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A Fuga de Tarkihl

Clark Darlton

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No Grande Império Arcônida é o ano 10496 A (para Arcon) um tempo


correspondente ao ano terrestre de 9003 a.C., portanto, é uma época em que
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os habitantes da Terra ainda estão mergulhados na barbárie, não sabendo
das estrelas, nem da grande herança da Lemuria desaparecida.

Por outro lado e apesar de Arcon manter uma grande guerra contra os
Maahks, que está no seu ápice, o Imperador atual, deste vasto domínio, é
Orbanashol III, um homem brutal e de grande astúcia. O qual está sob a
suspeita e há boatos espalhados de ter planejado e executado a morte de seu
irmão, Gonozal VII, a fim de assumir o poder para si.

Mesmo que Orbanashol III tenha estabelecido firmemente o seu poder, existe
um homem a quem o Imperador de Arcon deve temer: Atlan, o herdeiro
legítimo do trono. Após a morte de Gonozal VII, seu pai, ele havia
desaparecido sem deixar vestígios, juntamente com o ex-médico particular
de Gonozal VII.

Mas talvez as pistas não fossem suficientemente ocultas, porque os brutais


agentes de Orbanashol III, os Kralasenes, apareceram subtamente no remoto
planeta Gortavor, onde Atlan crescera para a maturidade sob o olhar atento
de Fartuloon e na proteção de Tarkihl sem saber nada de sua verdadeira
origem. E aqui eles prenderam o velho médico de Gonozal VII, sem qualquer
aviso.

Atlan deve pensar em como conquistar a liberdade de Fartuloon e


empreender sua fuga de TARKIHL...

Viveram há 10.000 anos.

Atlan - O Príncipe de Cristal há muito procurado deve libertar seu pai


adotivo da prisã o, mas só depois é que o longo vô o para a liberdade de
começar.

Fartuloon - Como médico pessoal do ex-imperador, este gladiador ú nico é


um homem misterioso - e prova isso mais do que nunca!

Farnathia – Companheira de infâ ncia de amor de Atlan, mas também a


filha do Tatto que se transforma num segundo alvo para o Cego!

Armanck Declanter - O Tatto, ou Regente do planeta Gortavor.

Sofgart O Cego - Também conhecido como o Blindman, este monstro


humano é temido por toda a galá xia como um líder dos sanguiná rios e sem
escrú pulos, Kralasenes. Ele é conhecido por deter autoridade absoluta
advinda de Orbanashol III, e sua missã o é trazer a cabeça de Atlan de volta
para Arcon!

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Eiskralle – Garra de Gelo - Um Chretkor. Ele pode ser transparente, mas
ele mostra que ele tem coragem intestinal.

Os Servos Silenciosos - Também conhecido como “garçons mudos”, esses


"fantasmas" dos níveis mais profundos de Tarkihl têm uma característica
peculiar que muitas vezes podem se tornar um perigo.

A Fuga de Tarkihl torna-se uma série de aventuras angustiantes que lê


como um conto das Mil e Uma Noites. Sigam-os agora como elas penetram
as profundezas proibidas da Seçã o de azul por baixo Tarkihl e ir mais
longe do que outros foram antes para o desconhecido. Qual é a cidade
escondida, a Zona de Barreira, o Rio Mucky e o limiar misterioso? Você vai
descobrir!

1/ Traga-me sua cabeça!

Uma mudança ameaçadora havia chegado. O velho padrã o havia sido


quebrado.

A majestosa e imponente Tarkihl nã o era mais garantia de paz e


tranquilidade que eu conhecera...

Desde quando eu conseguia me lembrar, sempre tinha vivido no planeta


Gortavor. Fartuloon sempre afirmara que nã o tinha conhecimento dos
meus pais, ou pelo menos nunca falou sobre isso. Mas, depois de longa
reflexã o sobre o assunto eu tinha desenvolvido a sensaçã o de que ele sabia
mais do que estava disposto a dizer.

Gortavor era um mundo longínquo e insignificante na periferia do Império


Arconida. Ele nã o desempenhava nenhum papel significativo nos assuntos
cosmopolitas da galá xia, e o fato de que nó s nunca tivemos muito a ver
com as autoridades imperiais de Arcon sempre pareceu atender a
Fartuloon e suas necessidades.

Ele era o médico pessoal para Armanck Declanter, o Tatto de Gortavor, e


foi o ú ltimo ao qual devemos agradecer pelo fato de que nossa vida juntos
sempre tivesse transcorrido de forma tanto harmoniosa quanto pacífica,
pelo menos, até o nosso lamentá vel episó dio no Deserto da Aranha.

Talvez neste momento eu devesse também mencionar o meu amigo


Eiskralle, ou Garra de Gelo. Ele era um Chretkor, e assim foi por razõ es
muito naturais que lhe haviamos dado este nome incomum. Eiskralle
parecia como se ele fosse realmente feito de gelo. Seu corpo era
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transparente, com exceçã o de, naturalmente, seus ó rgã os vitais, mú sculos,
ossos e sistema circulató rio. Ele se parecia como uma vitrine para um
curso de anatomia caminhante, fora sua baixa estatura possuia forma
humanó ide como a nossa. Além disso, no entanto, ele tinha uma
característica peculiar: quando ele estava em um local quente tornava-se
surpreendentemente flexível e á gil, mas quando ele estava com frio, ele
tornava-se tã o endurecido que tinha dificuldades para se mover. Nã o fazia
muita diferença para ele, de qualquer forma, mas qualquer mudança
rá pida de temperatura sempre o apavorava.

Como disse, até certo momento conseguimos uma vida tranquila e pacífica,
Fartuloon, Eiskralle e eu até aquele dia sinistro quando tudo que
representara o velho padrã o de vida se quebrara.

Um pedido de socorro via rá dio por ajuda médica havia nos atraído para o
Deserto da Aranha. Lá , fomos surpreendidos e atacados por cinco
Arconidas como Fartuloon e eu. Fora somente com muitas dificuldades
que pudemos colocá -los fora de açã o e retornar a Tarkihl, onde nos
aguardava uma nova surpresa.

Meu 'tio', Armanck Declanter, enviara um mensageiro e sua Guarda do


Palá cio para nos encontrar e tomar Fratulon em custó dia. A razã o que ele
deu para esta açã o era de que um agente do Imperator tinha chegado que
tinha trazido com ele esta ordem de prisã o de Fartuloon. O pró prio Tatto
era impotente diante de tal ordem.

Ninguém prestou atençã o a mim ou a Eiskralle. Nada nos impedira de


entrar em Tarkihl como pessoas livres, mas eu peguei um ú ltimo olhar do
meu 'pai adotivo' incentivando que fora ó bvio um aviso. Quando o levaram
para longe, ele tentou me sinalizar de que eu estaria, doravante, por minha
pró pria conta e teria que ser muito cauteloso.

Entã o Fartuloon desaparecera com a guarda e a escolta atrá s das muralhas


e da estrutura do palá cio diante de nó s.

Era o início de um novo tipo de aventura, sem meu guia, meu salva-vidas e
guarda pessoal.

Antes de ir, no entanto, devo dizer algumas palavras em relaçã o à Tarkihl,


porque sob a conotaçã o de um palá cio poderia ter uma impressã o bastante
diferente do que era realmente o caso.

Tarkihl deve ter sido de uma só vez uma antiga fortaleza, mas ninguém
sabia quem tinha originalmente construiu. Embora a estrutura nã o fosse
excepcionalmente alta, no entanto, cobria uma grande á rea, formando um
triâ ngulo gigante. Eram necessá rias cerca de 3 horas para uma pessoa
cruzá -la a pé. Seu material bá sico parecia ser de um metal muito
semelhante ao bronze, aparentemente em formas brutas e puras. A
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monotonia da superfície lisa das paredes era interrompida por vá rias
elevaçõ es e projeçõ es. Mas o que era diferente em Tarkihl e que sempre
me impressionara era sua tremenda semelhança como sendo meramente
um aglomerado de montanha no deserto.

Fartuloon me explicara que a maior parte do edifício estava escondida


debaixo da superfície, a maioria das quais provavelmente nunca foi
explorada. Se ele nã o tivesse sempre comigo advertiu contra ele,
indubitavelmente eu teria seguido uma das muitas passagens secretas
para as profundezas. Eiskralle, que aparentemente sempre vivera em
Gortavor, teria sido o companheiro mais prová vel em essa jornada, mas
ainda tinha medo do sinistro e do desconhecido. Ele provavelmente temia
que ele pudesse sofrer uma transiçã o entre os extremos de calor e frio.

Como eles levaram Fartuloon para fora de nossas vistas, Eiskralle estava
de pé ao meu lado. "Qual é o significado disso?", Ele me perguntou. "Por
que Fartuloon deva ser preso em nome do Imperador? Que crime
cometera? E por que Declanter nã o faz nada a respeito? "

"Você deve saber, Eiskralle, que Declanter Armanck nã o pode tomar


nenhuma açã o contra um representante direto de Orbanashol. Ele tem que
obedecer aos seus mandamentos querendo ou nã o. "

Devido à transparência de Eiskralle era difícil determinar qual seria a sua


expressã o, mas eu pensei detectar uma espécie de firme determinaçã o em
seu rosto. Que, naturalmente, concordava com meus pró prios sentimentos
sobre o assunto. O que aconteceu, eu nunca deixaria Fartuloon em apuros.

Finalmente Eiskralle falava com toda a calma. "Vamos entrar em Tarkihl."


"Sim," Eu balancei a cabeça com determinaçã o. "Vamos!"

Entramos no palá cio por uma entrada lateral. Ninguém nos impediu de
fazê-lo, embora, em virtude da situaçã o eu esperava ser parado por um
guarda. Chegamos ao interior do edifício sem sermos notados e, em
seguida, fomos o mais rá pido possível para os aposentos em que vivíamos.

Nó s nã o tínhamos idéia de onde eles haviam aprisionado Fartuloon, mas


presumi que ele estaria na parte de Tarkihl onde Armanck Declanter
residia com sua família. O Tatto de Gortavor possuia duas esposas e de
uma delas, ele também tivera uma filha, Farnathia, que tinha 15 anos de
idade arconida. Aos meus olhos ela era a criatura mais linda e eu me
aventuraria a dizer que de sua parte, ela nã o diria exatamente que me
considerasse seu pretendente. De qualquer forma, tínhamos desenvolvido
uma grande amizade. Nã o houve praticamente um dia sem nos víssemos.
Ninguém tinha conhecimento do sentimento que tínhamos um pelo outro,
nem seu pai nem Fartuloon.

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"Bem, e agora?", Perguntou Eiskralle e se sentou em uma cadeira que era
grande para ele. "Nó s certamente nã o podemos simplesmente ir e
perguntar por que Fartuloon foi preso."

"Isso seria um grande erro", eu concordei com ele. "Além disso, nã o temos
nenhuma idéia de que ele foi acusado. Talvez seja tudo apenas um engano.
"

"Eu gostaria de saber se aquele ataque de surpresa no Deserto da Aranha


tem algo haver com isso", murmurou Eiskralle. Cerrou seu punho direito
como se quisesse transformar um dos atacantes desconhecidos em um
aglomerado de gelo. “Além de que eu, nunca na minha vida, acreditaria que
o velho Sawbones, seja um criminoso."

"É claro Sawbones nã o cometeu nenhum crime", respondi, confirmando


sua pró pria afirmaçã o com convicçã o extra. "Mas você sabe que ele muitas
vezes fez referências discretas de como nã o estava muito satisfeito com o
Imperador. Talvez ele tenha sido um pouco indiscreto em um momento ou
outro. "

Eiskralle encolheu os ombros. "Entã o, como vamos descobrir o que irá


acontecer com ele agora?"

Com a exceçã o de sua parte subterrâ nea, eu conhecia Tarkihl muito bem.
Aqui eu tinha crescido estudado e brincado, de modo que eu conhecia
inú meras passagens e corredores secretos ao redor de todo o local. Eu era
capaz de imaginar como os construtores dos mais poderosos e
desconhecidos destas estruturas devem ter vivido aqui juntos, assistindo e
mutuamente espionando uns aos outros a partir destes esconderijos
secretos.

Agora eu era grato a eles por sua clarividência. "Direto lá fora, no corredor
está à figura"...

"É aquele monstro de 4 pernas?"

"Sim, é o ú nico”. Sorri. "Você já notou algo incomum sobre isso?"

Eiskralle se espantou. "O que é que eu ia perceber? Além disso, é na sua


maioria muito escuro no corredor, se você nã o ligar a luz”.

"Vamos manter as luzes apagadas desta vez, Eiskralle. Venha e eu vou


revelar um segredo que ninguém, em Tarkihl, conhece, exceto Farnathia, é
claro"...

"Farnathia?", questionou Eiskralle, admirado.

"Você sabe que nó s praticamente crescemos juntos. As crianças têm seus


segredos, e que eram naturalmente muito orgulhosos de si mesmas,

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sabendo coisas que permaneceram desconhecidas pelos adultos. Há uma
passagem através das paredes laterais. Ele conecta nossos aposentos com
os do Tatto. "

Eiskralle confirmou com a cabeça. "Aha! E se Fartuloon foi levado à s


câ maras do Tatto aí nó s teremos a oportunidade de ouvir o que eles estã o
falando."

"Essa foi a idéia original por trá s da passagem secreta. Vamos lá !"

O corredor era mais parecido com um tú nel com o teto arqueado. A luz
fraca surgia a partir de um cabo nas proximidades, mas era o suficiente
para nos guiar neste ambiente familiar. Auscutamos atentos, mas nã o
conseguimos detectar qualquer ruído.

Cautelosamente conduzi Eiskralle pela mã o até a figura estranha que era


formada de metal frio.

Quando criança eu sempre temera o ser estranho que a figura


representava. Eu nunca vira realmente, na minha curta existência, tal
criatura. Ele possuia um corpo, de enorme envergadura que estava
apoiado por quatro pernas. Sua cabeça estava coberta por uma juba de
cabelos amarelos dourados que quase chegavam até o pedestal. Na boca
havia duas fileiras de dentes bem definidos, que eram capazes de me fazer
estremecer.

Mais uma vez a certeza de que ninguém estava nas proximidades. Entã o
me abaixei até o pedestal pesado e usando ambas as mã os para pressionar
simultaneamente contra duas protuberâ ncias quase imperceptíveis.
Imediatamente ouvimos um leve estrondo que parecia vir de dentro da
criatura metá lica e ao mesmo tempo, ele começou a girar em sua base.
Abaixo dela uma abertura apareceu e uma escadaria íngreme que levava
para baixo para as profundezas.

Eiskralle olhou para as profundezas e para a escuridã o que a preenchia. "É


uma passagem subterrâ nea!"

"Nã o, só parece ser:" Eu garanti-lhe. "Só desce alguns metros antes de


subir novamente. Nó s vamos ficar nesse nível, você vai ver. Vamos lá ,
temos de nos apressar. A abertura se fecha muito rapidamente. "

Eu nã o esperei ele decidir, mas deslizei agilmente através da grande


abertura, parando na primeira etapa. Eu me virei e acenei para Eiskralle,
que finalmente superou seus receios iniciais e me seguiu. Tivemos que
descer uma distâ ncia segura antes que a abertura começasse a fechar
novamente. A está tua criatura virou de volta para sua posiçã o original.

Estava escuro, mas mais à frente uma luz fraca brilhava. Era uma parte da
parede passagem que emitia a sua pró pria iluminaçã o continuamente. A
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luz surgia de dentro do metal que se parecia ao bronze, alimentada por
uma fonte desconhecida de energia. Por toda a Tarkihl havia muitas dessas
luzes.

"Nã o vai ficar mais frio aqui?" Perguntou Eiskralle preocupado.

Eu tinha que sorrir para o seu medo habitual. "Nã o, a temperatura é


constante. Mas logo agora vamos ter que ficar quietos. Nó s nã o poderemos
falar, portanto, fique perto de mim. "

A passagem levava em direçã o ao corredor principal, que unia os


alojamentos diferentes. A parede do corredor principal era tã o espessa
que proporcionava espaço necessá rio para este tú nel secreto.

Muito à frente, o murmú rio de vozes se tornara audível. Nã o era mais


necessá ria cautela com Eiskralle, porque a situaçã o era ó bvia. Ele sabia
que se podiamos ouvir vozes também era possível para os outros ouvirem-
nos, nã o deveríamos fazer barulho. A passagem se tornara mais estreita
até onde poderíamos tocar nas paredes simultaneamente em
ambos os lados. O teto era cerca de 2 metros acima do chã o.

Nó s avançamos juntos com cautela, passo a passo. O murmú rio de vozes se


tornara mais alto até que eu fui capaz de distinguir os tons graves do Tatto
do som mais profundo das palavras do Fartuloon. Os dois homens
pareciam estar sozinhos, mas considerando o que havia acontecido isso
era imprová vel. De qualquer forma, em breve iríamos descobrir.

Dez metros à nossa frente um brilho estreito de luz era visível na parede.
Lá encontramos uma ranhura alongada que tinha 5 centímetros de altura e
meio metro de largura, permitindo duas ou três pessoas estar lado a lado
confortavelmente. A partir de uma elevaçã o moderada se poderia olhar
para baixo a partir dali diretamente para a sala do Tatto de conferência,
que ele usava para as consultas com os representantes regionais dos
planetas.

Colunas enormes cercavam a sala como se estivessem realmente que


apoiar o teto ricamente ornamentado. As paredes estavam cobertas com
vá rias figuras e adornos e eu estava convencido de que alguns deles
escondiam passagens secretas e outros postos de escuta. A mesa
retangular e as cadeiras em torno dela estavam em uma espécie
ligeiramente elevada de tribuna, enquanto no piso principal havia cinco
fileiras de assentos para ocasiõ es em que os espectadores recebessem
permissã o para estarem presentes.

Hoje nã o havia espectadores, mas eu vi vá rios personagens com olhares


graves que imediatamente me fizeram lembrar-se dos homens que nos
surpreenderam no Deserto da Aranha. Suas roupas, quase que totalmente
em farrapos, se pareciam a algum tipo de uniforme. Eles portavam os
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modernos modelos de armas energéticas e ocupavam todas as saídas.
Tudo se parecia como se o pró prio Tatto também fosse prisioneiro.

Talvez neste momento eu devesse descrever os dois homens que estavam


observando.

Armanck Declanter era ligeiramente superior a 1,85 metros de altura. Sua


expressã o era grave e reservada. Ele sempre usava essa má scara rígida de
autoridade, quando tinha de lidar com estranhos.

Sentado em frente a ele na mesa estava Fartuloon. Em contraste com o


Tatto ele era tinha pouco mais de 1,65 metros de altura quando em pé. Ele
parecia ser extraordinariamente gordo e desajeitado, mas aqueles que o
conheciam estavam bem conscientes de quã o rá pido e á gil ele poderia ser
quando necessá rio. Que os outros podessem confundir com gordura era na
verdade montanhas de mú sculos que lhe davam uma força extraordiná ria.
Seus olhos amarelados quase desapareciam atrá s das poucas rugas em seu
rosto. Sua careca brilhava bastante sob as luzes da sala, mas ele tinha uma
barba preta para compensar.

Como de costume, ele usava sua armadura de batalha, que consistia


principalmente de armadura no peito que tinha sido maltratada e polida
de longo uso. É claro que um colete à prova de balas como esse nã o
significava nada contra uma arma de energia, mas ele raramente
dispensava este item exó tico de vestuá rio. Nem jamais se separava de sua
espada curta, que eu suspeitava ter poderes má gicos desde minha infâ ncia.
Especialmente seu punho com a sua escultura incompreensível que
sempre me fascinou a um grau incomum. Uma forma, brilhando prateada
foi lá que eu nunca tinha compreendido, porque parecia tornar-se
inexpressiva sobre escrutínio. Nome da arma era “Skarg" e sua
característica estranha foi que sempre reforçou minha suspeita de que a
espada possuía propriedades má gicas.

Fartuloon tinha 55 anos de idade Arcon e era muito astuto. Eu abrigava a


suspeita de que ninguém na galá xia sabia tanto quanto ele. Como um Bon
vivant fingia ser, ele sempre manteve uma espécie do estilo de vida, comer
e viver bem e nem sem a sua quota de companhia com as mulheres.

Nã o havia na verdade ninguém em Gortavor que soubesse de onde


Fartuloon e eu tinhamos vindo, já que fora ele quem me trouxera para cá .
Seu conhecimento médico era tã o vasto e suas curas tã o surpreendentes
que ele havia se tornado o médico pessoal e confidente do Tatto. Ele nã o
era apenas o “Sawbones" do Palá cio, mas também um cientista e filó sofo. E
ele fora por muitos anos um instrutor dos jovens aristocratas, que foram
anexados a comitiva do Tatto e ele aparentava ser muito rico. Sua
influência sobre Gortavor era muito grande, nem era de forma alguma

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inferior ao Armanck Declanter, mas apesar disso tudo o Tatto ainda era o
Tatto.

No entanto, neste momento eu consegui perceber que havia


representantes ainda mais poderosos do governo de Arcon, como aquele
que ocasionou a prisã o de Fartuloon.

À medida que olhava para a câ mara de conferência e mal ousava respirar


por medo de perder uma ú nica palavra da discussã o. Eu estava ainda sem
saber que hoje haveria uma mudança decisiva na minha vida.

“... E tal acusaçã o contra mim é mais do que ridícula!", Disse Fartuloon, e
com raiva batera com o punho na mesa. "O que eu poderia ter a ver com
essas coisas, estando aqui em Gortavor?"

O Tatto nã o parecia estar muito feliz, mas ele encobriu sua indecisã o com
um ar de autoridade. "Eu nã o posso e nã o vou decidir a questã o, Fartuloon.
Um representante oficial de Orbanashol III possui plenos poderes e
autoridade do Imperio e o mesmo fora incumbido de interrogar um
médico chamado Fartuloon. Nem mesmo eu sei mais do que isso. Eu nã o
quero nem saber muito mais! "

"Quem é este representante de Arcon?"

"Você estará com ele em breve, Fartuloon".

Senti com estranheza que o Tatto estava tratando meu pai adotivo, com
mais formalismo do que o habitual. Nã o obstante as diferenças na
hierarquia sempre tinham sido bons amigos e havia tido muita
informalidade um com o outro. Mas agora...

"Onde está esse homem?" Trovejou Fratulon. "Deixe-o se mostrar e me


dizer a minha frente o crime do qual me acusam!"

"Que certamente fará e muito em breve", prometeu o Tatto calmamente.

Por algum tempo os dois homens ficaram sentados em silêncio e olhavam


um para o outro, um feroz e com raiva e o outro um pouco embaraçado. À
primeira vista eu poderia dizer que o Tatto mesmo nã o parecia se sentir
muito confortavel.

Finalmente Fartuloon falou novamente. "Olhando para estes seguranças e


comparando-os com os personagens que nos assaltaram no Deserto da
Aranha instiga-me uma suspeita muito estranha Armanck. E se suas
identidades forem verdadeiras, desconfio que vá passar por momentos

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difíceis com eles nas pró ximas horas. Ou você diria Tatto, que nunca ouviu
falar dos Kralasenes antes? "

Lá estava o nome novamente, que Fartuloon tinha usado uma vez antes o
mesmo nome, quando ele vira nossos atacantes no deserto. Na época, eu
tinha certeza que nunca ouvira esse nome antes em minha vida, nem
Eiskralle sabia, também, o que tais pessoas eram ou existiam.

"Kralasenes...?" O Tatto falou lentamente a palavra, aparentemente


surpreso com isso, mas eu poderia ler em seu rosto que ele sabia
exatamente o que Fartuloon estava falando.

"Sim, o Kralasenes," meu pai adotivo o repetiu com raiva. Mas, de repente
havia um tom em sua voz que era algo mais do que apenas a raiva
impotente. Reconheci-o imediatamente pelo que era: era realmente temor.
"Os mercená rios mais desumanos, depravados e insolentes da galá xia,
membros das tropas mercená rias do nosso diletíssimo Imperador! O líder
deles é...”. Ele parou de repente e se virou com olhos arregalados para o
Tatto. Ele respirou fundo e fez silêncio.

De repente, prendi a respiraçã o. Eu havia ouvido falar dos Kralasenes


antes, mas tudo voltava para mim só agora, quando ouvi Fartuloon se
referir a eles como mercená rios do Imperador.

É claro, que os Kralasenes!

Tanto quanto eu consegui lembrar, eles sempre foram enviados em


missõ es que deveriam ser tratadas com a mais brutal das forças. Foi
afirmado que eles nã o tinham consciência, também fora relatado que eles
assassinaram e saquearam em nome do Imperador, sempre que
consideraram isso justificá vel.

Lentamente, comecei a respirar de novo, mas ainda tenso. Se o meu pai


adotivo estava nas garras dos Kralasenes, podia-se tê-lo como perdido. Por
trá s dessa fachada degenerada havia o poder do Imperio. Contra tais como
estes Fartuloon e mesmo o Tatto nã o teriam a menor chance, agora eu
entendi o embaraço e o desamparo do Tatto. Por um lado ele teria
Fartuloon como seu amigo e médico pessoal, mas por outro lado ele nã o se
atrevia a ir contra a vontade e a autoridade de Orbanashol III.

"Sim", disse o Tatto lentamente. "Nã o sã o outros"...

À vista de onde está vamos podíamos ver dois guardas ao lado de uma
porta que agora se abriu. Segundos depois, um homem entrou e era mais
magro e esquelético do que qualquer um que eu já tinha visto na vida. Ele
deu 3 ou 4 passos pela sala e depois parou. Seus movimentos eram
estranhamente bruscos, como se andasse feito marionete controlada por
cordas.

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Mas o que especialmente me chamou a atençã o foi o fato de que ele nã o
parecia ter olhos. Em seu lugar haviam dois cones alongados de metal com
cerca de 4 a 5 centímetros de comprimento, que estavam presos por
grampos de prata. Este par de 'ó culos' estranho era preso à testa por meio
de correias.

Eu imediatamente percebi que o homem era cego e só era capaz de ver


com a ajuda deste instrumento curioso. Agora seus movimentos hesitantes
ficaram mais compreensíveis. Apesar de sua figura muito magra, usava um
uniforme de couro bem justo ou terno de algum tipo que só acentuava a
inadequaçã o de sua estrutura muito magra. Mesmo o rosto, de estrutura
ó ssea dava a impressã o de um crâ nio cheio de vitalidade. E sobre sua
cabeça, ele usava um boné de couro desgastado.

Houve também outra coisa bastante perceptível sobre ele. Ele usava uma
pequena arma de energia portá til, um projetor de impulsos, que ficava
presa ao seu braço direito com uma combinaçã o em laço de couro de tal
forma que ele puderia atirar sem ter que sacar a partir de um coldre.

Entã o foi este homem que tinha entrado na sala, lembrando-me de uma
vez de um monstro desumano. E como eu vi meu pai adotivo olhar para ele
captara a expressã o de puro horror em seus olhos.

Sem nenhuma dú vida, ele o conhecia.

Eiskralle e eu está vamos para saber muito rapidamente quem era o


estranho.

