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Unidade III

Unidade III
5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AOS PORTADORES DE AFECÇÕES DO
SISTEMA NEUROLÓGICO E DO SISTEMA DIGESTÓRIO

São muitos os distúrbios que afetam o sistema neurológico e o digestório no adulto. Eles são
decorrentes de alterações no sistema nervoso central e periférico. Podem ser originados de traumas
mecânicos, alterações vasculares, alterações estruturais e processos infecciosos. Deficiências no
sistema nervoso, seja ele central ou periférico, alteram não apenas o sistema em si, mas também
influenciam o funcionamento dos outros, já que o sistema nervoso é uma das formas de comunicação
do organismo.

As alterações oriundas de traumas mecânicos e vasculares, que levam o paciente a um estado muito
grave, necessitando de cuidados intensivos, serão abordadas em outra disciplina com esse objetivo.
Assim, discutiremos aqui a principal doença ligada à distrofia muscular: a esclerose lateral amiotrófica
(ELA) e as meningites.

5.1 Afecções do sistema neurológico

5.1.1 Meningite

A meningite pode ser definida como uma inflamação nas meninges proveniente da invasão de
microrganismos ou fatores não infecciosos. Os principais patógenos que atingem as meninges são os
vírus e as bactérias. A doença é considerada endêmica no Brasil, visto que não há um período de maior
número de notificações (BRASIL, 2017).

Entre os anos de 2007 e 2013, a taxa de mortalidade devido à meningite no Brasil foi de 0,3/100  mil
habitantes, com incidência de 1,4/100 mil habitantes. A maior incidência ocorreu na zona urbana, mas a
letalidade foi maior entre os moradores da zona rural. A maior frequência dos casos foi encontrada nos
estados de São Paulo e Rio de Janeiro (BRASIL, 2016).

5.1.1.1 Etiologia

As meningites são causadas principalmente por vírus e bactérias. Nas meningites bacterianas,
os agentes causadores da doença mais comuns são: Neisseria meningitidis (meningococo),
Streptococcus pneumoniae, Mycobacterium tuberculosis e Haemophilus influenzae. Já as
meningites causadas por vírus ocorrem principalmente pelas 3 cepas dos poliovírus, pelas 28 cepas
de echovírus, pelas 23 cepas do vírus coxsackie A, pelas 6 cepas do vírus coxsackie B e pelas 5 cepas
de outros enterovírus (BRASIL, 2009).

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A transmissão do agente causador da doença se dá de pessoa para pessoa através do contato com
secreções e gotículas da nasofaringe. Assim, é necessário contato direto com as secreções ou contato
íntimo entre as pessoas, como morar na mesma casa, entre comunicantes de creche ou escola ou
entre namorados para que a doença seja transmitida. Após o início do tratamento, o agente causador
leva em média 24 horas para deixar a orofaringe (BRASIL, 2009). Também pode alcançar as meninges
por meio do trauma craniano e pela migração de outras partes do organismo, como complicação das
otites e das sinusites. Procedimentos invasivos que atinjam as meninges também podem ser fontes de
microrganismos para a instalação da meningite.

5.1.1.2 Fisiopatologia

Independentemente do agente causador, após a entrada na corrente sanguínea, o vírus atravessa


a barreira hematoencefálica e cai no espaço subaracnóideo, em que se multiplica com rapidez, visto
que não há presença de anticorpos nesse local. Ocorre então a liberação de substâncias altamente
inflamatórias, que estimulam a produção de citocinas, o rompimento da barreira hematoliquórica, a
passagem de proteínas e leucócitos do sangue para o líquor e o edema cerebral (SMELTZER et al., 2010).

Assim, pode‑se dizer que a fisiopatologia da doença baseia‑se na toxemia, na hipertensão craniana
e na irritação meníngea, que produzem os diferentes sinais e sintomas da doença (figura a seguir)
(FERNANDES et al., 2008)

Toxemia

Invasão de
microrganismos
no espaço
subaracnóideo
Hipertensão Irritação
craniana meníngea

Figura 19 – Fisiopatologia das meningites

5.1.1.3 Manifestações clínicas

Os achados clínicos da doença são categorizados conforme a síndrome clínica apresentada: síndrome
infecciosa (toxemia), hipertensão craniana e irritação meníngea (SÃO PAULO, 2006).

Síndrome infecciosa: resultado da liberação de substâncias mediadoras da resposta inflamatória na


corrente sanguínea. Manifesta‑se por queda no estado geral, febre, apatia e anorexia.

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Hipertensão craniana: decorrente do edema cerebral imposto pela reação inflamatória dentro da
caixa craniana. Caracteriza‑se por cefaleia, náuseas e vômitos em jato sem relação com a alimentação.
A evolução do edema pode levar também ao rebaixamento do nível de consciência e ao edema papilar
detectável no exame de fundo de olho.

Lembrete

Papilas: região da retina de onde saem as células que vão compor o


nervo óptico.

Irritação meníngea: é consequência da inflamação nas meninges; é caracterizada pela rigidez


da nuca, pelos sinais de Kernig e de Brudzinski positivos e pela fotofobia. A rigidez na nuca é um
sinal precoce da doença e está relacionada aos espasmos dos músculos do pescoço. Para avaliação
do sinal de Kernig, o paciente deve estar deitado, com a coxa flexionada sobre o abdome. Caso a
pessoa não consiga estender a perna nessa posição, o sinal será positivo (figura 20). Já no sinal
de Brudzinski positivo, quando o pescoço do paciente é flexionado, ocorre também a flexão dos
joelhos e quadris (figura 21).

Figura 20 – Representação do sinal de Kernig positivo

Figura 21 – Representação do sinal de Brudzinski positivo

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Febre
Queda no estado geral
Anorexia

Toxemia

Invasão de
microrganismos
no espaço
Cefaleia subaracnóideo Rigidez de nuca
Náuseas Sinal de Kernig positivo
Vômito em jato Hipertensão Irritação Sinal de Brudzinski
Rebaixamento do nível de craniana meníngea positivo
consciência (RNC) Fotofobia

Figura 22 – Relação entre a fisiopatologia da meningite e as manifestações clínicas da doença

O critério de escolha para a identificação da etiologia das meningites é a avaliação do líquor. Os sinais
e sintomas da doença são comuns diante dos diferentes agentes etiológicos. Entretanto, sabe‑se que
nas meningites virais as manifestações clínicas são mais brandas, os sinais de toxemia pouco aparecem
e o risco de complicações é menor, determinando melhor prognóstico.

5.1.1.4 Prevenção

A meningite é uma doença de notificação compulsória no Brasil e todos os casos suspeitos devem
ser notificados às autoridades municipais. As medidas preventivas para a não instalação das meningites
são a imunização e a quimioprofilaxia.

Estão disponíveis vacinas contra alguns agentes etiológicos da meningite. O Calendário Nacional
de Vacinação disponibiliza nas unidades de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) as vacinas
BCG, contra o bacilo de Koch; pneumocócica 10‑valente, contra o pneumococo; pentavalente,
que inclui a ação contra o Haemophilus influenzae tipo B; e meningocócica tipo C, contra o tipo
C do meningococo. Para bloqueio de surtos, podem ser utilizadas vacinas contra a meningite
meningocócica, desde que conhecido o sorogrupo responsável e haja vacina eficaz disponível
(BRASIL, 2009).

A quimioprofilaxia é indicada aos comunicantes íntimos de pessoas portadoras de meningite


meningocócica ou para a causada por Haemophilus influenzae, para o próprio paciente no momento
da alta. A droga de escolha é a rifampicina, que deve ser administrada a todos os comunicantes
simultaneamente e em até 48 horas após a exposição à fonte de infecção. É importante a observação
dos comunicantes por dez dias após o contato com o doente e a orientação de todos acerca dos sinais
e sintomas da doença.

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Lembrete

São considerados contatos íntimos os residentes na mesma casa, quem


compartilha o mesmo dormitório, comunicantes de creches e pessoas que
entraram em contato direto com as secreções do paciente.

Não é indicado o uso da profilaxia aos profissionais de saúde que assistiram pacientes com meningite,
exceto em casos de contato direto com a secreção.

5.1.1.5 Tratamento

Na suspeita de meningite bacteriana (pacientes com sinais de inflamação sistêmica e com petéquias
pelo corpo), a antibioticoterapia deve ser iniciada o mais rápido possível, após a coleta de líquor e de
sangue para a hemocultura. Em adultos, os antibióticos de escolha antes do reconhecimento do agente
causador da doença são a ampicilina e a ceftriaxona, dependendo da idade. Após a identificação do
agente causador, considerar a orientação descrita no quadro a seguir:

Quadro 27 – Antibióticos utilizados para tratamento


de meningites bacterianas com agente etiológico conhecido

Agentes etiológicos Antibióticos


Neisseria meningitidis Penicilina G. cristalina ou ampicilina
Haemophilus influenzae Cloranfenicol ou ceftriaxone
Streptococcus pneumoniae Penicilina G. cristalina
Staphylococcus Oxacilina ou vancomicina
Enterobactérias Ceftriaxone ou sulfametaxazol + trimetropim
Pseudomonas Ceftaridima + amicacina ou carbenicilina + amicacina

Adaptado de: Brasil (2009).

Além da antibioticoterapia, são recomendadas medidas de suporte e reposição hídrica.

Na meningite viral, devem ser tomadas medidas para o alívio dos sintomas, como analgésicos,
antitérmicos e antieméticos. O uso da sonda nasogástria pode proporcionar melhor reposição hídrica em
pacientes confusos ou com dificuldades de deglutição. Na meningite herpética, pode ser administrado
o antiviral aciclovir (SÃO PAULO, 2006).

5.1.1.6 Assistência de enfermagem

Para o planejamento da assistência de enfermagem aos portadores de meningite, devem ser realizados
a avaliação dos sinais e sintomas, a identificação dos problemas de enfermagem e o julgamento clínico
para elaboração dos DEs.
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Os DEs que aparecem com maior frequência em portadores de meningite estão listados a seguir
com as suas respectivas definições, baseadas na classificação proposta por Nanda‑I (2015). Outros
DEs podem ser identificados nesses pacientes, dependendo da gravidade da doença e dos sinais e
sintomas encontrados.

