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Jerusalém é a capital e maior cidade de Israel, situada entre o mar Mediterrâneo e o mar Morto, a

aproximadamente 93 km a leste de Tel-Aviv–Jaffa. Jerusalém é uma cidade santa para três


grandes religiões monoteístas do mundo: judaísmo, cristianismo e islamismo. Lugar sagrado para
os cristãos, por ser o cenário da Última Ceia, da crucificação e ressurreição de Jesus Cristo; para
os judeus é um símbolo de sua terra natal, lugar onde se encontra o Templo de Jerusalém; e para
os muçulmanos é sagrada por ser o local de onde o profeta Maomé ascendeu ao céu. No Oriente
Médio, região que foi o berço do monoteísmo judaico, cristão e muçulmano, a religião, o
nacionalismo e a política sempre causaram conflitos. Após os imperialismos mesopotâmico, persa,
macedônico e romano, chegaram os árabes e os turcos com sua fé em Alá. Na Idade Moderna, a
região ficou submetida ao Império Turco-Otomano, domínio que terminou com a Primeira Guerra
Mundial. Mas a independência dos vários países ainda estava distante: Grã-Bretanha e França
assumiram o controle e dividiram a região, alimentando o nacionalismo árabe. Os interesses
emancipacionistas avançaram e, em 1945, o nascimento da Liga Árabe sinalizou uma possível
união entre as diferentes nações muçulmanas. Paralelamente, com o objetivo de estabelecer um
"lar nacional judeu na Palestina", os judeus organizavam um amplo movimento sionista, que
culminou com a criação do Estado de Israel, após a Segunda Guerra. Os conflitos entre judeus,
palestinos e países árabes vizinhos se multiplicaram, causados por velhos motivos religiosos e
territoriais e por novos, ligados ao petróleo e ao fundamentalismo. O Oriente Médio tornou-se uma
das áreas mais tensas do mundo.

Jerusalém, que esteve dividida em Jerusalém Oriental (na posse da Jordânia) e


Jerusalém Ocidental (na posse de Israel) até 1967, foi unificada por este país após a
Guerra dos Seis Dias, sendo eleita a capital de Israel. É o centro administrativo do pa
tendo como actividades fundamentais as que estão ligadas ao sector terciário (finanç
turismo e comércio). Pelo simbolismo dos seus monumentos e da sua história, Jerusa
é considerada cidade santa pelos judeus, muçulmanos e cristãos.
Devido à sua importância religiosa e política, tem sido palco de grandes conflitos que
perduram ainda nos nossos dias.
Antiga cidade Cananeia, o seu nome tem origem talvez numa divindade amorrita:
Shalem.
Quando os Hebreus entraram em Canaã, no século XIII a. C., Jerusalém era uma cid
independente à frente de uma confederação. Conservou a independência até ao rein
de David, que quis fazer dela um centro político e religioso, base da unidade do povo
hebreu. David tomou a cidade em 1058 a. C. e construiu um palácio fazendo transpo
para a cidade a Arca da Aliança. Preparou então a construção de um templo que só v
a ser erigido durante o governo do seu filho Salomão. Sob este último, a cidade perd
poder na sequência da cisão do reino em 931 a. C.

Vários povos estiveram de posse da cidade


faraó Sesaq, os Filisteus, que saquearam a
cidade em 893 a. C.; Senaquerib, rei da S
Assurbanípal, rei de Nínive (666 a. C.), cu
generais prenderam o rei Manasés e o leva
para a Babilónia (quando regressou, este
monarca reedificou a muralha erigida por
pai Ezequias); Nabucodonosor, em 587 a.
que incendiou a cidade e levou para o cati
da Babilónia muitos judeus entre os quais
profeta Daniel (só em 538 a. C. é que Ciro
da Pérsia, autorizou o regresso dos judeus
Jerusalém e permitiu a reconstrução do te
e da Cidade Santa que foi completada em
a. C.); Alexandre Magno entrou em Jerusa
em 332 a. C., respeitando os costumes do
judeus mas destruindo a hegemonia persa
Selêucidas, que saíram vitoriosos sobre os
lágidas egípcios, helenizaram a cidade
iniciando a sua decadência; os Romanos, a
partir de 63 a. C., enviaram Pompeio a
Jerusalém com o intuito de debelar uma
guerra civil, tornando-se a cidade tributári
Roma. A partir daqui sucedem-se vários
governadores romanos.

A inflexibilidade de alguns governadores romanos deu lugar a


um conflito que provocou a morte a muitos romanos. Tito,
filho do imperador Vespasiano, atacou Jerusalém em 70 a. C.,
destruindo os edifícios judaicos e apoderando-se da cidade.
Foi erigido um altar a Júpiter no lugar do templo judaico, o
que provocou conflitos que terminaram com a vitória do
imperador Adriano em 135 d. C., interditando a cidade aos
judeus. O édito de Milão por Constantino motivou a procura
dos lugares santos pelos cristãos e o seu estabelecimento em
Jerusalém, que teve o maior impulso quando Santa Helena,
mãe do imperador, encontrou a relíquia da Santa Cruz. Em Cidade Jerusalem
638 foi a vez de os muçulmanos atacarem a cidade sob o
comando do califa Omar e transformarem-na na cidade santa
do Islão - al-Quds. Os muçulmanos foram até certo ponto
tolerantes para com os cristãos, mantendo boas relações.

Contudo, o auxílio dado pelos cristãos aos bizantinos não agradou aos muçulmanos
provocando a discórdia, o que resultou na destruição do Santo Sepulcro pelo califa A
Kam, em 1010. Os Turcos, por sua vez, começaram a oprimir os cristãos em 1077
quando ficaram de posse da Palestina, o que motivou a primeira cruzada à Terra San
em 1095. Em 1099 Godofredo de Bolhões foi eleito soberano de Jerusalém. O reino d
Jerusalém seria posteriormente destruído por Saladino em 1187, mantendo intacto o
Santo Sepulcro mediante o pagamento de um largo tributo. Esteve nas mãos dos
Mamelucos do século XIII ao século XVI, verificando-se neste período uma
predominância da população muçulmana. Em 1517 são os turcos que conquistam
Jerusalém sob Selim I. A ocupação otomana estende-se até 1917 reflectindo-se num
perda de importância de Jerusalém como lugar santo cristão e, em contrapartida, nu
renovação da comunidade judaica.

JERUSALÉM
Heb. Yerûshalayim.

