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– A

VOZ .
HUMANA
,

-
- .
Teatro 18 Nov
Nacional 4 Dez
São João 2011

A Voz
Humana
La Voix humaine* tradução música original co-produção estreia 28Out11
(1930) Alexandra Dead Combo Ensemble – São Luiz Teatro
DE Jean Cocteau Moreira da Silva desenho de som Sociedade de Municipal
concepção, Francisco Leal Actores, São (Lisboa)
concepção som e imagem desenho de luz Luiz Teatro
e encenação Raquel Castro José Álvaro Municipal, qua-sáb 21:30
Carlos Pimenta figurinos Correia Temps dom 16:00
Bernardo d’Images/
* Com a amável autorização de Pierre Bergé, Monteiro interpretação DuplaCena, dur. aprox. 1:00
presidente do Comité Jean Cocteau e titular
Emília Silvestre TNSJ M/12 anos
exclusivo do direito moral da obra de Jean Cocteau.

Teatro Nacional São João - Foyer Teatro Nacional São João Teatro Nacional São João
18 Nov - 4 Dez 2011 - Salão Nobre - Salão Nobre
ter 14:00-19:00 18 Nov - 18 Dez 2011 26 Nov 2011
qua-sáb 14:00-22:00 qua-sáb 14:00-20:00 sáb 18:00
dom 14:00-17:00 dom 14:00-15:00
Corpo, voz,
Soundwalkers Insomnia escrita, voz
um filme de fotografias de conferência de
Raquel Castro Carlos Medeiros José A. Bragança
de Miranda

O TNSJ é membro da mecenas TNSJ

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Um acto, um quarto, pastosa e sorrateira substitui o teatro tout
uma personagem, court, o teatro verdadeiro, as álgebras vivas
o amor e o acessório de Sófocles, de Racine e de Molière.
O autor tem consciência da dificuldade
banal das peças da tarefa. Por isso mesmo, e de acordo com
modernas, o telefone o conselho de Victor Hugo, relacionou a
tragédia e o drama com a comédia, sob os
jean cocteau* auspícios dos imbróglios que o aparelho
menos indicado para tratar dos assuntos
do coração permite.
4.º Finalmente, e porque é muitas vezes
O autor gosta de fazer experiências. Tendo criticado por exigir aos intérpretes uma
o hábito de perguntar a si mesmo o que obediência prejudicial ao seu talento,
é que pretendia fazer depois de ter visto reclamando sempre prioridade, o autor
o que fez, talvez seja mais simples dar quis escrever uma peça ilegível que, tal
algumas informações em primeira mão. como o seu Roméo se intitula pretexto para
Vários motivos o incentivaram a escrever uma encenação, seria um pretexto para
este acto: uma actriz. Por detrás da interpretação,
1.º O motivo misterioso que leva o poeta a obra apagar-se-ia, o drama ofereceria a
a escrever mesmo quando todas as suas possibilidade de desempenhar dois papéis,
mais profundas preguiças se recusam um quando a actriz fala, outro quando ouve
a fazê-lo e, sem dúvida, a recordação de e circunscreve o carácter da personagem
uma conversa surpreendente ao telefone, invisível que se exprime através de
a singularidade dos timbres, a eternidade silêncios.
dos silêncios.
2.º Criticam-no dizendo que age de
acordo com estruturas maquinais, que p.s. – Seria um erro acreditar que o autor
instrumentaliza demasiado as suas procura uma solução para um qualquer
peças, que conta demasiado com a problema psicológico. Trata-se apenas
encenação. Importava, por isso, partir do de resolver questões de ordem teatral.
mais simples: um acto, um quarto, uma A mistura do teatro, do sermão, da coluna
personagem, o amor e o adereço banal das social, do livro, é o mal contra o qual seria
peças modernas, o telefone. necessário intervir. Teatro puro seria a
3.º O teatro realista está para a vida como expressão que está na moda, se teatro puro,
estão para a natureza as telas do Salão poesia pura, não fossem um pleonasmo;
de Belas Artes. Era preciso pintar uma poesia pura significa: poesia, e teatro puro:
mulher sentada, não uma certa mulher, teatro. Não é possível existirem outros.
uma mulher inteligente ou estúpida, O autor acrescenta que ofereceu este
mas uma mulher anónima, e afastar-se acto à Comédie Française para romper
do virtuosismo, do diálogo “tu falas e com o pior dos preconceitos: o do teatro
eu respondo”, das palavras de mulher novo contra os palcos institucionais.
apaixonada tão insuportáveis quanto O boulevard deu lugar ao cinematógrafo e
as palavras das crianças, enfim, de todo os palcos de vanguarda assumiram, pouco
aquele teatro que de forma venenosa, a pouco, a posição do boulevard; um quadro

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institucional, um quadro dourado, é o Voz Humana? Tanto no que respeita às imagens como aos perder a cabeça, esquecer as suas
único capaz de sublinhar uma obra cuja sons, a mediação adquire crescentemente promessas, arriscar o impossível,
novidade não salta aos olhos. carlos pimenta, raquel castro um espaço de significação no qual nos convencer aqueles que adoravam beijando-
O público do novo boulevard espera movemos com relativo à-vontade, sem -os, agarrando-se a eles. Um simples olhar
tudo: está ávido de sensações, não respeita necessidade de remissão para uma podia mudar tudo. Mas com este aparelho
nada. A Comédie Française ainda mantém natureza primordial. A característica o que acabou, acabou.” (Cocteau)
um público ávido de sentimentos. original da voz surge, assim, diminuída Terá mesmo acabado ou teremos
A personalidade dos autores desaparece face ao potencial que a sua mediação reaprendido a viver tudo isto na sua
em benefício de um teatro anónimo, um Jean Cocteau escreve A Voz Humana com através dos mais diversos apparatus transmutação simbólica em imagens e em
“espectáculo da Comédie Française” está um duplo propósito: o de possibilitar a acrescenta. sons? O corpo parece ter-se desprendido
preparado para dar às obras o relevo expressão máxima das capacidades de uma A erradicação da distância é do real. Ocupa, agora, um não-lugar.
e a distância que as caracteriza quando actriz e o de introduzir na comunicação característica essencial do telefone. Em A Voz Humana, é nesse não-lugar que
a actualidade deixa de as deformar. oral um elemento mediador, o telefone. A tentativa de compensar ou, em certos a relação da mulher com o seu ex-amante
O texto tinha, assim, como objectivo casos, de instalar um vácuo, um lugar se movimenta.
primordial a sua representação cénica. de não-distância, onde os corpos não É certo que a expressão do amor,
* “La Voix humaine: Préface.” In Théâtre Complet. [Paris]: Contudo, não deixa de ser curioso que se encontram mas onde as vozes abandono, mágoa e sofrimento só pode
Gallimard, cop. 2003. p. 447-448. seja precisamente no teatro – lugar de – e o pensamento – podem viajar. ser dita por um corpo. Mas, dita para onde
Trad. Alexandra Moreira da Silva. representação ritual – que a introdução “Outrora, as pessoas viam-se. Podiam e para quem?
de um elemento estranho venha perturbar
a comunhão de corpos que lhe definem a
condição. Em A Voz Humana, procura-se
um corpo ausente e tanto a actriz como o
espectador são “forçados” a constituí-lo
nos silêncios que percorrem uma linha de
telefone. De um corpo real, que vemos ali
no palco, só podemos constituir um outro
numa espécie de não-lugar, que nos obriga
a aceitar novas formas de percepção que
exigem algo mais da nossa condição de
espectadores (pelo menos, no que respeita
à identificação e estabelecimento de um
compromisso com novos códigos). Todavia,
e apesar de tudo, ainda estamos no terreno
“confortável” da ficção.
Mas, 80 anos passados sobre a escrita
da peça, e com os corpos perdidos na
ausência de um fio que os ligue, em que
lugar se materializam e fazem ouvir a
sua voz? Esta tornou-se, cada vez mais,
presença electroacústica que nos obriga
ao entendimento de novas esferas do
simbólico. A sua fixação ou transformação
parecem-nos, hoje, mais verdadeiras e
mais eficazes do que a própria voz humana.

