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YO SSOAW SION E” GQIIBIED.\ ce aw One RU iv, UM GUIA PARA ESCREVER CLARO oa a YARA LIBERATO . LUCIA FULGENCIO Introdu¢do Se nifo somos intcligiveis é porque ‘no somos inteligentes. Rousieau Em qualquer atividade profissional, e mesmo na vida cotidiana, todos precisam conhecer os caminhos da escrita — canto para escrever de forma inteligivel quanto para ler com compreensio. Ler ¢ escrever implicam em comunicagio, ¢ para atingir esse objetivo € preciso que o texto seja compreensivel. Este livro propoe estrarégias de como escrever textos informativos mais claros. Mostra também © que se pode fazer idade do texto, visando a interferir no processo do aprendizado para definir a legibil da leitura, de maneira a facilité-lo. Trarando dos fatores que podem constituir dificuldade para a leitura de um texto, sobretudo aqueles de cariter didaitico, acreditamos que & possivel alterar a 10. Esperamos, forma linguistica de um texto de modo a facilitar sua compreensi com isso, contribuir para a tarefa de professores e de autores de textos informativos e didaticos. Para autores, sugetindo-Lhes caminhos para a elaboragio de textos mais legiveis, adequados a seu piiblico especifico. Para professores- sejam eles professores de portugués, ou de geografia, histéria, ciéncias, ou mesmo de matemstica —sugerindo- Ihes possfveis parimetros para a avalingio de textos com que devam trabalhar, € sugerindo-Ihes como prever e suprir as dificuldades que os alunos experimentam na leitura dos textos disponiveis. bigitatizado com Camscanner 10 Epossivel facilitar a leitura No capitulo “Um modelo de descrigao da leitura” é apresentada uma descrigao de como se processa a leitura: por exemplo, quais os passos que permitem chegar interpretagio do texto, quais os tipos de informagao que o leitor precisa utilizar para pectos. No compreender, como arua a meméria durante a leicura, dentre outros ” examinamos como ¢ importante 0 capitulo “A util conhecimento de mundo e do assunto do texto para se poder fazer inferéncias, liga ago do conhecimento prévi as partes do texto, estabelecer nexo légico entre as imformages e compor a paisagem mental do texto. Os capitulos “Tépico” ¢ “Elementos dados e anafora” cracam de problemas relacionadas ao discurso, isto é questées que vao além do Ambito da sentenca, atingindo a organizagio do texto como um todo. No capitulo “Tépico” examinamos como € importante para a compreensio a correta identifica tépico (isto é do assunto sobre o qual se fala), e como a paragrafacio se relaciona com a estruturacio dos diversos subtépicos do texto. No capitulo “Elementos dados ¢ andfora” examinamos em que sentido a interpretagéo das anforas (como os pronomes, por exemplo) pode inrerferir na facilidade com que se 1é um texto. No capitulo “Vocabulirio” rratamos da importincia do conhecimento do léxico na compreensio, e no capitulo “Estrutura interna das sentencas” tatamos de fatores sintiticos, relacionados com a estrutura interna da sentenga. O tiltimo capitulo, “Efeito do género textual”, escrito pelo professor Mario Perini, comenta a tendéncia de escrever ¢ ler textos informativos como se fossem literarios, confundindo os dois géneros. Abordamos assim aspectos sintiticos, semanticos, discursivos e cognitivos envolvidos na habilidade da leitu , apontando como os textos podem ser construfdos com mais clareza, de modo a privilegiar a legibilidade. Os fatores sintiticos sio talvez os menos prejudiciais se comparados com os demais, mas também comprometem a legibilidade, principalmente quando se acumulam no texto. Por outro lado, 0 emprego de vocabulétio conhecido, claro preciso é de fundamental importancia para a compreensio do texto. Ji a avalingio correta do conhecimento prévio do leitor talvez.seja a maior garantia de legibilidade de um texto. Isto &, 0 uso adequado do conhecimento prévio do leitor pode compensar qualquer outro fator de dificuldade apresentado por tragos de natureza discursiva, si tética ou lexical, dissolvendo possiveis problemas. Como ilustragio, sio apresentados exemplos retirados de livros didléticos. A escolha desseslivrosfoi feitade formacoralmentealeatéria,isentade qualquer pressuposto ou de qualquer intengio que nio a de exemplificar o que se afirma com um material auténtico, preparado para ser utilizado realmente no aprendizado das disciplinas do ensino fundamental. Nao prerendemos, de forma alguma, criticar qualquer autor, mesmo porque o fato de haver passagens que possam apresentar problemas, segundo nossa anilise, nao significa que todo o livro tenha uma legibilidade comprometida. Digitatizaco com Lamscanner Introdugdo 11 Optamos pela colocagao das notas no rodapé da pagina para que a legibi idade deste livro nao seja prejudicada, Dessa forma, o leitor nao precisa interromper a leitura para procurar a pagina onde esta Esperamos que as observagées que fazemos sobre a legi am esclarecer, em parte, o que constitui jaa nota. ilidade dos textos pos: possam contribuir para que seja facilitada a rarefa de ler. Nao temos, em absoluto, a pretensio de esgotar 0 assunto. A leitura é, sem dtivida, um campo de pesquisa que tem ainda muito a ser explorado. a dificuldade de um texto ¢ assim Este trabalho se iniciou com Mario Perini, um dos primeiros linguistas brasileiros a se voltar para o problema da leitura funcional. Ja no final da década de 1970 apresentou um trabalho sobre leitura no Congresso da ATLA, realizado em Montreal. Mais tarde publicouv rios outros artigos sobre o assunto, quando o interesse pelo estudo da leitura ja havia se difundido e produzido frutos. Preocupado com a situagio de alunos mais carentes que tm problemas no aprendizado da leitura, resumiu suas ideias em um texto publicado em 1988, no qual aponta uma posstvel saida