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'LICÇÕES

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O' VqJi TODOS QUE TRANSITAES NESTE


VALLE DE LAGRIMAS, V�DE SE HA QUEM,
MAIS DO QUE EU, VOS AMA!
JAMAIS ENCONTRAREIS AMOR MAIS FORTE,
AMIZADE MAIS SINCERA DO QUE A DO
VOSSO JESUS CRUCIFICADO.

INSTITUTO DAS MISSIONARIAS DE


JESUS CRUCIFICADO - CAMPINAS
IMPRIMATUR

Com prazer permittimos a impressão das «Licções de


Jesus Victima» joia preciosa de propriedade do Instituto
das Missionarias de Jesus Crucificado, como piedosa con­
tribuição para o realce do glorioso centenario da Paixão e
Morte do. divino Redemptor dos homens, que o mundo
solemnisa e commem01·a neste anno de 1933.
A sociedade hodierna premida por uma ancia de goso
e commodismo, o que fundamente a vem perturbando em
· seus elementos componentes, dominada por doutrinas vans
e perversas, prisioneira do orgulho descomedido de homens,
para os quaes todos os meios são licitas na destruição de
tudo que possa crear obices ás suas paixões, como á am­
bição de dominio que os devora; tal s·ociedade, na verdade,
só pode encontrar rernedio para seus males no estudo e
na meditação da Paixão e Morte de .Jesus Christo.
Com effeito, a historia de Jesus Victima, contando­
nos a morte de um Homem-Deus pela redempção do mundo,
é a melhor documentação do valor de nossa alma que,
creada para uma feliz im1nortalidade, merece um tal Repa­
rador ! Entretanto, com grande pena, vemos muitos homens
afastando-se das «Licções de J csus Victima» fonte unica
de .paz e salvação, para se atirarem á franca apostasia, em
busca de uma falsa felicidade na materialidade da vida e
no progresso das mil e muitas invenções humanas !
· E' por causa dessa moderna e errada orientação fórn
d.o Evangelho, que o mundo atordoado e sem norte caminha
d� rnal a peor !
Os homens, pelo seu orgulho, pelos seus peccados e
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4 Licçães de Jesus Victinia

desmandos, Ja em epoca remota pensaram como hoje : jul­


garam estultamente que podiam passar sem Deus!
E a historia de então conta-nos o que foi o diluvio,
que, como irresistível castigo-, afogou a humanidade com
excepção de Noé e sua familia!
Infelizmente hoje, como outr'ora, os homens, sob o
domínio de doutrinas antecbristãs, acoroçoados por desco­
medido amor á riqueza e escravos do mais vil sensualismo,
num incenssante combate de morte á Egreja, querem negar
o pr9prio Deus !
Ptira desgraça e confusão dos homens, ahi estão os
povos se castigando pelas proprias mãos, dominados por
máos governos, obrigados a leis perniciosas e entregues
ao odio, que, desorganisando a familia e dividindo a socie­
dade, gera as greves, as revoluções, as guerras, tremendos
flagellos da humanidade, que, em seu bojo, para desgraça
completa, conduzem sempre a peste e a fome!
Depois de tanta calamidade que estamos presenciando,
já é tempo de se proclamar a fallencia das muitas panacéas
inventadas por uma sciencia van, por politicos interesseiros
e por governos sem Deus, na estulta pretensão de dar­
ordem á sociedade e paz aos homens!
Ou os homens se voltam já para as Licções de Jesus
Victima, seduzidos pela bondade do seu coração, como pela
belleza de sua doutrina, ou mais e mais desgraças chama­
rão sobre suas cabeças, até que o mundo subjugado pela
justiça do céo, afogado em um diluvio de sangue, reconheça
o seu erro e se volte para a pratica dos Mandamentos
divinos.
As paginas aqui offerecidas á nossa leitura não rela­
tam simplesmente as passagens das dores e da morte do
Redemptor; nellas encontramos verdadeiros commentarios
e profundos ensinamentos, de que muito necessitamos para
bem apreciarmos o valor da Victima do Calvario, modelo
divino e unico de nossa vida christã.
Oxalá essas piedosas «Licções» calem no animo dos
que as estudarem, porque dellas certamente muita luz e
muito conforto saltarão para o bem da sociedade, para ·a.
paz da familia e salvação de todos. E' a graça que á cari­
dade de N. Senhora das Lagrimas pedimos para todos que
lP,rem este piedoso livro.
Campinas, 20 de Fevereiro de 1933.
t FRANCISCO, Bispo Diocesano

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Sexta-feira santa, o grande dia da
misericordia !

Meu Jesus, dizei-me como devo me preparar para o


grande dia, o dia tremendo e bemdito para minha alma,
Sexta-feira Santa, dia em que morrestes por meu amor !
Falae, Senhor, quaes os preparativos que devo fazer.
Minha filha, o dia da misericordia, Sexta feira Santa,
não deve ser para ti de tristeza, mas de grande alegria,
toda interior, porque neste dia mostrei á tua alma meu
amor infinito.
Desde hoje começa a ornar a tua alma com actos de
confiança e abandono nos meus braços amorosos.
Se deixei que Me tirassem a vida, foi para mostrar
á tua alma o meu amor, portanto, desde hoje deves come­
çar os preparativos, dando-Me provas, no grande dia da
misericordia, que aproveitnste de minha angustiosa morte.
Morrendo por ti nada mais fiz do que mostrar-te minha
grande misericordia em favor de tua alma.
Não exijo, como preparação para este grande dia,
lagrimas, tristezas ; uma só cousa exijo, é que sejas
muito confiante na minha infinita misericordia e que fales
sempre desta minha misericordia tão opprimida pelos ho­
mens, que querem com suas austeridades Me fazer mes-
quinho e vingativo !
· Sendo Sexta-feira o grande dia da misericordia, exijo
de ti para bem o commemorares, que adornes a tua alma
com um acto heroico de confiança na minha infinita mise­
ricordia. Este acto consiste em jamais duvidares que te
amo infinitamente, e depois de jamais deixares de falar a
quem quer que seja, de minha grande misericordia em
sempre perdôar !
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6 Licções de Jesus Victi-ma

Muitos homens, por infelicidade, não sabem comme­


morar este grande dia! Ah! se tal soubessem! Muitas mais
graças receberiam se neste dia vissem meu Coração, qual
rio caudaloso a mandar sobre o mundo as enchentes de
minha misericordia !
Ah! não Me contemplam ; contemplam antes o sol
obscurecido, o véo do templo fendido, os rochedos partidos;
porém, não vêm meu Coração aberto a jorrar misericordia!
Porque, os meus filhos não Me contemplam como convem?
Porque poucos são os apostolos d.e minha infinita mise­
ricordia.
E para que haja mais apostolos de minha misericor­
dia, se o teu pae espiritual approvar, offertar-me-has por
um tempo tua alrna para a encher de angustias, soffrendo
as desconfianças de tantos filhos, que não sabem confiar
em mim!
O Pae descarregarâ sua justiça sobre tua alma,
justiça, que devia cahir sobre os que desconfiam de minha
infinita misericordia, apesar de dar tantas provas de infi­
nita caridade. Serâs torturada pelo abandono, e- parecer-te-â
que a misericordia se retirou de ti! Tudo isto, minha filha,
é para a conquista de apostolos de minha infinita mise­
ricordia.
Porém, no meio de tantos tormentos, tens de confiar
e confiar muito, ainda que os actos de confiança que fize­
res não te dêm conforto algum! O demonio procurará tirar­
te a confiança interna, porém, para que isto não aconteça,
confio, tua alma aos que junto de ti fazem as minhas vezes
e sairemos victoriosos.
E assim, minha filha, comrnemorarás conveniente­
mente este gran.de dia !
Farâs este offerecimen.to que te vou dictar:
Meu Deus eternamente mi�cricordioso, approxima-se
o grande dia da salvação, o dia em que morrendo por nós
em duro madeiro provastes ao mundo que vós ereis todo
misericordia.
Para bem commemorar este dia tão venturoso para
minha alma, prometto-vos de hoje em diante jamais duvi­
dar de vossa infinita misericordia ; apezar de meus pecca­
dos ver-vos-ei sempre solicito em perdoar. Alem disto, ven­
do o quanto vossa misericordia é offendida pela desconfiança
de filhos, que não vos reconhecem como Pae de infinita
misericordia, opprimindo assim vossa liberal bondade em
sempre perdoar, por estes, ó Deus - de amor, me offereço
como victima expiatoria, dando-vos minha alma para que
descarregueis sobre ella tudo o que vos aprouver, e para
que vossa Divina misericordia encontre corações apostolas
para a diffundir nos corações de seus irmãos. Offereço ale-
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Licçues de .Jesus Victfrna 7

;gremente meus tormentos, e tentações que o 1n1migo me


]izer soffrer, tudo que quizerdes, ó meu Deus, para vossa
jnfinita misericordia ser ,diUundida nos corações de boa
·vontade. Queimae-me, retalhae-me, conforme vossa Santis­
:sima vont.ade_
Abençôada pelo Pae de tua alma, espero que Me faças
-este offerecimento ás 7 horas de hoje, em união com Maria
Santissima, minha querida Mãe das Dôres. Minha benção te
!fortifique para receber com alegrJa o c alice am:argo.

Sêde de salvaral·mas

Desejei ardentemente que chegasse este dia venturoso


de sexta-feira_
Esposo amantiss,imo de minha alma, aqui estou aos
vossos santsisimos pés. Dizei-M,e : O que hoje quereis que
,eu faça?
Fallae"' senhor.
Alma querida, esquece tudo o que te r�odeia e entra
no meu. Divino Coração, onde te desejo fallar.
Alma querida, quero dizer-te, hoje, como Eu dese­
jei ardentemente que chegasse o dia memoravel de
sexta-feira! ! ...
Sabia Eu o quanto ia soffrer no alto da cruz; sabia
que ia Me encontrar com minha terna Mãe na rua da amar­
gura; sabia que minha -agonia ia durar tres horas; sabia
que suspenso em duro madeiro ia soffrer a penna dos con­
demnados; todos estes tormentos estavão diante de meus
-olhos, mas, apesar de tu..g.o isto, desejei ardentemente que
chegasse este dia venturoso ! Perguntar-Me-ás, alma queri­
da, porque desejei tão ardentemente este dia? Desejar a
morte, desejar encontrar uma Mãe afflicta, desejar ver uma
Mãe desolada e traspassada com espadas crueis, parece
isto um absurdo! Sim, alma querida, é absurdo, é loucura
para muitos de meus filhos !
Agora, vou dizer-te alma querida, resgatada com o
meu pr_ecioso Sangue, porque suspirei tanto por este dia
bemdito. Ah! é porque neste dia provei aos homens que
os amava infinitamente. O amor, alma querida, cegou-Me,
não me deixou ver os tormentos; mais ainda, o amor Me
fez desejar derramar todo o meu sangue ! Compre­
hende bem, alma minha. Não penses que por ser infinito o
meu amor, deixei de soffrer. A medida do amor foi a
do soffrimento, e porque meu amor é infinito, infinitos fo-
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8 . -Licções de Jesus Victima

ram os tormentos que passei ! Usei nisso de minha Divin­


.dade .para mais poder soffrer, não para diminuil-os. Ah!
não, eis porque os meus tormentos são inexplicaveis e in­
comprehensiveis a uma creatura ! Só no céo elles são ver.:
dadeiramente conhecidos.
Alma querida que Me lês, quando na prisão fui tão
barbaramente injuriado, podiam aquelles tormentos saciar
meu amor e podia Eu dizer: Basta, já Me deixei vender,
já Me deixei prender, já Me deixei empurrar e arrancar­
Me as barbas, já Me deixei cuspir, portanto, já mostrei aos
homens que os amo infinitamente ! Ah ! isto não bastou
para saciar meu amor! Tinha sêde de mais, tinha sêde de
morrer no alto do patibulo, suspenso entre os céos e a terra,
para mostrar á humanidade que não Me envergonhava de
dar minha vida, porque a amava. Quiz mortrar que morria
por minha vontade, quando, em alta vóz, clamei ao céo.
Paremos aqui, alma querida, reflecte por instantes.
Se Eu desejei tão vivamente dar minha vida por ti, desejas
tu tambem dar tua vida por mim'? Quantas vezes, a vista
de um pequeno sacrificio, te faz retroceder!
Eu, como já te disse, apesar de saber que Me ia en­
contrar com a Mãe querida no caminho do Calvario, apesar
de saber que na cruz, por tres horas, ia soffrer os tormen­
tos os mais atrozes, não retrocedi ; mas, quanto mais Eu
via o quanto ia soffrer, mais desejava que chegasse esta
· hora bemdita, em que ia dar a mais sublime prova de amor!
Eu que tanto amo minha Mãe Santissima, nem isto Me fez
retroce9-er no meu grande sacrificio ! Ah l a sêde, que Me
devora de mostrar ao mundo meu amor, não Me deixou
olhar para o martyrio cruel de minha Santissiina Mãe. Para
melhor vos explicar : O martyrio desta Mãe bemdita o re­
colhi em meu Coração e o offereci ao Pae, para assim
reparar os crimes dos peccadores--; E sabes, alma querida,
que a dedicação desta Mãe bemdita e sua generosidade em
Me acompanhar neste tremendo sacrificio fizeram com que
Ella fosse escolhida para ser a distribuidora dos divinos fa-.
vores?! Oh! sim, alma querida, queres receber os fructos de
minha sagrada Paixão em tua alma, approxima-te de Maria,
pois Ella os tem em suas mãos !
Vê, alma querida, o quanto é sa]utar acompanhar-Me
no caminho do Calvario. Se minha Mãe querida, foi tão be­
neficiada, porque com generosidade deu-Me para que Eu
fosse immolado por vós, tambem, tu, que deixaste o
mundo para Me acompanhar no caminho do Calvario,
tambem tinhas de ser beneficiada, e sabes com que ?
Não só com a gloria immortaJ, mas com a grande e
sublime mercê de Me dar almas.
As almas heroicas e generosas não se contentam com
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Licções de Jesus Victima 9

salvar a sua alma, mas desejam o mais perfeito, isto é,


depois de trabalharem para a perfeição de sua alma, dão­
Me almas.
Eis, alma querida, a maior prova de amor que Me
pódes dar, é dar-Me almas. Si Eu desejei tão ardentemente
este dia bemdito de sexta-feira para provar-te que te ama­
va infinitamente, deseja, tu tambem, ardentemente, d.ar-Me
almas, porque é pela salvação de todos que Eu dei minha
vida. Sim, é por todos que fiz tambem a minha Mãe
Santissima soffrer tanto! O' alma querida, Eu não lhe poupei
sacrificios por teu amor, farás tu o mesmo por mim'? O'
quantas vezes bato á porta de tantos corações para
deixarem o mundo, e elles não M'os abrem, tendo medo
de darem um desgosto a seus paes e parentes ...
Dizem elles quantas vezes : Se eu os deixar, me cha­
marão de ingrato. Eu devia perguntar-lhes : Fui Eu sem
coração? Pois, Eu não poupei minha Mãe ! Deixei-A em
um mar de angustias, porque te amava, e tu por mim não
pódes fazer o mesmo? ! A 's que já rompestes com esta
cadeia, Eu vos pergunto : Quantas vezes vos peço um pe­
queno sacrificio e dizeis : Ah ! isso não posso. Oh ! a todos
os que assim procedeis, convido a meditar nas angustias
de minha querida Mãe, que não poupei apesar de amal-A
infinitamente.
Meditae: Se Ella na terra soffreu tanto, não está
agora á minha direita por toda a eternidade ? Si no exilio
Elia fosse egoista, aqui não estaria derramando sobre vós
bençans as mais copiosas !
Almas queridas, Maria tambem desejou que chegasse
este dia venturoso de sexta-feira, para mostrar-vos que
Ella tambem vos amava. Desejae tambem vós, ardentemente,
dar-Me almas e por ellas vos sacrificardes.
Este dia deve ser 1;>ara vós o dia do amor, porque
foi neste dia que vos mostrei que vos amava infinitamente.
Almas queridas� como Eu e vossa Mãe querida, dese­
jae o sacrificio, para Me mostrardes que Me amaes.

AMOR GENEROSO
Jesus nos tribunaes, recebendo a cruz
e o amor generoso
Eu sou o caminho que conduz á Patria querida.
Venci o demonio e o mundo, porque no meu Coração
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'
(O Lícções áe Jesics Victúna

só reinava este desejo: fazer o bem; e· é por este bem-:


q_ue conheço quem Me ama.
Ninguem pode dizer que. Me ama s.e não faz o que,
Eu fiíZ t E o que foi que Eu fiz ? Am.ei com a.mor generoso,_
Contempla, alma que Me. ouves, meus trabalhos e
minhas penas. Como foram duros os trabalhos por que.
passei e as. penas que minha alma experimentou! Sim, foi.
o Amor generoso que Me levou a tantos sacrificios t Acom-·
panha-Me na via dolorosa do Calvaria, e o que vês ? Um
Deus. feito homem sujeitar-se aos caprichos dos peccadores
para ganhar seus corações empedernidos! Contempla-Me
nos tribunaes feito joguete de suas vontades depravadas t
Ouves, alma que Me escutas, alguma queixa ou censura ?
Ah!. não, deixei Me jogar de um lado para outro, sem a.
menor censura ás suas brutalidades! A minha resposta era
um doce sorriso, um olhar meigo, para ver se seus cora­
ções empedernidos Me reeonheciam como amigo de suas.
almas, as quaes vinha salvar.
Sempre aos algozes dei esta r-esposta : Meus . filhos ,.
apesar de vossa dureza,. Eu vos amo com amor generoso,.
e por v.ós vou morr,er em duro madeiro, porque sois meus
l. ilhos, ainda que vós, como vosso Pae, não Me reconheçaes!
Vê, alma que Me ouves, como meu amor é generoso?'
Apesar de ser desprezado 1 meu amor não diminue para
com os que em vez de Me amar, Me ultrajam!
Eu amo o homem com a.mor infinito, não por suas
qualidades, mas, sim, porque possue uma alma immortal,.
creada pela benevolencia de meu amor ; por isso, amo tan­
to o justo como o peccador, com a differença, que o justo
está mergulhado no meu amor e o peccador empedernido
está longe de mim., porque onde está o peccado Eu não
estou!...
Vê como sou amavel, - :i!·ão desprezo aos que me
desprez�m, antes desejo ardentemente vel-os ao meu lado
para cobriJ-os de beneficias ; e é para ver os peccadores
ao meu lado que tanto Me sacrifiquei, deixando-Me cruci-·
ficar, não á força, mas sim por amor!
Vê, alma que Me escutas, quando me apresentaram;
o infame madeiro ... Como o recebi ? Meu Coração alegrou­
se em infinito, porque nelle ia dar as mais sublimes provas.
de meu amor generoso! Este throno de ignominia para
muitos, ia se tornar para mim cathed.ra de amor, donde
instruiria os doutores de minha Egreja, os confessores, os
meus pontifices e príncipes desta mesma Egreja, pela qual
vélo constantemente.
Desta cruz bemdita ia inspirar tantas virgens a des­
prezarem os bens fallazes do mundo, entregando-se nos
meus braços! . Desta cathedra de amor ia inspirar tanta�
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Licções de. Jesu,s Victima 11

almas a Me abraçarem crucificado, e, á minha imitação


morrerem cada dia para si! Razão tive de alegrar-Me com
a cruz porque, abraçando-a com amor, abracei todas as
almas que iam abraçal-a por amor de mim, pois embora
iosse instrumento de ignominia, ella foi por mim abençoada.
A cruz, que Me deram a carregar e a qual abençoei,
não foi como madeiro que abençõei, mas sim, a humilhação
que acarretava a quem a carregasse como Eu, e por tão
nobre fim! Qual foi esse fim, tu bem o sabes: salvar a tua
alma, abrir-te as portas do Paraiso! Neste momento, aben­
çôando minha cruz, abençôei todas as cruzes de meus fi­
lhos que, como Eu, as carregassem por tão nobre causa, a
salvação de sua alma e de todas as almas. Naquella hora
sempre bemdita, vi meus servos fieis, á minha imitação,
carregados com a dura cruz, pela minha gloria; cruz de
desprezos, humilhações, calumnias, perseguições as mais
horrendas. Nesta hora bemdita, em meu Coração, disse: O'
cruzes de meus servos, Eu vos abençôo, porque nobre é
vosso fim: a salvação das almas e a vossa santificação.
Desde aquella hora bemdita, o perseguido por causa de
meu Nome é tambem bemdito, porque bemdito é o que elle
aspira ! Razão portanto tive de alegrar-Me, em infinito, com
a cruz que Me apresentaram, cruz de humilhaç�o, porque
quem naquelle tempo carregasse a cruz era um criminoso !
Passei por esta humilhação, não com pezar, como já te
disse, mas sim com alegria, porque esta cruz ia servir-Me
de tH.rono, donde ensinaria aos homens de boa vontade,
revelando ao mundo as lições, as mais sublimes: «Pae per­
doae-lhes porque elles não sabem o que fazem ;» «Hoje
mesmo estarás commigo no reino do Paraiso ;» «Eis ahi
tua Mãe ; » «Mulher, eis ahi teu filho. » Estas tão curtas pa­
lavras que .sabedoria encerram! Contêm a verdadeira sa­
bedoria que é perdoar e '§empre perdoar, porque a quem
perdoa ser-lhe-á perdoado e gozará para sempre no meu
reino. Haverá sabedoria melhor do que ganhar a felicidade
immortal ? Ah! não, o homem, com a sua sciencia ainda
não descobriu, nem pode descobrir um meio de por si só
ser feliz eternamente! .
Hoje mesmo estarás commigo no Paraiso, a um la­
drão foi dito. A sociedade o lançava fóra de si com a mor­
te, e o Deus misericordioso lhe promette o Paraiso,
mostrando aos homens sua infinita caridade por um acto
de arrependimento! O' sabedoria não comprehendida suf­
ficientemente pelo homem: Perdoar e sempre perd,oar !_
«Filho, eis ahi tua Mãe. » «Mulher, eis ahi teu filho. »
Sempre a minha misericordia em acção!
Razão tive,, alma que Me ouves, de Me alegrar com
cruz, porque nella mostrei á humanidade o amor generoso !
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12 Licções de Jesus Victima

Amo sem medida, porisso é que sem medida Me sa­


crifiquei e continúo a sacrificar-Me todos os dias !
A todos amo egualmente, porque meu amor é perfei­
to, porém, se desejaes estar mergulhados no meu Divino
Coração, sacrificae-vos por amor de quem por vós abraçou
a cruz com santa alegria, respondendo aos vossos algozes
com a bondade de vossos corações, sacrificando-vos por
elles assim como Eu Me sacrifiquei, não diminuindo meu
amor para com elles ! Fazei vós o mesmo ; a quem vos
offender com palavras grosseiras e pouco attenciosas, dae­
lhes em troca um sacrificio offertado a mim pela sua san­
tificação ou conversão, conforme fôr, peccador endurecido,
ou morno na sua piedade !
Sorride aos vossos inimigos e ás vossas cruzes, por­
que o céo é dos que soffrem por meu amor ..

AMOR GENEROSO

1.a QUEDA

Com a bocca por terra, osculei com amor todas


humilhações de meus servos queridos

Falae, Senhor, que vossa indigna serva aqui está para.


vos ouvir. e,
p
-Desta risão voluntaria desejo falar ás almas de boa
vontade do meu amor generoso, deste amor que Me faz
bater, sem cessar, á porta de tantos corações. Porém, a
maior parte delles não m'as abrem: fecham a porta a este
meu amor misericordioso e generoso que só deseja fazer
o bem! Alma que Me ouves, vou te dizer como desejei ser
humilhado só para ter occasião de mostrar aos meus filhos
que meu amor por elles não era um amor phantastico, mas
sim, amor real, porque é pelo sacrificio que se .mostra o
verdadeiro amor.
Desejei ardentemente que chegasse a hora, em que,
no caminho do Calvario ia ser empurrado e cahiria por terra.
Grande foi a humilhação porque passei quando cahi,
pela vez primeira, no caminho do Calvario! Alma que Me
ouves, quem cahiu ? Um Deus !...
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Licções de Jesus Victima

Sim, um Deus revestido da natureza humana ! Per­


gunto-te: não podiam os anjos vir em meu auxilio? Não
podia Eu proprio usar de minha Divindade para dar forças
á minha humanidade enfraquecida de tanto soffrer? Sim,
podia ter dito aos anjos, segura-Me, não Me deixes cahir ;
podia ter usado da minha Divindade para sustentar meu
corpo enfraquecido de tanto soffrer, mas não quiz usar de
nenhum poder para mostrar a todos os meus filhos que
meu amor é um amor generoso, prompto a todo sacrificio
e a toda humilhação, que fosse preciso, para salvar suas
almas!
Quando osculei a terra nesta quéda do caminho do
Calvario, grande foi minha humilhação, porque não era um
simples mortal, mas, sim, o Deus dos exercitos, o Rei Im­
mortal da Gloria, que os anjos adoram com todo o respeito
e reverencia !
Por ser grande, grande foi a humilhação por que
passei, porém, esta humilhação não foi por força, mas por
amor ! Emquanto não tinha forças para Me levantar, com
a bocca por terra, osculei com amor a terra bemdita que
teve a grande ventura de Me receber; e, osculando-a, na­
quella hora humilhante e bemdita, osculei todas as humi­
lhações de meus servos queridos, dizendo no meu Coração
compassivo : ó humilhações de meus servos, Eu vos os­
culo nesta hora em que por terra aqui Me acho tão humi­
lhado debaixo deste pesado madeiro !
O' bemditas humilhações de meus servos fieis; de
hoje em diante não mereceis mais o nome de humilhações,
mas sim de exaltações, porque o humilhado por meu amor
será grande nas moradas eternas ! . Nesse osculo bemdito,
vi tantos servos meus perseguidos como Eu, chamados uns
de loucos, outros de hypoaritas, outros de perturbadores da
_ lei, emfim, vi todas as humilhações de meus filhos mimosos,
e então Me levantei reanimado, lembrando-Me que esta
quéda ia ser: a força destes meus filhos perseguidos e ca­
lumniados por causa de meu nome bemdito ! Sempre, alma
que Me ouves, o meu amor generoso em acção ! O amor
generoso que Me animava a assim Me deixar tratar, deu­
Me forças para Me levantar nesta quéda tão dolorosa.
O' almas todas que desejaes Me imitar, reparae um
pouco na minha generosidade 1 O que Me deu forças para
Me levantar desta quéda tão dolorosa foi a lembrança que
minha humilhação ia ser a vossa força, quando, por meu
amor, fosseis humilhados. Apesar de estar em tanto soffri­
mento, tão humilhado, não Me esqueci que soffria pela vos­
sa salvação e para ser a vossa força nas penas da vida,
sempre com este lema: soffro, é verdade, sou humilhado,
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14 Licções de Jet;us Victirria

mas tudo para fazer o bem, para abençôar meus filhos,


para lhes dar força.
Almas que Me desejaes seguir, o vosso lema é
soffrer para dar-Me almas? Soffrer para contentar-Me? Sof­
frer para difundirdes meu reinado nas almas? Soffrer hu­
milhações para que meu Nome seja amado e adorado por
todos os homens ? E' assim que vós pensaes quando Eu,
ou aquelles que fazem as minhas vezes ou o mundo vos
humilham? Pensaes como eu pensei e agis como Eu agi,
quando prostrado por terra, estava sem forças para Me le­
vantar? !
Já vos disse como Eu procedi e o que Me deu forças,
como Eu aqui abençôei todas as humilhações por que ha­
yieis de passar por meu amor, e como tive força, lembran-
do-Me que estavam soffrendo para proporcionar-vos o bem:
Vêdes, almas queridas, como age o amor generoso ! E é,
para quem age com este amor, que as humilhações são
doces e suaves, porque Eu já as abençoei naquella hora
bemdita.
Vêde quantas almas generosas Me bemdizem ém suas
humilhações. Agora, vos pergunto porque louvam uma cou­
sa que humilha? Ah ! o segredo já vos foi revelado, é por­
que Eu abençôei suas humilhações, não no Tabor, mas no
caminho do Calvario, quando humilhado como um verme
da terra ! Sim, almas que Me quereis seguir, todas as vos­
sas humilhações foram osculadas, não por um simples mor­
tal, mas por vosso Deus, que vos ama generosamente, con1
amor infinito. Quando Eu ou aquelles que fazem as minhas
vezes, ou o mundo, ou o demonio vos humilhar, lembrae­
vos que Eu osculei, com osculo terno, essas humilhações !
Ah ! se disto vos lembrardes, que força Iião tereis para re­
ceber o que vosso esposo o.sculou ! Com que alegria rece-
bereis, então, toda e qualquer humilhação, lembrando-vos
que o vosso Tudo, o vosso amor, em hora tão humilhante,
osculou, com amor generoso, toda e qualquer humilhação
de qualquer parte que vos fôr enviada !
Os meus verdadei.J:os servos sorriram nas humilha­
ções, porque comprehenderam tudo isto que agora . vos es­
tou falando. Fazei vós o mesmo, porque para que Me com­
prehendaes é que vos falo desta eathedra Divina da Santa
humilhação - o Ta-bernaculo Santo.
Aprendei, almas todas que quereis vir a mim, apren­
dei na escola da santa humilhação.
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Licções de Jesus Victima 15

AMOR GENEROSO

Jesus encontra-se com sua Mãe Santissima no


caminho do Calvario e nesta hora abençôa o
sacrificio dos paes e dos filhos que se
separam por seu amor !

Senhor, falae, aqui aos vossos santissimos pés, estou


esperando a esmola de vossa Palavra Divina !
Ouve-Me com attenção, vou mostrar-te até onde che­
gou o meu amor generoso.
_ Acompanha-Me na via dolorosa do Calvario, e, escu-
tando com toda a attenção que te é possivel, vê se podes
encontrar amor mais generoso do que o meu !
Ah ! Nunca encontrastes nem podes encontrar ! O meu
amor é infinito para com todos vós, e infinita é a genero­
sidade que acompanha este amor !
Vou-te provar como meu amor é infinitamente gene­
roso ! Desejei ardentemente que che$asse a hora tristissima
em que pudesse encontrar com a mmha Mãe no caminho
do Calvario ! Perguntar-me-ás, alma que Me ouves, porque
desejei encontrar-Me com a minha Mãe em hora tão an-
gustiosa?
Não amava Eu esta terna Mãe com amor infinito?
Quem assim Me ouve poderá dizer-Me ; Um filho tem direito
de fazer soffrer sua mãe e com tão duras penas?
Respondo a todos que Me quizerem ouvir : - Sim,
por tão nobre causa - a salvação das almas e minha gloria
- o filho tem direito de .,sacrificar tudo !
Nunca creatura alguma poude amar mais sua mãe do
que Eu; porque, então, desejei dar-lhe a beber calice tão
amargoso, desejando encontrar-Me c,om esta Mãe tão terna,
para-fazei-A soffrer? Falo aqui a todas as almas que de­
sejam ser perfeitas.
• Quando meus olhos divinos, amortecidos pela corôa
- de agudissimos espinhos, pousaram sobre a Mãe lacrimosa,
minha alma cobriu-se de luto e exclamei : O' homens, quan­
to vos amo ! E' por vosso amor que faço esta candida Pom­
ba, este Lyrio formosissimo beber calice tão amargo !
Ah ! O que passou na minha alma de Filho extremoso,
naquella hora bemdita e tristissima? !
· Vi revoadas de almas generosas que, ao meu Divino
chamado, tudo sacrificavam para Me servir e dar-Me almas,
muitas almas ! Ah ! Então, nesta hora bemdita, abençoei
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16 Licções de Jesus Victima

todos os sacrificios d�stas almas afortunadas, que attendem


ao meu chamado, não medindo sacrificios !
Nesta hora, não só abençoei o sacrifício dos que Me
seguem nos conselhos evangelicos, mas, tambem, abençoei
o sacrificio dos paes extremosos que Me dão seus filhos,
com dôr sim, mas com generosidade !
Contemplando minha Mãe lacrimosa, dilacerada pela
dôr de vêr-Me em tão lastimoso estado, disse ao Pae : -
O' Pae de misericordia, a minha dôr e a dôr da Mãe que
Me destes, vol-as offereço como moeda preciosissima, para
que nos seculos vindouros, dês como presente ás mães
desoladas, que choram por ver seus filhos longe dellas e
por meu amor. Esta nossa dor sirva de lénitivo para esses
paes, que, nos seculos vindouros, chorem inconsolaveis !
Sim, que estas lagrimas de Maria e esta minha dôr sejam
a força dos filhos por mim chamados, para engrandecer o
vosso santo nome.
E' porisso, almas que Me ouvis, .que chamo esta hora,
hora bemdita. Sim, ella é bemdita, porque foi neste encon­
tro dolorosíssimo que comprei, com a minha dôr e a de
Maria, a força para os que Me seguem nos conselhos evan­
gelicos e para os paes extremosos, que, fazendo o sacrifício
de seus filhos, generosamente M'os dão.
Agora, vos pergunto: Esses paes não amam seus .fi­
lhos? Sim, os amam, mas, quem dá força a esses paes pa­
ra um tal sacrifício ? Ah ! Esta força eu a comprei e com
que preço ? ! Quanta dôr não Me custou ella ! Não foi só
meu sacrifício, mas foi tambem o de minha Mãe extremosa.
Reflecti commigo, por um instante: vêde até onde
chegou meu amor generoso! Amar tanto minha Mãe e de­
�ejar vel-=-A em martyrio por vosso amor !
Como Deus podia ter poupado esta Mãe tão terna !
Sim, conhecia Eu seu Coração al1:oroso, podia ter usado
para com Elle de minha Divindade, vendando-lhe os olhos,
tapando-lhe os ouvidos, para não Me ver, nem ouvir tantas
blasphemias, que naquella hora, vomitavam contra mim!
Podia ter feito isto, mas não quiz, porque desejava sacrifi­
car tambem minha Mãe, para vos mostrar que é pelo sa­
crifício que se prova o amor, pois quando se ama, tndo é.
pouco para sacrificar em favor do que se ama. E' por es- ·
te motivo que deixei minha celeste Mãe beber o calice, até
a ultima gotta, sem aliviai-A, nem por instantes. Conhe­
cendo a generosidade de seu Coração virginal, não lhe
poupei sacrifícios, porisso na minha Paixão dolorosissima,
bebeu até a ultima gotta o calice da humilhação e da dor!
Almas que quereis ser perfeitas e estar commigo na
Mansão da Paz, desejaes como Eu, tudo sacrificar por meu
amor?
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Licções de Jesus Victima 17

Quem sabe ainda algum de vós teme o sacrifício ?
Ah ! por piedade, não temaes sacrificar-vos por tão
nobre causa - a minha gloria e a vossa santificação.
Temer sacrificar-vos pelo meu nome é dar-Me provas
que não me conheceis. E todos os que Me conhecem, na
verdade, se sacrificam com generosidade na medida do
que· lhes foi pedido.
Almas que temeis o sacrificio, - falo aqui do sacri­
ficio da vontade, não dos heroicos sacrifícios, mas, sim, dos
quotidianos. - Eu vos pergunto, já meditastes neste en­
contro dolorosimo; um Filho extrémosissimo e sua Mãe,
cujo Coração possuia uma ternura indizivel ? E estes dois
Corações se encontraram em .hora tão angustiosa! ...
Por piedade, almas que temeis o sacrifício, meditae !
Estes dois Corações unem sua dôr e a offerecem ao
Eterno Pae para vossa força, para vossa felicidade !
Vêde, almas que temeis o sacrificio, vêde até onde
chegou meu amor por vós !

