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LPE CRIMES DE RESPONSABILIDADE DE PREFEITOS E VEREADORES

XIII - Nomear, admitir ou designar servidor, contra


DECRETO-LEI Nº 201, DE 27 DE FEVEREIRO DE 1967. expressa disposição de lei;

XIV - Negar execução a lei federal, estadual ou municipal,


ou deixar de cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da recusa
Dispõe sobre a responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores, e dá ou da impossibilidade, por escrito, à autoridade competente;
outras providências.
XV - Deixar de fornecer certidões de atos ou contratos
municipais, dentro do prazo estabelecido em lei.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição
que lhe confere o parágrafo 2º, do artigo 9º, do Ato Institucional nº XVI – deixar de ordenar a redução do montante da dívida
4, de 7 de dezembro de 1966, consolidada, nos prazos estabelecidos em lei, quando o montante
ultrapassar o valor resultante da aplicação do limite máximo fixado
DECRETA: pelo Senado Federal; 

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos XVII – ordenar ou autorizar a abertura de crédito em
Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem
independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: fundamento na lei orçamentária ou na de crédito adicional ou com
inobservância de prescrição legal;
I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los
em proveito próprio ou alheio; XVIII – deixar de promover ou de ordenar, na forma da lei,
o cancelamento, a amortização ou a constituição de reserva para
anular os efeitos de operação de crédito realizada com
Il - utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou
inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em
alheio, de bens, rendas ou serviços públicos;
lei; 

Ill - desviar, ou aplicar indevidamente, rendas ou verbas XIX – deixar de promover ou de ordenar a liquidação
públicas; integral de operação de crédito por antecipação de receita
orçamentária, inclusive os respectivos juros e demais encargos, até
IV - empregar subvenções, auxílios, empréstimos ou o encerramento do exercício financeiro;
recursos de qualquer natureza, em desacordo com os planos ou
programas a que se destinam; XX – ordenar ou autorizar, em desacordo com a lei, a
realização de operação de crédito com qualquer um dos demais
V - ordenar ou efetuar despesas não autorizadas por lei, entes da Federação, inclusive suas entidades da administração
ou realizá-Ias em desacordo com as normas financeiras pertinentes; indireta, ainda que na forma de novação, refinanciamento ou
postergação de dívida contraída anteriormente; 
VI - deixar de prestar contas anuais da administração
financeira do Município a Câmara de Vereadores, ou ao órgão que XXI – captar recursos a título de antecipação de receita de
a Constituição do Estado indicar, nos prazos e condições tributo ou contribuição cujo fato gerador ainda não tenha ocorrido; 
estabelecidos;
XXII – ordenar ou autorizar a destinação de recursos
VII - Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao provenientes da emissão de títulos para finalidade diversa da
órgão competente, da aplicação de recursos, empréstimos prevista na lei que a autorizou; 
subvenções ou auxílios internos ou externos, recebidos a
qualquer titulo; XXIII – realizar ou receber transferência voluntária em
desacordo com limite ou condição estabelecida em lei. 
VIII - Contrair empréstimo, emitir apólices, ou obrigar o
Município por títulos de crédito, sem autorização da Câmara, ou §1º Os crimes definidos nêste artigo são de ação pública,
em desacordo com a lei; punidos os dos itens I e II, com a pena de reclusão, de dois a doze
anos, e os demais, com a pena de detenção, de três meses a três
IX - Conceder empréstimo, auxílios ou subvenções sem anos.
autorização da Câmara, ou em desacordo com a lei;
§ 2º A condenação definitiva em qualquer dos crimes
X - Alienar ou onerar bens imóveis, ou rendas municipais, definidos neste artigo, acarreta a perda de cargo e a inabilitação,
sem autorização da Câmara, ou em desacordo com a lei; pelo prazo de cinco anos, para o exercício de cargo ou função
pública, eletivo ou de nomeação, sem prejuízo da reparação civil
do dano causado ao patrimônio público ou particular.
XI - Adquirir bens, ou realizar serviços e obras, sem
concorrência ou coleta de preços, nos casos exigidos em lei;
Art. 2º O processo dos crimes definidos no artigo anterior é
o comum do juízo singular, estabelecido pelo Código de Processo
XII - Antecipar ou inverter a ordem de pagamento a Penal, com as seguintes modificações:
credores do Município, sem vantagem para o erário;