"Sofgart o Cego!"_ Fartuloon exclamou meio embargado pela emoçã o.

Como resposta ele recebeu uma espécie de riso sarcá stico. Enquanto isso,
o homem deu alguns passos a mais, até que se chegou à mesa. Sua mã o
esquerda tateou o tampo da mesa e puxou uma cadeira para se sentar. Ele
esticou as pernas e depois voltou seus olhos sob o aparelho para Fartuloon
em ó bvio triunfo.

"Entã o, desta vez encontramos a pista certa", disse ele. Havia um tom tã o
gelado em sua voz que fez Eiskralle estremecer...

Como estava para saber mais tarde, este cego, Sofgart, era conhecido em
todo o Império como o agente mais cruel e feroz do Imperador e detinha
carta branca. Ele e seu grupo mercená rio. Ele teria um planeta inteiro à
sua disposiçã o, para onde ele levaria seus prisioneiros, a fim de interrogá -
los e usar seus métodos inenarrá veis para extrair informaçõ es. Somente
quando convocado pela autoridade superior absoluta que ele sempre
voltava e reportava diretamente para Orbanashol III apó s suas missõ es.

O que este monstro queria de Fartuloon, que sempre fora uma espécie de
pai adotivo e amigo para mim? Eu estava prestes a descobrir.
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"Levou muito tempo para encontrá -lo", disse o cego, observando
cuidadosamente sua vítima. Os olhos sintéticos serviram para acentuar
seu aspecto horrível. "Eu tenho uma ordem de nosso Imperador e posso
ler para você e a certeza que você será capaz de me dar algumas
informaçõ es valiosas. Se nã o, você se arrependerá . Mas antes que eu
prossiga eu tenho que fazer uma exigência: nenhum nome deverá ser
mencionado, nem detalhes, nada. Estou certo de que você está ciente a
quem estou me referindo. Você está pronto? "

Fartuloon nã o foi sequer capaz de balançar a cabeça. Ele se sentou em sua


cadeira como se estivesse paralisado. Seu rosto, que sempre tinha sido tã o
expressivo e cheio de vida mostrava-se agora magro e abatido. Ele parecia
saber que sua carreira chegara ao fim.

No entanto, eu soubesse que para ele era o momento fatídico, embora eu


nã o pudesse compreender nada do que estava transcorrendo, na sala de
conferências. Apesar de seu medo, Fartuloon finalmente encontrou a
coragem de com um aceno confirmar que estava preparado para ouvir a
mensagem do imperador.

Sofgart falou. "É como se segue: O Príncipe de cristal está vivo. Traga-me
sua cabeça!” Apesar de sua aparente deficiência, o cego olhou
profundamente para Fartuloon. "Você sabe de alguma coisa, traidor?"

Mesmo que o meu pai adotivo pudesse ter feito qualquer coisa de que eu
nã o soubesse, até entã o nã o fui capaz de qualquer julgamento. Certamente
a mensagem do Imperator estava muito além de minha capacidade de
entendimento.

Fartuloon ficou sentado lá por um momento como que paralisado. Entã o,


ele ficou de pé e gritou: "O Príncipe de cristal está vivo! Tudo o que você
puder pensar Sofgart, você nã o pode imaginar como é que a notícia soa
maravilhosa para mim. Porque significa nem mais nem menos que o fato
de que Orbanashol III o Imperador é falso, um usurpador ilegal! Seu
sobrinho, o Príncipe de Cristal, é o governante legítimo!”. Ele sentou-se
novamente, aparentemente fragilizado por esta explosã o emocional que,
sem dú vida, iria custar-lhe a vida. "O que eu tenho a ver com isso, Sofgart?"

Tatto ainda revelava que ele era envolvido interiormente com tudo isso,
mas ele continuou sentado lá e nã o fez nada. Comecei a odiá -lo, mesmo
que eu pudesse entender sua hesitaçã o. Se ele agisse de outra forma ele
poria em jogo a sua vida, mas também a de sua família, que incluía
Farnathia.

A voz de Sofgart o Cego ainda continuava fria como gelo: "Sua pergunta é
supérflua. Você sabe muito bem o que quero dizer e como eu disse isso.

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Nó s vamos levar a cabeça do Príncipe de Cristal para Arcon e você nos
ajudará a fazê-lo".

"Como eu poderia fazer isso?"

"Você sabe como, Fartuloon, melhor do que eu, o fato nã o se revela


insignificante, que você era o médico pessoal de Gonozal antes de ele
sofrer um acidente de caça infeliz que levou seu irmã o ao trono."

"Esse chamado acidente, foi assassinato", retorquiu Fartuloon, que parecia


ter perdido toda inibiçã o no assunto. Era como se estivesse agora a fazer
todos os esforços para atrair a atençã o do assassino para si mesmo a fim
de poupar alguém. "E talvez você mesmo fora o assassino, Sofgart o Cego".

Por um longo momento, parecia que o cego terrível estava prestes a se por
sobre os pés, mas ele se controlou surpreendentemente bem. Quando as
sentinelas armadas correram ele acenou com a mã o. "Entã o, essa é a sua
convicçã o, Fartuloon? Você sabe, é claro, que você acabou de pronunciar
sua pró pria sentença de morte...".

"Sim, estou ciente disso. Entã o, acabe logo com isso! "

Sofgart o Cego retornou um sorriso satâ nico. "Nó s nã o faríamos assim tã o


simplesmente, traidor. A execuçã o rá pida e estaria tudo encerrado, certo?
Você está errado! Se você será morto, por que nos privar do prazer de
saborear tal acontecimento? Você deve se preparar para abraçar a morte
num êxtase de alegria. Mas nã o me pergunte o que virá antes disso! "

"Eu nã o vou nem tentar", disse meu pai adotivo com um tom tã o
indiferente que me confundiu.

Toda a situaçã o foi se tornando mais e mais incompreensível. Por que


Fartuloon desafiara o cego como o fez? Por que pronunciar sua pró pria
sentença de morte abertamente atacando o Imperador? Que fins podiam
ser alcançados com essa atitude? Eu nã o tinha respostas, pelo menos,
ainda nã o.

O cego se inclinou para frente. "Ouça bem, Fartuloon eu vou te fazer uma
proposta. Você vai me revelar onde o Príncipe de Cristal está se
escondendo e eu vou esquecer o que foi dito aqui. Eu vou deixar você livre.
"

A essa altura Fartuloon se recobrara de seu terrível choque inicial. "Você


vai me deixar sair livre, Sofgart? Você provavelmente nem sequer acredita
em si mesmo, cego.” Seu tom era de um suicida desrespeitoso. "Há uma
série de testemunhas aqui, o Tatto e seus pró prios homens. Você vai matá -
los a todos para se certificar de que fiquem quietos?” Ele balançou a
cabeça. "Você está redondamente enganado, olhos de funil. Eu nunca vou
cair numa promessa tã o vazia, como esta!"
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"Você vai me dizer onde o Príncipe de cristal está escondido se eu
prometer-lhe a sua vida ou nã o! Entã o fale! "

Fartuloon sorriu ironicamente. "Mesmo se eu lhe dissesse, assumindo que


eu soubesse o que você faria com ele?"

"Eu levaria a cabeça para o Imperador como ele me mandou fazer."

"Você teria que matá -lo de tal forma que sua cabeça ficasse intacta. O que
daria muito trabalho, ainda mais com um projetor de impulsos".

"Tenho alguns homens armados, estã o bem treinados em tais assuntos


artísticos. Por uma questã o de fato, se você estiver interessado nó s
poderíamos dar-lhe uma demonstraçã o. Primeiro eles fatiam as pernas e
depois"...

"Tudo bem, isso é o suficiente, inferno você é o pró prio demô nio!",
Exclamou Fartuloon em sú bita repulsa. "Mas qualquer coisa que você
tentar é inú til. Eu realmente nã o sei nada sobre o Príncipe de Cristal. Só
espero que ele continue vivo por causa da justiça. "

"O Imperador colocou um preço por sua cabeça grande o suficiente para
comprar um planeta inteiro, Fartuloon. Mas a cabeça deve estar intacta
para que possa ser identificada. "

"Nã o tenho nada a ver com isso!"

O cego sorriu astutamente. "É mesmo? Entã o por que um médico real,
chamado Fartuloon acontece de desaparecer tã o de repente e sem deixar
vestígios e deserta quando Orbanashol assumiu o trono? "

"Eu tive minhas razõ es."

"Claro, e eu sei quais foram."

"Nã o é bem assim. A confusã o e a desordem, entã o, nã o eram do meu


agrado, entã o eu deixei Arcon. Aqui em Gortavor eu encontrei uma nova
casa e um novo emprego que me convinham. Senti-me confortá vel aqui, eu
nunca voltei à Arcon. O que esperava lá para mim? Talvez a preservar o
irmã o do meu antigo senhor no melhor de sua saú de para que ele pudesse
cometer mais assassinatos? "

Do meu esconderijo eu podia ver que o cego estava a controlar-se somente


com muito esforço. Com cada frase, agora, Fartuloon o provocava mais e
mais. Comecei a me perguntar por que ele estava fazendo isso. O que ele
poderia ganhar com tã o leviana estratégia e jogando com sua vida assim?
Por que ele nã o tentava chegar a um acordo de algum tipo com este cego
sinistro que poderia servir a ambos, ou de alguma forma?

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Finalmente Sofgart falou muito calmamente. "Conheço um planeta
distante, desconhecido e delicioso. Ele nã o tem um nome, mas isso é
irrelevante. Todo mundo que eu levo para esse mundo nunca o deixa
novamente. Você está ansioso para dar uma olhada nele, Fartuloon? "

"Você quer dizer o seu planeta do tamanho de uma câ mara de tortura? O


mundo de dores inominá veis, inconfessá veis? Por que nã o, Sofgart o Cego?
Que me interessaria. Mas eu estou me perguntando o que você seria capaz
de apreender de mim mais do que aqui. Eu nã o sei nada e até mesmo você
nã o consiguirá extrair nada de mim. "

"Isso será averiguado, Fartuloon." Ele apontou para o outro de armadura.


"O que você fará de bom com este colete? Ou com aquela espada que você
traz ao seu lado? Eu deixarei você mantê-los, porque como eles poderiam
ajudá -lo contra as nossas armas de impulso? Nã o mais do que o seu
subterfú gios e evasivas. Eu ainda receberei a verdade de você. Vou te dar
seis horas. "

"Por que o tempo extra?"

"Para que reflitas sobre isto traidor. Para uma aná lise cuidadosa de suas
alternativas: se você gostaria de continuar aqui neste mundo agradá vel
como médico ou se prefere vir comigo e se familiarizar com o meu pró prio
paraíso. Faço-me claro, Fartuloon?”

"Ah, é claro, tudo bem só que eu nã o acredito em você. Mesmo se eu


soubesse qualquer coisa e eu lhas revelasse a você, eu nã o consigo ver
você ter quaisquer pensamentos sérios sobre poupar minha vida. "

"Pelo menos você morreria rapidamente", disse o cego. Ele se levantou e


deu um sinal para seus guardas. Em seguida, ele reportou ao Tatto, que até
agora nã o tinha dito uma ú nica palavra. "Tatto, você terá a gentileza de me
mostrar o melhor e mais seguro calabouço no palá cio, onde o prisioneiro
poderá esperar sua vez. Eu nã o quero que nenhum mal aconteça a ele. Eu
ainda tenho uso para ele...” Sua voz tornou-se mais ameaçadora. "E acima
de tudo, o Imperador ainda terá uso para ele."

O Tatto também se pô s de pé. Seu olhar passou rapidamente por


Fartuloon, com piedade e arrependimento. "As partes inexploradas
subterrâ neas de Tarkihl estã o à sua disposiçã o, Sofgart", disse ele
submisso. "Vou levá -lo para a seçã o azul."

Depois disso, nem mais uma palavra fora dita. Os guardas vieram e
levaram meu pai adotivo para fora do salã o. Sofgart o Cego e Declanter
seguiram em silêncio ambos.

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2/ Território Proibido

Esperamos alguns minutos até que o eco de seus passos havia sumido.

Entã o eu conduzi Eiskralle de volta certa distâ ncia, onde poderíamos estar
a salvo de qualquer espiã o.

"O que você acha do que viu e ouviu?"

Eu perguntei. "Fartuloon está perdido se nã o cooperar."

"Vamos ajudá -lo!", afirmou Eiskralle determinado. "Ou você acha que eu
deixaria um bom amigo em maus lençó is assim, só porque alguém quer
descobrir algo com ele que ele nã o sabe?"

"Você realmente pensa que ele nã o sabe?"_ Perguntei, duvidando.

"Naturalmente que nã o." Eiskralle fez uma breve pausa, depois


acrescentou: "E se ele realmente sabe algo a respeito, ele tem suas razõ es
certamente para manter sua boca fechada".

Refleti sobre a situaçã o. Entã o, eles prenderiam-no sob o palá cio, em uma
regiã o que mesmo eu nã o conhecia, e que todos nó s temíamos. Os
fantasmas dos construtores há muito extintos de Tarkihl se dizia que ainda
assombravam a á rea. Se as histó rias eram verdadeiras ou nã o, eu nã o tinha
intençã o de me aventurar lá . Pelo menos nã o ainda.

"Vamos, Eiskralle, vamos voltar."

Nó s suspiramos de alívio quando está vamos de volta aos aposentos


espaçosos de Fartuloon e tinhamos a porta fechada atrá s de nó s. Eu
preparei uns refrescos e alguns alimentos, porque nã o ingeríamos
alimentaçã o saudá vel ha bastante tempo. Mais uma vez repassamos os
eventos incompreensíveis que haviamos presenciado. Eles indicavam
claramente que o meu pai adotivo fora corajosamente atacando o
Imperador, com a nítida intençã o de desviar a atençã o de outra coisa. E
por isso agora era prisioneiro do cego terrível como consequência.

Mas ainda tínhamos seis horas para defendê-lo.

Farnathia!

Estranho, que justamente num momento como este eu fosse pensar nela
novamente. Ela nã o corria perigo no presente caso, desde que seu pai ficou
isento e neutro durante a coisa toda. Mas se eu me juntasse a ela, em
seguida, sua vida também estaria em perigo. Por outro lado, eu nã o
deixaria Fartuloon em apuros.

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Mas será que isso significa que era necessá rio familiarizar Eiskralle com os
meus sentimentos mais secretos? Nã o através de qualquer meio! Este
iceberg andante provavelmente nem sequer entende o que essas emoçõ es
significavam, em primeiro lugar. "Temos que conversar com Farnathia", eu
disse.

"A filha do Tatto é?"

"Você sabe que eu sou amigo dela."

"É claro, quem nã o sabe isso? Que vocês se conhecem desde a infâ ncia.
Mas o que isso tem a ver com Fartuloon? "

"Eu sei que ela está mais familiarizada com as regiõ es subterrâ neas de
Tarkihl do que eu, pelo menos, sobre o que ela ouviu. Talvez ela possa nos
dizer onde fica a Seçã o Azul. "

"É isso mesmo, a Seçã o de Azul!"_ exclamou Eiskralle, seguindo minha


linha de pensamento. Ele balançou a cabeça em concordâ ncia.
"Poderíamos perguntar a ela."

"Você espera aqui", eu disse a ele. Afinal, ele nã o tem que saber tudo sobre
nó s. "Eu vou encontrar Farnathia e dizer a ela o que aconteceu. Entã o
veremos se ela pode nos ajudar. "

"Tome cuidado," Eiskralle me alertou. "Você nã o deveria confiar em


mulheres, totalmente."

Eu deixei nossos aposentos e tomou a passagem oficial. Nã o era raro me


ver fazer visitas diariamente para a filha do Tatto, mesmo agora que eram
mais velhos e mais desenvolvidos. Todo mundo sabia que tínhamos
sempre brincavam juntos quando crianças e que até agora foram quase
insepará veis. Entã o, por que eu nã o deveria fazer-lhe uma visita? Nã o
encontrei ninguém pelo caminho.

Farnathia ocupava um conjunto de quartos que estava ao lado dos quartos


de seus pais. Nunca se incomodara possuir um pai e duas mã es, das quais
apenas uma era a sua mã e verdadeira, é claro. Apesar de este acordo ser
de conhecimento restrito, nunca se atrevera a ir contra os desejos de seus
pais em nada. Isso sempre fora uma das razõ es de que seu amor por mim
sempre fora tã o puro e inocente.

Cuidadosamente bati à porta e ela abriu.

Com seus 15 anos de Arcon estavam quase físicamente amadurecida.


Apesar de sua estrutura delicada e apenas 1,67 metros de altura, ela
poderia ser considerada muito bem proporcionada. Seus olhos Arconidas
típicos eram de um vermelho brilhante reluzente e seu cabelo prateado
descia até os ombros.
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"Você, Atlan? Pensei que você estivesse com seu pai"...

"Por favor, Farnathia, nã o faça nenhuma pergunta. Venha comigo!"

"Mas para onde?"

"Para a suíte de Fartuloon. Eu preciso falar com você."

"É tã o importante?" _ ela sorriu provocante. "É sobre o quê?"

"Nã o devemos perder tempo nem um ú nico minuto. Vista se com algo
quente, pois pode ser frio, onde precisaremos ir. E sem mais perguntas por
agora. A vida de meu pai depende disso."

"O quê?” _ Em seguida, “aguarde vou apenas vestir algo rá pido de


verdade".

Eu estava no corredor e ouvia nos dois sentidos. A qualquer momento eu


esperava ver um dos Kralasenes temidos aparecer.

Finalmente Farnathia apareceu e fechou a porta atrá s de si. Ela usava um


casaco quente e um cachecol, ambos que eu já vira antes. Em seu rosto
havia uma expressã o de curiosidade e preocupaçã o.

"O que no mundo acontece com seu pai?"

Ela nã o sabia que Fartuloon era apenas meu pai adotivo. Eu mesmo
soubera recentemente dele.

"Vamos, nã o faça mais perguntas!"

Ela me seguiu obediente, mas tive pouco tempo para desfrutar do prazer
no fato de que ela confiou em mim assim cpmpletamente. Havia mais em
jogo do que nossa amizade, nossa confiança e talvez até nosso amor.

Quando chegamos aos nossos aposentos, eu cuidadosamente fechei a


porta.

Eiskralle estava sentado em uma cadeira esperando por nó s.

"Saudaçõ es, Farnathia", disse ele com alívio e ele se levantou para pegar o
casaco dela. Para mim tudo isso é um desperdício de tempo. Temos apenas
um nú mero limitado de horas.

"Sente-se e abra os ouvidos ou Atlan já disse tudo?", concluiu.

"Ele nada me disse absolutamente, Eiskralle. Ele é está silencioso como


uma pedra. "

"Isso se parece muito com ele", disse Eiskralle.

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"Portanto, nã o me deixe esperando por mais tempo. Diga-me o que
aconteceu! "

Dissemos a ela.

Ela apenas ficou lá e ouviu em silêncio. Quando mencionei a “Secçã o Azul”


e olhei para ela curioso, parecia estar tentando se lembrar. No início, ela
franziu a testa, em crescente apreensã o, finalmente empalideceu
repentinamente.

"A Seçã o Azul?"

Ela nos olhou com medo. "Atlan, mesmo que nó s dois nunca estivemos lá ,
sempre pensamos que conhecíamos Tarkihl melhor do que a maioria das
pessoas. Eu já ouvi falar disso, mas isso é tudo. "

"Onde fica?" _ Eu perguntei.

Ela apontou para o chã o sob nossos pés. "Aqui embaixo


em algum lugar. Meu pai envia os criminosos e prisioneiros para lá . Deve
ser terrível nas masmorras. Além disso, nã o é suspeito de existirem
fantasmas lá embaixo. "

"Vamos pular essa conversa sobre fantasmas, Farnathia", eu disse. "Você


sabe que nã o acredito nessas coisas. Se houvesse algum, teríamos visto
muitos deles em todas as nossas excursõ es. "

"Mas Atlan, nó s nunca estivemos onde eles poderiam estar."

Isso era verdade. Os fantasmas se suspeitavam existirem mais nos


subterrâ neos de Tarkihl e nunca tínhamos estado lá . Poucos ousaram
aventurar-se por lá , ou entã o nã o comentaram. Mas se os prisioneiros e
seus guardas foram para a Seçã o Azul, certamente nã o haveria nenhum
fantasma lá .

"Farnathia," eu disse, "você nos levará até a Seçã o Azul"?

Ela me fitou, amedrontada. "A Seçã o Azul? Você deseja isso de mim? "

"Eu tenho que ir, Farnathia. A vida de meu pai depende disso. Você sabe
que eu tenho que resgatá -lo. Se nã o lhe ajudar, ele estará perdido. "

"Mas este Sofgart o Cego...".

“Qualquer um pode ser enganado, até mesmo ele”. Vamos juntar alguns
suprimentos de comida e bebida, para sermos capazes de nos esconder
por algum tempo nos subterrâ neos. Tempo nã o muito longo, de toda
forma, porque em poucas horas, será tarde demais. Temos que nos decidir
rapidamente. “Se você nã o quiser vir, pelo menos nos diga como chegar lá ,
mas você tem que se apressar.”

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Quando ela olhou para mim, foi com uma expressã o que misturava
preocupaçã o com lealdade. Ela confiava em mim, mas ela tinha um medo
terrível do que estava à nossa frente. "Tudo bem, eu vou com você", ela
disse de repente, “mas sob uma condiçã o"...

"E qual seria?"_ perguntei tenso.

"Meu pai nunca deve saber que ajudei você. Ele nã o me perdoaria por
fazer algo que o contrariasse. "

Eu nã o lhe poderia mentir. "Nã o lhe posso prometer, Farnathia, porque


nã o sabemos o que realmente se passa pela mente de seu pai e porque nã o
sei mesmo como essa aventura vai acabar. Talvez nó s consigamos libertar
Fartuloon e sairmos ilesos, ou nã o. Se formos pegos com ele, como vamos
explicar a sua presença? "

Ela evitou o meu olhar interrogativo. "Se isso acontecer, você nã o será
capaz de explicar", disse ela. "Mas de qualquer maneira, eu vou levar você
até lá . Quando? "

"Neste momento, Farnathia e... e obrigado!"

Ela sorriu o que sempre foi uma visã o magnífica para mim.

Tã o rapidamente quanto possível, embalamos alguns alimentos e bebidas


dentro de uma mochila que eu era capaz de levar facilmente em meu
ombro. Quando olho para trá s, naquele dia, ainda é inexplicá vel para mim
porque eu nã o pensei em levar uma arma. Talvez tenha sido devido à
excitaçã o que nó s três está vamos experimentando. No peito Fartuloon
tinha um projetor de impulsos. Eu sabia, mas isso só me ocorreu depois
que já está vamos a caminho e já era tarde demais para voltar.

Eu cuidadosamente verificava o corredor, mas ele continuava vazio.


Deixamos a porta do apartamento aberta atrá s de nó s, a fim de nã o
levantar suspeitas no caso de alguém vir nos procurar. Orientados por
Farnathia, eu novamente ativei o mecanismo na está tua que dava acesso à
nossa passagem secreta. A base se virou e nó s rapidamente
desaparecemos no tú nel pró ximo de nossos aposentos. A abertura fechara
atrá s de nó s.

Fiquei um pouco perplexo que "a nossa passagem", que tínhamos usado
tantas vezes era uma das muitas que também levavam para os níveis
inferiores. Farnathia mantivera o seu segredo muito bem. Na pró xima
oportunidade eu teria que perguntar como ela sabia disso, mas agora nã o
havia tempo.

Nó s seguimos o tú nel por algum tempo e finalmente chegamos ao lugar


onde, Eiskralle e eu, nó s tínhamos feito nossa espionagem. A sala de
conferência estava vazia agora. Apressamo-nos a frente com Farnathia na
21
liderança. Ela penetrou em uma passagem lateral que nó s sempre
cuidadosamente evitamos porque levava a uma descida íngreme para as
profundezas.

Eu parei. "Farnathia, onde é que isto vai dar?"

"Na Seçã o Azul", ela respondeu, mas nã o havia o menor tremor em sua
voz.

"Tudo bem entã o, sigamos o caminho! Nã o há muito tempo. "

"Tempo suficiente para o colapso do frio", murmurou Eiskralle.

Eu ignorei seu comentá rio e corri atrá s de Farnathia, que tinha ido à
frente. Eiskralle seguia logo atrá s de mim, carregando a lanterna que
tínhamos trazido.

Depois de um quarto de hora, pelos meus cá lculos, devemos ter percorrido


uma distâ ncia de, pelo menos, mil metros e está vamos a, provavelmente,
30 metros abaixo da superfície. Eu estava certo de que a rota oficial para a
Seçã o Azul devia ser mais curta do que essa, porque eles nã o teriam o
trabalho de escoltar os presos através destas passagens tortuosas. Talvez
houvesse mesmo um elevador em algum lugar.

Nossos passos ecoaram surdamente nas paredes e no teto. Parecia que


uma companhia inteira de soldados estava marchando através deste
submundo sombrio e pareceu-me que o nosso barulho pudesse ser ouvido
a um quilô metro de distâ ncia. Quando eu chamei a atençã o de Farnathia,
ela parou.

"Nã o será por muito tempo, mas teremos que ir com mais cuidado", disse
ela, "mas aqui nã o há qualquer perigo. A Seçã o Azul e a passagem regular
sã o separadas de nó s por uma parede que possui isolamento acú stico".

Olhei para meu reló gio. Desde Eiskralle e eu tínhamos visto os guardas
levarem Fartuloon, muito tempo se passara. A menos que Sofgart o Cego
decida encurtar o tempo estipulado, teríamos cerca de duas horas e meia
para trabalhar.

Nó s nos apressamos em seguida, sem parar mais. Lembrei-me de muitas


histó rias de terror que tinham sido contados sobre o mundo subterrâ neo
de Tarkihl quantas pessoas tinham tentado penetrar os seus mistérios e
nunca retornaram. Alguns rumores diziam que havia até rios e lagos
subterrâ neos normais aqui em baixo, mas isso eu mal acreditava. E quanto
aos fantasmas, eu sabia que devia haver uma explicaçã o racional.

Eu esbarrei em Farnathia, que desacelerou seu ritmo.

22
"Estamos quase lá ", disse ela em voz baixa. "Nã o temos mais nada para
discutir antes de prosseguirmos? Mais tarde nã o seremos capazes de falar,
porque na Seçã o Azul é mantida vigiada continuamente. Há uma escadaria
que leva diretamente de lá para os níveis superiores, mas eu nã o acho que
nã o será possível usá -la mais tarde para voltar. "

Eu ainda nã o tinha pensado em nossos planos de fuga. Uma vez que


tivéssemos Fartuloon haveria tempo para isso. O principal era antes de
tudo tirá -lo com segurança de sua cela calabouço.

"Qual é o problema?" _ perguntou Eiskralle, chegando atrá s de mim.

"Nada ainda. Estamos prestes a entrar na Seçã o Azul,"_ Eu o adverti.

"Muito bem! Entã o pelo menos a maior parte ficou para trá s", disse ele,
otimista.

