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EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE

CONTAS DA UNIÃO

Com fundamento nos artigos 74, § 2º, da Constituição Federal e 237 e seguintes do Regimento
Interno do Tribunal de Contas da União, ALESSANDRO VIEIRA, brasileiro, casado, Senador
da República, RG 811924 SSP/SE, CPF 719.437.905-82, com endereço profissional na Praça dos
Três Poderes, Palácio do Congresso Nacional, Senado Federal, Anexo 2, Ala Afonso Arinos,
Gabinete 08, TABATA CLAUDIA AMARAL DE PONTES, brasileira, solteira, Deputada
Federal, RG nº 43.866.416-4, CPF 388.483.198-40 título de eleitor 392700900159, com
endereço profissional no Anexo IV da Câmara dos Deputados, Gabinete 848, FELIPE RIGONI
LOPES, brasileiro, solteiro, Deputado Federal, RG nº 20.383.639, CPF 128.381.827-22, título
de eleitor 031949681414, com endereço profissional no Anexo IV da Câmara dos Deputados,
Gabinete 846, RENAN FERREIRINHA CARNEIRO, brasileiro, solteiro, Deputado Estadual
na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) (Doc. 03), RG 20762460-2
DETRAN RJ, inscrito no CPF sob o nº 136.989.257-88, com domicílio profissional na Rua Dom
Manuel, s/nº, prédio anexo da ALERJ, gabinete 309, Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP: 20010-
090, endereço eletrônico renanferreirinha@alerj.rj.gov.br vêm, respeitosamente, oferecer a
presente

REPRESENTAÇÃO

no intuito de que o Tribunal adote providências com o objetivo de avaliar os motivos que
levaram ao ataque hacker sofrido pelos sistemas do Ministério da Saúde, bem como os
procedimentos adotados por aquele órgão para o restabelecimento da disponibilidade dos dados
epidemiológicos, incluindo o registro da vacinação, uma vez que, mais de um mês depois da
ocorrência do problema, a instabilidade dos sistemas e a desatualização dos dados comprometem
a adoção da melhor estratégia de combate à pandemia da covid-19.
I

É público e notório o comprometimento das informações provenientes da base de dados


de registro de doenças e de vacinação da população desde o duvidoso ataque hacker ocorrido no
dia 10 de dezembro passado, fato que prejudica a adoção de medidas eficazes de combate à
covid-19 em meio ao avanço da variante Ômicron pelo País.

Já no início do mês de dezembro era noticiado o espalhamento de casos decorrentes de


contaminação da variante Ômicron por toda a Europa. Em 21 de dezembro, Hans Kluge, diretor
da OMS para o continente europeu, em uma coletiva de imprensa, alertou que a nova cepa
“dominará” mais países e pressionará os sistemas de saúde1.

A matéria jornalística da CNN Brasil a seguir transcrita dá a dimensão do problema2:

Dados sobre Covid-19 não são atualizados há um mês devido a


apagão na Saúde

Últimos boletins foram feitos com informações inseridas até 6 de


dezembro quando não havia Ômicron circulando no país; pesquisadores
dizem estarem às cegas.

Um dos principais boletins de monitoramento e vigilância no combate à


pandemia da Covid-19 no país, o InfoGripe, da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz), está há um mês sem poder ser feito em consequência do
apagão no sistema do Ministério da Saúde.

O problema também afeta o MonitoraCovid, da Fiocruz. O boletim,


aberto ao público, ajuda a mostrar o panorama de casos de Covid-19 no
país. Esses dados são fundamentais para ajudar a orientar governadores
e prefeitos e demais gestores a criarem estratégias e medidas eficazes
para conter o avanço do vírus.

O último cenário apontava como estavam os casos de coronavírus no


Brasil no fim de novembro de 2021, quando ainda não tínhamos a
Ômicron circulando por aqui. Até o momento, sem as informações

1
https://www.euro.who.int/en/media-centre/sections/statements/2021/statement-update-on-covid-19-omicron-is-
gaining-ground-protect,-prevent,-prepare
2
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/dados-sobre-covid-19-nao-sao-atualizados-ha-um-mes-devido-a-apagao-na-
saude/
atualizadas, não é possível observar a dinâmica desta nova variante no
país.

O boletim do Observatório Covid-19, também da Fiocruz, é mais um


impactado, pois se vale das informações geradas pelo Ministério da
Saúde, para orientar e disseminar informações da pandemia baseadas
em dados.

A Rede Vigilância Genômica também está afetada, já que o cálculo de


amostras semanais de cada estado depende dos dados atualizados do
SIVEP-Gripe para ser realizado adequadamente. Este, até hoje, está se
baseando no cenário do fim de novembro.

À CNN, o Ministério da Saúde alegou, em nota, que as plataformas e-


SUS Notifica, Sivep-Gripe, SI-PNI e Conecte SUS foram
restabelecidas, possibilitando a inclusão de dados por estados e
municípios. Porém, informa que “alguns dos dados lançados podem
ainda não constar nas interfaces dos sistemas”, sem dar detalhes das
razões deste problema.

Pesquisador do Observatório Covid-19 da Fiocruz, Raphael Guimarães


lamenta os prejuízos da falta de dados em um momento crucial da
pandemia. Para ele, quando não se dispõe da informação adequada e
oportuna, “perde-se duas vezes”.

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal informou que “mesmo após o restabelecimento


dos sistemas, alguns ainda apresentam falhas vez ou outra, e o Open DataSUS segue fora do ar, o
que impossibilita a extração dos dados”.3

A verdadeira causa do apagão dos dados ainda não foi devidamente esclarecida e o
Ministério da Saúde não tem fornecido informações precisas a respeito das providências que vem
tomando para recuperação do funcionamento normal dos sistemas e, ainda, as medidas de
contingência adotadas para que essa pane sem precedentes não se repita.

Teria havido falha do Ministério da Saúde na proteção dos dados? O órgão tinha os
controles adequados para evitar o ataque e chegou a executar adequadamente os controles
adequados para mitigar a falha? Que providências foram tomadas pelo Ministério a partir da
detecção do problema para mitigar os impactos da pane sofrida? O que está sendo feito para
reduzir a probabilidade de ocorrer novamente?

3 https://www.oantagonista.com/brasil/saude-admite-que-apagao-de-dados-ja-dura-quase-um-mes/
A indisponibilidade de dados e informações de epidemiologia, que são a base para a
execução de todas as políticas de saúde, por longo período de tempo e justamente quando a
variante Ômicron estava crescendo exponencialmente na Europa, demonstra que a Governança
de TI do órgão merece atenção imediata.

Sendo assim, considerando que é dever do Estado assegurar os direitos relativos à saúde
da população, mostra-se oportuna e imprescindível a atuação dessa Corte de Contas, para que, no
âmbito de suas competências constitucionais, tome as providências que entender cabíveis para
apurar as irregularidades que tenham eventualmente ensejado a situação de falta de dados e
informações que compromete a execução da política pública na medida em que retarda a adoção
estratégias para a contenção da pandemia.

II

Ante o exposto, uma vez preenchidos os requisitos previstos no art. 74 § 2º da


Constituição Federal e art. 237 do Regimento Interno do TCU, requer-se a esta E. Corte que
receba a presente Representação para que, no cumprimento de suas competências constitucionais
de controle externo de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da
Administração Pública federal, tome as providências que entender cabíveis quanto aos fatos
narrados.

Nesses termos,
pede deferimento.

Brasília, 11 de janeiro de 2022.

CAIO CHAVES MORAU


OAB/SP 357.111
(assinado eletronicamente)

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