• Capacidade adaptativa intracraniana diminuída: os mecanismos de dinâmica de fluidos


intracranianos, que normalmente compensam os aumentos nos volumes intracranianos, estão
comprometidos, resultando em elevação da pressão intracraniana.

• Hipertermia: temperatura corporal central elevada acima da variação normal da termorregulação.

• Dor aguda: experiência sensorial emocional desagradável, associada a lesão tissular real
ou potencial ou descrita em termos de tal lesão. Início súbito ou lento, de intensidade leve a
acentuada, com término antecipado ou reversível.

• Náusea: fenômeno subjetivo de uma sensação desagradável na parte de trás da garganta e no


estômago, que pode ou não resultar em vômito.

• Mobilidade física prejudicada: limitação no movimento físico independente e voluntário do corpo


ou de uma ou mais extremidades.

O quadro a seguir mostra cada um dos DEs mais comuns na meningite, com as suas características
definidoras e com os seus fatores relacionados.

Quadro 28 – DEs mais comuns aos pacientes portadores de meningite, com suas
respectivas características definidoras ou fatores de risco e seus fatores relacionados

Diagnósticos de enfermagem Características definidoras/fatores Fatores relacionados


(DEs) de risco*
Aumento desproporcional da pressão
Capacidade adaptativa intracraniana após estímulo
intracraniana diminuída Lesão cerebral
Pressão intracraniana (PIC) basal maior
que 10 mmHg
Aumento da temperatura corporal
Hipertermia Calor ao toque Infecção
Taquipneia
Autorrelato da intensidade da dor
usando escala padronizada de dor
Autorrelato da característica usando
Dor aguda escala padronizada de dor Agente lesivo biológico
Expressão facial de dor
Mudanças nos parâmetros fisiológicos
Náusea Sensação de vontade de vomitar Meningite
Amplitude limitada do movimento Contraturas, dor e prejuízo
Mobilidade física prejudicada
Dificuldade para virar‑se músculo‑esquelético

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A partir dos DEs mais comuns aos portadores de meningite, foram elaboradas as intervenções
de enfermagem necessárias para esses pacientes, com base na classificação proposta pela NIC
(BULECHEK et al., 2016):

Quadro 29 – Relação entre DEs, intervenções e atividades


de enfermagem aos pacientes portadores de meningite

DE: Capacidade adaptativa intracraniana prejudicada


Intervenção Atividades
Monitorar o tamanho, a forma, a simetria e a
reatividade das pupilas
Monitorar o nível de consciência
Monitorar o nível de orientação
Observar nível de consciência por meio da utilização da
escala de coma de Glasgow
Monitoração neurológica: coleta e análise dos dados Monitorar os sinais vitais
dos pacientes para prevenir ou minimizar complicações
neurológicas Monitorar o padrão respiratório
Monitorar a tosse e o reflexo de vômito
Observar queixas de cefaleia
Monitorar a presença da tríade de Cushing:
hipertensão, bradicardia e alterações respiratórias
Evitar atividades que aumentem a pressão
intracraniana
DE: Náusea
Intervenção Atividades
Realizar avaliação completa das náuseas, incluindo a
frequência, a duração e a intensidade
Obter um histórico dietético contendo as preferências
alimentares culturais
Certificar‑se da efetividade de medicamentos
Controle da náusea: prevenção e alívio da náusea antieméticos
Controlar fatores ambientais que possam provocar
náusea, como odores e experiências visuais
desagradáveis
Reduzir elementos individuais que aumentam a náusea
(ansiedade, medo, fadiga e falta de conhecimento)
Intervenção Atividades
Avaliar vômito em relação a cor, consistência, presença
de sangue, horário e força utilizada
Mensurar ou estimar volume do vômito
Posicionar o paciente para prevenir aspiração
Controle do vômito: previsão e alívio de episódios de Fornecer apoio físico durante os vômitos
vômito Fornecer medidas de conforto
Realizar higiene oral e do nariz
Manter o ambiente limpo e livre de odores
desagradáveis
Monitorar o equilíbrio hidroeletrolítico

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DE: Dor aguda


Intervenção Atividades
Avaliar a dor quanto a sua localização, características,
início/duração, frequência, qualidade e intensidade
Observar presença de expressões não verbais de dor
Controle da dor: alívio da dor ou redução da dor até
um nível de conforto que seja aceitável para o paciente Verificar fatores que melhoram ou pioram a dor
Determinar uma frequência de avaliação da dor
Reduzir ou eliminar fatores que propiciem o aumento
da dor
DE: Hipertermia
Intervenção Atividades
Monitorar a temperatura e os outros sinais vitais
Monitorar a coloração da pele
Estimular a ingesta hídrica
Tratamento da febre: controle dos sintomas e estados
relacionados associados ao aumento da temperatura Estimular o descanso
corporal, mediados por pirógenos endógenos
Aumentar a circulação de ar
Monitorar complicações relativas à febre
Umedecer lábios ressecados e mucosa nasal
DE: Mobilide física prejudicada
Intervenção Atividades
Atentar à cultura e à idade do paciente ao propiciar
auxílio no autocuidado
Verificar a necessidade do paciente de dispositivos
para o auxílio na higiene pessoal, vestir‑se, arrumar‑se,
realizar higiene íntima e alimentar‑se
Assistência no autocuidado Propiciar artigos pessoais desejados
Fornecer assistência até que o paciente seja capaz de
realizar suas atividades por completo
Ajudar o paciente na aceitação da sua dependência
Encorajar a independência, mas interferir quando o
paciente tiver dificuldade de desempenhar as atividades

Visto que a meningite é uma doença infectocontagiosa e que cuidados específicos para evitar a
transmissão dela devem ser tomados em ambiente hospitalar e no contato com os comunicantes,
condutas de enfermagem devem ser realizadas a fim de prevenir a infecção por meningite por
profissionais e outros pacientes internados na mesma instituição de saúde e na comunidade. Assim a
intervenção de enfermagem proposta pela NIC, o controle de infecções e suas respectivas atividades
devem ser implantadas (quadro a seguir):

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Quadro 30 – Intervenções de enfermagem diante da necessidade


de assistência aos comunicantes e profissionais de saúde

Intervenção Atividades
Manter o paciente em isolamento respiratório
para gotículas até 24 horas após o início da
antibioticoterapia, em casos de meningite bacteriana
Controle de infecções: minimização de aquisição e Notificar o órgão municipal responsável
transmissão de agentes infecciosos Auxiliar na quimioprofilaxia aos comunicantes
Orientar sobre sinais e sintomas da doença e sobre
a necessidade de busca pelo serviço de saúde aos
comunicantes

5.1.2 Esclerose lateral amiotrófica (ELA)

A ELA é uma doença neurodegenerativa definida pela fraqueza muscular decorrente do


comprometimento dos neurônios motores. A incidência é de uma doença rara, de 1‑2 casos/100 mil
habitantes, mas com um impacto social importante nas famílias daqueles acometidos pela doença. A
doença é prevalente em pessoas do sexo masculino e brancas. Tem seu início, em média, após os 54 anos
(OLIVEIRA et al., 2013).

Devido à atrofia muscular, a pessoa torna‑se prisioneira do próprio corpo, com perda total da
independência funcional e o desenvolvimento de depressão e ansiedade. O caminho percorrido
por pacientes e familiares durante o desenvolvimento da doença é cheio de perdas sucessivas
e mortes parciais, decorrentes das atrofias progressivas e das perdas funcionais constantes
(BORGES, 2003).

5.1.2.1 Fisiopatologia

A ELA é a mais comum entre as doenças neuromusculares (DNM) e, por isso, tende a ser confundida
com outras alterações do sistema neuromuscular. O comprometimento produzido pelas DNM pode
afetar diferentes neurônios: neurônios motores superiores, localizados na área do cérebro responsável
pela regulação motora (giro pré‑central); e neurônios motores inferiores, localizados no tronco cerebral
e na região anterior da medula espinhal. Os neurônios motores superiores regulam os neurônios motores
inferiores por meio do envio de neurotransmissores. A ativação dos neurônios motores inferiores permite
a contração dos músculos voluntários do corpo. Os neurônios motores localizados no tronco cerebral
propiciam a contração da musculatura da boca, rosto, garganta e língua. Já os neurônios motores
localizados na região anterior da medula ativam a contração de todos os outros músculos voluntários
do corpo (OLIVEIRA et al., 2013).

Para ser diagnosticado com ELA, o paciente precisa apresentar alterações clínicas decorrentes do
comprometimento dos neurônios motores superiores e dos neurônios motores inferiores.

Sabe‑se que tudo se inicia com a morte dos neurônios motores, mas o motivo pelo qual esses
neurônios deixam de exercer sua função não é totalmente esclarecido. Acredita‑se que exista um fator
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genético envolvido e que a exposição a alguns aspectos ambientais e biológicos durante a vida serve
como gatilho para o desenvolvimento da doença. Assim, diversas teorias vêm sendo estudadas para a
identificação da real etiologia da ELA, ainda sem sucesso.
Neurônio motor
Encéfalo superior

Tronco cerebral

Medula espinhal B Neurônio motor


inferior
A – região anterior
B – região posterior
Fibra muscular A

Figura 23 – Neurônios afetados pela ELA

5.1.2.2 Manifestações clínicas

As manifestações clínicas da ELA podem estar distribuídas por todo o corpo e dependem da área
neuronal afetada. O comprometimento dos neurônios motores superiores resulta em atrofia muscular,
enquanto a morte dos neurônios motores inferiores é refletida em espasticidade do músculo. Já as
lesões em neurônios do tronco cerebral dão origem à disartria e à disfagia (XEREZ, 2008).

Observação

A disartria é o distúrbio da articulação da fala e a disfalgia é a dificuldade


na deglutição.

