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Sumário

1. LINDB................................................................................................................................ 3

2. PESSOA NATURAL........................................................................................................ 11

3. DIREITOS DA PERSONALIDADE .................................................................................. 19

4. PESSOA JURÍDICA ........................................................................................................ 27

5. DOMICÍLIO ...................................................................................................................... 34

6. BENS............................................................................................................................... 37

7. FATO JURÍDICO ............................................................................................................. 42

8. NEGÓCIO JURÍDICO ...................................................................................................... 43

9. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA ..................................................................................... 53

10. OBRIGAÇÕES .............................................................................................................. 65

11. CONTRATOS .............................................................................................................. 105

12. RESPONSABILIDADE CIVIL ...................................................................................... 187

13. POSSE ........................................................................................................................ 211

14. DIREITO DE PROPRIEDADE ..................................................................................... 223

15. DIREITO DAS FAMÍLIAS ............................................................................................ 249

16. DIREITO SUCESSÓRIO.............................................................................................. 312

17. REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 344

Professora: Amanda Lisboa

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1. LINDB
A LINDB possui ao todo 30 artigos, desses, apenas 19 (do 1º ao 19) tratam de
questões sobre vigência das leis, aplicação da norma jurídica no tempo, subsistência
da lei no espaço, e relação com o Direito Internacional.
Os demais dispositivos focam em questões administrativas.
Assim, a recomendação da leitura dos 19 dispositivos pertinentes se dá com objetivo
de otimizar o seu tempo de estudo!

Diferenciando conceitos...

▪ Vigência: é um aspecto temporal, o período de existência de uma lei. Regra geral →


vigor em todo o país 45 dias depois de oficialmente publicada (art. 1°, caput).
Exceção → o próprio texto legal pode indicar a vigência.
A vigência tem seu fim através da expiração do prazo previsto no texto legal (lei
temporária), pelo término de circunstâncias específicas (lei excepcional) ou pela
revogação por outra lei.

De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE -
Delegado de Polícia
Uma nova lei, que disciplinou integralmente matéria antes regulada por outra norma, foi
publicada oficialmente sem estabelecer data para a sua entrada em vigor e sem prever prazo
de sua vigência. Sessenta dias após a publicação oficial dessa nova lei, foi ajuizada uma ação
em que as partes discutem um contrato firmado anos antes sobre o assunto objeto das
referidas normas.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o seguinte item, com base na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro
No momento do ajuizamento da ação, a nova lei já estava em vigor.
Gabarito: certo.

Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia
Federal - Delegado de Polícia Federal
Diante da existência de normas gerais sobre determinado assunto, publicou-se oficialmente
nova lei que estabelece disposições especiais acerca desse assunto. Nada ficou estabelecido

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acerca da data em que essa nova lei entraria em vigor nem do prazo de sua vigência. Seis
meses depois da publicação oficial da nova lei, um juiz recebeu um processo em que as partes
discutiam um contrato firmado anos antes.
A partir dessa situação hipotética, julgue o item a seguir, considerando o disposto na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
A nova lei começou a vigorar no país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada
e permanecerá em vigor até que outra lei a modifique ou a revogue.
Gabarito: certo.

Ano: 2015 Banca: CEFET-BA Órgão: MPE-BA Provas: MPE-BA - 2015 - MPE-BA - Promotor
de Justiça Substituto
Assinale a alternativa INCORRETA sobre as regras de vigência das leis, segundo a Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
A. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou
revogue.
B. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare ou quando seja com ela
incompatível.
C. A lei posterior revoga a anterior quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior.
D. A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, revoga
a lei anterior.
E. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora
perdido a vigência.
Gabarito: “D”.

▪ Vigor: é a força categórica que a lei contém, isto é, a capacidade de estabelecer


condutas, proibi-las, impor sanções etc.

▪ Validade: analisa se a norma foi feita em consonância com o quanto posto no


ordenamento jurídico pátrio. Por exemplo: se foi respeitado o quórum de votação. Se
uma lei for inconstitucional, o STF declara sua invalidade.

▪ Eficácia: avalia se a lei está alcançando a finalidade a qual se propôs. Pode ser
jurídica ou social (que corresponde ao respeito à prescrição legal pelos destinatários
da norma).

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▪ Promulgação: é o aviso oficial do “nascimento” da norma. Atribui à lei certeza quanto
à existência e autenticidade.

▪ Sanção: Entende-se a lei ordinária existente somente depois da sanção do Poder


Executivo. A sanção é o que torna a lei existente, ou a derrubada do veto (Alexandre
de Moraes).

Dispensam sanção, sendo promulgadas diretamente: emenda constitucional,


Constituição, Lei delegada (chefe do Executivo edita e promulga), Medidas Provisórias
aprovadas sem emendas parlamentares. Quando o processo legislativo não inclui a
sanção, a lei existe depois da promulgação.

▪ Revogação: Trata-se do princípio da continuidade. Está no art. 2º, LINDB.

Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor


até que outra a modifique ou revogue. Trata-se do princípio da
continuidade.
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o
declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. Ou seja, a
revogação pode ser expressa ou tácita. OBS: no Brasil não se
admite a revogação da lei pelos costumes (dessuetudo).
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais
a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se
restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Ou seja, não
existe repristinação automática.

Pega a visão!!
• Ab-rogação = revogação total;
• Derrogação = revogação parcial.

De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia
Federal - Delegado de Polícia Federal
Diante da existência de normas gerais sobre determinado assunto, publicou-se oficialmente
nova lei que estabelece disposições especiais acerca desse assunto. Nada ficou estabelecido
acerca da data em que essa nova lei entraria em vigor nem do prazo de sua vigência. Seis

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meses depois da publicação oficial da nova lei, um juiz recebeu um processo em que as partes
discutiam um contrato firmado anos antes.
A partir dessa situação hipotética, julgue o item a seguir, considerando o disposto na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
O caso hipotético configura repristinação, devendo o julgador, por isso, diante de eventual
conflito de normas, aplicar a lei mais nova e específica.
Gabarito: errado.

Ano: 2012 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TRE-RJ


Julgue o item a seguir, a respeito de conflito e eficácia das leis, pessoas naturais e jurídicas,
bens públicos, prescrição e decadência.
A partir da revogação originada pelo novo Código Civil, é correto afirmar que ocorreu ab-
rogação com relação ao Código Civil de 1916.
Gabarito: certo

* Repristinação: é a “ressuscitação” da lei revogada, a restauração de uma lei quando sua


lei revogadora perde a vigência. Veja que o § 3º do art. 2 da LINDB, supratranscrito, exclui a
repristinação tácita. Isto é, a lei revogada só vai ser retornar ao ordenamento pela perda de
vigência da lei revogadora se houver previsão expressa nesse sentido.
Vale ressaltar que a doutrina faz distinção entre repristinação e efeito repristinatório, sendo
este aquele advindo do controle concentrado de constitucionalidade. Enquanto aquela só
ocorre por previsão expressa, este seria tácito.

ANTINOMIAS JURÍDICAS
Antinomia é o choque, o embate, entre duas normas válidas e emanadas de autoridade
competente, sem que se possa dizer qual delas deverá ser empregada no caso concreto.
Pega a visão!! Critérios básicos: hierárquico, especialidade e cronológico.
• Antinomia de 1º Grau: conflito que abrange apenas UM dos critérios acima citados.
• Antinomia de 2º Grau: choque que engloba DOIS dos critérios.

A chamada “Antinomia Aparente” pode ser resolvida pelos critérios acima (hierárquico e
especialidade superam o cronológico).
Já a “Antinomia Real” não pode ser solucuionada pelos metacritérios. É o caso de embate
entre os critérios hierárquico e especialidade (por ex.: norma geral superior X norma especial
inferior). Bobbio diz que prevalece o hierárquico. Maria Helena Diniz diz que não há uma

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metarregra geral de solução aqui, sendo uma antinomia real, podendo prevalecer qualquer
um dos critérios. Tartuce diz que a solução pode ser dada pelo Poder Legislativo (editando
uma terceira norma) ou pelo Poder Judiciário (adotando o princípio máximo da justiça,
aplicando os arts. 4º e 5º da LINDB e art. 8º do CPC).

De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Prefeitura de Manaus - AM Prova: CESPE /
CEBRASPE - 2018 - Prefeitura de Manaus - AM - Procurador do Município
À luz das disposições do direito civil pertinentes ao processo de integração das leis, aos
negócios jurídicos, à prescrição e às obrigações e contratos, julgue o item a seguir.

O conflito de normas que pode ser resolvido com a simples aplicação do critério hierárquico é
classificado como antinomia aparente de primeiro grau.
Gabarito: certo.

Ano: 2013 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TCE-RO


A respeito do conflito de normas no tempo, das pessoas naturais e jurídicas e dos bens
públicos, julgue o item a seguir.
Deparando-se com a incidência de duas normas em uma mesma situação — uma resolução
normativa de agência reguladora e uma lei a ela anterior —, o juiz deverá resolver o conflito
pelo critério da cronologia.
Gabarito: errado.

INTERPRETAÇÃO DA LEI
Interpretar é buscar o alcance e o sentido de uma norma já existente.
• Gramatical: procura o sentido real da norma através de normas de linguística.
• Histórica: avalia a conjuntura histórica em que foi elaborada a lei.
• Sistemática: a lei será interpretada em conjunto com as demais, pertencente à um
sistema, um ordenamento.
• Extensiva: conhecida também como ampliativa, a norma diz menos do que reflete a
essência da lei.
• Restritiva: o contrário da anterior, - o legislador disse mais do que desejava.
• Teleológica (finalística ou sociológica): Serão buscados os fins sociais da norma.
Enfim, para que ela foi criada? Segundo Gonçalves Dias, “A interpretação sociológica
ou teleológica tem por objetivo adaptar o sentido ou finalidade da norma às novas
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exigências sociais, com abandono do individualismo que preponderou no período
anterior à edição da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Tal
recomendação é endereçada ao magistrado no art. 5º da referida lei, que assim
dispõe: ‘na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se destina e às
exigências do bem comum’.”
• Lógica O intérprete busca o significado da norma nos fatos e motivos políticos,
históricos e ideológicos que culminaram na sua criação. Se na interpretação literal fica-
se preso à lei, na lógica desprende-se dela, transcendendo do conteúdo meramente
escrito. Busca-se, por meio de um raciocínio lógico, o porquê das normas.

INTEGRAÇÃO DA LEI
Ocorre quando não há lei a ser aplicada a um caso concreto, dessa forma se difere da
interpretação. Integrar significa preencher lacunas. A integração da norma é acontece quando
o juiz complementa a norma. E essa necessidade de complementação da norma tem origem
no fato do legislador não ter como prever todas as situações possíveis no mundo fático. O
direito é uma ciência social e, portanto, em constante mutação.
O juiz não pode deixar de julgar alegando lacuna ou desconhecimento da norma, caso
não haja leis regulamentando a lide, caberá ao juiz, de acordo com o artigo 4º da LINDB,
buscar a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito:

Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo


com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

Para doutrina tradicional, o art. 4° prevê uma ordem hierárquica para aplicação pelo
juiz. Todavia, a doutrina mais moderna se posiciona no sentido de não haver vinculação a
essa ordem, especialmente em razão da força normativa dos princípios, que não têm apenas
função supletiva ou interpretativa, mas também normativa, de modo que poderiam ser
aplicados em primeiro lugar.

Expressões importantes:
• Analogia: Permite-se a aplicação de uma norma para além do seu campo de atuação.
Ex: o art. 499 do CC/002 permite a venda de bens entre cônjuges, excluídos os que
integram a comunhão. Por analogia deve ser estendida essa interpretação ao
companheiro.
• Costumes: reiteração de comportamentos lícitos. Costumes secundum legem
(segundo a lei): incidem quando a própria lei faz referência eles. Ex: Art. 596. Não se
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tendo estipulado, nem chegado a acordo as partes, fixar-se-á por arbitramento a
retribuição, segundo o costume do lugar, o tempo de serviço e sua qualidade. Nesse
caso não há propriamente uma integração, mas uma subsunção. Costumes praeter
legem (na falta da lei): é o costume integrativo, que atua na falta de lei. Ex: cheque
pós-datado. Costumes contra legem (contra a lei): não há subsunção, nem integração,
constituindo, em regra, abuso de direito (art. 187, CC).
• Princípios Gerais do Direito: “Os princípios gerais são as regras que, embora não
estejam escritas, servem como mandamentos que informam e dão apoio ao direito,
utilizados como base para a criação e integração das normas jurídicas, respaldados
pelo ideal de justiça” (Eduardo de Azevedo Paiva).
• Non liquet: é a possibilidade de o juiz recusar-se a decidir em razão de não haver
norma aplicável. Entende-se ser vedado, haja vista a inafastabilidade da jurisdição.
• Equidade: se refere a aplicação da justiça no caso concreto pelo juiz, que, em tese,
poderia até mesmo discordar do ordenamento posto. Segundo o NCPC, somente pode
ser utilizada quando expressamente autorizado (exemplo: justiça voluntária).

CPC. Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação


de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos
previstos em lei.

De olho na banca!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Prefeitura de Campo Grande - MS Prova:
CESPE - 2019 - Prefeitura de Campo Grande - MS - Procurador Municipal
Considerando as disposições da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, julgue o
item a seguir.
Diante de omissão legal, o juiz decidirá de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito, visando atender aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum.
Gabarito: certo.

APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO.


Regra: irretroatividade da lei.
Exceções: disposição legal expressa em sentido contrário ou nas situações em que a
retroatividade não prejudique o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

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Art. 6º, LINDB A Lei em vigor terá efeito imediato e geral,
respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a
lei vigente ao tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu
titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo
começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-
estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial
de que já não caiba recurso.

Pega a visão!!
Lei nova pode atingir negócios realizados sob a égide da lei anterior, desde que se refiram ao
campo da eficácia (ex: juros e atualização monetária estão nesse campo).

De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE -
Delegado de Polícia
Uma nova lei, que disciplinou integralmente matéria antes regulada por outra norma, foi
publicada oficialmente sem estabelecer data para a sua entrada em vigor e sem prever prazo
de sua vigência. Sessenta dias após a publicação oficial dessa nova lei, foi ajuizada uma ação
em que as partes discutem um contrato firmado anos antes sobre o assunto objeto das
referidas normas.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o seguinte item, com base na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
Apesar de a nova lei ter revogado integralmente a anterior, ela não se aplica ao contrato objeto
da ação.
Gabarito: certo.
Breve comentário: Aplica-se o princípio “tempus regit actum” (o tempo rege o ato). “Art. 6º A
Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido
e a coisa julgada”.

APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO


É encontrada nos artigos 7º a 19 da LINDB. Aqui destacamos:
➔ O Brasil adota a teoria da territorialidade mitigada/moderada, sendo admitida a
aplicação da lei estrangeira no território brasileiro nos seguintes casos: “a lei do país
em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família” (art. 7º).
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➔ Conflito sobre bens imóveis: não importa o domicílio do interessado, sendo o caso de
aplicar a lei em que situado o bem.
➔ Sucessão: Art. 10, LINDB A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país
em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a
situação dos bens. § 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será
regulada pela lei brasileira em benefício o cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem
os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.

Por fim, faz-se mister ressaltar que a Lei de introdução é uma Lex legum pois ela regula as
próprias normas jurídicas, e não a relação entre indivíduos. Lembrando ainda que a Lei de
introdução não se refere apenas ao código civil, mas atingindo outros ramos também do
direito, inclusive do direito público. Tanto é verdade que esta lei se chamava “Lei de Introdução
ao Código Civil – LICC”, e teve seu nome alterado pela lei 12.376/10, para “Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro – LINDB”.

De olho na banca!
Ano: 2012 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL -
Delegado de Polícia
Com base no que dispões a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) e
Direito Civil, julgue os itens subsecutivos.
A LINDB é considerada uma lex legum, ou seja, uma norma de sobre direito.
Gabarito: certo

2. PESSOA NATURAL

No que tange a capacidade no nosso ordenamento jurídico, temos o seguinte:

➔ Personalidade: Atributo de qualquer pessoa humana ou jurídica


➔ Capacidade de direito: Capacidade de adquirir direitos e deveres perante a ordem
jurídica. Qualquer pessoa o tem.
➔ Capacidade de fato: Capacidade de, por si só, exercer os direitos e cumprir os deveres
na ordem civil. Pode ser relativa ou plena.
As pessoas plenamente capazes podem praticar quaisquer atos civis por si sós. As
relativamente incapazes dependem de assistência, enquanto as absolutamente

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incapazes dependem de representação. As pessoas incapazes estão sujeitas à tutela
ou à curatela.
Obs.: tutela x curatela: enquanto a tutela destina-se às pessoas menores de 18 anos,
a curatela destina-se aos demais incapazes.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência trouxe profundas alterações no que diz respeito
ao sistema das incapacidades.
Uma das principais mudanças promovidas foi a alteração das causas de incapacidade
absoluta e relativa. Com o advento do Estatuto, passou a ser considerado
absolutamente incapaz apenas o menor de 16 anos. Assim, podemos afirmar que a
incapacidade absoluta no atual ordenamento jurídico brasileiro é decorrente apenas
da menoridade.
o Relativamente incapazes
▪ Maiores de 16 e menores de 18 anos;
▪ ébrios habituais e viciados em tóxico;
▪ aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem
exprimir sua vontade;
▪ pródigos
o Absolutamente incapazes: apenas os menores de 16 anos.

Obs.1.: controvérsia: alguns autores entendem que a curatela de pessoas com


deficiência não mais é possível, tendo em vista que o Estatuto das Pessoas com Deficiência
considerou-as capazes. Por outro lado, há quem entenda que é possível, desde que a pessoa
com deficiência se enquadre em algum inciso do art. 4º do CC.
Obs.2.: capacidade x legitimidade: a pessoa pode ter capacidade, mas não ser
legitimada a algum ato específico. Nesse caso, o ato jurídico fica dependendo de alguma
condição específica. Exemplo: marido em relação à esposa para vender um bem imóvel do
casal: depende do consentimento do cônjuge.

TEORIAS DO INÍCIO DA PERSONALIDADE

➔ Natalista: A personalidade jurídica só se inicia com o nascimento. O nascituro é um


ente despersonalizado. O nascituro tem mera expectativa de direitos. STF, ADI 3510.
Literalidade do CC. Não obstante estar expressa no Código Civil esta teoria é
corriqueiramente relativizada pelo STF. Porém, também há precedentes favoráveis,

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veja, por exemplo, quando a corte decidiu pela constitucionalidade da Lei de
Biossegurança.
Vide:
CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
LEI DE BIOSSEGURANÇA. IMPUGNAÇÃO EM BLOCO DO ART. 5º
DA LEI Nº 11.105, DE 24 DE MARÇO DE 2005 (LEI DE
BIOSSEGURANÇA). PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO
EMBRIONÁRIAS. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO DIREITO À
VIDA. CONSITUCIONALIDADE DO USO DE CÉLULAS-TRONCO
EMBRIONÁRIAS EM PESQUISAS CIENTÍFICAS PARA FINS
TERAPÊUTICOS. DESCARACTERIZAÇÃO DO ABORTO. NORMAS
CONSTITUCIONAIS CONFORMADORAS DO DIREITO
FUNDAMENTAL A UMA VIDA DIGNA, QUE PASSA PELO DIREITO À
SAÚDE E AO PLANEJAMENTO FAMILIAR. DESCABIMENTO DE
UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DE INTERPRETAÇÃO CONFORME PARA
ADITAR À LEI DE BIOSSEGURANÇA CONTROLES
DESNECESSÁRIOS QUE IMPLICAM RESTRIÇÕES ÀS PESQUISAS
E TERAPIAS POR ELA VISADAS. IMPROCEDÊNCIA TOTAL DA
AÇÃO. I - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO, A CONCEITUAÇÃO
JURÍDICA DE CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS E SEUS
REFLEXOS NO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DA LEI DE
BIOSSEGURANÇA. (...) III - A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO
DIREITO À VIDA E OS DIREITOS INFRACONSTITUCIONAIS DO
EMBRIÃO PRÉ-IMPLANTO. O Magno Texto Federal não dispõe sobre
o início da vida humana ou o preciso instante em que ela começa. Não
faz de todo e qualquer estádio da vida humana um autonomizado bem
jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque
nativiva (teoria “natalista”, em contraposição às teorias “concepcionista”
ou da “personalidade condicional”). E quando se reporta a “direitos da
pessoa humana” e até dos “direitos e garantias individuais” como
cláusula pétrea está falando de direitos e garantias do indivíduo-pessoa,
que se faz destinatário dos direitos fundamentais “à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade”, entre outros direitos e
garantias igualmente distinguidos com o timbre da fundamentalidade
(como direito à saúde e ao planejamento familiar). Mutismo
constitucional hermeneuticamente significante de transpasse de poder
normativo para a legislação ordinária. A potencialidade de algo para se
tornar pessoa humana já é meritória o bastante para acobertá-la,
infraconstitucionalmente, contra tentativas levianas ou frívolas de obstar
sua natural continuidade fisiológica. Mas as três realidades não se
confundem: o embrião é o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana
é a pessoa humana. Donde não existir pessoa humana embrionária,
mas embrião de pessoa humana. O embrião referido na Lei de
Biossegurança (“in vitro” apenas) não é uma vida a caminho de outra
vida virginalmente nova, porquanto lhe faltam possibilidades de ganhar
as primeiras terminações nervosas, sem as quais o ser humano não tem
factibilidade como projeto de vida autônoma e irrepetível. O Direito
infraconstitucional protege por modo variado cada etapa do
desenvolvimento biológico do ser humano. Os momentos da vida
humana anteriores ao nascimento devem ser objeto de proteção pelo
direito comum. O embrião pré-implanto é um bem a ser protegido, mas
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não uma pessoa no sentido biográfico a que se refere a Constituição.
(...). Ação direta de inconstitucionalidade julgada totalmente
improcedente. (ADI 3510, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Tribunal
Pleno, julgado em 29/05/2008, DJe-096 DIVULG 27-05-2010 PUBLIC
28-05-2010 EMENT VOL-02403-01 PP-00134 RTJ VOL-00214-01 PP-
00043)

➔ Personalidade condicionada ou formal: O nascituro teria 2 personalidades: uma formal,


para gozo de direitos personalíssimos e outra material, condicionada ao nascimento.
Personalidade apenas para efeitos não-patrimoniais. O nascituro tem direitos sob
condição suspensiva (ou direitos eventuais).
➔ Concepcionista: A personalidade jurídica se inicia com a concepção: é considerado
pessoa, inclusive para efeitos patrimoniais. O momento aquisitivo dos direitos da
personalidade é a concepção. O nascituro é titular de direitos. Há situações
específicas em que a lei e a jurisprudência conferem proteção jurídica ao nascituro,
como é o caso dos alimentos gravídicos e do salário maternidade (AgRg no AREsp
593933/SP, DJE 07/05/2018).

De olho na Juris!
Veja-se decisão do STJ que adotou expressamente a teoria concepcionista:

DIREITO CIVIL. INDENIZAÇÃO REFERENTE AO SEGURO DPVAT


EM DECORRÊNCIA DE MORTE DE NASCITURO. A beneficiária legal
de seguro DPVAT que teve a sua gestação interrompida em razão de
acidente de trânsito tem direito ao recebimento da indenização prevista
no art. 3º, I, da Lei 6.194/1974, devida no caso de morte. O art. 2º do
CC, ao afirmar que a “personalidade civil da pessoa começa com o
nascimento”, logicamente abraça uma premissa insofismável: a de que
“personalidade civil” e “pessoa” não caminham umbilicalmente juntas.
Isso porque, pela construção legal, é apenas em um dado momento da
existência da pessoa que se tem por iniciada sua personalidade jurídica,
qual seja, o nascimento. Conclui-se, dessa maneira, que, antes disso,
embora não se possa falar em personalidade jurídica - segundo o rigor
da literalidade do preceito legal -, é possível, sim, falar-se em pessoa.
Caso contrário, não se vislumbraria qualquer sentido lógico na fórmula
“a personalidade civil da pessoa começa”, se ambas - pessoa e
personalidade civil - tivessem como começo o mesmo acontecimento.
Com efeito, quando a lei pretendeu estabelecer a “existência da
pessoa”, o fez expressamente. É o caso do art. 6º do CC, o qual afirma
que a “existência da pessoa natural termina com a morte”, e do art. 45,
caput, da mesma lei, segundo o qual “Começa a existência legal das
pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo
no respectivo registro”. Essa circunstância torna eloquente o silêncio da
lei quanto à “existência da pessoa natural”. Se, por um lado, não há uma
afirmação expressa sobre quando ela se inicia, por outro lado, não se
pode considerá-la iniciada tão somente com o nascimento com vida.
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Ademais, do direito penal é que a condição de pessoa viva do nascituro-
embora não nascida - é afirmada sem a menor cerimônia. É que o crime
de aborto (arts. 124 a 127 do CP) sempre esteve alocado no título
referente a “crimes contra a pessoa” e especificamente no capítulo “dos
crimes contra a vida”. Assim, o ordenamento jurídico como um todo (e
não apenas o CC) alinhou-se mais à teoria concepcionista - para a qual
a personalidade jurídica se inicia com a concepção, muito embora
alguns direitos só possam ser plenamente exercitáveis com o
nascimento, haja vista que o nascituro é pessoa e, portanto, sujeito de
direitos - para a construção da situação jurídica do nascituro, conclusão
enfaticamente sufragada pela majoritária doutrina contemporânea.
Além disso, apesar de existir concepção mais restritiva sobre os direitos
do nascituro, amparada pelas teorias natalista e da personalidade
condicional, atualmente há de se reconhecer a titularidade de direitos
da personalidade ao nascituro, dos quais o direito à vida é o mais
importante, uma vez que, garantir ao nascituro expectativas de direitos,
ou mesmo direitos condicionados ao nascimento, só faz sentido se lhe
for garantido também o direito de nascer, o direito à vida, que é direito
pressuposto a todos os demais. Portanto, o aborto causado pelo
acidente de trânsito subsume-se ao comando normativo do art. 3º da
Lei 6.194/1974, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte
do nascituro, ou o perecimento de uma vida intrauterina. REsp
1.415.727-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014.

De olho na banca!
Ano: 2012 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL -
Delegado de Polícia.
Com base no que dispões a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) e
Direito Civil, julgue os itens subsecutivos.
A personalidade civil começa com o nascimento com vida, mas os direitos do nascituro estão
sujeitos a uma condição resolutiva, ou seja, são direitos eventuais; esse conceito refere-se à
teoria da personalidade condicional.
Gabarito: errado.
Obs.: O erro do item está na afirmação que na teoria da personalidade condicionada, os
direitos do nascituro estão sujeitos a uma condição resolutiva.

Ano: 2015 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: AGU


Julgue o item seguinte, que dizem respeito à aplicação da lei, às pessoas e aos bens.
Entre os direitos ressalvados pela lei ao nascituro estão os direitos da personalidade, os quais
estão entre aqueles que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa.
Gabarito: certo.

15
MENORIDADE E EMANCIPAÇÃO

Art. 5º, CC - A menoridade cessa aos dezoito anos completos,


quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da
vida civil.

➔ Emancipação voluntária: acontece pela concessão dos pais, ou de um deles na falta


do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial.
Obs.: “No que concerne à responsabilidade dos pais pelo evento danoso, observo que
a emancipação voluntária, diversamente da operada por força de lei, não exclui a
responsabilidade civil dos pais pelos atos praticados por seus filhos menores”, afirmou
a ministra ao manter a condenação solidária dos pais” (STJ, Ag 1.239.557).
➔ Emancipação legal: algumas causas: casamento; exercício de emprego público
efetivo; pela colação de grau em curso de ensino superior; pelo estabelecimento civil
ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles,
o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
➔ Emancipação judicial: Por sentença, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos
completos.

De olho na juris!
TJ-RS - Apelação Cível AC 70054726401 RS (TJ-RS)
Data de publicação: 04/06/2013
Ementa: AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS. FILHA
EMANCIPADA, QUE TRABALHA E ESTUDA NO EXTERIOR.
PROVA.
1. Os alimentos decorrentes do dever de sustento, que é
inerente ao poder familiar, cessam quando os filhos atingem a
maioridade civil, mas persiste a relação parental, que pode
justificar a permanência do encargo alimentar.
2. É totalmente descabida a pretensão da Defensoria Pública de
receber pagamento de honorários advocatícios por exercer a
função de curadoria especial, pois essa função é própria das
suas atribuições institucionais.
3. Para que permaneça o encargo alimentar do genitor em
relação à filha maior, é imprescindível a prova cabal da
necessidade, o que não se verifica nos autos, pois ela além
de seremancipada, reside em Portugal, faz trabalhos como
modelo e estuda teatro, havendo provas inclusive de que
possui uma loja na cidade de Cruz Alta, tanto que foi
condenada na Justiça do Trabalho a indenizar uma
funcionária.
4. Correta a sentença ao determinar o término da obrigação
alimentar, quando a alimentada não comprovou sua

16
necessidade em continuar recebendo a verba alimentar.
Recurso desprovido.
(Apelação Cível Nº 70054726401, Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de
Vasconcellos Chaves, Julgado em 29/05/2013)

De olho na banca!
Ano: 2015 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: AGU
Julgue o item seguinte, que dizem respeito à aplicação da lei, às pessoas e aos bens.
De acordo com entendimento do STJ, a emancipação, seja ela legal, voluntária ou judicial,
não tem o condão de excluir a responsabilidade civil dos pais pelos atos praticados por seus
filhos menores.
Gabarito: errado.

EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL.


Termina a existência da pessoa natural com a morte. A morte no direito nacional pode ser:
• Morte real - Está regulada no artigo 6º do CC. Cuida-se da morte aferida, em regra,
por profissional da medicina e, na sua falta, por duas testemunhas, na forma do artigo
78 da LRP (6.015/73).
Hodiernamente, o conceito de morte transmutou-se, não mais sendo considerada a
parada cardíaca, mas sim a paralisação das ondas cerebrais, por conta da
necessidade de preservação do funcionamento do corpo para eventuais transplantes
(Lei 9.434/97).
• Morte presumida ou morte civil ou ficta mortis
Excepcionalmente, a morte pode ser presumida (a regra é a morte real). São hipóteses
em que há impossibilidade de localização do cadáver.
O Direito Brasileiro admite duas situações para a morte presumida:
i. Com procedimento ou declaração de ausência e
ii. Sem procedimento ou declaração de ausência.

A ausência se dá nas hipóteses de inexistência ou incerteza de morte. A declaração de


ausência divide-se em três principais fases: a) curadoria (artigos 22 a 25); b) sucessão
provisória (artigos 26 a 36), e c) sucessão definitiva (artigos 37 a 39).
O ausente não é incapaz, embora haja um curador para tutelar seus interesses. Trata-se de
inovação legislativa trazida pelo Código Civil de 2002, já que o ausente era tratado como
absolutamente incapaz pelo CC/1916.

17
OBS.1: Quando não for encontrado corpo do falecido para ser periciado, faz-se necessária a
Justificação Judicial para se declarar a morte presumida sem declaração de ausência. As
hipóteses de morte presumida sem declaração de ausência constam do artigo 7°, do CC e no
artigo 88, da Lei de Registros Públicos.

OBS.2: A declaração de morte presumida sem declaração de ausência somente pode ser
requerida após esgotadas todas as buscas e averiguações. A morte presumida SEM
DECRETAÇÃO DE AUSÊNCIA enseja a abertura de sucessão definitiva, não sendo
necessário seguir o procedimento de ausência (art. 22 e do CC), com abertura de sucessão
provisória, para depois abrir a sucessão definitiva, procedimento esse que só deve e dar em
caso de ausência de alguém que não se encaixe no art. 7 do CC, aplicando-se assim, o
disposto no art. 6 º e nos artigos citados (art. 22 e ss CC).

COMORIÊNCIA.
Traduz a situação de morte simultânea, isto é, quando duas ou mais pessoas morreram na
mesma ocasião, não sendo possível determinar quem morreu primeiro.
Fala-se que, para a maioria da doutrina, a expressão legal “mesma ocasião” significa ao
mesmo tempo, não sendo obrigatório que seja no mesmo acontecimento. Entretanto, é sabido
que os exemplos frequentes de provas de concursos trabalham com comoriência ao mesmo
tempo e evento.
A comoriência provoca consequências práticas significativas, visto que serão abertas cadeias
sucessórias autônomas e distintas, de maneira que um comoriente não herdará do outro.
É possível que a comoriência, enquanto presunção relativa que é, seja afastada por prova
definitiva em contrário (prova de pré-moriência). Finalmente, lembra-se que os comorientes
falecem simultaneamente, não havendo nenhum tipo de critério preferencial legal.

De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE -
Delegado de Polícia
Um homem de cinquenta anos de idade assassinou a tiros a esposa de trinta e oito anos de
idade, na manhã de uma quarta-feira. De acordo com a polícia, o homem chegou à casa do
casal em uma motocicleta, chamou a mulher ao portão e, quando ela saiu de casa, atirou nela
com uma arma de fogo, matando-a imediatamente. Em seguida, ele se matou no mesmo local,
com um disparo da arma encostada na própria têmpora.

18
Considerando a situação hipotética apresentada e os diversos aspectos a ela relacionados,
julgue o item a seguir.
O evento caracteriza um episódio de comoriência.
Gabarito: errado.

Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-AM Prova: CESPE - 2019 - TJ-AM -
Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador
No que concerne à Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, à pessoa natural, aos
direitos da personalidade e à desconsideração de pessoa jurídica, julgue o item a seguir.
Na hipótese de dois cônjuges, com idades diferentes, terem falecido na mesma ocasião e não
ser possível identificar com precisão quem faleceu primeiro, deve-se presumir que a morte do
comoriente mais velho precedeu a do mais novo.
Gabarito: errado

3. DIREITOS DA PERSONALIDADE
Os direitos da personalidade como proteção integral do ser humano em toda a sua
essência são uma construção jurídico-teórica recente.
Durante muitos anos na história da humanidade, a proteção a direitos fundamentais
do ser humano era relegada às categorias privilegiadas da sociedade, haja vista as inúmeras
atrocidades cometidas nos mais diversos períodos da história. Nesse sentido aponta a
doutrina que essa construção teórica é fruto do cuidado da doutrina germânica e francesa,
especialmente depois da II Grande Guerra mundial.
Os códigos civis não faziam nenhuma referência aos direitos da personalidade o que
foi ocorrendo aos poucos na maioria dos países. Uma das principais inovações da Parte Geral
do Novo Código Civil é justamente, a existência de um capítulo próprio destinado aos direitos
da personalidade.
Um grande passo para a proteção dos direitos da personalidade foi dado com o
advento da Constituição Federal de 1988, que expressamente a eles se refere no art. 5º,
caput, e inciso X.
O Código Civil de 2002, ao contrário dos anteriores, disciplina a matéria nos artigos 11
a 21 da Parte Geral. A legislação civil tratou de regular o direito ao próprio corpo, o direito ao
nome, o direito à honra, à imagem e o direito à privacidade.

19
De olho na lei!

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da


personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não
podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito


da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de
outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para
requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente,
ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição


do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da
integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para
fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a


disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para
depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente
revogado a qualquer tempo.

Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com


risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.

Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos


o prenome e o sobrenome.

Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem
em publicações ou representações que a exponham ao
desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.

Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em


propaganda comercial.

Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da


proteção que se dá ao nome.

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração


da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de
escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição
ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas,
a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber,
se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se
se destinarem a fins comerciais. (Vide ADIN 4815)
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são
partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os
ascendentes ou os descendentes.
20
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a
requerimento do interessado, adotará as providências
necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta
norma. (Vide ADIN 4815)

O Código Civil prevê EXPRESSAMENTE que os direitos da personalidade não podem


sofrer limitação voluntária. No entanto, o Enunciado n° 4 da I Jornada de Direito Civil estipulou
ser possível a limitação, desde que não permanente nem geral. CUIDADO: se a provar cobrar
expressamente a letra da lei, marcar que não é possível a limitação voluntária.

Assim sendo, para ser válido o ato de dispor dos direitos da personalidade, esse ato
precisa respeitar alguns limites:
1) O ato não pode ser permanente: não é possível ceder algum dos direitos da
personalidade de forma vitalícia;
2) O ato não pode ser genérico: é possível dispor desse ou daquele direito, mas não é
possível ceder todos ao mesmo tempo;
3) Não pode violar a dignidade do titular: o titular não pode dispor, não pode flexibilizar
sua personalidade com violação de sua dignidade. (Exemplo: arremesso de anão,
França).

Os direitos da personalidade também são intransmissíveis, no entanto é admitido que


a repercussão econômica de tais direitos seja explorada por terceiros, como o uso da imagem
de pessoas famosas para fins de propaganda.

De olho na banca!
Ano: 2012 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL -
Delegado de Polícia
Com relação às pessoas naturais, às pessoas jurídicas e aos bens, julgue os itens a seguir.
Os direitos da personalidade são inatos, ilimitados e absolutos, com eficácia erga omnes,
porém, seu exercício pode sofrer restrições.
Gabarito: correto.

Ano: 2016 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PGE-AM Prova: CESPE - 2016 - PGE-AM -
Procurador do Estado
Acerca de direitos da personalidade, responsabilidade civil objetiva e prova de fato jurídico,
julgue o item seguinte.
21
Uma pessoa poderá firmar contrato que limite seus direitos da personalidade caso o acordo
seja-lhe economicamente vantajoso.
Gabarito: errado.

Principais direitos:
➔ NOME: O Direito ao nome é o direito à individualização da pessoa. Atualmente já não
paira nenhuma dúvida: nome não é direito real, é direito à personalidade. Até certo
tempo, o princípio da imutabilidade do nome era absoluto (até 1998). O nome só
poderia ser modificado nos casos expressamente previstos em Lei. Agora, prevalece
entre nós a inalterabilidade relativa do nome. O nome pode ser modificado não apenas
nos casos previstos em lei, mas também por força de decisão judicial em razão de
motivo relevante. As hipóteses de alteração de nome estão elencadas nos artigos 56
e 57 da Lei n. 6.015/73.

De olho na juris!
Contudo, o Superior Tribunal de Justiça vem tratando de forma maleável a
interpretação desses artigos visando permitir a alteração de nome, desde que haja um
“justo motivo”. Desta maneira, já decidiu que o brasileiro que adquiriu dupla cidadania
pode ter seu nome retificado no registro civil do Brasil, desde que isso não cause
prejuízo a terceiros, quando vier a sofrer transtornos no exercício da cidadania por
força da apresentação de documentos estrangeiros com sobrenome imposto por lei
estrangeira e diferente do que consta em seus documentos brasileiros.
Vide:
RECURSO ESPECIAL. REGISTRO CIVIL. NOME CIVIL.
RETIFICAÇÃO.
DUPLA CIDADANIA. ADEQUAÇÃO DO NOME BRASILEIRO AO
ITALIANO. ALTERAÇÃO DO SOBRENOME INTERMEDIÁRIO. JUSTA
CAUSA. PRINCÍPIO DA SIMETRIA. RAZOABILIDADE DO
REQUERIMENTO.
1. Pedido de retificação de registro civil, em decorrência da obtenção da
nacionalidade italiana (dupla cidadania), ensejando a existência de
sobrenomes intermediários diferentes (Tristão ou Rodrigues) nos
documentos brasileiros e italianos.
2. Reconhecimento da ocorrência de justa causa, em face dos princípios
da verdade real, da simetria e da segurança jurídica, inexistindo prejuízo
a terceiros.
3. Precedentes do STJ.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1310088/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Rel.
p/ Acórdão Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 17/05/2016, DJe 19/08/2016).
22
De olho na banca!

Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: STJ Prova: CESPE - 2018 - STJ - Técnico
Judiciário - Administrativa
Acerca dos direitos da personalidade, julgue o item que se segue.
O nome da pessoa pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que
a exponham ao desprezo público, desde que não haja intenção difamatória.
Gabarito: errado.

Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: STJ Prova: CESPE - 2018 - STJ - Técnico
Judiciário - Administrativa
Acerca dos direitos da personalidade, julgue o item que se segue.
O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da mesma proteção que se dá ao nome.
Gabarito: certo.

➔ IMAGEM: De acordo com o Código Civil:

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da


justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da
imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e
sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes
legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os
descendentes.

O STJ na súmula 403 traz que independe de prova do prejuízo a indenização pela
publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.

Dessa forma, o simples fato de a imagem ter sido capturada em local público não
afasta a caracterização de dano moral indenizável se for utilizada para fins comerciais sem a
autorização da pessoa fotografada.

Nessa perspectiva, já decidiu o STJ que “é cabível compensação por dano moral
decorrente da simples utilização de imagem de pessoa física, em campanha publicitária, sem
autorização do fotografado. Essa é a interpretação que se extrai dos precedentes que
definiram a edição da Súmula 403 do STJ, segundo a qual “Independe de prova do prejuízo
23
a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou
comerciais”. Precedentes citados: EREsp 230.268-SP, Segunda Seção, DJ de 4/8/2003;
AgRg no REsp 1.252.599-RS, Terceira Turma, DJe de 5/5/2014; e AgRg no AREsp 148.421-
SP, Quarta Turma, DJe de 25/10/2013. REsp 1.307.366-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado
em 3/6/2014.

Pega a visão!!

Interpretação conforme do art. 20 do CC. O STF entendeu desnecessária a autorização prévia


do biografado para a publicação da biografia, por ser vedada a censura.

Vide:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 20


E 21 DA LEI N. 10.406/2002 (CÓDIGO CIVIL). PRELIMINAR DE
ILEGITIMIDADE ATIVA REJEITADA. REQUISITOS LEGAIS
OBSERVADOS. MÉRITO: APARENTE CONFLITO ENTRE
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS: LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DE
INFORMAÇÃO, ARTÍSTICA E CULTURAL, INDEPENDENTE DE
CENSURA OU AUTORIZAÇÃO PRÉVIA (ART. 5º INCS. IV, IX, XIV;
220, §§ 1º E 2º) E INVIOLABILIDADE DA INTIMIDADE, VIDA
PRIVADA, HONRA E IMAGEM DAS PESSOAS (ART. 5º, INC. X).
ADOÇÃO DE CRITÉRIO DA PONDERAÇÃO PARA INTERPRETAÇÃO
DE PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL. PROIBIÇÃO DE CENSURA
(ESTATAL OU PARTICULAR). GARANTIA CONSTITUCIONAL DE
INDENIZAÇÃO E DE DIREITO DE RESPOSTA. AÇÃO DIRETA
JULGADA PROCEDENTE PARA DAR INTERPRETAÇÃO
CONFORME À CONSTITUIÇÃO AOS ARTS. 20 E 21 DO CÓDIGO
CIVIL, SEM REDUÇÃO DE TEXTO. 3. A Constituição do Brasil proíbe
qualquer censura. O exercício do direito à liberdade de expressão não
pode ser cerceada pelo Estado ou por particular. 4. O direito de
informação, constitucionalmente garantido, contém a liberdade de
informar, de se informar e de ser informado. O primeiro refere-se à
formação da opinião pública, considerado cada qual dos cidadãos que
pode receber livremente dados sobre assuntos de interesse da
coletividade e sobre as pessoas cujas ações, público-estatais ou
público-sociais, interferem em sua esfera do acervo do direito de saber,
de aprender sobre temas relacionados a suas legítimas cogitações. 5.
Biografia é história. A vida não se desenvolve apenas a partir da soleira
da porta de casa. 6. Autorização prévia para biografia constitui censura
prévia particular. O recolhimento de obras é censura judicial, a substituir
a administrativa. O risco é próprio do viver. Erros corrigem-se segundo
o direito, não se coartando liberdades conquistadas. A reparação de
danos e o direito de resposta devem ser exercidos nos termos da lei. 7.
A liberdade é constitucionalmente garantida, não se podendo anular por
outra norma constitucional (inc. IV do art. 60), menos ainda por norma

24
de hierarquia inferior (lei civil), ainda que sob o argumento de se estar a
resguardar e proteger outro direito constitucionalmente assegurado,
qual seja, o da inviolabilidade do direito à intimidade, à privacidade, à
honra e à imagem. 9. Ação direta julgada procedente para dar
interpretação conforme à Constituição aos arts. 20 e 21 do Código Civil,
sem redução de texto, para, em consonância com os direitos
fundamentais à liberdade de pensamento e de sua expressão, de
criação artística, produção científica, declarar inexigível autorização de
pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou
audiovisuais, sendo também desnecessária autorização de pessoas
retratadas como coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de
pessoas falecidas ou ausentes). (ADI 4815, Relator (a): Min. CÁRMEN
LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 10/06/2015, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC 01-02-2016).

Observação! Direito ao esquecimento.


O direito ao esquecimento aparece no debate sobre a possibilidade de alguém obstar
a divulgação de informações que, mesmo sendo verdadeiras, não sejam atuais e lhe causem
transtornos das mais diversas ordens. A doutrina brasielira defende o direito ao esquecimento,
existindo inclusive enunciado do CJF sobre o tema:

Enunciado 531 - art. 11: A tutela da dignidade da pessoa


humana na sociedade da informação inclui o direito ao
esquecimento.

Na justificativa do Enunciado n° 531 do CJF afirmou-se que não atribui a ninguém o


direito de apagar fatos ou reescrever a própria história, mas, em contrapartida, assegurou-se
a possibilidade de discutir o uso que é dado aos fatos pretéritos, mais especificamente o modo
e a finalidade com que são lembrados.

De olho na juris!
O STJ, manifestando-se sobre o assunto, concluiu pela existência do direito ao
esquecimento, valorizando-se a dignidade da pessoa humana:
A permissão ampla e irrestrita de que um fato e pessoas nele
envolvidas sejam retratados indefinidamente no tempo - a
pretexto da historicidade do evento - pode significar permissão
de um segundo abuso à dignidade humana, simplesmente
porque o primeiro já fora cometido no passado. Nesses casos,
admitir-se o “direito ao esquecimento” pode significar um
corretivo - tardio, mas possível - das vicissitudes do passado,
seja de inquéritos policiais ou processos judiciais pirotécnicos e
injustos, seja da exploração populista da mídia. Além disso, dizer
que sempre o interesse público na divulgação de casos judiciais
deverá prevalecer sobre a privacidade ou intimidade dos

25
envolvidos, pode violar o próprio texto da Constituição, que
prevê solução exatamente contrária, ou seja, de sacrifício da
publicidade (art. 5º, LX). A solução que harmoniza esses dois
interesses em conflito é a preservação da pessoa, com a
restrição à publicidade do processo, tornando pública apenas a
resposta estatal aos conflitos a ele submetidos, dando-se
publicidade da sentença ou do julgamento, nos termos do art.
155 do Código de Processo Civil e art. 93, IX, da Constituição
Federal. Por fim, a assertiva de que uma notícia lícita não se
transforma em ilícita com o simples passar do tempo não tem
nenhuma base jurídica. O ordenamento é repleto de previsões
em que a significação conferida pelo direito à passagem do
tempo é exatamente o esquecimento e a estabilização do
passado, mostrando-se ilícito reagitar o que a lei pretende
sepultar. Isso vale até mesmo para notícias cujo conteúdo seja
totalmente verídico, pois, embora a notícia inverídica seja um
obstáculo à liberdade de informação, a veracidade da notícia não
confere a ela inquestionável licitude, nem transforma a liberdade
de imprensa em direito absoluto e ilimitado. Nesse contexto, as
vítimas de crimes e seus familiares têm direito ao esquecimento,
se assim desejarem, consistente em não se submeterem a
desnecessárias lembranças de fatos passados que lhes
causaram, por si, inesquecíveis feridas. REsp 1.335.153-RJ,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/5/2013.

Contudo, não é todo caso de exibição de imagens do passado que geram danos
morais por violação ao direito ao esquecimento. É necessário analisar o caso concreto para
saber se há ou não a caracterização de dano moral e o dever de indenização.

Todavia, no caso de familiares de vítimas de crimes passados,


que só querem esquecer a dor pela qual passaram em
determinado momento da vida, há uma infeliz constatação: na
medida em que o tempo passa e se vai adquirindo um “direito ao
esquecimento”, na contramão, a dor vai diminuindo, de modo
que, relembrar o fato trágico da vida, a depender do tempo
transcorrido, embora possa gerar desconforto, não causa o
mesmo abalo de antes. Nesse contexto, deve-se analisar, em
cada caso concreto, como foi utilizada a imagem da vítima, para
que se verifique se houve, efetivamente, alguma violação aos
direitos dos familiares. Isso porque nem toda veiculação não
consentida da imagem é indevida ou digna de reparação, sendo
frequentes os casos em que a imagem da pessoa é publicada
de forma respeitosa e sem nenhum viés comercial ou
econômico. Assim, quando a imagem não for, em si, o cerne da
publicação, e também não revele situação vexatória ou
degradante, a solução dada pelo STJ será o reconhecimento da
inexistência do dever de indenizar. REsp 1.335.153-RJ, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 28/5/2013.

Lesão ao direito da personalidade


26
A lesão a direito da personalidade dá ensejo à reclamação por perdas e danos.
Em caso de falecimento da vítima, a legitimidade ativa ad causam pertence ao cônjuge
sobrevivente, ou a qualquer parente na linha reta ou colateral até o quarto grau, em
consonância com o quanto previsto Código Civil.

Art. 12 . Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito


da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de
outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para
requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente,
ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Sobre o assunto, vale conhecermos o teor do Enunciado 275 da IV Jornada de


Direito Civil, que estendeu ao companheiro a legitimidade ativa.

Enunciado 275: arts. 12 e 20. O rol dos legitimados de que tratam os arts. 12, parágrafo
único, e 20, parágrafo único, do Código Civil também compreende o companheiro.

Obs.: Legitimidade do Espólio

O espólio é o ente despersonalizado que representa a herança em juízo ou fora dele.


Mesmo sem possuir personalidade jurídica, o espólio tem capacidade para praticar atos
jurídicos (ex: celebrar contratos, no interesse da herança) e tem legitimidade processual (pode
estar no polo ativo ou passivo da relação processual) (FARIAS, Cristiano Chaves. et. al.,
Código Civil para concursos. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 1396).

Todavia, segundo a jurisprudência do STJ, diferentemente do que ocorre em relação


ao cônjuge sobrevivente, o espólio não tem legitimidade para buscar reparação por danos
morais decorrentes de ofensa post mortem à imagem e à memória de pessoa.

Além da compensação em dinheiro, o dano extrapatrimonial pode ser compensado


pela reparação in natura, como por exemplo, a retratação pública

4. PESSOA JURÍDICA
A pessoa jurídica é fruto de uma necessidade social, pois o homem não vive isolado,
agrupando-se em fenômenos associativos inerentes à natureza humana.O direito passou a
discipliná-las, para legitimar sua participação na vida jurídica, como sujeito de direitos,
dotando-as, para este fim, de personalidade própria.
27
Em um rigor mais técnico, afirma-se que a pessoa jurídica é a soma de esforços
humanos (corporação) ou a destinação de um patrimônio (fundação), tendente a uma
finalidade lícita, específica, constituída na forma da lei, a partir do registro (art. 45, CC), e
obediente a uma função social.

Na atualidade, propõe-se uma leitura constitucional da pessoa jurídica, consoante um viés


de solidariedade social e igualdade, significando a afirmação da função social da empresa no
seio da sociedade – Enunciado 53 do CJF.

ORIGEM DA PESSOA JURÍDICA


Existem diversas teorias para explicar a origem da pessoa jurídica, otimizando o que
interessa trago aqui as principais:

1. Teoria da Ficção
Foi mais conhecida no século XIX, sendo possível dividi-la em:
a) Teoria da Ficção Legal (Savigny)
Alega que a pessoa jurídica teria uma existência tão somente ideal, por ser uma criação do
direito. Seria uma existência abstratamente criada, todavia não sociológica, pois não
aceitavam que a pessoa jurídica tivesse uma atuação social. Para essa teoria, a pessoa
jurídica seria uma criação artificial da norma para exercer direitos patrimoniais e facilitar a
função de certas entidades, já que só o homem (pessoa natural) é capaz de ser sujeito de
direito. Esta capacidade jurídica é abrangida apenas para fins patrimoniais.

b) Teoria da Ficção Doutrinária (Vereilles-Sommières)


É uma variação da teoria acima descrita. Aqui, a pessoa jurídica não tem existência real, mas
apenas intelectual, isto é, na mente dos juristas, sendo uma mera ficção elaborada pela
doutrina.

2. Teorias da Realidade
É uma resposta a Teoria da Ficção. Para os signatários desta teoria, as pessoas jurídicas são
realidades, e não mera abstração, possuindo existência própria, bem como os indivíduos. Esta
teoria diverge quanto ao modo de apreciar essa realidade, dando origem a várias percepções,
dentre as quais se destacam:
a) Teoria da Realidade Objetiva ou Orgânica (Gierk e Zitelman)

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Criada na Alemanha, para esta teoria, a pessoa jurídica não seria mera abstração ou criação
da lei, mas teria existência própria, real, social, bem como os indivíduos. Seria um organismo
social, com atuação na própria sociedade em que foi criada. Seria uma criação da sociologia.
Um ser com vida própria, que nasce por imposição das forças sociais. A vontade é capaz de
dar vida a um organismo, que passa a ter existência própria, diferente da de seus
componentes, capaz de se tornar sujeito de direito, real e verdadeiro. São signatários dessa
teoria, dentre outros, Clóvis Beviláqua e Silvio Rodrigues.

Maria Helena Diniz desenvolve inteligente crítica à teoria da realidade orgânica ou da


realidade objetiva, explicando que esta acaba por recair na ficção, quando declara que a
pessoa jurídica tem vontade própria, porque o fenômeno volitivo é próprio do ser humano.

b) Teoria da Realidade Técnica ou da Realidade Jurídica (Geny, Saleilles, Ferrara)

Aqui a pessoa jurídica teria existência e atuação social real, muito embora a sua personalidade
fosse concepção da técnica jurídica. Entende que a personificação dos grupos sociais é
expediente de ordem técnica, sendo a forma encontrada pelo direito para reconhecer a
existência de grupos de indivíduos que se conectam na procura de determinados fins.

O Estado acaba admitindo a necessidade de tais grupos possuírem personalidade própria,


participando das relações como sujeitos de direito, nas mesmas circunstâncias de pessoas
naturais. Compreende-se a personalidade, portanto, como um atributo que o Estado confere
a tais entidades, desde que observadas as formalidades dos requisitos previamente
estabelecidos na norma.

Em consonância com a Teoria da Realidade Técnica, adotada pelo Código Civil, a


existência da pessoa jurídica começa com a inscrição do seu ato constitutivo no registro
competente (CC, art. 45).

O registro da pessoa jurídica é, portanto, ato constitutivo de direito, com efeitos ex-nunc,
sendo este ato capaz de gerar a sua personalidade. Verifica-se, no particular, importante
diferença para a pessoa física. Afinal, esta (pessoa física) adquire a personalidade jurídica a
partir do nascimento com vida, sendo o registro posterior um ato meramente declaratório de
direito, com efeitos ex-tunc.

Veja classificação das Pessoas Jurídicas:

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• Pessoas Jurídicas de Direito Público INTERNO: União, Estados, DF, Territórios
(não temos), Municípios, autarquias, associações públicas e as demais entidades de
caráter público criadas por lei.
• Pessoas Jurídicas de Direito Público EXTERNO: Estado estrangeiros e todas as
pessoas que forem regidas pelo direito internacional público
• Pessoas Jurídicas de Direito Privado:. Associações, sociedades, fundações,
organizações religiosas, partidos políticos e EIRELI.

De olho na lei!
Veja o que diz o Código Civil:

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de


direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo
registro, precedida, quando necessário, de autorização ou
aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas
as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a
constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito
do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua
inscrição no registro.

Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a


proteção dos direitos da personalidade.

De olho na banca!
Ano: 2012 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL -
Delegado de Polícia
Com relação às pessoas naturais, às pessoas jurídicas e aos bens, julgue os itens a seguir.
Na teoria da realidade orgânica, a pessoa jurídica tem identidade organizacional própria,
identidade essa que deve ser preservada. Essa teoria foi adotada pelo Código Civil brasileiro.
Gabarito: errado.

Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: SEFAZ-DF Prova: CESPE - 2020 - SEFAZ-
DF - Auditor Fiscal
Considerando o disposto no Código Civil acerca de personalidade e o disposto na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro acerca da vigência das leis, julgue o item a seguir.
O início da personalidade civil das pessoas físicas ocorre com o nascimento com vida,
enquanto o início da personalidade civil das pessoas jurídicas de direito privado ocorre com a

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inscrição do seu ato constitutivo no respectivo registro, precedida de autorização ou
aprovação do Poder Executivo, quando necessário.
Gabarito: correto.

Desconsideração da personalidade jurídica


A Medida Provisória n.º 881/2019 trouxe várias alterações no Código Civil,
principalmente no regramento da desconsideração da personalidade jurídica.

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares
de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados
direta ou indiretamente pelo abuso.
§ 1º Para fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a
utilização dolosa da pessoa jurídica com o propósito de lesar
credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de
separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio
ou do administrador ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas
contraprestações, exceto o de valor proporcionalmente
insignificante; e (Incluído pela Medida Provisória nº 881, de
2019)
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
§ 3º O disposto no caput e nos § 1º e § 2º também se aplica à
extensão das obrigações de sócios ou de administradores à
pessoa jurídica.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos
requisitos de que trata o caput não autoriza a desconsideração
da personalidade da pessoa jurídica.
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a
alteração da finalidade original da atividade econômica
específica da pessoa jurídica.

No caput do artigo 50, observamos a restrição da desconsideração da personalidade


jurídica a fim de que atinja apenas o patrimônio do sócio que incorreu no abuso. Não se trata
de novidade, pois o enunciado n.º 7 das jornadas de direito civil do CJF já diz que: “Só se
aplica a desconsideração da personalidade jurídica quando houver a prática de ato irregular
e, limitadamente, aos administradores ou sócios que nela hajam incorrido”.

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Consolidando o entendimento jurisprudencial sobre adoção da Teoria Maior, sob a
perspectiva subjetiva, o novo §1º do art. 50 diz que o desvio de finalidade tem natureza
subjetiva, ou seja, exige prova da intenção daqueles que abusam da personalidade da pessoa
jurídica. Tal entendimento foi trazido no REsp 970.635/SP, da relatoria da Min. Nancy
Andrighi, julgado pelo STJ em 10/11/2009.

No mesmo sentido de restringir o uso da desconsideração da personalidade jurídica, o


novo §5º do art. 50 diz que não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou alteração
da finalidade original da atividade econômica da PJ. Neste caso, não se pode presumir que a
mudança na finalidade, ou ampliação, é, por si só, fraudulenta. Deve-se demonstra o dolo de
lesar credores.

• Teoria MAIOR: Exige-se prova da manipulação, de forma fraudulenta ou abusiva, da


personalidade da pessoa jurídica, causando lesão a terceiros.
É adotada no CC Insuficiência patrimonial + Abuso da personalidade
o Desvio de finalidade = Teoria Maior Subjetiva
o Confusão patrimonial = Teoria Maior Objetiva
Em ambos os casos, agora, é exigida presença do elemento subjetivo, tal seja,
intenção de lesar credores.
Não pode ser decretada de ofício.

• Teoria MENOR: Exige apenas a insuficiência patrimonial CDC, Ambiental, Tributário,


Trabalhista. Pode ser decretada de ofício

De olho na banca!
Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: MPE-CE Prova: CESPE / CEBRASPE - 2020
- MPE-CE - Analista Ministerial - Direito
Acerca do tratamento conferido às pessoas jurídicas pelo Código Civil, julgue o item a seguir.
Verificado abuso de personalidade jurídica por confusão patrimonial ou desvio de finalidade,
o juiz pode determinar a desconsideração da personalidade a requerimento da parte ou do
Ministério Público.
Gabarito: certo.

ESCLARECENDO ALGUNS CONCEITOS


Desconsideração inversa, indireta e expansiva.

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• DESCONSIDERAÇÃO INVERSA
Acontece quando o sócio abusar da utilização da pessoa jurídica. “Se o sócio
controlador de sociedade empresária transferir parte de seus bens à pessoa jurídica
controlada com o intuito de fraudar a partilha, a companheira prejudicada terá
legitimidade para requerer a desconsideração inversa da personalidade jurídica” (STJ,
REsp 1.236.916).

• DESCONSIDERAÇÃO INDIRETA
Ocorre quando “há uma sociedade controladora cometendo fraudes e abusos por meio
de outra empresa que figura como controlada ou filiada (arts. 1.098 e 1.099, CC). É
aplicável substancialmente aos grupos/conglomerados econômicos em que a
empresa controladora utiliza de sociedades menores, controladas/filiadas, que estão
à beira da insolvência, para praticar atos abusivos. Destarte, a sociedade menor, longe
de possuir autonomia, configura-se como mera extensão (“longa manus”) da
sociedade controladora. Com a aplicação da desconsideração indireta, atingir-se-ia o
patrimônio da sociedade controladora, para satisfazer obrigações da sociedade
controlada/filiada” (Bruno Teixeira).

• DESCONSIDERAÇÃO EXPANSIVA
Vemos neste caso o popular “laranja”. “Imaginem o caso de uma ação de execução
em que B, exequente, verifica que a sociedade A, realizou uma dissolução irregular.
B, descobre a sociedade C, e que esta fora constituída por alguns sócios da sociedade
A (executada). Também é descoberto que a sociedade C, exerce suas atividades no
mesmo domicílio da sociedade A, ora executada. A doutrina destaca a possibilidade
da Desconsideração da Personalidade Jurídica C, de forma expansiva, para atingir o
patrimônio dos sócios ocultos, verdadeiros “testas de ferro” da sociedade executada,
na busca de se coibir eventual fraude” (Cristiano Sobral).

Pega a visão!! Art. 1.062 do CPC: O incidente de desconsideração da personalidade jurídica


aplica-se ao processo de competência dos juizados especiais.

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5. DOMICÍLIO

Trata-se o local em que a pessoa pode ser sujeito de direitos e deveres na ordem
privada. É o onde poderá ser cobrada ou cobrar direitos e deveres na ordem jurídica.

De acordo com o artigo 70 do CC, o domicílio da pessoa natural é o local onde ela
estabelece sua residência com ânimo definitivo.

O código aceita a pluralidade de domicílios, estabelecendo que quando a pessoa tiver


diversas residências onde, alternadamente, viva, será considerado domicílio qualquer delas.
Além disso, a pluralidade de domicílio também é admitida para o domicílio profissional e para
a pessoa jurídica.

Vide:
Art. 72 Parágrafo único - Se a pessoa exercitar profissão em
lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as
relações que lhe corresponderem.
Art. 75, § 1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos
em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio
para os atos nele praticados.

O domicílio possui duas classificações:


➔ Domicílio Voluntário: é quando se trata de ato jurídico que expressa a vontade do
sujeito. O domicílio voluntário é geral (exercício normal de direitos e obrigações) ou
especial (de eleição, art. 78 do CC).

➔ Domicílio Legal ou necessário: é aquele que é estabelecido por força de norma (artigo
76, CC). Hipóteses de domicílio necessário:
o a) Incapaz: domicílio de seu representante ou assistente.
o b) Servidor público: local onde exercer permanentemente suas funções.
o c) Militar: local onde servir. Sendo da marinha ou aeronáutica: a sede do
comando a que se encontrar imediatamente subordinado.
o d) Marítimo: local onde o navio estiver matriculado.
o e) Preso: local onde cumprir a sentença.

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O domicílio é vinculado a ideia de “se fixar a algum lugar”, dando segurança ao negócio
jurídico. No entanto, é possível alterar o domicílio por imposição legal ou voluntariamente
expressando a vontade de mudar.

Art. 74 - Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a


intenção manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar
a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para
onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança,
com as circunstâncias que a acompanharem.

De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: STJ Prova: CESPE - 2018 - STJ - Técnico
Judiciário - Administrativa
Julgue os seguintes itens, relativo ao domicílio.

Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.


Gabarito: certo.

Domicílio corresponde ao lugar onde a pessoa estabelece a sua residência com ânimo
definitivo.
Gabarito: certo.

De olho na lei!
Domicílio é um tema que costuma ser cobrado da forma conhecida como “letra de lei”,
isto é, é de suma importância a leitura dos dispositivos legais.
Visando otimizar seu tempo trazemos aqui os demais artigos pertinentes:

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela


estabelece a sua residência com ânimo definitivo.

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências,


onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu
qualquer delas.

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às


relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares
diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações
que lhe corresponderem.

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Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha
residência habitual, o lugar onde for encontrada.

Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a


intenção manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar
a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para
onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança,
com as circunstâncias que a acompanharem.

Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:


I - da União, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III - do Município, o lugar onde funcione a administração
municipal;
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as
respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem
domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
§ 1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em
lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio
para os atos nele praticados.
§ 2º Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro,
haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às
obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar
do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.

Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público,


o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu
representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em
que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde
servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do
comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do
marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar
em que cumprir a sentença.

Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no


estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem,
no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito
Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve.

Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes


especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e
obrigações deles resultantes.

De olho na banca!
Ano: 2015 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-DFT Prova: CESPE - 2015 - TJ-DFT -
Técnico Judiciário - Administrativa
Com base nas disposições do Código Civil, julgue o item seguinte.

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Se a pessoa natural tiver diversas residências onde viva alternadamente, qualquer uma delas
é considerada seu domicílio.
Gabarito: correto.

6. BENS

Classificação

➔ BENS IMÓVEIS:
o O solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.
o Por equiparação: os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram.
o Por equiparação: o direito à sucessão aberta.
o As edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem
removidas para outro local.
o Os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se
reempregarem.

De olho na banca!
Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: SEFAZ-AL Prova: CESPE / CEBRASPE -
2020 - SEFAZ-AL - Auditor Fiscal da Receita Estadual
Com base no Código Civil, julgue o item a seguir.
O direito à sucessão aberta é considerado, para os efeitos legais, bem imóvel, ainda que os
bens deixados pela pessoa falecida sejam todos móveis.
Gabarito: certo.

➔ BENS MÓVEIS:
o Bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem
alteração da substância ou da destinação econômico-social.
o Por equiparação: as energias que tenham valor econômico;
o Por equiparação: os direitos reais sobre objetos móveis e as ações
correspondentes;
o Por equiparação: os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas
ações.

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o Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem
empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade
os provenientes da demolição de algum prédio.

➔ BENS PÚBLICOS:
o Bens de uso comum do povo: são bens públicos cuja utilização não se submete
a qualquer tipo de discriminação ou ordem especial de fruição. É o caso das
praias, estradas, ruas e praças (art. 99, I, do CC/2002). São inalienáveis.
o Bens de uso especial: são bens públicos cuja fruição, por título especial, e na
forma da lei, é atribuída a determinada pessoa, bem como aqueles utilizados
pelo próprio Poder Público para a realização dos seus serviços públicos (art.
99, II, do CC/2002). É o caso dos prédios onde funcionam as escolas públicas.
São também inalienáveis.
o Bens dominicais: são bens públicos não afetados à utilização direta e imediata
do povo, nem aos usuários de serviços, mas que pertencem ao patrimônio
estatal (art. 99, III, CC/2002). É o caso dos títulos pertencentes ao Poder
Público, dos terrenos de marinha e das terras devolutas. São alienáveis,
observadas as exigências da lei.

Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às


pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são
particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
Art. 99. São bens públicos:
I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e
praças;
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a
serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual,
territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias;
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas
de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma
dessas entidades.
Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se
dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público
a que se tenha dado estrutura de direito privado.
Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial
são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma
que a lei determinar.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas
as exigências da lei.
Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou
retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja
administração pertencerem.
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De olho na banca!
Ano: 2012 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL -
Delegado de Polícia
No tocante aos bens públicos, julgue os próximos itens.
Os bens públicos, seja qual for a sua destinação, são insuscetíveis de aquisição por meio de
usucapião.
Gabarito: correto.

Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: MPE-PI Prova: CESPE - 2018 - MPE-PI -
Analista Ministerial - Área Processual
Julgue o item a seguir acerca de direitos da personalidade, de registros públicos, de
obrigações e de bens.
O uso comum dos bens públicos deve ser sempre gratuito; por isso, a cobrança de valores
por sua utilização caracteriza violação ao interesse social.
Gabarito: errado.

➔ BEM DE FAMÍLIA
o Voluntário (convencional):
Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou
rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os
casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja
renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.
Constituição do bem de família convencional só passará a produzir efeitos após
o seu registro no Cartório de Registro de Imóveis competente e extingue-se
com a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não
sujeitos a curatela.
o Legal: alheio a essa previsão, há o instituto do bem de família legal, previsto
na Lei n. 8.009/90, que independe da manifestação de vontade dos cônjuges
ou da entidade familiar.
O bem de família legal protege o imóvel próprio do casal ou da entidade
familiar, sendo este impenhorável. A proteção ao bem de família decorrente da
legislação é automática, não havendo necessidade de nenhum ato por parte
do proprietário do imóvel.

39
De olho na Juris!

✓ O fato de se tratar de terreno não edificado é circunstância que, por si só, não obsta
sua qualificação como bem de família, na medida em que tal qualificação pressupõe a
análise, caso a caso, da finalidade realmente atribuída ao imóvel (interpretação
teleológica das impenhorabilidades) (REsp 1417629/SP, DJe 19/12/2013).
✓ A impenhorabilidade do bem de família não impede seu arrolamento fiscal (AgRg no
REsp 1492211/PR, DJe 03/02/2015).
✓ A impenhorabilidade do bem de família é questão de ordem pública, razão pela qual
não admite renúncia pelo titular (EDcl no AREsp 511.486/SC, DJe 10/03/2016).
✓ A ausência de registro da hipoteca não afasta a exceção à regra de impenhorabilidade
prevista no art. 3º, V, da Lei n. 8.009/90 (REsp 1455554/RN, DJe 16/06/2016).
✓ A pensão alimentícia está prevista expressamente no art. 3º, III, da Lei n. 8.009/1990
como hipótese de exceção à impenhorabilidade do bem de família, sendo irrelevante
a origem dessa prestação, se decorrente de relação familiar ou de ato ilícito (AgInt no
REsp 1619189/SP, DJe 10/11/2016).
✓ A impenhorabilidade do bem de família hipotecado não pode ser oposta nos casos em
que a dívida garantida se reverteu em proveito da entidade familiar (AgInt nos EDcl no
AREsp 665.233/SC, DJe 09/02/2018).
✓ É possível a penhora do bem de família para assegurar o pagamento de dívidas
oriundas de despesas condominiais do próprio bem (AgInt no REsp 1688721/DF, DJe
26/02/2018).
✓ A impenhorabilidade de bem de família pode ser arguida em qualquer tempo ou fase
do processo, desde que não tenha havido pronunciamento judicial anterior. (AgRg no
REsp 1373654/RS, DJe 12/03/2018).
✓ Não é possível alegar a impenhorabilidade do bem de família após concluída a
arrematação (AgInt no AREsp 196.236/SP, DJe 16/04/2018).
✓ Os imóveis residenciais de alto padrão ou de luxo não estão excluídos, em razão do
seu valor econômico, da proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 aos bens de família
(AgInt no AREsp 1199556/PR, DJe 14/06/2018).

Classificação dos bens quanto a consuntibilidade:


✓ Consuntibilidade física ou de fato: se o consumo do bem implica em sua destruição
física imediata. Pensemos por exemplo, em bebidas, comidas, que é são bens
consumíveis de fato.

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✓ Consuntibilidade jurídica: devemos levar em conta aqui se o bem pode ou não ser
alienado. Podendo haver, por exemplo, uma cláusula de inalienabilidade, que o torna
inconsumível do ponto de vista jurídico (ainda que consumível do ponto de vista fático).
Desta forma, alguns bens podem ser ao mesmo tempo consumíveis e inconsumíveis.

De olho na banca!
Ano: 2012 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-AL Prova: CESPE - 2012 - PC-AL -
Delegado de Polícia
Com relação às pessoas naturais, às pessoas jurídicas e aos bens, julgue os itens a seguir.
Uma garrafa de vinho de 1.830 da reserva especial, clausulada com inalienabilidade por
testamento é um bem classificado como consumível fático e, ao mesmo tempo, como bem
inconsumível do ponto de vista jurídico.
Gabarito: certo

De olho na Juris!
PRINCIPAIS SÚMULAS STJ SOBRE O TEMA
• Súmula 619: A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de
natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e
benfeitorias. IMPORTANTE: “Nos bens do patrimônio disponível do Estado
(dominicais), despojados de destinação pública, permite-se a proteção possessória
pelos ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social” (REsp
1296964/DF, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
18/10/2016, DJe 07/12/2016); “Diferentemente do que ocorre com a situação de fato
existente sobre bens públicos dominicais - sobre os quais o exercício de determinados
poderes ocorre a pretexto de mera detenção -, é possível a posse de particulares sobre
bens públicos de uso comum, a qual, inclusive, é exercida coletivamente, como
composse” (REsp 1582176/MG, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado
em 20/09/2016, DJe 30/09/2016).
• Súmula 549: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de
locação. EXCEÇÃO: Não é penhorável o bem de família do fiador no caso de contratos
de locação comercial. (STF. 1ª Turma. RE 605709/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/
ac. Min. Rosa Weber, julgado em 12/6/2018 (Info 906)).
• Súmula 486: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado
a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência
ou a moradia da sua família.

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• Súmula 449: A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis
não constitui bem de família para efeito de penhora.
• Súmula 364: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o
imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.
• Súmula 340: Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais
bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião.
• Súmula 228: É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.
• Súmula 205: A lei 8.009/90 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência.
• Súmula 158: Salvo estipulação contratual averbada no registro imobiliário, não
responde o adquirente pelas benfeitorias do locatário.

7. FATO JURÍDICO
O fato jurídico é um acontecimento, natural ou humano, pertinente para o Direito,
mesmo que não gere efeitos no mundo jurídico, como, por exemplo, um testamento. É jurídico,
portanto, aquele fato capaz de provocar consequências para o Direito.

Classificação:
O fato jurídico ou fato jurídico lato sensu se subdivide:
• Fato Jurídico Natural, também chamado Fato Jurídico Stricto Sensu;
• O Fato Jurídico Humano, também chamado Ato Jurídico ou Ato Jurídico Lato Sensu.

ATO JURÍDICO
Para haver ato jurídico é fundamental que haja vontade exteriorizada e consciente visando
um resultado. A simples cogitação, não é capaz de caracterizar o ato.
O Fato Jurídico Humano, também denominado de Ato Jurídico Lato Sensu, se divide em
Ilícitos e lícitos.
• Ilícito é aquilo que é contrário ao direito, como um atropelamento, o que gera
consequências jurídicas, a exemplo do dever de indenizar.
• Lícito é aquilo que está em consonância com o direito.
Aprofundando nos Fatos Jurídicos Humanos Lícitos, estes abarcam:
o Ato Jurídico Stricto Sensu - aquele oriundo da vontade humana intencional,
porém, seus efeitos são disciplinados na norma (ex legem). Ex.: renúncia ou
aceitação de herança, o sim no casamento, o perdão, a quitação, o
reconhecimento voluntário de filiação e o estabelecimento de domicílio.

42
o Ato-fato jurídico – apesar de originar-se da vontade humana, de pronto
descarta, visto que para a produção de seus efeitos, ela (a vontade humana)
nem precisa ser intencional. Nestas hipóteses, não importa a intenção da
vontade na prática do ato. Ex.: caça; pesca; achado de tesouro (CC, art. 1.269);
atos de incapazes, ainda que não assistidos ou representados, como a compra
de merenda escolar.
o Negócios jurídicos – é toda declaração de vontade destinada à produção de
efeitos jurídicos correspondentes ao intento prático dos declarantes, se
reconhecido e garantido por lei (Orlando Gomes). Baseado na autonomia
privada, traduz uma DECLARAÇÃO DE VONTADE limitada pelos princípios da
função social e da boa-fé objetiva, pela qual o agente pretende livremente
alcançar determinados efeitos juridicamente possíveis (ex: contratos,
testamento).

8. NEGÓCIO JURÍDICO

“Negócio jurídico é toda declaração de vontade destinada à produção de efeitos


jurídicos correspondentes ao intento prático do declarante, se reconhecido e garantido pela
lei” (Orlando Gomes).

É a declaração de vontade emitida com base nos princípios da função social e da boa-
fé objetiva pela qual o agente, por meio da sua autonomia privada, busca alcançar efeitos
queridos lícitos e juridicamente possíveis. Ex.: contrato e testamento.

TEORIAS
➔ Teoria da Vontade: o núcleo essencial do negócio seria a vontade INTERNA = o
negócio se explica pela intenção do agente (CC, art. 112).
➔ Teoria da Declaração: mais objetiva, entende que o negócio se explica não pela
vontade interna, mas pela EXTERNA = DECLARADA.
As teorias se complementam, visto que a vontade interna é a causa da vontade externa.

PLANOS DE ANÁLISE

Para existir, todo negócio jurídico, deve estar de acordo com o ordenamento jurídico,
de forma que precisa cumprir certas condições. Pontes de Miranda dividiu tais elementos em
três categorias ou planos, a famosa “escada ponteana”: existência, validade e eficácia.
43
Os pressupostos de existência de um negócio trazem requisitos para que este seja tido
como existente perante o Direito, isto é, sem eles não haverá negócio (pode até ter fato
jurídico, mas não negócio). São eles:

• Agente (partes);
• Objeto
• Forma e vontade.

Desta forma, por exemplo, se um contrato for feito entre um cão doméstico e o seu dono,
não se pode dizer que existe, aí, um negócio jurídico.

No que diz respeito aos pressupostos de validade quer dizer que o negócio foi realizado
de acordo com a ordem jurídica, sem vícios. Uma forma simples de percebê-los é que
caracterizam os elementos de existência. São eles:

• Agente capaz;
• Objeto lícito, possível e determinado ou determinável;
• Forma prescrita ou não proibida por lei; e
• Vontade livre de vícios.

O Código Civil elencou tais requisitos (sem mencionar a vontade, que a doutrina considera
implícita):
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Finalmente, os elementos relativos à eficácia conectam-se à produção de efeitos do


negócio, que poderá ser postergada, interrompida por um fato futuro etc., sendo a condição,
o termo e o encargo e, ainda, outros referentes a negócios específicos (ex.: regime de bens
do casamento).

Caso um negócio jurídico deixe de cumprir uma formalidade imposta pela lei (por
exemplo, o objeto lícito), não terá cumprido um pressuposto de validade. O Código Civil
considera-o nulo:

44
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial
para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática,
sem cominar sanção.

TEORIA DAS INVALIDADES OU DAS NULIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

A teoria das invalidades, também chamada teoria das nulidades, visa analisar o nível
de inadequação de um negócio com a ordem jurídica. A consequência jurídica do
descumprimento de um dos pressupostos de validade do negócio jurídico será a sua
invalidade; leia-se: NULIDADE ou a ANULABILIDADE.

Estas invalidades configuram justamente o descompasso entre o negócio jurídico


realizado e o ordenamento jurídico pátrio. Tais invalidades admitem gradação, contemplam
um grau maior (nulidade absoluta) e um grau menor (nulidade relativa, também denominada
de anulabilidade).

As invalidades, invariavelmente, haverão de estar disciplinadas expressamente no


ordenamento jurídico nacional, não se admitindo reconhecimento implícito na lei. Demais
disto, deverão tais nulidades gerar prejuízo, sob pena de não ocorrência.

Isto posto, examinaremos a análise das nulidades, começando com as absolutas –


simplesmente chamada de NULIDADES – e depois avançando às relativas – denominadas
de ANULABILIDADE.

Nulidade Absoluta (Nulidade).


As hipóteses de nulidade absoluta estão elencadas nos artigos 166 e 167 do CC:
a) Simulação;
b) Negócio celebrado por PESSOA absolutamente incapaz;
c) for ilícito, impossível ou indeterminável o seu OBJETO;
d) o MOTIVO determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
e) não revestir a FORMA prescrita em lei;
f) for preterida alguma SOLENIDADE que a lei considere essencial para a sua validade;

45
g) tiver por OBJETIVO fraudar lei imperativa e
h) a LEI taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

Uma vez averiguada a nulidade do negócio, ele terá as seguintes características:


✓ Nulidade absoluta atingirá INTERESSE PÚBLICO SUPERIOR;
✓ Pode ser ARGUIDA PELAS partes, terceiro interessado, Ministério Público quando lhe
couber intervir ou, até mesmo, pronunciada de ofício (ex officio) pelo Juiz;
✓ Opera-se DE PLENO DIREITO (ope legis ou iures);
✓ Não admite confirmação (ratificação, convalidação ou saneamento), mas sim
CONVERSÃO em um outro negócio jurídico válido;
✓ A ação declaratória de nulidade é decidida POR SENTENÇA COM EFEITOS EX
TUNC (retroativos) e contra todos (erga omnes);
✓ A nulidade, segundo o novo Código Civil, pode ser reconhecida A QUALQUER
TEMPO, não se sujeitando a prazo prescricional (imprescritível) ou decadencial.

Em relação a estas características, faz-se mister destacar alguns fatores:


✓ O STJ entende que a arguição de nulidade absoluta EM INSTÂNCIAS
EXTRAORDINÁRIAS requer a observância do requisito do prequestionamento. Trata-
se de requisito intransponível para o ingresso recursal nas instâncias extraordinárias:
STJ e STF (olho na juris!).
✓ Apesar de o juiz poder reconhecer ex officio a nulidade, ele NÃO tem permissão para
SUPRI-LA, ainda que a requerimento da parte (art. 168 p.u, CC).
✓ Recorde-se que o art. 10 do CPC/15 veda a decisão surpresa. Nessa linha, caso o juiz
enxergue uma nulidade absoluta e deseje declará-la de ofício, antes de fazê-lo, haverá
de dar CONTRADITÓRIO às partes.

Nulidade Relativa (Anulabilidade)


As hipóteses centrais de nulidade relativa estão elencadas no artigo 171 do Código Civil.
Tais sejam:
I. Incapacidade RELATIVA do agente;
II. Vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra
credores. Isto é: DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO, à exceção da SIMULAÇÃO.

O negócio jurídico anulável tem as seguintes características:


✓ Nulidade relativa alcança somente INTERESSES PARTICULARES;

46
✓ NÃO se opera DE PLENO DIREITO, sendo ope iudicis;
✓ Aceita CONFIRMAÇÃO expressa ou tácita (ratificação, convalidação ou ratificação);
✓ Apenas pode ser ARGUIDA PELOS legítimos interessados;
✓ A anulabilidade não possui efeito antes de julgada por sentença, a qual, sempre que
possível, RESTITUIRÁ as partes AO ESTADO EM QUE ANTES DELA SE
ENCONTRAVAM. Não sendo viável, indenizará com o equivalente (arts. 177 e 182,
CC);
✓ A anulabilidade só pode ser arguida, VIA JUDICIAL, em prazos decadenciais de 4
anos e 2 anos (art. 178 e 179, CC). Destarte, quando a lei determina que um certo
negócio é anulável, sem estabelecer o prazo, este será de 2 anos, contados da sua
conclusão. Igualmente, leciona o art. 178 que o prazo de 4 anos será contado:
i. no caso de coação, do dia em que ela cessar;
ii. no caso de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo e lesão, do dia
em que fora realizado o negócio jurídico e no de atos de incapazes, no dia que
cessar a incapacidade.

DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO


Diz respeito aos casos nas quais o negócio jurídico está inquinado de algum vício subjetivo
(no consentimento) ou objetivo (social). Estes defeitos podem se apresentar sob a forma de:

• Vícios de Consentimento (de vontade) – refere-se a um aspecto INTERNO do negócio


jurídico, intrínseco à própria manifestação de vontade. Ocorre quando a manifestação
de vontade do agente não corresponde ao seu íntimo, estando subjetivamente viciada.
Há uma mácula na vontade declarada, a qual diverge do real desejo do agente, seja
por um erro, dolo, coação moral, lesão ou estado de perigo.
• Vícios Sociais – refere-se a vontade do agente sendo exteriorizada de acordo com sua
intenção. Contudo, há uma tentativa de prejudicar terceiro ou ludibriar a norma.
Consequentemente, trata-se de vício EXTERNO, de fundo e alcance social. São vícios
sociais: a fraude contra credores e a simulação.

Veja a tabela a seguir!

Erro ✓ Falsa percepção da realidade.


(art. 138, CC e art. 142, ✓ Para anular o negócio jurídico, deve ser essencial,
CC) isto é, incidir sobre a natureza do negócio, o objeto

47
do principal ou alguma das qualidades a ele
essenciais; identidade, qualidade essencial da
pessoa a quem se refira a declaração de vontade,
desde que tenha influído nesta de modo relevante;
ou, sendo de direito e não implicando recusa à
aplicação da lei, for o motivo único ou principal do
negócio jurídico;
✓ Sendo o erro acessório – secundário ou acidental –
, como o relativo à mera indicação da pessoa ou
coisa, mas que, pelo contexto, poderá se
identificada, não haverá de se falar em anulação do
negócio
✓ Gera ANULABILIDADE do negócio jurídico;
Dolo ✓ Artifício para enganar alguém;
(Art. 145 a 150, CC) ✓ Para anular o negócio, deve ser essencial. O
acidental somente obriga a perdas e danos;
✓ Pode ser positivo ou negativo (quando se constitui
numa omissão intencional sobre aspecto
relevante);
✓ Gera ANULABILIDADE do negócio jurídico;
Coação ✓ Incutir à outra parte fundado temor de dano
(arts. 151 a 155, CC) iminente e considerável à sua pessoa, à sua família
ou aos seus bens (se disser respeito a outras
pessoas, o juiz decidirá);
✓ É analisada no caso concreto, e NÃO de acordo
com o homem médio;
✓ O temor reverencial e a ameaça do exercício
normal de um direito não a constituem;
✓ Gera ANULABILIDADE do negócio jurídico;
Estado ✓ Necessidade de salvar a si mesmo ou a pessoa de
de sua família de grave dano conhecido pela outra
Perigo parte + obrigação excessivamente onerosa (se
(art. disser respeito a outras pessoas, o juiz decidirá);
156, ✓ Gera ANULABILIDADADE do negócio jurídico;
CC)

48
Lesão (art. 157, CC) ✓ Necessidade ou inexperiência + prestação
manifestamente desproporcional ao valor da
prestação oposta;
✓ Gera ANULABILIDADE do negócio jurídico;
Simulação (art. 167, ✓ Ocorre nos seguintes casos: aparentar conferir ou
CC) transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às
quais realmente se conferem ou transmitem;
contiverem declaração, confissão, condição ou
cláusula não verdadeira; os instrumentos
particulares forem antedatados ou pós-datados;
✓ Simulação relativa é aquela em que existe um
negócio jurídico real subjacente ao simulado
(exemplo: simular uma compra e venda, sendo que
ocorreu doação). Neste caso, o negócio
dissimulado subsistirá;
✓ Simulação absoluta é aquela em que não há
qualquer negócio real, mas apenas aparente
(exemplo: simular uma compra e venda, quando o
bem continua com o alienante);
✓ Gera NULIDADE do negócio jurídico;
Fraude contra ✓ Transmitir gratuitamente bens ou perdoar dívida, se
Credores. o devedor estiver insolvente ou assim ficar em
razão de algum desses atos; ainda: o devedor
garantir dívida quando já estiver insolvente;
✓ Quem pode pedir a anulação do negócio? Os
credores quirografários que já ostentavam tal
condição quando do ato fraudatório e, ainda, os
credores com garantia que se tornar insuficiente;
✓ A ação cabível para desconstituir o negócio é a
ação pauliana;
✓ Gera ANULABILIDADE do negócio jurídico;

Atenção! Prazos!

49
Salvo a simulação que é causa de nulidade, no caso dos defeitos do negócio jurídico o
prazo para arguir a anulabilidade é decadencial de quatro anos, cujo termo inicial dependerá
do tipo do vício:
✓ Coação: do dia que cessar a coação.
✓ Erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão: do dia em que se
realizou o negócio jurídico.

De olho na juris!
De acordo com o STJ, o prazo de decadência para anular partilha de bens em
dissolução de união estável, por vício de consentimento, é de quatro anos. Só se aplica o
artigo 2.027, parágrafo único do CC e o artigo 657, parágrafo único do CPC, que estabelecem
o prazo de 1 (um) ano para anulação da partilha, em caso de sucessão (morte).
Vide:

EMENTA CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE


PARTILHA POR COAÇÃO. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO
ESTÁVEL. PRAZO DECADENCIAL DE QUATRO ANOS. ART.
178 DO CÓDIGO CIVIL. SEGURANÇA JURÍDICA.
1. É de quatro anos o prazo de decadência para anular partilha
de bens em dissolução de união estável, por vício de
consentimento (coação), nos termos do art. 178 do Código Civil.
2. Não houve alterações de ordem jurídico-normativa, com o
advento do Código Civil de 2002, a justificar alteração da
consolidada jurisprudência dos tribunais superiores, com base
no Código Civil de 1916, segundo a qual a anulação da partilha
ou do acordo homologado judicialmente na separação
consensual regulava-se pelo prazo prescricional previsto no art.
178, § 9º, inciso V, e não aquele de um ano preconizado pelo
art. 178, § 6º, V, do mesmo diploma. Precedentes do STF e do
STJ.
3. É inadequada a exegese extensiva de uma exceção à regra
geral - arts. 2.027 do CC e 1.029 do CPC⁄73, ambos inseridos,
respectivamente, no Livro “Do Direito das Sucessões” e no
capítulo intitulado “Do Inventário e Da Partilha” - por meio da
analogia, quando o próprio ordenamento jurídico prevê
normativo que se amolda à tipicidade do caso (CC, art. 178).
4. Pela interpretação sistemática, verifica-se que a própria
topografia dos dispositivos remonta ao entendimento de que o
prazo decadencial ânuo deve se limitar à seara do sistema do
direito das sucessões, submetida aos requisitos de validade e
princípios específicos que o norteiam, tratando-se de opção do
legislador a definição de escorreito prazo de caducidade para as
relações de herança.
5. Recurso especial provido. STJ. 4ª Turma. REsp 1.621.610-
SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/2/2017 (Info
600).
50
A ocorrência de fraude contra credores exige:
a) a anterioridade do crédito;
b) a comprovação de prejuízo ao credor (eventus damni);
c) que o ato jurídico praticado tenha levado o devedor à
insolvência e
d) o conhecimento, pelo terceiro adquirente, do estado de
insolvência do devedor (scientia fraudis).
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1294462/GO, Rel. Min. Lázaro
Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª
Região), julgado em 20/03/2018.
Atenção: de acordo com esse entendimento, é dispensável o
ANIMUS NOCENDI, isto é, o propósito de causar dano. Para o
STJ, trata-se de elemento altamente subjetivo e de prova
praticamente impossível.

CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO


O código civil, afora os requisitos de existência e validade do negócio jurídico, traz,
também, elementos relacionados à sua eficácia, denominado de elementos acidentais do
negócio jurídico. São eles: o termo, a condição e o encargo.

Veja de forma sistematizada:

CONDIÇÃO TERMO ENCARGO


Cláusula que, derivando O termo subordina a Encargo ou modo é
exclusivamente da eficácia do negócio jurídico cláusula por meio da qual
vontade das partes, a evento futuro e certo. Ao alguém impõe uma
subordina o efeito do contrário da condição, o obrigação ao beneficiário
negócio jurídico a evento termo diz respeito a evento de um negócio jurídico. Em
futuro e INCERTO. futuro e CERTO. regra, ele não suspende
nem a aquisição, nem o
exercício do direito.
Pode ser: Pode ser inicial ou final. Se Difere o encargo da
* Suspensiva: impede que for inicial, o termo condição suspensiva, pois
o negócio jurídico produza suspende o exercício do aquele (encargo) não
efeitos até a ocorrência do direito, suspende nem o exercício
evento. MAS NÃO a aquisição. e nem a aquisição do
* Resolutiva: uma vez direito. Em regra, o
ocorrido o evento, o cumprimento do encargo

51
negócio jurídico deixa de demandará que o devedor
produzir efeitos. tenha o objeto em mãos.
As condições impossíveis,
quando resolutivas, são
tomadas como
inexistentes.
Considera-se, portanto,
não escrita
CC, Art. 123. Invalidam os Art. 131. O termo inicial Art. 136. O encargo não
negócios jurídicos que lhes suspende o exercício, mas suspende a aquisição nem
são subordinados: não a aquisição o exercício do
I - as condições física ou do direito. direito, salvo quando
juridicamente impossíveis, expressamente imposto no
quando suspensivas; negócio jurídico,
II - as condições ilícitas, ou pelo disponente, como
de fazer coisa ilícita; condição suspensiva.
III - as condições Art. 137. Considera-se não
incompreensíveis ou escrito o encargo ilícito ou
contraditórias. impossível,
salvo se constituir o motivo
determinante da
liberalidade, caso em
que se invalida o negócio
jurídico.

De olho na lei!
Atenção para algumas disposições legais pertinentes ao Negócio Jurídico!

CC. Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia


interpretam-se estritamente.

CC. Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são


subordinados:
I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando
suspensivas;
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.
52
CC. Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são
exequíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em
lugar diverso ou depender de tempo.

CC. Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas


e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria
realizado, embora por outro modo.

CC. Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública


é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à
constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos
reais sobre imóveis de valor superior a 30 vezes o maior salário
mínimo vigente no País.

9. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Trata-se dos efeitos jurídicos do transcorrer do tempo nas situações específicas. A
prescrição e a decadência remetem ao fenômeno do passar do tempo gerando PERDAS, à
vista da segurança jurídica, da estabilidade social e da pacificação dos conflitos. Afinal de
contas “aos que dormem, o direito não socorre” (dormientibus non sucurrit jus).

Diferenciação
→ Os prazos prescricionais estão concentrados nos arts. 205 e 206 do CC/02.
→ Se o prazo for em dias ou meses, será decadencial.
→ Critérios Científicos de Agnelo Amorim Filho:
1. Ações Condenatórias: o prazo é prescricional.
2. Ações Constitutivas: o prazo é decadencial.
3. Ações Declaratórias: não há prazo.
→ Direitos patrimoniais: há autores que entendem que os direitos patrimoniais decorrentes da
ação declaratória estão sujeitos a prazo prescricional.

Se liga!
• Inércia do titular + decurso do tempo + pretensão = prescrição.
• Inércia do titular + decurso do tempo + potestade = decadência.

PRESCRIÇÃO
É a perda da pretensão, relativa a um direito subjetivo, patrimonial e disponível, no
prazo previsto em lei, em virtude da inércia do seu titular e manejada por uma ação
condenatória.

53
Pretensão é a exigibilidade coercitiva do cumprimento de um dever jurídico. Violado o
direito subjetivo nasce a pretensão (art.189 do CC), pela qual o sujeito pode valer-se de meios
coercitivos autorizados pelo direito para forçar a satisfação do seu direito subjetivo
transgredido.

De olho na lei!
Veja o que diz expressamente nas disposições gerais sobre Prescrição no Código Civil:

Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a


qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os
arts. 205 e 206.

Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a


pretensão.

Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita,


e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a
prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume
de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição.

Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por


acordo das partes.

Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de


jurisdição, pela parte a quem aproveita.

Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm


ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que
derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente.

Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a


correr contra o seu sucessor.

De olho na banca!
Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: SEFAZ-AL Prova: CESPE / CEBRASPE -
2020 - SEFAZ-AL - Auditor Fiscal da Receita Estadual
Com base no Código Civil, julgue o item a seguir.
As partes podem alterar, por acordo, os prazos de prescrição, inclusive mediante renúncia
expressa ou tácita.
Gabarito: errado.

Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: SEFAZ-DF Prova: CESPE - 2020 - SEFAZ-
DF - Auditor Fiscal

54
João dirigia embriagado quando colidiu com outro veículo, causando um grave acidente. João
morreu no local do acidente e o motorista do outro veículo, Pedro, foi levado ao hospital, onde
ficou internado por dois meses, até falecer. Os herdeiros de Pedro decidiram pleitear danos
morais e materiais contra os herdeiros de João.
Considerando essa situação hipotética, julgue o item subsequente.
A prescrição da pretensão indenizatória iniciou-se na data do acidente, interrompeu-se com a
morte de Pedro e recomeçou contra os seus sucessores.
Gabarito: errado.

Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: EBSERH Prova: CESPE - 2018 - EBSERH -
Advogado
Considerando o que dispõe o Código Civil acerca das obrigações e dos institutos da
prescrição e da decadência, julgue o item que se segue.
A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição e interrompida por qualquer
interessado, na forma da lei.
Gabarito: certo.

Prazos prescricionais
Os prazos prescricionais estão todos contidos na lei e não podem ser alterados pela
vontade das partes. Por isso se afirma que os prazos prescricionais são sempre legais (CC,
art. 192).
Voltando os olhos ao Código Civil, infere-se que os prazos prescricionais estão
reunidos nos arts. 205 e 206, de modo que, fora dali, se terão os prazos decadenciais.

De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE -
Delegado de Polícia
Determinada sociedade por quotas de responsabilidade limitada compra peças de uma
sociedade em comum e as utiliza na montagem do produto que revende.
Considerando essa situação, julgue o item a seguir, com base no Código de Defesa do
Consumidor (CDC) e nas normas de direito civil e empresarial.
Ao celebrar contratos com terceiros, as duas sociedades referidas na situação hipotética
podem estabelecer prazos prescricionais mais amplos que os previstos no Código Civil.
Gabarito: errado.

55
Prazo de 10 anos:
Quando a lei não lhe haja fixado prazo menor;
Pretensão indenizatória decorrente do inadimplemento contratual, se não houver
previsão legal de prazo diferenciado (STJ, Info 649).
Pretensão de cobrança, entre advogados, de honorários advocatícios (STJ);
Pretensão de cobrar dívida decorrente de conserto de automóvel por mecânico que
não tenha conhecimento técnico e formação intelectual suficiente para ser qualificado
como profissional liberal;
Prazo para paciente exigir de plano de saúde reembolso pelos valores pagos em razão
de negativa de custear tratamento e que foi obrigado a pagar o procedimento;
O prazo prescricional para as ações de repetição de indébito relativo às tarifas de
serviços de água e esgoto cobradas indevidamente é de: (i) 20 (vinte) anos, na forma
do art. 177 do Código Civil de 1916; ou (ii) 10 (dez) anos, tal como previsto no art. 205
do Código Civil de 2002, observando-se a regra de direito intertemporal, estabelecida
no art. 2.028 do Código Civil de 2002.

Prazo de 5 anos:
A pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou
particular;
A pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e
professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da
cessação dos respectivos contratos ou mandato;
A pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo;
Cobrança de anuidade da OAB;
Cobrança de honorários periciais arbitrados em processo judicial em que a parte é
beneficiária da gratuidade da justiça;
Vítima de acidente de trânsito propor ação de indenização contra concessionária de
serviço público de transporte coletivo (empresa de ônibus);
Ressarcimento de participação financeira no custeio de construção de rede elétrica:
vigência do CC/1916 (20 anos); vigência do CC/02: 5 anos, se tiver previsão contratual
ou 3 anos na ausência de cláusula contratual;
O prazo prescricional para que o TCU aplique multas é de 5 anos, aplicando-se a
previsão do art. 1º da Lei nº 9.873/99; Qual é o prazo prescricional da ação de
responsabilidade civil no caso de acidente aéreo em voo doméstico? 5 anos, segundo
entendimento do STJ, aplicando-se o CDC.

56
Prazo de 4 anos
• A pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.

Prazo de 3 anos
Responsabilidade civil extracontratual = reparação civil (STJ, info 649)
A pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
A pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;
A pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias,
pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;
A pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
A pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o
prazo da data em que foi deliberada a distribuição;
A pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do
estatuto, contado o prazo: a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos
da sociedade anônima; b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos
sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou
da reunião ou assembleia geral que dela deva tomar conhecimento; c) para os
liquidantes, da primeira assembleia semestral posterior à violação;
A pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento,
ressalvadas as disposições de lei especial; A pretensão do beneficiário contra o
segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil
obrigatório;
Repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de crédito rural: se o fato ocorreu
na vigência do CC/1916 (20 anos); se na vigência do CC/02 (3 anos) da data do
pagamento;
Entidade de previdência privada que pretende reaver verbas benefício previdenciário
indevidamente recebido por terceiros; Pretensão de restituição de comissão de
corretagem ou de SATI;
Pretensão condenatória decorrente de nulidade de cláusula de reajuste de plano de
saúde;
Ação de indenização por danos morais decorrentes da inscrição indevida em cadastro
de inadimplentes, promovida por instituição financeira ou assemelhada
(responsabilidade extracontratual);

57
É de 3 anos o prazo para o fiador cobrar do locatário inadimplente o valor que pagou
ao locador.

Prazo de 2 anos
A pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem;
Qual é o prazo prescricional da ação de responsabilidade civil no caso de acidente
aéreo em voo internacional? 2 anos, com base no art. 29 da Convenção de Varsóvia.

Prazo de 1 ano
A pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no
próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos;
A pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o
prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em
que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado,
ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador; b) quanto aos demais
seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;
A pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e
peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;
A pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação
do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembleia que
aprovar o laudo;
A pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes,
contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade;
Pretensão de sociedade seguradora em face de ressegurador baseada em contrato
de resseguro;
Pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner

De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: STJ Prova: CESPE - 2018 - STJ - Analista
Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal
À luz da legislação e da jurisprudência dos tribunais superiores, julgue o item a seguir, a
respeito dos direitos da personalidade, do direito de família, dos direitos reais e da prescrição.
Prescreve em cinco anos, a contar do dia seguinte ao do vencimento da prestação, o prazo
para a cobrança de taxa condominial ordinária ou extraordinária constante em instrumento
público ou particular.

58
Gabarito: certo.

Ano: 2017 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TRF - 1ª REGIÃO Prova: CESPE - 2017 -
TRF - 1ª REGIÃO - Técnico Judiciário - Área Administrativa
Acerca da prescrição e da decadência, julgue o próximo item.
A prescrição ocorrerá em dez anos, caso a lei não lhe tenha fixado prazo menor.
Gabarito: certo.

Causas impeditivas, suspensivas e interruptivas da prescrição

A regra geral é que o prazo prescricional fluirá de uma só vez. Entretanto, não obstante
a regra geral, observa-se, excepcionalmente, a presença de uma causa impeditiva,
suspensiva e até mesmo interruptiva do prazo prescricional.

Por causas impeditivas tem-se hipóteses nas quais o prazo sequer começa a ser
contado. Já as causas suspensivas paralisam o curso do prazo, o qual, acaso cessada a
causa suspensiva, retomará o seu curso de onde parou.

Em arremate, as causas interruptivas são aquelas que destroem a contagem


inicialmente realizada, recomeçando-se a contagem do prazo “do zero”.

Causas que impedem/suspendem a prescrição:


Entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
Entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
Entre tutelados ou curatelados e seus tutores/curadores, durante a tutela/curatela
Contra os absolutamente incapazes (também não corre a decadência);
Contra os ausentes do País em serviço público da U, E M
Contra os que se acharem servido nas Forças Armadas, em tempo de guerra
Pendendo condição suspensiva
Não estando vencido o prazo;
Pendendo ação de evicção
Estando pendente sentença definitiva em processo criminal que apure fato do qual a
ação dependa

Causas que INTERROMPEM a prescrição:


Despacho do juiz, mesmo que incompetente, que ordenar a citação

59
Protesto
Protesto cambial
Apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores
Constituição em mora do devedor

De olho na banca!
Ano: 2013 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-BA Prova: CESPE - 2013 - PC-BA -
Delegado de Polícia
Acerca de prescrição, julgue os itens a seguir.
Considere que Lucas, Pedro e Marcos sejam credores solidários de Márcia pela quantia de
R$ 20.000,00. Nessa situação hipotética, se Marcos ajuizar ação contra Márcia, e a ação
constituí-la em mora pelo ato judicial, a prescrição estará interrompida e aproveitará a Lucas
e a Pedro.
Gabarito: correto.

Ano: 2015 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-DFT Prova: CESPE - 2015 - TJ-DFT -
Técnico Judiciário - Administrativa
No que se refere a prescrição e decadência, julgue o item subsequente à luz do Código Civil.
Não corre o prazo prescricional nem o decadencial contra os absolutamente incapazes.
Gabarito: certo.

Ano: 2015 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TCE-RN Prova: CESPE - 2015 - TCE-RN -
Assessor Técnico Jurídico - Cargo 2
Acerca da prescrição, do negócio jurídico, das obrigações e dos contratos, julgue o item
subsequente.
No sistema do Código Civil, uma vez interrompida a prescrição, o prazo voltará a fluir por
inteiro, de forma que fica afastada a possibilidade de prescrição intercorrente.
Gabarito: errado.

DECADÊNCIA

Como já citado, na prescrição, o objetivo é fulminar a pretensão, já na DECADÊNCIA


se destrói direitos potestativos.

Entende-se por decadência ou caducidade, a perda do prazo predeterminado para o


exercício de um determinado direito potestativo, manejado por uma ação constitutiva. A
60
inobservância do prazo gerará a extinção do direito, por decadência. Ex.: direito de arguir
anulabilidade do negócio jurídico por vício de consentimento, o qual decairá em 4 (quatro)
anos (CC, art. 178).

Importante salientar que nem todo direito potestativo possui prazo de exercício.
Existem direitos potestativos que não tem prazo de exercício, ou seja, não decaem. Ex.: o
divórcio, o qual poderá ser requisitado, pelo interessado, a qualquer tempo. Divórcio, portanto,
é um direito potestativo sem prazo de exercício, não decaindo.

Diferentemente da prescrição, o prazo decadencial poderá decorrer da lei ou da vontade.


Assim, fala-se em decadência:
Legal, na qual o prazo está NA NORMA, como o prazo de 4 (quatro) anos para
invalidação dos negócios por vícios de consentimento (CC, art. 178);
Convencional, quando o prazo será estabelecido POR ATO DE VONTADE, a exemplo
de um prazo de arrependimento em um contrato, bem como prazo de garantia
estendida.

Veja a tabela sobre decadência


Causa Prazo Previsão Exceção Observação
Legal (se houver) (se houver)
Anulação de 180 dias Art. 119,
negócio parágrafo
jurídico único, CC.
feito por
representante
legal
Anulação do 4 anos Art. 178, CC Simulação.
negócio
jurídico
por algum dos
defeitos do
CC.
Anulação do 2 anos Art. 179, CC
negócio
jurídico

61
nos demais
casos
previstos em
lei sem prazo
específico.
Vício 30 dias Art. 445, CC. Se estiver na Durante a
redibitório posse, o prazo garantia não
coisa móvel se reduz à corre prazo,
metade mas o defeito
deve
ser
denunciado
em 30 dias,
sob pena de
decadência
Vício 180 dias. Art. 445, CC Se estiver na Durante a
redibitório posse, o prazo garantia não
coisa imóvel se reduz à corre prazo,
metade mas o defeito
deve
ser
denunciado
em 30 dias,
sob pena de
decadência
Compra e 1 ano Art. 501, CC.
venda de
imóvel –
dimensões
erradas
Coisa 180 dias Art. 504, CC. Não se aplica
indivisível – ao
direito do condomínio
condômino de edilício,
reaver parte

62
vendida a apenas ao
estranho tradicional.
Retrovenda 3 anos Art. 505, CC
Transporte de 120 dias Art. 745, CC
coisas –
declaração
inexata ou
falsa descrição
da relação de
coisas
transportadas
entregue pelo
remetente
Transporte de Reclamação Art. 754, CC Perda parcial
coisas – no momento ou
recebimento da entrega avaria não
de perceptível
mercadorias – 10 dias da
entrega

De olho na juris!

É de 4 anos o prazo de decadência para anular partilha de bens


em dissolução de união estável, por vício de consentimento
(coação), nos termos do art. 178 do Código Civil. Cuidado: Prazo
para anulação da partilha do direito sucessório (morte): 1 ano.
Prazo para anulação da partilha em caso de divórcio ou
dissolução de união estável: 4 anos. STJ. 4ª Turma. REsp
1621610-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
7/2/2017 (Info 600).

A ação de investigação de paternidade é imprescritível.


O prazo decadencial de 4 anos estabelecido no art. 1.614 do
CC/2002 aplica-se apenas aos casos em que se pretende,
exclusivamente, desconstituir o reconhecimento de filiação, não
tendo incidência nas investigações de paternidade, nas quais a
anulação do registro civil constitui mera consequência lógica da
procedência do pedido. Ação pedindo apenas a desconstituição
do reconhecimento de filiação: prazo de 4 anos. Ação pedindo a
investigação de paternidade e a consequente desconstituição do
reconhecimento de filiação: imprescritível. STJ. 4ª Turma. AgRg

63
no REsp 1259703-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
24/2/2015 (Info 556).

O promitente comprador, amparado em compromisso de compra


e venda de imóvel cujo preço já tenha sido integralmente pago,
tem o direito de requerer judicialmente, a qualquer tempo, a
adjudicação compulsória do imóvel.
STJ. 4ª Turma. REsp 1216568-MG, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 3/9/2015 (Info 570).

Inaplicabilidade do direito de preferência em contrato de compra


e venda celebrado entre condôminos. Não se aplica o art. 504
(relação condômino e terceiro comprador – prazo decadencial
de 180 dias para reaver para si a parte vendida a estranhos) (Info
557).
Pega a visão!!!
De acordo com o art. 207 do Código Civil, salvo disposição legal em contrário, não se aplicam
à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.

De olho na banca!
Ano: 2017 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: STM
De acordo com o Código Civil e considerando o entendimento doutrinário acerca das pessoas
naturais, das obrigações e da prescrição e decadência, julgue o item a seguir.
A renúncia a prazo decadencial fixado em lei somente será considerada válida se for feita de
modo expresso e na forma escrita.
Gabarito: errado.

Obs.: conforme art. 209 do CC/2002. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.

Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: EBSERH Prova: CESPE - 2018 - EBSERH -
Advogado
Considerando o que dispõe o Código Civil acerca das obrigações e dos institutos da
prescrição e da decadência, julgue o item que se segue.
Em regra, aplicam-se à decadência, no que couberem, as normas de suspensão e interrupção
da prescrição.
Gabarito: errado.

Ano: 2017 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TRF - 1ª REGIÃO Prova: CESPE - 2017 -
TRF - 1ª REGIÃO - Técnico Judiciário - Área Administrativa
No que se refere às pessoas jurídicas, julgue o item que se segue.

64
Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado.
Gabarito: certo.

10. OBRIGAÇÕES

CONCEITO.

Introdutoriamente podemos afirmar que a cadeira “Obrigações” trata de uma relação


prestacional, de cunho patrimonial, cujo desrespeito se resolve através da execução do
patrimônio penhorável do inadimplente.

Essa relação prestacional ocorre de forma dinâmica, com vários deveres de conduta
no decorrer do tempo. Os sujeitos “credor” e “devedor” se encontram numa extensa
colaboração, objetivando o adimplemento. Isso quer dizer que na teoria, não deve existir,
deslealdade entre os sujeitos obrigacionais, sob pena de infringir o princípio da boa-fé
objetiva. A cooperação jurídica em prol do adimplemento é o motor desta relação creditória.

Os direitos obrigacionais são direitos relativos, por se destinarem a pessoas certas,


encerrando uma prestação positiva ou negativa consubstanciada em uma dada conduta.

FONTE DAS OBRIGAÇÕES


O direito civil pátrio aponta três tipos de fontes geradoras de obrigações (deveres)
jurídicas:
• Obrigações derivadas de vontade humana: criadas de um ato jurídico lato sensu
(negócio jurídico, ato jurídico stricto sensu);
• Obrigações derivadas de ato ilícito: seja pelo inadimplemento (total ou parcial), seja
pelo cometimento de um delito;
• Obrigações derivadas direta ou imediatamente da lei: obrigações tributárias,
administrativas, oriundas do poder familiar ou mesmo de um fato jurídico stricto
sensu, como também os casos de enriquecimento sem causa, que implicam em
um pagamento injusto e, em consequência, na obrigação de restituir, assim como
nos casos de abuso de direito.

Pega a visão!!!

65
É comum que conceitualmente, o estudante confunda obrigações com direito reais,
visto que, ambos, dizerem respeito ao patrimônio. Desta forma, é importante esclarecermos
a diferenciação.

Direitos Reais Direitos Obrigacionais

Numerus Clausus – Numerus apertus –


Taxativos ou Típicos. exemplificativos.

Direito de Sequela – Não há Sequela – executa-


reivindicar a coisa onde se o contrato, incidindo a
quer que esteja e nas sanção, pelo
mãos de quem quer que descumprimento, no
esteja. patrimônio do devedor.

Absolutos (Eficácia erga Relativos (Eficácia inter


omnes) – oponível contra partes) – Obrigam, em
todos. regra, apenas os
contratantes.

Registrabilidade e Forma livre, em regra (Art.


Publicidade – submetem- 107 do CC) – não exigem
se ao registro. registro, nem publicidade.

Jus in re – direito sobre Jus ad rem – direito


a coisa. A relação jurídica contra a pessoa. A relação
se estrutura entre uma jurídica se estrutura entre
pessoa e a própria coisa, pessoas determinadas ou
com oponibilidade em determináveis.
face de todos.

Caráter Permanente ou Caráter Transitório – pois


Perpétuo – pois caso não a obrigação nasce para ser
haja alienação, transmite- cumprida, sendo o
se por herança. adimplemento obrigacional
a sua natural forma de
extinção.
Fonte: FIGUEIREDO, Luciano. Figueiredo, Roberto. Manual de Direito Civil – Vol. Único – Ed.
Juspodivm. Salvador, 2020.

Não obstante todo a doutrina diferenciar e trabalhar com a distinção entre os direitos
reais e obrigacionais, existe uma chamada “zona cinzenta” ou “zona mista”, onde não se sabe
ao certo se se trata de um direito obrigacional ou real.
Tais sejam:
66
• Obrigações Propter Rem - aquelas que aderem à coisa, e não à pessoa,
transmitindo-se automaticamente ao seu novo titular, com a transferência
proprietária. Ex.: IPTU.
• Obrigações de Ônus Real - aquela que limita o uso e o gozo da propriedade,
consistindo em um gravame. Ex.: penhor.
• Obrigações de Eficácia Real - aquela que - sem perder o seu caráter de direito
pessoal ou direito a uma prestação - ganha oponibilidade contra terceiros, que
adquiram direitos sobre determinado bem, tendo em vista o seu registro. É o que
tecnicamente chama-se de oponibilidade erga omnes. São obrigações que se
transmitem. Ex.: Direito de preferência.

ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA OBRIGACIONAL


São três elementos que constituem o direito obrigacional. Tais sejam:
• Elemento subjetivo – diz respeito às pessoas (físicas ou jurídicas, ativas ou
passivas) da relação. Credores e Devedores.
• Elemento material, concreto, objetivo – a prestação. Ela é o objeto da relação
jurídica obrigacional, como um dar, fazer ou não fazer e deve ser lícita, possível,
certa, determinada ou determinável, suscetível de aferição econômica e
comerciável.
• Elemento imaterial – também denominado de virtual, diz respeito ao vínculo jurídico
que ficticiamente liga os sujeitos (elemento subjetivo) e o objeto (elemento
material) da obrigação.

CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES (MODALIDADES)


As obrigações são classificadas segundo determinados critérios, a seguir veremos
esses critérios e as modalidades.

QUANTO À NATUREZA DO OBJETO (natureza da prestação)


Esta é uma das mais famosas e, portanto, figurinha carimbada nas provas de
concursos. É uma classificação geral, contumaz no dia a dia dos operadores do direito.
Assim, quanto à natureza do objeto, as obrigações podem ser de positivas ou
negativas.
• As positivas podem ser de dar - seja uma coisa certa ou incerta - e de fazer - seja
um fazer fungível ou infungível.
• As negativas são de não-fazer.
67
OBRIGAÇÕES POSITIVAS
As obrigações positivas podem ser de dar (coisa certa ou incerta) e de fazer (fungível
ou infungível).

Obrigação de dar coisa certa


A obrigação de dar coisa certa é chamada dessa forma por ter um objeto totalmente
acertado no seu gênero, quantidade e qualidade. Por exemplo: a obrigação de entrega de
um carro, placa tal, chassi tal, cor tal, etc.. Tem-se um objeto plenamente determinado.
Faz-se mister destacar como agir no caso de perda ou deterioração da coisa na
obrigação de dar coisa certa. Porém, para tanto, é preciso estabelecer e explicar três
premissas:
1. Diferenciar Perecimento (perda) de deterioração. O perecimento ou perda remete
à perda total, a deterioração remeterá à perda parcial;
2. Aplicar a regra do res perit domino sue - a coisa perece para o seu dono. Desta
forma, o CC frequentemente avalia a perda sob o ponto de vista do devedor,
preocupando-se com aquele que recebeu o preço, obrigou-se a entrega do bem e
vem a perde-lo antes desta;
3. Toda vez que existir culpa existirão perdas e danos. Portanto, sem culpa não há
que se falar em perdas e danos

Isto posto, tem-se que no perecimento (perda total):


• Sem culpa do devedor, a obrigação se resolverá para ambas as partes.
• Com culpa do devedor, o credor terá direito ao equivalente da perda, mais as
perdas e danos (CC, art. 234).

Entretanto, diante da deterioração – perda parcial (CC, arts. 235 e 236).


• Sem culpa do devedor: o credor terá direito a escolha entre resolução da
obrigação ou abatimento proporcional do preço.
• Com culpa do devedor: o credor terá direito a escolha entre:
o Resolução da obrigação, mais as perdas e danos; ou
o Abatimento proporcional do preço, mais as perdas e danos

Relativamente aos melhoramentos e incorporados antes da entrega (tradição), o


devedor poderá exigir aumento do preço, sob pena de resolução da obrigação. Tem-se o
68
famoso exemplo da vaca que, antes da entrega, emprenha. O devedor, neste caso, poderá
exigir aumento do preço, sob pena de resolução da obrigação. Em relação aos frutos, os
percebidos (colhidos) são do devedor e os pendentes do credor (CC, art. 237).

Pega a visão!!!

E se for obrigação for de restituir? Costuma ser pegadinha em concurso público.

A obrigação de restituir é uma obrigação de dar coisa certa, na qual o devedor terá a
obrigação de devolver determinado objeto. Exemplo: locatário que tem a obrigação de
restituir ao locador o objeto da locação.

Na citada obrigação de restituir:

• Se houver perda (perecimento) do objeto sem culpa do devedor, a obrigação se


resolve, sofrendo o credor o ônus da perda, ressalvados o seu direito aos frutos
até o dia da perda (CC, art. 238);
• Se houver perda (perecimento) do objeto com culpa do devedor, o credor terá
direito ao equivalente da perda mais as perdas e danos (CC, art. 239);
• Já na deterioração sem culpa do devedor, o credor receberá a coisa no estado
em que se encontre, suportando os ônus da perda parcial.
• Se a deterioração for com culpa do devedor, o credor receberá a coisa como se
ache e poderá requerer perdas e danos (CC, art. 240).

Em relação aos melhoramentos e acréscimos à coisa sem despesa ou trabalho do


devedor, lucrará o credor, sem a obrigação de restituir (CC, art. 241). Se, eventualmente, tiver
havido trabalho ou dispêndio do devedor, aplicar-se-ão as regras indenizatórias do possuidor
de boa-fé (CC, arts. 1.219 e ss.). No que diz respeito aos frutos, também incidirão as regras
indenizatórias do possuidor de boa-fé (CC, art. 1.214 e ss.).

Obrigação de dar coisa incerta.

Nessa modalidade o objeto deve ser apontado, no mínimo, pelo gênero e pela
quantidade. Fala-se em uma coisa genérica, determinável, a exemplo da entrega de 20 sacas
de feijão.

O objeto incerto, em algum momento, precisará ser especificado, somando-se ao


gênero e a quantidade, a qualidade. Tal operação jurídica que transformará o objeto incerto
69
em certo, conferindo qualidade, ao gênero e quantidade, denominar-se-á de concentração
do débito ou da prestação.

A concentração deverá ocorrer, em regra, pelo devedor, salvo estipulação contratual


em sentido contrário. A escolha deve acontecer com suporte na amostra média do produto,
em conformidade com a boa-fé.

Realizada a concentração, isto é, a escolha, o credor será cientificado, adotando-se, a


partir desse momento, as disposições sobre obrigação de dar coisa certa. Desta forma, tudo
que foi visto no item anterior sob perecimento e deterioração aqui também se aplicará – depois
da concentração.

Porém, surge uma dúvida pertinente, o que acontece no caso da perda ou deterioração
acontecer antes da escolha?

Nesta hipótese, como o gênero nunca perece (“genus nunquam perit”), o devedor
continuará obrigado, mesmo que a perda seja oriunda de caso fortuito ou força maior (CC,
art. 246).

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: MPE-MT Prova: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Substituto
Em relação às obrigações de dar coisa certa, é correto afirmar que,
A. como regra geral, a obrigação de dar coisa certa não abrange os acessórios, salvo se o
contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.
B. se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes
da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos
até o dia da perda.
C. sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado
em que se acha, nesses casos sem direito a reclamar perdas e danos.
D. até a tradição, pertence a coisa ao credor, com seus acréscimos, pelos quais poderá exigir
aumento do preço, com ou sem anuência do devedor.
E. deteriorada a coisa, sem culpa do devedor, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar
a coisa, nesse caso sem abatimento do preço pela referida ausência de culpa do devedor.
Gabarito: “B”.

Obrigação de fazer
70
Nesta modalidade o objeto será um comportamento positivo específico, uma conduta
determinada que não seja somente um entregar. Em outras palavras a obrigação de fazer tem
como prestação um comportamento, uma conduta, uma atividade humana.

Nesta classificação temos a seguinte subdivisão:

• Obrigação de fazer fungível – aquela que pode ser cumprida por qualquer pessoa.
• Obrigação de fazer infungível – aquela que possui natureza personalíssima. Aqui,
o devedor é o elemento causal da prestação e há apenas interesse de que ele e
somente ele – devedor – realize o adimplemento obrigacional.

A aferição do fazer, como fungível ou infungível, é extremamente importante para


determinar as possíveis providências, frente a eventual descumprimento obrigacional.

Nesse sentido, ocorrendo o descumprimento de um fazer fungível:

• Sem culpa do devedor: a obrigação se resolverá para ambas as partes,


retornando ao status quo ante;
• Com culpa do devedor: o credor poderá designar um terceiro para executar a
obrigação às custas do devedor, sem prejuízo da indenização cabível. Além disso,
poderá, ainda, requerer uma tutela específica – multa diária – para que o próprio
devedor cumpra, sem prejuízo da indenização cabível. No caso de urgência,
poderá o credor, inclusive sem autorização judicial, executar por si mesmo, ou
mandar executar a obrigação, sendo ressarcido posteriormente, em verdadeira
expressão da possibilidade de autotutela no ordenamento jurídico pátrio (CC, art.
249).

Todavia, na hipótese do descumprimento ser de um fazer infungível:

• Sem culpa do devedor, a obrigação se resolverá para ambas as partes, retornando


ao status quo ante;
• Com culpa do devedor, o credor poderá, a priori, exigir o cumprimento obrigacional,
através de tutelas específicas, como por exemplo uma multa diária (Enunc. 22 do
CJF). Mas, se mesmo assim, não houver sucesso, como o fazer é personalíssimo,
a única solução possível será a conversão em perdas e danos (CC, art. 247).

OBRIGAÇÕES NEGATIVAS

71
A obrigação de não fazer tem como prestação uma abstenção juridicamente
relevante. É uma obrigação indivisível por natureza – visto que não tem como aferir um
descumprimento parcial de uma obrigação de não fazer. Por exemplo: o escritor "A" tem um
contrato de exclusividade com a editora “B”, pelo qual ou atende a exclusividade ou a quebra,
se prestar serviço em uma editora concorrente, ainda que uma única vez.

Uma vez constatado o descumprimento da obrigação de não fazer, tem-se que se for
(CC, arts. 250 e 251):

• Sem culpa do devedor, a obrigação se resolverá para ambas as partes, havendo


restituição ao status quo ante;
• Com culpa do devedor, será necessário analisar se o “não fazer” era, ou não,
reversível. Em o sendo, o credor poderá exigir o desfazimento, até mesmo
lançando mão de tutela especifica – multa diária – até que se desfaça -, mais as
perdas e danos. Na hipótese de não ser possível o desfazimento, tudo será
convertido em perdas e danos.

Frisa-se que em havendo urgência, o credor poderá desfazer de próprio punho, ou


mandar que outrem o faça, sem prejuízo da indenização cabível. Por exemplo: “A”, vizinho de
“B”, conseguiu na justiça ordem para que “B” não construísse um muro, caso “B” tenha erguido
o muro na calada da noite, “A” pode derrubar ou mandar que o façam, solicitando a posteriori
a indenização cabível. Trata-se, novamente, de uma hipótese de autotutela.

QUANTO AO MODO DE EXECUÇÃO (simples X compostas)


As obrigações simples são caracterizadas pela singularidade do objeto e dos sujeitos;
isto é: um credor, um devedor, uma prestação. As obrigações compostas, ao revés,
caracterizam-se ou pela multiplicidade de objetos, ou pela multiplicidade de sujeitos.

Obrigações compostas pela multiplicidade de objetos

• Cumulativas ou conjuntivas.
Aqui obriga-se o devedor ao adimplemento de todas as prestações (objetos) da
relação obrigacional, as quais são ligadas pela partícula conjuntiva “e”. Ex.: contrato
de empreitada no qual o engenheiro pode se obrigar a fazer o serviço E dar os
materiais para a construção de uma casa.
• Alternativas ou disjuntivas.
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Nesse caso o devedor apenas precisará adimplir uma das prestações previamente
acordadas e unidas pela partícula disjuntiva “ou “. Ex.: o devedor será liberado da
obrigação se construir um muro ou se pintar o muro construído por outrem.
Evidentemente que se os objetos são alternativos não será possível o cumprimento
parte em um objeto e parte em outro. Desta forma, os objetos são inconciliáveis,
ocorrendo indivisibilidade quanto à escolha.

Mas a quem caberá a escolha do objeto alternativo?

De acordo com o artigo 252 do Código Civil, a escolha caberá ao devedor, se outra
coisa não for convencionada no contrato. Assim, a despeito da regra ser a escolha do devedor,
nada impede que as partes estabeleçam a escolha como do credor ou, até mesmo, de um
terceiro.

E se houver uma pluralidade de optantes para realização da escolha, como uma


pluralidade de devedores? O que fazer?

No caso de pluralidade de optantes, a escolha haverá de ser unânime, não havendo


unanimidade, a escolha caberá ao juiz.

E no caso de perda ou deterioração do objeto da obrigação alternativa?

• Perecimento (perda total dos objetos)


Se a perda total de ambos os objetos se der sem culpa do devedor, a obrigação restará
resolvida, sem perdas e danos, retornando as partes ao status quo ante.
o Se a escolha compete ao devedor e por culpa deste não se puder cumprir
nenhuma das prestações, ficará o devedor obrigado a pagar o valor da que por
último se impossibilitou, mais perdas e danos.
o Se a escolha couber ao credor e, por culpa do devedor, não for possível cumprir
nenhuma das prestações, poderá o credor cobrar o valor de qualquer das duas
prestações perdidas, mais as perdas e danos.
• Deterioração (perda parcial) de um dos objetos
o Se for sem culpa do devedor, remanescerá a obrigação no objeto
remanescente.
o Se for com culpa do devedor, mas a escolha couber a este, remanescerá a
obrigação no objeto remanescente.

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o Se for com culpa do devedor e o direito de escolha for do credor, este poderá
escolher a prestação remanescente, mais as perdas e danos, ou o equivalente
da prestação perdida, mais as perdas e danos.

Finalmente, não se deve confundir obrigação alternativa (ora estudada) com as


obrigações facultativas. A obrigação facultativa não está prevista na legislação, recebendo
apenas tratamento doutrinário. Caracteriza-se por objetos sucessivos e subsidiários, devendo
o credor cumprir a obrigação no objeto “a” e, em comprovada a impossibilidade, adimplir em
um objeto “b”. Ex.: João obriga-se a pagar em prestação de serviço e, caso não seja viável,
terá a faculdade de pagar em dinheiro.

Obrigações compostas pela multiplicidade de sujeitos (solidárias – ativa, passiva ou


mistas)

As obrigações também podem ser classificadas como compostas em decorrência da


multiplicidade dos sujeitos que a integram, seja no polo ativo, seja no polo passivo, seja em
ambos os polos. O CC alcunha as obrigações compostas pela multiplicidade de sujeitos de
obrigações solidárias.

Nas obrigações solidárias existe uma pluralidade de credores, ou de devedores, cada


um com direito ou obrigado à toda prestação (CC, art. 264). Salienta-se que solidariedade não
se presume, sempre decorre da lei – solidariedade legal – ou da vontade – solidariedade
convencional (CC, art. 265).

Nada impede que no vínculo da solidariedade ela seja diferenciada entre os seus
integrantes, sendo pura ou simples para uns; condicional, a termo ou com encargo para outro
(CC, art. 266). De fato, a solidariedade admite disposições de conteúdo particular (Enunciado
347, CJF).

A solidariedade é uma classificação referente aos sujeitos da obrigação, a eventual


conversão do objeto em perdas e danos não quebra a solidariedade (CC, art. 271).

Solidariedade ativa

Na solidariedade ativa existe uma pluralidade de credores, cada um tem direito à


toda prestação. Imagine que José, Pedro e Lucas são credores solidários de Ana de R$
90.000,00 (noventa mil reais). Nesse ponto de vista, cada um dos credores solidários poderá
74
cobrar de Ana a totalidade do valor: R$ 90.000,00. Contudo, se um dos credores solidários
demandar o devedor comum, tal pagamento haverá de ser feito em juízo (CC, art. 268).

Se o pagamento for realizado no seu total, a um dos credores solidários, o devedor


estará imediatamente desobrigado da prestação, competindo ao credor solidário, que recebeu
o pagamento global, fazer a transferência das cotas-partes dos outros credores. No exemplo
acima trazido, se Pedro receber o pagamento total, Ana está desobrigada, incumbindo a
Pedro repassar R$ 30.000,00 (trinta mil reais) para José e R$ 30.000,00 (trinta mil reais) para
Lucas.

De olho na lei!
O Código Civil, no seu artigo 270 traz um importante preceito relativo a eventual morte
de um dos credores solidários. Neste caso ocorrerá a refração do crédito, sendo possível, que
cada um dos herdeiros do credor falecido, exija valores, nos limites de sua quota hereditária.
Ex.: credor solidário da cota de 30 mil reais vem a óbito e deixa 3 filhos herdeiros. Cada um
destes herdeiros somente poderá exigir uma quota de 10 mil reais. Esta regra só não se aplica
na hipótese da obrigação ser indivisível, quando, por razões óbvias, será impossível o pedido,
por cada herdeiro do de cujus, do pagamento total. Vejamos:

Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando


herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a
quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário,
salvo se a obrigação for indivisível.

Já o artigo 273 do Código Civil proíbe ao devedor opor exceções pessoais (subjetivas)
indistintamente aos credores solidários, tendo em vista a natureza personalíssima e
intransmissível de tais exceções. Desta forma, a um dos credores solidários não poderá o
devedor opor as exceções pessoais oponíveis os outros. Grande exemplo de exceções
pessoais são os vícios de consentimento, como a coação. Nessa senda, se um dos credores
solidários coagiu o devedor comum, apenas contra o coator que poderá ser oposta a exceção
em tela, a qual é subjetiva.

Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor


as exceções pessoais oponíveis aos outros.

O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o


julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha
direito de invocar em relação a qualquer deles (CC, art. 274).

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Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários
não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-
lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha
direito de invocar em relação a qualquer deles. (Redação dada
pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)

Faz-se mister destacar aqui dois importantes artigos referentes à prescrição:

Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores


solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.

Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não


aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada
contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais
coobrigados.
§ 1º A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos
outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor
solidário envolve os demais e seus herdeiros.
§ 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor
solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão
quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis.
§ 3º A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica
o fiador.

Seguindo com o estudo, trazemos que a solidariedade não se dá somente no polo


ativo, ela também poderá ocorrer no polo passivo da obrigação. Nesse caso tem-se uma
pluralidade de devedores, cada um obrigado à toda prestação, seja por força da lei ou da
vontade. Nesse sentido cada um dos devedores poderá ser demandando pelo pagamento
total da dívida, tendo, depois do pagamento, direito de regresso contra os outros devedores,
para cobranças das respectivas cotas-partes. Assim, se Sara, Sueli e Silvia são devedoras
solidárias de Samuel de R$ 90.000,00 (noventa mil reais), e Sara faz o pagamento total, ela
poderá demandar Sueli em regresso por R$ 30.000,00 (trinta mil reais) e Silvia em regresso
por R$ 30.000,00 (trinta mil reais) (art. 283,CC).

No caso de pagamento parcial por um dos devedores solidários, os outros devedores


continuam solidariamente responsáveis pelo remanescente. Igualmente, a demanda ajuizada
em face de um ou alguns dos devedores solidários não acarreta renúncia da solidariedade
em relação aos demais (art. 275, CC).

Em havendo o óbito de um dos devedores solidários, os seus herdeiros responderão,


cada um, por sua respectiva cota-parte, nas forças da herança. Desta forma, se no exemplo
dado acima Sara falecer e deixar três herdeiros, cada um responderá na fração de R$
10.000,00 (dez mil reais) e no limite da herança. Evidentemente que aqui também tem
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exceção quanto ao caso de obrigação indivisível, quando, por conta da indivisibilidade, cada
um dos devedores responderá por toda a dívida (art. 276, CC).

Em caso de remissão (perdão) de um dos devedores solidários, persistirão os demais


solidariamente obrigados pelo resto (CC, art. 277). Quanto ao perdoado, estará livre da
obrigação. No exemplo que trouxemos, se houver remissão de sara, esta não será mais
devedora, persistindo Sueli e Silvia solidariamente obrigadas por R$ 60.000,00 (sessenta mil
reais).

Vale salientar que a renúncia à solidariedade é diferente da remissão, visto que, na


renúncia, o devedor continua devendo, porém é retirado do elo solidário (art. 282, CC). Se no
exemplo que estamos seguindo, se Samuel renunciar à solidariedade em relação a Sara ela
será liberada da solidariedade (isto é, da possibilidade de ser demandada a pagar toda a
dívida), mas Sara continua obrigada por R$ 30.000,00 (trinta mil reais). As demais devedoras
(Sueli e Silvia) continuam respondendo solidariamente pelo restante do valor: R$ 60.000,00
(sessenta mil reais). Em consonância com o Enunciado 349 do CJF.

Além do que já foi dito, na renúncia à solidariedade, ocorrendo a insolvência de um


dos devedores solidários, o exonerado persistirá responsável pelo rateio da cota do
insolvente. Desta forma, no exemplo visto a pouco, se Sueli for insolvente, Sara haverá de
contribuir, ao lado de Silvia com os valores de rateio da respectiva insolvência (CC, art. 284).

No caso de perda do objeto por culpa de um dos devedores solidários, persistirá para
todos a obrigação de pagar o equivalente do objeto e juros da mora. Contudo, pelas perdas e
danos responderá apenas o culpado (CC, art. 279 e 280). Portanto, se somente um dos
devedores solidários é o responsável pela perda do objeto, todos os devedores continuam
responsáveis pela indenização do equivalente do objeto, porém, pelas perdas e danos
responderá apenas o culpado.

O devedor solidário solicitado pelo cumprimento da obrigação poderá arguir em defesa


as suas exceções pessoais – subjetivas – e as demais exceções em comum – objetivas. Como
supracitado, exceções pessoais são personalíssimas, a exemplo dos vícios de consentimento.
Por outro lado, as exceções em comum são relativas a todos, a exemplo do pagamento
parcial. O que se veda, consequentemente, é que um devedor venha a alegar a exceção
pessoal experimentada por outro, sendo proibido ao devedor “X” alegar em seu favor a coação
sofrida pelo devedor “Y” (art. 281, CC).

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Caso haja um devedor principal e a dívida somente disser respeito a ele, este
responderá por sua integralidade (art. 285,CC). Outrossim, qualquer cláusula, condição ou
obrigação adicional só poderá agravar a posição do devedor solidário que concordar, de
acordo sua autonomia (CC, art. 278).

De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RS Prova: VUNESP - 2018 - TJ-RS - Juiz de Direito
Substituto
João emprestou a José, Joaquim e Manuel o valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais); foi
previsto no instrumento contratual a solidariedade passiva. Manuel faleceu, deixando dois
herdeiros, Paulo e André. É possível afirmar que João poderá
A. cobrar de Paulo e André, reunidos, somente até o valor da parte relativa a Manuel, ou seja,
R$ 100.000,00 (cem mil reais), tendo em vista que o falecimento de um dos devedores
extingue a solidariedade em relação aos herdeiros do falecido.
B. cobrar a totalidade da dívida somente se acionar conjuntamente todos os devedores, tendo
em vista que o falecimento de um dos devedores solidários ocasiona a extinção da
solidariedade em relação a toda a obrigação.
C. cobrar de Paulo e André a totalidade da dívida, tendo em vista que ambos, reunidos, são
considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores; porém,
isoladamente, somente podem ser demandados pelo valor correspondente ao seu quinhão
hereditário.
D. cobrar o valor da totalidade da dívida de José, Joaquim, Paulo ou André, isolada ou
conjuntamente, tendo em vista que, após o falecimento de Manuel, resultou numa obrigação
solidária passiva com 4 (quatro) devedores.
E. cobrar de Paulo ou André, isoladamente, a importância de R$ 100.000,00 (cem mil reais)
tendo em vista que o quinhão hereditário de Manuel é uma prestação indivisível em relação
aos herdeiros.
Gabarito: “C”.

Quanto ao tempo de adimplemento (instantânea ou de duração)

Obrigações instantâneas são aquelas cuja prestação é imediatamente executada,


motivo pelo qual o direito cria a extinção natural do vínculo, de pronto. Eexmplo: “A” compra
à vista um vaso na loja “XYZ” e ocorre a entrega imediata do vaso.

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Por outro lado, nas obrigações de duração, o liame mantém-se no tempo. Tais
obrigações de duração podem ser:

• Diferidas, quando a obrigação é cumprida em uma só vez, mas diferida no


tempo. Como o pagamento em parcela única, mas trinta dias após a assinatura do
contrato. e;
• De trato sucessivo, quando a obrigação se renova no tempo, como uma
locação. Veja que no trato sucessivo é possível que haja um período determinado ou
indeterminado.

Quanto aos elementos acidentais (pura, condicional, modal ou a termo)

As obrigações podem abranger elementos acidentais, porquanto representam


negócios jurídicos. Assim sendo, os institutos já analisados quando do tratamento dos
negócios jurídicos, na parte geral desta apostila referentes condição, ao termo e ao modo ou
encargo utilizam-se, totalmente, ao direito obrigacional.

Em caso de dúvida vale a releitura do tema acima abordado.


Quanto à divisibilidade

É uma classificação relativa ao objeto da prestação.

Desta forma, caso a prestação possa ser fracionada, haverá tantas obrigações, iguais
e distintas, quanto aos credores e devedores (CC, art. 257). Assim, se Paulo, Matheus e Igor
são credores de Mauro de R$ 90.000,00 (noventa mil reais), pressupõe-se a divisão, de forma
que Paulo será credor de Mauro de R$ 30.000,00 (trinta mil reais); Matheus será credor de
Mauro de R$ R$ 30.000,00 (trinta mil reais) e C será credor de Mauro de R$ 30.000,00 (trinta
mil reais).

Contudo, por vezes, a prestação não é passível de divisão, seja por sua natureza, por
razão de cunho econômico ou, inclusive, dado a motivo determinante do negócio jurídico.
Trazemos como exemplo a obrigação de entrega de uma obra de arte, a qual não tem como
ser dívida, visto que, uma obra de arte picotada perderia total seu valor de mercado não sendo
possível se entregar uma pintura ou escultura em partes.

Se a prestação for indivisível, cada um dos devedores será obrigado pela sua
integralidade, pois não é possível fragmentar. Se um dos devedores realizar o pagamento
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integral, se substituirá (sub-rogará) no direito do credor em relação aos demais devedores
(CC, art. 259).

Na hipótese da pluralidade ser de credores, diante da indivisibilidade, o devedor


deverá pagar a todos os credores conjuntamente, ou apenas a um deles, devendo este credor
conferir a caução de ratificação dos outros credores (CC, art. 260). ATENÇAO! Se um dos
credores receber a prestação por inteiro, sem a caução de ratificação dos demais, cada um
dos outros credores terá direito de exigir, do credor que recebeu sozinho, o pagamento do
equivalente de sua respectiva fração em dinheiro (CC, art. 261).

Ainda na problemática da existência de pluralidade de credores, na hipótese de


remissão da dívida por um dos credores, a obrigação não estará extinta para os demais,
podendo estes reclamar o cumprimento da obrigação, abatida a quota do credor remitente.
Este mesmo critério se aplicará na novação, compensação ou confusão (CC, art. 262).

Uma vez convertida em perdas e danos a obrigação indivisível perderá a sua qualidade
de indivisível, haja vista que a “nova” prestação – perdas e danos – é divisível. Nesta situação,
pelas perdas e danos responderão apenas o(s) devedor(es) culpados (CC, art. 263).

Quanto ao fim (obrigações de meio, de resultado e de garantia)

Essa classificação trata da finalidade da obrigação. O que se pretende alcançar.

Tem obrigações que são de resultado. Nestes casos, o devedor se obriga com a
ocorrência do resultado convencionado, sob pena de inadimplemento e responsabilidade civil.
Trazemos como exemplo as obrigações de resultado com o contrato de transporte, a cirurgia
plástica estética, a ortodontia, o cálculo estrutural, dentre tantas outras.

Todavia, outras obrigações, são de meio. Nestas o devedor não se obriga em gerar
um determinado resultado. Exemplo é a obrigação do médico, a qual, em regra, não pode
garantir a cura do paciente, bem como do advogado, que não se pode garantir o ganho da
causa. Em sendo de meio, não alcançar o resultado não acarretará o inadimplemento.

Importante salientar que a cirurgia plástica reparadora, que visa, por exemplo, minorar
o dano estético de uma queimadura, é compreendida como obrigação de meio, e não de
resultado. Distingue-se, por conseguinte, dá já citada cirurgia plástica puramente estética.

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Do mesmo modo, o fato da obrigação ser de resultado e a responsabilidade civil
objetiva não exclui a possibilidade de contestação de possíveis excludentes de
responsabilidade civil, a exemplo do fato exclusivo da vítima e do fortuito externo. Por
exemplo: o fato exclusivo da vítima com o paciente que não realiza a revisão periódica do
aparelho ortodôntico, prejudicando, por comportamento específico seu, o resultado. Já o
fortuito tem como exemplo a cicatriz hipertrófica, vulgarmente chamada de queloide,
ocasionalmente presente no pós-operatório de cirurgias plásticas.

No que diz respeito à obrigação de garantia, esta trata de contratos no quais existe
contraprestação pela garantia de um risco, como o seguro. Neste caso o segurado realiza o
pagamento de valores e a seguradora se obriga a garantir (indenizar) a ocorrência de um risco
(sinistro), como um acidente automobilístico no seguro de veículos.

Quando reciprocamente consideradas (principal ou acessória)


As obrigações principais são as que existem independentemente de qualquer outra.
As acessórias seguem a sorte do principal, de modo que, inexistindo esta, quedam-se
aquelas. Podemos apontar como exemplo a obrigação do fiador no contrato de locação.
Enquanto a obrigação do locador é principal - existe independentemente da sorte do contrato
de fiança -, a obrigação do fiador está condicionada a do contrato principal.
DO PAGAMENTO

A teoria geral do pagamento é a parte do Código Civil que aborda quem deve pagar,
a quem pagar, quando pagar, como pagar, onde pagar, etc. Para uma melhor análise, é
necessário averiguar os requisitos subjetivos e objetivos do pagamento, e também a prova e
o local do pagamento.

Requisitos Subjetivos.
A análise dos requisitos subjetivos do pagamento se refere à apuração dos sujeitos do
pagamento, tanto em seu aspecto ativo quanto passivo.

Quem deve pagar (solvens)

O solvens é a expressão jurídica adotada para todo aquele que deve, ou pode, pagar.
Fala-se no sujeito ativo do pagamento, pois é aquele que pagará, abarcando o devedor, o
seu representante e, por ventura, um terceiro.

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Em consonância com o artigo 304 do CC, qualquer interessado na extinção da dívida
pode pagá-la, utilizando, se o credor se opuser, dos meios condutores para tanto. Este meio
conducente à exoneração é tecnicamente chamado de “consignação em pagamento” e
encontra disciplina tanto no Código Civil, quanto no Código de Processo Civil.

Em relação ao pagamento efetuado pelo devedor e pelo seu representante, de fato


não desperta maiores questionamentos para o direito. Assim sendo, as questões de concurso
frequentemente miram no pagamento realizado por terceiro; pois é incomum imaginar um
terceiro pagar dívida alheia (art. 305, CC).

No caso do pagador ser um terceiro, é fundamental perceber se este terceiro é


interessado ou desinteressado. Quando se fala em “interesse” lembra-se que estamos
tratando de um interesse jurídico e não um interesse moral ou de qualquer ordem não
relevante para este estudo. Por esse ângulo, temos como terceiro interessado o fiador, o
avalista, pessoas que tem interesse jurídico no pagamento, sob pena da dívida alcançar o
patrimônio desse terceiro. Desinteressado será, portanto, o genitor, parente ou até mesmo
amigo de um devedor, que não é garantidor, porém quer pagar, por questões pessoais.

Se o pagamento for efetuado por um terceiro interessado, a exemplo do avalista, este


vai ocupar a posição do credor originário (sub-rogação), nos limites do pagamento, tendo
perante o devedor todas as garantias que eram do credor originário. Desta forma, se Arthur
(Devedor) tem uma dívida de R$ 10.000,00 (dez mil reais) com Tiago (Credor), e Carla é sua
fiadora, realizando um acordo com Tiago e pagando R$ 5.000,00 (cinco mil reais), Carla
substituirá a posição de Tiago, perante Arthur, nos limites de R$ 5.000,00 (cinco mil reais),
tendo todas as eventuais garantias que credor originário possuía, como por exemplo prazo,
sinal, arras, etc....

Porém, caso estejamos frente a pagamento realizado por um terceiro não interessado,
fundamental averiguar se pagou em nome próprio ou em nome do devedor. Para isso, basta
examinar o recibo de quitação. Desta forma:

• Pagando o terceiro não interessado em nome próprio – isto é: o recibo de quitação


aponta que o pagamento é feito pelo terceiro, mas em decorrência de dívida do
devedor -, terá o terceiro, em face do devedor, ação em regresso de cobrança de
valores. Importante frisar que ação em regresso não é sub-rogar, porquanto existe
mera cobrança, e não substituição na posição do credor originário;

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• Pagando o terceiro não interessado em nome do devedor – isto é: o recibo de
quitação aponta somente que a dívida do devedor foi paga, não especificando que o
pagamento foi realizado por terceiro. Observa-se nesse caso uma obrigação natural,
a qual, existe o débito, mas não existe obrigação, sendo irrepetível e inexigível.

Pega a visão!!

O devedor é obrigado a permitir que o terceiro pague a sua dívida vencida?

Note-se que o devedor precisa ser cientificado do pagamento pelo terceiro, podendo
apresentar oposição, desde que tenha meios para refutar o pagamento. Se tais requisitos não
forem observados, não possuirá o devedor originário obrigação de reembolso (CC, art. 306)

A quem se deve pagar (accipens)


É o sujeito passivo do pagamento, é aquele que receberá a prestação, podendo ser o
credor, o seu representante e, eventualmente, um terceiro, em conformidade com os arts. 308
e 309, CC, vide, in verbis:

Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de


direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele
ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.

Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido,


ainda provado depois que não era credor.

No que diz respeito ao pagamento realizado ao credor ou ao seu representante, não


existe muitos debates acadêmicos ou jurisprudenciais. Entretanto surgem dúvidas, sobre
pagamento realizado a um terceiro, especialmente, em virtude do famoso adágio obrigacional,
pelo qual, quem paga mal, paga duas vezes.

Diante disso, o pagamento realizado a terceiro, via de regra, não é reconhecido pelo
direito. Entretanto, existem três hipóteses nas quais este tipo de pagamento (a terceiro) terá
validade para o direito. Tais sejam:

• Se o credor originário ratificar o pagamento;


• Se o devedor comprovar que o pagamento reverteu em prol do credor originário; e
• Na hipótese do chamado credor putativo, aparente ou imaginário. Sendo este alguém
que parece ser o credor, mas não o é, e o devedor, de boa-fé, realiza o pagamento.

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Por exemplo: o afastamento do representante de uma empresa, não foi informado ao
devedor, e este, de boa-fé, efetua o pagamento para esse ex representante –
pensando que o mesmo ainda trabalha na empresa. Este pagamento é tido como
válido.

Seguindo a lógica, o legislador civilista no artigo 311 do Código considera autorizado


a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a
presunção daí resultante.

Quanto ao credor incapaz, o pagamento precisa ser realizado ao seu representante


ou assistente. Se, de forma consciente, o devedor pagou ao credor incapaz, tal pagamento
somente será legitimado se comprovado que, realmente, reverteu em favor do incapaz (art.
310, CC).

Pega a visão!!!

Segundo a teoria geral do pagamento, no caso de penhora resultante de ordem


judicial, o devedor não pode desconhecer esta situação jurídica, de maneira que promova
eventual pagamento de forma extrajudicial.

Assim, se o devedor pagar ao credor, mesmo intimado da penhora feita sobre o crédito,
ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que
poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o
credor (art. 312, CC).

Depreende-se, em vista disso, que a penhora remove o crédito do plano da


disponibilidade, diante da judicialização da situação jurídica.

Requisitos Objetivos do Pagamento.

O Código Civil tem orientações bem objetivas sobre pagamento, que doutrinariamente
são conhecidas como princípios do pagamento. São eles:

• Princípio da Identidade ou Exatidão


O propósito do pagamento compreende uma prestação exata que, exatamente por
isto, restringe os direitos e deveres dos sujeitos da relação obrigacional. Assim, o
credor não é obrigado a receber prestação diferente da que lhe é devida, mesmo que
mais valiosa (art. 313, CC).
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Veja que o credor “não é obrigado”, ou seja, ele pode querer receber, so credor não
está vedada essa opção. Então, nada obsta que credor e devedor entrem num acordo,
depois da realização do pagamento, de outra forma. Tem-se a chamada
“aquiescência” do credor em receber prestação diversa da convencionada, por meio
do instituto da dação em pagamento. Desta forma, se a obrigação for o pagamento de
R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), porém o devedor oferecer, e o credor aquiescer,
como pagamento uma casa, ter-se-á a dação em pagamento.
• Princípio do Pagamento à Vista
Em função da ideia trazida, erguida sob abrigo do princípio da exatidão, é que o
dispositivo 314 do CC declara que: ainda que a obrigação tenha por objeto prestação
divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes,
se assim não se ajustou.
É um princípio limitador da forma do pagamento para as prestações divisíveis. É
possível dizer que se trata de um desdobramento do princípio anterior para fim de
prestações divisíveis.
Desta forma, o pagamento presume-se à vista, à exceção de acordo em sentido
contrário.
• Princípio do Nominalismo
A obrigação é determinada por sua expressão nominal, em dinheiro. As dívidas, por
conseguinte, devem ser em dinheiro e em moeda nacional.
Somente excepcionalmente é que se aceitam dívidas em ouro ou em moedas
estrangeiras, como por exemplo nos contratos internacionais (art. 315, CC).
Salienta-se que desde o final de dezembro de 2016, em virtude da MP 764 (Medida
Provisória), convertida em Lei (Lei 13.455/2017), possibilita-se, no Brasil, a cobrança
de preço distinto a depender da forma de pagamento. Portanto, é lícita a prática de
preços diferenciados para pagamento à vista, ou no cartão, por exemplo.
• Princípio da Escala Móvel
Nas obrigações de duração, é legal existir a previsão de um índice de reajuste,
objetivando um escalonamento. Dessa maneira, ocorrerá o aumento progressivo das
prestações, em consonância com a incidência do citado índice. Por exemplo: IGP-M
nos contratos de locações.
• Princípio da Onerosidade Excessiva.
Segundo o artigo 317 do CC quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier
desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o momento de sua
execução, poderá o juiz corrigi-lo, a requerimento da parte, de modo que se garanta,
85
quanto possível, o valor real da prestação.

Prova do pagamento.

A chamada “rainha das provas” de acordo com a teoria do pagamento é o recibo de


quitação. Tanto o é que o devedor tem direito a tal recibo, sendo permitido até mesmo que
ele retenha o pagamento até que a quitação lhe seja concedida (art. 319, CC). Ademais,
recomenda-se ao devedor que, quando houver a negativa do recibo, consigne o pagamento,
em seguida, para que não reste dúvidas sobre eventuais debates sobre mora.

Assim sendo, o recibo de quitação, tem uma dupla função, sendo, ao mesmo tempo,
um direito subjetivo do devedor e um dever jurídico do credor.

O recibo de quitação poderá ser concedido via instrumento particular, pouco


importando a forma do ajuste da obrigação originária. O citado recibo precisa incluir o valor e
a espécie da dívida quitada, o nome do devedor ou quem por este pagou, o tempo e o lugar
do pagamento, a assinatura do credor ou do seu representante (art. 320, CC).

E se o recibo de quitação não englobar os respectivos requisitos?

Nessa situação, para que a quitação seja válida, é imprescindível que os termos ou
circunstâncias resulte haver sido paga a dívida. A questão, portanto, demandará maior dilação
probatória.

Importante salientar, como já orientou a doutrina através do Enunciado 18 do CJF/STJ,


que a expressão “quitação regular” abarca tanto a dada por meios eletrônicos, como por
quaisquer formas de comunicação à distância.

Mas e se o devedor pagou, porém não pegou nenhum documento?


Na hipótese de ter realizado o pagamento e não haja nenhum documento
comprobatório, poderá o devedor lançar mão das presunções relativas (juris tantum) de
pagamento – são relativas por admitir prova em contrário.

Lugar do pagamento.

A regra geral é que o pagamento precisa ser realizado no domicílio do devedor. Desta
forma, no silêncio da obrigação estar-se-á diante do pagamento no domicílio do devedor,
restando configurada uma dívida quérable ou quesível.
86
Entretanto, plenamente possível que o pagamento ocorra no domicílio do credor. Isso
acontecerá se as partes assim pactuarem, se estiver previsto na lei, se for da natureza da
obrigação ou das circunstâncias do caso. Nesta hipótese trata-se de uma obrigação portable
ou portável (art. 327, CC).

Salienta-se a ressalva feita pelo artigo 328 CC, pelo qual se o pagamento for a tradição
de um imóvel, ou prestações relativas ao imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem. Isso,
uma vez que imóvel é bem de raiz, atraindo para si o pagamento.

Além do que, existindo motivo grave poderá o devedor efetuar o pagamento em outro
local, sem prejuízo ao credor (art. 329, CC). Por exemplo, uma calamidade pública no local
de pagamento, quando o devedor poderá pagar eletronicamente, ao revés de ir até lá; ou
mesmo a pandemia situação inimaginável a qual estamos vivendo.

Finalmente, o pagamento repetidamente realizado em outro local faz presumir


resignação e consequente renúncia do credor no que tange o previsto no contrato (art. 330,
CC). Está este artigo ligado ao instituto da supressio – isto é – supressão, por renúncia tácita,
de um direito ou de uma posição jurídica, pelo seu não exercício, reiterado, com o passar do
tempo. Para mais da supressio, haverá a surrectio leia-se: surreição, surgimento do direito de
pagamento no novo local.

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: MPE-MT Prova: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Substituto
No tocante ao pagamento,
A. não é lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas, pela
insegurança patrimonial causada ao devedor.
B. o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, salvo se mais
valiosa, pois nesse caso faltará interesse econômico à rejeição.
C. quando feito de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se provado depois que não era
credor.
D. em qualquer hipótese considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da
quitação, pela presunção legal absoluta daí decorrente.
E. o terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a
reembolsar-se do que pagar, mas não se sub-roga nos direitos do credor; se pagar antes de
vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.

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Gabarito: “E”.

Ano: 2019 Banca: Instituto Consulplan Órgão: MPE-SC Prova: Instituto Consulplan - 2019 -
MPE-SC - Promotor de Justiça - Matutina
Nos termos do Código Civil, quanto ao lugar do pagamento, efetuar-se-á o pagamento no
domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário
resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. Designados dois ou mais
lugares, cabe ao devedor escolher entre eles.
Gabarito: “errado”.

FORMAS INDIRETAS (ESPECIAIS) DE EXTINÇÃO DA OBRIGAÇÃO.

Em determinados casos a obrigação é extinta de uma forma indireta, incomum, com ou sem
pagamento. Por isso se diz, então, sobre um pagamento indireto ou especial, o qual poderá
se dar por meio de algumas figuras jurídicas. Tais sejam:
➔ Consignação em pagamento;
➔ Pagamento com Sub-Rogação;
➔ Novação;
➔ Confusão;
➔ Compensação;
➔ Dação em Pagamento;
➔ Remissão;
➔ Imputação ao pagamento.

Passaremos agora a discorrer sobre estas modalidades de extinção das obrigações


individualmente.

➔ Consignação em pagamento.
O liame jurídico que abarca o credor e o devedor, no vínculo obrigacional, dá a este o
dever de adimplir a obrigação e, ao mesmo tempo, o direito de pagar. Leia-se, é dado ao
devedor o direito de sanar suas dívidas. Tal direito, quando eventualmente obstaculizado, é
instrumentalizado através da consignação em pagamento.

Hipóteses de cabimento

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O Código Civil no seu artigo 335 traz um rol exemplificativo das hipóteses de cabimento
da consignação. Vejamos:

Art. 335. A consignação tem lugar:


I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber
o pagamento, ou dar quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar,
tempo e condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido,
declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso
perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o
objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

Condições de validade para o pagamento na consignatória

Para que a consignação tenha força de pagamento, é imprescindível que concorram,


em relação às pessoas, objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não seria
válido o pagamento (CC, art. 336).

Em suma: o procedimento de consignação em pagamento deve observar os mesmos


elementos (objetivos e subjetivos) sem os quais o pagamento não ocorreria.

Consignação nas obrigações de dar coisa certa e incerta (especificidades)

As consignações são comumente aplicadas nas obrigações de dar, seja coisa certa
ou incerta.

No caso de ser uma coisa certa, basta que seja consignado o respectivo objeto. Se for
um corpo certo, ou um imóvel, há de ser consignado no local em que se encontrar, muitas
vezes de forma ficta, a exemplo da consignação das chaves do imóvel (CC, art. 341)

No caso da coisa ser indeterminada é necessário que ocorra a individualização,


através da concentração do débito ou da prestação, para posterior consignação (art. 342, CC).
Se a escolha couber ao devedor, não há problemas. Ele escolhe e consigna o escolhido. Se
recair a escolha sobre o credor, este inicialmente há de ser intimado para que a faça, em 5
(cinco) dias, sob pena de recair o direito sobre o devedor, quem escolherá e consignará no
procedimento usual.

Em sendo obrigações de trato sucessivo (alimentos, salários, aluguéis, etc.), podem


ser consignados os valores à medida que forem vencendo, sem maiores formalidades e até o
89
quinto dia útil subsequente ao vencimento (art. 541, CPC/15). O procedimento facilita a
efetividade do processo e atende ao princípio da economia e celeridade, prestigiando, de igual
sorte, a operabilidade do direito civil. Prestações periódicas são consideradas como pedidos
implícitos e podem ser quitadas.

➔ Pagamento com sub-rogação


Pagamento com sub-rogação é uma espécie de pagamento não liberatório em relação
ao devedor. Transfere àquele que paga todos os direitos, ações, privilégios e garantias do
crédito originário.
O pagamento com sub-rogação poder ser:
o Legal: estabelecido pela lei, cumprindo-se de pleno direito, leia-se: de forma
automática. Desta forma, fala-se em pagamento com sub-rogação automática,
nos termos do art. 346, CC:
▪ I - do credor que paga a dívida do devedor comum;
▪ II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário,
bem como do terceiro que efetiva pagamento para não ser privado de
direito sobre imóvel; e
▪ III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia
ser obrigado, no todo ou em parte.
Um exemplo habitual visto em provas é o fiador que paga a dívida pela qual
poderia ser obrigado, sub-rogando-se no lugar do credor originário.
o Convencional: oriunda da vontade das partes, como consequência da
autonomia (art. 347, CC). Esta ocorrerá quando:
▪ I - o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe
transfere todos os seus direitos; e
▪ II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para
solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-
rogado nos direitos do credor satisfeito.
O pagamento realizado através da sub-rogação tem efeito extintivo da obrigação para
o credor. Este sujeito sai da relação obrigacional, transferindo sua qualidade jurídica a quem
paga (novo credor), que passa a fazer parte da relação obrigacional.

➔ Dação em pagamento

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É uma forma efetiva de satisfação do credor, que concorda em obter do devedor objeto
diferente da que lhe é devido (art. 356, CC).

Importante lembrar que – como já citado – o credor não é obrigado a receber prestação
diversa da pactuada, mesmo que esta seja mais valiosa (art. 313, CC). Exatamente por isso
que a dação não pode ser compulsória, mas sim aceita, se esta for a vontade do credor.

Explana-se que a utilização da dação em pagamento como meio de cumprimento da


obrigação depende da existência de determinados requisitos, quais sejam:

o Existência de uma dívida vencida;


o Consentimento do Credor;
o Entrega de uma prestação diversa da que era devida;
o Animus Solvendi (animus/intenção de pagar).

O artigo 359 do Código Civil, destaca que a ocorrência da evicção na dação em


pagamento restaurará a obrigação originária. Assim sendo, se Mário devia R$ 60.000,00
(sessenta mil reais) a Matheus e este aceita que Mário dê em pagamento um carro, ocorrerá
a dação em pagamento. Contudo, se Matheus sofre a evicção (perda) do veículo – por ser o
mesmo, na verdade, de Diego, e não de Mário -, a obrigação originária será ressuscitada,
voltando Mário a ser devedor de Matheus no valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) – que
deverá ser devidamente atualizado.

➔ Novação

É uma modalidade especial de pagamento através da qual as partes extinguem a


obrigação anterior e criam uma nova. Precisamente por isto que a expressão novação significa
nada mais na da menos que “nova obrigação”. Exemplo: Jéssica é credora de Ricardo, que
está sem condições financeiras para o cumprir a obrigação e pagar um valor devido à Jéssica.
Desta forma, os dois resolvem – de comum acordo – cancelar esta obrigação, criando uma
obrigação nova, pela qual Ricardo segue devedor de Jéssica, mas agora de uma prestação
de serviço.

Cabe deixar claro que não existe novação legal (por força de lei). Assim sendo, sempre
se imagina um acordo de vontades.

Da mesma forma, não se confunde novação com dação em pagamento, pois nesta
não é criada uma nova obrigação. Na dação em pagamento, como visto, o vínculo obrigacional
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é o mesmo, apenas sendo alterada a prestação, ao passo que o credor aceita receber
prestação diversa da pactuada.

Requisitos gerais da novação:

o Existência de uma obrigação anterior.


o Intenção de novar (animus novandi). A vontade de criar obrigação nova,
expresso ou tácito, desde que inequívoco (CC, art. 361).
o Criação de uma obrigação nova, substancialmente diversa da primeira.

A obrigação anulável poderá ser novada. Trata-se de premissa lógica, afinal tem-se
com plenamente viável a convalidação dos atos anuláveis. De outro lado, as obrigações nulas
ou extintas não podem ser novadas (CC, art. 367).

Interessante também é notar que a renegociação de uma dívida não provoca


necessariamente a existência da novação. Para que ocorra novação é preciso que as partes
realmente criem uma obrigação nova, liquidando a obrigação anterior. Desta maneira, a
simples diminuição de multa, ou até mesmo o seu perdão (remissão), não significa
automaticamente que ocorreu novação.

Classificação da novação
De acordo com o art. 360, a novação é dividida em espécies:
o Objetiva (art. 360, I, CC): é aquela em que as mesmas partes constituem a
obrigação nova, extinguindo-se a obrigação anterior, criando uma nova e
alterando apenas o seu objeto (prestação). Ex.: Marcelo é credor de Silvio de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Marcelo e Silvio realizam uma novação objetiva
– extinguem a obrigação primitiva, criam uma nova e alteram, apenas, a
prestação, passando Silvio a dever uma prestação de serviço à Marcelo.
o Subjetiva (art. 360, II e III, CC): é aquela em que as mesmas partes constituem
a obrigação nova, extinguindo-se a obrigação anterior, criando uma nova e
alterando o sujeito. Assim, divide-se em:
▪ Ativa (inc. III): mudança do credor. Ex.: Luiz deve R$ 2.000,00 à Luiza
e esta, por sua vez, deve R$ 2.000,00 a Lucas. Em lugar de pagar a
Luiza, fica acordado que Luiz vai pagar a Lucas, só que deve ainda ter
a característica de obrigação nova e, por isto, devem ser estabelecidos
novos prazos.

92
▪ Passiva (inc. II): mudança do devedor. Nesta, opera-se mudança de
devedores: sai o devedor velho e entra o novo, considerando-se criada,
a partir dali, uma obrigação nova.

Existem dois instrumentos jurídicos que realizam a novação subjetiva passiva, a saber:
a) Delegação: Todos os envolvidos participam do ato novatório, delegando o devedor
primitivo, ao novo, a obrigação a ser assumida na novação. Neste caso, como na novação a
obrigação primitiva restaria extinta, o primitivo devedor apenas responderá acaso tenha
precedido de má-fé na delegação (CC, art. 363).

b) Expromissão: é um ato de força do credor. Nessa hipótese, o devedor novo ingressa na


relação obrigacional sem anuência do devedor primitivo. Exemplifica-se com um pai que não
admite que ninguém pague suas dívidas e está passando privações econômicas. Seu filho,
sabendo que o pai não vai admitir que este venha a assumir a dívida em destaque, postula,
em face do credor, que autoriza a este que efetue o pagamento, extinguindo a obrigação
primitiva e criando uma nova com o filho (CC, art. 362)

De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-MA Prova: FCC - 2018 - DPE-MA - Defensor Público
No direito das obrigações, a novação
A. exige a inequívoca intenção de novar, mas ela pode ser expressa ou tácita.
B. somente se configura caso se refira a todos os elementos da obrigação anterior, pois
inexiste novação parcial.
C. é presumida diante da modificação unilateral da forma de cumprimento da obrigação
originalmente estatuída.
D. pode ser utilizada licitamente como meio de validar obrigações nulas ou extintas.
E. da obrigação principal não tem reflexos sobre as obrigações acessórias, tal como a fiança.
Gabarito: “A”.

➔ Compensação

De acordo com o artigo 368 do CC se duas pessoas forem, ao mesmo tempo, credor
e devedor recíprocos, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.

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Desta forma, ocorre a compensação quando os sujeitos da relação jurídica são, ao
mesmo tempo, credores e devedores recíprocos, utilizando-se deste mecanismo jurídico para
extinguir a obrigação sem pagamento, como diz a norma, “até onde se compensarem”.

A compensação disciplinada na legislação cível, contudo, sofre limitações. A Medida


Provisória 104/2003 convertida na lei 10.677/03, por exemplo, revogou o artigo 374 do
Diploma Cível, que admitia compensação das dívidas fiscais e parafiscais. Destarte, não é
possível a compensação de dívida fiscal, diante da supremacia do interesse público sobre o
privado e da norma específica revogadora do originário dispositivo cível.

Ademais, é fundamental salientar, nestas primeiras linhas sobre o instituto da


compensação, que o artigo 375 do Código Civil admite a elaboração, entre as partes, de uma
cláusula de exclusão da compensação, afastando a incidência do instituto..

Espécies de compensação

A compensação pode ser legal, convencional ou, finalmente, judicial.

• Legal – é aquela que está explícita na legislação. Submete-se a certos requisitos. Ex.:
João ajuíza ação de cobrança contra José. Este, em preliminar de defesa, alega ser
titular de um crédito no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) em face de João. O
magistrado, nesta situação, haverá de verificar se os requisitos da compensação estão
presentes, oportunidade em que determinará a observância da mesma.
Requisitos:
o Reciprocidade das Dívidas entre as Partes.
Tal regra, porém, tem uma exceção: na hipótese da fiança (art. 371, CC). O
fiador que garante a dívida de outrem tem direito subjetivo de opor a
compensação em face do credor afiançado.
o Liquidez das Dívidas. As dívidas precisam ser líquidas, certas, delimitadas,
pois somente assim as partes saberão os limites até onde será possível
compensar...
o Vencimento (exigibilidade) da Dívida. A dívida há de ser exigível. A
exigibilidade da dívida significa dizer que a mesma já se encontra vencida. Sem
o vencimento da dívida não há direito subjetivo de pretender o recebimento do
crédito. Sem existir este direito subjetivo, não há o que compensar.
o Homogeneidade das Dívidas. As dívidas devem possuir a mesma natureza
jurídica, ou melhor, devem ser homogêneas em gênero, quantidade e
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qualidade. Ex.: compensa-se dinheiro com dinheiro; feijão do tipo X com feijão
do tipo X, etc.

O artigo 369 do CC é específico ao prescrever que a compensação legal se efetua


entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. Arremata o preceito
insculpido no artigo 370 que, embora sejam do mesmo gênero, as coisas fungíveis,
objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na
qualidade, quando especificada no contrato.

• Convencional. Oriunda da autonomia privada, de um contrato ou outro negócio


jurídico. Não está prevista em lei, dispensando os requisitos da legais e forjando-se
pela autonomia. Assim, permite a incidência da compensação convencional até
mesmo para objetos diversos, de naturezas jurídicas distintas ou inexigíveis, eis que
envolve direitos patrimoniais disponíveis.
• Judicial. Trata-se de hipótese oriunda de decisão judicial transitada em julgado nos
autos de um dado processo.

➔ Imputação ao pagamento
Imputação ao pagamento significa especificar qual entre dois ou mais débitos da
mesma natureza, positivos e vencidos, devidos a um só credor, está sendo quitado naquela
oportunidade. Consiste, justamente, neste fenômeno da concentração do pagamento, da
eleição, da indicação de qual pagamento, entre os vencidos, se está a realizar.

Percebe-se a necessidade de imputação ao pagamento quando há um mesmo credor,


um mesmo devedor e este, em relação àquele credor, tem dois ou mais débitos da mesma
natureza, positivos e vencidos. Nesse contexto, quando do pagamento de um determinado
valor surgirá a dúvida de qual débito se está a quitar, nascendo a necessidade de imputação.

Isto posto, trazemos aqui os requisitos:

o igualdade de sujeitos (credor e devedor);


o liquidez e vencimento de dívidas da mesma natureza.
o Inicialmente a imputação ao pagamento é um direito do devedor. Este, ao
pagar, deve indicar qual dívida esta pagando (CC, art. 352). A isto denomina-
se imputação do devedor.

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Vale salientar também que salvo anuência do credor, o devedor não poderá imputar o
pagamento em dívida cujo montante seja superior ao valor ofertado, pois, como visto, o
pagamento parcelado do débito só é permitido quando convencionado (art. 314, CC).

Acaso, porém, o devedor, no ato do pagamento, não faça a imputação, o direito de


imputar passará a ser do credor, que indicará qual dívida está quitando e não poderá agir com
violência ou dolo (CC, art. 353). Ter-se-á a imputação do credor.

Caso o credor também não impute o pagamento, diante da sucessiva omissão do


devedor e do credor, a lei regula critérios legais de imputação pagamento. É a chamada
imputação legal, a qual se dará da seguinte maneira:

(i) prioridade para os juros vencidos, em detrimento do capital;

(ii) prioridade para as dívidas líquidas e vencidas anteriormente, em detrimento das mais
recentes;

(iii) prioridade para as dívidas mais onerosas, em detrimento das mais vultosas, se vencidas
e líquidas ao mesmo tempo.

➔ Confusão
Identifica-se a confusão quando as qualidades de credor e devedor são reunidas em
uma só pessoa (CC, art. 381). Assim, torna-se inevitável a extinção da relação jurídica.

Exemplifica-se com um sujeito que é devedor de seu pai e, em virtude do falecimento


deste, adquire, por sucessão, o crédito, tornando-se credor de si mesmo (confusão). Tem-se,
aqui, uma confusão total e mortis causa.

Registra-se, porém, que além de total, a confusão poderá ser parcial (CC, art. 382).
No exemplo dado acima, se o pai tivesse dois filhos e fosse credor de apenas um deles, no
falecimento do genitor, o devedor originário receberia em herança apenas metade do crédito,
falando-se em uma confusão parcial.

Outrossim, nada impede que haja uma confusão inter vivos. Como no caso de um
cheque que, após circular no mercado, retorne às mãos do seu emissor, que se tornará credor
de si mesmo, operando-se a confusão. Neste contexto é viável, até mesmo, que a confusão
deixe de existir, renascendo a obrigação, como na casuística do emissor recolocar o mesmo
cheque para circulação no mercado.

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A doutrina ainda reconhece a existência da chamada confusão imprópria, quando se reúnem,
na mesma pessoa, as condições de garante e de sujeito obrigacional. Imagine um filho que é
fiador de seu pai e, no falecimento do pai, passa a figurar como devedor da dívida que garantia
como fiador. Neste caso – de confusão imprópria –, haverá extinção apenas da obrigação
acessória, como a fiança, segundo o exemplo dado.

6.8. Remissão

Remissão significa o perdão da dívida. Imagine que alguém é credor de outrem e, de


maneira explícita, expressa ao devedor a sua intenção em perdoá-lo. Como o devedor tem
direito subjetivo de pagar, pode este apresentar recusa à remissão. É fundamental, portanto,
que a remissão seja aceita, tácita ou expressamente, para produzir efeitos (CC, art. 385).

Nessa senda, para caracterizar a remissão da dívida é necessária a presença


simultânea de dois requisitos:

• Ânimo de perdoar.
• Aceitação do perdão.

A remissão poderá ser expressa ou tácita; total ou parcial.

Também podemos constatar a presença da remissão presumida, ainda que não esteja
verbalizada, mediante atos praticados pelo credor (art. 324, CC). Na ideia de devolução
voluntária do título da obrigação, deve-se incluir a sua própria destruição, a ensejar a remissão
tácita da dívida. Ex.: se W, credor de H em obrigação prevista em determinado título de
crédito, simplesmente destrói o título na frente de H, mesmo que não diga expressamente que
o está perdoando, a remissão será presumida.

Por fim, vale lembrar que a remissão do codevedor é plenamente válida, impondo-se
o equacionamento da dívida remitida, com a dedução da parte remetida (art. 388, CC).
Portanto, isso desembocará na extinção da obrigação em relação a esse codevedor, incidindo
os artigos 277 e 282 do CC. Ex.: A, B e C são devedores solidários de D no valor de 3 (três)
mil. D, entretanto, perdoa a dívida de B. Nessa situação persiste a solidariedade em relação
aos demais devedores (A e C), que deverão pagar 2 (dois) mil, em razão do abatimento da
quota-parte de B (1 mil). Clarifica-se, aqui, o caráter intuito personae da remissão.

INADIMPLEMENTO

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Inadimplemento é o descumprimento obrigacional culposo.

Ele poderá ser:

a) total, quando será denominado de absoluto, e


b) parcial, quando será intitulado como relativo ou mora,

No total não mais há como ou inexiste interesse do credor no cumprimento da


obrigação. Já no relativo, a prestação ainda pode e deve ser executada, apesar da inexatidão.

A mora ocorre quando o pagamento não é feito no tempo, lugar ou na forma


convencionados (CC, art. 394).

Obviamente que há um quê de subjetivismo, sendo que, por vezes, o inadimplemento


seria relativo, mas se torna absoluto, diante da ausência de interesse do credor no
cumprimento obrigacional. Exemplifica-se com o animador de uma festa de criança que chega
com duas horas de atraso. Em tese há mora, mas é possível que, diante de tamanho atraso,
não haja mais interesse do credor no cumprimento da obrigação.

Para situações como a em tela, prevê o Código Civil o chamado inadimplemento


absoluto por interesse do credor, o qual se configura quando a prestação, devido à mora, se
torna inútil ao credor, podendo este enjeitá-la e requisitar perdas e danos (CC, art. 395).
Obviamente, como bem expressa o Enunciado 162 do CJF/STJ, a inutilidade da prestação
que autoriza a recusa da prestação por parte do credor deve ser aferida objetivamente,
consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do sinalágma, e não de acordo com o mero
interesse subjetivo do credor.

Voltando os olhos novamente à mora, recorda-se que ela pode ser do credor ou do
devedor. Afinal, considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor
que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer (CC,
art. 394). Assim, importante diferenciá-las.

JUROS

É um fruto civil (também nomeado de rendimento) correspondente ou à remuneração


devida ao credor pela utilização do seu capital, ou à mora, compensando o credor em virtude
do atraso em seu pagamento. Assim:

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• Nos juros compensatórios (remuneratórios), portanto, compensa-se o credor pela
utilização do seu capital.
• Nos juros moratórios a compensação do credor acontece em decorrência do atraso do
pagamento, compensando o inadimplemento relativo.

Os juros não se confundem com a correção monetária. De fato, os juros correspondem


a um acréscimo, enquanto que a correção monetária não visa a acrescer o capital (não é um
plus), mas apenas atualizar o valor nominal da dívida (atualizar o valor da moeda para que
não haja distorções).

Segundo o artigo 406 do Código Civil, quando os juros moratórios não forem
convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da
lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos
devidos à Fazenda Nacional.

SINAL OU ARRAS

Consiste em uma disposição contratual pela qual uma das partes entrega, à outra,
dinheiro ou bem móvel, no início do cumprimento obrigacional. Trata-se do que popularmente
chama-se de entrada ou sinal.

Duas são as espécies:

• Arras Confirmatórias – é a regra geral, de maneira que se o contrato menciona arras,


mas não indica qual a sua modalidade, estar-se-á diante da figura das arras
confirmatórias.
Nesta modalidade, a entrega do numerário, ou do bem móvel, a título de sinal ou
entrada, marcará o início da execução do contrato, de maneira a não admitir o
arrependimento posterior deste (CC, art. 417,). Consiste, portanto, em um reforço à
execução do contrato.
Em geral, o sinal é da mesma natureza da prestação original, sendo abatido do valor
global do bem. Nesta situação, o comprador ficará responsável apenas pela diferença
de valores. Exemplifica-se com a compra de um imóvel pelo valor de R$ 300.000,00
(trezentos mil reais), no qual se conferiu arras confirmatórias de R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais), restando o débito de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil
reais).
Nada impede, porém, que um bem móvel seja dado como arras, o qual é devolvido
99
após a quitação do contrato.
• Arras Penitenciais - Diferentemente das arras confirmatórias, as penitenciais, quando
pactuadas, garantem o direito de arrependimento, tendo função meramente
indenizatória. Significam a reparação integral do arrependimento, a penitência pela
desistência. Justamente por isto, são excepcionais e demandam previsão expressa.

CLÁUSULA PENAL OU PENA CONVENCIONAL.

A cláusula penal consiste em um pacto acessório, adjeto a uma obrigação principal,


cujo objetivo é pré-fixar as consequências jurídicas decorrentes do descumprimento culposo
da obrigação principal (CC, art. 408). A sua exigência não demandará a comprovação de
prejuízo, ao passo que este se configura pelo próprio descumprimento culposo da avença
(CC, art. 416).

O escopo da cláusula penal é a pré-liquidação dos danos (função compensatória) e/ou


a intimidação pedagógica ao cumprimento do ajuste (função penitencial). Assim, pode-se
verificar uma cláusula penal:

• Moratória = Incidente na mora e que possibilita o pedido do cumprimento da obrigação


principal e da cláusula penal (CC, art. 411). Infere-se um padrão cumulativo de
exigência.
• Compensatória = Incidente no inadimplemento absoluto e que serve de alternativa ao
lesado, que poderá requisitar o cumprimento da obrigação principal, ou da cláusula
penal (CC, art. 410). Infere-se um padrão disjuntivo de exigência.

A cláusula penal, ao pré-liquidar o valor indenizatório, impossibilita pleito de indenização


suplementar, salvo se houver previsão expressa, na própria cláusula penal, neste sentido (CC,
art. 416). Logo, em regra, a cláusula penal já liquida todo o valor devido pelo inadimplemento.

Pega a visão!!

Enunciado 430 – Jornada de Direito Civil - CJF: No contrato de adesão, o prejuízo comprovado
do aderente que exceder ao previsto na cláusula penal compensatória poderá ser exigido pelo
credor independentemente de convenção.

100
De acordo com o artigo 412 do Código Civil, o valor da cominação imposta na cláusula
penal não poderá exceder o da obrigação principal. Afinal, o acessório não poderá ir além do
principal. Ademais, como pacto acessório que o é, a invalidade da cláusula penal não levará
à da obrigação principal. Todavia, uma vez inválida a obrigação principal, cairá a cláusula
penal.

Na hipótese de cláusula penal manifestamente excessiva ou de cumprimento parcial


da obrigação principal, o juiz deverá reduzir o valor da penal convencional. Infere-se a
presença de norma de ordem pública, a qual não poderá ser afastada pelas partes e possibilita
ao magistrado, inclusive, agir de ofício (Enunciados 355 e 356 do CJF).

Caso a obrigação principal seja divisível, a pena convencional apenas será exigida do
devedor ou herdeiro que infringir a obrigação, com proporcionalidade (CC, art. 414).

Entretanto, em sendo a obrigação principal indivisível, todos os devedores incorrerão


na penalidade, pagando de forma proporcional e tendo ação regressiva em face do culpado.
Apenas o culpado que poderá ser demandado por todo o valor (CC, art. 415).

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-SC Prova: CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz
Substituto
A multa estipulada em contrato que tenha por objeto evitar o inadimplemento da obrigação
principal é denominada
A. multa penitencial.
B. cláusula penal.
C. perdas e danos.
D. arras penitenciais.
E. multa pura e simples.
Gabarito: “B”.

TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

As obrigações podem ser transmitidas, pois constituem bens móveis. Por isso que o
Código Civil disciplinou a matéria, admitindo tanto a cessão do crédito (transferência do
crédito), quanto à cessão de débito, também denominada de assunção de dívida
(transferência do débito). A doutrina, além da cessão do crédito e do débito, noticia, ainda,
sobre a cessão de posição contratual.
101
Passemos ao estudo dos institutos.

Cessão de crédito

Trata-se de um negócio jurídico através do qual o credor (cedente) transmite, total ou


parcialmente, o seu crédito a um terceiro (cessionário), mantendo-se a relação obrigacional
primitiva com o devedor originário (cedido).

Somente não será possível a cessão de crédito se a natureza jurídica da obrigação (Ex.:
direito da personalidade), a lei (crédito alimentar – CC, art. 1707), ou eventual convenção
entre as partes (pacto non cedendo), proibir a prática.

Não há limite legal ao número de cessões, podendo o mesmo crédito ser,


sucessivamente, cedido. Neste caso, prevalecerá a cessão que completar com a tradição do
título cedido (CC, art. 291).

Em geral, a cessão de crédito é onerosa, mas nada impede que seja gratuita. Esta é
uma das diferenças entre cessão de crédito e pagamento com sub-rogação, que não é
gratuito. Ainda nesta diferenciação, como já estudado, o pagamento com sub-rogação pode
decorrer automaticamente da lei, enquanto que a cessão sempre decorrerá da vontade.

Além disso, diferencia-se a cessão de crédito da novação subjetiva ativa, posto que
nesta (novação) haverá extinção da obrigação primitiva e criação de uma nova, ao passo que
naquela (cessão) há manutenção da obrigação primitiva e mera transferência do crédito.

A cessão de crédito, para ter eficácia em relação ao devedor, exige a notificação deste,
quem será tido como notificado se declarar-se ciente da cessão feito em escrito público ou
particular (CC, art. 290). Tal notificação é necessária com o intuito de conferir ao devedor
certeza de a quem deverá pagar, para que direcione, corretamente, o adimplemento. Veja-se,
porém, que tal notificação não é necessária para a validade da cessão de crédito, a qual não
demandará aquiescência do devedor.

Nessa esteira de pensamento, ficará desobrigado o devedor que, antes de ter


conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão
notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título da cessão, o da obrigação
cedida. Acaso o crédito conste em escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação
(CC, art. 292).

102
Em consonância com o artigo 294 do CC, o devedor pode opor ao cessionário as
exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter
conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. Demais disto, independentemente do
conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do
direito cedido, o que comprova que a notificação não consiste em restrição ao plano da
validade, mas apenas da eficácia da cessão (CC, art. 293).

No que tange à responsabilidade civil do cedente (credor originário), em relação ao


cessionário (novo credor), esta incidirá nas cessões onerosas e gratuitas de má-fé, dizendo
respeito à existência do crédito – responsabilidade pro-soluto. Obviamente que não é crível
ceder algo que, sequer, existe.

É possível, contudo, que conte a cessão com cláusula expressa, na qual o cedente
(credor originário) responda perante o cessionário, inclusive, pelo eventual inadimplemento
do devedor. Neste caso, a responsabilidade que, originariamente, seria apenas pro-soluto,
passará a ser pro-solvendo (CC, arts. 295 e 296).

Finalmente, em virtude do princípio da gravitação jurídica, a regra geral é que na


cessão de crédito os acessórios seguem a sorte do principal, os quais, portanto, serão
abrangidos pela cessão (CC, art. 287).
Cessão de débito (assunção de dívida)

Na cessão de débito o devedor, com expresso consentimento do credor, transmite a


um terceiro a sua dívida.

É imprescindível o consentimento expresso do credor, visto que a alteração do


devedor modifica a garantia do crédito, a qual repousa, justamente, no patrimônio exequível
do devedor. Nessa linha, o silêncio do credor, invariavelmente, importará recusa à cessão do
débito pretendida pelo devedor (CC, art. 299).

Com a aquiescência do credor e realizada a cessão do débito, o devedor primitivo, a


priori, estará liberado da obrigação e das responsabilidades decorrentes, salvo se o novo
devedor era insolvente ao tempo da assunção e o credor ignorava este fato (CC, art. 299).

Feita a cessão, salvo consentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se


extintas as garantias especiais prestadas pelo devedor primitivo (CC, art. 300).

103
O novo devedor (cessionário) não poderá opor, ao credor, as exceções pessoais que
competiam ao devedor primitivo (CC, art. 302). Como exceções pessoais (subjetivas) que o
são, não se transmitem.

Se a cessão do débito for invalidada, restaurar-se-á a obrigação primitiva, com todas


as respectivas garantias, ressalvadas as prestadas por terceiros. Entretanto, se o terceiro
conhecia do vício que inquinava a obrigação, sua garantia persistirá (CC, art. 301).

O adquirente do imóvel hipotecado tornar-se-á, após trinta dias sem oposição do


credor sobre a transferência do débito, devedor do montante originário da hipoteca, podendo,
inclusive, quitá-lo (CC, art. 303).

Finalmente, diferencia-se a cessão de débito da novação subjetiva passiva, posto que


nesta (novação), haverá extinção da obrigação primitiva e criação de uma nova, ao passo que
na cessão há manutenção da obrigação primitiva e mera transferência do crédito.

Cessão de posição contratual

Consiste em espécie não prevista legislativamente, mas admitida na jurisprudência e


doutrina majoritárias. Nela o cedente transfere a própria posição no contrato (compreendendo
créditos e débitos), a um terceiro (cessionário), desde que haja consentimento da parte
contrária.

Desta forma, para que haja a cessão de posição contratual, demanda-se,


cumulativamente:

• Concordância da parte contrária;


• A celebração de um negócio jurídico entre cedente e cessionário;
• Integralidade da cessão (deve ser global).

De olho na prova!
Ano: 2020 Banca: FCC Órgão: TJ-MS Prova: FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto
O pagamento
A. feito de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se provado depois que ele não era credor.
B. deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de
por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.
C. não vale quando cientemente feito ao credor incapaz de quitar, em nenhuma hipótese.

104
D. autoriza-se a recebê-lo o portador da quitação, fato que origina presunção absoluta.
E. feito pelo devedor ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, não valerá contra estes, que poderão constranger o
devedor a pagar de novo, prejudicado o direito de regresso contra o credor.
Gabarito: “B”

Ano: 2020 Banca: FCC Órgão: TJ-MS Prova: FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto
Quanto à mora e às perdas e danos, é correto afirmar:
A. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da
coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la e sujeita-o a
recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia
estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.
B. Havendo fato ou omissão imputável ao devedor, este não incorre em mora.
C. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora a partir do
ajuizamento da ação indenizatória correspondente.
D. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, salvo, em qualquer caso,
se essa impossibilidade resultar de caso fortuito ou força maior.
E. Salvo se a inexecução resultar de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os
prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
disposto na lei processual.
Gabarito: “A”.

PARTE GERAL

11. CONTRATOS

CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

Não tem um conceito básico nem no Código Civil de 1916 nem no Código Civil de
2002. O conceito clássico criado pela doutrina decorre do art. 1.321 do Código Civil Italiano
(Villaça e Maria Helena Diniz), qual seja: é o negócio jurídico bilateral ou plurilateral que tem
por fim criar, modificar ou extinguir direito.

Um Conceito Contemporâneo é trazido por Paulo Nalin: relação intersubjetiva baseada


no solidarismo constitucional, que traz efeitos existenciais e patrimoniais, não somente em
relação às partes contratantes, mas também em relação a terceiros.

105
Em resumo, trata-se o contrato de um encontro de vontades visando criar, modificar,
conservar ou extinguir relações jurídicas, nos limites do ordenamento jurídico nacional,
principalmente com especial atenção à função social (art. 421, CC) e à boa-fé objetiva (art.
422, CC).

A Natureza Jurídica é de negócio jurídico, tendo como núcleo a vontade humana


(autonomia privada). Enquanto negócio jurídico que é, precisa de ser analisado dentro dos
planos da existência, validade e eficácia, os quais já foram abordados nesta apostila na Parte
Geral.

PREMISSAS
Existem importantes premissas a serem levadas em consideração por todo o estudo
da Teoria Geral dos Contratos.
Vejamos:
I. Autonomia da vontade: as partes podem criar contratos nominados ou
inominados e exigir o seu cumprimento.
II. Supremacia da ordem pública: o Estado intervém e limita a autonomia
privada em prol do interesse público, especialmente em áreas essenciais
(ex: sistema financeiro, telecomunicações etc.).
III. Consensualismo: o contrato decorre do consenso, independente de outro
ato material, como a entrega da coisa.
! Existem exceções (contratos reais) – Ex.: depósito; arras;
IV. Relatividade: como regra, os contratos só produzem efeitos em relação às
partes, sem afetar terceiros.
o Terá exigibilidade perante os sucessores se a obrigação não for
personalíssima.
o Tem exceções previstas em lei:
o Estipulação em favor de terceiros;
o Contrato com pessoa a declarar;
o Promessa de fato de terceiro.
V. Obrigatoriedade: força vinculante das convenções.
o Segurança dos negócios (função social): maculada se as partes
pudessem deixar de cumprir os pactos.

106
o Intangibilidade/imutabilidade: o contrato faz lei entre as partes
(pacta sunt servanda), flexibilizada pelo caso fortuito e força maior
(art. 393 do CC).

PRINCÍPIOS DO DIREITO CONTRATUAL

Os princípios são extremamente importantes e guiam toda uma disciplina, são um tipo
de norma, com plena aplicabilidade e máxima eficácia, principalmente quando visam efetivar
preceitos constitucionais.

Os princípios gerais dos contratos são aqueles que norteiam a elaboração das normas
regras, são a base da normatização contratual, o alicerce interpretativo.

Assim sendo, ademais dos clássicos princípios contratuais, ditos liberais ou de


primeira geração ou dimensão surgiram os princípios sociais, de segunda geração ou
dimensão, reconhecedores de valores metaindividuais na Teoria Geral dos Contratos.
Compilando todos eles, enuncia a doutrina como princípios contratuais:

➔ Princípio da Autonomia Privada. (Liberal/ 1ª geração)


➔ Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato. (Liberal/ 1ª geração)
➔ Princípio da Força Obrigatória. (Liberal/ 1ª geração)
➔ Princípio da Boa-Fé Objetiva. (Social/ 2ª geração)
➔ Princípio da Função Social. (Social/ 2ª geração)

Vamos agora estudar um pouco de cada princípio!

Princípio da Autonomia Privada

É expressão da liberdade humana. Consiste na liberdade contratual em sua máxima


expressão. Antes esse princípio – enquanto meramente autonomia da vontade – se baseava
nos pilares da Revolução Francesa. O contrato, como produto do liberalismo individualista,
proprietário, iluminista, considerava, precipuamente, pela livre vontade dos contratantes.
Traduzia tal princípio, nesse contexto, em um trinômio:

• Liberdade de Escolher o Contratado;


• Liberdade de Escolher o Tipo de Contrato;
• Liberdade de Estipular as Cláusulas do Contrato.

107
A liberdade, neste momento, era abundante. Não tinha muitas limitações. Hoje, em
consonância com o Princípio Constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III
da CF/88) e de acordo com os princípios gerais do Código Civil: eticidade (boa-fé),
sociabilidade (função social), e operabilidade, e também dos postulados constitucionais da
justiça distributiva e solidariedade, a liberdade deve ser ressignificada, compreendida nos
limites e de acordo com o garantismo constitucional.

Pega a visão! Importante salientar que a autonomia da vontade não foi eliminada, mas
ressignificada na contemporaneidade – isto é, foi remodulada para se adequar a nossa
realidade.

Exemplifica-se com os chamados contratos de adesão, particularmente no que diz


respeito à contratação dos serviços essenciais (luz, água, telefonia...), nos quais se limitou a
ideia de autonomia, visto que o consumidor não tem a alternativa de escolher nem o
contratado, nem as cláusulas, nem memso o tipo de contrato. De outro lado, uma situação
que traz a consagração do princípio da autonomia privada no ordenamento jurídico pátrio é o
art. 425 do Código Civil, que traz a celebração dos contratos atípicos.

Princípio da Relatividade dos Efeitos Contratuais


O contrato, enquanto instituto de direito pessoal patrimonial, em regra, gera efeitos
inter partes – ou seja, entre os sujeitos contratuais. A contrario sensu diz-se que a regra,
portanto, é que o contrato não produzirá efeitos contra todos, o que se denominaria eficácia
erga omnes.

Exceções (apontadas por Flávio Tartuce)

✓ 1ª exceção: estipulação em favor de terceiro (arts. 436 a 438 do CC): hipótese em que
um terceiro, que não é parte do contrato, é beneficiado por seus efeitos, podendo exigir
o seu adimplemento, desde que anua com a obrigação. Exemplifica-se: seguro de
vida; plano de saúde coletivo por adesão.

De olho na Juris!

O STJ entende que o beneficiário de plano de saúde coletivo por adesão possui
legitimidade ativa para se insurgir contra rescisão contratual unilateral realizada pela
operadora, por se caracterizar o plano de saúde coletivo como estipulação em favor

108
de terceiro, e o art. 436, parágrafo único determina que o terceiro é legítimo para exigir
a obrigação. (REsp 1705311/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 09/11/2017, DJe 17/11/2017).
Os efeitos desse contrato são de dentro para fora (exógenos), porque a pactuação
repercute na esfera de terceiro.
✓ 2ª exceção: promessa de fato de terceiro (arts. 439 e 440 do CC): figura negocial pela
qual determinada pessoa promete que uma determinada conduta seja praticada por
outrem, sob pena de responsabilização civil. Exemplifica-se: promessa de show de
cantor que não comparece.
Os efeitos desse contrato são de fora para dentro (endógenos), porque a conduta de
um estranho ao contrato repercute para dentro deste.
✓ 3º exceção: contrato com pessoa a declarar ou com cláusula pro amico eligendo (arts.
467 a 471 do CC): no momento da conclusão do contrato, pode uma das partes
reservar-se à faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as
obrigações dele decorrentes. Tal figura é muito comum no contrato preliminar.
✓ 4ª exceção: eficácia externa da função social do contrato

Princípio da Força Obrigatória do Contrato (pacta sunt servanda)

Também conhecido como pacta sunt servanda. Em prol da certeza e da segurança


jurídica, continua em vigor o princípio segundo o qual o contrato faz lei entre as partes.

O princípio está ligado a obrigatoriedade que surge de todo o contrato, materializando


a ideia de que o contrato faz lei entre as partes, motivo pelo qual deverá ser seguido nos
exatos termos acordados, não sendo permitido a modificação do seu conteúdo. Impõe-se a
impossibilidade do Estado-Juiz, em regra, intervir na contratação, sendo uma consequência
da autonomia da vontade. Todavia, contemporaneamente, esse ideal de “força obrigatória”
não mais deve ser interpretado de forma absoluta, pois revisões contratuais acontecem
corriqueiramente no Poder Judiciário.

Esse princípio é fortemente mitigado pelos princípios sociais (função social do contrato
e boa-fé objetiva). Importante exceção à força obrigatória dos contratos é a denominada
“teoria da imprevisão”, assim como o denominado Dirigismo Contratual, quando o Estado
intervém, excepcionalmente, na defesa de garantias constitucionais, de ordem pública ou em
decorrência da própria Supremacia do Interesse Público.

Pega a visão!
109
Teoria da Imprevisão trata do reconhecimento de que a ocorrência de fato novo,
superveniente, imprevisível e extraordinário, em contrato comutativo e de duração, que
desequilibre a base econômica (objetiva) contratual, com extrema vantagem para uma das
partes e onerosidade excessiva para a outra, possibilita a sua resolução ou revisão (CC, arts.
317 e 478).

Princípio da função social do contrato

De forma incipiente, a primeira manifestação sobre o Princípio da Função Social


ocorreu no direito de propriedade, no decorrer do Século XX. Nesta conjuntura, a propriedade
deixa de ser um direito absoluto, passando a ser a função social devendo respeitar os
interesses dos proprietários e dos não proprietários.

Para Orlando Gomes função significa fim, e social significa coletivo. Assim, a função
social é o fim coletivo. Miguel Reale entende que o contrato não deve atender apenas aos
interesses das partes, mas de toda a coletividade. Flávio Tartuce conceitua função social do
contrato como um princípio de ordem pública (art. 2.035, parágrafo único, do CC), pelo qual o
contrato deve ser, necessariamente, interpretado e visualizado de acordo com o contexto da
sociedade. O contrato entre as partes não deve prejudicar terceiros, a coletividade ou
contratos alheios.

Na seara dos contratos, a função social é mais um elemento de eficácia social que traz
a ideia básica segundo a qual a avença deve ser cumprida não só em função do credor, mas
também de forma a não afrontar interesses difusos e conferir contribuição positiva para a
sociedade. A função social do contrato significa que o mesmo deverá ter uma dada finalidade,
a qual é qualificada pelo termo social, atendendo interesses da sociedade.

Nesse viés, é a autonomia privada (ou da vontade) delimitada pela função social do
contrato, representada esta por uma cláusula geral a ser concretizada em cada caso, com
vistas à promoção da dignidade da pessoa humana. É isso que se infere do artigo 421 do CC
e Enunciado 23 do CJF. Isto não quer significar, porém, que se estaria assistindo a morte da
liberdade ou autonomia contratual. Não é bem assim. Autonomia contratual persiste como um
princípio dos contratos, porém mitigado pela tutela externa do crédito (função social).

Portanto, a eficácia difusa do contrato, atingindo a todos, passa a se constituir


realidade inegável, na ótica do Enunciado 21 do CJF, abrandando-se o efeito inter partes e,
por conseguinte, mitigando o relativismo contratual. O princípio da função social dos contratos
110
importa no reconhecimento segundo o qual os negócios jurídicos merecem gerar trocas úteis
e justas, em uma equivalência material ou justiça contratual cujo desrespeito justifica
intervenção judicial a igualar o pêndulo contratual (Enunciado 22 do CJF). Aqui se insere o
princípio da equivalência material ou justiça contratual, discutindo-se se é um princípio
autônomo ou subproduto da função social.

Dupla eficácia da função social do contrato


EFICÁCIA INTERNA: o negócio deve ser bom, justo para ambas as partes diretamente
envolvidas (concepção aristotélica de justiça comutativa).

Proteção à dignidade da pessoa humana e aos direitos de personalidade (Enunciado 23 da I


JDCi)
- Historicamente, as relações contratuais regem-se pelo pacta sunt servanda. A moderna
teoria vê o contrato como instrumento de promoção da dignidade humana, pois não se limita
mais às relações patrimoniais individuais (EX: barriga de aluguel e doação de órgãos).

Proteção aos vulneráveis contratuais


- CDC protege o consumidor.
- CLT protege o trabalhador.
- CC protege o aderente (art. 423 e 424 do CC).

Vedação à onerosidade excessiva/ desequilíbrio contratual/ “efeito gangorra”

- Possível a anulação (arts. 156 e 157 do CC), a revisão (art. 317 do CC) oua resolução do
contrato (art. 478 do CC).

- A jurisprudência inicialmente adotava a teoria da imprevisão, só permitindo a revisão nas


hipóteses de caso fortuito - afastava-se a possibilidade de revisão contratual com a justificativa
de inexistência de situação imprevisível. EX: inflação.

- A doutrina, nos Enunciados 17 da I JDCi e 175 da III JDCi, sugere que a teoria da imprevisão
também seja aplicada nos casos de fatos previsíveis, mas com consequências imprevisíveis.

- O CC (arts. 317 e 478) adotou a teoria francesa da imprevisão, qualificando a sua incidência
ao exigir a correspondência entre a desvantagem sofrida por uma parte e o proveito obtido
pela outra.
111
- O CDC (arts. 4º e 6º) adotou a teoria da base objetiva do negócio jurídico (onerosidade
excessiva pura), de Karl Larenz (doutrina alemã), segundo a qual a simples presença de
desequilíbrio superveniente, independentemente de evento extraordinário, possibilita a
revisão contratual. Dispensa a imprevisibilidade. EX: contratos de leasing reajustados pelo
dólar.

- Nas relações de consumo, o fornecedor jamais pode requerer a resolução, mas apenas a
revisão contratual.

- Na revisão, os efeitos da sentença retroagem à citação (art. 317 do CC).

- Se o réu se predispuser a adequar a pactuação, o juiz deixará de resolver o contrato, em


observância ao princípio da manutenção dos contratos (art. 479 do CC e Enunciado 176 da
III Jornada de Direito Civil do CJF).

Princípio da Boa-Fé Objetiva


A boa-fé pode ser dividida em subjetiva (interna) e objetiva (externa).
Veja o quadro comparativo abaixo:

Fonte: https://www.aspectojuridico.com/

112
Nos interessa aqui o estudo da Boa-fé objetiva.

Atualmente a Boa-fé objetiva consiste numa cláusula geral e implícita, tendo como
funções a interpretativa, integrativa e restritiva (ou limitadora).

• A Função Interpretativa impõe a significação e execução do contrato sob a lente da


ética. Para tanto, lembra o Enunciado 27 do CJF, deve-se considerar tanto o sistema
do Código Civil, como as conexões para com outros estatutos normativos e fatores
metajurídicos.
• A Função Integrativa, com Deveres Anexos, impõe a existência, em todo contrato, de
deveres implícitos (satelitários, anexos, laterais, colaterais...), de obediência cogente,
a exemplo dos deveres de zelo, informação, probidade, lealdade, confiança,
assistência, sigilo, mitigação dos danos etc. Tais deveres sequer precisam estar
noticiados no instrumento contratual. São implícitos. O descumprimento de tais
deveres equivale ao inadimplemento contratual, com responsabilidade objetiva
(Enunciado 24 do CJF), pois malgrado não expressos no instrumento contratual, são
implícitos.
• A Função Restritiva ou Limitadora afirma que não pode o contrato gerar prestações
demasiadamente excessivas a uma das partes, em detrimento da outra, a exemplo de
juros exacerbados. Nesta hipótese é possível ao magistrado a revisão do contrato,
com eventual supressão da aludida cláusula, a teor do Enunciado 26 do CJF.
Tal função restritiva tem íntima relação com a promoção da justiça contratual, em
busca da equivalência material, conforme mencionado no tópico alusivo à função
social dos contratos. Ao debruçar-se sobre a boa-fé, especificamente na redação dos
artigos 113 e 422, o Código Civil não deixou claro sobre o seu campo de incidência.
Explica-se: existiria uma boa-fé apenas contratual, ou ela ainda persiste na seara pré-
contratual e pós-contratual? Pela literalidade do dispositivo, a boa-fé só pode ser
observada na execução ou na conclusão do contrato. Como fazer? Aponta a
esmagadora doutrina que há necessidade de observância a boa-fé pré-contratual,
contratual, e pós-contratual, devendo ser o contrato iluminado desde as negociações
preliminares, até o pós-contrato (pós-eficácia objetiva obrigacional). Nesse sentido os
Enunciados 25 e 170 do CJF. Sobre o tema, costumam as provas enfatizar no pré-
contrato a necessidade de cumprimento das promessas, e no pós-contrato o zelo e
sigilo com a parceira anterior.
O exemplo corriqueiro da boa-fé pré-contratual remete a promessa de compra de safra
futura, na qual o comprador resta responsável pelo adimplemento de valores. Na seara
113
pós-contratual tem-se como diuturno exemplo a realização de propaganda, por uma
mesma pessoa, para empresas concorrentes, devendo-se zelar com a imagem das
referidas empresas.

FORMAÇÃO DOS CONTRATOS


A priori, na formação dos contratos, tem-se uma fase prévia denominada de “tratativas”
ou “negociações preliminares”. Esta fase costuma ser seguida de uma proposta, oferta e, por
fim, a aceitação.

Tratativas ou Negociações preliminares


No popular é a negociação, ocorre antes do contrato em si, podem ser formais, através
de minutas escritas, ou informais (mais comum), feitas de forma verbal. Não há contrato ainda,
e por isso não se fala em exigibilidade. Contudo, faz-se mister o respeito aos princípios da
boa-fé e função social.
No final dessa fase, tudo poderá acarretar em um contrato definitivo, em um contrato
preliminar, ou simplesmente na desistência do negócio.

Proposta

É uma declaração de vontade ofertada pelo proponente àquele que poderá aceitar a
proposta. Ela pode ser individual ou coletiva, como a vitrine de uma loja, sendo que, em ambos
os casos e em regra, a proposta obriga o proponente, isto é: não pode ser descumprida.

Leciona o CC no seu art. 427, que a regra é a obrigatoriedade da proposta, não


perdurando esta, contudo, se o contrário resultar dos termos dela, da natureza do negócio ou
das circunstâncias do caso. Portanto, caso na proposta haja uma cláusula de arrependimento,
não há falar-se em sua obrigatoriedade.

De acordo com o art. 428, CC, a proposta pode ser realizada entre presentes ou entre
ausentes. Por presença, na visão do legislador civilista, deve-se entender a comunicação
simultânea, não sendo necessária a presença física, propriamente. Desta forma, para o
legislador contatos via telefone, WhatsApp, etc... são hipóteses de contratos celebrados entre
presentes, pois há comunicação simultânea.

A proposta feita entre presentes, nos termos do citado artigo 428, somente obriga se
imediatamente aceita. Essa regra geral apenas é afastada acaso haja na proposta um prazo
específico, quando este há de ser respeitado como data limite. Já o contrato entre ausentes
114
é aquele no qual não há comunicação simultânea entre as partes, a exemplo de carta ou e-
mail. Segundo o Código Civil, a proposta entre ausentes obriga até que tenha decorrido tempo
razoável para aceitação. Tal regra somente será refutada se a própria proposta trouxe um
prazo limite a ser observado.

A proposta feita pode ser revogada mediante a mesma forma que foi realizada, em
respeito ao princípio da simetria das formas ou paralelismo das formas. Como, em regra,
quem pode o mais, pode o menos, é possível afirmar que a proposta feita de forma verbal
pode ser desfeita por escrito – o inverso, entretanto, não é possível.

Fundamental a consequência relacionada à proposta é a verificação do local no qual


o contrato foi firmado, e da normatização territorialmente aplicável. Sim, porque o contrato
nacional se considera formado no local no qual foi feita a proposta, segundo determina a
redação do artigo 435 do CC.

Tal local de formação será, em regra, o foro competente para dirimir as controvérsias
relativas ao contrato, ressalvadas as hipóteses de foro de eleição ou de foro privilegiado, tema
tratado no capítulo de domicílio. Não obstante, em sendo o contrato internacional, aplica-se o
artigo 9º, § 2º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, sendo o local de formação
do contrato aquele no qual é domiciliado o proponente.

Aceitação

Ela precisa ser feita nos mesmos termos da proposta, sob pena de configurar
contraproposta. Portanto, a aceitação feita fora do prazo, com alterações, adições ou
restrições à proposta não enseja o surgimento da relação contratual, porque nada mais é do
que uma contraproposta, a ser apreciada pelo proponente, a quem, por sua vez, caberá anuir,
desistir, ou ainda contrapropor (art. 431, CC).

No momento da aceitação da proposta é que se forma o contrato entre presentes, que


deverá ser de pronto, ou no prazo convencionado. Já a formação do contrato entre ausentes,
em consonância com Código Civil e de acordo com doutrina majoritária, ocorre no momento
de expedição da aceitação. Logo, pode se afirmar que no Brasil adota-se em relação ao tema
formação dos contratos entre ausentes, a teoria da expedição, leia-se: tal contrato torna-se
perfeito e acabado no momento em que é expedida a aceitação pelo oblato (inteligência dos
artigos 433 e 434 do CC).

115
A expedição da aceitação somente não promoverá o surgimento do contrato se antes
dela chegue ao proponente à retratação do aceitante, bem como quando o próprio proponetne
houver se comprometido a esperar resposta, ou mesmo quando a aceitação não chegue no
prazo convencionado, posto que a aceitação fora do prazo ostenta natureza jurídica de
contraproposta.

CONTRATO PRELIMINAR
Também chamado de antecontrato, pré-contrato ou promessa, trata-se de um pacto
por meio do qual as partes se comprometem a celebrar posterior contrato futuro.

Pega a visão!

Contrato preliminar é contrato! Não se trata de mera tratativa. Tem força coercitiva.

A questão é que ele tem como principal obrigação um fazer, tal seja: a conclusão de
um contrato definitivo, superveniente, individualizado, definido em suas cláusulas essenciais.
O contrato preliminar deverá conter todos os requisitos do definitivo, a exceção da forma,
segundo o artigo 462 do CC. Por exemplo: a despeito do contrato definitivo de alienação de
imóvel cujo valor é superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país ter forma
vinculada – escritura pública, sob pena de nulidade –, o respectivo contrato preliminar tem
forma livre, sendo plenamente válida sua realização por escrito particular (inteligência dos
arts. 108, 166 e 462 do Código Civil).

Importante destacar que, regra geral o contrato preliminar é irretratável, a não ser que
possua cláusula de arrependimento (art. 463, CC). Além disso, o contrato preliminar deve ser
levado ao registro competente (art. 463, parágrafo único). Diante da sua irretratabilidade, na
hipótese de uma das partes se negar a dar execução ao contrato preliminar, poderá a parte
lesada exigir judicialmente o seu cumprimento, com tutela específica, a exemplo de multa
diária (astreintes) ou medida sub-rogatória (vide artigo 536 § 1º, CPC/15).

VÍCIOS REDIBITÓRIOS

Trata-se de defeito oculto sobre a coisa alienada através de contrato comutativo, que
diminui o valor, ou prejudica a utilização da mesma. O defeito sobre a coisa tem de ser
descoberto depois pelo adquirente (art. 441, CC). É fundamental observar que se o suposto
defeito for do gênero da coisa, não se deve falar em vício redibitório, pois se trata de

116
característica inerente ao bem.Por exemplo: a aquisição de um cavalo cuja raça é “baixa” em
reprodução. Não é um defeito, e sim uma característica daquele tipo de animal.

O vício ou impossibilita a destinação, ou reduz sensivelmente o valor do bem, sendo


possível falar-se na aplicação do princípio da proporcionalidade (reduções mínimas de valores
não ensejam alegação do vício em comento). Uma vez verificada a configuração do vício
redibitório, o adquirente prejudicado poderá lançar mão de uma das ações edilícias, quais
sejam: ação redibitória ou estimatória (quanti minoris). Tais pretensões não podem ser
cumuladas (arts. 442 e 443, CC), sendo excludentes entre si.

A ação redibitória tem como objetivo resolver (desfazer) o contrato; rejeita-se a coisa
para obter o valor depositado de volta. Já a ação estimatória ou quantis minoris intenciona
reduzir o valor de aquisição da coisa, por conta do vício, com o escopo de manutenção do
bem. Estima-se o montante da desvalorização e abate-se do valor da venda (art. 442, CC).
Importante notar que o Código Civil não exige a presença da culpa como elemento necessário
à configuração do vício. Caso haja culpa (em sentido amplo), torna-se possível cumular a
resolução ou diminuição dos valores com o pleito de perdas e danos (art. 443, CC).

Além disso, faz-se mister tomar nota o vício redibitório ocorrido na aquisição de coisas
vendidas conjuntamente. Em consonância com o art. 503 do CC se o vício existir somente em
uma das coisas não será possível o desfazimento de todo o negócio e a rejeição de todos os
bens, mas só da coisa individualmente defeituosa. Exemplo: a compra por uma pessoa de
vinte verduras em uma feira, se somente uma das verduras estiver estragada não será
possível que o adquirente a rejeite todas as outras, mas somente exigir a troca, ou o
abatimento, sobre a única verdura estragada.

O prazo para propor as duas ações edilícias terá diferentes sistematizações a


depender da natureza do bem – móvel ou imóvel – e do tipo de vício – aparente ou oculto (art.
445, CC). Assim, tratando-se de vício de fácil constatação (vício aparente) o prazo será de:

• 30 (trinta) dias quando bem móvel;


• 1 (um) ano quando bem imóvel.

Esses prazos são contados da entrega efetiva. Salienta-se que se o adquirente já


estava na posse da coisa, os prazos em comento serão reduzidos pela metade e serão
contados da alienação. Pressupõe o legislador que estando o prejudicado na posse, esse já
conhecia a coisa, tendo maiores possibilidade de verificar o vício, que é aparente. Ex.: Maria

117
estava na posse da casa de Júlio por 10 (dez) meses, em virtude de contrato de locação. Júlio
decide vender a casa para Maria. O prazo para propor ação edilícia será de 6 (seis) meses,
reduzindo-se o prazo de 1 (um) ano pela metade.

Além disso, na forma do Enunciado 174 da III Jornada de Direito Civil, em se tratando
de vício oculto, o adquirente tem os prazos do art. 445 para obter a redibição ou o abatimento
de preço, desde que os vícios se revelem nos prazos estabelecidos no seu § 1º, fluindo,
entretanto, a partir do conhecimento do defeito.

Logo, na hipótese de se tratar de vício de difícil constatação (vício oculto) o prazo será
de:

• 180 (cento e oitenta) dias para bens móveis;


• 1 (um) ano para bens imóveis.

Nesta situação específica, como visto, os prazos citados são contados da descoberta
do vício, e não da data da entrega ou alienação.

Pega a visão!

O artigo 446 do CC afirma que os prazos referentes ao vício redibitório não correm
enquanto não finalizado o prazo de garantia, subsistindo o adquirente, nesse prazo, a
obrigação de comunicar a existência do vício do prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de
decadência.

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: TJ-AL Prova: FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto
Renato emprestou seu automóvel a Paulo. Quinze dias depois, ainda na posse do veículo,
Paulo o comprou de Renato, que realizou a venda sem revelar que o automóvel possuía grave
defeito mecânico, vício oculto que só foi constatado por Paulo na própria data da alienação.
Nesse caso, de acordo com o Código Civil, Paulo tem direito de obter a redibição do contrato
de compra e venda, que se sujeita a prazo
A. prescricional, de trinta dias, contado da data em que recebeu o automóvel.
B. prescricional, de quinze dias, contado da data da alienação.
C. decadencial, de trinta dias, contado da data em que recebeu o automóvel.
D. decadencial, de quinze dias, contado da data da alienação.
E. decadencial, de noventa dias, contado da data em que recebeu o automóvel.

118
Gabarito: “D”.

Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-MA Prova: FCC - 2018 - DPE-MA - Defensor Público
O vício redibitório e o erro substancial
A. geram a nulidade do negócio jurídico e, consequentemente, impõem a declaração de
nulidade e a indenização pelos danos causados.
B. constituem espécies de vício da vontade, uma vez que o negócio não teria sido realizado
se não se verificasse o vício ou erro.
C. são distintos uma vez que no primeiro o vício oculto pertence ao objeto adquirido, ao passo
que no segundo, o vício é da manifestação da vontade.
D. dizem respeito somente ao âmbito da eficácia do negócio jurídico e apresentam como
consequência o abatimento do valor pago.
E. constituem vício do objeto do negócio jurídico contraído, pois o objeto adquirido possui
algum vício que torna a coisa inútil para o fim a que se destina.
Gabarito: “C”.

Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RS Prova: VUNESP - 2018 - TJ-RS - Juiz de Direito
Substituto
Sobre os vícios redibitórios, assinale a alternativa correta.
A. O adquirente que já estava na posse do bem decai do direito de obter a redibição ou
abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel.
B. No caso de bens móveis, quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais
tarde, se ele aparecer em até 180 dias, terá o comprador mais 30 dias para requerer a
redibição ou abatimento no preço.
C. Somente existe o direito de obter a redibição se a coisa foi adquirida em razão de contrato
comutativo, não se aplicando aos casos em que a aquisição decorreu de doação, mesmo
onerosa.
D. O prazo para postular a redibição ou abatimento no preço, quando o vício, por sua natureza,
só puder ser conhecido mais tarde, somente começa a correr a partir do aparecimento do
vício, o que pode ocorrer a qualquer tempo.
E. No caso de bens imóveis, quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais
tarde, o prazo é de um ano para que o vício apareça, tendo o comprador, a partir disso, mais
180 dias para postular a redibição ou abatimento no preço.
Gabarito: “B”.

119
EVICÇÃO
Alude a ideia de perda do objeto do contrato em face do reconhecimento de direito
anterior de outrem. É uma garantia contratual do adquirente típica dos contratos onerosos,
translativos de propriedade, que se aplica quando o adquirente vem a perder a posse, ou a
propriedade da coisa em virtude do reconhecimento judicial ou administrativo do direito
anterior de terceiro. A evicção, de acordo com o artigo 447 do CC, é composta por 3 (três)
sujeitos:
• Alienante: quem responde pelos riscos da evicção;
• Adquirente (ou evicto): pessoa que perde a posse e a propriedade;
• Terceiro (evictor): pessoa que prova direito anterior.
Nota-se que a garantia da evicção continua existindo mesmo que a aquisição se tenha
ocorrido em hasta pública. Além disso, existe evicção ainda que a perda aconteça por
execução de ato administrativo. Desta forma, a evicção poderá ser oriunda de decisão judicial
ou de decisão administrativa.

Na evicção, o evicto que adquiriu um bem do alienante de forma onerosa perde a coisa
em virtude de direito de terceiro (evictor). Neste caso, poderá o adquirente requerer os direitos
previstos no art. 450 do Código Civil. Vejamos:

• à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;


• à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente
resultarem da evicção;
• às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.

Faz-se mister rememorar que o preço a ser considerado na responsabilidade civil


decorrente da evicção será o do valor da época em que se evenceu e proporcional ao
desfalque sofrido acaso a evicção seja parcial. Como se pode perceber, a evicção poderá ser
total ou parcial. Se a evicção for parcial, mas considerável, poderá o evicto optar entre
rescindir o contrato ou obter a restituição de parte do preço correspondente ao desfalque
sofrido. Contudo, se a evicção for parcial, porém não considerável, caberá ao evicto postular
apenas direito à indenização.

De acordo com o artigo 448 do CC, vale frisar que a cláusula de garantia da evicção
pode ser reforçada, diminuída ou excluída. Com efeito, em se tratando de direito privado e
disponível a autonomia das partes autoriza esta prática.

120
Todavia, no que diz respeito a exclusão, a análise deve ser mais criteriosa. Visto que
o artigo 449 do CC leciona que se houver no contrato cláusula afirmando que “alienante não
responde pelo risco da evicção”, este ainda terá direito a receber o preço que pagou pela
coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.

Em virtude da evicção ser uma garantia legal em benefício do adquirente de coisa


onerosa, é possível afirmar que a responsabilidade civil do alienante subsistirá ainda que a
coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente. Isto posto, em caso de
dolo do adquirente não poderia ele se beneficiar da própria torpeza. Neste último caso, se o
adquirente tiver auferido vantagens decorrente das deteriorações, e não houver sido
condenado a indenizá-las, o valor de tais vantagens será deduzido da quantia que lhe houver
de dar ao alienante.

No que tange as benfeitorias necessárias ou úteis não abonadas ao que sofreu a


evicção, tem previsão expressa no Código Civil afirmando que deverão as mesmas serem
pagas pelo alienante ao adquirente (CC, art. 453). Observe, que o CC não trata desta
responsabilidade civil para as benfeitorias voluptuárias, aquelas que são feitas para o mero
aformoseamento. Em outro aspecto, se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção
tiverem sido feitas pelo alienante, o valor das mesmas deverá ser levado em conta quando da
restituição devida, a teor do art. 454 do CC.

Por fim, em consonância com os ideais de eticidade e boa-fé, note-se que o adquirente
não poderá alegar a evicção se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa e ainda assim firmou
o contrato oneroso, afinal de contas, ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.

De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RS Prova: VUNESP - 2018 - TJ-RS - Juiz de Direito
Substituto
André devia a quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) em dinheiro a Mateus. Maria era
fiadora de André. Mateus aceitou receber em pagamento pela dívida um imóvel urbano de
propriedade de André, avaliado em R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) com área de 200 m2 e
deu regular quitação. Entretanto, o imóvel estava ocupado por Pedro, que o habitava há mais
de cinco anos, nele estabelecendo sua moradia. Pedro ajuizou ação de usucapião para obter
a declaração de propriedade do imóvel que foi julgada procedente. Na época em que se
evenceu, o imóvel foi avaliado em R$ 65.000,00 (sessenta e cinco mil reais). A respeito dos
efeitos da evicção sobre a obrigação originária, é possível afirmar que a obrigação originária

121
A. foi extinta com a dação em pagamento. André será responsável perante Mateus pelo valor
correspondente ao bem imóvel perdido, na época em que se evenceu. Maria está liberada da
fiança anteriormente prestada.
B. foi extinta com a dação em pagamento. André será responsável perante Mateus pelo valor
correspondente ao bem imóvel perdido, na época em que houve a dação em pagamento.
Maria está liberada da fiança anteriormente prestada.
C. é restabelecida, mas não contará mais com a garantia pessoal prestada por Maria. Em
razão da evicção, a obrigação repristinada terá por objeto o valor equivalente ao bem na época
em que se evenceu.
D. é restabelecida, pelo seu valor original, em razão da evicção da coisa dada em pagamento,
mas sem a garantia pessoal prestada por Maria, tendo em vista que o credor aceitou receber
objeto diverso do constante na obrigação originária.
E. é restabelecida, em razão da evicção da coisa dada em pagamento, inclusive com a
garantia pessoal prestada por Maria. Contudo, em razão da evicção, a obrigação repristinada
terá por objeto o valor equivalente ao bem na época em que se evenceu.
Gabarito: “D”

EXTINÇÃO DOS CONTRATOS

Existem muitas situações causadora da extinção dos contratos. O adimplemento


integral, por exemplo, também chamado de exaustão, é uma das hipóteses mais comuns. Nos
contratos personalíssimos, o óbito da parte também será causa da extinção do mesmo, à
exemplo da morte do empregado em um contrato de emprego. Na seara das invalidades,
situações jurídicas envolvendo nulidade absoluta (arts. 166 e 167 do CC) e situações jurídicas
envolvendo nulidade relativa (art. 171, incisos I e II do CC) também acarretam a extinção dos
contratos.

Todavia, importante e pertinente agora abordar os casos específicos trazidos pelo


Código Civil na teoria geral dos contratos, notadamente a resilição e a resolução do contrato.

Resilição

Consiste no desfazimento contratual sem motivo, por mera manifestação de vontade


de uma das partes (resilição unilateral ou denúncia), ou de ambas as partes (resilição bilateral
ou distrato). A resilição é oriunda do princípio constitucional da liberdade e do direito da
pessoa de não permanecer contratado.

122
O distrato é a resilição bilateral. Oriundo do desejo conjunto do contratante e do
contratado não manterem mais o contrato vigorando. É trazido no art. 472, CC. Tem como
requisito ser feito na mesma forma exigida para a constituição do contrato. Assim sendo, se o
contrato foi celebrado por instrumento público, o distrato deverá ser firmado por instrumento
público também. Tem-se aqui uma expressão do princípio do paralelismo das formas.

A resilição unilateral (art. 473, CC) ocorre através de um ato jurídico chamado
denúncia. Exemplos desta denúncia vazia (vazia de motivos) podem ser vistos no contrato de
locação ou no contrato de prestação de serviços firmados por tempo indeterminado. Observa-
se, ademais, que para a redação do parágrafo único do artigo 473 do CC – a qual afirma que
se uma das partes houver realizado vultosos investimentos para a execução do contrato
poderá o juiz determinar a manutenção da avença até o retorno do investimento – em evidente
atenção à probidade nas relações e à Justiça Contratual.

Resolução (art. 475, CC)


Consiste no desfazimento (ou dissolução) contratual em caso de inadimplemento,
como por exemplo no caso dos vícios redibitórios. O inadimplemento contratual é combatido
por tutela específica de cumprimento, ou pedido de resolução, existindo a possibilidade da
cumulação de ambos com perdas e danos (art. 475, CC). Evidentemente, tais possibilidades
irão pressupor a presença dos elementos configuradores do dever de reparar o dano e da
ausência das causas excludentes de responsabilidade civil.

Pega a visão!
Enunciado 437 – V Jornada de Direito Civil – CJF: A resolução da relação jurídica contratual
também pode decorrer do inadimplemento antecipado.

Conveniente notar que não é indispensável ao contrato bilateral conter uma cláusula
resolutiva expressa, afirmando que no caso de inadimplemento por uma das partes poderá
ser resolvido o contrato. Com efeito, todo contrato bilateral possui uma cláusula resolutória
tácita. Todavia, a vantagem de se consignar a cláusula resolutiva de forma expressa e prévia
no contrato é de economia processual e operabilidade, eis que descumprida a obrigação o
contrato será automaticamente resolvido. Se não contiver essa cláusula, o prejudicado terá
que comunicar a outra parte que o contrato está resolvido (art. 474, CC).

Pega a visão!

123
Enunciado 436 – V Jornada de Direito Civil – CJF: A cláusula resolutiva expressa produz
efeitos extintivos independentemente de pronunciamento judicial.

Rescisão
Não obstante inexistir uma precisa definição na legislação codificada a respeito da
rescisão contratual, provas de concurso, já trouxe definição como o desfazimento do contrato
por fato concomitante ou posterior à sua formação. Na prática e na doutrina, tem quem a
correlacione com o desfazimento do contrato por meio judicial, ou pelo específico
desfazimento nas hipóteses de lesão ou estado de perigo. O fato é que nada obstante a
prática forense utilizar desta terminologia, e a própria OAB em exame bastante antigo também
a conceituar, o fato é que o CC não abordou o tema na teoria geral dos contratos.

Exceção do Contrato Não Cumprido (Exceptio non adimpleti contractus)

Trata-se de defesa indireta de mérito por meio da qual a parte demandada pela
execução de um contrato pode arguir que deixou de cumpri-lo pelo fato de a outra parte ainda
não ter satisfeito a prestação correspondente. Esse assunto encontra-se no artigo 476 do CC,
o qual prevê como pressupostos para o exercício da exceção do contrato não cumprido:

• Haver um contrato bilateral sinalagmático. O instituto necessita que as prestações


sejam recíprocas, ou seja: que uma prestação origine a outra.
• Demanda de uma das partes pelo cumprimento do pactuado. Somente há sentido na
invocação de uma exceção se houver provocação, sendo impossível acontecer
aplicação de ofício.
• Prévio descumprimento da prestação pelo demandante. De certo, se a parte que
demanda o cumprimento tiver cumprido integralmente a sua obrigação, possui direito
de exigir da outra parte que cumpra a sua, em um exercício regular de direito.

Aplica-se este instituto na esfera administrativa? Sim, desde que o Estado deixe de
adimplir com sua prestação por prazo superior a 90 (noventa) dias, em virtude do princípio da
continuidade, na dicção do artigo 78, XV da Lei 8.666/93. Neste casoo prejudicado poderá
pleitear a resolução do contrato, salvo se houver calamidade pública, grave perturbação da
ordem interna ou guerra, sendo aqui possível apenas a suspensão do contrato.

Frisa-se que a exceção do contrato não cumprido, prevista expressamente na


legislação brasileira, pode ser afastada pelas partes se as mesmas assim expressamente

124
pactuarem neste sentido, por escrito. Trata-se da denominada cláusula contratual de exceção
denominada “solve et repete”, a significar “pague e depois reclama”, ou seja, a prescrever a
não aplicação da exceção do contrato não cumprido. Havendo a cláusula “solve et repete”
expressamente contratada poderá o contratante exigir imediatamente do contratado o
adimplemento mesmo não tendo ainda adimplido a sua parte no contrato.

CLASSIFICAÇÕES DOS CONTRATOS


O Código Civil vigente ao discorrer sobre a teoria geral dos contratos foi omisso quanto
à classificação deles, até porque o ato de classificar institutos é essencialmente de cunho
doutrinário. Aqui tratemos as principais classificações cobradas em provas de concurso.

Quanto à Natureza da Obrigação.

Contratos Unilaterais, Bilaterais ou Plurilaterais


Quando o contrato trouxer direitos e obrigações para ambos os contratantes ou apenas
para um deles, será bilateral (ex.: compra e venda) ou unilateral (ex.: depósito), podendo se
falar em contrato plurilateral (ou multilateral) quando houver mais de dois contratantes com
obrigações (contrato de constituição de uma sociedade ou de um condomínio);

Contratos Onerosos ou Gratuitos


Quando um benefício recebido for equivalente a um sacrifício patrimonial da outra
parte (Ex.: compra e venda), fala-se em contrato oneroso. Todavia, quando, ficar estabelecido
que apenas uma das partes auferirá benefício, enquanto a outra arcará com toda obrigação,
fala-se em contrato gratuito ou benéfico (Ex.: doação pura e comodato);

Contratos Comutativos ou Aleatórios

Quando as obrigações se equivalem, conhecendo os contratantes, as suas respectivas


prestações, como, por exemplo, na compra e venda ou no contrato individual de emprego,
fala-se em um contrato comutativo. Já quando a obrigação de uma das partes somente puder
ser exigida em função de coisas ou fatos futuros, cujo risco da não ocorrência for assumido
pelo outro contratante, fala-se em contrato aleatório, previsto nos artigos 458/461, como é o
caso, por exemplo, dos contratos de seguro, jogo e aposta, bem como o contrato de
constituição de renda.

125
Não obstante a compra e venda seja, em regra, comutativo, o Código Civil veicula
hipóteses de compras e vendas aleatórias.

Vejamos:

• Contrato de Compra de Coisa Futura, com Assunção de Risco pela Existência: nessa
primeira espécie, trazida expressamente no artigo 458 do CC, o contratante assume o
risco de não vir a ganhar coisa alguma, deixando à sorte propriamente dita o resultado
da sua contratação. Por exemplo: contratação do lançamento de uma rede de pesca
por um pescador, assumindo o contratante o risco de advir um grande volume de peixe
ou, nenhum peixe.
• Contrato de Compra de Coisa Futura, sem Assunção de Risco pela Existência: nesse
caso, (art. 459 CC) não há assunção total de riscos pelo contratante, pois o alienante
se comprometeu a que alguma coisa fosse entregue. O exemplo aqui é a aquisição de
uma safra futura, na qual o contratante deve receber toda a safra, havendo variação
quanto ao volume.
• Contrato de Compra de Coisa Presente, mas Exposta a Risco assumido pelo
Contratante: a última prevista no código civil é a que aborda a venda de coisa atual
sujeita a riscos (art. 460, CC). Exemplo: a aquisição de uma vaca prenha, na qual a
perda do bezerro não gera direito a devolução de valores.
• Contratos Paritários ou por Adesão – no caso de as partes estarem em iguais
condições de negociação, estabelecendo livremente as cláusulas contratuais, nas
tratativas, fala-se na existência de um contrato paritário. É distinto do contrato de
adesão, o qual pode ser conceituado simplesmente como o contrato onde um dos
pactuantes pré-determina as cláusulas do negócio jurídico, cabendo a outra parte
apenas não aderir.

Classificação dos Contratos quanto à Disciplina Jurídica


Civis, comerciais, trabalhistas, consumeristas e administrativos.

Classificação dos Contratos quanto à Forma


Solenes ou Não Solenes

Classificação dos Contratos quanto à imprescindibilidade de uma forma específica para


a validade da estipulação contratual;

126
Consensuais ou Reais
Relativo à forma pela qual o negócio jurídico é considerado ultimado. Os contratos
podem ser consensuais, se concretizados com a simples declaração de vontade, ou reais, na
medida em que exijam a entrega da coisa, para que se reputem existentes. A compra e venda
é um contrato consensual, enquanto que o depósito e o comodato são hipóteses de contratos
reais.

Classificação dos Contratos quanto à Designação (nominados e inominados)


Pode-se falar na existência de contratos nominados e contratos inominados, na
medida em que tenham terminologia ou nomenclatura definida e prevista expressamente em
lei ou, em caso contrário, seja apenas fruto da criatividade humana. Os nominados são típicos
(possuem nome e regulação). Já os atípicos são aqueles que a legislação não confere nem o
nome e nem o tratamento específico.

Classificação dos Contratos quanto à Pessoa do Contratante

Pessoais ou Impessoais
Quanto à importância da pessoa do contratante para celebração e produção de efeitos
do contrato, podem tais negócios jurídicos ser classificados em contratos pessoais ou
impessoais. Os primeiros, também chamados de personalíssimos, são os realizados intuito
personae, ou seja, celebrados em função da pessoa do contratante, que tem influência
decisiva para o consentimento do outro, para quem interessa que a prestação seja cumprida
por ele próprio, pelas suas características particulares (habilidade, experiência, técnica,
idoneidade etc.). Nessas circunstâncias, é razoável se afirmar, inclusive, que a pessoa do
contratante se torna um elemento causal do contrato (Ex.: contrato de emprego). Já os
contratos impessoais são aqueles em que somente interessa o resultado da atividade
contratada, independentemente de quem seja a pessoa que irá realizá-la.

Individuais ou Coletivos
Tem-se como parâmetro também o número de sujeitos envolvidos/atingidos. No
contrato individual, sua concepção tradicional se refere a uma estipulação entre pessoas
determinadas, ainda que em número elevado, mas consideradas individualmente. Exemplo:
compra e venda, na qual há um polo comprador e outro vendedor. Mesmo que haja uma
pluralidade de compradores ou de vendedores, tais contratos continuam sendo individuais. Já
no contrato coletivo, também chamado de contrato normativo, tem-se uma transubjetivização

127
da avença, alcançando grupos não individualizados, reunidos por uma relação jurídica ou de
fato.

Classificação dos Contratos quanto ao Tempo

Instantâneos (execução imediata ou execução diferida)

Por contratos instantâneos compreendam-se as relações jurídicas contratuais cujos


efeitos são produzidos de uma só vez (Ex.: compra e venda a vista de bens móveis, em que
o contrato se consuma com a tradição da coisa).

Tal produção concentrada de efeitos, porém, dar-se-á ipso facto à avença ou em data
posterior à celebração (em função da inserção de um termo limitador da sua eficácia),
subdividindo-se, assim, tal classificação em contratos instantâneos de execução imediata ou
de execução diferida. Tal subclassificação também tem interesse prático, tendo em vista que
nos contratos de execução diferida, é aplicável a teoria da imprevisão, por dependerem de
circunstâncias futuras, o que, por óbvio, inexiste nos contratos de execução imediata.

De duração (determinada ou indeterminada)

Também chamados de contratos de trato sucessivo, execução continuada ou débito


permanente, são aqueles que se cumprem por meio de atos reiterados, como, por exemplo,
o contrato de prestação de serviços, compra e venda a prazo e o contrato de emprego. Tal
duração pode ser determinada ou indeterminada, na medida em que haja ou não previsão
expressa de termo final ou condição resolutiva a limitar a eficácia do contrato.

Classificação dos Contratos quanto à Disciplina Legal Específica

Típicos e atípicos
Quando existe uma previsão legal da disciplina de determinada figura contratual,
estaremos diante de um contrato típico; na situação inversa, ou seja, em que o contrato não
esteja disciplinado/regulado pelo Direito Positivo, vislumbraremos um contrato atípico.

Classificação dos Contratos pelo Motivo Determinante do Negócio

Causais e abstratos

128
Classificação que toma, por base, o motivo determinante do negócio, para dividi-los
em contratos causais e contratos abstratos. Os primeiros estão vinculados à causa que os
determinou, podendo ser declarados inválidos, se a mesma for considerada inexistente, ilícita
ou imoral. Já os contratos abstratos seriam aqueles cuja força decorre da sua própria forma,
independentemente da causa que o estipulou. Seriam os exemplos dos títulos de crédito em
geral, como um cheque.

Classificação dos Contratos pela Função Econômica (de troca, associativos, de


prevenção, de riscos, de crédito e de atividade)
• De troca: caracterizado pela permuta de utilidades econômicas, como, por exemplo, a
compra e venda;
• Associativos: caracterizado pela coincidência de fins, como é o caso da sociedade e
da parceria;
• De prevenção de riscos: caracterizado pela assunção de riscos por parte de um dos
contratantes, resguardando a possibilidade de dano futuro e eventual, como nos
contratos de seguro, capitalização e constituição de renda;
• De crédito: caracterizado pela obtenção de um bem para ser restituído posteriormente,
calcada na confiança dos contratantes e no interesse de obtenção de uma utilidade
econômica em tal transferência. É a hipótese típica do mútuo feneratício (a juros);
• De atividade: caracterizado pela prestação de uma conduta de fato, mediante a qual
se conseguirá uma utilidade econômica. Como exemplos, podem ser lembrados os
contratos de emprego, prestação de serviços, empreitada, mandato, agência e
corretagem.

Contratos Reciprocamente Considerados


Classificação quanto à Relação de Dependência (principais e acessórios)
Os contratos principais são os que têm existência autônoma, independentemente de
outro. Por exceção, existem determinadas relações contratuais cuja existência jurídica
pressupõe a de outros contratos, aos quais servem. É o caso típico da fiança, caução, penhor,
hipoteca e anticrese.

Classificação dos Contratos quanto à Definitividade (preliminares e definitivos)


No que diz respeito à definitivamente podem ser os contratos classificados em
preliminares e definitivos. Os contratos preliminares (ou pactum de contrahendo), exceção no

129
nosso ordenamento jurídico, nada mais são do que negócios jurídicos que têm por finalidade
justamente a celebração de um contrato definitivo.

De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: CONSULPLAN Órgão: TJ-MG Prova: CONSULPLAN - 2018 - TJ-MG - Juiz
de Direito Substituto
Quanto aos contratos, segundo o Código Civil, analise as afirmativas a seguir.
I. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir
exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
II. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o
não executar, exceto se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência
o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo,
venha a recair sobre os seus bens.
III. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o
cônjuge do alienante, independente do regime de bens, expressamente houverem consentido.
IV. O vendedor pode executar a cláusula de reserva de domínio em razão do não pagamento
integral do valor devido, independente de constituir o comprador em mora pelo protesto do
título ou interpelação judicial.
Estão corretas as afirmativas
A. I, II, III e IV.
B. I e II, apenas.
C. III e IV, apenas.
D. I, II e III, apenas.
Gabarito: "B"

Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-CE Prova: CESPE - 2018 - TJ-CE - Juiz
Substituto
Contrato de prestações certas e determinadas no qual as partes possam antever as
vantagens e os encargos, que geralmente se equivalem porque não envolvem maiores riscos
aos pactuantes, é classificado como
A. benéfico.
B. aleatório.
C. bilateral imperfeito.
D. derivado.
E. comutativo.

130
Gabarito: “E”.

CONTRATOS EM ESPÉCIE

Avançamos agora no estudo das espécies de contratos. Toda a teoria geral dos
contratos traz os subsídios necessários para adentramos nesse tópico.

Temos inúmeras figuras contratuais no Direito Brasileiro, agora vamos estudar alguns
dos contratos em espécie do nosso ordenamento jurídico, sendo que, com base no que as
bancas de concurso geralmente cobram, vamos focar nas espécies que costumam ser objeto
de prova.

COMPRA E VENDA
Conceito
É um contrato através do qual um dos contraentes se obriga a transferir o domínio de
certa coisa (móvel ou imóvel) e, o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro (artigo 481 do
CC).
É um Contrato Translativo, pois nele se assume o compromisso de transferência da
propriedade, mas essa só se opera pela tradição (bens móveis) ou pelo registro público (bens
imóveis, em regra). Brasil adotou o sistema alemão e romano.

Natureza Jurídica
→ Bilateral ou sinalagmático: acarreta em obrigações assumidas por ambas as partes
→ Oneroso: gera vantagem patrimonial para ambas as partes
→ Comutativo: já se sabe desde antes as vantagens que irão obter (diferente de aleatório).
Observação! Em alguns casos o contrato será aleatório, como por exemplo, na venda a
contento, ou quando a compra e venda tiver por objeto coisas futuras ou coisas existentes,
mas sujeitas a risco.
→ Não solene/consensual (regra): se aperfeiçoa com o acordo de vontades, não depende da
efetiva entrega da coisa.
Exceção! Em certos casos a compra e venda será solene/real. Ex. compra e venda de imóvel
com valor maior que 30 salário mínimos (escritura pública registrada em cartório). Se for valor
menor, será apenas formal (deve ser por escrito), mas não solene.

Elementos Essenciais

131
São três:
• Consentimento
• Preço
• Objeto

Pega a visão!

A forma, em regra, não é elemento essencial em um contrato de compra e venda.

Consentimento:
Deve ser consentimento livre e desembaraçado, sob pena de ser anulável (erro, dolo,
coação, lesão, estado de perigo e fraude). A ação anulatória deve ser intentada em quatro
anos.
Deve recair sobre a coisa e o preço. Requer capacidade das partes. As incapacidades
dos arts. 3º e 4º são supridas pela representação, assistência e pela autorização do juiz.
Quando se tratar de bem imóvel do incapaz ou nascituro, não basta a vontade do
representante/assistente, deve também ter homologação do juiz (art. 1.691 do CC).

Restrições
i. A compra e venda entre ascendente e descendente: depende de consentimento dos
demais herdeiros e do cônjuge (exceto na separação obrigatória), sob pena de ser
anulável (NÃO é antecipação de herança porque o patrimônio é recomposto). (art.
496, CC)
Qual é o prazo da ação de anulabilidade?
Art. 179 CC. O prazo é decadencial e é de dois anos contados do conhecimento (actio
nata).
Obs.¹: Em razão da superveniência do art. 179 (20 anos), a súmula 494 do STF
perdeu objeto.
Obs.²: Se for doação, considera-se antecipação de herança (salvo expressa
disposição de que aquilo sai da parte disponível).
Tem Enunciado do CJF no sentido de que o prazo de 2 anos deve ser contado da
ciência do ato, que se presume absolutamente, em se tratando de transferência
imobiliária, a partir do registro de imóveis (545 do CJF).
Aplica-se à união estável, especialmente se houver registro em cartório? Temos duas
correntes:

132
• NÃO = ausência de publicidade formal da relação e a incidência de efeitos
sobre terceiros (de boa-fé). Além disso, tratando-se de norma restritiva de
direitos, não se deve utilizar da analogia para aplicar à união estável;
• SIM = a união estável é equiparada a casamento, e os descendentes por certo
conhecem a relação. A anulabilidade da venda depende da prova do prejuízo
(STJ, REsp. 752.149/AL). Para o STJ, o prejuízo não é presumido nem mesmo
na hipótese de o autor da ação anulatória ser absolutamente incapaz quando
da celebração do negócio por seus pais e irmãos.
ii. Compra e venda entre marido e mulher. É possível quanto aos bens excluídos da
comunhão desde que não ocorra simulação ou fraude. Ou seja, os bens pertencentes
ao patrimônio comum não podem ser objeto de c/v. (art. 499)
Obs.: Inadmissível a doação entre cônjuges casados no regime de separação legal
ou obrigatória, por desvirtuar as suas características e finalidades. Aplicável à União
estável.
iii. Venda de bens por pessoa casada: o art. 1647, CC, disciplina a necessidade de
outorga conjugal (uxória ou marital). Essa necessidade se dá SÓ em relação a bens
imóveis (seja para venda, seja para alienação, seja para doação). Quando a compra
e venda se faz sem o consentimento, a c/v é anulável, no prazo de dois anos contados
do término da sociedade conjugal. A outorga é dispensada no regime da separação
convencional; na participação final dos aquestos o pacto pode dispensar.
Pega a visão! Observar a supressio/surrectio. Lembrar ainda que o adquirente tem
direito de usucapião. Lembrando que se for bem móvel não precisa do consentimento.
iv. Compra e venda da parte indivisa de bem condominial: a compra e venda de bem
condominial só pode acontecer com a concordância de todos os condôminos (é
possível suprir judicialmente a vontade do condômino que recusou). A venda da
fração ideal de cada condômino só depende do dono. Os demais condôminos têm
direito de preferência (ação de preempção ajuizada no prazo decadencial de 180 dias
a contar da data em que teve ciência da alienação). Se esse direito não for respeitado,
dá ensejo à adjudicação compulsória. (art. 504, CC). Caso haja mais de um
condômino interessado, tem preferência:
• 1º O que tiver benfeitorias de maior valor
• 2º na falta de benfeitorias, o condômino de quinhão maior
• 3º se partes iguais, haverão a parte vendida os coproprietários, que a quiserem,
depositando previamente o preço.