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I - Antes de receber a denúncia, o Juiz ordenará a VIII - Omitir-se ou negligenciar na defesa de bens, rendas,
notificação do acusado para apresentar defesa prévia, no prazo de direitos ou interesses do Município sujeito à administração da
cinco dias. Se o acusado não for encontrado para a notificação, ser- Prefeitura;
lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a defesa, dentro
no mesmo prazo. IX - Ausentar-se do Município, por tempo superior ao
permitido em lei, ou afastar-se da Prefeitura, sem autorização da
II - Ao receber a denúncia, o Juiz manifestar-se-á, Câmara dos Vereadores;
obrigatória e motivadamente, sobre a prisão preventiva do acusado,
nos casos dos itens I e II do artigo anterior, e sobre o seu X - Proceder de modo incompatível com a dignidade e o
afastamento do exercício do cargo durante a instrução criminal, em decoro do cargo.
todos os casos.
Art. 5º O processo de cassação do mandato do Prefeito pela
III - Do despacho, concessivo ou denegatório, de prisão Câmara, por infrações definidas no artigo anterior, obedecerá ao
preventiva, ou de afastamento do cargo do acusado, caberá recurso, seguinte rito, se outro não for estabelecido pela legislação do
em sentido estrito, para o Tribunal competente, no prazo de cinco Estado respectivo:
dias, em autos apartados. O recurso do despacho que decreta a
prisão preventiva ou o afastamento do cargo terá efeito
suspensivo. I - A denúncia escrita da infração poderá ser feita por
qualquer eleitor, com a exposição dos fatos e a indicação das
provas. Se o denunciante for Vereador, ficará impedido de votar
§ 1º Os órgãos federais, estaduais ou municipais, sobre a denúncia e de integrar a Comissão processante, podendo,
interessados na apuração da responsabilidade do Prefeito, podem todavia, praticar todos os atos de acusação. Se o denunciante for o
requerer a abertura do inquérito policial ou a instauração da ação Presidente da Câmara, passará a Presidência ao substituto legal,
penal pelo Ministério Público, bem como intervir, em qualquer fase para os atos do processo, e só votará se necessário para completar
do processo, como assistente da acusação. oquorum de julgamento. Será convocado o suplente do Vereador
impedido de votar, o qual não poderá integrar a Comissão
§ 2º Se as previdências para a abertura do inquérito policial processante.
ou instauração da ação penal não forem atendidas pela autoridade
policial ou pelo Ministério Público estadual, poderão ser requeridas II - De posse da denúncia, o Presidente da Câmara, na
ao Procurador-Geral da República. primeira sessão, determinará sua leitura e consultará a Câmara
sobre o seu recebimento. Decidido o recebimento, pelo voto da
Art. 3º O Vice-Prefeito, ou quem vier a substituir o Prefeito, maioria dos presentes, na mesma sessão será constituída a
fica sujeito ao mesmo processo do substituído, ainda que tenha Comissão processante, com três Vereadores sorteados entre os
cessado a substituição. desimpedidos, os quais elegerão, desde logo, o Presidente e o
Relator.
Art. 4º São infrações político-administrativas dos Prefeitos
Municipais sujeitas ao julgamento pela Câmara dos Vereadores e III - Recebendo o processo, o Presidente da Comissão
sancionadas com a cassação do mandato: iniciará os trabalhos, dentro em cinco dias, notificando o
denunciado, com a remessa de cópia da denúncia e documentos
que a instruírem, para que, no prazo de dez dias, apresente defesa
I - Impedir o funcionamento regular da Câmara; prévia, por escrito, indique as provas que pretender produzir e
arrole testemunhas, até o máximo de dez. Se estiver ausente do
II - Impedir o exame de livros, folhas de pagamento e Município, a notificação far-se-á por edital, publicado duas vezes,
demais documentos que devam constar dos arquivos da Prefeitura, no órgão oficial, com intervalo de três dias, pelo menos, contado o
bem como a verificação de obras e serviços municipais, por prazo da primeira publicação. Decorrido o prazo de defesa, a
comissão de investigação da Câmara ou auditoria, regularmente Comissão processante emitirá parecer dentro em cinco dias,
instituída; opinando pelo prosseguimento ou arquivamento da denúncia, o
qual, neste caso, será submetido ao Plenário. Se a Comissão opinar
III - Desatender, sem motivo justo, as convocações ou os pelo prosseguimento, o Presidente designará desde logo, o início da
