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br Design & Tecnologia 12 (2016)

Método para determinação de parâmetros de gravação e corte a


laser CO2 com aplicação na joalheria contemporânea

Mariana K. Cidade, mariana.cidade@ufsm.br – Departamento de Desenho Industrial,


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil

Felipe L. Palombini, felipe.palombini@ufrgs.br – Programa de Pós-Graduação em Design,


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil

Natasha F. F. Lima, lima.natasha@gmail.com – Designer, Universidade Luterana do Brasil,


Canoas, Brasil

Lauren C. Duarte, lauren.duarte@ufrgs.br – Programa de Pós-Graduação em Design,


Departamento de Engenharia dos Materiais, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil

Resumo
A tecnologia de gravação e corte a laser CO2 é um dos principais processos de fabricação da atualidade, unindo versatilidade,
precisão e velocidade, sendo uma importante ferramenta para o design de joias contemporâneas. A utilização do equipamento
depende de diversas variáveis relacionadas aos materiais utilizados ou aos projetos executados. Contudo, a obtenção dos me-
lhores parâmetros frequentemente é realizada de forma empírica, tornando a padronização imprecisa e prejudicando a quali-
dade das peças. Na joalheria contemporânea, é essencial a busca por peças com grande nível de acabamento e que mesclem a
utilização de materiais nobres com alternativas não-convencionais. Esta pesquisa trata do desenvolvimento de um método para
a obtenção de parâmetros ideais para a utilização da tecnologia de gravação e corte a laser CO2, com desenhos vetoriais, através
de etapas que considerem as variáveis do projeto, do material e do equipamento do tipo galvanométrico. Para aplicação, o
método foi empregado no desenvolvimento de joias utilizando-se borracha EPDM com prata. Foram conduzidos testes de apli-
cação de velocidades e número de passadas de feixe laser, determinando a configuração ideal para utilização deste processo no
material. Imagens analisadas via MEV auxiliaram na avaliação dos efeitos do feixe laser no elastômero, como a zona de abran-
gência térmica e a efetividade do corte. Com um método para obtenção dos parâmetros para boa definição de corte e unifor-
midade do traço, essa pesquisa objetiva auxiliar estudantes, profissionais e indústrias na execução de seus projetos.

Palavras-chave: Padronização de tecnologia laser, Elastômero EPDM, Design de joias contemporâneas.

Method for the determination of CO2 laser engraving and cutting


parameters with application in contemporary jewelry
Abstract
CO2 laser engraving and cutting technology is currently one of the main manufacturing processes, associating versatility, preci-
sion and speed, as well as being an important tool in the design of contemporary jewelry. The use of the equipment depends on
several variables related to the materials used or the projects executed. However, obtaining the best parameters is often done
empirically, making standardization inaccurate and impairing the quality of the products. In contemporary jewelry, the high
finishing level the combined use of noble materials with non-conventional alternatives is essential. This research addresses the
development of a method to obtain ideal parameters for the use of CO2 laser engraving and cutting technology, with vector
drawings, through steps that consider the variables of design, material and the galvanometric-type equipment. For application,
the method was used in the development of jewelry using EPDM rubber with silver. Several application tests of speed and number
of passes of laser beam were conducted to determine the ideal settings for the usage of this process in the material. Analyzed
SEM images assisted the understanding of the effects of the laser beam into the elastomer, such as the thermal range zone and
the cutting effectiveness. With a method to obtain parameters for good cut definition and trace uniformity, this research aims
to assist students, professionals and industries in the execution of their projects.

Keywords: Laser cutting standardizing, EPDM elastomer, Contemporary jewels design.


