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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

Pontes em
Vigas Mistas
900
450 450
40 410 410 40
5
32 35

i = 1,5 % 87

25
10

60 335 60

200 500 200

Gustavo de Souza Veríssimo


Professor Assistente, M. Sc.

José Luiz Rangel Paes


Professor Assistente, M. Sc.

Versão 1.0: janeiro/1999


CONTEÚDO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1
1.1 Contextualização ................................................................................................................... 1
1.2 Normalização de referência................................................................................................... 4

2. GENERALIDADES SOBRE VIGAS MISTAS ................................................. 5


2.1 Comentários........................................................................................................................... 5
2.2 Largura efetiva da laje de concreto........................................................................................ 9
2.2.1 Largura efetiva segundo a norma AASHTO americana........................................................... 10
2.2.2 Largura efetiva segundo a norma DIN alemã .......................................................................... 10
2.2.3 Determinação da largura efetiva da laje - exemplo .................................................................. 11
2.3 Conectores de cisalhamento ................................................................................................ 11
2.3.1 Conectores tipo pino com cabeça (stud bolts).......................................................................... 12
2.3.2 Conectores em Perfil U Laminado ........................................................................................... 15
2.4 A Laje de concreto............................................................................................................... 15
2.4.1 Laje com steel deck.................................................................................................................. 16
2.5 Materiais utilizados ............................................................................................................. 17

3. DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO PELO MÉTODO DAS TENSÕES


ADMISSÍVEIS ............................................................................................... 18
3.1 Comentários......................................................................................................................... 18
3.1.1 Condição para verificação da segurança .................................................................................. 18
3.1.2 Cálculo das tensões na seção mista .......................................................................................... 18
3.2 Efeitos da deformação lenta, da retração e da variação de temperatura .............................. 20
3.3 Elementos da seção transversal ........................................................................................... 23
3.4 Parâmetros para homogeneização da seção......................................................................... 24
3.5 Propriedades geométricas da seção ..................................................................................... 24
3.6 Esforços atuantes a considerar............................................................................................. 25
3.7 Cálculo das tensões.............................................................................................................. 25
3.7.1 Tensões devido à carga permanente A..................................................................................... 25
3.7.2 Tensões devido à carga permanente B ..................................................................................... 25
3.7.3 Tensões devido à carga móvel ................................................................................................. 26
3.7.4 Tensões devido a um gradiente de temperatura ....................................................................... 26
3.7.5 Tensões devido ao efeito da retração do concreto.................................................................... 27
3.7.6 Análise final das tensões .......................................................................................................... 27
3.8 Tensões admissíveis nos materiais: .................................................................................... 28
3.9 Planilha para dimensionamento automático à flexão .......................................................... 28
3.9.1 Equações para a programação da planilha ............................................................................... 33
3.10 Dimensionamento dos conectores de cisalhamento ........................................................ 35
3.10.1 Esforços devido à força cortante .............................................................................................. 36
3.10.2 Esforços devido a retração do concreto e variação de temperatura.......................................... 36
3.10.3 Resistência dos conectores....................................................................................................... 37
3.10.4 Disposições construtivas .......................................................................................................... 38
3.10.5 Exemplo de cálculo.................................................................................................................. 38
3.11 Critérios de projeto.......................................................................................................... 43
3.12 Altura do perfil................................................................................................................ 43
3.13 Espessura da alma ........................................................................................................... 44
3.14 Dimensões da mesa comprimida..................................................................................... 45
3.15 Flambagem da alma ........................................................................................................ 45
3.16 Enrijecedores de apoio .................................................................................................... 46
3.17 Flambagem lateral........................................................................................................... 49
3.17.1 Determinação do comprimento destravado máximo - exemplo de cálculo.............................. 50
3.18 Dimensionamento do contraventamento horizontal........................................................ 51
3.18.1 Dimensionamento dos montantes ............................................................................................ 52
3.18.2 Cargas a considerar .................................................................................................................. 53
3.19 Fadiga.............................................................................................................................. 54

4. BIBLIOGRAFIA............................................................................................. 55
APRESENTAÇÃO

A utilização de vigas mistas, aço-concreto, tem se difundido especialmente no


âmbito dos edifícios de andares múltiplos em estruturas metálicas e também se apresenta
como solução interessante para pontes, tanto do ponto de vista técnico como do ponto de
vista econômico. Em ambos os casos, tem-se uma laje de concreto armado apoiada sobre
um vigamento metálico. A solidarização desses dois sistemas através de um dispositivo de
ancoragem apropriado, traz uma série de vantagens para a estrutura. A participação da laje
de concreto como mesa superior e contraventamento da viga metálica melhora a resistência
última e a rigidez do conjunto, permitindo reduzir significativamente o peso do perfil
metálico. Além disso, é possível dispensar o escoramento da laje, apoiando as formas
diretamente na viga de aço.
A difusão do uso do aço no Brasil nos últimos anos aliada às transformações
decorrentes da globalização da economia, têm corroborado com o desenvolvimento de
novas técnicas e processos construtivos que viabilizam diversas soluções em aço. A maior
oferta de soluções a preços competitivos fomenta um crescimento da demanda de obras em
aço, demanda essa que repercute nas escolas de engenharia, exigindo a formação de mão-
de-obra especializada que atenda às necessidades de um mercado em crescimento.
A presente publicação tem por principal objetivo complementar a bibliografia para
a disciplina CIV 358 - Pontes, do Curso de Engenharia Civil da UFV.
Eventuais críticas, sugestões e comentários dos leitores, são sempre bem-vindos,
para que a partir deles possamos melhorar sempre este trabalho, visando atender cada vez
melhor aos alunos.

Gustavo de Souza Veríssimo


Janeiro de 1999
Pontes com vigas mistas

Capítulo 1
INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização
A utilização do aço na superestrutura de pontes pode se apresentar como alternativa
interessante em função de fatores econômicos, geográficos e tipológicos. Dentre os
sistemas estruturais mais utilizados destacam-se as pontes em treliça, pontes em placa
ortotrópica e as pontes em viga mista.

No passado, a escolha do sistema estrutural para pontes metálicas se restringia às


treliças, condicionada pelos seguintes fatores básicos:
• não existiam perfis soldados disponíveis. A indústria na época só produzia perfis
laminados de pequena altura, inadequados para aplicação em pontes, onde
normalmente os vãos e as cargas são grandes;
• as ligações eram executadas por meio de rebites e em conseqüência disso
possuíam baixa eficiência. O uso de parafusos e solda ainda não era difundido.

Com o avanço da tecnologia, alguns fatores possibilitaram a utilização de novos


sistemas estruturais. Dentre esses fatores, pode-se citar:
• a produção de chapas de aço de alta resistência mecânica e alta resistência à
corrosão, que permite a montagem de perfis soldados de grandes dimensões (no
Brasil, o aço USI-SAC-50, fabricado pela USIMINAS, é considerado como
sendo a solução padrão para pontes);
• o desenvolvimento de processos de soldagem de alta eficiência e de controle de
qualidade eficaz;
• o desenvolvimento de parafusos de alta resistência (parafusos A-325).

As pontes com tabuleiro em placa ortotrópica exigem elevado consumo de aço,


tornando-se pouco econômicas para pequenos e médios vãos (Mason, 1976).

A substituição do tabuleiro metálico por um tabuleiro de concreto, funcionando


solidariamente às vigas metálicas, resulta na ponte mista. Essa solução é altamente

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Pontes com vigas mistas

vantajosa do ponto de vista econômico e estrutural, promovendo as seguintes


características:
• diminuição da altura das vigas metálicas;
• redução de 20 a 30% do consumo de aço;
• redução de 30 a 50% das reações de apoio com relação à solução em concreto;
• aumento da rigidez do tabuleiro.

Utilizando a solução em viga mista, é possível vencer vãos da ordem de 50 a 60


metros. Em relação às vigas de concreto armado, o emprego de pontes em viga mista é
vantajoso para vãos pequenos e médios quando os seguintes fatores são determinantes:
• pouca altura disponível;
• dificuldade de escorar a superestrutura;
• custo do escoramento muito alto;
• necessidade de não obstruir a área sob a ponte devido ao tráfego.

Figura 1-1 - Pontes em viga mista. Detalhe do escoramento apoiado nas abas das mesas inferiores dos
perfis metálicos.

Para pontes largas e de vão pequeno em relação à largura, é econômico o emprego


de pontes mistas em grelha (Figura 1-2). Para pontes maiores, quando existe a necessidade
de maior área de concreto para a mesa colaborante, torna-se interessante o emprego de
somente duas vigas (Figura 1-3).

Nas estruturas mistas em geral e também nas pontes, o problema principal a ser
resolvido é determinar como os esforços se distribuem no aço e no concreto, levando-se
em conta a ligação entre esses dois materiais.

No caso das estruturas de edifícios, em geral, o comprimento das peças é pequeno


em comparação com as pontes. Em decorrência disso, os efeitos da retração e da
deformação lenta do concreto e também da variação de temperatura na distribuição dos
esforços são geralmente desprezados. No caso das pontes, como normalmente as peças são
de grande comprimento e como os efeitos da retração, da fluência e da temperatura são

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Pontes com vigas mistas

proporcionais ao comprimento das peças da estrutura, as variações que eles produzem na


distribuição dos esforços é bastante significativa e, portanto, não podem ser desprezados.

Figura 1-2 - Ponte sobre o Rio Mucajaí. Sistema em grelha mista. Extensão: 210 m, sendo 5 vãos de 42 m
cada. Construída em 1975 em Roraima (fonte: USIMINAS MECÂNICA S.A.)

Figura 1-3 - Ponte em viga mista com vãos grandes (fonte: USIMINAS MECÂNICA S.A.).

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1.2 Normalização de referência

As normas brasileiras para pontes metálicas estão em fase de elaboração.

As normas estrangeiras usualmente utilizadas para o projeto de pontes metálicas


são as seguintes:

• normas para pontes rodoviárias


- normas americanas
AASHTO - American Association of State Highway and Transportation Officials
AASHTO ASD Bridge Design Specifications (1983)
AASHTO LRFD Bridge Design Specifications (1994)

- normas alemãs
DIN 1072 - Pontes Rodoviárias e Passarelas, Cargas. (PN 8.83)
DIN 1073 - Pontes Rodoviárias Metálicas. Bases de cálculo
DIN 1076 - Obras de Arte Rodoviárias e para Pedestres. (3.83). Inspeção, Controle
e Fiscalização.
DIN 1078 - Pontes Rodoviárias em Vigas Mistas. (9.55)
DIN 4101 - Pontes Rodoviárias Metálicas Soldadas.

