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Como amaciar um motor novo ou retificado

Se você tem dúvidas sobre como amaciar um motor novo ou retificado e chegou aqui
procurando esta informação no Google, seus problemas terminaram. Eu tive as mesmas
dúvidas, fiz a mesma pesquisa e disponibilizo aqui de modo simples e direto as melhores
informações que obtive, devidamente analisadas e comentadas. Mais mastigadinho que
isso, só se você me contratar pra rodar por aí com seu carro e amaciar o motor dele.
Aviso inicial: tudo que eu vou dizer sobre amaciamento vale tanto para motores novos
quanto para motores retificados, só mudam um pouco as quilometragens, como está
descrito mais abaixo. Dito isso, vamos à história.

Após 300.000 km rodados nas mais adversas condições possíveis, carregando peso
excessivo em estradas de terra esburacadas, subindo e descendo morros, sofrendo com a
maresia e recebendo pouca manutenção, o heróico motor do meu (tanque de guerra) carro
começou a perder força, fazer barulhos estranhos e soltar fumaça. Estava na hora de “fazer
o motor”.

Eu não entendia e não entendo porcaria nenhuma de mecânica de automóveis, mas tinha
que tomar algumas decisões, então tratei de fazer uma pesquisa básica. A primeira delas foi
em relação a que tipo de retífica fazer: deveria fazer uma retífica completa ou uma “meia-
sola”?

Faça a retífica completa

Se você já fez a retífica, meu primeiro conselho não vai ajudar muito, mas se você ainda não
fez, faça a retífica completa, não faça uma meia-sola. Sim, eu sei que é mais caro, mas um
motor com retífica completa é praticamente um motor zero km de novo, enquanto um motor
com uma meia-sola é um motor com partes novas trabalhando em conjunto com partes
desgastadas, o que não é uma boa idéia.

Comentando o básico do básico: entre diversas outras diferenças, numa meia-sola


normalmente se trocam as bielas e não se mexe no virabrequim. Se você não entende nada
de mecânica e nem sabia que existiam peças com estes nomes, é suficiente saber o
seguinte: os pistões são as câmaras onde é queimado o combustível e gerada a força do
motor, as bielas são as peças que captam essa força e as transmitem para o virabrequim e o
virabrequim é um eixo esquisito todo torto que transmite a força do motor para a caixa de
câmbio, de onde irá para as rodas. Se o virabrequim estiver desgastado, ele trabalhará com
folgas e produzirá vibrações que afetarão as bielas novas e os pistões recém retificados,
reduzindo a eficiência e a vida útil do motor, detonando seu investimento.

Tudo bem, você recebeu seu carro hoje, o motor está silencioso, sem vibrações, sem
desligamentos inexplicados, sem queimar óleo, uma tetéia. Vamos ao que interessa.

Revise os itens básicos

Que itens básicos? Ora, seu carro ou é novinho ou acabou de ter o motor retirado,
desmontado, modificado, remontado e recolocado, então você precisa conferir desde
“detalhes” como óleo e água até itens aparentemente não relacionados com o desempenho
do novo motor, como geometria e balanceamento. Coloque velas novas, confira o óleo da
caixa, revise todas as mangueiras, troque os filtros do ar, do óleo e do combustível, essas
coisinhas. Comece com o pé direito, seu motor novinho em folha merece.

A grande dúvida sobre o amaciamento

- O melhor é amaciar “na boa” ou “no pau”?

Resposta: o melhor é amaciar “na boa”. Ponto.

Você vai encontrar diversas opiniões em fóruns afirmando que o motor deve ser amaciado
“no pau”, isto é, forçando desde o primeiro dia em altas velocidades, “para não ficar
empacado”. Isso é uma grande bobagem, não faça isso!

Você também vai encontrar diversas opiniões em fóruns afirmando que não é mais
necessário amaciar os motores novos, seja porque a tecnologia moderana permite fazer
peças muito mais perfeitas que evitam a necessidade de amaciamento, seja porque os
motores novos saem de fábrica pré-amaciados. Isso é uma grande bobagem, não acredite
nisso!

Quem diz que o motor deve ser amaciado “no pau” ou não deve ser amaciado com certeza
não entende nada de física e não leu o manual do fabricante.

Para entender por que eu afirmo isso, é necessário entender duas coisas: o que é o
amaciamento de um motor e qual a diferença entre um amaciamento “na boa” e um
amaciamento “no pau”.

O que é amaciamento?

Amaciamento é a adaptação entre as diversas peças móveis de um motor, o que ocorre


através do desgaste destas peças.

