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Série Alpha Ops

Lançamento

Distribuídos Próximos Lançamentos


Staff

Disponibilização e TM – Sidriel Wings

Revisão Inicial – Zahara

Revisão Final – Monex

Leitura Final – Kára Wings

Formatação – Jewel Designs

Janeiro 2022
THE SEAL’S SECOND CHANCE

de

Anne Calhoun
SINOPSE

No colégio, a estrela do basquete Charlotte Stannard e o Navy


SEAL Jamie Hawthorn eram tudo, menos amantes.

Eles compartilhavam um espírito competitivo e impulso


implacáveis, mas Charlie, com medo das consequências de uma
gravidez não planejada aos dezessete anos, expulsou Jamie.

Mas agora Jamie está de volta à cidade para o banquete em


homenagem ao treinador de basquete e encontra Charlie, recém-
chegada de uma carreira de sucesso nas ligas europeias e
treinando o time feminino.

As chamas entre eles estão mais quentes do que nunca, mas


Charlie acredita que Jamie só quer o que não podia ter quando
eram crianças.

Jamie não está jogando apenas para vencer.

Ele está jogando pelo coração de Charlie, para sempre.


Dedicatória

Para Eileen Rothschild, e sempre, para Mark.


CAPÍTULO UM

Jamie Hawthorn alcançou profundamente e encontrou uma explosão


extra de velocidade, colocando alguns metros entre ele e seu irmão, Ian,
enquanto eles corriam pela estrada que serpenteava em direção a sua
casa de infância em Hill. Ian não desistiu sem lutar, colocando ar em seus
pulmões e diminuindo a distância entre eles para alguns centímetros
antes de Jamie atingir a linha de chegada designada primeiro, o arbusto
lilás curvando-se sobre a caixa de correio no final da entrada da
garagem. Ele diminuiu a velocidade até parar, bateu no poste que
segurava a cesta de basquete e se virou para voltar a descer a calçada e se
refrescar.

— Nada mal — ele disse a Ian, que estava curvado e quase


hiperventilando. — Quero um churrasco daquele lugar do outro lado do
rio, — acrescentou ele, porque ao longo dos anos a pena por perder havia
saltado de uma barra de chocolate para o almoço.

Ian o olhou de relance. — Faça-me um favor e ignore a maneira como


estarei mancando amanhã — disse ele.

— É só correr na areia — disse Jamie, as mãos entrelaçadas atrás da


cabeça enquanto caminhavam pelo grande beco sem saída. — Uma
superfície sólida é fácil depois disso.
— Não há muita areia em Lancaster — brincou Ian. — Ou muita razão
para correr a todo vapor carregando o tipo de equipamento que os SEALs
precisam.

— Às vezes, os departamentos enviam equipes da SWAT para


trabalhar com os SEALs, — disse Jamie.

— Não há financiamento para isso — disse Ian. — Mas vou levar você
em qualquer ideia de treino que eu possa passar para os oficiais da equipe
de resposta a emergências. Temos alguns ex-militares na equipe. Eles
estão sempre pressionando os outros caras para ficarem em forma.

— Eles veem ação?

— Um era um MP1 e outro cara fez duas viagens de infantaria no


Iraque, — disse Ian, respirando mais normalmente. — Ele está
trabalhando disfarçado para mim agora.

— Sem problemas, — disse Jamie. — Você pode encontrar o treino


básico online, mas vou preparar algo para você que seja mais relevante
para situações típicas de policial.

— Parece bom, — disse Ian, completamente no personagem. Ele era


mais colaborativo do que competitivo, focado na construção de
relacionamentos. Jamie era o competidor, querendo a vitória, o recorde, o
campeonato, o emblema do tridente do SEAL, a missão bem-sucedida.

Bufou uma risadinha quando o pensamento de campeonatos o


lembrou do verdadeiro motivo pelo qual ele estava correndo corridas com

1
Military Police: Polícia do Exército.
seu irmão durante sua licença de trinta dias em Lancaster. Sua base em
competitividade e treinamento de resistência aconteceu aqui. Até certo
ponto, seu treinador lançou as bases, mas no fundo de seu coração, ele
sabia que jogar um contra um com Charlie Stannard proporcionava a
verdadeira educação em resistência, impulso e intensidade.

Na superfície, ele estava de volta para um banquete em homenagem


ao treinador e aos membros das equipes do campeonato. Realmente, ele
estava de volta por Charlie. Vinte e seis dias restantes de sua licença. Vinte
e seis dias restantes da Operação Buzzer Beater, na qual ele convenceria a
notoriamente espinhosa, determinada e cautelosa Charlie de que eles
deveriam ficar juntos para sempre.

Eles alcançaram a garagem novamente e subiram o caminho de


tijolos, para dentro da casa. — Onde está a mãe? — Ian perguntou,
cotovelos apoiados na ilha da cozinha, pingando suor no granito.

— Reunião do Garden Club, — disse Jamie, colocando água em um


copo e entregando-o ao irmão. — Planejamento de última hora para a
recepção na véspera do banquete. Vai vomitar?

— Bem provável, — Ian disse com uma careta que provavelmente era
para ser um sorriso.

— Você está em boa forma, — disse Jamie. — Apenas não em forma


de SEAL.

— Foda-se — disse Ian com bom humor e se endireitou. Mas deu um


gole hesitante na água, sabendo que não deveria engolir logo após o
treino. Jamie o seguiu, olhando pela grande janela para o orgulho e a
alegria de sua mãe, os caminhos sinuosos e canteiros cultivados de seu
jardim inglês. A casa ocupava uma posição privilegiada no topo da Colina,
nada atrás dela, exceto o céu e a longa e íngreme queda para as pistas, e a
quadra de basquete que era o local de suas noites loucas, mágicas e
frustrantes com Charlie.

A paixão ainda estaria lá? Ele passou horas de costas para a árvore,
seu corpo longo, esguio e musculoso arqueando-se desenfreadamente
contra o dele, segurando todos os anseio dos hormônios de um
adolescente e toda a explosão do desejo de um adulto. Muitas variáveis
podem ter mudado: talvez ela não fazia mais arremessos para aliviar o
estresse. Talvez ela tenha usado a chave do ginásio do colégio, em vez da
quadra decadente ao lado dos trilhos da ferrovia. Mas o tempo chuvoso
de primavera havia melhorado, e ele estava contando com o céu noturno
da primavera e o fato de que ela teria que saber que ele estava de volta à
cidade para tentá-la ir à quadra esta noite.

Ele não conseguia inventar uma desculpa para vê-la. Tinha que
parecer normal, crível, inevitável, ou a desconfiada e selvagem Charlie se
levantaria ou fugiria. Ele tinha o plano B, é claro, e o C, e até o D, porque
era um SEAL e era o que fazia.

— O que é isso? — Ian, finalmente recuperado o suficiente para olhar


a nota na ilha, interrompeu sua linha de pensamento.

— Mamãe quer que limpemos o beiral e examinemos as coisas lá em


cima enquanto estou em casa. A venda de garagem do bairro está
chegando, e ela está ameaçando colocar tudo lá fora se não
reivindicarmos o que queremos.

Ian soltou o fôlego. — Que bom que já estamos suados, — disse


ele. — Fica quente lá em cima quando o sol limpa as árvores.

Eles subiram as escadas para o segundo andar, em seguida,


caminharam pelo corredor até à suíte que compartilhavam
quando crianças - dois quartos, um banheiro compartilhado e uma sala de
estar onde assistiam à TV e jogavam videogame com os amigos. Com
apenas um ano de diferença na escola, eles compartilharam o mesmo
círculo social até que Jamie se formasse e fosse para a Marinha.

— Mamãe redecorou alguns anos atrás, — disse Ian.

— Eu me lembro, — Jamie respondeu, olhando para os móveis


delicados e o tapete branco. A sala de estar agora era uma biblioteca, a
lareira limpa, o encarte contendo cerca de vinte velas brancas, sua colcha
favorita dobrada cuidadosamente na parte inferior da espreguiçadeira
onde ela lia. Um dos quartos era agora um quarto de hóspedes, onde seu
saco de marinheiro e bolsa pendurada ocupavam muito pouco espaço no
armário. — É melhor colocarmos panos para proteger o tapete.

Alguns minutos depois, eles tinham a maior parte da mobília


amontoada na outra extremidade da sala de estar e os panos espalhados
pelo chão. — Você está pronto para isso? — Ian perguntou.

— Pronto como sempre estarei, — disse Jamie.


Eles abriram a porta estreita que levava a uma escada íngreme e
estreita. Ian subiu até o topo, olhou em volta e disse: — Porra.

— Tão ruim assim?

— Acho que ela tem todos os brinquedos, livros, jogos e projetos de


arte que já fizemos, — disse Jamie, depois espirrou. — Nada disso foi
limpo, nunca.

— Foi por isso que papai contratou um serviço de limpeza,


lembra? Mamãe ignorava a casa para o jardim sete meses do ano. Comece
a me passar as caixas, — disse Jamie.

Ian agarrou o que estava mais próximo e entregou a Jamie, que


empilhou as sacolas e caixas com três de altura. — Isso é bom por agora,
— disse ele.

Ian desceu as escadas de lado, sem confiar em seu tamanho -


3,6 metros nos degraus rasos. A poeira grudou em seu cabelo e camisa. —
Mamãe disse o que quer que façamos?

Jamie virou o bilhete. — 'Três pilhas', — ele leu. — ‘Manter, venda de


garagem, doar’. E a pilha de manter é melhor que seja a menor. Diga a seu
irmão que ele está levando suas coisas com ele.

— Eu tenho um apartamento de um quarto, — Ian protestou. — O


que mais ela está planejando manter aí?

— ‘Preciso de espaço para os brinquedos dos meus netos’ — leu


Jamie.
Ian arrancou o papel de sua mão. — Não diz isso, — disse ele. —
Porra. Diz isso.

— Considere-nos insinuados, — disse Jamie. — Escolha uma caixa,


qualquer caixa.

Ian pegou uma sacola e abriu a tampa enquanto Jamie desdobrava as


abas de uma caixa sem etiqueta. — O que você tem?

— Livros, — disse Ian. — Você?

— Bonecos de ação GI Joe e homens do exército.

— Oh, cara, — disse Ian. — Lembra de como costumávamos nos


divertir com eles?

— Estou surpreso que tantos deles tenham sobrevivido, — disse


Jamie, tirando um da caixa e examinando-o em busca de marcas de
queimado e sulcos. — Lembra quando colocamos fogo na cerca
amarrando esses caras a fogos de artifício?

— Mamãe estava tão chateada. Queimamos toda aquela cama de


crisântemos, — disse Ian.

— Vamos ficar com eles?

Ian parecia dividido, então disse: — Nah. Deixe-os de lado. Vou revê-
los, jogar fora os danificados e doar o resto para o clube de meninos e
meninas. — Eles progrediram bem em um terço das caixas, ficando
pendurados apenas quando Jamie encontrou a pasta que guardava suas
cartas colecionáveis de basquete. Ele se sentou no lençol e folheou as
pastas de plástico.
— Isso é um passeio pela memória, — disse Ian. — Você costumava
classificá-los compulsivamente.

— Eu adorava jogar bola, — disse Jamie. — Essa foi a minha parte


favorita do colégio.

— Eu vi você na quadra ontem à noite, — disse Ian.

Jamie ergueu os olhos bruscamente, mais ou menos na metade das


páginas. — Noite passada? O que você estava fazendo fora?

— Voltando para casa de uma longa reunião com o FBI. Você estava
sozinho. — O tempo estava instável. É por isso que ele disse a si mesmo
que Charlie não tinha aparecido. Ele tentaria novamente esta noite. Jamie
relaxou e voltou a olhar as figurinhas. — Eu me pergunto se alguma dessas
vale alguma coisa, — disse ele distraidamente.

— Ela mora no East Side, — disse Ian.

— Eu sei, — disse Jamie. À primeira vista, ele ficou surpreso que ela
estava morando no pior bairro de Lancaster. Depois de uma década
morando na Europa, ele imaginou que ela estaria em um dos condomínios
que estão crescendo no centro da cidade, na moda, com acesso a lojas e
restaurantes descolados. Ele deveria ter imaginado que ela estaria de
volta ao East Side, mais perto das crianças que realmente precisavam dela,
crianças que a lembravam de si mesma naquela idade, cheias de sonhos e
promessas, oscilando entre um futuro cheio de esperança e um futuro
cheio de decepção.

— Você quer o endereço dela? — Ian perguntou, lendo sua mente.


Ele não hesitaria em pedir a seu irmão que corresse um nome ou
uma placa em busca de informações, mas o Plano A ainda era viável. —
Por que você acha que eu quero o endereço dela? — Jamie rebateu, ainda
folheando as figurinhas.

— Você nunca voltou para casa para uma licença de trinta dias antes,
— disse Ian. — Todo o alvoroço em torno do banquete levaria alguns dias,
talvez três. Outro casal para uma visita familiar, e então você estaria
escalando ou surfando ou dormindo ou o que quer que seja com
licença. Este ano, Charlie está de volta à cidade.

Seu irmão não se tornou detetive porque seu pai era o ex-chefe de
polícia e agora o prefeito. Seu irmão se tornou detetive porque era
inteligente, quieto, perspicaz, um juiz agudo de caráter e motivação. É
exatamente por isso que Jamie estava de volta.

— Eu nunca a superei — ele disse, ainda sem olhar para cima. —


Passei os últimos dez anos me perguntando o que poderia ter sido, se as
coisas tivessem sido diferentes.

— Oh, — disse Ian. — Ela sabe como você se sente?

— Antes ou agora?

— Ambos.

— Então, sim, — disse ele, lembrando-se dos últimos dias da


primavera antes de partir para o campo de treinamento - seus apelos,
suas recusas. — Agora, ainda não. Mas saberá.
Ian ficou quieto por um tempo, distraidamente separando os
brinquedos nas três pilhas. — Não acho que ela esteja namorando
ninguém, — disse.

— Como você saberia? — Jamie perguntou, genuinamente


curioso. Ian poderia passar um tempo na escola se eles pegassem
maconha ou esteróides, mas a fofoca social normalmente não prendia seu
interesse por mais de alguns segundos.

— Alguns policiais têm filhos no colégio, — disse Ian. — Você


conhece o velho ditado sobre fofocas... você pode telefonar, contar a
um amigo...

— Ou dizer a um policial, — Jamie terminou. — Ela provavelmente


estava muito ocupada com o ano letivo e a equipe. Ela não se deixaria se
distrair durante a temporada.

Charlie não. Ele folheou até à última página do fichário e congelou,


lembrando-se do que havia armazenado ali, usando as figurinhas como
desculpa, muito depois do prazo de validade para um adolescente. Fotos
de Charlie, tiradas logo depois que ela saltou seu crossover2 perverso e
deixou o jogador adversário tropeçando na poeira; em um círculo fechado
com seus companheiros de equipe, entoando A casa de quem? Nossa
casa!3 antes de um jogo. Algumas ele mesmo tirou das arquibancadas
quando intimidou o time dos meninos para apoiar as meninas, outros ele
cortou do jornal local, agora amarelado pelo tempo. Ele as classificou,

2
Jogada de basquete. Trata-se da finta em que quem tem a bola engana o seu marcador.
3
Whose house? Our house!
avaliando o dano causado pelo tempo de jogo de uma temporada no
corpo de Charlie. Tornozelo esquerdo com fita adesiva, joelho direito com
fita adesiva. Ela tinha jogado o torneio com o joelho tão dolorido e
inchado que teve que colocar gelo assim que foi colocada no banco para
respirar, ou mais provavelmente, para problemas graves. Crostas em seus
cotovelos e joelhos de queimaduras no chão, dedos presos com fita
adesiva, um profundo hematoma roxo em seu ombro quando ela caiu no
chão perseguindo uma bola perdida nos quartos de final, os músculos de
suas pernas e braços curvados contra seu corpo. A expressão dela em sua
foto favorita do jornal era de concentração feroz. Tirada um pouco antes
da dica, ela estava olhando para a artilheira do North High Wildcats,
deixando a garota saber que estava ligada, estava ligada para caralho, e
que quaisquer pontos que ela conseguisse naquele dia seriam
reivindicados através de uma luta metafórica na quadra.

Charlie foi a maior artilheira do estado com oito pontos, acumulando


quase trinta dos seus próprios. Foi esse desempenho que lhe rendeu uma
bolsa de estudos em Connecticut.

Deus. Ele tinha estado tão apaixonado por ela. Aquilo o atingiu como
um soco físico, congelando seu diafragma com a mesma eficácia com que
ele perdeu o fôlego. Ele tinha estado tão apaixonado por ela, e se isso não
funcionasse, ele estava totalmente, epicamente fodido.

— Eu sempre me perguntei se você mantinha sua pornografia ai, —


Ian disse do outro lado da sala.
— Por trás dos livros dos Hardy Boys — Jamie disse
distraidamente. — Você sabia disso. Você pegava emprestado o tempo
todo.

Ian riu. — Então, o que você guardou aí?

Jamie estava além do ponto de orgulho sobre isso. Ele lhe passou a
foto de Charlie, amarelada pelo tempo.

— Oh, — disse Ian, olhando para a foto. — Droga. Eu tinha esquecido


como ela era uma competidora. Cada vez que estava na quadra,
era uma guerra total.

Nunca esqueci, pensou Jamie. — O que a trouxe de volta aqui? — ele


disse.

— O treinador Gould teve um ataque cardíaco pouco antes do início


das aulas, — disse Ian.

— O treinador sabia que Charlie estava se aposentando do basquete


profissional e era formada em educação física. Acho que mexeram com o
estado para conseguir uma licença provisória para ela, mas ela estava aqui
em algumas semanas. Esse é o motivo do banquete, a aposentadoria do
treinador Gould.

— Eu sabia disso, — disse Jamie. — Simplesmente não sabia os


detalhes.

— Eu não acho que alguém sabia, — Ian disse.

— Sabia o quê?
— Como você se sentiu por ela.

— Ela não queria que ninguém soubesse — disse Jamie, lembrando-


se do chip no ombro de Charlie, lembrando-se de como nada importava
para ela, não ele sendo o filho de um policial, um colaborador do time de
basquete, popular, inteligente, bonito, um cara bom. A única coisa que
importava para ela era o basquete e uma bolsa de estudos. Ela dizia isso
como uma oração ou um mantra, como se tivesse estudado
cuidadosamente, derrubando o conceito tal como enfrentava o jogo,
entendendo o que significava. Mensalidade, quarto, tábua. ’Mensalidade’
significava educação. ’Quarto’ significava um lugar para dormir. ’Tábua’
significava comida para comer. Significava a mais rara das raridades, uma
chance de sair da pobreza.

— Não foi isso que eu disse, — Ian disse cuidadosamente. — Eu não


estava falando sobre manter suas coisas em segredo. Eu estava falando
sobre você.

— Eu tive que manter isso em segredo, — disse Jamie. — Se não


podia contar a ninguém que estávamos... foda-se. Não estávamos fazendo
nada, exceto jogar bola e beijar. Você coloca em palavras e não é
nada. Mas sim. Por dentro, era tudo para mim.

— Mas não para ela?

Ele pensou na maneira como Charlie o beijou, a maneira como ela


lutou na quadra, sua fúria feroz e humilhada na noite depois que seu pai
prendeu sua mãe por furto, novamente. — A mãe dela era uma ladra de
lojas mesquinha. Ela não ia acabar assim.

— E ela não acabou como a mãe, — disse Ian. — A questão não é se


todo mundo sabe que ela não é como a mãe. A questão é se ela sabe que
não é.

— Isso é o que tenho que descobrir.

— Vá pegá-la, — disse Ian. — Vamos levar essas caixas para


baixo. Você fede, eu fedo e quero almoçar.

— Você está pagando, — Jamie o lembrou.

Eles empilharam as caixas ordenadamente e se dirigiram para a


caminhonete de Ian. Ian dirigia com a confiança de um policial, descendo
a colina e atravessando os trilhos até à churrascaria que o departamento
de saúde estadual fecharia se não fossem as melhores costelas da
cidade. Eles pediram a cesta de costelas, bem picante e um lado de asas,
depois se sentaram à sombra das mesas de piquenique.

Ian olhou em volta e baixou a voz. — Já que você ficará por aqui por
um tempo, eu poderia usar sua ajuda em um nível profissional no
banquete.

— Não vou atirar em DeMarco Jones por despejar mel em seus


sapatos no primeiro ano, — disse Jamie, jogando pimenta em suas batatas
fritas.

— Algo grande está para acontecer. Preciso de um lugar seguro para


fazer as coisas rolarem com o informante e, por vários motivos, o
banquete é a oportunidade perfeita. Mas se eu usar policiais, vai parecer
suspeito. Eu não posso ter nada rastreado de volta para ela.

— Ela? — Jamie disse, parando com uma costela a meio caminho de


sua boca.

— Ela. — Ian lambeu o molho do lado de seu pulso. — Ela está bem
no meio do que poderia ser uma rede de tráfico de drogas de vários
estados.

— Tudo bem, — disse Jamie. — Se você quiser reforços, posso


conseguir mais dois ex-SEALs. Eles estarão no banquete, então ninguém
vai se perguntar por que estão lá.

— Inferno, sim, eu os quero. Obrigado, — Ian disse, então acenou


com a cabeça para as costelas. — Elas são tão boas quanto você se
lembra?

Jamie assentiu, a doce picada em sua língua o lembrando de


Charlie. Quando terminaram a refeição, dirigiram para casa, passaram
pelo pátio, vazios no meio do dia. A paixão ainda estava lá. Tudo o que ele
precisava fazer agora era convencê-la de que valia a pena arriscar seu
coração.
CAPÍTULO DOIS

Ela estava inquieta. Não que isso fosse novidade. Charlotte Stannard
estava sempre inquieta. Mas aprendeu a identificar suas emoções, a
pensar em respostas apropriadas.

Charlie ficou na porta de tela aberta de sua pequena casa e deixou os


sons de uma noite de primavera Lancaster lavá-la. Grilos, pássaros
noturnos disparando contra o céu que escurece, sem vento, nem mesmo
uma brisa. Apenas algumas estrelas começando a piscar no crepúsculo. O
ar estava perdendo o calor do sol do dia e ganhando o frio da
primavera. Foi a noite perfeita para sentar em sua minúscula varanda
com tela, atualizando-se em todo o relaxamento que ela não fez durante a
temporada de basquete. Os meses entre outubro e março foram além de
agitados, com seletivas e jogos da temporada regular. Neste ano, o Lady
Knights chegaram ao torneio estadual pela primeira vez desde a
temporada sênior de Charlie, quando venceu o estadual, perdendo para o
St. Paul Gamecocks nas semifinais. No próximo ano, eles voltariam do
torneio com um troféu e redes cortadas dos aros, e isso significava que
Charlie, como sua treinadora principal, precisava pensar sobre os treinos
de verão e planejar jogadas para maximizar o talento que tinha.

Mas estava inquieta. O que ela disse a si mesma foi que a parte mais
dura do ano - a temporada - acabou, muito respeitosamente tratada em
seu primeiro ano de treinamento, deixando para trás apenas o banquete
em homenagem ao treinador que ela substituiu e os membros da equipe.

Ela se mexeu desconfortavelmente. Essa era a causa de sua


inquietação, se queria admitir. Em vez disso, ela culpou a noite, a
profunda cor evocativa do céu retirando suas defesas cuidadosamente
construídas e abrindo um poço de memória e saudade que pensou ter
processado há muito tempo. Durante seus dias de jogadora em
Connecticut e na Europa, a primavera não a incomodava, os cheiros e
cores estranhos o suficiente para manter a memória afastada. Ela voltou
para Lancaster em setembro, e se dedicou a consertar um programa que
tinha caído em desordem, conhecendo jogadores e pais, trabalhando em
um cronograma de treinos com o treinador dos meninos e se preparando
para as aulas que ela estava ensinando. O outono se tornou inverno, e
viagens de ônibus para jogos no escuro, esboçando jogadas enquanto
agachada no corredor, cabeças com rabos de cavalo balançando a cabeça
em compreensão, música fluindo suavemente de fones de ouvido
enrolados em volta do pescoço. Em seguida, o torneio, os ralis e a banda
animada, o drama do colégio em andamento entre uma das líderes de
torcida e seu armador inicial, depois algumas semanas de nada além de
dormir, comer, ensinar. Ela havia esquecido que o inverno chegou e o
inverno foi embora.

Mas a terra viajava ao redor do sol, e a primavera estava aqui, o céu


real e o ar frio fazendo-a lembrar da sensação de músculos aquecidos pelo
jogo e pele quente esfriando sob o suor, beijos roubados na escuridão
entre as luzes ao redor de uma quadra ao ar livre...

Não faça isso. Não vá lá, mental ou fisicamente.

— Para o inferno com isso, — ela murmurou.

Evitar a noite não ajudaria, porque haveria outra, e outra, até chegar
o verão. Ela estava evitando mais do que a noite. Ela estava evitando a
quadra, jogando dentro da escola ou no Y, onde dava uma aula de
fundamentos para crianças do ensino fundamental. Não mais.