• outras normas de interesse


NBR 7187/87 - Cálculo e Execução de Pontes de Concreto Armado
NBR 7188/84 - Carga móvel em Ponte Rodoviária e Passarela de Pedestres
NBR 6118/82 - Projeto e Execução de Obras de Concreto Armado
NBR 8800/86 - Projeto e Execução de Estruturas de Aço de Edifícios

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Capítulo 2
GENERALIDADES SOBRE
VIGAS MISTAS
2. GENERALIDADES SOBRE VIGAS MISTAS

2.1 Comentários
Para caracterizar o sistema misto aço-concreto, é necessário promover a
solidarização entre a laje de concreto e o vigamento metálico. Uma vez conseguida essa
solidarização a laje de concreto passa a trabalhar juntamente com o perfil metálico. Nessa
situação, uma parte da laje sobre a viga de aço se comporta como uma grande mesa de
concreto. A largura da faixa de laje que trabalha em conjunto com uma viga de aço recebe
o nome de largura efetiva ou largura útil (Figura 2-1).

laje de
concreto
largura largura
efetiva efetiva

conector de
cisalhamento
vigas de aço

Figura 2-1 - Viga Mista.

Os elementos que asseguram o funcionamento da viga mista, ou seja, o


funcionamento conjunto do perfil metálico e da laje de concreto, são chamados comumente
de conectores de cisalhamento.

Sem conectores, não existe ligação mecânica entre a laje de concreto e a viga
metálica. Ao serem carregados, a laje e o perfil metálico fletem independentemente,
ocorrendo um deslizamento relativo na superfície de contato entre os dois, e assim, todas

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as ações atuantes, inclusive o peso próprio, deverão ser resistidas apenas pela viga de aço
(Figura 2-2).

sem conectores

Figura 2-2 - Viga de Aço sem Conectores de Cisalhamento

Se, no entanto, forem previstos conectores de cisalhamento, estes proporcionarão


ligação mecânica entre a laje e o perfil metálico e na superfície de contato entre os dois
materiais se desenvolve um esforço horizontal Vn , que impede o deslizamento relativo e
garante o trabalho conjunto da viga metálica e da laje de concreto, caracterizando
plenamente a viga mista (Figura 2-3).

Vn
Vn

seção de seção de
momento momento
nulo seção de nulo
momento
máximo

Figura 2-3 - Esforço Cortante Horizontal Vn na viga mista

A principal vantagem que se obtém com a solidarização entre o perfil metálico e a


laje de concreto é o aumento da inércia da seção, que conduz a um conjunto de melhorias
em termos de comportamento estrutural e de custos. Os ganhos advindos do aumento da
inércia podem ser bem evidenciados através de um exemplo bastante simples. Sejam, por
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exemplo, duas barras de seção retangular de um material qualquer, cada uma com seção
transversal de 12×25 cm, trabalhando superpostas e sem nenhuma vinculação entre elas,
como mostrado na Figura 2-4.

12 cm

25 cm

25 cm

12 cm

Figura 2-4 - Duas barras de seção retangular trabalhando independentemente à flexão.

Sob a ação de esforços de flexão, as barras se deformam independentemente e a


resistência total à flexão é obtida a partir da soma das inércias das duas barras. Assim,

b h3 12 × 253
inércia de uma barra: I1 = = = 15.625 cm 4
12 12
I1 15.625
módulo elástico de uma barra: W1 = = = 1.250 cm 3
y 12,5

resistência à flexão de uma barra: M 1 = W1 .σ = 1.250σ

resistência à flexão das duas barras


2 M 1 = 2 W1 .σ = 2.500σ
trabalhando independentemente:

12 cm

50 cm

Figura 2-5 - Duas barras de seção retangular trabalhando à flexão solidarizadas.

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Pontes com vigas mistas

Se, por outro lado, as barras são unidas por algum dispositivo que promova uma
ligação mecânica entre elas (Figura 2-5), a altura da seção dobra e como a inércia é função
do cubo da altura, tem-se um ganho de resistência considerável. Assim,

b h3 12 × 50 3
inércia das barras solidarizadas: I2 = = = 125.000 cm 4
12 12

I 2 125.000
módulo elástico das barras unidas: W2 = = = 5.000 cm 3
y 25

resistência à flexão da barra mista: M 2 = W2 .σ = 5.000σ

No exemplo acima, a solidarização das duas barras promove a duplicação da


capacidade resistente da seção composta.

Essa idéia pode ser estendida para as vigas mistas. Ao ligar a laje de concreto com
o perfil metálico aumenta-se a capacidade resistente da seção de tal maneira que, para um
mesmo carregamento, a consideração da seção mista conduz a uma redução de 20% a 30%
no consumo de aço (peso) do perfil, para o caso de perfis I duplamente simétricos. Usando
perfis monossimétricos essa redução é ainda maior.

A utilização de perfis monossimétricos é interessante porque normalmente a


resistência do aço é muito maior do que a resistência do concreto da laje. Assim, o
concreto limita o nível de tensão no banzo superior do perfil metálico e, portanto, pode-se
diminuir a chapa da mesa superior da viga. A distribuição de tensões normais na seção
mostrada na Figura 2-6 elucida essa questão.

resistência do concreto
de 20 a 30 MPa

tensão pequena
perfil na mesa superior
monossimétrico do perfil metálico

resistência do aço
cerca de 250 MPa

Figura 2-6 - Distribuição de tensões na seção mista.

Usualmente, a altura dos perfis para vigas mistas fica entre 1/15 e 1/30 do vão.

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2.2 Largura efetiva da laje de concreto


Para caracterizar o sistema misto aço-concreto, é necessário promover a
solidarização entre a laje de concreto e o vigamento metálico. Uma vez conseguida essa
solidarização a laje de concreto passa a trabalhar juntamente com o perfil metálico. Nessa
situação, uma parte da laje sobre a viga de aço se comporta como uma grande mesa de
concreto. A largura da faixa de laje que trabalha em conjunto com uma viga de aço recebe
o nome de largura efetiva.

A distribuição de tensões ao longo da laje não é constante, como mostra a Figura


2.7, contudo, para efeito de cálculo, pode-se considerar que ao longo da largura efetiva as
tensões são constantes para todos os pontos situados a uma mesma distância do centro de
gravidade da seção transversal. Essa simplificação permite a utilização das equações da
Resistência dos Materiais.

Suponha uma viga mista submetida à flexão numa situação onde a laje seja
relativamente esbelta, conforme mostra a Figura 2-7. A intensidade da tensão de
compressão na fibra extrema da laje, fc , é máxima sobre a viga de aço e decresce não
linearmente à medida em que se afasta das extremidades de sua mesa.

fc

bef b'

b'

bf tc

d
fcmáx

Figura 2-7 - Distribuição da tensão fc e largura efetiva bef

A análise teórica da largura efetiva envolve a teoria da elasticidade, de onde se


conclui que o valor de b' depende da espessura da laje, do vão da viga e do tipo de
carregamento. Nos pontos de aplicação de cargas concentradas, por exemplo, as larguras
efetivas são reduzidas.

Para simplificar o tratamento, as normas adotam valores conservadores que podem


ser usados para qualquer tipo de carga.

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Pontes com vigas mistas

A análise da largura efetiva para vigas mistas de pontes difere da análise feita para
vigas mistas de edifícios, em função das características físicas e geométricas das pontes.

2.2.1 Largura efetiva segundo a norma AASHTO americana

Segundo a norma da AASHTO para pontes, a largura efetiva da laje de concreto


que contribui para a resistência da viga mista é função: do vão da viga; da distância entre
vigas e da espessura da laje.

tc

a a

• para vigas centrais • para vigas de extremidade


L 4  L 12
 
bef ≤ a  a b fs
 12 t bef ≤  +
 c  2 2
 c
6 t

2.2.2 Largura efetiva segundo a norma DIN alemã

Segundo a norma DIN alemã, a largura efetiva para vigas mistas de pontes é dada
por
bef = bo + λ1 b1+ λ2 b2
onde:
λ 2 b2 bo λ 1b 1 λ 1b 1 bo λ 2 b2

b2 b1 b1 b2

Valores para o coeficiente λ

b/L 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40


λ 0,984 0,938 0,870 0,782 0,702 0,620 0,544 0,477

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Pontes com vigas mistas

2.2.3 Determinação da largura efetiva da laje - exemplo

25 cm

172,5 55 222,5 222,5 55 172,5


b2 bo b1 b1 bo b2

• pelos critérios da AASHTO:

 L 4 = 2600 4 = 650

bef ≤  a = 500 ⇒ bef = 300 cm
 12 t = 12 × 25 = 300
 c

• pelos critérios da DIN:

b2 172,5
= = 0,07 ⇒ λ2 = 0,959
L 2600

b1 222,5
= = 0,09 ⇒ λ1 = 0,946
L 2600

bef = bo + λ1 b1 + λ2 b2 = 55 + 0,946×222,5 + 0,959×172,5 = 431 cm

Nota-se que os critérios da norma americana são mais conservadores que os da


norma alemã.

2.3 Conectores de cisalhamento


No casos das pontes mistas podem ser usados vários tipos diferentes de conectores
de cisalhamento incluindo os pinos com cabeça (stud bolts), plaquetas, elementos de perfil
soldados à mesa superior da viga de aço, ganchos, alças, etc. Nos últimos anos, a opção
pelos studs tem-se tornado interessante dos pontos de vista técnico e econômico e seu
emprego em estruturas mistas tem sido muito freqüente.

Existem vários tipos de conectores de cisalhamento que historicamente têm sido


utilizados nas construções mistas. Dentre eles pode-se citar:
• conectores em barra (Figura 2-7a)
• conectores em barra com alça (Figura 2-7b)
• conectores em perfil “U” laminado (Figura 2-8)
• conectores tipo pino com cabeça (stud bolts) (Figura 2-8)

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(a) (b)

Figura 2-7 - Conectores de cisalhamento utilizados em vigas mistas: (a) conector em barra; (b) conector em
barra com alça.

pino com
cabeça
"U" laminado

Figura 2-8 - Conectores de cisalhamento utilizados em vigas mistas: conector em perfil “U” laminado;
conector tipo pino com cabeça (stud bolt).

2.3.1 Conectores tipo pino com cabeça (stud bolts)


Os conectores tipo stud bolts têm sido largamente utilizados na construção metálica
atualmente, inclusive no Brasil.

Com exceção do conector tipo pino com cabeça, todos os outros tipos de conectores
são soldados com eletrodos, pelo processo convencional de solda. A aplicação da solda a
toda volta do conector é ineficiente quando comparada ao processo de instalação dos studs.

O sistema de instalação dos stud bolts conta com um equipamento especial para a
soldagem do conector, muito eficiente, capaz de instalar um stud bolt em poucos segundos,
promovendo uma fusão de muito boa qualidade. Essa característica, associada à facilidade
de importação desse material a preços competitivos, tem feito com que o mercado
gradativamente adote o stud bolt como solução padrão para as vigas mistas. O processo de
instalação dos stud bolts envolve as seguintes etapas:
1. um casquilho de cerâmica é adaptado à extremidade do conector (Figura 2-9.1);
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2. o conector, juntamente com o casquilho de cerâmica, são colocados num aplicador


semelhante a uma pistola (Figura 2-9.2);
3. o pino é pressionado contra a peça onde ele será soldado (Figura 2-9.3);
4. quando o gatilho do aplicador é acionado, um mecanismo levanta o pino afastando-o
ligeiramente da superfície, criando um arco elétrico entre o pino e a peça de aço, capaz
de produzir uma temperatura suficientemente alta para que haja a fusão tanto do aço do
conector como do aço da peça subjacente. O metal derretido fica confinado dentro do
casquilho cerâmico e quando o gatilho é liberado o pino é novamente pressionado
contra a peça metálica (Figura 2-9.4);
5. com a interrupção do arco elétrico, o metal se solidifica numa fração de segundo e o
conector fica perfeitamente soldado como mostra a Figura 2-9.5. Reguladores de tempo
controlam cada passo do processo.

Figura 2-9 - Processo de instalação dos conectores de cisalhamento tipo pino com cabeça - stud bolts
(cortesia TRW Nelson Stud Welding Division ).

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Os conectores pino com cabeça normalmente são fabricados com aço ASTM A108,
com limite de escoamento igual a 345 MPa e limite de ruptura igual a 415 MPa.
Usualmente, os stud bolts são fabricados com diâmetros de 19, 22 e 25 mm e com
comprimentos de 80 mm até 260 mm. As seguintes relações de dimensões devem ser
respeitadas:
a) o diâmetro da cabeça deve ser, no mínimo, uma vez e meia maior que o diâmetro
do fuste ( dcs );
b) a altura mínima, após a instalação, deve ser no mínimo quatro vezes maior que o
diâmetro do fuste ( dcs );

>= 1,5 dcs

>= 4 dcs

dcs

Figura 2-10 - Dimensões exigidas para os conectores de cisalhamento tipo pino com cabeça (stud bolt).

Conectores tipo pino com cabeça embutidos no concreto e submetidos a esforço


horizontal estão sujeitos a dois modos de colapso, a saber:
• a ruína do concreto por esmagamento ou fendilhamento (Figura 2-11);
• a ruptura do conector por corte.

Figura 2-11 - (1) Ruína do concreto por esmagamento ou fendilhamento. (2) Aspecto da deformação do
conector após a ruptura de um corpo de prova (cortesia TRW Nelson Stud Welding Division ).

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2.3.2 Conectores em Perfil U Laminado


O conector em perfil U laminado é ligado à mesa da viga de aço por meio de solda
de filete, e seu posicionamento deve obedecer a uma orientação em função do momento
fletor atuante na peça, conforme ilustra a Figura 2-12. O lado côncavo do conector deve
estar voltado para a seção de momento máximo. Essa posição garante melhor eficiência no
que diz respeito à solidarização entre a viga metálica e a laje de concreto.

L cs
tf

tw
a b

seção de seção de
momento nulo momento máximo

Figura 2-12 - Conectores em Perfil U Laminado.

2.4 A Laje de concreto


A laje situada sobre o vigamento metálico deve ser moldada no local, podendo ser
maciça ou nervurada.

Quando se adota a laje maciça, a forma empregada não possui nervuras e pode ser
removida ou não após a cura do concreto. Para aumentar a resistência da viga mista, muitas
vezes é feita uma mísula sobre o perfil metálico (Figura 2-13).

laje de
concreto
conectores de
cisalhamento

viga metálica

a) Laje maciça b) Laje maciça


sem mísula com mísula

Figura 2-13 - Viga Mista com Laje Maciça

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2.4.1 Laje com steel deck


O steel deck é uma forma de aço estrutural formada a frio que atua com duas
funções: (1) como forma para o concreto durante a construção; e (2) como armadura
positiva da laje de concreto para as cargas de serviço.

Figura 2-14 - Viga mista com steel deck (fonte: catálogo CODEME ENGENHARIA).

Quando se utiliza o steel deck na laje, pode ocorrer das nervuras ficarem
posicionadas com direção paralela ou perpendicular à viga metálica (Figura 2-14). No caso
das pontes, quase que invariavelmente as nervuras do deck são posicionadas
transversalmente às vigas principais.

a) Nervuras com direção paralela ao perfil metálico

b) Nervuras com direção perpendicular ao perfil metálico

Figura 2-14 - Viga mista com laje nervurada.

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Usualmente, para o caso de construção de edifícios, o steel-deck tem sido usado


como forma definitiva que se incorpora à laje, funcionando como armadura positiva do
concreto. Para isso, o steel-deck é fabricado com saliências e mossas que asseguram sua
aderência ao concreto.

Nas estruturas de edifícios, a aderência entre o steel-deck e a laje de concreto


funciona bem devido à natureza do carregamento, praticamente estático. No caso de
pontes, estudos recentes têm demonstrado que as cargas dinâmicas podem ocasionar o
descolamento entre a laje e a forma de aço e, por essa razão, tem-se evitado considerar a
atuação do steel-deck como armadura positiva do concreto. Portanto, para as lajes de
pontes, o steel-deck, quando aplicado, deve atuar apenas como forma de aço para suportar
o concreto durante a construção. A armadura positiva da laje deve ser dimensionada e
utilizada da forma convencional.

2.5 Materiais utilizados


Os materiais utilizados nas vigas mistas são os seguintes.

a O aço do perfil - pode ser qualquer aço estrutural, como por exemplo ASTM A36,
USI-SAC-41, USI-SAC-50, etc. As propriedades do aço necessárias ao cálculo são:
fy = limite de escoamento (depende do aço empregado)
fu = limite de ruptura à tração (depende do aço empregado)
E = módulo de elasticidade longitudinal = 205.000 MPa (válido para qualquer aço)

b Os conectores de cisalhamento - as propriedades variam dependendo do tipo do


conector. Os stud bolts normalmente são fabricados com aço ASTM A108, com
limite de escoamento igual a 345 MPa e limite de ruptura igual a 415 MPa. A
propriedade necessárias ao cálculo é:
fycs = limite de resistência ao escoamento do aço do conector.

a O concreto da laje. As propriedades do aço necessárias ao cálculo são:


fck = resistência à compressão aos 28 dias de idade
Ec = módulo de elasticidade longitudinal

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Capítulo 3
DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO PELO
MÉTODO DAS TENSÕES ADMISSÍVEIS
3. DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO PELO MÉTODO DAS TENSÕES
ADMISSÍVEIS

3.1 Comentários
O procedimento de cálculo apresentado neste capítulo está baseado no método das
tensões admissíveis (MTA), e segue as recomendações das normas alemãs: DIN 1073
(Pontes Rodoviárias Metálicas), DIN 1078 (Pontes Rodoviárias em Vigas Mistas) e
DIN 4101 (Pontes Rodoviárias Metálicas Soldadas).

O MTA é um método de cálculo no qual as cargas atuantes na estrutura são


consideradas com seus valores nominais, ou seja, não se utiliza nenhum coeficiente de
ponderação das cargas. Os coeficientes de segurança são aplicados exclusivamente às
resistências dos materiais.

3.1.1 Condição para verificação da segurança

MTA MEL

σ material Sd = γ S k
σ adm =
γ Rd = γ Rk
γ S k ≤ γ Rk
σmax ≤ σadm
resistências Sd ≤ Rd
reduzidas resistências
de cálculo
cargas nominais (reduzidas)
solicitações
de cálculo
(majoradas)

3.1.2 Cálculo das tensões na seção mista


Para uma avaliação coerente das tensões atuantes numa estrutura mista, é
necessário transformar a seção de concreto numa seção de aço equivalente, como
mostrado na Figura 3-1. Esse artifício é chamado comumente de homogeneização da
seção.

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bef ηo
bef

concreto aço

aço aço

seção seção
original homogeneizada

Figura 3-1 - Processo de homogeneização da seção.

Para transformar a seção mista numa seção fictícia homogênea de aço, divide-se a
largura efetiva bef pela relação entre os módulos de elasticidade do aço e do concreto, dada
por
E
ηo = a relação entre os módulos de elasticidade do aço e do concreto
Ec

O cálculo das tensões em pontes mistas deve ser feito no regime elástico. Não é
permitido considerar a plastificação da seção transversal, como se faz no cálculo de
edifícios (Figura 3-2). Essa restrição se deve aos efeitos do carregamento dinâmico e visa
evitar níveis altos de tensão nas peças, diminuindo assim sua suscetibilidade à fadiga.

distribuição das tensões normais no perfil distribuição das tensões normais no perfil
metálico, admitida para o cálculo de vigas metálico, admitida para o cálculo de vigas
mistas de pontes mistas de edifícios

fy fy

fy fy

M n = Wx . f y Mn = Zx . f y

Figura 3-2 - Distribuição de tensões normais no perfil metálico.

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Uma vez conhecidos os módulos elásticos de resistência nas fibras extremas das
seções de aço e de concreto, calcula-se as tensões nesses pontos devido a cada efeito em
particular. Numa fase posterior, esses efeitos são combinados apropriadamente, obtendo-se
as tensões finais atuantes na estrutura, cujos valores são comparados com as tensões
admissíveis nos materiais. As equações básicas utilizadas no processo são as seguintes:

M M
σ= = ⋅y
W J

σ = ε .E

σmax ≤ σadm

3.2 Efeitos da deformação lenta, da retração e da variação de temperatura


O concreto, quando submetido a carregamentos de longa duração, continua a sofrer
deformações ao longo do tempo, além da deformação elástica imediata que ocorre no
momento em que as cargas permanentes são aplicadas. Esse fenômeno é comumente
designado por deformação lenta.

O estudo exato do efeito da deformação lenta é muito complexo. Na prática,


admite-se que no estágio final a deformação lenta é proporcional à deformação elástica.
Daí:
σc
ε ( to ) = (1)
Ec
σc σ
ε (t ) = + φ (t ) c = ε (t o ) + φ (t ) ε (t o ) (2)
Ec Ec

O primeiro termo, ε(to), representa a deformação elástica e o segundo termo, φ.ε(to),


representa a deformação lenta, onde φ é o coeficiente de fluência. Na falta de condições
para a avaliação precisa da deformação lenta, pode-se adotar φ = 2.

A NBR 7197, norma para estruturas de concreto protendido, fornece uma


formulação para o cálculo dos coeficientes de retração e fluência do concreto.

A equação (2) pode ser reescrita na forma

σc Ec
= (3)
ε (t ) 1 + φ (t )

que permite definir o módulo de elasticidade no tempo t, considerando o efeito da


deformação lenta.

Ec
Ec ( t ) = (4)
1 + φ (t )

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A equação (4) demonstra que o efeito da deformação lenta se reflete numa


diminuição do módulo de elasticidade do concreto. Esse efeito será responsável por uma
transferência de esforços do concreto para o aço. Essa transferência ocorre lentamente,
como uma diminuição concomitante da tensão no concreto. Como a deformação lenta é
proporcional à tensão no concreto, conclui-se que a deformação final que de fato ocorre no
concreto é menor do que a que ocorreria se a tensão no concreto se mantivesse constante
desde o início.

Entretanto, o acréscimo de tensões no aço, devido à transferência de esforços que


ocorre em função da deformação lenta do concreto, acaba produzindo um aumento na
deformação da peça mista como um todo.

Com base em resultados experimentais, chegou-se à conclusão de que o efeito


acima pode ser levado em conta de forma aproximada, corrigindo a equação (4) para

Ec
Ec ( t ∞ ) = (5)
1 + 1,1 φ (t∞ )

Para levar em conta o efeito da deformação lenta basta, portanto, fazer o cálculo
das seções com o valor de η modificado para

= ηo ( 1 + 11 )
Ea
η f (t∞ ) = , φ (t∞ ) (6)
Ec ( t ∞ )

Os efeitos da retração e da temperatura podem ser avaliados de maneira análoga.


Considere-se o caso de uma variação (queda) de temperatura (Figura 3-3).

α ∆T dx

Ft

dx

Figura 3-3 - Distribuição de tensões normais no perfil metálico.

Suponha-se, de acordo com a Figura 3-3, que a ligação por conectores entre o
concreto e o aço seja temporariamente suprimida de modo que, por uma variação ∆T de
temperatura, ocorre uma deformação unitária ±α.∆T (α = coeficiente de dilatação térmica)
do concreto.

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A força Ft, aplicada no baricentro da seção de concreto, capaz de produzir o mesmo


efeito seria
Ea
Ft = ± α . ∆T ⋅ Ec Ac = ± α . ∆T A (7)
η c

Com a solidarização entre a laje de concreto e o perfil metálico, promovida pelos


conectores, a ligação rígida entre os dois materiais não permite que o concreto se deforme
livremente. Tudo se passa como se a força Ft fosse aplicada na seção mista, no baricentro
da seção de concreto (ver figura abaixo).

Ft

ac ac
a Ft
aa
Mt = Ft . ac

Figura 3-4 - Esforços na seção produzidos por uma variação de temperatura.

Para transferir a força Ft para o baricentro da seção mista, é necessário acrescentar


o momento
Mt = ± Ft . ac (8)

As tensões produzidas por uma variação de temperatura equivalem à situação


hipotética de uma flexo-compressão em que a força Ft e o momento Mt são aplicados no
baricentro da seção mista. Assim,
F M Ft F ⋅a
σT = ± ± = ± ± t c (9)
A W Am(ηo ) W(ηo )
O efeito da retração equivale ao de uma queda de temperatura, valendo portanto as
mesmas conclusões. Basta fixar a queda de temperatura equivalente à retração considerada.

Vale lembrar que as tensões produzidas pela retração são influenciadas pela
deformação lenta. Resultados experimentais demonstram que o efeito da deformação lenta
na retração pode ser levado em conta tomando-se, no cálculo dos efeitos da retração, o
módulo de elasticidade fictício do concreto igual a
Ec
Ecr = (10)
1 + 0,52φ
A hipótese anterior, para os efeitos da retração, conduz a uma relação entre os módulos de
elasticidade do aço e do concreto igual a
ηr = ηo ( 1 + 0,52φ ) (11)

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3.3 Elementos da seção transversal

bef
d = altura total do perfil
tc h = largura da alma ou distância entre as
hf bfs mesas
tfs bfs = largura da mesa superior
tfs = espessura da mesa superior
d1 bfi = largura da mesa inferior
tfi = espessura da mesa inferior
d h
CG tw = espessura da alma
tc = espessura da laje de concreto
d2 bef = largura efetiva da laje de concreto
tw
hF = altura nominal das nervuras em
tfi
vigas mistas com forma de aço
bfi incorporada

bef

Gc

ycs
ac yas
yci =
a Gm

aa

Ga yai

a = distância entre os centros de gravidade da seção de concreto e da seção de aço


ac = distância entre os centros de gravidade da seção de concreto e da seção mista
aa = distância entre os centros de gravidade da seção mista e da seção de aço
ycs = distância do centro de gravidade da seção mista à extremidade superior da laje de concreto
yci = distância do centro de gravidade da seção mista à extremidade inferior da laje de concreto
yas = distância do centro de gravidade da seção mista à extremidade superior da viga de aço
yai = distância do centro de gravidade da seção mista à extremidade inferior da viga de aço

Figura 3-5 - Seção de viga mista típica, constituída de perfil i soldado monossimétrico.

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3.4 Parâmetros para homogeneização da seção

Ea
ηo = = relação entre os módulos de elasticidade do aço e do concreto
Ec
Ea = 20.500 kN/cm2 = módulo de elasticidade do aço

Ec = 0,9 × 2087 f ck + 0,35 = módulo de elasticidade do concreto

Para o cálculo dos efeitos da deformação lenta e da retração são necessários os


seguintes coeficientes:
ηf = ηo ( 1 + 1,1φ ) = coeficiente ideal para deformação lenta
ηr = ηo ( 1 + 0,52φ ) = coeficiente ideal para retração
φ = coeficiente de fluência do concreto (na falta de dados confiáveis, adotar φ = 2 )

3.5 Propriedades geométricas da seção

Aa = área da seção de aço


Ac = área da seção de concreto
Ac
Am = Aa + = área homogeneizada da seção mista
ηo , f ,r

Aa Ac
ac = ⋅a ηo , f ,r
Ac
+ Aa aa = ⋅a
ηo , f ,r Ac
+ Aa
ηo , f ,r
Ja = momento de inércia da seção de aço
Jc = momento de inércia da seção de concreto

Jm = Ja + Aa . aa 2 +
1
ηo , f ,r
(J c + Ac . ac 2 ) momento de inércia da viga mista ou momento
de inércia da seção homogeneizada

Waas = módulo de resistência superior da viga metálica


Waai = módulo de resistência inferior da viga metálica
Jm
Wc s = = módulo de resistência superior do concreto na viga mista
yc s
Jm
Wci = = módulo de resistência inferior do concreto na viga mista
yci

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Jm
Wa s = = módulo de resistência superior da viga metálica na viga mista
yc s
Jm
Wai = = módulo de resistência inferior da viga metálica na viga mista
yci

3.6 Esforços atuantes a considerar

MCPA = momento devido à carga permanente A (peso próprio da laje e da viga de aço)

MCPB = momento devido à carga permanente B ( guarda-corpo, passeio, asfalto, etc.)


sobrecarga de longa duração

MCA = momento devido à carga móvel - sobrecarga de curta duração

MCP = MCPA + MCPB

MSC = MCPB + MCA = momento devido à sobrecarga total

MTOT = momento devido à soma de todas as cargas atuantes

3.7 Cálculo das tensões

3.7.1 Tensões devido à carga permanente A

Momento devido à carga permanente A agindo sobre a viga de aço.


Para t = 0 e t = ∞

M CPA M CPA
σa s = σa i =
Waa s Waa i

3.7.2 Tensões devido à carga permanente B

No tempo t = 0
Momento devido à carga permanente B agindo sobre a viga mista, considerando-se ηo.

M CPB M CPB
σc s = σci =
ηo .Wc s ηo .Wc i

M CPB M CPB
σa s = σa i =
Wa s Wa i

No tempo t = ∞ (considerar deformação lenta)


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Momento devido à carga permanente B agindo sobre a viga mista, considerando-se ηf.

M CPB M CPB
σc s = σci =
ηf .Wc s ηf .Wci

M CPB M CPB
σa s = σai =
Wa s Wa i

3.7.3 Tensões devido à carga móvel


Momento devido à carga móvel agindo sobre a viga mista, considerando-se ηo.
Para t = 0 e t = ∞

M CA M CA
σc s = σci =
ηo .Wc s ηo .Wci

M CA M CA
σa s = σa i =
Wa s Wa i

3.7.4 Tensões devido a um gradiente de temperatura

Para t = 0 e t = ∞
Esforços devido à diferença de temperatura agindo sobre a viga mista, considerando-se ηo.

Aa  A ⋅a 
σ cs = ± α ⋅ ∆T ⋅ E a 1 − m (ηo ) a (ηo ) 
η o ⋅ Am (ηo )  s
Wc (ηo ) 
 

Aa  A ⋅a 
σ ci = ± α ⋅ ∆T ⋅ Ea 1 − m (ηo ) a (ηo ) 
ηo ⋅ Am (ηo )  Wci(ηo ) 
 

Ac  A ⋅a 
σ as = ± α ⋅ ∆T ⋅ E a 1 + m (ηo ) c (ηo ) 
η o ⋅ Am (ηo )  s
Wa (ηo ) 
 

Ac  A ⋅a 
σ ai = ± α ⋅ ∆T ⋅ Ea 1 − m (ηo ) c (ηo ) 
ηo ⋅ Am (ηo )  Wai(ηo ) 
 

α = 1,2 × 10-5 para aço e concreto

OBS: Se o eixo baricêntrico da viga mista cair acima do plano de contato da laje com a
viga de aço, deve-se inverter o sinal dentro dos parêntesis nas equações de σ a e
s

σ ci .

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3.7.5 Tensões devido ao efeito da retração do concreto

Para t = ∞. Esforços devido à retração agindo sobre a viga mista, considerando-se ηr.

Aa  Am(ηr ) ⋅ aa (ηr ) 
σ cs = + ε r ⋅ Ea ⋅  1 − 
ηr ⋅ Am (ηr )  Wcs(ηr ) 

Aa  Am(ηr ) ⋅ aa (ηr ) 
σ ci = + εr ⋅ Ea ⋅  1 − 
ηr ⋅ Am(ηr )  Wci(ηr ) 

Ac  Am(ηr ) ⋅ ac (ηr ) 
σ as = − ε r ⋅ Ea ⋅  1 + 
ηr ⋅ Am(ηr )  Was(ηr ) 

Ac  Am(ηr ) ⋅ ac (ηr ) 
σ ai = − ε r ⋅ Ea ⋅  1 − 
ηr ⋅ Am(ηr )  Wai(ηr ) 

ε r = 0,00025

OBS: Se o eixo baricêntrico da viga mista cair acima do plano de contato da laje com a viga de aço,
deve-se inverter o sinal dentro dos parêntesis nas equações de σ a e σ c .
s i

3.7.6 Análise final das tensões


Para facilitar as combinações de tensões, é conveniente adotar-se um quadro
conforme o exemplo abaixo:

Concreto Aço
Tipo de
Tempo
solicitação σ cs σci σ as σ ai

Carga t=0
Permanente A t=∞
Carga t=0
Permanente B t=∞
t=0
Carga acidental
t=∞
Retração t=∞
t=0
Temperatura
t=∞

Tensões t=0
máximas t=∞

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3.8 Tensões admissíveis nos materiais:

• Aço USI-SAC-50

→ Compressão, compressão na flexão com necessidade de verificação da


estabilidade: 21 kN/cm2
→ Tração, tração na flexão e compressão na flexão quando não é necessário
verificar a estabilidade: 24 kN/cm2
→ Cisalhamento: 13,5 kN/cm2

• Concreto
→ Compressão: 0,4 fck
→ Tração:
1
f tk = f (kN/cm2) para fck ≤ 1,8 kN/cm2
10 ck

ftk = 0,06 . fck + 0,07 (kN/cm2) para fck > 1,8 kN/cm2

3.9 Planilha para dimensionamento automático à flexão

A planilha apresentada a seguir, pode ser programada no Microsoft Excel.

