Se compôs com pressa, bebeu água e partiu com o misterioso anfitrião, cujo auto,
um antigo carro electrosolar dos anos 2060, de um azul metálico cheio de pontos de
ferrugem, os esperava. Custou a dar partida, e da boca de Orozco saíram palavras em um
idioma incompreensível - para o escritor, um xingamento pelo carro não pegar de primeira.
Foi uma viagem silenciosa, de cerca de duas horas e meia. Em alguns momentos, o escritor
leu placas indicativas de seguirem para “San Onofre” e “Cartagena de las Índias”, até que
desviaram da estrada principal e começaram a subir uma pequena serra. A única
iluminação agora era a do auto de Orozco, que seguia em velocidade baixa para vencer as
pedras, a escuridão e a névoa sinistra que deixava a subida assustadora. O escritor queria
perguntar ou simplesmente gritar. Mas não conseguia dizer nada. Um lado dele se
arrependeu da viagem, mas o outro sentia que Orozco criara uma estranha conexão com
ele, que estaria protegido. Em algum momento, Orozco começa a dizer coisas na estranha
língua do “xingamento”, que não fazia qualquer sentido para o escritor. À medida em que
subiam, a luz da lua entrava no carro e transformava a escuridão em “escuridão brilhante”.
Em algum momento, o escritor deixou de sentir o carro a bater nos caroços da estrada;
depois deixou de enxergá-la, e a partir daí, passou a compreender tudo o que Orozco dizia,
embora o som das palavras seguissem em língua indígena:
O carro parou, e ele fez um sinal de que a partir dali teriam de caminhar. Uma trilha
calçada de pedras iluminada pela lua. O sereno não chegava a tornar o ambiente frio,
apesar da altitude. Reparou que Orozco estava de roupas de algodão cru, usava uma série
de adornos nos braços e pescoço. Colocando-se lado a lado com o escritor, seguiu falando: