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Disciplina: Análise Criminal I

Autores: Esp. Raíssa Quintino de Paula Xavier

Revisão de Conteúdos: Esp. Murillo Hochuli Castex

Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki

Ano: 2019

Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas


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Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em
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1
Raíssa Quintino de Paula Xavier

Análise Criminal I
1ª Edição

2019

Curitiba, PR

Editora São Braz

2
Editora São Braz
Rua Cláudio Chatagnier, 112
Curitiba – Paraná – 82520-590
Fone: (41) 3123-9000

Coordenador Técnico Editorial


Marcelo Alvino da Silva

Revisão de Conteúdos
Murillo Hochuli Castex

Revisão Ortográfica
Juliano de Paula Neitzki

Desenvolvimento Iconográfico
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério

FICHA CATALOGRÁFICA

XAVIER, Raíssa Quintino de Paula.


Análise Criminal I / Raíssa Quintino de Paula Xavier. – Curitiba: Editora São Braz,
2019.
68 p.
ISBN: 978-85-5475-361-0
1.Análise criminal. 2. Segurança Pública. 3. Estatística.
Material didático da disciplina de Análise Criminal I – Faculdade São Braz (FSB),
2019.

Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870

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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO

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Sumário

Prefácio ................................................................................................................. 06
Aula 1 – Introdução à análise criminal ................................................................... 07
Apresentação da Aula 1 ........................................................................................ 07
1.1 Introdução ................................................................................................ 07
1.2 Definições e conceituações ...................................................................... 10
1.3 Análise criminal passo a passo ................................................................. 12
1.4 As dificuldades da análise criminal no Brasil ............................................. 13
1.5 O papel do analista criminal ...................................................................... 14
1.6 Análise criminal e seu campo de aplicação ............................................... 16
Resumo da Aula 1 ................................................................................................. 18
Aula 2 – A importância da análise criminal ............................................................. 19
Apresentação da Aula 2 ........................................................................................ 19
2.1 Análise criminal e a nova perspectiva de policiamento ............................. 20
2.2 Dever do Estado de prestar segurança pública ........................................ 20
2.3 A importância da polícia ........................................................................... 22
2.4 Nova perspectiva de policiamento e a análise criminal ............................. 23
2.5 Focalização das ações e o trabalho do analista criminal ........................... 24
2.6 A dinâmica do trabalho do analista criminal .............................................. 25
2.7 Focalização das ações ............................................................................. 25
2.7.1 Valorização de uma perspectiva local de ação ...................................... 26
2.7.2 Focalização de tipos criminais específicos para intervenção ................. 26
2.8 Análise criminal x alocação de recursos ................................................... 28
Resumo da Aula 2 ................................................................................................. 30
Aula 3 – Estatística................................................................................................. 32
Apresentação da Aula 3 ........................................................................................ 32
3.1 Princípios básicos da estatística ............................................................... 32
3.1.1 Conceitos .............................................................................................. 32
3.2 Fases do método estatístico ..................................................................... 34
3.3 Método probabilístico ............................................................................... 35
3.3.1 Amostragem casual ou aleatória simples .............................................. 36
3.3.2 Amostragem proporcional estratificada ................................................. 37
3.3.3 Amostragem sistemática ....................................................................... 38
3.3.4 Amostragem por conglomerados ou agrupamento ................................ 38
3.4 Métodos não probabilísticos ..................................................................... 39

5
3.4.1 Amostragem acidental .............................................................................. 39
3.4.2 Amostragem intencional ........................................................................... 39
3.4.3 Amostragem por quotas ........................................................................... 39
3.5 Vertentes básicas ........................................................................................ 40
3.5.1 Vertentes da produção de conhecimento de segurança pública ............... 40
3.5.2 Análise criminal estratégica ...................................................................... 40
3.5.3 Análise criminal tática ............................................................................... 41
3.5.4 Análise criminal administrativa ................................................................. 41
3.5.5 Coleta de informações .............................................................................. 42
3.6 Tipos de coleta de dados ............................................................................. 42
Resumo da Aula 3 ................................................................................................. 43
Aula 4 – Instrumentos para realização da análise criminal .................................... 45
Apresentação da Aula 4 ........................................................................................ 45
4.1 Métodos de abordagem .............................................................................. 45
4.2 Análise de conteúdo ................................................................................... 46
4.3 Estudo de caso ........................................................................................... 46
4.4 Avaliação de impacto ................................................................................. 46
4.5 Realização de survey ................................................................................. 48
4.6 Análise de dados secundários .................................................................... 48
4.7 Construção de questionário ........................................................................ 48
4.8 O contexto social da aplicação do questionário .......................................... 49
4.9 Estrutura lógica do questionário ................................................................. 49
4.10 Formulação das perguntas do questionário .............................................. 51
4.11 Fontes de dados e informações de segurança pública ............................. 53
4.12 Pesquisa de vitimização ........................................................................... 55
4.13 Fontes de informações de dados socioeconômicos e urbanos ................. 57
Resumo da Aula 4 ................................................................................................. 59
Resumo da disciplina ............................................................................................ 61
Índice Remissivo ................................................................................................... 63
Referências ........................................................................................................... 66

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Prefácio

Esta disciplina tem como objetivo introduzir a temática da análise criminal,


abordando os seus conceitos, campo de aplicação e também os princípios
básicos da estatística – matéria correlacionada à análise criminal.
Desse modo, será discutido acerca do papel do analista criminal; da
influência do trabalho por ele realizado na alocação de recursos e quais são os
métodos de abordagem necessários para a coleta de informações. Também
serão exploradas as fontes de dados de segurança pública e a construção de
questionários.
Ressalta-se que os temas trazidos neste material podem ser
considerados a base para entender a análise criminal e todas as suas utilidades
e meios de realização, conhecimentos necessários para todo analista criminal.

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Aula 1 – Introdução à análise criminal

Apresentação da aula 1

O objetivo desta primeira aula é propor a reflexão acerca do que é a


análise criminal, trazendo o seu conceito, definição e o seu campo de aplicação.
Também será abordado acerca do trabalho do profissional analista criminal, suas
funções e métodos de trabalho.
Tais conceitos e definições são importantes para delinear a importância
da análise criminal e da sua utilização, visto que é por meio dela que se torna
possível alocar recursos de maneira assertiva, permitindo fazer "mais com
menos", otimizando, assim, os recursos oriundos do Estado.

1.1 Introdução

Na contemporaneidade, em que o acesso à informação é cada vez maior


e mais rápido, é visível que a criminalidade também se modernizou. Os
criminosos hoje conseguem cometer crimes sem nem mesmo saírem de casa,
pois possuem acesso a diversos aplicativos online que facilitam a prática de
crimes.
É por essa e outras razões, como modernidade, praticidade e agilidade,
que os órgãos de segurança pública e justiça criminal buscam a modernização,
procurando mecanismos que facilitem a realização eficiente do trabalho, mesmo
com os escassos recursos provenientes do Estado.
Embora no Brasil esse seja um campo ainda pouco explorado, a análise
criminal em si não é nada recente. Seu surgimento se deu devido aos registros
de ocorrências, os quais mostravam incidência de crimes em lugares
específicos. Foi então que, por meio da análise, concluiu-se que o policiamento
poderia ser utilizado nessas áreas, com o intuito de conter novas práticas
delituosas.
A análise criminal teve seus primeiros traços rudimentares delineados
graças ao trabalho de Henry Fielding (1707 – 1754), um magistrado inglês que
incentivava que a população denunciasse os crimes e descrevesse os autores,

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fossem elas vítimas ou testemunhas, para posteriormente sistematizar tais
dados e utilizá-los para consultas e análises.

Pesquise
O manual Análise Criminal – Nível Multiplicadores,
publicado pelo SENASP, apresenta conhecimentos relativos
à identificação de parâmetros temporais e geográficos do
crime, a fim de auxiliar a detectar a atividade da delinquência.
Seguindo uma proposta de metodologia inovadora, o
material objetiva a formação de agentes multiplicadores dos
conhecimentos adquiridos. Disponível em:
https://acervodigital.ssp.go.gov.br/pmgo/bitstream/12345678
9/351/31/Manual%20-
%20Curso%20Multiplicador%20de%20An%C3%A1lise%20
Criminal%20-%20SENASP.pdf

Com o avanço das ciências e o surgimento de novas tecnologias, as


políticas de segurança pública só tiveram a ganhar, visto que foi possível
examinar de maneira mais apurada as cenas de crimes, podendo vincular o
suspeito ao local. Ademais, as novas teorias da psicologia puderam esclarecer
muito sobre os hábitos humanos, facilitando, assim, a definição do modus
operandi dos indivíduos quando do cometimento de crimes.

Vocabulario
A locução latina modus operandi é utilizada para definir a
maneira por meio da qual uma pessoa ou uma associação,
empresa, organização ou sociedade, trabalha ou realiza
suas ações.

Foi assim que a análise criminal começou a ter emprego fundamental nas
operações policiais de diversos países, especialmente na Inglaterra e nos
Estados Unidos, cujo objetivo era mapear os locais de maior e menor incidência
de determinados crimes no âmbito das cidades.
Em meados dos anos 1960, a análise criminal passou a se consolidar nos
Estados Unidos, sendo implantadas unidades de análise criminal em alguns
departamentos de polícia cujo trabalho era identificar o modus operandi de

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alguns casos e determinar eventual vinculação de criminosos conhecidos com
crimes cometidos em determinada área.
Desde então, a análise criminal foi se popularizando, encontrando
respaldo até mesmo na própria população, que passou a criar o Policiamento
Comunitário, e foi também alvo de diversos artigos e manuais.

Análise Criminal
Fonte: https://crimetechweekly.com/wp-content/uploads/2016/05/crime-analysis.jpg

Com a escassez de recursos públicos e a necessidade de melhor


aproveitamento, a análise criminal faz-se mister para auxiliar na alocação
eficiente de recursos. É por meio dela que se trará uma nova visão de segurança
pública, na qual o objetivo principal não é o atendimento imediato à vítima, mas
sim a prevenção de delitos, bem como um exame detalhado dos problemas para
identificar suas causas, podendo, assim, encontrar a solução com base na
relação de custo-benefício.
Conforme mencionado anteriormente, a situação da análise criminal no
Brasil é tímida, encontrando diversas limitações, ficando restrita a policiais
especializados em gestão policial e algumas instituições de ensino. Essa
escassez pode estar relacionada a dois fatores:

 A ausência de cultura técnica que favoreça a utilização da análise


criminal, pois não existem grandes bancos de dados para gestão
pública da segurança;

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 A ausência de cultura técnica no tocante à existência de uma base
de dados que a sustente.

Entretanto, nos últimos anos, o Governo Federal vem se esforçando para


a criação de uma base de dados, estimulando os estados da federação para que
contribuam para a construção de grandes bases agregadas de dados,
interessantes para a segurança pública e justiça criminal.
Nesse sentido, algumas políticas foram instituídas a fim de que fosse
criado um banco de dados sólido para a implementação da análise criminal,
sendo uma delas a decisão de muitas instituições em adotar a segurança pública
como pauta de estudo, criando, assim, mecanismos de auxílio.
É visível que o Brasil tem muito ainda a aprender e implementar em
matéria de análise criminal, mas nota-se que há incentivo para que sejam
realizadas pesquisas, estudos acerca de gestão pública de segurança,
objetivando, assim, uma modernização no planejamento de ações policiais e nas
políticas de segurança, que não devem consistir meramente em supressão, mas
também em prevenção.

1.2 Definições e conceituações

Após breve introdução, é preciso então conceituar e definir o que é análise


criminal e qual é o seu papel frente às políticas de segurança pública e
prevenção de crimes.
A definição de análise criminal pode ser expressa como: um conjunto de
processos sistemáticos, com o intuito de gerar informações acerca das inúmeras
ramificações do crime, incluindo tempo e lugar.
Contudo, não se trata aqui de um mero conjunto de informações em forma
de gráficos, tabelas e estatísticas, mas também no uso destas informações para
o planejamento de determinada ação de política de segurança pública. Ou seja,
é a partir da análise criminal que é possível obter conclusões acerca de
determinado fenômeno de segurança pública.
Portanto, a análise criminal vai muito além do que unicamente coletar
dados, pois também é por meio dela que tais dados são interpretados,

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possibilitando um melhor planejamento no tocante à segurança pública, pois faz
parte da Inteligência.
Desse modo, seu objetivo é apoiar as decisões estratégicas dos órgãos
de polícia na área operacional e tática, possibilitando melhor aproveitamento de
recursos humanos e financeiros, com a finalidade de prevenir e reduzir a
criminalidade. Logo, trata-se aqui de um trabalho realizado tanto de maneira
preventiva quanto de maneira repressiva, elaborado com base em dados
concretos de estatística.

É preciso lembrar que apenas a análise criminal por si só não é


suficiente para resolver as questões de segurança pública, sendo
ela um instrumento auxiliar de elevada importância.

É por meio da análise criminal que a polícia consegue determinar os


denominados hotspot (em tradução literal, “pontos quentes”), locais onde há
maior acúmulo de determinados crimes. A partir do momento em que se
consegue determinar tais locais, é possível então desprender recursos humanos
e materiais para essas áreas, assim como facilitar a correta identificação dos
indivíduos envolvidos em atividades criminosas.
Para chegar a essa conclusão, utilizam-se também os fatores
denominados condicionantes, que afetam a intensidade e os tipos de crime que
ocorrem em determinada região, dentre eles, a densidade populacional, o grau
de urbanização do local, o tamanho da comunidade e das áreas circunvizinhas.
Utilizando a análise criminal é possível, com base em seus dados,
detectar padrões criminais; estabelecer o perfil de possíveis autores ou alvos de
crimes; e, também, estabelecer relação de autoria e causalidade do crime.
Pode-se então concluir que a análise criminal vai muito além de um
compilado de informações, abrangendo também a análise, a interpretação e a
conclusão acerca dos dados coletados, possuindo, assim, um papel importante
para as questões de segurança pública e criminalidade e sendo um instrumento
decisivo para a tomada de decisão acerca de ações e políticas públicas de
segurança.

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1.3 Análise criminal passo a passo

Uma das funções da análise criminal é coletar informações acerca da


situação da criminalidade, buscando formar um banco de dados acerca da
ocorrência de crimes em determinados locais. Para a construção desse banco
de dados, é preciso seguir alguns passos, objetivando a solidez e concretude do
estudo.
Primeiramente, é necessário realizar o registro dos fatos, utilizando o
boletim de ocorrência realizado pela vítima ou terceiros, presente no sistema de
informação.
Registrado o fato, passa-se, então, à reunião dos dados, de modo que
todos os dados e informações obtidos devem ser analisados e categorizados de
acordo com sua relevância para a elucidação do crime ocorrido.
Após, esses registros serão categorizados em relação à natureza distinta
que possuírem. Só então é que os dados serão transformados em informações
por meio da criação de tabelas comparativas, isto é, mapeados para identificar
áreas mais vulneráveis, horário de maior incidência etc.
Com o desdobramento em tabelas, passe-se à análise dos dados obtidos,
confrontando as informações para, então, traçar objetivos e planejar eventuais
ações de segurança pública que se fizerem necessárias.
Depois de realizada a análise, será então possível, com base nas
informações obtidas, definir e implantar estratégias de prevenção e repressão ao
crime, visando à obtenção de resultados efetivos.
Porém, como é cediço, o crime, quando repreendido em uma região,
tende a migrar para outra. Logo, é necessário também realizar um trabalho de
acompanhamento dos resultados, analisando a ação ou política realizada e seus
efeitos, bem como suas consequências, tendo sempre como objetivo a
segurança e a ordem pública.

Vocabulario
O termo cediço é utilizado para designar algo ou um fato que
é de conhecimento geral.

13
1.4 As dificuldades da análise criminal no Brasil

Conforme citado nesta aula, a análise criminal é explorada de maneira


tímida no Brasil, além de encontrar diversos problemas para sua aplicação, tendo
em vista alguns pontos cruciais para a sua realização.
Um dos problemas enfrentados é o da confiabilidade dos dados, pois a
principal fonte são os boletins de ocorrência, que, por diversas vezes, podem
estar incompletos, apresentar erros de digitação, falhas na coleta de dados, ou
algum outro tipo de falha que prejudique as informações obtidas, visto que as
influenciam. Entretanto, esse problema poderia ser corrigido se houvesse um
incentivo para a compreensão da importância do boletim de ocorrência, bem
como projetos de qualificação do profissional oficial de polícia.
Outro problema, que será abordado também nas aulas seguintes, é a
chamada cifra negra. Isto é, crimes que não chegam ao conhecimento das
autoridades policiais, seja por medo das vítimas em denunciar, seja pela falta de
confiança nos órgãos públicos, razão pela qual a análise criminal deve utilizar
outras fontes de dados além das oficiais.
A falta de qualificação dos quadros de funcionários, assim como a
incapacidade desses profissionais de realizar, por falta de meios e/ou recursos,
assistência adequada às vítimas também podem vir a influenciar na elaboração
fidedigna da análise criminal.
Todos esses problemas inviabilizam a realização da análise criminal, pois
possuem influência, seja direta ou indireta, nas informações que serão coletadas
e, posteriormente, transformadas em estatísticas e tabelas. Existem, claro,
soluções para esses problemas, mas demandam recursos financeiros do
Estado, os quais são limitados e, por vezes, escassos, mas que se utilizados de
maneira sábia, podem ser otimizados para alcançar bons resultados com pouco
investimento.

14
Para Refletir
A análise criminal enfrenta alguns problemas de aplicação
em razão da falta de investimento para melhoria das áreas
citadas acima. Porém, é interessante que esses recursos
sejam alocados para realizar essas melhorias, gastando mais
agora para minimizar gastos no futuro, ou seria melhor gastar
nas ações já existentes de combate ao crime (ex: compra de
armamento, contratação de efetivo, treinamentos etc)?

1.5 O papel do analista criminal

O analista criminal é o indivíduo responsável por toda a análise criminal,


tendo como função utilizar os aplicativos de computação, realizar amostragens
aleatórias, elaborar estudos probabilísticos, de correlação e regressão, bem
como análises. Normalmente seu trabalho é aquele que ocorre nos bastidores,
embora isso não signifique que seja um trabalho pouco importante, pelo
contrário.

Analista criminal
Fonte: http://images.centerdigitaled.com/images/03_Camden+013s.jpg

Todos os processos por ele realizados têm como objeto coletar e oferecer
informações sobre padrões de crimes e suas correlações de tendências e os
resultados por ele obtidos servirão de base para a elaboração do planejamento
e distribuição de recursos públicos em razão da necessidade para a prevenção
15
e supressão de eventos criminosos. Cabe, então, ao analista criminal, o árduo
papel de interpretar um universo de informações, não estando restrito, assim,
apenas à coleta destas.
Via de regra, o trabalho do analista criminal hoje se limita à tabulação de
registros sobre crimes. Porém, em alguns casos se verifica a estatística acerca
de dados sobre vitimização e elementos urbanos e populacionais vinculados a
ocorrências criminais.
Em determinados casos, sua função pode ir além das normais em matéria
de análise criminal, sendo ele solicitado para participar de reuniões, elaborar
pareceres, realizar funções de assessoria, auxiliar na criação ou monitoramento
de políticas públicas etc. Portanto, o analista criminal pode ser desde o policial
atuante em delegacia, como o funcionário em nível de planejamento estratégico.
Entretanto, por se tratar de um instrumento inovador, a demanda por
especialização na área ainda é pequena, não havendo, desse modo, muitos
profissionais capacitados à realização correta do trabalho. Assim, cumpre frisar
que o analista criminal possui uma importância muito grande no tocante ao
sucesso das operações realizadas pelos órgãos de segurança pública, visto que
influencia de maneira direta no processo da tomada de decisão acerca da melhor
maneira de solucionar o problema.
Ou seja, o analista é o profissional que possui maior conhecimento acerca
tanto dos dados quanto de possíveis fontes de dados, sendo então
imprescindível para o aperfeiçoamento das análises.

Importante
É preciso ter em mente que não é o analista criminal que irá
resolver os problemas da criminalidade, pois ele não possui
poder de decisão. O seu trabalho é fornecer alternativas de
combate ao crime, apresentar os dados estatísticos acerca da
dinâmica de ocorrência dos crimes, realizando mapeamento
criminal das áreas que conclui necessitarem de maior atenção
policial. É, portanto, o responsável pelas estatísticas fáticas,
possuindo o dever de comunicar seus superiores com maior
brevidade possível, apresentando soluções viáveis frente aos
recursos disponíveis.

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Porém, mesmo que não tenha o poder de decisão direto, seu parecer e
as estatísticas por ele realizadas possuem grande influência na tomada de
decisão, se tornando, assim, um profissional importantíssimo para os órgãos
policiais.
As informações sistematizadas pelo analista criminal é que irão contribuir
para que os órgãos de polícia possam realizar o trabalho de maneira mais
eficiente, seja no tocante à garantia da ordem pública, seja na resposta à prática
criminal.
É óbvio que não é um trabalho fácil, pois envolve diversos processos,
tendo sempre como objetivo encontrar padrões de crimes e suas correlações de
tendências. Para isso, não basta apenas conhecimento técnico acerca de
estatísticas e programas computacionais, mas também uma visão apurada para
vislumbrar as particularidades das fontes que tem à disposição e trabalhar com
os dados obtidos. Afinal, o trabalho realizado pelo analista criminal não se limita
só ao planejamento de ações futuras pelos órgãos de segurança pública, mas
também diz respeito às ações de patrulhamento diário, melhores meios de
realizar uma investigação, melhoria nas operações especiais e unidades táticas.
Embora possa ser considerado um trabalho de bastidor, o trabalho do
analista criminal é de extrema importância, pelo fato de possuir caráter
norteador, segundo o qual irá guiar a tomada de decisão, influenciando, assim,
que os órgãos públicos possam decidir pela melhor opção quando optarem por
realizar algum tipo de ação ou política de segurança.
Portanto, o trabalho do analista deve ser realizado com seriedade;
atenção aos detalhes e eventuais atualizações referentes aos dados
consultados; comprometimento; pesquisa; conhecimento acerca das melhores
fontes a serem utilizadas, bem como dedicação. Afinal, é o trabalho que irá
determinar qual a melhor opção para solucionar um problema e como os
recursos públicos podem ser melhor aplicados.

1.6 Análise criminal e seu campo de aplicação

A análise criminal é de extrema importância na área de Inteligência


Policial, sendo exigida cada vez mais, em situações complexas, a produção
analítica em investigações. Isso porque, uma informação isolada não possui

17
quase nenhuma valia se não puder ser corroborada, comparada ou relacionada
à outra, visando assim encontrar seu verdadeiro significado, que é o mais
importante em matéria de análise criminal.
Pode-se dizer que a análise criminal é um instrumento auxiliar de
previsão, pois é um conjunto de premissas que, quando feitas corretamente,
permitirão uma previsão mais próxima da realidade. Afinal, se as premissas
forem incorretas, o resultado também o será, não importando quantos dados ou
fatos foram considerados para a realização da pesquisa.
O campo de aplicação da análise criminal, pode-se dizer que está descrito
em duas dimensões principais:

a) Fornecer informações, tanto para o governo quanto para a população,


acerca de questões de segurança pública, possibilitando melhor planejamento
das ações;
b) Realocar recursos de maneira mais assertiva, pois serve de base para
o planejamento de ações de segurança pública.

O crime, como se sabe, é um fenômeno social, cujo conceito se resume


em uma conduta humana típica, antijurídica e culpável. Porém, este fenômeno
vai muito além de um breve conceito.
A criminalidade não é estática, mas pode ser mensurável por meio de
padrões, que são um dos objetos de estudo da análise criminal, podendo possuir
diversas variáveis. Adicionalmente, podem ser incluídos também os motivos,
podendo ser os mais variáveis possíveis, o modus operandi, o perfil do
criminoso, incluindo sua situação econômica e social, faixa etária, gênero, etnia,
classe social, bem como escolaridade.

Importante
O objetivo da análise criminal pode ser descrito, então, como o
de apoiar as decisões estratégicas policiais nas áreas
operacionais e táticas, aprimorando a utilização de recursos
materiais e humanos, além de auxiliar na prevenção e redução
da criminalidade.

18
Existem divisões de análise especializadas, de modo que algumas são
responsáveis pelo exame sistemático dos boletins de ocorrência referentes à
determinados tipos penais, podendo, assim, vislumbrar a hora, local,
semelhanças entre as ocorrências e demais elementos que possam contribuir
para a delimitação do modus operandi e, consequentemente, promover a
identificação dos autores dos delitos.
É com base nesses dados que a análise criminal auxilia as políticas de
segurança pública e justiça criminal, objetivando sempre otimizar os recursos
utilizados para fins de prevenção de crimes e punição dos autores, fazendo com
que as verbas destinadas à segurança pública sejam utilizadas de maneira
assertiva.
Ademais, quando se utiliza a análise criminal, as atividades realizadas
pelos órgãos de segurança pública passam a não ser só de repressão do crime,
mas também de prevenção, visto que é possível detectar áreas de maior
incidência criminal, permitindo, assim, o deslocamento de esforços para essas
áreas.
Portanto, o campo de aplicação da análise criminal é amplo, melhorando
o funcionamento dos órgãos de segurança pública e justiça criminal, criando
mecanismos mais efetivos de prevenção e repressão do crime, rompendo,
assim, com a tradicional ação da polícia, porque possibilita a integração de ações
policiais com ações sociais.
Após a explanação realizada, é possível concluir que a análise criminal
possui papel determinante para órgãos de segurança pública e justiça criminal,
sendo que o seu campo de aplicação visa ao fornecimento de informações para
os referidos órgãos, bem como fornece alternativas para a otimização dos
recursos destinados à segurança pública. Do mesmo modo, é visível que a
importância do analista criminal dentro dos órgãos policiais é sedimentada, visto
que seu trabalho influencia de maneira direta a tomada de decisão.

Resumo da aula 1

Nesta aula foi abordada a importância da análise criminal, sendo ela um


fator influenciador da tomada de decisão por parte dos órgãos de segurança
pública, pois seus resultados apresentam soluções para que sejam realizadas

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ações e políticas públicas de maneira mais assertiva, que atendam a demanda
do local no qual irão incidir.
É dessa forma que a análise criminal, além de contribuir para parte da
solução do grande problema que é a criminalidade, também contribui para que
os trabalhos de prevenção e repressão possam ser realizados de maneira mais
efetiva, maximizando os resultados, mesmo com poucos recursos disponíveis.
Nesse sentido, o papel do analista criminal se faz importantíssimo, pois é
por meio do trabalho por ele realizado que as informações serão sistematizadas
de modo a alcançarem uma conclusão o mais perto possível da realidade.
Embora não seja de responsabilidade do analista criminal, diretamente, a
tomada de decisão, o resultado de seu trabalho, suas conclusões e pareceres é
que irão influenciar de maneira incisiva a tomada de decisão, fazendo com que
alcance maior efetividade em matéria de segurança pública.
Portanto, é visível que a análise criminal é um instrumento necessário
para a prevenção e repressão da criminalidade, buscando sempre atender as
demandas sociais de maneira assertiva, alocando maiores recursos em áreas
de maior demanda, garantindo, assim, a ordem pública e a boa utilização dos
recursos públicos.

Atividade de Aprendizagem
Elabore um texto discorrendo acerca da importância da análise
criminal para as ações de políticas de segurança pública,
mencionando também acerca do papel desenvolvido pelo
analista criminal.

Aula 2 – A importância da análise criminal

Apresentação da aula 2

Esta aula tem por objetivo avaliar a análise criminal frente à nova
perspectiva de policiamento, demonstrando como a maneira de fazer segurança
pública vem mudando ao longo dos anos.

20
Desse modo, serão apresentados também os benefícios da realização
focalizada das ações, buscando encontrar a verdadeira causa de um problema
e a melhor solução para ele.
No tocante às soluções para os problemas de segurança pública, será
abordado o tema de alocação de recursos, que está diretamente ligado à análise
criminal, visto que ela possibilita melhor alocação de recursos, permitindo que as
ações ou políticas de segurança pública sejam realizadas de maneira a melhor
utilizar as verbas públicas disponíveis.

2.1 Análise criminal e a nova perspectiva de policiamento

Este tópico tem como objetivo demonstrar a importância da análise


criminal frente à nova perspectiva de policiamento. Para isso, primeiramente, é
necessário que se compreenda o que é segurança pública, qual a importância
da polícia para a segurança pública, para então discorrer acerca da necessidade
da utilização da análise criminal.

2.2 Dever do Estado de prestar segurança pública

A segurança pública pode ser compreendida como um conjunto de


medidas destinadas à preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio por meio do aparelho policial, assim como de garantir
os direitos individuais e coletivos previstos na Constituição Federal. Pode-se
dizer que é condição indispensável para a manutenção da paz e da harmonia
social.
Tendo em vista as discussões a respeito do contrato social, da criação do
Estado, é possível vislumbrar que a segurança pública é um dos pressupostos
de origem do Estado. Isso porque é uma das razões pelas quais o povo entrega
o poder na mão dos representantes.
Ou seja, a partir do momento em que um Estado é instituído, ele passa a
ser responsável pela segurança pública de seus governados, que nele
depositaram o poder e a confiança, almejando que o Estado garantisse a
convivência harmônica e pacífica entre os membros do povo.

21
Além disso, em termos nacionais, a Constituição Federal de 1988 prevê
em seu texto a segurança pública como sendo dever do Estado. Observe:

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:

TÍTULO V
DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS

CAPÍTULO III
DA SEGURANÇA PÚBLICA

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é


exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares

A Constituição Federal, em seu artigo 5°, também prevê a segurança


pública, não só como dever do Estado, mas direito fundamental dos cidadãos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no país. De mesmo modo, no artigo 6°
do mesmo Diploma Legal, estipula-se a segurança pública também como um
direito social.
Essas previsões legais demonstram que o Constituinte teve visível
preocupação com a questão da segurança, objetivando, assim, garantir o
princípio universal e fundamental da dignidade da pessoa humana, também
previsto na Constituição Federal, em seu artigo 1°, inciso III.
Resta então demonstrado aqui que garantir a segurança pública é um
dever do Estado, visto que ela é um pressuposto de origem do Estado. Logo,

22
cabe ao Estado implantar mecanismos e investir em soluções que resolvam os
problemas de segurança pública, sejam elas de prevenção ou de repressão.

Amplie Seus Estudos


SUGESTÃO DE LEITURA

Recomenda-se a leitura de O Contrato


Social, escrito por Jean-Jacques Rousseau,
em 1762. Nesta obra, o autor defende o
policiamento e a manutenção da ordem como
elementos pelos quais é possível unir o povo,
criando, assim, o Estado.

2.3 A importância da polícia

Tendo em vista a concepção do Estado para propiciar o bem comum, a


paz e a segurança na vida das pessoas em sociedade, a figura da polícia acabou
sendo uma consequência inseparável. Isso porque sua figura é, por extensão e
essencialmente, símbolo de representação da segurança pública.
Nas palavras de Bismael Moraes (1992), "a Polícia pode ser definida
como a organização destinada a prevenir e reprimir delitos, garantindo assim a
ordem pública, a liberdade e a segurança individual". Ademais, o mesmo autor
também a define como "a prática de todos os meios de ordem de segurança e
de tranquilidade pública. A polícia é um meio de conservação para a sociedade.".
A polícia é a mais visível manifestação da presença do Estado entre os
populares, devendo realizar seu trabalho de modo a estar sempre presente em
todos os lugares, sendo comedida nas ações, zelando pelo progresso da
sociedade e pela tranquilidade geral da nação.
Com base nessas definições apresentadas acima, vislumbra-se que a
polícia é um mecanismo imprescindível e necessário no tocante à segurança
pública, pois será por meio dela que se desenvolverão as ações e políticas de
repressão e prevenção ao crime.

23
2.4 Nova perspectiva de policiamento e a análise criminal

A nova perspectiva de policiamento requer um exame detalhado de cada


um dos problemas a serem abordados, tendo suas causas identificadas e
levando em consideração a ampla possibilidade de fatores que possam intervir
sobre as causas e, por fim, que a escolha da ação ou política a ser realizada seja
baseada em uma relação de custo-benefício, objetivando sempre o alcance de
resultados.
Isso porque, o modelo atual de alocação eficiente de recursos públicos
exige que seja reformulada a maneira com que se faz segurança pública. Afinal,
cabe aos agentes de segurança pública analisarem o resultado que se espera
de seu trabalho e o modo como podem cumprir suas obrigações profissionais,
para poderem alcançar as expectativas.
Há, portanto, uma mudança na lógica de gestão, tendo em vista que o
objetivo principal não é mais apenas elucidar crimes já ocorridos, mas sim
manter um ambiente harmônico, em que não ocorram crimes, transmitindo
segurança à população como um todo.
Essa mudança é percebida quando se observa que o objetivo principal
passa a ser a prevenção de crimes e não apenas a repressão dos crimes e o
pronto atendimento da vítima, desvinculando-se, assim, da crença de que mais
segurança pública só podia ocorrer se fossem gastos mais recursos para a
compra de armamento e contratação de efetivo.
Um exemplo atual acerca da nova perspectiva de policiamento são as
chamadas polícias comunitárias, que consistem basicamente na divisão da
responsabilidade entre a polícia e o cidadão, cujo objetivo é delinear meios mais
eficientes para o controle criminal, visando à prevenção, implantando, assim,
políticas públicas de segurança.
Cabe ressaltar que a polícia comunitária não se trata de assistencialismo
policial e muito menos visa transformar a população em espiões informais da
polícia. O que se procura com esse modelo é a aproximação com a população,
bem como a participação social de forma a fazer com que esta obtenha um papel
mais ativo no que tange à segurança pública.
De acordo com o explanado, é visível aqui que o posicionamento e a
maneira com que se busca segurança pública vem mudando ao longo dos anos.

24
Afinal, a lógica do policiamento tradicional era de que o trabalho policial era
realizado apenas com fins de repressão, agindo apenas quando o crime já havia
ocorrido, dando assistência à vítima, investigando para encontrar o autor e
encaminhá-lo ao judiciário para punição.
Todavia, o papel da polícia vem se modificando, tomando outras formas,
agindo também de maneira preventiva, buscando garantir a segurança pública
de outros modos além do tradicional.
É nesse sentido que a análise criminal se faz importante e necessária,
pois possibilita aos agentes de polícia e órgãos de segurança pública planejarem
suas ações de maneira mais efetiva, visto que estarão de posse de dados que
transmitem a real situação.
A análise criminal permite que sejam encontrados os locais onde,
estatisticamente, há maior incidência de crimes, quais as regiões que
necessitam de maior atuação policial, quais são os tipos de crimes que ocorrem
com maior frequência nestas regiões etc. Em posse dessas informações, os
órgãos de segurança pública e justiça criminal podem planejar melhor o
deslocamento de pessoal, as patrulhas a serem feitas, bem como encontrar
soluções preventivas por meio de ações e/ou políticas de segurança pública.
Também é por meio dos dados obtidos por intermédio da análise criminal
que os órgãos de segurança pública e justiça criminal podem adequar o
orçamento disponível, alocando recursos nos locais que mais necessitam, ao
passo que podem optar por soluções mais efetivas, que maximizem os recursos
públicos.
Sendo assim, a análise criminal é um instrumento-chave para esta nova
perspectiva de policiamento, tendo em vista que possui meios para coletar
informações importantes, não só em matéria de repressão, mas também de
prevenção e de melhor utilização de recursos. É por meio da análise criminal que
as políticas e ações públicas poderão atingir maior eficiência, mesmo com a
quantidade limitada de recursos públicos disponíveis.

2.5 Focalização das ações e o trabalho do analista criminal

Neste tópico será abordada a importância da focalização das ações, ou


seja, da pesquisa realizada de maneira direcionada para um problema

25
específico. Para isso, é necessário primeiramente explanar acerca da dinâmica
do trabalho do analista criminal.

2.6 A dinâmica do trabalho do analista criminal

Para fins de facilitar a compreensão, a dinâmica do trabalho do analista


criminal pode ser dividida em quatro partes, são elas:

a) Sistematizar e analisar os bancos de dados de segurança pública,


visando sempre encontrar padrões de incidência;
b) Encontrar padrões, submetê-los a uma análise mais aprofundada,
tentando identificar suas causas;
c) Identificar a melhor solução para intervenção nas causas, fazendo,
assim, cessarem as ocorrências;
d) Avaliar os impactos das intervenções. Caso não haja, reiniciar o
processo.

Desse modo, todas essas etapas devem ser cumpridas quando o analista
recebe os dados coletados ou analisa dados provenientes de banco de dados
de segurança pública. Conforme dito anteriormente, um bom analista é aquele
que procura diversas fontes para realizar seu trabalho, não esquecendo de incluir
nele também as fontes provenientes de instituições privadas realizadoras de
pesquisa acerca da temática segurança pública e justiça criminal.

2.7 Focalização das ações

É necessário entender que as quatro etapas acima comentadas só trarão


resultados eficientes se realizadas em cima de um problema focalizado. Ou seja,
devem ser direcionadas para um problema específico, não sendo então feitas
em largo espectro.
E, nesse sentido, dois pontos que serão abordados nos próximos tópicos
merecem destaque.

26
2.7.1 Valorização de uma perspectiva local de ação

Focalizar uma perspectiva local de ação faz com que a instituição da qual
o analista faz parte seja bem informada, eficiente e capaz de utilizar seus
recursos de modo a reduzir a criminalidade.
Para que esta perspectiva seja colocada em prática, o analista deve
conversar com os policiais para saber mais como eles desenvolvem seu
trabalho, participar de maneira direta nas atividades realizadas pelos órgãos de
segurança pública, manter relacionamento com empresas de segurança pública
para trocarem informações, trabalhar em rede com analistas criminais de regiões
vizinhas, realizar a coleta de informações diretamente com o agressor e a vítima,
bem como contribuir para a criação de novos meios para aprimorar a coleta de
informações.
Ou seja, é importante que o analista criminal desempenhe seu trabalho
de maneira dinâmica, sempre buscando pelo aprimoramento dos meios de
coleta e processamento de dados, assim como não deixe de considerar outras
fontes além das oficiais. Isso porque são fontes complementares, que auxiliam
para que os resultados alcançados sejam mais próximos da realidade.

2.7.2 Focalização de tipos criminais específicos para intervenção

Ao focalizar em tipos criminais específicos, o analista consegue


especificar suas causas, os autores, a dinâmica de cada tipo penal, permitindo,
assim, uma análise mais profunda do fenômeno da criminalidade.
Quando a focalização não é realizada, ao analisar um tipo penal de
categoria ampla, pode haver grande dificuldade de identificar suas causas. Por
exemplo, o tipo penal do roubo, que pode ter diversas ramificações: roubos
residenciais, comerciais, de carga, em instituições bancárias, em transporte
coletivo. Cada uma dessas situações possui especificações e motivações
diversas, não podendo ser reunidas em um único bloco de análise.
De mesmo modo, pode ser citado o crime de homicídio, que também
possui diversas especificações e motivações, assim como modus operandi,
ficando difícil a análise quando não se leva em consideração tais características,
separando-as em blocos diferentes para uma análise mais focada.

27
Portanto, partindo do princípio de que cada tipo penal possui causas
particulares, é imprescindível que o analista as avalie separadamente,
permitindo, assim, a melhor compreensão do fenômeno criminal estudado.
Um exemplo que elucida a importância da focalização dos tipos criminais
específicos são os crimes cometidos contra as mulheres.

Fonte: http://www.senado.gov.br/institucional/datasenado/omv/indicadores/relatorios/BR-2 018.pdf

Com base no gráfico apresentado, foi possível verificar quais são os


crimes mais praticados contra as mulheres, dividindo-os em grupos distintos
como: lesão corporal dolosa, ameaça, estupro e crimes violentos letais
intencionais.
O objetivo dessa divisão é compreender o fenômeno de maneira mais
completa, não estudando um grande grupo de crimes contra a mulher, mas sim
cada um separadamente, compreendendo suas causas de maneira
individualizada. A partir dessas informações, torna-se possível a elaboração de
maneira mais assertiva de uma ação/repressão/política visando atingir maiores
e melhores resultados.
Também por meio dos dados apresentados é que podem ser encontradas
as causas desses crimes, o perfil dos autores, das vítimas, permitindo a melhor
compreensão do fenômeno da criminalidade.
Pode-se, então, concluir que o trabalho do analista criminal deve ser
sempre dinâmico e detalhado, buscando dividir as variáveis ao máximo, para
que os resultados sejam específicos, não utilizando de generalidades. Afinal,

28
este método permitirá que o objeto de estudo seja focado, concentrado, e os
resultados provenientes sejam condizentes com o que se busca.

2.8 Análise criminal x alocação de recursos

Para Refletir
Quais são as vantagens de realizar a análise criminal?

Essa pergunta pode ser facilmente respondida quando analisamos pela


perspectiva dos recursos financeiros e humanos disponíveis, visto que são
finitos, devendo ser aproveitados da melhor maneira possível.
Apresenta-se, aqui, um gráfico dos gastos públicos com segurança no
Brasil entre os anos de 1996 a 2015.

Custos econômicos da criminalidade no Brasil


Fonte: Brasil, 2019.

29
Ao analisar o gráfico, é visível que os estados são os que mais
despendem recursos para segurança pública. Também é possível verificar que
os gastos vêm aumentando a cada ano, desde 2012, tendo o seu ápice no ano
de 2015. Antes disso, os gastos oscilavam, ora aumentavam, ora diminuíam.
Entretanto, o aumento dos gastos não refletiu na diminuição da criminalidade.
Em razão da escassez de recursos e de suas limitações, é preciso
repensar a maneira com que se planeja e executa projetos concernentes a
políticas de segurança pública. Ou seja, não significa que apenas investir mais
dinheiro/recursos em segurança pública irá reduzir as taxas de criminalidade,
pois é necessário, primeiramente, investir com inteligência.
É aí que o trabalho do analista criminal transmite sua importância. Isso
porque, em virtude dos dados coletados e das análises realizadas, que o analista
criminal irá transmitir seu parecer, apresentando às autoridades policiais qual
poderia ser a melhor solução para determinado problema e a relação custo-
benefício.
A análise criminal, então, tem muito a contribuir para o melhor
aproveitamento dos recursos, utilizando-os da melhor maneira possível, fazendo
"mais com menos", pois coleta e sistematiza dados que traduzem a realidade
acerca da criminalidade, podendo, assim, alocar recursos onde mais se fazem
necessários.
Conclui-se, com base em todo o explanado nesta aula, que o trabalho do
analista criminal contribui muito para a segurança pública, não só porque busca
soluções para os problemas enfrentados, como também apresenta opções de
acordo com o melhor custo-benefício, utilizando melhor o dinheiro investido
nesta área.
Ademais, quando o analista desempenha seu papel com seriedade,
buscando focar nas ações, separando ao máximo as variáveis, consegue
resultados mais próximos possíveis da realidade, encontrando a raiz do
problema e podendo vislumbrar assim uma solução para ele.
Portanto, o profissional que se dedica a este estudo, embora não possua
autoridade direta para tomar decisões, possui conhecimento específico para
identificar quais as melhores medidas a serem tomadas, seus possíveis
resultados, podendo apontar qual será a mais vantajosa.

30
É importante lembrar que nem sempre a solução que requeira menos
recursos públicos é a melhor, pois não basta apenas economizar, mas sim usar
de maneira inteligente o dinheiro público. Logo, quando há uma medida cujo
gasto apresente perspectiva de maior eficiência, deve-se analisar se esta
medida não deveria ser tomada, pensando não só na economia, mas também
na otimização.

Resumo da aula 2

Nesta aula foi tratada a importância da análise criminal como um todo.


Primeiramente, discorreu-se sobre a relação da análise criminal frente à nova
perspectiva de policiamento, em que foi necessário, primeiro, apresentar alguns
conceitos.
Foi realizada uma breve conceituação do que é segurança pública, porque
ela é um dever do Estado e um direito, fundamental e social, de todos e qual a
base legal para este entendimento.
Também foi abordada a importância da polícia em matéria de segurança
pública, sendo ela o instrumento que possibilita ao cidadão ver a presença
atuante do Estado.
Por fim, foi analisada a relação da análise criminal frente à nova
perspectiva de policiamento, na qual se concluiu que a análise criminal
desempenha papel-chave, sendo necessária para a execução desse novo
modelo de policiamento, que foge do padrão tradicional, adicionando a
prevenção de crimes como um de seus objetivos.
Posteriormente, tratou-se da focalização das ações e da dinâmica do
trabalho do analista criminal, pontuando as etapas necessárias para que o
trabalho seja desempenhado de maneira correta, são elas: sistematizar e
analisar os bancos de dados de segurança pública, visando sempre encontrar
padrões de incidência; encontrar padrões, submetê-los à análise mais
aprofundada, tentando identificar suas causas; identificar a melhor solução para
intervenção nas causas, fazendo assim cessarem as ocorrências; avaliar os
impactos das intervenções.

31
No tocante à focalização das ações, dois pontos foram destacados:
valorização de uma perspectiva local de ação e focalização dos tipos criminais
específicos para intervenção.
Quanto à valorização de uma perspectiva local de ação, demonstrou-se
que quanto mais o analista criminal se mantém atualizado sobre os dados em
uma perspectiva local, mais informada estará sua instituição. Para que ele se
mantenha atualizado, foi exposta a necessidade de dialogar com policiais,
participar ativamente de atividades realizadas por órgãos de segurança pública
e justiça criminal, manter diálogo com empresas de segurança pública para troca
de informações, trabalhar em rede com analistas criminais de outras regiões,
realizar a coleta de informações diretamente com o agressor e com a vítima,
quando possível, e contribuir para a criação de novos meios que aprimorem o
processo de coleta de informações.
Já no que tange à focalização dos tipos criminais específicos, explanou-
se a necessidade de o analista criminal analisar o fenômeno da criminalidade
dividindo-o em grupos. Ou seja, não apenas o tipo penal em si, mas suas
especificidades, como no caso dos crimes cometidos contra as mulheres
utilizado como exemplo.
Por fim, foi comentado acerca da relação da análise criminal com a
alocação de recursos, em que foi demonstrada a importância da análise criminal
para melhor aproveitamento dos recursos públicos disponíveis, frisando que os
dados coletados pelo analista auxiliam na elaboração do planejamento
orçamentário e de recursos humanos.

Atividade de Aprendizagem
Discorra acerca da relação da análise criminal com o melhor
aproveitamento dos recursos governamentais e como esta
contribui para a otimização dos gastos públicos.

32
Aula 3 – Estatística

Apresentação da aula 3

Esta aula apresenta um perfil mais técnico, segundo o qual serão


abordados os princípios básicos da estatística, desde os conceitos utilizados na
matéria até os diversos métodos, probabilísticos ou não probabilísticos,
utilizados para a composição de uma amostra.
Do mesmo modo, serão trabalhadas as vertentes básicas utilizadas para
categorizar a análise criminal, dando ênfase à vertente de produção de
conhecimento de segurança pública.
Por fim, será dado início ao tópico de coleta de informações, discorrendo
sobre a importância e quais são os meios pelos quais a coleta pode ser realizada.

3.1 Princípios básicos da estatística

No presente tópico serão apresentados alguns conceitos importantes para


trabalhar com estatística, pois aparecem bastante ao longo da realização do
trabalho do analista criminal, sendo importante, então, a sua memorização.

3.1.1 Conceitos

Em um primeiro momento, é preciso se familiarizar com alguns termos


que serão utilizados no decorrer da discussão.

 População: conjunto de indivíduos ou objetos que apresentam ao


menos uma característica em comum;

 Censo: coletânea de dados referentes a todos os elementos de


uma população;

 Amostra: conjunto de dados relativos a apenas uma parte da


população a qual representa, utilizado comumente para baratear
os custos da pesquisa, em razão da impossibilidade de coletar

33
dados acerca de todos os indivíduos que compõem uma
população, a depender do tamanho;

 Variável: conjunto de resultados possíveis de um fenômeno.


Podem ser qualitativas ou quantitativas. As variáveis qualitativas
são aquelas nas quais os valores são expressos por atributos,
como: etnia, sexo etc. Já as variáveis quantitativas são aquelas
cujo conjunto dos resultados possui uma estrutura numérica,
podendo ser divididas em variáveis discretas ou contínuas. As
variáveis discretas têm seus valores expressos por meio de
números inteiros não negativos, ao passo que os valores das
variáveis contínuas são resultados de uma mensuração, podendo
assumir qualquer valor dentro do conjunto dos números reais;

 Estatística descritiva: são as técnicas utilizadas para resumir


uma pesquisa e apresentar seus dados, de maneira descritiva;

 Estatística indutiva: é a estatística que, partindo de uma amostra,


estabelece hipóteses, tira conclusões e formula previsões com
base na teoria da probabilidade;

 Fenômeno estatístico: qualquer fenômeno que se pretenda


realizar, de maneira que em seu estudo seja possível a aplicação
do método estatístico. Se divide em três grupos:

1. Fenômenos de massa ou coletivos: aqueles que não podem ser


definidos com uma simples observação. Por exemplo: taxa de
natalidade do Estado do Paraná, o aumento do preço do feijão nos
últimos quatro anos etc;

2. Fenômenos individuais: são os fenômenos que irão compor o


fenômeno de massa. Por exemplo: cada nascimento ocorrido no
Estado do Paraná, cada preço que o feijão foi vendido;

3. Fenômenos de multidão: são aqueles em que as características


observadas para a massa não se verificam para o particular.

34
 Dado estatístico: é um dado numérico considerado matéria-prima
sobre a qual se aplicará o método estatístico.

Todos esses conceitos e elementos são importantes, tanto para a


realização de uma pesquisa estatística como para a interpretação dos dados por
ela auferidos, podendo ser considerado o vocabulário-base necessário para se
trabalhar com estatísticas.

3.2 Fases do método estatístico

Para que se obtenha um resultado utilizando o método da análise


estatística, é necessário que sejam seguidas algumas fases, sendo elas:

1ª fase
• Definição do problema: ou seja, saber exatamente qual será o objeto da
pesquisa;

2ª fase
• Planejamento: definir quais fontes serão utilizadas e como será realizado
o levantamento das informações (se censitário ou por amostragem), quais
dados serão obtidos, qual será o cronograma e os custos para a realização
da pesquisa;

3ª fase
• Coleta de dados: é a fase operacional, na qual os registros serão
sistematizados. Os dados coletados podem ser de dois tipos: primários ou
secundários.

Fonte: elaborado pelo autor, adaptado pelo DI (2019).

Os dados primários são aqueles obtidos direto da fonte originária, cuja


coleta deve ser executada de maneira estatisticamente correta, evitando, assim,
que sejam coletados dados tendenciosos que possam afetar a pesquisa. Nesse
caso, as principais formas de levantamento de dados são: entrevista pessoal,
telefone ou questionários.
As entrevistas pessoais possuem um alto custo de execução se
comparadas à utilização do telefone. Porém, a pesquisa realizada por telefone

35
possui maior facilidade de recusa por parte do entrevistado, o que faz com que
a pesquisa demore a ser concluída. Já os questionários podem ser muito
demorados e ter sua média de participação muito baixa, mas é vantajoso, pois
não há a influência do entrevistador no momento das respostas.
Os dados secundários, por sua vez, são aqueles obtidos por meio de algo
já disposto, e provém da coleta direta de dados.

4ª fase
•Apuração dos dados: é o momento em que os dados serão resumidos por meio de
contagem e agrupamento, sendo condensados e tabulados.
5ª fase
•Apresentação dos dados: existem duas formas de apresentação de dados: a forma
tabular, que consiste em uma apresentação numérica dos dados em linhas e colunas
ordenadas, segundo as normas do Conselho Nacional de Estatística; e a forma gráfica,
que consiste em uma apresentação geométrica dos números, permitindo a visualização
mais clara e rápida dos resultados. É importante esclarecer que estas formas de
apresentação não se excluem mutuamente.

6ª fase
•Análise e interpretação de dados: a última e mais importante fase, na qual haverá a
realização de cálculos de medidas e coeficientes, cuja principal finalidade é descrever o
fenômeno pesquisado (na estatística descritiva). Quando se tratar de estatística indutiva,
a interpretação dos dados será feita com base na teoria da probabilidade.

Fonte: elaborado pelo autor, adaptado pelo DI (2019).

3.3 Método probabilístico

O método probabilístico é aquele que garante cientificamente a aplicação


das técnicas de estatística de inferência, ou seja, aquela cujo objetivo é fazer
afirmações a partir de um conjunto de valores representativos de um universo.
Para sua utilização, exige-se que cada elemento da população possua
determinada chance de ser selecionado.

Por exemplo: sendo N uma população, cada membro terá 1/N chances de ser
selecionado.

36
Nos itens a seguir, serão apresentados os métodos probabilísticos
utilizados para realizar a seleção dentro de uma amostragem, obtendo, assim, a
amostra que será utilizada na pesquisa.

3.3.1 Amostragem casual ou aleatória simples

É o processo que equivale a um sorteio lotérico e é o mais comumente


utilizado. Uma das maneiras como se pode realizar esse tipo de amostragem é
numerando a população de 1 a n, sorteando, então, por meio de dispositivo
aleatório, x números dessa sequência. Estes números serão os elementos
pertencentes à amostra.
Por exemplo: em um presídio existem 90 presos. Para obter uma amostra
representativa, no valor de 10%, da altura dos presos, o cálculo deverá ser
realizado da seguinte forma:

a) Numerar os presos de 1 a 90;


b) Escrever os números em papéis iguais e colocá-los em uma caixa.
Após misturar o conteúdo, retirar, um a um, os 9 números que formarão a
amostra.

No exemplo, o número de elementos da amostra é pequeno, facilitando


que se utilize o sistema da urna. Porém, se houver uma amostra muito grande,
que torne inviável utilizar as urnas, deve-se, então, utilizar a Tabela de Números
Aleatórios, que é um método constituído por uma tabela em que os números de
1 a 9 são distribuídos ao acaso em colunas e linhas.
Segue aqui um modelo de Tabela de Números Aleatórios meramente para
fins expositivos:

37
Tabela de Números Aleatórios
Fonte: http://www.xn--concurseiroestatstico-87b.com/2016/11/tabela-de-numeros-aleatorios_21.html

3.3.2 Amostragem proporcional estratificada

Há casos nos quais a população se divide em estratos, ou subpopulações,


gerando, assim, a necessidade de que o sorteio dos elementos da amostra leve
em consideração estes estratos. Quando se leva em consideração os estratos,
os elementos obtidos da amostra serão proporcionais ao número dos elementos
dos estratos.
Por exemplo: em uma sala existem 90 pessoas, e 36 dessas pessoas são
homens e 54 dessas pessoas são mulheres. Neste raciocínio, a tabela formada
seria:
Tabela 1 – exemplo
SEXO POPULAÇÃO 10% AMOSTRA
Feminino 54 5,4 5
Masculino 36 3,6 4
Total 90 9,0 9
Fonte: elaborado pelo autor (2019).

Ao numerar as pessoas de 1 a 90, o resultado seria: 1 a 54 são mulheres


e 55 a 90 são homens. O método de sorteio pode ser realizado tanto por meio
do sistema de urna assim como por meio da Tabela de Números Aleatórios.

38
3.3.3 Amostragem sistemática

Nas situações em que os elementos da população já se encontram


ordenados, não há necessidade de construir o sistema de referência. Portanto,
é possível realizar a seleção dos elementos da amostra por qualquer sistema à
escolha do pesquisador. São os casos, por exemplo, das listas de chamada
escolares, dos prédios de uma rua, da lista telefônica etc.
Para melhor visualização, apresenta-se aqui um exemplo: suponhamos
que haja uma lista telefônica com 600 nomes, dos quais deseja-se obter uma
amostra de 30 nomes para uma pesquisa de opinião.
Primeiramente, realiza-se o seguinte cálculo: 600/30= 20. Após, será feita
a escolha de um número de 1 a 20, o qual irá determinar qual será o primeiro
elemento sorteado para compor a amostra, sendo os demais periodicamente
considerados de 20 em 20.
Suponha-se que o número escolhido foi o número 5, então, a amostra
seria: 5° nome, 25° nome, 45° nome e assim por diante, até alcançar o número
final de nomes para a pesquisa, ou seja, 30 nomes.

3.3.4 Amostragem por conglomerados ou agrupamento

Existem determinados casos em que ou população não permite que sejam


identificados todos os seus elementos ou esta identificação é extremamente
difícil de ser feita. Porém, é possível que sejam identificados alguns dos
subgrupos da população. Nestes casos, pode ser colhida uma amostra aleatória
simples destes subgrupos, e então uma contagem completa deve ser feita para
os conglomerados sorteados. Alguns exemplos de conglomerados típicos:
famílias, quarteirões, agências, edifícios etc.
Para exemplificar: para realizar o levantamento populacional em
determinado bairro, utilizando o mapa, é possível observar cada quarteirão do
bairro, mas não há relação atualizada dos moradores. Nesse caso, é possível
colher a amostra dos quarteirões e fazer uma contagem completa de todos
aqueles que residem nos quarteirões selecionados.

39
3.4 Métodos não probabilísticos

Ao contrário dos métodos probabilísticos, os métodos não probabilísticos


não garantem a representatividade da população, visto que não há a
possibilidade de generalizar os resultados. Isso porque são amostragens em que
há uma escolha deliberada dos elementos da amostra.

3.4.1 Amostragem acidental

São amostras formadas por elementos que vão aparecendo ao longo da


pesquisa, podendo ser obtidos até que seja completado o número da amostra.
Este tipo de amostragem é comumente utilizada nas pesquisas de opinião, em
que os entrevistados são escolhidos acidentalmente, como é o caso de
pesquisas realizadas nas ruas, praças, portas de shopping ou lojas etc.

3.4.2 Amostragem intencional

São as amostragens em que são escolhidos intencionalmente os


elementos que irão compor a amostra, com base em determinado critério. O
pesquisador irá entrevistar diretamente os elementos dos quais ele deseja saber
a opinião. Por exemplo: uma pesquisa que almeja saber a preferência por
determinada marca de farinha. Nesse caso, o pesquisador irá até as maiores
panificadoras da localidade para perguntar a opinião dos padeiros.

3.4.3 Amostragem por quotas

Este é um dos métodos mais utilizados na realização de pesquisas de


mercado e em pesquisas eleitorais e deve ser realizado em três fases:

1. Classificar a população em relação a propriedades que são, ou se


presume que são, importantes para a característica do objeto do estudo;
2. Então, será determinada a proporção da população para cada
característica, baseando-se na constituição presumida, conhecida ou estimada
da população;

40
3. Por fim, fixar quotas para cada entrevistador que irá selecionar os
entrevistados, de tal modo que a amostra contenha a proporção determinada na
fase anterior.

Por exemplo: uma pesquisa tem como objetivo determinar a aceitação de


determinado produto cosmético de uso exclusivo feminino. Há interesse em
considerar também a faixa etária, a renda, a atividade profissional etc.
Antes de tudo, é necessário descobrir a porcentagem das características
na população. Suponhamos então uma população composta por 44% de
homens e 56% de mulheres, em que uma amostra de 50 pessoas irá conter 22
homens e 28 mulheres. Nesse caso, o entrevistador irá receber uma quota para
entrevistar 28 mulheres. A consideração de várias categorias exigirá uma
amostra que atenda ao nº determinado e às proporções populacionais
estipuladas.

3.5 Vertentes básicas

Neste tópico serão trabalhadas as vertentes básicas utilizadas para


categorizar a análise criminal. Estas vertentes são focadas na produção de
conhecimento de segurança pública, razão pela qual este tópico será tratado em
separado.

3.5.1 Vertentes da produção de conhecimento de segurança pública

São três as grandes vertentes básicas de produção de conhecimento


voltadas à segurança pública, as quais serão apresentadas separadamente para
melhor compreensão e visualização.

3.5.2 Análise criminal estratégica

É a analise criminal de produção de conhecimento voltada para estudos


acerca dos fenômenos criminais e suas influências a longo prazo, tendo como
principal objetivo identificar tendências da criminalidade.

41
É focada em formular políticas públicas, produzir conhecimento com
intuito de reduzir a criminalidade, realizar o planejamento e desenvolvimento de
soluções para a criminalidade, realizar interação com outras secretarias para o
trabalho de construção de políticas de segurança pública, direcionar
investimentos de maneira assertiva, formulando também o plano orçamentário,
controlar e acompanhar as ações e projetos, assim como formular relatório de
desempenho.

3.5.3 Análise criminal tática

Produz conhecimento voltado para o estudo dos fenômenos criminais e


suas influências a médio prazo. Seu objetivo principal é trabalhar na identificação
de padrões das atividades criminais, fornecendo subsídios para os operadores
de segurança que realizam seu trabalho diretamente "nas ruas".
Portanto, o conhecimento por ela produzido é utilizado pelas polícias
ostensiva e investigativa, de modo que o conhecimento serve para orientar as
atividades do policiamento ostensivo, tanto repressivas quanto preventivas,
como também conferir subsídios para a polícia investigativa, objetivando
identificar autoria e materialidade dos crimes ocorridos.

3.5.4 Análise criminal administrativa

É a atividade de produção de conhecimento voltada para o público-alvo,


isto é, tem o objetivo de selecionar e divulgar informações sobre a temática da
criminalidade, trabalhando com as estatísticas criminais de maneira descritiva.
O foco deste tipo de análise é fornecer informações para diversos
públicos, sejam eles a população, gestores públicos, organizações não
governamentais, organismos internacionais. Do mesmo modo, elabora
estatísticas descritivas e informações gerais sobre tendências criminais, assim
como compara os resultados com dados dos anos anteriores e com outras
cidades similares.

42
3.5.5 Coleta de informações

O trabalho de coleta de informações é muito importante, pois é a base do


trabalho do analista criminal, trazendo até ele as informações necessárias para
que seja possível alcançar uma conclusão acerca de determinado assunto.
Em razão da importância da coleta de dados para o trabalho do analista
criminal, é necessário sempre verificar se as fontes são confiáveis, se a pesquisa
foi realizada de maneira correta e adequada. Na próxima aula serão comentados
sobre os métodos de abordagem que podem ser utilizados para a melhor coleta
de informações.

3.6 Tipos de coleta de dados

A coleta de dados é a fase operacional em que há o registro sistemático


dos dados e pode ser realizada de diversas maneiras.

a) Coleta direta: quando as informações são obtidas diretamente da fonte.


Por exemplo: uma empresa deseja saber a preferência dos consumidores por
seus produtos;
b) Coleta contínua: as informações nunca deixam de ser coletadas, ou
seja, os bancos de dados são sempre abastecidos. Por exemplo: registros de
nascimento, óbito, casamento;
c) Coleta periódica: é aquela cujas informações são coletadas de maneira
periódica, de tempos em tempos, como é o caso do recenseamento demográfico;
d) Coleta ocasional: é realizada em situações específicas;
e) Coleta indireta: é feita por meio de deduções com base nas informações
obtidas na coleta direta, seja por analogia, avaliação, indícios ou proporção.

Os dados obtidos na coleta de informações podem ser primários ou


secundários, sendo que os dados primários são aqueles obtidos pela própria
pessoa ou organização que os recolheu, ao passo que os dados secundários
são aqueles publicados por outra organização.
Com base no exposto nesta aula, é possível concluir que a estatística é a
base da análise criminal, pois é por meio dela que o analista criminal pode

43
sistematizar os dados coletados e transformá-los em informações úteis para os
órgãos de segurança pública.
Para que a análise estatística seja realizada de maneira correta,
primeiramente os dados nela utilizados devem ser coletados de maneira que não
sejam manipulados, distorcidos ou influenciados. Assim como os métodos para
definição da amostra se mostram importantíssimos, pois eles irão determinar se
aquela amostra pode ou não representar a população como um todo, ou seja, se
podem ser generalizados. Isso porque a escolha do método, se probabilístico ou
não, tem influência direta, visto que um se trata de probabilidade e o outro de
dedução.
Quanto à categorização da análise criminal, não há dúvidas de que cada
vertente possui diferente função e importância, tendo em vista que uma obtém
resultados a longo, outra a médio e a outra a curto prazo, possibilitando, assim,
que a pesquisa seja feita de forma geral, abrangendo tanto necessidades
imediatas como futuras.
Logo, o objetivo da presente aula foi demonstrar que a análise criminal
está intimamente ligada à matemática e à estatística, sendo estes os
instrumentos-base para sua realização e que, por essa razão, devem ser
entendidos, estudados e aprimorados sempre que possível.

Resumo da aula 3

Nesta aula foram apresentados os princípios básicos da estatística,


desenvolvendo alguns conceitos básicos necessários para trabalhar nesta área,
dentre eles: população, amostra, censo, variável, estatística descritiva,
estatística indutiva, fenômeno estatístico, em suas variações e dado estatístico.
Da mesma forma, foram apresentadas as fases do método estatístico, que
consistem em: definição do problema, ou seja, saber exatamente qual será o
objeto da pesquisa; planejamento, visando definir quais fontes serão utilizadas,
como será realizado o levantamento das informações (se censitário ou por
amostragem), quais dados serão obtidos, qual será o cronograma e os custos
para a realização da pesquisa; coleta de dados, a fase operacional, na qual os
registros serão sistematizados; apuração dos dados, momento em que os dados
serão resumidos por meio de contagem e agrupamento, sendo condensados e

44
tabulados; apresentação dos dados, seja de forma tabular, que consiste em uma
apresentação numérica dos dados em linhas e colunas ordenadas, ou de forma
gráfica, que consiste em uma apresentação geométrica dos números; análise e
interpretação de dados: realização de cálculos de medidas e coeficientes, cuja
principal finalidade é descrever o fenômeno pesquisado.
Posteriormente, foi explicado acerca dos métodos probabilísticos, os
quais garantem cientificamente a aplicação das técnicas estatísticas, cujo
objetivo é fazer afirmações tendo como base um conjunto de valores
representativos de um universo. Para que possam ser utilizados, é exigido que
cada elemento tenha uma chance de ser selecionado.
No mesmo tópico, foram explicados e exemplificados os seguintes
métodos probabilísticos: amostragem aleatória simples, amostragem casual,
amostragem sistemática e amostragem por agrupamentos.
Posteriormente, foi ampliado o estudo acerca dos métodos não
probabilísticos, no qual as escolhas dos elementos da amostra são feitas de
maneira deliberada. Os métodos que podem ser utilizados, que foram
exemplificados em tópicos separados, são: amostragem acidental, amostragem
intencional e amostragem por quotas.
Trabalhou-se, então, com as vertentes básicas, com foco nas vertentes
de produção de conhecimento de segurança pública, descrevendo as categorias
de análise criminal estratégica, tática e administrativa, apresentando seus
objetivos e meios de utilização.
Ao final, iniciou-se o tópico de coleta de informações, discorrendo sobre a
importância da coleta de dados para análise criminal, visto que é o principal
instrumento para o analista realizar seu trabalho, bem como os tipos de coleta
que podem ser realizadas (direta, indireta, contínua, periódica e ocasional).
Este último tópico levará à próxima aula, na qual serão abordados os
métodos de abordagem, a construção de um bom questionário e suas
características, assim como será desenvolvido o tópico de fontes de dados de
informações de segurança pública.

45
Atividade de Aprendizagem
Com base no conteúdo apresentado, diferencie as vertentes de
produção de conhecimento de segurança pública, explicando a
utilidade de cada uma, fornecendo exemplos.

Aula 4 – Instrumentos para realização da análise criminal

Apresentação da aula 4

A presente aula tem como objetivo apresentar os métodos de abordagem


para coleta de informações, bem como transmitir a melhor maneira para construir
um bom questionário. Será abordado também acerca das fontes de dados de
informação de segurança pública, referenciando onde podem ser encontradas,
quais são e de que maneira podem contribuir para a realização da análise
criminal.

4.1 Métodos de abordagem

No processo de coleta de informações, há a utilização de diversos


métodos de abordagem dos fenômenos sociais. Tais métodos não são
necessariamente excludentes entre si, sendo muitas vezes complementares
para atingir o melhor resultado possível.
Os fenômenos sociais podem ser compreendidos por meio de três formas
de abordagem: observação do comportamento natural; criação de situações com
o intuito de observar reações diante de tarefas predeterminadas e questionar as
pessoas acerca do que pensaram e fizeram.
Para melhor compreender estas formas de abordagem, serão
apresentadas as técnicas de análise de conteúdo, estudo de caso, avaliação de
impacto e realização de survey.

46
4.2 Análise de conteúdo

A análise de conteúdo consiste, basicamente, na análise de documentos,


boletins de ocorrência, cartas e demais materiais documentados em busca de
similaridade. Contudo, esse método pode trazer alguns problemas quando o
documento examinado não é necessariamente o mais apropriado para a
compreensão de determinado fenômeno. Ademais, quando se trata de análise
de documentos, sempre há margem para arbitrariedade, não sendo, assim, um
método cem por cento seguro.

4.3 Estudo de caso

Já o estudo de caso consiste na coleta e exame do máximo de


componentes possíveis acerca do tema abordado. Um exemplo disso é o estudo
acerca de determinada localidade, em que serão pesquisados elementos
históricos, sociais, geográficos, econômicos, religiosos, políticos etc. Logo, é
possível concluir que o estudo de caso é um método mais direcionado, que visa
o estudo de um único caso, de maneira abrangente e não generalizada.
Quando o estudo de caso é realizado com a presença do pesquisador
como integrante do evento social pesquisado, chama-se então de Estudo de
Caso com Observação Participante, segundo o qual o pesquisador pode ou não
se identificar para os demais analisados. Contudo, este método possui uma
desvantagem por também não estar livre de arbitrariedade, ficando difícil para o
pesquisador manter totalmente os métodos de pesquisa escolhidos.

4.4 Avaliação de impacto

A avaliação de impacto, por sua vez, tem como objetivo vislumbrar os


resultados das ações e políticas de segurança pública. Entretanto, não significa
apenas avaliar o cenário após a aplicação da política, pois esse pode ter sido
influenciado por outro fator diverso, mas sim analisar o grupo tratado em
comparação com o grupo controle.

47
O grupo chamado tratado é aquele no qual se implementou a
política ou ação, e o grupo controle é aquele que não a
experimentou.

Nesse cenário, existe a possibilidade de realizar um experimento


aleatório, ou também conhecido como experimento puro, em que tratados e
controles são escolhidos randomicamente, uma metodologia muito utilizada em
teste de remédios, por exemplo, na qual alguns pacientes receberão o
medicamento e outros o placebo. Após a realização do experimento, serão então
analisados os resultados: se o tratado obtiver melhores resultados que o
controle, significa que o resultado do estudo foi positivo; porém, se o grupo
controle apresentar resultados melhores, o estudo será considerado negativo,
ou seja, que não surtiu resultado.
Todavia, tais estudos encontram dificuldade ética para serem aplicados
quando se trata de políticas públicas, pois há todo um questionamento moral
acerca da escolha aleatória do local, pois há margem para arbitrariedade,
causando assim possíveis injustiças.
Em razão disso, muitas vezes os estudos são guiados por uma
metodologia não experimental, mas sim por um estudo observacional, em que,
embora os atributos de tratado e controle não sejam iguais, utilizam-se métodos
estatísticos para torná-los equivalentes.
Conclui-se então que no tocante à ações e políticas públicas, a escolha
do método de experimento aleatório possui certas barreiras, pois quando se
realiza uma ação pública em um local escolhido, outro local pode ter sido
injustamente não selecionado para participar, mesmo que fizesse jus tanto
quanto o local escolhido. É por essa razão que muitas vezes se opta pela
metodologia não experimental, guiando-se então por um estudo observacional
para realizar o comparativo entre o grupo controle e o grupo tratado, visando
assim chegar a uma conclusão acerca da efetividade da ação.

48
4.5 Realização de survey

Quando existe a necessidade de construir enunciados sobre determinada


população, ou seja, descobrir atributos, avaliar a repercussão de alguma ação
ou política, é que se utiliza o survey.
O survey, que basicamente pode ser descrito também como um
instrumento que favorece a análise quantitativa, é realizado por amostragem, de
modo que há escolha de uma amostra cientificamente selecionada daquela
população, amostra esta que irá representá-la ao longo do estudo.
Para a realização do estudo, há sempre a aplicação de um questionário,
cuja construção será melhor aprofundada posteriormente, mas que deverá
conter preferencialmente questões de respostas fechadas, isto é, que não
permitam que o entrevistado as responda em forma de texto.

4.6 Análise de dados secundários

Ao realizar a coleta de informações, não necessariamente devem ser


analisados somente os dados originais da pesquisa, podendo ser também
utilizados dados já analisados e compilados anteriormente, possibilitando, assim,
uma maior economia de recursos materiais. Porém, cabe ao pesquisador
sempre atentar-se quando escolher utilizar outros dados, pois às vezes podem
não representar de maneira adequada a questão a ser elucidada.

4.7 Construção de questionário

Uma simples definição de questionário é: conjunto de perguntas acerca


de determinado tópico, cujo objetivo não é avaliar as habilidades de quem o
responde, mas sim sua opinião e interesse sobre o assunto questionado.
Para a formulação de um bom questionário é necessário, primeiramente,
determinar qual o objetivo da pesquisa, qual será o seu público-alvo e de que
maneira seus conceitos serão aplicados.
Isso porque é o grau de complexidade dos conceitos que irá determinar a
quantidade de perguntas e a forma com que serão apresentadas. Além disso,
existe também uma relação conexa entre a população-alvo e a complexidade do

49
conceito, pois são eles que irão determinar qual a maneira para transformar os
conceitos a serem investigados em perguntas.
A forma do questionário, por sua vez, no que tange a maneira com que
será aplicado e do número de perguntas que poderá conter, se determina pelo
tamanho da amostragem que será coletada. É importante salientar também que
o tamanho da amostra será determinado pela quantidade de recursos
disponíveis, sejam eles materiais, humanos ou referentes a prazos para
apresentação dos resultados.

4.8 O contexto social da aplicação do questionário

Como o questionário se trata de uma pesquisa realizada por meio de


perguntas, fica claro que o pesquisador não possui influência sobre o
respondente, podendo apenas tentar convencê-lo a participar da pesquisa,
explicando sua importância e a vantagem de realizá-la.
Portanto, é necessário destacar aqui alguns cuidados que o pesquisador
deve ter quanto ao convite e à aplicação da pesquisa, tais como: manter sempre
a educação e a cortesia; realizar o trabalho com seriedade, a fim de buscar
respostas mais autênticas; desenvolver uma boa imagem de si e da instituição
que representa; utilizar-se de local físico adequado para a boa realização da
pesquisa; explicar de maneira clara a importância do trabalho realizado e, por
fim, buscar meios para se aproximar culturalmente dos entrevistados. Todos
esses cuidados visam à obtenção de interessados em participar da pesquisa,
bem como a obtenção de melhores resultados.

4.9 Estrutura lógica do questionário

Para maximizar as respostas do questionário, é necessário,


primeiramente, minimizar o custo para o entrevistado, ou seja, desenvolver
meios de pesquisa que envolvam pouco ou nenhum custo para aquele que irá
participar como respondente; oferecer, se possível, alguma recompensa atrativa,
transparecendo que ela será de fato entregue se o entrevistado aceitar participar
da pesquisa.

50
Nesse sentido, existem algumas recomendações que, se seguidas,
podem auxiliar no processo, são elas:

 Em primeiro lugar, o entrevistador deve se identificar e identificar a


organização que representa, estabelecendo assim uma relação de
confiança. Posteriormente, encontrar meios para captar o interesse
do entrevistado, fazê-lo se interessar pelo tema e esclarecer a
importância da pesquisa. Havendo o aceite por parte do entrevistado,
apresenta-se o questionário em sua forma completa;

 Tendo em vista que a pesquisa não é algo obrigatório para o


entrevistado, é sempre importante tentar manter seu interesse em
continuar respondendo. Para isso, as questões devem ser formuladas
de maneira simples, de forma que não exijam muito nem física nem
mentalmente do entrevistado e que não gerem custos a ele;

 Concluído o questionário, faz-se importante agradecer o


entrevistado por ter participado, seja de forma verbal por parte do
pesquisador, ou escrita ao final das questões, mostrando, assim, a
importância do entrevistado para a realização da pesquisa. Sendo
possível, também é de bom tom facilitar ou publicar os resultados da
pesquisa como forma de recompensar o tempo despendido para a
participação.

Pode-se concluir que quando a estrutura é bem elaborada, visando exigir


o mínimo possível do entrevistado, há um índice maior de participação,
possibilitando, assim, uma coleta de respostas significativa, aumentando as
chances de sucesso da pesquisa. Logo, para que a estrutura seja bem
elaborada, é preciso saber, antes de tudo, qual a função de cada pergunta dentro
do questionário, qual o objetivo de cada uma ter sido inserida nele.
Ademais, um dos princípios da estruturação é sempre ir do tópico mais
geral ao mais específico, do mais impessoal ao mais íntimo, deixando que o
entrevistado primeiro se familiarize com o tópico abordado, para então adentrar
mais profundamente na questão. Assim sendo, as primeiras perguntas devem

51
ser elaboradas com o intuito de estabelecer relação de confiança, evitando
abordar assuntos burocráticos como nome, gênero, estado civil, que são
informações que demandam um leve grau de confiança para serem respondidas
de forma a não fazer o entrevistado sentir-se invadido.
As questões também devem obedecer a uma ordem lógica de
aproximação, iniciando por um assunto mais abrangente até chegar em um
assunto mais reduzido. Por exemplo, quando o objetivo é realizar uma pesquisa
acerca da segurança pública em determinado bairro, primeiro é preciso iniciar
questionando sobre o estado, depois sobre a cidade, para só então questionar
acerca do bairro.
Por último, sempre deixar as questões acerca de uma mesma temática
juntas, mantendo a estrutura do questionário coerente e organizada, facilitando,
assim, a resposta por parte do entrevistado.

4.10 Formulação das perguntas do questionário

Para a formulação de uma boa pergunta, ou seja, uma pergunta cujas


respostas geradas sejam fidedignas e válidas, são necessários cinco requisitos:

a) A pergunta deve ser clara, passível de a transmissão ser compreendida


e expressada de forma consistente;
b) Deve conter todas as informações necessárias para que o entrevistado
consiga respondê-la, exceto, obviamente, em casos em que o que está sendo
testado é o conhecimento acerca do assunto;
c) Os entrevistados precisam estar dispostos a respondê-la;
d) As expectativas em relação às respostas precisam estar explícitas ao
entrevistado;
e) A linguagem deve se adequar ao público-alvo, evitando gírias, jargões,
abreviações ou termos de demasiada sofisticação que por ventura possam não
ser compreendidos. Afinal, a escolha de palavras deve ser feita de maneira
simples e neutra, evitando ao máximo a possibilidade de direcionamento da
pergunta, influenciando assim a resposta do entrevistado, bem como possível
ambiguidade, para que a coleta de respostas seja feita de maneira mais fiel
possível.

52
Formulação do questionário
Fonte: https://st.depositphotos.com/1010613/4869/i/450/depositphotos_48698337-
stock-photo-businessman-preparing-checklist.jpg

Em relação aos tipos de perguntas, elas podem ser abertas ou fechadas.


Denomina-se pergunta aberta quando não é possível indicar a abrangência ou
variabilidade das possíveis respostas. São normalmente utilizadas ou no início
do questionário, para criar confiança entre entrevistador e entrevistado,
reforçando o interesse verídico do entrevistador de saber acerca da opinião do
entrevistado, assim como ao final do questionário, abordando tópicos não
cobertos pelas perguntas fechadas.
As perguntas fechadas, todavia, são aquelas nas quais há o fornecimento
de opções para o entrevistado escolher, normalmente em forma de múltipla
escolha. Esse tipo de pergunta é comumente utilizado quando há grande número
de entrevistados e pouco tempo para a realização da pesquisa, sendo somente
possível sua elaboração quando os tópicos a serem informados já são
conhecidos por parte do elaborador das perguntas.
A forma com que perguntas são formuladas também é um fator decisivo
quanto à elaboração do questionário, devendo cada pergunta ser analisada de
modo que não ameace ou ofenda o entrevistado. Isto é, a pergunta deve ser
formulada de modo a evitar constrangimentos, ainda mais se verificado que o
entrevistado pode ser sensível em relação ao tema. Ademais, existe também a
possibilidade de o entrevistado fornecer respostas falsas, seja por vergonha ou
por falta de conhecimento, cabendo ao entrevistador buscar meios para não

53
constrangê-lo, explicando que é normal não possuir todas as respostas sempre,
naturalizando a situação.
As perguntas podem ser classificadas em:

 Escalar nominal;
 Escalar ordinal;
 Escalar intervalar.

As perguntas em escala nominal são aquelas que utilizam símbolos ou


números com o objetivo de identificar pessoas, objetos ou categorias. São
comumente utilizadas para perguntar acerca de estado civil, gênero, cor etc,
sendo que as alternativas propostas devem ser mutuamente exclusivas e
abranger todas as alternativas.
As perguntas em escala ordinal, por sua vez, têm como objetivo não
apenas identificar pessoas, objetos e categorias, mas também ordenam esses
elementos em uma dimensão subjacente. Ou seja, trazem uma ideia de
hierarquização. Por exemplo: a utilização de alternativas contendo: a) muito
satisfeito, b) satisfeito ou c) insatisfeito, possibilitando, assim, mensurar o nível
de satisfação do entrevistado acerca de determinado tema.
Por fim, as perguntas em escala intervalar são aquelas cujas
características são ordenadas de forma que os intervalos entre as alternativas
possam ser comparados. Um bom exemplo são os questionários que trazem
perguntas como: quantas televisões existem na sua casa? Quantas pessoas
vivem nela?, que possibilitam a comparação dos dados de diferentes famílias
para se alcançar uma conclusão.

4.11 Fontes de dados e informações de segurança pública

Quando se realiza uma pesquisa acerca de segurança pública e justiça


criminal, deve-se, além de considerar os dados específicos acerca da segurança
pública e justiça criminal, considerar também dados socioeconômicos
necessários para contextualizar a pesquisa. Afinal, tais dados afetam de maneira
direta, e até indireta, nos resultados, não estando estes restritos apenas à
atuação governamental.

54
Isso porque, apenas as informações administrativas acerca de segurança
pública e justiça criminal se mostram ineficientes para que se compreendam
todos os fenômenos relacionados à criminalidade e violência, havendo, então, a
necessidade de dar relevância às condições de vida da população.
Os dados comumente utilizados são aqueles fornecidos pela polícia,
Ministério Público, Tribunais e pelo sistema prisional, utilizados diariamente para
fins de administração dos procedimentos de rotina. Entretanto, apenas os dados
oriundos da polícia é que se encontram organizados em banco de dados, embora
hoje a Justiça esteja se informatizando via processo digital.
Esses dados policiais, todavia, não possuem todas as informações
necessárias, pois não incluem informações sociodemográficas, não sendo
possível, então, sem elas, avaliar as políticas de segurança pública.

Importante
São características das bases de dados fornecidas pelos
órgãos de segurança pública:

 A Polícia Militar fornece registros acerca de incidências


de crimes e ocorrências diversas. A problemática desses
registros se encontra no fato de que muitas pessoas
deixam de comunicar crimes dos quais foram vítimas,
não sendo então os registros fielmente completos;

 Os registros da Polícia Civil constituem apenas registros


de crimes, deixando de elencar demais ocorrências que
afetam a vida em sociedade, mas que não constituem
crime propriamente. Ademais, enfrenta o mesmo
problema que os registros da Polícia Militar, visto que
também carecem de notificações por parte das vítimas.

Em razão das características acima mencionadas, faz-se então


necessária a utilização de fontes alternativas de informações, são elas:

a) Pesquisas de vitimização, permitindo assim verificar a real incidência


do fenômeno criminal, assim como a magnitude;

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b) Dados de seguradoras, que podem ser utilizados de maneira
complementar para analisar tendências de furtos e roubos de veículos. A
problemática se encontra no fato de que nem todos os veículos que estão em
circulação possuem seguro;
c) Dados datasus/Ministério da Saúde, que por possuírem uma crítica
mais detalhada, por si só, já permitem que se possuam informações mais
detalhadas acerca de homicídios do que os registros policiais. Também
apresentam alguns problemas, visto que há demora na divulgação dos
resultados, justamente por causa da crítica detalhada, mas, mesmo assim, é
uma fonte muito importante para validar os registros da polícia por meio de
confronto de informações.

Existem também diversos institutos, públicos ou privados, que se dedicam


a coletar informações acerca da criminalidade, perfil dos criminosos e
vitimização. De mesmo modo, há portais acadêmicos e grupos de pesquisa que
podem ser utilizados como fontes de informação. É possível encontrar dados na
página do Ministério da Justiça, como relatórios de ocorrências registradas pela
Polícia Civil, custos da violência e criminalidade etc, assim como nos sites das
Secretarias Estaduais de Segurança Pública, das Polícias Civil e Militar.
Nota-se então que existem diversas fontes de informações que podem ser
utilizadas para realizar pesquisas acerca da criminalidade, do perfil dos
criminosos, da necessidade de políticas e ações públicas de segurança, sendo
possível, assim, alcançar melhores resultados, tendo sempre em mente que a
criminalidade é um fenômeno complexo, que envolve muito mais do que apenas
dados administrativos, mas também a questão socioeconômica.

4.12 Pesquisa de vitimização

Conforme comentado no tópico anterior, a pesquisa de vitimização é um


instrumento indispensável para complementar a pesquisa acerca da segurança
pública e criminalidade. Originada nos Estados Unidos, na década de 1960, a
pesquisa de vitimização tinha como objetivo tentar estimar a quantidade de
crimes que ocorriam e não eram comunicados às autoridades competentes.

56
Atualmente, muitos países realizam pesquisas de vitimização em tempos
regulares, por meio de amostragem de população.

Pesquisa de vitimização
Fonte: https://assets-dossies-ipg-
v2.nyc3.digitaloceanspaces.com/sites/3/2018/03/datafolhafbsp_relatoriopesquisavcm0
32017_info1-1024x901.jpg

A utilização da pesquisa de vitimização é importante para auferir dados


indispensáveis para o planejamento, monitoramento e avaliação das políticas de
segurança pública, em especial no que tange à prevenção da violência. Embora
seja um método demasiado caro, tendo em vista sua complexidade, as
informações obtidas por esta pesquisa irão complementar as estatísticas oficiais
presentes nos registros policiais.
Apesar de sua produção gerar um custo mais elevado, a realização da
pesquisa de vitimização tem suas vantagens, tendo em vista que as informações
oficiais muitas vezes não são suficientes para transmitir a real situação, pois
apenas computam os fatos delituosos que são relatados às autoridades policiais.
A falta de notificação acerca dos crimes pode se dar por diversos fatores,
dentre eles: a desconfiança acerca da eficiência policial, o estigma com o qual
determinados tipos de crime são tratados (por exemplo: estupro e violência
doméstica), a maneira com que o crime ocorreu e, até mesmo, eventual
sentimento de culpa carregado pela vítima.

57
Por essas razões, faz-se necessária a realização da pesquisa de
vitimização, que pode ter maior abrangência, podendo atingir resultados muito
mais próximos da realidade, diferentemente da mera utilização dos dados de
registros oficiais.
Atualmente, devido às campanhas incentivando a denunciar casos de
crimes de violência doméstica e agressão sexual, o número de denúncias em
relação a esses crimes aumentou, demonstrando que a conscientização da
população foi um fator incidente, assim como o acesso à informação e a criação
de departamentos que facilitem a denúncia.
O objetivo principal da pesquisa de vitimização é mensurar os crimes
ocorridos e não registrados, bem como descobrir a razão que levou a vítima a
não registrar a ocorrência. Além disso, essa pesquisa pode fornecer algumas
informações adicionais que são essenciais para o planejamento de políticas
públicas de segurança, sendo elas: o perfil das vítimas e dos agressores; as
circunstâncias em que o crime ocorreu; a relação entre a vítima e agressor; o
custo direto ou indireto que a vítima e também a sociedade tiveram com a
ocorrência do crime; o grau de exposição dos diferentes grupos sociais à
criminalidade; a experiência da vítima com os agentes de segurança pública; a
visão da população acerca da atuação do Estado no que tange à segurança
pública; os níveis de eficácia das ações de policiais frente ao controle da
criminalidade; percepções coletivas sobre o crime.
Portanto, conclui-se então que a pesquisa de vitimização, embora
necessite de maior utilização de recursos financeiros, tem inúmeros benefícios
que, no custo-benefício, fazem com que ela valha a pena. Os resultados obtidos
por ela retratam de maneira mais próxima à realidade, visto que abrange um
segmento não alcançado pelos registros oficiais da polícia, sendo vista como
uma pesquisa complementar de altíssima importância.

4.13 Fontes de informações de dados socioeconômicos e urbanos

O Censo Demográfico realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística) a cada dez anos constitui uma das fontes de dados mais
importantes para complementar informações acerca de segurança pública e
justiça criminal.

58
Censo Demográfico
Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/upload/conteudo/censo_demografico.jpg

Isso porque o censo fornece, dentre outras informações, o dado


populacional, utilizado para calcular a taxa de crimes por 100.000 (cem mil)
habitantes, assim como comparar diferentes unidades administrativas e
acompanhar tendências temporais.
O censo também fornece informações como taxa de urbanização, evasão
escolar, composição das famílias, composição etária e racial da população,
taxas de desemprego e migração, distribuição de renda etc, informações essas
que são cruciais para a construção e interpretação das estatísticas criminais.

Pesquise
Em alguns sites, é possível encontrar informações sobre a
situação da segurança pública. Procure acessar cada um
deles e descobrir os recursos disponíveis:
1. Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas:
www.ipeadata.gov.br;

2. Banco de dados do Sistema Único de Saúde: www.


datasus.gov.br;

3. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):


http://www.ibge.gov.br.

59
Diante do que foi explanado nesta aula, é possível concluir que os
métodos de abordagem, quando aplicados corretamente, possibilitam a
realização da pesquisa de maneira idônea e concreta. Ademais, esses métodos
se complementam entre si, fazendo com que a pesquisa seja a mais completa
possível.
A aplicação de alguns desses métodos exige a realização de questionário,
o qual será o instrumento pelo qual a pesquisa será realizada, possibilitando ao
entrevistador conhecer a opinião do entrevistado acerca de determinado
assunto.
Para que um questionário seja elaborado de maneira efetiva e cumpra seu
papel corretamente, é necessário atentar-se à linguagem, que deve ser
compatível com o público-alvo da pesquisa, bem como com a clareza com que
as perguntas devem ser feitas, para que o entrevistado possa compreendê-las
rapidamente e sentir-se apto a respondê-las.
Além do questionário em si, a abordagem realizada pelos entrevistadores
deve ser feita de maneira educada, com cortesia, para estimular que o
entrevistado queira participar da pesquisa. Quanto mais participantes, mais
acuidade terá a pesquisa, pois captará mais dados passíveis de confronto.
Com relação às fontes utilizadas para coletar dados, é possível vislumbrar
a existência de diversos institutos que se dedicam à realização de pesquisas,
fornecendo dados que podem ser utilizados para fins de análise criminal.
A pesquisa de vitimização pode ser vista como uma fonte complementar,
pois seus resultados atuam sob tópicos não integrados no sistema de registros
oficiais, visto que consegue captar informações acerca de crimes ocorridos e que
não foram denunciados pelas vítimas.
Portanto, conclui-se que a presente aula teve como intuito apresentar os
métodos de abordagem utilizados, demonstrar a importância da formulação de
um bom questionário e da realização da pesquisa de vitimização, instrumentos
que auxiliam na realização da análise criminal, bem como a complementam.

Resumo da aula 4

O intuito desta aula foi apresentar os métodos de abordagem utilizados


na coleta de informações, sendo eles: estudo de caso, realização de survey,

60
avaliação de impacto e avaliação de dados secundários. Todos esses métodos
são utilizados na medida de suas necessidades e de acordo com o perfil da
pesquisa a ser realizada.
Também foi abordada a melhor maneira de construir um questionário, de
formular as perguntas que nele irão constar, fazendo com que o entrevistado
seja cativado a responder e incentivado a fornecer informações corretas. É
sempre importante lembrar que a linguagem utilizada e a abordagem do
entrevistador têm papel essencial para o sucesso da pesquisa, visto que irão
atrair o entrevistado e facilitar para que ele responda às questões.
Ainda no tocante ao questionário, foi explicada a diferença entre
perguntas abertas e perguntas fechadas, desenvolvendo quais situações cada
uma deve ser aplicada, sendo as perguntas fechadas utilizadas em situações em
que o prazo para conclusão é pequeno e há grande número de entrevistados,
possibilitando, assim, maior coleta de respostas.
Por fim, foi desenvolvido o tópico de fontes de dados de segurança
pública, no qual demonstrou-se que apenas os dados oficiais de registro policial
não são suficientes para realizar uma pesquisa sobre segurança pública e justiça
criminal. Em razão disso, demonstrou-se que é imprescindível utilizar-se de
dados complementares, em conjunto com a pesquisa de vitimização, para que
os resultados a serem obtidos retratem de maneira mais apurada a realidade
sobre a situação da segurança pública.

Atividade de Aprendizagem
Discorra acerca da importância da pesquisa de vitimização,
abordando suas características e objetivos.

61
Resumo da disciplina

Nesta disciplina realizou-se uma introdução aos estudos da análise


criminal, desenvolvendo um breve histórico de seu surgimento e apresentando
como ela se tornou um instrumento auxiliar para os órgãos de segurança pública.
Assim, foi discutido sobre o papel do analista criminal que, por mais que
seja um trabalho de bastidores e não seja o próprio analista que irá tomar a
decisão final, é um trabalho que possui influência para a tomada de decisão. Isso
porque é o analista que detém o conhecimento mais profundo e específico sobre
os dados coletados.
Discorreu-se, também, acerca do fato da análise criminal ser essencial
frente à nova perspectiva de policiamento, pois por meio dos dados por ela
apresentados é possível que sejam destinados recursos de maneira assertiva,
não somente para repressão, mas também para prevenção, otimizando, assim,
os gastos públicos.
Ademais, foram apresentados os conceitos básicos da estatística, matéria
que se relaciona intimamente com a análise criminal. Logo, foi explanado acerca
dos métodos de abordagem e das fontes de dados de segurança pública, fontes
estas que devem ser sempre bem escolhidas para evitar erros nos resultados da
análise criminal.
Como a análise criminal demanda coleta de informações, apresentou-se
então qual a maneira de construir um bom questionário, possibilitando uma
melhor coleta de informações. Frisou-se a importância de o questionário ser
elaborado em linguagem acessível, de acordo com o público-alvo da pesquisa,
evitando a utilização de linguagem demasiadamente rebuscada.
Por fim, foi tratado acerca de observações às quais o pesquisador deve
se atentar no momento de aplicação do questionário: ser educado e gentil, tentar
criar laços ou identificação para que as pessoas queiram participar, bem como
ser claro na explicação da importância da pesquisa.
No próximo módulo, será dado continuidade ao tema de análise criminal,
porém, abordando temas acerca de estatística descritiva, análise criminal
espacial, estatística espacial e outros instrumentos importantes para a realização
da análise criminal como um todo.

62
Índice Remissivo

Introdução à análise criminal ..................................................................... 07


(Aplicação; conceito; definição)

Introdução ................................................................................................. 07
(Avanços; ciência; tecnologia)

Definições e conceituações ...................................................................... 10


(Análise; criminalidade; informações)

Análise criminal passo a passo ................................................................. 12


(Banco de dados; natureza; registros)

As dificuldades da análise criminal no Brasil ............................................. 13


(Incentivo; qualificação; recursos)

O papel do analista criminal ...................................................................... 14


(Análise; registros; tabulação)

Análise criminal e seu campo de aplicação ............................................... 16


(Inteligência policial; investigações; previsão)

A importância da análise criminal ............................................................. 19


(Ações; problemas; recursos)

Análise criminal e a nova perspectiva de policiamento ............................. 20


(Policiamento; segurança pública; utilização)

Dever do Estado de prestar segurança pública ........................................ 20


(Contrato social; harmonia; paz)

A importância da polícia ........................................................................... 22


(Conservação; ordem; polícia)

Nova perspectiva de policiamento e a análise criminal ............................. 23


(Custo-benefício; justiça criminal; recursos)

Focalização das ações e o trabalho do analista criminal ........................... 24


(Ações; dinâmica; focalização)

A dinâmica do trabalho do analista criminal .............................................. 25


(Intervenções; padrões; sistematizar)

Focalização das ações ............................................................................. 25


(Espectro; fontes; segurança pública)

Valorização de uma perspectiva local de ação ...................................... 26


(Ação; meios; perspectivas)

Focalização de tipos criminais específicos para intervenção ................. 26

63
(especificações; ramificações; roubos)

Análise criminal x alocação de recursos ................................................... 28


(Gastos; problemas; soluções)

Estatística................................................................................................. 32
(Conceitos; princípios; segurança pública)

Princípios básicos da estatística ............................................................... 32


(Conceitos; estatística; memorização)

Conceitos .............................................................................................. 32
(Amostra; população; variável)

Fases do método estatístico ..................................................................... 34


(Dados; fontes; questionários)

Método probabilístico ............................................................................... 35


(Ciência; população; probabilidade)

Amostragem casual ou aleatória simples .............................................. 36


(Amostra; números; tabelas)

Amostragem proporcional estratificada ................................................. 37


(Estratos; necessidade; sorteio)

Amostragem sistemática ....................................................................... 38


(Amostra; população; seleção)

Amostragem por conglomerados ou agrupamento ................................ 38


(Conglomerados; identificação; subgrupos)

Métodos não probabilísticos ..................................................................... 39


(Métodos; populações; representatividade)

Amostragem acidental .............................................................................. 39


(Entrevistados; pesquisa; opinião)

Amostragem intencional ........................................................................... 39


(Amostragem; preferências; públicos)

Amostragem por quotas ........................................................................... 39


(Amostragem; generalização; quotas)

Vertentes básicas ...................................................................................... 40


(Categorização; conhecimento; produção)

Vertentes da produção de conhecimento de segurança pública ............... 40


(Apresentação; conhecimento; vertentes)

Análise criminal estratégica ...................................................................... 40


(Fenômenos criminais; influência; objetivos)

64
Análise criminal tática ............................................................................... 41
(Atividades criminais; operadores; subsídios)

Análise criminal administrativa ................................................................. 41


(Análise; informações; públicos)

Coleta de informações .............................................................................. 42


(Descritiva; estatística; organismos)

Tipos de coleta de dados ..................................................................... 42


(Contínua; direta; periódica)

Instrumentos para realização da análise criminal .................................... 45


(Abordagem; coleta; fontes)

Métodos de abordagem ............................................................................ 45


(Comportamento natural; estudo de caso; survey)

Análise de conteúdo .................................................................................. 46


(Boletins; fenômenos; método)

Estudo de caso .......................................................................................... 46


(Componentes; evento social; participantes)

Avaliação de impacto ................................................................................. 46


(Cenário; fatores; grupos)

Realização de survey ................................................................................ 48


(Análise quantitativa; instrumento; repercussão)

Análise de dados secundários ................................................................... 48


(Economia; recursos materiais; respostas)

Construção de questionário ....................................................................... 48


(Habilidades; interesse; perguntas)

O contexto social da aplicação do questionário ......................................... 49


(Convencimento; realização; vantagens)

Estrutura lógica do questionário ................................................................ 49


(Custos; entrevistado; meios)

Formulação das perguntas do questionário .............................................. 51


(Expectativas; informações; linguagem)

Fontes de dados e informações de segurança pública ............................. 53


(Dados; pesquisa; resultados)

Pesquisa de vitimização ........................................................................... 55


(Estimativa; crimes; quantidade)

Fontes de informações de dados socioeconômicos e urbanos ................. 57


(Censo; justiça criminal; segurança pública)

65
Referências

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