A B C D E F G
1 Vigas Mistas para pontes
2 cálculo de tensões (norma DIN 1073 - tensões admissíveis)
3 (Os dados em destaque devem ser fornecidos pelo usuário)
4
5
6 1. Materiais
7
8
9 1.1 Aço
10 Tipo: USI-SAC-50
2
11 fy = 34.50 kN/cm
2
12 fu = kN/cm
2
13 Ea = 20500.00 kN/cm
14
15
16 1.2 Concreto
2
17 fck = 2.00 kN/cm
2
18 Ec = 2879.38 kN/cm
19

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A B C D E F G
20
21 1.3 Perfil metálico
22
23 perfil VI 1500x455
2
24 d= 150.00 cm Aa = 561.81 cm
25 bfs = 45.00 cm peso = 4.41 kN/m
4
26 tfs = 3.15 cm Ja = 2258764 cm
27 bfi = 55.00 cm yas = 87.63 cm
28 tfi = 4.40 cm yai = 62.37 cm
3
29 tw = 1.25 cm Waas = 25774.78 cm
3
30 h= 142.45 cm Waai = 36218.27 cm
31
32
33
34 2. Cargas
35
36 Vão da viga: 26.00 m
37
38 2.1 Carga permanente A
39
40 peso próprio da laje: 34.05 kN/m
41 peso da viga de aço: 4.41 kN/m
42 peso do escoramento: 1.64 kN/m
43 peso do contraventamento 0.00 kN/m
44 total: 40.10 kN/m
45
46 MCPA = 338847 kN.cm
47 VCPA = 521.30 kN
48
49 2.2 Carga permanente B
50
51 defensa: 5.80 kN/m
52 pavimentação: 4.92 kN/m
53 recapeamento: 8.20 kN/m
54 0.00 kN/m
55 total: 18.92 kN/m
56
57 MCPB = 159874 kN.cm
58 VCPB = 245.96 kN
59
60 2.3 Carga móvel
61 MCM = 509980 kN.cm
62 VCM = 796.62 kN
63
64
65
66

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A B C D E F G
67 3. Parâmetros dos materiais
68
69 φ= 2.00 ( coeficiente de fluência do concreto )
70 εr = 2.50E-04 ( coeficiente de retração do concreto - sempre positivo )
71 α= 1.20E-05 ( coeficiente de dilatação térmica do aço e do concreto )
72 ηo = 7.120 ( relação entre os módulos de elasticidade do aço e do concreto no tempo t=0 )
73 ηf = 22.78 ( relação entre os módulos de elasticidade do aço e do concreto no tempo t=∞ )
74 ηr = 14.52 ( relação entre os módulos de elasticidade do aço e do concreto para a retração )
75
76
77
78
79 4. Parâmetros da seção mista
80
81 4.1 Largura efetiva
82
83 bef = 434 cm
84
85 4.2 Seção de concreto
86
2
87 Ac = 14754.25 cm
88 a= 107.96 cm
4
89 Jc = 1362084.6 cm
90 yac = 20.33 cm (distância entre a interface e o baricentro da seção de concreto)
91 tc = 33.00 cm (espessura da laje de concreto sobre o perfil de aço)
92
93 4.3 Propriedades para o cálculo no tempo t = 0
94
2
95 Amo = 2634.16 cm
96 aco = 23.03 cm
97 aao = 84.94 cm
98 ycoi = 2.70 cm
s
99 yco = 35.70 cm
100 yaoi = 147.30 cm
101 yaos = 2.70 cm
4
102 Jmo = 7602070 cm
3
103 Wcos = 212962.97 cm
104 Wco = 2819052.28 cm3
i

105 Waos = 2819052.28 cm3


3
106 Waoi = 51608.27 cm
107
108 4.4 Propriedades para o cálculo no tempo t = ∞
109
2
110 Amf = 1209.42 cm
111 acf = 50.15 cm
112 aaf = 57.81 cm
113 ycfi = 29.82 cm

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A B C D E F G
114 ycfs = 62.82 cm
115 yafi = 120.18 cm
116 yafs = 29.82 cm
4
117 Jmf = 5825178 cm
3
118 Wcfs = 92723.84 cm
3
119 Wcfi = 195325.88 cm
3
120 Wafs = 195325.88 cm
3
121 Wafi = 48471.60 cm
122
123 4.5 Propriedades para o cálculo à retração
124
2
125 Amr = 1577.67 cm
126 acr = 38.45 cm
127 aar = 69.52 cm
128 ycri = 18.12 cm
129 ycrs = 51.12 cm
130 yari = 131.88 cm
131 yars = 18.12 cm
4
132 Jmr = 6569230 cm
3
133 Wcrs = 128514.74 cm
3
134 Wcri = 362609.28 cm
3
135 Wars = 362609.28 cm
3
136 Wari = 49810.88 cm
137
138
139 5. Cálculo das tensões
140
141 5.1 Tensões na viga de aço antes da cura do concreto
2
σa =
s
142 -13.15 kN/cm
2
σa =
i
143 9.36 kN/cm
144
145 5.2 Tensões devido à carga permanente B no tempo t = 0
2
σc =
s
146 -0.11 kN/cm
2
σc =
i
147 -0.01 kN/cm
2
σa =
s
148 -0.06 kN/cm
2
σa =
i
149 3.10 kN/cm
150
151 5.3 Tensões devido à carga permanente B no tempo t = ∞
2
σc =
s
152 -0.08 kN/cm
2
σc =
i
153 -0.04 kN/cm
2
σa =
s
154 -0.82 kN/cm
2
σa =
i
155 3.30 kN/cm
156
157 5.4 Tensões devido à carga móvel
2
σc =
s
158 -0.34 kN/cm
2
σc =
i
159 -0.03 kN/cm
2
σa =
s
160 -0.18 kN/cm

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31
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Pontes com vigas mistas

A B C D E F G
2
σa =
i
161 9.88 kN/cm
162
163 5.5 Tensões devido à retração no concreto
2
σc =
s
164 0.02 kN/cm
2
σc =
i
165 0.09 kN/cm *
2
σa =
s
166 -3.85 kN/cm *
2
σ
i
167 a = 0.72 kN/cm
168
169 Nota: A laje de concreto tende a encolher devido à retração, porém, como ela está ligada rigidamente à viga de aço,
170 a deformação da parte inferior do concreto é impedida pelo perfil metálico, surgindo assim tensões de tração no
171 concreto. Por outro lado, a retração da laje causará tensões de compressão em toda a viga de aço.
172
173 5.6 Tensões devido a um gradiente de temperatura
174
175 ∆Τ = 15 °C
2
σ
s
176 c = 0.01 kN/cm
2
σc =
i
177 0.10 kN/cm *
2
σa =
s
178 2.97 kN/cm *
2
σa =
i
179 0.51 kN/cm
180
181
182 5.7 Quadro resumo de tensões
183
184 Tipo de Concreto Aço
σc σc σa σa
s i s i
185 solicitação tempo
186 Carga t=0 -13.15 9.36
187 permanente A t=∞
188 Carga t=0 -0.11 -0.01 -0.06 3.10
189 permanente B t=∞ -0.08 -0.04 -0.82 3.30
190 Carga t = 0 -0.34 -0.03 -0.18 9.88
191 móvel t = ∞ -0.34 -0.03 -0.18 9.88
192 Retração t=∞ 0.02 0.09 -3.85 0.72
193 Temperatura t = 0 0.01 0.10 2.97 0.51
194 t=∞ 0.01 0.10 2.97 0.51
195 Tensões t = 0 -0.45 -0.14 -16.35 22.84
196 Máximas t=∞ -0.40 0.13 -20.96 23.76
197
198
199 5.8 Tensão de cisalhamento
200
201 Vtotal = 1563.88 kN
2
202 τmax = 8.78 kN/cm
A B C D E F G
203
204
205 5.9 Tensões admissíveis nos materiais
206
207 concreto

Veríssimo e Paes
32
DEC/UFV
Pontes com vigas mistas

2
208 fck = 2.00 kN/cm
2
209 σcc = -0.80 kN/cm
2
210 σct = 0.19 kN/cm
211
212 aço USI-SAC-50
2
213 fy = 34.50 kN/cm
2
214 σac = -21.05 kN/cm
2
215 σat = 24.15 kN/cm
2
216 τa = 13.28 kN/cm
217

3.9.1 Equações para a programação da planilha

B18 =+(0.9*2087*RAIZ(B17+0.35))
B30 =+B24-B26-B28
E24 =+B25*B26+B30*B29+B27*B28
E25 =+E24/10000*78.5
E26 =+$L$25+$J$25*($K$25-$E$28)^2+$L$26+$J$26*($K$26-
$E$28)^2+$L$27+$J$27*($K$27-$E$28)^2
E27 =+B24-E28
E28 =+($J$25*$K$25+$J$26*$K$26+$J$27*$K$27)/$E$24
E29 =+E26/E27
E30 =+$E$26/E28
D41 =+$E$25
D44 =+D43+D42+D41+D40
D46 =+D44*$C$36^2/8*100
D47 =+D44*$C$36/2
D55 =+D54+D53+D52+D51
D57 =+D55*$C$36^2/8*100
D58 =+D55*$C$36/2
B72 =+$B$13/$B$18
B73 =+$B$72*(1+1.1*$B$69)
B74 =+$B$72*(1+0.52*$B$69)
B88 =+$E$27+$B$90
B95 =+$E$24+$B$87/$B$72
B96 =+$E$24+$B$87/$B$72
B97 =+$B$87*$B$88/$B$72/(B87/B72+$E$24)
B98 =+$B$96-$B$90
B99 =+B91+B98
B100 =+B24+B91-B99
B101 =+B98
B102 =+$E$26+$E$24*B97^2+($B$89+B87*B96^2)/B72
B103 =+B102/B99
B104 =+ABS(B102/B98)
B105 =+ABS(B102/B101)
B106 =+B102/B100
B110 =+$E$24+B87/B73
B111 =+$E$24*B88/(B87/B73+E24)
B112 =+$B$87*B88/$B$73/($B$87/$B$73+$E$24)
Veríssimo e Paes
33
DEC/UFV
Pontes com vigas mistas

