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História das Religiões:

Cristianismo
Material Teórico
Cristianismo na Idade Antiga

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Ney de Souza

Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Cristianismo na Idade Antiga

• Introdução
• A Fé Cristã
• A Oficialização do Cristianismo
• Os Primeiros Concílios na Formação do Cristianismo Estatal

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar um panorama sintético do nascimento e desenvolvimen-
to do Cristianismo na Idade Antiga.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Cristianismo na Idade Antiga

Introdução
É fascinante o estudo de uma religião. Pensar quais foram os passos que levaram a
decisões que ao longo de eras constituíram um movimento que hoje se encontra espa-
lhado por todo o planeta é algo que enche nossa imaginação. Alguns incautos dizem
que as religiões não têm valor, não acrescentam nada, não produzem nada de bom.

Esses certamente não entendem a história, ignoram a cultura, desconhecem as


artes, a filosofia, a política, a educação, a formação moral dos povos. Pois bem, as
religiões fazem interface com todas essas áreas e muito mais.

Se pensarmos no surgimento das grandes religiões como o Cristianismo, que é


a maior religião do mundo, nossa fascinação é ainda maior. Sua concepção se deu
no Império Romano e floresceu nesse Império, suplantou-o e expandiu-se ao longo
de séculos pelo mundo. Sua história é complexa, cheia de reviravoltas e impactou
diversas regiões no globo terrestre.

Para se entender a história do Ocidente, é necessário conhecer a história do Cristia-


nismo. É o que pretendemos nessa disciplina, apresentar o nascimento do Cristianismo.

A Fé Cristã
Quando falamos de Fé Cristã, estamos falando de uma sistematização lógica
de um conjunto de crenças que se articulam a partir de pressupostos que buscam
harmonizar entre si os diversos pontos dessa crença. Ou seja, estamos falando
de um trabalho construído a posteriori, ao longo do tempo, muito depois do
nascimento de uma religião.

Realizado por uma série de líderes e pensadores que, ao longo do tempo, busca-
ram a harmonização que juntasse a crença original, a estrutura hierárquica poste-
rior, as decisões e rumos políticos e administrativos que os grupos que se revezaram
no poder alcançaram e imprimiram com decisões conformadoras da fé original.

Dessa forma, ao falar de Fé Cristã estamos falando de um processo político-


filosófico decorrido ao longo de eras, que se cristalizou e deu à religião a conformação
que ela tem hoje.

Porém, ao falar de Fé Cristã estamos falando também da fé original, o primeiro


movimento, o que deu início à religião e que pode ser considerado o marco da ca-
minhada dos primeiros discípulos. Dessa forma, temos duas fés cristãs. A fé que é
o produto de um processo de estruturação do discurso religioso com seus dogmas e
configurações descritivos normativos e a fé original, que cria os primeiros adeptos.

Vamos então começar pela fé original, ou o que os estudiosos chamam de Mo-


vimento de Jesus.

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O Movimento de Jesus nasce na Galileia com o ministério itinerante na figura
de Jesus de Nazaré, filho de um carpinteiro, que se intitula um ungido pelo próprio
Deus. Sua história inspira pessoas e seus milagres acabam por aglutinar entre si
pessoas de diversos extratos da população, notadamente pessoas doentes, pobres
e miseráveis. Seu núcleo de adeptos mais próximos é constituído de doze pessoas,
escolhidas pelo próprio Jesus, que se integram à sua causa de peregrinação.

Nessa época da história de Israel, esses movimentos profético-carismáticos eram


formados a partir de indivíduos carismáticos que se apresentavam por meio de atos
milagrosos ou de sua vida exemplar, com discursos que iam do catastrofismo e
destruição dos inimigos à redenção da nação e tomada do poder mundial.

Jesus era apenas mais um dos diversos personagens históricos surgidos nesse
período a proclamar dentro de uma ampla gama de discursos, que variavam entre
a completa apatia, descrédito e fuga da realidade até o apelo de rebelião e tentativa
de convulsão social contra a dominação romana. Dentro desse amplo leque de
pregadores e profetas, destaca-se um personagem, João, o batista.

Em um misto de crítica social e política a partir de um viés vétero-testamentário,


seguindo a grande linhagem dos profetas do Antigo Testamento, João se posiciona
contra a casa de Herodes e profetiza sua derrocada com a vinda do messias espe-
rado por Israel.

Essa esperança escatológica de realização da visitação de Deus ao seu povo


(Kairos-eschaton) é o âmago em que nasce a Fé Cristã que irá se desenvolver no
Movimento de Jesus.

Essa visitação marca uma nova era na história da humanidade com a salvação
a partir da ressurreição. A mensagem que Jesus desenvolverá no seu Movimento.