Uma vez que o nome é confirmado, de diferentes maneiras, pelo menos desde o
século XIX AC, é uma cidade de origem cananita ou amorreia, significando
provavelmente “a cidades do (deus) Shalim”, mas em hebreu provavelmente “a
cidade da paz”. Em textos egípcios dos séculos XIX e XVIII AC, o nome pronunciar-
se-á Urusalimum. Nas cartas de Amarna do século XIV AC aparece como Urusalim.
Em aramaico chama-se Yerûshelem e em grego Ierosoluma e Ierousalem. Uma das
mais importantes cidades do mundo, a Santa Cidade de três grandes fés: o
Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Para os judeus, era o local onde se situava
o templo e também a capital da nação. Para os cristãos é o cenário do sofrimento,
morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Para os muçulmanos é o local tradicional
da ascensão de Maomé ao céu. Localiza-se a cerca de um terço da distância que vai
desde a extremidade norte do Mar Morto até ao Mar Mediterrâneo, nas montanhas
da Judeia.

O nome Salém (Heb. Shalem), que surge duas vezes no VT (Gn 14:18; Sl 76:2), é
provavelmente a forma abreviada do nome completo. É também por este nome que
é mencionada nas tabuínhas cuneiformes de Tell Mardikh, a antiga Ebla (Síria) do
final do 3º milénio AC. A cidade era conhecida pelo nome de Jebus no período dos
juizes (Jz 19:10, 11) e na altura em que David a tomou (1Cr 11:4, 5). Isto
aconteceu porque os seus habitantes eram chamados jebuseus. Este nome não está
confirmado fora da Bíblia. O seu nome árabe actual é el-Quds, “aquela que é santa”,
mas para todos aqueles que não são árabes - judeus, cristãos e outros - ainda é
conhecida por Jerusalém.

I - A Localização - A cidade fortificada de Jerusalém situa-se entre dois vales


principais: o Cedrom a este e o Hinom a oeste e a sul. O planalto entre os dois vales
onde a cidade está construída, está ligado ao planalto da Judeia, a norte. Este
planalto está rudemente dividido em duas cordilheiras por um vale central, cujo
nome não se encontra na Bíblia, mas que é denominado por Josefo como Vale
Tyropoeon, ou “vale dos queijeiros”. Este vale era estreito e profundo mas no
tempo dos macabeus encontrava-se cheio com os despojos de Acra, a fortaleza dos
sírios, que Simão Macabeu demoliu. Actualmente, inicia-se na Porta de Damasco e é
visível apenas como uma depressão superficial. As escavações efectuadas mostram
que os escombros atingem uma profundidade de 30 metros. A cordilheira a Este
atinge uma altura de cerca de 744 metros acima do nível do mar, num local onde o
“castelo" (segundo algumas versões), ou “tenda” (segundo outras versões) de
Antónia se situava, a norte do tempo. Este monte a norte da cordilheira oriental é
chamado “o monte do templo”, ou “monte norte-oriental”. No VT surge como
“Moriá" (Gn 22:2; 2Cr 3:1). A cordilheira oriental encontra-se dividida em duas
secções (norte e sul) através de uma depressão superficial, actualmente cheia de
despojos. A secção sul, o pontão que desce na direcção da junção dos vales Cedrom
e Hinom, era o local original da cidade de David, que era conhecida por Jebus,
Salém e Sião. A parte mais alta eleva-se a cerca de 695 metros acima do nível do
mar. Esta área - a Jerusalém original - fica completamente fora das muralhas da
cidade actual, que se situam a sul da área do templo.

A cordilheira ocidental é mais alta do que a oriental, elevando-se a uma altitude de


cerca de 777 metros acima do nível do mar, 30 metros mais alta do que o monte do
templo. Não se conhecem os antigos nomes das diferentes elevações desta
cordilheira ocidental mas o monte a sudoeste foi, por vários séculos, erradamente
identificado com “Sião” e ainda tem este nome actualmente, embora a maior parte
deste monte talvez nunca tenha sido incluído na antiga cidade até aos tempos
helenísticos. Uma boa parte do monte a noroeste localiza-se agora na zona noroeste
da actual Cidade Velha de Jerusalém e inclui, como sua mais famosa estrutura, a
Igreja do Santo Sepulcro.

O Vale de Cedrom, algumas vezes mencionado na Bíblia (2Sm 15:23; Jo 18:1, etc.)
e actualmente chamado Wâdi en-Nâr, separa a cidade do Monte das Oliveiras, cujo
pico mais alto se eleva a 835 metros acima do nível do mar. O Cedrom é um
desfiladeiro estreito e profundo que serviu de apoio às defesas orientais da cidade.
Nele se encontram as únicas fontes de água de Jerusalém: a nascente de Giom, nas
vertentes ocidentais do vale; e Enrogel, um poço que se situa perto da confluência
dos Vales de Hinom e Cedrom. O Vale de Hinom, actualmente chamado Wâdi er-
Rabâbeh, é frequentemente mencionado no VT (Js 15:8; Js 18:16; etc.). É muito
mais vasto do que o Cedrom e o Tyropoeon e as suas encostas são mais suaves.
Este vale separa os montes mais altos a oeste e a sul da cordilheira sudoeste no
planalto de Jerusalém.
II - História - Não se sabe quando é que Jerusalém foi fundada mas algumas
escavações puseram a descoberto evidências que provam que já existia durante a
12ª dinastia egípcia (século XIX e XVIII AC), altura em que alguns textos egípcios
mencionam a cidade e os seus governantes amorreus, Yaqar-‘Ammu e Sasa‘-‘Anu,
como sendo reais ou potenciais inimigos do Egipto. Durante este período, o VT
menciona a cidade pela primeira vez sob o nome de Salém, cujo governante -
Melquisedeque - era, na altura, um sacerdote do Deus Altíssimo e, portanto, com
poder para abençoar Abraão e receber o dízimo do despojo que o patriarca tomara
de Quedorlaomer e dos seus confederados (Gn 14:18-20).