“Pelo contrá rio meu amigo”, eu disse, contrariando sua confiança perigosa,
“agora que é quando tudo começa”!

Ele fez um som como se seus dentes estavam batendo, mas ele nã o disse
nada.

Farnathia avançou.

Depois de mais 10 metros de tú nel virou-se a esquerda e chegou a um fim


abrupto numa parede. A filha do Tatto esperou até que estivéssemos todos
juntos e, em seguida, ela sussurrou para nó s. "Esta é uma porta secreta que
ninguém conhece. Do outro lado é a Seçã o Azul. Mas contêm muitas salas e
todo o lugar é usado como prisã o. Atlan, nã o será fá cil encontrar seu pai
em meio a tantas celas quantas tem por aqui. "

"Entã o teremos que procurar por ele."

"Talvez os guardas extras que ele vai ter será uma forma de dizer onde ele
está ."

"Isso seria muito bom."

Antes que ela abrisse a porta ela perguntou outra coisa: "E o que faremos
quando nos depararmos com os guardas? Nó s nã o temos nenhuma arma”.

Foi nesse momento que eu lembrei que tinha esquecido o projetor de


impulso. Eu poderia ter me dado um chute. Eiskralle estendeu a mã o garra,
em que havia um poder mortal.

"Nó s podemos transformá -los em gelo", sugeriu.

"Se nos derem tanto tempo," eu rebati com raiva, mas a raiva era dirigida a
mim mesmo. "De qualquer forma, devemos ser capazes de cuidar de pelo
menos um deles e nó s pegaremos a sua arma."
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Acordamos alguns sinais pelos quais podíamos comunicar-nos em silêncio.

Entã o Farnathia se inclinou para abrir a porta secreta.

Em silêncio a parede deslizou para um lado. A menina foi a primeira a


entrar pela abertura em um corredor mal iluminado, mas muito amplo. Ela
sinalizou para nos apressar. Assim que passamos, a seçã o da parede
deslizou de volta ao seu lugar atrá s de nó s, nã o deixando o menor vestígio
visível de porta.

Ficamos ali imó veis, com as costas apoiadas na parede. Nã o havia nenhum
ponto cego nem para a direita ou a esquerda de nó s.

Se alguém aparecesse, neste momento, estaríamos perdidos, a menos que


conseguíssemos cuidar do intruso antes que um alarme fosse dado.

Pela primeira vez eu percebi que está vamos expondo-nos demais. O que
pesava em minha consciência era o fato de eu ter exposto Farnathia ao
maior perigo. Se algo acontecesse com ela o que seria minha culpa e me
censuraria pelo resto da minha vida.

Eu ouvi o som abafado de vozes masculinas, como que de uma distâ ncia
considerá vel. Eles estavam em algum lugar à nossa esquerda. À direita de
nó s a passagem perdia-se na escuridã o absoluta. Na outra direçã o,
pudemos ver os quadrados perpetuamente brilhantes de luz em intervalos
regulares ao longo das paredes.

Farnathia instigou-nos a segui-la enquanto ela se movia silenciosamente


em direçã o as vozes. Mais de uma vez ela fez sinais para me indicar que
aqui e ali ao longo do caminho ela sabia da existência de outras portas
secretas. Nã o importa o quã o meticulosamente eu procurei, no entanto, eu
nã o pude detectar o menor indício de sua presença. A ú nica coisa que eu
notei foi que tais lugares pareciam estar sempre a meio caminho entre
duas das fontes de luz.

Entã o de repente ouvimos passos se aproximando.

Farnathia correu para a direita do tú nel onde havia uma passagem lateral
ligada ao corredor principal. Desta vez nó s nã o precisá vamos de um
convite. Eiskralle e eu a seguimos em silêncio e saímos de vista nem um
segundo mais cedo. O corredor em que havíamos entrado era tã o baixo
que Farnathia e eu mal conseguíamos ficar de pé, mas o teto ainda era alto
o suficiente para Eiskralle.

Os passos continuaram a chegar mais perto. Entã o o seu nível de som


parecia permanecer o mesmo por alguns segundos, apó s o que diminuiu
novamente.

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Farnathia respirou lenta e profundamente. "A mudança da guarda", ela
sussurrou para mim. "Temos de esperar porque os outros em breve
estarã o voltando. Pelo menos agora nó s temos a certeza de que só temos
um destacamento de guardas a enfrentar".

Eu balancei a cabeça, mas nã o disse nada.

Passaram-se cinco minutos até que os guardas trocados serem


substituídos. Nessa base, os calabouços devem estar localizados a centenas
de metros da nossa posiçã o atual, calculei. Ainda tínhamos cerca de 2
horas à disposiçã o, que devia ser tempo suficiente. Nó s só precisamos ter
certeza de que nenhuma das sentinelas nos escape.

A julgar pelo som dos passos havia 4 ou 5 homens, no má ximo, que agora
alcançaram a escada e começaram a subir. Seus passos se tornaram mais
fracos, até que finalmente nã o podiam ser ouvidos.

"Agora!" sussurrou Farnathia e ela assumiu a liderança mais uma vez.

Eu só podia cismar em silêncio. Neste curto espaço de tempo, o que havia


acontecido com a menina tã o medrosa e tímida? Como ela havia mudado!
E tudo porque tivemos que resgatar o meu pai adotivo de um calabouço?

Ou havia ainda outras razõ es por trá s disso?

Chegamos ao lugar onde as escadas levavam para cima. Elas eram bastante
amplas e bem iluminadas. Eu teria dado muito para saber onde eles
levaram, mas nã o tive coragem de fazer perguntas mais. À nossa frente
estava um corredor igualmente bem iluminado. Em ambos os lados do
largo corredor eu poderia perceber portas gradeadas que eram espaçadas
a intervalos regulares, que eu soubesse eram entradas para as celas
individuais.

Mas aqui havia um novo perigo!

Nó s tivemos que passar em frente a essas portas fechadas e se houvesse


prisioneiros em qualquer uma das celas eles teriam possibilidade de nos
ver e talvez até mesmo nos reconhecer. Eu sinalizei a Farnathia a dar uma
parada e por meio de nossa língua de sinais eu tentava de alguma forma
transmitir o problema para ela.

No começo ela parecia estar assustada com isso, mas entã o ela indicou que
poderíamos cautelosamente nos aproximar das celas e simplesmente dar
um salto passando as aberturas. Presumivelmente, os prisioneiros, assim,
só seriam capazes de ver-nos como sombras esvoaçantes e poderiam
supor que fosse um guarda passando correndo pela sua porta. Eu nã o
achei que fora uma soluçã o muito boa, mas eu nã o conseguia pensar em
algo melhor.

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Antes de sair novamente cuidamos de olhar mais atentamente a passagem
antes de nó s. Tinha talvez uns 200 metros de comprimento e parecia
terminar em uma parede lisa que era desprovida de celas. Farnathia
indicara que o corredor virava lá em um â ngulo reto e continuava. Desde
que nã o vimos ninguém à nossa frente era certo que Fartuloon nã o estaria
localizado nesta parte dos calabouços. Assim, nã o era necessá rio procurar
as celas que estavam antes de nó s. A localizaçã o de Fartuloon estaria
marcada pela presença dos guardas.

Perto das duas primeiras celas assumimos uma posiçã o lado a lado e com
um sinal fizemos um salto simultâ neo passando as aberturas. As portas
eram feitas com barras tã o estreitas que ninguém no interior das celas
podia ver muito longe para a direita ou para esquerda. Mas se qualquer
um dos internos estivesse com o rosto contra as grades, ele poderia
perceber-nos.

Durante o salto, no entanto, um olhar rá pido de lado me dissera que ambas


as celas estavam vazias.

Foi necessá ria meia hora para cobrirmos os 200 metros e, apesar do
tempo que gastamos, está vamos ofegantes quando chegamos à passagem a
direita em â ngulo.

Neste ponto, podíamos ouvir, agora, as vozes dos guardas. Desta vez eu
nã o permitiria Farnathia que assumisse a liderança. Delicadamente mas
com firmeza segurei suas costas e espiei ao redor do canto abaixo o trecho
final do corredor. A confiança que eu tinha sentido até entã o foi quebrada
com o que vi.

Diante de mim estava outro corredor largo, bem iluminado, e cheio em


ambos os lados com as portas das celas. A uma distâ ncia de cerca de 50
metros três Kralasenes e um guarda comum, este ú ltimo provavelmente
um dos guardas do palá cio Declanter. Era evidente que eles estavam
mantendo uma vigilâ ncia especial sobre uma das masmorras e nã o
poderia haver dú vida de que ele era o ú nico onde o meu pai adotivo estava
sendo mantido prisioneiro.

Recuei a partir dobra no corredor e atrevi a sussurrar: "Eu me pergunto


como vamos observá -los sem que eles nos vejam"?

Pela primeira vez, mesmo Farnathia pareceu-me desanimada. "É


impossível, Atlan”.

“O corredor é muito bem iluminado e, mesmo se eles nã o estivessem em


estado de alerta, ainda assim nã o deixariam de nos ver”.

Olhei para meu reló gio. "Em menos de uma hora e meia eles virã o buscá -
lo. Nó s vamos ter que fazer o nosso lance na meia hora pró xima, se quiser

26
ter uma vantagem.” A situaçã o era desesperadora, mas eu nã o podia e nã o
desistiriria.

Eiskralle trouxe seus lá bios de cristal para perto do meu ouvido. "Deixe-
me prosseguir sozinho", ele sussurrou. "Como sou transparente eles
sofrerã o o choque de suas vidas quando vêem os ossos e os ó rgã os que
andam flutuando pelo ar. Entã o você pode tirar vantagem da surpresa e
me seguir. "

Eu pensei sobre isso. Era provavelmente a ú nica opçã o que tínhamos. Eu


estava contando com a possibilidade de que os Kralasenes nunca viram
um Chretkor antes. Ou se já tinham visto um sob a luz normal do dia, seria
diferente de ver um aqui em baixo, em condiçõ es de iluminaçã o tã o
adversas. Entã o, se nó s poderíamos tirar proveito de sua surpresa...

"Certo, Eiskralle, mas tome cuidado:" Eu disse a ele. "E nã o se esqueça de


que eles estã o fortemente armados. Se eles se recuperam do choque muito
rapidamente, você está perdido. Eles vã o te matar sem piscar um olho”.

Eiskralle fez um gesto depreciativo com as mã os garras. "Muitos já


tentaram isso antes."

Eu segurei a mã o de Farnathia quando Eiskralle deixou a segurança de


nossa posiçã o e se dirigiu no meio do corredor, marchando em linha reta
para os quatro guardas. Na verdade, ele era uma apariçã o assustadora. A
luz passava através de seu corpo como vidro, dando a impressã o de que
seus ó rgã os, nervos e ossos estavam flutuando no ar.

Felizmente o desenvolvimento de um dos acontecimentos viera em nosso


auxílio. O guarda que era um membro da força de Tatto do Palá cio se
virou, naquele momento, e partiu em direçã o oposta. Aparentemente, ele
estava preocupado em fiscalizar outra parte da Seçã o Azul que estava mais
longe e além. Os três Kralasenes prestaram atençã o a sua partida, assim
fazendo, virando as costas para nó s.

Trouxe Farnathia junto de mim, mas as minhas costas quando segui


Eiskralle rapidamente. Fomos capazes de aproximar deles em cerca de 20
metros. Entã o, um dos Kralasenes disse alguma coisa aos companheiros e
à medida que se viroutomaram conhecimento de Garra de Gelo.

Por um momento eles pareciam estar hipnotizados. Ficaram ali imó veis,
olhando fixamente. Eles poderiam ter permanecido nesse estado até
Eiskralle ter a chance de alcançá -los, mas eles viram para além dele e nos
avistaram os dois a seguir atrá s. E, certamente, ninguém poderia discutir o
fato de que Farnathia e eu parecermos arcô nidas normais. Foi esta visã o
que mais uma vez lhes devolveu a liberdade de movimento.

27
Eu poderia dizer imediatamente que, apesar de sua aparência desleixada,
que faziam parte de uma força de combate de elite, se assim se pode
perdoar o uso da palavra 'elite' em relaçã o a seres como estes. De qualquer
forma, eles foram bem treinados e suas reaçõ es foram imediatas.

Mas Eiskralle foi mais rá pido.

Ele estava em cima deles antes que tivessem tempo para sacar suas armas
e usá -las. Ao mesmo tempo eu empurrei Farnathia com força o suficiente
para jogá -la no chã o, para sua pró pria proteçã o, e corri em direçã o a
Eiskralle dar-lhe uma ajuda. Sozinho ele nã o teria chance contra os três
adversá rios. Mas ele já estava em açã o.

Usando as duas mã os ao mesmo tempo, ele agarrou firmemente dois dos


homens por seus braços. Com toda sua força, fechou suas garras sobre a
carne e eles gritaram quando seus braços foram transformados em gelo
só lido. Eles simplesmente deixaram cair os projetores de impulso e se
esforçaram para se livrarem da dor absurda de congelamento.

O terceiro Kralasene disparou um impulso, mas Eiskralle esquivou-se a


uma distâ ncia segura.

No entanto, o calor do feixe de raios serviu para tornar o Chretkor ainda


mais á gil e rá pido. Eu poderia detectar nele os efeitos positivos do
aumento brusco de temperatura, mas enquanto isso eu tinha a esta altura
chegado a seu lado. Com um golpe derrubei a arma da mã o do Kralasene
restante, assim como Eiskralle, inclinando-me para pegar uma das armas
de impulso. Antes que eu pudesse impedi-lo, ele matou todos os três
Kralasenes.

Quando eu olhava para ele com espanto horrorizado, disse laconicamente:


"Suas vidas ou as nossas, Atlan. Simples assim”.

Farnathia finalmente chegara até nó s, com o rosto pá lido de susto. Ela


percebeu que eu tinha jogado ela no chã o para sua pró pria proteçã o, por
isso ela nã o disse uma palavra sobre a minha atitude grosseira. Ela
simplesmente olhou, sem fala, os corpos dos três Kralasenes.

Mas, finalmente ela nos lembrou de nosso objetivo principal. "Onde está
Fartuloon?", perguntou ela. "Nó s temos que encontrá -lo."

"Ele deve estar por perto", eu disse.

"O guarda do Tatto pode voltar em breve", disse Eiskralle. "Vou prestar
atençã o nele, enquanto você procura por Fartuloon".

Eu tinha quase esquecido o quarto guarda, entã o foi bem que Eiskralle se
ocupou dele. Fui com Farnathia e fizemos uma busca nos calabouços. Era
na cela 10 ou 11 que achei meu pai adotivo.
28
Ele nã o pareceu ter notado o que tinha acontecido lá fora, porque ele
apenas estava curvado em seu calabouço e olhava para o espaço. Ele nem
sequer olhou para cima quando ouviu nossos passos.

"Fartuloon!" gritou Farnathia feliz.

Entã o, ele ergueu os olhos e nos viu. Eu nunca tinha visto tal expressã o de
espanto misturado com terror na minha vida. "Você está louco?"_ Era tudo
o que ele dizia.

Era tudo o que se podia dizer.

"Voltado para a parede mais distante com as costas para nó s", eu disse a
ele e eu levantei projetor térmico, a fim de derreter as barras da porta de
sua cela. "Vai ficar um pouco quente aí dentro."

Mas Fartuloon balançou a cabeça com determinaçã o. "Nã o, eu nã o vou


deixar você me libertar. Eu tenho que lidar com essa coisa toda sozinho.
Você ainda tem a chance de salvar sua vida e em segurança. Ninguém vai
suspeitar se você partir agora.” Ele olhou para mim interrogativamente.
"Como é que você conseguiu enganar os guardas?"

"Eles estã o mortos," Eu o respondi.

Fartuloon parecia estar mais horrorizado do que antes. "Entã o está


perdido, você é um jovem tolo e louco!", Exclamou. “Como você pô de fazer
uma coisa dessas”.

Eu estava irritado com a sua cabeça dura. "Nó s queremos te tirar daqui e
iremos!" Eu respondi-lhe. "Nã o crie mais empecilhos para nó s do que os
que já temos, apenas afastem-se dessa grade. Eu vou acabar com estas
barras".

Desta vez, ele obedeceu. E provavelmente percebeu que nã o tinha outra


escolha, já que tínhamos matado os três guardas. Em sua mente, isso
significava que nã o havia outra saída, quer para ele ou para nó s.

Apó s as barras serem fundidas, esperamos 10 minutos para que elas se


esfriassem o suficiente para que ele pudesse passar.

Ele estudou Farnathia por algum tempo antes de falar com ela. "Você
ajudou Atlan nisso? Entã o você é mais corajosa do que seu pai. Você deve
ter pensado muito antes de correr tamanho risco por mim."

Eu teria preferido dizendo-lhe que ela tinha feito isso por mim, mas eu
decidi ficar quieto sobre isso. Enquanto isso Eiskralle se juntara a nó s. Ele
disse que nã o tinha encontrado o quarto guarda. Aparentemente, o guarda
de Palá cio do Tatto tinha deixado o Setor Azul por meio de outra saída.

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Agora Fartuloon assumiu a liderança. "Vamos tentar chegar à superfície,
quer por sua passagem secreta ou subindo as escadas. Talvez possamos
nos esconder por algum tempo em meus aposentos. Ninguém sabe quem
matou os três Kralasenes, e se, no entanto ninguém sentiu falta de você, é
possível que..." _Ele parou de repente.

E com razã o. Ouvimos som distante de pés marchando vindo da direçã o do


corredor principal.

Eiskralle disparou até a passagem para o canto da interseçã o e com cautela


deu uma olhadinha. Em seguida, ele correu de volta até nó s rapidamente.
"Pelo menos 20 guardas do palá cio e Kralasenes. É uma coluna cheia,
Fartuloon. O que faremos agora?".

"Mexam-se! Siga-me depressa! Eu sei onde podemos ir, pelo menos por
enquanto...".

3/ Cidade do Desconhecido

Depois de certo tempo comecei a ficar surpreendido com o conhecimento


de Fartuloon dessa á rea subterrâ nea. Nó s tínhamos há muito ultrapassado
para além das regiõ es que Farnathia conhecia e mesmo aquelas partes em
que ela apenas tinha ouvido falar. Está vamos, neste momento, penetrando
inteiramente em territó rio desconhecido, pelo menos para Farnathia e eu.

Era apenas uma hipó etese minha, mas que Fartuloon tinha vindo até aqui
inú meras vezes no passado. Ele levava-nos sempre a frente com a certeza
indefectível de um sonâ mbulo, encontrava tú neis laterais estreitos e
portas secretas que ele abria com facilidade e praticidade. Eu nã o tiinha
tempo para fazer perguntas, mas decidi que compensaria isso mais tarde,
quando a oportunidade surgisse.

Finalmente, depois de uma marcha extenuante através de uma passagem


as escuras, entramos em uma grande sala. Para nossa surpresa ainda
estava decorado com meio antigas peças de mobiliá rio desmoronado.
Fartuloon nos olhava com prazer visível quando nó s olhamos estupefatos
com os armá rios enormes e os baú s e camas comuns ao nosso derredor.
Nã o era exatamente frio aqui, mas eu estava congelando, no entanto, claro,
o mesmo estava acontecendo com Eiskralle, para nã o mencionar
Farnathia.

"Onde estamos?", Perguntou ela, tremendo.

30
Fartuloon acenou com a mã o, sentado numa cama. "Sentem-se, meus bons
amigos. Aqui estamos seguros, por enquanto. Atlan, o que você está
carregando nessa mochila? "

Senti, pela primeira vez que estava com uma fome de urso. "É sorte que eu,
pelo menos, pensei trazer isso", eu disse e eu desempacotando nosso
suprimento de alimentos. "Mas seria uma boa idéia enquanto você estiver
comendo, responder à pergunta de Farnathia".

Ele mastigava a comida enquanto falava. "Você quer dizer, onde estamos?
Bem, nó s estamos profundamente sob Tarkihl, cerca de 100 metros abaixo
do nível do solo. Você pode ter certeza que ninguém irá procurar-nos por
aqui. Mas nã o podemos ficar aqui para sempre. "

"Será um longo caminho de volta," Eiskralle comentou.

Fartuloon balançou a cabeça negativamente. "Você está errado, meu amigo


transparente. Bem perto daqui há uma escadaria que leva em linha reta
até a superfície, mas ninguém sabe disso, além de mim. Dentro de meia
hora eu posso estar no meu apartamento. Na verdade, eu posso entrar
diretamente no meu pró prio quarto através da parede. Nó s estivemos
movendo em círculos e só agora estamos debaixo dos quartos do Tatto”.
Ele sorriu e apontou para o teto. "Na verdade os calabouços estã o
verticalmente sobre nossas cabeças."

"Como você sabe de tudo isso?" Perguntei-lhe de cara.

Ele olhou para mim, pareceu-me, com um pouco de paciência. "No ano
passado eu tive bastante tempo para estudar Tarkihl. Eu queria descobrir
como foi e quem o construiu. O resultado foi que nunca encontrei todas as
respostas, mas no decorrer de minhas pesquisas eu cheguei a conhecer
quase todas as suas partes e níveis. Tarkihl é uma estrutura tã o grande
que, se passasse sempre por manutençã o, haveria espaço aqui para
milhõ es de pessoas. "

"E você descobriu os seus segredos?"

"Naturalmente, nã o todos, mas muitos."

Outra pergunta pesava muito sobre mim e eu nã o conseguia evitá -la mais.
"Por que eles te prenderam?"

Ele olhou para mim e refletindo profundamente por um momento, entã o


respondeu: "A julgar pelos seus comentá rios eu posso adivinhar que você
testemunhou minha prisã o. Eu sei que existem passagens secretas e
pontos de escuta ao redor e por toda a sala do conselho. Se, entã o, você
ouviu e viu tudo por que ainda pergunta?".

"E o que aconteceu ao filho de Gonozal?"


31
“Nã o sei!”

"Entã o eu nã o entendo porque a pista que Sofgart seguia deveria levá -lo a
você em particular."

"Meu rapaz, você nã o deve esquecer que vivi muito e vi muitas coisas
durante toda a vida. Além disso, você sabe, eu era o médico pessoal de
Gonozal. Eu nã o me surpreendo que Sofgart tenha me encontrado, e queira
de todas as formas, incriminar- me para proteger a si mesmo. "

Eiskralle mastigou e engoliu seu ú ltimo bocado de comida. Eu podia ver a


pequena massa de alimentaçã o deslizar para baixo em seu esô fago. "O que
vem agora?" Eu perguntei. "Nó s teremos que ficar aqui?"

Fartuloon assentiu. "No momento é o mais seguro plano que acredito que
nó s podemos aplicar. A ú nica coisa é que nó s ficaremos com fome de novo
muito em breve. Esta noite vou lá em cima e pego mais alguns suprimentos
e trago de volta. Se eu tiver uma chance eu posso também tentar descobrir
o que estã o fazendo a respeito de minha fuga e quem é o suspeito de tê-la
planejado”.

Farnathia tomou uma posiçã o firme contra isso. "Você nã o vai sair daqui,
Fartuloon! Em vez disso, você vai descrever o caminho para mim!
Ninguém suspeita de mim e todo mundo sabe que eu muitas vezes vagueio
ao redor em Tarkihl. Mesmo que alguém me veja, ainda assim nã o
levantará suspeita”.

"Você nã o se exporá a tamanho perigo sob nenhuma circunstâ ncia", eu


protestei. "Eu a proíbo isso”!

Ela me olhou com espanto. "Proibir”? Ela repetiu e depois sorriu.


"Ninguém pode me proibir de fazer qualquer coisa porque estou aqui de
livre e espontâ nea vontade. Mas, agora, que você acabou de pensar sobre
isso: se eles pegarem Fartuloon, tudo o que fizemos terá sido em vã o e
mesmo vocês, Atlan e Eiskralle entrarã o sobre suspeitas. Mas ninguém
será capaz de me acusar por nada. Eu estaria apenas em um dos meus
pequenos passeios, isso é tudo”.

Gostando ou nã o, eu tive que aceitar sua ló gica. Aparentemente Fartuloon


havia chegado à mesma conclusã o, porque sem delongas, ele começou a
explicar o caminho para ela.

Ao termino de três frases proferidas ela o deteve. "Isso é o suficiente,


Fartuloon. Conheço o lugar e desse ponto em diante estou familiarizada
com o percurso de volta aos nossos aposentos. De lá estarei apenas a
alguns passos do meu pró prio quarto. Nã o vai demorar a que esteja de
volta aqui”.

32
"E esse será o tempo no qual estaremos preocupados com você", disse
Fartuloon, e depois de mirá -la por um momento, ele acrescentou: "A
menos que você nos faça uma promessa".

“Uma promessa”?

"Que você tentará voltar aos seus aposentos e que você ficará lá . Ninguém
deve ter notado a sua ausência e assim você estaria segura lá . Nó s três
permaneceremos aqui. Mais tarde, quando o furor sobre a minha fuga se
acalmar você pode nos avisar. Por esse tempo ninguém ficaria desconfiado
se você tivesse que ir a outro de seus pequenos passeios por Tarkihl".

Ela balançou a cabeça. "Você nunca conseguirá uma promessa dessas de


mim, Fartuloon. Estou comprometida com este grupo aqui e agora eu
permanecerei. Esperem-me de volta em uma hora, talvez duas”.

Antes que pudéssemos oferecer qualquer argumento, ela se levantou e


desapareceu na passagem. Eu queria abraçá -la de volta, mas Fartuloon
agarrou-me pelo braço.

"Deixe-a, Atlan. Ela tem opiniã o pró pria. Nesse meio tempo seria uma boa
idéia pegarmos e dormirmos um pouco. Porque em breve precisaremos de
muita energia”.

Eu finalmente segui o conselho dele e estiquei-me em uma das camas. Em


pouco tempo adormeci.

****

Farnathia imediatamente encontrou a primeira das passagens secretas


que Fartuloon havia descrito a ela. Deu-lhe o acesso à escada ascendente,
que ela seguiu para o marco seguinte. Entã o ela teve que viajar uma
distâ ncia em uma direçã o horizontal até que ela fez uma curva acentuada à
direita e chegou a um corredor que lhe era familiar. A partir daqui, foi
apenas há 15 minutos antes de ela viu sua zona de habitaçã o pró pria antes
dela. Ela abriu a porta e entrou dentro.

Com uma tremenda sensaçã o de alívio, ela caiu sobre sua cama e estendeu
sobre ele temporariamente. A tentaçã o de simplesmente fechar os olhos
agora e pensar em tudo o que havia acontecido apenas como um sonho
ruim pairava gigantescamente dentro dela, mas a preocupaçã o que sentia
por seus amigos foi maior.

Apressadamente ela se levantou em seguida e transformou o visor em


receptor de vídeo.

33
E foi a tempo de pegar um noticiá rio local e lá na tela estava o insidioso,
ó culos de proteçã o exposto na face de Sofgart o Cego. Ela nunca tinha visto
o Cego antes em sua vida, mas a descriçã o que fiz dele permitiu que ela o
reconhecesse instantaneamente. O aspecto repugnante do monstro
humano a assustava até ao ponto dela preferir desligar o vídeo, mas ela
finalmente se forçou a ouvir o que ele estava dizendo.

