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1. LINDB................................................................................................................................ 3
2. PESSOA NATURAL........................................................................................................ 11
5. DOMICÍLIO ...................................................................................................................... 34
6. BENS............................................................................................................................... 37
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1. LINDB
A LINDB possui ao todo 30 artigos, desses, apenas 19 (do 1º ao 19) tratam de
questões sobre vigência das leis, aplicação da norma jurídica no tempo, subsistência
da lei no espaço, e relação com o Direito Internacional.
Os demais dispositivos focam em questões administrativas.
Assim, a recomendação da leitura dos 19 dispositivos pertinentes se dá com objetivo
de otimizar o seu tempo de estudo!
Diferenciando conceitos...
De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE -
Delegado de Polícia
Uma nova lei, que disciplinou integralmente matéria antes regulada por outra norma, foi
publicada oficialmente sem estabelecer data para a sua entrada em vigor e sem prever prazo
de sua vigência. Sessenta dias após a publicação oficial dessa nova lei, foi ajuizada uma ação
em que as partes discutem um contrato firmado anos antes sobre o assunto objeto das
referidas normas.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o seguinte item, com base na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro
No momento do ajuizamento da ação, a nova lei já estava em vigor.
Gabarito: certo.
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia
Federal - Delegado de Polícia Federal
Diante da existência de normas gerais sobre determinado assunto, publicou-se oficialmente
nova lei que estabelece disposições especiais acerca desse assunto. Nada ficou estabelecido
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acerca da data em que essa nova lei entraria em vigor nem do prazo de sua vigência. Seis
meses depois da publicação oficial da nova lei, um juiz recebeu um processo em que as partes
discutiam um contrato firmado anos antes.
A partir dessa situação hipotética, julgue o item a seguir, considerando o disposto na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
A nova lei começou a vigorar no país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada
e permanecerá em vigor até que outra lei a modifique ou a revogue.
Gabarito: certo.
Ano: 2015 Banca: CEFET-BA Órgão: MPE-BA Provas: MPE-BA - 2015 - MPE-BA - Promotor
de Justiça Substituto
Assinale a alternativa INCORRETA sobre as regras de vigência das leis, segundo a Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
A. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou
revogue.
B. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare ou quando seja com ela
incompatível.
C. A lei posterior revoga a anterior quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior.
D. A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, revoga
a lei anterior.
E. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora
perdido a vigência.
Gabarito: “D”.
▪ Eficácia: avalia se a lei está alcançando a finalidade a qual se propôs. Pode ser
jurídica ou social (que corresponde ao respeito à prescrição legal pelos destinatários
da norma).
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▪ Promulgação: é o aviso oficial do “nascimento” da norma. Atribui à lei certeza quanto
à existência e autenticidade.
Pega a visão!!
• Ab-rogação = revogação total;
• Derrogação = revogação parcial.
De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia
Federal - Delegado de Polícia Federal
Diante da existência de normas gerais sobre determinado assunto, publicou-se oficialmente
nova lei que estabelece disposições especiais acerca desse assunto. Nada ficou estabelecido
acerca da data em que essa nova lei entraria em vigor nem do prazo de sua vigência. Seis
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meses depois da publicação oficial da nova lei, um juiz recebeu um processo em que as partes
discutiam um contrato firmado anos antes.
A partir dessa situação hipotética, julgue o item a seguir, considerando o disposto na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
O caso hipotético configura repristinação, devendo o julgador, por isso, diante de eventual
conflito de normas, aplicar a lei mais nova e específica.
Gabarito: errado.
ANTINOMIAS JURÍDICAS
Antinomia é o choque, o embate, entre duas normas válidas e emanadas de autoridade
competente, sem que se possa dizer qual delas deverá ser empregada no caso concreto.
Pega a visão!! Critérios básicos: hierárquico, especialidade e cronológico.
• Antinomia de 1º Grau: conflito que abrange apenas UM dos critérios acima citados.
• Antinomia de 2º Grau: choque que engloba DOIS dos critérios.
A chamada “Antinomia Aparente” pode ser resolvida pelos critérios acima (hierárquico e
especialidade superam o cronológico).
Já a “Antinomia Real” não pode ser solucuionada pelos metacritérios. É o caso de embate
entre os critérios hierárquico e especialidade (por ex.: norma geral superior X norma especial
inferior). Bobbio diz que prevalece o hierárquico. Maria Helena Diniz diz que não há uma
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metarregra geral de solução aqui, sendo uma antinomia real, podendo prevalecer qualquer
um dos critérios. Tartuce diz que a solução pode ser dada pelo Poder Legislativo (editando
uma terceira norma) ou pelo Poder Judiciário (adotando o princípio máximo da justiça,
aplicando os arts. 4º e 5º da LINDB e art. 8º do CPC).
De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Prefeitura de Manaus - AM Prova: CESPE /
CEBRASPE - 2018 - Prefeitura de Manaus - AM - Procurador do Município
À luz das disposições do direito civil pertinentes ao processo de integração das leis, aos
negócios jurídicos, à prescrição e às obrigações e contratos, julgue o item a seguir.
O conflito de normas que pode ser resolvido com a simples aplicação do critério hierárquico é
classificado como antinomia aparente de primeiro grau.
Gabarito: certo.
INTERPRETAÇÃO DA LEI
Interpretar é buscar o alcance e o sentido de uma norma já existente.
• Gramatical: procura o sentido real da norma através de normas de linguística.
• Histórica: avalia a conjuntura histórica em que foi elaborada a lei.
• Sistemática: a lei será interpretada em conjunto com as demais, pertencente à um
sistema, um ordenamento.
• Extensiva: conhecida também como ampliativa, a norma diz menos do que reflete a
essência da lei.
• Restritiva: o contrário da anterior, - o legislador disse mais do que desejava.
• Teleológica (finalística ou sociológica): Serão buscados os fins sociais da norma.
Enfim, para que ela foi criada? Segundo Gonçalves Dias, “A interpretação sociológica
ou teleológica tem por objetivo adaptar o sentido ou finalidade da norma às novas
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exigências sociais, com abandono do individualismo que preponderou no período
anterior à edição da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Tal
recomendação é endereçada ao magistrado no art. 5º da referida lei, que assim
dispõe: ‘na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se destina e às
exigências do bem comum’.”
• Lógica O intérprete busca o significado da norma nos fatos e motivos políticos,
históricos e ideológicos que culminaram na sua criação. Se na interpretação literal fica-
se preso à lei, na lógica desprende-se dela, transcendendo do conteúdo meramente
escrito. Busca-se, por meio de um raciocínio lógico, o porquê das normas.
INTEGRAÇÃO DA LEI
Ocorre quando não há lei a ser aplicada a um caso concreto, dessa forma se difere da
interpretação. Integrar significa preencher lacunas. A integração da norma é acontece quando
o juiz complementa a norma. E essa necessidade de complementação da norma tem origem
no fato do legislador não ter como prever todas as situações possíveis no mundo fático. O
direito é uma ciência social e, portanto, em constante mutação.
O juiz não pode deixar de julgar alegando lacuna ou desconhecimento da norma, caso
não haja leis regulamentando a lide, caberá ao juiz, de acordo com o artigo 4º da LINDB,
buscar a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito:
Para doutrina tradicional, o art. 4° prevê uma ordem hierárquica para aplicação pelo
juiz. Todavia, a doutrina mais moderna se posiciona no sentido de não haver vinculação a
essa ordem, especialmente em razão da força normativa dos princípios, que não têm apenas
função supletiva ou interpretativa, mas também normativa, de modo que poderiam ser
aplicados em primeiro lugar.
Expressões importantes:
• Analogia: Permite-se a aplicação de uma norma para além do seu campo de atuação.
Ex: o art. 499 do CC/002 permite a venda de bens entre cônjuges, excluídos os que
integram a comunhão. Por analogia deve ser estendida essa interpretação ao
companheiro.
• Costumes: reiteração de comportamentos lícitos. Costumes secundum legem
(segundo a lei): incidem quando a própria lei faz referência eles. Ex: Art. 596. Não se
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tendo estipulado, nem chegado a acordo as partes, fixar-se-á por arbitramento a
retribuição, segundo o costume do lugar, o tempo de serviço e sua qualidade. Nesse
caso não há propriamente uma integração, mas uma subsunção. Costumes praeter
legem (na falta da lei): é o costume integrativo, que atua na falta de lei. Ex: cheque
pós-datado. Costumes contra legem (contra a lei): não há subsunção, nem integração,
constituindo, em regra, abuso de direito (art. 187, CC).
• Princípios Gerais do Direito: “Os princípios gerais são as regras que, embora não
estejam escritas, servem como mandamentos que informam e dão apoio ao direito,
utilizados como base para a criação e integração das normas jurídicas, respaldados
pelo ideal de justiça” (Eduardo de Azevedo Paiva).
• Non liquet: é a possibilidade de o juiz recusar-se a decidir em razão de não haver
norma aplicável. Entende-se ser vedado, haja vista a inafastabilidade da jurisdição.
• Equidade: se refere a aplicação da justiça no caso concreto pelo juiz, que, em tese,
poderia até mesmo discordar do ordenamento posto. Segundo o NCPC, somente pode
ser utilizada quando expressamente autorizado (exemplo: justiça voluntária).
De olho na banca!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Prefeitura de Campo Grande - MS Prova:
CESPE - 2019 - Prefeitura de Campo Grande - MS - Procurador Municipal
Considerando as disposições da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, julgue o
item a seguir.
Diante de omissão legal, o juiz decidirá de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito, visando atender aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum.
Gabarito: certo.
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Art. 6º, LINDB A Lei em vigor terá efeito imediato e geral,
respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a
lei vigente ao tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu
titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo
começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-
estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial
de que já não caiba recurso.
Pega a visão!!
Lei nova pode atingir negócios realizados sob a égide da lei anterior, desde que se refiram ao
campo da eficácia (ex: juros e atualização monetária estão nesse campo).
De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE -
Delegado de Polícia
Uma nova lei, que disciplinou integralmente matéria antes regulada por outra norma, foi
publicada oficialmente sem estabelecer data para a sua entrada em vigor e sem prever prazo
de sua vigência. Sessenta dias após a publicação oficial dessa nova lei, foi ajuizada uma ação
em que as partes discutem um contrato firmado anos antes sobre o assunto objeto das
referidas normas.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o seguinte item, com base na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
Apesar de a nova lei ter revogado integralmente a anterior, ela não se aplica ao contrato objeto
da ação.
Gabarito: certo.
Breve comentário: Aplica-se o princípio “tempus regit actum” (o tempo rege o ato). “Art. 6º A
Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido
e a coisa julgada”.
Por fim, faz-se mister ressaltar que a Lei de introdução é uma Lex legum pois ela regula as
próprias normas jurídicas, e não a relação entre indivíduos. Lembrando ainda que a Lei de
introdução não se refere apenas ao código civil, mas atingindo outros ramos também do
direito, inclusive do direito público. Tanto é verdade que esta lei se chamava “Lei de Introdução
ao Código Civil – LICC”, e teve seu nome alterado pela lei 12.376/10, para “Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro – LINDB”.
De olho na banca!
Ano: 2012 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL -
Delegado de Polícia
Com base no que dispões a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) e
Direito Civil, julgue os itens subsecutivos.
A LINDB é considerada uma lex legum, ou seja, uma norma de sobre direito.
Gabarito: certo
2. PESSOA NATURAL
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incapazes dependem de representação. As pessoas incapazes estão sujeitas à tutela
ou à curatela.
Obs.: tutela x curatela: enquanto a tutela destina-se às pessoas menores de 18 anos,
a curatela destina-se aos demais incapazes.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência trouxe profundas alterações no que diz respeito
ao sistema das incapacidades.
Uma das principais mudanças promovidas foi a alteração das causas de incapacidade
absoluta e relativa. Com o advento do Estatuto, passou a ser considerado
absolutamente incapaz apenas o menor de 16 anos. Assim, podemos afirmar que a
incapacidade absoluta no atual ordenamento jurídico brasileiro é decorrente apenas
da menoridade.
o Relativamente incapazes
▪ Maiores de 16 e menores de 18 anos;
▪ ébrios habituais e viciados em tóxico;
▪ aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem
exprimir sua vontade;
▪ pródigos
o Absolutamente incapazes: apenas os menores de 16 anos.
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veja, por exemplo, quando a corte decidiu pela constitucionalidade da Lei de
Biossegurança.
Vide:
CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
LEI DE BIOSSEGURANÇA. IMPUGNAÇÃO EM BLOCO DO ART. 5º
DA LEI Nº 11.105, DE 24 DE MARÇO DE 2005 (LEI DE
BIOSSEGURANÇA). PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO
EMBRIONÁRIAS. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO DIREITO À
VIDA. CONSITUCIONALIDADE DO USO DE CÉLULAS-TRONCO
EMBRIONÁRIAS EM PESQUISAS CIENTÍFICAS PARA FINS
TERAPÊUTICOS. DESCARACTERIZAÇÃO DO ABORTO. NORMAS
CONSTITUCIONAIS CONFORMADORAS DO DIREITO
FUNDAMENTAL A UMA VIDA DIGNA, QUE PASSA PELO DIREITO À
SAÚDE E AO PLANEJAMENTO FAMILIAR. DESCABIMENTO DE
UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DE INTERPRETAÇÃO CONFORME PARA
ADITAR À LEI DE BIOSSEGURANÇA CONTROLES
DESNECESSÁRIOS QUE IMPLICAM RESTRIÇÕES ÀS PESQUISAS
E TERAPIAS POR ELA VISADAS. IMPROCEDÊNCIA TOTAL DA
AÇÃO. I - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO, A CONCEITUAÇÃO
JURÍDICA DE CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS E SEUS
REFLEXOS NO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DA LEI DE
BIOSSEGURANÇA. (...) III - A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO
DIREITO À VIDA E OS DIREITOS INFRACONSTITUCIONAIS DO
EMBRIÃO PRÉ-IMPLANTO. O Magno Texto Federal não dispõe sobre
o início da vida humana ou o preciso instante em que ela começa. Não
faz de todo e qualquer estádio da vida humana um autonomizado bem
jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque
nativiva (teoria “natalista”, em contraposição às teorias “concepcionista”
ou da “personalidade condicional”). E quando se reporta a “direitos da
pessoa humana” e até dos “direitos e garantias individuais” como
cláusula pétrea está falando de direitos e garantias do indivíduo-pessoa,
que se faz destinatário dos direitos fundamentais “à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade”, entre outros direitos e
garantias igualmente distinguidos com o timbre da fundamentalidade
(como direito à saúde e ao planejamento familiar). Mutismo
constitucional hermeneuticamente significante de transpasse de poder
normativo para a legislação ordinária. A potencialidade de algo para se
tornar pessoa humana já é meritória o bastante para acobertá-la,
infraconstitucionalmente, contra tentativas levianas ou frívolas de obstar
sua natural continuidade fisiológica. Mas as três realidades não se
confundem: o embrião é o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana
é a pessoa humana. Donde não existir pessoa humana embrionária,
mas embrião de pessoa humana. O embrião referido na Lei de
Biossegurança (“in vitro” apenas) não é uma vida a caminho de outra
vida virginalmente nova, porquanto lhe faltam possibilidades de ganhar
as primeiras terminações nervosas, sem as quais o ser humano não tem
factibilidade como projeto de vida autônoma e irrepetível. O Direito
infraconstitucional protege por modo variado cada etapa do
desenvolvimento biológico do ser humano. Os momentos da vida
humana anteriores ao nascimento devem ser objeto de proteção pelo
direito comum. O embrião pré-implanto é um bem a ser protegido, mas
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não uma pessoa no sentido biográfico a que se refere a Constituição.
(...). Ação direta de inconstitucionalidade julgada totalmente
improcedente. (ADI 3510, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Tribunal
Pleno, julgado em 29/05/2008, DJe-096 DIVULG 27-05-2010 PUBLIC
28-05-2010 EMENT VOL-02403-01 PP-00134 RTJ VOL-00214-01 PP-
00043)
De olho na Juris!
Veja-se decisão do STJ que adotou expressamente a teoria concepcionista:
De olho na banca!
Ano: 2012 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL -
Delegado de Polícia.
Com base no que dispões a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) e
Direito Civil, julgue os itens subsecutivos.
A personalidade civil começa com o nascimento com vida, mas os direitos do nascituro estão
sujeitos a uma condição resolutiva, ou seja, são direitos eventuais; esse conceito refere-se à
teoria da personalidade condicional.
Gabarito: errado.
Obs.: O erro do item está na afirmação que na teoria da personalidade condicionada, os
direitos do nascituro estão sujeitos a uma condição resolutiva.
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MENORIDADE E EMANCIPAÇÃO
De olho na juris!
TJ-RS - Apelação Cível AC 70054726401 RS (TJ-RS)
Data de publicação: 04/06/2013
Ementa: AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS. FILHA
EMANCIPADA, QUE TRABALHA E ESTUDA NO EXTERIOR.
PROVA.
1. Os alimentos decorrentes do dever de sustento, que é
inerente ao poder familiar, cessam quando os filhos atingem a
maioridade civil, mas persiste a relação parental, que pode
justificar a permanência do encargo alimentar.
2. É totalmente descabida a pretensão da Defensoria Pública de
receber pagamento de honorários advocatícios por exercer a
função de curadoria especial, pois essa função é própria das
suas atribuições institucionais.
3. Para que permaneça o encargo alimentar do genitor em
relação à filha maior, é imprescindível a prova cabal da
necessidade, o que não se verifica nos autos, pois ela além
de seremancipada, reside em Portugal, faz trabalhos como
modelo e estuda teatro, havendo provas inclusive de que
possui uma loja na cidade de Cruz Alta, tanto que foi
condenada na Justiça do Trabalho a indenizar uma
funcionária.
4. Correta a sentença ao determinar o término da obrigação
alimentar, quando a alimentada não comprovou sua
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necessidade em continuar recebendo a verba alimentar.
Recurso desprovido.
(Apelação Cível Nº 70054726401, Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de
Vasconcellos Chaves, Julgado em 29/05/2013)
De olho na banca!
Ano: 2015 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: AGU
Julgue o item seguinte, que dizem respeito à aplicação da lei, às pessoas e aos bens.
De acordo com entendimento do STJ, a emancipação, seja ela legal, voluntária ou judicial,
não tem o condão de excluir a responsabilidade civil dos pais pelos atos praticados por seus
filhos menores.
Gabarito: errado.
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OBS.1: Quando não for encontrado corpo do falecido para ser periciado, faz-se necessária a
Justificação Judicial para se declarar a morte presumida sem declaração de ausência. As
hipóteses de morte presumida sem declaração de ausência constam do artigo 7°, do CC e no
artigo 88, da Lei de Registros Públicos.
OBS.2: A declaração de morte presumida sem declaração de ausência somente pode ser
requerida após esgotadas todas as buscas e averiguações. A morte presumida SEM
DECRETAÇÃO DE AUSÊNCIA enseja a abertura de sucessão definitiva, não sendo
necessário seguir o procedimento de ausência (art. 22 e do CC), com abertura de sucessão
provisória, para depois abrir a sucessão definitiva, procedimento esse que só deve e dar em
caso de ausência de alguém que não se encaixe no art. 7 do CC, aplicando-se assim, o
disposto no art. 6 º e nos artigos citados (art. 22 e ss CC).
COMORIÊNCIA.
Traduz a situação de morte simultânea, isto é, quando duas ou mais pessoas morreram na
mesma ocasião, não sendo possível determinar quem morreu primeiro.
Fala-se que, para a maioria da doutrina, a expressão legal “mesma ocasião” significa ao
mesmo tempo, não sendo obrigatório que seja no mesmo acontecimento. Entretanto, é sabido
que os exemplos frequentes de provas de concursos trabalham com comoriência ao mesmo
tempo e evento.
A comoriência provoca consequências práticas significativas, visto que serão abertas cadeias
sucessórias autônomas e distintas, de maneira que um comoriente não herdará do outro.
É possível que a comoriência, enquanto presunção relativa que é, seja afastada por prova
definitiva em contrário (prova de pré-moriência). Finalmente, lembra-se que os comorientes
falecem simultaneamente, não havendo nenhum tipo de critério preferencial legal.
De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE -
Delegado de Polícia
Um homem de cinquenta anos de idade assassinou a tiros a esposa de trinta e oito anos de
idade, na manhã de uma quarta-feira. De acordo com a polícia, o homem chegou à casa do
casal em uma motocicleta, chamou a mulher ao portão e, quando ela saiu de casa, atirou nela
com uma arma de fogo, matando-a imediatamente. Em seguida, ele se matou no mesmo local,
com um disparo da arma encostada na própria têmpora.
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Considerando a situação hipotética apresentada e os diversos aspectos a ela relacionados,
julgue o item a seguir.
O evento caracteriza um episódio de comoriência.
Gabarito: errado.
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-AM Prova: CESPE - 2019 - TJ-AM -
Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador
No que concerne à Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, à pessoa natural, aos
direitos da personalidade e à desconsideração de pessoa jurídica, julgue o item a seguir.
Na hipótese de dois cônjuges, com idades diferentes, terem falecido na mesma ocasião e não
ser possível identificar com precisão quem faleceu primeiro, deve-se presumir que a morte do
comoriente mais velho precedeu a do mais novo.
Gabarito: errado
3. DIREITOS DA PERSONALIDADE
Os direitos da personalidade como proteção integral do ser humano em toda a sua
essência são uma construção jurídico-teórica recente.
Durante muitos anos na história da humanidade, a proteção a direitos fundamentais
do ser humano era relegada às categorias privilegiadas da sociedade, haja vista as inúmeras
atrocidades cometidas nos mais diversos períodos da história. Nesse sentido aponta a
doutrina que essa construção teórica é fruto do cuidado da doutrina germânica e francesa,
especialmente depois da II Grande Guerra mundial.
Os códigos civis não faziam nenhuma referência aos direitos da personalidade o que
foi ocorrendo aos poucos na maioria dos países. Uma das principais inovações da Parte Geral
do Novo Código Civil é justamente, a existência de um capítulo próprio destinado aos direitos
da personalidade.
Um grande passo para a proteção dos direitos da personalidade foi dado com o
advento da Constituição Federal de 1988, que expressamente a eles se refere no art. 5º,
caput, e inciso X.
O Código Civil de 2002, ao contrário dos anteriores, disciplina a matéria nos artigos 11
a 21 da Parte Geral. A legislação civil tratou de regular o direito ao próprio corpo, o direito ao
nome, o direito à honra, à imagem e o direito à privacidade.
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De olho na lei!
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem
em publicações ou representações que a exponham ao
desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
Assim sendo, para ser válido o ato de dispor dos direitos da personalidade, esse ato
precisa respeitar alguns limites:
1) O ato não pode ser permanente: não é possível ceder algum dos direitos da
personalidade de forma vitalícia;
2) O ato não pode ser genérico: é possível dispor desse ou daquele direito, mas não é
possível ceder todos ao mesmo tempo;
3) Não pode violar a dignidade do titular: o titular não pode dispor, não pode flexibilizar
sua personalidade com violação de sua dignidade. (Exemplo: arremesso de anão,
França).
De olho na banca!
Ano: 2012 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL -
Delegado de Polícia
Com relação às pessoas naturais, às pessoas jurídicas e aos bens, julgue os itens a seguir.
Os direitos da personalidade são inatos, ilimitados e absolutos, com eficácia erga omnes,
porém, seu exercício pode sofrer restrições.
Gabarito: correto.
Ano: 2016 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PGE-AM Prova: CESPE - 2016 - PGE-AM -
Procurador do Estado
Acerca de direitos da personalidade, responsabilidade civil objetiva e prova de fato jurídico,
julgue o item seguinte.
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Uma pessoa poderá firmar contrato que limite seus direitos da personalidade caso o acordo
seja-lhe economicamente vantajoso.
Gabarito: errado.
Principais direitos:
➔ NOME: O Direito ao nome é o direito à individualização da pessoa. Atualmente já não
paira nenhuma dúvida: nome não é direito real, é direito à personalidade. Até certo
tempo, o princípio da imutabilidade do nome era absoluto (até 1998). O nome só
poderia ser modificado nos casos expressamente previstos em Lei. Agora, prevalece
entre nós a inalterabilidade relativa do nome. O nome pode ser modificado não apenas
nos casos previstos em lei, mas também por força de decisão judicial em razão de
motivo relevante. As hipóteses de alteração de nome estão elencadas nos artigos 56
e 57 da Lei n. 6.015/73.
De olho na juris!
Contudo, o Superior Tribunal de Justiça vem tratando de forma maleável a
interpretação desses artigos visando permitir a alteração de nome, desde que haja um
“justo motivo”. Desta maneira, já decidiu que o brasileiro que adquiriu dupla cidadania
pode ter seu nome retificado no registro civil do Brasil, desde que isso não cause
prejuízo a terceiros, quando vier a sofrer transtornos no exercício da cidadania por
força da apresentação de documentos estrangeiros com sobrenome imposto por lei
estrangeira e diferente do que consta em seus documentos brasileiros.
Vide:
RECURSO ESPECIAL. REGISTRO CIVIL. NOME CIVIL.
RETIFICAÇÃO.
DUPLA CIDADANIA. ADEQUAÇÃO DO NOME BRASILEIRO AO
ITALIANO. ALTERAÇÃO DO SOBRENOME INTERMEDIÁRIO. JUSTA
CAUSA. PRINCÍPIO DA SIMETRIA. RAZOABILIDADE DO
REQUERIMENTO.
1. Pedido de retificação de registro civil, em decorrência da obtenção da
nacionalidade italiana (dupla cidadania), ensejando a existência de
sobrenomes intermediários diferentes (Tristão ou Rodrigues) nos
documentos brasileiros e italianos.
2. Reconhecimento da ocorrência de justa causa, em face dos princípios
da verdade real, da simetria e da segurança jurídica, inexistindo prejuízo
a terceiros.
3. Precedentes do STJ.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1310088/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Rel.
p/ Acórdão Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 17/05/2016, DJe 19/08/2016).
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De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: STJ Prova: CESPE - 2018 - STJ - Técnico
Judiciário - Administrativa
Acerca dos direitos da personalidade, julgue o item que se segue.
O nome da pessoa pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que
a exponham ao desprezo público, desde que não haja intenção difamatória.
Gabarito: errado.
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: STJ Prova: CESPE - 2018 - STJ - Técnico
Judiciário - Administrativa
Acerca dos direitos da personalidade, julgue o item que se segue.
O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da mesma proteção que se dá ao nome.
Gabarito: certo.
O STJ na súmula 403 traz que independe de prova do prejuízo a indenização pela
publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
Dessa forma, o simples fato de a imagem ter sido capturada em local público não
afasta a caracterização de dano moral indenizável se for utilizada para fins comerciais sem a
autorização da pessoa fotografada.
Nessa perspectiva, já decidiu o STJ que “é cabível compensação por dano moral
decorrente da simples utilização de imagem de pessoa física, em campanha publicitária, sem
autorização do fotografado. Essa é a interpretação que se extrai dos precedentes que
definiram a edição da Súmula 403 do STJ, segundo a qual “Independe de prova do prejuízo
23
a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou
comerciais”. Precedentes citados: EREsp 230.268-SP, Segunda Seção, DJ de 4/8/2003;
AgRg no REsp 1.252.599-RS, Terceira Turma, DJe de 5/5/2014; e AgRg no AREsp 148.421-
SP, Quarta Turma, DJe de 25/10/2013. REsp 1.307.366-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado
em 3/6/2014.
Pega a visão!!
Vide:
24
de hierarquia inferior (lei civil), ainda que sob o argumento de se estar a
resguardar e proteger outro direito constitucionalmente assegurado,
qual seja, o da inviolabilidade do direito à intimidade, à privacidade, à
honra e à imagem. 9. Ação direta julgada procedente para dar
interpretação conforme à Constituição aos arts. 20 e 21 do Código Civil,
sem redução de texto, para, em consonância com os direitos
fundamentais à liberdade de pensamento e de sua expressão, de
criação artística, produção científica, declarar inexigível autorização de
pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou
audiovisuais, sendo também desnecessária autorização de pessoas
retratadas como coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de
pessoas falecidas ou ausentes). (ADI 4815, Relator (a): Min. CÁRMEN
LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 10/06/2015, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC 01-02-2016).
De olho na juris!
O STJ, manifestando-se sobre o assunto, concluiu pela existência do direito ao
esquecimento, valorizando-se a dignidade da pessoa humana:
A permissão ampla e irrestrita de que um fato e pessoas nele
envolvidas sejam retratados indefinidamente no tempo - a
pretexto da historicidade do evento - pode significar permissão
de um segundo abuso à dignidade humana, simplesmente
porque o primeiro já fora cometido no passado. Nesses casos,
admitir-se o “direito ao esquecimento” pode significar um
corretivo - tardio, mas possível - das vicissitudes do passado,
seja de inquéritos policiais ou processos judiciais pirotécnicos e
injustos, seja da exploração populista da mídia. Além disso, dizer
que sempre o interesse público na divulgação de casos judiciais
deverá prevalecer sobre a privacidade ou intimidade dos
25
envolvidos, pode violar o próprio texto da Constituição, que
prevê solução exatamente contrária, ou seja, de sacrifício da
publicidade (art. 5º, LX). A solução que harmoniza esses dois
interesses em conflito é a preservação da pessoa, com a
restrição à publicidade do processo, tornando pública apenas a
resposta estatal aos conflitos a ele submetidos, dando-se
publicidade da sentença ou do julgamento, nos termos do art.
155 do Código de Processo Civil e art. 93, IX, da Constituição
Federal. Por fim, a assertiva de que uma notícia lícita não se
transforma em ilícita com o simples passar do tempo não tem
nenhuma base jurídica. O ordenamento é repleto de previsões
em que a significação conferida pelo direito à passagem do
tempo é exatamente o esquecimento e a estabilização do
passado, mostrando-se ilícito reagitar o que a lei pretende
sepultar. Isso vale até mesmo para notícias cujo conteúdo seja
totalmente verídico, pois, embora a notícia inverídica seja um
obstáculo à liberdade de informação, a veracidade da notícia não
confere a ela inquestionável licitude, nem transforma a liberdade
de imprensa em direito absoluto e ilimitado. Nesse contexto, as
vítimas de crimes e seus familiares têm direito ao esquecimento,
se assim desejarem, consistente em não se submeterem a
desnecessárias lembranças de fatos passados que lhes
causaram, por si, inesquecíveis feridas. REsp 1.335.153-RJ,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/5/2013.
Contudo, não é todo caso de exibição de imagens do passado que geram danos
morais por violação ao direito ao esquecimento. É necessário analisar o caso concreto para
saber se há ou não a caracterização de dano moral e o dever de indenização.
Enunciado 275: arts. 12 e 20. O rol dos legitimados de que tratam os arts. 12, parágrafo
único, e 20, parágrafo único, do Código Civil também compreende o companheiro.
4. PESSOA JURÍDICA
A pessoa jurídica é fruto de uma necessidade social, pois o homem não vive isolado,
agrupando-se em fenômenos associativos inerentes à natureza humana.O direito passou a
discipliná-las, para legitimar sua participação na vida jurídica, como sujeito de direitos,
dotando-as, para este fim, de personalidade própria.
27
Em um rigor mais técnico, afirma-se que a pessoa jurídica é a soma de esforços
humanos (corporação) ou a destinação de um patrimônio (fundação), tendente a uma
finalidade lícita, específica, constituída na forma da lei, a partir do registro (art. 45, CC), e
obediente a uma função social.
1. Teoria da Ficção
Foi mais conhecida no século XIX, sendo possível dividi-la em:
a) Teoria da Ficção Legal (Savigny)
Alega que a pessoa jurídica teria uma existência tão somente ideal, por ser uma criação do
direito. Seria uma existência abstratamente criada, todavia não sociológica, pois não
aceitavam que a pessoa jurídica tivesse uma atuação social. Para essa teoria, a pessoa
jurídica seria uma criação artificial da norma para exercer direitos patrimoniais e facilitar a
função de certas entidades, já que só o homem (pessoa natural) é capaz de ser sujeito de
direito. Esta capacidade jurídica é abrangida apenas para fins patrimoniais.
2. Teorias da Realidade
É uma resposta a Teoria da Ficção. Para os signatários desta teoria, as pessoas jurídicas são
realidades, e não mera abstração, possuindo existência própria, bem como os indivíduos. Esta
teoria diverge quanto ao modo de apreciar essa realidade, dando origem a várias percepções,
dentre as quais se destacam:
a) Teoria da Realidade Objetiva ou Orgânica (Gierk e Zitelman)
28
Criada na Alemanha, para esta teoria, a pessoa jurídica não seria mera abstração ou criação
da lei, mas teria existência própria, real, social, bem como os indivíduos. Seria um organismo
social, com atuação na própria sociedade em que foi criada. Seria uma criação da sociologia.
Um ser com vida própria, que nasce por imposição das forças sociais. A vontade é capaz de
dar vida a um organismo, que passa a ter existência própria, diferente da de seus
componentes, capaz de se tornar sujeito de direito, real e verdadeiro. São signatários dessa
teoria, dentre outros, Clóvis Beviláqua e Silvio Rodrigues.
Aqui a pessoa jurídica teria existência e atuação social real, muito embora a sua personalidade
fosse concepção da técnica jurídica. Entende que a personificação dos grupos sociais é
expediente de ordem técnica, sendo a forma encontrada pelo direito para reconhecer a
existência de grupos de indivíduos que se conectam na procura de determinados fins.
O registro da pessoa jurídica é, portanto, ato constitutivo de direito, com efeitos ex-nunc,
sendo este ato capaz de gerar a sua personalidade. Verifica-se, no particular, importante
diferença para a pessoa física. Afinal, esta (pessoa física) adquire a personalidade jurídica a
partir do nascimento com vida, sendo o registro posterior um ato meramente declaratório de
direito, com efeitos ex-tunc.
29
• Pessoas Jurídicas de Direito Público INTERNO: União, Estados, DF, Territórios
(não temos), Municípios, autarquias, associações públicas e as demais entidades de
caráter público criadas por lei.
• Pessoas Jurídicas de Direito Público EXTERNO: Estado estrangeiros e todas as
pessoas que forem regidas pelo direito internacional público
• Pessoas Jurídicas de Direito Privado:. Associações, sociedades, fundações,
organizações religiosas, partidos políticos e EIRELI.
De olho na lei!
Veja o que diz o Código Civil:
De olho na banca!
Ano: 2012 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL -
Delegado de Polícia
Com relação às pessoas naturais, às pessoas jurídicas e aos bens, julgue os itens a seguir.
Na teoria da realidade orgânica, a pessoa jurídica tem identidade organizacional própria,
identidade essa que deve ser preservada. Essa teoria foi adotada pelo Código Civil brasileiro.
Gabarito: errado.
Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: SEFAZ-DF Prova: CESPE - 2020 - SEFAZ-
DF - Auditor Fiscal
Considerando o disposto no Código Civil acerca de personalidade e o disposto na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro acerca da vigência das leis, julgue o item a seguir.
O início da personalidade civil das pessoas físicas ocorre com o nascimento com vida,
enquanto o início da personalidade civil das pessoas jurídicas de direito privado ocorre com a
30
inscrição do seu ato constitutivo no respectivo registro, precedida de autorização ou
aprovação do Poder Executivo, quando necessário.
Gabarito: correto.
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Consolidando o entendimento jurisprudencial sobre adoção da Teoria Maior, sob a
perspectiva subjetiva, o novo §1º do art. 50 diz que o desvio de finalidade tem natureza
subjetiva, ou seja, exige prova da intenção daqueles que abusam da personalidade da pessoa
jurídica. Tal entendimento foi trazido no REsp 970.635/SP, da relatoria da Min. Nancy
Andrighi, julgado pelo STJ em 10/11/2009.
De olho na banca!
Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: MPE-CE Prova: CESPE / CEBRASPE - 2020
- MPE-CE - Analista Ministerial - Direito
Acerca do tratamento conferido às pessoas jurídicas pelo Código Civil, julgue o item a seguir.
Verificado abuso de personalidade jurídica por confusão patrimonial ou desvio de finalidade,
o juiz pode determinar a desconsideração da personalidade a requerimento da parte ou do
Ministério Público.
Gabarito: certo.
32
• DESCONSIDERAÇÃO INVERSA
Acontece quando o sócio abusar da utilização da pessoa jurídica. “Se o sócio
controlador de sociedade empresária transferir parte de seus bens à pessoa jurídica
controlada com o intuito de fraudar a partilha, a companheira prejudicada terá
legitimidade para requerer a desconsideração inversa da personalidade jurídica” (STJ,
REsp 1.236.916).
• DESCONSIDERAÇÃO INDIRETA
Ocorre quando “há uma sociedade controladora cometendo fraudes e abusos por meio
de outra empresa que figura como controlada ou filiada (arts. 1.098 e 1.099, CC). É
aplicável substancialmente aos grupos/conglomerados econômicos em que a
empresa controladora utiliza de sociedades menores, controladas/filiadas, que estão
à beira da insolvência, para praticar atos abusivos. Destarte, a sociedade menor, longe
de possuir autonomia, configura-se como mera extensão (“longa manus”) da
sociedade controladora. Com a aplicação da desconsideração indireta, atingir-se-ia o
patrimônio da sociedade controladora, para satisfazer obrigações da sociedade
controlada/filiada” (Bruno Teixeira).
• DESCONSIDERAÇÃO EXPANSIVA
Vemos neste caso o popular “laranja”. “Imaginem o caso de uma ação de execução
em que B, exequente, verifica que a sociedade A, realizou uma dissolução irregular.
B, descobre a sociedade C, e que esta fora constituída por alguns sócios da sociedade
A (executada). Também é descoberto que a sociedade C, exerce suas atividades no
mesmo domicílio da sociedade A, ora executada. A doutrina destaca a possibilidade
da Desconsideração da Personalidade Jurídica C, de forma expansiva, para atingir o
patrimônio dos sócios ocultos, verdadeiros “testas de ferro” da sociedade executada,
na busca de se coibir eventual fraude” (Cristiano Sobral).
33
5. DOMICÍLIO
Trata-se o local em que a pessoa pode ser sujeito de direitos e deveres na ordem
privada. É o onde poderá ser cobrada ou cobrar direitos e deveres na ordem jurídica.
De acordo com o artigo 70 do CC, o domicílio da pessoa natural é o local onde ela
estabelece sua residência com ânimo definitivo.
Vide:
Art. 72 Parágrafo único - Se a pessoa exercitar profissão em
lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as
relações que lhe corresponderem.
Art. 75, § 1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos
em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio
para os atos nele praticados.
➔ Domicílio Legal ou necessário: é aquele que é estabelecido por força de norma (artigo
76, CC). Hipóteses de domicílio necessário:
o a) Incapaz: domicílio de seu representante ou assistente.
o b) Servidor público: local onde exercer permanentemente suas funções.
o c) Militar: local onde servir. Sendo da marinha ou aeronáutica: a sede do
comando a que se encontrar imediatamente subordinado.
o d) Marítimo: local onde o navio estiver matriculado.
o e) Preso: local onde cumprir a sentença.
34
O domicílio é vinculado a ideia de “se fixar a algum lugar”, dando segurança ao negócio
jurídico. No entanto, é possível alterar o domicílio por imposição legal ou voluntariamente
expressando a vontade de mudar.
De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: STJ Prova: CESPE - 2018 - STJ - Técnico
Judiciário - Administrativa
Julgue os seguintes itens, relativo ao domicílio.
Domicílio corresponde ao lugar onde a pessoa estabelece a sua residência com ânimo
definitivo.
Gabarito: certo.
De olho na lei!
Domicílio é um tema que costuma ser cobrado da forma conhecida como “letra de lei”,
isto é, é de suma importância a leitura dos dispositivos legais.
Visando otimizar seu tempo trazemos aqui os demais artigos pertinentes:
35
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha
residência habitual, o lugar onde for encontrada.
De olho na banca!
Ano: 2015 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-DFT Prova: CESPE - 2015 - TJ-DFT -
Técnico Judiciário - Administrativa
Com base nas disposições do Código Civil, julgue o item seguinte.
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Se a pessoa natural tiver diversas residências onde viva alternadamente, qualquer uma delas
é considerada seu domicílio.
Gabarito: correto.
6. BENS
Classificação
➔ BENS IMÓVEIS:
o O solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.
o Por equiparação: os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram.
o Por equiparação: o direito à sucessão aberta.
o As edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem
removidas para outro local.
o Os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se
reempregarem.
De olho na banca!
Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: SEFAZ-AL Prova: CESPE / CEBRASPE -
2020 - SEFAZ-AL - Auditor Fiscal da Receita Estadual
Com base no Código Civil, julgue o item a seguir.
O direito à sucessão aberta é considerado, para os efeitos legais, bem imóvel, ainda que os
bens deixados pela pessoa falecida sejam todos móveis.
Gabarito: certo.
➔ BENS MÓVEIS:
o Bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem
alteração da substância ou da destinação econômico-social.
o Por equiparação: as energias que tenham valor econômico;
o Por equiparação: os direitos reais sobre objetos móveis e as ações
correspondentes;
o Por equiparação: os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas
ações.
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o Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem
empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade
os provenientes da demolição de algum prédio.
➔ BENS PÚBLICOS:
o Bens de uso comum do povo: são bens públicos cuja utilização não se submete
a qualquer tipo de discriminação ou ordem especial de fruição. É o caso das
praias, estradas, ruas e praças (art. 99, I, do CC/2002). São inalienáveis.
o Bens de uso especial: são bens públicos cuja fruição, por título especial, e na
forma da lei, é atribuída a determinada pessoa, bem como aqueles utilizados
pelo próprio Poder Público para a realização dos seus serviços públicos (art.
99, II, do CC/2002). É o caso dos prédios onde funcionam as escolas públicas.
São também inalienáveis.
o Bens dominicais: são bens públicos não afetados à utilização direta e imediata
do povo, nem aos usuários de serviços, mas que pertencem ao patrimônio
estatal (art. 99, III, CC/2002). É o caso dos títulos pertencentes ao Poder
Público, dos terrenos de marinha e das terras devolutas. São alienáveis,
observadas as exigências da lei.
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: MPE-PI Prova: CESPE - 2018 - MPE-PI -
Analista Ministerial - Área Processual
Julgue o item a seguir acerca de direitos da personalidade, de registros públicos, de
obrigações e de bens.
O uso comum dos bens públicos deve ser sempre gratuito; por isso, a cobrança de valores
por sua utilização caracteriza violação ao interesse social.
Gabarito: errado.
➔ BEM DE FAMÍLIA
o Voluntário (convencional):
Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou
rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os
casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja
renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.
Constituição do bem de família convencional só passará a produzir efeitos após
o seu registro no Cartório de Registro de Imóveis competente e extingue-se
com a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não
sujeitos a curatela.
o Legal: alheio a essa previsão, há o instituto do bem de família legal, previsto
na Lei n. 8.009/90, que independe da manifestação de vontade dos cônjuges
ou da entidade familiar.
O bem de família legal protege o imóvel próprio do casal ou da entidade
familiar, sendo este impenhorável. A proteção ao bem de família decorrente da
legislação é automática, não havendo necessidade de nenhum ato por parte
do proprietário do imóvel.
39
De olho na Juris!
✓ O fato de se tratar de terreno não edificado é circunstância que, por si só, não obsta
sua qualificação como bem de família, na medida em que tal qualificação pressupõe a
análise, caso a caso, da finalidade realmente atribuída ao imóvel (interpretação
teleológica das impenhorabilidades) (REsp 1417629/SP, DJe 19/12/2013).
✓ A impenhorabilidade do bem de família não impede seu arrolamento fiscal (AgRg no
REsp 1492211/PR, DJe 03/02/2015).
✓ A impenhorabilidade do bem de família é questão de ordem pública, razão pela qual
não admite renúncia pelo titular (EDcl no AREsp 511.486/SC, DJe 10/03/2016).
✓ A ausência de registro da hipoteca não afasta a exceção à regra de impenhorabilidade
prevista no art. 3º, V, da Lei n. 8.009/90 (REsp 1455554/RN, DJe 16/06/2016).
✓ A pensão alimentícia está prevista expressamente no art. 3º, III, da Lei n. 8.009/1990
como hipótese de exceção à impenhorabilidade do bem de família, sendo irrelevante
a origem dessa prestação, se decorrente de relação familiar ou de ato ilícito (AgInt no
REsp 1619189/SP, DJe 10/11/2016).
✓ A impenhorabilidade do bem de família hipotecado não pode ser oposta nos casos em
que a dívida garantida se reverteu em proveito da entidade familiar (AgInt nos EDcl no
AREsp 665.233/SC, DJe 09/02/2018).
✓ É possível a penhora do bem de família para assegurar o pagamento de dívidas
oriundas de despesas condominiais do próprio bem (AgInt no REsp 1688721/DF, DJe
26/02/2018).
✓ A impenhorabilidade de bem de família pode ser arguida em qualquer tempo ou fase
do processo, desde que não tenha havido pronunciamento judicial anterior. (AgRg no
REsp 1373654/RS, DJe 12/03/2018).
✓ Não é possível alegar a impenhorabilidade do bem de família após concluída a
arrematação (AgInt no AREsp 196.236/SP, DJe 16/04/2018).
✓ Os imóveis residenciais de alto padrão ou de luxo não estão excluídos, em razão do
seu valor econômico, da proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 aos bens de família
(AgInt no AREsp 1199556/PR, DJe 14/06/2018).
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✓ Consuntibilidade jurídica: devemos levar em conta aqui se o bem pode ou não ser
alienado. Podendo haver, por exemplo, uma cláusula de inalienabilidade, que o torna
inconsumível do ponto de vista jurídico (ainda que consumível do ponto de vista fático).
Desta forma, alguns bens podem ser ao mesmo tempo consumíveis e inconsumíveis.
De olho na banca!
Ano: 2012 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL -
Delegado de Polícia
Com relação às pessoas naturais, às pessoas jurídicas e aos bens, julgue os itens a seguir.
Uma garrafa de vinho de 1.830 da reserva especial, clausulada com inalienabilidade por
testamento é um bem classificado como consumível fático e, ao mesmo tempo, como bem
inconsumível do ponto de vista jurídico.
Gabarito: certo
De olho na Juris!
PRINCIPAIS SÚMULAS STJ SOBRE O TEMA
• Súmula 619: A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de
natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e
benfeitorias. IMPORTANTE: “Nos bens do patrimônio disponível do Estado
(dominicais), despojados de destinação pública, permite-se a proteção possessória
pelos ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social” (REsp
1296964/DF, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
18/10/2016, DJe 07/12/2016); “Diferentemente do que ocorre com a situação de fato
existente sobre bens públicos dominicais - sobre os quais o exercício de determinados
poderes ocorre a pretexto de mera detenção -, é possível a posse de particulares sobre
bens públicos de uso comum, a qual, inclusive, é exercida coletivamente, como
composse” (REsp 1582176/MG, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado
em 20/09/2016, DJe 30/09/2016).
• Súmula 549: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de
locação. EXCEÇÃO: Não é penhorável o bem de família do fiador no caso de contratos
de locação comercial. (STF. 1ª Turma. RE 605709/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/
ac. Min. Rosa Weber, julgado em 12/6/2018 (Info 906)).
• Súmula 486: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado
a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência
ou a moradia da sua família.
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• Súmula 449: A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis
não constitui bem de família para efeito de penhora.
• Súmula 364: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o
imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.
• Súmula 340: Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais
bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião.
• Súmula 228: É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.
• Súmula 205: A lei 8.009/90 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência.