133
Obs. Aplica-se essa regra apenas ao condomínio tradicional e não ao edilício. Mas se
o apartamento pertencer a outras pessoas, estas devem ser notificadas para exercer
sua preferência legal (porque aí haverá condomínio convencional dentro do
condomínio em edifício).
Pega a visão! Se a coisa é divisível, nada impede que o condômino venda sua parte a
estranho, sem dar preferência aos consortes. Pois os consortes poderão requerer a
divisão da coisa.
v. Venda de bens pelo insolvente: pode configurar fraude a dar ensejo à anulabilidade.
A lei de falência estabelece uma presunção absoluta de fraude somente para os bens
alienados após o termo legal da falência, se a alienação se deu antes, a presunção é
relativa. Se a venda se deu dentro do termo da falência implica em ineficácia absoluta.
Para as vendas realizadas antes do termo final da falência a ineficácia será relativa.
vi. Aquisição de bens por pessoa encarregada de zelar pelos interesses do vendedor.
Algumas pessoas não podem adquirir bens em certas circunstâncias (tutor, leiloeiro,
juízes, etc.). Ver art. 497.

De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: Fundação CEFETBAHIA Órgão: MPE-BA Prova: Fundação CEFETBAHIA
- 2018 - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto - Anulada
Sobre o tema dos contratos é correto afirmar que a compra e venda entre os cônjuges é:
A. Válida, se o objeto do negócio for um bem excluído o da comunhão.
B. Válida em relação a todos os bens.
C. Anulável em relação aos bens incluídos na comunhão.
D. Nula em qualquer hipótese por violação ao regime de bens adotado pelos cônjuges.
E. Válida após a dissolução da sociedade conjugal.
Gabarito: “A”.

Ano: 2018 Banca: Fundação CEFETBAHIA Órgão: MPE-BA Prova: Fundação CEFETBAHIA
- 2018 - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto - Anulada
Segundo a legislação civil, a compra e venda entre ascendentes e descendentes é:
A. Nula de pleno direito.
B. Nula, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante houverem expressamente
consentido.
C. Válida se os outros descendentes do alienante houverem consentido de forma expressa e
o cônjuge de forma tácita.

134
D. É anulável em qualquer hipótese.
E. É anulável, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante houverem
expressamente consentido.
Gabarito: “E”.

Preço
Deve ser determinável ou determinado. O que não se admite é a indeterminabilidade
absoluta. O preço deve ser apreciável em dinheiro (se não for em dinheiro caracterizará
troca/permuta). Enunciado 441 da V Jornada de direito civil: “Na falta de acordo sobre o preço,
não se presume concluída a compra e venda. O parágrafo único do artigo 488 somente se
aplica se houver diversos preços habitualmente praticados pelo vendedor, caso em que
prevalecerá o preço médio”.
Pode ocorrer de ter sido ajustado um preço em dinheiro, mas o vendedor (credor)
aceita receber coisa diversa, ocorrendo a DAÇÃO EM PAGAMENTO (isso não desnatura a
compra e venda).

De olho na lei!
A lei do plano real (Lei n. 9.069/95) estabelece que o pagamento deve se dar em moeda
brasileira.
Exceção
Há dois casos que se pode pagar com moeda estrangeira:
• Bens originados de importação
• Bens adquiridos no exterior (fatura de cartão de crédito de compra nos EUA chega
em dólar).

Pega a visão!!!
Não se admite que o preço fique submetido ao arbítrio exclusivo de uma das partes (sendo
nula essa a compra e venda). O Código Civil autoriza que se indique um terceiro (que é
mandatário) para que ele fixe o preço.

É permitido que o preço esteja sujeito a variações de taxa de mercado, bolsa de


valores etc. (486 e 487, CC). Se não estabelecido critério para sua fixação, entende-se que
as partes se sujeitaram ao preço corrente nas vendas habituais do vendedor (art. 488, CC).

Pega a visão!!!

135
Quando for relação de consumo, o preço deve ser estipulado de forma clara.

O preço na compra e venda deve ser real, sério. Apesar disso, não é elemento do
contrato de compra e venda que o preço seja justo. Nesse caso, se o preço for
excessivamente oneroso, o ordenamento nos dá saídas: Pode caber anulação do contrato
por lesão ou por estado de perigo.
Se o preço se tornar excessivamente oneroso no decorrer do contrato, cabe revisão
ou resolução do contrato (teoria da imprevisão art. 478 CC).

De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público
No Código Civil, para que se dê a resolução contratual por onerosidade excessiva, será
preciso o preenchimento dos requisitos seguintes:
A. os contratos devem ser de parcelas sucessivas, ou diferidos no tempo, exigindo-se a
onerosidade excessiva à parte prejudicada e vantagem extrema à outra, mas não a
imprevisibilidade dos acontecimentos.
B. a natureza dos contratos é irrelevante, bem como a vantagem a uma das partes, bastando
a onerosidade excessiva à parte prejudicada e os acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis.
C. os contratos devem ser bilaterais e as prestações sucessivas, bastando a onerosidade
excessiva a uma das partes, sem se cogitar de vantagem à outra parte mas exigindo-se a
imprevisibilidade dos acontecimentos.
D. na atual sistemática civil, basta a onerosidade excessiva, não se cogitando seja de
vantagem à outra parte, seja da imprevisibilidade dos eventos.
E. os contratos devem ser de execução continuada ou diferida; e à onerosidade excessiva a
uma das partes deve corresponder a extrema vantagem à outra, em virtude de
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis.
Gabarito: “E”.

Objeto
É a coisa vendida. O objeto do contrato de compra e venda pode ser bem móvel ou
imóvel; corpóreo ou incorpóreo (cessão); atuais ou futuros.

Deve atender a determinados requisitos:

136
• Existência: é nula a venda de coisa inexistente, a lei se contenta com a existência
potencial da coisa como, por exemplo, venda de safra futura.
• Individuação: o objeto da compra e venda precisa ser determinado, ou determinável,
isto é, podendo ser determinado no momento da execução. Permite-se assim a venda
alternativa cuja a indeterminação se encerra com a concentração (como visto no
tópico das obrigações), e a venda de coisa incerta indicada ao menos pelo gênero e
quantidade.
• Disponibilidade: a coisa deve ser disponível, ou seja, não pode estar fora do comércio.
Porém, atente-se ao fato de que é possível inclusive compra e venda de coisa litigiosa
(art. 42 do CPC c/c 457 do CC).
Pega a visão!!! Quando se trata de compra e venda de bem litigioso não é possível
que o adquirente alegue evicção, porque ele sabe da possibilidade de perda desse
bem.
Obs. A venda de bem futuro é chamada venda a non domino, é a venda de algo que
ainda não pertence ao vendedor (art. 1268, §1º, CC). Nesta hipótese, a eficácia do
negócio jurídico fica dependente da posterior aquisição da coisa pelo vendedor.

Não pode ser objeto de compra e venda:


• Herança de pessoa viva (proibição de pacta corvina/pacto sucessório).
Salvo, partilha em vida, quando se tratar de herdeiros maiores, capazes e estando
todos de acordo (art. 2.018, CC)
• Bens personalíssimos
• Bens gravados com cláusulas restritivas (art. 1.911, CC).

De olho na Juris! STJ 2019. Mas a cláusula de incomunicabilidade ou impenhorabilidade


NÃO pressupõe a de inalienabilidade. E nem a de impenhorabilidade pressupõe as demais.

Efeitos da compra e venda


Os principais efeitos deste tipo contratual é gerar obrigações recíprocas para os
contratantes e acarretar a responsabilidade do vendedor pelos vícios redibitórios e pela
evicção.
Tem também como efeitos secundários:
o A responsabilidade pelo risco: até a tradição, riscos são do vendedor (res perit
domino), e os do preço do comprador. (ver regras no 492, CC).

137
o A repartição das despesas: despesas de escritura e registro são do
comprador; as da tradição são do vendedor. Mas o contrato pode prever de
forma diferente (norma dispositiva).
o Direito de reter a coisa ou preço: cabe ao comprador o primeiro passo, pagar
o preço. Antes disso o vendedor não é obrigado a entregar a coisa. (art. 491,
CC)
Obs. A regra do art. 495, CC é semelhante a do art. 477, CC, sendo a primeira
mais rigorosa, pois exige a insolvência do vendedor (a regra do art. 495 é
aplicada a compra e venda). Ambas as regras tem como objetivo dar
segurança ao comprador (se a situação for inversa, também ao devedor).
De olho na lei!
Vejamos:
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma
das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de
comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se
obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe,
até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia
bastante de satisfazê-la.

Art. 495. Não obstante o prazo ajustado para o pagamento, se


antes da tradição o comprador cair em insolvência, poderá o
vendedor sobrestar na entrega da coisa, até que o comprador
lhe dê caução de pagar no tempo ajustado.

Pega a visão!!!
Perda ou deterioração da coisa. A regra é de que a coisa perece com o dono (res
periti domino). Lembrando que o domínio só se transfere com a tradição ou registro.
Logo, se já houve a tradição/registro quem perde é o comprador. Se não houve a
tradição/registro, quem perde é o vendedor. Pega a visão!!! Na venda com reserva de
domínio não se aplica o res perit domino, mas sim o res perit emptoris (a coisa se
perde para o comprador, e não para o dono).

Evicção e Vício Redibitório. Se as partes quiserem, podem afastar as regras da


evicção e do vicio redibitório, por cláusula expressa. Além de afastar, as partes podem
reforçar, ou ainda diminuir as garantias.

Obs.: Cláusula SOLVE ET REPETE. A cláusula solve et repete, que significa “pague
e depois reclame”, é uma RENÚNCIA À EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO
CUMPRIDO (artigos 476 e 477 do Código Civil) uma vez que, se convencionada, o

138
contratante estará renunciando à defesa, podendo ser compelido a pagar,
independentemente do cumprimento da primeira prestação. Essa cláusula é comum
na lei de licitações nos contratos administrativos, em que se tem as cláusulas de
exorbitância que visam proteger a Administração Pública, e, por conseguinte, a
coletividade.

VENDAS ESPECIAIS
Venda por amostra (ou protótipo) - art. 484, CC. Essa é uma categoria especial de
compra e venda. Nessa situação, o comprador não vê a coisa, ele compra por amostra
ou protótipo (é a compra por catálogo, por internet). Aqui o vendedor garante a
qualidade da coisa, que a coisa que será recebida terá as mesmas características da
amostra. Se for verificada diferença entre a amostra e a coisa, prevalece a amostra.
Venda ad corpus e venda ad mensuram: Somente aplicável na compra e venda de
imóveis. Na venda ad corpus o imóvel é adquirido como um todo (Ex. Chácara Vista
Linda), sendo apenas enunciativa a referência as suas dimensões, que não tem
influência na fixação do preço. Na venda ad mensuram, o preço é estipulado com base
nas dimensões do imóvel, se a área não corresponde às dimensões dadas, cabe ação
ex empto ou ex vendito para exigir a complementação. Se esta não for possível cabe
o ajuizamento da ação redibitória ou quanti minoris.

Pega a visão!
Se a diferença de área não exceder 5% (um vigésimo), presume-se que a venda foi
ad corpus (menção meramente enunciativa).

De olho na lei!
Vide artigos 500 e 501, CC.
Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida
de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não
corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o
comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo
isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento
proporcional ao preço.
§ 1º Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente
enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder de um
vigésimo da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de
provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado o negócio.
§ 2º Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha
motivos para ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao
comprador, à sua escolha, completar o valor correspondente ao preço

139
ou devolver o excesso.
§ 3º Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se
o imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas
enunciativa a referência às suas dimensões, ainda que não conste, de
modo expresso, ter sido a venda ad corpus .
Art. 501. Decai do direito de propor as ações previstas no artigo
antecedente o vendedor ou o comprador que não o fizer no prazo de
um ano, a contar do registro do título.
Parágrafo único. Se houver atraso na imissão de posse no imóvel,
atribuível ao alienante, a partir dela fluirá o prazo de decadência

A ação para as ações ex empto ou redibitória é decadencial, de 1 ano.

Cláusulas especiais.
São cláusulas auxiliares ao contrato de compra e venda.
O CC autoriza a inserção de determinadas cláusulas para regular situações
essenciais. São elas:
RETROVENDA: é a cláusula através da qual o vendedor resguarda para si o direito
de comprar o bem imóvel de volta, no prazo máximo de 3 anos. Durante esse prazo,
o vendedor pode a qualquer tempo recuperar o bem, pagando tanto por tanto. Essa
cláusula deve ser expressa, porque ela é oponível a terceiros (quer dizer, se o
comprador já vendeu a coisa para outra pessoa, o vendedor pode ir atrás da coisa
com quem quer que esteja). Dentro do prazo da retrovenda, o que o comprador tem é
propriedade resolúvel. A retrovenda se caracteriza como condição resolutiva expressa.
A retrovenda é uma cláusula resolutiva expressa.
PREFERÊNCIA OU PREEMPÇÃO (preferência convencional): é a cláusula que
obriga o comprador a dar preferência a aquele que lhe vendeu, na eventualidade de
querer vender a coisa. Se a cláusula de preempção estiver registrada, o vendedor tem
oponibilidade erga omnes (o vendedor pode ir buscar seu direito de preferência com
quem quer que esteja). Do contrário, não há direito a anulação (mas somente a perdas
e danos).
Obs. No condomínio a preferência não precisa estar no contrato (preferência legal).
RESERVA DE DOMÍNIO: é um tipo especial de venda de coisa móvel, em que o
vendedor tem a própria coisa vendida como garantia do recebimento do preço. Só a
posse é transferida ao adquirente. A propriedade permanece com o alienante e só
passa aquele após o recebimento integral do preço.

Pega a visão! aqui a coisa se perde para o comprador (e não para o dono – exceção
ao res perit domino, aplicando-se o res perit emptoris).
140
Constituição do devedor em mora = protesto do título ou interpelação judicial. Mas, de
acordo com o STJ, é possível ser extrajudicial.
VENDA A CONTENTO: é clausula que subordina os efeitos da c/v a uma CONDIÇÃO
SUSPENSIVA (evento futuro e incerto). Essa condição é o agrado do comprador.
Trata-se de uma condição suspensiva, qual seja: a confirmação do agrado da coisa
(510). Ex.: venda de vinho.
VENDA SOBRE DOCUMENTOS: é cláusula originária da Lex Mercatoria. Tb
chamada de crédito documentário ou trust receipt, aplicável apenas a bens móveis. A
tradição é substituída pela entrega dos respectivos documentos representativos.
Estando em ordem a documentação, o comprador não pode deixar de realizar o
pagamento alegando defeito na coisa, salvo se esse já estiver provado.
Estipulado o pagamento por estabelecimento bancário, esse o fará à vista dos
documentos, sem verificação da coisa (não responde por ela) apenas negando-se o
estabelecimento bancário a efetuar o pagamento é que o vendedor poderá pretendê-
lo diretamente do comprador.
PACTO DE MELHOR COMPRADOR: cláusula por meio da qual o vendedor guarda
para si o direito de desfazer a compra e venda, no prazo máximo de um ano, se
encontrar um melhor comprador. Essa cláusula especial não é expressa no CC.

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-BA Prova: CESPE - 2019 - TJ-BA - Juiz
de Direito Substituto
O pacto de retrovenda é uma das modalidades de compra e venda mercantis previstas no
Código Civil e tem como principal característica a reserva ao vendedor do direito de, em
determinado prazo, recobrar o imóvel que tenha vendido.
A respeito dessa modalidade contratual, a legislação vigente dispõe que
A. não existe a possibilidade de cessão do direito de retrovenda.
B. a cláusula somente será válida, sendo dois ou mais os beneficiários da retrovenda, se todos
exercerem conjuntamente o pedido de retrato.
C. somente as benfeitorias necessárias serão restituídas, além do valor integral recebido pela
venda.
D. o vendedor, em caso de recusa do comprador em receber a quantia a que faz jus,
depositará o valor judicialmente para exercer o direito de resgate.
E. o prazo máximo para o exercício do direito da retrovenda é de cinco anos.
Gabarito: “D”

141
PROMESSA DE COMPRA E VENDA.

Trata-se de contrato preliminar, no qual ambas as partes assumem a obrigação de


celebrar o contrato definitivo.

Não exige escritura pública, ainda que o valor do imóvel seja superior a 30 salários
mínimos. Há aproximação entre direito das obrigações e direito das coisas; o compromisso
de compra e venda de bem imóvel levado a registro “embaralha” os efeitos reais e pessoais,
superando a clássica tabela que diferencia os direitos reais dos direitos pessoais patrimoniais
(contratos).

De olho na juris!
Destacamos aqui as principais súmulas dos tribunais superiores sobre compra e
venda.
✓ Súmula 413-STF: O compromisso de compra e venda de imóveis, ainda que não
loteados, dá direito a execução compulsória, quando reunidos os requisitos legais.
✓ Súmula 239-STJ: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro
do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.
✓ Súmula 76-STJ: A falta de registro do compromisso de compra e venda de imóvel não
dispensa a prévia interpelação para constituir em mora o devedor.
✓ Súmula 166-STF: É inadmissível o arrependimento no compromisso de compra e
venda sujeito ao regime do Dec.-Lei 58, de 10.12.1937.
✓ Súmula 412-STF: No compromisso de compra e venda com cláusula de
arrependimento, a devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua restituição em dobro,
por quem o recebeu, exclui indenização maior a título de perdas e danos, salvo os
juros moratórios e os encargos do processo.
✓ Súmula 84-STJ: É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em
alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que
desprovido do registro.

De olho na prova!
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público
No Código Civil, para que se dê a resolução contratual por onerosidade excessiva, será
preciso o preenchimento dos requisitos seguintes:

142
A. os contratos devem ser de parcelas sucessivas, ou diferidos no tempo, exigindo-se a
onerosidade excessiva à parte prejudicada e vantagem extrema à outra, mas não a
imprevisibilidade dos acontecimentos.
B. a natureza dos contratos é irrelevante, bem como a vantagem a uma das partes, bastando
a onerosidade excessiva à parte prejudicada e os acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis.
C. os contratos devem ser bilaterais e as prestações sucessivas, bastando a onerosidade
excessiva a uma das partes, sem se cogitar de vantagem à outra parte mas exigindo-se a
imprevisibilidade dos acontecimentos.
D. na atual sistemática civil, basta a onerosidade excessiva, não se cogitando seja de
vantagem à outra parte, seja da imprevisibilidade dos eventos.
E. os contratos devem ser de execução continuada ou diferida; e à onerosidade excessiva a
uma das partes deve corresponder a extrema vantagem à outra, em virtude de
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis.
Gabarito: “B”.

Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: MPE-MT Prova: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Substituto
A compra e venda
A. é nula a de ascendente a descendente, salvo se os demais descendentes e o cônjuge do
alienante consentirem com o ato.
B. não admite a fixação do preço em função de índices ou parâmetros, ainda que suscetíveis
de determinação objetiva, pela insegurança jurídica que traria às partes contratantes.
C. já transfere de imediato o domínio, uma vez celebrado o contrato respectivo, em se tratando
de bem móvel.
D. é lícita entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão.
E. só pode ter por objeto coisa atual, ficando sem efeito o contrato se tratar-se de coisa futura,
que poderá não existir.
Gabarito: “D”.

TROCA OU PERMUTA
É o contato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra que não seja
dinheiro = permuta.

Natureza Jurídica

143
Consensual: Aperfeiçoado pela manifestação de vontade
Bilateral: Há direitos e deveres proporcionais
Oneroso: Há sacrifício econômico para ambas as partes
Comutativo: As partes sabem de antemão as prestações a que estão obrigadas.

Partes
As partes são chamadas permutantes ou tradentes.

Objeto
Necessariamente dois bens. Os bens devem ser alienáveis, como na compra e venda.
Se o preço for pago mais da metade em dinheiro, o negócio será de compra e venda.
Enunciado 435 do CJF: O contrato de promessa de permuta de bens imóveis é título
passível de registro na matrícula imobiliária.

Aplicação de normas subsidiárias


Aplicam-se à troca todas as disposições relativas à compra e venda, com as seguintes
especificidades:
Salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as
despesas com o instrumento da troca
É anulável a troca de valores desiguais entre ascendente (possui objeto mais valioso)
e descendente, sem consentimento dos demais descendentes e do cônjuge do
ascendente.
Assim, aplicam-se as restrições da compra e venda, bem como as regras sobre
evicção.

Diferenças
Na troca, ambas as prestações são em espécie (coisas são trocadas), enquanto na
compra e venda a prestação do comprador é em dinheiro ou em dinheiro e outra coisa.
Na compra e venda, o vendedor, entregue a coisa vendida, não poderá reavê-la no
caso de não receber o preço, enquanto na troca o tradente terá o direito de repetir o que deu
se a outra parte não lhe entregar o objeto permutado.

Troca entre ascendentes e descendentes


Não haverá necessidade de consentimento dos descendentes tratando-se de coisa de
valores iguais ou no caso de a coisa mais valiosa pertencer ao descendente.

144
Não há aplicação do art. 496, p. único, do CC/02, pois há regra específica para a
permuta.

CONTRATO ESTIMATÓRIO.
Conceito
É contrato em que alguém (consignante) transfere ao consignatário bens móveis, para
que o último os venda, pagando um preço de estima; ou devolva os bens, findo o contrato,
dentro do prazo ajustado.
É muito utilizado para a venda de veículos (sujeito deixa seu carro numa loja de
seminovos, para que seja vendido por um determinado preço).

Natureza Jurídica
É contrato bilateral (embora haja corrente no sentido de que se trata de contrato
unilateral – Prof. Simão), oneroso, real (aperfeiçoa-se com a entrega da coisa) e comutativo
(partes conhecem as suas prestações).
O consignante entrega ao consignatário bens móveis para que este realiza a venda
pelo preço estimado (art. 534, CC) ao final do contrato, o consignatário deve pagar o preço
pedido pelo consignante ou devolver-lhe a coisa consignada.

Inadimplemento
Se o consignatário não pagar o consignante, o terceiro de boa-fé não poderá ser
atingido, cabendo execução do contrato (TJSP, AC 0071276-02.2007.8.26.0114).

Disposição da Coisa
O consignante não pode dispor da coisa antes de lhe ser ao menos comunicada a
restituição.
Na fluência do lapso contratual, não poderá pretender a restituição da coisa, nem
perturbar a posse direta do consignatário, sob pena de sujeitar-se aos interditos possessórios.
Há limitação da propriedade do consignante, que é resolúvel.

Coisa
O consignatário não se exonera da obrigação de pagar o preço ainda que a coisa
pereça por fato a ele não imputável – responde pela coisa mesmo em razão de caso fortuito
ou força maior.

145
A coisa não pode ser penhorada ou sequestrada pelos credores do consignatário. Isso
porque, a propriedade da coisa não é sua.

Obrigação Alternativa
A obrigação é alternativa (pagar ou devolver) = em caso de falência do devedor, o
consignante pode retomar as coisas restantes, sem necessitar aguardar, quanto a elas, o
concurso de credores (STJ, REsp 710.658/RJ).
A obrigação não é considerada facultativa, pois no caso de inadimplemento, pode o
consignante ajuizar ação de reintegração de posse ou cobrar o preço. Se a obrigação fosse
facultativa, sendo a entrega da coisa mera faculdade do devedor, o consignante não teria a
ação de reintegração de posse. Há autores que entendem ser obrigação facultativa
(entendimento minoritário).
Ademais, como nas obrigações alternativas, caso a coisa se deteriore ou se perca, o
devedor ainda é obrigado ao preço, mesmo em razão de força maior ou caso fortuito.

CONTRATO DE DOAÇÃO

Conceito
É o contrato pelo qual uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens
ou vantagens para o de outra pessoa (ato inter vivos), sem a presença de qualquer
remuneração.
É inválida a doação realizada por meio de procurador se o instrumento procuratório
concedido pelo proprietário do bem não mencionar o donatário, sendo insuficiente a
declaração de poderes gerais na procuração. STJ. 4ª Turma. REsp 1.575.048-SP, Rel. Min.
Marco Buzzi, julgado em 23/2/2016 (Info 577).

Natureza Jurídica
É contrato benéfico (e, por isso, só se admite interpretação restritiva), unilateral,
gratuito, consensual, comutativo, formal e solene (deve ser escrito).
Doação manual (CC, art. 541, parágrafo único) doação de bens móveis de pequeno
valor = natureza real.
Pequeno valor: em geral até 10% do patrimônio do doador no momento da liberalidade
- STJ, REsp 155.240/RJ.

146
Enunciado 622: Para a análise do que seja bem de pequeno valor, nos termos do que
consta do art. 541, parágrafo único, do Código Civil, deve-se levar em conta o patrimônio do
doador.
A doação manual é de forma livre. Pode ser verbal, desde que seguida incontinenti da
tradição.
De acordo com Maria Helena Diniz e Pablo Stolze, no que diz respeito à doação modal,
entende-se que é contrato unilateral imperfeito, pois o encargo não é contraprestação, mas
um ônus que, caso não cumprido, traz consequências ao donatário. De todo modo, trata-se
de contrato oneroso.
Há posição no sentido de que seria um contrato bilateral (Nelson Rosenvald, Rosa
Maria Andrade Nery e José Fernando Simão).
Doação = transferência de vantagens patrimoniais (objetivo) + animus donandi
(subjetivo).
Imóvel de valor superior a 30 salários mínimos: o contrato é formal e solene, pois é
necessária escritura pública.
Imóvel de valor inferior a 30 salários mínimos: o contrato é formal e não solene, pois
nos termos do art. 541, CC/02, deve haver ao menos forma escrita.
Doação de Móvel: é formal e não solene, nos termos do art. 541, CC/02 (é a diferença
para o contrato de compra e venda – nem formal e nem solene).
Doação Verbal: somente se admite a doação verbal de bem de pequeno valor, se logo
após a declaração ocorrer a entrega da coisa (doação manual – art. 541, p. único, CC/02).

Objeto
Todo e qualquer bem de conteúdo econômico pode ser objeto de doação.
É possível a doação a non domino = doação de bens que ainda não pertencem ao
doador, sujeitando-se à aquisição do bem por este (promessa de doação).

Espécies
Pura e Simples
Típica = não há qualquer restrição ou encargo ao beneficiário, liberalidade total.
Em relação à necessidade de aceitação na doação pura, a doutrina divide-se. Para
uma parcela, a aceitação da doação encontra-se no campo da eficácia do negócio
jurídico e não no campo da validade. Há, contudo, quem entenda que a aceitação é
elemento essencial do contrato.
O doador não é obrigado a juros moratórios, nem sujeito à evicção ou aos vícios

147
redibitórios (unilateral). Exceções:
o Doação remuneratória;
o Doação contemplativa de casamento;
o Doação com encargo (até o limite do serviço prestado e do ônus imposto).
Onerosa
Modal, com encargo ou gravada = doador impõe incumbência ou dever ao donatário.
Não suspende a aquisição ou o exercício do direito.
Encargo em favor de terceiro: pode o doador ou, se falecido, o terceiro exigir o seu
cumprimento.
Encargo em favor da coletividade: doador ou, se falecido, o MP pode exigir seu
cumprimento.
A revogação, só o doador pode requerer.
Aquilo que ultrapassar o valor do encargo é doação pura.
Remuneratória
É retribuição a serviços prestados, cujo pagamento não pode ser exigido (ex: dívida
do médico prescrita, retribuição a quem lhe salvou a vida em acidente...). Em regra,
não constitui ato de liberalidade, havendo remuneração pela prestação de serviços
realizada pelo donatário.
Cabe alegação de vício redibitório.
Não se revogam por ingratidão doações puramente remuneratórias.
As doações remuneratórias de serviços feitos a ascendente não estão sujeitas a
colação.
Mista -Há inserção de liberalidade em modalidade diversa de contrato (ex: compra e
venda por preço vil).
Contemplativa - é realizada em contemplação do merecimento do donatário,
mencionando o doador, expressamente, o motivo da liberalidade. Ex: alguém que doa
vários livro a um professor por admirar seu trabalho.

ACEITAÇÃO
A aceitação é indispensável para o aperfeiçoamento do contrato, podendo ser:
• Expressa – aquela que consta no próprio instrumento, simultânea ou posteriormente.
Pega a visão! A Doação ao nascituro valerá se aceita pelo representante legal (CC,
art. 542). Nesse caso, a aceitação está no plano da validade. Ademais, a eficácia do
contrato depende do nascimento com vida, havendo, em verdade, uma doação
condicional.

148
• Tácita – aquela extraída pelo comportamento do donatário (ex: venda do bem).
• Presumida – ocorre quando por exemplo o doador fixar prazo para aceitação, correndo
in albis (CC, art. 539) - silêncio do donatário importa anuência nas doações puras (sem
ônus ao aceitante).
• Ficta = em favor do incapaz. Dispensa-se a aceitação no caso de doação pura (CC,
art. 543).

SUJEITOS
São as partes do contrato, neste caso o doador e o donatário. O doador precisa ser
capaz, sob pena de nulidade (absolutamente incapaz) ou anulabilidade (relativamente
incapaz) – o incapaz NÃO pode doar nem mesmo assistido ou representado, só podendo
fazê-lo com autorização judicial e após ouvido o Ministério Público.
A doação de bem imóvel pela pessoa casada necessita da vênia conjugal, mesmo dos
bens que não entram na comunhão (visto que os frutos são comuns), salvo separação
convencional de bens (CC, art. 1.647). Para alegar anulação tem que se atentar ao prazo
decadencial de 2 anos, contado do final do matrimônio.

De olho na juris!
É anulável a doação feita à concubina (CC, art. 550), salvo separação de fato pretérita
(STJ, REsp 408.296/RJ). Aqui há bom exemplo para entender o instituto da simulação: sujeito
casado, porém separado de fato, faz doação para a mãe da concubina (pensando que se
doasse para ela diretamente acarretaria nulidade). A doação à genitora da concubina é nula,
haja vista o negócio ter sido simulado (a intenção real era doar para a concubina); todavia, o
negócio que se dissimulou (doação à própria concubina) subsiste, porque é válido na
substância (STJ autoriza) e na forma.

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-PA Prova: CESPE - 2019 - TJ-PA - Juiz
de Direito Substituto.
Daniel, casado sob o regime de comunhão parcial de bens e pai de uma filha, manteve um
relacionamento extraconjugal até falecer. No período desse relacionamento, deu de presente
de aniversário à concubina um automóvel que havia adquirido antes do casamento. No dia do
enterro de Daniel, a concubina compareceu ao velório e deu à esposa e à filha de Daniel
conhecimento da relação extraconjugal que manteve com ele e da doação realizada.
Acerca dessa situação hipotética, assinale a opção correta, conforme o Código Civil.

149
A. A doação realizada foi perfeita e eficaz, não cabendo questionamento sobre o negócio
jurídico, haja vista o regime de bens adotado pelos cônjuges e a natureza do bem doado.
B. Apenas a filha do de cujus poderá mover ação anulatória da doação, no prazo decadencial
de dois anos, contados do falecimento de Daniel.
C. A viúva ou a filha do de cujus poderão mover ação anulatória da doação, no prazo
decadencial de dois anos, contados do falecimento de Daniel.
D. A viúva ou a filha do de cujus poderão mover ação anulatória da doação, no prazo
prescricional de dois anos, contados do falecimento de Daniel
E. A viúva ou a filha do de cujus poderão mover ação anulatória da doação, no prazo
prescricional de dez anos, contados do falecimento de Daniel.
Gabarito: “C”.

PROMESSA DE DOAÇÃO
É o pré-contrato da doação. Tem existência e validade, controvertendo-se acerca de
sua eficácia (exigibilidade); uma coisa é a validade da doação e outra é saber se é passível
de execução específica. Importante rememorar a Escada Ponteana (Existência, Validade e
Eficácia). Há dois posicionamentos sobre o tema:
• 1º - Venosa, Silvio Rodrigues e Caio Mario; STJ, REsp 720.626 - inexigível. Doação
pura é liberalidade (animus donandi no momento da doação), só havendo promessa
nas doações onerosas = “admitir a promessa de doação equivale a concluir pela
possibilidade de uma doação coativa, incompatível, por definição, com um ato de
liberalidade” .
• 2ª - Carlos Roberto Gonçalves, Washington de Barros Monteiro e Tartuce - CC, art.
462 e STJ, REsp 742.048/RS e REsp 125.859 - exigível = a liberalidade se manifesta
no momento da promessa, podendo a sentença obrigar ao cumprimento ou a perdas
e danos, especialmente em casos específicos (ex: promessa de doação aos filhos no
ínterim da separação do casal). Enunciado 549: A promessa de doação no âmbito da
transação constitui obrigação positiva e perde o caráter de liberalidade previsto no art.
538 do Código Civil.

ALGUNS CASOS PECULIARES


→ Doação em Forma de Subvenção Periódica
Presente no art. 545, CC. Trata dos alimentos voluntários; favor pessoal ao donatário,
cujo pagamento termina com a morte do doador, não se transferindo a obrigação aos
herdeiros, salvo estipulação em contrário.

150
É possível que a doação de rendas seja estipulada após a morte do doador, onerando
os herdeiros até os limites da herança. Trata-se de exceção à proibição do pacta corvina (art.
426, CC/02).
Consiste em uma doação de trato sucessivo, em que o doador estipula rendas a favor
do donatário. Em qualquer caso, não poderá ultrapassar a vida do donatário (art. 166, VII, do
CC).

→ Doação Remuneratória
Em contraprestação a serviços cuja remuneração é juridicamente inexigível (obrigação
natural). Se a remuneração é exigível trata-se de pagamento. Não se aplica revogação por
ingratidão e o doador responde pelos vícios redibitórios e pela evicção.

→ Doação Meritória ou Contemplativa


Pressupõe que o donatário seja merecedor da dádiva, porém, ainda que comprovada
a ausência de mérito, não resta prejudicada a doação, salvo se caracterizar erro (CC, art.
140).

→ Doação em Contemplação de Casamento Futuro


Propter nuptia. Aquele tipo de doação realizada em virtude do casamento do donatário
com certa e determinada pessoa. Assim, existe uma condição suspensiva.
Dispensa aceitação, pois se presume com a realização do casamento (cláusula
suspensiva). Pode ser a ambos os nubentes, a um só ou mesmo à prole futura.
Não se fala em revogação por ingratidão e o doador responde pelos vícios redibitórios
e pela evicção.

→ Doação entre Cônjuges e Ascendentes e Descendentes


Importa no que lhes cabe por herança (nos casos em que o cônjuge participa na
sucessão do outro como herdeiro); os herdeiros devem colacionar os bens recebidos, salvo
se o doador lhes dispensou, recaindo a doação sobre a parte disponível do patrimônio.
No que diz respeito aos cônjuges, há julgado do STJ no sentido de que não cabe
doação no regime de comunhão universal por impossibilidade do objeto. Contudo, parcela da
doutrina pondera que seria possível mesmo nesse regime, desde que a doação seja relativa
a bens excluídos da comunhão (de uso pessoal, por exemplo – instrumentos de trabalho).
Sobre os cônjuges casados no regime da separação obrigatória, há divergência, mas
parcela da doutrina entende que, se a doação não representar burla do regime de bens do

151
casamento, será válida. Nesse sentido, há alguns julgados mais espaçados pelos tribunais a
exemplo do TJSP (AP 546.548.4-7). Porém, é tema polêmico.
A doutrina clássica – Caio Mário e Washington de Barros Monteiro se posicionava no
sentido de que não teria a possibilidade de doação entre os cônjuges na separação
obrigatória, pois seria configurada na realidade uma espécie de fraude ao regime de bens.
Contudo, hodiernamente a inclinação é outra, visto que:
• Fraude não se presume;
• É possível ação de alteração de regime; e
• Tem-se aplicado a Súmula STF 377 para comunicação, nesse regime, dos bens
havidos durante o casamento (Ver STJ, AgRg 194.325/MG).

→ Doação Conjuntiva
Consiste na doação realizada em comum para mais de uma pessoa. A doação se
entende distribuída em igualdade, salvo se diversamente dispuser o doador.
Em regra, não há direito de acrescer, mas doador pode dispor de forma diversa. Sendo
marido e mulher, a regra é acrescer (direito de acrescer legal) –o cônjuge supérstite ficará
com a totalidade da doação, não passando a parte do falecido aos seus herdeiros.
Na hipótese da doação feita a somente um dos cônjuges, não se comunicará, ainda
que na comunhão universal.
A doação dispensa anuência dos demais descendentes e cônjuge.

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-SC Prova: CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz
Substituto
A doação de determinado bem a mais de uma pessoa é denominada
A. contemplativa.
B. mista.
C. conjuntiva.
D. divisível.
E. híbrida.
Gabarito: “C”.

→ Doação Inoficiosa

152
Presente no art. 549, CC, trata-se daquela doação que ultrapassa o limite que o
doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. É a doação que prejudica
a legítima.
É nula apenas no que ultrapassou o limite (consoante o Princípio da conservação dos
contratos).
A ação anulatória (ação de redução) pode ser manejada pelos herdeiros ainda durante
a vida do doador (STJ, REsp 7.879/SP). A ação é constitutiva negativa. Há divergência em
relação ao prazo prescricional; para alguns, a ação é imprescritível; para outra parcela da
doutrina, contudo, a ação sujeita-se a prazo prescricional de 10 anos (prazo geral previsto no
Código Civil).
Têm legitimidade para ajuizar a ação os herdeiros necessários do doador.

→ Doação com Cláusula de Reversão


O doador estipula o retorno ao seu patrimônio dos bens doados se sobrevier ao
donatário (CC, art. 547). Consiste em cláusula resolutiva expressa que afasta os herdeiros do
donatário.
É proibida a reversão em favor de terceiro (seria um fideicomisso inter vivos).
Fideicomisso: (i) inter vivos - vedado (CC, art. 547, parágrafo único); (ii) causa mortis - possível
à prole eventual (CC, art. 1952).

→ Doação para Entidade Futura


O contrato de doação a uma pessoa jurídica que ainda não existe, tem sua eficácia
condicionada à regular constituição da entidade. Caducará se em dois anos não estiver
constituída regularmente a entidade.

LIMITAÇÕES
→ Doador Insolvente
Ou reduzido à insolvência pela doação. Haverá fraude contra credores (anulação via
ação pauliana).
→ Doação Universal
Trata-se de doação de todos os bens, ela é considerada nula, se não houver reserva
de parte ou rendas para subsistência do doador, em consonância com o art. 548, CC (Teoria
do patrimônio mínimo).
Não haverá a restrição caso haja reserva de usufruto para o doador. A promessa de
assistência pelo donatário NÃO basta a afastar a nulidade. A nulidade recai sobre toda a

153
doação. Cabe intervenção do Ministério Público e, inclusive, o juiz pode declarar de ofício tal
nulidade.

→ Doação ao Cúmplice
É anulável pelo cônjuge ou, falecendo esse, pelos herdeiros necessários, até 2 anos
depois de dissolvida a sociedade conjugal (a doutrina defende que melhor seria a adoção da
teoria da actio nata – conhecimento).
Só se anula em caso de adultério.
Curador não pode mover a ação, mas o prazo não corre em desfavor do curatelado.
Sujeito passivo é o donatário (cúmplice do adúltero) ou seus herdeiros.

→ Herança de Pessoa Viva


É proibida a doação de herança de pessoa viva, a chamada “pacta corvina” (art. 426,
CC). Só há duas modalidades de sucessão: a legítima e a testamentária, sendo vedada a
sucessão contratual (embora seja possível o planejamento sucessório – art. 2.018).

REVOGAÇÃO
Pode ser por:
• Anulação;
• Ingratidão do donatário; e
• Inexecução do encargo
Cláusula derrogatória ou derrogativa (retira o direito do doador de revogar doção), ou
seja, nula de pleno direito.

Anulação
Fala-se em anulação da doação nos seguintes casos:
• Vício de consentimento (erro, coação).
• Vício de validade (parte incapaz; objeto ilícito, impossível ou indeterminável;
inobservância forma legal).
• Inoficiosidade (prejudica a legítima)
• Universal (de todos os bens)
• Ao cúmplice de adultério

Descumprimento do Encargo
• Prazo fixado significa mora automática (ex re).
154
• Quando não houver prazo fixado o descumprimento ocorre pela interpelação, com
prazo razoável para a execução (ex personae).
A força maior afasta a culpa e a mora.
A revogação será de toda a doação, não só da parte onerosa – é ação personalíssima,
isto é, só o doador pode revogar a doação (outros legitimados podem somente pedir o
cumprimento).
Havendo mais de um donatário e sendo indivisível o encargo, o inadimplemento é
considerado total.
O prazo prescricional é de 10 anos (STJ, REsp 231.945/SP).

Ingratidão

Dá-se quando:

• Atentou contra a vida do doador – homicídio doloso tentado ou consumado.


• Cometeu contra ele ofensa física (lesão corporal).
• Injuriou-o gravemente ou o caluniou ou a seu cônjuge, ascendente, descendente
ou irmão (não inclui a difamação).
Excetua-se essas situações quando da ausência de culpabilidade ou ilicitude
(legítima defesa, estado de necessidade). Não se exige condenação criminal, mas
se houver, faz coisa julgada no cível.
• Podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava
(abandono material). Ocorre quando o doador não podia prover a própria mantença
e não tinha parentes que pudessem fazê-lo, a indicação dos parentes pode ser
feita pelo donatário para elidir a revogação.

De acordo com a doutrina clássica entende-se que o rol seria taxativo, todavia,
excepcionalmente o juiz pode admitir outras hipóteses de mesma natureza, pela tipicidade
finalística (ex: art. 122 do CP) (Enunciado 33 JDC).

O direito de revogar a doação por ingratidão é de ordem pública, irrenunciável


antecipadamente. Revogação por ingratidão não prejudica direitos adquiridos por terceiro,
nem obriga o donatário a restituir frutos percebidos antes da citação válida, pois, nessa
situação, sua condição de possuidor de boa fé é presumida.

155
Entretanto, obriga a pagar frutos posteriores e, quando não possa restituir em espécie
as coisas doadas, a indenizá-la pelo meio termo de seu valor. O prazo para revogação é
decadencial de 1 ano de quando o doador tomar ciência do fato e da autoria (actio nata).

Há divergência se o prazo se aplica à revogação da doação por descumprimento de


encargo. Parte da doutrina defende que, sendo um contrato bilateral, há direito subjetivo do
doador de exigi-lo. Assim, seria aplicável o prazo geral de 10 anos.

A ação é personalíssima, sendo que o direito de buscar a revogação não se transmite


aos herdeiros, nem prejudica os do donatário.

Pega a visão!

Não confundir o legitimado para revogação (o doador) com o legitimado para exigir a
execução do encargo da doação (que pode ser o doador, terceiro ou o Ministério Público,
caso o encargo seja de interesse geral).

Os herdeiros do doador podem prosseguir na ação já movida, ainda que faleça o


donatário (depois de ajuizada a lide pelo doador).

Exceção é o caso de homicídio doloso consumado, quando os herdeiros poderão


iniciar a ação.

Pode haver o perdão antes da morte do doador, o que inviabiliza a ação se o doador
não morreu imediatamente significa que ele teve a oportunidade de mover a ação e não o fez.

Há resolução superveniente do domínio – o donatário é possuidor de boa-fé até a


citação válida.

Se não puder devolver a coisa doada (ex: transferida a terceiro – os direitos adquiridos
por terceiros não são prejudicados pela revogação) – indenizará pelo valor médio = aquele
entre o maior valor que a coisa atingiu e o menor a que ela desceu no período.

NÃO cabe revogação por ingratidão nas doações:

• Remuneratórias
• Com encargo já cumprido
• Relacionadas com o cumprimento de obrigação natural ou incompleta, como, por
exemplo, gorjetas. propter nuptias

156
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: MPE-PR Órgão: MPE-PR Prova: MPE-PR - 2019 - MPE-PR - Promotor
Substituto
Assinale a alternativa incorreta:
A. A doação de um cônjuge a outro importa adiantamento do que lhe cabe por herança.
B. O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao
donatário.
C. É anulável a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a
subsistência do doador.
D. É nula é a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da
liberalidade, poderia dispor em testamento.
E. A doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuída entre elas por igual,
salvo declaração em contrário.
Gabarito: “C”.

CONTRATO DE LOCAÇÃO DE COISAS

Conceito
Segundo o artigo 565 do CC, na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder
à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa
retribuição.

Classificação
Oneroso: Gera vantagens econômicas para o contratante e o contratado e se caracteriza pelo
pagamento de aluguéis;
Comutativo: As partes previamente conhecem, previamente, de seus efeitos e resultados, que
são certos e determinados;
Consensual: Se torna perfeito e acabado com a simples manifestação de vontade,
independentemente da entrega do bem;
Instantâneo ou Trato Sucessivo: Poderá ser tanto por tempo determinado, quanto por tempo
indeterminado,

Elementos Caracterizadores

157
Objeto: faz-se mister alcançar bens infungíveis, diante da obrigação contratual de
restituir a coisa após o término do contrato, o que não poderia ocorrer se a coisa fosse fungível
(substituível, ou consumível pelo uso). Excepcionalmente admite-se a locação de bens
fungíveis destinados à ornamentação (enfeites de festas ou cerimônias). Aqui haverá posterior
obrigação de devolução do bem.
Preço: importante esse tópico pois se não fosse preciso pagar o aluguel, o contrato
seria de empréstimo. O preço deve ser sério, indicado pelas partes de maneira leal e
transparente, inclusive no que tange aos reajustes, nos limites da função social dos contratos
(art. 421, CC) e da boa-fé (art. 422, CC).
Consentimento: a autonomia privada e a vontade livre devem estar presentes. As
partes precisam ser capazes e legitimadas à prática do ato. Um importante detalhe: o locador
não precisa ser proprietário para poder alugar a coisa. Basta que ele possua poderes de
administração que permitam alugar a coisa para, assim, estar autorizado a firmar o ajuste.
Prazo: o contrato de locação pode ser estipulado ou por tempo determinado, ou por
tempo indeterminado. Nas locações de imóveis urbanos, na hipótese do prazo ser maior que
dez anos, será preciso a vênia conjugal, nos moldes do art. 3º da Lei 8.245/91. Em não
havendo a vênia conjugal o cônjuge não estará obrigado a observar o prazo excedente.

Obrigações do Locador
São muitas. A título ilustrativo cite-se o artigo 568 do CC, pelo qual o locador
resguardará o locatário dos embaraços e turbações de terceiros, que tenham ou pretendam
ter direitos sobre a coisa alugada, e responderá pelos seus vícios, ou defeitos, anteriores à
locação. Bem como é obrigação do locador dar a posse em estado de uso regular, além de
assegurar, durante o tempo do contrato, o uso manso e pacífico da coisa, respondendo pelos
vícios de defeitos anteriores, respeitando o aludido prazo de vigência do ajuste de modo a
não postular a posse no aludido período. Se, durante a locação, a coisa alugada deteriorar
sem culpa do locatário a este caberá pedir redução proporcional do aluguel, ou resolver o
contrato, caso já não sirva a coisa para o fim a que se destinava.

Obrigações do Locatário
O locatário não pode modificar a finalidade da coisa, como disciplina o art. 570 do CC.
Se o locatário empregar a coisa em uso diferente do pactuado, ou do a que se destina, ou se
ela se danificar por comportamento abusivo do locatário, poderá o locador, ademais de
rescindir o contrato, requerer perdas e danos. Assim, deve o locatário se servir da coisa
alugada para os usos convencionados ou presumidos, conforme a natureza dela e as

158
circunstâncias, e também tratá-la com o mesmo cuidado como se sua fosse, dar
conhecimento ao locador de esbulho ou turbação praticado por terceiro, cumprindo-lhe ainda
restituir a coisa, finda a locação, no estado em que recebeu, ressalvadas as deteriorações
naturais ao uso regular, e, principalmente, pagar o aluguel de forma pontualmente ajustada
ou, na falta de ajuste, segundo o costume do lugar.

Alienação da Coisa Alugada na Locação


O art. 576, CC disciplina que se a coisa for alienada durante a locação, o adquirente
não ficará obrigado a respeitar o contrato se nele não for consignada cláusula da sua vigência
no caso de alienação e não constar registro no Cartório de Títulos e Documentos do domicílio
do locador, quando a coisa for móvel, ou no Registro de Imóveis da respectiva circunscrição
se imóvel for. Em se tratando de imóvel, e ainda no caso em que o locador não esteja obrigado
a respeitar o contrato, não poderá ele despedir o locatário, senão observado o prazo de
noventa dias após a notificação. Trata-se de regra que se aplica aos casos em que a locação
não se encontra submetida à lei do inquilinato (vide, por exemplo, o art. 1º da Lei 8.245/91).
Falando na Lei 8.245/91, a chamada “Lei do Inquilinato” observe que existe disciplina
específica envolvendo a alienação do bem locado, com especial destaque, por exemplo, ao
direito de preferência do locatário. Portanto, o locatário precisa ser notificado sobre a intenção
de venda e condições de pagamento. Acaso seja desrespeitada a referida prelação, o
locatário será titular de direito à adjudicação compulsória, depositando o preço e reavendo a
coisa para si, desde que: o contrato de locação esteja averbado há pelo menos 30 (trinta)
dias antes da alienação; o direito à adjudicação compulsória seja exercido no prazo máximo
de 6 (seis) meses após a referida venda (art. 33 da Lei 8.245/91):

Direito de Indenização e Retenção nas Locações de Imóveis Urbanos


De acordo com o art. 35 da Lei do Inquilinato, salvo disposição contrária, somente
serão indenizáveis as benfeitorias necessárias, independentemente de autorização, e as úteis
autorizadas. No que tange às voluptuárias, subsiste o direito a levantá-las, desde que não
afete a estrutura e a substância do imóvel. Em relação as benfeitorias necessárias e úteis
autorizadas, terá ainda o locatário direito de retenção, isto é, enquanto não houver a aludida
indenização, poderá não devolver a coisa, até a compensação dos valores.

De olho na juris!
Sobre o tema vale salientar que o STJ possui entendimento consolidado na Súmula
335, vejamos:

159
Súmula 335, STJ. “Nos contratos de locação, é válida a cláusula
de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de
retenção”.

Transmissão da Posição Contratual na Locação de Imóveis Urbanos


Segundo o art. 10 da Lei do inquilinato se o locador falecer, a locação transmite-se aos
herdeiros, circunstância que demonstra que o aludido contrato não possui natureza jurídica
personalíssima, sendo transmissível.

De olho na lei!
Em contrapartida, veja o que diz o art. 11 da citada lei
Art. 11. Morrendo o locatário, ficarão sub - rogados nos seus
direitos e obrigações:
I - nas locações com finalidade residencial, o cônjuge
sobrevivente ou o companheiro e, sucessivamente, os herdeiros
necessários e as pessoas que viviam na dependência
econômica do de cujus , desde que residentes no imóvel;
II - nas locações com finalidade não residencial, o espólio e, se
for o caso, seu sucessor no negócio.

Em havendo separação de fato, separação judicial, divórcio ou dissolução da


sociedade concubinária, a locação prosseguirá automaticamente com o cônjuge ou
companheiro que permanecer no imóvel, devendo ser comunicado por escrito ao locador e
ao fiador, se esta for a modalidade de garantia locatícia, até mesmo para este, querendo, se
exonere das suas responsabilidades no prazo de 30 dias contados do recebimento da
comunicação ficando responsável pelos efeitos da fiança durante 120 dias após a notificação
do locador.

Sublocação, Empréstimo ou Cessão (art. 13 da lei)


Por fim, é importante salientar que a sublocação, o empréstimo ou a cessão no aludido
contrato de locação, no todo ou em parte, dependerá do consentimento prévio e escrito do
locador, o qual não se presume. Verdade seja dita, não se presume nem mesmo o
consentimento tácito pela mera demora do locador em manifestar formalmente sua oposição.
Veja-se que o notificado por escrito pelo locatário da ocorrência de uma das hipóteses
previstas terá o locador prazo de 30 dias para manifestar formalmente sua posição.

CONTRATO DE EMPRÉSTIMO
Conceito e Classificação
160
Trata-se o contrato de empréstimo da entrega de uma coisa a outrem, de forma
gratuita, com autorização de uso. Este gênero (empréstimo) pode ser dividido em duas
espécies:
• Comodato: relativo aos bens infungíveis
• Mútuo: relacionado aos bens fungíveis.
Disciplinado entre os artigos 579 e 586 do CC, o empréstimo se caracteriza por ser um
contrato informal, não escrito, gratuito, temporário, unilateral, comutativo e real, pois, neste
particular, apenas com a tradição da coisa se aperfeiçoa. De acordo com o artigo 579 do CC,
não havendo a entrega do bem, se fala em comodato, mas somente em promessa deste.

Comodato (Empréstimo de Uso)

O comodato pode recair sobre bens imóveis ou móveis, desde que insubstituíveis. É
empréstimo de uso. Por ser gratuito, a fidúcia é da essência do ajuste. Consiste em contrato
intuitu personae. O dono da coisa, que a empresta, é chamado comodante; quem recebe em
empréstimo comodatário.

Raramente, de forma excepcional, aceita-se o comodato de bens fungíveis destinados


à ornamentação (enfeites de festas ou cerimônias), denominando-se comodato ad pompam
vel ostentationem. Nesta situação deverá ocorrer posterior devolução do bem. A obrigação do
comodatário consiste, basicamente, em usar, guardar, conservar e devolver a coisa no tempo
aprazado, sob pena de reintegração possessória e perdas e danos, passando a assumir, a
partir da mora, os riscos pelo fortuito, bem como respondendo pelo pagamento de valores a
título de aluguel. Este aluguel não tem natureza remuneratória, mas punitiva, razão pela qual
não se poderia admitir, em situações como esta, a conversão do comodato em locação.

De acordo com o artigo 580 do CC, não poderão firmar comodato os tutores, curadores
e demais administradores de patrimônio alheio nas hipóteses e especificidades ali indicadas
e por razões intuitivas, afinal de contas estes sujeitos se encontram em posição de nítida
vantagem em favor de seus administrados. Além do que, seria configurada a benesse com
patrimônio alheio, o que não deve ser tolerado, em regra. Interessante notar, em consonância
com o art. 583 do CC que as excludentes da responsabilidade por caso fortuito e força maior
não se aplicam à hipótese do comodato, devendo o comodatário empregar diligência
prioritária ao salvamento da coisa emprestada, em prejuízo do próprio patrimônio.

Mútuo (Empréstimo de Consumo)

161
Consiste em um negócio real, unilateral, gratuito, comutativo e não solene disciplinado
no art. 586 do CC, cujo objeto consiste no empréstimo para uso (consumo da coisa). Daí
porque se fala em empréstimo de bem fungível e consumível. Quem recebe a coisa
emprestada (mutuário) não se obriga a devolver a mesma. A obrigação é outra, tal seja:
entrega de bem pertencente ao mesmo gênero, quantidade e qualidade. Desta forma, se a
coisa emprestada é fungível e consumível o mutuário pode lhe destruir na substância. Isto
ocorre porque o mutuário se torna proprietário do bem recebido, mediante tradição e, a partir
disto, assume os riscos pelo fortuito (art. 587, CC).

Essa questão da gratuidade tem como exceção significativa o mútuo feneratício (de
dinheiro), prevendo o pagamento de juros, que nada mais é do que a remuneração do capital.
O Enunciado 34 do CJF/STJ é transparente nesse assunto: “No novo Código Civil, quaisquer
contratos de mútuo destinados a fins econômicos presumem-se onerosos (art. 591) ficando a
taxa de juros compensatórios limitada ao disposto no art. 406, com capitalização anual”.

Mútuo feito à menor

E consonância com a legislação, na hipótese de ocorrer empréstimo para consumo


(mútuo) em face de um menor de idade, aquele que emprestou (mutuante), sem autorização
do representante legal do menor (mutuário), estará proibido de reaver a coisa deste e dos
fiadores (art. 588, CC). Resta clarividente preocupação da norma com os incapazes (no caso,
menores de dezoito anos).

Sob o aspecto da tutela da confiança e a boa-fé objetiva, contudo, justifica casos de


exceção nas quais o mutuante (quem emprestou) terá direito à cobrança. À título de exemplo,
pode isto acontecer nos casos de ratificação pelo representante legal do menor (princípio da
conservação do negócio jurídico), se o mútuo aconteceu tão somente a fim de preservar os
alimentos habituais deste incapaz, se o incapaz possuir bens próprios, ou, finalmente, se o
mútuo foi convertido ao incapaz (art. 589, CC).

De olho na juris!

Por fim, faz-se mister relembrar o conteúdo da súmula 603 do STJ segundo a qual “É
vedado ao banco mutuante reter, em qualquer extensão, os salários, vencimentos e/ou
proventos de correntista para adimplir o mútuo (comum) contraído ainda que haja cláusula
contratual autorizativa, excluído o empréstimo garantido por margem salarial consignado, com

162
desconto em folha de pagamento, que possui regramento legal específico e admite a retenção
de percentual”.

CONTRATO DE DEPÓSITO
Conceito

De acordo com o art. 627 do CC, pelo contrato de depósito recebe o depositário um
objeto móvel, para guardar, até que o depositante o reclame. Neste ajuste, a obrigação
existente será a de guarda de bem móvel e corpóreo, com necessidade de posterior
restituição, seja por imposição da lei (legal) ou decorrente da vontade das partes
(convencional).

Em sendo legal, o depósito poderá ser necessário ou miserável, quando verificada


calamidade pública. É da natureza do contrato que a coisa não seja usada pelo depositário,
sob pena de configurar-se mútuo ou comodato (se a coisa for fungível ou infungível,
inexistindo contraprestação), ou ainda locação (acaso haja pagamento de aluguel pelo uso).
Em regra, no contrato de depósito fica vedado a utilização do bem, evidentemente a proibição
não abarca o uso mínimo necessário para realização do próprio depósito, como a condução
do veículo até o estacionamento para guarda.

Classificação

O contrato de depósito é classificado como contrato de natureza real, visto que apenas
se aperfeiçoa com a entrega da coisa móvel e corpórea, isto é, através da tradição.

Além disso, presume-se como um contrato gratuito, salvo ajuste em contrário ou


quando o depósito resulte da atividade profissional do depositário. Nesse caso, a
remuneração deve ser pactuada no próprio contrato. No seu silêncio, o magistrado irá arbitrar
de acordo com os usos e costumes. Também é característica importante do contrato de
depósito o fato deste ser personalíssimo, pois se justifica em face de uma típica relação de
confiança.

Espécies
→ Depósitovoluntário
A primeira hipótese de depósito é denominada de voluntário por emanar da livre
vontade das partes, dividindo-se em:

163
• Regular: quando se relaciona à bens infungíveis, hipótese na qual se tem,
concretamente, a garantia jurídica da possibilidade de restituição específica do aludido
bem.
• Irregular: no caso de bens fungíveis, isto é, substituíveis e que se consumem pelo uso,
a exemplo do depósito de dinheiro (depósito bancário).

De olho na lei!

Art. 647. É depósito necessário:


I - o que se faz em desempenho de obrigação legal;
II - o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, como o
incêndio, a inundação, o naufrágio ou o saque.
Art. 648. O depósito a que se refere o inciso I do artigo
antecedente, reger-se-á pela disposição da respectiva lei, e, no
silêncio ou deficiência dela, pelas concernentes ao depósito
voluntário.
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se aos
depósitos previstos no inciso II do artigo antecedente, podendo
estes certificarem-se por qualquer meio de prova.
Art. 649. Aos depósitos previstos no artigo antecedente é
equiparado o das bagagens dos viajantes ou hóspedes nas
hospedarias onde estiverem.
Parágrafo único. Os hospedeiros responderão como
depositários, assim como pelos furtos e roubos que perpetrarem
as pessoas empregadas ou admitidas nos seus
estabelecimentos.
Art. 650. Cessa, nos casos do artigo antecedente, a
responsabilidade dos hospedeiros, se provarem que os fatos
prejudiciais aos viajantes ou hóspedes não podiam ter sido
evitados.
Art. 651. O depósito necessário não se presume gratuito. Na
hipótese do art. 649, a remuneração pelo depósito está incluída
no preço da hospedagem.
Art. 652. Seja o depósito voluntário ou necessário, o depositário
que não o restituir quando exigido será compelido a fazê-lo
mediante prisão não excedente a um ano, e ressarcir os
prejuízos.

Destrinchando....

Segundo o art. 646 do CC, o depósito voluntário provar-se-á por escrito, surgindo nisto
a necessidade de se saber se o aludido contrato poderia ser classificado como formal ou não.
Pode-se afirmar que a exigência de o aludido pacto se provar por escrito não significa que o
mesmo seria solene, afinal de contas a solenidade é aspecto jurídico analisado no plano da

164
validade (pressuposto previsto no artigo 104 do Código Civil), enquanto que a prova gira em
torno da eficácia (efeitos).

A segunda é a do denominado depósito necessário, estando prevista no artigo 647 do


Código Civil, que se socorrerá, no silêncio ou deficiência da disciplina específica. De qualquer
modo, reza o aludido artigo 647: “É depósito necessário: I – o que se faz em desempenho de
obrigação legal; II – o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, como o incêndio, a
inundação, o naufrágio ou o saque”.

Diante dos artigos acima transcritos e em consonância com a doutrina pacificada, tem-
se o depósito legal previsto no citado inciso I, do artigo 647, como aquele realizado no
desempenho de uma obrigação decorrente de lei, como, por exemplo, no caso previsto no
artigo 641 do Código (depósito legal em caso de incapacidade superveniente do depositário
e para os casos nos quais o depositante se nega a receber a coisa).

O depósito miserável (inciso II) decorre de fatos naturais extraordinários, como a força
maior, podendo-se ilustrar com as hipóteses de enchentes, oportunidade na qual aquele que
sofre com o evento retira os bens móveis que possui da casa abalada e os coloca em outra
residência, onde não haja risco de perecimento destes.

A terceira hipótese é intitulada de depósito necessário ou do hospedeiro, decorrente


da guarda de bens móveis pelos hotéis e estabelecimentos congêneres (art. 649, CC), quando
há responsabilidade do hoteleiro para com as bagagens dos hóspedes no caso de perda ou
deterioração destas, salvo se provar caso fortuito e força maior.

Impossibilidade de Prisão do Depositário


Importante lembrar aqui que não é mais possível a prisão civil por dívidas não quitadas
pelo depositário em qualquer modalidade deste (o famoso depositário infiel), visto que o artigo
5º, LXVII da Constituição Federal e o artigo 652 do Código Civil ganharam nova interpretação
pelo Supremo Tribunal Federal (Súmula Vinculante 25 e Recurso Extraordinário nº 466.343-
1/SP) afinada com o Pacto de São José da Costa Rica e a Emenda Constitucional 45/04. No
mesmo sentido, o STJ (súmula 419).

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS


Conceito

165
Consiste em contrato através do qual uma pessoa se obriga a realizar certas atividades
a uma outra, por meio de remuneração. É negócio jurídico típico e nominado, consensual, não
solene, informal, sinalagmático (leia-se: os contratantes são ao mesmo tempo credores e
devedores), comutativo (a equivalência entre a prestação e a contraprestação já é conhecida
de antemão), personalíssimo (a morte do contratante extingue o pacto), de trato sucessivo,
através do qual o prestador avoca obrigação de fazer e o tomador deste serviço obrigação de
pagar em retribuição.

Segundo leciona o art. 593 do CC “A prestação de serviço, que não estiver sujeita às
leis trabalhistas ou a lei especial, reger-se-á pelas disposições deste Capítulo”.

Objeto

O objeto dessa espécie contratual é toda e qualquer espécie de atividade (obrigação


de fazer) caracterizada como serviço ou trabalho lícito, físico, ou intelectual, material ou
imaterial, corpóreo ou incorpóreo, passível de retribuição. É o que disciplina o art. 594 do CC
“Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratada
mediante retribuição”.

Ainda sobre o objeto deste contrato é muito importante recordar a regra prevista no
art. 601 do CC, segundo a qual “Não sendo o prestador de serviço contratado para certo e
determinado trabalho, entender-se-á que se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com
as suas forças e condições”.

Forma e a Assinatura

A doutrina se posiciona no sentido de que o contrato de prestação de serviço se


submete à forma livre. Trata-se, portanto, de um contrato não solene que poderá até mesmo
ser celebrado na modalidade verbal.

Porém, o legislador civilista expressou sensibilidade apurada com este tema relativo à
forma do contrato de prestação de serviços, com aqueles que não souberem ler.

Nos exatos termos do art. 595 do CC. “No contrato de prestação de serviço, quando qualquer
das partes não souber ler, nem escrever, o instrumento poderá ser assinado a rogo e subscrito
por duas testemunhas”.

166
Retribuição
Normalmente, o contrato de prestação de serviços é oneroso. Isto quer dizer que em
linha de princípio aquele que realiza a atividade, presta o serviço, deve receber uma
retribuição, uma remuneração.

De olho na lei!
Art. 596. Não se tendo estipulado, nem chegado a acordo as
partes, fixar-se-á por arbitramento a retribuição, segundo o
costume do lugar, o tempo de serviço e sua qualidade.

Art. 597. A retribuição pagar-se-á depois de prestado o serviço,


se, por convenção, ou costume, não houver de ser adiantada, ou
paga em prestações.

Art. 606. Se o serviço for prestado por quem não possua título
de habilitação, ou não satisfaça requisitos outros estabelecidos
em lei, não poderá quem os prestou cobrar a retribuição
normalmente correspondente ao trabalho executado. Mas se
deste resultar benefício para a outra parte, o juiz atribuirá a quem
o prestou uma compensação razoável, desde que tenha agido
com boa-fé.
Parágrafo único. Não se aplica a segunda parte deste artigo,
quando a proibição da prestação de serviço resultar de lei de
ordem pública.

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-PA Prova: CESPE - 2019 - TJ-PA - Juiz
de Direito Substituto.
Diogo contratou Pedroza para a prestação de serviços de advocacia. No decurso da execução
do contrato, com diversas atividades já realizadas por Pedroza, Diogo tomou conhecimento
de que ele não era advogado e não possuía, portanto, licença para exercer a referida
profissão.
Diante dessa situação hipotética, assinale a opção correta, nos termos do Código Civil.
A. Pedroza terá direito a receber a contraprestação financeira pela prestação de serviço já
realizada, de forma equiparada a um advogado, desde que seja comprovado que as
atividades foram cumpridas de maneira escorreita e que ele desconhecia a necessidade de
especial habilitação para exercer serviços de advocacia.
B. Pedroza terá direito a receber a contraprestação financeira pela prestação de serviço já
realizada, de forma equiparada a um advogado, desde que seja comprovado que as
atividades foram cumpridas de maneira escorreita, sendo irrelevante, no que se refere ao

167
direito à contraprestação, o fato de ele desconhecer a necessidade de especial habilitação
para exercer serviços de advocacia.
C. Pedroza terá direito a receber uma compensação financeira pela prestação de serviço já
realizada, mas não de forma equiparada a um advogado, se comprovar que as atividades
foram cumpridas de maneira escorreita e que desconhecia a necessidade de especial
habilitação para exercer serviços de advocacia.
D. Pedroza terá direito a receber uma compensação financeira pela prestação de serviço já
realizada, mas não de forma equiparada a um advogado, se comprovar que as atividades
foram cumpridas de maneira escorreita, sendo irrelevante, para fins de direito à compensação,
o fato de ele desconhecer a necessidade de especial habilitação para exercer serviços de
advocacia.
E. Pedroza não terá direito a receber contraprestação ou compensação financeira pela
prestação do serviço de advocacia, independentemente de as atividades terem sido
cumpridas de maneira escorreita e de ele ter conhecimento da necessidade de especial
habilitação para o exercício de serviços de advocacia.
Gabarito: “E”.

Duração do Contrato

O tempo máximo de vigência do contrato de prestação de serviços será de quatro


anos. A norma veda convenção assinada pelas partes que visualize um período superior a
este. O transcurso deste período será suficiente para o legislador considerar findo o contrato.

Nestes termos, o art. 598 do CC: “A prestação de serviço não se poderá convencionar
por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por causa o pagamento de dívida de quem
o presta, ou se destine à execução de certa e determinada obra. Neste caso, decorridos quatro
anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não concluída a obra”.

Malgrado o texto normativo ser consistente, na doutrina existe posicionamento em


sentido totalmente diverso. Por exemplo, vejamos o Enunciado 32 da I Jornada de Direito
Comercial do CJF:

“Nos contratos de prestação de serviços nos quais as partes


contratantes são empresários e a função econômica do contrato
está relacionada com a exploração de atividade empresarial, as
partes podem pactuar prazo superior a quatro anos, dadas as
especificidades da natureza do serviço a ser prestado, sem
constituir violação do disposto no art. 598 do Código Civil”.
168
Extinção
As causas gerais de extinção dos contratos, já explanadas na teoria geral, também se
aplicam à prestação de serviço, ademais, faz-se mister frisar, que a norma civil também traz
regras expressas e específicas, que veremos agora.

Art. 599. Não havendo prazo estipulado, nem se podendo inferir


da natureza do contrato, ou do costume do lugar, qualquer das
partes, a seu arbítrio, mediante prévio aviso, pode resolver o
contrato.
Parágrafo único. Dar-se-á o aviso:
I - com antecedência de oito dias, se o salário se houver fixado
por tempo de um mês, ou mais;
II - com antecipação de quatro dias, se o salário se tiver ajustado
por semana, ou quinzena;
III - de véspera, quando se tenha contratado por menos de sete
dias.

Art. 600. Não se conta no prazo do contrato o tempo em que o


prestador de serviço, por culpa sua, deixou de servir.

Art. 601. Não sendo o prestador de serviço contratado para certo


e determinado trabalho, entender-se-á que se obrigou a todo e
qualquer serviço compatível com as suas forças e condições.

Art. 602. O prestador de serviço contratado por tempo certo, ou


por obra determinada, não se pode ausentar, ou despedir, sem
justa causa, antes de preenchido o tempo, ou concluída a obra.
Parágrafo único. Se se despedir sem justa causa, terá direito à
retribuição vencida, mas responderá por perdas e danos. O
mesmo dar-se-á, se despedido por justa causa.

Art. 603. Se o prestador de serviço for despedido sem justa


causa, a outra parte será obrigada a pagar-lhe por inteiro a
retribuição vencida, e por metade a que lhe tocaria de então ao
termo legal do contrato.

Art. 604. Findo o contrato, o prestador de serviço tem direito a


exigir da outra parte a declaração de que o contrato está findo.
Igual direito lhe cabe, se for despedido sem justa causa, ou se
tiver havido motivo justo para deixar o serviço.

Art. 605. Nem aquele a quem os serviços são prestados, poderá


transferir a outrem o direito aos serviços ajustados, nem o
prestador de serviços, sem aprazimento da outra parte, dar
substituto que os preste.

Art. 606. Se o serviço for prestado por quem não possua título
de habilitação, ou não satisfaça requisitos outros estabelecidos

169
em lei, não poderá quem os prestou cobrar a retribuição
normalmente correspondente ao trabalho executado. Mas se
deste resultar benefício para a outra parte, o juiz atribuirá a quem
o prestou uma compensação razoável, desde que tenha agido
com boa-fé.
Parágrafo único. Não se aplica a segunda parte deste artigo,
quando a proibição da prestação de serviço resultar de lei de
ordem pública.

Art. 607. O contrato de prestação de serviço acaba com a morte


de qualquer das partes. Termina, ainda, pelo escoamento do
prazo, pela conclusão da obra, pela rescisão do contrato
mediante aviso prévio, por inadimplemento de qualquer das
partes ou pela impossibilidade da continuação do contrato,
motivada por força maior.

Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato


escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a importância
que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de
caber durante dois anos.

Art. 609. A alienação do prédio agrícola, onde a prestação dos


serviços se opera, não importa a rescisão do contrato, salvo ao
prestador opção entre continuá-lo com o adquirente da
propriedade ou com o primitivo contratante.

CONTRATO DE EMPREITADA
Conceito – Visão geral
O contrato de empreitada está previsto entre os arts. 610 a 626 do CC/02.

De olho na lei!

CAPÍTULO VIII
Da Empreitada

Art. 610. O empreiteiro de uma obra pode contribuir para ela só


com seu trabalho ou com ele e os materiais.
§ 1º A obrigação de fornecer os materiais não se presume;
resulta da lei ou da vontade das partes.
§ 2º O contrato para elaboração de um projeto não implica a
obrigação de executá-lo, ou de fiscalizar-lhe a execução.

Art. 611. Quando o empreiteiro fornece os materiais, correm por


sua conta os riscos até o momento da entrega da obra, a
contento de quem a encomendou, se este não estiver em mora
de receber. Mas se estiver, por sua conta correrão os riscos.

Art. 612. Se o empreiteiro só forneceu mão-de-obra, todos os


riscos em que não tiver culpa correrão por conta do dono.
170
Art. 613. Sendo a empreitada unicamente de lavor (art. 610), se
a coisa perecer antes de entregue, sem mora do dono nem culpa
do empreiteiro, este perderá a retribuição, se não provar que a
perda resultou de defeito dos materiais e que em tempo
reclamara contra a sua quantidade ou qualidade.

Art. 614. Se a obra constar de partes distintas, ou for de natureza


das que se determinam por medida, o empreiteiro terá direito a
que também se verifique por medida, ou segundo as partes em
que se dividir, podendo exigir o pagamento na proporção da obra
executada.
§ 1º Tudo o que se pagou presume-se verificado.
§ 2º O que se mediu presume-se verificado se, em trinta dias, a
contar da medição, não forem denunciados os vícios ou defeitos
pelo dono da obra ou por quem estiver incumbido da sua
fiscalização.

Art. 615. Concluída a obra de acordo com o ajuste, ou o costume


do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. Poderá, porém, rejeitá-
la, se o empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos
planos dados, ou das regras técnicas em trabalhos de tal
natureza.

Art. 616. No caso da segunda parte do artigo antecedente, pode


quem encomendou a obra, em vez de enjeitá-la, recebê-la com
abatimento no preço.

Art. 617. O empreiteiro é obrigado a pagar os materiais que


recebeu, se por imperícia ou negligência os inutilizar.

Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras


construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e
execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos,
pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos
materiais, como do solo.
Parágrafo único. Decairá do direito assegurado neste artigo o
dono da obra que não propuser a ação contra o empreiteiro, nos
cento e oitenta dias seguintes ao aparecimento do vício ou
defeito.

Art. 619. Salvo estipulação em contrário, o empreiteiro que se


incumbir de executar uma obra, segundo plano aceito por quem
a encomendou, não terá direito a exigir acréscimo no preço,
ainda que sejam introduzidas modificações no projeto, a não ser
que estas resultem de instruções escritas do dono da obra.
Parágrafo único. Ainda que não tenha havido autorização
escrita, o dono da obra é obrigado a pagar ao empreiteiro os
aumentos e acréscimos, segundo o que for arbitrado, se, sempre
presente à obra, por continuadas visitas, não podia ignorar o que
se estava passando, e nunca protestou.

171
Art. 620. Se ocorrer diminuição no preço do material ou da mão-
de-obra superior a um décimo do preço global convencionado,
poderá este ser revisto, a pedido do dono da obra, para que se
lhe assegure a diferença apurada.

Art. 621. Sem anuência de seu autor, não pode o proprietário da


obra introduzir modificações no projeto por ele aprovado, ainda
que a execução seja confiada a terceiros, a não ser que, por
motivos supervenientes ou razões de ordem técnica, fique
comprovada a inconveniência ou a excessiva onerosidade de
execução do projeto em sua forma originária.
Parágrafo único. A proibição deste artigo não abrange alterações
de pouca monta, ressalvada sempre a unidade estética da obra
projetada.

Art. 622. Se a execução da obra for confiada a terceiros, a


responsabilidade do autor do projeto respectivo, desde que não
assuma a direção ou fiscalização daquela, ficará limitada aos
danos resultantes de defeitos previstos no art. 618 e seu
parágrafo único.

Art. 623. Mesmo após iniciada a construção, pode o dono da


obra suspendê-la, desde que pague ao empreiteiro as despesas
e lucros relativos aos serviços já feitos, mais indenização
razoável, calculada em função do que ele teria ganho, se
concluída a obra.

Art. 624. Suspensa a execução da empreitada sem justa causa,


responde o empreiteiro por perdas e danos.

Art. 625. Poderá o empreiteiro suspender a obra:


I - por culpa do dono, ou por motivo de força maior;
II - quando, no decorrer dos serviços, se manifestarem
dificuldades imprevisíveis de execução, resultantes de causas
geológicas ou hídricas, ou outras semelhantes, de modo que
torne a empreitada excessivamente onerosa, e o dono da obra
se opuser ao reajuste do preço inerente ao projeto por ele
elaborado, observados os preços;
III - se as modificações exigidas pelo dono da obra, por seu vulto
e natureza, forem desproporcionais ao projeto aprovado, ainda
que o dono se disponha a arcar com o acréscimo de preço.

Art. 626. Não se extingue o contrato de empreitada pela morte


de qualquer das partes, salvo se ajustado em consideração às
qualidades pessoais do empreiteiro.

Destrinchando....

172
Consiste em negócio jurídico através do qual uma das partes – empreiteiro ou
prestador – obriga-se a fazer ou a mandar fazer determinada obra, mediante uma determinada
remuneração, a favor de outrem – dono da obra ou tomador.

É negócio jurídico típico, nominado, bilateral ou sinalagmático, comutativo,


oneroso, consensual, diferido no tempo, impessoal, através do qual uma pessoa assumirá
obrigação de fazer qualificada pelo resultado (empreiteiro), envolvendo bens materiais ou
imateriais, em benefício de outra (dono de obra ou comitente), que pagará retribuição certa.

De um lado se tem o empreiteiro (aquele que assume a obrigação de realizar a obra


encomendada, ou a prestar certo serviço) e, do outro lado o dono da obra ou comitente, que
será aquele a assumir o pagamento, a remuneração ajustada.

Como visto acima no art. 610 do CC “O empreiteiro de uma obra pode contribuir para
ela só com seu trabalho ou com ele e os materiais”. Para além disto, a doutrina sinaliza que
a empreitada se difere porque a produção de um resultado final é pressuposto intrínseco a
este tipo de ajuste, aspecto que a diferencia, por exemplo, da prestação de serviços, pois esta
envolverá atividade meio (e não obrigação de resultado).

Assim sendo, empreiteiro, é aquele que executa a obra em favor de outra pessoa,
chamada dono da obra, que se beneficiará por esta atividade. Malgrado a usual expressão
dono da obra, observe-se que a empreitada poderá envolver também a realização de uma
atividade fora da construção civil, como, por exemplo, para bens imateriais (criar um site, uma
propaganda comercial, etc).

No contrato de empreitada existem duas hipóteses: o empreiteiro será contratado


exclusivamente para realizar o trabalho; ou será contratado para realizar o trabalho e assumir
a aquisição dos materiais também.

Isto posto, um dos primeiros cuidados que se deve ter quando do estudo de um
contrato de empreitada será se o seu objeto envolverá apenas o trabalho, ou se haverá
obrigação do empreiteiro não apenas com o trabalho, como também pelos materiais que serão
utilizados.

Pega a visão!!

A obrigação de fornecer os materiais não é presumida; resulta da lei ou da vontade


das partes. Portanto, o dono da obra deve ser cauteloso e expor que deseja contratar também

173
o fornecimento e uso dos materiais pelo empreiteiro que expressamente realize este ajuste
no contrato de empreitada, para que não reste dúvidas.

A legislação cível, como visto acima, no início da disciplina sobre a empreitada, faz
ressalva de que esse contrato não se confunde com a elaboração de um projeto (art. 610, §
2º)

Modalidades de Empreitada
De acordo com Código Civil, a empreitada poderá ser somente de lavor (empreitada
de obra), ou poderá ser empreitada mista (de materiais, quando o empreiteiro assume além
do trabalho, a obrigação de fornecer os materiais). Ou seja, o contrato de empreitada pode
ocorrer com, ou sem a obrigação de o empreiteiro fornecer materiais.

A Conclusão da Obra e a Responsabilidade Civil

Reitera-se de acordo com o art. 615 do CC que “Concluída a obra de acordo com o
ajuste, ou o costume do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. Poderá, porém, rejeitá-la, se o
empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas
em trabalhos de tal natureza”.

O art. 616 do CC permite ao dono da obra a “em vez de enjeitá-la, recebê-la com
abatimento no preço”. Na prática, se ocorreu inadimplemento contratual por parte do
empreiteiro, a consequência jurídica disso será surgir para o credor duas opções: de negar a
coisa, ou exigir o abatimento do preço.

Do mesmo modo, mantendo-se ainda no estudo da responsabilidade subjetiva do


empreiteiro, este está obrigado a pagar os materiais que recebeu, se por imperícia ou
negligência os inutilizar, na melhor forma do art. 617 do CC. Uma regra muito conhecida
empiricamente pelo advogado e que envolve as empreitadas de edifícios ou do que a norma
denomina “construções consideráveis” diz respeito ao prazo irredutível de cinco anos de
responsabilidade civil do empreiteiro de materiais e execução “pela solidez e segurança do
trabalho”.

Segundo o art. 618 do CC “Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras


construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o
prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos
materiais, como do solo”.
174
Pega a visão!

Enunciado 181 do CJF “O prazo referido no art. 618, parágrafo


único, do CC refere-se unicamente à garantia prevista no caput,
sem prejuízo de poder o dono da obra, com base no mau
cumprimento do contrato de empreitada, demandar perdas e
danos”.

Preço

O contrato de empreitada é fundamentalmente um negócio jurídico oneroso, de forma


que o preço estará presente em toda e qualquer espécie de empreitada, devendo ser pago
pelo dono da obra, ou comitente, ao empreiteiro. A empreitada por preço certo se caracteriza
pelo fato de os contratantes ajustarem um pagamento global, por toda a obra contratada,
pouco importando os avanços das etapas, ou as medidas que evoluírem com a execução da
atividade. Em geral, o preço contratado no contrato de empreitada não será alterado, ainda
que na execução da obra surjam modificações no projeto.