Sofgart estava relatando o fato de que o "criminoso", Fartuloon, havia


foragido, e ele oferecia uma recompensa inédita para a sua recaptura. Isso
ele era forçado a fazer, porque Sawbones era tã o amado em todos os
lugares que pouquíssimos, se houvesse algum, seriam atraídos por ela a
traí-lo. Ao mesmo tempo, o líder dos temidos Kralasenes anunciava um
estado geral de emergência, que por seu pedido o Tatto havia declarado
oficialmente. A caça aos fugitivos havia começado.

Farnathia deu um suspiro de alívio quando a face repulsiva desapareceu


da tela. Era como se recuperar de uma doença, momentos depois, quando
viu o capitã o da Guarda do Palá cio tomar seu lugar. Este ú ltimo passou a
transmitir instruçõ es adicionais para o pú blico em relaçã o ao estado de
alerta que tinha sido proclamado.

Farnathia logo foi capaz de observar que tudo tinha se transformado


completamente à s avessas. Fartuloon deve ser tremendamente importante
para Sofgart, concluiu ela, ou talvez a fuga do preso fora de proporçã o
extraordiná ria muito além das necessidades que os fatos demonstrassem,
e com isso ameaçava a ambiçã o distorcida do carrasco favorito do
Imperador.

Alguem batia a sua porta.

Um choque de alarme atravessou Farnathia e ela nã o ousava respirar. Será


que eles já tivessem suspeitado dela? Mas entã o percebeu que, se fosse
esse o caso nã o seria meramente batendo. Ela foi até a porta e abriu.

Era seu pai, que ficara aliviado ao encontrá -la aqui. "Entã o você está em
casa novamente", disse ele quando entrou. Ela fechou a porta e o seguiu.
Ele apontou para a imagem na tela. "Você já ouviu sobre tudo que houve?
Fartuloon foi capaz de fugir”.

"Sim, pai, ouvi sim. E espero que eles nã o o encontrem”.

Ele reagiu assustado, discretamente, e olhou ao redor, como se temendo


que ela tivesse sido ouvida. "Em Tarkihl as paredes têm ouvidos", alertou
ele. "Você nã o deve dizer uma coisa dessas de novo, você entendeu"?

Sua auto cofiança e atitude fria retornaram. "Nã o se preocupe, pai ninguém
nos pode ouvir aqui. Você pode estar certo. Estou familiarizada com os
segredos de Tarkihl".

34
Isso pareceu acalmá -lo um pouco. "Mesmo assim você tem que ter
cuidado. Este emissá rio de Orbanashol é o verdadeiro demô nio. Receio
que ele capturará Fartuloon novamente. Afinal, para onde ele poderá ir?
Tarkihl está cercada. Ninguém poderá escapar".

"Pai, nã o há nada que você possa fazer para ajudar Fartuloon”?

"Se eu tivesse tentado qualquer coisa, minha filha, ele teria trazido a todos
nó s a maior desgraça. Ninguém pode ir contra a vontade do Imperador
sem sofrer consequências terríveis. Eu nã o fui capaz de levantar a mã o
para ele, mas agora me parece que outros fizeram isso por mim. Três
Kralasenes foram mortos pela equipe de resgate desconhecida. Nó s só
descobrimos isso. Quando a notícia foi levada à Sofgart ele ficou furioso.
Ele jurou que levará os cú mplices de Fartuloon com ele para seu planeta
privado. O que isso significará para eles todos nó s sabemos”.

"Primeiro ele tem que pegá -los", sorriu Farnathia.

Ele olhou para ela intrigado. "Você está feliz por Fartuloon ter sido
libertado? Entã o é melhor que você nã o revele esse sentimento a ninguém
além de mim”.

"Claro que nã o, pai. Mas quem poderia tê-lo ajudado”?

Ele deu de ombros. "A propó sito, onde está Atlan? Acabei de vir dos
aposentos de Fartuloon e ele nã o estava lá . Até mesmo Eiskralle está
sumido, embora os dois entrassem em Tarkihl logo apó s a prisã o ter sido
efetivada”.

"Tarkihl é um lugar grande, pai”.

"Sim, minha criança é uma questã o real, é muito grande. Você conhece
apenas uma pequena fraçã o dela, mas isso é provavelmente ainda maior
do que eu. Quanto disso Atlan conhece”?

Ela sabia que tinha que protegê-lo, agora. "Ele tem muitas vezes
acompanhado a mim, mas eu nã o acho que ele tentaria uma excursã o
solitá ria e sem a minha orientaçã o. Por que você pergunta, pai”?

"Bem, seria muito natural para ele alimentar a ideia de libertar seu pai,
você nã o acha? Em qualquer caso, é o que eu vou ter que supor a menos
que ele apareça por aqui muito em breve”.

"E se fosse verdade, o que você faria? Traí-lo”?

"Nã o, mas por outro lado eu nã o seria capaz de ajudá -lo, tampouco”.

Ela confiou em sua palavra. Ele permaneceria neutro, nã o só para seu


pró prio bem, mas acima de tudo para a segurança de sua família.

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"Estou meio cansada", disse ela. "Eu acho que gostaria de tirar uma
soneca”.

Declanter deu um ú ltimo olhar para a tela de vídeo, onde mais instruçõ es
eram dadas em forma de texto. Ele virou-se para a porta. "Eu venho ver
você mais tarde", disse ele.

Enquanto ela observava o pai sair, com a consciência impotente de tê-lo


visto pela ú ltima vez, no entanto, se fosse para ficar aqui agora e esquecer
tudo relacionado com Atlan e Fartuloon, ela nã o teria nada com que se
preocupar. Ninguém a poderia acusá -la de nada, nem mesmo Sofgart este
horroroso e seus guardas amaldiçoados.

Atlan!

Ela se levantou e trancou a porta com cuidado para que ninguém a


pudesse surpreender. Entã o ela procurou em sua pequena despensa todos
os alimentos adequados. Selecionou-os, arrumou-os todos juntos em um
pacote e prendeu-o com tiras de modo que ela pudesse levá -lo facilmente
por cima do ombro.

Ela passou por seus aposentos mais uma vez. Ela suspeitava que estes
também ela estivessem vendo pela ú ltima vez, mas era bastante prová vel
que ninguém iria suspeitar de sua ausência, mesmo que ela desaparecesse
por algum tempo. Eles todos tinham que presumir que ela fora em mais
uma de suas caminhadas habituais de exploraçã o em Tarkihl e que ela
podia ter caído presa dos fantasmas dos níveis mais baixos. Nenhuma
pessoa em sã consciência faria qualquer conexã o entre ela e Fartuloon. Ela
finalmente levou seu pacote e abriu a porta.

E deu de cara com Sofgart o Cego.

Por um longo momento ela se sentiu como se fosse desmaiar. Seus joelhos
começaram a tremer e ela fechou os olhos, se livrar da visã o de sua figura
magra e aquele rosto horroroso. Mas, entã o, cada segundo que passava a
aproximava da concretizaçã o dura de que tudo agora dependeria só dela
calcado em sua presença de espírito e seu comportamento inteiro com
este diabó lico perseguidor.

Ela forçou um sorriso. "Oh!", Exclamou ela, mas nã o disse mais nada.

O sorriso em seu rosto feio se tornou uma careta. "Nossa menina bonita
parece prestes a embarcar em pequeno passeio", disse ele, apontando para
os pacotes de suprimentos. "Nó s estamos sob um alerta de emergência,
minha criança”.

Farnathia se baseava em que quanto mais perto à verdade ela se


mantivesse tanto menos suspeitas ela despertaria. "Nã o é realmente uma

36
viagem, senhor, é apenas uma curta caminhada. Eu sempre dou pequenas
caminhadas através de Tarkihl quando eu fico entediada”.

"Você pode me chamar de Sofgart”. Ele estava incomunmente educado, ela


observou, apesar de extremamente autoconsciente. Ela nã o intenrrompeu
quando ele continuou: "Você, sem dú vida, está muito familiarizada com
Tarkihl, eu imagino. Alguma vez na Seçã o de Azul”?

Ela estremeceu em uma exibiçã o convincente de horror e pavor. "Oh nã o,


que naturalmente é proibido, senhor quero dizer Sofgart. Eu nã o estou
autorizado a ir para lá , meu pai proibiu-o”!

"E você obedece todas essas restriçõ es”?

"Claro! Eu sou uma filha obediente”.

"Muito bem! É por isso que eu queria fazer-lhe uma pequena visita. Sua
excursã o pode esperar, eu suponho”?

Ela assentiu com a cabeça em silêncio e se rendeu quando ele empurrou-


lhe de volta para a sala. Entã o ela encontrou sua voz: "O que você quer de
mim, Sofgart" ela exigiu ansiosamente.

Ele fechou a porta atrá s dele. "Apenas algumas perguntas, nada mais. o que
você leva nos pacotes”?

Ela hesitou o que foi um erro. Ele pegou os pacotes de suas mã os sem
resistência e os abriu. Quando ele olhou para ela novamente ele nã o estava
sorrindo.

"Você ia para consumir tudo isso em apenas passear um pouco, minha


encantadora? Você deve ter uma barriga muito grande”. Antes que ela
pudesse impedi-lo ele se inclinou a frente e acariciou sua barriga com uma
mã o ossuda. "Nã o parece tã o grande assim para mim”.

Para Farnathia, tudo parecia estar perdido. Freneticamente, ela se


esforçava para encontrar uma desculpa. "Depois que me perdi uma vez,
Sofgart", disse ela, forçando um tom de inocência fá cil. "E eu nã o localizei
meu caminho de volta por 2 dias. Eu quase morrera de fome. Eu nã o quero
que isso se repita nunca comigo novamente”.

Ele ficou olhando para o fornecimento de alimentos. "Eu entendo o que


você está dizendo, mas eu nã o acredito em você. Você sabe onde está
escondido e Fartuloon você deseja ajudá -lo. Leva-me a ele”.

"Eu realmente nã o sei nada".

Ele chegou perto dela e deu-lhe um empurrã o que a fez cair sobre a cama.
Sentou-se rapidamente ao seu lado para que ela nã o pudesse escapar. Sua
mã o direita e a arma de impulso amarrado ao seu braço para frente
37
ficaram a meros centímetros de distâ ncia de seu
corpo.

"Pare de fingir, filha do Tatto digno de Gortavor! É melhor falar se você


nã o quer que eu a machuque”!

Ela nã o sabia exatamente o que ele pretendia fazer, mas seu instinto a
advertiu fortemente. Ela procurou sobre ela, em desespero, à procura de
alguma arma. Sobre sua cabeça em uma prateleira empoeirada havia uma
estatueta metá lica. Era uma representaçã o da besta extinta de 4 pernas
que era usada em Tarkihl para marcar as entradas de muitas passagens
secretas. Ela tinha 20 centímetros de altura e era muito pesada. Se ela
pudesse apenas agarra-la com uma mã o livre e esmagar a cabeça desta
criatura detestá vel seria com isso...

Atlan tinha se referido aos ó culos do cego como 'olhos de funil’. Ele nã o
poderia ver tã o bem ou tã o rapidamente quanto ele se possuisse uma
visã o normal. E esse detalhe que poderia ser a sua salvaçã o.

"Eu nã o vou”! Ela gritou, esperando incitar-lhe e que a sua atençã o fosse
distraída.

Ele se inclinou mais perto dela e começou a soltar seu manto.


Aparentemente, ele tinha problemas em encontrar o fecho. Por um
momento, tudo o que ela viu nele foi o boné de couro que cobria sua
cabeça.

Ela levantou-se como que para ficar longe dele e sem olhar para cima, ele
tentou forçá -la para baixo novamente, mas ao mesmo tempo, ela estendeu
a mã o direita e agarrou a está tua de metal. Com toda a força que ela
possuia trouxe o objeto pesado para baixo e bateu contra o boné de couro.

Sofgart Cegos caiu instantaneamente e caiu sobre ela. Ela só poderia se


libertar sob o seu peso com muito esforço. Sofgart estava inconsciente ou
morto. De qualquer forma, ele nã o se movia. Na testa havia um filete de
sangue.

Tã o rapidamente quanto ela podia, arrumou as provisõ es de novo e saiu


de seu quarto. Ela trancou a porta e colocou a chave no bolso de seu
casaco. Com alguns passos apressados, ela chegou a sua passagem secreta
novamente e segundos depois ela desapareceu por trá s de seu painel.

O caminho de volta foi percorrido sem maiores incidentes.

****

38
Acordei quando Farnathia entrou e simplesmente deixou cair os pacotes
sua comida e irrompeu em lá grimas. Eu pulei da cama e corri para ela,
levá -la gentilmente em meus braços.

"Farnathia, tudo está bem agora. Você está aqui conosco novamente”.

Mas ela nã o parava de chorar. Seu corpo parecia estar tremendo em


convulsõ es. Eu cuidadosamente guiei-a minha cama e a fiz deitar.

"Você tem que descansar menina. Que foi uma longa viagem para você”.

Fratulon e Eiskralle também tinham despertado e se aproximaram de nó s.

"O que se passa com ela”? Perguntou Eiskralle preocupadamente.

Olhei para ele com raiva. "Um bloco de gelo como você nã o seria capaz de
entender", eu disse em tom de repreensã o. "Afinal, o que ela passou foi
demasiado para seu sistema nervoso”.

Farnathia sentou-se finalmente e olhou para cada um de nó s, de cada vez.


"Eu nunca poderei voltar a ver meus pais agora", disse ela, e ela começou a
soluçar mais uma vez. "Eu acho que... eu
matei Sofgart o Cego. Ele estava indo para... Eu quero dizer, no meu quarto,
ele”... Ela se interrompeu incapaz de dizer mais. Em vez disso, ela caiu de
volta no travesseiro.

Fartuloon havia ficado branco de susto, como uma folha de papel e ele me
olhou, sentindo-se impotente.

Imperturbá vel, Eiskralle voltou sua atençã o para os pacotes de


suprimentos e começou a investigar seu conteú do. Vá rias vezes ele
murmurou com satisfaçã o.

Coloquei a mã o na testa febril de Farnathia. "Você tem que descansar e


depois você pode contar-nos tudo. Nã o há tempo agora, você ouve? Todos
nó s estamos seguros aqui”. Ou um pensamento repentino me trouxe novo
medo. "Alguém te seguiu até aqui e é por isso que você está tã o nervosa”?

Ela negou com a cabeça, mas manteve os olhos fechados.

Esperamos pacientemente. Ela afirmava que talvez tenha matado Sofgart o


Cego, mas e se ela tivesse realmente o executado? Em qualquer caso, ela
teve uma briga com ele e conseguido escapar dele. É claro que isso
significava que, por enquanto ela nã o poderia voltar para o palá cio, talvez
nunca mais. Agora ela estava fadada a nó s para o bem ou para o mal.

Eu ainda nã o tinha certeza se isso era verdade.

Fartuloon sussurrou: "Ela terá que se recuperar primeiro e só entã o ela


poderá nos fazer um relató rio sobre o que realmente aconteceu”.

39
No entanto, Farnathia abriu os olhos e balançou a cabeça. "Eu vou te dizer
agora e depois dormir, se eu puder. É melhor para você saber
imediatamente para que você possa pensar e a planejar o que fará a
seguir”.

Ela nos contou toda a histó ria e concluiu: "Eu realmente nã o sei se ele está
morto ou nã o. Talvez o seu boné de couro tenha amortecido o golpe. De
qualquer forma, ele ficou inconsciente. Mas se ele recupera a consciência,
ele saberá que você está aqui embaixo em Tarkihl. Ele somou dois mais
dois muito rapidamente quando viu os
mantimentos”.

Nó s todos permanecemos em silêncio por algum tempo.

Finalmente Fartuloon disse: "Tarkihl está totalmente cercada. Mesmo que


conseguissemos chegar à superfície sem sermos observados, nã o haveria
maneira de escapar. Na situaçã o atual, nã o podemos pensar em fugir, mas
podemos nos esconder. E esse esconderijo
terá de ser nas profundezas desconhecidas de Tarkihl. Só lá estaremos
seguros”.

Eiskralle estremeceu. "Estará frio lá ”? Ele queria saber.

"Você nã o precisa se preocupar", respondeu Fartuloon, um pouco evasivo.

Propus que estendessemos o nosso período de descanso de onde paramos,


para que Farnathia tivesse uma chance para se recuperar. Ela deve ter
sofrido um choque terrível quando se deu conta de quais as intençõ es
entretinha Sofgart.

Nó s fizemos um pequeno lanche e embalamos o resto da comida para levá -


la conosco.

De repente, assustei-me com um pensamento. "Fartuloon nã o temos a


á gua necessá ria. Farnathia se esqueceu de trazer”.

Ele balançou a cabeça lentamente, como se o pensamento já lhe tivesse


ocorrido há muito tempo. "A disponibilidade de alimentos vai durar vá rios
dias, se usá rmos com moderaçã o e nã o se morre de sede tã o rapidamente
quanto seria de fome. Além disso, para onde estaremos indo posso
assegurá -los há mais á gua do que conseguirá beber”.

“Como você sabe disso”?

"Eu apenas sei", ele respondeu, e com isso deitou-se na sua cama e fechou
os olhos.

Nã o me deixando outra opçã o que seguir seu exemplo.

40
****

20 horas depois eu era obrigado a maravilhar-me diante o conhecimento


surpreendente de Fartuloon. Era agora evidente para mim que esta nã o
era a primeira vez que ele vinha a essas regiõ es desconhecidas de Tarkihl.
No entanto, reconfortante, serviu para nó s, entretanto, fugitivos
aprofundar o mistério que envolvia o meu pai adotivo.

Até agora nã o houve a necessidade de usar portas secretas e passagens


camufladas. Caminhamos através de amplos corredores e salas enormes
em cujos limites brilhavam uma luz amarelada e muitas vezes estavam a
mais de 10 metros acima de nossas cabeças. Em muitas das câ maras
maiores e salõ es encontramos má quinas e aparelhos cuja utilidade
nenhum de nó s poderia sequer imaginar. Mesmo Fartuloon era incapaz de
nos dizer o que significavam ou quem as havia colocado aqui há tanto
tempo. Ou pelo menos era isso que ele nos deixava acreditar.

Muito abaixo de nó s sob a rocha só lida havia uma fonte com uma vibraçã o
constante e um zumbido quase inaudível, como se motores ou má quinas
de algum tipo estivessem em funcionamento. Eiskralle arriscara um
palpite de que poderia haver usinas de energia perpetuamente
funcionando aqui, em algum lugar, que iluminava as passagens e
proporcionava a toda Tarkihl seu poder.

Farnathia caminhava ao meu lado. Ela se recuperara muito bem e agora


parecia ter reconquistado sua autoconfiança. Tendo superado o choque
inicial, ela aceitara conscientemente a possibilidade de nunca mais poder
voltar.

De repente Fartuloon parou. "Só mais 100 metros e vocês terã o uma
surpresa. Estive aqui muitas vezes, mas nunca tive tempo para dar uma
olhada, detalhada. Mas agora temos tempo de sobra. Vamos ficar um ou
dois dias na cidade”.

"Cidade”? Olhei para ele como suspeitando de sua lucidez. "O que você
quer dizer com isso? Nã o me diga que há realmente uma cidade aqui
embaixo”!

"Claro e isso é exatamente o que eu disse", ele respondeu em um tom leve


de irritaçã o.

O corredor havia se alargado ainda mais que antes. Ele começou a


lembrar-me das ruas e avenidas grandes que eu tinha visto em vídeos que
mostravam outros planetas do Imperio e suas cidades gigantescas. Aqui
também nã o parecia ser um nú mero de estradas de veículos, mas os
pró prios veículos estavam faltando. Trilhos de guias positrô nicos dividiam

41
as superfícies lisas metá licas em 5 faixas separadas, cada uma das quais
possuia 5 metros de largura. Nas bordas exteriores de cada rodovia havia
faixas deslizantes em passeios para pedestres, mas neste momento estes
transportadores estavam parados.

Em seguida, a avenida que está vamos seguindo desembocara em uma


caverna inimaginavelmente grande.

No momento nã o havia descriçã o mais apropriada que eu pudesse pensar


para o que eu via diante de mim. Ali estava uma cidade, uma cidade real,
aqui vá rias centenas de metros abaixo da superfície de Gortavor. A
avenida era inclinada para baixo em seu centro e nos encontravamos em
uma elevaçã o onde se podia ver quase toda a sua extensã o. Havia uma
rede bem organizada de ruas ladeadas por edifícios simétricos que eram
separados por vá rias praças e vias arborizadas cujas á rvores e flores há
muito já secaram. Acima de tudo um céu arqueado sintético que era
dominado por um sol atô mico brilhante. O diâ metro da cidade devia ter
cerca de 2 quilô metros.

Fartuloon sentia um prazer obvio com nosso espanto mudo. Ele nos levou
a um ponto saliente de observaçã o e nó s o segumos. Viemos para onde se
podia ver toda a cidade.

"Eu descobri isso", explicou, "cerca de 10 anos atrá s, quando eu me


aventurei a vir tã o longe. É um milagre de arquitetura e tecnologia pré
Arcô nida, mas a minha memó ria e que nunca ouvi falar dele em qualquer
lugar. O que me leva a acreditar que a memó ria desse povo fora perdida.
Tanto a sua idade quanto seus criadores sã o desconhecidos. Pode até nã o
terem sido Arcô nidas ou seus antepassados que construíram isto, mas
seres que pertenciam a uma civilizaçã o desconhecida que vieram a este
mundo muito antes de nó s. Quando eu encontrei este lugar, fiquei
intrigado pelo fato de que os veículos haviam sumido, sem dú vida, que
enchia as ruas de uma só vez. Eles desapareceram como as pessoas que
viveram aqui”.

Eiskralle comentou secamente: "Talvez eles começassem uma viagem e


nunca encontraram o caminho de volta”.

Fartuloon concordou com a cabeça, gravemente. "Isso nã o é uma


brincadeira você pode estar mais perto da verdade que você imagina”.

Era incrível. Pensar que pessoas tinham vivido décadas inteiras em um


palá cio enorme e nã o tinham a menor suspeita de que os restos de uma
civilizaçã o antiquissima e grandiosa estavam sob seus pés.

Fizemos um intervalo e havia algo para comer. Mas eu estava


gradualmente ficando com sede e falei com Fartuloon.

42
Ele descartou o problema com um aceno de mã o. "Nã o se preocupe, meu
filho, há uma abundâ ncia de á gua lá embaixo na cidade. Á gua doce. O
sistema de abastecimento funciona ainda e perfeitamente”.

Esta informaçã o foi reconfortante, mas também vagamente deprimente.


Por que os projetistas e construtores de uma cidade viviam sob a
superfície do seu mundo quando as condiçõ es eram melhores lá em cima?
Quais as circunstâ ncias que haviam provocado o recuo para essas
profundezas subterrâ neas? E o que era mais importante, para onde eles
tinham desaparecido?

Fartuloon parecia ter lido meus pensamentos. "Sã o inú teis tais perguntas
sobre eles, Atlan. Eu rumino essas questõ es em meu cérebro há 10 anos e
ainda nã o encontrei nenhuma resposta. A cidade está aqui. Nada mais
pode ser dito. Depois que terminarmos aqui, nó s vamos dar uma olhada
em tudo por aqui”.

Depois que tínhamos descansado e satisfeito nossa fome continuamos até


a avenida e finalmente chegamos à s primeiras casas. Nada poderia me
garantir a entrada nelas para obter um copo de á gua, embora Fartuloon
indicara-nos que chegaríamos em breve a uma fonte.

Os quartos estavam decorados mesmo ainda. Eu era capaz de discernir o


propó sito da maioria das peças de mobiliá rio, enquanto outros que eu nã o
conseguia entender. Mas achei o dispensador de á gua. Quando eu apertei o
botã o de injeçã o, a á gua gelada jorrou de uma
torneira. Eu bebi até que eu nã o poder engolir mais, e a minha confiança
em Fartuloon aumentou com cada gole.

Os outros esperaram lá fora. Quase antes de me juntar a eles


recomeçamos. Fartuloon queria nos levar para um local definido que ele
conhecia de suas visitas anteriores.

"Nó s vamos encontrar abrigos, bem confortá veis, incluindo á gua e algumas
outras coisas que possam lhes interessar muito. Se tivermos sorte,
podemos até descobrir o que está acontecendo lá encima no palá cio. As
inteligências que construiram Tarkihl devem ter pensado em
tudo, até a tal ponto que um dia poderíamos usar certos artificios de
escapar daqui”.

A forma como adentramos mais longe na cidade abandonada, pelos meus


cá lculos tínhamos chegado ao seu centro. Aqui era uma praça circular,
onde muitas das ruas convergiam e fileiras de casas cercavam o local. Era o
ponto central de toda a cidade.

O céu artificial acima de nó s estava azul e o sol atô mico, agora pendurado
suspenso logo acima da praça circular. Estima-se que eu poderia estar a
cerca de 200 metros abaixo, mas eu poderia estar enganado. O "horizonte"
43
era obscurecido pelos edifícios, mas seria fá cil concluir que consistia de
paredes de rocha.

Farnathia estava entusiasmada. "Eu nunca teria sonhado que algo assim
poderia existir bem debaixo dos nossos pés. É fantá stico”!

Fartuloon esticou os braços de seu corpo e fez uma volta ao redor.

"Aqui eles viveram, os alienígenas que construíram Tarkihl.


Provavelmente a partir deste ponto governaram todo o planeta tal como o
Tatto faz hoje em nome do Grande Império. Principalmente, aqui ninguém
vai encontrar-nos e estamos seguros. E agora me sigam e vocês verã o o
quanto é bom estar preparado para situaçõ es como estas "Seu tom de voz
se tornou quase apologético quando ele acrescentou:" Naturalmente, eu
nã o conseguiria pensar em tudo".

Eiskralle emitiu um pequeno gemido de prazer. "Como é quente, amigos!


Pelo menos, o sol ficará no mesmo lugar eu espero”!

"Isso que ele faz, mas em intervalos regulares ele sai e entã o, tornar-se-á
noite e fará frio. O controle automá tico para ele está escondido em algum
lugar no fundo da rocha. Eu nunca fui capaz de localizá -lo. Deve ser
conectado à estaçã o de energia central”.

Ele nos levou a uma das casas que era uma duplicata de todos os outros.
Uma escada de largura nos levou em seu interior. Tudo aqui estava em um
estado surpreendente de preservaçã o como se os habitantes originais
pudessem estar voltando a qualquer momento, talvez de uma excursã o de
piquenique. Dois corredores ramificaram-se a partir do hall de entrada
grande, mas até agora eu nã o podia ver as portas.

Fartuloon apontou para outra escadaria. "Vamos lá para cima", disse e foi
abrindo caminho.

No segundo nível existiam portas. Fartuloon abriu uma delas e fez uma
mesura simulada como que nos convidando para entrar. "Posso mostrar-
lhe a minha segunda casa”...?