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1. INTRODUÇÃO mento das peças (CIDADE; DUARTE, 2014). Cada um dos parâ-
O designer tem papel fundamental na criação e escolha do me- metros deve ser adaptado com base no tipo de material utili-
lhor modo de produção de seus produtos (CIDADE, 2012; zado, nas propriedades do equipamento, além das caracterís-
CIDADE; DUARTE, 2014). O profissional tem à disposição diver- ticas do projeto a ser executado. Entretanto, o processo de le-
sas tecnologias que podem aumentar as possibilidades de de- vantamento e seleção dos melhores parâmetros costuma-se
talhamento e uniformidade de seu projeto. O processo criativo dar de forma empírica, sem seguimento de um fluxo determi-
no desenvolvimento de produtos não é esquecido, sendo de- nado. Desse modo, este trabalho apresenta o desenvolvi-
sempenhado em conjunto com as inovações disponíveis de mento de um método para determinação dos melhores parâ-
forma harmoniosa. A tecnologia é simplesmente o meio facili- metros para corte a laser de dióxido de carbono (CO2), do tipo
tador e inovador de materializar produtos com elevado nível galvanométrico, a ser utilizado em diferentes tipos de materi-
de precisão e detalhamento, tendo importante papel na traje- ais, naturais ou sintéticos, com base em requisitos de projeto.
tória do design (MENEZES; PASCHOARELLI, 2009). Ela não pode Esta pesquisa aborda a execução de projetos compostos por
ser vista como um meio para substituir o designer, mas, sim, desenhos vetoriais. Inicialmente é realizada uma breve funda-
auxiliá-lo. Nesse sentido, os processos de fabricação precisam mentação teórica sobre a tecnologia laser CO2 e do cenário
ser utilizados através da escolha dos melhores parâmetros atual da joalheria contemporânea, com sua influência nos ma-
para materialização de projetos. teriais e processos utilizados. Então, o fluxo de caracterização
A padronização de processos de fabricação está relacio- e escolha de parâmetros de corte são apresentados. Por fim,
nada com o estudo, análise e caracterização dos melhores pa- as etapas são aplicadas como exemplo em lençol de borracha,
râmetros para serem empregados (CIDADE, 2012). Uma vez através de um projeto de joalheria contemporânea, no desen-
definidas as características do processo, é possível realizar a volvimento de três peças de uma coleção.
manufatura seriada de um determinado projeto mantendo re-
sultados uniformes. Contudo, para a determinação dos parâ- 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
metros do processo é necessário conhecimento tanto sobre o
equipamento e os materiais utilizados, quanto sobre as carac- 2.1 TECNOLOGIA LASER CO2
terísticas do projeto a ser produzido (LEFTERI, 2013). Com o Desde sua descoberta nos anos 1960, a tecnologia laser tem
advento de novas tendências, os conceitos de materiais, pro- sido utilizada em diversas aplicações industriais (STEEN;
cessos e acabamento em um projeto apresentam mudança, de MAZUMDER, 2010). O princípio fundamental diz respeito à fo-
modo a se adaptarem aos novos requisitos (ASHBY; JOHNSON, calização de um feixe eletromagnético de alta intensidade em
2011). Mesmo em indústrias com materiais e processos clássi- uma superfície pequena, levando ao aquecimento pontual e
cos e bem estabelecidos, como a joalheira, o surgimento de rápido do material da amostra. Nos equipamentos laser mais
novos estilos abre caminho para a reorganização dos sistemas utilizados, uma câmara contendo uma mistura de gases de dió-
de manufatura. Desse modo, com a grande disponibilidade de xido de carbono (CO2), nitrogênio (N2) e hélio (He) é excitada
materiais disponíveis na indústria, torna-se necessário, então, com elétrons. A excitação das ligações químicas do CO2 libera
o estabelecimento de métodos para padronizar determinados fótons no comprimento de onda de infravermelho, os quais
processos de fabricação. são colimados em uma região na superfície do material a ser
A joalheria desenvolve-se juntamente com a evolução da usinado (POWELL, 1998). Ao atingir a amostra, a radiação
sociedade e com as mudanças na arte, moda, cultura, bem aquece sua superfície e efeitos físicos e químicos levam à re-
como com os avanços tecnológicos da contemporaneidade. As moção de material, deixando desde efeitos de gravação ao
formas de processar as diversas matérias-primas são refinadas corte total da mesma. Assim, a tecnologia permite ser empre-
com o passar dos anos, com o homem dando forma aos mate- gada em um grande número de materiais, através de instru-
riais encontrados na natureza (GOLA, 2013). A atração pela mentos de altíssima precisão geométrica (CIDADE, 2012;
arte, o desejo de se expressar e o costume de se adornar cons- CIDADE; DUARTE, 2014). A tecnologia destaca-se pela diversi-
tituem elos com nossos antepassados. No cenário da produção dade de usos em áreas do conhecimento técnico e científico
joalheira do século XXI, podemos observar uma explícita mu- (BAGNATO, 2008).
dança no valor associado aos materiais e processos utilizados O estudo desta inovação tecnológica ainda permanece
na manufatura destes produtos. Esse novo contexto de joalhe- distante de ser totalmente compreendido, constituindo-se de
ria traz traduções da nossa atual sociedade, a então chamada uma das mais ativas áreas da investigação científica
“joalheria contemporânea”, utilizando novos materiais e pro- (BAGNATO, 2008). Os efeitos da interação da radiação com a
cessos inovadores de fabricação (CIDADE, 2012; CIDADE; matéria possuem diversas características, conforme o tipo de
DUARTE, 2014). Desse modo, são aliados novos materiais, não material a ser trabalhado. A eficiência do processo também é
convencionais, a materiais metálicos nobres, como ouro (Au) fator de estudo, voltando-se à diminuição dos custos energé-
e a prata (Ag). Ou ainda, a utilização apenas de materiais não ticos e torna-lo ainda mais economicamente interessante
convencionais, mas através de peças de alto nível de acaba- (STEEN; MAZUMDER, 2010). Na indústria, os mecanismos para
mento, tornando-as “joias” legítimas. A inovação no mercado a utilização da tecnologia laser CO2 crescem devido às suas ca-
joalheiro dá-se através da utilização de materiais inusitados e racterísticas de baixa divergência dos feixes, i.e., obtêm-se
novos processos tecnológicos de fabricação, aliando pesquisa, uma grande quantidade de energia concentrada, aliando-se ao
materiais e tecnologia. fato de que os materiais a absorvem relativamente bem
Entre os principais processos de fabricação de alta preci- (BAGNATO, 2008). À exceção encontram-se alguns tipos de
são, encontram-se os baseados na tecnologia laser (Light Am- materiais, especialmente os metálicos não-ferrosos, devido
plification by Stimulated Emission of Radiation, ou amplifica- tanto à alta condutividade térmica quanto à reflexividade su-
ção da luz por emissão estimulada de radiação). O processo perficial da radiação recebida, impedindo que seja absorvida
permite o corte ou gravação devido à alta focalização de uma (POWELL, 1998; STEEN; MAZUMDER, 2010).
fonte de calor, com movimentação controlada por computa- O laser CO2 é uma ferramenta que permite ao usuário
dor (CALLISTER; RETHWISCH, 2006). No equipamento, é possí- controlar a forma e a quantidade de energia dirigida a uma sé-
vel ao operador definir diversos parâmetros que influenciam rie de determinadas coordenadas, tendo como principais tipos
diretamente a execução do processo e a qualidade de acaba- os com base em espelhos com eixos galvanométricos e do tipo
plotter, esquematizados na Figura 1 (HECHT; TERESI, 1998;
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THOMPSON, 2011). O sistema de óptica móvel do tipo plotter vez que o canhão do feixe pode percorrer toda a extensão, sem
(Figura 1 A), consiste no deslocamento do canhão do feixe, pa- perda de foco. Outra característica importante deste equipa-
ralelamente à superfície a ser processada, através dos eixos X mento é a precisão de corte em peças com dimensões mais
e Y, sendo o mais utilizado para corte a laser em projetos de espessas, devido à constante ortogonalidade do feixe ao plano
grandes dimensões (DAHOTRE; HARIMKAR, 2008). Isso se deve de corte, mantendo o processamento sempre a 90° da super-
à maior possibilidade de dimensão da área de trabalho, uma fície (DAHOTRE; HARIMKAR, 2008).

Figura 1: Esquema movimentação do feixe laser CO2 em equipamento: (A) plotter e (B) galvanométrico.