AMOR GENEROSO
Quando Me apresentaram o Cyreneo, aben­
çoei vossos Cyreneos ...
O' vós todos os que passaes por este exilio, vinde e
saciae-vos na fonte inexgotavel de minha Sagrada Paixão.
Continuemos, alma que Me ouves, a percorrer o ca­
nünho do Calvario, porqut! desejo te descobrir as humilha­
ções,. que nelle passei, por amor de todos os meus filhos.
Hoje vou te mostrar a humilhação por que passei,
quando Me apresentaram, nesta via dolorosa, um cyrineu
para Me ajudar a levar o madeiro ao alto do Calvario. Este
cyrineu Me foi dado não por compaixão, mas, de medo que.
não chegasse ao cimo do monte, onde desejavam Me cru­
cificar, satisfazendo assim o odio que os devorava contra
Mim!
Ouve com attenção : qual não foi minha dôr quando
este cyrineu se envergonhou de ajudar-Me a levar a. Cruz !
Meus olhos amortecidos pela dôr, pousaram sobre el­
le e nelle vi, nos seculos vindouros, tantos filhos desagra­
decidos com egual procedimento, envergonhando-se de
Me ajudar a carregar a Cruz ! Sim, vi ainda naquelle
momento, á minha imitação, tantos filhos . dedicados carre-
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18 Licções de Jesus Victinia

gados de cruzes por meu amor, porem sem cyrineus, por­


que os cyrineus se envergonhavam de coadjuvar a quem
estava humilhado e calumniado, por causa de meu Nome!
Almas afortunadas, aqui vos declaro que desejei ardente­
mente que chegasse esta hora humilhante e bemdita, pri­
meiramente para mostrar-vos meu amor generoso na hu­
milhação por que passei, vendo um dos meus filhos, pelo
qual tambem ia morrer, envergonhar-se de Me ajudar a
carregar o pesado madeiro; em segundo logar, para aben­
çoar, com o meu sacrificio, a todos os cyrineus, que, nos se­
culos vindouros, iam ajudar as minhas queridas almas vi­
ctimas a carregar as cruzes que minha mão bemfazeja ia
pôr sobre ellas, para Me coadjuvarem na salvação das almas.
Almas queridas, vêde como minha Sagrada Paixão é
fonte inexgotavel de misericordia!
Cada minuto de minha Paixão santissima tornou-se
para vós thesouro inexgotavel de bençãos!
Almas que Me ouvis, na humilhação em que Me acha­
va, quando me apresentaram o cyrineu, abençoei vossos
cyrineus, dizendo no meu Coração, traspassado de dôr,
por ver-Me tão humilhado: Abençôo todos os cyreneus até
. o fim dos seculos, abençôo os que, por meu amor, coadju­
var.em as almas que, pela minha gloria,. vão soffrer penas
e dôres, as mais cruciantes e humilhantes. Estes que se
constituirem seus cyreneus, no céo terão a gloria de con­
templar-Me mais de perto. Agora que eu vos mostrei o
meu· amor generoso em sempre procurar fazer o bem, apro­
veitando de todas as occasiões, pergunto-vos: desejais imi­
tar-Me? Procuraes todas as occasiões para proporcionar
a felicidade daquelles que vos rodeiam ? Aproveitaes de
todos os momentos de vossa vida preciosa para vos intro­
duzirdes no meu amavel Coração e nelle tamfiem fazer en­
trar a todos que vos rodeiam? A:'h! quanto tempo perdido!
Quantas occasiões tendes desperdiçado de praticar a ver­
dadeira caridade, mostrando meu amor generoso para com
as almas! Em quantas occasiões desperdiçastes as minhas
inspirações, que vos chamavam para maior intimidade com­
migo !
Quantas vezes alguma de vós não disse : esta intimi­
dade não é para mim. Ah! não, almas minhas, jamais as­
sim exclameis! Aproveitae de todas as occasiões, primei­
ramente, para vos introduzirdes no meu amavel Coração,
por uma confiança illimitada no meu amor para comvosco.
Não vos dei provas disto na minha Sagrada Paixão ! Sim,
como já vos disse, aproveitei de todos os instantes de mi­
nha vida para dar-vos provas de meu amor generoso, por­
tanto quem ousará duvidar de meu amor ?!
Depois de vos introduzirdes no meu amavel Coração
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Licções ele .Jesus Victirna 19

por vossa confiança illimitada, á minha imitação, pelo exem­


plo e a oração, pela palavra e o sacrificio, deveis introdu­
zir nelle a todos que vos rodeiam.
Vêde como Eu procedi: A cada humilhação que re­
cebia, aproveitava para abençoar-vos, offertando-a ao Pae
Eterno pela vossa santificação e salvação, deixando-vos o
exemplo, para que hoje Eu pudesse vos dizer: fazei isto
porque Eu tambem o fiz por vosso amor ! Sim, tudo fiz pa­
ra vosso bem eterno.
Sêde, portanto, almas agradecidas, aproveitando das
minhas humilhações, porque ellas constituem· para vós,
thesouro inexhaurivel de bemçãos, que só no céo vos se­
rá dado comprehender.
Vinde e saciae-vos, almas queridas, nas fontes inex­
gotaveis das minhas santas humilhações; tirae dellas, não só
para vós, mas tambem para todos os que te1n sêde de minha
gloria imortal.
Almas que precisaes de cyreneus, como Eu precisei
no Caminho do Calvaria, para abençôar e abençôar os vos­
sos cyrineus, aproveitae desta humilhação, para dar-Me al­
mas, assim como Eu della aproveitei.

AMOR GENEROSO

A Veronica
Vinde a mim todos � que desejaes a perfeição, por­
que é de meu Coração Divino que ella dimana.
Prosigamos na via dolorosa do Calvaria, alma que me
ouves. Hojé vou te descortinar mais um pouco o quanto
meu amor é generoso. Exausto de forças, meus olhos divi­
nos, quasi cerrados pelo sangue que corria de minha Sagra­
da Cabeça, não podendo ver mais o caminho por onde pi­
sava, neste estado tão lastimoso, uma piedosa mulher veio
ao meu encontro, trazendo nas suas mãos, um panno alvis­
simo de linho, com o qual quiz tirar o sangue coagulado de
meus olhos, e que nelles se achava desde a hora da coroa­
ção de espinhos.
Esta piedosa mulher, movida de compaixão, porém,
sem verdadeiro conhecin1ento do acto sublime que ia pra­
ticar, rompe a multidão, e sem respeito humano apresenta­
se a mim e, sem pronunciar palavra, estende seu alvo pan­
no e limpa-Me a face amortecida e coberta de sangue e de
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20 Licções de Jesus Victinia

asquerosas imundicies, que nella se achavam, como fructos


do odio satanico !
Em troca do acto piedoso que esta mulher praticou
para commigo, dei-lhe a imagem de minha Face Divina es­
tampada no seu alvo linho, porém, oh! prodigio, esta ima­
gem, apenas ·foi para mostrar-lhe exteriormente meu reco­
nhecimento.
Quando ella tirou o alvo linho de minha Face Divina,
lancei-lhe um olhar de agradecimento e fil-a com.prehender
o acto sublime de caridade, que tinha praticado- e quem
era o alvo de sua caridade. Ella, reconhecida, quiz ajoe­
lhar-se a meus pés e ahi morrer, sem jamais Me deixar um
instante! Reconheceu-Me como seu Redemptor, como o Mes­
sias promettido, tanto assim que Me acompanhou desde
aquelle instante até á sepultura, e hoje está a meu lado na
mansão celeste, louvando-Me e gozando de Meu divino Co­
ração.
Almas queridas, quando lancei Meu olhar. agradecido
para esta heroica Veronica, vi todas as Veronicas dos se­
culos vindouros ; vi a todas vós, não com simples linho em
vossas mãos, mas vos vi com as vossas almas candidas a
enxugar meu rosto divino, ensanguentado na alma dos
peccadores ! Vi vossa generosidade a urdir sacrificios e a
atravessar generosamente no meio das turbas deste mundo
peccaminoso, e, sem respeito humano, chegar juntos dos
peccadores, para, com as vossas almas transbordantes de
zelo, limpardes as immundicies de meu rosto adoravel
por elles ahi lançados!
Oh ! almas afortunadas que vos constituistes genero­
samente minhas Veronicas; na hora em que, carregado
com tão duro madeiro e com a minha Divina Face tão mal­
tratada, uma mulher a quiz enxpgar, não por amor porque
não Me conhecia, nessa hora, t�o angustiosa, em verdade
vos digo, Veronicas amadas, vós fostes minha conso­
lação, porque então olhando para vós disse : Estas vão
ser Veronicas por amor, hão de enxugar minha Face ado­
ravel por meio de sua generosidade, nos sacrüicios quo­
tidianos, na pratica dos santos conselhos evangelicos :
hão de · ser minhas Veronicas, enxugando minha Face
Divina manchada no coração dos peccadores; hão de ser
minhas Veronicas, fazendo-Me conhecido, não pelo temor,
mas sim, pelo amor; hão de ser minhas Veronicas criando
santos, mostrando o quanto Me agradam as almas que as­
piram a perfeição; hão de ser minhas Veronicas, mostran­
do ás almas que a verdadeira sciencia para adquirir a san­
tidade está ein meditar na minha Sagrada Paixão, Livro
Divino, cujas lettras foram escriptas com o seu San­
gue ! Oh! Veronicas amadas de Meu Pae, nesta hora
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Licções de Jesus Victima 21

vos abençôei, lançando-vos um olhar divino, o qual deveis


sentir a toda a hora em vossas almas e principalmente
quando fordes á procura de um peccador ·para no seu co­
ração enxugardes minha face maltratada e esp_esinhada pe­
los seus crimes ! Não deveis ver o meu olhar divino que
descança sobre vossa alma só nessas horas, mas tambem
-quando procuraes Veronicas perfeitas, quando inculcaes
nas almas de bôa vontade o desejo de me coadjuvarem na
regeneração de meu povo querido e das minhas ahnas que
vivem longe de Mim! Sim, meu olhar divino vos acompa­
nha por toda parte nas m1nimas ações feitas por meu amor,
e só para Me dar gloria sem mistura de vaidade humana!
Vêde almas afortunadas, como minha Sagrada Paixão
é fonte inexgottavel de riqueza para vossas almas !
De todos os actos aproveitei, primeiramente para vos
dar o exemplo, mostrando-vos o meu amor generoso, que
de tudo se serviu para patentear-vos meu amor infinito;
em segundo lugar para que hoje tenhaes força de serdes
verdadeiras Veronicas, porque, se fordes Veronicas gene­
rosas, tereis realizado meu desejo que é de serdes santas.
Quem me coadjuva, será um glorificado por meu Pae.
Oh! ·almas Veronicas de vosso Esposo Crucificado, como
sois venturosas: o olhar Divino de vosso Esposo vos acom­
panha por toda a parte!
NãQ soffri em vão ; constitui uma legião de candidas
Veronicas que, at� o fim dos seculos, hão de enxugar mi­
nhas lagrimas no coração dos pobres peccadores, pois,
c01n suas almas puras e mais brilhantes que o sol, hão de
refrigerar minha Face Divina tão maltratada pelos pecca-
dos dos impios !
Sim, Veronicas amadas, abençôei-vos naquella hora
bemdita, em que aquella mulher generosa praticou para
commigo um acto de tã@ sublime de caridade e abençôo­
vos ainda hoje e todos os dias de vossa preciosa existen­
cia.

AMOR GENEROSO
2.a QUEDA
E' a voz do amor generoso que chama a todos vós
que tendes sêde da agua que sacia !
Vinde e bebei desta agua e sereis saciados.
Batei que estou com pressa de vos abrir ! Desejo
saciar-vos!
Maria, minha celeste Mãe, está á vossa espera para.
introduzir-vos na fonte da vida.
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22 Licçõcs de Jesus Vicfi'ma

Continuemos hoje a percorrer o caminho do Calvario,


porque desejo descortinar-vos segredos não conhecidos,
para mostrar-vos o meu amor generoso! E' a voz do amor
que vos convida a percorrer este caminho de supplicio e
de amor ; sim, de supplicio para mim, porque nelle soffri
o que nenhum mortal até hoje soffreu, nem ha de soffrer:
caminho de amor, porque foi por amor que percorri esta
via ; e a todos que Me acompanharem, meditando nos meus
supplicios, em seus corações accender-'1hes-ei o lume sagra­
do do amor eterno.
Neste caminho de tantos supplicios, as almas de boa
vontade encontrarão fontes de aguas limpidas, onde saciarão
a sêde que as devora de possuirem meu amor. E quem não
se queimará dentro do lume?
Sim, almas queridas, quem será indifferente, depois
de bem meditar no quanto Eu soffri nesta via dolorosa do
Calvario? !
Vou ainda hoje mostrar-vos o quanto meu amor é
generoso !
Com a alma despedaçada por penas cruciantes e o
meu corpo extenuado pela perda de tanto sangue na fla­
gellação, com a cruz sobre meus delicados hombros, não
tendo mais força, meu corpo não podendo mais supportar
tal pezo, cahi por terra pela segunda vez e, com tanta
violencia, que as pedras do caminho se cravaram no meu
corpo todo esfolado pelos golpes dos verdugos ! ...
· Almas que Me lêdes, por piedade, meditae commigo
estend�do por terra e sem forças para continuar a caminhar!
Podia nesta hora dar fim aos meus tormentos, podia di.zer:
para que mais martyrio ? Nã·o soffri já o sufficiente para
mostrar aos meus filhos que meu amor é generoso e que
os amo infinitamente?
Ah ! não, tinha meu amor �eneroso sêde de soffrer
infinitamente, porque infinita é minha generosidade ! Por
tP,rra, como um verme e, sem forças para Me levantar, vi
nos seculos futuros filhos extremosos, carregados de pesa­
das cruzes, lançados por terra como Eu e sem forças para
proseguir ; ah ! então a generosidade de meu amor reani­
mou minha alma angustiada e meu corpo quasi inanime !
Lembrei-me destes filhos mimosos e disse: não posso
terminar aqui meu martyrio, preciso ir até o cimo do Cal­
vario, preciso cahir mais uma vez, preciso ser crucificado,
preciso dar· exemplo aos meus filhos, preciso soffrer mais
levantando-Me desta quéda tão dolorosa ; e ainda por terra,
lançando um olhar sobre os seculos vindouros até o fim,
abençoei com as minhas penas e dôres todos os martyrios
de meus filhos mimosos, que esmagados sob penas e igno­
mias, gemem como Eu, por tão nobre causa,- a conquista das
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Licções de Jesus Victima 2a

almas ! Sim, almas queridas, com a minha dôr tão pungente,


abençoei-vos; ah! lembrae-vos quando, como Eu, estiverdes
sob o peso de uma dura cruz, quer seja de doença ou sob
o peso de uma tribulação de espirito ou humilhação mandada
por mim ou pelo mundo. Lembrae-vos, almas mimosas, da
minha segunda quéda no caminho do Calvario ! Sim, lem­
brae-vos que, na minha grande dôr, fostes abençoadas; vossa
dôr, vossa angustia foi nesta hora lembrada por meu amor
sempre generoso em proporcionar-vos força e felicidade
immortal.
Podia, como já vos disse, ter dito, chega de soffrer,
já mostrei aos meus filhos que os amo infinitamente, porem,
meu amor generoso, lembrando-se de vós, não quiz assim,
proceder, foi até o fim, até o cimo do monte ! Vêde, almas
minhas, quanta generosidade para comvosco ! Agora vos
pergunto : - quem sabe alguma de vós que Me lê, cabida
sob o peso da cruz, não tem forças para proseguir... per­
gunto- Eu a esta alma : O que Me deu forças· para Me
levantar? Já t'o disse - o· amor generoso. Ah! é esta ge­
nerosidade que deve te dar forças, alma esmagada pela
dura cruz, seja ella de qualquer forma!
Nesta hora bemdita e tremenda, em que teu Deus foi
lançado por terra eomo um vil verme, não comprou tua
força? Ah ! sim, a força de todos vós que luctaes· para a
conquista do reino immortal da gloria vos foi comprada
nessa hora e por que preço ! Sim, nesta queda do1orosissi­
ma, conquistei para todos vós a força necessaria para
levantar-vos todos os dias em que a cruz se tornar para
vós pesada! Lembrae-vos disto, almas minhas, e tereis
força ; procurae e a achareis no meu coração desejoso de
vol-a dar. Corno ja vos disse, Eu sou a fonte da vida, que
sacia as almas sequiosas !
Quem tem sêde vonha e beba e sahirá saciado, e dará
a todos, que de si se approximarem, consolação.
Jamais, almas minhas que soffreis pela diffusão de
meu reino, jamais fiqueis com os labios resequidos.

AMOR GENEROSO
Encontra as mulheres de Jerusalem
O DOM DA PERSUASÃO
Vinde almas sedentas de perfeição, vinde aqui aos
pés de meu altar, onde por vosso amor estqu tão humilhado!
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24 Licroes de Jesus Victima

Vinde saciar-vos na fonte que dimana de meu Coração


aberto! Vinde, desejo tanto saciar-vos ! Escutai-me por
piedade. Hoje desejo descortinar-vos mais um pouco, o
quanto meu amor é generoso !
Vamos ao caminho do Calvario, onde meu amor mos­
trou sua generosidade infinita !
Alquebrado sob o peso da um enorme madeiro, ca­
minhando com difficuldade, umas piedosas mulheres vieram
ao meu encontro, chorando por ver-Me em tão lastimoso
estado ! Estas mulheres possuiam um coração compassivo
e vendo-Me a tal estado reduzido, compadeceram-se de· mim,
porém Eu, prescrutando seus corações, vi que não me
conheciam, e não sabiam qual a causa de meus martyrios
e dores. Não pude Me conter e falei-lhes como Pae amoroso,
dizendo-lhes: Não choreis por mim, mas, sim, sobre vossos
filhos e vossos peccados, que elles são a causa de meus
tormentos!
Almas que Me ouvis, meditae e vêde meu amor gene­
roso em acção. Estava Eu tão alquebrado de forças, tão
opprimido de dores por causa da flagellação e coroação de
espinhos, que os soldados temiam que não chegasse com
vida ao cimo do Calvaria ; entretanto meu amor generoso
continuava em acção.
Vendo estas piedosas mulheres tão compassivas, vol­
tei-me para ellas com a minha calma · habitual, e com um
doce s'ürriso lhes falei:_ Não choreis por mim, mas sobre
vossos filhos e vossos peccados, porque elles são a causa
de meus martyrios ! E meu olhar divino penetrou até suas
almas' de boa vontade, e vi que seus corações eram bons
para receber minhas palavras, que iam produzir fructos de
vida eterna. Sim, produziram fructos de vida eterna, porque
ellas Me comprehenderam, Me amaram e por mim se sacri­
ficaram, e hoje estão a meu lado, br.bendo na fonte da vida !
Almas que Me ouvis, o que será que se passou no
meu Coração naquelle instante ? Poucas são as almas que
sabem estas cousas ; porém, desejoso como estou que co­
nheçais o meu Coração na sua generosidade, vou dizer vos
o que se passou, naquelle instante celebre e bemdito.
Vi a todas as almas Missionarias, meditando nas
minhas cruciantes dôres e angustias, Me seguirem neste
caminho doloroso, e com ellas milhões e milhões de almas,
convertidas com o dom da persuasão, adquirido na medi­
tação de meus tormentos.
Nesta hora bemdita, disse no meu Coração compas­
sivo : Almas Missionarias, que um dia haveis de Me seguir
contemplando o quanto Eu por vós soffri, neste momento
dou-vos o sublime dom da persuasão, dom este tão neces­
sario para as vossas almas, dom sem o qual a Mis-
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Liccões
,. ·<le .Jesu,s VictiJna 25

sionaria nada pode fazer em favor das almas que deseja


cenverter.
Olhando para estas piedosas mulheres, vi todas vós,
almas Missionarias, a compadecer-vos de minhas dôres e a
arrebanhardes outras almas para meu reino; vos vi solici­
tas, sem medir sacrificios, antes a urdil-os para ganhardes
os corações dos pobres peccadores empedernidosl Oh! sim,
nas piedosas mulheres, vi vossos corações compassivos a
se compadecerem, quando meu nome em vez de ser louva­
do o visseis ultrajado! Ah! em verdade vos declaro, que
grande foi minha consolação em ver-vos tão solicitas pela
minha gloria. O que desejo, porém, nesta minha conversa­
ção comvosco, é que graveis no vosso coração o que já vos
disse, isto é, a graça, que por mim vos foi dada em hora tão
bemdita, quando por vosso amor carregava o duro madeiro,
para vos abrir as portas da Jerusalem Celeste.
Que graça é esta, já vol-a disse. E' o dom da per­
suasão. Sim, almas Missionarias, esta graça a recolhereis
na meditação de minhas penas, porque foi soffrendo por
vós, que esta ventura vos foi dada. O que exijo, no emtanto,
de vó� para adquiril-a, é que venhas procurai-a nesta via
dolorosa; pois é na meditação do qu anto Eu soffri por vós
que adquirireis para vós graça tão insigne, e cujo valor
só no céo comprehendereis, porque quem possue este dom,
povôa meu reino! E o que será dado a quem tiver esta
ventura?!
Quem salva uma - só alma brilhará como o sól ! E que
gloria não terá quem salvar mais do que uma alma ! Vós
não podeis comprehender isto, porque nem vossos olhos,
nem vossos ouvidos, nem vosso entendimento, neste valle
de pranto, é capaz de comprehender á gloria da alma que
possuir tal thesouro - q dom da persuasão - porque este
Me darás almas, muitas 'Almas!
Vêde almas que Me ledes, o quanto vosso Jesus vos
ama; soffrendo, alcançou-vos tantos thesouros, soffrendo,
abriu-vos a porta do Paraiso; soffrendo, abriu-vos o coração
para nelle entrardes e usufruirdes dos delicados aromas
que· ahi se encontram !
Agora vos pergunto, que Me dareis em troca de um
tal dom ? Ah ! Eu mesmo é que des-ejo dizer-vos o que Me
deveis dar : Um amor terno e compassivo em favor dos po­
bres peccadores, uma compaixão terna pelas almas tibias,
que prestes estão a serem por mim vomitadas! Sim, des­
tas almas tende compaixão, porque difficil é a sua cura!
Vinde, almas minhas, vinde adquirir o dom da per­
suasão, na meditação do quanto por vós soffri na rua da
Amargura!
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26 Licções de Jesus Victi'ma

AMOR GENEROSO

3.a QUÉ.DA
Na minha 3.a quéda, olhando para vós, almas mimo­
sas, vos abençoei, dando-vos minha generosidade para sof­
frerdes com proveito !.
Vinde a mim almas generosas, que desejaes saciar­
vos na fonte inexgotavel de meu amor.
Vinde a mim, ó vós todas que ouvistes meu chama­
do e as seduções do mundo desprezastes para vos enclau­
surardes no meu amavel Coração; desejo hoje mostrar-vos,
mais um pouco, o quanto por vosso amor fiz, soffrendo ge­
nerosamente. penas e dores incomprehensiveis a um mortal!
. Ouvi com attenção, o quanto soffri na terceira quéda
.

do caminho do Calvario, quando, já sem forças, não poden­


!

do mais caminhar, meu corpo extenuado pendia pa­


ra a terra ! Escutae-Me por piedade, e vêde o quanto sof-·
fri nesta_ quéda tão dolorosa ! Os espinhos que circumda­
vam minha Sacratíssima cabeça mais e mais nella se in­
troduziram, causando-Me dôres acerbissimas ! Por terra, sem
poder' levantar-Me, vi todas as almas generosas, que ao
mE;m chamado iam desprezar os bens caducos e generosa­
mente se sacrificariam por meu amor ! Grande foi minha
consolação por ver meu sacrifício corôado com a generosi­
dade de tant�s virgens prudentes, que iam ter sempre ac­
cesa a sua lampada. Ah! será, almas generosas, que, nes­
ta hora de tanta dôr, não procurei para vós uma fineza
com que mimosear-vos ? Sim, nesta hora tão afflictiva e
bemdita, o vosso amavel Esposo, por terra em estado tão
humilhante e debaixo de um pesado madeiro, vendo-vos
nos seculos futuros, tirou de seu [.;oração o que elle tem
de mais precioso ! E o que será, almas generosas, que vos­
so Jesus vos deu nesta hora bemdita? Deu-vos um legado
preciosíssimo e que no céo vos fará brilhar, se a elle - for­
des fiéis neste exílio. Este legado é a minha generosidade
nas ihoras de sacrificio. Quando por terra Me achava e af­
fligido por tantas dôres, vendo-vos nos seculos futuros,
disse a meu Pae : Oh! meu Pae, meu Coração reanimou-se
porque nos seculos futuros candidas a]mas ouvirão meu di­
vino ,;chamado e seguir-Me-ão em caminho tão escabroso; po­
rém,' muitas vezes, debaixo de uma dura cruz não terão
forças para caminhar ... Pae Santo, esta minha dôr, esta
minha humilhação, sirva para supprir suas fraquezas! e
tambem lhes sirva como força ey:t horas tão afflictivas !
E olhando para vós todas, almasl}m.imosas, vos abençôei,
pando-vos minha generosidade para soffrerdes com proveito.
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Licções de Jesus Victi·ma 27

Almas queridas, se alguma de vós sentir que lhe fal­


ta esta generosidade, em verdade vos declaro, é porque não
sabeis bater no meu Coração. Sendo Eu Esposo tão dedica
do serei por ventura capaz de negar-vos o que tanto Me
custou para vos deixar como herança'? A unlca condição
que imponho ás almas para adquiril-a, é de bater ao 1neu
Coração . E será isto difficil? Ah ! não, para falar commigo
não é difficil, pois estou a toda hora, a todo instante á dis­
posição de quem Me deseja. Eu não sou como os monarchas
da terra que têm suas horas de audiencia ; minha audiencia
é dia e noite, a todo ins�ante, e não imponho condições, nem
faço distincção de classes e a todos recebo com alegria. Ah!
almas queridas, vêde meu amor generoso para comvosGo. A
unica condicção que vos imponho é a vossa bôa vontade, por­
que esta é livre, podeis usar della como quizerdes. Vêde a
generosidade de vosso amantissimo Esposo. Elle não vos
obriga, só vos convida com palavras tão doces ; mostra-vos
_ a belleza da virtude, mostra-vos o quanto vos , ama, mas
não vos obriga, se vós não o quizerdes. Porque, esposas
amadas, vosso Jesus faz assim comvosco? Ah ! é para ter­
des merecimento. porque se não fosseis livres, que mere­
cimentos tínheis vós?
Se Eu dispuzesse de vossa vontade farieis tudo per­
Jeito, mas vós nenhum merecimento terieis. Vêd.e como
sou generoso ! Agora, só depende de vós o serdes generosas
e o virdes bater ao meu divino Coração, sempre ás vossas
ordens para vos enriquecer de generosidade, desta genero­
sidade que Me levou a soffrer tanto por vós no caminho
do Calvaria ! Sim, almas. minhas, esta generosidade que Me
impulsionou a tanto soffrer por vós é vossa. Dei-vol-a em
hora tão dolorosa ! Comprei-vol-� por tanto preço ! Almas
minhas, alguma de vós temerá de bater em coração que
tanto sacrificou para abrU-vos a porta da mansão celeste?
Tendes medo deste Coração, que se deixou rasgar por uma
lança ? ! Temeis bater neste Coração em que se aninhou
generosidade tanta ?
Ah ! não, não temais, vinde e batei e abrir-vol-o-ei,
dando-vos a generosidade, que com tanto preço vos com­
prei para hoje fazer-vos almas heroicas e promptas a
todo sacrifício pela vossa santificação e salvação das
almas. Por piedade não desperdiceis tão grande dadi­
va, dada em hora tão bemdità em que vosso Jesus, humi­
lhado por terra, offerecia ao Pae Eterno sua generosidade,
por vós, almas candidas, esposas amadas.
Sim, nesta· hora bemdita vos abençoei e vós corres­
pondestes, porque desprezastes os bens fallazes para vos
enclausurardes no meu Coração. Tudo deixaste por tão no­
bre morada ! Como sois felizes ! Feliz é vosso Esposo por
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Licções de Jesus Victima

vos possuir! Vós, esposas amadas, compradas por tanto


preço, sois a alegria da Egreja militante e da Egreja tri­
umphante. Os anjos se alegram quando uma donzella ouve
meu chamado, e meu divino Coração e·xulta de alegria
e se abre para recebel-a !
Bemditas sois, esposas amadas, aproveitae da dadiva
sagrada da minha generosidade, dada em hora tão santa.

AMOR GENEROSO
Jesus é despido no Calvario
Na minha desnudez dei-vos a força necessaria para
alegremente despojardes das vossas vontades,
Vinde e bebei na fonte inexgotavel de minha sagrada
Paixão, vós todos que tendes sêde de perfeição.
Vinde, almas minhas, vinde presenciar em espirito o
quanto vosso Jesus por vós soffreu, quando, chegando ao
cimo do Calvario, Me arrancaram as vestes para Me cravar
no duro madeiro !
Almas venturosas, que convidadas fostes a ser mi­
nhas Veronicas, meditae, por piedade, e vêde o quanto meu
amor é generoso, deixando-Me desnudar á vista de uma
populaça sem pudor !
, A tunica que cobria meu delicado corpo estava de
tal forma presa, que preciso foi que os algozes a puxassem
com grande força, pois do contrario não se descolaria !
Não usaram elles de cl.elicadeza ! Pobres infelizes ! O
odio de seus corações nesta hora tomou posse de suas mãos
sacrilegas e com toda a força MEJ· desnudaram, arrancando­
Me assim pedaços de minha sacratissima carne !
Já sem forças e quasi sem sangue, supportei tal hu­
milhação e dôr de ver-Me assim desnudado deante de uma
populaça sem pudor !
O' almas venturosas, chamadas a comer de minha
Santíssima Carne, meditae, por piedade, qual não foi minha
humilhação, quando Me vi diante de meus algozes em tal
estado ! ! ...
O que será, almas queridas, que vosso amavel Re­
demptor fez em hora tão humilhante e bemdita? Será que
não aproveitei desta occasião para vos cumular de bençams,
a vós, almas e·scolhidas, que tudo deixastes para Me seguir?
Emquanto esperava a hora tremenda e bemdita em
que ia ser prégado na cruz, olhando para vós que tudo
deixaste para viver no sacrificio, aproveitei de minha dôr
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Licções de Jesus Victima 29

e humilhação, para vos abençoar afini de terdes força de


vos despojardes de vossa vontade !
Disse ao Pae das misericordias : O' Pae eternamente
bondoso, que ao mundo Me enviastes para com meus mar­
tyrios abrir as portas da nossa mansão querida, vêde esta
humilhação porque estou passando, Eu que sou a propria
pureza! ! Vêde, ó Pae, minha grande dôr ! Offereço-vos tal
dôr e humilhação para que minhas candidas esposas tenham
força para desprezar suas vontades e a outrem as sugeitem
por nosso amor! Minha grande humilhação e dôr sirvam
tambem de reparação para as que usarem de suas vonta­
des para vos offender f
Vêde, almas minhas, como vosso Jesus no seu sacri­
ficio foi generoso. Eu não só soffri pelos peccados dos im­
pios, mas offertei minha grande humilhação para que todas
vós, que fostes chamadas á pratica dos conselhos evange­
licos, tenhaes força de submetter, alegremente, vossa von­
tade, que é livre, por meu amor !
Sim, almas minhas, chamadas á perfeição, nenhuma
( e vós, que foi chamada, póde dizer que não tem força
para supportar a vontade de seus superiores. Ah! não, esta
força vôs foi dada· em hora tão bemdita e tremenda. Todas
as que fostes chamadas, nesta hora em que vosso Esposo
se deixou tanto humilhar, estaveis todas presentes, e mi­
nhas humilhações converteram-se, para vós, em força para
poderdes hoje alegremep.te dar-Me vossa vontade.
Vós bem sabeis que vossa vontade é livre e que Eu
não vos obrigo a dar-M'a; somente vos convido, sem ja­
mais vos obrigar. Porque, esposas amadas, vosso Esposo, que
é todo poderoso, não vos obriga e vos deixa em liberdade ?
Ah! porque eu sou eternamente misericordioso. Se vos
obrigasse a praticar a virt1,1de, que merecimento tinheis vós ?
Porém, como d�sejo que fenhaes merecimentos nas vossas
obras, deixei vossa vontade livre! Portanto um acto de
vossa vontade para praticar a virtude, é de um grande va­
lor para vós. Felizes almas sois, as que tudo fàzeis por
meu amor e alegremente.
Vêde como sois felizes, as que tendes a ventura de
Me dar vossa liberdade, por amor ! Não soffri em vão;
quantas almas generosas souberam aproveitar e hão de
aproveitar de minha desnudez no alto do Calvario !
Quantas esposas amadas, quantas Veronicas, a apro­
veitarem de meus martyrios, dando-Me alegremente sua li­
berdade; sugeitando-se á minha Santissima vontade, mani­
festada pelos superiores !
Que consolação Me proporcionastes, almas minhas,
quando vos vi em hora tão humilhante, solicitas ein dar-Me
o que tendes de vosso : vossa vontade !
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30 Lícçõe� lle Jesus Víctima

Sim, em verdade vos digo, não soffri em vão. Ale­


grastes meu Coração e continuaes a alegrai-o com a vossa
generosidade, desnudando-vos de vossas vontades, mesmo
muitas vezes licitas e permittidas ao simples mortal.
Sim, amadas esposas, as que tendes difficuldade em
obedecer, lembrae-vos que, obedecendo alegremente, cor­
respondeis á minha grande generosidade, deixando-Me des­
nudar por vosso amor, para vos dar exemplo e proporcionar­
vos felicidade immortal! Não vos afflijaes se sentirdes
difficuldade em Me dar vossa vontade, obedecendo cega­
m�nte aos que fazem minhas vezes ; não, jamais vos per­
turbeis se tiverdes para dar-Me tal prova de amor muitas
difficuldades a vencer ; lembrae-vos que quanto mais com­
batidas fôrdes, mais occasiões tereis de mostrar-Me vossa
generosidade. Si Eu, vosso Esposo, não fosse tão ultrajado
pelos verdugos, não vos mostraria tanto minha generosidade�
portanto jamais fiqueis tristes quando os verdugo.s de vossa
alma se levantarem querendo desanimar-vos de intento tão
sublime. Lembrae-vos que si cahirdes, estamos Eu e minha
celeste Mãe, promptos a soccorrer-vos e lançar oleo nas
vossas chagas, como o bom samaritano. Sim, Eu sou o bom
Samaritano das almas de boa vontade, porêm, que muitas
vezes, pela propria fraqueza, cahem no caminho da vida !
Porque temer, amadas esposas'? Eu sou o Pae extre­
mamente compassivo, que sabe levantar as almas de boa
vontade, curando as feridas das almas generosas, que tudo
fazem para se tornarem perfeitas.
,sim� esposas amadas, jamais vos esqueçais que, na
minha desnudez, dei-vos a força necessaria para alegre­
mente vos despojardes das vossas vontades ainda que li­
citas! Lembrae-vos de minha desnudez, quando sentirdes
que a força vos vae faltar para .-. renunciardes as vossas
vontades. Nestas occasiões lembrae-vos de beber na fonte
que vos abri nesta hora bemdita, em que o vosso Esposo,
com tanta generosidade, se deixou desnudar tão cruelmente.
Vinde e bebei nesta fonte aberta para todos os que
desejam ser perfeitos. Sim, esta fonte foi aberta para dar
força ás almas de boa vontade, que Me seguem na pratica
dos conselhos evangelicos.