Ele e seus segredos nos confundindo! Tais eram os meus pensamentos


enquanto eu estive no aparente bastante confortá vel sala que estava cheia
de todos os tipos possíveis de mobiliá rio e artigos de equipamento.
Fratulon deve ter reunido essas coisas de todos os lugares da cidade como
se tivesse a intençã o de abrir um museu. Ele até havia encontrado algumas
armas energéticas.

Ele ficou lá e sorriu para nó s quando ficamos maravilhados com a sua


'segunda casa'. "Eu imaginei que usaria esse lugar algum dia”, ele disse
enquanto se sentava em uma estranha cadeira. "Eiskralle, feche a porta
para que nã o tenhamos nenhuma surpresa".
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Nó s também inspecionamos as salas adjacentes. Estas eram em sua
maioria nã o mobiladas, entretanto, em algumas delas havia camas ou até
berços.

Fartuloon me chamou. "A segunda porta à esquerda, Atlan. Essa é a


cozinha! "

Era uma coisa boa e me preparei para qualquer choque de surpresa. É


claro que algumas coisas na cozinha pareciam estranhas para mim, mas
pelo menos eu poderia adivinhar a sua utilidade. De qualquer forma a
torneira de á gua e em uma caixa refrigerada, descobri provisõ es
compradas em setores do Tatto à s vezes o pró prio alimento. Havia o
suficiente ali para durar vá rios meses, pelo menos.

Voltei para a sala. "Você fez um trabalho excelente ao planejar a fuga", eu


disse e também me sentei. "Você tem mais surpresas reservadas para
nó s”?

Fratulon assentiu. "Certamente, mas eu nã o prometi muito mais”?

Enquanto ainda em sua cadeira ele operou um controle remoto. Uma das
portas do gabinete se abrius. Um conjunto de vídeos estendidos para fora e
sua pequena tela iluminando de uma vez. Eu reconheci a câ mara de
conselho do Tatto.

"Como você pode ver, podemos acompanhar tudo o que está acontecendo
lá em cima. A propó sito, eu nã o trouxe este conjunto para cá . Eu encontrei-
o aqui e funcionando perfeitamente. Também pena que nã o está no
conselho agora, mas nó s vamos pegá -los mais cedo ou mais tarde”.

A tela de video escurecera e o conjunto desaparecera novamente em seu


console.

Por esta altura Farnathia também tinha recuperado de sua surpresa.


Mostrei-lhe a cozinha e os suprimentos de alimentos. Ela só conseguia
balançar a cabeça em admiraçã o.

"É como se seu pai soubesse que isso iria acontecer, Atlan! Agora estou
começando a acreditar que tudo ficará bem. Essa pessoa Sofgart nã o pode
ficar em Gortavor para sempre, se ele ainda continua vivo. Espero que ele
ainda esteja, porque o pensamento de que eu tenha matado um homem é
insuportá vel”.

"Ele nã o é um homem, ele é uma fera", disse Eiskralle, que ouvira seu
comentá rio. "Qual das camas é minha”?

Sua pergunta foi como um sinal para nó s. De repente sentimos o peso


como chumbo da fadiga em nossos corpos. Fartuloon logo distribuiu-nos
para os nossos quartos de dormir.
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4/ Os Silenciosos

O sol tinha rumado à tarde ha um bom nú mero de horas, mas eu nã o sabia


disso. Fartuloon me disse que eu havia dormido mais de 10 horas. Senti-
me descansado e correspondentemente revigorado. Os outros dois tinham
se saído da mesma forma.

Depois que desfrutamos de um café da manhã que ele preparara para nó s


Farnathia e nó s sentamos todos juntos na sala de estar. Fartuloon estava
mechendo no conjunto de vídeo e ele me ensinava como trabalhar com ele.

"Este é o seletor, Atlan. Nã o podemos apenas dar uma olhada na câ mara do


conselho, mas também alguns dos níveis superiores e inferiores de
Tarkihl”. Lá ... A nova cena apareceu na tela principal. "Essa é a Seçã o Azul”.
“Alguma coisa está acontecendo lá , você nã o acha”?

O amplo corredor estava lotado de tropas do Tatto e poucos Kralasenes.


Eles estavam ao redor como se esperassem alguma coisa. Alguns deles
usavam pacotes de couro em seus quadris, mas nã o poderia dizer se eles
continham raçõ es ou muniçõ es. De qualquer forma eles estavam todos
fortemente armados.

No fundo da escada pode ser visto que conduziram alguem para o palá cio.
Nó s também percebemos um movimento de algum tipo. Três homens
desceram para a Seçã o Azul e uma delas foi...

"Sofgart o Cego", comentou Fartuloon calmamente. "Entã o, ele sobreviveu


ao golpe que lhe deu Farnathia. Vamos logo saber o que ele está
planejando”.

Juntamente com os seus mal trajados companheiros Kralasenes chegaram


até as tropas e parou. Com uma voz coaxar ele anunciou que iria agora
efectuar uma forte busca até os níveis mais baixos e desconhecidos de
Tarkihl, a fim de capturar a trilha dos fugitivos.

E ele concluiu: "Eu quero que Fartuloon esteja vivo, bem como a menina.
Você sabe que a recompensa foi oferecida para ambos. Também é possível
que o filho de Fartuloon esteja com eles. Nã o há recompensa oferecida por
ele, mas talvez para a criatura estranha do Chretkor que deve ter matado
pelo menos um Kralasene se nã o todos os três. Onde está o homem que
será nosso guia”?

Um oficial da Guarda do Palá cio deu um passo à frente.

"Bom", disse o Cego. "Vá em frente e nos indique o caminho”.

46
Todos eles começaram a caminhar e desapareceram de nossa vista quando
eles sairam do alcance da câ mera escondida.

"Você acha que eles virã o até aqui”? Eu perguntei.

"É possível", respondeu Fartuloon pensativo. "Aquele cachorro cego do


inferno nã o tem medo de tentar nada”.

"O que podemos fazer contra eles”?

"Se eles nos encontrarem, teremos que escapar de novo, meu filho. Eu
conheço um caminho que leva ainda mais profundamente em Tarkihl, mas
nã o vamos encontrar cidades mais ou mesmo conforto. Seria uma boa
idéia preparar quatro embalagens de suprimentos para que nã o
perdessemos tempo, se eles chegarem até aqui. Essa é uma tarefa para
você, Farnathia. Eu vou dar uma olhada no sistema de alerta que eu
encontrei aqui antes. Pode ser possível e necessá rio ativá -lo novamente”.

Eu nã o fiz mais perguntas. Fartuloon, sem dú vida, conhecia melhor o que


teria de ser feito. Enquanto ele estava ocupado em outro lugar eu me
sentei diante do conjunto de vídeo e logo descobri a extensã o de sua
cobertura. Para minha surpresa descobri que havia
câ meras escondidas sequer tinham sido instaladas em nossos alojamentos
anteriores. Depois que eu vi corredores em níveis mais baixos de Tarkihl
que estavam vazios e desertos. Infelizmente eu nã o era experiente o
suficiente para continuar sistematicamente com a busca visual.

Entretanto, Eiskralle fez uma turnê de exploraçã o através da cidade e


voltou com um tesouro de saques que ele pretendia levar com ele. Fiquei
espantado com todas as coisas que ele tinha encontrado.

Pouco antes do crepusculo de nosso sol sintético, Fartuloon retornou. "Eu


acho que ele vai funcionar", disse ele. "Se eles vêm para a cidade que terá
de ser pela mesma rota que seguimos e uma câ mera está instalada lá . A
ú nica coisa necessá ria de agora em diante é que um de nó s terá sempre de
estar vigiando a tela principal. Assim que o Cego e seus homens se
tornarem visíveis nela teremos uma folga de meia hora. Eu tomarei a
primeira vigília”.

Fiquei profundamente decepcionado que nossa trégua estava terminando


tã o cedo, mas por outro lado eu sabia que nã o podia ficar aqui para
sempre.

Depois que Farnathia adormeceu, fui para meu quarto. Eiskralle ainda se
sentou na cama e foi vasculhar a sua coleçã o de tesouros. Eu sorri para ele
brevemente e se deitou na minha pró pria cama.

47
****

Sofgart o Cego e suas tropas apareceram dois dias depois.

Eiskralle tinha o reló gio na hora que os viu na tela principal. Fartuloon
mandou-nos para pegar os pacotes de alimentos e armas e nos
prepararmos para a escapada. Ele nos deu 10 minutos, nã o mais.

O inimigo ficou visível apenas por um curto período de tempo na tela


principal e depois saiu do alcance da câ mera.

"De qualquer forma", disse Fartuloon, “eles levaram dois dias para cobrir
esse trecho relativamente fá cil. Eles estarã o exaustos, mas, claro, a visã o
da cidade pode reanimá -los a novos esforços. No entanto, a partir de agora
eles nã o serã o capazes de seguir as pistas se tivermos o cuidado para nã o
deixar nenhuma evidência para trá s. A cidade tem uma dú zia de saídas que
levam a direçõ es diferentes. Nó s tomaremos o caminho mais difícil”.

"Fartuloon, mas”... Eu comecei a objeçã o, mas ele me interrompeu.

"Você tem que confiar em mim! Eu sei exatamente o que estou fazendo. A
principal coisa é nos livrarmos de nossos perseguidores. Eu nã o gosto de
deixar a cidade mais do que você, mas é inú til continuar tentando se
esconder aqui, porque mais cedo ou mais tarde eles nos encontrarã o”.

"Além disso”, disse Eiskralle, "os hiperespiõ es terã o que perder pelo
menos uma semana para fazer uma busca completa na cidade. Por esse
tempo estaremos sobre as colinas e bem longe”.

Fartuloon assentiu. "Isso sobre as colinas nã o se encaixa na imagem, é


claro, mas caso contrá rio, você está perfeitamente certo. Vamos ganhar
tempo e tenho certeza de que vamos encontrar um novo esconderijo. Eu
tenho algo definido em mente, mas primeiro eu gostaria de explorar outra
possibilidade”.

Nó s olhamos para ele interrogativamente, mas ele balançou a cabeça e


ficou em silêncio. Eu sabia que era inú til tentar obter mais alguma
informaçã o dele no momento.

Pegamos nossos fardos e saimos de casa. Daquele ponto em diante nó s


tomamos cuidado para nã o deixarmos o menor vestígio para trá s. Pode
haver pouca dú vida de que eles iriam encontrar a casa, mas depois eles
teriam que concluir que haviamos desaparecido no ar. Sem qualquer pista
sobre a direcçã o da nossa escapada o que podia fazê-los perderr mais
algumas semanas tentando descobrir nossa pista.

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Eiskralle ter se referido á s colinas nã o foi muito distante da verdade na
medida em que todas as ruas que conduziam para a periferia se
mostravam como aclives suaves em direçã o ao ‘horizonte’. Fartuloon nos
manteve de forma constante em um ritmo rá pido, mas cumpriu com a sua
insistência, uma vez que percebi que ele conhecia melhor quanto de tempo
que dispunhamos. Entramos num tú nel, que em declive acentuado descia
através da rocha só lida para o submundo desconhecido, e quando
está vamos bem dentro dele Fartuloon pediu uma parada.

"É melhor que vocês tomem um bom fô lego aqui", disse ele. "Ainda temos
um longo caminho a percorrer”.

Voltou sobre seus passos até a entrada do tú nel, que era outra das vias
veiculares. Ele espiou com cuidado e olhou para trá s em direçã o à cidade.
Segui e me juntou a ele, incapaz de conter a minha curiosidade por mais
tempo. Farnathia e Eiskralle se sentaram na pedra do meio fio fronteira
com a estrada.

"Vê alguma coisa?" Eu perguntei em voz baixa.

Ele balançou a cabeça sem olhar para mim. "Eu os vejo em pé lá em frente
a nó s, a 2 km de distâ ncia. Pela primeira vez em suas vidas eles estã o
olhando para esta cidade. Eu gostaria de saber o que eles estã o pensando
agora”.

Os perseguidores nã o eram nada mais que partículas minú sculas como


eram vistos a partir de nosso ponto de vista. Eles mal se distinguiam no
contexto das paredes rochosas da caverna gigantesca. No entanto, eu
podia vê-los, embora nã o em detalhe. Vi-os sobre os telhados da cidade,
que estava em uma depressã o. Apenas pequenos pontos que se moviam
com entusiasmo aqui e ali.

"A cidade vai atrasá -los e muito", eu sussurrei, embora a esta distâ ncia de
mais de dois mil metros nã o poderiam ter me ouvido. "Fartuloon, você nã o
dirá para onde estamos indo”?

Ele sorriu por um momento, mas depois ficou sério. "Tudo bem, eu vou te
dizer. Vamos a algumas á reas de Tarkihl que também sã o desconhecidas
por mim”.

Eu fiquei tenso. "Desconhecidas? Entã o como é que vai nos guiar, se você
nã o conhece qualquer passagem secreta ou o destino a que chegaremos”?

"Eu conheço uma parte do caminho e eu li a descriçã o do restante. Nó s


vamos ter que ir de acordo com essas diretrizes”.

"Descriçã o”? Aqui estava aquele lado dele de novo misterioso que me
obrigaram tantas vezes a perguntar para ele. "Onde você encontrou uma
descriçã o de coisas que é supostamente desconhecida”?
49
"Entre milhares de livros na biblioteca do Tatto está lá um em particular
que me deparei. Ninguém parece ter notado o seu conteú do, exceto eu
mesmo. Eu li isso. Ele contém toda a planta de Tarkihl e também as rotas
de fuga para fora da mesma. É claro que algumas coisas que ele continha
nã o ficaram totalmente claras para mim. E também você tem que lembrar
que o livro é muito antigo. Desde que foi escrito lá poderia ter havido
algumas alteraçõ es feitas, seja pela natureza ou pelo homem. Uma coisa
que é certa, ele foi escrito por Arcô nidas e nã o pelos construtores de
Tarkihl".

Pareceu-me ser muito imprová vel que ninguém tenha descoberto este
livro além de Fartuloon. Poderia ser possível para um livro permanecer
em uma biblioteca sem nunca ter sido lido, durante décadas?

Longe de toda a cidade os pequenos pontos se organizaram e começaram


sua marcha em direçã o ao centro. Eu poderia muito bem imaginar o
humor presente e o estado de espírito dos nossos perseguidores, entã o eu
nã o os invejava.

Fartuloon me afastou com ele. "Temos que ir em frente. Seria insensato


espiá -los daqui para ver o que eles fazem. E nã o se esqueça: é preciso nã o
deixar nada atrá s de nó s que possa dar-lhes qualquer pista sobre qual
caminho que tomamos”.

Eiskralle começou a ter problemas sérios quando começou a jogar fora


algumas das primeiras peças de sua coleçã o de curiosidades. Fartuloon
lembrou-o severamente e brevemente a tarefa e enfatizou que ele tinha
recebido advertências suficientes. No entanto, ele prometeu que uma
oportunidade em breve apresentar-se-ia para o descarte de toda a
bagagem supérflua.

A pista tubular terminou antes de uma parede de pedra.

Perguntei Fartuloon qual a finalidade dessas passagens de veículos


poderia ter se todos eles simplesmente terminavam em algum lugar. Ele
sugeriu que havia duas possibilidades: ou os construtores de Tarkihl
tinham planejado uma extensã o continuada deles originalmente, mas
foram incapazes de completá -los ou entã o essas paredes de pedra lisa que
vemos para os pontos terminais eram nada mais do que camuflagem.
Talvez as estradas continuassem a frente do outro lado.

Aqui está vamos no profundo coraçã o de Tarkihl que ainda retinha os seus
segredos.

Farnathia e Eiskralle seguiam logo atrá s de nó s quando Fartuloon


descobriu uma passagem lateral estreita que ficava atrá s de uma porta
secreta. Aparentemente, ele tinha sido capaz de encontrá -la apenas com
base na descriçã o que tinha lido, pois nã o poderia presumir que qualquer
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um poderia ter até mesmo suspeita da presença da porta sem ter tido
instruçõ es anteriores.

Aqui, no entanto, nã o havia luz. Nó s tivemos que ligar uma de nossas


lanternas. A forma como conduzia acentuadamente em declive. Tornava-se
cada vez mais difícil para eu imaginar que poderíamos descer muito mais
profundamente sob a crosta do planeta. De acordo com meus cá lculos já
está vamos, pelo menos, mil metros sob a superfície de Gortavor.

Finalmente chegamos a um lugar onde a passagem aumentou em um


grande salã o ou caverna. Por causa do nú mero limitado de luzes a nossa
mã o, parecia estender-se infinitamente diante de nó s.

E aqui se deu o primeiro encontro com uma forma de vida que existia
nessas profundidades.

****

Eu ouvira falar dos ‘Garçons Mudos' antes, mas nunca obtera qualquer
informaçã o mais pormenorizada sobre eles. Apenas uma vez em minha
vida eu encontrei uma criatura dessas. Foi em uma das caminhadas na
minha exploraçã o por Tarkihl, mas eu tinha fugido apenas tã o afibado que
nem a observara direito, era uma forma esférica e desconhecida.

A partir de relatos que havia ouvido Eu sabia que ao mesmo tempo eles
haviam frequentado a superfície de Tarkihl com muito mais
frequentemente no passado. Seu propó sito sempre fora uma espécie de
impulso instintivo em servir o Arcô nidas, que nã o tinham nenhum
interesse em aceitar tais serviços. Isso porque eles, sempre a realizavam
tarefas, que nã o fazia sentido para ninguém.

Farnathia soltou um grito de medo quando o foco de luz da lanterna em


relance revelara esferas, sem rosto e pá lido, carregados por duas aranhas
de pernas finas. Outros quatro tentá culos igualmente finos pendiam no ar
como se numa tentativa de se comunicar conosco pela linguagem de sinais.

Fartuloon deu uma pasada. "Os Servos Silenciosos", disse ele calmamente.
"Nã o sã o perigosos, mas podem tornar um problema, porque à s vezes eles
ficam no meio do caminho. Aparentemente, eles sã o criaturas que uma vez
serviram os construtores desconhecidos de Tarkihl e sobreviveram a seus
mestres. Nã o temos que temê-los porque sã o inofensivos. Por outro lado,
eles nã o vã o ser de nenhuma ajuda para nó s, porque nã o há como se
comunicar com eles”.

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Farnathia segurou meu braço com tanta força que quase gritei de dor. "Os
Servos Silent”! Exclamou ela. "Já ouvi falar deles”...

"Você nã o deve temê-los", eu assegurei-lhe. "Eles sã o inofensivos e só


querem servir-nos. Mas eu ouvi dizer que ser servido por eles pode ser
desvantajoso e à s vezes até perigoso”.

Havia mais deles. As formas esféricas passavam flutuando por nó s em uma


espécie exó tica de movimento, aparentemente irreal em sua aparência. O
que eles vivem aqui em baixo onde nã o havia comida nem luz? Eles eram
capazes de viver no escuro e se multiplicar ou eram imortais?

A terceira esfera apareceu depois uma quarta e uma quinta... Logo


está vamos cercados por dezenas delas e todas elas queriam carregar os
nossos pacotes. Fartuloon deu ordens que nã o fossem liberarados nenhum
de nossos pacotes de comida para eles em qualquer circunstâ ncia. No
entanto, ele disse para Eiskralle: "Dê-lhes seus saques que você está
carregando. Tenho certeza que vã o conseguir perder tudo em algum lugar
e entã o estaremos nos livres deles”.

Relutantemente Eiskralle lhes permitira aliviá -lo de seu fardo. Os Servos


Silenciosos rapidamente tomaram todas as lembranças dele as quais havia
reunido na cidade e ansiosamente correram com elas sobre suas pernas
muito finas. Eu poderia muito bem imaginar que o mesmo teria acontecido
com nossos pacotes de alimentos se tivéssemos entregues aos tais
fantasmas bolha obsequiosos.

Fantasmas!

Finalmente percebi porque todo mundo lá em cima em Tarkihl acreditava


em fantasmas. A superstiçã o era sem dú vida relacionada com esses
misteriosos seres que haviam sobrevivido a seus antigos senhores.

"Temos que nos livrar deles", disse Fartulpon. "Mas como”?

"Nã o podemos utilizá -los a nosso favor de alguma maneira”? Eu perguntei.

"Podemos pensar em algo, mas como podemos fazer-nos entender por


eles? Talvez pudéssemos enviá -los para a cidade e deixá -los cuidar do
Sofgart o Cego e sua tropa”.

"Isso certamente os atrasaria", comentei, mas nã o consegui pensar em


qualquer outra soluçã o para o problema.

Farnathia me levou para um lado. Senti que alguma coisa estava


preocupando ela. "O que é Farnathia? Você quer me dizer alguma coisa”? _
"Promete nã o me zoar”? Eu nã o tinha a menor idéia do que ela estava
falando. "Claro que nã o, mas nã o me deixe curioso. O que tem em mente”?

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Ela tateou alguma coisa no bolso de seu casaco e, em seguida, puxou para
fora. Era um rolo de fita marcadora. Na verdade, era...

"Marcador de trilha, Atlan. Eu deixei uma linha guia atrá s de nó s, nã o para


aqueles que nos perseguem, mas para a nossa pró pria segurança. Nó s
nunca sairíamos daqui se alguma coisa acontecesse a seu pai. É por isso
que eu comecei a desenrolar o fio quando começamos a sair da cidade”.

Mesmo se eu descrvesse meu susto e minha reaçã o naquele momento,


ninguém seria capaz de imaginar a sensaçã o de horror que tomara conta
de mim. Está vamos perdidos, porque era praticamente impossível para os
nossos perseguidores nos perder era só pegar a outra extremidade do
marcador. E tudo que eles tinham de fazer era segui-lo. E nos aprisionar
onde quer que estejamos.

"Como você pode fazer uma coisa dessas”? Eu perguntei em voz baixa.
"Nem Eiskralle percebeu”?

"Ele estava até me ajudando, à s vezes", confessou.

Minha mente em raciocínio corria velozmente. Uma coisa era certa que
tínhamos que nos livrar do marcador que havia sido colocado pelo
caminho. Mas qual dentre nó s iria refazer o longo caminho que tinhamos
percorrido a fim de recolher o fio revelador?

"Temos que dizer isso para Fartuloon".

"Estou com medo”! Ela protestou.

Apesar do meu amor por ela isto nã o fez diferença para mim. Nossas vidas
estavam em jogo. "Espere aqui, Farnathia. Eu vou fazer isso por você, e nã o
tenha medo. Eu acho que seu marcador de trilha será a nossa salvaçã o
destes Servos Silenciosos".

Fui ao meu pai adotivo e relatei-lhe o que Farnathia havia feito em sua
ansiedade. No começo, ele ficou irritado, mas depois quando mencionei os
Servos Silenciosos seu rosto se iluminou. Eiskralle estava conosco e nos
brindou com seu sorriso vítreo.

"Essa é a soluçã o!", Exclamou Fartuloon. Ele pegou a ponta fita marcador
que Farnathia lhe entregou e foi até para o pró ximo Servo Silencioso.
"Enrole!", Disse ele lentamente e de forma muito clara. "Você pode
entender isso? Enrolá -lo”! Ele demonstrava por meio de mímica por alguns
metros e, cuidadosamente, coletando na forma de um novelo como uma
bola. "Basta manter e seguir o fio até chegar à cidade”.

Foram necessá rios alguns minutos para que as apariçõ es esféricas


entenderem o que ele queria deles. Se eles fossem realmente seres vivos,
robô s ou talvez até mesmo andró ides com cérebros orgâ nicos, o fato é que
eles tinham sido ou programados ou treinados para uma obediência
53
absoluta. Alguns deles voltaram correndo para o corredor e pegaram a
corda, enquanto outros tomaram a bola original e ajudaram a coletá -la
novamente. Eles desapareceram silenciosamente na escuridã o.

Fartuloon deu um suspiro de alívio e entã o voltou sua atençã o para


Farnathia. "Minha querida, saímos de raspã o nessa enrascada, mas se você
tiver um desejo no futuro para fazer algo por conta pró pria é melhor você
me consultar primeiro. Você me promete”?

Ela assentiu com a cabeça. "Eu prometo".

"Muito bem! Os Servos Silenciosos terã o bastante trabalho e voltarã o atrá s


sobre nossas pegadas, até recolherem tudo. A fita vai levá -los de volta à
cidade e eles vã o atender nossos perseguidores. Eu posso imaginar o
choque que terã o, ao vê-los. Eu só espero que eles nã o matem muitas
dessas bolhas animadas e inofensivas”.

Farnathia ficou tenso de repente com a consciência do fato assustou-se.


"Eu nã o tinha pensado nisso”!

Ele fez um gesto com a mã o. "Nã o se preocupe, eles vã o se defender, os


Servos Silenciosos. Eu sei que eles sã o capazes disso, mas nã o me pergunte
como”.

Ele parecia saber de tudo, mas ainda nã o estava disposto a revelar para
nó s.

No entanto, eu logo estava distraído com meus pensamentos sobre a forma


como ele lidou com os silenciosos porque alguns deles tinham ficado para
trá s e começaram a se agrupar ao nosso redor novamente. Fartuloon se
manteve apontando para a passagem que levava à cidade. Ele fez sinais
com as mã os, imitando o movimento de enrolar o fio, e repetia o gesto até
os 'garçons mudos’, como Eiskralle os chamava, foram forçados a acreditar
que essa era a tarefa mais importante do universo.

Eles também desapareceram na direçã o da cidade e, finalmente,


está vamos a só s novamente. Continuamos o nosso caminho, o que levava
cada vez mais fundo rumo ao desconhecido. Muito à frente em algum lugar
eu pensei ouvir ao longe, o som de uma cachoeira.

5/ O Mar da Escuridão

Ao longe, quanto mais nos aproximá vamos mais alto o barulho se tornava.

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Eiskralle começou a tremer quando ficou mais frio. Finalmente ele parou.
"Eu vou espatifar em pedaços, Fartuloon, porque estamos andando em
uma galeria de gelo. Isso nã o é bom para minha saú de”!

Até Mesmo Fartuloon fez uma parada, juntamente com Farnathia e eu.
"Galeria de Gelo”? Ele repetiu as palavras, pensativo. "Nã o, isso nã o é uma
caverna de gelo, Eiskralle. Estamos, provavelmente, aproximando-nos do
reservató rio de á gua que fora deixado pelos construtores de Tarkihl. Ele
tem pouco a ver com gelo”.

"Fartuloon, você sabe que grandes diferenças de temperatura”...

"Estou ciente disso, mas mantenha a calma. Uns poucos graus de diferença
nã o quebrarã o você. A variaçã o térmica é muito pequena”.

Nó s seguimos em frente.

Eu nã o conseguia me livrar da sensaçã o de que eu tinha estado aqui antes


(dejavu), ou pelo menos em um lugar semelhante. Era uma memó ria que
emergia meio adormecida de meu subconsciente, mas eu nã o me atrevi
perguntar a Fartuloon sobre isso. Ele parecia estar muito compenetrado
na tarefa de reconhecer sinais que ainda estavam em sua pró pria
memó ria. Se o perturbasse em sua concentraçã o agora poderíamos errar e
isso seria nosso fim. Eu tinha certeza que eu nunca seria capaz de
encontrar a saída ou o caminho sozinho.