para o problema: discutir e melhorar a qualidade do texto didatico, provavelmente “o tinico tipo de material escrito com o qual esses alunos tém oportunidade de um convivio relativamente intenso ¢ prolongado”. Partindo do pressuposto de que se aprende a ler lendo, afirmava que a “leicura nal nascerd do convivio com o material escrito adequado, ¢ somente dele fun Propés, entio, que “os textos deveriam ser graduados quanto 3 sua dificuldade de leitura, de modo que um texto de terceira série fosse significativamente mais simples do que um de oitava série, ou de nivel universitario”. Mas, como ele préprio afirmou, dificuldade de um texto”. a que desenvolvemos a part “nao é em absoluro dbrio o que const Este livro ¢ o resultado da pesqu de entio, na tentativa de definir a dificuldade de leitura de um texto, ou seja, sua legibilidade. A fo que ora apresentamos & 0 resultado da fusio de dois outros livros publicados anteriormente ~ chamados Como facilitar a leitura ¢ A leitura na escola — que foram versi revistos, reformulados e ampliados Registramos portanto nossos agradecimentos a Mario Perini, que, além de ter sido tm dos iniciadores e 0 grande impulsionador da pesquisa sobre lingu tica aplicada & leicura, sugeriui ¢ coordenow nossa pesquisa, além de incluir neste livro um capitulo de sua autoria. E agradecemos também a Denise Machado, que leu todo 0 texto e fez excelentes criticas, baseadas em sua longa experiéncia como professora de redagao e revisora de textos, Digitatizado com CamScanner » 4 Um modelo de descri¢do da leitura Al funcional nos primeiros anos de al tra de que nos ocupamos neste livro € aquela a que Perini (1988) chamou leitu Nao a simples decodificagio do sinal gri fico (que ¢ aprendida betizagio), mas a leitura, com compreensa 10, de textos informativos. Nosso interesse esta centrado exclusivamente na compreensio das informagées veiculadas pelo texto, de forma que io serio objeto de nosso estudo outros spectos envolvidos na atividade da leitura, como a anilise critica ou literaria. Neste primeiro capitulo procuraremos descrever alguns aspectos que constituem a leitura funcior I, em que o leitor procura construir um sentido para o texto. A compreensio de textos é um processo complexo em que interagem diversos fatores como conhecimentos linguisticos, conhecimento prévio a respeito do assunto do texto, conhecimento geral a respeito do mundo, motivagao ¢ interesse na leitura, dentre outros. Conhecer como atua cada um desses fatores é imprescindivel para a discussao da pritica do ensino da leitura. Neste livro nos restringiremos a alguns deles, que passamos a expor a seguir. Informac¢ao visual e informacao naGo-visual A leitura nao ¢ uma atividade meramente visual. O acesso & informagio visual — isto é, A informasio percebida, captada pelos olhos (abre iadamente IV) ~ ¢ obviamente Digitalizado com CamScanner 14 Epossivel faciitar a leiture do suficiente. Como sugere Smith (1989), podemos, por exemplo, enxergar perfeitamente um texto, € ainda assim nao conseguimos lé-lo por estar escrito em uma lingua que nao conhecemos. Esse conhecimento da lingua ¢ imprescindivel € jd devemos possui-lo antes de nos empenharmos na leitura do texto. Ele faz parte do conhecimento que temos, estocado na memoria, ao qual damos o nome de conhecimento prévio ow informacao néo-visual (abreviadamente InaoV). Além do conhecimento da lingua, outros tipos de InioV sio igualmente importantes na leitura. Por exemplo, 0 conhecimento sobre o assunto de que trata 0 texto. E possivel que um leitor nao consiga ler um texto que, embora escrito numa lingua que ele domina, trate de um assunto sobre o qual ele nao tem informagies. Também nesse caso dirfamos que lhe falta informagio nao-visual adequada. Na verdade, a informagao nio-visual que utilizamos na leitura compreende tanto o conhecimento da lingua ¢ do assunto do texto como também todo e qualquer outro conhecimento que possuimos ¢ que compde a nossa teoria do mundo. Isso inclui tudo o que sabemos, desde o nome de nosso melhor amigo, ou dados culturais como o de que “nas estas juninas se danga quadrilha”, até relagoes mais complexas que podemos perceber entre objetos ¢ acontecimentos do mundo. Todo esse conhecimento esti, de alguma forma, armazenado em nossa memoria, juntamente com o conhecimento da linguagem — em uma parte que os psicslogos chamam de memeéria de longo prazo ~¢ é iilizado no processo da leitura, permitindo dar sentido Aquilo quea visio capta. Vejamos um exemplo de como a informagio # ser importante na leitura: jio-visual pode (1) Acasa da Bia foi assalrada, Ela esta pensando em comprar um cachorto Essas duas sentengas estao relacionadas por uma série de informagoes nao expressas explicitamente, como a de que quem tem sua casa assaltada pode querer cade que um cachorro pode guardar casas. Essas informagdes buscar mais seguranc: devem fazer parte do conhecimento de mundo do leitor, e sio utilizadas para construir a relagio entre as sentengas. O leitor que compreende o texto acima imagina que 0 cachorro que Bia esti pensando em comprar vai servir para evitar que stia casa seja assaltada novamente. Sem esse conhecimento prévio nao-linguistico é impossivel conectar as duas sentengas num todo coerente. Resumidamente, podemos afirmar que a leitura é 0 resultado da interagio entre o que o leitor ja sabe € 0 que ele retira do texto, Em outras palavras, a leitura é 6 resultado da interagio entre IV e InaoV. Portanto, a atividade da leitura pode ser representada pela seguinte férmula: LER = IV + InaoV Digitalizade com CamScanner Um modelo de descrigdo da leita 15 Esses dois tipos de informagao (IV ¢ IndoV) mantém entre si uma relag quanto mais informagao nio-visual estiver disponivel inversamente proporcional, isto & ao leitor, menos informagio visual