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Sandro Malburg Bosco | Super 1/8/22, 6:32 PM

Sandro Malburg Bosco


O iogue paulistano fala sobre os benefícios do jejum,
um antigo ritual místico que seria eficaz para
combater muitos males.
Jomar Morais

O paulistano Sandro Malburg Bosco, 47 anos, é uma referência brasileira em


yoga, a arte milenar de harmonizar mente e corpo num processo de
autoconhecimento e cura. Sandro lecionou yoga na Califórnia, Estados
Unidos, criou o Programa de Prevenção e Redução do Estresse, adotado há
seis anos por diversas empresas de São Paulo, e atualmente coordena o
projeto Yoga & Saúde, destinado a portadores do vírus da Aids e
dependentes químicos. Nos últimos anos, tem se destacado em outra
vertente das práticas místicas e terapêuticas originárias do Oriente: o jejum.

A abstinência de alimentos é um recurso usado na medicina ayurvédica, da


Índia, há cerca de 5 000 anos. Para desintoxicar o organismo, o ayurveda
propõe jejuns personalizados, de acordo com uma classificação físico-
psicológica dos pacientes. O tipo e o tempo da abstinência variam bastante,
mas qualquer pessoa pode fazer o jejum de 12 horas, uma vez por semana,
sem restrição de líquidos.

Em sua academia Yoga Dham, Sandro ensina aos alunos a jejuar como meio
de alcançar mais rapidamente os benefícios prometidos pelo yoga. Nesta
entrevista, ele explica por que o jejum, um ritual adotado pela maioria das
grandes religiões do planeta, está ganhando cada vez mais espaço como
importante ferramenta de saúde.

Super – Por que o jejum está em moda atualmente?


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Nas últimas décadas, o homem vem reavaliando o legado das culturas


antigas em vários campos, incluindo a medicina. Ao mesmo tempo, as
pessoas querem descobrir formas de religiosidade não-dogmáticas, não-
institucionais, que curem os males do corpo e da mente, superando os
limites da ciência médica. O jejum é uma tradição religiosa e terapêutica que,
bem orientada, pode melhorar a qualidade de vida dos seus praticantes, ao
promover a desintoxicação do organismo, com reflexos positivos no humor.

Como se dá essa desintoxicação?

Uma parte da energia do corpo é empregada na digestão dos alimentos e


outra quantidade é consumida na eliminação de toxinas desses mesmos
alimentos. Com o jejum, o processo de depuração se acelera – mas cabem
aqui alguns cuidados com as pessoas debilitadas. Para elas, o início da
abstinência de alimentos pode ser demasiadamente forte. Já uma pessoa
saudável vai obter enormes benefícios com a prática regular do jejum. O
organismo habitua-se a um descanso regular, com enorme economia de
prana – a energia básica. Essa energia que seria gasta na digestão, acaba
sendo usada pelo sistema imunológico, reforçando as defesas do
organismo.

Não é um risco privar o corpo de alimentos, sua principal fonte de


energia?

Podemos ficar semanas sem comer, dias sem beber, mas apenas minutos
sem respirar. Segundo a tradição do yoga, extraímos nossa energia dos
alimentos, da água e principalmente do ar. Quando não ingerimos sólidos, o
corpo compensa extraindo mais energia da água e do ar. Com a prática dos
exercícios respiratórios do yoga, esse benefício se amplia.

Qual a fórmula ideal de jejum?

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O jejum pode ser feito semanalmente. Na tradição iogue, há toda uma de-
puração prévia fundamental, como a limpeza do estômago e do intestino.
Isso é necessário, pois um dos males que mais afligem o homem moderno é
a constipação intestinal. É tão comum que as pessoas nem se dão conta de
que têm a doença. A verdade é que deveríamos evacuar pelo menos uma
vez diariamente. Isso não acontece devido ao sedentarismo, aos alimentos
industrializados, aos de origem animal e à dieta não balanceada.

