judicial. Disponível em:<
https://sachacalmon.com.br/publicacoes/artigos/impactos-do-cpc2015-no-processo-tributario-
administrativo-e-judicial/> Acesso em 11/11/2018.
9 Idem.
criação de processos administrativos.
Nesta senda, a Constituição Federal de 1988, no inciso LV, de seu art. 5o,
conferiu aos processos administrativos atributos que os equiparam aos processos
judiciais, tais como a garantia do contraditório, da ampla defesa e do devido
processo legal.
10 No âmbito tributário, em nível federal, podemos identificar o Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais (CARF).
11 BOTTALLO, Eduardo Domingos. Curso de Processo Administrativo Tributário. São Paulo:
Malheiros, 2006, p.57
Quando tratamos do processo administrativo tributário importa nos ater a
uma série de fatores, garantias e princípios, uma vez que, ao cabo, é preciso
assegurar ao contribuinte o pleno direito de desconstituir a dívida que lhe está
sendo imputada, mediante a utilização do próprio processo. Cabe destacar que,
quando tratamos de processo administrativo tributário falamos de subordinação e
regência a legislações próprias e diversas, visto que, cada ente federativo adota
uma própria legislação específica no atual ordenamento jurídico brasileiro12.
12
A previsão contida no art. 151, inciso III, ao invés de prever um processo com regulação única,
admite a multiplicidade de órgãos e o regramento a cargo de cada ente federativo, vejamos: art. 151.
Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:III - as reclamações e os recursos, nos termos das
leis reguladoras do processo tributário administrativo.
13
KIRCHNER, Juliana. Teoria das provas e fato jurídico no processo administrativo tributário.
Disponível
em:<https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/5926/1/Juliana%20Leite%20Kirchner.pdf> Acesso
em 15/11/2018.
14
Idem.
3. Aplicação subsidiária ou supletiva do NCPC
Somada a essa disposição legal, temos ainda o art. 13, do mesmo diploma
normativo, que estabelece a aplicabilidade das normas processuais aos tribunais
administrativos, tanto quanto o seria para o judicial.
Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras,
ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções
ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte.
15 MARINS, James. Direito Processual Tributário Brasileiro: Administrativo e Judicial. São
Paulo : RT, 2016.
3.1. Máxima eficácia
16
LUDWIG, Guilherme Guimarães. Processo Trabalhista Eficiente. São Paulo : LTr, 2012. p. 50.
17
DELGADO, Maurício Godinho. Os Princípios na Estrutura do Direito. In Revista do Tribunal
Superior do Trabalho, v. 75, nº 3, Brasília: magister, p. 18, jul./set. 2009.
[...] os princípios instituem o dever de adotar comportamentos necessários
à realização de estado de coisas ou, inversamente, instituírem o dever de
efetivação de estado de coisas pela adoção de comportamentos a ele
necessários. Essa perspectiva de análise evidencia que os princípios
18
implicam comportamentos, ainda que por via indireta e regressiva .
Diante desse quadro, podemos concluir que: se o novo CPC busca conferir
máxima eficácia aos princípios constitucionais que repercutam no processo,
entendemos que o as normas gerais do CPC, seja de forma subsidiária ou
supletiva, não só podem, como devem ser aplicadas aos processos administrativos
fiscais. A sua não aplicação seria o equivalente a uma negativa de aplicação do
texto constitucional.
18
ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios. Da Definição à Aplicação dos Princípios Jurídicos.
10ª edição. São Paulo: Malheiros Editores, 2009. p. 80.
O novo CPC, enquanto norma geral, não entrará em choque com eventuais
normas específicas de processos administrativos reguladas pelos entes políticos
respectivos. Pelo contrário, as normas específicas afetam o alcance das normas
gerais, que possuem preceito amplo, reduzindo, retirando ou especificando os
pontos em que lhe é contrária. Significa dizer que as leis especiais que regem os
processos administrativos fiscais prevalecem sobre as disposições processuais
gerais oriundas do novo CPC. Este diploma complementará as disposições
específicas e locais, servindo-lhes, destarte, como uma norma suplementar.
O art. 489, § 1º, impõe agora aos julgadores o dever de fundamentar as suas
decisões judicial, seja ela de qualquer tipo.
O novo Código vai além e, para que não paire dúvidas, aponta em seu art.
11 que as decisões que não forem fundamentadas serão consideradas nulas:
19
Art. 5º. [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
20
Nessa linha, Celso Antônio Bandeira de Mello (Curso de Direito Administrativo, 14ª edição. São
Paulo: Malheiros Editores, 2015).
21
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:
Diante das razões apontadas, o comando trazido pelo art. 489, § 1º, do novo
CPC pode e deve ser aplicado aos processos administrativos fiscais, não podendo
se limitar apenas aos julgamentos judiciais.
A nova codificação processual civil trouxe aquilo que passou a ser chamado
de “direito dos precedentes”. Em seus arts. 926 e 92722, vislumbra-se mais uma
busca pela máxima eficácia aos princípios e garantias constitucionais, em que se
buscou contemplar a igualdade e a segurança jurídica. O resultado do processo
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos,
propostas e relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.
22
Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e
coerente.
§ 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais
editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.
§ 2o Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos
precedentes que motivaram sua criação.
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas
repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do
Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
§ 1o Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, § 1o, quando decidirem
com fundamento neste artigo.
§ 2o A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de casos
repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou
entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese.
§ 3o Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos
tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação
dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.
§ 4o A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada em
julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e específica,
considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia.
§ 5o Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por questão jurídica
decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede mundial de computadores.
não é mais o suficiente: é preciso que haja coerência e isonomia no tratamento
para jurisdicionados.
Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base
em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes
oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual
deva decidir de ofício.
5. Conclusão
O novo CPC surgiu em nosso ordenamento jurídico para não ser apenas um
conjunto de normas dispostas a regular o processo civil. Criado sob a vigência da
Constituição Federal de 1988, as suas disposições são um reflexo da nossa Carta
Magna e seus princípios e garantias ali insertos. Por conta dessa intenção, o
legislador buscou, através de suas normas processuais, dar máxima eficácia aos
preceitos constitucionais que, de algum modo, repercutam nos processos.
Referências: