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Tradução: Ariella

Revisão Inicial: Alli B.


Revisão Final: Jessica
Leitura Final: Gabriella
Conferencia: Denise & Caroline
Formatação: Ariella
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The Fall of Sin é o segundo livro da série de Romance Dark, Sins of
Saint da autora internacional Bestseller Bella J.

Mia
Segredos. Mentiras. Decepções.

É tudo parte de sua vingança, e eu também. Ele me roubou, me usou


como um de seus peões ao me forçar a um casamento do qual eu não
queria participar. Eu tive que assinar meu nome na linha pontilhada, e
agora ele é meu dono... corpo, mente e alma.

É por isso que fugi. Eu tinha que escapar do monstro cujo toque me
corrompeu. Libertar-me do homem que me seduziu, a besta que me
deu um gostinho da escuridão.

Mas agora eu desejo isso. Eu preciso disso. Eu preciso dele.

Eu sou dele para brincar... até eu quebrar.

Saint
Distração. Viciante. Tóxica.

Mila não deveria ser nada mais do que uma assinatura, um lindo
segredo, uma esposa sem voz. Em vez disso, ela se tornou um vício,
uma complicação que poderia me custar tudo - um preço que eu não
estava disposto a pagar... até que ela fugiu de mim.

Agora, o jogo mudou e as apostas são muito maiores. Ela acha que viu
o pior de mim, convencida de que eu não poderia ser mais cruel. Mas
estou prestes a provar que ela está errada, porque vou arriscar tudo
para conseguir o que quero...

Vingança... e minha esposa.

Nota do autor: Este é um romance sombrio e contém cenas que podem ofender leitores sensíveis. Esses
personagens são defeituosos com corações corrompidos e intenções questionáveis. Se você está procurando
um romance doce com um herói gentil e uma heroína gentil, esta série não é para você.
1

Mila

EU OLHEI no espelho lateral.

Saint estava no meio da estrada com as mãos atrás da cabeça ainda


gritando, o som do meu nome em seus lábios abafado pela distância
crescente entre nós.

Eu estava totalmente arrasada, minha alma sangrava, e as lágrimas


escorriam pelas minhas bochechas. Quanto mais rápido nos afastávamos
dele, mais meu coração se partia, como se uma parte dele fosse deixada
para trás na estrada ao seus pés. Houve um tempo em que eu teria feito
qualquer coisa para me afastar dele. Mas agora, enquanto observava a
distância entre nós aumentar a cada segundo, tive que lutar contra o
desejo de parar o carro e correr de volta para ele. De volta ao monstro que
me levou, me quebrou e me fez dele. Fazia minutos e minha pele já estava
faminta por seu toque, minha alma lamentando a perda. Quando isto
aconteceu? Quando a dor que ele infligiu se transformou em desejo?
Quando minha necessidade de liberdade se transformou em um desejo
de submissão?

Inspirei profundamente e dei uma última olhada em seu reflexo


desbotado antes de focar na estrada à frente – uma estrada que eu não
sabia aonde levaria. O som de um motor rugindo e a velocidade de um
carro esportivo me levaram cada vez mais longe do homem que começou
esse pesadelo. Um pesadelo que de alguma forma atravessou a fronteira
e se estabeleceu como um sonho, apenas para ser jogado de volta na
escuridão. Agora, aqui estava eu, sem saber se encontraria a luz
novamente.

Curvas agudas, pneus estridente e a manivela de mudança de


marchas me lembraram o quão terrível essa situação realmente era.

Parecia que passamos horas no carro, dirigindo pelas ruas de Roma.


A cidade não era tão bonita quanto eu pensava. A rica história retratada
em todos os edifícios e caminhos não me agradava. Eu nem queria olhar
pela janela. Talvez fosse a grande coisa negra que pulsava no meu peito,
naquele pequeno espaço em que meu coração costumava estar, que tinha
o poder de fazer tudo parecer feio e arruinado. Isso me fez ver cada
rachadura, cada pedaço quebrado, cada grão de terra em vez de ver a
beleza da cidade.

— Tudo bem por aí?

Olhei para as minhas mãos no meu colo. — Sim.

— Eu posso dizer que você está mentindo.

— Eu estou bem. Realmente. — Puxei os alfinetes do meu cabelo e


os cachos caíram sobre meus ombros. — Estou apenas confusa.

— Que faz dois de nós.

Eu me virei para encarar o motorista – um estranhamente familiar.

— Então, você é realmente Milana Katarina Torres?

— De acordo com o meu DNA, sim.

— Foda-me. Isso é apenas... louco. Milana, de volta dos mortos.

Eu olhei pela janela. — Isso seria verdade se eu realmente estivesse


morta.

— Para mim, você estava.


Coloquei meus cachos atrás da orelha, subconscientemente
passando a mão na pequena cicatriz, um lembrete sutil do que eu havia
sobrevivido durante todos os anos. Saint era agora outra dificuldade que
eu poderia adicionar a essa lista. Apenas a cicatriz que ele deixou não
estava na minha pele. Foi muito mais profundo do que eu poderia ter
imaginado. Eu não sabia quando isso aconteceu, mas em algum lugar
entre ser sequestrada, casar e ser fodida contra uma parede, as linhas
ficaram borradas para mim. Não era mais preto e branco, uma enorme
área cinzenta e fodidamente fodida agora com minha cabeça... e meu
coração.

— Então, onde você esteve todos esses anos?

— Nova York.

— América? Bem, isso explica o sotaque, então.

Eu sorri sem entusiasmo. — Sim. Uma garota italiana com sotaque


americano. Quem adivinharia?

O carro desviou quando fizemos uma curva acentuada e agarrei a


maçaneta da porta. Ele olhou no espelho retrovisor. — Eu não acho que
eles estão nos seguindo. Por que você fugiu dele? Ele te machucou?

Era uma pergunta simples, com tantas respostas complicadas. Sim,


ele me machucou. Sim, eu queria fugir dele tantas vezes. No entanto,
enquanto eu estava sentado no carro pensando em todas as coisas que
ele tinha feito comigo, a turbulência emocional e a humilhação, uma parte
de mim queria voltar para ele. Era uma loucura pensar assim, alimentar
o pensamento de retornar àquele barco apenas para estar em sua
presença novamente. Eu era masoquista. A dor aguda no meu intestino
confirmou isso. As coisas haviam mudado. Eu não sabia como, onde ou
quando. Mas isso mudou. Seu toque passou de vil e invasor a requintado
e bem-vindo. E agora não conseguia mais distinguir entre certo e errado,
desejado e indesejado.
— Mila? — A voz me levou à realidade. — Ele te machucou? Não
Saint...

— Não. Não, ele não fez. — Engoli em seco e olhei para as minhas
mãos no meu colo.

— Bom. Isso é bom, então.

Um silêncio pesado se estabeleceu, e eu dei uma olhada para ele.


Cabelos negros, curtos nas laterais e nas costas, cachos mais longos no
topo. Com uma mandíbula forte e voz profunda, era fácil confundi-lo com
alguém um pouco mais velho. Sua pele tinha o mesmo tom de oliva que
a minha – um tom bronzeado o ano todo. Eu podia ver alguma
semelhança entre nós, mas, embora ele fosse meu irmão, ele ainda era
um estranho para mim, um fato que eu não considerava quando entrei
no carro com ele, desesperada para fugir de Saint.

Eu poderia confiar nele?

Eu poderia confiar em alguém?

Deus. Eu estava sozinha em uma cidade que eu não conhecia.


Sozinha e presa no meio do que parecia ser uma luta pelo poder entre
gigantes. Saint e seu pai. Foi o sentimento mais solitário do mundo
pensar que eu não tinha motivos para confiar em ninguém.

— Onde estamos indo?

Rafael esticou os braços e empurrou para trás em seu assento. —


Bem, não podemos voltar para minha casa, já que Saint provavelmente a
está revirando enquanto falamos. Então, acho que nossa melhor opção é
parar em um hotel. — Ele olhou na minha direção. — E então apenas...
conversar.

Eu balancei a cabeça com um toque de sorriso. — Temos muito o


que conversar.
— Sim, nós temos. Mas, por enquanto, apenas tente relaxar. Vamos
resolver tudo isso. Eu prometo.

Enquanto Raphael fazia algumas ligações, suas fluentes palavras


italianas encheram o carro com seu apelo estrangeiro. Pena que eu não
entendi a língua, embora o sangue em minhas veias fosse puro italiano.

Eu me encostei na janela, pessoas e ruas passando em um borrão.


Algumas semanas atrás, eu não era nada mais que uma órfã com
problemas de abandono e algumas cicatrizes dos abusos ocasionais de
pais adotivos psicóticos. Eu era Mila Black. Ninguém. Mas agora... agora
eu era Milana Katarina Torres, ou melhor, Russo. Eu era uma mulher
apanhada em uma guerra sobre a qual não sabia nada. Uma filha e uma
irmã para pessoas que eu não conhecia. Houve um tempo na minha vida
em que pude prever todos os meus passos e todas as direções que eu
seguiria. Mas esse não era mais o caso. Eu não tinha ideia do que
aconteceria de um minuto para o outro. Como minha vida mudaria de
um momento para o outro. Era enervante, e eu não tinha nada além de
inquietação formigando na parte de trás do meu pescoço.

Rafael fez uma curva acentuada para a direita e entrou em uma área
de estacionamento subterrâneo. Meus olhos levaram um segundo para
se ajustar do brilho do verão lá fora para a repentina sombra de concreto
que nos cercava.

Ele parou em uma vaga de estacionamento, com os pneus gritando,


e desligou a ignição. — Estamos pegando a entrada dos fundos.
Conhecendo Russo, esse bastardo tem olhos e ouvidos em todos os
lugares.

Houve uma repentina onda de nostalgia que varreu meu intestino.


Isso me lembrou quando Saint me apressou do hotel em Nova York, me
levando pela cozinha e pela saída traseira. Ele estava certo. Eu era o
segredo mais bem guardado do mundo e, obviamente, ainda era.
Rafael se virou para mim. — Acho que, por enquanto, até que
tenhamos tudo planejado, não devemos sair por aí dizendo às pessoas
quem você é. Ainda não. Você está bem com isso?

— Eu nem sei mais quem eu sou, então sim. Eu estou mais do que
bem com isso.

— Boa. Não saia até eu abrir a porta para você. — Raphael saiu, e
eu vi quando ele contornou o carro. De volta a Nova York, um homem de
sua idade usava jeans de grife e alguma ou outra camiseta de marca. Não
um terno preto, camisa branca e gola aberta.

A porta do lado do passageiro se abriu e eu pulei, meus saltos


clicando no concreto.

— Vamos. — Raphael agarrou minha mão, e fiquei surpresa ao


encontrar seu toque frio através do calor do verão que ardia. Eu o segui
até uma porta dos fundos, onde um homem estava esperando por nós.

— Raphael, — ele cumprimentou educadamente. — Segundo andar,


quarto dezoito.

— Obrigado, cara. Te devo uma.

Andamos pela lavanderia, as mulheres zumbindo, lavando, secando


e dobrando a roupa. O forte cheiro de detergente para a roupa e o cheiro
dominante de amaciante assaltaram minhas narinas. As máquinas de
secar roupas e as máquinas de lavar criavam um ruído caótico, e o vapor
dos ferros tornava quase impossível respirar.

Rafael abriu a porta de metal da escada de incêndio e subimos


apressadamente dois lances de escada. Seu desespero por me tirar da
vista era evidente na maneira como ele apertou minha mão com força –
quase com de mais força. O clique dos meus saltos ressoou ao nosso
redor. Estava tão alto que eu pensei em tirá-los para que eu pudesse
correr o resto do caminho com os pés descalços.
O quarto dezoito era a primeira porta à nossa direita quando
chegamos ao segundo andar. Um mensageiro nos esperou e entregou a
Raphael o cartão-chave.

Raphael simplesmente assentiu e deslizou o cartão pela fechadura e


abriu a porta. Estávamos tão apressados que só consegui respirar quando
ouvi a porta bater atrás de nós.

— Você está bem? — Rafael se aproximou, os olhos arregalados de


preocupação.

— Sim, eu estou bem.

— Então por que você está chorando?

— Eu não estou... — Eu senti as lágrimas escorrerem pela minha


bochecha, sem saber como minhas emoções assumiram o controle. — Eu
estou bem, sério. — Limpei as lágrimas com as costas da minha mão. —
Apenas um pouco sobrecarregada. — O grande sofá de canto me chamou
atenção e me sentei nele. Meus pés doíam, meu corpo estava exausto e
minha mente continuava girando em mil direções diferentes ao mesmo
tempo.

Não me importando mais em manter as aparências, tirei os sapatos


dos pés e esfreguei os calcanhares. Amaldiçoei a saia lápis que se
agarrava a todas as minhas curvas e desejava uma meia-calça e uma
camiseta grande demais para poder me aconchegar em uma bola e me
sentir confortável em minha miséria.

— Bebida? — Rafael segurava uma garrafa de vodka na mão. Até


agora, eu tentei permanecer equilibrada e sóbria. Mas se houve um
momento em que eu precisei de álcool para aliviar, era agora.

— Você presumiria que eu sou alcoólatra se eu pedisse um duplo?


Rafael levantou uma sobrancelha. — Depois da manhã que tivemos,
presumo que você tenha a capacidade emocional de um tijolo, se não
pedir.

— Isso seria incrível, então.

Suspirei e continuei a esfregar meus pés doloridos.

Meu olhar percorreram a suíte do hotel. Não era tão grande e luxuoso
quanto a suíte de cobertura de Nova York, aquela onde eu conheci Saint.
Era uma suíte de plano aberto, e a única coisa que separava o quarto da
sala de estar eram dois painéis divisores de quatro. Cortinas douradas
caíam pelas janelas emolduradas, o que permitia a visão perfeita da
cidade de Roma. O papel de parede em filigrana bege claro adicionou um
toque vintage à suíte, os sofás elegantes convidativos e confortáveis.

O som de cubos de gelo tilintando me lembrou o calor do verão que


brilhava lá fora, e fiquei agradecida pelo conforto de uma sala com ar-
condicionado.

Rafael me entregou um copo e se sentou no sofá à minha frente. —


Todo esse tempo você estava viva e a meio mundo de distância. Minha
irmã. — Sua voz soou com descrença, e ele se recostou no sofá, passando
a mão pelos cabelos. — Incrível. Non ci posso credere.

Eu pressionei meus lábios em uma linha fina. — Eu não entendo.

— Você não fala italiano?

Eu balancei minha cabeça.

— Oh, me desculpe. Eu estou apenas... isso é inacreditável. Não


consigo colocar isso na minha cabeça.

— Faz semanas que eu descobri e ainda estou tentando entender


tudo.
Rafael sentou-se. — Então, Saint acabou de encontrar você em Nova
York e trouxe você aqui?

— Você poderia dizer isso. — Ainda não havia como saber em quem
eu podia confiar, e isso me deixou hesitante em compartilhar demais.
Claro, eu poderia contar a Raphael tudo sobre como Saint matou Brad e
me sequestrou, depois me forçou a casar com ele. Eu poderia dar a ele
todos os detalhes sórdidos da minha provação, desde que Saint se
catapultou para a minha vida e jogou tudo fora de ordem. Mas eu aprendi
no passado a nunca jogar todas as minhas cartas ao mesmo tempo.
Nunca faça algo quando você não tem cem por cento de certeza – e foi por
isso que escolhi não divulgar muitos detalhes logo de cara.

— Porquê? Não posso deixar de pensar que o tempo dele era perfeito
demais. — Rafael tomou um gole de sua bebida. — É como se ele
esperasse o momento exato antes do acordo entre seu pai e eu ser
assinado.

— Eu não...

Seu telefone começou a tocar, ele o tirou do bolso do paletó e


atendeu. — Sim, — ele olhou para mim, — ela está comigo. Não, não há
sinal dele. — Ele acariciou sua mandíbula com os dedos. — Sim, eu vou
enviar agora. — Ele desligou e colocou o telefone na mesa de café à nossa
frente.

— Quem era? — Eu me mexi no meu lugar.

— Senhor Russo.

Eu estreitei meus olhos, e Raphael deve ter notado o olhar confuso


no meu rosto.

— Ele está tão confuso quanto eu. É seguro dizer que todos estão
chocados.
Eu me acomodei um pouco. — Você... — Eu engoli. — Nossa mãe
sabe que estou com você?

Rafael desviou o olhar, os ombros quadrados como se ele se


fortalecesse. — Não. Ainda não. Eu queria que tivéssemos algum tempo
para conversar primeiro. Não quero aborrecê-la.

— E saber sobre eu estar aqui com você a aborreceria?

— Não. Eu não sei. Talvez. — Ele se recostou com os braços atrás do


pescoço. — Tudo isso ainda é surreal. Acho que só quero um tempo para
entender tudo isso na minha cabeça antes de contar a ela. Desde que
meu pai — ele limpou a garganta — nosso pai faleceu, ela está perdida
sem ele. Não quero aborrecê-la mais do que ela já está.

O que ele disse meio que fazia sentido, mas doía pensar que saber
de mim, saber que eu estava aqui e tão perto dela, a perturbaria.

Talvez eu estivesse sendo excessivamente sensível e lendo demais o


que provavelmente era a verdadeira preocupação de um filho por sua
mãe. Assim como ele era um estranho para mim, eu era uma estranha
para ele e para ela.

— Eu entendo. — eu respondi com um sorriso forçado — É muito


para absorver.

— Sim, é. O que eu não entendo é... você é casada com Saint, certo?

Com um nó na garganta e um intestino torcido, assenti.

— Por que você fugiria do seu marido? O que teria acontecido se eu


não dirigisse por aquela estrada e a visse fugindo dele?

Olhei para o copo na minha mão e distraidamente desenhei círculos


ao redor da borda. — É complicado. — Não era mentira. A resposta não
era simples, e a verdade não era uma mera declaração em preto e branco.
Havia tantas áreas cinzentas que eu estava começando a pensar que meu
mundo não tinha mais cor.

— Essa complicação tem algo a ver com a brecha de dez por cento
na vontade do meu pai?

Eu olhei para ele debaixo dos meus cílios, não tendo certeza se era
hostilidade ou confusão que ouvi quando ele se referiu ao testamento de
seu pai. Não é nosso. Dele. O pai dele. Talvez eu não devesse ler muito
em suas palavras. Foi um choque tão grande para ele quanto para mim.
Mas eu ainda estava hesitante em confiar nele e dizer muito. Alguém
poderia pensar que eu estaria gritando dos telhados sobre como um dos
homens mais ricos da Itália me sequestrou e me trouxe aqui. Em vez
disso, aqui estava eu, pensando em minhas palavras porque não queria
que ninguém soubesse. Pelo menos ainda não.

Gelo tilintou quando eu coloquei meu copo na mesa de café na


minha frente. — Eu sei que Saint possui ações da empresa. E eu sei que
ele quer mais.

— Foi por isso que ele se casou com você? Para pôr as mãos dele nos
seus dez por cento?

O silêncio se acalmou e eu mordi meu lábio enquanto refletia sobre


a mentira. — Não.

Ele abriu a boca assim que alguém bateu. Rafael se levantou e


caminhou até a porta como se já soubesse quem era.

Meu estômago revirou e meus pulmões se esqueceram de expirar o


último suspiro que tomei. Eu não sabia quem eu esperava que fosse, mas
quando o Sr. Russo entrou com outros dois homens, engoli em seco e
sabia que as coisas estavam prestes a mudar de novo para o
desconhecido.
2

Mila

— TORRES, — ele começou, — ou é a Sra. Russo agora? — Seu sorriso


era o de um predador, enganosamente gentil com intenções mortais.

Eu me levantei. — Você pode me chamar de Mila.

O Sr. Russo sentou no sofá em frente a mim, recostando-se como se


fosse o dono do lugar. A corrente de ouro em volta do pescoço fez o que
deveria, mostrar ao mundo sua riqueza com um brilho brilhante.

Seu olhar se fixou em mim. — O que meu filho lhe ofereceu?

— Com licença?

— Você me ouviu. O que meu filho lhe ofereceu?

Sentei-me no sofá e estreitei os olhos. — Eu não tenho certeza do


que você está sugerindo.

— Não estou sugerindo nada. Estou lhe fazendo uma pergunta


direta.

— Uma pergunta direta que me dá a impressão de que você acha que


seu filho me comprou.

— Ele não fez?

— Oh meu Deus. — Eu cruzei meus braços. — Agora eu vejo de onde


ele tira isso, — murmurei para mim mesma.
— Mila, — Raphael sentou-se ao meu lado, — estamos tentando
ajudar.

— Por quê? — Eu olhei de volta para o Sr. Russo. — Por que diabos
você quer me ajudar? Você nem me conhece.

O Sr. Russo puxou um charuto do bolso do paletó e eu olhei para a


placa de não fumante na parte de trás da porta.

— Você conhece meu filho, Mila?

Eu me mexi no meu lugar. — Eu casei com ele.

— De boa vontade?

Sua pergunta me pegou de surpresa, e minha falta de resposta


espirituosa me fez apertar minha mandíbula.

Uma nuvem de fumaça escapou de sua boca quando ele puxou o


charuto dos lábios. — Suponho que você saiba sobre a dívida que sua
família devia à nossa.

— Que dívida? — Rafael entrou na conversa.

Sr. Russo sorriu. — Presumo que, pela expressão em seu rosto, você
saiba do que estou falando, Mila. Por que você não esclarece seu irmão?

Um peso desconfortável se instalou no meu intestino, e eu sabia que


tinha que pisar levemente com esse homem. O olhar em seu rosto, todo
o seu comportamento, não significava nada além de problemas.

Coloquei um cacho solto atrás da orelha. — Eu acho que gostaria de


ouvir sua versão da história, Sr. Russo.

Uma sobrancelha escura arqueou, seu sorriso se transformando em


um sorriso arrogante. — Eu posso ver por que ele gosta de você.

— Eu posso ver por que ele não gosta de você.


Os lábios dele se curvaram. — O que faz você pensar que meu filho
não gosta de mim?

— Eu poderia...

— Ok, — Raphael interrompeu, — acho que estamos saindo do


assunto aqui. Vamos voltar à parte em que um de vocês me esclarece
sobre essa dívida que mencionou.

O Sr. Russo não tirou os olhos de mim. — Simplificando, Raphael,


anos atrás, uma menina Torres primogênita foi prometida para nossa
família. Como o destino desejara, não havia uma menina primogênita em
sua família até, — ele apontou para mim, — Mila nascer.

— Para que era a dívida?

— Dinheiro, é claro, — respondeu Russo simplesmente com um


encolher de ombros. — Seu bisavô precisava de dinheiro para a empresa
dele. E meu avô – Deus abençoe seu bom coração – foi generoso o
suficiente para lhe dar o dinheiro que precisava. Assim, foi feito um
acordo mútuo para mesclar nossas famílias com um filho Russo
primogênito casar com uma menina Torres primogênita.

— E quando eu nasci, meus pais fingiram minha morte e me


enviaram para o outro lado do mundo para garantir que isso não
acontecesse. — Continuei sua história, acrescentando um pouco de
animosidade ao meu tom. Havia algo no pai de Saint que dissecava todas
as minhas palavras, todos os meus movimentos, não importa quão sutis,
para tentar descobrir qual jogo ele estava jogando. O sorriso divertido e o
olhar duro em seus olhos deixaram claro que ele estava jogando um jogo
que não tinha intenção de perder.

Eu não confiava nele. Seja o instinto de uma órfã ou a disposição de


uma mulher cercada por estranhos, tive a sensação distinta de que o
velho sentado à minha frente não tinha nada além de más intenções.
Russo começo — Não sei por que seus pais passaram por todo esse
problema para escondê-la de nossa família. Tenho certeza de que você
teve muitos problemas de abandono quando era órfã.

O sorriso torto em seu rosto não tinha nenhuma simpatia. Recusei-


me a deixá-lo me incomodar.

— Tenho certeza que eles escolheram o mal menor.

— Eles fizeram? Rasgá-la da sua família, negar-lhe o direito de


primogenitura como uma herdeira Torres, na verdade, é o mal menor do
que se casar com meu filho?

Ele bufou, os lábios curvados em um sorriso divertido. — Suponho


que se possa dizer que tudo foi por nada, já que você acabou se casando
com meu filho. Você chamaria isso de destino, Mila?

Recusei-me a responder ou reagir de qualquer maneira. Era como se


ele quisesse me provocar, fazer com que eu dissesse coisas que eu estava
determinado a guardar para mim. Levei apenas dez minutos na presença
desse homem para descobrir por que Saint reagira tão hostilmente a seu
pai naquela sala de reuniões. Eles eram como dois titãs entrando na
garganta um do outro – uma guerra entre Deuses.

— O que você fez com ele? — Eu olhei para o velho. — Por que ele te
odeia tanto?

O olhar estoico em seu rosto vacilou por uma fração de segundos, e


a arrogância que ele carregava tão bem escorregou por um único
momento. Se eu não estivesse dissecando suas expressões desde que ele
entrou aqui, eu teria perdido.

Rugas nos cantos da boca e olhos revelando sua idade. — Meu filho
não me odeia. Ele odeia o fato de que não pode ser eu.

— Eu não acho que é isso.


— Eu garanto que sim. Marcello lamentou a morte de sua mãe nos
últimos dezoito anos. Ele odeia o fato de que eu era forte o suficiente para
seguir em frente, mas ele é incapaz de fazê-lo.

Um quebra-cabeça se encaixou, e eu queria fazer perguntas para


poder completar a imagem e ter uma ideia da mente de Saint. Mas fazer
perguntas só me colocaria em desvantagem com o Sr. Russo, o que eu
não queria. Não agora.

— Enfim, — ele se sentou e deixou cair o cigarro no copo vazio de


Raphael, — eu trouxe meus advogados comigo. — Ele indicou para os
dois homens que estavam atrás dele. — Tudo o que precisamos de você é
uma declaração que diga que Marcello forçou você a casar com ele e
assinar suas ações para ele. Podemos anular esse casamento entre você
e meu filho pelo pôr do sol.

Meu estômago revirou. O formigamento de aviso na parte de trás do


meu pescoço fez com que os cabelos do meu corpo se arrepiassem. Eu
olhei para Raphael, que apenas assentiu com o Sr. Russo. — É a única
maneira de resolver essa bagunça.

Eu não reagi.

— Mila, — Raphael insistiu e pegou minha mão, uma ação que me


deixou desconfortável, — você está com medo dele. Eu sei disso. Caso
contrário, por que você teria fugido? O Sr. Russo pode garantir que ele
nunca mais a incomode. E assim que tudo estiver resolvido, podemos
começar de novo – você pode começar de novo com sua família legítima.
— Ele apertou minha mão e meu coração sangrou dentro do meu peito,
o pensamento de ver minha mãe, esmagando todos os meus sonhos que
eu já tive de me reunir com ela. Naquele momento, eu era aquela jovem
novamente – a órfã que estava trancada em um armário com nada além
das trevas e pensamentos de como era sua mãe de verdade para fazer
companhia. Não havia como eu contar as noites que passei em um
colchão imundo pensando nela, imaginando como ela seria. Se eu tinha
os olhos, o nariz, o sorriso dela. Agora, aqui estava eu, sendo oferecida a
chance de realizar os sonhos de uma pequena órfã. Mas não pude evitar
a sensação de que nem todos aqui tinham meu melhor interesse no
coração.

Eu olhei para Raphael, a semelhança entre nós se tornou mais clara


quanto mais tempo passamos na companhia um do outro. — Você estava
prestes a vender suas ações.

Ele assentiu sem um momento de hesitação. — Eu nunca tive


interesse no negócio de remessas. Eu só administraria a empresa se
tivesse que tomar o lugar do meu pai. Russo construiu para si um império
logístico. Não consigo pensar em alguém melhor para administrar a
empresa do meu pai do que ele.

Russo limpou a garganta. — Embora eu aprecie o voto de confiança,


Raphael, tenho medo de que, sem os dez por cento de Mila – que todos
pensávamos inicialmente serem seus, não estou mais interessado em
comprar suas ações. Seria um empresário idiota comprar uma empresa
quando meu inimigo, neste caso minha própria carne e sangue, possui a
maioria das ações.

— O que? — Rafael ficou de pé. — Nós tínhamos um acordo.

— De fato, nós tínhamos. Mas sem os dez por cento de Mila, esse
acordo não está mais em cima da mesa. — Ele me lançou um olhar
aguçado. — A menos que, é claro, possamos provar que Mila foi coagida
a se casar com meu filho e lhe dar suas ações. Dessa forma, ela
recuperará suas ações e poderemos negociar um novo acordo. Nós três.

A tensão na sala era como um elástico prestes a quebrar a qualquer


segundo. A frustração rolou de Raphael, e a arrogância irradiou do Sr.
Russo, e durante todo o tempo eu fiquei sentada no meio dela. Eu estava
naquela maldita sala de reuniões com Saint e seu pai, acumulando todas
as emoções intensas. Mais uma vez, senti vontade de correr com uma
enorme necessidade de escapar.
— Nós já temos todos os documentos necessários para resolver toda
essa bagunça com meu filho. — O Sr. Russo estalou os dedos e um dos
homens que estava atrás dele colocou uma maleta na mesa de jantar à
nossa esquerda. A trava se abriu quando ele abriu a pasta, seguido pelo
ruído de papéis. Muitos papéis de merda. Uma caneta foi enfiada na
minha mão, e o homem estranhamente me lembrou de um robô. Sem
emoção. Nenhuma expressão. Apenas negócios. Inteligência artificial
criada para ajudar os ricos a se tornarem ainda mais ricos.

Eu segurei minha mão na frente da minha boca e limpei minha


garganta. — Você parece realmente convencido de que Saint me forçou a
casar com ele.

— Ele não fez? — Russo desafiou. Embora fosse verdade, achei


estranho que ele fizesse essa suposição correta logo de cara.

Em uma tentativa de recuperar a autoconfiança, tomei um gole de


vodka e cruzei as pernas, forçando meus ombros a se alinharem com
confiança. Homens como o Sr. Russo tentavam intimidar os outros, era
fácil de ver. Isso me fez determinada a não lhe dar nenhuma razão para
pensar que ele me perturbava.

— Senhor Russo, você está assumindo que eu gostaria de


compartilhar meus assuntos pessoais com você, um homem que eu nem
conheço. E você tem certeza do fato de que, mesmo que eu tenha lhe dado
uma declaração sobre meu casamento com seu filho, estarei disposto a
vender meus dez por cento de ações para você.

Ele sorriu, mas não foi um sorriso caloroso que lembrou bondade e
compaixão. Era tão frio quanto o mar do Ártico e tão mortal quanto a
escuridão abaixo dele. — Vamos ser honestos, aqui, não é? — Ele se
moveu para a beira do assento, cotovelos apoiados nos joelhos. — Você
está em um país estranho e é pega no meio de uma briga de família que
se arrasta há anos. Você é um peão no jogo do meu filho, nada mais. Você
viveu sua vida inteira com os restos e o bem-estar de outras pessoas,
então continue e me diga que não tem preço. — Ele se inclinou para
frente, uma ameaça pintada sobre cada linha do rosto. — Todo mundo
tem um preço, Mila. Alguns são apenas um pouco mais gananciosos que
outros. Mas você, eu não acho que você seja muito gananciosa, pois não
conhece nada além de pobreza. Então, me dê seu preço.

Eu mentiria se dissesse que ele não me intimidou nem um pouco.


Mas eu não estava me encolhendo na cadeira e desejando que a Terra me
engolisse. — Você está certo, — afirmei. — Eu vivi uma vida arrasada pela
pobreza. Eu sei como é ter nada além de sua dignidade. E esse é o meu
preço, Sr. Russo. — Eu fiquei de pé. — Minha dignidade. E nem você
possui o tipo de riqueza para pagar isso.

Seu sorriso se transformou em um sorriso malicioso, um sorriso que


poderia quebrar através das paredes do inferno. — Você é Torres há
apenas três segundos e já acha que tem o que é preciso para ir contra
mim? Esse sempre foi o problema da sua família – seu orgulho.

— Não posso falar por uma família que nunca conheci. Só estou na
sua presença há três minutos e já sei que não há nenhuma maneira de
te dar dez por cento das minhas ações. E não por qualquer outro motivo,
mas pelo simples fato de que você deseja tanto.

Ele ficou de pé, as narinas dilatadas e os olhos ardendo como os


poços do fogo de Hades. — Não me provoque, menina.

Eu levantei meu queixo. — Como você disse, estou presa no meio de


tudo isso e não dou a mínima para o que está acontecendo entre você e
seu filho. Mas serei amaldiçoada se permitir que algum de vocês me
arraste mais fundo neste festival de merda. Quanto mais me afastar de
todos, melhor.

— Então me dê o que eu quero, e nós ficaremos fora do seu radar


para sempre.
Eu soltei uma risada. — Oh meu Deus. É tudo o que tenho ouvido
desde que esse maldito pesadelo começou. 'Me dê o que eu quero.' Vocês
dois parecem muito parecidos, é estranho.

— Mila, pare, — Raphael advertiu. — Isso já foi longe o suficiente.

Sem sequer piscar, eu mantive meu olhar fixo no velho na minha


frente. De repente, o terno caro que ele usava não escondia a feiura de
um filho da puta ganancioso.

Russo manteve uma expressão em branco. — Eu te direi uma coisa.


Vou te dar um dia ou dois para pensar sobre isso. — Ele olhou para
Raphael. — Até que ela tome uma decisão, nosso acordo está fora de
questão.

Sem me dar um olhar final, ele saiu da suíte, seus pequenos robôs
seguindo-o como abelhas operárias voando atrás da rainha. Quando ele
abriu a porta, vi mais dois homens do lado de fora como cães de guarda
babando por uma briga. Toda essa situação explodiu em algo maior do
que eu jamais poderia ter antecipado. E agora que eu estava longe de
Saint, confrontada pelo homem que parecia ser a causa raiz dos atos
questionáveis de Saint, eu não tinha mais certeza se fugir dele era a
melhor decisão que eu tinha tomado até agora.

A porta se fechou e Raphael não perdeu tempo em me confrontar. —


O que diabos você acabou de fazer?

Eu me virei para encará-lo. — Eu irritei um homem velho com uma


atitude de merda, foi o que eu fiz.

— Você tem alguma ideia de quão rico é aquele velho?

— Eu não ligo. — Peguei meu copo e esvaziei, a vodka queimando


quando ela se instalou no meu estômago.

— Bem, eu sei. Você poderia ter nomeado seu preço, e ele teria pago.
— Como eu disse, não estou à venda.

— No entanto, você tinha seu preço por se casar com Saint.

Se não fosse pelo fato de eu descobrir algumas horas atrás, que o


jovem na minha frente era meu irmão, eu teria dado um tapa na cara
dele. — Você não sabe nada sobre o que aconteceu entre Saint e eu.

— Mas você não nega?

— Negar o que?

Rafael se aproximou. — Que você teve seu preço com Saint.

Mordi meu lábio. Havia tantas mentiras que eu podia contar,


maldições que eu podia gritar para me tirar dessa mesma conversa que
tinha muita verdade para o meu gosto. Rafael estava certo. Eu tive meu
preço com Saint. Negociei com ele e, no final, apertei a mão do diabo para
finalizar nosso acordo. Havia um preço colocado em nosso acordo. O
orfanato. Esse era o meu preço e, embora fosse por uma causa nobre,
agora percebi que o Sr. Russo estava certo. Todo mundo tinha um preço.

Até eu.

— Mila, você precisa reconsiderar a opção do Sr. Russo, — pediu


Raphael.

— Você não vê que esse homem é uma cobra?

— Eu não ligo, — respondeu ele, exasperado. — Sinceramente, não


dou a mínima. Eu só quero vender minhas ações, receber o dinheiro e
fazer o que eu quero fazer, e não algo que meu pai me ordenou que fizesse
na porra de sua última vontade.

Chupei meu lábio inferior na boca e coloquei as mãos nos quadris.


— Seu pai. Seu pai.

Ele esfregou as têmporas, os olhos fechados. — Sim.


— Você percebeu que desde que entrei no seu carro, você se refere
aos nossos pais como sua mãe e seu pai?

— Assim?

Eu cruzei meus braços. — São nossos pais, Raphael. Nossa mãe.


Nosso pai.

— Jesus! — ele murmurou. — Você está falando sério? Você


literalmente entrou na minha vida algumas horas atrás, e já espera que
eu faça o ajuste de passar do primeiro e único filho de Torres para o
segundo e o mais novo? Você espera que eu envolva minha cabeça em
torno dela e não sinta minha mente fodida nem um pouco?

O desconforto deslizou pela minha pele, e meu intestino se enroscou


em grupos de incerteza. — Eu não sei o que espero. — Lágrimas
ameaçavam, mas eu tentei engoli-las. — Sinceramente, não sei, e a pior
parte? Minha vida inteira, eu queria estar cercado por minha própria
família. E agora, enquanto estou perto de encontrá-los, nunca me senti
tão sozinha.

Ele soltou um suspiro e inclinou a cabeça para trás enquanto olhava


para o teto. — Estou tentando entender o que você deve estar passando,
mas lembre-se de que este é um território desconhecido para mim
também. Eu tinha tudo planejado, todo o meu futuro. — Ele olhou para
mim novamente. — E agora tudo está em risco por causa de uma irmã
que eu acreditava estar morta a vida toda.

Coloquei meu cabelo atrás da orelha. — Eu sinto muito. Não era


minha intenção...

— Eu sei disso. — Ele descansou as mãos nos meus ombros e


apertou levemente. — Mas pense bem. Se não fosse por Saint, você teria
passado a vida inteira sem saber sobre esses dez por cento de ações. Não
é como se você estivesse perdendo alguma coisa com a venda. Na verdade,
esses dez por cento valem muito dinheiro, Mila. Do jeito que eu vejo,
vendendo, você não tem nada a perder e muito a ganhar. Dê sua
declaração. Receba suas ações de volta e venda.

Meu olhar permaneceu abatido. Eu não queria olhar nos olhos dele
enquanto meus pensamentos corriam e me puxavam em mil direções
diferentes ao mesmo tempo. Estava claro por que Raphael estava tão
desesperado por eu vender minhas ações. Era a única maneira de ele
vender as suas. Mas não consegui explicar, esse sentimento de
propriedade e responsabilidade que senti com meus minúsculos dez por
cento. Alguém poderia pensar que para uma mulher com a minha
formação, o dinheiro seria fator importante suficiente para pesar
enquanto eu considerava todas as minhas opções. Mas não foi. Dinheiro
era a coisa mais distante da minha mente. Não estava nem na balança.
Era outra coisa, mas eu precisava de mais tempo para descobrir o que
era.

Eu olhei nos olhos dele e tentei desesperadamente vê-lo por quem


ele era. Meu irmão. Minha própria carne e sangue. Mas não pude.
Raphael ainda era apenas um estranho para mim, e até o dia que mudou,
eu não podia confiar nele.

— Não, — eu respondi simplesmente. — Por enquanto, minha


resposta é não. — Passei por ele e fui para o banheiro à esquerda da cama
que se escondia atrás do elegante divisor de quarto.

— Mila, — ele me chamou. — Pense sobre isso. Droga!

Ouvi o que parecia uma batida forte contra a parede. Rafael estava
com raiva, e ele provavelmente tinha todo o direito de estar. Sua irmã,
que deveria estar morta, invadiu sua vida depois do café da manhã e
arruinou todos os seus planos futuros antes do almoço. Mas não me
permitia pensar dessa maneira, sentir simpatia por alguém. Agora, eu
precisava me colocar em primeiro lugar, fazer o que eu sentia que era a
coisa certa para mim – especialmente porque eu não tinha como saber
como tudo isso aconteceria de um minuto para o outro. Eu precisava me
proteger porque não havia mais ninguém para fazer isso. Mais ninguém
que levou meu melhor interesse a sério. Era eu... e eu sozinha.

Tranquei a porta do banheiro atrás de mim e me virei para encostar


nela. A exaustão deslizou em meu corpo, minha mente, e eu queria correr
e me esconder de todo mundo só para poder descansar um pouco. Cada
parte de mim doía, e eu nunca me senti tão confusa, tão assustado na
minha vida.

Uma lágrima escorreu do canto do meu olho, e eu rapidamente a


enxuguei. Não havia tempo para lágrimas, nem tempo para uma festa de
piedade. Eu precisava manter minhas coisas juntas se quisesse
sobreviver ao caos que me cercava.

Eu vi meu reflexo no espelho. A mulher que olhou para mim parecia


uma merda, como se o próprio diabo a tivesse arrastado pelo inferno.
Círculos escuros emolduravam meus olhos, e meu cabelo era uma
bagunça selvagem de cachos que estavam desarrumados em volta dos
meus ombros. Fazia apenas algumas horas, mas parecia que eu não
dormia há semanas.

— Mila. — Rafael bateu na porta. — Eu sinto muito. Não quis perder


a paciência.

Fechei os olhos, mordendo mais lágrimas.

— Isso tudo é demais. Para nós dois. Eu tinha planos. Este acordo
com o Sr. Russo é uma oportunidade que eu espero desde que o pai
morreu. Meu pai – nosso pai não era o que você chamaria de apoio a mim
e a quem eu sou. — Ele parou por um momento, e um silêncio pesado se
instalou. — Eu sou gay, Mila.

Abri os olhos, surpresa com essa revelação muito pessoal.

— Eu sou gay, e é algo que o pai nunca aceitou. Eu e meu parceiro,


tentamos criar nossa própria galeria de arte nos últimos dois anos. Ele
se recusou a ajudar financeiramente e, como tinha tanta influência nessa
cidade, garantiu que eu não obtivesse ajuda de mais ninguém.

— Por quê? — Deslizei minhas costas pela porta para me sentar no


chão de azulejos. — Por que ele teve dificuldade em aceitar que você é
gay?

— Eu era seu único filho, Mila. E até algumas horas atrás, eu era
seu filho único. Ser gay significa que não continuarei a linhagem de
Torres. O legado.

— Isso é besteira.

— Não para ele, não era.

Inclinei minha cabeça contra a porta. — Casamento arranjado.


Dívidas familiares. Linhagens e legados. Deus, sou a única aqui que
atualmente vive no século XXI?

Rafael riu. — Tudo parece bastante estranho, não é?

— Eu diria fodido. Mas sim, podemos ir com coisas estranhas. — Eu


sorri e Raphael riu. O momento brilhou um pouco de luz em nossa
conversa sombria, e eu consegui respirar fundo. Rafael me deu um
vislumbre de quem ele era, de sua vida e, em vez de ter pena de mim,
simpatizava com ele. — Eu estraguei tudo para você, não foi?

Silêncio.

— Nós podemos resolver isso, — respondeu ele, e eu não precisava


ver seu rosto para saber que ele se sentia cético em relação a tudo. —
Vou pedir um serviço de quarto. Você quer algo?

Eu olhei para o teto branco. — Bolo. Eu quero bolo de chocolate.

— Bolo?

— Bolo sempre faz tudo melhor.


Ele riu. — Bolo de chocolate, então.

Ouvi seus passos pesados quando ele se afastou da porta e puxou


minhas pernas até o peito. Meus pensamentos eram um campo minado
de caos. Nada na minha cabeça fazia sentido. Toda emoção conhecida
pelo homem invadiu dentro de mim, e eu estava me afogando nela. Me
afogando em tudo que senti.

Medo.

Incerteza.

Desgosto.

Ódio.

Simpatia.

Pena.

Estava tudo lá, espremido no centro da minha alma, e ameaçava


entrar em erupção, a menos que eu conseguisse lidar com isso. Eu tinha
que me recompor se não quisesse quebrar em pedaços que nunca seriam
consertados novamente.

Eu me levantei do chão, endireitei minha saia lápis e passei os dedos


pelos cabelos. Com bolas de algodão guardadas em um recipiente de vidro
no armário, limpei as manchas de rímel ao redor dos olhos.

Uma esposa russo sempre parece em seu melhor.

Dei uma última olhada no meu reflexo depois de fazer algum controle
de danos. Eu ainda parecia uma merda, mas pelo menos meu cabelo
estava se comportando.

A trava clicou quando eu virei a maçaneta da porta antes de voltar


para a parte da sala de estar da suíte. — Por favor, me diga que você
pegou o bolo?
— Sinto muito, esposa. — A voz familiar me fez parar e meu olhar
colidiu com o dele. — Vou garantir um bolo para você em nosso caminho
de volta para casa.

— Santo Jesus.

— Não. Apenas eu.

Meu coração pulou do meu peito, e todos os meus músculos se


esticaram. Meu corpo congelou, o sangue em minhas veias frio como o
olhar em seus olhos.

— O que você está fazendo aqui? — Eu mal conseguia expressar as


palavras.

— Estou aqui para conseguir minha esposa de volta, é claro.

Rafael se aproximou dele. — Ela não vai a lugar nenhum com...

Saint sacou uma arma e apontou para a cabeça de Raphael. Minha


respiração ficou presa na garganta quando eu ofeguei. — Saint, não! —
Mas ele nem olhou para mim enquanto olhava para Raphael.

— Não vou pensar duas vezes antes de puxar esse gatilho. — alertou.

— Você não está levando minha irmã.

Saint endireitou o braço, o cano da arma mordendo a testa de


Raphael. — E quem vai me parar? Você?

Corri na direção deles e quase tropecei nos meus próprios pés. —


Não o machuque.

— E se eu realmente quiser? — A mandíbula de Saint bateu, o ódio


em seus olhos quase tão mortal quanto a arma em sua mão.

— Saint, por favor.


James entrou na suíte carregando um homem por cima dos ombros.
Foi só quando ele largou o homem no chão de azulejos que eu percebi
que ele estava morto, garganta cortada e sangue escorrendo do corte.

— Jesus Cristo. — Minha palma bateu na minha boca quando eu


ofeguei, náusea forçando bile na minha garganta. — Que porra é essa? —
Olhei para Saint e notei uma mancha de sangue na mão dele segurando
a arma. — Quem é aquele?

Saint rosnou. — Uma medida de segurança que meu pai colocou em


prática caso você decidisse fugir.

— O que?

— James, por favor, acompanhe a Sra. Russo até o carro. Eu gostaria


de ter uma conversa muito breve e particular com o Sr. Torres.

— Saint, não! — Eu implorei, sabendo muito bem do que ele era


capaz. A lembrança do cadáver de Brad e a visão de outro homem sem
vida sangrando nos azulejos me lembraram exatamente o quão cruel e
insensível Saint realmente era. Não havia dúvida em minha mente que
ele mataria Raphael sem sequer piscar.

— Saint, — eu lentamente me aproximando dele — eu vou com você,


mas por favor não machuque meu irmão.

— Irmão? — Saint zombou e inclinou a cabeça para o lado enquanto


olhava para Raphael. — Você a teve por duas horas, e já fez uma lavagem
cerebral para ela pensar que se importa?

— Eu me importo, — Raphael mordeu.

— Besteira. Tudo o que você gosta é dinheiro e bunda.

— Foda-se!

Saint pressionou a arma com mais força contra a cabeça de Raphael,


e um grito se alojou na minha garganta quando flashes de sangue e
cadáveres bombardearam meus pensamentos. Eu me encolhi, esperando
o som de um tiro estalar no ar a qualquer momento, mas o dedo de Saint
simplesmente descansava no gatilho.

— Cuidado, garoto, — ele rosnou. — Eu matei pessoas por muito


menos do que proferir algumas maldições para mim.

Meu coração estava prestes a explodir, e eu não conseguia sentir


minhas pernas através do pânico. O olhar no rosto endurecido de Saint
era de pura determinação, e eu sabia que a única maneira de impedi-lo
de matar Raphael era fazer o que ele disse.

— Por favor. Eu irei com você. Você não precisa matar mais ninguém.

O lábio superior de Saint se curvou quando ele encarou Raphael com


nada além de desdém e desprezo. — Se você a afastar de mim novamente,
eu vou te matar. E eu não me importo com o quanto ela implora para eu
poupar sua vida, não vou. — Saint largou o braço e segurou a arma atrás
das costas.

Soltei um suspiro e mal consegui me erguer. Naquele momento, eu


estava de volta à cobertura em Nova York, vendo meu amigo sangrar no
tapete. Revivi-o enquanto repetia repetidamente dentro da minha cabeça.
Isso trouxe lágrimas aos meus olhos, juntamente com o terror arrepiante
de Saint matando meu irmão na minha frente. Eu queria cair no chão e
deixar o medo me engolir inteira.

Saint passou os dedos em volta do meu cotovelo, seu toque


queimando minha pele. — Considere isso um gesto de boa vontade,
Raphael. O fato de você ainda estar respirando. Lembre-se de agradecer
à sua irmã por isso um dia.

Ele me puxou em direção à porta e eu recuei. — Meus sapatos.


Deixe-me apenas pegar...

— Deixe-os.
Saint me arrastou para fora do quarto de hotel e eu não lutei com
ele. Eu estava com muito medo que ele pudesse mudar de ideia e voltar
para matar Raphael.

Felizmente, Raphael não nos seguiu. Parecia que ele conhecia Saint
tão bem quanto eu, sabendo que o homem não tinha problemas em
derramar sangue e tirar vidas. Foi ingênuo e estúpido da minha parte
pensar que eu poderia fugir de Saint. Depois de tudo o que ele fez para
chegar até mim, e sabendo o que ele queria de mim, como eu poderia
pensar que era possível me afastar dele?

Tudo isso, tudo o que havia acontecido até esse momento, provou
apenas uma coisa.

Não havia como fugir do meu marido... nunca.


3

Saint

EU QUERIA apertar o gatilho. Eu queria ver o rosto do filho da puta


espalhado por toda a maldita suíte de hotel. Foi tudo o que pensei desde
o momento em que Mila entrou no carro com ele, afastando-se de mim.
Ele não tinha o direito de levá-la. Ele não tinha o direito de interferir. O
filho da puta não passava de uma pedrinha no meu caminho de vingança.
Uma que eu nem precisei tirar do caminho. Eu podia simplesmente
passar por cima dele e nem perceber que ele estava lá. Mas no segundo
em que ele abriu a porta do carro para Mila com a intenção de levá-la
para longe de mim, ele se tornou uma toupeira no meu quintal cuja
cabeça eu queria cortar com uma pá de merda. Eu o lembraria de
agradecer à irmã algum dia porque ela o salvou de um tiro no rosto.

— Saint, você está me machucando. — Sua voz tremia enquanto eu


apertava seu cotovelo, arrastando-a para fora do hotel. Ao contrário da
nossa saída rápida e bem planejada em Nova York, eu não dava a mínima
para quem a via e quem não via. Não me importava se alguém visse o
rosto dela, o medo dela. Tudo o que importava era tirá-la de lá e voltar
para a Imperatriz dentro de uma hora.

Uma vez no estacionamento subterrâneo do hotel, eu pisei na


direção do meu Maserati Sport preto.

Mila parou quando estava prestes a entrar no banco do passageiro,


examinando o carro da frente para trás. — Você pode alimentar uma vila
inteira com o preço deste carro. Você sabe disso, certo?
Agarrei seu pulso e a puxei para mais perto, meus dedos apertando
sua mandíbula enquanto eu segurava seu rosto perto do meu. — Dois
minutos atrás, eu estava a um fôlego de explodir a cabeça do seu irmão,
mas você ainda parece pensar que tem coragem de foder comigo.

— Foi uma mera observação, — ela mordeu quando meu aperto em


sua mandíbula enrugou seus lábios.

Eu trouxe minha boca perto da dela para que ela pudesse sentir o
calor irritado em minha respiração. — Não brinque comigo agora, Milana.

Olhos verdes me encararam, sem piscar, mas eu vi. Eu vi o medo


girar em suas íris, o brilho de lágrimas não derramadas que ela estava
desesperada para evitar escapar.

— Agora, entre no maldito carro e feche essa sua linda boquinha. —


Soltei o braço dela e vi quando ela entrou no carro. — E Mila. Tente correr,
e eu mato seu irmão, não importa o quanto você implore para que isso
não aconteça.

Fechei a porta e contornei o carro, entrando atrás do volante. O


motor rugiu e os pneus guincharam enquanto eu dirigia do
estacionamento subterrâneo. A raiva em mim ferveu, e eu mal segurei o
último fragmento de controle que eu tinha. Minhas juntas ficaram
brancas quando eu agarrei o volante, acelerando a rampa e desviando
para a estrada.

Mila agarrou a maçaneta da porta. — Jesus, Saint. Você quer nos


matar?

Mordi o canto da minha boca, minha língua nada além de chamas


de maldições não ditas. Imagens dela fugindo de mim, o frenesi de pânico
e alarme que senti enquanto a olhava entrar naquele carro, acendeu tanto
o medo quanto a raiva dentro de mim – uma mistura tóxica de emoções
para um homem endurecido como eu. Levou-me ao limite onde eu queria
matar o próprio irmão bem na frente dela, sem me importar se ela
assistia. Eu não dava a mínima se minhas ações a arruinaria além do
reparo. Tudo o que importava era me livrar do total desamparo que senti
nas últimas horas enquanto a procurava.

— Como você me achou?

Eu ri de sua pergunta tola. — Este é um carro de cem mil dólares.


Meu iate tem um preço de dezesseis milhões de dólares. E meu jato
particular me custou alguns milhões a mais que isso. Agora, você vale
muito mais para mim do que qualquer uma dessas coisas, então imagine
até que ponto estou disposto a ir para garantir que ninguém tire você de
mim. — Eu olhei para ela, sua expressão ilegível. — Eu tinha você
rastreada.

— O que? Onde? Como? — Ela correu as palmas das mãos pelos


braços, procurou por baixo da gola da blusa e tocou nos brincos de ouro.
— Como você... — Seu olhar caiu sobre os pés descalços. — Meus
sapatos, ela murmurou antes de olhar na minha direção. — Foi por isso
que você me disse para deixar meus sapatos para trás. Você rastreou
meus malditos sapatos?

Eu sorri, surpreendentemente divertido com a rapidez com que ela


descobriu.

Ela caiu de volta em seu assento. — Eu não posso acreditar que você
me seguiu.

— Sério, Mila. Diga-me que você não é tão ingênua.

Ela olhou pela janela do lado do passageiro. — Suponho que sou.

Esfreguei dois dedos na barba por fazer no meu queixo. — Você


gostou de se familiarizar com seu irmão mais novo? — Não havia como
esconder o desprezo no meu tom.

— Não tanto quanto eu gostei de conhecer seu pai.


Eu olhei para ela. — Você o que?

— Sim. Seu pai é um verdadeiro deleite. As besteiras dele é quase


tão fácil de ver quanto a sua.

— Jesus Cristo. — Olhei pelo espelho retrovisor antes de fazer uma


curva acentuada para a esquerda, acelerando pelas ruas de trás de Roma.
O pensamento dela no mesmo quarto que meu pai sem eu estar lá tinha
as chamas do inferno queimando minha espinha.

— Saint, devagar, — ela insistiu, sua voz cheia de pânico. — Você


está indo rápido demais.

Suas palavras caíram nos ouvidos de um homem que não ouvia nada
além da batida de raiva do próprio coração. Mais alguns olhares no meu
lado e no espelho retrovisor, e eu tinha certeza de que não fomos
seguidos.

Eu parei no lado de uma estrada tranquila. Não houve um segundo


desperdiçado quando saí do carro e corri pela frente, apenas para pegar
Mila quando ela pulou de seu assento e tentou correr na outra direção.
Mas eu peguei o braço dela, agarrei-o com força e arrastei-a para trás
enquanto pisava em direção a um dos pinheiros de pedra. Galhos
estalaram e trituraram sob meus pés, e Mila amaldiçoou enquanto
andava descalça sobre o terreno árduo.

Com um movimento do meu pulso, torci o braço dela e a forcei a


voltar primeiro contra a árvore. — O que você disse para ele?

— Você está me machucando.

— Eu te fiz uma pergunta fodida. O que você disse para ele? — O


tom duro da minha voz ecoou abaixo das árvores altas, e eu
imediatamente vi o medo em seus olhos.

— Nada. Eu não disse nada a ele.


— E o que meu pai lhe ofereceu?

— O que faz você pensar que ele me ofereceu alguma coisa?

Eu sorri friamente e levei minha mão até a garganta dela. —


Ninguém conhece meu pai tão bem quanto eu. Ele coloca um preço em
tudo. Então, me diga, Mila. O que te ofereceu?

Seu peito subiu e desceu quando ela respirou fundo uma após a
outra, e eu pude sentir seu pulso batendo violentamente contra as pontas
dos meus dedos em volta do seu pescoço.

— Ele me disse que poderia anular nosso casamento, e se eu fizesse


uma declaração oficial de que você me obrigou a casar com você, ele
poderia me devolver minhas ações.

Eu apertei meu aperto em seu pulso e garganta, forçando seu queixo


na minha direção. — Você fez isso?

Ela pegou a mão que eu tinha em volta do pescoço. — Sim.

— Mentirosa.

— Eu não estou mentindo. Eu contei tudo para ele. Eu disse a ele


como você matou Brad, me sequestrou e me obrigou a casar com você.
Eu disse a ele tudo.

Inclinei-me e aproximei meus lábios dos dela, seu pulso aumentando


com suas respirações rápidas. — Você está mentindo, Mila, — eu
sussurrei e levei meu polegar até o lábio inferior — você não disse nada a
ele.

— Ah sim, eu fiz. Quando ele me ofereceu uma anulação ao pôr do


sol, eu cantei como uma porra de passarinho.

Apertei sua garganta com mais força, forçando-a a esticar o pescoço.


— Você é uma péssima mentirosa.
— Eu não estou mentindo.

Ela puxou meu braço, mas eu não movi um músculo. — Você quer
jogar este jogo, Mila? Bem. — Dei um passo à frente e a agarrei entre meu
corpo e a árvore enquanto soltei seu pulso, deslizando minha mão para o
lado dela. — Quando você fugiu de mim, não senti nada. Quando você
ficou do outro lado da estrada, virando-se para mim, seus olhos brilhando
com lágrimas, isso não fez nada para derreter o ódio em minhas veias. —
Meus dedos se curvaram sob a costura de sua saia, e eu a puxei pela
coxa, serpenteando meus dedos sob o tecido. — Quando eu vi você entrar
naquele carro com Raphael, sendo levada cada vez mais longe de mim,
eu não senti uma sensação de perda, desamparo. — Inclinei-me e escovei
meus lábios contra sua mandíbula enquanto colocava sua bunda na
minha palma, o som de sua respiração engatando enchendo minha orelha
e batendo contra a ponta do meu pau. — Não senti nada quando passei
duas horas fodidamente sem saber se você estava segura ou não.
Absolutamente fodidamente nada.

Sua saia se enrolava na cintura, calcinha preta cobrindo sua doce


boceta, mas não representava resistência quando eu rasguei com meus
dedos com tanta facilidade.

O cheiro do seu perfume floral e a sensação de seus cachos suaves


contra minha bochecha fizeram o mundo ao meu redor girar fora de
controle, meu pau duro e desesperado para deslizar dentro dela.

Seu aperto ao redor do meu braço se afrouxou, seu corpo rígido ficou
relaxado contra o meu a cada segundo que passava.

Eu levantei minha cabeça e olhei nos olhos dela. — Agora, diga-me,


Mila. Estou dizendo a verdade? Ou tudo o que eu disse foi mentira? —
Com um toque gentil, passei minha mão ao redor do quadril e entre as
pernas dela. Eu arrastei um golpe vagaroso do meu dedo pelos lábios de
sua vagina, que me recebeu com uma excitação escorregadia. Os olhos
dela se fecharam, e abruptamente mergulhei um dedo dentro dela. —
Olhe para mim, — eu exigi — olhe nos meus olhos e me diga se estou
mentindo.

Seu olhar esmeralda travou no meu, e seus lábios se separaram


quando respirações quentes flutuaram de seus pulmões. Não havia nada
ou ninguém, apenas nós naquele momento. Todo o maldito mundo
desapareceu, e eu queria que ela visse todas as mentiras que saíam da
minha boca. Eu queria que essa mulher olhasse profundamente em
minha alma e visse como ela fugir de mim, fodeu com minha cabeça de
maneiras que nunca havia experimentado antes. Não havia palavras para
descrever as emoções que estavam dentro de mim durante as duas horas
em que ela se foi – era por isso que eu precisava que ela visse, porque não
havia como explicar.

Ela não disse uma palavra. Tudo o que ela fez foi olhar nos meus
olhos pelo que pareceu uma eternidade, meu dedo ainda enterrado dentro
de seu corpo enquanto ela procurava em minha alma todos os segredos.
Era como se ela tentasse alcançar as profundezas da minha humanidade,
procurando uma fraqueza que nunca tive antes dela.

Eu era um prisioneiro naquele momento e nem percebi que suas


mãos se moveram até senti-la desafivelando meu cinto, seu olhar não
deixando o meu por um segundo. No segundo em que ela colocou os
dedos em volta do meu pau, eu gemi quando a luxúria me ancorou no
local. Eu não consegui me afastar. Eu não queria me afastar, embora
ainda estivesse com raiva dela por fugir de mim. Por não confiar em mim.
Eu a culpo? Não. Mas eu ainda estava furioso com isso, no entanto.

Ela libertou meu pau e passou os braços em volta dos meus ombros,
as bochechas coradas e a palma da mão entre suas pernas estava
encharcada, seu corpo preparado para eu transar com ela ali mesmo e
depois com nada além de uma árvore nos escondendo dos carros que
passavam.
Mordi o lábio, incapaz de conter a luxúria furiosa que me possuía, a
mistura letal de raiva e desejo matando todas as inibições. Soltei sua
garganta e agarrei sua cintura, torcendo-a e empurrando sua frente
contra a árvore, pássaros cantando acima de nós no calor do sol do fim
da tarde.

Segundos. Momentos. Tempo. Parou como se o destino tivesse


parado o mundo ao nosso redor para que pudéssemos nos perder. E
quando agarrei seus quadris, puxando-a para mim, eu sabia que nem
uma arma na minha cabeça seria capaz de me impedir de transar com
ela. Do jeito que ela arqueou as costas e empurrou a bunda em minha
direção, eu sabia que ela ansiava quase tanto quanto eu, e me recusei a
perder mais tempo, a penetrei como se estivesse faminto por esse
momento a vida inteira.

Ela gritou quando a ponta do meu pau bateu contra seu núcleo, sua
voz ecoando através dos galhos das árvores. Eu peguei o cabelo dela,
torcendo meus dedos por seus cachos, puxando sua cabeça para trás
enquanto empurrava com mais força, mais fundo, mais rápido. Nada
disso era doce, terno ou remotamente romântico. Foi difícil. Carnal. Uma
foda imunda.

Seu corpo apertou meu pau com suas paredes internas, o calor de
seu núcleo e a suavidade de seu desejo envolvendo meu pau como um
torno. Minhas coxas bateram contra sua bunda, e eu agarrei seu braço
direito, puxando-o para baixo na frente dela. Forcei seus dedos a
encontrar seu clitóris antes de colocar minha palma de volta em seus
quadris, segurando-a firme para que eu pudesse transar com ela do jeito
que eu queria. Possuí-la. Marcá-la. Reivindicá-la.

Nenhum de nós falou uma única palavra. O espaço aberto ao nosso


redor cantou com os sons ressonantes dos meus gemidos e seus gritos,
misturados com nossas respirações pesadas e inebriantes.
Mila esticou o pescoço, cachos selvagens pendurados nas costas, e
eu podia sentir sua boceta latejar em volta do meu pau quando ela gozou,
seu prazer ricocheteando em seus gritos enquanto ela chegava ao clímax
com tanta força que suas paredes internas se apertaram em mim, e eu
não pude mais segurar o último fragmento de controle que eu tinha. Ele
escapou do meu alcance, e minhas bolas se apertaram quando meu
orgasmo rasgou minha espinha, meu peito e bateu contra meu pau. Um
gemido rasgou da minha garganta, um baixo estrondo de domínio
enquanto pulsava cada gota do meu esperma dentro dela.

A adrenalina voou dentro das minhas veias, meus dedos mordendo


seus quadris, e minha mente não passava de um frenesi quando o prazer
explodiu, forçando seu caminho para todos os cantos do meu corpo.

Mila olhou por cima do ombro, a bochecha corada e os lábios


carnudos. — Mentiroso.
4

Mila

ISTO NÃO FOI DO jeito que deveria ser. Durante todo o caminho no
carro, tudo o que pensei foi como queria me afastar dele. Quanto eu o
odiava por estar disposto a matar meu irmão, a fim de me recuperar, para
que ele pudesse continuar esta guerra com seu pai. Nunca na minha vida
encontrei um ser humano tão egoísta, tão vingativo que ele não se
importava com quem machucaria no processo. No entanto, quando ele
me prendeu contra a árvore, as mentiras em suas palavras uma completa
contradição com a verdade em seus olhos, eu sucumbi. Pela primeira vez
desde que essa bagunça começou, Saint havia me desafiado, e não o
contrário. Ele me desafiou a ver através do engano de sua língua e ouvir
a desonestidade em sua voz. E eu fiz. Os tons de azul em seus olhos
refletiam o que ele não podia dizer. Ele sabia disso. Ele queria que eu
visse sem ele ter que baixar a guarda, sem ele ter que expor sua fraqueza.
Eu.

Enquanto Saint se erguia sobre mim, seu corpo pressionado contra


as minhas costas enquanto ele se inclinava com as mãos acima dos meus
ombros contra a árvore, senti o calor de sua respiração no meu pescoço.
Seu calor penetrou nos meus ossos, sua presença me envolveu, e foi
nesse momento que eu senti. O conforto. O consolo. Algo que eu nunca
tinha sentido antes. Se eu fosse uma pessoa impulsiva, alguém que agisse
por um capricho sem se importar com as consequências, eu me deixaria
cair. Eu deixaria de lado a incerteza, a desconfiança e jogaria a cautela
ao vento enquanto caía espontaneamente de ponta-cabeça por esse
homem. Mas não fui eu. Eu não era do tipo imprudente. A garota que
deixaria tudo ao acaso, a fim de experimentar uma paixão flamejante que
tinha o poder de afogar uma vida inteira de mágoa e dor, não importa
quão temporária. Mas não era eu.

Saint levou os lábios ao meu ouvido e traçou sua língua ao longo da


curva, fazendo-me tremer. — Nunca. Mais. Fuja de mim novamente.

Dessa vez, não havia truques ou falsidades escondidos atrás de suas


palavras, fortalecidas por uma ameaça não dita. E ele não precisava dizer
mais nada para me fazer entender o quão sério ele era. Eu ouvi alto e
claro e olhei para ele por cima do ombro. — Nunca mais me faça sentir
como se eu fosse uma prostituta para você. — Eu me virei para encará-
lo, minha saia ainda enrolada na cintura. — Eu sou sua esposa, e uma
esposa Russo merece o respeito de seu marido.

Ele inclinou uma sobrancelha escura. — O respeito é conquistado,


não exigido.

— E nem casamento é, mas mesmo assim você exigiu isso.

A borda de sua boca se curvou um pouco, um toque sutil de


diversão. — Se eu ficar com você, — ele traçou um dedo gentil na minha
mandíbula, — você continuará a lutar comigo?

Inclinei minha cabeça para o lado, mais fundo em seu toque. — Com
cada respiração.

Segundos se transformaram em minutos enquanto ficamos ali,


olhando um para o outro, como se o mundo ao nosso redor não existisse
mais. Eu não sabia o que era, mas algo mudou entre nós. A barreira que
nos separava estava lentamente começando a desmoronar, e eu não tinha
certeza se isso me emocionou ou me assustou. O que encontraríamos
quando a barreira fosse destruída e nada além de poeira?

Sem se afastar, ele puxou a gravata do pescoço e estendeu a mão


entre as minhas pernas. Uma respiração escorregou dos meus lábios
quando senti a seda macia contra o meu sexo. Seus olhos nunca
deixaram os meus quando ele me limpou com a gravata, limpando os
restos de nosso clímax. Seu toque estava me empurrando para aquela
maldita borda mais uma vez, mas antes que eu pudesse sucumbir
completamente, ele se afastou e enfiou a gravata manchada no bolso da
calça. Meu corpo estremeceu quando os nós dos dedos roçaram contra
minha coxa nua quando ele puxou minha saia sobre meus quadris e se
inclinou para pegar minha calcinha esfarrapada do chão, enchendo-a
com a gravata no bolso. — Correndo o risco de estragar sua roupa de
baixo no futuro, estou inclinado a solicitar que você não a use mais.

Apertei os lábios e vi quando ele fechou as calças e apertou o cinto.


— Eu não acho que você esteja em posição de solicitar qualquer coisa no
momento.

— E por que isto?

— Você queria matar meu irmão, então considere um pedido negado


uma sentença leve.

Com um sorriso, eu me virei e voltei para o carro, sem olhar para


trás para ver se ele estava seguindo.

Os Maserati estacionado na beira da estrada complementavam


perfeitamente o dono. Era como se quem projetou esse maldito carro
tinha Saint em mente quando ele o fez. Estilo sedutor, luxos dominantes
e um forte sotaque italiano que gritava a cada curva. Não havia fim para
a riqueza deste homem? Para o poder dele?

Quando cheguei ao carro, Saint agarrou meu pulso e me jogou, me


puxando para o seu peito. Eu engasguei, e ele reivindicou minha boca
com um beijo duro e inebriante, desesperadamente forte. Seus dedos
pressionaram minhas bochechas quando ele enrugou meus lábios mais,
me segurando no lugar para que eu não pudesse me afastar. As voltas
ferozes de sua língua contra a minha, a maneira como sua boca quase
devorou a minha enquanto ele procurava meu gosto, isso fez minhas
pernas fracas e meu coração forte. Não havia nada de terno em seu beijo.
Não era amor ou carinho, ou um ato para mostrar afeto. Foi um ato de
grande paixão mostrar propriedade. Tomar e marcar, garantir que eu
soubesse a quem eu pertencia.

Ele.

Ele arrancou seus lábios dos meus, sua língua lambendo o que
restava do nosso beijo. — Eu ainda não terminei com você, segreto.

— O que você quer dizer?

Ele chupou ar entre os dentes. — Você fugiu de mim. Você acha que
eu vou deixar isso impune?

Calafrios me atravessaram com a lembrança do meu último castigo.


Eu ainda podia sentir a queima de couro na minha carne só de pensar
nisso. — Eu não estou jogando um dos seus jogos sexuais, Saint.

— Quem disse que estou jogando?

Eu dei um passo para trás, meus lábios macios de seu beijo feroz.
— Se eu pedisse para você não me machucar…

— Não.

— Não o que?

— Não me peça algo que não posso lhe dar.

Eu fiz uma careta. — Você não pode me dar sua palavra? Uma
promessa?

Ele mordeu o lábio inferior, e a máscara que ele sempre usava que
me impedia de ler sua expressão voltou ao lugar. — Não quando se trata
de machucá-la.
Um carro passou, o som se intrometendo no silêncio que nos
rodeava. Saint deu a volta no carro e parou na porta do lado do motorista.
— Entre no carro, Mila.

Eu olhei para ele. — Você tem tanta certeza de que vai me machucar
que nem está disposto a me dar sua palavra que não quer?

Não houve nenhuma tentativa dele de responder. Ele apenas olhou


para mim, não me dando uma resposta que eu queria ouvir.

— Eu não sou como você. — Eu juntei meus dedos e me virei para


encará-lo. — Eu não sou como você, Saint.

— Um fato de que estou muito ciente.

— Você quer que eu seja como você? Alguém que gosta de dor?

— Não. — Ele balançou sua cabeça. — Você entendeu tudo errado.


Eu não gosto de dor, eu só gosto de infligir.

Meu coração soluçou e prendi a respiração. — O que ele fez pra você?

— Quem?

— Seu pai. Ele fez algo para você. Ele machucou você. — Olhei nos
olhos dele, Saint, e não vi nada além de pura maldade.

Sua expressão permaneceu pedra, seus olhos um oceano


interminável de mares tempestuosos. — Estou impressionado. Você levou
cinco minutos para descobrir que meu pai é o diabo. — Ele abriu a porta
do carro. — Levei vinte anos.

Ele entrou no carro e eu engoli em seco. Confusão não era a palavra


certa para descrever o caos dentro da minha cabeça. Meu coração. E
depois do que aconteceu entre nós contra um dos altos pinheiros de
pedra, eu não tinha certeza se agora era a hora certa de tentar resolver o
caos. Para tentar cavar o que eu estava sentindo.
O caminho para a marina foi silencioso, mas eu o recebi bem. A
exaustão encheu meus ossos, e eu não tinha energia para fazer o papel
de um refém desafiador, mas de uma esposa submissa.

O cenário voou em um grande borrão, e o movimento suave do carro


de Saint me embalou. Eu queria fechar meus olhos quando me acomodei
mais no banco de couro. Só por um tempinho. Alguns minutos.

— Mila. Vamos baby, me segure. — Dois braços fortes me pegaram,


e eu abri meus olhos apenas para perceber que já estávamos na marina.
O cheiro familiar dele – tempero selvagem e pimenta, me confortou
quando eu deitei minha cabeça contra seu peito. Eu estava cansada
demais para lutar com ele. Cansada demais para exigir que ele me
colocasse no chão para que eu pudesse provar minha força andando
sobre meus próprios pés. De fato, congratulei-me com o conforto de seus
braços enquanto ele me carregava, e o sono ameaçou me puxar da
realidade para um sonho. O mundo estava nublado, minha mente
enevoada e pensamentos silenciados. Foi bom ter alguém para me
carregar quando eu estava cansado demais para continuar.

— Eu tenho você. — Saint sussurrou contra o meu cabelo. — Eu


tenho você agora e sempre.

— Seis meses. — eu sussurrei. — Apenas por seis meses. — Eu


aninhei minha bochecha contra seu peito, e ele apertou seu aperto em
volta de mim.

— Você está errada.

Se eu tivesse uma lasca de energia ou um único pensamento


coerente, teria perguntado o que ele quis dizer com isso. Mas não pude.
Agora não.

Hoje não.
5

Saint

COMO UM PERSEGUIDOR, eu me arrastei no quarto dela, observando-a


enquanto ela dormia. Não consegui sair depois de deitar seu corpo
exausto na cama. O fato de ela ter murmurado durante o sono, me
pedindo para não ir, não tinha nada a ver com o motivo de eu ainda estar
pairando.

Eu me inclinei contra uma das colunas da cama e olhei para o seu


lindo rosto. Pele impecável, cachos de corvo e os lábios de uma deusa.
Como ela parecia tão pacífica? Foi praticamente uma semana de merda
que aconteceu em um maldito dia.

Se eu fosse qualquer coisa além de um bastardo egoísta, eu a


deixaria ir. Se minha vida inteira não tivesse girado em torno de arruinar
a do meu pai, eu começaria novamente. Eu deixaria toda essa raiva
passar e esqueceria minha sede de vingança. Mas já fazia muito tempo.
Fazia anos e eu não sabia mais quem eu era sem ele.

Houve uma batida na porta e eu xinguei baixinho enquanto eu


caminhava silenciosamente pelo quarto.

Abri a porta e os olhos preocupados de James me cumprimentaram.


Olhei para Mila, que ainda estava dormindo, depois saí e gentilmente
fechei a porta atrás de mim. — O que é isso?

— Seu pai está a caminho daqui.

— O que?
— Um dos meus caras o viu saindo do carro, e ele está vindo para
cá.

— Jesus. — Esfreguei a parte de trás do meu pescoço. — OK. Fique


aqui.

James franziu o cenho. — Deveríamos sair da marina. Agora.

— Não. — Eu descansei minhas mãos nos meus quadris. — Se meu


pai quer uma audiência comigo, é isso que eu darei a ele. Mas você precisa
ficar aqui e garantir que ninguém — eu cheguei perto dele — e quero dizer
que ninguém entra no quarto dela.

— Deixe-me arranjar outra pessoa para guardar seu quarto. Eu


preciso estar lá fora com você.

— Não. Não confio em mais ninguém com ela, James. Eu preciso de


você aqui e preciso que você a proteja.

— Eu não confio...

— Eu sei. Também não confio nele. Mas você e eu sabemos do que


meu pai é capaz.

James passou a mão pelos cabelos escuros, e eu pude ver a


frustração em cada linha em seu rosto. — Tudo bem. — ele admitiu com
relutância.

— OK. — Arrumei meu paletó e caminhei na outra direção. — Ah, e


James, — eu parei e me virei para encará-lo, — se alguém vier procurá-
la, atire neles. Nem sequer hesite.

Com um simples aceno de cabeça, ele me deixou à vontade. Não


havia ninguém em quem confiasse mais que ele. Se eu tivesse que colocar
a vida de Mila nas mãos de outra pessoa, seria dele. Quando eu realmente
comecei a me preocupar com quem eu confiava para cuidar dela, eu não
sabia.
Meus pés atingiram o convés e coloquei todo pensamento de Mila no
fundo da minha mente. Encarar meu pai era uma ação que precisava de
toda a raiva e ódio que eu pudesse reunir. Eu me perguntava quantos
filhos odiavam seus pais tanto quanto eu odiava meu pai. O pensamento
foi perturbador. Não era normal que as crianças sentissem desdém
sempre que pensavam em seus pais.

Saí da imperatriz e vi meu pai se aproximando com dois brutamontes


o flanqueando. Não eram os advogados dele. Os homens que caminhavam
ao lado dele como cães de guarda provaram que meu pai era covarde
demais para me encarar sozinho, homem para homem. Isso trouxe um
sorriso ao meu rosto, sabendo que ele me via como uma ameaça, que ele
pisaria no lado da cautela quando se tratasse de mim. Homem inteligente.

— Desde quando um velho precisa de proteção quando faz uma visita


ao filho? — Eu sorri.

— Desde o dia em que meu filho deixou claro que me arruinaria, não
importa o custo. — Ele parou a um metro e o olhar arrogante em seu
rosto me irritou instantaneamente.

— O que você quer? — Coloquei minhas mãos nos bolsos da calça.

— Eu quero conversar.

— Sobre?

— A garota.

Eu levantei meu queixo. — Então, o que sobre ela?

Ele olhou em volta antes de me olhar nos olhos. — Como você a


encontrou?

— Não é da sua conta.


— Venha, agora, filho, — ele alargou os braços, como se estivesse
pronto para me receber em casa, — vamos parar com toda essa
hostilidade. Não é saudável para nenhum de nós.

Eu apertei minha mandíbula, agitação roendo meus ossos. — O que


você quer?

Seu lábio superior se curvou em um rosnado. — Eu quero que você


pare o que diabos você pensa que está fazendo.

Uma brisa sutil começou e eu puxei minha mão pelo meus cabelos.
— Eu vou parar, o dia em que você parar com todas as mentiras. Admita
o que você fez.

— Eu não fiz nada, — ele latiu, a corrente de ouro em volta do


pescoço brilhando nos últimos raios de sol quando o crepúsculo começou
a se estabelecer no horizonte. — Você era um garoto de dez anos de
idade...

— Doze.

— Quem se importa? Está na hora de superar isso, Marcello.

— Nunca. — eu rosnei, ódio pingando da minha língua como toxina.


— Eu nunca vou superar o que você fez.

Ele deu um passo à frente. — Eu não fiz nada.

— Veja, você é tão bom em mentir que até está começando a


acreditar nas besteiras que saem da sua maldita boca.

Meu pai ficou lá, e o canto da boca se curvou como se eu o divertisse.


Como se toda essa situação divertisse a porra dele.

Eu cruzei meus braços. — Você sabe o que fez. E logo o mundo


inteiro saberá disso. — Recuei, o ódio que sentia por ele escorrendo dos
meus poros como pus de uma ferida infectada. — É melhor você sair
antes que eu decida cortar sua maldita garganta antes mesmo de ter a
chance de confessar.

O sorriso em seu rosto permaneceu. — Não tenho nada a confessar.


Você, por outro lado, parece ter bastante que confessar. Forçar uma
jovem a se casar com você para que você possa obter as ações dela em
uma empresa que você nem quer não é um comportamento apropriado,
Marcello.

— Quem é você para me falar sobre comportamento apropriado?

Sua expressão endureceu e sua mandíbula tremeu, um sinal de que


eu tinha o irritado ao falar uma verdade que ele se recusava a confessar.
A raiva entre nós engrossou o ar, o ódio afiou suas unhas contra a tensão
que estava prestes a estalar. A visão dele me fez estender cada gota de
controle que eu tinha. Foi a única boa lição que meu pai me ensinou –
nunca perca o controle de suas emoções. Se você faz, você perde o
controle da situação. E perder o controle da situação era tão letal quanto
expor a sua fraqueza de alguém.

Inspirei profundamente, fazendo um esforço consciente para


permitir que o ar se instalasse em meus pulmões. — Saia. Agora.

— Ela sabe?

Meus olhos se estreitaram.

— Ela. Sabe? — Ele cuspiu suas palavras e acentuou cada maldita


letra como se estivesse batendo unhas no meu crânio.

Minha boca secou e lambi meus lábios enquanto cruzava os braços.


— Eu não sei do que você está falando.

— Besteira. Você sabe exatamente do que estou falando. Eu sei que


esse seu guarda-costas de merda colocou as mãos em uma cópia.
Eu ampliei minha postura, a pele na parte de trás do meu pescoço
formigando com aviso. Pelo olhar em seus olhos, eu sabia que não havia
sentido em negar. Que vergonha para mim, por pensar que meu pai não
teria meios de descobrir algo tão vital quanto a existência de uma
segunda vontade e a inclusão de uma pequena cláusula que tivesse o
poder de mudar o campo de jogo.

Meu pai levantou uma sobrancelha, vincos se formando na testa. —


Ela não sabe, sabe?

— Nós terminamos aqui. — Virei as costas para ele e caminhei em


direção ao iate.

— Uma palavra de conselho, filho, — ele me chamou. — Nunca se


deve iniciar um casamento com mentiras. Ele enfraquece e, no final,
envenena a todos.

Fiz uma pausa e olhei para ele por cima do ombro. — Você está certo.
E todos sabemos que no final... isso mata.

Embarquei na imperatriz e ordenei que a tripulação nos tirasse da


marina o mais rápido possível. Eu precisava colocar um monte de
distância entre Mila e meu pai – para não mencionar Raphael.

Tia Elena veio passear em minha direção enquanto eu me servia de


uma bebida. — O que seu pai queria?

— Ele só queria ter certeza de que eu tinha motivação suficiente para


querer arruiná-lo sendo um idiota. — Peguei um copo de vinho e servi um
pouco de chardonnay.

Ela assentiu em agradecimento e tomou um gole. — Você acha que


ele vai atrás dela?

— Eu o subestimaria se pensasse o contrário.


— Bem, estou feliz que você conseguiu encontrá-la. Acabei de entrar
no quarto dela para checá-la, e ela ainda está dormindo.

Coloquei meu paletó nos braços e o joguei sobre o balcão. — Ela está
exausta. — Comecei a arregaçar as mangas. — Nós só precisamos dar o
fora daqui para que eu possa ter certeza de que ninguém se aproxime
dela novamente.

Elena me deu um olhar conhecedor, seus olhos castanhos focados


como se ela estivesse tentando ver através de mim. — Você cuida dela.

Eu olhei para ela. — Eu me preocupo com a situação e, no momento,


é do nosso interesse mantê-la isolada.

Elena se inclinou sobre a bancada e me encarou com seu olhar. —


O que está acontecendo, Marcello? O que você está escondendo?

Esvaziei meu copo e chupei ar entre os dentes, evitando o olhar


intrusivo de Elena. Eu não ligava muito para as leituras de tarô e a
conexão autoproclamada com o mundo espiritual, mas ela tinha um sexto
sentido quando se tratava de mim. Como agora, do jeito que ela olhava
para mim, era como se ela visse a cauda do meu segredo e era apenas
uma questão de tempo até que ela a capturasse.

Com um bufo, peguei a garrafa de bourbon e meu copo. — Estarei


no convés desfrutando da minha bebida em paz.

Meus sapatos de couro bateram quando eu pisei no bar e saí no deck


de madeira. O crepúsculo estava escurecendo, a brisa salgada resfriando
Roma do calor abrasador quase insuportável. Quando me sentei na
poltrona, recostei-me e soltei um suspiro profundo, como se fosse possível
respirar a pressão das últimas doze horas, que pareciam mais doze dias.

O som dos motores do iate encheu o céu noturno. Era reconfortante


ouvi-lo correr, a água espirrando contra as laterais do navio. Observando
a distância entre nós e a marina aumentar, parte da tensão do dia
deslizou para fora dos meus ombros.

Eu a tinha de volta. Depois de horas sem tê-la à minha vista, à beira


de perder a cabeça, eu a tinha de volta. Bem onde eu a queria. Onde eu
a controlava.

Onde eu poderia esconder a verdade dela, pelo menos até que eu


tomasse minha decisão final.
6

Mila

A ÚLTIMA COISA que lembrei, era uma lembrança vívida de Saint me


carregando, seus braços firmemente enrolados ao redor do meu corpo
enquanto minha cabeça descansava em seu peito. Apesar de ele ser um
idiota de coração frio, o jeito que ele me segurava era quente e
reconfortante.

Depois disso, tudo ficou escuro até que eu abri meus olhos e olhei
para os raios de sol brilhando através da janela da cabine. Por alguns
segundos, não houve nada além de silêncio. Nem meus pensamentos
provocaram barulho. Estava calmo. Sereno. Tranquilo.

Eu me estiquei para acordar meus músculos, o cobertor macio e


confortável. E quando me acomodei novamente, aquela sensação de
alguém me olhando deslizou pela minha pele.

Sentei-me, apenas para encontrar Saint sentado em uma cadeira em


frente à cama, esfregando o queixo com o polegar e o indicador, olhando
para mim como se eu fosse um quebra-cabeça que ele precisava resolver.

— Há quanto tempo você está sentado aí?

Ele mudou. — Não muito.

Olhei para sua camisa e calça. Era a mesma roupa que ele usava
ontem. Uma meia garrafa de bourbon e um copo vazio estavam em cima
da mesa ao lado dele, com manchas de líquido secas no chão.
Eu olhei nos olhos dele. — Mentiroso.

— Poucas pessoas têm coragem de me chamar de mentiroso na


minha cara.

— Estabelecemos que não tenho bolas.

Ele sorriu. — Você tem certeza disso?

O convite brilhava em seus olhos. Ele queria que eu o provocasse, o


desafiasse. Para dar a ele a oportunidade que ele estava esperando – uma
oportunidade de me fazer me render novamente. Mas eu escolhi ignorá-
lo, mesmo que eu não pudesse abalar a tensão sexual que escorria por
toda a minha pele enquanto ele me observava com intenção perversa.

Coloquei meus pés no chão e me sentei ao lado da cama. — Você


nunca vai me dar respostas?

— Para quais perguntas?

— Todos elas.

Ele moveu o braço para baixo e girou um dedo ao redor da borda do


copo vazio.

Eu fiz uma careta. — Você está bêbado?

— Não. — Ele colocou um dedo nos lábios enquanto me estudava.


Isso me lembrou da primeira vez que o vi, pensando em quão perfeitos
eram seus lábios. Saint era mais do que atraente. Ele era como uma
chama na escuridão – queimando com ira e fúria, recusando-se a ser
contido, pois devastou todos e tudo ao seu redor. E eu? Eu era a
mariposa, a criatura seduzida por sua beleza, hipnotizada por suas
brasas brilhantes e voando direto para o coração do fogo, apenas para ser
queimada em cinzas.

— Uma. — ele disse simplesmente.


Eu olhei para ele em questão.

— Você pode me fazer uma pergunta todos os dias. Qualquer


pergunta, e eu responderei.

— Por que apenas uma?

Ele se sentou à frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Se temos


muitas opções, ficamos sobrecarregados e cegamente tomamos decisões
precipitadas. Limite essas opções e somos forçados a escolher
sabiamente. — Ele se recostou na cadeira. — Certifique-se de fazer a
pergunta com uma resposta com a qual poderá viver se o amanhã nunca
chegar.

— Sem pressão. — Passei meus dedos pelos meus cachos rebeldes,


minha mente subitamente vazia agora que tive a oportunidade de
encontrar peças no quebra-cabeça que, esperançosamente, me dariam
uma imagem mais clara de quem realmente era Saint. O que o aconteceu?
O que o fez odiar tanto o pai que permitiu que ele ditasse todos os seus
movimentos, todas as suas decisões?

Eu olhei para ele, seus olhos focados apenas em mim. — O que ele
fez? Que fez você odiá-lo tanto?

A expressão de Saint mudou de pedra para tons de diversão, como


se ele soubesse que essa seria minha primeira pergunta. Como se eu
tivesse caído em sua armadilha como ele sabia que eu faria.

Ele se levantou e passou a mão pelos cabelos desgrenhados. — Ele


mentiu.

— Sobre o que?

Saint levantou o dedo indicador. — Apenas uma pergunta.

— Mas isso dificilmente foi uma resposta. — Pus-me de pé. —


Certamente mereço uma resposta melhor que essa.
— Faça uma pergunta melhor da próxima vez, — ele respondeu
antes de se virar e caminhar em direção à porta. — Você deveria comer.
Vou providenciar que o café da manhã seja servido no convés.

— Eu não estou com fome.

Saint se virou, lançando um olhar endurecido em minha direção. —


Não aja como uma criança petulante. Eu te avisei para escolher
sabiamente. Você fez uma pergunta estúpida e eu lhe dei a resposta que
merecia.

— Você me deu a opção de escolher a pergunta que eu queria fazer.


Não cabe a você decidir se é estúpido ou não. Pode ser um jogo distorcido
pra você, mas garanto que não é pra mim.

— É isso que você acha? — Sua carranca escureceu em um olhar


ameaçador. — Você acha que isso é um jogo para mim? Que estou apenas
brincando? — Ele avançou, e eu instintivamente recuei. — Há mais de
uma década, planejo tudo isso – a ações Torres, meu pai, seu irmão...
você – e você acha que eu sou apenas, o que? Porra?

— Isso não foi o que eu quis dizer.

— Então o que você quis dizer, Mila? Hã? Que porra você está
dizendo?

— Eu não estava me referindo ao seu pai ou a essa maldita vingança


que você tem contra ele. Eu estava falando de mim. Sobre nós. Sobre o
que diabos está acontecendo entre nós.

Ele continuou em frente, forçando-me a recuar até minhas costas


baterem na parede. — E o que faz você pensar que algo está acontecendo
entre nós?

Desta vez, dei um passo em sua direção, em vez de me afastar,


encontrando seu olhar aguçado e postura intimidadora. — Você sabe tão
bem quanto eu que as linhas ficaram borradas, e está fodendo com sua
cabeça, porque agora você não sabe mais em que lado da linha você está.

Seu lábio superior levantou em um rosnado, como se ele quisesse


me separar, mas eu mantive minha cabeça erguida e me recusei a
permitir que ele me intimidasse ainda mais.

— Você está me dando chicotadas, Saint. É como se você fosse duas


pessoas diferentes. Alguém que não se importa com nada além desta
guerra que você está tendo com seu pai. — Eu me aproximei dele com
outro pequeno passo, mantendo meus olhos focados nos dele. — Então
há esse outro homem que parece querer se preocupar com algo que não
seja vingança. Um homem que quer proteger em vez de arruinar.

— Tem certeza de que não é apenas o que você quer ver? — Ele
inclinou a cabeça e tocou meu queixo. — Não é o ideal de toda mulher
querer um homem que troque as trevas pela luz? Um homem que
mudaria por amor?

— Quem disse algo sobre o amor?

Seu aperto no meu queixo se apertou abruptamente. Seu olhar


líquido deslizou para a minha boca, e ele mordeu o lábio inferior como se
estivesse faminto por me provar. Eu queria que ele me provasse. Eu
queria que ele me beijasse. Eu queria que ele pegasse o que quer que ele
quisesse de mim.

— Você quer me beijar, Saint? — Eu desafiei enquanto nós dois


oscilávamos no limite.

Ele lambeu os lábios.

— Você quer me provar? — Eu me levantei na ponta dos pés e trouxe


meus lábios a centímetros dos dele, meu coração batendo contra o meu
peito. — Você quer me punir de novo? Deixar-me insatisfeita?
— Não. — Seu lábio superior se curvou com aviso, mas seus olhos
escureceram de fome como se eu o tentasse. Seduzi-lo. O fez querer
perder o controle.

Eu levantei meu queixo e senti seu hálito quente nos meus lábios,
seu aperto ainda firme ao redor do meu queixo. — Você mudou. Eu posso
ver isso.

— Eu não tenho.

— Bem, algo tem. — Meu pulso disparou e minhas coxas se


apertaram. A maneira como ele olhou para mim, como se estivesse
olhando para sua própria ruína, me fez querer empurrá-lo ainda mais.
Eu queria que ele caísse. Eu queria que ele perdesse o controle, porque
eu estava prestes a cair e não queria cair sozinha. Eu precisava saber se
o que estava acontecendo entre nós era real, ou se eu simplesmente vivia
em alguma fantasia fodida onde a Síndrome de Estocolmo encontrava o
desespero.

— Posso garantir que não sou eu, — ele mordeu, mandíbula e


narinas dilatadas. Outros veriam raiva nas linhas de seu rosto. Mas vi
desejo selvagem e indomável. Algo que ele tentou lutar com cada
respiração.

Eu descansei minhas mãos em seu peito e pude sentir seu coração


disparar contra a minha palma. — Você pode tentar negar o quanto
quiser, mas eu não sou mais a garota que você sequestrou em Nova York.
Pelo menos não para você.

Ele me nivelou com seu olhar aguçado – uma mistura de um olhar


ameaçador e um olhar inebriante. Ele não respondeu, seu silêncio um
barulho ensurdecedor alimentando o ar sexual carregado que estalava
com antecipação. A atração entre nós aumentou, a tensão se esticou tão
malditamente fina que estava prestes a quebrar a qualquer segundo. Meu
corpo sentiu isso. Meus ossos estavam possuídos por isso. Por ele.
Um gemido deslizou pelos meus lábios abertos quando ele se
inclinou, sua boca quase tocando a minha. Nossas respirações aquecidas
colidiram, e arrepios de antecipação se espalharam pela minha espinha
e bateram contra o ápice das minhas coxas – meu núcleo se contraiu
quando meu corpo desejou ser consumido por ele.

Ele estendeu a mão e apertou os cachos na parte de trás da minha


cabeça, apertando e puxando, fazendo-me esticar o pescoço. Nossos
lábios se tocaram, mas não foi o suficiente para ser chamado de beijo. No
entanto, chamou mais choramingos da minha boca e exigiu rendição
completa do meu corpo.

Com um balanço sutil, ele roçou seu lábio inferior contra o meu –
uma única respiração era a única coisa que o impedia de me beijar. —
Não brinque comigo, Mila. — Sua voz era um rosnado baixo, uma onda
de ar aquecido. — Se você está certa, não tenho certeza de que lado da
linha estou, aconselho você a não me provocar. — Seu polegar arrastou
ao longo do meu lábio. — Não há nada mais perigoso do que um animal
que se encontra em território desconhecido.

Eu o estudei enquanto sua ameaça pairava no ar como fumaça


espessa pronta para sufocar. — Você quer dizer um animal vulnerável. —
Não era uma pergunta, e a maneira como seus olhos passaram de azul
para preto mostrou que ele não a considerava como tal.

O aperto que ele tinha no meu queixo se apertou um pouco mais,


seus lábios puxaram um rosnado quando uma guerra se enfureceu nas
profundezas de seus olhos. Sua mandíbula tremia e a veia em seu
pescoço pulsava de raiva. Ele mal estava se agarrando ao autocontrole e
o aviso formou meu couro cabeludo, mas eu me recusei a me esconder.
Estava na hora de desafiá-lo, fazê-lo enfrentar o que diabos isso era entre
nós.

Abruptamente, ele soltou meu rosto, minha pele queimando com a


mordida de seu aperto.
— Só vou dizer isso uma vez, — ele começou, sua expressão dura
como se fosse esculpida em granito. — Eu nunca vou parar esta guerra
contra meu pai até que eu derrame cada gota do seu sangue. E com
certeza não mudarei por nenhuma mulher maldita.

Saint virou as costas para mim e saiu do quarto. Eu queria correr


atrás dele. Eu queria gritar e gritar todas as coisas que ainda queria dizer
– questões que ainda precisavam ser abordadas. Mas talvez eu o tivesse
empurrado o suficiente por enquanto. A última vez que fui longe demais,
senti a ira de seu cinto e a crueldade de sua sedução que doíam muito
pior do que a mordida de couro.

Ele não fechou a porta atrás dele. Eu gentilmente o fechei e me


encostei na porta, minhas pontas dos dedos batendo na madeira escura.
Não importa o quão cruel ele fosse comigo, o quanto ele me intimidasse e
me ameaçasse, por algum motivo inexplicável, eu me sentia mais seguro
aqui do que com Raphael.

Por quê? Por que eu preferiria estar aqui com um homem que me
causou nada além de dor e sofrimento acima de estar com minha própria
família? Não fazia sentido.

Nada fez sentido.


7

Saint

ERA MEIO DIA e me disseram que Mila não tinha saído de seu quarto.
Ela não tinha tomado o café da manhã, nem pediu o almoço. A última
coisa que eu precisava era que essa mulher fizesse uma greve de fome.
Não que eu tivesse apetite. Eu estava preso no meu escritório passando
por detalhes de proteção com James.

— Eu ainda acho que levá-la de volta para Nova York é a opção mais
segura aqui. — James bateu o dedo no braço da cadeira. — Você sabe tão
bem quanto eu que aqui em Roma seu pai tem todos os meios necessários
para pôr as mãos nela.

Passei os dedos pela sombra de barba na minha mandíbula. — Eu


sei. Mas em Nova York ela se sentirá mais confiante em fugir de mim.

— Ela fugiu de você aqui em Roma, então não acho que a localização
tenha algo a ver com isso.

— Verdade. — Inclinei minha cabeça para trás e soltei um suspiro


de frustração. — Não era assim que deveria ser. Eu deveria me casar com
ela, colocar minhas mãos em suas ações e ferrar com meu pai. Mas tudo
está tão fodido agora.

— Por causa dela, ou por sua causa?

Eu olhei para ele com aviso. — O que diabos você quer dizer?
— Sejamos francos. Ela não é o tipo de mulher que você pensou que
seria. Ou melhor, a mulher quem você confiava que seria. — James
levantou o queixo. — Ela está fodendo com sua cabeça. Ela complicou
tudo, não é?

Normalmente, eu não teria sido gentil com o comentário de James.


Mas eu estava exausto demais para fingir que o que ele acabou de dizer
era um balde de besteira. James estava certo. Mila fodeu com minha
cabeça. Em algum lugar, de alguma forma, ela se tornou mais do que a
mulher que eu havia estudado no papel a partir dos relatórios que James
havia reunido nela. Ela era mais do que a garota mencionada em uma
carta anônima. Mila foi a garota que me prometeu. Meu direito de
nascença. A garota que nasceu para ser minha. O sangue em suas veias
me fez seu rei, mas eu nunca desejei ter uma rainha. Tudo o que eu
queria era corrigir os erros que meu pai havia cometido. Expor suas
mentiras e arruinar sua vida como ele destruiu a minha. Era isso que eu
queria. Era isso que eu ansiava por anos. Só isso. Nada mais.

Levantei-me do meu lugar e caminhei para ficar em frente à janela.


O oceano estava lindo hoje. Calmo. Sereno. Nem mesmo uma onda se
agitou no mar nivelado, os raios de sol refletindo em sua aparência
espelhada. Era exatamente o oposto do que diabos eu estava sentindo,
que tinha minha mente cambaleando e emoções torpedeando. Era um
caos absoluto dentro da minha cabeça, um caos de pensamentos que
conflitavam com tudo o que eu estava tentando alcançar.

Eu me virei para encará-lo. — Você está de olho em Raphael?

Ele assentiu. — O merda é tão ruim em manter um perfil baixo, que


ele provavelmente é a pessoa mais fácil de acompanhar.

— Você não tem ideia de como cheguei perto de plantar chumbo em


seu crânio. Só de pensar em Mila indo embora com ele... porra, eu queria
destruí-lo.
James se levantou e se juntou a mim enquanto nós dois olhávamos
o oceano. — Há muito sangue em suas mãos por causa dela.

— Sim. E tenho a sensação de que haverá mais. — Eu respirei fundo.


— De qualquer forma, temos certeza de que meu pai ainda não comprou
as ações de Raphael?

— Ele não o quer se não lhe der a maioria das ações. Com você
adicionando os dez por cento de Mila às suas ações e os outros cinco
ainda empatados, ele não está interessado.

— Ele sabe, — eu murmurei. — Meu pai conhece a versão mais


recente do testamento de Torres e a cláusula adicionada.

James permaneceu imperturbável. — Não importa se ele sabe. Ele


não pode fazer nada.

— Oh, mas ele pode. — Eu teci meus dedos juntos. — Ele ainda tem
Raphael ao seu lado.

— Mas Raphael é gay.

Eu bufei. — Ele ainda pode fazer isso, seja ele gay ou não. A questão
é: até que ponto esse filho da puta está disposto a ir para colocar as mãos
gananciosas no dinheiro do meu pai?

— Então você precisa fazer isso.

Eu olhei para o homem. — Tão fácil como isso?

— Tão fácil quanto isso. — Ele assentiu. — Se houver uma chance


de Raphael acelerar, então temos que garantir que você o derrote. É
simples.

Eu zombei e revirei os olhos. — Simples, você diz?


— Sim. Simples. Se bater em seu pai e descobrir a verdade ainda é
seu objetivo número um, não há dúvida sobre o que você precisa fazer
aqui.

O olhar aguçado de James e as sobrancelhas franzidas pintaram a


imagem de um homem sério. Um homem cuja única preocupação era
obter os resultados que queríamos – sem perguntas.

— Vou deixar esse tópico pairando sobre sua cabeça como um


caminhão de dez toneladas enquanto eu vou dar uma olhada no irmão
Torres mais novo, ver o que o pequeno filho da mãe está fazendo.

Eu vi quando ele saiu, fechando a porta atrás dele. O que James


sugeriu não era algo que nunca me passou pela cabeça. Na verdade, eu
pensei sobre isso muitas vezes. Ponderava a ideia desde que descobri
aquela cláusula extra no testamento do pai de Mila. Ele está irritando
minha espinha a cada maldito segundo.

Eu não era novo no mundo em que dinheiro significava poder, e


poder significava que você poderia fazer o que diabos você quisesse. Ir
para a cama à noite com sangue nas mãos e outro tijolo colocado no meu
caminho pavimentado para o inferno não era novidade para mim. Não foi
algo que me manteve acordado à noite. Mas isso - essa era uma linha
muito fina para atravessar, mesmo para um homem como eu. Isso
significava um nível totalmente novo de engano, e eu não tinha certeza se
era forte o suficiente para carregar esse fardo.
8

Mila

EU TOMEI BANHO e vesti uma calça confortável e uma camiseta dois


tamanhos grandes demais para mim. Algo me disse que essa nova adição
ao meu guarda-roupa de grife foi graças à pena de Elena. Estava bem
dobrado e colocado em cima da cômoda, fácil para eu identificar e
agradecer.

Enquanto secava os cabelos com uma toalha, sentei-me na cama e


olhei para a cadeira agora vazia em que Saint estava sentada quando
acordei naquela manhã. Normalmente, eu encontrava um homem me
vendo dormir assustador pra caralho. Mas Saint era tão bom em fazer
sua parte que até fez o rastejamento parecer atraente.

Eu bufei e soprei um cacho selvagem do meu rosto, em seguida, caí


no colchão. Meus pensamentos estavam por todo o lugar quando olhei do
teto para as paredes ao meu redor. Não faz muito tempo, eu odiava este
quarto, este iate, ele. Eu não queria nada além de me afastar dele e
acordar para que toda essa situação não passasse de um pesadelo. Mas
agora, enquanto eu estava lá em cima dos lençóis de seda, cercado por
sua riqueza, meu corpo ansiava por seu toque. Meu ódio que antes era
voltado para ele, agora se voltara para mim.

Eu odiava que de repente me senti confusa.

Eu odiava ter gostado do que senti quando ele me carregou no iate.


Eu odiava agora sentir a necessidade de decifrá-lo e descobrir seus
segredos, em vez de lutar para escapar dele.

Era assim que era fazer uma lavagem cerebral, ir para a cama
sentindo uma maneira e depois acordando sentindo algo completamente
diferente?

— Droga! — Enterrei meu rosto nas palmas das mãos.

— É assim que parece a confusão?

— Jesus. — Eu levantei e segurei meu peito enquanto olhava para


Elena. — Ninguém bate por aqui?

Ela sorriu e entrou, fechando a porta atrás de si. — Eu só queria


verificar e ver como você está.

Eu brinquei com a costura da minha camisa de grandes dimensões.


— Estou muito melhor, pois consigo respirar normalmente com essas
roupas. Obrigado.

— Pelo quê? — Ela inclinou uma sobrancelha.

— Pela calça e camiseta.

Ela olhou minhas roupas com uma careta de desaprovação


lentamente aparecendo em seu rosto. — Oh, querida Mila. Não tenho
certeza de quem lhes deu isso, — ela apontou primeiro para a meia-calça
e depois para a camisa com um leve desgosto — mas posso garantir que
não fui eu. De fato, se foi, alguém precisa ligar para o meu terapeuta,
porque eu claramente enlouqueci.

— Você não...

— Não. Definitivamente não.

— Então quem — mas eu descobri antes de terminar a frase. —


Saint.
Elena apertou os lábios, colocando a mão no quadril. — O que você
fez com o meu sobrinho? — Sua diversão ficou evidente no sorriso no
rosto.

Suspirei. — A melhor pergunta é o que seu sobrinho fez comigo.

O sorriso em seu rosto permaneceu quando ela se sentou no sofá


sob a janela da cabine, cruzando as pernas vagarosamente. — Sinto que
a dinâmica entre vocês dois mudou. Estou certo?

— Eu não sei como responder a isso. — Eu empurrei meu cabelo


para trás e passei meus dedos pelas pontas. — Nunca me senti tão
confusa. Nunca. Primeiro, ele é esse monstro total. Cruel. Brutal.
Impiedoso. E eu o odiei. — Eu olhei para o espaço aberto. — Mas então...

— Ele mudou?

Eu olhei para Elena. — Não. Eu acho que sim.

A revelação estava começando a ficar clara, mas eu não conseguia


entender. Como se minha mente não estivesse preparada para entender
algo tão complexo quanto o que eu estava sentindo.

— Ele matou meu amigo na minha frente. Ele me sequestrou, me


forçou a casar com ele. — Meu olhar caiu no chão, e eu não estava mais
conversando com Elena, mas tentando descobrir por mim mesma. — No
começo... seu toque queimava. Isso machucava. Eu queria ficar o mais
longe possível dele. Mas quando Saint veio atrás de mim, quando ele
segurou meu irmão na mira de uma arma depois de cortar a garganta de
algum guarda-costas. — Fechei os olhos com a lembrança e os abri para
olhar para Elena. — Eu queria ir com ele. Não porque eu estava com medo
ou medo dele, mas porquê... eu queria estar com ele.

A expressão de Elena não mudou, mas vi um brilho nos olhos dela,


como se ela soubesse disso o tempo todo.
Eu levantei e comecei a andar. — Que tipo de pessoa isso me faz?
Isso me deixa louca, o fato de eu querer ficar com um homem como Saint?
Um homem que não demonstrou qualidades redentoras, mas provou
repetidamente que idiota ele realmente é?

Elena riu, um delicado som de sofisticação. — Eu amo meu


sobrinho, mas sim, ele é um idiota na melhor das hipóteses.

Fiz uma pausa e atirei-lhe um olhar de soslaio. — E por que é tão


fácil falar com você como se eu a conhecesse a vida toda?

Seu sorriso era quente quando ela deu um tapinha no assento ao


lado dela no sofá. — Sente-se, Mila.

Eu me sentei ao lado dela, inclinei a cabeça para trás e cobri os olhos


com o braço. — Estou tão ferrada.

— Oh, pare. Não seja tão melodramático. Você só precisa aprender


como jogar suas cartas corretamente e quando jogá-las.

Virei o rosto na direção dela e estreitei os olhos. — O que você quer


dizer?

Seu sorriso tímido me deixou intrigada. — Homens como Saint, eles


prosperam no poder. No controle. Tudo isso — ela acenou com a mão no
ar — é sobre autoridade, influência. Quanto mais um homem domina,
mais testemunha sua própria supremacia...

— Quanto maior o ego deles fica?

— Quanto mais eles mantêm a guarda. Quanto mais pesada a


pressão, eles ficam no topo. — Ela se mexeu. — Agora, imagine que você
está no topo de uma guerra violenta sobre poder e dinheiro, sangue e
vingança. Você constantemente precisa cruzar as fronteiras, forçar os
limites da moral da sociedade, nunca se permitindo um momento em que
suas emoções humanas mais básicas possam virem à tona.
Eu me sentei, ouvindo atentamente cada palavra dela.

Ela afastou uma mecha loira de cabelo da bochecha. — O fardo se


torna um peso que você simplesmente não pode carregar sozinha, e você
começa a se sentir vulnerável porque não importa o quanto tente
combatê-lo, em algum momento a humanidade que pulsa em suas veias
o quebrará. — Elena estendeu a mão e colocou a mão na minha. — Agora,
imagine ter alguém com quem você possa compartilhar esse fardo.
Alguém que não irá julgá-lo quando você deixar a pele endurecida que
você é forçado a usar ao olhar o mundo nos olhos. Alguém que equilibra
sua vida e aceita a pessoa que você é na privacidade e nos limites do
quarto, mas que também o apoia quando você precisa enfrentar a guerra
lá fora. Alguém que está ao seu lado com equilíbrio e orgulho, e que
completa sua imagem mundana refletindo o poder que você trabalha tão
dificilmente para possuir. — Elena sorriu. — Um homem como Saint
precisa de uma mulher que se deleita com seu poder, Mila. Uma mulher
que brilha com confiança, como se tivesse sido tocada pelo próprio Deus
e fica ao seu lado, radiante de direitos, porque ele trabalhou duro para
que você pudesse.

Ela se recostou no banco, sem tirar os olhos de mim. — Seja essa


pessoa para Saint, e posso prometer que você terá mais poder sobre ele
do que você pode imaginar, e ele nem perceberá.

Eu empurrei meu cabelo para trás. — Então, o que você está dizendo
é que eu deveria me tornar…

— A mulher forte e confiante que merece estar ao seu lado. Você


precisa ser quem ele precisa que você seja, e eu juro que você nunca
encontrará um homem que cuide melhor de você. Mas primeiro... — Ela
se levantou e ajeitou a blusa. — Primeiro, você precisa cuidar dele. O
resto se seguirá.

Foi um daqueles momentos em que minha mente se desligou devido


à sobrecarga completa de informações. Eu estava tentando entender o
que Elena tinha acabado de dizer, tentando entender. Basicamente, ela
estava me dizendo para fazer o que Saint esperava de mim, para ser a
esposa-troféu perfeita, que era um mero acessório que complementava
sua imagem quando chegava aos olhos do público. Mas, sendo o que
Saint precisava que eu pudesse dizer, havia uma chance de ele acabar
sendo o que eu precisava que ele fosse.

Ouvi os calcanhares de Elena estalarem no chão e, pelo canto do


olho, vi-a pairando na frente do meu armário. Mas eu estava muito
ocupada remexendo meus pensamentos tentando envolver minha cabeça
em torno do que Elena tinha acabado de dizer.

— Isso serve.

Eu olhei para cima e Elena estava na minha frente segurando um


vestido vermelho brilhante, e eu fiz uma careta. — Por que estou prestes
a usar um vestido?

— Porque você vai se juntar a Saint para jantar no convés. — Ela


estendeu o vestido para mim. — E meu melhor amigo, Alexander
McQueen, também está convidado. — Seu sorriso tímido e olhos
castanhos radiantes me disseram que ela tinha algo na manga, algo que
incluía Saint, eu e um vestido vermelho com ombros de fora.

Eu me endireitei e olhei para ela desconfiada enquanto pegava o


vestido dela. — O que você está fazendo, Elena?

Ela encolheu os ombros. — Eu tenho um talento especial para dar


um pequeno empurrão quando é necessário.

— Uh-huh, com certeza se parece com isso. — Eu zombei e entrei no


banheiro, deixando a porta ligeiramente aberta. — Você já pensou no fato
de que, ao jogar de Cupido, você pode estar me empurrando para o fundo
do poço com os tubarões?

— Oh, posso garantir, não estou. As cartas nunca estiveram erradas.


Eu espiei pela borda da porta. — Quais cartas?

Elena girou para me encarar, o sol brilhando através da janela da


cabine irradiando o vestido branco na altura do joelho que ela usava. —
Cartas de tarô.

— Você lê cartas de tarô?

Ela assentiu, os lábios pressionados juntos.

Deslizei apressadamente o vestido, passando o tecido sobre os


quadris e saí. — E você acredita em tudo isso?

— Oh, Mila, essa cor é requintada contra a sua pele.

Olhei para o meu reflexo no espelho, o algodão vermelho e o tecido


de seda chiffon caindo vagarosamente pelas minhas curvas, a bainha
provocando a pele logo acima dos meus tornozelos. Elena andou atrás de
mim e gentilmente pegou meus cachos na mão, levantando para expor
meu pescoço.

— Eu acho que você vai usar seu cabelo preso esta noite. O decote
fora do ombro e os babados recortados estão gritando para ser o centro
das atenções. — Ela piscou amorosamente e endireitou o arco de uma
manga na altura do cotovelo no final. — Quando vi este vestido, sabia que
tinha que ser guardado para uma ocasião especial.

Olhei por cima do ombro para ela. — Qual é a ocasião especial?

Ela sorriu. — Isso ainda está para ser descoberto.

— Você gosta de falar em enigmas, não é?

— Não enigmas. Mas é melhor que algumas coisas sejam


descobertas quando chegar a hora certa, em vez de serem expostas
prematuramente.
Eu me virei quando Elena se sentou no sofá novamente. — Você
realmente acha que pode prever o futuro?

— As cartas?

— Sim.

Ela juntou as mãos na frente dela. — Não se trata de prever o futuro.


Trata-se de ver elementos passados, presentes e futuros que, no final,
podem determinar o destino do caminho em que você está atualmente.
Você já teve uma leitura?

— Não. — Eu me virei e olhei para o meu reflexo quando comecei a


brincar com meu cabelo, puxando os cachos para cima em um coque
bagunçado. — Eu sempre li sobre isso, vi nos filmes, mas nunca tive
nenhuma experiência com leituras de cartas. Acho que fiquei com muito
medo de ver o que o futuro me reserva.

Elena levantou-se e abriu uma caixa de cristal no armário, puxando


alguns grampos, e varreu os cachos desonestos, arrumando o coque com
o qual eu estava na metade do caminho. — É bom agir com cautela
quando não se está pronto para ouvir a verdade.

Nossos olhos se encontraram no espelho e eu engoli. — Você... você


fará uma leitura para mim?

Elena desviou o olhar e se ocupou com meu cabelo. — Talvez,


quando for a hora certa.

— E não é agora... por que exatamente?

Ela colocou o último alfinete no meu cabelo e deu um passo para


trás, admirando o resultado final. — Vamos nos concentrar em hoje à
noite por enquanto, ok?

Eu me virei para encará-la. — Eu sei o que você está fazendo, Elena.


Ela fingiu um olhar de inocência. — Mila, querida, não tenho ideia
do que você está insinuando.

Coloquei os sapatos pretos de Jimmy Choo nos pés. — Claro que


não. Você é apenas uma espectadora inocente em tudo isso.

— Que? Eu sou.

Eu estreitei meus olhos para ela e passei para fora da sala.

— Mila. — Ela me chamou e olhei por cima do ombro. — Lembre-se


do que eu te disse. Seja o reflexo de seu poder, sua confiança, e ele lhe
dará o que você precisa para prosperar.

— No momento, nem tenho certeza de que sei o que preciso.

— Você irá.

— Vamos torcer.

Fui em direção à saída do convés. Os nós dentro do meu estômago


me lembraram da sensação que tive quando fui ao meu primeiro
encontro. Eu saí da casa adotiva em que eu morava e andei três
quarteirões sozinha no escuro para encontrar esse cara em uma
lanchonete 24 horas que serviu a pior torta de nozes, mas que fazia um
milkshake de chocolate decente que eu terminei tendo por conta própria
desde que eu levei um bolo. Quando voltei para casa, duas horas depois,
paguei aquelas duas horas com uma estadia de duas noites em um
armário, onde fui forçada a mijar bem ali, onde estava sentada. O que
deveria ser uma das melhores noites da vida de uma jovem garota se
transformou em um daqueles momentos que eu gostaria de poder
compartimentar e esquecer que isso aconteceu.

Meus calcanhares estalaram quando entrei no deck de madeira, a


brisa suave do verão afastando o ar úmido do verão e dando as boas-
vindas à minha pele quente.
Eu olhei ao redor quando ouvi sua voz suave de barítono, a riqueza
de seu tom fazendo meu coração soluçar. — Estou aqui em cima.

Eu olhei para cima e o vi encostado na barreira no nível superior do


iate. Ele indicou as escadas em espiral à esquerda, e eu percebi que havia
passado semanas neste iate e nunca havia subido ao nível superior.

Meu pulso bateu como um tambor, enquanto mil asas de borboleta


disparavam uma onda de excitação, antecipação e uma rajada de
incerteza. Não havia motivo lógico para me sentir como me sentia, para
estar tão ansiosa pela noite que viria. Foi surreal como meu coração
disparou de medo por um tempo atrás por causa desse homem, e agora
estava disparando sem medo, como aconteceu na noite do meu primeiro
encontro. Uma parte de mim rezou para que não terminasse comigo
pagando caro por sentir apenas uma lasca de esperança.

Meus sapatos Jimmy Choo tocaram o convés superior, e meu


coração soluçou quando encontrei Saint em pé junto à barreira, vestindo
uma camisa azul clara de colarinho aberto que fazia a cor de seus olhos
estalar sob a luz da lua.

Com as mangas arregaçadas no braço, pude ver as veias grossas que


pulsavam com força. Músculos amarrados velavam sob uma pele
impecável. As calças azul marinho escuras perfeitamente ajustadas que
ele usava, repousavam nos quadris e me lembraram o V perfeito que se
escondia atrás daquele cinto, a parte do corpo que eu tinha visto quando
o tinha dentro da boca, me forçado a tomar cada centímetro do
comprimento dele. Alguém poderia pensar que a memória deveria me
enojar. Mas isso não aconteceu. Naquela época, vi o monstro, mas agora
vi o macho alfa clássico por excelência que se escondia atrás da máscara
de uma fera. Marcello Saint Russo foi o epítome da perfeição. A falta de
gravata e paletó não diminuiu a autoridade que ele irradiava. O domínio
completo rolou dele em ondas, e bateu contra todos os meus ossos. Era
perturbador como, com único olhar, meu corpo ansiava por obedecê-lo.
E enquanto ele se concentrava apenas em mim, flexionando os braços
enquanto tomava um gole da taça de champanhe na mão, era
dolorosamente óbvio que ele também a via. Minha atração por ele. Essa
atração surreal que senti por ele – o homem que já fora meu cruel captor,
e talvez ainda fosse. Mas se eu tivesse que ser honesta comigo mesma,
admitiria que não estava mais aqui porque fui forçada – mas porque
queria estar.

Seu olhar líquido arrastou-se pelo comprimento do meu corpo como


se estivesse me absorvendo. — Você está linda. — Seus olhos
encontraram os meus, e prendi a respiração quando ele se aproximou. —
Vermelho. Você deveria usá-lo com mais frequência. — Ele continuou em
minha direção e eu tinha certeza de que meu coração estava prestes a
sair do meu peito.

Respirei fundo quando ele parou a poucos centímetros de mim,


elevando-se sobre mim como uma montanha, esculpida em força e poder.
Majestoso. Seu cheiro familiar era sutil, mas forte o suficiente para fazer
minhas pernas enfraquecerem.

Ele estendeu a mão e arrastou os nós dos dedos para o lado do meu
pescoço, e eu tremi. — E como eu disse antes, adoro quando você prende
o cabelo. Combina com você. — Sua voz era suave, ousada e gotejava
sedução enquanto ele pronunciava cada palavra com clareza, seu forte
sotaque italiano me hipnotizando.

Por um momento, quando nossos olhares se encontraram, tive


certeza de que ele me beijaria. Meus lábios formigavam de antecipação,
meu corpo pronto para ser arrebatado pela besta. O monstro. Meu
marido.

A decepção me inundou quando ele arrancou seu toque da minha


pele. — Meu lindo segredo, agora minha linda esposa.

Suas palavras me lembraram como chegamos aqui, como acabamos


neste exato momento. — Você parece um marido apaixonado.
— Quem disse que não sou?

Eu levantei uma sobrancelha em descrença. — Champanhe demais?

Seu riso rico, porém modesto, reverberou através do meu núcleo. —


Venha, vamos aproveitar a noite que Elena havia planejado para nós.

Quando ele se virou e se afastou, uma mesa romântica posta para


dois foi revelada, e eu não pude deixar de sorrir. — Parece que sua tia
está tentando criar um romance.

— Essa é minha tia Elena. Uma velha romântica no coração. — Saint


puxou uma cadeira como um cavalheiro, e eu me sentei. Como se meu
coração não estivesse acelerado o suficiente, ele descansou as duas mãos
nos meus ombros nus, seu toque frio e acolhedor contra o calor da noite.

Ele se inclinou, os lábios roçando a curva da minha orelha. —


Vermelho se torna você, Mila. Seja a cor do seu vestido ou o tom da sua
pele queimando com a mordida do couro.

Respirei fundo e ele apertou meus ombros, atormentando minha


pele com seu toque antes de se afastar. Algumas semanas atrás, eu teria
dado um suspiro de alívio quando ele se afastou, mas não hoje à noite.
Esta noite, parecia diferente. Tóxico, mas viciante. Algo que eu desejava,
mesmo que isso me envenenasse.

Através do brilho da chama da vela, ele me deu um olhar conhecedor


e sorriu. — Você está corando, Mila.

— Você está jogando comigo.

— Quem disse que estou jogando? — Ele derramou um pouco de


champanhe na taça, e eu vi seus dedos experientes manusearem o cristal
delicado, bolhas formando pequenas imperfeições no lado do copo.
Quando ele colocou a taça sobre a mesa, seus olhos de safira
encontraram os meus, me prendendo na cadeira. — Mas se eu estivesse
jogando, você deveria saber que eu sempre ganho.
— Eu não tenho dúvidas.

O sorriso arrogante em seu rosto permaneceu, seus lábios carnudos


atraentes como sempre.

Ele relaxou em seu assento. — Você já pensou em qual pergunta me


fará amanhã?

— Eu não tenho ideia. — Coloquei um cacho perdido atrás da orelha.


— Acho que vou decidir o que perguntar no momento.

— E então você vai acabar desperdiçando outra pergunta como fez


hoje.

Dei de ombros. — Eu vou arriscar.

Saint colocou a mão sobre a mesa, passando a ponta dos dedos pela
faca de prata. — Se há uma coisa que você provou durante o nosso tempo
juntos, é que você gosta de correr riscos... não gosta, Mila?

Foi um desafio. Provocação. Uma armadilha em que eu queria cair.


Deus, isso era muito louco. Tudo isso. Eu ainda não tinha certeza de
como cheguei aqui, como passei de cativa presa que rezava por fuga para
uma cativa presa que apreciava os limites da prisão em que estava
trancada.

Peguei minha taça de champanhe. — Que tal acabarmos de jantar


sem insinuações ou temperamentos violentos?

— Não posso fazer promessas. Há algo em uma mulher italiana


perdendo a paciência, deixando escapar toda essa paixão, que deixa meu
pau duro. — Meus lábios se separaram e ele inclinou uma sobrancelha
arrogante. — Mas eu tentarei. — Ele levantou o copo, mas eu me recusei
a tocar e tomei um gole sem brindar de volta. O sorriso que permaneceu
em seu rosto era a prova de que ele esperava meu sutil ato de desafio.
Também mostrou sua diversão.
— Agora... — Ele removeu a cúpula de prata de uma grande bandeja
posicionada no meio da mesa. — Vamos ver o que há no cardápio, elogios
da minha tia e chef pessoal.

— Você pode parar de fazer isso.

Ele levantou uma sobrancelha em questão. — Fazer o que?

— Todas as suas pequenas observações, sugerem que você é rico e


intocável. Estou cercada por sua riqueza desde o momento em que você
me sequestrou. Na verdade, não vi nada além de dinheiro. A cobertura
em Nova York. Seu jato particular. Este iate. — Recostei-me e coloquei
minhas mãos no meu colo. — As roupas de grife que sua tia escolhe para
mim. Eu sei que você é rico, Saint. Sei que você é esse homem de negócios
poderoso, o solteiro mais qualificado da Itália.

— Era. — Ele concordou com um sorriso. — Eu era o solteiro mais


qualificado da Itália.

Eu zombei. — Você espera que eu acredite porque ambos os nossos


nomes aparecem em uma certidão de casamento que você
repentinamente eliminou seu status de solteiro como a pele de uma
cobra?

Seu sorriso desapareceu e ele colocou a cúpula de prata ao lado da


mesa. Eu não olhei para o prato na nossa frente, não me importando com
o que era para o jantar. Tudo o que importava era manter o olhar dele, e
não deixá-lo me intimidar e me esconder.

— Eu não espero que você acredite em nada. — Seu queixo ficou


tenso quando ele olhou para mim. — Mas espero que você fale comigo
com respeito. Também espero que você não estrague esta noite linda que
minha tia planejou para nós, não importa quais sejam suas intenções.

— Como a esposa Russo perfeita. — Não desviei o olhar, um


poderoso olhar entre caçador e presa. Mas eu me recusei a me esconder
ou mostrar medo. Eu queria que ele me olhasse nos olhos e visse cada
grama de luta renovada que eu possuía. A diferença era que desta vez eu
não usaria minha força para lutar contra ele, mas sim para manter minha
cabeça acima da água. Para ter certeza de que não me afogaria no mundo
em que Saint governava. Embora a dinâmica entre nós tenha mudado,
eu ainda não tinha certeza se podia confiar nele para me salvar se as
ondas quebrassem sobre mim e me derrubassem. No momento, a única
pessoa em quem eu confiava para ter meu melhor interesse era eu. Só
eu.

Fui eu quem quebrou o contato visual primeiro e olhei para o prato


de comida à nossa frente. Era uma variedade maravilhosa de queijos,
azeitonas, carnes curadas diferentes, bruschetta, figos, uvas e alguns
outros itens que eu não conhecia.

— Eu tenho que dizer, minha tia tem bom gosto. Nada como terminar
um dia quente de verão italiano com um prato antepasto e um copo de
Dom Pérignon. — Ele franziu a testa. — Mas parece que minha tia
esqueceu que você não come carne vermelha.

— Bem, tudo isso parece tão bom que posso tentar.

— Você sabe, isso é uma coisa que eu não sei sobre você. — Ele
sentou-se. — Por que você não come carne vermelha?

Tomei um gole do meu champanhe. — Estou surpresa que você não


saiba disso. Eu tinha certeza que você sabia tudo sobre mim, talvez meu
tipo sanguíneo também.

— A positivo.

Eu levantei uma sobrancelha. — Não pareça tão convencido.

— Conte-me.

— O quê?
— Por que você não come carne vermelha.

Desconfortável por ser o assunto da conversa, me mexi no assento e


limpei a garganta. — Você já sofreu tanto de ressaca que pensou que
morreria? Depois disso, fica enjoado sempre que pensa no álcool que
tomou naquela noite?

Saint não reagiu ou respondeu.

— É assim que me sinto com carne vermelha. Eu tinha onze anos e


tinha acabado de me mudar para uma nova família adotiva. Eles me
deram carne podre e fiquei doente por dias. — Passei meus dedos pela
haste do meu copo. — Depois disso, eu não aguentava mais comer carne
vermelha.

O silêncio se acalmou, e Saint apenas me estudou com seu olhar


intenso, como se pudesse ver a memória, alcançando os cantos mais
distantes da minha mente e experimentando-a por si mesmo. Era
irritante o quão vulnerável ele me fez sentir simplesmente olhando para
mim. Ele não precisava dizer uma palavra ou respirar. Tudo o que ele
tinha que fazer era olhar para mim.

Eu tinha certeza de que ele iria continuar a conversa, tentaria ir mais


fundo, mas ele não o fez. Ele simplesmente estendeu a mão para o prato
de comida. — Vamos começar com isso, então. Peito de pato e queijo de
cabra curados em uma fatia de bruschetta. — Ele encolheu os ombros.
— Podemos ir devagar e trabalhar até a finocchiona.

Eu não tinha ideia do que era finocchiona, mas o jeito que a palavra
rolou sobre sua língua, passando por seus lábios com seu sotaque já
sensual, me fez morder o interior da minha bochecha.

— Finocchiona é carne de porco, caso você esteja se perguntando.


— Seus olhos brilhavam com diversão, novamente como se ele pudesse
ler minha mente.
Saint se inclinou sobre a mesa entre nós e segurou a bruschetta na
mão, e por um segundo eu hesitei, nossos olhos fixos um no outro. Só foi
preciso um momento, e o ar entre nós engrossou, meu corpo cada vez
mais consciente do magnetismo animal dele me puxando para mais perto,
me seduzindo a cada segundo que passava.

— Continue... — Ele insistiu. — Tente.

Eu olhei para ele por mais um momento e me aproximei, abrindo


minha boca.

Saint recuou um centímetro e estreitou os olhos. — Morda, e eu


retribuirei o favor. Mas aviso justo, quando mordo, colho sangue.

— Ótimo. Então você é...

— Cale-se. — Ele aproximou a mão novamente. — Agora, prove.

A bruschetta tocou meus lábios, e eu abri, nunca tirando meus olhos


dos dele. Dei uma pequena mordida, a trituração de pão torrado o único
som entre nós. O sabor ousado do pato curado veio com força, mas o
sabor azedo e terroso do queijo criou um equilíbrio tão delicado que era
irresistível.

Engoli em seco, e seu olhar explorou minha garganta. A cor índigo


de sua íris escureceu, e eu dei outra mordida no pão que ele segurava na
mão. Não porque eu queria mais comida, mas porque queria que ele
continuasse me encarando como se estivesse faminto por um gosto. Um
gosto de mim.

Ele se recostou e colocou o pedaço de pão restante em sua boca,


atraindo toda a minha atenção para seus lábios. Isso me lembrou como
era tê-los contra a minha pele, sua língua lambendo minha carne quente.

Apertei minhas coxas e cruzei as pernas debaixo da mesa, o tecido


macio do meu vestido roçando contra a minha pele agora sensível.
Corada e ardente, tomei o último gole do meu champanhe. O gelo
tilintou quando Saint pegou a garrafa, enchendo meu copo como um
cavalheiro. Mas eu tinha aprendido da maneira mais difícil que Saint não
era um cavalheiro quando se tratava de pegar o que queria.

Ele colocou a garrafa de champanhe de volta no balde de gelo de


metal. — Você gosta disso?

Lambi meus lábios, o gosto de álcool e comida ainda persistindo na


minha língua. — Não tenho certeza. É bastante ousado. Forte. Diferente
de tudo que eu já provei antes. Mas não tenho certeza se é para mim.

— Um gosto adquirido, talvez?

— Talvez. — Engoli.

— Então você só faz o seu veredicto final depois de provar um pouco


mais. Quem sabe, você pode perceber que tem paladar para gostos
únicos, em vez dos sabores mundanos aos quais está acostumado.

Não era necessário um diploma para saber que não estávamos mais
falando de pão ou aves italianas. A fome que refletia em seus olhos não
era pela comida oferecida para nós. E se eu fosse completamente honesta
comigo mesma, admitiria que o desejo que queimava dentro de mim
também não era uma necessidade alimentar.

O ar ao nosso redor era palpável, carregado de desejo tóxico que


penetrava em meus ossos. O silêncio ficou mais alto, ensurdecedor, meus
pulmões lutando para inspirar fundo o suficiente. O calor se espalhou
das minhas bochechas, na parte de trás do meu pescoço, e uma única
gota de suor escorreu pelas minhas omoplatas. O calor do verão se fundiu
com a chama da antecipação que Saint tão habilmente iluminou em meu
âmago. Não havia necessidade dele me tocar. Tudo o que ele precisava
fazer era sentar-se ali, me encarando com um tipo de fome tão forte que
provocava um apetite que levaria a um excesso de indulgência.
— O que você está pensando, Mila?

Pela primeira vez, consegui quebrar o contato visual. — Nada.

— Mentirosa.

— Pare de tentar entrar na minha cabeça.

Ele sorriu. — Isso é algo que nunca vou parar de fazer. Sua mente é
um lugar interessante.

— Como assim?

— Há uma guerra feroz dentro dessa sua cabeça, Mila. — Ele


inclinou a cabeça para o lado, o brilho da chama da vela projetando
sombras em seu rosto sob o céu noturno. — E eu, mal posso esperar para
ver quem vencerá. Sua mente... ou seu corpo.

Engoli em seco e peguei o champanhe, tomando alguns goles, depois


decidi que precisava de toda a maldita taça para tentar ignorar a maneira
como ele me afetava. As chamas estavam prestes a consumir minha força
como se fosse oxigênio, queimando mais forte, mais feroz, e foi apenas
uma questão de tempo até que eu me transformasse em cinzas. Eu não
sabia como parar isso. Eu não sabia se queria parar com isso.

Saint ficou de pé e eu assisti sem pestanejar enquanto ele se movia


em meu caminho, cheirando a confiança e certeza. — A tentação por si
só é uma coisa poderosa. Emparelhado com a escuridão, é uma força a
ser reconhecida. Imparável.

Seu perfume me envolveu no segundo em que ele parou ao meu lado


e se inclinou, trazendo sua bochecha para a minha, a barba por fazer
roçando na minha pele. Fechei os olhos e exalei, uma corrente de ar
quente passando pelos meus lábios molhados.
— Diga-me, Mila. Eu sou o Deus que ajuda você a derrotar a
tentação, ou o diabo que a força a ajoelhar-se... pouco antes de você
sucumbir?

Mordi meu lábio, meu corpo agora um inferno furioso de impulsos


sexuais que queimavam mais com cada palavra que ele falava no meu
ouvido.

Ele arrastou um dedo por cima do meu ombro nu, traçando-o


lentamente na lateral do meu pescoço, deixando um rastro de carne
quente em seu rastro. Uma única ponta do dedo percorreu minha
garganta e estiquei o pescoço para trás, incapaz de me impedir de me
render.

— Essa coisa entre nós, Mila, é mais forte do que você imagina. —
Sua mão pousou no meu pescoço, seus dedos aumentando a pressão na
minha garganta. — Já foi provado tantas vezes que essa atração entre
nós é inegável. Imparável. — Ele apertou mais. — E aqui está um pequeno
segredo para você. — Seus lábios tocaram meu lóbulo da orelha e arrepios
percorreram meu corpo. — Eu posso ser um homem poderoso. Um
homem que pode mentir, manipular e matar para conseguir o que quer.
— Sua mão escorregou da minha garganta e viajou pelo meu peito,
passando por dentro do meu vestido para segurar suavemente meu peito.
Eu respirei fundo que não alcançou meus pulmões. — Mas quando se
trata de você, sou impotente contra a luxúria que me consome quando
você me olha com aqueles inocentes olhos de corça. Incapaz de ignorar
seu pedido de libertação que permanece silenciosamente em seus lábios.
— A mão dele apertou.

Saint passou os lábios quentes contra minha pele aquecida abaixo


do lóbulo da orelha. — Eu deveria te odiar por se tornar minha fraqueza.
E provavelmente teria se não fosse tão fodidamente viciado na euforia que
me destrói toda vez que te fodo.
Incapaz de me mover ou respirar, permaneci congelada, cativa ao
seu toque, suas palavras, sua mera presença. — Saint.

Sua mão escorregou e avidamente se moveu para o meu quadril, me


fazendo enrijecer. Não porque eu não queria que ele me tocasse. Porque
meu corpo se transformou em nada além de sensação, ondas de luxúria
vagarosas se movendo através de mim, como o oceano provocando a areia
apenas beijando a costa.

— Vou te contar uma coisa. — Ele começou, seus dedos puxando o


tecido do meu vestido, revelando lentamente minhas pernas enquanto ele
continuava juntando o material vermelho em seu punho. — Eu serei
generoso esta noite. Vou deixar você decidir. — Seus lábios brincaram ao
longo da minha mandíbula, e meu corpo já estava na borda, esperando
para tombar. — Você quer que eu seja misericordioso e permita que você
se retire para o seu quarto sem levá-la? — A barra do meu vestido chegou
ao meu quadril, minha coxa exposta à brisa fresca do verão, e eu
choraminguei enquanto seus dedos serpenteavam dentro da minha
calcinha. — Ou você quer que eu seja o monstro que você e eu sabemos
que sou e fodo minha esposa bonita e desafiadora?

Um único dedo deslizou através da minha fenda, e eu o ouvi inalar


bruscamente quando ele sentiu o quanto eu estava pronta para ele. Deus,
eu estava tão cansada de lutar contra isso. Estar constantemente em
desacordo comigo mesma, tentando combater o desejo que me possuía
sempre que ele estava tão perto. Ser capaz de ceder e aceitar o que diabos
isso estava entre nós seria libertador. A queda do pecado.
9

Mila

EU ROLEI minha cabeça para o lado enquanto seus lábios


continuavam a beijar esquentando a minha pele, até que eu me levantei,
sua mão rasgando minha calcinha e o vestido caindo nas minhas pernas.
— Isso é muito cansativo.

Ele sorriu, como um demônio que sabia que a vitória estava a poucos
minutos de distância. — O que é?

— Isto. Você. Nós. — Eu me aproximei até que meu peito estava


contra o dele, meu pescoço esticado para que eu pudesse olhá-lo nos
olhos. — Estou cansada de lutar contra isso, uma batalha que você e eu
sabemos que já se perdeu.

— E que batalha é essa? — Suas mãos estavam nos meus quadris,


ocupadas enrolando o tecido nas laterais das minhas coxas.

— Como você disse, a batalha entre minha mente e meu corpo. É


uma batalha que perdi tantas vezes, e está ficando cansativo tentar
manter o equilíbrio ao seu redor quando a verdade é que nunca vencerei.
É como levar uma faca para um tiroteio.

Eu coloquei minhas mãos em seu peito, sentindo o ritmo de seus


batimentos cardíacos contra a palma da minha mão, e seus dedos
entrelaçados nas laterais da minha calcinha, a brisa do verão beijando
minhas pernas nuas.
— Você está dizendo que está voluntariamente sucumbindo às
demandas do seu marido?

— Por enquanto. — Eu sussurrei, e ele sacudiu seu pulso, minha


calcinha deslizando para o chão, juntando-se em volta dos meus pés. —
Mas as leis da guerra podem mudar a qualquer momento. — Minhas
mãos exploraram sua frente, dedos ansiosos trabalhando para desafivelar
seu cinto. O som de seu zíper cortou o momento de silêncio, e eu deslizei
minha mão dentro de suas calças, observando seus olhos escurecerem,
sua boca ligeiramente entreaberta enquanto eu envolvia meus dedos em
volta do comprimento do seu pênis. — E quando o fizer, me prometa que
possa ser compassivo.

— Oh, querida, doce Mila. A única maneira de as regras da guerra


mudarem é quando digo que sim. Você não. — Abruptamente, Saint
cruzou os braços em volta da minha cintura e me levantou, avançando
lentamente enquanto seus olhos nunca saíam dos meus. Minhas pernas
envolveram sua cintura, e teci meus dedos por seus cabelos, braços
descansando em seus ombros, o calor de seu corpo penetrando no meu.

— Nunca cometa o erro de esquecer quem está no controle aqui,


Mila. — A borda da barreira de aço inoxidável pressionou contra minha
bunda, seu braço serpenteando até minhas costas enquanto ele me
segurava. Por um segundo, olhei para trás e o medo entrou em mim,
torcendo meu interior enquanto observava as ondas turbulentas baterem
contra o lado do iate, a escuridão pintando as ondulações com apenas o
brilho da luz da lua destacando a maré. Instintivamente, apertei meu
aperto em seu pescoço. Se ele me soltasse, nada me impediria de
mergulhar nas profundezas do oceano. Ninguém seria capaz de me
salvar.

— Saint, o que você está fazendo?

— Qual a melhor maneira de mostrar quem está no controle do que


colocar sua vida em minhas mãos? — Com um braço em volta de mim,
ele se posicionou entre as minhas pernas. — Uma esposa deve confiar no
marido.

— Um marido não deve arriscar a vida de sua esposa. — Eu rebati.

— Você precisa confiar em mim, Mila. — Ele se abaixou entre nós, e


a ponta de seu pau cutucou minha entrada, acendendo um desejo
renovado que lentamente sufocou o medo de sentar em uma borda, a um
passo de mergulhar no oceano. — Você pode fazer isso? — Olhos de safira
perfuraram os meus, a escuridão de sua fome carnal projetando sombras
em todos os seus traços.

Ele levou seus lábios aos meus, levemente separados, prontos para
me consumir com uma ganância alimentada por uma luxúria forte o
suficiente para sufocar todo ato racional, todo pensamento lógico. Nada
sobre esse momento, sobre nós, jamais fora racional ou lógico. Era
imprudente, tolo e coberto de loucura. Mas nunca me senti tão viva como
naquele momento.

O medo diminuiu quando ele colocou seu pênis dentro de mim,


enchendo meu corpo até a borda e afugentando todas as minhas
inibições.

Inclinei minha testa contra a dele e soltei um suspiro trêmulo ao


mesmo tempo que ele exalava. Uma mão deslizou pela minha espinha,
dedos agarrando a parte de trás do meu pescoço enquanto ele passava a
outra pela minha cintura. — Como se sente, Mila? Saber que eu poderia
te soltar a qualquer momento, mas você não se importa, porque tudo que
você quer, todo seu corpo quer agora, neste exato momento, é o prazer
que só eu posso lhe dar?

— Você é louco. — Eu murmurei sem fôlego, seu pau deslizando para


fora de mim e de volta.
— Eu sou? — Abruptamente, ele bateu seus lábios nos meus e me
beijou como se ele estivesse sentado na beira da barreira, como se fosse
ele quem morreria se não me provasse. Devaste-me. Devore-me.

Sua língua varreu minha boca como um furacão – seu gosto se


misturou com o meu para formar nossa própria marca de heroína. Uma
droga que só nós poderíamos usar. Intoxicada e bêbada de desejo, eu
agarrei seu couro cabeludo enquanto o beijava de volta com igual vigor.
A brisa do verão ficou mais forte, um vento que cortou em torno de nós,
como se pudesse sentir a energia que subiu do meu corpo para o dele.
Ondas de eletricidade que estalavam tão alto que abafavam o som da
cautela. Tudo o que ouvi foi o barulho do meu coração descontrolado e a
melodia imunda que tocava em nossos lábios.

Saint avançou de volta, seu pau ainda enterrado até o punho dentro
de mim. — Você diz que eu sou louco, mas é você quem está sentada em
uma borda desejando meu pau mais do que deseja seu próximo suspiro.

— Um pecado carnal que provavelmente pagarei caro indo para o


inferno.

— O diabo precisa tirar você de mim primeiro. — Seus quadris


flexionaram, e ele mergulhou duro em mim, minha bunda se afastando
ainda mais da borda. Mas eu não me importei. As ondas de crista branca
abaixo de nós foram esquecidas há muito tempo. A única coisa que
importava era tão alto que estávamos. O êxtase. Esse sentimento de
invencibilidade enquanto nossos corpos se fundiam como um.

Foi louco. Eu era louca, mas por Deus eu confiava nele. Naquele
momento de êxtase, confiei nele com minha vida. Uma confiança cega que
me fez ousada, confiante, corajosa... irracional.

Soltei-o e deixei cair meus braços para os lados, envolvendo os dedos


em volta da borda. Um gemido escorregou dos meus lábios quando ele
empurrou entre as minhas pernas e apertou atrás do meu pescoço. Ele
estendeu a mão com o outro braço e seus dedos rasgaram meu vestido,
puxando o tecido para baixo para expor meus seios, o ar salgado
dançando através da minha pele nua.

— Jesus, Mila. — Ele murmurou enquanto eu me recostava,


arqueando meu corpo e esticando o pescoço. A única coisa que me
impediu de cair foi o aperto instável que eu tinha na borda e seu braço
forte serpenteou pelas minhas costas.

— Você queria que eu confiasse em você. — Eu respirei. — Esta sou


eu confiando em você.

Eu apertei minhas coxas, apertando-o com força entre as minhas


pernas. Um gemido gutural rasgou sua garganta, e ele se abaixou,
levando meu mamilo endurecido em sua boca, puxando, chupando,
lambendo, devorando. Ele manteve um ritmo constante, revirando os
quadris a cada impulso. Se ele perdesse o controle, se cedesse ao frenesi
que ameaçava consumi-lo, ele perderia o controle e eu tombaria. Mas ele
estava certo, eu me importava mais com o prazer que sabia que ele
poderia me dar do que com a respiração que poderia ser a minha última.

Sua língua provocou a ponta do meu mamilo antes que deslizasse


entre meus lábios. Seu impulso rítmico nunca vacilou, minha excitação
facilitando seu pênis entrar e sair de mim. Meu corpo havia se
acostumado a ele, se ajustado a ele como se finalmente tivesse
encontrado aquele a quem pertencia.

Eu queria me recostar mais, subitamente viciada na emoção e em


como a adrenalina aumentou meus sentidos, intensificando todas as
sensações que me possuíam. Mas Saint rosnou e xingou antes de agarrar
meu braço e me puxar para cima, os dois braços enrolados firmemente
em volta da minha cintura.

Com meu corpo contra o dele, passei meus braços em volta de seu
pescoço, suas respirações quentes e difíceis beijando a pele sensível do
meu pescoço. — Você é veneno, Mila.
— No entanto, sou eu quem está morrendo lentamente.

Ele agarrou meu cabelo e puxou minha cabeça para trás, seus
dentes roçando na minha garganta. — Eu vou caçar você mesmo na
morte.

Seus impulsos se tornaram mais fortes, mais duros, mais profundos.


Meus gemidos se transformaram em gritos, criando um soneto de caos
junto com o som das ondas abaixo de nós.

Saint alcançou entre nós, e eu gritei no segundo em que ele tocou


meu clitóris, pressionando com força, me dando o último empurrão que
eu precisava para alcançar o crescente desejo que eu ansiava desde que
subi aquelas malditas escadas.

Meu corpo entrou em erupção, cada músculo esticado quando o


orgasmo que ele fodeu em mim ameaçou me despedaçar. Seus dedos
morderam meus lados, e ele enterrou o rosto no meu pescoço, xingando
quando gozou, derramando seu clímax dentro de mim.

Depois de um impulso final, ele me puxou da borda, e nós dois


caímos, gastamos, nossas respirações altas e rápidas. Meu coração
estava batendo como um tambor, um eco de exaustão e adrenalina
misturados em um êxtase que eu nunca havia experimentado antes.

Eu ainda estava tentando recuperar o fôlego quando seus braços me


pegaram em cativeiro e me puxaram para perto, peito contra peito, para
que nossos corações batessem como um. Com as costas contra a barreira,
Saint me colocou no colo e me embalou em seus braços. O momento foi
poderoso o suficiente para parar o tempo, o momento em que Marcello
Saint Russo me mostrou mais carinho do que nunca. Os braços dele não
se uniram. Não apertou ou prendeu. Mesmo que ele me segurasse forte,
não era por causa de sua força física. Foi desespero. Como se ele tentasse
me esconder, tentando me impedir de escapar de suas mãos. Por um
segundo, eu não tinha certeza se estava apenas chapada de foder no
limite – literalmente – e se isso estava realmente acontecendo. Seria
possível que as paredes geladas de pedra que constantemente rodeavam
Saint começassem a desmoronar? Tijolo por tijolo. Peça por peça?

Nós não falamos. Nós não nos mexemos. Ficamos ali sentados pelo
que pareceram horas, mas pareciam segundos. Tempo aproveitado. As
circunstâncias desapareceram. E tudo o que restava era nós. Duas
pessoas sob um manto de estrelas onde o mundo ao nosso redor não
existia mais.

Saint passou a mão para cima e para baixo no meu braço e depois
olhou para o seu Rolex. — São duas da manhã. Novo dia. Nova pergunta.

— Não tenho certeza se quero perguntar algo agora.

— Por que não?

Eu levantei meu rosto para olhá-lo nos olhos. — Eu não quero


estragar isso. — Eu aninhei meu rosto contra seu ombro, ainda em
segurança em seus braços. — Este é o momento mais normal que tive
com você. E se isso é real ou não, por enquanto eu escolho acreditar que
é. Isso me dará forças para enfrentar o que quer que o amanhã traga. —
Eu pressionei meu corpo com mais força contra o dele. — Qualquer que
seja seu próximo passo.

— O que faz você pensar que eu tenho um próximo passo?

— Você é Marcello Saint Russo. Você sempre tem um próximo passo.

Ele soltou um risinho baixo e um resmungado que reverberou em


seu peito. — Parece que você está começando a me descobrir.

Eu olhei para ele debaixo dos meus cílios. — Não é isso que uma
esposa deve fazer? Saber mais sobre o marido para que ela saiba como
apoiá-lo melhor?

Nossos olhares travaram, seus olhos não eram mais um oceano


tempestuoso, mas um céu azul calmo. Foi a primeira vez que o vi me
olhar dessa maneira – como se eu não fosse mais algo que ele queria usar,
mas algo que ele queria proteger. Era irritante como um simples olhar
compartilhado entre nós poderia encher minha barriga com mil asas
agitadas de borboletas que foram mantidas prisioneiras dentro de mim.

Ele inclinou a cabeça e afastou um cacho da minha bochecha, seus


dedos tão gentis quanto a brisa. — Você confia em mim?

— Não. — Respondi sem hesitar. — Mas, por alguma razão, confio


no que estou sentindo quando estou com você.

— E o que é isso?

Estendi a mão e segurei sua bochecha, e seus lábios se separaram


do meu toque. — Eu ainda não tenho certeza. Mas seja o que for, está me
fazendo respirar mais fácil.

Ele colocou a mão sobre a minha. — Só existe uma maneira de um


anjo perder as asas... e é confiar no diabo.

— Felizmente, eu não sou um anjo. — Inclinei minha cabeça no


ombro dele. — Pelo menos não mais.

O silêncio se instalou mais uma vez, mas desta vez eu pude ouvir as
batidas constantes de seu coração. Foi surpreendentemente
reconfortante. Como os batimentos cardíacos do diabo podiam ser tão
calmantes, como se meu caos o desejasse? Seria possível que houvesse
uma escuridão em mim o tempo todo, uma sombra que finalmente
encontrasse o fantasma ao qual precisava se agarrar para prosperar?

Envolto por seu calor e fechada por seus braços fortes, minhas
pálpebras ficaram pesadas. A batida rítmica das ondas, a brisa fresca que
beijou minha pele e o belo som de seu coração enegrecido me
apaziguaram, e eu gentilmente deslizei da consciência para um sono
tranquilo.

— Saint?
— Sim. — Seus dedos acariciaram meu braço nu.

— Podemos ficar aqui? — Eu me aninhei mais fundo nele. — Só essa


noite.

Ele respirou fundo e suspirou. — OK. — Seus lábios roçaram meu


cabelo. — Só essa noite.
10

Saint

ELA ESTAVA DORMINDO contra o meu peito por horas e em nenhum


momento fechei os olhos nem uma vez. Como música, eu não queria
perder nada. Eu não queria perder um segundo de como sua beleza
irradiava enquanto ela dormia tão pacificamente. Quem saberia que
quando tudo isso começou eu estaria sentado aqui, peito a peito com a
garota Torres nos braços? Eu com certeza nunca poderia imaginar que
seria onde nós acabaríamos, que essa mulher iria foder com a minha
cabeça e me fazer questionar tudo. Milana Torres não deveria ser senão
um peão, mas aqui estava ela – o belo rosto de uma complicação que um
homem como eu não podia pagar. Mas agora, neste momento, parecia
que eu estava disposto a pagar qualquer preço, sacrificar tudo se isso
significasse que ela ficaria comigo. Todo momento, todo segundo que
passava.

Sua respiração suave e rítmica me acalmou, e eu amei tê-la em meus


braços, como ela se aconchegou contra mim, seus belos lábios levemente
separados enquanto ela dormia. Como um anjo, ela me hipnotizou, me
fez ver as coisas sob uma luz diferente. Por horas, fiquei ali sentado,
pensando como seria possível que ela mudasse os últimos vinte anos da
minha vida dentro de semanas. Eu fui de forte em vingança para fraco
em amor – ou seja lá o que diabos eu senti por essa mulher.
Provavelmente não era amor. Um homem como eu não era capaz de amar,
mas eu sabia que o que estava sentindo era o mais próximo que já havia
chegado disso. A questão era... eu deixaria isso continuar me
enfraquecendo? Ou lutaria contra isso para recuperar o poder pelo qual
trabalhei tanto – poder destruir meu pai e o mal que ele trouxera em
minha vida? Tudo o que meu pai tocou ficou preto.

Eu olhei para ela e tirei um cacho de seu rosto.

E se eu tivesse o mesmo toque tóxico que meu pai? E se eu apenas


a tivesse corrompido em vez de proteger?

— Não.

Eu olhei para tia Elena, que estava parada junto à escada,


segurando sua camisola de seda preta, cabelos caindo em cascata pelos
ombros. — Não deixe a memória de seu pai e o que aconteceu com sua
mãe envenenar o que você está sentindo por ela.

Instintivamente, meu aperto em torno de Mila se apertou, sua


respiração profunda me tranquilizando, dizendo que ela ainda estava
dormindo profundamente. — Como não posso? O mesmo sangue tóxico
que flui pelas veias de meu pai pulsa pelas minhas.

— A alma de um homem não está em seu sangue, e sua alma não é


como a de seu pai.

— Eu já matei antes. — Eu olhei para ela. — Eu fiz mais coisas


erradas do que certas na minha vida.

— Por causa do seu pai, sim. Não por causa de quem você é.

— Então por que eu gosto? — Eu desafiei. — Por que eu gosto de


matar? Por que derramar sangue e extrair vingança me faz sentir
invencível com uma pressa que nenhuma droga pode me dar?

Elena se aproximou, segurando a camisola no peito. — Porque


domina sua dor. Faz você sentir algo diferente de ódio e tristeza... assim
como ela. — Ela olhou para Mila. — Ela faz você sentir algo que sufoca a
dor... não é?
Apertei minha mandíbula e desviei o olhar para o brilho dos raios
solares que começaram a aparecer no fim do oceano.

— Admita, Marcello — insistiu Elena, mantendo a voz baixa para


não perturbar Mila. — Você está sentindo algo por esta garota, algo que
é muito mais assustador do que o que está alimentando sua necessidade
de vingança contra seu pai.

— Este não era o plano. — A raiva aumentou como sempre acontecia


quando o assunto do meu pai era discutido. — Ela não deveria ser nada
além de um peão.

— No entanto, ela não é. Olhe para ela. Ela está dormindo nos seus
braços, Marcello. Acho que nunca a vi parecer tão pacífica. E eu
definitivamente nunca te vi tão dividido, tão conflituoso. Isso significa que
há algo. Há algo aqui, entre vocês dois.

— O que você está tentando dizer, tia Elena? — Eu rebati e olhei


para baixo para ter certeza de que não havia perturbado Mila, que se
mexeu levemente, aninhando-se mais profundamente nos meus braços.

Elena virou-se para as escadas e olhou na minha direção. — Estou


dizendo que chegará o dia em que você precisará tomar uma decisão.
Continue a travar essa guerra contra seu pai... ou ela. Você não pode ter
os dois. Não com uma garota como ela.

O aviso caiu sobre mim como um véu, uma nuvem escura e


estrondosa que ameaçava abrir os portões do inferno. Eu senti, a
sensação de pressentimento que seguiu as palavras de Elena enquanto
ela se afastava. A verdade era que Elena não me disse nada que eu já não
soubesse. Eu sabia que Mila era diferente no dia em que plantei chumbo
no crânio de Brad. Se ela fosse qualquer outra mulher, ela teria
desmoronado. Ela teria feito qualquer coisa e tudo o que eu disse a ela
para fazer por medo. Mas não Mila. Ela me desafiava em todas as
oportunidades com um fogo que queimava em seus olhos escuros. Foi
esse fogo que me intrigou, me fez fazer as coisas de maneira diferente do
que eu havia planejado. E olhe agora. Aqui estávamos nós, e ela estava
dormindo como um anjo maldito em meus braços ao amanhecer, como
se fôssemos amantes vivendo em um mundo próprio. Mas nós não
estávamos. Este era o meu mundo. Este foi o meu inferno.

Inclinei minha cabeça para trás e olhei para o oceano à nossa frente.
Ontem à noite tocou repetidamente na minha cabeça. Piscando. Imagens.
Como o luar dançava em sua pele. Como ela se rendeu a tudo,
depositando sua confiança em mim, inclinando-se sobre a borda com
nada além de meu braço em volta da sua cintura, impedindo-a de cair.
Era assustador, mas fodidamente bonito. Minhas bolas enterradas
profundamente dentro dela, não era minha busca por prazer que me
consumia. Não era a luxúria que queimava em minhas veias que me
alimentava. Era ela. Milana Katarina Torres. A mulher que me mostrou a
mais fraca, a mais vulnerável. Eu. O monstro que a arrancou de seu
mundo. O diabo que a arrastou pelo inferno sem pensar duas vezes em
como as chamas a queimavam.

Um bastardo egoísta.

Aquele era quem eu era. Todo o poder e dinheiro do mundo não


poderia ter me feito um homem melhor. Só foi preciso ela – uma órfã –
para me fazer querer melhorar. Mas como? Como eu passei de um homem
que estava obcecado por vingança por tanto tempo para um homem cujo
único objetivo era proteger o que era mais precioso para ele?

Mila se mexeu, acariciando sua bochecha contra o meu peito. Peguei


a mão dela e abaixei meus lábios para beijá-la como um amante
carinhoso. Um homem que silenciosamente prometeu fazer o que fosse
necessário para manter sua esposa segura.

Eu gentilmente me movi embaixo dela quando toquei sua bochecha.


— Mila. É hora de acordar.

Os gemidos que rolaram de seus lábios me fizeram querer beijá-la.


Eu queria reivindicar sua boca e nunca parar.
— Mila. — Coloquei minha mão sob seu queixo, tocando seu lábio
inferior com a ponta do meu polegar. — Acorde, segreto.

Ela levantou a cabeça e abriu os olhos. Vi o momento em que ela


percebeu onde estava, lembrando o que tinha acontecido. Suas
bochechas coraram com o tom mais radiante de rosa, seus olhos escuros
e bonitos.

— Nós dormimos aqui? — Ela pareceu surpresa.

Dei de ombros. — Era isso que você queria, não era?

— Sim, mas... — Ela passou a mão pelo cabelo. — Eu só... eu não


pensei...

— Você não achou que eu faria isso. — Não foi uma pergunta.

Sua língua disparou e lambeu os lábios. — Bem, não.

Eu sorri. Não fiquei nem um pouco surpresa com a confusão dela.


Eu tinha sido um idiota com ela por tanto tempo, ela não esperava nada
melhor.

Eu me levantei e estendi a mão para ela, ajudando-a a se levantar,


em seguida, segurei seu queixo enquanto eu levantei seu rosto para o
meu. — Ontem à noite, você me mostrou que confiava em mim com sua
vida. Preciso saber se você ainda sente o mesmo, ou se era apenas...

— Eu faço.

Não houve hesitação em sua resposta, e eu vi a convicção em seus


olhos enquanto ela olhava para mim.

— Eu ainda confio em você, Saint.

Foi um daqueles momentos que eu não tinha controle. Um daqueles


momentos em que, por mais que tentasse, não conseguia parar de
acontecer. Um momento que eu selei com um beijo, colocando meus
lábios ternamente nos dela. Não foi alimentado por paixão ou luxúria. O
beijo foi um mero ato de carinho por causa do alívio que senti ao ouvir
que a noite passada não era apenas um sonho. Isso foi real.

Ela era real.

Relutantemente, eu me afastei e toquei sua bochecha. — Por quê?


Por que você confiaria em mim quando eu não lhe dei razão?

— Não tenho certeza. Sei que você ainda tem sua própria agenda,
mas também sei que as coisas não são mais tão preto e branco entre nós.

Seus olhos permaneceram nos meus por mais alguns segundos,


como se ela tentasse alcançar minha mente para que ela pudesse me
entender. Encontrar todas as respostas para as perguntas que
queimaram sua língua. Mas eu não tinha respostas para ela... pelo menos
ainda não.

Toquei seu lábio inferior com o polegar e queria beijá-la novamente.


Eu queria estar dentro dela novamente. Quanto mais eu a provava, a
experimentava, a fodia, mais eu a desejava.

Minha mão escorregou de sua bochecha, por seu ombro e braço,


nossos dedos entrelaçados quando ela deu um passo para trás.

— Eu preciso me refrescar.

— Você parece perfeita.

A boca dela se curvou nos cantos. — Ninguém pode dar o melhor de


si depois da noite que tivemos.

— Tudo bem. — eu concedi com um sorriso. — Vá se refrescar e faça


com que pareça bem para o seu marido.

Ela soltou uma risadinha e eu a observei descer as escadas.


— Mila? — Chamei ela, e ela olhou da escada em espiral. — Vista
algo vermelho.

Ela sorriu. — Sim, senhor.

A palavra 'senhor' rolou de sua língua e instantaneamente fez meu


pau duro. Eu tive que pegar o corrimão atrás de mim para me impedir de
agarrá-la e transar com ela por todo o resto do prato de antipasto.

O tecido vermelho de seu vestido girou em torno de seus tornozelos


quando ela se virou e desceu as escadas. Admirei todas as partes dela até
que ela desapareceu no convés e me virei para olhar o oceano atrás de
nós. Elena estava certa. Se essa coisa entre Mila e eu continuasse se
intensificando, chegaria o dia em que eu tomaria uma decisão, escolheria
entre vingança ou minha esposa. Mas até aquele dia, eu faria o que fosse
necessário para encontrar uma maneira de eu ter os dois.
11

Mila

EU FECHEI a porta do quarto atrás de mim e me recostei contra ela.


Uma parte de mim lutou para acreditar que o que aconteceu ontem à
noite não era um sonho. Pela primeira vez, Saint me mostrou um lado
dele que eu nunca tinha visto antes.

Um lado mais suave. Gentil. Carinhoso. Confiante.

Ele não era o homem cruel que não piscou com o pensamento de
matar a sangue frio. Ele não foi o homem que me forçou a andar nua pelo
corredor de sua casa. O homem que me fez tomar banho enquanto ele
assistia. E ele com certeza não era o homem que me prendeu na mesa de
jantar depois de me fazer assinar todos os documentos que ele precisava
para possuir os meus dez por cento das ações da Torres Shipping.

Havia borboletas na minha barriga e um sorriso sonhador no meu


rosto, pelo amor de Deus. Como eu passei de odiá-lo a me apaixonar por
ele?

Depois de um longo banho calmante, eu fiquei na frente do armário


com uma toalha em volta de mim. Saint queria que eu usasse vermelho,
mas entre todas as grifes e milhares de dólares em roupas, não havia um
único item vermelho. Como foi isso para um gigante foda-se do meu amigo
Murphy? Decidi usar um macacão de verão, o decote acentuado com um
zíper de ouro que caía entre os meus seios. Por um lado, fiquei um pouco
decepcionada com a falta de trajes na cor favorita de Saint. Mas, por outro
lado, eu secretamente gostei do fato de não usar vermelho parecer um
desafio aos olhos dele. Afinal, fazia parte do jogo entre nós – eu o
desafiando.

Enquanto eu olhava para o meu reflexo no espelho, pensei em


Rafael. Meu irmão. Era como se agora, sempre que vi meu próprio rosto,
também via o dele. Uma parte de mim desejava que houvesse uma
maneira de conhecê-lo, passar um tempo com ele e talvez até ter a chance
de conhecer minha mãe. Mas vi o ódio que pairava entre Saint e Rafael,
uma bomba relógio a poucos segundos de explodir. Saint segurava uma
arma na cabeça de meu irmão, sua expressão de desdém e aversão. Não
havia chance de colocá-los no mesmo quarto sem eles tentarem se matar.
E isso significava que eu não teria a chance de conhecer meu irmão.
Ainda não.

Encontrei Elena e Saint já sentados à mesa do café, que havia sido


colocada no convés superior, onde Saint e eu jantamos. No segundo, que
dei o passo final e olhei nos olhos de Saint, o calor se espalhou das
minhas bochechas para os meus ouvidos.

— Mila. — Saint colocou o guardanapo sobre a mesa e puxou uma


cadeira para mim. — Estávamos imaginando quando você nos agraciaria
com a sua presença.

Sentei-me e Saint sentou-se novamente. — Eu estava apenas


dizendo a tia Elena como você estava linda naquele vestido vermelho. —
A mão dele tocou minha coxa debaixo da mesa. — E como eu havia
solicitado que você o usasse mais. No entanto, você não está vestindo
nada vermelho. — Seus dedos morderam a carne macia da minha coxa,
e a dor percorreu minha perna. Fiquei surpresa com sua repreensão
feroz, mas minha coluna formigou de antecipação.

— Eu assumirei a responsabilidade por isso. — Elena concordou. —


Eu havia montado o guarda-roupa de Mila sem o conhecimento de que
você preferia a cor vermelha.

Saint sorriu. — É uma preferência recém-adquirida.


— Bem, parece que Mila e eu temos algumas compras para fazer.
Vou providenciar uma carro para nos acompanhar até o continente até o
meio dia.

Saint olhou com raiva para Elena. — Prefiro que você faça uso de
lojas on-line.

— Não seja bobo, Marcello. — Elena riu. — Como todo o guarda-


roupa de Mila consiste em itens escolhidos com base no meu estilo, acho
que é hora de ela encher o armário com itens baseados em seu próprio
estilo pessoal.

Saint cortou os ovos em seu prato. — Vou providenciar que um dos


principais designers da Itália seja escoltado à imperatriz. Não há
necessidade de você ir para o continente.

— Marcello, querido. — Elena gentilmente tocou o braço dele. —


Acho que é hora de ela experimentar a beleza e o glamour de Milão. Afinal,
é a capital mundial da moda.

Olhei de Elena para Saint e vi o jeito que sua mandíbula tremia e


suas narinas dilatavam. Ele não me queria indo para o continente. Ele
não me queria em lugar nenhum fora deste iate. Mas foi bastante
tentador, a ideia de ir para o continente e finalmente poder usar roupas
que escolhi.

— Saint. — Comecei com um tom suave. — Seria bom ir para Milão.


Ver mais da Itália do que apenas o oceano.

— Tudo bem. — Ele retrucou, jogando a faca no chão e me fazendo


sacudir na minha cadeira. — Mas James e eu iremos com vocês.

— Marcello, uma farra de compras dificilmente será divertido para


você.

Ele olhou para Elena enquanto apertava sua mandíbula. — Ou todos


nós vamos, ou ninguém vai.
O ar passou de leve e reconfortante para pesado e espesso. Foi a
primeira vez que vi Saint agindo com autoridade em relação a Elena. E
do jeito que suas bochechas coraram, ficou claro que também não
acontecia com frequência.

— Bem. — Elena pegou um pedaço de melão na colher. — Podemos


ganhar um dia com isso. Além disso, Mila precisa de um vestido para o
baile de caridade na sexta-feira à noite. Talvez você possa ajudá-la a
escolher.

Saint lançou um olhar de advertência para Elena.

— Que baile de caridade? — Eu olhei para ele.

— Não importa. Não estou pensando em ir. — Sua resposta foi curta
e cortada, e uma indicação clara de que o tópico não estava aberto para
discussão, algo que Elena escolheu ignorar.

— Marcello, você precisa ir. É o seu baile de caridade. Certamente,


o anfitrião não pode faltar a esse evento.

Estendi a mão e toquei seu braço. — Que caridade?

— Não importa.

— Claro que importa. Qual caridade?

— É para a educação das crianças. — Respondeu Elena em seu


nome. — O baile de caridade é para arrecadar fundos para as crianças
cujos pais não podem pagar por uma educação decente.

Surpresa, eu gentilmente apertei seu braço. — Uau. Saint, isso é


uma coisa maravilhosa de se fazer.

— O que? — Ele atirou de volta. — Você não achou que eu era capaz
de fazer algo legal, de ser outra coisa senão um marido cruel?

— Saint, isso não é...


Ele jogou o guardanapo sobre a mesa e se levantou do assento. —
Vou tomar as providências necessárias para irmos a Milão. Mas você não
vai ao baile de caridade e não está aberto para discussão.

Eu balancei levemente minha cabeça. — Saint.

— Eu disse que não está aberto para discussão. Está entendido?

O teor profundo de suas palavras bateu forte no meu peito, como se


eu fosse uma criança repreendida por fazer algo errado.

— Entendido. — Eu murmurei, olhando para a fruteira na minha


frente enquanto meu coração estava lentamente subindo pela minha
garganta.

— Bom. Vou avisar o capitão que usaremos Bell para voar para
Milão.

Ele pisou fora e deixou eu e Elena para trás em silêncio. Foi somente
quando o som de seus passos desapareceu que eu olhei para cima. —
Quem ou o que é Bell?

Elena parecia completamente imperturbável pelo comportamento


hostil de Saint. — É o helicóptero particular de Marcello que pode atracar
na Imperatriz.

Meus olhos se arregalaram. — Um helicóptero? Isso atraca aqui...


no iate?

Ela soltou uma risada. — Oh, Mila. Você só viu a metade da frente
da imperatriz.

Coloquei uma uva na boca. — Existe algum fim para sua riqueza?

— Não que eu saiba.

— E este baile de caridade, há uma razão para ele não querer que eu
vá?
Ela limpou os lábios com o guardanapo e o colocou ao lado do prato.
— Um homem como Marcello prefere manter seus bens mais valiosos
escondidos dos olhos gananciosos, Mila.

— Eu não sou propriedade.

Ela inclinou a cabeça e estreitou os olhos. — Você não é?

Aborrecimento floresceu no meu peito. — Ele pode me possuir no


papel, mas posso garantir que não sou sua propriedade.

— No entanto... — Ela se levantou. — Marcello não estará exibindo


você em público tão cedo. Enquanto isso, prepare-se para gastar o
dinheiro suado de seu marido. — Ela piscou e partiu, me deixando
sozinha na mesa do café. A última hora não foi como eu imaginara, não
depois da noite em que Saint e eu compartilhamos. Subi as escadas com
borboletas na barriga e arrepios na pele. Agora eu me sentei com um
intestino cheio de incertezas e um formigamento de aviso na parte de trás
do meu pescoço. Era assim que seria com Saint. Uma montanha-russa
gigante de emoções, saltando de confiança para dúvidas dentro de um
piscar de olhos. Saint não era o tipo de homem que você conheceria o que
esperar de um dia para o outro. Todo dia seria diferente e nada sobre
estar com ele acabaria sendo rotina. Para me armar.

Durante o resto da manhã, vaguei pela frente do iate, deitei no sofá


lendo uma revista e desfrutei de um pouco de vitamina D que encharcava
meus poros. Tanto Elena quanto Saint estavam ausentes, e era apenas a
presença de James que permanecia ao meu redor. Eu estava me
acostumando a ter seus olhos de falcão em mim sempre que não estava
escondida em segurança no meu quarto. Quem sabia o que ele esperava
que acontecesse, já que eu não podia ir a lugar algum. Bem, eu poderia
se soubesse andar de jet ski ou se pudesse nadar por quilômetros a fio.
Fora isso, eu estava muito bem escondida no meio da porra do oceano.

Eu bufei e joguei a revista no chão. Me frustrou pensar em Saint


querendo me esconder, querendo me manter neste iate pelos próximos
quatro meses. Nosso acordo era de seis meses, e já tínhamos dois meses.
Dois meses de completa mentira. Olhei para a barreira de barras de vidro
e aço no nível superior. Também alguma merda carnal e perigosa.

Era seguro dizer que nunca havia experimentado sexo como antes
com Saint. A torção. A escuridão. Do jeito que ele exigiu minha submissão
e eu a dei tão livremente. Eu sabia que era muitas coisas, mas nunca
pensei que seria o tipo de mulher que gostaria de ser sexualmente
dominada. De fato, o domínio de Saint foi muito além do quarto. Como
ele agarrou minha coxa mais cedo com o aviso oculto do meu desafio por
não usar vermelho, a dor que queimava na minha perna, eu gostei. Gostei
da emoção, da adrenalina que subiu pelas minhas veias em uma fração
de segundos. Só foi preciso um toque duro e proeminente, e a necessidade
de enviar queimava entre as minhas pernas.

— Está pronta?

Eu olhei para Saint, que bloqueou o sol se elevando sobre mim. —


Pronta para?

— Nossa viagem a Milão. — Sua expressão mostrou seu


aborrecimento e sua falta de entusiasmo.

Afastei os pés da poltrona e me levantei. — Você vai ser um estraga


prazeres?

Suas sobrancelhas quase tocaram sua linha do cabelo. — Um


estraga prazeres?

— Admito que fazer compras não é o meu esporte preferido, mas


estou ansiosa para usar roupas de minha própria escolha, além de
conhecer lugares que não são este iate. — Eu descansei minhas mãos
nos meus quadris. — Se você vai levar essa expressão pela viagem, talvez
considere ficar em vez de estragar tudo para todos nós.
Seus lábios se curvaram em um sorriso, mas nada foi gentil ou
convidativo. Em vez disso, era ameaçador, e a maneira como ele agarrou
meu cotovelo, me empurrando contra ele sem se importar que seus dedos
cortassem minha carne, era um reflexo de seu sorriso malicioso.

— Às vezes, acho seu desafio flagrantemente divertido, Mila. Mas não


me teste pensando que pode elevar sua voz para mim. — Seu aperto
aumentou quando ele abaixou o rosto no meu. — Quando voltarmos de
Milão, você irá direto para o seu quarto e antecipará o tipo de punição
que merece.

— O que... punição? — Minha voz era um mero sussurro, uma


gagueira de palavras.

— Você terá toda a viagem para se perguntar sobre isso. — Ele se


inclinou para que seus lábios tocassem minha orelha e sussurrou: — E
aqui está outro aviso para você. Não pense que esta viagem é para você
conseguir o que deseja. Com cada blusa, vestido, cada peça de lingerie
que você experimenta, você pensa em mim e se eu aprovaria ou não. Você
vai pensar em nada além de mim e meu pau o tempo todo. — Ele arrastou
a língua ao longo da curva da minha orelha, me fazendo tremer.

Sem soltar meu braço, ele se afastou e me levou através do convés,


por uma porta atrás do bar. Continuamos por um corredor, e o cheiro de
comida encheu minhas narinas. Havia uma segunda sala de jantar com
um aparelho para doze lugares e um sofá de canto branco com uma
grande televisão contra a parede adjacente. A mesa de bilhar estava
colocada do outro lado da sala, e o balcão do bar com uma geladeira de
vidro transparente atrás dela me fez pensar se essa era a verdadeira área
de entretenimento. Eu me perguntava que tipo de festa era realizada aqui,
o tipo de orgia que acontecia nesses sofás. Anette fazia parte disso? No
dia em que ela e o pai chegaram aqui, parecia que ela sabia dar a volta
no iate.
Deus, só o pensamento fez minha pele arrepiar. Nem mesmo o aperto
firme de Saint em torno do meu cotovelo poderia desviar minha atenção
do pensamento perturbador.

Ouvi as dobradiças da porta que Saint abriu e saímos pelos fundos,


o sol brilhando sobre nós mais uma vez. Quando ele deu um passo para
o lado, o helicóptero nos cumprimentou com suas impressionantes
feições negras contra o azul do oceano ao fundo. James e Elena já
estavam lá esperando.

— Senhor. — James acenou com a cabeça em direção a Saint e ficou


de lado quando ele abriu a porta.

Saint segurou minha mão e ajudou quando eu pisei meu pé e entrei.


Excitação borbulhou quando me sentei em um dos assentos de couro
bege, Saint sentou ao meu lado. Nossa pequena disputa, cinco minutos
atrás, foi esquecida quando absorvi tudo ao meu redor, nervos inquietos
deslizando na minha barriga. — Eu nunca estive em um helicóptero
antes.

Ele se inclinou sobre mim, tão perto que eu podia sentir o cheiro da
terra de sua colônia e ver os tons escuros da sombra de sua barba que
espanavam em seu maxilar cinzelado. Minha barriga entrou em
aceleração quando minhas entranhas fizeram milhares de círculos. As
mangas de seu paletó listrado roçaram meu braço e enviaram uma
sacudida de energia pela minha pele. Instantaneamente ressecado, lambi
meus lábios, e seu olhar observou o movimento. Ele parou com o cinto
de segurança na mão, com os olhos fixos na minha boca. O mundo
desapareceu e éramos apenas nós nessa fração de segundos. Nós e a
intensa tensão sexual que ameaçava quebrar nosso autocontrole.

Saint foi o primeiro a quebrar o momento e puxou os dois cintos por


cima dos meus ombros e prendeu-o, prendendo-me no meu lugar.

— Aqui, coloque isso. — Ele me entregou um par de fones de ouvido


para aviação.
Eu sorri para ele quando ele colocou o fone de ouvido e ele inclinou
uma sobrancelha.

— O que?

— Tudo isso me lembra um livro que li uma vez. Acho que esperava
que você fosse o piloto.

Ele bufou. — Acho que sei a qual livro você está se referindo. E não,
eu não sou o piloto. — Intenções perversas dançavam em suas feições
quando ele alcançou. — Mas eu gosto de uma mulher amarrada e
amordaçada, completamente à minha mercê.

Engoli em seco e apertei minhas coxas. Felizmente, Elena sentou-se


à nossa frente e sua presença cortou a tensão sexual que explodiu entre
Saint e eu.

James subiu e sentou-se no banco do piloto. Não fiquei nem um


pouco surpresa com o fato de James ser o piloto. O homem parecia ser
tudo que Saint precisava que ele fosse. Fiz uma anotação mental para
fazer de James o tópico de uma das minhas perguntas diárias para
perguntar a Saint algum dia. Mas, por enquanto, o papel de James na
vida de Saint ficaria em segundo plano com todas as outras perguntas
não respondidas que eu tinha.

As pás do motor começaram a girar e fiquei surpresa ao ouvir o quão


alto estavam. Quanto mais rápido girava, mais alto o barulho.

— Todo mundo apertou o cinto? — A voz de James veio através dos


fones de ouvido, alta e clara.

— Pronto. — Respondeu Saint e deu um sinal a James. Algum tempo


se passou enquanto as pás do motor giravam, e ouvi James falar com o
controle aéreo pedindo permissão para decolar. Meu estômago revirou e
agarrei a mão de Saint. Eu nem pensei no que estava fazendo... não até
ele colocar a outra mão em cima da minha e apertar.
— Apenas respire. — Disse ele através do fone de ouvido. Isso me
lembrou o voo em seu avião particular, quando eu estava no precipício de
ter um ataque de pânico e ele conseguiu me convencer disso – uma coisa
estranha para o meu sequestrador. Tanto tempo se passou. Tantas coisas
mudaram entre nós, achei difícil lembrar como me sentia por ele naquela
época.

Eu não tinha certeza do que esperava, mas fiquei surpresa com a


suavidade do helicóptero que levantou do chão e flutuou. O barulho
diminuiu um pouco quando nos tornamos transportados pelo ar, e fiquei
surpresa com a facilidade com que me acostumei com a sensação de voar.
Olhei pela janela da cabine o oceano infinito de azul abaixo de nós. A
imperatriz cresceu cada vez mais, até que se tornou um mero pontinho
branco no horizonte.

A vista aérea era de tirar o fôlego, e não foram mais os nervos que
me obrigaram a segurar a mão de Saint, mas sim o puro prazer ao
trocarmos o oceano por terra.

— Génova.

Eu olhei para Saint.

Ele sorriu. — Estamos sobrevoando Génova. Mais meia hora e


estaremos em Milão.

Eu encontrei o sorriso dele e agarrei sua mão com mais força quando
voltei minha atenção para o mundo abaixo de nós. Eu não conseguia me
lembrar de um momento na minha vida em que eu estava tão animada.
Feliz, até. Pela primeira vez, senti uma verdadeira apreciação pela riqueza
de Saint, grata por essa experiência alucinante.

Durante o restante da viagem, todos nós sentamos em silêncio.


Duvidava que Elena e Saint gostassem tanto quanto eu, mas eu não me
importava. Eu estava determinada a absorver cada segundo disso.
Eu ouvi a voz de James através dos fones de ouvido, mas eu estava
muito hipnotizada para ouvir. Um campo aberto de grama apareceu e
começamos a descer. A experiência de pilotagem de James brilhou com
uma aterrissagem suave quando tocamos o chão. O ruído pulsante e a
vibração das pás do motor diminuíram gradualmente e, com um
movimento do pulso, Saint afrouxou meu cinto de segurança.

— Bem-vinda a Milão. — Seu sorriso era suave e divertido, como se


ele apreciasse meu entusiasmo.

Saint saiu primeiro e ajudou Elena a descer do helicóptero antes de


estender a mão para mim, me guiando pelo degrau. As pás do motor
demoraram a parar, e uma rajada de vento jogou meus cabelos no meu
rosto enquanto corríamos para fugir do barulho, de mãos dadas.

Um SUV preto nos esperava, e James manteve a porta aberta para


que Elena e eu subíssemos no banco de trás. Saint entrou na frente e
James entrou atrás do volante.

— Segurança no lugar?

— Sim, senhor. — Confirmou James. — Eu tenho olhos e ouvidos


em toda a área para onde estamos indo.

Isso me perturbou um pouco, me perguntando por que precisávamos


de um detalhe de proteção em uma simples viagem de compras, mas não
deixei que isso afetasse a emoção de tudo.

Elena sorriu para mim. — Você vai amar Milão. É um ponto


magnético para designers e artistas. Pessoas de todo o mundo vêm aqui
para experimentar seu glamour, e hoje é a sua vez.

Eu sorri como o maldito gato de Cheshire. — Acho que nunca fiquei


tão empolgada.
— Excitação é uma boa aparência para você, Mila. — Ela pegou
minha mão. — E você vai adorar o hotel em que vamos ficar. Hotel
Principe di Savoia.

— Uau. Isso parece... difícil de pronunciar.

Elena riu. — O Hotel Principe di Savoia é um dos hotéis mais


prestigiados de Milão e é a escolha favorita da realeza e celebridades.
Naturalmente, também é o único hotel em que Marcello fica quando visita
Milão.

Intrigada, mudei de lugar. — Mal posso esperar para ver.

— Oh, Mila. Você vai adorar, e a suíte presidencial é magnífica.


Possui três banheiros e uma luxuosa piscina em estilo Pompéia.

Meus olhos se arregalaram. — Uma piscina? Em uma suíte de hotel?

— De fato.

Notei Saint olhar por cima do ombro enquanto ele escutava nossa
conversa, depois se virou para James. — Informe o hotel que chegaremos
em breve.

— Ainda temos luz do dia Marcello. — Elena arrumou alguns fios


de cabelo que deslizaram para fora do lugar. — Estou absolutamente
excitada de levar Mila para o Corso Vittorio Emanuelle.

Eu me inclinei para ela. — O que é isso? — Eu sussurrei.

— A rua comercial mais popular de Milão. — A expressão em seu


rosto não era nada menos que diversão e zelo. Era contagioso, e mesmo
que as grifes e designers de moda nunca tivessem me interessado antes,
eu estava prestes a pular da minha pele.

Enquanto dirigíamos pelas ruas de Milão, tentei entender tudo.


Havia tantas pessoas andando por aí, conversando em seus telefones,
correndo em todas as direções diferentes. Os homens estavam vestidos
com ternos caros e óculos escuros de grife. As mulheres estavam vestidas
para matar de salto alto, saias e blusas. Parecia que a moda era a moeda
desta cidade.

James estacionou o carro, e Elena e eu esperamos até as portas do


lado do passageiro se abrirem. Saint estendeu a mão para mim, mas do
jeito que sua cabeça virou da esquerda para a direita, eu sabia que os
olhos escondidos atrás dos óculos Ray-Ban estavam examinando as
multidões ao nosso redor. Com os ombros largos em um terno listrado, a
pele lisa espreitando sob a camisa branca de colarinho aberto, sua
postura forte pretendia intimidar. A confiança escorria de seus poros,
uma ameaça para todos os homens da vizinhança, mas um afrodisíaco
para as mulheres que passavam por nós com seus olhares persistentes e
lábios abertos enquanto olhavam descaradamente para ele com desejo.
Isso me irritou, o fato de que elas nem perceberem que eu estava lá ao
lado dele... até que me ocorreu. Se eu queria que elas me vissem ao seu
lado, eu tinha que ter certeza de que era imperdível.

Elena colocou o braço no meu como se fôssemos amigas a vida


inteira. — Prada. Essa será a nossa primeira parada.

Oprimida pelo cenário rico, pelo zumbido de tantas pessoas bonitas


ao meu redor, eu segui Elena cegamente. O arrojado e aromático cheiro
de café flutuou no ar, e o aroma apetitoso de pão fresco seguiu. Os prédios
antigos eram complementados por travertino e mármore, cercados por
belas colunas modeladas na arquitetura renascentista.

Sirenes da polícia ecoaram de longe. O zumbido das pessoas falando


alto e o som agudo dos carros soaram ao mesmo tempo. Foi avassalador,
mas fascinante ao mesmo tempo.

Saint permaneceu ao meu lado, e James seguiu não muito atrás. O


prédio em que entramos era antigo, mas uma obra de arte. Pedras e ouro
decoravam o edifício de vários andares. O nome do estilista fora banhado
a ouro nas janelas e luzes amarelas iluminavam todos os itens da loja.
Eu não tinha ideia de onde queria procurar primeiro ou por onde
começar. Felizmente, Elena sabia o caminho. — Esta loja está aqui desde
1913 e continua sendo uma das boutiques mais impressionantes da
cidade. O piso monocromático e o interior verde são a maneira da marca
de manter suas características históricas. — Ela manteve os braços
abertos. — É por isso que é uma das minhas lojas favoritas. Ela
permanece fiel a si mesmo, não importa como o mundo mude ao seu
redor.

Uma vendedora impecavelmente vestida com uma saia lápis preta e


blusa branca, se aproximou de nós e cumprimentou Elena pelo nome. —
Bem-vinda de volta. — Disse ela com um sorriso no rosto. — Faz um
tempo desde que te vimos por aqui.

— Maria. Já faz muito tempo. Felizmente, meu sobrinho aqui... —


Ela apontou para Saint, e depois para mim. — Decidiu que era hora de
mostrar à esposa a moda glamourosa que Milão tem a oferecer. Claro,
nós apenas tivemos que vir aqui primeiro.

Maria virou-se para mim e estendeu a mão. — Sra. Saint. Prazer em


conhecê-la.

Eu olhei para Saint, e ele sorriu. Foi a primeira vez que fui chamada
de Sra. Saint em vez de Russo. — É um prazer conhecer você também,
Maria.

Ela jogou os cachos escuros por cima do ombro. — Existe algo


específico em que eu possa ajudá-la hoje?

— Eu... hum... — Eu olhei para Elena em busca de ajuda, e ela


rapidamente entrou com sua personalidade flutuante.

— Maria, gostaríamos de ver tudo hoje. A Sra. Saint não tem muita
certeza do que está procurando, portanto, se você pudesse nos mostrar
sua nova linha, isso seria excelente.
— Claro. — Maria sorriu. — Vamos para o provador nos fundos da
boutique. Posso trazer-lhe alguma coisa para beber?

— Dom Pérignon 2002 Plénitude 2. — Saint respondeu secamente


como se pedir champanhe em uma loja de moda fosse tão normal quanto
pedir um rolo de pele de salmão em um bar de sushi.

Estar cercado por glamour, moda e o aroma robusto de riqueza que


se agarrava ao ar era intimidador. Talvez porque eu sabia que não
pertencia a esse lugar. Não importava o preço dos meus sapatos ou a
etiqueta das roupas que eu usava, ainda não me dava a sensação de
pertencer a todas as riquezas.

Seguimos o vendedor por uma porta dupla do chão ao teto e


entramos em uma área de instalação que era dez vezes maior do que o
meu quarto em Nova York.

Sofás de luxo decorados com almofadas de veludo espalhavam-se no


centro da sala. A decoração combinava com a da loja, com tons de verde
e vintage chic nos dando boas-vindas.

Enquanto eu observava os arredores, notei Saint inclinado perto de


James enquanto eles falavam confidencialmente. James saiu da sala e
Saint virou-se para mim e Elena, as mãos enfiadas nos bolsos da calça.
— Tia Elena, acho que Mila e eu podemos prosseguir daqui.

O rosto de Elena espelhava a surpresa que senti. — Marcello, você


não precisa...

— Tia Elena. — Saint se aproximou de nós. — Mila e eu a levaremos


daqui. Tenho certeza de que Maria nos dará toda a ajuda que precisamos.

Elena girou nos calcanhares e sorriu na minha direção. — Eu não


estarei longe no caso de você precisar da minha ajuda.

— Obrigada. — Eu disse suavemente e assisti Elena sair da sala.


— Então... — Maria nos entregou uma taça de champanhe. — Você
gostaria de ver nossa última coleção de verão?

Minhas bochechas coraram. — Apenas alguns itens serão ótimos.

Saint sentou-se em um dos sofás macios, o braço esticado ao longo


das costas. — Principalmente vestidos. — Seu olhar sem piscar varreu
meu corpo, pairou em minhas pernas nuas, depois encontrou meus
olhos. — Curto.

Maria pulou do outro lado da sala, mas não antes que eu notasse
seus cílios longos e o olhar de olhos verdes persistindo em Saint por um
segundo demais. Eu não era cega ao fascínio de Saint ou a sua proeza
sexual. As mulheres eram atraídas por ele, incapazes de tirar os olhos
dele. Eu não as culpo. O homem era o epítome da perfeição masculina e
exigia a atenção das espécies femininas sem nem mesmo tentar.

Cruzei os braços quando ela puxou dos armários, empilhados com


diferentes tipos de vestidos de verão. — Alguma cor específica?

— Vermelho. — Saint não tirou os olhos de mim.

Coloquei minha mão no meu quadril e franzi meus lábios para ele.
— Gostaria de algumas opções diferentes em relação à cor.

— Vestidos vermelhos, Maria. — Saint desconsiderou meu pedido


sem pestanejar.

— Bem. — Maria procurou através dos vestidos na prateleira. — O


vermelho não é exatamente uma tendência no momento, mas temos um
ou dois itens que você pode tentar. Talvez possamos dar uma olhada em
alguns rosa, ou que tal esse vestido coral? — Ela estendeu um mini
vestido, e eu vi Saint esfregar o queixo, a testa enrugada com irritação.

— Você não me ouviu corretamente? — Ele rosnou. — Quero


vermelho para minha esposa. Não rosa. Não coral. Maldito vermelho. Você
me entende agora, Maria?
O rosto da pobre mulher ficou um rosado forte e seus ombros caíram
de repente. Eu podia sentir seu constrangimento em brasa do outro lado
da sala.

— Claro, senhor Saint. Vou procurar qualquer vestido vermelho que


possamos ter na loja. — Maria pendurou o vestido coral no parapeito e
puxou um único vestido vermelho dentre os demais. — Enquanto isso,
aqui está um vestido que você pode experimentar.

— Obrigado, Maria. — Eu tentei dar a ela um sorriso caloroso para


suavizar o golpe da dura repreensão de Saint. Eu assisti enquanto Maria
caminhava para a porta, ausente da confiança que ela exalava um minuto
atrás.

— Maria. — Saint gritou. — Também gostaríamos de dar uma olhada


na sua mais recente linha de lingerie.

Eu hesitei, parei e me virei para encará-lo com o que provavelmente


era um enorme olhar diabólico no meu rosto enquanto ele estava sentado
lá com um olhar presunçoso.

— Claro, Sr. Saint.

— Vermelho. Não rosa ou coral. Vermelho sangue.

Maria assentiu e saiu da sala.

Eu estreitei meus olhos para ele. — Um pouco duro, você não acha?

Ele deu de ombros, fingindo um olhar de inocência. — Eu apenas


pedi para dar uma olhada na lingerie deles.

— Eu estou falando sobre como você a constrangeu sobre algo tão


estúpido quanto a cor vermelha.

Saint se levantou e ajeitou o paletó enquanto ele caminhava em


minha direção. — Eu sou um cliente, Mila. E os preços desses itens me
dão o direito de exigir o que eu quiser. E o que eu quero é vermelho.
Eu levantei meu queixo e olhei para ele. — E o que eu quero?

— O que tem isso?

— Isso não te interessa, se eu quero vermelho ou não?

Ele lambeu os lábios, os olhos de um predador ansiando pela caça,


absorvidos pela perseguição. Eu tinha forças para desafiá-lo, mas sempre
que ele tão descaradamente me perseguia com luxúria furiosa em seus
olhos, eu não tinha forças contra a tentação que ele tão habilmente
provocava.

Com uma mão gentil, ele estendeu a mão e pegou meu queixo entre
os dedos. — Você é minha esposa, Mila. Tudo o que você faz é apenas
para me agradar. — Suas palavras foram sedução líquida, derretendo
quando passaram por seus lábios. — E o que você veste não é exceção.

Seu hálito quente beijou meus lábios molhados, seu perfume me


lembrando como era estar cercada por ele, ter seu cheiro grudado na
minha pele.

Eu respirei profundamente quando ele soltou meu queixo e deu um


passo para trás, seus olhos estreitos. Eu me virei e desapareci no
vestiário, fechando as grossas cortinas de veludo. Tive alguns momentos
para me lembrar de respirar e sacudir o desejo que ameaçava transformar
minhas entranhas em nada além de brasas de luxúria. Como se a
propriedade sexual de Saint sobre mim não fosse suficiente, eu tive que
tentar processar esse novo mundo ao meu redor. Nunca na minha vida
eu havia sido cercada por tanta agitação e tanta publicidade, tantas
pessoas vivendo a vida na linha rápida e vestidas como a realeza. Sendo
que eu era de Nova York, isso queria dizer muito.

Coloquei o vestido de gabardine de nylon vermelho com um decote


que caía entre os meus seios. Era curto. Muito curto. O ligeiro clarão da
saia e o cinto combinando acentuaram meus quadris. E o olhar no rosto
de Saint quando saí foi toda a resposta que eu precisava sobre sua
aprovação óbvia.

Ele sorriu. — Como eu disse, vermelho é perfeito em você, Mila.

— Você sabe que todo o meu guarda-roupa não pode consistir


apenas de itens vermelhos.

— Claro que pode. — Ele respondeu como se não pudesse entender


como eu poderia pensar isso.

— Estou falando sério, Saint.

— Tudo bem. — Ele admitiu e acenou com a mão no ar. — Estou


disposto a fazer uma exceção. Você pode ter um guarda-roupa que
consiste em todas as cores do arco-íris — Ele lambeu os lábios. — Desde
que você use nada além de vermelho por baixo. Sutiãs vermelhos,
calcinha vermelha. Eu gostaria de ver a cor contra sua pele sempre que
decidir transar com você.

Uma dor profundamente enraizada pulsou entre as minhas pernas


e minhas coxas se apertaram com a necessidade de sentir seu corpo entre
as minhas pernas. Pelo olhar presunçoso em seu rosto, ele sabia que tipo
de reação ele havia instigado, como meu corpo sempre me traiu sempre
que se tratava dele. Mas eu não estava pronta para aceitar sua demanda.
— Você vai escolher minha lingerie para mim também?

Ele levantou uma sobrancelha. — Essa é sua pergunta de hoje?

— Claro que não. — Eu cruzei meus braços. — Eu quis dizer que


você não pode escolher minha lingerie também.

Ele posicionou o tornozelo de uma perna no joelho da outra,


recostando-se vagarosamente. — Sua lingerie será apenas para os meus
olhos. Então, faz sentido que eu escolha.

— Faça do seu jeito, então.


— Finalmente, você está começando a entender. O que eu quero. —
Ele sorriu.

— Sim, do seu jeito. — Eu segurei a cortina de veludo na minha mão.


— Mas fazer do seu jeito o tempo todo não permitirá espaço para
surpresas. — Virei meu cabelo por cima do ombro e levantei uma
sobrancelha. — E eu sou uma mulher com muitas surpresas na manga.
Pena que você nunca terá o privilégio de receber.

O trilho da cortina gritou quando eu a fechei, mas não antes de


vislumbrar o rosto de Saint, que mostrava uma rara expressão atordoada.
12

Saint

O VELUDO GROSSO da cortina me provocou. Eu queria que fosse


embora. Eu queria sentar neste maldito sofá caro e ver como minha
esposa se vestia e se despia, experimentando vestidos diferentes que
acentuavam suas curvas. Meu pau já estava pressionando
desconfortavelmente contra o meu zíper desde a nossa pequena
discussão sobre a cor vermelha, lingerie, e como eu queria transar com
ela enquanto sua pele se misturava lindamente com a cor carmesim.

Enquanto eu estava sentado lá com uma excitação latejante, a


vendedora extremamente incapaz entrou com os braços cheios de
vestidos vermelhos e os entregou a Mila através da cortina.

Um sorriso malicioso apareceu na minha boca. — Minha esposa


decidiu que também gostaria de ver outras cores. Talvez alguns como
corais e rosas.

O olhar duro em seu rosto falava alto, e eu apenas levantei uma


sobrancelha em advertência, o que foi suficiente para ela manter sua boca
fechada e fazer o que lhe foi dito. — Vou pegar alguns itens da nossa
coleção mais recente.

— Faça isso, Maria.

O clique de seus calcanhares era quase tão alto quanto sua


animosidade, o que era uma contradição com os olhares lascivos que ela
jogava em meu caminho sempre que pensava que minha esposa não
estava olhando. Eu também conhecia outros maridos que
acompanhavam suas esposas até esse mesmo quarto, que sugeriam a
Maria mais do que apenas seus conhecimentos de moda. A mulher era
pior do que uma letra escarlate de salto agulha. Uma prostituta de luxo
com nada além de intenções gananciosas. Mesmo agora, depois de colocá-
la em seu lugar, eu estava disposto a apostar que ela puxaria sua calcinha
para mim e estaria pronta para ser golpeada como uma porra de uma
boneca inflável.

Mais uma hora se passou. Assistir Mila experimentando todos os


vestidos, sacudindo seus quadris sensuais e curvas voluptuosas na
minha frente, depois desaparecendo por trás daquela cortina miserável
enquanto imaginava que seu corpo nu era tempo gasto no meu próprio
inferno pessoal. Eu me encontrei de volta ao ensino médio, tentando
esconder um tesão que eu não tinha controle quando uma garota com
uma saia curta passou saltitando. Nesse caso... Mila.

— O que você acha?

Eu relutava em olhar para cima, já que já estava pendurado no meu


último maldito fio de controle.

— Saint? Você gosta disso?

Eu enfrentei um olhar, ignorando a dor na minha virilha. E o que eu


vi me deixou sem fôlego. Na minha frente, estava a mulher mais bonita
que eu já vi usando um vestido de veludo vermelho exuberante, coberto
por seu corpo perfeito. O decote dava uma visão provocadora do inchaço
dos seus seios, embora não muito que me levasse a um frenesi assassino
sempre que um homem olhasse o que era meu. Mas apenas o suficiente.
As tiras embelezadas adicionavam uma pitada de brilho a um vestido
requintado.

— Mila. — Eu respirei e me levantei, aproximando-me enquanto


admirava todos os contornos de seu corpo. — Belíssima.
Suas bochechas coraram. — Você aprova?

— Oh, eu mais que aprovo. — Peguei a mão dela e a deixei girar na


minha frente, a seda do vestido roçando suavemente o tecido da minha
calça. Com um puxão sutil, eu a puxei para mim. — Você é uma beleza
rara, Mila.

— E você é um galanteador.

— Eu só falo a verdade.

Ela acariciou meu ombro. — Bem, fico feliz que você goste do vestido,
porque eu esperava... — Ela mordeu o lábio. — Eu esperava poder usá-lo
na noite de sexta-feira... quando acompanhar meu marido ao seu baile
de caridade.

Como água apagando um fogo, suas palavras arruinaram o


momento, e eu recuei, deixando-a ir e dando um passo para trás. — Não.
— Minha resposta foi simples. Curta. Não está em discussão ou debate.

— Por que não?

Ou aparentemente era.

Esfreguei a parte de trás do meu pescoço e olhei para todos os


lugares, exceto para ela. — Porque eu disse.

— Eu não sou criança, Saint. Porque eu disse, não se aplica a mim.

— O que quer que eu diga se aplica a você.

— Por quê? — Ela colocou as mãos nos quadris, o desafio brilhando


nos olhos da floresta. — Porque eu sou sua esposa?

— Exatamente! — Eu cuspi. — Demorou um pouco, mas você


acabou entendendo.

— Não fale comigo como se eu fosse um dos seus malditos


funcionários, ou uma maldita vendedora que te incomoda.
— Você me desafia toda chance que tem, é o que me irrita.

— Besteira. Você ama o fato de eu te desafiar. — Os lábios dela se


separaram, os olhos brilhando com um vislumbre de rebelião. — Isso te
excita.

Lancei-me para frente e agarrei seu queixo, enfiando meus dedos em


suas bochechas, seus lábios carnudos e enrugados, perfeitos para eu
devorar. — Isso também faz meu sangue ferver.

— Eu acho que isso faz de você o diabo com um pau duro.

O ar correu pelos meus dentes, e mordi meu lábio inferior enquanto


meu olhar deslizava dos olhos dela para a boca e voltava. — Se você fosse
qualquer outra mulher, sentiria o final difícil da minha ira.

— Você quer dizer que no dia em que senti a borda dura do seu cinto,
amarrada à sua cama me contorcendo como uma prostituta, porque você
se recusou a me satisfazer como sua esposa?

Eu a forcei de volta contra a parede e inclinei minha cabeça para o


lado enquanto levava meu rosto a centímetros do dela. — Eu deveria
arrancar esse vestido de você agora e fazer sua carne queimar por me
desrespeitar assim.

— Então faça isso. — Ela desafiou. — Arranque esse vestido de mim


e faça o seu pior. Ainda não vou parar de exigir meus direitos como sua
esposa.

— Você nunca quis ser minha esposa em primeiro lugar, e agora


acha que pode exigir alguma merda?

Ela levantou o rosto, os olhos escuros e determinados. — Veja isso


como uma maneira de compensar por me forçar a esse papel. Uma
maneira de compensar a inconveniência. — Ela zombou, mas seus lábios
gotejavam com a tentação que me fez agarrar ao meu último fio de
controle.
Porra. Esta mulher sabia exatamente como inflamar um inferno com
diabo. E agora, o fogo estava queimando até o meu pau dolorido.

Pressionei meu corpo com força contra o dela, meus sapatos de


couro italiano beijando seus dedos nus. Só foi preciso um roçar dos meus
quadris para ela sentir o quão duro eu estava, e isso me rendeu um
gemido sutil de seus lábios abertos. Seria tão fácil para mim juntar esse
vestido ao redor de seus quadris, abrir as pernas e transar com ela dentro
de uma polegada de sua vida. Nada ou ninguém seria capaz de me
impedir de fazê-la gritar enquanto meu esperma jorrava pelas suas coxas.
E, a julgar pela fome que refletia em seus olhos, era exatamente o
comportamento que ela estava antecipando - um selvagem que não
perguntou, mas simplesmente tomou.

Virei o rosto dela para longe do meu e pressionei meus lábios na pele
abaixo da orelha e sussurrei: — Você quer brincar, senhora Russo? Bem,
eu também posso.

Uma onda de ar escapou de seus lábios carnudos quando eu o soltei


e dei um passo para trás, seu peito subindo e descendo rapidamente.

Arrumei meu paletó. — Você pode se juntar a mim no baile de


caridade como minha esposa. Mas você fará exatamente como eu digo.
Permaneça ao meu lado o tempo todo. Só fale quando for solicitado. —
Eu bebi ao vê-la. — E sim, você estará usando esse vestido. — Eu sorri.
— Mas nada por baixo.

— O que?

— Você me ouviu.

Nossos olhares travaram, nenhum de nós querendo recuar ou


mostrar submissão.

Maria entrou na sala com outros dois vendedores, todos carregando


uma merda de peças de lingerie. — São todos os itens vermelhos que
temos. — Ela começou a pendurar cada item em um trilho de ouro para
a esquerda.

Mila olhou de mim para ela. — Eu vou levar tudo.

Maria recuou, e eu estreitei os olhos, mas Mila apenas deu de


ombros enquanto trotava pelo quarto. — Felizmente, meu marido aqui
está disposto a agradar sua esposa, para que ele não se importe em pagar
por toda a coleção. Não é, querido? — O olhar presunçoso em seu rosto
não foi nada menos que uma demonstração de vitória.

— Claro que não, querida. Nada além do melhor para minha linda
esposa.

Mila sorriu calorosamente e girou uma última vez no vestido


vermelho que estava prestes a ser arruinado apenas alguns segundos
atrás.

Ela piscou para mim logo antes de fechar a cortina. Eu tive que soltar
uma risada sem entusiasmo. Era isso ou rasgado aquelas malditas
cortinas e curvado seu doce corpo para que eu pudesse seguir meu
caminho com ela. Uma coisa era certa, o tempo com Mila nunca seria
monótono ou sombrio.

Divertido até o fim, sentei no sofá e notei Maria encarar minha taça
de champanhe intocada com uma careta. Mila saiu andando e eu estreitei
os olhos.

— Maria. — Comecei. — Acho que o champanhe que você nos serviu


não era do agrado da minha esposa.

A boca de Mila se abriu quando ela recusou, sua expressão confusa


sem preço.

— É claro. — Respondeu Maria com polidez forçada.


Eu segurei meu braço para Mila e atirei-lhe um olhar de aviso, que
ela prestou atenção, mantendo a boca fechada e aceitando que eu tinha
acabado de vencer aquela rodada.

Relutantemente, ela colocou o braço no meu e eu me inclinei para


mais perto. — Veja, eu também posso ser gentil.
13

Mila

EU TINHA que dar isso a ele. Ele jogou esse cenário muito bem,
culpando o champanhe intocado em mim depois que eu lhe dei um
pedaço de minha mente por ser um idiota para a vendedora.

Em nosso caminho para o hotel, Elena conversou sobre os itens que


havia comprado e como mal podia esperar para ver todas as coisas que
Saint havia me comprado. O porta-malas do SUV estava empilhado com
caixas cheias de bolsas de grife, vestidos, sapatos, itens que faziam um
guarda-roupa considerável com o qual a maioria das mulheres só podia
sonhar.

Chegamos ao hotel e, no segundo em que pisei na área de recepção,


fui transportada para um mundo diferente da rica herança artística de
Milão. Não era nada como eu imaginava que seria com sua mistura de
arte do passado e do presente. Era um oásis de elegância, o design de
interiores acolhedor, com os rostos amigáveis dos funcionários, prontos
para cumprimentar a realeza a qualquer momento.

Elena agarrou minha mão e riu quando viu a expressão no meu


rosto. — O que eu te disse?

— Elena, isso é... — Eu estava sem palavras enquanto admirava


cada centímetro da área da recepção. — Não tenho palavras.

— Este hotel passou por reformas no valor de milhões de euros em


2009, mas ainda manteve um pouco do seu estilo Art Deco original.
— Eu não tenho ideia do que isso significa, mas no meu idioma, este
hotel é incrível.

Sua risada foi melódica. — Oh, Mila. Gosto de ver você experimentar
os maiores luxos da vida. — Ela se inclinou para mais perto, como se
fôssemos duas melhores amigas fazendo fofoca. — Como uma esposa
Russo deveria. Agora, espere até ver a suíte presidencial. É o epítome do
luxo e, com seus três quartos, pode acomodar todos nós.

— Mila. — Saint agarrou minha mão e apertou-a com força. — O


elevador é por aqui. Elena, reservei uma suíte diferente para você.

— Oh. — Elena pareceu surpresa. — James e eu não vamos nos


juntar a você na suíte presidencial?

— Não. — Sua resposta foi cortada, e havia um olhar fugaz de mágoa


nas feições de Elena, mas passou tão rapidamente.

Eu me virei para Saint. — A suíte tem três quartos. Não vejo por que
James e Elena não podem se juntar a nós.

— Não se preocupe. — Elena começou com um tom doce. — É


compreensível que meu sobrinho queira alguma privacidade com sua
esposa. — Ela se inclinou e deu um beijo casto na minha bochecha. —
Vejo você de manhã.

— Sim. — Disse Saint. — Vamos sair amanhã de manhã às nove em


ponto.

Elena parecia decepcionada. — Não podemos fazer turismo


enquanto estamos aqui?

— Eu acho que já fizemos passeios suficientes.

Apertei sua mão. — Estivemos em apenas uma boutique, Saint.

Ele me ignorou e dispensou Elena com um gesto cortês antes de me


levar ao elevador.
— Signor Saint. — O operador do elevador cumprimentou quando
nos aproximamos. — Bentornato ao hotel.

— Grazie, Piero.

— Suíte Solita, signor Saint?

Saint olhou para mim quando entramos no elevador. — Sim. Mesma


suíte. Obrigado Piero. — Ele colocou a mão contra a cavidade das minhas
costas. — Você começará a aprender italiano quando voltarmos à
imperatriz.

— Eu vou?

— Si.

O painel de botões se acendeu quando o elevador se moveu. Um


sentimento doentio de nostalgia tomou conta de mim. Lembrei-me do dia
em que Brad e eu entramos no elevador a caminho de entregar um pacote.
Mal sabia eu que era o pacote e Brad estava vivendo os últimos quinze
minutos de sua vida. Agora, enquanto eu estava ao lado de Saint,
vestindo roupas de grife, dobradas em segurança ao seu lado, naquela
noite parecia surreal. Como se nunca tivesse acontecido. Como se fosse
apenas um pesadelo. Mas a única coisa que me lembrava tão
vividamente, tão claramente como se tivesse acontecido ontem, foi a visão
do corpo de Brad, a bala na cabeça sangrando enquanto as fibras do
tapete felpudo absorviam tudo. Lembrei-me do cheiro metálico. O cheiro
pungente de sangue fresco que impulsionou uma onda violenta de náusea
na minha garganta. O desejo de vomitar era esmagador.

— Mila, você está bem?

Eu levantei minha mão para impedir que Saint se aproximasse


demais, caso decidisse arruinar seus sapatos de couro italiano. — Estou
bem. — Minhas palavras foram sufocadas. — Eu só... me sinto um pouco
tonta. Isso é tudo.
— Você ainda não comeu.

— Estou bem. — Engoli em seco e tentei sufocar a náusea.

As portas do elevador se abriram e Piero saiu quando Saint pegou


minha mão, conduzindo-me para fora do espaço confinado e para um
vestíbulo espaçoso decorado com arquitetura italiana vintage e design
renascentista. Pilares altos estavam no arco que separava o vestíbulo da
sala de estar. Eu lentamente girei, tentando absorver cada centímetro da
suíte. Havia apenas uma palavra para descrevê-lo. Majestoso... assim
como meu marido.

— Vou pedir serviço de quarto. Você precisa comer.

Eu queria me opor, mas percebi que minha náusea se foi.


Provavelmente atordoada com o ambiente luxuoso que eu estava
tentando entender de uma só vez.

— Sinta-se à vontade. — Saint saiu na frente. — Nosso quarto é o do


final do corredor, com o terraço.

Eu recuei. — Nosso quarto?

Ele se virou para mim. — Sim, Mila. Nosso quarto. Você prefere ter
o seu?

— Bem... hum...

— Bom. — Ele sorriu. — Como eu disse, no final do corredor.

O calor inundou minhas bochechas como se eu fosse uma maldita


colegial na noite do baile, prestes a dividir um quarto com um garoto pela
primeira vez.

— Foda-se. — Murmurei quando Saint desapareceu atrás de um


pilar, fora da vista.
Sem rumo, percorri a suíte, tocando suavemente móveis polidos e
superfícies lisas. Dois meses atrás, eu estava morando em um
apartamento ruim, com uma colega de quarto viciada em drogas que nem
sabia que eu estava lá. E agora, aqui estava eu, vagando pelos corredores
de uma suíte presidencial que somente as pessoas mais ricas do mundo
podiam pagar.

Uma porta dupla dava para a piscina coberta e eu respirei fundo.


Mais pilares se estendiam do chão até o teto alto, a temperatura um
pouco mais úmida que o resto da suíte. Meus calcanhares batiam alto no
piso de granito, então eu os escorreguei e passei pela piscina. A água era
cristalina e dois golfinhos de mosaico adornavam o fundo da piscina como
se fossem pedras preciosas. Plantas exóticas estavam em todos os cantos
do espaço aberto, um cheiro de terra mascarando o cheiro de cloro.

Inclinei-me no joelho e passei os dedos pela água morna. Parecia


seda contra a minha pele, e mesmo que eu tivesse passado pelo inferno
para chegar aqui, por um único momento eu apreciei os luxos da minha
nova vida.

— Continue. Dê um mergulho.

Notei Saint encostado em um pilar enquanto ele me observava com


olhos de demônio. — Compramos vestidos e lingerie. Não roupa de banho.
— Eu me endireitei, mas Saint permaneceu imóvel.

— Nade nua.

Eu bufei. — Sim, acho que não.

— Tire sua roupa, Mila.

Soltei uma risada e olhei para o teto. — Você não está falando sério.

— Tire. Agora.
Ele me apontou com um olhar aguçado, e não havia nada brincalhão
nas profundezas de seus olhos. Suas feições eram de pedra, suas íris
escuras e pesadas – uma mudança drástica em relação a poucos minutos
atrás.

— Esse é outro truque seu, como aquele em que você me viu tomar
banho?

Ele cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha. — Você é muitas


coisas, Mila, mas obediente não é uma delas.

— Você só está percebendo isso agora? — Eu desafiei, determinada


a não mostrar fraqueza. Mas minha barriga estava cheia de partes iguais
de medo e antecipação. Saint havia me mostrado um lado menos cruel
com ele nas últimas semanas, mas isso não significava que eu não tinha
mais medo dele. Eu conhecia a escuridão que espreitava dentro dele. Eu
estive no lado receptor dessa escuridão mais de uma vez. Só de pensar
nisso amarrou meu interior com arame farpado, torcendo e apertando.

Quando ele deu um passo em minha direção, instintivamente recuei.


As emoções que senti no dia em que ele me forçou a tomar um banho
estavam voltando. Estava sufocando o desejo que floresceu dentro de
mim, pouco a pouco.

— Você tem medo de mim, Mila?

— Se bem me lembro, devo fazer a pergunta.

Seus lábios se curvaram na borda. — Responda à minha pergunta,


e eu concedo a você duas.

— Duas perguntas? — As perspectivas me intrigaram.

Ele assentiu. — Duas perguntas.


Dessa vez, dei um pequeno passo à frente, o frio do chão escorrendo
pelos meus pés descalços. — Bem. Sim, você me assusta mesmo que
tenha sido menos cruel comigo ultimamente.

As sobrancelhas dele mergulharam. — Cruel? Mila. Eu nunca fui


cruel com você.

— Com licença?

Ele avançou. — Se eu fosse cruel, você usaria trapos em vez de grifes.


Você comeria pão estragado, e não cozinha italiana. — Engoli em seco
enquanto o observava cada vez mais perto. — Se eu fosse cruel, você
ficará amarrada e amordaçada no meu porão. Seu corpo estaria doendo
incessantemente. Suas coxas queimariam de ficar com as pernas abertas
por longos períodos de tempo, enquanto você não tem escolha a não ser
pegar meu pau uma e outra vez. — Ele inclinou a cabeça e estreitou os
olhos emoldurados por sobrancelhas escuras. — Se eu fosse cruel, Mila,
não restaria nada de você. Apenas uma concha vazia que existiria apenas
porque eu permiti.

O tom baixo em sua voz penetrou em minha coluna com medo, e eu


tive que mudar de uma perna para a outra para me impedir de cair de
joelhos enfraquecidos. Depois de tudo que passei com esse homem,
acreditei em cada palavra que ele acabara de dizer. O aviso oculto em
suas palavras era que eu tinha perdido de vista quem ele realmente era –
que ainda não tinha visto o pior dele. A força silenciosa que eu abrigava
desapareceu, substituída pela incerteza mais uma vez. — OK. Então, de
acordo com você, você tem sido o que? Leniente? Tolerante?

— Dominante. — Ele respondeu com um olhar presunçoso.

— Eu não vou discutir isso.

— Então faça o que eu digo. Tire suas roupas.


Minha pele ficou quente como se ele já a tivesse tocado. Meus lábios
se separaram como se ele estivesse apenas a momentos de beijá-los.
Havia pelo menos sete pés entre nós, mas minhas respirações cada vez
mais rápidas e coxas cerradas eram como se ele tivesse seu corpo
pressionado contra o meu.

— Você vai se juntar a mim? — Era difícil não gaguejar, sua presença
intimidadora preenchendo todos os espaços vazios ao meu redor.

— Se esse pequeno cenário de chuveiro for alguma indicação, você


saberá que eu não vou me juntar a você. Mas eu vou estar assistindo.

— Por quê? Por que ficar nas sombras como espectador?

Ele me estudou sob os cílios escuros, olhos radiantes na iluminação


nítida. — Como homem com muitos bens valiosos, gosto de me sentar e
admirar os bens pelos quais trabalhei tanto para conseguir.

— Eu não sou sua posse, Saint.

O olhar presunçoso em seu rosto sugeria que ele esperava essa


reação. — Claro que você é.

— Eu não sou.

— Então o que você é? Minha prisioneira?

Se fosse há algumas semanas atrás, eu não hesitaria em dizer que


sim. Dizer que eu era realmente sua prisioneira. Mas ultimamente,
parecia cada vez menos a verdade.

— Diga-me, Mila. O que você é?

Eu não gostei de como ele estava me encurralando, mudando nossa


conversa para uma direção que eu não estava pronta para seguir. — Eu
não sei. — Foi uma resposta honesta.
— OK. Então me responda isso. Se eu tivesse que lhe dizer aqui,
agora, que você tem sua liberdade. Que você pode decidir se quer ficar ou
sair, sem nenhuma repercussão... qual seria sua resposta?

Essa era exatamente a direção da conversa que eu estava tentando


evitar. Saint me coagiu durante toda a conversa, me encurralando lenta
e taticamente. Eu não estava pronta para ter essa conversa com ele,
porque eu mesma não sabia o que faria se ele tivesse que me dar a
liberdade de repente para escolher.

Tudo o que pude fazer foi juntar o mínimo de coragem que me


restava em minhas veias para poder ficar de pé na frente do diabo.

— Eu correria. — Eu menti, e o sorriso em seu rosto me disse que


ele viu através dele.

— Você tentou isso uma vez. Você não foi longe, lembra?

— Eu lembro. Mas da próxima vez, nunca vou parar de correr.

Com dois passos, ele fechou a distância entre nós mais rápido do
que eu poderia recuar, e ele me nivelou com um olhar que poderia rachar
até granito. — Você nunca vai parar de correr, e eu nunca vou parar de
caçar.

Ele passou as costas da mão pela lateral da minha bochecha, um


toque gentil que contradiz o olhar duro em seus olhos. Íris de cristal se
afogando no pecado me cativaram, deixando-me presa e incapaz de me
mover.

Com um único dedo, ele arrastou seu toque pelo meu pescoço,
mergulhando entre os meus seios, colocando minha pele em chamas. —
Não me faça pedir novamente, Mila.

Nas últimas semanas, um jogo havia começado entre nós. Um jogo


onde ele exigiu e eu desafiei. Mas todo jogador sabia que se você queria
ser o melhor, tinha que ter uma visão para saber quando lutar, quando
se render. Nunca lute contra uma batalha que você sabe que não poderia
vencer, e agora isso era uma batalha, eu perderia se não me submetesse.

Nossos olhos permaneceram trancados quando eu dei um simples


passo para trás e peguei o zíper que se estendia entre meus seios, sem
sutiã à vista. Enquanto abaixava lentamente, eu nem sequer pestanejei,
meu coração acelerando a mil batimentos por minuto. Com um dedo, tirei
o tecido de um ombro e depois do outro, o tempo todo, sem tirar os olhos
dos dele. Cada respiração que eu tomava tinha ar se instalando
profundamente dentro dos meus pulmões, minhas entranhas tensas. A
expressão de Saint permaneceu pedra enquanto ele me observava tirar o
macacão. Pela primeira vez, ele quebrou o contato visual enquanto o
tecido se acumulava ao redor dos meus pés. Ele olhou para baixo, os
olhos encobertos quando seu olhar malicioso subiu pelas minhas pernas.
Por um segundo, ele parou no ápice das minhas coxas, inclinando a
cabeça para o lado enquanto observava minha calcinha de cetim preta.
Seu olhar se voltou para o meu com um aviso silencioso.

Eu estreitei os olhos, mas não havia como negar o desejo que fervia
em meu núcleo enquanto deslizava meus dedos pelos meus quadris,
deliberadamente tomando meu tempo com movimentos lentos e medidos
até que juntasse as roupas ao redor dos meus pés.

Endireitei-me com uma nova confiança que encobriu minha nudez,


e o olhar ardente de Saint se estabeleceu entre minhas pernas.

— Eu amo que você se depilou para mim.

— Apenas fazendo o que me disseram.

Sua boca se curvou em um sorriso diabólico. — É bom te foder


enquanto seus lábios nus acariciam meu pau.

O calor irradiava das minhas bochechas enquanto ele explorava meu


corpo nu com olhos que continham promessas de prazer, bebendo-me
com íris que ficavam mais escuras a cada segundo que passava enquanto
seu apetite pelo proibido se tornava mais forte. Se a luxúria pudesse ser
personificada, seria Saint. O aviso de sua intemperança ameaçadora
refletia em seus olhos de safira, seus tentáculos me alcançando, me
seduzindo com promessas de desejos depravados. Surpreendeu-me como
um homem poderia extrair tantas emoções contraditórias de mim.

Medo.

Ódio

Desejo.

Luxúria.

Quatro coisas que eram completamente opostas, mas com a gente


veio de mãos dadas. Eu não poderia ter um sem o outro.

Saint acenou com a cabeça em direção à piscina, exigindo


silenciosamente meu próximo passo em nosso joguinho de deboche. O
calor cobriu minha pele e não tinha nada a ver com a temperatura
levemente úmida da sala.

A relutância pesou nas solas dos meus pés quando me virei de Saint
para encarar a piscina. Eu ainda podia sentir seus olhos em mim, me
acariciando, me tocando. Sua presença me envolveu e era impossível
ignorar. Eu senti o revestimento da minha pele, fazendo meu pulso
disparar enquanto a expectativa fervia em meu núcleo.

Enquanto inspirei profundamente, olhos fechados, levantei minhas


mãos e exalei antes de respirar novamente. Com uma última tentativa de
recuperar meus nervos, levantei-me na ponta dos pés e mergulhei na
piscina. A água morna me acolheu quando eu a abri com movimentos
suaves. Por aqueles poucos momentos, eu desafiei o constante arrasto da
gravidade, meu corpo sem peso e a água como cetim contra a minha pele.
Cada golpe me afastava mais da realidade. Algo sobre o movimento
tornou-se natural depois de um tempo, e eu queria ficar debaixo d'água
onde parecia intocável... até que a queimação nos meus pulmões me
lembrou que eu precisava de ar mais do que uma fuga.

A água caía em cascata pelo meu rosto enquanto eu rompia a


superfície e limpava as gotas dos meus olhos e do meu cabelo. Meus olhos
se abriram e encontraram Saint como se houvesse uma atração
magnética entre nós, como se ele fosse meu norte e eu sempre encontraria
meu caminho para ele.

Ele se sentou em um dos sofás brancos, recostando-se


vagarosamente com os braços estendidos ao lado dele. Majestoso, um
príncipe sombrio e soberano, Saint estava sentado em seu trono, me
observando, admirando sua rainha se entregando aos luxos de seu
próspero reino.

Real. Régio. Poderoso. O matador de demônios no inferno onde ele


governava – onde ele fez as regras do jogo. Um jogo em que eu estava
lentamente recuperando o poder.

O fogo em seus olhos ardia quando o fogo se acendeu dentro de mim,


iluminando a coragem que eu precisava para transformar esse jogo de
gato e rato em um jogo ardente de tentação e sedução.

A tensão ao nosso redor se intensificou quando nossos olhos


permaneceram presos. A sensação de total falta de peso me carregou, e
eu me inclinei para trás, meu corpo nu rompendo a superfície enquanto
eu relaxava na água - flutuando com movimentos lentos dos braços e
chutes suaves nos pés. Fechei os olhos e tentei imaginar a cena na frente
dele enquanto ele me observava, a água batendo suavemente na minha
pele. A luxúria estava por toda parte. Eu pude sentir isso. Cheirar isso.
Porra, gosto disso. Ele controlou e mudou os dois. Isso me deu coragem
para agarrar a escuridão que eu desejava. A mesma escuridão que Saint
me viciou.

Continuei minha exibição sensual curvando-me para trás,


deslizando a cabeça debaixo d'água e torcendo até a piscina engolir tudo
de mim. Alguns golpes longos me permitiram percorrer a água sem ir à
superfície para respirar. Foi quando senti os passos contra minhas mãos
que parei e violei à beira da água, inalando profundamente.

Olhei pela metade do meu ombro e passei a mão pelo meu braço nu
– minha pele estava ciente de seu olhar aquecido e sensível à sensação
da água.

— Olhe para mim, Mila. — Suas palavras foram sedução líquida, o


som ecoando entre minhas coxas.

A água ondulou ao meu redor quando me virei, e respirei fundo


quando o vi, sua mão deslizou dentro de sua calça. O pensamento dele
se tocando intensificou a necessidade que palpitava dentro do meu sexo.

— Incline-se contra esses degraus. — Ele ordenou com uma voz de


barítono que reverberou contra minha espinha, meu corpo inteiro em
chamas com suas palavras simples, mas exigentes. — Incline-se para trás
e abra as pernas.

A água balançou como eu exigi, me recostei nos degraus duros,


abrindo minhas pernas sem peso na água enquanto empurrava meus
quadris para a superfície.

— Bom. Agora me mostre como você se toca, como se faz gozar


quando está sozinha.

O ar ao nosso redor estava carregado de tensão sexual em brasa,


que me fez descer descaradamente para me tocar, escovar as pontas dos
dedos ao longo das minhas dobras sensíveis enquanto observava a mão
de Saint se mover sob suas calças. Mordi meu lábio, desejo
desabrochando no meu núcleo quando eu peguei vislumbres da cabeça
de seu pênis com cada golpe de sua mão ao longo de seu comprimento.
Minha boceta já estava inchada e carente, meus quadris cavalgando
quando meu próprio toque me trouxe para mais perto da borda, oscilando
no ápice da liberação.

— Não goze, Mila. — Sua voz ecoou pela sala, batendo contra os
pilares de concreto. — Não goze ainda. Eu sou o único que tem o privilégio
de lhe permitir prazer.

— Saint. — Eu gemi e inclinei minha cabeça para trás, meus cabelos


flutuando na água. — Eu não consigo parar.

— Você não precisa. Apenas não goze. É fácil.

— Como diabos... — Um tremor repentino percorreu meu corpo


enquanto eu pressionava a ponta do meu dedo contra o meu clitóris.
Minhas costas arquearam, água espirrando contra o lado do meu rosto e
nos meus ouvidos. Foi puro instinto sexual quando ampliei minhas
pernas, afastando-as e sentindo a água aveludada acariciar cada
centímetro da minha fenda.

— Olhe para mim, Mila. Olhe para mim! — Sua voz era um trovão
estrondoso em comando, e eu levantei minha cabeça para olhar para ele
na minha frente. O comprimento de seu pênis estava apertado na palma
da mão, as calças abaixadas para que eu pudesse vê-lo. Cada golpe de
sua mão me fazia mover meus dedos mais rápido, pressionando com mais
força o botão sensível que acabaria me empurrando para o limite.

— Você gosta de me ver? Você gosta de me ver foder minha mão?

Eu gemia, a pressão aumentando na minha espinha, ameaçando


entrar em erupção entre as minhas pernas.

— Me responda!

— Sim! — Eu gritei. — Sim, eu gosto.


— Então me observe vir. Observe-me esguichar minha porra em
todos os lugares, menos dentro de você. E enquanto você se dedica, saiba
que da próxima vez que eu vier, será bem dentro dessa doce boceta.

— Jesus, Saint. — Deslizei um dedo dentro de mim, alcançando o


mais profundo que pude, minhas pernas tremendo de prazer iminente.
— Eu vou gozar.

— Goze, e juro por Deus que farei você se arrepender. Eu vou te foder
sem deixar você vir uma única vez.

— Por que você está fazendo isso?

— Porque eu posso. Porque você precisa aprender uma lição de que


o desafio sempre tem um preço. Não importa quão grande ou pequeno. E
essa é sua penitência, Mila. Negando a si mesma o orgasmo que seu corpo
está exigindo agora.

— Por favor.

— Diga-me. — Sua voz era baixa, um eco estrondoso da luxúria que


arranhava meu coração. — Diga-me para gozar. Diga-me como você quer
que eu goze por todo o meu maldito traje caro.

Seus golpes se tornaram mais rápidos. Vigoroso. Desesperado. —


Diga-me, Mila!

— Eu quero que você goze. — Eu apertei minhas coxas, meu orgasmo


ameaçando entrar em erupção. — Eu quero ver você gozar.

— Foda-se. — Ele amaldiçoou e esticou o pescoço enquanto inclinava


a cabeça para trás, os quadris flexionando e a mão bombeando até que
espirros brancos escaparam de seu pênis e em sua camisa branca.

— Deus. — Eu queria gritar. Eu queria chorar. Eu queria gozar, mas


o aviso dele me impediu de cair. Foi contra tudo que meu corpo queria,
contra minha própria natureza humana para encontrar prazer. Negar-me
um orgasmo tinha todos os meus músculos tensos e doloridos pela
liberação.

— Isso, boa garota.

Parecia que ele zombava de mim. Como se ele tivesse prazer na


minha agonia.

Lágrimas queimaram meus olhos, raiva intensificando minha


necessidade dolorida.

— Agora, feche as pernas e saia da piscina. — Ele se levantou e


arrancou a camisa suja do corpo, jogando-a no chão. — O jantar está
esperando.
14

Saint

O ROSADO nas bochechas e o vermelho ardente em seus olhos a


faziam parecer uma Deusa. Nua, carente e corada, Milana Katerina Russo
estava radiante. Eu era viciado na cor da raiva em suas íris, em como a
transformou de uma mulher simples em uma oponente forte e digna. Eu
diria que brigar com ela se tornou meu passatempo favorito. Isso
provocou uma onda de adrenalina em minhas veias e me fez querer ela
mais do que eu já desejei qualquer mulher. De fato, a presença dela em
minha vida me cegou ao apelo de todas as outras mulheres.

Quando a vi se despir, revelando cada centímetro de seu corpo nu,


meus pensamentos estavam possuídos apenas com ela. Eu queria vê-la
nadar por horas. Observar como a água fazia amor com seu corpo
enquanto ela se afastava sem esforço pela superfície. Mas ela jogou esse
jogo muito bem, abraçando seu papel de sedutora e me fazendo perder o
controle – algo que não aceitei com gentileza. E agora estávamos na
minha parte favorita do jogo entre nós, a parte em que eu mostrei a ela
que não havia nada de tentador na fera. Não mexa com o sangue do diabo
sem se afogar nele.

Olhei para cima do meu prato e notei que ela não havia tocado sua
comida. — Não está com fome?

— Não.

Engoli a comida na minha boca e me recostei. — Você parece... Como


os americanos falam mesmo? Puta.
O lábio superior dela se curvou. — Ser negada ao orgasmo faz isso
com uma garota.

Eu sorri. — E o fato de você estar sentada nua na mesa de jantar


não tem nada a ver com isso?

As sobrancelhas dela se ergueram e ela se inclinou para trás,


cruzando os braços abaixo dos seios nus, aqueles mamilos rosados e
bonitos implorando para serem sugados e mordiscados. — Você já roubou
minha dignidade de mim mais de uma vez. — Ela encolheu os ombros. —
Estar nua perto de você está se tornando a nova norma para mim.

Puxei meus lábios em uma linha reta, admirando sua coragem, mas
não apreciando o desrespeito que ecoou em seu tom de voz. — Coma sua
comida.

— Eu não estou com fome.

— É considerado falta de educação quando alguém lhe compra


comida e você se recusa a comê-la.

Mila se inclinou para frente, seus cachos soltos caindo sobre os


ombros. — Também é considerado rude quando um marido não agrada
sua esposa.

— A menos que ela esteja agindo como uma pirralha e ele esteja
tentando lhe ensinar uma lição.

— Ou provar um ponto, que é mais parecido com isso. — Ela


recostou-se, seus lábios carnudos fazendo beicinho e os olhos brilhando.

Peguei o guardanapo do meu colo e joguei-o sobre a mesa. — E que


ponto é esse?

— Que você está no controle. Que você dita todos os aspectos da


minha vida, até o segundo em que decide se eu posso sair ou não.
Entendi, Saint. Eu recebi a mensagem alta e clara quando você atirou em
Brad bem na minha frente.

— No entanto, nem mesmo isso foi uma lição suficiente para você
saber quando manter a boca fechada.

Mila apertou os lábios, e eu queria estender a mão e apertar suas


bochechas enquanto forçava minha boca sobre a dela.

— Por quê? — Ela cruzou as pernas debaixo da mesa.

— Porque o que?

— Por que você está tão empenhado em me foder o tempo todo?

Eu fiz uma careta. — Essa é sua pergunta hoje?

— Sim. — Ela não hesitou.

Minha mente correu quando bati meu dedo levemente na mesa.

Toque. Toque. Toque.

Nossos olhos permaneceram fixos um no outro, os meus


determinados a intimidar, os dela exigindo uma resposta. A verdade era
que eu não tinha uma resposta para sua pergunta. Não havia motivo ou
razão para minhas ações quando se tratava dela. Um momento, fiquei
chocado com essa mulher, sentindo coisas que nunca havia sentido
antes. Mas então eu pensava no dia em que ela fugiu de mim, a sensação
de desamparo que senti enquanto esperava James segui-la. Ela se tornou
minha única fraqueza, e eu não tinha ideia de como lidar com isso, além
de ser um idiota. Sendo cruel. Isso me fez fazer coisas que colocam o
poder e o controle de volta em minhas mãos.

— Você prometeu sem mentiras, Saint. A verdade.

Eu me mexi na minha cadeira. — Você quer a verdade?

— Sim.
— Bem. A verdade é que não estou te fodendo, Mila. Você está se
fodendo. Eu ainda sou o mesmo homem que matou seu amigo. O mesmo
homem que forçou você a se casar comigo. E o mesmo homem
responsável por todas as suas lágrimas. — Eu fiquei de pé, as palavras
de raiva deslocando queimando a ponta da minha língua. — Você é quem
está tentando encontrar qualidades resgatáveis em mim. Foda-se sabe o
porquê. Talvez porque você esteja tendo um gostinho da boa vida que
tenho para oferecer, e você pensa que se eu me tornar o homem dos seus
sonhos, você poderá ter isso além do nosso contrato de seis meses. —
Bati minhas mãos sobre a mesa e Mila gritou quando os talheres bateram.
— Aqui está, Mila. Não tenho qualidades resgatáveis. Eu nunca serei um
marido carinhoso que toma banho com sua esposa com amor e arco-íris,
e toda essa besteira romântica. — Inclinei-me sobre a mesa, querendo
que ela veja o fogo do inferno queimar nas minhas íris. — Você nunca
será nada mais para mim do que é agora...

— Uma assinatura? — Ela interrompeu. — Nada além de um meio


para conseguir o que você quer? Lembro que você me disse essas palavras
exatas uma vez antes, mas tudo o que aconteceu desde então sugere o
contrário.

Eu zombei. — Não se engane.

— Não! — Ela disparou. — Você pode ficar lá e cuspir todas as


palavras ofensivas que quiser, mas você e eu sabemos que não sou eu
quem se engana aqui. Você sim.

Lá estava. O filho da puta de todos os desafios. Aquele que ameaçou


me roubar o controle que eu estava empenhado em manter. Eu tinha
chegado muito longe e muito perto de arruinar a vida de meu pai como
se tivesse arruinado a minha.

Mordi o lábio, desesperado para controlar a raiva que ameaçava ditar


o que eu faria a seguir.
Mila não quebrou o contato visual e não mostrou nenhum sinal de
que iria recuar. Em vez disso, ela se afastou da cadeira, endireitando seu
corpo nu, que estava parcialmente escondido debaixo da mesa até agora.
Confiança pintou todas as suas curvas enquanto ela andava em minha
direção, movendo-se como uma sereia. Uma sedutora com um rubor
rosado nas bochechas e o brilho de esmeraldas nos olhos.

— Ontem à noite, vi um lado diferente seu. — Sua voz era melódica,


suas palavras calculadas. — Você passou a noite me segurando em seus
braços sob as estrelas.

— Não romantize.

— Eu não estou. — Ela parou diante de mim, tão perto que eu ainda
podia sentir o cheiro de sua excitação persistente. — Só estou dizendo o
que estou vendo. Algo que você parece ter um problema em ver.

Um rosnado saiu dos meus lábios quando eu agarrei sua garganta,


apertando-a entre meus dedos e levantando seu rosto enquanto eu
inclinava o meu para baixo. — Não brinque comigo, Mila. Você vai perder
e vai quebrar.

— Eu não ligo. — Ela alcançou entre nós, e eu reprimi um gemido


quando sua mão roçou contra minha virilha, seus dedos corajosamente
desabotoando minha calça. — Me quebre. Me use. Foda comigo.

Ela deslizou a mão dentro da minha calça, as pontas dos dedos


roçando na cabeça do meu pau enquanto ela corajosamente envolvia a
mão em volta da minha cintura. A poderosa onda de desejo me fez apertar
minha garganta com um rosnado.

Ela respirou fundo. — Faça o que você quiser comigo, Saint. Eu não
me importo. — Seus lábios brilhavam com uma tentação que agravou
minha vontade de prová-la. — Mas não finja que não sente nada. Não
finja que sou como qualquer outra vagina que você fodeu. Que você não
é viciado em como é estar dentro de mim. — Ela chegou mais fundo,
acariciou meu eixo até que seus dedos seguraram minhas bolas e a
apertaram com força. Um desejo violento de bater meu pau em sua
pequena boceta necessitada bateu contra minha espinha. — Porque sou
viciada nisso, Saint. Viciada na sensação de ter você dentro de mim, me
esticando, me enchendo a um ponto em que tenho certeza de que você
vai me quebrar ao meio.

Um raio caiu no segundo em que capturei sua boca com a minha.


Nossos lábios travaram, fundidos enquanto nossas línguas lutavam por
controle, desesperadas para provar o que tanto ansiava.

Entre si.

Engoli seus gemidos e apertei minha mão com mais força em seu
pescoço, sentindo seu pulso contra as pontas dos dedos. Quanto mais eu
agarrava sua garganta, mais feroz ela bombeava meu pau na palma da
mão.

Com a mão livre, puxei a toalha de mesa de linho, os pratos de


comida, os copos e os talheres caindo no chão. Agarrei sua cintura e
levantei seus pés do chão. Quando suas costas bateram na mesa, suas
pernas se abriram para mim e eu pressionei meu corpo com força em
cima do dela. Ela lutou para segurar meu pau enquanto eu flexionava
com força contra ela. Eu era todos os desejos animalescos e intenções
cruéis, quando o desejo do meu corpo de foder assumiu.

Soltei sua garganta e apalpei seus seios - amassando, puxando...


tomando. Suas costas arquearam quando ela se abaixou, forçando sua
mão mais fundo nas minhas calças para brincar com minhas bolas, um
toque simples que me levou a um frenesi de luxúria que ameaçou me
deixar explodir minha carga nas minhas calças, como um fodido
adolescente.

Flexionei meus quadris, querendo nada mais do que devorá-la e


afundar as bolas profundamente dentro de sua boceta enquanto sentia
seu corpo se contorcer sob o meu.
Nossos lábios roçaram e deram um nó, nossos gemidos se
transformando em uma melodia imunda de desejos depravados e luxúria
que nos fizeram correr descaradamente até a borda o mais rápido
possível. Eu pensei que tinha perdido todo o controle... até sentir seus
dentes no meu lábio, e ela mordeu, instantaneamente tirando sangue que
eu provei na minha língua um segundo depois.

Eu parei e olhei para a gota do meu sangue que manchava seu lábio
inferior. O pensamento de como meu sangue tinha o gosto em sua língua
era todo o necessário para a fera sair de sua jaula. Para finalmente se
libertar e rasgar o último pedaço de inocência que ela havia deixado de
seu corpo.

Ela puxou a mão da minha calça e esticou os braços acima da


cabeça. Um sinal de submissão completa. Permissão para eu fazer o que
eu queria.

Toquei seu lábio inferior com o polegar, arrastando a gota de sangue


pela borda da boca. — Uma lição que meu pai me ensinou, a única que
eu levei a sério... nunca domar seus demônios, mas sempre mantê-los na
coleira.

Com uma varredura, eu a peguei, suas pernas em volta de mim


enquanto eu a carregava pelo corredor. Dedos desesperados teceram
através dos cabelos na parte de trás da minha cabeça enquanto ela se
segurava em mim, sua língua lambendo a curva da minha orelha. O som
de suas respirações rápidas era um eco do meu próprio desejo e
necessidade. Foi tóxico. Letal. Destrutivo. A cada passo, isso me
consumia, e eu esqueci tudo sobre o mundo lá fora. Bem aqui, agora,
éramos apenas nós. Nós e o barulho alto da nossa lascívia. Foi
ensurdecedor. Eu não conseguia nem ouvir o som do meu próprio
batimento cardíaco. Tudo o que importava era acalmar a tempestade que
se abateu entre nós, e a única maneira de fazer isso era deixar que levasse
o que era necessário para acalmar sua fome.
Nós.

Entrei no quarto principal e parei no final da cama com Mila ainda


segurando firmemente em volta de mim, sua boca arrebatando a pele do
meu pescoço como se ela estivesse faminta pelo meu gosto. Sua língua
era aveludada contra a minha pele, e eu inclinei minha cabeça para o
lado para lhe dar mais de mim para provar. Mais de mim para consumir.
Queria que ela me preenchesse, arrancasse minha alma do meu corpo e
devorasse-a avidamente.

Os dentes morderam meu lóbulo da orelha e soltei uma risada baixa


e estridente. — Meu pequeno segredo. Se você soubesse a destruição que
deixaríamos em nosso caminho.

Seu hálito quente dançou no meu pescoço. — O mundo pode pegar


fogo ao nosso redor. Eu não ligo.

Um gemido rolou da minha garganta, e eu a agarrei, arrancando-a


do meu corpo e jogando-a no colchão king-size.

Olhos esmeralda brilhavam, selvagens de luxúria, seu corpo se


contorcendo em cima dos lençóis de cetim.

Eu não tirei meus olhos de seu corpo nu quando puxei minhas


calças para baixo, finalmente liberando meu pau dolorido - duro e pronto
para pegar o que era meu por direito. Pronto para reivindicar minha
esposa mais uma vez.

— Meu caminho para o inferno já foi pavimentado pelo pecado. Mas


você, Mila... você é o único pecado em que me entregarei até que as
chamas me envolverem.
15

Mila

FOI PURA AGONIA, do jeito que meu corpo queimou. Do jeito que todos
os músculos doíam, meu interior se contorcia e se esticava enquanto a
excitação se acumulava entre minhas pernas.

Mordi meu lábio inferior enquanto o observava se elevando no final


da cama. Nu e esculpido em pedra pelas mãos do próprio Adonis, o apelo
de Saint foi amplificado pelos poderes dominantes que ele exalava
simplesmente pela respiração. Manteve-se orgulhoso, real, mesmo à beira
de mergulhar nas profundezas do pecado. Cada curva, cada centímetro
dele até seu pênis endurecido era suave, firme... perfeito. Meus dedos
doíam ao tocar, e minhas coxas latejavam com a necessidade de recebê-
lo.

Ele alcançou o topo da cama de dossel, os braços esticados,


apertando todos os músculos do corpo esculpido. — Você diz que está
pronta para o mundo queimar.

Eu arqueei minhas costas como se suas palavras acariciassem


minha pele quente. — Agora, eu estou pronta para queimar.

O sorriso que tinha seus lábios curvados com intenção maliciosa me


lembrou como eu estava com sede de prová-lo novamente. — É tudo o
que você tem, não é, Mila? Seu fogo. Essa escuridão queima.

— Uma escuridão que eu nunca conheci antes de você.


Ele abaixou os braços, ainda sorrindo. — Uma corrupção pela qual
eu ficaria feliz em pagar com sangue.

Ele alcançou os cantos da cama e puxou o que parecia ser uma


gravata preta com laços. O sorriso diabólico em seu rosto era ao mesmo
tempo sexy como pecado e irritante como o inferno. — Algo que eu
adicionei à decoração do nosso quarto enquanto você estava admirando
os luxos da suíte.

Ele colocou os dedos em volta do meu tornozelo e sem esforço


amarrou o cetim preto em volta dos meus pés.

— Deite-se, Mila. — Seu tom era duro, áspero, uma indicação clara
de que esse era um daqueles momentos para eu calar a boca e obedecer.
O que eu fiz, me contorcendo contra os laços enquanto ele segurava meus
braços. O cetim era macio contra a minha pele, e eu testei sua força
puxando levemente as restrições.

Saint foi ficar de pé no final da cama novamente, admirando a vista


à sua frente. Eu me esparramai e foi para o prazer dele. Algumas semanas
atrás, a ideia teria me mortificado, mas agora só me fazia me contorcer,
precisando muito mais dele.

Um joelho de cada vez, Saint se estabeleceu entre minhas pernas.


Com seu corpo na posição vertical, seu pênis duro e pronto, eu podia ver
a gota da excitação na ponta. Ele tocou a parte interna da minha coxa
com um único dedo, acariciando para cima.

Minhas pernas tremiam quanto mais perto ele chegava do meu


centro. Meu núcleo acelerou com antecipação enquanto esperava seu
toque com a respiração suspensa. Um toque que ele meramente me
provocou enquanto traçava a ponta dos dedos na fenda da minha coxa,
evitando propositadamente o lugar que eu mais precisava. Tremores
possuíam minhas pernas, meu corpo oprimido por sensação e
devassidão. Mordi o lábio enquanto seu toque continuava me torturando,
sentindo como se estivesse prestes a explodir em chamas enquanto me
contorcia em cima dos lençóis.

— Adoro ver você se contorcer por mim, como seu corpo assume e
exige. — O tom rico e profundo de sua voz, a sedução que escorria de
suas palavras penetrou na minha pele e penetrou no meu sangue. Meu
corpo não era mais meu. Eu não o controlava mais. Ele controlava.

No segundo em que ele deslizou um dedo pela minha fenda, arqueei


minhas costas com a intrusão bem-vinda.

— Oh, Mila. Seu corpo nunca decepciona. — Ele empurrou o dedo


dentro do meu calor acolhedor, e eu estiquei meu pescoço enquanto meu
corpo se arqueava para fora da cama, fortes ondas de prazer pulsando
em minhas veias. — Você estava certa, você sabe. A parte em que você
disse que sou viciado em estar dentro de você. — Ele dobrou o dedo e
massageou minhas paredes internas com movimentos suaves. Eu me
contorci, gemi e meus quadris se moveram quando meu controle
escorregou. — Eu estou viciado em você. Eu sou viciado em seu corpo.
Seu fogo. E com Deus como minha testemunha, sou viciado nessa sua
doce boceta. — Ele se curvou na cintura e eu gritei quando sua língua
lambeu meu sexo enquanto seu dedo mantinha um ritmo constante. Os
lençóis de cetim começaram a parecer areia contra a minha pele
hipersensibilizada. A ponta de sua língua lambeu de onde seu dedo
entrou no meu corpo, até o minúsculo feixe de nervos que latejava.

— Saint, você vai me matar.

— Oh, mas essa morte seria doce. Uma vida arrebatada pelo
crescente prazer.

Estremeci quando seu hálito quente dançou através da minha


boceta molhada e inchada. A pressão começou a aumentar entre minhas
coxas, uma dor profundamente enraizada que estava prestes a explodir
em um clímax que cortaria todo o controle.
— Ainda não. — Sua boca se foi, seu dedo escorregou para fora do
meu corpo e eu fiquei pendurado na beira do penhasco.

— Jesus. Foda-se! — Eu amaldiçoei e estremeci com as restrições.


— Pare, por favor. Pare de me torturar.

Ele se moveu, abriu as pernas e posicionou os joelhos nos dois lados


dos meus quadris, seus olhos nivelados com os meus. — Eu não estou te
torturando. Estou te preparando. Garantir que seu corpo esteja
preparado e pronto para o que está por vir.

— Oh, está pronto, caso você não tenha notado quando estava lá
embaixo.

Ele riu, seus lábios brilhando quando ele se inclinou e me beijou,


permitindo que eu provasse minha excitação em sua língua. Foi a doçura
do desespero que excitou meu paladar com um beijo longo e duro de cada
vez.

— O que você quer, Mila? — Ele flexionou os lábios, a ponta do seu


pênis tocando a carne do meu osso pubiano, a umidade do seu pré-sêmen
grudando na minha pele. Fechei os olhos e gemi, levantando minha
cintura o máximo que minhas restrições permitiam em uma tentativa
desesperada de encontrar o que eu precisava.

Saint sorriu, com um brilho de travesso nos olhos. — Tão


gananciosa.

— Tão cruel. — Eu desafiei.

Ele se esticou sobre mim, suas mãos roçando meus braços enquanto
ele lentamente subia mais alto... mais alto, pele contra pele, até que seu
comprimento chegou aos meus lábios, e ele se sentou ereto. — Chupe
meu pau. Mas se você me fizer gozar, não lhe darei a mesma cortesia.

— O que?
— Você me ouviu. Chupe meu pau, mas se você me fizer perder o
controle, não vou dar o que você quer.

Antes que eu pudesse dizer uma palavra, ele empurrou seu pau na
minha boca, forçando todo o caminho de volta à minha garganta, me
fazendo quase vomitar, meus pulmões reclamando da falta de ar. Era
impossível eu engolir, e meu cuspe agora só tinha um propósito -
lubrificar seu comprimento que enchia cada centímetro da minha boca.

— Não mexa essa sua cabecinha. — Ele ordenou enquanto se


aproximava de mim, agarrando a cabeceira da cama.

Eu não me mexi, o gosto dele explodindo na minha boca. Gemidos


baixos e guturais cortaram o silêncio enquanto ele flexionava, deslizando
seu comprimento mais para dentro da minha boca e depois saindo
novamente. Era impossível não lamber minha língua contra os cumes
duros, girá-la contra a ponta de seu pênis.

— Foda-se. — Ele amaldiçoou e agarrou as barras com mais força.


— Não faça isso, Mila. Você vai me fazer gozar.

Suas palavras eram combustível. Era gasolina, alimentando minha


necessidade de prazer - fosse dele ou meu. Eu não consegui parar. Eu
não conseguia parar de mover minha cabeça, chupando e lambendo seu
pau, mesmo sabendo que pagaria caro se o fizesse gozar.

— Mila. — Ele avisou ainda não tentando me parar. — Me faça gozar,


e você não vai.

Jesus Cristo. Como eu não deveria ser gananciosa por seu gosto?
Como eu deveria parar?

Seus quadris se moviam mais rápido, mais vigorosamente como se


ele estivesse perseguindo seu próprio prazer agora. Querido Deus, eu
queria que ele viesse. Eu queria provar seu prazer na minha língua...
mesmo que isso significasse me negar o mesmo.
Minhas bochechas afundaram quando eu chupei, girando minha
língua ao redor dos cumes de seu pau.

— Mila.

Eu olhei para cima, o suor escorrendo em seu peito, seu corpo duro
e tenso, músculos amarrados com força e poder, mas eu era a pessoa que
atualmente mantinha o poder em minhas mãos. Nem mesmo as
restrições poderiam me impedir de assumir o controle sobre ele, sobre
seu corpo. Finalmente, entendi sua necessidade de controle. Eu entendi
seu apelo, como o senso de poder poderia ser viciante e tão malditamente
doce.

— Porra! — Ele puxou e agarrou minha bochecha, apertando com


força enquanto olhava para baixo. — Você simplesmente não pode me
obedecer, não é?

Eu não pude responder. Meus lábios estavam enrugados quando


seus dedos morderam minha carne, a dor irradiando em minha
mandíbula. Mas eu olhei para ele debaixo dos meus cílios, certifiquei-me
de que ele visse que eu não me arrependia de desafiá-lo. Na verdade, eu
o desafiei com um único olhar. Um único encontro de íris gritantes. Azul
safira e verde esmeralda. Um combate de escuridão depravada.

— Eu deveria deixar você continuar chupando meu pau e atirar meu


esperma na sua garganta, então deixá-la aqui, amarrada e insatisfeita. —
Ele se moveu para baixo, a sensação suave de suas coxas contra os meus
lados causando arrepios na espinha.

— Eu deveria deixar você aqui sem te foder. — Ele soltou minha


bochecha com um calor quente se espalhando para a carne agora
sensível. Então ele se endireitou, e eu ofeguei quando senti seu pau
cutucar na minha entrada. Ele rolou os quadris e deslizou dentro de mim,
mas apenas uma polegada. — Mas talvez o pior castigo que eu possa lhe
dar agora seja continuar provocando você.
— Por favor, não. — Lágrimas brotaram nos cantos dos meus olhos,
a agonia se tornando cansativa demais para suportar. — Por favor, não
continue fazendo isso comigo. — Uma lágrima escorreu pelo lado do meu
rosto, a dor decorrendo de cada canto do meu corpo.

Ele limpou a lágrima com a ponta do polegar e a levou à boca. —


Nada é tão doce quanto a agonia de uma mulher.

Fechei os olhos, meu corpo continuou sem encontrar o clímax que


desejava por horas. — Pare. Por favor.

— Olhe para mim, Mila.

Não havia força suficiente em minhas veias para abrir meus olhos.

Uma mão gentil segurou minha bochecha. — Olhe para mim.

Eu consegui olhar para ele, todas as linhas escuras e duras que seus
traços tinham desaparecido, substituídas por algo que eu nunca tinha
visto antes. — Agora você sabe como me faz sentir.

— O que? — Minha voz era um mero sussurro.

— Isso é o que você faz comigo. — Ele se inclinou e empurrou para


frente e para dentro de mim. — Você me força a chegar ao limite. — Ele
empurrou um pouco mais. — Você me faz sentir fraco, porque eu não
posso te controlar. — Eu choraminguei quando ele me encheu,
enterrando-se ao máximo dentro de mim. — Não posso proteger o que
não posso controlar.

Suas palavras bateram no meu peito como uma bola destruidora de


confissões. O olhar em seus olhos, as ondas suaves de azul não deixaram
vestígios da raiva e da crueldade com que eu me familiarizei.

— Você entende agora, Mila? — Ele recuou, saindo de mim


completamente. — Diga-me que você entende.
Mais lágrimas fluíram da minha alma e pelos lados do meu rosto.
Eu assenti. — Eu faço.

Desta vez, ele mergulhou de volta em mim, atingindo o centro do


meu núcleo, e eu puxei as restrições, puxando-a esticada quando eu
cerrei meus punhos.

— Não mais, Mila. — Ele permaneceu imóvel dentro de mim. — Não


mais. — Estava lá, aos olhos dele. Um desespero vulnerável que um
homem como ele não deveria ter que mostrar ou sentir. Havia poder
demais correndo em suas veias para ele sucumbir à fraqueza. Saint foi
criado para governar com um punho de ferro. Era para ditar. Pretendia
controlar. O homem cruel, insensível e poderoso por quem me apaixonei
irremediavelmente.

— Chega. — Eu sussurrei, e ele selou nossa promessa silenciosa


com um beijo que chegou até as profundezas da minha alma. Nossas
línguas dançavam, atingindo todos os cantos de nossas bocas, e seus
impulsos ficaram mais fortes, mais duros e mais desesperados quando
ele nos balançou para o crescente que ansiamos.

O corpo dele se mexeu. Suas costas arquearam. Seu pau fodendo.


Uma e outra vez, meu corpo se tornou dele, moldado para se encaixar
perfeitamente nele. Nossas respirações se misturaram e nossos gemidos
escaparam em uníssono.

— Venha para mim, Mila.

Eu não sabia disso até então, mas quando ele disse essas palavras,
meu corpo explodiu em um bilhão de pedaços, como se tivesse esperado
por essas palavras - esperando por seu comando, sua permissão para
quebrar. O prazer surgiu em minhas veias, e as restrições de cetim se
esticaram quando meu corpo inteiro convulsionou com um clímax que
rasgou através de mim como um furacão violento. Ondas bateram contra
todos os ossos, e meu núcleo tremeu quando o ápice forçou um grito alto
dos meus pulmões. — Saint.
— Eu peguei você, Mila. — Ele murmurou quando meu orgasmo
rasgou meu corpo. — Eu peguei você.

Saint continuou a se mover dentro de mim, enterrou o rosto no meu


pescoço e gemeu no momento em que senti seu pau estremecer,
derramando seu prazer em mim.

Seu corpo ficou frouxo em cima de mim, e todos os meus membros


estavam dormentes de exaustão.

Eu respirei fundo. — Não mais, Saint. Não mais.


16

Mila

EXAUSTA E INTOXICADA COM a inundação de endorfinas, eu me arrastei


para o lado, no segundo que Saint me desamarrou. Restos de prazer
ainda permaneciam em meus ossos, minha mente pacífica como se todo
o peso que eu carregava sobre meus ombros tivesse sido levantado. A
escuridão se foi. A necessidade de libertação que consome tudo está
satisfeita.

Ouvi seus passos pesados ao redor da sala, mas não consegui reunir
energia suficiente para abrir meus olhos. Um lençol de cetim foi puxado
sobre mim e me aconcheguei mais profundamente no travesseiro.

— Saint?

— Sim, Mila.

— Que horas são?

O colchão mergulhou quando Saint se arrastou na cama comigo. —


É quase meia-noite.

— Ainda tenho tempo para fazer minha segunda pergunta.

— De fato, você faz. — Eu ouvi a diversão em sua voz.

Eu me virei no colchão para encará-lo. Ele se recostou em uma pilha


de travesseiros com o braço atrás da cabeça, olhando para a frente.
— Você está cercado por toda essa riqueza, mas eu não sei
exatamente o que você faz.

Ele olhou para mim. — Eu sou um homem de negócios.

— Essa parte eu sei, mas que tipo de negócio?

Saint desceu e virou de lado, nossos olhos nivelados e rostos a


centímetros de distância. — Não vou lhe dar uma resposta esperta para
essa pergunta, Mila. Sei que disse que responderei suas perguntas com
sinceridade, mas essa é uma resposta que não posso lhe dar.

— Por quê? — Eu sussurrei.

— Eu não sou um bom homem, Mila. Eu nunca afirmei ser ou fingi


o contrário. — Ele estendeu a mão e gentilmente roçou um dedo na minha
bochecha. — Eu sou o vilão nesta história, o diabo no mundo em que eu
te arrastei. Mas de alguma forma, em algum lugar, você também me fez
o marido que faria qualquer coisa para proteger sua esposa.

Meu coração soluçou, e eu seria a maior mentirosa do mundo se


dissesse que ouvir essas palavras não encheu minha barriga com um
milhão de borboletas... mesmo que fossem palavras da boca do diabo.

Ele se aproximou e passou um braço em volta da minha cintura. —


Contar o que eu faço complicaria as coisas, e são complicações que
nenhum de nós quer lidar agora.

— Ok. — Eu sussurrei.

Ele franziu a testa. — OK?

— O que mais você espera que eu diga?

— Eu meio que esperava que você pressionasse o assunto. Ser


persistente por uma resposta. — Seu sorriso não era presunçoso ou
diabólico, mas bonito. Caloroso.
— No entanto, eu tenho outra questão.

— Claro que você faz. — Ele olhou para o relógio de pulso. — Sorte
sua, falta quatro minutos para meia noite.

— Antes que eu pergunte, você deve saber que eu não sou do tipo
ciumenta.

Ele riu. — Não de acordo com o que você fez na frente de Anette há
algumas semanas.

Eu tracei um dedo ao longo de todo o padrão de filigrana no lençol.


— Essa mulher apenas me apertou alguns botões da maneira errada
desde que pisou no seu iate.

Ele sorriu e olhou para mim. — O que você quer me perguntar, Mila?

Eu levei alguns momentos para tentar racionalizar minha pergunta


ardente dentro da minha cabeça, mas a verdade era que não havia rima
ou razão para isso... além das inseguranças de uma mulher. — Você já
trouxe outra mulher aqui... para este hotel?

Sua sobrancelha se levantou. — De onde isso vem?

Coloquei minha mão contra seu peito, mas não consegui olhá-lo nos
olhos. Minhas próprias inseguranças não eram algo que eu gostava de
expor - especialmente não com Saint, pois havia sido uma batalha de
personalidades entre nós desde o início. Mas tudo havia mudado entre
nós e vinha mudando há semanas.

— Eu não sou ingênua, Saint. Um homem como você tem um


passado muito colorido com inúmeros amantes.

Eu enfrentei um olhar em seus olhos e fiquei surpresa quando ele se


inclinou para me beijar suavemente, um mero toque de sua boca contra
a minha. — Não, Mila. — Ele respirou contra meus lábios molhados. —
Eu nunca trouxe uma amante aqui nesta suíte de hotel.
Foi inútil. Eu sabia. Se ele trouxe uma mulher aqui para esta cama
antes não mudaria nada. Mas sabendo que ele não havia aliviou minhas
inseguranças, e o alívio me acalmou o suficiente para que eu pudesse
fechar meus olhos.

Ele passou os dedos pelos meus cachos. — Durma, Mila.

— Fique. — Eu sussurrei e estendi a mão, agarrando seu braço. —


Não me deixe acordar e você não estar aqui.

— OK.

NOS JUNTAMOS a Elena e James na área de recepção do hotel depois


de tomar um café da manhã com doces e frutas. Saint parecia diferente.
Menos escuro, mas não menos dominante. Sua presença ainda me
envolvia como uma capa de autoridade. Talvez fosse apenas eu quem o
olhava sob uma nova luz. Talvez eu finalmente tenha conseguido ver além
das sombras, além das nuvens escuras e me concentrar mais nas lascas
de luz que apareciam de vez em quando.

Saint optou por se juntar a mim no banco de trás de nossa unidade


de volta ao helicóptero, e ele segurou minha mão o caminho inteiro. Elena
continuou falando do banco da frente sobre todo o tempo que passara em
Milão e como queria me levar a todas as butiques diferentes, em vez de
apenas uma, quando tivermos a chance de voltar novamente. Era fácil
ver que Milão era o lugar favorito de Elena na Terra. A maneira como ela
falado sobre toda a cidade tinha para oferecer era cheia de entusiasmo e
reverência, e eu adorava vê-la sorrir com prazer.

O passeio de helicóptero de volta à Imperatriz foi tão incrível quanto


o nosso passeio a Milão. Eu não conseguia parar de olhar pelo painel
transparente e para a terra e o mar abaixo de nós. Não havia palavras
para explicar como o mundo era bonito do ponto de vista de um pássaro.
Eu amei cada segundo disso.

Quando chegamos de volta ao iate, Saint me puxou para mais perto,


para que ele pudesse fundir seus lábios nos meus e, com um beijo simples
e poderoso, meu corpo ficou mole em seus braços.

— Eu tenho alguns negócios para atender, que me manterão


ocupado por um tempo. — Ele deu um passo para trás, um olhar sombrio
no rosto. — Eu sei que concordei em deixar você me acompanhar ao baile
de caridade hoje à noite, mas...

— Saint, não...

Ele levantou a mão. — Não se preocupe, não vou voltar atrás na


minha palavra. Mas eu esperava que você mudasse de ideia e preferisse
ficar aqui no iate.

Cheguei mais perto e descansei as palmas das mãos em seu peito,


sua camisa suave contra as palmas das minhas mãos. — Eu quero ir com
você e quero estar ao seu lado. Além disso, você sabe como as instituições
de caridade infantil estão próximas de mim.

— Sim. — Ele tocou minha bochecha. — Eu faço. Não esqueci o


acordo que fizemos quando tudo isso começou. Vou manter minha
palavra, prometo.

Eu apenas assenti, e Saint foi embora, desaparecendo no convés com


James seguindo o exemplo para cuidar de assuntos de negócios que ele
havia me contado na noite anterior antes de não compartilhar comigo. Eu
estava bem com isso. Eu sabia que ele não era um anjo. O homem me
sequestrou e me forçou a casar com ele, então o que mais ele era capaz
de fazer? Mas depois da noite passada, tomei a decisão consciente de
nunca pressionar por nenhuma informação ou resposta quando se
tratava dos negócios dele. Quando ele disse que acrescentaria mais
complicações à nossa situação já complicada, eu acreditei nele.
Elena passou e sorriu enquanto me entregava um copo cheio de uma
bebida vermelha com cascas de laranja. — É um dia tão bonito. Vamos
desfrutar de um delicioso Negroni e um pouco de sol antes de nos
prepararmos para a gala de hoje à noite.

— Parece bom para mim. — Se havia uma coisa pela qual eu estava
absolutamente além de agradecida por tudo o que aconteceu, era pela
amizade que Elena e eu formamos. Embora ela fosse leal a Saint, ela
também tinha sido a força que eu precisava para sobreviver por tanto
tempo quanto eu sobrevivi.

— Elena. — Comecei quando nos sentamos nas poltronas. — Quero


perguntar uma coisa.

— Claro. — Ela tomou um gole de sua bebida e puxou os óculos


escuros sobre a cabeça. — O que é isso?

— Pai de Saint. — Fiz uma pausa quando notei sua expressão


despreocupada habitual cair. — Eu sei que é um assunto delicado,
claramente... — Eu murmurei. — Mas o que ele fez para Saint o odiar
tanto?

Elena pigarreou e colocou a bebida na mesa lateral. — Marcello


ainda não te contou?

Eu balancei minha cabeça.

— Não posso dizer que estou surpresa. O pai dele não é algo que ele
goste de discutir com ninguém.

— Eu perguntaria se achasse que conseguiria respostas de Saint.


Mas preciso saber o que o pai fez para fazê-lo passar por medidas
drásticas para se vingar dele. Sinto que saber que isso de alguma forma
me daria uma espiada em sua mente e me ajudaria a entendê-lo melhor.
Elena me estudou pelo que pareceu anos, seus olhos me encarando
como se ela pudesse alcançar profundamente dentro da minha alma. —
Você se apaixonou pelo meu sobrinho... não é?

Eu não respondi. Simplesmente desviei os olhos e tomei minha


bebida.

— Eu não te culparia se você fizesse isso, Mila. Os homens russos


têm um certo fascínio que é difícil para as mulheres resistirem.

— Eu não sei o que estou sentindo agora, Elena. — Eu olhei para o


oceano desejando que houvesse uma maneira de eu ver o futuro. Para
saber o resultado de todas as decisões que eu ainda tinha que tomar.

Elena colocou os óculos escuros de volta no nariz e recostou-se na


poltrona. — Não é da minha conta contar o que aconteceu entre Marcello
e seu pai.

Eu bufei, me sentindo derrotada agora que Elena não estava


disposta a me contar esse grande segredo que todo mundo conhecia,
exceto eu.

— Mas... — Ela continuou,. — O que posso dizer é que o pai dele fez
algo imperdoável. Algo que ele não parará de pagar, não enquanto Saint
estiver respirando. Eu sei que não é a resposta que você estava
esperando, Mila.

— Está bem. Compreendo. — Eu estreitei os olhos enquanto a


observava tomar sol. — No entanto, eu sei como você pode me compensar.

Ela puxou os óculos até a metade do nariz. — Fazer as pazes com


você?

Eu atirei a ela um sorriso malicioso. — Um favor pra mim, você faria?

— Tudo bem. — Ela bufou.

— Você poderia fazer uma leitura para mim?


— Uma leitura de tarô?

— Por favor.

Elena sentou-se e olhou para as escadas e de volta para mim, com


um sorriso malicioso no rosto. — OK. Mas Marcello não pode saber. Ele
não é um grande fã das minhas leituras.

Fiz um gesto como se estivesse fechando meus lábios. — Nenhuma


palavra.

Os olhos dela se estreitaram e ela pegou sua bolsa, pegando a pilha


de cartas.

Eu fiz uma careta. — Você os carrega com você?

— Claro. Você nunca sabe quando pode precisar delas. — Ela


respondeu com uma piscadela.

Ela puxou a mesa para mais perto e a colocou entre nós. — Os


cartões nos guiam, dando uma visão do nosso passado. Nosso presente.
E o nosso futuro. — Ela posicionou o baralho de cartas no meio da mesa.
— Agora, preciso que feche os olhos. Você precisa se concentrar. Pense
em tudo o que está acontecendo agora, sobre como você se sente. Pense
na sua família. Sua mãe que você nunca conheceu. Marcello. Deixe sua
energia guiá-la enquanto você corta o baralho em três.

Fechei meus olhos, minha mente um campo minado de lembranças,


boas e ruins. Memórias que pensei que estavam esquecidas há muito
tempo. Pensei naquelas noites intermináveis que eu costumava chorar
até dormir, desejando ter uma mãe que pudesse me abraçar e sussurrar
o quanto ela me amava. E então Saint estava lá. O rosto dele. A presença
dele. Ele dominou toda e qualquer memória, empurrando-os para os
cantos mais distantes da minha mente.

Peguei o baralho de cartas e gentilmente o dividi em três.


— Bom. Agora, abra seus olhos.

Houve uma ligeira pontada de nervosismo na minha barriga


enquanto eu observava Elena pegar a carta do topo da pilha à esquerda
e girá-la. — O Três de Espadas.

Lambi meus lábios ansiosamente e olhei para o coração trespassado.


Certamente isso não pode ser bom.

— A Lua. — Disse Elena suavemente enquanto girava o segundo


cartão.

Ela pegou o terceiro cartão e olhou para mim com olhos


tranquilizadores. Os dedos dela pairavam sobre o terceiro cartão. — Este
é o seu futuro.

Engoli em seco e observei com antecipação enquanto ela lentamente


o girava, então seus olhos dispararam para os meus.

— A Imperatriz.

Eu soltei uma risada. — Irônico, já que este iate se chama


Imperatriz.

Elena não sorriu. Na verdade, ela mal parecia divertida.

— Então... — Dei de ombros. — O que as cartas dizem?

Ela puxou o cabelo para trás dos ombros, e era difícil perceber o
quanto ela se sentia desconfortável. Não era nada seguro.

— Bem, o Três de Espadas é o seu passado. E não surpreende, pois


significa desgosto. Divisão. Traição. Faz sentido desde... bem...

— Desde que meus pais me abandonaram. — Ainda doía, a realidade


disso. Eu sempre pensei que o motivo de meus pais terem desistido de
mim mudaria a maneira como eu me sentia sobre isso. Possivelmente
resgatá-los. Mas nem mesmo uma dívida de décadas tinha o poder de
torná-la menos dolorosa.

— O segundo cartão. A lua.

— Meu presente?

— Sim. — Ela olhou para cima, com os olhos macios de compaixão.


— É um aviso.

Meu estômago revirou. — Um aviso de quê?

— Que nem tudo é o que parece.

Dei de ombros. — Acho que faz sentido nessa situação atual em que
estou.

— Também é uma mensagem, Mila. Uma mensagem para você


confiar em sua intuição. Confie nos seus instintos para olhar além da
ilusão de mentiras e enganos.

Era como se alguém tivesse derramado concreto no meu estômago,


as palavras de Elena carregadas de aviso.

Ela olhou para o terceiro cartão. A Imperatriz. — Você precisa ter


cuidado, Mila. Especialmente desde...

— Que diabos está acontecendo aqui?

Elena se levantou e a grande figura de Saint projetou uma sombra


sobre o baralho de cartas. — Eu só estava...

— Você sabe como me sinto sobre as leituras de cartões, Elena. —


Não havia como confundir a raiva em sua voz, a animosidade que
irradiava em ondas dele e em direção a sua tia.

Eu fiquei em pé e peguei a mão de Elena, tentando me mover na


frente dela. — Foi ideia minha. Pedi que ela fizesse uma leitura para mim.
Ele não desviou o olhar de Elena. Era como se ele nem me ouvisse
falar, como se ele se recusasse a reconhecer minha existência... até que
seus olhos avistaram os cartões. Sulcos se formaram em sua testa, e ele
lançou um aviso para ela, uma conversa inteira ocorrendo sem que uma
palavra fosse dita. Mas eu senti, senti algo passar entre eles, algo que eu
não deveria captar.

Dei dois passos e me inclinei para Saint. — Pedi que ela fizesse uma
leitura para mim. Além disso, são apenas cartões. Não há muita verdade
nisso.

Quando ele olhou na minha direção, pude ver que havia palavras
queimando na ponta de sua língua, implorando por repreensão e
desprezo. E eu o antecipei com ombros quadrados, mas ele começou a
me surpreender mordendo a língua.

— Elena, você ajudaria Mila a se preparar para o baile? Além disso,


faça uma mala durante a noite, pois ficaremos em um hotel em Roma
durante a noite.

— Claro Marcello. Venha, Mila. Temos muito o que fazer.

Eu desviei meu olhos dele, prestes a dar um passo em torno dele,


quando ele agarrou meu cotovelo e me puxou para perto, batendo seus
lábios nos meus, me beijando como se meu gosto fosse o antídoto para o
veneno que enegrecia sua alma. Nossas bocas estavam trancadas em um
beijo apaixonado por cinco segundos, que pareceu durar uma vida. Era
incrível como seus lábios podiam fazer todo o mal ao nosso redor
desaparecer, colocando o mundo inteiro em silêncio.

Ele quebrou o beijo e se inclinou para trás enquanto me examinava


de cima para baixo. — Você está se sentindo bem?

— Sim. Por quê?


— Sem razão. Acabei de me lembrar no elevador que você não estava
se sentindo bem.

Eu sorri. — Estou bem agora. Prometo.

— Bom. — Sua expressão se suavizou. — Agora, vista esse vestido


vermelho que eu vou arrancar do seu corpo mais tarde.

Eu atirei a ele um sorriso torto. — Exigindo muito?

— Oh, você não tem ideia.

— Eu acho que eu faço. — Mordi meu lábio quando o calor se


espalhou por minhas bochechas e me virei para andar para o outro lado.
Eu me certifiquei de balançar meus quadris apenas um pouco mais, pois
eu podia basicamente sentir seu olhar aquecido na minha bunda.
17

Saint

— VOCÊ DESCOBRIU ALGUMA COISA? — Bati a porta com força quando


entrei no escritório onde James esperava.

— Ele vai estar lá.

— Filho da puta. — Eu tropecei através da sala.

— Faz sentido ele estar lá, já que é a única pessoa que pode
representar a família Torres.

Sentei-me e fechei meus punhos. — Eu não confio nele perto dela.

— Eu não culpo você. Especialmente se ele souber dessa cláusula


adicional ao testamento de seu pai.

— Alguma indicação de que ele faz?

James balançou a cabeça. — Se ele sabe, ele está fazendo um bom


trabalho em ser ignorante.

— Meu pai sabe disso, o que me faz pensar em como ele planeja
jogar.

— O que você quer dizer?

Eu escovei meus dedos contra minha mandíbula. — Se eu fosse meu


pai, haveria duas maneiras de jogar. Primeiro, conte a Rafael e tente
manipulá-lo para cumprir minha ordem. Segundo, não conte a Rafael e
veja como isso acontece, esperando que o filho da puta seja burro e
ganancioso o suficiente para fazer algo estúpido, o que, por sua vez,
manteria as mãos limpas.

James estreitou os olhos. — Me corrija se eu estiver errado, mas se


Rafael fizer algo estúpido, isso não envolveria machucar Mila?

Meu estômago virou do avesso. — Sim. Sim.

— O que estamos esperando aqui?

Esfreguei minhas têmporas, o peso de todo o maldito universo


esmagando meus ombros. — Eu não sei, cara. Sinceramente, eu não sei.
Se Rafael agir como o filho da puta ganancioso que eu sei que ele é, Mila
se machucará. Se meu pai agir como o idiota manipulador que eu sei que
ele é, Mila se machucará. Porra! — Bati meu punho na mesa. — Pela
primeira vez, estou em uma situação desprezível do tipo Catch-22 nesta
guerra com meu pai. Estou fodido, não importa o que meu pai decida
fazer.

James bateu o dedo no braço da cadeira, um hábito irritante que ele


adquiriu de mim ao longo dos anos. — É porque você não contou com a
sua queda a garota Torres. Ela não deveria ser nada além de danos
colaterais.

Eu estreitei meus olhos para ele enquanto a parte de trás do meu


pescoço formigava de aborrecimento. — Sinto que já tivemos essa
conversa antes.

James sorriu. — Escute, cara, olhe dessa maneira. Não é essa coisa
entre você e Mila, seja o que for, que complica essa merda. É aquela
cláusula de merda que ninguém sabia que fode a todos nós na bunda.

— Eu não entendo, no entanto. — Eu murmurei enquanto tentava


envolver minha cabeça em torno disso. — Eu não entendo por que Torres
fez o que ele fez e depois mudou sua vontade no último minuto, com a
instrução adicional de que seja mantida em segredo até...
— Até que uma das estipulações seja cumprida.

— Exatamente. Quero dizer, eu entendo por que ele tinha a brecha


de deixar dez por cento para o primogênito, caso Mila voltasse para casa
para a família. Mas isso? Eu não entendo.

James levantou-se e começou a andar, algo que ele fazia


frequentemente quando se sentia frustrado e envolvido em uma situação
que parecia impossível de romper.

— James, ouça. — Sentei-me em linha reta e apoiei os cotovelos na


mesa. — Talvez, se tivermos sorte, teremos um pouco de tempo para
planejar isso. No momento, possuo a maioria das ações da empresa, o
que significa que meu pai não pode fazer nada com as ações de Raphael.

— Daí a razão de não terem finalizado o acordo ainda.

— Exatamente. Só precisamos tentar descobrir como podemos dar


dois passos à frente, em vez de um nesta corrida em direção ao poder. —
Suspirei e olhei para o meu relógio de pulso. — Precisamos nos preparar.
Vamos deixar esta noite para trás, talvez tirar o fim de semana para nos
recuperarmos.

— Sim, senhor. — Ele foi até a porta quando eu liguei de volta.

— James.

— Sim?

— Eu preciso de segurança dobrada em torno dela hoje à noite.

Ele assentiu. — Já está feito.

— Obrigado.

James saiu da sala e fechei os olhos quando me recostei na cadeira.


Era seguro dizer que nada estava indo conforme o planejado, com muitas
variáveis sendo adicionadas ao campo de batalha. Variáveis que eu não
tinha previsto. Variáveis contra as quais eu não tinha armas. Se alguém
tivesse me perguntado meses atrás se havia algo neste mundo inteiro que
me faria querer parar minha busca pela ruína de meu pai, minha resposta
seria um gordo 'foda-se, não'. Mas agora eu não tinha mais tanta certeza.
Mila foi um furacão para o qual não estava preparada. Uma tempestade
que emborcou meus planos e me forçou a relembrar tudo de um ponto
de vista diferente. Ela conseguiu abrir meus olhos, e eu não pude deixar
de imaginar como seria minha vida sem essa raiva que se inflamava
dentro de mim há anos. Eu me perguntava como seria a vida se fôssemos
apenas nós, quando meu pai e conflitos do passado não apareceram em
nossas vidas. Isso me assustou, o fato de eu ter chegado a um ponto em
que minha necessidade de vingança estava se dissipando enquanto meu
desejo semelhante a paz aumentava. Tudo por causa da mulher que
começou como nada mais que uma assinatura. Um peão que era um mero
espinho do meu lado, porque ela era uma obrigação, um mal necessário.

Limpei as palmas das mãos no rosto. Ontem à noite, quando ela


dormiu em meus braços, eu não conseguia parar de encará-la - assim
como a noite que passamos no convés. Eu não queria fechar meus olhos.
Não queria adormecer com medo de que o que estava sentindo
desaparecesse quando acordasse. E era tão bom sentir algo além da
escuridão, do ódio e da raiva.

Talvez a resposta tenha sido simples. Talvez as respostas para todos


os meus problemas fosse optar por sair desta guerra com meu pai. Não
há ações da Torres Shipping. Não, Rafael. Nenhuma cláusula oculta para
lidar. Só nós. Mila e eu. Talvez a opção mais simples seja a escolha certa
a fazer. No fundo, eu sabia que isso era o que acabaria se resumindo.
Uma decisão. Uma escolha entre meu pai... ou Mila.
18

Mila

EU ESTAVA NERVOSA. Eu não tinha muita certeza do porquê, mas


estava. Elena havia pedido alguns lanches e champanhe para nós
enquanto nos preparávamos para a noite de gala, mas eu não tinha
apetite, e a ideia de álcool me deixou um pouco enjoada. As borboletas
esvoaçantes que senti mais cedo no meu estômago se transformaram em
pedras que arranhavam meu interior.

— Veja você. Impressionante. — Elena olhou para mim com


reverência, os olhos brilhando de orgulho. — Marcello está certo.
Vermelho se tornou sua cor.

Eu sorri e coloquei um cacho de volta no estilo que Elena passou


horas criando.

— Você realmente parece radiante. — Ela continuou e inclinou a


cabeça para o lado enquanto olhava para mim. — Você está brilhando.

— Brilhando? — Eu fiz uma careta.

Ela apertou os lábios, e por um momento fugaz ela pareceu quase


triste.

— O que há de errado, Elena?

— Oh nada. — Ela acenou. — Meu sobrinho vai amar essa coroa de


cachos plissados. Tenho certeza que me lembrei dele dizendo que gosta
quando você usa o cabelo preso.
— Ele gosta.

— Bem, então, Marcello está com sorte hoje à noite porque você,
minha querida, parece uma rainha.

Eu fiz uma reverência e ri. Elena riu e caminhou até mim, parecendo
a realeza em um vestido verde esmeralda que complementava
perfeitamente sua tez.

— Você é uma verdadeira beleza, Mila. Forte. Resiliente.

Ela pegou minha mão e olhou para mim de uma maneira que eu
sempre imaginei que uma mãe olharia para a filha. Amorosamente.
Carinhosamente. Orgulhosa.

Ela segurou minha bochecha. — Eu nunca tive o privilégio de ter


uma filha, mas imagino que, se tivesse, ela seria exatamente como você.

— Elena. — Eu sussurrei, lágrimas ardendo nos meus olhos. —


Obrigada.

— Venha aqui, bambina. — Ela me puxou para perto para um


abraço, e eu me acomodei com facilidade no conforto de seus braços. Era
algo que eu nunca tinha experimentado antes, ainda desejava toda a
minha vida. O abraço amoroso de uma mãe – um papel que Elena tinha
desempenhado desde que essa provação havia começado. Um vazio no
meu coração que ela lentamente começou a preencher.

Ela se recostou. — Eu sabia que no dia em que vi você seria você


quem o mudaria.

— Eu não quero mudá-lo, Elena. — Eu sorri e segurei suas mãos. —


Eu o amo do jeito que ele é.

Os olhos dela se arregalaram de surpresa. — Ama?

Engoli. — Sim. Amo. Eu me apaixonei por ele. Eu me apaixonei por


tudo sobre ele. Até a escuridão dele.
— Se alguém está disposto a aceitar até a pior parte de alguém, então
esse é inegavelmente o verdadeiro amor.

— Vamos ver como vai antes de começarmos a recitar poemas de


amor verdadeiro, não é?

Ela riu. — Claro. Por enquanto, vamos levar Cinderela ao baile. —


Ela piscou para mim de brincadeira e estava prestes a sair do quarto
quando eu a chamei de volta.

— Elena?

— Sim, bambina?

— Você nunca me disse o significado da última carta. A Imperatriz?

Elena me deu um sorriso curto. — Tenho um pressentimento de que


não precisarei, pois você descobrirá em breve.

— O que faz aquilo...

James apareceu na porta. — Senhoras, prontas para ir?

— Nós estamos. — Respondeu Elena e colocou o braço em seu


cotovelo. — Você vem, Mila?

— Sim. Eu estarei logo atrás de você.

Ela assentiu e caminhou com James, o som do clique de seus


calcanhares desaparecendo quando ela desapareceu no corredor.

Eu me virei para o meu reflexo no espelho e passei um pouco mais


do batom vermelho cereja no meu lábio inferior. Eu não conseguia me
lembrar da última vez que me senti assim... leve. Sem pânico. Sem medo.
Apenas leve e, ouso dizer, feliz. Era assim que eu deveria me sentir no dia
do meu casamento, olhando para o meu reflexo e querendo nada além de
parecer perfeita para o meu noivo. Se eu pudesse ter tudo de novo, eu
gostaria que fosse esse momento. No momento em que me olhava em um
vestido de noiva e me perguntava o que o futuro me reservava. Talvez de
alguma maneira distorcida do destino, este fosse o dia do meu casamento.
Para mim, pelo menos.

Saí no convés e vi Saint antes que ele me visse. Tomei um momento


para admirá-lo de longe, como ele era elegante e bonito em seu smoking.
A última vez que o vi de smoking, fui consumida por ódio por ele, mas
agora... esse ódio se foi, substituído por algo muito mais poderoso.

Ele olhou para cima e nossos olhos se encontraram. Um segundo,


um momento, uma vida passou enquanto nos encarávamos. A distância
entre nós foi preenchida com uma sensação de calma, um espaço sereno
que nos uniu, em vez de uma tempestade iminente nos forçando com
ondas trovejantes. Eu não pude descrever. Era como uma sensação de
desejo envolto na segurança da tranquilidade, para que não pudesse
quebrar e nos arruinar.

Do jeito que ele olhou para mim, eu não pude não corar enquanto
caminhava em sua direção. O azul em seus olhos brilhava mais do que
eu já tinha visto antes.

Ele pegou minha mão na dele. — Se la perfezione.

— Acho que isso significa algo de bom.

— Sim. Só falta uma coisa. — Ele enfiou a mão no bolso do paletó e


eu observei com curiosidade quando ele puxou uma caixa quadrada
vermelha, Cartier impressa em ouro por cima.

— Saint. O que é isso?

Ele abriu a caixa, uma linda pulseira de diamantes apoiada em


veludo preto.

— Oh meu Deus. — Eu respirei fundo. — É requintado.


Ele o removeu da caixa e eu segurei meu braço com firmeza quando
ele o colocou em volta do meu pulso. Seus dedos seguraram a delicada
peça de joalheria com delicadeza enquanto apertava o fecho.

Uma única fileira de diamantes lapidados de brilhantes colocados ao


redor da pulseira estava incrustada em ouro. As finas linhas de ouro
aumentavam o esplendor das pedras, que brilhavam como a luz da lua
dançando no oceano. Era elegante e refinado sem a aparência ousada de
riqueza avassaladora.

Eu olhei para o bracelete sem peso em reverência. — Eu... eu não


sei o que dizer além de eu adorei. É perfeito.

Com um puxão gentil, ele me puxou para perto. — Você é perfeita,


Mila. Esses diamantes não se comparam.

Seus lábios acariciaram os meus com um beijo terno que alcançou


profundamente dentro da minha alma. Foi um ato sutil que me roubou a
gravidade, o chão sob meus pés não era mais minha âncora enquanto
seu beijo me fascinava. Eu tinha me movido tão profundamente no
momento em que um gemido suave rolou da minha língua quando ele se
afastou.

— Perfezione. — Ele sussurrou, e deu um passo para trás.

Eu ofeguei e soltei uma risada quando ele me guiou em um giro antes


de me puxar de volta contra ele. Quando olhei para ele, não pude deixar
de me afogar nas profundezas infinitas de suas íris. Era tão surreal, o
que eu estava sentindo por ele naquele exato momento. Eu não vi mais o
diabo, mas um homem... um homem que roubou meu coração.

Ele passou as costas da mão pela minha bochecha. — É assim que


você deveria ter me olhado na nossa noite de núpcias. Sem lágrimas.

— Diga outra palavra doce, e você verá lágrimas, posso prometer-lhe


isso.
Ele me lançou um sorriso bonito. — Sem lágrimas esta noite,
principessa.

— Não essa noite.


19

Mila

SAINT PEGOU MINHA mão quando saí da limusine e pisei em um tapete


branco que se estendia até a entrada do prédio. As câmeras piscaram, a
luz ofuscante tornando quase impossível ver. Os repórteres gritaram o
nome de Saint para chamar sua atenção, gritando com revolta perguntas
e comentários. Era como uma cena de uma estreia de filme de Hollywood,
todo mundo querendo um pedaço da estrela principal. Marcello Saint
Russo.

Ele me lançou um sorriso malicioso. — Bem-vinda à selva, Mila.

— O mais assustador é que você nem está brincando. — Era um


caos absoluto nas laterais das barreiras de corda vermelha que nos
separavam dos abutres.

— Sr. Russo! Sr. Russo!

— Como está a vida de casado?

— Onde você mora?

— Sua esposa desempenhará um papel ativo em sua caridade?

— Sra. Russo!

— Como é se casar com o homem que já foi o solteiro mais qualificado


da Itália?
Não havia como ver quem estava fazendo qual pergunta. Eram
apenas vozes e rostos vazios, e a única coisa que me impedia de me perder
no mar do caos era a mão de Saint segurando a minha com força.

James e três outros homens nos escoltaram e Elena até a entrada, e


no segundo em que passamos pelas portas em arco, soltei um suspiro. —
Isso foi assustador.

Saint me puxou para perto dele. — Acredite, comparado às pessoas


com quem jantaremos hoje à noite, esses abutres por aí são brincadeiras
de criança.

Eu recuei. — Afinal, o que isso quer dizer?

Ele ajeitou a gravata borboleta e olhou para mim. — Isso significa


que você fica ao meu lado o tempo todo. Em absoluto. Todas as vezes,
Mila. Compreende?

Meu coração estava acelerado e eu estava sobrecarregada com o que


acabamos de atravessar. Não deixou lugar para desafio ou
questionamento. Não essa noite.

Eu assenti. — Compreendo.

— Bom.

Ele estava prestes a nos guiar por outro conjunto de portas quando
eu me afastei. — Saint? E se eu não puder fazer isso? — Inseguranças
me inundaram com ondas repentinas, e náuseas apertaram meus
pulmões. — E se eu não conseguir fazer o papel da esposa Russa perfeita?
E se essas pessoas não gostarem de mim? E se eu não me encaixar?

— Quieta, Mila. — Ele se aproximou, seus ombros largos e sua


grande estrutura erguendo-se sobre mim como uma poderosa estrutura
de proteção. Eu me inclinei em seu toque quando ele segurou minha
bochecha. — Como minha esposa, todas as pessoas nesta maldita sala a
respeitarão. Se não o fizerem, terão de lidar comigo. — Ele soltou minha
mão e segurou minha outra bochecha, forçando-me a olhá-lo nos olhos.
— Você é minha esposa. Minha rainha. Ande ao meu lado com o fogo que
eu sei que queima dentro de você e faça-os cair aos seus pés.

Calafrios surgiram na minha pele, mas suas palavras me deram uma


confiança renovada que me fez endireitar meus ombros. — OK.

Ele estendeu o braço e eu coloquei minha mão em seu cotovelo. Sem


outra palavra, ele liderou o caminho através do limiar e para um novo
mundo.

Respirei fundo enquanto olhava para a sala diante de nós. Mesmo


para os olhos destreinados como os meus, era óbvio que o tema da noite
era dourado e branco, uma terra de fantasia de cristal e vidro. Mesas
redondas decoradas com bom gosto, com toalhas brancas engomadas e
guardanapos de ouro, adornavam o design geral. Vasos de vidro estavam
no centro de cada mesa, cheios de rosas brancas e lírios para
complementar a sensação elegante com seu delicado aroma floral. As
velas tremeluziam com um tom dourado que criava um mar de luzes
cintilantes. Lustres em camadas pendiam do teto recortado, as lágrimas
de cristal criando uma galeria de prismas.

Era um conto de fadas em um mundo cheio de riquezas, apreciado


por homens de smoking e mulheres vestidas com vestidos elegantes e
joias de valor inestimável. Quando Saint nos levou à beira da escada,
prestes a descer, todos os olhos se fixaram em nós, nossa presença
conhecida por todos na sala.

— Lembre-se de respirar, Mila. — Saint murmurou perto do meu


ouvido e apertou minha mão entre o cotovelo e o lado, um pequeno
empurrão de segurança.

Inalei profundamente e tentei me endurecer contra os olhares


desconhecidos que permaneciam sobre nós.
A cada passo que descíamos as escadas, eu era novamente lembrado
da soberania e influência inquestionáveis de Saint. Ele exigiu respeito
simplesmente entrando em uma sala, sua presença forte o suficiente para
alcançar todos os espaços.

Quando subimos a escada final, James se aproximou de Saint e


sussurrou algo para ele. Saint apenas assentiu enquanto examinava a
multidão.

Inclinei-me. — Está tudo bem?

— Seu irmão está aqui.

— Oh. — Eu não tinha certeza de como me sentia sobre meu irmão


estar lá, mas estava claramente claro como Saint se sentia sobre isso
apenas pelo tom duro de sua voz. — Esta é a parte em que você me diz
para confiar em você novamente?

Saint virou-se para mim, seus olhos desprovidos de diversão. —


Apenas faça como eu disse.

— Fique ao seu lado. Eu sei.

Durante o que pareceu horas, Saint me levou pela sala,


apresentando-me a todos enquanto cumprimentava os convidados. Eu fiz
o meu papel. Sorri quando era apropriado e mostrei um grande interesse
em conversas mundanas.

Saint não soltou minha mão nem uma vez, e de vez em quando ele
apertava levemente, um lembrete silencioso de que, por mais absorvido
que estivesse em uma conversa, eu ainda estava em sua mente. Nos
pensamentos dele.

A orquestra tocava músicas mágicas de acordes delicadas e notas


melódicas, e enquanto eu estava ao lado de Saint, notei todos os olhares
invejosos de homens e olhares lascivos de mulheres.
Quase todas as mulheres se inclinavam um pouco mais do que
julgavam apropriado com beijos e saudações. Alguns chegariam a colocar
as mãos em seu braço, encontrando uma maneira sutil de tocar meu
marido. Me irritou como elas descaradamente pareciam ignorar minha
existência ao lado dele, flertando com meu marido com suas risadas
sedutoras e insinuações sexuais ocultas.

Saint deu um passo para o lado e gentilmente me puxou para mais


perto. — Como você está indo?

— Eu estaria aguentando muito melhor se todas as mulheres na sala


não flertassem com meu marido.

Ele riu. — Seu ciúme não tem mérito, Mila. Nenhuma dessas
mulheres chega aos seus pés.

— Sim, bem, diga isso a elas. Elas nem me notam.

Ele tocou minha bochecha. — Então faça elas perceberem você.

— Olá, Saint.

Saint fechou os olhos e eu olhei por cima do ombro para encontrar


Anete Morone, toda vestida com um vestido de cetim dourado que
abraçava perfeitamente suas curvas. Não pude deixar de pensar que o
tema dourado da gala havia sido escolhido para complementar seu
vestido.

Saint virou-se. — Anete. — Ele cumprimentou com um tom firme,


mas amigável.

Sem olhar na minha direção, ela se inclinou para um beijo no ar,


mas eu me certifiquei de que ela me notasse entrando e parando sua
descida em meu marido, estendendo meu braço para um aperto de mão
muito não tradicional e não tão feminino. — Olá, Anete.

Ela olhou na minha direção e ignorou minha mão. — Oh. Nina, é?


— Mila. — Eu a corrigi com um sorriso presunçoso. — Mila Russo.
A esposa de Saint.

— Claro. — Ela se endireitou. — Como eu poderia esquecer?

— Sim, como você pôde?

— Anete. — Saint entrou na conversa. — Se você nos der licença. Eu


gostaria de apresentar Mila à família Valenti.

Ele gentilmente me puxou na outra direção, exatamente quando eu


comecei a me entender, pronta para ter certeza de que sabia que Saint
era meu marido e não dela.

Saint me puxou para perto enquanto caminhávamos pela multidão.


— Preciso lembrá-la do que aconteceu da última vez que você teve um
concurso de mijar com Anete?

— Sim, bem, lembra-se do meu fogo a que você se referiu


anteriormente? Essa mulher tem o talento natural de derramar gasolina
sobre ele.

Um sorriso divertido se espalhou por seu rosto e eu revirei os olhos.

— Estou prestes a apresentá-la a um dos meus parceiros de


negócios.

Instantaneamente, minha curiosidade foi despertada.

— Eu acho que você vai se dar bem com a esposa dele. Ela adora o
marido.

— Se ela adora o próprio marido e não o meu, eu vou amá-la.

Um homem alto, mais ou menos da mesma altura que Saint, com


cabelos escuros e olhos cor de chocolate, se aproximou de nós. — Saint.

Pela primeira vez, Saint soltou minha mão para cumprimentar o


homem. — Antonio Valenti. É bom ver você aqui. — Ele se virou para a
pequena mulher de cabelos escuros no braço de Antonio. — Alessia
Valenti, parecendo tão deslumbrante como sempre.

Em vez de dar um beijo no ar, ela assentiu e sorriu educadamente,


sem tirar a mão do braço do marido. — Obrigado, Saint.

Eu imediatamente gostei dela.

— Esta é minha esposa, Milana.

Ela sorriu calorosamente em minha direção. — É um prazer


conhecê-la, Milana.

— Você também, e por favor... me chame de Mila.

Eu mostrei a ela a mesma cortesia que ela me mostrou apenas


sorrindo e acenando para o marido.

Antonio virou-se para Saint. — Eu poderia ter uma palavra?

Saint olhou para mim, não querendo sair do meu lado.

Eu dei-lhe uma cutucada sutil. — Continue. Eu vou ficar bem.

— Tem certeza? — Ele sussurrou enquanto se inclinava para mais


perto.

Eu sorri. — Sim. Eu vou ficar aqui. Prometo.

— Não vou demorar. — Ele beijou minha bochecha antes de se


endireitar. — Senhoras, nos dê licença por um momento.

Alessia sorriu, mas revirou os olhos. — Homens e sua necessidade


de sempre discutir negócios. Mesmo em um evento de caridade.

— Essa é uma coisa que eu sei sobre Saint, sempre são negócios.

Um garçom se aproximou e nos ofereceu uma taça de champanhe.


Agradeci e voltei-me para Alessia. — Você não é da Itália?
— O que me entregou?

— Seu sotaque. Especialmente do seu marido. Ele é americano?

Alessia assentiu. — Quando recebemos o convite de Saint para a


gala, decidimos tirar umas férias com ela.

— Aproveitar o máximo.

Ela riu. — Exatamente. Você sabe, é tão bom finalmente ver Saint se
acalmar. Embora tenhamos ficado surpresos ao descobrir que ele se
casou e não o transformou em um casamento luxuoso. — Ela acenou pela
sala. — Como todos podemos ver, Saint ama suas reuniões caras.

— Sim. Isso ele faz. — Tomei um gole de champanhe e não tinha


certeza se estava esbarrando em Anete ou se lembrava de uma noite de
núpcias desastrosa que tinha o gosto amargo na minha língua.

Coloquei o copo em cima da mesa. — Você sabe onde fica o banheiro


feminino? Eu preciso refrescar o meu rosto.

— Claro. É pela porta à direita do palco onde está a orquestra.

— Obrigada.

Eu fiz o meu caminho através da multidão. Eu só precisava de


alguns minutos onde não havia alguém tentando apertar minha mão ou
beijar minhas bochechas. Alguns momentos para respirar.

— Milana.

Eu parei dura no meu caminho ao som da voz familiar. — Rafael. —


Eu me virei para encará-lo, mas fiquei surpresa com sua aparência. Seu
cabelo estava despenteado e olheiras emolduravam seus olhos.

Ele se aproximou e beijou minha bochecha, o cheiro forte de bourbon


rico saindo de seu hálito. — Você parece radiante, irmã.

— Obrigado. Você parece...


— Uma merda. Eu sei.

Eu não tinha certeza de como reagir a isso. Meu único instinto foi
minimizá-lo. — Você não deveria trabalhar tanto, irmãozinho. Todo
mundo precisa de férias de vez em quando.

— Oh, eu tinha essas férias tropicais inacreditáveis planejadas... até


que seu marido arruinou o maior negócio da minha vida. — A hostilidade
em sua voz enviou um calafrio pela minha espinha, e meu primeiro
instinto foi me afastar – o que tentei fazer quando Rafael agarrou meu
braço.

— Mila, espere.

Eu olhei para onde ele me tocou. — Solte-me.

Imediatamente, ele soltou e deu um passo para trás. — Eu sinto


muito. Eu não quis ser rude. É difícil quando você tem todos esses planos
futuros e, de repente, arranca-os de baixo de você.

— Escute, Rafael, fico decepcionada por não finalizar o acordo com


o Sr. Russo. O que eu não entendo é por que isso é tão importante. Você
ainda possui ações da empresa. Você ainda está bancando o negócio. Não
é como se você tivesse perdido tudo.

— Eu te disse, eu não sou um homem de negócios.

— Então improvise. Quando a vida lhe der limões, faça uma maldita
limonada.

— É isso que a vida nas ruas te ensinou? — O olhar em seus olhos


era frio, duro, cruel, um reflexo do que ele acabara de dizer.

— Foda-se, Rafael.

Eu virei nos calcanhares e andei na outra direção quando ele me


chamou. — Mamãe está aqui.
Assim, o mundo ao meu redor parou de repente. O som da música
da orquestra desapareceu junto com o zumbido de vozes e o tilintar de
copos.

Olhei pela metade do meu ombro. — O que?

— Ela está aqui.

— Você quer dizer aqui, na gala?

— Não. Ela está no quarto do hotel. Mamãe não se dá bem com a


multidão, mas ela pediu para vir, sabendo que você estaria aqui. Ela quer
conhecer você, Mila.

Eu me aproximei. — Qual quarto de hotel?

— Encontre-me nos elevadores em meia hora, depois eu a levarei até


ela. Vou apresentá-la à nossa mãe. E se você for esperta, não dirá ao seu
marido.

— Por quê?

— Porque posso garantir que ele tentará impedi-la. Pense nisso,


Mila. Por que ele não se ofereceu para levá-la até sua mãe?

Ele se virou e foi embora, o mar de pessoas o engolindo. Meus pés


estavam pesados demais, a garotinha que costumava chorar até dormir
pensando em sua mãe me impedindo de me mover. Toda emoção que
qualquer órfão podia sentir invadida por mim, quase me derrubando no
chão.

Rejeição.

Solidão.

Mágoa.

Perdida.
Tudo estava voltando à superfície enquanto eu estava lá, com um
vestido caro e sapatos de salto altos, cercado por centenas de pessoas –
todas as malditas riquezas que qualquer órfão poderia sonhar. Mas isso
não fez nada para afastar os sentimentos desagradáveis dos quais
surgiram nos meus pesadelos de infância.

— Sra. Russo.

Eu me virei na direção da voz de James.

— Você está bem?

— Estou bem. — Eu me virei para encará-lo, e ele parecia inquieto.

— Vamos levá-la de volta ao Sr. Russo.

— Eu só estou indo para o banheiro das mulheres. Não vou demorar.


— Apressadamente, passei por ele, aliviada por James não me ver com
Rafael. Saint odiava meu irmão com paixão. Eu sabia que se tivesse que
contar a ele sobre Rafael querer me levar para minha mãe, ele me
impediria. Tornar impossível para eu finalmente conhecer minha mãe,
não que eu já tenha me decidido. Havia algo errado com Rafael hoje à
noite, meu instinto gritando comigo para ter cuidado. Só isso me fez
hesitar em confiar nele, e preferir fazer o que meu marido havia me dito.
Confiar nele e ficar ao seu lado.

Entrei no banheiro feminino e encontrei Anete parada ali, arrastando


o batom rosa em volta dos lábios.

— Murphy, seu filho da puta. — Eu murmurei para mim mesma


antes de me endireitar.

Anete olhou para mim no espelho. — Devo dizer, Mila, o vermelho é


definitivamente a sua cor.

— Então já me disseram.
Em uma tentativa de ignorar a loira, eu me ocupei colocando alguns
cachos de volta no lugar.

— Vera Wang.

Eu fiz uma careta. — Com licença?

Anete virou na minha direção. — Seu vestido. Vera Wang?

— Prada.

Ela tirou uma mecha loira do rosto, seu sorriso falso e os olhos
malignos. — Oh, há uma boutique da Prada em Milão para a qual você
simplesmente precisa ir.

— Eu sei. Foi onde eu peguei o vestido. Saint me levou até lá.

A expressão dela caiu. — Bem, você não é uma mulher de sorte.

— Suponho que sou. — Silenciosamente, rezei para que essa mulher


seguisse em frente, já que não estava com disposição para lutar com ela.
Agora não. Eu só tinha muitas coisas em mente.

Ela colocou a mão no quadril. — Suponho que ficou no Hotel


Principe di Savoia.

— Ugh. — As palavras rolaram sem esforço de seus lábios, onde eu


mal conseguia pronunciar nada.

— Sim. De fato, nós fizemos.

Ela fingiu um olhar sonhador e olhou para o teto. — Um dos hotéis


mais luxuosos de Milão. Cada centímetro daquele edifício é requintado.
É disso que os sonhos são feitos.

Suspirei. — Sim. É realmente um hotel bonito.


— E a suíte presidencial? Oh, meu Deus, é impressionante. Lembro-
me da noite em que Saint e eu passamos na suíte presidencial depois que
ele simplesmente me levou de helicóptero para Milão por um capricho.

Meu coração parou e meus pulmões não se expandiram mais


enquanto eu observava os lábios de Anete se moverem, mas não ouvi uma
palavra que ela disse. Minha capacidade de ouvir parou depois que ela
disse que havia passado uma noite com Saint na suíte presidencial.

Eu perguntei a ele. Perguntei-lhe especificamente se ele já levará


outra mulher naquela suíte de hotel. Se ele tivesse passado uma noite
naquela cama com outra pessoa. A cama que ele me amarrou. A cama
em que transamos. Confiei nele para me responder com sinceridade,
como ele disse que faria.

— Mila? — Anete estalou os dedos na frente do meu rosto. — Você


está bem? Você ficou lá por um segundo.

— Hum! — Minha mente era um labirinto de pensamentos


incoerentes, e levei um momento para encontrar as palavras — Então
você passou uma noite no hotel com Saint?

Ela sorriu e encolheu os ombros ossudos. — Claro. Saint adorava


me mimar com viagens não planejadas e me enchia de presentes caros.
Nós tínhamos uma conexão especial, Saint e eu. Ainda temos.

Mil pedaços de vidro cortaram o interior do meu estômago, meu peito


quebrado e doendo como se uma bola de demolição tivesse batido nele.
Eu não conseguia respirar, minhas pernas fracas quando eu tropecei
para trás e agarrei a borda do balcão.

— Oh, meu Deus, Mila. Não fique tão chocada.

Eu fiz uma careta, mas as palavras me escaparam quando Anete me


observou com íris tóxicas e intenções mortais.
Seus lábios rosados e macios se curvaram em um sorriso perverso
que poderia matar. — Oh, Mila. Você pensou que era especial
simplesmente porque ele se casou com você? Todo mundo sabe que foi só
para colocar suas mãos gananciosas em suas ações.

— O que? — Minha voz era apenas um sussurro.

— Meu pai é advogado dele, lembre-se. Ele conhece os negócios da


Saint, incluindo as ações da garota Torres há muito perdida. Não
demorou muito tempo para colocar dois e dois juntos. Torres é a única
razão pela qual ele se casou com você. Eu sei isso. Você sabe. Ele sabe
disso.

— Dane-se, Anete.

Ela se aproximou com mil ameaças queimando em seus olhos. —


Saint é um Deus, Mila. Um Deus que adora ser adorado por mulheres
nuas e dispostas. Não pense por um momento que seu casamento com
ele seja tudo menos uma fachada, uma manobra para que ele consiga o
que quer. Quando ele acabar com você, ele a deixará de lado e foderá toda
mulher capaz de abrir as pernas.

A raiva correu por minhas veias, agravada por uma onda de


adrenalina. Eu dei um tapa nela, o estalo alto da minha palma contra sua
bochecha ecoando nas paredes.

A cabeça dela disparou para o lado, cabelos loiros caindo sobre o


rosto. Meu pulso disparou e o peito subiu rapidamente enquanto eu
lutava para respirar através da raiva.

Anete olhou com olhos selvagens, sua bochecha manchada com a


minha mão. — Sua puta de merda.

— Fique longe de mim, Anete. — Eu avisei. — E fique longe do meu


marido.
— Ele nunca será fiel a você. Ele se aborrece facilmente e adora
demais ter seu pau chupado. — O fogo ardia em seus olhos quando ela
olhou. — Ele desceu em minha garganta tantas vezes que perdi a conta.
E aqui está a coisa... — Ela fervia. — Quando Saint voltar rastejando para
mim por uma boa foda e ele precisará, só preciso de dez malditos minutos
para fazê-lo esquecer tudo sobre você.

Eu queria colocar meu punho na garganta dela, mas quanto mais


eu ficava lá, mais ele doía. Suas palavras e suas mentiras... e minha
estupidez.

Lágrimas ameaçaram se libertar, e eu corri para fora, recusando-me


a cair na frente de Anete.

— Você é uma tola, Mila. — Ela gritou atrás de mim. — Uma idiota.

A porta se abriu quando eu saí em disparada, o som suave da música


da orquestra nada além de barulho, uma vez que se chocou com a batida
do meu coração. O mar de pessoas parecia se aproximar de mim, os
prismas de cristal agora uma luz ofuscante enquanto as lágrimas
escorriam livremente pela minha bochecha.

Saint estava de pé junto ao bar, ainda conversando com Antonio e


James o flanqueando. Enquanto eu olhava para Saint pelo que parecia
uma eternidade, tudo o que vi foi uma mentira. Decepção. E como eu fui
cega e burra por pensar que um homem como ele poderia se apaixonar
por uma mulher como eu. Anete estava certa. Saint era um Deus, e eu
nunca seria boa o suficiente para ele.

Cada canto da minha alma palpitava em agonia, e eu dei um passo


para trás. Então outro. E outro.

Todos os rostos desconhecidos e roupas extravagantes me


provocavam. Eu não pertencia aqui. Eu realmente achava que seria tão
fácil quanto vestir um vestido de grife e andar ao lado de um dos homens
mais poderosos da Itália? Que eu seria capaz de ir de órfão a rainha?
Garota estúpida, estúpida, estúpida.

Meu calcanhar bateu contra as escadas, e quase tropecei no chão


antes de subir os degraus, como Cinderela antes do relógio bater meia-
noite. Assim como a Cinderela, eu não pertenço a isso. Eu não pertencia
ao baile com o príncipe.

Quanto mais eu subia correndo as escadas, mais desesperada me


tornava em fugir. Meus calcanhares batiam no piso de mármore, mas
quando cheguei à saída, ouvi alguém chamar meu nome.

— Mila?

Rafael estava parado no elevador e, exatamente como no dia em que


fugi de Saint, longe da guerra dele e de seu pai, meu irmão estava lá mais
uma vez.

— Vamos lá. — Ele insistiu. — Mamãe está esperando.

Fechei meus olhos enquanto lágrimas rasgavam minha alma, o


pensamento de minha mãe e como eu desejava conhecê-la toda a minha
vida me sacudindo.

Olhei de volta para a entrada do corredor, parte de mim esperando


que Saint viesse atrás de mim, talvez tente me impedir de correr
novamente. Talvez até me diga o que Anete havia dito era mentira – que
ela era a mentirosa, não ele. Mas a outra parte de mim, a parte menos
ingênua, sabia que a verdadeira mentirosa era eu. Eu estava mentindo
para mim mesma pensando que poderia me encaixar neste mundo de
poder e ganância – onde apenas os mais ricos sobreviveram. Um mundo
que eu seria forte o suficiente para governar como rainha de Saint. Foram
todas as mentiras que eu disse a mim mesma para finalmente encontrar
um lugar onde me encaixaria. Um lugar a que eu pertencia.

Eu estava errada e agora não confiava mais no meu próprio


julgamento. Isso me falhou muitas vezes.
— Por que eu continuo te encontrando fugindo do seu marido?

Eu me virei para encarar Rafael. — Porque eu sou uma tola.

— Não. Eu não acho que é isso. — Ele descansou as mãos nos meus
ombros e me lançou um olhar de simpatia. — Seu marido é o tolo por
permitir que você fuja. — Ele enxugou uma lágrima persistente. — Pelo
menos algo de bom pode vir desta noite. Uma garota perdida finalmente
se reunindo com a mãe.

— Ela realmente quer me ver, Rafael?

— Ela quer, Mila.

— Por que ela esperou tanto tempo? Certamente ela sabia que eu
estava aqui na Itália semanas atrás?

Rafael deu um passo atrás e esfregou a parte de trás do pescoço. —


Eu sou o culpado lá. Como eu disse antes, ela ainda não se recuperou da
perda de nosso pai. Não queria aborrecê-la.

— E saber de mim a aborreceria?

— Não. Não da maneira que você pensa. Ela desistiu de você, Mila.
Só não tinha certeza se ela estava pronta para enfrentar o que
provavelmente foi o maior erro de sua vida.

Por mais que eu adorasse culpar alguém por me impedir de minha


mãe, o raciocínio de Raphael fazia sentido. Se eu estivesse no lugar dele,
também seria cauteloso e faria qualquer coisa para proteger minha mãe
de se machucar.

Ele passou um braço em volta do meu ombro e lentamente me guiou,


um pequeno passo de cada vez, em direção ao elevador. — Vamos, nossa
mãe está esperando.

A porta do elevador se abriu e Rafael entrou. Por um único batimento


cardíaco, eu estava congelada, e todos os eventos das últimas semanas
brilhavam diante dos meus olhos. Toda a emoção que experimentei
esmagou todos os meus ossos e, quando levantei o pé para dar o passo
final, hesitei.

— Me engane uma vez, sua vergonha. Me engane duas vezes, minha


vergonha. — Sussurrei e tirei os sapatos dos meus pés, jogando-os no
chão.

Respirei fundo e finalmente consegui entrar no elevador. Rafael


sorriu. Portas de aço fechadas. E lá estava eu... mais uma vez assistindo
as luzes piscarem quando o elevador subiu para o desconhecido.

Subimos todo o caminho até o último andar e meus pés descalços


atingiram o tapete felpudo quando saí do elevador.

— Aqui. — Rafael apontou para uma porta de mogno escuro à


esquerda. — Ela está lá. — Ele limpou os dedos na lateral da boca e olhou
para cima e para baixo no corredor antes de pegar o cartão-chave da
jaqueta. — Está pronta?

Eu levantei meu queixo e coloquei um sorriso fraco quando assenti.


Noites. Meses. Anos em que esperei e sonhei com esse momento. Havia
tantas perguntas que pensei em perguntar a ela no dia em que finalmente
a conheceria. No entanto, aqui estava eu, e tudo que eu queria era que
ela me abraçasse. Para me abraçar. Escovar os dedos pelos meus cabelos
e me dizer que tudo ficaria bem.

Rafael passou o cartão e a luz vermelha ficou verde. A porta se abriu


e ele a abriu, esperando que eu entrasse primeiro.

Minhas mãos estavam suadas e meu coração batia um ritmo


acelerado contra as costelas. Alguém poderia pensar que eu iria querer
entrar correndo para vê-la, mas os nervos que soaram como sinos na
minha barriga me fizeram dar um passo hesitante após o outro.
A suíte estava mal iluminada, o ar abafado como se não houvesse ar
fresco há dias. A porta se fechou e eu olhei de volta para Rafael, que
estava dois passos atrás de mim.

O tecido do meu vestido se arrastava pelo tapete sem a altura dos


meus sapatos, e quanto mais eu entrava na suíte, mais inquietação caía
sobre meus ombros. Algo não estava certo. Eu parei congelada no meu
caminho e me virei. — Raf...

Tudo ficou preto.


20

Saint

— ONDE DIABOS ELA ESTÁ?

Entrei no banheiro feminino, a porta batendo contra a parede de


azulejos. Mulheres gritaram e engasgaram enquanto eu fervia.

— Mila! — Minha voz era um maldito estrondo sônico contra as


paredes e os espelhos. — Mila!

— Saint? — Anete entrou correndo. — O que está acontecendo?

— Agora não, Anete. Mila! — Eu fui de um banheiro para o outro,


chutando a porra das portas.

— Ela não está aqui, Saint.

Eu parei e bati meu olhar para ela. — Como você sabe?

— Porque ela estava aqui há cerca de dez minutos, mas foi embora.

Eu estreitei os olhos quando notei uma faixa vermelha que manchou


sua bochecha esquerda. — O que aconteceu com seu rosto, Anete?

— Oh nada. — Ela tocou o rosto dela. — Apenas um garçom


descoordenado que não estava olhando para onde estava indo.

Eu segui em frente, percebendo como o olhar dela se fixou em


qualquer lugar, menos em mim. Eu conhecia Anete há muito tempo, tive
meu pau chupado por aquela boca em muitas ocasiões. A mulher era
vingativa, manipuladora e não tinha vergonha de conseguir o que queria.
Mas uma coisa que ela nunca poderia fazer era mentir para mim. Ela
tinha esse sinal revelador de desviar os olhos e sacudir os cabelos como
a mãe de todas as divas sempre que estava prestes a ser pega em uma
mentira.

— Anete, o que. Que merda. Aconteceu. Na sua cara? — Eu não


estava a mais de cinco centímetros de seu rosto filho da puta e empilhava
a pressão enquanto olhava para ela.

Ela evitou o contato visual e sacudiu o cabelo. — Bem. Sua esposa


e eu estávamos conversando e, por nenhuma razão, ela foi todo do gueto
e me deu um tapa. Estou lhe dizendo, Saint, você precisa mantê-la na
coleira.

— O que você disse a ela?

Anete recuou. — Esse não é o ponto, Saint. A mulher me agrediu por


não...

Agarrei seus ombros e a forcei contra a parede, sua pequena


estrutura e ossos frágeis segundos depois de serem esmagados em
minhas mãos. — Não brinque comigo, Anete. O que você disse a ela?

— Você está me machucando.

— Conte-me! — O estalo alto da minha voz reverberou pela sala, o


lábio inferior de Anete começando a tremer.

— Bem. OK? Mila entrou aqui agindo como se ela fosse a dona do
lugar em seu vestido Prada, se gabando de sua viagem a Milão e de como
você a levou ao Hotel Principe di Savoia.

Meu batimento cardíaco passou de um pulso acelerado a um martelo


estrondoso contra minhas costelas. — Jesus, Anete. O que você disse a
ela?
— Você a levou para aquele maldito hotel, Saint, depois que eu
implorei tantas vezes para me levar com você sempre que você tivesse
negócios em Milão. — Seus olhos brilhavam, e Jesus Cristo, eu não estava
com disposição para fodidas voltas. — Eu implorei, e você continuou me
dando desculpa após desculpa.

— Jesus. — Eu a soltei e dei um passo para trás. — Você mentiu


para ela, não é?

— Sim, eu menti, porra. — Ela cuspiu entre lágrimas. — Eu menti


porque não estava prestes a ter alguma órfã que você pegou nas malditas
ruas se gabando de viver a vida que eu queria.

Agachei-me com as mãos sobre a boca, sabendo exatamente que


dano as mentiras de Anete haviam causado. Prometi a Mila que
responderia com sinceridade. Sempre. E agora ela estava com a
impressão de que eu menti para ela – uma mentira que havia roubado
aquele momento fundamental entre nós. Um momento em que ela se
sentiu importante para mim. Especial, até.

— Você conseguiu o que queria. — Continuou Anete com bochechas


molhadas e olhos selvagens. — Você se casou com a garota e conseguiu
as ações de Torres que procurava. Por que continuar a farsa?

— Como...

— Como eu sei? Vamos Saint. — Ela cruzou os braços. — Não foi tão
difícil de entender.

— Porra! — Lancei-me e bati o punho contra a parede, a dor não


fazendo nada para dominar a raiva.

A raiva fervente queimava como as chamas do inferno no meu peito,


e eu olhei para Anete como se ela fosse a porra da desova do diabo. — Se
algo acontecer com minha esposa, eu vou arruiná-la, Anete. Eu juro por
Deus.
— Senhor. — James veio furioso, segurando um par de sapatos
pretos na mão. — Encontrei no lobby do hotel.

— É da Mila.

— Elena. Não a encontro em lugar nenhum.

— O que?

James se aproximou de mim, sua expressão cautelosa. — Ela não


está aqui.

— Jesus, porra Cristo. Coloque seus homens nisso, James. Use a


segurança do hotel. Eu não ligo se você precisa trazer a porra das forças
armadas, mas você as encontra. Você me escuta? Porra, encontre-as.

James saiu correndo e vi Anete ainda pairando no canto da sala. —


Saia.

Os lábios dela se curvaram. — Tudo o que fiz foi...

— Eu disse saia! — Não havia como a mulher permanecer em pé


diante da minha raiva que ameaçava engoli-la, e ela saiu correndo da
sala.

Puxei meu telefone do bolso. Todo esse cenário tinha meu pai escrito
por toda parte. Deus, eu era tão estúpido pensando que Mila estaria
segura aqui comigo.

Apertei o botão de discagem em um número que não ligava há muito


tempo. Foram necessários apenas dois toques para ele responder.

— Marcello. Que surpresa.

Belisquei a ponta do meu nariz quando a voz do meu pai invocou


uma onda de lava em minhas veias. — Onde ela está?

— Quem?
— Mila. Onde diabos está Mila?

— Eu não sei por que você acha que eu saberia disso, filho.

— Não me chame de filho. — Cerrei os dentes. — E não brinque


comigo. Onde diabos ela está?

— Sinto muito, Marcello. Mas sinceramente não sei do que você está
falando. Você não está nessa sua festa de caridade?

Andei pelo chão de mármore, mal segurando o último pedaço de


controle que eu tinha. — Eu juro por Deus, se você machucá-la...

— Mantenha suas malditas ameaças para si mesmo, Marcello. Só


vou dizer isso mais uma vez e depois vou desligar. Eu não tenho sua
esposa, nem sei nada sobre o desaparecimento dela. E depois que você a
encontrar, espero outra ligação sua com um pedido de desculpas.

Ele desligou e eu xinguei quando peguei um vaso de uma mesa


lateral e joguei-o pelo quarto, direto no espelho, que rachou e se quebrou
com o impacto. Rosas brancas e cacos de vidro se espalharam, e minhas
maldições bateram contra as paredes como trovões. Tudo estava tão
fodido e eu estava perdendo o controle.

Meus pés correram pelo chão de mármore e saí correndo de volta ao


corredor que havia sido – até minutos atrás – uma cena de uma maldita
terra de fadas. Mas agora todas as flores, vasos de cristal, velas e lustres
eram meros fragmentos do meu pior pesadelo. A única coisa que eu temia
desde o dia em que percebi que Mila era mais para mim do que apenas
uma maldita assinatura.

Eu tinha que encontrá-la.

Mesmo que me custasse meu último suspiro... eu tinha que


encontrá-la.
21

Mila

— O QUE VOCÊ FEZ COM ELA?

— Eu a vi entrar aqui. Onde ela está?

Vozes. Longe. Distante.

— Onde ela está?

— Tire suas mãos de mim.

— Pare.

— Diga-me onde ela está.

— Elena? — Mexi com uma dor latejante que se espalhou pelo lado
do meu rosto e no meu crânio. Minha boca estava seca e a garganta
arranhada como se eu tivesse engolido areia. Lambi meus lábios e provei
sangue antes de tentar me levantar. Meus olhos se abriram contra a
ardente luz brilhante, e por um momento eu não tinha certeza de onde
estava.

Um banheiro.

Hotel.

Gala.

Anete.
— Rafael. — Eu sussurrei.

Um baque alto cortou meus tímpanos.

— Entre lá, puta.

— Mila? — Uma mão gentil tocou o lado do meu rosto. — Oh, meu
Deus, Mila.

— Elena? — Eu mal podia ouvir minha própria voz contra a dor


pulsante na minha cabeça.

— Você está bem?

— O que aconteceu? — Pisquei algumas vezes contra a luz ofuscante


que brilhava nos azulejos brancos. — Onde estamos?

— Jesus, Mila. Seu rosto. O que ele fez pra você?

A realidade caiu sobre mim como mil blocos de concreto. — Rafael.


— Eu sussurrei enquanto minha memória voltava. — Minha mãe.

— Oh, foi muito fácil.

Olhei por cima do ombro de Elena para meu irmão encostado no


batente da porta, coçando a têmpora com o cano da arma.

— Rafael. — Eu comecei, sem fôlego. — Elena. Deixe ela ir.

— Ei, não é minha culpa que a cadela nos seguiu até aqui. Ela não
me deixou outra escolha a não ser jogar a bunda dela aqui com você.

Elena se levantou. — Seu desgraçado. É melhor você correr antes


que Marcello o encontre.

Rafael bufou e limpou o nariz. — Você acha que seu sobrinho me


assusta?

— Oh, meu Deus, você está chapado, não está?


Ele se aproximou de Elena, o que a fez andar para trás. — E se eu
estiver?

— Marcello estava certo sobre você. — Elena zombou. — Você não


passa de uma merda.

Aconteceu tão rápido. O estalo doentio do golpe rasgou o ar quando


Rafael atingiu Elena com as costas da mão, enviando-a em espiral para o
chão.

— Pare! — Minha voz ecoou e eu me levantei, esquecendo cada


pequena dor no meu corpo. — Por favor, pare. Não a machuque. Apenas
me diga o que você quer.

Com pés instáveis e pernas trêmulas, mudei-me para ficar entre ele
e Elena, que havia se deitado de costas contra a parede, corte nos lábios
e sangrando.

— O que você quer, Rafael?

Seus olhos se estreitaram com nada além de intenção maliciosa que


irradiava de pupilas negras e dilatadas. — O que eu quero? O que eu
quero é a porra do meu dinheiro. — Ele deu um passo em minha direção.
— O que eu quero é o meu trato com o filho da puta, Russo. Um acordo
que estava garantido e a dois segundos de ser finalizado até que você...
— Ele empurrou o cano da arma contra o meu peito, me fazendo
choramingar. — Invadiu sem ser convidada, arruinando tudo.

— Eu não pedi para fazer parte disso.

— No entanto, você não pensou duas vezes antes de assinar seu


nome na linha pontilhada, casando-se com aquela porra rica que pensa
que é o dono do mundo.

— Eu não tive escolha. — Eu ataquei ele. — Nada disso foi a porra


da minha escolha, Raphael.
— Eu não ligo! — Ele gritou, levantando a arma e apontando para
minha testa.

— Mila! — Elena chorou, e eu levantei minha mão em uma tentativa


de acalmá-la quando fechei meus olhos contra o frio arrepiante da arma
contra a minha pele.

— Rafael, me escute, ok? Se você quer dinheiro, deixe-me ajudá-lo.


Tenho certeza que Saint adoraria tirar essas ações de suas mãos.
Podemos pedir que ele ofereça o mesmo acordo que o pai dele tinha na
mesa.

O silêncio se estabeleceu... até que seu riso maníaco abrupto a


cortou e caiu contra o teto. — Você acha que eu não tentei isso? Ofereci-
lhe um acordo dois dias depois que ele colocou uma arma na minha
cabeça. Até reduzi meu preço em cinquenta por cento.

— O que? — Nada do que ele disse fazia sentido.

Rafael sorriu, mas não havia diversão em seus olhos. Apenas


escuridão. Ódio. Raiva. — Seu marido deixou claro que não tem interesse
em fazer negócios comigo.

— Isso é porque você é um viciado sem valor. — Elena cuspiu atrás


de mim.

— Cale a boca, vadia! — Ele me empurrou para fora do caminho, e


eu bati o ombro contra a parede.

— Rafael, não!

Houve um brilho de prata e um estrondo ensurdecedor, seguido


pelos gritos estridentes de Elena.

Gritei e assisti horrorizada o sangue escorrer de uma ferida aberta


na perna dela. Em segundos, o vermelho escoava através da argamassa
entre os azulejos, um forte contraste de cor contra o chão branco.
Elena soluçou, os olhos arregalados e o corpo tremendo quando ela
entrou em choque.

Eu não conseguia respirar quando o pânico cravou suas unhas na


minha espinha, arranhando minha pele com terror. Mas naquele
momento, eu não me importei com minha própria vida. Eu não me
importei com a arma na mão do meu irmão. Tudo o que me importava
era Elena, e seus lamentos de dor dolorosos, suas mãos tremendo sobre
a perna. Subi pelo chão.

— Elena. Oh meu Deus.

— Oh, pare de agir como se você se importasse, Mila.

Lágrimas escorreram pelo meu rosto. Meu coração estava batendo


tão rápido que eu tinha certeza de que iria rasgar do meu peito a qualquer
segundo.

Peguei uma toalha no parapeito mais próximo, minhas mãos


tremendo tanto que eu mal conseguia evitar que deslizasse entre meus
dedos. — Está tudo bem, Elena, — tentei tranquilizá-la, embora minha
voz tremesse quase tanto quanto minhas mãos. — Nós só precisamos
parar o sangramento.

Posicionei a toalha na perna dela para pressionar o ferimento e tentei


limpar as lágrimas escorrendo da bochecha com o ombro. — Apenas
mantenha pressão sobre isso.

Rafael agarrou meu ombro. — Afaste-se dela.

— Solte-me! — Eu me agitei e me afastei de seu aperto, o que o fez


tropeçar para trás e rasgar a manga do meu vestido no processo.
Desesperada por ajudar Elena, caí no chão, os dedos segurando a toalha
com força para que eu pudesse pressionar mais a perna dela para tentar
retardar o sangramento.
Apertei minha mão contra sua bochecha molhada, sua pele
doentiamente pálida. — Você vai ficar bem. Eu prometo. OK? Eu prometo.

Elena agarrou minha mão, sua respiração alta e rápida. — Ouça-


me, Mila. — Ela sussurrou, me puxando para perto. — Você precisa sair
daqui. Você precisa se salvar dele.

— Não. — Eu balancei minha cabeça. — Eu não vou deixar você


aqui.

Elena apertou seu aperto na minha mão. — Não se preocupe comigo.


Apenas... — ela respirou fundo. — Salve a si mesma... e a vida que você
está carregando dentro de você.

O gelo se espalhou por todos os ossos, me sobrecarregando e


impossibilitando a movimentação. — O que?

Um sorriso fraco apareceu em seu rosto, e ela fechou os olhos


enquanto simplesmente assentia.

— Como você...

— As cartas. — Ela sussurrou. — Foi escrito no seu futuro... nas


cartas.

De repente, tudo se encaixou. — A Imperatriz? Isso é o que isso


significava. Por isso você não quis completar a leitura.

Rafael agarrou meu braço e me puxou para os meus pés. Eu estava


atordoada demais para tentar revidar – para tentar me libertar.

Ele me arrastou para fora da sala e bateu a porta. — Sente-se, porra.


— Ele me empurrou em direção ao sofá, meu quadril batendo no apoio
de braço e enviando uma onda de dor ao meu lado. Instintivamente,
passei meus braços em volta da minha barriga. — Por que você está
fazendo isso?
— Oh Deus. — Ele revirou os olhos. — Você é lenta? Você é uma
pessoa especial que precisa que as coisas sejam explicadas mil vezes? —
Ele se sentou à minha frente e pegou um pequeno saco plástico que
estava colocado na mesa lateral. — Tia Elena estava certa. — Ele riu
quando derramou pó branco da bolsa e para o lado do punho. — Eu estou
chapado. — Ele cheirou a cocaína, e um olhar de puro êxtase brilha em
seu rosto por uma foda de dois segundos.

Eu assisti com a respiração suspensa quando ele limpou o nariz e


apertou a arma.

Ele estendeu o saco para mim. — Quer tentar?

Eu simplesmente olhei para ele.

Ele encolheu os ombros. — Continue. Se você estiver chapada, não


sentirá nada quando eu fizer um buraco no seu rosto bonito.

— Pare. — Eu sussurrei. — Pare de me ameaçar e apenas faça. — A


adrenalina havia disparado. Isso estava me deixando imprudente, e eu
estava começando a sentir nada além de raiva não diluída. Eu me sentei
ereta, sem me importar que uma manga do meu vestido estivesse rasgada
e metade do meu peito estivesse em exibição. — Se você quer me matar
tanto, basta fazê-lo. Por que parar? Por que essa porra de farsa?

Sua mandíbula se apertou e as narinas dilataram. Seus olhos não


eram nada além de poços de escuridão. — Você sabe... — Ele começou e
se recostou na cadeira. — Durante toda a minha infância, sempre senti
que havia essa desconexão entre mim e meu pai. Como se ele, eu não sei,
não gostasse de mim. E quando ele morreu, não fiquei triste. Ah, não! —
Ele sorriu como um maldito maníaco. — Eu me senti livre. Livre para ser
eu e fazer o que quero, sem ter que se preocupar com o olhar de
desaprovação de meu pai. No entanto, não parei de me perguntar por que
ele sempre parecia não gostar de mim.
Rafael esticou o pescoço e olhou para o teto. — Então minha irmã
retorna dos mortos, viva e bem, toda essa história sombria e deprimente
de adoção, dívidas e ações, e porra sabe o que mais. — Seu olhar foi para
o meu. — E então eu percebi, é por sua causa. Meu pai não gostava de
mim porque sempre que olhava para mim, tudo o que via... era você. A
filha que ele deu. — Ele se levantou e eu engoli em seco quando suas
feições escureceram a cada segundo. — Você vê, Mila, você arruinou
minha vida antes mesmo de voltar da porra dos mortos. Você está
arruinando minha vida desde o dia em que nasci.

Eu fechei meus punhos, minhas entranhas se enrolaram com força.


— Ou talvez nosso pai simplesmente soubesse que merda você realmente
é.

A expressão em seu rosto era de pedra, os olhos vidrados. Parei de


respirar devido à sua falta de reação ao modo como o provocava. Mas
então ele riu, uma gargalhada alta de insanidade alarmante. O som
vibrou na minha espinha com um terror inquietante, e eu tive que
inspirar profundamente para evitar que o pânico me sufocasse.

Raphael se aproximou como a cobra que ele era e levantou a arma,


apontando-a para mim.

O suor escorria pelas minhas costas enquanto eu desesperadamente


lutava para esconder meu medo trêmulo.

— Você é uma garotinha corajosa, Mila. Eu vou te dar isso. Pena que
não vai ajudá-la quando você queimar no inferno.

— Eu não tenho medo de morrer, Rafael.

Ele endireitou seu objetivo. — Então você não terá problemas com o
que acontecerá a seguir.

Meu corpo inteiro tremia com uma força que poderia quebrar os
ossos, meu próprio batimento cardíaco soando no meu ouvido. Se Elena
estivesse certa, Rafael não estaria apenas me roubando a vida, mas a vida
dentro de mim também.

Uma lágrima escorreu pela minha bochecha e atravessou meus


lábios trêmulos, mas minha mente estava em branco. Completamente
desprovido de qualquer memória. Qualquer pensamento.

Então uma batida na porta cortou a tensão que pairava como uma
lama espessa no ar.

— Rafael, você está aí?

Era o pai de Saint. Eu imediatamente reconheci a voz do Sr. Russo.

— Você está aí, Rafael?

Rafael segurou o dedo na frente dos lábios, me alertando para ficar


quieta.

— Ouça, filho. Acabei de ouvir que a nova esposa de Marcello está


desaparecida. Se, por acaso, você tiver com a garota, eu adoraria
renegociar nosso acordo.

Prendi a respiração quando Rafael caminhou lentamente em direção


à porta e se encostou nela. — Estou ouvindo.

— Você tem a garota? — Russo exigiu pela porta.

— Primeiro, conte-me sobre este acordo que você gostaria de


renegociar.

— Essa garota vale mais para mim do que essas ações, Raphael. Se
você a tem, conseguiu algo que nem eu consegui.

— Sim, e o que é isso?

— Superando meu filho para que eu possa colocar minhas mãos na


garota Torres. Agora você a tem ou não? Porque minha vontade de
renegociar está diminuindo a cada segundo.
Rafael manteve seus olhos cruéis fixados em mim, e eu vi o modo
como as rodas giravam dentro de sua cabeça maligna. Mas eu não sabia
qual era o mal menor. Meu irmão com uma arma, ou o fato de o Sr. Russo
parecer realmente desesperado para colocar as mãos em mim.

A cada batida do meu coração, ficava cada vez mais difícil respirar
enquanto eu observava a mão de Raphael girar a fechadura e abrir a
porta.

— Venha, Sr. Russo. — Rafael gesticulou para ele entrar. — Vamos


conversar sobre negócios.

Recuei o mais longe que pude assim que o Sr. Russo entrou na suíte,
sua presença pesada e avassaladora.

— Mila. — a voz de Elena veio da sala. — Mila, você está bem?

O Sr. Russo olhou de mim e para Raphael. — Aquela é...

— Sim. — Rafael fechou a porta. — A tia do seu filho tentou estragar


meu plano bisbilhotando.

O Sr. Russo olhou para mim em questão. — Elena está naquela sala?

— Sim. E ela está machucada. Ela precisa ir ao hospital. — Implorei.

— Oh, vamos lá. — Raphael gemeu. — É apenas uma ferida na


perna.

O Sr. Russo olhou para mim, mas havia algo diferente em seus olhos.
Diferente da última vez que o vi.

— Bem. — Ele desabotoou o paletó e se sentou no sofá. — Vamos


conversar sobre negócios e vamos ser rápidos. — Ele cruzou as pernas.
— Eu quero a garota. Você quer dinheiro. Estou disposto a lhe dar vinte
por cento menos do que suas ações valem, tanto para sua irmã quanto
para suas ações.
— O que? — As sobrancelhas de Raphael quase tocaram sua linha
do cabelo. — Você vê esta arma, certo?

Sr. Russo assentiu. — Eu faço.

— Você sabe que a tia de Marcello está sangrando naquele quarto?

— Eu pensei que era apenas uma ferida na perna? — Zombaria


pintou cada palavra sua, e Raphael franziu a testa.

— Você acha que está em posição de negociar aqui?

O Sr. Russo estendeu os braços pelas costas do sofá. — Estou


sempre em posição de negociar, Rafael. A garota e suas ações são vinte
por cento menos que minha oferta original.

Minhas pernas tremiam incontrolavelmente quando a adrenalina


começou a bater. Eu balancei, então peguei meu equilíbrio contra a
parede - o movimento desencadeou Rafael a apontar a arma para mim
novamente.

O Sr. Russo nem sequer piscou com o fato de Rafael estar


balançando uma arma como um maldito brinquedo.

Russo, levantou-se de seu assento. — Vou contar até três, então meu
negócio está fora da mesa.

Raphael olhou do Sr. Russo para mim.

— Dois.

Prendi a respiração.

— Combinado! — Rafael esfregou a parte de trás do pescoço. —


Combinado.

O Sr. Russo sorriu vitoriosamente e apertou a mão do meu irmão. —


É um prazer fazer negócios com você, Raphael. Seu pagamento...
— Vai para o inferno, filho da puta.

Um tiro soou e Rafael caiu no chão. O sangue escorria de seu corpo


sem vida e ensopava as fibras do tapete.

Muito sangue. Muito sangue. Eu estava cercada por isso. Se


afogando nele.

Todo som ficou mudo quando eu olhei para Saint em pé na minha


frente com uma arma na mão e o dedo no gatilho. Meu lindo anjo da
morte. O diabo que me roubou. E o homem que roubou meu coração.

Um alívio indescritível me inundou como água enquanto eu o


observava atravessar a sala em minha direção. No segundo em que seus
braços me envolveram, a segurança de sua presença me envolveu... eu
caí.
22

Mila

SAINT ME CARREGOU E saímos do hotel, James e seus homens lutando


contra as câmeras piscando e gritando, repórteres.

Luzes vermelhas e azuis tremeluziam à distância, mas eu não me


importava com nada porque estava seguramente embalada nos braços do
meu marido. Eu o senti contra mim, seu calor penetrando meu corpo e
afastando o frio. Ele me apertou com força e me segurou em seu colo
enquanto dirigíamos pelas ruas de Roma.

Sua mão roçou minhas costas, uma carícia amorosa. — Eu disse


para você nunca mais fugir de mim.

Eu não respondi. Não pude. Palavras me escaparam enquanto eu


ouvia a batida suave de seu coração.

— Ela mentiu, Mila.

Fechei os olhos, uma única lágrima escorrendo pela minha


bochecha.

— Anete mentiu para você. Uma mentira pela qual ela pagará caro.

— Não. — Eu sussurrei.

— A mentira dela quase custou sua vida. Eu quase te perdi.


— Mas você não fez. — Eu aninhei minha bochecha mais
profundamente contra seu peito. — Eu não deveria ter acreditado nela
em primeiro lugar.

Segundos. Minutos. Horas. Perdi toda a noção do tempo enquanto


ele me segurava em seus braços. Não dissemos uma palavra, mas nosso
silêncio falou alto. Seu arrependimento estava lá do jeito que ele me
segurava. E o meu estava nas lágrimas, continuei a chorar contra seu
peito. Eu era estúpida em acreditar em Anete e tola em deixar Rafael
chegar perto de mim. Eu quase paguei pela minha loucura com a minha
vida. Com a vida de Elena. E talvez até... outra vida.

Apoiei minha palma contra minha barriga. — Saint.

— Eu sei, Mila.

Eu olhei para ele surpresa, e ele passou a mão na minha bochecha


com ternura. — Elena me disse.

— Precisamos ter certeza.

— E nós vamos. — Ele me assegurou. — Mas agora, você precisa


descansar.

— Como você sabia onde me encontrar?

Ele puxou os lábios em uma linha reta. — Meu pai. Logo antes de
Raphael abrir a porta para ele, ele enviou seu guarda-costas para me
dizer onde você estava.

Eu recuei. — Seu pai arriscou a vida para me salvar?

Saint balançou a cabeça e vi o conflito invadir seus olhos. — Tudo o


que meu pai faz tem um preço. Isso não será diferente. — Ele levou minha
mão aos lábios. — Mas agora, seja qual for o preço, pagarei de bom grado.
— Ele colocou minha palma contra seu peito, exatamente onde estava
seu coração. — Eu amo você, Mila.
Meu coração parou.

— Te amo, e nada nunca me assustou tanto quanto o meu amor por


você, Saint.

— E se o que Elena diz for verdade. — Ele achatou a palma da mão


sobre o meu estômago. — Se você está carregando meu filho dentro da
sua barriga, vou dedicar minha vida a você e nosso bebê ainda não
nascido.

Eu coloquei minha mão sobre a dele. — E se Elena estiver errada?

Ele agarrou a parte de trás do meu pescoço e me forçou a me


aproximar enquanto esmagava sua boca contra a minha. Tudo
desapareceu. Todas as memórias ruins evaporaram. Ele levou tudo
através daquele beijo poderoso e arrebatador. Lábios quentes e familiares
me beijaram como se ele morresse se não me beijasse. A sensação de sua
língua aveludada procurando a minha acendeu um desejo forte o
suficiente para sufocar meu medo. Minha incerteza. Todas as promessas,
todos os votos que um marido fez para sua esposa ressoavam em seu
beijo desesperado. Não havia mais dúvida. Não há razão para lutar contra
o que havíamos encontrado um no outro. Tudo o que restou foi o conforto
de finalmente saber que não importava o que nos unisse ou o quão
doloroso nosso passado fosse... não importava mais. Nada importava
além de nós.

Saint quebrou nosso beijo e encostou a testa na minha, enquanto a


outra mão pressionava contra a minha barriga. — Se Elena estiver errada,
nada me impedirá de plantar minha semente dentro de você. — Ele
apertou seu aperto atrás da minha cabeça e me forçou a esticar o pescoço.
— Porque não importa o que aconteça, você vai gerar meus filhos, segreto.
E estaremos ligados pela eternidade.
Saint

Eu trouxe meu próprio médico pessoal para a Imperatriz para que


ele pudesse examinar Mila e garantir que ela não se machucou. Ele pediu
privacidade enquanto cuidava dela, mas um olhar mortal disse
exatamente como eu me sentia sobre o seu pedido.

Sentei-me na cadeira em frente à cama dela e observei todos os seus


movimentos e tentei o meu melhor para ignorar a dor da preocupação que
se instalou no meu intestino. Este era um novo território para mim, me
sentindo tão protetor em relação a alguém. Era tão intenso que às vezes
me via pensando em como adoraria trancá-la nesta sala e garantir que
ninguém pudesse se aproximar dela.

O médico monitorou sua pulsação, verificou sua temperatura e fez


uma série de perguntas. Mas ela quase não registrou nada ao seu redor,
enquanto continuava encarando o bastão branco que estava sentado na
mesa de cabeceira.

— Quanto tempo mais? — Ela olhou para o médico, que segurou o


estetoscópio no pescoço.

Ele pegou o graveto e o examinou enquanto Mila e eu parecíamos ter


parado de respirar.

O médico olhou para mim. — O teste mostra que sua esposa está
realmente grávida.

— Obrigado, doutor. — Eu o despedi com um aceno de cabeça, sem


tirar os olhos de Mila, que estava sentada congelada no colchão com os
joelhos pressionados contra o peito.

— Volto na próxima semana para fazer um acompanhamento.

— Isso não será necessário, doutor. — Eu me levantei. — Estaremos


em Nova York até lá.
O médico assentiu e saiu da sala. Foi só quando a porta se fechou
que Mila se endireitou na cama. — Nova York?

Palavras me escaparam quando eu a segui. Eu ignorei a pergunta


em seus olhos. A incerteza. Porque tudo o que vi foi a beleza da mulher
que se tornara a pessoa mais importante da minha vida. E agora que eu
sabia que ela estava carregando meu filho, percebi que isso era tudo que
eu nunca soube que queria.

— Saint, vamos para Nova York?

Mila pressionou por uma resposta, mas quando cheguei a


centímetros dela, passei um braço em torno de seu ombro e passei meus
dedos por seus cachos, puxando-a para mais perto para que pudesse
reivindicar seus lábios e me afogar em seu gosto.

Nossas bocas se fundiram como uma só, e a bela balada de seus


gemidos cantou no meu sangue. Uma sirene tão facilmente me atraindo
para a minha morte.

Passei meu outro braço em volta da cintura dela e a levantei na ponta


dos pés enquanto eu pressionava seu corpo contra o meu. Ao longo dos
anos, eu me convenci de que não havia mulher no mundo que tivesse o
poder de me domesticar – nenhuma mulher forte o suficiente para se
tornar minha fraqueza. No entanto, aqui estava ela. A garota que deveria
ser apenas uma assinatura. Um peão. Um meio para o fim.

Agora... ela se tornou minha vida.

— Eu amo você, Mila. — Sussurrei entre beijos molhados.

— Eu também te amo.

Levou todo o meu autocontrole para arrancar meus lábios dos dela
e não arrancar suas roupas como um selvagem e transar com ela como
se eu pudesse gravar meu nome em sua alma com meu pau.
— Vou levá-la para Nova York. Não é seguro aqui.

Seus olhos radiantes me estudaram interrogativamente. — Rafael


está morto, Saint. Ele não pode mais me machucar.

— Mas meu pai ainda está aqui. Eu te disse. Ele pode ter salvado
sua vida, mas terá um preço. Não vou arriscar sua segurança ou a de
nosso filho ainda não nascido.

Ela segurou minha bochecha com a palma da mão, olhando para


mim como se eu fosse sua luz no escuro. Mas foi o contrário. Ela era a
luz que domava minha escuridão, o sol que conquistou a noite e todas as
sombras que espreitavam dentro dela.

— Você é minha vida agora, Mila. — Passei o polegar pelo tentador


lábio inferior. — Tudo o que faço a partir de agora é para você e nossa
família. Compreende?

O sorriso dela era caloroso e genuíno, bonito e puro. — Compreendo.

— Bom. Agora... — Eu recuei, — você precisa descansar.

— Eu preciso te perguntar uma coisa. — Ela mordeu o canto do lábio


inferior. — Rafael. Ele disse que abordou você com uma oferta, para que
você pudesse comprar as ações dele. Mas você recusou. Por quê?

— Mila, eu te disse, não posso discutir negócios com você.

— Eu sei disso. Eu não preciso de detalhes. Eu só... eu não entendo


por que você recusaria a oferta dele quando estava tão determinado a
impedir que seu pai colocasse as mãos nas ações.

Esfreguei a parte de trás do meu pescoço. O fato de seu irmão ser


um filho da puta doente que precisava de dinheiro para entrar na cena
do tráfico de seres humanos não era algo que ela precisava saber.

— Eu tinha minhas razões para não querer fazer negócios com seu
irmão, Mila.
Ela fez uma careta. — Você nunca vai me dizer?

— Isso é altamente improvável. Agora descanse um pouco.

— Bem. — Ela bufou. — Alguma notícia sobre Elena? — Seus olhos


cor de esmeralda transmitiram sua preocupação.

— Ela vai ficar bem. Tudo o que você precisa se preocupar é cuidar
de si e do meu filho.

— Filho?

— Sim. — Eu sorri e puxei os lençóis para trás. — Meu filho.

Ela subiu na cama com um sorriso divertido no rosto. — E se for


uma garota?

Inclinei-me e dei um beijo casto em sua testa. — Então vou ter muito
sangue em minhas mãos por muitos anos.

Sua risada encheu meu peito de calor, meu coração mais cheio do
que jamais esteve na minha vida. Eu era a prova viva de que não havia
nada que o amor não pudesse tocar.

— Agora. Descanse.

— Sim, senhor.

Eu peguei a maçaneta da porta. — Lembre-se dessas duas palavras


quando eu me juntar a você na cama hoje à noite.

Fechei a porta atrás de mim e fui direto para o meu escritório, onde
James estava me esperando, como eu havia instruído.

James levantou-se da cadeira e ajeitou o paletó. — Tudo foi


organizado para a nossa viagem a Nova York.

— Excelente. — Eu me servi de um copo de bourbon da jarra de


cristal. — Alguma palavra do meu pai?
— Não. Nenhuma palavra.

O líquido âmbar queimou minha garganta e se instalou no meu


estômago. — É só uma questão de tempo. Estou certo disso.

— Vou me certificar de ficar de olho nele. Se ele se mexer, saberemos.

— Bom. — Eu me virei para encarar James como uma ameaça


totalmente nova agora pairando sobre mim com suas garras escuras e
ameaça sombria. — Há quanto tempo nos conhecemos, James?

— Quase toda a nossa vida.

— Então você entenderá a gravidade da situação quando eu disser


isso. — Eu endireitei meus ombros. — Eu não me importo como, e eu não
dou a mínima para o que você precisa fazer, mas ela nunca pode saber.
Você me entende? Mila nunca pode saber.

Fim... por enquanto.


Será concluído em…

THE SINS OF SAINT

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