A principal queixa inicial é a fraqueza muscular, que, na maior parte das vezes, é focal. O tônus
muscular pode estar exacerbado ou reduzido dependendo da fase evolutiva da doença. A disartria
é espástica e a disfagia é inicialmente relacionada à ingestão de líquidos. O exame físico mostra
fasciculações e atrofia da língua (XEREZ, 2008).

A doença é progressiva e, no decorrer do tempo, diferentes músculos são afetados, alterando funções
importantes de movimentação. Com a progressão da doença, a função respiratória é prejudicada em
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virtude da paralisação do diafragma e de outros músculos respiratórios. Geralmente não são afetadas as
funções autonômicas (função cardíaca, digestão, micção, defecação, manutenção de pressão sanguínea
e temperatura), os sentidos, a percepção da dor, o controle focal e urinário, a função sexual e os músculos
que promovem a abertura dos olhos (OLIVEIRA et al., 2013).

5.1.2.3 Tratamento

O tratamento para pessoas portadoras de ELA é composto de medicamento neuroprotetor e atenção


aos sintomas.

Muitos estudos estão sendo desenvolvidos no mundo para o aprimoramento de medicamentos que
possam frear a evolução da doença. Atualmente, 24 medicamentos encontram‑se em diferentes fases de
estudos experimentais ao redor do mundo. Entretanto, apenas a riluzole é aprovada como terapêutica
para a ELA. Essa droga promove a inibição da liberação do glutamato na fenda sináptica e deve ser
adiministrada a cada 12 horas, longe do horário das refeições (OLIVEIRA et al., 2013).

O tratamento sintomático contribui para o alívio dos sintomas que mais interferem na manutenção
da saúde e na busca pela QV dos pacientes portadores de ELA:

Suporte respiratório: por meio da ventilação mecânica invasiva ou não invasiva, preferencialmente
a última.

Suporte nutricional: inicialmente se dá por meio do preparo diferenciado das refeições, incluindo
alteração da consistência dos alimentos, alimentação assistida e suplementos nutricionais de alta
caloria (ROSENFELD; ELLIS, 2008). O momento da introdução da alimentação entérica é discutido.
Preferencialmente ela deve acontecer quando o paciente tem episódios frequentes de aspiração,
envolvimento bulbar significante ou mais que 10% de perda do peso corporal normal antes do
diagnóstico (ROCHA et al., 2005).

Tratamento da sialorreia: com hioscina oral ou transdérmica, atropina em gotas, glicopirrolato ou


amitriptilina. Também deve‑se fornecer aspirador doméstico e orientar o procedimento

Depressão, ansiedade e insônia: devem ser tratadas com amitriptilina ou inibidores seletivos da
recaptação de serotonina para depressão, amitriptilina ou hipnóticos para insônia e bupropiona ou
benzodiazepínicos para ansiedade (XEREZ, 2008).

5.1.2.4 Assistência de enfermagem

Para o planejamento da assistência de enfermagem aos portadores de ELA, a avaliação dos sinais e
sintomas, a identificação dos problemas de enfermagem e o julgamento clínico na elaboração dos DEs
são necessários.

Visto que a alteração dos neurônios motores pode afetar outros sistemas, muitos DEs poderiam ser
identificados, o que depende de cada caso. Trataremos aqui dos DEs relacionados aos principais sinais e
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sintomas da ELA: a imobilidade, as alterações respiratórias, a disartria, a disfagia e a tristeza e a falta de


esperança diante do diagnóstico e da perda funcional progressiva. Dessa forma, os principais DEs que
podem ser identificados diante de um paciente com ELA são, segundo a classificação da Nanda‑I (2015):

• Mobilidade física prejudicada: limitação no movimento físico independente e voluntário do corpo


ou de uma ou mais extremidades.

• Risco de úlcera de pressão: vulnerabilidade à lesão localizada na pele e/ou tecido subjacente,
normalmente sobre saliência óssea, em consequência de pressão ou pressão combinada por forças
de cisalhamento.

• Desobstrução ineficaz de vias aéreas: incapacidade de eliminar secreções ou obstruções do trato


respiratório para manter a via aérea desobstruída.

• Comunicação verbal prejudicada: habilidade diminuída, retardada ou ausente para receber,


processar, transmitir e usar um sistema de símbolos.

• Deglutição prejudicada: funcionamento anormal do mecanismo de deglutição associado a deficit


na estrutura ou função oral, faríngea ou esofágica.

• Desesperança: estado subjetivo no qual um indivíduo não enxerga alternativas ou escolhas


pessoais disponíveis ou enxerga alternativas e é incapaz de mobilizar energias a seu favor.

O quadro a seguir mostra os principais DEs identificados em pessoas portadoras de ELA, suas
características definidoras e fatores relacionados:

Quadro 31 – Principais DEs em portadores de ELA

Diagnósticos de enfermagem Características definidoras/fatores de Fatores relacionados


(DEs) risco
Amplitude limitada do movimento
Dificuldade para virar‑se Prejuízo músculo‑esquelético
Mobilidade física prejudicada Instabilidade postural Controle muscular diminuído
Capacidade limitada para desempenhar as
atividades motoras grossas
Risco de úlcera de pressão Redução da mobilidade ‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑
Desobstrução ineficaz de vias aéreas Tosse ausente Disfunção neuromuscular
Comunicação verbal prejudicada Dificuldade para formar palavras (disartria) Prejuízo no sistema nervoso central
Ação ineficaz da língua na formação do
Deglutição prejudicada Lesão encefálica
bolo alimentar
Alterações no padrão de sono
Desesperança Resposta diminuída aos estímulos Deterioração da condição fisiológica
Passividade

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A partir dos DEs mais comuns aos portadores de ELA, foram elaboradas as intervenções de
enfermagem necessárias para esses pacientes, com base na classificação proposta pela NIC
(BULECHEK et al., 2016).

Quadro 32 – Relação entre DEs, intervenções e atividades de


enfermagem aos pacientes portadores de ELA

DE: Mobilidade física prejudicada


Intervenção Atividades
Atentar à cultura e à idade do paciente ao propiciar auxílio no autocuidado
Verificar a necessidade do paciente de auxílio na higiene pessoal, vestir‑se,
arrumar‑se, realizar higiene íntima e alimentar‑se
Propiciar artigos pessoais desejados
Assistência no autocuidado Fornecer assistência até que o paciente seja capaz de realizar suas atividades por
completo
Ajudar o paciente na aceitação da sua dependência
Encorajar a independência, mas interferir quando o paciente tiver dificuldade de
desempenhar as atividades
DE: Desobstrução ineficaz de vias aéreas
Intervenção Atividades
Posicionar o paciente de modo a maximizar o potencial ventilatório
Realizar aspiração endotraqueal ou orotraqueal
Controle de vias aéreas: facilitação da Orientar como tossir efetivamente, se possível
permeabilidade à passagem do ar
Auscultar sons respiratórios
Regular a ingestão de líquidos para manter o equilíbrio hídrico
Intervenção Atividades
Realizar cuidados à traqueia a cada quatro ou oito horas: higienizar a cânula
interna, limpar e secar área ao redor do estoma e trocar fixação da traqueostomia
Inspecionar e palpar para verificar a presença de ar sob a pele a cada oito horas
Monitorar a presença de dor
Controle de vias aéreas artificiais:
manutenção de tubos endotraqueais Proteger a traqueostomia da água
e de traqueostomia e prevenção de Manter decúbito elevado
complicações associadas ao seu uso Realizar a aspiração endotraqueal
Realizar aspiração de boca e faringe
Realizar cuidados orais
Manter a insuflação do balonete da traqueostomia
Intervenção Atividades
Monitorar frequência, ritmo, profundidade e esforço das respirações
Observar movimentos torácicos, notando a simetria, a utilização de musculatura
acessória e a retração da musculatura supraclavicular e intercostal
Monitorar saturação de oxigênio em pacientes de alto risco
Palpar para verificar expansão pulmonar simétrica
Monitoração respiratória: coleta e
análise de dados de pacientes para Monitorar quanto à fadiga muscular diafragmática
assegurar a perviedade das vias aéreas Auscultar sons respiratórios
e troca gasosa adequada Determinar a necessidade de aspiração após ausculta
Auscultar os sons pulmonares após tratamentos
Monitorar quanto a agitação e inquietação
Monitorar secreções respiratórias
Monitorar quanto à dispneia

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DE: Risco de úlcera de pressão


Intervenção Atividades
Utilizar um colchão apropriado
Evitar aplicar pressão sobre a parte corporal afetada
Facilitar pequenas trocas de peso corporal
Realizar mudança de decúbito
Controle da pressão: minimização da Monitorar a pele quanto a áreas de hiperemia e lesão
pressão sobre partes corporais Usar uma ferramenta de avaliação de risco estabelecida para monitorar os
fatores de risco do paciente
Aplicar protetores de calcanhar quando apropriado
Monitorar o estado nutricional do paciente
Monitorar para fontes de pressão e atrito
DE: Comunicação verbal prejudicada
Intervenção Atividades
Monitorar velocidade, pressão, ritmo, quantidade e volume de fala e dicção
Monitorar processos cognitivos, anatômicos e fisiológicos associados à
capacidade da fala (memória, audição e linguagem)
Melhora da comunicação: deficit de
Monitorar paciente quanto a frustração, raiva, depressão ou outras respostas à
fala fala comprometida
Fornecer métodos alternativos de comunicação de voz
Repetir o que o paciente disse para garantir a precisão
DE: Deglutição prejudicada
Intervenção Atividades
Elevar decúbito o mais alto possível durante a alimentação
Prevenção ou minimização dos fatores Manter a cabeceira da cama elevada de 30 a 45 minutos após a alimentação
de risco em pacientes com risco de Manter o balonete traqueal insuflado, conforme o apropriado
aspiração Supervisionar a alimentação e auxiliar se necessário
Identificar necessidade de alteração da forma de preparo dos alimentos
DE: Desesperança
Intervenção Atividades
Auxiliar o paciente/família a identificar áreas de esperança em sua vida
Expandir o repertório do paciente com mecanismos para enfrentamento da situação
Promoção da esperança: melhora Auxiliar o paciente a expandir‑se espiritualmente
da crença na capacidade do próprio Facilitar a incorporação do paciente à perda pessoal da sua imagem corporal
indivíduo para iniciar e manter ações Envolver ativamente o paciente no seu próprio cuidado
Desenvolver um plano de cuidados que envolva metas atingíveis
Fornecer oportunidade de envolvimento em grupos de apoio