ele necessitard retirar do texto (retornaremos a esse ponto mais adiante). mith (1989) exemplifica essa relacio com o fato de romances populares serem to mais fie de ler do que, por exemplo, artigos técnicos. Os romances podem ser lidos de forma relativamente rpida, com iluminacio fraca, impressio de mi qualidade e letras pequenas. Por outro lado, os textos técnicos demandam mais tempo ¢ atengao, ¢ melhor qualidade de impressio. Outro exemplo. do autor: nomes de cidades conhecidas em sinais rodovidrios podem ser lidos a uma distanci que se passa é que utilizamos nosso conhecimento prévio (ou seja, a IntoV) para maior do que nomes de cidades desconhecidas, em placas de mesmo tamanho. adivinhar”, para prever parte da informagio visual contida no texto. PrevisOes ‘Antes de examinarmos como a capacidade de estabelecer previsdes atua na leitura, é preciso obscrvar, primeiramente, que a capacidade de prever é empregada nao somente quando nés estamos lendo, mas a todo momento, seja qual fora atividade que estejamos praticando. Na nossa vida didria usamos constantemente o conhecimento armazenado na meméria, toda a nossa “teoria do mundo”, para fazer previsbes acerca daquilo que acreditamos ser mais provivel acontecer no futuro. Baseados na nossa experiencia individual e no nosso conhecimento geral do mundo, formulamos previsoes com rel o Aquilo que esperamos que se realiz Por exemplo, quando estamos dirigindo um carro ¢ vamos atravessar uma rua, olhamos primeiro paraoslados. Fazemo: s0 porque supomes tt ‘outros Carros possam, cruzara rua onde estamos. Prevemos também que, se os dois carros cruzarem a rua no mesmo instante, vio bater; e se isso acontecer, que 0 acidente pode danificar os carros e machucar pe io de i pordiante. Enti ; quc, se 08 carros estragarem, te para uma oficinas ¢ assi 10, scolhamos para os lados antes de atraves: air um cruzamento, estamos agindo em resposta as previsGes que formulames para essa situagio. Nem sempre nossas previsGes so conscientes, mas elas sio certamente bastante precisas, Tanto € que, se uma previsio falha, ficamos st presos, Por exemplo, no nosso caso anterior, vimos que podemos supor que outros carros venham a atravessar a rua; no entanto, se no lugar de um carro virmos um elefante ou um disco voador, fic que esperamos que acontesa). nos surpresos, porque isso ndo corresponde As nossus previsdes (isto é, Aquilo Esse tipo de habilidade de estabelecer previsdes (ou de prever o que provavelmente acontecerd) aplica-se também 4 leicura: o leitor esté constantemente Digitalizade com CamScanner 16 E possivel facilitar a leitura fazendo previsoes sobre o que é provaivel que apareca num determinado texto. Vejamos agora alguns exemplos de como funciona a previsdo na leitura. O leitor pode fazer previsbes com base no seu conhecimento sobre as combinagogs de letras possiveis numa lingua. Por exemplo, existe um produto cuja marca € Ny TURAL. Provavelmente todos lemos a letra A nao estar representada por seu simbolo convencional, sim pelo desenho palavra natural, apesar de a Chegamos a essa interpretagio com base em nosso conhecimento a respeito de que tipo de letra seria possivel nesse contexto (entre a letra N, em inicio de palavra, ea letraT): em portugués, poderfamos ter af somente uma vogal, nunca uma consoante. Baseados mento Ié também no nosso conhe ico, que inclu existente na lingua, chegamos entio a identificagio de nome do produto. Um outro exemplo, apresentado por Perini, Fulgencio & Rehfeld (1984), é 0 seguinte:imaginemos asituagiode rermosdeler um manuscrito deuma pessoaqueescreve a palavta natural como tum item jé asletras Ue N da mesma forma e encontramos a sequéncia mostrada na seguinte fig duliana senton na we, Apesar de termos seis ver a repetigao da forma gréfica #2, ela seri lida trés veres como N ¢ trés vezes como U: a interpretagao seri “Julia ye nao “Jnliaua seutonua rna” ou qualquer outra coisa parecida, Na verdade, o leitor acredita ver N em ce sentou na rua eUem 2a. Issose de &uprevisio que fazemos baseados na probabilidade de ocorréncia de letras naquele contexto e na existéncia de um item léxico com aquela composigio Esse 6, de fato, um dos principais problemas que dificultam a tarefa de revisto de textos, Conduzido pelas previss s, 0 leitor nao vé letra por letra de cada palavra nem mesmo todas as palavras do texto, Nas situagdes em que € possivel prever a ocorréncia de dererminada letra ou palavra, o leitor simplesmente passa por cima da forma visual, completando com suas previs6es a informagio presente naquele trecho, Por isso, muiras vezes o revisor nem mesmo percebe alguma incorresao na escrita e deixa passar erros de imprensa ‘Temos entio, na compreensio de um texto, uma espécie de colaboragio ou de interagio entre a informagio visual ¢ o nosso conhecimento anterior Oo 8 perceptutais) Esse processo de compreensio ¢ explicado pela formulagio de estratégias leitor est equipado com uma série de técnicas heuristicas (ou estraté que Ihe permitem recuperar o sentido do texto através de pistas fornecidas pela informagio visual. Essas escratégias so de viirios tipos: ortogrificas, morfossintiticas, semantico-pragmiticas e discursivas, Um exemplo de estratégia ortogrifica pode ser formulado aproximadamente da seguinte manera a. seencontrara letra J no inicio de uma palavra (ou silaba), considere que a letra seguinte s6 pode ser uma vogal Digitalizado com CamScanner Um modelo de descricde da leita 17, E isso que nos faz ler “Juliana” na sequancia escrita Juiz, em ver de “Jnliana”, apesar de a letra U estar grafada de forma idéntica a letra N Da mesma forma como atuam as previsdes de nivel ortogrifico, atuam também as previsdes relacionadas morfossinraxe: o leitor tem interiorizadas as regras morfossintiticas da lingua e pode prever as sequéncias