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Título original em inglês:

Parenting by the Spirit

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1ª edição neste formato


Versão 1.0
2020

Editoração: Neila D. Oliveira e Marcos De Benedicto


Programação Visual: André Rodrigues
Capa: André Rodrigues
Imagem Capa: A. M. Barradas
Adaptação Digital: Ana Bergamo
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios, sejam
impressos, eletrônicos, fotográficos ou sonoros, entre outros, sem prévia autorização por escrito da
editora.

19194 / 42041
Dedicatória
Este livro é dedicado a todos que, como eu, já desejaram
desesperadamente ser o pai ou a mãe que Deus planejou; a todos que, em
frustração, já ergueram as mãos para o céu.
É dedicado àqueles que, ao olhar para os filhos de outras pessoas,
prometeram não cometer os mesmos erros.
É dedicado a cada pai e mãe – no passado, presente e futuro – com uma
oração para que você considere os princípios aqui apresentados e, pelo
poder de Deus, veja o milagre da transformação ser operado em seu
próprio coração e no coração dos seus filhos.
Prefácio
Inicialmente, gostaria de dizer que a idéia de escrever este livro começou
com um número de pessoas expressando a necessidade de um livro sobre
educação de filhos que pudesse conduzi-las passo a passo no processo do
aprendizado. Essas pessoas sugeriram que eu escrevesse tal livro, mal
sabendo o quão difícil para mim é escrever até mesmo um artigo de quatro
páginas! É incrível o tempo que levo para escrever algo. Tenho a tendência
de ser muito prolixa, e custa-me muito tempo, esforço e energia voltar
atrás no que escrevo para fazer alguns cortes, na tentativa de ser concisa. A
tarefa de escrever um livro me parecia não apenas monumental, mas
realmente impossível! Assim, por algum tempo, não levei a sério aquelas
solicitações. Eu as atribuí à natureza humana das pessoas, as quais
esperavam que eu escrevesse um livro por ser casada com o Jim. Mas eu
sabia que devia consultar a Deus sobre esse assunto. Ao mesmo tempo,
ficava torcendo para que Ele não estivesse me chamando para escrever um
livro!
Fui ao Senhor e disse: “Qual é a Tua vontade quanto a isso? Tu queres
que eu escreva um livro? Tentarei, mas somente quando estiver
convencida de que este chamado vem de Ti! Sei que podes me capacitar
para esta tarefa, embora ela vá contra todas as minhas inclinações. Podes
dar-me algum sinal para confirmar o Teu desejo para mim?”
E Deus impressionou meu coração: “Sally, quero que você comece a
escrever este livro.”
“Mas, Senhor, quem sou eu? É verdade que gosto muito de ajudar as
pessoas, mas sempre de uma maneira mais individual e pessoal. Tu
desenvolveste em mim o dom de alcançar e tocar o coração de crianças e
jovens mostrando-lhes como Tu podes ser real para eles. Mas, Senhor,
como posso fazer isso de maneira eficaz por escrito?”
“Sally, você criou com muito sucesso dois excelentes rapazes, que têm a
Jesus como seu Senhor, e ainda pergunta se está qualificada para a
tarefa? Ao criar esses rapazes, você colocou de maneira coerente a
educação e o desenvolvimento do caráter deles como total prioridade.
Segure em Minha mão, e Eu guiarei os seus passos. Este é o segredo para
todos, indistintamente! Sim, você cometeu alguns erros, mas também
cooperou comigo para corrigi-los. Você ajudou muita gente a obter uma
visão sobre o que é ser pai e mãe – e também o que não é. Você pode
compartilhar suas experiências com essas pessoas. Diga-lhes como Eu a
ajudei a superar cada obstáculo da vida. Diga-lhes que eu gostaria muito
de ajudá-las na condução de seus filhos e da vida delas em família
também. Faça da religião e da caminhada comigo algo prático, a partir
da história de sua vida. Eu estarei com você!”
E foi assim que tentei fazer exatamente isso. Não sou um padrão a ser
seguido. Jesus Cristo é o padrão – o único que existe. Nas páginas a seguir,
tentei, com minha mão na mão de Cristo, fazer com que a vida cristã seja
algo prático por meio da Sua presença a guiar-nos e a dirigir-nos. Criar
filhos é uma enorme responsabilidade. Sem Ele, não conseguiremos
cumpri-la. Ser pai e mãe é entrar em contato com o coração de nossos
filhos para conectar a mente deles com a de Cristo, de modo que eles
possam ter o poder para desempenhar a tarefa de viver a vida cristã, contra
as inclinações da carne.
A intenção deste livro é promover uma conexão entre você e Deus, de
maneira que você seja revestido de poder para ser o pai ou a mãe que você
deseja ser.
Minha oração é que nos comprometamos a tornar-nos instrumentos em
Suas mãos para criar nossos filhos para servirem um Deus poderoso, e de
uma maneira poderosa!
Abraçando a Tarefa
“Seremos semelhantes a Ele” (1 João 3:2).

lar em que cresci foi indelevelmente marcado pela doença mental e


O acessos de violência do meu padrasto. Minha mãe não o deixava por
causa do medo, e não era incomum que a polícia se envolvesse em
nossas questões domésticas. Apesar dessas difíceis circunstâncias, eu não
sabia o que era depressão até que me tornei uma cristã professa, mãe de
duas crianças pequenas. Como uma jovem mãe cristã, eu tinha elevados
ideais e metas ambiciosas, mas a realidade que eu vivia estava muito
aquém de todos os meus desejos e planos.
Eu acabara de pôr o pequeno Andrew para dormir e estava ao telefone
com uma amiga, quando percebi que Matthew, de apenas dois anos de
idade, estava espalhando ração de cachorro por toda a sala de jantar! Pedi
licença para minha amiga e, de mãos na cintura, imediatamente confrontei
o meu pequeno criador de problemas. Meu olhar falava claramente que eu
estava aborrecida. Como se não fosse o bastante, minha linguagem não-
verbal, o suspiro profundo e o tom da minha voz enfatizavam minha
frustração.
– Matthew, pegue a ração do cachorro imediatamente! – ordenei.
Matthew desviou o olhar e começou a brincar com o que sobrara da ração
no prato.
– Matthew, pegue a ração do cachorro, agora!
Não houve resposta. Minha mente se agitava ao pensar no que devia ser
feito. Efésios 6:1 veio à minha mente: “Filhos, obedecei a vossos pais.”
Matthew simplesmente tinha que me obedecer; era o que Jesus queria que
ele fizesse. Lembrei-me de Abraão, de como ele conseguia liderar sua
casa. “É isso!”, disse para mim mesma. “Estou sendo muito branda! Se eu
fosse mais firme, como Abraão, meu filhinho de dois anos iria me
obedecer.” Eu ainda não entendera que Satanás pode usar as Escrituras
para nos seduzir a trilhar caminhos errados – exatamente como ele fizera
com o próprio Jesus. Enquanto isso, Matthew se distraía com o pratinho do
cachorro, totalmente alheio ao meu comando.
Sua teimosia prevaleceu, mesmo após a terceira, quarta e quinta ordens
que eu dera, todas elas seguidas de uma palmada. Ah, ele ficou muito
zangado, mas assim mesmo apanhou apenas um punhado de ração, e
contra sua vontade. Eu mesma me tornei mais zangada e rude enquanto
tentava tudo o que podia pensar para fazê-lo obedecer, mas isso também
não deu certo. O desespero se abateu sobre mim, e deixei Matthew
chorando em sua cama. Fiquei envergonhada do meu fracasso em
conseguir que ele obedecesse – e ainda mais envergonhada da minha falta
de autocontrole.
Eu não entendia por que o meu método de disciplina não estava
funcionando. Não havia eu reprovado e corrigido, aplicando a vara de
acordo com o que a Bíblia dizia? Mas onde estava a obediência?
Eu não sabia na época, mas estava seguindo o meu próprio raciocínio –
fazendo o que era reto “aos meus próprios olhos”, como dizem as
Escrituras. Eu não sabia de mais nada. Eu queria que Cristo me guiasse,
mas estava seguindo minhas próprias inclinações. Como resultado, Satanás
estava no comando da minha vida! Se não é um mestre, é o outro que está
no comando, e minha atitude revelou claramente o reflexo do maligno.
Pensei que o problema era o Matthew, e não eu. Desde o Éden, o homem
vem lançando a culpa de suas próprias falhas nos outros. Às vezes,
chegamos a culpar até o próprio Deus! Você já fiz isso? Eu já fiz. Eu havia
tentado fazer o que a Palavra de Deus diz, mas estava destinada ao
fracasso porque estava tentando isso pelas minhas próprias forças.
“Senhor, o que é isso que eu fiz? O que posso fazer para consertar?” As
lágrimas corriam pela minha face, e o remorso ardia dentro de mim. Olhei
para minhas mãos lembrando como elas haviam batido em Matthew de
forma tão insensata. Senti-me tão envergonhada que me sentei sobre elas,
como se, escondendo-as, pudesse fazer aquelas lembranças irem embora.
Comecei a entender como é fácil ir da disciplina ao abuso. Dessa vez, eu
havia chegado muito próximo, o que me assustou! “Tem misericórdia,
Senhor!”, orei. Meus ouvidos sintonizaram-se com o Céu, desesperados
por uma resposta, mas sem realmente esperar por ela. Eu não ousaria
deixar-me dominar por esse espírito outra vez.
Então, o seguinte pensamento penetrou de forma clara em minha mente:
“Em sua disciplina, você deixou o principal ingrediente de fora.”
Tinha que ser Deus falando através da minha consciência, mas eu me
sentia indigna demais para ter comunicação com Deus. “Eu fiz o quê?”
Ouvi outra vez, incerta do que esperar. Essa experiência era nova demais
para ser minha imaginação e prática demais para ser um sonho.
“Sally, em sua disciplina você deixou o amor de fora. Você precisa
equilibrar firmeza com amor – não apenas o seu amor, mas o Meu amor.
Deixe que Eu dirija os seus passos para que possamos trabalhar em
cooperação para conquistar o coração do seu filhinho. Você não pode
obter a verdadeira obediência do seu filho usando palavras duras e
ficando zangada, não importa o quanto você tente, ou quanta razão você
tenha. Com esse método, você pode atrair os demônios, mas não poderá
afastá-los. Nenhum castigo corporal vai mudar o coração dele, a menos
que você o ame com o Meu divino amor, e que ele saiba que é assim que
você o ama.”
“Senhor, estou fazendo uma tremenda confusão ao criar os meus filhos!
Quero acertar, mas estou tão deprimida que acho que vou desistir. Talvez
outra pessoa pudesse fazer melhor do que eu.”
“Sally, não preciso de outra pessoa para criar os seus filhos. Preciso de
você! Quero que você aprenda a andar e a conversar comigo nessa
questão de criar os seus filhos. Eu serei o seu instrutor. Tudo o que
preciso é de sua mão continuamente na Minha e os seus ouvidos ouvindo
Minhas instruções. Se seguir minhas orientações, você poderá andar
comigo, assim como Enoque andou. Você quer fazer isso?”
“Quero, sim. Mas como posso reparar o que fiz com o Matthew, quando
o tratei com tanta rudeza? Será que ele ainda vai me amar? Fiquei tão
zangada com ele, e agora vejo que nem foi culpa dele. O problema era eu,
não ele.”
“Na dificuldade, sou o seu ajudador. Nunca a deixarei nem a
abandonarei. Se você procurar o Matthew agora mesmo e pedir-lhe
perdão, estarei com você e vou orientá-la para que consiga o que deseja.”
Minhas emoções levaram-me a duvidar. “Será que é mesmo o Senhor
falando em meus pensamentos?”, me perguntei. Eu queria agir de acordo
com as orientações dadas por Deus, mas isso significava ir contra os meus
sentimentos e emoções. Era algo muito difícil de fazer. Mas eu cria que
Deus estava falando comigo e escolhi agir. Decidida, dirigi-me ao quarto
de Matthew.
Minha coragem quase falhou quando entrei em seu quarto e o vi correr
para esconder-se no canto mais distante do quarto. Segurei-o nos braços,
mas ele se debatia, querendo descer. Senti que o meu próprio filho estava
com medo de mim! Sentei-me em uma cadeira e lhe disse que sentia muito
pelo que acontecera. “Nunca mais vou bater em você daquele jeito.
Prometo!”, eu disse, esperando algum tipo de transformação mágica. Veja
bem, eu esperava uma solução rápida e fácil com a direção de Deus. Por
isso, foi um choque para mim quando o seu medo se transformou em raiva
e ele começou a me bater no peito com seus pequeninos punhos cerrados.
Os sentimentos de culpa e desespero brotaram ainda mais fortes, pois eu
sentia que merecia sua retaliação.
“Senhor, não há esperança para mim! Ele nunca vai me perdoar!”, clamei
em desespero. Tentei ouvir, mas não houve nenhuma resposta vinda do
alto ordenando que eu agisse de alguma maneira. Nenhum pensamento
novo me veio à mente – apenas a convicção de que devia seguir o meu
coração agora guiado por Deus. Outra vez, me desculpei com Matthew e
pedi que ele me perdoasse. Disse-lhe que o amava e, dessa vez, os seus
olhos encontraram os meus. Seus punhos relaxaram. Sua pequenina mente
estava sendo guiada por Deus para amar e confiar outra vez. Eu podia
sentir isso intuitivamente. Sua gélida disposição, até ali cheia de rancor e
ódio, derreteu-se diante dos meus olhos. Foi um momento milagroso.
Antes que eu me desse conta, seus braços estavam em volta do meu
pescoço. Seus olhos – e o mais importante, seu coração – estavam cheios
do amor que vem do alto. Meu filho me perdoara! Agora, eu estava
chorando outra vez, mas dessa vez eram lágrimas de alegria. Deus falou
comigo quando eu menos merecia e simplesmente me disse o que fazer.
Eu fiz o que Ele disse, e funcionou! Esse conceito era tão novo para mim
que tive dificuldades para compreendê-lo. “Por que não pedi Sua sabedoria
desde o começo?”, perguntei a mim mesma.
Em poucos minutos, nossas emoções se acomodaram e Deus me
impressionou a dar seqüência ao que eu começara, levando aquilo a uma
conclusão. Levei Matthew até a sala de jantar e apontei para o prato do
cachorro. Desta vez, não houve mão na cintura, ordens ou rancor. Eu nem
mesmo falei. Apenas apontei. Matthew sorriu e diligentemente apanhou
toda a ração espalhada e colocou-a de volta no prato. Shilo, nosso cocker
britânico, tentava ajudar, embora o que ele apanhava não fosse de volta
para o pratinho!
Essa foi minha primeira exposição à verdadeira rendição do coração, um
memorável vislumbre da obediência voluntária e verdadeira, e uma visão
valiosa daquilo que meu filho poderia ser se ele e eu estivéssemos
dispostos a ser guiados por Deus. Tudo o que fiz foi perguntar para Deus o
que fazer, ouvi-Lo e então fazer o que Ele disse, embora isso fosse contra
minhas emoções. A solução para os meus dilemas sobre como criar filhos
não poderia ser assim tão fácil, não é?
E não era mesmo. Muitas perguntas não respondidas revolviam-se em
minha mente durante vários dias. Será que Deus poderia dar-me a
sabedoria que dera a Salomão para que eu julgasse a má conduta dos meus
filhos? Eu tinha dificuldade para equilibrar justiça e misericórdia.
Aparentemente, eu esquecera rápido da nova experiência e, outra vez,
tentei fazer tudo sozinha – isto é, eu tentava fazer o que Deus me dizia,
mas fracassava de novo ao tentar fazer com que meus filhos fossem
genuinamente obedientes. “Por que isso não funciona?”, eu me queixava
amargurada quando me confrontava mais uma vez com o fracasso. “Não
devo estar sendo muito coerente, ou talvez eu não esteja orando o
suficiente. Deve ser a firmeza... Talvez eu não esteja sendo muito firme.”
Então, outra vez eu dava lugar à aspereza e ao rancor ao corrigir os
meninos, embora tomasse o cuidado de nunca, nunca mais perder o
controle como antes.
Eu fazia aquelas coisas simplesmente porque não sabia mais o que fazer.
E não funcionava. Meus métodos não produziam os resultados desejados,
mas simplesmente não fazer nada e permitir que meus filhos crescessem
como capim parecia ser um crime! Eu não sabia o que fazer. Eu detestava
ser uma mãe assim!
Telefonei para minha melhor amiga e mentora espiritual, Edith. Eu estava
sem graça, mas confessei:
– Estou muito preocupada comigo. Deus deve me odiar. Sou indigna de
ser chamada de cristã. Edith, eu detesto meus filhos! Como posso ensinar
alguém a ser como Jesus se eu mesma não consigo ser uma cristã?
– Ah, você não detesta seus filhos, Sally! Você está apenas frustrada! As
crianças nem sempre obedecem; faz parte da vida. Você é muito exigente
consigo mesma.
– Não, Edith – tentei explicar –, alguma coisa está errada. No meu
coração, sinto raiva dos meus filhos, e não é apenas frustração. O que
posso fazer a esse respeito?
– Escute, Sally, dá muito trabalho ser mãe, e você está indo muito bem.
Seus meninos são os que têm melhor comportamento na igreja.
Ela era uma boa pessoa e estava tentando me animar e me incentivar, mas
desconsiderou o fato de que eu realmente estava em dificuldades, nem
tanto por eu estar enfrentando problemas com os meus filhos, mas porque
eu não estava conectada com Deus.
Sentia-me desesperada. “Ela não entende que isso é muito sério”, falei
para mim mesma. “Não estou explicando adequadamente. Deus diz que o
ódio é o mesmo que assassinato. Eu esperava que, entre todas as pessoas,
ela fosse ajudar-me. Vou tentar ligar para a Anne. Talvez ela possa me
entender.”
– Sally – respondeu Anne quando liguei –, tudo bom? Algum problema?
Você não parece muito bem.
– Anne, eu não estou bem. Escute, sei que isso vai soar muito mal, mas
eu odeio meus filhos! Não! Estou brincando! Mas é sério. O que devo
fazer?
– Ah, Sally, você não odeia seus filhos – ela replicou. – Você ama seus
filhos! Você cuida dos seus filhos e dos filhos de todos, e você ama todos
eles. Ora, você fala de Jesus para eles, o que é muito bom; você os ensina a
orar. Você não odeia seus filhos!
– Eu os odeio, sim, Anne. Estou muito perturbada quanto a isso e preciso
encontrar respostas. Não posso continuar dessa maneira. Tenho tentado
criar os meus filhos para fazerem o que é correto e para seguirem a Deus.
Estou deprimida por não conseguir fazer isso direito. Simplesmente não
consigo!
Anne bem que tentou, mas tampouco conseguiu entender-me, o que me
deixou convencida de que, como mãe, eu era inferior. Afinal, ninguém
mais tinha esse tipo de sentimento em relação aos seus filhos.
Naquela noite, quando Jim chegou em casa, eu estava preparada para
conversar com ele sobre o meu problema durante o jantar. Ele sempre me
ajudara. “Ele é muito bom para encontrar soluções; eu sei que ele vai me
dizer o que devo fazer”, pensei, tentando encontrar algum consolo.
– Jim, estou muito frustrada – comecei a falar, já em lágrimas. – Estou
tentando ser uma boa mãe ensinando os meninos a obedecer, mas não
estou fazendo um bom trabalho.
– Qual é o problema? – ele murmurou com uma voz irritada.
– Bom, não consigo fazer com que o Matthew me obedeça – lamentei,
contando uma breve versão do incidente com a ração do cachorro.
Eu anelava ter sua simpatia e compreensão, mas o rosto de Jim
expressava frustração.
– Sally, Matthew tem apenas dois anos de idade. Apenas faça com que
ele obedeça! Você é maior e mais forte do que ele. Então, faça o que deve
ser feito! Esta conversa é ridícula!
Fiquei frustrada e ofendida. Ninguém parecia entender a maneira séria
com que eu encarava esse problema. Nem mesmo Jim era capaz de ajudar-
me. Ele não percebia a crise que eu vinha enfrentando.
Desci a trilha até o lago. Enquanto contemplava aquele cenário de paz,
minha mente girava. Desesperada, comecei a conversar com Deus.
“Senhor, isto aqui é muito sério. Minhas amigas não me entendem! Elas
dizem que sou boa, mas sei que não sou. Meu marido me acha uma tola
porque não consigo fazer com que nosso filho obedeça numa situação tão
simples. Ele não sabe que aquilo foi uma batalha de vontades próprias que
durou duas horas. Não sei mais o que fazer. Estou desesperada, e nem
mereço ir a Ti. Mas ninguém mais me escuta. Outras mães não têm esse
problema. Sou a única.” Eu estava cheia de autopiedade.
Então, Deus falou claramente comigo, como já falara antes. Não foi uma
voz audível. Ele falou através de impressões em meus pensamentos,
trazendo-me idéias que, eu sabia, não tinham origem em mim mesma,
idéias que falavam às necessidades mais profundas do meu coração.
“Sally, Eu amo você. Venha a Mim com seus problemas e dificuldades.
Você não pode mudar a menos que venha a Mim. Você precisa do Meu
poder divino para ser criada de novo. Eu não quero apenas ajudá-la;
quero mudar o seu interior e dar-lhe Minha sabedoria para dirigir seus
passos. As mães têm um lugar especial no Meu coração, e estou sempre
disposto a ajudá-las na criação dos seus filhos. Você se lembra do verso
áureo desta semana?”
Rapidamente, o verso veio à minha mente: “Invoca-Me no dia da
angústia; Eu te livrarei, e tu Me glorificarás” (Salmo 50:15). Como eu
precisava ser libertada da maneira errada de criar meus filhos, de dar lugar
a palavras rudes e à raiva, de ser autoritária e ditatorial! “Estou em sérias
dificuldades, Senhor”, confessei. “Caí no lamaçal do desespero, e cada vez
que isso acontece, ele fica mais fundo e mais desesperador.”
Meu problema não era que eu não cresse no que Deus estava me dizendo.
Meu problema era que meus repetidos fracassos me haviam roubado a
confiança em minha capacidade de realmente fazer o que Deus dizia que
eu deveria fazer. “Fico feliz por Tua disposição em ajudar-me”, continuei.
“Desejo aprender como devo agir para motivar meus filhos a obedecer,
mas, por enquanto, estou muito mais preocupada com o fato de eu sentir
ódio pelos meus filhos. O que devo fazer?”
“Entregue-Me estes sentimentos de ódio. Você fracassa com freqüência
porque não pode controlar seus impulsos ou suas emoções quando você
quer. Mas aqui está a boa notícia, Sally – Eu posso! Quando você me
entregar os seus pensamentos ou sentimentos errados, Eu os purificarei e
os devolverei a você purificados.”
Meus pensamentos aceleraram. Seria isso verdade? “Senhor, como posso
entregar-lhe algo intangível como sentimentos?”
“Você pode escolher a quem servir. Lembra-se do texto que você leu em
1 Pedro 5:7: ‘Lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem
cuidado de vós’? Esse é o meu convite para você. É como se você atirasse
uma pedra no lago. Você fica sem a pedra, não é? Quando você Me
entrega seus sentimentos de ódio, Eu posso subjugá-los para você. Eu os
manterei comigo desde que você não tente tomá-los de volta. Por que não
experimenta?”
“Tudo bem, Senhor, aqui estão os meus sentimentos de ódio. Não posso
mudá-los, mas creio que Tu podes. Estou olhando para a Tua força e não
para a minha fraqueza. Ei-los aqui. Toma-os para Ti.” Eu esperei,
examinei meu coração, mas nada parecia diferente. “Por que ainda os
estou sentindo, Senhor? Eu não os entreguei a Ti?”
“Sim, você os entregou para Mim. Os sentimentos podem permanecer
por um tempo, mesmo depois de você os haver entregado. É por isso que a
salvação é uma obra de fé. Um passo de fé é aquele no qual acreditamos,
mesmo que não possamos vê-lo. A fé não é visão, sentimento ou emoção. É
escolher o que a Minha Palavra diz em vez de sentimentos que querem
dominar e controlar você. Sally, aja como se os sentimentos de ódio já não
existissem. Fé também é ação, não é? Lembra-se de quando você veio a
Mim pela primeira vez e confessou seus pecados, mas não se sentiu
perdoada? Eu lhe mostrei 1 João 1:9 e disse para você não julgar pelos
seus sentimentos, mas pelo que diz a Minha Palavra. E, ao fazer assim,
você deu um passo na experiência do perdão e pôde sentir a Minha paz,
não foi assim?”
“Sim, foi assim mesmo. Os sentimentos de tristeza e culpa permaneceram
por algum tempo. Talvez ocorra o mesmo desta vez”, avaliei. “Deixe-me
ver se me lembro o quanto levou para que desaparecessem.”
“Não. Não estabeleça esse tipo de padrão para julgar. Pode não ser
sempre dessa mesma maneira. Veja bem, Eu posso afastar
milagrosamente os sentimentos maus, e posso fazê-lo instantaneamente ou
lentamente. Você precisa confiar em Mim, e não em um método! Sei quais
são suas maiores necessidades, e é seu dever cultivar a confiança em Mim,
não importa se os sentimentos desaparecerão de imediato ou mais tarde.
Deixe que Meu Espírito Santo opere em você, em vez de ficar esperando
que o Espírito Santo opere do seu jeito. Entregue-Me seus maus
pensamentos e sentimentos. Se eles voltarem, submeta-os a Mim outra vez,
repetindo o processo até que eles desapareçam completamente. Em Mim,
você não precisará estar mais sob o controle desses sentimentos.
Descanse em Mim até que sua redenção seja completa.”
“Quando saberei que está completa?”
“Você saberá; Eu farei com que saiba.”
“Pois bem, eu Lhe entregarei meu ódio.” Eu me imaginei atirando uma
pedra no lago e pensei: eu não a tenho mais; Jesus a tem! “Agora, o que
queres que eu faça?”
“Sally, você já reparou que, quando alguém se muda de uma casa e a
deixa vazia, não demora muito para que os piores elementos da sociedade
ocupem a propriedade vazia e a deixem em péssimas condições? O mesmo
acontece com a mente humana. Você não deve deixar vazios os espaços
que aqueles sentimentos ocupavam. O princípio da substituição não
consiste em deixar a casa vazia para que os demônios venham a preenchê-
la. Coloque ali pensamentos e sentimentos contrários. E quais seriam
eles?”
Deus é um bom professor. Ele sempre me anima a raciocinar
considerando causa e efeito. Então, pensei sobre Sua pergunta por um
momento e respondi: “Bem, o contrário de ódio é amor.”
“Você raciocinou bem, Sally. Você precisa cultivar pensamentos de amor
em relação ao filho ofendido.”
“Bem... bem...”, eu gaguejei. “Não consigo pensar em nada. Posso pensar
em muitas coisas que eu não gosto, mas nada de bom! Estou tentando,
Senhor, mas é como se minha mente estivesse condicionada a só funcionar
assim.”
“Sally, é assim que o pecado a está dominando. Ao você repetir
mentalmente as faltas de seus filhos, essas mesmas faltas vão ficando cada
vez maiores, e você fica presa nisso. Mais importante, todavia, é que esse
hábito separa você de Mim porque logo apenas o que é negativo vai
parecer real. A sua saída é obedecer-Me, confiar em Meu poder e
procurar fazer a Minha vontade. Como uma águia, você deve romper as
nuvens escuras crendo que o sol está do outro lado. Agora, vou fazer você
começar a pensar boas coisas a respeito do seu filho. Ele é um menino
generoso, não é?”
“Sim, esse é um dos seus atributos mais fortes. Eu havia me esquecido
disso por conta de todas as coisas negativas em que estava pensando e
sentindo.” De repente, como se fosse uma represa que se rompesse, os
pensamentos positivos começaram a jorrar! Ele está sempre dando-nos
seus afetuosos abraços. É uma alegria tê-lo por perto. Seu sorriso é
encantador; sua risada, contagiosa.
E assim eu comecei. Senti-me como se aquele servo estivesse enchendo
os meus cálices com água, nas bodas de Caná, esperando que Jesus a
transformasse em vinho. Parecia impossível, mas, em um período de
tempo relativamente curto, meus pensamentos, com o auxílio da graça de
Deus, haviam fluído até os meus sentimentos, e um amor verdadeiro,
vindo do interior, passou a envolver os meus filhos, o que era notado por
todos. O ódio estava escravizado; agora era o amor que imperava! Glória a
Deus! Ele transformou a minha água no mais doce suco de uva, e
docemente vinha transformando meus pensamentos, sentimentos e
emoções. Minha família reconhecia e se alegrava com a alegria, o amor e o
entusiasmo que de mim brotavam, outra vez enchendo de graça o nosso
lar.
Em Jesus, aprendi que podia amar meu filho de novo. Em Jesus, meu
filho aprendeu que podia perdoar-me. Que alegria! Eu sabia que Deus
havia operado Sua redenção em mim! Em Cristo, fui capacitada a
prosseguir, apesar das tendências da minha carne que me empurravam na
direção contrária.
Ao olhar outra vez para essa experiência, comecei a entender por que eu
nunca tivera depressão, até que eu me tornei uma cristã professa tentando
viver de acordo com os princípios divinos. Quando eu era apenas uma
cristã nominal, vagueando ao sabor da vida, Satanás não me incomodava.
Eu não representava nenhuma ameaça para ele. Mas, quando decidi seguir
a Cristo e tentei viver o que lia na Palavra de Deus, deparei-me com
Satanás barrando o meu caminho – exatamente como dizem as Escrituras:
“Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os
principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso”
(Efésios 6:12).
Eu errava na criação dos meus filhos ao tentar obedecer a Deus por meio
da minha força de vontade e do meu raciocínio, sem nenhuma conexão
com Deus nem o Seu poder para guiar os meus caminhos. Eu não percebia
que a vontade do meu filho não era a única força contra a qual eu estava
combatendo. Satanás facilmente neutralizava meus esforços inspirando
meu filho a desobedecer e, assim fazendo, ele apertava aqueles botões que
desencadeavam minhas emoções, deixando-me zangada e pronta a acusar.
Muitos pais, que nunca tiveram uma relação genuína com Deus, estão
exigindo que seus filhos “sejam bons” e que lutem contra Satanás sem
terem uma conexão vital com Jesus. Como é que nossos filhos vão lutar
contras os principados e potestades sem Cristo? É impossível! Estamos
pedindo-lhes que façam o impossível e, depois, os rotulamos de rebeldes e
desobedientes quando eles fracassam. É uma insensatez enviar um filho
para batalhar sozinho contra Satanás, sem ajuda divina!
Abraçar a tarefa é, primeiro, abraçar Cristo. É deixar que Ele possua meu
ser inteiro – o que é bom, o que é mau, o que é feio. É deixar que Ele me
envolva com Seus redentores braços de amor. É aprender a confiar em
Deus e deixar de ter medo das mudanças que Ele pode pedir de mim.
Abraçar a tarefa é fazer a minha parte – aquela que Deus não pode fazer
por mim. Minha parte é buscar a Deus e a Ele render a minha vontade. Isso
significa dedicar toda a minha energia para caminhar de mãos dadas com
Ele. Quão tímido é o abraço quando vamos na direção oposta dos nossos
próprios pensamentos, sentimentos e emoções! Entretanto, quão vibrante
torna-se o abraço quando experimentamos a milagrosa transformação de
Cristo que ocorre nesse nível!
Abraçar a tarefa é admitir que o meu jeito de criar filhos não está
funcionando e que estou olhando para Cristo, nEle buscando a nova
abordagem, o novo coração, a nova atitude que preciso para conseguir que
o meu filho coopere e abrace a Cristo. Tanto pais como filhos precisam de
Cristo para mudar.
Abraçar a tarefa começa com o desejo sincero de fazer diferente. Você
deve ter esse desejo, que vem de Deus; se não o tivesse, não teria aberto
este livro. Meu desejo é prover informações que sejam práticas. Quero dar-
lhe uma visão panorâmica do que é criar filhos, como também conduzi-lo
ao nível mais simples, às batalhas do dia-a-dia, onde os problemas da vida
muitas vezes tornam fácil perder de vista o objetivo maior.
Neste livro, você vai ouvir bastante sobre como lidar com a vontade
própria, pois não podemos querer lidar com a vontade do nosso filho se
não aprendermos a lidar com a nossa.
Você vai encontrar neste livro informações organizadas, mas não vai
encontrar um “método” para criar filhos. Cada criança é única, e o
“método” que funciona para uma pode não ser a solução adequada para
outra. Mas, se aprendermos a depender da direção de Deus para disciplinar
e instruir, teremos sucesso.
Em Cristo, nossos esforços trarão bons resultados, não importa quão
difícil seja a situação. Deus quer que abracemos a Divindade para que
possamos obedecer-Lhe e servir-Lhe acima da nossa carne, nossos
sentidos, nossas emoções ou pensamentos egoístas, os quais nos empurram
na direção oposta.
Sua graça é suficiente. Ela espera por você. Venha comigo, e explore um
jeito novo e vital de criar filhos!
A pergunta sempre aparece: “Esses princípios também são válidos para
pais solteiros?”
A resposta é um taxativo “sim” – e “não”. Em muitos casos, pode ser que
a melhor resposta seja “depende”. Assim como no lar com pai e mãe, vai
depender também do indivíduo. O destino da criança, até que ela seja
suficientemente madura para formar um relacionamento independente com
Deus, está em grande medida nas mãos do pai ou da mãe, que está ou não
está disposto a morrer para o próprio eu para que a criança possa ser
ajudada a entender como ir a Deus. Se pais solteiros desejam tão
intensamente essa experiência a ponto de colocá-la bem alto em sua lista
de prioridades, podem fazer um trabalho pelo menos igual, se não superior,
a muitos lares com pai e mãe. Isso não significa que pais solteiros têm uma
tarefa fácil pela frente. Sem dúvida, é muito mais difícil para pais solteiros
fazer sua parte com Deus simplesmente porque não há ninguém para
ajudar.
Para compensar a desvantagem dos pais solteiros, Deus faz uma
promessa preciosa para você. Ele promete ser um pai para os órfãos (ver
Salmo 68:5). Jesus está disposto a desempenhar o papel do cônjuge
faltante sendo o esposo ou a esposa. Se você aceitar essa dádiva, não há
como errar. Você terá que trabalhar vigorosamente e permanecer sensível
à direção de Deus a cada momento, mas as evidências do Seu cuidado lhe
trarão alegria e paz. Para ser guiado por Deus, você terá que deixar de lado
sua independência, mas é isso que o capacitará para o sucesso nas coisas
eternas. A alegria vai superar a aspereza do caminho. Ele pode ser mais
real para você em sua situação do que quando andou com Seus discípulos
aqui na Terra. Deus oferece essa íntima companhia para você.
Pode ser que, em sua vida, outros tenham tentado se aproveitar de você,
magoá-lo ou sido infiéis. Deus sempre será leal e fiel a você. Ele sempre
cuidará de você. Dedique-Lhe o seu tempo e seja sensível a Ele, e você
aprenderá a confiar nEle como em ninguém mais, pois Ele é absolutamente
digno de confiança.
O desafio para você que é mãe ou pai solteiro é o tempo – tempo para
dedicar a Deus, tempo que parece ficar cada vez mais escasso com a
correria para ganhar a vida, para cuidar dos intermináveis serviços
domésticos e das necessidades e atividades de seus filhos. Mesmo assim,
nenhuma das coisas que você faz lhe trará tamanhos resultados para o seu
lar como administrar o seu tempo de maneira a atingir o objetivo da
submissão do seu próprio eu e, subseqüentemente, a submissão do seu
filho a Deus.
O fato de que você tem mais demandas no seu tempo significa que você
precisa organizar um horário, um assunto que discutiremos com mais
detalhes posteriormente. Significa que sua prioridade precisa ser essa
experiência com Deus e que outras coisas deverão ser sacrificadas.
Descobri que, não importa o quão ocupada eu esteja, se quero muito fazer
uma coisa, acabo encontrando tempo.
O Princípio de Maria
“Então, disse Maria: Aqui está a serva do Senhor;
que se cumpra em mim conforme a tua palavra”
(Lucas 1:38).

