Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Síntese: A complexa linguagem paulina sobre o ser humano não pode ser
satisfatoriamente entendida através do estudo da ocorrência de cada termo
antropológico, apenas a partir de seu contexto literário. A Soteriologia
cristológica paulina é que nos leva a entender quem é o homem, o gênero
humano ou o indivíduo na mente de Paulo e na mente de Deus, que desde
antes da Criação jamais se esqueceu de sua criatura.
Abstract: The complex pauline language about the human being cannot
be understood satisfatorily simply through the study of each occurrence of
each anthropological term within its literary. The pauline christological
soteriology is what leads us to understand who is man, individual and hu-
man gender, in Paul’s mind, and, therefore, in the mind of God, Creator,
who since before the creation of the world desired to maintain with him the
human gender.
Introdução
1. Cf. Sl 8,6-9, especialmente, os vv. 7-9: “Para que domine as obras de tuas mãos, sob seus pés tudo colo-
caste: v.8: as ovelhas e bois, todos, e as feras do campo também; as aves do céu e os peixes do mar, quando per-
corre ele as sendas dos mares” (Trad. B.J.). São paráfrases de Gn 1,26-28, em que o Gênero humano é criado
como Imagem de Deus, com poder sobre todos os seres vivos criados.
2. Cf. a Introdução da TOB aos Salmos.
Antropologia de Paulo de Tarso 517
3. R.B. HAYS, Echoes of Scripture in the Letters of Paul, Yale University Press, New Haven/London
1989, p. 84. Embora seja São Paulo o primeiro a deixar por escrito esta exegese, não terá sido ele quem por primei-
ro relaciona com Cristo Ressuscitado o Sl 8, mas sim, a Igreja Primitiva.
518 V. Marques
não quisesse dizer que são os mais importantes para sua compreensão do
que seja o ser humano, usou-os de modo que os tessalonicenses o enten-
dessem suficientemente, em vista do que estava para acontecer: o julga-
mento da humanidade na Parusia.
O que o “espírito-pneuma” diz em 1Ts 5,23? Para São Paulo, o espí-
rito é aquela expressão do ser humano pela qual se comunica com Deus,
que lhe manda seu Espírito: 1Cor 2,10-12; é no “espírito-pneuma” que o
indivíduo se conhece a si mesmo, a Deus, aos demais e com todos se co-
munica (1Cor 5,3-4; Cl 2,5).7 Se há comunicação interpessoal e com
Deus, está implicada uma ética, um procedimento pelo qual o ser huma-
no será julgado no Dia da Parusia.
O que diz São Paulo com “alma/vida-psyché” de 1Ts 5,23? Diz nos-
sa condição de seres vivos ao longo de nossa existência temporal,8 assim
como são vivos os outros seres criados: multiplicam-se, comunicam-se,
relacionam-se mutuamente. Ora, isto implica igualmente uma ética com-
portamental, objeto do juízo de Deus no Dia da Parusia (1Ts 1,10).
E o que São Paulo entende por “corpo-sôma” em 1Ts 5,23? Por “cor-
po-sôma” podia entender muitas coisas. É em nossa condição corpórea e
física que nos comunicamos com Deus e com os outros também. Haven-
do tal relacionamento interpessoal,9 está implicada uma ética pela qual
seremos julgados na Parusia.
Portanto, São Paulo não pretendeu dar uma síntese antropológica em
1Ts 5,23, pois não era isto que os tessalonicenses precisavam saber, mas
sim, que quem chegasse ao Dia da Parusia contaminado pelo Pecado em
seu “espírito-pneuma”, “alma-psyché” e “corpo-sôma”, seria objeto da
Ira divina (1Ts 1,10). Nem Jesus Cristo o poderia salvar. Portanto, esta-
mos diante de uma visão salvífica paulina, isto é, São Paulo empregou es-
tes termos em chave soteriológica, e não, primeiramente, antropológica.
10. W.R. STEGNER, Giudeo, Paolo come, em: G.F. HAWTHORNE/R.P. MARTIN/D.G. REID, o. c.
11. E.M. YAMAUCHI, Ellenismo, em: G.F. HAWTHORNE/R.P. MARTIN/D.G. REID, o. c., p. 533s.
12. H.G. LIDDELL/R. SCOTT, o. c. Este léxico desconhece os equivalentes gregos para “tricotomia”, em-
bora tenha dichotomia. São Paulo não encontraria no grego de seu tempo esta terminologia, mesmo que a procu-
rasse.
13. P. van IMSHOOT, Homem, em: A. van den BORN (org.), Dicionário Enciclopédico da Bíblia, Vozes,
Petrópolis 1971, col. 87. Van Imshoot fez profundo estudo sobre a antropologia do Antigo Testamento. Não en-
controu ali uma dicotomia ou tricotomia antropológica. Portanto, a São Paulo nenhum dado sobre tal antropolo-
gia era disponível, nem no Texto Hebraico nem na Septuaginta.
Antropologia de Paulo de Tarso 521
14. P.GRECH/G. SEGALLA, Metodologia per uno studio della teologia del Nuovo Testamento, Marietti,
Torino 1978, p. 88.
15. IDEM.
16. J. BEKER, Apóstolo Paulo: Vida, Obra e Teologia, Paulinas, São Paulo 2007, p. 85.
522 V. Marques
19. J. MURPHY-O’CONNOR, Paulo: biografia crítica, Loyola, São Paulo 2000, p. 325-326.
20. J.K. CHAMBLIN, o. c., p. 1268.
21. IDEM, p. 1261.
524 V. Marques
22. J.K. CHAMBLIN, o. c., p. 1260: a psicologia paulina é mais prática que científica, quando muito,
pré-filosófica.
23. IDEM, p. 1261s.
24. IDEM, p. 1261: São Paulo jamais atribui uma função incorpórea a um órgão físico em particular.
25. Para uma lista das paixões, como questão espiritual, cf. A. ROYO MARIN, Teologia de la perfección
cristiana (BAC 114), Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid 2001, p. 367.
26. J.D.G. DUNN, Christology in the Making, Westminster, Philadelphia 1980, p. 100.
Antropologia de Paulo de Tarso 525
Conclusão