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No versículo 39 do capítulo V dessa mesma Encyclical Letter, documenta-se que foi

solicitado aos Imperadores mais religiosos e piedosos a soltura “dos que foram
submetidos a interrogatório, dos torturados, daqueles que estão para ser detidos e os que
já estão trancafiados dentro da prisão!”

διὰ τοῦ ἡγεμόνος βασανίζων και μαστίζων, ἄλλους δὲ καὶ δεσμεύων καὶ εἰς τὸ
δεσμωτήριον ἐμβάλλων·

Apesar disso tudo, amados, aqueles lá (os primeiros livros mencionados) estão incluídos
no Cânon, e os outros foram lidos (apenas isso: houve quem os lesse, mas nem por isso,
entraram para o Cânon); e em lugar algum os apócrifos são lembrados!

Porque ela (a lista completa dos apócrifos) é pura imaginação dos hereges; quando dá
vontade, eles ficam escrevendo esses (apócrifos) – e como se deleitam com isso!
Inclusive fazem edições para eles, de tempos em tempos, para que assim, (possam usá-
los) como se fossem dizeres milenares, e com isso alimentam a ocasião onde podem
desencaminhar os inocentes (desarmados).

(ATANÁSIO. Lettere Festali, 39, 21).

ὅμως, ἀγαπητοὶ, κἀκείνων κανονιζομένων, καὶ τούτων ἀναγινωσκομένων, οὐδαμοῦ τῶν


ἀποκρύφων μνήμη· ἀλλὰ αἱρετικῶν ἐστιν ἐπίνοια, γραφόντων μὲν ὅτε θέλουσιν αὐτὰ,
χαριζομένων· δὲ καὶ προστιθέντων αὐτοῖς χρόνους, ἵν’, ὡς παλαιὰ προφέροντες,
τρόφασιν ἔχωσιν ἀπατᾷν ἐκ τούτου τοὺς ἀκεραίους.
RESUMO

O problema central desta Tese é entender como no IV século d. C um Bispo


oriental e outro ocidental procuraram responder as suas disputas político doutrinárias,
administrando recursos selecionados do passado judaico-cristão e greco-romano para
confrontar a construir um arianismo (Ário) que seria transformado em modelo e
antimodelo de conduta. Tais mecanismos detinham a finalidade de readequar e unificar
as múltiplas orientações cristãs em uma unicidade regida pela ortodoxia vencedora e
legitimada pela auctoritas Imperial Romana. Para realizar tal empreitada, refletimos
sobre as concorrentes orientações orquestradas pelas díspares “presentificações” do
passado judaico-cristão, que eram direcionadas a formar uma continuidade de sentidos
entre imagens bíblicas, as tentativas de se impor uma unicidade eclesiástica e, por fim,
uma relação mais colaborativa com o Império Romano. Assim, analisamos por quais
modos os (re)encadeamentos de trechos dos textos bíblicos, que eram verdadeiras peças
autoritativas, foram (re)encaixados em uma trama narrativa direcionada a erigir
propostas ao mesmo que invalidava as concorrentes. Lançamos mão da História
Comparada para examinamos dois documentos: As Orações contra os arianos de
Atanásio de Alexandria e o Contra os arianos de Hilário de Poitiers. O objetivo da
comparação é compreender as semelhanças/diferenças entre as disputas locais e os
processos de formação de uma unicidade específica para cada espaço. O método
comparativo amplia nossas perspectivas, uma vez que nos ajuda a compreender as
maneiras pelas quais cada Bispo ajustou suas agendas político eclesiásticas tanto para
responder os anseios de suas comunidades e de seus pares, quanto corresponder aos
interesses político-religiosos do regente Imperial Romano.

Palavras-chave: Atanásio de Alexandria, Hilário de Poitiers, memória e legitimidade.