O piso tornou-se ú mido e escorregadio ao passo que antes tinha sido seco
como areia. Eishralle choramingava e repreendia a si mesmo o tempo todo
e a cada 5 minutos previa sua pró pria morte. Felizmente, porém,
estavamos acostumados a seus caprichos e fomos capazes de ignorar a sua
tagarelice.

Um fenõ meno muito natural é o que ocorria aqui. Uma grande quantidade
de umidade infiltrara-se na rocha que nos envolvia no tú nel, elevando o
nivel de umidade do ar, o que retirava calor dos corpos, entã o eu e
Farnathia sentíamos muito frio, assim tirei meu casaco e o coloquei acima
do seu. Apó s uma pequena pausa nó s continuamos sem mais interrupçã o.
Apesar do frio eu sentia sede. Desde que deixamos a cidade que nã o tinha
uma gota de á gua para beber.

O caminho se alargava, e seu teto arqueado acima de nó s. Joguei o feixe da


lanterna ao longo das paredes. Elas eram lisas, quase polidas, mas elas
eram feitas de rocha em vez do metal semelhante ao bronze que eu estava
acostumado a ver nos níveis superiores. Aqui em baixo nã o havia dú vida
de que a natureza tinha sido a arquiteta, mesmo sabendo que os
alienígenas tivessem surgido mais tarde, e ofereceram melhorias.

Fartuloon parou tã o de repente que eu passei por ele.

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"Vamos em breve atingir o grande lago subterrâ neo", ele disse, quando
começou a desembrulhar os pacotes de comida. "Vamos fazer uma pausa”.

"Eu tenho duas perguntas", disse Eiskralle ansiosamente.

"Entã o, faça-as, agora é a hora”.

"E você vai respondê-las”? Perguntou o Chretkor cheio de dú vida.

"Pelo menos vou tentar”.

"Tudo bem entã o”... Eiskralle mastigou a comida com sua boca
transparente. "O que vem a ser esse grande lago que você mencionou”?

"Nada de extraordiná rio, na verdade, apenas uma grande quantidade de


á gua".

Ice Garra engoliu audivelmente. "Bem, que é á gua eu percebi, mas nã o há


mais nada”?

"Necessariamente tã o somente”, Fartuloon respondeu com uma pitada de


ironia. "E haverá certamente uma linha costeira, por onde poderemos
caminhar".

"Ah! Possivelmente praia, também! Que o torna um lago normal, certo. E


quando chegarmos lá do outro lado, entã o o que faremos”?

"Nã o sei", respondeu Fartuloon. "Só sei do lago, eu mesmo, a partir das
descriçõ es que li. O que estamos ouvindo deve ser a cachoeira que o
alimenta. Que se coaduna com a descriçã o".

Comemos do nosso suprimento de alimentos, sem saber quanto tempo


duraria. Percebi que Farnathia nã o estava comendo qualquer coisa e fui
para seu lado.

"Nã o está com fome, Farnathia”?

Ela balançou a cabeça. "Tudo é tã o... tã o estranho e inesperado. Essas


cavernas aqui sã o proibidas e se parecem com lugares sagrados, talvez.
Sinto algo sinistro, me parece que todos terã o que morrer”...

Confortei-a dizendo: "Nã o, Farnathia, nã o vamos morrer. Você acabou de


ser forçada a pensar dessa forma porque os antigos criadores querem que
as pessoas ao penetrar nessas partes, sintam-se dessa forma. Eu nã o sei,
eu mesmo, por que é assim. Pode ser uma tradiçã o que veio a ser mal
interpretada”. Voltei-me para Fratulon. "O que você sabe sobre isso”?

Ele balançou a cabeça. "Você pode estar certo, Atlan. Tradiçõ es sã o muitas
vezes falsamente interpretadas. Isso acontece em todos os mundos”.

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Farnathia conseguiu comer alguma coisa, embora com esforço. Senti-me
mais sedento do que nunca. Finalmente, depois de horas, pareceu-me,
Fratulon deu-nos um sinal para que desmontá ssemos o acampamento. Nó s
arrumamos nossas mochilas e seguimos. Agora ele estava carregando a
lanterna e avançava muito lentamente. A cada passo o som estrondoso
aumentava. Eu pensei que já podia sentir a umidade no ar. Eiskralle, que
mantinha a retaguarda, ficava resmungando que simplesmente nã o
suportaria mais e que a qualquer momento quebrar-se-ia todo em uma
nuvem de gelo.

E entã o o nosso caminho terminou tã o de repente que eu quase tropeçei e


cai. Se Fartuloon nã o tivesse pegado minha mã o, provavelmente eu cairia
na á gua, porque a linha costeira era de apenas de 2 metros de largura.

Diante de nó s estava o mar subterrâ neo.

No primeiro momento parecia que está vamos mais uma vez diante de uma
cidade, exceto que agora era de á gua. A caverna possuía dimensõ es
semelhantes e o mesmo tipo de céu artificial em arco acima dela com um
sol atô mico em seu centro. Claro que brilhava só muito vagamente agora,
como se fosse noite de acordo com a programaçã o automá tica, há muito
tempo, inserido.

À nossa direita uma cachoeira gigante mergulhava e criava um


redemoinho mortal um como que de fú ria em espumas. As ondas rolavam
pelo lago e lavavam a costa plana há um pouco mais de dois metros de
distâ ncia.

Fartuloon confirmou minhas suspeitas quando ele falou: "É só uma


hipó tese particular, mas penso que havia uma cidade aqui também no
passado remoto, mas fora inundada devido a alguma catá strofe natural.
Deve ter acontecido bem antes doo livro ter sido escrito porque só o lago é
mencionado nele. Para ser franco com vocês, eu estou em dú vida quanto
para onde ir a partir daqui. Mas pelo menos nã o estamos mais com
escassez de á gua. Atlan, eu pensei que você estivesse com sede”...

Tirei meu pacote e andei sobre a costa rochosa. A á gua era relativamente
suave e as ondas se esgotavam na borda, suavemente. Com a minhas mã os
em concha peguei o líquido freco e bebi. Ele tinha um gosto bom e muito
agradá vel. Os outros, logo, seguiram meu exemplo. Depois disso fomos em
frente, rentes à parede do penhasco à nossa esquerda e do lago à nossa
direita, até chegarmos a um local protegido, que era relativamente seco. Os
fragmentos de rocha em torno de nó s serviam como bancos improvisados
e sentamo-nos.

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Eiskralle se esquecera dos seus medos e perguntou: "E o que acontecerá
daqui em diante, Fartuloon? Você leu este livro misterioso que nenhum de
nó s conheceu. Você voltará a levar-nos de volta à luz do dia”?

Fartuloon olhou penetrantemente para ele e depois sorriu. "Você está com
frio”?

Considerei a pergunta como uma tá tica diversionista, mas no momento eu


tinha outras preocupaçõ es. Farnathia estava com o corpo trêmulo entã o a
aconcheguei junto a mim, como que lhe ofertando protecçã o e calor. Eu
coloquei um braço em torno dela.

"Claro que eu estou com frio, Fartuloon!" Retrucou o Chretkor. "Mas eu lhe
fiz uma pergunta”.

"Você quer dizer, aonde vamos daqui? Eu tenho que me lembrar de onde,
Eiskralle. Eu só li partes do livro e na época eu nã o sabia que necessitaria
desse conhecimento tã o de repente. Mas você pode ter certeza que vamos
encontrar o limite”!

“O limite? O que seria”?

Fartuloon epa sua expressã o facial parecia indicar que ele tinha falado
demais. "É uma designaçã o para algo que eu li no livro. Eu nã o sei o que
isso significa, mas em qualquer caso, é provavelmente uma saída. Este lago
é uma das estaçõ es que foi indicada ao longo do caminho. Entã o,
aparentemente estamos no caminho certo”.

"Por que é chamado o limite?" Persistiu Eiskralle.

"Eu realmente nã o sei", Fartuloon repetiu.

Isso foi tudo que Eiskralle conseguiu tirar dele. E eu nã o estava disposto a
tentar fazer mais.

Farnathia aconchegou-se a mim. Ela nã o tremia tanto quanto antes. O calor


do meu corpo estava é claro fazendo-lhe algum bem. Eu estava feliz por
estar tã o perto dela. A julgar pelos olhares que ela me deu, ela
compartilhava de meus sentimentos.

Depois de algum tempo Fratulon disse: "Nó s temos que seguir a costa pela
esquerda até encontramos a ú nica passagem que leva de volta para
Tarkihl. Depois disso vamos chegar ao Rio Só rdido, pelo menos, é assim
que o livro se refere a ele. Eu nã o posso imaginar o porquê”.

Rio Lamacento... Poderia ser uma traduçã o equivocada, no caso da escrita


original estar em outra língua.

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"E sobre o lago"? Perguntou Eiskralle. "É cada vez reabastecido com á gua
como se houvesse também uma reserva. Em algum lugar ele deve chegar à
superfície novamente”.

"A parte sobre um reservató rio é verdade", admitiu Fratulon, “mas nã o se


esqueça de que estamos a mais de mil metros sob a crosta. Como poderia a
á gua subir à superfície? É muito prová vel que se perde nas profundezas de
Gortavor e se vaporiza no nú cleo líquido quente ou entã o é trazido de
volta acima por algum tipo de sistema de bombeamento. Eu nã o tenho
qualquer desejo de ficar preso em qualquer dispositivo, como isso”.

Ele estava certo de novo a esse respeito, mas nossa situaçã o era
desesperadora, a menos que ele pudesse encontrar um caminho. O que
seria esse limite ao qual tinha acabado de se referir?

"Nã o poderíamos, pelo menos, acender um fogo”? Murmurou Eiskralle.

"Infelizmente nã o temos qualquer lenha”, eu disse enquanto puxava


Farnathia para mais perto de mim. "De qualquer forma, eu nã o estou com
frio".

"E eu acredito”! Respondeu ele com um olhar irô nico.

Eu me senti com vontade de descartá -lo no lago, mas em vez disso, virou-
se para Fartuloon. "Para onde vamos primeiro”? Eu perguntei.

"Depois que do descanso, vamos tentar encontrar a passagem do outro


lado do lago. Entã o vamos ver aonde vamos em seguida”.

Eu tinha perdido a noçã o de noite ou de dia. É claro que ainda tinhamos os


reló gios, mas o tempo tinha perdido qualquer significado aqui. Tempo era
sentido em termos de distâ ncia percorrida e, relacionado com a fome,
sede e cansaço.

Fartuloon foi o primeiro a ficar de pé. Ajudei Farnathia a levantar-se.


Apesar dos meus protestos, ela insistiu em dar o meu casaco de volta. Ela
alegou que seu manto a mantinha bastante aquecida.

Na mesma velha formaçã o, continuamos nossa marcha. O caminho ao


longo da costa nã o apresentava qualquer alteraçã o, na verdade, a nã o ser
um pequeno estreitamento. Mas a batida das ondas contra a costa morria
abaixo mais e mais à medida que nos afastavamos da cachoeira. O sol
atô mico quase completamente apagado fornecia bem pouca luz, mas era o
suficiente para que nã o tivéssemos de usar lanternas. O outro lado do lago
fundia-se em sombras e escuridã o de forma indiferenciada no crepú sculo
do submundo.

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À nossa frente à margem fez uma curva acentuada e apareceu uma saída,
como se apó s uma entrada. Notei que Fartulron de repente aumentou o
passo como se tivesse reconhecido outro sinal mencionado no livro.

Era realmente um braço do lago, mas agora o nosso caminho conduzia a


um patamar destacado que me lembrou de uma entrada de casa com
terraço. E até mesmo a entrada da pró pria estava lá .

Fartuloon guiou-nos até lá e depois parou. "É isso aí”! Exclamou como que
aliviado de um fardo pesado. "O caminho para o Rio Mucky”!

"Se nã o atolarmos na lama", aventurei-me a intervir.

Ele nã o tomou conhecimento do comentá rio á cido, mas apenas ativada a


lanterna e seguiu em frente. Para melhor ou para pior o seguimos sem o
quaisquer explicaçõ es adicionais.

Aqui, o piso e as paredes do tú nel se mostravam como se a á gua tenha


escorrido através dele por um longo período de tempo. As marcas da
erosã o pela á gua eram fá ceis de reconhecer. Talvez isso tivesse sido no
passado um afluente para abastecer o lago.

"Droga está frio aqui”! Reclamou Eiskralle atrá s de mim.

Parei e virei para ele, exasperado: "Você sabe que eu estou começando a
me irritar com você, meu pequeno amigo. Apesar dos nossos conselhos
para que você se agasalhe e se aqueça, continua correndo e caminhando
quase nu. Nã o é de admirar que você esteja congelando. Agora mantenha a
boca fechada, poderia"? É verdade que eu estava sendo um pouco duro
com ele, mas sua tagarelice eterna e queixumes contínuos nos lembravam
de sempre do quanto realmente estava frio.

"As roupas nã o têm comigo serventia ou qualquer finalidade ", explicou.


Na verdade, ele começou com uma explicaçã o relativa à sua enorme
diferença de metabolismo conosco, mas eu o silenciei com um gesto de
impaciência.

Longe de se preocupar com o nosso diá logo, Fartuloon se tinha


impulsionado diligentemente. O tú nel fez vá rias voltas até que finalmente
nos deparamos com os restos de uma escada que havia sido, em parte,
lavada. Esta foi uma indicaçã o positiva de que a passagem tinha existido
antes da catá strofe. Nó s continuamos diante, escorregando e deslizando na
escada que eram somente escombros praticamente, no presente.

Pelo menos, nos aquecemos com o esforço desprendido, mas é claro


Eiskralle entã o prosseguiu a reclamar de todos os esforços.

De repente Fartuloon parou e sua lanterna iluminou as paredes como se


estivesse à procura de algum sinal definido ou um marco. Eu nã o poderia
60
imaginar que a á gua teria deixado qualquer vestígio ou marcas aqui, mas
entã o me lembrei de que Fartuloon afirmou que o livro havia sido escrito
apó s a catá strofe.

"Aha, aí está ela”! Exclamou e dirigiu o foco de luz a um sinal marcado na


parede. "Exatamente como descrito. Essa marca deve ter sido feita pelo
pró prio autor”.

"Ah sim, mas o que sigifica o sinal”? Perguntei-lhe assim que estudei a
gravura incompreensível. Havia duas linhas onduladas que se pareciam
grá ficos senoidais.

"Descobriremos em breve", disse ele com seu típico ar de mistério. "Agora


eu ainda tenho que encontrar o mecanismo”...

Retrocedemos alguns passos para dar-lhe espaço como ele necessitava ao


longo da parede rochosa. Por um momento, fui invadido por um
pensamento terrível. O que aconteceria se tivéssemos sido meramente
atraídos para uma armadilha mortal? E se por trá s da porta escondida nã o
houvesse nada, mas somente o fundo de outro lago? Que despencaria
sobre nó s e nos arrastaria ao afogamento.

No entanto nã o houve nenhum tempo adicional para tais reflexõ es.

A parede se abriu e nã o derramou á gua a partir da abertura. Um sopro de


ar quente praticamente nos atingiu e atrá s de mim ouvi Eiskralle emitir
um gemido de prazer. Em toda parte o sistema de ventilaçã o em Tarkihl
funcionava perfeitamente, ou muito antes disso teríamos sufocado. Em
algum lugar nas profundezas todas as má quinas devem estar trabalhando
continuamente, como fora ha eras sem fim, programadas para fazer.

"Esperem aqui", disse-nos Fartuloon. "Eu vou à frente, mas nã o me sigam


até eu chamá -los”. Sem esperar nossas objeçõ es ele desapareceu através
da abertura na rocha.

Ficamos onde está vamos e vimos uma das lâ mpadas acender do outro
lado. A porta secreta nã o dera nenhum sinal de que iria se fechar
novamente. Eu ainda podia ouvir os passos de Fartuloon por algum tempo,
até desaparecerem.

"Por que ele está indo na frente sozinho”? Sussurrou Farnathia


ansiosamente.

"Talvez ele suspeite que haja algum perigo em determinados lugares lá


dentro, e ele quer verificá -los primeiro", eu disse a ela. "Ele voltará logo".

Nó s nã o conversamos muito porque nã o havia nada o que dizer. Só


podíamos esperar por Fartuloon retornar. E, finalmente, ouvimos seus

61
passos novamente. Pouco tempo depois vimos à luz de sua lanterna e lá ele
ficou diante de nó s.

"Venham”! Disse secamente. "Demos um grande passo à frente em nosso


caminho”.

Uma vez que estavamos dentro da nova passagem que ele acuionou a
fechadura deslizante da porta de rocha atrá s de nó s, de modo que nenhum
perseguidor seria possível de nos rastrear. Entã o, ele assumiu a liderança
novamente.

"Antes de chegarmos ao Rio Mucky temos que passar por inú meras
câ maras. Eu dei uma olhada em algumas delas agora. Estou imaginando
que elas sã o o que resta de zonas de barreiras antigas ou quem sabe,
algum tipo de laborató rios experimentais. O livro também os menciona,
embora, naturalmente, nã o chegou a dar qualquer explicaçã o razoá vel a
respeito de suas existências. Se vocês tomarem cuidado de sempre
fazerem o que eu disser, aqui vocês nã o vã o se ferirem”.

"Você nã o vai explicar”...? Eu comecei a perguntar, mas ele me


interrompeu, rispidamente.

"Quando chegar a hora, Atlan. Eu ainda nã o sei muito mais do que o resto
de vocês. Na primeira câ mara, nã o há gravidade, como eu descobri. Essa
parte nó s podemos lidar, mas com o que vem depois disso... bem, vamos
ver”.

Ele parou quando chegamos à primeira câ mara, e vimos que estava muito
vazia. Isto é, com a exceçã o de anéis e outros dispositivos de gurada-mã o
(argolas fixadas nas paredes) eu descobri nas paredes, mas a uma altura
de 5 metros sobre nossas cabeças. Isso servira para me convencer de que
os criadores desconhecidos de Tarkihl tinham usado esta câ mara para
treinamento de futuros astronautas sob a condiçã o de ausência de peso.

"Está a 50 metros daqui nossa saída", explicou Fratulon, “mas se vocês nã o


estiverem acostumados à ausência de peso vocês correm o risco de
flutuarem ao redor da câ mara por horas. Apenas visam à porta lá e,
quando vocês nã o sentirem mais a imponderabilidade, nã o se esqueçam
de darem o fora da cã mara tã o cuidadosamente quanto possível. Há
mesmo anéis de segurança no teto. Assim que vocês pegarem um,
impulsionem-se e corrijam o seu curso, se necessá rio. Eu vou primeiro,
entã o prestem atençã o”!

Como foi que me familiarizei com falta de gravidade? Eu tinha a sensaçã o


de que eu tinha experimentado isso antes, mas na época eu deveria ser
criança. De qualquer forma eu estava confiante o suficiente para acreditar
que seria capaz de manejá -lo com bastante habilidade.

62
Sussurrei para Farnathia: "Vá à minha frente para que eu possa ajudá -la se
você tiver qualquer problema”.

Ela assentiu com a cabeça, mas nã o disse nada. Enquanto isso, eu mantive
um olho em Fartuloon. Pisou com cuidado sobre o limite invisível para a
câ mara e tomou um impulso. Mas bem na hora saiu do chã o e partiu
diretamente para cima com facilidade e sem peso até sua mã o estendida
tocar o teto. Apesar de ter corrigido o seu curso a partir daí ele começou a
virar e torcer no ar. Quando ele pegou o anel pró ximo, ele parou o vô o por
um momento. Ele nos deu um sinal de encorajamento e depois voou para
frente em uma linha direta para a abertura da passagem de saída. Pouco
antes de ele chegar lá ele pegou outro anel de suporte. Enquanto segurava
ele empurrou os pés para frente o suficiente para que ele pudesse sentir a
gravidade novamente. Só entã o ele soltou e ele caiu sobre de quatro, como
um felino, dentro da passagem.

“O pró ximo, por favor,”! Ele gritou.

Imediatamente depois que se empurrou, Farnathia ultrapassou sua


direçã o e ficou sem direçã o. Sem parar para pensar eu saltei atrá s dela. Eu
agarrei-a e segurei. Depois, fomos juntos à deriva através da sala sem
gravidade até que eu finalmente consegui agarrar um anel de suporte
lateral. Nó s tínhamos metade da distâ ncia atrá s de nó s.

Eu mirei em Fartuloon e empurrei de novo. A uma curta distâ ncia a partir


da abertura meus pés tocaram o chã o, mas eu afastei cuidadosamente.
Entã o eu senti a gravidade tomar-me novamente como nó s viemos para
dentro Fartuloon nos pegara antes que pudéssemos cair no chã o.

"Muito bem”! Ele cumprimentou-nos e depois chamou a Eiskralle. "Agora


você! Tenha cuidado para nã o bater no teto e se quebrar”!

No entanto, houve uma demonstraçã o milagrosa. Eiskralle levou dois


segundos para percorrer seu curso em nossa direçã o e entã o ele
empurrou-se numa decisã o rá pida. Ele fez um vô o direto para a direita
através do quarto e desembarcou diretamente em nossa frente.
O pegamos e colocamo-lo de pé.

"Pelos deuses!", Exclamou Fartuloon. "Onde você aprendeu a fazer isso”?

"Eu nã o aprendi, é apenas uma habilidade nata”.

Eu nã o teria acreditado que o Chretkor poderia mentir tã o


audaciosamente. Mesmo um cego poderia dizer que essa nã o era a
primeira vez em sua vida que ele tinha sido envolvido com a falta de
gravidade.

Fomos para frente e depois de 100 metros, chegamos à segunda câ mara.


Ficamos em silêncio na entrada e inspecionando. Nenhum de nó s poderia
63
imaginar o que estava esperando por nó s ali. Nã o havia itens de
equipamento ou mobiliá rio, sem suportes em anéis, nem má quinas de
qualquer tipo. Nã o havia nada além de paredes nuas e um teto maçante
brilhando. A saída estava em frente de nó s, a 50 metros.

Fartuloon iluminou com sua lanterna em torno da passagem até encontrar


uma pedra. Era tã o grande quanto seu punho. Ele jogou em direçã o à saída.
E algo inusitado aconteceu.

A pedra voou apenas cerca de um metro a partir de nó s antes que


desaparecesse. Ela simplesmente se dissolvera no ar sem deixar vestígios.
Mas quase no mesmo instante ela caiu no chã o no outro extremo da sala.
Rolou uma curta distâ ncia e depois ficou ali imó vel, completamente
intacta.

Fartuloon deu um suspiro de alívio. "Desde que eu nã o consigo pensar em


nenhuma explicaçã o melhor", ele disse: "Eu diria que isso é algum tipo de
transmissor de matéria, e isso é uma suposiçã o. Quando entramos nesta
sala que seremos desmaterializados e transportados para o outro lado. Eu
presumo que seja uma espécie de estaçã o experimental. Eu vou primeiro
novamente. Espere"! Antes que eu pudesse impedi-lo, encaminhou-se para
frente.

Ele desapareceu na frente de nossos olhos como se ele nunca tivesse


estado lá em primeiro lugar, mas antes que eu pudesse justamente
descobrir o que estava acontecendo ele já estava de pé sobre o outro lado
e acenava alegremente para nó s. Ele nos disse alguma coisa, mas nã o
podíamos ouvir uma palavra. No entanto, eu nã o tinha ouvido a pedra cair
no chã o lá tambem. A sala engolia cada som.

Com um sinal encorajador a Eiskralle tomei Farnathia pela mã o e sai com


ela para o transmissor e fiquei ao lado de Fartuloon no mesmo segundo.
Nã o sentimos nada, nenhuma dor de distorçã o, sem perda de tempo. Nada.
Eiskralle também passou sem um arranhã o.

Outras salas se seguiram depois disso. Em uma delas encontramos a


condiçã o oposta de gravidade, muito maior, onde só podíamos avançar
rastejando sobre nossas mã os e joelhos. Entã o veio um teste de calor
extremo, seguido pelo seu oposto: o frio extremo. E foi aí que Eiskralle nos
deu problemas novamente. Ele nã o tinha queixas sobre o calor, mas logo
atrá s dessa câ mara era a sala do frio. Apesar de só ter 20 metros de
comprimento, estava a uma temperatura que ficava muito abaixo do ponto
de congelamento da á gua.

Esperamos pacientemente do outro lado e lhe demos tempo para voltar ao


normal depois de sua exposiçã o ao calor. Nó s poderíamos ver claramente

64
que ele estava numa batalha interna, mas, felizmente, podíamos nos
comunicar. O quarto nã o isolara as nossas vozes.

Fartuloon chamou-lhe: "Se você andar rá pido só vai levar alguns segundos.
Nada vai poder acontecer com você”.

"Vou ficar duro como um diamante”! Lamentou Eiskralle preocupado.


"Mesmo um ú nico segundo pode ser demais”!

"Bobagem, você vai fazer isso, você tem que fazer! Entã o deixaremos tudo
para trá s. Em frente fica o Rio Mucky".

"Isso nã o é um grande consolo também!" O Chretkor respondeu, mas ele se


preparou para a sua corrida. "Prepare-se para me pegar porque estarei
tudo em uma ú nica peça! OK, agora"...!

Ele arrancou e desembarcou em nossos braços, 3 segundos depois,


absolutamente saudá vel e de todo em uma ú nica peça. Ele arquejou duro,
mas se vangloriou: "Nã o, o que eu te digo! Consegui”!

Ele nos deixou sem palavras. O que havia para dizer?

Nó s nã o encontramos mais nenhuma sala de experimentaçã o para


atravessar depois disso, pelo que ficamos agradecidos porque tínhamos
enchido nossa cota delas. No rio, teríamos de parar para descansar se nã o
quisessemos mais exceder a nó s mesmos.

Continuamos por uma hora sem qualquer sinal do barulho das á guas, mas
de repente lá está vamos nó s, de pé na margem do rio. Quando vi a massa
lentamente se movendo diante de mim eu soubea de vez por que o autor
desconhecido do livro misterioso tinha chamado de ‘Mucky River '.

Nã o era á gua que fluia neste curso subterrâ neo, mas sim um caldo espesso,
de aparência pastosa como esgoto que me lembrou de melaço. Acima dele
um teto arqueado, em rocha crua e elevado, e que era fosforescente. Eu
calculei que o rio possuia cerca de 200 metros de largura. Fluia a partir de
nossa esquerda para a direita, lentamente e maciçamente como chumbo
líquido ou mercú rio.

Para nossa decepçã o a respeito da natureza do rio, foi adicionada uma


situaçã o pior: o nosso caminho chegara ao fim aqui. Terminava
praticamente no líquido mucky em si. À direita e à esquerda, nã o havia
nada, mas somente as paredes do penhasco. Está vamos em um
afloramento rochoso e olhamos desamparadamente para o rio.

"Vamos descansar um pouco aqui e depois vamos pensar sobre isso", disse
Fartuloon. "Até agora nó s sempre encontramos uma soluçã o”.

