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A unidade entre o casal

Por Luciano P. Subirá / Texto Base: 1º Pedro-3.0-7:7

Muitos casais cristãos estão vivendo hoje fora daquilo que Deus idealizou.
Brigas constantes, desrespeito mútuo e distância entre o casal, são vistos em muitos
lares. E além da infelicidade que isto produz em seus corações, ainda há a questão do
mal testemunho dado. Penso que este é um assunto que merece nossa atenção, pois o
princípio de viver em unidade é algo que não apenas produzirá maior realização
emocional no relacionamento, como também liberará sobre o casal as bênçãos de Deus.

COMPREENDENDO A UNIDADE
É importante que consigamos visualizar o que a unidade do casal pode produzir em suas
vidas, e então seremos desafiados a preservá-la. Também entenderemos porque o diabo,
o adversário de nossas almas, luta tanto contra ela. Jesus nos ensinou que a unidade e
concordância permite Deus agir em nossas vidas:
“Ainda vos digo mais: Se dois de vós na terra concordarem acerca de qualquer coisa
que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Pois onde se acham
dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. Mateus 18:19,20
Por outro lado, a falta de unidade impede Deus de agir. A palavra de Deus nos mostra
de modo bem claro que quando o marido “briga” com sua mulher, algo acontece
também na dimensão espiritual: “Igualmente vós, maridos, vivei com elas com
entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais frágil, e como sendo elas
herdeiras convosco da graça da vida, para que não sejam impedidas as vossas orações”.
I Pedro 3:7
Ao deixar de honrar a mulher como vaso mais frágil e maltratá-la (ainda que só
verbalmente), o marido está trazendo um sério problema sobre a vida espiritual do casal.
A Bíblia diz que as orações serão impedidas. É lógico que isto também vale para a
mulher, embora quem mais facilmente tropece nisto sejam os homens. O texto bíblico
revela que depois de desonrar a mulher na condição de vaso mais frágil (com
asperezas), o homem, mesmo que clame ao Senhor, terá sua oração impedida, pois um
princípio foi violado.
Deus não age em um ambiente de desarmonia e discordância. Isto é um fato.
Quando tentaram construir a torre de Babel, as Escrituras dizem que Deus desceu para
ver o que os homens faziam. E Deus mesmo, ao vê-los trabalhando em harmonia e
concordância de propósito declarou: ”Eis que o povo é um e todos têm uma só língua; e
isto é o que começam a fazer; agora não haverá restrição para tudo o que eles intentarem
fazer.Eia, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem, para que não entenda um a
língua do outro.” (Gn.11:6,7). O que vemos aqui é que a unidade remove limites.
Quando o casal se torna um e fala uma só língua (sem discordância) eles removem os
limites diante de si! Deus pode agir livremente num ambiente destes, mas basta perder a
capacidade de falar a mesma língua que tudo se perde! No reino de Deus, quando dois
se unem, o efeito não é de soma, mas de multiplicação. Moisés cantou acerca do
exército de Israel: um deles faria fugir a mil de seus inimigos, mas dois deles faria fugir
dez mil! (Dt.32:30).
A unidade ainda traz consigo outras virtudes. Podemos ver isto numa das figuras
bíblicas do Tabernáculo. O propiciatório da arca da aliança figura este princípio. O
Senhor disse que ali Ele viria para falar com Moisés. O propiciatório (ou tampa da arca)
era o lugar onde a glória e a presença de divina se manifestava. E nas instruções para a
confecção desta peça, vemos o simbolismo da unidade. Deus disse que os dois
querubins deveriam ser uma só peça de ouro batido; com isto falava simbolicamente de
unidade entre seus adoradores (Ex.25:17-19). Os querubins deviam estar com as asas
estendidas um para o outro (Ex.25:20), o que fala de cobertura recíproca.
A falta de unidade nos leva a agir com o espírito de Caim que disse ao Senhor: “Acaso
sou eu guardador de meu irmão?” (Gn.4:9). Mas quando estamos em unidade com
alguém, cobrimos e protegemos esta pessoa! Esta é uma virtude que acompanha a
unidade.
A outra, é a transparência. Os querubins deveriam estar um de frente para o outro
(Ex.25:20). Isto fala alegoricamente de poder encarar outro adorador “olho no olho”.
Fala de não ter nada escondido, de não ter pendências. Ninguém consegue olhar
(espontaneamente) no olho de outra pessoa quando as coisas não estão bem. Quando
Jacó fala para sua família que as coisas já não estavam bem entre ele e Labão, seu
sogro, a expressão que ele usa é: “vejo que o semblante de vosso pai já não é mais o
mesmo para comigo” (Gn.31:5). Jesus disse que os olhos são a candeia do corpo.
Eles refletem o que está dentro de nós. E a unidade é a capacidade de olhar olho no olho
e estar bem. Particularmente, eu não posso concordar com casais que escondem coisas
um do outro, seja no que diz respeito à sua vida passada (erros e pecados) ou presente
(como nas questões financeiras, por exemplo).
Acredito que a unidade verdadeira exige que haja remoção ou acerto de “pendências”
(Pv.28:13).
Ás vezes fingimos um comportamento só para agradar (ou não desagradar) ao outro, o
que diverge do ensino bíblico. Este teatro não produzirá unidade verdadeira. Temos que
aprender a ser francos, como está escrito: “Melhor é a repreensão franca do que o amor
encoberto” (Pv.27:5). Paulo censurou este tipo de comportamento dúbio quando
escreveu aos gálatas. Ele falou sobre como o apóstolo Pedro em certa ocasião agiu
assim para ser “diplomático” e que esta atitude conseguiu atrair até mesmo o próprio
Barnabé, companheiro de Paulo, e ele os censurou publicamente (Gl.2:11-14). Contudo,
quero ressaltar que ser franco não significa ser grosseiro, pois a Bíblia nos ensina a falar
a verdade em amor. O conselho dado a Timóteo na hora de corrigir os que opunham, foi
o de usar de mansidão (II Tm.2:25). A unidade manifesta a verdade (dolorosa às vezes)
de forma bem mansa.