• Súmula 158: Salvo estipulação contratual averbada no registro imobiliário, não
responde o adquirente pelas benfeitorias do locatário.
7. FATO JURÍDICO
O fato jurídico é um acontecimento, natural ou humano, pertinente para o Direito,
mesmo que não gere efeitos no mundo jurídico, como, por exemplo, um testamento. É jurídico,
portanto, aquele fato capaz de provocar consequências para o Direito.
Classificação:
O fato jurídico ou fato jurídico lato sensu se subdivide:
• Fato Jurídico Natural, também chamado Fato Jurídico Stricto Sensu;
• O Fato Jurídico Humano, também chamado Ato Jurídico ou Ato Jurídico Lato Sensu.
ATO JURÍDICO
Para haver ato jurídico é fundamental que haja vontade exteriorizada e consciente visando
um resultado. A simples cogitação, não é capaz de caracterizar o ato.
O Fato Jurídico Humano, também denominado de Ato Jurídico Lato Sensu, se divide em
Ilícitos e lícitos.
• Ilícito é aquilo que é contrário ao direito, como um atropelamento, o que gera
consequências jurídicas, a exemplo do dever de indenizar.
• Lícito é aquilo que está em consonância com o direito.
Aprofundando nos Fatos Jurídicos Humanos Lícitos, estes abarcam:
o Ato Jurídico Stricto Sensu - aquele oriundo da vontade humana intencional,
porém, seus efeitos são disciplinados na norma (ex legem). Ex.: renúncia ou
aceitação de herança, o sim no casamento, o perdão, a quitação, o
reconhecimento voluntário de filiação e o estabelecimento de domicílio.
42
o Ato-fato jurídico – apesar de originar-se da vontade humana, de pronto
descarta, visto que para a produção de seus efeitos, ela (a vontade humana)
nem precisa ser intencional. Nestas hipóteses, não importa a intenção da
vontade na prática do ato. Ex.: caça; pesca; achado de tesouro (CC, art. 1.269);
atos de incapazes, ainda que não assistidos ou representados, como a compra
de merenda escolar.
o Negócios jurídicos – é toda declaração de vontade destinada à produção de
efeitos jurídicos correspondentes ao intento prático dos declarantes, se
reconhecido e garantido por lei (Orlando Gomes). Baseado na autonomia
privada, traduz uma DECLARAÇÃO DE VONTADE limitada pelos princípios da
função social e da boa-fé objetiva, pela qual o agente pretende livremente
alcançar determinados efeitos juridicamente possíveis (ex: contratos,
testamento).
8. NEGÓCIO JURÍDICO
É a declaração de vontade emitida com base nos princípios da função social e da boa-
fé objetiva pela qual o agente, por meio da sua autonomia privada, busca alcançar efeitos
queridos lícitos e juridicamente possíveis. Ex.: contrato e testamento.
TEORIAS
➔ Teoria da Vontade: o núcleo essencial do negócio seria a vontade INTERNA = o
negócio se explica pela intenção do agente (CC, art. 112).
➔ Teoria da Declaração: mais objetiva, entende que o negócio se explica não pela
vontade interna, mas pela EXTERNA = DECLARADA.
As teorias se complementam, visto que a vontade interna é a causa da vontade externa.
PLANOS DE ANÁLISE
Para existir, todo negócio jurídico, deve estar de acordo com o ordenamento jurídico,
de forma que precisa cumprir certas condições. Pontes de Miranda dividiu tais elementos em
três categorias ou planos, a famosa “escada ponteana”: existência, validade e eficácia.
43
Os pressupostos de existência de um negócio trazem requisitos para que este seja tido
como existente perante o Direito, isto é, sem eles não haverá negócio (pode até ter fato
jurídico, mas não negócio). São eles:
• Agente (partes);
• Objeto
• Forma e vontade.
Desta forma, por exemplo, se um contrato for feito entre um cão doméstico e o seu dono,
não se pode dizer que existe, aí, um negócio jurídico.
No que diz respeito aos pressupostos de validade quer dizer que o negócio foi realizado
de acordo com a ordem jurídica, sem vícios. Uma forma simples de percebê-los é que
caracterizam os elementos de existência. São eles:
• Agente capaz;
• Objeto lícito, possível e determinado ou determinável;
• Forma prescrita ou não proibida por lei; e
• Vontade livre de vícios.
O Código Civil elencou tais requisitos (sem mencionar a vontade, que a doutrina considera
implícita):
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
Caso um negócio jurídico deixe de cumprir uma formalidade imposta pela lei (por
exemplo, o objeto lícito), não terá cumprido um pressuposto de validade. O Código Civil
considera-o nulo:
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Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial
para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática,
sem cominar sanção.
A teoria das invalidades, também chamada teoria das nulidades, visa analisar o nível
de inadequação de um negócio com a ordem jurídica. A consequência jurídica do
descumprimento de um dos pressupostos de validade do negócio jurídico será a sua
invalidade; leia-se: NULIDADE ou a ANULABILIDADE.
45
g) tiver por OBJETIVO fraudar lei imperativa e
h) a LEI taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.
46
✓ NÃO se opera DE PLENO DIREITO, sendo ope iudicis;
✓ Aceita CONFIRMAÇÃO expressa ou tácita (ratificação, convalidação ou ratificação);
✓ Apenas pode ser ARGUIDA PELOS legítimos interessados;
✓ A anulabilidade não possui efeito antes de julgada por sentença, a qual, sempre que
possível, RESTITUIRÁ as partes AO ESTADO EM QUE ANTES DELA SE
ENCONTRAVAM. Não sendo viável, indenizará com o equivalente (arts. 177 e 182,
CC);
✓ A anulabilidade só pode ser arguida, VIA JUDICIAL, em prazos decadenciais de 4
anos e 2 anos (art. 178 e 179, CC). Destarte, quando a lei determina que um certo
negócio é anulável, sem estabelecer o prazo, este será de 2 anos, contados da sua
conclusão. Igualmente, leciona o art. 178 que o prazo de 4 anos será contado:
i. no caso de coação, do dia em que ela cessar;
ii. no caso de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo e lesão, do dia
em que fora realizado o negócio jurídico e no de atos de incapazes, no dia que
cessar a incapacidade.
47
do principal ou alguma das qualidades a ele
essenciais; identidade, qualidade essencial da
pessoa a quem se refira a declaração de vontade,
desde que tenha influído nesta de modo relevante;
ou, sendo de direito e não implicando recusa à
aplicação da lei, for o motivo único ou principal do
negócio jurídico;
✓ Sendo o erro acessório – secundário ou acidental –
, como o relativo à mera indicação da pessoa ou
coisa, mas que, pelo contexto, poderá se
identificada, não haverá de se falar em anulação do
negócio
✓ Gera ANULABILIDADE do negócio jurídico;
Dolo ✓ Artifício para enganar alguém;
(Art. 145 a 150, CC) ✓ Para anular o negócio, deve ser essencial. O
acidental somente obriga a perdas e danos;
✓ Pode ser positivo ou negativo (quando se constitui
numa omissão intencional sobre aspecto
relevante);
✓ Gera ANULABILIDADE do negócio jurídico;
Coação ✓ Incutir à outra parte fundado temor de dano
(arts. 151 a 155, CC) iminente e considerável à sua pessoa, à sua família
ou aos seus bens (se disser respeito a outras
pessoas, o juiz decidirá);
✓ É analisada no caso concreto, e NÃO de acordo
com o homem médio;
✓ O temor reverencial e a ameaça do exercício
normal de um direito não a constituem;
✓ Gera ANULABILIDADE do negócio jurídico;
Estado ✓ Necessidade de salvar a si mesmo ou a pessoa de
de sua família de grave dano conhecido pela outra
Perigo parte + obrigação excessivamente onerosa (se
(art. disser respeito a outras pessoas, o juiz decidirá);
156, ✓ Gera ANULABILIDADADE do negócio jurídico;
CC)
48
Lesão (art. 157, CC) ✓ Necessidade ou inexperiência + prestação
manifestamente desproporcional ao valor da
prestação oposta;
✓ Gera ANULABILIDADE do negócio jurídico;
Simulação (art. 167, ✓ Ocorre nos seguintes casos: aparentar conferir ou
CC) transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às
quais realmente se conferem ou transmitem;
contiverem declaração, confissão, condição ou
cláusula não verdadeira; os instrumentos
particulares forem antedatados ou pós-datados;
✓ Simulação relativa é aquela em que existe um
negócio jurídico real subjacente ao simulado
(exemplo: simular uma compra e venda, sendo que
ocorreu doação). Neste caso, o negócio
dissimulado subsistirá;
✓ Simulação absoluta é aquela em que não há
qualquer negócio real, mas apenas aparente
(exemplo: simular uma compra e venda, quando o
bem continua com o alienante);
✓ Gera NULIDADE do negócio jurídico;
Fraude contra ✓ Transmitir gratuitamente bens ou perdoar dívida, se
Credores. o devedor estiver insolvente ou assim ficar em
razão de algum desses atos; ainda: o devedor
garantir dívida quando já estiver insolvente;
✓ Quem pode pedir a anulação do negócio? Os
credores quirografários que já ostentavam tal
condição quando do ato fraudatório e, ainda, os
credores com garantia que se tornar insuficiente;
✓ A ação cabível para desconstituir o negócio é a
ação pauliana;
✓ Gera ANULABILIDADE do negócio jurídico;
Atenção! Prazos!
49
Salvo a simulação que é causa de nulidade, no caso dos defeitos do negócio jurídico o
prazo para arguir a anulabilidade é decadencial de quatro anos, cujo termo inicial dependerá
do tipo do vício:
✓ Coação: do dia que cessar a coação.
✓ Erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão: do dia em que se
realizou o negócio jurídico.
De olho na juris!
De acordo com o STJ, o prazo de decadência para anular partilha de bens em
dissolução de união estável, por vício de consentimento, é de quatro anos. Só se aplica o
artigo 2.027, parágrafo único do CC e o artigo 657, parágrafo único do CPC, que estabelecem
o prazo de 1 (um) ano para anulação da partilha, em caso de sucessão (morte).
Vide:
51
negócio jurídico deixa de demandará que o devedor
produzir efeitos. tenha o objeto em mãos.
As condições impossíveis,
quando resolutivas, são
tomadas como
inexistentes.
Considera-se, portanto,
não escrita
CC, Art. 123. Invalidam os Art. 131. O termo inicial Art. 136. O encargo não
negócios jurídicos que lhes suspende o exercício, mas suspende a aquisição nem
são subordinados: não a aquisição o exercício do
I - as condições física ou do direito. direito, salvo quando
juridicamente impossíveis, expressamente imposto no
quando suspensivas; negócio jurídico,
II - as condições ilícitas, ou pelo disponente, como
de fazer coisa ilícita; condição suspensiva.
III - as condições Art. 137. Considera-se não
incompreensíveis ou escrito o encargo ilícito ou
contraditórias. impossível,
salvo se constituir o motivo
determinante da
liberalidade, caso em
que se invalida o negócio
jurídico.
De olho na lei!
Atenção para algumas disposições legais pertinentes ao Negócio Jurídico!
9. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Trata-se dos efeitos jurídicos do transcorrer do tempo nas situações específicas. A
prescrição e a decadência remetem ao fenômeno do passar do tempo gerando PERDAS, à
vista da segurança jurídica, da estabilidade social e da pacificação dos conflitos. Afinal de
contas “aos que dormem, o direito não socorre” (dormientibus non sucurrit jus).
Diferenciação
→ Os prazos prescricionais estão concentrados nos arts. 205 e 206 do CC/02.
→ Se o prazo for em dias ou meses, será decadencial.
→ Critérios Científicos de Agnelo Amorim Filho:
1. Ações Condenatórias: o prazo é prescricional.
2. Ações Constitutivas: o prazo é decadencial.
3. Ações Declaratórias: não há prazo.
→ Direitos patrimoniais: há autores que entendem que os direitos patrimoniais decorrentes da
ação declaratória estão sujeitos a prazo prescricional.
Se liga!
• Inércia do titular + decurso do tempo + pretensão = prescrição.
• Inércia do titular + decurso do tempo + potestade = decadência.
PRESCRIÇÃO
É a perda da pretensão, relativa a um direito subjetivo, patrimonial e disponível, no
prazo previsto em lei, em virtude da inércia do seu titular e manejada por uma ação
condenatória.
53
Pretensão é a exigibilidade coercitiva do cumprimento de um dever jurídico. Violado o
direito subjetivo nasce a pretensão (art.189 do CC), pela qual o sujeito pode valer-se de meios
coercitivos autorizados pelo direito para forçar a satisfação do seu direito subjetivo
transgredido.
De olho na lei!
Veja o que diz expressamente nas disposições gerais sobre Prescrição no Código Civil:
De olho na banca!
Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: SEFAZ-AL Prova: CESPE / CEBRASPE -
2020 - SEFAZ-AL - Auditor Fiscal da Receita Estadual
Com base no Código Civil, julgue o item a seguir.
As partes podem alterar, por acordo, os prazos de prescrição, inclusive mediante renúncia
expressa ou tácita.
Gabarito: errado.
Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: SEFAZ-DF Prova: CESPE - 2020 - SEFAZ-
DF - Auditor Fiscal
54
João dirigia embriagado quando colidiu com outro veículo, causando um grave acidente. João
morreu no local do acidente e o motorista do outro veículo, Pedro, foi levado ao hospital, onde
ficou internado por dois meses, até falecer. Os herdeiros de Pedro decidiram pleitear danos
morais e materiais contra os herdeiros de João.
Considerando essa situação hipotética, julgue o item subsequente.
A prescrição da pretensão indenizatória iniciou-se na data do acidente, interrompeu-se com a
morte de Pedro e recomeçou contra os seus sucessores.
Gabarito: errado.
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: EBSERH Prova: CESPE - 2018 - EBSERH -
Advogado
Considerando o que dispõe o Código Civil acerca das obrigações e dos institutos da
prescrição e da decadência, julgue o item que se segue.
A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição e interrompida por qualquer
interessado, na forma da lei.
Gabarito: certo.
Prazos prescricionais
Os prazos prescricionais estão todos contidos na lei e não podem ser alterados pela
vontade das partes. Por isso se afirma que os prazos prescricionais são sempre legais (CC,
art. 192).
Voltando os olhos ao Código Civil, infere-se que os prazos prescricionais estão
reunidos nos arts. 205 e 206, de modo que, fora dali, se terão os prazos decadenciais.
De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE -
Delegado de Polícia
Determinada sociedade por quotas de responsabilidade limitada compra peças de uma
sociedade em comum e as utiliza na montagem do produto que revende.
Considerando essa situação, julgue o item a seguir, com base no Código de Defesa do
Consumidor (CDC) e nas normas de direito civil e empresarial.
Ao celebrar contratos com terceiros, as duas sociedades referidas na situação hipotética
podem estabelecer prazos prescricionais mais amplos que os previstos no Código Civil.
Gabarito: errado.
55
Prazo de 10 anos:
Quando a lei não lhe haja fixado prazo menor;
Pretensão indenizatória decorrente do inadimplemento contratual, se não houver
previsão legal de prazo diferenciado (STJ, Info 649).
Pretensão de cobrança, entre advogados, de honorários advocatícios (STJ);
Pretensão de cobrar dívida decorrente de conserto de automóvel por mecânico que
não tenha conhecimento técnico e formação intelectual suficiente para ser qualificado
como profissional liberal;
Prazo para paciente exigir de plano de saúde reembolso pelos valores pagos em razão
de negativa de custear tratamento e que foi obrigado a pagar o procedimento;
O prazo prescricional para as ações de repetição de indébito relativo às tarifas de
serviços de água e esgoto cobradas indevidamente é de: (i) 20 (vinte) anos, na forma
do art. 177 do Código Civil de 1916; ou (ii) 10 (dez) anos, tal como previsto no art. 205
do Código Civil de 2002, observando-se a regra de direito intertemporal, estabelecida
no art. 2.028 do Código Civil de 2002.
Prazo de 5 anos:
A pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou
particular;
A pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e
professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da
cessação dos respectivos contratos ou mandato;
A pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo;
Cobrança de anuidade da OAB;
Cobrança de honorários periciais arbitrados em processo judicial em que a parte é
beneficiária da gratuidade da justiça;
Vítima de acidente de trânsito propor ação de indenização contra concessionária de
serviço público de transporte coletivo (empresa de ônibus);
Ressarcimento de participação financeira no custeio de construção de rede elétrica:
vigência do CC/1916 (20 anos); vigência do CC/02: 5 anos, se tiver previsão contratual
ou 3 anos na ausência de cláusula contratual;
O prazo prescricional para que o TCU aplique multas é de 5 anos, aplicando-se a
previsão do art. 1º da Lei nº 9.873/99; Qual é o prazo prescricional da ação de
responsabilidade civil no caso de acidente aéreo em voo doméstico? 5 anos, segundo
entendimento do STJ, aplicando-se o CDC.
56
Prazo de 4 anos
• A pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.
Prazo de 3 anos
Responsabilidade civil extracontratual = reparação civil (STJ, info 649)
A pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
A pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;
A pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias,
pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;
A pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
A pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o
prazo da data em que foi deliberada a distribuição;
A pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do
estatuto, contado o prazo: a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos
da sociedade anônima; b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos
sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou
da reunião ou assembleia geral que dela deva tomar conhecimento; c) para os
liquidantes, da primeira assembleia semestral posterior à violação;
A pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento,
ressalvadas as disposições de lei especial; A pretensão do beneficiário contra o
segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil
obrigatório;
Repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de crédito rural: se o fato ocorreu
na vigência do CC/1916 (20 anos); se na vigência do CC/02 (3 anos) da data do
pagamento;
Entidade de previdência privada que pretende reaver verbas benefício previdenciário
indevidamente recebido por terceiros; Pretensão de restituição de comissão de
corretagem ou de SATI;
Pretensão condenatória decorrente de nulidade de cláusula de reajuste de plano de
saúde;
Ação de indenização por danos morais decorrentes da inscrição indevida em cadastro
de inadimplentes, promovida por instituição financeira ou assemelhada
(responsabilidade extracontratual);
57
É de 3 anos o prazo para o fiador cobrar do locatário inadimplente o valor que pagou
ao locador.
Prazo de 2 anos
A pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem;
Qual é o prazo prescricional da ação de responsabilidade civil no caso de acidente
aéreo em voo internacional? 2 anos, com base no art. 29 da Convenção de Varsóvia.
Prazo de 1 ano
A pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no
próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos;
A pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o
prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em
que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado,
ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador; b) quanto aos demais
seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;
A pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e
peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;
A pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação
do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembleia que
aprovar o laudo;
A pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes,
contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade;
Pretensão de sociedade seguradora em face de ressegurador baseada em contrato
de resseguro;
Pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner
De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: STJ Prova: CESPE - 2018 - STJ - Analista
Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal
À luz da legislação e da jurisprudência dos tribunais superiores, julgue o item a seguir, a
respeito dos direitos da personalidade, do direito de família, dos direitos reais e da prescrição.
Prescreve em cinco anos, a contar do dia seguinte ao do vencimento da prestação, o prazo
para a cobrança de taxa condominial ordinária ou extraordinária constante em instrumento
público ou particular.
58
Gabarito: certo.
Ano: 2017 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TRF - 1ª REGIÃO Prova: CESPE - 2017 -
TRF - 1ª REGIÃO - Técnico Judiciário - Área Administrativa
Acerca da prescrição e da decadência, julgue o próximo item.
A prescrição ocorrerá em dez anos, caso a lei não lhe tenha fixado prazo menor.
Gabarito: certo.
A regra geral é que o prazo prescricional fluirá de uma só vez. Entretanto, não obstante
a regra geral, observa-se, excepcionalmente, a presença de uma causa impeditiva,
suspensiva e até mesmo interruptiva do prazo prescricional.
Por causas impeditivas tem-se hipóteses nas quais o prazo sequer começa a ser
contado. Já as causas suspensivas paralisam o curso do prazo, o qual, acaso cessada a
causa suspensiva, retomará o seu curso de onde parou.
59
Protesto
Protesto cambial
Apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores
Constituição em mora do devedor
De olho na banca!
Ano: 2013 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-BA Prova: CESPE - 2013 - PC-BA -
Delegado de Polícia
Acerca de prescrição, julgue os itens a seguir.
Considere que Lucas, Pedro e Marcos sejam credores solidários de Márcia pela quantia de
R$ 20.000,00. Nessa situação hipotética, se Marcos ajuizar ação contra Márcia, e a ação
constituí-la em mora pelo ato judicial, a prescrição estará interrompida e aproveitará a Lucas
e a Pedro.
Gabarito: correto.
Ano: 2015 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-DFT Prova: CESPE - 2015 - TJ-DFT -
Técnico Judiciário - Administrativa
No que se refere a prescrição e decadência, julgue o item subsequente à luz do Código Civil.
Não corre o prazo prescricional nem o decadencial contra os absolutamente incapazes.
Gabarito: certo.
Ano: 2015 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TCE-RN Prova: CESPE - 2015 - TCE-RN -
Assessor Técnico Jurídico - Cargo 2
Acerca da prescrição, do negócio jurídico, das obrigações e dos contratos, julgue o item
subsequente.
No sistema do Código Civil, uma vez interrompida a prescrição, o prazo voltará a fluir por
inteiro, de forma que fica afastada a possibilidade de prescrição intercorrente.
Gabarito: errado.
DECADÊNCIA
Importante salientar que nem todo direito potestativo possui prazo de exercício.
Existem direitos potestativos que não tem prazo de exercício, ou seja, não decaem. Ex.: o
divórcio, o qual poderá ser requisitado, pelo interessado, a qualquer tempo. Divórcio, portanto,
é um direito potestativo sem prazo de exercício, não decaindo.
61
nos demais
casos
previstos em
lei sem prazo
específico.
Vício 30 dias Art. 445, CC. Se estiver na Durante a
redibitório posse, o prazo garantia não
coisa móvel se reduz à corre prazo,
metade mas o defeito
deve
ser
denunciado
em 30 dias,
sob pena de
decadência
Vício 180 dias. Art. 445, CC Se estiver na Durante a
redibitório posse, o prazo garantia não
coisa imóvel se reduz à corre prazo,
metade mas o defeito
deve
ser
denunciado
em 30 dias,
sob pena de
decadência
Compra e 1 ano Art. 501, CC.
venda de
imóvel –
dimensões
erradas
Coisa 180 dias Art. 504, CC. Não se aplica
indivisível – ao
direito do condomínio
condômino de edilício,
reaver parte
62
vendida a apenas ao
estranho tradicional.
Retrovenda 3 anos Art. 505, CC
Transporte de 120 dias Art. 745, CC
coisas –
declaração
inexata ou
falsa descrição
da relação de
coisas
transportadas
entregue pelo
remetente
Transporte de Reclamação Art. 754, CC Perda parcial
coisas – no momento ou
recebimento da entrega avaria não
de perceptível
mercadorias – 10 dias da
entrega
De olho na juris!
63
no REsp 1259703-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
24/2/2015 (Info 556).
De olho na banca!
Ano: 2017 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: STM
De acordo com o Código Civil e considerando o entendimento doutrinário acerca das pessoas
naturais, das obrigações e da prescrição e decadência, julgue o item a seguir.
A renúncia a prazo decadencial fixado em lei somente será considerada válida se for feita de
modo expresso e na forma escrita.
Gabarito: errado.
Obs.: conforme art. 209 do CC/2002. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: EBSERH Prova: CESPE - 2018 - EBSERH -
Advogado
Considerando o que dispõe o Código Civil acerca das obrigações e dos institutos da
prescrição e da decadência, julgue o item que se segue.
Em regra, aplicam-se à decadência, no que couberem, as normas de suspensão e interrupção
da prescrição.
Gabarito: errado.
Ano: 2017 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TRF - 1ª REGIÃO Prova: CESPE - 2017 -
TRF - 1ª REGIÃO - Técnico Judiciário - Área Administrativa
No que se refere às pessoas jurídicas, julgue o item que se segue.
64
Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado.
Gabarito: certo.
10. OBRIGAÇÕES
CONCEITO.
Essa relação prestacional ocorre de forma dinâmica, com vários deveres de conduta
no decorrer do tempo. Os sujeitos “credor” e “devedor” se encontram numa extensa
colaboração, objetivando o adimplemento. Isso quer dizer que na teoria, não deve existir,
deslealdade entre os sujeitos obrigacionais, sob pena de infringir o princípio da boa-fé
objetiva. A cooperação jurídica em prol do adimplemento é o motor desta relação creditória.
Pega a visão!!!
65
É comum que conceitualmente, o estudante confunda obrigações com direito reais,
visto que, ambos, dizerem respeito ao patrimônio. Desta forma, é importante esclarecermos
a diferenciação.
Não obstante todo a doutrina diferenciar e trabalhar com a distinção entre os direitos
reais e obrigacionais, existe uma chamada “zona cinzenta” ou “zona mista”, onde não se sabe
ao certo se se trata de um direito obrigacional ou real.
Tais sejam:
66
• Obrigações Propter Rem - aquelas que aderem à coisa, e não à pessoa,
transmitindo-se automaticamente ao seu novo titular, com a transferência
proprietária. Ex.: IPTU.
• Obrigações de Ônus Real - aquela que limita o uso e o gozo da propriedade,
consistindo em um gravame. Ex.: penhor.
• Obrigações de Eficácia Real - aquela que - sem perder o seu caráter de direito
pessoal ou direito a uma prestação - ganha oponibilidade contra terceiros, que
adquiram direitos sobre determinado bem, tendo em vista o seu registro. É o que
tecnicamente chama-se de oponibilidade erga omnes. São obrigações que se
transmitem. Ex.: Direito de preferência.
Pega a visão!!!
A obrigação de restituir é uma obrigação de dar coisa certa, na qual o devedor terá a
obrigação de devolver determinado objeto. Exemplo: locatário que tem a obrigação de
restituir ao locador o objeto da locação.
Nessa modalidade o objeto deve ser apontado, no mínimo, pelo gênero e pela
quantidade. Fala-se em uma coisa genérica, determinável, a exemplo da entrega de 20 sacas
de feijão.
Porém, surge uma dúvida pertinente, o que acontece no caso da perda ou deterioração
acontecer antes da escolha?
Nesta hipótese, como o gênero nunca perece (“genus nunquam perit”), o devedor
continuará obrigado, mesmo que a perda seja oriunda de caso fortuito ou força maior (CC,
art. 246).
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: MPE-MT Prova: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Substituto
Em relação às obrigações de dar coisa certa, é correto afirmar que,
A. como regra geral, a obrigação de dar coisa certa não abrange os acessórios, salvo se o
contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.
B. se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes
da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos
até o dia da perda.
C. sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado
em que se acha, nesses casos sem direito a reclamar perdas e danos.
D. até a tradição, pertence a coisa ao credor, com seus acréscimos, pelos quais poderá exigir
aumento do preço, com ou sem anuência do devedor.
E. deteriorada a coisa, sem culpa do devedor, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar
a coisa, nesse caso sem abatimento do preço pela referida ausência de culpa do devedor.
Gabarito: “B”.
Obrigação de fazer
70
Nesta modalidade o objeto será um comportamento positivo específico, uma conduta
determinada que não seja somente um entregar. Em outras palavras a obrigação de fazer tem
como prestação um comportamento, uma conduta, uma atividade humana.
• Obrigação de fazer fungível – aquela que pode ser cumprida por qualquer pessoa.
• Obrigação de fazer infungível – aquela que possui natureza personalíssima. Aqui,
o devedor é o elemento causal da prestação e há apenas interesse de que ele e
somente ele – devedor – realize o adimplemento obrigacional.
OBRIGAÇÕES NEGATIVAS
71
A obrigação de não fazer tem como prestação uma abstenção juridicamente
relevante. É uma obrigação indivisível por natureza – visto que não tem como aferir um
descumprimento parcial de uma obrigação de não fazer. Por exemplo: o escritor "A" tem um
contrato de exclusividade com a editora “B”, pelo qual ou atende a exclusividade ou a quebra,
se prestar serviço em uma editora concorrente, ainda que uma única vez.
Uma vez constatado o descumprimento da obrigação de não fazer, tem-se que se for
(CC, arts. 250 e 251):
• Cumulativas ou conjuntivas.
Aqui obriga-se o devedor ao adimplemento de todas as prestações (objetos) da
relação obrigacional, as quais são ligadas pela partícula conjuntiva “e”. Ex.: contrato
de empreitada no qual o engenheiro pode se obrigar a fazer o serviço E dar os
materiais para a construção de uma casa.
• Alternativas ou disjuntivas.
72
Nesse caso o devedor apenas precisará adimplir uma das prestações previamente
acordadas e unidas pela partícula disjuntiva “ou “. Ex.: o devedor será liberado da
obrigação se construir um muro ou se pintar o muro construído por outrem.
Evidentemente que se os objetos são alternativos não será possível o cumprimento
parte em um objeto e parte em outro. Desta forma, os objetos são inconciliáveis,
ocorrendo indivisibilidade quanto à escolha.
De acordo com o artigo 252 do Código Civil, a escolha caberá ao devedor, se outra
coisa não for convencionada no contrato. Assim, a despeito da regra ser a escolha do devedor,
nada impede que as partes estabeleçam a escolha como do credor ou, até mesmo, de um
terceiro.
73
o Se for com culpa do devedor e o direito de escolha for do credor, este poderá
escolher a prestação remanescente, mais as perdas e danos, ou o equivalente
da prestação perdida, mais as perdas e danos.
Nada impede que no vínculo da solidariedade ela seja diferenciada entre os seus
integrantes, sendo pura ou simples para uns; condicional, a termo ou com encargo para outro
(CC, art. 266). De fato, a solidariedade admite disposições de conteúdo particular (Enunciado
347, CJF).
Solidariedade ativa
De olho na lei!
O Código Civil, no seu artigo 270 traz um importante preceito relativo a eventual morte
de um dos credores solidários. Neste caso ocorrerá a refração do crédito, sendo possível, que
cada um dos herdeiros do credor falecido, exija valores, nos limites de sua quota hereditária.
Ex.: credor solidário da cota de 30 mil reais vem a óbito e deixa 3 filhos herdeiros. Cada um
destes herdeiros somente poderá exigir uma quota de 10 mil reais. Esta regra só não se aplica
na hipótese da obrigação ser indivisível, quando, por razões óbvias, será impossível o pedido,
por cada herdeiro do de cujus, do pagamento total. Vejamos:
Já o artigo 273 do Código Civil proíbe ao devedor opor exceções pessoais (subjetivas)
indistintamente aos credores solidários, tendo em vista a natureza personalíssima e
intransmissível de tais exceções. Desta forma, a um dos credores solidários não poderá o
devedor opor as exceções pessoais oponíveis os outros. Grande exemplo de exceções
pessoais são os vícios de consentimento, como a coação. Nessa senda, se um dos credores
solidários coagiu o devedor comum, apenas contra o coator que poderá ser oposta a exceção
em tela, a qual é subjetiva.
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Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários
não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-
lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha
direito de invocar em relação a qualquer deles. (Redação dada
pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
No caso de perda do objeto por culpa de um dos devedores solidários, persistirá para
todos a obrigação de pagar o equivalente do objeto e juros da mora. Contudo, pelas perdas e
danos responderá apenas o culpado (CC, art. 279 e 280). Portanto, se somente um dos
devedores solidários é o responsável pela perda do objeto, todos os devedores continuam
responsáveis pela indenização do equivalente do objeto, porém, pelas perdas e danos
responderá apenas o culpado.
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Caso haja um devedor principal e a dívida somente disser respeito a ele, este
responderá por sua integralidade (art. 285,CC). Outrossim, qualquer cláusula, condição ou
obrigação adicional só poderá agravar a posição do devedor solidário que concordar, de
acordo sua autonomia (CC, art. 278).
De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RS Prova: VUNESP - 2018 - TJ-RS - Juiz de Direito
Substituto
João emprestou a José, Joaquim e Manuel o valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais); foi
previsto no instrumento contratual a solidariedade passiva. Manuel faleceu, deixando dois
herdeiros, Paulo e André. É possível afirmar que João poderá
A. cobrar de Paulo e André, reunidos, somente até o valor da parte relativa a Manuel, ou seja,
R$ 100.000,00 (cem mil reais), tendo em vista que o falecimento de um dos devedores
extingue a solidariedade em relação aos herdeiros do falecido.
B. cobrar a totalidade da dívida somente se acionar conjuntamente todos os devedores, tendo
em vista que o falecimento de um dos devedores solidários ocasiona a extinção da
solidariedade em relação a toda a obrigação.
C. cobrar de Paulo e André a totalidade da dívida, tendo em vista que ambos, reunidos, são
considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores; porém,
isoladamente, somente podem ser demandados pelo valor correspondente ao seu quinhão
hereditário.
D. cobrar o valor da totalidade da dívida de José, Joaquim, Paulo ou André, isolada ou
conjuntamente, tendo em vista que, após o falecimento de Manuel, resultou numa obrigação
solidária passiva com 4 (quatro) devedores.
E. cobrar de Paulo ou André, isoladamente, a importância de R$ 100.000,00 (cem mil reais)
tendo em vista que o quinhão hereditário de Manuel é uma prestação indivisível em relação
aos herdeiros.
Gabarito: “C”.
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Por outro lado, nas obrigações de duração, o liame mantém-se no tempo. Tais
obrigações de duração podem ser:
Desta forma, caso a prestação possa ser fracionada, haverá tantas obrigações, iguais
e distintas, quanto aos credores e devedores (CC, art. 257). Assim, se Paulo, Matheus e Igor
são credores de Mauro de R$ 90.000,00 (noventa mil reais), pressupõe-se a divisão, de forma
que Paulo será credor de Mauro de R$ 30.000,00 (trinta mil reais); Matheus será credor de
Mauro de R$ R$ 30.000,00 (trinta mil reais) e C será credor de Mauro de R$ 30.000,00 (trinta
mil reais).
Contudo, por vezes, a prestação não é passível de divisão, seja por sua natureza, por
razão de cunho econômico ou, inclusive, dado a motivo determinante do negócio jurídico.
Trazemos como exemplo a obrigação de entrega de uma obra de arte, a qual não tem como
ser dívida, visto que, uma obra de arte picotada perderia total seu valor de mercado não sendo
possível se entregar uma pintura ou escultura em partes.
Se a prestação for indivisível, cada um dos devedores será obrigado pela sua
integralidade, pois não é possível fragmentar. Se um dos devedores realizar o pagamento
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integral, se substituirá (sub-rogará) no direito do credor em relação aos demais devedores
(CC, art. 259).
Uma vez convertida em perdas e danos a obrigação indivisível perderá a sua qualidade
de indivisível, haja vista que a “nova” prestação – perdas e danos – é divisível. Nesta situação,
pelas perdas e danos responderão apenas o(s) devedor(es) culpados (CC, art. 263).
Tem obrigações que são de resultado. Nestes casos, o devedor se obriga com a
ocorrência do resultado convencionado, sob pena de inadimplemento e responsabilidade civil.
Trazemos como exemplo as obrigações de resultado com o contrato de transporte, a cirurgia
plástica estética, a ortodontia, o cálculo estrutural, dentre tantas outras.
Todavia, outras obrigações, são de meio. Nestas o devedor não se obriga em gerar
um determinado resultado. Exemplo é a obrigação do médico, a qual, em regra, não pode
garantir a cura do paciente, bem como do advogado, que não se pode garantir o ganho da
causa. Em sendo de meio, não alcançar o resultado não acarretará o inadimplemento.
Importante salientar que a cirurgia plástica reparadora, que visa, por exemplo, minorar
o dano estético de uma queimadura, é compreendida como obrigação de meio, e não de
resultado. Distingue-se, por conseguinte, dá já citada cirurgia plástica puramente estética.
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Do mesmo modo, o fato da obrigação ser de resultado e a responsabilidade civil
objetiva não exclui a possibilidade de contestação de possíveis excludentes de
responsabilidade civil, a exemplo do fato exclusivo da vítima e do fortuito externo. Por
exemplo: o fato exclusivo da vítima com o paciente que não realiza a revisão periódica do
aparelho ortodôntico, prejudicando, por comportamento específico seu, o resultado. Já o
fortuito tem como exemplo a cicatriz hipertrófica, vulgarmente chamada de queloide,
ocasionalmente presente no pós-operatório de cirurgias plásticas.
No que diz respeito à obrigação de garantia, esta trata de contratos no quais existe
contraprestação pela garantia de um risco, como o seguro. Neste caso o segurado realiza o
pagamento de valores e a seguradora se obriga a garantir (indenizar) a ocorrência de um risco
(sinistro), como um acidente automobilístico no seguro de veículos.
A teoria geral do pagamento é a parte do Código Civil que aborda quem deve pagar,
a quem pagar, quando pagar, como pagar, onde pagar, etc. Para uma melhor análise, é
necessário averiguar os requisitos subjetivos e objetivos do pagamento, e também a prova e
o local do pagamento.
Requisitos Subjetivos.
A análise dos requisitos subjetivos do pagamento se refere à apuração dos sujeitos do
pagamento, tanto em seu aspecto ativo quanto passivo.
O solvens é a expressão jurídica adotada para todo aquele que deve, ou pode, pagar.
Fala-se no sujeito ativo do pagamento, pois é aquele que pagará, abarcando o devedor, o
seu representante e, por ventura, um terceiro.
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Em consonância com o artigo 304 do CC, qualquer interessado na extinção da dívida
pode pagá-la, utilizando, se o credor se opuser, dos meios condutores para tanto. Este meio
conducente à exoneração é tecnicamente chamado de “consignação em pagamento” e
encontra disciplina tanto no Código Civil, quanto no Código de Processo Civil.
Porém, caso estejamos frente a pagamento realizado por um terceiro não interessado,
fundamental averiguar se pagou em nome próprio ou em nome do devedor. Para isso, basta
examinar o recibo de quitação. Desta forma:
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• Pagando o terceiro não interessado em nome do devedor – isto é: o recibo de
quitação aponta somente que a dívida do devedor foi paga, não especificando que o
pagamento foi realizado por terceiro. Observa-se nesse caso uma obrigação natural,
a qual, existe o débito, mas não existe obrigação, sendo irrepetível e inexigível.
Pega a visão!!
Note-se que o devedor precisa ser cientificado do pagamento pelo terceiro, podendo
apresentar oposição, desde que tenha meios para refutar o pagamento. Se tais requisitos não
forem observados, não possuirá o devedor originário obrigação de reembolso (CC, art. 306)
Diante disso, o pagamento realizado a terceiro, via de regra, não é reconhecido pelo
direito. Entretanto, existem três hipóteses nas quais este tipo de pagamento (a terceiro) terá
validade para o direito. Tais sejam:
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Por exemplo: o afastamento do representante de uma empresa, não foi informado ao
devedor, e este, de boa-fé, efetua o pagamento para esse ex representante –
pensando que o mesmo ainda trabalha na empresa. Este pagamento é tido como
válido.
Pega a visão!!!
Assim, se o devedor pagar ao credor, mesmo intimado da penhora feita sobre o crédito,
ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que
poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o
credor (art. 312, CC).
O Código Civil tem orientações bem objetivas sobre pagamento, que doutrinariamente
são conhecidas como princípios do pagamento. São eles:
Prova do pagamento.
Assim sendo, o recibo de quitação, tem uma dupla função, sendo, ao mesmo tempo,
um direito subjetivo do devedor e um dever jurídico do credor.
Nessa situação, para que a quitação seja válida, é imprescindível que os termos ou
circunstâncias resulte haver sido paga a dívida. A questão, portanto, demandará maior dilação
probatória.
Lugar do pagamento.
A regra geral é que o pagamento precisa ser realizado no domicílio do devedor. Desta
forma, no silêncio da obrigação estar-se-á diante do pagamento no domicílio do devedor,
restando configurada uma dívida quérable ou quesível.
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Entretanto, plenamente possível que o pagamento ocorra no domicílio do credor. Isso
acontecerá se as partes assim pactuarem, se estiver previsto na lei, se for da natureza da
obrigação ou das circunstâncias do caso. Nesta hipótese trata-se de uma obrigação portable
ou portável (art. 327, CC).
Salienta-se a ressalva feita pelo artigo 328 CC, pelo qual se o pagamento for a tradição
de um imóvel, ou prestações relativas ao imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem. Isso,
uma vez que imóvel é bem de raiz, atraindo para si o pagamento.
Além do que, existindo motivo grave poderá o devedor efetuar o pagamento em outro
local, sem prejuízo ao credor (art. 329, CC). Por exemplo, uma calamidade pública no local
de pagamento, quando o devedor poderá pagar eletronicamente, ao revés de ir até lá; ou
mesmo a pandemia situação inimaginável a qual estamos vivendo.
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: MPE-MT Prova: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Substituto
No tocante ao pagamento,
A. não é lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas, pela
insegurança patrimonial causada ao devedor.
B. o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, salvo se mais
valiosa, pois nesse caso faltará interesse econômico à rejeição.
C. quando feito de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se provado depois que não era
credor.
D. em qualquer hipótese considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da
quitação, pela presunção legal absoluta daí decorrente.
E. o terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a
reembolsar-se do que pagar, mas não se sub-roga nos direitos do credor; se pagar antes de
vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.
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Gabarito: “E”.
Ano: 2019 Banca: Instituto Consulplan Órgão: MPE-SC Prova: Instituto Consulplan - 2019 -
MPE-SC - Promotor de Justiça - Matutina
Nos termos do Código Civil, quanto ao lugar do pagamento, efetuar-se-á o pagamento no
domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário
resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. Designados dois ou mais
lugares, cabe ao devedor escolher entre eles.
Gabarito: “errado”.
Em determinados casos a obrigação é extinta de uma forma indireta, incomum, com ou sem
pagamento. Por isso se diz, então, sobre um pagamento indireto ou especial, o qual poderá
se dar por meio de algumas figuras jurídicas. Tais sejam:
➔ Consignação em pagamento;
➔ Pagamento com Sub-Rogação;
➔ Novação;
➔ Confusão;
➔ Compensação;
➔ Dação em Pagamento;
➔ Remissão;
➔ Imputação ao pagamento.
➔ Consignação em pagamento.
O liame jurídico que abarca o credor e o devedor, no vínculo obrigacional, dá a este o
dever de adimplir a obrigação e, ao mesmo tempo, o direito de pagar. Leia-se, é dado ao
devedor o direito de sanar suas dívidas. Tal direito, quando eventualmente obstaculizado, é
instrumentalizado através da consignação em pagamento.
Hipóteses de cabimento
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O Código Civil no seu artigo 335 traz um rol exemplificativo das hipóteses de cabimento
da consignação. Vejamos:
As consignações são comumente aplicadas nas obrigações de dar, seja coisa certa
ou incerta.
No caso de ser uma coisa certa, basta que seja consignado o respectivo objeto. Se for
um corpo certo, ou um imóvel, há de ser consignado no local em que se encontrar, muitas
vezes de forma ficta, a exemplo da consignação das chaves do imóvel (CC, art. 341)
➔ Dação em pagamento
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É uma forma efetiva de satisfação do credor, que concorda em obter do devedor objeto
diferente da que lhe é devido (art. 356, CC).
Importante lembrar que – como já citado – o credor não é obrigado a receber prestação
diversa da pactuada, mesmo que esta seja mais valiosa (art. 313, CC). Exatamente por isso
que a dação não pode ser compulsória, mas sim aceita, se esta for a vontade do credor.
➔ Novação
Cabe deixar claro que não existe novação legal (por força de lei). Assim sendo, sempre
se imagina um acordo de vontades.
Da mesma forma, não se confunde novação com dação em pagamento, pois nesta
não é criada uma nova obrigação. Na dação em pagamento, como visto, o vínculo obrigacional
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é o mesmo, apenas sendo alterada a prestação, ao passo que o credor aceita receber
prestação diversa da pactuada.
A obrigação anulável poderá ser novada. Trata-se de premissa lógica, afinal tem-se
com plenamente viável a convalidação dos atos anuláveis. De outro lado, as obrigações nulas
ou extintas não podem ser novadas (CC, art. 367).
Classificação da novação
De acordo com o art. 360, a novação é dividida em espécies:
o Objetiva (art. 360, I, CC): é aquela em que as mesmas partes constituem a
obrigação nova, extinguindo-se a obrigação anterior, criando uma nova e
alterando apenas o seu objeto (prestação). Ex.: Marcelo é credor de Silvio de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Marcelo e Silvio realizam uma novação objetiva
– extinguem a obrigação primitiva, criam uma nova e alteram, apenas, a
prestação, passando Silvio a dever uma prestação de serviço à Marcelo.
o Subjetiva (art. 360, II e III, CC): é aquela em que as mesmas partes constituem
a obrigação nova, extinguindo-se a obrigação anterior, criando uma nova e
alterando o sujeito. Assim, divide-se em:
▪ Ativa (inc. III): mudança do credor. Ex.: Luiz deve R$ 2.000,00 à Luiza
e esta, por sua vez, deve R$ 2.000,00 a Lucas. Em lugar de pagar a
Luiza, fica acordado que Luiz vai pagar a Lucas, só que deve ainda ter
a característica de obrigação nova e, por isto, devem ser estabelecidos
novos prazos.
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▪ Passiva (inc. II): mudança do devedor. Nesta, opera-se mudança de
devedores: sai o devedor velho e entra o novo, considerando-se criada,
a partir dali, uma obrigação nova.
Existem dois instrumentos jurídicos que realizam a novação subjetiva passiva, a saber:
a) Delegação: Todos os envolvidos participam do ato novatório, delegando o devedor
primitivo, ao novo, a obrigação a ser assumida na novação. Neste caso, como na novação a
obrigação primitiva restaria extinta, o primitivo devedor apenas responderá acaso tenha
precedido de má-fé na delegação (CC, art. 363).
De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-MA Prova: FCC - 2018 - DPE-MA - Defensor Público
No direito das obrigações, a novação
A. exige a inequívoca intenção de novar, mas ela pode ser expressa ou tácita.
B. somente se configura caso se refira a todos os elementos da obrigação anterior, pois
inexiste novação parcial.
C. é presumida diante da modificação unilateral da forma de cumprimento da obrigação
originalmente estatuída.
D. pode ser utilizada licitamente como meio de validar obrigações nulas ou extintas.
E. da obrigação principal não tem reflexos sobre as obrigações acessórias, tal como a fiança.
Gabarito: “A”.
➔ Compensação
De acordo com o artigo 368 do CC se duas pessoas forem, ao mesmo tempo, credor
e devedor recíprocos, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.
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Desta forma, ocorre a compensação quando os sujeitos da relação jurídica são, ao
mesmo tempo, credores e devedores recíprocos, utilizando-se deste mecanismo jurídico para
extinguir a obrigação sem pagamento, como diz a norma, “até onde se compensarem”.
Espécies de compensação
• Legal – é aquela que está explícita na legislação. Submete-se a certos requisitos. Ex.:
João ajuíza ação de cobrança contra José. Este, em preliminar de defesa, alega ser
titular de um crédito no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) em face de João. O
magistrado, nesta situação, haverá de verificar se os requisitos da compensação estão
presentes, oportunidade em que determinará a observância da mesma.
Requisitos:
o Reciprocidade das Dívidas entre as Partes.