5.2 Afecções do sistema digestório

As alterações do sistema digestório podem atingir os diversos órgãos que o compõem. Discutiremos as
doenças mais comuns entre as que atingem esse sistema e que são frequentes na prática clínica diária do
enfermeiro. Trataremos aqui de situações que atingem o estômago e o intestino: gastrite e úlcera e constipação.
5.2.1 Gastrite e úlcera gástrica

A gastrite e a úlcera gástrica são doenças que levam à lesão da mucosa gástrica. Na gastrite essa
lesão é superficial, enquanto na úlcera gástrica a erosão pode estender‑se profundamente, até as
camadas musculares do estômago.
105
Unidade III

Por sua etiologia estar ligada a fatores ambientais bastante comuns na população nos dias de
hoje, como o estresse, o uso de medicamentos e a alimentação inadequada, as taxas de prevalência
das doenças são altas. A gastrite é rara em crianças; ocorre com maior frequência em adultos
com mais de 60 anos, em que a prevalência passa dos 50% (ZEITUNE; MONICE, 2000). Já a úlcera
gástrica aparece mais nos homens do que nas mulheres, embora a diferença esteja caindo no
decorrer dos anos. Apesar dos baixos índices de mortalidade associados à doença, sua recidiva
é alta e sua morbidade impacta pelo alto custo econômico e pela queda da produtividade no
trabalho (PETROIANU; SILVA; ALBERTI, 2002).

5.2.1.1 Fisiopatologia

Gastrites

As gastrites são caracterizadas por um processo inflamatório desenvolvido na mucosa gástrica. Esta
se torna edemaciada e hiperemiada e sofre lesão superficial. A mucosa passa a secretar pouco ácido e
muito muco, o que dificulta a fase inicial da digestão (SMELTZER et al., 2010).

Podem ser caracterizadas como agudas ou crônicas. As gastrites agudas estão associadas à ingestão
de alimentos contaminados ou muito temperados, ao uso de anti‑inflamatórios não estereoidais, à
ingestão excessiva de álcool e ao refluxo da bile. Já a gastrite crônica, que é a inflamação prolongada
da mucosa, está fortemente ligada à presença da bactéria Helicobacter pylori (HP). Também pode estar
ligada a doença autoimune, ao uso de medicamentos, alimentação inadequada, consumo de álcool,
estresse por traumas, procedimentos cirúrgicos, septicemia, insuficiência hepática, irradiação e infecções
sistêmicas (DDINE et al., 2102).

A infecção pela bactéria HP leva a um processo inflamatório inicial da mucosa, mas poucas pessoas
percebem os sintomas nessa fase. Por motivos ainda não conhecidos, a persistência da bactéria na
mucosa leva à gastrite crônica. Sabe‑se que a prevalência da HP entre pacientes é bastante alta e passa
dos 50% da população com a doença (DDINE et al., 2012).

Saiba mais

Para saber mais sobre a relação da HP com as úlceras gástrica e gastrites, acesse:

LADEIRA, M. S. P; SALVADORI, D. M. F; RODRIGUES, M. A. M . Biopatologia


do Helicobacter pylori. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial,
Rio de Janeiro, v. 39, n. 4, p. 335‑342, 2003. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676‑24442003000400011
&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 7 jul. 2017.

106
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO

Úlcera gástrica

Diferentemente da gastrite, na úlcera gástrica, a lesão não é superficial, e a erosão atinge camadas mais
profundas do estômago e destrói a musculatura gástrica. Normalmente, o ácido expelido pela mucosa
para que o processo de digestão ocorra é suportado pela mesma mucosa, visto que há mecanismos de
defesa nesse tecido. Quando o desequilíbrio acontece, surge a lesão decorrente da hipersecreção ácida
ou da diminuição dos processos de defesa. A úlcera gástrica, na maior parte das vezes, é resultado do
decréscimo das defesas da mucosa. A infecção por HP está presente na maior parte das úlceras gástricas
(figura a seguir) (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2005)

Defesas diminuídas
Diminuição na produção de muco
DIminuição da perfusão sanguínea
Esvaziamento gástrico lento
Diminuição na produção de prostaglandina

Secreção ácida aumentada


Aines
Fumo
Álcool
Hiperacidez gástrica
Refluxo duodeno‑gástrico
Infecção por HP

Figura 24 – Representação esquemática da fisiopatologia da úlcera gástrica

5.2.1.2 Manifestações clínicas

As manifestações clínicas da gastrite e da úlcera gástrica são parecidas, mas mais intensas na úlcera
gástrica. O quadro a seguir mostra os sinais e sintomas da gastrite e da úlcera gástrica (SMELTZER et al., 2010):

Quadro 33 – Manifestações clínicas da gastrite e da úlcera gástrica

Manifestações clínicas
Gastrite Úlcera gástrica
Desconforto abdominal Dor
Náuseas Pirose
Anorexia Vômitos
Vômitos Sangramento
Sangramento leve Distensão abdominal

107
Unidade III

A dor característica de úlcera gástrica é decorrente da erosão do tecido que estimula suas terminações
nervosas. É aliviada pela alimentação, já que essa diminui a acidez na cavidade. Ao exame físico, a dor
aparece na pressão da região epigástrica, ligeiramente à direita da linha média. Já a pirose é uma sensação de
queimação no esôfago e estômago que se movimenta para cima, no sentido da boca (SMELTZER et al., 2010).

Os vômitos são decorrentes da obstrução do orifício pilórico, que é consequência do espasmo


muscular do piloro, de obstrução causada pela cicatrização ou edema agudo na mucosa inflamada.
O vômito é precedido de dor intensa e contém, na maior parte das vezes, alimentos não digeridos
(SMELTZER et al., 2010)

O sangramento na gastrite é leve e decorrente da lesão superficial da mucosa. Já na úlcera essa


lesão é mais grave, o sangramento é maior e pode evoluir para uma hemorragia digestiva alta, com risco
maior de desidratação e choque.

5.2.1.3 Tratamento

O tratamento para a gastrite e para a úlcera gástrica baseia‑se no uso de medicamentos e alterações
no estilo de vida. O tratamento medicamentoso usa a antibioticoterapia para combater a HP e
inibidores da bomba de prótons, que diminuem a secreção ácida no estômago, lentificando a bomba
hidrogênio‑potássio‑adenosina‑trifosfatase na superfície das células parietais (SÃO BERNARDO DO
CAMPO, 2014) (quadro a seguir).

Saiba mais

Para aprofundar seus conhecimentos do mecanismo de ação dos


inibidores da bomba de prótons, consulte:

BRAGA, M. P.; SILVA, C. B. da; ADAMS, A. I. H. Inibidores da bomba de


prótons: revisão e análise farmacoeconômica. Saúde, Santa Maria, v. 37, n.
2, p. 19-32, 2011. Disponível em: <https://periodicos.ufsm.br/revistasaude/
article/viewFile/2963/2655>. Acesso em: 7 jul. 2017.

Quadro 34 – Tratamento para as gastrites e úlceras gástricas

Modificações do estilo de vida Inibidores da bomba de prótons Antibioticoterapia


Rever medicações Omeprazol Amoxicilina 1,0 g e claritromicina
0,5 g, administradas duas vezes por
Alimentação saudável dia durante 7 dias
Redução do peso
Suspensão do tabagismo
Evitar: álcool, café, chocolate, frutas
ácidas, pimenta, molho de tomate e
refrigerantes

108
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO

5.2.1.4 Assistência de enfermagem

Para o planejamento da assistência de enfermagem aos portadores de gastrites e úlceras gástricas,


devem ser realizados a avaliação dos sinais e sintomas, a identificação dos problemas de enfermagem e
o julgamento clínico para elaboração dos DEs.

Os DEs que aparecem com maior frequência em portadores de gastrites e úlceras gástricas estão
listados a seguir com as suas respectivas definições, baseadas na classificação proposta por Nanda‑I
(2015). Outros DEs podem ser identificados nesses pacientes, dependendo da gravidade da doença e dos
sinais e sintomas encontrados.

• Risco de volume de líquidos deficiente: vulnerabilidade à diminuição do líquido intravascular,


intersticial e/ou intracelular, o que pode comprometer a saúde.

• Nutrição desequilibrada: menor que as necessidades corporais; ingestão insuficiente de nutrientes


para satisfazer às necessidades metabólicas.

• Dor aguda: experiência sensorial e emocional desagradável, que surge de lesão tissular potencial
ou real ou descrita em termos de tal lesão e com duração de menos de seis meses.

O quadro a seguir mostra os principais DEs identificados em pessoas portadoras de gastrites e úlceras
gástricas, suas características definidoras e seus fatores relacionados:

Quadro 35 – DEs frequentes em portadores de gastrites e úlceras gástricas

Diagnósticos de enfermagem Características definidoras/ Fatores relacionados


(DEs) fatores de risco
Risco de volume de líquidos Perda ativa de volume de líquidos -------------
deficiente
Nutrição desequilibrada: menor que Dor abdominal Fatores biológicos
as necessidades corporais
Autorrelato da intensidade da dor
usando escala padronizada de dor
Autorrelato da característica
Dor aguda usando escala padronizada de dor Agente lesivo biológico
Expressão facial de dor
Mudanças nos parâmetros
fisiológicos

A partir dos DEs mais comuns aos portadores de gastrites e úlceras gástricas, foram elaboradas
intervenções com base na classificação proposta pela NIC (BULECHEK et al., 2016).

109
Unidade III

Quadro 36 – Relação entre DEs, intervenções e atividades


de enfermagem aos pacientes portadores de gastrites e úlceras gástricas

DE: Risco de volume de líquidos deficiente


Intervenção Atividades
Avaliar vômito em relação a cor, consistência, presença de sangue,
horário e força utilizada
Mensurar ou estimar volume do vômito
Posicionar o paciente para prevenir aspiração
Controle do vômito: previsão e alívio Fornecer apoio físico durante os vômitos
de episódios de vômito
Fornecer medidas de conforto
Realizar higiene oral e do nariz
Manter o ambiente limpo e livre de odores desagradáveis
Monitorar o equilíbrio hidroeletrolítico
DE: Dor aguda
Intervenção Atividades
Avaliar a dor quanto a sua localização, características, início/
duração, frequência, qualidade e intensidade
Controle da dor: alívio da dor ou Observar presença de expressões não verbais de dor
redução da dor até um nível de
conforto que seja aceitável para o Verificar fatores que melhoram ou pioram a dor
paciente
Determinar uma frequência de avaliação da dor
Reduzir ou eliminar fatores que propiciem o aumento da dor
DE: Nutrição desequilibrada: menor que as necessidades corporais
Intervenção Atividades
Estabelecer uma relação terapêutica baseada em confiança e
respeito
Estabelecer a duração do aconselhamento nutricional
Determinar os hábitos de consumo alimentar e de alimentação
do paciente
Aconselhamento nutricional Facilitar a identificação de comportamentos alimentares a
serem mudados
Estabelecer metas realistas
Discutir sobre o que o paciente gosta ou não de comer
Discutir o significado da comida para o paciente

5.3 Constipação

A constipação é uma situação clínica que pode estar ligada a diferentes fatores. É definida como
a frequência anormal ou irregularidade da defecação, com endurecimento das fezes, o que dificulta a
sua eliminação. Também pode ser caracterizada por volume de fezes diminuído ou retenção das fezes
no reto por um período prolongado. A figura a seguir mostra a etiologia da constipação (TIMBY, 2005):

110
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO

• Tranquilizantes
• Anticolinérgicos
Medicamentos • Antidepressivos
• Opioides
• Antiácidos

Distúrbios • Hemorroidas
retais ou anais • Fissuras

Condições • Diabetes mellitus


neuromusculares,
neurológicase • Doença de Parkinson
metabólicas • Esclerose múltipla

Distúrbios do tecido • Esclerodermia


conjuntivo • Lupus

Figura 25 – Etiologia da constipação

5.3.1 Fisiopatologia

Em termos de fisiopatologia, a constipação intestinal pode ser dividida em: constipação de trânsito
intestinal normal (funcional), distúrbio de defecação e constipação de trânsito lento. Na primeira,
a passagem das fezes pelo intestino tem fluxo normal, mas o paciente relata fezes endurecidas ou
considera a frequência anormal. Está associada aos hábitos alimentares, como diminuição da ingestão
de fibras e líquidos. Já os distúrbios de defecação decorrem da disfunção do assoalho pélvico ou do
esfíncter anal e estão ligados a dor ao evacuar, hemorroidas, fissuras ou alterações estruturais, que são
mais raras. Na constipação de trânsito lento, a motilidade intestinal está diminuída, consequência da
diminuição do número de neurônios do plexo mioentérico ou outras alterações (GALVÃO‑ALVES, 2013).

5.3.2 Tratamento

O tratamento da constipação inicia‑se pela alteração da dieta, com a inclusão de alimentos ricos
em fibras e o aumento da hidratação, e segue com o tratamento medicamentoso: ingestão de fibra
suplementar, laxantes osmóticos e laxantes lubrificantes (GALVÃO‑ALVES, 2013).

Dieta rica em fibras e hidratação

Fibras suplementares

Laxante osmótico

Laxante lubrificante

Figura 26 – Algoritmo para o tratamento da constipação

111
Unidade III

5.3.3 Assistência de enfermagem

Para o planejamento da assistência de enfermagem aos portadores de constipação, devem ser


realizados a avaliação dos sinais e sintomas, a identificação dos problemas de enfermagem e o julgamento
clínico para elaboração dos DEs.

Os DEs que aparecem com maior frequência em portadores de constipação estão listados a seguir
com as suas respectivas definições, baseadas na classificação proposta por Nanda‑I (2015):

• Constipação: diminuição da frequência normal de evacuação acompanhada por passagem


de fezes difícil ou incompleta e/ou eliminação de fezes excessivamente duras e secas.

• Constipação percebida: autodiagnóstico de constipação e abuso de laxantes para garantir o


movimento intestinal diário.

O quadro a seguir mostra os principais DEs identificados em pessoas portadoras de constipação, suas
características definidoras e seus fatores relacionados:

Quadro 37 – DEs frequentes em portadores de constipação

Diagnósticos de enfermagem Características definidoras/ Fatores relacionados


(DEs) fatores de risco
Abdome distendido
Dor à evacuação
Dor abdominal
Esforço para evacuar
Fatores funcionais, mecânicos,
Constipação Fezes duras e formadas farmacológicos, fisiológicos e
psicológicos
Incapacidade para defecar
Mudança no padrão intestinal
Redução na frequência das fezes
Redução no volume das fezes
Crenças culturais de saúde
Expectativa de evacuação no mesmo
Constipação percebida horário todos os dias Crenças familiares de saúde
Expectativa de movimento intestinal diário Processos de pensamento
prejudicados

A partir dos DEs mais comuns aos portadores de constipação, foram elaboradas as
intervenções de enfermagem necessárias, baseadas na classificação proposta pela NIC
(BULECHEK et al. , 2016).

112
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO

Quadro 38 – Relação entre DEs, intervenções e


atividades de enfermagem aos pacientes portadores de constipação

DE: Constipação/Constipação percebida


Intervenção Atividades
Monitorar quanto a sinais e sintomas de constipação
Monitorar movimentos intestinais: frequência,
consistência, forma, volume e cor
Monitorar sons intestinais
Identificar os fatores que contribuem para a constipação
Controle da constipação/impactação:
prevenção e alívio da Incentivar o aumento da ingestão de líquidos
constipação/ impactação Orientar paciente/família sobre o aumento da ingestão
de fibras na alimentação
Orientar paciente/família sobre a relação entre dieta,
exercícios e ingestão de líquidos para constipação/
impactação
Administrar enema ou irrigação conforme necessário

Observação

Impactação fecal: fezes endurecidas acumuladas no reto.

6 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AOS PORTADORES DE AFECÇÕES DO


SISTEMA URINÁRIO E DO SISTEMA ENDÓCRINO

6.1 Afecções do sistema urinário

6.1.1 Litíase renal

A litíase renal, também chamada de urolitíase, define‑se pela presença de cálculos (pedras) no
trato urinário (SMELTZER et al., 2010). É uma condição bastante comum na população mundial, com
incidência de 5% a 15%. É a terceira causa de alterações no trato urinário. É mais comum entre
homens e em adultos jovens. No ano de 2016, foi motivo de internação de mais de 70 mil brasileiros
(BRASIL, 2015).

6.1.1.1 Fisiopatologia

A formação dos cálculos no sistema urinário está associada a um processo multifatorial, que envolve
o aumento dos promotores da excreção de substâncias formadoras de cálculos e a diminuição nos
fatores que causam sua inibição. Cerca de 85% das litíases renais são causadas por cálculos de cálcio.
Podem ser classificadas em hipercalciúria absortiva, hipercalciúria renal, hipercalciúria reabsortiva,
hiperuricosúria, hipocitratúria e hipomagnesúria, conforme a forma como o cálculo é formado (GOMES,
2005) (quadro a seguir).

113
Unidade III

Quadro 39 – Mecanismos de formação das litíases renais cálcicas

Tipos de litíase cálcica Mecanismo de formação do cálculo


Existe um aumento da absorção de cálcio no intestino. O aumento
do cálcio na corrente sanguínea leva à diminuição da produção do
hormônio da paratireoide, o que, por sua vez, diminui a reabsorção
Hipercalciúria absortiva de cálcio no túbulo distal. Assim, o aumento do cálcio que chega ao
rim e a diminuição da reabsorção dele no túbulo distal aumentam a
quantidade de cálcio excretada na urina
Hipercalciúria renal Decorrente do comprometimento da reabsorção tubular de cálcio
Causada pelo aumento da secreção do hormônio paratireóideo. Com
isso ocorre o aumento da reabsorção de cálcio no túbulo distal e o
Hipercalciúria reabsortiva aumento do cálcio sérico. Além disso, o hormônio estimula a absorção
do cálcio no intestino. O grande aumento do cálcio circulante aumenta
a excreção de cálcio na urina, pela sobrecarga renal da substância

Hiperuricosúria O ácido úrico em excesso diminui a produção de substâncias inibidoras


da formação de cálculos
O citrato é uma substância capaz de diminuir a cristalização e impedir
Hipocitratúria a formação do cálculo. A diminuição da concentração dessa substância
na urina favorece a formação de cálculos
O magnésio tem um papel inibidor da nefrolitíase ao aumentar a
Hipomagnesúria solubilidade do oxalato e do fosfato de cálcio

Com menor frequência na população, os cálculos também podem ser formados por ácido úrico,
cistina ou infecção.

6.1.1.2 Fatores de risco

O quadro a seguir traz os principais fatores de risco para o desenvolvimento de litíase renal segundo
a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) (2002).

Quadro 40 – Fatores de risco para o desenvolvimento de litíase renal

• Sexo: masculino (mais comumente)


• Idade: jovens, entre a terceira e a quarta década de vida
• Alterações anatômicas do trato urinário (duplicidade pielocalicial, rins policísticos, rim em ferradura, rim
espongiomedular etc)
• Fatores epidemiológicos (clima quente, exposição ao calor ou a ar condicionado no trabalho, dieta com maior
consumo de proteína animal e sal, sedentarismo)
• Fatores genéticos/familiares
• Distúrbios metabólicos (hipercalciúria idiopática)
• Infecção do trato urinário (principalmente por germes produtores de urease)
• Doenças endócrinas que interferem sobre o metabolismo de cálcio (mais comumente hiperparatireoidismo primário)
• Alterações do pH urinário (pH alcalino: acidose tubular renal ou infecção por germes produtores de urease; pH ácido:
diátese gotosa)
• Redução do volume urinário
• Imobilização prolongada
• Uso de drogas litogênicas (por indução de alterações metabólicas ou precipitação da própria droga ou de seu metabólito)

114
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO

6.1.1.3 Manifestações clínicas

As manifestações clínicas das litíases renais dependem da localização do cálculo.


