Você está na página 1de 17
016:378.02 0 ensino da bibliografia especializada Teaching subject bibliography 918 PAM * ‘A complexidade Inerente & consecugdo dos objetivos da bibliogratia eapecializada toma pro- blemética a formaao de profissionels capazes. © método de ensino constitu-se num elemento bisico para esta formacso, Verfica-se que # con coltuagdo da bibliografia determina a eacolha de técnieas de ensina. Assim, a abordagem mlcro- bibliogréfiea caractartza-se pala utifizacho de mé- todos tradicionais, 20 passo quo, sob # visto macrocésmica da bibliografia, os métodos tor- namae mals flexivels @ mals amplos. INTRODUGAO Como registro de fontes de informagdo, a bibliografia desenvolveu-se, através dos séculos, em um sofisticada instrumento de controle bibliogrético. As realidades sociais condicionam a evolugao dos objetivos da biblio- gratia em geral e a necessidade de reformulagao de con- ceitos referentes 4 mesma. Assim, segundo MALINCONICO. (1977, p. 75-7), 0 século XVI caracterizou-se pela éntase los autores dos trabalhos e os séculos XVII e XVill con- Profs, du Excole do Bibtiotconamia de UFMG, R. Etc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):233-249, set. 1983 233 234 feriram ao livro a mesma importéncia atribulda ao autor. A revolucdo industrial do século XIX contribuiu para o aumento da énfase no livro como produte fisico @ para © crescimento das industrias editoras e impresoras (HICKEY, 1977). Concomitantemente a esses fendmenos, um grupo de biblidgrafos norte-americanos inicia, no sé- culo XIX, um esforco para promover maior disponibili- dade da bibliografia americana. Com objetivos diferentes dos catalogadores de colegdes de bibliotecas, esses biblid- grafos desencadearam uma ciséio entre os dois grupos que se torna definitiva no fim do século XIX, dando origem a0 que HICKEY (op. cit. p. 21) denomina de «estrutura bibliogratica dupla». Esta dualidade tem sido criticada por alguns autores, Shera (1972, p. 176, 184) lamenta que tenha ocorrido @ a atribui a «imaturidade profissional da organizagao bibliotecdrian, e HICKEY (op. Cit. p. 32) refere-se & «... futilidade de se tentar dissociar os catélogos de bibliotecas des bibliografias». SWANK (1975) afirma que a separacao causou desservigo para @ catalogacio bem como para a bibliografia Esta situagéo pode ser remediada, pela reintegracdo dos dois processos através da tecnologia da in‘ormacso, pois a revolucao eletrénica do século XX confere & bi- bliogratia — énfase acentuada em bibliografia especia- lizada — perspectivas imprevisivels em termos de sofis- ticacao, estrutura, objetivos, métodos e regras. Entre: tanto, este avango tecnolégico, apesar de j4 permitir a fusdo acima mencionada, ainda ndo possibilitou ao pro- cesso de controle bibliogréfico um estégio satistatdrio, Os guias bibliogréficos proliferam de maneira desorde. nada, ocasionando uma situacdo caética com relago a necessério controle bibliogratico. A bibliogratia especializada caracteriza-se, pols, por uma complexidade generalizada ¢ esta influi no proceso de formagdo de profissionais destinados a atuar na 4rea. R. Ese. Bibllotecon. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):233-249, set, 1983 © presente artigo pretende analisar, nesta primeira etapa, trés aspectos imprescindiveis a uma discussie sobre esta formagao: a definigdo dos objetivos da bibliogratia especializada, sua abrangéncia como objeto de estudo & Identificagao de métodos de ensino apropriados. A se- gunda parte do estudo, a ser publicada posteriormente, tentaré a extrapolacdo, para a realidade brasileira, de conceitos ¢ experiéncias, visando & elaboragéo de uma Proposta de programa na 4rea de bibliografia de ciéncias sociais, aplicdvel a escolas brasileiras de biblicteconomia. 