Entretanto, a norma civil traz três exceções nas quais será possível discutir a
modificação do preço, mesmo que se trate de empreitada por preço certo, tais sejam:

• Estipulação em sentido contrário pelos contratantes, situação de típico respeito à


liberdade à autonomia privada e à autodeterminação dos contratantes.
• Instruções escritas do dono da obra a este respeito, o que vedaria o comitente (dono
da obra) a ter um comportamento contraditório.
• Se o dono da obra comparecia frequentemente ao local da empreitada, percebia as
modificações e, sem embargo, não demonstrava oposição contra estas, típica hipótese
de supressio e surrectio.

Além dessas hipóteses, entende-se que o empreiteiro deverá assumir todos os custos
pelas modificações do projeto (não contratadas e executadas por ele), isentando-se o dono
da obra no particular, afinal de contas, a essência desta empreitada é por preço determinado.

De acordo com art. 619 do CC: “Salvo estipulação em contrário, o empreiteiro que se
incumbir de executar uma obra, segundo plano aceito por quem a encomendou, não terá
direito a exigir acréscimo no preço, ainda que sejam introduzidas modificações no projeto, a
não ser que estas resultem de instruções escritas do dono da obra”.

175
Porém, como visto, haverá uma terceira situação atípica e ressalvada pelo parágrafo
único do art. 619: “Ainda que não tenha havido autorização escrita, o dono da obra é obrigado
a pagar ao empreiteiro os aumentos e acréscimos, segundo o que for arbitrado, se, sempre
presente à obra, por continuadas visitas, não podia ignorar o que se estava passando, e nunca
protestou”.

Nos termos do art. 620 do CC: “Se ocorrer diminuição no preço do material ou da mão
de obra superior a um décimo do preço global convencionado, poderá este ser revisto, a
pedido do dono da obra, para que se lhe assegure a diferença apurada”.

Ademais, é fundamental tem ciência que sem anuência de seu autor do projeto, não
poderá o proprietário da obra introduzir modificações, ainda que a execução seja confiada a
terceiros. A ressalva que se fará a este respeito decorrerá apenas do que o legislador
denomina motivos supervenientes ou razões de ordem técnica, a comprovar uma
“inconveniência ou a excessiva onerosidade de execução do projeto em sua forma originária”
(CC, art. 621).

Como já analisado, não se deve confundir a contratação para o projeto, com a


contração da execução da obra em si. Não há presunção a este respeito, de maneira que,
geralmente, a contratação do projeto não impõe a execução da obra pelo projetista.

A empreitada por unidade de medida (por medição), qual seja o fato de o pagamento
ocorrer na proporção do avanço da obra, por cada mediação realizada. Neste caso, a obra é
dividida em fases e cada fase concluída demanda o pagamento de uma remuneração
ajustada. Trata-se de contrato cuja prestação é divisível e permite o empreiteiro a receber
parcialmente o seu crédito na medida em que concluir cada uma das etapas do cronograma,
bem como a não prosseguir nas demais etapas enquanto não for remunerado.

Em se tratando de empreitada com partes distintas, leia-se: ajustada mediante a


execução de etapas, de um cronograma, o empreiteiro haverá de receber por medida, ou
segundo as partes em que se dividir, podendo exigir o pagamento na proporção da obra
executada. É o que afirma o art. 614 do CC.

O empreiteiro notificará o dono da outra acerca do término da respectiva etapa para


que este realize a verificação da medida e o remunere na proporção da obra executada. Tanto
isto é certo que o CC presume verificada a etapa da obra sempre que houver o respectivo

176
pagamento desta, na forma do § 1º do art. 614 do CC: “Tudo o que se pagou presume-se
verificado”.

Como já supracitado, o CC presume verificada a parte distinta da obra após os trinta


dias a contar da medição se o comitente não denunciar qualquer vício. Se o dono da obra, ou
se aquele incumbido da fiscalização, deixar transcorrer os trinta dias a contar da medição sem
qualquer denúncia de vício, haverá presunção de verificação (§ 2º, art. 614, CC). O art. 622
do CC aduz que “Se a execução da obra for confiada a terceiros, a responsabilidade do autor
do projeto respectivo, desde que não assuma a direção ou fiscalização daquela, ficará limitada
aos danos resultantes de defeitos previstos no art. 618 e seu parágrafo único”.

Na seara cível, portanto, não terá responsabilidade do autor do projeto se a execução


da obra for repassada a terceiros. Salvo se o projetista assumir contratualmente a direção ou
a fiscalização da obra, o que pode ocorrer acaso exista ajuste expresso no particular. Neste
caso, a responsabilidade civil do projetista que assumiu a direção ou a fiscalização da obra
será limitada aos danos resultantes dos defeitos de solidez e segurança do trabalho, assim
em razão dos materiais, como do solo.

Pega a visão!

Se o empreiteiro gerar dano injusto a terceiros, o comitente, ou dono da obra, será


responsabilizado de forma objetiva e indireta, nos termos dos arts. 932, III e 923 do CC. Eis
um belo exemplo de responsabilidade civil objetiva por ato de terceiro, também denominado
responsabilidade civil indireta ou complexa.

A obra poderá ser suspensa pelo dono a após iniciada a construção, afinal de contas,
na qualidade de proprietário do bem, terá direito de usar, gozar, dispor, reaver e fruir da coisa
como lhe aprouver (CC, art. 1.228). Evidentemente que esta conduta espontânea do dono da
obra não poderá prejudicar o patrimônio jurídico do empreiteiro que não deu causa a esta
suspensão.

Perceba que essa modalidade contratual é diferida no tempo, abarca relação jurídica
continuativa, de trato sucessivo. Este aspecto – por si só – já evidencia a possibilidade de
suspensão da execução do contrato, o que é previsto de modo específico nos arts. 623 e 624
do CC.

Claro que a melhor forma de entender a existência de responsabilidade civil decorrente


da suspensão do contrato de empreitada gira em torno da identificação daquele que deu
177
causa à suspensão. Se o dono da obra deu causa à suspensão, terá responsabilidade civil
em relação ao empreiteiro. Justamente por isso é que o art. 623 do CC imporá ao dono da
obra o pagamento ao empreiteiro as despesas e os lucros relativos aos serviços já feitos, mais
indenização razoável, calculada em função do que ele teria ganho, se concluída a obra.
Utiliza-se também o art. 402 do CC, de maneira que o empreiteiro será credor de perdas e
danos, materiais e extrapatrimoniais, se for o caso.

Ademais, haverá responsabilidade civil do empreiteiro se este suspender a obra sem


justo motivo (CC, art. 624), hipótese em que responderá por perdas e danos.
Excepcionalmente, será possível suspender a obra nos casos previstos no art. 625 do CC, ou
seja: a) por culpa do dono, ou por motivo de força maior; b) quando, no decorrer dos serviços,
se manifestarem dificuldades imprevisíveis de execução, resultantes de causas geológicas ou
hídricas, ou outras semelhantes, de modo que torne a empreitada excessivamente onerosa,
e o dono da obra se opuser ao reajuste do preço inerente ao projeto por ele elaborado,
observado os preços; c) se as modificações exigidas pelo dono da obra, por seu vulto e
natureza, forem desproporcionais ao projeto aprovado, ainda que o dono se disponha a arcar
com o acréscimo de preço.

Por fim, observe-se que a morte das partes não acarretará a extinção do contrato de
empreitada que, como visto, transmite-se hereditariamente.

Lembre o que diz o art. 626 do CC: “Não se extingue o contrato de empreitada pela
morte de qualquer das partes, salvo se ajustado em consideração às qualidades pessoais do
empreiteiro”.

Extinção

O contrato de empreitada poderá ser extinto por oito maneiras distintas, e que muito
se assemelham com as regras gerais de término dos negócios jurídicos.

Vejam hipóteses de extinção:

a) A empreitada poderá ser extinta pela a entrega da obra, da realização efetiva do


resultado objeto do negócio jurídico, dentro dos exatos limites daquilo que restou
pactuado. É a extinção almejada.

178
b) O contrato de empreitada poderá ser extinto pela resilição unilateral do comitente ou
dono da obra, (denúncia vazia), neste caso ele deverá pagar perdas e danos ao
empreiteiro, de acordo com o art. 623 do CC
c) O contrato de empreitada poderá ser extinto pela resilição unilateral do empreiteiro,
neste caso ele pagará indenização ao dono da obra, desde que presentes os
elementos do dever de reparar o dano.
d) A resilição bilateral ou distrato, poderá ser causa extintiva da empreitada, quando
empreiteiro e dono da obra, consensualmente, decidem dar fim ao pacto.
e) O contrato de empreitada poderá ser extinto por resolução extrajudicial, ou mesmo
judicial, hipótese em que se discutirá a existência de ato ilícito de um dos contratantes,
caracterizador de descumprimento contratual.
f) Morte do empreiteiro acaso o contrato de empreitada tenha sido celebrado de maneira
personalíssima. Pega a visão! Somente haverá extinção do contrato de empreitada na
hipótese de morte do empreiteiro, se a empreitada tiver sido pactuada de forma
personalíssima.
g) Falência do empreiteiro.
h) Caso fortuito ou força maior.

CONTRATO DE MANDATO
Conceito

Consiste em ajuste no qual um sujeito (mandatário ou outorgado) recebe poderes de


outro sujeito (mandante ou outorgante) para, em nome desta, praticar um ato (ou um conjunto
de atos) ou administrar interesses. De acordo com o art. 653 do CC “Opera-se o mandato
quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar
interesses. A procuração é o instrumento do mandato”.

Pega a visão!

Procuração não se confunde com o mandato. O mandato é o contrato em si. A


procuração é o instrumento que decorre deste contrato. É o instrumento que comprovará a
quem interessar possa que uma determinada pessoa é mandatária de outra.

A norma faz referência expressa às informações que deverão estar contidas no


instrumento particular, entre as quais a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do
outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos
poderes conferidos (§ 1º do art. 654 do CC). Todavia, é fundamental, dar cumprimento ao
179
comando legislativo. Isso porque o terceiro com quem o mandatário tratar poderá exigir a
apresentação do referido documento e até mesmo que a procuração traga a firma reconhecida
(§ 1º do art. 654, CC), de maneira que todo o cuidado é recomendado na produção do referido
documento.

De olho na juris!
Nos Recursos Especiais 296.489/PB e 716.824/AL, o Superior Tribunal de Justiça
entendeu pela desnecessidade do reconhecimento de firma para o advogado postular em
juízo, máxime considerando o advento da Lei Federal 8.952/94 que, de maneira clara,
importou em relevante avança ao dispensar do causídico o reconhecimento de firma, sendo
verdadeiro divisor de águas do Direito Privado no que se refere à instrumentalidade,
economia, celeridade e efetividade do Processo Civil.

Uma regra super importante sobre o contrato de mandato está disciplinada no art. 655
do CC: “Ainda quando se outorgue mandato por instrumento público, pode substabelecer-se
mediante instrumento particular”. Trata-se de uma regra que deverá despertar muita atenção,
tendo em vista a tendência em se imaginar haver paralelismo das formas, o que, no contrato
de mandato é ledo engano!

Pega a visão!
O Enunciado 182 do CJF concluiu que “O mandato outorgado por instrumento público
previsto no art. 655 do CC somente admite instrumento particular quando a forma pública for
facultativa e não integrar a substância do ato”. Trata-se de uma importante reflexão
doutrinária, afinal de contas, para os casos em que a lei exigir, necessariamente, a procuração
por instrumento público não será possível o substabelecimento por instrumento particular. Um
belo exemplo para melhor compreender o assunto gira em torno da procuração para o
casamento que, na forma do art. 1.542 do CC, será, necessariamente, por instrumento
público. Neste caso, um eventual substabelecimento também deverá ser por instrumento
público.

Mandato Expresso x Mandato Tácito.

De acordo com o art. 656 do CC, o “mandato pode ser expresso ou tácito, verbal ou
escrito”. Pouco depois, o art. 659 do CC estabelece que “A aceitação do mandato pode ser
tácita, e resulta do começo de execução”. O fato de o advogado ter comparecido e realizado

180
a audiência demonstra aceitação do mandato e começo de sua execução, no caso para
ambas as partes. Extrai-se também uma ideia simples do artigo de lei anteriormente
identificado, qual seja a de que a aceitação do mandato poderá ser tácita ou expressa.
Todavia, observe-se, que o silêncio não acarreta aceitação, à luz do art. 111 do CC, de forma
que somente o início da execução do mandato é que configurará a aceitação tácita, isto é,
decorrente de um ato positivo do mandatário de representar o mandante.

Claro que existirão exceções à possibilidade do mandato tácito. O art. 657 do CC,
sinaliza que a outorga do mandato é submetida à forma exigida por lei para o ato a ser
praticado e não admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por escrito.

Mandato Legal, Convencional e Judicial

→ Mandato Legal

Forte exemplo do mandato legal é o conferido aos advogados públicos para


representar as pessoas jurídicas de direito público, em juízo ou mesmo extrajudicialmente.
Tem várias outras situações de representação legal, muitas no Direito de Família, a exemplo
também dos curadores, tutores e genitores. Neste tipo de mandato os poderes de
representação surgem diretamente da norma.

→ Mandato Judicial

Esta representação tem um objetivo jurídico específico, tal seja: o contencioso.


Compreende um litígio. Depreende a existência de um processo judicial. Lembra-se que este
mandato não abrange somente os advogados, mas também outros representantes judiciais,
tais como o inventariante e o administrador de falência.

→ Mandato convencional

É o que de fato é oriundo do contrato típico de mandato, da autonomia privada.


Depreende o consenso e a existência de um negócio jurídico. Está diretamente disciplinado
pelo Código Civil e pelas regras do mandato. Ocasionalmente poderá ser encontrado em
regras apartadas, como no mandato para o casamento, previsto no art. 1.542 do CC.

Remuneração
Segundo o art. 658 do CC, “o mandato presume-se gratuito quando não houver sido
estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles que o mandatário
181
trata por ofício ou profissão lucrativa”, arrematando o parágrafo único do aludido preceito que
se o mandato for oneroso, caberá ao mandatário a retribuição prevista em lei ou no contrato.
Sendo estes omissos, será ela determinada pelos usos do lugar, ou, na falta destes, por
arbitramento.

Poderes Gerais x Poderes Especiais

Na disciplina do art. 660 do CC “O mandato pode ser especial a um ou mais negócios


determinadamente, ou geral a todos os do mandante”. De igual sorte, o art. 661 do CC
apresenta a regra de que o mandato em termos gerais só confere poderes de administração.

→ Poderes Gerais

A regra é a de que os poderes são gerais, ou seja, exclusivos para os atos de


administração. Os poderes especiais, ou atípicos, não se presumem. Quer dizer que para que
o mandatário possua poderes especiais será indispensável expressa previsão no contrato de
mandato. Portanto, em geral, em linha de princípio, o mandatário terá apenas poderes gerais
para administração do patrimônio.

→ Poderes Especiais

Leciona o art. 661, § 1º, do CC que para “alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros
quaisquer atos que exorbitem da administração ordinária, depende a procuração de poderes
especiais e expressos”. Estes são alguns dos poderes especiais ilustrativamente inseridos na
norma e que não se presumem, razão pela qual para que o mandatário possa exercê-los
deverá contar com expressa procuração a este respeito, com expressa menção destes
poderes no instrumento.

Pega a visão!

Segundo o art. 661, § 2º, do CC “O poder de transigir não importa o de firmar


compromisso”, o que significa dizer, trocando em miúdos, que o poder de transigir conferido
pelo mandante ao mandatário não autoriza este a celebrar arbitragem, muito menos a firmar
cláusula de compromisso, que não se presumirá por conta disto. Nesse assunto temos o
Enunciado 183 do CJF: “Para os casos em que o parágrafo primeiro do art. 661 do CC exige
poderes especiais, a procuração deve conter a identificação do objeto”. Justamente nesta
linha é que o objeto (firmar compromisso, firmar cláusula de arbitragem) também deverá estar
expressamente disciplinado.
182
Atos Praticados por quem não Tenha Mandato

Segundo o art. 662 do CC “Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o
tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo nome foram
praticados, salvo se este os ratificar”. Esta ratificação “há de ser expressa, ou resultar de ato
inequívoco, e retroagirá à data do ato”, como adverte o parágrafo único do referido diploma.

Assim, a regra é a da ineficácia dos atos praticados por quem efetivamente não se
encontrar munido pelos poderes de representação em relação ao mandante, de modo que
não se estará vinculando em termos obrigacionais o mandante. A exceção a esta regra girará
em torno do princípio da conservação dos negócios jurídicos, isso porque o texto de lei
permitirá ao mandante a prática de ato posterior de ratificação, caso em que terá o seu status
obrigacional alterado, ou seja, passará a se vincular, a se obrigar em decorrência da
ratificação que deu e desde a origem do ato praticado (eficácia negocial ex tunc).

Os Atos Praticados pelo Mandatário em Nome Próprio


Vide art. 663 do CC: “Sempre que o mandatário estipular negócios expressamente em
nome do mandante, será este o único responsável; ficará, porém, o mandatário pessoalmente
obrigado, se agir no seu próprio nome, ainda que o negócio seja de conta do mandante”.

O Direito de Retenção
O código civil permite o mandatário a exercer direito de retenção nos limites dos
valores que bastem para o pagamento da retribuição que lhe for devida pela prática dos atos
de administração e representação. Claro que se trata de um preceito legal envolvendo apenas
o mandato oneroso. Veja o art. 664 do CC: “O mandatário tem o direito de reter, do objeto da
operação que lhe foi cometida, quanto baste para pagamento de tudo que lhe for devido em
consequência do mandato”.

Pega a visão!
Vejamos o Enunciado 184 do CJF “Da interpretação conjunta desses dispositivos, extrai-se
que o mandatário tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, tudo o
que lhe for devido em virtude do mandato, incluindo-se a remuneração ajustada e o reembolso
das despesas”.

O Exercício em Excesso dos Poderes do Mandato


183
O art. 665, CC, preconiza: “O mandatário que exceder os poderes do mandato, ou
proceder contra eles, será considerado mero gestor de negócios, enquanto o mandante lhe
não ratificar os atos”. É possível, então, que se aplique a uma situação de contrato de mandato
na qual se identifique exercício para além dos poderes confiados pelo mandante a disciplina
jurídica da gestão de negócios prevista entre os arts. 861 a 875 do CC e que assim acontecerá
e gerará efeitos “enquanto o mandante lhe não ratificar os atos”.

A Legitimação para Celebrar Mandato


O maior de dezesseis anos, ainda que não emancipado, poderá ser tanto mandante,
quanto mandatário. Em consonância com o art. 666 do CC: “O maior de dezesseis e menor
de dezoito anos não emancipado pode ser mandatário, mas o mandante não tem ação contra
ele senão de conformidade com as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por
menores”.

Substabelecimento
Malgrado o contrato de mandato pressupor uma relação personalíssima, o a legislação
cível expressamente aceita a cessão dos poderes recebidos pelo mandatário à outra pessoa,
transferência esta que se realiza por meio de um substabelecimento com ou sem reserva de
poderes. Assim sendo, de acordo com a norma pátria, o mandatário poderá substabelecer,
isto é, transferir os poderes que recebeu a outrem, total, ou parcialmente, como leciona o art.
667 do CC: “O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do
mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem
substabelecer, sem autorização, poderes que deveria exercer
pessoalmente”.

Mandato Judicial

O art. 692 do CC disciplina que “O mandato judicial fica subordinado às normas que
lhe dizem respeito, constantes da legislação processual, e, supletivamente, às estabelecidas
neste Código”.

Importante salientar que o mandato judicial é submetido à disciplina do Direito


Processual Civil e também do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, vale dizer, a Lei
Federal 8.906/94. O art. 103 do Novo CPC (NCPC) expõe que “A parte será representada em
juízo por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil”, inaugurando o
tema do mandado judicial no ponto da capacidade postulatória.
184
Pega a visão!

Na forma do art. 4º do Estatuto da OAB, “são nulos os atos privativos de advogados


praticados por pessoa não inserida na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e
administrativas”.

Revogabilidade do mandato
A regra é a de que o mandato é revogável. Logo, o mandante terá direito potestativo
de cancelar, desfazer, cassar os poderes que transferiu ao mandatário, revogando e
extinguindo o contrato desta maneira.

A Irrevogabilidade Relativa ou Mitigada pela Autonomia Privada

A irrevogabilidade relativa ou mitigada pela autonomia privada está prevista no art. 683
do CC, vejamos: “Quando o mandato contiver a cláusula de irrevogabilidade e o mandante o
revogar, pagará perdas e danos”.

É possível observar que a legislação brasileira admite, em fiel respeito ao princípio da


autonomia privada, que as partes estipulem uma cláusula contratual de irrevogabilidade.

A consequência jurídica do descumprimento desta cláusula, contudo, não é, pela letra


fria da lei, uma tutela jurídica específica de obrigação de fazer, mas apenas as perdas e danos.
Trocando em miúdos, o inadimplemento e a revogação de um contrato que contemplar
cláusula de irrevogabilidade dá azo apenas ao pedido de perdas e danos. Desta maneira, o
tema será solucionado pela teoria da responsabilidade civil negocial e os elementos do dever
de reparar o dano (conduta, nexo, prejuízo ou dano injusto, dolo ou culpa) deverão ser
considerados.

A Irrevogabilidade Absoluta ou Imposta por Norma de Ordem Pública

De acordo com o art. 684 do CC, quando a cláusula de irrevogabilidade for condição
de um negócio bilateral, ou tiver sido estipulada no exclusivo interesse do mandatário, a
revogação do mandato será ineficaz. Nesta situação jurídica é a própria norma que enquadra
a irrevogabilidade como uma situação a impor, de maneira absoluta, a ineficácia da
revogação. Em outras palavras, a revogação não gera nenhum efeito no mundo jurídico ou,
como afirma a lei, é ineficaz.

185
Outro caso sobre o mandato em causa própria e está previsto no art. 685 do CC com
a seguinte redação: “Conferido o mandato com a cláusula ‘em causa própria’, a sua revogação
não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário
dispensado de prestar contas, e podendo transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto
do mandato, obedecidas as formalidades legais”. No mandato em causa própria, o mandatário
atua para si mesmo.

Da Extinção do Mandato
Segundo o art. 682 do CC cessa o mandato: pela revogação ou pela renúncia; pela
morte ou interdição de uma das partes; pela mudança de estado que inabilite o mandante a
conferir os poderes, ou o mandatário para exercê-los; e, finalmente, pelo término do prazo ou
pela conclusão do negócio.
Revogação, renúncia, morte, interdição, mudança de estado que inabilite um dos
contratantes e conclusão do negócio: eis as causas de extinção do contrato de acordo com a
lei.

De olho na juris!
Em relação a extinção do mandato por interdição, observe o posicionamento do STJ:

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EFEITOS DA


SENTENÇA DE INTERDIÇÃO SOBRE MANDATO JUDICIAL.
A sentença de interdição não tem como efeito automático a
extinção do mandato outorgado pelo interditando ao advogado
para sua defesa na demanda, sobretudo no caso em que o
curador nomeado integre o polo ativo da ação de interdição.

O art. 686 do CC, demanda que seja notificado o mandatário a este respeito, para se
formalizar e dar ciência a este do referido ato. Extrai-se do texto a ideia também de que não
se pode opor aos terceiros que, ignorando (desconhecendo) a notificação, de boa-fé, trataram
com o mandatário. A revogação é considerada perfeita e acabada “Tanto que for comunicada
ao mandatário a nomeação de outro, para o mesmo negócio” (art. 687, CC).

A legislação cível trata da situação jurídica de renúncia, que pode ser tida como a
“demissão” do papel de mandatário. Pelo art. 688 do CC: “A renúncia do mandato será
comunicada ao mandante, que, se for prejudicado pela sua inoportunidade, ou pela falta de
tempo, a fim de prover à substituição do procurador, será indenizado pelo mandatário, salvo

186
se este provar que não podia continuar no mandato sem prejuízo considerável, e que não lhe
era dado substabelecer”.

O código não desprezou os valores da confiança, da justa expectativa criada e da boa-


fé. Especialmente por isso lecionou serem válidos, a respeito dos contratantes de boa-fé, os
atos com estes ajustados em nome do mandante pelo mandatário, enquanto este ignorar a
morte daquele ou a extinção do mandato, por qualquer outra causa (CC, art. 689).

A morte, a pirori, deve ser outra causa importante de extinção do contrato de mandato,
que é intuito personae, por isso, não deveria se transmitir. Contudo, veja o que diz o art. 690
do CC “Se falecer o mandatário, pendente o negócio a ele cometido, os herdeiros, tendo
ciência do mandato, avisarão o mandante, e providenciarão a bem dele, como as
circunstâncias exigirem”.

Esses herdeiros devem se restringir às medidas conservatórias ou a continuar os


negócios pendentes que se não possam demorar sem perigo, regulando-se os seus serviços
dentro desse limite, pelas mesmas normas a que os do mandatário estão sujeitos.

De olho na prova!
Ano: 2017 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-PR Prova: CESPE - 2017 - TJ-PR - Juiz
Substituto
Assinale a opção correta a respeito das espécies de contratos.
A. Em contrato de comodato, jamais o comodatário poderá pleitear restituição ao comodante
das despesas realizadas com o uso e gozo da coisa.
B. No contrato de prestação de serviço, o aliciamento de pessoa já obrigada em contrato
escrito anterior é causa violadora da boa-fé subjetiva.
C. Devido ao fato de o contrato de empreitada ser personalíssimo, em regra, nessa
modalidade de contrato, a morte do empreiteiro é causa de extinção do contrato.
D. Não será devida a remuneração ao corretor, no contrato de corretagem em que se obtenha
o resultado almejado pela mediação, se tal contrato for desfeito posteriormente pelas partes.
Gabarito: “A”

12. RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil é o dever jurídico secundário de reparar o dano que deriva do


descumprimento do dever jurídico primário de não lesar, seja por inadimplemento negocial

187
(responsabilidade civil contratual), seja pela prática de ato ilícito não contratual
(responsabilidade civil extracontratual, ou aquiliana).

A responsabilidade civil é uma das espécies de responsabilidade jurídica, ao lado da


responsabilidade penal, tributária, administrativa, etc. decorre da transgressão de uma norma
civil preexistente, impondo-se ao causador do dano a consequente obrigação de indenizar.
As diferenças entre tais âmbitos, a exemplo da responsabilidade civil e penal, não estão na
causa, pois a conduta humana é a mesma, mas sim nos efeitos. Desta forma, observa-se
como fato diferenciador nas esferas da responsabilidade civil e penal que a intervenção penal
é mais rigorosa, sendo ultima ratio, ao contrário da cível. Isto se deve ante a relevância social
do bem jurídico tutelado: no direito penal tutelam-se bens dos mais relevantes, a exemplo da
vida.

As instâncias civil e criminal, em regra, são independentes e autônomas, por esse


motivo um mesmo fato pode levar a um ilícito civil e penal, apurados de forma independente.
Ex.: conduta: atropelamento – homicídio culposo ou doloso com sanção privativa de liberdade
e indenização cível como tutela reparatória do dano. A independência das instâncias se
relativiza em duas hipóteses, quando a decisão penal tem efeitos na esfera cível, quais sejam:
ausência de materialidade do fato e a negativa de autoria (art. 935, CC). De qualquer modo,
quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a
prescrição antes da respectiva sentença penal definitiva (art. 200, CC).

CONCEITO

Como já ventilado, a responsabilidade civil deriva da transgressão de uma norma


jurídica pré-existente, com a consequente imposição ao causador do dano do dever de
indenizar. Consiste em atribuir a alguém, violador de um dever jurídico primitivo, as
consequências danosas de seu comportamento, impondo a obrigação de indenizar. Esse
descumprimento vai gerar dever de recomposição do status quo ante.

Tal recomposição haverá de ser integral, sendo norteada no Brasil pelo princípio da
restitutio in integrum, chamado por alguns de princípio do imperador ou reparação integral.
Quando não for possível restituir a vítima a situação jurídica anterior, a responsabilidade civil
terá natureza meramente compensatória, como ocorre na indenização por danos morais.

A depender da natureza jurídica da norma civil preexistente violada, a


responsabilidade poderá ser:
188
o Contratual: Quando a norma agredida tiver natureza negocial (arts. 389 e ss,
395 e ss).
o Extracontratual ou Aquiliana: Quando a norma agredida tiver natureza legal. A
regra geral da responsabilidade civil extracontratual encontra-se no art. 186 do
CC, que define o ato ilícito. Esse dispositivo, por inspiração do Código Civil
Francês, consagra, nos termos da sua redação, uma ilicitude subjetiva
(baseada na existência de culpa ou no dolo).

Olho na juris!
O prazo prescricional é assim dividido:
• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do
CC).
• Responsabilidade contratual (inadimplemento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info
632).

ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL


A doutrina apresenta elementos indispensáveis para a responsabilização, que
necessitam estar presentes em qualquer hipótese. Tais sejam:
a conduta humana
o nexo de causalidade
dano ou prejuízo.

Conduta humana

Ação ou omissão voluntária e consciente do ser humano (não se podendo


responsabilizar animais diretamente ou atos humanos involuntários). Pode ser direta (própria),
que regula a hipótese de ação própria ou indireta (imprópria), que retrata uma hipótese de
omissão (fato de terceiro ou fato da coisa).

É o comportamento do homem movido pela vontade (voluntariedade humana), positivo


(comissivo) ou negativo (omissivo) causador de um dano a outrem. Ela precisa ser voluntária.
Porém, faz-se mister entender que voluntariedade é diferente de dolo, a medida que a
exigência é a voluntariedade na conduta, e não no seu resultado, o que é exigido para
configuração do dolo.

189
A omissão enxergada como uma mera abstenção, não é capaz de gerar, por si só, um
dano, ao passo que do nada, nada provém. Omissão juridicamente relevante capaz de tornar
o agente responsável civilmente é aquela praticada por quem possuía um dever jurídico de
agir, evitando a produção de um determinado resultado, a exemplo do médico que não presta
os primeiros socorros, da enfermeira que não ministra os medicamentos nos horários e formas
devidos etc.

Nexo de causalidade

Liame que liga a conduta ao dano.

A obrigação de indenizar depende da presença de um nexo de causalidade entre a


conduta e o resultado danoso. Como dito, o nexo causal ou a relação de causalidade é o liame
entre a conduta e o dano – fio condutor – de modo que um seja visto como consequência do
outro. Inicialmente há de ser pontuado que o nexo de causalidade natural ou biológico é
diferente daquele dito jurídico, ao passo que nem toda causa do mundo natural é considerada
causa para o direito.

O nexo de causalidade é um elemento imaterial da responsabilidade civil. É a relação


de causa e efeito, entre a conduta e o dano suportado. A responsabilidade civil, ainda que
objetiva, não existe se não houver relação de causalidade entre a conduta do agente e o dano
experimentado pela vítima.

Existem várias teorias que justificam o nexo, assim, algumas correntes doutrinárias
devem ser sinteticamente postas:

Teoria da Equivalência dos Antecedentes ( conditio sine qua non”) : Para essa teoria,
não há diferença entre diversos antecedentes fáticos de um resultado danoso: tudo
aquilo que concorre para o resultado é considerado causa (Von Buri). Não foi adotada
pelo CC.
Teoria da Causalidade Adequada: Para esta segunda teoria, causa é apenas o
antecedente que, segundo um juízo abstrato de probabilidade, seja apto ou idôneo a
determinar o resultado danoso (Von Kries). Estaria prevista nos arts. 944 e 945 do CC.
Teoria da Causalidade Direta e Imediata: Para esta terceira teoria, mais objetiva do
que as anteriores, causa é o comportamento antecedente fático que determina o
resultado danoso, como consequência sua, direta e imediata. É a ideia contida no
artigo 403 do CC.
190
Conforme doutrina majoritária, a teoria adotada pelo CC (art. 403) foi a dos danos
diretos e imediatos para fixar o nexo causal elegeu-se a causalidade adequada,
prevalecendo apenas a causa determinante do dano (relação direta e imediata),
desconsiderando-se as demais (ex: atraso do avião que faz perder a reunião que
poderia levar a um negócio rentável = os danos não podem englobar a rentabilidade
eventual). Assim, é considerada “causa” apenas o comportamento antecedente fático
que determina o resultado danoso, como consequência sua, direta e imediata.

Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as


perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros
cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
disposto na lei processual.

Contemporaneamente, fala-se, em erosão do nexo de causalidade, visto que ele é


mitigado nas hipóteses de dano por perda de uma chance e dano por ricochete.

Dano ou prejuízo

Conceitualmente, o dano ou prejuízo consiste na lesão (diminuição ou subtração) a


um interesse jurídico tutelado, patrimonial ou extrapatrimonial, causado por ação ou omissão
do sujeito infrator, isto é, é a lesão a um interesse jurídico tutelado (material, moral ou
estético). Trata-se de requisito indispensável à caracterização da responsabilidade civil. Ora,
sem o dano ou prejuízo não existe obrigação de indenizar, independentemente da modalidade
de responsabilização.

Que se admita responsabilidade sem culpa (objetiva), mas não responsabilidade sem
dano. Desta forma, o motorista que avança o sinal e não atropela ninguém não gera, no campo
civil, obrigação de indenizar. Em direito civil não se admite o crime de mera conduta, bem
como perigo abstrato, sendo imperioso o resultado danoso.

Para que o dano seja indenizável, a doutrina e jurisprudência levantam os seguintes


requisitos:

I. Violação de um interesse jurídico patrimonial e/ou extrapatrimonial de uma pessoa


física ou jurídica. Hoje em dia é possível o pleito de dano material e moral de forma
independente, ou cumulada, segundo os permissivos do artigo 5º, V e X da CF, art.
186 do CC, Súmulas 37 e 387 do STJ. Sobre a pessoa jurídica, lembra-se da redação
do artigo 52 do CC e Súmula 227 do STJ que viabilizam a proteção dos direitos da
personalidade e o pleito de danos morais.
191
II. Certeza do dano: apenas o dano certo e efetivo é indenizável. Não há de falar-se em
compensação da vítima por dano abstrato ou hipotético. Mesmo nas hipóteses de
danos morais, onde é difícil a sua quantificação, haverá de se ter certeza sobre o dano
propriamente dito (lesão à honra, por exemplo).
III. Subsistência do dano: significa que se o dano já foi reparado, perde-se o interesse da
responsabilidade civil. O dano deve subsistir no momento de sua exigibilidade em
juízo, ao passo que não há de falar-se em indenização se o dano já foi
espontaneamente reparado pelo lesante.
IV. Nexo causal direito e imediato entre prejuízo e conduta humana lesante. Importante
salientar que a reparação apenas se dará no que se relaciona aos danos direitos e
imediatos sofridos pela vítima, em decorrência da conduta humana; ou seja: ao
prejuízo efetivamente experimentados, excluídos os danos remotos. A doutrina e a
jurisprudência, porém, vem admitindo indenização por dano reflexo (ou em ricochete),
conforme tratado no capítulo dos direitos da personalidade, a exemplo também do
parágrafo único do art. 12 e do art. 948 do CC, assim como dano pela perda de uma
chance.

Espécies de dano

A legislação civil atual, no artigo 186 do CC, afirma que os danos podem ser materiais
ou morais, veiculando a possibilidade até mesmo de dano exclusivamente moral, com base
na dicção constitucional (art. 5º, V e X da CF, súmulas 37 e 387 do STJ). Destarte, em uma
primeira classificação do dano costuma dividi-lo em patrimonial e moral.

Dano Patrimonial: trata-se de uma lesão a um interesse patrimonial, sendo passível


de restituição integral segundo a teoria da diferença – apura-se qual seria a situação
atual sem o dano e a sua diferença para a situação atual com o dano, reparando
justamente tal diferença, nos termos do art. 944 do CC.
Dano Moral: conceitualmente, consiste o dano moral no prejuízo ou lesão de direitos
desprovidos de conteúdo pecuniário e valor econômico essencial, a exemplo dos
direitos da personalidade (integridades física, psíquica ou moral e intelectual). Há clara
ligação entre tal modalidade danosa e a dignidade da pessoa humana, um dos
fundamentos e essência da República Federativa do Brasil.. É assente nos Tribunais
que o mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada
estão fora da órbita do dano moral, sendo consequências da vida em sociedade. Tal
premissa visa o combate a intitulada indústria, ou da banalização do dano moral.
192
De olho na juris!
Lembra-se que de acordo com a súmula 277 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer
dano moral”.

De olho na banca!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Prefeitura de Boa Vista - RR Prova:
CESPE - 2019 - Prefeitura de Boa Vista - RR - Procurador Municipal
Acerca de responsabilidade civil, de negócio jurídico e de transmissão e extinção de
obrigações, julgue o item seguinte.

Tanto pessoas físicas quanto pessoas jurídicas podem sofrer danos morais.
Gabarito: certo.

Outras classificações relevantes :


A perda de uma chance
A teoria da perda de uma chance (perte d’une chance) surgiu na década de 60 na
França. Na perda de uma chance a pessoa perde aquilo que poderia ser uma
oportunidade séria e real de um possível ganho (chance de obter uma vantagem ou
de eliminar uma desvantagem). Caracteriza-se a perda da chance quando em virtude
de conduta de outrem desaparece a probabilidade de um evento que possibilitaria um
benefício futuro à vítima, como:
o progredir na carreira artística;
o reformar uma decisão em sede recursal;
o ganhar valores em um jogo;
o participar de uma licitação.

A chance perdida haverá de ser séria e real, sendo a indenização da relacionada à


perda da chance. Não se confunde, portanto, com lucros cessantes. Neste, há a perda
do que a pessoa razoavelmente deixou de ganhar (CC, art. 402), à exemplo de um
taxista que por decorrência de um acidente sem ser por sua culpa, fica impossibilitado
de trabalhar durante o conserto do carro, e por isso, deverá ser ressarcido nas
respectivas diárias que razoavelmente auferiria se estivesse com o carro. Na perda de

193
uma chance a lesão ocorre sobre a possibilidade séria e real de uma oportunidade
perdida.

Pega a visão!!!
Enunciado 443 – V Jornada de Direito Civil – CJF: O caso
fortuito e a força maior somente serão considerados
como excludentes da responsabilidade civil quando o
fato gerador do dano não for conexo à atividade
desenvolvida.

De olho na juris!
O Resp. 788589 STJ BA representa um excelente exemplo de indenização por perda
de uma chance. Trata-se do famoso caso do show do milhão, um dos programas mais
famosos da televisão brasileira à época apresentado pelo comunicador e empresário
Silvio Santos. Neste caso real, uma mulher baiana foi para o referido programa e,
quando estava a acertar e evoluir nas perguntas, foi surpreendida com uma questão
sobre a qual não sabia responder, aspecto que a fez desistir do desafio e ficar com
apenas parte do prêmio (RS 500.000,00). Ocorre que ao retornar para casa, a referida
participante resolveu pesquisar a resposta da pergunta que não havia respondido e
descobriu que nenhuma das hipóteses apresentadas pelo programa estaria correta.
Em razão disto ajuizou ação indenizatória para reaver os outros R$ 500.000,00
faltantes. O STJ, no julgamento, levou em consideração a perda da chance, em um
grau de probabilidade (1/4 – assertivas a, b, c e d) e deferiu indenização específica de
R$ 125.000,00.
Dano moral presumido ou in re ipsa. A tese do dano moral presumido, a qual tem
grande acolhimento no Superior Tribunal de Justiça, nasceu da constatação de que é
difícil, no mais das vezes, a comprovação efetiva do dano extrapatrimonial. A
comprovação do dano, seguindo a ótica da ciência processual, em regra, deve ser
feita por aquele que alega. Acontece que na seara extrapatrimonial, por se tratar de
bem jurídico imaterial ou ideal, a dilação probatória torna-se dificultosa. Por conta
disso, em determinadas hipóteses, passaram os tribunais a entender que o dano é
ínsito à própria ofensa, ao ilícito em si mesmo, pois decorre inexoravelmente do próprio
fato ofensivo. Essa é a tese, por exemplo, que se verifica em julgados que impõem
danos morais pela indevida negativação do nome de alguém no SPC e SERASA
(REsp 775.766/PR).

Pega a visão!!!
194
Enunciado 445 – V Jornada de Direito Civil – CJF: O dano
moral indenizável não pressupõe necessariamente a
verificação de sentimentos humanos desagradáveis
como dor ou sofrimento.

Um exemplo pode ser ilustrado na Súmula 403 do STJ, a qual afirma que na veiculação
de imagem, sem autorização, com finalidade comercial, presume-se o dano moral. É,
portanto, in re ipsa, decorrendo da própria conduta.
Dano indireto
O caráter patrimonial ou moral do dano não advém da natureza do direito subjetivo
danificado, mas dos efeitos da lesão jurídica. Decerto, do prejuízo causado a um bem
jurídico econômico pode resultar perda de ordem moral (dano moral indireto), e da
ofensa a um bem jurídico extrapatrimonial pode originar dano material (dano
patrimonial indireto). A isto se denomina dano indireto, pois a lesão moral gera um
prejuízo material indireto, e vice-versa. Exemplo: Pessoa Jurídica que sofre ofensa a
sua boa fama, por conta de inserção do seu nome no cadastro de inadimplentes
(CADIN) e, em decorrência, perde contratos com seus clientes (dano material).
Dano reflexo, oblíquo ou ricochete. Inicialmente, há de ser verificado que boa parte da
doutrina não diferencia o dano indireto do reflexo. De fato, há distinção acadêmica
relevante. Dano moral indireto não é sinônimo do dano moral em ricochete ou reflexo.
No dano reflexo este é fruto de uma lesão sofrida por outrem. Conceitualmente, dano
oblíquo consiste no prejuízo que atinge reflexamente pessoa próxima, ligada à vítima
direta da atuação ilícita. É o exemplo dos filhos incapazes de um cidadão injustamente
alvejado por balas proferidas por um assaltante. Tais filhos perdem o seu direito a
alimentos, sofrendo um dano ricochete. O mesmo exemplo seria possível em relação
à ex-esposa da vítima que possuía direito a alimentos, tudo na forma do artigo 948 do
CC. Já na seara extrapatrimonial, o Código Civil enuncia o que se denomina de
lesados indiretos, nos respectivos parágrafos únicos dos artigos 12 e 20, presumindo
esse dano moral em ricochete quando há parentesco próximo ou relação de
casamento.

Culpa1

1 A culpa é um elemento acidental, porquanto o ordenamento jurídico admite a responsabilidade


objetiva.
195
Culpa lato sensu (dolo ou culpa): A culpa relaciona-se à ideia de descuido e pode
decorrer de negligência (descuido e omissão), imprudência (descuido e ação) ou imperícia
(descuido técnico com ação e omissão).
Note-se que o artigo 186 não fala em imperícia, mencionando apenas imprudência e
negligência, mas as três modalidades são aceitas pela doutrina e jurisprudência.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Outra classificação a respeito da culpa a divide em:


i. culpa in eligendo: a qual decorre da escolha equivocada de um representante,
preposto ou indivíduo para a prática de atos civis, b) culpa in vigilando: resultante
da falha no dever de fiscalização;
ii. culpa in commitendo: decorre de ato positivo, imprudente;
iii. culpa in ommitendo: derivada de omissão, negligência;
iv. culpa in custodiendo: decorre da inobservância dos cuidados relativos à custódia
de animais ou coisas.

No que diz respeito ao tema, é fato que quando se falava em responsabilidade civil
indireta ou por fato de outrem, remetia-se à ideia de culpa in eligendo e culpa in vigilando. Por
exemplo, a questão da responsabilidade civil dos pais pelos atos dos filhos menores se fincava
na culpa in vigilando e a responsabilidade civil do patrão pelos atos do preposto na culpa in
eligendo.

Todavia, é fundamental ressaltar, desde logo, que, para fins de responsabilidade civil
indireta, não mais se aplicam as noções de culpa in eligendo e culpa in vigilando, porque a
responsabilidade civil indireta passou a ser OBJETIVA, nos termos do art. 933 do Código Civil.

Desta maneira, a noção de culpa hoje se torna desnecessária para caracterização da


responsabilidade civil indireta, especialmente a culpa in eligendo e in vigilando. Note-se que
a culpa in eligendo e a culpa in vigilando não foram abolidas do Direito Civil, mas apenas não
são mais utilizadas para a caracterização da responsabilidade civil indireta.

Fala-se, ainda, em:

a. culpa provada: depende de prova do autor;

196
b. culpa presumida: que acarreta inversão no ônus da prova, de modo que há
uma presunção de que o requerido agiu com culpa, devendo este provar a sua
inocorrência.

Outra definição interessante refere-se à culpa contra a legalidade, segundo a qual a


infração de texto de lei ou de regulamento gera presunção de culpa, sendo fator determinante
à responsabilidade civil. O instituto é muito aplicado na jurisprudência em infrações de trânsito.
Exemplo: em caso de colisão numa esquina, há a presunção de culpa daquele que inobserva
a via preferencial. Note-se que a culpa contra legalidade é passível de críticas à luz das teorias
sobre o nexo causal hoje adotadas no direito brasileiro.

Observa-se ainda, que a culpa estrito senso tinha uma aferição subjetiva, ou seja, era
necessário investigar a previsibilidade do agente causador do dano no caso concreto. Era a
chamada culpa psicológica. A investigação era casuística, subjetiva. Só que a culpa
psicológica, hoje, cede espaço em favor da chamada culpa normativa. À luz da culpa
normativa se leva em conta a previsibilidade do agente dentro de um padrão objetivo de
conduta, dentro de um padrão abstrato, ou seja, não é preciso penetrar no âmago do agente
para investigar se aquele indivíduo, naquele momento, tinha ou não condições de antever os
resultados da sua conduta. Essa aferição da existência previsibilidade ou não se dá luz de
parâmetros objetivos.

Note-se, contudo, que, atualmente, vem sendo afastada a figura do homem médio
como único padrão abstrato de conduta admissível. De fato, os autores contemporâneos
entendem que deve ser feita uma aferição objetiva, mas levando em consideração as
circunstâncias do caso concreto.

Nesse ponto, importante destacar que a culpa lato sensu alberga o dolo e a culpa strictu
sensu, abrangendo os seguintes pontos:

ação ou omissão voluntária;


previsibilidade (se o evento era imprevisível exclui-se a responsabilidade);
comportamento do homo medius como parâmetro; d) livre determinação de vontade.

Causas excludentes de ilicitude


São hipóteses nas quais há o rompimento do nexo causal, o interrompendo e não
configurando a responsabilidade civil.

197
Estado de necessidade
O estado de necessidade está previsto no art. 188, inciso II, do CC.

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


[...]
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a
pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Conceitua-se o estado de necessidade na conduta de deterioração ou destruição de


bem jurídico alheio, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente. O ato apenas será
considerado legítimo quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não
excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo, nos termos do parágrafo
único do art. 188 do CC.

Art. 188 [...]


Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo
somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente
necessário, não excedendo os limites do indispensável para a
remoção do perigo.

Defende a doutrina que a agressão deve ter por objeto bem jurídico de valor igual ou
inferior àquele que se pretende proteger.

Observe que a conduta deve ser proporcional. Logo, caso haja excesso, restará
configurado o abuso de direito, ocasionando responsabilidade objetiva.

Outrossim, se no exercício do estado de necessidade for atingido direito de terceiro inocente,


este deverá ser indenizado por aquele que agiu sob o manto da excludente, cabendo-lhe ação
de regresso em face do verdadeiro causador

do perigo (arts. 929 e 930 do CC). Exemplo: condutor, para não atropelar criança, colide com
um muro. O proprietário do muro deverá ser ressarcido pelo condutor, tendo este ação de
regresso em face dos ascendentes do menor. Trata-se de dever de indenizar pela prática de
um ato lícito. Tal responsabilidade demanda análise de culpa.

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho distinguem o estado de necessidade


da legítima defesa, esclarecendo que naquele “o agente não reage a uma situação injusta,
mas atua para subtrair um direito seu ou de outrem de

uma situação de perigo concreto”.

198
Seguindo a influência do direito penal, há quem realize distinção entre estado de
necessidade defensivo e agressivo.

No defensivo, o agente, com o escopo de preservação de bem jurídico próprio ou


alheio, sacrifica bem pertencente ao causador da situação de perigo. Já no agressivo, o
agente, com o escopo de preservação de bem jurídico próprio ou alheio, sacrifica patrimônio
de terceiro.

Frise-se que a decisão penal que haja reconhecido a prática da conduta em estado de
necessidade faz coisa julgada no cível.

Legítima defesa
A legítima defesa está prevista no art. 188, inciso I, do CC. Ocorre quando o agente,
usando moderadamente dos meios necessários, reage a uma agressão injusta, atual ou
iminente, a direito próprio ou alheio. O excesso resulta no dever de indenizar, caracterizando
abuso de direito e acarretando responsabilidade objetiva, portanto.

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de
um direito reconhecido;
[...]

Bem como no estado de necessidade, se for atingido interesse de terceiro inocente,


deverá este ser indenizado por quem agiu amparado pela excludente, o qual terá ação de
regresso em face do verdadeiro causador do dano (art. 930, parágrafo único, do CC). Tal
responsabilidade demanda análise de culpa.

Repare que a legítima defesa putativa supõe negligência na apreciação dos fatos e
por isso não isenta o seu autor da obrigação de indenizar. Salienta-se, ainda, que, por força
do art. 65 do CPP, a decisão penal que haja reconhecido que o agente atuou em legítima
defesa faz coisa julgada no cível.

Exercício regular de um direito

Trata-se de excludente de responsabilidade prevista no art. 188, inciso I, do CC.


(supratranscrito) Exemplo: pequenas violações à integridade física em função de práticas
esportivas autorizadas.

199
No exercício regular de um direito o agente atua autorizado pela lei, ainda que não
exista uma obrigação de assim atuar, mas com a faculdade de assim agir por se encontrar
amparado pelo direito. O exercício regular de direito não se configura abusivo dentro deste
critério objetivo-finalístico analisado nas linhas anteriores (art. 188, I, 2a parte). Outro
ilustrativo exemplo seria o guarda volumes em supermercado, assim como as atividades
desportivas como o futebol e o boxe.

Aqui, também, o excesso caracterizará abuso de direito, gerando responsabilidade


objetiva. Igualmente, se no exercício regular de um direito, o agente causar lesão a bem
jurídico de terceiro, haverá dever de indenizar.

Vale ressaltar que, em que pese não exista previsão expressa do art. 188 do CC, o
estrito cumprimento de um dever legal é aceito por doutrina e jurisprudência como causa
excludente da ilicitude.
Caso fortuito e força maior

De acordo com Sílvio de Salvo Venosa, o caso fortuito e a força maior excluem a
responsabilidade civil porque, em ambas as hipóteses, “inexiste relação de causa e efeito
entre a conduta do agente e o resultado danoso”. São excludentes previstas no art. 393 do
CC.

O CC não fez distinção entre os dois institutos e há grande divergência doutrinária


acerca do tema. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho sustentam inexistir
importância pragmática na diferenciação.

Alguns doutrinadores sustentam que a força maior seria inevitável, ainda que
previsível, relacionando-se a eventos da natureza. Já o caso fortuito seria imprevisível ao
homem médio, decorrendo de condutas humanas.

A doutrina afirma que, para a configuração do caso fortuito e da força maior, exige-se
um fato não culposo, superveniente, inevitável e irresistível. Culpa exclusiva ou fato exclusivo
da vítima. Ocorre quando o dano é causado por conduta exclusiva da vítima, interrompendo
o nexo de causalidade, e, consequentemente, a responsabilidade civil. O CC não traz previsão
específica da aludida excludente, ao contrário do CDC (arts. 12 e 14).

O ônus da prova pertence ao réu, já que se trata de fato impeditivo por este alegado
(art. 373 do CPC). Da mesma maneira, não se deve confundir a culpa exclusiva da vítima com
a culpa concorrente. Nesta, há uma repartição da culpabilidade, uma vez que houve
200
concorrência para o dano tanto do autor quanto da vítima. Tal circunstância influenciará tão
somente na quantificação do dano, mas não excluirá a responsabilidade do agente, nos
termos do art. 945 do CC.

Fato de terceiro

O fato de terceiro ocorre quando o evento danoso deriva de pessoa diversa, afastando
o nexo de causalidade. A aludida excludente não foi expressamente prevista no CC, mas é
aceita pela doutrina e jurisprudência.

Consiste no comportamento causal de um terceiro apto a romper o nexo de


causalidade entre o agente do dano e a vítima. Ex.: na filmagem de uma novela, em uma cena
de assassinato, ao invés de colocar balas de festim, alguém coloca balas de verdade em uma
arma. Neste caso o ator é apenas um instrumento da lesão. Nessas situações, assim como
na de culpa exclusiva da vítima, o ônus da prova será do causador do dano

Olho na juris!
Sobre o tema, atente-se a importante súmula 187 do STF, que consiste em uma exclusão à
regra geral aqui enunciada porquanto a excepcional característica do contrato de transporte
(obrigação de resultado e responsabilidade objetiva): “A responsabilidade contratual do
transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o
qual tem ação regressiva”.

Todavia, observe que o entendimento acima esposado não será aplicado quando o
fato de terceiro se equiparar a um fortuito externo, como no caso de um assalto à mão armada
ou o arremesso de uma pedra. Nesse caso, tratando-se de fato totalmente estranho à
atividade do transportador, haverá o rompimento do nexo de causalidade.
De fato, o artigo e a súmula supracitados referem-se aos fatos ocasionados por terceiro
que se relacionem com os riscos da atividade, como uma fechada no trânsito causadora do
acidente, por exemplo.

Cláusula de não indenizar.

Trata-se de cláusula inserida no contrato pelas próprias partes, em virtude do exercício


da autonomia privada, que exonera o devedor da indenização na hipótese de descumprimento
obrigacional.

201
Em que pese as expressões cláusula de irresponsabilidade e de exclusão de
responsabilidade sejam usualmente utilizadas como sinônimos da cláusula de não indenizar,
Sérgio Cavalieri Filho afirma que tal prática carece de rigor técnico.

De fato, a cláusula em comento não afasta a responsabilidade em si, mas apenas a


indenização. Para o referido autor, a cláusula de irresponsabilidade decorre da lei, como no
caso da legítima defesa, exercício regular de um direito e estado de necessidade. Ressalte-
se, contudo, que a maioria da doutrina usa os termos como sinônimos.

Da mesma forma, vale lembrar que tal cláusula somente é possível em se tratando de
responsabilidade contratual, não sendo admitida a sua incidência no campo da
responsabilidade extracontratual, que envolve questões de ordem pública.

Ademais a cláusula de não indenizar não é admitida no âmbito do CDC (art. 25).
Igualmente, não é aceita a sua inserção em contratos de adesão, uma vez que o art. 424 do
CC veda a renúncia antecipada a direito resultante da natureza do negócio.

Olho na juris!
No que diz respeito a este assunto, é importante a transcrição da súmula 161 do STF:

Súmula 161. Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula


de não indenizar.

O art. 734 do CC trouxe idêntica previsão.

Caso fortuito e força maior

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de


caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver
por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no
fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

São causas que excluem a responsabilidade civil já que decorrem de um evento não
imputável ao suposto causador do dano, seja imprevisível, seja inevitável. Malgrado a
equivalência de efeitos pregada pelo vigente Código Civil, há autores que tentam relatar
critérios distintivos entre o caso fortuito e a força maior. Em uma análise doutrinária percebe-
se uma grande diversidade de posicionamentos, devendo ser adotado para o certame da OAB
o majoritário, o qual prega que a força maior constitui inevitável evento da natureza, sendo
202
fortuito o imprevisível evento humano. Ambos acarretam exclusão de responsabilidade civil,
salvo assunção desta por ato de vontade, na forma do artigo 393 do Código Civil.

Importante destacar, contudo, que apenas o denominado fortuito externo (aquele que
não guarda relação com a atividade exercida, não sendo inerente à mesma) é que excluirá o
dever de reparar o dano. O fortuito interno, inerente à atividade, não é causa excludente. A
este respeito, por exemplo, a súmula 479 do STJ: “As instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados
por terceiros no âmbito de operações bancárias”.

Pega a visão!!!
Observe novamente o já citado Enunciado 443 – V Jornada de Direito Civil – CJF: O
caso fortuito e a força maior somente serão considerados como excludentes da
responsabilidade civil quando o fato gerador do dano não for conexo à atividade desenvolvida.

De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Prefeitura de Manaus - AM Prova: CESPE /
CEBRASPE - 2018 - Prefeitura de Manaus - AM - Procurador do Município
Lucas — vítima de importante perda de discernimento em razão de grave doença
degenerativa em estágio avançado —, devidamente representado por sua filha e curadora
Maria, ajuizou ação indenizatória por danos materiais e morais contra determinada instituição
financeira, sustentando que foram realizados saques indevidos em sua conta-corrente com a
utilização de um cartão magnético clonado por terceiros. Durante a instrução processual, foi
comprovado que os fatos alegados na petição inicial eram verdadeiros.

Nessa situação hipotética, conforme a jurisprudência do STJ, como o ilícito foi praticado por
terceiro, que clonou o cartão magnético e efetuou os saques, ficou configurado evento que
rompeu o nexo causal, afastando a responsabilidade da instituição financeira.
Gabarito: errado.

Lucas não faz jus ao recebimento de indenização por dano moral, tendo em vista não estar
conscientemente sujeito a dor ou sofrimento psíquico devido à significativa perda de
discernimento.
Gabarito: errado.

203
OUTRAS HIPÓTESES DE RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA
O parágrafo único, do art. 927 do CC reconhece responsabilidade civil objetiva para
aquele que desenvolver atividade de risco, bem como para situações nas quais exista lei
especial prevendo, de modo objetivo, o dever de reparar o dano.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Outrossim, o art. 931 do CC admite responsabilidade civil dos empresários individuais


e das empresas por produtos postos em circulação. Em regra, a responsabilidade civil é
subjetiva exigindo, portanto, a demonstração de dolo ou culpa. Todavia, o direito civil brasileiro
apresenta inúmeras situações nas quais o dever de reparar o dano acontecerá ainda que
inexista dolo, ou culpa do agente agressor.
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os
empresários individuais e as empresas respondem
independentemente de culpa pelos danos causados pelos
produtos postos em circulação.

De olho na banca!
Ano: 2013 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-BA Prova: CESPE - 2013 - PC-BA -
Delegado de Polícia
Com relação à responsabilidade civil e aos contratos em geral, julgue os itens que se seguem.
No Código Civil, é prevista a possibilidade de as empresas responderem, independentemente
de culpa, pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.
Gabarito: certo.

Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-AM Prova: CESPE - 2019 - TJ-AM -
Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador
De acordo com o Código Civil, julgue o próximo item, acerca de classes de bens, associações,
fundações, prova do fato jurídico e atos jurídicos.
Situação hipotética: No exercício de determinado direito de natureza civil, um indivíduo agiu
de forma abusiva, excedendo os limites impostos pela finalidade econômica e social do
referido direito e causando dano a terceiro.

204
Assertiva: Nesse caso, a caracterização da responsabilidade desse indivíduo independe da
comprovação de culpa.
Gabarito: certo.

De olho na juris!
De acordo com a súmula 595 do STJ “As instituições de ensino superior respondem
objetivamente pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela realização de curso não
reconhecido pelo Ministério da Educação sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e
adequada informação”, constituindo o verbete um curioso reconhecimento de
responsabilidade civil objetiva pelo risco da atividade exercida na instituição de ensino
superior.
Responsabilidade civil pelo fato da coisa ou de animal:
No Código Civil divide-se em:
▪ A responsabilidade pelos animais

Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por


este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.

Deverá responder neste caso quem se encontrava, quando do evento, sob o poder de
comando e direção do animal. Este será o responsável. Veja o exemplo de um cão
entregue a um adestrador que, sob o poder de comando ou de direção deste, ataca
outra pessoa. Neste caso, o proprietário não terá dever algum de reparar o dano,
enquanto que o adestrador responderá objetivamente. Agora imagine a situação na
qual uma pessoa escala um elevado muro de uma residência na tentativa de assaltar
a casa, desrespeitando inclusive o aviso da existência de animais de guarda, quando
então vem a ser atacado. Neste caso, a culpa exclusiva da vítima é bastante para
quebrar o nexo de causalidade e excluir o dever de reparar o dano. De igual modo, o
fortuito também exclui o dever de reparar o dano. Imagine o crime de roubo em uma
fazenda, quando assaltantes levam cavalos e gados de propriedade de outra. Se tais
animais, posteriormente a isto, forem deixados na pista e houver um acidente de
trânsito, não há como responsabilidade civilmente o proprietário vítima do evento.
Culpa exclusiva da vítima e fortuito: eis as duas específicas hipóteses de exclusão do
dever de reparar o dano na responsabilidade civil por fato do animal.

De olho na banca!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: DPE-DF Prova: CESPE - 2019 - DPE-DF -

205
Defensor Público
De acordo com as disposições do Código Civil e com a jurisprudência do STJ acerca da
responsabilidade civil, julgue o item a seguir.
A responsabilidade civil do dono de animal é objetiva, admitindo-se a excludente do fato
exclusivo de terceiro.
Gabarito: errado.

▪ A responsabilidade por ruína de edifício ou construção

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos


que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos,
cuja necessidade fosse manifesta.

É objetiva também a responsabilidade pela ruína do edifício ou construção por


ausência de reparos cuja necessidade é manifesta e que resultarem de prejuízo à
terceiros. Observa-se que a responsabilidade é do proprietário, o que é sistemático na
visão do vigente Código Civil, ao passo que este é o responsável, segundo o próprio
código, pelas benfeitorias necessárias, de conservação do bem, para evitar que este
se deteriore. Esta responsabilidade civil objetiva também se harmoniza com a própria
ideia de função social da propriedade prevista na Constituição Federal. Portanto, se
um edifício vier a desabar, por exemplo, em decorrência da falta de reparos, o
proprietário deste bem responderá civilmente e de modo objetivo pelos prejuízos
resultantes deste evento lesivo.

▪ A responsabilidade por objetos lançados ou caídos

Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo
dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas
em lugar indevido.

A responsabilidade de objetos jogados, ou caídos também será objetiva. Aqui a


responsabilidade será de quem habitar (do habitante) – pode ser o dono, o locatário,
o comodatário, o promitente comprador. A ação judicial proposta pela vítima contra o
responsável pelo objeto lançado ou caído denomina-se actio de affusis et dejectis. E
se a vítima do dano não souber de que unidade habitacional partiu o objeto? Nesse
caso, a jurisprudência entende que a responsabilidade é de todo o condomínio,
aplicando a teoria da causalidade alternativa (todos os autores possíveis são
responsáveis de forma solidária pelo evento).

206
De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE -
Delegado de Polícia
Túlio, cidadão idoso, natural de Aracaju ‒ SE e domiciliado em São Paulo ‒ SP, caminhava
na calçada em frente a um edifício em sua cidade natal quando, da janela de um apartamento,
caiu uma garrafa de refrigerante cheia, que lhe atingiu o ombro e provocou a fratura de sua
clavícula e de seu braço. Em razão do incidente, Túlio permaneceu por dois meses com o
membro imobilizado, o que impossibilitou seu retorno a São Paulo para trabalhar. Por essas
razões, Túlio decidiu ajuizar ação de indenização por danos materiais. Apesar da tentativa,
ele não descobriu de qual apartamento caiu ou foi lançada a garrafa.
Considerando essa situação hipotética, julgue os itens que se seguem.

Em caso de condenação do condomínio, o direito de regresso contra o morador do


apartamento do qual caiu a garrafa, caso ele seja posteriormente identificado, depende da
comprovação de dolo ou culpa do causador do dano.
Gabarito: errado.

Diante da impossibilidade de saber de qual apartamento caiu ou foi lançada a garrafa que o
atingiu, Túlio poderá buscar a responsabilização direta do condomínio, indicando-o como réu
na ação de reparação de danos.
Gabarito: correto.

Responsabilidade civil por ato de terceiro

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua
autoridade e em sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se
acharem nas mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais
e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em
razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos
onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação,
pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do
crime, até a concorrente quantia.

207
Em regra, a responsabilidade civil é direta e simples, vale dizer, é atribuída àquele que
efetivamente foi autor do dano injusto. Portanto, a responsabilidade civil em regra é própria
(da própria pessoa causadora do dano). Mas, ao lado desta responsabilidade civil que é a
regra (responsabilidade civil direta, simples ou própria), existem casos legais de exceção nos
quais pessoas que não foram causadoras do ato ilícito lesivo ainda assim serão chamadas a
reparar o dano.
A isto se convencionou denominar de responsabilidade civil indireta, complexa ou por
ato de terceiro. São hipóteses nas quais o agente responde pelo ato de um terceiro, de forma
objetiva. Não há de falar-se em presunções de culpa (como a culpa in vigilando). As pessoas
taxativamente indicadas no art. 932 do CC responderão objetivamente por atos praticados por
outras pessoas. Esta responsabilidade será objetiva e solidária, a teor dos arts. 933 e. 942,
do CC).
Deste modo, incide tal responsabilidade segundo o Código Civil e em enumeração
taxativa (art. 932, CC) aos seguintes sujeitos:
os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas
condições;
o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício
do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por
dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e
educandos;
os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente
quantia.

Pega a visão!!!
Enunciado 419 – V Jornada de Direito Civil – CJF: Considerando que a responsabilidade dos
pais pelos atos danosos praticados pelos filhos menores é objetiva, e não por culpa
presumida, ambos os genitores, no exercício do poder familiar, são, em regra, solidariamente
responsáveis por tais atos, ainda que estejam separados, ressalvado o direito de regresso em
caso de culpa exclusiva de um dos genitores.

Ao analisar os preceitos normativos é possível perceber que a redação do inciso III do


artigo 932 do diploma civil superou a antiga súmula 341 do STF, de modo que não há mais
presunção de culpa entre empregador e empregado. O que doravante existe é a

208
responsabilidade civil objetiva pelo ato do empregado (antes havia a culpa in vigilando,
superada como visto agora).

Na oportunidade, deve-se aproveitar para deixar registrado também que o incapaz


pode ser responsabilizado civilmente nos exatos termos do art. 928 do CC. Ao lado dos seus
pais, ou representantes legais, o incapaz acabará por se responsabilizar de forma subsidiária,
condicional e equitativa, pois é isto o que prescreve a norma.

A responsabilidade civil do incapaz é subsidiária porque este apenas irá responder


caso o seu responsável não tenha condições financeiras para tanto, ou responsabilidade de
fazê-lo. Na forma do artigo 116 do ECA (Lei 8.069/1990), em se tratando de ato infracional
com reflexos patrimoniais. Neste caso, a autoridade poderá determinar que o adolescente
(entre 12 e 18 anos) restitua a coisa, promovendo o ressarcimento do dano, ou, por outra
forma, compense o prejuízo da vítima. Nessa linha de pensamento, em clara medida
socioeducativa, o incapaz poderá responder pessoalmente, retirando-se a responsabilidade
dos seus pais ou demais responsáveis. Outrossim, a indenização a ser adimplida pelo incapaz
há de ser fixada de maneira equitativa, não podendo atrapalhar a sua subsistência, ou de
quem dele depende, em busca de tutela do patrimônio mínimo.

Por fim, deve-se também analisar o cabimento de ação regressiva daquele que
efetivamente pagou na responsabilidade civil por ato de terceiro, todo na forma do artigo 934
do CC segundo o qual salvo se o causador do dano for descendente, absoluta ou
relativamente incapaz, daquele que pagou, haverá em regra o direito de regresso. Desta
forma, o pai não pode ajuizar ação em regresso contra o filho. Todavia, o empregador poderá
ajuizar contra o seu empregado. Atente-se que nessa ação em regresso a responsabilidade
perquirida será subjetiva. Aproveitando a oportunidade, resta arrematar o tema sugerindo a
leitura da súmula 537 do STJ segundo a qual “Em ação de reparação de danos, a seguradora
denunciada se aceitar a denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada,
direta e solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida à vítima,
nos limites contratados na apólice”.

De olho na juris!
Veja alguns outros julgados relevantes sobre o tema:
✓ O companheiro que com seu comportamento assume o risco de transmissão do vírus
HIV à parceira responde civilmente pelo dano (STJ, Info 647/19) Em ação destinada a
apurar a responsabilidade civil decorrente de acidente de trânsito, presume-se culpado

209
o condutor de veículo automotor que se encontra em estado de embriaguez, cabendo-
lhe o ônus de comprovar a ocorrência de alguma excludente do nexo de causalidade
(STJ, Info 644)
✓ “O fato de o menor não residir com o(a) genitor(a) não configura, por si só, causa
excludente de responsabilidade civil.” (STJ, AgRg no AREsp 220.930/MG, julgado em
09/10/2012). Não configura hipótese de litisconsórcio necessário, não sendo o caso
de demandar genitores e menor (STJ, REsp 1.436.401-MG, julgado em 02/02/2017)
✓ O descumprimento da lei municipal que estabelece parâmetros para a adequada
prestação do serviço de atendimento presencial em agências bancárias é capaz de
configurar dano moral de natureza coletiva. A violação aos deveres de qualidade do
atendimento presencial, exigindo do consumidor tempo muito superior aos limites
fixados pela legislação municipal pertinente afronta valores essenciais da sociedade,
sendo conduta grave e intolerável, de forma que se mostra suficiente para a
configuração do dano moral coletivo. A instituição financeira optou por não adequar
seu serviço aos padrões de qualidade previstos em lei municipal e federal, impondo à
sociedade o desperdício de tempo útil e acarretando violação injusta e intolerável ao
interesse social de máximo aproveitamento dos recursos produtivos, o que é suficiente
para a configuração do dano moral coletivo. A condenação em danos morais coletivos
cumprirá sua função de sancionar o ofensor, inibir referida prática ilícita e, ainda, de
oferecer reparação indireta à ociedade, por meio da repartição social dos lucros
obtidos com a prática ilegal com a destinação do valor da compensação ao fundo do
art. 13 da Lei nº 7.347/85. STJ. 2ª Turma. REsp 1402475/SE, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 09/05/2017. STJ. 3ª Turma. REsp 1737412/SE, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 05/02/2019.

Situações em que o STJ considera a existência de dano moral in re ipsa (a ofensa à direito
da personalidade independe de provocação)
✓ Ofensa à dignidade da pessoa humana (Info 513);
✓ Agressões verbais ou físicas praticadas por adulto contra criança ou adolescente (info
598);
✓ Inclusão indevida em cadastro de inadimplentes ou protesto indevido (REsp 718618)
✓ Utilização indevida da imagem para fins econômicos ou comerciais (Súmula 403)
✓ Violência doméstica ou familiar contra a mulher (REsp 1675874).
✓ Uso indevido de nome em propaganda (REsp 1645614)

210
✓ Recusa de cobertura financeira de tratamento médico, sob o argumento de existir
cláusula excludente da cobertura das próteses e materiais ligados à cirurgia (AgRg no
AREsp 785243)
✓ Ingestão, ainda que parcial, de alimento contaminado pela larva de inseto (AgInt no
AREsp 1299401).
✓ Edificação particular situada em bem de uso comum (dano à coletividade) (REsp
1681210)
✓ Uso indevido de marca (info 619)
✓ Revendedor de combustível que ostenta uma marca e comercializa outra (dano à
coletividade) (REsp 1487046).

De olho na banca!
Ano: 2011 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-ES Prova: CESPE - 2011 - PC-ES -
Delegado de Polícia - Específicos
Em cada um dos itens que se seguem, relativos às pessoas e suas responsabilidades por
danos causados a outrem, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva
a ser julgada.

Jorge, um menor com dezesseis anos de idade, emancipado por ato unilateral dos pais,
causou dano injusto a Lúcia. Nessa situação, os pais de Jorge não estarão isentos de
indenizar a vítima.
Gabarito: certo.

O carro de Rafael, que estava trancado e estacionado em frente a sua casa, foi furtado por
Pedro. Nessa situação, se Pedro causar lesão a alguém na condução do veículo, Rafael
também poderá ser responsabilizado por ter a guarda jurídica do bem.
Gabarito: errado.

13. POSSE
Inicialmente, o instituto da posse não era dotado de autonomia, sendo considerado
mero apêndice/desdobramento da propriedade. Com o desenvolvimento do Direito, contudo,
foram surgindo teorias que buscaram conceituar a posse de forma independente, com
peculiaridades próprias.

211
Hoje, a posse é um direito autônomo e especial. Não é a mesma coisa que direito de
propriedade. Possuidor é aquele que tem de fato o exercício de algum dos poderes inerentes
à propriedade (art. 1.196, CC). Assim, a posse é um estado de fato e de poder socioeconômico
sobre uma coisa. Tanto isto é verdade que, de acordo com a legislação, a posse se adquire
desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos
poderes inerentes à propriedade (1.204, CC).
O Código Civil reconhece direito autônomo sobre a posse, independentemente do
titular da mesma ser ou não o proprietário do bem. Um belo exemplo, é o art. 1.210 do CC ao
afirmar que o possuidor tem direito a ser reintegrado na posse, no caso de esbulho, mantido
em caso de turbação, ou mesmo segurado nas situações de ameaça. Este direito autônomo
sobre a posse é disciplinado entre os arts. 1.196 e 1.224 do CC.

Teorias explicativas da posse – principais aspectos


As provas objetivas não costumam formular quesitos abordando teorias jurídicas.
Contudo, na particular hipótese, sentimos ser importante trazer breves explicações sobre as
duas teorias mais citadas a respeito do tema, como antecedente lógico necessário à melhor
compreensão do assunto.

Teoria subjetiva (Friedrich Carl Von Savigny)


Posse = corpus + animus.
Savigny, no festejado “Tratado da Posse” (1.824), tentou explicar a posse no direito
alemão com base em ensinamentos provenientes do Direito Romano. Sustentava que a posse
traduziria um poder material sobre a coisa – domínio físico (corpus) – com a intenção de tê-la
para si (animus). Portanto, o aspecto subjetivo seria imprescindível à configuração da mesma.
A crítica à teoria subjetiva reside na dificuldade de comprovação da intenção, do
animus em possuir, daí a teoria objetiva, em contraponto.

Teoria objetiva (Rudolf Von Ihering)


Posse = corpus.
Para Ihering o possuidor é a pessoa que se comporta como se fosse proprietária da
coisa, imprimindo destinação econômica à mesma, independentemente da demonstração do
animus (o comportamento objetivo é que importa). A posse seria a exteriorização da
propriedade.

212
O Código Civil parece adotar, preponderantemente, a teoria objetiva da posse (art.
1.196). Porém, em algumas situações, há indícios da presença da teoria subjetiva
(especialmente na disciplina da usucapião e do fâmulo da posse).

Art. 1.196, CC: Considera-se possuidor todo aquele que tem de


fato o exercício, pleno ou não, de algum (qualquer um – Gozar,
Usar, Dispor e Reaver) dos poderes inerentes à propriedade.

Hodiernamente, é possível também reconhecer o surgimento da teoria sociológica da


posse nitidamente atrelada com o tema da função social. Contudo, não sendo objetivo desta
obra divagar para além da proposta do livro (exame da OAB), resta apenas a breve referência
teórica sobre o assunto.

Posse x detenção: o fâmulo da posse


O Código Civil, em seu artigo 1.198, considera detentor aquele que, achando-se em
relação de dependência para com o outro, conserva a posse em nome deste e em
cumprimento de ordens e instruções suas, instituindo a figura do fâmulo da posse. É o caso,
por exemplo, de um motorista, de uma empregada doméstica, de um caseiro que, de rigor,
não são titulares de posse alguma: atuam apenas como longa manus, prepostos, do
verdadeiro possuidor (empregador).

Todavia, na melhor orientação do Enunciado 301 da III Jornada de Direito Civil “É


possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese
de exercício em nome próprio dos atos possessórios”.

Pega a visão!!!

Enunciado 493 – V Jornada de Direito Civil – CJF: O detentor (art. 1.198 do Código
Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder.

Digno de nota a propósito disto é a disciplina do artigo 1.208 do Código Civil segundo
o qual atos de mera detenção, permitidos e tolerados, não são capazes de gerar a posse. De
fato, a permissão (autorização prévia, induvidosa e expressa) e a tolerância (autorização
posterior e tácita) não retiram daquele que autoriza, ou permite, o estado de poder
socioeconômico sobre o bem, razão pela qual não induzem a posse.

De olho na juris!

213
RECURSO ESPECIAL Nº 1.188.937 - RS
DIREITOS REAIS. RECURSO ESPECIAL. REINTEGRAÇÃO
DE POSSE. IGREJA. TEMPLO. PASTOR QUE SE DESFILIA
DOS QUADROS DE OBREIROS DA RELIGIÃO.
TRANSMUDAÇÃO DA DETENÇÃO EM POSSE.
LEGITIMIDADE PASSIVA CONFIGURADA. ESBULHO.
EXISTÊNCIA DE CONTRATO DE COMODATO. SÚM 7⁄STJ.
USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. INOCORRÊNCIA
1. "Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação
de dependência para com outro, conserva a posse em nome
deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas". (Código
Civil, art. 1.198)
2. Na hipótese, o réu foi ordenado e designado para atuar na
Comunidade Evangélica de Cachoerinha, na condição de pastor
da IECLB, e justamente nessa qualidade é que se vinculava ao
patrimônio da Igreja; isto é, exercia o controle sobre o imóvel em
nome de outrem a quem estava subordinado, caracterizando-se
como fâmulo da posse.
3. A partir do momento em que pleiteou o seu desligamento do
quadro de pastores, continuando nas dependências do templo,
deixando de seguir as ordens do legítimo possuidor, houve a
transmudação de sua detenção em posse, justamente em razão
da modificação nas circunstâncias de fato que vinculavam a sua
pessoa à coisa. Assim, perdendo a condição de detentor e
deixando de restituir o bem, exercendo a posse de forma
contrária aos ditames do proprietário e possuidor originário,
passou a cometer o ilícito possessório do esbulho, sobretudo ao
privá-lo do poder de fato sobre o imóvel.
4. Desde quando se desligou da instituição recorrida, rompendo
sua subordinação e convertendo a sua detenção em posse, fez-
se possível, em tese, a contagem do prazo para fins da
usucapião - diante da mudança da natureza jurídica de sua
apreensão. Precedente.

De olho na banca!
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Prefeitura de Manaus - AM Prova: CESPE /
CEBRASPE - 2018 - Prefeitura de Manaus - AM - Procurador do Município
A respeito da propriedade, da posse e das preferências e privilégios creditórios, julgue o item
subsequente.
O ordenamento jurídico ora vigente admite a possibilidade de conversão da detenção em
posse, a depender da modificação nas circunstâncias de fato que vinculem determinada
pessoa à coisa.
Gabarito: certo.

Classificação da Posse

214
(de acordo com os critérios a seguir)

Quanto ao modo de exercício: posse direta ou indireta (CC, art. 1.197)


A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude
de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o
possuidor direto defender a sua posse contra o indireto (art.1.197, CC). Posse direta é aquela
em que o possuidor tem o contato material e imediato com a coisa. Ex.: inquilino (locatário).

Art. 1.197, CC: A posse direta, de pessoa que tem a coisa em


seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou
real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o
possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.

Posse indireta é aquela de onde a posse direta surgiu, na qual o possuidor está
afastado da coisa, mas aufere vantagens desta, como proprietário no contrato de locação. A
este propósito, o entendimento doutrinário é manso e pacífico no sentido de que “O possuidor
direto tem direito de defender a sua posse contra o indireto, e este, contra aquele”, como se
cristalizou no Enunciado 76 da I Jornada de Direito Civil (CJF/STJ).

Art. 1.210, CC
[...]
§2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a
alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa

Obs.: O que é Composse? É Sinônimo de Posses Paralelas ou Múltiplas?


Os institutos se diferenciam. Denomina-se composse, nos termos do art. 1.199, a situação em
que duas ou mais pessoas exercem posse sobre coisa indivisível. Não se confunde com as
chamadas posses paralelas (ou múltiplas), onde ocorre a existência de posses de naturezas
diversas (direta e indireta) sobre a mesma coisa.

Quanto a existência de vício: posse justa ou injusta (CC, art. 1.200)

Art. 1.200. É JUSTA a posse que não for violenta, clandestina ou


precária.

Para o artigo 1.200 do Código Civil é justa a posse que não for violenta, clandestina
ou precária. Injusta é a posse violenta, clandestina ou precária. Enquanto não cessar a injusta
posse não se pode falar em início de prazo para usucapião, afinal de contas a ninguém é dado
se beneficiar da própria torpeza. O Código Civil apresenta importantes mecanismos de defesa

215
àquele que estaria na posse justa diante de situações como estas: o possuidor tem direito a
ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência
iminente, se tiver justo receio de ser molestado. (art. 1.210)
Posse justa: aquela que não eivada dos vícios da violência, clandestinidade ou
precariedade.
Posse injusta: aquela adquirida de forma violenta, clandestina ou precária.
Posse clandestina: Sujeito entra na casa do outro escondido, quando o cidadão viaja
e começa a exercer posse injusta, nascida da clandestinidade. É o furto.
Posse violenta: Ex.: do Pablo e Fredie disputando a Fazenda. A posse só começa
quando Fredie expulsa Pablo: posse injusta decorrente de violência. É o roubo. A
violência pode ser física ou moral.
Posse precária: A posse é injusta por vício de precariedade quando o possuidor não
devolve a coisa no tempo aprazado. É a apropriação indébita. A precária é aquela
conquistada com abuso de confiança, começa justa e passa a ser injusta (Ex.: contrato
de comodato, porque vencido o prazo do comodato a pessoa deve devolver o bem, se
não o fizer passa a ter a posse precária).

A violência, clandestinidade e precariedade são requisitos cumulativos da posse


injusta? Não, basta a presença de apenas um desses critérios par que a posse seja
qualificada como injusta.
A posse injusta pode ser tutelada juridicamente? A posse, mesmo que injusta, ainda é
posse e pode ser defendida por ações do juízo possessório, não contra aquele de quem se
retirou a coisa, mas sim em face de terceiros. Isso porque a posse somente é viciada em
relação a determinada pessoa (efeito inter partes), não tendo os vícios efeitos contra todos,
ou seja, erga omnes (verifica-se a melhor posse).
Posse injusta é realmente posse? O que é a conversão da posse? A posse injusta é
posse em relação a terceiros; em relação àquele de quem se obteve a posse, é mera
detenção. A pose injusta pode se converter em justa, produzindo a partir de então todas as
consequências possessórias.