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O corpo na voz caves, esgotos, uma cidade inteira entre mesmo a ideia de que, nestas produções, a “Respeitar o texto onde os erros de francês,
nós.......................... Lembras-te da Ivone, que evocação do “amante virtual” é mais eficaz. as repetições, as variantes literárias, as
alexandra moreira da silva não percebia como é que a voz podia passar A voz gravada foi, aliás, utilizada por Cocteau banalidades resultam de uma dosagem atenta”.
através de um fio torcido”. As interrupções no espectáculo La Machine infernale (1934), Nesta tradução, procurámos insistentemente
que vão surgindo no texto por razões técnicas precisamente para o texto de “A Voz”; em ouvir a voz do texto antes mesmo de a
É a alma que comove o outro na são, hoje, anacrónicas; as questões que podem Antigone (1922), a voz do “Coro”, ainda que compreendermos. Sem pressa. Ouvir
alma. É isto, uma voz. ser levantadas sobre a comunicação entre as não tenha sido gravada, foi transmitida (pelo aquilo que não víamos, ou seja, um corpo.
pessoas, sobre relações mais distanciadas – próprio Cocteau) através de uma abertura Respeitámos a solidão de cada uma das línguas
porque “com este aparelho” as pessoas deixam no centro do cenário, criando um espaço e tentámos, sobretudo, cruzar respirações,
A alma é um nome para a de se ver, porque “um simples olhar” deixa essencialmente sonoro. trazendo à superfície a matéria, por vezes,
experiência que o corpo é. de poder mudar tudo, porque “o que acabou, Aquilo que Cocteau percebeu e deixa incompleta, quase imperceptível mas contínua
jean-luc nancy acabou”, e provavelmente de uma forma mais inscrito nos seus textos é que a voz “é sempre do corpo na voz: “Há cinco anos que vivo de
célere e menos emotiva –, aparecem, nos anos o corpo em voz”;5 dar voz é dar-se na voz. ti, que és para mim o único ar respirável, que
“Un cocktail des Cocteau.” Era desta forma que 1930, como uma eventual antecipação de A voz não diz, a voz faz, age, cria “uma prosódia passo o meu tempo à tua espera, a imaginar-
os surrealistas (ironicamente) reconheciam um futuro que tem certamente que ver com que não é a do discurso, mas a do corpo, e a da -te morto se estás atrasado, a morrer de te
– e talvez possamos dizer “invejavam” – o o nosso presente, mas que não corresponde à relação entre os corpos”. Neste sentido, “a voz imaginar morto, a reviver quando entras e
génio multifacetado e livre de Jean Cocteau. nossa actualidade. Queremos com isto dizer é uma forma de acção independentemente quando finalmente estás aqui, a morrer de
“Nunca quis pertencer a uma escola, afirma que nenhum destes elementos ou questões de toda e qualquer mímica ou gesto […], uma medo que te vás embora. Neste momento,
o autor, porque as escolas começam em pé e convoca a inactualidade que Cocteau tanto forma subjectiva do espaço e do tempo […], tenho ar porque estás a falar comigo”.
acabam sentadas.”1 O eclectismo da sua obra desejava. Se A Voz Humana surgia, na altura uma arte do espaço e uma arte do tempo”.6 É certamente neste espaço-corpo-voz do
dá-nos a conhecer um criador que não obedece em que foi criado o texto, como inactual, Foi desta prosódia do corpo e da relação texto que Cocteau nos reúne – autor, público
a regras, a grupos, a manifestos ou a modas. e se ainda hoje lhe reconhecemos esta entre os corpos que tentámos dar conta nesta e criadores – para juntos vivermos o mesmo
Que prefere a contradição, o desconforto, a inactualidade, isso deve-se muito mais à tradução. Através de uma linguagem seca e sonho9: a suprema e quase altiva experiência