Tal regra, porém, tem uma exceção: na hipótese da fiança (art. 371, CC). O
fiador que garante a dívida de outrem tem direito subjetivo de opor a
compensação em face do credor afiançado.
o Liquidez das Dívidas. As dívidas precisam ser líquidas, certas, delimitadas,
pois somente assim as partes saberão os limites até onde será possível
compensar...
o Vencimento (exigibilidade) da Dívida. A dívida há de ser exigível. A
exigibilidade da dívida significa dizer que a mesma já se encontra vencida. Sem
o vencimento da dívida não há direito subjetivo de pretender o recebimento do
crédito. Sem existir este direito subjetivo, não há o que compensar.
o Homogeneidade das Dívidas. As dívidas devem possuir a mesma natureza
jurídica, ou melhor, devem ser homogêneas em gênero, quantidade e
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qualidade. Ex.: compensa-se dinheiro com dinheiro; feijão do tipo X com feijão
do tipo X, etc.
➔ Imputação ao pagamento
Imputação ao pagamento significa especificar qual entre dois ou mais débitos da
mesma natureza, positivos e vencidos, devidos a um só credor, está sendo quitado naquela
oportunidade. Consiste, justamente, neste fenômeno da concentração do pagamento, da
eleição, da indicação de qual pagamento, entre os vencidos, se está a realizar.
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Vale salientar também que salvo anuência do credor, o devedor não poderá imputar o
pagamento em dívida cujo montante seja superior ao valor ofertado, pois, como visto, o
pagamento parcelado do débito só é permitido quando convencionado (art. 314, CC).
(ii) prioridade para as dívidas líquidas e vencidas anteriormente, em detrimento das mais
recentes;
(iii) prioridade para as dívidas mais onerosas, em detrimento das mais vultosas, se vencidas
e líquidas ao mesmo tempo.
➔ Confusão
Identifica-se a confusão quando as qualidades de credor e devedor são reunidas em
uma só pessoa (CC, art. 381). Assim, torna-se inevitável a extinção da relação jurídica.
Registra-se, porém, que além de total, a confusão poderá ser parcial (CC, art. 382).
No exemplo dado acima, se o pai tivesse dois filhos e fosse credor de apenas um deles, no
falecimento do genitor, o devedor originário receberia em herança apenas metade do crédito,
falando-se em uma confusão parcial.
Outrossim, nada impede que haja uma confusão inter vivos. Como no caso de um
cheque que, após circular no mercado, retorne às mãos do seu emissor, que se tornará credor
de si mesmo, operando-se a confusão. Neste contexto é viável, até mesmo, que a confusão
deixe de existir, renascendo a obrigação, como na casuística do emissor recolocar o mesmo
cheque para circulação no mercado.
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A doutrina ainda reconhece a existência da chamada confusão imprópria, quando se reúnem,
na mesma pessoa, as condições de garante e de sujeito obrigacional. Imagine um filho que é
fiador de seu pai e, no falecimento do pai, passa a figurar como devedor da dívida que garantia
como fiador. Neste caso – de confusão imprópria –, haverá extinção apenas da obrigação
acessória, como a fiança, segundo o exemplo dado.
6.8. Remissão
• Ânimo de perdoar.
• Aceitação do perdão.
Também podemos constatar a presença da remissão presumida, ainda que não esteja
verbalizada, mediante atos praticados pelo credor (art. 324, CC). Na ideia de devolução
voluntária do título da obrigação, deve-se incluir a sua própria destruição, a ensejar a remissão
tácita da dívida. Ex.: se W, credor de H em obrigação prevista em determinado título de
crédito, simplesmente destrói o título na frente de H, mesmo que não diga expressamente que
o está perdoando, a remissão será presumida.
Por fim, vale lembrar que a remissão do codevedor é plenamente válida, impondo-se
o equacionamento da dívida remitida, com a dedução da parte remetida (art. 388, CC).
Portanto, isso desembocará na extinção da obrigação em relação a esse codevedor, incidindo
os artigos 277 e 282 do CC. Ex.: A, B e C são devedores solidários de D no valor de 3 (três)
mil. D, entretanto, perdoa a dívida de B. Nessa situação persiste a solidariedade em relação
aos demais devedores (A e C), que deverão pagar 2 (dois) mil, em razão do abatimento da
quota-parte de B (1 mil). Clarifica-se, aqui, o caráter intuito personae da remissão.
INADIMPLEMENTO
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Inadimplemento é o descumprimento obrigacional culposo.
Voltando os olhos novamente à mora, recorda-se que ela pode ser do credor ou do
devedor. Afinal, considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor
que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer (CC,
art. 394). Assim, importante diferenciá-las.
JUROS
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• Nos juros compensatórios (remuneratórios), portanto, compensa-se o credor pela
utilização do seu capital.
• Nos juros moratórios a compensação do credor acontece em decorrência do atraso do
pagamento, compensando o inadimplemento relativo.
Segundo o artigo 406 do Código Civil, quando os juros moratórios não forem
convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da
lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos
devidos à Fazenda Nacional.
SINAL OU ARRAS
Consiste em uma disposição contratual pela qual uma das partes entrega, à outra,
dinheiro ou bem móvel, no início do cumprimento obrigacional. Trata-se do que popularmente
chama-se de entrada ou sinal.
Pega a visão!!
Enunciado 430 – Jornada de Direito Civil - CJF: No contrato de adesão, o prejuízo comprovado
do aderente que exceder ao previsto na cláusula penal compensatória poderá ser exigido pelo
credor independentemente de convenção.
100
De acordo com o artigo 412 do Código Civil, o valor da cominação imposta na cláusula
penal não poderá exceder o da obrigação principal. Afinal, o acessório não poderá ir além do
principal. Ademais, como pacto acessório que o é, a invalidade da cláusula penal não levará
à da obrigação principal. Todavia, uma vez inválida a obrigação principal, cairá a cláusula
penal.
Caso a obrigação principal seja divisível, a pena convencional apenas será exigida do
devedor ou herdeiro que infringir a obrigação, com proporcionalidade (CC, art. 414).
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-SC Prova: CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz
Substituto
A multa estipulada em contrato que tenha por objeto evitar o inadimplemento da obrigação
principal é denominada
A. multa penitencial.
B. cláusula penal.
C. perdas e danos.
D. arras penitenciais.
E. multa pura e simples.
Gabarito: “B”.
As obrigações podem ser transmitidas, pois constituem bens móveis. Por isso que o
Código Civil disciplinou a matéria, admitindo tanto a cessão do crédito (transferência do
crédito), quanto à cessão de débito, também denominada de assunção de dívida
(transferência do débito). A doutrina, além da cessão do crédito e do débito, noticia, ainda,
sobre a cessão de posição contratual.
101
Passemos ao estudo dos institutos.
Cessão de crédito
Somente não será possível a cessão de crédito se a natureza jurídica da obrigação (Ex.:
direito da personalidade), a lei (crédito alimentar – CC, art. 1707), ou eventual convenção
entre as partes (pacto non cedendo), proibir a prática.
Em geral, a cessão de crédito é onerosa, mas nada impede que seja gratuita. Esta é
uma das diferenças entre cessão de crédito e pagamento com sub-rogação, que não é
gratuito. Ainda nesta diferenciação, como já estudado, o pagamento com sub-rogação pode
decorrer automaticamente da lei, enquanto que a cessão sempre decorrerá da vontade.
Além disso, diferencia-se a cessão de crédito da novação subjetiva ativa, posto que
nesta (novação) haverá extinção da obrigação primitiva e criação de uma nova, ao passo que
naquela (cessão) há manutenção da obrigação primitiva e mera transferência do crédito.
A cessão de crédito, para ter eficácia em relação ao devedor, exige a notificação deste,
quem será tido como notificado se declarar-se ciente da cessão feito em escrito público ou
particular (CC, art. 290). Tal notificação é necessária com o intuito de conferir ao devedor
certeza de a quem deverá pagar, para que direcione, corretamente, o adimplemento. Veja-se,
porém, que tal notificação não é necessária para a validade da cessão de crédito, a qual não
demandará aquiescência do devedor.
102
Em consonância com o artigo 294 do CC, o devedor pode opor ao cessionário as
exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter
conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. Demais disto, independentemente do
conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do
direito cedido, o que comprova que a notificação não consiste em restrição ao plano da
validade, mas apenas da eficácia da cessão (CC, art. 293).
É possível, contudo, que conte a cessão com cláusula expressa, na qual o cedente
(credor originário) responda perante o cessionário, inclusive, pelo eventual inadimplemento
do devedor. Neste caso, a responsabilidade que, originariamente, seria apenas pro-soluto,
passará a ser pro-solvendo (CC, arts. 295 e 296).
103
O novo devedor (cessionário) não poderá opor, ao credor, as exceções pessoais que
competiam ao devedor primitivo (CC, art. 302). Como exceções pessoais (subjetivas) que o
são, não se transmitem.
De olho na prova!
Ano: 2020 Banca: FCC Órgão: TJ-MS Prova: FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto
O pagamento
A. feito de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se provado depois que ele não era credor.
B. deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de
por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.
C. não vale quando cientemente feito ao credor incapaz de quitar, em nenhuma hipótese.
104
D. autoriza-se a recebê-lo o portador da quitação, fato que origina presunção absoluta.
E. feito pelo devedor ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, não valerá contra estes, que poderão constranger o
devedor a pagar de novo, prejudicado o direito de regresso contra o credor.
Gabarito: “B”
Ano: 2020 Banca: FCC Órgão: TJ-MS Prova: FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto
Quanto à mora e às perdas e danos, é correto afirmar:
A. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da
coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la e sujeita-o a
recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia
estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.
B. Havendo fato ou omissão imputável ao devedor, este não incorre em mora.
C. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora a partir do
ajuizamento da ação indenizatória correspondente.
D. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, salvo, em qualquer caso,
se essa impossibilidade resultar de caso fortuito ou força maior.
E. Salvo se a inexecução resultar de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os
prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
disposto na lei processual.
Gabarito: “A”.
PARTE GERAL
11. CONTRATOS
Não tem um conceito básico nem no Código Civil de 1916 nem no Código Civil de
2002. O conceito clássico criado pela doutrina decorre do art. 1.321 do Código Civil Italiano
(Villaça e Maria Helena Diniz), qual seja: é o negócio jurídico bilateral ou plurilateral que tem
por fim criar, modificar ou extinguir direito.
105
Em resumo, trata-se o contrato de um encontro de vontades visando criar, modificar,
conservar ou extinguir relações jurídicas, nos limites do ordenamento jurídico nacional,
principalmente com especial atenção à função social (art. 421, CC) e à boa-fé objetiva (art.
422, CC).
PREMISSAS
Existem importantes premissas a serem levadas em consideração por todo o estudo
da Teoria Geral dos Contratos.
Vejamos:
I. Autonomia da vontade: as partes podem criar contratos nominados ou
inominados e exigir o seu cumprimento.
II. Supremacia da ordem pública: o Estado intervém e limita a autonomia
privada em prol do interesse público, especialmente em áreas essenciais
(ex: sistema financeiro, telecomunicações etc.).
III. Consensualismo: o contrato decorre do consenso, independente de outro
ato material, como a entrega da coisa.
! Existem exceções (contratos reais) – Ex.: depósito; arras;
IV. Relatividade: como regra, os contratos só produzem efeitos em relação às
partes, sem afetar terceiros.
o Terá exigibilidade perante os sucessores se a obrigação não for
personalíssima.
o Tem exceções previstas em lei:
o Estipulação em favor de terceiros;
o Contrato com pessoa a declarar;
o Promessa de fato de terceiro.
V. Obrigatoriedade: força vinculante das convenções.
o Segurança dos negócios (função social): maculada se as partes
pudessem deixar de cumprir os pactos.
106
o Intangibilidade/imutabilidade: o contrato faz lei entre as partes
(pacta sunt servanda), flexibilizada pelo caso fortuito e força maior
(art. 393 do CC).
Os princípios são extremamente importantes e guiam toda uma disciplina, são um tipo
de norma, com plena aplicabilidade e máxima eficácia, principalmente quando visam efetivar
preceitos constitucionais.
Os princípios gerais dos contratos são aqueles que norteiam a elaboração das normas
regras, são a base da normatização contratual, o alicerce interpretativo.
107
A liberdade, neste momento, era abundante. Não tinha muitas limitações. Hoje, em
consonância com o Princípio Constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III
da CF/88) e de acordo com os princípios gerais do Código Civil: eticidade (boa-fé),
sociabilidade (função social), e operabilidade, e também dos postulados constitucionais da
justiça distributiva e solidariedade, a liberdade deve ser ressignificada, compreendida nos
limites e de acordo com o garantismo constitucional.
Pega a visão! Importante salientar que a autonomia da vontade não foi eliminada, mas
ressignificada na contemporaneidade – isto é, foi remodulada para se adequar a nossa
realidade.
✓ 1ª exceção: estipulação em favor de terceiro (arts. 436 a 438 do CC): hipótese em que
um terceiro, que não é parte do contrato, é beneficiado por seus efeitos, podendo exigir
o seu adimplemento, desde que anua com a obrigação. Exemplifica-se: seguro de
vida; plano de saúde coletivo por adesão.
De olho na Juris!
O STJ entende que o beneficiário de plano de saúde coletivo por adesão possui
legitimidade ativa para se insurgir contra rescisão contratual unilateral realizada pela
operadora, por se caracterizar o plano de saúde coletivo como estipulação em favor
108
de terceiro, e o art. 436, parágrafo único determina que o terceiro é legítimo para exigir
a obrigação. (REsp 1705311/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 09/11/2017, DJe 17/11/2017).
Os efeitos desse contrato são de dentro para fora (exógenos), porque a pactuação
repercute na esfera de terceiro.
✓ 2ª exceção: promessa de fato de terceiro (arts. 439 e 440 do CC): figura negocial pela
qual determinada pessoa promete que uma determinada conduta seja praticada por
outrem, sob pena de responsabilização civil. Exemplifica-se: promessa de show de
cantor que não comparece.
Os efeitos desse contrato são de fora para dentro (endógenos), porque a conduta de
um estranho ao contrato repercute para dentro deste.
✓ 3º exceção: contrato com pessoa a declarar ou com cláusula pro amico eligendo (arts.
467 a 471 do CC): no momento da conclusão do contrato, pode uma das partes
reservar-se à faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as
obrigações dele decorrentes. Tal figura é muito comum no contrato preliminar.
✓ 4ª exceção: eficácia externa da função social do contrato
Esse princípio é fortemente mitigado pelos princípios sociais (função social do contrato
e boa-fé objetiva). Importante exceção à força obrigatória dos contratos é a denominada
“teoria da imprevisão”, assim como o denominado Dirigismo Contratual, quando o Estado
intervém, excepcionalmente, na defesa de garantias constitucionais, de ordem pública ou em
decorrência da própria Supremacia do Interesse Público.
Pega a visão!
109
Teoria da Imprevisão trata do reconhecimento de que a ocorrência de fato novo,
superveniente, imprevisível e extraordinário, em contrato comutativo e de duração, que
desequilibre a base econômica (objetiva) contratual, com extrema vantagem para uma das
partes e onerosidade excessiva para a outra, possibilita a sua resolução ou revisão (CC, arts.
317 e 478).
Para Orlando Gomes função significa fim, e social significa coletivo. Assim, a função
social é o fim coletivo. Miguel Reale entende que o contrato não deve atender apenas aos
interesses das partes, mas de toda a coletividade. Flávio Tartuce conceitua função social do
contrato como um princípio de ordem pública (art. 2.035, parágrafo único, do CC), pelo qual o
contrato deve ser, necessariamente, interpretado e visualizado de acordo com o contexto da
sociedade. O contrato entre as partes não deve prejudicar terceiros, a coletividade ou
contratos alheios.
Na seara dos contratos, a função social é mais um elemento de eficácia social que traz
a ideia básica segundo a qual a avença deve ser cumprida não só em função do credor, mas
também de forma a não afrontar interesses difusos e conferir contribuição positiva para a
sociedade. A função social do contrato significa que o mesmo deverá ter uma dada finalidade,
a qual é qualificada pelo termo social, atendendo interesses da sociedade.
Nesse viés, é a autonomia privada (ou da vontade) delimitada pela função social do
contrato, representada esta por uma cláusula geral a ser concretizada em cada caso, com
vistas à promoção da dignidade da pessoa humana. É isso que se infere do artigo 421 do CC
e Enunciado 23 do CJF. Isto não quer significar, porém, que se estaria assistindo a morte da
liberdade ou autonomia contratual. Não é bem assim. Autonomia contratual persiste como um
princípio dos contratos, porém mitigado pela tutela externa do crédito (função social).
- Possível a anulação (arts. 156 e 157 do CC), a revisão (art. 317 do CC) oua resolução do
contrato (art. 478 do CC).
- A doutrina, nos Enunciados 17 da I JDCi e 175 da III JDCi, sugere que a teoria da imprevisão
também seja aplicada nos casos de fatos previsíveis, mas com consequências imprevisíveis.
- O CC (arts. 317 e 478) adotou a teoria francesa da imprevisão, qualificando a sua incidência
ao exigir a correspondência entre a desvantagem sofrida por uma parte e o proveito obtido
pela outra.
111
- O CDC (arts. 4º e 6º) adotou a teoria da base objetiva do negócio jurídico (onerosidade
excessiva pura), de Karl Larenz (doutrina alemã), segundo a qual a simples presença de
desequilíbrio superveniente, independentemente de evento extraordinário, possibilita a
revisão contratual. Dispensa a imprevisibilidade. EX: contratos de leasing reajustados pelo
dólar.
- Nas relações de consumo, o fornecedor jamais pode requerer a resolução, mas apenas a
revisão contratual.
Fonte: https://www.aspectojuridico.com/
112
Nos interessa aqui o estudo da Boa-fé objetiva.
Atualmente a Boa-fé objetiva consiste numa cláusula geral e implícita, tendo como
funções a interpretativa, integrativa e restritiva (ou limitadora).
Proposta
É uma declaração de vontade ofertada pelo proponente àquele que poderá aceitar a
proposta. Ela pode ser individual ou coletiva, como a vitrine de uma loja, sendo que, em ambos
os casos e em regra, a proposta obriga o proponente, isto é: não pode ser descumprida.
De acordo com o art. 428, CC, a proposta pode ser realizada entre presentes ou entre
ausentes. Por presença, na visão do legislador civilista, deve-se entender a comunicação
simultânea, não sendo necessária a presença física, propriamente. Desta forma, para o
legislador contatos via telefone, WhatsApp, etc... são hipóteses de contratos celebrados entre
presentes, pois há comunicação simultânea.
A proposta feita entre presentes, nos termos do citado artigo 428, somente obriga se
imediatamente aceita. Essa regra geral apenas é afastada acaso haja na proposta um prazo
específico, quando este há de ser respeitado como data limite. Já o contrato entre ausentes
114
é aquele no qual não há comunicação simultânea entre as partes, a exemplo de carta ou e-
mail. Segundo o Código Civil, a proposta entre ausentes obriga até que tenha decorrido tempo
razoável para aceitação. Tal regra somente será refutada se a própria proposta trouxe um
prazo limite a ser observado.
A proposta feita pode ser revogada mediante a mesma forma que foi realizada, em
respeito ao princípio da simetria das formas ou paralelismo das formas. Como, em regra,
quem pode o mais, pode o menos, é possível afirmar que a proposta feita de forma verbal
pode ser desfeita por escrito – o inverso, entretanto, não é possível.
Tal local de formação será, em regra, o foro competente para dirimir as controvérsias
relativas ao contrato, ressalvadas as hipóteses de foro de eleição ou de foro privilegiado, tema
tratado no capítulo de domicílio. Não obstante, em sendo o contrato internacional, aplica-se o
artigo 9º, § 2º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, sendo o local de formação
do contrato aquele no qual é domiciliado o proponente.
Aceitação
Ela precisa ser feita nos mesmos termos da proposta, sob pena de configurar
contraproposta. Portanto, a aceitação feita fora do prazo, com alterações, adições ou
restrições à proposta não enseja o surgimento da relação contratual, porque nada mais é do
que uma contraproposta, a ser apreciada pelo proponente, a quem, por sua vez, caberá anuir,
desistir, ou ainda contrapropor (art. 431, CC).
115
A expedição da aceitação somente não promoverá o surgimento do contrato se antes
dela chegue ao proponente à retratação do aceitante, bem como quando o próprio proponetne
houver se comprometido a esperar resposta, ou mesmo quando a aceitação não chegue no
prazo convencionado, posto que a aceitação fora do prazo ostenta natureza jurídica de
contraproposta.
CONTRATO PRELIMINAR
Também chamado de antecontrato, pré-contrato ou promessa, trata-se de um pacto
por meio do qual as partes se comprometem a celebrar posterior contrato futuro.
Pega a visão!
Contrato preliminar é contrato! Não se trata de mera tratativa. Tem força coercitiva.
A questão é que ele tem como principal obrigação um fazer, tal seja: a conclusão de
um contrato definitivo, superveniente, individualizado, definido em suas cláusulas essenciais.
O contrato preliminar deverá conter todos os requisitos do definitivo, a exceção da forma,
segundo o artigo 462 do CC. Por exemplo: a despeito do contrato definitivo de alienação de
imóvel cujo valor é superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país ter forma
vinculada – escritura pública, sob pena de nulidade –, o respectivo contrato preliminar tem
forma livre, sendo plenamente válida sua realização por escrito particular (inteligência dos
arts. 108, 166 e 462 do Código Civil).
Importante destacar que, regra geral o contrato preliminar é irretratável, a não ser que
possua cláusula de arrependimento (art. 463, CC). Além disso, o contrato preliminar deve ser
levado ao registro competente (art. 463, parágrafo único). Diante da sua irretratabilidade, na
hipótese de uma das partes se negar a dar execução ao contrato preliminar, poderá a parte
lesada exigir judicialmente o seu cumprimento, com tutela específica, a exemplo de multa
diária (astreintes) ou medida sub-rogatória (vide artigo 536 § 1º, CPC/15).
VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Trata-se de defeito oculto sobre a coisa alienada através de contrato comutativo, que
diminui o valor, ou prejudica a utilização da mesma. O defeito sobre a coisa tem de ser
descoberto depois pelo adquirente (art. 441, CC). É fundamental observar que se o suposto
defeito for do gênero da coisa, não se deve falar em vício redibitório, pois se trata de
116
característica inerente ao bem.Por exemplo: a aquisição de um cavalo cuja raça é “baixa” em
reprodução. Não é um defeito, e sim uma característica daquele tipo de animal.
A ação redibitória tem como objetivo resolver (desfazer) o contrato; rejeita-se a coisa
para obter o valor depositado de volta. Já a ação estimatória ou quantis minoris intenciona
reduzir o valor de aquisição da coisa, por conta do vício, com o escopo de manutenção do
bem. Estima-se o montante da desvalorização e abate-se do valor da venda (art. 442, CC).
Importante notar que o Código Civil não exige a presença da culpa como elemento necessário
à configuração do vício. Caso haja culpa (em sentido amplo), torna-se possível cumular a
resolução ou diminuição dos valores com o pleito de perdas e danos (art. 443, CC).
Além disso, faz-se mister tomar nota o vício redibitório ocorrido na aquisição de coisas
vendidas conjuntamente. Em consonância com o art. 503 do CC se o vício existir somente em
uma das coisas não será possível o desfazimento de todo o negócio e a rejeição de todos os
bens, mas só da coisa individualmente defeituosa. Exemplo: a compra por uma pessoa de
vinte verduras em uma feira, se somente uma das verduras estiver estragada não será
possível que o adquirente a rejeite todas as outras, mas somente exigir a troca, ou o
abatimento, sobre a única verdura estragada.
117
estava na posse da casa de Júlio por 10 (dez) meses, em virtude de contrato de locação. Júlio
decide vender a casa para Maria. O prazo para propor ação edilícia será de 6 (seis) meses,
reduzindo-se o prazo de 1 (um) ano pela metade.
Além disso, na forma do Enunciado 174 da III Jornada de Direito Civil, em se tratando
de vício oculto, o adquirente tem os prazos do art. 445 para obter a redibição ou o abatimento
de preço, desde que os vícios se revelem nos prazos estabelecidos no seu § 1º, fluindo,
entretanto, a partir do conhecimento do defeito.
Logo, na hipótese de se tratar de vício de difícil constatação (vício oculto) o prazo será
de:
Nesta situação específica, como visto, os prazos citados são contados da descoberta
do vício, e não da data da entrega ou alienação.
Pega a visão!
O artigo 446 do CC afirma que os prazos referentes ao vício redibitório não correm
enquanto não finalizado o prazo de garantia, subsistindo o adquirente, nesse prazo, a
obrigação de comunicar a existência do vício do prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de
decadência.
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: TJ-AL Prova: FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto
Renato emprestou seu automóvel a Paulo. Quinze dias depois, ainda na posse do veículo,
Paulo o comprou de Renato, que realizou a venda sem revelar que o automóvel possuía grave
defeito mecânico, vício oculto que só foi constatado por Paulo na própria data da alienação.
Nesse caso, de acordo com o Código Civil, Paulo tem direito de obter a redibição do contrato
de compra e venda, que se sujeita a prazo
A. prescricional, de trinta dias, contado da data em que recebeu o automóvel.
B. prescricional, de quinze dias, contado da data da alienação.
C. decadencial, de trinta dias, contado da data em que recebeu o automóvel.
D. decadencial, de quinze dias, contado da data da alienação.
E. decadencial, de noventa dias, contado da data em que recebeu o automóvel.
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Gabarito: “D”.
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-MA Prova: FCC - 2018 - DPE-MA - Defensor Público
O vício redibitório e o erro substancial
A. geram a nulidade do negócio jurídico e, consequentemente, impõem a declaração de
nulidade e a indenização pelos danos causados.
B. constituem espécies de vício da vontade, uma vez que o negócio não teria sido realizado
se não se verificasse o vício ou erro.
C. são distintos uma vez que no primeiro o vício oculto pertence ao objeto adquirido, ao passo
que no segundo, o vício é da manifestação da vontade.
D. dizem respeito somente ao âmbito da eficácia do negócio jurídico e apresentam como
consequência o abatimento do valor pago.
E. constituem vício do objeto do negócio jurídico contraído, pois o objeto adquirido possui
algum vício que torna a coisa inútil para o fim a que se destina.
Gabarito: “C”.
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RS Prova: VUNESP - 2018 - TJ-RS - Juiz de Direito
Substituto
Sobre os vícios redibitórios, assinale a alternativa correta.
A. O adquirente que já estava na posse do bem decai do direito de obter a redibição ou
abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel.
B. No caso de bens móveis, quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais
tarde, se ele aparecer em até 180 dias, terá o comprador mais 30 dias para requerer a
redibição ou abatimento no preço.
C. Somente existe o direito de obter a redibição se a coisa foi adquirida em razão de contrato
comutativo, não se aplicando aos casos em que a aquisição decorreu de doação, mesmo
onerosa.
D. O prazo para postular a redibição ou abatimento no preço, quando o vício, por sua natureza,
só puder ser conhecido mais tarde, somente começa a correr a partir do aparecimento do
vício, o que pode ocorrer a qualquer tempo.
E. No caso de bens imóveis, quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais
tarde, o prazo é de um ano para que o vício apareça, tendo o comprador, a partir disso, mais
180 dias para postular a redibição ou abatimento no preço.
Gabarito: “B”.
119
EVICÇÃO
Alude a ideia de perda do objeto do contrato em face do reconhecimento de direito
anterior de outrem. É uma garantia contratual do adquirente típica dos contratos onerosos,
translativos de propriedade, que se aplica quando o adquirente vem a perder a posse, ou a
propriedade da coisa em virtude do reconhecimento judicial ou administrativo do direito
anterior de terceiro. A evicção, de acordo com o artigo 447 do CC, é composta por 3 (três)
sujeitos:
• Alienante: quem responde pelos riscos da evicção;
• Adquirente (ou evicto): pessoa que perde a posse e a propriedade;
• Terceiro (evictor): pessoa que prova direito anterior.
Nota-se que a garantia da evicção continua existindo mesmo que a aquisição se tenha
ocorrido em hasta pública. Além disso, existe evicção ainda que a perda aconteça por
execução de ato administrativo. Desta forma, a evicção poderá ser oriunda de decisão judicial
ou de decisão administrativa.
Na evicção, o evicto que adquiriu um bem do alienante de forma onerosa perde a coisa
em virtude de direito de terceiro (evictor). Neste caso, poderá o adquirente requerer os direitos
previstos no art. 450 do Código Civil. Vejamos:
De acordo com o artigo 448 do CC, vale frisar que a cláusula de garantia da evicção
pode ser reforçada, diminuída ou excluída. Com efeito, em se tratando de direito privado e
disponível a autonomia das partes autoriza esta prática.
120
Todavia, no que diz respeito a exclusão, a análise deve ser mais criteriosa. Visto que
o artigo 449 do CC leciona que se houver no contrato cláusula afirmando que “alienante não
responde pelo risco da evicção”, este ainda terá direito a receber o preço que pagou pela
coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
Por fim, em consonância com os ideais de eticidade e boa-fé, note-se que o adquirente
não poderá alegar a evicção se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa e ainda assim firmou
o contrato oneroso, afinal de contas, ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.
De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RS Prova: VUNESP - 2018 - TJ-RS - Juiz de Direito
Substituto
André devia a quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) em dinheiro a Mateus. Maria era
fiadora de André. Mateus aceitou receber em pagamento pela dívida um imóvel urbano de
propriedade de André, avaliado em R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) com área de 200 m2 e
deu regular quitação. Entretanto, o imóvel estava ocupado por Pedro, que o habitava há mais
de cinco anos, nele estabelecendo sua moradia. Pedro ajuizou ação de usucapião para obter
a declaração de propriedade do imóvel que foi julgada procedente. Na época em que se
evenceu, o imóvel foi avaliado em R$ 65.000,00 (sessenta e cinco mil reais). A respeito dos
efeitos da evicção sobre a obrigação originária, é possível afirmar que a obrigação originária
121
A. foi extinta com a dação em pagamento. André será responsável perante Mateus pelo valor
correspondente ao bem imóvel perdido, na época em que se evenceu. Maria está liberada da
fiança anteriormente prestada.
B. foi extinta com a dação em pagamento. André será responsável perante Mateus pelo valor
correspondente ao bem imóvel perdido, na época em que houve a dação em pagamento.
Maria está liberada da fiança anteriormente prestada.
C. é restabelecida, mas não contará mais com a garantia pessoal prestada por Maria. Em
razão da evicção, a obrigação repristinada terá por objeto o valor equivalente ao bem na época
em que se evenceu.
D. é restabelecida, pelo seu valor original, em razão da evicção da coisa dada em pagamento,
mas sem a garantia pessoal prestada por Maria, tendo em vista que o credor aceitou receber
objeto diverso do constante na obrigação originária.
E. é restabelecida, em razão da evicção da coisa dada em pagamento, inclusive com a
garantia pessoal prestada por Maria. Contudo, em razão da evicção, a obrigação repristinada
terá por objeto o valor equivalente ao bem na época em que se evenceu.
Gabarito: “D”
Resilição
122
O distrato é a resilição bilateral. Oriundo do desejo conjunto do contratante e do
contratado não manterem mais o contrato vigorando. É trazido no art. 472, CC. Tem como
requisito ser feito na mesma forma exigida para a constituição do contrato. Assim sendo, se o
contrato foi celebrado por instrumento público, o distrato deverá ser firmado por instrumento
público também. Tem-se aqui uma expressão do princípio do paralelismo das formas.
A resilição unilateral (art. 473, CC) ocorre através de um ato jurídico chamado
denúncia. Exemplos desta denúncia vazia (vazia de motivos) podem ser vistos no contrato de
locação ou no contrato de prestação de serviços firmados por tempo indeterminado. Observa-
se, ademais, que para a redação do parágrafo único do artigo 473 do CC – a qual afirma que
se uma das partes houver realizado vultosos investimentos para a execução do contrato
poderá o juiz determinar a manutenção da avença até o retorno do investimento – em evidente
atenção à probidade nas relações e à Justiça Contratual.
Pega a visão!
Enunciado 437 – V Jornada de Direito Civil – CJF: A resolução da relação jurídica contratual
também pode decorrer do inadimplemento antecipado.
Conveniente notar que não é indispensável ao contrato bilateral conter uma cláusula
resolutiva expressa, afirmando que no caso de inadimplemento por uma das partes poderá
ser resolvido o contrato. Com efeito, todo contrato bilateral possui uma cláusula resolutória
tácita. Todavia, a vantagem de se consignar a cláusula resolutiva de forma expressa e prévia
no contrato é de economia processual e operabilidade, eis que descumprida a obrigação o
contrato será automaticamente resolvido. Se não contiver essa cláusula, o prejudicado terá
que comunicar a outra parte que o contrato está resolvido (art. 474, CC).
Pega a visão!
123
Enunciado 436 – V Jornada de Direito Civil – CJF: A cláusula resolutiva expressa produz
efeitos extintivos independentemente de pronunciamento judicial.
Rescisão
Não obstante inexistir uma precisa definição na legislação codificada a respeito da
rescisão contratual, provas de concurso, já trouxe definição como o desfazimento do contrato
por fato concomitante ou posterior à sua formação. Na prática e na doutrina, tem quem a
correlacione com o desfazimento do contrato por meio judicial, ou pelo específico
desfazimento nas hipóteses de lesão ou estado de perigo. O fato é que nada obstante a
prática forense utilizar desta terminologia, e a própria OAB em exame bastante antigo também
a conceituar, o fato é que o CC não abordou o tema na teoria geral dos contratos.
Trata-se de defesa indireta de mérito por meio da qual a parte demandada pela
execução de um contrato pode arguir que deixou de cumpri-lo pelo fato de a outra parte ainda
não ter satisfeito a prestação correspondente. Esse assunto encontra-se no artigo 476 do CC,
o qual prevê como pressupostos para o exercício da exceção do contrato não cumprido:
Aplica-se este instituto na esfera administrativa? Sim, desde que o Estado deixe de
adimplir com sua prestação por prazo superior a 90 (noventa) dias, em virtude do princípio da
continuidade, na dicção do artigo 78, XV da Lei 8.666/93. Neste casoo prejudicado poderá
pleitear a resolução do contrato, salvo se houver calamidade pública, grave perturbação da
ordem interna ou guerra, sendo aqui possível apenas a suspensão do contrato.
124
pactuarem neste sentido, por escrito. Trata-se da denominada cláusula contratual de exceção
denominada “solve et repete”, a significar “pague e depois reclama”, ou seja, a prescrever a
não aplicação da exceção do contrato não cumprido. Havendo a cláusula “solve et repete”
expressamente contratada poderá o contratante exigir imediatamente do contratado o
adimplemento mesmo não tendo ainda adimplido a sua parte no contrato.
125
Não obstante a compra e venda seja, em regra, comutativo, o Código Civil veicula
hipóteses de compras e vendas aleatórias.
Vejamos:
• Contrato de Compra de Coisa Futura, com Assunção de Risco pela Existência: nessa
primeira espécie, trazida expressamente no artigo 458 do CC, o contratante assume o
risco de não vir a ganhar coisa alguma, deixando à sorte propriamente dita o resultado
da sua contratação. Por exemplo: contratação do lançamento de uma rede de pesca
por um pescador, assumindo o contratante o risco de advir um grande volume de peixe
ou, nenhum peixe.
• Contrato de Compra de Coisa Futura, sem Assunção de Risco pela Existência: nesse
caso, (art. 459 CC) não há assunção total de riscos pelo contratante, pois o alienante
se comprometeu a que alguma coisa fosse entregue. O exemplo aqui é a aquisição de
uma safra futura, na qual o contratante deve receber toda a safra, havendo variação
quanto ao volume.
• Contrato de Compra de Coisa Presente, mas Exposta a Risco assumido pelo
Contratante: a última prevista no código civil é a que aborda a venda de coisa atual
sujeita a riscos (art. 460, CC). Exemplo: a aquisição de uma vaca prenha, na qual a
perda do bezerro não gera direito a devolução de valores.
• Contratos Paritários ou por Adesão – no caso de as partes estarem em iguais
condições de negociação, estabelecendo livremente as cláusulas contratuais, nas
tratativas, fala-se na existência de um contrato paritário. É distinto do contrato de
adesão, o qual pode ser conceituado simplesmente como o contrato onde um dos
pactuantes pré-determina as cláusulas do negócio jurídico, cabendo a outra parte
apenas não aderir.
126
Consensuais ou Reais
Relativo à forma pela qual o negócio jurídico é considerado ultimado. Os contratos
podem ser consensuais, se concretizados com a simples declaração de vontade, ou reais, na
medida em que exijam a entrega da coisa, para que se reputem existentes. A compra e venda
é um contrato consensual, enquanto que o depósito e o comodato são hipóteses de contratos
reais.
Pessoais ou Impessoais
Quanto à importância da pessoa do contratante para celebração e produção de efeitos
do contrato, podem tais negócios jurídicos ser classificados em contratos pessoais ou
impessoais. Os primeiros, também chamados de personalíssimos, são os realizados intuito
personae, ou seja, celebrados em função da pessoa do contratante, que tem influência
decisiva para o consentimento do outro, para quem interessa que a prestação seja cumprida
por ele próprio, pelas suas características particulares (habilidade, experiência, técnica,
idoneidade etc.). Nessas circunstâncias, é razoável se afirmar, inclusive, que a pessoa do
contratante se torna um elemento causal do contrato (Ex.: contrato de emprego). Já os
contratos impessoais são aqueles em que somente interessa o resultado da atividade
contratada, independentemente de quem seja a pessoa que irá realizá-la.
Individuais ou Coletivos
Tem-se como parâmetro também o número de sujeitos envolvidos/atingidos. No
contrato individual, sua concepção tradicional se refere a uma estipulação entre pessoas
determinadas, ainda que em número elevado, mas consideradas individualmente. Exemplo:
compra e venda, na qual há um polo comprador e outro vendedor. Mesmo que haja uma
pluralidade de compradores ou de vendedores, tais contratos continuam sendo individuais. Já
no contrato coletivo, também chamado de contrato normativo, tem-se uma transubjetivização
127
da avença, alcançando grupos não individualizados, reunidos por uma relação jurídica ou de
fato.
Tal produção concentrada de efeitos, porém, dar-se-á ipso facto à avença ou em data
posterior à celebração (em função da inserção de um termo limitador da sua eficácia),
subdividindo-se, assim, tal classificação em contratos instantâneos de execução imediata ou
de execução diferida. Tal subclassificação também tem interesse prático, tendo em vista que
nos contratos de execução diferida, é aplicável a teoria da imprevisão, por dependerem de
circunstâncias futuras, o que, por óbvio, inexiste nos contratos de execução imediata.
Típicos e atípicos
Quando existe uma previsão legal da disciplina de determinada figura contratual,
estaremos diante de um contrato típico; na situação inversa, ou seja, em que o contrato não
esteja disciplinado/regulado pelo Direito Positivo, vislumbraremos um contrato atípico.
Causais e abstratos
128
Classificação que toma, por base, o motivo determinante do negócio, para dividi-los
em contratos causais e contratos abstratos. Os primeiros estão vinculados à causa que os
determinou, podendo ser declarados inválidos, se a mesma for considerada inexistente, ilícita
ou imoral. Já os contratos abstratos seriam aqueles cuja força decorre da sua própria forma,
independentemente da causa que o estipulou. Seriam os exemplos dos títulos de crédito em
geral, como um cheque.
129
nosso ordenamento jurídico, nada mais são do que negócios jurídicos que têm por finalidade
justamente a celebração de um contrato definitivo.
De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: CONSULPLAN Órgão: TJ-MG Prova: CONSULPLAN - 2018 - TJ-MG - Juiz
de Direito Substituto
Quanto aos contratos, segundo o Código Civil, analise as afirmativas a seguir.
I. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir
exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
II. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o
não executar, exceto se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência
o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo,
venha a recair sobre os seus bens.
III. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o
cônjuge do alienante, independente do regime de bens, expressamente houverem consentido.
IV. O vendedor pode executar a cláusula de reserva de domínio em razão do não pagamento
integral do valor devido, independente de constituir o comprador em mora pelo protesto do
título ou interpelação judicial.
Estão corretas as afirmativas
A. I, II, III e IV.
B. I e II, apenas.
C. III e IV, apenas.
D. I, II e III, apenas.
Gabarito: "B"
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-CE Prova: CESPE - 2018 - TJ-CE - Juiz
Substituto
Contrato de prestações certas e determinadas no qual as partes possam antever as
vantagens e os encargos, que geralmente se equivalem porque não envolvem maiores riscos
aos pactuantes, é classificado como
A. benéfico.
B. aleatório.
C. bilateral imperfeito.
D. derivado.
E. comutativo.
130
Gabarito: “E”.
CONTRATOS EM ESPÉCIE
Avançamos agora no estudo das espécies de contratos. Toda a teoria geral dos
contratos traz os subsídios necessários para adentramos nesse tópico.
Temos inúmeras figuras contratuais no Direito Brasileiro, agora vamos estudar alguns
dos contratos em espécie do nosso ordenamento jurídico, sendo que, com base no que as
bancas de concurso geralmente cobram, vamos focar nas espécies que costumam ser objeto
de prova.
COMPRA E VENDA
Conceito
É um contrato através do qual um dos contraentes se obriga a transferir o domínio de
certa coisa (móvel ou imóvel) e, o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro (artigo 481 do
CC).
É um Contrato Translativo, pois nele se assume o compromisso de transferência da
propriedade, mas essa só se opera pela tradição (bens móveis) ou pelo registro público (bens
imóveis, em regra). Brasil adotou o sistema alemão e romano.
Natureza Jurídica
→ Bilateral ou sinalagmático: acarreta em obrigações assumidas por ambas as partes
→ Oneroso: gera vantagem patrimonial para ambas as partes
→ Comutativo: já se sabe desde antes as vantagens que irão obter (diferente de aleatório).
Observação! Em alguns casos o contrato será aleatório, como por exemplo, na venda a
contento, ou quando a compra e venda tiver por objeto coisas futuras ou coisas existentes,
mas sujeitas a risco.
→ Não solene/consensual (regra): se aperfeiçoa com o acordo de vontades, não depende da
efetiva entrega da coisa.
Exceção! Em certos casos a compra e venda será solene/real. Ex. compra e venda de imóvel
com valor maior que 30 salário mínimos (escritura pública registrada em cartório). Se for valor
menor, será apenas formal (deve ser por escrito), mas não solene.
Elementos Essenciais
131
São três:
• Consentimento
• Preço
• Objeto
Pega a visão!
Consentimento:
Deve ser consentimento livre e desembaraçado, sob pena de ser anulável (erro, dolo,
coação, lesão, estado de perigo e fraude). A ação anulatória deve ser intentada em quatro
anos.
Deve recair sobre a coisa e o preço. Requer capacidade das partes. As incapacidades
dos arts. 3º e 4º são supridas pela representação, assistência e pela autorização do juiz.
Quando se tratar de bem imóvel do incapaz ou nascituro, não basta a vontade do
representante/assistente, deve também ter homologação do juiz (art. 1.691 do CC).
Restrições
i. A compra e venda entre ascendente e descendente: depende de consentimento dos
demais herdeiros e do cônjuge (exceto na separação obrigatória), sob pena de ser
anulável (NÃO é antecipação de herança porque o patrimônio é recomposto). (art.
496, CC)
Qual é o prazo da ação de anulabilidade?
Art. 179 CC. O prazo é decadencial e é de dois anos contados do conhecimento (actio
nata).
Obs.¹: Em razão da superveniência do art. 179 (20 anos), a súmula 494 do STF
perdeu objeto.
Obs.²: Se for doação, considera-se antecipação de herança (salvo expressa
disposição de que aquilo sai da parte disponível).
Tem Enunciado do CJF no sentido de que o prazo de 2 anos deve ser contado da
ciência do ato, que se presume absolutamente, em se tratando de transferência
imobiliária, a partir do registro de imóveis (545 do CJF).
Aplica-se à união estável, especialmente se houver registro em cartório? Temos duas
correntes:
132
• NÃO = ausência de publicidade formal da relação e a incidência de efeitos
sobre terceiros (de boa-fé). Além disso, tratando-se de norma restritiva de
direitos, não se deve utilizar da analogia para aplicar à união estável;
• SIM = a união estável é equiparada a casamento, e os descendentes por certo
conhecem a relação. A anulabilidade da venda depende da prova do prejuízo
(STJ, REsp. 752.149/AL). Para o STJ, o prejuízo não é presumido nem mesmo
na hipótese de o autor da ação anulatória ser absolutamente incapaz quando
da celebração do negócio por seus pais e irmãos.
ii. Compra e venda entre marido e mulher. É possível quanto aos bens excluídos da
comunhão desde que não ocorra simulação ou fraude. Ou seja, os bens pertencentes
ao patrimônio comum não podem ser objeto de c/v. (art. 499)
Obs.: Inadmissível a doação entre cônjuges casados no regime de separação legal
ou obrigatória, por desvirtuar as suas características e finalidades. Aplicável à União
estável.
iii. Venda de bens por pessoa casada: o art. 1647, CC, disciplina a necessidade de
outorga conjugal (uxória ou marital). Essa necessidade se dá SÓ em relação a bens
imóveis (seja para venda, seja para alienação, seja para doação). Quando a compra
e venda se faz sem o consentimento, a c/v é anulável, no prazo de dois anos contados
do término da sociedade conjugal. A outorga é dispensada no regime da separação
convencional; na participação final dos aquestos o pacto pode dispensar.
Pega a visão! Observar a supressio/surrectio. Lembrar ainda que o adquirente tem
direito de usucapião. Lembrando que se for bem móvel não precisa do consentimento.
iv. Compra e venda da parte indivisa de bem condominial: a compra e venda de bem
condominial só pode acontecer com a concordância de todos os condôminos (é
possível suprir judicialmente a vontade do condômino que recusou). A venda da
fração ideal de cada condômino só depende do dono. Os demais condôminos têm
direito de preferência (ação de preempção ajuizada no prazo decadencial de 180 dias
a contar da data em que teve ciência da alienação). Se esse direito não for respeitado,
dá ensejo à adjudicação compulsória. (art. 504, CC). Caso haja mais de um
condômino interessado, tem preferência:
• 1º O que tiver benfeitorias de maior valor
• 2º na falta de benfeitorias, o condômino de quinhão maior
• 3º se partes iguais, haverão a parte vendida os coproprietários, que a quiserem,
depositando previamente o preço.
133
Obs. Aplica-se essa regra apenas ao condomínio tradicional e não ao edilício. Mas se
o apartamento pertencer a outras pessoas, estas devem ser notificadas para exercer
sua preferência legal (porque aí haverá condomínio convencional dentro do
condomínio em edifício).
Pega a visão! Se a coisa é divisível, nada impede que o condômino venda sua parte a
estranho, sem dar preferência aos consortes. Pois os consortes poderão requerer a
divisão da coisa.
v. Venda de bens pelo insolvente: pode configurar fraude a dar ensejo à anulabilidade.
A lei de falência estabelece uma presunção absoluta de fraude somente para os bens
alienados após o termo legal da falência, se a alienação se deu antes, a presunção é
relativa. Se a venda se deu dentro do termo da falência implica em ineficácia absoluta.
Para as vendas realizadas antes do termo final da falência a ineficácia será relativa.
vi. Aquisição de bens por pessoa encarregada de zelar pelos interesses do vendedor.
Algumas pessoas não podem adquirir bens em certas circunstâncias (tutor, leiloeiro,
juízes, etc.). Ver art. 497.
De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: Fundação CEFETBAHIA Órgão: MPE-BA Prova: Fundação CEFETBAHIA
- 2018 - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto - Anulada
Sobre o tema dos contratos é correto afirmar que a compra e venda entre os cônjuges é:
A. Válida, se o objeto do negócio for um bem excluído o da comunhão.
B. Válida em relação a todos os bens.
C. Anulável em relação aos bens incluídos na comunhão.
D. Nula em qualquer hipótese por violação ao regime de bens adotado pelos cônjuges.
E. Válida após a dissolução da sociedade conjugal.
Gabarito: “A”.