Jerusalém é mencionada no livro de Josué como sendo a cidade principal de uma


coligação de cidades-estado cananeias que lutaram contra os israelitas. O seu rei,
nessa altura, era Adonizedeque que, juntamente com os seus aliados, foi derrotado
na batalha de Azeca, tendo sido capturado e executado por Josué (Js 10:1-27).
Pouco depois, no tempo do rei Ikhnatom do Egipto, um rei chamado ‘Abdu-Heba
ascendeu ao trono de Jerusalém. O seu nome significa “servo (da deusa hitita)
Heba” e é possível que fosse de ascendência hitita. Se assim for, ele e os dois reis
amorreus já mencionados seriam a prova de que a população que inicialmente
habitava em Jerusalém incluía hititas e amorreus. Isto é reflectido nas palavras de
Ezequiel, que disse de Jerusalém: “o teu pai era amorreu e a tua mãe heteia” (Ez
16:3; cf. vers. Ez 16:45). Entre as Cartas de Amarna encontram-se algumas que
‘Abdu-Heba escreveu a Ikhnaton e nas quais ele se queixa amargamente da invasão
dos ‘Apiru, ou Habiru (provavelmente os hebreus) e da inactividade do Egipto,
tendo daí resultado a captura do país secção por secção. Em Jz 1:8 encontra-se
registado o relato da captura e destruição de Jerusalém levada a cabo por Judá
após a morte de Josué, mas a esta vitória não se seguiu a ocupação da cidade pelos
israelitas; Jerusalém permaneceu nas mãos dos cananeus ou jebuseus até à altura
em que David a conquistou (Js 15:63; cf. Jz 19:11, 12).

Depois que David foi coroado rei sobre todas as tribos de Israel, ele decidiu
transferir a sua capital da importante cidade judaica de Hebrom para um local
neutro. Escolheu, então, Jerusalém, que se situava na fronteira entre Judá e
Benjamim mas que não pertencia a nenhuma destas tribos. Os jebuseus troçaram
de David quando ele cercou a cidade, pois estavam convencidos de conseguirem
manter nas suas mãos a bem fortificada cidade situada nas montanhas. Contudo,
Joabe e os seus homens obtiveram acesso subindo pelo Sinnôr, que provavelmente
se refere ao poço de água que ligava a nascente de Giom ao interior da cidade
(2Sm 5:6-8). No tempo de David, ficou conhecida por “cidade de David” (1Cr 11:7;
2Sm 5:7). David construiu ali um palácio (2Sm 5:11) e também algumas
fortificações (ver Ct 4:4), que menciona a torre de David; cf. 1Cr 11:8). Esta torre
não é a mesma que se encontra na actual cidadela de Jerusalém, uma vez que esta
última é uma das torres do palácio construído por Herodes, o Grande. David
também construiu um local, ou estrutura, chamado “Milo” (2Sm 5:9; 1Cr 11:8). A
partir de outros textos (1Rs 9:15, 24; 1Rs 11:27; 2Cr 32:5), é provável que Milo se
situasse dentro da cidade e que fosse periodicamente alargado e fortificado.
Aparentemente, fazia parte do sistema de fortificações da cidade no seu ponto mais
fraco, que terá sido a extremidade norte do monte a sudeste. A LXX identifica-o
com Acra, uma cidadela a sul do templo que ali permaneceu até aos dias de Judas
Macabeu. O nome hebraico millô’, que significa “encher”, tem sido explicado de
várias maneiras. Poderá ter sido uma muralha dupla cheia de terra, ou uma
plataforma sobre a qual se construíram as fortificações.

Quando David transferiu a arca para Jerusalém, colocou-a temporariamente numa


tenda. Deus não permitiu que ele construísse um templo. Contudo, David preparou
tudo para a sua construção e a eira de Araúna, que ele comprara, foi utilizada para
tal efeito, tendo o templo sido construído por Salomão (2Sm 6:17; 2Sm 24:24; 1Cr
28:2, 3, Js 19-21; 2Cr 3:1). Quando David morreu, foi sepultado na cidade de
David (1Rs 2:10). Todos os reis de Judá até Acaz foram sepultados no sepulcro real.
A localização deste sepulcro ainda é desconhecida, embora uma comparação entre
Ne 3:16 e os vers. Ne 3:15 e 3:26 pareça mostrar que ele se situava entre o poço
de Siloã e a porta das águas. Foi sugerido que o percurso sinuoso do túnel de Siloã
fosse o resultado de se tentar evitar os túmulos reais.

Com Salomão, que era um grande construtor, despontou uma nova era para
Jerusalém. A cidade foi alargada para norte e possivelmente para noroeste. O
templo, que se encontrava rodeado por um pátio, foi erigido no monte a norte, a
oeste da actual Catedral da Rocha que cobre a rocha onde se crê tenha estado o
altar das ofertas queimadas (1Rs 6:1-38; 2Cr 3:1). Foi provavelmente entre o
templo e a cidade de David que Salomão erigiu um palácio para si (1Rs 7:1),
palácio esse, chamado “a casa do rei” (1Rs 9:1). Poderá ter-se tratado de um
complexo de estruturas que incluía: ( uma “casa para a filha de Faraó”, que
provavelmente fazia parte do harém (1Rs 7:8; 1Rs 9:24), podendo formar com o
palácio uma única unidade. Este era provavelmente rodeado por um “outro pátio”,
sendo talvez o mesmo local denominado por “meio do pátio” e “pátio da guarda”
(1Rs 7:8; 2Rs 20:4; Jr 32:2; etc.); ( um pórtico ou ante-câmara (segundo algumas
versões) do juízo (1Rs 7:7), onde se situava o trono; ( um pórtico de colunas,
talvez a ante-câmara de audiências (vers. 1Rs 7:6), que era provavelmente uma
entrada para a ante-câmara principal, se não se tratasse mesmo de um edifício
separado; ( a “casa do bosque do Líbano”, possivelmente assim chamada porque os
seus 45 pilares, compostos em três filas, foram construídos em madeira de cedro do
Líbano. Salomão acrescentou, assim, toda uma nova zona à cidade e não haverá
dúvidas de que a expansão da sua administração trouxe para Jerusalém muitas
outras pessoas para quem era preciso providenciar residência. Esta nova zona foi,
então, rodeada por uma muralha que circundou “Jerusalém em roda” (cap. 1Rs 3.1;
cf. cap. 1Rs 9:1.

Quando o reino se separou depois da morte de Salomão, mais de ¾ do seu reino


foram tomados por Judá e Jerusalém perdeu muito da sua importância.
Consequentemente, a cidade não voltou a expandir-se durante vários séculos,
embora se fizessem algumas reparações de vez em quando, especialmente após
alguma batalha. No tempo de Roboão, o filho de Salomão, Sisaque do Egipto
conquistou Jerusalém, levando consigo muitos despojos (1Rs 14:25-28; 2Cr 12:2-
11). Não se sabe se, nessa altura, a cidade caiu após o cerco, ou se sofreu algum
dano, ou ainda se Roboão se rendeu sem luta. Foi também tomada por Joás, de
Israel, no tempo do rei Amazias. Joás destruiu cerca de 183 metros da sua muralha
ocidental, desde a Porta de Efraim até à Porta de Esquina (2Rs 14:13). Este dano
perpetrado contra as fortificações de Jerusalém deve ter sido reparado, embora não
esteja registado. Na verdade, não estão registadas quaisquer actividades de
reparação ou construção entre os reinados de Salomão e Uzias, com excepção de
algumas obras de reparação no templo levadas a cabo por Joás, de Judá (2Rs 12:4-
15; 2Cr 24:4-14).