intransigência, o erro. E, no entanto, poder-se- criação de um espaço-corpo que nos permite, concisa, de um discurso sincopado, povoado da inactualidade.
-ia dizer que o conjunto da sua obra prenuncia hoje como nos anos 30, minimizar o próprio de silêncios – essa palavra paradoxal de que
o futuro – ou, pelo menos, um certo futuro. espaço cénico, relativizar os anacronismos fala Blanchot, “que passa pelo grito, o grito
Tal como refere Frédéric Strauss2 a propósito e, sobretudo, situar-nos num tempo íntimo, sem voz”,7 mas, ainda assim, um grito do corpo 1 Frédéric Strauss, “Un cocktail des Cocteau”, Cahiers du
do cinema do autor francês, as peças de teatro pessoal, onde cada leitor/espectador pode –, Cocteau multiplica as imagens, sugere o Cinéma, n.º 425, Novembro 1989, p. 74.
de Cocteau não estão nem avançadas nem convocar a sua própria realidade. invisível (o outro corpo), inventa o indizível 2 Ibidem.
atrasadas relativamente à sua ou à nossa Este espaço-corpo – que é, antes de mais, (a outra voz): dá corpo à voz, dá-se na voz. 3 Jean Cocteau, “Préface”, La Voix humaine, Paris, Stock, 1930,
época, porque pertencem à única actualidade um espaço-voz – leva Cocteau a explorar Esta mulher toca-nos através de uma pp. 7-11.
que, segundo o próprio autor, pode durar: de uma forma muito clara o minimalismo gestualidade que é sobretudo sonora, o que 4 Melissa Van Drie, “Que se passe-t-il quand le visage écoute?
a inactualidade. E é exactamente isto que do espaço cénico, e a valorizar o trabalho pode parecer contraditório quando estamos a Le visage téléphonique de La Voix humaine (1930)”, Ligeia,
sentimos quando nos deparamos com um do actor. Por isso mesmo, como refere no falar de teatro – o lugar de onde se vê. Porém, n.º 81-82-83-84, Janeiro-Junho 2008, pp. 39-44.
texto como A Voz Humana. A peça foi escrita prefácio à obra, neste “pretexto para uma em A Voz Humana, o espaço-corpo-voz 5 Henri Meschonnic, “Le Théâtre dans la voix”, La Licorne,
em 1927, altura em que o telefone começa a actriz” importava “ir directamente ao mostra-nos mais do que aquilo que vemos, n.º 41, Poitiers, Université de Poitiers, 1997, pp. 25-42.
ser integrado na vida quotidiana da burguesia mais simples: um acto, um quarto, uma mostra-nos aquilo que imaginamos ver. 6 Ibidem.
francesa, ainda que os problemas técnicos personagem, o amor e o adereço banal das E é talvez neste fazer que a voz e o poema se 7 Maurice Blanchot, L’Écriture du désastre, Paris, Gallimard,
sejam frequentes e que parte dessa burguesia peças modernas, o telefone”.3 Não será por aproximam, ou seja, “na invenção contínua p. 26.
continue a oferecer resistência a este tipo de acaso que, como explica Melissa Van Drie,4 de formas de vida através de formas de 8 Henri Meschonnic, “Le théâtre comme voyage de la voix”,
comunicação à distância. Cocteau dá-nos em 1930 a peça triunfa nos meios puramente linguagem, e de formas de linguagem através Académie expérimental des théâtres 1990-2001, Paris,
conta disso mesmo em vários momentos sonoros. Nas críticas publicadas aos discos de formas de vida”.8 A nota final no texto Éditions du Patrimoine, p. 22.
da peça: “Temos a ilusão de estarmos gravados e aos programas radiofónicos introdutório redigido por Cocteau, intitulado 9 “Ce qu’il faut c’est vivre ensemble le même rêve [...]”, Jean
abraçados um ao outro e bruscamente temos realizados pela actriz Berthe Bovy, surge “Cenário”, parece testemunhar isto mesmo: Cocteau citado por Frédéric Strauss, op. cit., p. 76.