AMOR GENEROSO
A Crucifixão
Deixando-Me pregar na cruz adquiri para vós força
para praticardes com perfeição os conselhos evangelicos e
entoardes o hymno mais bello que no Céo existe.
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Lic�:ões de Je.çu.i, Victi'rna :-H

Apressae-vos, almas que tendes sêde de perfeição,


apressae-vos em vir a mim. Vêde que o tempo urge e a
eternidade feliz se approxima!
Vinde e bebei na fonte inexgotavel de minha sagrada
Paixão!
Vinde á Escola divina da qual sahireis formadas para
entrardes na patria amada : «O Paraíso» !
Escutae-Me, por piedade! Vêde o quanto meu amor
fez por vós no caminho do Cal vario, quando os algozes,
depois de Me tere:m desnudado, pregaram-Me na cruz com
longos pregos !
O Deus dos exercitos, revestido de carne humana,
por vosso amor entrega-se generosamente nas mãos de
homens cheios de odio satanico!! ...
Vêde que generosidade, vêde quanto vos amo, dei­
xando-Me tão cruelmente cravar na cruz!
Almas que chamadas fostes por mim a desprezar a�
vaidades do inundo e a viver á sombra bemdita do meu
tabernaculo santo, pergunto-vos: Aqui porventura soffri em
vão? Ah! não, porque deixando-Me pregar na cruz adquiri
para vós força para praticardes com perfeição os meus
santos conselhos. Sim, almas mimosas da minha Egreja mi­
litante, alegria de minha Egreja triumphante, soffrendo tão
generosamente, abri-vos um novo caminho, sim, o caminho
da perfeição.
Emquanto esperav� que os algozes preparassein a
cruz, os martelos e os pregos, sentei-Me por instante, em
uma pequena pedra ... Rodeado como estava de algozes e
em martyrio indizível tanto de alma como de corpo, olhan­
do para os seculos vindouros, vos vi, almas generosas, ge­
nuflexas a meditardes na minha dolorosa crucifixão e a
beberdes, na minha graniJe dôr e humilhação, generosidade
para a· pratica dos santos conselhos evangelicos. Depois de
bem meditardes no quanto soffri, deixando-Me pregar com
tanta ignomínia, vi-vos solicitas, a praticar actos heroicos
de virtude. Vi-vos generosas a urdir sacrificios para Me
dardes almas. Sim, em verdade vos declaro, fostes a minha
consolação em hora tão tremenda e bemdita !
Almas minhas, será que vosso Jesus, tão generoso
para çom vossas almas, nesta hora não vos preparou um
festim? Vêde a Minha grande generosidade para com as
vosoas almas ; apesar de estar em tão lastimoso estado,
voltei-Me para o Pae e lhe fiz esta supplica : O' Pae de
infinita bondade, vêde minha grande humilhação e dôr.
Vêde, o patíbulo já está prompto para tirar-Me a vida do
corpo, emquanto minha alma está triste, porque as agonias
da morte a encheram! Vêde, ó Pae, quanta dor, quanta
afflicção, porém não estou soffrendo inutilmente, vejo nos
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32 Licções de Jesus Victirna

seculos futuros legião de candidas pombas a meditar na


minha sagrada Paixão e a prepararem sacrificios para cor­
responderem aos conselhos que já lhes dei !
Pae bondoso, Eu sou infinitamente reconhecido a quem
faz alguma cousa por mim. Vêde, estes tormentos, estas
angustias e dôres, vol-as offereço para que no céo possam
cantar o hymno mais bello que ali existe, que pela pri­
meira vez vae ser cantado por Maria. Este hymno, dae,
ó Pae, ás minhas esposas. Vós o preparastes para minha
celeste Mãe, como filha dilecta vossa, como esposa fiel do
divino Paraclito, como minha Mãe ; porém vos peço, por
minhas grandes angustias e dôres, que prepareis este hym­
no para minhas esposas que, generosas na pratica de meus
conselhos, que são os que vós Me destes, hão de ser minha
consolação nos seculos vindouros e hão de povoár o nosso
reino immortal.
Dae-lhes, ó Pae, este hymno tão bello que só ellas
poderão cantar! Vêde, almas generosas, qual o festim que
o vosso Esposo generoso vos proporcionou em hora de
tanta dôr ! Vêde, almas que sentis difficuldade em praticar
os meus divinos conselhos, minha grande generosidade em
hora de tanta dôr! Oh ! si não tendes força, vinde aqui,
contemplae-Me por vosso amor deixando-Me pregar na cruz,
e vêde que, apesar de estar em tanto niartyrio, não Me
contentei em abrir-vos as portas da Jerusalem celeste ; fiz
mais, offertei minhas dôres ao Pae, para que vos désse,
como herança, um hymno novo, o hymno que pela vez pri­
meira ia ser cantado por minha Mãe e que depois de o ter
entoado, vós delle havíeis de ficar herdeiI·as ! Oh! genero­
sidade de vosso Deus! (1)
Almas ás quaes a generosidade vos falta, contemplae,
vêde o que por vós tanto fiz, dr,ixando-Me pregar como
um malfeitor! Vinde, bebei nesta 'fonte inexgotavel de mi­
nha infinita generosidade e então ahi adquirireis a força
necessaria para os sacrifícios, que meus conselhos vos
impõem cada dia, cada instante.
Não temaes as que vos sentirdes fracas no cum­
primento destes conselhos, não temaes porque não é com
o temor que adquirireis força. Vinde, cheias de confiança,
e atirae-vos nos meus braços obedientes á voz dos algozes,
porque nelles encontrareis a força que vos é necessaria.
Sim, todos que por mim foram chamados têm força,

(1) Este hymno ha de ser certamente o que posteriormente foi dadc


ao Instituto em honra do S. Nome de Jesus Crucificado, e que é cantadc
no tom do Magnificat cada dia apóz a s. missa.

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33
J
Licções de Jesus Vicii·ma

ainda que muitas vezes caiam em imperfeições. Os que não


têm força, a estes Eu lhes digo : Vós não fostes chamados
para cantar este hymno, vosso logar não é aqui !
, Sim, almas minhas, sublime é a vossa dignidade, a
de serdes chamadas para cantar este hymno, porém não
esperdiceis as graças que sobre vós caem continuamente.
Sêde santas, sêde perfeitas, para corresponderdes ao que
vos foi dado.
Lembrae-vos, se não tendes força, que Eu vol-a
adquiri na minha crucifixão !
Almas minhas, não soffri em vão, em verdade vos
declaro, vós sois a minha consolação, quando praticaes os
meus conselhos o melhor que podeis, isto é, com a perfei­
ção que vos é possivel.

AMOR GENEROSO

Por vosso amor morri na cruz


Vinde almas minhas, contemplai meu amor generoso,
1norrendo por vós no alto da Cruz . O sol se escureceu ! A
terra tremeu!. Os sepulcros se abriram ! Os mortos resus­
citaram ! As pedras se partiram! o véo do templo se fendeu !
E o homem permaneceu na sua dureza ! ...
Almas minhas, que Me lêdes, o vosso Rede1nptor, o
Deus eternamente misericordioso teve de conte-mplar do
alto da Cruz filhos ingratos, que, apezar de verem a natu­
reza toda se commover, iP vista de minha ignominiosa mor­
te, permaneceram mais duros do que as pedras, porque as
pedras se partiram, e elles insensiveis deram-Me o calice
da ingratidão, em hora, tão tremenda e bemdita!
Depois de Me pregarem na Cruz com tanto odio, le­
vantaram-Me entre o céo e a terra! Por tres horas soffri o
que creatura alguma não póde comprehender ! Quem com­
prehenderá o que passei nestas tres horas bemditas para
vós? Coroado de espinhos, todos elles cravados até o fim ;
com os pés e mãos transpassados por grossos pregos ! O
céo fechado! Ao meu lado uma Mãe lacrimosa, sem Me po­
der ao menos dar uma gotta de agua, nem Me poder dizer
uma palavra! Rodeado por blasphemadores, um soldado
com a lança prompta para Me abrir o Coração ! Em tanta
dôr e afflição, olhei para os seculos futuros e aos meus
olhos amortecidos, descortinou-se um quadro consolador,
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Licções de Jesu.o; Victím.a

que Me reanimou; e Eu disse: Não soffro em vão. Vi le­


giões de almas apostolas a Me contemplarem morrendo pe­
la sua salvação, e generosas abandonarem as vaidades do
mundo seductor, procurando a solidão do meu tabernaculo
santo! Apezar de tanta dôr e afflição de espirito, esté qua­
dro consolador levantou-Me as forças e reanimou minha al­
ma em angustias de morte !
Almas minhas que Me lêdes, alegrae-vos, porque vós
nesta hora a mim estaveis presentes. Vós Me proporcio­
nastes consolação; sim, consolastes o Deus dos exercitos
que, revestido de vossa natureza, gemia em um duro
madeiro.
Almas venturosas que viveis na minha casa, confor­
tastes meu Coração, quando, por vosso amor, o Pae Me
deixou em abandono para poder soffrer a pena dos que se
iam condemnar, si Eu, pela minha infinHa misericordia,
não tomasse sobre mim penas tão aterradoras ! Na verda­
de, em hora tão benidita e tremenda, vós confortastes meu
Coração, vendo-vos aproveitar de meu Sangue, não só pa­
ra vós, mas ainda, trazendo muitas almas aos pés de mi­
nha Cruz, para beberem nas minhas Chagas Divinas.
Oh! como Me confortastes quando vos vi solicitas á
procura dos peccadores, a lhes dizerem: vinde, vamos aos
pés do Divino Crucificado, Elle é Pae de infinita miseri­
cordia ! Se estaes cheios da lepra do peccado, o seu San­
gue é lavacro divino, que purificará vossas almas e
as deixará mais brilhantes que o sol. Sim, almas mi­
nhas, ,quando presenciei este quadro consolador, destes-Me
a beber o nectar da consolação; ;:ih! então voltei-Me para
o Pae, apezar de não o sentir, e disse-lhe: ó Pae, não sof­
fro em vão para muitos . Vejo uma legião de almas resga­
tadas com o meu Sangue a aproveitar de minhas crucian­
tes angustias e generosas a trazerem muitas alm�s aos meus
pés e a introduzil-as no meu Coração, que daqui a poucos
instantes vae ser aberto pela lança! Sim, Pae, dou-vos gra­
ças, porqu� ao mundo Me enviastes!
Quantas almas vão povoar o nosso reino que desde
o principio lhes preparastes. Vêde, ó Pae, quantas virgens
prudentes e generosas a bebe_r do meu Sangue Divino e
com elle se tornarem nossa morada de consolação ! Vêde,
ó Pae, quantos confessores a beberem do meu Sangue Di­
vino e a nos confessarem diante dos homens, sem respeito
humano, e com isto a povoarem meu reino ! Graças vos dou,
ó Pae, por Me terdes enviado ao mundo! Vêde quantos fi­
lhos dilectos a meditarem na minha morte ignominiosa, e
nesta meditação a beberem força para morrerem generosa­
mente para as vaidades do mundo seductor !
Oh ! Pae, graças vos dou! Vêde quantos filhos dile-
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Licções de .Jesus Victirna 35

e tos dando a vida generosamente para a nossa gloria e


difusão do nosso amor nas almas! Vêde-os, ó Pae, como
morrem nas mãos dos algozes, alegres, porque á minha üni­
tação desejam ver o vosso reinado em· todos os corações!
Sim, almas minhas, assim fallei ao Pae nestas tres horas
de tormentosa agonia.
Os vossos nomes os pronunciei e abençoei em horas
tão dolorosas ! Oh ! sim, lembrai-vos sempre disto, quando
Me contemplardes suspenso na cruz ; lembrai-vos, não vos
esqueçais disto, porque estas palavras vos hão de dar muita
força. A lembrança que vós fostes a minha consolação em
horas tão dolorosas, por ventura não confortará tambem
vossa alma, quando, tiverdes um sacrificio a fazer por amor
de mim, em vosso fa or, ou em favor de vosso proximo ?
Sim, certamente que sim.
Agora almas minhas, vou dizer-vos, si vós Me pro­
porcionastes consolação, muitos foram os que me deram o
calice da ingratidão ! Sim, nos soldados cheios de odio vi
milhões de peccadores empedernidos, que, surdos, não ou­
viram os meus chamados de misericordia ! Que dor para
mim, derramar todo o meu Sangue por todos, emquanto
muitos permanecem surdos, não querem Me ouvir! O' dor
a da ingratidão! Por todos morrer e nem todos se salvarem!
Oh ! almas minhas, que tendes a ventura de vos la­
vardes todos os dias no meu Sangue Divino, vós ameni­
sastes minha dor com a -vossa reparação ! Sim, continuae
a reparar tantas ingratidões de filhos, que não querem
ouvir as minhas admoestações de misericordia. Sim, reparai
com a vossa correspondencia ás minhas finezas de cada
instante ; aproveitae bem dos 1nerecimentos da minha Sa­
grada Paixão e Morte, bebendo, nesta fonte inexgotavel de
misericordia, generosidadft para cada instante !
Sim, bebei, porque na nlinha Sagrada Paixão está a
vossa força, a vossa luz, tudo o que vos é necessario, para
galgardes a montanha da perfeição · Eis o livro recommen­
dado para os que na realidade desejam ser santos : a pa­
gina vermelha que ensina a sacrificar-se, a pagina branca
que ensina a amar. Podeis procurar tudo o que quizerdes,
porem se não procurardes com amor estas duas paginas,
debalde trabalhareis, porque nestas duas paginas é que
está o necessario para adquirir a perfeição.
Oh! sim, em verdade vos declaro, quem não manducar
a minha Paixão cada dia, não terá força de se sacrificar
por meu amor! Como sem alimento o corpo não vive, assim
tambem a alma não vive sem se alimentar todo o dia com
minha generosidade, deixada na minha Paixão. Porem para
adquiril-a, Eu exijo que se procure meditando ; e quem não
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36 f.Jicções de Jesus v·ictüna

medita na minha Paixão, não tem força para se sacrificar


e deixa de beber a agua da vida!
Vinde beber, é tão facil beber nesta fonte de vida :
não é necessario possuir grande talento, é só chegar e
pedir : Dai-me, Senhor, a conhecer o quanto vós soffrestes
por mim, para que Eu possa por vosso amor me sacrificar.
Ah! Eu então dar-vos-ei a sciencia das sciencias, a sciencia
não adquirida no esforço da memoria, mas sim, a sciencia
infusa, que dimana de meu Coração aberto por vosso amor!
Oh! almas minhas, não sof.fri em vão, sou-vos muito
agradecido, porque da minha morte aproveitastes para
morrerdes para vossas vontades e para as seduções do
mundo enganador.
Sim, de minha alma vos abençôo, dando-vos como re­
compensa meu Coração, como abrigo e morada da eterna paz.
Não vos esqueçais qrie morrendo por vós, vós Me
proporcionastes muita consolação. Graças vos dou ó Pae !

AMOR GENEROSO
Jesus morto nos meus braços
' Vinde, almas que luctaes, vinde contemplar se ha
dôr semelhante á minha dôr! Vêde o vosso Esposo, meu
amado Filho, a que estado está reduzido por causa dos
vossos peccados e para mostrar-vos o seu infinito amor!
. Por piedade, escutae-Me c�m toda attenção possivel.
E a vossa Mãe Dolorosa que vos' fala, esta Mãe que tanto
soffreu, cooperando assim com seu Divino Filho na vossa
redempção !
Sim, amadas filhas, acompanhando meu Divino Filho
em sua grande dôr, dei-vos provas de minha grande ge­
nerosidade !
Mães ha que, para não ver seus filhos soffrer, se es­
condem, não querendo vel-os; porem, Eu, a vossa Mãe Doloro­
sa, quiz estar bem perto, para mostrar-vos minha fortaleza,
1nais ainda, minha grande generosidade em vosso favor!
Sim, amadas filhas, foi vontade de meu Filho que Eu
o visse morrer, e que a seu lado estivesse para mais Elle
soffrer! Vêde sua grande generosidade ... Quiz-Me a seu
lado não para diminuir sua dôr, mas, sim, para mais sof­
frer,- porque vendo-Me a seu lado e conhecendo meu terno
Coração, quanto Elle não soffreu por ver que em seu fa-
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Licções ele .Jesu.,s VidiJJ1a

vor nada Eu podia fazer?! Sim, quando pediu agua no alto


da cruz, não lhe pude dar nem minhas lagrimas, que se­
riam balsamo refrigerante para seus labios tão resequidos!
Sim, almas minhas, contemplae a dôr de Jesus e a
minha, em hora tão cruel e bemdita. Vêde se ha dôr se-
melhante â minha dôr?! ·
Depois de estar por tres horas em pé ao lado do Fi­
lho amado, corações amigos e compassivos o desceram da
cruz e Eu sentei-Me para poder recebei-O em meu regaço!
Meditae: não recebi meu Filho bello e candido como Elle
era! Ah! almas minhas; que dôr quando de perto pude ver
o corpo estraçalhado de meu amado Filho! a cabeça era
uma chaga viva, o cabello todo empastado pelo sangue que
tinha brotado da coroação de espinhos, os olhos cerrados.
e ao lado destes, grandes furos dos espinhos! Qual não
foi minha dôr, quando pegando na ponta de meu véo quiz
limpar· uma grande posta de sangue que cobria o olho di­
reito de meu Filho ! O' dôr ! Vi que um longo espinho ti­
nha traspassado de lado a lado sua cabeça santissima e
este espinho bem sobre a vista! Oh ! filhas amadas, não
morri de dôr porque len1brei-Me que esta era a vontade
do Altissimo !
Oh! a Face formosa de Jesus onde estava ! Ah ! trans­
formou-se em rosto de leproso, todo inchado e cortado pe­
las pancadas que os algozes lhe ti11:ham dado ! Beijei es ta
Divina Face dizendo : O'. Filho de meu Coração, tão formo­
so um dia e hoje a que estado reduzido pelos peccados
do mundo! Sim, Eu te adoro, ó Face Divina de meu Filho!
Com os meus osculos de· Mãe agradecida, desejo reparar
todos os osculos impuros, sim, e até o fim do mundo ! O'
.labios divinos, partidos pelas quédas, imagens estas dos
peccados dos homens, Eu Ivos bemdigo e com minhas la­
grimas vos limpo, ó sangue que ahi coagulado estâ! Sim,
labios de meu doce Jesus, acceitae minha reparação de
Mãe amorosa por tantos labios impuros que até o fim do
mundo hão de vomitar blasphemias contra vós! O' Pae
bemdito, Eu desejo ser a primeira cm vos offertar os tor­
mentos que estes labios bemditos passaram, para reparar
tantas blasphemias que filhos ingratos hão de vomitar con­
tra o nome bem dito de Jesus. O' Pae, vêde a cabeça do
Filho que Me destes, a que estado está reduzida ! Que lon­
gos espinhos a traspassaram ! É uma chaga viva! Vêde, ó
Pae, quanto este Filho bemdito soffreu ! Que dôr! Que
martyrio ! Esta dôr de minha alma, - o martyrio deste Fi­
lho bemdito - Eu vol-a offereço por tantos filhos ingratos,
que até o fim dos seculos vos hão de offender com pensa­
mentos impuros, não dominados! Sim, Pae bondoso, po1·
este motivo o Filho candido que Me destes ficou em ta!
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38 Licçôes ele Jesus Victima

estado ! Oh! meu Filho, meu amado Filho, quanto soffrestes


por estes homens ingratos !
O' meu Filho, quando no alto da cruz estaveis, porque
não desabafastes tua grande dôr com tua Mãe ? Será que
Eu não vos amo com_ amor de Mãe? Meu Filho querido, nem
uma queixa?! Porque ao menos não Me dissestes: Oh!
Mãe, vê o quanto teu Filho soffre ! Nem este consolo Me
deixastes, Filho amado de minha alma? Porque assim
fizestes? !
Filhas amadas, minha grande dôr a desabafei não
com os meus labios, mas tudo o fiz secretamente ! Agora
vou dizer-vos porque o amado de minha alma nem uma
palavra, nem um queixume, teve para sua Mãe. Será por­
que Elle não Me amava? Ah! não, é porque não Me quiz
deixar nenhum consolo para mais soffrer, porque assim
soffrendo, enthesourava riqueza para vós. Sim, deixando­
Me em tanto abandono, provou-vos mais sua grande gene­
rosidade.
Sim, Elle Me sacrificou até o fim. Em meus braços,
morto, Eu lhe disse: Filho amado, quanto amas os pecca­
dores, por elles sacrificaste tua propria Mãe !
Como teu amor é generoso ! Isto não Me entristeceu,
ah! não, assim não penseis, filhas amadas.
Levantando minha alma angustiada para o alto, louvei
a meu Deus por Me fazer participante na yossa redempção.
Em tanta afflicção, em meu Coração entoei o cantico
de &cção de graças ; sim, porque disse: ,as minhas crucian­
tes angustias hão de ser a força de tantas mães afflictas,
hão de ser a força de tantas almas generosas para se sacri­
ficarem como Eu, pela salvação das almas.
Tanta dôr offereci ao Pae Eterno, em união com os
tormentos que meu Filho acabay,a de passar, como moeda
para comprar para todas as almas afflictas, a graça de bem
saberem soffrer !
Sim, almas minhas, entregues por Jesus aos meus
cuidados, agora Eu vejo que não soffri em vão. Ah! não,
a minha grande dor em contemplar meu Filho em tão las­
timoso estado, tem sido a força de tantos filhos e o ha de
ser até o fim dos seculos.
Quantas mães afflictas tenho consolado, quando Me
contemplam com o Filho morto nos braços! Tenho sido a
força de tantos paes quando choram a perda de um filho
extremecido, ou quando choram a separação destes entes
queridos, que, ao chamado do Deus bom, os deixam lacri­
mosos. Na verdade, nestas occasiões tão dolorosas, Eu des­
ço com as mãos cheias de balsamo, e curo as feridas de
seus corações !
Oh! almas minhas, não soffri em vão, porque, medi-
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Licções de Jesus Victima

tando nas minhas angustias, vos vejo generosas a urdir


sacrifícios em favor da vossa santificação, e em favor da
conversão dos pobres peccadores.
Sim, amadas filhas, bemdi�o minhas angustias, por­
que ellas são força para vós; sim, as minhas dores são
lenitivo para vossas chagas !
Oh! vinde todas a mim, todas que tendes necessidade
de Mãe, vinde e Eu vos receberei com os braços abertos,
como recebi meu Filho, e com minhas lagrimas curarei
vossas feridas e vos alentarei.
Não temais as que vos sentirdes fracas, Eu sou Mãe
e como tal vos fortificarei em todas as vossas fraquezas.
Ah ! não sabeis que se Jesus não Me poupou sacri­
fícios, foi só para hoje vos poder dizer : Atirae-vos ao re­
gaço de Maria porque Elia vos ama ? E como p<;>dia dizer­
vos que Eu vos amava, si não vos tivesse dado provas
disto? Ah! sim, é para provar-vos meu grande amor, que
o Filho Me fez participante de suas angustias ; sim, porque
soffri por vós, é que tenho direito de chamar-vos de filhos.
Sim, amadas filhas, sois filhas de minhas dores, por­
tanto o meu amor vos pertence; vos concebi na cooperação
de meus tormentos com os tormentos do Redemptor. Atirae­
vos portanto ao meu regaço, que meu Filho vos deu e san­
tificou ; elle é todo vosso desde a hora em que o Filho
amado, exangue, mostrou-vos : Esta é minha Mãe, que
desde hoje será chamada Mãe das Dôres!
Sim, meu regaço é todo vosso, como tarnbem foi de
J-esuR.
Vinde, nelle se descança tão bem, pois foi por Jesus
santificado !

AMOR GENEROSO

Jesus é sepultado
O amor generoso aqui completou sua obra.
Oh! almas todas que passaes por este exílio, vêde
quanto o amor de Jesus é generoso, deixando-se sepultar
como um simples mortal!
Senti até onde chegou sua grande generosidade, dei­
xando-se sepultar !
Oh ! amadas filhas, quem vos fala é Maria vossa Mãe
dolorosa. Sim, sou Eu que conheço os reconditos do Cora­
ção de Jesus, portanto, vos posso declarar qual não foi sua
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40 Licções de Jesus Victima

grande generosidade, deixando-se sepultar! A terra não


podia esconder seu corpo immaculado! Entretanto se es­
conde por tres dias e para que, almas amantes de Jesus ?
Ah ! para mostrar-vos seu grande amor e sua grande hu­
mildade ! O Deus dos céos e da terra, o todo poderoso dei­
xa-se sepultar! Oh! se comprehendesseis, almas queridas,
quanta generosidade, quanta humildade!
Agora, almas minhas, desejo-vos falar da minha dôr
quando Me disseram: Senhora, é hora de sepultarmos Je­
sus, não podemos permanecer mais tempo aqui, a noite
se approxima, é preciso que nol-0 entregueis para sepul­
tal-0 ! Ah_! almas minhas, sepultal-0 ! ! .. , S�parar-Me do
Filho amado e deixal-0 sosinho na sepultura! Não era Elle
o Deus dos exercitos, revestido apenas de carne humana,
porem carne que a terra não podia esconder ? !
Vêde, almas minhas, o que Me deu forças. Olhando
para o Céo, ouvi uma voz que Me disse : Esta é minha
vontade! Promptamente dei os ultimos osculos em Jesus e
com minhas lagrimas reguei sua Divina Face e disse: Vae,
meu Filho, para a sepultura e della sahirás triumphante,
porque teu corpo virginal, formado nas minhas entranhas
pelo Divino Paraclito, não póde soffrer corrupção ; vae, ain­
da que traspassada de dôr Me deixas ! Meu sacrificio o
offerto ao Deus eterno, para a salvação de muitos e san­
tificação da porção querida, que um dia, depois de nós,
ha- de entrar no Paraiso- !
Oh i Filho, grande é a mlnha dôr, porém, o que Me
dá forças, é o ver tantas almas generosas que, na medita­
ção das minhas dôres, comprehenderão a tua grande gene­
rosidade, deixando-Me em tanta dôr!
_ Oh! almas que Me contemplaes, que mais o vosso
Tudo, o meu e vosso Esposo, po<l,i.a fazer para mostrar-vos
sua generosidade em vosso favor?
Não contente com morrer, ainda permitte que O se-·
pultem como um simples mortal, deixando-Me em tanta
dôr, porque se O , isse depois de morto subir ao Céo de
corpo e alma, minha alma ficaria mais animada e não em
tanta dôr ! !
Sim, quiz ser sepultado para dar-vos até o fim, provas
de sua grande generosidade e humildade ! Deixando-se se­
pultar, disse-vos: O' almas que tendes presumpção, vêde
o vosso Tudo, o vosso Deus, sepultado por tres dias !
Vêd� como a humildade Me agrada ! Vêde minha
grande generosidade, dando-vos exemplo! Sim, almas que
chamadas fostes á pratica dos santos conselhos Evangelicos,
em parte alguma Jesus vos deu tantas provas de sua gran­
de humildade, como aqui deixando-se sepultar !
Aprendei aqui, almas generosas, a sepultar vossas
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Licções de Jesus Victima 41

vontades, com a humildade de Jesus. Elle, nesta hora, com


o seu exemplo vos deu a força necessaria para sepultardes
todas as vossas vontades ! Não só Jesus vos deu esse exem­
plo, mas tambem Eu, entregando generosamente o Corpo
Santíssimo de Jesus para sepultai-O ..
Sim, a vontade do Altíssimo foi minha força em hora
tão dolorosa ! A vontade de vosso Esposo deve ser a pedra
que ha de sepultar as vossas vontades, assim como foi a
minha, ainda que a \'Ontade de vosso Tudo vos imponha
sacrifícios. Ah! quanta dôr, quantas lagrimas a vontade do
Altíssimo impoz á minha alma e ao meu Coração! Ah!
pelo coração, Eu ficaria o resto de minha peregrinação con­
templando meu Filho, porem, a vontade do Altissimo Me
impoz o contrario ; era preciso que Eu O deixasse na se­
pultura, precisava passar por tal angustia: Piat vuluntas tua J
Sim, pronunciando o Fiat, a minha alma angustiada
recobrou animo; e tive de deixar o filho amado e cami­
nhar para a solidão da dôr e para o desamparo, apezar
dos apostolos Me rodearem e das mulheres que Me acom­
panhavam.
Ah! como poderia mitigar minha grande dôr! A lem­
brança do Filho amado torturava meu Coração ! Sim, Eu
O ouvia a dizer: Tenho sêde, e Eu sem lhe pod�r dar uma
unica gotta d'agua ! Via a escorrer sangue de sua boc­
ca adoravel, dos pés, das mãos e a olhar para o céo e o
céo fechado! O' olhar que. Me atravessava o Coração! Lem­
bra-Me elle como muitas mães dizem hoje, depois da mor­
te de um filho amado! Ah! se Eu fizesse de outra forma,
se Eu lhe desse agua em uma esponja, ainda que os algo­
zes se arremessassem contra mim ! Ah! se Eu lhe falasse
que Eu Me compadecia de suas dôres ! Tudo isto, filhas
de minhas dôres, vinha a_Jormentar meu Coração de Mãe
extremecida. Ah! e como abafei taes pensamentos! Olhan­
do para o céo e lembrando-Me do que estava escripto, dis­
se: Sim, esta é a vontade do Altíssimo : que o Filho ama­
do, em vez de beber agua dada por sua Mãe, tinha de be­
b�r o fél e vinagre, imagem da ingratidão dos filhos desa­
gradecidos! Lembrei-Me que o Filho amado tinha de sup­
portar o fél da ingratidão para abrir a porta a tantos in­
gratos que um dia haviam de se converter em filhos re­
conhecidos!
Oh! amadas filhas, vêde o quanto por vós soffri !
Vêde minha grande generosidade e a infinita generosidade
de Jesus, deixando-se sepultar,� deixando-me em tanta dôr!
Oh! almas minhas, bemdigo minhas dôres e as dôres
de Jesus, e sua grande generosidade em Me fazer partici­
pante de suas angustias, porque hoje posso vos dizer: Fi­
lhas amadas, vinde, tenho em minhas mãos não o ouro que
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42 Licções de Jesus Yicti1na

desapparece, mas, sim, o ouro immortal, o Coração San'tis­


simo de Jesus, para vo-lo dar como repouso, como abrigo
de paz. Sim,' Eu vos posso dizer isto, porque Eu com Elle
cooperei na. vossa redempção.
Sim, louvae minhas dôres que hoje são vosssa riqueza'

AMOR GENEROSO
Jesus, no cenaculo vos ensina a SOFFRER
generosamente

Bemaventurados os que meditam na minha Paixão�


porque gloriosos sahirão um dia do sepulchro !
A vós todos que passaes por este exilio como Eu
passei, soffrendo e fazendo o bem, vou hoje vos mostrar
quão bom é soffrer neste valle de lagrimas !
Sim, bemaventurado aquelle que provar minha mão
misericordiosa na dôr !
Vinde, almas minhas, acompanhai-Me na via dolorosa
do Calvario. Desejo mostrar-vos como meus tormentos al­
cançaram para minha humanidade gozo indizivel e santifi­
carão vossas penas e cruzes, se as souberdes unir ás
minhas.
Sim, soffrendo tanto na via dolorosa, dei ás vossas
penas e dores valor incomprehensiveis a vós, que ainda
por esta via transitaes.
Vamos, almas minhas, ao �enaculo, onde começou
meu tormento quando o apostolo Judas· me recebeu indi­
gnamente !
Vêde tanto amor correspondido por Judas, receben­
do-Me indignamente ! Em hora tão bemdita, meu Coração a
transbordar de amor, em troca, recebo ingratidão daquelle
que se dizia meu!
Oh! almas minhas, meu Coração compassivo recebeu
deste que se dizia meu, uma tal espada, que O atraves­
sou ! Foi tanta minha dôr que os apostolos notaram em
mim uma profunda tristeza!
Sim, na verdade, fiquei triste por ver o pobre filho
Judas tão endurecido, não querendo ouvir meus chamados
amorosos .
Agora, almas amadas de meu Coração, em troca de
tanto soffrer o que será que ganhei? Quem sabe muitas
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Licções de Jesus Tl"ictirna

de vós que me escutais não o sabeis sufficientemente ou


não sabeis applicar a vós mesmas o que vos é tão necessario !
O que ganhei pela ingratidão de um Judas? Ganhei
o amor ardente do apostolo virgem. Vendo-me elle em
tanta tristeza, lançou-se nos meus braços, dizendo-1ne :
«Mestre, eu te amo».
· Agora vos pergunto : Foi só isto que ganhei por ter
soffrido com mansidão a ingratidão de Judas? Ah! não,
amados de minha alma; soffrendo com tanta mansidão a
ingratidão de Judas, ganhei a vossa generosidade nas horas
em que vós, fazendo o bem como Eu fiz, recebeis em troca
ingratidão dos que vos são caros, como me era Judas!
Ganhei só isto? Ah! não, amados 1neus. O pobre Ju­
das, deixando meu Coração em tanta tristeza, este Coração,
sabendo calar-se, isto é, sabendo soffrer, ganhou para si,
gozo indizivel no Reino Immortal da Gloria! Porem, o que
desejo frizar bem é que o maior gozo deste Coração, é
porque alcançou para vós gozo inexplicavel; sim, todas as
ingratidões que os homens vos derem, aqui, na mansão de
paz são mel dulçoroso!
Oh ! amados meus, como \'Osso Deus é sapientissimo
e caridoso ! Soffrendo com mansidão e paciencia, não so­
mente alcançou para sua humanidade gozo indizivel, mas,
ainda deu ás vossas penas e ás vossas ingratidões tanto
valor !
Oh! se me comprehendesseis,dirieis commigo: O' Senhor,
quão bom é soffrer ingratidões, ellas foram santificadas
pelo Deus sapientissimo e infinitamente caridoso, para se­
rem o instrumento de purificação de nossas alinas !
Amados de minha alma, quantas vezes dizeis : tal
ingratidão não posso supportar, isto é demais doloroso !
Ah! por piedade, vêde vosso Divinal Esposo na hora em
que institue o Divino Saé2'amento do Altar, recebendo em
troca u1n sacrilegio! O que disse Eu, amados que me ouvis?
Olhando para o que me ia trahir, com ternura indizível, o
chamei, o convidei para que abandonasse seu intento, que
lhe ia custar tanto preço ; não para poupar-me, mas, sim,
para poupal-o da morte eterna! Meus olhares amorosos,
minhas palavras cheias de compaixão não demoveram seu
coração. Elle morreu na sua dureza de coração!
A1nados de minha alma. soffrendo tamanha ingratidão
de um apostolo, podia dizer Eu : Isto não posso supportar !
Ficae sabendo que meu coração era mais sensivel do que
todos os corações reunidos dos filhos todos.
Sim, meu Coração foi sensibilissimo á medida do
amor, porque meu amor não endurece o coração. Ah! não,
meu amor é delicado e não grosseiro; quem possue meu
'""erdadeiro amor ha de ter, como Eu, um coração sensivel;
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44 .
Liccões ele Jesus Victima

a sensibilidade não é defeito, mas, sim, resultado de meu


amor. Quem não possue minha. caridade, não é sensível á
dor de seus irmãos.
Sim, amados de meu Coração, sendo meu amor infi­
nito para com Judas, infinita foi a dor da ingratidão ! Po­
rem, porque a supportei? Por amor, para conquistar aquella
alma, para lhe fazer o bem !
Aos que dizeis que não tendes força de supportar a
ingratidão, porque vós não haveis de a supportar como Eu
supportei? O que vos falta_? Força ? Ah ! não é possível ;
força tendes ! O que vos falta, vou vol-o dizer: amor e ge­
nerosidade ; é isto que vos falta, amados meus. Aos que
dizeis que não tendes força de supportar muitas vezes uma
leve desattenção, posso dizer, em verdade, vosso amor por
mim é bem pouco, e generosidade não possuis !
Amados de minha alma, lembrae-vos que as ingrati­
dões que vos ferirem o coração são instrumentos de per­
feição; por piedade não as regeiteis ; fazei como Eu fiz no
Cenaculo ; cumulae de benefícios aos que taes presentes
vos derem; lembrae-vos nestas horas da patria amada, em
vez de ficardes agastados, a dar azas ao amor proprio, ao
orgulho, que sempre nessas horas toma conta dos corações
que dizem, tal ingratidão não posso supportar !
Sim, lembrae-vos que vosso Deus, apezar de ser Deus
soffreu humilhações sem conta, ingratidões tantas e tudo
supportou por vosso amor e generosamente !
Sim, lernbrae-vos do dia da resurreição, do dia do
gozo. As ingratidões da vida são breves e os gozos da
immortal mansão são eternos! Sim, lembrae-vos que vosso
Deus assim quiz soffrer para dar-vos exemplo e com -o
exemplo a força necessaria para vós supportardes com
generosidade as penas da vida.
Lembrae-vos que a medida 4'1.e vosso gozo na mansão
da paz será a medida de vossa generosidade. Se não fordes
generosas, daes uma triste prova que não me tendes amor.
Pela vossa generosidade os homens conhecerão que me
amaes; pela vossa generosidade os anjos me dirão : O' Deus,
como esta alma vos ama, como soffre generosamente por
vosso amor ! Sim amados meus, é pelos fructos que se co­
nhece a arvore e não pela apparencia bella da arvore ! Se
não fordes generosas sereis como arvore frondosa, que não
dá fructos !
Sim, amados de minha alma, e os fructos Eu os
desejo para vosso proprio bem !
Tudo podeis supportar com a minha graça e sem ella
nada podeis, portanto, se vos sentirdes sem força, vinde a
mim que sou força e generosidade.
E' para vos dar força que tudo supportei, para hoje
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Licções de Jesus Victima 45

vos poder dizer : Tudo podeis com a minha força, porque


tudo o que soffrerdes por meu amor, vos dará gozo indi­
zivel. Eu tudo soffri por vosso amor, e hoje os anjos do
Paraisa louvam meus tormentos porque á minha sagrada
humanidade deram tanto brilho.
Sim, tambem vós um dia haveis de dizer : ó penas,
ó ingratidões, nós vos louvamos, porque boje servis para
tanto gozo!