Ao falarmos, então, de Fé cristã, temos de nos remeter ao início do Movimento


de Jesus, que irá animar e caracterizar a mensagem de seus seguidores a partir do
mistério da ressurreição do corpo que Jesus apresenta e representa na mensagem
dos primeiros apóstolos e discípulos.

Em síntese, no Movimento de Jesus, a partir de sua mensagem, que será


posteriormente compilada e desenvolvida no que se denominou Novo Testamento,
Cristo, em Jesus, reconcilia os seres humanos à divindade na fé de que a vida
eterna é concedida com o perdão dos pecados. Dessa forma, a cisão entre Deus e
a humanidade, quebrada em Adão, o primeiro homem, é reconciliada em Cristo,
o último homem.

Contudo, como comentamos acima, a Fé Cristã deve ser entendida, também,


como a forma final da sistematização do escopo total de crença de uma religião.

Dessa forma, falar de Fé Cristã é falar de uma construção, um edifício discursivo


que a religião faz sobre si mesma a partir de uma série de influências políticas,
sociais, econômicas, administrativas que se estabelecem ao longo do tempo e se
configuram em uma religião organizada.

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Assim, é preciso entender que a Fé Cristã é tanto o início do processo de um


grupo em torno de uma pessoa, quanto a declaração de crença da Igreja Cristã
(instituição). No caso, estamos falando da Igreja Católica Apostólica Romana.

A Fé Cristã (Católica) reúne o Texto Sagrado (a bíblia católica), a Tradição da


Igreja (que reúne uma série de textos, autores, correntes e posicionamentos filo-
sóficos) e a direção espiritual a partir da submissão ao trono de Pedro, o Papado.

Para uma visão do todo, apresentamos a tabela a seguir.

Tabela 01 – Referente à Fé Cristã


A Fé Cristã
Designação Caraterística
Movimento de Jesus
Fé como início do movimento Crença na visitação de Deus através do Messias
Crença no perdão pela ressurreição
Texto Sagrado
Fé como caraterização da religião-instituição Tradição da Igreja (instituição)
Papado
Fonte: Autor, 2017

É importante entender como se passou da Fé Cristã como crença na salvação a


partir da ressurreição para a Fé Cristã como uma série de crenças unificadas entre
si e que caracterizam a igreja-instituição. Para tanto, é necessário um background
histórico que nos ajudará a entender o processo de transformações da Fé Cristã.

A Oficialização do Cristianismo
Após a morte e o início do discurso da ressurreição de Jesus, o movimento
iniciado por ele ultrapassa as fronteiras da Palestina e ganha o Império Romano,
sobretudo pelo trabalho missionário de Paulo e Barnabé. Ao longo de um século
após a morte de Jesus e a continuidade de sua pregação através de seus discípulos
no Império Romano, o Movimento de Jesus contava com pouquíssimos adeptos.

Quer conhecer mais sobre o império romano? Acesse:


Explor

https://www.youtube.com/watch?v=UFZ_ihWq8CY

As “igrejas” eram comunidades que, na extensão do Império Romano, iam


crescendo à medida do deslocamento de cristãos que iam anunciando a boa nova
do Evangelho.

Rodney Stark1, em seu livro “O crescimento do cristianismo”, afirma que o


crescimento do Movimento de Jesus nos três primeiros séculos foi de 40% ao ano.

1 Cf. STARK, Rodney. O crescimento do Cristianismo. São Paulo: Paulinas, 2006. p. 14-30.

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Os apóstolos (plantadores de grupos) do século I reconheciam publicamente
uma liderança denominada de anciãos. Em todos os casos os anciãos já tinham es-
tado naquele lugar antes de serem reconhecidos publicamente. Os anciãos surgiam
naturalmente em uma congregação com o passar do tempo. Eles não eram nome-
ados por uma autoridade externa. Eram reconhecidos pelo grupo pelos seus dons.

Roma era o maior Império do mundo nessa época. As conquistas, a vida e a


estrutura de Roma passaram por significativas mudanças. Durante o processo de
desenvolvimento do Império, Roma passou a ser muito mais comercial do que
agrária. Povos conquistados foram escravizados ou passaram a pagar impostos
para o Império. As províncias (regiões controladas por Roma) renderam grandes
recursos para Roma.

No auge de seu poder, Roma dominava mais de 120 milhões de pessoas, quando
a população total mundial era estimada, para a época, em cerca de 250 milhões de
pessoas. Roma governava metade da população que existia no mundo.

Algumas características da época permitiram o crescimento do Cristianismo: a


tolerância religiosa, a pax romana, o sistema viário e a criação dos correios foram
os principais.

A pax romana foi um longo período de relativa paz do Império Romano que se
iniciou quando Augusto, em 28 a.C., declarou o fim das guerras civis e durou até o
ano da morte de Marco Aurélio, em 180 d.C.