Já o laser do tipo galvanométrico (Figura 1 B) é conside- A potência do feixe é fator determinante na capacidade
rado um dos mais importantes e utilizados para a gravação e de interação do laser com o material a ser cortado ou gravado.
corte de materiais naturais e poliméricos, devido à sua alta Quanto maior for, mais intensamente atingirá o material e,
precisão e rapidez (CIDADE, 2012; CIDADE; DUARTE, 2014). O consequentemente, mais profunda será sua ação de corte e de
seu funcionamento consiste basicamente na movimentação interação com zonas adjacentes (CIDADE, 2012). Em geral, po-
de dois espelhos, em eixos independentes, para direcionar o tências altas permitem cortar ou gravar com velocidades mai-
feixe de radiação a uma lente, focalizando, então, à superfície ores, ou seja, com menor tempo de interação do feixe laser no
do material (SCHAEFFER, 2012). Este equipamento, portanto, material. De um modo geral, velocidades menores tendem a
é mais indicado para a gravação de materiais diversos e para o cortar e, velocidades maiores, a apenas gravar suas superfí-
corte preciso de materiais de espessuras finas. Sua principal cies. Entretanto, essa regra acaba não se aplicando para deter-
vantagem em comparação aos equipamentos do tipo plotter é minados tipos de materiais, necessitando considerar tanto a
a velocidade de gravação, uma vez que o posicionamento do velocidade quanto a potência do feixe. A exemplo, o papel,
feixe laser é realizado pela fina angulação dos espelhos galva- quando cortado no laser, permite que tanto os parâmetros de
nométricos. Desse modo, não há a necessidade de movimen- potência quanto de velocidade sejam maiores devido à com-
tação inteira do canhão do feixe e da objetiva, com o uso de posição de suas fibras e à espessura da folha. Já um material
esteiras. mais resistente à ação do feixe, com espessura maior e com-
A determinação da área total de corte ou gravação e da posição diferente, como uma chapa de MDF, exige potência
consequente resolução do processo, em equipamentos laser maior, mas com velocidade menor. A velocidade de corte deve
do tipo galvanométrico, depende da escolha da lente a ser uti- ser, então, levada em consideração juntamente com o tipo de
lizada e, logo, da distância focal entre a mesma e a superfície material escolhido, a potência do feixe determinada e a lente
da amostra (CIDADE, 2012; SCHAEFFER, 2012). Desse modo, acoplada no equipamento (CIDADE; DUARTE, 2014).
para a obtenção de bons resultados em um equipamento de Além da determinação dos parâmetros de velocidade e
corte a laser CO2 do tipo galvanométrico é necessário conside- potência do feixe, para obtenção de efeitos de gravação ou
rar a altura da mesa de trabalho – conforme o tipo de lente corte do material, é importante também considerar as carac-
acoplada, visando ao ajuste do ponto focal –, a espessura do terísticas do projeto a ser executado. Para trabalhos com uma
material a ser trabalhado, bem como a potência e velocidade complexidade formal e maior densidade de linhas – como, por
delimitantes (CIDADE, 2012; CIDADE; DUARTE, 2014). exemplo, desenhos com muitas linhas próximas e em uma pe-
Instrumentos com base em laser CO2 são meios precisos quena área – deve-se considerar o efeito de acúmulo das zonas
e eficientes para corte e gravação de diversos materiais. Como termicamente modificadas adjacentes. Assim, uma vez que a
instrumento de corte, a vantagem reside no fato de fundir e espessura do feixe laser mantem-se constante, se diversas pas-
vaporizar o material no local da linha a ser cortada, removendo sadas próximas são realizadas, as zonas afetadas pelo calor
automaticamente o subproduto com uma consideravelmente tenderão a se interferir, prejudicando a qualidade final do tra-
menor produção de resíduos, em comparação a outros proces- çado e, consequentemente, o acabamento da peça. Portanto,
sos de usinagem (BAGNATO, 2008; DAHOTRE; HARIMKAR, para seleção dos parâmetros de gravação ou corte a laser,
2008). No local do corte encontra-se a porção de material re- além de conhecer sobre o material e o equipamento, é impor-
movido e, em sua adjacência, uma zona do material que é le- tante saber aplica-los da melhor forma ao projeto.
vemente afetada, chamada de região termicamente modifi-
cada (CIDADE, 2012). Esta região surge devido à grande quan- 2.2 JOALHERIA CONTEMPORÂNEA: CENÁRIO ATUAL
tidade de energia depositada no local percorrido pelo feixe, Segundo Gola (GOLA, 2013), o homem produz, desde o início
também aquecendo as regiões adjacentes. A incidência de um de sua existência, elementos artísticos associados a ornamen-
feixe laser sobre um ponto da peça é capaz de fundir e vapori- tos – as joias –, revelando assim sua criatividade, represen-
zar até o material em volta desse ponto (BAGNATO, 2008; tando os símbolos de cada época e colocando, em destaque, a
DAHOTRE; HARIMKAR, 2008). Deste modo, é necessário esti- dimensão estética do mundo material, ou mesmo das formas
pular os padrões de uso da tecnologia de acordo com a pro- naturais. Ornamento, ornamentação, ornamental, são deriva-
posta de desenho original, de maneira que o efeito resultante ções do verbo latino “ornare”, que significa, na acepção latina
seja o mais próximo do projetado. original, “adornar”, manifestando um acréscimo de qualidade
e melhoria (GOLA, 2013, p. 15). A forma de adornar o corpo é
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uma das primeiras características da joia. Em todos os tempos,