RÉSUMÉ

Le intérêt, question à resource par des methodes dans thèse, est de comprendre
comment au IVe siècle après JC un évêque oriental et un évêque occidental cherchaient
à répondre à leurs différends politico-doctrinaux, gérer des ressources choisies du
ancien histoire judéo-chrétien et gréco-romain pour confronter et construire un
arianisme (Arius) qui se transformerait en modèle et anti-modèle de procédé. De tels
mécanismes avaient le moyen de se réajuster et d’unifier en tant qu’orientations
chrétiennes multiples dans une unicité régie par l’orthodoxie gagnante et légitimée par
l’auctoritas impériale romaine. Pour mener à bien une telle entreprise, nous avons
réfléchi aux orientations concurrentes orchestrées par les “actions-pour-rendre-le-passé-
présent” disparates du ancien histoire judéo-chrétien, qui visaient à former une
continuité de sens entre les images bibliques, les tentatives d’imposer une unité
ecclésiastique. Finalement, une relation plus collaborative avec l’Empire romain. Ainsi,
nous analysons de quelles manières les (re)liaisons d’extraits de textes bibliques, qui
étaient de véritables pièces faisant autorité, ont été (ré)inscrites dans une intrigue
narrative visant à ériger des propositions tout en invalidant les concurrents. Nous avons
utilisé l’histoire comparée pour examiner les documents: Athanase d’Alexandrie, Les
Traités contre les ariens et Hilaire de Poitiers, Contre les aryens. Le but de la
comparaison est de comprendre les similitudes/différences entre les conflits locaux et
les mécanismes de composition d’une unicité spécifique pour chaque espace. La
méthode comparative élargit nos perspectives, car elle nous aide à comprendre les
manières dont chaque évêque a adapté ses agendas politiques ecclésiastiques à la fois
pour répondre aux préoccupations de leurs communautés et de leurs pairs, ainsi que
pour correspondre aux intérêts politico-religieux des Régent impérial romain.

Mots-clés: Athanase d’Alexandrie, Hilaire de Poitiers, la mémoire et confirmation à


travers l'histoire passée.
ABSTRACT

The main problem of this Thesis is to understand how in the 4th century AD an
Eastern Bishop and a Western Bishop sought to answer their political-doctrinal
disputes, managing selected resources from the Judaeo-Christian and Greece-Roman
past to confront the construction of an Arianism (Arius) that would be transformed into
a model and anti-model of behavior. Such mechanisms had the purpose of readjusting
and unifying the multiple Christian orientations in a singleness ruled by the winning
orthodoxy and legitimized by the Roman Imperial auctoritas. To carry out such an
undertaking, we reflected on the competing orientations orchestrated by the disparate
“actions-to-make-the-past-stay-present” of the Judaeo-Christian past, which were aimed
at forming a continuity of meanings between biblical images, the attempts to impose an
ecclesiastical unity and, finally, a relationship more collaborative with the Roman
Empire. Thus, we analyze in which ways the (re)linking of excerpts from the biblical
texts, which were true authoritative pieces, were (re)fitted in a narrative plot aimed at
erecting proposals while invalidating the competitors. We used Comparative History to
examine two documents: Discourses against the arians of Athanasius of Alexandria and
the Against the arians of Hilary of Poitiers. The purpose of the comparison is to
understand the similarities/differences between local disputes and the processes of
formation of a specific uniqueness for each space. The comparative method broadens
our perspectives, as it helps us to understand the ways in which each Bishop adjusted
their ecclesiastical political agenda both to respond to the concerns of their communities
and their peers, as well as to correspond to the political-religious interests of the
Imperial Roman regent.

