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1. INTRODUÇÃO
Este trabalho, em desenvolvimento para a disciplina “Música, Memória e
Africanias”, ministrado pela professora Dra. Andrea Adour, é motivado pela
investigação do cenário musical da cidade de Belo Horizonte do ano de sua fundação,
1897, até o final da segunda metade do século seguinte, tema pertinente à dissertação de
mestrado do autor intitulada: “O IDIOMATISMO DO VIOLÃO DE CHIQUITO
BRAGA: Uma análise sobre 10 registros de sua obra”. A dissertação tem o objetivo de
analisar a linguagem musical utilizada pelo compositor no tocante aos seus 10 registros
fonográficos para violão solo, passando pelas fases de transcrição das peças e
posteriormente análise dos elementos musicais contidos nas mesmas para que sejam
identificados os recursos muscais utilizadas por Braga em suas composições, arranjos e
seções de improviso.
Para além dos fatos citados acima, Chiquito é considerado como uma grande
influência de músicos que integram o denominado Clube da Esquina, por sua maneira
de encandear a melodia em seus acordes e por outras ideias musicais ligadas ao violão,
sendo corriqueiramente citado por Toninho Horta como uma de suas maiores
influências junto ao violão. Chiquito utilizava da terminologia “Escola Mineira de
Violão Moderno” para definir seu estilo junto ao violão durante uma entrevista
concedida ao autor em uma entrevista concedida ao autor em 04 de agosto de 2015 na
cidade do Rio de Janeiro.
1 A mudança ocorreu em definitivo pela Lei nº 302, de 1º de julho de 1901 para Bello Horizonte, o
mesmo nome do distrito e da comarca da capital após alteração em 1890. Antes de 1890, o distrito
possuía o nome de Curral del Rey.
2 Denominação de uma área urbana extensa formada por duas ou mais cidades próximas, formando um
mesmo espaço geográfico. Relacionada também à formação de regiões metropolitanas.
cinquentenária BH3, uma capital de estado relativamente nova se em comparação às
demais de sua região, já possuía um arquétipo social bem aproximado dos centro
urbanos de Rio de Janeiro e São Paulo. A política do “Café-com-Leite” 4 projetou Minas
Gerais dentro do Brasil da terceira fase da Era Vargas 5, projeção essa retomada nas
esferas municipal, estadual e federal por políticos com discursos voltados ao
desenvolvimentismo, como Juscelino Kubitschek de Oliveira.
Figura 1: Planta de 1985 da cidade de Bello Horizonte contendo as delimitações da área urbana
(região amarela circundada de verde), suburbana (entorno da região urbana) e zona rural (sob a
denominação SÍTIOS). Fonte: Arquivo Público Mineiro.
4 Termo referente a política de alternância do principal cargo do Poder Executivo entre as oligarquias
paulista e mineira durante os anos de 1896 e 1930.
5 Período entre 1937 e 1945 conhecido como Estado Novo, o país sofre um golpe de estado liderado pelo
então presidente Getúlio Vargas.
As atividades musicais na cidade já eram datadas antes mesmo de sua
inauguração, ainda sobre como o arraial Curral del Rey, pertencente à Comarca de
Sabará. No ano de 1894, o arquiteto português Alfredo Camarate – pseudônimo de
Alfredo Riancho – muda-se de Ouro Preto para a capital em construção para
desenvolver seu ofício de arquiteto pela Comissão Construtora da Nova Capital, acaba
também estabelecendo trabalhos ligados à música, como aulas de piano e teoria musical.
Já estabelecido na cidade, funda a primeira corporação musical de Belo Horizonte, a
Sociedade Musical Carlos Gomes. De acordo com a pesquisa sobre a paisagem sonora
Maria Teresa Mendes de Castro, “os ensaios ocorriam em uma cafua com sete
amadores” além da participação da banda6 na vida social do pequeno distrito, dentre
elas em festas e comemorações. A apresentação de estreia da Sociedade Musical se deu
em uma solenidade religiosa em 1986, com arranjos de Carate para “O Guarani” e
“Folhas Soltas”, composições do patrono do grupo, além de “Tannhauser”, de Richard
Wagner. À ocasião, a banda dispunha de 15 integrantes, Riancho contou com músicos
advindos da então capital Ouro Preto que se mudaram para a região à procura de
emprego no setor de construção civil, como “pedreiros, carpinteiros, ajudantes,
serventes, engenheiros e outros trabalhadores” (CASTRO, 2012).