Já o sistema viário foi a interligação de todo o Império por meio de estradas


que ligavam Roma às províncias mais distantes. A primeira via foi criada em 312
a.C., por Ápio Cláudio Cego, para unir Roma e a cidade de Cápua (Via Ápia). À
medida que se expandiu o Império, a administração adaptou o mesmo esquema
nas novas províncias. No seu apogeu, a rede viária romana principal atingiu cerca
de 150.000 quilômetros. Empresas faziam viagens de passageiros de um lado a
outro do Império.

Em relação aos correios, este sistema foi uma criação romana; denominado
de “cursus publicus”, o sistema que garantia a transmissão de notícias, a viagem
dos funcionários e o transporte de bens em nome do Estado. Era possível enviar
valores, ordens de pagamento, cartas, pequenos objetos e roupas através do vasto
Império romano nas estradas controladas com marcos colocados em intervalos de
cerca de mil passos (1480 metros). Em sua base estava escrito o número da milha
relativo à estrada em questão.

Outra característica que acabou por beneficiar o Movimento de Jesus foi a


tolerância religiosa instituída no Império. Por ser um Império de grandes propor-
ções e permitir um deslocamento de milhares de pessoas, o intercambio religioso
era grande. O Império Romano mantinha uma política de tolerância com as re-
ligiões. A regra era que qualquer religião era aceita desde que não perturbasse a
“ordem pública”.

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As comunidades cristãs surgidas no período de 100 anos após a morte de


Jesus não tinham uma liturgia comum, uma prática comum e nem uma liderança
hierarquizada. Os cristãos se reuniam na rua, nas praças, nos cemitérios, onde era
conveniente. Após um período de crescimento, começaram a surgir reuniões nos
lares, fruto da conversão de famílias inteiras, que acabavam por dedicar seu espaço
de moradia para reuniões religiosas.

As comunidades (reunião de cristãos) iam crescendo à medida do deslocamento


de pessoas cristãs que iam anunciando a boa nova do evangelho. O crescimento
do Cristianismo trouxe problemas com as autoridades romanas. Diversas denúncias
eram feitas contra os cristãos.

Ao final do século I, o Cristianismo tinha se estabelecido por toda a região


banhada pelo Mediterrâneo Oriental e, até mesmo, adquirido uma presença signi-
ficativa na cidade de Roma, a capital do Império Romano. À medida que os Cris-
tianismos cresciam, as perseguições políticas e religiosas começaram.

Os encontros dos cristãos eram baseados na alegria da ressurreição de Cristo.


Todo culto era uma festa que culminava na santa ceia. O almoço, jantar ou refeição
da manhã era a celebração da nova vida em Cristo. Por causa da ceia, rememoração
do sacrifício de Cristo, os cristãos eram acusados de canibalismo.

Os acusadores do Cristianismo levantavam, também, a questão do culto ao impera-


dor, devido por todos os romanos. A recusa era tida como insubordinação e rebelião e
era condenável à morte. Os cristãos também não aceitavam a adoração e veneração a
outros deuses, venerados pelos romanos. Por isso, eram considerados ateus.

Os cristãos não se furtavam de pregar e falar de sua fé. Isso incomodava os pagãos,
que denunciavam os cristãos às autoridades sob a acusação de incitação e cooptação.
A pregação cristã vinha como a verdade da própria divindade. Alguns consideravam
essa afirmação uma afronta ao conhecimento filosófico greco-romano.

A primeira perseguição do governo romano contra os cristãos foi promovida


por Nero (54-68 AD), em conexão com o incêndio de Roma no ano 64. O
próximo perseguidor dos cristãos foi Domiciano (81-96 AD). Esta perseguição foi
limitada à Roma e à Ásia Menor. No segundo século, surgiu uma política “oficial”
do Império em relação aos cristãos. Os cristãos, uma vez acusados e levados diante
das autoridades, precisavam adorar os deuses do Império ou sofrer punições.

No início do terceiro e quarto séculos ocorreram diversas perseguições. Uma


delas, promovida por Septímio Severo (193-211) e a primeira perseguição geral
sob Décio (249-51). Foram esforços sistemáticos de impor o culto aos deuses para
restaurar a antiga grandeza do Império.

Diocleciano (284-305) e seu vice (César) Galério (292-311) promoveram a últi-


ma e mais cruel perseguição contra as comunidades cristãs. A convicção era de que
a existência do Cristianismo estava rompendo a aliança de Roma com seus deuses.

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Estre os anos de 303 e 304, diversos decretos foram expedidos ordenando
destruição de lares-comunidades, confisco dos livros sagrados, prisão dos líderes
cristãos, obrigatoriedade de oferecer sacrifícios. Outra vez, muitos morreram,
sofreram ou apostataram. Com o afastamento de Diocleciano, a perseguição
continuou no Oriente até 311, quando Galério, do seu leito de morte, promulgou
um edito de tolerância no qual suplicava a intercessão dos cristãos.

