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Hoje fui fazer um teste para Covid 19 em uma unidade de testagem aqui de Juazeiro do Note

e, na fila, me deparei com um homem que berrava aos quatro ventos os “grandes progressos”
do governo genocida. Era um trabalhador assalariado. Estava usando a farda de uma grande
rede de supermercados da nossa região. Pensei em intervir mas, antes de abrir a boca, uma
senhora levantou a voz e disse: “do que adiante tudo isso que você está falando se essas coisas
não chegam para o povo”? O homem ficou perplexo por alguns segundos mas continuou seu
solilóquio sobre as vantagens do capitalismo e o fim do mundo dominado pelo comunismo
(sintam meus olhos revirando).

Essa experiência me levou imediatamente aos textos de um autor que está me preenchendo
de forma (imagino) irreversível: Walter Benjamin. Existe uma crítica de Benjamin a ideia de
progresso que, quase como uma profecia, desvela esse debate. Diz ele (parafraseado por
Michael Lowy): “se a derrubada da burguesia pelo proletariado não for realizada antes de um
momento quase calculável da evolução técnica e científica (indicado pela inflação e pela
guerra química), tudo está perdido. É preciso cortar o estopim que queima antes que a faísca
atinja a dinamite” (LOWY apud BENJAMIN, 2005, p.23).

O ilusório progresso que assistimos acontecer diante de nossos olhos (aparelhos eletrônicos,
novos medicamentos, tratamentos, confortos, tecnologia, etc.) e que fascinam a classe
trabalhadora que votou no genocida, só estão ai porque atendem imediatamente os interesses
da burguesia. Sorrateiramente a classe trabalhadora toma pouquíssimos desses progressos
para si. No entanto, somos convencidos todos os dias que essas coisas são um milagre do
capitalismo que devemos render glórias e aplausos.

Só a revolução pode “interromper essa evolução histórica que leva a catástrofe”. Enquanto
isso, o que nos será oferecido serão apenas restos, tão escassos como a comida que chega ao
último andar do filme “O poço”.

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