ui pedida em casamento! Estou noiva! Essas palavras eram o sonho


F romântico de todas as moças da vila. Sem dúvida, Maria sentia as
mesmas emoções de qualquer outra noiva cujo noivo respaldasse os
seus sentimentos com um firme compromisso com o futuro casamento.
José, meu querido José! Só de pensar nele, seu coração batia mais rápido.
Era tão grande o amor que brotava do profundo do seu ser que ela mal
podia contê-lo. Ela começou a sonhar com seu próprio lar e em ser
exatamente a esposa que José precisava. Suas amigas caçoavam dela com
um toque de inveja, e a família inteira esperava ansiosa pelas núpcias.
Ao ficar noiva, Maria deixou para trás sua adolescência, embora o
casamento ainda não estivesse consumado. Ela ganhou status na
comunidade, a qual apoiava e incentivava uniões como essa para garantir
um futuro seguro. Uma vez sancionado publicamente, o noivado passava a
ser oficial e só poderia ser rompido através de carta de divórcio. Era muito
raro isso acontecer, mas, quando acontecia, quase sempre era um
escândalo. Geralmente, uma apreciada moça era encontrada grávida.
Então, severas denúncias contra a pobre mulher eram feitas pelo noivo, sua
família e até pelos amigos dela – enquanto o homem que a seduzira
freqüentemente apenas desaparecia de sua vida. Normalmente, ela tinha
que deixar a vila. Algum tempo depois, os mexericos trariam notícias de
que ela fora morar com parentes distantes que habitavam outras terras,
onde finalmente teria se casado com um homem de baixo nível social que
não se importara em receber algo já usado. Maria teria tremido de horror
só de pensar nisso; tal desgraça era o pesadelo de todas as moças de então.
Naturalmente, Maria não tinha essas preocupações, pois nunca estivera
com um homem. Sua pureza era inquestionável.
Maria não fazia idéia de que sua vida estava para mudar radicalmente, e
que um anjo de Deus iria aparecer a ela com as inquietantes notícias de
que Deus a havia escolhido para ser a mãe do Messias, o Salvador e Rei de
Israel. Cada uma das mulheres da linhagem de Abraão desejava esse
destino, mas bem poucas haviam pensado nos problemas, em vez da glória
pessoal, que isso poderia trazer. Agora, ao ver o mensageiro de Deus
diante dela, essas dificuldades podem ter passado pela mente de Maria.
Tais pensamentos, se ocorreram, logo se dissiparam ante a visão da
vontade de Deus. Parece claro que Maria havia cultivado o hábito de
submeter seus desejos à vontade revelada de Deus. Não admira que José
estivesse apaixonado por ela!
Compreensivelmente confusa, Maria questionou o anjo a respeito da
aparente impossibilidade de ela conceber um filho. Essa criança será o
resultado de sua futura união com José? O anjo pacientemente explica que
a criança será o resultado da intervenção divina e, por isso, ela seria
chamada de o Filho de Deus.
Maria ficou chocada. Como reagiríamos? Provavelmente com
incredulidade, risos ou mesmo dúvida. Mas, para Maria, a resposta foi de
aceitação. “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme
a tua palavra” (Lucas 1:38). Ela não hesitou, nem pensou sobre o que os
outros iam dizer – grávida sem ainda estar casada.
Maria estava disposta a ser totalmente guiada por Deus, mesmo sendo
humana. Ela saiu imediatamente para a casa de Isabel para conferir de
perto, à medida do possível, a história contada pelo anjo de que Isabel, sua
parente, havia concebido milagrosamente e assim fortalecer sua própria fé.
Ela ficou com Isabel até o nascimento de João, voltando então para sua
casa e para seu amado José, após uma ausência de três ou quatro meses.
Ela havia tentado explicar ao seu noivo que estava grávida, que não tinha
sido infiel, que ainda era virgem, que o anjo havia aparecido para ela e que
ela seria a mãe do Prometido, o Messias. Eu preferiria vender gelo para
esquimós!
Estou certa de que José a escutou, mas tudo era por demais improvável.
Maria, a sua Maria, tinha viajado e ficara grávida. Ele não entendia o
porquê, mas, de tão magoado, preparou seu espírito para, o mais
discretamente possível, dar fim ao noivado. José era um homem de caráter
e princípios. Deus respeitou esse homem guiado por princípios e mandou-
lhe uma mensagem dizendo-lhe que não temesse tomar Maria como sua
esposa, pois a história que ela lhe contara era verdadeira.
José tinha que fazer uma escolha. Se obedecesse a Deus, muitos
pensariam que o filho era dele e sua reputação ficaria comprometida.
Mesmo assim, deu seqüência aos seus planos de casar-se e, ao assim fazer,
provou ser digno de tornar-se o pai terrestre do nosso Senhor. Ele e Maria
entenderam algo que poucos de nós entendemos hoje em nosso
relacionamento com Deus. Anos mais tarde, o filho de Isabel, então
conhecido por toda a nação como João Batista, colocou isso em palavras:
“Convém que Ele cresça e eu diminua” (João 3:30).
É um privilégio seguir a Deus e ser mal-entendido. Podemos fazer o que
é certo e ser mal-interpretados pelos outros, mas Deus ainda está nos
guiando. Seguiremos, assim como Maria e José, a direção de Deus e
discerniremos a Sua vontade?
Ter sucesso na criação dos nossos filhos é mais do que prover o que eles
precisam, mais do que amá-los. É criá-los para serem como Jesus. Para
fazer isso, precisamos ter a atitude de Maria: “O que disseres, Senhor,
assim farei.” Essa atitude envolve a disciplina de aprender a reconhecer a
voz de Deus falando à nossa mente. Envolve cultivar o desejo de orar e
esperar no Senhor. Envolve ter a experiência da qual fala João Batista, na
qual o eu é colocado de lado e Cristo passa a brilhar cada vez mais através
das nossas ações e expressões. Temos que adquirir essa experiência por
nós mesmos, pois ela não é algo que podemos passar para outros. É por
isso que este não é um livro de instruções, um manual. A maneira de criar
filhos da qual quero falar neste livro não é tanto um conceito, mas uma
experiência com Jesus. Você precisa deixar que Ele guie e cooperar com
Ele. Foi assim que Maria se tornou uma ferramenta na mão de Deus para
criar Jesus. Ela obteve sucesso porque escolheu a atitude de ser apenas um
instrumento nas mãos de Deus para fazer a Sua vontade.
Como isso funciona no contexto da vida real? Vamos dar uma olhada.
Quando Jim e eu nos casamos, imediatamente compramos uma casa que
mal podíamos pagar e da qual nos mudamos para outra ainda melhor após
uns poucos anos. Por alguns anos, trabalhei como enfermeira em um
centro de hemodiálise. Eu tinha 28 anos, estava grávida do nosso primeiro
filho, e a vida era maravilhosa.
Ficamos muito felizes e orgulhosos quando Matthew nasceu. Após minha
licença de seis semanas, eu já estava ansiosa para voltar ao trabalho. Eu já
havia escolhido uma excelente babá. Jim e eu havíamos recentemente nos
tornado cristãos que acreditavam na Bíblia. Ainda me lembro de ter lido:
“Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir”(Salmo 32:8). O
texto parecia bastante pessoal, mas não entendíamos o seu significado de
uma maneira prática.
“Senhor”, orei numa daquelas manhãs, a caminho do trabalho, “estou tão
encantada com meu trabalho. Ora, posso falar para os meus pacientes
sobre assuntos espirituais e sobre essas coisas que dizem respeito à morte.
Ao abrires o caminho, eu posso partilhar com meus pacientes tudo aquilo
que estou aprendendo na Bíblia. Estou muito feliz. Tu providenciaste a
melhor babá que eu poderia ter, a esposa do professor da escola da nossa
igreja. Matthew será bem cuidado e aprenderá os princípios cristãos. Ela
até vai orar com ele!”
Então, um novo pensamento passou a vaguear em minha consciência –
um pensamento tão novo e estranho que eu sabia que fora Deus quem o
colocara ali para que eu o contemplasse: “O Matthew vai aprender a visão
dela sobre o cristianismo, ou a sua?”
“Bem, será a dela, naturalmente. Mas ela teve uma criação cristã e
conhece a Ti melhor do que eu, que sou recém-convertida. Ora, não é ela
quem está me ensinando? Com certeza, esta é a Tua vontade, Senhor – ou
será que não?”
Eu não podia lembrar-me se já havíamos consultado a Deus acerca de
nossos planos. Tudo vinha funcionando tão direitinho que aparentemente
não havia razão para questionar se Ele estava abençoando – até aquele
momento. Não posso descrever a incerteza que de repente me sobreveio ao
coração. Mas Deus tinha mais coisas para me fazer pensar.
“Você quer mesmo que uma babá instile seus valores nos seus filhos?”, o
Senhor perguntou.
“Sim. Bem... não. E outra vez, sim, tudo bem”, eu disse, lutando para
convencer a mim mesma. Do profundo do meu coração brotavam desejos
que eu nem sabia que existiam em mim. A vontade de reclamar o lugar e a
posição a que tinha direito como a mãe de Matthew passou a ocupar o
primeiro lugar. “Não!”, eu declarei. “Não é isso que eu quero! Eu quero
que ele tenha a minha visão e a visão do Jim. Ó, Senhor, não sei o que
pensar!”
“Foi Maria ou foi outra mulher que criou Jesus?”
“Foi Maria. Isso quer dizer que criar o Matthew é minha
responsabilidade, Senhor?”Meus pensamentos estavam desordenados.
Qual deles vinha de Deus? Alguns deles seriam de Satanás? Como poderia
saber? Eu sentia que Deus estava me chamando para ser uma mãe, não
uma enfermeira especializada em diálise.
Quando a vontade de Deus nos confronta e se opõe aos nossos planos e
desejos, o resultado geralmente é confusão. Isso freqüentemente nos leva a
uma questão fundamental: Como posso conhecer a vontade de Deus?
Nossa resposta terá profundas implicações para nossa vida futura. Se
fizermos essa pergunta buscando a Deus com sinceridade, estaremos nos
colocando nos portais do Céu o suficientemente perto para cruzar o abismo
e receber a sabedoria que dá poder – a sabedoria do Rei dos reis. Se
fizermos essa pergunta como uma expressão de dúvida, estamos nos
colocando em uma posição onde o Céu não conseguirá nos alcançar.
O conflito entre meus planos e a vontade de Deus afetará minhas
emoções e pensamentos de tal maneira que o meu raciocínio se tornará
como um animal de duas cabeças tentando ir em direções opostas. A
questão financeira se manifestou diante de mim. Essa era a razão principal
para eu não poder ficar em casa! Entretanto, a importância de ser mãe e
criar meu filho também clamava forte para ser ouvida. Essa nova idéia,
todavia, não se encaixava em nossos planos.
Durante os próximos seis meses, Jim e eu conversamos muito sobre essa
questão. Juntos, oramos fervorosamente, pesquisamos a Bíblia e nos
aconselhamos com outras pessoas. Finalmente, tomamos a temida decisão
de que eu ficaria em casa para ser a mãe que Deus estava me chamando
para ser! Minha mente estava totalmente voltada para a idéia de trabalhar
como enfermeira, mas senti que Deus estava me pedindo para ficar em
casa – e pelo menos devíamos fazer uma tentativa. Tomamos uma decisão
baseada na fé. Parecia algo impossível, mesmo assim decidimos que, se
era isso que Jesus queria que fizéssemos, toda a nossa sabedoria era tolice
comparada com a sabedoria de Deus, e escolhemos confiar nEle.
Não compreendíamos o Princípio de Maria como o compreendemos hoje,
mas o seguíamos da melhor maneira possível. “Que se cumpra em mim
conforme a tua palavra” (Lucas 1:38). Eu ainda não entendia a
profundidade da influência da obra de Deus em meu coração. Minha
paixão pela enfermagem desvanecia enquanto crescia meu desejo de ficar
em casa para criar meu filho. Não consigo explicar como Deus consegue
mudar essas coisas em nós. Acho que às vezes temos problemas por tentar
explicar tudo o que Deus faz em belos termos teológicos, os quais nossa
mente finita pode entender. Afinal, Seus caminhos são inescrutáveis
(Romanos 11:33). Aquilo foi uma obra verdadeiramente misteriosa e
interior. Sou muito grata por Ele tê-la operado em mim, mesmo sem saber
explicá-la inteiramente.
Deus chamou-me para ficar em casa e passar para o Matthew nossas
crenças e experiências religiosas. Achei que tudo ia ser muito fácil. Cuidar
de um bebê devia ser uma tarefa das mais simples. Como estava enganada!
Se eu pudesse conversar com Maria, creio que ela diria a mesma coisa a
respeito de criar Jesus. Como pais, aprendemos fazendo. Também ela deve
ter enfrentado tristezas, perplexidades e incertezas ao criar aquela criança.
Todos os dias eu me despedia do Jim ao ele sair para o trabalho e, então,
ia brincar um pouco com o meu querido Matthew. Naturalmente, ele ficou
muito contente pelo meu envolvimento com ele, mas tive alguma
dificuldade já no primeiro dia. Quando procurei fazer algumas tarefas
domésticas e deixei Matthew na sala, ele começou a chorar. “Bem, logo
estará na hora de alimentá-lo e colocá-lo para dormir o soninho da
manhã”, disse para mim mesma, ao correr para a sala para atendê-lo. Só
que Matthew decidiu que não iria dormir o seu soninho.
“Eu pensava que os bebês dormiam bastante. Talvez ele precise se cansar
um pouco mais.” Deixei, então, que ele ficasse acordado e passei a distraí-
lo. Eu ainda não sabia, mas estava estabelecendo um padrão de
comportamento que levaria anos para ser desfeito! Logo descobri que
Matthew queria ficar comigo o tempo todo, onde quer que eu estivesse.
Cometi o erro de dar-lhe aquilo pelo que ele chorava, em parte porque me
sentia culpada por lhe haver deixado durante aqueles meses em que eu
ainda estava pensando sobre ficar em casa. O outro problema era o Jim.
Em meu coração, eu realmente achava que devia deixar o Matthew chorar
até parar, à noite, mas Jim não suportava aquele choro por quinze minutos
sequer! Por isso, eu levantava assim que o bebê começava a chorar. Eu
estava dividida entre as necessidades do meu bebê e as necessidades do
meu marido. Honestamente, eu não sabia o que fazer.
Semanas e meses se passaram nessa mesma rotina. Comecei a ficar
ressentida por não ter tempo para mim mesma, pois tinha que entreter
aquele bebê que, achava eu, se comportava mal para me forçar a fazer o
que ele queria. Logo me vi desejando estar de volta ao centro de
hemodiálise. Eu nem desconfiava que tais dificuldades são típicas de todos
os que abraçam o Princípio de Maria.
Eu não estava achando que criar um filho era a tarefa prazerosa e
realizadora que Deus queria que fosse. Sim, Deus queria que a tarefa de
criar filhos fosse prazerosa, mas muitos de nós não achamos que assim
seja porque não entendemos nossa posição diante de Deus. Eu estava
tentando fazer tudo o que Deus dizia em Sua Palavra sobre criação de
filhos, pedindo que Ele abençoasse os meus esforços, mas eu estava
tentando fazer tudo sozinha, separada de Cristo. Jesus precisava liderar,
mas eu não saía da frente. Eu estava extremamente frustrada; mesmo
assim, não me voltei para Deus porque eu simplesmente não achava que
precisava dEle. Criar o meu filho era uma responsabilidade minha.
Dar tudo o que o seu bebê quer, assim como eu fazia com Matthew, é um
erro enorme que lhe custará muita dor de cabeça agora e no futuro. O
problema é que o seu filhinho recebeu a mesma herança que você e eu
recebemos como pecadores. A carne com a qual nascemos quer tudo do
seu jeito, e agora! O coração humano que não se rendeu a Deus não poderá
nunca ser satisfeito. Não importa quantas concessões você faça aos desejos
do seu filho, ele nunca ficará totalmente satisfeito, mas somente mais
controlador e irritadiço. Portanto, a coisa mais amorosa que você pode
fazer por seu filho é ensinar-lhe, desde a mais tenra idade, hábitos de
autocontrole e como dizer não às exigências da natureza pecaminosa,
submetendo-se aos pais e a Deus. Isso significa dar-lhe o que é bom para
ele em vez daquilo que ele quer e exige. Significa coerência, regularidade
e estar sempre sob a influência do Espírito Santo. Significa deixar que
Deus esteja no controle.
Antes de continuarmos, gostaria de sugerir um pouco de equilíbrio. Não é
correto ceder sempre aos desejos do seu filho, mas tampouco é certo
sempre negar. Assim como acontece em nossa jornada pessoal com Deus,
também ao trilharmos o caminho da criação de nossos filhos nos
depararemos com uma sarjeta a cada lado do caminho – a sarjeta de fazer
tudo o que eles querem e a sarjeta de não fazer nada do que eles querem.
Satanás não se importa em qual das sarjetas iremos cair, conquanto que
vamos de um extremo ao outro. Deus quer que sejamos equilibrados. Às
vezes, os bebês ficam irritadiços e precisam ser ninados e acariciados por
um tempo. Outras vezes, esta não é a melhor solução. Ao aprendermos a
deixar que Deus seja o piloto, veremos que é preciso consultá-Lo e
depender de Sua sabedoria para sabermos o que fazer.
As dificuldades de criar nossos filhos segundo o caráter de Deus são uma
força motivadora para que nos voltemos para Deus a fim de obter as
respostas e fruir a experiência de ter um Deus pessoal guiando nossos
passos. Existem provações e dificuldades que acompanham essas
mudanças. Nem todos concordarão com nosso curso de ação. Todos
precisamos de coragem e independência para seguir a Cristo assim como
Maria. Existem alguns problemas que ocorrem quando seguimos a Deus
em vez de aos homens.
Ao ler: “Filhos, obedecei vossos pais”(Efésios 6:1), entendi que eu devia
ensinar meu bebê a obedecer antes mesmo que ele pudesse raciocinar.
Assim, achando-me cheia de conhecimento, tentei repetidas vezes, por
mim mesma, fazer com que Matthew fosse para a cama e que não chorasse
– o que às vezes funcionava, mas normalmente era um fracasso. Quem
estava vencendo? Era o Matthew! Eu acabava obedecendo ao meu filho.
Deus não estava no comando; era eu quem estava. Mas, glória ao Senhor,
Cristo foi capaz de fazer com que eu abandonasse meus conceitos
equivocados!
“Sally, você precisa ler Efésios 6:1 mais de perto. Você não está
percebendo tudo o que está ali.”
“Senhor, ali está escrito: ‘Filhos, obedecei vossos pais no Senhor.’” Uau!
Por mais que tenha lido esse texto, nunca tinha percebido estas duas
últimas palavras – “no Senhor”. “E o que quer dizer ‘no Senhor’?”
“Significa ser como Maria. A vontade própria não guiava a vida de
Maria; ela estava sempre disposta a fazer tudo o que Eu lhe pedia, fosse
isso confortável ou não. ‘No Senhor’ significa que Eu sou o Piloto
instruindo o que você, o co-piloto, deve fazer a seguir. É ouvir e obedecer
ao Meu Espírito.”
Eu não estava “no Senhor”! Eu vinha tentando ficar no comando e tomar
todas as decisões. Eu não pedia ajuda a Deus nem buscava os Seus
caminhos. Eu apenas seguia meu próprio pensamento. Ser um pai e uma
mãe “no Senhor” não acontece por acaso, mas requer que desenvolvamos
desconfiança de nossa própria sabedoria e que busquemos intensamente
saber como Jesus pode ser nosso piloto.
Eis aqui como começar. Não importa quanta certeza você tenha acerca do
que precisa ser feito, busque sinceramente a Deus cada vez que você
interagir com seu filho. Deus está ao seu lado para ajudá-lo. É só pedir!
Diga: “Senhor, como Tu reagirias nesta situação se estivesses em meu
lugar? Como posso depor o coração do meu filho em Tuas mãos para que
o Espírito Santo o torne mais maleável e mais semelhante a Ti?”
Não repita os meus erros. Somente muito depois do fato é que comecei a
entender o porquê do meu fracasso naqueles anos, a despeito de todas as
minhas boas intenções. Fracassei porque pensei que meu trabalho era
mudar o meu filho, ao invés de deixar que Deus me usasse como Seu
instrumento para conduzi-lo a Ele e assim ser mudado. Veja, quando eu
me sentava com Matthew por horas a fio tentando fazê-lo dormir até que
ele, de cansado, finalmente adormecesse, não era eu a vencedora. Ele não
me obedecia; eu é que lhe obedecia! Para mim, foi uma revelação quando
percebi que Deus nunca quis que eu o ensinasse, por mim mesma, a
obedecer. Sem Ele, eu não poderia fazê-lo. Por isso é que falhei. Eu estava
tentando criar meu filho sem depender de Deus. Se você está fracassando
na criação do seu filho hoje, é provável que seja pela mesma razão.
Se fizermos como Maria e dissermos: “Que se cumpra em mim conforme
a tua palavra” (Lucas 1:38), pouparemos muitas dores de cabeça no final.
Ao caminharmos pela fé, algumas coisas interessantes começaram a
acontecer. Surpreendentemente, os negócios de Jim prosperaram e logo
superaram o que eu ganhava antes. Ao escolher ficar em casa e criar meu
filho, tive que aprender novas atitudes e prioridades, e cada uma delas
trouxe suas próprias dificuldades e problemas – mas bênçãos, no final. Ao
olhar para os resultados, fico feliz por ter escolhido ficar em casa. Deus
sabia muito mais do que nós.
Em minha cabeça, posso ver os pesares pelos quais estaríamos passando
hoje caso permanecêssemos no mesmo caminho. Nossos rapazes seriam
egoístas, pouco razoáveis e envolvidos nas coisas mundanas, assim como
tantos outros jovens. Nosso próprio coração estaria cheio de sentimentos
egocêntricos, sem o conhecimento pessoal de Deus, e pronto para adotar a
débil religião do eu. Se não houvéssemos seguido a Deus, provavelmente
estaríamos nos perguntando por que Deus nos teria guiado pela vereda da
dor e do pesar, quando essa teria sido a nossa escolha, não a dEle, que nos
levaria por ali.
Talvez você seja como nós éramos no passado – reconhecendo que Deus
o está conduzindo até uma encruzilhada de sua vida. Será que o medo e a
incerteza estão mantendo você cativo, impedindo que tome uma decisão?
Está o Espírito Santo lhe falando ao coração? Não deixe passar o tempo da
decisão, pois, ao não escolher mudar, você escolheu seguir a onda do
mundo.
Preciso ser honesta ao contar-lhe estas coisas. O Princípio de Maria
também pode causar alguma confusão ou mágoa, ao aprendermos novas
maneiras de fazer as coisas. Isso nem sempre é confortável, mas, a longo
prazo, é certo que será proveitoso para nós e nossos filhos. Cada vez mais,
à medida que os anos passavam, eu via o valor que existe em ser mãe.
Também vi o precioso privilégio que é formar o caráter de um filho para
Jesus.
Você acha que Maria teve que lidar com problemas e pesares ao criar
Jesus? Sem dúvida. Assim como você e eu, ela teve que se esforçar para
fazer o que era certo, e nem sempre fez as escolhas corretas. Ela chegou
até a perder o seu querido Filho durante a Páscoa, e foi embora sem Ele.
Como pais, nunca vamos ser perfeitos, não importa o quanto tentemos.
Todavia, quando, a despeito de nossas imperfeições, buscamos fazer a
vontade de Deus, podemos confiar que Ele suprirá a graça para que nossos
filhos relevem nossos erros. E a mesma maravilhosa graça suprirá aquilo
que nos falta para sermos melhores pais. Deus nos confiou os filhos como
preciosos tesouros; somos meros parceiros dEle ao criá-los. Ele nunca
pede de nós algo sem que nos forneça sabedoria e habilidade para fazê-lo.
O Princípio de Maria é encontrado de maneira prática em Atos 9:6:
“Senhor, que queres que eu faça?” O Senhor quer guiar-nos não apenas na
formação do caráter, mas também em tudo o que dizemos, fazemos ou
sentimos na vida. Em todas as áreas em que eu costumava pensar que era
capaz, tive que aprender a dizer: “Senhor, embora não sinta a necessidade
de orientação especial nessa situação, estou escolhendo buscar a Tua
vontade e não a minha.” Deus quer manter conosco uma relação pessoal a
fim de guiar-nos. Se O escutarmos, descobriremos que Ele está sempre
enviando mensagens para os que escutam a Sua voz. “E serão todos
ensinados por Deus” (João 6:45).
Ter sucesso na criação dos filhos é fazer com que eles sejam iguais a
Jesus. Nosso propósito como pais é semelhante ao do grão de trigo
descrito na Bíblia. O pequenino grão de trigo cai no terreno e
aparentemente morre e é enterrado. Mas é fazendo assim que produz vida
nova – uma centena de vezes mais do que se permanecesse sozinho. Os
pais devem escolher morrer para o eu e aprender a viver para Deus. Só
então é que a divina seiva mantenedora da vida começa a fluir – primeiro
nas raízes dos pais e, através deles, para os seus filhos. O grão de trigo
envida todos os seus esforços para absorver os nutrientes e a vida do solo,
com o propósito de passar isto para a próxima geração – as suas sementes.
O mesmo acontece na criação dos filhos!
“Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós. Como não pode o
ramo produzir frutos de si mesmo, se não permanecer na videira, assim,
nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em Mim” (João 15:4).
Devemos viver continuamente em Jesus. “Eu sou a videira, vós, os ramos.
Quem permanece em Mim, e Eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem
Mim nada podeis fazer” (verso 5).
O fruto representa nosso caráter, mas nossos filhos também são nosso
fruto. Precisamos dessa conexão especial com Cristo para que Sua seiva
mantenedora da vida possa fluir livremente através de nós até nossos
filhos. Só poderemos passar para a próxima geração aquilo que obtivemos
e que possuímos. Por nosso intermédio, Deus pode fazer fluir fontes vivas
do amor e sabedoria divinos sobre nossos filhos. Ao recebermos Sua
sabedoria, Ele nos capacitará para nutrirmos, admoestarmos e treinarmos
nossos pequenos em Seus caminhos. Você dará toda a sua vida para esse
único propósito – ter conexão com Deus?
Precisamos estar tão focalizados e tão concentrados na tarefa de criar os
filhos como a semente de trigo está na produção de mais trigo. Isso
significaria que todas as mulheres devem abandonar seus trabalhos e ficar
em casa para criar seus filhos? Não! Algumas mães não têm outra escolha
a não ser trabalhar fora de casa. Deus quer instruir e ensinar você quanto
ao caminho que você deve seguir. Cada um deve ser livre para seguir a
Deus ao ver que Ele está guiando. Devemos respeitar a escolha dos outros.
Penso que você deveria considerar seriamente a possibilidade de ficar em
casa e criar os seus filhos? Claro que sim! Mas, a despeito do que eu
penso, cada uma de vocês deve começar a discernir a vontade de Deus
para você na sua situação atual. Conhecer a Deus pessoalmente em sua
própria experiência é fundamental para todos nós. Você, junto com Deus,
precisa discernir qual é a vontade dEle para você.
Abraçar Cristo é deixar que os caminhos de Deus tenham precedência
sobre os seus caminhos. Ao você se tornar mais proficiente na sua
comunicação em duas vias com Deus, Ele Se revelará para você da Sua
própria maneira, e você crescerá cada vez mais, confiando em Suas
orientações.
No próximo capítulo, começarei a compartilhar com você os princípios
que me capacitaram a tornar-me uma ferramenta utilizada por Deus para
criar os meus filhos.

Maria, a mãe de Cristo, viu-se como uma mãe solteira em uma sociedade
que punia com severidade situações como essa. É difícil imaginar os
obstáculos que ela enfrentou, mesmo sabendo em seu coração que era
pura, como também sabendo que poucos acreditariam nela. Maria
descobriu que Deus é muito pessoal e que Seus planos para cada um de
nós são muito específicos. Deus havia esperado por quatro mil anos pela
adolescência de Maria. Acredito que, no mesmo dia em que o pecado
penetrou na raça humana e Deus prometeu um redentor, Ele pensou em
Maria, conhecendo-a antes de todos esses milhares de anos e apreciando a
simplicidade de sua fé.
Da mesma maneira, Deus tem esperado por você. Ele tem planos
específicos para você, e vai atuar em seu favor de forma tão pessoal como
atuou com Maria. Você pode ver-se privado do seu cônjuge por
falecimento, divórcio ou abandono, ou pode ser que você more com seu
companheiro ou companheira, mas sente-se como se fosse uma mãe ou um
pai solteiro, porque seu cônjuge negligencia seus deveres paternais. Seja
qual for a situação, Deus está com você.
Começa Comigo
“E a favor deles Eu Me santifico a Mim mesmo”
(João 17:19).

U ma mãe estava dirigindo o carro com seu filho adolescente que acabara
de tirar a carteira de motorista e estava ansioso para dirigir. O rapaz
continuou insinuando que ela o deixasse guiar o carro. Cansada de
tanta insistência, a mãe finalmente cedeu. Mas, antes de dar o volante para
o filho, ela perguntou:
– Você já me observou bastante e sabe o que fazer, certo?
– Claro, mamãe – ele respondeu.
Ao voltar para a estrada, a maneira cuidadosa com que ele dirigia o carro
foi-lhe uma agradável surpresa. Ele parou no semáforo, e ela o elogiou por
isso. Ao descerem uma ladeira que levava a um cruzamento muito
movimentado, ela viu que o semáforo ia mudar de verde para vermelho.
Antes que ela entendesse o que estava acontecendo, o rapaz acelerou fundo
e passou velozmente pelo cruzamento segundos antes de o semáforo
mudar para o vermelho, causando olhares indignados, buzinadas irritadas e
alguns gestos indelicados.
– Entre naquele estacionamento e pare o carro! – ela falou com a voz
fraquejando. Quando ele parou, ela voltou-se para ele, ainda trêmula.
– Pensei que você havia dito que me viu dirigindo e sabia o que fazer.
– É verdade, mamãe.
– Mas eu não acho. Vamos fazer uma pequena recapitulação antes de
continuar. O que significa o sinal vermelho?
– Que é para parar, claro! Mãe, isso é uma tolice!
– Minha vida passou toda diante de mim agora há pouco. Portanto, se
quiser continuar dirigindo comigo dentro do carro, não pense que isso seja
uma tolice. Ficou claro, garoto?
– Ficou, sim.
– E o verde? O que significa o verde?
– Que você pode seguir.
– E o que é para fazer quando o sinal fica amarelo? – ela perguntou com
um olhar sugestivo.
– Você deve ir o mais rápido possível, antes que o sinal fique vermelho!
Talvez você não precise confrontar suas próprias incoerências de maneira
tão contundente; no entanto, a verdade é que você nunca poderá passar
para os seus filhos mais do aquilo que você tem. Você deve ser honesto em
sua auto-avaliação – não para ficar deprimido ou sem esperança quanto à
sua condição, mas para preparar-se para uma solução radicalmente
diferente daquelas experimentadas previamente. Assim, se sua vida e
experiência religiosa não forem nada daquilo que você gostaria que seus
filhos reproduzissem, você precisa levar em consideração as mudanças que
devem ocorrer e permitir que uma transformação comece a acontecer em
você.
Ninguém passou por tantas dificuldades na criação dos filhos como eu. E
eu reclamava muito com Deus sobre o pesado fardo que carregava em
minha vida. “Senhor, estou muito frustrada com as tentativas de fazer
meus meninos obedecerem! Sinto como se estivesse pelejando contra um
obstáculo que é grande demais para mim! Não vou conseguir!” E o poço
de desespero abria os seus braços, dando as boas-vindas para a pobre
coitada aqui. Eu chafurdava ali por um momento, ensaiando as minhas
queixas. Depois, cansada do meu estado deplorável, via-me clamando a
Deus outra vez: “Caí no poço, Senhor! Quero sair daqui!”
“Você realmente quer sair, Sally?”, o Senhor perguntou bondosamente.
“É claro que quero livrar-me dos meus problemas! O que queres dizer
com isso?”
“Bem, é que outro dia você me disse que queria sair do buraco em que
você se encontrava, mas não segurou Minha mão quando Eu a estendi
para você. Posso livrar você dessa situação. Você entendeu mal o que Eu
lhe pedi?”
Lembrei-me do incidente. Eu estivera orando, e o meu coração estava
cheio de desespero. Eu vinha tentando repetidamente sair daquele buraco,
mas não conseguia. Visualizava a mim mesma subindo pelas paredes do
buraco, mas elas eram muito lodosas, o buraco era fundo demais e minha
força, insuficiente. Com minhas próprias forças eu chegava perto da
superfície. Chegava a ver a claridade do dia, mas então perdia o suporte
para os pés, ou me faltavam forças e eu caía de volta para o fundo do poço.
Tentava pensar de maneira positiva – e até que funcionava por um tempo
–, mas minha mente sempre retornava aos pensamentos de que eu era
inadequada e indigna, e assim eu escorregava de volta para o fundo
daquele escuro poço.
Em desespero, clamava pela libertação que vem de Jesus. Em minha
mente, eu via a mão de Deus estendida para mim. Eu queria muito segurá-
la; as palavras não podem expressar como eu queria! Mas eu não achava
que podia sequer ousar acreditar que Jesus poderia libertar-me. E, assim,
eu permanecia no buraco, torturada por meus horríveis pensamentos e
sentimentos. Então, me perguntava: “Por que não segurei a mão de Deus?”
E a resposta era: “Porque não me sentia digna.”
O Senhor continuava a falar ao meu pensamento e perguntou: “Você deve
confiar em seus sentimentos ou em Minha Palavra?”
“Em Tua Palavra, é claro! Mas os meus sentimentos me dizem o que sou,
não é?”
“Não se pode confiar nos sentimentos, Sally. Satanás insinua seus
pensamentos mentirosos em sua mente e depois aciona os seus botões da
emoção. Então, pensamentos e sentimentos errôneos, combinados,
exercem uma forte influência para que você faça a vontade de Satanás. É
fazendo assim que ele freqüentemente a leva ao poço do desespero, e você
cede. Você não precisa obedecer aos seus sentimentos, nem acreditar nas
mentiras com que Satanás a insulta. Na minha Palavra você pode confiar.
Você vai escolher minha Palavra em vez dos seus sentimentos?”
De repente, havia esperança para mim! “Então, não preciso dar ouvidos
aos meus sentimentos?”, pensei. “Se isto for verdade, então posso afastar-
me dos pensamentos e sentimentos que me debilitam. Posso confiar em
Jesus! Ele pode e deseja salvar-me desse poço de pensamentos errôneos e
desses sentimentos de desespero.” Assim, mentalmente, segurei Sua mão,
e Ele tirou-me daquele horrível poço escuro e pôs meus pés sobre a rocha
– Cristo Jesus!
Não existe um poço tão profundo que a mão de Deus não possa alcançar
o fundo. Não há mal ou pecado que seja grande demais que Deus não
possa purificá-lo ou que não permita que Ele nos traga para junto de Seus
braços amorosos, perdoadores e transformadores de caráter. De repente,
havia esperança para mim.
“Não preciso dar ouvidos aos meus sentimentos”, eu disse para mim
mesma. “Tenho que ir contra os sentimentos e pensamentos que me
debilitam, pois eles não estão de acordo com a Palavra de Deus. Posso
confiar em Jesus. Ele não me quer aqui.”
Vi o sol atravessando as nuvens cinzentas da minha mente. Senti que a
escuridão opressora que vinha me envolvendo havia partido. Era como se
Satanás estivesse afrouxando suas garras.
Mas os pensamentos e sentimentos negativos rapidamente voltaram a
deixar-me abalada. Outra vez clamei a Deus: “Senhor, o que posso fazer?
Não estou me sentindo melhor!”
“Não se preocupe com seus sentimentos, Sally. Vamos trabalhar com
seus pensamentos. Pense sobre o bom trabalho que você tem feito na
criação de seus filhos. Pense sobre os bons hábitos que você tem
transmitido a seus meninos. Saia desse desespero seguindo Minhas
orientações.”
Foi muito difícil mudar meus pensamentos. Era fácil ficar pensando no
quão terrível e fracassada eu era. Isso tinha sido um hábito de uma vida
inteira! Aqueles mesmos padrões de pensamento dos velhos tempos me
levavam ao fundo do poço, vez após outra. Eu desejava tanto livrar-me
daquilo que decidi envidar todos os meus esforços para pensar de maneira
diferente do passado, para enxergar o que havia de bom em vez de mau.
“Como é que isso funciona?”, indaguei, confusa. Eu estava realmente
lutando para compreender aquele conceito – e, se você se encontra lutando
para abandonar caminhos equivocados, pode acreditar que isso é normal.
Deus não desistiu de mim. Ele fez com que eu me lembrasse de quando
Matthew fez um buquê de flores silvestres para dizer que me amava. Deus
estava afastando as nuvens de mentiras de Satanás que diziam que nada do
que eu fazia era bom.
“Tu queres dizer que eu não sou de todo má, e que posso fazer coisas
boas com Jesus em mim?”, perguntei para Deus. Lentamente, comecei a
perceber que muitas coisas a respeito de mim mesma em que acreditei por
todos aqueles anos eram falsas e que, para Deus, eu valho mais que o ouro.
O Senhor levou-me a ter pensamentos mais positivos, a solidificar minha
confiança e a confiar nEle. “Andrew está comendo menos nas refeições
por causa dos meus esforços para que ele não coma demais”, pensei. “Isso
é uma coisa boa. E Matthew adora sair para caminhar comigo e até
trabalhar comigo. Ambos gostam de brincar comigo. Eles estão
aprendendo hábitos de limpeza, ordem e capricho. Não sou esse fracasso
todo. Acho que tenho coisas sobre as quais ficar contente.” E assim,
guiados por Deus, meus pensamentos iam adiante e mudavam de direção.
Foi uma grande vitória para mim.
Ao continuar a cooperar com Deus, uma paz divinal penetrou em minhas
emoções, e os sentimentos maus foram eliminados. Aquele espírito mais
leve e feliz parecia até impróprio depois de todos os meus anos de
negativismo, mas eu cooperava com ele confiada em que Deus conhecia o
que era melhor. E a felicidade encheu o lugar onde antes reinava a tristeza.
“Deus me ama!”, eu ficava pensando. Ao cooperar com Ele, fui redimida
dos pensamentos e sentimentos errôneos que estavam me governando! Sou
grata porque, daquele dia em diante, nunca mais retornei ao fundo do poço
do desespero.
Uma das maiores tarefas que enfrentamos ao criar nossos filhos é ajudá-
los a vencer hábitos errôneos de pensar, sentir e reagir, e conduzi-los aos
hábitos corretos nessas áreas. Sem a ajuda de Deus, é uma tarefa
impossível. Portanto, Ele precisa realizar em nós essa obra que queremos
ver realizada em nossos filhos. Por causa deles, precisamos santificar-nos
primeiro, e livrar-nos dos hábitos errôneos de pensar, de modo que
possamos ensinar-lhes o que aprendemos. Deus pode – e irá – conceder
sabedoria e poder divinos para cada pai, cada mãe ou cada filho que
clamar por ajuda e que esteja disposto a cooperar com Ele.
Uma vez, quando Andrew tinha cerca de seis anos de idade e havia se
comportado muito mal, bati nele e mandei que ficasse no quarto até que
parasse de chorar. Depois de quinze minutos, ele ainda continuava a
soluçar. Para distraí-lo, mandei que ele desse uma volta ao redor da casa e
dei-lhe a tarefa de encher o carrinho de madeira. Nada funcionou! Ele
ainda estava chorando!
– Andrew, querido, qual é o problema? – perguntei. – Você fez muito
bem o seu trabalho. Está tudo certo agora.
– Não consigo – sniff, sniff – parar de chorar – ele gaguejou.
“Senhor, que posso fazer para ajudá-lo? Nada do que eu fiz deu
resultado.”
“Sally, como foi que Eu tirei você daquela situação de desespero?”,
Deus me perguntou, dando nome ao problema para mim.
“Satanás deve estar colocando pensamentos mentirosos na cabecinha
dele”, pensei. “O fato de que ele não pára de chorar mostra que ele está
dando atenção aos pensamentos. Preciso descobrir o que ele está pensando
e sentindo”, eu disse para mim mesma, contente por haver pensado assim.
– Andrew, o que está passando por sua cabeça agora mesmo? Em que
você está pensando?
– Que eu sou muito mau e bobo – buáá, buáá. – Eu queria ser bom –
sniff, sniff –, mas deve haver algo errado comigo porque eu... eu não
consigo!
“Sally, conte-lhe um pouco acerca do poço do desespero – o que levou
você para lá e o que tirou você de lá. Estarei com você”, animou-me o
Senhor.
– Andrew, esses pensamentos são uma mentira de Satanás. Você não tem
que dar ouvidos a eles. Isto é Satanás tentando empurrar você para dentro
do poço do desespero.
Ele parecia saber o que eu estava querendo dizer. Verdadeiramente, Deus
estava comigo e me ajudou a expressar-me de uma maneira adequada para
que Andrew entendesse.
– Andrew, imagine que Deus esteja estendendo Sua mão, pronto para
puxar você para fora do poço do desespero. Tudo o que você tem que fazer
é segurar a mão dEle. Deus ama você e quer ajudá-lo – eu disse com um
sorriso confortador. Os olhos de Andrew brilharam. Posso garantir que ele
acreditou em mim.
– Faça uma oração, Andrew, e entregue a Jesus os pensamentos maus. É
assim que você poderá segurar a mão dEle.
Ele olhou para mim. Fiz que sim com a cabeça. Então, ele apertou bem os
olhinhos. “Deus, tome esses pensamentos maus. Dá-me pensamentos
melhores. Ajuda-me a ser bom e a parar de chorar.” Ele sentou-se em
silêncio, pronto para ouvir a voz de Deus, da maneira como temos
incentivado os meninos a fazerem.
Os minutos iam passando. Finalmente, após uns instantes, perguntei: “O
que Deus disse, Andrew? O que Ele quer que você faça?”
–Acho que Ele quer que eu vá colher algumas flores.
– Então é melhor você ir logo – animei-o, e lá foi ele.
Mais tarde, ele voltou com um buquê de lírios, e sem lágrimas. Fiquei tão
contente por ele!
– O que aconteceu, Andrew? – perguntei, indo um pouquinho mais
fundo.
– Pedi a Deus para eu parar de chorar e segurei na mão dEle, do jeito que
você falou. Ele disse para eu ir ver minhas flores favoritas. Aí, eu tive que
enxugar as lágrimas para poder ver as flores direito. Ele gosta de mim,
mamãe. Eu parei de chorar, mas nem notei quando foi – ele disse,
mostrando seus dentinhos num largo sorriso enquanto me entregava o
buquê.
A vitória sobre o próprio eu começa em nossos pensamentos e vai
progredindo divinamente até os nossos sentimentos. Obtive sucesso
quando partilhei minhas experiências com meu filho. Andrew ainda estava
aberto para escutar e dar crédito aos pensamentos mentirosos, mas, ao
repetirmos esse processo, ele foi melhorando cada vez mais na questão de
entregar seus pensamentos errôneos para Jesus, até que a vitória fosse
completa.
Nossos filhos imitam nossas infelizes técnicas de solucionar problemas.
Uma vez, Matthew e eu vimos uma cena na TV de uma mãe atirando e
quebrando coisas, em um acesso de raiva. Depois, perguntei-lhe o que
havia aprendido daquilo, e ele respondeu: “Quando você está zangado,
você joga as coisas no chão!” Que lição para todos os pais! O princípio é
que pela contemplação somos transformados, e isso nos leva à pergunta
lógica: O que estou ensinando por meio do meu exemplo, em meu lar?
Com demasiada freqüência, eu percebia, envergonhada, que pelo meu
exemplo eu estava ensinando meus filhos a retrair-se e entrar no mesmo
poço de desespero com o qual eu já estava tão familiarizada. Felizmente,
somente um dos meus filhos adotou esse método. Foi necessário que eu
passasse outra vez pelo mesmo terreno pelo qual eu trilhara e lhe ensinasse
a mesma lição que Deus me havia ensinado acerca de pensamentos
negativos, mas, durante algum tempo, o exemplo do meu mau
comportamento o atrapalhou bastante.
Através dessa experiência pessoal, aprendi como todos nós precisamos de
Cristo para nos transformar, de modo que nós, pais e mães, possamos
cooperar de maneira inteligente com o Céu na condução de nossos filhos a
Cristo e na obtenção da mesma experiência.
Quando tenho tempo, muitas vezes faço tricô. É compensador enfiar a
mão na minha bolsa, tirar dali um projeto inacabado e verificar quanto
pode ser feito em um curto espaço de tempo. Enquanto minhas mãos estão
ocupadas em criar algo, recebo outra bênção – o descanso. Sempre
trabalhei bastante. Por isso, quando me sento, minha mente logo começa a
pensar sobre as coisas que preciso fazer, e lá vou eu trabalhar de novo.
Preciso do tricô para afastar minha mente dessas coisas e assim descansar,
ouvir ou apenas relaxar junto a minha família. Por todos esses anos, tenho
ensinado muita gente a fazer tricô. Acredito que existem certas verdades
para nós como pais e mães em uma simples cesta de tricô. Por exemplo,
você não vai conseguir ensinar os pontos do tricô para alguém se você
nunca aprendeu a fazer tricô antes. Você pode ler livros sobre tricô e até
entender os princípios dessa arte. Você pode falar sobre esses princípios,
mas, sem a experiência, você não poderá ensinar com eficácia os outros a
fazer tricô!
Tenho visto muita gente inexperiente em fazer tricô falhar no teste do
ponto perdido. Veja bem, ao fazer tricô, às vezes você deixa de fazer um
ponto e não percebe, até mais tarde. Os mais experientes já se
acostumaram a reparar o erro e corrigi-lo, salvando assim o trabalho. Saber
tudo sobre o ponto perdido não é o suficiente. Você tem que dominar a
técnica de correção do problema; você precisa da experiência prática. Criar
filhos é a mesma coisa. Qualquer pai ou mãe pode aparentar saber o que
está fazendo, mas é quando o problema aparece que podemos ver se aquele
pai ou aquela mãe tem a experiência da própria vida para corrigir o erro. O
problema com muitos de nós é que tentamos ensinar nossos filhos sobre
Deus usando apenas o conhecimento vindo de livros, e orientações do tipo
“isso é certo, aquilo é errado”; não temos o conhecimento experimental
obtido ao trabalharmos com o coração. Deus nos incita a sermos
“praticantes da palavra e não somente ouvintes” (Tiago 1:22). Como
poderemos ensinar nossos filhos a submeterem-se a Deus e com Ele
cooperar para terem o coração mudado e transformado se nós mesmos não
tivemos essa experiência? É aqui que muitos falham no processo de criar
seus filhos. Nós lhes dizemos que eles têm que escolher pensar, dizer e
fazer o que é certo, mas não conseguimos ensinar-lhes como fazer isso em
Jesus porque conhecemos apenas a teoria.
Quando experimentamos a libertação que Cristo oferece dos pensamentos
e sentimentos errôneos, quanto tempo ainda demora para ensinar nossos
filhos a fazer o mesmo? Ora, podemos falar-lhes dessa experiência logo
em seguida! Poucas coisas convencerão tão rápido uma criança de que
você é sincero quanto ela mesma ver você ser transformado de um pai
irritado a um pai bondoso e paciente, disposto a trabalhar com ela. Não
precisamos ser perfeitos antes de compartilhar o que sabemos, mas
devemos ter uma experiência prática com Cristo atuando em nós, por mais
que isso pareça insignificante no princípio. É assim que começamos a
pegar os pontos deixados para trás no que diz respeito à criação dos filhos.
A lição que você aprende hoje, nas mãos de Deus, é uma boa lição. A
lição de amanhã será ainda melhor. Assim, ensine o que você aprendeu
hoje com Cristo ao seu lado. Lembre-se de que, tão logo uma criança
venha a amar e a confiar em sua mãe, essa criança pode começar a amar e
a confiar no Amigo da sua mãe, Jesus. No começo, ela apenas imitará seu
comportamento, mas, com a repetição do comportamento, a criança
formará o hábito de confiar em Deus e isso marcará de forma indelével a
sua alma.
Já faz vinte anos que moramos nas montanhas do estado de Montana.
Uma das nossas atividades favoritas é acampar no Lago Kintla, um local
pouco conhecido que fica nas redondezas. Sempre levamos um filtro de
água conosco para garantir água pura e límpida, pois mesmo nos locais
mais agrestes não podemos garantir que a água não esteja contaminada
com dejetos humanos ou de animais. Jim providencia para que a água do
lago seja bombeada até onde estamos e assim temos água para beber e
cozinhar. Quando o filtro é colocado sob a superfície, os pequenos
orifícios do filtro de cerâmica removem a sujeira, a terra, detritos
flutuantes, bactérias que causam doenças e até mesmo parasitas da giardia.
Espiritualmente falando, temos um enorme benefício ao filtrar nossos
pensamentos e palavras através de Cristo antes de os pronunciarmos diante
dos nossos filhos. Deus tem que estar abaixo da superfície das nossas
palavras e examinar nosso espírito e nossos motivos, não apenas a
aparência exterior das nossas ações. O Espírito de Deus filtrará da nossa
fala e das emoções e atitudes tudo o que seja prejudicial, ganancioso e de
mau gosto. Descobri que Deus remove apenas aquilo que nos possa causar
dano. Ele remove apenas aquilo que permitimos que Ele remova. Nós
possuímos nossa vontade. Por isso, a nossa cooperação é uma parte vital
do processo de purificação. Deus quer que tenhamos lares felizes com um
clima que venha a promover saúde física, mental e espiritual. Mas
devemos submeter-nos a Ele e com Ele cooperar, aceitando Sua
orientação.
Se você se sente sobrecarregado diante da tarefa que tem pela frente, dê
glória a Deus! Pois é ao sentir-se sobrecarregado que você tem a chance de
depender mais de Deus como seu guia. Não se desespere por ver que o seu
ex-cônjuge trabalha contra os seus objetivos. Concentre-se tão somente na
tarefa que lhe cabe e faça do seu lar um lugar feliz, tomando a mão de
Cristo e deixando que Ele guie. Uma vez, li sobre um homem que tomara
um táxi para ir do aeroporto até o hotel, em uma grande cidade. O
motorista do táxi estava tão alegre, tão animado, que o homem ficou
impressionado. Ele então perguntou para o motorista sobre sua casa e a
família. A esposa do taxista estava para morrer, depois de uma longa luta
contra o câncer. As contas médicas haviam acabado com suas finanças e
sua casa corria o risco de ser confiscada. O passageiro ficou chocado! Esse
homem tão animado tinha problemas enormes!
– Ora, era de se esperar que você estivesse triste e deprimido – ele disse
para o motorista.
– Por quê? – respondeu o taxista. – Não é culpa sua que minha esposa
esteja doente. Ficar desanimado nunca ajudou ninguém. Esse é o fardo que
tenho de levar, e fico grato por meus problemas não serem tão grandes
como o de tantas outras pessoas.
Pode ser que, neste momento, você não esteja disposto a filtrar suas
palavras nem a fazer do seu lar um lugar feliz, especialmente porque há
tanta coisa a desanimá-lo. Mas lembre-se: você está investindo no futuro.
Você está aprendendo que os sentimentos não devem controlá-lo. A
felicidade é contagiosa. A tristeza também. Pode não ser justo que você
seja solteiro, que suas necessidades não estejam sendo supridas e que você
tenha que despender tanto esforço para criar seus filhos sem o apoio do
cônjuge. Entretanto, você pode depender de Deus para que Ele faça aquela
parte que você não pode fazer.
Temos aprendido lições importantes como preparação para criarmos os
filhos de acordo com o padrão celestial – não a maneira mundana tão
comumente vista hoje nos lares de professos cristãos. Deus quer que Seu
povo se destaque dos padrões corriqueiros do cristianismo de aparências.
Ele quer distinguir seu lar como um exemplo guiado por Cristo,
demonstrando um poder interior para viver acima das inclinações da carne.
Ele quer fazer mais por você e sua família do que você possa imaginar. E a
chave para abrir os mananciais de bênçãos celestiais está ao seu alcance,
pois começa com você.
A Voz de Deus
“O Senhor não estava no vento; [...] não estava no
terremoto; [...] não estava no fogo; [...] [mas em]
um cicio tranqüilo e suave” (1 Reis 19:11, 12).

A voz de Deus é como o som de muitas águas. Existem muitas facetas


em Sua voz. Ele fala através das Escrituras, dizendo-nos como
conduzir nossa vida. Ele também fala através da natureza, da
providência, pelas impressões do Espírito Santo e de nossa consciência.
Em tudo isso, Deus nos fala de acordo com a Sua vontade, no momento a
Ele apropriado, e da Sua maneira. Precisamos entender como Deus fala ao
nosso coração e à nossa alma através de todas essas maneiras.
A Bíblia é a espinha dorsal de toda a verdade, e precisamos pôr à prova
os nossos pensamentos e conceitos pela Palavra (ver Isaías 8:20). Ao falar
por meio das Escrituras, Deus nos dá sabedoria e conhecimento com o
propósito de atrair-nos para Si mesmo, o Criador. Na Bíblia, Ele mostra-Se
como um Deus pessoal. Ele revela Seu caráter de modo que possamos
reconhecê-Lo ao Ele usar outras vozes com que fala. Neste capítulo, quero
compartilhar a maneira pela qual Deus nos fala e nos guia através do dia,
usando canais que são menos óbvios do que as Escrituras, mas igualmente
importantes. Deus quer caminhar e conversar conosco, assim como fez
com Enoque. Venha comigo.
Eu havia acabado de pôr Andrew no berço, esperando que ele parasse de
chorar e dormisse. O desespero e o cansaço ameaçavam me dominar. Eu já
havia andado com o bebê no colo durante boa parte da noite, tentando
desesperadamente acalmar suas cólicas para que Jim pudesse dormir. Eu
tentara de tudo, e nada funcionava. O bebê estava exausto, e eu também.
Cansada de vigílias noturnas como essa, mergulhei nas tarefas domésticas
e no cuidado do meu incansável bebê de dois anos. Logo eu estava
esgotada, e os sentimentos de fracasso se instalaram dentro de mim. “Não
posso mais com isso!”, eu lamentava.
“Mas qual é o meu problema? Por que minha vida é tão difícil?”, eu me
perguntava. Eu questionava se Deus estava me castigando. “Senhor, sou
um estorvo para o Senhor! Eu fico zangada e impaciente. Nunca digo a
coisa certa no momento certo. Como posso continuar assim? Sou um
enorme fracasso, Senhor. Por que Tu não desistes de mim de uma vez? Eu
era uma boa enfermeira que fazia o bem, mas, como mãe, qual é o bem
que estou fazendo?”
Mesmo nessas etapas iniciais de desespero, Deus estava tentando falar
comigo, embora eu não percebesse naquele momento. Com sucesso,
Satanás tinha desviado minha mente de Cristo, a fonte da minha força,
fixando-a nas minhas dificuldades e falhas. A idéia de dialogar com Deus
era algo estranho para mim. Mas o que eu tinha a perder? Então, orei:
“Senhor, entendo que preciso dedicar-Te um tempo para que Tu fales
comigo, e não tenho feito isso. Tenho certeza de que queres me dizer quão
má eu sou e ajudar-me a ver tudo aquilo em que preciso mudar.” Veja
bem, minhas idéias negativas estavam dando o tom da minha percepção de
Deus!
Ajoelhei-me com o coração pesaroso, tentei ao máximo não pensar em
nada, e esperei que Deus me endireitasse. Mas tudo o que veio foi uma
suave impressão: “Sally, eu amo você.”
“Uau!”, pensei, intrigada. “Essa impressão deve ser a dos meus próprios
pensamentos tentando me dizer coisas que Tu sabes que não mereço.
Senhor, perdoa-me! Outra vez, entrego-me aos Teus cuidados e peço-Te
que me mostres como vais falar comigo. Necessito muito da Tua ajuda!
Sou uma pessoa má. Tens minha permissão para fazeres tudo aquilo de
que preciso!” Silenciosamente, outra vez esperei pela resposta de Deus.
Ele impressionou minha alma, dizendo pela segunda vez: “Sally, eu amo
você.” Eu ainda duvidava.
“Sally, eu amo você!”, Deus disse de maneira ainda mais doce pela
terceira vez.
Comecei a chorar porque, de alguma maneira, minha mente e meu
coração começaram a compreender que aquilo era Deus falando
pessoalmente comigo! Como podia Ele amar a tola e fracassada Sally?
Deus sabia exatamente o que dizer para conquistar meu coração. O
Senhor não estava no vento, nem no terremoto e nem no fogo, mas em
uma suave voz falando à minha mente. Ele viu que eu estava me dirigindo
para a prisão do desespero, e queria me libertar. Ele não Se importou com
minhas falhas passadas. Ele me amou, sendo eu ainda pecadora.
Finalmente, me ocorreu que todos somos indignos. Deus sabe disso e não
Se envergonha de nós, não importa o que tenhamos feito. Somente por
meio dEle podemos sair das dificuldades em que nos encontramos.
Você percebe como a voz da carne estava lutando contra a voz do
Espírito? Satanás me impelia a acreditar nas visões exageradas que eu
tinha dos meus erros, enquanto Deus queria me libertar de todas aquelas
mentiras debilitantes e destrutivas. A voz de Deus nos traz desafios ou
pensamentos novos para mudar nossas perspectivas e nossas visões. Foi o
fato de estar convencida de que Ele me amava que me conduziu para mais
perto dEle e que fez com que eu passasse a ouvir mais atentamente.
Não sei quanto a você, mas eu ouço melhor quando sei que sou amada. O
amor derruba barreiras e me ajuda a ficar disposta a olhar para meus
pensamentos de maneira diferente. Deixar velhos hábitos é um processo e
não algo que ocorre de uma só vez. Esse foi um começo importante, e em
tempo Deus livrou-me dos meus padrões de pensamentos errados. Antes
disso, porém, eu tive lições que se tornariam realidade.
Assim como eu precisava saber que Deus me ama, nossos filhos também
precisam saber que nós os amamos. Nenhuma correção ou instrução terá o
efeito desejado se não estiver fundamentada em nosso amor. Como Cristo,
devemos amar o pecador ao mesmo tempo em que corrigimos o mau
comportamento através do poder do Seu amor. Não estou falando de um
amor condescendente, que não assuma responsabilidades, mas da
necessidade de misericórdia e justiça em igual medida. Não queremos de
nossos filhos apenas uma obediência aparente; queremos genuína
obediência, aquela que brota de um coração disposto e é capaz de mudar-
lhes o pensamento, a maneira de portar-se, o viver.
Para os pais, a pergunta é: Sabemos, de fato, o que nossos filhos precisam
em termos de correção, treinamento e instrução? Eles precisam apenas de
amor e compreensão? Ou precisam de incentivo, educação e experimentar
as conseqüências de seus atos? Nem sempre sabemos, não é? Com
freqüência, pensamos que sabemos, mas muitas vezes estamos errados.
Mas Deus sabe, não sabe? Então, por que não recorremos a Ele? Com
freqüência, não buscamos Sua sabedoria porque não experimentamos o
privilégio de conhecê-Lo. Por isso, continuamos agindo com desequilíbrio,
quando poderíamos ter o conselho dAquele que pode ler os pensamentos
dos nossos filhos.
O ambiente de amor promove o crescimento, e Deus teve primeiro que
me mostrar que Ele não me rejeita por causa do meu comportamento, que
Ele me ama apesar de tudo e quer ensinar-me como posso mudar. Isso
afetou minhas reações aos meus filhos. Veja, se eu puder aprender a lição
de que meu Pai celestial me ama, que posso recorrer a Ele a qualquer
momento e que Ele vai receber-me e dar-me poder para mudar, então
posso treinar meus filhos de um jeito melhor, e eles não terão que aprender
essa lição na fase adulta, assim como eu. Quando Cristo dirige nossas
ações, podemos evitar repassar os pobres mecanismos para lidar com
problemas que nossos pais podem ter inadvertidamente passado para nós.
A voz de Deus não é audível. Não é um sinal vermelho piscando a
indicar: “Aqui é Deus trazendo este pensamento à sua mente.” Sua voz é
um pensamento, uma lembrança, uma orientação, uma opção ou uma
providência do Espírito Santo de acordo com o caráter e a Palavra de Deus
que dá direção para as nossas necessidades atuais. Ela atua de acordo com
Isaías 30:21: “Os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo:
Este é o caminho, andai por ele.” Mais do que nunca, devemos julgar
nossos pensamentos no que diz respeito a sua origem.
Uma lei governa a mente humana. Colocada de maneira simples, ela diz
assim: “Quando uma mentira é dita com freqüência, passa-se a acreditar
nela.” Satanás, o pai da mentira, usou isso contra mim, dizendo-me
repetidas vezes o quão indigna eu era. Meus sentimentos respondiam a
essas sugestões e tinham uma grande influência sobre mim.
Embora Satanás use a lei da mentira, Cristo usa a lei oposta, que é: “E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Eu tinha
dificuldade de aceitar a verdade de que Deus me amava. Mesmo assim, Ele
queria conduzir-me à profundidade desse pensamento. Um dia, Deus disse:
“Sally, você é mais preciosa para mim do que o ouro.”
Eu respondi: “Senhor, Tu és muito bondoso. Sei que sou indigna, mas
fico feliz por me amares mesmo assim.”
“Não, Sally, você é mais preciosa para mim do que o ouro! Eu mentiria
para você?”
“Acho que não.” Eu ainda lutava com minhas emoções, as quais me
impeliam a rechaçar esse pensamento.
“Sally, quero que você diga assim: ‘Sou mais preciosa do que o ouro.’”
“Senhor, quero obedecer-Te. Essa é minha escolha. Mas não acredito que
esta seja a minha verdade.”
“Quero que você diga esta verdade de maneira audível para Mim.”
Deus estava tentando fortalecer-me e aprofundar minha experiência com
Ele, reforçando o Seu amor e o meu valor para Ele.
“Senhor... Eu tenho valor... Oh, não posso dizer isso, pois não é
verdade!”
“Tente outra vez. Eu posso garantir que isso é verdade. Você vai
conseguir, comigo. Creia e obedeça à Minha palavra acima dos seus
sentimentos.”
“Está bem, vou tentar.” Respirei fundo e disse: “Eu tenho valor... eu
tenho valor... Tenho mais valor do que... Não, não consigo dizer!”
“Sally, você quase conseguiu. Tente mais uma vez, e você consegue.”
“Ah, Senhor, é tão difícil! O que me atrapalha tanto?”
“São os seus antigos padrões de pensamento, Sally. Ignore-os.”
Finalmente, eu disse: “Senhor, eu valho mais do que o ouro – em Jesus!”
Acrescentar “em Jesus” foi o que me ajudou a completar a frase. “Em
Jesus, posso ser digna”, pensei.
“Diga uma vez mais, Sally.” Ele sabia que seria bom para mim, apesar de
eu achar aquilo muito difícil.
Repeti mais uma vez, de forma audível. E fui repetindo, repetindo. E
cada vez que pronunciava aquela frase, eu me sentia cada vez mais livre
dos pensamentos mentirosos que me governaram por tanto tempo. A cada
vez que eu repetia, mais fácil ia ficando, e eu cria mais. A verdade dita
várias vezes finalmente me libertou.
Será que a voz de Deus nas Escrituras está de acordo com minha
experiência? Claro que sim. “Farei que os homens sejam mais escassos do
que o ouro puro, mais raros do que o ouro de Ofir” (Isaías 13:12). Deus
ama a você e a mim de tal maneira que nos guarda como a menina dos
Seus olhos e nos esconde sob a sombra de Suas asas (ver Salmo 17:8). Ele
gravou a você e a mim nas palmas das Suas mãos (ver Isaías 49:16). A
Bíblia diz que eu sou de grande valor, e Deus confirma isso com Sua doce
voz falando à minha mente. E, finalmente, eu passei a acreditar nisso. “As
Minhas ovelhas ouvem a Minha voz; eu as conheço, e elas Me seguem”
(João 10:27).
Por causa da minha grande inclinação para o negativo, eu não precisava
ouvir o quão má eu era. O que eu precisava ouvir era o quanto Deus me
amava! Nossos filhos precisam dessa mesma abordagem. Eles somente
chegarão à compreensão de como Deus verdadeiramente os vê quando
verdadeiramente mostrarmos o Seu caráter de amor. Melhor do que eu,
Deus sabe quais palavras meu filho precisa ouvir de mim para cultivar o
seu amor e sua compreensão antes que seu coração se abra para a instrução
e a mudança. Através da conexão com Cristo podemos fazer com que a
mudança seja não apenas possível, mas também atraente. É bom que
nossos filhos enfrentem seus medos e seus maus hábitos, e descubram que
podem mudá-los. A sabedoria humana carece infinitamente da sabedoria
divina; e é por isso que precisamos comungar com Deus antes de
comungarmos com nossos filhos. Isso se aplica especialmente se a
situação envolver correção, pois esta é a área onde há maior possibilidade
de sermos mal compreendidos por nossos filhos, que podem achar que não
os amamos.
Essa necessidade de primeiro consultar a Deus antes de falar com meu
filho, mesmo estando segura quanto ao que precisa ser feito, foi a primeira
lição de Deus para mim sobre criação de filhos. Para saber se devia ser
branda ou firme, tive que aprender a perguntar para mim mesma: “Estou
eu no comando, ou está Deus? Quem está liderando?” E, assim fazendo,
aprendi – e ainda estou aprendendo – como fazer para submeter-me a
Deus.
A maneira como vejo minha relação com Deus será também a maneira
como verei minha relação com meus filhos. Equivocadamente, acreditei
que Cristo olhava para mim de uma maneira negativa e com ar de
reprovação, e eu olhava para os meus filhos da mesma maneira. Ao livrar-
me desse conceito errôneo, Ele também livrou os meus filhos, pois eles
colheram o benefício do meu novo entendimento. Pude ver que esse é o
alicerce da prática de criar nossos filhos. Precisamos aprender a considerá-
los como Cristo nos considera.
Os pais precisam ver a vida a partir da perspectiva de Deus porque nossos
filhos aprenderão de nós. Precisamos demonstrar o equilíbrio entre o amor
e a firmeza. Deus pretende que nossos filhos cheguem mais alto em suas
experiências com Ele, mais alto até do que nós, seus pais, já chegamos. É
Sua intenção que cada geração O sirva e que ela seja restaurada o mais
fielmente possível à condição original do homem. Infelizmente, este não
tem sido o caso. O processo precisa começar em algum lugar e, de acordo
com o que descobrimos no último capítulo, ele deve começar conosco. Se
vamos mudar, a comunicação com Deus é o primeiro passo. Quanto mais
você ouve Sua voz, mais fácil é reconhecê-Lo falando em meio à multidão
de vozes que disputam sua atenção. Há a voz da nossa carne com suas
exigências, a voz de Satanás tentando nos induzir ao pecado e a voz de
Deus nos incentivando a vencer. Claramente, saber discernir essas vozes é
uma habilidade essencial. Esse é o foco deste capítulo. Deixe-me mostrar-
lhe como isso funciona na vida diária através de uma história que chamei
simplesmente de “A Viagem à Cidade”.
Quando nos mudamos para Montana, não fomos morar em uma cidade e
nem mesmo nos subúrbios. Fomos morar em um local verdadeiramente
agreste. De onde moramos, leva uma hora e meia para chegar à cidade!
Considerando ida e volta, uma viagem à cidade toma-me pelo menos três
horas dirigindo – e sem fazer nada do que tenho que fazer. Assim,
rapidamente aprendi que eu tinha de ser muito eficiente se quisesse mesmo
fazer o que tinha que ser feito. Por isso, eu tinha tudo planejado – quais
lojas visitar e uma lista de compras para cada uma delas.
Antes de continuar, vou permitir que vocês conheçam um segredo sobre
Sally Hohnberger: eu gosto de conduzir meu próprio espetáculo; sou uma
pessoa muito organizada. Assim, ao entrar no carro para ir à cidade, eu
estava preparada. Eu tinha comigo um lanche feito em casa, os artigos que
precisavam ser devolvidos para as lojas, as coisas que precisavam de peças
de reposição e, naturalmente, a minha lista. Jim e eu oramos, demos um
beijo de despedida e engrenei a primeira marcha. Foi quando a voz suave e
meiga de Deus falou-me: “Você pegou sua bolsa?”
“Claro que peguei minha bolsa”, respondi.
Outra vez, me veio o pensamento: “Tem certeza de que pegou sua
bolsa?”
“Bem, estou certa de que a coloquei no carro.” Olhei, mas não vi
nenhuma bolsa. “Hummm... é melhor ir ver se a deixei na lavanderia, onde
sempre a deixo.”
Ao voltar para o carro com a bolsa, perguntei: “Senhor, aquela era a Tua
voz falando a mim?” Não houve voz audível em resposta, nem qualquer
impressão clara em minha mente dizendo sim ou não. As Escrituras não
diziam nada sobre minha bolsa. “Como posso saber?”, perguntei-me.
Assim mesmo, senti que era mesmo Deus falando a mim. Sou muito
agradecida por não ter saído sem minha lista e minha bolsa. Teria sido um
desperdício ir à cidade sem elas.
“Se Deus Se importa comigo a ponto de não haver deixado que eu
esquecesse minha bolsa, livrando-me assim de todas as conseqüências que
isso iria trazer”, disse para mim mesma, “Ele deve também importar-Se
com todas as pequenas coisas em minha vida!” Tomando uma decisão,
orei: “Senhor, Tu tens a permissão de interromper meus pensamentos a
qualquer momento hoje, pois sei que és meu melhor amigo. Ajuda-me a
reconhecer Tua voz.” Ele está sempre perto de nós.
Esses pensamentos me conduziram de volta ao tempo em que morávamos
em Wisconsin, quando pela primeira vez comecei a compreender o amor e
o cuidado de Deus, e comecei a ver Sua mão amorosa e guiadora em
minha vida. Eu decidira falar com Ele sobre as cólicas do Andrew porque,
francamente, depois de cinco meses, eu já não sabia mais o que fazer. Ele
mamava no peito, e não na mamadeira. Qual seria, então, o problema? Ao
pensar e orar sobre a situação, uma idéia veio ao meu pensamento. “Ajuste
sua dieta.” Esse era um conceito totalmente novo para mim, e eu sabia que
Deus devia estar tentando me dizer alguma coisa. Talvez eu estivesse
ingerindo algo que contribuía para as cólicas de Andrews. Agindo com
base nesse novo pensamento, li diferentes livros. Eu conversava com
qualquer pessoa que ouvisse minha história. Orava. Como resultado, decidi
retirar todos os alimentos estimulantes e os temperos mais fortes da minha
dieta. Mas Andrew não melhorava das suas cólicas.
As Escrituras não nos falam especificamente sobre cólicas, de modo que
eu não busquei respostas nelas. Mas procurei a ajuda de Deus através da
oração, esperando que Ele me impressionasse com outro pensamento. Não
tive resposta. Mesmo assim, confiei que, de alguma maneira, Ele me
mostraria o que fazer.
A providência é outra voz de Deus. Nada acontece em nossa vida sem a
aprovação de Deus, que tudo sabe. Aquilo que alguns chamam de destino
ou coincidência é, freqüentemente, a obra providencial de Deus. Portanto,
sei que foi Deus que me levou a uma dietista que sugeriu que a carne
também pode ser um estimulante e que eu devia tentar eliminá-la da minha
dieta por um tempo e ver o que acontecia com Andrew. Depois de dois
dias sem comer carne, as cólicas do Andrew desapareceram! Aquilo
funcionara, e eu estava muito agradecida ao meu Amigo que me amava e
que me ajudara. Pela primeira vez, Andrew dormiu por cinco horas
seguidas – um recorde! Ele tornou-se um bebê calmo, feliz e contente.
Dormindo mais, eu mesma fiquei mais feliz e mais positiva. Deus estava
tornando-Se um amigo real. Não, não foi uma transformação da noite para
o dia. Para mim, o processo que me levou a uma contínua comunhão com
Deus ocorreu aos poucos, mas houve mudanças definitivas. Deus quer nos
livrar de nossas dificuldades. Timidez e insegurança ainda exercem suas
influências, mas Deus nunca desistiu de mim enquanto eu crescia e
desenvolvia confiança nEle. Eu não fazia idéia de quão rapidamente eu
precisaria daquela confiança.
Um dia, deixei Matthew, então com dois anos de idade, brincando em
uma caixa de areia com Shilo, nosso spaniel britânico, enquanto eu subia
até o quarto para pôr Andrew para dormir. Fiz uma curta pausa para
contemplar meu bebê, feliz por vê-lo ajeitar-se para o seu soninho sem ter
que se contorcer pela dor causada pelas cólicas. Desci a escada e descobri
que Matthew não estava mais na caixa de areia! Aonde ele fora? Olhei por
todas as janelas, verificando todos os lugares onde o meu aventureiro filho
normalmente estaria. Mas ele não estava em lugar nenhum. Corri para
fora, chamando-o, mas não houve resposta! Tentei chamar Shilo. O
cachorro também não respondeu, e comecei a entrar em pânico.
Rapidamente, encontrei o Jim e, juntos, de maneira sistemática,
começamos a procurar pelos dezesseis hectares da nossa propriedade,
muitos dos quais eram de mata e repletos de arbustos. Pensamentos
terríveis percorriam nossa mente. Sabia-se que cães pastores locais
juntavam-se em matilhas e atacavam veados. Será que atacariam um
menino? Instintivamente, corri pela mata, seguindo várias trilhas. Depois
de um tempo, cheguei a uma clareira, perto da nossa lagoa. Oh, não! Será
que ele caíra na água e se afogara? Agora, eu estava realmente muito
preocupada. Matthew adorava brincar na água sem medo, embora não
soubesse nadar. Corri pela beirada da lagoa procurando algum sinal dele,
sem encontrar nada. Jim também estava correndo e procurando. Podia
escutá-lo chamando Matthew. Quase em frenesi, nos encontramos em uma
campina. “Vamos orar!”, Jim sugeriu, e assim fizemos. “Deus, Tu sabes
onde o Matthew está. Com dois anos, ele não consegue falar muito, mas
sua coordenação motora é excelente, e isso não é bom. Ajuda-nos a
encontrá-lo!”
Não dava para distinguir nenhuma impressão em meio ao medo que
inundava nossa alma. A lógica exigia um plano diferente. Jim sugeriu que
chamássemos todos os nossos vizinhos para ajudar numa busca
sistemática. Mas, enquanto Jim estava no telefone, eu não podia ficar
parada.
“Senhor, onde posso procurar? Preciso ficar calma. Dá-me a calma e a
lógica que preciso nesta situação. Sei que, de alguma maneira, Tu vais
guiar-me ao lugar aonde preciso ir.” Olhei para possíveis direções por
onde Matthew poderia ter ido, e decidi que um menininho poderia ter
caminhado para a mata que ficava atrás da caixa de areia. Deus guia nossa
lógica e raciocínio quando Lhe pedimos. Ao pegar a trilha, percebi que eu
estivera ali duas vezes e que Jim também já procurara ali, sem sucesso.
Mesmo assim, senti que era ali que eu devia estar. “Matthew! Shilo!”,
chamei. Matthew poderia estar perdido, mas era improvável que Shilo
estivesse. Continuei a chamar Shilo. Finalmente, ele veio correndo.
– Cadê o Matthew, Shilo? – perguntei. Ele começou a correr pela trilha,
na direção de onde viera. Eu o segui até que ele parou numa bifurcação. Eu
esperava por uma experiência como as de Lassie. Shilo hesitou; sua
liderança tornou-se indistinta e incerta.
“Senhor, qual das duas trilhas?” Senti que devia seguir a da direita.
Peguei aquela trilha com Shilo me seguindo de perto. “Quando te
desviares para a direita e quando te desviares para a esquerda, os teus
ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra dizendo: Este é o caminho, andai
por ele” (Isaías 30:21). Eu estava vivendo esse verso, embora naquele
momento não o soubesse. Ao passar por uma clareira, chamei Matthew
mais uma vez, tentando cuidadosamente ouvir qualquer som. Pensei ter
ouvido algo à minha esquerda. “É por aqui, Senhor?”
Senti que a resposta era sim, e caminhei pela clareira até outro local onde
havia mais mata. E ali estava Matthew, mais ou menos uns sete metros à
minha frente. Ele estava sentado no chão, enganchado em um pequeno
pedaço de arame farpado que havia sido aprisionado por um galho de
árvore que se posicionara de um jeito que o arame não saía do lugar.
Como é que Deus nos guia diretamente até o lugar onde precisamos estar
sem que sequer entendamos o jeito com que Ele nos guia? Eu não sei.
Deus é Deus, e pode fazer essas coisas, mesmo que não consigamos
explicar como. Verdadeiramente, Ele nos ama e comunica-Se conosco.
Como foi que Ele fez com que um ruído produzido por Matthew chegasse
aos meus ouvidos? Ele é maravilhoso! Deus usou impressões, meus
sentidos, meu raciocínio e Sua direção providencial. Tudo isso era a Sua
voz a guiar os meus passos.
Uma alegria indizível tomou conta de mim ao livrar Matthew daquele
arame farpado e colocá-lo em meu colo. Surpreendentemente, ele estava
absolutamente calmo. Totalmente alheio a qualquer perigo, ele tinha
apreciado sua aventura. De volta para o nosso quintal, notei que ali
estavam os veículos dos nossos vizinhos, que largaram tudo para vir
ajudar-nos. Ao chegar mais perto, ouvi Jim dando instruções sobre o
esquema a ser utilizado na busca no meio da mata.
– Eu o encontrei! O perdido foi achado! – gritei repetidas vezes. E onde
momentos antes havia ansiedade, passou a haver comemoração.
Nosso Deus é pessoal assim! Ele pode mesmo guiar-nos até um filho
perdido. E, na rotina do dia-a-dia, Ele quer muito comunicar-Se conosco
para ajudar-nos a dirigir nossos filhos. Estamos clamando a Ele?
Separamos tempo para falar com Ele, buscar Seu conselho e ouvir Sua
voz? Você conhece Sua voz? Nossa parte é clamar-Lhe em nossa
necessidade, ouvir e cooperar com Ele. É preciso estudar um pouco para
aprender sobre o caráter de Cristo e alguma experimentação para
reconhecer a voz de Deus. Ele não pode ouvir ou estudar por nós, mas, se
nos esforçarmos, poderemos achar compensador esse trabalho.
A parte de Deus é ouvir nosso clamor, inspirar nosso curso de ação e dar-
nos pensamentos corretos. Então, ao cooperarmos, o Seu poder divino é
derramado em nossa vida, subjugando nossos pensamentos temerosos,
nossas emoções e sentimentos – no momento e da maneira que Lhe
aprouver. Deus fará tudo que não podemos fazer. Satanás e todas as suas
hostes não podem derrotar o mais fraco dos seres humanos se este estiver
conectado com Deus. Não podemos fazer a parte de Deus – salvar e
revestir-nos de poder. Muitas pessoas sinceras fracassam ao tentarem
salvar a si mesmas, pois isto não está ao alcance do homem. Ao fazermos
isso, prestamos adoração a um deus sem nenhum poder.
Ao aprendermos a reconhecer a voz de Deus e a cooperar para que Ele
mude nossa atitude e nosso caráter, este exemplo vivo demonstrará para
nossos filhos como também eles podem ser guiados por Deus e ser
revestidos de poder. As crianças aprendem principalmente por nosso
exemplo, seja ele bom ou mau. Elas se tornarão aquilo que colocarmos
diante dos seus olhos para que imitem. Se quisermos que Deus nos guie ao
dirigirmos nossos filhos, precisamos tornar-nos filhos de Deus. Precisamos
aprender a reconhecer Sua voz e a adquirir a experiência de dar atenção a
essa voz. Ao aprendermos essas coisas básicas, guiados por Cristo teremos
um testemunho para compartilhar com nossos filhos, e esse testemunho
trará sabedoria e poder genuínos à tarefa de criá-los. A criação de filhos
não devia tornar-se apenas uma modificação no comportamento pelo poder
da carne, mas um desenvolvimento do caráter e um treino prático pelo
poder de Jesus Cristo, nosso Salvador e Criador.
Como podemos ter certeza de que é a voz de Deus que está
impressionando nossa mente? Como posso evitar ser enganado?
Todas as vozes de Deus, seja a que encontramos na Bíblia, seja a Sua
providência, a impressão do Espírito Santo, o raciocínio, a consciência, a
natureza, ou o conselho de um amigo, estarão de acordo quando Deus está
guiando. A voz de Satanás traz confusão e vozes conflitantes. Se estiver
em dúvida, faça a si mesmo algumas perguntas simples: A voz,
pensamento ou emoção está de acordo com a Palavra de Deus? Se estiver,
ela promoverá confiança em vez de medo, amor em vez de ódio, paciência
e bondade em vez de palavras rudes ou raiva. A voz ou pensamento
promove atos coerentes com os princípios do reino de Deus? O
pensamento vem do Espírito de Deus, que oferece uma mão auxiliadora,
ou do espírito compulsório e de imposição que vem de Satanás?
Com toda segurança, a Escritura pode ser considerada autorizada quanto
àquilo que ela fala. Entretanto, muitas situações não são tratadas de
maneira clara na Bíblia. Se as Escrituras não confirmam nem negam
diretamente o pensamento ou impressão em questão, olhe para o princípio
implícito.
Um dia, depois de termos nos mudado para as montanhas, eu estava
descansando no quintal da nossa casa, absorta pela beleza da natureza que
nos cercava. Ao estar ali, quieta e pensativa, uma impressão simples me
veio ao pensamento: “Sally, você precisa conversar com Jim sobre
______”. E Deus mencionou uma opinião específica defendida
incorretamente por Jim.
“Ah, não, Senhor! Jim tem o temperamento forte. Não posso fazer isso!
Dizer para o Jim que ele está errado? Isso aí deve ser o diabo falando
comigo. Mas, e se for o Senhor que estiver falando? Será que é?”
Outra vez, uma voz suave disse: “Sally, você precisa conversar com Jim
sobre isso.”
“Senhor, Tu sabes o quanto minha personalidade detesta conflitos. Mas
estou disposta a fazer isto se és Tu que estás falando comigo.”
“Sim, Sally, Eu estarei com você. Toma a Minha mão, e faremos isso
juntos. Confie em Mim.”
Olhei para o gramado, as árvores e os cumes das montanhas a tocar o
céu. Segui a voz da natureza levantando minha mão no ar como se
segurasse a mão de Jesus na minha mão.
Entrei na sala de estar onde Jim estava trabalhando em sua escrivaninha e
disse:
– Jim, você gostaria de caminhar um pouco comigo agora? Sei que você
está ocupado. Se não puder, tudo bem.
No fundo, eu esperava que ele não quisesse sair para caminhar. Eu
conhecia muito bem sua personalidade, e era muito provável que ele não
concordasse em ir. Afinal, quando Jim está mergulhado em uma tarefa, ele
não gosta de parar.
– Claro que sim, querida – ele respondeu. – Seria ótimo caminhar um
pouco com você. Acabei de ficar livre disto aqui!
E, com entusiasmo, colocou de lado seus papéis.
“Oh, não!”, eu disse para mim mesma. “Agora não tem mais jeito.” A
voz da providência apenas confirmou a impressão daquilo que a voz de
Deus e a natureza haviam dito. Senti de maneira muito forte que aquela
impressão era mesmo do Senhor. “Senhor, estou confiada na Tua força e
não na minha fraqueza.” Começamos a caminhar e, antes que eu me
descontrolasse, rapidamente disse para Jim o que Deus colocara em meu
coração.
– Sally, de onde foi que você tirou essa idéia tola? – Jim perguntou, e
começou a defender-se.
No passado, eu tentava resolver um problema minimizando o conflito. Se
alguém discordava com veemência dos meus conceitos, eu preferia não
argumentar, mesmo sabendo que estava certa. Sob o estresse do conflito,
minha mente ficava como um fragmentador de papel. Eu não conseguia
juntar dois pensamentos para formar um argumento lógico. Agora, ao Jim
discordar de mim, senti que começava a perder-me em meus pensamentos
como sempre fizera em situações como aquela.
“Sally, controle seus pensamentos! Estou aqui com você; confie em Mim!
Esta não é uma boa maneira de responder às dificuldades. Tenho uma
maneira melhor. Confie em Mim! Comigo você estará bem!”
Imaginei-me tomando a mão de Jesus outra vez ali mesmo, no caminho,
enquanto Jim falava. Pela primeira vez, fui capaz, através do poder de
Cristo, de continuar a conversa com Jim até o fim, sem perder o controle
dos meus pensamentos. Foi um milagre com que nunca sonhei!
Conversamos durante os vinte minutos da nossa caminhada e, no fim,
embora Jim e eu não concordássemos, voltamos para nossas afazeres sem
que houvesse uma barreira entre nós dois. Não senti o mesmo fardo de
culpa e revolta que normalmente sentia após um conflito. No passado, eu
poderia ficar recolhida e não falar com Jim pelo resto do dia, mas, em vez
disso, meu coração ficou enternecido e, desta vez, não precisei distanciar-
me dele.
Na manhã seguinte, Jim me disse que, em seus momentos de devoção,
Deus lhe revelara que eu estava certa, e agradeceu-me por conversar com
ele sobre aquele assunto. Uau! Com experiências como essa, minha
confiança na voz de Deus crescia. E é dessa maneira que Deus quer que
você também entre na escola de Cristo, onde Ele o ensinará a conhecer Sua
voz por meio da experiência.
Quando Deus pediu-me que conversasse com Jim, eu não tinha certeza de
que era a Sua voz que me falava. Ao testar aquela impressão através da
providência, tive certeza de que era a voz de Deus, mas ainda assim era
apenas um julgamento. Após a experiência, tive plena certeza de que era a
voz de Deus, por causa do fruto.
Ao pararmos para avaliar nossas experiências, normalmente fica muito
claro se é Deus ou não que nos fala. Às vezes, cometeremos erros de
julgamento. Mas podemos aprender tanto com resultados negativos como
positivos. Felizmente, Deus não está à espera que erremos para nos
fulminar. Ele quer que aprendamos a fazer melhor as coisas da próxima
vez.
As impressões do Espírito Santo são outra via de acesso importante que
Deus usa para comunicar-Se com você e comigo. Mas nunca devemos
presumir que cada pensamento vem de Deus. Devemos testar as
impressões pelas Escrituras por orientações providenciais, pelo raciocínio
e pela consciência para confirmar o que nos parece ser a voz de Deus. João
diz: “Não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se
procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo
afora” (João 4:1). Satanás pode usar até mesmo as Escrituras para nos
enganar; por isso, discernimento é vital. Quando Satanás tentou Jesus no
deserto, ele citou as Escrituras, mas o fez com a intenção de falsificar a
verdade, e esse espírito é típico do caráter de Satanás.
Se a voz é de Deus, ela vai dar-lhe perfeita liberdade. Deus quer que
estejamos dispostos a obedecer. Isto tem maior valor para Ele do que uma
conformidade apenas exterior ou o serviço feito com má vontade. As
sugestões de Deus dão-nos plena liberdade para escolher a favor ou contra
Ele. Se escolhermos ficar contra Ele, ainda assim Ele nos buscará com
amor e ternura.
Mas o escolher ficar contra Ele traz conseqüências. É com amor que Ele
permite essas conseqüências, para que elas despertem em nós a
necessidade que temos dEle e para que ocorram mudanças em nossa vida.
Cristo está sempre a nos buscar. Ele nos concede tempo para pensar e
decidir. Não há nada que nos force no Espírito de Cristo.
O espírito de Satanás atua de forma diferente. Ele pode começar dando-
lhe seus pensamentos como meras sugestões, mas, se você fizer uma
escolha contra ele, seu espírito passa a exercer a força e a compulsão.
Satanás é como um vendedor insistente que continua dizendo que você
tem que tomar uma decisão agora e que, amanhã, sua oportunidade
dourada pode não existir mais. Satanás pressiona para que você tome
decisões apressadas. Tendo-o sob sua influência, ele não lhe dá tempo para
pensar. Se você hesitar, ele fica com medo que você diga não para ele ou
que perceba seus truques. Por isso, ele aciona os botões de suas emoções
errôneas. Essas emoções compelem você a usar suas técnicas inadequadas
para a solução de problemas, as quais o mantêm sob o controle dele. Desde
aquele dia, nunca mais voltei a deixar que meus pensamentos ficassem
fora de controle.
Precisamos ficar atentos para que, ao interagirmos com nossos filhos, não
recorramos ao mesmo espírito que é usado por Satanás. Temos sido
expostos ao espírito compulsório de Satanás por toda a vida, e não causa
surpresa que nós mesmos tendamos a adotá-lo. Mesmo se estivermos cem
por cento corretos no que pedimos que nossos filhos façam, se nosso
espírito for como o de Satanás, estaremos cem por cento errados em nossa
abordagem e não poderemos realizar nenhum bem. Portanto, se falamos a
verdade para nossos filhos ao corrigi-los, mas temos um espírito errôneo,
cheio de rancor e de rudeza, estamos agindo contra as próprias coisas que
desejamos.
Não importa quantos erros cometamos ao criar nossos filhos, não temos
mais que obedecer às mentiras, nem aos pensamentos enganadores, nem às
emoções constrangedoras. Jesus nos livrará desse cativeiro se a Ele
recorrermos. Deus deseja falar-nos através da Sua Palavra, Seu Espírito
Santo, orientações providenciais, a natureza, as impressões, a consciência
e o raciocínio para guiar-nos pelo caminho da vitória. “As Minhas ovelhas
ouvem a Minha voz; Eu as conheço, e elas Me seguem” (João 10:27).
Muitos dos exemplos citados neste capítulo são preciosos ao meu coração
porque me fazem lembrar do quanto Deus me ama e como Se comunica
comigo. Todas essas experiências me conduziram para Deus na busca da
solução específica que preciso. Essas provações fizeram com que eu
respondesse cada vez mais a Cristo e fortaleceram minha interação com
Ele. Deus nem sempre me respondeu quando eu desejava, mas sempre no
momento em que Ele sabia ser melhor. Se Deus Se importa com coisas tão
pequenas, não estará também interessado em suas dificuldades maiores,
como dinheiro, tempo, os intermináveis conflitos no trabalho e o cuidado
dos filhos? Não estará Ele interessado nas extraordinárias relações
interpessoais causadas por sua situação, não apenas nas questões com seu
ex-esposo ou ex-esposa, em muitos casos, mas também com o estresse de
formar e manter uma família mista? Saiba que Jesus entende você. Ele Se
preocupa com você e lhe estende os braços, não importa quão desanimado
você se sinta. Vá a Ele. Aprenda a discernir Sua voz com a mente e a alma,
pois isso é essencial e vital. Todos nós precisamos continuamente desse
companheirismo com Cristo. Sem isso, não podemos prosseguir.
Subindo a Montanha
“Subiu Moisés a Deus, e do monte o Senhor o
chamou e lhe disse: Assim falarás [... ] aos
filhos”(Êxodo 19:3).