B113 =+B111-B90
B114 =+B91-B90+B111
B115 =+B24-B113
B116 =+B113
B117 =+E26+E24*B112^2+(B89+B87*B111^2)/B73
B118 =+B117/B114
B119 =+B117/B113
B120 =+B117/B116
B121 =+B117/B115
B125 =+E24+B87/B74
B126 =+E24*B88/(B87/B74+E24)
B127 =+B87*B88/B74/(B87/B74+E24)
B128 =+B126-B90
B129 =+B91-B90+B126
B130 =+B24-B128
B131 =+B128
B132 =+E26+E24*B127^2+(B89+B87*B126^2)/B74
B133 =+B132/B129
B134 =+B132/B128
B135 =+B132/B131
B136 =+B132/B130
B142 =-$D$46/E29
B143 =+$D$46/$E$30
B146 =+-$D$57/$B$72/B103
B147 =+-SINAL($B$96-$B$90)*$D$57/$B$72/B104
B148 =+-SINAL($B$96-$B$90)*$D$57/B105
B149 =+$D$57/B106
B152 =+-$D$57/$B$73/B118
B153 =+-SINAL($B$96-$B$90)*$D$57/$B$73/B119
B154 =+-SINAL($B$96-$B$90)*$D$57/B120
B155 =+$D$57/B121
B158 =+-$D$61/$B$72/B103
B159 =+-SINAL($B$96-$B$90)*$D$61/$B$72/B104
B160 =+-SINAL($B$96-$B$90)*$D$61/B105
B161 =+$D$61/B106
B164 =+$B$70*$B$13*$E$24/$B$74/$B$125*(1-$B$125*$B$127/B133)
B165 =+$B$70*$B$13*$E$24/$B$74/$B$125*(1-SINAL($B$126-
$B$90)*$B$125*$B$127/B134)
B166 =+-$B$70*$B$13*$B$87/$B$74/$B$125*(1+SINAL($B$126-
$B$90)*$B$125*$B$126/B135)
B167 =+-$B$70*$B$13*$B$87/$B$74/$B$125*(1-$B$125*$B$126/B136)
B176 =+ABS($B$71*$B$175*$B$13*$E$24/$B$72/$B$95*(1-$B$95*$B$97/B103))
B177 =+ABS($B$71*$B$175*$B$13*$E$24/$B$72/$B$95*(1-(SINAL($B$96-
$B$90)*$B$95*$B$97/B104)))
B178 =+ABS($B$71*$B$175*$B$13*$B$87/$B$72/$B$95*(1+SINAL($B$96-
$B$90)*$B$95*$B$96/B105))
B179 =+ABS($B$71*$B$175*$B$13*$B$87/$B$72/$B$95*(1-$B$95*$B$96/B106))
D188 =+B146
D189 =+B152
D190 =+B158

Veríssimo e Paes
34
DEC/UFV
Pontes com vigas mistas

D191 =+D190
D192 =+B164
D193 =+B176
D194 =+D193
D195 =+D188+D190+SINAL(D188+D190)*D193
D196 =+D189+D191+D192+SINAL(D189+D191+D192)*D194
E188 =+B147
E189 =+B153
E190 =+B159
E191 =+E190
E192 =+B165
E193 =+B177
E194 =+E193
E195 =+E188+E190+SINAL(E188+E190)*E193
E196 =+E189+E191+E192+SINAL(E189+E191+E192)*E194
F186 =+B142
F188 =+B148
F189 =+B154
F190 =+B160
F191 =+F190
F192 =+B166
F193 =+B178
F194 =+F193
F195 =+F186+F188+F190+SINAL(F186+F188+F190)*F193
F196 =+F186+F189+F191+F192+SINAL(F186+F189+F191+F192)*F194
G186 =+B143
G188 =+B149
G189 =+B155
G190 =+B161
G191 =+G190
G192 =+B167
G193 =+B179
G194 =+G193
G195 =+G186+G188+G190+SINAL(G186+G188+G190)*G193
G196 =+G186+G189+G191+G192+SINAL(G186+G189+G191+G192)*G194
C201 =+$D$47+$D$58+$D$62
C202 =+C201/B30/B29
C208 =+$B$17
C209 =+-0.4*$C$208
C210 =0.06*$C$208+0.07
C212 =B10
C213 =+B11
C214 =-0.61*$C$213
C215 =0.7*$C$213
C216 =0.385*C213

3.10 Dimensionamento dos conectores de cisalhamento


As forças transmitidas aos conectores de ligação entre as seções de concreto e aço
são decorrentes das tensões de corte que surgem na interface entre o concreto e o aço.
Veríssimo e Paes
35
DEC/UFV
Pontes com vigas mistas

Para o caso das pontes em viga mista, o número de conectores necessários para
garantir a transferência do esforço cisalhante entre as seções de aço e concreto é calculado
em função do fluxo de cisalhamento longitudinal (Figura 3-6).

D D fmáx

x x
L

fmáx = fluxo de cisalhamento


2∑ D
f max =
x
D = esforço nos conectores

Figura 3.6 - Esforço Cortante Horizontal Vn na viga mista

Os conectores são dimensionados para dois tipos de esforços: esforços devido às


forças cortantes; esforços devido à variação de temperatura e à retração.

3.10.1 Esforços devido à força cortante


Genericamente, o esforço que atua nos conectores é dado por:

Ac ac
D = V ⋅e
η Jm
onde: V = força cortante
e = espaçamento longitudinal entre conectores

Devem ser calculados os esforços gerados para t=0 e t=∞. Assim,

Ac aco
para t=0, Do = V ⋅e
ηo J mo

Ac ac f
para t=∞, Df = V ⋅e
ηf J mf

3.10.2 Esforços devido a retração do concreto e variação de temperatura


No caso de um efeito de temperatura ou retração, a força resultante, que solicita a
zona comprimida ou tracionada da seção, é constante ao longo do comprimento da peça.

Veríssimo e Paes
36
DEC/UFV
Pontes com vigas mistas

Os esforços cisalhantes longitudinais provocados pela retração e pela variação de


temperatura devem ser transmitidos apenas nos trechos extremos, numa distância x menor
ou igual à largura efetiva da laje de concreto ou L/10, a que for menor.

 bef
x ≤ 
 L 10

• esforços devido à variação de temperatura


Ac . ac  J 
∑ D∆T = ± α . ∆T . Ea . η . a. Jo  Ja + ηc 
o mo o

• esforços devido à retração


Ac . ac  J 
∑ D∆T = εr . Ea η . a. Jr  Ja + ηc 
r mr r

ΣD = somatório de todas as forças absorvidas pelos conectores no extremo da viga.

3.10.3 Resistência dos conectores

Como já foi comentado no capítulo 2, os tipos de colapso que podem ocorrer com
um conector pino com cabeça embutido no concreto e submetido a esforço horizontal são:
- a ruína do concreto por esmagamento ou fendilhamento;
- a ruptura do conector por corte.
As respectivas resistências nominais são obtidas empiricamente e valem

Ru = 0,27 α dcs2 f ck Ec com fck ≤ 28 MPa (2-4)

Ru = 0,55 dcs2 f ycs com fycs ≤ 35 kN/cm2 (2-5)

onde:
dcs = diâmetro do fuste do conector
fycs = limite de resistência ao escoamento do aço do conector.
d2

 h
 d ≥ 4,2 → α = 1,0
cs d2 >= 1,5 dcs

 h = 3,0 → α = 0,85
dcs
hs
h
 d cs

Para a obtenção de α , quando a relação h/dcs estiver entre os limites acima pode-
se interpolar linearmente.

Veríssimo e Paes
37
DEC/UFV
Pontes com vigas mistas

A resistência característica do concreto à compressão, fck, não pode ser maior


que 28 MPa.

Para pontes e estruturas sujeitas a cargas não predominantemente estáticas, devido


ao efeito dinâmico das cargas móveis, a resistência individual de um conector deve ser
tomada como a menor das resistências abaixo:



2
3
( 0,27 α d 2
cs f ck Ec )
Ru ≤  (2-4)


2
3
( 0,55 d 2
cs f ycs )
fycs = 34,5 kN/cm2 (aço ASTM A-108)

A resistência admissível de um conector á dada por:

R
R =
1,7

3.10.4 Disposições construtivas

As seguintes disposições construtivas devem ser atendidas para o cálculo dos conectores:
a) espaçamento transversal mínimo: 2,5 dcs
b) espaçamento longitudinal mínimo: 5 dcs
c) espaçamento longitudinal máximo: 600 mm
d) o cobrimento lateral de concreto não pode ser inferior a 40 mm, recomendando-se
ainda que o cobrimento superior não seja menor que 10 mm, em qualquer conector;
e) os conectores pino com cabeça não podem ter diâmetro maior que 2,5 vezes a
espessura da mesa à qual forem soldados, a menos que sejam colocados diretamente
na posição correspondente à alma da viga para evitar deformações excessivas da
mesa.

3.10.5 Exemplo de cálculo


Para o cálculo prático, é interessante obter o fluxo de cisalhamento distribuído e
dessa forma combinar os efeitos do cortante, da retração e da temperatura adequadamente.
Assim, para o cálculo do fluxo de cisalhamento devido à força cortante, pode-se fazer

V Ac ac
fV = [kN/cm]
η Jm

Admite-se que apenas metade da carga permanente (A) exerça algum efeito sobre
os conectores.

Veríssimo e Paes
38
DEC/UFV
Pontes com vigas mistas

Suponha-se uma viga mista de ponte com 26 m de vão, sujeita a um carregamento


que produz a seguinte distribuição de força cortante:

542,3
433,8
325,4
216,9 Cortante
108,5
devido a
CPA

246,0
196,8
147,6
98,4 Cortante
49,2
devido a
CPB

822,0 739,8
657,6 575,4
493,2
Cortante
devido à
CM

As propriedades para o cálculo dos esforços são:

ηo = 7,12
ηf = 22,78
ηr = 14,52
a = 85,96 cm
Ac = 12600 cm2
Jc = 868.405 cm4
ac o = 22,22 cm
ac f = 40,63 cm

ac r = 35,72 cm

Jm o = 6128
. .440 cm4

Jm f = 4.819.222 cm4

Jm r = 5.350.353 cm4

εr = 250×10-6

Veríssimo e Paes
39
DEC/UFV
Pontes com vigas mistas

A viga foi dividida em 10 seções para o cálculo do fluxo de cisalhamento.

• força cortante
Para a seção correspondente a 0 < x < 2,60 m:

V Ac aco (542,3 / 2 + 246,0 + 822,0) × 12.600 × 22,22


f Vo = = = 8,59 kN/cm
ηo Jm o 7,12 × 6128
. .440

V Ac ac f (542,3 / 2 + 246,0 + 822,0) × 12.600 × 40,63


fV f = = = 6,24 kN/cm
η f Jm f 22,78 × 4.819.222

Para a seção correspondente a 2,60 < x < 5,20 m:

V Ac aco (433,8/2 + 196,8 + 739,8) × 12.600 × 22,22


f Vo = = = 7,40 kN/cm
ηo J m o 7,12 × 6.128.440

V Ac a c f (433,8/2 + 196,8 + 739,8) × 12.600 × 40,63


fV f = = = 5,38 kN/cm
η f Jm f 22,78 × 4.819.222

Seguindo o mesmo procedimento para as demais seções chega-se a um quadro


resumo do fluxo de cisalhamento devido à força cortante em cada seção.

Fluxo de cisalhamento devido à força cortante

seção
VCPA /2 VCPB VCM f (t=0) f (t=∞)
(m)
0,0 271,2 246,0 822,0 8,59 6,24
2,60 216,9 196,8 739,8 7,40 5,38
5,20 162,7 147,6 657,6 6,21 4,51
7,80 108,3 98,4 575,4 5,02 3,75
10,40 54,3 49,2 493,2 3,83 2,78

• temperatura e retração

 bef = 435 cm
x ≤ 
 L 10 = 2600 / 10 = 260 cm

⇒ esforços devido à variação de temperatura

Admitindo ∆T = 15 °C

α . ∆T . Ea = 1,2×10-5 × 15 × 20.500 = 3,69

Veríssimo e Paes
40
DEC/UFV
Pontes com vigas mistas

12.600 × 22,22  868.405 2


f ∆T = ±3,69 × ×  2.626.000 + × =
. .440 
7,12 × 85,96 × 6128 7,12  260

= ± 5,82 kN/cm

⇒ esforços devido à retração

εr ⋅ E a = 0,00025 × 20.500 = 5,125


− 5,125 × 12.600 × 35,72  868.405 2
fr = ×  2.626.000 + × = −3,68 kN / cm
14,52 × 85,96 × 5.350.353  14,52  260

• Resumo dos fluxos de cisalhamento:

seção (m) f (t=0) f (t=∞)


0,0 8,59 +5,82 = 14,41 6,24+5,82-3,68 = 8,38
2,60 7,40 5,38
5,20 6,21 4,51
7,80 5,02 3,75
10,40 3,83 2,78

• Dados do conector:

dcs = 22 mm

hcs = 208 mm

h 208
= = 9,45 > 4,2 ⇒ α=1
d cs 22



2
3
( 0,27 × 1 × 2,2 2
× 2,0 × 2.879 ) = 66,11 kN
Ru ≤ 


2
3
( 0,55 × 2,22 × 34,5 ) = 61,23 kN

R 61,23
A resistência admissível de um conector á dada por: R = = = 36,02 kN
1,7 1,7

espaçamento transversal mínimo: 2,5 dcs = 55 mm

espaçamento longitudinal mínimo: 5 dcs = 110 mm

espaçamento longitudinal máximo: 600 mm

Veríssimo e Paes
41
DEC/UFV
Pontes com vigas mistas

Os conectores serão dispostos em linhas de 6 conectores em paralelo:

450
50 70 70 70 70 70 50

Espaçamento longitudinal:

14,41 × 260
• 0 ≤ x ≤ 2,60 m ⇒ = 17,34 ≈ 18 linhas
6 × 36,02
2600
e= = 153 mm ⇒ usar 150 mm
17

7,41 × 260
• 2,60 ≤ x ≤ 5,20 m ⇒ = 8,91 ≈ 9 linhas
6 × 36,02
2600
e= = 325 mm ⇒ usar 320 mm
8

6,21 × 260
• 5,20 ≤ x ≤ 7,80 m ⇒ = 7,47 ≈ 8 linhas
6 × 36,02
2600
e= = 371 mm ⇒ usar 370 mm
7

5,02 × 260
• 7,80 ≤ x ≤ 10,40 m ⇒ = 6,04 ≈ 6 linhas
6 × 36,02
2600
e= = 520 mm ⇒ usar 500 mm
5

3,83 × 260
• 10,40 ≤ x ≤ 13,00 m ⇒ = 6,91 ≈ 7 linhas
4 × 36,02
2600
e= = 433 mm ⇒ usar 430 mm
6

Veríssimo e Paes
42
DEC/UFV
Pontes com vigas mistas

Distribuição longitudinal dos conectores:

2600 2600 2600 2600 2600

18 x 6φ 9 x 6φ 8 x 6φ 6 x 6φ 7 x 4φ
e = 150 mm e = 320 mm e = 370 mm e = 500 mm e = 430 mm

13000
CL APOIO

3.11 Critérios de projeto


Os laminadores da indústria siderúrgica não permitem a produção de perfis
laminados muito altos. Em função da pouca altura, esses perfis possuem módulo de
resistência à flexão pequeno e, consequentemente, seu emprego se restringe a pontes com
vãos pequenos.
As vigas metálicas utilizadas em pontes de médios e grandes vãos normalmente são
construídas com perfis soldados com dimensões apropriadas.
Utilizando o processo de solda, pode-se construir perfis com formas e dimensões as
mais variadas, conseguindo-se assim características de resistência e estabilidade especiais.
Pode-se, por exemplo, variar a inércia da peça ao longo do vão, de forma a acompanhar a
variação dos momentos fletores, soldando-se lamelas às chapas das mesas.
O momento fletor é o esforço determinante no dimensionamento das vigas. Por
essa razão as vigas são construídas com seções que apresentam elevado momento de
inércia. Normalmente, são construídos perfis bem altos com as mesas bastante afastadas.
Com isso, aumenta-se a inércia, função de h3, e diminui-se a flecha vertical, que é
inversamente proporcional à rigidez à flexão, EI. Por outro lado, à medida que a altura da
viga aumenta, a esbeltez da alma (h/tw) também aumenta e, em conseqüência disto, a
estabilidade elástica torna-se importante no dimensionamento, sendo necessário muitas
vezes reforçar a alma por meio de enrijecedores transversais e longitudinais.
Apesar da opção pelos enrijecedores implicar no aumento dos custos de fabricação,
em se tratando de vigas de pontes com grande comprimento, em geral é mais econômico
optar por essa solução do que usar chapas mais grossas na alma para evitar os
enrijecedores.

3.12 Altura do perfil


A altura do perfil normalmente é estabelecida em função de uma fração do vão da
ponte, para evitar deformações exageradas e por motivos estéticos.
L L
Para pontes rodoviárias: ≤ h ≤
20 30
Os valores acima são apenas referência, podendo ser usados valores fora desse
intervalo.
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3.13 Espessura da alma


O momento fletor faz com que as mesas comprimam a alma dos perfis I, podendo
ocasionar flambagem da alma no plano vertical.

σc

σc h
tw

Figura 3.7 - Tensões de compressão atuantes na alma do perfil metálico.

A tensão crítica para um elemento de placa destacado da viga é dada por:


kc π 2 E
σ cr = 2
12 (1 − ν )  h t 
2
w

kc é um coeficiente adimensional que depende das condições de apoio e das dimensões da


placa.
h kc π 2 E
=
12 (1 − ν 2 ) σ cr
Da expressão anterior, obtém-se:
tw

Admitindo: ν = 0,30 (coeficiente de Poisson para o aço)


σcr = 0,60 fy
kc = 23,9 (placa simplesmente apoiada nas mesas)
Obtém-se que:
h
para um aço com fy = 25 kN/cm2 ⇒ ≤ 171
tw
h
para um aço com fy = 34,5 kN/cm2 ⇒ ≤ 146
tw

Escolhida a altura do perfil, a espessura da alma pode ser adotada de forma a


satisfazer às relações acima. Recomenda-se utilizar no mínimo chapa de 8,0 mm em almas
de vigas para pontes rodoviárias.

A escolha da espessura da alma de acordo com os critérios acima não dispensa a


verificação de flambagem da alma sob ação de tensões normais, tensões de cisalhamento e
cargas concentradas.

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3.14 Dimensões da mesa comprimida


A esbeltez da mesa comprimida deve ser tal que não ocorra flambagem local da
chapa (Figura 3.8).

compressão flambagem local

Figura 3.8 - Flambagem local da mesa do perfil metálico.

b
t
b E
≤ 0,5
t fy

E b E
Para 0,5 ≤ ≤ a largura efetiva da mesa a ser considerada no cálculo
fy t fy

bef 2   b E 
deve ser reduzida, obtida pela seguinte expressão: =  2 −  

b 3   t fy 

3.15 Flambagem da alma


Devido à elevada esbeltez, as vigas metálicas de pontes têm sua alma reforçada por
meio de enrijecedores transversais e longitudinais.

Em geral, a flambagem por cisalhamento é determinante no dimensionamento do


reforço da alma. Por essa razão, algumas normas recomendam o uso de enrijecedores
transversais apenas, em detrimento dos longitudinais.
A tensão crítica de flambagem por cisalhamento é dada por:

 5,34 a
kc π E2  4,0 + (a / h) 2 se
h
≤ 1,0
σ cr = 2 onde: kc ≤ 
12 (1 − ν 2 )  h t   5,34 + 4 a
se > 1,0
w  ( a / h) 2 h

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Quando não existem enrijecedores intermediários, tem-se α → ∞ e kc = 5,34. A


AASHTO adota para tensão crítica σcr = 2,5 τmax.

h 199
Daí vem que: ≤ onde τmax = 0,33 fy [ fy em kN/cm2 ]
tw τmax

De acordo com a norma americana, AASHTO, quando a esbeltez da alma


ultrapassa o limite acima devem ser usados enrijecedores intermediários com espaçamento
dado pela expressão:

290 t w
amax ≤ ( com τ em kN/cm2 e amax na mesma unidade de tw )
τ

Os enrijecedores devem ser colocados aos pares, conforme o esquema abaixo:

bf
 d
 50 + 30 (mm)
be ≥ 
be  bf
 4

d be
# te te ≥
16

Obedecendo essas relações, evita-se a


> 30 mm flambagem local do enrijecedor.

Os enrijecedores devem possuir uma rigidez mínima com relação ao plano da alma
igual a:
I s ≥ 0,092 a t w J
2
 h 
em que: J = 25   − 20 ≥ 5,0
 a 
t e (2 be + t w )
3

Is =
12

3.16 Enrijecedores de apoio


As reações de apoio geralmente são forças concentradas de grande magnitude, que
induzem grandes tensões cisalhantes na alma. Para garantir a estabilidade da alma na
região dos apoios são necessários enrijecedores especiais com maior área e maior rigidez
que os enrijecedores intermediários.

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Os enrijecedores de apoio são calculados como colunas axialmente comprimidas,


incluindo parte da alma nas proximidades do enrijecedor.

ts

A área da figura hachurada deverá ser


bs
considerada para o cálculo do raio de
giração da coluna.

O comprimento efetivo de flambagem


pode ser tomado igual a 0,75 h , tendo
em vista a sua ligação com as mesas.

18 tw

A tensão admissível para uma coluna submetida à compressão axial é obtida em


função do parâmetro de esbeltez

2π 2 E
Cc =
fy

KL
Para < Cc , a tensão admissível Fa é dada por:
r

  KL 
2

    f
 r 

Fa = 1 −  y
 2 Cc2  FS
 
 
3
KL  KL 
3  
5 r  r 
onde: FS = + −
3 8 Cc 8 Cc3

KL 12 π 2 E
Para ≥ Cc , Fa é dada por: Fa = 2
r  KL 
23  
 r 

Para o cálculo da tensão máxima de apoio deve-se usar a área efetiva da chapa, ou
seja, subtrai-se a área dos recortes dos enrijecedores (Figura 3.9).

A tensão admissível de apoio é dada por: σ a = 0,80 f y (AASHTO)

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mín. 40
filetes de solda entre
a mesa e a alma

máx. 16 tw
área líquida
pela qual a
força de compressão
é introduzida
no enrijecedor

enrijecedor

Figura 3.9 - Detalhe dos enrijecedores de apoio para vigas metálicas de pontes.