a joia, como adorno, tem a intenção de construir novas lingua-
gens e, com elas, significados eficientes na elaboração e iden-
tidade (GOLA, 2013).
O designer de joias, além de encontrar caminhos criativos
e produtivos, precisa entender as dimensões simbólicas de
suas criações e sua capacidade de analisar e interpretar as ne-
cessidades e o perfil do usuário do produto. Essa compreensão
permite a associação da criação à emoção que a joia pode des-
pertar. Assim, o desenvolvimento de uma joia vai além da con-
figuração estética e exige conhecimentos de diversas áreas por
parte do designer, a partir do entendimento de todos os ele-
mentos e etapas de que se compõem o projeto deste produto.
Com o expressivo desenvolvimento da indústria da moda
e a necessidade atual dos jovens consumidores em expressar
sua individualidade através de um visual diferenciado, o cená-
rio joalheiro está se modificando e desafiando as opiniões ten-
denciosas sobre joias (PRESS, 2011). Segundo Siqueira (2011),
o entendimento de que a joia tem uma forte ligação com o de-
sign e a moda vem conduzindo o setor joalheiro no Brasil a um
novo patamar, muito mais atraente, atuante e competitivo.
Para o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais – IBGM (2012), a
integração joia/moda tornou-se inevitável e benéfica, conside-
rando a dinâmica do mercado.
Uma nova interpretação do design de joias, que valoriza
a estética e inovações, e não mais prioriza a exibição de luxo e
ostentação de riqueza com a utilização de materiais nobres,
vem surgindo no mercado comprador. A chamada joalheria
contemporânea caracteriza-se pela diversidade de possibilida-
des formais e conceituais, tendo sua produção vinculada aos
fluxos da moda, onde a relevância material é substituída pelo
valor da tendência, do design e da atualidade. Em suma, a joa-
lheria contemporânea pode ser entendida pela atual inclusão
de materiais inusitados e diferenciados a este mercado, tais
como polímeros, cerâmicos, madeiras, couros, fibras, semen-
tes, entre outros (CIDADE; PALOMBINI; KINDLEIN JÚNIOR,
2015). Sua contemporaneidade ultrapassa o sentido e a função
básica de adorno, esperando-se que ela revele um novo signi-
ficado, expresse emoções e a atitude perante a vida de um de- Figura 2: Joias contemporâneas - (A) anel em madeira, gema e
prata; (B) anel em madeira, ouro e gema; (C) colar em
terminado indivíduo. Segundo o IBGM (2012), as joias contem-
resina e prata; (D) bracelete em borracha e (E)
porâneas são um nicho de mercado em ascensão. Ao traduzir bracelete e anel em madeira com corte a laser. Fonte:
as inquietações do nosso tempo, elas levam à forte identifica- (A) e (B) Ricardo Coacci (COACCI, 2016); (C) Yoko
ção nos consumidores, os quais buscam a individualidade em Shimizu (SHIMIZU, 2016); (D) Marzio Fiorini (FIORINI,
suas expressões estéticas. Desse modo, designers contempo- 2016) e (E) Anthony Roussel (ROUSSEL, 2015).
râneos, com sua expressividade, oferecem um amplo repertó-
rio de possibilidades criativas à medida que recriam formas, Conforme Mansell (2008) “a joalheria contemporânea
estilos e técnicas seculares da ourivesaria. A joalheria é, sem propõe uma reflexão sobre o que se considera nobre e
dúvida, o resultado de milhares de anos de história e investi- valioso”, ao ponto que ao misturar materiais nobres com os
gação, e seus criadores continuam a utilizar metais e gemas não convencionais, o conceito tradicional de valor é natural-
como essência, sem deixar de renovar, reinventar e experi- mente desafiado. A prata (Ag), do latim argentum, é um metal
mentar outros materiais, técnicas e conceitos (ARROYO, 2012). em ascensão no mercado joalheiro. Para adquirir maior resis-
As joias contemporâneas vêm sendo comercializadas em tência, ductilidade e elasticidade, este metal é ligado a outros
espaços alternativos aos tradicionais da joalheria, como gale- metais, em geral ao cobre (KLIAUGA; FERRANTE, 2009). Para
rias e museus, onde as criações são formas de expressão pes- proporcionar brilho e durabilidade às peças fabricadas com
soal, independentes e originais (LLABERIA, 2009). Algumas este metal, faz-se necessário um tratamento de superfície,
joias de designers brasileiros e estrangeiros, utilizando materi- através de um banho de ródio (Rh) ou prata. Mesmo se
ais não convencionais a materiais nobres, podem ser visualiza- tratando de um metal nobre, por uma questão cultural, vinha
das na Figura 2. As Figuras 2A, 2B e 2C exemplificam a utiliza- sendo desvalorizada ao ser direcionada a joias mais simples,
ção de madeira e acrílico aliados a metais nobres, como a prata de menor valor. No entanto, com a recente e acentuada
e o ouro. Já as Figuras 2D e 2E mostram o trabalho de joias valorização do ouro, algumas joias criadas com esta matéria-
contemporâneas que utilizam apenas materiais não-convenci- prima tornaram-se comercialmente inviáveis. Diante deste
onais. As criações apresentadas na Figura 2 são exemplos de cenário, o mercado joalheiro precisou adaptar-se a essa
que o significado da palavra “joia” pode ser utilizado em peças realidade, resgatando a prata, associando-a, ou não, ao ouro e
com considerável nível de acabamento, enaltecendo o projeto. diamantes, valorizando-a através de conceitos, design e mar-
De modo diferente, o mesmo não se aplica a peças com a uti- cas. A participação crescente das joias em prata tem-se dado
lização desses mesmos materiais, contudo com um acaba- tanto pelo seu menor custo, quanto pela agregação de valor,
mento de nível inferior. com design diferenciado e uso maior de gemas naturais,
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incluindo as gemas coradas, diamantes e pérolas. A prata, de padrões estabelecidos pode minimizar o tempo entre a con-
então, passa a ser associada ao conceito de contemporanei- ceituação da peça e sua produção, tornando-a mais expedita e
dade, diversidade, permitindo ilimitadas soluções formais, ágil, além de permitir sua rápida flexibilização, conforme as ne-
criatividade e inovações, de modo acessível e viável. cessidades do mercado.
Atualmente, no mercado joalheiro, as novidades ocorrem
tanto pelo viés tecnológico, abrindo um leque de novas solu- 3. DETERMINAÇÃO E APLICAÇÃO DE PARÂMETROS
ções de design e de produção, como pela adoção de materiais Unindo as informações teóricas sobre o funcionamento da tec-
não convencionais e sua mistura aos já tradicionais metais e nologia laser CO2, bem como das características da joalheria
gemas (SIQUEIRA, 2011). O design de joias busca, na atuali- contemporânea, é possível basear-se para determinar a padro-
dade, uma aceleração dos processos de produção através da nização do projeto. Nesse sentido, este tópico trata da apre-
inovação, reduzindo o tempo entre projeto e comercialização sentação e exemplificação de um método para obtenção de
através de novas soluções e experimentações estéticas e fun- parâmetros para corte ou gravação a laser CO2, através de um
cionais (SIQUEIRA, 2011). equipamento do tipo galvanométrico. Para a aplicação do mé-
O design de produto se apoia no desenvolvimento tecno- todo definido, baseando-se nos conceitos e características da
lógico, a fim de tornar os objetos mais adequados para suprir joalheria contemporâneas, as peças desenvolvidas foram defi-
as necessidades dos consumidores (STÜRMER, 2010). Muitas nidas contendo a união de um material diferenciado e alterna-
são as possibilidades de processos tecnológicos na área da fa- tivo com um nobre e tradicional. Sendo assim, foram selecio-
bricação e de materiais, trazendo melhores condições e maior nados para o projeto a borracha e a prata.
eficiência na execução de bens de consumo de forma mecani-
zada e seriada. Porém, a base do desenvolvimento de joias 3.1 Método para Obtenção de Parâmetros para Corte
continua dependente do processo de criação do pensamento ou Gravação a Laser CO2
humano, mesmo com as mudanças sociais históricas (CIDADE,
Como visto, a seleção dos parâmetros ideais para gravação e
2012; CIDADE; DUARTE, 2014).
corte a laser CO2, em um sistema do tipo galvanométrico, de-
A fim de tornar o processo criativo mais uniforme, rápido
pende de diversos fatores, desde os dados do projeto às carac-
e eficiente, quando através de um viés tecnológico, é necessá-
terísticas dos materiais e do equipamento. Desse modo, a fi-
rio ao designer apropriar-se de padrões já estabelecidos de um
gura 3 apresenta a sequência de etapas para obtenção dos pa-
determinado processo de fabricação. Desse modo, a utilização
râmetros para desenhos vetoriais.

Figura 3: Sequência de etapas (1 a 5) para determinação dos melhores parâmetros de gravação ou corte em um equipamento laser CO2
do tipo galvanométrico. Fonte: os autores.