Ela vestiu um moletom fino sobre a camiseta esportiva e legging de


performance e pegou o telefone e os fones de ouvido para caminhar,
girando uma de suas listas de reprodução otimistas para entrar no modo
de jogo e descer os degraus da frente para a calçada rachada, driblando
enquanto ela ia.

A vizinhança estava se acomodando para a noite, as bicicletas


abandonadas atrás de cercas de arame fechando os jardins da frente, a luz
dos televisores piscando nas janelas até que ela cortou para a Second
Street e caminhou o resto do caminho ao longo dos trilhos da ferrovia. À
sua direita erguia-se a subida íngreme e densamente arborizada que
separava o lado leste da classe trabalhadora de Lancaster do que era
prosaicamente conhecido como a Hill. Na época em que os trens eram a
força vital da cidade, os trabalhadores das ferrovias viviam pelos
trilhos. Executivos de ferrovias viviam em Hill, uma separação que perdura
até os dias de hoje. A cidade tinha mais indústria do que a ferrovia agora,
então todos os tipos de trabalhadores de colarinho branco compraram os
antigos vitorianos e os renovaram, CEOs e empresários, médicos,
arquitetos e magos das finanças.

Ela se recusou a olhar para o alto da Colina em busca das janelas de


uma determinada casa. No colégio, ela era orgulhosa demais para fazer
isso, transmitindo a atitude de envergonhada enquanto praticava na
quadra, localizada no DMZ entre o East Side e o Hill. Agora ela treinava
alunos do ensino médio, o que significava que ela não podia se dar ao luxo
de agir como uma, sonhando que talvez ele estivesse lá, esperando por ela
como ela o fez esperar tantos anos atrás, recusando-se a deixá-lo vir ou
ligar para a casa dela, muito menos para subir a escada íngreme de
madeira cortada nas árvores e arbustos que crescem selvagens e grossos
subindo a colina até sua casa.

Espere por mim na quadra. Talvez eu esteja lá. Talvez eu não vá.

As luzes estavam acesas na quadra de basquete, um jogador solitário


arremessando na outra extremidade. Um homem. Grande demais para ser
Jamie, mais alto, mais largo nos ombros, vestindo calças de pista e
um corpo abraçando a camiseta quando Jamie usava calções de gangsta
largos dos anos 90 e uma camiseta com as mangas cortadas na bainha
apenas para irritar seu pai um pouco. Cabelo curto, quando Jamie tinha
raspado o queixo, porque sua mãe odiava, e quando você cresceu como
filho do chefe de polícia da cidade, você leva sua rebelião onde podia.

Ela cresceu rápido morando no East Side e aprendeu alguns


truques nas aulas de autodefesa na faculdade, então ela não tinha medo
de parar e ficar na escuridão sob as árvores protegendo os trilhos e
assistir. Ele tinha movimentos decentes, provavelmente jogava no colégio,
nada espetacular, mas era difícil mostrar o seu melhor quando você
jogava sozinho. Para isso, você precisava de um companheiro de equipe,
de um adversário. De costas para ela, ele trabalhou em seu crossover,
joelhos dobrados, centro de gravidade baixo para o chão, a bola quicando
firme e forte no cimento enquanto ele a trocava de mão em mão. Então
ele quebrou para a esquerda e entrou para uma bandeja4, e um arrepio de
reconhecimento e algo muito parecido com deleite a percorreu.

Foi na longa parábola de seu corpo, esticada da ponta dos dedos aos
pés, apontada de empurrar para a bandeja, a chave que girou a fechadura
de sua memória. Por que ele não estaria lá? Ela sabia que ele estava
voltando para o banquete; a presidente do clube de reforço borbulhando
de empolgação por ter todos os membros da equipe masculina de volta,
incluindo um SEAL da Marinha dos EUA recém-saído de uma missão.

Jamie.

Tudo isso ela pensou na fração de segundo em que ele ficou


pendurado no ar. Em seguida, a bola rolou da ponta dos dedos para o aro,
sacudindo as correntes que serviam de rede. Ela caiu no chão, quicando
uma vez antes que ele a colocasse de volta em seu controle, driblando
distraidamente.

— Venha, saia daí.

4
Termo de basquete: a bandeja é quando o jogador faz a cesta bem próxima do aro.
Ela reconheceu uma ordem quando ouvia uma, e esta foi dada em
sua voz, uma ondulação arenosa não menos atraente para o tom de tenor,
por tudo que ela sabia, na verdade tornada áspera pela areia. Seus
músculos estremeceram, não em direção à quadra em resposta ao seu
comando, mas sim a tentação de correr forte o suficiente para fazê-la se
contorcer na direção de casa. Ela se conteve. Levantou o queixo. Saiu da
escuridão para a quadra, a bola equilibrada entre o antebraço e o quadril.

Ele congelou, sua mão pendurada no ar enquanto seus olhos se


arregalaram. — Ei, — disse ele, a bola quicando para longe dele. — Oi. Uh,
desculpe. Eu não sabia que era você.

— Sou eu, — disse ela, tentando não olhar para o corpo dele
enquanto a bola rolava e parava a seus pés. Seu cabelo brilhava com o
castanho suave da pele de um cervo quando a luz da quadra o refletia. Ele
estava bronzeado, com duas faixas de óculos de sol nas têmporas e ao
redor dos olhos. Ela estava acostumada com atletas em condições de pico,
namorou jogadores de tênis profissionais, jogadores de basquete,
jogadores de futebol, jogadores de rúgbi e, por alguns meses, um atleta de
salto olímpico que tinha coxas que ela nunca esqueceria, mas Jamie era
diferente. O corpo de Jamie não era atlético. Era a musculatura dura de
um homem que sabia que a vida não era um jogo comum.

Depois de uma rápida olhada em sua bola, agora em seu território,


ele colocou as mãos nos quadris e olhou ao redor. — Não mudou muito,
— disse ele.
— Há uma associação de moradores trabalhando para revitalizar sem
desistir muito da gentrificação, — disse ela em troca. — Não conseguiu
muita tração, mas Eve Webber... você se lembra de Eve? Irmã de
Caleb? Ela está liderando o cargo.

— Eu me lembro de Eve, — ele disse, um canto de sua boca se


contraindo.

Nenhuma surpresa nisso. Todos se lembravam de Eve Webber. As


rugas de um homem combinam com as covinhas do menino, ela pensou
distraidamente. Ela tinha esquecido suas covinhas. Ele ainda tinha o olhar
direto. Crescer como filho de um policial significava que ele o olhava bem
nos olhos, usava palavras como ‘senhor’ e ‘senhora’ com facilidade,
respondia, mas isso era diferente. Esse visual tinha o conhecimento de um
homem e a experiência de um SEAL da Marinha por trás dele, e ela não
sabia o que fazer. Com qualquer outra pessoa ela reivindicaria uma cesta e
atiraria para longe sua inquietação. Tudo o que ela podia fazer agora era
olhar, com a língua presa.

— Você joga muito aqui? — ele perguntou.

— Não. — Ela balançou a cabeça, na defensiva apesar da pergunta


razoável. As crianças da Colina tinham seu próprio parque, completo com
playground, caixa de areia, uma quadra de tênis e uma quadra de
basquete, todos escondidos sob extensos olmos, ou assim ela vira depois
de ir a um coquetel para o booster club 5realizado em uma das casas que
5
Booster clubs são organizações de escolas de nível médio e superior. Geralmente, os clubes são
administrados e organizados pelos pais dos alunos da organização apoiada nas escolas secundárias e por
torcedores.
davam para o playground. Ela nunca tinha subido na Colina quando
criança. Ela não tinha negócios lá. Jamie tinha a atitude de seu pai policial
de ir a qualquer lugar. Descer a colina dois degraus de cada vez até à
quadra foi fácil para ele.

— Tem estado muito frio, — ela acrescentou em explicação, a queda


de uma década no colegial a fez doer, uma dor fantasma que sobrou de
querer tanto que doía. Querendo que sua mãe ficasse sóbria e mantivesse
um emprego. Querendo sair de Lancaster. Quererendo uma vaga no time,
uma vaga de titular, um jogo, um campeonato, uma bolsa de estudos em
qualquer lugar porque o basquete era sua saída. Desejando Jamie,
sabendo que ela nunca, jamais poderia tê-lo.

— Isso nunca a impediu antes, — disse ele.

Ela jogou fora quando a sensação térmica estava abaixo de zero, ruim
para a bola, mas precisando estar em qualquer lugar, menos em casa. —
Eu tenho acesso a uma academia agora, — disse ela, e cada conversa seria
assim, um campo minado de memórias?

Ele deve ter visto a dor em seu rosto, porque ele caminhou até ela,
curvou-se e quicou sua bola de imóvel para drible, então foi direto para o
espaço dela, seu sorriso não fazendo nada para conter sua intensidade. —
Não me deixe impedi-la — disse ele.

Maldito seja. Maldito seja, porque sua voz continha a quantidade


certa de desafio e diversão para fisgá-la como um peixe. Ela estava
driblando antes que percebesse, caminhando para a quadra antes de
mandar seus músculos se moverem.

Mais perto da cesta, Jamie disparou um arremesso, forte demais, o


arco mais em linha reta do que a doce curva necessária para passar pelo
aro. A bola se desprendeu da borda, fazendo as correntes
chacoalharem. Jamie deu dois passos rápidos e o rebateu, depois o beijou
na tabela por dois.

Ela o seguiu com uma cesta fácil, pegou a bola quando ele
educadamente a quicou em sua direção. Ele cheirava exatamente o
mesmo, o cheiro de seu suor tão familiar quanto o dela. Eles estavam
sendo estranhamente cuidadosos, evitando contato, cada um esperando o
outro atirar. Foi desajeitado, estranho.

— Que tal um jogo de um contra um? — ele perguntou.

Ela afundou um doce três, lembrando para o que eles costumavam


jogar. — Você tem certeza disso? Porque seu jogo parece enferrujado.

— Tenho certeza, — disse ele, recusando-se a ser alvo de uma isca


enquanto jogava a bola de volta para ela com uma mão e apontava um
skyhook6 para a cesta com a outra.

Em resposta, ela bateu a bola em direção ao canto da quadra, onde


parou na grama sob um olmo em flor, e assumiu posição na meia-quadra,
com as mãos nos quadris. Ela o estava olhando avidamente por um

6
Também conhecida como “arremesso dos céus”, é uma jogada de basquete. Foi feita por Kareem
Abdul-Jabbar, o qual desenvolveu uma mecânica de arremesso totalmente diferenciada, utilizando seu
físico para proteger a bola enquanto esta é jogada à cesta com apenas uma mão.
tempo, mas esta era uma avaliação franca de um oponente. Ele estava
tenso, jogando com algum nível de dor nos ombros e nas costas,
favorecendo o joelho esquerdo.

Ele conferiu a bola para ela, ela a devolveu e se acomodou enquanto


ele driblava, usando seu corpo para proteger a bola. Movendo-se a meia
velocidade, ela deu a volta algumas vezes, lembrando-o de se abaixar,
quando ele puxou e deu um arremesso que bateu na borda. Ela estendeu
a mão para o rebote, girou e driblou para a linha do meio da quadra.

— Legal, — ele disse. — Ainda tem o seu crossover?

— Está um pouco enferrujado, — disse ela, e começou a dirigir até à


cesta. O crossover dela estava bom, obrigado, mas ele não estava jogando
forte o suficiente para justificar uma queda por ele, e ela não queria dar a
ele seu melhor jogo. Não tão cedo. Ainda não.

O jogo continuou por alguns minutos enquanto eles testavam um ao


outro. Com cada solavanco de seu ombro em sua clavícula, de costas para
seu peito enquanto ela avançava lentamente pela quadra, a tensão crescia
entre eles, a ardência doce e quente da tentação. Essa parte era
familiar. Ela sempre quis Jamie. Sempre. Mas seus corpos eram diferentes,
o dele mais duro, preenchido com o tamanho e a força de um homem, ela
ciente das vantagens do sexo quando antes ela só tinha visto o lado
negativo, a fraqueza, o perigo. Antes que ela quisesse, excitada sem saber
realmente o que significaria ter. Agora ela sabia exatamente quão raro era
o desejo entre eles.
Ele parou, respirando com dificuldade. — São dez, — disse ele.

— Foi isso? — ela respondeu, evitando seu olhar. — Eu não estava


anotando o placar.

Ele sorriu para ela, respirando com dificuldade. — Apenas um jogo


amigável? Isso é algo que nunca fizemos.

Todos os nuncas pairaram no ar por um momento antes que ela


optasse pela resposta segura. — Costumávamos fazer isso muito duro, —
disse ela, então desejou ter pensado em sua resposta, ou a quadra iria se
abrir e engoli-la inteira.

— Você jogou mais duro do que qualquer um dos caras do time, —


disse ele, depois levantou a bainha da camisa e enxugou o suor do rosto.

Foi um movimento de atleta padrão, que ela fez mil vezes sem
pensar sobre isso. Mas o torso de Jamie, os peitorais dobrando em
um pacote de oito dividido por uma linha de cabelo indo de seu umbigo
para seu short, fez sua boca ficar seca. Ele estivera em boa forma no
colégio, jogava sem camisa durante as noites de primavera. Agora ele era
espetacular.

Ela queria. Ela queria com o desespero da garota que ela tinha sido, e
com o conhecimento e a paixão da mulher que ela se tornou.

— Há quanto tempo você está na cidade? — ela perguntou, qualquer


coisa para quebrar a tensão. Ele parou e olhou para ela, seu
cabelo molhado de suor nas têmporas e nuca, todos os seus topetes em
pé. — Estou no quarto dia de trinta, — disse ele. Vinte e seis dias. Ela
poderia ter vinte e seis dias com Jamie Hawthorn.

Pode ser o suficiente para pegar o que ela queria e nunca se permitiu
ter todos aqueles anos atrás, responder à pergunta que a assombrava no
meio da noite. Ela tomou a decisão certa quando se afastou de Jamie?

— Como nos velhos tempos, — ele disse, fazendo covinhas nela


novamente.

— Não exatamente, — ela disse antes que ela pudesse se convencer


do contrário. Um jogo ele apostava um beijo com ela se ganhasse. Ela o
deixou vencer, o deixou beijá-la, então o desafiou para uma revanche. Ele
tinha perdido, e pelo olhar abatido em seu rosto, ela sabia que ele não
estava jogando apenas pela chance de beijá-la. Ele a via como uma
competidora digna, não como uma garota do East Side, com uma mãe tão
fácil quanto uma porta de vaivém e sem futuro. Não era sobre entrar em
suas calças.

Então ela o beijou de qualquer maneira.

Seu sorriso se suavizou, alargando-se em algo que deveria ser sabido,


mas em vez disso continha uma pitada de cautela. — Não exatamente, —
ele repetiu. — Achei que você tivesse esquecido disso.

Nunca. Essa era a coisa sobre nuncas. Você lembrou que os quebrou,
ou lembrou que não, que se agarrou à sua palavra como uma criança com
sua chupeta... e se arrependeu. Aquela primavera com Jamie foi
caracterizada por todos os nuncas a que ela se agarrou, com medo de
engravidar e estragar sua única chance de sair de Lancaster.

Ela sabia que nunca se permitiria fazer sexo em qualquer momento,


muito menos pela primeira vez, na grama irregular do City Park, então ela
o conheceu lá, não em qualquer outro lugar, apenas lá, e tudo o que ela se
permitiu era beijá-lo, a casca da árvore afundando em suas costas, as
mãos dele puxando o elástico de seu cabelo, em seu rosto, sua garganta,
seus seios, seus quadris, mas nunca dentro de sua roupa. Ela nunca entrou
em um carro com ele, ou o deixou vir até sua casa, e ela certamente nunca
subiu a escada escura e íngreme que desapareceu nas árvores na Colina.

Mais importante, ela nunca se deixou apaixonar por ele. Mesmo


assim, ela sabia que sexo e amor podiam ser desconectados; ela viu isso
acontecer com sua mãe três ou quatro vezes por ano. Mas a única coisa
pior do que ficar grávida de Jamie Hawthorn foi se apaixonar por ele.

— Não — disse ela, com a boca seca. — Eu não esqueci.

Antes que pudesse dizer algo de que se arrependesse, ela lhe deu as
costas e atravessou a quadra para pegar a bola. A bola rolou até parar
entre duas raízes grossas que ancoravam um grande olmo. Ela se abaixou
e agarrou-a, endireitou-se e se virou.

Bem no peito de Jamie.

Eles tinham quase a mesma altura. Ele tinha talvez uma polegada
sobre ela, um metro e oitenta contra um metro e setenta e sete, mas ele
tinha um novo truque para se fazer parecer maior do que era porque ela
prendeu a respiração. Mais uma vez, ela se lembrou de todas as maneiras
como eles brincavam de ser adultos quando eram apenas crianças, e como
estavam todos adultos agora.

Então ele abaixou a cabeça e a beijou. Por um longo momento ela


congelou, apanhada pela pressão suave e quente de sua boca na dela
como um peixe fisgado para fora d'água. Então ela largou a bola, enfiou a
mão na camisa dele e puxou-o para perto. Abriu a boca sob a dele, sentiu
o toque quente e escorregadio de sua língua na dela, sugestivo e
tentador. Suas mãos subiram para segurar seu queixo enquanto ele a
recuava um passo, depois outro, até que suas costas atingiram a casca
áspera do olmo e não havia nenhum outro lugar para ela ir além dele.

Ele entrou em seu corpo, encaixando sua coxa entre as dela, seus
quadris se movendo para que ela pudesse sentir quão duro ele estava com
o short de basquete solto. Ele enfiou os dedos de uma das mãos no
elástico que prendia o cabelo dela no rabo de cavalo, apertou-os e puxou
a cabeça dela para trás para expor a garganta. A diferença entre beijar
naquela época e beijar agora era como a diferença entre comprar um
pedaço de Wonder Bread no Safeway onde sua mãe trabalhava e comprar
uma baguete na Maison Kayser na Rue Monge. Então ele tinha beijado
com o desejo e a ansiedade de um menino. Agora ele beijava com a
experiência de um homem, fechando os dentes sobre sua mandíbula, a
curva delicada de sua orelha, seu pulso acelerado, o tempo todo
segurando-a imóvel para ele.
As mãos dela foram para os quadris dele, os dedos apertando
reflexivamente antes de um deslizar por suas costas até os ombros e o
outro deslizar para segurar sua bunda e apertar. Era tudo músculo duro, e
quando ela enrolou os dedos na fenda entre suas nádegas, ele gemeu e
apertou contra ela.

Então ele se afastou, colocando espaço entre eles. — Isso não


mudou, — disse ele, respirando com dificuldade.

— Você achou que tinha?

Ele lançou a ela um olhar, meio sorriso, meio careta, e ajustou o


pênis em seu short. — Na verdade, pensei que não.

— Mas você queria ter certeza.

— Na verdade, é pior.

— Sim, — disse ela, arrancando o elástico e refazendo o rabo de


cavalo, só para ter algo para fazer com as mãos. — Você provavelmente...
você sabe...

— Excitado depois de uma missão?

— Algo parecido.

Ele balançou a cabeça, lento e seguro. — Não é isso. Isso é fácil de


cuidar. Isso — ele gesticulou entre eles com uma mão que de repente,
irracionalmente, queria sentir em sua pele nua — tem acontecido há mais
de uma década, e não está indo embora.
— Só porque sentimos isso não significa que temos que agir — disse
ela.

— Essa é a melhor razão para agir — ele rebateu.

— Não posso, — disse ela. Sua lista de tarefas girou em seu


cérebro. Ela precisava comprar um vestido para a recepção no Garden
Club e outro, mais formal, para o banquete. Ela precisava demonstrar um
comportamento de primavera apropriado para seus alunos, não febre de
primavera. A última coisa que ela precisava fazer era se envolver com
Jamie novamente. Ele iria embora em vinte e seis dias, e se ela tinha
aprendido alguma coisa em uma década viajando entre times europeus,
namorando atletas, era que relacionamentos de longa distância não
funcionavam. No final, ele iria embora. Ela não podia permitir que Jamie
Hawthorn partisse seu coração.

Ela se abaixou e pegou sua bola, e usou o movimento para colocar


mais distância entre eles. — Vejo você por aí, Hawthorn, — disse ela.

— Conte com isso, Stannard. — Sua risada baixa a seguiu noite


adentro.
CAPÍTULO TRÊS

O corredor da escola vibrava com a energia de mais de cem alunos do


ensino médio liberados de suas aulas para assistir a uma assembleia
opcional. Charlie colocou a prancheta no quadril enquanto se movia com o
fluxo de alunos passando pelo refeitório em direção ao
ginásio. A conversa normal entre as aulas era um pouco mais rápida e
alta. Ela parou perto de um círculo de alunos no corredor de ciências para
agarrar uma de suas estrelas juniores, Grace Allen, seu namorado, Bryce, e
sua melhor amiga, Olivia, uma garota de um metro e oitenta e cinco de
altura sem nenhuma habilidade atlética. Olivia era mais alta do que
noventa por cento das meninas que jogavam basquete no estado e,
literalmente, não conseguia driblar uma bola de basquete. Charlie poderia
ter chorado quando a viu pela primeira vez; ela não tinha visto uma
coordenação hand-eye7 tão ruim fora da aula de fundamentos do
basquete que ela dava no Y nos fins de semana. Grace, dez centímetros
mais baixa, musculosa e mantendo uma média B sólida, tinha uma chance
de uma bolsa de estudos para uma escola da Divisão I de classificação
inferior, se pudesse manter suas notas e seu jogo até o último ano.

— Oi, treinadora, — Grace disse.

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Termo usado no basquete. Trata-se do controle necessário para combinar o movimento das mãos
(“hand”), com o que os olhos veem (“eye”).
— Vamos, Grace, — disse Charlie. — Você também, Olivia. E você,
Bryce.

— Vou para biblioteca estudar — opôs Bryce.

Os veteranos, tecnicamente, tinham campus aberto, então as


chances de Bryce acabar na biblioteca, não em seu carro fumando algo
cancerígeno e / ou ilegal, eram quase nulas. — Isso será muito mais
interessante do que a sala de estudos. Vamos.

Foi um pouco duro. Normalmente, ela fazia o possível para não


envergonhar seus jogadores ou se intrometer em suas vidas pessoais. Ela
não tinha autoridade ali e queria que as meninas a respeitassem,
seguissem seu exemplo, não a temessem ou se ressentissem. Mas Bryce e
Grace estavam juntos desde o fim da temporada e, pelo que Charlie sabia,
Bryce não tinha planos além da formatura. Grace ficou ao lado de Charlie,
Olivia e Bryce em seus calcanhares. Eles foram as últimas pessoas a entrar
no ginásio, o que significava que acabaram sentando na primeira
arquibancada, bem na frente da fileira de cadeiras do diretor, dos
membros juniores do ROTC, e de Jamie.

Ele estava vestindo um uniforme de camuflado, as calças enfiadas


nas botas amarradas às panturrilhas, as mangas da camisa enroladas logo
abaixo dos cotovelos. Atordoada pela transformação de Jamie Hawthorn,
jogador de basquete desconexo, em Sub oficial James Hawthorn, SEAL da
Marinha dos Estados Unidos, Charlie teve que sentir a arquibancada para
sentar ou arriscar se jogar deselegantemente no chão do ginásio.
Ele estava no meio de uma conversa com o diretor Belmeister,
ouvindo com atenção, balançando a cabeça, os pés apoiados, o rosto
sério, demonstrando respeito pela autoridade pelos duzentos olhos
vigilantes. Charlie aproveitou a oportunidade para olhar ao redor. A
assembleia, a recepção no Garden Club e o próprio banquete eram
obrigatórios para suas jogadoras; elas a conheciam bem o suficiente para
levantar as mãos quando seu olhar percorreu a multidão em busca de
uma contagem de pessoas. Tudo presente e contabilizado.

Quando ela se virou, Jamie estava olhando diretamente para


ela. Antes que ela pudesse se conter, ela ergueu os dedos em um aceno
discreto. Ele sorriu para ela, nada grande ou vistoso, mas havia um
conhecimento particular nisso que enviou uma carga elétrica por seus
nervos. Foi um sorriso de antes, um flash rápido quase rápido demais para
registrar se você não estivesse procurando por ele, sua maneira de deixá-
la saber que ele a viu, estava procurando por ela, mal podia esperar para
vê-la na quadra.

— Você conhece ele? — Grace perguntou.

— Sim — disse Charlie, composta. — Cada um de nós jogou no


campeonato de times.

— Oh, certo, — disse Grace. Seu tom caminhou na linha entre


respeitoso e provocador, ficando apenas do lado respeitoso. Charlie sabia
que era melhor não responder, optando, em vez disso, por folhear os
papéis presos em sua prancheta, pondo em dia a papelada sem fim de um
professor.
Bryce se esparramou na arquibancada, apoiando os cotovelos no
assento atrás dele, fazendo duas garotas revirarem os olhos e se
aproximarem. Grace deu um tapa nele, mas ele não endireitou a postura,
permanecendo deliberadamente casual durante a apresentação do diretor
Belmeister. Então Jamie subiu ao pódio.

— Gostaria de agradecer ao Diretor Belmeister por me receber aqui


hoje, — disse ele. — É uma verdadeira honra voltar ao lugar que me fez
ser quem eu sou hoje.

Você poderia ter ouvido um alfinete cair no ginásio. Ninguém


esperava que um SEAL da Marinha subisse em um ginásio de escola
secundária e dissesse que aquele lugar o tornava quem ele era.

— O que você acha que acontece nas forças armadas?

Algumas mãos se levantaram. — Defender nossa liberdade. —


Missões de manutenção da paz. — Patrulha da Fronteira. — Derrubando
Bin Laden. — O último veio de algum espertinho na última fileira,
provocando risos.

— Claro, — disse Jamie, calmamente, segurando a atenção deles na


palma da mão. — O que você acha que me preparou melhor?

— Sala de musculação, — disse um dos jogadores de futebol.

— Corrida, — o cara do cross country saltou.

— Basquete, — Grace disse de repente. — Trabalho em equipe. Você


precisa de trabalho em equipe. Eles não são chamados de equipes SEAL?
— Eles são. Essa é a segunda coisa mais importante que aprendi, —
disse ele, sorrindo. — Qual é a primeira?

Silêncio.

— Sra. Fagles.

— Sra. Flagles? — alguém repetiu atrás de Charlie. — A professora de


álgebra?

— Sra. Fagles. Depois que terminarmos aqui, vou procurá-la e


agradecer. Depois de passar pelo BUD / S, que é o treinamento SEAL
básico de demolição subaquática, tive que passar pelo SQT, Treinamento
de Qualificação SEAL. Para passar por isso, tive que passar por
testes. Física de mergulho, que envolve matemática e álgebra de nível
universitário. Cálculos de navegação terrestre. Cálculos de
demolição. Você sabe nos filmes como eles colocam um pouco de C4 em
uma porta, passam um fio e boom?

Risos. Todos sabiam do que ele estava falando.

— Sem cálculos de demolição, você pode não ter boom, o que é ruim
quando você tem alvos bem atrás. Ou você pode obter uma explosão
muito grande e destruir seu alvo ou civis inocentes, ou sua
equipe. Conheço caras que foram reprovados em um teste de matemática
e passaram um ano na frota regular antes de voltar e tentar novamente. E
eles não passaram aquele ano se concentrando apenas no
condicionamento. Eles também passaram o tempo estudando
matemática.
Charlie podia ouvir as rodas girando na sala.

— É verdade para todos os cargos nas forças armadas. Não posso me


dar ao luxo de ser apenas um grande, resistente fodão, embora você
possa ter certeza de que me esforço para isso. Eu tenho que ser
inteligente, em muitas maneiras, todos os dias. Quando você se junta,
todos os outros homens e mulheres no serviço estão contando com você,
assim como todos os civis que você protege e defende. Não há espaço
para arrogância. Os SEALs se autodenominam profissionais silenciosos por
um motivo. — Ele olhou ao redor. — Isso é tudo que eu tenho. Perguntas?

Charlie ouviu o farfalhar de roupas quando mãos dispararam no ar,


Bryce ergueu-se diretamente de seu ombro. Ele estava sentado ereto
agora, os pés sob os joelhos, inconscientemente ajustando sua linguagem
corporal para lhe dar a melhor chance de atrair a atenção de
Jamie. Charlie chamou a atenção do diretor Belmeister e sorriu.

***

Quando a assembleia terminou, Jamie tinha um pequeno esquadrão


de adolescentes fascinados acompanhando-o até o bloco de matemática,
onde a Sra. Fagles ainda reinava como chefe do departamento. Charlie
tinha o próximo período livre, então ela ficou no ginásio, ficando
disponível para seus jogadores. Ela se lembrava muito bem dos dias em
que um sorriso ou um ‘oi’ ou um tapinha no ombro de seu treinador era a
única atenção adulta positiva que ela recebia, como ela se voltava para ele
como uma flor ao sol. O corpo discente da East High não mudou muito nos
últimos dez anos. Setenta por cento se qualificavam para almoços grátis, e
uma parte significativa vinha de lares monoparentais, onde os adultos
trabalhavam em horários estranhos e podiam ficar tão sobrecarregados
com os detalhes de manter as luzes acesas e comida na mesa que ‘tempo
de qualidade’ com as crianças simplesmente não acontecia.

Ela lembrou Grace de se inscrever na escola de verão para trabalhar


em matemática e disse que lhe dera uma boa referência para o trabalho
de verão no zoológico. Ela recebeu uma atualização de Emilia sobre o
status de imigração de seu pai. Ela conversou com Mandy e Brooke, que
haviam sido apanhadas por abandonar a escola, para ter certeza de que
havia um bom motivo para isso - trabalhar para ajudar a pagar as contas,
um irmão ou irmã doente que precisava de cuidados - então colocou o
medo da suspensão neles e tinha garantias de que estariam em aula e
estudando quando não o fossem. Ela caminhou com Lyssa, seu centro
estelar, um metro e noventa e três, uma ética de trabalho inigualável, de
volta ao bloco de Ciências. A garota raramente falava alguma coisa na aula
ou no treino, mas Charlie sempre podia contar com Lyssa ao seu lado,
absorvendo só Deus sabe o quê.

— Quer conversar? — perguntou. Apenas no caso. Ela nunca sabia


quando uma das garotas diria sim, despejaria algo que partisse seu
coração e deixasse bem claro por que ela tinha voltado para casa, por que
ela nunca mais iria embora.
Lyssa balançou a cabeça, deu-lhe um pequeno sorriso, o equivalente
a pulos exuberantes de Grace ou Emilia, depois inclinou a cabeça na
direção do escritório de Charlie. Um par
de botas cor de areia e joelhos camuflados projetava-se para dentro da
porta deslizante aberta. Hoje em dia, poderia ser um estudante usando
botas de gato e calças excedentes do exército, mas ela sabia,
simplesmente sabia, que não era.

— Vejo você mais tarde, — Charlie disse baixinho, dando-lhe um


tapinha no ombro. Lyssa se acomodou em uma das mesas da sala comum
do bloco de Ciências e abriu seu livro de história. Charlie entrou em seu
escritório, uma fenda estreita no fundo da sala comunal, e encontrou
Jamie sentado na cadeira ao lado de sua mesa.

— Oi, — disse ela, feliz com os dois segundos de aviso que Lyssa deu
a ela. Ela parecia normal, calma, profissional. — Bom trabalho na
assembleia.

— Obrigado, — disse ele com um encolher de ombros, girando o


chapéu nas mãos. — É estranho, ter que falar com eles. Você está
tentando dizer-lhes coisas que eles só podem aprender passando por elas.

— Construir um caráter não é fácil, — ela concordou. — Tudo o que


você pode fazer é mostrar a eles as oportunidades e ficar com eles
enquanto tentam agarrá-las.

— Eu vi você com suas garotas depois, — ele disse. — Traz de volta


memórias.
Ela sorriu para ele. — De mim esperando cada palavra do treinador
Gould?

Ele olhou para as próprias mãos. — É bom lembrar das pessoas que
fizeram a diferença na sua vida. Mantém você humilde.

Ele sempre poderia surpreendê-la. — Você está sentindo que precisa


ser mais humilde?

Suas covinhas brilharam e então desapareceram. — Sempre que você


achar que pode, pode tentar, Stannard.

Encontrando seus olhos, ela riu, o tipo de risada que ela raramente
ouvia de si mesma. Estar ligada o tempo todo cobrava um preço, que ela
pagava de boa vontade. Mas ela tinha esquecido como estar com Jamie a
fazia se sentir mais do que inquieta e excitada, querendo o tempo
todo. Ele a fez rir também.

O ar mudou, assumiu um zumbido carregado. Ela não conseguia


desviar o olhar, não conseguia parar o calor subindo em seu rosto, o flash
de desejo fazendo suas roupas parecerem muito apertadas, muito
quentes. O olhar de Jamie se suavizou, ficou mais intenso, infundido como
era com o desejo de um menino e a capacidade de um homem de
satisfazê-lo.

— Pare de me olhar assim, — ela disse indefesa.

Sua expressão não mudou. Alguma parte distante de sua mente


registrou o olhar em seu rosto, despido de qualquer duplicidade, apenas
desejo totalmente nu. — Me encontre esta noite.
— Não posso falar sobre isso aqui, — disse ela, e começou a
endireitar as pilhas de papéis finais em sua mesa, só para não ter que
olhar para ele. Lyssa estava observando, disfarçadamente é claro, mas
observando mesmo assim.

— Encontre-me esta noite, — disse ele novamente.

Ela lançou-lhe um olhar rápido e ficou aliviada ao encontrar humor


em seus olhos. — Assim como no ensino médio, — disse ela.

— Exceto que agora temos um lugar para ir e ninguém a quem


responder, — explicou ele.

Ela nunca teve ninguém a quem responder. A mãe esperava que ela
saísse e se divertisse, relaxasse um pouco, trouxesse um menino para
casa, qualquer menino. Mas ele estava certo. Ela tinha seu próprio carro,
sua casa com portas que trancavam, uma cama com lençóis de oitocentos
fios sobre ela. Ela fazia controle de natalidade e tinha dinheiro, alguma
segurança, se falhasse. Ela poderia se proteger de tudo, exceto Jamie
Hawthorn.

Tudo o que ele estava oferecendo era o que ela queria, uma
conclusão, uma oportunidade sem amarras de resolver o arrependimento
de uma mulher pela chance recusada por uma adolescente. Seu coração
não estava em perigo. Ela era madura e experiente o suficiente para saber
como lidar com o que ele oferecia. Mas ela não seria fácil sobre isso.

— Nós jogamos por isso, — disse ela.


Uma luz profana se acendeu por trás de seus olhos, tão forte e
intensa que ela pensou que ficaria presa à parede entre seu pôster de
Albert Einstein e seu arquivo. Mas ele visivelmente se recompôs. — Vejo
você na quadra, Stannard.

***

Quando o lindo céu crepuscular mudou de lilás para roxo, ela puxou
um par de meias limpas da gaveta, acrescentou um sutiã esportivo, fechou
o zíper de uma jaqueta de corrida que cabia do quadril ao queixo e
amarrou os tênis para a caminhada até à quadra. A alguns quarteirões de
distância, ela sabia que ele estava lá, o leve baque arrítmico da bola vindo
até ela, então mais alto quando ela se aproximou.

— Um-a-um? — ela disse, apertando o rabo de cavalo.

Ele verificou de volta com um aceno de cabeça. Eles entraram em


uma luta provisória, brincando com corpos dez anos mais velhos,
carregando uma variedade de ferimentos invisíveis. Seu joelho direito
estava bem e verdadeiramente fodido, enquanto ele protegia seu
tornozelo esquerdo, pronando-se sobre ele para evitar a dor de colocar
todo o seu peso para baixo. Isso deu a ela uma abertura para explorar,
mas ela não o fez. Em vez disso, ela abordou o jogo como se estivesse
treinando, apenas o suficiente para assediar e ensinar um nível acima das
habilidades de seus jogadores. Enquanto se aquecia, ela descartou sua
jaqueta, jogando em seu sutiã esportivo e leggings. Alguns jogos mais
tarde, ele puxou sua camiseta encharcada de suor sobre sua cabeça, de
modo que seu peito nu deslizou contra suas costas. O contato constante
enviou calafrios após calafrios por sua espinha até formar uma piscina
entre suas pernas, seu corpo duro contra o dela, cotovelos, mãos e braços
batendo, suas costas contra seu peito, o tecido de sua leggins e seu short
pouco fazendo para mascarar a musculatura flexionada embaixo. Ela
começou a suar, em seguida a respirar com dificuldade, os olhos se
estreitaram, os lábios contraídos, observando-o em busca de sinais de
cansaço. Não viu nenhum.

Eles atacaram, a pontuação aumentou em dois porque nenhum deles


tinha um três para salvar suas vidas. — Quem está ganhando? — ele
perguntou.

— Você — ela respondeu distraidamente. — Por quatro.

Ela se abaixou, passando por ele, e ele a parou não com o corpo, mas
com a mão em seu pulso, puxando-a para cima enquanto a bola
ricocheteava pela quadra. O puxão a trouxe de volta contra seu corpo,
peito com peito, quadril com quadril. — Terminamos, — disse ele. —
Ganhei.

Sua mão ainda segurando firmemente seu pulso, ele a beijou, quente
e escorregadia, sua barba áspera contra seus lábios, o suor ardendo em
sua pele esfolada. Mas ela não conseguia parar, não conseguia
recuar. Parecia tão natural, como se todos os seus jogos anteriores
devessem ter terminado dessa forma e não terminaram, como se essa
fosse a conclusão natural para a corrida que era muito mais do que um
jogo. Foi uma luta, uma luta contra eles mesmos, um contra o outro,
contra o tempo que tornava possível tudo mais do que o basquete.

Acabou. Sua boca, quente e questionadora, apenas confirmou o que


ela sabia bem no fundo. Para melhor ou pior, a espera acabou.

Seus lábios se arrastaram de sua boca, ao longo de sua mandíbula,


para beliscar o lóbulo da orelha. — Me leve para casa com você.

— Sim, — ela sussurrou.

Ela agarrou a jaqueta, amarrando-a na cintura enquanto ele pegava a


bola e a camisa. — Deixe isso, — disse ela quando ele enfiou os braços nas
mangas.

Ele parou. Ela teria jurado que ele estava corando, mas ele fez o que
ela pediu, jogando a camisa por cima do ombro, segurando a bola entre o
pulso e o quadril enquanto caminhavam. Eles mal se fundiram com a
escuridão da floresta sob as árvores alinhadas na calçada quando ele
passou o braço em volta da cintura dela e a ergueu, fazendo-a andar de
costas pelo caminho com os dedos dos pés alguns centímetros acima da
calçada.

— Jamie, — disse ela, dividida entre o nervosismo e o riso. — Ponha-


me no chão. Sou muito grande para isso.

— Me beije, — respondeu ele.

Nesse ângulo, seu rosto estava cerca de uma polegada acima. Beijar
para baixo não era novidade; ela realmente namorou alguns jogadores de
rúgbi mais baixos do que ela, mas isso parecia poderoso, como se ela
estivesse reivindicando Jamie Hawthorn para si. Ele apertou o braço em
volta da cintura dela e deu um grunhido suave quando sua boca
encontrou a dele, como se o deixasse fraco. A noite parecia mágica, a
liberdade de pressionar seu corpo contra o de Jamie, deixar a pele deslizar
contra a pele, sentir os músculos movendo-se em seus braços e
ombros. Ele a carregou como se ela não pesasse nada, todo o percurso,
até que o caminho se fundiu com a calçada, quando ele a colocou no chão.

— Onde estamos indo? — murmurou contra a boca dela.

Ela se virou, esforçando-se para ter uma fachada calma para


apresentar a quem pudesse estar assistindo enquanto eles caminhavam
para a vizinhança. — Não é longe, — ela disse, então pigarreou, tentando
puxar conversa para aliviar a tensão. — Você não conseguiu meu
endereço com Ian?

— Não, — ele disse.

Ela olhou para ele. — Por que não?

— Assustador, — ele disse em uma voz cantante, fazendo-a rir. —


Por quê? Você quer que eu suba em sua janela e observe você dormir?

— Jesus. Não, — ela disse com firmeza. — Nunca.

Quando chegaram à calçada rachada que levava à varanda da frente,


ela estava toda arrepiada. Ele percebeu, aglomerando-se perto enquanto
ela tirava a chave do bolso do zíper em suas meias e destrancava a
porta. O calor bombeava dele como um radiador velho, quente o
suficiente para queimar, fumegante, tentador. Ela se inclinou para ele. Ele
se inclinou para trás, e quando a fechadura girou, os dois tropeçaram em
sua sala de estar. Com um baque e um estrondo de janela, ele chutou a
porta fechando atrás de si, e por um longo momento luminoso, eles se
encararam. O suor escorria por seu rosto, mas ele não deu sinais de estar
com frio.

Um longo estremecimento a sacudiu. — Vamos lá, — disse ele,


agarrando o pulso dela novamente e se dirigindo para a única porta da
sala de estar e de jantar combinada. Eles acabaram no corredor. Duas
portas conduziam aos quartos. Ela assistiu-o resumir seu escritório e
descartá-lo, então parar e olhar para sua cama queen-size desfeita, então
descartá-la e dirigir-se propositalmente para a porta número três.

Ela comprou a casa porque sempre amou as casas antigas do


Craftsman, e o proprietário anterior havia reformado a cozinha e o
banheiro, restaurando-os aos detalhes de época, mas com
eletrodomésticos modernos e encanamento funcional. Eles retiraram a
charmosa, mas pouco prática, banheira com pés e a substituíram por um
grande chuveiro com azulejos em três paredes e vidro na quarta. Jamie
cantarolou com aprovação para os jatos do corpo e estendeu a mão para
o controle, transformando a água em muito quente.

Então ele a empurrou para dentro do vidro e a beijou, faminto,


decidido. A pele dele estava quente ao toque. Quando ela dobrou os
joelhos e lambeu sua garganta, ela sentiu o gosto de suor e o desejo
aparentemente escorrendo de sua pele. Ele estava duro contra ela do seu
peito até sua pélvis, pênis e coxas e joelhos batendo contra ela enquanto
suas mãos se enterravam em seus cabelos, afrouxando o elástico até que
ela estremeceu e ele caiu no chão a seus pés.

— Desculpe, desculpe, — ele murmurou contra sua bochecha. — Eu


tive que... seu cabelo... porra, Charlie.

Emaranhado e desgrenhado, agarrou-se a suas bochechas e lábios


quando as mãos dele deslizaram para a frente sobre suas maçãs do rosto,
os polegares se arrastando contra sua pele até que se encontraram em
sua boca. Ela olhou em seus olhos, abriu os lábios e beliscou a ponta
carnuda de seu polegar enquanto agarrava o cós de seu short e o puxava
para a frente.

Seu olhar se derreteu. — Faça isso de novo, — disse ele.

— O quê? Isso? — ela perguntou, puxando desta vez.

Ele estava olhando para os ombros e braços. — Você tem o corpo


mais incrível, — ele vociferou.

Ela tinha perdido algum peso muscular desde que se aposentou do


basquete profissional, mas encontros regulares com a sala de musculação
a mantiveram magra e em forma. Ele tinha apenas alguns centímetros
acima dela, mas tinha o truque do atleta e do guerreiro de se fazer
parecer maior do que era, uma sólida parede de calor e músculos na
frente dela, a parede de vidro do chuveiro nas costas. Ela soltou a cintura
dele e deslizou os polegares sobre a pele fina de seu torso, sentindo os
músculos saltarem em resposta ao toque dela. Ele não se inclinou para
ela, provavelmente respeitando o vidro, em vez disso, optou por apoiar os
cotovelos em cada lado de sua cabeça e colocar a boca em seu ouvido.

Água respingou constantemente contra o azulejo. O vapor subiu pelo


topo da parede de vidro, condensando-se em seu cabelo, nos ombros de
Jamie, mas ela ainda podia ouvir cada respiração presa, cada grunhido
suave e abafado que ele fazia enquanto ela explorava as bordas dele,
onde seus músculos se juntavam e se curvavam, clavículas duras dando
lugar à coluna mais macia de sua garganta, então sua mandíbula dura e
quadrada, então a suavidade de seus lábios, já beijados em um calor de
pelúcia. Ela olhou em seus olhos, então deslizou seus indicadores em sua
boca para acariciar sua língua.

Nada abafou seu gemido neste momento. Ele mordeu suavemente,


prendendo seus dedos, então lambeu a carne macia, segurando-a com seu
olhar como se a tivesse em um gancho. Puxando os dedos livres, ela os
arrastou pelo queixo, para baixo, para baixo, para prender em sua cintura
elástica e puxar seu short de basquete e boxer sobre seu pau tenso e
mandá-los para o chão.

— Espere um segundo, — disse ela de repente.

Ele segurou seu pulso. — Onde você está indo?

Seus olhos eram todos pupilas, seu corpo tão masculino quanto um
corpo poderia ser, planos rígidos e pênis ereto erguendo-se em direção ao
abdômen. Ela sentiu uma pulsação em resposta dentro dela, uma resposta
feminina profundamente primitiva, a testosterona e o comando vazando
no ar como o vapor do chuveiro. — Precisamos de preservativos, — disse
ela, e acrescentou: — Já volto.

Ele acenou com a cabeça bruscamente, então a soltou. Curvada


sobre a mesa de cabeceira, ela olhou por cima do ombro e o encontrou
olhando para ela da porta do banheiro, os braços ao lado do corpo, as
mãos frouxamente enroladas. Ele estava pronto, ela pensou, pronto para
pegá-la. Com uma tira de preservativos na mão, ela voltou ao banheiro e
colocou-os na palma da mão dele. De costas para ele, ela tirou os tênis,
puxou o sutiã esportivo pela cabeça e sentiu as mãos dele trabalharem em
sua Leggin e tirá-la pelas pernas.

Alguma parte estranha de seu cérebro se perguntou se a luz de velas


e rosas e uma combinação sexy não seriam mais apropriados, mas seu
corpo anulou seu cérebro. Eles não eram sobre romance. Eles eram sobre
a luta física na quadra finalmente alcançando sua conclusão inevitável. Ele
agarrou seus quadris e usou os ombros e o torso para empurrá-la para o
chuveiro. O calor tornava difícil respirar, ou assim ela pensava, até que ele
reduziu a temperatura para algo mais suportável e ela ainda não
conseguia respirar fundo.

Então ele a encostou na parede de azulejos, colocou a camisinha no


nicho rebaixado e a beijou. Água escorria do chuveiro acima deles, bem ao
lado de seu rosto, levemente salgada até o suor enxaguado, deixando no
deslizamento escorregadio e aquecido de seus lábios e língua enquanto
ele lambia sua boca.
— O que há com você e as paredes? — ela engasgou quando a boca
dele percorreu sua bochecha até à orelha.

Ele afastou o cabelo do rosto dela. — Você não fugirá desta vez, —
ele sussurrou, então mordeu não muito gentilmente o lóbulo da orelha
dela. A dor acendeu ao longo de seus nervos, transmutando em prazer
quando a mão dele segurou seu seio, beliscando seu mamilo entre o
polegar e o indicador. Seu cérebro, conectado por uma vida inteira
brincando com a dor, conectou tudo ao deleite profundo e desencadeou
uma pulsação dentro dela. Ela engasgou, estremeceu e se arqueou contra
ele, um movimento de contorção ao qual ele respondeu empurrando seus
quadris nos dela, prendendo-a contra a parede.

O som que ela fez, totalmente involuntário, deve ter sido perto de
um grito, porque ele se afastou para olhar para ela. — Demais?

Ela lambeu os lábios tanto para sentir sua textura beijada inchada
quanto para saboreá-lo. Seu olhar, atraído para o movimento como um
predador para a presa, escureceu impotente, enviando outro choque
poderoso através dela. Ela deslizou pela parede, separando os joelhos
enquanto o fazia, e tomou seu pênis em sua boca.

— Oh, porra, — ele gemeu.

Ela envolveu a mão em torno da base de seu eixo e lambeu a cabeça


macia, o gosto de pre-gozo diluído pela água correndo em riachos por sua
parede abdominal e em seus pelos púbicos. Acariciando suavemente seu
comprimento, ela olhou para ele, viu o desejo descarado em seu olhar
quente. Ele se abaixou e acariciou seu cabelo molhado, então abriu a
palma da mão ao lado de sua mandíbula. Bloqueando o spray de seu
rosto.

— Obrigada, — ela disse, um sorriso curvando seus lábios. Respirar já


estava difícil o suficiente sem salpicar água em seu nariz e boca.

— Qualquer coisa para ajudar, — ele respondeu, o tom intenso sob


as palavras engraçadas.

A mão dele tão perto do rosto dela ajudava e não ajudava, porque a
parte da respiração não estava ficando mais fácil. Era muita antecipação,
muita promessa, muito Jamie, cada fantasia que ela já teve disputando
espaço em seu cérebro, então ela fechou os olhos e esfregou a língua
contra a parte inferior de seu pênis até o rápido aperto de seus músculos
disse a ela que ela encontrou o feixe de nervos sensível lá.

Ela experimentou até que seus gemidos se nivelaram e se


estabeleceram em um estrondo constante e fraco, mantendo seu ritmo
uniforme e lento, acariciando e segurando suas bolas até que apertaram
sob sua palma, então deslizando para explorar a dobra entre a coxa e o
quadril, a saliência afiada do osso, o músculo saliente acima dele. Longos
minutos se passaram, sua pele tão hipersensível que cada gota de água
caindo sobre ela, escorrendo por seus seios e barriga para fluir entre suas
coxas parecia como dedos individuais acariciando-a, provocando-
a. Quando ela moveu a mão no ritmo da boca, os dedos de Jamie se
apertaram abruptamente na parte de trás de seu crânio e a fizeram se
levantar.
— Incrível, — ele gemeu, seu pênis cutucando seu quadril, sua
barriga. Uma mão caiu em flecha para baixo em sua barriga, separando as
dobras entre as pernas. As pontas dos dedos deslizaram para cima para
circular seu clitóris, fazendo seus quadris resistirem, então voltaram para
baixo onde ele pressionou um dedo dentro dela.

— Foda-se, — ele murmurou.