O rei Uzias parece ter sido o primeiro rei em 200 anos a efectuar um qualquer tipo
de construção apreciável em Jerusalém. Construiu algumas torres na Porta de
Esquina, na Porta do Vale e nos ângulos da muralha (2Cr 26:9). O seu filho Jotão
continuou a sua obra e construiu a Porta Superior do Templo, realizando também
algumas obras no Muro de Ofel (2Cr 27:3). Do tempo de Ezequias também estão
registadas grandes obras de construção. Este rei fez preparações febris para o
fortalecimento das fortificações de Jerusalém, a fim de que a cidade fosse capaz de
suportar um cerco por parte dos assírios. Construiu um grande túnel entre Giom e o
tanque de Siloam (2Rs 20:20; 2Cr 32:4, 30) e, deste modo, conseguiu levar água
até à cidade. Nessa mesma altura, ele construiu uma segunda muralha que
circundou a parte sul do monte ocidental, tal como mostra a muralha descoberta
por N. Avigad, trazendo para dentro das fortificações da cidade o tanque
recentemente construído. Reconstruiu também o Milo na antiga cidade de David
(2Cr 32:5; Is 22:10, 11).

Embora muitas outras cidades fortificadas de Judá tivessem sido destruídas pelas
forças invasoras de Senaqueribe no tempo de Ezequias (2Rs 18:13), Jerusalém foi
poupada e emergiu ilesa deste período difícil (cap.2Rs 19:32-36). Manassés, filho
de Ezequias, construiu uma segunda muralha a nordeste, perto da Porta do Peixe
(2Cr 33:14). Não se sabe se Jerusalém sofreu durante o reinado de Manassés,
embora esteja registado que ele foi levado cativo pelos asssírios e que passou
algum tempo numa prisão babilónica (vers. 2Cr 11). Poderá ter-se rendido aos
assírios sem luta, embora a cidade possa ter sido cercada e capturada. Pouco tempo
depois, no reinado de Josias, menciona-se pela primeira vez Jerusalém “na segunda
parte” (Heb. mishneh, segundo algumas versões, “colégio”), zona na qual Hulda, a
profetisa, morava (2Rs 22:14; 2Cr 34:22; cf. Sf 1:10). Não é certo se isto se refere
à nova zona acrescentada a Jerusalém por Manassés, ou à zona noroeste já
fortificada no tempo de Salomão.

O bom rei Josias fez reparações adicionais no templo (2Rs 22:3-7; 2Cr 34:8-13) e
durante o seu reinado, Jerusalém experimentou uma grande reforma religiosa.
Contudo, a sua morte repentina pôs fim a este último reavivamento espiritual e os
seus sucessores caíram na idolatria e na impiedade. Como resultado, Jerusalém foi
capturada três vezes num período de vinte anos: primeiro em 605 AC durante o
reinado de Joaquim (Dn 1:1, 2); depois em 597 AC, altura em que Joaquim foi
levado cativo (2Rs 24:10-16); e finalmente em 586 AC, no décimo-primeiro ano de
Zedequias, quando Jerusalém foi destruída após um longo cerco e Zedequias foi
levado cativo para Babilónia, com a maior parte da população de Judá (cap. 2Rs
25:1-21).

Depois de Jerusalém ter permanecido em ruínas durante cerca de cinquenta anos,


regressou de Babilónia o primeiro grande grupo de cativos conduzido por Zorobabel.
Isto aconteceu provavelmente em 536 AC, setenta anos (inclusive) depois da
primeira deportação em 605 AC (ver Jr 25:11, 12; Jr 29:10). Este grupo logo se
predispôs a reconstruir o templo mas eles experimentaram tanta oposição por parte
dos samaritanos, para além de outras dificuldades, que a obra só terá realmente
começado no segundo ano de Dario I, em 520/19 AC; o templo ficou finalmente
pronto e foi dedicado a Deus em 515 AC, no sexto ano de Dario I (Ed 1:1-4; Ed
3:1-13; Ed 4:1-5, 24; Ez 5:1 a 6:16). No sétimo ano de Artaxerxes I, Esdras foi
autorizado a levar consigo para Jerusalém um segundo grupo de cativos (Ed 7:6 a
8:32). Ele reorganizou a província e estabeleceu uma administração baseada na lei
judaica em 457 AC. Foi provavelmente nos anos que se seguiram que os judeus de
Jerusalém começaram a reconstruir a muralha da cidade. Contudo, mais uma vez,
foram impedidos pelos seus inimigos (Ne 1:3), até que Neemias conseguiu que
Artaxerxes I o nomeasse governador. Neemias foi para Jerusalém em 444 AC e
terminou as obras de reparação em algumas semanas, apesar dos muitos
obstáculos (cap. Ne 2:1 a 4:23; Ne 6:15).

A muralha de Neemias, sobre a qual existe informação detalhada (Ne 2:12-15; Ne


3:1-32; Ne 12:27-40), parece ter seguido a muralha da Antiga Cidade, tal como era
na altura em que Jerusalém foi destruída por Nabucodonozor. Na sua descrição, ele
menciona a maior parte das portas da cidade, assim como outras características
topográficas, embora nem todas possam ser definitivamente identificadas. As
localizações das várias portas da cidade, torres e outras estruturas referidas por
Neemias são mencionadas sob os seus respectivos nomes em artigos separados.

Pouco se sabe da história de Jerusalém nos 250 anos que se seguiram a Neemias.
Josefo relata uma discussão que teve por base o sumo sacerdócio e durante a qual
Joanã matou o seu irmão no templo. Por causa disso, o governador persa castigou
severamente a nação. Josefo também fala de uma visita de Alexandre, o Grande, a
Jerusalém, altura em que a profecia de Daniel (aparentemente o cap. 8) lhe foi
explicada. De acordo com Josefo, isto causou-lhe uma tal impressão, que ele se
tornou amigo dos judeus. No tempo dos sucessores de Alexandre, Jerusalém foi
uma capital administrada pelos sumos sacerdotes, umas vezes sob a soberania dos
Ptolomeus do Egipto e outras sob o domínio dos Seleucidas da Síria.