Ano: 2018 Banca: Fundação CEFETBAHIA Órgão: MPE-BA Prova: Fundação CEFETBAHIA
- 2018 - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto - Anulada
Segundo a legislação civil, a compra e venda entre ascendentes e descendentes é:
A. Nula de pleno direito.
B. Nula, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante houverem expressamente
consentido.
C. Válida se os outros descendentes do alienante houverem consentido de forma expressa e
o cônjuge de forma tácita.
134
D. É anulável em qualquer hipótese.
E. É anulável, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante houverem
expressamente consentido.
Gabarito: “E”.
Preço
Deve ser determinável ou determinado. O que não se admite é a indeterminabilidade
absoluta. O preço deve ser apreciável em dinheiro (se não for em dinheiro caracterizará
troca/permuta). Enunciado 441 da V Jornada de direito civil: “Na falta de acordo sobre o preço,
não se presume concluída a compra e venda. O parágrafo único do artigo 488 somente se
aplica se houver diversos preços habitualmente praticados pelo vendedor, caso em que
prevalecerá o preço médio”.
Pode ocorrer de ter sido ajustado um preço em dinheiro, mas o vendedor (credor)
aceita receber coisa diversa, ocorrendo a DAÇÃO EM PAGAMENTO (isso não desnatura a
compra e venda).
De olho na lei!
A lei do plano real (Lei n. 9.069/95) estabelece que o pagamento deve se dar em moeda
brasileira.
Exceção
Há dois casos que se pode pagar com moeda estrangeira:
• Bens originados de importação
• Bens adquiridos no exterior (fatura de cartão de crédito de compra nos EUA chega
em dólar).
Pega a visão!!!
Não se admite que o preço fique submetido ao arbítrio exclusivo de uma das partes (sendo
nula essa a compra e venda). O Código Civil autoriza que se indique um terceiro (que é
mandatário) para que ele fixe o preço.
Pega a visão!!!
135
Quando for relação de consumo, o preço deve ser estipulado de forma clara.
O preço na compra e venda deve ser real, sério. Apesar disso, não é elemento do
contrato de compra e venda que o preço seja justo. Nesse caso, se o preço for
excessivamente oneroso, o ordenamento nos dá saídas: Pode caber anulação do contrato
por lesão ou por estado de perigo.
Se o preço se tornar excessivamente oneroso no decorrer do contrato, cabe revisão
ou resolução do contrato (teoria da imprevisão art. 478 CC).
De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público
No Código Civil, para que se dê a resolução contratual por onerosidade excessiva, será
preciso o preenchimento dos requisitos seguintes:
A. os contratos devem ser de parcelas sucessivas, ou diferidos no tempo, exigindo-se a
onerosidade excessiva à parte prejudicada e vantagem extrema à outra, mas não a
imprevisibilidade dos acontecimentos.
B. a natureza dos contratos é irrelevante, bem como a vantagem a uma das partes, bastando
a onerosidade excessiva à parte prejudicada e os acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis.
C. os contratos devem ser bilaterais e as prestações sucessivas, bastando a onerosidade
excessiva a uma das partes, sem se cogitar de vantagem à outra parte mas exigindo-se a
imprevisibilidade dos acontecimentos.
D. na atual sistemática civil, basta a onerosidade excessiva, não se cogitando seja de
vantagem à outra parte, seja da imprevisibilidade dos eventos.
E. os contratos devem ser de execução continuada ou diferida; e à onerosidade excessiva a
uma das partes deve corresponder a extrema vantagem à outra, em virtude de
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis.
Gabarito: “E”.
Objeto
É a coisa vendida. O objeto do contrato de compra e venda pode ser bem móvel ou
imóvel; corpóreo ou incorpóreo (cessão); atuais ou futuros.
136
• Existência: é nula a venda de coisa inexistente, a lei se contenta com a existência
potencial da coisa como, por exemplo, venda de safra futura.
• Individuação: o objeto da compra e venda precisa ser determinado, ou determinável,
isto é, podendo ser determinado no momento da execução. Permite-se assim a venda
alternativa cuja a indeterminação se encerra com a concentração (como visto no
tópico das obrigações), e a venda de coisa incerta indicada ao menos pelo gênero e
quantidade.
• Disponibilidade: a coisa deve ser disponível, ou seja, não pode estar fora do comércio.
Porém, atente-se ao fato de que é possível inclusive compra e venda de coisa litigiosa
(art. 42 do CPC c/c 457 do CC).
Pega a visão!!! Quando se trata de compra e venda de bem litigioso não é possível
que o adquirente alegue evicção, porque ele sabe da possibilidade de perda desse
bem.
Obs. A venda de bem futuro é chamada venda a non domino, é a venda de algo que
ainda não pertence ao vendedor (art. 1268, §1º, CC). Nesta hipótese, a eficácia do
negócio jurídico fica dependente da posterior aquisição da coisa pelo vendedor.
137
o A repartição das despesas: despesas de escritura e registro são do
comprador; as da tradição são do vendedor. Mas o contrato pode prever de
forma diferente (norma dispositiva).
o Direito de reter a coisa ou preço: cabe ao comprador o primeiro passo, pagar
o preço. Antes disso o vendedor não é obrigado a entregar a coisa. (art. 491,
CC)
Obs. A regra do art. 495, CC é semelhante a do art. 477, CC, sendo a primeira
mais rigorosa, pois exige a insolvência do vendedor (a regra do art. 495 é
aplicada a compra e venda). Ambas as regras tem como objetivo dar
segurança ao comprador (se a situação for inversa, também ao devedor).
De olho na lei!
Vejamos:
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma
das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de
comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se
obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe,
até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia
bastante de satisfazê-la.
Pega a visão!!!
Perda ou deterioração da coisa. A regra é de que a coisa perece com o dono (res
periti domino). Lembrando que o domínio só se transfere com a tradição ou registro.
Logo, se já houve a tradição/registro quem perde é o comprador. Se não houve a
tradição/registro, quem perde é o vendedor. Pega a visão!!! Na venda com reserva de
domínio não se aplica o res perit domino, mas sim o res perit emptoris (a coisa se
perde para o comprador, e não para o dono).
Obs.: Cláusula SOLVE ET REPETE. A cláusula solve et repete, que significa “pague
e depois reclame”, é uma RENÚNCIA À EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO
CUMPRIDO (artigos 476 e 477 do Código Civil) uma vez que, se convencionada, o
138
contratante estará renunciando à defesa, podendo ser compelido a pagar,
independentemente do cumprimento da primeira prestação. Essa cláusula é comum
na lei de licitações nos contratos administrativos, em que se tem as cláusulas de
exorbitância que visam proteger a Administração Pública, e, por conseguinte, a
coletividade.
VENDAS ESPECIAIS
Venda por amostra (ou protótipo) - art. 484, CC. Essa é uma categoria especial de
compra e venda. Nessa situação, o comprador não vê a coisa, ele compra por amostra
ou protótipo (é a compra por catálogo, por internet). Aqui o vendedor garante a
qualidade da coisa, que a coisa que será recebida terá as mesmas características da
amostra. Se for verificada diferença entre a amostra e a coisa, prevalece a amostra.
Venda ad corpus e venda ad mensuram: Somente aplicável na compra e venda de
imóveis. Na venda ad corpus o imóvel é adquirido como um todo (Ex. Chácara Vista
Linda), sendo apenas enunciativa a referência as suas dimensões, que não tem
influência na fixação do preço. Na venda ad mensuram, o preço é estipulado com base
nas dimensões do imóvel, se a área não corresponde às dimensões dadas, cabe ação
ex empto ou ex vendito para exigir a complementação. Se esta não for possível cabe
o ajuizamento da ação redibitória ou quanti minoris.
Pega a visão!
Se a diferença de área não exceder 5% (um vigésimo), presume-se que a venda foi
ad corpus (menção meramente enunciativa).
De olho na lei!
Vide artigos 500 e 501, CC.
Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida
de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não
corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o
comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo
isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento
proporcional ao preço.
§ 1º Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente
enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder de um
vigésimo da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de
provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado o negócio.
§ 2º Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha
motivos para ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao
comprador, à sua escolha, completar o valor correspondente ao preço
139
ou devolver o excesso.
§ 3º Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se
o imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas
enunciativa a referência às suas dimensões, ainda que não conste, de
modo expresso, ter sido a venda ad corpus .
Art. 501. Decai do direito de propor as ações previstas no artigo
antecedente o vendedor ou o comprador que não o fizer no prazo de
um ano, a contar do registro do título.
Parágrafo único. Se houver atraso na imissão de posse no imóvel,
atribuível ao alienante, a partir dela fluirá o prazo de decadência
Cláusulas especiais.
São cláusulas auxiliares ao contrato de compra e venda.
O CC autoriza a inserção de determinadas cláusulas para regular situações
essenciais. São elas:
RETROVENDA: é a cláusula através da qual o vendedor resguarda para si o direito
de comprar o bem imóvel de volta, no prazo máximo de 3 anos. Durante esse prazo,
o vendedor pode a qualquer tempo recuperar o bem, pagando tanto por tanto. Essa
cláusula deve ser expressa, porque ela é oponível a terceiros (quer dizer, se o
comprador já vendeu a coisa para outra pessoa, o vendedor pode ir atrás da coisa
com quem quer que esteja). Dentro do prazo da retrovenda, o que o comprador tem é
propriedade resolúvel. A retrovenda se caracteriza como condição resolutiva expressa.
A retrovenda é uma cláusula resolutiva expressa.
PREFERÊNCIA OU PREEMPÇÃO (preferência convencional): é a cláusula que
obriga o comprador a dar preferência a aquele que lhe vendeu, na eventualidade de
querer vender a coisa. Se a cláusula de preempção estiver registrada, o vendedor tem
oponibilidade erga omnes (o vendedor pode ir buscar seu direito de preferência com
quem quer que esteja). Do contrário, não há direito a anulação (mas somente a perdas
e danos).
Obs. No condomínio a preferência não precisa estar no contrato (preferência legal).
RESERVA DE DOMÍNIO: é um tipo especial de venda de coisa móvel, em que o
vendedor tem a própria coisa vendida como garantia do recebimento do preço. Só a
posse é transferida ao adquirente. A propriedade permanece com o alienante e só
passa aquele após o recebimento integral do preço.
Pega a visão! aqui a coisa se perde para o comprador (e não para o dono – exceção
ao res perit domino, aplicando-se o res perit emptoris).
140
Constituição do devedor em mora = protesto do título ou interpelação judicial. Mas, de
acordo com o STJ, é possível ser extrajudicial.
VENDA A CONTENTO: é clausula que subordina os efeitos da c/v a uma CONDIÇÃO
SUSPENSIVA (evento futuro e incerto). Essa condição é o agrado do comprador.
Trata-se de uma condição suspensiva, qual seja: a confirmação do agrado da coisa
(510). Ex.: venda de vinho.
VENDA SOBRE DOCUMENTOS: é cláusula originária da Lex Mercatoria. Tb
chamada de crédito documentário ou trust receipt, aplicável apenas a bens móveis. A
tradição é substituída pela entrega dos respectivos documentos representativos.
Estando em ordem a documentação, o comprador não pode deixar de realizar o
pagamento alegando defeito na coisa, salvo se esse já estiver provado.
Estipulado o pagamento por estabelecimento bancário, esse o fará à vista dos
documentos, sem verificação da coisa (não responde por ela) apenas negando-se o
estabelecimento bancário a efetuar o pagamento é que o vendedor poderá pretendê-
lo diretamente do comprador.
PACTO DE MELHOR COMPRADOR: cláusula por meio da qual o vendedor guarda
para si o direito de desfazer a compra e venda, no prazo máximo de um ano, se
encontrar um melhor comprador. Essa cláusula especial não é expressa no CC.
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-BA Prova: CESPE - 2019 - TJ-BA - Juiz
de Direito Substituto
O pacto de retrovenda é uma das modalidades de compra e venda mercantis previstas no
Código Civil e tem como principal característica a reserva ao vendedor do direito de, em
determinado prazo, recobrar o imóvel que tenha vendido.
A respeito dessa modalidade contratual, a legislação vigente dispõe que
A. não existe a possibilidade de cessão do direito de retrovenda.
B. a cláusula somente será válida, sendo dois ou mais os beneficiários da retrovenda, se todos
exercerem conjuntamente o pedido de retrato.
C. somente as benfeitorias necessárias serão restituídas, além do valor integral recebido pela
venda.
D. o vendedor, em caso de recusa do comprador em receber a quantia a que faz jus,
depositará o valor judicialmente para exercer o direito de resgate.
E. o prazo máximo para o exercício do direito da retrovenda é de cinco anos.
Gabarito: “D”
141
PROMESSA DE COMPRA E VENDA.
Não exige escritura pública, ainda que o valor do imóvel seja superior a 30 salários
mínimos. Há aproximação entre direito das obrigações e direito das coisas; o compromisso
de compra e venda de bem imóvel levado a registro “embaralha” os efeitos reais e pessoais,
superando a clássica tabela que diferencia os direitos reais dos direitos pessoais patrimoniais
(contratos).
De olho na juris!
Destacamos aqui as principais súmulas dos tribunais superiores sobre compra e
venda.
✓ Súmula 413-STF: O compromisso de compra e venda de imóveis, ainda que não
loteados, dá direito a execução compulsória, quando reunidos os requisitos legais.
✓ Súmula 239-STJ: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro
do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.
✓ Súmula 76-STJ: A falta de registro do compromisso de compra e venda de imóvel não
dispensa a prévia interpelação para constituir em mora o devedor.
✓ Súmula 166-STF: É inadmissível o arrependimento no compromisso de compra e
venda sujeito ao regime do Dec.-Lei 58, de 10.12.1937.
✓ Súmula 412-STF: No compromisso de compra e venda com cláusula de
arrependimento, a devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua restituição em dobro,
por quem o recebeu, exclui indenização maior a título de perdas e danos, salvo os
juros moratórios e os encargos do processo.
✓ Súmula 84-STJ: É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em
alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que
desprovido do registro.
De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público
No Código Civil, para que se dê a resolução contratual por onerosidade excessiva, será
preciso o preenchimento dos requisitos seguintes:
142
A. os contratos devem ser de parcelas sucessivas, ou diferidos no tempo, exigindo-se a
onerosidade excessiva à parte prejudicada e vantagem extrema à outra, mas não a
imprevisibilidade dos acontecimentos.
B. a natureza dos contratos é irrelevante, bem como a vantagem a uma das partes, bastando
a onerosidade excessiva à parte prejudicada e os acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis.
C. os contratos devem ser bilaterais e as prestações sucessivas, bastando a onerosidade
excessiva a uma das partes, sem se cogitar de vantagem à outra parte mas exigindo-se a
imprevisibilidade dos acontecimentos.
D. na atual sistemática civil, basta a onerosidade excessiva, não se cogitando seja de
vantagem à outra parte, seja da imprevisibilidade dos eventos.
E. os contratos devem ser de execução continuada ou diferida; e à onerosidade excessiva a
uma das partes deve corresponder a extrema vantagem à outra, em virtude de
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis.
Gabarito: “B”.
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: MPE-MT Prova: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Substituto
A compra e venda
A. é nula a de ascendente a descendente, salvo se os demais descendentes e o cônjuge do
alienante consentirem com o ato.
B. não admite a fixação do preço em função de índices ou parâmetros, ainda que suscetíveis
de determinação objetiva, pela insegurança jurídica que traria às partes contratantes.
C. já transfere de imediato o domínio, uma vez celebrado o contrato respectivo, em se tratando
de bem móvel.
D. é lícita entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão.
E. só pode ter por objeto coisa atual, ficando sem efeito o contrato se tratar-se de coisa futura,
que poderá não existir.
Gabarito: “D”.
TROCA OU PERMUTA
É o contato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra que não seja
dinheiro = permuta.
Natureza Jurídica
143
Consensual: Aperfeiçoado pela manifestação de vontade
Bilateral: Há direitos e deveres proporcionais
Oneroso: Há sacrifício econômico para ambas as partes
Comutativo: As partes sabem de antemão as prestações a que estão obrigadas.
Partes
As partes são chamadas permutantes ou tradentes.
Objeto
Necessariamente dois bens. Os bens devem ser alienáveis, como na compra e venda.
Se o preço for pago mais da metade em dinheiro, o negócio será de compra e venda.
Enunciado 435 do CJF: O contrato de promessa de permuta de bens imóveis é título
passível de registro na matrícula imobiliária.
Diferenças
Na troca, ambas as prestações são em espécie (coisas são trocadas), enquanto na
compra e venda a prestação do comprador é em dinheiro ou em dinheiro e outra coisa.
Na compra e venda, o vendedor, entregue a coisa vendida, não poderá reavê-la no
caso de não receber o preço, enquanto na troca o tradente terá o direito de repetir o que deu
se a outra parte não lhe entregar o objeto permutado.
144
Não há aplicação do art. 496, p. único, do CC/02, pois há regra específica para a
permuta.
CONTRATO ESTIMATÓRIO.
Conceito
É contrato em que alguém (consignante) transfere ao consignatário bens móveis, para
que o último os venda, pagando um preço de estima; ou devolva os bens, findo o contrato,
dentro do prazo ajustado.
É muito utilizado para a venda de veículos (sujeito deixa seu carro numa loja de
seminovos, para que seja vendido por um determinado preço).
Natureza Jurídica
É contrato bilateral (embora haja corrente no sentido de que se trata de contrato
unilateral – Prof. Simão), oneroso, real (aperfeiçoa-se com a entrega da coisa) e comutativo
(partes conhecem as suas prestações).
O consignante entrega ao consignatário bens móveis para que este realiza a venda
pelo preço estimado (art. 534, CC) ao final do contrato, o consignatário deve pagar o preço
pedido pelo consignante ou devolver-lhe a coisa consignada.
Inadimplemento
Se o consignatário não pagar o consignante, o terceiro de boa-fé não poderá ser
atingido, cabendo execução do contrato (TJSP, AC 0071276-02.2007.8.26.0114).
Disposição da Coisa
O consignante não pode dispor da coisa antes de lhe ser ao menos comunicada a
restituição.
Na fluência do lapso contratual, não poderá pretender a restituição da coisa, nem
perturbar a posse direta do consignatário, sob pena de sujeitar-se aos interditos possessórios.
Há limitação da propriedade do consignante, que é resolúvel.
Coisa
O consignatário não se exonera da obrigação de pagar o preço ainda que a coisa
pereça por fato a ele não imputável – responde pela coisa mesmo em razão de caso fortuito
ou força maior.
145
A coisa não pode ser penhorada ou sequestrada pelos credores do consignatário. Isso
porque, a propriedade da coisa não é sua.
Obrigação Alternativa
A obrigação é alternativa (pagar ou devolver) = em caso de falência do devedor, o
consignante pode retomar as coisas restantes, sem necessitar aguardar, quanto a elas, o
concurso de credores (STJ, REsp 710.658/RJ).
A obrigação não é considerada facultativa, pois no caso de inadimplemento, pode o
consignante ajuizar ação de reintegração de posse ou cobrar o preço. Se a obrigação fosse
facultativa, sendo a entrega da coisa mera faculdade do devedor, o consignante não teria a
ação de reintegração de posse. Há autores que entendem ser obrigação facultativa
(entendimento minoritário).
Ademais, como nas obrigações alternativas, caso a coisa se deteriore ou se perca, o
devedor ainda é obrigado ao preço, mesmo em razão de força maior ou caso fortuito.
CONTRATO DE DOAÇÃO
Conceito
É o contrato pelo qual uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens
ou vantagens para o de outra pessoa (ato inter vivos), sem a presença de qualquer
remuneração.
É inválida a doação realizada por meio de procurador se o instrumento procuratório
concedido pelo proprietário do bem não mencionar o donatário, sendo insuficiente a
declaração de poderes gerais na procuração. STJ. 4ª Turma. REsp 1.575.048-SP, Rel. Min.
Marco Buzzi, julgado em 23/2/2016 (Info 577).
Natureza Jurídica
É contrato benéfico (e, por isso, só se admite interpretação restritiva), unilateral,
gratuito, consensual, comutativo, formal e solene (deve ser escrito).
Doação manual (CC, art. 541, parágrafo único) doação de bens móveis de pequeno
valor = natureza real.
Pequeno valor: em geral até 10% do patrimônio do doador no momento da liberalidade
- STJ, REsp 155.240/RJ.
146
Enunciado 622: Para a análise do que seja bem de pequeno valor, nos termos do que
consta do art. 541, parágrafo único, do Código Civil, deve-se levar em conta o patrimônio do
doador.
A doação manual é de forma livre. Pode ser verbal, desde que seguida incontinenti da
tradição.
De acordo com Maria Helena Diniz e Pablo Stolze, no que diz respeito à doação modal,
entende-se que é contrato unilateral imperfeito, pois o encargo não é contraprestação, mas
um ônus que, caso não cumprido, traz consequências ao donatário. De todo modo, trata-se
de contrato oneroso.
Há posição no sentido de que seria um contrato bilateral (Nelson Rosenvald, Rosa
Maria Andrade Nery e José Fernando Simão).
Doação = transferência de vantagens patrimoniais (objetivo) + animus donandi
(subjetivo).
Imóvel de valor superior a 30 salários mínimos: o contrato é formal e solene, pois é
necessária escritura pública.
Imóvel de valor inferior a 30 salários mínimos: o contrato é formal e não solene, pois
nos termos do art. 541, CC/02, deve haver ao menos forma escrita.
Doação de Móvel: é formal e não solene, nos termos do art. 541, CC/02 (é a diferença
para o contrato de compra e venda – nem formal e nem solene).
Doação Verbal: somente se admite a doação verbal de bem de pequeno valor, se logo
após a declaração ocorrer a entrega da coisa (doação manual – art. 541, p. único, CC/02).
Objeto
Todo e qualquer bem de conteúdo econômico pode ser objeto de doação.
É possível a doação a non domino = doação de bens que ainda não pertencem ao
doador, sujeitando-se à aquisição do bem por este (promessa de doação).
Espécies
Pura e Simples
Típica = não há qualquer restrição ou encargo ao beneficiário, liberalidade total.
Em relação à necessidade de aceitação na doação pura, a doutrina divide-se. Para
uma parcela, a aceitação da doação encontra-se no campo da eficácia do negócio
jurídico e não no campo da validade. Há, contudo, quem entenda que a aceitação é
elemento essencial do contrato.
O doador não é obrigado a juros moratórios, nem sujeito à evicção ou aos vícios
147
redibitórios (unilateral). Exceções:
o Doação remuneratória;
o Doação contemplativa de casamento;
o Doação com encargo (até o limite do serviço prestado e do ônus imposto).
Onerosa
Modal, com encargo ou gravada = doador impõe incumbência ou dever ao donatário.
Não suspende a aquisição ou o exercício do direito.
Encargo em favor de terceiro: pode o doador ou, se falecido, o terceiro exigir o seu
cumprimento.
Encargo em favor da coletividade: doador ou, se falecido, o MP pode exigir seu
cumprimento.
A revogação, só o doador pode requerer.
Aquilo que ultrapassar o valor do encargo é doação pura.
Remuneratória
É retribuição a serviços prestados, cujo pagamento não pode ser exigido (ex: dívida
do médico prescrita, retribuição a quem lhe salvou a vida em acidente...). Em regra,
não constitui ato de liberalidade, havendo remuneração pela prestação de serviços
realizada pelo donatário.
Cabe alegação de vício redibitório.
Não se revogam por ingratidão doações puramente remuneratórias.
As doações remuneratórias de serviços feitos a ascendente não estão sujeitas a
colação.
Mista -Há inserção de liberalidade em modalidade diversa de contrato (ex: compra e
venda por preço vil).
Contemplativa - é realizada em contemplação do merecimento do donatário,
mencionando o doador, expressamente, o motivo da liberalidade. Ex: alguém que doa
vários livro a um professor por admirar seu trabalho.
ACEITAÇÃO
A aceitação é indispensável para o aperfeiçoamento do contrato, podendo ser:
• Expressa – aquela que consta no próprio instrumento, simultânea ou posteriormente.
Pega a visão! A Doação ao nascituro valerá se aceita pelo representante legal (CC,
art. 542). Nesse caso, a aceitação está no plano da validade. Ademais, a eficácia do
contrato depende do nascimento com vida, havendo, em verdade, uma doação
condicional.
148
• Tácita – aquela extraída pelo comportamento do donatário (ex: venda do bem).
• Presumida – ocorre quando por exemplo o doador fixar prazo para aceitação, correndo
in albis (CC, art. 539) - silêncio do donatário importa anuência nas doações puras (sem
ônus ao aceitante).
• Ficta = em favor do incapaz. Dispensa-se a aceitação no caso de doação pura (CC,
art. 543).
SUJEITOS
São as partes do contrato, neste caso o doador e o donatário. O doador precisa ser
capaz, sob pena de nulidade (absolutamente incapaz) ou anulabilidade (relativamente
incapaz) – o incapaz NÃO pode doar nem mesmo assistido ou representado, só podendo
fazê-lo com autorização judicial e após ouvido o Ministério Público.
A doação de bem imóvel pela pessoa casada necessita da vênia conjugal, mesmo dos
bens que não entram na comunhão (visto que os frutos são comuns), salvo separação
convencional de bens (CC, art. 1.647). Para alegar anulação tem que se atentar ao prazo
decadencial de 2 anos, contado do final do matrimônio.
De olho na juris!
É anulável a doação feita à concubina (CC, art. 550), salvo separação de fato pretérita
(STJ, REsp 408.296/RJ). Aqui há bom exemplo para entender o instituto da simulação: sujeito
casado, porém separado de fato, faz doação para a mãe da concubina (pensando que se
doasse para ela diretamente acarretaria nulidade). A doação à genitora da concubina é nula,
haja vista o negócio ter sido simulado (a intenção real era doar para a concubina); todavia, o
negócio que se dissimulou (doação à própria concubina) subsiste, porque é válido na
substância (STJ autoriza) e na forma.
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-PA Prova: CESPE - 2019 - TJ-PA - Juiz
de Direito Substituto.
Daniel, casado sob o regime de comunhão parcial de bens e pai de uma filha, manteve um
relacionamento extraconjugal até falecer. No período desse relacionamento, deu de presente
de aniversário à concubina um automóvel que havia adquirido antes do casamento. No dia do
enterro de Daniel, a concubina compareceu ao velório e deu à esposa e à filha de Daniel
conhecimento da relação extraconjugal que manteve com ele e da doação realizada.
Acerca dessa situação hipotética, assinale a opção correta, conforme o Código Civil.
149
A. A doação realizada foi perfeita e eficaz, não cabendo questionamento sobre o negócio
jurídico, haja vista o regime de bens adotado pelos cônjuges e a natureza do bem doado.
B. Apenas a filha do de cujus poderá mover ação anulatória da doação, no prazo decadencial
de dois anos, contados do falecimento de Daniel.
C. A viúva ou a filha do de cujus poderão mover ação anulatória da doação, no prazo
decadencial de dois anos, contados do falecimento de Daniel.
D. A viúva ou a filha do de cujus poderão mover ação anulatória da doação, no prazo
prescricional de dois anos, contados do falecimento de Daniel
E. A viúva ou a filha do de cujus poderão mover ação anulatória da doação, no prazo
prescricional de dez anos, contados do falecimento de Daniel.
Gabarito: “C”.
PROMESSA DE DOAÇÃO
É o pré-contrato da doação. Tem existência e validade, controvertendo-se acerca de
sua eficácia (exigibilidade); uma coisa é a validade da doação e outra é saber se é passível
de execução específica. Importante rememorar a Escada Ponteana (Existência, Validade e
Eficácia). Há dois posicionamentos sobre o tema:
• 1º - Venosa, Silvio Rodrigues e Caio Mario; STJ, REsp 720.626 - inexigível. Doação
pura é liberalidade (animus donandi no momento da doação), só havendo promessa
nas doações onerosas = “admitir a promessa de doação equivale a concluir pela
possibilidade de uma doação coativa, incompatível, por definição, com um ato de
liberalidade” .
• 2ª - Carlos Roberto Gonçalves, Washington de Barros Monteiro e Tartuce - CC, art.
462 e STJ, REsp 742.048/RS e REsp 125.859 - exigível = a liberalidade se manifesta
no momento da promessa, podendo a sentença obrigar ao cumprimento ou a perdas
e danos, especialmente em casos específicos (ex: promessa de doação aos filhos no
ínterim da separação do casal). Enunciado 549: A promessa de doação no âmbito da
transação constitui obrigação positiva e perde o caráter de liberalidade previsto no art.
538 do Código Civil.
150
É possível que a doação de rendas seja estipulada após a morte do doador, onerando
os herdeiros até os limites da herança. Trata-se de exceção à proibição do pacta corvina (art.
426, CC/02).
Consiste em uma doação de trato sucessivo, em que o doador estipula rendas a favor
do donatário. Em qualquer caso, não poderá ultrapassar a vida do donatário (art. 166, VII, do
CC).
→ Doação Remuneratória
Em contraprestação a serviços cuja remuneração é juridicamente inexigível (obrigação
natural). Se a remuneração é exigível trata-se de pagamento. Não se aplica revogação por
ingratidão e o doador responde pelos vícios redibitórios e pela evicção.
151
casamento, será válida. Nesse sentido, há alguns julgados mais espaçados pelos tribunais a
exemplo do TJSP (AP 546.548.4-7). Porém, é tema polêmico.
A doutrina clássica – Caio Mário e Washington de Barros Monteiro se posicionava no
sentido de que não teria a possibilidade de doação entre os cônjuges na separação
obrigatória, pois seria configurada na realidade uma espécie de fraude ao regime de bens.
Contudo, hodiernamente a inclinação é outra, visto que:
• Fraude não se presume;
• É possível ação de alteração de regime; e
• Tem-se aplicado a Súmula STF 377 para comunicação, nesse regime, dos bens
havidos durante o casamento (Ver STJ, AgRg 194.325/MG).
→ Doação Conjuntiva
Consiste na doação realizada em comum para mais de uma pessoa. A doação se
entende distribuída em igualdade, salvo se diversamente dispuser o doador.
Em regra, não há direito de acrescer, mas doador pode dispor de forma diversa. Sendo
marido e mulher, a regra é acrescer (direito de acrescer legal) –o cônjuge supérstite ficará
com a totalidade da doação, não passando a parte do falecido aos seus herdeiros.
Na hipótese da doação feita a somente um dos cônjuges, não se comunicará, ainda
que na comunhão universal.
A doação dispensa anuência dos demais descendentes e cônjuge.
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-SC Prova: CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz
Substituto
A doação de determinado bem a mais de uma pessoa é denominada
A. contemplativa.
B. mista.
C. conjuntiva.
D. divisível.
E. híbrida.
Gabarito: “C”.
→ Doação Inoficiosa
152
Presente no art. 549, CC, trata-se daquela doação que ultrapassa o limite que o
doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. É a doação que prejudica
a legítima.
É nula apenas no que ultrapassou o limite (consoante o Princípio da conservação dos
contratos).
A ação anulatória (ação de redução) pode ser manejada pelos herdeiros ainda durante
a vida do doador (STJ, REsp 7.879/SP). A ação é constitutiva negativa. Há divergência em
relação ao prazo prescricional; para alguns, a ação é imprescritível; para outra parcela da
doutrina, contudo, a ação sujeita-se a prazo prescricional de 10 anos (prazo geral previsto no
Código Civil).
Têm legitimidade para ajuizar a ação os herdeiros necessários do doador.
LIMITAÇÕES
→ Doador Insolvente
Ou reduzido à insolvência pela doação. Haverá fraude contra credores (anulação via
ação pauliana).
→ Doação Universal
Trata-se de doação de todos os bens, ela é considerada nula, se não houver reserva
de parte ou rendas para subsistência do doador, em consonância com o art. 548, CC (Teoria
do patrimônio mínimo).
Não haverá a restrição caso haja reserva de usufruto para o doador. A promessa de
assistência pelo donatário NÃO basta a afastar a nulidade. A nulidade recai sobre toda a
153
doação. Cabe intervenção do Ministério Público e, inclusive, o juiz pode declarar de ofício tal
nulidade.
→ Doação ao Cúmplice
É anulável pelo cônjuge ou, falecendo esse, pelos herdeiros necessários, até 2 anos
depois de dissolvida a sociedade conjugal (a doutrina defende que melhor seria a adoção da
teoria da actio nata – conhecimento).
Só se anula em caso de adultério.
Curador não pode mover a ação, mas o prazo não corre em desfavor do curatelado.
Sujeito passivo é o donatário (cúmplice do adúltero) ou seus herdeiros.
REVOGAÇÃO
Pode ser por:
• Anulação;
• Ingratidão do donatário; e
• Inexecução do encargo
Cláusula derrogatória ou derrogativa (retira o direito do doador de revogar doção), ou
seja, nula de pleno direito.
Anulação
Fala-se em anulação da doação nos seguintes casos:
• Vício de consentimento (erro, coação).
• Vício de validade (parte incapaz; objeto ilícito, impossível ou indeterminável;
inobservância forma legal).
• Inoficiosidade (prejudica a legítima)
• Universal (de todos os bens)
• Ao cúmplice de adultério
Descumprimento do Encargo
• Prazo fixado significa mora automática (ex re).
154
• Quando não houver prazo fixado o descumprimento ocorre pela interpelação, com
prazo razoável para a execução (ex personae).
A força maior afasta a culpa e a mora.
A revogação será de toda a doação, não só da parte onerosa – é ação personalíssima,
isto é, só o doador pode revogar a doação (outros legitimados podem somente pedir o
cumprimento).
Havendo mais de um donatário e sendo indivisível o encargo, o inadimplemento é
considerado total.
O prazo prescricional é de 10 anos (STJ, REsp 231.945/SP).
Ingratidão
Dá-se quando:
De acordo com a doutrina clássica entende-se que o rol seria taxativo, todavia,
excepcionalmente o juiz pode admitir outras hipóteses de mesma natureza, pela tipicidade
finalística (ex: art. 122 do CP) (Enunciado 33 JDC).
155
Entretanto, obriga a pagar frutos posteriores e, quando não possa restituir em espécie
as coisas doadas, a indenizá-la pelo meio termo de seu valor. O prazo para revogação é
decadencial de 1 ano de quando o doador tomar ciência do fato e da autoria (actio nata).
Pega a visão!
Não confundir o legitimado para revogação (o doador) com o legitimado para exigir a
execução do encargo da doação (que pode ser o doador, terceiro ou o Ministério Público,
caso o encargo seja de interesse geral).
Pode haver o perdão antes da morte do doador, o que inviabiliza a ação se o doador
não morreu imediatamente significa que ele teve a oportunidade de mover a ação e não o fez.
Se não puder devolver a coisa doada (ex: transferida a terceiro – os direitos adquiridos
por terceiros não são prejudicados pela revogação) – indenizará pelo valor médio = aquele
entre o maior valor que a coisa atingiu e o menor a que ela desceu no período.
• Remuneratórias
• Com encargo já cumprido
• Relacionadas com o cumprimento de obrigação natural ou incompleta, como, por
exemplo, gorjetas. propter nuptias
156
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: MPE-PR Órgão: MPE-PR Prova: MPE-PR - 2019 - MPE-PR - Promotor
Substituto
Assinale a alternativa incorreta:
A. A doação de um cônjuge a outro importa adiantamento do que lhe cabe por herança.
B. O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao
donatário.
C. É anulável a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a
subsistência do doador.
D. É nula é a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da
liberalidade, poderia dispor em testamento.
E. A doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuída entre elas por igual,
salvo declaração em contrário.
Gabarito: “C”.
Conceito
Segundo o artigo 565 do CC, na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder
à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa
retribuição.
Classificação
Oneroso: Gera vantagens econômicas para o contratante e o contratado e se caracteriza pelo
pagamento de aluguéis;
Comutativo: As partes previamente conhecem, previamente, de seus efeitos e resultados, que
são certos e determinados;
Consensual: Se torna perfeito e acabado com a simples manifestação de vontade,
independentemente da entrega do bem;
Instantâneo ou Trato Sucessivo: Poderá ser tanto por tempo determinado, quanto por tempo
indeterminado,
Elementos Caracterizadores
157
Objeto: faz-se mister alcançar bens infungíveis, diante da obrigação contratual de
restituir a coisa após o término do contrato, o que não poderia ocorrer se a coisa fosse fungível
(substituível, ou consumível pelo uso). Excepcionalmente admite-se a locação de bens
fungíveis destinados à ornamentação (enfeites de festas ou cerimônias). Aqui haverá posterior
obrigação de devolução do bem.
Preço: importante esse tópico pois se não fosse preciso pagar o aluguel, o contrato
seria de empréstimo. O preço deve ser sério, indicado pelas partes de maneira leal e
transparente, inclusive no que tange aos reajustes, nos limites da função social dos contratos
(art. 421, CC) e da boa-fé (art. 422, CC).
Consentimento: a autonomia privada e a vontade livre devem estar presentes. As
partes precisam ser capazes e legitimadas à prática do ato. Um importante detalhe: o locador
não precisa ser proprietário para poder alugar a coisa. Basta que ele possua poderes de
administração que permitam alugar a coisa para, assim, estar autorizado a firmar o ajuste.
Prazo: o contrato de locação pode ser estipulado ou por tempo determinado, ou por
tempo indeterminado. Nas locações de imóveis urbanos, na hipótese do prazo ser maior que
dez anos, será preciso a vênia conjugal, nos moldes do art. 3º da Lei 8.245/91. Em não
havendo a vênia conjugal o cônjuge não estará obrigado a observar o prazo excedente.
Obrigações do Locador
São muitas. A título ilustrativo cite-se o artigo 568 do CC, pelo qual o locador
resguardará o locatário dos embaraços e turbações de terceiros, que tenham ou pretendam
ter direitos sobre a coisa alugada, e responderá pelos seus vícios, ou defeitos, anteriores à
locação. Bem como é obrigação do locador dar a posse em estado de uso regular, além de
assegurar, durante o tempo do contrato, o uso manso e pacífico da coisa, respondendo pelos
vícios de defeitos anteriores, respeitando o aludido prazo de vigência do ajuste de modo a
não postular a posse no aludido período. Se, durante a locação, a coisa alugada deteriorar
sem culpa do locatário a este caberá pedir redução proporcional do aluguel, ou resolver o
contrato, caso já não sirva a coisa para o fim a que se destinava.
Obrigações do Locatário
O locatário não pode modificar a finalidade da coisa, como disciplina o art. 570 do CC.
Se o locatário empregar a coisa em uso diferente do pactuado, ou do a que se destina, ou se
ela se danificar por comportamento abusivo do locatário, poderá o locador, ademais de
rescindir o contrato, requerer perdas e danos. Assim, deve o locatário se servir da coisa
alugada para os usos convencionados ou presumidos, conforme a natureza dela e as
158
circunstâncias, e também tratá-la com o mesmo cuidado como se sua fosse, dar
conhecimento ao locador de esbulho ou turbação praticado por terceiro, cumprindo-lhe ainda
restituir a coisa, finda a locação, no estado em que recebeu, ressalvadas as deteriorações
naturais ao uso regular, e, principalmente, pagar o aluguel de forma pontualmente ajustada
ou, na falta de ajuste, segundo o costume do lugar.
De olho na juris!
Sobre o tema vale salientar que o STJ possui entendimento consolidado na Súmula
335, vejamos:
159
Súmula 335, STJ. “Nos contratos de locação, é válida a cláusula
de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de
retenção”.
De olho na lei!
Em contrapartida, veja o que diz o art. 11 da citada lei
Art. 11. Morrendo o locatário, ficarão sub - rogados nos seus
direitos e obrigações:
I - nas locações com finalidade residencial, o cônjuge
sobrevivente ou o companheiro e, sucessivamente, os herdeiros
necessários e as pessoas que viviam na dependência
econômica do de cujus , desde que residentes no imóvel;
II - nas locações com finalidade não residencial, o espólio e, se
for o caso, seu sucessor no negócio.
CONTRATO DE EMPRÉSTIMO
Conceito e Classificação
160
Trata-se o contrato de empréstimo da entrega de uma coisa a outrem, de forma
gratuita, com autorização de uso. Este gênero (empréstimo) pode ser dividido em duas
espécies:
• Comodato: relativo aos bens infungíveis
• Mútuo: relacionado aos bens fungíveis.
Disciplinado entre os artigos 579 e 586 do CC, o empréstimo se caracteriza por ser um
contrato informal, não escrito, gratuito, temporário, unilateral, comutativo e real, pois, neste
particular, apenas com a tradição da coisa se aperfeiçoa. De acordo com o artigo 579 do CC,
não havendo a entrega do bem, se fala em comodato, mas somente em promessa deste.
O comodato pode recair sobre bens imóveis ou móveis, desde que insubstituíveis. É
empréstimo de uso. Por ser gratuito, a fidúcia é da essência do ajuste. Consiste em contrato
intuitu personae. O dono da coisa, que a empresta, é chamado comodante; quem recebe em
empréstimo comodatário.
De acordo com o artigo 580 do CC, não poderão firmar comodato os tutores, curadores
e demais administradores de patrimônio alheio nas hipóteses e especificidades ali indicadas
e por razões intuitivas, afinal de contas estes sujeitos se encontram em posição de nítida
vantagem em favor de seus administrados. Além do que, seria configurada a benesse com
patrimônio alheio, o que não deve ser tolerado, em regra. Interessante notar, em consonância
com o art. 583 do CC que as excludentes da responsabilidade por caso fortuito e força maior
não se aplicam à hipótese do comodato, devendo o comodatário empregar diligência
prioritária ao salvamento da coisa emprestada, em prejuízo do próprio patrimônio.
161
Consiste em um negócio real, unilateral, gratuito, comutativo e não solene disciplinado
no art. 586 do CC, cujo objeto consiste no empréstimo para uso (consumo da coisa). Daí
porque se fala em empréstimo de bem fungível e consumível. Quem recebe a coisa
emprestada (mutuário) não se obriga a devolver a mesma. A obrigação é outra, tal seja:
entrega de bem pertencente ao mesmo gênero, quantidade e qualidade. Desta forma, se a
coisa emprestada é fungível e consumível o mutuário pode lhe destruir na substância. Isto
ocorre porque o mutuário se torna proprietário do bem recebido, mediante tradição e, a partir
disto, assume os riscos pelo fortuito (art. 587, CC).
Essa questão da gratuidade tem como exceção significativa o mútuo feneratício (de
dinheiro), prevendo o pagamento de juros, que nada mais é do que a remuneração do capital.
O Enunciado 34 do CJF/STJ é transparente nesse assunto: “No novo Código Civil, quaisquer
contratos de mútuo destinados a fins econômicos presumem-se onerosos (art. 591) ficando a
taxa de juros compensatórios limitada ao disposto no art. 406, com capitalização anual”.
De olho na juris!
Por fim, faz-se mister relembrar o conteúdo da súmula 603 do STJ segundo a qual “É
vedado ao banco mutuante reter, em qualquer extensão, os salários, vencimentos e/ou
proventos de correntista para adimplir o mútuo (comum) contraído ainda que haja cláusula
contratual autorizativa, excluído o empréstimo garantido por margem salarial consignado, com
162
desconto em folha de pagamento, que possui regramento legal específico e admite a retenção
de percentual”.
CONTRATO DE DEPÓSITO
Conceito
De acordo com o art. 627 do CC, pelo contrato de depósito recebe o depositário um
objeto móvel, para guardar, até que o depositante o reclame. Neste ajuste, a obrigação
existente será a de guarda de bem móvel e corpóreo, com necessidade de posterior
restituição, seja por imposição da lei (legal) ou decorrente da vontade das partes
(convencional).
Classificação
O contrato de depósito é classificado como contrato de natureza real, visto que apenas
se aperfeiçoa com a entrega da coisa móvel e corpórea, isto é, através da tradição.
Espécies
→ Depósitovoluntário
A primeira hipótese de depósito é denominada de voluntário por emanar da livre
vontade das partes, dividindo-se em:
163
• Regular: quando se relaciona à bens infungíveis, hipótese na qual se tem,
concretamente, a garantia jurídica da possibilidade de restituição específica do aludido
bem.
• Irregular: no caso de bens fungíveis, isto é, substituíveis e que se consumem pelo uso,
a exemplo do depósito de dinheiro (depósito bancário).
De olho na lei!
Destrinchando....
Segundo o art. 646 do CC, o depósito voluntário provar-se-á por escrito, surgindo nisto
a necessidade de se saber se o aludido contrato poderia ser classificado como formal ou não.
Pode-se afirmar que a exigência de o aludido pacto se provar por escrito não significa que o
mesmo seria solene, afinal de contas a solenidade é aspecto jurídico analisado no plano da
164
validade (pressuposto previsto no artigo 104 do Código Civil), enquanto que a prova gira em
torno da eficácia (efeitos).
Diante dos artigos acima transcritos e em consonância com a doutrina pacificada, tem-
se o depósito legal previsto no citado inciso I, do artigo 647, como aquele realizado no
desempenho de uma obrigação decorrente de lei, como, por exemplo, no caso previsto no
artigo 641 do Código (depósito legal em caso de incapacidade superveniente do depositário
e para os casos nos quais o depositante se nega a receber a coisa).
O depósito miserável (inciso II) decorre de fatos naturais extraordinários, como a força
maior, podendo-se ilustrar com as hipóteses de enchentes, oportunidade na qual aquele que
sofre com o evento retira os bens móveis que possui da casa abalada e os coloca em outra
residência, onde não haja risco de perecimento destes.
165
Consiste em contrato através do qual uma pessoa se obriga a realizar certas atividades
a uma outra, por meio de remuneração. É negócio jurídico típico e nominado, consensual, não
solene, informal, sinalagmático (leia-se: os contratantes são ao mesmo tempo credores e
devedores), comutativo (a equivalência entre a prestação e a contraprestação já é conhecida
de antemão), personalíssimo (a morte do contratante extingue o pacto), de trato sucessivo,
através do qual o prestador avoca obrigação de fazer e o tomador deste serviço obrigação de
pagar em retribuição.
Segundo leciona o art. 593 do CC “A prestação de serviço, que não estiver sujeita às
leis trabalhistas ou a lei especial, reger-se-á pelas disposições deste Capítulo”.
Objeto
Ainda sobre o objeto deste contrato é muito importante recordar a regra prevista no
art. 601 do CC, segundo a qual “Não sendo o prestador de serviço contratado para certo e
determinado trabalho, entender-se-á que se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com
as suas forças e condições”.
Forma e a Assinatura
Porém, o legislador civilista expressou sensibilidade apurada com este tema relativo à
forma do contrato de prestação de serviços, com aqueles que não souberem ler.
Nos exatos termos do art. 595 do CC. “No contrato de prestação de serviço, quando qualquer
das partes não souber ler, nem escrever, o instrumento poderá ser assinado a rogo e subscrito
por duas testemunhas”.
166
Retribuição
Normalmente, o contrato de prestação de serviços é oneroso. Isto quer dizer que em
linha de princípio aquele que realiza a atividade, presta o serviço, deve receber uma
retribuição, uma remuneração.
De olho na lei!
Art. 596. Não se tendo estipulado, nem chegado a acordo as
partes, fixar-se-á por arbitramento a retribuição, segundo o
costume do lugar, o tempo de serviço e sua qualidade.
Art. 606. Se o serviço for prestado por quem não possua título
de habilitação, ou não satisfaça requisitos outros estabelecidos
em lei, não poderá quem os prestou cobrar a retribuição
normalmente correspondente ao trabalho executado. Mas se
deste resultar benefício para a outra parte, o juiz atribuirá a quem
o prestou uma compensação razoável, desde que tenha agido
com boa-fé.
Parágrafo único. Não se aplica a segunda parte deste artigo,
quando a proibição da prestação de serviço resultar de lei de
ordem pública.
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-PA Prova: CESPE - 2019 - TJ-PA - Juiz
de Direito Substituto.
Diogo contratou Pedroza para a prestação de serviços de advocacia. No decurso da execução
do contrato, com diversas atividades já realizadas por Pedroza, Diogo tomou conhecimento
de que ele não era advogado e não possuía, portanto, licença para exercer a referida
profissão.
Diante dessa situação hipotética, assinale a opção correta, nos termos do Código Civil.
A. Pedroza terá direito a receber a contraprestação financeira pela prestação de serviço já
realizada, de forma equiparada a um advogado, desde que seja comprovado que as
atividades foram cumpridas de maneira escorreita e que ele desconhecia a necessidade de
especial habilitação para exercer serviços de advocacia.
B. Pedroza terá direito a receber a contraprestação financeira pela prestação de serviço já
realizada, de forma equiparada a um advogado, desde que seja comprovado que as
atividades foram cumpridas de maneira escorreita, sendo irrelevante, no que se refere ao
167
direito à contraprestação, o fato de ele desconhecer a necessidade de especial habilitação
para exercer serviços de advocacia.
C. Pedroza terá direito a receber uma compensação financeira pela prestação de serviço já
realizada, mas não de forma equiparada a um advogado, se comprovar que as atividades
foram cumpridas de maneira escorreita e que desconhecia a necessidade de especial
habilitação para exercer serviços de advocacia.
D. Pedroza terá direito a receber uma compensação financeira pela prestação de serviço já
realizada, mas não de forma equiparada a um advogado, se comprovar que as atividades
foram cumpridas de maneira escorreita, sendo irrelevante, para fins de direito à compensação,
o fato de ele desconhecer a necessidade de especial habilitação para exercer serviços de
advocacia.
E. Pedroza não terá direito a receber contraprestação ou compensação financeira pela
prestação do serviço de advocacia, independentemente de as atividades terem sido
cumpridas de maneira escorreita e de ele ter conhecimento da necessidade de especial
habilitação para o exercício de serviços de advocacia.
Gabarito: “E”.
Duração do Contrato
Nestes termos, o art. 598 do CC: “A prestação de serviço não se poderá convencionar
por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por causa o pagamento de dívida de quem
o presta, ou se destine à execução de certa e determinada obra. Neste caso, decorridos quatro
anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não concluída a obra”.
Art. 606. Se o serviço for prestado por quem não possua título
de habilitação, ou não satisfaça requisitos outros estabelecidos
169
em lei, não poderá quem os prestou cobrar a retribuição
normalmente correspondente ao trabalho executado. Mas se
deste resultar benefício para a outra parte, o juiz atribuirá a quem
o prestou uma compensação razoável, desde que tenha agido
com boa-fé.
Parágrafo único. Não se aplica a segunda parte deste artigo,
quando a proibição da prestação de serviço resultar de lei de
ordem pública.
CONTRATO DE EMPREITADA
Conceito – Visão geral
O contrato de empreitada está previsto entre os arts. 610 a 626 do CC/02.
De olho na lei!
CAPÍTULO VIII
Da Empreitada
171
Art. 620. Se ocorrer diminuição no preço do material ou da mão-
de-obra superior a um décimo do preço global convencionado,
poderá este ser revisto, a pedido do dono da obra, para que se
lhe assegure a diferença apurada.
Destrinchando....
172
Consiste em negócio jurídico através do qual uma das partes – empreiteiro ou
prestador – obriga-se a fazer ou a mandar fazer determinada obra, mediante uma determinada
remuneração, a favor de outrem – dono da obra ou tomador.
Como visto acima no art. 610 do CC “O empreiteiro de uma obra pode contribuir para
ela só com seu trabalho ou com ele e os materiais”. Para além disto, a doutrina sinaliza que
a empreitada se difere porque a produção de um resultado final é pressuposto intrínseco a
este tipo de ajuste, aspecto que a diferencia, por exemplo, da prestação de serviços, pois esta
envolverá atividade meio (e não obrigação de resultado).
Assim sendo, empreiteiro, é aquele que executa a obra em favor de outra pessoa,
chamada dono da obra, que se beneficiará por esta atividade. Malgrado a usual expressão
dono da obra, observe-se que a empreitada poderá envolver também a realização de uma
atividade fora da construção civil, como, por exemplo, para bens imateriais (criar um site, uma
propaganda comercial, etc).
Isto posto, um dos primeiros cuidados que se deve ter quando do estudo de um
contrato de empreitada será se o seu objeto envolverá apenas o trabalho, ou se haverá
obrigação do empreiteiro não apenas com o trabalho, como também pelos materiais que serão
utilizados.
Pega a visão!!
173
o fornecimento e uso dos materiais pelo empreiteiro que expressamente realize este ajuste
no contrato de empreitada, para que não reste dúvidas.
A legislação cível, como visto acima, no início da disciplina sobre a empreitada, faz
ressalva de que esse contrato não se confunde com a elaboração de um projeto (art. 610, §
2º)
Modalidades de Empreitada
De acordo com Código Civil, a empreitada poderá ser somente de lavor (empreitada
de obra), ou poderá ser empreitada mista (de materiais, quando o empreiteiro assume além
do trabalho, a obrigação de fornecer os materiais). Ou seja, o contrato de empreitada pode
ocorrer com, ou sem a obrigação de o empreiteiro fornecer materiais.
Reitera-se de acordo com o art. 615 do CC que “Concluída a obra de acordo com o
ajuste, ou o costume do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. Poderá, porém, rejeitá-la, se o
empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas
em trabalhos de tal natureza”.
O art. 616 do CC permite ao dono da obra a “em vez de enjeitá-la, recebê-la com
abatimento no preço”. Na prática, se ocorreu inadimplemento contratual por parte do
empreiteiro, a consequência jurídica disso será surgir para o credor duas opções: de negar a
coisa, ou exigir o abatimento do preço.
Preço
Entretanto, a norma civil traz três exceções nas quais será possível discutir a
modificação do preço, mesmo que se trate de empreitada por preço certo, tais sejam:
Além dessas hipóteses, entende-se que o empreiteiro deverá assumir todos os custos
pelas modificações do projeto (não contratadas e executadas por ele), isentando-se o dono
da obra no particular, afinal de contas, a essência desta empreitada é por preço determinado.
De acordo com art. 619 do CC: “Salvo estipulação em contrário, o empreiteiro que se
incumbir de executar uma obra, segundo plano aceito por quem a encomendou, não terá
direito a exigir acréscimo no preço, ainda que sejam introduzidas modificações no projeto, a
não ser que estas resultem de instruções escritas do dono da obra”.
175
Porém, como visto, haverá uma terceira situação atípica e ressalvada pelo parágrafo
único do art. 619: “Ainda que não tenha havido autorização escrita, o dono da obra é obrigado
a pagar ao empreiteiro os aumentos e acréscimos, segundo o que for arbitrado, se, sempre
presente à obra, por continuadas visitas, não podia ignorar o que se estava passando, e nunca
protestou”.
Nos termos do art. 620 do CC: “Se ocorrer diminuição no preço do material ou da mão
de obra superior a um décimo do preço global convencionado, poderá este ser revisto, a
pedido do dono da obra, para que se lhe assegure a diferença apurada”.
Ademais, é fundamental tem ciência que sem anuência de seu autor do projeto, não
poderá o proprietário da obra introduzir modificações, ainda que a execução seja confiada a
terceiros. A ressalva que se fará a este respeito decorrerá apenas do que o legislador
denomina motivos supervenientes ou razões de ordem técnica, a comprovar uma
“inconveniência ou a excessiva onerosidade de execução do projeto em sua forma originária”
(CC, art. 621).
A empreitada por unidade de medida (por medição), qual seja o fato de o pagamento
ocorrer na proporção do avanço da obra, por cada mediação realizada. Neste caso, a obra é
dividida em fases e cada fase concluída demanda o pagamento de uma remuneração
ajustada. Trata-se de contrato cuja prestação é divisível e permite o empreiteiro a receber
parcialmente o seu crédito na medida em que concluir cada uma das etapas do cronograma,
bem como a não prosseguir nas demais etapas enquanto não for remunerado.
176
pagamento desta, na forma do § 1º do art. 614 do CC: “Tudo o que se pagou presume-se
verificado”.
Pega a visão!
A obra poderá ser suspensa pelo dono a após iniciada a construção, afinal de contas,
na qualidade de proprietário do bem, terá direito de usar, gozar, dispor, reaver e fruir da coisa
como lhe aprouver (CC, art. 1.228). Evidentemente que esta conduta espontânea do dono da
obra não poderá prejudicar o patrimônio jurídico do empreiteiro que não deu causa a esta
suspensão.
Perceba que essa modalidade contratual é diferida no tempo, abarca relação jurídica
continuativa, de trato sucessivo. Este aspecto – por si só – já evidencia a possibilidade de
suspensão da execução do contrato, o que é previsto de modo específico nos arts. 623 e 624
do CC.
Por fim, observe-se que a morte das partes não acarretará a extinção do contrato de
empreitada que, como visto, transmite-se hereditariamente.
Lembre o que diz o art. 626 do CC: “Não se extingue o contrato de empreitada pela
morte de qualquer das partes, salvo se ajustado em consideração às qualidades pessoais do
empreiteiro”.
Extinção
O contrato de empreitada poderá ser extinto por oito maneiras distintas, e que muito
se assemelham com as regras gerais de término dos negócios jurídicos.
178
b) O contrato de empreitada poderá ser extinto pela resilição unilateral do comitente ou
dono da obra, (denúncia vazia), neste caso ele deverá pagar perdas e danos ao
empreiteiro, de acordo com o art. 623 do CC
c) O contrato de empreitada poderá ser extinto pela resilição unilateral do empreiteiro,
neste caso ele pagará indenização ao dono da obra, desde que presentes os
elementos do dever de reparar o dano.
d) A resilição bilateral ou distrato, poderá ser causa extintiva da empreitada, quando
empreiteiro e dono da obra, consensualmente, decidem dar fim ao pacto.
e) O contrato de empreitada poderá ser extinto por resolução extrajudicial, ou mesmo
judicial, hipótese em que se discutirá a existência de ato ilícito de um dos contratantes,
caracterizador de descumprimento contratual.
f) Morte do empreiteiro acaso o contrato de empreitada tenha sido celebrado de maneira
personalíssima. Pega a visão! Somente haverá extinção do contrato de empreitada na
hipótese de morte do empreiteiro, se a empreitada tiver sido pactuada de forma
personalíssima.
g) Falência do empreiteiro.
h) Caso fortuito ou força maior.
CONTRATO DE MANDATO
Conceito
Pega a visão!
De olho na juris!
Nos Recursos Especiais 296.489/PB e 716.824/AL, o Superior Tribunal de Justiça
entendeu pela desnecessidade do reconhecimento de firma para o advogado postular em
juízo, máxime considerando o advento da Lei Federal 8.952/94 que, de maneira clara,
importou em relevante avança ao dispensar do causídico o reconhecimento de firma, sendo
verdadeiro divisor de águas do Direito Privado no que se refere à instrumentalidade,
economia, celeridade e efetividade do Processo Civil.
Uma regra super importante sobre o contrato de mandato está disciplinada no art. 655
do CC: “Ainda quando se outorgue mandato por instrumento público, pode substabelecer-se
mediante instrumento particular”. Trata-se de uma regra que deverá despertar muita atenção,
tendo em vista a tendência em se imaginar haver paralelismo das formas, o que, no contrato
de mandato é ledo engano!
Pega a visão!
O Enunciado 182 do CJF concluiu que “O mandato outorgado por instrumento público
previsto no art. 655 do CC somente admite instrumento particular quando a forma pública for
facultativa e não integrar a substância do ato”. Trata-se de uma importante reflexão
doutrinária, afinal de contas, para os casos em que a lei exigir, necessariamente, a procuração
por instrumento público não será possível o substabelecimento por instrumento particular. Um
belo exemplo para melhor compreender o assunto gira em torno da procuração para o
casamento que, na forma do art. 1.542 do CC, será, necessariamente, por instrumento
público. Neste caso, um eventual substabelecimento também deverá ser por instrumento
público.
De acordo com o art. 656 do CC, o “mandato pode ser expresso ou tácito, verbal ou
escrito”. Pouco depois, o art. 659 do CC estabelece que “A aceitação do mandato pode ser
tácita, e resulta do começo de execução”. O fato de o advogado ter comparecido e realizado
180
a audiência demonstra aceitação do mandato e começo de sua execução, no caso para
ambas as partes. Extrai-se também uma ideia simples do artigo de lei anteriormente
identificado, qual seja a de que a aceitação do mandato poderá ser tácita ou expressa.
Todavia, observe-se, que o silêncio não acarreta aceitação, à luz do art. 111 do CC, de forma
que somente o início da execução do mandato é que configurará a aceitação tácita, isto é,
decorrente de um ato positivo do mandatário de representar o mandante.
Claro que existirão exceções à possibilidade do mandato tácito. O art. 657 do CC,
sinaliza que a outorga do mandato é submetida à forma exigida por lei para o ato a ser
praticado e não admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por escrito.
→ Mandato Legal
→ Mandato Judicial
→ Mandato convencional
Remuneração
Segundo o art. 658 do CC, “o mandato presume-se gratuito quando não houver sido
estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles que o mandatário
181
trata por ofício ou profissão lucrativa”, arrematando o parágrafo único do aludido preceito que
se o mandato for oneroso, caberá ao mandatário a retribuição prevista em lei ou no contrato.
Sendo estes omissos, será ela determinada pelos usos do lugar, ou, na falta destes, por
arbitramento.
→ Poderes Gerais
→ Poderes Especiais
Leciona o art. 661, § 1º, do CC que para “alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros
quaisquer atos que exorbitem da administração ordinária, depende a procuração de poderes
especiais e expressos”. Estes são alguns dos poderes especiais ilustrativamente inseridos na
norma e que não se presumem, razão pela qual para que o mandatário possa exercê-los
deverá contar com expressa procuração a este respeito, com expressa menção destes
poderes no instrumento.
Pega a visão!
Segundo o art. 662 do CC “Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o
tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo nome foram
praticados, salvo se este os ratificar”. Esta ratificação “há de ser expressa, ou resultar de ato
inequívoco, e retroagirá à data do ato”, como adverte o parágrafo único do referido diploma.
Assim, a regra é a da ineficácia dos atos praticados por quem efetivamente não se
encontrar munido pelos poderes de representação em relação ao mandante, de modo que
não se estará vinculando em termos obrigacionais o mandante. A exceção a esta regra girará
em torno do princípio da conservação dos negócios jurídicos, isso porque o texto de lei
permitirá ao mandante a prática de ato posterior de ratificação, caso em que terá o seu status
obrigacional alterado, ou seja, passará a se vincular, a se obrigar em decorrência da
ratificação que deu e desde a origem do ato praticado (eficácia negocial ex tunc).
O Direito de Retenção
O código civil permite o mandatário a exercer direito de retenção nos limites dos
valores que bastem para o pagamento da retribuição que lhe for devida pela prática dos atos
de administração e representação. Claro que se trata de um preceito legal envolvendo apenas
o mandato oneroso. Veja o art. 664 do CC: “O mandatário tem o direito de reter, do objeto da
operação que lhe foi cometida, quanto baste para pagamento de tudo que lhe for devido em
consequência do mandato”.
Pega a visão!
Vejamos o Enunciado 184 do CJF “Da interpretação conjunta desses dispositivos, extrai-se
que o mandatário tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, tudo o
que lhe for devido em virtude do mandato, incluindo-se a remuneração ajustada e o reembolso
das despesas”.
Substabelecimento
Malgrado o contrato de mandato pressupor uma relação personalíssima, o a legislação
cível expressamente aceita a cessão dos poderes recebidos pelo mandatário à outra pessoa,
transferência esta que se realiza por meio de um substabelecimento com ou sem reserva de
poderes. Assim sendo, de acordo com a norma pátria, o mandatário poderá substabelecer,
isto é, transferir os poderes que recebeu a outrem, total, ou parcialmente, como leciona o art.
667 do CC: “O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do
mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem
substabelecer, sem autorização, poderes que deveria exercer
pessoalmente”.
Mandato Judicial
O art. 692 do CC disciplina que “O mandato judicial fica subordinado às normas que
lhe dizem respeito, constantes da legislação processual, e, supletivamente, às estabelecidas
neste Código”.
Revogabilidade do mandato
A regra é a de que o mandato é revogável. Logo, o mandante terá direito potestativo
de cancelar, desfazer, cassar os poderes que transferiu ao mandatário, revogando e
extinguindo o contrato desta maneira.
A irrevogabilidade relativa ou mitigada pela autonomia privada está prevista no art. 683
do CC, vejamos: “Quando o mandato contiver a cláusula de irrevogabilidade e o mandante o
revogar, pagará perdas e danos”.
De acordo com o art. 684 do CC, quando a cláusula de irrevogabilidade for condição
de um negócio bilateral, ou tiver sido estipulada no exclusivo interesse do mandatário, a
revogação do mandato será ineficaz. Nesta situação jurídica é a própria norma que enquadra
a irrevogabilidade como uma situação a impor, de maneira absoluta, a ineficácia da
revogação. Em outras palavras, a revogação não gera nenhum efeito no mundo jurídico ou,
como afirma a lei, é ineficaz.
185
Outro caso sobre o mandato em causa própria e está previsto no art. 685 do CC com
a seguinte redação: “Conferido o mandato com a cláusula ‘em causa própria’, a sua revogação
não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário
dispensado de prestar contas, e podendo transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto
do mandato, obedecidas as formalidades legais”. No mandato em causa própria, o mandatário
atua para si mesmo.
Da Extinção do Mandato
Segundo o art. 682 do CC cessa o mandato: pela revogação ou pela renúncia; pela
morte ou interdição de uma das partes; pela mudança de estado que inabilite o mandante a
conferir os poderes, ou o mandatário para exercê-los; e, finalmente, pelo término do prazo ou
pela conclusão do negócio.
Revogação, renúncia, morte, interdição, mudança de estado que inabilite um dos
contratantes e conclusão do negócio: eis as causas de extinção do contrato de acordo com a
lei.
De olho na juris!
Em relação a extinção do mandato por interdição, observe o posicionamento do STJ:
O art. 686 do CC, demanda que seja notificado o mandatário a este respeito, para se
formalizar e dar ciência a este do referido ato. Extrai-se do texto a ideia também de que não
se pode opor aos terceiros que, ignorando (desconhecendo) a notificação, de boa-fé, trataram
com o mandatário. A revogação é considerada perfeita e acabada “Tanto que for comunicada
ao mandatário a nomeação de outro, para o mesmo negócio” (art. 687, CC).
A legislação cível trata da situação jurídica de renúncia, que pode ser tida como a
“demissão” do papel de mandatário. Pelo art. 688 do CC: “A renúncia do mandato será
comunicada ao mandante, que, se for prejudicado pela sua inoportunidade, ou pela falta de
tempo, a fim de prover à substituição do procurador, será indenizado pelo mandatário, salvo
186
se este provar que não podia continuar no mandato sem prejuízo considerável, e que não lhe
era dado substabelecer”.
A morte, a pirori, deve ser outra causa importante de extinção do contrato de mandato,
que é intuito personae, por isso, não deveria se transmitir. Contudo, veja o que diz o art. 690
do CC “Se falecer o mandatário, pendente o negócio a ele cometido, os herdeiros, tendo
ciência do mandato, avisarão o mandante, e providenciarão a bem dele, como as
circunstâncias exigirem”.
De olho na prova!
Ano: 2017 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-PR Prova: CESPE - 2017 - TJ-PR - Juiz
Substituto
Assinale a opção correta a respeito das espécies de contratos.
A. Em contrato de comodato, jamais o comodatário poderá pleitear restituição ao comodante
das despesas realizadas com o uso e gozo da coisa.
B. No contrato de prestação de serviço, o aliciamento de pessoa já obrigada em contrato
escrito anterior é causa violadora da boa-fé subjetiva.
C. Devido ao fato de o contrato de empreitada ser personalíssimo, em regra, nessa
modalidade de contrato, a morte do empreiteiro é causa de extinção do contrato.
D. Não será devida a remuneração ao corretor, no contrato de corretagem em que se obtenha
o resultado almejado pela mediação, se tal contrato for desfeito posteriormente pelas partes.
Gabarito: “A”
187
(responsabilidade civil contratual), seja pela prática de ato ilícito não contratual
(responsabilidade civil extracontratual, ou aquiliana).
CONCEITO
Tal recomposição haverá de ser integral, sendo norteada no Brasil pelo princípio da
restitutio in integrum, chamado por alguns de princípio do imperador ou reparação integral.
Quando não for possível restituir a vítima a situação jurídica anterior, a responsabilidade civil
terá natureza meramente compensatória, como ocorre na indenização por danos morais.
Olho na juris!
O prazo prescricional é assim dividido:
• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do
CC).
• Responsabilidade contratual (inadimplemento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info
632).
Conduta humana
189
A omissão enxergada como uma mera abstenção, não é capaz de gerar, por si só, um
dano, ao passo que do nada, nada provém. Omissão juridicamente relevante capaz de tornar
o agente responsável civilmente é aquela praticada por quem possuía um dever jurídico de
agir, evitando a produção de um determinado resultado, a exemplo do médico que não presta
os primeiros socorros, da enfermeira que não ministra os medicamentos nos horários e formas
devidos etc.
Nexo de causalidade
Existem várias teorias que justificam o nexo, assim, algumas correntes doutrinárias
devem ser sinteticamente postas:
Teoria da Equivalência dos Antecedentes ( conditio sine qua non”) : Para essa teoria,
não há diferença entre diversos antecedentes fáticos de um resultado danoso: tudo
aquilo que concorre para o resultado é considerado causa (Von Buri). Não foi adotada
pelo CC.
Teoria da Causalidade Adequada: Para esta segunda teoria, causa é apenas o
antecedente que, segundo um juízo abstrato de probabilidade, seja apto ou idôneo a
determinar o resultado danoso (Von Kries). Estaria prevista nos arts. 944 e 945 do CC.
Teoria da Causalidade Direta e Imediata: Para esta terceira teoria, mais objetiva do
que as anteriores, causa é o comportamento antecedente fático que determina o
resultado danoso, como consequência sua, direta e imediata. É a ideia contida no
artigo 403 do CC.
190
Conforme doutrina majoritária, a teoria adotada pelo CC (art. 403) foi a dos danos
diretos e imediatos para fixar o nexo causal elegeu-se a causalidade adequada,
prevalecendo apenas a causa determinante do dano (relação direta e imediata),
desconsiderando-se as demais (ex: atraso do avião que faz perder a reunião que
poderia levar a um negócio rentável = os danos não podem englobar a rentabilidade
eventual). Assim, é considerada “causa” apenas o comportamento antecedente fático
que determina o resultado danoso, como consequência sua, direta e imediata.
Dano ou prejuízo
Que se admita responsabilidade sem culpa (objetiva), mas não responsabilidade sem
dano. Desta forma, o motorista que avança o sinal e não atropela ninguém não gera, no campo
civil, obrigação de indenizar. Em direito civil não se admite o crime de mera conduta, bem
como perigo abstrato, sendo imperioso o resultado danoso.
Espécies de dano
A legislação civil atual, no artigo 186 do CC, afirma que os danos podem ser materiais
ou morais, veiculando a possibilidade até mesmo de dano exclusivamente moral, com base
na dicção constitucional (art. 5º, V e X da CF, súmulas 37 e 387 do STJ). Destarte, em uma
primeira classificação do dano costuma dividi-lo em patrimonial e moral.
De olho na banca!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Prefeitura de Boa Vista - RR Prova:
CESPE - 2019 - Prefeitura de Boa Vista - RR - Procurador Municipal
Acerca de responsabilidade civil, de negócio jurídico e de transmissão e extinção de
obrigações, julgue o item seguinte.
Tanto pessoas físicas quanto pessoas jurídicas podem sofrer danos morais.
Gabarito: certo.
193
uma chance a lesão ocorre sobre a possibilidade séria e real de uma oportunidade
perdida.
Pega a visão!!!
Enunciado 443 – V Jornada de Direito Civil – CJF: O caso
fortuito e a força maior somente serão considerados
como excludentes da responsabilidade civil quando o
fato gerador do dano não for conexo à atividade
desenvolvida.
De olho na juris!
O Resp. 788589 STJ BA representa um excelente exemplo de indenização por perda
de uma chance. Trata-se do famoso caso do show do milhão, um dos programas mais
famosos da televisão brasileira à época apresentado pelo comunicador e empresário
Silvio Santos. Neste caso real, uma mulher baiana foi para o referido programa e,
quando estava a acertar e evoluir nas perguntas, foi surpreendida com uma questão
sobre a qual não sabia responder, aspecto que a fez desistir do desafio e ficar com
apenas parte do prêmio (RS 500.000,00). Ocorre que ao retornar para casa, a referida
participante resolveu pesquisar a resposta da pergunta que não havia respondido e
descobriu que nenhuma das hipóteses apresentadas pelo programa estaria correta.
Em razão disto ajuizou ação indenizatória para reaver os outros R$ 500.000,00
faltantes. O STJ, no julgamento, levou em consideração a perda da chance, em um
grau de probabilidade (1/4 – assertivas a, b, c e d) e deferiu indenização específica de
R$ 125.000,00.
Dano moral presumido ou in re ipsa. A tese do dano moral presumido, a qual tem
grande acolhimento no Superior Tribunal de Justiça, nasceu da constatação de que é
difícil, no mais das vezes, a comprovação efetiva do dano extrapatrimonial. A
comprovação do dano, seguindo a ótica da ciência processual, em regra, deve ser
feita por aquele que alega. Acontece que na seara extrapatrimonial, por se tratar de
bem jurídico imaterial ou ideal, a dilação probatória torna-se dificultosa. Por conta
disso, em determinadas hipóteses, passaram os tribunais a entender que o dano é
ínsito à própria ofensa, ao ilícito em si mesmo, pois decorre inexoravelmente do próprio
fato ofensivo. Essa é a tese, por exemplo, que se verifica em julgados que impõem
danos morais pela indevida negativação do nome de alguém no SPC e SERASA
(REsp 775.766/PR).
Pega a visão!!!
194
Enunciado 445 – V Jornada de Direito Civil – CJF: O dano
moral indenizável não pressupõe necessariamente a
verificação de sentimentos humanos desagradáveis
como dor ou sofrimento.
Um exemplo pode ser ilustrado na Súmula 403 do STJ, a qual afirma que na veiculação
de imagem, sem autorização, com finalidade comercial, presume-se o dano moral. É,
portanto, in re ipsa, decorrendo da própria conduta.
Dano indireto
O caráter patrimonial ou moral do dano não advém da natureza do direito subjetivo
danificado, mas dos efeitos da lesão jurídica. Decerto, do prejuízo causado a um bem
jurídico econômico pode resultar perda de ordem moral (dano moral indireto), e da
ofensa a um bem jurídico extrapatrimonial pode originar dano material (dano
patrimonial indireto). A isto se denomina dano indireto, pois a lesão moral gera um
prejuízo material indireto, e vice-versa. Exemplo: Pessoa Jurídica que sofre ofensa a
sua boa fama, por conta de inserção do seu nome no cadastro de inadimplentes
(CADIN) e, em decorrência, perde contratos com seus clientes (dano material).
Dano reflexo, oblíquo ou ricochete. Inicialmente, há de ser verificado que boa parte da
doutrina não diferencia o dano indireto do reflexo. De fato, há distinção acadêmica
relevante. Dano moral indireto não é sinônimo do dano moral em ricochete ou reflexo.
No dano reflexo este é fruto de uma lesão sofrida por outrem. Conceitualmente, dano
oblíquo consiste no prejuízo que atinge reflexamente pessoa próxima, ligada à vítima
direta da atuação ilícita. É o exemplo dos filhos incapazes de um cidadão injustamente
alvejado por balas proferidas por um assaltante. Tais filhos perdem o seu direito a
alimentos, sofrendo um dano ricochete. O mesmo exemplo seria possível em relação
à ex-esposa da vítima que possuía direito a alimentos, tudo na forma do artigo 948 do
CC. Já na seara extrapatrimonial, o Código Civil enuncia o que se denomina de
lesados indiretos, nos respectivos parágrafos únicos dos artigos 12 e 20, presumindo
esse dano moral em ricochete quando há parentesco próximo ou relação de
casamento.
Culpa1
No que diz respeito ao tema, é fato que quando se falava em responsabilidade civil
indireta ou por fato de outrem, remetia-se à ideia de culpa in eligendo e culpa in vigilando. Por
exemplo, a questão da responsabilidade civil dos pais pelos atos dos filhos menores se fincava
na culpa in vigilando e a responsabilidade civil do patrão pelos atos do preposto na culpa in
eligendo.
Todavia, é fundamental ressaltar, desde logo, que, para fins de responsabilidade civil
indireta, não mais se aplicam as noções de culpa in eligendo e culpa in vigilando, porque a
responsabilidade civil indireta passou a ser OBJETIVA, nos termos do art. 933 do Código Civil.
196
b. culpa presumida: que acarreta inversão no ônus da prova, de modo que há
uma presunção de que o requerido agiu com culpa, devendo este provar a sua
inocorrência.
Observa-se ainda, que a culpa estrito senso tinha uma aferição subjetiva, ou seja, era
necessário investigar a previsibilidade do agente causador do dano no caso concreto. Era a
chamada culpa psicológica. A investigação era casuística, subjetiva. Só que a culpa
psicológica, hoje, cede espaço em favor da chamada culpa normativa. À luz da culpa
normativa se leva em conta a previsibilidade do agente dentro de um padrão objetivo de
conduta, dentro de um padrão abstrato, ou seja, não é preciso penetrar no âmago do agente
para investigar se aquele indivíduo, naquele momento, tinha ou não condições de antever os
resultados da sua conduta. Essa aferição da existência previsibilidade ou não se dá luz de
parâmetros objetivos.
Note-se, contudo, que, atualmente, vem sendo afastada a figura do homem médio
como único padrão abstrato de conduta admissível. De fato, os autores contemporâneos
entendem que deve ser feita uma aferição objetiva, mas levando em consideração as
circunstâncias do caso concreto.
Nesse ponto, importante destacar que a culpa lato sensu alberga o dolo e a culpa strictu
sensu, abrangendo os seguintes pontos:
197
Estado de necessidade
O estado de necessidade está previsto no art. 188, inciso II, do CC.
Defende a doutrina que a agressão deve ter por objeto bem jurídico de valor igual ou
inferior àquele que se pretende proteger.
Observe que a conduta deve ser proporcional. Logo, caso haja excesso, restará
configurado o abuso de direito, ocasionando responsabilidade objetiva.
do perigo (arts. 929 e 930 do CC). Exemplo: condutor, para não atropelar criança, colide com
um muro. O proprietário do muro deverá ser ressarcido pelo condutor, tendo este ação de
regresso em face dos ascendentes do menor. Trata-se de dever de indenizar pela prática de
um ato lícito. Tal responsabilidade demanda análise de culpa.
198
Seguindo a influência do direito penal, há quem realize distinção entre estado de
necessidade defensivo e agressivo.
Frise-se que a decisão penal que haja reconhecido a prática da conduta em estado de
necessidade faz coisa julgada no cível.
Legítima defesa
A legítima defesa está prevista no art. 188, inciso I, do CC. Ocorre quando o agente,
usando moderadamente dos meios necessários, reage a uma agressão injusta, atual ou
iminente, a direito próprio ou alheio. O excesso resulta no dever de indenizar, caracterizando
abuso de direito e acarretando responsabilidade objetiva, portanto.
Repare que a legítima defesa putativa supõe negligência na apreciação dos fatos e
por isso não isenta o seu autor da obrigação de indenizar. Salienta-se, ainda, que, por força
do art. 65 do CPP, a decisão penal que haja reconhecido que o agente atuou em legítima
defesa faz coisa julgada no cível.
199
No exercício regular de um direito o agente atua autorizado pela lei, ainda que não
exista uma obrigação de assim atuar, mas com a faculdade de assim agir por se encontrar
amparado pelo direito. O exercício regular de direito não se configura abusivo dentro deste
critério objetivo-finalístico analisado nas linhas anteriores (art. 188, I, 2a parte). Outro
ilustrativo exemplo seria o guarda volumes em supermercado, assim como as atividades
desportivas como o futebol e o boxe.
Vale ressaltar que, em que pese não exista previsão expressa do art. 188 do CC, o
estrito cumprimento de um dever legal é aceito por doutrina e jurisprudência como causa
excludente da ilicitude.
Caso fortuito e força maior
De acordo com Sílvio de Salvo Venosa, o caso fortuito e a força maior excluem a
responsabilidade civil porque, em ambas as hipóteses, “inexiste relação de causa e efeito
entre a conduta do agente e o resultado danoso”. São excludentes previstas no art. 393 do
CC.
Alguns doutrinadores sustentam que a força maior seria inevitável, ainda que
previsível, relacionando-se a eventos da natureza. Já o caso fortuito seria imprevisível ao
homem médio, decorrendo de condutas humanas.
A doutrina afirma que, para a configuração do caso fortuito e da força maior, exige-se
um fato não culposo, superveniente, inevitável e irresistível. Culpa exclusiva ou fato exclusivo
da vítima. Ocorre quando o dano é causado por conduta exclusiva da vítima, interrompendo
o nexo de causalidade, e, consequentemente, a responsabilidade civil. O CC não traz previsão
específica da aludida excludente, ao contrário do CDC (arts. 12 e 14).
O ônus da prova pertence ao réu, já que se trata de fato impeditivo por este alegado
(art. 373 do CPC). Da mesma maneira, não se deve confundir a culpa exclusiva da vítima com
a culpa concorrente. Nesta, há uma repartição da culpabilidade, uma vez que houve
200
concorrência para o dano tanto do autor quanto da vítima. Tal circunstância influenciará tão
somente na quantificação do dano, mas não excluirá a responsabilidade do agente, nos
termos do art. 945 do CC.
Fato de terceiro
O fato de terceiro ocorre quando o evento danoso deriva de pessoa diversa, afastando
o nexo de causalidade. A aludida excludente não foi expressamente prevista no CC, mas é
aceita pela doutrina e jurisprudência.
Olho na juris!
Sobre o tema, atente-se a importante súmula 187 do STF, que consiste em uma exclusão à
regra geral aqui enunciada porquanto a excepcional característica do contrato de transporte
(obrigação de resultado e responsabilidade objetiva): “A responsabilidade contratual do
transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o
qual tem ação regressiva”.
Todavia, observe que o entendimento acima esposado não será aplicado quando o
fato de terceiro se equiparar a um fortuito externo, como no caso de um assalto à mão armada
ou o arremesso de uma pedra. Nesse caso, tratando-se de fato totalmente estranho à
atividade do transportador, haverá o rompimento do nexo de causalidade.
De fato, o artigo e a súmula supracitados referem-se aos fatos ocasionados por terceiro
que se relacionem com os riscos da atividade, como uma fechada no trânsito causadora do
acidente, por exemplo.
201
Em que pese as expressões cláusula de irresponsabilidade e de exclusão de
responsabilidade sejam usualmente utilizadas como sinônimos da cláusula de não indenizar,
Sérgio Cavalieri Filho afirma que tal prática carece de rigor técnico.
Da mesma forma, vale lembrar que tal cláusula somente é possível em se tratando de
responsabilidade contratual, não sendo admitida a sua incidência no campo da
responsabilidade extracontratual, que envolve questões de ordem pública.
Ademais a cláusula de não indenizar não é admitida no âmbito do CDC (art. 25).
Igualmente, não é aceita a sua inserção em contratos de adesão, uma vez que o art. 424 do
CC veda a renúncia antecipada a direito resultante da natureza do negócio.
Olho na juris!
No que diz respeito a este assunto, é importante a transcrição da súmula 161 do STF:
São causas que excluem a responsabilidade civil já que decorrem de um evento não
imputável ao suposto causador do dano, seja imprevisível, seja inevitável. Malgrado a
equivalência de efeitos pregada pelo vigente Código Civil, há autores que tentam relatar
critérios distintivos entre o caso fortuito e a força maior. Em uma análise doutrinária percebe-
se uma grande diversidade de posicionamentos, devendo ser adotado para o certame da OAB
o majoritário, o qual prega que a força maior constitui inevitável evento da natureza, sendo
202
fortuito o imprevisível evento humano. Ambos acarretam exclusão de responsabilidade civil,
salvo assunção desta por ato de vontade, na forma do artigo 393 do Código Civil.
Importante destacar, contudo, que apenas o denominado fortuito externo (aquele que
não guarda relação com a atividade exercida, não sendo inerente à mesma) é que excluirá o
dever de reparar o dano. O fortuito interno, inerente à atividade, não é causa excludente. A
este respeito, por exemplo, a súmula 479 do STJ: “As instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados
por terceiros no âmbito de operações bancárias”.
Pega a visão!!!
Observe novamente o já citado Enunciado 443 – V Jornada de Direito Civil – CJF: O
caso fortuito e a força maior somente serão considerados como excludentes da
responsabilidade civil quando o fato gerador do dano não for conexo à atividade desenvolvida.
De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Prefeitura de Manaus - AM Prova: CESPE /
CEBRASPE - 2018 - Prefeitura de Manaus - AM - Procurador do Município
Lucas — vítima de importante perda de discernimento em razão de grave doença
degenerativa em estágio avançado —, devidamente representado por sua filha e curadora
Maria, ajuizou ação indenizatória por danos materiais e morais contra determinada instituição
financeira, sustentando que foram realizados saques indevidos em sua conta-corrente com a
utilização de um cartão magnético clonado por terceiros. Durante a instrução processual, foi
comprovado que os fatos alegados na petição inicial eram verdadeiros.
Nessa situação hipotética, conforme a jurisprudência do STJ, como o ilícito foi praticado por
terceiro, que clonou o cartão magnético e efetuou os saques, ficou configurado evento que
rompeu o nexo causal, afastando a responsabilidade da instituição financeira.
Gabarito: errado.
Lucas não faz jus ao recebimento de indenização por dano moral, tendo em vista não estar
conscientemente sujeito a dor ou sofrimento psíquico devido à significativa perda de
discernimento.
Gabarito: errado.
203
OUTRAS HIPÓTESES DE RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA
O parágrafo único, do art. 927 do CC reconhece responsabilidade civil objetiva para
aquele que desenvolver atividade de risco, bem como para situações nas quais exista lei
especial prevendo, de modo objetivo, o dever de reparar o dano.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
De olho na banca!
Ano: 2013 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-BA Prova: CESPE - 2013 - PC-BA -
Delegado de Polícia
Com relação à responsabilidade civil e aos contratos em geral, julgue os itens que se seguem.
No Código Civil, é prevista a possibilidade de as empresas responderem, independentemente
de culpa, pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.
Gabarito: certo.
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-AM Prova: CESPE - 2019 - TJ-AM -
Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador
De acordo com o Código Civil, julgue o próximo item, acerca de classes de bens, associações,
fundações, prova do fato jurídico e atos jurídicos.
Situação hipotética: No exercício de determinado direito de natureza civil, um indivíduo agiu
de forma abusiva, excedendo os limites impostos pela finalidade econômica e social do
referido direito e causando dano a terceiro.
204
Assertiva: Nesse caso, a caracterização da responsabilidade desse indivíduo independe da
comprovação de culpa.
Gabarito: certo.
De olho na juris!
De acordo com a súmula 595 do STJ “As instituições de ensino superior respondem
objetivamente pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela realização de curso não
reconhecido pelo Ministério da Educação sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e
adequada informação”, constituindo o verbete um curioso reconhecimento de
responsabilidade civil objetiva pelo risco da atividade exercida na instituição de ensino
superior.
Responsabilidade civil pelo fato da coisa ou de animal:
No Código Civil divide-se em:
▪ A responsabilidade pelos animais
Deverá responder neste caso quem se encontrava, quando do evento, sob o poder de
comando e direção do animal. Este será o responsável. Veja o exemplo de um cão
entregue a um adestrador que, sob o poder de comando ou de direção deste, ataca
outra pessoa. Neste caso, o proprietário não terá dever algum de reparar o dano,
enquanto que o adestrador responderá objetivamente. Agora imagine a situação na
qual uma pessoa escala um elevado muro de uma residência na tentativa de assaltar
a casa, desrespeitando inclusive o aviso da existência de animais de guarda, quando
então vem a ser atacado. Neste caso, a culpa exclusiva da vítima é bastante para
quebrar o nexo de causalidade e excluir o dever de reparar o dano. De igual modo, o
fortuito também exclui o dever de reparar o dano. Imagine o crime de roubo em uma
fazenda, quando assaltantes levam cavalos e gados de propriedade de outra. Se tais
animais, posteriormente a isto, forem deixados na pista e houver um acidente de
trânsito, não há como responsabilidade civilmente o proprietário vítima do evento.
Culpa exclusiva da vítima e fortuito: eis as duas específicas hipóteses de exclusão do
dever de reparar o dano na responsabilidade civil por fato do animal.
De olho na banca!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: DPE-DF Prova: CESPE - 2019 - DPE-DF -
205
Defensor Público
De acordo com as disposições do Código Civil e com a jurisprudência do STJ acerca da
responsabilidade civil, julgue o item a seguir.
A responsabilidade civil do dono de animal é objetiva, admitindo-se a excludente do fato
exclusivo de terceiro.
Gabarito: errado.
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo
dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas
em lugar indevido.
206
De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE -
Delegado de Polícia
Túlio, cidadão idoso, natural de Aracaju ‒ SE e domiciliado em São Paulo ‒ SP, caminhava
na calçada em frente a um edifício em sua cidade natal quando, da janela de um apartamento,
caiu uma garrafa de refrigerante cheia, que lhe atingiu o ombro e provocou a fratura de sua
clavícula e de seu braço. Em razão do incidente, Túlio permaneceu por dois meses com o
membro imobilizado, o que impossibilitou seu retorno a São Paulo para trabalhar. Por essas
razões, Túlio decidiu ajuizar ação de indenização por danos materiais. Apesar da tentativa,
ele não descobriu de qual apartamento caiu ou foi lançada a garrafa.
Considerando essa situação hipotética, julgue os itens que se seguem.
Diante da impossibilidade de saber de qual apartamento caiu ou foi lançada a garrafa que o
atingiu, Túlio poderá buscar a responsabilização direta do condomínio, indicando-o como réu
na ação de reparação de danos.
Gabarito: correto.
207
Em regra, a responsabilidade civil é direta e simples, vale dizer, é atribuída àquele que
efetivamente foi autor do dano injusto. Portanto, a responsabilidade civil em regra é própria
(da própria pessoa causadora do dano). Mas, ao lado desta responsabilidade civil que é a
regra (responsabilidade civil direta, simples ou própria), existem casos legais de exceção nos
quais pessoas que não foram causadoras do ato ilícito lesivo ainda assim serão chamadas a
reparar o dano.
A isto se convencionou denominar de responsabilidade civil indireta, complexa ou por
ato de terceiro. São hipóteses nas quais o agente responde pelo ato de um terceiro, de forma
objetiva. Não há de falar-se em presunções de culpa (como a culpa in vigilando). As pessoas
taxativamente indicadas no art. 932 do CC responderão objetivamente por atos praticados por
outras pessoas. Esta responsabilidade será objetiva e solidária, a teor dos arts. 933 e. 942,
do CC).
Deste modo, incide tal responsabilidade segundo o Código Civil e em enumeração
taxativa (art. 932, CC) aos seguintes sujeitos:
os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas
condições;
o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício
do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por
dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e
educandos;
os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente
quantia.
Pega a visão!!!
Enunciado 419 – V Jornada de Direito Civil – CJF: Considerando que a responsabilidade dos
pais pelos atos danosos praticados pelos filhos menores é objetiva, e não por culpa
presumida, ambos os genitores, no exercício do poder familiar, são, em regra, solidariamente
responsáveis por tais atos, ainda que estejam separados, ressalvado o direito de regresso em
caso de culpa exclusiva de um dos genitores.
208
responsabilidade civil objetiva pelo ato do empregado (antes havia a culpa in vigilando,
superada como visto agora).
Por fim, deve-se também analisar o cabimento de ação regressiva daquele que
efetivamente pagou na responsabilidade civil por ato de terceiro, todo na forma do artigo 934
do CC segundo o qual salvo se o causador do dano for descendente, absoluta ou
relativamente incapaz, daquele que pagou, haverá em regra o direito de regresso. Desta
forma, o pai não pode ajuizar ação em regresso contra o filho. Todavia, o empregador poderá
ajuizar contra o seu empregado. Atente-se que nessa ação em regresso a responsabilidade
perquirida será subjetiva. Aproveitando a oportunidade, resta arrematar o tema sugerindo a
leitura da súmula 537 do STJ segundo a qual “Em ação de reparação de danos, a seguradora
denunciada se aceitar a denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada,
direta e solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida à vítima,
nos limites contratados na apólice”.
De olho na juris!
Veja alguns outros julgados relevantes sobre o tema:
✓ O companheiro que com seu comportamento assume o risco de transmissão do vírus
HIV à parceira responde civilmente pelo dano (STJ, Info 647/19) Em ação destinada a
apurar a responsabilidade civil decorrente de acidente de trânsito, presume-se culpado
209
o condutor de veículo automotor que se encontra em estado de embriaguez, cabendo-
lhe o ônus de comprovar a ocorrência de alguma excludente do nexo de causalidade
(STJ, Info 644)
✓ “O fato de o menor não residir com o(a) genitor(a) não configura, por si só, causa
excludente de responsabilidade civil.” (STJ, AgRg no AREsp 220.930/MG, julgado em
09/10/2012). Não configura hipótese de litisconsórcio necessário, não sendo o caso
de demandar genitores e menor (STJ, REsp 1.436.401-MG, julgado em 02/02/2017)
✓ O descumprimento da lei municipal que estabelece parâmetros para a adequada
prestação do serviço de atendimento presencial em agências bancárias é capaz de
configurar dano moral de natureza coletiva. A violação aos deveres de qualidade do
atendimento presencial, exigindo do consumidor tempo muito superior aos limites
fixados pela legislação municipal pertinente afronta valores essenciais da sociedade,
sendo conduta grave e intolerável, de forma que se mostra suficiente para a
configuração do dano moral coletivo. A instituição financeira optou por não adequar
seu serviço aos padrões de qualidade previstos em lei municipal e federal, impondo à
sociedade o desperdício de tempo útil e acarretando violação injusta e intolerável ao
interesse social de máximo aproveitamento dos recursos produtivos, o que é suficiente
para a configuração do dano moral coletivo. A condenação em danos morais coletivos
cumprirá sua função de sancionar o ofensor, inibir referida prática ilícita e, ainda, de
oferecer reparação indireta à ociedade, por meio da repartição social dos lucros
obtidos com a prática ilegal com a destinação do valor da compensação ao fundo do
art. 13 da Lei nº 7.347/85. STJ. 2ª Turma. REsp 1402475/SE, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 09/05/2017. STJ. 3ª Turma. REsp 1737412/SE, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 05/02/2019.
Situações em que o STJ considera a existência de dano moral in re ipsa (a ofensa à direito
da personalidade independe de provocação)
✓ Ofensa à dignidade da pessoa humana (Info 513);
✓ Agressões verbais ou físicas praticadas por adulto contra criança ou adolescente (info
598);
✓ Inclusão indevida em cadastro de inadimplentes ou protesto indevido (REsp 718618)
✓ Utilização indevida da imagem para fins econômicos ou comerciais (Súmula 403)
✓ Violência doméstica ou familiar contra a mulher (REsp 1675874).