Para uma síntese desses episódios, apresentamos a seguinte tabela.

Tabela 02 – Referente à Perseguição do Cristianismo no Império Romano


Imperador Ação de perseguição Mártir
Nero Culpou os cristãos pelo incêndio de Roma;
Apóstolos Pedro e Paulo
64 – 68 jogou-os na arena (Tácito, Anais 15:44);
Domiciano Recusa de acender incenso à
Clemente de Roma
90 – 96 inteligência do Imperador; Exílio de João.
O Império não devia gastar recursos na captura de
Trajano
cristãos, mas eles deveriam ser obrigados pelos tribunais Inácio, Simeão, Zózimo, Rufo
98 – 117
a prestar culto ao Imperador, caso fossem denunciados.
Adriano
Prosseguiu com a política de Trajano.
117 – 138
Marco Aurélio
Cristãos responsabilizados por calamidades naturais. Justino, Plotino. Sétimo Severo
161 – 180
Décio
Obrigatória a queima de incenso ao Imperador.
249 – 251
Valeriano Propriedades dos cristãos confiscadas Orígenes, Cipriano, Sixto II.
257 – 260 e suas reuniões proibidas. Diocleciano e Galério
Comunidades foram destruídas e Bíblias foram
303 – 311 queimadas. Todos os direitos civis dos cristãos foram
suspensos; exigido o sacrifício aos deuses.
Fonte: Autor, 2017

O Historiador romano Tácito deixou em registro o seguinte relato: “Cobertos


com peles de bestas, os cristãos eram rasgados por cães e pereciam. Ou eram
pregados a cruzes ou consumidos por chamas para servirem como iluminação
noturna nos jardins de Nero”.

Com a conversão de Constantino em 313, o Cristianismo passa a ser a religião


oficial do Império Romano, mudando completamente a situação dos cristãos.
Constantino I, Imperador romano, proclamado Augusto em 306. Tornou-se cristão
em 312 e oficializou a Igreja Cristã como Igreja do Império. Considerado como um
dos fundadores do Império Romano do Oriente.

Porém, mesmo com o apoio do Imperador, a religião cristã não foi aceita de
imediato. Muitos críticos se levantaram contra a nova religião do Império.

A partir de 70 d.C. os judeus passaram a considerar a “nova seita” um perigo


para todo o Judaísmo. Desse modo, os cristãos foram banidos do convívio e
perseguidos sistematicamente como hereges. Os pagãos tratavam o Cristianismo
Estatal como uma ameaça à cultura greco-romana e todos os males advindos pela
decadência do Império era atribuída aos cristãos.

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Mesmo dentro do Movimento Cristão havia divisões. Dentro do Cristianismo


surgem dois grupos importantes: os gnósticos e os líderes carismáticos. Os gnósticos
eram líderes oriundos do paganismo e se tornaram líderes cristãos e tomavam as
igrejas, seduzindo o povo com ideias de revelações e mistérios que Deus só havia
dito a eles.

Os líderes carismáticos eram líderes políticos que queriam subir na hierarquia


da igreja e tomar o controle das decisões e influenciar nos destinos da igreja. Os
cristãos buscaram se organizar e tentar resolver os problemas que apareciam e
responder às críticas.

Para que o Cristianismo Estatal fosse aceito pela sociedade romana, era
necessária uma profunda modificação e adaptação. Um dos traços da política
romana era a adaptação dos costumes pela integração social de valores, condutas
e crenças (sincretismo).

Quer saber mais sobre o processo de sincretismo entre o Cristianismo e as diversas religiões
Explor

pagãs? Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=9mMhBfAYKyI

As Religiões de Mistério eram muito populares e muitos convertidos vinham


dessas religiões e traziam suas influências para dentro do Cristianismo. Alguns
líderes nessas religiões se tornavam líderes cristãos.

Com a conversão de Constantino, o Império Romano passa a adotar o Movimento


de Jesus (Cristianismo) como sua religião oficial. Dessa forma, ocorre uma extinção
das diversas linhas cristãs e uma configuração institucional do que se chamará
Igreja Católica Apostólica Romana. Constantino, ao assumir o Cristianismo como
religião, procedeu a uma série de mudanças no Cristianismo.

Quer conhecer mais sobre a vida de Constantino e seu impacto no Cristianismo? Acesse:
Explor

https://www.youtube.com/watch?v=gSiDS0uTYCs

Dentre diversas mudanças que Constantino fez para adequar o Cristianismo como
religião do Império, destacamos: a hierarquização dos diversos grupos cristãos, sob
a égide do imperador, a constituição de uma liturgia cristã aos moldes dos cultos pa-
gãos, a edificação de comunidades e altares, a cristianização das festas pagãs.