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6/ O Rio Sujo

Durante o nosso período de descanso, Fartuloon sentou lá e pareceu estar


pensando sobre alguma coisa. Ele me pareceu estar à procura em sua
memó ria por algum item do livro em particular. Nó s nã o perturbamo-lo,
porque à s vezes ele reagia com raiva quando era, assim, interrompido.

Eu finalmente me levantei e fui até a beira do rio. Depois de alguma


hesitaçã o enfiei o dedo na substâ ncia estranha, suja. Foi legal, mas senti
como uma espécie de polpa misturada. Embora eu pudesse ver o banco do
outro lado, o rio desaparecia à nossa esquerda e à direita em uma névoa
brilhante. Eu calculei que a nossa visibilidade aqui era de cerca de 300
metros.

Encontrando uma pedra pró xima, eu peguei e a joguei em uma ampla


curva para o líquido lentamente fluindo. Ela atingiu a superfície, mas nã o
conseguiu afundar imediatamente.

Atrá s de mim Fartuloon disse: "Nó s temos que atravessar este rio. O livro
deixa isso muito claro. Mas parece ser impossível. Se tivéssemos um barco
de algum tipo”...

"O que está faltando", respondi sem esperança, “sã o alguns dos mó veis que
vimos na cidade. Com isso, poderíamos ter construído uma jangada”.

"Mó veis!" Eu me virei para vê-lo olhando para mim com um novo
entusiasmo. "No livro havia mençã o de quartos mobilados, que estariam
localizados entre o limite e o rio. Aparentemente, passamos por eles em
nosso caminho até aqui. Você espera com os outros que eu vou dar uma
olhada”!

"Depois da zona limite eu nã o vi nenhuma ramificaçã o ou passagens”. Eu


disse a ele.

Ele sorriu para mim agradecido. "Naturalmente nã o, meu filho, mas


sempre há portas secretas”.

Ele estava certo. Poderíamos ter passado por uma dú zia de passagens
secretas, sem perceber-las.

Fartuloon levantou-se e, armado apenas com uma lanterna, desapareceu


na passagem da qual viemos. Farnathia havia retirado seu manto, pois
estava relativamente quente neste local. Mesmo Eiskralle parecia se sentir
confortá vel aqui.

Este ú ltimo apontou para o rio Mucky. "Provavelmente, ninguém jamais


poderia beber essas coisas”.
66
"Eu nã o o aconselharia a tentar", eu disse. "Mas eu gostaria de saber o que
é”.

"Isso faz com que nó s dois", respondeu Eiskralle, ficando de pé. E


acrescentou: "Eu vou olhar em volta da á rea. Talvez eu encontre alguma
coisa”. Ao que ele também desapareceu na passagem.

Farnathia e eu ficamos sozinhos.

Quando me sentei ao lado dela, ela se aconchegou a mim. Lembrei-me das


muitas excursõ es, todas tinhamos feito em conjunto, mesmo quando
éramos crianças, mas hoje eu intensamente sentia que era mais do que
mera amizade a nossa uniã o, um com o outro. A garantia de tê-la perto de
mim me deu uma sensaçã o de estar de alguma forma protegido e seguro.

"Está com medo?" Eu perguntei apenas para ter algo a dizer e tentando
esconder minhas emoçõ es.

Ela olhou para mim. "Eu nã o tenho medo porque você está comigo”.

Sua confiança em mim era simples, o coraçã o-explodindo, mas naquele


momento eu era obrigado a pensar em Sofgart o Cego e suas tá ticas
inescrupulosas. Ele havia interrompido a vida desta menina, talvez, além
da possibilidade de reparaçã o. Eu sabia que se eu o encontrasse, o mataria.

"Fartuloon vai encontrar uma forma para sairmos daqui", confirmei,


tentando elevar as suas esperanças.

Ela estando bem perto de mim. "Se ele consegue ou nã o, o mais importante
é que estamos juntos. Eu só temo por meu pai. O Cego irá vingar-se nele”.

"Ele nã o tem qualquer razã o para tanto, principalmente tudo o que você
fez foi tentar se defender. Ele sabe disso muito bem. Nada vai acontecer
com o Tatto".

Ficamos em silêncio por algum tempo. Eiskralle foi o primeiro a retornar.


Suas mã os estavam vazias.

"Tudo o que eu encontrei foram paredes nuas", anunciou,


melancolicamente. "Fartuloon desapareceu. Ele deve ter encontrado algum
tú nel ou passagem secreta ou algo assim”.

"Você foi tã o longe como à zona de limite”?

"Claro, nã o vi nenhum sinal dele”.

O sumiço de Fartulon era menos preocupante do que uma espécie de


garantia. As instruçõ es do livro misterioso realmente pareciam ser vá lidas.
Deu-nos força e esperança de que ele iria encontrar materiais com os quais
pudessemos construie uma jangada.

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Ele voltou meia hora depois. "Estamos com sorte", ele nos informou e
sentou-se. "É claro que vamos ter de arrastar o material por meio
quilô metro. Mas nó s vamos construir a jangada”.

"Você acha que isso nos levará à margem oposta”?

"Quando você jogou a pedra e ela nã o afundou imediatamente, isso


significa que esta lama dar-nos-á melhor sustentaçã o do que a á gua daria.
A ú nica coisa é que será mais trabalhoso e ela vai oferecer mais resistência
à nossa navegaçã o”.

"Nã o há outra coisa para se preocupar", exclamou Eiskralle. "Se o lugar


certo para atracar do outro lado se parecer como este ponto, vamos ter um
trabalã o procurando por ele".

"Mais uma coisa", disse Fartuloon abruptamente. "Sentados aqui falando


apenas sobre isso nã o nos levará ao outro lado”!

Farnathia manteve-se em nosso acampamento improvisado, enquanto


Eiskrallee eu seguimos Fartuloon de volta para a passagem. Ele havia
deixado sua porta secreta aberta, de modo que nã o perdemos tempo em
chegar ao nosso destino. Havia uma série de pequenas salas aqui que
tinham sido escavadas na rocha só lida e guarnecidas com poços de
ventilaçã o. Havia uma camada de poeira sobre os artigos de mobiliá rio e
equipamentos, mas eles eram semelhantes ao que tínhamos visto na
cidade. Eles também eram feitas dos mesmos materiais sintéticos,
semelhantes a metal. Eu tive a impressã o de que estes eram um tipo de
abrigos de emergência, mas é claro que eu poderia estar enganado. Nó s
sabíamos muito pouco sobre as pessoas que haviam construído Tarkihl.

"A ú nica questã o é se nó s vamos poder trabalhar com esse material ou


nã o", resmungou Eiskralle em dú vida. "Se duraram milhares de anos, será
fá cil desmontá -los com nossas mã os nuas”.

"Eu já pensei nisso", disse Fartuloon, “por isso, dei um olhar mais ao redor.
A poucas salas de distâ ncia há uma oficina. E numa emergência temos o
projetor tpermico. Este material nã o pode defender-se de um raio
térmico”.

Na zona de trabalho encontramos algumas ferramentas e equipamentos


que foram projetados para serrar e cortar, mas eles nã o foram muito ú teis
para o nosso propó sito. Tudo o que podíamos fazer era cortar algumas das
caixas e baú s alongados que encontramos e reduzi-los em pedaços de
tamanhos que pudessemos carregar. Claro que isso foi feito com a ajuda de
um dos projetores térmicos que Eiskralle teve a clarividência de trazer. O
restante de nossas armas estava com Farnathia.

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Quando eu expressei minha preocupaçã o com o peso do material,
Fartuloon procurou tranquilizar-me. "A lama vai supotá -lo", disse ele. "O
peso específico desse material é maior do que o da á gua. Essa é a minha
menor das minhas preocupaçõ es. O que eu estou querendo saber é sobre
se conseguiremos avançar bastante sobre a lama para realmente
atravessar. De qualquer forma o escritor do livro deve ter feito isso ou ele
nã o teria sido capaz de descrever o que está além do rio”.

"Entã o nó s vamos conseguir também", eu disse com confiança renovada.

Com uma cota nova de entusiasmo que focamos no trabalho e arrastamos


pedaço por pedaço, tudo para a pequena plataforma natural à margem do
rio. Depois de jogar um pedaço do material para sobre a lama pegajosa e
certificarmos, que ela flutuava e permanera à tona, nó s soldamoss o resto
juntos em uma jangada à procura de um tipo de controle.

Farnathia ajudava sempre que podia, mas principalmente eu via seu olhar
vagar em direçã o ao outro lado do rio, onde todos os detalhes eram
ocultos pela névoa pá lida. Estava claro para todos nó s que esta seria uma
aventura rumo a incertezas, mas nã o podiamos nem permanecer onde
está vamos, nem voltar a trá s.

Finalmente a balsa estava pronta e Fartuloon mais uma vez aconselhou-


nos a ter um merecido descanso.

"Aqueles Servos Silenciosos poderiam ter nos ajudado aqui", resmungou


Eiskralle, inspecionando seusrra dedos para ver se eles ainda estavam
intactos. "Eles estã o quietos, tudo bem que eles só aparecem quando você
nã o precisa deles”.

Ele nã o podia saber como verdadeira sua afirmaçã o viria a ser.

Que tínhamos algo para comer enquanto Fartuloon voltou mais uma vez
aos quartos para obter á gua potá vel. Ele trouxe-nos duas latas cheias que
foram localizadas na oficina e estas nó s carregamos na balsa junto com o
equilíbrio de nossas provisõ es. Só entã o podemos colocar nossa balsa
improvisada no rio lamacento.

Ela só afundou alguns centímetros na mistura pesada.

Nó s saltamos sobre ela rapidamente e pegamos os remos desajeitados que


tínhamos improvisados. A resistência do rio era tã o grande que eu quase
quebrei meu pró prio remo na primeira remada completa. No entanto, nó s
finalmente navegamos lentamente para longe do banco onde está vamos,
embora derivassemos mais rio abaixo do que movemos na direçã o que nó s
queriamos.

"Nó s nã o devemos ficar muito longe do curso", alertou Fartuloon. "Nó s


temos que atravessar, nã o importa o quã o difícil seja para todos nó s”.
69
Era mais fá cil dizer do que fazer. Nó s remamos e remamos
desesperadamente no caldo sujo muito lentamente e quase nã o nos
distâ nciamos da costa. Retraçar nosso caminho agora era algobre fora de
questã o porque está vamos a 10 metros rio abaixo da nossa plataforma de
rocha e nã o conseguíamos um centímetro de avanço contra a correnteza.
Nossa distâ ncia real a partir das margens do rio era de apenas cerca de
três metros, enquanto a deriva lenta da lama nos arrastava
inexoravelmente com ela.

A situaçã o parecia surreal, como em um pesadelo.

Os remos mergulhavam na lama e pareciam empurrar a jangada para cima


e para frente, mas quando a pressã o de nossas remadas diminuiam, a
jangada afundava de toda simplesmente de volta à lama. Nataçã o estava
também fora de questã o porque teriamos sido arrastados pelo líquido, se
de fato o material poderia ser chamado de um líquido. De qualquer forma,
apó s 10 minutos de esforço extenuante estavamos apenas ha 50
metros de distâ ncia do banco de rocha e uma distâ ncia igual corrediera
abaixo.

"Chega”! Disse Fartuloon, deitado no convés. "Eu nã o aguento remar mais”.

Nenhum de nó s aguentava. Farnathia queria pular fora da jangada, mas


nó s nã o deixamos. Agora mesmo ela nã o conseguia nos ajudar. Eiskralle
reclamava e anunciava o fato de que ele estava muito quente. Ignorei.

Depois de alguns minutos pegamos no trabalho novamente para nã o


derivarmos para mais longe do curso. Aos poucos, ganhamos experiência e
conseguimos nos aproximar do outro lado em um ritmo ligeiramente mais
rá pido, mas nã o tã o rá pido quanto o suficiente.

Eu fui o primeiro a ouvi-lo. Era uma espécie irregular de som como pingos
pesados. No começo era fraco e distante, mas a cada minuto passado se
tornava mais alto, vindo da direçã o em que íamos à deriva. No começo eu
nã o era capaz de identificá -lo, mas finalmente uma suspeita terrível me
atingiu.

O rio como nó s simplesmente nos referimos à corrente de lama viscosa


deve mergulhar em algum precipício à s profundezas. Provavelmente em
golfadas grandes, o que explica o som de respingos estranhos. Nã o
importava o quã o arduamente eu olhava, no entanto, eu ainda nã o podia
distinguir o início do movimento do vó rtice.

Fartuloon também tinha percebido o tipo de perigo que à deriva nos


dirigia em direçã o. Gritou um aviso para que nó s dobrassemos os nossos
esforços com os remos. Nó s tinhamos que alcançar a margem do outro
lado ou estaríamos irremediavelmente perdidos.

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Nó s tínhamos a muito ultrapassado o meio do rio. É ramos, agora, capazes
de impulsionar e avançar mais rapidamente, embora nã o o
suficientemente rá pido para sermos capazes de recuperar o fô lego para
um ú nico sprint. Os sinistros sons salpicos e respingar das gotas de lama
caindo se aproximava mais e mais.

Eu lutei para manter claro na minha mente a visã o horrível do que estava
por vir. Eu via nos redemoinhos sobre a borda de pedras a jangada frá gil,
dominado pela corrente enxurrada, de lama sem nome ou mesmo
submerso nela. Está vamos nos preciptando para o abismo e, talvez, de
mergulhar em um lago do xarope pegajoso. Talvez nó s vir para cima e
talvez nã o. Em qualquer caso, nã o seria capaz de respirar e nó s em ú ltima
instâ ncia se afogar.

"Com sorte ainda vamos ser capaz de fazê-lo”! Gritou incentivando


Fartuloon interrompendo meus mó rbidos pensamentos. "Devem faltar
ainda mais de 300 metros para a queda, mas o banco está a apenas 80
metros de distâ ncia”.

Ele provavelmente estava certo, mas meus braços começaram ficar


paralisados. Eu mal conseguia mover meu remo. Acontecia o mesmo com
Eiskralle, no entanto, ele remava sem parar, desesperadamente,
despejando sua ú ltima gota de energia nesse gesto. Até mesmo Farnathia
tentava remar com as mã os, a fim de impelir-nos rumo ao nosso objetivo.

Faltavam 50 metros para nossa salvaçã o.

Entã o eu vi o abismo. Parecia pendurado lá no ar à nossa frente, mas o que


eu estava olhando na verdade era a superfície do lago que estava em um
nível inferior. Eu estimei em cerca de 100 metros abaixo. Nó s nã o
seríamos capazes de sobreviver à queda mesmo se fosse apenas á gua.

A corrente se tornara mais forte. Ainda está vamos a 30 metros da outra


margem.

De repente e sem explicaçã o, Fartuloon entregou seu remo à Farnathia e


antes que pudéssemos impedi-lo, ele mergulhou para o muck na frente da
balsa. Ele afundou-se rapidamente, mas apenas até o meio do corpo. Mais
tarde, ele nos dissera que ele havia tocado o fundo com o remo e, portanto,
sabia o quã o profundo era.

Ele agarrou a jangada com as duas mã os e começou a se mover contra a


correnteza em direçã o ao banco. Também em silêncio, Eiskralle e percebi a
sua intençã o. Nó s inclinamos fortemente em nossos remos para ajudá -los
e até mesmo Farnathia esforçava-se ao má ximo e até sua testa estava
escorrendo suor.

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Mantivemo-nos aproximando da margem, onde eu podia ver o contorno de
um caminho estreito. Se pudéssemos alcançá -lo estaríamos salvos, pelo
menos por enquanto. Mas a queda para o lago abaixo estava apenas a 100
metros agora.

Agora, a lama só chegava aos joelhos de Fartuloon e quando ele ficava


parado, ele podia manter a jangada constante, impedindo-a de ir à deriva
para longe. Sem mais hesitaçõ es eu também saltei para o caldo teimoso, a
fim de ajudá -lo. Senti a forte pressã o da correnteza lenta contra minhas
canelas, mas agora eu sabia que nada mais poderia acontecer conosco.
Tínhamos certeza de ficar à margem do rio e tudo o maisu nã o fazia
nenhuma diferença para mim.

Com ainda muito esforço, puxamos a balsa para a margem porque


ninguém sabia, com certeza, se iríamos ou nã o precisar dela novamente.

"Tivemos sorte", disse Fartuloon enquanto apontava para a linha


acentuada do rio, onde as quedas começavam. "Nó s poderíamos ter sido
mortos com certeza”.

Isso ninguém pode negar.

Reunimos nossas provisõ es e os levamos a um lugar seguro. O caminho ao


longo da margem tinha apenas um metro de largura, mas era o suficiente.
Ele levava a ambas as direçõ es.

Quando troquei olhares com Fartuloon Eu sabia que nó s dois tivemos a


mesma idéia.

"Esperem aqui", disse ele aos outros dois. "Atlan e eu vamos dar uma
olhada no lago"...

Nó s nã o tivemos muito que fazer. Estremeci quando eu tive uma visã o


completa da queda viscosa. Lajes enormes e pedaços de lama caiam à s
profundezas e desapareciam sob a superfície quase imó vel do lago. Sua
densidade era tã o grande que nã o havia mesmo qualquer onda. A
superfície terminava abruptamente na borda.

"Eu acho que nã o foram mais além deste ponto", disse Fartuloon, “mas eu
tive que conferir. Temos que ir rio acima, até chegarmos à pró xima
passagem. E entã o vamos em frente”.

"Ir para onde”? Aventurei-me a perguntar.

Ele me olhou com uma expressã o estranha, mas respondeu: “Para o limite,
meu filho".

72
Mais uma vez eu decidi nã o perguntar mais. Ele devia saber o que estava à
frente de nó s e até agora ele nos guiara bem. Eu coloquei minha completa
confiança nele.

"Devíamos nos conceder algumas horas de sono", eu comentei.

Ele balançou a cabeça. "E isso o que faremos, mas nã o aqui. Uma vez que
tenhamos encontrado a passagem nã o estarã o longe à s câ maras, onde os
antigos tinham seus alojamentos. Lá nó s vamos ter um descanso completo
porque temos que pensar em Farnathia".

Quando nos voltamos para os outros com nosso plano e eles ficaram
visivelmente decepcionados que ainda restava mais uma caminhada e o
descanso sonhado fora adiada. Pegamos nossos pacotes e marchamos rio
acima, até que finalmente descobrimos o tú nel que procurá vamos bem
rente a parede rochosa. Vimos que o caminho a frente continuava ao longo
da margem do rio.

Quando Fartuloon encontrou nosso olhar de questionamento, ele disse:


"Nã o há nada sobre isso no livro. Provavelmente, o autor nã o se deu ao
trabalho de explorar mais longe. E nã o foi, a menos que o tú nel nã o nos
leve onde queremos ir”.

Ligamos uma de nossas lanternas porque estava escuro na passagem. No


entanto, ainda sentia a vibraçã o constante sob os nossos pés, o que nos
dizia que as instalaçõ es de força estavam trabalhando até mesmo aqui.

Nã o havia mais portas secretas. Em vá rias ocasiõ es nos deparamos com


tú neis laterais que se ramificavam em algum lugar, mas Fartuloon os
ignorou. Ele resolutamente seguiu pela passagem principal, até que,
finalmente, aumentou em uma grande caverna ou numa sala que era,
evidentemente, um ponto central principal dos tú neis ou ponto de
distribuiçã o. Fartuloon parou.

Ele estudou vá rias entradas de tú neis separados e, em seguida, apontou


para um deles. "Isso deve ser esse! Apenas cerca de 50 metros para
caminhar agora e podemos dormir por algumas horas”.

Nã o fiz perguntas por que a fadiga pesavao sobre nossos membros como
chumbo. Se eu pudesse teria votado por 2 ou 3 dias de descanso. Era fá cil
de ver que Farnathia também aderiria com gosto este período para
recuperaçã o. Apenas Eiskralle parecia estar fresco e alegre, mas isto foi
provavelmente devido ao fato de que a temperatura ambiente girava
constantemente em um nível de cerca de 70.

As câ maras concebidas para os aposentos aqui nã o eram nada diferentes


do que as que tinhamos usado do outro lado do rio. Elas nos ofereceram

73
proteçã o e segurança, que era a principal coisa. Houve até conveniências
extras como novas instalaçõ es de á gua e banheiros.

Eiskralle grunhiu de satisfaçã o e jogou sua mochila de provisõ es em uma


das camas. "Adeus!", Afirmou categoricamente. "Eu vou ficar aqui”!

Fartuloon assentiu. "Você tem companhia", ele respondeu, "para pelo


menos um dia”.

“Só um dia”!

"Naturalmente, ou você acha que na pró xima esquina há uma loja


agradá vel em que você pode comprar tudo o que você precisar? Nossas
fontes nã o vã o durar mais que uma semana”.

Farnathia tomou um belo e completo banho e depois se deitou para


descansar. Ela já estava dormindo antes que eu pudesse dizer uma palavra
sequer. Eu estava tã o cansado. Está vamos todos cansados e esgotados.

7/ O Limiar Enfim!

Quando acordei, Fartuloon nã o estava em sua cama. Garra de gelo ainda


estava dormindo tal como Farnathia. Na cama do meu pai adotivo, vi uma
nota.

Levantei-me com cuidado para nã o acordar os outros, fui e peguei a


mensagem. Dizia: "No caminho para o Limiar há outra dificuldade. Tenho
que fazer algo sobre isso, talvez negociar”.

Isso era tudo. Ela só serviu para aprofundar o mistério. Com quem
Fartuloon tina a intençã o de negociar e o quê?

Fui assaltado por um pensamento terrível. Certamente ele nã o seria louco


o suficiente para usar um dos dispositivos de comunicaçã o que havia aqui
para se colocar em contato com Sofgart o Cego! Ele deve saber como isso
seria sem sentido. Além disso, ele revelaria aos nossos perseguidores que
ainda estavamos vivos. Ele certamente nã o faria nada tã o arriscado quanto
isso, ou entã o ele teria discutido com a gente antes.

Mas o que seria essa dificuldade, entã o, e com quem ele estaria tentando
negocial?

Embora eu deitasse na minha cama de novo eu nã o fechei meus olhos. De


acordo com meu reló gio meu sono havia durado 10 horas, e tinha me
refeito sobremaneira. Eu também senti fome, mas decidi esperar até que
os outros despertassem.

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Meu otimismo original tinha diminuído um pouco. Tudo parecia muito
diferente para mim quando nó s tínhamos resgatado Fartuloon de seu
calabouço e conseguimos fugir. Mas agora está vamos em fuga há dias e
nã o tinhamos ido muito longe, onde a distâ ncia estava em causa. Ainda
está vamos localizados dentro de Tarkihl em algum lugar, mas mesmo que
o mundo lá chegasse ao fim, nã o iriamos perceber isso. Está vamos tã o
perto e tã o isolados de tudo.

Onde poderíamos ir, na verdade? Tarkihl estava cercada pelos Kralasenes.


Ninguém podia entrar ou sair dela sem ser monitorado adequadamente.
Havia apenas uma forma de iludir o bloqueio: nó s simplesmente tinhamos
que encontrar uma saída que levasse à superfície tã o longe de Tarkihl que
deixasse o cerco todo para trá s de nó s.

Que ‘limiar’ era esse que frequentemente Fartuloon mencionava como se


fosse uma saída?

Ele falou baixinho para nã o despertar Farnathia. "Entã o, que nos dá tempo
agora para comer alguma coisa. Estou com uma fome de... como”...

"Comer Chretkor", sugeri amavelmente.

Ele sorriu e acenou com a cabeça em concordâ ncia.

Farnathia levantou de sua cama. "Eu nã o tenho nenhuma objeçã o a isso",


ela riu. Mas seu sorriso desapareceu quando leu a nota. "Negociar? Com
quem ou o que ele poderia negociar por aqui”?

"É tudo a mesma coisa para mim." Eiskralle já estava explorando os


pacotes de alimentos. "Nó s vamos descobrir em breve”.

Ele estava certo. Nã o havia nada que pudéssemos fazer sobre a nossa
situaçã o no presente, até Fartuloon retornar. Até entã o, nó s pretendíamos
fazer o melhor uso de nosso tempo.

Passamos por três horas, inquietos, em espera.

Assim quando eu estava começando a ficar seriamente preocupado com


Fartuloon, ouvimos seus passos se aproximando. Eles tinham que ser seus
passos, porque além de nó s mesmos quem estaria aqui?

E era ele.

"Vocês finalmente estã o acordados”? Ele disse quando entrou na sala. "Eu
estava começando a pensar que vocês poderiam dormir por pelo menos
duase semanas ainda. Vocês acharam o meu bilhete”? Ele perguntou
quando se sentou.

"Onde você foi”? Perguntou Farnathia. "Com quem você estava


negociando”?
75
"Oh, eu deixei de mencionar que? Os Servos Silenciosos é claro! É
mencionado no livro que eles nã o permitirã o que ninguém vá para o
Limiar".

Nenhum de nó s tinha pensado nos habitantes esféricos destes níveis mais


baixos os garçons mudos. Mas como alguém poderia negociar com eles
quando eram surdos e ou mudos?

"E o que eles têm a dizer”? Eu perguntei ironicamente.

Ele deu de ombros. "Nem uma palavra, mas suas açõ es e gestos indicam
muito claramente que eles nã o estã o deixando ninguém passar. Eles estã o
bloqueando o caminho para o Limiar".

Eiskralle falou um pouco afobado. "Por favor, diga-nos, uma vez por todas,
o que este é negó cio de ‘Limiar’”?

"Eu nã o sei, mesmo”, respondeu calmamente Fartuloon. "Eu só entendo


um pouco de sua natureza a partir do livro. Da ligeira mençã o que foi feito
dele percebi que ele se refere a uma saída de Tarkihl. E uma
absolutamente segura, mesmo assim. Isso é tudo que eu sei sobre isso”.

"E os Servos Silenciosos se recusam a deixar-nos passar”?

"Eu nã o posso interpretar sua atitude de outro modo é bastante ó bvio",


Fartuloon confirmou. "Eu tentei por horas afastá -los, mas foi inú til. Há
muitos deles”.

"Poderíamos usá -los para pinos puck", sugeriu Eiskralle. Ele se referiu a
um jogo antigo, mas que já foi popular que era um pouco semelhante ao
boliche, exceto que um metal pesado "puck" era usado em vez de uma bola
de boliche.

"Você nã o tem tantos pucks quantas pernas há ", Fartuloon admoestou-o.

Se este ‘Limiar’ fosse realmente nossa ú nica salvaçã o, é, no entanto, certo


de que tenhamos que alcançá -lo. Por outro lado, nã o poderia levar-nos a
usar a força contra as criaturas bolhas inofensivas. Nó s certamente
seriamos capazes de afastá -los do caminho com nossos projetores, mas o
que nã o aconteceria sem causar baixas entre eles. Talvez haja outra
maneira de fazermos isso.

"Entã o, o que vem agora”? Eu perguntei impotente...

"Antes de qualquer coisa, estou com fome", disse Fratulon.

****

76
Uma hora mais tarde, embalamos nossos suprimentos e seguimos
Fartuloon por um corredor muito espaçoso, que para nosso espanto estava
bem iluminado. O ar também estava fresco e puro. Aqui tudo parecia estar
funcionando tã o bem como sempre e ha milhares de anos.