Por mais que a tecnologia atual produza peças melhores, com ínfimas variações em suas
superfícies, ainda assim não se pode dizer que o ajuste entre todas as peças seja
rigorosamente perfeito. Podemos discutir se um motor produzido com esta ou com aquela
tecnologia precisa de mais ou de menos amaciamento, mas não podemos dizer que um
motor recém fabricado ou recém retificado não precisa de amaciamento.

Diferença entre amaciamento “na boa” e “no pau”

O amaciamento “na boa” é um amaciamento feito de modo suave, promovendo um pequeno


e lento desgaste nas peças, em condições de baixa vibração.

O amaciamento “no pau” é um amaciamento feito de modo violento, promovendo um grande


e rápido desgaste nas peças, em condições de alta vibração.

As diferenças, portanto, são duas: a velocidade e a profundidade do desgaste das peças,


devidos respectivamente ao número total de giros realizados e ao nível de vibração a que o
motor foi submetido durante o processo de amaciamento.
Agora pense

Se você tenta fazer um furo em uma tábua, usando uma furadeira, o tranco que ela dará em
suas mãos caso encontre alguma irregularidade na tábua é tanto maior quanto maior for a
velocidade do giro, certo? Pois bem, a mesma coisa acontece quando as peças do motor do
seu carro encontram pequenas irregularidades ao se moverem umas contra as outras no
processo de amaciamento. Portanto, é preferível que as irregularidades das peças sejam
aplainadas com delicadeza, para que não haja danos a seu redor.

Se você tenta fazer um furo em uma tábua, usando uma furadeira, o furo será mais justinho
e perfeito se você estiver sobre um chão firme do que se você estiver sobre um veículo
correndo em uma estrada esburacada, certo? Pois bem, a mesma coisa acontece quando as
peças do motor do seu carro trabalham sob vibração: quanto mais baixa a vibração, melhor
a acomodação, quanto mais alta a vibração, pior a acomodação. Portanto, é preferível que
as irregularidades das peças sejam aplainadas sob baixa vibração, para que se mantenham
o melhor ajustadas possível.

Mas e a história do motor “empacado”?

Ora, não é verdade. Quem diz que o motor fica “empacado para sempre” se for amaciado
“na boa” simplesmente não conhece física.

O amaciamento em alta rotação desde o princípio vai desgastar rapidamente as peças e dar
a impressão de que o motor ficou “bem amaciado” porque o motor ficará “leve” ou “solto” em
pouco tempo, mas isso é apenas sinal de desgaste precoce. Em breve este motor
aumentará seu consumo e com certeza vai exigir manutenção mais cedo que um motor
corretamente amaciado.

O amaciamento em baixa rotação no princípio vai desgastar lentamente as peças e dar a


impressão que o motor está “amarrado” porque o motor ainda não foi amaciado em alta
rotação, que é a segunda etapa do amaciamento.

Ah, o amaciamento deve ser realizado em duas etapas?

É, esse é o pulo do gato. As pessoas não costumam dizer isso desta maneira, mas na
prática é isso que significa amaciar “na boa”: primeiro se amacia em baixas rotações e
depois se amacia em altas rotações.

Amaciar “na boa” não tem nada a ver com dirigir como uma múmia paralítica, mas com
cumprir as etapas adequadas para que todo o processo de amaciamento transcorra com o
menor nível de vibração possível, o que só ocorre se o amaciamento é gradual.

Quando realizado após o correto amaciamento em baixa rotação, o amaciamento em alta


rotação ocorre com um nível de vibração muito menor que quando é realizado desde o
princípio, o que desgasta menos as peças e garante melhor desempenho, menor consumo,
menor custo de manutenção e uma vida útil muito maior ao motor.

Agora que você entendeu, vamos à parte prática?

COMO DIRIGIR PARA AMACIAR O MOTOR


Motores novos:

- Ao ligar o veículo, deixe que ele trabalhe uns 20 ou 30 segundos antes de colocar o pé no
acelerador. Isso é para que o óleo circule e lubrifique as peças antes de colocar o veículo
em uso, aumentando a vida útil do motor. Este conselho vale para toda a vida útil do
automóvel, não somente para o período de amaciamento. (E vale até mesmo para os
veículos de “partida imediata a frio”, que é um recurso emergencial ótimo para situações de
necessidade, mas não deve ser usado diariamente.)

- Se você quiser ser realmente cuidadoso, acelere um pouquinho para pré-aquecer o motor
por pelo menos mais 20 ou 30 segundos antes de engatar a primeira marcha. Este é outro
conselho que vale para toda a vida útil do automóvel. (O ideal seria pré-aquecer o motor por
pelo menos dois minutos, mas quem tem paciência para isso hoje em dia? O resultado é que
todos os veículos acabam sofrendo um desgaste que seria evitável com um pinguinho só de
paciência a mais.)