Quanto ao elemento psicolocgico: posse de boa-fec ou de mac-fec (arts. 1.201 a 1.203


do CC)

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou


o obstáculo que impede a aquisição da coisa.

216
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a
presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei
expressamente não admite esta presunção.
Trata-se, como se vê, da boa-fé subjetiva que “só perde este caráter no caso e desde
o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui
indevidamente”, a teor do artigo 1.202 do Código Civil, estando diretamente relacionada com
o fato de o possuidor ignorar o vício. Tão só.
Nada disto se confunde com o justo título, nem ainda com o título legítimo, isto por
que: justo título é a justa causa, o justo motivo, independentemente de documento específico
comprobatório da posse, enquanto que título legítimo é o documento hábil a demonstrar, por
escrito, a posse. A este respeito existem dois importantes Enunciados em Jornada de Direito
Civil. O Enunciado 302: “Pode ser considerado justo título para a posse de boa-fé o ato jurídico
capaz de transmitir a posse ad usucapionem, observado o disposto no art. 113 do Código
Civil”. E o Enunciado 303, assim redigido: “Considera-se justo título para presunção relativa
da boa-fé do possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja
ou não materializado em instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da
função social da posse”.

Posse própria e imprópria;

Posse própria é a daquele que tem animus domini (intenção de submeter a coisa ao
exercício de um direito real; ex. posse exercida pelo proprietário do bem).

Posse imprópria é a daquele que tem posse subordinada a posse de outra pessoa,
que tem posse própria (ex. locatário).

Posse originaria e derivada.

Posse originária é aquela que não tem vínculo de aquisição com possuidor anterior.
Pego um livro abandonado ou invado um imóvel e não sou repelido: tenho posse originária,
pois não a adquiri, tomei.

Posse derivada, por outro lado, é aquela adquirida de outro possuidor. Assim, o
inquilino tem posse derivada. Da mesma forma, a pessoa que compra um apartamento e vai
morar nele tem posse derivada.

Posse ad interdicta e ad usucapionem.


217
Posse ad interdicta é aquela hábil à proteção pelos interditos possessórios. Basta que
ela não seja violenta, clandestina ou precária, perante o oponente (lembrar que os vícios da
posse são pessoais; assim, uma posse viciada pode ser, legitimamente, tutelada em face de
terceiros outros que não aquele de quem se obteve a posse mediante violência,
clandestinidade ou precariedade).

Posse ad usucapionem é aquela que autoriza a aquisição por usucapião


(mansa/pacifica, ininterrupta, durante o lapso temporal fixado em lei e com a intensão de
dono).

A posse mansa ou pacífica NÃO SIGNIFICA “posse de boa-fé”,mas sim posse que não
sofreu oposição → pode até ser posse de má-fé, basta que não haja oposição. Ânimo de
domínio. A posse ininterrupta é aquela contínua, que pode também ocorrer por acessio
possessionis(inter vivos) ou sucessio possessionis(causa mortis) em caso de soma da posse.

Quem detém posse injusta não tem posse usucapível. Quem tem posse ad
usucapionem, que é o mais, tem com certeza posse ad interdicta, que é o menos; mas a
recíproca não é verdadeira.

Posse com ação de força nova e de força velha.

Posse nova: aquela até “ano e dia”.

Aquele que tem posse nova pode ter liminar para retomada da posse, mediante
procedimento especial.

Posse velha: aquela que ultrapassa “ano e dia”.

Aquele que tem posse velha, embora não tenha à sua disposição liminar pelo
procedimento especial, pode conseguir tutela antecipada, porém mediante o procedimento
comum (comprovando seus requisitos).

Se a posse tiver exatamente um ano e um dia. Posse nova ou posse velha?

A maioria da doutrina entende que se trata de posse velha. Para ser posse velha deve
ter ano e dia ou mais (Tartuce, Maria Helena Diniz, Carlos Roberto Gonçalves).

Qual o termo inicial do prazo de ano e dia? No caso de turbação da posse, o prazo de
ano e dia conta do último ato de gravame. Se forem vários atos ou uma continuidade de atos,
218
o prazo se conta sempre do último molestamento. Se houver a perda da posse, o prazo corre
a partir do esbulho.

Posse comum e posse trabalho.

Posse trabalho ou posse útil é uma posse especial, a teor dos parágrafos dos artigos
1.238 e 1.242, do Código Civil. Se o possuidor utiliza o imóvel urbano ou rural como moradia
da família, fonte de sustento ou de investimentos de interesse social e econômico, recebe um
tratamento privilegiado: encurta-se o prazo da usucapião.

Posse Comum – por exclusão, é a posse sem os requisitos especiais acima.

Aquisição da Posse

A aquisição da posse acontece desde o momento em que se torna possível o seu


exercício, ou seja, a partir do momento em que o sujeito passa a exercer os poderes inerentes
a propriedade (art. 1.204, CC). Esta posse faz presumir a dos bens móveis, os quais
acompanham o principal (art. 1.209, CC), afinal de contas “A posse do imóvel faz presumir,
até prova em contrário, a das coisas móveis que nele estiverem”.

A posse pode ser adquirida pela própria pessoa, seu representante ou terceiro, desde
que haja ratificação, na forma do artigo 1.205 do Código Civil. Esta posse se transmite aos
herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres (art. 1.206, CC), sendo que
o sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é
facultado unir sua posse à do antecessor, para efeitos legais (art. 1.207, CC), como no caso
da soma das posses para fim da usucapião.

EFEITOS DA POSSE
Quanto à percepção dos frutos (art. 1.214 a 1.216, CC)

A percepção dos frutos em sede possessória estará diretamente relacionada à boa ou


à má-fé do possuidor. Nesta senda, privilegia-se o possuidor de boa-fé, por razões intuitivas.
Os frutos percebidos pelo possuidor de boa-fé a este pertenceram (art. 1.214, CC). Os
pendentes e antecipadamente colhidos ao tempo em que cessar a boa-fé serão devolvidos
após o abatimento das despesas eventualmente ocorridas (p.u, art. 1.214, CC).

219
Detalhe importante a este respeito é que os frutos naturais e industriais se reputam
colhidos e percebidos, logo que são separados. Já os civis, percebidos dia por dia (art. 1.215,
CC).

Nada disto ocorrera na hipótese de má-fé. Este possuidor malicioso responde por
todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber
(fruto percipiendo), desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas
da produção e custeio (art. 1.216, CC).

Todos os frutos colhidos pelo possuidor de má-fé não lhe pertencem. Há


responsabilidade civil direta por tais frutos, como ainda pelos que deixou de perceber. Apenas
para evitar o enriquecimento sem causa é que a legislação admite o reembolso pelas
despesas de produção e custeio. Nada mais.

Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa (arts. 1.217 e 1.218, CC)


Utilizando-se do raciocínio anterior, é possível afirmar que o possuidor de boa-fé só
responde se der causa a perda ou deterioração da coisa, incorrendo em dolo ou culpa. O
possuidor de má-fé responderá até mesmo pelos danos acidentais ocorridos.

Quanto às benfeitorias realizadas na coisa (arts. 1.219 e 1.220, CC)


Se a lei protege o possuidor de boa-fé, este terá direito à indenização das benfeitorias
necessárias e úteis, podendo reter a coisa até que estas sejam pagas. Quanto às voluptuárias,
poderá apenas levantá-las, quando possível (sem prejuízo da coisa). Já o possuidor de má
fé, somente será ressarcido nas benfeitorias necessárias, sem direito à retenção.

Constituto possessório x tradition breve manu

Imagine a hipótese na qual alguém vende um imóvel a outrem, mas continua a habitar
naquele bem, que antes lhe pertencia (agora mediante o pagamento de aluguel). Nesta
situação, este alienante possuía, originariamente, em nome próprio. Contudo, agora, passa a
possuir em nome alheio. A isto se denomina constituto possessório ou cláusula constituti.

O Enunciado 77 da I Jornada de Direito Civil (CJF/STJ) esclareceu, mediante doutrina


firme e consolidada, que “A posse das coisas móveis e imóveis pode ser transmitida pelo
constituto possessório”, tratando-se de importante questão em concursos públicos.

220
E se o inverso ocorresse? A tradittio breve manu é o inverso. Ocorre quando alguém
possuía originariamente algo em nome alheio e, agora, passa a possuir em nome próprio.

EFEITOS DA POSSE.
São as consequências derivadas da posse.
Faculdade de Invocar os Interditos Possessocrios.
Os atentados e ameaças à posse desafiam a tutela possessória. Espécies de
atentados à posse:
Turbação: restrição ao exercício da posse (atentados fracionados à posse; Ex.: colocar
uma caçamba de entulho na porta da garagem de uma casa) – presente .
Turbação agressão que não priva da posse – continua → na posse – Ação de
manutenção de posse.
Esbulho: privação ao exercício da posse, que pode ser total ou parcial (atentados
consolidados à posse) – passado.
Esbulho → agressão que priva da posse – perda da posse – reintegração de posse.
Ameaça: agressão em potencial, ou seja, existe a possibilidade de ocorrer a agressão,
mas ela ainda não ocorreu – futuro. Ameaça ainda não houve agressão, mas existe o
justo receio de que ela venha a ocorrer – agressão → em potencial – Ação de interdito
proibitório(tutela inibitória - obrigação de não fazer).

Olho na juris!
Súmula 228, STJ: “É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral”.

Faculdade de Utilizar a força Física


Trata-se da autotutela, defesa extrajudicial da posse.
No direito civil a autotutela é hipótese excepcional. Desta forma, a utilização da força
não pode ir além do indispensável para resguardar a posse. O possuidor pode usar força
física, se e no momento da agressão, para defender a posse mediante:
Legítima defesa da posse: quando defender turbação;
Desforço imediato: quando defender esbulho. Art. 1.210, §1º, CC: O possuidor
turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto
que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável
à manutenção, ou restituição da posse.

Indenização das Benfeitorias

221
Benfeitoria é feita na estrutura da coisa, de modo sempre artificial, pelo homem,
podendo ser:
Necessária - estruturais, necessárias à manutenção do bem.
Útil - facilitam ou aumentam uso ou gozo do bem.
Voluptuária - para mero deleite (aformoseamento e gustativas).

Possuidor de boa-fé tem direito à indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis+ tem
direito de retenção pelas benfeitorias necessárias e úteis. As benfeitorias voluptuárias podem
ser levantadas (jus tolendi) se não forem pagas + não deteriorarem a coisa, e não geram
direito de retenção.

Art. 1.219, CC: O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das


benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se
não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da
coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias
necessárias e úteis.

Possuidor de má-fé tem direito à indenização por benfeitorias necessárias, porque


estão ligadas à conservação e manutenção. Não tem direito de retenção e não tem direito de
levantar as voluptuárias. Resumindo: somente tem direito de ser ressarcido pela quantia das
benfeitorias necessárias.

Art. 1.220, CC: Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as


benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela
importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.

Possibilidade de Aquisição da Propriedade por usucapião.


Excepcionalmente, a posse que se prolonga por determinado período de tempo
estabelecido em lei, possibilita a aquisição da propriedade pela usucapião; desde que,
obedecidos os parâmetros legais. Denominada posse ad usucapionem.

Percepção de Frutos e Produtos.


Fruto é a utilidade renovável, cuja percepção não diminui a substância da coisa
principal (Ex.: naturais – laranjas; industriais – frutos manufaturados; civil – juros) e os
produtos são utilidades não renováveis, cuja percepção esgota a coisa principal (Ex.: mina de
carvão, petróleo).
O possuidor de boa-fé terá direito aos frutos percebidos; os frutos pendentes devem
ser devolvidos a partir do momento em que tem ciência de sua posse injusta, ou seja, quando
222
cessar sua boa-fé, abatidas as despesas de custeio; o mesmo se diga dos colhidos por
antecipação.

Art. 1.214, CC: O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela


durar, aos frutos percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar
a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as
despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos
os frutos colhidos com antecipação (nada se diz aqui sobe as
despesas com custeio)

Art. 1.215, CC: Os frutos naturais e industriais reputam-se


colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis
reputam-se percebidos dia por dia.

O possuidor de má-fé responderá por todos os que colheu, percebeu e pelos que
deixou de colher quando deveria tê-los colhido (frutos percipiendo). Os pendentes deverão
ser devolvidos.

Art. 1.216, CC: O possuidor de má-fé responde por todos os


frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa
sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu
de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.

De olho na banca!
Ano: 2011 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-ES Prova: CESPE - 2011 - PC-ES -
Delegado de Polícia - Específicos
A respeito da posse e da servidão, julgue os itens a seguir.
Família que resida há mais de cinco anos em terra pública, de forma irregular, terá a posse
precária dessa terra, mas poderá utilizar os interditos possessórios.
Gabarito: errado.

14. DIREITO DE PROPRIEDADE


Apesar de o Código Civil não conceituar o direito de propriedade, o legislador
preocupou-se em definir o proprietário, elencando suas faculdades no artigo 1.228, quais
sejam as de usar, gozar/fruir, dispor e reivindicar a coisa, segundo a sua função social. Dentro
daquilo que se convencionou denominar princípio da taxatividade ou numerus clasulus do
direito real, somente pode ser qualificado como direito real aquele que estiver explicitamente
contido na legislação civil ou especial, daí a enumeração do artigo 1.225: São direitos reais:
I – a propriedade;

223
II – a superfície;
III – as servidões;
IV – o usufruto;
V – o uso;
VI – a habitação;
VII – o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII – o penhor;
IX – a hipoteca;
X – a anticrese;
XI – a concessão de uso especial para fins de moradia;
XII – a concessão de direito real de uso
XIII – a laje.

A propriedade é um direito real complexo, definido no art. 1.228, do CC/02, porque


compreende um feixo de poderes à disposição de seu titular, consistentes nas faculdades de
usar, gozar, dispor e reivindicar a coisa, observando sua função social. Reunindo todos esses
poderes, o sujeito adquire a propriedade plena ou aloidial (concentração dos atributos de usar,
gozar, dispor e reivindicar como proprietário).

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor


da coisa, e o direito de reavêla do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha.

Devemos distinguir, no direito de propriedade, a estrutura interna da estrutura externa.


A primeira abrange os poderes que o titular do direito pode exercer sobre a coisa, e a segunda
as relações entre o proprietário e os terceiros.

A propriedade se instrumentaliza pelo domínio. Ambas as expressões assemelham-


se, mas possuem particularidades: a PROPRIEDADE é uma relação jurídica complexa
formada entre o titular do bem e a coletividade de

pessoas (abstenção). O DOMÍNIO é a relação material de submissão direta e imediata da


coisa ao poder do seu titular, através do exercício das faculdades de uso, gozo e disposição.
Flavio Tartuce: propriedade e domínio são sinônimos.

Atualmente, outro fator limitante do uso abusivo do direito de propriedade é o princípio


da função social, a seguir estudado.

224
Características
Importantes características ajudam o estudante a melhor compreender o conteúdo e
finalidade do direito de propriedade, podendo-se afirmar ser este:
a) COMPLEXO – pois é formado por um plexo (conjunto) de poderes ou faculdades (usar,
gozar/fruir, dispor e reivindicar);
b) ABSOLUTO – pois a sua oponibilidade é “erga omnes” (em face de todos);
c) PERPÉTUO – uma vez que não se extingue pelo simples não uso e pode ser
transmitido de uma geração para outra;
d) EXCLUSIVO – pois afasta o exercício do poder dominial de terceiro sobre a mesma
coisa (quando da propriedade sobre um bem), ressalvando-se apenas a situação do
condomínio, em que há divisão ideal do bem;
e) ELÁSTICO – pois os poderes do proprietário podem ser distendidos ou contraídos,
para formar outros direitos reais, sem perder a sua essência (vide art. 1.231, CC);
Atenção para o mnemônico: CAPEELA!
Função social da propriedade (art. 1.229 e art. 1.230, CC)

A Constituição Federal determina que a propriedade atenderá a função social, sendo


possível afirmar que a cláusula pétrea que assim disciplina o assunto (art. 5º, XXII) trouxe à
lume o princípio da função social da propriedade. Esta mesma Constituição Federal, agora no
artigo 170, III, também identifica a função social da propriedade como um elemento da ordem
econômica. A legislação cível infraconstitucional reflete esta nova perspectiva. Exemplo disto:
a propriedade do solo abrange tanto o espaço aéreo, quanto o subsolo correspondentes em
altura e profundidade úteis ao se exercício, mitigando-se a ideia absoluta da propriedade
plena (art. 1.229, CC).

Eliminada se encontra a ultrapassada ideia medieval segundo a qual qui dominus este
soli dominus est usque ad coelos et usque ad ínferos (quem é dono do solo é também dono
até o céu e até o inferno). Atualmente, portanto, diante da função social, a propriedade do
solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, nem mesmo os potenciais
de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos em leis
especiais. O artigo 176 da Constituição Federal de 1988 e o artigo 84 do Código de Mineração
impedem o assenhoramento (aquisição de domínio) de certos bens minerais que constituem
elementos da propriedade, seja porque estratégicos, seja ante a supremacia do interesse
público sobre o privado, havendo tão somente uma exceção a este respeito, que se refere
aos índios que estão autorizados a fruir também deste patrimônio.
225
Em fiel respeito ao mandamento constitucional prescreve o artigo 1.230 do Código
Civil que a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais,
os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por
leis especiais. Desta forma, a extensão do direito de propriedade é diretamente orientada pela
função socioambiental desta, sem perder de mira o interesse público primário e os interesses
metaindividuais.

Função social da propriedade (art. 5º, XXII e XXIII e art. 170, III, CF)

A função social está dentro do direito de propriedade. O conceito de propriedade só


pode ser devidamente apreendido dentro de uma concepção social, encontrando fundamento
jurídico na Constituição Federal de 1988 (art. 5º, XXIII), motivo que levou o Código Civil a
tratar deste assunto no § 1º do artigo 1228: o direito de propriedade deve ser exercido em
consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam
preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a
poluição do ar e das águas.

A propriedade não é um direito absoluto, sendo defesos os atos que não trazem ao
proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar
outrem (§ 2º, do artigo 1.228, CC). Esta propriedade se presume plena e exclusiva até prova
em contrário (art. 1.231, CC).

Também se entende, à luz do Enunciado 305 da III Jornada de Direito Civil, que “Tendo
em vista as disposições dos §§ 3º e 4º do art. 1.228 do Código Civil, o Ministério Público tem
o poder-dever de atuação nas hipóteses de desapropriação, inclusive a indireta, que envolvam
relevante interesse público, determinado pela natureza jurídica dos bens envolvidos”.
Inúmeros foram os Enunciado elaborados em Jornada de Direito Civil para a análise do artigo
1.228 que, de longe, constitui um dos mais inovadores da legislação privada. A título
ilustrativo, podemos citar ainda os Enunciados 306 a 311.

USUCAPIÃO
USUCAPIÃO PRAZO E CARACTERÍSTICAS
Prazos:
1) EXTRAORDINÁRIA • 15 anos de posse (regra)
(art. 1.238 do CC) • 10 anos

226
O prazo da usucapião extraordinária será de 10 anos se:
a) o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia
habitual; OU
b) nele tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que
estava de boa-fé.
Não importa o tamanho do imóvel.
Prazos:
• 10 anos (caput)
• 5 anos (parágrafo único)

O prazo da usucapião ordinária será de apenas 5 anos se:


a) o imóvel tiver sido adquirido onerosamente com base no
registro e este registro foi cancelado depois; e
b) desde que os possuidores nele tiverem estabelecido moradia,
ou realizado investimentos de interesse social e econômico.
2) ORDINÁRIA
(art. 1.242 do CC)
Ex: o indivíduo compra um imóvel sem saber que havia um vício
na escritura. Nele constrói uma casa ou uma loja.

Essa hipótese do art. 1.242, parágrafo único (prazo de 5 anos) é


chamada por alguns autores de usucapião tabular (veja item 8
abaixo).

Exige justo título e boa-fé.


Não importa o tamanho do imóvel.
Requisitos:
a) 50 hectares: a pessoa deve estar na posse de uma área rural
de, no máximo, 50ha;
b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área
por, no mínimo, 5 anos ininterruptos, sem oposição de ninguém;
3) ESPECIAL RURAL
c) tornar a terra produtiva: o possuidor deve ter tornado a terra
(PRO LABORE)
produtiva por meio de seu trabalho ou do trabalho de sua família,
(AGRÁRIA)
tendo nela sua moradia. Em outras palavras, o possuidor, além
de morar no imóvel rural, deve ali desenvolver alguma atividade
(art. 1.239 do CC)
produtiva (agricultura, pecuária, extrativismo etc).
(art. 191 da CF/88)
d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de
outro bem imóvel (urbano ou rural).

Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que
estava de boa-fé.
Requisitos:
4) ESPECIAL
a) 250m2: a pessoa deve estar na posse de uma área urbana de,
URBANA
no máximo, 250m2;
(PRO MISERO)
b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área
(PRO HABITATIONE)
por, no mínimo, 5 anos ininterruptos, sem oposição de ninguém;
c) Moradia: o imóvel deve estar sendo utilizado para a moradia da
(art. 1.240 do CC)
pessoa ou de sua família;
(art. 9º do Estatuto da
d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de
Cidade)
outro bem imóvel (urbano ou rural).
(art. 183 da CF/88)

227
Observações:
• Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou
que estava de boa-fé;
• Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez;
• É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse
caso, quando for calcular se o tamanho do imóvel é menor que
250m2, não se incluirá a área comum, como salão de festas etc,
mas tão somente a parte privativa);
• O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao
homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado
civil.
Requisitos:
a) existência de um núcleo urbano informal;
b) esse núcleo deve viver em um imóvel cuja área total dividida
pelo número de possuidores seja inferior a 250m2;
c) esse núcleo deve estar na posse do imóvel há mais de 5 anos,
sem oposição;
d) os possuidores não podem ser proprietários de outro imóvel
urbano ou rural.

Neste caso, poderá haver uma usucapião coletiva da área.


5) ESPECIAL
Observações:
URBANA
• O possuidor pode, para o fim de contar o prazo de 5 anos,
COLETIVA
acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas
sejam contínuas.
(USUCAPIÃO
• A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada
FAVELADA)
pelo juiz, mediante sentença, a qual servirá de título para registro
no cartório de registro de imóveis.
(art. 10 do
• Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada
Estatuto da Cidade)
possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada
um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos,
estabelecendo frações ideais diferenciadas.
• O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo
passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no
mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de
urbanização posterior à constituição do condomínio.
• As deliberações relativas à administração do condomínio
especial serão tomadas por maioria de votos dos condôminos
presentes, obrigando também os demais, discordantes ou
ausentes.
O proprietário pode ser privado da coisa se:
- um considerável número de pessoas
- estiver por mais de 5 anos
6) RURAL COLETIVA - na posse ininterrupta e de boa-fé
(art. 1.228, §§ e 4º e 5º - de extensa área
do CC) - e nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente,
obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e
econômico relevante.

228
Neste caso, o juiz fixará a justa indenização devida ao
proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o
registro do imóvel em nome dos possuidores.

Alguns doutrinadores, especialmente civilistas, afirmam que esse


instituto tem natureza jurídica de “usucapião”.
Outros autores, no entanto, sustentam que se trata de uma
hipótese de “desapropriação”, considerando a posição topográfica
(o § 3º do art. 1.228 está tratando sobre desapropriação) e o fato
de se exigir pagamento de indenização.
Requisitos:
a) posse direta por 2 anos ininterruptamente e sem oposição, com
exclusividade;
6) ESPECIAL b) sobre imóvel urbano de até 250m²
URBANA c) cuja propriedade dívida com ex-cônjuge ou ex-companheiro
RESIDENCIAL que abandonou o lar;
FAMILIAR d) utilização do imóvel para a sua moradia ou de sua família;
e) não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
(POR ABANDONO DE
LAR OU CONJUGAL) Observações:
• esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
(art. 1.240-A do CC) uma vez;
• o prazo de 2 anos é contado do abandono do lar;
• aplica-se ao casamento e à união estável (hetero ou
homoafetiva).
Requisitos:
a) posse da terra por índio (integrado ou não)
b) por 10 anos consecutivos
c) devendo ocupar como se fosse próprio trecho de terra inferior
7) INDÍGENA a 50 hectares.
(art. 33 do
Estatuto do Índio) Não é possível a usucapião indígena de:
• terras do domínio da União;
• terras ocupadas por grupos tribais;
• áreas reservadas segundo o Estatuto do Índio;
• terras de propriedade coletiva de grupo tribal.
Trata-se da possibilidade de o réu, em uma ação de invalidade de
registro público, alegar a usucapião em seu favor.
8) TABULAR
O juiz, na mesma sentença que reconhece a invalidade do
(CONVALESCENÇA
registro, declara a ocorrência de usucapião, concedendo ao réu a
REGISTRAL)
propriedade do bem.
(art. 214, § 5º,
A usucapião tabular tem relação com a usucapião ordinária do art.
da Lei 6.015/73)
1.242, parágrafo único, porque exige do possuidor justo título e
boa-fé.
O art. 68 do ADCT da CF/88 confere proteção especial aos
territórios ocupados pelos remanescentes quilombolas. Confira:
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que
9) DE
estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade
QUILOMBOLAS
definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.
(art. 68 do ADCT)
O que são as terras dos quilombolas? São as áreas ocupadas
pelos remanescentes das comunidades dos quilombos e
229
utilizadas por este grupo social para a sua reprodução física,
social, econômica e cultural.

O que são remanescentes das comunidades dos quilombos?


Existe uma grande discussão antropológica sobre isso, mas, de
maneira bem simples, os grupos que hoje são considerados
remanescentes de comunidades de quilombos são agrupamentos
humanos de afrodescendentes que se formaram durante o
sistema escravocrata ou logo após a sua extinção.

Alguns doutrinadores afirmam que esse instituto teria natureza


jurídica de “usucapião”. Essa, contudo, não é a posição que
prevalece, considerando que o fundamento jurídico para esse
direito de propriedade não é a posse mansa, pacífica e por
determinado prazo. A fonte desse direito é uma decisão do
legislador constituinte.
A previsão do art. 68 do ADCT foi uma forma que o constituinte
encontrou de homenagear “o papel protagonizado pelos
quilombolas na resistência ao injusto regime escravista” (Min.
Rosa Weber).
Fonte: dizer o direito.

De olho na juris!
Súmulas sobre usucapião.
▪ Súmula 237-STF: O usucapião pode ser arguido em defesa.
▪ Súmula 263-STF: O possuidor deve ser citado, pessoalmente, para a ação de
usucapião.
▪ Súmula 340-STF: Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os
demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião
▪ Súmula 391-STF: O confinante certo deve ser citado pessoalmente para a ação de
usucapião
▪ Súmula 11-STJ: A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de
usucapião especial, não afasta a competência do foro da situação do imóvel.
▪ Súmula 193-STJ: O direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião.

OUTRAS FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE

Aquisição pelo registro do título

A propriedade de bem imóvel deve ser transmitida mediante registro do instrumento no


cartório de registro de imóveis. Enquanto não houver o registro, inexistirá a transferência da
propriedade. Portanto, quem não registra não é dono, ex vi do artigo 1.245 do Código Civil.

230
Exatamente por isto, enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser
havido como dono do imóvel (§ 1º, art. 1.245), o mesmo ocorrendo enquanto não se promover,
por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento,
o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel (§ 2º, art. 1.245).

O sistema registrário brasileiro é de base romana. Para que haja aquisição da propriedade
é preciso conjugar duas variáveis: o título (contrato) e modo (solenidade na transferência). A
solenidade dos bem móveis é a tradição e nos bens imóveis o registro. Para lei civil o registro
é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial de registro, e este o prenotar
no protocolo (art. 1.246, CC e art. 186 da Lei de Registros Públicos). Trata-se do princípio da
prioridade da prenotação a gerar uma presunção de verdade relativa, juris tantum, a ser ilidida
mediante o cancelamento do próprio registro.

Apesar disto, a doutrina consagrou entendimento no Enunciado 87 da I Jornada de Direito


Civil que “Considera-se também título translativo, para fins do art. 1.245 do novo Código Civil,
a promessa de compra e venda devidamente quitada (arts. 1.417 e 1.418 do CC e § 6º do art.
26 da Lei nº 6.766/79)”, questão que exige cuidado do estudante. À propósito, de acordo com
a súmula 543 do STJ “Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda
de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição
das parcelas pagas pelo promitente comprador – integralmente, em caso de culpa exclusiva
do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu
causa ao desfazimento”.

Aquisição da propriedade imóvel por acessão

Outra forma de aquisição da propriedade imóvel é a acessão, ou seja, a união física de


uma coisa acessória a uma coisa principal, aumentando o volume desta última em favor do
proprietário que, dono da coisa principal, passa também a ser titular da coisa acessória. A
acessão pode ocorrer em seis hipóteses: por formação de ilhas, por aluvião, por avulsão, por
abandono de álveo, por plantação, por construções. É o que afirma o artigo 1.248 do Código
Civil que apresenta formas naturais de acessão (incisos I à IV) e formas artificiais (inciso V).

Não se confunde a acessão (modo de aquisição de propriedade imóvel) com a benfeitoria


(bem acessório). Esta última será sempre artificial, constituindo obra feita na estrutura da
própria coisa, sem implicar aumento de volume significativo desta. A benfeitoria pressupõe
sempre a intervenção humana. A acessão, além de não presumir necessariamente a
231
intervenção humana, aumenta o volume da coisa principal. É considerada modo de aquisição
da propriedade.

Acessão por formação de ilhas

A formação de ilhas, como forma de aquisição natural da propriedade imóvel, é tratada no


artigo 1.249 do Código Civil. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares
pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas certas regras relacionadas à
três situações que podem ocorrer de acordo com o local onde se formar as aludidas ilhas:

i. as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos


terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas,
até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais;
ii. as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se
acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado;
iii. as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a
pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram.

Portanto, um dos modos de aquisição ou transformação da propriedade já existente, que


se dá de modo natural (evento da natureza) e originário, é pela formação de ilhas. Para a
legislação civil situações como estas geram a aquisição do aludido imóvel (os proprietários
ribeirinhos, por exemplo).

Acessão por aluvião


Trata-se de uma forma de aquisição de propriedade imóvel que consiste no acréscimo
lento de resíduos que vão se acumulando à beira do rio, na forma do artigo 1.250 do Código
Civil. Assim, os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e
aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas,
pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização. Dispõe ainda o parágrafo
único do aludido artigo que o terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de
proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a
antiga margem.

Acessão por avulsão

232
Ocorre quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destaca de um prédio e
se junta a outro. Nesta hipótese, o dono do prédio que teve acréscimo deve indenizar o
proprietário daquele que sofreu decréscimo, dentro de um prazo decadencial de um ano. Caso
não exista indenização, poderá o proprietário exigir a terra de volta.

IV. Acessão por álveo abandonado

Entende-se por álveo a linha que divide o meio do rio. Segundo o artigo 1.252 do
Código Civil o álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas
margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem
novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo, sendo
esta outra forma de aquisição da propriedade imóvel, decorrente de um novo traçado do rio.

Acessão por plantações e construções


Toda construção ou plantação existente em um terreno se presume feita pelo proprietário,
à sua custa, até que se prove o contrário (artigo 1.253, CC). Esta presunção é relativa, afinal
de contas: aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou
materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além
de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.

Na forma do parágrafo único, do artigo 1.255 do Código Civil, se a construção ou plantação


for de valor maior do que a do próprio terreno, pode o construtor adquirir a propriedade do
solo, indenizando o seu dono. Esta é a última forma de aquisição da propriedade imóvel por
acessão e a única de forma artificial sendo que, a teor do Enunciado 318 da III Jornada de
Direito Civil o direito à aquisição da propriedade do solo em favor do construtor de má-fé (art.
1.258, parágrafo único) somente é viável quando, além dos requisitos explícitos previstos em
lei, houver necessidade de proteger terceiros de boa-fé.

Pega a visão!!!

O CPC/15 passou a prever a usucapião administrativa alterando a Lei de Registros


Públicos. Trata-se do art. 1.071 que acresceu à Lei Federal nº 6.015/73 o art. 216-A.
Importante destacar ainda que a aludida norma também sofreu alterações nos incisos I e II,
§§ 2º, 6º, 11º, 12º, 13º. 14º e 15º por força da Lei Federal 13.465/2017.

Aquisição da propriedade móvel (arts. 1.260/1.274, CC)


Aquisição por usucapião de bem móvel
233
A usucapião de bem móvel somente ocorre em duas formas, a ordinária e a extraordinária.
A forma ordinária (onde o comum acontece) exige o justo título e a boa-fé, estando prevista
no artigo 1.260. Assim, aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e
incontestadamente durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade.
A forma extraordinária está prevista no artigo 1.261 de modo que se a posse da coisa móvel
se prolongar por cinco anos, produzirá usucapião, independentemente de título e boa-fé. À
usucapião dos bens móveis se aplica subsidiariamente o regime jurídico da usucapião dos
bens imóveis, ou seja, os artigos 1.243 e 1.244 do Código Civil.

Aquisição por ocupação


Existem coisas no mundo jurídico que não são de ninguém – res nulliuis – encontrando-
se em estado de abandono ou inutilidade. De acordo com a legislação, quem se assenhorear
de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação vedada
em lei (art. 1.263, CC), afinal de contas a propriedade deve atender a uma função social.
Trata-se de forma originária de aquisição da propriedade.
Aquisição por achado do tesouro
Os artigos 1.264 a 1.266 do Código Civil também admitem a aquisição da propriedade
móvel relativa ao depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória
devendo este ser dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que achar o tesouro
casualmente, salvo se for achado em decorrência de pesquisa ordenada pelo dono do prédio
ou por este não autorizada, hipótese na qual apenas o proprietário do imóvel se tornará dono
exclusivo do depósito.

Aquisição por tradição


A propriedade do bem móvel não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição,
a teor do artigo 1.267 do Código Civil, razão pela qual se constitui uma das formas de
aquisição da referida propriedade sobre negócios jurídicos válidos.

Aquisição por especificação


Em arremate, a propriedade móvel também poderá ser adquirida por quem, trabalhando
em matéria-prima em parte alheia, obtiver espécie nova, quando desta será proprietário se
não puder restituir à forma anterior (art. 1.269, CC).

PERDA DA PROPRIEDADE.

234
São causas de perda da propriedade: a alienação, a renúncia, o abandono, o
perecimento da coisa e a desapropriação.
A alienação gratuita (doação) ou onerosa (venda) é a forma usual de se perder a
propriedade. Contudo, renúncia e abandono também constituem importantes
modalidades, daí a importância em se distinguir uma situação da outra.
A renúncia é a demissão da titularidade jurídica sobre uma dada coisa. É a declaração
expressa da vontade abdicativa da propriedade.
O abandono constitui um fato jurídico não expresso, mas sobre o qual se pode extrair
a intenção de não mais ser proprietário da coisa: o imóvel urbano que o proprietário
abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não
encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três
anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas
respectivas circunscrições (art. 1.276, CC) Preceitua o § 1º do referido artigo 1.276
que o imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá
ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União,
onde quer que ele se localize.
Também se perde a propriedade mediante o perecimento da coisa, lembrando a
máxima segundo a qual a coisa perece em face de seu dono – res perit domino. O
perecimento simboliza a perda do objeto ou da utilidade do bem.
A desapropriação constitui a última modalidade de perda da propriedade e está
relacionada com a supremacia do interesse social (público) sobre o particular
egoístico.

De olho na banca!
Ano: 2011 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-ES Prova: CESPE - 2011 - PC-ES -
Delegado de Polícia - Específicos
A respeito da posse e da servidão, julgue os itens a seguir.
Família que resida há mais de cinco anos em terra pública, de forma irregular, terá a posse
precária dessa terra, mas poderá utilizar os interditos possessórios.
Gabarito: certo.

DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALEHIA

Visão geral:

235
DIREITO CONCEITO TEMPO OBSERVAÇÃO
Anticrese Direito real de garantia 15 anos (máximo) O credor anticrético
sobre bem frugívero (que pode, salvo pacto
produz frutos). em sentido
Diferente do penhor e da contrário, arrendar
hipoteca, não é credor os bens dados em
preferencial no momento anticrese a terceiro.
da excussão do bem (a
dívida é garantida pelos
frutos e rendimentos, e
não pelo imóvel).
Penhor Direito real na coisa Eterno. Admite-se o
alheia de garantia sobre subpenhor.
bem móvel passível de Exige-se a
alienação. tradição.
Hipoteca Direito real de garantia 20 anos (máximo) A coisa pode ser
sobre bem imóvel alienada.
No SFH, exige-se
consentimento do
credor.
Admitem-se
hipotecas de
diferentes graus.
Alienação Direito real de garantia Enquanto durar o Gera patrimônio de
fiduciária que permite a circulação contrato. afetação.
de bens.
Enfiteuse Arrendamento perétuo Perpétua. Pode ser
repassado, com
direito
de preferência.
Servidão Direito real que gera Perpétua. Inalienável
predial utilidade
em um prédio dominante,
e um
ônus ao serviente
236
Superfície Para superfície da Pode ser Pode ser alienado,
propriedade de outrem temporária ou não mas há direito
para fins de construção (estatuto das de preferência.
ou plantação. Cidades).
Usufurto Direito real que permite Temporário. Inalienável
ao terceiro Pessoa física, é (impenhorável, por
retirar as vantagens, as vitalício. consequência -
utilidades Para Pessoa STJ).
produzidas por um bem Jurídica tem tempo É personalíssimo.
(uso ou habitação) móvel máximo de 30 Não se admite
ou anos. usufruto de 2º grau
imóvel. ou sucessivo,
porque não se
transmite
(inalienável)
Uso e Usufruto com finalidade Temporário Não admite
Habitação específica alienação, locação,
de manutenção da arrendamento etc.
entidade É personalíssimo.
familiar

Especificando....

SERVIDÃO

É direito real na coisa alheia de gozo e fruição através do qual um imóvel (edificação)
sofre uma restrição para gerar um benefício/utilidade/vantagem a outro prédio. Regulado a
partir do artigo 1.378, do CC/02.

Haverá dois prédios envolvidos: o DOMINANTE (recebe a vantagem) e o DOMINADO


ou SERVIENTE (gera a vantagem).

A vantagem ou desvantagem gerada pela servidão adere à coisa, logo, estabelecesse


para o prédio dominado uma OBRIGAÇÃO PROPTER REM.

237
Não confundir servidão com direito de vizinhança. O Direito de vizinhança é limitação ao direito
de propriedade decorrente de lei. É um direito em favor da coletividade, além disso, é
recíproco entre os vizinhos. A servidão é unilateral.

Trata-se do benefício de um prédio em favor de outro. Não há reciprocidade.

Características.
▪ Representa um gravame de um prédio em favor de outro prédio.
▪ É inalienável.
▪ É um direito acessório.
▪ Só haverá servidão entre prédios pertencentes a titulares distintos. Se ambos forem
do mesmo titular, não há necessidade de servidão. Quando os prédios servientes
ficam sob a propriedade do mesmo titular, a servidão é extinta.
▪ Perpetuidade: Toda servidão é perpétua, pois pertence ao prédio e acompanha a
coisa.
▪ Não se presume: Exige declaração expressa dos interessados e consequente registro.
▪ É indivisível.
Constituição.
▪ Pela vontade das partes: negócio jurídico, portanto (inter vivos ou causa mortis).
▪ Como a servidão é uma oneração do imóvel serviente, a outorga conjugal é
indispensável.
▪ Além disso, se o negócio for de valor superior a 30x o maior salário mínimo vigente,
necessário será a escritura pública.
▪ O registro no Cartório de Imóveis é imprescindível em qualquer caso.
▪ Usucapião;
▪ Decisão judicial (exemplo: ação de divisão - desconstituição de condomínio - art. 596,
II do CPC). É o exemplo do condomínio desfeito, onde o magistrado define uma
servidão em favor de um dos novos imóveis criados.

Classificação.
Quanto a impor ação ou abstenção
▪ Servidões Positivas: são aquelas que conferem ao titular da servidão (prédio
dominante, e não o proprietário) o poder de praticar algum ato no prédio dominado.
Exemplo: servidão de trânsito e servidão de aqueduto.

238
▪ Servidões Negativas: são aquelas que impõem ao prédio serviente (dominado) uma
abstenção em relação a um ato que lhe seria possível e lícito. Exemplo: Servidão de
proibição de abertura de janela.

Quanto à necessidade de ação humana para o exercício


▪ Servidões Contínuas: são aquelas cujo exercício é permanente, porquanto dispensam
ato humano para tal. Exemplo:
▪ Servidão de escoamento, passagem de água; servidão de passagem de luz solar. A
própria natureza materializa a servidão.
▪ Jamais se extinguem pelo não uso.
▪ Servidões Descontínua: É a servidão cujo exercício exige intervenção humana.
Exemplo: servidão de passagem; de tirada de água; de não levantar prédio acima de
determinado andar. Podem ser extintas pelo não uso pelo prazo de 10 anos.

Quanto à possibilidade de constatação física exterior


▪ Servidões Aparentes: Visíveis por sinais externos. Ex: Aqueduto.
▪ Servidões Não aparentes: Imperceptíveis por sinais exteriores: Ex: Servidão de
proibição de construção acima de determinado andar.
▪ Relevância da classificação: uso das ações possessórias. Tendo em vista que a posse
é a exteriorização do domínio, o art. 1.213 do CC nega a possibilidade de ações
possessórias às servidões não aparentes, SALVO quando os respectivos títulos
provierem do possuidor do prédio dominado.

Somente as servidões contínuas e aparentes (logo, suscetíveis de posse) podem ser


adquiridas por usucapião. As servidões não aparente, devido à falta de visibilidade, e a
descontínua, devido ao uso intermitente, não autorizavam o reconhecimento da prescrição
aquisitiva.

De olho na juris!

A jurisprudência, no entanto, passou a admitir a proteção possessória da referida


modalidade, desde que se revele a servidão por sinais exteriores.

Nesse sentido: STF Súmula 415 SERVIDÃO DE TRÂNSITO NÃO TITULADA, MAS
TORNADA PERMANENTE, SOBRETUDO PELA NATUREZA DAS OBRAS REALIZADAS

239
(exemplo: marcas de pneus; placas de trânsito etc.), CONSIDERA-SE APARENTE,
CONFERINDO DIREITO À PROTEÇÃO POSSESSÓRIA (e, por conseguinte, usucapião).

Teoria do Ato Ilícito.


Se o prédio dominante retira mais utilidades do que o contrato de servidão lhe permite,
ele pratica um ato ilícito SUBJETIVO. Exemplo: Servidão de tirada de água que permite ao
prédio dominante retirar 10mil litros por dia. Se o sujeito retira 100mil ele comete ato ilícito
SUBJETIVO (pois houve violação da norma-contrato). Agora se o sujeito retira 10mil (dentro
dos limites pactuados), quando necessita de apenas 1mil, pratica ato ilícito objetivo (abuso de
direito), sujeito à
responsabilidade objetiva.

Tutela possessória.
▪ Ações possessórias (a forma mais comum);
▪ Ação confessória: promovida pelo prédio dominante, a fim de obter declaração judicial
de que a servidão existe;
▪ Ação negatória: Objetiva a declaração de que a servidão não existe ou já se extinguiu.
▪ Ação de nunciação de obra nova;
▪ Ação de usucapião.
Extinção.
Via de regra as servidões são perpétuas, mas existem casos onde ocorre sua extinção
(CC/02, art. 1.338). Salvo o caso de desapropriação, todos os demais exigem o cancelamento
do Registro.
▪ Desapropriação: Extinta a propriedade que servia, extinta estará a servidão.
▪ Renúncia pelo titular;
▪ Cessação da utilidade;
▪ Resgate;
▪ Confusão;
▪ Supressão de obras;
▪ Não uso pelo prazo contínuo de 10 anos.

Qual a diferença entre Servidão de passagem x Passagem forçada?


Se um bem está encravado, de forma que o direito de passagem se torna
indispensável ao acesso à via pública, nascente ou porto, não se trata de servidão, mas de
direito de passagem forçada, decorrente de lei (regras de direito de vizinhança), que implica

240
em pagamento de indenização ao prejudicado, que gera responsabilidade civil objetiva para
quem se beneficia. Agora, quando já há um acesso à via pública, mas o sujeito quer uma
passagem mais vantajosa, não se trata de direito de passagem forçada.

USUFRUTO.

É o direito real na coisa alheia que atribui ao seu titular as faculdades de usar e fruir
um bem de outrem (os poderes que integram o domínio são uso, gozo/fruição, disposição e
reivindicação, esse direito real concede o uso e gozo/fruição).

USAR significa extrair da coisa sua finalidade precípua, sem alteração da substância.
FRUIR significa o poder de receber os produtos e rendimentos produzidos pela coisa.

Trata-se do direito real em que melhor se enxergam os poderes do domínio: uso e


fruição com o usufrutuário; disposição e reivindicação com o nu-proprietário.

O usufruto é previsto no art. 1.390 do CC, in verbis:

Art. 1.390. O usufruto pode recair em um ou mais bens, MÓVEIS


ou IMÓVEIS, em um patrimônio inteiro, ou parte deste,
abrangendo-lhe, no todo ou em parte, os frutos e utilidades.,

Objetos do usufruto:
▪ Bem móvel;
▪ Bem imóvel (constituído mediante Registro, salvo usucapião).
▪ Universalidade de bens;
▪ Parte de um patrimônio;
▪ Créditos (art. 1.395)
▪ Florestas e recursos minerais (art. 1.230)
▪ Bem infungível

Entretanto, o art. 1.392, §1º estabelece a possibilidade de o usufruto incidir sobre bens
fungíveis (de forma excepcional). Nesses casos, surge a figura do QUASE USUFRUTO ou
USUFRUTO IMPRÓPRIO, pois, na realidade, a ele se aplicam as regras do MÚTUO. Não é
um usufruto em sua essência.

Características.

241
Confere direito de preferência {CC/02, art. 1.373}.

De forma geral, o usufruto é PLENO, ou seja, o usufrutuário pode retirar da coisa todas
as suas utilidades, mas pode haver restrição prevista em contrato, limitando seu exercício.

O usufruto é temporário, sendo, em regra, VITALÍCIO, salvo disposição contrária com


prazo menor. Todo usufruto é ‘intuitu personae’ (personalíssimo). Por conta disso, jamais
admite transmissão, nem inter vivos nem causa mortis.

Prevê o art. 1.393 que não se pode transferir o usufruto por alienação; mas o seu
EXERCÍCIO pode ceder-se por título gratuito ou oneroso.

Pode ser constituído em favor de pessoa jurídica, hipóteses na qual terá o prazo
máximo 30 anos (para que a coisa não fique muito tempo fora do comércio).

Extinto o usufruto sem a restituição do bem, poderá o nu-proprietário promover a ação


de reintegração de posse, porquanto a não devolução do bem caracteriza esbulho.

Usufruto simultâneo X Usufruto Sucessivo.


▪ Simultâneo: É aquele criado em favor de duas ou mais pessoas, ao mesmo tempo. É
um usufruto permitido. Forma-se uma espécie de ‘consórcio entre os usufrutuários’.
Sendo vitalício, extingue-se pelo óbito do último cousufrutuário.
▪ Sucessivo: É aquele que estabelece uma ordem cronológica e sucessiva do exercício
do usufruto. Exemplo: Usufruto pros meus pais até morrerem; depois passa para meu
irmão; depois que ele morrer para o meu neto etc. O Código PROÍBE o usufruto
sucessivo, pois tal cláusula VIOLA a proibição de transmissão do usufruto. Essa
cláusula é NULA de pleno direito.
Em outras palavras podemos dizer que o direito brasileiro não admite o usufruto de segundo
grau.

Formas de instituição.
▪ Usufruto legal: criado por força de lei. Exemplo: Art. 1.693 do CC Usufruto constituído
em favor dos pais em relação aos bens de seus filhos menores. É;
▪ Por força de norma constitucional: usufruto em favor dos índios das terras da União
que ocupam {CF, art. 20, XI e art. 231, §2º).
▪ Usucapião;
▪ Por decisão judicial (art. 716 do CPC);
242
▪ Por negócio jurídico (inter vivos). Nessa hipótese, tem-se o usufruto por RETENÇÃO
{ex. quando o titular do bem transfere o título aliena o bem, mas reserva para si o
usufruto – representa uma alienação de uso, também o instituto denominado constituto
possessório} ou usufruto por ALIENAÇÃO (quando se dispõe do bem em favor de uma
pessoa, mas transfere-se o usufruto em favor de outra; como no testamento, em que
testa-se em favor de uma pessoa, mas gravou o usufruto em favor de outra).

Características.
▪ Temporário (vitalício para pessoa física, ou 30 anos para pessoa jurídica);
▪ Personalíssimo (favor de uma pessoa ou seu núcleo familiar);
▪ Inalienável (De olho na juris! Impenhorável também, de acordo com o REsp
851.994/PR). A nua propriedade (propriedade sem uso e gozo) é alienável e
penhorável;
▪ Admite renúncia;
▪ Proibição de exercício de usufruto sucessivo. Ou seja, é proibido o usufruto de
segundo grau. Simultâneo é possível.

Extinção.
▪ Renúncia;
▪ Morte;
▪ Confusão;
▪ Advento do termo;
▪ Implemento da condição;
▪ Desapropriação;
▪ Perecimento do bem.

Qual a diferença de fideicomisso e usufruto?

O fideicomisso é a cláusula de substituição do beneficiário de um negócio jurídico


gratuito, como por exemplo, o testamento. No fideicomisso, nomeia-se um substituto para o
beneficiário. Enquanto não se implementa uma condição (exemplo: nascimento do
beneficiário), o bem fica sob a titularidade do substituto.

Isto é, no fideicomisso cria-se uma propriedade resolúvel, que segue uma ordem
sucessiva (primeiro o bem fica com o substituto; depois de implementada a condição passa
para o beneficiário). Essa é a grande diferença para o usufruto. No usufruto o exercício de
243
direitos dos titulares é simultâneo; no fideicomisso é sucessivo. O fideicomisso só é previsto
na forma testamentária pelo CC. A forma

pela doação é criação doutrinária e jurisprudencial, baseada na autonomia da vontade.

O que é usufruto de segundo grau?


Corresponde ao usufruto sucessivo, em que é estabelece uma ordem cronológica e
sucessiva do exercício do usufruto. Exemplo: Usufruto pros meus pais até morrerem; depois
passa para meu irmão; depois que ele morrer para o meu neto etc. O Código Civil PROÍBE
esta figura, pois viola a proibição de transmissão do usufruto. Essa cláusula é NULA de pleno
direito.

O que é usufruto simultâneo?


É aquele criado em favor de duas ou mais pessoas, ao mesmo tempo. É um usufruto
permitido. Forma-se uma espécie de ‘consórcio entre os usufrutuários’. Sendo vitalício,
extingue-se pelo óbito do último cousufrutuário. Admitido pelo sistema jurídico.

USO.

Constitui-se em um direito real sobre coisa alheia de gozo e fruição regulado a partir
do art. 1.412 do CC/02. É um usufruto com finalidade específica; denominado, também,
‘usufruto em miniatura’.

No DIREITO DE USO, somente utilidades específicas da coisa alheia, necessárias


para a manutenção do núcleo familiar, é que são transferidas para o beneficiário. No usufruto
TODAS as vantagens (via de regra) são transferidas.

Família aqui deve ser entendida em sentido afetivo, e não biológico.

HABITAÇÃO.

Constitui-se em um direito real sobre coisa alheia de gozo e fruição regulado a partir
do art. 1.412 do CC/02. Assim como o uso, é um usufruto com finalidade específica;
denominado, também, ‘usufruto em miniatura’.

No DIREITO DE HABITAÇÃO, autoriza-se a um terceiro habitar, gratuitamente, imóvel


de outrem, sozinho ou com sua família (incluindo empregados do lar).

244
O uso e habitação jamais podem ser constituídos em favor de Pessoa Jurídica. Já o
usufruto e a superfície sim. O uso e habitação devem ser regulados com as mesmas
características do usufruto. Assim, também são personalíssimos, não podendo ser alienados
ou transferidos.

Podem, tal como o usufruto, ser adquiridos por usucapião (Súmula 193 - Linha
telefônica - Ver Pablo - Usucapião de direitos).

Diferenças para o usufruto, é que, a habitação e o uso são indivisíveis e incessíveis


(não se pode alugar um direito de uso).

A lei também pode instituir direito real de uso e habitação. No caso do direito real de
habitação do cônjuge sobrevivente, pode o titular levar quem quiser para dentro de casa, sem
qualquer restrição legal.

Há doutrina que, defende a aplicação do princípio da proteção integral da Criança e


adolescente (previsto na Constituição Federal) em face do direito real de habitação do cônjuge
supérstite.

Conforme o art. 7º da Lei 9.278/96, que continua em vigor apesar do NCC, o


companheiro sobrevivente também tem direito real de habitação. No entanto, trata-se de um
direito real de habitação vitalício condicionado. É condicionado a não constituição de nova
entidade familiar. Somente terá direito real de habitação enquanto não constituir nova família.

De olho na juris!
Atenção para as súmulas!
▪ Súmula 76: a falta de registro do compromisso de compra e venda de imóvel não
dispensa a previa interpelação para constituir em mora o devedor.
▪ Súmula 84: É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação
de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que
desprovido do registro.
▪ Súmula 239: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do
compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.

LEI Nº 8.866/1994 (DEPOSITÁRIO INFIEL).


A Lei nº 8.866/94 dispõe sobre o depositário infiel de valor pertencente à Fazenda
Pública e dá outras providências. De acordo com esta legislação, é considerado depositário
245
da Fazenda Pública o indivíduo a que a lei tributária ou previdenciária institui a obrigação de
reter ou receber de terceiro, e recolher aos cofres públicos, impostos, taxas e contribuições,
inclusive à Seguridade Social (art. 1º).

De olho na lei!

Art. 1º. É depositário da Fazenda Pública, observado o disposto


nos arts. 1.282, I, e 1.283 do Código Civil, a pessoa a que a
legislação tributária ou previdenciária imponha a obrigação de
reter ou receber de terceiro, e recolher aos cofres públicos,
impostos, taxas e contribuições, inclusive à Seguridade Social.
§ 1º. Aperfeiçoa-se o depósito na data da retenção ou
recebimento do valor a que esteja obrigada a pessoa física ou
jurídica.
§ 2º. É depositária infiel aquele que não entrega à Fazenda
Pública o valor referido neste artigo, no termo e forma fixados na
legislação tributária ou previdenciária.

Dessa forma, de acordo com o texto legal, se o indivíduo tiver a responsabilidade de


reter o tributo pago por um terceiro (por exemplo: empregador em relação às contribuições
previdenciárias do empregado), este indivíduo seria considerado depositário da Fazenda
Pública.

Além disso, em consonância com o quanto preconizado na Lei, se o indivíduo não


repassasse à União esses valores que ela deveria recolher, seria considerado depositário
infiel, podendo inclusive ser preso.

Segundo a Lei, a União poderia ajuizar a chamada “ação de depósito fiscal” contra o
depositário e se ele não depositasse o valor referente à divida na contestação, ou após a
sentença, no prazo de 24 horas, seria preso. Importante salientar que o devedor poderia
enfrentar este processo judicial de depósito mesmo sem que tivesse chegado ao fim o
processo administrativo fiscal.

Ocorre que, o STF, na ADI 1.055/DF de Relatoria do Min. Gilmar Mendes, (julgado em
15/12/2016 – Info 851) considerou essa lei incompatível com a nossa Lei Maior, sendo então
inconstitucional.

De olho na juris!
O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta
para declarar a inconstitucionalidade da Lei 8.866/1994,
resultante da conversão da Medida Provisória 427/1994,
reeditada pela Medida Provisória 449/1994. A lei impugnada
246
trata do depositário infiel de valor pertencente à Fazenda
Pública.
[...]
No mérito, a Corte explicou que a lei: a) cria a ação de depósito
fiscal, com o escopo primordial de coagir, sob pena de prisão, o
devedor a depositar o valor referente à dívida na contestação,
ou após a sentença, no prazo de 24 horas; b) chancela a
possibilidade de submeter o devedor a sofrer processo judicial
de depósito, sem que tenha ocorrido a finalização do processo
administrativo fiscal; e c) dispõe sobre a proibição de, em se
tratando de coisas fungíveis, seguir-se o disposto sobre o mútuo
(CC/1916, art. 1280; CC/2002, art. 645), com a submissão do
devedor a regime mais gravoso de pagamento, em face dos
postulados da proporcionalidade, do limite do direito de
propriedade e do devido processo legal.
Diante desse cenário, admitir que seja erigido à condição de
“depositário infiel aquele que não entrega à Fazenda Pública o
valor referido neste artigo, no termo e forma fixados na
legislação tributária ou previdenciária” (Lei 8.866/1994, art. 1º, §
2º) para o fim de coagi-lo a pagar a dívida tributária ou
previdenciária da União, dos Estados-Membros e do Distrito
Federal, cria situação mais onerosa do que a prevista no
ordenamento jurídico até então vigente, consistente nas
garantias constitucionais e nas já previstas disposições do CTN
(CF, art. 5º, LV; e CTN, arts. 142, 201 e 204).
À época da edição da Medida Provisória 427/1994, já existia a
Lei de Execução Fiscal (Lei 6.830/1980) e a medida cautelar
fiscal (Lei 8.397/1992), as quais são instrumentos suficientes,
adequados e proporcionais para a cobrança tributária.
Cumprindo o mandamento constitucional do devido processo
legal, ambos os dispositivos estipulam ritos e privilégios para a
tutela da arrecadação ao erário e garantias ao contribuinte.
Sem guardar qualquer correspondência com o postulado da
proporcionalidade e seus subprincípios da necessidade,
adequação e proporcionalidade em sentido estrito, a lei em
questão possibilita o ajuizamento de demanda que coage ao
depósito da quantia devida com ou sem apresentação de
contestação, sob pena de decretação de revelia.
E mais: a legislação questionada admite o ajuizamento de
demanda judicial apenas com base em “declaração feita pela
pessoa física ou jurídica, do valor descontado ou recebido de
terceiro, constante em folha de pagamento ou em qualquer outro
documento fixado na legislação tributária ou previdenciária, e
não recolhido aos cofres públicos” (Lei 8.866/1994, art. 2º, I),
sem que ocorra a finalização do processo administrativo fiscal, o
que fere postulados constitucionais (CF, art. 5º, LIV e LV).
É corolário do princípio do devido processo legal que aos
litigantes sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa,
com os meios e recursos a eles inerentes. O postulado também
se aplica aos processos que contenham relação jurídico-
tributária, razão pela qual aquela medida vulnera a garantia do
contribuinte ao devido processo legal.

247
Nesse sentido, determinar que a contestação seja apresentada
com o depósito do numerário sob pena de revelia equivale a
exigir depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação
judicial, o que é manifestamente proibido pela Suprema Corte,
nos termos da Súmula Vinculante 28.
Ao contribuinte é facultado ajuizar ação de depósito em face do
Fisco, a fim de obter certidão negativa de débito (ou positiva com
efeito de negativa). Porém, ele não pode ser coagido a assim
proceder, sob pena de vulneração ao princípio da
proporcionalidade, do contraditório e da ampla defesa. De outro
lado, não há nenhuma lesão ao patrimônio público, haja vista os
instrumentos processuais à disposição da Fazenda Pública.
Demonstrado, pois, que, se o incremento da arrecadação era o
resultado almejado, o ordenamento jurídico já contém modos e
formas de chegar a resultado semelhante, quais sejam, ação de
execução fiscal ou medida cautelar fiscal. Sob esse aspecto, a
lei em comento não guarda compatibilidade com a norma
constitucional e ainda apresenta outras incompatibilidades.
É cediço que há o dever fundamental de pagar tributos,
entretanto os meios escolhidos pelo Poder Público devem estar
jungidos à necessidade da medida, à adequação e à
proporcionalidade, em sentido estrito, de restringir os meios de
adimplemento em caso de cobrança judicial, as quais não estão
presentes na apreciação da legislação ora questionada.
O Estado brasileiro baseia-se em receitas tributárias. Um texto
constitucional como o nosso, pródigo na concessão de direitos
sociais e na promessa de prestações estatais aos cidadãos,
deve oferecer instrumentos suficientes para que possa fazer
frente às inevitáveis despesas que a efetivação dos direitos
sociais requer. O tributo é esse instrumento. Considera-se,
portanto, a existência de um dever fundamental de pagar
impostos. No caso da Constituição, esse dever está expresso no
§ 1º do art. 145.
Existe inegável conflito entre os cidadãos e os agentes privados
no sentido de transferir para os demais concidadãos o ônus
tributário, furtando-se, tanto quanto possível, a tal encargo. Ao
disciplinar de maneira isonômica, segundo a capacidade
econômica do contribuinte, a distribuição dos ônus tributários e
ao operar por meio da fiscalização tributária para conferir
efetividade a esse objetivo, o Estado está verdadeiramente a
prestar aos cidadãos a função de árbitro de um conflito entre
agentes privados.
Igualmente, o Colegiado observou a lei à luz do disposto no
inciso LIV do art. 5º da Constituição. Constatou que o
instrumento de agir em juízo, lá estabelecido, restringe o
cumprimento da obrigação pelo devedor tributário, quando
determina apenas o depósito da quantia em dinheiro, em claro
desrespeito ao direito de propriedade. Isso ocorre porque o
diploma normativo em questão suprime, parcial ou totalmente,
posições jurídicas individuais e concretas do devedor vinculadas
ao pagamento da dívida tributária, que repercutem em sua
propriedade, ante a existência de rol normativo-legal que já

248
disciplina a matéria com completude. A restrição acaba
conflitando com a existência da ação de execução fiscal, na qual
coincide tal possibilidade, aliada a outras.
A medida legislativa-processual criada não é adequada,
tampouco necessária para obtenção de fins legítimos, por
restringir a propriedade do devedor e estabelecer uma única
forma de pagamento: depósito da quantia devida em
dinheiro no prazo de 24 horas, situação flagrantemente
inconstitucional.
A retirada das disposições relativas à prisão civil por dívidas
acaba com o escopo da legislação em comento. Afinal, não
existe plausibilidade para manutenção da tutela jurisdicional
díspar com o ordenamento jurídico, a qual cria situação
desproporcional e, portanto, inconstitucional para o fim de
otimizar a arrecadação tributária.
Por fim, a possibilidade de manejo da ação de depósito fiscal
está em franco desuso, ante a existência de outros meios de que
o Fisco se pode valer para cobrança de seus créditos, tal como
execução fiscal ou medida cautelar fiscal, fato que não afasta a
inconstitucionalidade.
No entanto, para evitar insegurança jurídica ou qualquer prejuízo
ao erário em relação aos prazos prescricionais, o Tribunal definiu
que as ações de depósito fiscal em curso deverão ser
transformadas em ação de cobrança, de rito ordinário, com
oportunidade ao Poder Público para a sua adequação ou para
requerer a sua extinção.
ADI 1055/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em
15.12.2016. (ADI-1055)
[Grifos nossos]

15. DIREITO DAS FAMÍLIAS

INTRODUÇÃO
De base constitucional, o Direito das Famílias é trazido no art. 226, da CFRB de 1988.
Assim sendo, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, é necessário uma
reconfiguração da interpretação do Direito Civil levando em consideração a
constitucionalização da disciplina.
Veja quadro comparativo:

249
Fonte: https://estudodireitodotcom.files.wordpress.com/2019/05/resumo_direito-civil-
v_ervatti.pdf

Através de uma leitura sistêmica entre da Constituição Federal e do Código Civil é


possível identificar, três espécies exemplificativas de espécies familiares: a matrimonial, a
decorrente da união estável e a monoparental, esta última formada por qualquer dos pais e
respectiva prole.
Passaremos agora à análise dos principais temas do Direito das Famílias mais comuns
em concursos público.

CASAMENTO
Conceito

O casamento é um ato negocial, solene, público e complexo por meio do qual duas
pessoas constituem família pela livre manifestação de vontade e pelo reconhecimento do
Estado. De acordo com o art. 1.511 do Código Civil “O casamento estabelece comunhão plena
de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”.

250
A CF/88 leciona que “o casamento é civil e gratuita a celebração” (§ 1º, art. 226),
permitindo, igualmente, o casamento religioso com efeito civil “nos termos da lei” (§ 1º, art.
226). O artigo 1.512 do Código Civil regulamenta a matéria.

Capacidade para casar


A idade para o indivíduo poder casar é a partir dos 16 (dezesseis) anos, sendo este o
marco inicial da chamada capacidade núbil ou simplesmente capacidade para casar. Os
relativamente incapazes (entre 16 e 18 anos) podem casar com autorização dos pais, ou
tutores, ou ainda judicial os menores de 16 anos não podem casar em nenhuma hipótese (art.
1.520, CC).

De olho na prova!
Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: MPE-CE Prova: CESPE - 2020 - MPE-CE -
Promotor de Justiça de Entrância Inicial
De acordo com o Código Civil, o casamento de quem ainda não atingiu dezesseis anos de
idade é
A. proibido, em qualquer hipótese.
B. permitido, de forma excepcional, somente para a finalidade de evitar imposição ou
cumprimento de pena criminal.
C. permitido, de forma excepcional, somente na hipótese de gravidez.
D. autorizado apenas na hipótese de gravidez ou na situação que tenha a finalidade de evitar
imposição ou cumprimento de pena criminal, desde que haja expressa concordância de
ambos os pais ou representantes legais do(a) menor.
E. autorizado em qualquer hipótese em que haja expressa concordância de ambos os pais ou
representantes legais do(a) menor.
Gabarito: “A”.

Pega a visão!:
• Se o casamento acontecer por autorização judicial, o regime de bens será o da
separação obrigatória, em consonância com o artigo 1.641, CC;
• A autorização concedida pode ser revogada até a data da celebração. Observe-se que
os deficientes são plenamente capazes para o casamento por força do EPD – Estatuto
da Pessoa com Deficiência (arts. 6º, inciso I e 84).

Habilitação para o casamento

251
Para se casar é preciso realizar o pedido a um oficial de registro. É a chamada
habilitação para o casamento, procedimento que se inicia por meio das formalidades
preliminares, e se encerra com a expedição de uma habilitação, em sentido estrito, através
da qual os nubentes ficam autorizados a casarem dentro de 90 (noventa) dias a contar da
data da expedição.

Depois das formalidades preliminares, onde uma relação de documentos é levada ao


notarial, o ato administrativo seguinte será o de submeter tudo ao Ministério Público, para
manifestação a respeito da possibilidade ou não do casamento. Não havendo oposição do
MP, a próxima etapa deste procedimento consistirá na publicação dos editais, também
conhecidos como proclamas, que serão afixados nas circunscrições dos noivos durante 15
(quinze) dias.

Pega a visão!
Enunciado 513 – V JDC/CJF: O juiz não pode dispensar, mesmo fundamentadamente, a
publicação do edital de proclamas do casamento, mas sim o decurso do prazo.

Não havendo oposição, seja do notarial, do Ministério Público ou de terceiros, o


expediente administrativo será concluído, por meio da apresentação do documento de
habilitação, com prazo de validade de 90 dias. Anote-se: prazo decadencial.
Se houver impugnação, o expediente administrativo será encaminhado ao juiz para
que este decida sobre a autorização ou não do casamento. Ps.: apenas neste caso é que o
magistrado atuará. Pois, o processo de habilitação será presidido, do início ao fim, pelo Oficial
de Registro de forma que o juiz apenas agirá na hipótese de impugnação (art. 1.526, p.u, CC).
Em suma, veja o didático quadrinho abaixo:

252
Fonte: http://cartoriopinheirinho.com.br/casamento-civil-por-onde-comeco/

Esse processo todo tem como objetivo averiguar se existiria algum impedimento, ou
causa suspensiva, a atravancar o casamento.

Impedimentos
Os impedimentos são obstáculos invencíveis para que ocorra o casamento. São
situações disciplinadas de forma taxativa na legislação cível que, se presentes, frustram a
realização do enlace matrimonial.

De olho na lei!
Visão geral, Código Civil:

Art. 1.521. Não podem casar:


I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco
natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado
com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até
o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou
tentativa de homicídio contra o seu consorte.

Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento


da celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz.

253
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver
conhecimento da existência de algum impedimento, será
obrigado a declará-lo.

O impedimento nada mais é do que uma proibição jurídica cuja desobediência provoca
a nulidade do casamento (art. 1.548, II, CC).

As causas impeditivas visam reprimir uniões que afetem a prole, a ética, a família, a
ordem e a moral. A aplicação dessas causas abrange, até mesmo, o casamento de
estrangeiros domiciliados no Brasil. A despeito de o artigo 7º da LINDB admitir a aplicação do
estatuto pessoal como exceção da territorialidade, existe disposição expressa na mesma lei
quanto a observância dos impedimentos matrimoniais.

A análise do transcrito art. 1521 do CC demonstra que os impedimentos decorrem ou


de parentesco, ou de vínculo (casamento anterior), ou de crime. Vejamos:

• Parentesco (art. 1.521, I a V, CC): Podem ser por sanguinidade ou afinidade. Alguns
parentes não poderão casar entre si. É o que ocorre, por exemplo, para os parentes
em linha reta e também em relação aos colaterais até o terceiro grau, inclusive. Esta
é a regra, nitidamente relacionada à proteção à saúde e ao ambiente familiar. Todavia,
excepcionalmente será possível o casamento entre colaterais de 3º grau (tios e
sobrinhas), conforme Decreto-Lei 3.200, em seu artigo 2º, desde que se apresente
atestado de dois médicos que examinem os nubentes e reconheçam tecnicamente a
ausência de problema genético. O inciso IV, do artigo 1.521 do Código Civil que proíbe
o casamento entre colaterais de terceiro grau deve ser avaliado em consonância com
esta excepcionalidade (Enunciado 98 do CJF/STJ). Ademais, o vínculo por afinidade
na linha reta não se extingue, de acordo com o art. 1.595, § 2º, tratando-se de
impedimento eterno. Assim, parentes em linha reta por afinidade jamais poderão casar
entre si. São impedidos. Este é o dispositivo que justifica a impossibilidade de
casamento com sogro, ou sogra. Importante lembrar, contudo, que o parentesco por
afinidade colateralidade poderá ser extinto. Por esta razão, em tese é possível
casamento com o cunhado, ou com a cunhada.
• De vínculo. Bigamia (art. 235, Código Pnal) – o inciso VI do artigo 1.521, CC, proíbe
o casamento de pessoas já casadas, o que evidencia a presença do princípio da
monogamia, historicamente consagrado no Direito Matrimonial. Nota-se que além de
impedimento matrimonial, a bigamia também é crime, tipificado no nosso

254
ordenamento. Pega a visão! Esse impedimento não veda a constituição de união
estável, de modo que uma pessoa casada, porém separada, poderá contrair união
estável com outra nestas condições e desde que observada a relação monogâmica.
• De crime. (art. 1.521, VII, CC) – não pode casar o cônjuge sobrevivente com o
condenado em crime de homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu par. Aqui é
importante ter cautela! A norma usa a expressão “condenado”, de forma que se a
pessoa for denunciada e está respondendo ao processo penal, ainda sem condenação
alguma, inao há que se falar em impedimento. Assim como não incide a causa
impeditiva se, depois da celebração do matrimonio, a pessoa vier a ser condenada,
pois o impedimento é analisado no momento anterior (e não posterior) ao casamento.

Pega a visão!
Os impedimentos são matérias de interesse público de forma que podem ser opostos
pelo juiz, Oficial de Registro Civil e por terceiros, de forma fundamentada visando garantir o
contraditório e a ampla defesa, bem como precaver responsabilidades.

Causas suspensivas
Aqui também o código apresenta obstáculos ao matrimonio, mas, tratam-se de
obstáculos superáveis, ou seja, são recomendações do legislador, para algumas pessoas e
situações.

Pega a visão!
Enga-se quem pensa (e infelizmente é um erro corriqueiro) que o desrespeito às
causas suspensivas causa anulabilidade do casamento. Isso não é verdade. O efeito jurídico
resultante de um matrimônio que não “obedeceu” a recomendação normativa será a
imposição do regime da separação obrigatória de bens (art. 1.641, CC). Reparem que o artigo
dos impedimentos utiliza a palavra “podem” e o artigo das causas suspensivas a palavra
“devem”. Em resumo: casamento que contraria impedimento é nulo (CC, art. 1.548).
Casamento que contraria causa suspensiva é casamento válido submetido ao regime da
separação obrigatória de bens.
De olho na lei!
Art. 1.523. Não devem casar:
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto
não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos
herdeiros;

255
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo
ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez,
ou da dissolução da sociedade conjugal;
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou
decidida a partilha dos bens do casal;
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes,
irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou
curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não
estiverem saldadas as respectivas contas.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que
não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos
incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de
prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e
para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a
nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de
gravidez, na fluência do prazo.

Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento


podem ser argüidas pelos parentes em linha reta de um dos
nubentes, sejam consangüíneos ou afins, e pelos colaterais em
segundo grau, sejam também consangüíneos ou afins.

As causas suspensivas, são situações jurídicas eminentemente de ordem privada e


apenas poderão ser opostas pelos parentes em linha reta de qualquer dos consortes, e pelos
colaterais até o segundo grau.

As invalidades do casamento
Podem ser absoluta e relativa.

De olho na lei!

Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:


I - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência)
II - por infringência de impedimento.

Como acabamos de ver, a hipótese de nulidade está no art. 1548, CC, é a ofensa à
impedimentos. Com a chegada do Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi revogado o inciso
I, do artigo transcrito, de forma que hoje há apenas uma hipótese de nulidade absoluta do
casamento.
A decretação de nulidade dar-se-á mediante ação direta, promovida por qualquer
interessado ou pelo Ministério Público.
Sobre a nulidade relativa:

256
Art. 1.550. É anulável o casamento:
I - de quem não completou a idade mínima para casar;
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu
representante legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco,
o consentimento;
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente
soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo
coabitação entre os cônjuges;
VI - por incompetência da autoridade celebrante.
§ 1º Equipara-se à revogação a invalidade do mandato
judicialmente decretada. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
§ 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade
núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade
diretamente ou por meio de seu responsável ou curador.
(Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

Como é possível observar o EPD acrescentou o § 2º ao art. 1.550 do CC para


estabelecer que a pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbil poderá contrair
matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável, ou
curador. Deveras, o art. 6º, I, do EPD, já reconhece a capacidade plena dos deficientes,
inclusive para o casamento e a união estável.

Ademais, lembra-se que não se anula por motivo de idade casamento do qual resultou
gravidez, (CC, art. 1.551).

Outrossim, aquele que não atingiu a idade núbil poderá, depois de completá-la,
confirmar seu casamento, com a autorização de seus representantes legais, se necessária,
ou com autorização judicial. O casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado
por seu representante legal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em cento e oitenta
dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de seus
herdeiros necessários.

No que diz respeito aos vícios de vontade aptos a anular o casamento, destaca-se a
análise da coação e, especialmente, do erro essencial quanto à pessoa.

Os casos de erro essencial estão no art. 1.557 do CC e todas as hipóteses trazidas


são por fatos anteriores ao casamento, cujo conhecimento posterior torna insuportável à vida
em comum.

257
De olho na lei!
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro
cônjuge:
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama,
sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne
insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua
natureza, torne insuportável a vida conjugal;
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico
irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia
grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr
em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
IV - (Revogado) . (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência)

Vale destacar aqui a questão do transexual que, depois de operado, casa-se e não
avisa sobre a situação ao seu par. Trata-se de tema bastante polêmico! Pois, por um lado, a
vida privada constitui direito fundamental – preservação da intimidade das pessoas (CC, art.
21), por outro lado a boa-fé (CC, art. 187) e a comunhão plena de vida instituída pelo
casamento (CC, art. 1.511) justificariam a comunicação deste fato ao futuro(a) cônjuge. Este
assunto não encontra-se pacificado na doutrina, muito menos na jurisprudência pátria.

E os prazos?

Salienta-se que os vícios não serão passíveis de anular o casamento se, depois da
ciência, houver coabitação (trata-se de conservação). A anulação somente poderá ser
requerida pelo cônjuge, havendo prazos de I – cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do
art. 1.550; II – dois anos, se incompetente a autoridade celebrante; III – três anos, nos casos
dos incisos I a IV do art. 1.557; IV – quatro anos, se houver coação. Extingue-se, em cento e
oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores de dezesseis anos, contado o prazo
para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento, para seus
representantes legais ou ascendentes. No caso do inciso V do art. 1.550, o prazo para
anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a partir da data em que o mandante tiver
conhecimento da celebração.

Celebração do casamento
De olho na lei!

Vejamos:
258
Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o
homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de
estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados.

O registro do casamento é ato corolário fundamental para a existência do mesmo,


tanto que é realizado com data retroativa ao evento, tendo efeito declaratório. Celebrado o
matrimônio “logo depois” lavra-se assento no livro de registro (art. 1.536, CC/02 e art. 70 da
Lei 6.015/73).

A celebração do matrimonio é ato super formal, apenas estando finalizado depois da


leitura da fórmula sacramental, em conformidade com o quanto preconizado no art. 1.535,
CC. In verbis:
Art. 1.535. Presentes os contraentes, em pessoa ou por
procurador especial, juntamente com as testemunhas e o oficial
do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a
afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea
vontade, declarará efetuado o casamento, nestes termos: "De
acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante
mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da
lei, vos declaro casados."

A incompetência da autoridade celebrante é causa somente de anulabilidade do


casamento, em consonância com o art. 1.550, VI, CC. Contudo, recorda-se que de forma
excepcional é possível a celebração do casamento sem a presença da autoridade competente
para o ato. É o chamado casamento em iminente risco de vida, previsto no art. 1.540, CC.
Ocorre quando um dos noivos está em iminente risco de vida, sendo o casamento celebrado
na presença de 6 testemunhas

Ainda sobre a autoridade celebrante, observe que a legislação cível albergou a teoria
do funcionário de fato (teoria da aparência), ao declarar que subsiste o casamento celebrado
por aquele que, sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções
de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil (art. 1561,
CC).

Espécies de casamento
Pela norma civil temos no Brasil cinco espécies de casamento, tais sejam:

Casamento civil
259
Presente no art. 1.534 e ss do CC, o casamento se realiza, regra geral, na sede do
cartório. Todavia, poderá acontecer em outro edifício público ou particular. Se efetivado em
edifício particular o ato deverá ser feito na presença de 4 (quatro) testemunhas. Também
serão 4 testemunhas se um dos nubentes não puder ou não souber escrever. Caso contrário,
bastam duas testemunhas para o ato solene realizado em cartório.
E não poderia ser diferente ante o fenômeno republicano da laicização da sociedade
civil brasileira (separação entre a Igreja e o Estado). Se a sociedade é civil, o casamento, via
de regra, também será.

Casamento religioso com efeito civil


À luz do art. 74 da Lei de Registros Públicos, o casamento religioso com efeito civil
demanda o procedimento prévio de habilitação. De fato, somente é religiosa a celebração do
casamento, pois todo o procedimento anterior e o registro posterior são idênticos ao civil.
A CF/88 garante no seu art. 5º, inciso IV, o livre “exercício de cultos religiosos”,
tutelando de igual maneira os “locais de culto e as suas liturgias”, daí a disposição do artigo
1.515, do Código Civil de 2002 a admitir o casamento religioso com efeito civil.

Moléstia grave ou nuncupativo


Consiste no casamento que acontece quando um dos cônjuges esta acometido de
doença grave (não estando em perigo iminente de vida – que é outra espécie já citada). O
assunto está disciplinado no artigo 1.539 do Código Civil.
De olho na lei!

Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o


presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido,
sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que
saibam ler e escrever.
§ 1º A falta ou impedimento da autoridade competente para
presidir o casamento suprir-se-á por qualquer dos seus
substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad
hoc, nomeado pelo presidente do ato.
§ 2º O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado
no respectivo registro dentro em cinco dias, perante duas
testemunhas, ficando arquivado.

Iminente risco de vida ou nuncupativo


Essa hipótese já foi ventilada mais acima. Aqui o(a) noivo(a) está à beira da morte,
não sendo viável a espera para nomear autoridade celebrante, para realizar processo de
habilitação, publicar edital, etc. Nesta espécie de casamento nenhuma formalidade preliminar

260
acontecerá. Não haverá procedimento de habilitação. Em virtude de tantas peculiaridades,
serão necessárias 6 (seis) testemunhas, que não sejam parentes em linha reta, nem colateral
até segundo grau dos nubentes (art. 1540 do CC).

De olho na lei!

Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente


risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual
incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o
casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que
com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na
colateral, até segundo grau.

Importante esclarecer que as testemunhas de casamento, em regra, podem ser


parentes. Especificamente, na situação do casamento em iminente risco de vida, todavia,
existe proibição por tratar-se de uma hipótese incomum na qual o ato é realizado sem seu
presidente, por causa da urgência, bem como para proteger a lisura da ordem de vocação
hereditária (CC, art. 1.829), evitando eventuais fraudes, ou abusos.
Na sequência temos que:
Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas
comparecer perante a autoridade judicial mais próxima, dentro
em dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de:
I - que foram convocadas por parte do enfermo;
II - que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo;
III - que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e
espontaneamente, receber-se por marido e mulher.
§ 1º Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz
procederá às diligências necessárias para verificar se os
contraentes podiam ter-se habilitado, na forma ordinária,
ouvidos os interessados que o requererem, dentro em quinze
dias.
§ 2º Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento,
assim o decidirá a autoridade competente, com recurso
voluntário às partes.
§ 3º Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em
julgado, apesar dos recursos interpostos, o juiz mandará
registrá-la no livro do Registro dos Casamentos.
§ 4º O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento,
quanto ao estado dos cônjuges, à data da celebração.
§ 5º Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo
antecedente, se o enfermo convalescer e puder ratificar o
casamento na presença da autoridade competente e do oficial
do registro.