A ntes de mudar-me para Montana, minha convivência com montanhas


de verdade era muito pequena. Afinal, cresci no Centro-Oeste, uma
região mais conhecida por suas planícies do que pelas cadeias de
montanhas. Agora, vivendo nas Montanhas Rochosas, aprendi a amar
aquelas imponentes escarpas, mas também aprendi que escalar uma
montanha requer um tremendo esforço. Escalei várias delas. Os músculos
ficam doloridos; as pernas se cansam e clamam para você parar; a
respiração fica entrecortada e, ao transpor passagens perigosas, logo você
aprende que existem situações e atividades para as quais nenhum
desodorante é suficiente. Chegar ao topo de uma montanha é uma emoção
que compensa todo nosso esforço.
Se essa atividade requer tanto esforço, imagine o que foi para Moisés
quando Deus o chamou para subir o Monte Sinai. Moisés tinha oitenta
anos naquela ocasião. Em minha mente, posso vê-lo fazendo um enorme
esforço para escalar aquela montanha cheia de passagens acidentadas e
íngremes para ir para perto de Deus. Moisés havia sido chamado para
alguma coisa e ele foi adiante com alegria e entusiasmo. Ele se alegrava na
comunhão com o seu Criador. Ele não alegou ser idoso nem pediu maiores
explicações antes de obedecer. Ele não ficou no sopé da montanha
gritando: “O quê?” Ele estava ciente de que a glória e a confirmação o
esperavam. Você e eu também temos um convite – na verdade, mais do
que um convite. Temos uma ordem para subir a montanha para encontrar-
nos com Deus.
Se o meu amor, o meu príncipe encantado, Jim, estivesse no topo de uma
montanha, eu, impulsionada pelo amor, subiria essa montanha apenas para
estar com ele. Nem ursos pardos nem árvores caídas seriam capazes de
deter-me na subida até o topo para estar com ele. Assim como Moisés,
com alegria eu subiria pelos precipícios mais íngremes e enfrentaria as
mais árduas passagens – tudo pela oportunidade de passar algum tempo
com o meu amor. Subir a montanha para passar algum tempo com Deus
deve ter sido igualmente compensador.
Comparo a escalada de Moisés com o aprendizado da arte de dialogar
com o nosso Senhor em nossos momentos de devoção pessoal. Muitas
vezes, é difícil. Uma vez, Deus fala com doçura e dá-nos a solução ali
mesmo, naquele momento. Outras vezes, Ele parece estar muito quieto e
distante. É um teste para nossa paciência aprender a lição de esperar que
Deus fale ou não fale, e encontrar paz em ambos os casos.
Sermos constantes em nosso tempo com Deus também requer esforço, tal
como em uma escalada. Mas é compensador, pois trata-se de termos uma
audiência com o Rei dos reis! Moisés aprendeu a conversar com Deus
como amigo. Ele aprendeu a arte de simplesmente contar a Deus os seus
problemas e, em silêncio, ouvir a resposta de Deus. Devemos fazer o
mesmo.
Moisés era o líder do seu povo. Como pais, somos os líderes de nossa
família. Como pais, temos que superar os obstáculos que enfrentamos
dialogando com Deus, antes de podermos levar nossos filhos em segurança
pelos obstáculos com que eles se deparam ao virem a conhecer Deus. É
por meio da comunhão com Deus que encontramos solução para nossos
problemas. Pode ser que não tenhamos uma montanha literal para subir,
como tinha Moisés. Mesmo assim, cada um de nós é chamado a ir para a
montanha para termos nossos momentos de devoção pessoal com Deus.
Muitos de nós desejamos sinceramente uma relação íntima e pessoal com
Deus. Apesar disso, nem sempre conseguimos tê-la. Neste capítulo, eu
gostaria de explorar a maneira de transformar – se você estiver disposto –
os seus momentos de devoção pessoal. É possível transformar um período
de estudo, ou mesmo de oração, em um momento especial diário de
comunhão com Deus de maneira profunda e íntima, assim como Moisés –
algo diferente e mais revestido de poder do que qualquer coisa que você
tenha experimentado antes. Através do Espírito Santo, Deus quer
comungar com você como um amigo, e interpretar as Escrituras para que
suas necessidades daquele dia sejam supridas. Essa comunicação íntima é
a chave não apenas dessa caminhada pessoal que desejamos com Deus,
mas também para superarmos cada obstáculo com que nos deparemos
como pais. Então, como experimentamos tudo isso? Venha e suba a
montanha comigo.
Quando leio minha Bíblia ou qualquer boa literatura, peço a Deus que
dirija minha mente para interpretá-la corretamente. Assim, assumo a
posição de um aluno diante do grande Professor. Depois de ler uma
pequena porção de um verso, me encosto na poltrona para considerar com
Deus o que li. Ele me atrai para perto de Si e dá-me pensamentos e
aplicações que, embora simples, são profundos e transformadores se forem
com Ele aplicados. Deus nos confere sabedoria desta maneira. Ele não fala
de modo audível, mas traz pensamentos à nossa mente para dirigir nossos
passos (ver Isaías 30:21).
Às vezes, a escalada é dura. Colocar um pé na frente do outro de maneira
constante requer esforço e autodisciplina. O cansaço e a falta de
familiaridade com a tarefa podem causar distração. Satanás sabe disso e
faz tudo o que pode para se opor aos nossos esforços de achegar-nos a
Deus. Ele tenta controlar as circunstâncias para ficarmos assoberbados em
nossos momentos de devoção com Deus. Com sucesso, ele usa os
obstáculos da distração ou da inconstância para evitar que tentemos
conectar-nos com Deus, e para não deixar que tenhamos tempo para ouvir
Suas soluções para nossos problemas. É difícil passar por cima desses
obstáculos durante a subida da montanha, mas o esforço é compensador.
Poucos de nós percebemos que Deus quer muito que nossa instrução seja
pessoal. Ele sabe exatamente o que está diante de nós neste dia, e quer
preparar-nos para estarmos conectados com Sua sabedoria.
Na prática, como são esses obstáculos?
“Senhor, parece que tenho que enfrentar muitos obstáculos quando venho
encontrar-me contigo pela manhã. Como Moisés, quero buscar-Te e ficar
perto de Ti, mas parece que enfrento oposição por todos os lados. Por
exemplo, quando me levanto da cama pela manhã, desço a escada na ponta
dos pés e, silenciosamente, abro minha Bíblia, só para ouvir meu filho se
acordando com um buáááá!, exigindo minha atenção e tomando o tempo
que tenho para Te buscar e conectar-me contigo. Por que isso?”
“Sally, você não está em luta contra a carne e o sangue, mas contra
principados, potestades e os que governam a escuridão. Satanás estará
sempre se opondo à sua escalada para estar comigo no topo da montanha.
Ele aciona os botões das emoções negativas do seu filhinho ou de você
mesma para evitar que você faça conexão comigo. Você se lembra de ter
escalado aqueles precipícios íngremes da última vez que você subiu a
montanha? Você teve que estirar suas pernas além da sua zona de
conforto, e não conseguiu completar aquele trecho mais longo sem que
Jim, que estava adiante, tomasse sua mão para dar-lhe uma ajuda. Da
mesma maneira, você precisa segurar Minha mão para superar esses
obstáculos. Eu vou mostrar o caminho que você deve seguir cuidando das
suas emoções de frustração e dos sentimentos de tristeza do seu filho.
Estou aqui para ensiná-la.”
“Senhor, isto me dá coragem para tentar de novo – e assim farei. Eu
também enfrento o obstáculo da inconstância, o que atrapalha minha
devoção matinal. Tenho boas intenções, mas as circunstâncias me afastam
de Ti. Às vezes, vou me deitar tarde, e acordar cedo no dia seguinte é
muito difícil. O telefone toca na hora do meu culto pessoal, roubando meu
tempo com Jesus. A caldeira faz barulhos que requerem atenção e minha
mente se distrai pensando na lista de compras. O que faço com essas
distrações?”
“Separada de mim, você carecerá de sabedoria, coragem e força. É por
isso que Satanás é tão persistente em distrair você. As circunstâncias não
devem dominá-la. Você deve aprender a controlar suas circunstâncias
usando a sabedoria celestial. Busque-me em primeiro lugar, antes mesmo
de responder às distrações, para que possa selecionar o que deve e o que
não deve ser feito. Eu a ajudarei! Algumas distrações ainda ocorrerão.
Permito isso para ensinar-lhe um jeito melhor de reagir, que é vir a Mim
em primeiro lugar. Muitas coisas podem ser deixadas para depois. Se você
vier a Mim, Eu lhe ensinarei.”
Seja qual for o obstáculo que a impeça de subir a montanha para
encontrar-se com Deus pela manhã, Ele tem a solução para você. Passar
um tempo com Deus e obter Sua perspectiva e soluções resolverão cada
dificuldade ou distração. Só tomando Sua mão é que poderemos superar
cada obstáculo que seja grande demais para nós. Ele gosta que O
busquemos. Cada alma pode alcançar a mão que Jesus estende para
segurar-lhe a mão. Deponha sua confiança no Senhor e suba sua montanha
para encontrar-se com Ele. Fique conectado com Sua sabedoria e Sua
força.
Assim como Moisés subiu a montanha para aprender de Deus as
instruções para os israelitas, nós também subimos nossa montanha para
orar e comungar com Deus pela manhã, dando-Lhe a oportunidade de
partilhar Suas instruções para nós hoje, de maneira que, de nossa parte,
possamos falar para nossos filhos aquilo que Deus falou. Às vezes, isso
será tema de discussão dos cultos familiares da manhã e da noite. Outras
vezes, será assunto da conversa entre marido e mulher, os quais juntos
decidirão qual será o curso de ação da família. Talvez se faça necessário
um conselho da família, o qual decidirá o tipo de ação a ser adotado. Será
mais comum, entretanto, que essa comunicação tome a forma de uma
conferência particular entre pai (ou mãe) e filho com um aconselhamento
específico. Esse ensinamento pode ser na forma de incentivo, instrução,
um apelo para mudança, as conseqüências da desobediência, um plano de
mudança ou simplesmente um chamado à decisão. Se aprendermos a subir
a montanha para obter instruções diretamente de Deus, então, como pais,
poderemos ser instrumentos eficazes nas mãos de Deus. Para muitos de
nós, isso significará aprender fazendo. Deixe-me contar um incidente.
Andrew estava calado e não queria obedecer. Tenho que admitir que eu
também não estava lá muito bem-humorada. Tivemos um conflito típico
sobre a tarefa de varrer o chão. Eu não estava certa sobre o que fazer em
seguida, mas o Senhor sabia. “Sally, como está o seu espírito?”, ele
perguntou docemente.
“Bem, para ser franca, Senhor, estou pronta para dar-lhe agora mesmo o
que ele merece, e obrigá-lo a varrer o chão já. Ele sabe muito bem que está
na hora de começar a exercer um pouco de autocontrole!”
“Mas, Sally, o seu espírito não é o mesmo espírito de teimosia que você
está vendo no seu filho agora mesmo? Venha comigo para que possamos
conversar sobre isso”, o Senhor me animou.
Uma parte de mim queria isso, outra parte, não. Bastou aquele momento
de interrupção de Deus para eu ver ambos os lados mais claramente.
Decidi que não queria recorrer à raiva e à força para fazer Andrew
obedecer. “O jeito de Deus é melhor. Vou colocá-lo à prova”, pensei, e
pedi licença para ir até o banheiro para passar um tempo a sós com Deus.
“Senhor, o que devo fazer com o Andrew?”, perguntei. Houve um
silêncio de trinta segundos e, então, mais sessenta segundos. Parecia
interminável. “Preciso sair para preparar o desjejum a tempo.”
Lentamente, minha verdade precisava emergir naquele silêncio. “Ó,
Senhor, não estou feliz, nem em paz. Preciso livrar-me de todas essas
emoções autoritárias que há em mim. Por favor, tira do meu coração esse
fardo.”
Relaxei e deixei-me levar. “Isto também pode ser uma coisa sem
importância”, decidi. “Sei que Tu podes ajudar-me a resolver isso.” Orei e
pedi que Deus fosse o meu Rei. Agora, eu estava disposta a ser Sua súdita.
O primeiro passo em qualquer conflito na criação dos filhos é certificar-se
de que nosso coração e nosso espírito estão calmos. E Deus, de fato,
mostrou-me como convencer Andrew e, como o meu espírito estava
calmo, ele respondeu da mesma maneira.
Deus criou-nos para que tivéssemos companheirismo com Ele e espera
por você e por mim pela manhã para que tenhamos tempo para conversar.
Quando não vamos, Deus fica desapontado (ver Jeremias 29:19). Amanhã,
Ele estará esperando porque Ele nos ama.
Contudo, há um trabalho a ser feito no coração antes de irmos nos
encontrar com o Senhor. Esse trabalho envolve renunciar minha própria
vontade e, no lugar dela, receber a vontade de Deus. Envolve renunciar o
eu e permitir que Cristo realize em mim aquilo que Ele deseja. É difícil
fazer isso, pois não somos naturalmente inclinados a dar lugar a qualquer
mudança que venha de encontro aos nossos desejos. Escolher submeter-
nos à vontade de Deus é aquilo que a Bíblia chama de ter a mente de
Cristo – e é isso que devemos aprender. Devemos dar a Deus a posição de
piloto em cada pensamento, sentimento e resposta em nossa vida. E devo
assumir a posição de co-piloto, que é a de ouvir e cooperar enquanto Ele
lidera.
Esse trabalho no coração é bastante parecido com o cuidar da casa. Assim
como nossa casa, nosso coração também precisa ter os pensamentos,
sentimentos, inclinações, hábitos, motivos e desejos limpos, arrumados e
organizados. Jesus é um Salvador muito gentil; Ele nunca trabalha mais
rápido do que podemos suportar. Quando estamos dispostos a deixar que
nossa vontade própria desapareça, Ele pode nos erguer em novidade de
vida, e podemos continuar nosso dia vitalizados com Seus pensamentos,
sentimentos e esperança. Esse é o desejo de Deus para o produto final do
nosso tempo em particular, juntos, na montanha.
Quando Deus chamou Moisés para o alto da montanha, o povo devia
preparar-se durante dois dias para comparecer diante do Senhor e receber
os Seus mandamentos. Também nós devemos fazer certos preparativos
antes de comparecermos diante do Senhor. A escolha de estar amanhã em
conexão com o Salvador começa com a hora que vou para a cama. Será
que é cedo o suficiente para que eu tenha a expectativa de levantar pela
manhã e subir a montanha antes que meus deveres como pai ou mãe se
acumulem e superem meu anseio por Deus?
No começo, mesmo tendo ido cedo para a cama, ainda havia uma série de
escolhas difíceis para mim. Eu queria parar de abraçar meu travesseiro,
descer da cama e ir para o piso de baixo. Mas minhas pernas não queriam
mover-se; elas clamavam por voltar para minha cama quentinha. Aprendi a
não ceder aos seus protestos. A voz terna e suave de Deus falava ao meu
coração, chamando-me de maneira pessoal para o culto. Levantando-me da
cama, eu cedia ao chamado do Espírito Santo. Eu sentia a presença de
Deus comigo – não fisicamente, mas em minha alma. Sentia que Ele
estava contente por eu ter ido comungar com Ele. Um cântico baseado nas
Escrituras me veio à mente, e cantei: “Humilhai-vos na presença do
Senhor, e ele vos exaltará” (Tiago 4:10). Ajoelhei-me reverentemente para
orar, e sabe o que aconteceu? Ao ficar na presença de Deus, Ele falou
pessoalmente comigo, aconselhando-me sobre as reais necessidades do
meu coração e da minha tarefa de criar meus filhos. Não importa quão
perplexa ou desanimada eu tenha me sentido, descobri que as Escrituras
são verdadeiras e, que Deus tem me exaltado. Nos últimos vinte anos,
tenho dado prioridade ao estudo da criação de filhos e descobri que o
estudo da criação de filhos é, na verdade, aprender como ser um filho de
Deus. Descobri que esse estudo é inesgotável, significativo e
compensador.
Quando Moisés subiu a montanha, ele esperou diante do Senhor por seis
dias antes que Deus o chamasse à Sua presença! Quanto a você, não sei,
mas acho o silêncio de Deus muito demorado quando tenho que esperar
por seis minutos! Tenho me perguntado com freqüência se eu teria
paciência para enfrentar um teste de espera como esse. Onde conseguimos
essa paciência? Esperando!
Deus não quer serviço dividido. Para estar focado em Deus, Moisés teve
que pôr de lado suas preocupações diárias – e, com centenas de milhares
de pessoas dependendo dele, Moisés certamente tinha muitas
preocupações e cuidados. A mente humana se distrai com facilidade. Isso
acontece com todos nós. Lembro-me de estar orando, quando, de repente,
um item da minha lista de compras me veio à mente, distraindo meus
pensamentos. Outra vez, foi um problema de família que tinha que ser
resolvido do meu jeito. Coisas assim nos afastam de Deus, mesmo durante
aqueles momentos especiais em que estamos em conexão com Ele.
Como, então, lidar com essas distrações?
Primeiro, entenda que você está treinando sua mente para exercitar uma
nova habilidade e que sua falta de foco não significa uma falta de desejo –
apenas a necessidade de treino. Segundo, quando você perceber que sua
mente está vagueando, traga-a de volta. Esvaziar a mente de coisas
confusas e que causam distração é verdadeiramente uma disciplina, pois
requer que você tome a decisão de afastar-se delas à medida que aparecem
e de permanecer focado naquilo que Deus quer.
Deixar que Deus nos dirija é uma necessidade. A perseverança produz
paciência, um espírito contente e confiança em Deus (ver Tiago 1:4).
Todavia, quantos de nós vamos a Deus sem nenhuma preparação e sem
fazer nenhuma auto-avaliação? Entregamos a Deus nossa oração do tipo
lista de compras contendo aquilo que queremos que Ele faça por nós hoje.
Não devemos fazer de Deus nosso office-boy, mas nosso Governador,
nosso Senhor e nosso Rei. Erradamente, temos assumido a posição de rei e
governador. De maneira consciente, devemos abrir mão dessa posição e
permitir que Deus assuma o lugar que, por direito, é dEle nessa relação.
Passar tempo com Deus tem a finalidade de O conhecermos pessoalmente
através da comunhão. É um tempo para uma auto-avaliação honesta e
sincera; é fazer planos com Deus para que Ele me transforme; é
estabelecer uma conexão vital com Deus que possa revestir-me de poder
para mudar; e é colocar Deus na posição de Senhor para guiar-me através
de cada dificuldade do meu dia. São esses os propósitos mais importantes
desses momentos.
Lembro-me quando pela primeira vez percebi que tinha uma audiência
confirmada diante do trono da graça. Estávamos dirigindo por trinta horas,
indo de Montana para Wisconsin para visitar nossa família, e era a minha
vez de pegar o volante. Era 1h da manhã, e pensei como seria bom passar
aqueles momentos conversando com Deus, enquanto minha família
dormia. Comecei a orar, mas, no meio da minha conversa com o Senhor,
fiz algo que talvez tivesse feito com um amigo, mas nunca pensara em
fazer com Deus. O ambiente de informalidade parecia estimular uma
conversa descontraída, e perguntei para Deus: “Como vai a família de
fulano de tal?”
Eu realmente não estava esperando uma resposta, mas minha mente
estava voltada para o Céu, e Deus respondeu: “Eles não estão muito bem.”
“Senhor, por favor, sustenta-os em Tuas mãos”, eu disse. “Dê-lhes
sabedoria pelo Teu poder e Tua graça. Que dificuldades eles estão
enfrentando?” E Ele contou-me exatamente o que estava acontecendo.
Nesse momento, reconheci que eu estava verdadeiramente em meio a
uma audiência diante do Rei dos reis. Passei a ouvir com mais atenção;
esta era a minha oportunidade de ouro! Comecei a esquadrinhar minha
mente buscando descobrir todas as perguntas que tivessem me perturbado
ou me preocupado, e Ele respondeu a cada uma delas como Lhe aprouve.
Uma hora se passara até que eu não tivesse mais perguntas. Então, orei:
“Deus, inspira-me com mais perguntas que eu deva fazer-Te.”
E Ele o fez.
Fiquei desapontada quando minhas perguntas se acabaram. Isto deve ter
sido uma amostra do que Moisés experimentou. Depois de duas horas, Jim
acordou para perguntar se estava tudo bem. Eu estivera tão atenta e
conectada com Deus que fui capaz de contar quase todos os detalhes para
Jim. Mais tarde, pudemos ver que tudo o que me fora dito era verdade.
Deus deseja ter uma relação pessoal com todos nós, se falarmos com Ele
como a um amigo e criarmos oportunidades para nos comunicarmos com
Ele.
Um dos meus lugares favoritos para ter essa experiência “do topo da
montanha” era entrar em uma banheira bem quentinha, à noite, enquanto
Jim cuidava dos meninos. Mães atarefadas não têm muito tempo a sós para
pensar e refletir, e aqueles momentos tornaram-se a minha hora especial
com Deus. Refiro-me a essa experiência como minha “banheira batismal”.
Eu avaliava e revia minhas respostas e me dispunha a deixar que o eu
morresse ali. Aprendi a deixar Deus tocar as áreas sensíveis das minhas
falhas de caráter, e descobri que Ele realmente estava ali para ajudar-me a
mudar. Depois de lidar com meus defeitos pessoais de caráter, eu estava
preparada para apresentar os fardos do meu coração no tocante aos meus
filhos. Deus, por Sua vez, dava-me idéias especiais sobre como mudar os
traços fracos de caráter dos meus filhos, através da Sua sabedoria e
direção. Era maravilhoso, e funcionava! Sentia-me como se tivesse um
general ajudando-me a fazer um plano de batalha e que eu não podia
fracassar. Ao exercitar a fé em Cristo, isso fez com que a montanha do eu
se movesse – não somente em mim, mas também em meus filhos. Eu
sempre retornava dessa experiência da “banheira no topo da montanha”
para a minha família como uma mãe renovada. Acho que era assim que
Jesus deve ter Se sentido enquanto esteve aqui na Terra – reabastecido
para um novo dia, depois de ter comungado com Seu Pai.
Esses momentos especiais com Deus não se resumiam apenas àquele
tempo “de molho” na banheira. De manhã, Deus também me ajudava a
planejar o meu dia. Com Deus, eu decidia quais tarefas domésticas eram
necessárias, quais eu deveria omitir e que tipos de correção eu deveria
aplicar aos meus filhos. Tenho a tendência de trabalhar demais; por isso,
Deus e eu tínhamos que planejar alguma recreação para que eu pudesse ter
equilíbrio. Tudo isso provinha dos meus momentos a sós com Deus, no
começo do dia.
É bom planejar, mas o resultado positivo, de fato, está no
desenvolvimento do equilíbrio no dia-a-dia. Aprendi a equilibrar o tempo
que passo com meu filho ajudando-o a desenvolver hábitos de trabalho
produtivo, estudo e construção de caráter, sem esquecer de separar algum
tempo para nos divertir juntos. Aprendi a não ser dogmática, evitando que
o meu zelo no corrigir não me deixasse “quadrada”. Por isso, deixava a
correção para mais tarde. Em minha dedicação para fazer tudo aquilo que
Deus tinha me mostrado, algumas vezes me esquecia de levar Jesus
comigo para continuar sensível aos sentimentos dos meus filhos e à
necessidade de equilíbrio. Assim, para certificar-me de que estava
filtrando meus pensamentos e palavras através de Cristo, muitas vezes eu
tinha que sair de cena. Descobri que cinco ou dez minutos caminhando
pela estrada, conversando e conectando-me uma vez mais com Deus,
traziam paz divinal e uma boa direção para meu coração, o que me
capacitava para corrigir meu filho com uma abordagem construtiva. Subir
a montanha para receber o Espírito correto através de Cristo permite que
eu ofereça o mesmo Espírito e o mesmo Deus pessoal para o meu filho.
Moisés subiu a montanha para estar com Deus e voltou com energia e
sabedoria renovadas para assumir seu dever de conduzir o povo de Israel.
Deus fez um concerto para ser o Deus dos israelitas, e eles seriam o Seu
povo. Deus os livrou da escravidão e prometeu que os levaria até Canaã.
Da mesma maneira, Deus nos prometeu que, se ouvirmos e obedecermos à
Sua voz, Ele nos abençoará abundantemente e nos levará à Terra
Prometida. Meu coração pode ficar em paz e meus filhos podem aprender
a obedecer-Lhe. Cada pai é chamado à montanha para ali receber
instruções – instruções personalizadas de Deus sobre como nutrir e treinar
nossos filhos nos caminhos do Senhor.
Criar filhos talvez seja o trabalho com o maior nível de exigência do
mundo. Moisés obteve algo ao passar um tempo na montanha. Ele obteve
perspectiva. Ele viu os enormes problemas que enfrentava no cuidado de
sua “família” da mesma maneira como Deus os vê – insignificantes e
fáceis de administrar. Hoje, também ficamos desanimados e frustrados ao
olharmos para os problemas que existem em nossas famílias. Nós também
precisamos da perspectiva que Moisés obteve na montanha. Precisamos
entender o que Deus pode fazer e fará por nós.
Junte-se a mim em um desses dias em que um problema típico teve uma
solução inesperada.
– É tudo culpa sua!
– Nada disso! A culpa é sua, e eu vou contar para a mamãe!
Eu os escutei ao se aproximarem – como se não desse para escutar! “Ó,
Senhor!”, orei. “Estou tão cansada desses conflitos com os meninos! Eles
estão sempre discutindo, sempre colocando a culpa no outro e ninguém
admite que está errado. O que devo fazer com eles?”
“Talvez o Jim possa ajudá-la”, a voz suave de Deus orientou. Assim,
mandei que a discussão parasse e fui atrás do Jim.
– Querido, estou muito frustrada. Preciso sair e caminhar um pouco para
ter paz. Será que você pode cuidar dos meninos até eu voltar? Eles
estavam discutindo de novo. Preciso de uma nova abordagem.
– Claro, pode deixar que eu cuido deles – Jim concordou.
Saí de dentro de casa para entregar a Deus os meus pensamentos e
emoções errôneas. Nesse ínterim, Jim levou os meninos para um local à
parte para resolver aquela discórdia. Jim clamou a Deus por auxílio e,
nesse processo, encontrou uma ótima solução.
– Tudo bem, meninos, para mim já chega de explicações! Não sei quem
fez o que, mas vocês dois sabem da verdade. Quero que vocês resolvam
essa briga aqui mesmo. Matthew, vá até o quintal em frente da casa e
pergunte a Deus o que você deve fazer para resolver esse problema.
Andrew, vá até o quintal atrás da casa e pergunte a Deus o que Ele quer
que você faça para resolver esse problema. Depois, quero que vocês dois
conversem e, juntos, resolvam essa situação.
Eu voltei enquanto os meninos ainda estavam nos respectivos quintais.
Todas as minhas emoções estavam em paz, mas não consegui ter nenhuma
idéia ou solução para a situação. Jim explicou o que havia acontecido
enquanto eu estivera fora, e decidi ficar tranqüila e observar o resultado
daquilo tudo. Quando os meninos estavam prontos, eles discutiram a
situação com uma atitude serena e, juntos, chegaram a um acordo. Cada
menino fez algumas concessões à opinião do irmão, e cada um deles se
desculpou pelo ponto em que estava errado.
Faríamos muito bem em subir a montanha para estar com Deus!
Deus precisa tomar parte em todas as soluções de disputas. Cremos que
Deus pode lidar com os problemas que enfrentamos. Confiamos nEle, não
em uma metodologia que presume uma conseqüência específica para uma
infração específica. Um número muito grande de pais e mãe me pergunta:
“Quando meu filho faz isso ou aquilo, o que devo fazer?”, esperando que
eu recomende um curso de ação específico, como se isso fosse o segredo
para o sucesso. Quando falo para eles sobre subir a montanha para
descobrir o que Deus quer que façam, eles ficam sinceramente
desapontados. Eles ouvem, fazem que sim com a cabeça, mas afastam-se
dAquele que lê o pensamento dos filhos deles e me perguntam: “Tudo
bem, mas diga-me como é que eu faço para que eles comam as ervilhas
que estão no prato.”
Devemos parar de servir o deus sem poder da nossa própria sabedoria e
aprender a confiar na direção de Deus. Não me oponho a informações
específicas. Contudo, um processo que hoje funciona pode não funcionar
da mesma maneira amanhã. Tudo depende de onde o coração da criança
está. Somente Deus sabe o fim desde o começo. Por isso, o segredo para
conquistar o coração dos nossos filhos está em consultá-Lo para obter
orientação.
Ao lidar com a mente rebelde de Coré, Datã e Abirão, Moisés precisou de
sabedoria para julgar em um momento de crise e conflito. O que ele fez?
Voltou-se para Deus buscando a resposta. Deus sabia o que devia ser
feito? Sim. Deus usou primeiro a medida branda da razão, e deu tempo
para que se arrependessem. Quando os rebeldes preferiram a
independência de Deus e deram lugar ao espírito de perfídia, Deus, então,
julgando corretamente o coração deles, voltou-Se para uma grave
conseqüência – a terra se abriu e os tragou.
Mais tarde, vemos Deus usando um método diferente em um conflito
semelhante entre Miriam e Arão. Miriam cobiçou a posição de autoridade
de Moisés assim como Coré fizera e, erradamente, repreendeu a Moisés.
Desta vez, Deus não usou medidas brandas no começo. Ele imediatamente
deixou Miriam leprosa como conseqüência de sua inveja e ciúme. Moisés
suplicou que Deus a curasse e a perdoasse. Deus sabia que, embora ela e
Arão tivessem errado, o coração deles ainda estava sensível e disposto a
ser corrigido. Ele sabia que Moisés reagiria com amor à rebelião deles,
pois colocara o amor no coração de Moisés. O exemplo de Moisés tocou o
coração de Miriam de uma maneira muito eficaz e a disputa terminou bem.
Da mesma maneira, devemos voltar-nos para Deus e dEle buscar a
orientação nos momentos de conflito!
Estamos nós, pela graça de Deus, vivendo aquilo para que somos
chamados? Deus pode curar nossa cegueira, surdez e paralisia. A maior
influência que podemos exercer sobre nossos filhos é o exemplo, e isso os
afeta muito mais do que palavras. Muitas vezes nossos atos falam tão alto
que nossos filhos não conseguem ouvir nossas palavras. Muitos jovens
contam-me que a hipocrisia é uma constante em suas casas e que, por isso,
abandonam a Deus, a fé na qual foram criados e a igreja, achando que tudo
é uma farsa. A religião se torna sem poder se ela não me transforma!
Seguir o exemplo de Moisés, subir a montanha e comungar com Deus é
uma experiência bendita e maravilhosa que está à espera de todos os que
estão dispostos a despender esforços para recebê-la. Ao aprendermos a
reconhecer a voz de Deus falando à nossa alma, cometeremos cada vez
menos erros e desenvolveremos confiança na direção divina. Portanto,
tenha fé que Jesus ensinará você, assim como ensinou Moisés. “Como fui
com Moisés, assim serei contigo” (Josué 1:5).
Basicamente, Moisés conduziu o povo de Israel sozinho, sem nenhum
amigo. Até mesmo seus familiares às vezes agiam de forma estranha com
ele. Somente Deus lhe fazia companhia. Mães e pais solteiros muitas vezes
sentem-se como Moisés, completamente sós, incompreendidos e com um
senso de culpa imposto pelos outros – até mesmo seus próprios filhos –
por causa das circunstâncias em que se encontram.

Há esperança para você, assim como havia para Moisés. O mesmo Jesus
que o guiou guiará você, se assim você desejar. Talvez nenhum pai ou mãe
seja tão abençoado ao subir a montanha quanto os pais e mães solteiros,
que ali podem encontrar empatia para com seus problemas, bem como uma
conversa adulta e amizade com o Rei dos reis. Deus não vai jogar o fato de
você ser uma mãe ou um pai solteiro contra você. Ele está esperando agora
mesmo que você suba a montanha para estar com Ele.
Acionando os Freios
“Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa
salvação; na tranqüilidade e na confiança, a vossa
força, mas não o quisestes” (Isaías 30:15).

– ally? – a voz de Jim interrompeu meus pensamentos. – Você viu meu


S terno cinza escuro?
– Desculpe, Jim! Nós chegamos tão tarde da cidade que eu devo ter
acidentalmente esquecido o terno no carro, depois de pegá-lo no tintureiro.
Eu vou lá no carro para ver se o encontro.
E lá estava o terno, pendurado na parte traseira do carro. Ao levá-lo para
dentro de casa, senti-me mal ao pensar que o Jim teria que vestir um terno
gelado e o coloquei perto do forno, que ainda precisava ser aceso, o que
levaria um minuto. Mas foi tudo em vão, pois Jim não tinha tempo para
esperar. Voltei-me aos meus pensamentos e orações, sentindo-me mal pelo
esquecimento.
“Senhor, estou sob pressão. Minha vida é tão agitada! Sinto que não
posso mais suportar tudo isso. Meus pensamentos estão ficando confusos
com tantas coisas a forçá-los para dentro da minha mente – minhas tarefas,
minhas listas e minha família. Já não basta o...”
– Mãe! – Agora é o Andrew. Ele desceu do seu quarto para o desjejum.
Minha cabeça fica rodando para absorver mais essa distração. Vou lá
atendê-lo.
De volta à oração. “Senhor, estou fazendo o meu melhor. Aumentei
dramaticamente minha eficiência, bem como minha velocidade, e mesmo
assim não dou conta de todas as coisas importantes que vejo diante de mim
durante o dia! Como posso ter uma vida tão corrida, morando no interior?
O que devo fazer? Oh, com licença, Senhor, tenho que atender o telefone.”
Após atender o telefone, a quietude demora a voltar à minha mente, e eu
fico ali, sentada, sem ouvir nenhuma palavra significativa de Deus.
Nenhuma solução, nenhuma comunicação, nada para resolver meus
problemas. Assim, faço mais do que adiar um pouco. Volto para as minhas
infindáveis tarefas. “Não tenho tempo para nada, não tenho tempo para
nada”, murmuro, sentindo pena de mim mesma.
Enquanto estou trabalhando, minha mente segue a mesma linha de
pensamento. “Por que Deus está colocando tudo isso diante de mim?”, me
pergunto. “Será que Ele espera que trabalhe duro, por tanto tempo e sem
parar, sem sequer ter tempo para obter uma resposta dEle? Será que tenho
que fazer tudo correndo?” De fato, eu estou irritada com Deus por Ele não
estar sendo nem um pouco razoável. Estou sendo lógica e racional ao
concluir que Deus deve ser injusto, mas essa conclusão não parece ser a
melhor. Intuitivamente, sinto que Deus não é injusto nem irrazoável, mas,
mesmo assim, minhas perguntas são razoáveis e merecem uma resposta.
Mais uma vez, penso nas coisas que ocupam minha mente e concluo que
não há nada de errado com elas; é que são coisas demais! Certamente,
Deus é tão esperto e razoável como eu. Se eu consigo ver que tenho coisas
demais para fazer, então Ele também consegue, e Ele não pediria para eu
fazer tantas coisas. Sinto-me melhor com essa conclusão, mas ela me leva
a outra pergunta: Se não é Deus quem está colocando todas essas tarefas e
todos esses fardos sobre mim, então quem é?
“Senhor, li em algum lugar que, se eu fizer apenas o que for necessário
para administrar minha casa e cuidar da minha família, terei tempo
suficiente para ler a Bíblia e aperfeiçoar meu caráter através de Ti. Bem,
minha experiência não confirma isso. O desenvolvimento do meu caráter
está por último em minha lista de coisas para fazer, e não é por falta de
vontade, mas por falta de tempo. Fica tudo acumulado. Estou tentando
moldar o caráter de Matthew e Andrew, e parece que isso toma cada
minuto que tenho. Além disso, tenho que atender todas as senhoras que me
pedem para ajudá-las com seus filhos. Afinal, é assim que um cristão tem
que agir. Também ajudo nas atividades sociais da igreja, pois me pedem
para fazê-lo. Preparo as lições para o departamento infantil, pois é minha
função. Também preparo as refeições e ajudo os meninos em suas tarefas
escolares. Não quero queixar-me, mas não tenho tempo para tudo isso. Eu
corro o dia todo, todos os dias! A Mulher Maravilha teria dificuldades em
dar conta de todas essas coisas, e eu não sou uma mulher maravilha! Sou
apenas a Sally, e estou cansada, Senhor!”
“Tem certeza de que Eu quero que você faça tudo isso?”, a suave voz
divina perguntou.
“Bem, o que eu deveria eliminar: lavar a roupa, passar, cozinhar, limpar
ou, talvez, lavar a louça?”, respondi, na defensiva.
“Se você fizer apenas o que for necessário, Sally... Tudo isso é
necessário? Existe alguma coisa que você pode mudar?”
Pensei em alguns textos que havia lido, especialmente um que dizia: “Em
vos converterdes e sossegardes, está a vossa salvação” (Isaías 30:15). O
fator descanso saltou aos meus olhos; era o que eu precisava. Meus
pensamentos se voltaram para Maria, a mãe de Jesus. Ela não se envolvia
muito nas atividades da “igreja” – nem em qualquer outra atividade – que
a afastasse da sua atividade primária. Não foram outras pessoas que
criaram Jesus para ela. Na verdade, ela e José haviam sido forçados a
passar alguns anos da formação de Jesus em terras distantes, longe dos
conhecidos, da influência da família e das distrações. Mesmo depois de
voltar para sua terra, Maria é retratada ministrando para os outros até a
fase adulta de Cristo. Suas prioridades eram em função do tempo que tinha
disponível. Isso fez com que eu pensasse.
Todos nós temos 24 horas e isso é tudo o que temos. Sou eu que preciso
arranjar tempo para as coisas que julgo importantes. Deus não quer que eu
seja perseguida pelas circunstâncias. Precisamos apertar o freio para
determinar onde estamos e para onde queremos ir, em vez de continuar na
direção e no ritmo em que nos encontramos!
“Senhor, tenho pensado no que me disseste. Perdoa-me por ficar na
defensiva contigo. Agora vejo que posso mudar várias coisas.” Decidi que
poderia reduzir o tempo utilizado para lavar roupas fazendo com que
minha família não jogasse simplesmente cada peça de roupa na cesta de
roupa suja, mas que primeiro avaliasse se aquela peça estava realmente
suja. Repetir o uso de calças ou camisas razoavelmente limpas não é nada
demais, e me permite economizar bastante tempo de lavanderia – quase a
metade. Quanto mais eu pensava sobre isso, mais sentido fazia. Comecei a
pensar no que mais eu podia fazer.
“Eu lhe perdôo, Sally. Você faz muito bem ao avaliar se tudo o que está
fazendo é mesmo necessário. Faça apenas as coisas necessárias.”
“Deus, estás dizendo que não preciso fazer tudo isso que estou fazendo?”
Esse pensamento me deixou perplexa. “Isto pode significar que nem tudo
que me pedem para fazer vem de Ti. Ah, como preciso da sabedoria divina
que vem de Ti para determinar que coisas devem ser eliminadas da minha
vida! Preciso de tempo contigo para saber a diferença entre o que é
necessário e o que não é. Tu não estás pedindo para eu ser uma ‘mulher
maravilha’? Então, deve ser Satanás que está tentando me impedir de
trabalhar no desenvolvimento do meu caráter.”
“Sally, você precisa aprender a dizer ‘não’ de maneira gentil e no
momento adequado. Nem todos os telefonemas vêm de Mim. Você não tem
que suprir todas as necessidades. Você não tem que atender todas as
crianças que estão chorando. Você não tem que assumir todas as
atividades da igreja. Você precisa achar o equilíbrio nessas áreas. Venha
a Mim e filtre as exigências de seu tempo através de Mim para que você
possa encontrar o equilíbrio que deseja.”
“Acho difícil dizer ‘não’, Senhor. Ajuda-me nesse aprendizado!”
Deus ajudou-me, embora de uma maneira diferente daquela que eu
esperava. Com muito entusiasmo, Jim levou-me até o quintal da frente e
fez com que eu ensaiasse dizer “não”! Ele começou pedindo que eu
dissesse “não” suavemente. Depois, em uma tonalidade moderada. E
depois, com mais firmeza. E depois, com muita firmeza. Finalmente, ele
pediu que eu dissesse: “Não, obrigada. Não estou disponível desta vez.”
Ensaiei essas falas sentindo-me uma tola. Mas Jim ajudou-me a ver que
minhas funções eram administrar o estudo dos meninos e a casa. Durante
esse tempo, eu devia manter o foco nessas coisas, sem nenhuma distração.
Se eu sucumbisse a alguma distração, a educação dos meus filhos ficaria
prejudicada. Assim, dali em diante, quando alguém ligava ou queria fazer
uma visita, eu dizia: “Não dá para conversar agora, mas se você ligar mais
tarde, poderemos nos falar.” Funcionava. Muitos entendiam, pois
enfrentavam essa mesma dificuldade. Deus me deu discernimento sobre
quando dizer sim ou não. Se você tem dificuldade de dizer “não”, tente
praticar isso de forma audível. No início, é um pouco constrangedor, mas
vai ser-lhe útil quando vierem os momentos de fraqueza – e eles virão!
Existem em sua vida, como na minha, tantas coisas que Deus e o
desenvolvimento do caráter dos seus filhos ficam sem espaço? Se assim
for, não é por acaso. É plano do inimigo de nossa alma manter-nos
demasiadamente ocupados e distraídos até que seja tarde demais. O
desenvolvimento de um caráter piedoso não acontece por acaso. Se assim
fosse, todos seríamos muito mais semelhantes a Ele. Criar filhos que sigam
e sirvam a Cristo é algo quase extinto em nosso planeta hoje porque isso
envolve trabalhar com o coração, e não apenas uma obediência de fachada
nem uma aparência de doçura. Experimentar a presença de Cristo a mudar
o coração é algo raramente buscado, mesmo entre os que dizem segui-Lo;
e é ainda mais raro encontrar alguém que realmente faça isso de uma
maneira prática e coerente. O resultado é que adotamos formas externas de
cristianismo – cerimônias, aparências, sorrisos e obediência apenas de
fachada – que substituem a verdadeira obra de Cristo no coração.
O caráter é tudo. O caráter é composto por nossos pensamentos,
sentimentos e motivos. Nossa vida diária determina o nosso destino. A
cada minuto que passa, o tempo vai escoando por entre nossos dedos, e
quase não notamos. Estamos abordando o desenvolvimento prático do
caráter dos nossos filhos, ou estamos deixando escapar essa oportunidade?
O tempo não pára. Os momentos tornam-se anos, e também vão-se
escoando cada vez mais rápido, como um trem desgovernado ladeira
abaixo.
Ao Deus começar a tornar tudo isso muito claro para mim, eu disse:
“Tudo bem, Senhor, mas como posso saber o que excluir da minha rotina e
o que não excluir? Ora, eu já acho difícil descartar o excesso de roupas no
meu closet, imagine como será com estas coisas de muito maior
importância!”
“Sally, muitas atividades podem ser avaliadas com a pergunta: ´Isto aqui
tem que ver com humanos ou comigo?’”
Entendi esse conceito pela maneira que tivemos que lidar com os
chamados para o nosso ministério de apresentação de seminários. Mas esse
era um pensamento novo para ser aplicado em meu trabalho em casa e
com meus filhos.
Recebemos muito mais convites para apresentarmos seminários do que
temos possibilidade de aceitar. Quando começamos, Jim disse: “Sally, se
aceitarmos todos os convites que recebemos, acabaremos comprometendo
nossa saúde por excesso de trabalho. Mas, mesmo que isso não
acontecesse, a correria certamente faria com que sacrificássemos nosso
tempo com Jesus – e, então, quem nos dirigiria? De quem falaríamos para
as pessoas no púlpito: de Cristo ou de nós mesmos?”
Decidimos que Deus não queria que trabalhássemos em excesso e assim
acabássemos sem tempo para Ele. Mesmo quando nos aparecem boas
oportunidades, precisamos deixar que Deus nos guie para mantermos o
equilíbrio. É claro que Satanás quer nos persuadir a fazer coisas demais e
tenta nos deixar com sentimento de culpa por não aceitarmos todos os
convites. Mas Deus quer que assumamos a responsabilidade pessoal de
conduzir nossa vida de uma maneira lógica e usando nossa capacidade de
pensar, mas sem deixar de consultá-Lo a cada passo que damos. A escolha
é nossa: fazer poucas coisas bem-feitas ou muitas coisas malfeitas. Esse
processo de dizer sim ou não quando Deus nos guia equivale a acionar o
freio e diminuir a velocidade que estamos dando à nossa vida.
E foi exatamente isso que fizemos. Deus dirigiu-nos para que
encontrássemos o equilíbrio adequado para aquele período de nossa vida.
É um equilíbrio que vai mudando à medida que nós mudamos. Não
podemos olhar para outros ministérios parecidos para obter algum tipo de
direção para o nosso ministério. Outro irmão ou irmã pode fazer mais ou
menos do que eu faço. Por isso, não é bom que façamos comparações.
Tivemos que aprender o que Deus queria para Jim e Sally, e você terá que
aprender o que Deus quer para você. Os seres humanos dão opiniões e
oferecem opções, mas a decisão final acaba sendo de Deus e sua. Será que
cada chamado para um ministério vem do Céu? Não tome uma decisão
precipitada. Ore pedindo orientação. Fale com seu cônjuge sobre suas
opções. Separe um tempo para poder olhar o cenário inteiro, de maneira
que você não continue a acrescentar coisas boas à sua carga até chegar ao
ponto de ruptura. Você não está errado em prevenir-se de ter a família
esfacelada por causa de falta de equilíbrio.
Quando considerei a possibilidade de “pisar no freio”, eu sabia que
precisava de mais tempo para investir no desenvolvimento do caráter,
tanto pessoal quanto dos meus filhos. Pensei, pensei e finalmente percebi
que aquilo que consumia mais do meu tempo era supervisionar o estudo
em casa [home school] * dos meus filhos. Era aí que eu sentia a pressão
porque, mesmo com todo o tempo gasto nessa atividade, nunca havia
tempo suficiente para fazer tudo o que havia para fazer. “Sally, Minha
filha querida, primeiro você deve considerar se tem uma inclinação para o
excesso. Lembra-se de quantas matérias você queria que o seu filho fizesse
ainda na primeira série?”
Não pude conter o riso. “Sim, Senhor. Lembro-me. Escolhi onze
matérias. Mas depois desisti de três. E eram matérias muito boas. Seria
muito bom que ele as tivesse cursado!”
“Está bem, Sally, vamos pensar nisso. Será que dá mesmo para ele fazer
todas essas matérias, na prática? Quanto tempo você precisa para cada
matéria?”
Pensei por uns instantes. “Bem, considerando uma hora por matéria...
seriam onze horas por dia.” Onze horas por dia! Nunca tinha pensado
dessa maneira. Se eu fizesse as coisas do meu jeito, não haveria tempo
para nada mais – cuidar da casa, cozinhar, brincar, nada! “Não admira que
eu esteja frustrada! Estou querendo demais. Até as oito horas por dia são
um exagero para um estudante da primeira série. Falta-me equilíbrio.
Senhor, não surpreende que eu fique frustrada e nunca termine as lições.
Estou tentando fazer o impossível.”
Deus me conduziu a um equilíbrio que era adequado para mim. Decidi
aplicar umas poucas matérias, mas da melhor maneira possível. Fiquei
com cinco matérias básicas. Cada matéria era bem estudada. As palavras
não podem expressar a alegria que invadiu nosso programa escolar quando
ele ficou equilibrado em Jesus. As pressões que eu havia artificialmente
colocado sobre todos nós desapareceram. Todos passamos a ter tempo para
Deus e para os outros. É bom fazer a poda quando Deus tem a tesoura de
podar e o equilíbrio é encontrado.
Pode ser que você não esteja envolvido nesse método de ensinar seus
filhos em casa como eu, mas todos nós temos algo que nos ocupa o tempo.
Avalie seu tempo e verifique se você o está usando no desenvolvimento do
caráter. Você tem tempo para falar com Deus e esperar por Sua resposta?
Onde você está exagerando? O que está consumindo suas últimas energias
do dia e ocupando o lugar das coisas mais importantes? Vá ao seu
Auxiliador e encontre uma resposta equilibrada.
Quando comecei a avaliar a maneira como gastava meu tempo, não
demorou muito para que eu removesse as coisas más e os excessos da
minha vida. Contudo, vi que a tesoura de podar de Deus desafiava-me em
certas coisas que não eram necessariamente ruins, mas que estavam
ocupando o lugar de coisas melhores. É como cuidar de um jardim.
Capinar não é suficiente. Tenho que desbastar as plantas boas e saudáveis,
sacrificando algumas delas para que outras amadureçam e dêem frutos. Da
mesma maneira, não tenha medo de avaliar todas as suas atividades, até
mesmo as que são boas. Permita que Deus aplique a Sua tesoura de podar,
e você terá uma paz ainda maior.
Uma vez que comecei a fazer essas mudanças, Jesus ensinou-me outras
preciosas verdades acerca do gerenciamento do tempo. “Sally, você
precisa aprender a arte da subtração. Você já não tem tempo para mais
nada, certo? Então, você não pode adicionar nada à sua vida, a menos
que subtraia alguma coisa dela. Quando alguém vem somar alguma coisa
ao seu dia, você deve pensar no que será possível subtrair para então
aceitar o que precisa ser somado.”
Não muito tempo depois, pediram-me que ajudasse a preparar uma
refeição comunitária. Pensei um pouco antes de dizer “sim” ou “não”. Vi
que precisaria de duas noites para preparar o que me cabia, além de ter que
ajudar na cozinha na noite em que se daria o jantar. Usando o meu novo
método de adição e subtração, pensei no que poderia subtrair para
acomodar a nova solicitação. Eu teria que subtrair os momentos de
entretenimento em família e do culto familiar por três noites. A escolha era
clara: eu devia dizer “não”, e foi o que fiz.
Não pense que, adotando esse programa, você vai sempre ter que dizer
“não”. Um dia, um grupo de acampantes veio perguntar-me se eu poderia
supervisionar as crianças enquanto os pais participavam de uma reunião. O
horário solicitado coincidia com nossa hora livre e com os momentos de
diversão em família. Decidimos transformar aquele evento em uma
excursão da família, ao mesmo tempo em que distraíamos as crianças do
acampamento. Seria um evento social interessante para nossos meninos e
uma oportunidade para todos divertir-nos fora de casa. Decidimos que
poderíamos estar de volta para o culto familiar um pouquinho mais tarde
do que o usual, de maneira que nada seria eliminado. Conversamos sobre
isso em família, oramos e respondemos positivamente: podíamos ajudar.
Deus mostrou-me que a arte da subtração podia ir além. Ele queria usá-la
para desenvolver habilidades e atitudes em meus filhos as quais seriam
necessárias para que a vida deles fosse produtiva e feliz. Ele colocou a
seguinte impressão em minha mente:
“Sally, a subtração também pode reduzir a sua carga de trabalho em
casa se você colocar maiores responsabilidades sobre os seus filhos, de
acordo com as habilidades e idades deles. Você precisa ensiná-los a
carregar a parte deles dos fardos da vida, assumindo certos deveres
práticos. Assim, você vai poder subtrair algumas responsabilidades que
você vem assumindo.”
“Mas não é fácil fazer com que eles assumam tarefas domésticas. Eles
vão reclamar e ficar amuados. É mais fácil e mais rápido eu mesma fazer
tudo, Senhor.”
“Você já está por demais atarefada. Você está frustrada e cansada de
tanto trabalho. Não é para isso que você está Me pedindo ajuda? Aí está a
solução. Faça uma tentativa.”
Estive pensando em contratar uma empregada doméstica para ajudar-me,
mas antes precisava tentar a solução sugerida por Deus. Logo em seguida,
tive a oportunidade de chamar meus filhos para dentro para que me
ajudassem a dobrar as roupas. Precisei enfrentar a falta de disposição
deles, mas Deus guiou-me em toda a situação, e eles alegremente ajudaram
a dobrar todas as roupas. Foi o começo de uma crescente liberdade para
mim. Existe uma maneira melhor de preparar nossos filhos para assumir
responsabilidades quando forem adultos? Depois que eles fizeram suas
tarefas individuais, deixei toda a roupa suja, ou o preparo das refeições do
dia, ou a limpeza e arrumação da casa aos cuidados deles. Eles
descobriram que fazer um trabalho bem-feito traz alegria; adquiriram a
confiança de que eram capazes de assumir responsabilidades ainda
maiores. A arte da subtração contribui para o bem e proporciona bem-estar
em nossos filhos.
Para acionar os freios, você precisará alterar sua vida de tal maneira que
muita gente vai pensar que você está fora da realidade. Eles podem ficar
sem entender seus motivos e tentar convencê-lo de que está errado. De
fato, poucos dos que nunca trilharam esse caminho serão capazes de
apreciar ou mesmo compreender as recompensas e as duradouras alegrias
que estão à espera daqueles que aceitam a aparente negação do eu
envolvida em não aceitar até mesmo coisas boas para que tenham o
melhor. Tendo trilhado por esse caminho por algum tempo, posso
assegurar-lhe que, sob a direção de Deus, este é o melhor e único caminho
para a felicidade e a paz duradoura.