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Se escrevo, incomodo. Se rodo um
filme, incomodo. Se pinto, incomodo.
Se mostro a minha pintura, incomodo
e incomodo se não a mostro. Tenho a
faculdade de incomodar. Resigno-me
a ser assim, mas gostaria de convencer.
Hei-de incomodar depois da minha
morte. A minha obra vai ter de aguardar
a outra morte lenta desta faculdade de
incomodar. Talvez ela saia vitoriosa,
uma vez livre de mim, desenvolta,
jovem, aos gritos. Ufa!

jean cocteau
Excerto de “Des libertés relatives”. In Journal d’un inconnu.
Paris: Grasset, D. L, 2003. p. 115-116.
Trad. Regina Guimarães.

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Pequeno elogio outro lado da linha, e a que Cocteau dá pequenas transformações, a que tem de uma erótica que esteve sempre reprimida
do telefone carne para desencarnar absolutamente a se estar atento. E a atenção passa pela e que a carta revelou de um modo, o
voz que estaria do lado de lá do fio. A voz singularidade. Tal como não existe “voz telefone de outro, ou o digital, hoje, de um
josé a. bragança de miranda* humana é caótica, primitiva, e era a essa humana”, mas “esta” ou “aquela” voz, outro ainda. As ligações estiveram sempre
primitividade que Benjamin aludia, antes também o “telefone” é uma abstracção. reprimidas, pela excessiva evidência dos
de o telefone ter sido “domesticado”: “Os Começou por um, depois milhares, corpos e dos objectos, ou restringidas às
barulhos das vozes nos primeiros telefones agora milhões. E cada um deles funciona infinitas variações da deusa Afrodite. O que
[…] eram barulhos nocturnos, sem que numa trama de máquinas, objectos, é característico da época moderna é o facto
Como não sentir piedade, ou compaixão, qualquer musa os anunciasse. A noite de desejos e corpos, e frases, muitas frases, de terem vindo à frente, de se tornarem
perante um ser humano abandonado num onde eles vinham era aquela que precede desempenhando papéis absolutamente imperativas e porem novas exigências.
quarto, cuja única ligação ao exterior é um todo o verdadeiro nascimento”. distintos, consoante a dinâmica que Na verdade, o telefone é uma imagem física
fio de telefone? Mas como evitar a sensação Antes de mais, o nascimento do telefone alimenta ou que perturba. Em que cada um das ligações.
de que se apela excessivamente ao nosso e aquilo que acrescentou ao humano. desempenha um papel distinto, consoante Os efeitos previstos por Cocteau
sentimentalismo, num envilecimento Cocteau restringe as possibilidades as ligações. baseiam-se na distinção entre sujeitos e
que parece raiar o obsceno? Em A Voz que acrescenta a uma subtracção, A estranheza originária do telefone máquinas. As ligações vêm depois. Mas
Humana, de maneira fria e cerebral, aparentemente evidente. “Não somente decorre de se intrometer num desejo toda a peça revela que já havia ligações
Cocteau ensaia um sobreaquecimento das o telefone é, por vezes, mais perigoso milenar, formado teologicamente e haverá outras depois, e que não é
emoções, que parece avesso a que em tal que o revólver, como ainda o seu fio – o de ser chamado, o de receber um possível, sem catástrofe, distinguir entre
assunto se intrometa o pensamento, sempre meandroso extrai as nossas forças e não chamamento e, quando somos nós os relações humanas, como autênticas,
demasiado frio, exterior, tardio. Mas é a nos dá nada em troca”. Frase de Cocteau, deuses, o de chamar. A um chamamento e relações técnicas, necessariamente
operação posta a funcionar pelo dramaturgo mas também da personagem da peça, desses só se pode responder de um modo: falsas. Emblematicamente, afirma na
que parece exigir essa distância. Se a adesão revelando a centralidade do telefone em obedecendo. Como se à chamada peça: “Outrora, as pessoas viam-se.
que se procura produzir no espectador é todo o dispositivo posto a funcionar pela (pre)escrita pela peça só se pudesse Podiam perder a cabeça, esquecer as
baseada na voz de quem sofre ou faz sofrer peça. Forçar a amar pelo revólver é tão obedecer. O desespero para quem quer suas promessas, arriscar o impossível,
(não se sabe exactamente), a distância passa impossível como pelo telefone. Perante o obediência imediata, merecendo-a ou convencer aqueles que adoravam beijando-
pelo “telefone”, que poderia muito bem ser que está em jogo, o telefone é, de facto, a não, é que haja desobediência, o uso da -os, agarrando-se a eles. Um simples
outro título para a peça. única coisa inocente e fiável, mesmo nas distância para desobedecer. O desassossego olhar podia mudar tudo. Mas com este
A “voz humana” surge em título para suas falhas. Ele está mais de acordo com a ligado ao surgimento do telefone está no aparelho o que acabou, acabou”. Desta frase
se opor a um silêncio inumano ou a uma “voz humana”, pela capacidade de receber facto de que não é capturável pelo desejo depreende-se imediatamente o que está
distância desumana de quem parece falar todas e aceitar todas, o que parece revoltar teológico do chamamento, antes, pelo em causa, uma operação contra o “corte”,
do outro lado, mas não responde ou não Cocteau. No fundo, trata-se de impor a silêncio, a interrupção ou a distância: contra o “fim”, que o telefone perturba.
age. Mas numa peça quem deve responder sua voz no concerto das vozes. Cocteau, revela a ausência de Deus ou a fuga dos Mas o que este revela é que algo acabou e
é esse terceiro ausente na escrita, mas aparentando ter uma visão de engenheiro deuses. Se, como diz Victor Hugo, “quanto que o “convencimento” pela proximidade
infinitamente visado, que é o público. sobre a máquina (e esta visão diz sempre mais potentes forem os nossos telescópios, excessiva descamba sempre na violência
Num mecanismo demasiado simples, que uma máquina é uma máquina), mais estrelas existirão no céu”, expondo e na imposição. Aquilo que essa máquina
suspeitosamente simples, a voz humana imputa-lhe um “sentido”, o de destruir as assim a natureza dessa revelação, que é aparentemente banal acrescenta ao humano
opõe-se à máquina, à voz que vem pela relações humanas. O que é sintomático do o acrescento do real, podemos dizer que é precisamente uma maior complexidade
máquina e através dela. Como dizia André que está em funcionamento neste pequeno com a vinda do telefone são as relações na relação de presença e de ausência. Nem
du Bouchet, “um som formado por um mas potente dispositivo. humanas que se revelam na sua imensa presença excessiva, que levaria a sufocar os
fio”. Neste caso, o telefone. Mas é duvidosa Quando chegou o telefone já nós fragilidade. “amados” – mas alguma vez houve presença
esta alternativa. Nem esta voz que fala cá estávamos, e a nova máquina veio A peça de Cocteau expõe essa imensa total? Não fica sempre algo de fora? –, nem
ininterruptamente é a “voz humana”, procurar o seu lugar, inserindo-se na fragilidade, ao mesmo tempo que a ausência absoluta, que obceca e faz sonhar.
mas uma voz no concerto das vozes: é trama de relações que não criou, mas pretende controlar. De facto, trata-se de Mas presença e ausência, presença na
a voz “daquela” mulher, que opera do que o criaram. E, ao fazê-lo, opera um drama das ligações, versando sobre ausência e o seu contrário.

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Cocteau felicita-se pelo uso minimalista nas ligações humanas, já afectadas pela
dos efeitos, pela escassez de meios, para carta ou mesmo pela fala, faz dele uma
atingir uma espécie de “teatro puro”. peça central da máquina poética que o
Mas de facto as personagens, presentes e teatro põe a funcionar. Uma obra de arte
ausentes, que disputam a nossa adesão e a que não se concretiza em nenhum objecto
dos humanos em geral, estão mergulhadas só é possível se constituir uma máquina
numa rede de objectos e frases, revelando poética em movimento. Ora, esta máquina
a hostilidade de Cocteau a tudo o que é incontrolável. O que faz a força da peça
delonga o desejo. Se o homem rabisca de Cocteau é isso mesmo, o facto de que
desenhos para passar a provação, ela nela funciona virtualmente uma série de
destrói as fotografias; se ele corta por máquinas poéticas que são incompatíveis
“telegrama”, ela agarra-se às cartas; se entre si. Tudo indica que a opção
ele futilmente ainda se preocupa com consciente e demasiado programada de
as luvas, ela usa e abusa do telefone. considerar o telefone um “revólver”, que
Aparentando uma revolta contra as se torna o motor de toda a peça, põe em
máquinas, a personagem utiliza-a movimento um gigantesco dispositivo
sapientemente, demasiado mesmo. que corresponde a uma máquina
Mas essa é a contrapartida de se agarrar de ressentimento, que funciona por
absolutamente a si, ao seu desejo, à sua denegação, por culpabilidade e que, em
dor. Como se o sujeito se pertencesse e se última instância, é letal, leva à morte.
conhecesse. Mas também o “sujeito” está Uma máquina poética é um dispositivo
demasiado povoado. Como refere Beckett singular que, sob forma sensível, produz
em O Inominável: “Eu não digo nada, não política e produz arte. Ora, a política Se no palco corta a ligação, e isso é E – contrariamente a Cocteau, que num
sei nada, estas vozes não são minhas, nem aqui envolvida é perigosa. Mais a mais se essencial, na projecção em vídeo dirige-se laivo de cristianismo acha que o sofrimento
estes pensamentos, mas dos inimigos pensarmos que, nos anos em que a peça para o rio, em princípio para se suicidar. é apelativo, poeticamente, lamentando-se
que me habitam”. Não têm de ser apenas foi escrita, o fascismo dominava, Hitler Mas, dada a temporalidade do vídeo, nem “da solidão a que nos condena um universo
inimigos, mas algo de essencial ressalta. preparava-se para tomar o poder e o sabemos se alguma vez chegará ao rio, pois onde as lágrimas triunfam continuamente
A vontade absoluta do persistir no que é estalinismo expurgava o que de melhor a peça termina antes. sobre o riso” – avariando a máquina do
sinal de um sujeito armadilhado, que se havia na Rússia. É politicamente perigoso Esta duplicidade mostra outras ressentimento, descobriríamos o que
armadilhou a si mesmo, não se dá conta do o jogo letal encenado na peça, em que a máquinas dentro da máquina letal de intuiu o Bebuquin de Carl Einstein, que
seu estilhaçamento, perante o qual tudo se personagem ronda ameaçadoramente Cocteau, afectada pelo puro ressentimento. procurava, também ele, um sentido para a
abre como possível. a morte, ou antecipa outras mortes ao Através desta hesitação introduzida pelo dor e “não encontrou nenhum, pois quando
Mas tal como os objectos fazem circular intensificar a culpabilidade. Aliás, o vídeo perfila-se a possibilidade de uma voz desmembrou a sua dor encontrou fundos
as ligações, também só haveria um “corpo próprio Cocteau pretende orientar a peça – absolutamente singular, e que expressa as ou, mais precisamente, metamorfoses,
erótico”, se ele emergisse, para além nesse sentido. Pelo cenário descrito pelo profundidades da carne e a sua marcação que eram totalmente diferentes da dor.
dos dois e contra ambos. Mas isso só autor, sabe-se que essa máquina poderia pela língua, pela vida – se integrar no Ele reconheceu o sofrimento como um
ocorre fora da lógica do “revólver” ou do levar à morte: Cocteau fala de “assassinato”, concerto babélico da “voz humana”. Mas estímulo para a alegria, como uma espécie
convencimento. O que é altamente instável de um quarto “cheio de sangue”, do para isso é preciso desligar, saber desligar, de libertação agradável, e disse então para
e efémero. Esta é uma das possibilidades vermelho dominante, etc. Na encenação de como condição para recomeçar, ou poder si que não havia nenhum sítio onde se
que o telefone não nega; pode mesmo Carlos Pimenta, a última cena revela uma começar, libertando-se e libertando pudesse encontrar o sofrimento…”
propiciá-la. Disse algures Barthes que boa ambiguidade, que permite avariar o outro de uma ligação armadilhada.
“o telefone é o instrumento arquetípico o dispositivo cocteano, fazendo-o variar. Cocteau acusa o telefone de ter acabado
da escuta moderna” (O Óbvio e o Obtuso). A última cena é duplicada pelo vídeo, que o que está acabado, mas no desligar, no * Ensaísta
De facto, a maneira como penetrou se revela uma máquina de libertação. acabar do jogo, estão novos começos.