Então, a abstinência temporária de alimentos não resolve tudo?

O intestino nessa condição é depositário de uma carga de material tóxico


que, nos primeiros dias de jejum, é absorvido pelo organismo e lançado à
corrente sangüínea como nutriente, envenenando ainda mais o sistema. Por
esse motivo os sábios iogues desenvolveram os kryias, técnicas de lavagem
estomacal e intestinal que limpam e preparam as mucosas para a prática do
jejum.

Quais os cuidados recomendados para os iniciantes?

Em um jejum prolongado, ou seja, superior a três dias, iniciantes ou não


podem utilizar, se necessário, mínimas pitadas de sal marinho para regular a
pressão ou mínimas quantidades de mel em caso de prostração. A saída do
jejum também é algo extremamente delicado. Recomenda-se refeições
compostas de vegetais leves em pequenas quantidades, pois ocorre que o
estômago se retrai durante a abstinência alimentar.

Muita gente come frutas durante o jejum. Isso é bom?

O jejum de frutas é o que se conhece como jejum parcial. Boa parte das
frutas é de fácil digestão, o que facilita o processo depurativo do organismo.
No verão, podemos optar pelos tipos tropicais e, no inverno, acrescentar as
frutas secas. Deve-se ter cuidado com a procedência das frutas. Aquelas

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que receberam grandes quantidades de agrotóxicos prejudicam o processo


de desintoxicação do organismo.

Crianças e idosos podem jejuar sem risco?

O jejum não é recomendado para crianças, pois estão em um momento


metabólico de crescimento. Já as pessoas idosas, desde que o façam de
modo regular e moderado, podem ser beneficiadas. Aos 77 anos de idade,
Gandhi fazia jejuns de 21 dias. O nutricionista americano Paul Bragg, que
viveu quase um século, também fez jejuns prolongados após os 90 anos.

Na sua opinião, qual deve ser o limite do homem à mesa?

Na filosofia do yoga, dizemos que você deve encher metade do estômago


com sólido, um quarto com líquido e outro quarto reservar para o oxigênio. O
homem adoece mais por excesso de comida do que por escassez.

O jejum produz algum benefício psicológico?

Como toda abstinência, o jejum também exige um esforço de autodisciplina.


E a disciplina é um caminho para outros ganhos, para a felicidade. Eu, por
exemplo, consegui melhorar a concentração e a memória jejuando.

Por que isso acontece?

O jejum ajuda a silenciar a mente. Assim, funciona como um mecanismo de


controle sobre os sentidos. O filósofo Pitágoras exigia de seus discípulos
que fizessem jejum de 40 dias para purificar o corpo e estimular a mente. Os
animais carnívoros vão à caça praticamente em jejum, pois é quando os seus
reflexos são mais precisos. A exemplo do homem, eles ficam preguiçosos e
inativos após um almoço farto. Como toda abstinência, o jejum pede esforço
sobre si mesmo e fortalece a disciplina e a espiritualização. A prática
espiritual leva em conta o corpo, sem o qual não se pode pensar em vida ou
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crescimento espiritual.

O vegetarianismo é a saída para quem deseja alimentação saudável?

O intestino humano é de um animal herbívoro. Sua estrutura é longa o


suficiente para permitir a quebra das células vegetais, um processo lento de
decomposição. Animais carnívoros são dotados de intestinos curtos, que
eliminam do corpo, com maior rapidez, algumas substâncias altamente
tóxicas. E a carne está cheia dessas substâncias. A alimentação vegetariana
é a mais inteligente em termos nutricionais, higiênicos, econômicos e éticos.

O jejum é uma invenção humana ou existem na natureza outras


espécies que optam por não comer?

Animais domésticos, como gatos e cachorros, jejuam sempre que adoecem


ou sofrem algum acidente. Trata-se de uma reação instintiva que serve para
que o organismo deles tenha tempo e condições para se restabelecer.

Ioga
Prevenção de doenças

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