Independentemente de onde os cálculos estejam localizados, a presença do cálculo pode levar
à obstrução, à infecção e ao edema. Alguns cálculos não causam sintoma algum, mas, devido
aos fatores apresentados, precipitam, silenciosamente, a destruição do tecido renal. Os cálculos
podem estar na pelve renal, nos ureteres e na bexiga e levam respectivamente aos sintomas
descritos na figura a seguir:

Cálculo na pelve renal Cálculo nos ureteres Cálculo na bexiga


• Dor intensa e profunda na • Dor aguda, em cólica, que • Hematúria
região costovertebral se irradia para a coxa e a
genitália • Retenção urinária
• Piúria
• Pouca eliminação de urina
• Náusea
• Hematúria
• Vômito
• Desconforto abdominal

Figura 27 – Manifestações clínicas de litíase renal associada à localização do cálculo

6.1.1.4 Tratamento

Na crise aguda, o tratamento é composto por hidratação, antieméticos, anti‑inflamatórios não


esteroidais, antiespasmódicos, morfina e seus derivados. Visa à minimização dos sintomas.

No tratamento medicamentoso, o principal objetivo é eliminar ou reduzir as alterações metabólicas


que levam à formação do cálculo. Assim, medicamentos específicos para as diferentes formas de
construção do cálculo são implantados na prática clínica (SBN, 2002).

Tiazida: indicado para a hipercalciúria renal. É um diurético que corrige a excreção aumentada
de cálcio ao aumentar a sua reabsorção tubular distal e ao causar perda do volume extracelular com
estimulação da reabsorção tubular proximal.

Citrato de potássio: indicado na hipocitratúria. O aumento da eliminação do citrato permite que


ele seja ligado ao cálcio, diminuindo a excreção deste e a formação de cálculos de cálcio.

Alopurinol: diminui a produção, a concentração e a excreção urinária de ácido úrico, através da


inibição da enzima xantina‑oxidase. Dessa forma é prescrito em situações de formação de cálculos de
ácido úrico e de cálculos de cálcio em doentes hiperuricosúricos.

Outras drogas específicas para processos mais raros de formação de cálculos podem ser utilizados.

As medidas dietéticas ainda são bastante discutidas na prática clínica. É clara a necessidade do
aumento da ingestão de líquidos tanto no tratamento quanto na profilaxia da litíase renal. Também
fica indicada a restrição da substância do metabolismo que causa a formação do cálculo. Em relação
115
Unidade III

à diminuição da ingestão de cálcio na dieta, as medidas são ainda questionáveis em virtude das ações
deletérias ao organismo que essa ação pode gerar.

Caso as crises sejam persistentes ao tratamento medicamentoso, a retirada do cálculo por meio de
procedimentos cirúrgicos ou endoscópicos estará indicada.

6.1.1.5 Assistência de enfermagem

Para o planejamento da assistência de enfermagem aos portadores de litíase renal, devem ser
realizados a avaliação dos sinais e sintomas, a identificação dos problemas de enfermagem e o julgamento
clínico para elaboração dos DEs.

Os DEs que aparecem com maior frequência em portadores de litíase renal estão listados a seguir
com as suas respectivas definições, baseadas na classificação proposta por Nanda‑I (2015):

• Dor aguda: experiência sensorial e emocional desagradável, que surge de lesão tissular potencial
ou real ou descrita em termos de tal lesão e com duração de menos de seis meses.

• Retenção urinária: esvaziamento vesical incompleto.

O quadro a seguir mostra os principais DEs identificados em pessoas portadoras de litíase renal, suas
características definidoras e seus fatores relacionados:

Quadro 41 – DEs frequentes em portadores de litíase renal

Diagnósticos de Características definidoras/ Fatores relacionados


enfermagem (DEs) fatores de risco
Retenção urinária Eliminação urinária pequena Bloqueio do trato urinário
Dor aguda Autorrelato da intensidade da dor Agente lesivo biológico
usando escala padronizada de dor
Autorrelato da característica
usando escala padronizada de dor
Expressão facial de dor
Mudanças nos parâmetros
fisiológicos

A partir dos DEs mais comuns aos portadores de litíase renal, foram elaboradas as intervenções de
enfermagem necessárias, baseadas na classificação proposta pela NIC (BULECHEK et al., 2016).

116
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO

Quadro 42 – Relação entre DEs, intervenções e atividades


de enfermagem aos pacientes portadores de litíase renal

DE: Retenção urinária


Intervenção Atividades
Monitorar a eliminação urinária, incluindo frequência,
consistência, odor, volume e cor
Monitorar quanto aos sinais e sintomas de
retenção urinária
Controle da eliminação urinária: manutenção de um Orientar quanto a sinais e sintomas de infecção do
padrão excelente de eliminação urinária trato urinário
Orientar paciente/família a registrar o débito urinário
Orientar o paciente a responder imediatamente às
urgências miccionais
Orientar a ingestão de líquidos conforme o apropriado
DE: Dor aguda
Intervenção Atividades
Avaliar a dor quanto a sua localização, características,
início/duração, frequência, qualidade e intensidade
Observar presença de expressões não verbais de dor
Controle da dor: alívio da dor ou redução da dor até Verificar fatores que melhoram ou pioram a dor
um nível de conforto aceitável para o paciente
Determinar uma frequência de avaliação da dor
Reduzir ou eliminar fatores que propiciem o aumento
da dor

6.2 Afecções do sistema endócrino

6.2.1 Diabetes mellitus (DM)

O DM pode ser definido como uma síndrome de múltiplas etiologias, com componentes metabólicos,
vasculares e neuropáticos, caracterizada por hiperglicemia crônica e distúrbios no metabolismo de
carboidratos e proteínas. Esses distúrbios são secundários à ausência ou diminuição da produção de
insulina e/ou ineficiência de sua ação (SBD, 2003).

O DM é uma das doenças crônicas mais prevalentes na atualidade e atinge proporções epidêmicas
em todo o mundo (SBD, 2006). Estima‑se que, em 2025, existirão 333 milhões de indivíduos, entre 20 a
79 anos de idade, portadores da doença no mundo, e dois terços desses indivíduos viverão em países em
desenvolvimento, nos quais a epidemia é mais intensa e afeta pessoas cada vez mais jovens (IDF, 2003).

A doença está presente em países em todos os estágios de desenvolvimento, acometendo pessoas de


todas as idades e classes socioeconômicas. O estilo de vida do homem atual amplia sua incidência, tendo
em vista a incorporação de hábitos que favorecem a obesidade e o sedentarismo. Outros fatores, como o
envelhecimento populacional, o aumento da população mundial e a urbanização, também contribuem
para as elevadas taxas de incidência e prevalência (WILD et al., 2004).

117
Unidade III

Apesar da tendência mundial de aumento da doença, existem muitas diferenças na prevalência


de DM entre os diversos países e grupos étnicos. Taxas mais elevadas foram encontradas em Nauru,
na Oceania, e entre os índios Pima, no Arizona, Estados Unidos da América (EUA), onde praticamente
metade da população adulta apresenta DM (MILECH et al., 2016).

No Brasil, os dados epidemiológicos são escassos. No final da década de 1980, a prevalência de


diabetes entre indivíduos de 30 a 69 anos era de 7,6%. Um estudo mais recente desenvolvido em
Ribeirão Preto (SP) indica uma prevalência de 12,1% (TORQUATO et al., 2003).

De 2000 a 2010, o diabetes foi a causa de 470 mil mortes em todo o Brasil. Nesse período, o número
aumentou de 35,2 mil para 54,8 mil. Isso significa que a taxa de mortalidade cresceu de 20,8 para 28,7
mortes por 100 mil habitantes. As mulheres são as mais atingidas. A taxa de mortalidade aumenta
conforme a idade. Já entre os anos de 2010 e 2012, os números apontam uma queda das internações
por DM e suas complicações (BRASIL, 2012).

6.2.1.1 Fisiopatolgia

A doença ocorre pela diminuição da produção da insulina e/ou resistência à insulina. A insulina é um
hormônio produzido pelo pâncreas que atua ligando‑se a receptores especiais na superfície da célula,
que promovem a abertura dos canais que permitem a entrada na glicose na célula. No DM, a produção
de insulina pelo pâncreas está ausente ou diminuída e/ou os receptores celulares de insulina tornam‑se
incapazes de ligar‑se a ela e então permitir a entrada de glicose na célula.

O DM tem sido classificado de diferentes formas. A última classificação proposta pela Sociedade
Brasileira de Diabetes (SBD) baseia‑se na etiologia da doença e classifica o DM em (MILECH et al., 2016):

DM do tipo 1: é causado pela progressiva destruição das células beta das ilhotas de Langerhans
do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Sua etiologia não é totalmente conhecida, mas
há evidências de componentes imunológicos, genéticos e ambientais. A presença dos marcadores
anticorpos anti‑ilhotas, anti‑insulina, ácido glutâmico e antitirosina‑fosfatase caracteriza a destruição
autoimune, principal processo de falência na produção de insulina. Geralmente inicia‑se na infância ou
na adolescência, podendo, em alguns casos, atingir o adulto jovem.

DM do tipo 2: atinge 90% da população com DM. Resulta da resistência à insulina e da diminuição
da produção de insulina em nível celular. Está ligado a fatores de risco ambientais para o desenvolvimento
da doença, como a hipertensão arterial sistêmica e a obesidade.

Outros tipos de DM: incluem defeitos genéticos da função das células beta do pâncreas, defeitos
genéticos na ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias; também pode ser
induzido por drogas ou substâncias químicas, infecções e outras síndromes genéticas.