Durante este período, Jerusalém foi grandemente influenciada pelo helenísmo. A


língua, o modo de pensar, o modo de vestir e os costumes gregos tornaram-se
moda, especialmente entre as classes dominantes que estavam em contacto directo
com os estrangeiros. Uma facção, conhecida por Helenizadores, quis tornar
Jerusalém numa cidade grega, tal como muitas outras fundadas ou reconstruídas
pelos governantes helenísticos das áreas vizinhas. Para isso, criaram um ginásio
grego e também implementaram os jogos atléticos. Mas o povo judeu opôs-se
desesperadamente quando um dos governantes seleucidas, Antíoco IV Epifânio, fez
uma tentativa determinada para helenizar os judeus à força, profanando o templo
ao sacrificar animais impuros às deidades pagãs. Este facto esteve na origem da
revolta macabeia e das guerras entre os sírios e os judeus, guerras das quais os
macabeus saíram vencedores. Quando fizeram de Jerusalém a capital da sua nação
independente, deu-se um grande crescimento, quer físico, quer em importância. A
primeira mudança ocorreu quando Judas Macabeu tomou Jerusalém em 165 AC e
rededicou o templo a Deus. Alguns anos mais tarde, o seu irmão Simão capturou a
cidadela - Acra -, que parece ter-se localizado a sul do templo. Destruiu-a
completamente, assim como o topo do monte onde ela se situava, usando os
escombros para cobrir o Vale Tyropoeon Central, que se localizava entre as
cordilheiras ocidental e oriental da cidade. Os governantes macabeus da Judeia
construíram um palácio no monte ocidental que, nessa altura, se encontrava
incluído no sistema defensivo da cidade. Construíram também uma cidadela a norte
do templo, mais tarde conhecida por castelo, ou torre, de Antónia.

Pompeu e o seu exército romano capturaram Jerusalém em 63 AC, derrubando


parte da sua muralha. Crassus saqueou o templo em 54 AC e os parcianos pilharam
a cidade em 40 AC. Três anos mais tarde, Jerusalém foi capturada por Herodes, o
Grande. Este restaurou as muralhas e adornou a cidade com muitas novas
estruturas, tais como um palácio com três torres, chamadas Hippicus, Phasaelus e
Mariamne (onde a “Cidadela “ agora se situa), um ginásio, um hipódromo e um
teatro. Reconstruiu também a fortaleza conhecida por “a torre”, ou “castelo”
(segundo algumas versões), ou “barracas” (segundo outras versões) de Antónia (At
21:34, 37; At 22:24; etc.). Nesta altura, o templo tinha cinco séculos e precisava
urgentemente de reparações. Herodes queria mais do que repará-lo; ele planeava
reconstruí-lo completamente. Isso implicava muitas alterações nas muralhas e
fortificações do templo. Esta sua mais ambiciosa obra começou em 20/19 AC. O
edifício central do templo ficou completamente construído em dezoito meses mas as
outras construções da grande área do templo só terminaram por volta de 64 DC,
dois anos antes do eclodir da revolta judaica contra os romanos.

Arquelau, o sucessor de Herodes, não realizou grandes construções mas Agripa I


edificou o que ficou conhecido por terceira muralha. Alguns pensam que seguiu o
percurso das muralhas norte e ocidental da actual Antiga Cidade, até à Porta de
Jafa. Outros, contudo, acreditam que a terceira muralha percorre cerca de 460
metros a norte da actual Antiga Cidade, onde partes da velha muralha foram
escavadas em vários locais, podendo, por isso, ser seguida durante alguns metros.
Outros mantêm que a terceira muralha foi uma estrutura erigida à pressa no século
II DC, por altura da revolta de Bar Cocheba.

No tempo de Herodes, o Grande (37-4 AC), no tempo do seu filho Arquelau (4 AC -


6 DC) e no tempo de Agripa I (41-44 DC), Jerusalém foi a capital do país mas não
durante os dois períodos em que os procuradores romanos governaram a Judeia (6-
41 DC e 44-66 DC). Estes fizeram de Cesareia a sua capital e só iam a Jerusalém
durante as festas mais importantes, para o caso de surgirem problemas.
Geralmente, só uma guarnição se encontrava estacionada no castelo de Antónia, a
fim de garantir a lei e a ordem na cidade.

Quando eclodiu a revolta contra Roma na primavera de 66 DC, muito sangue foi
derramado em Jerusalém. Sob a administração de Gessius Florus, o último
procurador da Judeia, os judeus começaram a massacrar os gentios e estes
passaram também a massacrar os judeus, até que toda a semelhança de ordem e
governo desapareceu. Cestius Gallus, o emissário da Síria tomou o comando da
Judeia e no outono de 66 DC marchou contra Jerusalém. Embora a certa altura
tivesse atingido a muralha norte do templo, foi repelido e, por alguma razão
desconhecida, retirou-se, perdendo muitos dos seus soldados nesse processo de
retirada. Os cristãos, lembrando-se do aviso de Jesus (Mt 24:15-20), aproveitaram
a oportunidade para saírem de Jerusalém, encontrando refúgio em Pela, na Pereia.
Desde o final do ano 66 DC até à primavera de 70 DC, Jerusalém não sofreu
qualquer ataque directo por parte dos romanos. Vespasiano, ao chegar ao país em
67 DC, seguiu o seu plano de o submeter ao seu controlo, permitindo que as várias
facções políticas em Jerusalém se guerreassem, tornando-se, deste modo, cada vez
mais fracas. Em 69 AC, quando Vespasiano foi proclamado imperador, a maior parte
da Palestina encontrava-se nas mãos dos romanos mas transformara-se num
deserto. Tito, o filho de Vespasiano, tomou o comando do exército e preparou-se
imediatamente para capturar Jerusalém, a forte capital da Judeia.