Inicialmente, (Figura 3, etapa 1) o processo de escolha projeto. Desse modo, faz-se necessário seguir o processo de
descrito neste trabalho baseia-se em um cenário em que tanto obtenção e análise de parâmetros, de modo que o material
o material que se deseja trabalhar já foi determinado, quanto requisitado correspondesse a uma alternativa totalmente
os dados técnicos do projeto já foram definidos. A escolha do nova ao projetista. Já as informações do projeto dizem
material utilizado na manufatura está relacionada com sua respeito à complexidade do traçado, em termos de quantidade
composição e características físicas, devendo estar de acordo e proximidade de linhas, bem como às suas dimensões
com as limitações técnicas do equipamento laser utilizado. externas totais. Desse modo, ambos os fatores são vistos como
Contudo, nesta sequência de etapas, é assumido que o sendo requisitos do processo de corte ou gravação a laser,
material não possui um precedente conhecido e já otimizado permanecendo como elementos balizadores do decorrer do
de parâmetros, para as mesmas características desejadas de fluxo de definição de parâmetros.
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Com as características do projeto a ser gravado ou cor- número de passadas até encontrar um valor adequado para o
tado a laser, no equipamento, passa-se para a escolha da lente processo.
apropriada (Figura 3, etapa 2). O principal fator a ser conside- A adequação dos melhores parâmetros de potência e ve-
rado na escolha da lente é quanto às dimensões totais do pro- locidade é determinada por meio de inspeção à vista desar-
jeto a ser executado. Para uma melhor qualidade da gravação mada ou com o auxílio de equipamentos de microscopia. Sãos
ou corte, é recomendado sempre utilizar a lente com a menor buscados os parâmetros que permitam um traçado (de corte
área de trabalho e, consequentemente, a menor distância fo- ou gravação) uniforme em toda a extensão da peça. Para corte
cal possível (CIDADE, 2012). Assim, é possível obter um traçado a laser, o melhor parâmetro será o que permitir atravessar
mais uniforme em toda a extensão do processo. Para projetos completamente o material em todos os seus contornos, man-
com peças pequenas e detalhadas, a qualidade do traçado tendo a menor região de zona de abrangência térmica. Já para
torna-se ainda mais importante, visto que, relativamente, terá gravação, as melhores propriedades de potência e velocidade
uma influência maior no acabamento. Por outro lado, mesmo serão as que permitirem a ação do laser apenas superficial-
com peças pequenas e detalhadas, é interessante também mente, com traçado bem definido e sem rugosidade (CIDADE,
considerar o uso de lentes com maiores áreas de trabalho para 2012; CIDADE; DUARTE, 2014).
permitir a execução de mais peças simultaneamente. Com a definição dos melhores parâmetros de potência e
Por se tratar de um equipamento do tipo galvanométrico, velocidade para o material escolhido, parte-se para a última
em que a lente permanece imóvel em relação à área de traba- etapa antes da execução do processo: a definição das proprie-
lho, o feixe laser possui apenas uma região focal específica. dades de exportação (Figura 3, etapa 5). Para a gravação ou
Desse modo, é imprescindível considerar a distância da lente à corte de desenhos vetoriais, é utilizado o formato de extensão
área de trabalho. A maioria dos equipamentos deste tipo uti- do tipo PLT (Arquivo de plotadora HPGL). O formato trans-
liza objetivas do tipo f-theta, as quais possuem ajuste da região forma os desenhos vetoriais em coordenadas numéricas, que
focal de modo a permanecer paralela à área de trabalho, com serão interpretadas pelo equipamento e percorridas pelo feixe
uma determinada precisão (SCHAEFFER, 2012). Contudo, para laser, durante o processo. Ao realizar a exportação de um de-
o uso de áreas de trabalho maiores, mantendo o foco em toda senho vetorial para a extensão PLT, é necessário determinar a
sua extensão, faz-se necessário a adição do chamado terceiro resolução de curvatura do mesmo. Esse valor determina a
eixo. Este consiste em uma objetiva que se move axialmente quantidade de coordenadas que irão compor o desenho, le-
antes do feixe laser atingir os espelhos galvanométricos, reali- vando-o a permanecer com um traçado mais ou menos uni-
zando um ajuste fino do foco (SCHAEFFER, 2012). forme. A Figura 4 apresenta um exemplo de dois traçados ve-
Tanto nos equipamentos galvanométricos de 2 ou 3 eixos, toriais exportados com resoluções de curvatura distintas. Na
após ponderar as características do projeto a ser executado, o resolução de exportação padrão de 0,508 mm (Figura 4 A), ob-
próximo passo é realizar a medição da distância focal, de tida automaticamente por um software de desenho vetorial
acordo com a lente escolhida (Figura 3, etapa 3). Na prática, bidimensional, é possível visualizar a presença de vértices nos
essa distância é mensurada entre a superfície do material a ser traçados curvos.
gravado e a lente. Para corte de materiais com espessuras mai-
ores, como chapas de acrílico ou MDF, o uso de laser galvano-
métrico pode levar à geração de regiões chanfradas, nas regi-
ões mais periféricas da área de trabalho. Isso se deve à posição
central da lente, que leva a um corte em ângulo. Já para os
processos de gravação, ou para corte de materiais com espes-
suras mais finas, como papéis ou couro, esse efeito não se
torna perceptível a vista desarmada. O ajuste da distância focal
é, então, realizado através da movimentação do eixo Z, per-
pendicular à mesa de trabalho, conforme o material e a obje-
tiva escolhida.
Com a altura da mesa definida, é possível passar para a Figura 4: Configurações de exportação de arquivos - (A)
avaliação dos parâmetros do feixe laser, conforme o tipo de visualização de desenho com vértices; (B)
configuração com exportação definida pelo usuário
material (Figura 3, etapa 4). O processo consiste na execução,
para a obtenção de um traçado sem vértices e mais
com potência máxima do equipamento, de linhas paralelas, va- bem definido. Fonte: Adaptado de Cidade e Duarte
riando-se a velocidade de gravação (etapa 4a). A potência má- (2014); Cidade (CIDADE, 2012).
xima, medida em watts, é inicialmente utilizada com o intuito
de aumentar a velocidade de execução do processo de corte Ao modificar a resolução de curvatura para 0,01 mm (Fi-
ou gravação, permitindo, assim, que mais peças sejam grava- gura 4 B), através das opções avançadas de exportação, no
das. A velocidade do feixe, definida em metros por minuto, é mesmo software, o traçado torna-se mais uniforme, contínuo
variada progressivamente para cada linha, para comparação e com menor presença de vértices (CIDADE, 2012; CIDADE;
visual ou instrumental, dos melhores resultados (CIDADE, DUARTE, 2014). Com os valores de exportação definidos ma-
2012). Desse modo, quanto menor for a velocidade, mais nualmente para uma maior resolução de curvatura, os arqui-
tempo o feixe permanecerá em contato com o material, au- vos de projeto podem ser executados através dos parâmetros
mentando seu efeito de corte ou gravação. Também pode ser definidos.
avaliado a possibilidade de aumentar o número de passadas
do feixe laser, para cada linha, mantendo a potência e veloci-
3.2 Exemplo de Aplicação
dade. No caso de todas as linhas apresentarem resultados in-
Para esta pesquisa, o método proposto foi utilizado na obten-
satisfatórios devido a um grande aquecimento da região,
ção dos melhores parâmetros para o corte a laser para uma
mesmo com a velocidade máxima do feixe definida, parte-se
coleção de peças de joalheria contemporânea, misturando-se
para a diminuição da potência do laser (etapa 4b). Assim, as
um material inusitado com um metal nobre. Para o material
linhas com variação progressiva de velocidade são regravadas
principal, optou-se pela escolha de um lençol de borracha
na nova potência em uma nova região do material. O processo
EPDM através de corte a laser CO2 em equipamento do tipo
pode ser repetido variando-se potências menores do laser e
60
Design & Tecnologia 12 (2016)