2. OBJETIVOS DA BIBLIOGRAFIA ESPECIALIZADA Um dos elementos fundamentais que inter ensino da bibliografia especializada refere-se a acto dos seus objetivos e sua consecugio. Indepen- dentemente de sua especializacdo, a bibliografia mantém uma interaggo muito préxima com a biblioteconomia nos seus trés objetivos principals: obtenco, armazenamento @ disseminagéo da informagio. Nesta perspectiva, a bibliografia inclui dois aspectos basicas: como processo, consiste de técnicas para identificar, organizar © apre- sentar a informacao contida em livros e outras formas de registro; como produto deste processo, a bibliografia 6 uma lista sistematica, com um propésit especifico, de materiais que tenham caracterlsticas comuns. Ao manipular © controle bibliogrStico e o processo de trans- feréncia da informacao, 0 biblidgrafo — especialista em assunto, biblioteedrio de referéncia, técnico em informa- G40, cientista da informacgo ou analista da intormagso — deve colaborar para a obtengio do objetivo ditimo da bibliografia especializada, ou seja, a adequaco de recursos informacionais as reais necessidades do usuério. Apesar de sua aparente simplicidade, este objetivo parece nao ter sido alcancado de maneira satisfatéria, a RR, Esc, Bibllotecon. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):233-249, set. 1983 235 236 se julgar pela opiniéo de um pequeno grupo de autores FUSSLER & KOCHER (1977) referem-se & evidéncia de que bibliotecas e outros sistemas de informacéo tém falhado em satisfazer as sérias necessidades de infor- macéo da sociedade em geral, pela ineficacia de sua estrutura bibliografica. Criticam o fato de que, apesar da crescente complexidade do controle bibliogréfico com- binado com incertezas frente ao ritmo acelerado de mu dangas, as bibliotecas permanecam pouco preocupadas © «.. comparativamente estavels @ [acomodadas] com relagdo a alguns conceitos fundamentais (op. cit. p. 7-18). HICKEY identifica a inabilidade dos bibliotecérios em conviver com a complexidade implicita ao controle biblio- grético em suas préprias bibliotecas. APPEL & GURR (1975) relatam resultados de uma pesquisa em que 60% de cientistas sociais entrevistados demonstraram insatisfagdo quanto & adequacao de recursos informacio- nais existentes. Um primeiro fator principal parece concorrer para a situacao descrita: o enfoque tradicional que considera cada bibliografia como instrumento & parte, destinada aa satisfazer as necessidades de informacdo de um grupo limitado de pessoas com interesses especificos. Deno- minada por Shera (1975) como microbibliografia, essa abordagem j4 se tornou insuficiente para fornecer 20 profissional meios de conviver com os problemas ca sados pelo crescimente desordenado do conhecimento ¢ suas fontes de registros, e pela crescente interdisciplina. ridade de conhecimentos, Segundo Shera (1975). esta visdo microcésmica é responsdvel pela situaco caética reinante atualmente na bibliogratia. Como solucdo, propoe a ética_macrocésmica, que situa a bibliografia num contexto mais amplo, como um entre outros instrumentos de comunicagéo, «Uma comunicagao bibliografica eficaz deve ocorrer dentro de cada grupo especifico, entre va- R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):283-249, set. 1983 rios grupos de especialistas e pesquisadores, entre grupos de pesquisadores e varios grupos de profissionais, operadores, educadores e 0 piblico ‘eigo, tornando socialmente uteis os resultados de pesquisas,..» (op. cit, p. 49). Esta abordagem implica a articulagdo de um sis- tema bibliogratico unificado, eliminando 0 «separatismo em bibliografia». Novas técnicas de indexagdo e proli- feragho de instrumentos bibliograficos revelam o esforgo de profissionais para contornar dificuldades, através da tecnologia da informagao. Assim, atividades na 4rea de sistemas de informagao tendem a surgir sob a aparéncia de mudanca com relagdo & situagao atual, como é 0 caso do MEDLARS € outros sistemas. Mas, segundo BROOKES (1975, p. 66), «...sd0 ainda manifestagdes do enfoque microcésmico,.. o crescimento de grandes sis- temas microcésmicos