de palavras ou sintagmas possiveis na formagio de sentengas. Por exemplo, se encontra uma sequéncia do tipo Maria é.. espe a que depois venha um adjetivo (como em Maria é simpdtica) ow um sintagma nominal (como em Maria é uma fora). Outtas estratégias morfossintiticas lhe permitem, prever outras sequénc s, como por exemplo: b, se encontrar uma conjungao, marque o inicio de uma oragio. Existem também estratégias semintico-pragmaticas: sto aquelas base conhecimento prévio relacionado com o significado das expresso . com 0 ass tratado no texto e com as condigdes conhecidas do mundo exterior. Essas estratégias so muito titeis para ajudar o leitor na interpretagio de certos segmentos linguisticos. Por exemplo, num texto sobre culinéria, podemos esperar quie se} m indicados nomes de alimentos ¢ nao de venenos ou de dinossauros. Entao, se estamos lendo uma recei € encontramos a indicacio (2) Acrescente um pouco de endivia mesmo sem saber exatamente do que se trata, ¢ sem conhecer a palavra endivia, podemos prever que se trata de um alimento, Oleitoremprega também estratégias discursivas que lhe permitem fazer previsoes arespeitode certos aspectos da organizagao do texto como um todo. Dianrede um texto depropaganda, deum edirorial dejorn I, deum romance policial, deum conto de fadas ou de um memorando, o leitor faz previsoes diferentes quanto a forma de cada texto e quanto ao estilo de c da um, com base no que ele sabe a respeito da organizaga cada género discursivo, Portanto,oconhecimento prévioa respeito dos géneros textuais também contribui para a previsibilidade do que se espera que aparega no texto, tanto com relagio & sua forma quanto com relagao ao contetido. Nao vamos nos estender mais aqui sobre esse ponto. O que pretendemos com esses exemplos foi mostrar como o leitor eficiente utiliza seu conhecimento prévio, linguistico ¢ nao-linguistico, para fazer previsées durante a leitura. Vimos que o leitor eficiente nao se concentra exclusivamente no material visual para obter infarmagio. : pode formular previsses acerca do que supoe que venha a aparecer no texto ¢, dessa forma, pode compreender o texto muito mais rapidamente, bigitatizado com Camscanner 18 E possivel facilitar a leitura saltando algums s partes altamente previsiveis, completando a informagio ai contida com as previsées formuladas, Mas se o Ieitor nao dispoe de informagao 1 o-visual adequada, muito pouco do texto pode ser previsto ¢, nesse caso, 0 leitor precisa buscar muito mais informasao no material escrito O processamento que se bas ia principalmente na informagio vis ascendente, ou bottom-up; e 0 que utiliza basicamente informagio nao-visual é dl descendente, ou top-down. Os dois processos se alternam ¢ atuam a0 mesmo tempo na ati idade da leitura. Podemos entio dizer que a leitura eficiente é resultado da interagio de ambos 0s tipos de processamento. Kato (1985) identifica trés tipos de leitor, com base nesses dois processamentos: ‘Teriamos 0 tipo que privilegia o processamento descendente, utilizando muito pouco oascendente. E 0 leitor que apreende facilmente as ideias getais¢ principais do texto, é fuente ¢ veloz, mas por outro lado fiz excessos de adivinhagdes, sem procurar confirms- las com os dados do texto, através de uma leitura ascendente. ...] © segundo tipo de leitor é aquele que se utiliza basicamente do proceso ascendente |...], que apreende detalhes detectando té crros de ortografia, mas que, tira conclusdes apressadas. E, por ao contririo do prim zaroso c pouco fluente e tem dificuldade de sintetizar as ideias do texto por nio saber distinguir 0 que & mais importante do que € metamente ilustrativo ou redundante. O terceiro tipo de leitor, o leitor maduro, Eaquele que usa, de forma adequada € no momento apropriado, os dois processos, complementarmente. (p. 40-41) Podemos entao dizer que a leitura fluence ¢ feita através de um processamento parcial do material visual, sendo completada pelas previsdes. Como veremos mais adiante, o que € previsivel mui vezes nem € processado visualmente: o leitor simplesmente salta aquele trecho, completando a informagao af contida com o que cle prevé que deve aparecer naquele trecho. Resumindo 0 que vimos até aqui, chegamos & conclusio de que a informagao vis al ¢ a informagio nio-visual mantém uma relacao inversamente proporcional na leiru quanto mais IndoV o leitor tiver disponivel sobre um determinado texto, menor quantidade de IV ele necessitard para compreendé-lo; ¢ 0 inverso também € verdadeiro se valer de quanto menos IndoV 0 leitor possuir, mais ele precisars cada detalhe do material impresso. E mais ainda: quanto mais IV 0 leitor necessitar, mais dificil e trabalhoso ser ler 0 texto. E se a InaoV & muito esca ssa (como, por exemplo, quando lemos um tigo téenico de nivel avangado que pressupde nogies que no possuimos), compreensio pode se tornar impossivel, porque o leitor fica excessivamente dependente da IV ¢ demora demais na decodificagio dos simbolos grificos e na procura do significado de cada item, Isso dificulta a montagem das informacées do texto. Essa dependéncia exagerada da informagio visual pode dificulrar bigitatizado com Camscanner Um modelo de descricéio daleitura 19 a leitura e até mesmo torné-la impossivel, pela simples razao de que a quartidade de IV de que podemos dispor a cada momento é limitada, Smith (1989) expl ado trés aspectos do funcionamento do sistema visual: sa limi mostra 1. 