Com Constantino (313 d.C.) os líderes (bispos) passaram a ter isenção de


impostos, algo que os sacerdotes pagãos desfrutavam.

O clero foi isento de serviços públicos obrigatórios e estava livre de ser julgado
pela corte secular e servir ao exército. Os bispos eram julgados somente em uma
corte especial de bispos, não pelas cortes comuns do Estado.

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No século I, a imposição de mãos para o exercício da liderança no meio cristão
meramente significava apoiar ou reafirmar uma função. Já no final do século II
passou a significar uma posição especial. Durante o século III, a “ordenação” passou
a ser tratada como um ritual ornado por vestimentas simbólicas e de separação.
Os antigos templos pagãos foram transformados em templos cristãos, mas os
elementos arquitetônicos foram mantidos. Um desses elementos foi o altar.
Utilizando os nichos das paredes dos antigos templos, que eram usados para a
colocação das imagens dos deuses, passaram a instalar as imagens de Jesus, de
Maria e dos mártires.
No século I, o batismo em água era a confissão externa da fé de uma pessoa.
Os escritores do NT muitas vezes utilizavam o “batismo” em vez da palavra “fé”,
referindo-se a ser “salvo”.
Até o século I, os convertidos eram batizados imediatamente após a conversão.
Todos podiam batizar. Do século II em diante, os batismos passaram a acontecer
regularmente na Páscoa.
No século III, o processo para o batismo se torna um ritual de passagem e de
pertença, em semelhança aos cultos de mistério. Com Constantino, o batismo
passa a ser um ritual exclusivo do bispo.
No século IV, o clero assumiu a responsabilidade de dar instruções ao convertido,
ficando o bispo pessoalmente responsável pelo ensino e disciplina que precediam
ao batismo.
Novamente, as Religiões de Mistério acabaram por impor sua prática ao
Cristianismo. O que se seguia após a decisão de aceitação a Cristo era o batismo
como ato contínuo.
Explor

Quer aprofundar o conhecimento sobre o tema? Leia: https://goo.gl/kprgLf

Nas Religiões de Mistério, o iniciado era obrigado a passar por uma série de
etapas até alcançar o status de membro. Dessa forma, o Cristianismo passou a ter
uma prática em semelhança às Religiões de Mistério.

Iniciou-se dentro dos círculos cristãos, promovidos pelo imperador, uma série de
ações que buscavam compatibilizar a crença cristã com a filosofia grega, herança
que os romanos tomavam para si, dos gregos.

O grande desafio da nova religião era acomodar todas as forças e pressões no


Império e dar ao Cristianismo um corpo doutrinário e uma liturgia educacional que
pudesse refletir a superioridade da nova religião.

Quando se torna religião do Império Romano, o Cristianismo passa a sofrer de-


mandas de segmentos políticos e grupos de pressão para um “ajustamento social”
das doutrinas cristãs.

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A Filosofia era tida como verdade e herança do Império Romano. Dessa forma,
os líderes cristãos se esforçaram para provar que os ensinamentos bíblicos eram a
continuidade da filosofia grega e sua aceitação implicava a aceitação do Cristianismo.

Diversos líderes cristãos procuraram mesclar os ensinamentos dos filósofos com


os ensinamentos cristãos. Jesus passa a ser descrito como o “logos” de Deus. O
Cristianismo adota o neoplatonismo para explicar a fé.

Segundo Justino, um líder cristão, os grandes filósofos foram cristãos anônimos,


pois viveram conforme a Verdade (Verbo). Já para outro líder cristão, chamado Cle-
mente, a filosofia foi o meio de preparação de Deus para a recepção do Evangelho.

Havia uma enorme dificuldade em relação ao texto bíblico, principalmente em


relação ao AT. Textos que mostravam um Deus “vingativo”, “violento” e mesmo
“sanguinário” eram difíceis de aceitar e traziam dificuldades para os cristãos.

Métodos hermenêuticos foram criados para “ler” e “traduzir” esses textos.


A Escola de Alexandria desenvolveu uma hermenêutica “mais condizente” com
as exigências e as críticas que o Cristianismo recebia em relação à Bíblia. Seus
expoentes foram Orígenes, Clemente de Alexandria, Irineu e Justino.

A hermenêutica alegórica buscou facilitar a interpretação de textos difíceis ao


mesmo tempo que buscava tornar a Bíblia mais atraente ao povo e dar uma reserva
de conhecimento místico ao líder.