Sei que, ao longo deste livro, tenho dito algumas coisas duras, e você
vem suportando tudo de maneira admirável até agora. Finalmente, você vai
ter a oportunidade de descartar alguns itens da sua lista de coisas por fazer.
Você merece a oportunidade de achar um pouco de tempo extra. Não tenha
medo de pensar de maneira diferente daquela que os outros esperam. Você
não está privando seus filhos ao preservar o tempo que é necessário para
um lar feliz e cheio de paz. Trabalhe com seus filhos para que eles possam
recompensar o tempo com as coisas que realmente querem fazer.
Faça o possível para que seus filhos vejam o retorno do investimento que
estão fazendo. Já que eles precisam ajudar, certifique-se de que pelo
menos uma parte daquele tempo retorne para eles em atenção adicional e
em divertimentos com a mãe. Tenho me surpreendido com a criatividade
de algumas mães e pais solteiros que conseguem achar as mais diferentes
maneiras de recompensar o tempo para seus filhos. Lembre-se de que Deus
entende suas circunstâncias. Ao fazer o que lhe é possível fazer, Ele
suprirá o que está faltando.
* Home School é uma modalidade de ensino, comum nos Estados Unidos, na qual o estudante – normalmente do ensino
fundamental até o ensino médio – cursa as matérias em sua própria casa sob a supervisão de um adulto.
Como Exercitar Minha Vontade
“Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo,
e ele fugirá de vós” (Tiago 4:7).

– ally, fui convidada para apresentar uma música especial na igreja no


S dia 18. Você gostaria de cantar um dueto comigo? – Sherry perguntou
esperançosa.
– Ah, Sherry, da última vez que fizemos um dueto, eu desafinei.
– É que você estava meio nervosa. Desta vez, vai dar tudo certo – ela
disse, reforçando minha confiança.
– Não sei, Sherry. Eu... eu... Bom, depois eu falo com você sobre isso.
Rapidamente, desliguei o telefone. Meus pensamentos davam voltas em
minha cabeça. “Não vou conseguir, Senhor! Fico corada só de lembrar. Eu
de pé, na plataforma, apavorada, sem conseguir me lembrar da minha parte
direito. Mal consegui emitir algum som. Fiquei humilhada. Senhor, Tu não
queres que eu cante com ela, queres?”
“Sim, Eu gostaria. O que a está atrapalhando, Sally?”
“Me atrapalhando?! Bem, é que eu... eu não consigo cantar direito.”
“Sally, você sabe que consegue cantar direito.”
Eu sabia que minha declaração não era totalmente verdadeira, e tentei de
novo. “Senhor, Tu sabes que eu gosto muito de cantar para Ti, mas
reservadamente. Eu não consigo cantar na frente de todo mundo. Eu me
desmonto. Fico com medo de desafinar, e aí é que eu desafino mesmo!
Meus joelhos começam a tremer. Fico com medo de esquecer a letra da
música, mesmo ensaiando muito. E sempre acontece: eu acabo esquecendo
a letra.”
“Então, quer dizer que você tem medo?”
“Bem, eu me intimido com as pessoas. Quando olho para elas, fico
desconcertada.”
“O que há no rosto delas que intimida você?”
Eu não sabia muito bem aonde o Senhor queria levar-me com esses
pensamentos, mas respondi, finalmente: “Pode ser que elas me rejeitem.
Tenho medo de que pensem que sou uma boba e que não sou digna de
estar ali, na frente. E se falarem para eu me sentar? Eu morreria de
vergonha.”
“O que acontece quando você fica muito nervosa, antes de cantar?”
“Senhor, Tu sabes que me dá um frio enorme na barriga. Minha garganta
fica apertada. Fico com medo de não conseguir cantar sequer uma nota.
Fico muito nervosa só de olhar para as pessoas. Jim me disse para eu
cantar para Ti e olhar para o teto, em vez de para as pessoas. Isso ajuda um
pouco, mas eu sei que elas estão ali!”
“Da próxima vez que você cantar, entregue todo aquele frio para Mim.
Eu posso acabar com ele, e você vai poder cantar bem. Esse frio
representa simplesmente o seu medo. ‘Não temas diante deles, porque Eu
sou contigo para te livrar, diz o Senhor’ (Jeremias 1:8). ‘No amor não
existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo, [pois] o medo
produz tormento’” (1 João 4:18).
“Eu sei, por experiência própria, que o medo produz tormento, mas Tu
queres dizer que posso ficar livre dos meus medos? Parece maravilhoso;
mas como pode ser isso?”
Não houve resposta desta vez.
Finalmente, compreendi que Ele já me havia dito o que fazer. A chave
estava naquela pequena palavra – entregue. Decidi tentar.
Apreensiva, liguei para Sherry e disse-lhe que cantaria com ela. Mas,
quando estava chegando a hora, fiquei pensando se eu não havia perdido a
cabeça. “Por que estou aqui?”, perguntei-me. Meus joelhos estavam
enfraquecidos e trêmulos. Eu tinha certeza de que desafinaria ou que
esqueceria a letra. Todos os meus instintos clamavam para que eu saísse
correndo dali! E, como se estivesse no script, comecei a sentir aquele frio
na barriga, que só intensificava meu dilema.
Em meio a essa tormenta interior, Deus me deu um tapinha no ombro,
por assim dizer, com o pensamento: “Sally, você não quer entregar esse
frio para Mim?”
“Ah, seria maravilhoso! Sim, sim, sim! Tu podes ficar com ele; aqui
está.” Mesmo assim, ainda o sentia. O desconforto ainda estava presente!
“Desculpe, Senhor, mas acho que esqueceste de ficar com ele.”
“Pode confiar que Eu vou ficar com ele. Você precisa relaxar como uma
mulher em trabalho de parto.”
“Relaxe, relaxe... Tudo bem... relaxe. Vou relaxar meus ombros pois eles
estão muito tensos.” Em poucos minutos, o frio na barriga foi embora,
minha garganta ficou boa e comecei a ficar mais esperançosa. “Está ótimo,
Senhor. Obrigada.”
Sherry e eu caminhamos pelo corredor em direção à plataforma para
cantar. O frio na barriga voltou imediatamente! “Não era para isso
acontecer, Senhor”, clamei interiormente, lutando para cantar. Desafinei
um pouco, mas não tanto quanto nas vezes anteriores.
Ao fazer uma pausa para respirar, ouvi a suave voz dizer: “Sally,
entregue-Me esse frio. Outra vez, ficarei com ele. Confie em Mim.”
“Pode ficar com ele, Senhor. Por favor, leva-o para bem longe de mim.
Ele é todo Teu.” Outra vez, o frio cedeu o suficiente para que eu
continuasse. Olhei para o teto e cantei para Jesus, tentando com toda a
minha força apagar da mente todos aqueles rostos e ver somente Jesus. Foi
a melhor vez em que cantei em público! Deus, de fato, foi meu Auxiliador
na hora da necessidade.
Mais tarde, ao refletir sobre essa experiência, comecei a pensar: “Minha
vontade é simplesmente aquilo que escolho. Posso escolher o que pensar,
dizer, fazer ou até mesmo sentir. Meus sentimentos não são a minha
vontade. Cada momento, a escolha é minha.” Lendo a Bíblia, cheguei a
Tiago 4:7: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo e ele fugirá
de vós.”
É isso mesmo! É isso que tenho feito errado! Tenho resistido ao diabo
sozinha, e ele não tem fugido de mim porque não estou conectada a Jesus,
que possui a autoridade. O diabo não vai fugir de mim. Preciso observar a
seqüência desse texto. Devo primeiro sujeitar-me a Deus e estar disposta a
confiar no que Ele diz. Quando escolho seguir a Jesus, tenho o Seu poder.
O diabo fugirá de mim porque Jesus diz para ele ir embora. É isso! Ao
tentar por mim mesma lutar contra o medo, eu fracasso pois estou fora da
seqüência, sem Cristo. Se escolher pela minha vontade sujeitar-me a Jesus
e entregar-lhe o frio da barriga e os meus medos, obtenho a vitória, pois
Jesus diz que o diabo tem que ir embora. E quando me esqueço de confiar,
ou escolho não fazê-lo, o frio volta imediatamente, pois Satanás não
obedece Sally sem Jesus. Deve ser por isso que tenho essa experiência de
“liga e desliga”. Tenho que aprender a estar continuamente conectada com
Jesus.
Quando escolho cooperar e nutrir pensamentos corretos, Jesus cria os
sentimentos corretos em mim também, e esses novos pensamentos e
sentimentos operam juntos para formar um novo caráter, à imagem de
Deus. Sou capaz, então, de responder corretamente, não porque haja algo
de bom em mim, mas porque Deus está transformando meus pensamentos
e sentimentos. Ele planta a confiança no lugar do medo.
Não importa quem você é, o que tenha enfrentado na vida, que maus
hábitos possua ou as maneiras inadequadas de resolver os problemas, esse
simples exercício da vontade humana, em cooperação com a sabedoria e a
direção divinas, vai trabalhar em seu favor. Você pode mudar. Uma vez
que entenda o poder da vontade a partir de um ponto de vista prático, você
pode ensinar isso para seus filhos. A habilidade de exercitar
apropriadamente a vontade é, talvez, o legado mais importante que
podemos dar aos nossos filhos!
Por vários anos, pensei que o exercício da minha vontade era eu tentar
reprimir alguns pensamentos, palavras e atos, mas vou dizer-lhe uma
coisa: não funciona melhor do que tentar cantar na igreja sentindo aquele
frio na barriga. É como tentar vedar um vaso com água fervendo. Nunca
funciona, e o espírito errôneo, assim como a água fervente, de alguma
maneira encontra uma maneira de escapar; normalmente no pior momento
possível.
“Afastado de Mim”, diz o Senhor, “você está na carne, e todos os seus
esforços redundarão em fracasso! Tentar mostrar a aparência correta no
lado de fora sem lidar com o coração do lado de dentro pode até parecer
adequado, mas o interior, o coração, continuará impuro. Eu olho para o
coração. Se você deixar que Eu purifique seu coração – seus pensamentos
e sentimentos maus –, então sua frustração desaparecerá em vez de
apenas ficar escondida. Então, você estará purificada do lado de dentro e
do lado de fora. Você precisa entender mais sobre como sujeitar sua
vontade a Mim.”
“Acho que consigo ver isso. Reprimir minha frustração com o eu é eu
mesma lutar contra o pecado, e cada esforço desses acabará em fracasso.
Minha vontade não é lutar contra o pecado. Ao contrário, a vontade deve
ser exercitada para subjugar o erro e o pecado. Com minha cooperação, Tu
subjugas e substitues as frustrações com Teu cuidado e simpatia enquanto
estou confiando. Quando meu coração está por Ti purificado das
frustrações, a atitude e o comportamento de frustração deixam de existir
porque o Teu cuidado e simpatia por mim ficaram no lugar deles,
influenciando esses sentimentos e respostas diferentes. Queres purificar o
meu interior de modo que eu fique verdadeiramente purificada no exterior.
Meu exemplo, agora, será digno de ser imitado. Tu não queres o
comportamento apenas exterior e presunçoso, mas a coisa verdadeira que
operas de dentro para fora. Gosto disso!”
Logo tive a oportunidade de exercitar a minha vontade de uma maneira
bastante tangível.
Você já teve dessas manhãs quando tudo parece escuro e qualquer
comentário pode ser interpretado de maneira errada? Bem, eu estava tendo
uma dessas manhãs, e meu esposo fizera o comentário errado, antes do
desjejum. Eu estava passando roupa e, se você pudesse ver a expressão do
meu rosto, poderia facilmente ler meus pensamentos. Eu estava remoendo
aquelas palavras dolorosas que Jim havia falado. Ele me ofendera, e eu
agora estava ocupada com minha festinha de autopiedade, e ficando cada
vez mais amargurada.
“Sally, você pode escolher ser feliz”, o Senhor cochichou em minha
mente.
“O que queres dizer, Senhor? Ser feliz tendo um homem tão insensível
como marido? Isso deve ser uma brincadeira!”
“A escolha de ser feliz ou triste é sua. Você pode escolher ser feliz, se
assim quiser. Estou aqui para ajudá-la.”
“Não me sinto feliz, Senhor. Tu sabes o que Jim disse para mim. É
provável que Tu queiras que eu fique feliz e sorria e assim vais mudar meu
interior e fazer com que aquilo seja real, certo? Bem, eu nem sei se quero
isso.”
“Sally, a única pessoa a quem você está magoando é você mesma. Deixe
que Eu fique com a tristeza, e lhe darei a Minha felicidade.”
“E então eu posso pôr aquele sorriso de plástico no rosto e passar a ser
Sally, a cristã?”, eu rebati. E esbocei um sorriso que era o resultado apenas
da força muscular humana. O sorriso durou cerca de cinco segundos. “Esse
sorriso não é real, e estou sendo falsa. Estou triste. Além disso, quero que
Jim veja o que ele fez! Fingir que estou feliz faz com que me sinta
hipócrita, e não serei hipócrita. Sou aquilo que sou.”
“Por que você não canta uma canção alegre e deixa que Eu fique com
esses sentimentos maus?”
“Mas sinto-me confortável com minha tristeza. Estou acostumada. Além
disso, ficar remoendo as falhas de Jim faz com que me sinta melhor.
Assim, fico justificada por sentir o que estou sentindo.”
Naturalmente, eu sabia que não deveria pensar nem agir dessa maneira,
mas era assim que eu me sentia. O Senhor não discutiu comigo. Ele apenas
esperou até que as emoções raivosas começassem a desvanecer, o que
aconteceu poucos momentos depois. Comecei a pensar que eu realmente
queria obedecer a Deus e que eu havia Lhe pedido naquela manhã mesmo
que me mantivesse em Seu caminho. “Tudo bem, Senhor. Toda minha
tristeza agora é Tua para que a subjugues. Mas a canção? A canção alegre?
Que canção alegre? Ah, estou me lembrando.” Era um corinho que eu
havia aprendido não fazia muito. E cantei: “Estou muito feliz, estou muito
feliz. Estou muito feliz, feliz, feliz, feliz...” Enquanto cantava, sentia-me a
maior fingida, pois não me sentia feliz. Mas continuei: “Estou muito feliz,
estou muito feliz. Jesus salvou-me dos... meus... pecados!”
“Ah, isto é pecado, Senhor!”
“Sim, mas em Mim, ele ficará subjugado” (ver Hebreus 2:8).
Cantei a canção pela segunda vez. E pela terceira vez. Lá pela quarta vez,
eu estava verdadeira e sinceramente feliz a partir do meu interior! Jesus
operou esse milagre em mim porque Lhe entreguei o erro para que Ele o
subjugasse, e assim cooperei com Seu poder. “Obrigada, Senhor! Amo o
Jim; ele é um bom esposo!”
O exercício da minha vontade consiste, em primeiro lugar, em escolher
deixar que Deus subjugue a tristeza que há em mim e, em segundo lugar,
cooperar com Ele cantando uma canção alegre, assim como Ele pediu que
eu fizesse. As Escrituras dizem: “Eis que sou o Senhor, o Deus de todos os
viventes; acaso, haveria coisa demasiadamente maravilhosa para Mim?”
(Jeremias 32:27). “Somente aquilo que eu não Lhe dou!”, respondi.
Queremos que nossos filhos escolham nos obedecer. Mas para ensiná-los
a sujeitar a vontade deles a nós e a Deus, fazendo o que é certo, nós
mesmos precisamos saber, por experiência própria, como sujeitar nossa
vontade a Deus.
“Senhor, ajuda-me a entender corretamente Josué 24:15”, orei. “Ali diz:
‘Escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais
que estavam dalém do Eufrates...’”, e aí eu parei. “Que ‘deuses’ são
estes?”, perguntei. “Adão e Eva estavam do outro lado do Eufrates, e Eva
deixou-se levar por seus sentimentos e apetites. Então, esses outros deuses
devem incluir o apetite e o sentimento”, raciocinei.
Continuei a ler o verso: “‘Ou aos deuses dos amorreus em cuja terra
habitais.’ Quem são os deuses dos amorreus? Bem, os amorreus eram
escravos de suas emoções mundanas e carnais, de suas inclinações
perversas, de seus desejos e vontades. Então, esses também eram outros
‘deuses’.”
Terminei de ler o texto: “‘Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.’ O
Senhor é o Deus do Céu. Assim como os israelitas diante do Jordão, temos
decisões importantes a tomar. Queremos o Deus real, não um falso deus.”
A ilustração a seguir vai ajudar-nos a ver o que Josué rotulou de outros
deuses. Isso nos ajudará a distinguir entre o falso e o verdadeiro, a voz de
Deus e a voz da carne. Esta ilustração vai nos ajudar a entender que
decisões precisamos tomar – a favor ou contra.

Quem Decide “A Vontade” “Nossa Escolha”


Minha vontade é o meu “poder” de escolha dado por Deus.
Minha vontade é o poder governador na natureza do homem.
A vontade é que dá o voto decisivo.
Ilustração adaptada de Ty Gibson, copyright de 1986. Usado com permissão.
Duas forças nos influenciam enormemente: os poderes superiores e os
poderes inferiores. Os poderes superiores são aquelas partes de nós através
das quais o Espírito Santo de Deus Se comunica: nossa razão, intelecto e
consciência. É ali que Cristo precisa reinar. Tudo começa na mente.
Quando precisamos tomar uma decisão, Deus opera através dessas
avenidas para sugerir uma maneira melhor e superior à nossa, e assim o
poder superior dá um voto. Naturalmente, nem todos os pensamentos têm
origem divina, mas, se estivermos dispostos a ouvir, Deus de fato nos fala
através dessas avenidas, oferecendo-nos idéias sobre o que devemos fazer.
Deus nunca é exigente. Ele oferece Sua orientação no espírito de uma
sugestão baseada em Sua Palavra, deixando você livre para escolher.
Os poderes inferiores comunicam-se através de nossos sentimentos,
emoções, apetites, paixões, inclinações e desejos. Essas são as avenidas
que Satanás busca utilizar para influenciar nossas decisões. Não há nada
errado em ter sentimentos e emoções; Deus as deu para nós. Ele quer que
tenhamos desejos, sentimentos e emoções saudáveis. Satanás, por outro
lado, perverte nossos desejos, levando-os aos excessos, além dos limites
dados por Deus. Quando nossos poderes inferiores são pervertidos e
tolerantes com o erro, eles pelejam contra os poderes superiores. Quando
precisamos tomar uma decisão, eles também dão um voto, mas, em vez de
sugerir educadamente o que devemos fazer, como faz Deus através dos
poderes superiores, eles freqüentemente se comportam como crianças
indisciplinadas que querem tudo do jeito delas.
Nossa vontade está no meio desses dois centros de influência, como
mostra a ilustração. É como se ela fosse um juiz – julgando entre o bem e
o mal. Ela ouve os dois lados, e consulta o Espírito Santo para decidir
entre as duas coisas. A vontade é que dá o voto decisivo, e é por isso que
ela é tão importante. Somos livres para escolher que caminho tomar, que
grupo de poderes terá influência sobre nossa vida, independentemente das
circunstâncias, sentimentos ou emoções. Como Josué, somos livres diante
de Deus para escolher a quem serviremos.
Acho isso maravilhoso! Significa que não tenho que obedecer a Satanás,
não importa o quanto ele me tente ou force. Significa que não tenho que
obedecer a meus sentimentos de medo que me fazem sentir frio na barriga
ao cantar ou que me dizem que sou uma tola ou que não tenho qualquer
valor. Colocar minha vontade do lado de Deus dá poder às minhas
escolhas – todo o poder do Céu.
A batalha para escolher começa no instante em que levantamos. Posso
escolher se vou confiar em Deus para que Ele subjugue os poderes
inferiores ou se vou permitir que eles me controlem. A escolha é minha,
mas o poder para exercer a escolha vem somente de Deus. Isso explica o
milagre de eu ter aquele frio subjugado para que pudesse cantar; isso
explica minha capacidade de ser feliz quando estou inclinada à tristeza.
Ambas as vitórias se deram pela escolha de estar ao lado de Cristo e
receber o Seu poder. Deus pode transformar qualquer erro que eu entregar
para Ele. É assim que Deus nos cria de novo à Sua imagem.
Na minha adolescência, dirigi grandes caminhões. Era preciso ter a força
de um gigante para guiá-los. Por mim mesma, era impossível guiar aqueles
veículos enormes por muito tempo. Minha força era insuficiente. É isso
que às vezes acontece quando tento guiar minha carne, meus poderes
inferiores. Não sou capaz de fazer curvas muito fechadas por muito tempo
sem perder o controle. Estar conectado com Deus é como colocar uma
direção hidráulica nesses velhos e enormes caminhões. Mesmo pequenina
e fraca como sou, posso guiar um desses caminhões enormes por estarem
equipados com direção hidráulica. Não há a menor dificuldade para mantê-
lo sob controle, mesmo nas curvas mais fechadas. Precisamos da “direção
hidráulica” de Deus para guiar nossa natureza carnal também.
Quando Adão e Eva caíram em pecado e escolheram sua própria vontade
em vez da vontade de Deus, as sementes da desobediência foram
plantadas. Essa é a nossa herança, a qual foi passada de geração em
geração, degenerando-se no processo. Depois que o pecado entrou na
família humana, nossa inclinação natural – nossa vontade humana –
coloca-nos automaticamente sob o controle de Satanás, se estivermos sem
o auxílio do poder divino. Nossa vontade fica nas mãos de Satanás, e a ele
obedecemos ao pensar os seus pensamentos e sentirmos os seus
sentimentos. Como resultado, passamos a retratar o seu caráter. É por isso
que, de maneira tão natural, somos servos do egoísmo e muito fracos
quando se trata de fazer o que é certo.
Até o nosso livre-arbítrio, essa maravilhosa bênção divina da livre
escolha, tem sido tão degenerado pela exposição ao pecado que, a menos
que ele seja iluminado pelo Espírito de Deus, nossa tendência será escolher
erradamente. Nossa inclinação para o mal é tanto uma herança como um
hábito cultivado. Devemos colocar nossa vontade nas mãos de Jesus para
escolhermos contra Satanás, o príncipe deste mundo. Jesus purificará
nossa vontade e, depois, a devolverá para nós completamente purificada. A
menos que eu aprenda a colocar-me sob o controle de Cristo hoje e a cada
momento, estarei automaticamente sob o controle de Satanás.
Verdadeiramente, não há meio-termo.
Quando nos mudamos para Montana, passamos a viver muito
modestamente, com as finanças bem apertadas. Íamos à cidade somente
uma vez por mês. Quando se vai à cidade tão raramente, a lista de lugares
para ir e de coisas para fazer fica muito longa. Jim e eu aprendemos a ser
eficientes nessas visitas. Cobríamos uma área da cidade de cada vez e
dividíamos nossas tarefas. Trabalhando juntos, cultivávamos um espírito
amável. Quando não estávamos trabalhando juntos – bem, veja como a
história se desenrola.
– Jim, preciso ir a três lugares nessa área da cidade. Se eu descer aqui,
você pode me pegar logo ali. Quanto tempo você vai demorar?
– Bem, Sally, preciso ir no departamento de trânsito e isso vai me tomar
quarenta minutos. Ah, e eu queria que você devolvesse este livro na
biblioteca e que pegasse outro livro que deixei reservado lá, antes que você
comece a fazer suas coisas. Você vai ter ainda bastante tempo.
Foi quando aconteceu! O eu não queria sujeitar-se desta vez!
– Mas, Jim, eu não quero ir à biblioteca! Vá você mesmo, enquanto estou
fazendo minhas coisas. Não gosto de ir à biblioteca, e você sabe disso!
Jim, o espertinho, encostou o carro em frente à biblioteca, estendeu-me o
livro e sorriu. “O ‘cara-de-pau’”, pensei, “espera mesmo que eu faça isso
para ele.” Recusei-me a sequer olhar para ele. Abri a porta do carro, desci
e fechei-a suavemente. Não fiz nenhum desabafo recheado de palavras
rancorosas. Mas eu estava irritada. No exterior, eu parecia bem, mas tinha
eu me sujeitado à vontade de Deus? Em absoluto! Não decidir é o mesmo
que decidir. Eu estava automaticamente exercitando a minha vontade para
fazer o que era errado só de seguir minha inclinação de ficar ressentida
com ele.
“Jim sempre consegue as coisas do jeito que ele quer!”, desabafei comigo
mesma ao dirigir-me para a biblioteca. “Eu não gosto de ir à biblioteca, e
ele sabe disso! Não sei por que não gosto de ir lá, mas não gosto mesmo!
O problema aqui é o Jim e não minhas peculiaridades, mesmo se elas não
tiverem uma razão válida.”
“Sally, isto é uma coisa pequena.” Deus falou gentilmente à minha
consciência.
“Pequena? Uma coisa pequena? Não, não é uma coisa pequena! Isto aqui
é uma grande coisa!”
Ao subir os degraus da biblioteca, Deus sussurrou: “Sally, essa não é a
melhor maneira de lidar com isso. Você sabe aonde tudo isso pode levar.
Você pode escolher fazer disso uma coisa pequena. Estou aqui para fazer
com que assim seja.”
Os poderes inferiores rapidamente deram o seu voto impelindo os meus
pensamentos e sentimentos. “Eu não quero!” “É sempre o Jim quem
manda!” “Isto não é justo! Ele vai a um lugar apenas, enquanto eu vou a
quatro lugares!” Tudo isso era desculpa, na tentativa de justificar meus
sentimentos maus.
Os poderes superiores também deram o seu voto sugerindo à minha
razão, intelecto e consciência: “É uma coisa pequena.” “Isto é algo bom
que você poderia fazer pelo Jim.” “Ele não é tão mau assim!” Exercitei
minha vontade em cada caso ao não escolher o lado de Cristo de maneira
ativa. Escolhi, então, seguir a corrente de pensamentos vinda dos poderes
inferiores. Todas as vezes que escolhemos não decidir por Cristo e pelo
que é certo, tomamos uma decisão.
Devolvi o livro e esperei na fila para pegar o livro que estava reservado.
Continuei com a mesma linha de pensamento, relembrando todas as coisas
negativas que Jim já fizera – reais ou imaginárias – e senti-me justificada
quanto àquela maneira de pensar.
“Sally, você nem mesmo está feliz. Você bem sabe que, quanto mais você
persistir nessa maneira de pensar, mais difícil será você livrar-se dela.
Você quer mesmo continuar? Estou aqui para ajudar.”
O Senhor finalmente conseguiu falar mais alto que minhas paixões, e
percebi que meus pensamentos sobre o Jim eram quase todos uma
distorção da verdade, de modo que me sentisse justificada por estar
zangada com ele. Jim é um homem bom, e eu sabia disso. “Não, Senhor,
não quero continuar dessa maneira. Jesus, preciso que Tu me conduzas
para longe deste estado mental. Entrego-Te a minha vontade para que a
transformes. Não quero que Satanás me governe. Quero que faças de mim
uma filha Tua outra vez.” Quando exercitei minha vontade e escolhi
corretamente, a paz voltou ao meu coração. Mas eu ainda tinha uma série
de pensamentos negativos passeando por minha cabeça.
O Senhor sabia disso e me interpelou. “Você precisa parar de pensar
negativamente sobre o Jim e passar a pensar positivamente.”
“Tudo bem, Senhor, vamos pensar positivamente. Deixa-me pensar
alguma coisa boa sobre o Jim. Alguma coisa boa sobre o Jim? Hummm...
certamente existe alguma coisa de bom no Jim. Eu sei que existe, mas não
consigo pensar em nada! Ó, Senhor, podes ajudar-me? Ao abrigar todos
aqueles pensamentos negativos acabei desalojando todos os bons da minha
mente.”
“Lembra-se de todos os abraços e beijos que o Jim lhe dá quando você
está trabalhando no computador, ou na pia da cozinha, ou em qualquer
outro lugar, sem nenhuma outra razão a não ser fazer você sentir que é
amada?”
“Sim, como pude esquecer-me disso? Ele é muito divertido, seja no
trabalho, seja no lazer. A vida é monótona sem o Jim. Ele até me deu um
buquê de flores silvestres recentemente.” Era difícil para mim mudar a
direção dos meus pensamentos, mas Deus limpou-os de tudo o que havia
de negativo, devolvendo-os purificados. Fiquei muito mais contente por ter
feito essa escolha. Eu realmente estava me sentindo muito mal servindo o
próprio eu.
Como você acha que seria a minha resposta ao Jim se ele viesse me pegar
enquanto eu ainda estivesse pensando todas aquelas coisas negativas sobre
ele? Não importa o que ele dissesse, eu ficaria ofendida, na defensiva, em
silêncio ou crítica, certo? Servindo a Satanás, eu poderia demonstrar
unicamente os seus traços de caráter. Respondemos da maneira que
respondemos por causa daquele a quem seguimos e por causa do que
pensamos.
O que você acha que aconteceu quando Jim foi me buscar depois de sua
visita ao departamento de trânsito? Bem, àquela altura, eu tinha somente
amor em meus pensamentos e sentimentos. Cumprimentei-o
afetuosamente com um beijo e um abraço. Contei-lhe sobre os conflitos
vividos na biblioteca, e da minha vitória ao exercitar a minha vontade e
escolher o lado de Deus. Não havia distância entre nós, nenhum silêncio
reservado da minha parte, nenhum ressentimento ou animosidade contra
ele por ter-me enviado à biblioteca. Em Jesus, aquilo havia se tornado uma
“coisa pequena” porque escolhi que assim fosse e segui a direção de Deus,
a qual fez com que me afastasse do pensamento negativo.
Quando permiti que Deus recriasse a minha vontade, Ele realizou uma
obra poderosa em mim. Em 2 Coríntios 10:4, 5, Paulo diz: “Porque as
armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus [...]
anulando nós sofismas e toda altivez [...] e levando cativo todo
pensamento à obediência de Cristo.” “Que sejais fortalecidos com poder,
mediante o seu Espírito no homem interior” (Efésios 3:16). É isto que
Deus quer para você e para mim.
Mas devemos diariamente continuar deixando que nossos pensamentos
fiquem sob o controle de Deus. Um dia, levei meus meninos para uma
caminhada pelas montanhas. Jim não pôde ir conosco. Havíamos
caminhado por apenas dois minutos quando fui assolada pelo medo. “O
que pode acontecer se um urso sair da floresta bem aqui na nossa frente?”,
pensei. De repente, o medo inundou minhas emoções como uma grande
tempestade. Eu não havia pedido por isso. Eu não vinha alimentando
pensamentos de medo, nem tivera qualquer tipo de mau presságio. Mesmo
assim, eles estavam presentes! Eu precisava lidar com aquilo de alguma
maneira, mas minha mente estava inundada de fatos negativos. Um urso
pode correr a 65 quilômetros por hora, atingindo essa velocidade em
poucos segundos. Esse não era exatamente o pensamento confortador que
eu precisava naquele momento!
Olhei na direção do chalé e pensei: “Eu sequer conseguiria correr até a
casa antes que o urso me alcançasse, especialmente puxando dois meninos
pequenos pelas mãos.” Dizem que, para livrar-se de um urso, você deve
subir em uma árvore. Mas nossas árvores aqui em Montana, pelo menos
aquelas que eram suficientemente grandes para se escapar de um urso,
eram enormes e desprovidas de galhos até pelo menos uns três metros de
altura. Se eu dependesse de subir em uma delas para escapar de um urso,
com certeza seria uma presa muito fácil para o animal. Para mim, era
como se atrás de cada uma daquelas árvores houvesse um urso pronto para
pular em cima de mim. Jim disse-me várias vezes: “Deus não nos trouxe
aqui para que você fosse devorada por um urso.” Mas eu não tinha tanta
certeza. Para piorar, raramente consigo enxergar qualquer tipo de animal
selvagem – ursos, leões-da-montanha ou veados – até que Jim e os
meninos os mostrem para mim. Eu imaginava ursos deleitando-se em pular
diante de mim para assustar-me e para acabar comigo a seu bel prazer. Eu
sabia que eles olhavam para minha pele rosada e viam uma McSally Feliz,
sem os inconvenientes dos chifres, cascos ou pelugem. Eu queria correr
para casa e esconder-me!
“Você se lembra do texto que Eu lhe dei recentemente sobre as bestas-
feras dos bosques?”, Deus me perguntou.
“Sim, me lembro. Ezequiel 34:24, 25. ‘Eu, o Senhor, lhes serei por Deus.
[...] Farei com elas aliança de paz e acabarei com as bestas-feras da terra;
seguras habitarão no deserto e dormirão nos bosques.’ Mas, Senhor, acho
difícil acreditar nesse texto. Tu dizes que devo ser capaz de deitar e dormir
aqui mesmo, e que me livrarás de todas as bestas-feras. Espero que não
estejas pedindo para eu fazer isso! Preciso saber o que fazer com esse
medo que está me impelindo a correr para casa.”
“Você pode confiar em Mim, Sally?”, o Senhor perguntou docemente.
Lutei para responder essa pergunta. Na igreja, é muito fácil dizer que
confiamos em Deus. Mas lá fora, na floresta, é outra história. “Senhor, o
que pedirias de mim se um urso saísse agora da floresta, aqui mesmo?”,
perguntei, apontando para um lugar entre mim e a casa.
“Se Eu pedisse para você ir até aquela árvore ali e ficar atrás dela, você
iria?”
“Que árvore?” Ao voltar-me para olhar a árvore, tive uma clara sensação
de qual era a árvore que Deus queria que eu visse. Avaliei o tamanho dela.
Era mais larga do que minha cintura, e pensei: “Os ursos não enxergam
bem, e Deus pode fazer com que o vento sopre na direção oposta, de modo
que o urso não poderá nos farejar. Posso ficar atrás daquela árvore
colocando Matthew e Andrew atrás de mim. Sim, posso confiar em Ti,
Senhor.” Fiquei aliviada e perguntei: “Passei nesse teste, não passei,
Senhor? Posso ir para casa agora?”
“Não, Sally, quero que você vá fazer a caminhada que planejou. Serei
com você. Quero ensinar-lhe algumas outras coisas.”
“Ah, não, isso é muito difícil! Não sei de ninguém que tenha sido
libertado desse tipo de medo que tenho. O que posso fazer com todo esse
medo?”
“Dê-Me sua mão e faremos essa caminhada juntos.”
Cheia de medo, fiz a escolha contra o que meu próprio ser queria e
caminhei na direção oposta à minha casa, confiando que Jesus podia fazer
algo com meus medos, embora não soubesse o quê. Eu estava assustada
demais, temendo que tivesse que encarar um urso para aprender essa lição.
“Senhor, meus pés estão obedecendo, mas meus pensamentos estão
ligados nos meus medos. O que faço com eles?”
“Continue confiando e crendo em Mim.”
Comecei a cantar e animei os meninos a juntarem-se a mim. Cantei
corinhos, hinos – qualquer coisa que trouxesse conforto ou falasse sobre
vencer. Recitei versos bíblicos: “Invoca-Me no dia da angústia; Eu te
livrarei e tu Me glorificarás” (Salmo 50:15). “O perfeito amor lança fora o
medo” (1 João 4:18). “Não temas, porque Eu sou contigo; não te
assombres, porque Eu sou teu Deus; Eu te fortaleço” (Isaías 41:10). Cinco
minutos depois, o medo diminuíra notavelmente, e fui em frente. Em dez
minutos, onde antes havia medo, passaram a reinar paz e confiança. Voltei
vitoriosa para casa, mas não foi uma batalha única. Ao voltarem os meus
medos, Deus ia usando aquelas oportunidades para ajudar-me a enfrentá-
los, escolhendo pôr minha vontade ao Seu lado, confiando nEle e
buscando Sua salvação sem cessar. Ficou cada vez mais fácil superar meus
medos. O aprendizado e o treinamento são coisas importantes, mas já era
tempo de avançar para o nível seguinte do crescimento com Deus. Meus
exercícios de graduação vieram de uma maneira muito interessante.
Ouvíramos falar que havia uma mamãe-ursa com três filhotinhos em
nossa área. Em nosso culto familiar, os meninos oraram para que
tivéssemos uma oportunidade de vê-los. Acrescentei: “Permita-nos vê-los
em segurança, Senhor.” Às vezes, nossas orações são respondidas
rapidamente. Naquela mesma manhã, enquanto eu servia o desjejum, vi
um filhotinho de urso pela janela! Então, vi os outros: a mamãe e os outros
dois filhotes. Eram ursos pretos, facilmente distinguíveis dos ursos pardos
pela ausência de uma saliência no ombro, o formato da cabeça e menor
tamanho – embora “menor” seja, decididamente, um termo relativo! “Ah,
eles não são uma gracinha?”, exclamei. Todos ficamos observando
enquanto eles subiam numa árvore. Essa atividade me convenceu da
inutilidade de subir numa árvore para escapar de um urso preto! Então, a
mamãe ursa levantou o focinho e começou a andar na direção dos fundos
da nossa casa. Eu sabia o que ela queria porque eu estivera fazendo waffles
com uma porção generosa de baunilha. “Vou fechar a porta dos fundos”,
pensei. A porta de tela não tinha ferrolho, e, mesmo que tivesse, não seria
suficiente para detê-la se ela quisesse entrar.
Ao chegar à porta, eu estava curiosa para ver o que aquela ursa estava
fazendo. Sentia-me segura; afinal, Deus a conduzira até ali. Abri a porta de
tela e espiei. Vi uma pata, e logo depois, a outra, segurando o corrimão.
Então, com uma gentileza surpreendente para uma criatura daquele
tamanho, ela se movimentou com naturalidade sobre o pátio, como se
todos os dias visitasse casas como a nossa! Eu soltei a porta e ela se
fechou. Mas a porta interior, de madeira, continuou aberta; eu fiquei ali no
corredor, fascinada! Ela ficou de pé do outro lado da porta de tela, quase
um metro mais alta do que eu e a apenas um braço de distância de mim!
“Ah, como você é bonita!”, murmurei. Olhei para ela atentamente, e
chamei os meninos para vê-la também. Eles não vieram, mas eu estava
muito fascinada para prestar atenção.
– Você está salivando! – exclamei. – Você quer os meus waffles! Mas
não pode! Você tem os ombros tão largos! Dá para perceber como você
sobe tão rapidamente aquelas montanhas. E olhe só essas patas; devem ter
uns dez centímetros!
Suas patas dianteiras pendiam de maneira tão delicada e graciosa,
lembrando as de um cãozinho doméstico.
Lamentei quando ela foi embora. Somente então é que voltei-me para
minha família e perguntei:
– Por que vocês não foram vê-la?
Os meninos me olhavam, admirados. Finalmente, Jim disse:
– Sally, você está bem?
Eu ainda não havia pensado até então, mas eu não fiquei com medo
daquela ursa! O que eu estava fazendo? Havia apenas uma porta de tela
entre nós! Eu tinha agido como se Jesus tivesse total controle da minha
vida – e Ele tinha! Eu não precisava ter medo daquele enorme animal.
Satanás não achou nenhum medo em mim. Deus havia removido todo ele.
– Milagre dos milagres! Estou livre! – exclamei. – Estou livre!
Embora não possa provar, sei que Jesus sorriu naquele momento.
O que você tem que fazer é render sua vontade à vontade de Jesus. Ao
fazê-lo, Deus imediatamente tomará posse e vai operar em você o que Lhe
apraz. Toda a sua natureza será posta sob o controle do Espírito de Cristo;
mesmo seus pensamentos ficarão sujeitos a Ele. Você não pode controlar
seus impulsos ou emoções como talvez você deseja, mas pode controlar
sua vontade, e isso provocará uma mudança completa em sua vida. Mas
nossa vontade precisa cooperar com a vontade de Deus para que esse
milagre ocorra em nossa vida.
Alguns cristãos sinceros têm dito que um elemento sobrenatural será
trazido à nossa vida no futuro para que possamos nos libertar do eu e
alcançar uma esfera mais elevada. Eles dizem que, depois que isso ocorrer,
será comparativamente fácil vencer o pecado – sem crucifixão do eu. De
fato, eles afirmam que é legalismo lutar contra o próprio eu e os poderes
inferiores.
Essa não é a realidade. Naturalmente, se lutamos contra o pecado com
nossas próprias forças, então eles têm razão. Nossa luta seria uma batalha
perdida e inútil desde o início. Mas temos um Deus que nos oferece o Seu
poder e salvação, não somente em uma esfera celestial futura, mas agora
mesmo. Se nos detivermos no terreno de Satanás esperando por uma
vitória fácil em alguma ocasião no futuro, pereceremos junto com todos os
malfeitores. O pecado mantém suas garras sobre nós através da nossa
vontade. Se não rendermos nossa vontade a Cristo, não estaremos livres
nem agora nem no futuro.
O verdadeiro exercício da nossa vontade requer que enfrentemos nossos
medos e fraquezas, e que deixemos que Cristo pessoalmente nos mostre o
caminho de escape. Confiar em Jesus é algo que dá medo no início, mas
torna-se uma experiência cada vez mais doce ao Ele cortar as cordas do
pecado e de todas as fraquezas que nos têm mantido presos por tanto
tempo.
Comecei este capítulo contando sobre o medo que senti ao cantar uma
música especial na igreja. Deus me deu muitas oportunidades de enfrentar
esse medo. No começo, a duras penas eu convivia com aquele frio no
estômago, pois minha confiança estava em meu próprio eu. Mas, ao
começar a cooperar com Deus, rapidamente aprendi a deixar que Ele
ficasse com aquele frio. E, quanto mais cedo eu Lhe entregava, mais
rapidamente eu me libertava dele. Comecei a perguntar-me quantas vezes
eu teria que repetir esse processo. Por que aquele frio não vai embora de
uma vez por todas? “Senhor”, perguntei, “quantas vezes vou ter que Te
entregar o meu frio no estômago até que essa situação mude
completamente?”
“Até que ele vá embora. Pode ser mais cedo ou mais tarde.”
Uma amiga querida decidiu casar-se e queria que eu cantasse em seu
casamento. Ela não fazia idéia de como era difícil para mim cantar em
público. Eu queria fazer isso por ela como um presente especial, só não
sabia se iria conseguir. Eu não ousaria estragar o seu casamento. Eu disse
para ela que oraria sobre o assunto e, posteriormente, falaria com ela.
Busquei fervorosamente o Senhor. “Senhor, que devo fazer?”, clamei,
angustiada. A resposta foi curta e gentil.
“Acho que será ótimo. Estarei com você.”
“Não, Senhor, Tu não sabes o que estás pedindo!” Depois de pensar
seriamente por alguns instantes, consenti, confiando que Deus sabia o que
estava fazendo. Escolhi a música mais linda e significativa que pude
encontrar e ensaiei com muita dedicação e oração. Chegou o dia, e eu me
consagrei ao Senhor da melhor maneira que pude. Sentia-me bem, mas um
pouco nervosa. Eu estava no último banco da igreja quando aconteceu. O
frio invadiu o meu estômago como nunca antes. As dúvidas me assolavam.
“Deus não está com você nisso aí”, eu disse para mim mesma. “Você
entendeu mal. Ele nunca lhe deu permissão para fazer isto, e Satanás vai
pegar você de jeito agora. Você não vai conseguir cantar, e vai arruinar o
casamento da sua amiga!” O frio no estômago era tamanho que eu me
curvei, achando que talvez estivesse gravemente enferma. “Senhor, o que
está acontecendo? Se não estiveres comigo, estarei perdida!”, clamei, em
silêncio.
“Estou contigo”, o Senhor me assegurou amorosamente. “Isso aí é
apenas aquele frio outra vez – é só entregá-lo para Mim.”
“Isso não se parece com nenhum frio que eu me lembre! Tem certeza?”
“Sally, confie em Mim. Relaxe os seus músculos.”
“Está bem, Senhor, estou relaxando.” E passei a relaxar com toda minha
vontade e toda minha força, confiando que Jesus iria proceder a obra
interior. Logo, o nervosismo cedeu um pouco. Contudo, os poderes
inferiores clamavam para dar o seu voto, zombando de mim, dizendo-me
que Deus não estava comigo, que eu estava amedrontada e fadada ao
fracasso. Meus sentimentos confirmavam aqueles pensamentos. Satanás é
o instigador da dúvida; ele gosta de intimidar-nos e deixar-nos
desanimados. Sete vezes, nos próximos quinze minutos, eu entreguei as
dúvidas e o frio a Deus. O frio ia ficando cada vez menor e ia
desaparecendo mais rápido. Os poderes superiores serenamente me
incentivavam através da razão, convencendo-me de que Deus realmente
estava comigo. Eu ficava repetindo versos da Bíblia em minha mente, mas
não foi uma batalha fácil.
Logo chegou a hora de eu cantar. Mais uma vez, Satanás mexeu com
meus sentimentos e emoções para fazer-me duvidar e perder a confiança.
Deus impressionou-me a que permanecesse firme e resistisse mais uma
vez.
Entrei na batalha fazendo tudo o que eu sabia e, confiantemente,
coloquei-me em Suas mãos. Minha garganta estava tão apertada que eu
achava que não seria capaz de emitir nenhum som. Meu estômago ficou
embrulhado mais uma vez pelo nervosismo, que me apertava por todos os
lados. “Senhor, vou até a plataforma porque Tu me pediste para cantar
aqui. Esses medos são Teus para que Tu os subjugues, como só Tu podes
fazer. Entrego o meu pobre ser a Ti”, sussurrei e trilhei o corredor para ir
cantar.
Ao abrir a boca para cantar, uma música linda e harmoniosa inundou a
igreja. “Será eu?”, pensei. Sentia-me totalmente livre cantando aquela
canção. Minha afinação, meu controle de respiração, meu coração, tudo
estava em perfeita harmonia, como nunca antes. Foi maravilhoso. Eu
estava livre! E o rosto deles – pude olhar no rosto deles sem medo! “Glória
a Deus! Glória a Deus!” Cantei de coração e em perfeita paz.
Ao cantar aquela canção para o casal que se unia em matrimônio, senti
que estava casando-me com Cristo de uma maneira bastante tangível e que
Ele estava libertando-me do último daqueles medos que me mantinham
como refém. Eu havia pensado em dar para minha amiga aquela linda
canção como presente, e, em lugar disso, Deus usou o pedido dela para
dar-me liberdade para cantar sem medo. Nunca mais senti frio no
estômago daquele jeito! Nunca mais tive medo de olhar no rosto das
pessoas! Nunca mais acreditei que era incapaz de cantar lá na frente! A
Deus seja toda a glória!
Quantas vezes devemos entregar nossos medos a Jesus? Até que eles
desapareçam!