Durante os três anos de guerra com Roma, houve um grande influxo de pessoas
que entrou em Jerusalém. Tinham chegado à cidade, sem cessar, ondas de
refugiados, entre os quais se encontravam grupos de soldados pertencentes a
diferentes facções e comandados por líderes rivais. João de Gischala, na Galileia,
era o líder dos zelotes, que se estabeleceram na zona baixa do templo. Simão bar
Giora, o líder dos saqueadores, ocupou a zona superior da cidade; e Eleazer, filho
de Simão, também um líder rebelde, tomou conta da parte superior do templo.
Quando Tito deu início ao cerco de Jerusalém, com 80.000 soldados romanos, em
Abril de 79 DC, os três líderes e os seus seguidores encontravam-se envolvidos em
batalhas sangrentas uns contra os outros. Foram lutas implacáveis que duraram
todos os cinco meses do cerco romano, em que uma secção após outras foi
capturada e a fome imperava. Mais de 100.000 judeus morreram na cidade entre o
início de Maio e o final de Julho. Nessa altura, o castelo de Antónia foi tomado e os
sacrifícios do templo terminaram. Em Agosto, de acordo com o relato de Josefo, o
templo foi conquistado e, novamente sob o comando de Tito, foi queimado. O
monte a sudoeste de Jerusalém, chamado “A Cidade Superior”, caiu nas mãos dos
romanos em Setembro. Josefo declara que mais de um milhão de judeus perdeu a
vida durante o cerco de Jerusalém e que outros 97.000 foram feitos prisioneiros,
entre os quais se encontravam João de Gischala e Simão bar Giora. A cidade foi
arrasada para que o mundo visse que até as mais fortes muralhas não podiam
suster o exército romano. Somente três torres do palácio de Herodes e parte da
muralha ocidental permaneceram de pé como monumentos da anterior glória de
Jerusalém e a fim de servirem como posto militar para a guarnição romana.

Jerusalém recuperou lentamente desta catástrofe mas quando o imperador Adriano


a refortificou e começou a reconstruí-la como cidade gentílica, os judeus
revoltaram-se novamente, desta vez sob o comando de Bar Cocheba, em 132 DC.
Depois que esta revolta foi esmagada em 135 DC, a reconstrução da cidade foi
retomada e terminada e todos os judeus foram banidos de lá. O seu nome passou a
ser Colonia Aelia Capitolina, indicando que era uma colónia romana assim
denominada em honra de Adriano, cujo nome completo era Publius Aelius
Hadrianus, tendo também sido dedicada a Jupiter Capitulinus. O templo a este deus
romano foi construído no local do antigo templo. Os cristãos também se instalaram
em Jerusalém e no século IV, esta tornou-se praticamente numa cidade cristã.
Helena, mãe de Constantino, construiu uma igreja no Monte das Oliveiras em 326
DC e em 333 DC, Constantino construiu a Igreja do Santo Sepulcro no local onde,
supostamente, Jesus terá ressuscitado. A interdição contra os judeus foi levantada
nessa altura.

Em 614 DC, os persas, sob as ordens de Chosroes II, capturaram Jerusalém,


destruíram a Igreja do Santo Sepulcro, massacraram milhares dos seus habitantes
e levaram cativos outros tantos milhares. A cidade foi recapturada pelo imperador
romano Heraclio quatorze anos mais tarde, rendendo-se aos árabes sob o comando
de Omar em 638 DC. Desde então e na maior parte do tempo, esteve sob domínio
muçulmano. O local onde o templo de situava tornou-se num valado muçulmano
sagrado chamado Haram esh-Sherîf, onde se encontra o terceiro santuário
muçulmano mais sagrado, a Catedral da Rocha (erradamente apelidada de Mesquita
de Omar). Encontra-se no local onde se acredita ter-se situado o altar de bronze de
Salomão. Na extremidade sul do valado está a Mesquita el-Aqsa. Embora existissem
períodos em que os cristãos foram humilhados em Jerusalém, no seu todo não
foram muito maltratados, sendo geralmente tolerados. A situação mudou quando os
bárbaros turcos, denominados por Seljuk, tomaram Jerusalém em 1077 DC. Toda a
Europa se mostrou indignada com as humilhações que os cristãos sofreram na
Santa Cidade. Daí resultaram as cruzadas. Em 1099 DC, Jerusalém foi conquistada,
sendo aí estabelecido um reino cristão que durou 88 anos. Em 1187, Saladim,
sultão do Egipto e da Síria, tomou a cidade e reconstruiu as suas fortificações.
Jerusalém foi devolvida aos cristãos por mais dois períodos: primeiro em 1229 DC,
quando o Imperador Frederico II da Alemanha a obteve para si por meio de um
tratado e os cristãos a mantiveram em seu poder durante dez anos e novamente
em 1243 DC, quando foi incondicionalmente dada aos cristãos. Mas um ano mais
tarde, foi tomada pelos turcos Khwarazm, depois caiu nas mãos dos egípcios e, em
1517, os turcos otomanos conquistaram-na, mantendo-a em seu poder até 1917,
quando Jerusalém se rendeu aos britânicos, sob o comando do General Allenby. A
actual muralha que rodeia a chamada Velha Cidade foi construída pelo sultão turco
Suleiman, o Magnífico, em 1542. No tempo em que a Palestina foi um território sob
governação britânica (1923-1948), Jerusalém foi a sua capital. Durante a guerra
judaico-árabe em 1948, houve uma grande batalha em Jerusalém e o bairro judaico
da Velha Cidade murada foi completamente destruído. Entre 1948 e 1967, a cidade
foi dividida. A parte principal da cidade actual fora das muralhas, situando-se na sua
maioria a oeste da Velha Cidade, ficou nas mãos dos israelitas e tornou-se na
capital do Estado de Israel. A sua população, em 1967, elevava-se a cerca de
200.000 pessoas. A Velha Cidade, dentro das muralhas, ficou na posse dos árabes,
formando parte do Reino Hachemita do Jordão. A nova cidade árabe espalhou-se
para norte da Velha Cidade. A zona de Jerusalém na posse dos árabes possuía uma
população de cerca de 70.000 pessoas em 1967. Como resultado da vitória israelita
na guerra dos seis dias em 1967, Jerusalém foi reunificada e o bairro judaico que,
dentro da Velha Cidade se encontrava destruído, foi reconstruído e repovoado pelos
judeus. O estado legal da cidade não será decidido até que seja conseguido um
ajustamento político para o país.

III - História da Investigação Arqueológica em Jerusalém - A obra arqueológica tem


sido levada a cabo em Jerusalém há mais de cem anos; por um lado, tem sido
realizada por eruditos aí residentes, sacerdotes e outros e, por outro lado, por
escavações organizadas. Ao primeiro grupo pertence Charles Clermont-Ganneau
(1846-1923), que foi para Jerusalém em 1867 e viveu no Oriente durante vários
anos. As suas descobertas, estudos topográficos e publicações tornaram-se num
bom fundamento sobre o qual os outros eruditos construíram. Entre as suas mais
importantes descobertas encontram-se as Inscrições Gregas de Aviso, que Herodes
colocou no Templo, e duas inscrições tumulares do tempo de Ezequias, encontradas
em Silwan. Um outro residente em Jerusalém durante muitos anos, um arquitecto,
o Dr. Conrad Schick (1822-1901), foi incansável nas suas investigações, a fim de
reconstruir a história antiga da Cidade Santa. Gustaf Dalman (1855-1941), o
director do Instituto Arqueológico Alemão em Jerusalém, entre 1902 e 1914, L.-H.
Vincent, da Escola Bíblica Francesa, durante meio século e W. F. Albright, durante
dez anos director da Escola Americana de Investigação Oriental em Jerusalém
ocupam o primeiro lugar entre os que clarificaram a extremamente difícil história
arqueológica da Jerusalém antiga.