0 cérebro mio ve exatamente o que é percebido pelos olhos; 2. ver toma tempo; 3 . ver € algo episddico, sa Ainda segundo Smith, essas limitagées tem crés implicagdes para a leitur leitura deve ser répida, deve ser seletiva e depende daquilo que o leitor ja sabe. Vejamos, de mania bem resumida, cada um dos trés pontos citados Aspectos do funcionamento do sistema visual O cérebro ndo vé o que os olhos percebem oO que ligam o olho ao cérebro tém pontos de interconexao onde ocorre uma anilise cimulo visual nao vai diretamente do olho ao cérebro. As fibras nervosas © uma transformacio de sinais. Ao chegar ao cérebro, o sinal percebido & in prato redondo compl reprocessado, de tal maneita que, por exemplo, ao observarmos sobre uma mesa, nés 0 “vemos” como uma forma circular, embora do Angulo pelo qual observames, 0 olho esteja captando uma imagem com certeza oval, Da mesma forma, a0 observarmos um quadro na parede, se nao estamos exatamente de frente para ele, a imagem que sensibiliza nossos olhos é um trapézio; apesar disso, nés © “vemos” como uma forma quadrada ou retangular. Podemos dizer, entio, que os olhos capram informagio visual, mas ¢ 0 cérebro que “vé Ver toma tempo As pesquisas mostraram que o tempo durante o qual 0 olho deve ficar exposto 4 uma informagao visual, para percebé-la, é muito pequeno: cerca de 50 milésimos de segundo; mas que o cérebro leva mais tempo para processar essa informagio: cerca de 1/4 de segundo (ou 250 milissegundos). O cérebro requer tempo para tomar suas decisdes e interpretar o que é que foi visto. Portanto, na hipétese de que durante a leitura o cérebro tivesse de “ver” todas as palavrase todos os simbolosimpressos, ele seria capaz de processar, no mdvimo, 4 palavras por segundo ou 240 palavras por minuto (isso se tomarmosa palavra —e nao cada letra, por exemplo—comoa unidade perceptual). Maso que acontece é que leitores eficientes bigitatizado com Camscanner 20 — Epossivel faciitar a leitura conseguem ler maisdo que 240 palavras por minuto, isto é, conseguem interpretaruma quantidade maior de material do que a capacidade maxima de interpretagao a partir da paradoxo se aceitamos que, para ler, o cérebro nio precisa ver tudo o que esta impresso so. Esses dois fatos parecem contraditérios, mas é possivel explicar esse aparente no papel Icar aqueles trechos que podem ser completados sem a necessidade de intermediagao da vi Sabemos, além di estimulo ¢é diretamente proporcional ao mimero de alternativas entre as quais o cérebro cle pode prever parte da informagio a0. 0, que 0 tempo gasto pelo cérebro na interpretagio de um deve decidir. Um exemplo de como isso funciona ¢ fornecido por experiéncias em que se pede a uma pessoa para dizer o que viu numa proje qualquer. O rempo gasto para a resposta vai > ripida de uma imagem vai iar dependendo do queela Se projetamosa letra A ¢ nada the dizemos, o tempo quea pessoa gastani para identificar a imagem como sendo a letra A seri maior do que se lhe for dito antecipadamente perava ver. que o simbolo projetado € uma letra. Sera menor ainda se Ihe dissermos que a letra ocorre na primeira metade do alfabeto, ¢ ainda menor se a informagio for de que se tata de uma vogal. Naleitura,éimprescindivel queo.cérebro possafazeruso da informacion’ a fim de reduzir o mimero de alternativas, A informagio visual permanece disponivel ual 10- ao cérebro por pouco tempo, apés ter sido captada pelo olho, Uma vez que o cerebro renha feito uma primeira identificagao da informacao visual, elag jogadaem um estagio chamado meméria de curto prazo (MCP), onde permanece na sua forma da meméria literal até que seja construido um significado para ela, A MCP tem uma capacidade reduzida, de cercade: ‘incoa nove unidades. Essas unidades sao mantidasna MCP na sua forma literal somente até o significado ser computado; uma vez montado o significado, cle éenviado para a memdria de longo prazo (MLP), que é uma meméria duradoura, ea forma literal é esquecida. Nessa passagem da meméria de curto prazo para a meméria de longo prazo, a informagao € recodificada: 0 contetido literal é perdido e somente o ado. contetido semantico (isto ¢, 0 significado) é memori Também o rempo de permanéncia dos itens na meméria de curto prazo é limitado: seu contetido é apagado pela entrada de novos itens. E mes nao mo qu entre informagio nova, 0 contetido da MCP ¢ apagado apés um curto espaco de tempo. E por isso que, quando alguém nos informa um ntimero de telefone que nao conheciamos antes, fi amos repetindo o mtimero na cabesa até que possamos disci-lo ou anoté-lo, Se nio repetimos o niimero, fazendo com que cle torne a dar entrada na MCT, nés o esquecemos rapidamente. Na primeira versio deste livo, os dais ripos de memaria foram chamados de “memra de curt termo”e menviia de longo rermo”, mas a prase a literatura lingutstica acabou consagrando os termos “meméria decurto prazo” € “memsria de longo praze, respectivamente, quc adotaremos de agora em diane Digitalizade com CamScanner Um modelo de descricéo daleita 21 E ¢ por isso também (isto ¢, pelo fato de o material contido na MCP ser perdido tio rapidamente e pelo fato de a MCP ter um contetido to limitado) que, quando uma pessoa tenta ler muito vagarosamente, ndo consegue compreender ¢ integrar as informagées do texto: se a leitura ¢ lenta, o material percebido sai da MCP e é esquecido antes d-lo em un mesmo que 0 cérebro consiga organi idades de significado, ¢ possa enviar o contetido semantico para a meméria de longo prazo. Para perceber melhor como isso funciona, e como € breve o tempo de permanéncia de uma informagao na MCP, basta tentar lembrar a forma exata da sent nga que vocé acabou de ler. E possivel que vocé recupere o significado, presente na sua meméria de longo prazo ~ ¢ € 0 que esperamos, se vocé est dando sentido ao que esta lendo ~ mas a forma literal da sentenga (que seria lembrada se ainda estivesse presente na MCP) dificilmente seré recuperada, Ela se perdeu, saiu da MCP. 0 significado foi processado. A cada final de sentenga o leitor processa a interpretacéo daquiele trecho e passa io logo a informagao percebida para a meméria de longo prazo. Por isso a