Ela podia sentir como estava escorregadia quando ele acrescentou


um segundo dedo, acariciando a abertura sensível com um toque hábil. —
Isso sempre me excitou.

Ele olhou para ela, excitado, divertido e arrogante como o inferno


com os quadris dela erguendo-se em sua mão. — Você é um sonho que se
tornou realidade, sabia disso?

Ela deu um tapinha no nicho, jogando a lata de creme de barbear no


chão, até encontrar os preservativos. — Eu quero você dentro de mim.

Ele jogou o pacote rasgado no chão ao lado do creme de barbear e


rolou o preservativo por seu eixo, então dobrou os joelhos, suas mãos
deslizando ao longo de sua coxa até o quadril, levantando sua perna para
abri-la. Ela colocou os braços sob os dele e agarrou seus ombros, subindo
na ponta dos pés até que as cutucadas fora do alvo de seu pênis
deixassem claro que o ângulo estava errado.

— Levante-me, — ela disse, mas ele entendeu ângulos, trajetórias, e


já estava fazendo isso, um braço forte sob seu traseiro enquanto ele
alargava sua postura. Ela envolveu as duas pernas ao redor de seus
quadris e inclinou sua pélvis.

Um gemido longo e suave ecoou no chuveiro. Poucos segundos


depois, ela percebeu que era ela fazendo aquele som, a pressão de seu
pênis deslizando profundamente no primeiro golpe, forçando o ar através
de suas cordas vocais.

— OK? — ele perguntou, sua voz quase inaudível sob o tamborilar


das gotas. O estiramento queimou, então se suavizou em uma dor
profunda e doce. As unhas dela, embora curtas e contudentes, estavam
cravadas em seus ombros; ela relaxou um pouco as mãos, observou as
manchas brancas escurecerem enquanto o sangue fluía de volta para elas,
então através da superfície da pele. Sem pensar sobre isso, ela se curvou e
lambeu a pequena gota. Em resposta, seu pau latejou dentro dela,
puxando uma contração em resposta de sua bainha.

— Mais, — disse ela, e acrescentou — agora. — Comandos de


uma sílaba pareciam ser os únicos restantes em seu vocabulário.

Uma risada aguda e bufante roçou sua parede torácica contra seus
seios. — Sim, senhora, — disse ele, baixo e quente, e puxou para fora. O
deslizamento de volta bateu seu cóccix contra a parede do chuveiro, e foi
tão, tão bom, como uma massagem profunda, a dor diminuindo em prazer
a cada movimento, até que a dor passou e apenas um langor profundo e
alongamento permaneceu.
Seus pés escorregaram no azulejo, assustando-a. Ele praguejou,
ajustou sua postura e avançou novamente, desta vez batendo com força
no cóccix dela contra a parede. Ela jogou a cabeça para trás e gritou, e o
jogo começou, uma década de desejo de repente, crescendo
ferozmente. Seu orgasmo a rasgou, então saiu dela em gritos curtos e
agudos. Ele empurrou através das contrações, então enrijeceu e gemeu e
se derramou profundamente dentro dela.

— Você está bem para ficar de pé? — ele disse quando saiu.

Ela deu uma risadinha bufante. — Você é bom, Hawthorn, — disse


ela. — Muito, muito bom. Mas não quarenta minutos de tempo de
jogo bom.

Um canto de sua boca se ergueu, então ele deu um tapinha em seu


quadril. — Você é tão gentil com meu ego, Stannard.

— Apenas mantendo a realidade, — disse ela, e fechou os olhos.

O rescaldo foi tranquilo, compartilhou o sabão e se virou sob a chuva


para enxaguar, então ele mexeu nos controles até que a água pulsou dos
jatos do corpo e a puxou para perto, virando as costas dele, depois as
dela, para os pequenos gêiseres.

— Você ficará? — ela perguntou quando eles estavam se enxugando.

— Isso é uma opção? — ele voltou, seu cabelo molhado caído para a
frente como não ficaria quando seco.

— Sim, — disse ela, muito cansada, muito saciada, com muito medo
do futuro para se manter firme. Ela ansiava não apenas por sexo com
Jamie, mas pelos momentos mais suaves, os momentos de namoro,
assistir filmes, fazer refeições. Carinho. Pelos próximos vinte e seis dias,
ela queria adormecer com a pele nua de Jamie ao lado da dela.

— Então eu vou ficar, — disse ele, e deixou por isso mesmo.

Ela se arrastou para a cama e caiu de lado. Jamie se esparramou de


bruços ao lado dela e passou uns bons trinta segundos se contorcendo nos
lençóis como um cachorro rolando na grama.

— O que você está fazendo, seu idiota? — ela perguntou.

— Esses lençóis. Jesus. Você dorme em lençóis da Marinha por uma


década e depois tenta isso.

— Oitocentos fios de algodão egípcio, — disse ela. — Aproveite.

Ele se acomodou e colocou o lençol ao redor de suas costelas, então


fechou os olhos.

— Valeu a pena?

As palavras saíram antes que ela pudesse detê-las, batendo com a


garantia de súplica que sua mãe queria de um homem. Não fui bom o
suficiente? Apenas me diga o que você quer, baby, e eu farei isso
acontecer.

— Valeu a pena o quê? — ele perguntou, seu rosto já caindo no


sono.

Isso não importava, é claro. Ela poderia ter sido a melhor que ele já
tivera, e ele ainda partiria em algumas semanas, voltaria para San Diego e
a vida de um guerreiro moderno. Ela nem esperava ser a melhor que ele já
teve, só queria saber que ela não se envergonhou. — Nada, — disse ela, e
enrolado de lado. — Boa noite.
CAPÍTULO QUATRO

Na manhã seguinte, Jamie observou Charlie dormir e torceu para que


não fosse muito assustador.

Ele tinha adormecido na cama dela, então talvez fosse normal


absorver a forma como a luz da manhã, cinza e aguada com a chuva que
estava no ar, se espalhava por seu rosto e cabelo. Ela estava deitada de
lado, de frente para ele, enquanto ele estudava seu rosto, procurando por
sinais da garota por quem ele se apaixonou anos atrás. Charlie, como
sempre, não deu a ele o que ele esperava; ela não parecia mais jovem
quando dormia, ou mais inocente, mas, novamente, ela nunca pareceu
inocente. Quando seu pai estava ao vento e sua mãe era presa
rotineiramente por pequenos furtos, a inocência não era algo que você
pudesse manter. E olhe para ela agora. Uma estrela profissional do
basquete, um diploma, dinheiro no banco e uma missão na vida. Vê-la
com os alunos no dia anterior o deixou orgulhoso e assustado.

Orgulhoso, porque ela faria a diferença na vida daquelas meninas. Ela


comandava sua equipe como ele fazia missões, totalmente comprometido
com as pessoas sob seus cuidados, e as meninas obviamente a
idolatravam.

Assustado, porque sua fantasia de mergulhar de volta em Lancaster e


levar Charlie Stannard para as praias ensolaradas de San Diego não
aconteceria.
Até a casa dela falava com ela criando raízes. As casas clássicas do
Craftsman ocupavam lotes em todo o East Side, mas a de Charlie foi
recentemente renovada. Tinta fresca, novas janelas. Ele se perguntou se
ela havia acrescentado a reforma de sua casa ao seu conjunto de
habilidades, escolhido as cores, aberto o espaço de estar, despido e lixado
o piso de madeira. Não o teria surpreendido. Quando Charlie decidia fazer
algo, acontecia.

Se ela não decidisse que eles estavam acontecendo, não importaria


quão profundamente, loucamente, verdadeiramente ele a queria. Eles não
aconteceriam.

Sua respiração engatou, então estremeceu novamente. Ela dormia


como uma múmia, os braços cruzados sobre o peito, os punhos
frouxamente enrolados sob o queixo. O lençol estava preso sob seu braço,
revelando apenas a curva superior de seu seio firme, mas isso foi o
suficiente. Sua musculatura era tão erótica, pele sensível sobre curvas
tonificadas, a curvatura e inchaço do ombro, clavícula tão tentadora de
tocar, mas ele não queria acordá-la. Então ele deixou milímetros nus entre
as pontas dos dedos e o ombro dela, então a linha forte de sua mandíbula,
os cabelos delicados na curva secreta de sua orelha quando — Time of
Our Lives— de Pitbull retumbou na luz perolada da manhã.

Ele puxou a mão. Os olhos de Charlie se abriram, arregalados,


assustados, olhando para ele sem expressão.

— É Jamie, — disse ele.


Suas sobrancelhas baixaram. — Você esqueceu seu próprio nome
durante a noite? Eu sei quem você é, — ela disse, sua voz rouca de sono.

Jamie bufou e olhou para o relógio. 6:27 da manhã — Por que seis e
vinte e sete? Por que não seis e vinte e cinco ou seis e meia?

Ela rolou, puxando o lençol o máximo que podia antes de chegar lá


em cima e se esticar. Disposta da ponta dos pés às pontas dos dedos, ela
era mais comprida do que a cama. Foi meio louco quente.

— Seis e meia é tarde demais. Seis e vinte e cinco é muito cedo. Se eu


conseguir dormir mais dois minutos, vou dormir, — disse ela, então
estendeu a mão e fez Pitbull ficar em silêncio.

— Presumo que seja uma rotina matinal calibrada com precisão? —


ele perguntou, divertido.

— Isto é. Correr, tomar banho, engolir uma barra de proteína no


caminho para a escola. — Ela se sentou, balançando as pernas para o lado
da cama. Na luz tênue, sua espinha era uma série de delicadas
protuberâncias delimitadas pelas cristas dos músculos que ele associava a
SEALs e fisiculturistas.

Ele se preparou para uma rejeição, imaginando que ela não gostaria
de correr juntos de manhã cedo quando alguém pudesse vê-los. Em vez
disso, ela esfregou o couro cabeludo com a ponta dos dedos, afrouxando
ainda mais o cabelo, depois olhou para ele por cima do ombro. — Eu
posso abrir uma exceção, — ela disse, suavemente, tão perto da hesitação
quanto ele já a tinha visto.
Ele estendeu a mão e colocou dois dedos no topo de suas omoplatas,
em seguida, arrastou-os para baixo do vale em cada lado de sua coluna
até às pontas gêmeas na base. — Tem certeza?

— Sim, — ela disse.

Ele alcançou sua cintura e puxou-a de volta para a cama, não


perdendo tempo colocando-a debaixo dele. A escola começava às 8h05,
venha o inferno ou a maré alta, e ela não poderia se atrasar. Ele espalmou
a mão no lado do rosto dela e beijou sua boca inchada pelo sono, abrindo
os lábios dela com os dele, tocando sua língua timidamente na dela,
esperando sua resposta ao hálito matinal antes que ele fosse mais longe.

A resposta dela foi abrir a boca e lamber na dele, todos os dentes e


língua e demanda. Seu pênis, meio ereto, endureceu em duas batidas de
seu coração, e ele se esfregou contra a curva tensa de seu quadril
enquanto arrastava a mão por seu rosto até sua garganta. Ela gemeu, um
som que ele sentiu sob a palma da mão ao ouvi-lo, e envolveu um braço
ao redor de sua cintura e o outro ao redor de seu ombro, se mexendo e se
contorcendo para posicioná-lo.

— Shh, — ele sussurrou contra sua boca, então beijou seu caminho
ao longo de sua mandíbula até sua orelha enquanto ele deslizava as costas
de seus dedos por seu esterno, levando o lençol com ele enquanto
caminhava. Ele o deixou no topo de suas coxas, então mudou de direção e
segurou seu sexo. As dobras suaves se abriram facilmente para seus
dedos, e ele mergulhou no calor escorregadio. Ela engasgou e tremeu e
arqueou, tudo de uma vez. Em resposta, seus quadris se sacudiram em um
impulso rápido e oportunista, manchando sua pele com pre-gozo.

Depois que ele começou, ele não conseguia parar, esfregando contra
seu quadril como ele circulou seu clitóris com a ponta do dedo e prendeu-
a com a boca. Depois de um longo minuto, ela parou de agarrar suas
costas e empurrou seu braço. — Não, não. Não assim, — disse ela. —
Dentro de mim.

Suas pupilas estavam dilatadas e seu cabelo, que havia secado


enquanto ela dormia, era uma bagunça selvagem e despenteada em torno
de seu rosto. A pura realidade de tudo isso, seu corpo quente e flexível
sob o dele, o vinco em sua bochecha por causa de uma ruga no
travesseiro, a destruição total de seu cabelo, tão diferente de um
encontro elegante em um bar, fez seu coração apertar em seu peito. Ele
enxugou os dedos no lençol e deu um tapinha no chão em busca da caixa
de preservativos, e teve que tirar metade do corpo da cama para
encontrá-la. A estranheza ficou um pouco menos preocupante quando ela
apertou sua bunda, em seguida, trabalhou a mão entre eles para dar a seu
pênis o mesmo tratamento.

— Foda-se, foda-se, pare, — disse ele quando ela correu a mão


livremente circulando para cima e para baixo em seu eixo. Ele se levantou
e se ajoelhou entre as pernas dela, todo atrapalhado com o pacote de
preservativo. Tanto para o campo despir uma arma com os olhos
vendados ou montar uma bomba na escuridão de uma caverna nas colinas
afegãs. A maldita luz do dia e ele deixou cair a camisinha em sua coxa.
Ela sorriu para ele, quente e vibrante e tudo o que ele queria em sua
cama, em sua vida, pelo resto da eternidade. O pé dela deslizou por sua
perna para descansar na dobra de seu quadril, esperando até que ele se
embainhasse, então deslizando para cravar um calcanhar na base de sua
coluna e puxá-lo para baixo, em seus braços à espera.

Ele apoiou seu peso em seus joelhos e um cotovelo ao lado de sua


cabeça, então usou sua mão para alinhar seu pênis com sua entrada e
empurrar para dentro. Ela estremeceu quando ele o fez, e ele parou,
apenas a ponta envolta em uma pressão lisa e quente. — Está bem? — ele
rangeu para fora.

— Sim... apenas... sensível da noite passada, — ela respirou, seus


olhos fechados. Ela inalou pelo nariz, exalou pela boca; a tensão
diminuindo visivelmente de seus músculos. A pressão ao redor de seu
pênis diminuiu um pouco.

Tomando cuidado para não empurrar mais fundo, ele se inclinou e


descansou os lábios sobre os dela, ao mesmo tempo aplicando a mais leve
pressão em seu clitóris, inchado e escorregadio no topo de suas
dobras. Ela ficou tensa, parou de respirar. Ele parou também, seu pênis
mal separando suas dobras, as pontas dos dedos aplicando a mais fraca
das pressões. Ela estava tão molhada, mas seus sucos não acalmariam os
nervos superestimulados.

Pelo menos três outras opções passaram por sua mente, nenhuma
delas nem um pouco dolorosa. — Devemos parar, — disse ele, obtendo
um controle mais firme de seu controle. Ele queria fazer isso de novo
quantas vezes pudesse, queria reivindicá-la e amarrá-la a ele, mas nunca
machucá-la.

— Por quê? — disse ela, distante, olhos fechados, dedos tensos e


relaxando em torno de seus bíceps.

— Charlie, — ele começou, quando os olhos dela se abriram.

— Dói tão bom, — ela murmurou, as palavras nada mais do que uma
lufada de ar. — Jamie. Dói tão bom.

A compreensão desceu por sua espinha como um raio. Ela estava à


deriva naquela onda de endorfinas que acompanhava um treino duro,
levando seu corpo ao limite. Seu pênis flexionou dentro dela, e ela
engasgou novamente, mas desta vez manteve os olhos abertos e o deixou
ver a onda de desejo subir em seus olhos, deixá-lo ver o pulso de sangue,
fraco, mas visível em suas bochechas e garganta.

Ela gostou. Queria isso. Sabia como se perder nele e confiava nele
para acompanhá-lo.

— Puxe-me para dentro, — ele sussurrou contra seu ouvido,


segurando seus quadris acima dos dela, como uma rocha firme agora. —
Quando você estiver pronta, me puxe para dentro.

Ele pensou que a coisa mais quente que já sentiu foi a boca de
Charlie em seu pênis no chuveiro dela, e isso era verdade menos de doze
horas atrás. Mas no intervalo de tempo cintilante e esticado quando os
dedos dela se apertaram e pararam, colocando seu pênis em sua bainha
no que parecia ser incrementos de um milímetro ou menos, ele reviu sua
opinião. Ela olhou em seus olhos enquanto pegava o que podia aguentar,
confiando nele para se conter por ela, deixando-o ver como cada
pedacinho de progresso a afetava. Por sua vez, o calor e a pressão o
envolveram em tortuosos centímetros, apertando suas bolas, acendendo
os nervos da ponta de seu pênis até à base de sua espinha.

Ele ergueu a ponta do dedo de seu clitóris. Ela pegou o pulso dele e
levou a mão dele à boca e lambeu os sucos da pele ali, o olhar fixo no dele
o tempo todo.

— Você está me matando, — disse ele, lutando para manter os


quadris imóveis. — Me matando.

Ela cantarolou enquanto soltava seu pulso. — Eu não quero isso, —


disse ela.

Ele enrolou os dedos em seu cabelo, um movimento possessivo de


homem das cavernas que sempre pareceu artificial até agora, quando se
enraizou na parte mais primitiva de seu cérebro. Minha. Minha. — Posso
me mover?

— Vá em frente, — disse ela, fechando os olhos, meio à deriva


novamente, perdida na sensação. Ele a queria de volta com ele, então
cuidadosamente se retirou e deslizou de volta para dentro, lento o
suficiente para fazê-lo cerrar os dentes. Porra, porra, o impulso de
imobilizá-la e socá-la fervia sob sua pele. Charlie poderia aguentar. Ela era
atlética, física, ansiando por uma luta, dando o melhor que podia. Mas
estava sensível, dolorida, escorregadia e quente, tremendo e puxando-o
para ela com aquela perna longa e forte. Era tudo Charlie, todas as
contradições. Ela o arruinou para outras mulheres quando tinha dezessete
anos, e isso não estava tornando as coisas mais fáceis. Ela arqueou e
gritou quando ele fez isso de novo, não tão lento, não tão
cuidadosamente, mas ele estava aprendendo seus sons. A linha entre o
prazer e a dor era tênue, afiada, tão familiar para ambos quanto
respirar. Ela diria a ele para parar se ela quisesse que ele parasse, então
ele fez isso de novo, lutando para controlar o tempo todo.

— Qual é a sensação? — ele perguntou. Talvez não fosse sua jogada


mais inteligente, mas ele precisava de algo para distraí-lo. Forçar-se a
traduzir sons em palavras e palavras em pensamentos coerentes pode
funcionar.

— Esticada, — ela disse. — Sensível. Diferente da noite


passada. Como se você tivesse estragado todos os meus nervos com lã de
aço e agora você os está acariciando docemente. Doce, formigante,
quente e tão bom. Jamie. Tão bom.

Oh, foda-se. — Você pode gozar assim? — ele perguntou


asperamente. Ontem à noite ele se certificou de seu prazer. — Charlie.

Os olhos dela se abriram.

— Você pode gozar assim?

— Eu acho que sim, — ela disse, ambas as mãos na parte inferior das
costas dele agora, a picada de suas unhas o ancorando contra a maré de
sensação que girava ao redor dele. — Eu quero.
Então ela teria. Ele fechou os olhos para desligar os estímulos visuais
de seu rosto, ficando mais rosa quando o suor floresceu em suas
têmporas, apenas para descobrir sua consciência intensificada de seus
suspiros e respirações, cada um como um dardo com ponta de mel em
suas bolas. Foda-se. Ele mergulharia nisso, no ritmo lentamente
crescendo, no rubor sexual crescendo em sua garganta, na maneira como
seus mamilos roçavam seu peito com cada impulso enquanto ele contava
para trás de cem em Pashto8. Ela apertou em torno dele, os calcanhares
cavando em sua bunda, abdômen tenso e trêmulo, seus ruídos forçados
por sua garganta apertada enquanto ela imergia na dor e no prazer,
saboreando ambos.

Então, vitória, doce, doce vitória quando um rubor escuro varreu seu
peito, sua garganta, em suas bochechas. Ela se apertou ao redor dele,
gritos agudos perfurando o ar. Ele manteve o mesmo ritmo constante, seu
orgasmo fervendo na ponta de seu pênis, até que ela acalmou. Três
estocadas e ele mergulhou profundamente, cada pulso de liberação como
um choque, apertando seus músculos enquanto ele se esvaziava dentro
dela.

Quando ele recuperou o controle de seus músculos, olhou para o


relógio. — Seis e cinquenta e nove, — disse ele. — Você toma banho. Vou
fazer o café da manhã.

— Tudo bem, — ela respondeu vagamente.

8
Uma das línguas nacionais do Afeganistão e um dos idiomas oficiais das províncias ocidentais do
Paquistão.
Ele puxou para fora e continuou andando, recuando para fora da
cama, para longe de seu corpo corado e destroçado, lutando contra a
cômoda. Na metade do caminho para fora da cama, ela riu quando ele
praguejou, então tropeçou quando seus joelhos dobraram. — Gostaria de
ver você andando em linha reta, Stannard.

— Ha ha, — ela disse, alcançando a cômoda. Os dois conseguiram


entrar no banheiro sem bater nas paredes. Jamie lidou com o preservativo
e se lavou rapidamente enquanto Charlie ligava o chuveiro. Ele deu a si
mesmo mais uma última olhada prolongada em seu corpo, todas as linhas
longas e magras e músculos tonificados, então se vestiu com as roupas
convenientemente ainda no chão do banheiro.

Na cozinha, ele encontrou ovos, pão e um recipiente de frutas


fatiadas - abacaxi, uvas, melão cantaloupe, melão honeydew - e preparou
um café da manhã, despejando os ovos na frigideira quando ouviu o
secador de cabelo. No momento em que a torrada apareceu, Charlie saiu
do quarto vestida com um terninho simples, com o cabelo quase seco. Ela
usava maquiagem, um pouco de blush, batom rosado e um toque de
sombra nos olhos.

— O quê? — ela perguntou, puxando o cabelo para trás e puxando o


elástico de seu pulso para o rabo de cavalo grosso.

— Eu nunca vi você maquiada antes, — ele disse, passando manteiga


na torrada.
Ela lançou-lhe um olhar estreito que não reteve tanto calor quanto
poderia. — Você deixou uma enorme queimadura de restolho no meu
queixo. Eu precisava fazer algo para que parecesse natural.

— Sim, realmente não sinto muito por isso, — ele disse enquanto
colocava os ovos em seus pratos.

Jamie empurrou para o lado uma pilha de lixo eletrônico e colocou os


dois pratos na bancada de café da manhã que separava sua cozinha da
sala de estar / jantar.

— Obrigada, — disse ela, satisfeita com a refeição simples. —


Quantos homens você acha que acordam na minha cama? — perguntou
depois que ele tomou um bom gole de suco de laranja.

Ele engasgou, mas conseguiu engolir em vez de cuspir nos ovos


dela. — O quê?

— A primeira coisa que você me disse esta manhã foi seu


nome. Como se eu não soubesse com quem fui para a cama na noite
anterior.

— Não foi isso, — disse ele, os olhos lacrimejando, silenciosamente


se xingando. Ele desistiria de um membro para pegar de volta aquelas
palavras e substituí-lo por algo romântico, como eu te amo desde os
dezessete anos.

— O que foi então?

— Você olhou para longe. Isso é o que eu gostaria de saber, — ele


disse, porque estava projetando suas próprias emoções em seu rosto. —
Primeiro, quem está comigo e posso confiar neles? Em segundo lugar,
onde estou?

— Oh, — ela disse. — Isso acontece com frequência?

— Quando você tem dezesseis dias de missão e tem cerca de oito


horas de sono no total, sim, acontece.

— Quem está com você é mais importante do que onde você está?

— Quando estou com as pessoas certas, não importa onde


estou. Temos tudo o que está por vir.

— Quando o alarme disparou, eu estava sonhando, — disse ela,


usando o garfo para empurrar os ovos mexidos em um triângulo de
torradas.

— Sobre o quê?

— O que fizemos depois que acordei, basicamente, — disse ela.

O calor manchava suas bochechas, aprofundando a cor ali. No fundo


de sua mente, ele notou a diferença entre o rosto dela corado de um jogo
e seu rosto corado depois de um sexo realmente incrível. Ela estava
recuando, mudando mentalmente de marcha para se concentrar nos
alunos e nas aulas. Era ele que estava de licença, não ela. Uma carranca
cruzou o rosto dela.

— Que olhar é esse?

— Preciso comprar um vestido, — disse ela, descontente.

Ele riu. — Parece divertido.


— Você gosta de fazer compras? — ela perguntou, uma sobrancelha
levantada.

— Não, mas eu gostaria de assistir você experimentando vestidos, —


ele respondeu.

— Pervertido. Não acho que eles deixam homens entrar nos


provadores.

— Melhor ainda. Vou sentar do lado de fora do espelho e assistir


você modelá-los.

— Não será uma lingerie sexy, — ela apontou, divertida. — É um

evento de trabalho para mim. Vou comprar algo prático que posso
usar novamente nas viagens de recrutamento. O que você vai vestir?

