Você está na página 1de 16
A inddstria, Na Franca, pats de fraca demografia durante século XIX ¢ a primeira metade do século XX, embora desenvolvendo-se a um ritmo menos répido que o da Ale- manha e da Gri-Bretanha, a urbanizagio e a industraliza- so traduzemse por um’ éxodo rural, responsével pelo esvariamento de certas regides (plaids de Leste e do Su- deste da Bacia parisiense, montanhas medianas) e pela imigragdo de trabalhadores estrangeiros. Existem, por conseguinte, duas situagées: por um lado, na Franga, re- sides rurais, decadentes e empobrecidas ¢ pouco povosdas, onde o pattiménio imobilidtio vai se deteriorando (aldeias abandonadas), onde os servigos e os equipamentos indis- pensiveis 2 populagdo remanescente 6 de manutencio cara e dificil, € onde os problemas ecanémicos séo de ordem essencialmente agricola; de outro lado, na Renania, cam- ‘pos povoados, mas nos quais apenas uma pequena fragio ‘da populacio’ residente se entrega a trabalhos agricolas. © ccontraste € patticularmente acentuado entre a Lorena, por exemplo e a regio de Bade ou o Wurtemberg: na Lorena, temos o espetéculo de campos muitas vezes exa tidos e’ maltratados, de aglomeragées mediocremente org; nzadis nas baci fersiferas ¢ hulhiferas onde a ausénca le uma politica industrial condena ao desemprego parte dos trabalhadores, muitas vezes de origem estrangeira, enquanto nas duas outras regides podemos presenciar tspeticilo descrito por E. Juilaed em L'Eurdpe rBénane “os campos se estd0 urbanizando, o que nfo significa que estejam se transformando em subiirbios mas si saindo de seu isolamento, a fim de participar das vante- ‘gens oferceidas pelas cidades cm terms de equipamentos coletivas de mobikdade © de posbildade de sscesio 68 CAPITULO V ESPAGO RURAL E ESPAGO URBANO © espaco geogrifico & simulteneamente organizado € dividido, A divisio pode obedecer a critérios funcionais, tzaduzidos nas paisagens. Desta forma, as paisagens orge- nizadas se dividem entre cidades campos, entre espaco ‘unbano e espago rural. Caracteriza-se cada um dlesses espa- ‘g08 por uma fisionomia propria, por ritmos de atividade, por densidades humanas ¢ por fluxos diferentes, Nas so- ciedades industriais, entretanto, as fronteiras entre 0 espa- ‘0 rural e 0 espaco urbano tendem a ir se tornando cada vez menos precisas ¢ mais flutuantes. Imprecisas, pois € dificil fornecer uma definigio a0 mesmo tempo exata completa de cada um dos espaos, © movedigas pois 0 espago urbano vai crescendo as expensas do espaco rural. espaco urbano deixon de constituir uma pontual para estenderse em manchas criadas pela urbanizagio, urbani- zagio essa que, na medida em que vai levando para os ‘campos equipamentos © modalidades de consumo andlogos ‘aos das cidades, se vai estendendo pelas regides rurais ceujas condigées de vida estdo sofrendo uma transformasio profunda, Contudo, por razées tanto de comodidade como de contetido, seré’ necessétio manter a distingio entre espaco rural e espago urbano, 69 I — 0 espaco rural No sentido habitual da expressio, espago rural é 0 campo. Surgiu na superficie do mundo por ocasifo de “revolugio neolitica”, trazendo consigo os ptimérdios da agricultura ¢ as primciras formas de organizagio do espaco, fem vista de uma producto agricola: isto ocorreu no Egito € na Mesopotimia, ha sete milénios. Recupere, em segui. da, os limites aproximados do oekumeno, em seu sentido ‘mais estrito. Assim, o espaco rural ocupa na Franga cerca de quatro quintos da rea total do pais. Entretanto, esta percentagem & muito mais baixa em paises como o Peru, conde os desertos, as altas montanbas e a floresta densa go desbravada cobrem mais de nove décimos do ter trio, © espaco rural constitui, € sobretudo constitufa, em primeito lugar, o dominio das atividades agricolas e pasto- ris, “Todavia, as atividades agricolas ¢ a pecuéria que, em escala mundial, ocupam a maior parte do espaco rural, no excluem outras formas de utilizasio das superticies, Nas regides rurais dos pafses industriis, 0 espago também € utilizado para atividades recreativas ¢ para 0 repouso, Compreende florestas a que se aplicam tratamentos seme. Ihantes aos das éreas agricolas; serve de tesidéncia para uma populagio de que apenas uma parte, cada vez mais reduzida, se dedica & agricultura, Alifs, set conveniente precisar 0 sentido das palavras: ‘tudo que diz respeito ao campo deve ser considerado rural. Assim, populacio rural € a que reside no campo, Ore, somente uma minoria da populagio que vive nos campos dos pafses industriais se dedica-ao amanho da terra. Na Franca, entre 1856 ¢ 1962, @ populacéo rural baixou de 26 milhées pata 17,9 mic Ihdes ¢ um de seus elementos, a populagdo agricola que era de 18,5 milhées cain para 7,3. milhdes. Esta redugio € sinda mais acentuada na Alemanha e na Inglaterra. Du. 70 rante 0 ‘ltimo século, os campos da Renfnia _permanece- zam densamente povoados e seus efetivos globais témse mantido, Atualmente, um sexto da populagio ativa dos campos tenanos exerce uma atividade agricola qualquer. Sob este aspecto, observa-se uma flagrante diferenga entre essa regio © os paises subdesenvolvidos que conservam ‘uma populacio rural cujos quatro quintos (caso da {ndia) siio agricolas. Foi esta a situagio da Europa ocidental até © século XVIL Contudo, embora a importincia dos agricultores nos campos da Europa ocidental esteja em constante declinio, as utilizagbes agricolas continuam a ocupar a maior parte do espago rural, conferindo a suas paisagens muitas de suas caracterfsticas predominantes. Dos 55 134000 ha de superficie total da Franca, somente 4 881300 ha sio arrolados entre os setores extra-agricolas e 3692000 ba do dominio agricola permanecem inexplorados. _ Mesmo que a extensio das terras incultas aumente até o fim deste século, dificilmente seria ultrapassada a cota de 15% do territétio para éreas no ocupadas pela agricultura, pela pecudria ou por exploragdes de cariter florestal. A fisionomia do espago agricola e de seus compo- nentes esté intimamente associada as contingéncias climé- ticas, independentemente do grau de desenvolvimento da agricultura. As atividades obedecem 20 ritmo das esta- goes, & alternancia de uma estagio seca e de uma estacio ‘imida no dominio tropical, ¢ a de uma estagio fria e de uma estagfin quente nas latitudes médias, Ao opgdes_na utilizagéo agricola do solo estio igualmente na dependén- cia da natureza fisica e quimica dos solos, susceptiveis entretanto de serem profundamente modificedos pelos pro- cessos de cultura e pela adubacéo. Nao existem termos de ‘comparacio entre 0 esquelético solo de um deserto ¢ 0 que poder ser encontrado alguns anos mais tarde, no mesmo Jocal mas dentro de um petimetro submetido a itrigasio. 1 A acio humana tende a modificar 0 solo. Um mesmo solo nfo sofreré uma evolucéo uniforme se for arado, ou se sobre ele se estenderem campos ou uma floresta, A importincia do meio fisico muda de significado, segundo as técnicas agricolas, Solos leves, féceis de serem traba- Thados, sero considerados “bons” por agricultores que 36 disponham de instumentos rudimentares para 0 amanho da terza, 80 passo que os solos “pesados”, que retém as 4guas das chavas, nfo setio_vistos com bons olhos por esses mesmos agricultores, Em compensacio, 0 inconve- niente do “peso” das terras diminui diante da agriculrura ‘mecanizada, Solos dcidos, depois de cortigidos com uma adubacéo calcérea, podem se transformar em excelentes tetras para ceteais. Exemplo disto é a Bretanha deste ‘iltimo séeulo, De modo que o significado do solo no espago agricola, muda de acordo com as ténicas e com ‘0s objetivos econdmicos da sociedade que o utiliza, O ‘mesmo acontece com as injungées e vantagens do clima A. genética contribui para deslocar os limites climéticos das culturas, A expansio da cultura de milho hibrido nas planicies francesas a0 norte do rio Loire constitui um exemplo bem recente. muitas vezes, a regiéo de origem de uma planta cultivada, com o correr do tempo, passa a teptesentar um setor muito pouco favordvel, quando nfo sua cultura, pelo menos & obtencio de uma produtivi dacle méxima, Nio & nos Andes tropicais que se podem ‘obtet os melhores resultados com a cultura da batata... Contudo, ¢ este ponto & essencial, as injungdes natu- ais nunca deixam de pesar sobre a utilizagio do espago agricola, sendo dificilmente redutiveis, mesmo quendo ‘mudam de sentido: chuvas que caem no momento opor- tuno sempre permitem uma boa colheita de trigo. Para uma sociedade que vive sobretudo em regime de auto-si- ficiéncia, como em determinadas aldeias do Pendjab, o ano € considerado excelente na medida em que a exis. 72 téncia de silos possibilita a conservacio do trigo. Para agricultores que vivem numa economia de mercado, na qual as transagSes © as trocas se efetuam a longas distin- cias, uma boa colheita local pode ter dois sentidos: se as colheitas tiverem sido més em outras zonas produtoras 95 pegos subirdo e o ano seré excelente para o setor cli imaticamente favorecido; ou entfo, se as colheites tiverem sido boas em toda parte, os pregos cairo e a “boa colhei- ta” send catastréfica. © espaco agricola é um espago extenso, de caracte- risticas pontuais ou lineares apenas nos ofsis ou nas cle- reitas das florestas. F um espaco caracterizado por uma economia difusa. Observase, sobretudo nas regides tropi- cais, uma relagio bastante estreita entre a densidade da ‘ocupacéo humana e a modalidade de utilizagio do solo para a agricultura, As densidades podem ser ento muito clésticas, indo desde uns poucos habitantes por quilémetro quadrado nas orlas “sahelianas”” da Africa sudanesa, até indices de um milhar de habitantes por quilémetro quadra- do, comprovados nas planicies aluviais da Asia das Mon- ses ou de Java, Existe, neste caso, uma ligagio muito estreita entre @ produtividade agricola da érea ¢ a densi dade. Nos campos dos paises industralizados, esta relacdo se despoja de boa parte de seu significado, de um lado porque a produtividade do solo independe do niimero de agentes consagtados ao trabalho da terra, por outro lado porque a maiotia da populagio rural é “‘nfo-agricola” € exerce outras atividades, quer no ramo da indiistria, quer rno da prestagio de servigos. Contudo, em parte alguma do espago agricola, serdo observadas densidades anéloges fs das cidades. Mesmo em regides de agricultura inten- siva ¢ de alta produtividede, o valor produzido por wi dade de superficie de tempo’ se mantém em niveis muito infetiores aos dos obtidos nas cidades. Hi menos con- corréncia para a aquisicio de terras e além disso os precos 2B se aplicam a unidades diferentes de superficie: 0 solo ur bano € avaliado por metros quadrados eo solo agricola por hectares (10 000 m). O espago agricola compreende os terroirs, isto 6, de scordo com a definicio de Pierre George: “o conjunto de terras cultivadas por uma coletividede social unida por ‘i606 familiares, e culeurais, assim como por tradigées mais ‘ou menos vivas de defesa’ comum ¢ de solidariedade de exploracio”. O terroir, a gleba, espago cultivado por uma coletividade agricola, difere do jinage (terrenos comunais) Rogio que se aplica ao espago ocupado e juridicamente reconhecido, As glebas (‘erroirs) caractetizam-se pelo formato dos campos, por sua disposicao, pelo parcelamento e pela tri. mma de estradas. A anilise do espaco rural inclui o habitat, que € a modalidade de distribuigéo da populagio no inte. rior de um espago determinado, As famflias de terroirs sio bastante numerosas, pres- tandovse, entretanto, a um agrupamento em tomo de al. guns tipos caracteristicos. Assim, na Franga do norte do rio Loire, os derroirs se dividem em “campagnes” (no sentido estrito) ou regio de campos abertos onde os gran. des conjuntos de campos cultivados, de prados © de flo. estas sio bem distribufdos sem se imbricarem estreita: ‘mente uns nos outros, e em “bocages”, zonas arborizadas, onde as dreas cultivadas sio cercadas e podem set interca, Tadas de prados freqiientemente plantados de drvores. Mas existem formas de transicio entre o “bocage” ea “cam, agne”. Na regio de Caux, os micleos rursis si0 contor. nadus por sebes vivas, as campinas das proximidades das farendas séo limitadss por muretas e os campos de cultura se abrem para a parte externa de um ntcleo atbotizedo que assinala a localizagio do grupo de habitagdes. O openfield ode assumir vétios aspectos, A paisagem de tipo “mo. saico openficld”, da regito de Brie, na qual parcelas de 74 grandes dimensées aparecem imbricadas como os elemen- tos de um mosaico, nfo possui a mesma fisionomia ‘nem teve a mesma génese que 0 openfield em faixas, de estrei- tos € compridos campos, da Franca de Leste. O ““hocage”™ em largas manchas ¢ com sebes estreitas da regio de Bray aio se assemelha aos seus congéneres vendeanos, de espes. sas sebes ¢ cortados de culturas. De um modo bastante getal, um Aabitat disperso em’ micleos ou em fazendas isoladas acompanha 0 “bocage”; existem porém algumas excegdes com a do habitat do “bocage” de Tigrache cuja Populacio se aglomera em aldeias. E esta a forma mais freqiiente do habitat das regides de campos abertos, onde aparece niicleos ocasionais ou entio grandes plantagées isolades ma periferia do finege (territorio comunal). ©. ocage © a campagne sio expresses de certas sociedades ageirias; so paisagens “'construfdas”, que, como acontece com toda construsio, conservam vestigios do. passado. Mas esas paisagens évoluem. O “bocage”” do Oeste, cujas oigens remontam prova- velmente, em certas regiGes, 2 época carolingia (nas pro. ximidades de Redon) teve seu periodo aureo sua exten: so méxima no fim do século XIX. As causas de sua constituiglo variaram, de regiio para regio, e de acordo com as épocas: algumas vezes, 0 que atuow foi um fator juridico (limite de propriedade), outras vezes, algum fator técnico (a sebe viva protege as culturas contra incursGes do gado); tanto pode ter interferido um fator climético (protesio contra os ventos de Oeste, como um fator étni, co (0 pretenso individuelismo dos Celtas, apregoado por Meitzen). Por vezes, entram em cena vatios fatores, endo entretanto haver também uma convetgéncia defor. mas proveniente de relagdes de causalidade diferentes, Desta_maneira, como em toda interpretacio, ¢ em toda explicaglo do espago geogtéfico, intervém elementos de natureza diferente, embora cada qual atue segundo sea ED peso especifico. O “bocage”” também pode ser desfeito, transformado, como ocorre atualmente em vastos setores do Ocste da Franca. Sebes vivas vio sendo destruidas, os caminhos escavados esto desaparecendo enquanto vai sen- do modificada a rede vidria, 0 tamanho das parcelas tem aumentado ¢ as rvores esto sendo arrancadas dos cam- os. Tudo isto esté sendo provocado pela modernizacio da agricultura através da motorizagio e da mecanizacio. Estas transformagoes sio facilitedas’e aceleradas, além de tommadas menos onetosas gracas a0 bulldozer que deita por terra as sebes enquanto vai sendo aplicada uma politica de reagrupamento, subvencionada por fundos piblicos ¢ des- tinada a facilitar @ reunido das parcelas e a reestruturacio da rede vidria, Modificagées andlogas podem ser obser- vvadas nas regides de campos abertos. ‘Também ali se pro- cede a uma teotganizacio do sistema de parcelas (menos ‘oneroso que na zona do “bocage”); as modificagées intro- duzidas no regime das culturas témse tomado cada ver mais complexas, tanto por razSes técnicas como para aten- der as necessidades do. mercado, Pelo menos nos pafses industrializados, cabem a0 espaco rural outras fungGes além das normalmente associa- das 2 produsio agricola as quais vio paulatinamente per- dendo grande parte de sua importincia nesses locais. Esta adguitindo as caracterfsticas de espago residencial © desti- nado a0 repouso, a0 lazer, no qual se procura preservar © utilizar da melhor maneira possivel algumas preciosidades cada vez mais raras nas sociedades urbanas: siléncio, ttan- guilidade, ur puro, dgua e vegetacio. Em cettas estagdes de turismo, © espago pode ser monopolizado por esta fungio de telaxamento descanso. Surge por vezes uma concorréncia entre as diversas atividades praticadas num mesmo espago, levantando o problema da necessidade de uma opgio, Em algumas florestas, 0 movimento tutfstico ynem sempre se mostra compativel com a exploracio ideal 76 dos bosques. Mas em getal existe uma complementatida- de, Sem a agricultura, muitas paisagens procuradas pelos hhabitantes das cidades durante as {érias no seriam con- servadas e perderiam boa parte de seu encanto. Nessas mesmas sociedades, 0 espago rural € um espa- ‘0 tutelado, largamente subvencionado, mutilado eventual- mente pela urbanizagio responsivel pela degradacio de algumas de suas partes situadas nas proximidades das grandes aglomeragdes; é um espaco entrecortado ¢ reta- Thado pelas vias de comunicagio (estradas de ferro, de rodagem etc.). Serve com efeito de suporte para as’ co- ‘municagSes que possibilitam as relagdes interurbanas. Se- 14 possivel estabelecer uma distingio ocasional, © sempre bastante formal, entre as redes que ligam as cidades ¢ a8, redes de segunda ou de terceira ordem destinadas ao ser- vvigo do espago tural. Entretanto, a densidade das redes, no € susceptivel de comparacio com a de irrigagio das idades. No espaco rural, os pontos nodais permanecem elementares: si0 a5 aldeias, os burgos ¢ os vilarejos. A sociedade que ocupa 0 espago rural € muito me- nos diferenciada, do ponto de vista profissional, que @ sociedade urbana, O nivel de vida médio e o padrio de consumo dos individuos so ali inferiores aos dos habitan- tes das cidades, pelo menos na Franca e nos paises sub- ceaenvolvids. Bata cecunstocs tem visas explagies: primeiro, porque a populagio rural é, em parte, agricola, € a populagdo agricola, considerada globalmente, ¢ pobre (oa Fran, cla presenta eres de um sexo da poplago ativa € 86 conttibui com 10% da renda nacional); além disso, a populacio rural € fregiientemente envelhecida e comporta uma importante fragio de aposentados (no Yonne, um sexto da populagio é constituido de aposenta- dos); ‘em terceito lugar, porque as remuneragdes mais celevadas © 05 rendimentos mais significativos concentram- se nas cidades, Nao obstante, a populagio rural aspira soe 7 — 408 beneficios dos setvigos basicos, & semelhanga do que ©corre com os habitantes das cidades, Este anseio por uma patidade leva a urbanizagéo dos campos, Ja na ‘Tn- alaterra e nos Estados Unidos, pelo menos em fepides de aspecto tural situadas nas imediagSes das cidades, a popu lagi residente ‘no campo” (sem ali trabalhar) dispoe de rendimentos anélogos ¢ até mesmo superiores aos dos ha: bitantes de baitros urbanos e pode contar com a presta- io de servigos equivalentes, De modo gue a distingio nize cidade e campo acaba esmaecendo; temos regides uurbanizadas com densidade de ocupagio mais ou menos forte, zonas de ruido e zonas de siléncio, Il — 0 espaco urbano 1 — Caracteristicas do espaco urbano — Espago ur- bano € a superficie ocupada pelas cidades ou pelo menos 4 superficie necessiia ao funcionamento interno da aglo- meracéo. Compreende as teas construfdas, a rede urbana de ruas, as implantagdes de empresas industrisis © de ‘transporte, os jardins, os parques de diversio ¢ de lazer, colocados 0 alcance imediato do citadino. Durante muito tempo, nio houve dificuldade alguma para se estabelecer a distingio entre espago urbano e espago rural. A super- ficie da ‘cidade era delimitada (algumas dezenas de hecta- es ou, quando muito, alguns quilémetros quadtados), ¢ freqiientemente cercada de fortificagdes. Basta lembrar as cidades medievais. “Os hebitantes' eram regidos por um direito particular, diferente do que imperava nos campos, ¢ alguns privilégios podiam mesmo Ihes ser concedidos, A. esa ¢ a extensio desses privilégios constituiu 0 micleo em torno do qual se formou na Europa ocidental dos fins da Idade Média, uma classe social urbana: a burguesia. Com efeito, até a segunda metade do século XIX e mesmo até o século XX, nfo havia praticamente nenhum proble- 78 ‘ma quanto A distingo sobte o terreno c a sociedade da ci- dade © do campo.” Esta distingio podia ser localizada ¢ codificada, Com a ampliagio da drea das. aglomeragies, a penetragio fisica da urbanizacio no meio rural, o inter- cdmbio cada vez mais intensificado ¢ diversificado entre cidade ¢ campo, as delimitagSes e as distingdes, sobretudo nas sociedades industriais, yo se tornando também mais dificeis de serem estabelecidas. Se a definigéo da cidade nao ofetece dificuldade no caso das grandes aglomeracées, j4 0 mesmo nao ocorre quando se trata dos niveis infetiores. Declara 0 gedgrafo Derruau que, embora a nogio de cidade parega clata para todos, € dificil definia em termos ao mesmo tempo pre- s € que cubram toda a imensa variedade de aglomera- ‘Ges consideradas urbanas. As mais das vezes, a cidade implica a nogio de aglomeracio continua, de trama forte- mente construida e de convergéncia de redes (estradas de ferro © de todagem, canalizagées, adutoras de agua, de clefone, eletricidade, esgotos etc.). Parece cOmodo ¢ so- bretudo necessério adotar um critério estatistico, Pode set considerada cidade toda aglomeragfo continua que retina mais de 2.000, 5000 ou 10.000 individuos, segun- do os paises. A cidade serd definida em outros paises a partir de suas fungies administrativas e politicas e do equipamento de que dispée para si mesma e para os habi- tantes de suas cercanias. Os prdprios estatisticos no se satisfazem com critérios meramente quantitativos. De modo que propuseram & conferéncia reunida em Praga fem 1966 a segninte definigio de populagio urbana: (a que €) “formada pelo conjunto de individuos que residem ‘num agrupamento de habitages compacto, perfazendo um rnimeto minimo de 2000, com a condigfo de que pata os niicleos de menos de 10 000 habitantes o efetivo que vive do trabalho da terra nfo ultrapasse os 259. Acima deste ‘nimeto, todo agrupamento ser considefado urbano.” 2 Esta definigéo aceitével para a Europa ocidental. Forse a incluir entre as urbanas algumas aglomeragGes da Tndia e dda Nigéria que chegam a atingir 50000 individuos mas euja populagio ativa é na maioria agricola. Em compen. sacio, leva a deixar de fora algumas ctiagées americanas recentes, providas de um micleo central de servigos nas quais os conjuntos residenciais constituidos por residéncias cercadas de jardins so intercalados de sctores nfo cons. truidos, de florestas, de prados, de terras ardveis ¢ até ‘mesmo de descrtos, 'Observam-se ai as limitagées de uma distingo demasiadamente formal entre espaco urbano € espago rural nos paises tecnicamente adiantados © de ele- vado padio de vida. Dentro de sua diversidade, 0 espaco urbano é suscep- tivel de ser definido quase que em toda parte do mundo por um certo alimero de dados. Caractetiza-se pela con- entragao do habitat numa drea limitada e com o freqiiente aciimulo da populagio em iméveis de diversos andares. uum espago completamente equipado que, devido a forte densidade das instalagdes e da pronunciada concorréncia para a utilizagéo do terteno, atinge um pteso muito eleva- do; esta circunstincia, devido as exigéncias da rentabili- dade, leva i concenttagio de atividades altamente dutivas por metro quadrado. Nele se desenvolvem ativi- dades muito densas, Suas transformagGes se tornam muito ais delicadas © onerosas que as efetuadas no espaco rural, do somente em razio do alto custo do terreno como tam. bém por causa da densidade dos fluxos operados numa superficie exigua, Trata-se, por conseguinte, de um es- aco dificilmente permeavel as transformagdes: contudo, 2 diversidade das solicitagies de que é objeto, faz com ue esse espaco venha softendo modificagies muito pro- fundas nestes limos decénios, provocadas tanto pelas altetagdes nos transportes (0 automével veio transtornar | © tracado das cidades antigas), como pela modificagio das \ | 80 i atividades mas sobretudo pela extensio de todas as cidades do mundo. © espago urbano & um espago limitado que aparece ‘nos mapas em escala reduzida simbolizado por pontos € manchas ora alongadas, ora dispostas em forma de nebu- Josas. Quinhentos milhdes de individuos, ou seja, um sétimo da populacio do mundo, que vivem em aglomera- ses de 100 000 habitantes ou ‘mais, talver ocupem com suas habitagdes © com seus locais de trabalho, uma super- ficie que nio deve ir além dos 200 000 quilémetros qua- drados, isto é, dois quintos da superficie da Franca, Ape- sar de seu crescimento atual, que leva praticamente a duplicagéo da area urbana mundial em cada getagio, as superficies urbanas permanecem limitadas. Representam como que niicleos soltos num plasma rural ou “tecido interstical” segundo a expressio empregada por alguns especialistas em organizacio do territério. Contudo, a fim de poderem subsistit © funcionar, essas superficies exigem mobilizacéo de recursos provenientes