Casamento por procuração


É encontrado no art. 1.542 CC
261
Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante procuração,
por instrumento público, com poderes especiais.
§ 1º A revogação do mandato não necessita chegar ao
conhecimento do mandatário; mas, celebrado o casamento sem
que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da
revogação, responderá o mandante por perdas e danos.
§ 2º O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá
fazer-se representar no casamento nuncupativo.
§ 3º A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias.
§ 4º Só por instrumento público se poderá revogar o mandato.

Efeitos pessoais do casamento


O matrimônio gera efeitos pessoais e patrimoniais. Entre os efeitos pessoais do
matrimônio é possível citar a mudança do estado civil (de solteiro para casado), a possível
mudança do domicílio e acréscimo do sobrenome, além dos direitos e deveres conjugais
previstos no artigo 1.565 e 1.566 do Código Civil, vejamos:

Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem


mutuamente a condição de consortes, companheiros e
responsáveis pelos encargos da família.
§ 1º Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu
o sobrenome do outro.
§ 2º O planejamento familiar é de livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e
financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo
de coerção por parte de instituições privadas ou públicas.
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I - fidelidade recíproca;
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
V - respeito e consideração mútuos.

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: TJ-AL Prova: FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto
De acordo com o Código Civil, o casamento
A. dispensa habilitação se ambos os cônjuges forem maiores e capazes.
B. é civil e sua celebração gratuita.
C. religioso não produz efeitos civis, em nenhuma hipótese.
D. pode ser contraído entre colaterais, a partir do terceiro grau.
E. pode ser celebrado mediante procuração, por instrumento público ou particular.
Gabarito: “B”.

262
REGIME DE BENS (efeitos patrimoniais do casamento)
O regime de bens é o “regulamento” patrimonial do casamento, isto é, o regimento que
avalia a comunicabilidade ou não de determinado patrimônio ao longo da dinâmica econômica
do casal.
O regime de bens submete-se a dois princípios: liberdade de escolha, o qual é
exercitado pelo pacto antenupcial, e mutabilidade.

Pacto antenupcial

Na hipótese dos nubentes não quererem se aderir a comunhão parcial de bens, o


negócio jurídico de família que há de ser realizado para atingir esta finalidade é chamado
“pacto antenupcial” ou convenção matrimonial.

Consiste em negócio jurídico solene, que apenas poderá ser feito por escritura pública,
sob pena de nulidade. Em relação aos efeitos, o pacto antenupcial apenas será eficaz se lhe
seguir o casamento, em consonância com o art. 1.653, CC, sendo o casamento uma condição
suspensiva. Perante terceiros, somente produzirá efeitos se registrado pelo oficial de Registro
de Imóveis do domicílio conjugal (art. 1.657, CC)

É possível ao relativamente incapaz firmar pacto antenupcial, desde que obtenha


aprovação do seu representante legal. Não será necessária a intervenção do representante
se o regime escolhido for separação de bens. Ademais, destaca-se, que o referido pacto não
poderá contrariar preceitos de ordem pública.

Finalmente, através do pacto é possível que os noivos optem por um regime de bens
já regulado no Código Civil (comunhão universal, separação convencional ou participação
final nos aquestos), ou que realizem regime próprio, híbrido, misto, exercitando a variabilidade
e autonomia (Enunciado 331 do CJF).

Mutabilidade
Um dos aspectos mais ousados do CC/02 está na viabilidade de modificação do
regime de bens entre os cônjuges.
De olho na lei!
Veja o que diz o art; 1.639, CC

Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o


casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes
aprouver.
263
§ 1º O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde
a data do casamento.
§ 2º É admissível alteração do regime de bens, mediante
autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges,
apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os
direitos de terceiros.

Em outras palavras, essa alteração é possível desde que: o pedido seja conjunto, de
ambos, sem litígio algum e, fundamentado, haja decisão judicial, com a máxima publicidade
e sem causar um só prejuízo a terceiros.

O art. 734 do CPC/15, traz que a alteração do regime de bens do casamento,


observados os requisitos legais do Código Civil, poderá ser requerida motivadamente em
petição assinada por ambos os cônjuges, na qual serão expostas as razões que justificam a
alteração, ressalvados os direitos de terceiros.

Recebida a petição inicial, o Juiz determinará a intimação do Ministério Público e a


publicação de edital que divulgue a pretendida alteração de bens, somente podendo decidir
depois de decorrido o prazo de 30 dias da publicação do edital. Será possível, contudo, que
os cônjuges peçam ao Juiz meio alternativo de divulgação da alteração do regime de bens,
visando proteger direitos de terceiros. Depois do trânsito em julgado da sentença que acatar
o pedido, serão expedidos mandados de averbação aos cartórios de registro civil e de imóveis
e, caso qualquer dos cônjuges seja empresário, ao Registro Público de Empresas Mercantis
e Atividades Afins.

Pega a visão!!

A mudança de regime é ex Nunc, isto é: não retroage, não modifica o passado, nem
as relações jurídicas perfeitas e acabadas (Enunciado 113 do CJF).

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: Instituto Consulplan Órgão: MPE-SC Prova: Instituto Consulplan - 2019 -
MPE-SC - Promotor de Justiça - Matutina
Segundo estabelece o Código Civil, é admissível alteração do regime de bens, mediante
autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das
razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.
Gabarito: “correto”.

264
Espécies de regime de bens
Visão geral. Veja o quadro abaixo:

Observe que na realidade, são cinco as espécies de regime de bens textualmente


previstas no CC de modo meramente ilustrativo, quais sejam:
1. Comunhão parcial de bens – o regime legal.
2. Separação obrigatória
3. Separação convencional
4. Comunhão universal
5. Participação final nos aquestos.

Vamos abordar os principais aspectos individualmente.


265
Comunhão parcial de bens

O regime legal. Não existindo convenção, isto é, pacto antenupcial quanto aos bens
entre os cônjuges, ou sendo este nulo, ineficaz, a teor do artigo 1.640 do Código civil
determina que vigorará “entre os cônjuges o regime da comunhão parcial”. Consiste em
regime supletivo a ser aplicado na hipótese de não haver pacto antenupcial, ou ainda para o
caso deste ser inválido, ou ineficaz.

Na comunhão parcial de bens “comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na


constância do casamento”, (art. 1.658, CC), com as exceções previstas no artigo 1.659 do
CC. A regra geral, portanto, é a separação para o passado e comunhão para o futuro.
Portanto, não se comunicam “os bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao
casamento”, (art. 1.661, CC). Os bens móveis presumem-se, de forma relativa, adquiridos na
constância do casamento, falando-se em comunicabilidade, em regra.

De olho na lei!

O artigo 1.660 elenca os demais bens que adentram na comunhão. Vejamos:

Art. 1.660. Entram na comunhão:


I - os bens adquiridos na constância do casamento por título
oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges;
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso
de trabalho ou despesa anterior;
III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor
de ambos os cônjuges;
IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada
cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes
ao tempo de cessar a comunhão.

De acordo com o artigo 1.663, CC a administração dos bens comuns compete a


qualquer um dos cônjuges, pois a CF/88 não mais admite a sociedade patriarcal, sendo todas
as pessoas iguais em direitos e deveres. Já a administração dos bens particulares competirá
ao seu proprietário (art. 1.228 e 1.665, CC).
Não comunicam:

Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:


I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe
sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou
sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;
266
II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes
a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares;
III - as obrigações anteriores ao casamento;
IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão
em proveito do casal;
V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas
semelhantes.

De olho na juris!
Veja a jurisprudência em teses do STJ:
STJ. Jurisprudência em Teses, em EDIÇÃO N. 113: DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE
CONJUGAL E DA UNIÃO ESTÁVEL - I. 4) Deve ser reconhecido o direito à meação dos
valores depositados em conta vinculada ao Fundo de Garantia de Tempo de Serviço - FGTS
auferidos durante a constância da união estável ou do casamento celebrado sob o regime da
comunhão parcial ou universal de bens, ainda que não sejam sacados imediatamente após a
separação do casal ou que tenham sido utilizados para aquisição de imóvel pelo casal durante
a vigência da relação.
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EDIÇÃO N. 113: DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE


CONJUGAL E DA UNIÃO ESTÁVEL - I.
3) As verbas de natureza trabalhista nascidas e pleiteadas na
constância da união estável ou do casamento celebrado sob o
regime da comunhão parcial ou universal de bens integram o
patrimônio comum do casal e, portanto, devem ser objeto da
partilha no momento da separação.
5) A valorização patrimonial dos imóveis ou das cotas sociais de
sociedade limitada, adquiridos antes do casamento ou da união
estável, não deve integrar o patrimônio comum a ser partilhado
quando do término do relacionamento, visto que essa
valorização é decorrência de um fenômeno econômico que
dispensa a comunhão de esforços do casal.
6) Os valores investidos em previdência privada fechada se
inserem, por analogia, na exceção prevista no art. 1.659, VII, do
Código Civil de 2002, consequentemente, não integram o
patrimônio comum do casal e, portanto, não devem ser objeto da
partilha. (Art. 1.659, VII - as pensões, os meios-soldos, os
montepios e outras rendas semelhantes).
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RO Prova: VUNESP - 2019 - TJ-RO - Juiz de Direito
Substituto
No regime da comunhão parcial de bens, pode-se afirmar corretamente:

267
A. Não deve ser reconhecido o direito à meação dos valores depositados em conta vinculada
ao Fundo de Garantia de Tempo de Serviço – FGTS auferidos durante a constância da união
estável ou do casamento celebrado sob o regime da comunhão parcial de bens, salvo se
utilizados para aquisição de imóvel pelo casal durante a vigência da relação.
B. Os valores investidos em previdência privada fechada não se inserem na previsão legal
que excepciona da comunicabilidade as pensões, os meios-soldos, os montepios e outras
rendas semelhantes e, dessa forma, integram o patrimônio comum do casal, devendo ser
objeto da partilha.
C. As obrigações provenientes de atos ilícitos, mesmo que não revertam em proveito do casal,
bem como os bens que sobrevierem ao cônjuge, na constância do casamento, por doação ou
sucessão, e os sub-rogados em seu lugar, integram o patrimônio comum do casal e, portanto,
devem ser objeto de partilha.
D. A valorização patrimonial dos imóveis ou das cotas sociais de sociedade limitada,
adquiridos antes do casamento ou da união estável, não deve integrar o patrimônio comum a
ser partilhado quando do término do relacionamento, visto que essa valorização é decorrência
de um fenômeno econômico que dispensa a comunhão de esforços do casal.
E. As verbas de natureza trabalhista nascidas e pleiteadas na constância da união estável ou
do casamento celebrado sob o regime da comunhão parcial de bens não integram o
patrimônio comum do casal e, portanto, não devem ser objeto da partilha no momento da
separação.
Gabarito: “D”.

Ano: 2019 Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Órgão: DPE-MG Prova: FUNDEP (Gestão
de Concursos) - 2019 - DPE-MG - Defensor Público
No regime da comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na
constância do casamento, excluindo-se da comunhão
A. os ganhos eventuais.
B. as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge.
C. as obrigações provenientes de ato ilícito revertidas a um dos cônjuges.
D. os bens adquiridos na constância do casamento a título oneroso com esforço exclusivo de
um dos cônjuges e apenas em seu nome.
Gabarito: “C”.

Comunhão universal de bens.

268
A escolha deste regime acarreta na comunicação de todo o patrimônio presente e
futuro do casal, inclusive as dívidas, com poucas exceções de incomunicabilidade, que estão
previstas no artigo 1.668 do Código Civil, vejamos:

Art. 1.668. São excluídos da comunhão:


I - os bens doados ou herdados com a cláusula de
incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar;
II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro
fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva;
III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de
despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito
comum;
IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro
com a cláusula de incomunicabilidade;
V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.

Observe que as excepcionais cláusulas de incomunicabilidade previstas no artigo


antecedente não se estendem aos frutos auferidos durante o casamento (art. 1.669, CC),
existindo responsabilidade solidária entre os cônjuges pelas dívidas do outro enquanto não
se extinguir a comunhão (art. 1.671, CC).

Separação obrigatória de bens.


O artigo 1.641, CC, determina o regime de separação obrigatória de bens para três
hipóteses específicas:
• Casamento celebrado com maior de 70 anos de idade;
• Casamento decorrente de supressão judicial de autorização para casar em favor de
relativamente incapaz;
• Casamento que não observa as causas suspensivas.

De olho na juris!
Importante observar o entendimento do STJ sobre a aplicação do regime da separação
obrigatória por força da idade para quem também contrair união estável aos 70 anos a idade,
ou com alguém que já possua esta faixa etária. Na separação obrigatória não deve haver
comunicação entre os bens adquiridos pelos cônjuges, seja no passado, no presente ou no
futuro. A incomunicabilidade é a marca característica deste regime.
Todavia, em situações especificas é possível admitir, em virtude da primazia da
realidade e a proibição do enriquecimento sem causa que o bem adquirido por esforço comum
entre cônjuges casados no referido regime, e que a priori não deveriam se comportar assim,
seja (o bem) rateado, como se aquesto fosse, como uma decorrência natural do rateio que,

269
de fato, existiu. Sobre este tema, o STF apresentou a súmula 377 dispondo que “no regime
de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”.

Separação convencional de bens.


É possível que um casal que não esteja obrigado ao regime da separação obrigatória,
mas queira optar, por convenção matrimonial, pelo regime da separação de bens. Aqui, o
regime jurídico é idêntico ao da separação obrigatória sendo que a única diferença consiste
no fato de o mesmo não surgir de imposição normativa, mas sim da autonomia privada.
Não obstante a separação, os cônjuges, na proporção dos seus rendimentos,
concorrem para o sustento do lar.

Participação final nos aquestos.


Não obstante ser novidade até então inexistente no direito brasileiro, (adveio apenas
com o CC/02), consiste em regime de pouca difusão e aceitação pela sociedade brasileira,
que tende a cair em desuso.
De acordo com o art. 1.672, CC, nessa espécie de regime, cada cônjuge tem
patrimônio próprio, e lhe caberá a época da dissolução da sociedade conjugal, direito à
metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento.
Durante o tempo que subsistir o casamento não ocorrerá à comunicabilidade imediata
dos bens. Com o fim da sociedade conjugal, haverá a meação dos bens adquiridos
onerosamente durante sua constância, pelo casal. Disto decorre o efeito lógico de que a
administração dos bens será do cônjuge proprietário, podendo dispor livremente de tais bens
se móveis forem. (p.u do art. 1.673, CC).
Em consonância com o art. 1.682 CC, o direito à meação não é renunciável, cessível,
ou penhorável na vigência do regime matrimonial.

De olho na prova!
Ano: 2020 Banca: FCC Órgão: TJ-MS Prova: FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto
Em relação ao direito patrimonial entre os cônjuges:
A. é obrigatório o regime da separação de bens no casamento da pessoa maior de sessenta
anos.
B. é admissível a livre alteração do regime de bens, independentemente de autorização
judicial, ressalvados porém os direitos de terceiros.

270
C. podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro, comprar, mesmo que
a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica, bem como obter, por empréstimo, as
quantias que a aquisição dessas coisas exigir, situações que os obrigarão solidariamente.
D. em nenhuma hipótese pode o cônjuge, sem autorização do outro, alienar ou gravar de ônus
real os bens imóveis.
E. é anulável o pacto antenupcial se não for feito por escritura pública, e nulo se não lhe seguir
o casamento.
Gabarito: “C”.

Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: MPE-MT Prova: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Substituto
Ana Lúcia e Heitor, ela com sessenta e cinco, ele com sessenta e sete anos, casam-se pelo
regime de comunhão universal, tendo antes estipulado pacto antenupcial por escritura pública
para adoção desse regime; dois anos depois arrependem-se e requerem judicialmente
alteração do regime para o de comunhão parcial de bens. Em relação a ambas as situações,
A. era possível a estipulação do pacto antenupcial, pois ambos não haviam atingido setenta
anos de idade; é possível também a alteração do regime de bens, mediante autorização
judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões
invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.
B. embora possível o pacto antenupcial, a alteração do regime de bens escolhido só é possível
após três anos de casamento, mediante autorização judicial, explicitação de motivos e
ressalvados direitos de terceiros.
C. era possível a alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido de
ambos os cônjuges, sem especificação de razões, por se tratar de questões privadas do casal;
era possível o pacto antenupcial, mas por serem maiores de 65 anos somente para o regime
de separação de bens.
D. não era possível o pacto antenupcial porque Ana Lúcia já tinha 65 anos de idade, o que
tornava obrigatório o regime de separação de bens; a alteração do regime de bens era no
caso necessária, para o citado regime de separação de bens, prescindindo de autorização
judicial.
E. era possível o pacto antenupcial, escolhendo qualquer regime, pois não haviam atingido
setenta anos; era possível alterar o regime de bens, a qualquer tempo, prescindindo de
autorização judicial, mas ressalvados direitos de terceiros.
Gabarito: “A”.

271
SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO
Segundo a legislação cível brasileira, a dissolução da sociedade conjugal ocorre com
a morte de um dos cônjuges, com a nulidade, ou anulação do casamento, pela separação
judicial ou, finalmente, pelo divórcio.

Pega a visão!
O Enunciado 514, V Jornada de Direito Civil – CJF, dispõe que: A Emenda
Constitucional nº 66/2010 não extinguiu o instituto da separação judicial e extrajudicial. No
mesmo sentido o CPC/15 que ao disciplinar as ações de família prevê expressamente a
separação judicial.
A EC 66/10 trouxe alteração relevante no tema do divórcio, admitindo-o à qualquer
momento, de forma a eliminar os prazos legais de dois anos, para o divórcio direto, e de um
ano para o divórcio indireto por conversão. Ao afirmar que o casamento civil pode ser
dissolvido pelo divórcio sem inserir qualquer prazo de carência para tanto, a EC no 66
repercutiu significativamente no tema. Lembre-se, ademais disto, que tanto o art. 1.581, do
Código Civil, quanto à súmula 197 do STJ, afirmam que “O divórcio direto pode ser concedido
sem que haja prévia partilha dos bens”. Isto quer dizer que o divórcio não está condicionado
a qualquer entrave patrimonial, ou econômico, sendo justificado à luz da liberdade humana
de não permanecer casado, ainda que depois se venha a discutir partilha de bens.
O divórcio não altera os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos, o mesmo
acontecendo acaso haja um novo casamento de qualquer dos divorciados.

Divórcio extrajudicial
A Lei nº 11.441/07 apresentou profunda inovação no ordenamento jurídico pátrio ao
autorizar o “divórcio administrativo” ou extrajudicial, tal seja, aquele efetivado diante deum
tabelião. Sendo imprescindível que haja consenso entre os divorciandos, e não pode haver
incapazes envolvidos. A presença do advogado é fundamental no divórcio extrajudicial, sendo
possível, até mesmo, o mesmo profissional para ambos os “lados”.
Se toda a documentação necessária estiver regularizada e sem outros problemas, o
tabelião lavrará a escritura pública do divórcio extrajudicial, que será o título hábil tanto à
averbação deste à margem do registro de casamento, quanto para eventual alteração do
registro imobiliário ou do nome de uma das partes.
A Lei nº 11.965/09 também inovou ao admitir, nos casos de assistência gratuita, que
o Defensor Público da respectiva comarca patrocine, perante o tabelião, as pessoas carentes
na lavratura do divórcio.

272
O CPC/15 em seu art. 733 também disciplinou processualmente o divórcio, a
separação consensual e a extinção da união estável realizados por escritura pública, desde
que não haja nascituro, filhos incapazes e que se observem os requisitos legais. A escritura
não depende de homologação judicial e constituirá título hábil para qualquer ato de registro,
bem como para o levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
Importante salientar que o tabelião somente lavrará a escritura pública se os
interessados estiverem assistidos por advogados, ou defensor público, cuja qualificação e
assinatura constem no ato notarial.

Efeitos da dissolução conjugal


O divórcio gera efeitos de ordem pessoal e patrimonial em relação aos divorciados e
seus filhos.

O nome de casado
O CC/16 era bem diferente nesse aspecto, já o atual, CC/02, veicula a faculdade –
leia-se: não há obrigatoriedade – que tanto a mulher como o homem possam acrescer ao seu
nome, caso queira, o sobrenome do outro cônjuge. E depois do final do casamento, a
manutenção, ou não, do nome de família, é uma faculdade prevista no § 2º do artigo 1.571 do
CC.
Excepcionalmente, porém, o art. 1578 do CC afirma ser possível a ordem de retirada
do sobrenome.
De olho na lei!
Vejamos:

Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação


judicial perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que
expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração
não acarretar:
I - evidente prejuízo para a sua identificação;
II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos
havidos da união dissolvida;
III - dano grave reconhecido na decisão judicial.
§ 1º O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá
renunciar, a qualquer momento, ao direito de usar o sobrenome
do outro.
§ 2º Nos demais casos caberá a opção pela conservação do
nome de casado.

Direito a alimentos

273
Por força do princípio da solidariedade familiar os alimentos podem ser requeridos
também entre os cônjuges. É fato que o atual estágio da jurisprudência e da doutrina
brasileiras demonstra uma tendência ao indeferimento de alimentos entre os casais,
considerando que sendo os divorciandos maiores e capazes, geralmente tem condições de
manter a sobrevivência de maneira autônoma.

Assim sendo, elaborou-se a tese dos alimentos transitórios, caracterizados pelo


estabelecimento prévio do início e do fim (automático) do seu pagamento para casos em que
o cônjuge necessita de um tempo específico de readaptação ao mercado de trabalho.

Por não mais haver questionamento sobre quem seja o culpado da dissolução
conjugal, os alimentos serão devidos levando-se em conta substancialmente o binômio
necessidade/utilidade. Será arbitrado na justa medida entre a capacidade do alimentante e a
necessidade do alimentado. Vale lembrar que o objetivo é não apenas o mínimo existencial,
mas a manutenção de um padrão de vida. “Alimentos” não é só o que se come.

Todavia, vale ressaltar que o parágrafo único do art. 1704 do CC já possibilitava, até
mesmo, alimentos para o cônjuge culpado, desde que não tive aptidão para o trabalho e
ninguém em condições de prestá-los. Nesta excepcional hipótese, tais alimentos serão
restritos à necessária sobrevivência (e não ao padrão social).

No caso do divórcio ser consensual, os ex-cônjuges deverão pactuar sobre o montante


a ser pago, ou até mesmo renunciar a tais alimentos. Se o divórcio for judicial e cumulado
com alimentos, o juiz decidirá.

Guarda dos filhos

O ordenamento jurídico pátrio estabelece expressamente a guarda compartilhada


como melhor medida a ser aplicada no caso de divórcio, de maneira que os genitores
continuarão a conviver em igualdade de condições com a criança, ou adolescente,
respeitando-se a isonomia e o melhor interesse. Até mesmo na guarda compartilhada será
possível que a criança ou adolescente tenha residência estabelecida apenas em um dos
lugares (no domicílio da genitora, por exemplo). O que caracteriza a regra da guarda
compartilhada e da distribuição das tarefas e das responsabilidades dos pais.

A guarda unilateral também esta presente no CC, como situação excepcional, para os
casos nos quais não seja viável, ou conveniente ao melhor interesse do menor o

274
compartilhamento da guarda. Nesse caso, um dos genitores será o guardião e o outro terá
regulamentado o direito de visitas.

Malgrado o CC não tratar do tema expressamente, doutrina e jurisprudência também


adotam o regime da guarda alternada, quando a criança ou adolescente possui dois
domicílios, onde alternadamente vive.

Também levando em consideração o Princípio do melhor interesse da criança e do


adolescente que foi publicada a Lei nº 12.398/11, que acrescentou o parágrafo único ao art.
1.589 do Código Civil, para ampliar o direito de visita e a guarda dos netos, também aos avós.

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: MPE-GO Órgão: MPE-GO Prova: MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor
de Justiça Substituto - Anulada
Acerca do instituto da guarda compartilhada no Código Civil, assinale a alternativa incorreta:
A. A guarda compartilhada encontra suas origens na “Common Law” do Direito Inglês, com a
denominação de “joint custody”. A partir da década de 1960, se difundiu tal conceito pela
Europa, porém, foi nos Estados Unidos da América que a denominada guarda conjunta
avançou em virtude de intensas pesquisas em decorrência da transformação das famílias.
Daí, é possível concluir que a adoção de previsão legal da guarda compartilhada no Brasil
retrata uma crescente tendência mundial, fortalecida pela Convenção de Nova Iorque sobre
Direitos da Criança (ONU, 1989).
B. A guarda compartilhada define os dois genitores como detentores da autoridade parental
para tomar todas as decisões que afetem os filhos, visando manter os laços de afetividade e
abrandar os efeitos que o fim da sociedade conjugal pode trazer à prole, ao passo que tenta
manter de forma igualitária a função parental, consagrando os direitos da criança e de seus
genitores. Em face disso, a guarda compartilhada, como regra, é recomendável, não se
aplicando, porém, quando um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda
do menor ou um dos genitores não estiver apto a exercer o poder familiar.
C. Em sede de medida cautelar de separação de corpos, em sede de medida cautelar de
guarda ou em outra sede de fixação liminar de guarda, a decisão sobre guarda de filhos, salvo
se provisória, será proferida preferencialmente após a oitiva de ambas as partes perante o
juiz.
D. A guarda pode ser deferida para outra pessoa que não seja o pai ou a mãe. Se o juiz
verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda

275
a pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de
preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade.
Gabarito: “C”.

RELAÇÕES DE PARENTESCO

Ultrapassadas as questões relativa ao Direito Matrimonial, passamos ao tema


“parentesco”, que pode ser natural (consanguíneo), civil, socioafetivo, por afinidade ou por
outra origem.

Consiste num assunto sempre atual que, à todo instante, sofre impactos da
jurisprudência e da mutabilidade da sociedade.

De olho na juris!

Um grande exemplo do que estamos falando foi o que decidiu o Supremo Tribunal
Federal decidiu no julgamento do Recurso Extraordinário nº 898.060, tema de Repercussão
Geral 622, ao admitir a multiparentalidade. Todavia, como já decidiu também o STJ em 2018
em processo que tramita em segredo de Justiça, o reconhecimento da multiparentalidade está
condicionado ao melhor interesse da criança, ou do adolescente.

A primeira questão importante reside em distinguir parentes em linha reta de parentes


colaterais.

De olho na lei!
Tratemos aqui as disposições gerais do Código Civil sobre as relações de parentesco.
Imprescindível a leitura acurada.

SUBTÍTULO II
Das Relações de Parentesco

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão


umas para com as outras na relação de ascendentes e
descendentes.

Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o


quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem
descenderem uma da outra.
276
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de
consangüinidade ou outra origem.

Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo


número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas,
subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e
descendo até encontrar o outro parente.

Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes


do outro pelo vínculo da afinidade.
§ 1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos
descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.
§ 2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução
do casamento ou da união estável.

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: Instituto Consulplan Órgão: MPE-SC Prova: Instituto Consulplan - 2019 -
MPE-SC - Promotor de Justiça - Matutina
De acordo com o Código Civil, cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro
pelo vínculo da afinidade. Na linha reta, a afinidade se extingue com a dissolução do
casamento ou da união estável.
Gabarito: “errado”.

Filiação

Inserido no estudo das relações de parentesco, a que diz respeito ao estado de filiação
é, sem dúvida, a mais importante. Não por acaso o constituinte tratou de disciplinar a
igualdade existente entre os filhos, não permitindo qualquer distinção ou denominação que o
diferencie dos demais, a exemplo dos antigamente chamados filhos adulterinos ou ilegítimos.
Como é possível compreender diante do exposto no § 6º do artigo 227 da CF/88: “Os filhos,
havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”

Justamente por isto, o art. 1.597, CC apresenta um sistema de presunção do estado


de filiação na constância do casamento, aplicável por analogia à união estável; Vejamos:

Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do


casamento os filhos:
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de
estabelecida a convivência conjugal;

277
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da
sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e
anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que
falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões
excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que
tenha prévia autorização do marido.

Sobre o preceito legal transcrito, é fundamental saber que a inseminação artificial


homóloga é a técnica de reprodução medicamente assistida que utiliza o material genético do
próprio casal. Segundo a legislação, nestes casos a presunção da filiação na constância do
casamento sempre existirá, mesmo se o nascimento, ou a fecundação, ou ainda a
inseminação, se der após a morte, desde que presentes autorização expressa e prévia do
marido (Enunciados 106 e 107 do CJF).

A inseminação artificial heteróloga se difere por utilizar material genérico de terceiro,


razão pela qual exige autorização do outro cônjuge, sob pena de não se presumir filho do
casal. Em outras palavras: somente se presume filho, nesta hipótese, se o cônjuge autorizar,
expressamente, a utilização do material genético de terceiro no consorte. Nestes casos, a
relação sexual é substituída pela vontade juridicamente qualificada (Enunciado 104 do CJF).

Pega a visão! Essas presunções acima citadas são relativas, de sorte que podem ser
afastadas com a apresentação de prova em sentido contrário. Exemplo: “A prova da
impotência do cônjuge para gerar, à época da concepção, ilide a presunção da paternidade”,
vsto que assim determina o artigo 1.599 do CC. Esta é a chamada impotência generandi (para
gerar). Contudo, a impotência coeundi (para o coito) não ilide a presunção de paternidade,
porque assim não disciplinou o Código, como também não ilide o “adultério da mulher, ainda
que confessado”, nos termos do artigo 1.600 do Código Civil.

Esta filiação que se prova “pela certidão do termo de nascimento registrada no Registro
Civil” (art. 1.603, CC), ou, na falta do documento, “por qualquer modo admissível em direito”,
isto “quando houver começo de prova por escrito, proveniente dos pais, conjunta ou
separadamente”, ou ainda “quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já
certos” (1.605, I e II, CC), pode ser objeto de reconhecimento em quatro hipóteses, a saber:

I – no registro do nascimento;

II – por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;


278
III – por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;

IV – por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja
sido o objeto único e principal do ato que o contém.

Pega a visão!

O reconhecimento do filho é ato irrevogável, ainda que feito em testamento, sendo que
o filho havido fora do casamento, reconhecido por um dos cônjuges, não poderá residir no lar
conjugal sem o consentimento do outro, sendo ineficazes a condição e o termo apostos ao
ato de reconhecimento do filho (arts. 1.610, 1.611 e 1.613, todos do CC).

Outra coisa importante é que o reconhecimento do filho maior não pode ocorrer sem o
consentimento do mesmo. Se menor, poderá impugná-lo nos quatro anos que se seguirem a
maioridade ou a emancipação (art. 1.614, CC). Trata-se de denominada ação de impugnação
do estado de filiação.

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: MPE-MT Prova: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Substituto
No que tange às relações de parentesco e à filiação, é correto afirmar:
A. Em nenhuma hipótese pode alguém vindicar estado contrário ao que resulta do registro de
nascimento.
B. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral,
também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e
descendo até encontrar o outro parente.
C. É suficiente o adultério da mulher, desde que por ela confessado, para ilidir a presunção
legal da paternidade.
D. Na linha colateral, a afinidade entre parentes não se extingue com a dissolução do
casamento ou da união estável.
E. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos havidos por fecundação
artificial homóloga, salvo se falecido o marido.
Gabarito: “B”.

A socioafetividade

279
É fato que a filiação biológica nem sempre é a melhor tendo em vista que a filiação é
algo muito mais profundo e complexo do que o mero código de um DNA. Tem situações, por
exemplo, em que convivência duradoura e de boa-fé com os chamados pais socioafetivos se
apresenta tão forte e relevante a ponto de justificar o reconhecimento de uma paternidade.

Frente a este prisma, o Enunciado 103 da JDC: “o Código Civil reconhece, no art.
1.593, outras espécies de parentesco civil além daquele decorrente da adoção, acolhendo,
assim, a noção de que há também parentesco civil no vínculo parental proveniente quer das
técnicas de reprodução assistida heteróloga relativamente ao pai (ou mãe) que não contribuiu
com seu material fecundante, quer da paternidade socioafetiva, fundada na posse do estado
de filho”. E o Enunciado 108: “no fato jurídico do nascimento, mencionado no art. 1.603,
compreende-se, à luz do disposto no art. 1.593, a filiação consanguínea e também a sócio-
afetiva”.

UNIÃO ESTÁVEL.
Esta disciplinada nos artigos 1.723 a 1.726 do CC, trata-se da união pública, fixa,
perene, habitual, entre homem e mulher com o objetivo de constituir família. Dois são os
requisitos objetivos da união estável (publicidade e habitualidade). Um será o requisito
subjetivo (animus de constituir família). Importante lembrar que hoje já se admite a
constituição da união estável entre pessoas do mesmo sexo, também denominada de união
homoafetiva, conforme já decidiu o STF na ADPF 132/RJ.

De olho na juris!

Ementa: 1. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE


PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). PERDA PARCIAL DE
OBJETO. RECEBIMENTO, NA PARTE REMANESCENTE,
COMO AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
UNIÃO HOMOAFETIVA E SEU RECONHECIMENTO COMO
INSTITUTO JURÍDICO. CONVERGÊNCIA DE OBJETOS
ENTRE AÇÕES DE NATUREZA ABSTRATA. JULGAMENTO
CONJUNTO. Encampação dos fundamentos da ADPF nº 132-
RJ pela ADI nº 4.277-DF, com a finalidade de conferir
“interpretação conforme à Constituição” ao art. 1.723 do Código
Civil. Atendimento das condições da ação. 2. PROIBIÇÃO DE
DISCRIMINAÇÃO DAS PESSOAS EM RAZÃO DO SEXO, SEJA
NO PLANO DA DICOTOMIA HOMEM/MULHER (GÊNERO),
SEJA NO PLANO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL DE CADA QUAL
DELES. A PROIBIÇÃO DO PRECONCEITO COMO CAPÍTULO
DO CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. HOMENAGEM AO
PLURALISMO COMO VALOR SÓCIO-POLÍTICO-CULTURAL.
280
LIBERDADE PARA DISPOR DA PRÓPRIA SEXUALIDADE,
INSERIDA NA CATEGORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
DO INDIVÍDUO, EXPRESSÃO QUE É DA AUTONOMIA DE
VONTADE. DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA.
CLÁUSULA PÉTREA. O sexo das pessoas, salvo disposição
constitucional expressa ou implícita em sentido contrário, não se
presta como fator de desigualação jurídica. Proibição de
preconceito, à luz do inciso IV do art. 3º da Constituição Federal,
por colidir frontalmente com o objetivo constitucional de
“promover o bem de todos”. Silêncio normativo da Carta Magna
a respeito do concreto uso do sexo dos indivíduos como saque
da kelseniana “norma geral negativa”, segundo a qual “o que não
estiver juridicamente proibido, ou obrigado, está juridicamente
permitido”. Reconhecimento do direito à preferência sexual
como direta emanação do princípio da “dignidade da pessoa
humana”: direito a auto-estima no mais elevado ponto da
consciência do indivíduo. Direito à busca da felicidade. Salto
normativo da proibição do preconceito para a proclamação do
direito à liberdade sexual. O concreto uso da sexualidade faz
parte da autonomia da vontade das pessoas naturais. Empírico
uso da sexualidade nos planos da intimidade e da privacidade
constitucionalmente tuteladas. Autonomia da vontade. Cláusula
pétrea. 3. TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DA
INSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA. RECONHECIMENTO DE QUE A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO EMPRESTA AO
SUBSTANTIVO “FAMÍLIA” NENHUM SIGNIFICADO
ORTODOXO OU DA PRÓPRIA TÉCNICA JURÍDICA. A
FAMÍLIA COMO CATEGORIA SÓCIO-CULTURAL E
PRINCÍPIO ESPIRITUAL. DIREITO SUBJETIVO DE
CONSTITUIR FAMÍLIA. INTERPRETAÇÃO NÃO-
REDUCIONISTA. O caput do art. 226 confere à família, base da
sociedade, especial proteção do Estado. Ênfase constitucional à
instituição da família. Família em seu coloquial ou proverbial
significado de núcleo doméstico, pouco importando se formal ou
informalmente constituída, ou se integrada por casais
heteroafetivos ou por pares homoafetivos. A Constituição de
1988, ao utilizar-se da expressão “família”, não limita sua
formação a casais heteroafetivos nem a formalidade cartorária,
celebração civil ou liturgia religiosa. Família como instituição
privada que, voluntariamente constituída entre pessoas adultas,
mantém com o Estado e a sociedade civil uma necessária
relação tricotômica. Núcleo familiar que é o principal lócus
institucional de concreção dos direitos fundamentais que a
própria Constituição designa por “intimidade e vida privada”
(inciso X do art. 5º). Isonomia entre casais heteroafetivos e pares
homoafetivos que somente ganha plenitude de sentido se
desembocar no igual direito subjetivo à formação de uma
autonomizada família. Família como figura central ou continente,
de que tudo o mais é conteúdo. Imperiosidade da interpretação
não-reducionista do conceito de família como instituição que
também se forma por vias distintas do casamento civil. Avanço
da Constituição Federal de 1988 no plano dos costumes.

281
Caminhada na direção do pluralismo como categoria sócio-
político-cultural. Competência do Supremo Tribunal Federal para
manter, interpretativamente, o Texto Magno na posse do seu
fundamental atributo da coerência, o que passa pela eliminação
de preconceito quanto à orientação sexual das pessoas. 4.
UNIÃO ESTÁVEL. NORMAÇÃO CONSTITUCIONAL
REFERIDA A HOMEM E MULHER, MAS APENAS PARA
ESPECIAL PROTEÇÃO DESTA ÚLTIMA. FOCADO
PROPÓSITO CONSTITUCIONAL DE ESTABELECER
RELAÇÕES JURÍDICAS HORIZONTAIS OU SEM
HIERARQUIA ENTRE AS DUAS TIPOLOGIAS DO GÊNERO
HUMANO. IDENTIDADE CONSTITUCIONAL DOS
CONCEITOS DE “ENTIDADE FAMILIAR” E “FAMÍLIA”. A
referência constitucional à dualidade básica homem/mulher, no
§ 3º do seu art. 226, deve-se ao centrado intuito de não se perder
a menor oportunidade para favorecer relações jurídicas
horizontais ou sem hierarquia no âmbito das sociedades
domésticas. Reforço normativo a um mais eficiente combate à
renitência patriarcal dos costumes brasileiros. Impossibilidade
de uso da letra da Constituição para ressuscitar o art. 175 da
Carta de 1967/1969. Não há como fazer rolar a cabeça do art.
226 no patíbulo do seu parágrafo terceiro. Dispositivo que, ao
utilizar da terminologia “entidade familiar”, não pretendeu
diferenciá-la da “família”. Inexistência de hierarquia ou diferença
de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um
novo e autonomizado núcleo doméstico. Emprego do fraseado
“entidade familiar” como sinônimo perfeito de família. A
Constituição não interdita a formação de família por pessoas do
mesmo sexo. Consagração do juízo de que não se proíbe nada
a ninguém senão em face de um direito ou de proteção de um
legítimo interesse de outrem, ou de toda a sociedade, o que não
se dá na hipótese sub judice. Inexistência do direito dos
indivíduos heteroafetivos à sua não-equiparação jurídica com os
indivíduos homoafetivos. Aplicabilidade do § 2º do art. 5º da
Constituição Federal, a evidenciar que outros direitos e
garantias, não expressamente listados na Constituição,
emergem “do regime e dos princípios por ela adotados”, verbis:
“Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte”. 5. DIVERGÊNCIAS LATERAIS
QUANTO À FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO. Anotação de
que os Ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Cezar
Peluso convergiram no particular entendimento da
impossibilidade de ortodoxo enquadramento da união
homoafetiva nas espécies de família constitucionalmente
estabelecidas. Sem embargo, reconheceram a união entre
parceiros do mesmo sexo como uma nova forma de entidade
familiar. Matéria aberta à conformação legislativa, sem prejuízo
do reconhecimento da imediata auto-aplicabilidade da
Constituição. 6. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.723 DO
CÓDIGO CIVIL EM CONFORMIDADE COM A CONSTITUIÇÃO

282
FEDERAL (TÉCNICA DA “INTERPRETAÇÃO CONFORME”).
RECONHECIMENTO DA UNIÃO HOMOAFETIVA COMO
FAMÍLIA. PROCEDÊNCIA DAS AÇÕES. Ante a possibilidade de
interpretação em sentido preconceituoso ou discriminatório do
art. 1.723 do Código Civil, não resolúvel à luz dele próprio, faz-
se necessária a utilização da técnica de “interpretação conforme
à Constituição”. Isso para excluir do dispositivo em causa
qualquer significado que impeça o reconhecimento da união
contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo
como família. Reconhecimento que é de ser feito segundo as
mesmas regras e com as mesmas consequências da união
estável heteroafetiva.
(STF - ADPF: 132 RJ, Relator: Min. AYRES BRITTO, Data de
Julgamento: 05/05/2011, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
DJe-198 DIVULG 13-10-2011 PUBLIC 14-10-2011 EMENT
VOL-02607-01 PP-00001)

Pega a visão!

Enunciado 524 – V JDC – CJF: As demandas envolvendo união estável entre pessoas
do mesmo sexo constituem matéria de Direito de Família. Atenção! Não é necessário more
uxório (morar sob o mesmo teto), prazo mínimo e prole para caracterização do instituto.

Os impedimentos do casamento se aplicam por analogia à união estável, à exceção


do impedimento matrimonial, de modo que pessoas casadas, porém separadas poderão
constituir união estável. Assim sendo, em todas as hipóteses do artigo 1.521 do Código Civil,
onde o casamento é proibido, também não será possível se constituir a união estável. O
desrespeito aos impedimentos matrimoniais ensejará a nulidade da união estável e o
enquadramento jurídico do casal como uma situação de concubinato.

No que tange às causas suspensivas do casamento, previstas no artigo 1.523 do CC,


estas não se aplicam à união estável, de modo que sua eventual inobservância não implica a
imposição do regime obrigatório da separação de bens a que alude o artigo 1.641 do Código
Civil para a ótica do Código Civil. A jurisprudência do STJ não é pacífica, existindo um
precedente de 2010 que imputa a extensão, mas, repisa-se, ainda longe de pacificação.

A união estável, regra geral, submete-se ao regime da comunhão parcial de bens,


salvo contrato particular, escrito, que pode em tese, eleger outro tipo de regime. Tal pacto é
denominado de contrato de convivência, e possui forma livre. Lembre-se, porém, que o
posicionamento majoritário da doutrina hoje é pela impossibilidade do contrato de namoro, o
qual consistia em declaração de vontade com o escopo de afastar o requisito subjetivo

283
(animus de constituir família) da união estável. Tal contrato (de namoro) tem-se como inválido
para a doutrina majoritária atual.

Em virtude da possibilidade de se converter a união estável em casamento, a


legislação autoriza a aludida prática mediante requerimento dos companheiros ao Juiz de
Família.
Pega a visão!

Enunciado 526 – V JDC – CJF: É possível a conversão de união estável entre pessoas
do mesmo sexo em casamento, observados os requisitos exigidos para a respectiva
habilitação.

Aplica-se a união estável os deveres consagrados no artigo 1.724 do código Civil,


valendo a ressalva de que não são estes, em todo, iguais àqueles previstos nos casamentos:

• Deveres de lealdade;
• Respeito e assistência;
• De guarda, sustento e educação dos filhos.

CONCUBINATO

O artigo 1.727 do Código Civil prevê que a relação não habitual entre homem e mulher
impedidos de casar constitui concubinato. Observa-se, logo, que traições pontuais não
configuram concubinatos, mas mera quebra do dever de fidelidade.

Consiste numa relação jurídica ilegítima que não será protegida pelo ordenamento
jurídico de forma alguma. A este respeito, ilustre-se, entendeu o STJ que a concubina sequer
teria direito subjetivo à pensão por morte (REsp. 674.176), seguindo orientação do STF (RExt.
590.779).

O Supremo Tribunal Federal aceita, todavia, a “dissolução judicial, com a partilha do


patrimônio adquirido pelo esforço comum” entre os concubinos desde que “comprovada a
existência de sociedade de fato” (súmula 380), sendo que “A vida em comum sob o mesmo
teto more uxório, não é indispensável à caracterização do concubinato”, como também já se
entendeu (súmula382).

Desde o final de 2009, o STJ e STF não mais possibilitam deferimento de indenização
por serviços prestados à concubina.
284
ALIMENTOS

O princípio da dignidade da pessoa humana traz o dever jurídico de respeito e


solidariedade familiar na proteção do mínimo existencial. Portanto, a ordem jurídica garante
entre certos parentes (ascendentes, descendentes e irmãos) o direito recíproco de receber
alimentos, alcançando esta disciplina o cônjuge e o companheiro.

Consiste em direito indisponível, intransacionável, impenhorável, incompensável,


incessível, inerente à pessoa, que impõe o pagamento, in natura ou em espécie, de
prestações aptas à manutenção da vida digna.

De olho na juris!

Especialmente por isso, a súmula 594 do STJ é solar ao estabelecer que: “O Ministério
Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou
adolescente, independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o
menor se encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da
Defensoria Pública na comarca”.

Não se esqueça que os alimentos são irrenunciáveis, porém é possível, a teoria, para
a hipótese fática da ausência de uma necessidade, que o credor dispense o devedor potencial
de pagá-los.

Em suma: caso necessite o credor e, ao mesmo tempo, tenho o devedor condições de


fornecer (binômio necessidade/possibilidade), está aberta a possibilidade da cobrança dos
alimentos, que deve observar uma ordem preferencial de parentes (subsidiariedade), em
sequência, onde se admita o benefício de ordem. Isto não quer significar, ademais, que na
mesma classe e dentro do mesmo grau (Ex.: entre os pais) a obrigação não seja solidária.
Nestas condições será.

Sobre esse tema, a doutrina, em Jornadas de Direito Civil, teve a possibilidade de se


manifestar no Enunciado 342, oportunidade em que decidiu que “Observadas as suas
condições pessoais e sociais, os avós somente serão obrigados a prestar alimentos aos netos
em caráter exclusivo, sucessivo, complementar e não solidário, quando os pais destes
estiverem impossibilitados de fazê-lo, caso em que as necessidades básicas dos
alimentandos serão aferidas, prioritariamente, segundo o nível econômico-financeiro dos seus
285
genitores.” Da mesma forma a súmula 596 do STJ reconhecendo os avós como devedores
subsidiários e complementares do débito alimentar em relação aos seus netos, diante da
impossibilidade de pagamento dos genitores.

Vale ressaltar que os alimentos devidos e vencidos prescrevem em dois anos (art. 206,
§ 2º, CC) se não pretendidos pelo credor. Trata-se de prazo prescricional para a pretensão
executiva, pois, recorda-se, os alimentos podem ser pleiteados a qualquer tempo.

Os alimentos liminarmente concedidos pela Justiça podem ser chamados de


provisionais (processuais, deferidos em ações ordinárias ou cautelares), ou de provisórios
(estes últimos são disciplinados apenas na Lei de Alimentos, de rito especial, e não podem
ser assim denominados para nenhuma outra situação).

E sobre a prisão civil?! De acordo com a súmula 309 do STJ “O débito alimentar que
autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao
ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo”. Logo, para não ser
preso, o devedor de alimentos há de quitar as três prestações anteriores ao ajuizamento da
execução e todas as demais.

Pega a visão!
A lei nº 14.010/2020, “Lei da Pandemia” estabeleceu a possibilidade da prisão do
devedor de alimentos na modalidade domiciliar. Vide, in verbis:
Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida
alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da Lei nº
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil),
deverá ser cumprida exclusivamente sob a modalidade
domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas
obrigações.

Pega a visão! (de novo) Enunciado 522 – V JDC – CJF: Cabe prisão civil do devedor
nos casos de não prestação de alimentos gravídicos estabelecidos com base na Lei nº
11.804/2008, inclusive deferidos em qualquer caso de tutela de urgência.
Ademais, vale lembrar que “O cancelamento da pensão alimentícia de filho que atingiu
a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios
autos”, a teor da súmula 358 do STJ, inexistindo hipótese de cancelamento automático do
débito, ou seja, somente o Judiciário que deferiu é que poderá revogar a decisão (paralelismo
das formas), até por que: “A obrigação alimentar originada do poder familiar, especialmente
para atender às necessidades educacionais, pode não cessar com a maioridade” (Enunciado
344).
286
No âmbito da Suprema Corte antigo enunciado de súmula adverte que “Na ação de
desquite, os alimentos são devidos desde a inicial e não da data da decisão que os concede”
(súmula 226, STF), devendo o estudante estar atento a isto para as ações de separação
judicial.
A socioafetividade geradora das relações de parentesco possibilita o surgimento do
dever alimentar, que se transmite hereditariamente, como já entendeu a doutrina em Jornadas
de Direito Civil (Enunciado 341 do CJF).

Alimentos gravídicos

A Lei Federal 11.804/2008, estabelece o direito de alimentos da mulher gestante, da


concepção ao parto “inclusive as referentes à alimentação especial, assistência médica e
psicológica, exames complementares, internações, parto, medicamentos de demais
prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que
o juiz considere pertinentes”, a ser custeados pelo “futuro pai” (art. 2º da lei), desde que se
identifiquem “indícios de paternidade” (art. 6º da lei).

Importante ressaltar que o prazo de contestação será de cinco dias apenas (art. 7º da
lei), sendo que o nascimento da criança no curso do processo converte os alimentos
gravídicos em pensão alimentícia, cabendo ao suposto pai contestar o fato judicialmente.

De olho na prova e na juris!!


Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RO Prova: VUNESP - 2019 - TJ-RO - Juiz de Direito
Substituto
Acerca dos alimentos, pode-se afirmar corretamente que
A. a constituição de nova família pelo alimentante acarreta a revisão automática da quantia
estabelecida em favor dos filhos advindos de união anterior, devendo ser reduzido o valor, em
decorrência do dever de sustento que se estende a todos os filhos.
B. os alimentos devidos entre ex-cônjuges devem ter caráter excepcional, transitório e devem
ser fixados por prazo determinado, exceto quando um dos cônjuges não possui mais
condições de reinserção no mercado de trabalho ou de readquirir sua autonomia financeira.
C. são devidos alimentos ao filho maior quando comprovada a frequência em curso
universitário, por força da obrigação parental de promover adequada formação profissional,
mas não em caso de frequência a cursos técnicos.
D. os valores pagos a título de alimentos são insuscetíveis de compensação, mesmo quando
configurado o enriquecimento sem causa do alimentando.
287
E. a responsabilidade dos avós de prestar alimentos aos netos apresenta natureza
complementar e subsidiária, configurando-se sempre que não for cumprida adequadamente,
independentemente da demonstração da insuficiência de recursos do genitor.
Gabarito: “B”.

Pega a visão!
Trazemos através dessa questão um de olho na juris, pois essa questão foi totalmente
e retirada do Jurisprudência em teses do STJ, Edição n. 65 (Alimentos) - salvo a letra D, que
é da Edição 77. Vejamos:

A) Errada. "13) A constituição de nova família pelo alimentante não acarreta a revisão
automática da quantia estabelecida em favor dos filhos advindos de união anterior".
B) Correta. "14) Os alimentos devidos entre ex-cônjuges devem ter caráter excepcional,
transitório e devem ser fixados por prazo determinado, exceto quando um dos cônjuges não
possua mais condições de reinserção no mercado do trabalho ou de readquirir sua autonomia
financeira".
C) Errada. "4) É devido alimentos ao filho maior quando comprovada a frequência em curso
universitário ou técnico, por força da obrigação parental de promover adequada formação
profissional.
D) Errada. "13) Os valores pagos a título de alimentos são insuscetíveis de compensação,
salvo quando configurado o enriquecimento sem causa do alimentando. "
E) Errada. "15) A responsabilidade dos avós de prestar alimentos aos netos apresenta
natureza complementar e subsidiária, somente se configurando quando demonstrada a
insuficiência de recursos do genitor".

BEM DE FAMÍLIA

O objetivo da proteção ao bem de família é resguardar o mínimo existencial dos seus


membros. A família atual deve ser analisada sob uma ótica instrumentalista.

Nessa perspectiva, o bem de família resguarda, na realidade, os integrantes da família,


a dignidade vai muito além da questão patrimonial. A moradia é um direito constitucional que
é garantido a todos (art. 6º, CF/88). O propósito do legislador foi assegurar a cada pessoa, no
mínimo, um teto para morar, sobressaindo a moradia em detrimento da proteção ao crédito,
em um evidente juízo de ponderação de interesses. Portanto, ao revés de limitar, o conceito
288
de bem de família, este precisa ser dilatado nesta escolha latente e indiscutível entre proteger
a pessoa e sua dignidade e a família sobre o crédito.

De olho na juris!

Tal posicionamento também já se encontra pacificado na jurisprudência pátria. Veja o


teor da Súmula 364 do STJ: “o conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange
também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.”.

(parei aqui)

Atualmente podemos declarar que o ordenamento jurídico brasileiro adota um sistema


dualista no regramento do bem de família. Convivem no Brasil tanto o bem de família legal,
cogente, involuntário ou obrigatório (Lei 8.009/90), quanto o bem de família voluntário ou
convencional (art. 1.711 e ss. do CC/02).

O bem de família legal, previsto na Lei nº 8.009/1990 não depende de ato vontade
para a sua constituição. Nasce do fato jurídico, isto é, do mero integração da situação jurídica
à legislação. O objeto é o imóvel, em regra, residencial do devedor e de sua família, e também
os móveis que o guarnecem (desde que quitados) e, por fim, todos os equipamentos de uso
profissional.

O bem de família convencional é disciplinado no CC/02, sendo indispensável a


manifestação de vontade para a sua constituição. Ele pode ser instituído pelos cônjuges,
companheiros ou até mesmo por terceiros. Além disso, pode estar relacionado a bens imóveis
ou móveis. Vale ressaltar que na prática, poucas são as pessoas que usam o bem de família
convencional.

Bem de Família Legal, Cogente, Involuntário ou Obrigatório.

Disciplinado pela Lei nº 8.009/90, o bem de família legal representa a imposição de


um patrimônio mínimo, por meio da impenhorabilidade do imóvel residencial, usado para a
moradia permanente da entidade familiar (art. 5º da Lei 8009/90). Trata-se de norma cogente,
de ordem pública que se impõe independentemente da vontade do titular deste direito.

O bem de família legal tem como objetivo resguardar a entidade familiar demonstrando
estreita ligação com o direito social de moradia, garantido pela constituição federal à luz do
art. 6º.
289
Por ser obrigatória, o magistrado pode reconhecer de ofício tal impenhorabilidade,
quando devidamente verificado os seus requisitos nos autos. Se a família tiver mais de um
imóvel usado como residência, caso de pluralidade domiciliar (art. 71 do CC), a
impenhorabilidade do bem de família legal recairá sobre o imóvel de menor valor, mesmo que
a aludida família deseje residir em outro.

Pega a visão! O legislador (Lei 8.009/90, art. 4º) informa que não se beneficiará do
disposto nesta lei aquele que, sabendo-se insolvente, adquire de má-fé imóvel mais valioso
para transferir a residência familiar, desfazendo-se ou não da moradia antiga. Nessa situação,
poderá o magistrado transferir a aludida impenhorabilidade para a moradia familiar anterior
ou, inclusive, invalidar a alienação, liberando a propriedade mais valiosa à execução e
repousando a impenhorabilidade do bem de família legal sobre o bem mais antigo, menos
valioso e capaz de assegurar a moradia.

Vale destacar que o ato supra descrito poderia configurar fraude contra credores, o
que permite a anulação do negócio jurídico, como visto na Parte Geral.

E no que tange o direito intertemporal? Utiliza-se à tutela do bem de família aos imóveis
cuja penhora ocorreu antes da edição da legislação do bem de família legal?

Sim! Essa posição, inclusive, é explicitada na Súmula 205 do STJ, in verbis: “A Lei n.
8.009/1990 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência”.

A impenhorabilidade em pauta protege o imóvel residencial, próprio da entidade


familiar, e também as suas construções, plantações, benfeitorias de qualquer natureza, os
equipamentos, inclusive de uso profissional, e os móveis que guarnecem o lar, desde que
quitados (art. 1º da Lei 8009/90). Aplica-se a clara regra segundo a qual o acessório segue a
sorte do principal (princípio da gravitação jurídica ou universal). Fazendo um paralelo com o
bem de família voluntário nota-se aqui um objeto protetivo mais amplo.

Importante questão! E o locatário? Teria a proteção do bem de família?

Sim. Porém, é claro que a proteção não poderá recair sobre o imóvel, que é de
propriedade do locador. Isto posto, a impenhorabilidade em comento será dirigida aos bens
móveis, de propriedade do locatário e que guarnecem o lar, desde que quitados (art. 2º,
parágrafo único, da Lei 8009/90).

Exceções.
290
A regra geral traz que a impenhorabilidade do bem de família legal pode ser trazida
em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra
natureza, o fato concreto é que há exceções. Ou seja, existe um rol de situações em que o
bem de família poderá ser alvo de execução.

A priori, em consonância com do art. 2º da Lei nº 8.009/90, a impenhorabilidade do


bem de família legal não alcança “os veículos de transportes, obras de arte e adornos
suntuosos”, os quais poderão ser penhorados para o pagamento das dívidas do titular.

De olho na juris!

Vaga de garagem. Este assunto já foi pacificado. De acordo com a Súmula 449 do STJ
“a vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de
família para efeito de penhora”.

E se o imóvel estiver locado; persiste como bem de família? Trata-se de assunto


também pacificado. De acordo com a Súmula 486 do STJ: “único imóvel residencial alugado
a terceiros é impenhorável, desde que a renda obtida com o aluguel seja para a subsistência
do proprietário”.

No que diz respeito a duração da proteção do bem de família, é importante se ater ao


fato de que a simples dissolução da entidade familiar não causa, como consequência
automática, a extinção do bem de família. De fato, permanecendo o bem na posse do ex-
cônjuge, ou ex-convivente, e filhos, ainda persiste como natureza familiar e, por conseguinte,
como impenhorável.

Continuando o estudo das exceções às impenhorabilidades do bem de família legal


vale a leitura do art. 3º da Lei 8009/90. Tal norma veicula um rol taxativo de exceções a
impenhorabilidade. Tal artigo sofreu recente mudança através da Lei Complementar número
150/2015 e da Lei 13.144/2015. Vejamos:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de


execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra
natureza, salvo se movido:
I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência
e das respectivas contribuições previdenciárias: (Revogado pela
Lei Complementar nº 150, de 2015)
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado
à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e
acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;

291
III -- pelo credor de pensão alimentícia;
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos,
sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre
união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que
ambos responderão pela dívida: (Redação dada pela Lei nº
13.144 de 2015)
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e
contribuições devidas em função do imóvel familiar;
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como
garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para
execução de sentença penal condenatória a ressarcimento,
indenização ou perdimento de bens.
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato
de locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991)
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato
de locação; e (Redação dada pela Medida Provisória nº 871, de
2019)
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato
de locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991)
VIII - para cobrança de crédito constituído pela Procuradoria-
Geral Federal em decorrência de benefício previdenciário ou
assistencial recebido indevidamente por dolo, fraude ou coação,
inclusive por terceiro que sabia ou deveria saber da origem ilícita
dos recursos. (Incluído pela Medida Provisória nº 871, de 2019)

Bem de Família Convencional, Não Cogente, Voluntário ou Facultativo

Consistem em espécie subsidiária, visto que a proteção do bem de família legal é


automática, “sobrando” a tutela voluntária somente para as hipóteses de instituição de tal bem
por ato de vontade.

O art. 1.711 do CC, disciplina que os cônjuges, a entidade familiar ou até mesmo um
terceiro, tem legitimação para instituir o bem de família convencional (CC 1.711). Caso tal
bem seja instituído pelo cônjuge ou pela entidade familiar, deverá ser realizado através de
escritura pública (doação) ou testamento. Já se o ato de instituição for realizado por um
terceiro, o será através de doação ou testamento.

Não obstante os artigos destinados ao tema, somente falarem nos cônjuges, a doutrina
vem admitindo a possibilidade de instituição por qualquer entidade familiar, aplicando-se a
união estável, família monoparental, homoafetiva, etc.

Em virtude do testamento ser um ato essencialmente revogável, cujos efeitos somente


ocorrerão depois da morte, é totalmente possível que o instituidor, antes de falecer, mude de

292
ideia sobre o bem de família. Além disso, haverá o testador de atender a legítima e não
desrespeitar interesses de terceiros, a exemplo de credores.

Por outro lado, a escritura pública de doação, perfeita e acabada, é irretratável,


devendo o instituidor redobrar a sua atenção na referida manifestação de vontade.

Logicamente, a constituição do bem de família demanda aceitação, não sendo imposta


aos beneficiários. E, tecnicamente, a oponibilidade deste bem de família, com a real
percepção de sua impenhorabilidade, advirá do seu registro no respectivo cartório de imóveis
(art. 1.714 do CC). Neste momento, o bem em destaque será gravado como de família,
passando a possuir, perante todos, ou seja, com eficácia erga omnes, a especial característica
de impenhorabilidade.

Instituído o bem de família voluntário, deixa o imóvel de responder pelas dívidas futuras
do devedor. Contudo, essa impenhorabilidade não terá efeitos retroativos (art. 1.715, CC). O
raciocínio, é no sentido de tentar impedir fraudes.

Por se dirigir ao futuro, o bem de família voluntário tem natureza preventiva,


diferentemente do legal, o qual pode alcançar penhoras anteriores à vigência da Lei 8.009/90
– Súmula 205 do STJ –, sendo de natureza repressiva.

Contudo, apesar do manto da impenhorabilidade irretroativa, é possível se verificar,


excepcionalmente, o atingimento do bem de família por dívidas futuras. Sim. O CC apresenta
exceções à impenhorabilidade. Assim, verifica-se na hipótese uma impenhorabilidade
limitada.

Dessa forma é possível, que o bem de família voluntário responda, mesmo depois da
sua constituição, por tributos relativos ao imóvel – a exemplo do IPTU e ITR – ou despesas
de condomínio, em outras palavras, o bem de família voluntário pode ser atingido por
obrigações propter rem.

Portanto, sistematicamente, pode-se dizer que a instituição do bem de família será


ineficaz em relação às dívidas anteriores, e também com aquelas, ainda que posteriores à
instituição, relacionadas a tributos do imóvel ou despesas de condomínio, em razão da
natureza propter rem.

Nos casos (raros) em que o bem de família for atingido, o eventual saldo remanescente
da execução deverá de ser destinado a outro bem, com a mesma natureza familiar, ou em

293
títulos da dívida pública, para sustento da família, a não ser que o juiz tenha outra ideia (art.
1.715 do CC).

O objeto do bem de família convencional é o máximo de um terço do patrimônio líquido


existente ao tempo da instituição. Deve dizer respeito a um bem livre e desembaraçado, não
sendo possível causar prejuízo aos credores do instituidor. Na hipótese de prejuízo, percebe-
se a configuração de fraude contra credores, devidamente combatia mediante ação pauliana
ou revocatória, estudada no volume da Parte Geral.

O bem a ser constituído como de família pode ser um imóvel urbano ou rural, com os
seus respectivos bens móveis que o guarnecem (pertenças e acessórios). Tal bem deve ser
destinado ao domicílio familiar. Em relação a tais bens que aprovisionam o lar, a jurisprudência
explicita a necessidade de análise consoante um juízo de ponderação de interesses, sendo
possível que sejam afetados bens supérfluos.

É possível a instituição de valores mobiliários como bem de família, cujos rendimentos


se destinam à conservação do imóvel e ao sustento da família (CC, art. 1712). Assim, significa
dizer que, por exemplo, ações de alguma empresa da bolsa de valores podem ser gravadas
como bem de família.

A gestão do bem de família cabe a ambos os cônjuges, competindo ao Poder Judiciário


solucionar as eventuais divergências (CC, art. 1.720). Malgrado o silencio legislativo, a
doutrina, por equiparação, aponta que na hipótese de união estável, os companheiros serão
coadministradores. Com a morte de um dos cônjuges, ou companheiros, a gestão
mencionada caberá ao outro. Falecendo ambos, ao filho mais velho, caso maior. Se o citado
filho não for maior, caberá ao seu tutor.

Nada obsta que a administração do bem de família seja feita por instituição financeira
especializada, quando disser respeito a valores mobiliários. Nesse caso, precisa ser
disciplinada a forma de pagamento da respectiva renda aos beneficiários, guiando-se a
responsabilidade dos administradores pelas normas relacionadas ao depósito. Ademais, na
hipótese da instituição escolhida entrar em liquidação ou recuperação judicial, os valores
confiados a título de bem de família serão transferidos, por ordem do magistrado, a outra
instituição semelhante (art. 1.718 do CC).

Pega a visão!

294
O bem de família voluntário não é inalienável. O legislador disciplina que que o prédio
e os valores mobiliários instituídos como bem de família apenas poderão ser alienados
mediante consentimento dos interessados e seus representantes legais, após oitiva do
Ministério Público. O valor decorrente da venda deverá ser destinado a outro bem, o qual
manterá a sua afetação familiar (sub-rogação), após a competente oitiva do Ministério Público
(art. 1.719 do CC).

Em sendo necessária a oitiva do Ministério Público, crível concluir ser necessária a


autorização judicial para tal alienação, inclusive com nomeação de curador aos filhos
menores, caso necessário. Isto posto, chega-se a conclusão de que a inalienabilidade do
bem de família voluntário é relativa.

Duração
O CC tem alguns artigos sobre o tema, os quais demandam uma interpretação
sistemática. Vejamos:
• Na forma do artigo 1.721, CC, tal bem de família não restará extinto pela dissolução
da entidade familiar.
• Pelo artigo 1.716, CC, o bem de família durará enquanto tiver vida um dos cônjuges
ou, na sua falta, até a maioridade civil da prole.
• Da leitura do art. 1.722, CC, depreende-se que ainda persistirá o bem de família
voluntário, mesmo após o falecimento dos cônjuges e maioridade dos filhos, desde
que haja algum filho em curatela.
Em uma interpretação sistemática, portanto, percebe-se que enquanto houver
cônjuges, filhos menores ou incapazes, persistirá o bem de família voluntário.

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE
Consiste numa pretensão declaratória e imprescritível, por se referir a direito da
personalidade (estado civil) através da qual alguém – que se qualifica como filho na petição
inicial – postula em face do suposto pai o reconhecimento do estado de filiação.

De olho na juris!

O STJ editou, dentre outras, a súmula nº 1 disciplinando que “O foro do domicílio ou


da residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de paternidade,
quando cumulada com a de alimentos.”

295
De acordo com a súmula 277, STJ: “Julgada procedente a investigação de
paternidade, os alimentos são devidos a partir da citação”.

Outra coisa importante se abordar em sede de investigação de paternidade é a


presunção de paternidade nos casos em que houver recusa do suposto pai ao exame de DNA
(súmula 301, STJ). Trata-se de presunção relativa, admitindo-se prova em contrário.

A ação de investigação de paternidade é imprescritível, conforme previsão expressa


da súmula 149 do STF. Entretanto, não o é (imprescritível) a ação de petição de herança.

Pega a visão! Veja esse assunto tratado pelo site Dizer O Direito
(https://www.dizerodireito.com.br/2014/02/acao-negatoria-de-paternidade.html):

Ação negatória de paternidade: legitimidade, mera dúvida,


recusa de DNA e paternidade socioafetiva.

Imagine a seguinte situação:


João namorava Beatriz, quando esta ficou grávida.
A criança nasceu, recebeu o nome de André, e João a registrou
como sendo seu filho e de Beatriz, tendo esta garantido que ele
era o genitor do menor.
Quatro anos mais tarde, João propôs ação negatória de
paternidade contra André (representado por sua mãe), com
pedido de anulação do registro de nascimento.
Na ação, o autor alegou que sempre teve dúvidas sobre a
paternidade e que, na época da concepção, soube que Beatriz
manteve outros relacionamentos. Afirmou, ainda, que agora
percebe que não existe nenhuma semelhança física entre ele e
o réu, o que reforçaria que foi enganado no momento do registro.
Pediu a realização de exame de DNA.

Falecimento de João e procedimento de habilitação


Logo após ser proposta a ação, e antes de ser apresentada
contestação, o autor faleceu.
Os pais de João pediram a habilitação, com o objetivo de
sucedê-lo no processo (art. 1.055 do CPC).

Contestação do réu
André, representado por sua mãe, apresentou contestação,
alegando:
a) No que se refere à sucessão processual, aduziu que os pais
do autor não podem sucedê-lo no processo, considerando que
se trata de ação de cunho personalíssimo, devendo o feito ser
extinto sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, IX do
CPC;
b) Quanto ao mérito, afirmou que, durante todos esses anos, o
autor nunca manifestou que tivesse dúvidas sobre a

296
paternidade, somente fazendo isso agora porque estava em
débito com a pensão alimentícia.
c) Por fim, sustentou que a filiação socioafetiva sobrepõe-se à
filiação biológica.

Exame de DNA
No dia designado para que fosse feita a coleta do material
genético para o exame de DNA, André e sua mãe não
compareceram, recusando-se em se submeter a essa prova
pericial.

Súmula 301 do STJ


Diante da recusa do réu em fazer o exame de DNA, os pais de
João pediram a procedência dos pedidos, presumindo a
inexistência de filiação. Para tanto, invocaram o art. 231 do CC
e o raciocínio da Súmula 301 do STJ aplicável ao caso a
contrario sensu:

Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico


necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa.
Súmula 301-STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto
pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris
tantum de paternidade.

Um caso semelhante a esse chegou ao STJ (3ª Turma. REsp


1.272.691-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/11/2013).
Vejamos, por partes, o que foi decidido:

O direito de contestar a paternidade é personalíssimo?


SIM. A legitimidade ordinária ativa da ação negatória de
paternidade compete exclusivamente ao pai registral, por ser
ação de estado, que protege direito personalíssimo e
indisponível do genitor (art. 27 do ECA), não comportando sub-
rogação dos avós, porquanto direito intransmissível (STJ 3ª
Turma. REsp 1328306/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 14/05/2013).
Em outras palavras, somente o pai registral tem legitimidade
para ajuizar a ação negatória de paternidade. Os avós registrais
da criança não podem propor essa demanda.

Mesmo sendo personalíssimo, os avós do pai registral


podem continuar a ação por ele proposta (sucederem o
autor)?
SIM. O direito de contestar a paternidade é personalíssimo
realmente, como vimos acima. No entanto, mesmo sendo
personalíssimo, os avós registrais podem continuar com a ação
em caso de falecimento do pai/autor. Isso porque o pai registral,
quando vivo, manifestou sua vontade ao ajuizar a ação. Em
outros termos, ele exerceu seu direito personalíssimo.
O ingresso dos herdeiros no polo ativo (na condição de
sucessores) não representa o exercício do direito de contestar a

297
paternidade, mas sim o mero prosseguimento da vontade
manifestada pelo titular do direito.
Portanto, ainda que se trate de direito personalíssimo, tendo o
pai registral concretizado sua intenção de contestar a
paternidade ainda em vida, admite-se a sucessão processual de
seus ascendentes, a fim de dar prosseguimento à ação
proposta.

Resumindo:
• Dar início à ação negatória de paternidade: só quem pode fazer
é o pai (herdeiros do pai não podem);
• Prosseguir na ação negatória de paternidade já ajuizada pelo
pai e que faleceu durante o processo: os herdeiros podem
continuar a demanda como seus sucessores.

A ação negatória de paternidade deve ser julgada


procedente?
NÃO. Isso porque não é possível ao juiz declarar a nulidade do
registro de nascimento com base, exclusivamente, na alegação
de dúvida acerca do vínculo biológico do pai com o registrado,
sem provas robustas da ocorrência de erro escusável quando do
reconhecimento voluntário da paternidade.

Sobre o tema, o Código Civil prevê a seguinte regra:


Art. 1.604. Ninguém pode vindicar estado contrário ao que
resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou
falsidade do registro.
Segundo a Min. Nancy Andrighi, “o registro de nascimento tem
valor absoluto, independentemente de a filiação ter se verificado
no âmbito do casamento ou fora dele, não se permitindo negar
a paternidade, salvo se consistentes as provas do erro ou
falsidade”.
Devido ao valor absoluto do registro, o erro apto a caracterizar o
vício de consentimento deve ser escusável, não se admitindo,
para esse fim, que o erro decorra de simples negligência de
quem registrou.
Assim, em processos relacionados ao direito de filiação, é
necessário que o julgador aprecie as controvérsias com
prudência para que o Poder Judiciário não venha a prejudicar a
criança pelo mero capricho de um adulto que, livremente, a
tenha reconhecido como filho em ato público e, posteriormente,
por motivo vil, pretenda “livrar-se do peso da paternidade”.
Se o relacionamento era um namoro eventual e o autor tinha
dúvidas sobre a paternidade, deveria ter exigido, antes de fazer
o registro, um exame de DNA.
Portanto, o mero arrependimento não pode aniquilar o vínculo
de filiação estabelecido, e a presunção de veracidade e
autenticidade do registro de nascimento não pode ceder diante
da falta de provas insofismáveis do vício de consentimento para
a desconstituição do reconhecimento voluntário da paternidade.

298
O fato de o réu não ter comparecido para realizar o exame
de DNA pode ser utilizado contra ele para que a ação seja
julgada procedente?
NÃO. Em ação negatória de paternidade, o não comparecimento
do filho menor de idade para submeter-se ao exame de DNA não
induz, por si só, presunção de inexistência de paternidade.
A Súmula 301-STJ induz presunção relativa, de modo que a
mera recusa à submissão ao exame não implica
automaticamente reconhecimento da paternidade ou seu
afastamento, pois deve ser apreciada em conjunto com os
demais elementos probatórios.
Segundo a Min. Nancy Andrighi, é necessário que haja uma
ponderação mínima para que se evite o uso imoderado de ações
judiciais que têm o potencial de expor a intimidade das pessoas
envolvidas e causar danos irreparáveis nas relações
interpessoais.
Nesse contexto, não é ético admitir que essas ações sejam
propostas de maneira impensada ou por motivos espúrios, como
as movidas por sentimentos de revanchismo, por
relacionamentos extraconjugais ou outras espécies de
vinganças processuais injustificadas.
Portanto, deve-se fazer uma ponderação de interesses. Se de
um lado, o autor tem o direito à identidade e à verdade biológica,
como direitos da personalidade; de outro, o réu possui direito à
honra e à intimidade. Ambos são direitos fundamentais.
O sistema de provas no processo civil brasileiro permite que
sejam utilizados todos os meios legais e moralmente legítimos
para comprovar a verdade dos fatos. Assim, o exame genético,
embora de grande proveito, não pode ser considerado o único
meio de prova da paternidade, em um verdadeiro processo de
sacralização do DNA.
A recusa ao DNA não pode, por si só, resultar na procedência
do pedido formulado em investigação ou negação de
paternidade, pois a prova genética não gera presunção absoluta,
cabendo ao autor comprovar a possibilidade de procedência do
pedido por meio de outras provas. Em outras palavras, além da
recusa ao exame, deve haver indícios de que aquilo que foi
alegado é verdadeiro. No caso concreto, verifica-se que o autor,
na petição inicial, não trouxe qualquer evidência ou indício que
caracterizassem dúvida razoável acerca da paternidade, a
justificar o ajuizamento da ação negatória.
Nesse contexto, a interpretação a contrario sensu da Súmula
301 do STJ, de forma a desconstituir a paternidade devido ao
não comparecimento do menor ao exame genético, atenta
contra a diretriz constitucional e preceitos do CC e do ECA,
tendo em vista que o ordenamento jurídico brasileiro protege,
com absoluta prioridade, a dignidade e a liberdade da criança e
do adolescente, instituindo o princípio do melhor interesse do
menor e seu direito à identidade e desenvolvimento da
personalidade.

299
Vale ressaltar, ainda, que, no caso concreto, o não
comparecimento do menor ao exame há de ser atribuído à mãe,
visto que é ela a responsável pelos atos do filho de quatro anos.
Mesmo se tivesse sido provada a ausência de filiação
biológica, seria possível manter a paternidade com base na
filiação socioafetiva?
SIM. Segundo já decidiu o STJ em outra oportunidade, o êxito
em ação negatória de paternidade, consoante os princípios do
CC/2002 e da CF/1988, depende da demonstração, a um só
tempo, de dois requisitos:
a) Inexistência da origem biológica;
b) Não ter sido construída uma relação socioafetiva entre pai e
filho registrais.
Assim, para que a ação negatória de paternidade seja julgada
procedente não basta apenas que o DNA prove que o “pai
registral” não é o “pai biológico”. É necessário também que fique
provado que o “pai registral” nunca foi um “pai socioafetivo”, ou
seja, que nunca foi construída uma relação socioafetiva entre pai
e filho (STJ. 4ª Turma. REsp 1.059.214-RS, Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 16/2/2012).
GUARDA

Trata-se de instituto assistencial do direito de família que pressupõe processo judicial


e que, de forma nenhuma, aniquila o poder familiar, servindo apenas para estabelecer o
estado de fato relativo à posse da criança ou do adolescente menor de dezoito anos e não
emancipado em relação à convivência com os genitores ou terceiros.

A guarda deve ser dada para aquele que possui melhor relação de socioafetividade,
sem esquecer das condições de segurança, saúde e educação para com a criança ou o
adolescente, levando em conta não só a relação individual, mas também a relação com a
linhagem familiar (paterna ou materna) e independentemente do sexo (masculino ou
feminino). É possível, até mesmo, que a guarda seja deferida a um terceiro, caso os pais não
revelem condições.

A regra é a guarda compartilhada, preferida pela legislação e pelas questões de


concurso público e que ocorre nos casos em que os genitores reconhecem a importância da
responsabilidade conjunta e simultânea para com a criança ou o adolescente e assumem o
compartilhamento da posse do filho, devendo o Magistrado, sempre que possível, informar as
partes a respeito desta relevante preferência normativa.

Pega a visão!

Enunciado 518 – V JDC – CJF: A Lei nº 11.698/2008, que deu nova redação aos arts.
1.583 e 1.584 do CC, não se restringe à guarda unilateral e à guarda compartilhada, podendo
300
ser adotada aquela mais adequada à situação do filho, em atendimento ao princípio do melhor
interesse da criança e do adolescente. A regra aplica-se a qualquer modelo de família.
Atualizados os Enunciados nº 101 e 336 em razão de mudança legislativa, agora abrangidos
por este enunciado.

Uma exceção no ordenamento deve ser a guarda unilateral. Esta apenas deve incidir
quando não for possível a guarda compartilhada. Na guarda unilateral um dos cônjuges,
companheiros, ou representante legal terá o deferimento do instituto a seu favor,
estabelecendo-se em face do outro genitor tão somente o regime de visitas (a regulação das
visitas).

Vale ratificar que a guarda, não gera a perda da autoridade parental motivo pelo qual
ainda que o genitor que não tenha a guarda da criança ou do adolescente continuará
legitimado a dar consentimento a este para casar, viajar, entre outras questões.

Não necessariamente a guarda do menor ou maior incapaz será dada a um de seus


pais. O 1.584, § 5º, do CC, prevê a possibilidade de o magistrado conceder a guarda do
incapaz à pessoa diversa que revele compatibilidade com a natureza da medida, devendo
neste caso observar os graus de parentesco e as relações de afinidade e afetividade.

TUTELA

O art. 1.728, CC, preconiza que os filhos menores serão postos em tutela na hipótese
de morte dos pais, ou de perda do poder familiar por parte destes. Competindo aos genitores
nomear tutor em conjunto, mediante testamento ou documento outro, desde que autêntico
sendo “nula a nomeação de tutor pelo pai ou pela mãe que, ao tempo de sua morte, não tinha
o poder familiar” (art. 1.730, CC).

A tutela é instituto do direito assistencial de família que existe para preencher um


espaço vazio, qual seja a falta da autoridade parental (poder familiar). Justifica-se, portanto,
no melhor interesse da criança e do adolescente menor de 18 anos e não emancipado que,
sem os pais, seja porque órfãos, seja em face de possível perda da autoridade parental,
carecem de administração. Repisa-se: a tutela pressupõe a suspensão ou extinção do poder
familiar pretérito.

A suspensão do poder familiar ocorrerá se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade,


faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos. Tal suspensão será

301
requisitada em processo, até mesmo em sede de tutela de urgência, podendo o pleito ser
realizado por algum parente ou pelo Ministério Público. Ademais, igualmente suspende-se o
exercício do poder familiar do pai ou da mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude
de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão (CC, art. 1.637).

Já extinção do poder familiar ocorrerá:

Art. 1.635, CC. Extingue-se o poder familiar:


I - pela morte dos pais ou do filho;
II - pela emancipação, nos termos do art. 5 o , parágrafo único;
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.

A decisão judicial que destitui o poder familiar somente produzirá este efeito após o
trânsito em julgado. Até lá, em regra, há pedido de tutela de urgência de suspensão do aludido
poder familiar. A extinção do poder familiar por decisão judicial se fundará nas seguintes
causas:

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a


mãe que:
I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono;
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo
antecedente.
V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de
adoção. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o poder familiar
aquele que: (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
I – praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder
familiar: (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou
seguida de morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo
violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação
à condição de mulher; (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
b) estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à
pena de reclusão; (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
II – praticar contra filho, filha ou outro descendente: (Incluído
pela Lei nº 13.715, de 2018)
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou
seguida de morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo
violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação
à condição de mulher; (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a
dignidade sexual sujeito à pena de reclusão. (Incluído pela Lei
nº 13.715, de 2018)
302
A tutela compete aos parentes do menor, preferencialmente aos ascendentes mais
próximos. Na falta destes, aos colaterais até o terceiro grau ou, na pior das hipóteses, caberá
decisão ao juiz (art. 1.744, I, CC) que “nomeará tutor idôneo e residente no domicílio do
menor” (art. 1.732, CC).