galvanométrico, analisando e caracterizando qual o melhor pa- mais baixas para os testes de corte. A análise dos cortes e ava-
râmetro a ser utilizado, conforme as etapas definidas na seção liação da superfície das amostras cortadas, conforme velocida-
anterior. O metal utilizado na coleção foi a prata, através de des e número de passadas, deu-se através de Microscopia Ele-
processo industrial e artesanal para a fabricação de caixas para trônica de Varredura (MEV), em equipamento Hitachi® modelo
a inserção de gemas, com a cravação inglesa. Esta cravação TM 3000, com imagens eletrônicas do tipo BSE (back scatered
consiste em uma caixa, no formato da lapidação da gema, com electron). A aceleração do feixe de elétrons utilizada foi de 15
quatro garras, as quais são pressionadas até prendê-la. KeV. A microscopia eletrônica de varredura é hoje considerada
A escolha da borracha como base, deve-se ao fato de tra- uma das mais importantes ferramentas de investigação dispo-
tar-se de um material relativamente acessível, com caracterís- níveis para o estudo de microestruturas superficiais de amos-
ticas de flexibilidade, leveza, boa aderência à pele e resistência tras. As imagens são de alta resolução, e os equipamentos MEV
a intempéries. Segundo Lima (LIMA, 2006), a borracha EPDM é são os mais utilizados atualmente em pesquisa de materiais.
considerada um elastômero classificado como um copolímero As superfícies das amostras a serem examinadas são varridas
de etileno-propileno (e dieno) tendo um bom comportamento com um feixe de elétrons que são refletidos e retroespalhados,
a elevadas temperaturas, boa elasticidade, poder isolante, e dentre outros efeitos (CALLISTER; RETHWISCH, 2006;
excelente resistência a alguns agentes químicos (LIMA, 2006). CANEVAROLO JR., 2004).
Utilizou-se a borracha EPDM comercializada no mercado, no Para a fabricação das caixas de sustentação das gemas,
formato de lençol ou manta, na cor preta e espessura de, apro- com cravação inglesa, devido às suas dimensões e quantida-
ximadamente, 1,2 mm. des, foi utilizado o processo de fundição por cera perdida (mi-
O corte a laser da borracha foi executado no equipa- crofusão), a fim de se obter peças com bom acabamento e em
mento Mira 3007, da empresa Automatisa©. Foi utilizada a escala. Por fim, para a cravação inglesa e a fixação das mesmas
lente de 30 cm x 30 cm (900 cm²) em virtude das dimensões na borracha, foi utilizado o processo artesanal de ourivesaria.
totais das peças, com utilização de potência máxima do equi-
pamento de 60 W, e velocidades variando de 5 m/min a 1 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
m/min, com uma a seis passadas de feixe laser, conforme as Iniciando as etapas descritas na metodologia, para padroniza-
etapas descritas na figura 3. Devido à possibilidade de uso se- ção de parâmetros para corte e gravação a laser CO2 do tipo
riado deste método, optou-se por utilizar a potência máxima galvanométrico, os ajustes da lente e da distância focal, atra-
do equipamento. Assim, o processo de fabricação das peças vés da altura da mesa de trabalho foram realizados. Na etapa
seria configurado para priorizar tanto a maior qualidade do de padronização, os resultados obtidos com o corte de 8 amos-
acabamento quanto ao menor tempo de execução. Os traços tras, com o desenho de traços retos, podem ser visualizados
das peças da coleção foram desenvolvidos em um software de no Quadro 1. Conforme a etapa estabelecida, os testes do ma-
desenho vetorial bidimensional, e exportados em extensão do terial foram realizados com a potência máxima de 60 W do
tipo PLT, com resolução de curvatura avançada de 0,01 mm. equipamento, com velocidades variando de 5 m/min a 1
Todos os desenhos foram abertos no software do equipa- m/min, e até seis passadas de feixe laser. Com as primeiras
mento, Automatisa Laser Draw®, para execução do processo. análises visíveis das amostras cortadas, sem a utilização de
Para a determinação dos parâmetros de corte na borra- equipamentos de microscopia, foi possível observar e identifi-
cha, foram feitos traços retos, de aproximadamente 20 mm de car a qualidade dos traços retos.
comprimento. Como o lençol de borracha continha uma espes-
sura de 1,2 mm, optou-se por utilizar inicialmente velocidades

Quadro 1: Amostras de borracha cortadas a laser com potência fixa de 60 W, com suas respectivas velocidades, número de passadas do
feixe laser e detalhe do corte.

Amostra A B C D E F G H

Velocidade
(m/min)
5 5 2 2 2 2 1 1

Número de
1 6 1 2 3 4 1 2
Passadas

Corte

No primeiro traço executado, foi utilizada a velocidade de utilização de velocidade de 2 m/min e, respectivamente, 1 e 2
5 m/min com 1 passada de feixe laser, onde se observou, à passadas de feixe, foi observado que o corte também não
vista desarmada, que o corte do laser não atravessou a estava definido. Já na amostra E (Quadro 1), também com a
borracha, gerando uma marcação superficial (Quadro 1, velocidade de 2 m/min, mas com 3 passadas de feixe laser, o
amostra A). Com a velocidade de 5 m/min e 6 passadas de feixe corte atravessou o material, obtendo um traço mais bem
laser (Quadro 1, amostra B), o corte quase atravessou a definido nas adjacências e cortando a amostra por completo.
amostra. Após a análise visual destes primeiros cortes, Mesmo com a obtenção de um traço de corte
classificando-os como insatisfatórios, optou-se por utilizar satisfatório, achou-se necessário testar outras velocidades e
velocidades mais baixas, para a ação do laser permanecer por passadas, com o intuito de ter referências na escolha de qual
mais tempo no material. Nas amostras C e D (Quadro 1) com a padronização poderá ser utilizada futuramente. No teste
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seguinte, amostra F (Quadro 1), com velocidade de 2 m/min e Para uma análise mais precisa do corte, utilizou-se ima-
4 passadas de feixe, foram analisadas na superfície do material gens de microscopia eletrônica de varredura (MEV), onde as
algumas marcas de queima na borracha. Com isto, optou-se micrografias executadas mostram a ação do laser na borracha,
por diminuir ainda mais o valor de velocidade e também o como podemos visualizar na Figura 5. O intuito destas análises
número de passadas, como observado nas amostras G e H é verificar a ação do laser no material conforme mudanças das
(Quadro 1). Esta opção teve o intuito de aumentar a inten- variáveis (velocidade e número de passadas de feixe laser) e as
sidade da ação do feixe laser na amostra, entretanto os traços respectivas zonas de abrangências das linhas cortadas. As ima-
apresentaram uma ampla espessura de rasgo e resquícios de gens eletrônicas das linhas cortadas, obtidas por MEV, validam
queima no material. as análises visuais feitas anteriormente e indicam outras infor-
mações relevantes.