✓ Uso indevido de nome em propaganda (REsp 1645614)
210
✓ Recusa de cobertura financeira de tratamento médico, sob o argumento de existir
cláusula excludente da cobertura das próteses e materiais ligados à cirurgia (AgRg no
AREsp 785243)
✓ Ingestão, ainda que parcial, de alimento contaminado pela larva de inseto (AgInt no
AREsp 1299401).
✓ Edificação particular situada em bem de uso comum (dano à coletividade) (REsp
1681210)
✓ Uso indevido de marca (info 619)
✓ Revendedor de combustível que ostenta uma marca e comercializa outra (dano à
coletividade) (REsp 1487046).
De olho na banca!
Ano: 2011 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-ES Prova: CESPE - 2011 - PC-ES -
Delegado de Polícia - Específicos
Em cada um dos itens que se seguem, relativos às pessoas e suas responsabilidades por
danos causados a outrem, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva
a ser julgada.
Jorge, um menor com dezesseis anos de idade, emancipado por ato unilateral dos pais,
causou dano injusto a Lúcia. Nessa situação, os pais de Jorge não estarão isentos de
indenizar a vítima.
Gabarito: certo.
O carro de Rafael, que estava trancado e estacionado em frente a sua casa, foi furtado por
Pedro. Nessa situação, se Pedro causar lesão a alguém na condução do veículo, Rafael
também poderá ser responsabilizado por ter a guarda jurídica do bem.
Gabarito: errado.
13. POSSE
Inicialmente, o instituto da posse não era dotado de autonomia, sendo considerado
mero apêndice/desdobramento da propriedade. Com o desenvolvimento do Direito, contudo,
foram surgindo teorias que buscaram conceituar a posse de forma independente, com
peculiaridades próprias.
211
Hoje, a posse é um direito autônomo e especial. Não é a mesma coisa que direito de
propriedade. Possuidor é aquele que tem de fato o exercício de algum dos poderes inerentes
à propriedade (art. 1.196, CC). Assim, a posse é um estado de fato e de poder socioeconômico
sobre uma coisa. Tanto isto é verdade que, de acordo com a legislação, a posse se adquire
desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos
poderes inerentes à propriedade (1.204, CC).
O Código Civil reconhece direito autônomo sobre a posse, independentemente do
titular da mesma ser ou não o proprietário do bem. Um belo exemplo, é o art. 1.210 do CC ao
afirmar que o possuidor tem direito a ser reintegrado na posse, no caso de esbulho, mantido
em caso de turbação, ou mesmo segurado nas situações de ameaça. Este direito autônomo
sobre a posse é disciplinado entre os arts. 1.196 e 1.224 do CC.
212
O Código Civil parece adotar, preponderantemente, a teoria objetiva da posse (art.
1.196). Porém, em algumas situações, há indícios da presença da teoria subjetiva
(especialmente na disciplina da usucapião e do fâmulo da posse).
Pega a visão!!!
Enunciado 493 – V Jornada de Direito Civil – CJF: O detentor (art. 1.198 do Código
Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder.
Digno de nota a propósito disto é a disciplina do artigo 1.208 do Código Civil segundo
o qual atos de mera detenção, permitidos e tolerados, não são capazes de gerar a posse. De
fato, a permissão (autorização prévia, induvidosa e expressa) e a tolerância (autorização
posterior e tácita) não retiram daquele que autoriza, ou permite, o estado de poder
socioeconômico sobre o bem, razão pela qual não induzem a posse.
De olho na juris!
213
RECURSO ESPECIAL Nº 1.188.937 - RS
DIREITOS REAIS. RECURSO ESPECIAL. REINTEGRAÇÃO
DE POSSE. IGREJA. TEMPLO. PASTOR QUE SE DESFILIA
DOS QUADROS DE OBREIROS DA RELIGIÃO.
TRANSMUDAÇÃO DA DETENÇÃO EM POSSE.
LEGITIMIDADE PASSIVA CONFIGURADA. ESBULHO.
EXISTÊNCIA DE CONTRATO DE COMODATO. SÚM 7⁄STJ.
USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. INOCORRÊNCIA
1. "Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação
de dependência para com outro, conserva a posse em nome
deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas". (Código
Civil, art. 1.198)
2. Na hipótese, o réu foi ordenado e designado para atuar na
Comunidade Evangélica de Cachoerinha, na condição de pastor
da IECLB, e justamente nessa qualidade é que se vinculava ao
patrimônio da Igreja; isto é, exercia o controle sobre o imóvel em
nome de outrem a quem estava subordinado, caracterizando-se
como fâmulo da posse.
3. A partir do momento em que pleiteou o seu desligamento do
quadro de pastores, continuando nas dependências do templo,
deixando de seguir as ordens do legítimo possuidor, houve a
transmudação de sua detenção em posse, justamente em razão
da modificação nas circunstâncias de fato que vinculavam a sua
pessoa à coisa. Assim, perdendo a condição de detentor e
deixando de restituir o bem, exercendo a posse de forma
contrária aos ditames do proprietário e possuidor originário,
passou a cometer o ilícito possessório do esbulho, sobretudo ao
privá-lo do poder de fato sobre o imóvel.
4. Desde quando se desligou da instituição recorrida, rompendo
sua subordinação e convertendo a sua detenção em posse, fez-
se possível, em tese, a contagem do prazo para fins da
usucapião - diante da mudança da natureza jurídica de sua
apreensão. Precedente.
De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Prefeitura de Manaus - AM Prova: CESPE /
CEBRASPE - 2018 - Prefeitura de Manaus - AM - Procurador do Município
A respeito da propriedade, da posse e das preferências e privilégios creditórios, julgue o item
subsequente.
O ordenamento jurídico ora vigente admite a possibilidade de conversão da detenção em
posse, a depender da modificação nas circunstâncias de fato que vinculem determinada
pessoa à coisa.
Gabarito: certo.
Classificação da Posse
214
(de acordo com os critérios a seguir)
Posse indireta é aquela de onde a posse direta surgiu, na qual o possuidor está
afastado da coisa, mas aufere vantagens desta, como proprietário no contrato de locação. A
este propósito, o entendimento doutrinário é manso e pacífico no sentido de que “O possuidor
direto tem direito de defender a sua posse contra o indireto, e este, contra aquele”, como se
cristalizou no Enunciado 76 da I Jornada de Direito Civil (CJF/STJ).
Art. 1.210, CC
[...]
§2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a
alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa
Para o artigo 1.200 do Código Civil é justa a posse que não for violenta, clandestina
ou precária. Injusta é a posse violenta, clandestina ou precária. Enquanto não cessar a injusta
posse não se pode falar em início de prazo para usucapião, afinal de contas a ninguém é dado
se beneficiar da própria torpeza. O Código Civil apresenta importantes mecanismos de defesa
215
àquele que estaria na posse justa diante de situações como estas: o possuidor tem direito a
ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência
iminente, se tiver justo receio de ser molestado. (art. 1.210)
Posse justa: aquela que não eivada dos vícios da violência, clandestinidade ou
precariedade.
Posse injusta: aquela adquirida de forma violenta, clandestina ou precária.
Posse clandestina: Sujeito entra na casa do outro escondido, quando o cidadão viaja
e começa a exercer posse injusta, nascida da clandestinidade. É o furto.
Posse violenta: Ex.: do Pablo e Fredie disputando a Fazenda. A posse só começa
quando Fredie expulsa Pablo: posse injusta decorrente de violência. É o roubo. A
violência pode ser física ou moral.
Posse precária: A posse é injusta por vício de precariedade quando o possuidor não
devolve a coisa no tempo aprazado. É a apropriação indébita. A precária é aquela
conquistada com abuso de confiança, começa justa e passa a ser injusta (Ex.: contrato
de comodato, porque vencido o prazo do comodato a pessoa deve devolver o bem, se
não o fizer passa a ter a posse precária).
216
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a
presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei
expressamente não admite esta presunção.
Trata-se, como se vê, da boa-fé subjetiva que “só perde este caráter no caso e desde
o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui
indevidamente”, a teor do artigo 1.202 do Código Civil, estando diretamente relacionada com
o fato de o possuidor ignorar o vício. Tão só.
Nada disto se confunde com o justo título, nem ainda com o título legítimo, isto por
que: justo título é a justa causa, o justo motivo, independentemente de documento específico
comprobatório da posse, enquanto que título legítimo é o documento hábil a demonstrar, por
escrito, a posse. A este respeito existem dois importantes Enunciados em Jornada de Direito
Civil. O Enunciado 302: “Pode ser considerado justo título para a posse de boa-fé o ato jurídico
capaz de transmitir a posse ad usucapionem, observado o disposto no art. 113 do Código
Civil”. E o Enunciado 303, assim redigido: “Considera-se justo título para presunção relativa
da boa-fé do possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja
ou não materializado em instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da
função social da posse”.
Posse própria é a daquele que tem animus domini (intenção de submeter a coisa ao
exercício de um direito real; ex. posse exercida pelo proprietário do bem).
Posse imprópria é a daquele que tem posse subordinada a posse de outra pessoa,
que tem posse própria (ex. locatário).
Posse originária é aquela que não tem vínculo de aquisição com possuidor anterior.
Pego um livro abandonado ou invado um imóvel e não sou repelido: tenho posse originária,
pois não a adquiri, tomei.
Posse derivada, por outro lado, é aquela adquirida de outro possuidor. Assim, o
inquilino tem posse derivada. Da mesma forma, a pessoa que compra um apartamento e vai
morar nele tem posse derivada.
A posse mansa ou pacífica NÃO SIGNIFICA “posse de boa-fé”,mas sim posse que não
sofreu oposição → pode até ser posse de má-fé, basta que não haja oposição. Ânimo de
domínio. A posse ininterrupta é aquela contínua, que pode também ocorrer por acessio
possessionis(inter vivos) ou sucessio possessionis(causa mortis) em caso de soma da posse.
Quem detém posse injusta não tem posse usucapível. Quem tem posse ad
usucapionem, que é o mais, tem com certeza posse ad interdicta, que é o menos; mas a
recíproca não é verdadeira.
Aquele que tem posse nova pode ter liminar para retomada da posse, mediante
procedimento especial.
Aquele que tem posse velha, embora não tenha à sua disposição liminar pelo
procedimento especial, pode conseguir tutela antecipada, porém mediante o procedimento
comum (comprovando seus requisitos).
A maioria da doutrina entende que se trata de posse velha. Para ser posse velha deve
ter ano e dia ou mais (Tartuce, Maria Helena Diniz, Carlos Roberto Gonçalves).
Qual o termo inicial do prazo de ano e dia? No caso de turbação da posse, o prazo de
ano e dia conta do último ato de gravame. Se forem vários atos ou uma continuidade de atos,
218
o prazo se conta sempre do último molestamento. Se houver a perda da posse, o prazo corre
a partir do esbulho.
Posse trabalho ou posse útil é uma posse especial, a teor dos parágrafos dos artigos
1.238 e 1.242, do Código Civil. Se o possuidor utiliza o imóvel urbano ou rural como moradia
da família, fonte de sustento ou de investimentos de interesse social e econômico, recebe um
tratamento privilegiado: encurta-se o prazo da usucapião.
Aquisição da Posse
A posse pode ser adquirida pela própria pessoa, seu representante ou terceiro, desde
que haja ratificação, na forma do artigo 1.205 do Código Civil. Esta posse se transmite aos
herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres (art. 1.206, CC), sendo que
o sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é
facultado unir sua posse à do antecessor, para efeitos legais (art. 1.207, CC), como no caso
da soma das posses para fim da usucapião.
EFEITOS DA POSSE
Quanto à percepção dos frutos (art. 1.214 a 1.216, CC)
219
Detalhe importante a este respeito é que os frutos naturais e industriais se reputam
colhidos e percebidos, logo que são separados. Já os civis, percebidos dia por dia (art. 1.215,
CC).
Nada disto ocorrera na hipótese de má-fé. Este possuidor malicioso responde por
todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber
(fruto percipiendo), desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas
da produção e custeio (art. 1.216, CC).
Imagine a hipótese na qual alguém vende um imóvel a outrem, mas continua a habitar
naquele bem, que antes lhe pertencia (agora mediante o pagamento de aluguel). Nesta
situação, este alienante possuía, originariamente, em nome próprio. Contudo, agora, passa a
possuir em nome alheio. A isto se denomina constituto possessório ou cláusula constituti.
220
E se o inverso ocorresse? A tradittio breve manu é o inverso. Ocorre quando alguém
possuía originariamente algo em nome alheio e, agora, passa a possuir em nome próprio.
EFEITOS DA POSSE.
São as consequências derivadas da posse.
Faculdade de Invocar os Interditos Possessocrios.
Os atentados e ameaças à posse desafiam a tutela possessória. Espécies de
atentados à posse:
Turbação: restrição ao exercício da posse (atentados fracionados à posse; Ex.: colocar
uma caçamba de entulho na porta da garagem de uma casa) – presente .
Turbação agressão que não priva da posse – continua → na posse – Ação de
manutenção de posse.
Esbulho: privação ao exercício da posse, que pode ser total ou parcial (atentados
consolidados à posse) – passado.
Esbulho → agressão que priva da posse – perda da posse – reintegração de posse.
Ameaça: agressão em potencial, ou seja, existe a possibilidade de ocorrer a agressão,
mas ela ainda não ocorreu – futuro. Ameaça ainda não houve agressão, mas existe o
justo receio de que ela venha a ocorrer – agressão → em potencial – Ação de interdito
proibitório(tutela inibitória - obrigação de não fazer).
Olho na juris!
Súmula 228, STJ: “É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral”.
221
Benfeitoria é feita na estrutura da coisa, de modo sempre artificial, pelo homem,
podendo ser:
Necessária - estruturais, necessárias à manutenção do bem.
Útil - facilitam ou aumentam uso ou gozo do bem.
Voluptuária - para mero deleite (aformoseamento e gustativas).
Possuidor de boa-fé tem direito à indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis+ tem
direito de retenção pelas benfeitorias necessárias e úteis. As benfeitorias voluptuárias podem
ser levantadas (jus tolendi) se não forem pagas + não deteriorarem a coisa, e não geram
direito de retenção.
O possuidor de má-fé responderá por todos os que colheu, percebeu e pelos que
deixou de colher quando deveria tê-los colhido (frutos percipiendo). Os pendentes deverão
ser devolvidos.
De olho na banca!
Ano: 2011 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-ES Prova: CESPE - 2011 - PC-ES -
Delegado de Polícia - Específicos
A respeito da posse e da servidão, julgue os itens a seguir.
Família que resida há mais de cinco anos em terra pública, de forma irregular, terá a posse
precária dessa terra, mas poderá utilizar os interditos possessórios.
Gabarito: errado.
223
II – a superfície;
III – as servidões;
IV – o usufruto;
V – o uso;
VI – a habitação;
VII – o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII – o penhor;
IX – a hipoteca;
X – a anticrese;
XI – a concessão de uso especial para fins de moradia;
XII – a concessão de direito real de uso
XIII – a laje.
224
Características
Importantes características ajudam o estudante a melhor compreender o conteúdo e
finalidade do direito de propriedade, podendo-se afirmar ser este:
a) COMPLEXO – pois é formado por um plexo (conjunto) de poderes ou faculdades (usar,
gozar/fruir, dispor e reivindicar);
b) ABSOLUTO – pois a sua oponibilidade é “erga omnes” (em face de todos);
c) PERPÉTUO – uma vez que não se extingue pelo simples não uso e pode ser
transmitido de uma geração para outra;
d) EXCLUSIVO – pois afasta o exercício do poder dominial de terceiro sobre a mesma
coisa (quando da propriedade sobre um bem), ressalvando-se apenas a situação do
condomínio, em que há divisão ideal do bem;
e) ELÁSTICO – pois os poderes do proprietário podem ser distendidos ou contraídos,
para formar outros direitos reais, sem perder a sua essência (vide art. 1.231, CC);
Atenção para o mnemônico: CAPEELA!
Função social da propriedade (art. 1.229 e art. 1.230, CC)
Eliminada se encontra a ultrapassada ideia medieval segundo a qual qui dominus este
soli dominus est usque ad coelos et usque ad ínferos (quem é dono do solo é também dono
até o céu e até o inferno). Atualmente, portanto, diante da função social, a propriedade do
solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, nem mesmo os potenciais
de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos em leis
especiais. O artigo 176 da Constituição Federal de 1988 e o artigo 84 do Código de Mineração
impedem o assenhoramento (aquisição de domínio) de certos bens minerais que constituem
elementos da propriedade, seja porque estratégicos, seja ante a supremacia do interesse
público sobre o privado, havendo tão somente uma exceção a este respeito, que se refere
aos índios que estão autorizados a fruir também deste patrimônio.
225
Em fiel respeito ao mandamento constitucional prescreve o artigo 1.230 do Código
Civil que a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais,
os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por
leis especiais. Desta forma, a extensão do direito de propriedade é diretamente orientada pela
função socioambiental desta, sem perder de mira o interesse público primário e os interesses
metaindividuais.
Função social da propriedade (art. 5º, XXII e XXIII e art. 170, III, CF)
A propriedade não é um direito absoluto, sendo defesos os atos que não trazem ao
proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar
outrem (§ 2º, do artigo 1.228, CC). Esta propriedade se presume plena e exclusiva até prova
em contrário (art. 1.231, CC).
Também se entende, à luz do Enunciado 305 da III Jornada de Direito Civil, que “Tendo
em vista as disposições dos §§ 3º e 4º do art. 1.228 do Código Civil, o Ministério Público tem
o poder-dever de atuação nas hipóteses de desapropriação, inclusive a indireta, que envolvam
relevante interesse público, determinado pela natureza jurídica dos bens envolvidos”.
Inúmeros foram os Enunciado elaborados em Jornada de Direito Civil para a análise do artigo
1.228 que, de longe, constitui um dos mais inovadores da legislação privada. A título
ilustrativo, podemos citar ainda os Enunciados 306 a 311.
USUCAPIÃO
USUCAPIÃO PRAZO E CARACTERÍSTICAS
Prazos:
1) EXTRAORDINÁRIA • 15 anos de posse (regra)
(art. 1.238 do CC) • 10 anos
226
O prazo da usucapião extraordinária será de 10 anos se:
a) o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia
habitual; OU
b) nele tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que
estava de boa-fé.
Não importa o tamanho do imóvel.
Prazos:
• 10 anos (caput)
• 5 anos (parágrafo único)
Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que
estava de boa-fé.
Requisitos:
4) ESPECIAL
a) 250m2: a pessoa deve estar na posse de uma área urbana de,
URBANA
no máximo, 250m2;
(PRO MISERO)
b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área
(PRO HABITATIONE)
por, no mínimo, 5 anos ininterruptos, sem oposição de ninguém;
c) Moradia: o imóvel deve estar sendo utilizado para a moradia da
(art. 1.240 do CC)
pessoa ou de sua família;
(art. 9º do Estatuto da
d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de
Cidade)
outro bem imóvel (urbano ou rural).
(art. 183 da CF/88)
227
Observações:
• Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou
que estava de boa-fé;
• Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez;
• É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse
caso, quando for calcular se o tamanho do imóvel é menor que
250m2, não se incluirá a área comum, como salão de festas etc,
mas tão somente a parte privativa);
• O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao
homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado
civil.
Requisitos:
a) existência de um núcleo urbano informal;
b) esse núcleo deve viver em um imóvel cuja área total dividida
pelo número de possuidores seja inferior a 250m2;
c) esse núcleo deve estar na posse do imóvel há mais de 5 anos,
sem oposição;
d) os possuidores não podem ser proprietários de outro imóvel
urbano ou rural.
228
Neste caso, o juiz fixará a justa indenização devida ao
proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o
registro do imóvel em nome dos possuidores.
De olho na juris!
Súmulas sobre usucapião.
▪ Súmula 237-STF: O usucapião pode ser arguido em defesa.
▪ Súmula 263-STF: O possuidor deve ser citado, pessoalmente, para a ação de
usucapião.
▪ Súmula 340-STF: Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os
demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião
▪ Súmula 391-STF: O confinante certo deve ser citado pessoalmente para a ação de
usucapião
▪ Súmula 11-STJ: A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de
usucapião especial, não afasta a competência do foro da situação do imóvel.
▪ Súmula 193-STJ: O direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião.
230
Exatamente por isto, enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser
havido como dono do imóvel (§ 1º, art. 1.245), o mesmo ocorrendo enquanto não se promover,
por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento,
o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel (§ 2º, art. 1.245).
O sistema registrário brasileiro é de base romana. Para que haja aquisição da propriedade
é preciso conjugar duas variáveis: o título (contrato) e modo (solenidade na transferência). A
solenidade dos bem móveis é a tradição e nos bens imóveis o registro. Para lei civil o registro
é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial de registro, e este o prenotar
no protocolo (art. 1.246, CC e art. 186 da Lei de Registros Públicos). Trata-se do princípio da
prioridade da prenotação a gerar uma presunção de verdade relativa, juris tantum, a ser ilidida
mediante o cancelamento do próprio registro.
232
Ocorre quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destaca de um prédio e
se junta a outro. Nesta hipótese, o dono do prédio que teve acréscimo deve indenizar o
proprietário daquele que sofreu decréscimo, dentro de um prazo decadencial de um ano. Caso
não exista indenização, poderá o proprietário exigir a terra de volta.
Entende-se por álveo a linha que divide o meio do rio. Segundo o artigo 1.252 do
Código Civil o álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas
margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem
novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo, sendo
esta outra forma de aquisição da propriedade imóvel, decorrente de um novo traçado do rio.
Pega a visão!!!
PERDA DA PROPRIEDADE.
234
São causas de perda da propriedade: a alienação, a renúncia, o abandono, o
perecimento da coisa e a desapropriação.
A alienação gratuita (doação) ou onerosa (venda) é a forma usual de se perder a
propriedade. Contudo, renúncia e abandono também constituem importantes
modalidades, daí a importância em se distinguir uma situação da outra.
A renúncia é a demissão da titularidade jurídica sobre uma dada coisa. É a declaração
expressa da vontade abdicativa da propriedade.
O abandono constitui um fato jurídico não expresso, mas sobre o qual se pode extrair
a intenção de não mais ser proprietário da coisa: o imóvel urbano que o proprietário
abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não
encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três
anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas
respectivas circunscrições (art. 1.276, CC) Preceitua o § 1º do referido artigo 1.276
que o imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá
ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União,
onde quer que ele se localize.
Também se perde a propriedade mediante o perecimento da coisa, lembrando a
máxima segundo a qual a coisa perece em face de seu dono – res perit domino. O
perecimento simboliza a perda do objeto ou da utilidade do bem.
A desapropriação constitui a última modalidade de perda da propriedade e está
relacionada com a supremacia do interesse social (público) sobre o particular
egoístico.
De olho na banca!
Ano: 2011 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-ES Prova: CESPE - 2011 - PC-ES -
Delegado de Polícia - Específicos
A respeito da posse e da servidão, julgue os itens a seguir.
Família que resida há mais de cinco anos em terra pública, de forma irregular, terá a posse
precária dessa terra, mas poderá utilizar os interditos possessórios.
Gabarito: certo.
Visão geral:
235
DIREITO CONCEITO TEMPO OBSERVAÇÃO
Anticrese Direito real de garantia 15 anos (máximo) O credor anticrético
sobre bem frugívero (que pode, salvo pacto
produz frutos). em sentido
Diferente do penhor e da contrário, arrendar
hipoteca, não é credor os bens dados em
preferencial no momento anticrese a terceiro.
da excussão do bem (a
dívida é garantida pelos
frutos e rendimentos, e
não pelo imóvel).
Penhor Direito real na coisa Eterno. Admite-se o
alheia de garantia sobre subpenhor.
bem móvel passível de Exige-se a
alienação. tradição.
Hipoteca Direito real de garantia 20 anos (máximo) A coisa pode ser
sobre bem imóvel alienada.
No SFH, exige-se
consentimento do
credor.
Admitem-se
hipotecas de
diferentes graus.
Alienação Direito real de garantia Enquanto durar o Gera patrimônio de
fiduciária que permite a circulação contrato. afetação.
de bens.
Enfiteuse Arrendamento perétuo Perpétua. Pode ser
repassado, com
direito
de preferência.
Servidão Direito real que gera Perpétua. Inalienável
predial utilidade
em um prédio dominante,
e um
ônus ao serviente
236
Superfície Para superfície da Pode ser Pode ser alienado,
propriedade de outrem temporária ou não mas há direito
para fins de construção (estatuto das de preferência.
ou plantação. Cidades).
Usufurto Direito real que permite Temporário. Inalienável
ao terceiro Pessoa física, é (impenhorável, por
retirar as vantagens, as vitalício. consequência -
utilidades Para Pessoa STJ).
produzidas por um bem Jurídica tem tempo É personalíssimo.
(uso ou habitação) móvel máximo de 30 Não se admite
ou anos. usufruto de 2º grau
imóvel. ou sucessivo,
porque não se
transmite
(inalienável)
Uso e Usufruto com finalidade Temporário Não admite
Habitação específica alienação, locação,
de manutenção da arrendamento etc.
entidade É personalíssimo.
familiar
Especificando....
SERVIDÃO
É direito real na coisa alheia de gozo e fruição através do qual um imóvel (edificação)
sofre uma restrição para gerar um benefício/utilidade/vantagem a outro prédio. Regulado a
partir do artigo 1.378, do CC/02.
237
Não confundir servidão com direito de vizinhança. O Direito de vizinhança é limitação ao direito
de propriedade decorrente de lei. É um direito em favor da coletividade, além disso, é
recíproco entre os vizinhos. A servidão é unilateral.
Características.
▪ Representa um gravame de um prédio em favor de outro prédio.
▪ É inalienável.
▪ É um direito acessório.
▪ Só haverá servidão entre prédios pertencentes a titulares distintos. Se ambos forem
do mesmo titular, não há necessidade de servidão. Quando os prédios servientes
ficam sob a propriedade do mesmo titular, a servidão é extinta.
▪ Perpetuidade: Toda servidão é perpétua, pois pertence ao prédio e acompanha a
coisa.
▪ Não se presume: Exige declaração expressa dos interessados e consequente registro.
▪ É indivisível.
Constituição.
▪ Pela vontade das partes: negócio jurídico, portanto (inter vivos ou causa mortis).
▪ Como a servidão é uma oneração do imóvel serviente, a outorga conjugal é
indispensável.
▪ Além disso, se o negócio for de valor superior a 30x o maior salário mínimo vigente,
necessário será a escritura pública.
▪ O registro no Cartório de Imóveis é imprescindível em qualquer caso.
▪ Usucapião;
▪ Decisão judicial (exemplo: ação de divisão - desconstituição de condomínio - art. 596,
II do CPC). É o exemplo do condomínio desfeito, onde o magistrado define uma
servidão em favor de um dos novos imóveis criados.
Classificação.
Quanto a impor ação ou abstenção
▪ Servidões Positivas: são aquelas que conferem ao titular da servidão (prédio
dominante, e não o proprietário) o poder de praticar algum ato no prédio dominado.
Exemplo: servidão de trânsito e servidão de aqueduto.
238
▪ Servidões Negativas: são aquelas que impõem ao prédio serviente (dominado) uma
abstenção em relação a um ato que lhe seria possível e lícito. Exemplo: Servidão de
proibição de abertura de janela.
De olho na juris!
Nesse sentido: STF Súmula 415 SERVIDÃO DE TRÂNSITO NÃO TITULADA, MAS
TORNADA PERMANENTE, SOBRETUDO PELA NATUREZA DAS OBRAS REALIZADAS
239
(exemplo: marcas de pneus; placas de trânsito etc.), CONSIDERA-SE APARENTE,
CONFERINDO DIREITO À PROTEÇÃO POSSESSÓRIA (e, por conseguinte, usucapião).
Tutela possessória.
▪ Ações possessórias (a forma mais comum);
▪ Ação confessória: promovida pelo prédio dominante, a fim de obter declaração judicial
de que a servidão existe;
▪ Ação negatória: Objetiva a declaração de que a servidão não existe ou já se extinguiu.
▪ Ação de nunciação de obra nova;
▪ Ação de usucapião.
Extinção.
Via de regra as servidões são perpétuas, mas existem casos onde ocorre sua extinção
(CC/02, art. 1.338). Salvo o caso de desapropriação, todos os demais exigem o cancelamento
do Registro.
▪ Desapropriação: Extinta a propriedade que servia, extinta estará a servidão.
▪ Renúncia pelo titular;
▪ Cessação da utilidade;
▪ Resgate;
▪ Confusão;
▪ Supressão de obras;
▪ Não uso pelo prazo contínuo de 10 anos.
240
em pagamento de indenização ao prejudicado, que gera responsabilidade civil objetiva para
quem se beneficia. Agora, quando já há um acesso à via pública, mas o sujeito quer uma
passagem mais vantajosa, não se trata de direito de passagem forçada.
USUFRUTO.
É o direito real na coisa alheia que atribui ao seu titular as faculdades de usar e fruir
um bem de outrem (os poderes que integram o domínio são uso, gozo/fruição, disposição e
reivindicação, esse direito real concede o uso e gozo/fruição).
USAR significa extrair da coisa sua finalidade precípua, sem alteração da substância.
FRUIR significa o poder de receber os produtos e rendimentos produzidos pela coisa.
Objetos do usufruto:
▪ Bem móvel;
▪ Bem imóvel (constituído mediante Registro, salvo usucapião).
▪ Universalidade de bens;
▪ Parte de um patrimônio;
▪ Créditos (art. 1.395)
▪ Florestas e recursos minerais (art. 1.230)
▪ Bem infungível
Entretanto, o art. 1.392, §1º estabelece a possibilidade de o usufruto incidir sobre bens
fungíveis (de forma excepcional). Nesses casos, surge a figura do QUASE USUFRUTO ou
USUFRUTO IMPRÓPRIO, pois, na realidade, a ele se aplicam as regras do MÚTUO. Não é
um usufruto em sua essência.
Características.
241
Confere direito de preferência {CC/02, art. 1.373}.
De forma geral, o usufruto é PLENO, ou seja, o usufrutuário pode retirar da coisa todas
as suas utilidades, mas pode haver restrição prevista em contrato, limitando seu exercício.
Prevê o art. 1.393 que não se pode transferir o usufruto por alienação; mas o seu
EXERCÍCIO pode ceder-se por título gratuito ou oneroso.
Pode ser constituído em favor de pessoa jurídica, hipóteses na qual terá o prazo
máximo 30 anos (para que a coisa não fique muito tempo fora do comércio).
Formas de instituição.
▪ Usufruto legal: criado por força de lei. Exemplo: Art. 1.693 do CC Usufruto constituído
em favor dos pais em relação aos bens de seus filhos menores. É;
▪ Por força de norma constitucional: usufruto em favor dos índios das terras da União
que ocupam {CF, art. 20, XI e art. 231, §2º).
▪ Usucapião;
▪ Por decisão judicial (art. 716 do CPC);
242
▪ Por negócio jurídico (inter vivos). Nessa hipótese, tem-se o usufruto por RETENÇÃO
{ex. quando o titular do bem transfere o título aliena o bem, mas reserva para si o
usufruto – representa uma alienação de uso, também o instituto denominado constituto
possessório} ou usufruto por ALIENAÇÃO (quando se dispõe do bem em favor de uma
pessoa, mas transfere-se o usufruto em favor de outra; como no testamento, em que
testa-se em favor de uma pessoa, mas gravou o usufruto em favor de outra).
Características.
▪ Temporário (vitalício para pessoa física, ou 30 anos para pessoa jurídica);
▪ Personalíssimo (favor de uma pessoa ou seu núcleo familiar);
▪ Inalienável (De olho na juris! Impenhorável também, de acordo com o REsp
851.994/PR). A nua propriedade (propriedade sem uso e gozo) é alienável e
penhorável;
▪ Admite renúncia;
▪ Proibição de exercício de usufruto sucessivo. Ou seja, é proibido o usufruto de
segundo grau. Simultâneo é possível.
Extinção.
▪ Renúncia;
▪ Morte;
▪ Confusão;
▪ Advento do termo;
▪ Implemento da condição;
▪ Desapropriação;
▪ Perecimento do bem.
Isto é, no fideicomisso cria-se uma propriedade resolúvel, que segue uma ordem
sucessiva (primeiro o bem fica com o substituto; depois de implementada a condição passa
para o beneficiário). Essa é a grande diferença para o usufruto. No usufruto o exercício de
243
direitos dos titulares é simultâneo; no fideicomisso é sucessivo. O fideicomisso só é previsto
na forma testamentária pelo CC. A forma
USO.
Constitui-se em um direito real sobre coisa alheia de gozo e fruição regulado a partir
do art. 1.412 do CC/02. É um usufruto com finalidade específica; denominado, também,
‘usufruto em miniatura’.
HABITAÇÃO.
Constitui-se em um direito real sobre coisa alheia de gozo e fruição regulado a partir
do art. 1.412 do CC/02. Assim como o uso, é um usufruto com finalidade específica;
denominado, também, ‘usufruto em miniatura’.
244
O uso e habitação jamais podem ser constituídos em favor de Pessoa Jurídica. Já o
usufruto e a superfície sim. O uso e habitação devem ser regulados com as mesmas
características do usufruto. Assim, também são personalíssimos, não podendo ser alienados
ou transferidos.
Podem, tal como o usufruto, ser adquiridos por usucapião (Súmula 193 - Linha
telefônica - Ver Pablo - Usucapião de direitos).
A lei também pode instituir direito real de uso e habitação. No caso do direito real de
habitação do cônjuge sobrevivente, pode o titular levar quem quiser para dentro de casa, sem
qualquer restrição legal.
De olho na juris!
Atenção para as súmulas!
▪ Súmula 76: a falta de registro do compromisso de compra e venda de imóvel não
dispensa a previa interpelação para constituir em mora o devedor.
▪ Súmula 84: É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação
de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que
desprovido do registro.
▪ Súmula 239: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do
compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.
De olho na lei!
Segundo a Lei, a União poderia ajuizar a chamada “ação de depósito fiscal” contra o
depositário e se ele não depositasse o valor referente à divida na contestação, ou após a
sentença, no prazo de 24 horas, seria preso. Importante salientar que o devedor poderia
enfrentar este processo judicial de depósito mesmo sem que tivesse chegado ao fim o
processo administrativo fiscal.
Ocorre que, o STF, na ADI 1.055/DF de Relatoria do Min. Gilmar Mendes, (julgado em
15/12/2016 – Info 851) considerou essa lei incompatível com a nossa Lei Maior, sendo então
inconstitucional.
De olho na juris!
O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta
para declarar a inconstitucionalidade da Lei 8.866/1994,
resultante da conversão da Medida Provisória 427/1994,
reeditada pela Medida Provisória 449/1994. A lei impugnada
246
trata do depositário infiel de valor pertencente à Fazenda
Pública.
[...]
No mérito, a Corte explicou que a lei: a) cria a ação de depósito
fiscal, com o escopo primordial de coagir, sob pena de prisão, o
devedor a depositar o valor referente à dívida na contestação,
ou após a sentença, no prazo de 24 horas; b) chancela a
possibilidade de submeter o devedor a sofrer processo judicial
de depósito, sem que tenha ocorrido a finalização do processo
administrativo fiscal; e c) dispõe sobre a proibição de, em se
tratando de coisas fungíveis, seguir-se o disposto sobre o mútuo
(CC/1916, art. 1280; CC/2002, art. 645), com a submissão do
devedor a regime mais gravoso de pagamento, em face dos
postulados da proporcionalidade, do limite do direito de
propriedade e do devido processo legal.
Diante desse cenário, admitir que seja erigido à condição de
“depositário infiel aquele que não entrega à Fazenda Pública o
valor referido neste artigo, no termo e forma fixados na
legislação tributária ou previdenciária” (Lei 8.866/1994, art. 1º, §
2º) para o fim de coagi-lo a pagar a dívida tributária ou
previdenciária da União, dos Estados-Membros e do Distrito
Federal, cria situação mais onerosa do que a prevista no
ordenamento jurídico até então vigente, consistente nas
garantias constitucionais e nas já previstas disposições do CTN
(CF, art. 5º, LV; e CTN, arts. 142, 201 e 204).
À época da edição da Medida Provisória 427/1994, já existia a
Lei de Execução Fiscal (Lei 6.830/1980) e a medida cautelar
fiscal (Lei 8.397/1992), as quais são instrumentos suficientes,
adequados e proporcionais para a cobrança tributária.
Cumprindo o mandamento constitucional do devido processo
legal, ambos os dispositivos estipulam ritos e privilégios para a
tutela da arrecadação ao erário e garantias ao contribuinte.
Sem guardar qualquer correspondência com o postulado da
proporcionalidade e seus subprincípios da necessidade,
adequação e proporcionalidade em sentido estrito, a lei em
questão possibilita o ajuizamento de demanda que coage ao
depósito da quantia devida com ou sem apresentação de
contestação, sob pena de decretação de revelia.
E mais: a legislação questionada admite o ajuizamento de
demanda judicial apenas com base em “declaração feita pela
pessoa física ou jurídica, do valor descontado ou recebido de
terceiro, constante em folha de pagamento ou em qualquer outro
documento fixado na legislação tributária ou previdenciária, e
não recolhido aos cofres públicos” (Lei 8.866/1994, art. 2º, I),
sem que ocorra a finalização do processo administrativo fiscal, o
que fere postulados constitucionais (CF, art. 5º, LIV e LV).
É corolário do princípio do devido processo legal que aos
litigantes sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa,
com os meios e recursos a eles inerentes. O postulado também
se aplica aos processos que contenham relação jurídico-
tributária, razão pela qual aquela medida vulnera a garantia do
contribuinte ao devido processo legal.
247
Nesse sentido, determinar que a contestação seja apresentada
com o depósito do numerário sob pena de revelia equivale a
exigir depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação
judicial, o que é manifestamente proibido pela Suprema Corte,
nos termos da Súmula Vinculante 28.
Ao contribuinte é facultado ajuizar ação de depósito em face do
Fisco, a fim de obter certidão negativa de débito (ou positiva com
efeito de negativa). Porém, ele não pode ser coagido a assim
proceder, sob pena de vulneração ao princípio da
proporcionalidade, do contraditório e da ampla defesa. De outro
lado, não há nenhuma lesão ao patrimônio público, haja vista os
instrumentos processuais à disposição da Fazenda Pública.
Demonstrado, pois, que, se o incremento da arrecadação era o
resultado almejado, o ordenamento jurídico já contém modos e
formas de chegar a resultado semelhante, quais sejam, ação de
execução fiscal ou medida cautelar fiscal. Sob esse aspecto, a
lei em comento não guarda compatibilidade com a norma
constitucional e ainda apresenta outras incompatibilidades.
É cediço que há o dever fundamental de pagar tributos,
entretanto os meios escolhidos pelo Poder Público devem estar
jungidos à necessidade da medida, à adequação e à
proporcionalidade, em sentido estrito, de restringir os meios de
adimplemento em caso de cobrança judicial, as quais não estão
presentes na apreciação da legislação ora questionada.
O Estado brasileiro baseia-se em receitas tributárias. Um texto
constitucional como o nosso, pródigo na concessão de direitos
sociais e na promessa de prestações estatais aos cidadãos,
deve oferecer instrumentos suficientes para que possa fazer
frente às inevitáveis despesas que a efetivação dos direitos
sociais requer. O tributo é esse instrumento. Considera-se,
portanto, a existência de um dever fundamental de pagar
impostos. No caso da Constituição, esse dever está expresso no
§ 1º do art. 145.
Existe inegável conflito entre os cidadãos e os agentes privados
no sentido de transferir para os demais concidadãos o ônus
tributário, furtando-se, tanto quanto possível, a tal encargo. Ao
disciplinar de maneira isonômica, segundo a capacidade
econômica do contribuinte, a distribuição dos ônus tributários e
ao operar por meio da fiscalização tributária para conferir
efetividade a esse objetivo, o Estado está verdadeiramente a
prestar aos cidadãos a função de árbitro de um conflito entre
agentes privados.
Igualmente, o Colegiado observou a lei à luz do disposto no
inciso LIV do art. 5º da Constituição. Constatou que o
instrumento de agir em juízo, lá estabelecido, restringe o
cumprimento da obrigação pelo devedor tributário, quando
determina apenas o depósito da quantia em dinheiro, em claro
desrespeito ao direito de propriedade. Isso ocorre porque o
diploma normativo em questão suprime, parcial ou totalmente,
posições jurídicas individuais e concretas do devedor vinculadas
ao pagamento da dívida tributária, que repercutem em sua
propriedade, ante a existência de rol normativo-legal que já
248
disciplina a matéria com completude. A restrição acaba
conflitando com a existência da ação de execução fiscal, na qual
coincide tal possibilidade, aliada a outras.
A medida legislativa-processual criada não é adequada,
tampouco necessária para obtenção de fins legítimos, por
restringir a propriedade do devedor e estabelecer uma única
forma de pagamento: depósito da quantia devida em
dinheiro no prazo de 24 horas, situação flagrantemente
inconstitucional.
A retirada das disposições relativas à prisão civil por dívidas
acaba com o escopo da legislação em comento. Afinal, não
existe plausibilidade para manutenção da tutela jurisdicional
díspar com o ordenamento jurídico, a qual cria situação
desproporcional e, portanto, inconstitucional para o fim de
otimizar a arrecadação tributária.
Por fim, a possibilidade de manejo da ação de depósito fiscal
está em franco desuso, ante a existência de outros meios de que
o Fisco se pode valer para cobrança de seus créditos, tal como
execução fiscal ou medida cautelar fiscal, fato que não afasta a
inconstitucionalidade.
No entanto, para evitar insegurança jurídica ou qualquer prejuízo
ao erário em relação aos prazos prescricionais, o Tribunal definiu
que as ações de depósito fiscal em curso deverão ser
transformadas em ação de cobrança, de rito ordinário, com
oportunidade ao Poder Público para a sua adequação ou para
requerer a sua extinção.
ADI 1055/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em
15.12.2016. (ADI-1055)
[Grifos nossos]
INTRODUÇÃO
De base constitucional, o Direito das Famílias é trazido no art. 226, da CFRB de 1988.
Assim sendo, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, é necessário uma
reconfiguração da interpretação do Direito Civil levando em consideração a
constitucionalização da disciplina.
Veja quadro comparativo:
249
Fonte: https://estudodireitodotcom.files.wordpress.com/2019/05/resumo_direito-civil-
v_ervatti.pdf
CASAMENTO
Conceito
O casamento é um ato negocial, solene, público e complexo por meio do qual duas
pessoas constituem família pela livre manifestação de vontade e pelo reconhecimento do
Estado. De acordo com o art. 1.511 do Código Civil “O casamento estabelece comunhão plena
de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”.
250
A CF/88 leciona que “o casamento é civil e gratuita a celebração” (§ 1º, art. 226),
permitindo, igualmente, o casamento religioso com efeito civil “nos termos da lei” (§ 1º, art.
226). O artigo 1.512 do Código Civil regulamenta a matéria.
De olho na prova!
Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: MPE-CE Prova: CESPE - 2020 - MPE-CE -
Promotor de Justiça de Entrância Inicial
De acordo com o Código Civil, o casamento de quem ainda não atingiu dezesseis anos de
idade é
A. proibido, em qualquer hipótese.
B. permitido, de forma excepcional, somente para a finalidade de evitar imposição ou
cumprimento de pena criminal.
C. permitido, de forma excepcional, somente na hipótese de gravidez.
D. autorizado apenas na hipótese de gravidez ou na situação que tenha a finalidade de evitar
imposição ou cumprimento de pena criminal, desde que haja expressa concordância de
ambos os pais ou representantes legais do(a) menor.
E. autorizado em qualquer hipótese em que haja expressa concordância de ambos os pais ou
representantes legais do(a) menor.
Gabarito: “A”.
Pega a visão!:
• Se o casamento acontecer por autorização judicial, o regime de bens será o da
separação obrigatória, em consonância com o artigo 1.641, CC;
• A autorização concedida pode ser revogada até a data da celebração. Observe-se que
os deficientes são plenamente capazes para o casamento por força do EPD – Estatuto
da Pessoa com Deficiência (arts. 6º, inciso I e 84).
251
Para se casar é preciso realizar o pedido a um oficial de registro. É a chamada
habilitação para o casamento, procedimento que se inicia por meio das formalidades
preliminares, e se encerra com a expedição de uma habilitação, em sentido estrito, através
da qual os nubentes ficam autorizados a casarem dentro de 90 (noventa) dias a contar da
data da expedição.
Pega a visão!
Enunciado 513 – V JDC/CJF: O juiz não pode dispensar, mesmo fundamentadamente, a
publicação do edital de proclamas do casamento, mas sim o decurso do prazo.
252
Fonte: http://cartoriopinheirinho.com.br/casamento-civil-por-onde-comeco/
Esse processo todo tem como objetivo averiguar se existiria algum impedimento, ou
causa suspensiva, a atravancar o casamento.
Impedimentos
Os impedimentos são obstáculos invencíveis para que ocorra o casamento. São
situações disciplinadas de forma taxativa na legislação cível que, se presentes, frustram a
realização do enlace matrimonial.
De olho na lei!
Visão geral, Código Civil:
253
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver
conhecimento da existência de algum impedimento, será
obrigado a declará-lo.
O impedimento nada mais é do que uma proibição jurídica cuja desobediência provoca
a nulidade do casamento (art. 1.548, II, CC).
As causas impeditivas visam reprimir uniões que afetem a prole, a ética, a família, a
ordem e a moral. A aplicação dessas causas abrange, até mesmo, o casamento de
estrangeiros domiciliados no Brasil. A despeito de o artigo 7º da LINDB admitir a aplicação do
estatuto pessoal como exceção da territorialidade, existe disposição expressa na mesma lei
quanto a observância dos impedimentos matrimoniais.
• Parentesco (art. 1.521, I a V, CC): Podem ser por sanguinidade ou afinidade. Alguns
parentes não poderão casar entre si. É o que ocorre, por exemplo, para os parentes
em linha reta e também em relação aos colaterais até o terceiro grau, inclusive. Esta
é a regra, nitidamente relacionada à proteção à saúde e ao ambiente familiar. Todavia,
excepcionalmente será possível o casamento entre colaterais de 3º grau (tios e
sobrinhas), conforme Decreto-Lei 3.200, em seu artigo 2º, desde que se apresente
atestado de dois médicos que examinem os nubentes e reconheçam tecnicamente a
ausência de problema genético. O inciso IV, do artigo 1.521 do Código Civil que proíbe
o casamento entre colaterais de terceiro grau deve ser avaliado em consonância com
esta excepcionalidade (Enunciado 98 do CJF/STJ). Ademais, o vínculo por afinidade
na linha reta não se extingue, de acordo com o art. 1.595, § 2º, tratando-se de
impedimento eterno. Assim, parentes em linha reta por afinidade jamais poderão casar
entre si. São impedidos. Este é o dispositivo que justifica a impossibilidade de
casamento com sogro, ou sogra. Importante lembrar, contudo, que o parentesco por
afinidade colateralidade poderá ser extinto. Por esta razão, em tese é possível
casamento com o cunhado, ou com a cunhada.
• De vínculo. Bigamia (art. 235, Código Pnal) – o inciso VI do artigo 1.521, CC, proíbe
o casamento de pessoas já casadas, o que evidencia a presença do princípio da
monogamia, historicamente consagrado no Direito Matrimonial. Nota-se que além de
impedimento matrimonial, a bigamia também é crime, tipificado no nosso
254
ordenamento. Pega a visão! Esse impedimento não veda a constituição de união
estável, de modo que uma pessoa casada, porém separada, poderá contrair união
estável com outra nestas condições e desde que observada a relação monogâmica.
• De crime. (art. 1.521, VII, CC) – não pode casar o cônjuge sobrevivente com o
condenado em crime de homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu par. Aqui é
importante ter cautela! A norma usa a expressão “condenado”, de forma que se a
pessoa for denunciada e está respondendo ao processo penal, ainda sem condenação
alguma, inao há que se falar em impedimento. Assim como não incide a causa
impeditiva se, depois da celebração do matrimonio, a pessoa vier a ser condenada,
pois o impedimento é analisado no momento anterior (e não posterior) ao casamento.
Pega a visão!
Os impedimentos são matérias de interesse público de forma que podem ser opostos
pelo juiz, Oficial de Registro Civil e por terceiros, de forma fundamentada visando garantir o
contraditório e a ampla defesa, bem como precaver responsabilidades.
Causas suspensivas
Aqui também o código apresenta obstáculos ao matrimonio, mas, tratam-se de
obstáculos superáveis, ou seja, são recomendações do legislador, para algumas pessoas e
situações.
Pega a visão!
Enga-se quem pensa (e infelizmente é um erro corriqueiro) que o desrespeito às
causas suspensivas causa anulabilidade do casamento. Isso não é verdade. O efeito jurídico
resultante de um matrimônio que não “obedeceu” a recomendação normativa será a
imposição do regime da separação obrigatória de bens (art. 1.641, CC). Reparem que o artigo
dos impedimentos utiliza a palavra “podem” e o artigo das causas suspensivas a palavra
“devem”. Em resumo: casamento que contraria impedimento é nulo (CC, art. 1.548).
Casamento que contraria causa suspensiva é casamento válido submetido ao regime da
separação obrigatória de bens.
De olho na lei!
Art. 1.523. Não devem casar:
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto
não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos
herdeiros;
255
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo
ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez,
ou da dissolução da sociedade conjugal;
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou
decidida a partilha dos bens do casal;
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes,
irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou
curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não
estiverem saldadas as respectivas contas.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que
não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos
incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de
prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e
para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a
nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de
gravidez, na fluência do prazo.
As invalidades do casamento
Podem ser absoluta e relativa.
De olho na lei!
Como acabamos de ver, a hipótese de nulidade está no art. 1548, CC, é a ofensa à
impedimentos. Com a chegada do Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi revogado o inciso
I, do artigo transcrito, de forma que hoje há apenas uma hipótese de nulidade absoluta do
casamento.
A decretação de nulidade dar-se-á mediante ação direta, promovida por qualquer
interessado ou pelo Ministério Público.
Sobre a nulidade relativa:
256
Art. 1.550. É anulável o casamento:
I - de quem não completou a idade mínima para casar;
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu
representante legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco,
o consentimento;
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente
soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo
coabitação entre os cônjuges;
VI - por incompetência da autoridade celebrante.
§ 1º Equipara-se à revogação a invalidade do mandato
judicialmente decretada. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
§ 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade
núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade
diretamente ou por meio de seu responsável ou curador.
(Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Ademais, lembra-se que não se anula por motivo de idade casamento do qual resultou
gravidez, (CC, art. 1.551).
Outrossim, aquele que não atingiu a idade núbil poderá, depois de completá-la,
confirmar seu casamento, com a autorização de seus representantes legais, se necessária,
ou com autorização judicial. O casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado
por seu representante legal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em cento e oitenta
dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de seus
herdeiros necessários.
No que diz respeito aos vícios de vontade aptos a anular o casamento, destaca-se a
análise da coação e, especialmente, do erro essencial quanto à pessoa.
257
De olho na lei!
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro
cônjuge:
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama,
sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne
insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua
natureza, torne insuportável a vida conjugal;
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico
irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia
grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr
em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
IV - (Revogado) . (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência)
Vale destacar aqui a questão do transexual que, depois de operado, casa-se e não
avisa sobre a situação ao seu par. Trata-se de tema bastante polêmico! Pois, por um lado, a
vida privada constitui direito fundamental – preservação da intimidade das pessoas (CC, art.
21), por outro lado a boa-fé (CC, art. 187) e a comunhão plena de vida instituída pelo
casamento (CC, art. 1.511) justificariam a comunicação deste fato ao futuro(a) cônjuge. Este
assunto não encontra-se pacificado na doutrina, muito menos na jurisprudência pátria.
E os prazos?
Salienta-se que os vícios não serão passíveis de anular o casamento se, depois da
ciência, houver coabitação (trata-se de conservação). A anulação somente poderá ser
requerida pelo cônjuge, havendo prazos de I – cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do
art. 1.550; II – dois anos, se incompetente a autoridade celebrante; III – três anos, nos casos
dos incisos I a IV do art. 1.557; IV – quatro anos, se houver coação. Extingue-se, em cento e
oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores de dezesseis anos, contado o prazo
para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento, para seus
representantes legais ou ascendentes. No caso do inciso V do art. 1.550, o prazo para
anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a partir da data em que o mandante tiver
conhecimento da celebração.
Celebração do casamento
De olho na lei!
Vejamos:
258
Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o
homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de
estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados.
Ainda sobre a autoridade celebrante, observe que a legislação cível albergou a teoria
do funcionário de fato (teoria da aparência), ao declarar que subsiste o casamento celebrado
por aquele que, sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções
de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil (art. 1561,
CC).
Espécies de casamento
Pela norma civil temos no Brasil cinco espécies de casamento, tais sejam:
Casamento civil
259
Presente no art. 1.534 e ss do CC, o casamento se realiza, regra geral, na sede do
cartório. Todavia, poderá acontecer em outro edifício público ou particular. Se efetivado em
edifício particular o ato deverá ser feito na presença de 4 (quatro) testemunhas. Também
serão 4 testemunhas se um dos nubentes não puder ou não souber escrever. Caso contrário,
bastam duas testemunhas para o ato solene realizado em cartório.
E não poderia ser diferente ante o fenômeno republicano da laicização da sociedade
civil brasileira (separação entre a Igreja e o Estado). Se a sociedade é civil, o casamento, via
de regra, também será.
260
acontecerá. Não haverá procedimento de habilitação. Em virtude de tantas peculiaridades,
serão necessárias 6 (seis) testemunhas, que não sejam parentes em linha reta, nem colateral
até segundo grau dos nubentes (art. 1540 do CC).
De olho na lei!
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: TJ-AL Prova: FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto
De acordo com o Código Civil, o casamento
A. dispensa habilitação se ambos os cônjuges forem maiores e capazes.
B. é civil e sua celebração gratuita.
C. religioso não produz efeitos civis, em nenhuma hipótese.
D. pode ser contraído entre colaterais, a partir do terceiro grau.
E. pode ser celebrado mediante procuração, por instrumento público ou particular.
Gabarito: “B”.
262
REGIME DE BENS (efeitos patrimoniais do casamento)
O regime de bens é o “regulamento” patrimonial do casamento, isto é, o regimento que
avalia a comunicabilidade ou não de determinado patrimônio ao longo da dinâmica econômica
do casal.
O regime de bens submete-se a dois princípios: liberdade de escolha, o qual é
exercitado pelo pacto antenupcial, e mutabilidade.
Pacto antenupcial
Consiste em negócio jurídico solene, que apenas poderá ser feito por escritura pública,
sob pena de nulidade. Em relação aos efeitos, o pacto antenupcial apenas será eficaz se lhe
seguir o casamento, em consonância com o art. 1.653, CC, sendo o casamento uma condição
suspensiva. Perante terceiros, somente produzirá efeitos se registrado pelo oficial de Registro
de Imóveis do domicílio conjugal (art. 1.657, CC)
Finalmente, através do pacto é possível que os noivos optem por um regime de bens
já regulado no Código Civil (comunhão universal, separação convencional ou participação
final nos aquestos), ou que realizem regime próprio, híbrido, misto, exercitando a variabilidade
e autonomia (Enunciado 331 do CJF).
Mutabilidade
Um dos aspectos mais ousados do CC/02 está na viabilidade de modificação do
regime de bens entre os cônjuges.
De olho na lei!
Veja o que diz o art; 1.639, CC
Em outras palavras, essa alteração é possível desde que: o pedido seja conjunto, de
ambos, sem litígio algum e, fundamentado, haja decisão judicial, com a máxima publicidade
e sem causar um só prejuízo a terceiros.
Pega a visão!!
A mudança de regime é ex Nunc, isto é: não retroage, não modifica o passado, nem
as relações jurídicas perfeitas e acabadas (Enunciado 113 do CJF).
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: Instituto Consulplan Órgão: MPE-SC Prova: Instituto Consulplan - 2019 -
MPE-SC - Promotor de Justiça - Matutina
Segundo estabelece o Código Civil, é admissível alteração do regime de bens, mediante
autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das
razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.
Gabarito: “correto”.
264
Espécies de regime de bens
Visão geral. Veja o quadro abaixo:
O regime legal. Não existindo convenção, isto é, pacto antenupcial quanto aos bens
entre os cônjuges, ou sendo este nulo, ineficaz, a teor do artigo 1.640 do Código civil
determina que vigorará “entre os cônjuges o regime da comunhão parcial”. Consiste em
regime supletivo a ser aplicado na hipótese de não haver pacto antenupcial, ou ainda para o
caso deste ser inválido, ou ineficaz.
De olho na lei!
De olho na juris!
Veja a jurisprudência em teses do STJ:
STJ. Jurisprudência em Teses, em EDIÇÃO N. 113: DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE
CONJUGAL E DA UNIÃO ESTÁVEL - I. 4) Deve ser reconhecido o direito à meação dos
valores depositados em conta vinculada ao Fundo de Garantia de Tempo de Serviço - FGTS
auferidos durante a constância da união estável ou do casamento celebrado sob o regime da
comunhão parcial ou universal de bens, ainda que não sejam sacados imediatamente após a
separação do casal ou que tenham sido utilizados para aquisição de imóvel pelo casal durante
a vigência da relação.
------
267
A. Não deve ser reconhecido o direito à meação dos valores depositados em conta vinculada
ao Fundo de Garantia de Tempo de Serviço – FGTS auferidos durante a constância da união
estável ou do casamento celebrado sob o regime da comunhão parcial de bens, salvo se
utilizados para aquisição de imóvel pelo casal durante a vigência da relação.
B. Os valores investidos em previdência privada fechada não se inserem na previsão legal
que excepciona da comunicabilidade as pensões, os meios-soldos, os montepios e outras
rendas semelhantes e, dessa forma, integram o patrimônio comum do casal, devendo ser
objeto da partilha.
C. As obrigações provenientes de atos ilícitos, mesmo que não revertam em proveito do casal,
bem como os bens que sobrevierem ao cônjuge, na constância do casamento, por doação ou
sucessão, e os sub-rogados em seu lugar, integram o patrimônio comum do casal e, portanto,
devem ser objeto de partilha.
D. A valorização patrimonial dos imóveis ou das cotas sociais de sociedade limitada,
adquiridos antes do casamento ou da união estável, não deve integrar o patrimônio comum a
ser partilhado quando do término do relacionamento, visto que essa valorização é decorrência
de um fenômeno econômico que dispensa a comunhão de esforços do casal.
E. As verbas de natureza trabalhista nascidas e pleiteadas na constância da união estável ou
do casamento celebrado sob o regime da comunhão parcial de bens não integram o
patrimônio comum do casal e, portanto, não devem ser objeto da partilha no momento da
separação.
Gabarito: “D”.
Ano: 2019 Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Órgão: DPE-MG Prova: FUNDEP (Gestão
de Concursos) - 2019 - DPE-MG - Defensor Público
No regime da comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na
constância do casamento, excluindo-se da comunhão
A. os ganhos eventuais.
B. as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge.
C. as obrigações provenientes de ato ilícito revertidas a um dos cônjuges.
D. os bens adquiridos na constância do casamento a título oneroso com esforço exclusivo de
um dos cônjuges e apenas em seu nome.
Gabarito: “C”.
268
A escolha deste regime acarreta na comunicação de todo o patrimônio presente e
futuro do casal, inclusive as dívidas, com poucas exceções de incomunicabilidade, que estão
previstas no artigo 1.668 do Código Civil, vejamos:
De olho na juris!
Importante observar o entendimento do STJ sobre a aplicação do regime da separação
obrigatória por força da idade para quem também contrair união estável aos 70 anos a idade,
ou com alguém que já possua esta faixa etária. Na separação obrigatória não deve haver
comunicação entre os bens adquiridos pelos cônjuges, seja no passado, no presente ou no
futuro. A incomunicabilidade é a marca característica deste regime.
Todavia, em situações especificas é possível admitir, em virtude da primazia da
realidade e a proibição do enriquecimento sem causa que o bem adquirido por esforço comum
entre cônjuges casados no referido regime, e que a priori não deveriam se comportar assim,
seja (o bem) rateado, como se aquesto fosse, como uma decorrência natural do rateio que,
269
de fato, existiu. Sobre este tema, o STF apresentou a súmula 377 dispondo que “no regime
de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”.
De olho na prova!
Ano: 2020 Banca: FCC Órgão: TJ-MS Prova: FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto
Em relação ao direito patrimonial entre os cônjuges:
A. é obrigatório o regime da separação de bens no casamento da pessoa maior de sessenta
anos.
B. é admissível a livre alteração do regime de bens, independentemente de autorização
judicial, ressalvados porém os direitos de terceiros.
270
C. podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro, comprar, mesmo que
a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica, bem como obter, por empréstimo, as
quantias que a aquisição dessas coisas exigir, situações que os obrigarão solidariamente.
D. em nenhuma hipótese pode o cônjuge, sem autorização do outro, alienar ou gravar de ônus
real os bens imóveis.
E. é anulável o pacto antenupcial se não for feito por escritura pública, e nulo se não lhe seguir
o casamento.
Gabarito: “C”.
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: MPE-MT Prova: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Substituto
Ana Lúcia e Heitor, ela com sessenta e cinco, ele com sessenta e sete anos, casam-se pelo
regime de comunhão universal, tendo antes estipulado pacto antenupcial por escritura pública
para adoção desse regime; dois anos depois arrependem-se e requerem judicialmente
alteração do regime para o de comunhão parcial de bens. Em relação a ambas as situações,
A. era possível a estipulação do pacto antenupcial, pois ambos não haviam atingido setenta
anos de idade; é possível também a alteração do regime de bens, mediante autorização
judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões
invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.
B. embora possível o pacto antenupcial, a alteração do regime de bens escolhido só é possível
após três anos de casamento, mediante autorização judicial, explicitação de motivos e
ressalvados direitos de terceiros.
C. era possível a alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido de
ambos os cônjuges, sem especificação de razões, por se tratar de questões privadas do casal;
era possível o pacto antenupcial, mas por serem maiores de 65 anos somente para o regime
de separação de bens.
D. não era possível o pacto antenupcial porque Ana Lúcia já tinha 65 anos de idade, o que
tornava obrigatório o regime de separação de bens; a alteração do regime de bens era no
caso necessária, para o citado regime de separação de bens, prescindindo de autorização
judicial.
E. era possível o pacto antenupcial, escolhendo qualquer regime, pois não haviam atingido
setenta anos; era possível alterar o regime de bens, a qualquer tempo, prescindindo de
autorização judicial, mas ressalvados direitos de terceiros.
Gabarito: “A”.
271
SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO
Segundo a legislação cível brasileira, a dissolução da sociedade conjugal ocorre com
a morte de um dos cônjuges, com a nulidade, ou anulação do casamento, pela separação
judicial ou, finalmente, pelo divórcio.
Pega a visão!
O Enunciado 514, V Jornada de Direito Civil – CJF, dispõe que: A Emenda
Constitucional nº 66/2010 não extinguiu o instituto da separação judicial e extrajudicial. No
mesmo sentido o CPC/15 que ao disciplinar as ações de família prevê expressamente a
separação judicial.
A EC 66/10 trouxe alteração relevante no tema do divórcio, admitindo-o à qualquer
momento, de forma a eliminar os prazos legais de dois anos, para o divórcio direto, e de um
ano para o divórcio indireto por conversão. Ao afirmar que o casamento civil pode ser
dissolvido pelo divórcio sem inserir qualquer prazo de carência para tanto, a EC no 66
repercutiu significativamente no tema. Lembre-se, ademais disto, que tanto o art. 1.581, do
Código Civil, quanto à súmula 197 do STJ, afirmam que “O divórcio direto pode ser concedido
sem que haja prévia partilha dos bens”. Isto quer dizer que o divórcio não está condicionado
a qualquer entrave patrimonial, ou econômico, sendo justificado à luz da liberdade humana
de não permanecer casado, ainda que depois se venha a discutir partilha de bens.
O divórcio não altera os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos, o mesmo
acontecendo acaso haja um novo casamento de qualquer dos divorciados.
Divórcio extrajudicial
A Lei nº 11.441/07 apresentou profunda inovação no ordenamento jurídico pátrio ao
autorizar o “divórcio administrativo” ou extrajudicial, tal seja, aquele efetivado diante deum
tabelião. Sendo imprescindível que haja consenso entre os divorciandos, e não pode haver
incapazes envolvidos. A presença do advogado é fundamental no divórcio extrajudicial, sendo
possível, até mesmo, o mesmo profissional para ambos os “lados”.
Se toda a documentação necessária estiver regularizada e sem outros problemas, o
tabelião lavrará a escritura pública do divórcio extrajudicial, que será o título hábil tanto à
averbação deste à margem do registro de casamento, quanto para eventual alteração do
registro imobiliário ou do nome de uma das partes.
A Lei nº 11.965/09 também inovou ao admitir, nos casos de assistência gratuita, que
o Defensor Público da respectiva comarca patrocine, perante o tabelião, as pessoas carentes
na lavratura do divórcio.
272
O CPC/15 em seu art. 733 também disciplinou processualmente o divórcio, a
separação consensual e a extinção da união estável realizados por escritura pública, desde
que não haja nascituro, filhos incapazes e que se observem os requisitos legais. A escritura
não depende de homologação judicial e constituirá título hábil para qualquer ato de registro,
bem como para o levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
Importante salientar que o tabelião somente lavrará a escritura pública se os
interessados estiverem assistidos por advogados, ou defensor público, cuja qualificação e
assinatura constem no ato notarial.
O nome de casado
O CC/16 era bem diferente nesse aspecto, já o atual, CC/02, veicula a faculdade –
leia-se: não há obrigatoriedade – que tanto a mulher como o homem possam acrescer ao seu
nome, caso queira, o sobrenome do outro cônjuge. E depois do final do casamento, a
manutenção, ou não, do nome de família, é uma faculdade prevista no § 2º do artigo 1.571 do
CC.
Excepcionalmente, porém, o art. 1578 do CC afirma ser possível a ordem de retirada
do sobrenome.
De olho na lei!
Vejamos:
Direito a alimentos
273
Por força do princípio da solidariedade familiar os alimentos podem ser requeridos
também entre os cônjuges. É fato que o atual estágio da jurisprudência e da doutrina
brasileiras demonstra uma tendência ao indeferimento de alimentos entre os casais,
considerando que sendo os divorciandos maiores e capazes, geralmente tem condições de
manter a sobrevivência de maneira autônoma.
Por não mais haver questionamento sobre quem seja o culpado da dissolução
conjugal, os alimentos serão devidos levando-se em conta substancialmente o binômio
necessidade/utilidade. Será arbitrado na justa medida entre a capacidade do alimentante e a
necessidade do alimentado. Vale lembrar que o objetivo é não apenas o mínimo existencial,
mas a manutenção de um padrão de vida. “Alimentos” não é só o que se come.
Todavia, vale ressaltar que o parágrafo único do art. 1704 do CC já possibilitava, até
mesmo, alimentos para o cônjuge culpado, desde que não tive aptidão para o trabalho e
ninguém em condições de prestá-los. Nesta excepcional hipótese, tais alimentos serão
restritos à necessária sobrevivência (e não ao padrão social).
A guarda unilateral também esta presente no CC, como situação excepcional, para os
casos nos quais não seja viável, ou conveniente ao melhor interesse do menor o
274
compartilhamento da guarda. Nesse caso, um dos genitores será o guardião e o outro terá
regulamentado o direito de visitas.
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: MPE-GO Órgão: MPE-GO Prova: MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor
de Justiça Substituto - Anulada
Acerca do instituto da guarda compartilhada no Código Civil, assinale a alternativa incorreta:
A. A guarda compartilhada encontra suas origens na “Common Law” do Direito Inglês, com a
denominação de “joint custody”. A partir da década de 1960, se difundiu tal conceito pela
Europa, porém, foi nos Estados Unidos da América que a denominada guarda conjunta
avançou em virtude de intensas pesquisas em decorrência da transformação das famílias.
Daí, é possível concluir que a adoção de previsão legal da guarda compartilhada no Brasil
retrata uma crescente tendência mundial, fortalecida pela Convenção de Nova Iorque sobre
Direitos da Criança (ONU, 1989).
B. A guarda compartilhada define os dois genitores como detentores da autoridade parental
para tomar todas as decisões que afetem os filhos, visando manter os laços de afetividade e
abrandar os efeitos que o fim da sociedade conjugal pode trazer à prole, ao passo que tenta
manter de forma igualitária a função parental, consagrando os direitos da criança e de seus
genitores. Em face disso, a guarda compartilhada, como regra, é recomendável, não se
aplicando, porém, quando um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda
do menor ou um dos genitores não estiver apto a exercer o poder familiar.
C. Em sede de medida cautelar de separação de corpos, em sede de medida cautelar de
guarda ou em outra sede de fixação liminar de guarda, a decisão sobre guarda de filhos, salvo
se provisória, será proferida preferencialmente após a oitiva de ambas as partes perante o
juiz.
D. A guarda pode ser deferida para outra pessoa que não seja o pai ou a mãe. Se o juiz
verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda
275
a pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de
preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade.
Gabarito: “C”.
RELAÇÕES DE PARENTESCO
Consiste num assunto sempre atual que, à todo instante, sofre impactos da
jurisprudência e da mutabilidade da sociedade.
De olho na juris!
Um grande exemplo do que estamos falando foi o que decidiu o Supremo Tribunal
Federal decidiu no julgamento do Recurso Extraordinário nº 898.060, tema de Repercussão
Geral 622, ao admitir a multiparentalidade. Todavia, como já decidiu também o STJ em 2018
em processo que tramita em segredo de Justiça, o reconhecimento da multiparentalidade está
condicionado ao melhor interesse da criança, ou do adolescente.
De olho na lei!
Tratemos aqui as disposições gerais do Código Civil sobre as relações de parentesco.
Imprescindível a leitura acurada.
SUBTÍTULO II
Das Relações de Parentesco
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: Instituto Consulplan Órgão: MPE-SC Prova: Instituto Consulplan - 2019 -
MPE-SC - Promotor de Justiça - Matutina
De acordo com o Código Civil, cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro
pelo vínculo da afinidade. Na linha reta, a afinidade se extingue com a dissolução do
casamento ou da união estável.
Gabarito: “errado”.
Filiação
Inserido no estudo das relações de parentesco, a que diz respeito ao estado de filiação
é, sem dúvida, a mais importante. Não por acaso o constituinte tratou de disciplinar a
igualdade existente entre os filhos, não permitindo qualquer distinção ou denominação que o
diferencie dos demais, a exemplo dos antigamente chamados filhos adulterinos ou ilegítimos.
Como é possível compreender diante do exposto no § 6º do artigo 227 da CF/88: “Os filhos,
havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”
277
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da
sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e
anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que
falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões
excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que
tenha prévia autorização do marido.
Pega a visão! Essas presunções acima citadas são relativas, de sorte que podem ser
afastadas com a apresentação de prova em sentido contrário. Exemplo: “A prova da
impotência do cônjuge para gerar, à época da concepção, ilide a presunção da paternidade”,
vsto que assim determina o artigo 1.599 do CC. Esta é a chamada impotência generandi (para
gerar). Contudo, a impotência coeundi (para o coito) não ilide a presunção de paternidade,
porque assim não disciplinou o Código, como também não ilide o “adultério da mulher, ainda
que confessado”, nos termos do artigo 1.600 do Código Civil.
Esta filiação que se prova “pela certidão do termo de nascimento registrada no Registro
Civil” (art. 1.603, CC), ou, na falta do documento, “por qualquer modo admissível em direito”,
isto “quando houver começo de prova por escrito, proveniente dos pais, conjunta ou
separadamente”, ou ainda “quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já
certos” (1.605, I e II, CC), pode ser objeto de reconhecimento em quatro hipóteses, a saber:
I – no registro do nascimento;
IV – por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja
sido o objeto único e principal do ato que o contém.
Pega a visão!
O reconhecimento do filho é ato irrevogável, ainda que feito em testamento, sendo que
o filho havido fora do casamento, reconhecido por um dos cônjuges, não poderá residir no lar
conjugal sem o consentimento do outro, sendo ineficazes a condição e o termo apostos ao
ato de reconhecimento do filho (arts. 1.610, 1.611 e 1.613, todos do CC).
Outra coisa importante é que o reconhecimento do filho maior não pode ocorrer sem o
consentimento do mesmo. Se menor, poderá impugná-lo nos quatro anos que se seguirem a
maioridade ou a emancipação (art. 1.614, CC). Trata-se de denominada ação de impugnação
do estado de filiação.
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: MPE-MT Prova: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Substituto
No que tange às relações de parentesco e à filiação, é correto afirmar:
A. Em nenhuma hipótese pode alguém vindicar estado contrário ao que resulta do registro de
nascimento.
B. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral,
também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e
descendo até encontrar o outro parente.
C. É suficiente o adultério da mulher, desde que por ela confessado, para ilidir a presunção
legal da paternidade.
D. Na linha colateral, a afinidade entre parentes não se extingue com a dissolução do
casamento ou da união estável.
E. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos havidos por fecundação
artificial homóloga, salvo se falecido o marido.
Gabarito: “B”.
A socioafetividade
279
É fato que a filiação biológica nem sempre é a melhor tendo em vista que a filiação é
algo muito mais profundo e complexo do que o mero código de um DNA. Tem situações, por
exemplo, em que convivência duradoura e de boa-fé com os chamados pais socioafetivos se
apresenta tão forte e relevante a ponto de justificar o reconhecimento de uma paternidade.
Frente a este prisma, o Enunciado 103 da JDC: “o Código Civil reconhece, no art.
1.593, outras espécies de parentesco civil além daquele decorrente da adoção, acolhendo,
assim, a noção de que há também parentesco civil no vínculo parental proveniente quer das
técnicas de reprodução assistida heteróloga relativamente ao pai (ou mãe) que não contribuiu
com seu material fecundante, quer da paternidade socioafetiva, fundada na posse do estado
de filho”. E o Enunciado 108: “no fato jurídico do nascimento, mencionado no art. 1.603,
compreende-se, à luz do disposto no art. 1.593, a filiação consanguínea e também a sócio-
afetiva”.
UNIÃO ESTÁVEL.
Esta disciplinada nos artigos 1.723 a 1.726 do CC, trata-se da união pública, fixa,
perene, habitual, entre homem e mulher com o objetivo de constituir família. Dois são os
requisitos objetivos da união estável (publicidade e habitualidade). Um será o requisito
subjetivo (animus de constituir família). Importante lembrar que hoje já se admite a
constituição da união estável entre pessoas do mesmo sexo, também denominada de união
homoafetiva, conforme já decidiu o STF na ADPF 132/RJ.
De olho na juris!
281
Caminhada na direção do pluralismo como categoria sócio-
político-cultural. Competência do Supremo Tribunal Federal para
manter, interpretativamente, o Texto Magno na posse do seu
fundamental atributo da coerência, o que passa pela eliminação
de preconceito quanto à orientação sexual das pessoas. 4.
UNIÃO ESTÁVEL. NORMAÇÃO CONSTITUCIONAL
REFERIDA A HOMEM E MULHER, MAS APENAS PARA
ESPECIAL PROTEÇÃO DESTA ÚLTIMA. FOCADO
PROPÓSITO CONSTITUCIONAL DE ESTABELECER
RELAÇÕES JURÍDICAS HORIZONTAIS OU SEM
HIERARQUIA ENTRE AS DUAS TIPOLOGIAS DO GÊNERO
HUMANO. IDENTIDADE CONSTITUCIONAL DOS
CONCEITOS DE “ENTIDADE FAMILIAR” E “FAMÍLIA”. A
referência constitucional à dualidade básica homem/mulher, no
§ 3º do seu art. 226, deve-se ao centrado intuito de não se perder
a menor oportunidade para favorecer relações jurídicas
horizontais ou sem hierarquia no âmbito das sociedades
domésticas. Reforço normativo a um mais eficiente combate à
renitência patriarcal dos costumes brasileiros. Impossibilidade
de uso da letra da Constituição para ressuscitar o art. 175 da
Carta de 1967/1969. Não há como fazer rolar a cabeça do art.
226 no patíbulo do seu parágrafo terceiro. Dispositivo que, ao
utilizar da terminologia “entidade familiar”, não pretendeu
diferenciá-la da “família”. Inexistência de hierarquia ou diferença
de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um
novo e autonomizado núcleo doméstico. Emprego do fraseado
“entidade familiar” como sinônimo perfeito de família. A
Constituição não interdita a formação de família por pessoas do
mesmo sexo. Consagração do juízo de que não se proíbe nada
a ninguém senão em face de um direito ou de proteção de um
legítimo interesse de outrem, ou de toda a sociedade, o que não
se dá na hipótese sub judice. Inexistência do direito dos
indivíduos heteroafetivos à sua não-equiparação jurídica com os
indivíduos homoafetivos. Aplicabilidade do § 2º do art. 5º da
Constituição Federal, a evidenciar que outros direitos e
garantias, não expressamente listados na Constituição,
emergem “do regime e dos princípios por ela adotados”, verbis:
“Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte”. 5. DIVERGÊNCIAS LATERAIS
QUANTO À FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO. Anotação de
que os Ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Cezar
Peluso convergiram no particular entendimento da
impossibilidade de ortodoxo enquadramento da união
homoafetiva nas espécies de família constitucionalmente
estabelecidas. Sem embargo, reconheceram a união entre
parceiros do mesmo sexo como uma nova forma de entidade
familiar. Matéria aberta à conformação legislativa, sem prejuízo
do reconhecimento da imediata auto-aplicabilidade da
Constituição. 6. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.723 DO
CÓDIGO CIVIL EM CONFORMIDADE COM A CONSTITUIÇÃO
282
FEDERAL (TÉCNICA DA “INTERPRETAÇÃO CONFORME”).
RECONHECIMENTO DA UNIÃO HOMOAFETIVA COMO
FAMÍLIA. PROCEDÊNCIA DAS AÇÕES. Ante a possibilidade de
interpretação em sentido preconceituoso ou discriminatório do
art. 1.723 do Código Civil, não resolúvel à luz dele próprio, faz-
se necessária a utilização da técnica de “interpretação conforme
à Constituição”. Isso para excluir do dispositivo em causa
qualquer significado que impeça o reconhecimento da união
contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo
como família. Reconhecimento que é de ser feito segundo as
mesmas regras e com as mesmas consequências da união
estável heteroafetiva.
(STF - ADPF: 132 RJ, Relator: Min. AYRES BRITTO, Data de
Julgamento: 05/05/2011, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
DJe-198 DIVULG 13-10-2011 PUBLIC 14-10-2011 EMENT
VOL-02607-01 PP-00001)
Pega a visão!
Enunciado 524 – V JDC – CJF: As demandas envolvendo união estável entre pessoas
do mesmo sexo constituem matéria de Direito de Família. Atenção! Não é necessário more
uxório (morar sob o mesmo teto), prazo mínimo e prole para caracterização do instituto.
283
(animus de constituir família) da união estável. Tal contrato (de namoro) tem-se como inválido
para a doutrina majoritária atual.
Enunciado 526 – V JDC – CJF: É possível a conversão de união estável entre pessoas
do mesmo sexo em casamento, observados os requisitos exigidos para a respectiva
habilitação.
• Deveres de lealdade;
• Respeito e assistência;
• De guarda, sustento e educação dos filhos.
CONCUBINATO
O artigo 1.727 do Código Civil prevê que a relação não habitual entre homem e mulher
impedidos de casar constitui concubinato. Observa-se, logo, que traições pontuais não
configuram concubinatos, mas mera quebra do dever de fidelidade.
Consiste numa relação jurídica ilegítima que não será protegida pelo ordenamento
jurídico de forma alguma. A este respeito, ilustre-se, entendeu o STJ que a concubina sequer
teria direito subjetivo à pensão por morte (REsp. 674.176), seguindo orientação do STF (RExt.
590.779).
Desde o final de 2009, o STJ e STF não mais possibilitam deferimento de indenização
por serviços prestados à concubina.
284
ALIMENTOS
De olho na juris!
Especialmente por isso, a súmula 594 do STJ é solar ao estabelecer que: “O Ministério
Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou
adolescente, independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o
menor se encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da
Defensoria Pública na comarca”.
Não se esqueça que os alimentos são irrenunciáveis, porém é possível, a teoria, para
a hipótese fática da ausência de uma necessidade, que o credor dispense o devedor potencial
de pagá-los.
Vale ressaltar que os alimentos devidos e vencidos prescrevem em dois anos (art. 206,
§ 2º, CC) se não pretendidos pelo credor. Trata-se de prazo prescricional para a pretensão
executiva, pois, recorda-se, os alimentos podem ser pleiteados a qualquer tempo.
E sobre a prisão civil?! De acordo com a súmula 309 do STJ “O débito alimentar que
autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao
ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo”. Logo, para não ser
preso, o devedor de alimentos há de quitar as três prestações anteriores ao ajuizamento da
execução e todas as demais.
Pega a visão!
A lei nº 14.010/2020, “Lei da Pandemia” estabeleceu a possibilidade da prisão do
devedor de alimentos na modalidade domiciliar. Vide, in verbis:
Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida
alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da Lei nº
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil),
deverá ser cumprida exclusivamente sob a modalidade
domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas
obrigações.
Pega a visão! (de novo) Enunciado 522 – V JDC – CJF: Cabe prisão civil do devedor
nos casos de não prestação de alimentos gravídicos estabelecidos com base na Lei nº
11.804/2008, inclusive deferidos em qualquer caso de tutela de urgência.
Ademais, vale lembrar que “O cancelamento da pensão alimentícia de filho que atingiu
a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios
autos”, a teor da súmula 358 do STJ, inexistindo hipótese de cancelamento automático do
débito, ou seja, somente o Judiciário que deferiu é que poderá revogar a decisão (paralelismo
das formas), até por que: “A obrigação alimentar originada do poder familiar, especialmente
para atender às necessidades educacionais, pode não cessar com a maioridade” (Enunciado
344).
286
No âmbito da Suprema Corte antigo enunciado de súmula adverte que “Na ação de
desquite, os alimentos são devidos desde a inicial e não da data da decisão que os concede”
(súmula 226, STF), devendo o estudante estar atento a isto para as ações de separação
judicial.
A socioafetividade geradora das relações de parentesco possibilita o surgimento do
dever alimentar, que se transmite hereditariamente, como já entendeu a doutrina em Jornadas
de Direito Civil (Enunciado 341 do CJF).
Alimentos gravídicos
Importante ressaltar que o prazo de contestação será de cinco dias apenas (art. 7º da
lei), sendo que o nascimento da criança no curso do processo converte os alimentos
gravídicos em pensão alimentícia, cabendo ao suposto pai contestar o fato judicialmente.
Pega a visão!
Trazemos através dessa questão um de olho na juris, pois essa questão foi totalmente
e retirada do Jurisprudência em teses do STJ, Edição n. 65 (Alimentos) - salvo a letra D, que
é da Edição 77. Vejamos:
A) Errada. "13) A constituição de nova família pelo alimentante não acarreta a revisão
automática da quantia estabelecida em favor dos filhos advindos de união anterior".
B) Correta. "14) Os alimentos devidos entre ex-cônjuges devem ter caráter excepcional,
transitório e devem ser fixados por prazo determinado, exceto quando um dos cônjuges não
possua mais condições de reinserção no mercado do trabalho ou de readquirir sua autonomia
financeira".
C) Errada. "4) É devido alimentos ao filho maior quando comprovada a frequência em curso
universitário ou técnico, por força da obrigação parental de promover adequada formação
profissional.
D) Errada. "13) Os valores pagos a título de alimentos são insuscetíveis de compensação,
salvo quando configurado o enriquecimento sem causa do alimentando. "
E) Errada. "15) A responsabilidade dos avós de prestar alimentos aos netos apresenta
natureza complementar e subsidiária, somente se configurando quando demonstrada a
insuficiência de recursos do genitor".
BEM DE FAMÍLIA
De olho na juris!
(parei aqui)
O bem de família legal, previsto na Lei nº 8.009/1990 não depende de ato vontade
para a sua constituição. Nasce do fato jurídico, isto é, do mero integração da situação jurídica
à legislação. O objeto é o imóvel, em regra, residencial do devedor e de sua família, e também
os móveis que o guarnecem (desde que quitados) e, por fim, todos os equipamentos de uso
profissional.
O bem de família legal tem como objetivo resguardar a entidade familiar demonstrando
estreita ligação com o direito social de moradia, garantido pela constituição federal à luz do
art. 6º.
289
Por ser obrigatória, o magistrado pode reconhecer de ofício tal impenhorabilidade,
quando devidamente verificado os seus requisitos nos autos. Se a família tiver mais de um
imóvel usado como residência, caso de pluralidade domiciliar (art. 71 do CC), a
impenhorabilidade do bem de família legal recairá sobre o imóvel de menor valor, mesmo que
a aludida família deseje residir em outro.
Pega a visão! O legislador (Lei 8.009/90, art. 4º) informa que não se beneficiará do
disposto nesta lei aquele que, sabendo-se insolvente, adquire de má-fé imóvel mais valioso
para transferir a residência familiar, desfazendo-se ou não da moradia antiga. Nessa situação,
poderá o magistrado transferir a aludida impenhorabilidade para a moradia familiar anterior
ou, inclusive, invalidar a alienação, liberando a propriedade mais valiosa à execução e
repousando a impenhorabilidade do bem de família legal sobre o bem mais antigo, menos
valioso e capaz de assegurar a moradia.
Vale destacar que o ato supra descrito poderia configurar fraude contra credores, o
que permite a anulação do negócio jurídico, como visto na Parte Geral.
E no que tange o direito intertemporal? Utiliza-se à tutela do bem de família aos imóveis
cuja penhora ocorreu antes da edição da legislação do bem de família legal?
Sim! Essa posição, inclusive, é explicitada na Súmula 205 do STJ, in verbis: “A Lei n.
8.009/1990 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência”.
Sim. Porém, é claro que a proteção não poderá recair sobre o imóvel, que é de
propriedade do locador. Isto posto, a impenhorabilidade em comento será dirigida aos bens
móveis, de propriedade do locatário e que guarnecem o lar, desde que quitados (art. 2º,
parágrafo único, da Lei 8009/90).
Exceções.
290
A regra geral traz que a impenhorabilidade do bem de família legal pode ser trazida
em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra
natureza, o fato concreto é que há exceções. Ou seja, existe um rol de situações em que o
bem de família poderá ser alvo de execução.
De olho na juris!
Vaga de garagem. Este assunto já foi pacificado. De acordo com a Súmula 449 do STJ
“a vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de
família para efeito de penhora”.
291
III -- pelo credor de pensão alimentícia;
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos,
sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre
união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que
ambos responderão pela dívida: (Redação dada pela Lei nº
13.144 de 2015)
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e
contribuições devidas em função do imóvel familiar;
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como
garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para
execução de sentença penal condenatória a ressarcimento,
indenização ou perdimento de bens.
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato
de locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991)
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato
de locação; e (Redação dada pela Medida Provisória nº 871, de
2019)
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato
de locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991)
VIII - para cobrança de crédito constituído pela Procuradoria-
Geral Federal em decorrência de benefício previdenciário ou
assistencial recebido indevidamente por dolo, fraude ou coação,
inclusive por terceiro que sabia ou deveria saber da origem ilícita
dos recursos. (Incluído pela Medida Provisória nº 871, de 2019)
O art. 1.711 do CC, disciplina que os cônjuges, a entidade familiar ou até mesmo um
terceiro, tem legitimação para instituir o bem de família convencional (CC 1.711). Caso tal
bem seja instituído pelo cônjuge ou pela entidade familiar, deverá ser realizado através de
escritura pública (doação) ou testamento. Já se o ato de instituição for realizado por um
terceiro, o será através de doação ou testamento.
Não obstante os artigos destinados ao tema, somente falarem nos cônjuges, a doutrina
vem admitindo a possibilidade de instituição por qualquer entidade familiar, aplicando-se a
união estável, família monoparental, homoafetiva, etc.
292
ideia sobre o bem de família. Além disso, haverá o testador de atender a legítima e não
desrespeitar interesses de terceiros, a exemplo de credores.
Instituído o bem de família voluntário, deixa o imóvel de responder pelas dívidas futuras
do devedor. Contudo, essa impenhorabilidade não terá efeitos retroativos (art. 1.715, CC). O
raciocínio, é no sentido de tentar impedir fraudes.
Dessa forma é possível, que o bem de família voluntário responda, mesmo depois da
sua constituição, por tributos relativos ao imóvel – a exemplo do IPTU e ITR – ou despesas
de condomínio, em outras palavras, o bem de família voluntário pode ser atingido por
obrigações propter rem.
Nos casos (raros) em que o bem de família for atingido, o eventual saldo remanescente
da execução deverá de ser destinado a outro bem, com a mesma natureza familiar, ou em
293
títulos da dívida pública, para sustento da família, a não ser que o juiz tenha outra ideia (art.
1.715 do CC).
O bem a ser constituído como de família pode ser um imóvel urbano ou rural, com os
seus respectivos bens móveis que o guarnecem (pertenças e acessórios). Tal bem deve ser
destinado ao domicílio familiar. Em relação a tais bens que aprovisionam o lar, a jurisprudência
explicita a necessidade de análise consoante um juízo de ponderação de interesses, sendo
possível que sejam afetados bens supérfluos.
Nada obsta que a administração do bem de família seja feita por instituição financeira
especializada, quando disser respeito a valores mobiliários. Nesse caso, precisa ser
disciplinada a forma de pagamento da respectiva renda aos beneficiários, guiando-se a
responsabilidade dos administradores pelas normas relacionadas ao depósito. Ademais, na
hipótese da instituição escolhida entrar em liquidação ou recuperação judicial, os valores
confiados a título de bem de família serão transferidos, por ordem do magistrado, a outra
instituição semelhante (art. 1.718 do CC).
Pega a visão!
294
O bem de família voluntário não é inalienável. O legislador disciplina que que o prédio
e os valores mobiliários instituídos como bem de família apenas poderão ser alienados
mediante consentimento dos interessados e seus representantes legais, após oitiva do
Ministério Público. O valor decorrente da venda deverá ser destinado a outro bem, o qual
manterá a sua afetação familiar (sub-rogação), após a competente oitiva do Ministério Público
(art. 1.719 do CC).
Duração
O CC tem alguns artigos sobre o tema, os quais demandam uma interpretação
sistemática. Vejamos:
• Na forma do artigo 1.721, CC, tal bem de família não restará extinto pela dissolução
da entidade familiar.
• Pelo artigo 1.716, CC, o bem de família durará enquanto tiver vida um dos cônjuges
ou, na sua falta, até a maioridade civil da prole.
• Da leitura do art. 1.722, CC, depreende-se que ainda persistirá o bem de família
voluntário, mesmo após o falecimento dos cônjuges e maioridade dos filhos, desde
que haja algum filho em curatela.
Em uma interpretação sistemática, portanto, percebe-se que enquanto houver
cônjuges, filhos menores ou incapazes, persistirá o bem de família voluntário.
INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE
Consiste numa pretensão declaratória e imprescritível, por se referir a direito da
personalidade (estado civil) através da qual alguém – que se qualifica como filho na petição
inicial – postula em face do suposto pai o reconhecimento do estado de filiação.
De olho na juris!
295
De acordo com a súmula 277, STJ: “Julgada procedente a investigação de
paternidade, os alimentos são devidos a partir da citação”.
Pega a visão! Veja esse assunto tratado pelo site Dizer O Direito
(https://www.dizerodireito.com.br/2014/02/acao-negatoria-de-paternidade.html):
Contestação do réu
André, representado por sua mãe, apresentou contestação,
alegando:
a) No que se refere à sucessão processual, aduziu que os pais
do autor não podem sucedê-lo no processo, considerando que
se trata de ação de cunho personalíssimo, devendo o feito ser
extinto sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, IX do
CPC;
b) Quanto ao mérito, afirmou que, durante todos esses anos, o
autor nunca manifestou que tivesse dúvidas sobre a
296
paternidade, somente fazendo isso agora porque estava em
débito com a pensão alimentícia.
c) Por fim, sustentou que a filiação socioafetiva sobrepõe-se à
filiação biológica.
Exame de DNA
No dia designado para que fosse feita a coleta do material
genético para o exame de DNA, André e sua mãe não
compareceram, recusando-se em se submeter a essa prova
pericial.
297
paternidade, mas sim o mero prosseguimento da vontade
manifestada pelo titular do direito.
Portanto, ainda que se trate de direito personalíssimo, tendo o
pai registral concretizado sua intenção de contestar a
paternidade ainda em vida, admite-se a sucessão processual de
seus ascendentes, a fim de dar prosseguimento à ação
proposta.
Resumindo:
• Dar início à ação negatória de paternidade: só quem pode fazer
é o pai (herdeiros do pai não podem);
• Prosseguir na ação negatória de paternidade já ajuizada pelo
pai e que faleceu durante o processo: os herdeiros podem
continuar a demanda como seus sucessores.
298
O fato de o réu não ter comparecido para realizar o exame
de DNA pode ser utilizado contra ele para que a ação seja
julgada procedente?
NÃO. Em ação negatória de paternidade, o não comparecimento
do filho menor de idade para submeter-se ao exame de DNA não
induz, por si só, presunção de inexistência de paternidade.
A Súmula 301-STJ induz presunção relativa, de modo que a
mera recusa à submissão ao exame não implica
automaticamente reconhecimento da paternidade ou seu
afastamento, pois deve ser apreciada em conjunto com os
demais elementos probatórios.
Segundo a Min. Nancy Andrighi, é necessário que haja uma
ponderação mínima para que se evite o uso imoderado de ações
judiciais que têm o potencial de expor a intimidade das pessoas
envolvidas e causar danos irreparáveis nas relações
interpessoais.
Nesse contexto, não é ético admitir que essas ações sejam
propostas de maneira impensada ou por motivos espúrios, como
as movidas por sentimentos de revanchismo, por
relacionamentos extraconjugais ou outras espécies de
vinganças processuais injustificadas.
Portanto, deve-se fazer uma ponderação de interesses. Se de
um lado, o autor tem o direito à identidade e à verdade biológica,
como direitos da personalidade; de outro, o réu possui direito à
honra e à intimidade. Ambos são direitos fundamentais.
O sistema de provas no processo civil brasileiro permite que
sejam utilizados todos os meios legais e moralmente legítimos
para comprovar a verdade dos fatos. Assim, o exame genético,
embora de grande proveito, não pode ser considerado o único
meio de prova da paternidade, em um verdadeiro processo de
sacralização do DNA.