Para prevenir a flambagem local dos enrijecedores de apoio a esbeltez das chapas
deve atender ao seguinte limite:

bs 58
≤ ( com fy em kN/cm2 )
ts fy

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3.17 Flambagem lateral


A região comprimida de uma viga sujeita à flexão se comporta de modo análogo a
uma coluna axialmente comprimida e pode, portanto, sofrer flambagem segundo o eixo y-y
de menor inércia.

A flambagem lateral depende dos seguintes fatores:


• comprimento sem contenção lateral da mesa comprimida;
• gradiente de momento fletor ao longo do vão da viga;
• forma e variação da seção ao longo da viga.

A estabilidade lateral pode ser garantida através de estruturas especiais de


contraventamento ou através da laje de concreto, rigidamente ligada às vigas metálicas.

Dormentes e tabuleiros de madeira não devem ser considerados como elementos de


estabilização da mesa comprimida.

No caso de pontes mistas, é necessário promover a estabilização horizontal das


vigas metálicas durante a concretagem, uma vez que o peso do concreto, do escoramento e
da própria viga produzem tensões de compressão no banzo superior dos perfis, podendo
ocasionar flambagem lateral com torção.

Para a verificação da flambagem lateral com torção, para as cargas antes da cura do
concreto, se necessário devem ser previstas estruturas de contraventamento para garantir a
estabilidade da viga, podendo esses contraventamentos ser temporários, ou seja, após a
cura do concreto podem ser desmontados e removidos da ponte.

Após a cura do concreto, a laje, ligada às vigas de aço por intermédio dos
conectores de cisalhamento, passa a funcionar como um diafragma, transmitindo as cargas
horizontais para a infra-estrutura.

A tensão admissível à flambagem lateral de perfis I simétricos com relação ao


plano da alma e de perfis U, é o maior valor dado pelas expressões abaixo:

 f y2 Lb
 0,55 f y −
 16180 ry
σ fl ≥  ( tensões em kN/cm2 )
 7380 . A f

 Lb d

onde: Lb = comprimento sem contenção lateral


d = altura total do perfil
Af = área da mesa comprimida

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3.17.1 Determinação do comprimento destravado máximo - exemplo de cálculo

Dada uma viga metálica biapoiada de uma ponte, com 26 m de vão livre, construída
em aço USI-SAC 50 ( fy = 35 kN/m2 ), determinar o máximo comprimento destravado
admissível para as cargas atuantes antes da cura do concreto.

perfil da viga: VS 1600×413

d = 1600 mm Área = 525,94 cm2 yas = 95,92 cm3


bfs = 450 mm Jx = 2.301.922 cm4 yai = 64,08 cm3
tfs = 25,0 mm Jy = 109.047 cm4 peso: 4,13 kN/m
bfi = 700 mm Wxs = 23.999 cm3
tfi = 31,5 mm Wxi = 35.920 cm3
tw = 12,5 mm

⇒ tensão na mesa comprimida devido às cargas antes da cura do concreto (CPA)

σ as = −14,73 kN/cm 2

Af = bfs . tfs = 45 × 2,5 = 112,5 cm2

Jy 109.047
ry = = = 14,40 cm
A 525,94

Admitindo Lb = 6,50 m, tem-se que:

 f y2 Lb 35 2 × 650
 0,55 f y − = 0,55 × 35 − = 15,83 kN/cm 2
 16180 r 16180 × 14, 40
σ fl ≥ 
y

 7380 . A f 7380 × 112,5


 = = 7,98 kN/cm 2
 Lb d 650 × 160

σ fl = 15,83 kN/cm 2 ≥ 14,73 kN/cm 2 ⇒ Ok!

L = 4 × Lb = 4 × 650 cm = 2600 cm

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3.18 Dimensionamento do contraventamento horizontal

As ações transversais à ponte, tais como vento, impacto lateral, força decorrente da
flambagem lateral, etc., são transmitidas aos apoios através dos contraventamentos.

A solução mais comum é a treliça em 'X', dimensionada unicamente à tração


(Figura 3.10).

P P P P P P P P P

+ + + + + + + +

ΣP ΣP
2 2

Figura 3.10 - Esquema de cálculo do contraventamento horizontal com barras solicitadas


predominantemente à tração.

A tensão admissível à tração na área líquida das barras da treliça é dada por

σ t = 0,55 f y

Quando são usados outros tipos de treliçamento, as barras ficam solicitadas à tração
e à compressão (Figura 3.11).

P P P P P P P

+ - + - + -

ΣP ΣP
2 2

Figura 3.11 - Esquema de cálculo do contraventamento horizontal com barras solicitadas à tração e à
compressão.

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Para fy em kN/cm2, a tensão de compressão admissível na área bruta, em função da


esbeltez da barra, é dada pelas expressões:

KL 90
≤ ⇒ σ c = 0,55 f y
r fy

1,5
90 KL 719  fy   KL 
< ≤ ⇒ σ c = 0,60 f y −    
fy r fy  147,8   r 

KL 719 103.360
> ⇒ σ c = 0,55 f y 2
r fy  KL 
 
 r 

Para barras parafusadas ou soldadas, o coeficiente de flambagem pode ser tomado


como K = 0,75.

3.18.1 Dimensionamento dos montantes


Dependendo do carregamento transversal atuante na ponte, os montantes do
contraventamento horizontal podem estar sujeitos a esforços de compressão e
conseqüentemente à instabilidade. Para diminuir a esbeltez dos montantes, são projetadas
treliças verticais que subdividem o comprimento de flambagem dessas barras, melhorando
sua rigidez à compressão (Figura 3.12).

Figura 3.12 - Aspecto do travamento dos montantes do contraventamento horizontal.

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3.18.2 Cargas a considerar


As ações transversais à ponte, tais como vento, impacto lateral, força decorrente da
flambagem lateral, etc., são transmitidas aos apoios através dos contraventamentos.

3.18.2.1 Impacto lateral


Nas pontes rodoviárias mistas, a laje de concreto funciona como um diafragma
rígido que transfere as cargas transversais eventuais para a infra-estrutura da ponte, sem
causar flexão das vigas metálicas em relação ao eixo de menor inércia. Não obstante, as
transversinas sobre os apoios devem possuir rigidez suficiente para garantir a integridade
das vigas longitudinais na eventualidade de uma solicitação transversal à ponte.
Segundo o projeto de norma para pontes metálicas da ABNT, o impacto lateral só
deve ser considerado para pontes ferroviárias.

3.18.2.2 Carga de vento


A carga de vento que pode atuar na ponte é dada por: (ver NBR 6123)

A carga de vento pode favorecer o fenômeno de instabilidade por flambagem


lateral com torção. Por isso, o contraventamento deve ser dimensionado para a pior
combinação possível de cargas transversais.

3.18.2.3 Força decorrente da flambagem lateral


A força necessária para garantir a estabilidade lateral da ponte e que deve ser
considerada para o dimensionamento do contraventamento, pode ser tomada como 2,5% da
força máxima que atua na mesa comprimida. Essa força deve ser aplicada em cada ponto
de contenção lateral, como mostrado nas Figuras 3.10 e 3.11.

P = 0,025 A fs σ as

onde: Afs = área da mesa superior do perfil metálico


σ as = tensão de compressão na mesa superior decorrente de CPA (cargas antes da
cura do concreto)

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3.19 Fadiga
As pontes são estruturas sujeitas a grandes solicitações provocadas pelas cargas
móveis. Em alguns sistemas estruturais, o efeito das cargas móveis pode ocasionar
oscilações severas de tensões, de forma que o comportamento à fadiga pode se tornar
crítico.

O fenômeno de fadiga é uma diminuição da resistência do material quando


submetido a solicitações variáveis e repetitivas.

A resistência à fadiga depende dos seguintes fatores:


a) Número de vezes em que a tensão oscila entre o valor máximo e o valor mínimo
numa unidade de tempo (número de ciclos).
b) Amplitude das tensões
∆σ = σmax - σmin
∆τ = τmax - τmin
A amplitude de tensões é calculada unicamente para a carga móvel com impacto
vertical, pois o efeito da carga permanente se anula.

( P) (
∆σ = σ max − σ min = σ g + σφmax P )
− σ g + σφmin = σφmax
P − σφP
min

O que influencia na fadiga é a flutuação de tensão.


c) Detalhes construtivos - efeitos de entalhes e processos de soldagem.

O tipo de aço, bem como a relação σmin/σmax não exercem influência significativa
sobre o fenômeno de fadiga, podendo ser desprezados.
Os detalhes construtivos devem diminuir os riscos de iniciação e propagação de
trincas de fadiga, dando-se especial atenção aos pontos de concentração de tensões. A
influência da concentração de tensões e das tensões residuais são considerados para cada
detalhe construtivo em particular.

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BIBLIOGRAFIA
4. BIBLIOGRAFIA

1. O’Connor, Colin (1975) “Pontes - Superestruturas”, Vols. 1 e 2, Livros Técnicos e


Científicos Editora S.A., Rio de Janeiro.
2. Mason, Jayme (1976) "Pontes Metálicas e Mistas em Viga Reta: projeto e cálculo",
Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., Rio de Janeiro.
3. ABNT (1982) NBR 6118/82 - “Projeto e Execução de Obras de Concreto Armado”,
Associação Brasileira de Normas Técnicas.
4. ABNT (1984) NBR 7188/84 - “Carga Móvel em Ponte Rodoviária e Passarela de
Pedestre”, Associação Brasileira de Normas Técnicas.
5. ABNT (1986) NBR 8800/86 - “Projeto e Execução de Estruturas de Aço de Edifícios.”
(com errata no. 1/1988), Associação Brasileira de Normas Técnicas.
6. ABNT (1987) NBR 7187/87 - “Cálculo e Execução de Pontes de Concreto Armado”,
Associação Brasileira de Normas Técnicas.
7. Muniz, Fausto Muñoz (1987) "Pontes Metálicas - Notas de Aula", CETUA/UFOP,
Ouro Preto, MG.
8. SIDERBRÁS - Siderurgia Brasileira S/A, (1989) "Pontes Rodoviárias Metálicas - Parte
I: Introdução ao projeto e cálculo", Publicações Técnicas para o Desenvolvimento da
Construção Metálica, Brasília, DF.
9. SIDERBRÁS - Siderurgia Brasileira S/A, (1989) "Pontes Rodoviárias Metálicas - Parte
II: Pontes padronizadas", Publicações Técnicas para o Desenvolvimento da Construção
Metálica, Brasília, DF.
10.Bellei, Ildony Hélio (1994) "Edifícios industriais em aço", Editora Pini, São Paulo.
11.AASHTO (1994) “LRFD Bridge Design Specifications”, SI Units, 1st edition,
Washington, DC, USA.
12.AASHTO (1997) “LRFD Bridge Design Specifications”, SI Units, 1st edition Interim,
Washington, DC, USA.
13.CODEME Engenharia Ltda. (1997) “STEEL DECK CE-75 - Noções de Utilização e
Dimensionamento”, revisão 01, Betim, MG.

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