— Vestido branco.

— Seu uniforme?

— Sou um membro ativo da Marinha dos Estados Unidos, — disse


ele. — Não preciso usar uniforme branco, mas, para ser totalmente
honesto, não tenho terno.

— Não é uma má ideia, — disse ela. — As crianças definitivamente


responderam ao uniforme ontem.

— Quem é a criança com quem você estava sentada?

— Grace era a baixinha. Olivia, alta, sem coordenação alguma.

— É uma pena, — disse ele, sorrindo. — Não.... Bryce, — disse ele,

estalando os dedos.
— O namorado de Grace. Tentando decidir se ele fará algo por si
mesmo ou não.

— Ele tem o brilho em seus olhos. Disse que falaria com o recrutador
hoje.

— Bom para ele.

— Você quer mantê-lo longe de Grace?

— Eu não tenho nada contra Bryce, pessoalmente, — ela disse


cuidadosamente, toda professora enquanto juntava seus pratos e
talheres. — Ele poderia prestar mais atenção ao dever de casa, perder um
pouco da atitude. Grace é minha preocupação. Ela é inteligente, trabalha
muito, não tem muitas chances na WNBA, mas o basquete vai lhe dar um
diploma e uma chance de uma vida melhor do que a de sua mãe. Isso é
mais difícil de fazer se ela tiver um bebê. — Ela enxaguou um prato,
colocou-o na pia e pegou o outro. — Quer que eu te deixe em algum
lugar?

— Nah, — disse ele, amarrando os sapatos. — Vou caminhar de volta


para o parque e subir as escadas até Hill.

O silêncio saudou esta observação. Ele olhou-a. — Charlie. Eu sou um


adulto. Você é uma adulta. Não há caminhada da vergonha nisso.

Ele nunca tinha visto o medo no rosto de Charlie antes. Verifique


isso. Ele tinha visto isso o tempo todo, mas ela também a viu lutando
contra o medo, jogando-se contra a barreira até que ela caísse. — Eu
assinei um contrato, — disse ela. — Um que inclui uma cláusula de
torpeza moral.

— Você não tem permissão para ter um relacionamento?

— Eu deveria ser discreta. Dar um bom exemplo para alunos e


jogadores.

— De que forma isso é um mau exemplo? — ele perguntou,


repentinamente irritado. — Somos adultos. Fizemos sexo protegido,
seguro e consensual. Fingir que os adultos não fazem sexo fora do
casamento está tão longe da experiência da maioria das crianças do East
Side que você também pode contar-lhes contos de fadas.

— Eu quero isso. Realmente quero isso. Não quero estragar tudo.

— Isso não está estragando tudo. Isso é — ele parou abruptamente,


porque ele não sabia o que ‘isso’ era. Ele sabia o que queria que ‘isso’
fosse, mas nunca perguntou a ela.

Ele não tinha planejado essa conversa, e do jeito que ela estava
olhando para ele agora, quase desafiando-o, ela provavelmente diria a ele
que estava acabado e pularia em seus braços de alegria. E o que ele estava
oferecendo a ela de qualquer maneira? A chance de um relacionamento à
distância, que ele já sabia que ela pensava que estava fadado ao
fracasso? Ele nunca esperou que ela fosse tão comprometida quanto
estava com Lancaster.

Um erro tático de sua parte.


— Você é o único, — disse ela, em voz baixa, confessando. Antes que
ele saísse do carro. — Só você. Desde que voltei, — acrescentou ela,
erguendo o queixo, orgulhosa e honesta.

— Sinto muito. Eu não quis dizer isso. Eu só... queria... queria te


tranquilizar. Você tem que saber que eu não acho que você seja...

— Como minha mãe? Eu sei que não, — ela disse. — Exagerei. Não é
sua culpa. Sinto muito.

Ele não a beijou em despedida, não depois daquela conversa. Em vez


disso, ele deu um tapinha em sua coxa musculosa e saiu do carro,
pensando na pergunta de Ian no início da semana. Jamie sabia que Charlie
não era como sua mãe. Mas Charlie sabia?

Ele esperou, a porta aberta, o motor dela ligado, um olho no


relógio. Parecia frágil, o que estava acontecendo entre eles. De tantas
maneiras que poderia dar errado, e ele não havia considerado o bom
e antigo método de boca aberta para inserir o pé de foder com as
coisas. Rasgado, ele hesitou, então foi com seu intestino.

— Quando você vai às compras?

— Depois da escola. A festa no Garden é amanhã. O banquete é


sábado à noite. Deixei isso para o último minuto possível. É hora de pagar
o preço.

— Me pegue? Podemos jantar depois, — ele disse levemente.

— Você está falando sério.


— Como uma bomba, — disse ele. Como um idiota apaixonado, ele
pensou.

— Tudo bem. É a sua noite, — disse ela. — Agora saia do meu


carro. Você está me atrasando.

Ele riu e fechou a porta. Quando ela saiu do estacionamento, ele já


havia subido um terço das escadas que levavam à Hill.
CAPÍTULO CINCO

— Você parece bem, treinadora, — Grace falou lentamente


enquanto saía do sétimo período de Álgebra II. — Muito bem.

— Obrigada, Grace, — Charlie disse evasivamente. Foi o fim de um


longo dia, completo com uma estudante em lágrimas em seu escritório
por causa de sua luta contínua com a geometria, uma jogadora em
lágrimas em seu escritório por causa de um rompimento antes do baile,
uma jogadora júnior tendo um ataque de pânico limítrofe ao se inscrever
para as faculdades e na hora do almoço em uma conferência convocada às
pressas sobre um veterano na sala de aula de Charlie, acusado de
intimidar um calouro. Charlie tinha as mãos no rosto9, tanto mental
quanto fisicamente, com frequência suficiente para que ela com certeza
estivesse com a pele descoberta.

Ela fez uma parada rápida no caminho de volta para seu escritório. O
banheiro estava vazio, os alunos saindo o mais rápido que podiam para
aproveitar a tarde de primavera. Charlie olhou no espelho enquanto ela
lavava as mãos. Seu batom tinha sumido, mas um pouco de rímel grudava
em seus cílios e a cor rosa estava em suas bochechas e queixo. Mas a
aparência não era apenas a superfície da maquiagem. Algo brilhou em
seus olhos, suavizando-os e iluminando-os, um prazer prolongado e uma

9
Foi usada a expressão “facepalmed”, que é o gesto em que uma pessoa, com as mãos no rosto,
demonstra frustração ou constrangimento.
sensação de antecipação. Não era um visual familiar, mas eventualmente
ela o identificou.

Ela parecia feliz. Era assim que a felicidade parecia - lembrança


dos bons tempos e a expectativa, até mesmo a promessa, de mais por vir.

Enquanto ela olhava para seu reflexo, a luz esmaeceu em seus


olhos. Jamie poderia ser dela no momento, mas ele não seria dela para
sempre. Ele estava de licença, de volta para um evento especial, único
em homenagem a um treinador que significava o mundo para ele. Isso foi
tudo.

No entanto, nem mesmo uma avaliação clara e racional da situação


poderia ofuscar completamente a luz em seus olhos. Porque esta noite,
por mais ridículo que fosse, Jamie iria às compras e jantaria com ela. Ela
teve o cuidado de não dizer isso como ‘levá-la’ a qualquer lugar. Ela
compraria seu próprio vestido, pagaria por sua própria refeição, a
memória de sua mãe tirando dinheiro da porta giratória dos homens de
sua vida sempre em seus pensamentos. Charlie pagou seu próprio
caminho como um motivo de orgulho. Mas Jamie estaria com ela.

Depois de recolher seus papéis para avaliar, o livro de notas que ela
mantinha, embora o distrito os mantivesse online, e seu almoço não
comido, ela caminhou pelos corredores vazios até à porta lateral que
levava ao estacionamento dos funcionários e se dirigiu para o oeste para a
cidade para fazer a escalada subindo para Hill. As casas ficaram maiores,
foram colocadas mais longe da rua em vastos lotes repletos de árvores,
enquanto ela dirigia pela estrada principal para o beco sem saída, usando
seu mapa mental da localização da quadra de basquete e a calçada
estreita que levava aos passos para guiá-la.

Não importava quantos anos ela tinha, ou que ela jogou no time que
ganhou o campeonato europeu, ou que ela tinha uma posição respeitável
na comunidade. Ela nunca se sentiria como se pertencesse à
Hill. Determinada a enfrentar esse medo específico, ela estacionou,
desligou o motor, saiu do carro e caminhou até à porta da frente para
tocar a campainha.

A porta se abriu quase imediatamente, Jamie e seu irmão Ian


espiando com olhares idênticos e inquisitivos. Ian olhou, e cheirou, como
se ele tivesse corrido muito e colocado de lado molhado, em seguida,
rolado nos coelhos de poeira debaixo da cama. Jamie tomou banho e
vestiu jeans e uma camisa pólo às pressas com um lado do colarinho
levantado. Gotas de água grudaram em seu cabelo e a camisa grudou em
seus ombros largos, como se ele tivesse tomado banho e se vestido em
trinta segundos.

— Oi, — disse ela, torcendo os dedos para evitar endireitar o


colarinho.

— Ei — disse Jamie, como se ela fosse à casa dele o tempo todo. —


Quer entrar um minuto?

— Não! — ela disse, então suavizou seu tom. — Não, obrigado. Eu


realmente só quero acabar com isso.
A sobrancelha de Ian se ergueu. Jamie pegou as chaves e a carteira
da mesa no saguão e calçou os tênis.

— Nós faremos compras, — ela explicou a Ian.

— Para o banquete? — Ian perguntou, seu olhar mudando de Charlie


para Jamie. — Você finalmente desabará e comprar um terno?

— Inferno, não, — disse Jamie. — Ela precisa de um vestido.

O olhar de Ian mudou de volta para Jamie, obviamente se


perguntando por que seu irmão estava indo em uma viagem de compras
para um vestido para treinadora do basquete feminino, obviamente
tirando conclusões que Charlie não queria que ele tirasse. — Cale a boca,
Ian — aconselhou Jamie.

— Eu não disse uma palavra.

— Eu consigo ouvir você pensando, — disse Jamie enquanto


terminava de amarrar os tênis. — Diga à mamãe para não reservar o
jantar para mim.

— O que te faz pensar que estarei aqui para o jantar?

— Como se você fosse assar uma pizza congelada em vez de comer a


carne assada da mamãe, — Jamie zombou. — Sem mencionar que você
tem todas aquelas grades de D&D para percorrer.

— Não acredito que guardei tudo isso.

— E o morrer. E as figuras. — Jamie tossiu ‘geek’ baixinho e levou um


tapa na nuca por seus esforços.
— Divirta-se, — disse Ian.

Charlie estava se afastando lentamente durante essa troca. Jamie


deu a volta para o outro lado do carro e esperou enquanto ela abria as
fechaduras. — Você teve problemas para encontrar a casa?

— Número um, todo mundo sabe qual casa pertencia ao fundador da


North Hills Railway. Número dois, todo mundo sabe onde o prefeito
mora. Número três, seu irmão é um tenente do departamento de polícia e
havia um carro de polícia sem identificação estacionado do lado de fora da
casa.

Jamie soltou uma risada enquanto colocava o cinto de segurança e


depois olhou diretamente para ela. De repente catapultada de volta para
a manhã, ela se lembrou daquele estranho momento em que seu alarme
disparou. Ela estava sonhando muito bem, sonhando com Jamie sob o
choupo, quente e duro dentro dela, quente e duro contra ela. Era tão real,
tão vívido, como se o parque e a quadra de basquete fossem os únicos
lugares que existiam, seu próprio quarto parecia desconhecido. Isso não
acontecia mais com frequência; uma vida na estrada, acordando em
quartos de hotel e apartamentos de amigos em toda a Europa, ensinou
seu cérebro a lembrar onde ela estava e fornecer essa informação quando
ela acordasse. Uma noite com Jamie a desorientou facilmente.

— Pronto quando você estiver, — disse ele.

Ela tentou colocar o carro em marcha à ré, lembrou-se de que não


tinha dado a partida, girou a chave e saiu da garagem com sucesso. Jamie
estava com os dedos enfiados na proteção contra o tempo no topo da
janela. A outra mão descansou casualmente na coxa dele.

Aparentemente, as coisas não seriam diferentes porque eles


dormiram juntos.

— O que vocês dois estavam fazendo? — ela perguntou.

— Mamãe quer que limpemos o sótão, — respondeu ele. — Ela


guardou tudo desde a nossa infância. Cada jornal, cada projeto de arte,
cada brinquedo, jogo e livro que já possuímos é jogado no sótão daquela
casa. Ela decidiu, já que estou em casa por um mês, que Ian poderia tirar
uma folga e passaríamos por tudo isso.

— Mas foi ela quem guardou, — disse Charlie, tentando envolver sua
mente em torno de uma mãe que apreciava projetos de arte do jardim de
infância e jogos de RPG de fantasia e se fundia com o tráfego que dirigia
para o centro ao mesmo tempo.

— A regra número um na casa dos Hawthorn é não discutir com a


mamãe.

— Qual é a regra número dois?

— Não existe regra número dois — disse Jamie, sério como uma
pedra.

— Eu a conheci há algumas semanas, quando as crianças começaram


a planejar o banquete, — Charlie ofereceu. — Ela parecia legal.
— Ela é muito boa. Ela absorveu todas as coisas boas de se casar com
um fuzileiro naval que virou policial e trouxe seu próprio tipo de
feminilidade para isso. Para onde vamos?

— NoDo. Há algumas butiques lá com as quais tive sorte no passado.


— Charlie entrou nas ruas pavimentadas com tijolos e conseguiu uma
vaga para estacionar. — Que horas são?

— Pouco depois das cinco. Estacionamento grátis, — disse Jamie, e


saiu do carro.

As calçadas ainda não estavam muito cheias, embora alguns casais e


grupos ocupassem as mesas dos pátios dos restaurantes intercaladas com
as lojas e butiques. Charlie alcançou a maçaneta do Kicky Goose apenas
para encontrar a mão de Jamie se fechando na barra de ferro forjado
diante da dela. Ele sorriu para ela e abriu a porta.

— Oi, Charlie! — Consciente da presença de Jamie atrás dela, ela deu


um abraço rápido em Taylor e, em seguida, apresentou Jamie. Os olhos de
Taylor brilharam com mais do que apreciação por uma forma
masculina bem construída. — O que posso fazer para você?

— Eu preciso de um vestido.

— Você sempre faz parecer que precisa de um tratamento de canal,


— disse Taylor. — Ou cirurgia cardíaca de peito aberto. Isso me mata. Me
mata. Seu corpo, e você usa roupas de ginástica e as mesmas calças
desarrumadas que escondem seu bumbum fofo.
— Sou uma jogadora de basquete, não uma modelo. — Ela
acrescentou apressadamente: — E uma professora e uma treinadora.

— Se Tom Brady e David Beckham podem ser os dois, você também


pode, — ronronou Taylor, fazendo Charlie rir. — Quando você precisa
desse vestido?

— Amanhã.

— Amanhã?! Como amanhã amanhã? Como em, vinte e quatro horas


a partir de agora?

Jamie riu, provavelmente com o tom espantado de Taylor. Charlie


olhou para ele e ele tirou o sorriso do rosto. — Isso não é engraçado, —
disse ele.

— Não é nada engraçado, — disse Taylor. — Para que é isto?

— Preciso de um vestido para o banquete e outro para a festa no


Garden amanhã à noite.

— Então você precisa de um vestido em vinte e quatro horas e


um vestido longo10 em quarenta e oito.

— Um vestido, não um vestido longo.

— Você está discutindo comigo. Ela está discutindo comigo, — disse


ela a Jamie. — Ela tem sua figura escondida naquele triste terno de saco, e
está discutindo comigo.

— É difícil entender, — Jamie concordou.


10
Aqui foi usada a palavra “gown”, que se refere a um vestido longo, normalmente com um corpete
justo e uma saia larga ou esvoaçante, utilizado em ocasiões formais.
— Vou ao shopping, — disse Charlie. — Vejam-me ir à H&M.

— Você certamente não vai, — respondeu Taylor. — Para sua sorte,


gosto de desafios. E gosto de ver você com uma aparência absolutamente
fabulosa. — Ela apontou para uma prateleira ao longo das janelas do chão
ao teto que percorriam toda a extensão da loja. — Comece por aí. Essa é a
minha seleção de vestidos de festa de verão. Vou puxar vestidos
longos para você.

Vinte minutos depois, Charlie estava em um minúsculo provador com


meia dúzia de vestidos de coquetel e três vestidos que ela chamava de
‘vestidos longos’ só porque era teimosa. E nervosa por ser modelo na
frente de Jamie.

— Não seja idiota, — ela disse para si mesma enquanto pendurava


seu ‘terno de trabalho desleixado’ nas costas da cadeira e tirava o
primeiro vestido de coquetel do cabide. — Ele já te viu nua. Não há razão
para ficar envergonhada. — Isso é o que ela disse a si mesma quando saiu
da sala em um vestido preto simples com marcas vermelhas em torno das
panturrilhas de suas meias. Jamie ergueu os olhos do telefone; Taylor
olhou para fora da sala dos fundos, onde ela estava procurando mais
vestidos entre os recém-chegados.

— Legal, — disse Jamie, seu olhar quente, apreciativo.

Ela se virou para o espelho triplo. — Isso é bom, — disse ela. — Posso
combiná-lo com um blazer e usá-lo em viagens de recrutamento.
— Eu não escolhi isso para você, e não me diga que você ainda não
tem uma vestido preto básico. Você jogou por quantos anos na França e
saiu sem um LBD11? O que você estava fazendo na Europa?

— Jogando basquete, — ela retrucou, nem mesmo perguntando o


que era um LBD. — Ganhando campeonatos. Não fazendo compras.

— A Europa foi desperdiçada com você, — disse Taylor. Ela se


contorceu na costura lateral, puxando-a com força nas costas de
Charlie. — Está muito folgado.

— Está bom.

— Na verdade, — Jamie disse, olhando seu traseiro de uma forma


muito possessiva. Ela o fulminou com o olhar. Ele ergueu as mãos em sinal
de rendição.

— Experimente outra coisa. Qualquer outra coisa.

— Não a coisa floral, — disse Charlie. — Eu não gosto de floral. Na


minha altura, se visto qualquer coisa com flores, pareço uma armadilha de
Vênus com esteróides.

— Você não parece. O vestido fúcsia, então.

— Vai ficar muito curto, — Charlie avisou.

— Vai ficar perfeito, — disse Taylor.

Foi assim que ela se viu no provador, fechando-se em um vestido de


seda crua rosa escuro brilhante com um corpete ajustado sem alças e uma

11
Little black dress, equivalente no Brasil como “pretinho básico”.
saia larga que seria muito curta e ela odiaria porque era berrante e a faria
se sobressair na multidão ainda mais do que sua altura. Então ela nem
mesmo se olhou no espelho, apenas abriu a porta de vaivém com o ombro
e foi até à cadeira onde Jamie estava esparramado, o olhar focado em seu
telefone.

— O zíper está preso, — disse ela, pairando sobre Jamie.

Ele olhou para onde ela segurava o corpete fechado com as mãos
apertadas, então se levantou, aproximando-se para puxar o zíper pelo
resto do caminho.

Charlie olhou para seus seios. — De onde eles vieram?

— Céu, — disse Jamie, olhando por cima do ombro.

— Está muito apertado. Não posso ir a um evento escolar como


este. É —

Jamie colocou as mãos em sua cintura e a virou para encarar o


espelho, interrompendo - a no meio de um protesto. A mulher que olhava
para trás se parecia com ela, com maquiagem borrada e pele
brilhante. Seus olhos pareciam enormes em seu rosto e, embora soubesse
objetivamente que seus lábios não estavam inchados, não eram beijados
há horas e horas, eles estavam mais cheios, mais rosados. Jamie estendeu
a mão e gentilmente puxou o elástico de seu cabelo solto, de modo que
seus fios de ouro e trigo brilhantes caíram sobre seus ombros.

— Droga, Charlie, — ele sussurrou.


— Uh-huh, — disse Taylor, saindo de trás de uma prateleira. — É
disso que estou falando. Olhe. Suas. Pernas.

— São só minhas pernas, — disse Charlie, estudando suas pernas três


vezes. A saia provavelmente ia até ao joelho em um humano de tamanho
normal, mas em Charlie a bainha parava mais perto do meio da coxa.

Taylor voltou para a seção de calçados. — Saltos.

— Eu não uso salto alto.

— Tamanho quarenta?

— E um, — Charlie concluiu, — mas não estou usando salto.

Um minuto depois, ela estava de pé na frente do


espelho com saltos de sete centímetros em um couro envernizado
brilhante um par de tons mais escuros do que sua pele pálida. — Você
precisa ir em uma manicure-pedicure.

— Onde diabos vou encontrar tempo para ir em uma manicure?

— Sábado de manhã. Vou marcar um horário para você com minha


amiga. Dá-me o resto dos vestidos de cocktail. Pronto.

— Taylor, — disse ela um pouco desesperada. — Este vestido é


totalmente impraticável. E se eu usar salto alto, serei mais alta do que a
maioria dos homens na sala.

— Eles podem engolir isso, — disse Taylor sem coração. — Eu não


dou a mínima para egos masculinos. Esse vestido requer saltos.

— Taylor.
— Você pode usá-lo no banquete também, — Taylor adulou. — Vai
funcionar para ambos. Sapatilhas e um bolero12 para torná-la recatada
para a festa no Garden. Oh! — Ela se lançou para uma prateleira
imprensada entre bolsas e joias e apareceu com um punhado de estanho
cinza que acabou sendo um suéter que cobria nada além dos ombros e
braços de Charlie até logo abaixo de seus cotovelos.

Ela olhou para Jamie. — Ajude-me aqui.

— Odeio te dizer isso, querida, mas ela está certa. Droga, — ele disse,
mas seus olhos estavam com as pálpebras pesadas, descaradamente
olhando para ela.

— Claro que estou certa. — Taylor vasculhou a área dos sapatos e


jogou sapatilhas prateadas no chão aos pés de Charlie. Charlie abriu a
boca, fechou-a e calçou os sapatos. Ela arriscou uma olhada no espelho e
quase não se reconheceu.

— Perfeito, — disse Taylor com uma bomba de punho. — Agora você


não precisa comprar um vestido. Este vestido é prático.

— É praticamente roxo.

— Cale a boca e coloque os saltos de volta.

Um minuto depois, ela estava de salto nude, ajustando um envoltório


de ouro fino em volta dos ombros. — Apenas brincos, — disse Taylor. —
Qualquer coisa em volta do seu pescoço vai distrair de seus ombros e

12
Bolero – Jaqueta curta cortada que geralmente tem mangas compridas.
clavículas. Brincos e um explosão bagunçada e maquiagem. Batom claro,
olhos mais escuros. Você pode fazer maquiagem, certo?

— Sim — disse Charlie desesperadamente, olhando Jamie sem


graça no espelho. Mesmo os caras que ela namorou que a respeitavam
como uma atleta às vezes recusavam que ela usasse saltos altos. Mas não
era como se ela fosse aos eventos com Jamie. — Taylor, eu simplesmente
não sei sobre os saltos. Você tem as sapatilhas em dourado?

Jamie se aproximou para ficar logo atrás de seu ombro


direito. Descalços, eles eram da mesma altura; nos saltos, ela tinha sete
centímetros sobre ele. Ele entrelaçou os dedos nos dela e ergueu o
queixo, oferecendo-lhe a boca. Sem pensar nem um pouco sobre as
cláusulas de torpeza moral, ou o que aconteceria quando sua licença
acabasse, ela abaixou a cabeça e o beijou, suave e quente.

— Você é linda, — ele disse, olhando nos olhos dela enquanto


apertava sua mão. — Os saltos transformam você em uma deusa.

Apenas Jamie poderia fazer isso soar autêntico. — Você venceu, —


disse ela a Taylor.

Taylor recolheu os acessórios e começou a registrar as compras


enquanto Charlie vestia seu terno de trabalho. Ela pegou o vestido fúcsia e
encontrou Jamie de pé ao lado do balcão.

— O que você está vestindo? — Disse Taylor. — Posso recomendar


uma loja masculina realmente boa no próximo quarteirão, mas vai custar-
lhe um braço e uma perna para alterações de última hora.
— Estou bem, obrigado — disse Jamie, dando o menor passo para
trás. Não se conformando com isso, Taylor levantou uma sobrancelha.

— Estou usando meu uniforme, — disse ele, quase se desculpando.

— Militar?

— Sim, senhora. Marinha.

— Oh, os brancos? Ok, isso é uma jaqueta que você pode usar por
cima do vestido, — disse Taylor, virando-se para Charlie para apresentar a
ela um recibo para assinar. — Será como algo fora de moda ou a capa de
um romance!

Jamie transformou uma risada em tosse.

— Isso provavelmente não é permitido, — disse Charlie, tentando


não pensar em um casaco de uniforme pendurado sobre os ombros,
quente de seu corpo, suas fitas e medalhas pesando enquanto ela
assinava o recibo.

— Discrição do membro de serviço — disse Jamie, suave e caloroso,


como se tudo em que pudesse pensar fosse ela vestindo sua jaqueta.