Nesse processo de adequação, inicia-se um trabalho de criação de uma liturgia


cristã aos moldes pagãos. As vestes dos líderes cristãos passam a ser suntuosas,
adequadas à autoridade estatal, outorgada pelo Império Romano. Essas vestes
distinguiam os sacerdotes da mesma maneira que sacerdotes das religiões pagãs.
Os líderes adotaram os paramentos e as indumentárias e os cajados de ponta
recurvada, os mesmos utilizados pelos antigos sacerdotes pagãos.

Os cultos pagãos (como o de Mitra) eram constituídos de sacrifícios e de um


ritual de purificação. Esses ritos apresentavam-se ao povo como um espetáculo à
divindade. O Cristianismo engendrou a missa como uma forma de representar o
sacrifício de Cristo e purificar, através da eucaristia, o povo.

O Concílio de Laodiceia, no ano 318, decretou que o drama de Jesus no Gólgota


passasse a ser encarado como um sacrifício de sangue, “hostiae piaculares”
(vítimas sacrificadas para expiar o pecado de outrem). Foi instituída a missa, onde
seria realizado, a título de sacrifício, o que passou a se denominar “eucaristia”,
sendo considerado como “hóstia”, isto é, como vítima, o corpo e o sangue de
Jesus, representado pelo pão e pelo vinho.

O próprio calendário semanal passa a ser cristianizado. “O dia do senhor”


passa a ser o domingo (dia do Deus Sol). Assim, o Império torna-se cristão e as
práticas pagãs são incorporadas ao Catolicismo Cristão. Em 324 d.C., o domingo
foi declarado por lei como dia de descanso. Constantino ordenou que todo Império
descansasse no dia do sol.

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O batismo, ato de declaração de aceitação da fé em Cristo, sofre uma mudança
radical, pois passa a incorporar preceitos pagãos. As religiões de mistério só
aceitavam novos membros depois de um processo de introdução do candidato
aos mistérios iniciais. Assim, nasce a ideia de “introdução ao catecumenato”,
purificação do fiel que deve recitar a “fórmula batismal” no ato do batismo.
O culto cristão deixa de ser o encontro e passa a ser a liturgia programada para
o ensino catequético. Músicas, orações e pregação passam a ser orientadas por
uma “ordem de culto”.
No século I, os cristãos descreviam a Santa Ceia como a “festa do amor”. O pão
e o cálice eram realizados não como uma cerimônia, mas dentro da refeição diária
na reunião da igreja. No século II, houve a separação do pão e do cálice da Ceia
e no fim do século II, a separação foi completa. No século IV, a festa do amor foi
proibida pela Igreja Católica.
Irineu (130-200) foi um dos primeiros a descrever o pão e o cálice como um
“sacrifício”. A mesa do altar onde o pão e cálice eram colocados chegou a ser
vista como um altar onde a vítima [do sacrifício] era oferecida. A ceia passa a
ser considerada uma ação mística em que o sacrifício de Cristo assemelhava-se
aos sacrifícios do Antigo Testamento. Esta interpretação tinha influências tanto
judaicas quanto dos cultos de mistério em que o iniciado se ligava à divindade por
meio do consumo de seu “corpo e sangue”.
Inácio (68-107 d.C.), bispo de Antioquia da Síria, vinculou a ceia ao altar e,
com isso, reforçou a ideia do sacrifício e atribuiu valor expiatório à eucaristia.
Irineu (130-202 d.C.) acreditava que a ceia era uma oferta celestial, carregada de
bênçãos. Cipriano de Cartago (século III) apresentou a ceia como um momento
do sacrifício de Cristo, em que se transforma o pão em corpo e o vinho em
sangue (transubstanciação).
O Catolicismo estatal passa a sincretizar o calendário (romano) com tradições
cristãs. Uma das festas romanas eram as bacanais que ocorriam com a “carne
vale”. Período que suspendiam todas as obrigações e restrições (inclusive sexuais).
As festas e o modo lascivo e permissivo foram absorvidos e ressignificados na ideia
comportamento x fé.
O casamento era uma das atividades contratuais entre famílias. No Baixo Império
Romano o casamento passou a ser realizado em cultos pagãos de fertilidade e
benção para os noivos para prosperidade econômica e sexual. O Cristianismo
assume o casamento e transforma a cerimônia pagã em cerimônia cristã e passa
a incorporar diversos elementos como o véu, grinalda, roupa branca, benção do
líder, cerimônia das alianças, as flores no altar, entre outros elementos.
O Natal é a cristianização das festividades pagãs dos Romanos por ocasião do
Solstício de inverno. Eram várias as festas e rituais que nessa altura do ano os
romanos faziam. Destacam-se as Saturnais, entre 17 e 24 de dezembro, tipicamente
romanas (com trocas de prendas e festas alegres), e também as de Mitra, deus
persa e “Sol da Virtude” (“nascido” a 25 de dezembro).

