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A de Alan Moore, H de

humano em quadrinhos
por Ramon Barbosa Franco

Estou às voltas com dois ingleses de nome Alan. O primeiro, Alan Turing
nasceu em 1912 e, ao que tudo indica, teria cometido suicídio em 1954.
Mas, há uma versão de que teria ingerido veneno acidentalmente e, por isso
veio, a óbito. O segundo, Alan Moore, nascido no ano anterior ao do
falecimento do xará de sobrenome Turing, em 1953, está na ativa. Da sua
vasta lavra literária e suor de escritor genial vieram muitos enredos,
principalmente histórias em quadrinhos perfeitas. Turing, matemático,
desenvolveu um computador que foi capaz de quebrar os códigos
incalculáveis da ‘enigma’. A ‘enigma’ era uma geradora de coordenadas
que os nazistas utilizavam para engenhar os ataques insanos que
devastaram a Europa durante a II Guerra Mundial. O Alan matemático, por
seus cálculos e raciocínio, foi responsável por encurtar o confronto bélico
em dois anos e salvar, ao menos, 14 milhões de vidas em todo o mundo.
Quem desejar saber mais sobre o Turing, recomendo o filme ‘O jogo da
imitação’, com o ator Benedict Cumberbatch (o mesmo que interpreta o
‘Doutor Estranho’), em ótima atuação dando vida ao personagem-central.
Dos roteiros assinados pelo Alan Moore, muitos saltaram das páginas dos
gibis e ganharam as telas do cinema: ‘V de Vingança’ (aliás, Moore detesta
esta adaptação e teria pedido para que não creditassem seu nome a versão
cinematográfica de sua HQ de mesmo nome), ‘A liga extraordinária’ (ao
que tudo indica, o último filme estrelado pelo ator Sean Coorney, o
lendário agente James Bond. Da mesma forma, parece que Moore não teria
gostado da transposição desta HQ para a sétima arte), ‘Watchmen’ e, o meu
preferido de todas as adaptações de Moore, ‘Do inferno’. Este é estrelado
pelo ator Johnny Deep e apresenta uma versão, com trama e personagens,
para o que teria ocorrido em Londres entre 1888 e 1891. Nesses anos, um
homem aterrorizou o subúrbio da capital inglesa e cometeu uma série de
crimes na periferia do distrito de Whitchapel. As vítimas, mutiladas pelo
assassino em série, eram profissionais do sexo dos arredores londrinos.
Para compor ‘Do inferno’, o escritor estudou muito os arquivos deste caso.
Vindo de uma família operária, Alan Moore sempre soube a importância do
estudo para que alguém como ele, de origem pobre e humilde, pudesse
competir em pé de igualdade nas oportunidades de trabalho que o futuro
lhe reservaria. O escritor nasceu em uma pequena cidade inglesa, de nome
Northampton, e ali descobriu muitas histórias. Personagens reais, inclusive,
com relações com a narrativa da Inglaterra e com figuras históricas,
incluindo escritores e artistas famosos. O escritor garante que, num dos
planos diabólicos de Adolf Hitler (o ditador alemão que o xará Turing
ajudou a derrotar), a invasão da Inglaterra se daria por Northampton,
portanto, a cidade tem relevância mesmo. Mas a relevância maior que
gostaria de mencionar aqui ao citar a cidade Northampton e Moore é que,
não muito tempo atrás, Alan esteve na sua terra natal e por lá as coisas
realmente não estavam boas após um desastre natural. O escritor, portanto,
não se fez de rogado: iniciou a recuperação da localidade a partir de seus
contatos e prestígio mundial. Se este não for um perfeito exemplo do que é
uma arte engajada, realmente, confesso que não saberia citar outro.

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