— Obrigada, Taylor, — disse Charlie.

— O prazer é meu. Se alguém perguntar, por favor, mencione a


loja. Os negócios estão lentos ultimamente.

— Conte com isso, — disse Charlie, enquanto aceitava a sacola


pendurada e duas sacolas de compras. — Eu farei meu tapete
vermelho, mencionarei o nome da loja sempre que puder.
Eles guardaram as sacolas no banco de trás do carro de Charlie. —
Jantar? — Jamie perguntou.

Ela estava a ponto de dar uma bronca nele quando seu estômago
roncou. Os olhos de Jamie se arregalaram. De repente, a estupidez de
dizer não a atingiu. Era uma linda noite de primavera, no bairro mais
badalado da cidade. Ótimos restaurantes locais se juntaram a butiques
como a Taylor's. Quando ela era adolescente, ela e seus amigos tinham
vindo aqui para comprar um sorvete e sentar nos plantadores de tijolos
redondos e observar as pessoas com dinheiro suficiente para aproveitar as
lojas e restaurantes que passavam.

Foi só por enquanto. Foi só para sair. Ele estava em oferta por um
tempo limitado, e ela iria atrás de tudo que pudesse conseguir como se
fosse para a quadra para uma bola perdida. — Parece ótimo, — disse ela.

Eles se estabeleceram em um local de fusão franco-americano com


todos os detalhes necessários, uma cachoeira escorrendo por uma parede
de vidro, mesas vazias feitas de madeira reciclada, pratos e guardanapos
brancos e detalhes em limão nos azulejos e na arte da parede.

— Algo para beber? — O garçom perguntou, depois falou uma


extensa lista de vinhos e cervejas, todos de origem local.

— Vinho? — Jamie perguntou, seu olhar focado no menu.

— Claro.

— Molho de espinafre e alcachofra?


— Por favor, — disse ela, um pouco mais fervorosa do que
pretendia. Seu estômago estava tentando roer sua espinha. Ele pediu uma
garrafa de vinho, que o garçom trouxe com uma cesta de pão que Charlie
teve que sentar em suas mãos para evitar dizimar enquanto eles
realizavam o ritual de degustação de vinho. Assim que o garçom recuou,
Charlie pegou um pedaço de focaccia.

— Eu perdi o almoço, — ela disse assim que engoliu.

— É todo seu. Ian tem me levado a todos os restaurantes e


lanchonetes da cidade - disse Jamie, levantando a mão quando ela lhe
ofereceu a cesta. — Vou suar molho de churrasco se jogarmos esta noite.

— Depois de comer aqui, provavelmente vomitaria se jogássemos, —


disse ela. Algumas mordidas de pão ajudaram muito a acalmar seu
estômago exigente. Mas ela estava questionando a sabedoria de vir a um
bom restaurante com Jamie, com a luz de velas dançando em seu rosto.

— Foi muito dinheiro para deixar em um só lugar, — disse ele.

Ela só se lembrava vagamente do total e se eriçou até ouvir a


preocupação genuína em seu tom. — Eu tenho dinheiro. As ligas
europeias pagam melhor do que a WNBA, e economizei a maior parte do
que ganhei. Ensiar e treinar é mais do que suficiente para mim.

— Como está sua mãe?

Esse era o outro problema com um encontro para jantar. A conversa


na quadra se estendeu a conversa fiada e não muito mais. Naquela época,
eles sabiam tudo o que precisavam saber sobre o outro através da osmose
do colégio, verdade, boatos e segredos girando no ar como hormônios,
perfume de farmácia e spray corporal Axe.

— Ela está bem, — disse Charlie. — Ainda fiscalizando na


Safeway. Ela se casou novamente alguns anos atrás. Novamente. — Ela se
mexeu desconfortavelmente com a lembrança de como era difícil fazer
um relacionamento funcionar quando um casal morava na mesma casa,
muito menos com a tensão adicional de um trabalho árduo em dois fusos
horários diferentes.

— Ela teve uma vida difícil.

— Bill parece um cara legal. Ele tem um emprego estável fazendo


reparos para Great Northern. Crianças crescidas. Eu não os conheço muito
bem. Ele se transferiu de Pittsburgh para o trabalho, e eles ainda estão no
Leste. Mas, pela primeira vez na vida, ela tem alguém cuidando
dela. Mandei dinheiro para ela uma vez que estava ganhando, mas não é o
mesmo que ter outra pessoa ao seu lado. Ela se sente segura, eu acho.

— Isso é bom.

Charlie endireitou os talheres, lembrando-se não uma, mas duas


vezes de ter lido os relatórios de prisão de sua mãe e de encontrar a
assinatura do pai de Jamie como o policial que a prendeu, a mistura
fervilhante de humilhação, vergonha e raiva que ela descontava nos
oponentes, em Jamie. A casinha dela era bonita e reformada, mas não
ficava em Hill. Todo o dinheiro ganho por ganhar campeonatos não a faria
se sentir como se pertencesse à Hill. Jamie, quando deixar a Marinha,
ingressaria facilmente no mundo civil. Ela não podia vê-lo se juntando ao
Departamento de Polícia de Lancaster com seu irmão, mas ele faria
alguma coisa.

— O que você fará quando deixar a Marinha?

— Não faço ideia, — ele disse francamente. — Estou planejando


vinte anos, então tenho outra década pela frente. Gastarei o máximo que
puder nas equipes. Então talvez eu permaneça como instrutor ou trabalhe
como contratado.

— Oh, — disse ela, a amarga decepção estragando o excelente molho


de espinafre. — Isso soa bem. É uma carreira significativa. Você volta com
frequência?

— Na verdade, não, — disse ele. — Mamãe e papai gostam de


Virginia Beach. Eles estão até falando sobre o inverno lá fora quando papai
se aposentar pela segunda vez.

Ela engoliu em seco. — Circunstâncias especiais desta vez.

— Sim, — disse ele.

A conversa estava ficando mais estranha a cada segundo. A emoção


se acumulou como uma boa defesa: alívio porque isso responderia a todas
as perguntas que ela se fazia desde o colégio, como se ela tivesse
cometido um erro, se ela estava perdendo alguma coisa, se eles deveriam
ser, e ela estragou tudo? Sim. Eles tinham química e um desejo
adolescente para trabalhar, mas a realidade era totalmente diferente.
Em camadas sobre isso estava o desapontamento, crescendo mais
profundo a cada segundo. Ela pensou que tinha sido honesta consigo
mesma sobre Jamie. Acontece que ela não tinha.

— Já andou no tapete vermelho?

Ela piscou com a pergunta aleatória até conectá-la de volta a


Taylor. — Uma vez, — disse ela. — Uma estreia em Paris de um filme que
um cara que eu estava namorando me levou.

— Você estava namorando alguém que poderia levá-la às estreias de


filmes? — Sua voz era leve, curiosa, mas ele não estava piscando
enquanto a observava.

Ela encolheu os ombros. — As estreias devem ser repletas de


estrelas, então convidam pessoas que os paparazzi reconhecerão.

— Quem? — Ela nomeou um dos dez melhores tenistas do


ranking. As sobrancelhas de Jamie se ergueram antes que ele mudasse de
posição e tomasse um gole de vinho. — Então você teve um tempo muito
interessante na Europa.

— Duvido que consiga competir com um SEAL da Marinha servindo


em todo o mundo, — disse ela.

Ele se inclinou para a frente, um sorriso de tubarão no rosto. — Eu


vou trocar você, um por um.

Agora eles estavam de volta em território familiar. — Verifique, —


disse ela, verbalmente quicando a bola para ele.

— Quem foi o seu primeiro?


Foi um passe no peito, acertado com força, e ela não podia fingir não
saber o que ele queria dizer. — Leo, um jogador de futebol da Itália, —
disse ela.

A sobrancelha de Jamie franziu. — Você o conheceu na faculdade?

O excelente vinho não era o único responsável pelo rubor que


esquentava suas orelhas. — Não, depois que me tornei profissional.

Ele se recostou na cadeira e soltou o fôlego. — Você não fez sexo até
sair da faculdade?

Ela balançou a cabeça. — Não até que eu tivesse meu diploma em


minhas mãos, um contrato assinado e uma receita para controle de
natalidade. — Porque a pílula poderia falhar, mas dinheiro no banco e um
diploma significava que ela sempre seria capaz de cuidar de uma criança.

Jamie mexeu nos talheres por um momento. — Ele te tratou bem?

Ela bebeu muito vinho, afrouxando a língua, lavando o filtro.

— Ele era bom, — disse ela. — Muito bom. Ele foi


paciente. Gentil. Disse que estava honrado — acrescentou antes de dar
uma boa olhada nos olhos de Jamie, fervilhando poças escuras de
arrependimento e um pouco de raiva.

— Você o amava?

— Sim, — ela disse. — E ele me amava. — A diferença de alguma


forma parecia profundamente além de sua capacidade de explicar, mesmo
antes de ter duas taças de vinho em seu sistema. Ela amava Leo. Ela
estava apaixonada por Jamie.
— O que aconteceu?

— Não estávamos apaixonados. Há uma diferença.

— Eu sei, — disse ele, quieto, significativo.

— E você? — ela disse, quicando a bola com força.

— Eu nunca realmente namorei.

— Só casos?

O olhar em seus olhos parou seu coração. Era tão fácil esquecer ou
subestimar a tendência competitiva de Jamie. Ele escondeu bem,
mascarando com os valores que seus pais lhe ensinaram: o código de
cavalheiros, honra e respeito e trabalho em equipe. Mas por baixo de tudo
estava a alma de um homem que não faria prisioneiros quando se tratava
de trabalhar em uma implantação. Ela não sentia pena das mulheres que
estavam recebendo a energia sexual reprimida de Jamie. Ela estava com
ciúme.

— Estava esperando pela mulher certa, — disse ele.

Seu coração deu um salto estranho, esperando o que ele diria em


seguida, mas ele apenas sinalizou para a conta. — Quanto é a minha
parte? — ela perguntou quando a garçonete entregou-lhe a pasta de
couro.

— Eu cuido disso.

— Jamie.
— Termine seu café, Stannard, — disse ele enquanto folheava sua
carteira.

Ela estava cheia demais para discutir com ele, então terminou seu
café enquanto ele pagava, então o deixou puxar sua cadeira para trás e
guiá-la até à porta com uma mão na parte inferior de suas costas.

Era crepúsculo de novo, o céu se enchendo de azuis e roxos vívidos


enquanto as estrelas piscavam no alto. — Eu não posso jogar, — disse
Charlie.

— Muito cheia?

Não foi isso. Ela trabalhou a semana toda, foi enrolada por um
dínamo da moda, teve uma boa refeição, duas taças de vinho, uma xícara
de café. Agora ela não tinha vontade de competir contra Jamie. — Só não
estou de bom humor, — disse ela. — Quer que eu te leve para casa?

Eles chegaram ao carro dela, mas ao invés de caminhar para o lado


do passageiro, ele a empurrou para a porta do motorista. — Sim, — disse
ele.

Sua testa franziu, porque ela esperava que ele dissesse não. Então ele
fechou os últimos centímetros entre a boca deles, e a beijou, sua língua
quente, escorregadia, sugestiva. — Leve-me para casa, Charlie.

Oh. Oh oh oh.

Seus olhos estavam escuros, selvagens, apaixonados enquanto


Charlie os levou de volta para a casa dela, mas seu comportamento era
completamente calmo, até mesmo cavalheiresco. Ela estacionou na
garagem e carregou sua bolsa e bolsa do laptop, em seguida, pegou as
sacolas da loja de Taylor. Balançando a cabeça, Jamie pegou sua bolsa e
sacola, colocando no ombro sua bolsa verde brilhante sem um pingo
de autoconsciência. — Você realmente não vai pedir ajuda, vai?

Durante a maior parte de sua vida, não houve ninguém para


perguntar. Ela deu a ele um sorriso rápido. — Obrigada, — ela disse, e
liderou o caminho até à porta da frente.

— Onde você quer isso? — ele disse quando fechou a porta atrás
deles.

— Uma das cadeiras da sala de jantar está bem, — ela chamou do


quarto.

Ela pendurou o vestido de coquetel na porta do armário e correu a


ponta dos dedos pela bolsa, a textura ligeiramente áspera da seda
brincando com as pontas dos dedos. Ela realmente não conseguia
imaginar os próximos dias. Ela já tinha ido a banquetes de premiação
antes, recepções, feito discursos. Mas nada disso carregou a carga dos
próximos dias. Ser membro da European Women's não importava quando
o mais leve olhar desdenhoso de um membro do Lancaster Garden Club
poderia cortá-la até os ossos.

Mesmo que empalideceria ao lado da dor que sentiria quando Jamie


partisse novamente, se ela não guardasse seu coração com tanto cuidado
como guardava o basquete.
CAPÍTULO SEIS

Ela esfregou a testa, desequilibrada, cansada, perdida. Mas ela não


podia culpar a vida pelo emaranhado de emoções que lentamente se
formava em seu estômago. Isso foi tudo Jamie. E ela. Se fosse apenas
Jamie, ela cortaria o nó e acabaria com ele. A única coisa que não mudou
na última década foi que o problema eram eles.

— Ei, — Jamie disse suavemente. Ele estava encostado no batente da


porta do quarto, os braços cruzados e os pés descalços.

Ela tentou imaginá-lo com o uniforme branco que vira nos programas
de televisão, o queixo barbeado impiedosamente, os ombros largos e
retos no casaco feito sob medida, os sapatos engraxados até um brilho tão
forte que refletiam as luzes do Metropolitan Club. — Você tem muitos…?
— ela perguntou, vagamente gesticulando para seu ombro esquerdo, seu
cérebro entrando em curto com a imagem.

— Medalhas de serviço e fitas? Mais do que alguns, menos do que


outros. — Ele a estudou por um longo momento enquanto ela tentava
pensar em outra coisa para dizer. — Se você está cansada, eu posso ir.

Talvez fosse hora de um pouco de honestidade. — Estou cansada, —


disse ela. — Mas não quero que você vá embora.

Sua expressão, solene e terna, não mudou quando ele se afastou do


batente da porta e cruzou a curta distância para ficar ao lado dela. — Tire
os sapatos, — disse ele enquanto tirava a jaqueta de seus ombros e
pendurava em um cabide vazio, então começou a trabalhar nos botões de
sua blusa. Com movimentos metódicos e lentos, ele deslizou cada botão
pelo buraco, puxando suavemente as partes de baixo da camisa de sua
cintura e desabotoando os punhos antes de deslizar para baixo em seus
braços para deixá-la em suas calças e sutiã.

— Lavar ou limpar a seco?

— Lavar, — disse ela.

A blusa foi para a cesta no chão do armário. Ela se equilibrou com


uma mão em seu ombro enquanto ele tirava suas calças e as pendurava
ao lado da jaqueta. Ela usava roupas íntimas de algodão utilitárias, nada
sexy ou chique, apenas para mantê-la coberta. Jamie não pareceu se
importar com nada, apenas tirou o sutiã com a mesma abordagem
pragmática e a guiou para deitar de bruços na cama. — Você tem alguma
loção?

— Claro, — ela murmurou em seus braços cruzados, — mas eu


guardo o óleo de amêndoa doce no banheiro. É bom para massagens
quando eu fico dolorida.

Tudo o que ela conseguia pensar era que essa era uma péssima
ideia. Não era basquete e não era sexo, mas como esta noite fora tudo
sobre ideias ruins, ela não conseguia parar. Por um momento, ela se
perguntou se foi assim que sua mãe deslizou pela ladeira escorregadia, um
julgamento questionável deslizando para outro, mas então Jamie voltou
com o frasco, largou-a ao lado dela e tirou a camisa.

Eletricidade faiscou ao longo de seus nervos, estática e sibilando nos


longos momentos enquanto ele montava em seus quadris. A tampa do
frasco se abriu e depois se fechou. O som das palmas das mãos se
esfregando, então ele colocou as mãos grandes na encosta onde o
pescoço dela encontrava os ombros dela e empurrou.

Forte.

Seu cérebro desligou, os circuitos se conectando para que as faíscas


se alongassem em um zumbido constante de desejo. Seus grandes
polegares cravaram em seus ombros, encontrando o ponto apertado na
base de seu pescoço, o nó onde ela mantinha sua tensão, logo acima de
sua omoplata. Ela estremeceu, enrijeceu, então sentiu o estalo quando o
músculo se soltou e ela relaxou um pouco mais.

— Você está muito tensa, — ele disse acima dela.

Ela fez um som bastante embaraçoso em resposta, porque sim, ela


estava, mas seu ataque implacável em seus músculos estava rapidamente
reduzindo-a a um macarrão mole. — Eu sinto mais falta das massagens, —
ela murmurou. — Não sinto falta dos banhos de gelo, dos alongamentos
ou da sala de musculação, mas sinto muita falta das massagens.

Sua resposta também foi sem palavras, vinda do fundo de seu peito,
mas a parte importante era o movimento constante de suas mãos,
encontrando cada ponto tenso e resolvendo-o. Ele não hesitou em usar a
força de seus braços ou o peso de seu corpo. Ele sabia que ela aguentaria,
diria se ele precisava evitar um ferimento de longa data. No momento em
que ele alcançou seu traseiro, ela estava em uma zona de deriva, ouvindo
apenas sua respiração profunda e o golpe escorregadio de sua mãos sobre
sua pele.

— Tudo bem? — ele perguntou, seus dedos enrolados no cós da


calcinha dela.

— Claro, — ela disse embaçada, e ergueu os quadris.

Os massoterapeutas profissionais trabalharam nos quadris e coxas


sob a cortina de um lençol. Jamie apenas abriu as pernas de Charlie e
começou a pressionar os dedos nos músculos ao redor da articulação do
quadril e do cóccix. Ela ficou tensa e grunhiu quando ele trabalhou a
palma da mão contra seus glúteos, conscientemente relaxada, e foi
recompensada alguns momentos depois com um bom estalo quando o
músculo foi liberado.

— Onde você aprendeu a fazer isso? — ela perguntou.

— Recebi minha cota de massagens, — disse ele. — Tenho um


conhecimento prático do sistema músculo-esquelético.

— Em outras palavras, você ficou com um massagista, — disse ela,


divertida.

— Eu gosto de aprender coisas novas, — ele disse, sua voz angelical


contrastando com a pressão quente de seus dedos contra seu tendão.

Ela soltou uma risada.


— Tendões tensos, — ele comentou.

— Eu não estico tanto quanto antes, — ela admitiu enquanto ele


trocava para a outra nádega e coxa.

Quando ele chegou a seus pés, ela estava quase ronronando, então
quando ele agarrou seus quadris e a rolou de costas, ela caiu como uma
boneca de pano. — Melhor? — ele perguntou.

— Muito. — Seu corpo estava solto, quente, a excitação zumbindo ao


longo de seus nervos, endurecendo seus mamilos. Se ele pressionasse
seus dedos escorregadios de óleo entre suas pernas, ele a encontraria
quente e pronta. — Vem cá.

— Ainda não, — disse ele, montando em seus quadris novamente.

Na superfície, a massagem era apenas isso, mimando os músculos


que prendiam a clavícula ao ombro, a caixa torácica à coluna. Exceto pelos
momentos em que ele massageava seus seios, untava seus mamilos com
óleo. Exceto pela possessividade apertada de suas mãos enquanto ele
empurrava seus polegares em suas cristas do quadril, abrindo sua pélvis
com cada toque forte, lembrando-a da dor oca dentro dela. Ela estava
gemendo baixinho no momento em que ele alcançou seus quadris,
puxando inquietamente as panturrilhas de suas mãos, abrindo
descaradamente suas pernas.

Ele riu baixo e sombrio. — Você acha que está pronta para mim?
Como se ele não soubesse, como se os dois não soubessem a
resposta para essa pergunta. — Venha aqui e descubra, — disse ela,
apontando o dedo para ele.

Ele rastejou entre suas pernas, abrindo-a com os joelhos, prendendo-


a com as mãos apoiadas em cada lado de seus ombros. Ele olhou para
baixo, para o rosto dela.

— Assim, — ela disse, e alcançou o botão de sua calça


jeans. Prendendo-a sob ele, ele a deixou trabalhar seu jeans baixo em seus
quadris e tirá-lo. — Não, — ela disse quando ele alcançou a gaveta de
cima de sua mesa de cabeceira. Ela agarrou seu pênis e puxou-o em sua
direção, muito tímida para dizer o que queria. — Assim.

Uma vez que ele descobriu o que ela queria dizer, ele tirou a calça
jeans com entusiasmo e montou em sua caixa torácica. Ela espalhou o pré
gozo ao redor da ponta de seu eixo com o polegar enquanto ele
empurrava seus seios juntos, então guiou seu pênis no canal entre eles.

Os dois gemeram no primeiro deslizamento escorregadio na pele


lustrosa de óleo. — Porra, — disse ele, e fez isso de novo. —
Charlie. Sim. Porra.

Suas bolas, apertadas e altas contra a base de seu eixo, roçavam seu
esterno com cada golpe. Ela observou seu rosto enquanto ele se perdia
nela, um rubor escurecendo no alto de suas bochechas enquanto ele
olhava para a visão erótica.
— Aqui. Faça isso, — e guiou as mãos para seus seios dela para que
ela pudesse espalmar sua bunda fina e firme e puxá-lo em cada golpe. Ele
gemeu, cru e quente, e acelerou o ritmo, dando um grito sufocado
quando ela ergueu a cabeça e lambeu a ponta de seu pênis na próxima vez
que ele se libertou do canal apertado entre seus seios.

— Você pode terminar assim, — disse ela, olhando para ele. — Se


você quiser.

Ele olhou para ela, obviamente estúpido com a luxúria no momento,


então se afastou para se espalhar sobre ela, prendendo seu pênis contra
sua barriga. — Não, — ele disse, e a beijou, sem desculpas e exigente. —
Quero estar dentro de você.

Ela abriu a boca para ele, deixando-o sentir o gosto do sal


almiscarado de seu pré gozo enquanto suas barrigas lubrificadas
deslizavam quentes juntas. — Agora está bom, — disse ela. — Agora está
muito bom.

Ele estava tão perto de seu sexo escorregadio, e pela primeira vez em
sua vida ela entendeu a demanda corporal primitiva por agora, nua,
sim. Alguns centímetros mais abaixo, uma inclinação oportunista para
seus quadris, e ele estaria dentro dela do jeito que ela o queria. Antes que
ela soubesse o que seu corpo estava fazendo, ela dobrou o joelho e
cravou o calcanhar na parte de trás da coxa.
— Eu quero isso também, mas ainda não, ainda não, não é... — ele
gemeu e se afastou, mostrando a ela exatamente quão mais forte ele era,
e se mexeu na mesa de cabeceira.

— Você me faz querer coisas que eu não posso ter, — ela sussurrou
enquanto seus dedos lisos agarraram a embalagem do preservativo.

— Podemos ter o que quisermos, — ele disse, seu olhar quente e


escuro acima dela.

Ela gostou do sentimento, mesmo que fosse um sonho irreal, e


gostou especialmente da emoção perigosa que despertou dentro dela,
então ela teve pena dele e abriu a embalagem do preservativo para si
mesma e rolou para baixo de seu eixo, tomando cuidado extra para
provocá-lo um pouco, alisando sua mão pela carne tensa, acariciando o
ponto doce atrás de seus testículos enquanto ela o fazia. Um músculo em
sua bochecha se contraiu e seu pênis flexionou em sua mão quando ele se
inclinou para a frente e se aninhou contra sua orelha, bochecha, boca
aberta. Ela colocou a camisinha ao sentir, o vazio dentro dela ficando mais
oco a cada segundo.

A pele dele tão lisa quanto a dela, ele mudou entre suas coxas, então
entrelaçou seus dedos e cutucou seu caminho dentro dela. Ele suportou a
maior parte de seu peso sobre os joelhos e antebraços e manteve a
cabeça erguida, observando seu rosto enquanto tomava posse de seu
corpo.
— Olhe para mim, — ele murmurou quando suas pálpebras
caíram. — Charlie. Olhe para mim.

Seu coração subiu em sua garganta enquanto ela obedecia, inundada


por uma emoção turbulenta. Desejo. Vulnerabilidade. Medo. Alegria. Ela
olhou para ele, desesperadamente com medo de que ele visse o que ela
sentia, entendesse, e com o mesmo medo que ele não o fizesse. Lágrimas
quentes arderam em seus olhos, acumuladas nos cantos, mas não
escorreram por suas têmporas.

Ele parou. — Isso dói? Já estivemos nisso como...

Como se fôssemos crianças. Exceto que eles não faziam isso quando
eram crianças, e agora estavam recuperando o tempo perdido. Embora
seu corpo não doesse, seu coração doía, mas ela mal conseguia expressar
seus sentimentos, não quando estava nua, frouxa de uma massagem de
corpo inteiro e ainda vibrando de tensão.

Não se tratava de sentimentos. — Não, — ela disse.