isolades que deu origem ao recente reconhecimento da necessidade de se planejarem siste- mas mundiais compativeis». Em resumo, 2 abordagem tradicional da bibliogratia tornou-se insuficiente para a consecucéo dos seus obje- tivos frente as transformagtes e incertezas que caracte- rizam a area, atualmente. Urge que se proceda a uma reformulacao total de conceitos, processos e enfoques. A proposta da macrobibliografia de Shera ainda per- manece valida e permite tal reformulagao. Em 1975, ele previu que a adogao da referida proposta implicaria a emergéncia de uma nova estrutura bibliografica, caracte rizada por uma «..atitude de verdadeiro cosmopolita: nismo..» em substituigaéo &@ «atitude provinciana» da época (apud BROOKES. 1975 p. 64). Dentra desta pers pectiva, a bibliogratia ampliaré sua area de acdo e tera condigdes de se estruturar para as imprevisiveis mu- dancas decorrentes do avanco da tecnologia da infor- magao. R. Ese. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):233.249, set. 1983 237 238 3. ABRANGENCIA DA BIBLIOGRAFIA ESPECIALIZADA DO PONTO DE VISTA DA QUALIFICAGAO PROFISSIONAL 0 estagio de desenvolvimento da bibliogratia espe- cializada © 2 complexidade implicita tornam também pro- blematica a formacso de profissionais qualificados para um desempenho adequado. Como se verificou, a biblio- grafia enfrenta o problema causado pelas mudangas rapidas em ciéncia, tecnologia, comunicagdo e interacOes sociais. Ao lado disto, 0 aumento da informagio e 0 papel de importancia a ela atribuida conferem uma nova dimenséo & bibliogratia especializada, em qualquer érea do conhecimento, Mas 0 seu desenvolvimento ainda néo cortesponde a esta dimensdo (WHITE, 1980). Os pro- gramas educacionais tém-se preocupado em transmitir aos alunos a idéia de bibliografia como um produto acabado. Para isto, utilizam-se de no lugar de oferecer-thes oportunidades para estudos sistemstices e proporcionar-thes uma compre- ensio mais ampla de sistemas de informacdo especiali- zada. Como efeito, esta abordagem microbibliogrAfica restringe 0 ensino da disciplina ao traino «mecanico» de desenvolver atividades rotineiras de identiticacao utill- zag8o de fontes especializadas. E nao séo poucas as escolas que ainda adotam essa abordagem. Entretanto, 0 conhecimento que se adquire através da mesma, se bem que extremamente importante, ¢ insu- ficiente para dotar o profissional de quatidades neces: sérias para atuar na presente realidade. O despertar inicial, no aluno, da percep de quatro aspectos fun- damenteis é imprescindivel ao desenvolvimento de hal lidades necessérias & disciplina da bibliogratia especi lizada: 1) importancia atribufda atualmente & informagao como poder social, fata que se concretizou apés a revolugdo eletrénica; 2) crescente aumento da informacéo, R. Esc. Bibliotecan. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):283-249, set, 1983 crescimento da documentagao @ problemas decorrentes; 3) crescente interdisciplinaridade do conhecimento em qualquer area de especializacdo, e interdisciptinaridade No préprio dominio da bibliogratia especializada; 4) os problemas de controle bibliografico acarretados pelos trés fatores mencionados. Esta percep¢ao prepara o aluno para a macrovisto que Ihe permita compreender de maneira abrangente o Papel da bibliografia como um instrumento dentro de todo um sistema de comunicagao € das implicagées deste posicionamento. A formag&o de profissionais sob a ética da macrobibliografia comporta duas fases. Em primeiro lugar, 0 aluno devera aprender a se familiarizar com o conhecimento contide em uma area determinada e adqui- rir a habilidade intelectual para manipular este conheci- mento. Deverd compreender claramente o papel desem: penhado na sociedade pelo referido conhecimento, sua evolugio, contetido social e aspectos interdisciplinares que possam caracterizé-lo. Em seguida, torna-se impres- cindivel a exploragéo, por parte do