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jean cocteau Nasce em 1889, em Maisons-Laffitte.
O pai é um antigo advogado, homem de
posses, e a mãe provém de uma família
parisiense de corretores da bolsa. Cocteau
cresce num meio burguês e culto, junto
de um avô coleccionador de arte que
convive com grandes músicos. Enquanto
criança, descobre os prazeres do circo e os
primórdios do cinematógrafo dos Lumière.
Mas o suicídio do pai, em 1898, vem lançar
uma sombra sobre esta vida tranquila.
Em 1900, o jovem Cocteau ingressa
no liceu Petit Condorcet. É um aluno
medíocre, que prefere desenhar as
celebridades da época e frequentar o
L’Eldorado, cabaré de Paris onde assiste
a espectáculos de Mistinguett e de
Jeanne Reynette, por quem se perde de
amores. Depois de reprovar no exame
final do ensino secundário, escapa-se
para Marselha; no regresso, esforça-se por
empinar a matéria, mas nunca chegará
a obter o diploma. A partir de 1907, com
O primeiro toque que recebi, os irmãos casados, Cocteau passa a viver
sozinho com a mãe, a quem ficará sempre
e só deixará de ecoar depois
muito ligado. Em 1908, o actor Édouard
da minha morte, veio-me de de Max organiza um sarau em honra de
Diaghilev, numa certa noite, Cocteau, com leitura de vários dos seus
em plena Place de la Concorde. poemas. O êxito social abre-lhe as portas
dos salões. Herdeiro dos simbolistas e
Voltávamos da ceia depois do
parnasianos, o jovem poeta convive com
espectáculo. Nijinski amuado, Lucien Daudet, os Rostand e Proust, e
como de costume. Caminhava à torna-se amigo de Anna de Noailles. Em
nossa frente. Diaghilev divertia- 1909, funda com Maurice Rostand a revista
Shéhérazade. Nesse mesmo ano, publica
-se com a minha ridicularia.
o primeiro livro de poemas, La Lampe
Quando o interroguei sobre a d’Aladin; em 1910, o segundo, Le Prince
sua atitude reservada (eu estava frivole; e, em 1912, o terceiro, La Danse de
habituado aos elogios), ele parou, Sophocle. Mais tarde, Cocteau renegará
estas três obras de juventude. Entretanto,
ajustou o monóculo e disse-me:
é apresentado a Diaghilev. O director dos
“Surpreende-me!” Ballets Russes sentiu-se sempre seduzido
por Cocteau, a quem confia o guião de
jean cocteau Le Dieu bleu (1912). Assiste, em estado de

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absoluta comoção, à representação de Montparnasse se divertiam alegremente. Durante os anos sombrios da ocupação, em que Cocteau, sempre em busca de
A Sagração da Primavera de Stravinski, No final de 1923, com apenas 20 Cocteau continua a trabalhar e a montar novas experiências plásticas e criativas,
com coreografia de Nijinski. Nesse dia, anos, Radiguet morre de febre tifóide. peças, frequentemente depreciadas pela se devotará à cerâmica e à realização
Cocteau decide embarcar no comboio Cocteau refugia-se no ópio e no trabalho: imprensa colaboracionista, que o classifica de imponentes frescos.
da vanguarda. escreve uma adaptação de Romeu e como um autor amoral. Envolve-se em Morre em 1963, em Milly-la-Forêt.
No Verão de 1914, faz os desenhos e Julieta e o guião de Le Train bleu para projectos de cinema de Serge Poligny
reúne os textos para Le Potomak, que seria os Ballets Russes; publica Le Discours e Jean Delannoy, prossegue a sua obra
apenas publicado em 1919, por causa do du grand sommeil; mantém uma intensa poética com Léone, toma a defesa de
início da Grande Guerra. Cocteau alista- correspondência com o filósofo tomista um jovem ladrão chamado Jean Genet
-se na Cruz Vermelha como condutor de Jacques Maritain, que se esforça por e escreve Salut à Breker, uma ode ao
ambulâncias. Conhece Roland Garros, trazê-lo para o seio do catolicismo; faz os escultor oficial do Terceiro Reich, texto
pioneiro da aviação que o baptizou na desenhos de Maison de santé; escreve os que será objecto de uma veemente
experiência do voo e lhe inspirou Le Cap poemas de Opéra e Orphée; adapta o Rei condenação após a libertação da França.
de Bonne-Espérance (1917). De regresso a Édipo; baseado na tragédia de Sófocles, Assim que a guerra termina, apresenta
Paris, descobre os artistas de Montmartre monta uma oratória em latim com música La Belle et la Bête, provavelmente o mais
– Modigliani, Max Jacob, Apollinaire e de Stravinski; e faz uma série de auto- célebre dos seus filmes.
Blaise Cendrars – e trabalha com Erik -retratos para o livro Le Mystère de Jean A História com H maiúsculo não
Satie, Picasso e o coreógrafo e bailarino l’oiseleur. Em 1928, escreve Opium, journal interfere no percurso de Cocteau, que,
russo Léonide Massine no bailado “realista” d’une désintoxication, um relato dos seus ano após ano, elabora as suas colectâneas
Parade, espectáculo que causou escândalo anos de “queda horizontal”. Priva com o de poesia, as suas memórias, as suas
na Paris da época. jovem escritor Jean Desbordes, com quem coreografias e os seus mitos gregos
No início de 1918, forma-se o Grupo dos passa temporadas na Riviera. Em 1929, “desempoeirados”. Mas, a partir da década