Centímetro por centímetro glorioso deslizou para dentro até que


seus quadris pressionaram com força contra os dela, até que ela não
pudesse respirar. Ele a tomou assim, lento, calmo, firme, beijando-a
quando seus olhos se fechavam, olhando profundamente em seus olhos
quando eles se abriam. Conforme os minutos passavam e a tensão crescia
quente e forte dentro dela, ela descobriu que ansiava pelo contato visual
tanto quanto pelos beijos.
Ele não parou quando ela gozou, empurrando através das
contrações. Só depois que os músculos dela afrouxaram, ele soltou suas
mãos para que ela pudesse envolver-se em torno dele enquanto ele
tombava sobre a borda.

Ela vagueou em uma névoa de endorfinas enquanto ele se limpava,


fisicamente incapaz de sair da cama e tomar um banho depois da
massagem e do sexo. — Sexo atlético no chuveiro não te transforma em
uma poça de gosma, mas uma massagem, sim?

Um canto de sua boca se ergueu em resposta. — Você ficará?

— Depende de quão cedo você vai se levantar.

— Estou dando aula de fundamentos de basquete no East Side Y às


nove.

— Você costuma dormir até tarde?

— Domingos, — ela murmurou. — Aos domingos eu não malho. Às


vezes nem saio de casa. Você deveria ficar por aqui no domingo.

— Vou manter isso em mente, — disse ele, e rastejou sob as


cobertas, gemendo quando sua pele nua entrou em contato com os
lençóis.

Ela estava meio adormecida quando ele falou novamente, sua voz
doendo com uma dor que ela nunca teria imaginado que ele poderia
abrigar. — Gostaria que tivesse sido eu.
***

Jamie estava com seu irmão, à margem da quadra de basquete do


East Side Y assistindo Charlie e seus dois assistentes — Treinadora Grace e
treinadora Lyssa — liderar um grupo de crianças do ensino fundamental
através de uma aula mista de fundamentos de basquete. As crianças,
todas em algum lugar em que — não é bebê, mas não é adolescente —
que Jamie achou difícil de rotular, disputavam a atenção de Charlie e suas
assistentes; mais importante, suas duas garotas do ensino médio
floresceram em papéis de liderança. Jamie percebeu que elas se
mantinham um pouco mais constrangidas, cientes do papel que
desempenhavam na vida das crianças, orgulhosas da oportunidade,
ansiosas para ajudar e agradar Charlie. Todas essas coisas sutis que ela fez
— assistindo Grace atentamente enquanto ela conversava com as crianças
durante uma bandeja; demonstrando respeito, atenção; mostrando
a troca de ideias entre adultos e crianças. Foi quase o suficiente para tirar
sua mente de algo em que ele raramente pensava: arrependimentos.

Quase.

Normalmente ele não perdia um segundo com arrependimentos. O


que foi feito foi feito, não pode ser desfeito. Tudo o que ele podia fazer
era aprender com suas decisões e seguir em frente mais ciente de quem
era, do que queria. Mas isso era diferente de um erro. Esta era uma dor
no fundo de seu peito por algo que ele não tinha sido capaz de ter, uma
oportunidade perdida para sempre. A chance de ser o primeiro amante de
Charlie Stannard se foi, e ele sofreu com a perda e uma raiva latente, não
com ela, mas consigo mesmo. Outros homens significaram muito para ela,
ensinaram-lhe tudo, e não apenas sexo. Comida, vinho, viagens. Vida. Eles
tiveram uma década de vida de Charlie, uma década que ele nunca teria.

Acima de tudo, ele se arrependeu do que disse na noite


anterior. Porque ela não disse nada em resposta. A respiração dela travou
levemente, talvez um leve puxão quando ela caiu no sono, ou talvez uma
reação fortemente controlada. De qualquer maneira, ela não havia tocado
no assunto naquela manhã.

Sem arrependimentos, disse a si mesmo com firmeza. Ele faria um


futuro com Charlie, não importa o quê.

— Terra para Jamie, — disse Ian.

— Sim, — Jamie respondeu, ainda focado no jogo. Os meninos


estavam todos na quadra, enquanto as meninas ouviam com atenção. Eles
eram mais hesitantes, prestando atenção às instruções dela, sendo
cuidadososs. Quando ela estava ensinando sobre ataque e defesa, ela os
guiava com as mãos nos ombros e um sorriso no rosto.

— Estamos indo para o encontro no Met esta noite, — Ian disse, sua
voz baixa. — Você se lembra de como ela é?

— Sim, — Jamie disse novamente, um tanto distraidamente. Ele só


tinha olhos para Charlie quando eram crianças, mas Eve Webber era uma
garota inesquecível. Ele não tinha dúvidas de que ela havia se tornado
uma mulher inesquecível. Eles se conheciam superficialmente porque seu
irmão tinha sido uma estrela do basquete, passou a jogar pelo Duke,
recusou uma chance nos profissionais para ir para a faculdade de
direito. — Nós temos isso. Relaxe.

— Vou relaxar quando acabar, — disse Ian.

— Achei que ela tivesse concordado em ser informante. Não confia


nela? — Jamie perguntou. Ele mal podia ouvir seu irmão sobre o caos
organizado de bolas quicando, apitos soprando e treinadores
conversando. Os pais conversavam baixinho nas arquibancadas e as
crianças mais novas corriam pelas laterais jogando um jogo improvisado
de esconde-esconde. Ninguém poderia ouvi-los.

— Confio nela tanto quanto confio em qualquer um, — disse Ian.

Jamie bufou.

— Não é só isso. Fala-se na rua que ela corre perigo.

A cabeça de Jamie girou para olhar para Ian. — Eve?

— Sim.

— Nós temos isso, Ian. — Seu irmão era um bom policial, o que
significava que prestava atenção aos seus instintos, tinha uma boa dose de
paranóia e não baixava a guarda. Esta era a operação de Ian. Tudo que
Jamie precisava fazer era seguir as ordens e tentar não pensar
sobre deveria-ter, poderia-ter, teria. Ou em Charlie naquele vestido rosa
escuro, o cabelo solto sobre os ombros, naqueles saltos matadores.

O telefone de Ian tocou. Ele olhou para a tela e disse: — Tenho que
atender. Te encontro no carro. Temos mais caixas para examinar.
— Te vejo mais tarde, — disse Jamie.

Charlie soprou seu apito e todas as crianças se sentaram em suas


bolas de basquete. — Tubarões e peixinhos! — ela gritou. — Quem quer
ser meu tubarão?

Oito mãos dispararam para o ar. Charlie escolheu um menino menor


e uma menina alta e talentosa enquanto suas assistentes agrupavam as
outras crianças em uma fila contra a parede oposta. O objetivo do jogo era
que os peixinhos, alinhados contra a parede, driblassem para a outra
parede enquanto os tubarões, também driblando, tentavam marcá-los. As
crianças estavam se esquivando e se afastando umas das outras, com
vários níveis de controle da bola, algumas quicando as bolas em seus pés,
enquanto outras tinham uma consciência instintiva da relação da bola
com seus corpos, mas todas com grandes sorrisos nos rostos.

— Drible baixo, dobre seus joelhos, suas costas fora, — Charlie


gritou, seu tom firme, mas encorajador. — Você está esticando. Não
estique!

Eles jogaram um jogo curto, as treinadoras guiando as crianças em


uma zona de defesa básica para proteger os quatro cantos de sua ‘casa’
enquanto o time adversário tentava se abrir. Apenas algumas crianças
pontuaram, mas pareciam estar entendendo a ideia. Quando o treino
terminou, Charlie chamou todos eles e estendeu a mão para todas as
crianças e treinadoras assistentes empilharem. — Em três, basquete. Um
dois três!
— Basquete! — as crianças gritaram.

— Divirtam-se lá fora! — Charlie disse, então chamou a atenção de


Jamie. Ele sorriu para ela, esperando até que os pais pegassem seus filhos.

— Você quer que levantemos os aros, treinadora? — Grace chamou


Charlie.

— Sim, por favor, — disse Charlie. — Eles têm academia aberta a


tarde toda.

Lançando olhares disfarçados para eles, as meninas pegaram os


mastros usados para levantar e abaixar os aros.

— Ei, — disse Jamie.

— Oi, — Charlie respondeu. — O que você está fazendo aqui?

Ele deu a ela um olhar, apenas um olhar, o suficiente para fazê-la


corar. — Tudo bem, — disse ela. — Pergunta idiota.

— Almoço? — ele perguntou.

— Não, — ela disse levemente, e estendeu a mão. Ele


automaticamente olhou para os dedos dela, fortes e duros de uma vida
inteira na quadra. Três dedos tinham cutícula solta. — Estou indo
na manicure e pedicure, lembra?

Ele sorriu. — Não é um canal radical.

— Você já foi em uma? Elas empurram suas cutículas para trás e as


cortam com uma tesoura minúscula e afiada.

— Oooh, — ele disse, fingindo seriedade. — Parece doloroso.


— Eu só não gosto de pessoas mexendo comigo. Meu cabelo, minha
maquiagem, meus dedos das mãos e dos pés. Então estou conseguindo
um corte. Grace disse que eu tenho pontas duplas, — ela disse, dando a
ponta de seu rabo de cavalo um olhar de soslaio.

Ele pensou em como ela usava seu corpo como escudo e aríete para
proteger a bola, como ela a jogaria no chão, na parede ou em outros
jogadores. Ele pensou em todas as maneiras como a tocou, como talvez a
maneira como ela ficou desossada sob suas mãos por causa da massagem
foi a coisa mais íntima que ela fez. Ele deixou o desejo ferver em seus
olhos, a observou parar de respirar por um longo momento.

— Excluídos os presentes, — acrescentou ela. — E não me olhe assim


na frente das minhas jogadoras.

— Todo mundo vai olhar para você esta noite, — disse ele.

Ela encolheu os ombros com desdém. — Você entra em uma sala em


fúcsia, as pessoas vão olhar.

— Para você, Charlie. Vencedora do campeonato da


NCAA13. Vencedora do campeonato europeu. Você usará seus anéis?

— Sim, — disse ela, olhando diretamente em seus olhos. — Para que


as meninas saibam o que podem fazer e ser se trabalharem duro e
permanecerem inteligentes. Campeãs. Tenho que ir, — ela disse, e fechou
o zíper do moletom.

13
National Collegiate Athletic Association.
— Te vejo mais tarde, — ele gritou para ela recuando, fazendo uma
promessa.

***

Ian os levou até outro buraco na parede da churrascaria, depois para


casa, onde comeram costelas, batatas fritas e bolinhos fritos enquanto
separavam mais brinquedos e lembranças de infância. Ian voltou para seu
apartamento para fazer a barba e tomar banho. Jamie fez o mesmo,
depois inspecionou o uniforme em busca de qualquer indício de mancha
ou vinco, depois colocou tudo para fora, a camiseta, as fileiras de
medalhas e comendas e vestiu cada peça. Ele fez uma pausa para
examinar seu reflexo no espelho com um olhar crítico.

Significava muito para ele ser um SEAL. Era sua vida, a carreira que
ele escolhera por amor ao país e à irmandade. Ele queria isso, tinha e não
tinha arrependimentos. Naquela época, não tinha sido uma escolha entre
Charlie e a Marinha. Também não era agora também. Ele era um SEAL. Ele
encontraria uma maneira de ter os dois.

— O único dia fácil foi ontem, — disse ele ao seu reflexo, depois
desceu as escadas trotando.

— Você está muito bonito, — disse a mãe, roçando a parte de trás de


seus ombros. Ela usava um traje elegante em um tom de lavanda que
combinava com o lenço de bolso de seu pai. Aprendera a amar e respeitar
o uniforme com o pai, que substituiu o uniforme do chefe de polícia por
um terno elegante e pontas de asas quando se aposentou da primeira
carreira e iniciou a segunda na política. É assim que ele sabia que isso
poderia funcionar. Ele tinha visto isso ser feito, mesmo que Charlie não
tivesse. Tudo o que ela precisava fazer era o que era mais difícil para ela:
confiar nele.

Ele foi com os pais até ao prédio Art Déco do Garden Club, situado no
meio do parque que eles mantinham para a cidade. Os canteiros que
alinhavam a calçada de tijolos para as portas da frente estavam em plena
floração, cores exuberantes espalhadas ao nível do solo e subindo ao
longo das treliças. Sua mãe parou para cumprimentar Helen Powell,
cortejando um grupo de pessoas que ele conhecia até hoje. O neto de
Helen - o braço direito de Jamie e companheiro SEAL da Marinha,
Jack Powell - já estava lá, com o melhor amigo de Jack na equipe, Keenan
Parker, no aglomerado de pessoas ao redor de Helen.

— Como está indo? — Jack perguntou, de mãos dadas com uma


mulher ostentando um caso sério de escoriacoes sob seu manto
extravagante. Jamie piscou. Ele nunca tinha visto Jack dar a mão a uma
mulher antes.

— Bem. Vocês?

— Ótimo, — Jack disse, radiante. — Não poderia estar melhor. Esta é


Erin Kent.

— Senhora, — disse Jamie.


Keenan Parker apareceu com os dedos em volta de quatro garrafas
de cerveja, que distribuiu para Jack, Erin e uma mulher que só poderia ser
irmã de Jack e neta de Helen. Keenan usava um terno azul marinho e uma
gravata. Ele passou o braço em volta dos ombros de Rose e deu-lhe um
beijo rápido. Jamie ergueu uma sobrancelha.

— Turquia, — disse Keenan sucintamente. — Eu vou te contar sobre


isso mais tarde. Pegue isso — acrescentou ele, oferecendo a Jamie sua
garrafa de cerveja.

— Obrigado, mas fique com ele. Vou pegar um para mim, — disse
Jamie, examinando a multidão. A altura média das mulheres presentes
caiu para o lado alto, graças às atuais e ex-jogadoras de basquete, mas
nenhuma delas estava usando um tom fúcsia notável. Ele se virou para
examinar o final da festa, estendendo-se pelos canteiros de flores
e treliças envoltas em tule, e viu a maioria das jogadoras de Charlie, mas
não Charlie.

— Procurando por alguém? — Jack perguntou.

— Sim, — ele disse, então voltou para a entrada novamente.

Seu coração parou. Charlie estava no pátio de tábuas largas que


se estendia por toda a extensão do edifício. Seu cabelo, normalmente um
loiro bonito, pegava o sol como se alguém tivesse listrado ouro ao longo
das mechas, e caía em ondas sexy e despenteadas ao redor de seu
rosto. Ela havia feito a maquiagem também, um pouco mais misteriosa do
que ele vira no colégio, algo com seus olhos que os tornava violeta, um
tom quase imperceptível de rosa em seus lábios.

Jack estava falando, então Keenan, e ele sabia pelo tom que tudo o
que eles estavam dizendo era às suas custas, mas ele estava fora de
cogitação porque um grande e poderoso punho alcançou seu peito e
apertou, coração e pulmões e diafragma e estômago todos apertados,
nenhum deles trabalhando como deveriam. Ele a amava muito. Se este
mês não funcionasse, então ele voltaria, voltaria para casa em todas as
lincenças que tivesse, mesmo que o tempo de viagem o deixasse
com vinte e quatro de um quarenta e oito com ela. Ele não desistiria até
que ela fosse sua, para sempre.

— Quem é ela? — Keenan perguntou.

— Essa é Charlie Stannard. Ela era uma armadora titular no time do


campeonato, e agora treina os Lady Knights, — disse a irmã de Jack, Rose.

— Hm, — Keenan respondeu educadamente.

— Iniciando a força para a frente, — Jamie corrigiu


distraidamente. — Ela conseguiu abrir espaço embaixo da cesta como
ninguém e detém o recorde escolar de rebotes, meninos ou meninas. Ela
ganhou o campeonato da NCAA em seu primeiro e último ano na
faculdade e começou na equipe francesa que ganhou o campeonato
europeu há alguns anos.

— Hm, — Keenan repetiu, desta vez com o respeito que Charlie


merecia. Fazendo sua ronda pelos dignitários locais reunidos, professores
aposentados, administradores e treinadores, Jamie roubou algumas taças
de champanhe de um garçom que passava e encontrou Charlie sob uma
treliça de rosas, Grace e a alta e silenciosa Lyssa ao seu lado. Grace puxou
Lyssa para longe, deixando Charlie e Jamie sozinhos.

No lugar do beijo que ele queria dar a ela, ele deu a ela uma taça de
champanhe.

— Obrigada, — disse ela.

— Você está maravilhosa.

— Eu posso fazer maquiagem e cabelo, — ela respondeu. — Eu só


não costumo fazer isso. Você está conversando com os caras?

— Sim, — disse ele, distraído pela novidade de olhar para cima o


rosto de uma mulher. — Perdi contato com a maioria deles depois que
todos nós nos formamos.

— Eu mantive contato, — disse ela, sem encontrar seus olhos. — É


fácil manter amizades com Skype, Facebook, mensagens de texto.

— Mas é como se os últimos dez anos nunca tivessem acontecido.

— Isto é verdade.

— Tem um segundo? Quero que conheça alguns amigos meus.

— Claro, — ela disse, e o seguiu de volta para o aglomerado de


pessoas. Ele a apresentou a Keenan e Rose, depois a Jack e sua namorada,
Erin, e de lá para a avó de Jack e todo um subconjunto da sociedade
Lancaster. Ele a observou, sabendo que a forte elevação de seu queixo
escondia sua consciência de ser do East Side e não de Hill. Mas quando a
viu recuar e gesticular para que Lyssa e Grace se juntassem a elas e depois
as apresentasse a Helen, ele soube o que ela estava fazendo. Ela carregava
uma vergonha profundamente enraizada que tornava tão difícil caminhar
pelas portas brancas imaculadas do Garden Club, mas ela nunca parou de
dar um exemplo para suas jogadoras. Elas conquistaram o direito de estar
aqui, independentemente da vida de suas famílias, de sua pobreza, de seu
futuro incerto. Se ela podia fazer isso, elas também podiam.

Quando a hora do coquetel terminou, as pessoas começaram a se


dividir para dirigir até o Met. — Alcançarei vocês — disse Jamie aos
pais. Um minuto depois, Charlie saiu do jardim de carpas koi. — Posso
pegar uma carona para o Met? — ele perguntou.

Ela estreitou os olhos para ele. — Seus pais, seu irmão e oito de seus
ex-companheiros de equipe estiveram aqui e você está me pedindo uma
carona?

— Eles me deixaram, — disse ele, sorrindo descaradamente para ela.

— E quanto aos seus companheiros de equipe SEAL? O que


aconteceu com nenhum homem deixado para trás?

— O lema não cobre coquetéis em clubes de jardim, — disse ele


sério. — Então é cada um por si.

— Eu acho que é o lugar mais importante que cobre, — ela


murmurou, e pescou as chaves de sua bolsa minúscula. — Vamos.
O Garden Club cobria vinte acres de terra ao norte da antiga sede da
ferrovia. Para chegar ao Met, eles tiveram que dirigir pelo East Side,
passando direto pela quadra de basquete. — Pare por um segundo, —
disse Jamie.

Sua testa enrugou, mas ela obedientemente dirigiu para o


estacionamento. Algumas crianças estavam arremessando, muito focadas
em seu jogo de pickup para prestar muita atenção nelas, mesmo em
uniforme e fúcsia. — O que você está fazendo aqui? — Charlie
perguntou. — Você tem que estar no Met em quinze minutos. Sei disso
porque examinei a programação que Grace e Lyssa montaram.

Jamie a ignorou, pegou sua mão e a conduziu para as árvores,


diminuindo conscientemente o passo para respeitar seus
calcanhares. Quando chegaram a uma clareira isolada, ele se virou para
ela. — Você está com seu batom?

— Sim. Por quê?

— Porque vou beijar isso da sua boca, — disse ele.

Ele fez exatamente isso, pressionando as costas dela contra uma


árvore, um braço apoiado no tronco ao lado de sua cabeça, o outro
enrolado em sua cintura para segurá-la perto. O calor de seu corpo escoou
rapidamente através de seu uniforme e de seu vestido. Em sua mente, ela
os imaginou, vestido de uniforme branco contra vestido de coquetel
fúcsia, seu cabelo caindo para a frente para esconder seus rostos. Ela
continuou tentando dobrar os joelhos e conseguir que seus rostos
ficassem mais nivelados, mas cada vez que ela o fazia, ele a empurrava,
empurrando-a para cima.

— Você é uma porra de deusa. Uma rainha guerreira, — ele


sussurrou contra sua garganta. — Eu queria fazer isso a muito tempo.

Ela se afastou, piscando, e disse: — Jamie, não posso. Não...


Agora. Ou aqui.

— Eu sei, — disse ele, o tom carregado de pesar e desejo e frustração


controlada. — Considere isso, — ele murmurou enquanto dava um beijo
na protuberância de cada seio, em seguida, inclinou a cabeça para deslizar
a língua entre os lábios dela, quente e escorregadia e provocante, — um
prelúdio para o que acontecerá mais tarde.

Ela olhou para ele e respirou fundo. — Vamos. Você vai se atrasar.
CAPÍTULO SETE

Charlie resistiu ao desejo de tocar os lábios com as pontas dos


dedos. Uma rápida reaplicação do batom antes de sair do carro disse-lhe
tudo o que ela precisava saber. Seus lábios estavam inchados, seus olhos
brilhando, e Jamie parecia o gato que engoliu o canário quando entrou no
Metropolitan Club como se fosse o dono do lugar. As pessoas estavam
entrando, os manobristas pegando as chaves atiradas e ajudando
mulheres elegantemente vestidas nos carros.

Grace, Lyssa e a maior parte do restante da equipe estavam


agrupados do lado de fora das altas portas duplas abertas para permitir a
entrada de pessoas no saguão elegantemente decorado. Eles avistaram
Jamie e Charlie juntos. Olhos arregalados, bocas abertas, e Charlie ouviu
um suave ooooh que variou para cima e para baixo na escala.

— Vá em frente — disse ela a Jamie. — Você é o orador


principal. Eles ficarão preocupados até que você faça o check-in.

Ela conseguiu segurá-los por um tempo admirando vestidos


e penteados - esse primeiro time de garotas ficaria em sua memória por
muito tempo - mas finalmente Grace fez a pergunta que todos na equipe
queriam que fosse respondida. — Treinadora, você está saindo com ele?

— Não, não estou, — disse ela, sabendo que era mentira enquanto
falava. Os adolescentes podiam farejar mentiras sem nem mesmo tirar os
olhos do celular. — É que... nós nos conhecemos há muito
tempo. Éramos... somos amigos. Isso é tudo.

— Não me parece assim, — disse Grace. O resto da equipe acenou


com a cabeça. — Ele está muito, muito bem nesse uniforme.

E fora dele, Charlie pensou com uma leve histeria, então aproveitou a
oportunidade de ensinar aqui com Grace, quase se juntando a Bryce, que
agora estava considerando uma carreira no exército. — Ele é um SEAL da
Marinha na ativa. Ele se foi por semanas, até meses seguidos, sem contato
com amigos e família. Relacionamentos de longa distância são muito,
muito difíceis. Já experimentei antes e não funcionam. É melhor apenas
cortar os laços para que ambos possam seguir com suas vidas.

Os olhares incrédulos de Grace e Lyssa foram do rosto de Charlie


para um ponto logo acima de seu ombro. Ela se virou para encontrar
Jamie parado ali, seu rosto uma máscara. — Senhora Webber disse que eu
deveria checar com você, Grace, — ele disse.

Charlie poderia ter se chutado para a cozinha e para fora pela porta
dos fundos. É claro que Jamie iria checar com Grace; ela organizou a
programação. — Hum, sim, — Grace disse quando Charlie não falou. Sua
voz era fina, hesitante, não familiarizada com as frases formais que ela
provavelmente tinha ouvido de Eve ou do bufê do Met. — Obrigada,
tenente Hawthorn. Devíamos... pegar nossos lugares. O jantar será servido
em cinco minutos.
Sem olhá-la nos olhos, Jamie recuou e estendeu a mão para que as
damas o precedessem dentro do prédio. Suas garotas saíram em grupo,
deixando Charlie sozinha com Jamie.

— Você tinha que saber disso, — disse ela, com o coração batendo
forte no peito. — Jamie. Você tinha que saber disso.

Ele não se mexeu. — Eles estão esperando por nós, — ele disse
calmamente.

***

De acordo com Grace, o Met serviu a melhor comida de banquete da


cidade, mas Charlie teve que engolir a boca cheia de salmão grelhado com
aspargos, e ela não conseguiu nem provar o tiramisu. Sentado do outro
lado do púlpito, Jamie nunca fez contato visual com ela, focando sua
conversa em seu ex-técnico à sua esquerda e no superintendente das
escolas à sua direita. Charlie acompanhou a conversa entre seu ex-técnico
e o diretor Belmeister, mas, no fundo, ela se sentia mal.

Com base na expressão do rosto de Jamie, ele se sentia diferente


sobre o relacionamento deles. Ela o pegou de surpresa, mas ele a pegou
de surpresa. Ele realmente achava que eles poderiam ter algo de longa
distância, algo real e verdadeiro, algo que não apenas sobreviveria ao
teste do tempo separados, mas duraria para sempre?
Quando os convidados terminaram a sobremesa e o café, o diretor
Belmeister se levantou e agradeceu a presença de todos e, em seguida,
apresentou Jamie. Charlie se virou na cadeira e olhou para ele, para o
corpo que ela conhecia tão bem quanto o dela, para seu belo perfil. Ele
destacou os administradores distritais, o treinador Gould e seus
companheiros de equipe, depois fez uma pausa, suas mãos segurando o
púlpito. O coração de Charlie estava batendo forte em seu peito,
enquanto ela o observava.