- Após o aquecimento inicial, não deixe o carro parado com o motor ligado. O que é bom no
início para dar a primeira lubrificada nas peças torna-se ruim logo em seguida, pois com o
motor trabalhando em baixa rotação a bomba de óleo lança menos óleo para lubrificar anéis,
pistões e cilindros. Também não adianta meter o pé no acelerador, pois o trabalho do motor
sem carga traz o risco de estragar o brunimento dos cilindros, o que pode causar a queda de
um meteoro gigantesco e eliminar a vida na Terra ou pelo menos problemas graves de
lubrificação nos anéis, pistões e cilindros, confesso que me atrapalhei um pouco com os
termos técnicos.

- Nos primeiros 500 km de uso de seu veículo não vá para a estrada nem carregue muito
peso com ele. Comece o amaciamento em área urbana, onde você tem que explorar toda
uma gama de variações de velocidade de giros do motor, sem grandes cargas. (Claro que
você pode ir ao supermercado com a família toda e voltar carregado, desde que o
supermercado não fique a 200 km da sua casa.)

- Entre 500 km e 1000 km, quando você sentir que o carro já está andando com normalidade
em baixas velocidades, sem aquela impressão de estar “preso”, pegue uma estrada e faça o
seguinte: na quarta marcha, acelere até atingir 90 km/h, tire o pé do acelerador, deixe cair a
velocidade até 50 km/h e torne a acelerar até os 90 km/h. Repita esta operação acelerando
com suavidade nas primeiras dez vezes e com firmeza nas dez vezes seguintes. Se você for
do tipo paciente, circule por quinze minutos e repita a operação. Repita todo o processo pelo
menos mais uma vez, em outro dia.

- Até os 1000 km não ultrapasse os 100 km/h em nenhuma marcha e evite ultrapassagens
que forcem o motor.

- Até os 1.500 km não mantenha velocidade alta por longos períodos nem carregue muito
peso por longos períodos.

- Aos 1.500 km faça uma troca de óleo. Muita gente vai dizer que é desnecessário fazer uma
troca de óleo tão prematura, mas eu vejo a questão da seguinte maneira: mesmo que seja
um cuidado extremo, você vai fazer isso uma vez só na vida, então não é um custo
relevante.
- Sempre troque o filtro de óleo junto com o óleo. Se você não troca o filtro, imediatamente
uma grande quantidade de óleo velho se mistura com o óleo novo, o que reduz muito a
utilidade do óleo novo. Bela porcaria.

- Nos primeiros 1.500 km não estique as marchas. Consulte o manual do seu veículo para
ver a relação adequada entre marchas e velocidades para este período. Se você não tiver o
manual, use esta tabela geral que eu encontrei por aí na internet:

1ª de 0 km/h até 25 km/h

2ª de 25 km/h até 45 km/h

3ª de 45 km/h até 65 km/h

4ª de 65 km/h até 85 km/h

5ª de 85 km/h até 110 km/h

- Após os 1.500 km começa a segunda etapa de amaciamento a que eu me referi acima:


você deve começar a esticar gradualmente as marchas para elevar o giro do motor sem
elevar a velocidade do veículo – afinal, você não quer se matar nem ser multado, né?

Motores retificados:

- Multiplique todas as quilometragens acima citadas por dois, mas mantenha a troca de óleo
dos 1.500 km e faça outra aos 3.000 km.

Últimos conselhos

A partir dos 3.000 km para os motores novos e dos 6.000 km para os motores retificados, se
você seguir os conselhos acima, você terá um motor 85% amaciado. Os últimos 15% serão
atingidos com o dobro ou até o triplo destas quilometragens, quando você já não estará
muito ligado na história do amaciamento, portanto:

- Seja paciente. Compensa.

- Não se habitue a esticar as marchas, isso é apenas um método para elevar os giros sem
elevar a velocidade durante o período de amaciamento.

- Se você tiver muita pressa para “desempacar” o motor, siga o método acima. Eu já estou
descrevendo o mínimo, não “adapte” as quilometragens segundo os conselhos do seu
vizinho picareta de automóveis que “manja tudo” sobre o assunto.

- Se você quiser ser mais lento e cauteloso ao amaciar o motor de seu carro, ótimo, some
30% ou 50% em todas as quilometragens. Não existe isso de um motor ficar “empacado” por
ter sido amaciado “na boa”, o que acontece é que o motor tem que ser amaciado em todas
as velocidades de giro, começando pelas mais baixas. Para “desempacar” um motor que
sempre andou em baixa rotação basta passar a amaciá-lo em alta rotação, mesmo após
anos de uso em baixa rotação.

Quanto mais “na boa” o motor for amaciado, maiores serão seu desempenho e sua
durabilidade e menores serão seu consumo e seu custo de manutenção.

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