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A crise de 1383-1385
- Humberto Baquero MORENO, «O reinado de D. Fernando, um rei perseguido pelo
infortúnio», «A crise de 1383-1385», «A revolução de 1383» e «As Cortes de Coimbra
de 1385» in História de Portugal Medievo Político e Institucional (coord. Humberto
Baquero Moreno), Lisboa, Universidade Aberta, 1995, pp. 173-205.

A crise de 1383-1385:

Com a morte de D. Pedro ascende ao trono o seu filho D. Fernando.

D. Fernando ficou conhecido por ter criado as leis das Sesmarias, devido às consequências
da Peste Negra, bem como por ter entrado em guerra com o rei de Castela Henrique II de
Castela (filho ilegítimo). Com o assassinato do rei D. Pedro de Castela, pelo seu irmão
Henrique II, algumas cidades da Galiza e de Leão consideraram que ao rei de Portugal, por
ser também bisneto de Sancho IV, o trono Castelhano também lhe pertencia. A esta disputa
deu-se o nome de Guerras Fernandinas que originaram uma conjuntura de crise e
instabilidade.

É neste ano, 1378, que se dá o cisma do oriente, clima de grande tensão que levou a que
houvesse 2 Papas (que ficaram durante 50 anos) o de Roma, Urbano VI e o de Avinhão,
Clemente VII. O primeiro era apoiado por Portugal e o segundo por Castela. Isto contribuiu
como mais um ponto para a disputa ao trono.

Sucederam-se as guerras entre ambos os reinos durante vários anos.

Desiludido o rei D.Fernando com o auxílio inglês, que não chegou a vir, aceitou as
condições impostas pelo rei de Castela, um afrontamento com os ingleses, que seriam
expulsos caso viessem a Portugal, a entrega de pessoas como reféns e a cedência por 3 anos
de localidades estratégicas como Miranda, Almeida, Celorico, Segura, Pinhel e a cidade de
Viseu.

Cerca de 1381 com a morte de D. Henrique II, D. Fernando deu início a uma série de
negociações secretas com Inglaterra. Serviu de agente nestas diligências o fidalgo galego
João Fernandes de Andeiro, que, tendo vindo da Galiza com o monarca português tivera de
deixar Portugal por imposição do mencionado monarca castelhano. Regressado a Portugal
no maior dos segredos, encontrou-se com D. Fernando no castelo de Estremoz onde teria
seduzido a rainha.

Em meados de 1381 houve ataques no Alentejo e na Estremadura castelhana. A iniciativa


das operações pertenceu a João I de Castela, conhecedor da aproximação entre D. Fernando
e o soberano inglês. Entre os invasores de Portugal constava-se o infante D. João, filho de
Inês de Castro, que sitiou Elvas durante os meses de julho e Agosto de 1381.

A guerra de Portugal e castela estendeu-se por mar. Apoio “falso” / desnecessário / desajuda
dos ingleses um mês mais tarde.

Guerra continua até 1382. Cansado D Fernando decide negociar com João I de Castela. Do
acordo celebrado resultou que a filha única casaria com João I castela.

D. Fernando morre de tuberculose em 1383.

D. Fernando casou com D. Leonor Teles, que já era casada, e tiveram uma filha, D Beatriz.
Esta menina era a única herdeira legítima e por isso desenharam-se muitos planos de
casamento. Eventualmente, D. Beatriz casou-se com Juan I de Castela e o tratado de
Salvaterra de Magos estipulava as regras na sucessão do trono português e estabelecia que o
primeiro filho barão de D Beatriz e Juan I de Castela herdaria Portugal e D. Juan I ficaria
rei de Portugal e Castela, o que era um perigo para a independencia de Portugal. Este
tratado também dizia que se não tivessem filhos ou falecessem sem filhos Portugal passaria
para a posse de Espanha sendo entregue a D Juan I de Castela. Com a morte de D. Fernando
D Beatriz é rainha de Portugal. Em algumas cidades recusaram-se a aceitar o casamento de
D. Beatriz com o rei e, por isso não a viam como rainha de Portugal. Assim começou a crise
de 1383 -85.

A crise de 1383-85 pode considerar-se como uma revolução social, visto que resultou do
desaparecimento de grande parte da antiga nobreza, substituída por nova aristocracia
enobrecida e enriquecida na ocasião e o ingresso dos mesteirais no governo municipal que
estava monopolizado por oligarquias de proprietários e de mercadores.

Os primórdios da crise encontram-se já com o casamento de D. Fernando com D. Leonor


Teles que provocou um grande descontentamento e originou as guerras com Castela que
tiveram consequências como destruições.