© Philippe Halsman
Seis. Constituído por Georges Auric, Louis escreve Les Enfants terribles, mais tarde de 1950, torna-se definitivamente uma
Durey, Arthur Honegger, Darius Milhaud, adaptado ao cinema. No ano seguinte, personalidade pública e é engolido pela
Francis Poulenc e Germaine Tailleferre, estreia A Voz Humana, com interpretação televisão. A sua silhueta hesitante e o seu
o grupo – de que Cocteau se torna o de Berthe Bovy. Ainda em 1930, Cocteau sorriso inquieto atravessam o ecrã em
animador – opõe-se ao impressionismo estreia-se no cinema, ao realizar Le Sang emissões a partir das ruas de Cannes, onde
musical e aproxima-se da estética de d’un poète, filme financiado pelos Noailles. preside a três edições do festival, em talk Adaptado de “Biographie”. In Jean Cocteau: sur le fil du siècle:
Satie. No mesmo ano, funda a editora A década revela-se pouco fecunda. shows e reportagens sobre jovens artistas. l’exposition. [Organisée par le Centre National d’Art et de
La Siréne com Cendrars e dá-se com os Escreve algumas canções para Marianne Envolve-se também em programas de Culture Georges Pompidou]. Paris: Centre Pompidou, 2003.
dadaístas. Conhece depois “a criança de Oswald e Portraits-Souvenir, um livro rádio, escreve copiosos diários e responde p. 57-58.
bengala”, Raymond Radiguet, de quem de memórias (1935). Em 1936, viaja pelo a constantes solicitações da imprensa.
se torna mentor e, segundo os rumores mundo. Na sua odisseia, conhece Charlie Nestes anos, recebe a sua quota-parte de
da época, amante. Escreve Le Coq et Chaplin e apoia financeiramente o pugilista distinções, aquilo a que chama uma “sova
l’Arlequin (1918), um manifesto para jovens Al Brown, fazendo o papel de manager. de honrarias”: é eleito para a Académie
artistas, Le Secret professionel (1921-1922) Em 1937, conhece Jean Marais e lança Royale de Langue et Littérature Françaises
e os poemas de Vocabulaire (1922), bem a carreira teatral do jovem actor (Les da Bélgica e para a Académie Française,
como Le Grand Écart, Thomas l’imposteur Parents terribles, 1938). doutor honoris causa pela Universidade
e Plain-Chant. Foram anos prolíficos, mas Quando deflagra a II Guerra Mundial, de Oxford e membro honorário do
também festivos, com a composição Cocteau é uma figura central da vida National Institute of Arts and Letters de
do bailado Les Mariés de la Tour Eiffel cultural parisiense. Muda-se para uma Nova Iorque. Cocteau acolhe todas estas
e do espectáculo Le Boeuf sur le toit, casa em frente da residência da sua distinções com a alegria de uma criança,
que tomava de empréstimo o nome de amiga Colette, na zona do Palais-Royal, radiante por se sentir subitamente amado.
um bar onde artistas de Montmartre e o seu último refúgio na capital francesa. Os anos 1950 são também a década

18 19
ficha técnica ensemble apoios tnsj edição

assistência de encenação Departamento de Edições do TNSJ


e produção Coordenação Pedro Sobrado
Juliana Rodrigues Documentação Paula Braga
montagem e concretização Design Gráfico Joana Monteiro
de cenário Fotografia Carlos Muralhas, João
Américo Castanheira/Tudo Faço Tuna (verso da capa), Raquel
Castro (p. 6-7)
ficha técnica tnsj Impressão Multitema – Soluções
coordenação de produção de Impressão, S.A.
Maria João Teixeira parceiro media

assistência de produção Teatro Nacional São João


Maria do Céu Soares Praça da Batalha
direcção técnica apoios à divulgação 4000-102 Porto
Carlos Miguel Chaves T 22 340 19 00
direcção de palco Rui Simão
direcção de cena Pedro Guimarães Teatro Carlos Alberto
cenografia Teresa Grácio Rua das Oliveiras, 43
(coordenação) agradecimentos tnsj 4050-449 Porto
guarda-roupa e adereços Elisabete Carlos Muralhas T 22 340 19 00
Leão (coordenação); Teresa Batista Polícia de Segurança Pública
(assistência); Celeste Marinho Mr. Piano – Pianos Rui Macedo Mosteiro de São Bento da Vitória
(mestra de guarda-roupa); Companhia de Teatro de Almada Rua de São Bento da Vitória
Nazaré Fernandes, Virgínia Pereira Teatro Maria Matos 4050-543 Porto
(costureiras); Isabel Pereira T 22 340 19 00
(aderecista de guarda-roupa) O Ensemble – Sociedade de
luz Filipe Pinheiro (coordenação); Actores é uma estrutura financiada www.tnsj.pt
Abílio Vinhas, António Pedra, pela Secretaria de Estado da geral@tnsj.pt
Nuno Gonçalves, José Rodrigues Cultura/Direcção-Geral das Artes.
maquinaria Adélio Pêra, Joaquim Ensemble
Marques, Jorge Silva, Filipe Silva, Tv. da Telheira – Ferreiró
Lídio Pontes, Paulo Ferreira 4475-674 Avioso (St.ª Maria)
som Francisco Leal T 22 982 63 18 | TM 96 513 55 58
vídeo Fernando Costa www.ensembledeactores.com
ensemble@sapo.pt

Não é permitido filmar, gravar ou


fotografar durante o espectáculo.
O uso de telemóveis ou relógios
com sinal sonoro é incómodo,
tanto para os intérpretes como
para os espectadores.

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