pedidos de informações da Câmara, quando feitos a tempo e em instrução, e determinará os atos, diligências e audiências que se
forma regular; fizerem necessários, para o depoimento do denunciado e inquirição
das testemunhas.
IV - Retardar a publicação ou deixar de publicar as leis e
atos sujeitos a essa formalidade; IV - O denunciado deverá ser intimado de todos os atos
do processo, pessoalmente, ou na pessoa de seu procurador,
com a antecedência, pelo menos, de vinte e quatro horas, sendo lhe
V - Deixar de apresentar à Câmara, no devido tempo, e em permitido assistir as diligências e audiências, bem como formular
forma regular, a proposta orçamentária; perguntas e reperguntas às testemunhas e requerer o que for de
interesse da defesa.
VI - Descumprir o orçamento aprovado para o exercício
financeiro, V – concluída a instrução, será aberta vista do processo ao
denunciado, para razões escritas, no prazo de 5 (cinco) dias, e,
VII - Praticar, contra expressa disposição de lei, ato de sua após, a Comissão processante emitirá parecer final, pela
competência ou omitir-se na sua prática; procedência ou improcedência da acusação, e solicitará ao
Presidente da Câmara a convocação de sessão para julgamento. Na
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sessão de julgamento, serão lidas as peças requeridas por qualquer I - Ocorrer falecimento, renúncia por escrito, cassação dos
dos Vereadores e pelos denunciados, e, a seguir, os que desejarem direitos políticos ou condenação por crime funcional ou eleitoral;
poderão manifestar-se verbalmente, pelo tempo máximo de 15
(quinze) minutos cada um, e, ao final, o denunciado, ou seu II - Deixar de tomar posse, sem motivo justo aceito pela
procurador, terá o prazo máximo de 2 (duas) horas para produzir Câmara, dentro do prazo estabelecido em lei;
sua defesa oral; 
III - deixar de comparecer, em cada sessão legislativa anual,
VI - Concluída a defesa, proceder-se-á a tantas votações à terça parte das sessões ordinárias da Câmara Municipal, salvo por
nominais, quantas forem as infrações articuladas na denúncia. motivo de doença comprovada, licença ou missão autorizada pela
Considerar-se-á afastado, definitivamente, do cargo, o denunciado edilidade; ou, ainda, deixar de comparecer a cinco sessões
que for declarado pelo voto de dois terços, pelo menos, dos extraordinárias convocadas pelo prefeito, por escrito e mediante
membros da Câmara, em curso de qualquer das infrações recibo de recebimento, para apreciação de matéria urgente,
especificadas na denúncia. Concluído o julgamento, o Presidente assegurada ampla defesa, em ambos os casos. (Redação dada pela
da Câmara proclamará imediatamente o resultado e fará Lei º 6.793, de 13.06.1980)
lavrar ata que consigne a votação nominal sobre cada infração,
e, se houver condenação, expedirá o competente decreto
legislativo de cassação do mandato de Prefeito. Se o resultado da IV - Incidir nos impedimentos para o exercício do mandato,
votação for absolutório, o Presidente determinará o arquivamento estabelecidos em lei e não se desincompatibilizar até a posse, e, nos
do processo. Em qualquer dos casos, o Presidente da Câmara casos supervenientes, no prazo fixado em lei ou pela Câmara.
comunicará à Justiça Eleitoral o resultado.
§ 1º Ocorrido e comprovado o ato ou fato extintivo, o
VII - O processo, a que se refere este artigo, deverá estar Presidente da Câmara, na primeira sessão, comunicará ao plenário
concluído dentro em noventa dias, contados da data em que se e fará constar da ata a declaração da extinção do mandato e
efetivar a notificação do acusado. Transcorrido o prazo sem o convocará imediatamente o respectivo suplente.
julgamento, o processo será arquivado, sem prejuízo de nova
denúncia ainda que sobre os mesmos fatos. § 2º Se o Presidente da Câmara omitir-se nas providências
no parágrafo anterior, o suplente do Vereador ou o Prefeito
Municipal poderá requerer a declaração de extinção do
Art. 6º Extingue-se o mandato de Prefeito, e, assim, deve
mandato, por via judicial, e se procedente, o juiz condenará o
ser declarado pelo Presidente da Câmara de Vereadores, quando:
Presidente omisso nas custas do processo e honorários de advogado
que fixará de plano, importando a decisão judicial na destituição
I - Ocorrer falecimento, renúncia por escrito, cassação dos automática do cargo da Mesa e no impedimento para nova
direitos políticos, ou condenação por crime funcional ou eleitoral. investidura durante toda a legislatura.

II - Deixar de tomar posse, sem motivo justo aceito pela § 3º O disposto no item III não se aplicará às sessões
Câmara, dentro do prazo estabelecido em lei. extraordinárias que forem convocadas pelo Prefeito, durante
os períodos de recesso das Câmaras Municipais. (Incluído pela
III - Incidir nos impedimentos para o exercício do cargo, Lei nº 5.659, de 8.6.1971)
estabelecidos em lei, e não se desincompatibilizar até a posse, e,
nos casos supervenientes, no prazo que a lei ou a Câmara fixar. Art. 9º O presente decreto-lei entrará em vigor na data de
sua publicação, revogadas as Leis números 211, de 7 de janeiro de
Parágrafo único. A extinção do mandato independe de 1948, e 3.528, de 3 de janeiro de 1959, e demais disposições em
deliberação do plenário e se tornará efetiva desde a declaração contrário.
do fato ou ato extintivo pelo Presidente e sua inserção em ata.
Brasília, 24 de fevereiro de 1967; 146º da Independência e
Art. 7º A Câmara poderá cassar o mandato de Vereador, 79º da República.
quando:

I - Utilizar-se do mandato para a prática de atos de


corrupção ou de improbidade administrativa; O STJ entende que os prefeitos podem responder por
improbidade administrativa e também pelos crimes
II - Fixar residência fora do Município;
de responsabilidade do Decreto-Lei 201/67 (ex: REsp

III - Proceder de modo incompatível com a dignidade, da 1066772/MS).


Câmara ou faltar com o decoro na sua conduta pública. A ação de improbidade administrativa contra os
prefeitos será julgada em 1ª instância.
§ 1º O processo de cassação de mandato de Vereador é, no
que couber, o estabelecido no art. 5º deste decreto-lei.
O Decreto-Lei 201/67 é um ato normativo com status de lei
Art. 8º Extingue-se o mandato do Vereador e assim será
ordinária e que prevê, em seu art. 1º, uma lista de crimes
declarado pelo Presidente da Câmara, quando:
cometidos por Prefeitos no exercício de suas funções.

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O DL 201/67 traz também regras de processo penal que Prefeitos se não estiverem previstos no DL 201/67, que é
deverão ser aplicadas quando ocorrerem os crimes ali norma específica.
previstos.
Vale ressaltar que o DL 201/67 foi recepcionado pela CF/88 Bem jurídico protegido pelos tipos do art. 1º: o
como lei ordinária (Súmula 496 do STF). patrimônio da Administração Pública e a moralidade
administrativa.
Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos
Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, Sujeito passivo: em regra, é o Município. No entanto, a
independentemente do pronunciamento da Câmara depender do caso concreto, poderá também ser vítima do
dos Vereadores: crime o Estado ou a União. É o caso em que o Prefeito se
apropria ou desvia de bens ou rendas públicas pertencentes
O que são crimes de responsabilidade? ao ente estadual ou federal (ex: Prefeito que desvia
Tecnicamente falando, crimes de responsabilidade são recursos de um convênio federal).
infrações político-administrativas praticadas por pessoas Sendo o sujeito passivo o Município ou o Estado, a
que ocupam determinados cargos públicos. competência para julgar o crime é da Justiça Estadual.
Caso o agente seja condenado por crime de Se o sujeito passivo for a União, a competência será da
responsabilidade, ele não receberá sanções penais (prisão Justiça Federal.
ou multa), mas sim sanções político-administrativas (perda
do cargo e inabilitação para o exercício de função pública). Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, uma vez que
somente pode ser praticado pelo Prefeito (ou por quem
O art. 1º prevê realmente crimes de esteja no exercício desse cargo, como o Vice-Prefeito ou o
responsabilidade? Presidente da Câmara de Vereadores).
NÃO. O art. 1º afirma que os delitos nele elencados são Os crimes do art. 1º são próprios, mas é possível que haja
“crimes de responsabilidade”. Apesar de ser utilizada essa coautoria ou participação. Em outras palavras, outros
nomenclatura, a doutrina e a jurisprudência “corrigem” o indivíduos podem ser coatores ou partícipes do Prefeito no
legislador e afirmam que, na verdade, esses delitos cometimento da infração. Exs: um Secretário Municipal, um
são crimes comuns, ou seja, infrações penais iguais àquelas contador, um assessor etc.
tipificadas no Código Penal e em outras leis penais.
Desse modo, o que o art. 1º traz são crimes Término do mandato: importante destacar que o fato de
funcionais cometidos por Prefeitos. ter terminado o mandato do Prefeito não impede que ele
Vale ressaltar que os crimes de responsabilidade (em seja denunciado e processado pelos crimes do art. 1º do DL
sentido estrito) dos Prefeitos estão previstos no art. 4º do 201/67, desde que os fatos tenham sido praticados durante
DL 201/67. É nesse dispositivo que estão definidas as o mandato. Essa dúvida foi tão frequente no passado que
infrações político-administrativas dos alcaides. existem duas súmulas afirmando isso:
Nesse sentido: STF. Plenário. HC 70671, Rel. Min. Carlos
Velloso, julgado em 13/04/1994. Súmula 164-STJ: O prefeito municipal, após a extinção do
Os crimes funcionais dos Prefeitos estão previstos mandato, continua sujeito a processo por crime previsto no
exclusivamente no art. 1º do DL 201/67? art. 1º do Dec. lei n. 201, de 27/02/67.
NÃO. Os Prefeitos poderão responder também pelos crimes Súmula 703-STF: A extinção do mandato do Prefeito não
funcionais previstos no Código Penal, na Lei de Licitações impede a instauração de processo pela prática dos crimes
(Lei n. 8.666/93) e em outras leis penais, desde que tais previstos no art. 1º do DL 201/67.
condutas não estejam descritas no art. 1º DL 201/67. Os
crimes tipificados nas demais leis somente incidirão para os