tiltima palavra de cada frase ¢ fixada mais demoradamente do que as outtas palavras, Isso acontece porque nesse momento o leitor esta fech: ndo o sentido da sentenga, por isso para naquele ponto, Segundo Perfetti (1985), esse momento requer um processamento extra para agrupar as partes da sentenga, integrar os trechos que tinham sido mal compreendidos ¢ integrat as informagdes num todo coetente © que leva tempo. O fatiamento na leitura Dissemos anteriormente que a capacidade da MCP varia em torno de sete unidades; a cada uma dessas unidades armazenadas na MCP chamamos fitia. Miller (1956) foi 0 primeiro a usar o termo “fatia” (chunk), quando estabeleceu que a capacidade da MCP poderia ser traduzida em “7, mais ou menos 2 fatias”. Observe que somos capazes de repetir sete letras aleatérias (com uma pequena margem de mais ou menos dois itens), como por exemplo: Mas se agrupam a memorizagao fica muito mais ficil, e podemos reperir uma sequéncia de bem mais de sete letras, como na palavra “legibilidade”. Isso acontece porque as letras, agrupadas em palavras, passam a compor uma unidade, uma vez que formam um Digitalizade com CamScanner 22 Epossivel faclltar a leitura na MCI elenento signifi arivo. Com isso, passam a constituir sn sinico item presente isto & uma tinica fatia, O mesmo processo que vimos no fariamento de letras acontece com as palavras: podemos repetir (na mesma ordem) uma sequéncia de sete palavras aleatérias: no encontrou irmio meu Shopping amigo o E se, novamente, agrupamos essas palavras em unidades significativas maiores, todo o processo se repete: podemes reter mais facilmente essas palavras, porque cada grupo formado é que constituiri uma fatia de informagio contida na MCP. Meu irmao encontrou o amigo no Shopping. Agrupando as palavras em unidades maiores, podemos guardar literalmente uma frase de bem mais de sete palavras. Por exemplo: (3) Semana que vem vou devolver o livro que peguei emprestado na biblioteca. Quando fatiamos a sentenga podemos fazer recortes em lugares diferentes, formando fatias maiores ou. menores. Um exemplo do fatiamento de (3) poderia ser o seguinte: (3) Semana que vem | vou devolver | 0 livro | que peguei emprestado | nna biblioteca. Teriamos, nesse caso, cinco fat as. Mas poderiamos fatiar diferentemente, formando fatias menores (de até uma tinica palavra) ou maiores. Poderfamos, por exemplo, formar uma tinica fatia para 0 grupo | vou devolver o livro | Mas observe que nao € qualquer reuniao de palavras que pode constituir uma fatia: | 0 livre | pode ser uma fatia, mas “devolver o” nao. Isso porque o livre compie uma un dade, um constituinte na lingua (ao contririo de “devolver 0”, que qualquer um sente que “nao gruda bem’). As fatias contidas na MCP — sejam elas compostas de ntimeros, letras ou de qualquer outro tipo de informagio — correspondem sempre a algum tipo de material jd presente como uma unidade na meméria de longo prazo. Assim, por exemplo, “Independéncia ou Morte” pode ser uma fatia porque essa expressio esta guardada como um todo tnico, dessa mesma forma, na nossa meméria. Digitaizado com Camscanner Um modelo de descrigao daleitura 23 Ja no caso do r corte de fatias linguist prontas, jé decoradas, o trabalho do leitor ser mais complicado do que a simples busca na meméria de longo prazo de um material af presente de forma literal. Isso b de long d rerial af re de forma literal. I cas que nao constituem expresses acontece porque as fatias que identificamos nun sentenga como, (3) Semana que vem | vou devolver | o livro | que peguei emprestado | na biblioteca, nao se encontram presentes, dessa mesma forma, na MLP. O fato & que estamos constantemente interpretando (¢ fatiando) sentengas novas, que nunca vimos antes, € por isso essas fatias ni lado, sabemos que essas mesmas sentengas sio construidas de acordo com regras da io podem estar armazenadas literalmente na meméria. Por outro: Lingua que esto —essas sim — presentes na memoria permanente do falante. Ecom base nessas regras da lingua que o leitor poderd fatiar as sentengas, procedendo a um duplo trabalho: tera de buscar na meméria as regras da lingua que lhe permitem montar fatias novas, ¢ comparar o material percebido com essas estrucuras linguisticas presentes na MLP. Emoutra dentro de esqueletos sintiticos buscados na MLP. de forma a agrupar as palav: constituintes. E por isso que “devolver 0” nao pode constituir uma fatia, isto ¢, porque nao corresponde a nenhum tipo de unidade possivel presente na MLP. Entio pademos dizer que o processo de fatia Is que nao sio frases feitas ou que nao foram decoradas) nao envolve apenas a busca de material jé pronto na MLP. mas faz uso de informagao ai presente para proceder ao recorte das fati palavras, o leitor tera de construiras fatias, encaixando o que cle captou as em. mento de sentengas novas (isto & sentens s linguisticas? Embora r prazo — ji que a capacidade da memsria mantém-se sempre constante ~, podemos aumentar 0 famanho da fatia. Quanto maior a fatia, isto é, quanto mais elementos puderem ser agrupados em unidades significativas, maior sera a quantidade de material que a meméria de curto prazo poder guardar. Vimos entio que o material que entra na MCP tem de ser organizado em fatias. E para que isso acontega é preciso que o cérebro veja sentido na informagio queentra na MCPiisto ,¢ preciso queo cérebroidentifique unidadessignificativas nessainformagao. 