— Aprendi resistência mental e força na quadra de basquete quando


estava no colégio, — disse ele. Ela congelou, de alguma forma sabendo
que ele falava de mais do que treinos e jogos, torneios estaduais. Ele se
referia a eles, na quadra perto dos trilhos. — Só comecei quando alguém
estava gripado. Eu geralmente era o sexto ou sétimo cara no banco até
que alguém precisasse de um fôlego ou estivesse com problemas —
ele fez uma pausa para tossir ‘Jonesy’ baixinho e a sala caiu na gargalhada
— ou precisávamos de uma estratégia diferente. Quando você começa no
banco, você tem muito tempo para observar seus companheiros, os
jogadores adversários. Foi aí que soube o que precisava aprender para ter
sucesso na vida: no banco e nas arquibancadas, vendo o time feminino
lutar pelo título. Assisti às jogadoras deixarem tudo o que tinham na
quadra por suas companheiras, por sua escola, por sua própria
honra. Quando entrei para a Marinha, essa foi a imagem que carreguei
comigo durante o básico, depois para a Hell Week no BUD/S, quando
pensei que não poderia ficar na praia e carregar minha parte de um poste
telefônico. Eu tinha em minha mente a imagem de uma jogadora de
basquete, machucada, arranhada, ligada e mancando, mas competindo
tão ferozmente que todos os outros ao redor aumentaram o jogo,
treinaram um pouco mais, ficaram o tempo extra para fazer mais lances
livres, colocar tempo na sala de musculação.

Ela parou de respirar, sua garganta se contraiu, as lágrimas brotaram


de seus olhos. Não havia um único som na sala, exceto seu coração,
trovejando em seus ouvidos. Ele não estava usando anotações. Não, as
palavras de Jamie vinham direto de seu coração.

— Isso é o que posso dizer, como um SEAL da Marinha dos Estados


Unidos. Que todo os exemplos de que você precisa para ter sucesso na
vida, para resistir a qualquer tentação que o esteja chamando, para
alcançar qualquer objetivo que você pensa que não pode alcançar, está
bem aqui na sua frente. Quando você achar que não consegue ler mais
uma página de Shakespeare ou correr mais uma volta, quando não
consegue dizer não àquela festa, saiba disso: o exemplo que você precisa
está na polícia e nos professores e nos bombeiros, e nos seus pais, tão
louco quanto parece agora. Acredite em mim, está em seus pais. Está em
seus treinadores. Está em seus companheiros de equipe. Garanto que está
em seus companheiros de equipe, os rapazes e moças com quem você
compete para representar o East Side High. E você é o exemplo deles
também. O talento e a dedicação nesta sala têm o poder de moldar vidas
para as gerações vindouras. Não se esqueçam disso. Obrigado.
***

Jamie desapareceu em uma multidão de pessoas querendo apertar


sua mão, contar histórias e, geralmente, ficar ao lado dele. Charlie sabia
exatamente como eles se sentiam, mas cada vez que ela tentava se
aproximar, ele conseguia colocar alguém entre eles. Ela finalmente o
localizou de pé no final do corredor para a cozinha, assistindo Eve Webber
deslizar por uma porta marcada GERÊNCIA. Keenan, um dos amigos SEAL
de Jamie, vestido com um silencioso terno azul-marinho, estava do outro
lado, perto dos banheiros. Ele deu um aceno de cabeça para Jamie.

— Você está muito popular esta noite, — disse ela, o tilintar de


talheres contra os pratos e as notas altas sobre um zumbido baixo
constante de risos e conversa.

Ele deu a ela um olhar cortante, então voltou seu olhar para o final
do corredor.

Ela mal sabia por onde começar. Tudo que ela sabia era que sua
paixão amigável e competitiva do colégio tinha sutilmente se
transformado em um SEAL da Marinha, bem na frente de seus olhos. —
Jamie, — ela disse incerta, — eu presumi. — Ela fez uma pausa. O
treinador Gould tinha um ditado sobre suposições e isso estava passando
por sua cabeça e pela de Jamie. — Achei que tivéssemos entendido o que
era.
Ele olhou para ela, afiado e conhecedor. — Aqui está o que eu
entendo, Charlie. Eu te amo.

Ela congelou, enquanto seu coração deu um crescente alley-oop14 no


peito.

— Não, — disse ele, meio para si mesmo, meio para ela. — Eu te


amo, claro que te amo, mas estou apaixonado por você.

— Você não pode estar falando sério. Ninguém se apaixona depois


de um longo fim de semana, — disse ela, mas mesmo enquanto falava
sabia que estava falando consigo mesma tanto quanto com ele.

— Não é um fim de semana longo para mim, — disse Jamie. Seus


olhos estavam determinados, com certeza. — Estou apaixonado por você
desde que tínhamos dezessete anos.

— O quê?

— Você me ouviu.

Ian caminhou pelo corredor, então entrou no escritório de onde Eve


não tinha saído. Desta vez, quando a porta se fechou, Charlie ouviu a
fechadura travar. — O que é isso? — ela perguntou, agarrando-se a
qualquer coisa que não fosse Jamie fazendo uma declaração de amor. —
Diga-me que não é um caso secreto. Eve Webber tem tanta probabilidade
de namorar um policial de Lancaster quanto eu.

14
Alley-oop ou “ponte área” é uma das maiores jogadas do basquete. Trata-se de uma assistência no
alto, quase sempre finalizada com uma bela “enterrada”. A ponte aérea é um lance que exige qualidade
no passe, visão de jogo e sincronia entre aquele que faz a assistência e o jogador que finaliza o lance.
— Definitivamente não é, — disse Jamie. — Ian apreciaria se você
esquecesse que viu isso.

— Sem problemas, — disse ela. — Eu deveria voltar para...

Ela se virou, mas ele a segurou pelo braço, seu aperto como ferro,
seu polegar roubando uma carícia, segurando-a ali. Ele não escondeu nada
dela, a deixou ver todas as suas esperanças e medos, a vulnerabilidade
deste homem guerreiro de aço em plena exibição para ela. — Eu te amo,
— ele repetiu. — Eu amo desde que éramos crianças.

— Jamie, — disse ela fracamente. — É apenas paixão. Você quer o


que você nunca teve.

— Você passou muito tempo com adolescentes e playboys, — disse


ele. — Homens de verdade não agem dessa maneira. É realmente assim
que você se vê? Esquecível? Como se eu te quisesse menos porque
fizemos sexo? Eu te quero mais. Eu quero você sempre, para sempre, na
minha cama, na minha vida, no meu coração. Eu nunca deixarei de te
querer. Eu aceitei isso há muito tempo.

Outro golpe direto no peito, sacudindo-a até à base. Ela recorreu a


uma coisa que sabia com certeza: relacionamentos à distância não
funcionam. — Eu moro aqui. Você mora em Virginia Beach. Que tal?

— Você mesma disse. Existem várias maneiras de manter contato


agora.

— Isso é bom para amizade. Não é suficiente para o amor, para um


relacionamento realmente ter sucesso.
— Vamos fazer dar certo.

— Como você sabe? Você nunca tentou realmente ter um


relacionamento com uma mulher enquanto estava na ativa.

— Porque a única mulher com quem quero um relacionamento é


você.

— Eu tentei. Nunca funcionou, — ela rebateu.

— Nunca foi comigo.

Ela quase riu de sua certeza, a confiança descarada e sólida em cada


linha de seu corpo, ombros, mãos, quadris e coxas, até que percebeu que
ele falava sério. Acredite. Seria diferente porque era ele. Porque foram
eles. Charlie e Jamie.

— Não, — ela disse. — Não posso fazer isso de novo, dar tudo o que
tenho para algo que realmente não existe. Quero o dia a dia, quero
alguém com quem acordar e ir para a cama, alguém que esteja por perto.

Seu polegar acariciou uma vez, seguro e quente, sobre a


protuberância do músculo que unia seu braço e ombro. Só uma vez. Um
arrepio percorreu sua espinha e ela estremeceu. — Verdade, Charlie. Eu
nunca estive por perto para você? Você esteve comigo a cada segundo
dos últimos dez anos.

Ela não podia mentir para ele. Ela deveria, mas ela não podia. —
Procurei você, cada jogo, em cada rua de cada cidade da Europa. Sempre
foi você, Jamie. Mas somos adultos, não adolescentes sonhadores. Já vi
dezenas de relacionamentos fracassarem sob a pressão da distância, do
tempo separados, de vidas separadas. Não me diga que não. As
probabilidades estão contra nós.

— Foda-se as probabilidades. Você prefere desistir do que falhar? —


Vindo de Jamie, era uma ordem. Uma demanda. Um desafio lançado
como uma luva no piso de parquete polido do Metropolitan Club, tão
semelhante a uma quadra de basquete onde eles lutaram contra todos os
seus desejos frustrados anos atrás. — Você não desiste. Você sempre joga
para vencer.

Ela olhou para ele. — Meus dias competitivos acabaram. Sou


professora e treinadora agora. Eu nem mesmo tenho jogado seriamente
nas últimas noites. Eram apenas jogos divertidos.

Ela pensou que isso era óbvio, mas com isso seu rosto mudou como
se ela tivesse lhe dado um tapa. Sua mão caiu de seu braço e seus ombros
se endireitaram, endireitando-se, tornando-o maior, mais amplo, mais
intenso. — Você não estava realmente jogando?

Em um flash ela soube o que tinha feito. Ela traiu sua verdade na
quadra, trazendo menos do que seu melhor jogo, e o olhar em seus olhos
a cortou até os ossos. — Estávamos arremessando por aí, — disse ela,
odiando as palavras mesmo enquanto as pronunciava. — Foi casual. Tudo
foi casual, — ela disse novamente, repetindo-se, tropeçando nas palavras
para explicar o que ela pensava ser óbvio.

Ele se inclinou na direção dela. — Eu não faço casual, — ele disse, sua
voz tensa, seus olhos cravados nela. — Eu nunca fiz casual. Você também
não. É por isso que iluminamos o céu toda vez que estamos a quinze
metros um do outro. É por isso que os jogos nos tornaram jogadores
melhores. Você e eu, nunca fomos casuais. Mas se você está me trazendo
uma versão meia-boca de quem você é, — disse ele, gesticulando entre
eles com a mão direita, chegando perto o suficiente da pele nua de suas
clavículas e seios para ela sentir o calor, — então estou fora.

— Jamie, espere — disse ela, mas quando ele se virou, ela não
conseguiu dizer as palavras. — Eu trouxe você aqui. Como você vai chegar
em casa?

Ele apenas olhou para ela, como se não pudesse acreditar nas
palavras fúteis que saíam de sua boca. Ela também não podia acreditar
nelas, mas as ouviu e estremeceu com sua própria estupidez. Seu pai, mãe
e irmão estavam aqui. Ex-colegas de classe, amigos, pessoas que ficariam
felizes em levá-lo à Hill. — Jamie, sinto muito, — disse ela.

Mas também não foi isso que ela quis dizer. Ele esperou mais um
segundo, então se virou e foi embora.

***

Uma hora depois, a sala estava vazia, exceto pelas jogadoras atuais,
que estavam todas esparramadas nas cadeiras ao redor de uma grande
mesa, sem sapatos, cílios postiços em uma pilha crescente sobre a mesa,
jogando a brisa. Charlie se aproximou da mesa para parabenizá-las pelo
trabalho bem feito e, em resposta, recebeu cara feia de adolescente mal-
humorada. Grace não fez contato visual quando disse: — Obrigada,
treinadora.

— Você tem um problema comigo? — ela perguntou a suas


jogadoras.

— Não, treinadora, — Grace disse, obedientemente.

— Sim, — disse Lyssa. — Você cometeu um grande erro.

Charlie e o resto da mesa olharam para ela. Lyssa silenciosa e


observadora, chamando-a para fora.

— Ele te ama. Você o ama. A sala inteira viu a maneira como você o
olhou enquanto ele falava. Todos nós sabíamos com quem ele estava
realmente falando, — acrescentou ela. — Você está sempre nos dizendo
para não desistir. Podemos ir para a faculdade, obter diplomas, porque
uma educação dura para sempre. Mas o que vai durar mais, o que faz
tudo valer a pena, é o amor. Se todas essas coisas significam que você não
pode ter amor, qual é o ponto?

Charlie olhou para ela. Foi o discurso mais longo que ela já ouviu
Lyssa fazer, e ela acertou em cheio com uma verdade profunda. Amor era
o que ela sentia falta, todos esses anos. O amor de Jamie.

Lyssa confundiu seu silêncio atordoado com discordância. — Tudo o


que você nos ensinou dizia que mesmo que perdêssemos um jogo,
aprenderíamos algo importante tentando. Que o esforço valia a pena,
independentemente do resultado. Você quis dizer isso ou não?
Contexto. O contexto era tudo. Ela falava sério quando se tratava de
educação, carreira, jogo. Mas amor?

Ela precisava descobrir e sabia exatamente onde fazer isso. — Sem


toque de recolher hoje à noite, — disse ela às jogadoras, e as observou se
iluminar um pouco. — Sejam espertas. Vejo todas vocês na escola na
segunda.

***

Ela dirigiu durante a noite de verão até à quadra de basquete. Jamie


não estava lá. Sem surpresa. A partir de trechos de conversa que ela ouviu
no início da noite, sua família organizou uma recepção após o
banquete em sua casa. Ela estacionou o carro, escorregou os calcanhares
e tentou pegar a bola de basquete que sempre rolava no banco de
trás. Driblando lentamente, ela caminhou até o centro da quadra e olhou
para o alto de Hill, onde a casa de Jamie se agarrava à beirada. Talvez
fosse sua imaginação, mas ela podia ouvir risos e música acima dos grilos e
o som do baixo de alguém vindo das profundezas do East Side.

Com a bola de basquete equilibrada contra o quadril, ela olhou ao


redor da quadra. Por mais da metade de sua vida, a quadra de basquete a
definiu, dando-lhe o andaime para criar uma vida para si mesma. Um
futuro. Quando ela voltou para Lancaster, ela pensou que era hora de
deixar seus dias de jogo para trás, para que pudesse ensinar uma nova
geração de mulheres sobre o jogo e a vida.

Ela estava errada?

Só havia uma maneira de descobrir.

Com a bola na mão, ela saiu correndo pela quadra, entrando no


capim-colchão do outro lado, e depois na calçada que levava à escada que
subia à Hill. Seu vestido brilhava em um rosa profundo e secreto nos
enormes rododendros crescidos que revestiam as escadas. As folhas
roçaram seus braços nus, arrepiando-se, mas ela não parou para pensar,
apenas continuou subindo, subindo as escadas de dois em dois, os pés
batendo nas tábuas de madeira enquanto ela subia cada vez mais
alto. Ofegante, ela tropeçou em um caminho de madeira entre duas
cercas de privacidade e saiu para a rua. Carros ladeavam o beco sem
saída e a estrada que conduzia ao bairro que descia pelo lado oeste
suavemente inclinado de Hill.

A vizinhança não parecia mais imponente, secreta, fechada. Charlie


mentalmente adicionou correr aquelas escadas ao seu plano de
treinamento para as meninas. O rigor de subir as escadas e depois descer
a colina aumentaria os músculos das pernas para durar um jogo
de quarenta e oito minutos e derrubaria quaisquer barreiras mentais
entre o East Side e Hill.

Depois de recuperar o fôlego, ela colocou a bola entre o pulso e o


quadril, caminhou pela calçada até à porta da frente de Jamie e tocou a
campainha. Ian abriu a porta, vestindo sua calça de terno e camisa branca,
sua gravata afrouxada, uma cerveja em uma das mãos. Seus olhos se
arregalaram levemente. — Charlie, — disse ele.

Ela podia ouvir conversas e risos, música tocando ao fundo. Por um


momento, a sensação de estranha em uma terra estranha a inundou. Ela
desejou ter pensado em colocar os sapatos de volta. — Oi, Ian.

— Entre. — Ele deu um passo para trás e fez um gesto para dentro da
casa.

— Eu só quero falar com Jamie, — disse ela, balançando a cabeça.

— Olhe, Stannard, me ajude aqui. Minha mãe vai me bater se eu


deixar um convidado na varanda da frente, — disse ele.

Ela entrou no saguão, tentando não ficar boquiaberta. — Sobre o que


você viu no Met, — ele começou.

— Eu não vi nada, — disse ela com firmeza.

— Não é pessoal. Não posso dizer nada mais do que isso, mas
acredite em mim quando digo que não tenho nada acontecendo com Eve.

Ela colocou ‘não pessoal’ junto com ‘não posso dizer mais nada’ e
surgiu com o trabalho de Ian. — Eu conheço Eve, então não tenho
problemas em acreditar nisso, — ela disse, e recebeu uma risada bufada
de Ian.

— Quem é?
— Olá, prefeito Hawthorn. — Ela não conseguiu impedir que sua
coluna se endireitasse ou seus pés sujos descalços se enrolassem para
longe do tapete que cobria os ladrilhos de mármore do vestíbulo quando
o pai de Jamie e Ian entrou no corredor.

— Treinadora Stannard, — disse ele. — Ótimo trabalho com as


garotas nesta temporada.

— Obrigada, senhor. Elas trabalharam muito duro.

— Bons treinadores inspiram isso, — disse ele. — Entre. Temos


alguns amigos, alguns dos membros do clube de reforço.

— Não posso ficar, — disse ela. — Eu só queria ver se Jamie...

— Você queria ver se Jamie poderia sair e brincar? — Ian


interrompeu, diversão dançando em seus olhos.

Agarrando-se ao que restava de sua dignidade, ela o fulminou com o


olhar. — Você poderia pegá-lo para mim, por favor?

— Jamie! — Ian berrou. — É para você!

— Oh meu Deus, — disse Charlie em voz baixa.

Sem resposta. Ela duvidava que Jamie pudesse ouvir Ian por cima da
música e risadas, mas ela não esperaria mais. Sem pedir permissão a Ian,
ela endireitou os ombros e caminhou pelo corredor, em direção ao
barulho e às risadas.

Pelo menos trinta pessoas estavam agrupadas nos cômodos que se


estendiam pelos fundos da casa, cozinha, copa, bar e sala de estar
rebaixada. Ela jogou na frente de dezenas de milhares, mas caminhando
sobre todas as pessoas ainda vestidos com seus trajes de banquete,
brilhantes, bonitos e polidos, refletidos nas janelas do chão ao teto com
vista para o jardim, estava a multidão mais assustadora para a qual ela já
havia jogado. E ela estava jogando um jogo que quebraria seu coração se
perdesse.

Jamie, sua mãe e várias pessoas que ela não reconheceu estavam em
um grupo perto da grande ilha com topo de granito. Seu coração
parou. Ele ainda estava de uniforme, a jaqueta abotoada até ao pescoço, e
parecia que tinha saído dos sonhos dela. Mas seu olhar era cauteloso,
guardado, e naquele momento toda a luta foi drenada para fora dela. Ela
estava lutando contra a coisa errada. Era hora de acabar com isso, de
deixá-lo entrar, de amá-lo com todo o seu coração.

— Charlie, — disse ele, medindo- a - seus pés descalços, seu vestido,


a bola debaixo do braço - e não encontrando nada que fizesse sentido. —
O que posso fazer por você?

— Devo um jogo a você, — disse ela.

Sua expressão não mudou. — E você quer jogar esse jogo agora. —
Ela acenou com a cabeça, remotamente ciente das pessoas os
observando, então discretamente afastando-se, pegando fios soltos de
conversas.

— Ou você traz o melhor jogo que tem, ou não jogamos.


— Daqui em diante, — disse ela, intensamente, porque esse era o
momento em que conquistaria o coração de Jamie ou perderia
tudo. Qualquer coisa que acontecesse na quadra era cereja do bolo. —
Meu melhor jogo. Sempre.

Jamie a olhou fixamente, os olhos semicerrados, a mandíbula


cerrada, depois colocou a cerveja na ilha e a seguiu pelo corredor até à
porta da frente.

— Onde estão seus sapatos? — ele perguntou enquanto caminhavam


para a noite de primavera. Grilos, uma pitada de frio no ar, estrelas
pairando no alto.

— No meu carro. Perto da quadra.

Eles caminharam durante a noite até ao caminho que conduzia à


escada, Charlie descendo rapidamente por eles, Jamie em seus
calcanhares. O desejo ainda estava lá, aguçado pelo medo e pela
esperança. Jamie parou em frente a ela, a cesta nas costas, e colocou as
mãos nos quadris.

— Você vai jogar comigo descalça, — disse ele, mas não estava
perguntando.

Ela driblou a bola da mão direita para a esquerda, um cruzamento


fácil e solto, de volta ao seu elemento, confiante. — Não importa, — disse
ela. — Você irá cair. Duro.

Ele bufou, então olhou para ela, ainda cauteloso. — Estamos jogando
para quê?
Ela respirou fundo. O ar estava mais fresco perto do rio, nítido e doce
em seus pulmões, arrepiando em seus braços, ou talvez isso era Jamie,
bonito, forte e fiel em seu uniforme de gala. — Um a um. Se você vencer,
nós damos uma chance. Um relacionamento. Longa distância.

— E se você ganhar?

Seu coração estava batendo forte em sua garganta,


assustadoramente fora do lugar. Nervos como ela não sentia, exceto nos
jogos do campeonato. Os reais. Para cobrir os nervos, ela atirou a bola
nele com um passe forte no peito. — Nós tentamos.

A esperança cintilou em seus olhos quando ele a pegou


automaticamente, nem mesmo pestanejando. — Portanto, estamos
competindo pela mesma coisa.

— Exatamente, — ela disse, então engoliu em seco. — Estamos


competindo por nós. Lutando por nós. Isso é o que eu quero. Você ainda
quer isso?

Ele atirou a bola de volta para ela, com a mesma força. — Quando
você vai enfiar na sua cabeça que eu nunca vou parar de querer você?

Suas mãos doeram com o impacto da bola. Seus olhos ardiam com o
impacto de suas palavras. — Jamie. Eu não sou…

— Por quem vale a pena lutar? Foda-se se você não é. Foda-se se


você não é. Amo você impulsionada, zangada, intensa. Eu amo que você
estorou o limite de faltas em mais jogos do que qualquer outra pessoa em
qualquer time em que você já jogou. Eu amo que você não jogue pelo
seguro, que você deixe tudo na quadra, pegue os cotovelos e ombros e
devolva logo. Amo que você lute por seus alunos com a mesma ferocidade
com que lutou por si mesma. Tudo que eu quero é lutar ao seu lado.

A bola caiu no cimento enquanto ela cobria o rosto com as mãos, a


emoção apertando sua garganta, as lágrimas brotando em seus olhos. Ele
passou um braço em volta dos ombros dela e puxou-a para perto, então
envolveu o outro em volta de sua cintura para garantir. — Shh, — ele
disse enquanto ela colocava o rosto em seu ombro. — Entendi você.

— Não, — disse ela, contorcendo os ombros até que ele a soltou. —


Nós jogamos por isso, — disse ela, enxugando os olhos, depois olhou ao
redor da quadra, encasulada no crepúsculo da primavera, e soube que ele
entendeu exatamente o que ela queria dizer.

— Manda ver, Stannard, — disse ele.

Com as mãos nos quadris, ela caminhou até à meia quadra, descalça,
ainda com o vestido, mas ele calçava sapatos de amarrar brilhantes que
não agarravam melhor ao cimento e o uniforme era muito bem talhado
para permitir grande mobilidade. Ele checou a bola para ela, e ela dirigiu
em direção a ele, sem segurar nada para trás, usando os ombros e quadris
para fazê-lo ceder, ceder ou lhe causar falta. Ele se aproximou, forçando-a
a lutar por cada centímetro da quadra. De repente, ela mudou para um
ataque frontal, baixo no chão, driblando com a direita, depois com a
esquerda, depois com a direita novamente, os cruzamentos lentos e fáceis
de seguir, esperando que ele baixasse a guarda.
Ele baixou. Ela fingiu direito. Ele comprou, comprometendo seu peso,
um roubo, exceto o seu, quando ela saltou um crossover perverso e o
deixou tropeçando nos próprios pés. Dois grandes passos, um salto alto,
sua saia brilhando vibrante e crua à luz da rua, e ela beijou a bola contra a
tabela por dois fáceis.

A risada de Jamie caiu no ar. Quando ela se virou, ele estava parado
onde ela o havia deixado, as mãos nos quadris, os olhos brilhando de
amor, admiração, deleite.

— Boom, — disse ele. — É disso que estou falando.

— A noite toda, — ela disse em sua melhor voz de conversa fiada


enquanto ela driblava de volta para o topo da chave. — Eu vou possuir
você a noite toda. Você vai perder, Hawthorn.

Ele riu novamente, rico e cheio, e caminhou até ela, passou o braço
em volta de sua cintura e a puxou. — Enquanto estivermos jogando
juntos, eu já ganhei.

FIM
Próximo Lançamento

A história de Eve Webber e Matt Dorchester.

Under The Surface.

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