Não há nada neste capítulo que uma mãe ou um pai solteiro não possa
fazer. Muitos pais e mães vêem-se criando os filhos sozinhos, mesmo
tendo esposa ou esposo. O que provavelmente venha a causar problemas
ao você começar a mudar é a mesma coisa que me causou muitas
dificuldades. Ninguém quer ser visto como uma mãe ou um pai “chato”,
especialmente quando ela ou ele sente-se mal por ter que ficar longe dos
filhos o dia inteiro, por ter que trabalhar fora. Criar filhos requer a
objetividade de fazer escolhas difíceis, sacrificar aquilo que gostaríamos
pelo bem dos filhos e decidir o que é melhor a longo prazo, em vez de
satisfazer o desejo de ter amor e aceitação imediatos da parte deles.
Busque o equilíbrio em Jesus.
A falta de um companheiro ou companheira torna mais difícil enfrentar e
recusar as exigências egoísticas dos seus filhos, os quais, muitas vezes, são
as únicas pessoas especiais em sua vida. Daí a importância de que Jesus
venha a ser uma parte muito real e ativa na sua vida. O tempo gasto em
comunhão com Deus não é uma dádiva somente para você, mas também
para o seu filho, que poderá contar com uma mãe ou um pai mais bem
preparado para tomar decisões acertadas, ao invés de simplesmente desistir
por estar cansado. Mantenha o foco em sua relação com Jesus, e Ele o
guiará nas mudanças que você precisa fazer dentro de suas circunstâncias
específicas.
A Bomba de Pensamento
“Porque, como [um homem] imagina em sua alma,
assim ele é” (Provérbios 23:7).

– atthew, volte já para a cama!


M Ali estava ele, desafiador, na porta do seu quarto. Eu já havia
conversado com ele e lido uma história, como de costume. Já lhe dera
água, já cantara as canções de ninar, fizera tudo, enfim, que os pais fazem
para acomodar seus filhos na cama, mas nada funcionava! Tentei a
disciplina e, quanto mais usava desse expediente, mais determinado ele
ficava a não se render ao sono, e mais zangada eu ficava. Em desespero,
finalmente eu o joguei na cama e falei severamente com ele, apontando-lhe
firmemente o meu indicador.
– Você é muito teimoso e malcomportado! Agora, fique aí deitado e
durma, senão...!
Eu não tinha a menor idéia do que esse “senão...” podia ser, mas eu
estava no meu limite e esperava que a ameaça de alguma punição
desconhecida pudesse assustá-lo, fazendo com que obedecesse.
O silêncio reinou ao eu sair do quarto e descer a escada. Ah, finalmente a
vitória! Olhei para trás para saborear meu triunfo, e lá estava ele me
espiando por trás da porta!
Subi a escada pisando duro.
– Matthew, fique sabendo que não é você quem manda aqui; sou eu! Eu
sou a mãe e você é o filho. Você tem que me obedecer, entendeu bem?
Meu filho de dois anos de idade não entendia – e nem eu. Por que meu
filho de dois anos de idade me obedeceria? Na esperança de que ele se
sentisse cansado e, de alguma maneira, caísse no sono, deixei-o no quarto.
Eu não sabia mais o que fazer. Cansada, desci a escada com as palavras
“por quê?” na cabeça.
Hoje, sei muito mais do que naquela ocasião. Sei que um dos motivos
pelos quais meu filho não me obedecia era meu espírito pouco cristão.
Cristo não estava no controle da minha vida; era eu quem estava. Matthew
estava apenas refletindo minha própria raiva e frustrações. Eu não entendia
que, para conseguir uma obediência genuína e de coração, era necessário
que eu conquistasse o coração dele para Jesus.
Sentada em minha poltrona, pensando em mil coisas, eu ouvia uma suave
voz dizer-me:“Conquiste o coração dele.”
“O que significa isso?”, me perguntei.
Jesus me fez lembrar do verso bíblico: “Dá-Me, filho Meu, o teu
coração” (Provérbios 23:26). Pensei sobre isso, tentando correlacionar a
idéia a alguma coisa que eu entendesse. Comecei a entender que
conquistar o coração devia ser a coisa mais básica ao criar meus filhos
para Cristo. Eu sabia que, se Jesus possuísse o coração deles, milagres
poderiam acontecer. O coração seria transformado, e a verdadeira
obediência seria o resultado. Assim, comecei a pensar sobre o coração. O
que há no coração humano que Deus quer que eu compreenda?
Fisicamente, o coração é apenas uma bomba que faz o sangue circular
pelo corpo. Eu era enfermeira e me lembrava de alguns dos meus pacientes
cujo coração fora terrivelmente prejudicado por causa de estilos de vida
inadequados ou por alguma doença. Não importavam suas condições, o
coração deles não se recusava a bombear o sangue. O coração não faz
diferença entre o sangue bom e o ruim; ele apenas bombeia o que está ali!
Havendo um bom sangue, o coração bombeia uma vida alegre e saudável.
Pensei nisso como uma representação da vida e do caráter de Cristo
fluindo por meu intermédio e manifestando-se em palavras e atos de
bondade. Havendo um sangue ruim, o mesmo coração bombeia uma vida
amargurada e enferma. Isto representa a vida e o caráter de Satanás fluindo
por meu intermédio e trazendo as doenças de um caráter defeituoso. A
Bíblia diz que aquilo que alguém “imagina em sua alma, assim ele é”
(Provérbios 23:7). Espiritualmente, o coração representa meus
pensamentos. Assim, minha mente deve ser uma “bomba do pensamento”.
O coração que Deus quer são nossos pensamentos e sentimentos.
Essa compreensão trouxe-me uma idéia mais sóbria. E se a bomba do
pensamento funcionar como o coração e bombear aquilo que colocamos lá,
seja bom ou ruim? Meus pensamentos circulam, trazendo vida ou morte.
Foi aí que a idéia tomou forma, e percebi que os mesmos pensamentos
podem ser facilmente transferidos para meus filhos. Que pensamentos
estou dando para que meus filhos possam bombear através do seu sistema
hoje e qual é seu efeito? Se eu não filtrar meus pensamentos através de
Cristo antes de expressá-los, posso ser usado por Satanás para reproduzir
seus traços de caráter em meus filhos. Matthew não tinha o caráter de
Cristo quando tentei forçá-lo a dormir, mas como é que ele ficou desse
jeito? Por meu intermédio! Ele apenas refletia o que lhe era provido física,
mental e espiritualmente.
“Senhor, é por isso que Tu apelas tão freqüentemente ao meu coração.
Estás tentando ensinar-me a entregar-Te todos os pensamentos maus em
troca dos Teus pensamentos bons, de modo que eu possa passá-los aos
meus filhos. Tu queres usar-me para conquistar o coração do meu filho, de
modo que ele possa ter o Teu poder para obedecer e fazer o que eu peço
como mãe. E Tu não podes usar-me para isso a menos que eu esteja
experimentando o mesmo processo.”
A vida ensinou-me que, se eu ouvir ou disser algo com bastante
freqüência, passarei a acreditar naquilo, não importa se é certo ou errado.
Agora, apliquemos esse princípio aos nossos lares. Se eu acho que o meu
filho é rebelde, meus pensamentos estarão refletidos em meus sentimentos,
e eu passo a tratá-lo friamente. Mostrarei desinteresse, serei brusca, crítica,
não porque resolvi ser assim, mas porque meus pensamentos alteram meu
comportamento ou resposta, e o meu filho receberá a mensagem, seja ela
verbal ou não-verbal. Se ele recebe essas mensagens negativas repetidas
vezes, passará a se achar um rebelde, mesmo não sendo. Posso predispor
meu filho a pensar que ele é mau. Os pensamentos que coloco em sua
bomba de pensamento produzirão frutos na forma de mau comportamento,
pois ele se torna aquilo que ele pensa. Nós, pais, temos a maior influência
sobre a vida dos nossos filhos. Precisamos entender que eles são aquilo
que nós – e não os outros – fizemos deles.
Entretanto, se permito que Deus mude meus pensamentos, se penso e
confio no pensamento de que, através de Cristo, meu filho pode ser bom,
minhas ações, pensamentos e respostas terão como finalidade estimular
isso. Repetidas vezes, ensinarei ao meu filho o que ele pode ser em Jesus.
Assumirei o papel e a atitude de um auxiliador do meu filho, em vez do
papel de juiz, jurado e executor da sentença.
O que pensamos é, freqüentemente, a causa de agirmos da maneira que
agimos. Quando pensamos o quão irritante é o comportamento do nosso
filho, como reagimos a ele? Geralmente, de uma maneira irritada. Quando
estamos tendo pensamentos ranzinzas e acusadores sobre nossos filhos,
como respondemos a eles? De uma maneira ranzinza e acusadora,
naturalmente. Quando estamos frustrados, seja qual for a razão, como
reagimos ao debatermos com nossos filhos? Pensamentos frustradores
invadem nossas emoções, e respondemos aos nossos filhos de uma
maneira frustrada e rancorosa, mesmo se não são eles a causa da nossa
raiva. Essa é a voz da carne, ou Satanás.
Quando estamos pensando no bom comportamento do nosso filho, qual é
a nossa reação para com ele? Sei que normalmente respondo com palavras
gentis, sorrisos agradáveis e espírito animador. Quando temos
pensamentos graciosos sobre a disposição do nosso filho em ajudar, como
reagimos? Quando identificamos a fraqueza do nosso filho com a única
finalidade de ajudá-lo a superá-la, quando planejamos com oração cultivar
nele os traços opostos através de uma conexão com Deus, como reagimos?
Ao cooperarmos com esses bons pensamentos, estamos obedecendo à voz
de Deus, e coisas agradáveis fluem pela nossa bomba de pensamento.
Aqueles que têm esses tipos de pensamento ganham o coração (os
sentimentos, as emoções, os hábitos, inclinações, desejos), em suma, a
totalidade do nosso ser. Tanto Deus como Satanás fazem de tudo para
conseguir essa posição dominante à frente dos nossos pensamentos – e dos
nossos filhos.
Deus planta no coração de cada filho o desejo de agradar seus pais e,
portanto, a Deus, a quem os pais representam. Nossa tarefa é fazer com
que essa opção seja atraente. Estamos dando ao nosso filho um padrão
digno de ser imitado, o qual plantará em seu coração a esperança de que
ele pode controlar seus pensamentos? Nossos filhos precisam conhecer um
Salvador pessoal. Eles precisam ver que nós conhecemos o Salvador antes
de serem capazes de imitar um bom exemplo. Meus pensamentos criam
em meu filho atitudes e sentimentos que formam seu caráter. Se meus
pensamentos são maus, tudo o mais será mau também.
Todos nós precisamos sentir que somos amados e que, quando erramos,
somos tratados com amor. Por que será que agimos como se isso não fosse
verdade com relação aos nosso filhos? Se eles sentem que desistimos
deles, eles desistirão de si mesmos. Se eles sentem que não desistimos
deles, tampouco o farão. Se somos maravilhosos, auxiliadores e
incentivadores, mostraremos Cristo para eles do jeito que Ele
verdadeiramente é, e será mais provável que nunca fujam de Deus. Isso
requer que entendamos em termos práticos o conceito da bomba de
pensamento e a idéia de Deus possuir o coração. Levar nosso filho a
escolher os pensamentos e os sentimentos corretos em Jesus é o alicerce do
sucesso na criação dos filhos. Sem Cristo em nós, não podemos lutar de
modo vitorioso contra os pensamentos mentirosos ou emoções pervertidas
que Satanás provoca.
Um dia, quando Matthew ainda era bem pequeno, eu o levei comigo às
compras. Para uma criança de dois anos de idade, um supermercado é um
lugar cheio de maravilhas.
– Mamãe! Mamãe! Eu quero! – ele gritava e apontava com o dedo, todo
animado. Ele ficou de pé no carrinho de compras, quase saltando de
excitação.
– Matthew, pare com isso agora! Fique quietinho e sente-se para que eu
possa terminar minha lista de compras.
– Mamãe! Mamãe! Eu...
– Não! Pare de me aborrecer!
– Mamãe! Mamãe! Compra aquilo para mim!
Tentei fazer com que ele se comportasse para eu poder terminar minhas
compras. Ao entrar em outro corredor, Matthew esticou-se todo e pegou
um pacote que se encontrava suficientemente perto para ele alcançar de
dentro do carrinho. Ele sentou-se para deleitar-se com seu feito. A mãe
talvez não soubesse o que fazer no supermercado, mas ele ia se divertir!
– Matthew, o que você está fazendo? – perguntei, como se não estivesse
óbvio. – Você sabe que não deve fazer isso! – e tomei-lhe o pacote das
mãos. – Pare de incomodar! – eu disse com severidade.
Ele me olhou com um ar de: “Qual é o problema com a minha mãe?”
– Posso levar...? – ele disse, levantando-se.
– Não! Agora, sente-se aí e fique quieto – e fiz com que ele se sentasse
no carrinho. – Não quero ouvir nem mais uma palavra.
Sua cabecinha se curvou e ele se aquietou, amuado, no carrinho.
Terminei minhas compras em relativa paz e tranqüilidade. Com minha
rude correção, eu obtivera conformidade exterior, mas não obtivera seu
coração. Eu estava contente por ele ter se conformado com meus desejos.
Não levei em consideração os resultados do meu comportamento sobre seu
pensamento e atitude. Mas logo descobri. Ao colocá-lo em sua cadeirinha,
no carro, seu egoísmo explodiu. Ele gritava e me empurrava, recusando-se
a deixar que eu afivelasse o cinto de segurança. Eu não sabia o que fazer.
Ele fazia o possível para ficar distante de mim. Eu o havia magoado, e ele
estava ofendido.
– Matthew, pare com isso e deixe-me colocá-lo na sua cadeira! Fique
quieto.
Ele lutava ainda mais. Meus pensamentos eram de desespero. “Senhor,
estou muito cansada. Passo a noite em claro com o Andrew e fico com o
Matthew o dia inteiro. Depois de dois meses assim, estou exausta! O que
devo fazer com esse menino? Não consigo fazê-lo obedecer.”
“Você quer que Eu a ajude?” Não foi uma voz audível, mas um
pensamento em minha cabeça. Eu estava falando com Deus, mas não
estava realmente esperando uma resposta.
Minha necessidade rapidamente levou-me a responder: “Sim.”
Então, Jesus disse: “Coloque o Matthew em Minhas mãos.”
“Tudo bem, Senhor, Tu podes tê-lo. Sua mente, seu coração, sua vontade
– é tudo Teu.”
“Diga para o Matthew que ele não pode se comportar dessa maneira;
ele deve escolher fazer o que é certo, confiando em Jesus.”
“E não é o que estou fazendo?”
“Sim. Mas você está fazendo isso com rudeza e raiva. Isso não dá
resultado. Fale com amor.”
“Queres dizer que posso dizer ‘não’ de um jeito amoroso?” Eu estava tão
perturbada que discuti com Deus. “Não vai funcionar, pois ele está
aborrecido. Já passei por isso antes; nenhum argumento vai funcionar. É
muito constrangedor que isso aconteça aqui no estacionamento. E se
alguém me vir brigando desse jeito com meu filho?”
“Sally, confie em Mim! Sou o seu Auxiliador em tempo de angústia.
Antes de qualquer coisa, dê-Me o seu coração.”
“Está bem, vou tentar.” Primeiro, entreguei a Deus as minhas emoções,
sentimentos e medos – e... ah, sim, os meus pensamentos.
Então, disse com amor:
– Matthew, você não deve se comportar desse jeito. Confiando em Jesus,
você deve escolher fazer o que é certo e deixar que eu afivele o cinto da
sua cadeirinha.
Ele não se acalmou. Empurrou-me com força, tentando descer. “Senhor,
o que devo fazer?” (ver Atos 9:6). Eu me intimidei, pois a minha primeira
tentativa não funcionou.
“Diga-lhe que ele escolheu apanhar por ter desobedecido.” O Senhor
estava calmo, mas firme.
“Mas Senhor, isso não vai funcionar! Ele fica inflamado quando está
assim. Já fiz isso muitas vezes, e fiquei muito sentida! Além disso, o que
vão pensar de mim, se me virem batendo em meu filho? O castigo físico
pode ser algo bom, ou seria apenas admitir minha própria falha?”
“Não sou contra o castigo físico, se dado com o espírito correto. Eu não
castiguei fisicamente o povo de Israel, por assim dizer, por sua
desobediência? Sua punição foi uma motivação para escolher
corretamente e descobrir Minha graça redentora. Castigar fisicamente
sem rudeza ou rancor é diferente de castigar por você mesma. Por que
você não tenta, pelo menos?”
“Senhor, hoje em dia eles podem levar seu filho se você bater nele em
público.”
“Sim, Satanás é contra o castigo físico porque isso tira a criança do seu
serviço. Mas lembre-se de que muitos só conhecem o tipo errado de
castigo físico – aquele que é um desabafo da raiva e frustração de um
adulto. Naturalmente, esse tipo de castigo não redime, mas Satanás espera
usar essa falsa imagem para eliminar a disciplina das crianças. Você vai
deixar de confiar em Mim por medo dos homens?”
Lutei com esses pensamentos enquanto tentava conter fisicamente meu
filho. Tomando finalmente uma decisão, obedeci da melhor maneira
possível, castigando-o sem brutalidade ou raiva. Então, eu disse para o
Matthew:
– Você deve entregar-se a Jesus, e Ele vai mudar seu coração e
sentimentos.
A essa altura, eu já estava esperando a terceira guerra mundial, mas, em
vez disso, Matthew olhou para mim. Ao ver amor em meus olhos, ele se
acalmou e parou de lutar comigo. Fizemos uma curta oração.
– Agora, deixe que eu coloque o cinto de segurança em você.
Calmamente, ele deixou que eu afivelasse o cinto de segurança. Toda a
agitação e todo o choro desapareceram! Olhei para meu filho, maravilhada.
Eu nunca tinha visto uma transformação tão maravilhosa como essa! O
espírito de briga desapareceu diante dos meus olhos. Então, ele sorriu para
mim.
Ao entrar no carro e dirigir para casa, fiquei olhando pelo espelho
retrovisor para ver se o milagre era real. E era! “O que foi que eu fiz
certo?”, pensei. “Seja o que for, quero fazê-lo de novo!”
Eu havia apenas respondido à voz de Deus oferecendo-me ajuda.
Sujeitei-me ao pensamento de Deus, escolhi fazê-lo e assim fiz,
permanecendo no Espírito, confiando que Jesus operaria o milagre no meu
coração e no coração do meu filho. Enquanto fazia tudo o que sabia fazer,
eu pedia que Deus acalmasse meu filho, abrandando seu coração. Por que
eu ficaria surpresa com a resposta de Deus à minha oração?
A expressão de uma criança revela para os pais quais são seus
pensamentos. Ele ou ela pode ceder exteriormente ao nosso controle
exercido pela força, mas isso não faz com que abra o coração. Na verdade,
deixa o coração fechado. Muitos pais rotulam seus filhos de teimosos,
egoístas e rebeldes, e pode até ser que eles sejam assim. Muitas vezes,
porém, a realidade é que os maus pensamentos dos pais, suas palavras e
ações são a origem do mau comportamento dos filhos. Colhemos aquilo
que semeamos (ver Jó 4:8). A semente determina a colheita e, quando
escolhemos deixar que Deus controle nossos pensamentos e possua nosso
coração, liberamos Suas mãos para comunicar a compreensão dos nossos
filhos e para mudar o comportamento deles com o Seu poder. Se nossos
filhos nos vêem escolhendo obedecer, eles serão incentivados a fazer a
mesma escolha de livre e espontânea vontade. Esta é a chave para o
sucesso. O poder divino não substitui o esforço humano. Ambos são
essenciais, mas o poder divino destrona o egoísmo ao estarmos unidos com
Cristo.
A Bíblia fala de uma bomba de pensamento – o coração: “O coração
alegre é bom remédio, mas o espírito abalado faz secar os ossos”
(Provérbios 17:22). Quando temos pensamentos bons, o coração bombeia
substâncias curadoras para o nosso sistema. Quando temos pensamentos
negativos, ele seca nossos ossos. Os pais têm a maior influência sobre a
vida de seus filhos, tanto para o bem como para o mal.
Assim, como poderei ter pensamentos amorosos e expressar amor para
com minha família, especialmente quando é necessário corrigir? Comecei
este aprendizado com meu pé engessado. Deus usou o meu ritmo mais
lento como uma oportunidade perfeita para ensinar-me uma valiosa lição.
Os meninos estavam brincando no assoalho enquanto eu apoiava meu pé
em uma cadeira, diante deles. Foi quando começaram a brigar por causa de
um brinquedo. Eu já estava me ajeitando na poltrona para repreendê-los,
quando meus pensamentos foram interrompidos.
“Sally, analise a atitude deles.”
Senti que Deus estava tentando ensinar-me algo, mas minha razão estava
rebelando-se contra o apelo de Deus. “Analisar a atitude deles? Isto é
ridículo, Senhor! O que queres que eu faça: deixar que eles fiquem
brigando na minha frente sem fazer nada?”
“Sally, analise a atitude deles.”
“Analisar a atitude deles? O que é atitude, afinal? Não seria apenas os
pensamentos, os sentimentos e a maneira com que naturalmente
reagimos?” Olhei nos olhos de Matthew e comecei a entender o que Deus
queria que eu fizesse. Deus não queria que eu apenas acabasse com as
batalhas exteriores; Ele queria que eu entendesse por que eles reagiam
daquele jeito. Deus estava mais preocupado em penetrar na mente deles do
que com seu comportamento exterior. Ao perceber isso, comecei minha
análise. “Matthew não é louco”, eu disse para mim mesma. “Ele está
tentando convencer seu irmão de que o brinquedo é dele. Ele quer esse
brinquedo. Ele está sendo bondoso, mas dominador. Andrew está
aborrecido. Ele está tentando obter o brinquedo por meios físicos, mas esse
cabo-de-guerra é inútil porque o irmão é mais forte do que ele. Já vi isto
antes. Ele sabe que normalmente o irmão vence. Ah, observe esse olhar.
Ele desistiu, e parece estar muito triste. Por que será? Vejo que não é por
causa do brinquedo; ele está triste porque acha que nunca pode vencer, e
que a vida é infeliz. Ele deixou o brinquedo para o irmão e saiu dali para
‘curtir’ sua tristeza sozinho. Pobre menino!”
Agora eu via a importância de entender a atitude deles. Comecei a decidir
que ações eram necessárias. Matthew precisava pedir e ceder de vez em
quando, sem ficar no controle da situação o tempo todo. Ele precisava
aprender a colocar o irmão em primeiro lugar. O líder precisa ser o servo
para equilibrar sua forte personalidade. Eu tinha que fazê-lo ver a vida
pelo prisma do irmão. Os pensamentos corretos influenciariam as respostas
corretas.
Minha personalidade fazia com que eu ficasse mais sintonizada no
problema de Andrew, que era pensar que não poderia ser tão bom quanto
seu irmão, desistindo de si próprio. Eu não podia dizer-lhe que ele era
bom; eu tinha que promover o seu crescimento para que ele visse que Deus
o amava, e que eu o amava, e que ele podia estar bem com Jesus e ficar
contente com aquilo que ele é. Andrew precisava aprender a ser um pouco
mais duro, e não esmorecer. Uma correção mais severa poderia ser
necessária para que os efeitos dos pensamentos mentirosos que ele
abrigava fossem vencidos. Era preciso que a verdade e Deus se tornassem
mais reais para ele do que as mentiras de Satanás. Eu também precisava
mostrar-lhe algumas técnicas de resolução de problemas que fossem
melhores do que apenas desistir. Em vez de deixar que Andrew desistisse,
eu tinha que incentivar a perseverança. Eu tinha que mostrar para Matthew
como ser mais gentil. Os meninos e eu conversávamos de vez em quando,
e eu pedia que repetissem a cena anterior com melhores técnicas de
resolução de problemas. Foi um bom começo.
Em outra ocasião, minha amiga Cristal e eu conversávamos à mesa, após
o almoço. Seu filho Jesse, muito brincalhão e amoroso, entrou correndo
procurando algo divertido para fazer. Vendo um garfo, e certificando-se de
que a mamãe o vira para que pudessem brincar de pega-pega, ele pegou o
garfo e saiu correndo pela sala.
– O piso da sala está afundado! – Cristal exclamou. – Ele vai cair, na
certa! Pare!
Com um salto, ela saiu correndo atrás dele.
Segurando o risonho garoto, ela bruscamente tirou-lhe o garfo das mãos,
colocou-o no colo e bateu nele com toda a frustração e raiva que aquela
travessura lhe causara.
– Seu moleque – ela disse, depois de colocá-lo em pé. – Nunca mais faça
isso, ouviu? Agora, vá lá para fora brincar!
Seus pensamentos e sentimentos a guiavam, e ela os seguia. O que ela
estava colocando na bomba de pensamento do seu filho? Medo,
naturalmente! Ele não entendia por que merecia uma punição tão severa.
Ele estava apenas brincando, e não percebia perigo no que estava fazendo.
Ele se sentiu maltratado. Coloque-se no lugar dele. Quando o espírito dos
pais é injusto, quando você é repreendido e leva um tapa em público, isto
causa uma profunda mágoa, especialmente quando você é tratado dessa
maneira pela pessoa que você mais ama e de quem depende inteiramente.
Olhei para os olhos daquele menino e pude ver sua reação. Ele afastou-
se, distanciando-se dela confuso e com medo no olhar. Sua mãe havia
colocado medo em sua bomba de pensamento; ela disse que ele era mau.
Seu senso de justiça dizia-lhe que havia sido tratado injustamente. Satanás
nunca perde uma oportunidade como esta para sugerir pensamentos
mentirosos para a mente de uma criança. “Sua mãe não o ama.” Na
próxima vez em que a expressão da mãe for de raiva, o pensamento
mentiroso é confirmado na sua mente: “Minha mãe não me ama.” Não é
verdade, mas a criança apenas sabe daquilo que você fez com ela antes. A
percepção negativa sobre si mesmo é aprofundada e confirmada; não faz
diferença se ela está baseada na realidade ou não.
Vamos rever Cristal na mesma situação, exceto que desta vez ela foi
treinada a permanecer sob o controle de Cristo em vez de reagir
automaticamente, sem pensar.
Quando Jesse pega o garfo para brincar de pega-pega, sua primeira
reação ainda é de medo com relação à sua segurança. Ela deseja protegê-lo
contra si mesmo. Mas, desta vez, ela faz uma pausa, e o atraso abençoado
traz-lhe o seguinte pensamento: “Não saia correndo atrás dele; resolva
isto com calma. Estou com você.”
Ela vai andando devagar e chama carinhosamente pelo filho, escolhendo
seguir a direção dada por Cristo. Seu foco, agora, está em compreender por
que ele pegou o garfo, em vez de ficar alarmada com o perigo.
– Jesse, não é muito seguro correr com o garfo na mão; você pode se
machucar. Dê-me aqui este garfo.
Jesse ainda quer brincar de “pega-pega”. A idéia quase funciona; ele
realmente conquista a atenção da mãe. E ele responde com uma atitude do
tipo “vem aqui pegar”.
Ainda perguntando a Deus: “O que devo fazer agora?” Cristal sente-se
impressionada a sentar-se e chamar Jesse para junto de si. A idéia veio de
Deus, mas os resultados estão além da sua sabedoria. Ela acaba de enviar
uma mensagem não-verbal: ela não vai brincar com o garfo. Ao mesmo
tempo, ela está menos ameaçadora por haver-se colocado no nível do
menino. Seu pedido, feito em um tom polido e carinhoso, é uma afirmação
sobre a importância que ele tem para ela. Ele ainda quer brincar, mas a
mamãe está oferecendo-lhe atenção, e mesmo o seu colo, e isso é uma
oferta boa demais para ser deixada de lado. Ele vai até o colo da mãe,
ainda com o garfo na mão. Cristal não faz nenhuma tentativa de tirá-lo de
sua mão. Ela quer uma decisão de livre e espontânea vontade, não forçada.
– Você queria brincar com a mamãe? – ela pergunta.
– Eu queria – ele responde. – Eu quero brincar.
– Eu gosto muito de brincar com você! Eu também gosto de brincar de
pega-pega, mas brincar de pega com um garfo na mão é muito perigoso.
Dê o garfo para a mamãe e a gente vai buscar uma bola e brincar de pega-
pega com ela.
De bom grado, ele entrega o garfo. Ao obedecer a mãe, ele vê que os
desejos do seu coração estão garantidos. A mamãe fez com que a
obediência fosse algo doce, e ele, de bom grado, escolheu obedecer.
Cristal mantém sua palavra e vai brincar com Jesse. Mesmo que o filho se
rebelasse e se recusasse a entregar o garfo, seria melhor puni-lo, mesmo
fisicamente, enquanto estivesse com o garfo, em vez de arrancá-lo da mão.
Você pode ver o contraste dos dois jeitos de criar filhos. Será que isso
significa que nunca há um momento de agir rápido para prevenir que
alguém se machuque? Claro que não. Deus lhe deu uma mente para você
raciocinar, e Ele espera que você a use sabiamente. De maneira especial,
você precisará de sabedoria ao lidar com crianças com necessidades
especiais, as quais têm que lutar não apenas contra as inclinações para
fazer o mal, mas também com debilidades mentais muitas vezes associadas
a desordens físicas. Ajude-as a ser o melhor que puderem ser em Jesus.
Eduque-as, treine-as e trabalhe com elas para que também ouçam a voz de
Deus. Deus é capaz de comunicar-Se com elas de uma maneira que vai
além da sabedoria ou habilidade humana. Deus certamente será com você
por causa da sua necessidade. Essas crianças já são portadoras de um
terrível dano. Você quer que elas sejam disciplinadas e controladas o
quanto lhes for possível, em Jesus. Trate-as de acordo com sua capacidade
de entender, mas não deixe Cristo de fora. Todos os pais precisam ser
firmes, coerentes, amorosos e dispostos a mostrar as conseqüências
apropriadas para ajudar seus filhos a aprender. Nunca discipline quando
estiver com raiva e aspereza.
Quando você nunca se rendeu a Deus e aprende finalmente a sujeitar-se,
você acha que encontrou o segredo da felicidade. Mas, não demora muito,
e você descobre que há outro passo envolvido: a arte da cooperação. A
cooperação conecta você com Cristo, sua fonte de poder; ela é o fator que
faz de suas escolhas uma realidade e lhe dá o poder divino para levar
adiante as escolhas feitas.
Ali mesmo no balcão do supermercado havia uma bandeja transbordando
com as mais tentadoras gomas de mascar. E o melhor de tudo era que se
podia pegar o quanto quisesse, pois era a vovó que estava oferecendo!
Andrew não achava todos os aspectos de ir às compras excitantes, mas isso
era uma emoção especial. Ele sempre enfiava a mão na bandeja para pegar
os dois melhores pacotinhos – um para ele e outro para o irmão. Isto já se
tornara um ritual das compras quando a vovó e eu saíamos, e Andrew
aguardava por isso com ansiedade.
O problema era que nós havíamos decidido que o açúcar não era uma
coisa muito boa para os meninos e resolvemos não comprar mais gomas de
mascar. Assim, precisei dizer:
– Mamãe, nós decidimos não comprar mais gomas de mascar.
– Mas qual é o problema com a goma de mascar? – ela perguntou.
– É por causa do açúcar, dos dentes e da saúde.
– Deixe eles levarem só desta vez – pediu minha mãe, vendo que Andrew
já tinha um pacotinho na mão.
– Não. Ele vai devolver o pacote. Desculpe não ter-lhe falado antes,
mamãe. Se eu deixar desta vez, da próxima ficará ainda mais difícil.
Andrew reagiu com doçura. Foi duro para ele obedecer. Ele levantou a
mão acima da bandeja olhando para mim com olhos suplicantes, esperando
que eu relevasse só dessa vez, e ele não tivesse que devolver o pacote.
– Mamãe, eu quero essa goma de mascar – ele disse delicadamente.
Detestei fazer isso, mas meneei a cabeça dizendo “não”. Ao colocar a
goma de mascar de volta, ele pôs o dedinho na boca, e as lágrimas
começaram a rolar por sua face. Meu coração ficou partido.
Matthew disse:
– Deixe a gente levar só desta vez, mãe!
– Não – eu disse com maior convicção do que realmente sentia.
Todos estavam em silêncio ao caminharmos até o carro. Minha mãe
estava muito triste. Ela não concorda conosco, mas felizmente tem nos
apoiado naquilo que decidimos fazer. Ela não fica contra nossos desejos
mesmo quando eles vão de encontro ao seu coração e razão.
Durante o trajeto para casa, Andrew escapou de sua cadeirinha e
ajoelhou-se no piso do carro, bem atrás do banco da minha mãe.
Fervorosamente e em voz alta, ele começou a orar a Deus a respeito de sua
enorme provação. “Ó, querido Jesus, eu quero aquela goma de mascar! Me
ajuda a não querer mais gomas de mascar. A mamãe disse que eu não
posso mais usar goma de mascar, mas eu quero goma de mascar. Ah, Jesus
querido, eu quero obedecer à mamãe. Eu quero minha goma de mascar! Eu
quero obedecer à mamãe! Eu quero minha goma de mascar!”
E assim a luta continuava. Andrew soluçava enquanto orava. Todos
testemunhamos sua agonia. Matthew chorava por si mesmo e por seu
irmão. Minha mãe chorava em silêncio no banco ao lado, tentando não se
envolver. Meu coração estava despedaçado e as lágrimas corriam-me pela
face. Eu não sabia como ajudar meu filho naquela situação!
– Andrew querido – e coloquei minha mão em suas costas, confortando-o
da melhor forma possível. – Você precisa voltar para sua cadeirinha agora.
Tudo vai ficar bem, meu amor.
Ele voltou para sua cadeirinha, mas continuou a chorar por um bom
tempo. À noite, ele ainda estava triste e desapontado. Nada lhe trouxe
alívio; somente o tempo.
Por que é tão difícil fazer isso? Eu havia dado a Andrew uma experiência
de oração e sujeição. Como muitos cristãos, ele sabia o que era certo e
queria obedecer, mas sua única fonte de poder era cerrar os dentes e forçar
sua teimosa carne a obedecer sua escolha. Instintivamente, ele sabia que
Deus era a solução. Ele orou. Contudo, naquela ocasião eu mesma não
sabia como era que Deus removia sentimentos que não queremos ter. Por
isso, eu não consegui guiá-lo através da experiência de escolher fazer o
que era certo pelo poder de Jesus.
O dilema de Andrew é semelhante a uma águia exercitando apenas uma
das asas, e por isso ele não conseguia erguer-se acima dos ditames de sua
carne e superar o desejo de ter a goma de mascar. Exercitar apenas a asa da
sujeição faz com que você voe em círculos. A segunda asa – a cooperação
– é vital para um vôo seguro acima dos ditames da carne. Andrew precisou
clamar a Deus e fazer aquilo que Deus disse que fizesse. Isto é, estar “em
Cristo”. Dessa maneira, Deus entra em nós para que, com Seu poder,
possamos pelejar contra o pecado e o próprio eu através de uma recriação
dos nossos pensamentos, sentimentos e desejos. Deus opera de dentro para
fora, não apenas com nossa sujeição (o consentimento mental de que Ele
está certo), mas também na cooperação da nossa vontade. Deus não nos
força contra nossa vontade. Sem o exercício desta segunda “asa”, não
somos redimidos e passamos a achar que não temos poder para mudar.
Para Andrew, isto significava aplicar o mesmo esforço para fazer o que
era certo, mas também envolvia sujeitar-se repetidas vezes e entregar
aqueles desejos para Jesus. Então, ao cooperar com os pensamentos certos,
guiados por Jesus, para substituir o desejo pela goma de mascar, ele seria
vitorioso. O inimigo não era a goma de mascar, e sim os pensamentos.
Mas, naquela ocasião, eu não entendia nada disso.
Hoje, eu teria usado o “princípio da substituição” para a desejada goma
de mascar de Andrew. Ele precisava escolher ser feliz com uma maçã ou
um pouco de suco, e pedir que Deus fizesse o milagre de trazer-lhe alegria
interior (ver Hebreus 13:5). Isso poderia ter tornado a mudança
fisicamente tangível para Andrew. Quando ela é apenas abstrata, fica
difícil para os pequenos entenderem a batalha espiritual em que estamos
envolvidos.
Muitos filhos crescem tentando sinceramente ser obedientes, bons,
fazendo o que é certo, mas tendo experiências como a de Andrew, quando
ele orava atrás do banco do carro, lutando contra o eu e a carne, sem que
tivesse significativa vitória ou alívio. Os pais podem saber acerca de Deus,
mas, por não conhecerem Deus pessoalmente, não conseguem mostrar
para os filhos como obter a vitória. Temos que saber como libertar nossos
filhos da carne, conectando-os com Deus. Se eles tiverem essa experiência,
teremos uma juventude viva, vibrante e corajosa.
Fico muito triste quando falo com jovens e percebo que eles têm uma
visão negativa do cristianismo. A maioria não quer saber da religião que
conhecem. Por quê? Porque têm tido a mesma luta de Andrew – e de seus
pais – anos após ano, até que, finalmente, desistem da religião, da igreja,
dos pais e, muitas vezes, de si mesmos. Esses jovens desejam a goma de
mascar, mas nunca encontraram o poder para vencer esse desejo. Temos
lhes dado uma religião aleijada e um deus sem nenhum poder para adorar.
Um adolescente se expressou assim: “Esse negócio de religião pode
funcionar para outras pessoas, mas para mim não funcionou, embora tenha
tentado várias vezes. Deve haver algo errado comigo. Deus não responde
às minhas orações. Meu pai é um fracassado, e eu sou exatamente como
ele. Todo mundo me diz isso. Não há esperança para mim. Por isso, desisti
de ser ‘legal’ e simpático. Pode ser que vá ser queimado um dia, mas não
há nada que eu possa fazer.”
É de surpreender que eles sigam esses pensamentos mentirosos de
Satanás, quando não têm um Salvador pessoal, nem poder para tornar reais
suas escolhas? Eles não sabem como conectar-se nem como cooperar com
Deus para obter poder. Nossos filhos merecem a herança de um Deus
pessoal e uma vida plena de poder. Em uma escala maior, nossas ações
como pais determinarão se, como adultos, eles se tornarão filhos do reino
celestial ou súditos do reino das trevas.
Se você deseja transformar seus pensamentos e, por conseguinte, os do
seu filho, você precisa render suas escolhas à sabedoria de um Deus
onisciente. Ao assim fazer, você verá uma grande transformação de caráter
e atitude, não importa qual seja a idade do seu filho. Você pode ser a chave
para abrir as portas dos tesouros das bênçãos celestes sobre a sua família.
Será compensador todo o esforço? Se você pudesse ver tão-somente uma
transformação, você diria que todo o custo foi compensador. Nosso Pai
celeste derramará Seus pensamentos sobre você, se assim você quiser.
Quando estivermos juntos lá na praia celestial, não fique chocado se
perceber que foi por meio do nosso coração – nossa bomba de pensamento
– que fomos, em grande medida, transformados e recebemos o maior dos
benefícios. Glória a Deus por nos haver provido uma maneira de livrar-nos
dos maus pensamentos!