10 possamos aumentar o miimero de fatias retidas na meméria de curto E quanto maiores essas unidades, mais nipida ¢ eficiente send a leita Ver é algo episddico Quando lemos, nossos olhos se movimentam. Esse movimento ocular executado na leitura nao ¢ linear ¢ continuo, como se o olho estivesse “escorregando” pelo Tara miisdeuliessobreesse proces de ftiamente lingustico, veja-se Pein Fulggncio ¢ Rebleld, 1984, p. 45-84 «Frank Smith, 1989, especialmente ws capitulos 3-5. Digitalizade com CamScanner 24 — Epossivel feclitar a leiture papel. Ao contririo, é um movimento que poderia ser descrito como um salto ripido ¢ irregular, um pulo de uma posiggo para outta. Esse pulo € chamado sacadat e pode ser facilmente observado se olharmos para o olho de uma pessoa enquanto ela le. Esse movimento se faz em todas as diregSes: para frente, para tris, para cima ou para baixo da linha do texto. A cada vez que o olho realiza uma pausa entre um salto ¢ outro, diz-se que corre uma fixapao — e é durante as fixagoes, isto é, quando o olho esta relativamente imdvel, que a informagio ¢ coletada. A tinica finalidade de uma sacada, seja em que direcao for, é movimentar © olho a fim de coletar mais informagao. A velocidade com que os olhos se movem de uma fixagio para outra ¢ estabelecida pelo tempo necessitio para que 0 cérebro extra um sentido de cada nova entrada de informacio. © tempo gasto em cada fix: condicionado pela compreensio, nao vice-versa. Isso significa que a compreensio na pode ser melhorada com o simples aumento na velocidade das fixagdes. Nao se pode acelerar a leitura apressando os ollhos, isto é, fazendo um maior ntimero de fixagdes num mesmo periodo de tempo. Isso teria como consequéncia uma confusio adicional para o cérebro, em ver de acelerar suas decisdes, Nao haveria tempo para o cérebro decidir sobre uma porgao de informagio antes que ela fosse apagada por uma nova entrada, o que obviamente prejudicaria a compreensio em vez de melhors-ta. Vamos explicar melhor: como vimos, a meméria de curto prazo opera tomando como unidades as fatias, que sio elementos significativos. Para montar as fatias, é preciso que o cérebro veja sentido no material percebido; nao basta captar muito material, se 0 cérebro nao vé relagio entre as suas partes, e portanto nao pode agrupar ‘os sinais visuais em fatias de significado. Além disso, para que a leitura possa prosseguir, Enecessario que entre sempre mais material na MCP. Para isso, € preciso “limpar” a MCP continuamente, porque a capacidade de retengao da MCP € limirada e se esgora em pouco tempo. Por isso, 0 material guardado de forma literal na MCP deve ser interpretado tao rapidamente quanto possivel, para que o significado montado possa ser enviado para a meméria de longo prazo, € af entao possa entrar mais material na MCP. Quando o significado € pass a meméria de longo prazo, as fatias saem da MCP; a MCP ¢ entio esvaziada, permitindo a entrada de mais material. O segredo da leitura fluente ¢ trabalhar paralelamente ¢ eficientemente com a ficado de forma cdo p: IV ca InaoV, de forma a montaras fatias linguisticas ¢ compor o sigr répida, enviando imediatamente para a meméria de longo prazo a informagio captada. MLP, mais material pode Ao montar o significado e mandar essa informagio para ser captado ¢ todo 0 processo se repete. Assim, nao existe uma taxa de leitura melhor: ela depende da dificuldade da ou melhor, das habilidades do leitor para interpretar aquela passagem que esta sendo li joconseguindo ado global olentaco leitor dé muitaatengaoadetalhes, passagem, Sealeituraému processarmaisdo que poucas letras, palavras ou conceitosindividuais, osign Ligtatizago com Lamscanner Um modelo de descricao daleitura 25 dotexto pode se perderdefinitivamente. A leituradeveser, portanto, relativamente nipida, mas nio indiscriminada. O cérebro deve operat seletivamente, fazendo um uso maximo daquilo que ja sabe, eanalis ro minimo de informagio visual necesséria paraa verificacio oumodificagio do quepodeser previsto no texto. Assim, cada fixago abrange uma grande quantidade de informagao visual, mas o cérebro s6 se detém no processamento de parte dela: parte que nao pode ser prevista ou que énecessiria& verificagio das previsoes feitas. Portanto, fazer uma leitura eficiente é fazé-la ripida e seletivamente. A probabilidade de acerto na pre de alternativas com que se relaciona inversamente com o ntimero, © cérebro deve lidar, isto é, quanto menor for o ntimero de alternativas, maiores serio as possibilidades de a previsio se confirmar, Isso pode ser verificado a partir do exemplo que se segue. Imagine uma pessoa esperando um dnibus em um ponto por onde ela sabe que s6 circulam os de mimero 2003, 3002 e 3040 Ao avi precisa lero restante do mimero. Ele poder ser imediatamente previsto, uma vez car ao longe o letreiro de um dnibus onde consegue ler 20..., 558 pessoa nio que nao hi, entre as alternativas possiveis, outro dnibus cujo nimero comece com 2. Assim, a informagao captada ¢ imediatamente associada & unidade maior 2003, armazenada na meméria de longo prazo da pessoa. Se, a0 contririo, oalgarismo inicial identificado ¢ 3, a pessoa deverd ainda decidir entre duas alternativas, ¢ para isso deverd buscar mais informagio no letreiro do énibus verificando os tiltimos algarismos (ou, pelo menos, o pentiltimo). A InioV dev: anto lemos. Se sabemos que um determinante (como o, esse, aquele) inic . enti 0, se utilizada para reduzir 0 ntimero de alternativas eng um sintagma nominal, as alterna ivas sobre a palavra que © segue sio reduzidas. Se encontramos a palavea desconhecida endivia numa receita culinsti sobre seu significado so reduzidas. A seletividade para a coleta e a as possibilidades lise da informacio visual depende, assim, do uso de estratégias eficientes de utilizagao da IndoV. Maso leitor usa a IndoV nao somente para fazer previsdes, como também para inferir, ow seja, para deduzir certas informagées nao explicitas, que sio importantes para que ele possa conectar as partes do texto ¢ chegar, enfim, a uma compreensio coerente e global do material lido. Veremos, a seguir, alguns exemplos de como o leitor estabelece e utili 2 inferéncias