Diabetes gestacional: a hiperglicemia desenvolve‑se durante a gestação em mulheres não


diabéticas. Pode desaparecer após o parto ou não.

118
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO

6.2.1.2 Manifestações clínicas

As manifestações clínicas da hiperglicemia são a poliúria, a polidpsia, a polifagia, o cansaço, a dor


nas pernas e o emagrecimento. Lembre‑se que no diabetes temos um sangue rico em glicose, mas uma
célula pobre, sentindo falta da glicose para poder obter sua energia.

• Poliúria: a glicemia alta promove um sangue bastante concentrado. Por difusão, o líquido
intersticial sai de onde está menos concentrado e migra para onde está mais concentrado, o
sangue, aumentando assim o volume plasmático. Todo esse volume passa pelo processo de
filtração renal, proporcionando então o aumento do débito de diurese.

• Polidipsia: a sede excessiva é decorrente da grande perda de líquido pela urina, que ativa os
mecanismos compensatórios e promove a sensação de sede.

• Polifagia: a célula pobre em glicose ativa mecanismos que indicam a necessidade de ingestão de
mais alimentos para suprir a sua falta. Isso explica a fome em excesso nos diabéticos.

• Emagrecimento: a condição de baixa concentração de glicose na célula estimula mecanismos que


propiciam a obtenção de glicose por meio de outras substâncias, incluindo os lipídeos. Reações
químicas permitem que o lipídeo, que forma o tecido adiposo, seja degradado e dê origem à glicose,
em um processo denominado lipólise. Assim, o tecido adiposo acaba diminuindo, promovendo o
emagrecimento, apesar da ingestão adequada ou aumentada de alimentos.

Cansaço fácil

Muita sede
Aumento
do apetite

Urina
aumentada
Emagrecimento

Figura 28 – Sinais e sintomas do DM

Fatores como excesso de medicamentos, jejum prolongado ou exercícios físicos inadequados podem levar à
queda da glicemia nos diabéticos. Essa situação é caracterizada por glicemia menor que 50 mg/dl acompanhada
de sintomas. Os sintomas da hipoglicemia são decorrentes da liberação da adrenalina na glândula suprarrenal
e da falta de glicemia cerebral. Assim, durante a hipoglicemia, os pacientes sentem taquicardia, tremores,
palpitação e sudorese, aliados a confusão mental, irritabilidade e rebaixamento do nível de consciência.
119
Unidade III

6.2.1.3 Complicações crônicas

A falta de adesão ao autocontrole, o deficit de conhecimento relacionado à doença e comportamentos


de autocuidado inapropriados comprometem o controle glicêmico e aumentam os efeitos da doença
ao longo dos anos, favorecendo o surgimento de complicações microvasculares, neuropáticas e
macrovasculares, descritas a seguir (SMELTZER et al., 2010).

As complicações microvasculares são causadas pelo espessamento da membrana basal que circunda
as células endoteliais dos capilares. Dois locais são especificamente afetados, a retina (retinopatia
diabética) e os rins (nefropatia diabética).

A retinopatia diabética é uma complicação visual, principal causa de amaurose total, adquirida em
pessoas com idade entre 16 e 64 anos, e acomete 90% das pessoas com DM1 com mais de vinte anos da
doença. É causada pelo comprometimento dos vasos da retina e tem três estágios principais: não proliferativa,
pré‑proliferativa e proliferativa. A retinopatia não proliferativa é a fase inicial da doença, caracterizada
pela formação de microaneurismas exsudativos. Na retinopatia pré‑proliferativa, a destruição dos vasos é
aumentada, e na proliferativa há crescimento anormal de novos vasos na retina, que se rompem e sangram,
bloqueando a luz. Há formação de cicatriz que pode tracionar e romper a retina. Além da retinopatia diabética,
os indivíduos com DM ficam mais vulneráveis ao glaucoma e à catarata do que a população não diabética.

A nefropatia diabética é uma complicação microvascular que acomete aproximadamente 40%


dos indivíduos com diabetes. Quando os níveis de glicose estão aumentados, a filtração renal fica
comprometida e há um extravasamento de proteínas na urina (microalbuminúria, macroalbuminúria
e proteinúria nos casos mais graves). Além disso, a hipertensão e o edema estão associados, e a
falência renal total pode ocorrer, ficando o indivíduo submetido às sessões de diálise. Os mecanismos
de deterioração da função renal pelo diabetes não estão totalmente esclarecidos, mas a hipertensão
glomerular e a ultrafiltração são fatores associados à insuficiência renal.

A neuropatia diabética é um grupo de doenças que afeta todos os tipos de nervo e, geralmente,
aparece em cinco ou mais anos do diagnóstico do DM1. Possui apresentações clínicas diversas, que
dependem de quais células nervosas foram afetadas. Acredita‑se que a exposição prolongada à
hiperglicemia cause desmielinização dos nervos e consequente alteração na condução nervosa.

A polineuropatia sensório‑motora é um tipo de neuropatia diabética que afeta os nervos


distalmente, em especial, os membros inferiores, causando ressecamento da pele e formação de fissuras.
Em conjunto com a neuropatia sensorial que leva à perda de sensação de dor e pressão, propicia a
formação de úlceras e amputação periférica. É importante ressaltar que esse tipo de complicação tem
sido classificada comumente como microvascular.

As complicações macrovasculares são causadas pelo espessamento das paredes dos vasos de
médio e grosso calibres, impedindo o fluxo sanguíneo adequado (aterosclerose). A doença coronariana,
a vascular periférica e o acidente vascular encefálico são as principais complicações macrovasculares.
Trata‑se da mesma doença que atinge a população geral, porém, na população diabética, é mais precoce,
mais frequente e mais grave.
120
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO

Além disso, a neuropatia autonômica cardiovascular, resultante da lesão dos nervos pela
hiperglicemia crônica, pode piorar o prognóstico da doença cardíaca coronariana e da insuficiência
cardíaca congestiva, além de ser responsável por mortes súbitas por arritmia cardíaca. Esse tipo de
neuropatia pode, também, apresentar manifestações urinárias, gastrointestinais, disfunções sexuais,
sudorese e ausência de sintomas de hipoglicemia.

6.2.1.4 Tratamento

O tratamento para o DM pode ser classificado em medicamentoso e não medicamentoso. Em


conjunto, eles podem propiciar o controle da hiperglicemia e o não aparecimento das complicações
crônicas da doença.

Tratamento não medicamentoso

O tratamento não medicamentoso do diabetes é dividido em: monitoração capilar domiciliar,


atividade física e controle alimentar.

A monitorização domiciliar da glicose é uma ferramenta eficaz no controle da glicemia,


pois viabiliza os ajustes no tratamento, possibilitando a detecção e prevenção das hipoglicemias
e hiperglicemias. Deve ser realizada com frequência maior naqueles que fazem o tratamento
intensivo e consiste na verificação da glicemia capilar e da cetonemia/cetonúria. Preconiza‑se que
o diabético do tipo 1 deva realizar entre quatro e oito monitorizações diárias (pré e pós‑prandiais
e na madrugada). O tratamento ideal associa a monitorização da glicemia capilar com o ajuste das
doses das insulinas de ação rápida ou ultrarrápida pré‑prandiais e, eventualmente, pós‑prandiais.
Além disso, a verificação da glicemia capilar deve ser feita sempre que sintomas de hipoglicemia
estiverem presentes. A cetonemia/cetonúria deve ser rastreada quando há outras doenças presentes,
hiperglicemia persistente e diariamente durante a gravidez. O método tradicional de verificação da
glicemia capilar é realizado por glicosímetros, que mensuram a glicemia por meio de uma gota de
sangue. A monitorização contínua da glicose é um método ainda não acessível à maior parte dos
indivíduos pelo seu alto custo (SBD, 2006).

A atividade física é preconizada como parte do tratamento do DM1 e, embora não melhore
necessariamente o controle metabólico no momento em que está sendo praticada, aumenta
a sensibilidade à ação da insulina, diminui as necessidades de insulina exógena, reduz riscos
cardiovasculares futuros, melhora o perfil lipídico, contribui para reduzir a hipercoagulabilidade
sanguínea, favorece mudanças na composição corporal, diminui o peso corporal, melhora a QV e
a autoestima e reduz o estresse. O risco de hipoglicemia durante o exercício ou após a sua prática
bem como a ocorrência de hiperglicemias pelo estímulo à gliconeogênese devem ser considerados,
prevenidos e devidamente tratados. A monitorização da glicemia capilar e a oferta adequada de
carboidratos devem ser realizadas antes, durante e após o exercício, além dos ajustes nas doses de
insulina (SBD, 2006).

A terapia nutricional (TN) é fundamental no tratamento do DM para atingir o controle metabólico


adequado. Os instrumentos necessários para a prescrição de uma terapia adequada são a determinação
121
Unidade III

do índice de massa corporal e a do perfil metabólico. O plano alimentar deve ser individualizado e
fornecer o valor calórico total compatível com a obtenção e manutenção do peso corporal ideal para a
idade (SBD, 2006).

Os principais objetivos da TN são: manutenção da glicemia o mais próximo da normalidade, aliada


a insulinoterapia e atividade física; controle do nível sérico de lipídeos; prevenção e tratamento das
complicações crônicas, hipoglicemia e cetoacidose diabética; e fornecimento dos nutrientes adequados
para a manutenção da saúde. Uma ferramenta que permite maior flexibilidade na escolha dos alimentos
e propicia melhor controle glicêmico é a contagem de carboidratos. É uma estratégia que associa o
cálculo da quantidade de carboidratos a ser ingerida com a oferta de uma quantidade adicional de
insulina, suficiente para minimizar a hiperglicemia pós‑prandial.

Tratamento medicamentoso

O tratamento medicamentoso para o controle do DM é dividido em antidiabéticos e insulinoterapia.