A recusa ao DNA não pode, por si só, resultar na procedência
do pedido formulado em investigação ou negação de
paternidade, pois a prova genética não gera presunção absoluta,
cabendo ao autor comprovar a possibilidade de procedência do
pedido por meio de outras provas. Em outras palavras, além da
recusa ao exame, deve haver indícios de que aquilo que foi
alegado é verdadeiro. No caso concreto, verifica-se que o autor,
na petição inicial, não trouxe qualquer evidência ou indício que
caracterizassem dúvida razoável acerca da paternidade, a
justificar o ajuizamento da ação negatória.
Nesse contexto, a interpretação a contrario sensu da Súmula
301 do STJ, de forma a desconstituir a paternidade devido ao
não comparecimento do menor ao exame genético, atenta
contra a diretriz constitucional e preceitos do CC e do ECA,
tendo em vista que o ordenamento jurídico brasileiro protege,
com absoluta prioridade, a dignidade e a liberdade da criança e
do adolescente, instituindo o princípio do melhor interesse do
menor e seu direito à identidade e desenvolvimento da
personalidade.
299
Vale ressaltar, ainda, que, no caso concreto, o não
comparecimento do menor ao exame há de ser atribuído à mãe,
visto que é ela a responsável pelos atos do filho de quatro anos.
Mesmo se tivesse sido provada a ausência de filiação
biológica, seria possível manter a paternidade com base na
filiação socioafetiva?
SIM. Segundo já decidiu o STJ em outra oportunidade, o êxito
em ação negatória de paternidade, consoante os princípios do
CC/2002 e da CF/1988, depende da demonstração, a um só
tempo, de dois requisitos:
a) Inexistência da origem biológica;
b) Não ter sido construída uma relação socioafetiva entre pai e
filho registrais.
Assim, para que a ação negatória de paternidade seja julgada
procedente não basta apenas que o DNA prove que o “pai
registral” não é o “pai biológico”. É necessário também que fique
provado que o “pai registral” nunca foi um “pai socioafetivo”, ou
seja, que nunca foi construída uma relação socioafetiva entre pai
e filho (STJ. 4ª Turma. REsp 1.059.214-RS, Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 16/2/2012).
GUARDA
A guarda deve ser dada para aquele que possui melhor relação de socioafetividade,
sem esquecer das condições de segurança, saúde e educação para com a criança ou o
adolescente, levando em conta não só a relação individual, mas também a relação com a
linhagem familiar (paterna ou materna) e independentemente do sexo (masculino ou
feminino). É possível, até mesmo, que a guarda seja deferida a um terceiro, caso os pais não
revelem condições.
Pega a visão!
Enunciado 518 – V JDC – CJF: A Lei nº 11.698/2008, que deu nova redação aos arts.
1.583 e 1.584 do CC, não se restringe à guarda unilateral e à guarda compartilhada, podendo
300
ser adotada aquela mais adequada à situação do filho, em atendimento ao princípio do melhor
interesse da criança e do adolescente. A regra aplica-se a qualquer modelo de família.
Atualizados os Enunciados nº 101 e 336 em razão de mudança legislativa, agora abrangidos
por este enunciado.
Uma exceção no ordenamento deve ser a guarda unilateral. Esta apenas deve incidir
quando não for possível a guarda compartilhada. Na guarda unilateral um dos cônjuges,
companheiros, ou representante legal terá o deferimento do instituto a seu favor,
estabelecendo-se em face do outro genitor tão somente o regime de visitas (a regulação das
visitas).
Vale ratificar que a guarda, não gera a perda da autoridade parental motivo pelo qual
ainda que o genitor que não tenha a guarda da criança ou do adolescente continuará
legitimado a dar consentimento a este para casar, viajar, entre outras questões.
TUTELA
O art. 1.728, CC, preconiza que os filhos menores serão postos em tutela na hipótese
de morte dos pais, ou de perda do poder familiar por parte destes. Competindo aos genitores
nomear tutor em conjunto, mediante testamento ou documento outro, desde que autêntico
sendo “nula a nomeação de tutor pelo pai ou pela mãe que, ao tempo de sua morte, não tinha
o poder familiar” (art. 1.730, CC).
301
requisitada em processo, até mesmo em sede de tutela de urgência, podendo o pleito ser
realizado por algum parente ou pelo Ministério Público. Ademais, igualmente suspende-se o
exercício do poder familiar do pai ou da mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude
de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão (CC, art. 1.637).
A decisão judicial que destitui o poder familiar somente produzirá este efeito após o
trânsito em julgado. Até lá, em regra, há pedido de tutela de urgência de suspensão do aludido
poder familiar. A extinção do poder familiar por decisão judicial se fundará nas seguintes
causas:
Impedimentos
Alguns sujeitos são tidos pela norma como impedidos de exercer a tutela isto porque
não possuem a livre administração dos próprios bens, ou possuem obrigação para com o
menor, demanda em face deste, inimizade, conflito de interesses, ou ainda porque foram
condenados por crime, qualificando-se como pessoas de mau procedimento, ou com falhas
em probidade, culpadas de abuso em tutorias anteriores ou, finalmente, porque exercerem
função pública incompatível com a boa administração da tutela.
Diferentemente dos impedidos, existem aqueles que podem se escusar do múnus, isto
é, postular a dispensa do dever da tutela. Entre tais pessoas se encontram as mulheres
casadas, os maiores de sessenta anos, aqueles que tiverem sob autoridade mais de três
filhos, os impossibilitados por enfermidade, os que habitam longe do lugar onde se haja de
exercer a tutela, aqueles que já exercerem tutela ou curatela e os militares em serviço.
Pega a visão!
A escusa não se confunde com o impedimento. Enquanto este deve ser indicado pelo
Juiz ex oficio, aquela exige postulação do interessado. A escusa deve ser oposta nos dez dias
subsequentes à designação, sob pena de entender-se renunciado ao direito de alegá-la. Este
prazo poderá ser contado ainda a partir do fato superveniente.
303
Se o magistrado não aceitar a escusa, exercerá o nomeado a tutela enquanto o recurso
eventualmente interposto por este não for provido (reformando a decisão desfavorável),
respondendo desde logo pelas perdas e danos que o menor venha a experimentar.
Atribuições
O art. 1.740, CC, leciona que compete ao tutor dirigir a educação do tutelado, defendê-
lo, prestar alimentos, adimplir os deveres dos pais, entre outras hipóteses, sempre se
colhendo a opinião do menor, especialmente se este já contar doze anos de idade,
administrando os bens do tutelado com zelo e boa-fé.
Da mesma forma, disciplina o CC, os casos nos quais o tutor não está autorizado a
agir, sob pena de nulidade.
Se o juiz não puder fiscalizar os atos do tutor, o artigo 1.742, CC lhe autoriza a “nomear
um protutor”, ou seja, alguém que atue nesta condição fiscalizadora.
304
reconhecida idoneidade, razão pela qual: “Antes de assumir a tutela, o tutor declarará tudo o
que o menor lhe deva, sob pena de não lhe poder cobrar, enquanto exerça a tutoria, salvo
provando que não conhecia o débito quando a assumiu” (art. 1.751, CC).
Segundo o art. 1.752, CC: “O tutor responde pelos prejuízos que, por culpa, ou dolo,
causar ao tutelado; mas tem direito a ser pago pelo que realmente despender no exercício da
tutela, salvo no caso do art. 1.734, e a perceber remuneração proporcional à importância dos
bens administrados. § 1º Ao protutor será arbitrada uma gratificação módica pela fiscalização
efetuada. § 2º São solidariamente responsáveis pelos prejuízos às pessoas, as quais
competiam fiscalizar a atividade do tutor, e as que concorreram para o dano”.
Os tutores sempre deverão prestar contas da administração dos bens dos tutelados.
“No fim de cada ano de administração, os tutores submeterão ao juiz o balanço respectivo,
que, depois de aprovado, se anexará aos autos do inventário”, a teor do art. 1.756 do Código
Civil.
Além do balanço anual os tutores prestarão contas de dois em dois anos e também
quando deixarem o exercício da tutela ou toda vez que o Juiz achar conveniente, extinguindo-
se a tutela pela emancipação ou maioridade, mas, insista-se, o efeito liberatório (ou seja, a
quitação) só ocorrerá após aprovadas às contas pelo Magistrado, subsistindo inteira, até
então, a responsabilidade do tutor.
CURATELA
A curatela constitui instituto mais amplo a se dirigir não apenas aos demais incapazes,
absolutos ou relativos, maiores de dezoito anos, como ainda ao nascituro, ao ausente, ao
revel citado por edital, entre outras hipóteses. Estão sujeitos à curatela aqueles que por causa
transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade, os ébrios habituais, os viciados
em tóxicos e os pródigos. Trata-se de instituto que é disciplinado pelo CC, pelo CPC e pelo
Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD).
Mas como se dá tal interdição? O procedimento de interdição encontra assento nos
arts. 747 ao 758 do CPC. Trata-se de procedimento especial que tramitará na Vara da Família.
Pega a visão!
O código de processo civil de 2015 trouxe o procedimento de interdição previsto nos
arts. 747 ao 758. A disciplina processual em linhas gerais se manteve a mesma; porém, há
um cuidado maior em relação à condição existencial do interditando, quem deve ter os seus
305
desejos e preferências observados. Da mesma forma, a impugnação à interdição ganha novo
prazo: quinze dias. Importante observar a parte processual do tema.
Legitimidade
A legitimidade ativa para pedir a curatela, deve ser comprovada por documentação
(junto com a peticao inicial), será do cônjuge, ou companheiro, dos parentes ou tutores, do
representante da entidade que se encontra abrigado o interditando e, finalmente, do Ministério
Público (CPC, art. 747). Lembrando que a legitimação do Ministério Público advém do art.
127, CF/88.
306
A doutrina firmou entendimento no Enunciado 574 da VI JDC/CJF no sentido de que:
“A decisão judicial de interdição deverá fixar os limites da curatela para todas as pessoas a
ela sujeitas, sem distinção, a fim de resguardar os direitos fundamentais e a dignidade do
interdito”.
É preciso que a decisão da interdição seja registrada para que gere efeitos erga omnes
(art. 9º, CC). Contudo, esse registro, bem como a decisão da interdição, não é infinito. A
decisão da interdição é subordinada à cláusula rebus sic stantibus, moldando-se, por
conseguinte, segundo as razões fáticas.
Pega a visão!
O procedimento de interdição está previsto no CPC a partir do art. 747. Houve muitas
mudanças, dentre as quais se destacam:
307
sentença há de ser inscrita no registro de pessoas naturais e publicada imediatamente na
rede mundial de computadores, no sítio do tribunal e na plataforma de editais do CNJ, onde
permanecerá por 6 meses (CPC, art. 755).
Pega a visão!
O Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei Federal nº 13.146/2015 alterou o art. 1.777
do CC prescrevendo que “As pessoas referidas no inciso I do art. 1.767 receberão todo o
apoio necessário para ter preservado o direito à convivência familiar e comunitária, sendo
evitado o seu recolhimento em estabelecimento que o afaste desse convívio”.
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: MPE-GO Órgão: MPE-GO Prova: MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor
de Justiça - Reaplicação
308
A curatela é o encargo imposto a alguém para reger e proteger a pessoa que, por causa
transitória ou permanente, não possa exprimir a sua vontade, administrando os seus bens
(STJ - Resp: 1515701/RS. Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJu. 02/10/2018, T4 - Quarta
Turma, Data de Publicação: DJe 31/10/2018). Acerca do instituto da curatela, assinale a
alternativa incorreta:
A. Não existem mais absolutamente incapazes maiores, por força das alterações que foram
feitas no art. 3º do Código Civil pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015).
Sendo assim, a curatela somente incide para os maiores relativamente incapazes, que são os
ébrios habituais, os viciados em tóxicos, as pessoas que por causa transitória ou definitiva
não puderem exprimir vontade e os pródigos.
B. De acordo com posição dominante no STJ, o rol de legitimados para propor a ação de
levantamento da curatela previsto no art. 756, § 1º do CPC/2015 é taxativo, somente podendo
ser ajuizada pelas pessoas arroladas expressamente no mencionado dispositivo.
C. O Ministério Público detém legitimidade expressa para propor a ação de levantamento de
curatela.
D. O Estatuto da Pessoa com Deficiência incluiu disposição expressa no Código Civil segundo
a qual, na nomeação de curador para a pessoa com deficiência, o juiz poderá estabelecer a
curatela compartilhada a mais de uma pessoa.
Gabarito: “B”.
Trata-se de processo judicial por meio do qual a pessoa com deficiência escolhe duas
ou mais pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e confiança, visando que lhes
prestem apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, concedendo elementos e
informações necessários para que possa exercitar a sua capacidade.
309
O pedido de apoio será feito pela própria pessoa a ser apoiada, com indicação
expressa das pessoas escolhidas a prestarem o apoio. Antes de decidir sobre o pedido, o juiz
precisa ser auxiliado por equipe multidisciplinar e ouvir MP. Deverá também ouvir
pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio.
Na hipótese de negócio jurídico que possa causar risco ou prejuízo relevante, havendo
divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, o magistrado, ouvido
o MP, decidirá sobre a questão.
ADOÇÃO
Trataremos aqui alguns aspectos mais relevantes e pertinente ao tema do Direito das
Famílias. Vale lembrar que adoção é mais esmiuçada na disciplina do Estatuto da Criança e
do adolescente.
Levando em conta que a adoção é uma ficção jurídica que imita a realidade biológica,
exige-se que o adotante seja, pelo menos, dezesseis anos mais velho que o adotado.
Todavia, nada obsta que o aludido consentimento seja revogado de maneira eficaz até
a publicação da sentença constitutiva da adoção.
É claro que casais homossexuais podem adotar, matéria pacificada nos tribunais
superiores, como também poderão divorciados e separados judicialmente, desde que
acordem sobre a guarda, regulação de visitas e alimentos, sempre no melhor interesse da
pessoa adotada e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância desta
sociedade.
Exatamente por esse motivo que o adotando terá direito subjetivo de alterar o
sobrenome ou até o prenome, se menor e desde que haja pleito neste sentido.
311
Entretanto, os efeitos da adoção começam tão somente a partir do trânsito em julgado
do processo, exceto se o adotante vier a falecer no curso do procedimento, caso em que terá
força retroativa à data do óbito.
Por conta desse princípio, o herdeiro já tem posse de imediato patrimônio hereditário
deste o evento morte (denominado de abertura da sucessão), devendo apenas aceitar, ou
renunciar, a posteriori, a aludida transmissão, já que ninguém é obrigado a receber a herança
(princípio da autonomia privada).
Pressupostos
Apenas a morte (natural ou presumida) tem o condão de abrir a sucessão (arts. 6° e
7°, CC). Portanto, existem dois pressupostos necessários:
• Que o de cujos tenha falecido;
• Que lhe sobreviva o herdeiro.
312
Natureza jurídica da herança: indivisibilidade da herança e juízo universal
A sucessão é equiparada ao imóvel (artigo 80, II, CC), submetida ao regime de um
condomínio indivisível (artigo 1.791, CC), decorrendo, a partir de então, o juízo universal da
herança (artigo 91, CC). Enquanto imóvel, a transmissão da herança demanda escritura
pública (artigo 1.793, CC) ou será considerada nula (artigo 166, IV, CC), bem como da outorga
uxória se o regime de bens não for o da separação absoluta (artigo 1.647, I, CC).
Pacto de corvina
O ordenamento jurídico pátrio, à luz do art. 426, CC veda a existência de contrato que
vise a herança de pessoa viva. A isto a doutrina chama pacto sucessório, ou sucessão
pactícia, ou mesmo pacto de corvina.
Expressões importantes!
• Herança: universalidade das relações jurídicas (excluídas as não patrimoniais e as
personalíssimas) deixadas pelo de cujus, enquanto não promovida a partilha. É
universalidade de direito. É direito fundamental (CF, art. 5º, XXX).
• Legado: bem/ conjunto de bens certos e determinados da herança deixado pelo
testador a alguém.
• Espólio: identificação processual da massa patrimonial, sem personalidade jurídica,
mas legitimidade ad causam. Natureza jurídica: bem imóvel (ficção jurídica).
Patrimônio único e indivisível (=condomínio).
• Herdeiro legítimo: é o indicado pela lei consoante ordem de vocação hereditária (art.
1.829, CC), ou seja, são os legitimados a suceder nos casos de herança não
testamentária.
• Herdeiros legítimos necessários: são os descendentes, os ascendentes e o cônjuge,
a quem pertencerá metade da herança, denominada legítima. (art. 1.845, CC). Todo o
herdeiro necessário é legítimo, mas nem todo herdeiro legítimo é necessário.
313
• Herdeiros legítimos facultativos: são os que herdam em virtude da lei, todavia não
necessariamente, pois podem ser afastados da herança por ato de vontade, a exemplo
do testamento. São os colaterais até quarto grau.
• Herdeiro universal: é o que recebe uma universalidade, um quinhão, uma quota da
herança, seja em virtude de lei (sucessão legítima), ou de vontade (sucessão
testamentária). Herdeiro universal recebe um quinhão, expresso, geralmente, em
percentual da herança.
• Herdeiro legatário: é aquele que recebe a coisa individuada, ex re certa, a exemplo de
uma determinada casa ou bem especifico, singular.
• Herdeiro testamentário, nomeado ou instituído: é o designado pelo testador no ato de
última vontade.
De olho na lei!
Vejamos as disposições gerais trazidas no Código Civil.
LIVRO V
Do Direito das Sucessões
TÍTULO I
Da Sucessão em Geral
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
314
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da
sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente
na vigência da união estável, nas condições seguintes: (Vide
Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário
nº 878.694)
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota
equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança,
tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a
um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade
da herança.
A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido (art. 1.785, CC), sendo
este, regra geral, o foro competente para o ajuizamento do inventário. Segundo o art. 23, II, e
os arts. 48 e 96 do CPC/15 a sucessão será aberta no foro do último domicílio do de cujus e
processada pela autoridade judicial brasileira. Isto é, este será o local competente para a
propositura da ação de inventário judicial, em regra.
O prazo para ajuizamento da ação de inventário é de dois meses da data do óbito, nos
termos do art. 611 do CPC/15, sob pena de multa (STF, súmula 542).
Pega a visão!!!!!
A lei nº 14.010/2020, “Lei da Pandemia” trouxe exceções a esse prazo, trata-se de lei
temporária com vigência restrita. Mas, é assunto que pode ser objeto de questão de prova.
Assim sendo, veja o que disse a lei:
A indivisibilidade da herança
315
Depois das disposições gerais, tem-se o tratamento da administração da herança que
“defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros” (art. 1.791, CC) motivo
pelo qual “Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança,
será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio”.
A Possibilidade de cessão
Entretanto, sem embargo, o quinhão hereditário pode ser objeto de “cessão por
escritura pública”, pois assim preconiza o art. 1.793, CC. É pressuposto da cessão o óbito,
pois a realização em vida seria basicamente o mesmo que o “pacta corvina” proibido pelo art.
426 do CC. Igualmente, será ineficaz a cessão de qualquer bem considerado individualmente,
ante a indivisibilidade do espólio. O co-herdeiro apenas pode dispor do seu quinhão, da sua
quota parte. Todavia, é possível que o herdeiro solicite ao juízo autorização prévia para ceder
bem componente do acervo hereditário pendente de indivisibilidade.
Importante salientar que os herdeiros terão preferência legal nesse caso. Ou seja, se
um dos herdeiros optar em ceder onerosamente seus direitos hereditários, precisa ofertar,
primeiro, para os outros herdeiros. Somente depois disso, é permitido que se oferte a
terceiros. Isto posto, o Código Civil prevê no artigo 1.795 que “o coerdeiro, a quem não se der
conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a
estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a transmissão”.
A Força da herança
Diz respeito ao alcance da responsabilidade civil do herdeiro. Ele não responde para
além daquilo que herda: “O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da
herança”, incumbindo-lhe “a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse,
demonstrando o valor dos bens herdados”, em consonância com o quanto preconizado no
artigo 1.792, do Código Civil.
De olho na prova!
Ano: 2020 Banca: FCC Órgão: TJ-MS Prova: FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto
No tocante à sucessão, é correto afirmar:
A. morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo
ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento, mas não subsiste a
sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo.
316
B. legitimam-se a suceder as pessoas já nascidas, somente, no momento da abertura da
sucessão.
C. na sucessão testamentária é possível chamar a suceder os filhos ainda não concebidos,
mas não as pessoas jurídicas.
D. a herança transmite-se aos herdeiros legítimos e testamentários com o pedido de abertura
do inventário dos bens deixados pelo falecido.
E. o herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe,
porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor
dos bens herdados.
Gabarito: “E”
Espécies de sucessões:
Quanto à fonte:
• Testamentária: disposição de última vontade (preservando a legítima).
• Legítima (ab intestato): vocação hereditária (vontade presumida por lei).
Obs.: Irá tudo para legítima, ainda que haja testamento, se este caducar (ineficaz por
causa superveniente – ex.: morte beneficiário) ou for declarado inválido
(nulo/anulável).
Anômala:
Sucessão segue uma regra específica. Ex.: FGTS; levantamento de salários. Obs.:
Alvará judicial: procedimento de jurisdição voluntária, de competência da vara das sucessões,
para transmissão de resíduos pecuniários de pouca expressão (até 500 OTNs). Ex. FGTS,
saldo de salário, PIS/PASEP. A lei impõe a inexistência de outros bens a partilhar. Se houver
outros bens, será necessário inventário.
317
É a habilitação específica da pessoa natural para receber herança. A pessoa natural
pode ter plena capacidade para a prática dos atos na vida civil, mas não ter capacidade
(autorização específica) para suceder em determinado caso concreto. Um belo exemplo
ocorre na indignidade. O indigno será aquele excluído da sucessão (CC, arts. 1.814/1.818).
O concubino, assim como o deserdado, ou o indigno, não podem receber herança, por
razões intuitivas (art. 1.802, CC). Bem como não poder ser nomeados herdeiros ou legatários
a pessoa que, a pedido, escreveu o testamento, seu cônjuge ou companheiro, ascendentes
e irmãos, as testemunhas do testamento e o tabelião, seja civil ou militar (art. 1801, CC).
De olho na juris!
318
renúncia, com todos os efeitos jurídicos disto decorrente) passará aos sucessores do próprio
herdeiro.
Aceitação
A aceitação da herança, à luz do art. 1.805, CC, pode ser expressa ou tácita. Vejamos.
• Expressa: opera-se por declaração escrita, particular ou pública. Nela o herdeiro
encerra uma afirmação inequívoca, positiva, do interesse em receber a herança.
• Tácita: nesta hipótese o herdeiro não se expressa de maneira positiva. Simplesmente
pratica atos compatíveis com a condição de herdeiros, típicos, peculiares, razão pela
qual se interpretam as aludidas condutas como ato de aceitar (Ex.: o herdeiro de um
veículo que se emite na posse do automóvel, dirige-o rotineiramente extraindo proveito
do bem, faz as revisões, paga os tributos, responsabiliza-se pela conservação do
bem...).
Pega a visão!!
Os chamados atos oficiosos, como o funeral do finado ou mesmo os meramente
conservatórios, ou ainda os de administração e guarda provisória não constitui aceite. O ato
de requerimento de inventário, por se tratar de obrigação legal, também não representa aceite.
No mesmo sentido do que já foi dito aqui algumas vezes, não é possível a aceitação
antes de aberta a sucessão (art. 426, CC).
Renúncia
É a abdicação da condição de herdeiro. Considera-se o herdeiro como se não
existisse, ou melhor, como se nunca tivesse herdado. Não pode ser presumida, nem pode ela
ser inferida por suposições. Demanda ato positivo de vontade e forma solene. Não há renúncia
tácita como ocorre na aceitação. Faz-se mister que haja um ato solene, pois exige que o
instrumento seja público ou por termo nos autos homologado pelo juiz. Exige plena
capacidade, não podendo ser realizada por incapaz, nem por seu representante legal, a
menos que obtenha prévia permissão do juízo. Feita por mandatário, a procuração deve
conter poderes especiais e expressos, conforme o artigo 661 e seu parágrafo primeiro do CC.
Pega a visão!
320
II. Conforme entendimento do STJ, é possível a constituição de mandatário com poderes
expressos para renunciar a herança, admitindo-se que a outorga dos referidos poderes seja
conferida por instrumento público ou particular.
III. Os credores prejudicados pelo devedor que renuncia a herança poderão aceitá-la em nome
do renunciante, desde que habilitem seus créditos no juízo do inventário e solicitem
autorização judicial para aceitação no prazo de 180 dias seguintes ao conhecimento do fato.
Assinale a opção correta.
A. Nenhum item está certo.
B. Apenas o item II está certo.
C. Apenas o item III está certo.
D. Apenas os itens I e II estão certos.
E. Apenas os itens I e III estão certos.
Gabarito: “A”.
De olho na lei!
Caráter personalíssimo
321
Segundo o art. 5º, XLV, CF/88, o princípio da responsabilidade pessoal há de ser
respeitado frente a máxima: “nullum patris delictum delictum innocenti filio poena este”
(nenhum crime do pai pode prejudicar o filho inocente). Portanto, o herdeiro do índigo irá
herdar. Os efeitos da exclusão são personalíssimos. Os descendentes do excluído sucederão
como se ele morto fosse antes da abertura da herança. Todavia, o excluído da sucessão não
terá jamais o usufruto ou a administração dos bens que seus sucessores houverem recebido,
muito menos sucederá para receber tais patrimônios, nos termos do art. 1.816 do CC.
Reabilitação
Apesar de tudo o que foi dito, é admissível a reabilitação do indigno, de acordo com o
art. 1.818, CC, “se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro
ato autêntico”, dessa forma também considerado o indigno “contemplado em testamento do
ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade”. A reabilitação
expressa é absoluta, de modo que o reabilitado terá direito hereditário amplo. A reabilitação
tácita, quanto o indigno é contemplado pelo testador ofendido que já conhecia a causa da
indignidade, é relativa e limitada à disposição testamentária apenas.
Deserdação
322
HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
O nosso direito civil não reconhece personalidade jurídica à herança jacente. Tanto é
assim que os artigos 41 a 44 do CC não fazem qualquer menção a esta como se pessoa
jurídica fosse. A doutrina a entende como um ente despersonalizado, um patrimônio especial,
arrecadado por morte e administrado pelo curador, sob fiscalização de uma autoridade
judiciária, até que se habilitem eventuais herdeiros, e haja a sua entrega, ou se declare
vacante a herança (art. 1819 do CC).
Vale notar que os herdeiros colaterais somente poderão se habilitar até a declaração
de vacância (um ano), enquanto que os necessários poderão se habilitar, sem prejuízos, pelo
prazo de cinco anos após a declaração de vacância (art. 1.822 CC).
Pega a visão!
Nos termos do art. 1823 do CC, quando todos renunciarem a herança, de pronto, esta
será declarada vacante. É a chamada “vacância sumária”.
PETIÇÃO DA HERANÇA
Prevista no art. 1.824 do CC, consiste em “pretensão deduzida em juízo pelo herdeiro
preterido no sentido de lhe ser deferida quer a quota-parte que lhe caberia, que, ainda, a
totalidade da herança, reconhecendo-se, em todo o caso, a qualidade de herdeiro que lhe é
natural”.
323
O objetivo da pretensão é duplo: (1) obter em primeiro lugar a declaração da qualidade
de herdeiro (2) obter, em segundo lugar, a condenação na restituição dos bens.
Consiste em ação de natureza real (art. 80, II, CC). Não se confunde com a
reivindicatória, pois está já contempla a prova prévia da propriedade não carecendo da
declaração de domínio (in casu, de herdeiro) e tem como objeto bem certo, individuado, e não
quota parte hereditária.
De olho na juris!
O STF na súmula 149 afirma ser imprescritível o reconhecimento da paternidade, mas
prescritível o pleito patrimonial hereditário decorrente do aludido reconhecimento. Sustenta
que a investigação de paternidade é imprescritível, porém não o é a petição da herança.
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RJ Prova: VUNESP - 2019 - TJ-RJ - Juiz Substituto
325
João e Maria viviam em união estável, formalizada mediante escritura pública, em que
elegeram o regime da comunhão parcial de bens. Da relação entre João e Maria, resultaram
duas filhas, Madalena e Sara. João também tinha outros dois filhos, Mateus e Paulo,
decorrentes de relações eventuais que manteve. João faleceu. Na data da sua morte, João
possuía um patrimônio adquirido totalmente antes da constituição da união estável com Maria.
É correto afirmar que o patrimônio de João será dividido da seguinte forma:
A. um quarto (1/4) para cada um dos filhos de João.
B. um quarto (1/4) da herança para Maria e o restante dividido igualmente entre todos os filhos
de João.
C. Maria e todos os filhos de João receberão, cada um, um quinto (1/5) da herança.
D. um terço (1/3) para Maria e o restante dividido igualmente entre todos os filhos de João.
E. 10% para Maria e 15% para cada um dos filhos de João.
Gabarito: “C”
Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RO Prova: VUNESP - 2019 - TJ-RO - Juiz de Direito
Substituto
Maria, divorciada e com três filhos de seu casamento anterior, iniciou uma convivência pública,
contínua e duradoura, com o objetivo de constituição de família, com Daniela. Elas firmaram
uma escritura pública de união estável, onde adotaram o regime da comunhão parcial de
bens. Maria faleceu e deixou os seguintes bens: i) um apartamento adquirido antes do início
da união estável; ii) uma casa adquirida após a união estável, onde residia com sua
companheira Daniela. Pode-se afirmar corretamente que Daniela
A. em relação à casa, terá direito apenas à meação, bem como em relação ao apartamento,
sucederá recebendo quinhão igual ao recebido por cada filho de Maria.
B. não terá qualquer direito à herança relativamente ao apartamento e terá direito à metade
da casa, se provar o esforço comum na aquisição do imóvel.
C. sucederá exclusivamente em relação à casa, recebendo metade do quinhão atribuído a
cada um dos filhos de Maria.
D. em relação à casa, terá direito apenas à meação, bem como em relação ao apartamento,
sucederá recebendo metade do valor atribuído aos filhos de Maria.
E. receberá um quarto da casa e do apartamento, tendo em vista que, por ter formalizado a
união estável por meio de escritura pública, é herdeira de pleno direito.
Gabarito: “A”.
326
Se não existirem herdeiros da classe dos descendentes, chamar-se-ão a suceder em
concorrência com o cônjuge sobrevivente qualquer que seja o regime matrimonial de bens,
os ascendentes do de cujus (art. 1.836, CC), sendo que o grau mais próximo exclui o mais
remoto, não se devendo atender à distinção de linhas (art. 1.836, § único). Inexiste o direito
de representação na linha de ascendência (vide o art. 1.852, in fine).
Em suma:
a) Ascendente concorrendo COM o cônjuge:
(i) cônjuge + pai + mãe = 1/3 para cada um
(ii) cônjuge + pai/ mãe = ½ para o ascendente e ½ para o cônjuge
(iii) cônjuge + avós (quantos forem) = ascendentes dividem ½ entre si, por linha, e o
cônjuge leva a outra ½ (ex: cônjuge e 2 avós, ½ cônjuge e ¼ para avô materno e ¼
para avó paterna).
327
b) SEM descendentes, cônjuge ou companheiro:
a) pai + mãe = ½ cada
b) pai ou mãe = tudo
c) linha paterna + linha materna = ½ cada linha. Ex.: 1 avô materno e 2 avós paternos
= ½ avô materno; ¼ avó
materna; ¼ avô materno.
O artigo 1.841 do CC, para efeito de sucessão de colateral, distingue o irmão bilateral
ou germano (filho do mesmo pai e da mesma mãe), do irmão unilateral ou consanguíneo ou
uterino – aquele em que só um dos genitores é comum (o mesmo): concorrendo à herança
do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdara metade do que
cada um daqueles herdar.
328
Os sobrinhos são parentes em terceiro grau que, na falta dos irmãos, são chamados
a herdar (art. 1.843, CC). Depois dos sobrinhos, chamam-se os tios do finado e, depois, os
sobrinhos netos, tios avós e primos irmãos do autor da herança, que se encontram no quarto
grau de parentesco para com este. Inexistindo representação, sucedem por direito próprio,
partilhando-se a herança por cabeça.
Tanto os sobrinhos quanto os tios são parentes de terceiro grau. Contudo, toda a
norma privilegia a descendência, daí a justificativa.
Aqui também houve inovação legislativa em se comparando o texto com o CC/16. Desfeitos
os laços da afeição no plano da relação substancial, cai o direito sucessório. Não esquecer
que, com o advento da Emenda Constitucional n° 66, parte do dispositivo do artigo perdeu
eficácia, como já exposto acima.
Segundo o art. 1.831 do Código Civil: “Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o
regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o
direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que
seja o único daquela natureza a inventariar”.
O Código Civil alargou o prazo do direito real de habitação que não mais se extingue
com o casamento, mas apenas quando da morte (direito real vitalício de gozo e fruição).
329
Ademais, vale frisar que o direito real de habitação se aplica à hipótese de união
estável, como já assentou a doutrina majoritária mediante o Enunciado 117 em Jornada de
Direito Civil: “o direito real de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter
sido revogada a previsão da Lei nº 9.278/96, seja em razão da interpretação analógica do art.
1.831, informado pelo art. 6º, caput, da CF/88”.
A SUCESSÃO DO COMPANHEIRO
DIREITO DE REPRESENTAÇÃO
I. Que o representado esteja morto, salvo a hipótese do indigno e do ausente (art. 1.816,
CC), quando excepcionalmente haverá representação de pessoa viva. Atente-se para
a regra do artigo 1.811 do CC: ninguém pode suceder representando herdeiro
renunciante. O herdeiro renunciante é havido como estranho à herança e por isto não
pode ser substituído pelo seu descendente;
II. Que o representante seja descendente do representado. A representação acontece
na linha reta da descendência ou na colateralidade, nunca na ascendência (art. 1.852,
CC);
III. Que o representante esteja legitimado a suceder o representado;
IV. Que não haja solução de continuidade no encadeamento dos graus entre
representante e substituto. A representação não opera per saltum. Não se admite que
um descendente salte sobre o pai vivo, a fim de representá-lo na herança do avô (art.
1811 CC).
331
Os representantes só podem herdar o que herdaria o representado se vivo fosse (art.
1.854, CC). Não pode, pois, receber menos, nem mais. Lembre-se que os quinhões
hereditários dos que herdam por direito de representação não respondem pelas dívidas do
representado, mas apenas pelas do falecido.
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
Pega a visão!
332
Por se tratar de ato personalíssimo não se reconhece o testamento conjunto (art. 1863,
CC), nem também o simultâneo recíproco ou correspectivo.
Capacidade de testar
Segundo o art. 1.857 do CC toda pessoa pode dispor por testamento da totalidade de
seus bens ou de parte deles, para depois de sua morte, acrescentando o parágrafo primeiro
que a legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.
Invariavelmente, o art. 1.857 precisa ser estudado em consonância com o art. 1.848,
que admite a inclusão da legítima no testamento para sofrer imposição de cláusulas restritivas
de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, se o testador expuser, no
testamento, justa causa para sua incidência.
Vale recordar que a capacidade testamentária ativa tem início aos 16 (dezesseis)
anos, nos termos do parágrafo único do artigo 1.860, CC. Destaca-se: testa-se aos 16 anos
independentemente de assistente, por ser ato personalíssimo.
Claro que seria possível imaginar a incidência dos preceitos gerais da incapacidade
(arts. 3° e 4° do CC). Entretanto, os pródigos poderão testar, porque não estarão dilapidando
seu patrimônio, já que as disposições testamentárias só valem depois do óbito. No que diz
respeito ao surdo mudo, há dispositivo específico, tal seja o art. 1.866, CC: o indivíduo
inteiramente surdo, que saiba ler, lerá seu testamento, e se não souber, designará quem o
leia em seu lugar, presentes as testemunhas. Tanto o cego (art. 1.867, CC) como o analfabeto
(art. 1.869, CC) podem testar. A nulidade do testamento por incapacidade ativa só pode ser
ajuizada no juízo privativo, no prazo de cinco anos, contados do registro do testamento,
conforme o art. 1.859, CC. É visível que o regime jurídico é destacado e próprio da parte
especial do CC.
Formas de testamento
→ Formas ordinárias. O público, cerrado e particular (art. 1.862 do CC).
→ Formas especiais. São três: testamento militar, aeronáutico e marítimo, nos termos do art.
1.886 do CC.
333
A norma não traz o testamento consular como forma própria, autônoma. Na realidade,
o testamento consular é uma forma de testamento público, com a única diferença que nele
funciona o cônsul como tabelião, revestido, pois, de funções notoriais. Importante se atentar
para a norma de transição do artigo 2.042 do CC.
O testamento público
O terceiro requisito diz respeito a presença de duas testemunhas (ainda o inciso II),
que assistam a todo o ato.
Esse documento será lavrado pelo tabelião no livro de notas, contendo a declaração
de vontade do testador manifestada em presença do mesmo oficial e duas testemunhas
desimpedidas. Lembra-se que o CC/16 exigia cinco testemunhas, enquanto o código vigente
somente duas – isso ainda é objeto de pegadinhas nas provas.
De olho na juris!
334
Segundo o informativo 610, STJ, descumprimento de exigência legal para a confecção
de testamento público – segunda leitura e expressa menção no corpo do documento da
condição de cego – não gera a sua nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade
do testador.
Do testamento cerrado
O testamento cerrado, secreto ou místico, é o escrito pelo próprio testador, ou por
alguém a seu rogo (pedido) e por aquele assinado, com caráter sigiloso, completado pelo
instrumento de aprovação lavrado pelo tabelião ou oficial público substituto, presente duas
testemunhas.
Encontra-se disciplinados nos artigos 1.868 a 1.875 do Código Civil.
Possui dois elementos essenciais: a cédula testamentária e o auto de aprovação.
De olho na lei!
O artigo 1.870 autoriza ao tabelião que este escreva o testamento em face do testador, nada
impedindo que a mesma autoridade lavre o auto de aprovação.
335
Por se tratar de documento particular, pode ser escrito em língua estrangeira, conforme
permite o artigo 1.871 do CC.
Segundo o art. 1.872 aquele que não saiba ler não pode firmar testamento cerrado. O
fato de saber escrever pouco importa, a preocupação da norma é com aquele que não saiba
ler, pois só assim o instituidor poderá verificar a veracidade das informações daquele que
escreveu a seu rogo, seguindo suas instruções.
O surdo mudo pode fazer testamento cerrado conquanto que o escreva todo e o assine
de sua mão e que, ao entregá-lo ao oficial público, ante as duas testemunhas, escreva na
face externa do papel ou do envoltório, que aquele é o seu testamento, cuja aprovação lhe
pede (art. 1.873, CC).
É aquele escrito e assinado pelo testador, lido na presença de três testemunhas que
também o assinarão. Sua fundamentação legal está contida nos artigos 1.876 a 1.880 do
Código Civil.
De olho na lei!
Vejamos o que diz o art. 1.876, que traz os requisitos dessa modalidade de
testamento.
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Codicilo
Consiste no negócio jurídico de última vontade em que o autor dispõe sobre assuntos
de menor importância, despesas e donativos de reduzido valor. Reza o artigo 1.881 do CC
que “toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular seu, datado e assinado,
fazer disposições especiais sobre seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas e
determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo lugar, assim como legar
móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso pessoal.”
O codicilo também pode ser usado para nomear ou substituir testamenteiros (art.
1.883), perdoar o indigno (art. 1.818), bem como para reservar parcelas para sufrágio de sua
alma, obrigando, neste caso, a herança (art. 1.998).
Não é a via adequada para reconhecer filhos, nem deserdar pessoa. Tanto pode ser
integrante de testamento anterior, como pode ter vida autônoma. A via particular é a única
permitida. Portanto, só se admite o codicilo particular.
Caducidade do testamento
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• Evicção ou perecimento: s/ culpa do herdeiro/legatário incumbido do seu cumprimento,
vivo ou morto o testador (até onde se perder). Provada a culpa do obrigado, cabe
ressarcimento ao beneficiário. Perecimento por culpa de terceiro, só o testador e os
herdeiros poderão pleitear indenização.
Revogação do testamento
Segundo o art 1.969 do CC/02 o testamento pode ser revogado pelo mesmo modo e
forma como foi feito. Em outras palavras, a revogação do testamento só ocorre por novo
testamento. Testamento público pode ser revogado por particular, marítimo, cerrado... e vice
e versa.
Pega a visão!
Espécies de revogação: total, parcial, expressa e tácita. Esta última, nos seguintes
casos: (a) incompatibilidade com o anterior; (b) abertura do testamento cerrado pelo ou com
anuência do testador (se for provado que foi por terceiro involuntariamente não há revogação).
Rompimento do testamento
O segundo caso ocorre quando o testamento foi “feito na ignorância de existirem outros
herdeiros necessários”, na melhor forma do artigo 1.974, CC.
Do testamenteiro
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Desta forma, não concedendo o testador prazo maior, cumprirá o testamenteiro o
testamento e prestará contas em cento e oitenta dias, contados da aceitação da
testamenteira, podendo este prazo ser prorrogado desde que exista justa causa, ou seja,
fundado e relevante aspecto fático-jurídico a obstruir o adimplemento dentro do aludido
interregno.
Na hipótese de não ser o testamenteiro herdeiro ou legatário terá fará jus a uma
remuneração que – se o testador não tiver determinado – será de 1% a 5% sobre a herança
líquida. Este prêmio é definido pelo magistrado, sendo que é possível, em tese, que o aludido
prêmio venha a ser revertido se o testamenteiro o perder, por ser removido ou por não ter
cumprido o testamento.
Legado
Previsto nos artigos 1.912 a 1.940 do CC, o legado é uma disposição causa mortis por
meio da qual o testador deixa coisa certa ou direito determinado em benefício de alguém
(denominado de legatário).
No caso de alimentos, se o testador não fixar o seu valor, deverá o juiz fazê-lo. O
quantum estabelecido deve abranger o sustento, a cura, o vestuário e a casa, enquanto o
legatário viver, além da educação, se ele for menor. Se o legado for coisa determinada pelo
gênero poderá ser escolhido pelo herdeiro, por terceiros, ou pelo juiz (quando o terceiro não
quiser ou não puder fazê-lo), ou, finalmente, pelo próprio legatário. No caso da escolha ser
feita pelos três primeiros deverá ser observado o meio-termo entre as congêneres da melhor
e da pior qualidade.
340
Não sendo nenhuma das hipóteses previstas no artigo 1.939, que dispõe sobre a
caducidade do legado, a coisa legada entregar-se-á, com seus acessórios, no lugar e estado
em que se achava ao falecer o testador, passando ao legatário com todos os encargos que a
onerarem (art. 1.937 CC).
COLAÇÃO
Conferência dos bens da herança com os transferidos pelo de cujus, em vida, aos seus
descendentes, promovendo o retorno das liberalidades ao monte para equitativa apuração
das quotas hereditárias dos sucessores legítimos.
o 1ª Corrente: O valor de colação dos bens doados deverá ser aquele atribuído
ao tempo da liberalidade, corrigido monetariamente até a data da abertura da
sucessão (STJ, Info 617).
o 2ª Corrente: (a) momento de abertura da sucessão, se o bem ainda está com
o herdeiro; (b) da época da doação, se o bem não mais está em seu patrimônio.
Enunciado 119 do CJF (afastado pelo STJ).
341
Excesso na doação (invasão da legítima) é apurado levando-se em conta o valor do
patrimônio do doador ao tempo da doação, e não o patrimônio estimado no momento da
abertura da sucessão (STJ, Info 511).
A doação remuneratória deve respeitar a legítima dos herdeiros (STJ, Info 648).
Herdeiro necessário não precisa trazer à colação os valores que ele economizou ao
morar gratuitamente no imóvel do autor da herança enquanto este era vivo (STJ, Info 644).
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: MPE-SP Órgão: MPE-SP Prova: MPE-SP - 2019 - MPE-SP - Promotor de
Justiça Substituto
Os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente comum são obrigados, para
igualar as legítimas, a conferir o valor das doações que dele em vida receberam.
Esse conceito corresponde ao instituto da
A. colação.
B. sonegação.
C. conferência.
D. colmatação.
E. substituição.
Gabarito: "A".
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: TJ-AL Prova: FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto
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André, solteiro, não teve filhos e morreu sem deixar ascendentes vivos. Por testamento,
deixou todos os seus bens para o seu melhor amigo, Antônio, com quem não tinha nenhum
grau de parentesco. Sentindo-se injustamente preteridos, os três únicos irmãos de André
ajuizaram ação visando à declaração da nulidade total do testamento, argumentando que,
devido ao parentesco, não poderiam ter sido excluídos da sucessão. O pedido deduzido nessa
ação é
A. procedente, pois os irmãos de André são herdeiros necessários, devendo ser declarada a
nulidade total do testamento.
B. procedente em parte, pois os irmãos de André são herdeiros necessários, devendo ser
declarada a nulidade parcial do testamento, apenas quanto a três quartos dos bens.
C. procedente em parte, pois os irmãos de André são herdeiros necessários, devendo ser
declarada a nulidade parcial do testamento, apenas quanto a metade dos bens.
D. improcedente, pois os irmãos de André não são herdeiros necessários.
E. improcedente, pois os irmãos de André, embora sejam herdeiros necessários, podem ser
excluídos da sucessão mediante testamento.
Gabarito: “D”
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: TJ-AL Prova: FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto
Nos testamentos,
A. é válida a disposição que deixe ao arbítrio de terceiro, desde que suficientemente
identificado, fixar o valor do legado.
B. é ilícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador.
C. pode ser nomeada herdeira, mas não legatária, a pessoa que nele figurou como
testemunha instrumentária.
D. presume-se o prazo em favor do herdeiro.
E. são inválidas as disposições de caráter não patrimonial, se o testador tiver se limitado
somente a elas.
Gabarito: “D”
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: MPE-MT Prova: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Substituto
Em relação ao testamento, considere os enunciados:
I. Podem testar os maiores de dezesseis anos; não podem fazê-lo os incapazes e o surdo-
mudo, permitindo-se ao cego o testamento público.
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II. A incapacidade superveniente do testador invalida o testamento, mas o testamento do
incapaz convalida-se com a superveniência da capacidade.
III. É defeso o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo.
IV. A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.
V. São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador
somente a elas se tenha limitado.
Está correto o que se afirma APENAS em
A. I, II e IV.
B. III, IV e V.
C. I, II, IV e V.
D. I, III e V.
E. II, III, IV e V.
Gabarito: “B”
17. REFERÊNCIAS
DIZER O DIREITO. https://www.dizerodireito.com.br/2020/08/a-destinacao-de-parte-do-
imovel-para.html. Acesso em 25 de novembro de 2020.
GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. Revista, atualizada e aumentada, de acordo
com o Código Civil de 2002, por Edvaldo Brito e Reginalda Paranhos de Brito. 19. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2007.
GOMES, Orlando. Direitos Reais. Atualizador Luiz Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense,
2008.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD JR, Nelson. Direitos Reais. 7ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2018.
FIGUEIREDO, Luciano. Figueiredo, Roberto. Manual de Direito Civil – Vol. Único – Ed.
Juspodivm. Salvador, 2020.
QUESTÕES https://www.qconcursos.com/
TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. Vol. 2, São
Paulo: Método, 2012.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Lei de Introdução e Parte Geral. V. 1, 9. ed. São Paulo:
Método, 2013.
TARTUCE. Manual de Direito Civil. 2. ed. São Paulo: Método, 2012.
TARTUCE, Flávio. Direitos das Coisas. São Paulo: Editora Método, 2015.
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