altuno, de toda a organizacao do sistema de informagao na 4rea do conhe- cimento em que se especialisar, sua funcao e desenvol- vimento recentes na documentagao da disciplina, métodos de pesquisa na area e necessidade de informacéo do pesquisador, diferentes caracteristicas de vérios tipos de fontes de informagao, incluinda todo e qualquer tipo de material e agéncias, e sociedades existentes que se relacionem com a disciplina, bem como conferéncias, congressos, seminérios... Estas habilidades devem ser desenvolvidas, nfo de maneira passiva, mas ativa de modo a formar profissio- nais dindmicos. Assim, 20 se abordar 0 contexto infor- macional, devem-se explorar aspectos como 0 papel atual, bem como potencial da bibliogratia dentro do Processa total do conhecimento, fungSes especificas de R. Esc. Bibllotecon. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):233-249, set, 1983, 239 240 tipos emergentes de bibliografias e sua coordenacao, @ as necessidades bibliograficas de cada grupo com relagdo a diferentes tipos de bibliografias, Deve-se tentar ainda © desenvolvimento de algumas capacidades como: plane- jamento sistematico e coordenac3o de grupos e de services, espirito critico, espirito criative @ capacidade de iniciativa. $6 0 profissional assim qualificado teré condicdes de conviver com os problemas acima anali- sados, nao de maneira reativa, mas com visao suficiente para questionar situacdes estabelecidas, identificar pro- blemas, planejar mudangas necessérias e propor alter- nativas validas. A formac3o apropriada de tals profissio- rnais exige professores que dominem a 4rea do conheci- mento e que sejam capacitados para escolner a meto- dologia conveniente. A andlise de alguns métodos de ensino seré objeto do préximo item deste estudo. 4. METODOS DE ENSINO DA BIBLIOGRAFIA ESPECIALIZADA A tarefa de se selecionarem métodos para o ensino da bibliogratia especializada constitui-se num desafio. Uma pequena amostra de artigos escritos sobre o essunto revela duas tendancias basicas. Uma delas refere-se a «superposicao» de duas disciplinas: @ bibliografia e a referencia, Esta situagdo parece generalizada e pode ser detectada nao somente através de artigos de autores. americanos, que usam a terminologia «ensino da biblio- gratia @ referéncia» 6 propéem a utilizago de modelos de ensino semelhantes para ambos (HELD, 1965; SHORES, 1965; SHOSID, 1968). Ao relatar experiéncias em escolas briténicas de biblioteconomia, NICHOLS (1977) refere-se a essa ambivaléncia relativa aos cursos sobre bibliografia sempre associados @ referencia. A mesma aml foi encontrada por GOMES (1976) na sua andlise dos R. Ese, Bibliotecon, UFMG, Belo Horizonte, 12(2):233-249, set. 1983 programas de bibliografia em escolas brasileiras de joteconomia. Parace que, nestas, a superposicéo dos dois conceitos ainda é mais grave: ha falta de consenso sobre © conceito «bibliografia», falta de equivaléncia de programas @ contatido dos mesmos, e coincidéncia de bibliografia adotada para ensina das duas disciplinas. Certamente que ha necessidade de se capacitar 0 aluno para satistazer as necessidades informacionais do usudrio, objetivo ultimo da bibliogratia, Mas este com- Ponente devers ser alvo de curso cujos objetives sojam especificos da disseminagao da informagao e, obviamente, far-se-4 uso de obras de referéncia. Iniciando o curso de bibliografia sob enfoque proprio, a Escola de Biblioteco- nomia de Loughborough oferece continuidade a este curso através de um médulo especifico em «servige de referéneia» (NICHOLS, op. cit). Esta experiéncia parece légica e muito valida. Englobar as duas areas num 36 curso provoca a perda de identidade de uma das dis- ciplinas. Uma segunda tendéncia detectada refere-se 2 evo- luge dos métodos de ensino da bibliografia especializada. Parece haver dificuldades a respeito do método adequado para apresentar a disciplina. Verifica-se nitidamente que © tipo de conceituacto de bibliografia influi na escolha do métode a ser utilizado. A microbibliografia, por exem- plo, determina a predominancia do uso do método tra- dicional. Exclusivamente centrado em listas de obras de referencia, aulas expositivas e discussoes, este método distingue-se por uma orientagao generalizada para a ana- lise de fontes biblidgraficas, pela énfase na estrutura e diviséo de programas. As avaliagoes de desempenho dos alunos baseiam-se em apresentacSes orais sobre fontes bibliograficas listadas (escopo, autoridade, objetivos de cada uma) e em provas, visando @ solugdo de problemas através do uso de materiais, ou seja, resposta a questdes R. Esc. Bibllotecon. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):233-249, set. 1983 241 242 as de referéncia. Trata-se de um método limitado € limitante, O professor tende a «enquadran> os alunos num esquema rigido de atividades e 0 desempenho é geralmente medido apenas pela sua habilidade em relatar oralmente caracteristicas de obras existentes © pela sua habilidade em desenvolver esforcos mecénicos para en- contrar solugao para questdes artificiais e capciosas. Tem havido esforgos numa busca por métodos mais apropriados e eficazes em capacitar os alunos com o nivel desejavel de qualidade. Desenvolvem-se atividades signi- ficativas que visam a implementar 0 método tradicional @ néo a exclut-lo. A partir de 1965, esta ccorrendo uma evolugdo gradual no ensino da bibliografia especializada. Pode-se observar uma tendéncia para a adogdo de ati- vidades mais amplas e flexiveis, e especialmente mais gratificantes. J4 em 1965 0s professores comegaram a se dar conta de que o métado tradicional era inadequado e caracterizava-se por uma «.. necessidade de responder a questdes sobre livros». (HELD, 1965) e a «... en. sinar fivros per se», como se exprime SHORES (1965). Apesar desta conscientizagéo, Shores ainda apresenta uma. técnica com caracteristicas tradicionais. Nessa mesma época, contudo, num estudo sobre o ensino da bibliografia em ciéncias sociais, BERGEN (1965) révela uma preocupagéo mais ampla que se constitu numa forte reacéo contra o método tradicional. Enfatiza a neces: sidade de a aluno se familiarizar com a estrutura de comunicacéo das ciéncias sociais, sua histéria, cresci- mento, pesquisas e problemas envolvidos. Preocupa-se, enfim, com a necessidade, por parte dos alunos, de um maior contato com o proceso interdisciplinar das ciéncias sociais. Extremamente flexivel, ele enfatiza um «...trata- mento da fiteratura das cléneias sociais... centrado no conhecimenta» (op. cit., p. 250). Apesar desse enfoque representar um avanco com relacdo as demais técnicas, R, Esc. Bibliotecon. UFMG, Balo Horizonte, 12(2):233-249, set. 1983, BERGEN nio estruturou 0 seu método em bases consis- tentes. Alguns anos mais tarde, WOOD (1968) tenta inserir © curso de bibliogratia num esquema orientado para a pesquisa, E defende 0 seminério como a maneira mais adequada de se ensinar qualouer tipo de bibliografia. Enfatiza 0 treinamento de alunos através da elaboracdo de bibliogratias que ele considera como a produ¢3o mais importante de um bibliotecario, Bem planejado, orientado © coordenado numa experiéncia fortemente unificada, 0 semindrio pode tornar-se eficaz e valioso para os alunos. E um bom exercicio na preparagio de uma gratia erudita anctada, apresentando, ainda, outras vantagens como «... pratica em atividades cooperativas, sentimento de homogeneidade, unidade de propésito e treino em partilhar descobertas» (op. cit. p. 22-3). Comparadas com as vantagens. as desvantagens do uso do método pa- recem insignificantes ¢ restringem-se quase que somente & abjecdo de que os alunos tém menos contato com as obras de referéncia ou indices. O professor deve ser competente, bem informada e ter experiéncia pratica na apresentacfo de trabalho erudito. Entretanto, 0 método de WOOD ainda peca por uma falha. Os temas para as pesquisas so escolhidos pelo Professor, visando ao desenvolvimento de uma habitidade. Mas as atividades ainda se realizam num contexto arti- ficial, © que nao ocorre, por exemplo, com a experiéncia relatada por CHENEY (1971), sobre uma de suas turmas em bibliogratia das ciéncias sociais. Utilizou o método de estudo de caso: cada aluno seu dava assist8ncia indi- lual a alunos de pés-graduacdo em diferentes segmentos das ciéncias sociais. Os alunos de bibliogratia expuse- ram-se a situagdes reais, com todas as dificuldades, erros e problemas envolvidos. Foi uma experiencia informal e, apesar da ausnoia de dados coneretos para R. Esc. Bibliotscon. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):233.249, set. 1983, 243 244 a avaliagio do método, a retro-alimentagao por parte dos alunos revelou que a atividade foi altamente signi- ficativa, uma vez que thes proporcionou uma idéia sis- temética e total do problema, constituindo-se, ao mesmo tempo, numa experiéncia gratificante @ desafiadora. © método de CHENEY influenciou WHITTEN (1975) ‘na organizacao do seu curso de bibliografia de ciéncias sociais, oferecido na Escola de Biblioteconomia da Uni- versidade da Califérnia do Sul. Considerando que o aluno precisa de maior conhecimento das principais fontes e ‘que a pratica de pesquisa bibliografica deve ser adqui- rida em um contexto mais significative que aquele su- gerido pelos métodos tradicionais, ele desenvolve uma experiéncia semelhante 4 de CHENEY, mas melhor estru- turada. Atribuindo a maior importancia ao proceso de pesquisa erudita, ele envolve os alunos diretamente nas atividades de pesquisa e nos requisitos bibliogréticos de pesquisadores individuais. Demonstra claramente sua intengao de eliminar, no estudo da bibliografia, as listas de anotaces e exercicios pré-estabelecidos e integré-la no mundo real da atividade intelectual (WHITTEN 1975, p. 25). Rejeita a idéia de quatquer atividade mecanica © expée acs alunos a maneita como a bibliografia en- caixa-se na atividade real de pesquisa. Estimutando o espirita explorativo, a habitiade de fornecer ao pos- quisador trabalhos relevantes e selecionados, de acordo com as suas necessidade em detrimento do controle deseritivo, ou seja, do desenvolvimento de habilidades em localizar citagdes ou fatos sobre algum assunto. WHITTEN propicia ao aluno a oportunidade de formar uma concep¢4o muito mais clara das tendéncias inter- disciplineres do processo de comunicagéo entre pesqui sadores na producdo da informacéo cientifica. A andlise licida de WHITTEN coloca o ensino da bibliografia espe- cializada numa perspectiva mais ampla, aproximando o R. Ese, Biblictecon. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):239-249, set, 1983 aluno de uma realidade, ao invés de limitar suas ativi- dades a situacdes rigidas e artificiais. Em 1982, WILSON relata a utilizagéo, com sucesso, de um método nos moldes do de WHITTEN (op. cit.), apresentando, entretanto, duas diferengas. Em primeiro lugar, aplicou sua técnica na area de cléncias puras & aplicadas. A segunda diferenca representa um avanca com relacao a WHITTEN: foi a primeira experiencia estruturada de maneira a permitir um controte efetiva em termos de «multiavaliagdo» de desempenho. Um me- canismo controlado de avaliagto permitiu-lhe detectar o sucesso absolute da sua experiéncia, Constatou satisfagdo por parte dos alunos que tiveram oportunidade de escolher a rea a que se dedicariam, @ constatou quase que total satisfacdo dos pesquisadores com quem os alunos colaboraram. Quase que 90% dos pesquisadores manifestaram desejo de que o programa tivesse conti- nuidade. 