As escavações sistemáticas iniciaram-se em 1867, quando Charles Warren


trabalhou em Ofel para o recentemente formado Fundo de Exploração da Palestina.
Através de profundos poços e túneis (para cima de 25 metros), ele localizou parte
do que restava das primeiras muralhas. Às suas descobertas pertence a “muralha
Warren de Ofel”, a sul da esquina sudeste de Haram esh-Sherîf, que data do tempo
do antigo Israel. Descobriu também o poço que os jebuseus cavaram, a fim de
providenciarem um acesso que fosse desde a cidade até à nascente de Giom. Fez
também escavações junto à Porta da Corrente, em Haram esh-Sherîf, que provaram
que a rua actual que dá acesso à Porta se dirige para o “Arco de Wilson”, um antigo
viaduto que cruza o Vale Tyropoeon. Entre 1880 e 1881, Hermann Guthe, assistido
por Conrad Schick, levou a cabo algumas escavações à volta da saída do túnel de
Siloam, na vertente sul do monte a sudeste, pondo a descoberto porções da antiga
muralha da cidade, na encosta este do monte a sudeste. Entre 1894 e 1897, Bliss e
Dickie exploraram as fortificações a sul da antiga cidade para o Fundo de
Exploração Palestiniano. Descobriram a antiga muralha a sudeste do Tanque de
Siloam, puseram a descoberto a muralha que atravessava o Vale Tyropoeon,
muralha essa que continuava pelas encostas a sul do monte a sudoeste. Durante as
escavações clandestinas levadas a cabo, entre 1909 e 1911, pelo Capitão M. Parker
(que procurava os tesouros escondidos do Templo), foi desimpedido o túnel de
Siloam e L.-H. Vincent foi capaz de indicar no mapa este túnel e também outras
partes dos antigos sistemas de água ligados à nascente de Giom. Em 1913,
Raymond Weil deu início a umas escavações ambiciosas para o Barão E. de
Rothschild, planeando sistematicamente colocar a descoberto toda a zona sul do
monte a sudeste. O eclodir da Primeira Grande Guerra logo pôs termo a esta obra.
Mas ele descobriu na parte sul do monte a sudeste uma grande torre redonda,
provavelmente de origem hebraica. Encontrou também uma inscrição grega da
sinagoga de Teodoto. Continuou as suas escavações durante mais uma época (1923
a 1924), durante as quais descobriu uma parte da muralha sul, colocando também
a descoberto um túmulo que poderá ter pertencido à necrópole real dos reis de
Judá; uma vez que os túmulos desta área há muito que se encontravam todos
destruídos e não existia material que não tivesse sido estratigraficamente
perturbado, a sua natureza continua incerta. Macalister e Duncan escavaram a zona
este de Ofel entre 1923 e 1925 para o Fundo de Exploração da Palestina. A sua
principal descoberta foi uma parte de uma fortaleza e de uma torre confinante, que
eles interpretaram como pertencendo às fortificações jebusaicas e davídicas e que
investigações posteriores mostraram que datavam do tempo de Neemias. Outra
escavação importante, efectuada para a Escola Britânica de Arqueologia na
Palestina e para o Fundo de Exploração da Palestina, foi levada a cabo por J. W.
Crowfoot e G. M. Fitzgerald na zona ocidental do monte a sudeste em 1927. Eles
descobriram uma porta da cidade, talvez a “Porta do Vale” do VT, com uma estrada
que ia desde esta porta até ao Vale Tyropoeon.

A norte, foram levados a cabo três importantes empreendimentos. Entre 1925 e


1927, Sukenik e Mayer, da Universidade Hebraica de Jerusalém, puseram a
descoberto grandes porções da muralha que se situava mais a norte e que eles
denominaram por “a terceira muralha”. Outros sectores desta muralha têm vindo a
ser descobertos e escavados ocasionalmente desde então. Johns, do Departamento
Britânico de Antiquidades, efectuou escavações dentro da Cidadela entre 1934 e
1940, mostrando que as torres do palácio de Herodes se situavam sobre as
fundações que remontavam aos tempos helenísticos. Novas escavações levadas a
cabo por R. Amiran e A. Eitan entre 1968 e 1969 aperfeiçoaram e completaram o
quadro apresentado por Johns. Entre 1937 e 1938, Hamilton, também do
Departamento de Antiquidades, levou a cabo algumas sondagens fora da muralha a
norte da actual Antiga Cidade e da Porta de Damasco. As escavações efectuadas
junto desta porta foram retomadas por Hennessy entre 1964 e 1966. Mostraram
que a actual Porta de Damasco se encaixa numa estrutura que foi originalmente
construída por Agripa I no século I DC e que foi, mais tarde, reconstruída por
Adriano no século II.

Também foram levadas a cabo escavações dentro da cidade, principalmente em


conventos e igrejas. Estas escavações esclareceram algumas questões relativas à
extensão da Torre de Antónia, à cidade do tempo de Constantino e às estruturas
erigidas no seu tempo.

Têm sido efectuadas escavações, com resultados extremamente importantes, desde


1961, primeiro por K. Kenyon até 1967 e desde a guerra dos seis dias, em 1967,
por arqueólogos judaicos. Só aqui serão mencionadas as mais importantes.

As escavações de Kenyon clarificaram e corrigiram descobertas anteriores das


fortificações antigas na zona este de Ofel. Ela descobriu as muralhas jebusaicas e
davídicas da antiga Jerusalém e provou que as ruínas das fortificações (que se
pensavam ser do tempo dos jebuseus e de David) foram, de facto, erigidas por
Neemias.