Talvez os Servos Silenciosos fossem responsá veis pela manutençã o. Se eles


fossem uma forma de vida orgâ nica e nã o se reproduzissem, talvez fossem
imortais. Ou se reproduzissem, do que se alimentariam? Eu estava mais
inclinado do que nunca a encará -los como andró ides ou robô s.

Finalmente está vamos frente a frente com eles.

Sem fazer qualquer intençã o de nos atacar, eles bloqueavam o corredor de


forma compacta. Eles simplesmente estavam ali sobre suas pernas finas e
agitavam os braços mú ltiplos no ar enquanto faziam sinais
amedontradores...

"Será que você vê isso", gritou Fartuloon quando parou. "O que devemos
fazer? Nã o respondem a qualquer tentativa que fiz e deixei as nossas
intençõ es bem claras para eles. Entã o, eles devem saber que queremos
passar. Mas nos impedem”.

Eles estavam reunidos num bloco de pelo menos 7 ou 8 fileiras compactas.


Eles nã o têm rostos em que poderíamos ler suas expressõ es, mas suas
açõ es nã o deixavam dú vidas sobre suas intençõ es. Eles também parecem
ser bastante diferentes dos Servos Silenciosos que tínhamos encontrado
em níveis mais elevados de Tarkihl. Estas criaturas eram, aparentemente,
nã o inclinadas a serem ú teis, de forma alguma.

Talvez fossem, portanto servos de outras entidades? Mas quais e com


quais propó sitos?

E eu sempre havia presumido que quanto mais eu penetrasse em Tarkihl


mais fà cilmente eu seria capaz de solucionar seus misterios. O que acabou
se revelando exatamente o contrá rio. Eu nã o conseguia encontrar a
soluçã o para esse problema.

"Isso faz aquilo”! Exclamou Eiskralle, pronto para a açã o. Aparentemente,


ele queria praticar a sua idéia de "pinos puck" em favor de uma
abordagem mais direta. "Cubra-me com o seu projetor de impulsos,
apenas no caso da necessidade do uso de alguma persuasã o menos gentil”!

Nem Fratulon nem eu fizemos qualquer protesto contra a sua intençã o.


Apesar de, em comparaçã o conosco, ele ser menor, suas pernas estavam
proporcionalmente longa, e agora eles lhe deu rapidamente através das
fileiras primeiro dos nossos adversá rios até que ele caiu totalmente no
meio deles.

77
O que aconteceu entã o foi espantoso para dizer o mínimo: 4 ou 5 das
criaturas bolhas atiraram-se sobre Eiskralle e conseguiram levantá -lo do
chã o. Eles o pegaram-no com seus frá geis braços à procura e o levaram
embora.

"Socorro”! O Chretkor gritou em pâ nico desenfreado. "Nã o fique aí parado,


faça algo!"

Porém Fratulon realizada nos de volta. "Claro! É isso aí! ", Exclamou. "Por
que nã o pensei nisso antes?"

"Pensou no que?" Eu perguntei perplexo. Mas eu coloquei minha arma de


impulsos de volta em meu cinto.

"Eles ajudam e servem o que também significa a nó s! Eles sentem que


devem levar o Eiskralle ao ‘Limiar’! E aqui eu passei horas tentando
resolvê-los fora do caminho figurativamente, é claro! Eles nã o serã o
deixados de lado. "

Garra de gelo desapareceu em algum lugar fora do nosso campo de visã o.

"O que faz você pensar que eles o levarã o ao ‘Limiar’ ou que vamos
encontrá -lo lá novamente? Poderia muito bem ser que eles o sequestraram
para outro lugar e talvez até mesmo venham a matá -lo."

Ao invés de responder a minha pergunta, ele disse, "Venham! Nó s nã o


devemos deixar Garra Ice fora de nossa vista"!

Ele havia muito que desaparecera de nossa vista, mas eu nã o hesitei em


seguir o conselho do Fartuloon. Eu segurei Farnathia quando me conduzi
para frente, para se certificar de que os Servos Silenciosos nã o a levariam
em outra direçã o.

Foi uma sensaçã o estranha de entrar no meio dos mais silenciosos e tê-los
levantar-nos imediatamente para o ar. Agarrei-me firmemente a Farnathia
com a minha mã o esquerda, enquanto agarrando a coronha do meu
projetor de impulso com o outro. Eu estava determinado agora que eu iria
usar a arma em caso de emergência se os nossos adversá rios eram as
formas de vida orgâ nica ou andró ides.

Felizmente nã o foi necessá rio.

Está vamos todos sendo levados na mesma direçã o. Eu já podia ver Garra
Ice à distâ ncia. Eles tinham-lo e ele estava lá com um olhar de estupefaçã o
no rosto. Ele agarrou freneticamente o pacote de comida para ele, mas os
Servos silenciosos nã o tentaram tirar isso dele. Seu rosto se iluminou
consideravelmente quando eles também nos trouxeram para a sala onde
nos colocaram sobre nossos pró prios pés. Silenciosamente como sempre,
as criaturas, em seguida, retiraram-se.
78
"Bem", disse Fartuloon, “talvez eu superestimasse o problema, se ele
nunca fora um. Claro que nã o me ocorreu apenas para saltar no meio de
todas aquelas coisas bolha porque para uma coisa que eu nã o tinha
qualquer cobertura apoio no momento. Como eu ia saber que só queria
ajudar quando eles estavam no caminho"?

"Você chama isso ajuda?" Eu disse enquanto olhava exaustivamente ao


redor. Além de uma caverna de rocha mal iluminada e umas poucas
aberturas escuras, nã o havia nada para ser visto. "O que faz você pensar
que eles trouxeram-nos ao seu ‘limiar’?"

"Este marco se encaixa na descriçã o, e também os Servos silenciosos foram


mencionados, é claro de outra forma. O autor do livro deve ter usado a
força para passar. De qualquer forma, ele falou de um perigo agudo que
barravam o caminho para o ‘Limiar".

"Bem, eu gostaria de saber uma vez por todas o que este ‘Limiar’ é", disse
Ice Claw.

"Eu nã o vejo nenhum."

Fratulon passou a poucos metros de frente para a câ mara, mantendo um


olho sobre os silenciosos. Para nossa surpresa eles nã o tentar seguir. Em
vez disso, eles ficaram para trá s, a alguma distâ ncia de nó s.

"OK, agora me sigam lentamente. Temos que encontrar a passagem à


direita. "

Havia cinco entradas do tú nel e todos eles pareciam iguais. De qualquer


forma nos sentimos aliviados que as criaturas esféricas nã o nos seguiram.
Parecia que eles estavam com medo de entrar numa regiã o que era
proibido. Talvez eles tivessem sido programados dessa maneira. Até agora
eu estava plenamente convencido de que eles eram andró ides.

Fartuloon selecionados do tú nel do meio. Nó s tivemos que ligar as nossas


lâ mpadas, pois aqui ele estava completamente escuro. Nó s viajamos quase
100 metros até encontrar o eixo que apenas chegou ao fim. Nã o havia
sequer um sinal de uma porta secreta. Era ó bvio que tínhamos escolhido o
caminho errado.

"Vamos tentar os outros", resmungou Fratulon desapontado.

Apó s a quarta tentativa tivemos sorte. Depois que haviam penetrado a


passagem para o quarto 100 metros mais ou menos as paredes e tectos
tornou-se iluminado. Isso nã o tivesse ocorrido em qualquer um dos
outros. Em vez de terminar abruptamente levou em uma câ mara
retangular que, embora nu de qualquer equipamento ou mobiliá rio,
ofereceu mais duas aberturas iluminado para nó s a escolher.

79
Pegamos a passagem para a esquerda.

Desta vez, fomos levados para uma sala que se encheu de telas de videos
que foram construídos, nas paredes revestidas de metal em intervalos
regulares. Em cada uma destas havia pequenos consoles de controle com
uma cadeira na frente de cada um deles. Era um centro regular de
comunicaçõ es!

"É este deveria ser o ‘Limiar’?" Ofegante Ice Claw, que estava bastante
exausto por agora.

Fartuloon estava hesitante em responder, mas finalmente ele disse: "Nã o.


Isso nã o pode ser ele. Deve ser no final da outra passagem. No entanto,
agora que estamos aqui”...

O resto de sua declaraçã o era ó bvio. Ele estava certo, é claro, porque um
pouco de descanso nos faria bom, especialmente Farnathia. Mas até agora
nenhuma queixa tinha vindo de seus lá bios.

Fartuloon largou o pacote de oferta e sentou-se antes de os controles de


um dos viewscreens. Pareceu-me que ele apertou alguns botõ es e
interruptores operados apenas ao acaso, mas mudei de idéia quando a tela
de repente se iluminou.

A câ mara do conselho do Tatto!

Farnathia praticamente parou de respirar quando viu seu pai. Eu podia


sentir sua tensã o, porque ela estava inclinada perto contra mim e meu
braço estava ao seu redor.

Fartuloon operado outros controles, entre os quais estava o som e ajuste


de volume. Isso trouxe na voz coaxar de Sofgart o Cego. Quando eu vi o
cego na tela, meus punhos se cerraram involuntariamente.

Mas entã o eu ouvi o que ele estava dizendo. "... Desmantelar ou demoli-la.
Um destes dias Tarkihl vai ser explodido porque é usado por criminosos
como um lugar para se esconder. O Tatto vai ter um novo palá cio, é claro,
mas temos que acabar com relíquias antiquadas do passado, quando sua
hora chegar".

"Eu nunca vou permitir Tarkihl a ser destruído", retorquiu Armanck


Declanter. Sua declaraçã o provocou um murmú rio de concordâ ncia do
Gortavorians outros que estavam no corredor. "Tem sido permanente
desde tempos imemoriais e é uma herança do nosso passado, que é tã o
desconhecido como o nosso futuro. Eu também nã o acredito que
Orbanashol III o admitiria”.

80
"Ele só escuta o que eu digo Tatto", gritou Sofgart. "Esqueceu-se que era
sua filha que tentara me matar? Eu poderia prendê-lo como
corresponsá vel por isso”.

"O que você nã o pode Sofgart, apesar de seu enorme poder! Cace sua
presa, mas se você vai atraz de minha filha e de Tarkihl estará sozinho”!

A câ mera voltou-se para o líder do Kralasenes. Seu rosto refletia a raiva ea


animosidade. Mas também revelou um traço de decepçã o e desamparo.
"Meus homens ainda estã o saqueando Tarkihl, mas este é o melhor de
todos os esconderijos. No entanto, os fugitivos nã o podem ficar lá para
sempre. Eles terã o que vir à superfície um dia destes, se eles podem
encontrar um caminho. E entã o vamos tê-los! Vou fazer com que cada
ponto do planeta seja colocado vigiado pelos meus soldados ou agentes
secretos. Eles nã o escaparã o de mim. Nem mesmo a filha do Tatto o fará ”!

"Você nã o vai prejudicá -la," devolveu o Tatto calmamente.

"A busca continua", retrucou o cego friamente.

Fartuloon desligou o equipamento e se virou para nó s. "Ele nã o parece ter


a tã o absoluta autoridade que eu temia", disse ele, dirigindo sua
observaçã o especialmente para Farnathia. "Nada vai acontecer com o seu
pai, minha filha. Nem Sofgart ordenará a destruiçã o de Tarkihl. Ele seria
um homem morto no mesmo instante se tentasse fazê-lo”.

"E quanto a seus homens, o Kralasenes?" Eu perguntei.

"Em uma emergência, você pode depender de nossos homens de


Gortavor".

Enquanto isso, Eiskralle perambulara por ali e descobrira nã o haver outra


saída desta sala. Como ele poderia muitas vezes pensar em termos
prá ticos, ele colocou a questã o a Fartuloon: "Assim e o tal ‘Limiar’? Se esta
sala nã o o é, entã o onde será ”?

"Deve ser no final da outra passagem, basta ter um pouco de paciência.


Você ouviu o que o cego disse. Cada ponto no planeta será vigiado. Entã o,
se nó s realmente alcançarmos a superfície... e depois”? Ele viu nossas
reaçõ es, o que nã o deve ter sido muito positiva. “Acima de tudo, Sofgart
faria com que os espaçoportos estejam cuidadosamente monitorados”.

Quando nã o lhe respondemos, Fartuloon continuou: "Vocês têm observado


que eu conheço Tarkihl muito bem e melhor, pelo menos, do que vocês. E
há muito mais ainda. Em Gortavor eu tenho um nú mero de bases secretas
onde ninguém saiba de mim. Lá eu tenho lojas de provisõ es, armas e
equipamentos. Lá eu tenho alguns materiais plá sticos com os quais
podemos alterar as nossas aparências. Eu também tenho vá rios

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transmissores e Hipercomunicadores... bem, vocês verã o. Isso, se nó s
pudermos encontrar o ‘Limiar’".

Até agora eu estava começando a compartilhar algumas das frustraçó es se


Eiskralle sobre esse negocio de "Limiar". Ele também estava começando a
me dar nos nervos.

Corremos de volta pela passagem e chegamos novamente na câ mara com


os dois tú neis com as duas aberturas, ou seja, além daquela tinhamos
vindo. Ficamos aliviados ao descobrir que os Servos Silenciosos nã o
estavam ali. Aparentemente, eles consideraram sua tarefa concluída.

Mais uma vez Fartuloon fez da mesma maneira quando entramos no tú nel
que ainda nã o tinha sido explorado. Nã o é fá cil para eu descrever a emoçã o
que tomou conta de nó s quando nó s o seguimos. Desde o início de nossa
fuga até o ‘Limiar’ que fora nosso objetivo, mas nenhum de nó s poderia
sequer imaginar o que poderia ser. O misterioso livro que Fartuloon tinha
revelado ser a nossa salvaçã o, por isso, se todas as outras instruçõ es do
livro acabaram se confirmando, até agora, isso é o que veríamos!

Mais uma vez as paredes do tú nel eram feitas do mesmo metal como o
bronze que me acostumara nos níveis superiores. Emitia um brilho suave e
constante de sua pró pria substâ ncia. Nossas lanternas nã o eram mais
necessá rias.

Finalmente, uma sala se abriu diante de nó s, mas nã o era como as que


haviamos entrado anteriormente. Isto era algo totalmente diferente.

Poderia ter sido descrita como tendo a forma esférica, exceto pelo fato de
que o chã o era plano e liso. Em comparaçã o com as câ maras do outro lado,
que já visitamos. Este espaço onde o chã o era bastante restrito, composto
de apenas alguns metros quadrados. No entanto, a partir da entrada as
paredes curvadas e convexas em arcos de profundidade e, em seguida,
arqueadas amplamente acima de nó s para formar um teto abobadado,
como um cofre. Por isso, era na verdade uma esfera com o piso plano.

Ao nosso redor, nas paredes, vimos recortes cô ncavos ou hemisféricos que


pareciam ser feitos de quartzo. À primeira vista, me lembrara de algum
tipo de telas de videos especiais. Essa impressã o era fortalecida pelo fato
de que cada concavidade revelava uma cena ou paisagem que era tanto em
cores quanto em relevo, como em 3D. O que impressionara minha mente, a
princípio era que eu estava olhando através de vigias ou escotilhas abertas
para câ maras pressurizadas, tanto que nã o atinei o quã o vá lida
minha primeira impressã o rá pida veio a ser.

Elas eram janelas para outras dimensõ es, ou era simplesmente algum tipo
de fotoimagem?

82
Fartuloon fez um sinal para nó s. “Permaneçam onde estã o. Tenho que
verificar minhas informaçõ es”.

Ele foi até uma das “janelas” de quartzo e começou a manipular alguns
controles que estavam abaixo dela.

E agora eu tinha tempo pra dar uma olhada nas assim chamadas foto
imagens. Uma delas mostrava uma selva com um lago pantanoso onde
gigantescos sá urios se alimentavam. Ao lado dela, havia uma cidade
moderníssima, aparentemente a cidade central de um mundo pertencente
ao Grande Império. E ao seu lado havia o negrume do espaço e o brilho das
estrelas do universo como me lembrava de já ter visto em filmes. Havia um
lento movimento no campo de estrelas como se a cena estivesse sendo
capturada por uma câ mera a bordo de uma espaçonave viajando a
velocidade da luz. O resto das telas cô ncavas revelavam planetas desertos,
paisagens cultivadas ou mundos em avançado estado tecnoló gico.

E entã o eu vi uma foto que me pareceu familiar. Fartuloon parou em frente


a ela e mexeu nos controles que fez com que a cena ficasse mais nítida e
mais clara minuto a minuto. Está vamos olhando para o Deserto da Aranha
de Gortavor.

O Deserto da Aranha!

Nó s viemos de lá quando Fartuloon fora aprisionado. Era uma regiã o que


geralmente era evitada por ser considerada perigosa. Isto por causa dos
misteriosos cabos prateados que se estendiam por toda parte, acima das
arenosas terras desoladas, parecendo levar a lugar algum naquela
imensidã o sem fim. Certamente essa “teia” era uma ameaça perigosa
sempre que começava a “vibrar”. Sob o estranho encanto de suas vibraçõ es
um homem podia perder sua razã o e tornar-se louco o suficiente para
buscar sua pró pria morte.

Entã o porque Fartuloon se preocupava com essa imagem em particular?


Impaciente, perguntei-lhe: “Fartuloon, o que essas imagens representam?
Por que elas parecem tã o reais e vivas”?

Ele virou ligeiramente a cabeça para olhar de forma significa para mim e
Eiskralle. “Elas sã o reais e estã o no presente,” disse-nos. “O que vocês
estã o vendo aqui é a realidade, o presente. Isto é o ‘Limiar’”.

“E o que é entã o o ‘Limiar’”?

“Nada mais do que uma estaçã o transmissora. É claro que um tipo especial
de transmissor. Ele tem funcionado por milhares de anos e nunca fora
desligado. O autor do livro que falei sempre contava a estó ria de como ele
penetrou tã o profundamente dentro de Tarkihl e sobreviveu para retornar
do exterior – mas ele voltou em uma nave de Arcon”.

83
Eu o encarei como se ele fosse um fantasma. “O que você está tentando nos
dizer”?

“Simples, meu rapaz”. Ele apontou para uma das telas onde uma
hipercidade era vista com edifícios em formato de funis invertidos. ”Ele
simplesmente entrou nesta imagem”.

A essa altura Eiskralle havia recobrado de sua surpresa. “Fartuloon, se esta


é uma estaçã o transmissora e é possível escolher qualquer destino
desejado, porque você está mexendo especialmente nesta tela ou escotilha
específica ou o que quer que seja? Ela só poderá nos levar para dentro do
Deserto da Aranha e o mínimo que podemos esperar lá sã o os Kralasenes
nos aguardando lá .”

Fartuloon concordou satisfeito. “Estou contente que você ao menos


entendeu a essência disso tudo e está surpreso com o fato de que podemos
fugir daqui para qualquer parte do universo. No entanto, Eiskralle, se
partirmos para tais lugares em que isso nos adiantaria? Imagine, por
exemplo, o que aconteceria se aparecêssemos em Arcon. Lá como em
todos os outros mundos, os homens de Sofgart poderiam estar nos
esperando, quer ele suspeite da existência de um transmissor ou nã o. Seria
como se entrá ssemos em um beco sem saída”.

“E Gortavor seria melhor?” perguntou Eiskralle. “Este é o primeiro lugar


onde nos procurarã o”.

“Certamente, mas nã o no lugar específico para onde iremos. O Deserto da


Aranha, sempre fora evitado, porque já se perderam muitas vidas de
arcô nidas. Ninguém sabe de sua origem ou sua utilidade, mas é ó bvio que
ele oferece somente morte e destruiçã o. A teia! O que é a teia? Ninguém
sabe o que ela é, e nó s também nã o”.

“E apesar de tudo, você pretende levar-nos consigo para lá ”?

“Sim, é exatamente isto que estou planejando fazer. Para nó s é o caminho


viá vel e mais seguro”.

“Gortavor”?

Fartuloon continuou a manipular os controles. A imagem se tornou mais


nítida. A tela esférica em que ela aparecia tornava-se cada vez mais
parecida com uma escotilha aberta diante de nó s. Eu parecia sentir o ar
quente do deserto contra meu rosto, como se estivesse flutuando na sala
redonda onde está vamos.

“Sim, Gortavor”, ele finalmente respondeu. “Eu falei sobre minhas


fortalezas secretas as quais ninguém conhece. Elas estã o localizadas em
sua maioria em regiõ es desabitadas e somente sã o acessíveis através de

84
caminhos, relativamente, mortais. Ninguém se aventuraria a ir a tais
lugares, nem mesmo Sofgart o Cego e seus Kralasenes.”

Eu estava ouvindo somente com um ouvido, por assim dizer, pois a tela me
fascinava muito mais. Se nã o estivesse autoconsciente, poderia submeter-
me a um impulso e dar um passo direto para o meio da imagem. Ela tinha
um efeito hipnó tico sobre mim. Farnathia segurava com força meu braço
como se ela suspeitasse o que se passava comigo.

“Para os construtores de Tarkihl, estes eram os seus meios de


comunicaçã o com o exterior. E nã o apenas isto. Com as coordenadas
corretas e os ajustes dos controles, o transmissor de matéria os levaria a
qualquer mundo que eles quisessem visitar. Eu nã o estou totalmente
familiarizado com a programaçã o dos controles, assim temos que escolher
nossas preferências pelo que vemos diante de nó s. No momento, a melhor
escolha é Gortavor, por mais paradoxal que possa parecer”.

É claro que eu estava familiarizado com a operaçã o bá sica de um


transmissor de matéria. Em um equipamento normal, bastava dar um
passo para dentro de uma gaiola energética e ser transportado para outro
lugar. Bem simples. Mas um transmissor que se parece com uma tela de
vídeo era algo novo para mim.

“Pode reconhecer para qual parte do Deserto da Aranha estamos


olhando”? Perguntei.

“Certamente. Fica a poucos dias de caminhada de meu esconderijo mais


pró ximo. Sugiro que vocês se preparem. Eiskralle, quando passar pela tela
do transmissor de repente poderá ficar muito quente para você. Acha que
poderá suportar”?

“E tenho escolha”?

“Esta é a atitude correta”, aprovou Fartuloon e de repente ele girou um


botã o vermelho completamente para a direita. “Bem, agora devemos estar
prontos para ir. Assim que me virem passar, sigam-me”.

Senti os dedos de Farnathia apertarem com força meu braço assim que
Fartuloon pisou corajosamente na semiesfera parecida com quartzo da
tela e desapareceu dentro da cena do deserto.

Na verdade, ele nã o desapareceu completamente. De repente, ele se


tornou muito reduzido em seu tamanho aparente e estava lá de pé no meio
da paisagem do deserto. Eu pude ver claramente quando ele se virou e nos
acenou.

“Vamos”! Disse para Eiskralle. “Você é o pró ximo”!

“O que mais”? Ele resmungou desconsolado e entrou na concavidade.


85
Um segundo depois ele estava de pé pró ximo a Fartuloon, parecendo nã o
ser maior do que meu polegar.

Farnathia me olhava ansiosa e parou de apertar meu braço. Mas eu agarrei


o dela e a levei comigo. Assim que entramos no estranho ‘Limiar’, nã o olhei
para trá s, para Tarkihl. Por ora eu estava farto daquele lugar.

Eu nada senti quando atravessei o portal dimensional.

No pró ximo instante eu estava parado bem perto de Fartuloon e Eiskralle,


ainda segurando Farnathia, e lá está vamos nó s no inó spito deserto que era
totalmente coberto pelos filamentos prateados. Ao longe no horizonte
pude ver a silhueta negra de Tarkihl onde ela se projetava parcialmente
sobre a superfície de Gortavor.

Fora isto, o deserto estava vazio. Para nó s nã o teria volta para Tarkihl. O
transmissor havia desaparecido.

Fartuloon adivinhou meus pensamentos. “É possível vir de Tarkihl pelo


‘Limiar’, mas nã o se pode voltar através dele. Minha fortaleza está a nossa
frente. Lá estaremos a salvo”.

Eiskralle fitou a paisagem desolada. “A nossa frente, a que distâ ncia”?

Pela primeira vez, pensei ter visto um vestígio de embaraço no rosto de


Fartuloon. “Bem nã o se ofendam com a pequena mentira que tive de usar.
Eu tinha que manter sua coragem acesa deixando-os pensar que tínhamos
uma de minhas bases secretas praticamente a nossa porta. Claro que nã o é
bem assim porque temos que percorrer um trecho real de chã o para
alcançar nosso destino. Temos que ir para o Norte”.

“Para o Norte”? De repente Eiskralle nã o parecia estar mais tã o confiante


ou contente. “Você nã o está querendo dizer a Terra Branca, está ”?

“Infelizmente é exatamente isto que quero dizer”, confirmou Fartuloon.

Eiskralle nã o foi o ú nico a se espantar com isso, porque minha reaçã o foi à
mesma que a dele. Tinha ouvido muito sobre este país do Norte onde devia
haver incríveis massas de gelo e neve. Para Eiskralle era o lugar onde ele
explodiria em milhares de estilhaços se ele realmente fosse para lá .
Entretanto, antes de tudo, pensei em Farnathia. Nã o está vamos
suficientemente equipados para empreender tal jornada. Eu disse isso a
Fartuloon.

“Descansem meus amigos. E entã o lhes explicarei meu plano. É tã o simples


que Sofgart o Cego, nunca imaginaria. Ele nã o poderia imaginar que apó s
nossa fuga bem sucedida faríamos algo assim. É por isto que ele nã o nos
pegará . Daremos um passeio: nó s simplesmente faremos um longo e
agradá vel passeio”.
86
Conforme Eiskralle ia desembalando sua comida, ele tentava esconder
suas emoçõ es. “Um passeio? Quanto tempo vai durar esse passeio”?

“Um bom trecho, pelo menos uma ou duas semanas de caminhada, se nã o


encontrarmos nenhum meio discreto de transporte. Entã o comam alguma
coisa. Precisaremos de todas as nossas reservas de energia para chegar a
minha base secreta. Enquanto isso deixe o Cego e seus guardas
vasculharem tudo o que quiserem em Tarkihl. Nã o nos encontrarã o lá ”.

O sol logo se poria. Ficaria entã o, escuro e frio. Entretanto, ainda tínhamos
nossas jaquetas quentes e a capa de Farnathia. Nã o poderíamos acender
nenhuma fogueira porque seria imediatamente detectada por qualquer
patrulha aérea.

Para o Norte...

Nó s escapamos da morte certa, entã o porque perdermos nossa coragem


agora? A nossa frente estava a terra do Norte e também a liberdade.
Fartuloon nos trouxera até aqui. Ele também nos levará a sua fortaleza,
que provavelmente está sob gelo eterno.

Antes de levantarmos acampamento, olhei para trá s pela ú ltima vez, a


Sombra de Tarkihl era apenas uma vaga silhueta contra o horizonte
porque o crepú sculo se aproximava.

Farnathia se aproximou de mim e pegou minha mã o.

Seja o que for que estivesse diante de nó s, caminharíamos juntos para o


futuro.

.......

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