Os pacientes com DM do tipo 1 não tem indicação do uso de antidiabéticos, visto que suas células beta
estão destruídas e não podem ser estimuladas para excreção do hormônio. Assim, para esses pacientes,
é indicado o uso da insulina exógena.

Os antidiabéticos têm finalidades diferentes: aumentar a secreção de insulina, aumentar a


sensibilidade à insulina nos tecidos ou diminuir a absorção de glicose, aumentar a secreção de insulina
de maneira dependente de glicose, além de promover a supressão do glucagon e induzir à glicosúria. O
tratamento com antidiabéticos proposto pela SBD está no quadro a seguir (MILECH et al., 2016)

Quadro 43 – Tratamento do DM com antidiabéticos

Drogas Mecanismo de ação


Sulfonilureias Aumentam a produção de insulina
Metiglinidas Aumentam a produção de insulina
Biguanidas Reduzem a produção hepática de glicose, com menor ação sensibilizadora da ação insulínica
Inibidores da alfa‑glicosidase Retardam a absorção de carboidratos
Aumentam a sensibilidade à insulina em músculo, adipócito e hepatócito
Glitazonas (sensibilizadores da insulina)
O GLP‑1* é um hormônio que diminui o nível de glucagon após as refeições e
estimula a produção de insulina. Ele tem meia‑vida curta e é rapidamente destruído
pela enzima DPP‑4**. No DM do tipo 2, o nível desse hormônio está baixo e, portanto,
Gliptinas no pós‑brandial, o nível de glucagon não diminui e a produção de insulina fica
diminuída. O uso de medicamentos que inibem a ação da DPP‑4** é util ao portador
de DM tipo 2, visto que mantém o GLP‑1* agindo por mais tempo e, portanto,
aumenta a concentração desse hormônio na corrente sanguínea.
Aumentam o nível de GLP‑1* circulante. Assim diminuem o nível de glucagon e
Miméticos e análogos do GLP‑1 estimulam a produção de insulina
Inibidor de SGLT2*** em túbulo proximal renal impede a reabsorção da glicose no
Inibidores do SGLT túbulo e promove a glicosúria

*GLP‑1: glucagon‑like peptide‑1; **DPP‑4: dipeptidil peptidase‑4; ***SGLT2: cotransportador sódio‑glicose 2

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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO

A insulina exógena é imprescindível no tratamento do DM1 e deve ser instituída logo que o
diagnóstico for confirmado. O tratamento intensivo pode ser realizado por meio de múltiplas doses de
insulina diárias, via subcutânea, por seringa ou caneta, em que há a associação de duas ou três doses
de insulina de ação intermediária (Neutral Protamine Hagedorn – NPH), antes do café, antes do almoço
e ao jantar ou deitar, com três doses pré‑prandiais de insulina de ação rápida (regular). Atualmente,
os análogos de insulina de ação ultrarrápida (lispro ou aspart) têm sido usados como alternativa à
insulina de ação rápida, e insulinas de ação lenta (glargina e determir) como alternativa à insulina de
ação intermediária. Evidências demonstram a redução de hipoglicemias e melhor controle glicêmico
pós‑prandial com o uso dos análogos (MILECH et al., 2016).

Uma alternativa às múltiplas injeções diárias é a bomba de insulina, dispositivo que injeta, via
cateter subcutâneo, continuamente, insulina de ação ultrarrápida basal e possibilita a administração
de bolus pré‑prandiais, conforme a necessidade, assemelhando‑se com a secreção pancreática
normal. A prescrição da dosagem a ser utilizada deve ser individualizada. A principal intercorrência da
insulinoterapia é a hipoglicemia, que pode ocorrer pelo excesso da insulina administrada, diminuição da
ingestão de alimentos ou aumento da atividade física (MILECH et al., 2016)

6.2.1.5 Assistência de enfermagem

Para o planejamento da assistência de enfermagem aos portadores de DM, devem ser realizados a
avaliação dos sinais e sintomas, a identificação dos problemas de enfermagem e o julgamento clínico
para elaboração dos DEs.

O DE que aparece com maior frequência em portadores de DM está a seguir com as suas respectivas
definições, baseadas na classificação proposta por Nanda‑I (2015).

Risco de glicemia instável: vulnerabilidade à variação dos níveis de glicose/açúcar no sangue em


relação à variação normal, o que pode comprometer a saúde.

Quadro 44 – DEs em portadores de DM

Diagnósticos de Características definidoras/fatores de Fatores relacionados


enfermagem (DEs) risco
Controle ineficiente do DM
Falta de adesão ao plano de controle do DM
Risco de glicemia instável ------------
Monitoração inadequada da glicemia
Perda de peso excessiva

A partir dos DEs mais comuns aos portadores de DM, foram elaboradas as intervenções de enfermagem
necessárias, baseadas na classificação proposta pela NIC (BULECHEK et al., 2016).

123
Unidade III

Quadro 45 – Relação entre DEs, intervenções e atividades


de enfermagem aos pacientes portadores de DM

DE: Risco de glicemia instável


Intervenção Atividades
Monitorar os níveis de glicose sanguínea
Monitorar presença de cetonas urinárias
Monitorar resultados de gasometria arterial
Controle da hiperglicemia: prevenção e tratamento Incentivar a ingestão hídrica
de níveis de glicose no sangue acima do normal Monitorar sinais e sintomas de hiperglicemia
Incentivar o automonitoramento dos níveis de glicose sanguínea
Auxiliar o paciente a interpretar níveis de glicose sanguínea
Facilitar a aderência à dieta e ao plano de exercícios
Intervenção Atividades
Identificar o paciente com risco para hipoglicemia
Monitorar sinais e sintomas de hipoglicemia: tremor, sudorese,
taquicardia, confusão mental, irritabilidade, nervosismo,
rebaixamento do nível de consciência e convulsões
Fornecer carboidratos simples, conforme indicado
Administrar glucagon, conforme indicado
Controle da hipoglicemia: prevenção e tratamento
de níveis baixos de glicose sanguínea Revisar eventos anteriores à hipoglicemia para determinar a
provável causa
Orientar o paciente e pessoas próximas sobre sinais e sintomas,
fatores de risco e tratamento da hipoglicemia
Fazer uma instrução sobre dieta, tratamento medicamentoso
e exercícios
Incentivar o automonitoramento dos níveis de glicose sanguínea

Resumo

Foi mostrado como assistir a pacientes portadores de afecções dos


sistemas neurológico, gastrointestinal, urinário e endócrino. Conhecemos
as doenças que acometem esse sistema com maior frequência, suas
definições, epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas
e tratamento. A partir da análise das doenças e de suas manifestações
clínicas, foi desenvolvido o planejamento da assistência de enfermagem,
utilizando como ferramenta a SAE. Foram elaborados os DEs mais comuns
em pacientes portadores das diferentes doenças e, a partir deles, foram
identificadas as intervenções necessárias para um cuidado de qualidade.

Dentro do sistema neurológico, foram discutidas as patologias meningite e


ELA. A meningite representa a ação de doenças infecciosas no sistema nervoso.
De etiologia principalmente viral ou bacteriana, leva a uma inflamação nas
meninges que pode produzir hipertensão craniana, toxemia e irritação
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO

meníngea, causando diferentes sinais e sintomas. O tratamento é feito por meio


de medidas de suporte e antibioticoterapia, que pode ser empírica ou específica
para o tipo de microrganismo isolado. As ações de enfermagem estão ligadas
ao controle da dor, da náusea, do vômito e do edema cerebral. A ELA é uma
doença crônica degenerativa que compromete os neurônios motores superiores
e inferiores. Leva a alterações de motricidade, comunicação e deglutição, além
do comprometimento da musculatura diafragmática e da respiração. Não há
cura para a doença e o retardo da sua progressão é pequeno se tratado com um
neuroprotetor. Em razão do prognóstico ruim da doença, cabe ao profissional
de enfermagem atuar na escuta ativa diante da desesperança instalada, além
da facilitação da melhora na QV por meio da assistência na deglutição, na
respiração, na comunicação e na motricidade diminuída.

Dentro do sistema digestório, foram trabalhados os aspectos


relacionados às gastrites, às úlceras gástricas e à constipação. Nas doenças
que levam a irritação e lesão na mucosa gástrica, gastrite e úlcera gástrica,
as manifestações clínicas são dor, náuseas, vômitos e sangramento. O
tratamento é feito com inibidores da bomba de prótons e antibioticoterapia
para os portadores de HP. A assistência de enfermagem gira em torno do
controle da dor, da náusea e do vômito. A constipação é uma condição
clínica definida pela diminuição da frequência da defecação e/ou
endurecimento das fezes. Na maior parte das vezes, está ligada a hábitos
alimentares inadequados, mas também pode ser causada por diminuição do
peristaltismo intestinal e alteração no assoalho pélvico ou no esfíncter anal.
O tratamento baseia‑se no controle da dieta e hidratação adequada. Em
casos específicos, podem ser utilizados laxantes osmóticos e lubrificantes.

A litíase renal é definida pela presença de cálculos no sistema urinário.


Tem sua fisiopatologia baseada em diferentes alterações metabólicas, que
levam a excesso das substâncias formadoras dos cálculos ou diminuição
das substâncias que a impedem. Os principais sinais e sintomas são: dor,
hematúria, piúria e retenção urinária. Assim, os cuidados de enfermagem
estão ligados à identificação da retenção urinária e ao controle da dor.

O DM é a principal doença do sistema endócrino no Brasil e no mundo.


Trata‑se de uma síndrome plurimetabólica que tem como principal
característica a hiperglicemia. Causada pela diminuição da produção
de insulina e pela diminuição da sensibilidade do tecido ao hormônio, a
doença pode ser classificada em DM do tipo 1, DM do tipo 2, diabetes
gestacional e outros tipos de DM. Suas principais manifestações clínicas
são a poliúria, a polidpsia, a polifagia e o emagrecimento. O tratamento
é feito por meio de alterações no estilo de vida, antidiabéticos e insulina
exógena. As intervenções de enfermagem aos portadores de diabetes estão
relacionadas ao controle da hiperglicemia e da hipoglicemia.
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