No caso de irmãos órfãos precisa se dar um só tutor a fim de permitir a manutenção


do que ainda restou dos laços familiares originários. Trata-se da chamada “unidade da tutela”.
Por sua vez, a tutela dos denominados “menores abandonados” deve se implementar de
modo que estes sejam “recolhidos a estabelecimento público para este fim destinado”. Nada
obstante na falta desse estabelecimento, ficam sob a tutela das pessoas que, voluntária e
gratuitamente, se encarregarem da sua criação.

Impedimentos

Alguns sujeitos são tidos pela norma como impedidos de exercer a tutela isto porque
não possuem a livre administração dos próprios bens, ou possuem obrigação para com o
menor, demanda em face deste, inimizade, conflito de interesses, ou ainda porque foram
condenados por crime, qualificando-se como pessoas de mau procedimento, ou com falhas
em probidade, culpadas de abuso em tutorias anteriores ou, finalmente, porque exercerem
função pública incompatível com a boa administração da tutela.

Diferentemente dos impedidos, existem aqueles que podem se escusar do múnus, isto
é, postular a dispensa do dever da tutela. Entre tais pessoas se encontram as mulheres
casadas, os maiores de sessenta anos, aqueles que tiverem sob autoridade mais de três
filhos, os impossibilitados por enfermidade, os que habitam longe do lugar onde se haja de
exercer a tutela, aqueles que já exercerem tutela ou curatela e os militares em serviço.

Pega a visão!

A escusa não se confunde com o impedimento. Enquanto este deve ser indicado pelo
Juiz ex oficio, aquela exige postulação do interessado. A escusa deve ser oposta nos dez dias
subsequentes à designação, sob pena de entender-se renunciado ao direito de alegá-la. Este
prazo poderá ser contado ainda a partir do fato superveniente.

303
Se o magistrado não aceitar a escusa, exercerá o nomeado a tutela enquanto o recurso
eventualmente interposto por este não for provido (reformando a decisão desfavorável),
respondendo desde logo pelas perdas e danos que o menor venha a experimentar.

Atribuições

O art. 1.740, CC, leciona que compete ao tutor dirigir a educação do tutelado, defendê-
lo, prestar alimentos, adimplir os deveres dos pais, entre outras hipóteses, sempre se
colhendo a opinião do menor, especialmente se este já contar doze anos de idade,
administrando os bens do tutelado com zelo e boa-fé.

Importante ressaltar que as atribuições do tutor não se limitam supracitadas. Os artigos


1.747 a 1.750, CC trazem outras também fundamentais. Exemplifica-se: atribuição de
“representar o menor, até os dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após essa
idade, nos atos em que for parte” (art. 1.747, I, CC). As competências elencadas no artigo
1.747 serão exercidas livremente, sem necessidade de autorização do juiz. As competências
previstas no artigo 1.478 dependem de autorização do juiz para o ato.

Da mesma forma, disciplina o CC, os casos nos quais o tutor não está autorizado a
agir, sob pena de nulidade.

Art. 1.749. Ainda com a autorização judicial, não pode o tutor,


sob pena de nulidade:
I - adquirir por si, ou por interposta pessoa, mediante contrato
particular, bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor;
II - dispor dos bens do menor a título gratuito;
III - constituir-se cessionário de crédito ou de direito, contra o
menor.

Se o juiz não puder fiscalizar os atos do tutor, o artigo 1.742, CC lhe autoriza a “nomear
um protutor”, ou seja, alguém que atue nesta condição fiscalizadora.

Também é possível se os bens e interesses administrativos do tutelado exigirem


conhecimentos técnicos, ou se realizados em lugares distantes do domicílio do tutor, que este,
mediante aprovação judicial, delegue a outras pessoas o exercício parcial da tutela.

Em qualquer situação, os bens do menor serão entregues ao tutor mediante termo


especificando tanto os bens, quanto os respectivos valores, permitindo-se ao Juiz condicionar
o exercício da tutela à prestação de caução bastante, a ser dispensada se o tutor for de

304
reconhecida idoneidade, razão pela qual: “Antes de assumir a tutela, o tutor declarará tudo o
que o menor lhe deva, sob pena de não lhe poder cobrar, enquanto exerça a tutoria, salvo
provando que não conhecia o débito quando a assumiu” (art. 1.751, CC).

Segundo o art. 1.752, CC: “O tutor responde pelos prejuízos que, por culpa, ou dolo,
causar ao tutelado; mas tem direito a ser pago pelo que realmente despender no exercício da
tutela, salvo no caso do art. 1.734, e a perceber remuneração proporcional à importância dos
bens administrados. § 1º Ao protutor será arbitrada uma gratificação módica pela fiscalização
efetuada. § 2º São solidariamente responsáveis pelos prejuízos às pessoas, as quais
competiam fiscalizar a atividade do tutor, e as que concorreram para o dano”.

Os tutores sempre deverão prestar contas da administração dos bens dos tutelados.
“No fim de cada ano de administração, os tutores submeterão ao juiz o balanço respectivo,
que, depois de aprovado, se anexará aos autos do inventário”, a teor do art. 1.756 do Código
Civil.

Além do balanço anual os tutores prestarão contas de dois em dois anos e também
quando deixarem o exercício da tutela ou toda vez que o Juiz achar conveniente, extinguindo-
se a tutela pela emancipação ou maioridade, mas, insista-se, o efeito liberatório (ou seja, a
quitação) só ocorrerá após aprovadas às contas pelo Magistrado, subsistindo inteira, até
então, a responsabilidade do tutor.

CURATELA
A curatela constitui instituto mais amplo a se dirigir não apenas aos demais incapazes,
absolutos ou relativos, maiores de dezoito anos, como ainda ao nascituro, ao ausente, ao
revel citado por edital, entre outras hipóteses. Estão sujeitos à curatela aqueles que por causa
transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade, os ébrios habituais, os viciados
em tóxicos e os pródigos. Trata-se de instituto que é disciplinado pelo CC, pelo CPC e pelo
Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD).
Mas como se dá tal interdição? O procedimento de interdição encontra assento nos
arts. 747 ao 758 do CPC. Trata-se de procedimento especial que tramitará na Vara da Família.

Pega a visão!
O código de processo civil de 2015 trouxe o procedimento de interdição previsto nos
arts. 747 ao 758. A disciplina processual em linhas gerais se manteve a mesma; porém, há
um cuidado maior em relação à condição existencial do interditando, quem deve ter os seus

305
desejos e preferências observados. Da mesma forma, a impugnação à interdição ganha novo
prazo: quinze dias. Importante observar a parte processual do tema.

Legitimidade

A legitimidade ativa para pedir a curatela, deve ser comprovada por documentação
(junto com a peticao inicial), será do cônjuge, ou companheiro, dos parentes ou tutores, do
representante da entidade que se encontra abrigado o interditando e, finalmente, do Ministério
Público (CPC, art. 747). Lembrando que a legitimação do Ministério Público advém do art.
127, CF/88.

A interdição é limitada à questões patrimoniais e negociais. Dessa forma, a


denominada “interdição parcial”, de natureza patrimonial, é a única admitida hoje no
ordenamento jurídico pátrio. Ou seja, no Brasil não se admite a interdição absoluta.

A não intervenção do MP como fiscal da ordem jurídica é causa de nulidade do


processo, em consonância com o art. 279 do CPC. O art. 752 disciplina o prazo de
contestação, a intervenção obrigatória do Ministério Público como fiscal da ordem jurídica,
entre outras providências.

A citação para entrevista do interditando e perícia médica obrigatórias é indispensável,


em qualquer circunstância. Caso o interditando não possa se fazer presente à audiência, de
acordo com a leitura seca da norma o juiz deverá proceder ao exame pessoal onde o incapaz
se encontrar (arts. 751 e 753 do NCPC e 1.771 do CC). Na realidade, o mais comum é a
designação de Oficial de Justiça para certificar a situação concreta. Pega a visão! Isso é algo
da prática forense não previsto em lei!

Em função do princípio da intervenção mínima do Estado nas relações familiares,


interdição deve ter limites, para que reste um pouco independência e liberdade para a pessoa
interditada. O art. 1.782, CC leciona que “a interdição do pródigo só o privará de, sem curador,
emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar,
em geral, os atos que não sejam de mera administração”. Ademais, lembra-se que a
autoridade do curador alcança à pessoa e os bens dos filhos do curatelado, desde que
menores (art. 1.778, CC). Outrossim, dar-se-á curador ao nascituro se o pai falecer estando
mulher grávida, e não tendo o poder familiar. Se a mulher estiver interdita, seu curador será
também o curador do nascituro.

306
A doutrina firmou entendimento no Enunciado 574 da VI JDC/CJF no sentido de que:
“A decisão judicial de interdição deverá fixar os limites da curatela para todas as pessoas a
ela sujeitas, sem distinção, a fim de resguardar os direitos fundamentais e a dignidade do
interdito”.

É preciso que a decisão da interdição seja registrada para que gere efeitos erga omnes
(art. 9º, CC). Contudo, esse registro, bem como a decisão da interdição, não é infinito. A
decisão da interdição é subordinada à cláusula rebus sic stantibus, moldando-se, por
conseguinte, segundo as razões fáticas.

Pega a visão!

O procedimento de interdição está previsto no CPC a partir do art. 747. Houve muitas
mudanças, dentre as quais se destacam:

a) a substituição do interrogatório pela palavra “entrevista” do interditado, com a utilização de


recursos tecnológicos e equipe multidisciplinar;

b) a possibilidade de o interditado indicar o seu próprio curador, em fiel respeito à dignidade


humana e a autodeterminação, sendo observadas as preferências do interditando;

c) o reposicionamento da missão constitucional do Ministério Público nas ações de interdição,


deixando de exercer a atividade de curadoria do incapaz, atribuição esta típica da Defensoria
Pública;

d) Dilação do prazo de impugnação do interditando de cinco para quinze dias.

O curatelado, tem prazo de 15 dias contados da entrevista, poderá impugnar o pedido


de interdição e poderá constituir advogado. Decorrido o prazo, o juiz da causa designa perícia
para avaliação da capacidade do interditando para praticar os atos da vida civil. Esta perícia
poderá ser composta por mais de um expert, ou seja, com formação multidisciplinar. O laudo
pericial indicará especificadamente, se for o caso, os atos para os quais haverá necessidade
de curatela.

Apresentado o laudo e ouvido os interessados, o juiz proferirá sentença, quando


nomeará o curador e fixará os limites da curatela, considerando as características pessoais
do interdito, observadas suas potencialidades, habilidades, vontades e preferências. A
curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do curatelado. Esta

307
sentença há de ser inscrita no registro de pessoas naturais e publicada imediatamente na
rede mundial de computadores, no sítio do tribunal e na plataforma de editais do CNJ, onde
permanecerá por 6 meses (CPC, art. 755).

O objetivo é que a curatela seja transitória, de modo que se o interditado restabelecer


a saúde psíquica, poderá formalizar judicialmente pedido de levantamento da interdição,
retomando a gestão própria de seu patrimônio. A curatela é medida atípica, extraordinária, de
exceção. Veja que o curador deverá buscar tratamento e apoio apropriados à conquista da
autonomia pelo interdito. É o que diz o art. 758 do CPC.

Pega a visão!

O Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei Federal nº 13.146/2015 alterou o art. 1.777
do CC prescrevendo que “As pessoas referidas no inciso I do art. 1.767 receberão todo o
apoio necessário para ter preservado o direito à convivência familiar e comunitária, sendo
evitado o seu recolhimento em estabelecimento que o afaste desse convívio”.

A revisão pode decorrer de melhora do quadro, com o abrandamento da incapacidade


e até mesmo a sua reversão. Tal reversão é denominada, também, de levantamento da
interdição, sendo prevista no art. 756 do CPC.

De olho na juris! O STJ tem posicionamento dominante nesse tema!

O art. 756, §1º, do CPC/15, ampliou o rol de legitimados para o


ajuizamento da ação de levantamento da curatela previsto no
art. 1.186, §1º, do CPC/73, a fim de expressamente permitir que,
além do próprio interdito, também o curador e o Ministério
Público sejam legitimados para o ajuizamento dessa ação,
acompanhando a tendência doutrinária que se estabeleceu ao
tempo do código revogado. 5- Além daqueles expressamente
legitimados em lei, é admissível a propositura da ação por
pessoas qualificáveis como terceiros juridicamente interessados
em levantar ou modificar a curatela, especialmente àqueles que
possuam relação jurídica com o interdito, devendo o art. 756,
§1º, do CPC/15, ser interpretado como uma indicação do
legislador, de natureza não exaustiva, acerca dos possíveis
legitimados”.
(REsp /MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 11/12/2018, DJe 14/12/2018)

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: MPE-GO Órgão: MPE-GO Prova: MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor
de Justiça - Reaplicação
308
A curatela é o encargo imposto a alguém para reger e proteger a pessoa que, por causa
transitória ou permanente, não possa exprimir a sua vontade, administrando os seus bens
(STJ - Resp: 1515701/RS. Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJu. 02/10/2018, T4 - Quarta
Turma, Data de Publicação: DJe 31/10/2018). Acerca do instituto da curatela, assinale a
alternativa incorreta:
A. Não existem mais absolutamente incapazes maiores, por força das alterações que foram
feitas no art. 3º do Código Civil pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015).
Sendo assim, a curatela somente incide para os maiores relativamente incapazes, que são os
ébrios habituais, os viciados em tóxicos, as pessoas que por causa transitória ou definitiva
não puderem exprimir vontade e os pródigos.
B. De acordo com posição dominante no STJ, o rol de legitimados para propor a ação de
levantamento da curatela previsto no art. 756, § 1º do CPC/2015 é taxativo, somente podendo
ser ajuizada pelas pessoas arroladas expressamente no mencionado dispositivo.
C. O Ministério Público detém legitimidade expressa para propor a ação de levantamento de
curatela.
D. O Estatuto da Pessoa com Deficiência incluiu disposição expressa no Código Civil segundo
a qual, na nomeação de curador para a pessoa com deficiência, o juiz poderá estabelecer a
curatela compartilhada a mais de uma pessoa.
Gabarito: “B”.

A Tomada da Decisão Apoiada

Dentre as novidades decorrentes do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei


13.146/15), salta aos olhos o novo instituto criado e que passa a integrar o direito assistencial
das famílias: a Tomada de Decisão Apoiada (CC, art. 1.783-A).

Trata-se de processo judicial por meio do qual a pessoa com deficiência escolhe duas
ou mais pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e confiança, visando que lhes
prestem apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, concedendo elementos e
informações necessários para que possa exercitar a sua capacidade.

Para elaborar este requerimento de Tomada de Decisão Apoiada, a pessoa com


deficiência e os apoiadores precisam apresentar um termo, no qual precisa constar os limites
do apoio a ser oferecido, o compromisso dos apoiadores, o prazo de vigência do acordo e o
respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar.

309
O pedido de apoio será feito pela própria pessoa a ser apoiada, com indicação
expressa das pessoas escolhidas a prestarem o apoio. Antes de decidir sobre o pedido, o juiz
precisa ser auxiliado por equipe multidisciplinar e ouvir MP. Deverá também ouvir
pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio.

Homologado o pedido, decisões apoiadas serão válidas e eficazes, desde que


tomadas nos exatos limites do termo. O terceiro contra quem a pessoa apoiada mantenha
relação negocial poderá solicitar, inclusive, a assinatura do contrato ou do acordo dos
apoiadores, especificando, por escrito, a função destes em relação ao apoiado.

Na hipótese de negócio jurídico que possa causar risco ou prejuízo relevante, havendo
divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, o magistrado, ouvido
o MP, decidirá sobre a questão.

Se o apoiador for negligente, exercer pressão indevida ou não cumprir as obrigações


com as quais se comprometeu, poderá a pessoa apoiada, ou terceiro, oferecer denúncia ao
MP ou ao juiz. Se esta denúncia for procedente, o juiz irá afastar o apoiador e nomear outro,
ouvida a pessoa apoiada e se for de interesse desta a substituição.

Igualmente, a pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo


firmado em processo de tomada de decisão apoiada. Outrossim, o apoiador poderá solicitar
ao juiz a exclusão de sua participação do processo de tomada de decisão apoiada, sendo o
seu desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria.

Pelo CC se aplicam à tomada da decisão apoiada, no que couber, as disposições


alusivas à prestação de contas na curatela.

ADOÇÃO

Trataremos aqui alguns aspectos mais relevantes e pertinente ao tema do Direito das
Famílias. Vale lembrar que adoção é mais esmiuçada na disciplina do Estatuto da Criança e
do adolescente.

Consiste em instituto jurídico que dá ensejo ao surgimento da família substituta,


apagando-se os laços de parentesco do passado (à exceção dos impedimentos matrimoniais
que sempre existirão) e fazendo surgir uma nova família em toda a sua extensão de direitos
e deveres jurídicos. Desta forma, a adoção atribui a condição de filho ao adotado, eliminando
os vínculos de parentescos biológicos, à exceção do impedimento matrimonial.
310
Só o maior de dezoito anos pode adotar, exceto no caso de um casal e desde que um
deles tenha completado a maioridade e comprove a estabilidade da família. Assim, para um
menor de dezoito anos adotar deverá estar casado ou em união estável como alguém maior
de dezoito, sendo esta a única exceção à regra.

Levando em conta que a adoção é uma ficção jurídica que imita a realidade biológica,
exige-se que o adotante seja, pelo menos, dezesseis anos mais velho que o adotado.

Em respeito à eticidade e à boa fé objetiva, tutores e curadores somente poderão


adotar após a prestação (aprovação) das contas dos tutelados e curatelados, inclusive com a
quitação de eventuais débitos.

A adoção pressupõe um processo judicial e depende do consentimento dos pais, ou


dos representantes legais de quem se deseja adotar, além da concordância deste, se contar
mais de doze anos.

O consentimento somente será dispensado se os pais desta pessoa forem


desconhecidos, ou destituídos do poder familiar, por razões intuitivas.

Todavia, nada obsta que o aludido consentimento seja revogado de maneira eficaz até
a publicação da sentença constitutiva da adoção.

É claro que casais homossexuais podem adotar, matéria pacificada nos tribunais
superiores, como também poderão divorciados e separados judicialmente, desde que
acordem sobre a guarda, regulação de visitas e alimentos, sempre no melhor interesse da
pessoa adotada e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância desta
sociedade.

A adoção existe em melhor benefício do adotando (mais uma vez o princípio da


proteção integral, o mesmo aplicado para a guarda) razão pela qual é possível, em certos
casos, que não se exija o consentimento do representante legal do menor, se provado, por
exemplo, que os pais são desconhecidos, ou tenham sido destituídos do poder familiar, entre
outras situações que serão ponderadas pelo Juízo de Família.

Exatamente por esse motivo que o adotando terá direito subjetivo de alterar o
sobrenome ou até o prenome, se menor e desde que haja pleito neste sentido.

311
Entretanto, os efeitos da adoção começam tão somente a partir do trânsito em julgado
do processo, exceto se o adotante vier a falecer no curso do procedimento, caso em que terá
força retroativa à data do óbito.

16. DIREITO SUCESSÓRIO

Direito Sucessório é o conjunto de princípios e normas jurídicas que regulamentam a


transferência do patrimônio da pessoa natural, os ativos e passivos da mesma, assim como a
sua última vontade, para depois da morte, em virtude de lei ou testamento.

No art. 1.784, o CC leciona que a sucessão se dá no momento da morte, sendo a


herança desde logo transmitida aos herdeiros legítimos ou testamentários. É a denominada
“Saisine” ou “Droit Saisine”. Consiste num princípio que cria uma ficção jurídica relevante
buscando que a propriedade sempre tenha um dono, um herdeiro, para, assim, atender a sua
função social.

Por conta desse princípio, o herdeiro já tem posse de imediato patrimônio hereditário
deste o evento morte (denominado de abertura da sucessão), devendo apenas aceitar, ou
renunciar, a posteriori, a aludida transmissão, já que ninguém é obrigado a receber a herança
(princípio da autonomia privada).

Pressupostos
Apenas a morte (natural ou presumida) tem o condão de abrir a sucessão (arts. 6° e
7°, CC). Portanto, existem dois pressupostos necessários:
• Que o de cujos tenha falecido;
• Que lhe sobreviva o herdeiro.

Comoriência (art. 8°, CC)


Já abordado na Parte geral, quando do tratamento da extinção da pessoa natural,
relembramos aqui que se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se
podendo saber quem morreu primeiro, presumir-se-ão simultaneamente mortos. Nosso direito
positivo prescreve, de modo seguro, simples e objetivo que todos os comorientes sucumbiram
simultaneamente, na impossibilidade de se precisar a premoriência. É uma presunção
relativa.

312
Natureza jurídica da herança: indivisibilidade da herança e juízo universal
A sucessão é equiparada ao imóvel (artigo 80, II, CC), submetida ao regime de um
condomínio indivisível (artigo 1.791, CC), decorrendo, a partir de então, o juízo universal da
herança (artigo 91, CC). Enquanto imóvel, a transmissão da herança demanda escritura
pública (artigo 1.793, CC) ou será considerada nula (artigo 166, IV, CC), bem como da outorga
uxória se o regime de bens não for o da separação absoluta (artigo 1.647, I, CC).

Sucessão do Município, do Distrito Federal e da União (art. 1.844, CC)


O Poder Público não figura mais no rol dos herdeiros necessários apontados na ordem
da vocação hereditária (art. 1.844, CC), ao contrário do CC/16 (art. 1.603, V). Não é herdeiro
regular. É sucessor anômalo ou irregular criado apenas por fundamento político social para
evitar propriedade sem dono quando ocorre a vacância. Portanto, os bens arrecadados são
transferidos, em regra, ao Município.

Pacto de corvina
O ordenamento jurídico pátrio, à luz do art. 426, CC veda a existência de contrato que
vise a herança de pessoa viva. A isto a doutrina chama pacto sucessório, ou sucessão
pactícia, ou mesmo pacto de corvina.

Expressões importantes!
• Herança: universalidade das relações jurídicas (excluídas as não patrimoniais e as
personalíssimas) deixadas pelo de cujus, enquanto não promovida a partilha. É
universalidade de direito. É direito fundamental (CF, art. 5º, XXX).
• Legado: bem/ conjunto de bens certos e determinados da herança deixado pelo
testador a alguém.
• Espólio: identificação processual da massa patrimonial, sem personalidade jurídica,
mas legitimidade ad causam. Natureza jurídica: bem imóvel (ficção jurídica).
Patrimônio único e indivisível (=condomínio).
• Herdeiro legítimo: é o indicado pela lei consoante ordem de vocação hereditária (art.
1.829, CC), ou seja, são os legitimados a suceder nos casos de herança não
testamentária.
• Herdeiros legítimos necessários: são os descendentes, os ascendentes e o cônjuge,
a quem pertencerá metade da herança, denominada legítima. (art. 1.845, CC). Todo o
herdeiro necessário é legítimo, mas nem todo herdeiro legítimo é necessário.

313
• Herdeiros legítimos facultativos: são os que herdam em virtude da lei, todavia não
necessariamente, pois podem ser afastados da herança por ato de vontade, a exemplo
do testamento. São os colaterais até quarto grau.
• Herdeiro universal: é o que recebe uma universalidade, um quinhão, uma quota da
herança, seja em virtude de lei (sucessão legítima), ou de vontade (sucessão
testamentária). Herdeiro universal recebe um quinhão, expresso, geralmente, em
percentual da herança.
• Herdeiro legatário: é aquele que recebe a coisa individuada, ex re certa, a exemplo de
uma determinada casa ou bem especifico, singular.
• Herdeiro testamentário, nomeado ou instituído: é o designado pelo testador no ato de
última vontade.

De olho na lei!
Vejamos as disposições gerais trazidas no Código Civil.

LIVRO V
Do Direito das Sucessões

TÍTULO I
Da Sucessão em Geral

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde


logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.

Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do


falecido.

Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última


vontade.

Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei


vigente ao tempo da abertura daquela.

Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a


herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos
bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a
sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo.

Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá


dispor da metade da herança.

314
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da
sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente
na vigência da união estável, nas condições seguintes: (Vide
Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário
nº 878.694)
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota
equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança,
tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a
um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade
da herança.

O FORO PARA AJUIZAMENTO DO INVENTÁRIO, O PRAZO E A ADMINISTRAÇÃO DA


HERANÇA
Foro

A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido (art. 1.785, CC), sendo
este, regra geral, o foro competente para o ajuizamento do inventário. Segundo o art. 23, II, e
os arts. 48 e 96 do CPC/15 a sucessão será aberta no foro do último domicílio do de cujus e
processada pela autoridade judicial brasileira. Isto é, este será o local competente para a
propositura da ação de inventário judicial, em regra.

O prazo para ajuizamento da ação de inventário é de dois meses da data do óbito, nos
termos do art. 611 do CPC/15, sob pena de multa (STF, súmula 542).

Pega a visão!!!!!

A lei nº 14.010/2020, “Lei da Pandemia” trouxe exceções a esse prazo, trata-se de lei
temporária com vigência restrita. Mas, é assunto que pode ser objeto de questão de prova.
Assim sendo, veja o que disse a lei:

Art. 16. O prazo do art. 611 do Código de Processo Civil para


sucessões abertas a partir de 1º de fevereiro de 2020 terá seu
termo inicial dilatado para 30 de outubro de 2020.
Parágrafo único. O prazo de 12 (doze) meses do art. 611 do
Código de Processo Civil , para que seja ultimado o processo de
inventário e de partilha, caso iniciado antes de 1º de fevereiro de
2020, ficará suspenso a partir da entrada em vigor desta Lei até
30 de outubro de 2020.

A indivisibilidade da herança

315
Depois das disposições gerais, tem-se o tratamento da administração da herança que
“defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros” (art. 1.791, CC) motivo
pelo qual “Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança,
será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio”.

A Possibilidade de cessão

Entretanto, sem embargo, o quinhão hereditário pode ser objeto de “cessão por
escritura pública”, pois assim preconiza o art. 1.793, CC. É pressuposto da cessão o óbito,
pois a realização em vida seria basicamente o mesmo que o “pacta corvina” proibido pelo art.
426 do CC. Igualmente, será ineficaz a cessão de qualquer bem considerado individualmente,
ante a indivisibilidade do espólio. O co-herdeiro apenas pode dispor do seu quinhão, da sua
quota parte. Todavia, é possível que o herdeiro solicite ao juízo autorização prévia para ceder
bem componente do acervo hereditário pendente de indivisibilidade.

Importante salientar que os herdeiros terão preferência legal nesse caso. Ou seja, se
um dos herdeiros optar em ceder onerosamente seus direitos hereditários, precisa ofertar,
primeiro, para os outros herdeiros. Somente depois disso, é permitido que se oferte a
terceiros. Isto posto, o Código Civil prevê no artigo 1.795 que “o coerdeiro, a quem não se der
conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a
estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a transmissão”.

A Força da herança
Diz respeito ao alcance da responsabilidade civil do herdeiro. Ele não responde para
além daquilo que herda: “O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da
herança”, incumbindo-lhe “a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse,
demonstrando o valor dos bens herdados”, em consonância com o quanto preconizado no
artigo 1.792, do Código Civil.

De olho na prova!
Ano: 2020 Banca: FCC Órgão: TJ-MS Prova: FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto
No tocante à sucessão, é correto afirmar:
A. morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo
ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento, mas não subsiste a
sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo.

316
B. legitimam-se a suceder as pessoas já nascidas, somente, no momento da abertura da
sucessão.
C. na sucessão testamentária é possível chamar a suceder os filhos ainda não concebidos,
mas não as pessoas jurídicas.
D. a herança transmite-se aos herdeiros legítimos e testamentários com o pedido de abertura
do inventário dos bens deixados pelo falecido.
E. o herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe,
porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor
dos bens herdados.
Gabarito: “E”

Espécies de sucessões:
Quanto à fonte:
• Testamentária: disposição de última vontade (preservando a legítima).
• Legítima (ab intestato): vocação hereditária (vontade presumida por lei).
Obs.: Irá tudo para legítima, ainda que haja testamento, se este caducar (ineficaz por
causa superveniente – ex.: morte beneficiário) ou for declarado inválido
(nulo/anulável).

Quanto aos efeitos:


• Título universal: herdeiro sucede na totalidade da herança, recebendo fração dela
(quinhão). Sucessão legítima: sempre a título universal, podendo ocorrer também na
testamentária.
• Título singular: legatário recebe bem certo e determinado. Só na testamentária.

Anômala:
Sucessão segue uma regra específica. Ex.: FGTS; levantamento de salários. Obs.:
Alvará judicial: procedimento de jurisdição voluntária, de competência da vara das sucessões,
para transmissão de resíduos pecuniários de pouca expressão (até 500 OTNs). Ex. FGTS,
saldo de salário, PIS/PASEP. A lei impõe a inexistência de outros bens a partilhar. Se houver
outros bens, será necessário inventário.

CAPACIDADE PARA SUCEDER

317
É a habilitação específica da pessoa natural para receber herança. A pessoa natural
pode ter plena capacidade para a prática dos atos na vida civil, mas não ter capacidade
(autorização específica) para suceder em determinado caso concreto. Um belo exemplo
ocorre na indignidade. O indigno será aquele excluído da sucessão (CC, arts. 1.814/1.818).

O CC/02 legitima como sucessores as pessoas nascidas ou já concebidas no


momento da abertura da sucessão (art. 1.789). Nota-se que existe ainda a possibilidade, na
sucessão testamentária, que a prole dita eventual – gerada após o óbito – suceda, desde que
concebida, salvo disposição de vontade em contrário, até dois anos depois da morte do de
cujus (arts. 1.799, 1.800, CC). Ademais, é também possível, que a herança seja destinada a
uma pessoa jurídica, atual ou futura, como por exemplo uma fundação.

O concubino, assim como o deserdado, ou o indigno, não podem receber herança, por
razões intuitivas (art. 1.802, CC). Bem como não poder ser nomeados herdeiros ou legatários
a pessoa que, a pedido, escreveu o testamento, seu cônjuge ou companheiro, ascendentes
e irmãos, as testemunhas do testamento e o tabelião, seja civil ou militar (art. 1801, CC).

Contudo, evidentemente, é possível deixar patrimônio para a prole oriunda do


concubinato, em virtude do princípio da igualdade entre os filhos (art. 1.803, CC).

De olho na juris!

Nessa lógica, temos a súmula 447 do STF: “É válida a disposição testamentária em


favor de filho adulterino do testador com sua concubina”.

ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA


No brasil o herdeiro não é obrigado a aceitar a herança, ela é uma imposição
legislativa. Diversamente, é perfeitamente possível que o herdeiro decline de receber o bem
hereditário. Tanto a aceitação quanto a renúncia da herança são atos irrevogáveis,
indivisíveis, irretratáveis e inter vivos. A aceitação torna definitiva a transmissão desde a
abertura da sucessão. Diante da recusa, tem-se a transmissão como não verificada.

O nosso ordenamento não aquiesce com a aceitação ou a renúncia de maneira parcial,


sob condição ou a termo (Ex.: aceito o bônus, mas não aceito ônus; ou: aceito a herança
desde que você faça isto ou aquilo). Se, por tragédia, o herdeiro vier a óbito antes de anunciar
se aceita ou renuncia à herança, este direito (de se manifestar a respeito do aceite ou da

318
renúncia, com todos os efeitos jurídicos disto decorrente) passará aos sucessores do próprio
herdeiro.

Aceitação
A aceitação da herança, à luz do art. 1.805, CC, pode ser expressa ou tácita. Vejamos.
• Expressa: opera-se por declaração escrita, particular ou pública. Nela o herdeiro
encerra uma afirmação inequívoca, positiva, do interesse em receber a herança.
• Tácita: nesta hipótese o herdeiro não se expressa de maneira positiva. Simplesmente
pratica atos compatíveis com a condição de herdeiros, típicos, peculiares, razão pela
qual se interpretam as aludidas condutas como ato de aceitar (Ex.: o herdeiro de um
veículo que se emite na posse do automóvel, dirige-o rotineiramente extraindo proveito
do bem, faz as revisões, paga os tributos, responsabiliza-se pela conservação do
bem...).

Pega a visão!!
Os chamados atos oficiosos, como o funeral do finado ou mesmo os meramente
conservatórios, ou ainda os de administração e guarda provisória não constitui aceite. O ato
de requerimento de inventário, por se tratar de obrigação legal, também não representa aceite.

No mesmo sentido do que já foi dito aqui algumas vezes, não é possível a aceitação
antes de aberta a sucessão (art. 426, CC).

Renúncia
É a abdicação da condição de herdeiro. Considera-se o herdeiro como se não
existisse, ou melhor, como se nunca tivesse herdado. Não pode ser presumida, nem pode ela
ser inferida por suposições. Demanda ato positivo de vontade e forma solene. Não há renúncia
tácita como ocorre na aceitação. Faz-se mister que haja um ato solene, pois exige que o
instrumento seja público ou por termo nos autos homologado pelo juiz. Exige plena
capacidade, não podendo ser realizada por incapaz, nem por seu representante legal, a
menos que obtenha prévia permissão do juízo. Feita por mandatário, a procuração deve
conter poderes especiais e expressos, conforme o artigo 661 e seu parágrafo primeiro do CC.

Pega a visão!

Na sucessão legítima a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma


classe e, sendo ele único, devolve-se aos da subsequente.
319
A representação não existe quando ocorre a renúncia da herança, pois ninguém pode
suceder representando herdeiro renunciante. O quinhão do renunciante somente passará aos
seus filhos se ele for o único da sua classe ou se todos da mesma classe renunciarem. Neste
caso os filhos do renunciante sucederão por cabeça e por direito próprio, não como
representantes.

Limites ao direito de renunciar:


Se o herdeiro for devedor, não pode a sua renúncia prejudicar credores, pois pode ser
caracterizada a fraude contra credores. Os credores não precisam recorrer à ação revocatória
ou pauliana, basta peticionar ao magistrado do inventário habilitando-se – isto, é claro, se o
processo de inventário estiver em curso. Os credores poderão, com autorização do
magistrado, em 30 dias contados a partir da data que tiveram conhecimento, aceitá-las em
nome do renunciante, no limite dos seus créditos.

Retratação da renúncia e da aceitação.


Como já citado, tanto a aceitação, quanto a renúncia, constituem atos irretratáveis, de
acordo com o art. 1.812, pois constituem direitos adquiridos em face de outras pessoas.
Todavia, isso não tem relação com a possibilidade de tais atos serem nulos ou
anuláveis por lhes faltarem alguns dos pressupostos de validade. Ex.: se decorre a renúncia
de erro, dolo, coação ou ignorância, admite-se não rigorosamente a retratação, mas sim a
anulação por defeito do negócio jurídico sob a perspectiva dos vícios de consentimento.

Autonomia dos quinhões


É possível que o herdeiro aceite certos quinhões e renuncie outros, distintos, ante a
autonomia de cada uma destas universalidades. Portanto, é possível que aceite a legítima, e
renuncie a testamentária, em vice-versa. O que resta vedado, porém, é o aceite de parte da
legítima e parte da testamentária, pois há de ser plena.
De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TJ-PA Prova: CESPE - 2019 - TJ-PA - Juiz
de Direito Substituto.
A respeito de aceitação e renúncia de herança, julgue os itens seguintes.
I. Aceitando a herança, o herdeiro passa a responder por todo o passivo deixado pelo de
cujus, ainda que isso supere os limites das forças da herança.

320
II. Conforme entendimento do STJ, é possível a constituição de mandatário com poderes
expressos para renunciar a herança, admitindo-se que a outorga dos referidos poderes seja
conferida por instrumento público ou particular.
III. Os credores prejudicados pelo devedor que renuncia a herança poderão aceitá-la em nome
do renunciante, desde que habilitem seus créditos no juízo do inventário e solicitem
autorização judicial para aceitação no prazo de 180 dias seguintes ao conhecimento do fato.
Assinale a opção correta.
A. Nenhum item está certo.
B. Apenas o item II está certo.
C. Apenas o item III está certo.
D. Apenas os itens I e II estão certos.
E. Apenas os itens I e III estão certos.
Gabarito: “A”.

INDIGNIDADE: DOS EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO


Consiste em uma sanção cível estabelecida por sentença transitada em julgado,
identificadora de um dos casos taxativos elencados no art. 1.814 do CC, tais sejam: os
herdeiros ou legatários

De olho na lei!

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou


legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de
homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja
sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da
herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou
obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens
por ato de última vontade.

Caráter personalíssimo

A indignidade é algo que somente toca o indigno, ou seja, os eventuais sucessores do


indigno não serão atingidos pela sentença de indignidade.

321
Segundo o art. 5º, XLV, CF/88, o princípio da responsabilidade pessoal há de ser
respeitado frente a máxima: “nullum patris delictum delictum innocenti filio poena este”
(nenhum crime do pai pode prejudicar o filho inocente). Portanto, o herdeiro do índigo irá
herdar. Os efeitos da exclusão são personalíssimos. Os descendentes do excluído sucederão
como se ele morto fosse antes da abertura da herança. Todavia, o excluído da sucessão não
terá jamais o usufruto ou a administração dos bens que seus sucessores houverem recebido,
muito menos sucederá para receber tais patrimônios, nos termos do art. 1.816 do CC.

Reabilitação
Apesar de tudo o que foi dito, é admissível a reabilitação do indigno, de acordo com o
art. 1.818, CC, “se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro
ato autêntico”, dessa forma também considerado o indigno “contemplado em testamento do
ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade”. A reabilitação
expressa é absoluta, de modo que o reabilitado terá direito hereditário amplo. A reabilitação
tácita, quanto o indigno é contemplado pelo testador ofendido que já conhecia a causa da
indignidade, é relativa e limitada à disposição testamentária apenas.

Deserdação

Importante não confundir indignidade com deserdação, visto que a deserdação é um


instituto típico da sucessão testamentária, que permite ao testador excluir herdeiro necessário,
a indignidade é instituto mais amplo, aplicando-se tanto à sucessão testamentária quanto à
legítima.

Veja que a deserdação somente atinge os herdeiros necessários, o herdeiro


testamentário, ou facultativo, não precisa ser deserdado expressamente em declaração de
última vontade, com base em causa legal, ele simplesmente não será contemplado.

As causas de deserdação são mais abrangentes que as de indignidade, visto que,


além das hipóteses do art. 1814 do CC, é possível a arguição das hipóteses dos arts. 1961 e
1962 do CC, as quais envolvem ofensa física, injúria grave, relações ilícitas familiares e
desamparo.

O reconhecimento de deserdação demanda processo judicial, sendo que tem prazo


decadencial para exercício desse direito, qual seja: 4 (quatro) anos da abertura do testamento.

322
HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE

CPC arts. 738/743 CC art. 1.819.

A herança será jacente quando os herdeiros não são notoriamente conhecidos, ou


quando a herança não foi aceita pelas pessoas sucessíveis, ou a prole eventual não fora
gerada. Conclui-se, consequentemente, ser um estado provisório, temporário, de expectativa
de surgimento de interessados na herança.

O nosso direito civil não reconhece personalidade jurídica à herança jacente. Tanto é
assim que os artigos 41 a 44 do CC não fazem qualquer menção a esta como se pessoa
jurídica fosse. A doutrina a entende como um ente despersonalizado, um patrimônio especial,
arrecadado por morte e administrado pelo curador, sob fiscalização de uma autoridade
judiciária, até que se habilitem eventuais herdeiros, e haja a sua entrega, ou se declare
vacante a herança (art. 1819 do CC).

No decorrer da jacência o juiz deve tomar providências para o aparecimento dos


herdeiros, com a publicação de editais. Depois de um ano da primeira publicação de edital, e
não aparecendo ninguém, deve o juiz declarar a herança vacante. Ë a primeira etapa para se
incorporar a herança ao patrimônio público (art. 1.820, CC).

Vale notar que os herdeiros colaterais somente poderão se habilitar até a declaração
de vacância (um ano), enquanto que os necessários poderão se habilitar, sem prejuízos, pelo
prazo de cinco anos após a declaração de vacância (art. 1.822 CC).

5 anos depois da vacância a herança é transmitida definitivamente para o ente público,


seja para o Município ou Distrito Federal.

Pega a visão!
Nos termos do art. 1823 do CC, quando todos renunciarem a herança, de pronto, esta
será declarada vacante. É a chamada “vacância sumária”.

PETIÇÃO DA HERANÇA
Prevista no art. 1.824 do CC, consiste em “pretensão deduzida em juízo pelo herdeiro
preterido no sentido de lhe ser deferida quer a quota-parte que lhe caberia, que, ainda, a
totalidade da herança, reconhecendo-se, em todo o caso, a qualidade de herdeiro que lhe é
natural”.

323
O objetivo da pretensão é duplo: (1) obter em primeiro lugar a declaração da qualidade
de herdeiro (2) obter, em segundo lugar, a condenação na restituição dos bens.
Consiste em ação de natureza real (art. 80, II, CC). Não se confunde com a
reivindicatória, pois está já contempla a prova prévia da propriedade não carecendo da
declaração de domínio (in casu, de herdeiro) e tem como objeto bem certo, individuado, e não
quota parte hereditária.

De olho na juris!
O STF na súmula 149 afirma ser imprescritível o reconhecimento da paternidade, mas
prescritível o pleito patrimonial hereditário decorrente do aludido reconhecimento. Sustenta
que a investigação de paternidade é imprescritível, porém não o é a petição da herança.

ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA


Conceito
Consiste numa relação preferencial determinada por lei das pessoas chamadas a
suceder o morto. Nada mais é do que a distribuição de herdeiros em classes preferenciais.
Fundamenta-se na relação de família e de sangue. Depreende-se do que foi dito que o
alicerce desta sucessão é o parentesco, favorecendo as linhas e os graus próximos aos
remotos, respeitando-se a afeição conjugal. A norma tenta conformar-se com a ordem de
afeição familiar natural. Assim, falecendo alguém sem deixar testamento, a hipótese será de
aplicação do artigo 1.829, CC, convocando-se à sucessão as pessoas físicas ali indicadas,
de acordo com a ordem de vocação. Neste contexto, os descendentes são os primeiros a
suceder.
Art. 1.829 tem dupla função: chamar as pessoas à sucessão e estabelecer uma ordem
na qual as pessoas serão chamadas a suceder. Esta ordem divide os herdeiros em classes:
• 1ª Classe: descendentes parentes em linha → reta (linha infinita);
• 2ª Classe: ascendentes → parentes em linha reta (linha infinita);
• 3ª Classe: cônjuge → vínculo matrimonial;
• 4ª Classe: colaterais → parentes em linha colateral/transversal (até 4º grau).

Sucessão dos descendentes


Nos termos do art. 1.835: “Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os
outros descendentes por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau”.
Portanto, pode ocorrer por expressa disposição normativa (art. 1.835) de à herança
concorrerem simultaneamente descendentes em graus diversos, a sucessão processar-se-á
324
por cabeça e por estirpe. Ex.: se João morreu e tinha dois filhos vivos na época da sucessão
e um filho morto, que deixou três netos (filhos do filho pré-morto de João). Nessa situação, a
herança dividir-se-á em três partes. As duas primeiras cabem aos dois filhos vivos de João,
que herdam por cabeça, e a terceira parte aos três netos, que sucedem representando o
direito do filho pré morto, dado que os filhos são parentes em primeiro grau e os netos em
segundo.

O cônjuge na concorrência com os descendentes

Descendentes são preferenciais: neto, mesmo parente em 2º grau, prefere ao avô


(genitor do de cujus), parente em 1º grau.

O caso da concorrência do cônjuge com os descendentes depende do regime de bens,


sendo possível que o cônjuge sobrevivente concorra, ao lado dos descendentes, no
recebimento da herança (art. 1.829, inciso I, CC).

O cônjuge não concorrerá apenas se era casado com o de cujus no regime da


comunhão universal, da separação obrigatória, ou, em certos casos, da comunhão parcial de
bens, quando não houver bens particulares. Quanto a esta última situação, interessante o que
sinaliza a doutrina no Enunciado 270 em Jornadas de Direito Civil (CJF/STJ): “o artigo 1.829,
inciso I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes
do autor da herança quando casados no regime da separação convencional de bens ou, se
casados nos regimes da comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o falecido
possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência restringe-se a tais bens,
devendo os bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes”.

Nessa concorrência, é garantido ao cônjuge (art. 1.832 do CC) direito hereditário a um


quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à
quarta parte se for ascendente dos herdeiros com que concorre. Inovação. Trata-se de reserva
hereditária mínima de 1/4. Ex.: se o falecido deixou três filhos, a partilha se faz por cabeça,
dividindo-se a herança em partes iguais entre os filhos e o cônjuge. Agora, no caso de o
extinto deixar quatro filhos ou mais, e tendo de ser reservada a quota hereditária mínima de
1/4 em favor do supérstite, os filhos receberão o restante. Esta reserva pressupõe que o
cônjuge sobrevivente seja ascendente dos herdeiros com que concorrer.

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RJ Prova: VUNESP - 2019 - TJ-RJ - Juiz Substituto
325
João e Maria viviam em união estável, formalizada mediante escritura pública, em que
elegeram o regime da comunhão parcial de bens. Da relação entre João e Maria, resultaram
duas filhas, Madalena e Sara. João também tinha outros dois filhos, Mateus e Paulo,
decorrentes de relações eventuais que manteve. João faleceu. Na data da sua morte, João
possuía um patrimônio adquirido totalmente antes da constituição da união estável com Maria.
É correto afirmar que o patrimônio de João será dividido da seguinte forma:
A. um quarto (1/4) para cada um dos filhos de João.
B. um quarto (1/4) da herança para Maria e o restante dividido igualmente entre todos os filhos
de João.
C. Maria e todos os filhos de João receberão, cada um, um quinto (1/5) da herança.
D. um terço (1/3) para Maria e o restante dividido igualmente entre todos os filhos de João.
E. 10% para Maria e 15% para cada um dos filhos de João.
Gabarito: “C”

Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RO Prova: VUNESP - 2019 - TJ-RO - Juiz de Direito
Substituto
Maria, divorciada e com três filhos de seu casamento anterior, iniciou uma convivência pública,
contínua e duradoura, com o objetivo de constituição de família, com Daniela. Elas firmaram
uma escritura pública de união estável, onde adotaram o regime da comunhão parcial de
bens. Maria faleceu e deixou os seguintes bens: i) um apartamento adquirido antes do início
da união estável; ii) uma casa adquirida após a união estável, onde residia com sua
companheira Daniela. Pode-se afirmar corretamente que Daniela
A. em relação à casa, terá direito apenas à meação, bem como em relação ao apartamento,
sucederá recebendo quinhão igual ao recebido por cada filho de Maria.
B. não terá qualquer direito à herança relativamente ao apartamento e terá direito à metade
da casa, se provar o esforço comum na aquisição do imóvel.
C. sucederá exclusivamente em relação à casa, recebendo metade do quinhão atribuído a
cada um dos filhos de Maria.
D. em relação à casa, terá direito apenas à meação, bem como em relação ao apartamento,
sucederá recebendo metade do valor atribuído aos filhos de Maria.
E. receberá um quarto da casa e do apartamento, tendo em vista que, por ter formalizado a
união estável por meio de escritura pública, é herdeira de pleno direito.
Gabarito: “A”.

Sucessão dos ascendentes

326
Se não existirem herdeiros da classe dos descendentes, chamar-se-ão a suceder em
concorrência com o cônjuge sobrevivente qualquer que seja o regime matrimonial de bens,
os ascendentes do de cujus (art. 1.836, CC), sendo que o grau mais próximo exclui o mais
remoto, não se devendo atender à distinção de linhas (art. 1.836, § único). Inexiste o direito
de representação na linha de ascendência (vide o art. 1.852, in fine).

A expressão “distinção de linhas”, significa sem distinguir linha materna da paterna.


Exemplifica-se: se o falecido deixou pai e mãe, herdarão ambos em partes iguais. Se somente
um dos genitores estiver vivo, a este será entregue a herança integralmente, mesmo que
sobrevivam os ascendentes do outro, pois existindo pai ou mãe do de cujus não herdam avós
ou bisavós, seja da linha paterna, seja da linha materna. Não existe direito de representação,
nessa situação.

Se o falecido deixar ascendentes do mesmo grau, porém de linhas diferentes, a


herança será dividida entre as duas linhas, meio a meio. A regra do parágrafo segundo do
artigo 1.836 é fundamental. Exemplifica-se: o morto possui apenas três avós (igualdade de
graus), dois maternos e um paterno (diversidade em linha). Todos receberão a herança, que
será repartida entre as duas linhas, meio a meio, metade será entregue aos dois avós
maternos (uma linha) e a outra metade ao único avô paterno (outra linha).

Apenas na falta de ambos os ascendentes de primeiro grau é que herdarão os avós


da linha paterna e materna, de modo igualitário.

Na ascendência também há de falar-se em concorrência com o cônjuge sobrevivente


(art. 1837 CC). Casado o falecido e na hipótese de ter somente os ascendentes, o cônjuge
sobrevivente concorrerá. E se concorrer com ascendentes em primeiro grau terá direito a um
terço da herança. Mas se concorrer com um só ascendente (ou o pai ou mãe do falecido e só
um, de uma só linha), ou se maior for aquele grau, por concorrer com avô ou bisavô do extinto,
caber-lhe-á metade do acervo hereditário.

Em suma:
a) Ascendente concorrendo COM o cônjuge:
(i) cônjuge + pai + mãe = 1/3 para cada um
(ii) cônjuge + pai/ mãe = ½ para o ascendente e ½ para o cônjuge
(iii) cônjuge + avós (quantos forem) = ascendentes dividem ½ entre si, por linha, e o
cônjuge leva a outra ½ (ex: cônjuge e 2 avós, ½ cônjuge e ¼ para avô materno e ¼
para avó paterna).
327
b) SEM descendentes, cônjuge ou companheiro:
a) pai + mãe = ½ cada
b) pai ou mãe = tudo
c) linha paterna + linha materna = ½ cada linha. Ex.: 1 avô materno e 2 avós paternos
= ½ avô materno; ¼ avó
materna; ¼ avô materno.

A sucessão do cônjuge sobrevivente ou do companheiro.


“Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao
cônjuge sobrevivente” (art. 1.838, CC). A lei ampara o cônjuge supérstite que ao tempo da
morte não estava separado de fato há mais de dois anos, nem separado judicialmente,
inclusive se provado que a convivência tenha se tornado impossível sem culpa sua (art. 1.830,
CC). Este dispositivo se aplica por analogia à união estável, de modo que na falta de
descendentes, ou ascendentes, o companheiro sobrevivente receberá toda a herança.

Sucessão dos colaterais – herdeiros facultativos.

Os colaterais são chamados a suceder na falta dos descendentes, ascendentes e


cônjuge. Somente são sucessíveis os colaterais até o quarto grau. De acordo com o art. 1.840,
CC: “Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o direito de
representação concedido aos filhos de irmãos”.

Assim, na linha colateral o direito de representação apenas se dá em favor de filhos


de irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem (art. 1.853, CC).

O artigo 1.841 do CC, para efeito de sucessão de colateral, distingue o irmão bilateral
ou germano (filho do mesmo pai e da mesma mãe), do irmão unilateral ou consanguíneo ou
uterino – aquele em que só um dos genitores é comum (o mesmo): concorrendo à herança
do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdara metade do que
cada um daqueles herdar.

Os irmãos germanos desfrutam, pois, de privilégio. O irmão bilateral é irmão duas


vezes, seria esta, implicitamente, a ideia central, porquanto o vínculo parental seria duplicado
para estes. Parece-nos que a norma é inconstitucional, por quebra a isonomia, mas já fora
objeto de prova.

328
Os sobrinhos são parentes em terceiro grau que, na falta dos irmãos, são chamados
a herdar (art. 1.843, CC). Depois dos sobrinhos, chamam-se os tios do finado e, depois, os
sobrinhos netos, tios avós e primos irmãos do autor da herança, que se encontram no quarto
grau de parentesco para com este. Inexistindo representação, sucedem por direito próprio,
partilhando-se a herança por cabeça.

Tanto os sobrinhos quanto os tios são parentes de terceiro grau. Contudo, toda a
norma privilegia a descendência, daí a justificativa.

O Artigo 1.830 e a separação há mais de dois anos

Nos termos do art. 1.830 “somente é reconhecido o direito sucessório ao cônjuge


sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem
separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se
tornara impossível sem culpa do sobrevivente”.

Aqui também houve inovação legislativa em se comparando o texto com o CC/16. Desfeitos
os laços da afeição no plano da relação substancial, cai o direito sucessório. Não esquecer
que, com o advento da Emenda Constitucional n° 66, parte do dispositivo do artigo perdeu
eficácia, como já exposto acima.

O direito real de habitação

Segundo o art. 1.831 do Código Civil: “Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o
regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o
direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que
seja o único daquela natureza a inventariar”.

Existem duas espécies do direito real de habitação:

I. A voluntária que exige escritura pública registrada em cartório (Lei de Registros


Públicos, art. 167, I, 7);
II. A legal, que independe de escritura, sendo esta a estudada no direito das
sucessões.

O Código Civil alargou o prazo do direito real de habitação que não mais se extingue
com o casamento, mas apenas quando da morte (direito real vitalício de gozo e fruição).

329
Ademais, vale frisar que o direito real de habitação se aplica à hipótese de união
estável, como já assentou a doutrina majoritária mediante o Enunciado 117 em Jornada de
Direito Civil: “o direito real de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter
sido revogada a previsão da Lei nº 9.278/96, seja em razão da interpretação analógica do art.
1.831, informado pelo art. 6º, caput, da CF/88”.

A SUCESSÃO DO COMPANHEIRO

Aqui já começamos “de olho na juris” e um super importante!!!

O STF, em 2017, declarou a inconstitucionalidade do art. 1.790 em dois Recursos


Extraordinários de nos 878.694 (para uniões estáveis) e 646.721 (para uniões homoafetivas).

Vejamos as respectivas ementas:

DIREITO DAS SUCESSÕES. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


DISPOSITIVOS DO CÓDIGO CIVIL QUE PREVEEM DIREITOS
DISTINTOS AO CÔNJUGE E AO COMPANHEIRO.
ATRIBUIÇÃO DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. Possui caráter
constitucional a controvérsia acerca da validade do art. 1.790 do
Código Civil, que prevê ao companheiro direitos sucessórios
distintos daqueles outorgados ao cônjuge pelo art. 1.829 do
mesmo Código. 2. Questão de relevância social e jurídica que
ultrapassa os interesses subjetivos da causa. 3. Repercussão
geral reconhecida.
(STF - RG RE: 878694 MG - MINAS GERAIS 1037481-
72.2009.8.13.0439, Relator: Min. ROBERTO BARROSO, Data
de Julgamento: 16/04/2015, Data de Publicação: DJe-092 19-
05-2015)

UNIÃO ESTÁVEL. COMPANHEIROS. SUCESSÃO. ARTIGO


1.790 DO CÓDIGO CIVIL. COMPATIBILIDADE COM A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL ASSENTADA NA ORIGEM –
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL
CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia
acerca do alcance do artigo 226 da Constituição Federal, nas
hipóteses de sucessão em união estável homoafetiva, ante a
limitação contida no artigo 1.790 do Código Civil.
(STF - RG RE: 646721 RS - RIO GRANDE DO SUL, Relator:
Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 10/11/2011, Data
de Publicação: DJe-232 07-12-2011)

Seguindo o entendimento da Suprema Corte, depois de equiparar a união estável ao


casamento para fins sucessórios, a 4a Turma do STJ, por unanimidade, critérios
infraconstitucionais para a aplicação do entendimento afirmado pela Suprema Corte, no
330
sentido de se aplicar o art. 1.829 do CC. O processo correu em segredo de Justiça, de modo
que não foi divulgado o número do recurso especial, sendo a notícia disponibilizada no sitio
do STJ no dia 22 de agosto de 2017.

DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

A sucessão legítima pode ocorrer de forma direta, em nome próprio, também


denominada por cabeça, ou mesmo de maneira indireta, por estirpe, em nome de um pré-
morto, o que se denomina direito de representação.

Assim sendo, herda-se pelo direito de representação quando alguém é convocado a


suceder em lugar de outro herdeiro, parente mais próximo do falecido, que está pré-morto,
ausente ou incapaz de suceder no instante em que se abre a sucessão (art. 1851 do CC).
Consiste em regra mitigadora do princípio da proximidade a permitir que netos, por exemplo,
herdem por estirpe junto com filhos do finado. Trata-se de substituição operada pela lei.

Para que se fale em representação é necessária a observância de alguns requisitos:

I. Que o representado esteja morto, salvo a hipótese do indigno e do ausente (art. 1.816,
CC), quando excepcionalmente haverá representação de pessoa viva. Atente-se para
a regra do artigo 1.811 do CC: ninguém pode suceder representando herdeiro
renunciante. O herdeiro renunciante é havido como estranho à herança e por isto não
pode ser substituído pelo seu descendente;
II. Que o representante seja descendente do representado. A representação acontece
na linha reta da descendência ou na colateralidade, nunca na ascendência (art. 1.852,
CC);
III. Que o representante esteja legitimado a suceder o representado;
IV. Que não haja solução de continuidade no encadeamento dos graus entre
representante e substituto. A representação não opera per saltum. Não se admite que
um descendente salte sobre o pai vivo, a fim de representá-lo na herança do avô (art.
1811 CC).

De acordo com o art. 1.852, a representação se dá na linha descendente e jamais na


ascendente. Na linha transversal apenas se admite o direito de representação em favor dos
filhos de irmãos do falecido, quando com irmão deste concorrerem (art. 1.853, CC).

331
Os representantes só podem herdar o que herdaria o representado se vivo fosse (art.
1.854, CC). Não pode, pois, receber menos, nem mais. Lembre-se que os quinhões
hereditários dos que herdam por direito de representação não respondem pelas dívidas do
representado, mas apenas pelas do falecido.

O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os representantes. Portanto,


sempre que houver representação, a partilha efetuar-se-á por estirpe, distribuindo-se o
quinhão do representado por igual entre os seus representantes.

Nos termos do art. 1.856, CC o renunciante à herança de uma pessoa poderá


representá-la na sucessão de outra, até porque a renúncia se interpreta de forma restritiva.

SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

Por disposição de última vontade: testamento ou codicilo. Reitera-se: sendo vedados


pactos sucessórios (pacta corvina): disposição de herança de pessoa viva. Mas é válida a
partilha em vida (divisão entre os herdeiros via doação). O CC disciplina a sucessão
testamentária no Título III, capitulo I, do testamento em geral.

O testamento é ato de última vontade para disposição de bens depois da morte e


outras disposições. Válidas disposições de caráter extrapatrimonial, ainda que o testador
tenha se limitado a elas. Ex: reconhecimento de filho, nomeação de tutor para filho menor,
instituição de fundação, deserção, reabilitação indigno etc. Testamento é um negócio jurídico
unilateral e gratuito, de natureza solene, revogável, personalíssimo, pelo qual alguém dispõe
dos bens para depois de sua morte, ou determina a própria vontade sobre a situação dos
filhos e outros atos de última vontade, que não poderão, contudo, interferir na legítima dos
herdeiros necessários (art. 1.857, § 2°, CC). Pode o testamento se limitar ao reconhecimento
de paternidade (art. 1.609, IV, CC), nomeação de tutor para filho menor (art. 1.634, IV, CC) e
reabilitação de indigno (art. 1.818, CC).

Pega a visão!

Enunciado 528 – V JDC/CJF: É válida a declaração de vontade expressa em


documento autêntico, também chamado “testamento vital”, em que a pessoa estabelece
disposições sobre o tipo de tratamento de saúde, ou não tratamento, que deseja no caso de
se encontrar sem condições de manifestar a sua vontade.

332
Por se tratar de ato personalíssimo não se reconhece o testamento conjunto (art. 1863,
CC), nem também o simultâneo recíproco ou correspectivo.

Capacidade de testar

Segundo o art. 1.857 do CC toda pessoa pode dispor por testamento da totalidade de
seus bens ou de parte deles, para depois de sua morte, acrescentando o parágrafo primeiro
que a legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.

Invariavelmente, o art. 1.857 precisa ser estudado em consonância com o art. 1.848,
que admite a inclusão da legítima no testamento para sofrer imposição de cláusulas restritivas
de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, se o testador expuser, no
testamento, justa causa para sua incidência.

Vale recordar que a capacidade testamentária ativa tem início aos 16 (dezesseis)
anos, nos termos do parágrafo único do artigo 1.860, CC. Destaca-se: testa-se aos 16 anos
independentemente de assistente, por ser ato personalíssimo.

Claro que seria possível imaginar a incidência dos preceitos gerais da incapacidade
(arts. 3° e 4° do CC). Entretanto, os pródigos poderão testar, porque não estarão dilapidando
seu patrimônio, já que as disposições testamentárias só valem depois do óbito. No que diz
respeito ao surdo mudo, há dispositivo específico, tal seja o art. 1.866, CC: o indivíduo
inteiramente surdo, que saiba ler, lerá seu testamento, e se não souber, designará quem o
leia em seu lugar, presentes as testemunhas. Tanto o cego (art. 1.867, CC) como o analfabeto
(art. 1.869, CC) podem testar. A nulidade do testamento por incapacidade ativa só pode ser
ajuizada no juízo privativo, no prazo de cinco anos, contados do registro do testamento,
conforme o art. 1.859, CC. É visível que o regime jurídico é destacado e próprio da parte
especial do CC.

Além disso, “A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem


o testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade” (art. 1.861, CC).

Formas de testamento
→ Formas ordinárias. O público, cerrado e particular (art. 1.862 do CC).
→ Formas especiais. São três: testamento militar, aeronáutico e marítimo, nos termos do art.
1.886 do CC.

333
A norma não traz o testamento consular como forma própria, autônoma. Na realidade,
o testamento consular é uma forma de testamento público, com a única diferença que nele
funciona o cônsul como tabelião, revestido, pois, de funções notoriais. Importante se atentar
para a norma de transição do artigo 2.042 do CC.

O testamento público

O testamento público é a única forma do analfabeto e do impedido de assinar testarem,


como também do cego (vide, neste último caso, o art. 1.867), submetendo-se aos requisitos
previstos na seção II, no artigo 1.864 e ss.

O primeiro requisito diz respeito ao indivíduo que efetuará a lavratura do ato. Há de


ser necessariamente tabelião ou seu substituto legal, sendo o ato registrado no livro de notas
de acordo com as declarações do testador (inciso I). Assim, podem lavrar o ato o cônsul, o
oficial maior do tabelionato, ou até mesmo o escrevente, desde que investido como substituto.

O segundo requisito consiste na leitura integral do testamento a um só tempo e para


todos (testador e as duas testemunhas), de uma só vez. (inciso II). Observe-se que no
testamento deve constar o nome e identidade da pessoa que o leu, sob pena de nulidade.

O terceiro requisito diz respeito a presença de duas testemunhas (ainda o inciso II),
que assistam a todo o ato.

O quarto requisito é a assinatura do testamento por todas as pessoas acima elencadas


(inciso III). Se o testador não souber ou não puder assinar, tal fato será registrado, assinando
neste caso pelo testador, a seu rogo, uma das testemunhas instrumentárias (art. 1.865, CC).

Esse documento será lavrado pelo tabelião no livro de notas, contendo a declaração
de vontade do testador manifestada em presença do mesmo oficial e duas testemunhas
desimpedidas. Lembra-se que o CC/16 exigia cinco testemunhas, enquanto o código vigente
somente duas – isso ainda é objeto de pegadinhas nas provas.

Se o instituidor for surdo-mudo, incide o artigo 1.866, no sentido de se evitar a leitura


em voz alta, procedendo à leitura pelo próprio testador.

De olho na juris!

334
Segundo o informativo 610, STJ, descumprimento de exigência legal para a confecção
de testamento público – segunda leitura e expressa menção no corpo do documento da
condição de cego – não gera a sua nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade
do testador.

Do testamento cerrado
O testamento cerrado, secreto ou místico, é o escrito pelo próprio testador, ou por
alguém a seu rogo (pedido) e por aquele assinado, com caráter sigiloso, completado pelo
instrumento de aprovação lavrado pelo tabelião ou oficial público substituto, presente duas
testemunhas.
Encontra-se disciplinados nos artigos 1.868 a 1.875 do Código Civil.
Possui dois elementos essenciais: a cédula testamentária e o auto de aprovação.
De olho na lei!

Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra


pessoa, a seu rogo, e por aquele assinado, será válido se
aprovado pelo tabelião ou seu substituto legal, observadas as
seguintes formalidades:
I - que o testador o entregue ao tabelião em presença de duas
testemunhas;
II - que o testador declare que aquele é o seu testamento e quer
que seja aprovado;
III - que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na
presença de duas testemunhas, e o leia, em seguida, ao testador
e testemunhas;
IV - que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas
testemunhas e pelo testador.
Parágrafo único. O testamento cerrado pode ser escrito
mecanicamente, desde que seu subscritor numere e autentique,
com a sua assinatura, todas as paginas.

Finalizado, o instrumento aprovado será cessado e costurado, a teor do artigo 1.869,


para posterior devolução ao testador, ou mesmo a pessoa que este designar, a fim de ser
apresentado em juízo por ocasião da abertura da sucessão. Até então, o documento deve
permanecer inviolável. Se por ventura for aberto pelo testador, ou houver violação do lacre,
ter-se-á como revogado.

O artigo 1.870 autoriza ao tabelião que este escreva o testamento em face do testador, nada
impedindo que a mesma autoridade lavre o auto de aprovação.

335
Por se tratar de documento particular, pode ser escrito em língua estrangeira, conforme
permite o artigo 1.871 do CC.

Segundo o art. 1.872 aquele que não saiba ler não pode firmar testamento cerrado. O
fato de saber escrever pouco importa, a preocupação da norma é com aquele que não saiba
ler, pois só assim o instituidor poderá verificar a veracidade das informações daquele que
escreveu a seu rogo, seguindo suas instruções.

O surdo mudo pode fazer testamento cerrado conquanto que o escreva todo e o assine
de sua mão e que, ao entregá-lo ao oficial público, ante as duas testemunhas, escreva na
face externa do papel ou do envoltório, que aquele é o seu testamento, cuja aprovação lhe
pede (art. 1.873, CC).

Testamento particular (hológrafo)

É aquele escrito e assinado pelo testador, lido na presença de três testemunhas que
também o assinarão. Sua fundamentação legal está contida nos artigos 1.876 a 1.880 do
Código Civil.

De olho na lei!

Vejamos o que diz o art. 1.876, que traz os requisitos dessa modalidade de
testamento.

Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de próprio


punho ou mediante processo mecânico.
§ 1º Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à sua
validade seja lido e assinado por quem o escreveu, na presença
de pelo menos três testemunhas, que o devem subscrever.
§ 2º Se elaborado por processo mecânico, não pode conter
rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo
testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos três
testemunhas, que o subscreverão.

Falecido o testador, publicar-se-á em juízo o testamento, com citação dos herdeiros


legítimos (CC, art. 1.877 c/c 735/737 do CPC/15). O apresentante requererá ao juiz a
notificação das pessoas a quem caberia a sucessão ab intestato, para que em dia, hora e
lugar marcados, venham assistir a inquirição das testemunhas signatárias do instrumento,
intimadas sob pena de desobediência.

336
Codicilo

Consiste no negócio jurídico de última vontade em que o autor dispõe sobre assuntos
de menor importância, despesas e donativos de reduzido valor. Reza o artigo 1.881 do CC
que “toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular seu, datado e assinado,
fazer disposições especiais sobre seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas e
determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo lugar, assim como legar
móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso pessoal.”

O codicilo também pode ser usado para nomear ou substituir testamenteiros (art.
1.883), perdoar o indigno (art. 1.818), bem como para reservar parcelas para sufrágio de sua
alma, obrigando, neste caso, a herança (art. 1.998).

Não é a via adequada para reconhecer filhos, nem deserdar pessoa. Tanto pode ser
integrante de testamento anterior, como pode ter vida autônoma. A via particular é a única
permitida. Portanto, só se admite o codicilo particular.

Nos termos do artigo 1.884 se considera revogado o codicilo se sobrevier testamento


que não o confirme, ou modifique. Um codicilo novo pode revogar um antigo, porém jamais
poderão revogar um testamento, nada obstante o testamento possa revogar o codicilo.

Se estiver fechado o codicilo, abrir-se-á do mesmo modo que o testamento cerrado


(art. 1.885, CC).

Caducidade do testamento

Ineficácia, por causa ulterior, de disposição testamentária originalmente válida. Pode


ser objetiva ou subjetiva.

Objetiva: falta de objeto

• Modificação: testador, ou por sua ordem, modifica substancialmente a coisa,


desfigurando-a (revogação tácita). Ex: transformação móvel em lenha. Se acidentais:
não acarretam caducidade.
• Alienação: a qualquer título, no todo ou em parte, pelo próprio testador. Caduca até
onde não mais pertencer ao testador. Alienação onerosa ao próprio legatário dá o
direito de exigir o que pagou. A reaquisição do bem ou anulação da venda não afasta
a caducidade (intenção do testador: revogar a deixa).

337
• Evicção ou perecimento: s/ culpa do herdeiro/legatário incumbido do seu cumprimento,
vivo ou morto o testador (até onde se perder). Provada a culpa do obrigado, cabe
ressarcimento ao beneficiário. Perecimento por culpa de terceiro, só o testador e os
herdeiros poderão pleitear indenização.

Objetiva: falta do beneficiário.

• Exclusão por indignidade: se for posterior ao testamento.


• Falecimento legatário antes do testador: intuito personae, não é transmitido aos
herdeiros do legatário, salvo se testador institui-los como substitutos ou houver direito
de acrescer entre colegatários.
• Renúncia: só pode ser total (não parcial).
• Falecimento antes do implemento de condição suspensiva.
• Falta de legitimação (ex: amante, quem redigiu testamento...).

Revogação do testamento

Segundo o art 1.969 do CC/02 o testamento pode ser revogado pelo mesmo modo e
forma como foi feito. Em outras palavras, a revogação do testamento só ocorre por novo
testamento. Testamento público pode ser revogado por particular, marítimo, cerrado... e vice
e versa.

Pega a visão!

o Testamento anulado: não revoga o anterior


o Testamento caduco: revoga o anterior

! Não há repristinação: revogação do testamento revogante NÃO gera repristinação do


anterior, salvo disposição expressa.

Espécies de revogação: total, parcial, expressa e tácita. Esta última, nos seguintes
casos: (a) incompatibilidade com o anterior; (b) abertura do testamento cerrado pelo ou com
anuência do testador (se for provado que foi por terceiro involuntariamente não há revogação).

Rompimento do testamento

Previsto nos artigos 1.973 a 1.975 do CC, o rompimento do testamento se dá em


apenas duas hipóteses jurídicas (ali indicadas) e está diretamente relacionado com o princípio
338
da intangibilidade da legítima, na fiel proteção à garantia constitucional do direito de herança
em favor dos herdeiros necessários.

O primeiro caso se dá quando sobrevier descendente sucessível ao testador que não


o tinha, ou não o conhecia, quando testou. Nessa situação, rompe-se o testamento em todas
as suas disposições (art. 1.973, CC).

O segundo caso ocorre quando o testamento foi “feito na ignorância de existirem outros
herdeiros necessários”, na melhor forma do artigo 1.974, CC.

Não haverá o rompimento do testamento se o testador só dispôs da metade de seu


patrimônio (parte disponível que não afeta a intangibilidade da legítima). Sim, porque neste
caso nenhum prejuízo existirá para os herdeiros necessários na medida em que a legítima
destes não restou violentada. É o que afirma o artigo 1.795 do Código Civil.

Do testamenteiro

A legislação cível admite que o testador nomeie mais de um testamenteiro, conjunta


ou separadamente, a quem cabe o dever jurídico de dar cumprimento às disposições de última
vontade. Havendo simultaneamente, poderá cada qual exercer o aludido dever jurídico
separadamente, em falta dos outros. Apesar disto, todos os testamenteiros ficam
solidariamente obrigados a dar conta dos bens que lhe forem confiados.

Não haverá solidariedade se cada um dos testamenteiros tiver, de acordo com o


testamento, papéis diferentes e a eles se restringir. Mais ainda, a responsabilidade do ou dos
testamenteiros subsiste enquanto durar a execução do testamento.

Evidentemente que nos casos em que houver mais de um testamenteiro, nada


obstante a lembrança que, em tese, pode haver apenas um. O testamenteiro poderá ainda
obter a posse e a administração da herança, ou de parte dela, caso não haja cônjuge ou
herdeiros necessários. Nesse caso tendo o testamenteiro a posse e administração dos bens,
incumbe-lhe requerer inventário e cumprir o testamento.

Por fim, lembra-se que o testamenteiro é obrigado a cumprir as disposições


testamentárias, no prazo fixado pelo testador, pois o Direito Hereditário tem como uma de
suas finalidades respeitar e observar a última vontade do de cujus.

339
Desta forma, não concedendo o testador prazo maior, cumprirá o testamenteiro o
testamento e prestará contas em cento e oitenta dias, contados da aceitação da
testamenteira, podendo este prazo ser prorrogado desde que exista justa causa, ou seja,
fundado e relevante aspecto fático-jurídico a obstruir o adimplemento dentro do aludido
interregno.

Na hipótese de não ser o testamenteiro herdeiro ou legatário terá fará jus a uma
remuneração que – se o testador não tiver determinado – será de 1% a 5% sobre a herança
líquida. Este prêmio é definido pelo magistrado, sendo que é possível, em tese, que o aludido
prêmio venha a ser revertido se o testamenteiro o perder, por ser removido ou por não ter
cumprido o testamento.

Legado

Previsto nos artigos 1.912 a 1.940 do CC, o legado é uma disposição causa mortis por
meio da qual o testador deixa coisa certa ou direito determinado em benefício de alguém
(denominado de legatário).

Diferente do herdeiro, visto que este adquire um direito indeterminado, um quinhão


que será individualizado posteriormente no momento do inventário, já o legatário adquire um
bem certo, determinado por disposição testamentária ou codicilo.

De acordo com o CC pode constituir legado: coisas, créditos, quitação de dívidas,


alimentos, usufruto, renda ou prestação periódica. Sendo coisa certa existente no acervo do
de cujus, essa pertencerá ao legatário desde a abertura da sucessão. Todavia, “não se defere
de imediato a posse da coisa, nem nela pode o legatário entrar por autoridade própria” (§ 1º,
art. 1.923 do CC). De igual modo “O legado de coisa certa existente na herança transfere
também ao legatário os frutos que produzir, desde a morte do testador, exceto se dependente
de condição suspensiva, ou de termo inicial” (§ 2º, art. 1.923 do CC).

No caso de alimentos, se o testador não fixar o seu valor, deverá o juiz fazê-lo. O
quantum estabelecido deve abranger o sustento, a cura, o vestuário e a casa, enquanto o
legatário viver, além da educação, se ele for menor. Se o legado for coisa determinada pelo
gênero poderá ser escolhido pelo herdeiro, por terceiros, ou pelo juiz (quando o terceiro não
quiser ou não puder fazê-lo), ou, finalmente, pelo próprio legatário. No caso da escolha ser
feita pelos três primeiros deverá ser observado o meio-termo entre as congêneres da melhor
e da pior qualidade.
340
Não sendo nenhuma das hipóteses previstas no artigo 1.939, que dispõe sobre a
caducidade do legado, a coisa legada entregar-se-á, com seus acessórios, no lugar e estado
em que se achava ao falecer o testador, passando ao legatário com todos os encargos que a
onerarem (art. 1.937 CC).

COLAÇÃO

Conferência dos bens da herança com os transferidos pelo de cujus, em vida, aos seus
descendentes, promovendo o retorno das liberalidades ao monte para equitativa apuração
das quotas hereditárias dos sucessores legítimos.

Qual o valor a ser atribuído aos bens colacionados?

o 1ª Corrente: O valor de colação dos bens doados deverá ser aquele atribuído
ao tempo da liberalidade, corrigido monetariamente até a data da abertura da
sucessão (STJ, Info 617).
o 2ª Corrente: (a) momento de abertura da sucessão, se o bem ainda está com
o herdeiro; (b) da época da doação, se o bem não mais está em seu patrimônio.
Enunciado 119 do CJF (afastado pelo STJ).

Enunciado 119-CJF/STJ: Para evitar o enriquecimento sem causa, a colação será


efetuada com base no valor da época da doação, nos termos do caput do art. 2004,
exclusivamente na hipótese em que o bem doado não mais pertença ao patrimônio do
donatário. Se, ao contrário, o bem ainda integrar seu patrimônio, a colação se fará com base
no valor do bem na época da abertura da sucessão, nos termos do art. 1.014 do CPC (73)
(art. 639 do CPC15), de modo a preservar a quantia que efetivamente integrar a legítima
quando esta se constituiu, ou seja, na data do óbito (resultado da interpretação sistemática
do art. 2004 e seus parágrafos, juntamente com os arts. 1.832 e 884 do Código Civil).

Discussão: como o CPC15 reproduziu a norma do CPC73, a previsão do CC poderia


ser considerada parcialmente revogada (não foi o entendimento do STJ).

Se de cujus dispensou a colação, entende-se que a liberalidade saiu da parte


disponível da herança. Se for superado o valor disponível da herança, há necessidade de se
proceder à redução do excesso.

341
Excesso na doação (invasão da legítima) é apurado levando-se em conta o valor do
patrimônio do doador ao tempo da doação, e não o patrimônio estimado no momento da
abertura da sucessão (STJ, Info 511).

Na hipótese em que o autor da herança tenha promovido em vida a partilha da


integralidade de seus bens em favor de todos seus descendentes e herdeiros necessários,
por meio de escrituras públicas de doação nas quais ficou consignado o consentimento de
todos eles e, ainda, a dispensa de colação futura, a alegação de eventual prejuízo à legítima
deve ser formulada pela via anulatória apropriada, e não por meio de ação de inventário (STJ,
Info 573).

Não há doação propriamente dita, mas inventário antecipado ("doação-partilha"). Se


não há bens a serem partilhados, não há a necessidade de inventário.

Não virão à colação os gastos ordinários do ascendente com o descendente, enquanto


menor.

A doação remuneratória deve respeitar a legítima dos herdeiros (STJ, Info 648).

Herdeiro necessário não precisa trazer à colação os valores que ele economizou ao
morar gratuitamente no imóvel do autor da herança enquanto este era vivo (STJ, Info 644).

De olho na prova!
Ano: 2019 Banca: MPE-SP Órgão: MPE-SP Prova: MPE-SP - 2019 - MPE-SP - Promotor de
Justiça Substituto
Os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente comum são obrigados, para
igualar as legítimas, a conferir o valor das doações que dele em vida receberam.
Esse conceito corresponde ao instituto da
A. colação.
B. sonegação.
C. conferência.
D. colmatação.
E. substituição.
Gabarito: "A".

Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: TJ-AL Prova: FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto

342
André, solteiro, não teve filhos e morreu sem deixar ascendentes vivos. Por testamento,
deixou todos os seus bens para o seu melhor amigo, Antônio, com quem não tinha nenhum
grau de parentesco. Sentindo-se injustamente preteridos, os três únicos irmãos de André
ajuizaram ação visando à declaração da nulidade total do testamento, argumentando que,
devido ao parentesco, não poderiam ter sido excluídos da sucessão. O pedido deduzido nessa
ação é
A. procedente, pois os irmãos de André são herdeiros necessários, devendo ser declarada a
nulidade total do testamento.
B. procedente em parte, pois os irmãos de André são herdeiros necessários, devendo ser
declarada a nulidade parcial do testamento, apenas quanto a três quartos dos bens.
C. procedente em parte, pois os irmãos de André são herdeiros necessários, devendo ser
declarada a nulidade parcial do testamento, apenas quanto a metade dos bens.
D. improcedente, pois os irmãos de André não são herdeiros necessários.
E. improcedente, pois os irmãos de André, embora sejam herdeiros necessários, podem ser
excluídos da sucessão mediante testamento.
Gabarito: “D”

Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: TJ-AL Prova: FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto
Nos testamentos,
A. é válida a disposição que deixe ao arbítrio de terceiro, desde que suficientemente
identificado, fixar o valor do legado.
B. é ilícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador.
C. pode ser nomeada herdeira, mas não legatária, a pessoa que nele figurou como
testemunha instrumentária.
D. presume-se o prazo em favor do herdeiro.
E. são inválidas as disposições de caráter não patrimonial, se o testador tiver se limitado
somente a elas.
Gabarito: “D”

Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: MPE-MT Prova: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Substituto
Em relação ao testamento, considere os enunciados:
I. Podem testar os maiores de dezesseis anos; não podem fazê-lo os incapazes e o surdo-
mudo, permitindo-se ao cego o testamento público.

343
II. A incapacidade superveniente do testador invalida o testamento, mas o testamento do
incapaz convalida-se com a superveniência da capacidade.
III. É defeso o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo.
IV. A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.
V. São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador
somente a elas se tenha limitado.
Está correto o que se afirma APENAS em
A. I, II e IV.
B. III, IV e V.
C. I, II, IV e V.
D. I, III e V.
E. II, III, IV e V.
Gabarito: “B”

17. REFERÊNCIAS
DIZER O DIREITO. https://www.dizerodireito.com.br/2020/08/a-destinacao-de-parte-do-
imovel-para.html. Acesso em 25 de novembro de 2020.
GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. Revista, atualizada e aumentada, de acordo
com o Código Civil de 2002, por Edvaldo Brito e Reginalda Paranhos de Brito. 19. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2007.
GOMES, Orlando. Direitos Reais. Atualizador Luiz Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense,
2008.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD JR, Nelson. Direitos Reais. 7ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2018.
FIGUEIREDO, Luciano. Figueiredo, Roberto. Manual de Direito Civil – Vol. Único – Ed.
Juspodivm. Salvador, 2020.
QUESTÕES https://www.qconcursos.com/
TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. Vol. 2, São
Paulo: Método, 2012.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Lei de Introdução e Parte Geral. V. 1, 9. ed. São Paulo:
Método, 2013.
TARTUCE. Manual de Direito Civil. 2. ed. São Paulo: Método, 2012.
TARTUCE, Flávio. Direitos das Coisas. São Paulo: Editora Método, 2015.

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