na leitura. Inferéncias Geralmente pensamos (incorretamente) que, qu: ndo lemos, vamos juntando uma palavra com a outra ¢ com isso captamos a informagio. Mas nao & bem assim. A obtensio de informacio nao se faz exclusi amente pela compreen 10 das palavras Ligtatizaco com Lamscanner 26 — Epossivel facilitar a leitura presentes no texto. O significado nao é computado somente através dos elementos explicitos, ¢ a informagio literal nao exprime tudo o que 0 autor tem a intengio de comunicar, O significado global nao é simplesmente uma soma do significado individual de cada palavea, mas vai além disso: para entender um texto, o leitor precisa também construir a légica que relaciona as informagoes apresentadas, elaborando as pontes de sentido que ligam as varias informagées. O leitor precisa conectar as partes para dar cocréncia ao conjunto Vamos retomar o exemplo I: (1) Acasa da Bia foi assaltada, Ela esti pensando em comprar um cachorto. Como vimos, a conexao légica entre as duas sentengas do apresentada explicitamente. Essa relacio tem de ser construida pelo préprio leitor com base no seu conhecimento do mundo, isto é com base na sua Indo. Ou seja: 0 texto I nao diz nada a respeito de qual € a relagio entre 0 cachorro ¢ 0 assalto, mas o leitor constréi sozinho essa relagio, a partir de uma série de conexdes lagicas que ele proprio elabora, pensando mais ou menos do seguinte modo: a) quem tem uma casa assaltada fica temeroso de que tal fato se repia; b) alguns tipos de cachorro rém a fama de tomar conta do seu territério: ©) se um cachorro defende a moradia e se Bia quer ter sua moradia defendida, centao Bia vai comprar o cachorro para defender a sua casa. E a operagao descrita no irem “c” que confere légica ao texto e liga as duas senrengas. E essa a relagio entre o cachorro ¢ 0 assalto qui fiz do exemplo 1 um texto, ¢ no duas sentengas isoladas ¢ desconexas. Essa relagio entreas sentengas nio esta visualmente presente, mas foi acrescentada ao texto pelo préprio leitor, Quem entendeu o exemplo I necessariamente construit a relagio légica que ligou as duas sentengas, recuperando da meméria as informagoes que permitiram conectar os fatos. Isso quer dizer que o leitor acrescentou dados a0 texto, a0 claborar uma ponte de sentido que nio estava explicita. E esse proceso de dedugio de informagées nao explicitas, de acréscimo de dados ao texto e de construgio. de pontes de sentido que tem o nome de inferéncia Vi também € responsavel pela construgao do sentido. Cabe ao leitor inferir as relagdes se nto que o autor nao explicita todas as informagées, ¢ que o leitor impli tas e elaborar o significado, montando © quebra-cabegas do texto com as pegas de informagao que lhe sio transmitidas explicitamente Para isso ele precisa ter na sta meméria os dados que o autor nao explicitou. Por exemplo, se alguém nao sabe que um cachorro pode servir para proteger uma bigitatizado com Camscanner Um modelo de descricao da leitura 27 casa, certamente nao vai entender o texto. Sem o conhecimento prévio, fica impossivel montar a légica que liga as informagoes. © conhecimento prévio sobre o assunto do texto, que permite a elaboragio de previsdes e inferéncias, € provavelmente o aspecto mais importante de todos no tratamento da legibilidade. Para que um texto seja legivel ¢ indispensivel que o leitor tenha conhecimentos prévios que the fornegam os instrumentos para a construgio das relagies ldgicas ¢ das pontes de sentido. Sem 0 dominio desse tipo de informagio nao-visual, a leitura € praticamente impossivel, ou pelo menos muito mais difi Dada a imporcincia para a legibilidade, crataremos mais a fundo desse as unto no proximo capitulo. Resumindo as observagaes feitas até aqui, podemos dizer que nao é possivel ler um texto valendo-se apenas de IV, isto é, dos sinais grificos; a leitura éo resultado da interagao entre a TV, fornecida pelo texto, ea IndoV, que é o conhecimento prévio armazenado na memoria do leitor. O leitor eficiente utiliza esse conhecimento prévio para fazer uma leitura ripi Além disso, a InioV é também utilizada pelo leitor para complerar as informagoes ac seletiva através da previsdo de parte do material do texto. implicitas ¢ elaborar inferéncias, que contribuem na construgio do sentido do texto. O estabelecimento de inferéncias, bem como a formulagao de previsdes, sio processos que fazem parte da linguagem em geral, ¢ portanto estio presenites tanto na compreensio da fala quanto da escrita, Para compreender, nio basta saber a lingua; para ler, nao basta ver e decodificar aquilo que esta impresso no papel. E necessirio, igualmente, fazer uso da informagao nio-visual, tanto para adiantar e antecipar as i para inferir dados, deduzindo as informagdes nao explicitas. Essas informacdes formagoes que sio previsiveis quanto inferidas so necessirias para ligar trechos, construindo a coesio do texto, ¢ também para claborar a légica e a coeréncia do discurso. Em outras palavras, a leitura pressupde pelo menos dois processos que dependem de conhecimento prévio, isto é, de informagao ndo-visual: de um lado, a previsio, que wilita a leicu acelera ¢ portanto 3 de outro, a inferéncia, que completa e possibi 4 conexio v a compreensio do material expresso no rexto. Entéo, se um leitor tem nformagao nio-visual insuficiente, é de se esperar que tertha dificuldades na leitura: * seelenao pode prevererem de prestaratencioatodoo material visual, lendo “palavra por palavra’, a velocidade de leitura pode cair a ponto de impossivel a compreensio global do textos fazerinferéncias,tambémdificilmentecompreendersoque tornar * seelenaopodet Je, uma vez que é impossivel mencionar explicitamente toda a informag necessiiia 4 compreensio de um texto ia bigtatizago com Lamscanner

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