O PRINCÍPIO DO ACORDO
A Bíblia nos ensina também que o acordo é indispensável num relacionamento: “Como
andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” Amós 3:3
A ausência de acordo é uma porta aberta para o diabo. Quando Paulo escreveu aos
efésios e falou sobre não dar lugar ao diabo, o fez dentro de um contexto, que é o de
pecados que acontecem nos relacionamentos: “Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o
sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo.” Efésios 4:26,27

Tiago escreveu sobre o mesmo princípio. Ele disse: “Pois onde há inveja e sentimento
faccioso, aí há confusão e toda espécie de cousas ruins.” Tiago 3:16
Já mencionamos anteriormente que o acordo é uma porta aberta para ação de Deus
(Mt.18:19). Mas quando chegamos ao ponto de dissipa-lo de nosso relacionamento,
estamos comprometendo não só a qualidade da satisfação na esfera emocional, mas
também a esfera espiritual de nosso lar. Não é fácil ajustar-se satisfatoriamente na
relação conjugal. As diferenças são muitas; na formação de cada um, na personalidade,
temperamento, e acrescente a isto as diferenças entre homem e mulher. Contudo,
quando aprendemos a ter como denominador comum o caráter e os ensinos de Cristo,
então conseguimos o ajuste por meio de ceder, perdoar, recomeçar, etc.
Mesmo um casal que parecia perfeitamente ajustado em seu período de namoro e
noivado descobrirá a necessidade de mais ajustes à medida que os anos de casamento
vão passando. Não é uma tarefa tão fácil, mas não é impossível! Se não estivesse ao
nosso alcance, Deus estaria sendo injusto ao cobrar isto de nós… mas o fato é que não
só é algo possível, como também é uma chave poderosa na vida cristã!

O CASAL DEVE DECIDIR JUNTO


Há uma ordem de governo e autoridade estabelecida por Deus no lar. O marido é
chamado o cabeça (Ef.5:22-24), e entendemos que como tal tem direito à palavra final.
Porém, isto não quer dizer que o homem esteja sempre certo ou que não deva ouvir sua
mulher. Encontramos no Velho Testamento uma ocasião em que o próprio Senhor diz a
Abraão, seu servo: “Ouve Sara, tua mulher, em tudo o que ela te disser” (Gn.21:12). No
Novo Testamento vemos Pôncio Pilatos desprezando o conselho de sua mulher e se
dando mal com isto (Mt.27:19).
Precisamos considerar ainda que ser líder não significa ser autoritário.
Quando o apóstolo Pedro escreveu aos presbíteros (que compõem o governo da Igreja
Local), disse em sua epístola que eles não deveriam ser “dominadores do povo” (I
Pe.5:3). Isto mostra que autoridade e autoritarismo são duas coisas distintas. Vejo
muitos maridos dizerem que suas esposas TÊM que obedecê-los! Mas ao dizer que as
esposas devem ser submissas, Deus não estava instituindo o autoritarismo no lar. Vale
ainda lembrar que Jesus declarou que “aquele a quem muito foi dado, muito lhe será
exigido” (Lc.12:48). Os homens precisam se lembrar de que em matéria de
responsabilidade do lar, terão que responder a Deus numa medida maior que as
mulheres. Mas não é preciso que o homem carregue o peso desta responsabilidade
sozinho.
É importante que o casal dialogue e tome decisões juntos. Desde que casamos, minha
esposa e eu sabemos quem é o cabeça do lar, mas foram muitas raras as vezes em que
tomei uma decisão por mim mesmo. Sempre conversamos e discutimos sobre nossas
decisões. As vezes já estamos de acordo no início da conversa, e às vezes precisamos de
muita conversa para amadurecer bem o que estamos discutindo. Mas sabemos a bênção
de caminhar em acordo e cultivamos isto entre nós. Entendo que se a mulher é chamada
de “auxiliadora” na Bíblia, é porque o homem precisa de sua ajuda. E a ajuda da mulher
não está limitada à atividades domésticas. A Bíblia fala com esta figura, que deve haver
uma relação de companheirismo. Creio que como auxiliadora, a mulher deve ajudar a
tomar decisões.
Este é um processo que exige ajuste. Na hora de discutir alguma decisão, ou mesmo a
forma de ser e se comportar de cada cônjuge, vemos o quanto é difícil ouvir ao outro.
Mas devemos atentar para o ensino bíblico sobre isto: “Responder antes de ouvir é
estultícia e vergonha” (Pv.18:13). Tiago nos adverte o seguinte: “Sabeis estas cousas,
meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio
para se irar”.
Tiago 1:19.