AMOR GENEROSO

Jesus o vosso tudo, no Getsemani, vos ensina


a OBEDECER cega e generosamente

Almas minhas, vamos ao Getsemani onde desejo mos­


trar-vos quão bom é soffrer !
Amados de minha alma, que tormentos_ não passei
neste jardim ! Elles foram tão tremendos, que me fizeram
suar sangue com tanta abundancia que regou a terra ! A
minha alma apavorou-se diante de tanto supplicio, que me
esperava ! Uma morte ignominiosa, o nome do Pae insul­
tado, o meu sangue calcado aos pés por muitos dos que se
iam dizer meus, dando-me tantas vezes o calice da ingra­
tidão ! Em tanta angustia,minha alma tão amargurada, me
fez exclamar : Se é possivel, ó meu Deus, que este calice
se afaste de mim ; porém, se a vossa vontade for que eu
o beba, faça-se a vossa vontade e não a minha!
Sim, amados de meu Coração, vós não podeis com­
prehender meu grande tormento, minha grande dôr ! Os
peccados de toda a humanidade pesavam sobre minha alma,
fazendo-me vergar ao seu peso esmagador! Mas, vêde,
almas minhas, logo disse ao Pae : Que a vossa vontade se
cumpra e não a minha. Porque, amados meus, disse ao
Pae : se é possivel que se afaste de mim este calice ? Não
tinha Eu desejo de soffrer infinitamente por vós? Porque
pedir ao Pae, se é passivei afastae de mim este calice?
Ah ! se assim exclamei, foi para mostrar aos homens
minha grande dôr e para que os homens não pensassem
que Eu tinha um corpo phantastico e que não soffria ! Ah !
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46 Licções de Jesus Vicii'Yna

não, não penseis que, fa]ando ao Pae, minha angustia dimi­


nuiu. Ah ! não, o Pae me deu o calice, dizendo: Filho, bebe
o calice até a ultima gotta. Sim, Eu bem sabia que o tinha
de beber, porém, quiz nesta hora mostrar-vos o meu amor
por vós, ensinando-vos tambem a rezar: que a vossa von­
tade se cumpra e não a minha. Eis o vosso brado, almas
que me ouvis, porém, o que agora vos quero dizer é que,
soffrendo tanto neste jardim,· dei ás vossas penas uma
recompensa immortal, se souberdes unil-as ás minhas.
Tanto soffri, amados meus, porém não foi em vão,
porque agora vossas tristezas e afflições foram santificadas
por vosso Jesus no Getsemani.
Hoje, ao lado do Pae Eterno, bemdigo minhas penas,
penas tão duras, tão amargas. Quanto gozo deram estas
minhas penas a meu Coração, porque, soffrendo, alcancei
para vós, gloria. Dando-vos com minhas penas força para
vós soffrerdes, e soffrendo em união commigo, um dia po­
deis estar ao meu lado ; sim, porque o caminho do Paraiso
é o da cruz ! Eis porque o meu Coração e minha alma,
soffrendo tanto no Getsemani, hoje goza tanto aqui no Pa­
raiso ; porque, soffrendo, abri-vos este caminho tão despre­
zado e odiado ! Ah! amados meus, todos os homens antes
de mim temiam a humilhação e a dôr ; hoje, depois de Eu
tanto soffrer, as almas de boa vontade correm por este ca­
minho escabroso e o céo se povôa.
Sim, o que era tão odiado antes de mimha dor, hoje,
por almas de boa vontade é recebido com alegria; eis por­
que vos disse que meus soffrimentos servem hoje de gran­
de gozo , visto como abriram a estrada da vida, a estrada
da dor e humilhação. Hoje vejo tantas almas correrem nes­
ta estrada da vida !
Almas mi.nhas, os anjos lotj.yam minhas agonias, por­
que vêm que as almas de boa vontade dellas approveitaram,
sabendo soffrer generosamente e na dor, dizendo como Eu:
Que a vossa vontade se cumpra.
Porém, nem todas as almas sabem dizer isto; algu­
mas ha que obedecem, quando tudo lhes vae segundo o seu
agrado, porém, quando a vontade impõe sacrificio, procu­
ram todos os meios de se livrar de tal jugo ! A virtude da
obediencia está em obedecer no que não agrada; é ahi que
se mostra a virtude. Obedecer no sacrificio, chama-se vir­
tude; obedecer no que agrada, chama-se não virtude, mas,
sim, commodismo. Ainda que a virtude deva abranger os dois
estados: obedecer sempre, seja no gozo, seja na dor, as
almas virtuosas costumam pedir assim : Fazei, ó Senhor,
que meus superiores só me mandem o que não me agrada·
para matar minha vontade ; isto, amados de minha alma, é
virtude. Quão poucas assim procedem ! Eis o motivo por-
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Licções de Jesus Victima 47

que ha tão poucos santos. Fazer o que é agradavel, en1


verdade vos declaro, não é virtude, mas, sim, satisfacção
do amor proprio !
Amados de minha alma, apprendei de mim que obe­
deci ao Pae, até a morte e morte de cruz ; e se de mim
apprenderdes, tudo fareis com amor, porque soffrendo por
vós, dei-vos a grande mercê de tudo fazerdes por amor e
não por força.
Lembrai-vos, os que tendes difficuldade para obede­
cer, do Reino Immortal da Gloria, onde o vosso Deus vos
espera para dar-vos o galardão merecido, sendo generosas
na pratica da santa virtude da obediencia !
Minhas penas são vosso gozo nesta mansão querida ;
sêde, portanto, generosas em urdir sacrificios, porque bre­
ves são as penas e eterna vossa recompensa, onde cantareis
sem cessar o terdes soffrido e vencido por meu amor. Hoje
glorioso estou na mansão da paz, porque soube obedecer e
por amor.

AMOR GENEROSO

Deixando-me prender e encerrar na prisão,


dei-vos heroico exemplo de HUMILDADE

Amados de minha alma, a vós todos os que transitaes


por este exilio. desejo hoje vos mostrar quão bom é se
humilhar, porque aos hurn\ldes ser-lhes-á dito : Entra, servo
bom e fiel, no reino que desde toda a eternidade te está
preparado. No exilio foste o servo de todos, agora os anjos
serão os teus servos !
O Rei Immortal da Gloria, o vosso Tudo, o vosso
Esposo Virginal, deixando-se encerrar em uma asquerosa
prisão, vos diz : se Eu, o Rei Immortal da Gloria Me deixei
prender, porque vós não vos haveis de deixar prender, pe­
las cadeias da santa humildade, a meu Coração tão doce e
humilde?
Lembrae-vos do que está escripto no Evangelho :
Apprendei de Mim que sou manso e humilde de Coração.
E para que vísseis que não era uma phantasia, deixei que
os meus inimigos Me humilhassem. E' pelas obras que Me
vereis humilde. Desde o presepio, até o fim dos seculos,
Me haveis de ver sempre em humildade! Sempre vos posso
dizer estas tão consoladoras palavras: Apprendei de Min1
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48 Liccões
.,. de Jesus Victima

que sou manso e humilde de Coração. Vêde se o que vos


digo não é uma realidade.
Deixando-Me prender como um malfeitor, como um
cordeirinho manso, sem proferir queixume, permitto que os
algozes façam de meu corpo tudo que lhes apraz; ora
amarram-Me as mãos, ora soltando-as, ora cuspindo-Me no
rosto, emfim, tudo que suas paixões os encitam ! Eu, o hu­
milde Jesus, Filho do Deus eterno, que em minhas mãos
tinha o poder de abrir a terra e sepultai-os no inferno ;
quantas vezes aos meus servos livrei da morte, abrindo-lhes
os carceres, onde se achavam encerrados e quebrando as
- cadeias onde se achavam amarrados ! Porque, tendo todo
o poder, não usei delle para commigo ?
Amados de meu Coração, um pae tem obrigação de
dar o exemplo aos seus filhos: No alto da cruz ia-Me cons­
tituir vosso Pae e Pae de Misericordia. Sabia Eu que para
vir apoz de Mim, é preciso morrer a si proprio. Como Eu
poderia hoje vos dizer : sêde humildes, humilhae-vos, se Eu
primeiro não o fosse ? Sim, podia vol-o dizer, mas minhas
palavras não produziriam effeito nas vossas almas! Sim,
humilhando-Me, dei-vos a força para vós vos humilhardes.
Oh ! a humildade é tão preciosa a meu Coração, que
Eu não edifico meu throno a não ser nos corações humildes.
Sim, o meu espirita não bafeja a não ser os que de­
sejam ser humildes.
Vêde como o que vos digo é uma realidade.
O Divino Paraclito só formou meu corpo, quando en­
controu uma mulher verdadeiramente humilde. E' nos co­
rações humildes, que o Divino Espirito constróe os grandes
e sumptuosissimos palacios de perfeição !
Sendo a humildade a base e os alicerces para toda
obra de santificação, Eu primeiro quiz dar o exemplo. O
mundo não comprehende estas t!'ousas, que só são compre­
hendidas pelos homens de boa vontade. Humilhar-se, perd_er
a sua opinião propria, sujeitar-se á opinião daquelles que
tem a plenitude de todas as luzes do Divino Paraclito, dizem
elles que é cobardia e atrazamento; porém, o Deus sapien­
tissimo, o criador de todas as cousas fala assim : O humilde
é um grande sabia, o orgulhoso é um pobre infeliz e
ignorante!
Bemaventurado o homem que fôr o ultimo de todos,
isto é, que for mais humilde, pois este será o maior no
reino dos céus!
Amados de meu Coração, Eu fui o primeiro que se
fez servo de todos! Vêde se isto não é uma realidade. Eu
sou vosso servo, sempre prompto em vos soccorrer.
Qual o homem que se faz prisioneiro toda uma exis­
tencia para favorecer seus irmãos ? Pois, vosso Deus en-
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Licções de Jesus Victima 49

cerrou-se nos tabernaculos até o fim dos seculos para ser


vosso servo ! Quereis maior exemplo de humildade do que
este na minha Paixão '? Podieis dizer que foi apenas uma
noite que fiquei prisioneiro ; mas, nos tabernaculos não é
uma noite, antes até o fim dos seculos serei vosso servo !
Direis, amados de meu Coração, que vós não podeis ser
humildes porque é muito difficil ! E vosso Deus, fazendo-se
vosso servo, não vos deu forças para praticardes a humildade?
Sim, humilhando-Me tanto, dei-vos a força necessaria,
pois, é por este motivo, que vejo tantas almas generosas a
sorrir na humilhação e ainda Me agradecerem, quando o
mundo as despreza! Ah ! estas comprehenderam a verdade,
estas são sabias !
Sim, amados de meu Coração, meus exemplos não
são impossiveis de imitar. Eu vejo tantas esposas se hurrli­
lharem na minha casa, a, procurarem o ultimo lugar, a re­
ceberem com alegria as humiibações merecidas e não me­
recidas. Vejo tantas esposas a Me pedir: Senhor, humilhae­
me, fazei que eu conheça minha nulidade !
Sim, estes comprehenderam as minhas palavras e
puzeram em pratica os meus conselhos.
Bemaventurados os humildes, porque no céu brilharão
como o sól.
Bemaventurado o que se fizer servo de todos, este
terâ o primelro lugar no Banquete eterno.
Amados de minha alma,. poucos são os verdadeira­
mente humildes, porque posso vos dizer : o Espírito Santo
não póde construir muitos palacios de perfeição, porque
poucos, muito poucos são os que amam o desprezo, a ponto
de achar suas delicias em ser desprezados !
Sim, amigos tenho que acham gozo em ser despreza­
dos, porem são poucos ! E porque ha tão poucos '? Ah !
porque desprezar-se a si proprio, depende de muita oração ;
pedi e recebereis. Os que desejam ser sabios entram em
universidades e estudam com afinco, e isto por muitos
annos.
An1ados de meu Coração, vós tam bem deveis entrar
na vossa universidade, que é a minha Sagrada Paixão e
Morte e o meu longo esperar nos tabernaculos ! Eis a vossa
universidade, donde sahireis sabios.
Não vos Uludaes. Se não folheardes bem estas duas
paginas, jamais adquirireis a verdadeira sciencia, que é
conhecer-se a si proprio, para se desprezar e conhecer-Me
a mim para Me amar.
Eis a sciencia das sciencias : ser humilde, desejar ser
desprezado para ser o primeiro no Banquete Nupcial.
Amados de meu Coração, lembrae-vos que se tendes
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50 Licções de Jesus Victirna

difficuldades hoje para serdes humildes, amanhã exultareis


de alegria na Mansão da paz.
Vêde minha Mãe hoje tão exaltada na Mansão da
Gloria. Suas penas passaram ; porque a ellas foi fiel hoje
é louvada por multidões de escolhidos e pelos anjos a
côrte celeste.
Vós que tendes difficuldades não desanimeis, tendes­
Me no sacrario, para vos dar força, tendes minha Mãe para
ser vosso Anjo, recorrei a Ella, que vos dirá: Não temaes,
estou a vosso lado para vos ajudar.
Sim, porque temer? Nada vos falta; tende boa von­
tade, portanto jamais desanimeis, porque Eu sou a força
dos que Me procuram e em Mim confiam.
Quem disser que não tem força, venha a Mim e Me
peça; e quem disser que não recebeu é porque não soube
pedir e menos confiar.
Sêde humildes todos e todos sereis m�us amigos. O
Espirito Divino edificará meu throno em vossos corações.
Vêde que vos falo com o exemplo : Apprendei de mim
que sou humilde de Coração.

AMOR GENEROSO

Deixando-Me flagellar dei-vos heroico


exemplo de MANSIDÃO
f),

Amados de meu Coração, todos os que transitaes


em demanda da Patria amada, aprendei de mim a serdes
mansos, se quereis ter parte commigo no Reino Immortal
da Gloria.
O vosso Deus vos fala com o exemplo, deixando-Me
Hagellar tão barbaramente por mãos sacrilegas e impulsio­
nadas pela raiva satanica, que o inferno vomitava contra
a Victima Immaculada, a qual ia abrir, com sua mansidão,
um caminho novo para as almas Me seguirem, e, a meu
exemplo, conquistarem tantas almas para meu reino!
Oh! vós todos que desejaes ser santos, em verdade
vos digo: Sem mansidão não podeis chegar a tanto ! É pela
1nansidão que Eu conheço meus verdadeiros amigos . Ama­
dos filhos, não vos illudaes porem: a mansidão que Eu dese­
jo de vós não é quando tudo vae a vosso bel prazer !
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Licçõe.., de .Jes·us Victirna

A mansidão deve-se manifestar em vós quando tudo pare­


,ce ser contra vós. É desta mansidão que hoje vos desejo
Jallar, porque foi em. horas tão dolorosas, qual a da flagel­
lação, que vos dei heroico exemplo! Vêde minha grande
mansidão, deixar-me bater com tanta ignominia !
Oh! em verdade vos digo: os anjos ficaram pasmos
vendo que Eu, o Rei Immortal da Gloria, consentia que sa­
telites infernaes a tal ponto Me humilhassem ! Oh! ama­
dos meus, elles quizeram segurar essas mãos sacrilegas,
porém, Eu não os deixei, porque queria hoje vos fallar
com o meu exemplo, para vos dizer: Aprendei de mim a
ser mansos ! Sim, a mansidão é tão cara a meu Coração
que, nos corações mansos, faço minha morada. Mais ainda.
Digo aos corações mansos: Tu conquistarás almas ! Que
nobreza é salvar as almas! Ser manso, porém, como Eu
desejo, é um tanto difficil, dizem muitas almas! Conser­
var-se manso nas adversidades quando não sentimos apoio,
é difficil? Não é difficil, isso depende de muito bôa vonta­
de, de muito esforço, n1as difficil não é, porque tendes a
minha força no meu exemplo, pois se me deixei flagellar
com tanta ignominia, não foi em vão, mas, sim, para vos ser­
vir de força, nas horas difficeis !
Oh ! almas minhas, a mansidão é necessaria para a
santificação propria e para Me dar almas. Para a santifi­
cação propria porque quem não exerce a mansidão comsi­
go mesmo, não póde exercei-a com seu proximo. Como exer­
cer a mansidão consigo mesma, enfadando-se com as cruzes,
-que muitas vezes sobrevêm por uma falta de reflexão, não
tendo paciencia com a sua • fraqueza, porque á impaciencia
não dá remedio, ao contrario agita mais a alma; emquanto
que o manso diz para comsigo: Meu Deus, tive esta fraqueza,
perdoae-me, tende paciencia commigo, agora neste momento
vou começar vida nova com o firme proposito de jamais
cahir em tal falta; a isto se chama ter paciencia comsigo 1
ser manso para com sua propria alma., e não ser algoz de
si mesma, ficando agitada!
Sim. amados de minha alma, milhões e milhões de
almas não comprehendem a virtude, de forma que vivem
em agitação, e dahi vem que tambem não tem paciencia
nem mansidão com os seus irmãos ! E' preciso, portanto
primeiramente saborear a mansidão consigo mesmo, . e de·
pois praticai-a com seus semelhantes, tendo sempre urr
doce sorriso para os que muitas vezes são a causa de nos
sas cruzes! Isto é difficil? Não, porque eu, o vosso Deus
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52 Licções de Jesus Victima

vos dei o exemplo, quando amarrado â columna, Me espan­


cavam como um malfeitor !
Qual de vós, que Me serve nesta hora, pode dizer : Se
aos que tenho mais confiança, os meus superiores ou ás
minhas Irmãs, me arrastassem pelas ruas desta cidade, eu
sorriria, recebendo delles um tal desprezo ? Se alguma po­
de dizer isso, Eu posso lhe responder: Em verdade não fa­
zeis cousa extraordinaria, porque teu Deus, Rei hnmortal
da Gloria muito mais fez por ti, e o que és tu em
comparação com a realeza e magestade de um Deus? Sim,
se Eu a tanto Me humilhei, dando-vos tão heroico exemplo
de mansidão, vós não haveis de vos humilhar dizendo : Por
nosso amor o Rei da Gloria soffreu todos os desprezos e
com tanta doçura, porque Eu, por amor de minha alma, não
hei de ser mansa?
Oh I amados meus, é por amor de vossa alma que
deveis ser mansas, porque. foi somente pelo vosso amor
que tanto soffri e com que mansidão ! E' a vossa alma a
beneficiada, porque vós bem sabeis que Eu não preciso _de
vós ; ah ! não, Eu vos amo gratuitamente sem nenhum
interesse a não ser o de fazer-vos felizes. Sim, o interesse
de vosso Deus em dizer-vos que sejais mansos é para vos
fazer felizes. Não tenho outro interesse a não ser este, fa­
zer-vos felízes por toda a eternidade.
Almas queridas, por amor â vossas almas, vos peço
que sejais mansas para comvosco e com o vosso pro­
ximo. As que dizem de não ter força, vinde e contemplai­
Me flagelado ! Sim, almas minhas, apprendei nesta escola,
não desanimeis se sentirdes difficuldades; ao contrario,
quanto mais difficuldades sentircP'�s, alegrai-vos, porque a
recompensa serâ maior. Lembrai-vos que assim como a mim
Me ehicotearam, tambem vós sereis chicoteadas pelas vos­
sas paixões e pelos inimigos da santa mansidão! Sim,
quem quizer ser verd�deiramente manso empunhe a arma
poderosa da santa abnegação, porque o inferno se levan­
tarâ enraivecido para tiral-a de tal intento que lhe dâ tanto
prejuizo.
Sim, a santa mansidão é muito combatida, almas mi­
nhas, portanto avante, coragem, lembrae-vos que a recom­
pensa é eterna !Eu muito soffri e hoje estou na Patria amada,
prelibando as doçuras adquiridas pela santa mansidão.
Avante, não temais as que sentirdes difficuldade, por­
que no Reino Immortal da Gloria, vos espero para saciar-vos
com o mel dolçuroso de meu amor !
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Licções lle Jesiis Victüna

AMOR GENEROSO
(

Deixando-Me condemnar a morte por iniquos


Juizes dei-vos heroico exemplo de
RENUNCIA

Amadas de• meu Coração, o vosso Esposo amantissi­


mo, que é o Rei da Gloria, o soberano Senhor de todo o
creado, ao qual os anjos prestam com toda a reverencia as
suas homenagens, deixou-se condemnar a uma morte vil !
sim, a morrer em um patibulo de infamia, e que morte, no
meio de insultos e desprezos! ...
Pergunto. a todos vós que desejais seguir-Me nos con­
selhos evangelicos: Como um Deus se deixa assim humi- 1
lhar? Pode isto trazer-lhe prejuízos para o reinado, que
Elle deseja estabelecer no meio dos homens? Muitos
assim pensaram dizendo, _se fosse Deus, como Elle diz,
usaria de seu poder para derrubar os seus malfeitores ! ...
Oh! vós todos que passaes, parae um pouco e 1nedi­
tae .... O vosso Esposo amantíssimo renunciou a seu po­
der, e debaixo desta renuncia voluntaria, escondeu sua so­
berania, seu poder, sua magestade ! .. '.
Renuncia voluntaria e por amor!
Por amor renunciei ao direito que tinha de sepultar
os iníquos juizes, que tão innocentemente Me condemna-
vam a morte!
Vêde como se ama, amados de meu Coração; isto é
que se chama amar! Se um monarcha da terra, por amor
de um pobre camponez revunciasse ao seu poder e ás hon­
ras merecidas, o que diriam os homens deste monarcha '?
Diriam, este monarcha esta louco de amor ! Vêde como
elle, para mostrar-lhe seu amor, renunciou ao que lhe per­
tence ! Amados de meu Coração, isto é que se chama amor !
Renunciar por amor a direitos, que muitas vezes vos pare­
cem indispensaveis!
Renunciar por amor a vontade propria, ainda que a
vossa vontade vos pareça santa e bôa !
Renunciar por amor a todas as affeições da terra,
ainda que vos pareçam necessarias para vossa perfeição!
Sim, por amor, renunciar a tudo que é terreno e
que é vosso! E só nos corações onde reina a completa re­
nuncia de si mesmo e de todo creado, que faço minha 1no­
rada de amor; isto é, só estes corações completamente
desprendidos de si e de todo o creado podem usufruir de
meu amor generoso !
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54 Lícções de Jesils Víctim.a

Só estas almas me comprehendem pelo amor_


Eu, amados de meu Coração, não admitto rivaes, porque
nos corações mornos não posso edificar, porque estes estão
prestes á serem vomitados!
O' vós todos que Me seguis nos conselhos evangeli­
cos, Aquelle, que desejaes imitar, deixa-se condemnar a uma
morte tão ignominiosa para vos dar exemplo, para que ho­
je meditando o quanto fiz por vós, tivesseis força para
ren,unciar a tudo que é da terra e a vós mesmos que é o
mais dificil!
Deixaes, amados de meu Coração, o mundo muitas
vezes com facilidade, porém o mundo quantas vezes fica.
em vós, quando se trata da renuncia da vontade do pro­
prio Eu? Ah! então vêm os queixumes, isto me é in1possi­
vel fazer ! isto Jesus não condemna! Outras vezes dizeis :
isto é bom e para bem de minha alma. Quantas vezes o­
amor proprio é qu8 deseja ser satisfeito, porque o que de-
. seja a perfeição, deseja ser desprezado e por ninguem lem­
brado. Quando vos agastardes, porq uc vossa alma não é
attendi'da, abri bem os olhos, isto não é correr para a
perfeição, mas, sim, retroceder !
Vêde o exemplo nos discipulos de Emaús : quando
Me reconheceram na fracção do pão, me disseram : Senhor,.
ficae comnosco, quem assim fallou não foi o espirito, mas,.
stm, o coração, porque seus espiritos se achavam ainda bem
obscurecidos.
Vêdes almas queridas, que neste ponto ha milhões
de almas submergidas nesta escuridão, a prova a tendes
quando ouvis almas vos dizerem : não sinto devoção,
não tenho vontade de fazer minha obrigação, porque
não experimento cousa alguma. Estas almas que só rezam,
quando sentem ardor, são cheias de vontades e não d0
amor, porque quem possue o •verdadeiro amor, ama na
obscuridade, como na consolação.
A estas almas, lhes posso dizer : o teu amor não é
amor verdadeiro, é um puro commodismo ; amas tu a ti
mesma e não ao Deus do Calvario, que. renunciou a toda
consolação por teu amor.
Vêde, almas minhas, como se ama;, rennunciando até
as consolações espirituaes. E' porisso que costumo dar o
calice da renuncia a todos que Me desejam seguir na ver­
dade.
Quantas almas se queixam que se apresentam a mim
e Eu Me conservo mudo ! Dizem ellas: Jesus está triste
commigo, vou á sua presença e Elle se conserva mudo; ou­
tras vezes dizem: a minha alma sente um peso esmaga­
dor ! Oh! almas queridas, faço isto com meus verdadeiros
amigos, com Elles é que reparto minha cruz e conforme a
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Licções ele .Ie�u:,; Vidúna 55

:força de cada um, dou esta mesma cruz. Oh ! as almas que


,assim são tratadas, bem podem vir aos pés de meu altar
para Me agradecer tão grande dadiva. Nestas pessoas que
assim soHrem por meu amor, estou entronisado, isto é, sou
Senhor absoluto de suas almas com todas suas vontades !
Porem, acontece muitas vezes que certas alm.as perdem a
maior parte -do merecimento, quando se desfazem em quei­
xumes a procura de allivio. Que tristeza para meu Cora­
-ção ! Dou-lhes a beber no calice de ouro finíssimo, as amar­
guras da cruz e ellas as põem em calice de simples metal,
quando procuram aJiiviar suas penas!
Não vos illudaes, almas que Me ouvis, isto que vos
fallo não é quando se trata -de tentação; quando fordes
tentadas, tendes direito de recorrer a m·eios lícitos para
dellas vos livrar, isto é, á oração, á mortificação, a um con­
selho esclarecido, que dissipe de vosso ent�ndim�nto a nu­
vem negra da tentação, que vos é perrnittida para purifi­
cação e santificação de vossa alma.
_ Almas minhas, por amor, a tudo o que é da terra
renunciae ! Lembrae-vos do exemplo que vos dei, deixan­
do-Me condemnar por iniquos Juizes !
Sêde generosas, amae-Me na renuncia de toda e qual­
quer consolação, até de minhas consolações. Lembrae-vos
que, para gozar, tendes uma eternidade, onde sereis ine�
briadas de gozo immortal .
Por amor, filhas amadas, a tudo renunciae !

AMOR GENEROSO
li

Recebendo a cruz dei-vos heroico


exemplo de FORTALEZA

O' vós todos que transitaes em demanda da Patria


amada, vêde o vosso Esposo recebendo a cruz com indizí­
vel alegria, porque, carregando-a, ia mostrar-vos quão ne­
cessario é o dom da Fortaleza.
Sujeitei-Me a carregar um pesado madeiro para di­
zer-vos hoje: sêde fortes, não penseis, amados de meu co­
ração, que meu corpo não era sensivel. Ah ! minhas carnes
eram sensibilissimas, porque foram formadas pelo Divino
Paraclito no seio de uma Virgem Puríssima; e tambem não
enseis que usei de minha divindade para diminuir as dô-
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56 Liccões
-· ele ,Jesus Vícti'ma

res ! Ah! não; soffri no meu corpo virginal como qualquer­


mortal, mais do que nenhum mortal; porque a sensibilida­
d.e de meu corpo era maior do que a de uma tenra cre­
ancinha .
Portanto, vêde que meu martyrio foi tremendo, quan­
do meus delicados hombros receberam a cruz ! ,
O que me deu força, direis vós, si Eu era tão sensi­
vel? ! Ah! o que me deu força foi o dom da Fortaleza, que
a todo momento implorava para minha natureza. Como
Deus possuía Fortaleza no infinito, porem, como homem,
não ; porisso se Eu usasse de minha divindade não soffre­
ria. Vêde como o que vos digo o posso provar no
Getsemani, quando disse ao Pae: «Meu Pai, se é possivel,
afastae de mim este calice», o que quer dizer que Eu estava
fraco na minha natureza humana, e bem patente quando
disse: o espírito está prompto, porem, a carne é fraca.
Vêde, almas minhas, chegamos ao ponto do qual vos
desejo fallar - a oração, o remedio essencial, onde as al­
mas se fortalecem e sahem promptas para affrontar todo o
sacrificio. Vêde, quando me apresentaram a cruz, rezei e
disse ao Pae: Oh ! Pae, mandae á minha humanidade a
Fortaleza necessaria para receber com docilidade este
peso esmagador, que, por amor dos homens, vai car­
regar; e á minha alma! Oh Pae, dae-lhe a generosidade
necessaria para ser bem forte nesta humilhação tão
tremenda!
Almas que me ouvis, Eu o proprio Deus não tinha.
necessidade de rezar, era só usar de meu poder; porem,
quiz vos dar exemplo em tudo, e exemplo heroico,
porque Eu como Deus todos os meus actos tem valor
infinito.
Amados de meu Coração, quantas vezes vos ouço
dizer: Não tenho força para carr�gar esta cruz . Agora Eu
vos pergunto, porque não tendes força? Será porque o vos­
so Esposo vos enganou quando disse estas palavras:
A quem deixar tudo por meu amor, dar-lhe-ei o cento por
um neste mundo e a gloria eterna? ! Que quer dizer este
cento por um? Tudo que vos é necessario, não tanto ma­
terial, porque meu reino não é material, mas sim es­
piritual .
Será que vosso Deus pode enganar-se ou enganar?
Não, Eu não posso Me enganar, nem enganar-vos, portan­
to se não tendes força, é porque não- sabeis pedir, não
sabeis confiar .
Vêde, almas minhas, como a oração é necessaria pa­
ra a vida sobrenatural da alma, para ella ter a força neces­
saria de luctar contra as tentações, que o mundo ou o
demonio ou a carne lhe apresentar.
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Licções de Jesus Vicfrnia ·57

Em verdade vos digo, se Pedro tivesse rezado não


Me negaria tres vezes; se Judas rezasse, quando a paixão
lhe suggeriu o amor ao dinheiro, nãoteria sucumbido. E' sem­
pre a causa primordial de sucumbirem na tentação os que
andam desprovidos de oração. A' estes, que não rezam,
pode-se-lhe applicar o que já foi dito ! São como as virgens
loucas, que, não cuidando de estar prevenidas de azeite,
emquanto o vão buscar, vem o inimigo e as faz cahir.
Oh! almas minhas, por piedade escutai-Me. Vêde que
é vosso Esposo todo cheio de santo zelo pelo bem de vos­
sas almas que vos diz : sede almas de oração e ahi sereis
fortes, generosas em todos os comb�tes da vida. Aprendei
de mi1n que vos fallo com o exemplo. Vêde-Me desde a
infancfa. rezando, preparando-Me para o grande sacrificio
do Calvario. Quarenta dias passei no deserto! Quanto ali
não rezei para Me fortificar, para na hora do sacrificio ter
força e não faltar com a· generosidade necessaria, que o
drama do calvario exigiria.
Rezei, amados de meu coração, rezei todos os instan­
tes de minha peregrinação. Eu estava sempre em continua
-communicação com o Pae. Vêde como vós deveis fazer,
apezar de vossos trabalhos, não vos esqueçaes do mais
essencial - a oração.
Procurae primeiramente o que é eterno e o demais
vos será dado gratuitamente.
Sim, é na oração que tudo vos é dado ; este tudo é
a força necessaria para serdes generosas em todos os sa­
crificios, quer materiaes, quer espirituaes.
Em verdade vos digo, . se fordes almas de oração,
sereis soldados valentes, combatereis com destreza e ganha­
reis a victoria.
Amados de meu co'(i0.ção, o que é a oração ? A ora­
ção é a união da. alma com o seu Creador, com o seu Es­
poso amantissimo, e o vosso Creador, o vosso Esposo e
Pae amantissimo que tanto fez por vós, terá coragem de
vos negar a força necessaria, que muitas vezes direis que
não tendes?
Ah ! não, se estiverdes unidas a mim, sereis fortes e
fareis as mesmas cousas que Eu fiz, dareis vossa vida ale­
gremente por miln, assim como Eu a dei por vós . Mergu­
lhae-vos amados de meu coração, nas fontes beneficas da
santa oração, onde ouvireis minha vós, a vos dizer : que
desejaes que Eu faça por ti ? Prompto estou a dar-te tudo
que Me pedes. Sim, almas minhas, rezae e rezae muito,
se desejaes ser fortes e generosas ·para commigo.
Almas que vos achaes fracas na pratica da virtude,
examinae-vos bem, \·êde que essa fraqueza provem da
vossa pouca oração!
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58 Licções de Jesus Vicffrna

Ah! se fosseis almas de oração, não terieis coragem


d-e Me negar um sacrificio. A oração, almas minhas, é a fon­
te onde deveis saciar-vos, sim, a fonte da Fortaleza.
Vêde como fazem as pessoas do mundo quando se
amam; desejam estar sem.pre em contacto e mutuamente·
se correspondendor
Agora vos pergunto, amaes-Me? Então eu vos digo:
Vos reconhecereis como tal se, na verdade, tiverdes sêde
de fallar commigo, de estardes unidas a mim pelo santo.
contacto da oração ! .. ,
Não vos esqueçaes que a oração é a fonte da santa
fortaleza, porque Eu sou a propria fortaleza, e quem está
unido a mim, está bebendo nesta fonte inexgottavel.
Vinde e bebei. Almas fracas não temais. Vêde que
Eu sou o vosso Esposo e Esposo de infinita caridade, que.
é incapaz de negar soccorro a quem lh'o pede.

AMOR GENEROSO

Conclusão das duas series do Amor Generoso

Amadas esposas, fallei-vos tanto dos meus soffrimen­


tos no caminho do Calvario ; hoje desejo vos dizer: se de­
sejaes praticar a virtude, jamais deixeis de bem meditar
neste livro Divino, a minha SagJilda Paixão.
Mostrei-vos na primeira serie que vos dei, o que al­
cancei para vossas almas, em cada passo de minha Paixão ;
na segunda, como deveis praticar a virtude e dou hoje Um
a esta serie, completando-a com estas palavras : Se dese­
jaes ser santas, manducae minha Sagrada Paixão.
Nesta segunda serie falei--ços até o segundo ponto
da via-crucis, onde Me comtemplaes recebendo a cruz.
Hoje vou fallar-vos de um modo geral, convidando­
vos em cada ponto da via-crucis, a Me amar.
Fallei-vos nesta segunda serie como deveis praticar
a virtude á minha imitação; agora nestes pontos que nos
restam da via crucis, vos convido em cada um delles a
Me amar.
Amadas esposas, quando Me contemplardes cahido
por terra pela primeira vez, ouvi estas palavras: vê como
te amo, que beijo a terra por teu amor.
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[Acções de Jesus Victima 59

Quando Me contemplardes, encontrando-Me com mi­


nha Mãe, ouvi estas palavras: vêde até onde chegou o meu
amor por vós, deixando minha santissima Mãe em tanta
angustia; vêde se ha amor mais forte do que o meu!
Quando Me contemplardes ajudado pelo Cyreneu, ou­
vi estas palavras: porque vos amo, uma pobre creatura
precisa ajudar-Me, Eu sendo o proprio Deus; vêde como
Me sois caras!!
Quando Me contemplardes cahido pela segunda vez,
ouvi estas palavras : como me sois caras, o Deus forte se
rez fraco para mais soffrer, só porque vos amo!
Quando Me contemplardes consolando as mulheres de
.J erusalem, ouvi estas palavras consoladoras: vêde como
vos amo, meu Coração é todo ternura, prompto está a
consolar-vos !
Quando Me contemplardes estendido por terra, sem
forças para Me levantar, ouvi estas palavras: porque
vos amo, estou a oscular a terra, osculando nella as vos­
sas almas!
Quando l\'1e contemplardes desnudado, ouvi estas con­
soladoras palavras: só porque vos amo, Me deixo desnu­
dar e por este motivo tanta humilhação; como vossas al-
1nas Me são caras !!
Quando Me contemplardes prégado na cruz, ouvi o
1neu amor vos dizer: que bellas são vossas almas para o
Filho do homem se deixar prégar em uma dura cruz !
O' belleza! O' amor não comprehendido neste valle de
lagrimas!
Quando Me contemplardes suspenso na cruz a dizer
tenho sêde, ouvi estas pslavras consoladoras: tenho sêde
só porque vos amo!
Quando Me contemplardes nos braços de Maria, ouvi
Maria vos dizer: haverá amor mais forte do que o de vos­
so Esposo pelas vossas almas? Vêde até onde chegou o
seu amor!!!
Quando Me contemplardes no sepulchro, ouvi meu
amor vos dizer: meu amor por vós chegou ao extremo.
Amadas esposas, depois de mostrar-vos tanto amor,
permanecereis vós na frieza? Ah ! não, Eu sei que haveis
de fazer tudo que estiver ao vosso alcance, para dar-Me
amor por amor. Sim, amor, com amor se paga..
Estou certo disto, é porisso, que desde já vos aben­
çôo pelas mãos de Maria dizendo-vos : manducai todos os
dias minda Sagraaa Paixão. Imprimi no vosso coração a
minha Sagrada Paixão e sereis fortes até a morte, a por�
ta da vossa felicidade eterna, onde Me encontrareis glo­
rioso, introduzindo-vos nas minhas moradas de amor, para
Me louvardes eternamente.
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O LIVRO DA ESPOSA DE JESUS


Contem este livro duas paginas, a pagina vermelha.
e a pagina branca! ,
A pagina vermelha que ensina a soffrer !
A pagina branca que ensina a amar!

PAGINA VERMELHA QUE ENSINA A SOFFRER

Esposa de meu Coração, alegria de minha Igreja


Triumphante e Militante, Eu sou o teu Jesus Crucificado,
que por teu amor se deixou pregar nesta dura cruz; Eu
sou, portanto, a tua força.
Estás sem coragem para carregar a cruz, vê, esposa
amada, meu corpo todo rasgado! Vê que chagas profundas
para te introduzir nellas! Não queres ser guardada nestas
chagas Divinas, abertas para serem o teu asylo, a tua for­
ça? Amada de meu Coração, vê minha cabeça coroada de
pungentes espinhos, que a traspassam de lado a lado!
Vê quanto sángue escorre pela minha fronte! Para que tu­
do isto, candida esposa? Para hoje te poder dizer: Soffre,
soffre com generosidade! Vê como te amo, deixando-Me
coroar de agudos espinhos !
Sim, amada esposa, para coroar-te um dia no Pa­
raiso como rainha, hoje me vês coroado de pungentes es­
pinhos !
Eu sou, na verdade, o teu livro, cujas letras devem
ser a tua força, porque são escriptas com o meu sangue
precioso !
Recolhendo o meu sangue divino, minha Mãe Santís­
sima fez um livro para ti. O que•diz este livro?
Eu te amo! E vê como Me eras cara, que para mos­
trar-te meu amor, deixei abrir meu Coração pela lança de
Longuinho.
Como Me és cara! Quanto sangue Me custaste!
Quantas dôres! Quantas angustias!
Custaste-Me uma sêde abrazadora, o abandono do
Pae, as penas dos condemnados! Sim, as penas dos re­
probos Me çercarani! Tudo soffri, amada e candida espo­
sa, para mostrar-te meu grande e infinito amor por ti!
Que terrível abandono do Pae, o qual Me· fez excla­
mar: «Meu Deus, · meu Deus, porque Me abandonaste»!
Este abandono tão cruel, o soffri para hoje, vendo-te genu­
fléxa ante minha cruz, poder dizer-te: Vê como te amo e
como deves soffrer com generosidade, lembrando-te do
meu terrivel abandono!
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Licções de .Jesus Victima 61

Minha esposa, por piedade, fita bem os olhos de tua


ahna nestas chagas abertas por teu amor... nesta cabeça
coroada de espinhos ... nestes labios resequidos... nesta
lingua torturada por sêde abrasadora ... nestes pés e mãos
perfurados ... nestes olhos amortecidos pelos espinhos ...
neste coração aberto pela lança de Longuinho! ... Vê a Mãe
querida a meu lado, immersa na dôr por ver-Me em tão
lastimoso estado, derramando lagrimas por não poder nem
ao menos dar-Me uma gotta de agua ! Espo.sa de m.inha
alma, depois de bem Me fitares, terás coragem de Me ne­
gar um sacrificio '? Sim, negar um sacrifício A'quelle que
tanto soffreu por teu amor'?! Ah! não, Eu bem sei que
és generosa; para isso deixastes o n1undo, para viver á
sombra benefica de minha cruz! Amada açucena, Eu não du­
vido de tua generosidade depois de bem meditares nesta pa­
gina ·vermelha. Eu creio que tu és capaz de dar tua vida, se
preciso fôr para mostrar-Me que Me amas. Sim, minha ama­
da, lendo estas letras vermelhas, escriptas com o meu san­
gue, posso pedir-te qualquer sacrificio, porque sei que não
m'o negas! Eu conheço teu coração,_ sei que possues um
coração terno e compassivo ; sim, porque teu coração foi
creado para amar-Me como esposa. Não é .isto verdade?
Sim, é verdade, ainda que te pareça que não Me
amas, Eu bem sei que Me amas ; se não Me amasses não
deixarias o mundo com suas vaidades e mentirosas pro­
messas!
Amada esposa, ficas afflicta porque te sentes fria e
sem nenhum ardor para Me a.mar? Não é preciso sentir
tal ; o amor se manifesta nas obras, no sacrifício da von­
tade. Ainda que te pareça que nada fazes por meu a1nor,
não te importes, ouve os teus superiores e faz, com a per­
feição possível, o que ellt)S te disserem. Não temas se o
inimigo tentador bater á tua porta; não sou Eu o teu Es­
poso infinitamente caridoso, para te ajudar nas horas dif­
ficeis? Lembra-te que o melhor meio de expulsai-o é me­
ditar por uns instante� na minha sagrada Paixão e Morte.
Abre nas horas difficeis este livro que agora te faço pre­
sente, lê com attenção estas letras escriptas com o meu
sangue! Ah! o inimigo é obrigado a te deixar, porque meu
sangue é a sua derrota; sim, o meu sangue derrubou seu
imperio infern�l.
Não temas, portanto, porque Eu tenho remedia para
todos os teus males; não te esqueças em todos os dias de
tua vida, ao menos uma vez por dia, de ler nesta pagina
vermelha, donde apprenderás a sciencia das sciencias, que
é saber soffrer por meu amor, para um dia poder cingir-te
com a corôa de esposa do Rei hnmortal da Gloria.
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'"
62 Liccões
.• de .Jesus V icti-ma

PAGINA B1fANCA QUE ENSINA A AMAR


Amadas espo�;as, já leste a. pagina vermelha, na qual
vais apprender a soffrer generosamente; agora vou dar-te
a pagina branca, que te vai ensinar a amar-Me na humil­
dade, como Eu amei !
A pagina branca tem como característico especial a
santa humildade.
Vê-Me aqui, candida açucena nesta Hostia Santa, tão
humilhado, neste sacra.rio encerrado até o fim dos seculos,
para dizer-te que te amo, para entrar no teu coração e ali­
mentar a tua alma, fazendo-a forte nos combates da vida,
para que não desfa!leça e possa chegar generosamente ao
dia das bôdas eternas ! Quanto amor! Quanta humildade!
Amada esposa, abre bem os olhos de tua alma e
vê-Me, desde quinta-feira santa, até o fim dos seculos, em
milhões e milhões de sacrarios, preso pelas cadeias de
um amor ardente por teu amor ! Vê, desde quinta-feira
santa, a communhão sacrilega de Judas, até o fim dos se­
culos, isto se repetindo quotidianamente! O teu doce Espo­
so docemente sujeita-se a tudo isto, para dizer-te: «Vê co­
.mo te amo»!
Agora, amada e candida açucena de meu jardim, ne­
gar-Me-ás o teu generoso amor? Ah! não, Eu sei que Me
amas com um amor ardente, Eu te vejo generos9.mente
humilhar-te, obedecer cegamente aos teus superiores, só
para mostrar-Me teu amor. Eu vejo-te generosa, ajudar ás
tuas Irmãs, só para mostrar-Me, que Me amas! Eu vejo-te
perdoar as indelicadezas que te ferem, só para mostrar-Me
que Me amas! Eu vejo-te a urdir sacrificios, só para mos­
trar-Me que Me amas! Sim, amada e candida açucena, ain­
da que não sintas que Me amas, Eu o sei que Me amas,
conheço tua consciencia recta, mtlhor do que tu; Eu estou
no teu coração e conheço todos os seus impulsos, não du­
vido de tua grande generosidade ; Eu sei que és capaz de
fazer os maiores sacrificios para mostrar-Me teu amor !
Conheço-te, tu és a escolhida do Pae para ser a mi­
nha consolação nesta prisão de amor, onde dia e noite me
vens visitar. Se não amasseis não Me visitarias; indiffe­
rente passarias deante do meu Tabernaculo, como passam
tantos filhos ingratos, que nem ao menos se lembram que
Eu aqui estou para os beneficiar!
Amada esposa, quando aqui vens para me visitar,
vê que Eu abro meu Coração para nelle te esconder1
para que o inimigo de tua alma não possa fazer-te mal.
Vê como te amo, candida açucena de meu jardim.
Quão delicado é meu Coração para com tua alma, neste
sacrario, todo de amor, para ti.
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Licções de Jesus V'ictima

Vê, alma minha, esposa dedicada, como esta pagina


branca te ensina o quanto te amo e como Me deves agra­
decer, dando-Me amor por amor ... Eu sei que, lendo todos
os dias nesta pagina toda de amor, jamais terás coragem
de me negar o teu amor. Oh! por piedade, quando te sen­
tires desanimada: ven1 aqui aos pés do meu sacrario ; lê
estas letras escriptas com o meu amor e santa humildade.
Ah! Eu te prometto, sahirás daqui outra! Ah! quando bem
meditares que por teu amor estou prisioneiro e em tanta
humildade, ah! cara esposa, em verdade te digo, não terás
coragem de Me negar teu amor!
Sim, amada açucena, esta pagina branca, ha de ser
a tua força. Quando pela manhã me manducas, grava bem.
no teu coração e na tua alma estas palavras: Por alimen­
to de minha alma tenho um Deus ! Sim, neste Divino Sa­
cramento fiquei para alimentar-te e ser tua força nas ho­
ras difficeis. Oh ! em verdade te digo, os anjos ficam pas­
mos diante desta maravilha: Teu Jesus, que é Deus, como
alimento de tua alma!...
Oh ! Minha amada, quanto amor nesta pagina bran­
ca! Como me és cara! E diz-Me si não é verdade. Sim, é
pelas obras que se conhece o amor.
Vê-Me encerrado nesta prisão, e, como vianda, ali­
mentando tua alma para a vida eterna !
Mostrei-te esta pagina branca, não a esqueças todos
os dias de tua peregrinação.

AS SE1-F PALAVRAS
1.a PALAVRA

«Meu Pae perdoae-lhes, porque não sabem


o que fazem»

Brado de misericordia proferido pela Victima lmma­


culada, no alto do Golgotha.
Ah! filhas minhas, porção querida do meu rebanho,
este brado de misericordia vós todas o deveis proferir an­
te o meu Tabernaculo.
Que esta palavra jamais deixe de sahir de vossos
labios, principalmente quando estiverdes ante minha Pre-
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64 Licções de Jesus Victima

sença real. Não vêdes, filhas minhas, que este é um brado


de m1ser1cor
. . d"1a ?. �·•
Os algozes ainda tintos de meu sangue: suas irrisões
e suas maldades clamavam vingança sobre suas almas ...
mas a misericordia, que tinha descido á terra para irra­
diar-se e beneficiar a humanidade decahida, n'esta hora de
tanta. perfidia e malvadez, deu a maior prova, que ella de­
sejava a todos salvar. E' porisso que bradei bem alto:
- «Meu Pae, perdoae-lhes porque elles não sabem o que
fazem».
Ah ! não, filhas minhas, não, elles não sabiam que
estavam crucificando A 'quelle que tanto os amava ! Ah!
se Me conhecessem, não seriam verdugos, mas sim, man­
sos cordeiros e a meu lado se prostrariam, para que Eu
lhes mostrasse as bellezas do Paraizo.
Este mesmo brado Eu continúo a proferir até a con­
summação dos seculos, como victima reparadora ante meu
Pae. Mas. agora sois vós que constantemente deveis diri­
gir ao Pae das misericordias este brado: - Perdão, oh
Deus Eterno, perdão, porque o mundo não vos conhece.
Perdão para os ignorantes e culpados, pois elles não que­
rem apprender na vossa escola divina! Perdão, ó Deus Eter­
no, por aquelles que já vos conheceram, já vos amaram e
agora de vós se acham affastados ! Por prazeres mundanos
desprezaram a vossa doce e amavel companhia! Perdão,
ó Deus Eterno, para os paes de familia, que, com o seu
exemplo, em vez de ensinarem seus filhos a vos amar, os
ensinam a vos odiar. Perdão, ó Deus Eterno, para as al­
mas que em vós deviam confiar e somente vivem na des­
confiança, offendendo assim a vossa misericordia infinita !
O' filhas minhas, que os vossos brados sejam uni­
dos aos meus, que, do fundo dos Tabernaculos, envio a meu
Pae por causa de tanta perfidia � maldade!
Sim, filhas minhas, nesta hora em que unis vossos
brados aos meus, quantos filhos queridos, delles hão de
approveitar ! E se vós fordes fiéis e constantes em Me fa­
zerdes companhia, a misericordia divina por vosso interme­
dio irradiar-se-á e o mundo culpado será grandemente be­
neficiado.
Ah! quantos filhos longe do meu Coração! E' o bra­
do que Eu dou constantemente do fundo dos · Tabernaculos,
brado este dirigido ás almas que Me amam, aos apostolos
que vivem da minha vida e que aos pés do Sacrario fazem
sua morada,
Eu só posso Me communicar com as almas que são
intimas commigo. E' com estas, que Eu tomo a liberdade
de pedir uma esmola. E esta esmola dada pelas almas de
bôa vontade, misturada com a esmola divina, ante o Pae
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Licçués <le .Jé.sus Victi'ma 65

da misericordia, attrahe sobre o mundo culpado graças,


perdão... Sim, perdão, para as almas culpadas, perdão e graça
para as almas tibias, perdão e graça para os paes de fa-
1nilia, que não sabem christãmente educar seus filhos; per­
dão e graça para aquelles que vivem em minha casa e na
1ninha companhia e della não sabem approveitar; perdão e
graça para os sacrilegos; perdão e graça para os profanado­
res do meu templo; emfim, filhas minhas, si souberdes jun­
tar vossos brados aos meus, grande numero de almas serão
salvas, porque necessario é que o homem seja salvo pelo
homem, necessario é que o homem coopere com a redem-
pção, que lhe mereci.
E vós que fostes escolhidas para commigo coopera­
res, bradae bem alto, dizendo do fundo de vosso coração:
O' meu Deus, Deus de misericordia e· de amor, perdoae
a humanidade, porque ella não sabe o que está fazendo ...
Nós que vos conhecemos, queremos ser as mensageiras da
vossa palavra divina e sellar, com nosso sangue, uma fide­
lidade eterna.

2.a PALAVRA

«Hoje mesmo estarás commigo no Paraiso»

Eis, filhas minhas, mais um brado de misericordia.


Vós que agoi;-a neste seculo estaes sentindo a miseri­
cordia divina, escutae um'lpouco e vêde quantos seculos
passaram e sem a minha misericordia ser comprehendida !
Disse Eu a bom ladrão : Hoj"e mesmo estarás commigo no
Paraiso. Meditae bem, filhas minhas, como sou misericor­
dioso a ponto de dizer ao ladrão : Hoje mesmo estarás
commigo no Paraiso,
Este brado, vós, minhas filhas, o deveis repetir a to­
da hora em que tiverdes a occasião de falar com os pec­
cadores. Sim, se elles vos ouvirem, podereis repetir as
mesmas palavras de vosso Deus, porque quem vos ouve a
mim ouve ; podereis, sim, dizer sem receio, como Eu disse
ao bom ladrão : Hoje mesmo estarás commigo no Paraiso
Quem olhar, como o bom ladrão, para á minha Ima­
gem Crucificada e vir em seu coração as suas iniquidades
e se a vista do meu Corpo pregado numa Cruz, lhe dér
como ao bom ladrão, contrição dos s�us peccados, Eu pos-
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66 Licções de Jesus Victima

so vos assegurar, que esta alma tomará parte commigo no


Paraiso.
E vós que sois as transmissoras da minha misericor­
dia, não deixeis de falar que Eu sou Pae, · Pae que tanto
amo, Pae que perdôa e Pae que deseja dizer como ao bom
ladrão : Hoje mesmo esta:,ás commigo no Paraiso. Oh! Eu
quizera poder dizer á todos os meus filhos essa palavra
consoladora, porém, filhas minhas, de vossa generosidade
depende o effeito deRsa palavra. Quanto mais trabalhardes
e mais generosas e solicitas fordes em Me dar almas,
mais Eu poderei dizer : vem, vem gozar do Reino da Paz.
Olhando para minha imagem ensanguentada, quando
n1editardes o bom ladrão, lembrae-vos do dever que ten­
des de crêr na minha misericordia. Um só olhar contricto
Me levou a taes excessos de misericordia, dizendo áquelle
homem que estaria commigo no Paraisa! Porque então du­
vidaes da minha misericordia, principalmente vós almas
que tendes recebido tantas graças, tavtos favores, receben­
do-Me em voss0s corações ? Ainda ha almas que duvidam,
chegando a offender a minha misericordia? !
Oh! quando serei pelos homens conhecido! Apezar
de, morrer numa Cruz, perdoar ao bom ladrão, ainda assin1
mesmo duvidam deste Coração que é todo amor! Oh! In­
gratidão! Que quereis mais que Eu faça para vos fazer
comprehender o quanto vos amo?
Morri numa cruz, prisioneiro fiquei, que quereis mais
que Eu faça?...
Qh! filhos queridos, abrandae vossos corações e dei­
xae entrar nelle a misericordia. Não sejaes por mais tempo
surdos. Olhae para vosso Deus com olhares de confiança ;
Eu sou Pae e vós não Me tendes como Pae ! Ah ! si Me
tivesseis como Pae, que felizes serieis, porque Eu sou um
Pae que tudo vos pode dar. Eu•sou a chave do Paraiso,
pois, achando-se elle fechado, Eu o abri, morrendo numa
Cruz!
Porque então viveis a vos lastimar? Por accaso um
Deus póde mentir? Não sou Eu a felicidade? Porque então
procuraes a felicidade nas creaturas?! Ah! é porque ainda
duv�daes; si não duvidasseis, serieis felizes, porque Eu sou
a felicidade que a toda hora e a todo momento podeis en­
contrar. A quem bater á minha porta, Eu responderei como
ao bom ladrão: Meu filho, hoje mesmo entrarás commigo
no Paraíso. Estás soffrendo ? Lembra-te do Paraiso, soffre
em união commigo, louva-Me, porque assim és tratado ...
Estás abandonado, lembra-te que Eu sou o Pae dos aban­
donados, dos afflictos ; não ha ninguem que Me seja orphão;
só os que Me desprezam, commettendo o peccado mortal,
é que são orphãos, não por minha vontade, mas, sim, por
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Licçües de Je:•;us Viclima 67

sua propria culpa; entretanto sempre que tivere1n, como


teve o bom ladrão, uma hora de arrependimento, pódem
rehaver o Pae perdido, que, com os braços abertos, o es­
treitará ao seu Coração. Sim, que a minha misericordia
seja sempre vosso pharol na conquista das almas, que · de
vos a esperam receber, conquistando-as pela vossa gene­
rosidade.
Que o meu Sangue Divino seja vosso baluarte na
conquista das ovelhas tresmalhadas, para Eu poder dizer a
todos: Entrae no gozo do Deus das misericordias. Que es­
ta palavra jamais saia de vossos corações.

3.a PALAVRA

«Mulher, eis ahi teu filho»


Oh ! vós todos os que passaes por este exilio, ouvi
attentamente esta palavra tão curta, porem tão sublime!
Mulher, eis ahi teu Filho - Filho eis ahi tua Mãe! Quem é
este que vos diz esta palavra tão grandiosa'? E em que
lugar ella foi dieta ?
Dilectos filhos, jamais de minha santíssima bocca sa­
hiu palavra que encerrasse fanta consolação para vós e
para mim!
Subi, almas queridas, o -monte calvario e meditae.
Vêde ante vós, o meigo Jesus, cravado em duro ma­
deiro, exhausto, desamparado d(í: Pae ·e a seu lado uma
Mãe afflicta, vendo seu unico filho morrer como um crimi­
noso, apupado pela populaça !
E esta Mije conhecia quem era seu Filho. Seu Filho era
o Rei da gloria, o Rei do amor, que por amor dos seus
verdugos, .morria em duro madeiro!
Meditae, almas queridas! ... apezar de estar abando­
nado do Pae e dos filhos ser desprezado ... ainda minha
misericordia em acção! Lembrei-me que precisaveis de urna
Mãe carinhosa, que vos sustentasse nas horas de Iucta.
Ah! então, olhando para esta Mãe, que se achava em tan­
ta afflicção, Eu pronunciei esta palavra tão sublime: «Mu­
lher, eis ahi teu filho! ... Filho eis ahi tua Mãe»! ...
Parae, por instantes e vêde minha misericordia.
Não contente de morrer por vós, ainda vos quiz dei­
xar este legado preciosíssimo !
Depois de a vós Me ter dado todo inteiro, não ha
outro legado mais sublime! E' por isso, almas queridas,
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68 Licções lle Jesus Victi1na

que escolhi esta hora em que ia morrer por vosso amor...


As palavras pronunciadas por um moribundo, são mais
preciosas aos seus entes queridos, e Eu que morri por von­
tade propria, para manifestar-vos o meu amor, todas as
minhas palavras pronunciadas nesta hora bemdicta foram
palavras de infinita misericordia! ...
Vêde, almas queridas, que para olhar para minha Mãe,
um espinho da minha ·fronte se cravou mais na minha de­
licada cabeça, traspassando-a de lado a lado! ...
Esta dôr que o espinho me causou, se renova todos
os dias por filhos ingratos, uns que blasphemam o nome
desta Mãe bemdicta, outros que não reconhecem as graças
com que ella foi dotada.
Sim, por estes corações ingratos, soffri nesta hora,
quando disse a João: «Filho, eis ahi tua Mãe».
Nesta hora de misericordia e ao mesmo tempo lugu­
bre, Me estavam presentes corações impedernidos que, em
vez de amarem e recorrerem a esta Mãe bemdicta, a iam
blasphemar, offendendo-Me assim com a dureza de seus
corações!
O' almas queridas, tambem estaveis vós presentes, não
como espinhos, mas sim como consoladoras. Vi então vos­
sas almas a Me consolar: vós a receberdes o legado bem­
dicto, e a delle approveitardes. Oh! sim, vós amenizastes mi­
nha dôr; fostes o meu balsamo em hora tão angustiosa,
quando vi vossa generosidade e vosso amor confiante nes-
, ta Mãe bemdicta. Sim, almas queridas, vós foste nesta ho­
ra o meu conforto, e continuaes a sel-o todos os dias, cada
vez que recorreis a esta Mãe bemdicta, que em hora tão
dolorosa vos dei, para ser ella a distribuidora entre vós,
dos merecimentos da minha Sagrada Paixão! ...
Almas queridas, Eu disse• a João: «Eis ahi a tua
Mãe», e esta palavra vos pertence. Dizendo a João: «Eis ahi
tua Mãe», disse-a a cada uma de vós em particular, e hoje
desta Cathedra Divina continúo a vos falar e a repetir o
que disse nesta hora bemdita: Eis ahi vossa Mãe, Ella é
vossa, toda vossa, confiae n'Ella, atirae-vos nos seus bra­
ços amorosos, Ella deseja tanto vos dar os meus thesou­
ros; vinde a Ella, é a melhor das Mães, porque Ella vos
conduz a mim. Seu amor não é egoista, Ella não vos quer
senão para vos dar a mim. E' este seu unico desejo, tra-
7,er-vos a mim, para que sejaes falizes. Ah! se soubesseis
como esta Mãe é dedicada ! Não sejaes ingratos para com
Ella, porque as ingratidões, que a Ella fizerdes, repercutem
no meu Coracão de Filho agradeciào e extremoso, e se a
Elia não recorrerdes, quem vos dará os thesouros de meu
Coração, si Ella é a thesoureira de todos elles?
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Licções de Jesus Victima ô!l

Ah! não, almas queridas, jamais Me deis este calice


a beber: - «o da ingratidão»!
Si vos dei minha Mãe, em hora tão angustiosa, por­
que não haveis de recebei-A?! Sim, a todos os que a re­
ceberdes, em verdade vos digo, sois bemditos e estareis
um dia a m'3u lado cantando o cantico do amor!
Almas queridas, antes de partirdes para vossas ca­
sas, desejo-vos fazer um pedido: Não sejaes egoistas no
vosso amor. Não basta que vós ameis minha Mãe, é preci­
so ainda que a façaes conhecida. - Oh ! se encontrardes uma
mãe afflicta, dizei-lhe que recorra a Maria, que Ella é a
Mãe dos afflictos; se encontrardes corações impedernidos,
dizei-lhes: pedi a Maria que vos mude o coração e sereis
felizes.
Sim, almas queridas, em vez de terdes conversas ba­
naes, conversae cousas santas, que produzam fructos de
vida eterna.
Lembrae-vos que tudo passa e o exilio é curto e con­
forme for o vosso trabalho, assim tambem será a colheita.
Sim, minha Mãe é vossa Mãe, que muito vos ama;
approveitae bem, pedi-lhe bastante, Ella possue todas as
riquezas do meu Coração.

4.a PALAVRA

«Deus meu, Deus Meu, porque Me 1

aba{ldonastes
Estas palavras foram proferidas na hora em que o céu
se emmudecia, para o Divino Cordeiro expiar as paixões da
humanidade ingrata, desta humanidade que só quer viver
no prazer e no gozo ! E' por isto que o Pae das Misericor­
dias Me deixou em tão terrivel abandono. Foi o momento
em que mais soffri, pois Eu via em meu Pae, um terrível
juiz, cuja mão vingadora Me aniquillava a tal ponto de não
sentir :inais a_ minha divindade ! Oh terrível abandono, em
que agora vós ides Me consolar ! Sim, filhos meus, Eu vou
dizer-vos qual foi o momento em que mais soffri na minha
cruel Paixão! E vós, porção querida do meu reino,approximae­
vos de meu Coração para poderdes escutar as queixas do­
lorosas que vosso Jesus vae vos dizer. Aquella hora em
que fui abandonado por meu Pae, foi o começo do meu
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70 Licções de Jesus Victinia

constante abandono na divina Eucharistia ! Se o abandono


de meu Pae foi cruel, o abandono em que os meus filhos
Me deixam é crudelissimo, porque é um abandono constan­
te! Até o fim dos seculos hei de ser abandonado por fi­
lhos, que com o meu sangue resgatei; abandono cruel que
todos os dias soffro, ó porção querida, que agora Me es­
taes fazendo companhia.
Filhas queridas, reparae o abandono em que meus
filhos Me deixam constantemente. Pedi esta reparação, e
vós filhas minhas, fazeis-Me companhia, não só neste dia,
mas sempre, principalmente ás sextas-feiras.
Aqui, aos pés do meu altar, deveis vir generosas e
jubilosas para poderdes contentar ao vosso Deus !
Agora eu vou dizer-vos como haveis de reparar:
- Uni vosso coração ao meu e dizei: Oh Jesus Crucifica­
do, nós, vossas filhas, aqui estamos aos vossos pés, cheias
de confusão, vendo nossa nullidade ante vossa Presença
real; mas, confiadas na vossa divina Misericordia, mistura­
mos nossa nullidade á vossa Misericordia infinita para
apresentai-as ao Pae, pelas mãos de Maria, Rainha dos
Martyres.
Reparação, ó Deus de amor, pelas almas consagra­
das ao vosso serviço, e que não fazem o que vós constan­
temente lhes pedis.
Reparação, ó Deus de amor, pelo abandono em que
vos deixam os vossos ministros sagrados. Reparação, ó
Deus de amor, pelo abandono de almas que se dizem ser
vo,ssas, e que tão longe ainda se aeham da intimidade,
que vós desejaes ter com ellas. Reparação, ó Deus de
amor, pelo esquecimento das almas, que de um modo es­
pecial vos estão ligadas por vínculos religiosos. A estas
almas ó Jesus, fazei-lhes comprehender o seu grave dever
ante vossa presença. •
Reparação, ó Deus de amor, pelos paes de familia
que se esquecem que vos sois o seu modelo, o seu guia, o
seu sustentaculo, para poderem guiar seus filhos no cum­
primento do dever. A estas almas, ó Jesus, lançae um
olhar de misericordia, para que ellas se voltem para Vós,
e, aos pés da vossa cruz, tomem a firme, a inabalavel re­
solução de a vós recorrer, pois sois mestre, e ai daquelles
que longe de vós se acham! Em favor de todos esses,
Deus de amor, nos, vossas filhas, pedimos não olheis para
a cegueira que os leva a se affastarem para longe de vós !
Não, olheis, ó Deus de amor, para a sua triste cegueira ...
para elles, nós, genuflexas, vos pedimos um olhar de mise­
ricordia ! Por elles nós vos amamos, por elles nós vos ado­
ramos. EmUm, ó Deus de amor, pelo universo inteiro nós
queremos reparar. E do esquecimento em que nós tantas
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Licções de .lPsus Yicti'ma 71

vezes vos temos deixado nesta hora tão solemne, nós vos
pedimos perdão, promettendo-vos d'oravante, jamais, jamais
vos deixarmos...
E' assim, filhos meus, que Me fazeis companhia, aman­
do-Me pelos que não Me amam; e assim reparareis pela in­
gratidão dos homens, de que todos os dias sou alvo! Ai, fi­
lhas minhas, quanta ingratidão! O meu coração é um ocea­
no insondavel de amor, e a medida desse amor é tambem
a da dôr. Este amor é um oceano insondavel para cada um
de vós em particular.
E agora examinae, filhos 1neus, quantas almas ha que
não Me amam. Vós as não podeis contar: milhões e mi­
lhões de almas se acham longe de mim. E cada uma del­
las que longe se acha de mim, causa-Me um oceano de
dôr! E agora, vós não vos compadesseis de vosso Deus
Crucificado? Ah ! sim, compadecei-,T os de mi.m e á medida
que vós de mim compadecerdes, Eu me compadecerei de vós.
Se de meu abandono tiverdes compaixão, Eu vos enviarei
minha- Mãe, que com o seu manto protector vos ha de
cobrir.
Sim, filhas minhas, compadecer-se do meu abandono
é reparar os ultrajes feitos a meu Pae. Foi por este moti­
vo que Eu fui abandonado no alto da cruz. (Pausa, silencio).
Vêde� o Filho de D�us clamando em alta vóz, no mais
terrivel e cruel martyrio: - Meu Deus, meu Deus, porque
Me abandonastes!
Agora, Eu vos digo: -.. Meus filhos, meus filhos, por­
que Me abandonastes?! Porque Eu vos amo tanto, por isto
é que Me abandonaes? !
Filhas minhas; Meditae um pouco. . . O crime que Eu
commetti foi porque vos amei ao excesso. Por isto é que
Me abandonaes? Oh! não filhas minhas, jamais, jamais do
Ma·rtyr do Golgotha vos e�queçaes! ...

5.a PALAVRA

Tenho sêde!
O que ouço, Meu Deus! Um Deus ter sêde?! Não
sois vós a fonte de agua viva?
Não dissestes vós, que todos os que tivessem sêde,
fossem se saciar na fonte que dimana de vosso Sacra­
tissimo Coração ?!
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72 Licções- de Jesus Victima

Sim,. milha filha, Eu sou esta fonte mysteriosa parm


os homens. Eu sou a propria vida, mas ,. Eu tenho uma sê­
de abrasadora de vêr os homens felizes ... Esta sêde, que
dia e noite Eu sinto e que o mundo não comprehende, é
comprehendida apenas por numero li.mitado de almas!
Esta sêde só é saciada, quando aos meus pés vejo
almas genuflexas renunciarem ao mundo, com suas pom--
pas e vaidades.
Sim, porque a minha sêde é de ver todos ao meu
lado, gozando da minha presença, ainda que seja no cri-
sol da tribulação!
Sim, Eu tenho sêde de ver meus filhos confiarem em
mim e dé Me terem como Pae, como o melhor dos ami­
gos ! . ..
Eu tenho sêde de ver-Me conhecido pelo amor, que·
faz com que as almas gozem, já neste mundo, de uma paz
inalteravel. .. e na hora da morte ... oh, que morte tran-
quilla, quem tiver vivido de amor ! . . .
Eu tenho sêde de ser o Rei dos Corações, para dar­
lhes a felicidade completa ; porque, no coração dividido en­
tre mim e o mundo, não reina a verdadeira paz.
Eu tenho sêde de ser conhecido pela humildade, sem
a qual não ha santificação. Que sêde Me devora! ... como
Eu desejo ser conhecido por esta virtude ! Tantas provas
della Eu dei, a tanto Me humilhei, só para que meus filhos
se humilhassem. Nasei em um presepio ; Rei que era, es-
• colhi por palacio uma ·pobre gruta. Vivi escondido por
trinta annos, trabalhando como pobre operario! Deixei-Me
prender como um malfeitor ! Subi com a cruz ás costas o
monte Calvario ! Morri prégado em uma Cruz, deixei-Me
sepultar, Eu, que sou a propria vida! Quanta humilhação !
Ah ! como Me gloriei em tanta humilhação ! . ..
Que sêde Me devora ! Como desejo ver-Me imitado
nesta virtude, sem a qual não ha santificação !
Tenho sêde de ver meus filhos mansos, como Eu o
fui. Depois de ter praticado todas as virtudes, é que ex­
clamei: - Tenho sêde ! No alto da Cruz, já tinha Eu cum­
prido todas aquellas cousas, que o Pae Me tinha ordenado;
foi que então Eu disse, no alto da Cruz: Tenho sêde ! Já
tinha Me humilhado até o extremo, até o infinito! Já tinha
Eu soffrido mansamente todos os ultrajes que a terra,
com todas as suas perfidias, podia dar a um ser vivente,
quando clamei: - Tenho sêde ! Sim, no meu Coração ha­
via unia sêde, que os homens naquella hora, não puderam
comprehender !-
Agora, filhos meus, matae esta minha sêde pratican­
do as cousas que Eu vos tenho mandado, assim como Eu
pratiquei o que meu Pae do Céo Me mandou� porque mi-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
�..icções ele Jesus Victi?na 73

nha sêde continúa até o fim dos seculos, emquanto uma


.alma existir aqui na terra, que não Me ame.
Quando no alto da Cruz, exclamei: tenho sêde, este
brado, tão doloroso, queria tambem dizer; tenho sêde de
ver minha santa mãe conhecida, pelos ho1nens. Sim, esta
Mãe que por nove mezes Me trouxe em seu seio virginal;
esta Mãe, que, pura como os lyrios, soube Me apertar con­
tra seu Coração e só vivendo de amor por mim, só aspi­
rou dar-1\'.le gloria! Sim, que sêde que ainda se perpetúa! ...
Desejo que meus filhos, que se dizem meus amigos,
façam esta Mãe conhecida.
Como Eu amo minha Mãe ! Esta Mãe, que na terra
foi o meu sustentaculo, com o calor de seu Coração virgi­
nal soube Me guardar. Esta Mãe que depois de minha mor­
te, soube sustentar minha Egreja, animando os apostolos�
dando-lhes coragem, porque minha Mãe só trabalhou para
minha gloria.
Como Eu desejo que Elia 8eja conhecida, para que
seja imitada !
Eis, filhos queridos, a causa da minha sêde ... Não que­
reis, agora, matar esta sêde?
Tendes nas vossas mãos a agua que póde refrigerar
meus labios resequidos. Praticae, filhos meus, as cousas
que vosso Deus praticou e que vossa Mãe Santíssima, mi­
nha Mãe, tambem praticou. Ah! tudo Eu vos facilitei dando­
vos o exemplo. Eu sou v:osso exemplo vivo, como minha
Mãe e os Santos, que, como o sól, sabem illuming,r vossas
pisadas. Vêde, filhos meus, o que Maria fez ; olhae um
pouco para sua vida, nada fez de extraordinario ; não fez
miiagres, mas, vivendo na humilda.de, desconhecida dos
homens, foi a creatura que mais gloria deu ao Pae. Viveu
no silencio e na mortifica.ção completa de todo seu ser,
desprezando-se a si propría, toda gloria deu a seu Deus.
Desconhecida, viveu na terra ; só depois de sua n1orte, é
que Eu, assim a quiz glorificar, porque Eu exalto os humil­
des e abato os orgulhosos. Porque Elia foi uma violeta
escondida em sua propria ramagem, Eu a escolhi e a levan­
tei bem alto, para todos poderem participar do seu perfu­
me inebriante.
Ah ! filhos meus, sêde imitadores desta Mãe amavel,
se quereis matar a sêde de vosso Deus. Não precisaes fa­
zer grandes cousas ; vivei como Ella viveu no conhecimento
de sua nullidade e em uma confiança ilimitada em seu
Deus. Viveu de amor na terra e assim, agora no Céo, qual
estrella, illumina, empolga e faz a felicidade de todos que
de si se approximam. (Pausa).
Matae, filhos meus, minha sêde. Dae-Me a agua de
vossos corações puros, mansos e humildes. Acompanhae-
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74 Licções de• Jesus Victirna

Me no exilio, vivei como Maria viveu; e Eu vosso Deus,


vos direi como a ella: Entra, ó Rainha, no teu reino, que
na terra ganhaste com as tuas virtudes; toma posse para
sempre desta gloria Immortal!
Sim. filhos amados, um dia, a todos Eu vos quero
dizer essas mesmas consoladoras palavras.
Sêde, portanto, imitadores de vosso Deus e de mi­
nha Santíssima Mãe.

6.a PALAVRA

«Tudo está consummado»

Almas queridas, que tendes a ventura de estar aqui


ao meu lado, escutae por piedade, o vosso dóce e meigo
.Jesus, que deseja falar-vos, explicando-vos o quanto vos
ama.
Subi o Calvario e junto de minha dolorosissima Mãe,
ouvi-Me com attenção !...
Tudo está consumado !
Depois de tres horas de tormentosa agonia e de ter
soffrido as penas as mais crueis, as dores as mais crucian­
'tes, as humilhações as mais vis, o abandono do Pae, emfim,
todas as dôres, humilhações e penas da humanidade, depois
de tudo soffrer, pronunciei esta palavra: Tudo está con­
sumado!
a,s
Sim, almas queridas, todas prophecias estavam cum­
pridas á letra, o que me faltava era ir para o Pae, para
abrir-vos as portas do Paraíso que se achavam fechadas.
Apesar de tanto abandono, minha alma se alegrou, porque
tudo estava vencido.
O demonio estava esmagado, já tínheis o lavacro Di­
vino para vos purificardes, já vos tinha mostrado que vos
amava infinitamente deixando-Me vender, prender como
um ladrão, arrastar como um malfeitor ; já me tinha dei­
xado bater, cuspir na bocca, arrancar as barbas; tinha-me
deixado vestir de louco, coroar de espinhos e cobrir de
purpura de mofa, como se fosse um Rei falso; já me tinha
deixado flagellar e arrancar as carnes ; tinha-Me deixado
carregar de um duro madeiro e assim subir a rua da amar­
gura; tinha-Me deixado pregar na Cruz ; tudo estava cum­
prido, tudo já estava feito, tudo estava vencido, com a
1ninha mansidão !
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Licçõe::; de Jesu,s Victim,a 75

Oh! almas queridas que passaes por este exilio, avi­


vae um pouco vossa fé.
Vêde o quanto o vosso Deus vos ama! E' desta Cá­
thedra Divina, - a Cruz, que vos disse: Tudo fiz para ga­
nhar vossos corações; nasci em pobre presepio, supportei
frio, calor, fome, desprezos, humilhações as mais ignomi­
niosas. fui tratado de louco, não poupei minha Mãe só por­
que vos amo! Oh! por piedade, meditae ! ... Tudo supportei
com tanta paciencia e mansidão para attrahir-vos a mim.
Sim, de braços abertos, neste lenho sagrado, Me puz para
vos receber!
Oh! almas queridas que tendes a ventura de estar
aqui ao meu lado, vêde o quanto fiz por vosso amor! ...
Não quereis dar-Me amor por amor?
Sim, foi o amor que Me levou a taes excessos! Será
que �ós não sois capazes de fazerdes o que Eu fiz por
vós; amar-Me com um amor generoso, tudo sacrificando
para Me contentar?
Eu tudo sacrifiquei, para vos mostrar o meu amor ;
não poupei minha Mãe tão terna, mas sim, fui algoz para
Ella. Por vosso amor, os seus tormentos recolhi no meu
Coração, para juntai-os aos meus e offerecel-os ao Eterno
Pae, pela vossa salvação. Suas lagrimas bemditas as guar­
dei no meu Coração para vol-as dar como moeda preciosa
para comprardes as graças de que tendes necessidade! Vêde
almas queridas, o meu amor para comvosco! ...
O' almas queridas, por piedade, jamais duvideis do
meu amor, porque se delle duvidardes commetteis uma
grande falta, offendendo assim a minha misericordia, que
tudo fez por vosso amor.
Sim, almas queridas que Me ouvis, quando pronun­
ciei esta palavra : Tudo astá consummado, disse : tudo fiz
por meus filhos ; deixo-lhes todos os meios de santificação.
O' Pae Eterno, fico no meio delles como Pae, como medico,
como reinedio ; dei-lhes minha Mãe, nada mais resta a fa­
zer. Mostrei-lhes, ó Pae, o quanto tu os a1na, porem agora,
ó Pae, muitos não recorrerão a mim e n1orrerão ! ... Oh! isto
foi a minha maior dôr no alto da Cruz ! Muitos duvidarão
de meu amor, outros não Me reconhecerão como Redemptor
e se precipitarão na idolatria ! O' Pae, que dôr! . . . Para
estes será inutil minha morte neste duro madeiro! ...
O' almas queridas, vós podeis arnenisar esta minha
dôr com o vossa generosidade, trabalhando para que mi­
nha morte no alto da Cruz não seja inutil para muitos co­
rações. Trabalhae, para que Meu amor seja conhecido por
todos os homens.
Amo-vos com um amor infinito, tudo fiz para n1os­
trar-vos 1neu amor. Fazei vós o 1nesmo, · mostrae-me que
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76 Liccões de Jesus Victima
:,

Me amaes, confiando em mim com uma confiança illimita-­


da, com u1n amor generoso, sacrificando-vos por mim, co­
mo Eu por vós Me sacrifiquei. Sim, porque vos amo, tudo·
supportei com mansidão.
Para abrir-vos as portas do Paraiso, para ter­
vos ao meu lado, entoando o cantico do amor, soffri humi­
lhações sem conta, e continúo a soffrer neste Tabernaculo�
até o fim dos seculos.

7.a PALAVRA

«Meu Pae, em vossas mãos, encommendo o


meu espirito » ·

Palavras estas, minhas muito amadas filhas, pronun­


ciadas por vosso Deus, depois de tres horas de tormento­
sa agonia! . .. Depois de ter passado pelos supplicios, os
mais atrozes, finalmente pronunciei esta palavra consola­
dora :--«Pater in manus tuas commendo spiritum meum» ! Ah!.
�ilhas muito amadas, até a ultima hora quiz. vos dar li­
cções, as mais consoladoras. Apezar de Me achar abando­
nado, entregue ao furor dos algozes, entregue á dôr, ainda
vos quiz mostrar que, no meio de tão terriveis tormentos,
n\inha confiança permanecia viva, apezar de sentir sosinho
o abandono! Ah! filhas, tudo o que vosso Deus faz é
bem feito ! .. . Mas, por que ?
Ah ! para que Me imiteis ! •
Se comprehendesseis esta palavra, serieis mais con­
fiantes no meio da lucta .
Se vosso Deus, assim se deixou reduzir, a ponto de
entregar sua alma ás mais cruciantes angustias, foi somen­
te para que vós, no meio de vossas luctas, contemplando
1ninha alma amargurada, tivesseis força; porque se vosso
Deus innocente, assim foi torturado, vós que commettestes
o peccado serieis isentos de soffrimento?! ...
Ah! se meditasseis bem nas torturas de vosso Deus.
desejarieis imitar-Me e no meio de taes torturas diríeis como
Eu disse: Em vossas mãos entrego minha alma, com todas
suas torturas. Nada temo, porque meu Deus, no alto da
cruz, já me deu o exemplo. E como hei de temer, se por
meu amor Elle quiz passar até por maiores torturas, pois
sendo seu amor infinito, infinita foi a sua dôr, porque in­
finita foi a causa della, o peccado. Sim, filhas queridas,
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Lic.ções de Jíl.-;us Victi'rna 77

porque o peccado ultrajou meu Pae, porisso é que Eu sof­


fri tão terriveis penas; mas, apezar de tantas torturas con­
fiei. E' esta a !icção que vos quero dar nesta palavra
pronunciada na hora suprema.
Ah! sendo a confiança uma chave, que abre meu
Coração, por isso é que Me custou tanto, esta hora de af­
flicção. Quiz vos deixar un1 portentoso legado - a con­
fiança .- sem a qual, não Me podereis agradar. Uma alma
que disser que Me ama e não confiar em mim, seu amor
não Me é agradavel, porque sem connar, não se pód.e amar;
isto seria um absurdo.
Ah! nünhas filhas, poucas são as almas que, vendo­
se na dôr e na afflicção, confiam verdadeiramente en1
mim!. .. Porque se acham na dôr, pensam Ellas,-que Eu sou
Pae severo, que assim as afflijo, porque Me offenderam.
Ah ! como os homens ainda não Me conhecem ! . . . porque
se Me conhecessem !...
Não sabem elles que a dôr, a angustia, são dadivas
de misericordia. Pela cruz vos salvei, vos abri as portas
do Paraíso; pela dôr vos tirei do captiveiro e vos tornei
filhos do meu amantissimo Coração. Foi pela lança, que
meu amante Coração se abriu para vos receber. Preciso
foi a lança para rasgal-o, para que nelle pudesseis entrar,
para ahi beberdes o nectar preciosissimo do amor ! Ah !
minhas muito amadas filhas, quando uma alma Me ama, a
introduzo no caminho do Calvaria, para morrer para si e
para tudo da terra, pa:ca na dôr, poder exclamar corno Eu
exclamei: - Em vossas mãos encommendo meu espirito !
Sim, filhas, assim se mostra a confiança, nas horaR
de dôr!
Filhas queridas, á imitação de vossa Mãe, minha
Mãe 'Santissima, sêde confiantes para na hora da 1norte
poderdes exclamar: Tud1 fiz na confiança de meu Deus, e
agora, Senhor, vos entrego minha ahna, para vos louvar
•eternamente!

COLHENDO FRUCTOS NO OETHSEMANI

Aos pés do Sacrario

Meus amigos. Vinde a meus pés vinde Me consolar


por tantas ingratidões e desprezos, que recebo neste Divi­
no Sacramento, onde silencioso passo os dias e as noites,
velando por vosso amôr !
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78 Licções de Je.�us Victima

Desejo tanto ver-vos aos meus pés, reparando pelos


peccados dos vossos irmãos! Desejo, filhos meus, ver-vos
ao meu lado, para dar-vos a felicidade completa, porque
esta só se acha em mim.
Filhos dilectos, subi commigo, vamos ao jardim das
Oliveiras, onde desejo mostrar-vos o quanto soffri por vos­
so amor.
Em espirito contemplareis meus tormentos, minhas
agonias, e procurareis gravai-os em vossa alma, para de
hoje em deante serdes mais mortificados, amando a vossa
perfeição, causa unica pela qual tanto soffri!
Que visão, Filhos de meu Coração! As iniquidades
de todos os homens desenrolam-se ante meus olhos ! ! A
colera de :qieu Pae faz Me tremer ! Esmagado como um.
verme, coJILeço a suar sangue, e minha natureza não poden­
do mais t;esistir, cahi por terra desfallecido por tantas an­
gustias ! Dirigindo ao Pae meus brados, este não Me ouviu
senão para Me castigar como merecia, pois ante Elle era.
Eu um criminoso I Não tomei" Eu sobre mim os vossos pec­
cados ? Sim, tomei-os todos ! Até as mais leves faltas nesta
hora pesavam sobre minha alma, que tremeu ante a justa
colera do Pae!
Paremos um pouco aqui. Porque Meu Pae estava as­
sim irritado ? Porque Elle tendo vos criado á sua imagen1
e semelhança, tirando-vos do nada, ainda assim tivestes a
coragem de offendel-0, e Elle sendo a verdade e a justiça,
tinha de vps castigar! Porém a sua misericordia compade­
ceu-se de vós, e eis que enviou seu unico Filho, que, sen­
do Deus, só este podia reparar vosso mal!
Eis amados filhos, que, prostrado por terra, neste jar­
dim estava ante o Pae, como peccador, expiando por vós
e por cada um em particular !
Almas, que Me meditaes, ejtaes aqui aos pés de meu
altar, onde continúa este Gethsemani doloroso! Sim, dolo­
roso por ver longe de mim tantos filhos que Me custaram
como vós o meu sangue, a minha vida ! ... Reflecti- commi­
go; sahi um pouco pelas praças e as encontrareis cheias de
ociosos I Sim, ociosos, porque lá se acham uns a fallar mal do
seu proximo, assim envenenando sua alma ; andae mais um
pouco e vereis centenas de ociosos procurando divertimen­
tos profanos e illicitos, como cinemas e bailes, donde sahen1
com a alma negra! Oh! que horror, filhos queridos, que
horror!!
E aqui aos pés do meu altar quem está ? Sómente
vós, almas piedosas ! Eu, porém, não Me contento com isto,
porque por todos soffri no jardim das Oliveiras, por todos
suei sangue, por todos padeci o terror, o pavor e as an­
gustias as mais crueis ! ! Por todos, siq, e onde estão os
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LicçiJes de ,Jesus Victirna 79

·vossos· irmãos ? Como já vos disse, nas praças publicas,


.nos cinemas, nos ba1·1es ....1
Oh ! filhos meus, como continúo a soffrer neste Ge­
tsemani, que podia se tornar para mim um Paraíso, pois
,está escripto que Eu acho minhas delicias em estar com
-0s filhos dos homens!
Almas que Me ouvis, não vos .compadeceis deste Ge·­
tsemani? Não desejaes vêr meus Santuarios repletos de
filhos prodigos, que voltam de novo á minha casa, onde os
desejo receber com festim?! Sim, se Me amaes se dese­
jaes suavisar meu Gethsemani, procurae dar-Me almas, po­
rém, amados de meu Coração, só Me podereis dar almas,
depois de. Me terdes dado a vossa propria.
Dir me-eis vós: Senhor, que quereis façamos nós pa­
ra vos dar inteiramente nossa alma?
Fiat noLu:ntas tua, que a vossa YOntade se cumpra�
ó meu Deus, é esta a oração dos santos, daquelles que
Me sabem amar e fazer a minha santíssima vontade em
tudo e com perfeição. Muitos se presumem de fa.zer minha
vontade, porém porque não tem outro remedio! . .. Se pu­
dessem sahir do soffrimento ou de alguma difficuldade, sa­
hiriarn, porque o soffrer repugna, o soffrer, no dizer de
muitos, é castigo ! Oh! ingratidão! Não sabem estes que
soffrer é a mais elevada posição que um christão póde al­
mejar neste mundo, porque o soffrimento desprende a al­
ma de todas as affeições deste mundo e faz desejar o céo,
a Patria para a qual fostes creados.
Filhos que Me acompanhaes nesta hora e que com­
migo meditaes, que a min_ha santissirna vontade seja sem­
pre o alimento quotidiano de vossas almas, pois quem fôr
f ortal�cido por esta vontade Divina, não póde desfallecer
no caminho arduo da perfeição.
Piat votnntas fila, foi a minha força no jardim das
Oliveiras, Fiat voluntas tua, deve ser sempre a vossa cou­
raça para poderdes proseguir no caminho da perfeição.
Desejei consoladores na minha agonia e não os en-•
contrei!!
Filhos amados, que Me ouvis, até hoje desejo conso­
ladores e os encontro tão poucos l Onde estão os vossos
irmãos? Estão dormindo o somno da indifferença! Ide, fi­
lhos meus, ide accordal-os porque desejo a consolação de
seus corações e de suas almas que tem necessidade de
mim.
Dizei-Me vós: Corno procederemos se elles não fazem
conta de nós ?! O' Filhos, ide em meu nome. Lançae vossas
rêdes, disse a Pedro, e Pedro pescou em abundancia. Sim,
em meu nome falae aos vossos irmãos e elles serão meus
um dia.
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80 Licções <le Jesus Victima

Filhos de meu Coração, em quanto houver uma


alma a salvar, meu Sacrario é um novo Gethsemani, onde
soffro as ingratidões dos filhos amados, pelos quaes aqui
fiquei dia e noite!
A ingratidão é a dôr mais pungente para um Cora­
ção que é todo caridade co:i;no é o meu. Assim como Judas
Me foi ingrato, dando-Me o osculo infame da trahição, ain­
da hoje neste Tabernaculo, continúa o perfido Judas a tra­
hir-Me ! Quantos Judas, almas que Me meditaes, quantos
Judas, com a mascara da hypocrisia, continuam seus os­
culos infames! Oh! quantas communhões sacrílegas! Quan­
tos lobos, disarçados de ovelhas, sorrateiramente continúam
a roubar minhas queridas ovelhinhas! Quantos, com a mas­
cara da caridade, estão a roubar-Me minhas queridas ove­
.lhas para seus rebanhos, que tem como chefe Satanaz !
Almas que Me ouvis, não vos compadeceis destes os­
culos infamantes, que Me dão?! Não vos compadeceis des­
tas ovelhinhas, que Me são roubadas?! Sim, ouço lá den­
tro, nos vossos corações, que vos compadeceis destas ove­
lhinhas.
Que faremos, dir-Me-eis vós? Dae-Me os vossos osculos
de pureza, isto é vossa pratica nessa virtude tão bella e
tão sublime, que eleva o homem, tornando semelhante aos
anjos!
E' praticando esta virtude na sua perfeição, que in­
demnisareis a causa de tantos Judas, que Me dão os os­
culos de suas maldades e de suas impurezas, que Me tor­
nam a renovar minha paixão no Gethsemani.
Judas, osculando-Me, disse : Mestre,. eu te saúdo ; e
vós, com os vossos osculos puros, dir-Me-eis : Mestre, nós
te amamos, nós indemnizamos a causa de tantos Judas,
que até hoje continúam a vos offender !
Filhos meus, que Me acomj.W:Lnhaes nesta hora, lembrae­
vos que aqui estou primeiramente para receber vossas almas,
em segundo logar para receber reparação pelos vossos ir­
"mãos, para que juntos todos pertençam ao meu rebanho.
Almas m_i:,;ihas, estou aqui neste silencioso Sacrario,
com os braços da minha infinita misericordia, estendidos
para receber-vos. Vinde pois, e não vos esqueçaes que, lon­
ge destes braços, tornae-vos para mim Getsemani.
Vinde, vinde com confiança trazendo todos a mim.
Todos são meus filhos, por todos soffri, por todos morri
na cruz; por tanto vinde aos braços de minha infinita mi­
sericodia, ·onde descansareis eternamente.
Não vos esqueçaes, filhos de meu Coração, do que
vos disse nesta hora. Gravae na vossa alma que aqui estou
para vos receber e receber as esmolas de vossa caridade, que
são as almas que Me derdes pela vossa oração, penitencia e
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Licções de Jesus Victirna 81

palavras. Oh! Dae-Me a esmola destas almas, pelas quaes


soffri tanto no Getsemani. U.ma só cousa é necessaria : sal­
var a vossa alma, porém Eu vos digo, almas amantes, sal­
var a vossa alma em primeiro lugar, porém, se desejaes
garantir a vossa.,salvação, dae-Me a esmola da amizade de
meus filhos, que se acham longe de nós.
A caridade apaga a multidão dos peccados, e que
esmola podeis dar de maior valor aos vossos irmãos do
que trazel-os a mim? Oh! Não ha esmola mais sublime do
que esta, por tanto, se desejaes Me consolar, dae-Me, como
já vos disse, primeiramente vossa perfeição e depois tra­
balhae na minha vinha, e a vossa consolação será grande
no Reino de meu Pae.

··-··--·---

AS CINCO FONTES DA VIDA

Senhor o que ouço?


Uma voz que me segreda: Eis aqui, cinco mananciaes
onde costumo saciar os que têm sede de pureza, sede de
amor, sede de gozo e bem estar! E' nestas fontes divinas
que enebrio os meus eleitos, todos, em fim, que deseja1n
ser saciados da gloria eterna.
Mas, Senhor, que mananciaes são esses? Filha, são
as minhas cinco chagas! Ah! se todas as almas soubessem
beber nestas fontes de vida! Esta �gua géra virgens, em­
polga e dá a verdadeira -Vida, porque a verdadeira vida
está em mim, e só as almas, que se saciam desta agua,
podem produzir fructos de vida eterna.
Nestas fontes divinas ha uma dispensadora, que dá
em abundancia destas aguas de vida eterna .. Quem é essa
dispensadora? E' Maria, minha amadissima mãe, que dá
em abundancia a todos que della se aproximarr1 co1n sêde!
Vêde uma mãe que chora por ver que seu filho não me
ama e que della se aproxima. Maria corre presurosa a es­
tas fontes divinas e diz á mulher, que se acha na afflição:
Vem, bebe desta agua e serás saciada; teu filho se con­
verterá, offerece ao Deus das misericordias esta agua da
vida e teu filho, que se acha morto pelo peccado, viverá.
Ah! é assim que minha mãe santissima faz com as
almas; é nestas fontes que ella costuma introduzir os que
têm sêde! Alguns ha que tem sêde e não sabem vir a es-

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82 Licções de Jesu;; Vict'ínia

tas fontes! Procuram saciar-se nas fontes da vida ephemera�


procuram as criaturas, mas, pobres almas, vivem em mar­
tyrio continuo, porque as fontes desta vida não podem ma-­
tar sua sêde, visto como a alma, creada que foi para ser
enebriada de minha paz e de minha gloria, não póde o
mundo satisfazei-a. Só Eu satisfaço, só Eu sou o repouso,.
só Eu posso dar a felicidade ás almas. Ah! o mundo cor­
re vertiginosamente para a perdição, porque a humanida­
de tem sêde de prazer; entretanto o prazer só se acha
em mim. Esta sêde que devora os corações de gozo e bem
estar, só se encontra nestas cinco fontes, nas minhas sa­
gradas chagas. E' na Eucharistia, que estas fontes jorram
contínuamente ! Vinde ó almas sedentas, vinde saciar-vos ,.
vós que fostes criadas, para gozar de minha vida, não
vos enganeis, não procureis saciar-vos nas fontes do mun­
do corruptivel e enganador! Convencei-vos. Se quereis go­
zar, vinde a mim. Ah! vós, almas que sentis necessidade
de carinho, só Eu vos posso saciar vosso coração affectuo­
so. Não o corrompaes com os affectos mundanos; vinde a.
mim, que Eu vos ench�rei o coração, e vossa alma ine­
briar-se-á de santo gozo.
O' almas, que andaes a procura de palavras confor­
tadoras nas criaturas, não vos illudaes! vinde aos pés do
sacrario, e se Eu vos fizer como costumo fazer ás almas
adiantadas em virtude, que não me deixo sentir, não vos
lastimeis, por que, ainda que não percebais vosso estado ,.
Eu vos estou introduzindo na fonte do meu Divino Coração.
Ah! almas queridas, não me ameis pelos sentidos ,.
1nas sim, pela fé !

--·-- . --- .--


«AOS QUE ME CUSPIRAM NA BOCCA DEI-LHES
EM TROCA UM SORRISO DOCE E SERENO»

Senhor, hoje outra vez aqui venho para supplicar­


vos primeiramente perdão de tantas faltas, que desde hon­
tem tive a infelicidade de commetter ; em segundo logar,
para vos pedir perdão pelos filhos que tanto amàes e que
tão longQ.o,,de vós se acham ! Senhor, por estes espe­
cialmente é que vos visito nesta prisão de amor!
Dizei-Me, Senhor, que ponto da vossa sacratissima
Paixão devo hoje meditar? Fallae, Senhor.
Minha filha, hoje quero-te contar uma das maiores
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Licções de Jesus Victinia 8 ,n,

humilhações que recebi na noite venturosa de quinta­


feira!
Quando Eu estava preso naquella prisão nojenta e
rodeado de soldados como um malfeitor, estes possuidos
como estavam de espirito do · mal, ( «escuta bem qual foi a
affronta que Me fizera1n») cuspiram-Me na minha sagrada
bocca! ! Já cansados de Me puxarem as barbas, não saben­
do mais que inventar para Me humilhar, vinham a nüm
mofando e, com sorriso sarcastico, Me cuspiam!!
Alma 1ninha, sabes qual foi a minha resposta a tão
vil humilhação? Um sorriso doce e sereno!! Porém, minha
alma angustiou-se, não pela humilhação, porque á terra
desci em procura da humilhação; a minha tristeza foi ver
estes filhos tão obcecados, que, apesar de conhecerem mi­
nha mansidão, permaneciam duros !
Almas todas, contemplae minha grande dôr ! Ser
cuspido pelos filhos pelos quaes ia ser crucificado!!
Quem poderá consolar-Me por tal dôr? O' almas
minhas, uma tal dôr podeis amenisar, se como Eu soffrer­
des com mansidão !
Tal dor podeis amenisar se por amor da Justiça for­
des assim tratadas!
Agora, Eu vos pergunto : Passou de vez esta noite?!
Ah ! não ! Esta noite continúa! Hoje ainda tenho fiihos que
cospem na minha santissima bocca! Sim, hoje, continúa
ainda aquelle cortejo de filhos ingratos, os blasphemadores
de meu santo nome, os trânsgressores das Leis divinas; os
perseguidores dos meus caros ministros! Continúa este cor­
tejo de impudicos a cahir no inferno e lá a Me amaldi­
çoarem!
Sim, continúa este cortejo nos detractores da moral! !
Ah! almas queridas, se pu�desseis vêr a maldade que vae
por este mundo, muitas de' vós morreríeis de pezar !
Oh! por piedade, compadecei-vos de tantos filhos in­
felizes, uni vossas preces ás minhas. Ah ! Eu, dia e noite estou
em continua oração neste tabernaculo santo, implorando
misericordia para os pobres culpados!
Vós dormis e Eu não durmo, a minha oração é cons­
tante!
Vêde, almas queridas, como a vossa oração deve ser
tam bem constante.
Poucos são os operarios ! Quantas almas se perdem! ...
Ah! por piedade fazei uma só cousa commigo, identificae­
vos commigo para salvarmos as almas.
Vêde que Eu para as salvar, deixei que cuspissem
na minha sacratissima bocca!
Almas que temeis o sacrifício, já meditastes nos
meus sacrificios ? Já meditastes na pagina verm.elha ? Ah !
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84 Licções ,Je Jesus Victi?na

quem se sente fraco, o convido a meditar neste quadro


capaz de commover até as pedras as mais duras...
Um Deus, encerrado em uma asquerosa prisão! ...
Rodeado por ferozes soldados, que cansados de lhe dar
pancadas, lhe cospem na bocca!! ! Meditae ... E a resposta
deste Deus é um sorriso doce e sereno !! !
A.gora, vos pergunto: Por que, em vez de sorrir, não
lhe fiz vêr que Eu era um Deus, que podia naquelle mo­
mento fazer com que a t�rra se abrisse para os sepul­
tar nas chammas abrasadoras do inferno'? Por que em vez
de lhes imputar seu erro, sua covardia, não usei de justi­
ça? Ah! não, almas queridas, assim não quiz obrar, porque
Eu vim ao mundo trazer a nlisericordia. Sendo Eu todo
misericordia, como podia usar para com elles de outra
forma que não fosse a paciencia, a 1nansidão ? ! . . . Se Eu
os atemorizasse com a justiça não seria Eu o Deus das
misericordias, que disse aos apostolas que sempre per­
doassem.,.
Sim, almas queridas, mostro-vos o que Me fizeram,
para que possais avaliar até onde chegou a minha mansi­
dão, e assim Me imiteis.
Elles, pobrezinhos, apesar de Me verem tão manso
e sorridente no meio de tantos tormentos, não Me reco­
nheceram como Pae, como Redemptor, e morreram no seu
peccado !
Cegos não Me quizeram ver! Oh ! quantos cegos no
dia de hoje! Apesar de tantos ensinamentos, quantos que
se dizem meus verdadeiros amigos, ainda possuem nos
seus corações a lei da justiça esmagadora! Apesar de Me
verem sempre a perdoar, a responder aos insultos com
sorrisos, quantos querem trazer as almas a mim pelo te­
mor e não pelo amor ! A estes tambem Eu chamo cegos,
pois têm olhos e não vêm, têm euvidos e não ouvem, têm
entendimento, porém, obcecado ! Ah! neste mundo sou to­
do misericordia, a justiça é só para o tribunal divino.
Porém, quem não quizer ser julgado, venha a mim
que Eu serei o Juiz, porém. que Juiz? Juiz, que ha de di­
zer ao Pae: «Pae, este Me comprehendeu, este poz em pra­
tica a minha doutrina, este Me amou, dae-lhe, ó Pae, o
lugar de honra» !
Sim, almas queridas, não vos illudaes, Eu vim á ter­
ra trazer o fogo da santa caridade, e desejo que se ac­
cenda em todos os corações de bôa vontade. Sêde, vós, as
distribuidoras deste lume sagrado, praticando primeiramen­
te comvosco esta mansidão, para poderdes depois praticai­
ª com os outros. Primeiramente, vós, vinde a mim por es­
ta via de misericordia. Vêde e meditae, como agi com os
meus algozes, com a Magdalena e com o bom ladrão ? E'
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Licções de .Jesus Victinia 85

assim que ajo com todas as almas de bôa vontade. Não


vos illudaes, porque, se quizerdes vir a mim por outra via,
perdereis muito tempo e sereis julgadas; emquanto que
quem comprehender minha misericordia, este voará e se­
rá no dia das nupcias eternas sentado em throno riquissi­
mo, pela minha misericordia escolhido.
Sim, almas queridas, não vos esqueçaes que aos que
Me cuspiram na bocca, dei-lhes em troca um sorriso doce
e sereno.1

O MEU SANGUE É A CHAVE DO PARAISO


Amantissimo Jesus meu, divinal Esposo cheia de mi­
seria venho a vós para que Me limpeis.
Jesus, no vosso santissimo e purissimo Sangue dese­
jo ser lavada de todas as manchas que enfeiam minha po­
bre alma. Lavae-me Jesus, lavae-me e sahirei limpa e cu­
rada das enfermidades de minha alma.
Jesus amantissimo, vós sois tão bom, que, quando
considero vossa misericordia, não posso deixar de excla­
mar: como é misericordio.so meu Divinal Esposo!. . . Que
bondade, .Jesus, apesar de vos offender todos os dias, sem­
pre estaes prompto a me perdôar ! Que misericordia!
O' Jesus, dae-me uma verdadeira comprehensão de
vossa misericordia, para que cheia de confiança me atire
nos vossos braços, e assim poss.q neste exilio de dôr e de
tantos trabalhos exclamar.� Que posso eu temer se estou
nos braços de Jesus!
Jesus, eu reconheço minha baixeza, meus peccados,
.mas por ventura posso eu me desanimar estando nos vos­
sos braços ? Não morrestes vós por mim? Não estaes aqui
encerrado no sacrario por mim? Não tenho eu o Sangue
vosso para pagar as minhas dividas ? Ah ! sim., tenho o
Sangue de Jesus e como moeda para pagar minhas dividas.
Rejubila.e justos da terra! Santos do céo! Anjos do
paraiso rejubilae! o Sangue de Jesus é todo meu ! Elle me
purifica ; Me empolga; e me eleva até o paraiso! O' meu
Deus, vosso sangue é meu cabedal, vosso Sangue é minha
fortaleza e meu sustentaculo neste exilio, onde o pranto
reina, onde ha tanto desanimo!
O' almas queridas, minhas irmãs, jamais desanime­
mos, temos o Sangue de Jesus como nosso cabedal e co­
mo nossa fortaleza! Porque temer! O' almas fracas, ja-
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86 Licções de Jesus Victima

mais desanimeis, o Sangue de Jesus é nossa força! Ah !


quando vos encontrardes em desanimo, lembrae-vos do
Sangue de Jesus e abi sereis fortes ! O' almas queridas,
pedi ao bom Deus que vos dê a conhecer o valor do seu
Sangue Divino !
Bom Jesus, por piedade, dae-nos a conhecer o vosso
Sangue preciosíssimo.
JESUS - Minha filha. deixei-te falar primeiro. Agora
sou Eu que te vou falar !
Desejas saber qual é o valor de meu Sangue pre­
ciosissimo ?! Bem patenteado está l?lle na redempção de
vossas almas.
As portas do parais o estavam fechadas para todos
vós, amados filhos; com o meu Sangue vos abri as portas,
desta mansão Divina, de modo que jamais na terra pode­
reis comprehender as delicias, que superabundam neste
reino !
O Meu Sangue é a vossa chave· para entrardes nes­
ta mansão celeste, onde por toda uma: eternidade exalta­
reis, e bemdireis este Sangue, que vos tirou das trévas, e
que vos elevou a gozar de uma gloria immortal.
O' filhos do exilio, o meu Sangue, além dê vos
abrir as portas do paraíso que estavam fechadas para to­
dos vós, é vossa couraça nos combates, que tendes de em­
prehender para ganhardes a causa da salvação de vossas
aln1as! O meu Sangue vos purifica cada dia e em cada ho­
ra em que fizerdes uso delle, e por meio dos sacramentos
que recebeis cada dia. Em abundancia recebereis esta chu­
va benefica de rneu preciosíssimo Sangue cada hora, que
tiverdes a ventura de vos approximardes de mim e com
confiança pronunciardes uma jaculatoria, ·invocando este
Sangue Divino. •
Ah ! que mancha haverá nas almas que este Sangue
não apague ? Se perante o Pae satisfez a divida que os
primeiros paes contrahiram, reconciliando-os com Elle, o
que não póde este Divino e preciosíssimo Sangue? ...
Sim, o meu Sangue offerecido ao eterno Pae· paga
as vossas dividas por granaes �l!e ellas sejam!
Pobres, infelizes dos homens que desprezam este
Sangue. Homens ha que dizem: Jesus morreu por mim, as
portas do paraíso estão abertas, portanto não preciso mais
nada! Pobres homens, não. sabem approveitar da dadiva
sagrada! Não basta o Eu ter morrido e aberto as portas
do paraiso com o meu Sangue Divino, é preciso ainda que
se faça uso delle por meio dos sacramentos e invocações,
é preciso que a alma usufrúa dos fructos deste Sangue
Divino, pelo seu uso frequente e quotidiano !
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Liccões
"' ele Jesu,s Victúna 87

Amados filhos, pedis todos os dias ? Ah ! por miseria


propria pedis e muitas vezes ao dia! E com que pagareis
estas dividas ? Com os vossos merecimentos talvez ? Ah !
não, que merecimentos tendes vós? Todas as vossas obras
são imperfeitas, e com que apagar vossas imperfeições, si­
não com o meu Sangue ? Sim, amados filhos, compenetrai­
vos bem desta verdade: que todas as vossas acções sao ?>m-
pwrfeitas ! Por tanto tendes necessidade que alguem coadju­
ve nas vossas obras, para poderdes ter parte commigo.
Ah ! que melhor coadjuctor de que meu Sangue, que vos
salvou e vos tirou do abysmo, a que estaveis condemnados
por causa de vossos primeiros paes? Oh ! comprehendei
vossas miserias, e compenetrai-vos bem de que sem mim
nada podeis fazer que seja agradavel ao Pae ! Sem mim
todas as vossas obras são nulas!
O meu Sangue é o sal do grande banquete, sem o
qual ninguem se assentará á mesa divina ! Assim COI,l]O a
comida, que, pela minha misericordia, vos mimoseio todos
e s dias, sem sal é detestavel ao paladar, assim tambem vos­
sas obras, que não são purificadas pelo meu Sangue, não
Me são verdadeiramente agradaveis ! De quanta misericor­
dia usa o bom Deus para comvosco ! Não Me contentei de
vos abrir as portas do Paraiso, quiz mais ainda.
Deixei-vos os. merecimentos deste Sangue Divino á
vossa disposição, porque, amados filhos? Ah ! para que vos
purifiqueis a toda hora e a todo momento, para, quando
chegar a hora suprema das contas, não YOS dizer: Entrae
nas chammas do purgatorio, ficae ahi até pagardes vossas
dividas, até pagardes todas as vossas imperfeições, porque
não póde entrar no céo o que está manchado !
Oh ! amados filhos,rlvêde como eu vos amo! como sou
.Pae amoroso! Dei-vos tudo para ganhardes tudo. O Paraiso,
meus merecimentos, são todos vossos, meus filhos, aprovei­
tae, purificae-vos a toda hora, porque como já vos disse,
tendes todas as vossas obras a purificar! Ah! não quero
lençar-vos nas chammas do purgatorio, porque Eu vos amo
muito, infinitamente ! E quando chegar a hora das contas
quero dizer a meu Pae: O' Pae, este filho soube approvei­
tar de meu Sangue, todas as suas obras foram perfeitas,
porque as juntou aos meus merecimentos, que vós lhes des­
tes. Sim, Pae, vós Me destes e elles Me receberam e apro­
veitaram. Dá-lhe agora, ó Pae, o lugar de honra !
E' assim queridos filhos, que vos quero dizer. Para
isso ouvi-Me por piedade, ouvi meus clamores de nlisericordia.
Eu vos amo tanto! Approveitae. filhos dilectos, appro­
veitae, o tempo urge. A eternidade se approxima !
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88 Licções de Jesus Victirna