De tudo o que tenho compartilhado durante todos esses anos de


aconselhamento, a compreensão da maneira como nossos pensamentos
afetam os pensamentos dos nossos filhos pode ser um dos maiores
benefícios para pais e mães solteiros. A razão é que tantos pais solteiros
carregam consigo ressentimentos, raiva e culpa pela situação em que se
encontram. Eles esperam e oram para que seus filhos não se tornem
amargurados ou rancorosos, mas não entendem que é quase certo que isso
irá acontecer, a menos que o coração deles – a bomba de pensamento –
seja transformado.
A situação que você enfrenta é difícil, mas você tem uma feliz
oportunidade que alguém em um lar com marido e mulher não pode
experimentar. Você apenas tem a maior influência sobre a bomba de
pensamento do seu filho; nenhuma outra influência pode superar a sua. Se
as idéias que você colocar ali tiverem origem celestial, os pensamentos
conduzirão para cima. Minha oração é que você dê os passos necessários
para que sua mente supra seu filho com um manancial puro de
pensamentos celestiais.
Planejamento e Prioridades
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo
para todo propósito debaixo do céu” (Eclesiastes
3:1).

E stávamos quase do outro lado do mundo atendendo ao convite de Sadie


para irmos até lá a fim de compartilhar nossa mensagem. Ao
chegarmos à sua casa, onde ficaríamos por uma semana, várias coisas
me deixaram chocada; mas nada como a própria Sadie. Essa mulher era
uma mãe solteira que desenvolvia um ativo ministério fora de casa. Ela
tinha muita energia e entusiasmo, mas quase de imediato percebi que havia
algo errado.
A casa não estava limpa nem arrumada. As refeições eram servidas com
atraso e em horários irregulares. Pensei que talvez Sadie estivesse
sobrecarregada e me ofereci para ajudar. Mas, ao dar uma olhada na
cozinha, logo descobri que não havia alimentos suficientes para preparar
uma refeição decente. E não era por falta de dinheiro. O problema era que,
para ela, não era importante preparar comida para si mesma e para a
família, tendo em vista a grande obra que ela estava fazendo para Deus.
Assim, sua família comia qualquer coisa que ela lhe oferecia.
A menos que alguém estivesse supervisionando os filhos a cada passo
que dessem, eles logo escapavam, deixando suas tarefas por fazer. Esses
meninos não podiam suportar a menor correção e eram os mais
malcomportados da igreja. Eles deitavam-se no corredor sem que ninguém
os corrigisse. Lá do púlpito, a mãe explicava o sucesso que ela era no
trabalho e quão diligentes seus filhos eram em casa. Eu me perguntava
como Sadie se deixava enganar desse jeito. Por qualquer visão objetiva, a
condição dos seus filhos levantaria questionamentos sobre o seu ministério
e o uso que fazia do tempo. Parecia impossível que Sadie não percebesse
que sua casa não era aquilo que ela retratava.
A introspecção não é uma coisa má, nem tampouco uma avaliação
honesta da nossa verdadeira condição. Você pode ter certeza de que Deus
estava tentando abrir os olhos de Sadie, mas o seu horário era apertado
demais para que Deus pudesse ter uma oportunidade de mostrar-lhe a
verdade sobre ela mesma. Muitas vezes, ela repetia que seus filhos eram a
coisa mais importante da sua vida. No entanto, em que ela gastava o
tempo? Ela se consumia no ministério para com os outros, enquanto o
campo missionário do seu lar permanecia sem cultivo, o que deixava sua
prole seriamente prejudicada – tudo em nome da obra do Senhor! Sua falta
de envolvimento com os filhos deu oportunidade para Satanás semear as
sementes do seu caráter no coração daqueles meninos, e eu posso dizer que
o jardim de Satanás estava florescendo muito bem! A falta de sinceridade
dela causou sua própria queda. A correria do dia-a-dia não deixava espaço
para a direção divina. Ela achava que estava exercendo um ministério para
com os outros, quando, em realidade, estava deixando de fazer a
verdadeira obra do Senhor! Será que o programa dela estava de acordo
com sua declarada prioridade? O que lhe dirá Deus um dia? E o mais
importante, o que dirá Deus para você e para mim um dia? Nossos
programas estão de acordo com nossas prioridades?
Houve um tempo em que eu também teria dito: “Amo meus filhos acima
de tudo”, embora o uso que fazia do tempo dissesse exatamente o
contrário. Veja bem, acabei descobrindo que a minha agenda não estava de
acordo com minhas prioridades. Tenho conversado com muitas mulheres
que também se sentem dessa forma. Seu relacionamento com o Senhor é
inconstante e estão falhando em fazer o importante trabalho que precisa ser
feito para sua própria salvação e a salvação da sua família. Repetidas
vezes, elas tentam assumir o controle de seus horários, mas nunca dá certo.
Então, o sentimento de estar fora de controle as arrasta ao desespero.
Minhas observações e conversas com literalmente centenas de mulheres
demonstram que o problema que nos parece mais difícil é seguir a Deus na
organização do horário da nossa casa. Lembro-me de haver orado sobre o
meu horário, sabendo que eu precisava mudar, e sabendo também que eu
não tinha a menor idéia de como fazê-lo! O Senhor bondosamente
iluminou-me em algumas coisas, as quais gostaria de compartilhar com
você.
“Sally, você está olhando muito para si mesma para conseguir as
mudanças. É isto que está lhe causando esse desepero. Volte os seus olhos
para a Minha força e seja apenas uma ovelha a seguir-Me”, o Senhor
orientou-me ternamente.
“Eu tenho muitas coisas que precisam ser mudadas, Senhor. Como posso
mudar tanto? Não tem jeito!”
“Sally, uma grande jornada é feita com um passo após o outro. Você está
tentando fazer essa jornada dando um passo gigantesco, o que é
impossível, não importa o quão empenhada você esteja. Olhe para os
ponteiros do seu relógio. Com todo esse seu empenho, você é como o
ponteiro menor apontando para o número doze, mas você tem necessidade
de estar no número seis. O tempo tem uma seqüência que deve ser
seguida, da mesma forma que a caminhada cristã também tem uma
seqüência que você deve seguir para conseguir mudar com sucesso. O
relógio move-se pelo seu trajeto fixo, um ‘tique’ de cada vez. O mesmo
deve ocorrer com as mudanças do seu horário. Uma mudança, uma
escolha de cada vez a ser incorporada em seu lar, e então continue com
um ‘tique’ de cada vez. Um dia seu ponteiro chegará ao número seis, tal
como você deseja.”
Focalizar-se com oração em um item e conhecê-lo bem, antes de passar
para outro, é a chave para mudar, e é bem possível que o processo seja
iniciado com as atividades que compõem o que chamamos de “esqueleto
do horário”. Assim como o esqueleto físico sustenta nosso corpo e protege
os órgãos internos, assim também o “esqueleto do horário” sustenta a vida
da casa com sua consistência. Ele dá estrutura e protege os membros da
família de circunstâncias que deixem de fora fatores espirituais e físicos
importantes.
Seguimos o horário que aparece logo abaixo. Ele foi colocado aqui não
para você copiá-lo, mas para servir de modelo. O nosso horário e também
o seu sofrerão variações. É normal.
Horário dos Hohnberger
5h30 Momentos pessoais para oração, estudo e culto
8h Culto familiar (geralmente 20 minutos interessantes)
8h30 Desjejum
15h Refeição
18h30 Momentos de diversão em família
20h Culto familiar
20h30 Hora de dormir
Ao dar início às mudanças, escolha uma para começar. Vamos dizer que
você escolha uma hora para recolher-se, à noite. Agora, você deverá
dedicar-se para fazer as mudanças necessárias para que vá para a cama
naquela hora, todas as noites. Você ficará surpreso com a dificuldade de
conseguir manter o horário de cada item consistentemente. A única
maneira de ter sucesso é depender de Deus e buscá-Lo para obter poder. A
lógica do seu plano de horário e sua decisão de cumpri-lo devem estar
acima de sentimentos e emoções que certamente irão pelejar contra essas
súbitas restrições.
Na realidade, a agenda do dia começa na noite anterior. Se você não for
para a cama cedo, não poderá fazer seu culto a Deus no dia seguinte
porque sua mente estará muito cansada para isso. Provavelmente, você
ficará cochilando, ou estará paralisado pela fadiga durante o seu culto. A
hora em que você vai para a cama determinará o sucesso ou fracasso da
sua agenda do dia seguinte. Ser firme e permanecer em contato com Deus
são os dois segredos do sucesso duradouro.
O corpo humano demonstra que somos criaturas feitas por Deus para
reagir melhor quando há regularidade e horários. Quando fazemos as
refeições em horários regulares, nosso corpo se acostuma ao horário e se
prepara para as refeições produzindo os sucos digestivos. É necessário que
se trabalhe em equipe para que se consiga isso. Deus fez nosso corpo para
funcionar com horários regulares. Em cada aspecto da vida, ele gosta de
regularidade. Quando fazemos o culto em um horário predeterminado,
nossa mente fica preparada em atitude e disposição, e podemos assimilar
nosso alimento espiritual.
Qualquer agenda que você criar sempre terá algumas dificuldades.
Vamos ver como o Senhor me ajudou a ajustar a minha. Era muito difícil
para mim servir o desjejum na hora certa. Dez minutos não parecem ser
muito tempo, mas faziam-me sentir apressada e pressionada, o que, por sua
vez, aumentava a possibilidade de eu perder a paciência com meus filhos e
fazer com que começássemos as atividades do dia já meio atrasados.
“Senhor, geralmente estou atrasada para o desjejum. Por favor, ajuda-me a
ser mais pontual nisso.” Já na manhã seguinte, durante minha devoção
pessoal, um pensamento atravessou minha mente: “Sally, e o desjejum?”
“Desjejum?”, disse para mim mesma. “Ah, eu tenho pelo menos dez ou
quinze minutos antes de ir prepará-lo.” Peguei meu livro de volta. Quinze
minutos depois, larguei apressadamente o livro e corri para a cozinha para
preparar o desjejum. Foi uma correria, e o desjejum foi outra vez servido
com dez minutos de atraso, como sempre.
Eu havia pedido para Deus me ajudar a ser pontual, só para ver-me
perguntando: “Cadê a ajuda que eu pedi, Senhor?”
“Eu ajudei, Sally. Fiz com que você se lembrasse do horário, mas você
Me ignorou.”
“Puxa vida, será que eu ainda vou aprender? Bem, o que devo fazer da
próxima vez?”
“Você não precisa ficar preocupada. Aprenda com essa experiência, e
faça os ajustes necessários para amanhã.”
Gosto muito disso em Deus. Ele nunca usa as falhas de hoje contra nós;
faz com que cresçamos com Ele para que o futuro seja melhor. Assim,
pensei na situação, e não demorou muito para eu perceber que estava
dedicando apenas a mínima quantidade de tempo para preparar o desjejum
e que no mundo real as coisas raramente acontecem de maneira tão
tranqüila. “Senhor, estou sempre dez minutos atrasada simplesmente
porque começo dez minutos atrasada. Vou fazer um planejamento
diferente!”
Na manhã seguinte, eu fiz waffles. Em vez de apenas começar a tempo,
decidi preparar a massa e então estudar, enquanto os waffles estavam no
fogão, parando uma vez ou outra para tirar um e colocar outro. Terminei
bem cedo! Estava relaxada e feliz. Era impressionante como a família
inteira ficou mais feliz por eu não me sentir pressionada pelo tempo!
Fiquei tão contente que continuei a aprender como separar mais tempo
para o preparo das refeições. Pouco a pouco, servir as refeições no horário
tornou-se o meu novo costume.
A ordem é a primeira lei do Universo. Cada criatura, do menor elemento
até o maior sistema solar, segue regras de ordem e disciplina. Deus pode
criar ordem em você ao você crer e cooperar com Ele. Se você não sabe
como ser pontual, Deus pode ensinar-lhe. Você está cansada e debilitada?
Olhe para a Sua força. Você é desorganizada? Peça-Lhe que ensine ordem
e organização. Você carece de idéias sobre como mudar? Busque a Deus e
Ele lhe dará muitas idéias. “Se, porém, algum de vós necessita de
sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente [...] e ser-lhe-á
concedida” (Tiago 1:5). Deus fará o que disse que faria.
Ao nos organizarmos, temos que lidar com as raízes do egoísmo. Faz-se
necessário que desentronizemos o eu. Trata-se de uma verdadeira obra no
coração. Preciso parar de ser aquela que está no comando e, em vez disso,
sujeitar-me ao controle de Deus. A lógica deve governar meus sentimentos
e hábitos antigos.
Depois de estabelecer o padrão do horário e ver que ele está funcionando
bem, você pode ir acrescentando-lhe substância. Esse processo terá uma
rota diferente, dependendo da pessoa. Alguns podem dar mais de um passo
de uma só vez, enquanto outros darão apenas um. O que importa é que
você tenha sucesso, e eu recomendo que se evite o desânimo que é causado
por mudanças muito grandes de uma só vez. Alguns têm tentado fazer
grandes mudanças, o que seria como comer uma melancia inteira de uma
vez.
Acrescentar detalhes ao horário é o estágio onde todos os componentes
dos minutos da vida encontram lugar no horário padrão. Isso requer
planejar cuidadosamente, no papel, cada coisa que precisa ser feita a cada
dia. Então, refine a lista, certificando-se de que nada foi esquecido. É
muito desanimador ter todo o trabalho de planejar um horário e acabar se
esquecendo de incluir uma tarefa importante e ter que começar tudo de
novo. A velha regra do carpinteiro – meça duas vezes e corte apenas uma –
se aplica aqui.
Depois de estar certo de quais são suas necessidades, pegue o seu horário
padrão e atribua um bom tempo para cada item. Certifique-se de que cada
pessoa tenha um papel a desempenhar, não importa a idade. Mesmo o mais
pequenino pode desfrutar o prazer de ajudar. É divertido trabalhar em
equipe. Divida, portanto, o serviço. A mãe não deve ser uma escrava. Você
prejudica os filhos quando faz todo o trabalho e eles só brincam. Isso
contribui também para se tornarem muito egoístas. Precisamos trabalhar
juntos com um espírito de amor. Queremos que nossos filhos gostem de
estar juntos, lado a lado conosco.
Meu horário da manhã, já com os detalhes, era assim:
5h30 A mãe levanta-se – cuidado pessoal, acender o fogão a lenha
6h Momentos de estudo e oração da mãe Os meninos levantam-se –
cuidado pessoal
6h30 A mãe supervisiona o culto pessoal dos meninos
7h30 A mãe (ou o filho destacado para isso) prepara a refeição
matinalMeninos – serviços da casa: varrer, jogar o lixo, separar roupas
para lavar, arrumar as camas
8h Culto familiar
8h30 Desjejum
9h30 Todos – limpeza e arrumação da cozinha e outros serviços da casa
10h Atividades escolares
11h Atividades escolares
12h Recreio de 15 minutos – oração e história
12h15 Meninos – trabalho físico para a casa, jardinagem, quintalPais –
hora da cadeira de balanço
Aqui está o que eu fazia em cada período marcado no horário – e
algumas “dicas” que aprendi no processo:
5h30-7h30. Acender o fogão a lenha era algo essencial para a casa. Não
tínhamos fogo nem aquecimento na casa durante a noite e, embora as toras
da casa irradiassem o calor que retinham, fazia cerca de 15 graus
centígrados pela manhã, e todos queríamos o calor do nosso fogão a lenha.
Pequenas tarefas como essa precisam ter um lugar no horário ou acabarão
por roubar tempo de outras áreas.
O meu horário foi influenciado pelo fato de termos apenas um banheiro.
Jim e eu nos levantávamos e usávamos o banheiro e, então, era a vez dos
meninos. Eu atribuí quinze minutos para cada um, e funcionou muito bem.
Foi um desafio ensinar os meninos a fazer suas orações pessoais, cada um
em seu espaço, e depois a estudar a Bíblia por si mesmos em volta da mesa
da cozinha, mas foi isso que assentou o alicerce de bons hábitos.
7h30-8h. Nos primeiros anos, eu mesma preparava as refeições com a
ajuda dos meninos, mas isso era predominantemente meu trabalho.
Dividíamos todos os demais serviços da casa entre os quatro. Andrew
tinha a responsabilidade de esvaziar os cestos de lixo, varrer os quintais da
frente e de trás da casa e limpar o banheiro. Matthew tinha a
responsabilidade de arrumar as camas, passar o aspirador de pó e separar a
roupa suja, colocando-a na máquina de lavar.
Esses serviços eram feitos a cada dia para criar um hábito. As varandas
não precisavam ser varridas todos os dias, nem os carpetes aspirados, mas
os meninos precisavam da coerência que vem da formação de bons
hábitos. Mais tarde, quando os hábitos estavam bem estabelecidos e um
julgamento mais maduro, desenvolvido, essas duas tarefas eram feitas
somente quando necessário.
A pessoa ficava responsável por uma tarefa durante um mês. Então,
fazíamos um rodízio das tarefas no mês seguinte, até que as listas
deixaram de ser necessárias, pois já as tínhamos de memória. Quando a
rotina estava bem estabelecida, todos nós às vezes assumíamos uma tarefa
ainda por fazer no lugar do outro, apenas para fazer-lhe uma surpresa.
Uma vez que os hábitos estavam estabelecidos, tudo funcionava como um
relógio! Alguns visitantes nos diziam que tudo o que era importante
parecia ser feito automaticamente em nossa casa. “Qual é o seu segredo,
Sally?”, eles perguntavam. O segredo é um horário consistente conjugado
com hábitos de serviço e um trabalho em equipe do qual se possa
depender.
8h. O culto familiar é um momento muito especial do dia. Faça com que
esses momentos sejam interessantes. Orações muito compridas, lições
monótonas ou ficar lendo o tempo todo irão dispersar a atenção e o
interesse dos seus filhos. Descobrimos que alternar a leitura ajuda a manter
a atenção. Pedimos que a pessoa que acabou de ler faça um resumo do que
foi lido. A discussão ajuda a tornar o assunto pessoal para cada um e é
outra ferramenta valiosa para aprender, reter e manter o interesse.
Experimente!
Nossos horários refletirão nossas prioridades. Passar momentos com
Deus é o meu foco no início do dia. Se isso ficar de fora, quem estará
comandando o programa? Se deixarmos Cristo de fora, posso garantir-lhe
que Satanás toma o Seu lugar e passa a impor o seu jeito e a sua vontade.
Ele quer que os maus traços do seu caráter dominem o meu caráter. Agora,
suas prioridades estão de acordo com o seu horário?
8h30. Faça do desjejum um desejado encontro social à mesa com sua
família. Você pode abordar alguns pontos de interesse discutidos durante o
culto familiar, dando-lhes continuidade durante a refeição. Que a conversa
seja positiva. São os pais que fazem, ou não, o clima do lar ficar tão
atraente como é Cristo. Atribuí uma hora para o desjejum. Essa é uma área
para a qual permiti certa flexibilidade. Se recebo uma chamada telefônica
que precisa ser atendida, tenho espaço para não me sentir pressionada pelo
tempo. Se surge um conflito concernente à vontade de um filho, terei
tempo para lidar com ele sem me sentir sob pressão. Se surge uma
conversa benéfica durante o desjejum, podemos completá-la, pois é
sempre uma forma de utilizar bem o meu tempo. Os meninos podem
começar cedo suas atividades escolares e ganhar tempo para uso pessoal,
mais tarde. Eles gostavam desse esquema, e eu descobri que isso cultivava
a preciosa característica do domínio próprio nos meus meninos.
9h30. A arrumação da casa deve ser um momento de amável convívio
social da família. Você pode cantar, conversar ou simplesmente discutir
sobre o seu foco especial daquele dia. Você pode também promover
competições durante o trabalho, fazendo com que as tarefas sejam
divertidas. Se variar suas abordagens, vocês se divertirão ainda mais. Um
dos meus filhos tirava a mesa, guardava a comida, varria o chão da
cozinha e aspirava a sala de estar, se necessário. O outro filho lavava,
enxugava e guardava a louça. Ao terminar, a roupa já estava lavada, e
quem quer que estivesse livre ajudava a pendurar ou dobrar e guardar a
roupa, enquanto as peças para ser passadas a ferro eram empilhadas para
mais tarde. A essa altura do dia, tudo já estava arrumado e limpo, e a casa,
perfeitamente apresentável.
10h. Começam as atividades escolares. Atribuí uma hora para cada
matéria e comecei com a matéria mais difícil para os meninos. Eles têm
mais energia no começo do dia e é nessa hora que devemos enfrentar a
tarefa mais difícil. Para os meninos, era o inglês. Se fossem aplicados e
completassem suas tarefas eficientemente, eles podiam usar o tempo de
sobra para uma caminhada, andar de bicicleta ou ler um livro de sua
escolha. Outra vez, o domínio próprio se mostrou muito positivo. Era um
sistema de auto-recompensa. Se quisessem, eles também podiam usar o
tempo extra para fazer uma lição a mais daquela matéria e assim adiantá-
la, de maneira que pudessem ter tempo livre para uma saída especial um
outro dia.
Depois de ajudá-los nos estudos, eu ia fazer pão, passar roupa, escrever
cartas ou fazer outras coisas. Ao terminarem suas lições, eu as examinava
e as devolvia para que corrigissem o que estava errado. E assim eram
conduzidas as atividades escolares. As lições eram feitas e corrigidas
dentro daquela hora, o que significava não haver dever de casa para fazer!
11h. Outra matéria da escola era estudada de maneira idêntica.
12h. Depois de vários anos, acrescentamos um intervalo de quinze
minutos nas atividades escolares do meio-dia. Era um bom momento para
fazer uma oração e contar uma breve história só para estabelecer uma nova
conexão com Deus. Todos nós temos a tendência de distrair-nos
facilmente. Eu não achava que tivesse tempo para isso, mas descobri que
foi muito bom acrescentar esses minutos, até porque nosso horário não
ficou prejudicado. Deixe que Deus o conduza ao você fazer mudanças na
sua agenda. Ele quer ser o seu Diretor e você, o professor assistente – não
apenas para você que ensina seus filhos em casa, mas também para todos
os pais que estão desenvolvendo o caráter de Cristo em seus filhos.
Precisamos de um poder fora de nós para dirigir-nos.
12h15. Descobri que, para os meninos, o equilíbrio entre atividades
mentais e físicas era muito útil e diminuía uma boa quantidade de
problemas que ocorreriam caso eu os mantivesse apenas envolvidos em
suas atividades escolares. A mente fica cansada, e um pouco de atividade
física ao ar livre faz maravilhas na atitude e nas habilidades. Tirar a neve
no inverno, passar o ancinho na primavera, aparar o gramado, cuidar do
jardim e da estufa no verão, ou fazer qualquer serviço de limpeza na casa
proviam muitas opções para manter esse equilíbrio.
Enquanto os meninos trabalhavam, Jim e eu tínhamos nossa hora da
cadeira de balanço. Trata-se de um momento especial para que marido e
mulher estejam juntos e se conectem mais uma vez.
O seu horário não ficará perfeito da noite para o dia. Você pode descobrir
que as circunstâncias estão controlando sua vida e que você precisa
considerar, com oração, as mudanças que se fazem necessárias. Mudanças
exigem esforço, raciocínio, planejamento e execução do plano. Não se
preocupe se o seu horário precisar de alguns ajustes para que fique tão
bom quanto possível. Cada ajuste o deixa mais perto daquilo que você
quer. Glória a Deus por você estar indo na direção certa, de escolha em
escolha, de mudança em mudança, sob a direção de Deus. Ele tem a
resposta para cada dilema ou dificuldade que você tenha. Ele tem uma rota
de escape para cada dificuldade. Confie nEle para todas as soluções que
você precisa.
Evite ser muito rígido. Uma árvore que não pode dobrar-se será quebrada
em uma tormenta. Da mesma maneira, um horário rígido demais será
quebrado quando confrontado pela tormenta que é a vontade de uma
criança teimosa. Leva tempo lidar com esses problemas. Lembre-se de que
o horário é uma ferramenta a seu serviço, e não o seu senhor.
Nosso esqueleto proporciona equilíbrio e coerência aos nossos
movimentos. Os músculos, tendões e carne nos dão maior mobilidade,
agilidade e graça para que possamos fazer movimentos complicados em
harmonia com o esqueleto. Tendo o horário como nosso esqueleto,
podemos fazer movimentos complicados no âmbito da casa, do
desenvolvimento do caráter, da nossa caminhada com Deus ou qualquer
outro objetivo. Vamos dar uma olhada no preenchimento do meu horário
da tarde.
13h Atividades escolares
14h Atividades escolares
14h30 Mãe ou o filho destacado para isso – preparo da refeição
15h Refeição
16h Limpeza da cozinha
17h Tempo pessoal – se as tarefas escolares forem bem-feitas
18h30 Momentos de diversão em família
19h30 Tempo pessoal
20h Culto familiar
20h30 Hora de dormir
13h. Após o intervalo do meio-dia, retomamos as atividades escolares e
seguimos o padrão da manhã. Minhas tarefas continuavam enquanto eu
ajudava os meninos com seus deveres escolares ou aplicava testes, etc.
Descobri que podia fazer todo tipo de coisas, até passar roupa ou fazer pão
durante as atividades escolares. Se uma matéria não preenchesse a hora
inteira, os meninos podiam completar uma tarefa escolar não terminada
pela manhã, ou ter um pequeno recesso ao ar livre. Lembre-se de que meu
horário é um exemplo do que nós fazíamos. Você precisa fazer o que for
melhor para a sua família, e não apenas reproduzir o nosso plano.
14h. Outra matéria escolar era estudada. As provas e dificuldades da vida
são a escola que Cristo utiliza para nos ensinar a não murmurar nem
reclamar. Quando a matemática ou qualquer outra matéria apresenta
dificuldades, precisamos ensinar nossos filhos acerca do Deus poderoso e
pessoal que pode salvá-los. Esse é o ensino mais importante que podemos
transmitir para nossos filhos.
14h30. Enquanto eu começava ou completava o preparo das refeições do
dia, os meninos continuavam com suas atividades escolares. Ao terminar
os seus deveres, eles muitas vezes vinham ajudar-me a fazer a salada ou a
sobremesa para a refeição.
Sempre planejei as refeições com bastante antecedência. Quando os
meninos ficaram mais velhos e assumiram o preparo das refeições,
fizemos questão de que o planejamento e a lista de compras fossem parte
da educação deles. Quando tinham dez e doze anos, eles assumiram
totalmente o preparo das refeições, cada um deles sendo o responsável por
elas a cada terceiro dia. Foi uma maravilha! Isso os ajudou a exercitar as
habilidades da organização, da presteza da pontualidade – as mesmas
habilidades que precisariam futuramente em suas profissões. E o tempo
livre que eu acabava tendo me possibilitava passar mais tempo com Deus e
me ajudava a ter uma atitude positiva e a reduzir ainda mais minhas
frustrações. Além disso, passei a ter mais tempo para o Jim, o que ele
muito apreciava, e mais tempo para brincar com os meninos.
15h. Essa era nossa hora de refeição, quando tínhamos uma agradável
conversa. Esses momentos em família tornaram-se muito preciosos para
nós. Ríamos e mostrávamos interesse no que cada um estava fazendo ou
pensando. Quando Jim e eu víamos uma expressão triste, descobríamos
qual era o problema e encontrávamos uma solução. Tentávamos, nem
sempre com sucesso, manter a ligação de cada membro da família com
Jesus, pois qualquer abordagem familiar fica mais equilibrada e com mais
chance de ter sucesso se todos estão seguindo a Cristo.
16h. A limpeza e arrumação da cozinha continuavam como antes. A
pedido dos meninos, demos para um deles a responsabilidade de lavar a
louça do desjejum, enquanto o outro tirava a mesa – e o contrário depois
do jantar. O filho que começasse a lavar a louça do desjejum continuava a
fazer isso por uma semana. Às vezes, havia uma quantidade maior de
louça em certas refeições, e os meninos sentiam que essa mudança afetava
o equilíbrio quanto à quantidade de trabalho. Cada família tem suas
peculiaridades. Faça as devidas acomodações onde for possível.
17h. Com a limpeza terminada e a casa toda em ordem, tínhamos nossos
momentos pessoais. Meus filhos estavam sempre envolvidos em um
projeto ou outro, como a construção de casas de passarinhos, uma pista de
bicicross, uma nova trilha na mata ou mesmo a montagem de
equipamentos de ginástica com toras. Às vezes, eles iam praticar esportes
como o esqui cross country, escaladas ou simplesmente explorar os
arredores. A alegria da produtividade, de um trabalho bem-feito e de
desenvolver alguma habilidade era sua própria satisfação e recompensa.
Se as tarefas escolares não eram completadas e os deveres não eram
feitos no tempo previsto, ou se as conseqüências de um mau
comportamento fossem necessárias, os meninos podiam perder o seu
tempo pessoal para assim recuperar o tempo perdido e endireitar as coisas.
Perder o tempo pessoal era uma conseqüência natural por não haver
mostrado cooperação na hora certa. Com Cristo nessa equação, as
reformas foram maravilhosas.
18h30. Se feito apropriadamente, e com Jesus, os momentos de diversão
em família fazem a alegria de cada filho, seja mais velho, seja mais novo.
No coração de cada criança está o desejo de ser amada e apreciada pelos
pais. Promover atividades divertidas de maneira coerente conquista o
coração dos seus filhos e os une a você, a menos que você seja crítico,
negativo ou muito perfeccionista.
Tínhamos dois meninos fisicamente ativos e por isso fazíamos coisas
ativas. Sua família pode ser diferente. Pode ser que existam outras
atividades que sejam mais adequadas para a sua personalidade e o seu
gosto. Seja criativo. Experimente idéias diferentes para ver o que funciona
melhor para a sua família. Deus é o seu líder supremo. Siga-O.
19h30. Essa era a hora para relaxar, depois de um dia cheio. Às vezes, a
leitura preenchia esse período. Freqüentemente, esse era o momento em
que eu ficava de molho na banheira, enquanto o Jim lia para as crianças ou
brincava com elas. Amiga, se você tem um marido que a ajuda e apóia,
agradeça a Deus e conte as suas bênçãos. Diga-lhe o quanto você o
aprecia, e faça-o com freqüência.
20h. De novo, hora do culto familiar. Tínhamos o mesmo tipo de
atividades da hora do culto da manhã. Os pais lêem uma frase e os filhos a
recitam de volta. Desta maneira, eles “lêem” o seu verso ou um parágrafo
como os adultos. Até mesmo os pequeninos podem fazer da Palavra de
Deus algo prático. Eles são muito transparentes e honestos. Você ficará
emocionado ao ouvir o que eles pensam. Nós sempre fazíamos questão de
abraçar os meninos e um ao outro depois do culto. Isso se tornou uma
tradição entre nós, e ainda é nos dias de hoje.
20h30. A hora de dormir pode ser um momento muito feliz e realizador.
Uma última visita ao banheiro, e vamos todos para a cama. Colocar os
meninos na cama era divertido. Quando eu beijava o rosto dos meus filhos,
eles tentavam fugir de mim ou se esconder. De vez em quando, fazíamos
uma oração especial ao lado de suas camas. Gostaria de ter feito isso mais
vezes quando eles eram menores – e até mesmo mais crescidos. A natureza
especial daqueles momentos e, mais tarde, as conversas com nossos filhos
ao lado da cama fazem com que eu pense que eles nunca são crescidos
demais para que eu os coloque na cama para dormir. Tenho conversado
com meninas de 14 anos que ainda têm o desejo de que seus pais as
coloquem na cama para dormir. Seja sensível ao Deus guiá-lo para que
veja as reais necessidades dos seus filhos. Dê-lhes tempo, coerência e
muito de você mesmo!
E então, suas prioridades estão de acordo com o seu horário? Todas as
coisas importantes estão incluídas? As melhores horas pertencem a Deus?
Onde se encaixam o seu cônjuge e os seus filhos? Eles têm a prioridade
que merecem? Depois de tudo isso feito, a única coisa na Terra que traz
real prazer é andar pessoalmente com Deus. Quando você tiver separado
tempo para desenvolver essa relação com Ele, quando os seus filhos
tiverem sido treinados para buscá-Lo também e tiverem o coração, atitudes
e caráter transformados, não existe prazer maior. Quando tudo estiver certo
entre você e Deus, entre você e seus filhos, você terá paz, mesmo que os
céus desabem. Deus deve tornar-se nossa prioridade, e nossos horários
devem refletir esta escolha.

Preocupar-se com um horário pode parecer apenas mais uma tarefa para a
sua já estressante jornada diária. Mas esse trabalho vai compensar muitas
vezes o tempo nele investido. Ninguém sofre mais a pressão do tempo do
que mães e pais solteiros, e ninguém se beneficia mais quando as crianças
ajudam de maneira regular e confiável.
É difícil mudar, mas lembre-se de que, assim como o ramo brota da
videira, nós também estamos conectados com Deus fibra por fibra, escolha
por escolha, até que sejamos inteiramente dEle! Cristo deseja tornar-Se o
centro da nossa vida, revestindo-nos de poder para sermos Seus filhos e
filhas. Que prazer está à nossa espera!
Pensamentos, Sentimentos e
Emoções
“Anulando nós sofismas e toda a altivez que se
levante contra o conhecimento de Deus, e levando
cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2
Coríntios 10:4, 5).