5. CONCLUSAO A evolucaa ocorrida nos métodos identificados de- monstra duas caracteristicas. Houve maior delimitacdo da bibliografia como objeto de estudo com relacao a refe- réncia, Em segundo lugar, houve maior flexibilidade em todos os aspectos: escotha de atividades didéticas, ava- liacao, retroalimentacao. Entretanto, estes métodos podem apresentar vantagens ou desvantagens, dependendo da maneira como sejam utilizados, eficiente ou indiscrimi nadamente. Além disto, a eficiéncia em educac&o nao se trata simplesmente de uma questéo de escolher um método ou outro, mas de descobrir a potencialidade de cada método para a obtencde dos objetives propostos para determinado curso. 0 importante é que os métodos oferagam, aos alunos, programas de estudos com o de: R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):233-249, set. 1963 245 246 telectual desejado, ¢ oportunidades para que desen- volvam uma atitude analitica e curiosa no que conceme & solugdo de problemas envolvides na profissdo na rea de biblioteconomia, A combinagao de uma variedade de atividades — préticas de ensino e procedimentos de ava- liagdo, bom embasamento tedrico através da colaboracéo de especialistas de outras 4reas, de conferéncias, semi- narios, discuss6es, pesquisas — pode produzir resultados necessérios no tocante ao desenvolvimento das compe: tancias analisadas no item trés. Torna-se extremamente importante a adocdo de duas atitudes por parte do professor. Uma delas inclui o conhecimento das tendéncias modernas em psicologia educacional, que demonstram a importéncia das diferen- as individuais nos processos de aprendizagem em termos de comportamento mental, interesses e graus de satis. facao. Este conhecimento Ihe permitiré propiciar aos alunos oportunidades de desenvolver suas habilidades pessoais de acordo com seus proprios interesses. Uma segunda atitude diz respeito 3 roceptividade a mudancas. Uma revisdo periddica dos métodos adotados permite a constatagéo da sua validade ¢ eficdcia ou falta das mesmas, constatacdo que, por sua vez, permite trans- formagdes vélidas de abordagens ou métodos. Um dos problemas relacionados com os métodos de ensino analisados neste estudo reside na falta de verificago de sua validade. Os relatos baseiam-se em experiéncias pessoais de professores do assunto. Em geral, ha falta de dados concretos que provem a eficacia ou ineficdcia de atividades, e a boa ou mé aceitacso Por parte dos alunos. © exemplo de WILSON (op. cit) merece ser seguido, a saber, a elaborago de experi- mentos sisteméticos com a finalidade de se abter um conhecimenta mais sélido que possa justificar inovagoes ou énfase em determinados métodos j4 em pratica. R. Exc. Bibllotecan. UFMG, Balo Horizonte, 12(2):293-249, set. 1983 Effective qualification of subjete bibliogra: phere Is problematic due to the complexity Involved In subject bibliography objectives and thelr ‘attainment. Instrutional methods provide valuable contribution for that qualification. The cholce of different Instructional techniques reflects instruc- tore’ different approaches towards bibllography. ‘Thus, microbibllograhy requires the utilization of traditional Instructional methods. However, under ‘the macrocosmic view of bibllograhy, these methods tend to become mora flexible and broad. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS APPEL, John S. & GURR, Ted. Bibliograhic needs of social and ‘behevioral scientists. IN: BRENNI, Vito J. ed. Essays on bibliography. Metuchen, NJ, The Scorecraw, 1975. p. 309-19. ARONSON, R. Comments on the Cheney method. RQ, 11(2):130-3, Winter, 1971. ASHWORTH, W. The information explosion. Library Association Record 76(4):63-71, 1974. BELL, Daniel. Welcome to the pos-industrial society, Physics Today: ‘46-49, February 1976. BERGEN, D. Librarianship and the social sciences at Syracuse University. Journal af Education for Librarianshp 8(4): 248-54, Spring 1968. BLAZEK, R. Relevance in bibliography of the humanities. Journal ‘of Education for Librarianship 15(1):22.23, Summer 1974. BROOKES, B.C. Jesse Shere and the theory of bibliography. IN: RENNI, Vito J, ed. Essays on bibliography. Metuchen NJ, ‘The Scerecrow, 1975, p. 63:76. BROWN, M.G, & WILLEMS, AL. Releasing student potential ‘through humanistic practices. College Student Journal 10(4): 3604, Summer 1976. CHENEY, Frances Neel. An experiment in teaching bibliography fof the social sciences. RQ 10(1): 309-12, Summer 1971. CHAPP, Verner W. Bibliography. IN BRENNI, Vito J. ed. Essays ‘on bibliography. Metuchen, NJ, The Scarecrow, 1975. p. 2-9. R. Ese. Bibliotecon, UFMG, Belo Horizonte, 12(2):233-249, set. 1983 247 248 CROSSLEY, C.A. The subject specialist tbrerian library hi cole, and pa 1978, EGAN, Margaret E & SHERA, Jesse H. Foundations of theory cf bibliography. IN: BRENNI, Vito J. ed. Essays on bibl raphy. Metuchen, NJ, The Scarecrow, 2975. p. 48-62. FUSSLER, Herman H & KOCHER, Kerl. Contemporary issues in bibliographic control. IN: BOOKSTEIN, Abraham ed. ot alil Prospects for change in tibliogrephlc’ control. Chicago, The University of Chicago Press, 1977. p. 3:18, GOMES, Hager Espanha, 0 ensino da bibliografia. R. Exc. Biblio: econ. UFMG, Bele Horizonte, 5(1):93-104, mar. 1976, GREGG, WE. Several factors affecting graduate student satis: faction. Jounal of Higher Education, 43(6):483-98, 1972. GROTZINGER, L. One rosd through the wood. Journal of Edueetion for Ubrarlanship 9(1):24:34, Summer 1968, HELD, R.E, Teaching reference and bibliography. Journal of Edu: ceation for Librarianship 5(4):22833, Spring 1965, HIBBERD, Lloyd. The teaching of bibliography. Berkeley, Ca, ‘Annual Meeting of the Music Library Association, 7 Jan 25, 1962. p. 33:39, HICKEY, Doralyn J. Theory of bibliographic control in libraries. IN: BOOKSTEIN, Abraham ed et all. Prospects for change in bibliographic control. Chicago, The University of Chicago Press, 1977. p. 19-39, LARSEN, K. On the teaching of bibliography, with » suvey of its aims and methods. Copenhagen, Royal School of Libra- anship 1961. LIEBERMAN, 1, Relating instructional methodology to teaching fn brary schools. IN: BORKO, H. ed. Targets for research in Nirary education. Chicago, American Library Association, 1973. MALCLES, Louise-Nofile. Purpose and definition of bibliography. Translated by Teodore C. Hines. IN: BRENNI, Vito J, ed. Essays on bibliography. Metuchen, NJ, The Scarecrow, 1975. P, 205, MALINCONICO, S. Michael. Technology and standars for biblio- graphic control. BOOKSTEIN, Abraham ed. et alii. Prospects for change in bibliographic control. Chicago, The University of Chicago Press, 1977. p. 74-91. ‘an academic ‘ASLIB Proceedings 26(6): 236-49, R. Ese. Biblintecon. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):233-249, set, 1983 NICHALAK, T.J. Library services to the graduate community: the role of the subject specialist librarian. College & Research Ubraries 37(3):257-65, 1976. NICHOLS, Harold, 0 ensino de bibliogratia © referéncia nos anos setenta, R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, 6(1): 78-91, mar. 1977. SHERA, J.H. The foundations of education for librarianship. New York, Becker and Hayes, 1972, SHORES. L_ We who teach reference. Joumal of Education for Ubrarianship 5(4):238-47, Spring 1965, SHOSID, Norma J. Reality in reference teaching.Joumal of Educs- thon for Librarianship 9(1):3541, Summer 1968, SWANK, Raynard ©. The catalog department in the bray orgs nization IN: BRENNI, Vito J. ed. Essays on bibliography. Metuchen, NJ, The Scarecrow, 1975 p. 456-66. WHITE, C. M. et alii. Sources of information in the social sciences; ‘8 guide to the literature, 2. ed. Chicago, ALA, 1973. WHITTEN, B, Jr. Social sciences bibliography course: a client: oriented approach. Journal of Education for Librarianship 16(1):25.32, Summer 1975. WILSON, Concepcion 8. Teaching science bibliography: from class- room to market-place. Joumal of Education for Librarianship 23(2):1254136, Fall 1982. WOOD, RF. Bibliography and the seminar. Journal af Edueation for Librarianship 9(1):18.24, Summer 1968, R. Esc, Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, 12(2):233-249, set. 1983 249

Você também pode gostar