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O primeiro dia da semana (domingo) foi declarado pelo Imperador Constantino


como dia de descanso e adoração e passou a vigorar em todo o Império. Em 321,
o domingo foi declarado o dia do Senhor para a celebração do culto cristão. Dessa
forma, foram proibidas atividades comerciais e estatais, bem como o funcionamento
das cortes e tribunais. Os soldados estavam dispensados de atividades militares
nesse dia.

A crucificação, como castigo aos presos e condenados, foi abolida. A cruz tor-
nou-se um símbolo sagrado para os cristãos e foi adotada por Constantino como
emblema para o seu exército.

No ano 405, as imagens dos santos e mártires começaram a ser introduzidas


nos templos como objetos de reverência, adoração e culto. A adoração à virgem
Maria substituiu a adoração à Vênus e à Diana, deusas romanas. A veneração aos
santos, agora figuras que se assemelhavam aos semideuses greco-romanos, caiu
nas graças dos novos cristãos. As imagens dos santos começam a ser apresentadas
em pinturas e logo acabam por se tornar pequenas imagens de escultura, vendidas
à semelhança com as antigas imagens dos deuses greco-romanos.

Porém, uma das mudanças mais significativas foi na questão da liderança


feminina. O Império Romano era patriarcal. Esta influência era muito forte. A
peculiaridade era que para o romano a mulher não poderia exercer autoridade
sobre o marido e sobre os homens em sociedade.

Algumas mulheres foram importantes para os Cristianismos primitivos pelo


papel que desempenharam nas comunidades como apóstolas, diaconisas, discípulas
e cooperadoras, dando continuidade à tradição iniciada no movimento de Jesus.
Seus nomes aparecem nos textos bíblicos de Atos e na carta aos Romanos.

Schottroff2 elucida que a partir das cartas paulinas tornam-se evidentes seis
aspectos: as mulheres tinham funções diretivas nas comunidades; a sua força de
trabalho significou uma contribuição decisiva para a divulgação do Evangelho;
Paulo apreciava as mulheres neste trabalho como quem está em pé de igualdade
com ele próprio; Paulo também conhece o estar-subordinado a mulheres; para ele
ainda não existe trabalho comunitário algum que seja específico a um dos sexos;
Paulo não se entende na função de mais importante apóstolo e missionário.

No Movimento de Jesus, as mulheres participavam lado a lado com os homens


na evangelização; foram intituladas pelo Apóstolo Paulo de missionárias apóstolas.
Dentre estas mulheres há referências a algumas, tais como 3Júnia (Rm 16:7).

Para uma visão sintética das diversas mudanças, apresentamos a seguinte tabela.

2 Cf. SCHOTTROFF, Luise. Mulheres no Novo Testamento: exegese numa perspectiva feminista. São Paulo:
Paulinas, 1995.
3 Cf. Bíblia sagrada. Carta de Paulo aos Romanos, capitulo 16, versículo 07: “Saudai Andrônico e Júnia”, “meus
parentes e companheiros de prisão, apóstolos exímios que me precederam na fé em Cristo”.

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Tabela 03 – Referente às Mudanças Ocorridas entre o Movimento de Jesus e o Cristianismo Estatal
As Mudanças no Movimento de Jesus
Área Mudança
A vida, regida pelo calendário, as festas e as tradições pagãs
Social
do Império são transformadas em cristãs.
A liderança religiosa é cooptada e passa a ser dirigida pelo Imperador, que determina
Política
privilégios e adoção de comportamento como funcionários do estado.

Litúrgica A liturgia é adaptada para agradar aos “novos cristãos” oriundos dos cultos pagãos.

Diversas mudanças culturais são estabelecidas para adequar


Cultural
o Cristianismo estatal ao dia a dia do Império.
Fonte: Autor, 2017

Assim, o que se iniciou com um movimento liderado por um judeu da periferia


do Império Romano (a Galileia) tornou-se a religião oficial de Roma, totalmente
adaptada para agradar à nova estrutura social e pacificar os diversos cidadãos na
tentativa de tornar a religião estatal (Igreja Católica Apostólica Romana) a única
religião no Império.

Os Primeiros Concílios na Formação


do Cristianismo Estatal
A partir da controvérsia sobre a Fé Cristã e a interpretação do que cria o
Cristianismo, surgiram a necessidade de concílios para que o escopo da crença
cristã fosse determinado através de decisões em que não coubessem mais margem
para interpretações diferentes. Assim, surgiram as decisões conciliares.