N uvens escuras e ameaçadoras pairavam acima de nós, refletindo sua


hostilidade nas águas revoltas da bifurcação norte do rio Flathead. Elas
faziam aquela área agreste parecer ainda mais fria ao dirigir-nos à
estrada da bifurcação norte, aquele trecho de oitenta quilômetros de terra e
cascalho que dá acesso à nossa casa nas montanhas. A velha caminhonete
sacolejava ao transpormos cada um dos intermináveis buracos da estrada.
Em condições favoráveis, a estrada já é ruim. Aquelas condições, todavia,
não eram as melhores. A estrada já passara por vários ciclos de
congelamento e derretimento, o que causara o aparecimento de “costelas”
que pareciam atirar o veículo em todas as direções, ao passarmos por elas.
Nós nos apaixonamos por aquela região agreste. Mas, como qualquer
coisa que compensa ter, a vida no campo vem com um alto preço, e ainda
sobrevivíamos com o que tínhamos capitalizado em nossos anos em
Wisconsin. Não tínhamos orçamento para artigos de luxo, como pneus
novos. Jim estava guiando para casa com um carro de pneus carecas. Com
o gelo cobrindo a superfície da estrada e aqueles pneus desgastados, a
caminhonete derrapava na direção da extremidade da estrada sempre que
se fazia uma curva. Do meu lado, podia ver o rio North Fork, no fundo de
um precipício, sem que houvesse cercas de proteção! Íamos a uma altura
considerável do rio, e quando a caminhonete derrapou na direção do lado
em que eu estava, o lado do rio, minha vida passou diante de mim. Logo,
pensamentos do tipo “O que aconteceria se...” começaram a invadir minha
mente. “Senhor, devo dizer ao Jim que ele está indo muito rápido?” O
pânico aumentava em meu coração.
“Não, Sally, ele está indo muito bem. Pode ser que você não consiga
dirigir a esta velocidade, mas ele está acostumado. Os motoristas são
diferentes.”
Relutante, aceitei a resposta do Senhor e tentei pensar em outra coisa. Na
metade do caminho para casa, minhas emoções estavam bastante sensíveis.
Eu já nem podia contar quantas vezes o carro se aproximara da beira da
estrada, permitindo que eu visse aquele rio lá embaixo. “Senhor, o que
aconteceria se esta caminhonete caísse nesse barranco? Eu provavelmente
quebraria todos os meus ossos. Isso ia doer muito, não é? Ele está indo
rápido demais para o meu gosto! Sinto-me desconfortável; tenho que dizer
algo.”
“Só porque você se sente desconfortável não quer dizer que o Jim está
errado.”
“É verdade. Ele sabe como controlar a caminhonete; nós nunca tivemos
um acidente. Ele dirige muito bem. Melhor do que eu. Posso confiar nele.”
Naquele momento, Jim fez outra curva que me permitiu ver o rio outra
vez. Impulsivamente, eu disse:
– Jim, está tudo bem com você?
O que eu realmente queria dizer era: “Está tudo sob controle?”
– Sim, querida, está tudo bem – ele respondeu calmamente, parecendo
não notar meu pânico incipiente.
“Senhor, posso dizer para ele diminuir a velocidade?”, perguntei ansiosa.
“Sei que preciso filtrar meus pensamentos através de Ti antes de falar. Mas
preciso dizer o que sinto. Certamente eu não estaria sentindo isso de
maneira tão forte se fosse correto.”
“Não, Sally, ele não precisa diminuir a velocidade.”
“O que eu faço, então, com todo o meu nervosismo? Estou ficando louca
com isso. Estou com muito medo. Estou tentando, mas não consigo me
controlar.”
Era a voz da carne me empurrando e me compelindo a ficar ansiosa, a
culpar o Jim pelos meus sentimentos, ficando irritada com ele. A voz do
Espírito tentava animar-me dizendo que tudo ia dar certo, enquanto meus
maus pensamentos e sentimentos estavam me empurrando e me
compelindo a obedecer-lhes e não a Deus. Mudar de senhor significava
permitir que Deus possuísse o trono do meu coração, que são meus
pensamentos e sentimentos.
A questão era o jeito de Jim dirigir o carro? Ou minha necessidade de que
Cristo me libertasse dos meus pensamentos e sentimentos errôneos? Fazer
com que Jim diminuísse a velocidade de acordo com minha zona de
conforto não era o problema e tampouco a solução. A questão era: O que
Deus quer que eu faça agora? O problema não era: “Se meu esposo tão-
somente...” ou “Se meus filhos tão-somente...” ou “Se o meu trabalho...”
ou “Se minha casa...” Nessa e em todas as demais situações, a questão é:
“Quais são os problemas que Deus quer resolver para que eu tenha paz?”
Não obtemos paz controlando as circunstâncias e as pessoas ao nosso
redor, ajustando-as ao nosso nível de conforto.
Deus começou a dirigir meus passos e foi além comigo, arrazoando:
“Você sabe que noventa por cento das coisas com que você se preocupa
nunca acontecem.”
“Sim, é verdade! Mas isso não muda meus sentimentos. O que faço com
eles?”
“Você precisa começar a relaxar e a entregar esses sentimentos
errôneos para Mim.”
“Relaxar! Eu até poderia relaxar se não estivesse nessa correria maluca!
Relaxar? Bem, minha nuca está mesmo um pouco tensa.” Sacudi os
ombros. Apareceu outra curva e eu me retesei outra vez, agarrando o
suporte da porta, pronta para voar sobre o precipício!
“Seus medos e preocupações estão ajudando em alguma coisa?”, Deus
perguntou. “Você quer continuar com eles? Assim como você tem
abrigado esses medos e pensamentos impróprios, da mesma maneira, se
você assim escolher, poderá abrigar pensamentos e sentimentos
apropriados.” (Ver Romanos 6:19.)
“Então Tu queres que eu pare de ficar ansiosa e de me preocupar com o
que pode acontecer? Sei que podes tudo, mas parece tão irreal neste
momento. Os pensamentos e sentimentos errôneos falam muito mais alto
do que a Tua voz! Sei que é melhor estar relaxada em caso de acidente;
você se machuca muito menos. Além disso, não gosto desse nervosismo
todo. Suponho que seja lógico parar de me preocupar e de estar ansiosa.
Senhor, meus pensamentos e sentimentos errôneos são Teus. Leva-os
daqui. Cria em mim um coração puro, Senhor, e renova em mim um
espírito reto. Em que devo pensar, então?”
“Tenha pensamentos confiantes”, animou-me o Senhor.
Em minha mente, comecei a cantar: “Crer, confiar... o fiel obedece...” Fiz
uma pausa e continuei na tentativa de desvendar o processo inteiro. “A
Bíblia diz que Tu és o Senhor de toda a carne e que nada é difícil demais
para Ti. Ela também diz que o perfeito amor lança fora o medo.” Só o fato
de repetir essas promessas bíblicas já parecia ter um efeito calmante em
minha mente. Minhas mãos ainda apertavam a porta da caminhonete, mas
o Senhor tinha planos a respeito disso também.
“Por que você está apertando tanto a porta?”, Deus perguntou
gentilmente.
“Ah, não! Até isso Tu queres que eu solte?” Eu não queria largar a porta.
“Segurar-me na porta pode não me salvar em caso de acidente, mas
segurar-me em Jesus pode”, avaliei. “É difícil ir contra esses pensamentos
e sentimentos.” Finalmente, soltei o suporte da porta e relaxei em meu
banco, com as mãos cruzadas e minha mente ligada em Jesus. Logo em
seguida, chegamos a outra curva e, instintivamente, agarrei o suporte outra
vez.
“Tudo bem, Sally”, o Senhor me tranqüilizou. Outra vez, fiz a escolha de
soltar o suporte da porta e voltar à minha posição normal.
Pouco a pouco, à medida que ia me entregando ao Senhor a cada curva da
estrada, as emoções cederam. Elas desapareceram antes que chegássemos
em casa. Não foi uma vitória conquistada de uma só vez. Deus me deu a
chance de praticar em cada viagem para a cidade. Mas, ao repetir aquelas
escolhas, o medo diminuía e minha confiança em Jesus crescia. O processo
sempre começava em meus pensamentos. Se eu dava lugar a pensamentos
do tipo “E se...?”, ficava mais difícil. O processo de escolha e cooperação
com Deus me deu liberdade. Em breve, não havia mais medos nem
preocupações em meu coração. E nunca houve nenhum acidente conosco,
mesmo com aqueles pneus carecas. Glória a Deus!
Você vê como Deus dirigiu meu raciocínio para libertar-me? Naquela
ocasião, eu não conseguia enxergar além da crise causada por emoções
conflitantes, nem explicar o que Deus estava fazendo. Nos momentos de
reflexão, todavia, comecei a entender que Deus não podia me libertar até
que eu cooperasse com Ele em meus pensamentos. Mesmo assim, Ele
nunca me forçou a fazer as coisas do Seu jeito. Somente quando eu Lhe
dei permissão para operar em mim é que Ele pôde recriar meus
sentimentos de maneira que estivessem em harmonia com Seus
pensamentos e Sua vontade. É sobre isso que a Bíblia fala quando diz:
“levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Coríntios
10:5).
Deus quer nosso coração, que, em essência, inclui nossos pensamentos e
sentimentos. Deus está muito interessado em desenvolver Seu caráter em
nós. Nosso caráter é a combinação de nossos pensamentos e sentimentos.
São eles que guiam nossas emoções, inclinações, respostas, hábitos,
desejos e paixões. Portanto, quando Deus tem nossos pensamentos e
sentimentos, Ele tem tudo de nós. É por isso que a batalha do pecado é
uma batalha pela mente. É por isso que o conselho de Paulo em Filipenses
2:5 – “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus” – é tão fundamental para aquilo que o crente verdadeiramente é. A
batalha entre o bem e o mal é a batalha que determina quais pensamentos e
sentimentos permitiremos que nos governem. Somente através do poder
encontrado em Cristo podemos servir a Deus e corrigir o interior.
E se eu não tivesse cooperado com Deus e escolhesse ter pensamentos
corretos? Eu ficaria amarrada nas cordas do cativeiro dos meus medos.
Quando me sinto empurrada e governada pela ansiedade, posso dizer que
pertenço a Deus, mas será mesmo? Posso fingir que sim, mas isso não vai
alterar minha verdadeira condição. Ainda sou escrava dos meus medos e
de Satanás. A mesma coisa é verdade sobre outras emoções nocivas:
irritação, inveja, ciúme, ódio e aquele pavio curto que se acende
inesperadamente. Veja, podemos enganar os outros por algum tempo, mas,
a longo prazo, somos os únicos a ser enganados. Podemos pensar que
somos cristãos amorosos, mas, se reagimos cheios de rancor àqueles que
cruzam nosso caminho, se demonstramos um espírito dominador ou
controlador, não somos, em absoluto, cristãos. Aquilo que fazemos diz
mais acerca de quem servimos do que aquilo que falamos. “Até a criança
se dá a conhecer pelas suas ações, se o que faz é puro e reto” (Provérbios
20:11).
Não temos que obedecer às exigências pervertidas da nossa natureza
humana. Apetites, sentimentos e desejos não são, por si mesmos, coisas
erradas. Contudo, podem estar em desacordo com a vontade de Deus.
Quando isso ocorre, precisamos levá-los a Deus para que sejam
transformados.
Tudo aquilo que existe em nós que não esteja de acordo com a vontade
de Deus precisa ser entregue a Ele para ser subjugado. Em seu lugar,
precisamos fazer aquilo que Deus nos guia para fazer. Com freqüência,
Deus nos pede que cultivemos pensamentos e atos com características
opostas às daqueles que Ele quer remover de nossa vida – a felicidade no
lugar da tristeza, o amor no lugar do ódio.
Deus está sempre enviando mensagens para Seu povo, e O atrapalhamos
ao recusarmos os pensamentos que Ele traz à nossa mente. Nós os
descartamos sem sequer considerarmos se podem ser verdadeiramente do
Senhor. Por quê? Talvez porque pareçam ridículos. Ou talvez queiramos
nos privar de tomar uma decisão. Ou não queremos ter que examinar a nós
mesmos.
Muitas vezes nos sentimos tão inadequados e indignos a ponto de não
crermos sequer que Deus fala conosco! Isso impede a capacidade de Deus
Se comunicar conosco. Se cremos que Ele não vai nos ajudar, ficamos
verdadeiramente desamparados, pois, sem Deus, somos incapazes de
conseguir mudanças duradouras. Satanás tem estudado a mente humana e
sabe que a melhor maneira de nos afastar de Deus é inculcar pensamentos
mentirosos em nossa mente, especialmente pensamentos enraizados em
nossos medos e dúvidas. Esses pensamentos nos impelem para maus
hábitos e atitudes erradas, que, por sua vez, nos levam a praticar coisas
erradas, gerando sentimentos de culpa. Se você é como eu, a culpa tende a
fazer com que você corra de Deus, em vez de para Ele. Satanás ri de nossa
condição, sabendo que, nesse estado de fraqueza, nos será cada vez mais
difícil exercitar a fé e quase impossível crer que Deus nos ama e nos aceita
a despeito das nossas faltas. Assim, Satanás nos mantém cativos.
Há um jeito de nos libertarmos da armadilha dos pensamentos
inadequados. A boa notícia é que sua liberdade pode começar ainda hoje,
se você escolher crer e apoiar-se na palavra de Deus. O Senhor colocou em
cada um a preciosa liberdade de escolha, e Satanás não pode tomar isso de
você. Ele pode até intimidá-lo, como também pode agitar seus apodrecidos
sentimentos e pensamentos, mas não pode fazer com que você acredite em
suas mentiras! Cabe a nós utilizar nossa vontade para cooperar com essas
coisas. Quando nos apoiamos na palavra de Deus em vez de acreditar nos
pensamentos mentirosos de Satanás, somos vitoriosos!
A escolha começa em nossa mente. Podemos escolher render-nos a Deus
e à Sua vontade, acreditando que Sua vontade é correta e o melhor para
nós. Essa escolha pode ter lugar antes de haver qualquer mudança em
nossos atos. Deus deseja nos redimir e nos libertar, mas até que nos
rendamos e Lhe entreguemos o controle, Ele não poderá fazê-lo.
O próximo passo é agir de acordo com aquilo que Ele nos diz, não
importa o quanto pareça simples ou não faça muito sentido. Se assim
fizermos, o amor redentor começará a fluir em nossos hábitos, inclinações
e emoções, transformando-os. Vejamos como isso funciona na vida real.
Eu adoro biscoitos! Nasci com um paladar muito voltado para doces.
Nunca como apenas um biscoito. Mas tornei-me cristã e estava
aprendendo a escutar a voz de Deus. Um dia, eu estava lavando a louça e
“beliscando” alguns biscoitos. Acabara de comer o primeiro e
automaticamente peguei o segundo – e, depois, o terceiro. Mas Deus
irrompeu em meus pensamentos. “Sally, você não precisa comer outro
biscoito. Dois são o suficiente.”
“Não faz mal comer mais de dois; eles são pequenos”, respondi. Então,
parei. “Senhor, és Tu? Venho Lhe pedindo para me ajudar a não comer
demais.”
“Sim, Sally. Estou aqui com você para ajudá-la a vencer, caso você
assim queira. Em Mim, você pode escolher dizer ‘não’ aos biscoitos. Você
já comeu o suficiente.”
Cada fibra do meu ser rebelou-se ante essa idéia, mas eu sabia que tinha
que tomar uma decisão. Minha mente ia para frente e para trás. “Eu quero
um biscoito. Eu quero obedecer a Jesus. Mas eu realmente quero mais um
biscoito!” Olhei para o terceiro biscoito em minha mão. “Deus está certo.
Se comer outro biscoito, acabarei comendo muitos mais e logo vou
descobrir que comi metade do pacote.” Lembrei-me de algumas vezes em
que comi tantos biscoitos que fiquei preocupada com a possibilidade de
Jim achar o pacote pela metade e descobrir o que eu tinha feito. Então,
comia a outra metade para livrar-me da prova do crime! Naturalmente, eu
carregava o pesado fardo da culpa pelas horas seguintes, sem contar a
irritabilidade e um estômago bastante infeliz!
“Não quero comer outro biscoito, Senhor”, eu disse. E coloquei o terceiro
biscoito de volta no pacote. Mas, se considerei a batalha ganha, estava
completamente equivocada!
A voz do tentador soou em minha cabeça. “Esses biscoitos são os seus
favoritos! Apenas um a mais não lhe fará nenhum mal! Você vai aparar o
gramado hoje, o que vai compensar essas calorias a mais.”
“Não. Decidi que não vou comer outro biscoito.”
“Mas você está tão faminta. Você não teve um desjejum completo esta
manhã. Não vai dar para esperar pelo almoço.” Nesse exato momento, meu
estômago roncou em concordância.
“Ah, eu quero um biscoito! Não, não quero outro biscoito! Quero
obedecer a Jesus. Ajuda-me, Senhor! Estou morrendo de fome! Sei que é
ridículo, mas é assim que me sinto! Que devo fazer?”
“Por que não vai passar o aspirador na sala”, o Senhor sugeriu.
“É uma boa idéia. O tapete não precisa ser aspirado, mas tenho que fazer
algo para tirar esses biscoitos da cabeça!” Corri para o depósito, peguei o
aspirador e, furiosamente, comecei a passá-lo sobre o carpete da sala.
Depois de uns cinco minutos, o Senhor deu-me o seguinte pensamento:
“Você ainda quer aquele biscoito?”
Quando você luta com um apetite igual ao meu, essa é uma pergunta que
não se faz, pois a resposta sempre será: “Claro que eu quero! Adoro
biscoitos! Estou sempre querendo um biscoito!” Pensar neles sempre faz
querer mais e, eventualmente, você cede e os devora, não importa quão
distante você os tenha escondido! Pelo menos é o que eu fazia!
Mas, dessa vez, senti que alguma coisa estava diferente. “Será que é Deus
quem está falando?”, me perguntei. Hesitante, me questionei: “Você ainda
quer aquele biscoito, não quer?”
Minha resposta me surpreendeu: “Não!” O próprio pensamento de comer
outro biscoito foi repulsivo. “Isso está diferente”, pensei. “Será possível?”
Eu precisava saber, e fiz algo perigoso. Imaginei-me comendo um
biscoito, um desses bem deliciosos. Antes, isso sempre me atraía para o
pacote de biscoitos com uma força quase irresistível. Para minha surpresa,
não comecei a salivar. Nem sequer fiquei interessada. “Senhor, para onde
foram meus sentimentos? O que o Senhor fez? Estou livre! É maravilhoso!
Nem sequer desejo comer um biscoito!” Que felicidade!
Quando entregamos a Deus nossos pensamentos e sentimentos, Ele
coloca todos nossos desejos sob Seu controle e vence a batalha por nós.
Ele é um Deus maravilhoso que deseja nos libertar da servidão do pecado.
Nossa história de fracasso não tem a menor importância. Nem nossas
fraquezas. Ele é forte o bastante para todas as nossas necessidades.
Quando entendemos como cooperar com Deus, podemos, então, ensinar
nossos filhos a fazerem o mesmo. Que oportunidade maravilhosa de unir
Sua divina presença aos nossos esforços humanos! Deus é capaz e, por
meio dEle, também o somos!

Como mãe ou pai solteiro você pode achar que tem boas razões para
sentir-se emocionalmente abalado. Muitos me dizem: “Você não sabe o
que é ser um pai solteiro.” Talvez seja verdade, mas o processo de lidar
com emoções dolorosas e padrões de pensamentos errôneos é o mesmo
para todos nós. Sua situação pode ser terrivelmente injusta, mas Deus
colocou em seu coração a habilidade de escolher o tipo de vida que você
vai levar e o nível de felicidade que vai experimentar.
Uma das coisas mais difíceis de fazer é permitir que outra pessoa – um
ex-esposo ou ex-esposa, ou até mesmo os próprios filhos – seja feliz
quando nos sentimos miseráveis. Temos a tendência de ver nossa
infelicidade como resultado direto dos atos de outros. “Se ele não tivesse
feito isso, ou se ela houvesse agido de outra forma, eu não seria tão
infeliz.” No entanto, como aprendemos em nossa longa jornada de volta
para casa, nossa percepção nem sempre é verdadeira. Ninguém pode
roubar-lhe a paz de espírito e a felicidade, a menos que você permita. Sem
dúvida, sua situação é difícil e, embora não possa mudar o passado, você
pode – através do poder de Cristo – mudar o seu presente!
As Alegrias de Ser Mãe
“[A Deus sejam] a glória e o domínio pelos séculos
dos séculos. Amém!” (Apocalipse 1:6).

ão os momentos que formam o livro da nossa vida. Ao rever suas


S páginas, raramente o fazemos sem lamentar dolorosamente pelo que
poderíamos ter feito, deveríamos ter dito, ou pelos caminhos que
poderíamos ter seguido, obtendo melhores resultados. Como mãe,
certamente não fiz tudo com perfeição. Longe disso. Muitas coisas, eu as
faria diferente, se pudesse. Mas, pela graça de Deus, tenho pouco para
lamentar. Sob a direção de Cristo, recebi o que mais desejava: uma família
bem ordenada, bem disciplinada e centrada em Cristo. Com certeza, não há
na Terra uma recompensa maior de que essa.
Quando nos mudamos de Wisconsin para Montana, sacrificamos nossas
carreiras e o potencial de prosperarmos financeiramente. Deixamos para
trás todas as vantagens da vida urbana. Mas também sabíamos que todo
sacrifício seria compensado se pudéssemos, de alguma forma, fazer do
encontro com Deus a nossa mais elevada prioridade. A mudança foi
verdadeiramente um passo de fé. Nossos amigos acharam que estávamos
loucos. Nossos familiares não entenderam nada. Até nossos irmãos na fé
acharam que nos tornáramos fanáticos. Naquela ocasião, não
conseguiríamos explicar exatamente o que iríamos fazer, pois nem nós
sabíamos! Jim e eu escolhemos seguir a Deus e deixar que os resultados
mostrassem se aquilo era da vontade dEle. Havia razões – boas e lógicas –
para não fazermos o que fizemos, mas os que verbalizaram essas razões
não entendiam que estávamos desesperados o suficiente para arriscar tudo,
desde que encontrássemos o que desejávamos.
Em nossas primeiras caminhadas exploratórias em Montana, fomos parar
em um enorme campo aberto. O sol de julho aquecia o capim alto.
Pequenas flores adicionavam seu perfume ao agradável odor dos pinheiros
e à beleza do rio glacial. Matthew e Andrew deram uma olhada e
começaram a correr em meio àquele belíssimo cenário, uma imagem
perfeita de liberdade, cercados unicamente pelo amor de seus pais e pela
grandiosidade das Montanhas Rochosas à distância. Jim e eu estávamos
maravilhados pelo espetáculo diante de nós e nos deliciávamos com a
visão dos nossos meninos explorando o alto capim que crescia livremente
naquele vasto campo, seus rostos enfeitados com um enorme sorriso de
pura felicidade. Foi difícil evitar o sentimento de que era dessa maneira
que devíamos viver e que, de fato, era dessa maneira que todos os
humanos deveríamos viver. Ah, que deleite para nossos sentidos! Que
contraste com nossa vida antiga, nos subúrbios da cidade grande. Nossos
meninos estariam seguros aqui!
Em nossa nova vida, podíamos dizer aos meninos: “Sim, podem sair para
caminhar. O papai não vai trabalhar hoje.” Podíamos dizer: “Sim, vamos
subir uma montanha e, quando chegarmos ao topo, teremos tempo para
nadar no lago.” “Sim, vamos construir algo juntos.” “Sim, tenho tempo
para ler um livro para você.” Na vida antiga, alguma coisa sempre tinha
prioridade. Nas montanhas, não tínhamos emprego, nem telefone, nem
nada que fosse mais importante do que nossa família. Nossos filhos
realmente queriam somente nós dois. Eles não precisavam nem queriam
muitos brinquedos, pois podiam ter seus pais!
Jim e eu também éramos livres. Livres para seguir a Deus da maneira que
sentíamos que Ele queria. Livres para adaptar nossos horários, livres para
colocar a Deus em primeiro, em último e no melhor lugar. Livres para
sermos as novas pessoas que estávamos nos tornando, em vez de quem
éramos antes. Passamos a amar muito mais um ao outro – nossos filhos
inclusive – como nunca poderíamos em nosso estilo de vida antigo. Por
um ano inteiro, fiquei perguntando para o Jim: “Estamos mesmo morando
aqui, ou será apenas um sonho do qual vou logo despertar?”
Jim ajudava na criação dos nossos filhos. Esse tinha sido meu desejo por
muito tempo, pois sabia que, sozinha, não conseguiria. Ele se tornou
amigo deles, ensinando-os a brincar. Ele me ensinou a administrar a casa
como uma empresa. Eu prosperei. Os meninos prosperaram. E Jim, que
talvez foi quem teve a transição mais difícil, também prosperou, vindo a
tornar-se o líder da família não apenas no que dizia respeito ao trabalho e
ao lazer, mas também nas coisas espirituais. Ele liderava ensinando-nos
lições espirituais práticas e também da vida real. Eu o admiro muito por
isso, pois os hábitos que ele instilou em nossos filhos nunca
desapareceram. Hoje, nossos filhos são casados, e os vemos dirigindo seus
próprios cultos familiares, liderando e promovendo discussões, exatamente
como o Jim faz. Eles têm reproduzido em seus lares o que lhes mostramos
em nossa casa, cada um de acordo com sua personalidade e criatividade
pessoal.
Resultado como esse não acontece por acaso. É a conseqüência natural da
vida e das influências que seus pais escolheram para os filhos, e não
tivemos de esperar até que os nossos fossem adultos para ver as sementes
formarem raízes no coração deles. Alguns anos depois de nos mudarmos
para as montanhas, nossos meninos estavam brincando do lado de fora,
numa tarde de outono, sentados numa viga de sua “academia” na floresta.
Em sua alegria inocente, começaram a cantar hinos e cânticos de Natal
com toda a força de seus pulmões. Depois, cantaram com grande
sentimento: “Sim, Cristo me ama...” Eles não cantavam apenas por ser um
cântico familiar; cantavam porque conheceram por experiência própria que
Jesus verdadeiramente os amava. Aquilo trouxe lágrimas aos meus olhos e
aos de Jim. O que estávamos tentando fazer estava funcionando.
Realmente estava funcionando! O ingrediente-chave era deixar que Deus
guiasse e dirigisse nossos passos. Todas as nossas antigas escolhas –
algumas delas muito difíceis, pois envolviam renegar muito de nossa parte
– haviam nos conduzido a esse lugar, e percebemos naquele momento que,
para ter paz no coração e ligar o coração de nossos filhos a Deus, nada é
demasiado custoso.
Escolarizar os meninos em casa foi um tremendo desafio. Mas, com Deus
guiando, eles não somente completaram seus cursos, com também se
superaram. As aulas dentro de casa se interpunham à vontade de cada
membro da família, mas, quando nossos filhos fizeram dez e doze anos,
todo o esforço foi compensado com altos dividendos. Eles não somente
sabiam acerca de Deus, mas também O encontraram como Amigo pessoal
nas provações. Eles reconheciam a voz de Deus falando-lhes ao coração e
à mente. Reconheciam as tentações e descobriam na Palavra de Deus as
artes práticas da sujeição e cooperação. Enquanto isso, eu aprendia que,
em Jesus, era capaz de ter sucesso, mesmo em áreas difíceis para mim.
Isso me trouxe alegria.
Uma vez que a rotina de estudos ficou estabelecida, o trabalho
compreendido e acatado, a vontade dos meninos engajada, e os hábitos de
estudo devidamente adotados, a educação escolar dentro de casa tornou-se
uma experiência bonita e desejável. Em vez de problemas com a vontade
própria, provações e elaboração de estratégias, desenvolvemos esforços de
grupo para enfrentar nossos equívocos. Tudo isso produziu frutos do bom
aprendizado, notas excelentes e a libertação do desejo de controlar a vida
através da vontade própria.
Periodicamente, os meninos faziam provas diante de um representante da
escola, e os resultados atestavam que realmente estávamos dominando os
fundamentos educacionais melhor do que podíamos esperar. Mesmo
assim, eu lutava pela excelência, desejando que eles fossem os melhores
que pudessem em Cristo Jesus. Ao terminarem sua educação em casa, eles
fizeram os exames do Teste Geral de Desenvolvimento Educacional
(GED, na sigla em inglês) e, para minha satisfação, ficaram com notas
equivalentes a 97% e 98% nesse exame nacional. Isso não é para minha
glória, mas para a glória de Deus.
Com 14 e 16 anos de idade, os meninos já trabalhavam em construções,
passando mais tarde a trabalhar em tempo integral. Ambos foram
contratados pelo Coldwell Banker como corretores imobiliários
independentes quando completaram 18 anos. Eles cresceram e obtiveram
bastante sucesso em seus negócios, conquistando respeito pela correção e
honestidade com que faziam negócios. Um dia, o trabalho diligente e a
economia que faziam trouxeram a recompensa ao comprarem seus
próprios automóveis à vista!
Hoje, meus meninos são homens feitos. Ambos são bem-sucedidos na
área que escolheram: corretagem de imóveis. Olhando para eles, penso nas
lições da infância, que provaram ser uma bênção; lições que lhes deram a
capacidade de trabalhar, de assumir responsabilidades e de encontrar
alegria em um trabalho bem-feito. Muitas dessas lições foram aprendidas
ao fazerem sua parte nas tarefas domésticas. Eles aprenderam a cuidar da
casa tão bem quanto eu. Seu pai lhes ensinou as artes manuais até o ponto
de se equipararem em qualidade e velocidade.
A razão para eles ajudarem tanto foi eu ter tempo livre. Para uma mãe, a
alegria de ter tempo para brincar com seus filhos é muito especial. É triste
ter que dizer, mas muitas mães são escravas de seus lares ou de suas
ocupações, e as crianças são deixadas de lado por falta de tempo. Eu
adorava brincar com meus filhos. Eu não acreditava que isso fosse
possível, até que descobri os excelentes trabalhadores que tinha bem ao
meu lado! As mães também precisam de tempo para brincar. Precisamos
de tempo para nos divertir, aproveitar a vida e ser crianças outra vez.
Por termos investido nas duras lições da negação do eu e por termos
dedicado tempo e energia para atividades com nossos filhos, vimos os anos
de sua adolescência passarem sem as atitudes rebeldes e não-cooperativas
tão comuns nessa fase. Os adolescentes não se rebelam só porque estão
biologicamente programados para isso. Os anos da adolescência não são
algo que simplesmente tenham de ser suportados. Embora cada criança
tenha que passar pela difícil transição para a fase adulta, muitos seriam
capazes de fazê-lo sem grandes conflitos se os pais agissem como
incentivadores, criando seus filhos nos caminhos de Deus. Se eu for justa e
honesta, se eu não for dominadora, se aprendi a ter autocontrole, e ensinar
para meus filhos as mesmas lições que Deus me ensina, Ele pode dar-lhes
o autocontrole através do Seu Espírito. Os anos da adolescência não
precisam ser a experiência difícil pela qual tantos pais e adolescentes já
tiveram que passar.
Uma das maneiras pelas quais sobrevivemos quando o dinheiro era curto
foi manter uma grande horta e uma estufa onde cultivávamos tanto
alimento quanto possível. Naturalmente, todas aquelas plantas em
crescimento necessitavam de calor, água e cuidados, de maneira que
somente os esforços combinados de toda a família permitiram que
desfrutássemos a abundância dos frutos da terra. Nossos filhos aprenderam
acerca de responsabilidade em uma situação onde todos tinham que
assumir seus deveres, com o pleno conhecimento de que sua fidelidade
teria um impacto direto sobre nossa mesa.
As frutas que não podíamos cultivar, nós as comprávamos e fazíamos
compotas, todos os anos. Os meninos e eu trabalhávamos duro para não
deixar que essas tarefas durassem mais do que o necessário. Rapidez e
eficiência eram nossas metas, e melhorávamos a cada ano. Mas a maior
alegria era quando Jim se juntava a nós. Ele sempre tornava o trabalho
muito mais divertido. Um ano, ao ajudar-nos a fazer compotas de cerejas,
ele transformou aquela atividade numa corrida. Foi muito divertido.
Andrew lavava, Jim descaroçava e Matthew ia e vinha, fornecendo cerejas
para o pai e trazendo-me as frutinhas já descaroçadas para que eu as
processasse. Jim estabeleceu um ritmo acelerado e tínhamos que “nos
virar” para acompanhá-lo. Todos ríamos, trabalhávamos rápido e nos
acotovelávamos com muito bom humor na nossa pequena cozinha. Minha
compoteira mal dava conta da demanda. Mas o melhor de tudo era ver as
jarras cheias de cerejas se empilhando no armário da cozinha. Havia suco
de cereja por todas as partes, mas que preciosas lembranças para todos
nós! Terminamos o serviço em tempo recorde, o que nos permitiu sair para
jogar beisebol. Que prazer foi aprender a equilibrar trabalho e brincadeiras.
Escrevo essas coisas mais de um ano depois de ver Matthew e sua linda
noiva, Angela, percorrerem o corredor como marido e mulher. Aquilo
trouxe lágrimas aos meus olhos. A presença de Deus era marcante. A
cerimônia foi emocionante e elegante. Muitos convidados disseram que
aquele foi o casamento mais espiritual a que já tinham assistido. Todos
comentaram sobre o espírito suave que reinou ali. Quatro pastores
estiveram presentes – dois jovens pastores e dois já aposentados. Eles
disseram que foi o casamento mais espiritual e inspirador a que já
assistiram. A presença de Deus foi sentida. A única queixa foi que não
fornecemos lenços de papel suficientes, especialmente durante a canção de
amor de Matthew para Angela, “I Will Be There For You” (Estarei
Sempre Aqui Para Você). Foi muito lindo e emocionante.
Matthew e Angela eram tão especiais e tão perfeitos um para o outro! As
duas lembranças mais especiais daquele evento foram os olhos de Angela
dançando de profunda admiração por Matthew e a sincera canção de amor
de Matthew, onde ele dedicava a si próprio para Angela. Depois de um ano
e meio de casamento, esses dois atributos estão presentes em seu lar. Ao
lançar meu filho na vida como um homem casado, comecei uma nova fase
da minha vida como mãe. Eu via no relacionamento de Matthew e Angela
um nível tão profundo de compatibilidade como nunca vira antes. Eles
conheceram em detalhes os pontos fortes e fracos um do outro e
descobriram que eram compatíveis até mesmo em suas fraquezas. Pouco a
pouco, e cada vez mais profundamente, eles iam se apaixonando. Mesmo
através de provações e dificuldades, eles ficavam ainda mais unidos. De
diferentes maneiras, Deus mostrou Sua mão aprovadora em toda aquela
jornada. O namoro deles era tão doce e puro que era pura emoção
observar. Nós os chamávamos de “gatinhos” por causa de sua maneira
espirituosa de brincar.
Mas Matthew não foi meu único filho a se casar em 2002. Andrew e
Sarah tiveram uma relação igualmente especial, e Deus mostrou Sua mão
de muitas maneiras, aprovando sua união passo a passo, ano após ano.
Morando a 4 mil quilômetros de distância um do outro, ficava cada vez
mais difícil separarem-se. Matthew e Angela podem ter sido nossos
gatinhos, mas Andrew e Sarah eram os “cachorrinhos”. Eles eram tão
doces e gentis em suas brincadeiras! As histórias de ambos os casamentos
são muito especiais para mim, mas gostaria de me focalizar agora em um
sonho – o sonho de Sarah. Desde pequena, Sarah sonhava casar-se ao ar
livre, no outono. E foi isso que ela e Andrew planejaram, um lindo
casamento ao ar livre, nas montanhas da Carolina do Norte.
O sopé da Montanha Grandfather era o local perfeito, mas o sonho de
Sarah de ter folhas esvoaçantes, o sol brilhando e um pequeno verão em
pleno outono parecia estar em perigo. Chegamos numa quarta-feira em
meio a uma chuva que insistia em cair desde o começo da semana. A
chuva dificultou a tarefa de armar uma grande tenda, onde seria a
recepção. A sexta-feira amanheceu com céu claro, e ficamos esperançosos
de que o chão secasse. No domingo, outra vez o tempo se recusava a
cooperar. A chuva ia e vinha e nuvens carregadas cobriam a montanha. A
meteorologia previa 80% de probabilidade de chuva. Sabíamos que Deus
era capaz de mudar o tempo se assim quisesse, e posso garantir que orei
fervorosamente para que Ele o fizesse. O casamento é uma ocasião única
na vida, e cada moça deveria poder realizar seu sonho no dia do seu
casamento.
Com a hora da cerimônia se aproximando e sem que o tempo melhorasse,
Andrew tinha que tomar uma decisão crucial: montar tudo do lado de fora
com o risco de a chuva arruinar a cerimônia, ou fazer tudo debaixo da
grande tenda. A decisão foi sendo adiada o máximo possível; agora, menos
de duas horas antes do casamento, ele precisava decidir. Para piorar, todos
nós sabíamos que o pai de Sarah não poderia cantar no casamento, como
ela sempre quis. Ken ensaiara a música, mas suas emoções estavam
sempre à flor da pele embargando-lhe a voz. Não seria possível cantar, e
ele arranjou um substituto. “Pobre Sarah”, pensei. “Bom Deus, por favor,
concede a essa menina que tanto amamos os desejos do seu coração.”
Conhecendo os seus sonhos, Andrew olhou uma última vez para o céu
bastante ameaçador, orou e disse: “Deus tudo pode. Vamos confiar nEle.”
Jim saltou de alegria com a decisão de Andrew, e deu a ordem:
“Arrumem as cadeiras no lado de fora!”
Ouvi sua voz, e imediatamente juntei-me a uma multidão de convidados
lá fora. Todos sabiam do risco. Alguns expressavam fé e alegria de que
Deus daria àquele casal um dia muito especial, enquanto outros achavam
que era pura tolice. Quando saí para me vestir, voltei-me para o campo.
Uma névoa descia do céu, deixando úmidas as cadeiras, mas lá estava
nossa querida amiga Jo Lynn deixando tudo bem arrumado, ignorando a
chuva, enxergando tudo através dos olhos da fé. Que belo incentivo!
Enquanto isso acontecia, Sarah e Angela dirigiam-se para o local. A
neblina molhava o pára-brisa do carro. Sarah não parava de perguntar:
– O que você acha que Andrew decidiu? Do lado de dentro ou do lado de
fora? Dentro ou fora?
Ela havia deixado que ele decidisse, confiando em seu julgamento. Seu
sonho era do lado de fora, mas tudo em sua volta dizia para não nutrir
muita esperança e para abandonar o sonho.
Angela podia ver o quão ruim era a situação e não estava em condições
de oferecer muito ânimo por causa daquela chuva.
– Não sei, Sarah – foi tudo o que ela conseguiu dizer. – Mas logo vamos
descobrir.
Ao transporem a última colina, um grito de contentamento quebrou o
silêncio ao Sarah exclamar:
– Ele arrumou tudo do lado de fora! Ele arrumou tudo do lado de fora!
Enquanto isso, Ken me disse que havia decidido cantar e que havia
combinado que o vocalista o acompanharia.
– Ó, Ken – exclamei –, você vai deixar sua filha tão feliz! Isso representa
muito para ela. Deus estará com você! Estando nEle, você poderá cantar
sem interrupção! Isso é um grande privilégio. Estarei orando por você!
Lembre-se apenas de que Deus pode sustentá-lo, Ken!
Andrew ofereceu-me uma cadeira e me deu um beijo, seu último beijo
como solteiro. Para mim, era um sonho se tornando realidade. Eu não
esperava por isso. Ah, como gostaria de ter uma foto daquele beijo! A
cerimônia começou, e Jim disse:
– Andrew e Sarah, olhem para cima e vejam seu primeiro presente de
casamento. Deus lhes deu o presente do sol no dia do seu casamento. Ele
tudo pode. Ele não é um Deus maravilhoso?
E de fato – milagre dos milagres – o cume da montanha estava claro! Em
cima de nós havia um círculo de nuvens ralas bem no meio de outro
círculo maior de nuvens escuras contidas por anjos invisíveis. Ouviam-se
os trovões à distância e não pude evitar de pensar que era Satanás irritado
com o que Deus havia dito: “Até aqui somente, Satanás!” Aquele
incomum buraco redondo no meio das nuvens escuras permaneceu em
cima do campo até que o casamento terminou, um pouco mais de uma
hora! Foi o presente mais maravilhoso de Deus para aqueles dois, no dia
do seu casamento. Ele honrou aquele casamento da mesma forma que
honrou o casamento em Caná, e supriu necessidades reais. E Deus ainda
tinha mais uma surpresa para Sarah. Ele capacitou Ken para cantar e, com
autocontrole e muito amor, ele ofereceu um presente muito especial
através de uma canção para sua filha.
O milagre da meteorologia foi o assunto do resto do dia. Cada desejo e
cada sonho de Sarah foi realizado naquele dia – o casamento ao ar livre, o
sol brilhando, a paisagem montanhosa, as cores de outono e a música do
seu pai. Quão maravilhoso é viver nossos sonhos juntos através do poder
de Deus! Durante a recepção, um homem se aproximou de Jim e lhe disse
que havia pensado que estávamos loucos ao montar tudo do lado de fora,
embaixo daquele chuvisco e com aquele tipo de previsão do tempo.
– Todavia – ele continuou –, depois do que aconteceu aqui hoje, posso
dizer que acredito no Deus de Andrew.
Outra pessoa disse para Sarah: – Esse tempo sem chuva foi um autêntico
milagre. Gostaria de pedir que orasse por mim, pois obviamente você tem
uma linha direta com o Céu. – Ele parecia não entender que todos podem
pedir as bênçãos de Deus, só que nem todos o fazem.
Ainda outros disseram que esse milagre no casamento foi como o Mar
Vermelho aberto para Israel. Os israelitas tiveram que pôr o pé na água
antes de o mar se abrir. O fato de Deus ter segurado a tormenta foi o Seu
jeito de honrar esse casamento. Todos nós passamos por tormentas em
nossa vida diária. Precisamos ver os milagres de Deus em nossas
tempestades ao clamar para que Ele nos traga o brilho do sol. Todas as
lições aprendidas deram frutos no dia em que Andrew deu o seu passo de
fé. Nós que somos pais temos o bendito privilégio e o elevado chamado de
passar para a geração seguinte a herança de conhecer um Deus pessoal em
quem podemos confiar.
Sendo mãe, não posso falar em primeira mão sobre ser pai. Embora eu
tenha um tremendo respeito por Jim e pelo trabalho que ele fez, sei que as
dificuldades dele são diferentes das minhas, como mãe. Ser mãe é a
suprema dádiva de si mesma. Começa no momento em que aquele
pequenino embrião recebe vida de você, e nunca mais termina. É cuidar e
amar um filho quando você está cansada demais para cuidar até de você
mesma. É fazer por seu filho aquilo que você jamais faria por você mesma.
Ser mãe é um trabalho que nunca termina, uma preocupação que nunca
acaba, problemas que nunca são resolvidos e desafios que vão além da
capacidade humana. O mais difícil de ser mãe é ver você mesma refletida
naquilo que há de pior em seus filhos. Ser mãe é a tarefa mais difícil que
alguém possa desempenhar – e a mais importante.
Ser mãe é presenciar o primeiro sorriso do bebê, seus primeiros passos,
suas primeiras conquistas. É a alegria de pequenos abraços, de rostos sujos
e de receber valiosíssimos buquês de dentes-de-leão amassados. É
experimentar a excitação e as aventuras das explorações, a satisfação de
presenciar novas habilidades e interesses de uma mente em
desenvolvimento, e a emoção de ver o despertar espiritual de seu filho. Ser
mãe é ver o homem ou a mulher crescendo dentro da criança e a emoção
de ver o amadurecimento da capacidade de julgamento. Ser mãe é ver o
seu “bebê” caminhar pelo corredor da igreja até o altar; é ver o começo de
uma nova geração. Ser mãe é ver tantas coisas que são difíceis e
desagradáveis e, mesmo assim, ser mãe é tudo aquilo que ainda resta de
bom, amável e nobre no mundo. Finalmente, ser mãe é ouvir Cristo
congratulá-la e colocar a coroa da vida sobre a cabeça de seus filhos.
Ser verdadeiramente uma mãe requer fé ativa e dependência de um Deus
que deseja realizar milagres para você e seu filho, um Deus que deseja,
mais do que qualquer outra coisa, levar seus fardos e ajudá-la em seus
esforços pelos seus pequeninos.
A única pergunta que permanece é: “Você deixará que Deus dissipe as
nuvens do céu para você viver de maneira a poder criar seus preciosos
filhos para andar com Ele?”

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