Em Muristan, a sul da Igreja do Santo Sepulcro, foi escavado um fosso no leito de


uma rocha, mostrando que esta área se situava fora das muralhas da cidade no
tempo de Cristo. Estas provas foram mais tarde confirmadas por escavações
levadas a cabo por U. Lux durante as obras de restauro da Igreja Luterana do
Redentor, que se situa entre Muritan e a Igreja do Santo Sepulcro. Estas
descobertas mostraram que o Santo Sepulcro, construído no século IV e no local
que os cristãos contemporâneos consideravam como sendo o lugar onde a
crucificação e o sepultamento de Cristo aconteceram, se localizava num sítio que,
no tempo de Cristo, ficava fora da cidade. Portanto, é possível que este local
tradicional seja o local dos sofrimentos e ressurreição de Cristo.

As escavações efectuadas por Mazar desde 1968 a oeste e a sul da área do templo
colocaram a descoberto, para além das ruínas da Jerusalém bizantina e islâmica,
importantes achados da cidade herodiana do tempo de Cristo. Estes achados
incluíam umas escadas monumentais com 64 metros de largura e que iam desde
Ofel, a zona baixa de Jerusalém, até à Porta de Hulda, que dava acesso à área do
Templo, para quem vinha do sul.

As escavações realizadas no bairro judaico da Cidade Velha desde 1969 sob a


direcção de Avigad mostraram as ruínas de várias casas destruídas em 70 DC.
Ainda continham muitos dos seus utensílios e móveis. A mais importante
descoberta, contudo, foi uma secção da muralha da cidade, erigida no século VIII
AC provavelmente pelo rei Ezequias, que cercou a nova área situada no monte
ocidental de Jerusalém. Foram escavados cerca de 65 metros desta muralha, que
tem cerca de 7 metros de largura e que foi preservada até uma altura de 3 metros.
Também foi descoberta por Avigad uma torre pertencente à muralha ocidental de
Jerusalém e que se provou ter sido destruída pelos babilónios em 586 AC. Estas
descobertas necessitaram da correcção do plano da antiga Jerusalém.

IV - Os Resultados de Um Século de Investigações Arqueológicas em Jerusalém -


Embora ainda não tivessem sido resolvidos muitos dos problemas históricos e
topográficos, poderão mencionar-se alguns resultados positivos. A localização e
tamanho da Jerusalém jebusaica e da Cidade de David foram estabelecidos com
toda a certeza. Também o percurso das muralhas dessa cidade mais antiga e a
localização de algumas das suas portas podem agora ser conhecidos. As obras
relativas ao transporte de água efectuadas pelos jebuseus e por Ezequias foram
exploradas. Também a extensão aproximada da área do templo e a localização do
templo dentro dessa área foram estabelecidas. Igualmente conhecidas são a
localização e extensão da Torre de Antónia, do palácio de Herodes, do tanque de
Betesda, do tanque de Siloam, da nascente de Giom, do poço de Enrogel e dos
Vales Cedrom e Hinom. Ainda por conhecer está a maior parte do percurso exacto
das muralhas da cidade durante os vários períodos da história da antiga Jerusalém.

PERÍODO PÓS-
EXÍLICO
Cícero Valdemir"
O período chamado de Pós-Exílio marca o fim do cativeiro do povo de Israel na Babilônia. For
vários anos de dominação estrangeira do império babilônico sobre o povo judeu, que levou pa
da população para servir o império. Esse exílio foi encerrado com o decreto de Ciro, imperado
da Pérsia, que tornara-se a nova potência imperialista da região. O período de domínio do
império Persa foi de 538 a 445 aC. Como a Pérsia tornou-se o maior império do oriente, dividi
seu território em províncias, e Judá passa a fazer parte de uma dessas províncias.
O povo de Judá era obrigado a aceitar um rei estrangeiro, com isso Judá não decidia mais seu
destino, nem via possibilidades de uma independência política num futuro próximo. Mas mesm
com essa restrição, o império destacou-se pelos seus projetos de reconstrução da Judéia,
principalmente em relação ao templo de Jerusalém. Estes sem dúvida, reacenderam a alegria
as esperanças nos exilados de recomeçar a vida na sua própria terra.
A reconstrução das cidades da Judéia e do templo foi lenta e difícil, à custa de muitos sacrifíci
Porque detrás dos projetos da reconstrução e da liberdade religiosa do império, escondiam-se
projetos políticos e econômicos, que incluía a expansão até o Egito. Economicamente, tinham
em vista a ampliação da dominação econômica com a cobrança de pesados tributos. Para iss
ela precisava conquistar a simpatia do povo de Judá, tomar conhecimento da sua realidade e
los como aliados. Por volta do ano 520 aC, a Pérsia incentiva a reconstrução do templo sob o
comando de Zorobabel, descendente do rei, e de Josué, que contam com o apoio dos profeta
Ageu e Zacarias (Ne 12,1; Ag 1,2-4; 2,23; Zc 4,9). Alguns anos mais tarde, por volta de 450-40
aC, o templo atinge seu pleno funcionamento, provavelmente no tempo de Neemias e Esdras.
Neemias é um judeu bem-sucedido na corte da Pérsia, ele é enviado pelos persas com o
seguinte projeto: reconstruir os muros da cidade de Jerusalém e organizar a economia de Jud
O seu projeto também atinge a comunidade organizada ao redor do templo. Portanto, Neemia
procura resgatar a identidade do povo judeu, eliminando os estrangeiros, especialmente as
mulheres (Ne 12,23-37); garante a entrega dos tributos para o sustento dos sacerdotes e levit
(Ne 13,10-14); e institui a observância do sábado (Ne 13,15-22). Mais, tarde os persas enviam
Esdras: sacerdote-escriba e doutor da Lei (Esd 7,11.12.21). Ele é enviado para verificar o
cumprimento da Lei em Judá e Jerusalém. Neste período, o código de pureza e o de santidad
são retomados (Lv 11-26). Esses dois profetas são de suma importância para o povo de Israe
Portanto, desde o período do exílio, Israel sem culto, sem monarquia e fora de sua terra, tenta
todo custo salvaguardar sua identidade por meio de algumas práticas como a circuncisão, o
sábado e a observância da lei de Moisés. Neemias e Esdras serão os grandes defensores da
Lei. A Torá (lei) pouco a pouco, foi tornando-se o centro do judaísmo.
Dario I, rei da Pérsia, em 518 aC, ordenou ao governador do Egito que constituísse uma
comissão para recolher as leis egípcias, afim de que elas servissem de orientação interna da
satrapia (província). Isso teria também servido de incentivo aos exilados para recolher seus
escritos sagrados a fim de servir de base para sua organização e definir sua identidade cultura
religiosa. Foi nesse período que a Bíblia se formou como livro. Israel conseguiu recolher e salv

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