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Referência:

“FORNAZIERI, Aldo. A Lava Jato e a rebelião do Procuradorismo.


Disponível em: https://.jornalggn.com.br/noticia/a-lava-jato-e-a-rebeliao-
do-procuradorismo-por-aldo-fornazieri. Acesso em 17/09/2016.”

O artigo de opinião intitulado “A Lava Jato e a rebelião do


Procuradorismo”, escrito por Aldo Fornazieri, Doutor em Ciência Política
pela Universidade de São Paulo (USP), São Paulo; professor da
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), São
Paulo, foi publicado no endereço eletrônico https://jornalggn.com.br em
04 de julho de 2016. Em sua produção, estruturada em duas seções, o
autor aborda uma discussão acerca da Operação Lava-Jato e das
repercussões desta no cenário político brasileiro, e objetiva uma crítica
ao trabalho dos Procuradores da República nesse caso.

Na primeira seção, Fornazieri expõe uma grave crítica ao Juiz Sérgio


Moro, ao sustentar que este é um manifestador de juízos prévios, que
procede refutando o princípio da presunção de inocência, condenando
réus mesmo sem provas cabais. Em seguida, menciona a conduta de
servidores de vários órgãos federais, como da Polícia Federal, da
Receita Federal e do Ministério Público Federal, a fim de definir a
Operação Lava-Jato como uma rebelião dos agentes do Estado contra
os do governo político, que são os alvos centrais das investigações.
Dentre aqueles, são os procuradores que têm sua atuação destacada
como essencial à propagação e prolongação da operação e, por isso, o
autor se concentra na análise do trabalho destes. O cientista, então,
cunha um termo pejorativo, “procuradorismo”, com o intuito de denegrir
e evidenciar seu posicionamento contrário ao procedimento adotado por
esses profissionais que, segundo ele, cometem abusos a fim de ratificar
sua concepção parcial e partidária (antipetista) de justiça. A partir daí,
Aldo Fornazieri faz uma retomada histórica comparando o tenentismo,
movimento ocorrido entre os anos de 1920 e 1930, com o
procuradorismo. Destarte, são apontadas as similitudes entre ambas as
propostas, como o discurso fortemente moralizante, a defesa de uma
renovação das instituições, a intenção de extirpar a corrupção e o
anseio por uma reforma política.

Já a segunda seção, cujo título é “A ilusão do Estado”, apresenta uma


análise de Aldo Fornazieri acerca da conjuntura política recente do
Brasil. Nesse sentido, há uma constatação do especialista sobre o
caráter conservador e antirrevolucionário do Estado, controlado pelas
elites econômicas, que freiam as pretensões progressistas a fim de
perpetuar uma lógica patrimonialista dominante. Segundo o cientista,
isso é muito bem exemplificado pelo caso do Partido dos Trabalhadores
(PT), que ganhou as eleições presidenciais com um discurso que
defendia uma justiça social, mas na prática adotou uma forma de
governar hegemônica no Brasil desde o governo de Juscelino
Kubitschek, que ocorreu 1956 a 1961, caracterizada pela realização de
grandes obras de infraestrutura e esquematização de enriquecimento
ilícito via caixa dois e superfaturamento orçamentário. Nesse contexto, o
autor afirma que ainda que tenha promovido algumas políticas públicas
de caráter distributivista, enquanto não ameaçou o gerenciamento
estatal por parte da elite econômica, o PT pode se manter no poder,
porém, o desequilíbrio da conta fiscal do país levou a uma crise, que
acarretou o fim do pacto aceitável para a elite, que, diante disso,
derrubou o partido por meio de um processo de impeachment. Em
conjunto com o mandato de Dilma Rousseff (PT), foi dinamitada a forma
de governar ditada pelas grandes obras realizadas pelas poderosas
empreiteiras prestadoras de serviços para o Estado, o que Aldo
Fornazieri atribuiu ao procuradorismo como o único bem por este
promovido.

O texto de Fornazieri é preciso em vários pontos, como na


demonstração da preponderância do patrimonialismo da elite
econômica e na comparação do tenentismo com o procuradorismo.
Porém, há de se ressalvar algumas de suas críticas, que não são
pertinentes, comprovadas, principalmente, pelo desdobramento de
novos fatos na Operação Lava-Jato desde a data de publicação do
artigo. O antipetismo por ele atribuído à atuação dos Procuradores da
República se revela como uma afirmação totalmente equivocada, haja
vista as recentes investigações que recaem sobre Michel Temer (PMDB)
e Aécio Neves (PSDB), além das prisões de Eduardo Cunha (PMDB) e
Sérgio Cabral (PMDB) e da permissão para instauração de inquéritos
contra os tucanos Aloysio Nunes, Antônio Anastasia, Cássio Cunha
Lima e José Serra e os peemedebistas Eliseu Padilha, Moreira Franco e
Kátia Abreu. Assim, evidencia-se que não só Lula, Dilma demais
personalidades influentes no PT são alvo dos Procuradores da
República, mas também os caciques do PSDB e do PMDB. A maior
diferença entre eles, e que ocasiona esse alvoroço por parte dos
militantes petistas, é que enquanto Lula e grande parte dos investigados
do PT são julgados por um juiz independente de primeira instância - o
Sérgio Moro -, os tucanos e os peemedebistas, por sua vez, são
julgados pelos ministros do Supremo Tribunal Federal, por serem
integrantes do governo e, consequentemente, acometidos pelo foro
privilegiado. Dessa forma, são juristas com amarras políticas que os
julgam, propiciando uma mínima benevolência nos pareceres emitidos,
o que, aliado ao fato de ser a última instância de recurso no sistema
judiciário do Brasil e, portanto, a mais morosa nos trâmites necessários,
fomenta a falsa ideia de perseguição aos políticos petistas e
acobertamento aos demais.

Além disso, de acordo com o renomado cientista político Aldo


Fornazieri: “Todos acreditaram e acreditam que, com controle e a posse
do Estado, mudam a realidade social pela via do poder. A história
mostrou o contrário: o Estado muda os ‘revolucionários’ de plantão.”. A
partir dessa afirmação, é necessário ressaltar que o passado corrobora
sim, sob a perspectiva da política, uma supressão dos projetos
revolucionários, porém, o Estado não é constituído apenas pelos
políticos, o que permite que outros integrantes possam promover tais
mudanças. O fim, ou a redução drástica, da forma de governar ditada
pelas grandes empreiteiras do país promovido pelos Procuradores da
República, reconhecido pelo autor, é um exemplo disso. Assim, a
seguinte declaração pode, seguramente, ser feita:

Muito embora os casos de corrupção no Brasil sejam vistos


numa perspectiva negativa, é importante lançar o olhar em
direção a uma nova perspectiva: (...) é o anseio de um país,
de toda sociedade brasileira por uma democracia de melhor
qualidade, em que a corrupção sistêmica será apenas uma
triste memória do passado. Trata-se de um trabalho em
andamento. (Juiz Sérgio Moro)

Cabe ao Juiz Sérgio Moro ratificar suas palavras por intermédio de seus
atos. A absolvição de Cláudia Cruz, esposa do ex-deputado federal
Eduardo Cunha (PMDB), gera incertezas, mas sua atuação prévia e o
amparo da sociedade e dos Procuradores da República resguardam as
esperanças do povo brasileiro acerca da condenação dos agentes
públicos e privados envolvidos no maior escândalo de corrupção da
história do Brasil, a Operação Lava-Jato.

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