Contudo, a crise apenas eclodiu com a noticia do casamento entre a única filha única do rei
com o rei de Castela – momento em que se abriu a crise dinástica e nacional.

Estes acontecimentos vão ser narrados nas cronicas de D. Fernando e de D João I


compostas por Fernão Lopes.

Quatro fases da revolução:


1. Assassinato do conde de Ourém, levantamento do povo contra D Leonor Teles e a
escolha revolucionária do Mestre de Avis para regente.
2. Assembleias em dezembro de 1383 – clamam o Mestre de Avis regente com o titulo
de regedor e defensor do reino
3. Preparação para a luta com Castela. Medidas de resistência por parte do Mestre de
Avis.
4. Apos o levantamento do cer4co de Lisboa convocação de cortes em que se
estabelece o problema de sucessão.

A existência de outros candidatos apoiados por setores diferentes da sociedade - Clero e


Nobreza – apoiavam D Beatriz devido aos interesses que tinham. Outros apoiavam os
infantes D. João e D. Dinis que eram filhos ilegítimos (devido ao avô) de D. Pedro I e D.
Inês de Castro. E outros, que passaram a ser a maioria, apoiavam D. João, Mestre de Avis,
filho bastardo de D. Pedro I e D. Teresa Lourenço. Este D. João, Mestre de Avis pertencia
às ordens militares religiosas da casa de Avis, por isso somos capazes de imaginar que era
alguém com capacidades militares e bastante religioso e é por se ter destacado naquilo que
fazia que terá mais apoiantes.

A rainha D. Leonor esconde-se em Alenquer após o pedido de casamento do Mestre de


Avis e tenta afastar D. João, Mestre de Avis. Tenta mandá-lo de volta para as “terrinhas”,
dando-lhe tarefas / missões fora da cidade para o mesmo executar. A rainha D. Leonor
dizia-se estar envolvida com um dos Fidalgos que assinou o tratado de Salvaterra de Magos
– O Conde Andeiro. Este irá morrer às mãos de Nuno Álvares Pereira, que era apoiante de
D. João. Assim, D. João consegue o apoio da burguesia ainda nesse mesmo ano. ~

Quando esteve refugiada escreveu a D. João I para respeitar o que dizia o contrato de
casamento e casar com a sua filha.

Necessidade e vontade do povo / apoiantes protegerem o Mestre de Avis. – mais tarde junta
se a burguesia e algumas pessoas da nobreza como apoiantes do Mestre de Avis.

Morte do Bispo de S. Martinho atirando-o da torre e arrastando o seu corpo pela cidade por
este não ter mandado repicar os sinos da Sé como os outros fizeram. Tomavam-no como
apoiante de D. Leonor.

Em 1384 dá-se a Batalha de Atoleiros – as tropas do Mestre de Avis contra as tropas


castelhanas – onde Portugal sai vencedor graças as tropas de Nuno Alvares Pereira.
Em Maio desse mesmo ano inicia-se o cerco de Lisboa – criado por D. Juan I (é possível
imaginar o que se passava dentro do cerco, a fome, as doenças, a sede, o medo, o desespero,
a morte – retratado na crónica de Fernão Lopes – que dizia que D. João era alguém
religioso, corajoso, sensato e determinado). Este cerco só terminou devido à notícia de que
D. Beatriz estava doente com a Peste Negra.

Realizaram-se convocações nas cortes de Coimbra em 1385 para decidir quem seria o
sucessor de Portugal. Estavam representadas pessoas que defendiam os diferentes
candidatos e os próprios candidatos. Tínhamos então 3 partidos:

1. Partido Legitimista – apoiantes de D. Beatriz


2. Partido Legitimista – nacionalista – apoiantes dos filhos de D. Inês de Castro
3. Partido Nacionalista – apoiantes de D. João

As cortes seriam protagonizadas por um jurista (especialista em direito) de nome João das
Regras. Este vai colocar logo de início o ponto que liga estes 3 candidatos: Ambos são
ilegítimos – isto coloca-os em igualdade. Em segundo lugar, vai buscar documentos que D.
Pedro I tinha enviado ao Papa para legitimar os filhos de D. Inês em conjunto com uma
carta enviada por D. Afonso IV a pedir a ilegitimização dos infantes. De seguida, argumenta
que há um candidato que tem mais qualidades do que os outros: Filho de rei, boa linhagem,
qualidades militares, valente, tem bravura, bom religioso, diferenciando-se dos infantes que
foram militarmente contra Portugal. Assim, D. João I é aclamado rei de Portugal em 1385.
Esta decisão não é aceite por Castela e trava-se a Batalha de Aljubarrota.

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