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Elemento subjetivo: é o dolo. Todos os tipos previstos no Juiz do Trabalho determina ao prefeito que ele bloqueie o
art. 1º exigem o dolo, não havendo modalidade culposa no saldo que uma empresa que prestava serviços ao Município
DL 201/67. ainda tinha para receber a fim de que esse dinheiro seja
utilizado para pagar direitos trabalhistas. Apesar de receber
É possível aplicar o princípio da insignificância? a ordem de forma direta e específica, o prefeito não a
Sobre o tema, existe divergência entre o STF e o STJ: cumpre e autoriza o pagamento à empresa.

STF: SIM STJ: não pode ser aplicado

Ex-prefeito condenado pela Não é possível a aplicação Tipo especial de desobediência

prática do crime previsto no do princípio da O inciso XIV acima se assemelha com o crime de

art. 1º, II do Decreto-Lei insignificância a prefeito, em desobediência (art. 330 do CP). Cuidado para não

201/1967, por ter utilizado razão mesmo da própria confundir: se quem descumpriu a ordem judicial foi o

máquinas e caminhões de condição que ostenta, Prefeito, ele não responderá pelo art. 330 do CP, mas sim

propriedade da Prefeitura devendo pautar sua conduta, pelo art. 1º, XIV, do DL 201/67.

para efetuar terraplanagem à frente da municipalidade,


no terreno de sua pela ética e pela moral, não Elemento subjetivo

residência. 3. Aplicação do havendo espaço para O crime é punido a título de dolo. Não se exige elemento

princípio da insignificância. quaisquer desvios de subjetivo especial ("dolo específico"). Assim, para o crime

Possibilidade. (...) (HC conduta. (...) (HC se consumar não é necessário que o Prefeito tenha

104286, Rel. Min. Gilmar 148.765/SP, Rel. Min. Maria descumprido a lei ou a ordem judicial por causa de um

Mendes, 2ª Turma, julgado Thereza De Assis Moura, 6ª motivo específico, para ajudar alguém, ter vantagem

em 03/05/2011) Turma, julgado em pecuniária etc. Para que o delito se configure basta que o

11/05/2010) Prefeito tenha negado execução à lei ou descumprido a


ordem judicial, de forma injustificada, ou seja, sem

CRIME DO INCISO XIV apresentar motivos, por escrito, as razões da recusa ou da

Vamos agora estudar o crime previsto no inciso XIV (negar impossibilidade de cumprimento.

execução de lei ou descumprir decisão judicial):


É indispensável comprovar a inequívoca ciência do

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Prefeito

Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, Imagine a seguinte situação adaptada:

independentemente do pronunciamento da Câmara Em Joinville (SC), o juiz expediu ordem judicial

dos Vereadores: determinando que o Município se abstivesse de praticar

(...) determinado ato administrativo.

XIV - Negar execução a lei federal, estadual ou A ordem judicial foi endereçada à Procuradoria do

municipal, ou deixar de cumprir ordem judicial, sem Município.

dar o motivo da recusa ou da impossibilidade, por Mesmo após a intimação ser efetivada, o ato administrativo

escrito, à autoridade competente; questionado foi praticado.

(...) Diante disso, o Ministério Público ofereceu denúncia contra

§ 1º Os crimes definidos neste artigo são de ação o Prefeito, imputando-lhe a prática do crime previsto no art.

pública, punidos os dos itens I e II, com a pena de 1º, XIV, do DL 201/67.

reclusão, de dois a doze anos, e os demais, com a O STF, no entanto, absolveu o réu. Segundo entenderam os

pena de detenção, de três meses a três anos. Ministros, não foram produzidas provas de que o réu tenha
tido conhecimento da ordem judicial ou que tenha

Exemplo: concorrido para seu descumprimento.

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De acordo com a jurisprudência do STF, para configuração


do delito em tela, é indispensável que o MP comprove a COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE CRIMES DE

inequívoca ciência do Prefeito a respeito da ordem judicial, RESPONSABILIDADE

não sendo suficiente que a determinação judicial tenha sido


comunicada a terceiros. Muitas Constituições estaduais tratam sobre o
Vale lembrar, ainda, que os Procuradores Municipais procedimento a ser aplicado quando o Governador do
representam o Município e não o Prefeito. Dessa forma, é Estado pratica um crime de responsabilidade. As
certo que, ao intimar a Procuradoria, houve comunicação Cartas estaduais podem dispor sobre isso?
válida para o Município, mas não para o Prefeito. Assim, o NÃO. O STF entende que o Estado-membro não pode dispor
Município poderá sofrer sanções cíveis pelo descumprimento sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na
(ex: astreintes etc.), mas para que o Prefeito pudesse ser Constituição estadual. Isso porque a competência para
responsabilizado criminalmente seria indispensável a sua legislar sobre crime de responsabilidade é privativa da
intimação pessoal. União.
A Ministra Relatora Rosa Weber salientou que Joinville é um
município grande, com a maior população de Santa Por que é privativa da União?
Catarina, o que torna factível a alegação da defesa de que o Porque o STF entende que definir o que seja crime de
prefeito não sabia das decisões judiciais ou de seu responsabilidade e prever as regras de processo e
descumprimento, pois possui administração julgamento dessas infrações significa legislar sobre Direito
descentralizada. Penal e Processual Penal, matérias que são de competência
STF. 1ª Turma. AP 555/SC, Rel. Min. Rosa Weber, julgado privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85,
em 6/10/2015 (Info 802). parágrafo único, da CF:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
Súmula vinculante 46-STF: A definição dos crimes de
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
responsabilidade e o estabelecimento das respectivas
normas de processo e julgamento são da
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do
competência legislativa privativa da União.
Presidente da República que atentem contra a Constituição
STF. Plenário. Aprovada em 09/04/2015 (Info 780).
Federal e, especialmente, contra:
(...)
CRIMES DE RESPONSABILIDADE
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei
especial, que estabelecerá as normas de processo e
O que são crimes de responsabilidade?
julgamento.
Crimes de responsabilidade são infrações político-
administrativas praticadas por pessoas que ocupam
Repare que a doutrina conceitua os crimes de
determinados cargos públicos.
responsabilidade como sendo “infrações político-
Caso o agente seja condenado por crime de
administrativas”. No entanto, o STF entende que, para fins
responsabilidade, ele não receberá sanções penais (prisão
de competência legislativa, isso é matéria que se insere no
ou multa), mas sim sanções político-administrativas (perda
direito penal e processual, de forma que a competência é
do cargo e inabilitação para o exercício de função pública).
da União.
Os crimes de responsabilidade estão previstos:
• Quanto ao Presidente da República: no art. 85 da CF/88 e
Lei n. 1.079/50.
• Quanto aos Governadores de Estado: na Lei n. 1.079/50.
• Quanto aos Prefeitos: no DL 201/67.

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