A verdade é que normalmente somos prontos para falar e irar-se um contra o outro, mas
tardios para dar ouvidos ao que o outro tem a dizer. E isto precisa ser mudado em nós!
Para que haja acordo, precisamos aprender a ouvir.

TRATANDO COM DESENTENDIMENTOS


Os desentendimentos ocorrem, mesmo entre os crentes mais dedicados, mas devem ser
tratados logo. Lemos que alguém pode se irar e não pecar, pois é uma reação emocional
espontânea. Mas o que cada um faz com o sentimento que teve pode se tornar pecado.
Paulo aconselhou os irmãos de Éfeso a que não deixassem o sol se pôr sobre sua ira
(Ef.4:26,27). Em outras palavras, que deveria haver acerto, perdão, e que nenhuma
pendência ficasse para trás. Precisamos aprender a tratar com os desentendimentos no
lar.
Preservar a unidade não significa nunca se desentender, mas saber dar a manutenção
devida no relacionamento quando isto ocorrer.
O tempo não apaga as ofensas. Deve haver reconciliação. Jesus ensinou isto: “Se, pois,
ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa
contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e,
então, voltando, faze a tua oferta” Mateus 5:23,24
Alguns acham que depois de um desentendimento é só deixar “para lá”. Mas a Bíblia
nos ensina o princípio de reconciliação de maneira bem formal. Deve haver pedido de
desculpas, de perdão. Deve se conversar sobre o que aconteceu (o quê machucou o
íntimo de cada um e porquê machucou). E não podemos perder de vista que devemos
lutar para viver sem brigas, e não só reconciliar quando elas ocorrem (Ef.4:31).
Acredito, ainda, que atenção especial deve ser dada à forma de falar.
Talvez esta seja uma das áreas que mais sensíveis sejam nos desentendimentos que
surgem no relacionamento, uma vez que a “comunicação” no lar não é só o que um fala,
mas também a forma que o outro entende! As conversas não devem ser exaltadas ou em
tom de briga. E quando um dos cônjuges se perde numa explosão emocional, é
importante notar que a Bíblia não nos ensina a “jogar o mesmo jogo”. O que lemos nas
Escrituras é justamente o contrário: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra
dura suscita a ira” Provérbios 15:1
“A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis
responder a cada um”.
Colossenses 4:6

Os maridos devem ter cuidado redobrado, pois por natureza são mais racionais do que
emocionais e suas palavras tendem a ser mais duras e grosseiras. Por isto a Bíblia nos
adverte: “Maridos, amai a vossas esposas, e não as trateis com aspereza” Colossenses
3:19

“Igualmente vós, maridos, vivei com elas com entendimento, dando honra à mulher,
como vaso mais frágil, e como sendo elas herdeiras convosco da graça da vida, para que
não sejam impedidas as vossas orações”.
I Pedro 3:7
Embora seja verdadeiro e aplicável aqui o ditado de que “é melhor prevenir do que
remediar”, precisamos reconhecer que muitas vezes falhamos permitindo
desentendimentos que poderiam facilmente ser evitados. Neste caso, devemos aprender
a consertar e tratar com estas situações. Mas não podemos esquecer também que mesmo
havendo perdão e reconciliação depois do erro, quando ele se repete muito vai gerando
desgaste e descrédito, e isto exige uma dimensão de restauração maior depois.
As intrigas no lar roubam o prazer de outras conquistas, como escreveu Salomão, pela
inspiração do Espírito Santo: “Melhor é um prato de hortaliça, onde há amor, do que o
boi cevado e com ele o ódio”. Provérbios 15:17
“Melhor é um bocado seco, e tranqüilidade, do que a casa farta de carnes, e contenda”.
Provérbios 17:1
“Melhor é morar no canto do eirado do que junto com a mulher rixosa na mesma casa”.
Provérbios 21:9
Há casais que alcançaram tudo o que queriam financeiramente, mas não conseguem
viver bem juntos. Eles, melhor do que ninguém, podem afirmar quão verdadeiras são
estas declarações bíblicas. Não adianta ter outras realizações e deixar o relacionamento
conjugal se perder. Como alguém declarou: “Nenhum sucesso compensa o fracasso do
lar”. Precisamos aprender a cultivar a unidade em nosso relacionamento. E isto acontece
quando aprendemos a lidar de forma simples e prática nas questões do dia-a-dia. Que o
Senhor nos ajude!

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