de espacos muito vastos e destinados tanto a alimentagéo das popula. ‘982s como a seu abastecimento de égua e de energia. A mobilizacio © @ transporte desses recursos requer a insta- lagio de’tedes cujas linhas convergem para as cidades. Como jé observamos, o espago urbano € um espaco caro, em razio de sua escassez, das vantagens da posigao ¢ do equipamento af encontrado. Ha alguns anos, cal- culava'se que o prego de um hectare ao longo da avenida dos Champs-Elysées equivalia 20 do conjunto todo das terras agricolas das Basscs-Alpes, Trala-se de um exemplo de casos extremos. I nas cidades que se realiza a maior parte das atividades tercidtias, isto €, do comércio, da administragio, dos servigos em geral, ‘assim como a’ das atividades secundétias, isto é, industriais. Isto leva muito naturalmente a attibuir as cidades 0 poder de comando ¢ de diregio sobre suas adjacéncias rurais. poder econé 81 ‘ico das cidades é muito superior 2 simples concentrasio da populagio. Os quinhentos milhdes de individuos das cidades de mais de 100 000 habitantes (cerca de 14% da populagio mundial) dettm em suas mios ceica de um terco das rendas mundiais. Os desnfveis entre as rendas médias dos habitantes das grandes cidades ¢ as dos habi- tantes das zonas rurais obervam-se tanto na Colémbia co- mo na Franca © desenvolvimento do espaco urbano representa um fato significativo da época contemporinea. Em 1800, 15 milhdes, ou seja, 1,79 da populagéo mundial, calculada em 500000 milhées de individuos, viviam em cidades de mais de 100000 habitantes. Em 1950, 320 milhées, ‘ou seja 13,1% dos dois bilhées ¢ quatrocentos milhées, ‘concentravam-se em aglomeragSes de 100 000 habitantes cou mais. Em 1969, um sétimo da populacio do mundo, avaliada em t2@s bilhées ¢ melo, vive nas grandes cidades. © crescimento urbano efetuou-se durante 0 século XIX nna Europa ocidental, ¢ nos Estados Unidos durante @ se- gunda metade daquele século, Est se processando atual- mente principalmente na Asia, onde existem tantas cida- des grandes quanto na Europa, ¢ na América Latina, En- quanto na Europa, durante a primeita metade do século XX, o crescimento das cidades foi da ordem de 100%, fesse mesmo cfescimento chegou a atingir 450% na Asia Na América Latina, o indice do aumento do némero de hhabitantes de muitas capitais, fundadas pelos espenhdis no século XVI (Lima, Bogoté, Santiago etc.) vai além de 6 a 796 a0 ano, tendo dobrado a srea ocupada por essa idades no decorrer dos ‘ltimos doze anos. Por toda parte vio surgindo cidades grandes, por vezes no melo de regides que no inicio do século eram muito pouco po- ‘voadas e mediocremente urbanizadas, Basta lembrar aqui todo o rositio de grandes cidades da Asia central sovié- tica 82 2—A cidade no espaco — Toda cidade se define ‘no espaco geogifico por sua posiglo (ou situagio) © por seu. sitio; estamos diante de duas nogées distintas cuja anilise exige a utilizagio de documentos de escala dife- rente, Estuda-se a situagio de uma cidade em mapas de escala média ou pequena; jf 0 sftio € descrito a partir de mapas em grande escala. Para Derruau (1), “a situagio € a posicio da cidade ‘com relagio as regides'e as vias de comunicagio que esta belecem ¢ fixam as relagGes necessévias & realizagio das fungSes urbanas”; para P. George (2), “pode-se definit a posigio como sendo a localizagio da cidade com rclagio a fatos naturais, susceptiveis tanto no passado como no pre- sente de exercetem alguma influéncia sobre seu desenvol- viento, estruturado por sua vez pela facilidade de sua iradiasio”, Trata-se de uma nogio relativa, expressa em fungio dos fatores circunstanciais do desenvolvimento urbano. Esses fatores podem ser de ordem técnica, econd- mica ou politica, Fatotes técnicos: Laroche Migennes, s- tagio de muda das locomotivas a vapor na linha Patis- -Dijon pela qual se escoa o tréfego ferrovidtio mais pesado da Franca, perdeu parte de sua fungio quando a eletifi- cago veio suprimir a necessidade daquelas substituigées. Fatores politicos: Viena, capital do império austro-hiinga- 20, tomnou-se uma cidade grande demais, em 1919, para o pequenino Estado austrfaco, encontrando-se