Keywords: Athanasius of Alexandria, Hilary of Poitiers, memory and past history


approval.
Os limites do próprio banimento apresentam problemas. A língua latina
reconheceu vários termos que poderiam significar uma forma de “deslocalização”
indesejável, como fuga e ex(s)ilium. A tradição helênica preservada nos dialetos* da
Arcaica Magna Grécia permite perspectivas quase infinitas. Por exemplo: em ático o
verbo ἐκβάλλω, “eu exilo (alguém)”, deriva de βάλλω, “lançar, jogar para longe”,
precedido pelo prefixo ἐκ/ἐξ, que reforça a ideia de sair, partir, dá o sentido de
“arremessar para bem longe”; mas só com o seu uso na voz ativa, é que temos sua
conotação para “banir, expulsar”. Outro exemplo: o verbo λανθάνω, com primeiro
sentido de “permanecer escondido” deixa marcado essa ideia na sua forma infinitiva,
λαθεῖν, o ficar tanto tempo escondido que vira sinônimo de esquecido. Daí na voz
média reflexiva o λανθάνω significa negligenciar. Há também o ἐξ-ορίζω; numa
construção civil, as obras das paredes e muros não podem ultrapassar a demarcação do
terreno: o ὁρίζων, o limite da vista do proprietário, o “horizonte” no sentido hesiódico.
A gramática clássica fala do modo a-oristo, sem esse limite, portanto menos rígido na
concepção temporal. Podemos dizer que o verbo ἐξ-ορίζω é uma “aoristação”, perder
seu limite natural traçado por seu corpo e extensão do corpo (família, casa, vizinhança,
ocupação de vida…) E φεύγειν, forma infinitiva do verbo φεύγω, “escapar, fugir (de
algo ou de alguém)”. Sócrates admoestou um discípulo: διδάξαι ἔφυγες, αἰσχράς·
“Fugiste (do teu dever) de ensinar? Mas que vergonha!” A conotação do φεύγω é evitar
algo que não deveria deixar de se fazer, daí quase a “nata” da literatura jônica e ática
apresentar o πεφυγμένος, seja exilado ou refugiado, como um covarde traidor da honra
da luta (épica homérica) ou criminoso rejeitado pela sociedade cuja ὕβρις ou insolência
desmedida só se cura com o autossacrifício (tragédia ática). Tais termos também
carregavam formas adjetivas e nominais também. O verbo participial na sua forma
neutra torna-se nome: o estar fugido é ser refugiado: πεφυγμένον. A questão maior é
que autores antigos (particularmente os que escreveram sua história nos dialetos
helênicos) usavam esses termos de maneira tão ampla que eles podiam se referir a
qualquer forma de realocação indesejável, seja penal ou voluntária. Em particular,
quando uma fonte em algum dialeto helênico antigo comentava que indivíduos estavam
em φυγή, na ausência de outras informações, teríamos poucas maneiras de saber se
essas pessoas entraram em “uma terra estrangeira por sua própria decisão ou decreto
oficial. A convicção subjacente dos autores antigos parece ser que os que foram
formalmente condenados e aqueles a quem chamaríamos agora de “refugiados” –
πεφυγμένον – compartilham a experiência de exilium ou φυγή. (WASHBURN, 2013, p.
03. Grifo nosso).

* Não existe grego antigo, rigorosamente. O que haviam era uma gama dialetal bem
ampla. O que mais se preservou graças à literatura foram: o eólico das ilhas de exílio,
para onde deve ter se refugiado Safo, cuja incompetência em entender seus poemas de
amor à deusa Afrodite lhe (di)famaram desmerecidamente; a fala das Musas, o jônico –
a épica de Homero e Hesíodo, mito-história, pois Heródoto incorporou-os para tecer sua
obra; tanto o ático ateniense quanto o dórico espartano se uniram na dramaturgia; em
ático escreveu-se filosofia e tratados científicos, e em dórico a poesia mélica (fábulas).
Com o helenismo, o cristianismo absorveu toda essa cultura no dialeto koiné; no Novo
Testamento, obra-prima koiné, está comprovado isso. Paulo pede a Timóteo: ὃν
ἀπέλειπον ἐν Τρῳάδι παρὰ Κάρπῳ, ἐρχόμενος φέρε, καὶ τὰ βιβλία, μάλιστα τὰς
μεμβράνας: “na sua viagem de volta (pra cá), passe na (casa de) Carpo em Trôade, e
traz de lá, pra mim, as Membrãnas – Coleções Didáticas em pergaminho escritas em
ático (as “tragédias gregas”, usadas para alfabetização na Antiguidade), preciso muito
delas!”

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