Figura 5: Imagens por MEV do corte a laser das amostras de borracha - (A) amostra A com velocidade de 5 m/min e 1 passada de feixe
laser; (B) amostra B com velocidade de 5 m/min e 6 passadas de feixe laser; (C) amostra C, velocidade de 2 m/min e 1 passada
de feixe; (D) amostra D, velocidade de 2 m/min e 2 passadas; (E) amostra E, velocidade de 2 m/min e 3 passadas de feixe laser;
(E1) detalhe da amostra E, com aumento de 150x; (F) amostra F com velocidade de 2 m/min e 4 passadas de feixe laser; (G)
amostra G, velocidade de 1 m/min e 1 passada de feixe laser; e (H) amostra H com velocidade de 1 m/min e 2 passadas de feixe
laser. Fonte: os autores.

Nas imagens microscópicas das amostras das Figuras 5 A, m/min, na amostra F, o laser acabou iniciando a formação de
5 B e 5 C, nota-se que o traço ficou superficial na borracha, não um novo vale, na região adjacente. Já a diminuição da metade
obtendo um corte e, sim, uma gravação no material. Contudo, da velocidade na amostra G levou à acentuação da região de
mesmo com a superficialidade da ação do laser, é possível vale. A maior área de abrangência deve-se à interação por mais
observar a presença de zonas termicamente modificadas, tempo no material da alta temperatura do feixe laser, gerando
adjacentes à gravação. Na Figura 5 D, observa-se que o laser um elevado aquecimento, ocasionando a geração de marcas
cortou o material, contudo o traçado não ficou definido, no contorno do corte. Na análise feita anteriormente, à vista
obtendo um tamanho de corte maior na superfície superior e desarmada, da amostra H, nota-se a presença de um traço
um menor na inferior, resultando em um corte em formato de tremido, onde, nas imagens feitas por MEV, observa-se esta
vale. Já na amostra da Figura 5 E, visualiza-se um corte mais informação além da adição de áreas de aquecimento dentro
bem definido, validando as análises feitas anteriormente. Em do traço cortado.
comparação com a amostra D, devido à dupla passada do feixe Com os resultados obtidos na execução da etapa de pa-
laser, a região em vale teve mais material removido, resultan- dronização dos parâmetros do laser CO2, partiu-se para a
do em uma gravação uniforme por toda a espessura. Nota-se etapa de exportação dos desenhos vetoriais das peças da co-
no detalhe da Figura 5 E1, com a ampliação de 150x do corte leção, conforme segue a etapa seguinte. Desse modo, foi sele-
da Figura 5 E, a parede do corte da borracha fica uniforme, sem cionada a configuração de exportação no formato avançado,
partes rugosas resultantes do aquecimento térmico. Nos com resolução de curvatura de 0,01 mm, para a obtenção de
ensaios das Figuras 5 F, 5 G e 5 H, a ação do laser é mais um traçado sem a presença de vértices (CIDADE, 2012;
agressiva ao material. Com a adição de uma 4ª passada, a 2 CIDADE; DUARTE, 2014). Para a execução do processo de
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corte, foi selecionado, portanto, a velocidade de 2 m/min, com


3 passadas de feixe laser e potência fixa de 60 W, conforme os
resultados da amostra E. Com estas definições, partiu-se para
os cortes a laser das três peças da coleção, as quais um colar,
uma pulseira-anel e um par de brincos, utilizando-se o mesmo
lençol de borracha EPDM (Figura 6).
Após o desenvolvimento do projeto das peças a serem
cortadas, os arquivos digitais foram exportados para uso no
equipamento laser, visualizado na Figura 6 A. Na Figura 6 B é
mostrado o processo de corte do colar, com o lençol de borra-
cha EPDM posicionado à mesa de trabalho, no interior do equi-
pamento. As Figuras 6 C e 6 D apresentam o processo de corte
do par de brincos. Os resultados das peças obtidas com base
nos parâmetros desta pesquisa foram considerados satisfató-
rios com relação ao material e ao processo utilizados para a
fabricação das joias. Ao seguir a metodologia de padronização
desenvolvida, foi possível realizar o corte de todas as peças de Figura 6: Processo de corte a laser na borracha: (A)
modo uniforme, isto é, mantendo-se o mesmo nível de acaba- equipamento laser com a programação do desenho a
mento de acordo com as amostras ensaiadas e analisadas por ser cortado; (B) corte do colar; (C) e (D) corte do
microscopia eletrônica. Por fim, podemos visualizar na Figura brinco. Fonte: os autores.
7, as joias finais desenvolvidas com a aplicação da tecnologia
de corte a laser CO2.

Figura 7: Joias em borracha EPDM: (A) colar, (B) detalhe da peça e (B1) do corte a laser CO 2 e caixas com gemas; (C) pulseira-anel, (D)
detalhe da peça e (D1) corte e caixa com gemas; (E) brincos, (F) detalhe das peças e (F1) do corte e gemas. Fonte: os autores.
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Nas Figuras 7 A e 7 B, é mostrado o colar finalizado evi- laser e potência fixa de 60 W. Esses parâmetros permitiram a
denciando o acabamento uniforme do corte e a cravação das obtenção de peças com corte uniforme, preciso, conforme ob-
gemas (Figura 7 B, detalhe 71). A pulseira-anel é apresentada servação por vista desarmada e através de microscopia eletrô-
nas Figuras 7 C e 7 D, com ampliação na Figura 7 D, detalhe D1. nica de varredura.
Já as Figuras 7 E e 7 F mostram o par de brincos e acabamento Os processos laser têm evoluído progressivamente com o
(Figura 7 F, detalhe F1). Com os parâmetros utilizados, basea- passar dos anos, substituindo ou adequando-se aos métodos
dos nos resultados, as regiões gravadas das peças não apre- convencionais utilizados nos processos de produção de produ-
sentaram rebarbas ou imperfeições, mesmo com o nível de de- tos. Considera-se que as variáveis da tecnologia (potência, ve-
talhes, bem como com a proximidade das formas curvilíneas. locidade e número de passadas do feixe laser) são fatores im-
Os desenhos gráficos das peças anel-pulseira e colar fo- portantes e delimitantes para a obtenção de um corte preciso
ram registrados como Desenho Industrial na Secretaria de De- e uniforme, conforme as especificações e características de
senvolvimento Tecnológico da Universidade Federal do Rio cada material. Esta pesquisa disponibilizou uma metodologia
Grande do Sul (SEDETEC/UFRGS), sob número de registro BR para obtenção de parâmetros de corte ou gravação a laser CO2
30 2015 001017-7 e BR 30 2015 001016-9, respectivamente. através de um equipamento galvanométrico. As etapas aplica-
das em borracha EPDM levaram à geração dos parâmetros ide-
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ais de fabricação para o material, os quais permitem o futuro
A tecnologia laser CO2 do tipo galvanométrico é um instru- desenvolvimento e criação de peças com bom acabamento. A
mento facilitador para materializar produtos com elevado ní- esquematização das etapas para determinação de parâmetros
vel de precisão e detalhamento. Através das análises executa- visa a auxiliar indústrias, designers e demais profissionais da
das, considera-se que a mesma pode auxiliar o designer no de- área, no que tange à fabricação de produtos inovadores e se-
senvolvimento de produtos. Contudo, é essencial a utilização riados através da tecnologia laser, com diversos tipos de ma-
de configurações adequadas a cada tipo de material e projeto, teriais.
para se obter um melhor nível de acabamento. Entretanto,
muitas vezes o processo de obtenção de parâmetros para gra- 6. AGRADECIMENTOS
vação ou corte a laser costuma ser realizado de forma empí- Esta pesquisa teve apoio financeiro do MCT/CNPq – Universal
rica, levando a um aumento do tempo de realização do pro- – 014/2008, intitulado: Tecnologia de gravação e corte a laser,
cesso. Em um cenário produtivo de inovação, indicado pela va- como ferramenta de inovação para o design de gemas e joias.
riação de materiais e possibilitado, principalmente, pela ade- Agradecimentos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-
quabilidade da tecnologia laser CO2, é economicamente inte- soal de Nível Superior (CAPES) e à Secretaria de Desenvolvi-
ressante encontrar rapidamente os melhores parâmetros de mento Tecnológico da Universidade Federal do Rio Grande do
processo para cada projeto. Sul (SEDETEC/UFRGS).
O presente trabalho apresentou um método de etapas
essenciais para a determinação de parâmetros de corte a laser 7. REFERÊNCIAS
CO2 em equipamentos do tipo galvanométrico. Com um breve [1]. ARROYO, N. M. Atlas de joias contemporaneas.
entendimento do funcionamento do equipamento foram defi- Barcelona: MaoMao Publications, 2012.
nidos os passos para padronizar o processo, iniciando pela es- [2]. ASHBY, M. F.; JOHNSON, K. Materiais e design : arte e
colha da lente, ajuste da distância focal e pelos ensaios de po- ciência na seleção de materiais em projeto de produto.
tência, velocidade e passadas, até a exportação dos arquivos 2a ed. Rio de Janeiro: CAMPUS, 2011.
vetoriais. A sequência de etapas foi proposta para utilização [3]. BAGNATO, V. S. Laser e suas aplicações em ciência e
em um equipamento laser do tipo galvanométrico, em que tecnologia. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2008.
permite gravações e cortes com grande velocidade e precisão, [4]. CALLISTER, W. D.; RETHWISCH, D. G. Fundamentos da
contudo trazendo limitações aos tipos de materiais e ao pro- ciência e engenharia de materiais : uma abordagem
jeto a ser executado. O processo permite sua adaptação para integrada. 2a. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2006.
diversos tipos de materiais, como polímeros, papeis, madeiras, [5]. CANEVAROLO JR., S. V. Técnicas de caracterização de
couros, gemas e rochas, entre outros. polímeros. São Paulo: Artliber, 2004.
Para fins de aplicação das etapas descritas na metodolo- [6]. CIDADE, M. K. Caracterização e padronização do
gia, esta pesquisa apresentou o desenvolvimento de uma co- processo de gravação a laser em ágata aplicado ao
leção de joias, segundo a tendência da joalheria contemporâ- design de joias. 2012. 172 f. Dissertação (Mestrado) -
nea. Esse atual viés de adornos está caracterizado pela utiliza- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
ção de materiais nobres e consagrados da ourivesaria em con- Porto Alegre, 2012.
junto com alternativas inusitadas. A definição de joia contem- [7]. CIDADE, M. K.; DUARTE, L. C. Gravação a laser no design
porânea transcende apenas o uso de materiais nobres e osten- de joias : caracterização e padronização do processo
tação de riqueza, sendo associada a peças com um considerá- aplicado em ágata. Saarbrücken (AL): Novas Edições
vel nível de acabamento e detalhes. Desse modo, a tecnologia Acadêmicas, 2014.
laser CO2 permite a sua aplicação direta em projetos de joias [8]. CIDADE, M. K.; PALOMBINI, F. L.; KINDLEIN JÚNIOR, W.
inovadoras, aliado a processos artesanais de ourivesaria. Biônica como processo criativo : microestrutura do
Com a intenção de inovar não somente através do uso bambu como metáfora gráfica no design de joias
contextualizado e expressivo do adorno, mas também de ma- contemporâneas. Educação Gráfica (Online), v. 19, n. 1,
teriais inusitados e processos aplicados, as três peças criadas – p. 91–103, 2015.
brinco, pulseira-anel e colar – foram projetadas em elastômero [9]. COACCI, R. Joias brasileiras. Disponível em:
EPDM (lençol de borracha) com caixas em prata para a crava- <http://www.coacci.com.br>.
ção inglesa de gemas. Os resultados obtidos mostram que, se- [10]. DAHOTRE, N. B.; HARIMKAR, S. Laser fabrication and
gundo as etapas de padronização descritas, para o emprego de machining of materials. New Jersey: Springer Science &
tecnologia de corte a laser CO2 galvanométrico, neste material, Business Media, 2008.
os melhores parâmetros a serem utilizados são através da con- [11]. FIORINI, M. Marzio Fiorini. Disponível em:
figuração de exportação no formato avançado, juntamente <www.marziofiorini.com.br>.
com o emprego de velocidade de 2 m/min, 3 passadas de feixe
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Design & Tecnologia 12 (2016)

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