AS PETALAS DO CALVARIO CONTINUAMENTE


ESTÃO CAHINDO SOBRE A HUMANIDADE
Chegou o tempo aceitavel de mostrar ao mundo as
petalas de rosa da misericordia, que do alto da cruz fiz
cahir sobre a humanidade.
Porque vos falo em petalas de rosas? Rosa quer dizer
amor, petalas d� rosas quer dizer a rosa em pedaços ; e
eis que meu amor do alto da cruz cahiu em profusão sobre
a minha Igreja, a qual acabava de fundar; e, cahindo sobre
a minha Igreja, cahiu sobre cada um de vós que vierdes beber
nas suas fontes de vida. E' porisso que vos disse no co­
meço, as petalas do Calvario estão continuamente cahindo
sobre a humanidade. E' só saber bater ás portas, onde se
acham encerradas as fontes da Divina Misericordia ! A mi­
nha Igreja é a thesoureira destas fontes beneficas, fóra da
qual não ha salvação.
Vou mostrar-vos, amados meus, como no alto da cruz
fiz cahir as petalas do meu amor sobre esta Igreja querida,
cujo representante é o Santo Padre e pelo qual vélo com
carinho todo especial.
Quando no alto da cruz lVIe achava a derramar todo
o meu sangue, no meio das mais cruciantes dôres, olhando
para a querida Igreja acabada apenas de fundar, disse: O'
Igreja querida, arca de salvação, has de ser batida, porém
jamais vencida ; has de ser injuriada como o teu Fundador,
calumniada, vilipend�ada. Os mais santos e puros apostolos
como Eu serão levados aos tribunaes da injustiça e da in­
gratidão, porém, tudo isto. será para mostrar como tu és
divina, e que, apesar de ser tão batida, has de sahir sem-
pre victoriosa. •
Almas que Me ouvis, olhando para os seculos futuros
vi tantos apostolos torturados a soffr'erem a ingratidão dos
máos !
Eis, porém, que disse ao Pae : Pae Santo, manda so­
bre estes uma chuva de petalas da rosa perfumosa de meu
sempre e eterno amor ; que o sangue desta hora, derra­
mado com tantas dôres, seja para os apostolos perseguidos,
para os que tudo deixarem por meu amor, o lenitivo em
suas penas e angustias, que, por nosso amor vão soffer !
Eis, então, amados de meu Coração, que a santa Igreja se
cobriu desta chuva benefica de perfumosas petalas, isto é,
do merecimento precioso de meu sangue divino, derramado
por amor. Sim, a minha Santa Igreja é depositaria destas
petalas de amor, e Eu que vos falo, vos posso provar, por­
que é só aos que estão dentro desta Arca de salvação que
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Lfrçi>es rle. .Jesus Victima 89

ouve o sempre perdoar. E' só na minha Santa Igreja que


se encontra o verdadeiro perdão ; é só nesta Santa Igreja
que encontrareis apostolos da misericordia, porque só ella
é a verdadeira, só ella possue o meu sangue Divino. A ne­
nhuma outra seita dei o meu sangue, mas sómente á 1ni­
nha querida -Igreja que é uma só, o que quer dizer que
por toda a parte obedece só ao meu querido representante,
o Santo Padre, que tem ás suas ordens, por amor, os pre­
lados e estes têm seus 1ninistros, tambem por amor e não pela
força, porque todos os que estão dentro desta Arca de sal­
vação não obedecem pela força, mas, sim, com liberdade
e todos por amor, porque elles não obedecem a um simples
homem, mas, sim, a mim que os chamei.
Amados de meu Coração, mostrei-vos que a deposi­
taria destas peta.las de amor é minha Santa Igreja; e vós
que já tendes a ventura de fazer parte desta n1esma Igre­
ja, vos convido a subirdes as escarpadas do Golgotha, on­
de desejo cobrir-vos de peta.las de amor e misericordia.
Sim, tenho pressa em que chegueis bem perto de nlinha
cruz, para cobrir vos destas petalas perfumosas, para que
possaes, no dia das nupcias eternas, vos apresentar a miln
saturadas deste perfume enebriante de minha misericor­
dia. Como, direis vós, havemos de fazer para que possa-.
1nos receber esta chuva de peta.las perfumosas '? Apresen­
ta.e-vos aos pés do n1eu altar, onde estou tão realmente
como no Céo. Figura.e-vos que estaes aos pés do Calva.rio,
sim, porque a Eucharistia é um novo Calva.rio, onde,
humilhado por vosso amor, Me acho, e dizei-Me - «Se­
nhor, aqui estamos para que nos cubraes das peta.las
de vosso santo amor e misericordia.
As disposições que exijo de vós é que ahi Me ve­
jaes como Pae, esposo e amigo de infinita caridade, sem­
pre prompto a perdoar-vo� e a cummular de beneficios.
Sim, Eu sendo o proprio amor, a propria misericordia exi­
jo, como condição de vossa parte, esta preparação: reco­
nhecer-Me como Pae, como amigo, como Esposo de infini­
ta caridade, no meu sempre perdoar.
Agora vou falar-vos de que são feitas· estas peta.las.
Estas petalas são vermelhas, e feitas com o meu
sangue divino, são todas de amor porque foi o amor o
seu autor; e, dizei-Me se isto não é verdade ? No seio de
minha Mãe o Divino Paraclito formou este sangue, e, por
amor, Elle foi derramado na minha Sagrada Paixão; por­
tanto posso vos dizer que estas petalas são formadas de
amor. Cada gotta de meu sangue é para vós um perfu­
moso aroma que deve vos inebriar primeiramente pelo
Santo Sacramento da Penitencia. Vêde quando o meu mi­
nistro levanta suas sagradas mãos ípara dar-vos o meu
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90 Lü:ções de Jesus Victima

perdão ... oh maravilha! As petalas de meu amor, que é


meu sangue divino, cahem em profusão sobre as vossas
almas! Quantas vezes vos confessaes sem meditardes nis­
to! Depois desta effusão de amor, na sagrada Mesa, onde
Me dou como alimento, oh! nova maravilha! Recebeis todo
o meu sangue, porque na Eucharistia estou com todo o
meu sangue!
Vêde, amados meus, quanto amor de vosso Deus
neste Divino Banquete! Se ti vesseis fé, come um grão de
areia, como havieis de vos achar afortunados, por :Me po­
der manducar neste Divino Banquete !
Porém, o que desejo gravar na vossa mente é que
os qq.e bem quizerem approveitar delle, precisam vir a
mim pela via da confiança, toda de ,amor.
Aos que caminham por esta via, os cumulo de benefícios.
Os que por esta via transitam faço continuamente
cahir sobre elles, as petalas de meu sangue divino, de for­
ma que, quando se apresentarem no dia das contas,
estarão tão rescendentes, que os abraço e lhes digo : « Vin­
de amados meus, vinde. porque já estaes perfumados para
entrar no Banquete das nupcias !
0h ! almas minhas, se todos os dias soubesseis Me
pedir destas petal as todas de amor e misericordia, como
contentaríeis meu Coração, que se alegra em infinito, quan­
do vos vejo aproveitar o que com tanto preço vos leguei,
- o meu sangue divino.
Sim, amados meus, o meu sangue divino é todo vos­
so! vinde buscai-O com santa e doce alegria, elle é o aro­
ma de vossas almas, elle as perfuma e as prepara para as
bôdas eternas !
Vinde buscar estas Petalas feitas com ·o meu sangue
divino ! Vinde que tenho pressa àe perfumar vossas almas
e vosso caminho !
Oh ! por piedade, o vosso caminho não é mais esca­
broso, porque elle está todo embalsamado com esta chuva
benefica de meu sangue Redemptor !
As Petalas chamam-se : Eu sou todo amor !
Eu sou todo misericordia !
Eu sou todo Perdão !
Eu. sou todo doçura !
Eu sou Pae misericordioso !
Eu sou Esposo •todo ternura !
Eu sou amigo infinitamente caridoso !
Eu dei minha vida alegremente, porque te amo !
Eu dei meu sangue só porque te amo !
· Eu fiquei no Sacrario só porque te amo !
Eu estou aqui com todo meu sangue no sacrario, pa-
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Licçõe::; de Jesus Victüna Bl

ra te perfumar, para preparar-te para as bodas eternas,


só porque te amo!
Eu te falo que sou todo misericordia, só para que
Me comprehendas, e para que, comprehendendo-1\tle, pos­
sas vir a mim pela via do amor!
Oh amados de meu Coração, aproveitae destas pe­
talas, ellas são feitas com o meu sangue e meu amor! Vin­
de buscal-as para vos inebriar de santo gozo, para vos
preparar para o dia, não tremendo como muitos dizem,
mas, sim, doce, dia em que, perfumados com o sangue di­
vino, apresentar-vos-eis ao Pae.
O vosso doce e meigo Jesus do Tabernaculo, que
vos dá o delicioso perfume de seu sangue Divino, por
amor derramado na Paixão.

AS PEROLAS DO CAL VARIO


Vinde, filhos do exilio, vinde subir as escarpadas do
monte Calvaria, onde vos desejo mostrar as perolas pre­
ciosas, com tanto preço adquiridas para vossas almas!
Sim, ella� custaram-Me .dôr infinita, quando no alto da
cruz pregado Me achava!
Como não Me haviam de custar dôr infinita, vendo
a Mãe, que tanto- amava, �derramar lagrimas e com tanta
angustia!
Sim, amados meus, as lagrimas de minha querida
Mãe Me custaram tanto pt"eço ! Qual é o filho que vendo
sua Mãe chorar não fica tambem torturado?
Eis, porque vos disse : Vinde buscar as perolas
preciosas, estas perolas são as lagrimas de minha Mãe,
derramadar. em horas tão bemditas !
Disse-vos: Subi as escarpadas do monte Calvario pa­
ra buscal-as. Sim, amados de meu Coração, é preciso su­
bir, o que quer dizer desprezar o mundo com suas mentirosas
promessas; é preciso subir acima de suas inclinações e
vontades, para depois poder recolher em sua alma as pe­
rolas preciosas 1 que são ás lagrimas de minha Mãe.
Falo-vos aqui espiritualmente, porque meu reino é
todo espiritual. As lagrimas de Maria não são a simples
agua derramada de seus olhos purissimos, mas siin o fru­
cto destas lagrimas; o que desejo que recolhaes não é a
agua que sahiu de seus olhos; ah! não ; o que desejo que
recolhaes é o fructo de suas angustias, porque foi a dôr
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92 Licções de JeS'll8 Victfrna

de sua alma e de seu Coração maternal, que fez derramar­


tantas lagrimas, quando aos pés da cruz se achava.
Vêde, amados de meu Coração, que Maria chorou
não por simples desabafo, 1nas, sim, porque a dôr de sua
candida alma tinha chegado ao ponto de tirar-lhe a vida do
corpo porque a sua dôr foi a medida de seu an1or por mim
e por vós, porque na sua alma já se aninhava este grande
amor por todos os filhos, pelos quaes Eu padecia no alto
da Cruz!
Quando contemplardes Maria. lacrimosa, entrae no
amago de sua alma e vereis que vós alli estaveis e
que, por todos vós, chorou ! Sim, Ella chorou pelos jus­
tos e peccadores ; pelos peccadores porque endurecidos,
não queriam se converter, apesar de Me verem pregado
em uma cruz, pelos justos para mostrarlhes a ternura de
seu Coração em seu favor.
Vêde, amados de meu Coração, porque vos tenho dito
que as lagrimas de Maria Me são tão caras e por ellas obte­
reis o que desejaes, porque estas lagrimas foram derramadas
por tão nobre causa !
Agora desejo falar-vos como deveis fazer para apro­
veitardes destas lagrimas bemditas, para a reforn1a e
santificação de vossa vida. Vêde que vos disse que são
perolas, sim, perolas, quer dizer preciosas; portanto, Eu, o
vosso Esposo _amantissimo, desejo que não desperdiceis
nenhum favor que com tanta solicitude vos foi dado.
O que fazer, direis vós, para aproveitarmos e sa­
bermos recolher estas perolas nas nossas almas?.
Primeiramente, como já vos disse, é preciso despren­
dimento de si e de todos; em segundo logar, é preciso me­
ditar qual a causa porque estas lagrimas foram derramadas.
. Porque foram derramadas estas lagrimas, já vos dis­
se : pelos peccadores e justos ; �orem, o que vos desejo
falar neste momento para que bem aproveiteis, é que
Maria chorou por vossas almas dizendo-vos : O' filhas ama­
das, comprei vossas almas com minhas lagrimas, cooperan­
do com o Divino Filho na vossa redempção. Elle derramou
seu sangue e Eu derramei minhas lagrimas. Sim, almas mi­
nhas, vou deixar Maria vos falar, aproveitae de suas san­
tas lições; não desperdiceis suas palavras amorosas!
Amadas de meu Coração, Jesus, sempre bom e infi­
nitamente generoso, deseja que fale ás vossas almas e que
vos mostre porque �u chorei por vós, para que, ouvindo­
Me, apprendais a serdes generosas, correspondendo assim á
sua bondade infinita.
Filhas amadas que me ou ds, estamos no tempo ac­
ceitavel da misericordia, portanto vou vos falar, porção
querida, como chorando no alto do monte Calvaria, chorei
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{Acções ele .Jesi-ts Victirna

por vossas almas, vendo, que, apesar de Jesus estar


•.estendido em patibulo de infamia para mostrar aos
homens seu infinito amor, muitos não o comprehende­
riam, e cegos passariam por este valle de lagrimas, sem
aproveitar de seu sangue di dno !
Olhando para os seculos , indouros vi almas apostolas,
cheias de santo zelo, dizerem aos homens: Vamos ao Cal­
vario, vamos ver como Jesus nos ama.
Vendo isto chorei não de tristeza, mas, sim, de santo
gozo, por ver que a 1nisericordia de meu Filho ia ser com­
prehendida e proclamada. Vêde, almas minhas, como tenho
razão de dizer-vos que chorei por vós. Sim, chorei por vós,
vendo que vós havieis de falar da bondade infinita de meu
Fiiho no seu sempre perdoar, no seu eternamente amar!
Como deveis aproveitar de minhas lagrimas, lem­
brando-vos que Maria por vós chorou e chorou não de
tristeza, mas de santo gozo ; portanto, chorando de gozo,
deveis com mais enthusiasmo trabalhar para serdes ver­
dadeiramente apostolas da Divina misericordia. Ah! por
piedade, que Eu não tenha de chorar porque vós não Me
quereis ouvir e não vos quereis amoldar aos meus ensina­
mentos!
Que Eu não tenha à grande decepção de dever ba­
ter em outra porta, como quando procurava uma estala­
gem para o Menino nascer! Sim, não me deram pousada,
e tive de dar a luz ao Menino Deus em meio de animaes !
Que isto não aconteça comvosco.
Vêde bem, aproveitae de minhas lagrimas, lembran­
do-vos de praticar os santos ·conselhos desta escola de man­
sidão e infinito perdão. Esta escola ou melhor este novicia­
do é todo de amor e infinito perdão.
Sêde, primeiramente, umas para com as outras, o que
nós somos uns para com 'os outros no Paraiso, caridade e
sempre caridade, perdão e sempre perdão!
E' esta a escola do Divino Crucificado ; o Mestre exi­
ge isto de vós para depois levardes a boa nova po:r toda
a parte.
Vêde que é Jesus Crucificado, o Esposo amantissimo
de vossas almas, que assim Me diz para vos falar. Minhas
lagrimas bemditas vos obrigam, por amor, a serdes gere­
rosas, matando tudo que é vosso para Jesus e �Jesus Cru­
cificado viver em vós, mas não crucificado por vossas im­
perfeições. Ah ! Isto não ! Dizendo-vos : Jesus Crucificado
viver em vós, quero com isto significar que é Jesus Cruci­
ficado que deveis prégar, isto é Jesus misericordioso e in-
finitamente bondoso.
Sim, amadas de meu Coração, quando olhardes para
o vosso Esposo na cruz, lembrai-vos que Elle vos diz: Vê
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94 Licçõcs de Jesus Victima

como sou misericordioso e como deveis falar de minha mi­


sericordia ! Por amor Me deixei prégar neste duro madeiro.
Sim, amadas de meu Coração, as perolas do Cah·ario,
por amor, vos obrigam a falar da misericordia do Divino
Crucificado.
Aproveitae bem dellas e lembrae-vos que cada vez
que olhardes para mim aos pés da cruz, que minhas lagri­
mas vos dizem : Vê, filha, o Divino Crucificado que te pe­
de : fala do meu sempre perdoar e eternamente amar !
Não vos esqueçaes destas minhas palavras.
Aproveitae das Perolas do Calvario e Eu vos aben­
çoarei eternamente.

OS DOIS LYRIOS DO CALVARIO

Vinde, almas minhas, escutar palavras de consolação.


Subi as escarpadas do monte Calvaria, onde os
amantes de meu Coração fazem sua morada de predileção.
Vinde, que quem vos deseja falar é a meiga e pura
Maria, minha Mãe, sempre solicita em fazer o bem!
.«Amados de minha alma, Jesus sempre e generoso
desejá que hoje vos fale do perfume destes dois Lyrios,
que attrahem tantos amantes a subirem as escarpadas
deste monte perfumado· pela sua fragancia!
Estes dois Lyrios, creados .com tanto carinho pelo
Deus eternamente misericordios9. no alto deste monte com
seu perfume inebriante, aplacaram a Divina Justiça e
abriram as portas da mansão da paz. Fizeram mais, per­
fumaram este monte, cujo aspecto podia atemorizar aos
viajores deste exilio, tornando-o attrahente, com seu odor.
Vêde como o que vos falo é uma realidade. Os ver­
dadeiros amantes do Divino Crucificado correm pressuro­
sos a este monte, attrahidos pelos perfumes destes dois
Lyrios. Ah! quantas maravilhas operadas â sombra desta
cruz!
Quem são estes dois Lyrios? Estes dois Lyrios, um cha­
ma-se Jesus e o outro Maria. Sim, do Lyrio encantador,
que com seu perfume applacou a Justiça do Pae, é que
neste momento vós tambem, attrahidas ·por seu perfume,
venhaes usufruir delle, para depois trazerdes muitas e mui­
tas almas a este monte, onde se formam os verdadeiros
amantes!
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Licções de Jesus Victima 95

Escutae-me por piedade. Vêde o candido Lyrio, cujo


perfume tem attrahido tantas virgens, tantos apostolos, ve­
de-o no alto de um monte e pregado em. uma dura Cruz,
a inebriar os mesmos anjos do Paraiso com seu perfume!
Até este momento solemne tinha-se calado com respeito
á sua Mãe, mas vêde agora, cm momento tão aterrorisa.dor,
sahir de sua santíssima bocca a palavra.encantadora e per­
fumada «Mulher eis ahi teu filho». «Filho eis ahi tua Mãe»!
.Oh! amados de meu Coração, neste momento o mon...
te Calvario ficou perfumado com a sublime palavra
que acabaes de ouvir: «Mulher, eis ahi teu filho», «Filho,
eis ahi tua Mãe»! Não é isto verdade? Haverá perfume
que mais vos attraia do que saberdes que no monte Cal­
vario vos foi dada uma Mãe'? Para um filho extremoso ha­
verá perfume mais agradavel do que possuir uma Mãe ?!
A palavra Mãe tem um odôr inegualavel. Eis porque falan­
do-vos do perfumoso, Lyrio, Jesus, vos lembrei suas pala­
vras para provar-vos que o que vos digo· não é uma phan­
tasia, mas sim, uma realidade. Sim, porque no alto da
cruz, Jesus perfumou este n1onte com suas pala vras Divi­
nas, dando-vos o que tinha de mais preciosa sua Mãe.
Agora eu vos posso provar que o monte Calvario é
perfumado com o aroma destes dois Lyrios, Jesus e Maria
que vos está falando.
Porque vos disse dois Lyrios do Cal vario ? Porque
foi no Calvarill que appJacaram a justiça offendida pelos
crimes dos peccadores. Vêde como se faz neste mundo.
Quando sentis qualquer chefro desagradavel, procuraes
queimar alguma cousa exquisita ou derramar algum per­
fume para não sentirdes o desagradavel !
Vêde no monte Calvaria estes dois Lyrios que, cheios
de virtudes heroicas, perfumaram o mundo, enviando ao
throno do Pae o perfume "'de suas virtudes para reparar os
peccados da humanidade decahida!
Oh! amados de meu Coração, foi na effusão do san.::
gue deste Lyrio Divino e no sacrificio incruento de sua
Mãe, que os peccados do mundo foram reparados, mere­
cendo assim para . todas as almas o perdão !
O n1undo ficou embalsamado das. virtudes as mais
heroicas, com o sacrifício cruento e incruento destes
dois Lyrios no alto do Monte Calvaria! Agora, almas mi­
nhas, é preciso que vós sigais o nosso exemplo, subindo
com generosidade as escarpadas do 1nonte, para imolar-vos
e reparardes com as vossas imolações, tantos crimes dos
homens, que vertiginosamente, se precipitam no lodaçal de
tantas impurezas ! E' preciso que usufruaes, neste monte,
do perfume destes dois Lyrios, e ao Pae os offerteis, para
depois de estardes delles bem impregnadas, possaes, cmno
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96 Licçôes de Jesus Vicfima

nós, . vos imolar pelos homens, que caminham para a perdi­


ção ! E' preciso que Rejaes generosas, primeiramente sacri­
ficando-vos para recebei-o e depois para dal-o aos outros.
Sim, dae as vossas penas, os YOssos trabalhos e as vossas
oraçõ,es, e finalmente attrahi com o nosso perfume os po­
bres
· peccadores ...
Almas queridas, por piedade, não desperdiceis o per-
fume destes dois Lyrios, e Lyrios de pureza ! Vinde a este
monte com fé e amor, e sahireis enamoradas, de forma que
haveis de dizer : Façamos aqui a nossa morada. Sim, a vos­
sa morada deve ser no alto do monte, isto é, acima de to­
das as preoccupações terrenas, acima de vós mesmas e de
vossas inclinações, aos pés da cruz, que quer dizer sacri­
ficio constante, para poderdes, á nossa imitação, perfumar
o caminho dos · peccadores.
Vêde, nós perfumamos este monte e agora vós vos
achaes junto de nós ; porisso tambern vos digo : Perfumae
o caminho dos peccadores, com as vossas virtudes para
que não lhes seja penosa a subida do monte da perfeição.
Vinde vós á sua frente, perfumando suas veredas e ve­
reis como elles depressa correrão. O perfume de vossa vir­
tude devem elles sentir, para que se .sintam attrahidos a
amar ao Deus do Calvario.
Oh! amadas minhas, em um ambiente perfumado, todos
desejam estar, sêdes vós. portanto, as perfumadoras do
ambiente dos peccadores. Sim, pobresinhos, elles não co­
nhecem os nossos perfumes, jamais os experitnentaram ; po­
rém, vós que já os experimentastes, procurae perfumar suas
moradas, para que deixem seus crimes e possam vir se sa­
ciar no Banquete do Amor. Sim, se vós souberdes aprovei­
tar do perfume destes dois Lyrios, quantas almas roubareis
ao inimigo infernal !
O perfume está a vossa dis�osição, depende apenas de
vossa boa vontade. Trazei os alabastros de vossos corações e
os de vossa boa vontade, e enchei-os de perfume que é o san­
gue do Divino Filho e as Lagrimas de sua Mãe, que, per­
fumando vossas almas, transbordará e attrahirá todos os
que tiverem a felicidade de comvosco falar e os que tive­
rem a ventura de ser lembrados por vós ante o altar.
Os dois Lyrios do Calvario vos pedem que trans­
planteis os vossos lyrios, vossas almas, para o perfumoso
Monte do Calvario e ahi offerteis ao Pae os vossos perfu­
mes, que são as vossas virtudes, para applacar a sua justi­
ça em beneficio dos pobres peccadores.
Os dois Lyrios vos convidam por amor e não por for­
ça. Por amor subi as escarpadas do Monte Calvaria, para
usufruirdes do perfume dos dois Lyrios, e por amor os of­
fertae ao Pae !
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Licções <1e Jesu:; Victúna 97

AS .VIOLETAS DO CALVARIO
Vinde, almas minhas, apressae-vos e1n subir as es­
carpadas do Golgotha, onde desejo falar-vos a linguagem
simples e encantadora da santa humildade. E' com o
exemplo,·.� que vos vou falar, porque não ba n1elhor
lição do que a do exemplo. O exemplo obriga a pra­
ticar o bem.
Vou deixar Maria vos falar, porque ben1 póde Ella
falar desta virtude, que tão bem soube praticar toda sua
vida e principalmente no alto deste monte.
Eu vos saúdo, amados filhos do exilio, dando-vos a
minha paz que é a paz de Jesus.
Jesus, meu Filho dilecto, desejoso de ver-vos perfei­
tos, deseja que hoje vos fale das duas Violetas do Calvario !
Quem são estas duas Violetas? Estas duas Violetas,
- violeta quer dizer humildade - a primeira é Jesus, a
segunda é Maria. Vou primeiramente falar-vos da pritneira,
para que comprehendaes o quanto Jesus é humilde e co­
mo gosta· que o imitem nesta tão bella virtude ainda que
tenha uma apparencia tão austera, porque os que não são
espirituaes acham a virtude da santa humildade austera e
difficil de praticar. A estes pode-se dizer que não compre­
henderam as palavras do Senhor: O 1neu Jugo ,� suave. Sim,
aos que amam verdadeiramente não é austera a pratica da
virtude, mas, sim, doce.
Como Jesus no alto do Calvario deu provas de sua
heroica virtude de humildade..
Quem é que está cravado na cruz de pés e mãos,
coroado de espinhos, insultado por homens barbaros ? E' o
Deus que criou tudo do n..,da, o Senhor dos exercitos, o
Rei Immortal da Gloria e ·que, vendo o céo fechado, se fez
homem, sen1 deixar de ser Deus. Este poder, esta magni­
ficencia, esta omnisciencia deixa-se . prégar na cruz como
homem e deixa que uns pobres homens, que nenhum po­
der tinham a não ser o poder material, o flagelen1 e cru­
cifiquem sua carne, formada pelo Espírito Santo nas mi­
nhas puríssimas entranhas ! Vêde até onde chegou a hu­
mildade de vosso esposo, que, sendo Deus e tendo todo
poder em suas mãos, não usou delle para se livrar de tan­
ta humilhação !
Ah ! amados de meu Coração, como Deus conhecia
vossas fraquezas e sabia que vós precisaveis de seu he­
roico exemplo para matar o vosso amor proprio, a vossa
presumpção, o Filho amado se sujeitou a tanta mófa, a
tanta humilhação para hoje poder dizer-vos: Aprendei de
mim que sou humilde de coração, aprendei de mim que
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98 Licç:ões de Jesus Victinia

vos falo com o exemplo e que, apesar, de ser Deus, tan­


to me humilhei para exaltar-vos ! Sim, amados meus, a hu­
nlildade ficou exaltada e os que se humilham são os ver
dadeiramente grandes. Antes da vinda de Jesus ao mundo,
humilhar-se, soffrer morte de cruz era uma vilania, porem,
desde· que o Divino Salvaaor santificou as humilhações, os
humilhados são os verdadeiramente grandes, isto é, os hu­
milhados por amor de Jesus e pela sua gloria!
Amados de meu Coração, poucos são os que compre­
hendem esta virtude da santa hnmildade, entretanto ella é
tão querida de Jesus. Porque ella é. tão querida de Jesus ?
E' porque proporciona aos filhos um bem immortal, dando­
lhes a corôa da immortalidade!
Os verdadeiros humildes podem se chamar nobres,
pois elles envergam as librés de Jesus, sendo, portanto,
de sangue real ! Oh! amados_ meus, bem compre�endi Eu
esta humildade. E' porisso que o Senhor obrou tantas ma­
ravilhas na minha alma. Sempre me conservei em santa
humildade, por�ue comprehendi a verdade.
O que Eu seria se Deus não tivesse olhado para
mim? Elle. creou-me ào nada, deu-me uma alma immortal,
portanto, de que me havia Eu de gloriar a não ser n'Elle
e na sua misericordia, que tudo me deu gratuitamente ?
Quando no alto da çruz o Filho expirava no meio
de tantos tormentos, Eu não r.evoguei meus direitos de
Mãe. Ah ! não ! Mas que direitos tinha Eu? Meu Filho me
fôra da�o gratuitamente, portanto, que razão tinha Eu de
reclamar o que na verdade não era meu ?
Sim, era meu e não era meu, porque reconhecendo
a bondade de Deus, via que Eu deveria dar generosamen­
te o Filho das minhas entranhas para ser sacrificado em
vc sso favor! •
Amados meus, é assim que vós deveis pensar. Tudo
vos é dado gratuitamente, sem merecimento, porém, sem
vos esquecerdes que sois ricos pela graça e misericordia
do Altíssimo.
Eu cantei o J.tiag·nificat, quando vi o que Deus tinha
feito em mim, porém, tudo dei a Deus, porque, diz o Deus
dos exercitas : A minha gloria não dou a ninguem!
Almas minhas, aprendei a verdadeira sciencia que é
conhecer-se a si proprio para se desprezar, e conhecer a
Deus para adorai-O, amai-O e rever�ncial-O como merece.
Subi as escarpadas do Monte Calva.rio, onde estas
duas Violetas, escondidas na sua ramagem de humildade,
attrahem os verdadeiros amantes e os fazem parar para
.usufruírem seu delicado perfume! Sim, é aos verdadeiros
amantes que é dado encontrar estas duas Violetas e usu­
fruir seu delicado perfume!
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Liccões
, de Jesus Victima 9H

Bemaventurados os que usufruirem. seu perfume, pa­


ra depois poderem perfumar a todos que delles se appro­
ximarem. e um dia dizerem : Quão bom é se humilhar!
Bemditas humilhações! Sim, almas minhas, os verdadeiros
humildes são nobres, pertencem á Corte real, vestem-se
com as sagradas librés de Jesus!
Não vos esqueçaes, amados meus, estas palavras de
vossa Mãe, que vos fala por amor e, por amor, vos pede
que sejaes humilde para pertencerdes aos nobres da Corte,
para um dia poder dizer-vos: Embalsamastes vossa alma e
o mundo com o perfume delicado da santa humildade ; ago­
ra adormecei nos meus braços.

JOÃO O DISCIPULO AMADO FOI MEU ANJO


CONSOLADOR NA MINHA IMMENSA DOR!
Almas minhas, como Jesus é bom! Elle jamais des­
ampara aqu�lles que por seu amor se sacrificam. Vêde a
vossa Mãe Dolorosa sustentada pelo apostolo amado.
Oh! que dedicação a de João para commigo ! Quan­
to elle não fez para confortar-Me em minha immensa dôr !
Dizia-Me : Maria não chores, vê que agora eu sou
teu filho, lembra-te das palavras de Jesus «Mulher, eis abi
teu filho», «filho eis ahi tua Mãe». Agora Eu sou teu, tu
és minha !
Mãe, hei de fazer o teu filho conhecido. Ah ! Mãe,
quando perscrutei o Coraç�o de Jesus na noite da ceia,
ah ! se. soubesses, Mãe Amavel, que horisontes se desven­
daram ! Ah ! que maravilhas, quando este Coração fôr ver­
dadeiramente conhecido !
Fala-Me, João, fala-Me de meu Filho. O que ouviste
quando reclinaste a cabeça no seu Coração ? Como todas as
mães, gosto de ouvir falar bem de meu Filho!
Oh ! Mãe querida, não tenho palavras para descre­
ver-te o Coração de teu Filho amado! Tu, melhor do que
Eu conheces os segredos do seu Coração ! Sim, filho ama­
do, na verdade Eu conhêço os reconditos de seu Coração
porque Eu O trouxe no seu seio; porém, nesta hora, a dôr
de meu Coração e de minha alma puzeram um negr0 véo
no conhecimento que Eu tenho! Fala-Me João, fala-Me do
Coração do Filho amado !
O' Mãe do Bello Amor, quando, em meu coração
de apostolo e de filho agradecido, presenti que um dos
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100 Licções ele Jesus Vidi?'na

nossos O ia trahir, percebi que o Mestre estava com o Co­


ração dilacerado pela ingratidão! Ah ! eu então, sem mais
demora abracei-O com tanto amor, e vi como Elle foi ama­
vel. Não Me afastou, ao contrario deu-Me occasião de dei­
tar minha cabeça bem em cima de seu manso coração!
Oh ! o que se passou Mãe Amavel? ! Abriu-Me seu Cora­
ção e vi o reinado deste Coração ! Que prodígios, Mãe que­
rida! Quantas almas conquistadas ! Quantas virgens pru­
dentes, aos convites deste Coração amoroso, vão deixar as
vaidades do mundo! Que reinado bello, Mãe querida, quan­
do este Coração for bem conhecido no seu infinito amor!
Fala mais, meu filho, o que vistes mais? Ah I Mãe
querida, vi o Coração de teu adorado Filho, com sua man­
sidão divina, arrebatar o mundo das garras infernaes,
quando parecer aos homens que tudo está perdido!
Oh ! Mãe, que doce repouso é o Coração de teu
Filho ! Elle ha de ser o repouso de todas as almas de boa
vontade!
Mãe querida, vi mais : vi o coração de teu amado
Filho a espalhar chammas sobre os corações de boa von­
tade e nelles a diffundir o amor generoso, que os fariam
urdir sacrifícios para contemplal-O, isto é, para aproveitar
para si e arrebanhar almas, muitas almas para o céo, que
Elle nos abriu com a sua ignomini_osa morte!
Mãe amavel, vi ainda mais: Vi aproveitado o sangue
derramado na Paixão. Vi que Jesus não soffreu em vão,
vi· milhões e milhões de corações a receberem este
sangue Divino e a se purificarem com elle ! Mãe bondosa,
este Coração que perscrutei, o qual tu trouxeste no teu
seio virginal, vi ser nosso alimento e o alimento de todas
as almas até o fim dos seculos !
Sim, não ficamos orphãos,-Jesus ficou con1nosco, Je­
sus me descortinou como Elle vae ser o nosso sustentacu­
lo com a sua propria carne, alma e divindade. Eu, Maria,
posso te dar Jesus. Tu serás a primeira afortunada na su­
blime ceia em que vaes ter a fortuna de receber o Corpo
Santissimo de Jesus, não morto, mas vivo! Sim, Mãe ama­
vel, no Coração Santissimo de Jesus te vi a comer seu
Divinal Corpo! Eu, Mãe amavel, te posso dar este Corpo, por­
que Jesus nos deu estes• poderes na ultima ceia ! Como és fe­
liz, Maria, vaes receber de novo o amado de tua alma,
tão realmente como quando o vias com teus olhos! Agora
não chores mais, não estás sozinha podes alegrar-te.
Fala-Me mais, meu filho, fala-Me da bondade de J e­
sus. Elle era tão amavel, tão caritativo. Diz-Me o que pers­
crutaste a este respeito?
Oh ! Mãe querida, como Eu poderei te falar da bon­
dade e misericordia do Coração de teu Filho amado! Que
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Licções de Jesus Victi11ia 101

lingua haverá que possa falar desta encantadora bondade


e misericordia ? !
Oh ! não ha lingua humana que possa cantar o quanto
o Coração de ,Jesus é bom! Mas ao menos fala-Me o quan­
to tu pódes.
Oh ! Mãe querida, vi milhões e milhões de almas,
fascinadas por sua doçura e bondade, a sugarem o mel
dulçuroso de seu amavel Coração; e nesta escola de man­
sidão, vi milhões de candidas virgens se prepararem para
espalhar seu reinado sobre a face da terra, isto para os
ultimos tempos.
Vi a misericordia deste Coração a perdoar,. sempre
a perdoar! Vi tantos peccadores perdoados, tantos afflictos
consolados, tantos infelizes confortados! Vi tantas almas
generosas a beber o mel dulçuroso deste Coração, e de­
pois, com este mesmo mel, consolar os desvalidos, os or­
phãos, as viuvas; emfim, Mãe amavel, vi a face da terra
renovada. O temor não reinava mais sobre a terra! Ah !
não, os tremendos castigos não mais visitarão os filhos de
Adão, porque o novo Adão teu amado Filho, trouxe á ter­
ra a misericordia !
A misericordia reinará de hoje em deante e tu, ó
Mãe do Bello Amor, serás a distribuidora desta mesma mi­
sericordia.
Vê, Mãe bemdita entre todas as mulheres, como so­
mos felizes, Jesus morrendo em um patibulo !
Oh ! Filhas amadas, João tudo isto Me falou; tudo
isto e mais do que isto Eu o sabia. Quem mais do que Eu
conhecia o Coração de meu Filho? Foi para mostrar-vos
minha grande dôr que assim vos falei, para verdes como
até a lembrança de quem era meu Filho perdi no meio de
minha tão grande dôr! Vêde, almas minhas, como o bom
De\is Me fez soffrer deixEUJ.do-Me em tanta dôr, porém Elle
não desamparando ninguem, deu-Me João, como anjo con­
solador, o que na verdade elle o foi.
Agora, almas minhas, que de um modo todo espe­
cial Me pertenceis, não quereis vós ser para mim o que
João me foi? Hoje tambem vos posso dizer: Gosto tanto
que Me faleis da bondade e misericordia de meu Filho e
que della faleis a todos! Primeiramente deveis commentar
esta bondade de Jesus, que, de um modo todo especial
tendes obrigação de falar, deveis commental-a primeira­
mente commigo como fez João, e si vós não estiverdes
bem aptas para dizer o quanto Jesus é bom, Eu vos direi
como Jesus é amavel e cheio de misericordia ! Sim, ama­
das de meu Coração, Eu tenho necessidade de vós para
que faleis de Jesus, para que O façaes conhecido. Recli­
nae vossa cabeça como fez João no Coração de . Jesus,
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102 Licções ele Jesus Victima

perscrutae seus reconditos, e E!le vos ·ha de descortinar


sua bondade e misericordia. Se vos sentirdes sem cora­
I

gem, vinde a mim e Eu vos introduzirei no seu amorosis­


simo Coração. Não vos foi dado Elle em testamento? Para
que vos foi dado si não para que O manduqueis e sabo­
rieis. Sim, saboreae-0 e dae-0 tambem aos outros.
Sim, amadas de meu Coração, pela minha immensa
dôr em minha soledade, Eu vos peço que façaes a bonda­
de de Jesus conhecida, primeiramente á vossas almas e
em depois aos vossos irmãos.
Filhas Missionarias, muita cousa tenho ainda que vos
dizer. Dir-vos-ei mais tarde. Como em minha soledade fos­
tes minha consolação, sêde meus anjos neste exilio, como
João o foi, dando aos homens o Coração de meu Filho.