O primeiro ponto de controvérsia que surge no Cristianismo Estatal é a ques-


tão da pessoa de Cristo. Alguns afirmavam que a natureza de Cristo era superior
à humana, mas inferior a Deus. Esse grupo ficou conhecido como arianismo, os
seguidores de Ário. No ano de 325, o Concilio de Nicéia condenou o arianismo e
determinou que Cristo era humano e divino. Outro problema surgiu em 360, quan-
do um bispo, Apolinário, declarou que Cristo não tinha natureza humana, apenas
divina. Essa interpretação foi condenada no concílio de Constantinopla em 381.

Outro ponto de controvérsia foi a questão do pecado e da salvação, levantada pelo


monge Pelágio. Em 410, Pelágio afirmou que o ser humano não herda o pecado de
Adão (também chamado de pecado original). A partir da vontade livre, o ser humano
opta pelo pecado e, dessa forma, afasta-se de Deus por espontânea vontade.

Pelágio ensinava que os seres humanos nasciam inocentes, sem a mancha


do pecado original e herdado. Cria que o pecado de Adão não tinha afetado as
gerações futuras da humanidade. Assim, a responsabilidade do pecado é pessoal,
intransferível, e a experiência do mal é de escolha moral.

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UNIDADE Cristianismo na Idade Antiga

Em 418, o Concílio de Cartago condenou as ideias de Pelágio e afirmou que a


natureza humana já nasce no pecado e que a salvação é uma escolha divina dada
a algumas pessoas.

Em 332 surge uma controvérsia levantada por Donato, líder cristão em Cartago
que não aceitava a liderança de líderes que tinham sua vida reprovada em compor-
tamento anterior. Portanto, se um oficial da igreja fosse considerado indigno da
posição, os donatistas não o consideravam obreiro de verdade, e se ele ordenou
alguém para o presbitério ou diaconato, tais ordenações não teriam valor algum.

Agostinho de Hipona, bispo da Igreja, se opõe e defende o fortalecimento


filosófico, político e religioso da Igreja Católica Apostólica Romana, justificando-a
como representante de Deus na Terra. A instituição passa, assim, a ser intemporal,
eterna e infalível, mesmo que os homens falhem.

Agostinho aprofundou a compreensão do sacerdócio ensinando que a ordenação


confere ao ordenado “um caráter definitivo e irremovível” que o capacita no
cumprimento de suas funções sacerdotais. Para Agostinho, a ordenação era uma
posição permanente, que não poderia ser revogada. Por ela, o clero (e somente
ele) era autorizado a ministrar os sacramentos.

Os sacramentos, de acordo com a Teologia Católica, operam “ex opere operato”,


pela graça e pelo poder divino, sem importar quão indigno seja o ministrante que
realiza o rito. O sacerdote, mesmo em pecado, é digno da ministração.

Outro ponto importante foi a instituição de salvaguardas da fé com a imposição


de credos. A introdução do credo no Cristianismo começou na primeira metade do
século II com o credo batismal. O credo do batismo era composto respectivamente
por uma série de três questões referentes às três Pessoas da Trindade. O Concílio
de Nicéia de 325 d.C. conduziu o credo a um passo mais adiante. O credo passou
a ser uma profissão de fé obrigatória.

Porém, a maior mudança se deu na estrutura organizacional do Cristianismo.


O Movimento de Jesus era constituído por dons e carismas, sem hierarquia, sem
liturgia, sem organização estrutural.

A liderança era realizada por meio de dons e carismas (Rm 5; Ef. 5). Em
alguns lugares começou a surgir no final do século I a ideia do ancião, diáconos
e presbíteros. Estes passam a exercer sua liderança reconhecida como cuidado e
orientação do grupo. Até o século II, a igreja não teve nenhuma liderança oficial.
Eram grupos religiosos sem sacerdote, templo ou sacrifício.

Os próprios cristãos conduziram as reuniões sem hierarquia entre eles. Estavam


presentes obreiros que divulgavam as boas novas e eram chamados de apóstolos
(homens e mulheres). O vocabulário sobre liderança no NT não permite nenhuma
estrutura piramidal. No Cristianismo Estatal, Constantino assume o lugar de
pontifex maximus, o bispo dos bispos.

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Assim, a Igreja Cristã torna-se liderada pelo próprio imperador romano. Ao longo
de séculos, a ideia de um único líder irá prosperar e a Igreja Católica Apostólica
Romana irá construir a ideia do papado, retornando ao princípio da Igreja Estatal,
com Constantino.

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UNIDADE Cristianismo na Idade Antiga

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
As Comunidades dos Apóstolos
BROWN, Raymond. As comunidades dos apóstolos. São Paulo: Paulinas, 1986.
O Cristianismo através dos Séculos
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos. 2ª. ed. São Paulo: Vida nova,
1995.
Dois Reinos
CLOUSE, Robert. G. (et. al). Dois reinos: a igreja e a cultura interagindo ao longo dos
séculos. São Paulo: CEP, 2003.

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Referências
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