atualmente €m posigio excéntrica com relaglo a0 resto do pais. A situagio ‘da maioria das grandes cidades associase a exi- tncia de grandes eixos de comunicagio, Lyon definiu-se (@) AM, DERRUAU, Précis de etogrphie humaine, Pai Armand Colin. sean ae (2) P, GEORGE, Précis de glographie urbaine, Pati Presses Universitaires de France. paced og 33 nfo somente com relacéo ao eixo rodaniano que desem- bboca no Meditertineo’ como também com relagio aos Alpes, cujos desfiladeiros possibilitam 0 acesso 3 Itdlia do Norte. A fim de precisar a posigio de uma cidade seré conveniente utilizar mapas em escala média, como « de 1/200 000 ou de 1/500 000, ou entio as escalas peque- nas de 1/1 000 000’ ou de 1/5 000 000. “O sitio € 0 assento da cidade, & a localizagio exata do espaco construido, em suas relagdes com @ topografia local” (Dertuau). “Define-se o sitio pelo quadeo topo- agnifico no qual se enraizou a cidade, pelo menos em suas origens” (P, George). Pode ter sido uma colina de facil defesa em épocas conturbadas, ou algum terrago livre de inundagées, ou ainda um ponto situado na vizinhanga de um vau facilmente transponivel ou do estreitamento de tum rio onde foi possivel construir uma ponte. Para ana- lisar um sitio € preciso utilizar mapas em grande escala (1/20 000, 1/5000). O sitio de uma cidade pode mu- dar ou deslocar-se, O sftio de Lyon na época dos romanos ra a colina de Foutvitres, acima do Saéne; na Idade estendiase por sobre as colinas situadas nas duas margens do Saéne; no século XVIIT, abrangia essas _mes- mas colinas e mais a peninsula entre 0 Saéne e 0 Rédano, fenquanto nos séculos XIX ¢ XX, a urbanizagio chegou abarcar as planicies e terragos da margem esquerda do Rédano onde foi possivel a construgio de novos baitros, sem necessidade de considerar injungées topograficas de ‘monta, Um sitio pode valorizar-se © desenvolver-se no decor- rer da historia, Jé tivemos ocasiio de observar 0 aspecto relativo de uma posigio cujo significado se altera com os ‘meios de transporte: a partir da segunda metade do sé- culo XIX, Le Mans, situado num entroncamento ferro- vidrio importante no’ limiar da Franga de Oeste sobtepu- jou Alengon, situada numa via férrea secundiria, O sitio $4 fem, si_mesmo nio sofre alterages; evidentemente, ele poderé ser modificado pela agio do homem (uma plant cic sujeita a inundagdes € protegida por um dique, dre nna-se um pintano, aplaina-se 0 topo de uma colina). Mas © interesse do sftio inicial varia de época par epoca. O que pode sepresentar o valor de um s{tio numa determi- nada época talvez venha a constituir um dbice a0 desen. volvimento urbano, com o correr do tempo. Isto se aplica 4 quase todos os antigos sitios defensivos, As colinas, as oppida que foram bergos de tantas cidades revelam-se im. proprias & extensio urbana, custando muito eato adapt: vlas aos meios de transporte modernos; de modo que mui. tas vezes as cidades abandonam o sitio ptimitivo e ack dentado para estenderse pela planicie que se desdobra a seu pé. O sitio € escolhido em fungio de técnicas espect- ficas de utilizagio do espago urbano que softem modi ficagses, A posigio de intimeras cidades esté vinculada a um sitio determinado. Cidades cujo nascimento se deu em conseqiiéncia das necessidades da vida de relagdes estabe- Iecem-se nos pontos de convergéncia ou de encontro dos diferentes meios de transporte. Rouen edificou-se 2 beira do Sena, numa planicie aluvial cercada por um anfiteatro de taludes caleéreos, e no ponto em que a navegacio mar. tima se detém para ceder o lugar a navegagio fluvial, Ponto esse entretanto também propicio 4 construgio de ‘uma ponte sobre o rio; aliés, esta ponte foi durante muito tempo a ultima encontrada antes de se chegar a Mancha pois s6 recentemente foi construida a de Tancarville. Londres, Bordeaux, Hamburgo e Nantes enconttam-se em osigdes e sitios anilogos. Todavia, esses sitios © posigées privilegiadas perdem boa parte de sew valor quando as tonelagens clas embarcagSes marftimas comecam a aumen- tar. A pattir desse momento, os grandes navios vio en. contrando dificuldades cada vez maiotes para penetrar nos 85

Você também pode gostar