SE POR MIM MORRERDES COMN\100 VIVEREIS


Que palavras são estas que ouço, meu Divino Mestre?
Minha filha, ouve attentamente porque são palavras
sahidas de meu Divino Coração.
' Feliz o homem que pela minha gloria dér sua pro­
pria vida, ventura esta não comprehendida neste - exilio
de lagrimas !
Eu dei a minha com tanta generosidade, que suspi­
rava por aquella hora bemdicta, em que suspenso no duro
madeiro, pude pronunciar: Tudo está consumado! Já provei
aos homens que meu amor é infinito para com elles !
O' almas queridas, que MEe ledes, quando será que
um coração prova que Me ama verdadeiramente? Ah ! só
Me póde provar quando é calcado aos pés, injuriado, vili­
pendiado, mais ainda, morto! Oh! esta gloria é insigne ! Oh!
Queridos filhos, ser por meu amor desprezado não é ser
desprezado, mas, sim, honrado, porque quem por meu
amôr fôr derprezado, por mim é exaltado, e quem fôr lou­
vado e amado pelos homens, por mim será desprezado!
O' amados ·filhos, o que valem os louvores deste exilio
tão curto? Sim,. só os meus louvores são eternos, são du­
radouros.
. Militantes deste exillo, jamais almejeis os lou­
vores mentirosos dos homens; só os meus são verdadeiros;
mas para ganhal-os necessario é soffrer e padecer perse­
guição dos demonios, do mundo e da carne.
«Quem não está commigo é contra mim». Se os de-
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Licções de Jesil-s Vicfrm,a

monios Me odeiam odiar-vos-ão a vós, que sois meus ami­


gos. Se vossa carne se levanta querendo o illicito, como
peccado, se sois meus, tende_s de lhe dar morte, esmagan­
do com a virtude seus appetites desordenados.
Se o mundo vos censura porque sois meus e não
lhes daes credito, certamente que o odio satanico apode­
rar-se-á de seu coração. Ah ! Então calumniar-vos-ão, per­
seguindo-vos e muitas vezes dando-vos até a morte! Sim,
amados filhos, para terdes este titulo nobelissimo «filhos
de Deus», é preciso que, á minha iinitação, sejaes odiados
e repudiados pelos máos, sim, pelos homens de má vontade,
porque os homens de bôa vontade rec9ber-vos-ão, detestan­
do seus erros, quando lhes falardes. e lhes ensinardes o
que está escripto na minha doutrina.
Amados filhos, não vos illudaes, quem quer ser ver­
dadeiramente meu, tem de ser como Eu, calcado aos pés,
porém, sempre sahirá victorioso, empunhando a divisa · dos
predestinados - a cruz, que é o signal de predestinação,
pois sem ella e sem amor á minha Mãe Santissima, não ha
verdadeiros filhos meus.
Só aos que morrem com o leite nos labios é dado
entrar no paraiso sem cruz, ainda que tenha de carregar a
cruz da morte ; mas Eu vos falo aqui das cruzes das humi­
lhações que meus servos tem de supportar para um dia
cantarem a minha gloria.
Filhos dilectos, que estaes no exilio, comprehen­
dei bem o valor das humilhações e suspirae por ella co­
mo suspiraes pelo Paraíso, porque as cruzes das humilha­
ções é que preparam os vossos corações para entrardes
no Paraíso, e a medida destas cruzes será o gozo no reino
immortal da gloria.
Reparae bem e gravae bem na vossa mente estas pala­
v-ras «os predilectos do P.''-eU Coração são os mais visitados
pela dôr! ... » Quereis ser do nun1ero destes predilectos do
meu Coração? Ah ! então jamais murmureis na hora da af­
flição, se não tendes coragem de pedir soffrimentos, ao
menos conformae-vos, digo melhor, alegrae-vos, quando a
minha mão bemfazeja vos visitar, derramando sobre vós a
afflição.
Comprehendei bem que, sem cruzes e sem dôres e
affições, não sereis do numero dos predilectos.
Amados filhos, não ha homem que não tenha cruzes
e se vosso Deus envez de vos dar cruzes vos désses pra­
zeres, não seria Eu o Deus sapientissimo, porque sem a
cruz sereis todos demonios ; depois do peccado de Adão e
Eva o homem procederia como animal feroz! Porque, di­
zei vós ? Ah ! Eu vos digo porque depois do peccado dos
primeiros paes estaes inclinados ao mal, e ai de vós se a
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104 Licções de Jesus Victima

dôr não vos visitar ! Portanto Vêde na dôr a minha mise­


ricordia sempre em acção, fazendo-vos aproveitar deste
exilio, para um dia cantardes na mansão da paz.
Soffrei commigo, morrei por mim, se quereis commi
go gozar e commigo cantar o cantigo da victoria.
Jesus, o amigo das humilhações que por vós morreu
pregado em duro madeiro, Jesus Crucificado.

A LEMBRANÇA DA PAIXÃO
Eu vos saúdo, Porção querida, fructo de minha sa­
grada Paixão neste dia em que a Igreja triurnphante e mi­
litante, em transportes de santa alegria, me louvam por ter
gloriosamente vencido o inferno!
E' pelas mãos bemdictas da Virgem Maria que vos
saúdo, dando-vos a minha paz e convidando-vos a regozi­
jar-vos commigo ! acompanhastes-me nas penas, tambem
me deveis acompanhar nas minhas alegrias.
Sim, um dia bem de perto entoareis o hymno sem­
pre antigo e sempre novo! Um dia tambem vereis minha
divina Face resplandecente como o sol, e que será vossa
alegria, si nesta vida fordes Veronicas, que com o linho de
vossa generosidade enxugardes o sangue, que os peccado­
res continuamente me fazem brotar com suas perfídias!
Sim, Porção querida, acompanhando-me no meu tri­
umpho não vos esqueçaes de minha sagrada Paixão, todos
os dias renovada nas minhas victimas pelos algozes - os
peccadores ! Lembrae-vos sempre de me dar almas, porque
este é o vosso fim. Por isso é qwe sois o fructo de minha
Paixão. Fazei-me resurgir nos corações dos pobres pecca­
dores, onde não habito! Não vos esqueçaes, que por todos
morri e por todos ressurgi ao terceiro dia.
Nas vossas penas e nos vossos trabalhos qúotidia­
nos, em todos os instantes e!� vossa curta peregrinação,
aproveitae do vosso exilio para me dardes almas. Dae-:me
almas com o vosso exemplo, com a vossa mansidão, com
a vossa caridade, com as vossas maneiras graves. Lem­
brae-vos, esposas amadas, que os vossos minutos de uma
esposa minha me são muito caros! Quantas almas, uma
minha esposa póde salvar em um minuto! E' isto difficil?
Ah ! não, porque vós, amadas de meu coração, tendes mi­
nha mãe como riqueza! Possuindo tal riqueza, possuis to­
das as riquezas do Paraiso, que sou Eu mesmo. Eu sou a
Verdadeira riqueza, a riqueza immortal I Portanto podeis com-
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Licções de Jesus Victüna 105

prar as almas, porque tendes ouro em profusão. Depende isso


de vossa vontade somente. Não tendes vontade de me dar al­
mas? Um só olhar para minha paixão pode comprar um impu­
dico! Como, direis vós, podemos comprar um impudico, olhan­
do para a paixão do Salvador ? Eu vos digo como isto podeis
fazer. Olhando para meus olhos amortecidos pelos espinhos
da coroação, podeis-me em um instante dizer! O' olhar de
meu Divino Esposo, ao Pae vos offereço para a conversão
dos que tem a desventura de peccar com os olhos! Sim,
fructos da minha paixão, tudo o que é meu tem um valor
infinito, meus olhos, meus ouvidos, minha bocca, minha
lingua, tudo o que foi torturado possue um valor não con­
cebido por vós! Tudo o que é meu serve para salvação.
Eu -sóu o ouro immortal que paga as dividas dos peccado­
res. Sim, almas minhas, Eu me fiz vossa moeda para pagar
vossas dividas. Um só acto meu offertado ao Pae póde sal­
var milhões de peccadores, é por isso, amadas de meu Co­
ração, que vos digo que vos possuis mais ouro do que mil
mundos, porque possuindo-me possuis o ouro inexgotavel
que sou Eu mesmo!
Como sois ricas almas de possuirdes minha Paixão.
Possuis minhas alegrias, porque o fructo de minha Paixão
são as minhas alegrias. Os bemaventurados, que estão a
.meu lado, estão em alegria perenne,porque eles aproveita­
ram de minha Paixão e como fructo possuem para todo
sempre minhas alegrias ql!e fazem suas delicias.
Ah ! aqui no Paraíso não reina tristeza, mas somente
alegria, e que alegria é esta? Não é essa alegria da terra.
Ah ! não, a alegria que aqui reina não a podeis experi­
mentar na terra, tal qual ella é, porque si vol-a desse por
completo, morreríeis de gozo !
Sim, alegrae-vos C0.1Jlmigo, razei uso desta minha ale­
gria santa, começae neste exilio a alegrar-vos. Porque não
haveis de alegrar-vos? Sois tão bemaventuradas ! Sois 1ni­
nhas esposas, fr�cto de minha Paixão. Alegrae-vos.

COMO CONSOLAR A JESUS NOS DIAS


DE CARNAVAL

Esposo amantis.;!!llo de minha alma, que ventura po


der fitar-vos nesta Hostia Santa! Vós me convidastes a
vir aqui ante o vosso altar, porisso aqui estou alegre e
contente para ter a ventura de poder-vos fitar nesta Hostia
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106 Licçôes de Jesu.� Victima

Santa ! Sim, Divinal Espo.so, é para que vos veja que, nes­
tes tres dias de carnaval, sahistes de vosso esconderijo!
Dizei-me que quereis que faça para vos dar repara­
ção por tantos peccados, que se comettem nestes tres dias
de devassidão ? Falae, Senhor ; apezar de minha fraqueza,
confiada na vossa infinita misericordia, espero cumprir a
vossa santissima .vontade.
Ouve, filha, Eu sou Jesus o Rei da Gloria, que deste
throno de humildade te fala ! Neste · ostensorio fechado,
apenas vês uma hostia redonda e branca ; porém, em
tão humildes especies se esconde o Rei da Gloria, que a
seu serviço tem milhões de anjos. Perguntaste-me o que
devias fazer nestes tres dias, em que o inferno se levanta
para cravar meu Coração, fazendo tantas victimas ?
A primeira consolação que Me vaes dar nestes tres
dias é a de confiar muito, mas muito, em meu Coração,
porque da alma confiante posso fazer o que Eu desejo.
A segunda consolação que Me has de dar é de copiar
de meu Coração a santa mansidão, a fina flor da santidade
porque o coração manso Me dá muita consolação. Na
mansidão Eu faço minha morada, nos corações mansos
habito como no Paraíso, e jamais sahio de um coração que
possue esta tão fina flôr, porque esta flôr inebria meu
Coração.
A terceira consolação que Me has de dar, nestes tres
dias, é prometter-Me, para sempre, gostar, á minha- imita­
ção, de. soffrer pela conversão dos pobres peccadores,
A quarta consolação, que Me has de dar nestes tres
dias de devassidão, é de te alegrares sempre nas humilha­
ções e desejai-as corno Eu as desejei, para mostrar-te que
te amei. E' na alegria das humilhações que verei o teu
amor para commigo. •
Agora, filha minha, é preciso que Eu te descortine o
meu Coração ferido, para que te compadeças de mim nes­
tes tres dias de perdição ! Digo-te, em verdade, que a lan­
ça de novo traspassa meu Coração de lado a lado ! Quantos
peccados de impureza ! E' o demonio da luxuria que nestes
dias impéra, e quantas victimas elle não faz ! Quantos per­
dem a sua innocencia para mais tarde virem a cahir no
inferno ! Que farás, então para que estes infelizes assim
não succumbam?
Dae-me a tua pureza, o candido lyrio de tua alma e
de teu coração, e por elles repara seus desvarios! Diz ao
Pae que por elles Me dás tua pureza, que tu indemnisas
seus crimes ; porém, como a offerta dada pelas creaturas,
por pura que seja, é sempre imperfeita, Eu te convido nes­
tes dias a retirar-te commigo á solidão da prisão, onde nós
dous sosinhos, vamos fazer uma grandiosa obra : Offertar
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Licçõe.s de Jesus Victirna 107

ao Pae, por esses infelizes filhos que muito amo, o quanto


Eu soffri na prisão, e na flagellação. Não vejas nestes dias
outra cousa a não ser teu Jesus e Jesus Flagellado, co­
rôado de espinhos, a derramar sangue e tua alma genu­
flexa a offertar-Me o quanto Eu soffri, para que Eu possa
entregar á minha Mãe, dizendo-lhe: O' Mãe do Bello Amor,
entrega a meu Pae o meu. sangue, os meus soffrimentos pelos
infelizes peccadores. Este vae ser o nosso trabalho: tu a Me
offertares meu sangue e Eu a entregal-0 á minha Mãe,
para que Ella o possa depositar ante o Pae, afim de rece­
ber o perdão para os culpados. Os verdugos a Me flagel­
larem e tu a Me consolar! ... Que officio Divino! E neste
Divino officio quantas almas havemos de tirar das garras
da 1uxur1a. ?!
.....
Si. Eu te peço reparação, não é porque Eu tenha ne­
cessidade de consolação, mas é porque os peccadores pre-­
cisam ser indemnisados ; tudo é em favor dos pobres pec­
cadores ! ... Eu sou a propria felicidade, Eu não preciso das
creaturas para ser feliz... se te digo que Me consoles é em
favor dos pobres peccadores, porque meu Coração deseja
dar em abundancia. Soffro nos meus membros, que são os
corações que Eu escolho para continuar a minha paixão,
emquanto houver um peccador a salvar. Eu não posso mais
soffrer, mas soffrem os meus escolhidos. Quanto mais pec­
cados os homens commetterem, mais as almas queridas na
minha Igreja militante tê1n de soffrer, para com seus sof­
frimentos indemnisarem, ante o Pae, seus crimes, porque o
peccador merece ser odiado por Deus, porém, quando a
Igreja se levanta e pede misericordia, o peccador não é
castigado, merece então o..)perdão, fica sua causa adiada e
neste intervalo o peccador1 terá a ventura de se conYerter.
Eis porque a reparação é tão salutar! O peccador, por si
só, jamais se converteria, porém, com a petição de tantas al­
mas que na minha querida Igreja tenho para impetrar mi­
sericordia, elle merece o perdão.
Vêde como minha misericordia é infinita em favor
dos que Me offendem. Eu podia salvar os homens sem a
vossa cooperação porém, a minha misericordia quiz vos es­
colher,_ para que vos possaes ter no céo um grão de gloria
maior, trabalhando para a salvação de vossos irmãos. Fiz
o homem cooperador nesta grande obra da salvação das
almas ; sim, foi infinita a minha caridade para que no céo
possaes mais brilhar. Desejae, almas queridas que Me es­
cutaes, desejae como Eu salvar as almas para brilhardes
no céo ! Se aqui estou neste ostensorio e nesta hostia bran-
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108 Licções de Je."5iu; Victi?na

ca é somente para salvar almas, não para que Me conso­


leis, porque a minha consolação está em salvar almas.
Rezae, pedi, intercedei por todos os pobres peccadores,
para assim diminuir'em as dôres, as agonias de meus mem­
bros que soffrem ! ...
Desejae ardentemente que o meu reinado se diffunda
nos corações dos homens. E' assim que Me consolareis, é
este o consolo que Me é agradavel. De nada valeria o vos­
so consolo se não desejasseis diftundir o meu reinado. E'
por este motivo que estou neste throno de humildade.
Quereis saber quem é que Me dá mais consolo? São
as almas missionarias, as almas apostolas que Me desejam
ver nos corações de todos os homens. Estas, sim, que são
almas nobres, de sentimentos delicados, estas Me compre­
henderam. Pouco valeria a uma alma que desejasse só pa­
ra si a perfeição, se não Me desejasse ver em todos
os corações. Esta, em verdade vos digo, poderá chegar a
cahir no orgulho e na ambição e quantas se perderão!
Quem pensa só em si, seu amor para commigo é mesqui-
nho, não possue a minha caridade, esta caridade que fez
que, por amor de vossa salvação aqui esteja neste osten­
sorio, fechado, até que o sacerdote venha Me encerrar no
sacrario.
Sim, almas queridas, sêde nobres porque sois por fi­
liação n.obilissimas, Sois filhas de Rei e esposas de Rei.
Tendes. portanto, que ser nobres, os vossos senti­
mentos devem ser nobilíssimos para não envergonhárdes o
vosso Pae, o vosso Esposo que é Rei. Ah ! quando encon­
tro um coração que possue estâenobreza, em verdade vos
digo, este coração é meu paraisa, neste coração assento
1neu throno e minha nobreza se irradia; e este será gran­
de no céo, e trabalhará no céo até o fim dos seculos, em­
quanto houver um peccador a salvar.
Estas são as resoluções que haveis de tomar, vós
todas as almas que tendes a "'Ç"entura de Me lêr: ser no­
bres, aspirar a esta nobreza de sentimentos, para conso-
lar meu Coração, para �ue Eu possa edificar minha mora­
da nos vossos corações. Sêde nobres e sereis santas; não
sejaes mesquinhas, fazei o que Eu estou fazendo, assentae
vosso throno na santa humildade e na pratica da fina flôr
das virtudes, na santa mansidão, se quereis na realidade
ser filhas do grande Rei e esposas de Jesus, Rei Im­
mortal da caridade e mansidão, pelas mãos de Maria.
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Licçues ele Jesus Victi11ia

GERAÇÃO DAS MISSIONARIAS


S�xta-feira Santa, ás tres horas da tarde, hora em
que vos gerei, almas Missionarias !
Approxima-te, alma victima, approxima-te de mim.
Daqui a poucas horas a minha Santa Igreja militante e mi­
nha Igreja triumphante vão commemorar o sublime e corn­
movedor drama sanguinolento da minha santissima morte!
O que se passa hoje no céo? Muitos não sabem o
que se passa nesta mansão de paz, neste dia de misericor­
dia! Os anjos, archanjos, cherubins e seraphins, thronos e
dominações cantam o hymno bellissimo da misericordia, e
ao Pae o offertam em favor da Igreja militante e padecente.
Minha Mãe Santissima canta tambem, unindo seu canto
á minha misericordia, derramando sobre o mundo e a Igre­
ja padecente torrentes de misericordia ! Ahl quantas almas
no dia de hoje sahem deste carcere, onde gemem suspi­
rando pela patria amada !
Sim, hoje é o grande dia do perdão! Hoje é o dia
maximo da misericordia! Vê, alma que Me ouves, corno o
o que te digo te posso provar no bom ladrão. Só porque
Me disse: «Quando estiveres no teu reino, lembra-Te de
mim,» qual não foi a minha resposta, - «Hoje, si1I1:, hoje,
dia da misericordia, estarás commigo no Paraiso !»
Oh! almas queridas, hoje é o dia de mergulhar-vos
no meu Sangue Divino e delle sahirdes brilhantes como o sol !
Almas que temeis o passado, por piedade, hoje é o
dia da purificação ! Approximae-vos da minha cruz e dir­
vos-ei como ao bom ladrão: Hoje mesmo estarás com­
migo no Paraíso, isto é, um dia gozarás da minha beatitude.
Sim, almas minhas, em verdade vos declaro que hoje
é o dia em que mais mirericordia derramo sobre o mun-
.. do ! Não foi hoje que morri na cruz.? E porque morri ?
Qual o motivo dessa morte ? Não foi por vossa salvação e
santificação? Sim, portanto tenho razão de vos dizer que
hoje é o dia em que mais misericordia. espalho sobre vos­
sas almas!
Oh ! por piedade, os que Me lêdes não Me deis o ca­
lice amargo de ainda temer, de desconfiar que não fostes
bem perdoados ! Approximae-vos da minha cruz, senti-Me a
dizer-vos : Vêde como estou com · os olhos inclinados para
a terra, para ver as vossas almas e chamai-as; vinde almas
que temeis, vinde, ajoelha.e-vos bem perto de minha cruz,
vêde minhas mãos perfuradas a vos dizerem : Porque te­
meis ? Estas chagas feitas pelos cravos são a vossa mora­
da, este sangue que corre é vosso, é licor que vos fortifi­
ca e vos lava. Porque então temeis?!
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110 Licções de .Jesu,s Victima

Oh ! almas minhas, vêde-Me corôado de espinhos !


Quanto sangue escorre pela minha fronte! Este sangue é
vosso ; porque temeis? Este sangue derramado com tanta
dôr pagará vossas imperfeições. Vinde, recolhei-o no vosso
coração ; só uma cousa vos peço - boa vontade ; dizei co­
mo o bom ladrão: Senhor, quando estiverdes no vosso rei­
no, lembrae-vos de nós ! Sim, filhas do meu Coração, Eu
estou no meu reino, Eu estou nos vossos corações a vos
dizer: Hoje é o dia da misericordia.
Quereis commemorar este grande acontecimento tão
precioso para vós? Recolhei nas vossas almas, no dia de ho­
je, todos os merecimentos de meu Sangl)e Divino, que é
todo vosso !
A Mãe Dolorosa, com o calice de oure nas mãos, es­
tá a dizer-vos : Vinde, porção querida, vinde beber o san­
gue do Amado. Vinde, amados de meu Coração, neste dia
de salvação, dou-vos os merecimentos da paixão do Re­
demptor e os meus para pagarem vossas dividas e ficareis
brilhantes como o sol ! Sahireis triumphantes como Jesus,
no dia da resurreição, isto é, li.mpas de toda mancha !
Oh ! amadas minhas, vede-Me a dizer-vos: Tenho sê­
de, tenho sêde de vossa confiança illimitada! Tenho sêde de
serdes verdadeiramente humildes! Ah ! filhas queridas, quem
me déra, desta Cathedra Divina -a cruz -ouvir hoje de vos­
sas almas este grito: O' meu Deus, ó esposo amado que
me escolhestes para vossa esposa, de hoje em deante hei
de desejar a humilhação como desejo o vosso reino !
Meu Deus, hei de confiar em vós como vossa
Mãe confiou !
Oh ! se isto fosse uma realidade ! Podeis, amadas de
meu Coração, podeis sim; isso somente depende de vossa
generosidade! Para vós já adquiri a força de que necessi­
taes nas tres horas de tremendaea.gonia, soffrendo tormen-
tos indiziveis! ...
Amadas de meu Coração, a minha Santa Igreja ves­
te-se de luto, neste dia memoravel, porem, vossas almas
não devem vestir-se de luto. Ah! não, de um profundo re­
colhimento sim, para Me poder ouvir e falar-Me; mas um
santo gozo ha de invadir vossas almas, lembrando-vos que
não. soffri em vão. Ah ! não, vejo-vos tão solicitas a apro­
veitar de minha morte! Vejo vossas almas tão puras, lava­
das com o meu sangue !
Oh ! não soffri em vão. Si Eu não tivesse morrido
por vós, não vos via hoje, porção querida, a dizer: Nós
somos Missionarias de Jesus Crucificado, o que quer dizer:
somos mensageiras de sua misericordia ! Sim, se Eu por
vós não derramasse todo o meu sangue, não teria a con­
solação de vos ver hoje tão solicitas aos pés da minha
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Liccões
,. de Jesns Victima 111

cruz a Me dizerem: Por nós morrestes, oh Esposo de nos­


sas almas, por vós tambem morremos, morrendo· para o
mundo e todas as nossas vontades, porisso a vós nos en­
tregamos alegremente, dando-nos sem reserva para tudo
que vos aprouver!
Oh! sim, minha ignominiosa morte gerou-vos, vós
sois o fructo de minha sagrada Paixão!
Sim, porção querida, minhas Missionarias, ás tres
horas d� tarde, antes de dar o ultimo suspiro, disse: No
seculo vinte hão de nascer como fructo de todos os tor­
mentos de minha sagrada Paixão «As Missionarias» que
hão de ter como nome «Jesus Crucificado» ! Desde aquel­
la hora bemdicta estaveis guardadas no meu Coração até
o dia em que disse ao meu filho : E' hora!
O' amadas de meu Coração, como sois ricas! Quem
mais do que vós póde dizer : Somos ricas ! Creatura algu­
ma póde dizer, porque vós possuís todos os merecimentos
desta Paixão e Morte ; pois vós sois seu fructo!
O fructo de uma arvore tem direito de dizer: A ar­
vore que me gerou é minha mãe, e vós que fostes gera­
das eni hora tão bemdicta, podeis dizer: Somos herdeiras
de nossa mãe - A Sagrada Paixão do Salvador!
Oh! como sois ricas! Como sois afortunadas! Apro­
veitae, correspondei a tantas finezas de vosso Esposo.
Dizei hoje muitas vezes: Sorrios o fructo da Paixão
do nosso Redemptor que é nosso Esposo!
Dia da misericordia, dia de perdão, cantam os anjos !
Louvemos este grande dia em que o Divino Redem­
ptor gerou a porção querida das Missionarias, as quaes
tem o nome de nosso Deus humanado, Jesus Crucificado!

A VOCAÇÃO MISSIONARIA

Lançando um olhar sobre a humanidade, e vendo em
que lastimoso estado ella se acha, ouvimos no intimo de
nossa alma uma voz, que nos diz que a vocação Missiona­
ria é uma necessidade urgente !
Porque uma necessidade urgente ? Porque os interes­
ses sagrados de nosso Deus acham-se em perigo de serem
lançados ao fogo ! O joio foi semeado pelo inimigo de Deus
e elle tomou conta dos campos do Senhor; e o Senhor,
vendo seus campos cheios de joio, pede por amor traba­
lhadores para semear estes campos, que lhe custaram a
propria vida!
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112 Licçóes ele Jesus Victi·ma

O nosso Divino Rei, sentindo que, com as suas san­


tas inspirações, ·não lhe dão acolhimento, chama a si almas
abnegadas e diz-lhes: vae a meu campo trabalhar, não
te importes com o raio do sól, nem tão pouco com a chu­
va. E' necessario que vás; e em troca dar-te-ei em abun­
dancia meu amor. Eis a paga, eis o salario da alma Mis­
sionaria, e haverá salario mais rico do que este ? A alma
Missionaria é a mensageira da paz, porque não se poupan­
do em sacrificios, vae atraz da ovelha tresmalhada dizer­
lhe que volte para o redíl, porque o Senhor do redíl a ama;
e a ovelhinha tresmalhada, vendo que, apesar de ter-se
afastado do rebanho, ainda é amada, pressurosa volta ao
redíl, onde é recebida no mais doce amplexo !
Eis a ovelha salva das garras infernaes, porém, para
que isto seja uma realidade, é necessario que a alma Mis­
sionaria \possúa, dentro de si em abundancia, o Deus da
caridade, que lhe dará uma sêde ardente, a qual só será
saciada· na eternidade ! Sim, o calor do amor divino é que
deve abrazar o coração e a alma de uma Missionaria e
não se póde comprehender de outra forma a vocação de
uma alma Missionaria.
Qual a alma que, amando a Deus, não goste de ficar
no silencio de seu convento, amparada pelos seus bemditos
muros, aos pés do Divino Mestre?!!
Sim, a alma que ama deseja sempre · estar ao lado
de seu amado, porém a Missionaria, depois de passar as
suas horas aos pés de seu Amado, não se podendo conter,
. vae atraz dos irmãos queridos, que se acham cheios de
lama e vae lhes mostrar, que, apesar de seus desvarios, o
seu Deus ainda os ama, por isso os exhorta. a que voltem
para a casa paterna.
Mostra-lhes a Missionaria os anjos do Senhor, que
são os ministros do altar, os qu!.es tem o poder de per­
doar peccados, dado pelo proprio Deus. E quando a Mis­
sionaria volta de seu trabalho, sente-se feliz porque fez
aos outros felizes!
Sim, só ha felicidade onde está Deus, e a Missio­
naria, mostrando o erro e mostrando o amor, leva as al­
mas a seu Deus.
Eis Deus tomando posse destes corações, que já se
achavam longe de seus afagos ; portanto a estes corações
de novo voltou a felicidade, porque voltaram para seu
Deus, o unico que póde dar ao homem a felicidade. Alma
Missionaria, grande é tua felicidade, porque tu fazes o que
o Divino Mestre fez. Elle não se contentou somente de re­
zar, quiz Elle mesmo ir atraz dos peccadores, não se pou­
pando aos raios de sól ardente. fazendo caminhadas peno­
sas e longas!
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Lieções de Jesus Victima 113
-
Missionaria que não te poupas, pareces-me o Divino
Missionario, percorrendo as ruas e cidades em busca de
seus filhos para lhes mostrar a felicidade eterna.
Sim, Missionaria a tua vocação é sublin1e; é uma ne­
cessidade para estes tempos, em que o mundo se acha
tão cheio de impurezas e vicios !
, Misssionaria, é nas grandes cülades o teu maior tra­
balho, porque nellas se acham os antros de perdição, onde as
donzellas perdem seu pudor, onde as creanças são leva­
das pelos seus proprios paes para perderem sua inno­
cencia.
Sim, Missionaria, grande é teu campo de acção no
meio destas cidades, para mostrar a estes paes o perigo a
que expõem seus filhos innocentes !
Grancle é teu campo de acção, mostrando ás donzelas
tão corrompidas já pelos cinemas, theatros e modas escan­
dalosas, o perigo em que se acham de perder suas almas
se assim continuarem!
Sim, Missionaria, grande é teu campo de p,cção no
meio de tanta miseria que se alastra pela humanidade! Tirar
essas almas de tantas immundicies e levai-as aos anjos de
minha Santa Igreja militante é trabalho arduo, porém, gran­
de é a tua recompensa.
Missionaria, lembra-te que o Divino Missionario não
fez sua obra sem lhe custar seu proprio Sangue!
Sim, tu, tambem has de ser immolada na cruz dos
que não te cornprehendem, como não comprehenderam ao
Divino Missionario, chamando-O de louco ! Sim. tu, tambem
has de Rer chamada de louca !
Sim, alma Missionaria, por muitos has de ser bemdita
e por muitos has de ser escarnecida! Muitas serão as bo­
fetadas que has de levar, 0sim, bofetadas de injurias, mas
tu com o doce sorriso de reu Mestre, chegarás a conquistas,
chegarás á victoria, onde, depois de um doce trabalhar
pelo teu Mestre querido, gozarás a recompensa das almas
apostolas, tendo no céo a consolação de ver muitas almas,
que, se não fosse a tua abnegação, estariam perdidas para
sempre!
Missionaria de Jesus Crucificado, a tua vocação é
subli!Jle, porque não ha mais sublime victoria do que a
conquista de uma alma ! _
Salvar uma alma é predestinar a sua propria para o céo!
O' belleza não apreciada, ó sublimidade não compre­
hendida - salvar uma alma ! Só, ó meu Deus, aquelles que
vos conhecem, podem eomprehender o quanto vale �alvar
uma alma! Missionaria, enche-te de santo enthusiasmo e
dá, se fôr preciso,, teu sangue para salvar uma unica alma,
porque só uma alma vale mais do que tudo o que existe
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114 Licções de Jesus Victima

neste mundo corrupto ! Sim� uma aima vale o sa:q.gue ao


Cordeiro Immaculado !
. O' todos os que fôrdes. chamados á vocação Missio­
naria, enchei-vos de santo enthusiasmo e dizei como o
apostolo São Paulo: eu me glorio em ser apostolo de Christo
Crucificado e não desejo pregar a não ser Christo Crucifi­
cado. Sim, deveis servir ao Senhor na alegria, porque,
olhando para vossa nullidade, fez Elle em vós grandes cousas,
como instrumentos de sua misericordia.
Sim, a Missionaria não é outra cousa do que instru­
mento nas mãos de Jesus Crucificado, para exercer a sua
misericordia. A's vezes estes instrumentos são tão nullos
e tão pouco apreciados pelos homens; é que o Rei da mi­
sericordia escolhe os pequenos, os humildes, para que mais
a sua gloria resplandeça, por isso Deus não precisa para
suas grandes obras de grandes homens, pois, o que Elle
deseja são homens de boa vontade e faceis de serem amol­
dados segundo o seu coração ; por isso, o maior predicado
de uma . ahna, que deseja ser Missionaria, é ter boa
vontade.
Paz na terra aos homens de boa vontade, paz Mis­
sionaria terás nesta vida e na outra, porque és alma de
bôa vontade, que não contenie em te salvares, desejas que
todos se salvem.

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O THESOORO DO INSTITOTO DHS MISSIONRRIHS
DE cl ESOS CROCifICflDO

A mais rica joia desse Thesouro é certamente a de­


_voção a N. Senhora das Lagrimas, de modo particular tra­
duzida na sua corôa.
Innumer..as··graças espirituaes e temporaes tem sido
alcançadas pelos devotos com a Corôa de N. Sra. das La-
grimas.
Podemos garantir que centenas de milhares de exem­
plares explicando a corôa já foram imprimidos e reimpri­
midos em seis linguas, distribuidos pelo mundo.
E' muito salutar a f�mação da Arca da. Salvação,
que consiste em combinarem trinta familias, rezando, por
amor, cada uma a Corôa no seu dia escolhido no mez, sen­
do passivei ás 7 horas da noite, a Hora de Maria, hora de
sua soledade.
Muitas graças alcançarão os devotos de N. Senhora,
que assim honrarem suas bemditas lagrimas.
Attestamos · que milhares de familias já estão nessa
Arca bemdita, rezando pela sua santific'ição e salvação do
mundo.
Outra joia não menos preciosa possue o Instituto
em sua m ilagrosa medalha de N. S. das Lagrimas.
Em dous annos, cerca de cem mil medalhas foram
procuradas pelos fieis. Attestados, com toda autoridade, es­
tão guardados no Instituto, narrando innumeras graças al­
canc;adas tambem pelos que devotamente trazem essa
medalha.
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Jesus, o nosso tudo, no Gethsemani, nos ensina a
obedecer cega e generosamente . 45
Deixando-me prender e encerrar na prisão, dei-vos
heroico exemplo de Humildade 47
Deixando-me flagellar, dei-vos heroico exemplo de
Mansidão 50
Deixando-me condemnar á morte por iniquos juizes,
dei-vos heroico exemplo de Renuncia 53
Recebendo a cruz, dei-vos heroico exemplo de Fortaleza 55
Cónclusão das duas series do amor generoso 58
O Livro da Esposa de Jesus 60
AS SETE PALAVRAS
Primeira. Meu Pae perdoae-lhes, porque não sabem
o qu,e fazem 63
Segunda. Hoje mesmo estarás commigo no Paraiso 65
Terceira. Mulher eis ahi teu Filho. Filho, eis ahi tua mãe 67
Quarta. Deus meu, Deus meu, porque Me abandonastes 69
Quinta. Tenho sêde . 71
Sexta. Tudo está consumado 74
Setima. Meu Pae, em vossas mãos, encommendo o
meu espirito 76
Colhendo fructos no Gethsemani . 77
As cinco Font�s da vida 81
Aos que me cuspiram na bocca, dei-lhes em troca
um sorriso sereno 82
O meu Sangue é a chave do Paraiso 85
As Petalas do Calvario, continuaw.ente estão cahindo
sobre a humanidade . 88
As Perolas do Calvario 91
Os dous Lyrios do Calvario 94
As violetas do Calvario 97
João, o discípulo amado, foi o meu anjo consolador
na minha immensa dor 99
Se por mim morrerdes, commigo vi vereis 102
A lembrança da Paixão 104
Como consolar Jesus nos dias de Carnaval 105
Geração das Missionarias 109
A vocação missionaria 111
O Thesouro do Instituto das Missionarias 115
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