6 Chamamos aqui a atenção para o termo banda, comumente utilizado nas corporações musicais do
século XIX para denominar os grupos musicais que participavam da paraliturgia, como procissões. O
emprego de instrumentos rítmicos de percussão e de gêneros como marchas e dobrados são característicos
desta organização musical.
7 CAMARATE, Alfredo. 1894 In: Revista do Arquivo Público Mineiro – Por Montes e Vales. (III)
participação de um conjunto musical de Contagem, com repertório voltados à liturgia e
à música profana:
“a’s dez horas, missa cantada e acompanhada pela banda de música que veio
expressamente de Contagem para esta extensa solenidade; sendo louváveis os
esforços que os cantores empregam para se fazerem ouvir e os não
menos ingentes exforços de banda marcial, para não inundar as vozes
com o hyperbolico estrondear dos seus ophicleides e trombetas. (...) Entre a
missa e a festa da tarde, a banda de música, composta de moços com os mais
robustos pulmões que tenho visto na minha vida, apparecem tocando em toda a
parte! De longe ou de perto, todo o dia se ouvem polkas, marchas, quadrilhas,
dobrados etc.” (CAMARATE, 1894, p.3).
Podemos notar aqui duas distinções entre as atividades musicais no ainda arraial
de Belo Horizonte: a música sacra, aberta à toda comunidade local (como plateia e
integrante) e a não sacra, presente em contextos que permeiam das festividades católicas
até as celebrações da alta sociedade belorizontina, executada por músicos e musicistas
não residentes na localidade. A primeira, instrínseca, contava com seus atores e locais
próprios para execução, o oposto da segunda, que surgia conjuntamente à transformação
do local, cujas apresentações aqui relatadas variaram entre fundações, praças e o salão
de festas do Grande Hotel. Assim como espaços de aprendizagem, como a Carlos
Gomes, os espaços para o fazer musical também teriam de ser criados para a demanda
musical da nova capital do estado de Minas Gerais.
“Por um lado distinguiram-se os salões dos clubes criados pela elite, que
funcionaram nas residências dos sócios mais importantes ou em sedes próprias
e cujo acesso era exclusivo a seus associados. Nesta década existiu uma série
destas entidades, como por exemplo: o Club das Violetas, O Club Rose, o Club
Edelweiss, o Elite Club, o Club Belo Horizonte, dentre outros.
Por outro lado, também se destacaram os salões do Grande Hotel, do Palacete
Steckel e os de alguns prédios públicos como os do Senado e da Câmara dos
Deputados, onde foram realizados vários concertos abertos ao público através
da compra de ingressos. A maioria desses eventos aconteceram através da
iniciativa de particulares, geralmente músicos, profissionais ou amadores, que
se empenhavam nestas promoções.” (CRUZ e VARGAS, 1989, p. 123).
Figura 2: Orquestra de Bandolins formada por damas da alta sociedade. CRUZ e VARGAS, 1989, p. 120)
8 Fonte: https://www.policiamilitar.mg.gov.br/portal-pm/3bpm/conteudo.action?
conteudo=295&tipoConteudo=itemMenu. Acesso em 28/03/2021.
9 Apresentações em espaços públicos realizadas por bandas de música de caráter civil e/ou militar.
Posteriormente, em 1948, seria inaugurada ainda a Orquestra Sinfônica da Polícia
Militar de Minas Gerais.
“O rádio chegava ao final dos anos 50 e início dos 60, consolidado em sua
posição de meio de comunicação de massa, como um elemento fundamental na
formação de hábitos na sociedade brasileira. Dos anos 30 aos 60, o rádio foi o
meio através as novidades tecnológicas, os modismos culturais, as mudanças
políticas, as informações e o entretenimento chegavam ao mesmo tempo aos
mais distantes lugares do país, permitindo uma intensa troca entre a
modernidade e a tradição. O rádio ajudou a criar novas práticas culturais e de
consumo por toda a sociedade brasileira.” (CALABRE, 2004, p. 9)
10 Período entre as décadas de 1940 e 1950 em que o rádio era o principal veículo de comunicação
massas.
Hely Ferreira Drummond no que se refere a atuação de músicos profissionais nas 2
rádios de Belo Horizonte.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS