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Musicalidade na dança:

o que é preciso saber

Bárbara B C Ruivo
Colaboradores:

Jihad Smaili

Ely Mouzayek
Esse e-book nasceu a partir de um projeto desenvolvido durante a
faculdade de licenciatura em música ao perceber as nuances do
aprendizado musical no universo da dança. Nesse contexto
percebemos uma grande disponibilidade de informações porém sem
que estas estejam contextualizadas para o aprendizado da dança.
Dessa forma trazemos aqui um roteiro de estudos em teoria musical
com o objeitvo de ajudar você, professor(a) de dança ou bailarino (a),
a estudar e desenvolver sua musicalidade de forma clara, objetiva e
acessível. Porque conhecimento é liberdade! E a arte é livre!
E agradeço enormemente aos grandes músicos e amigos Jihad

Smaili e Ely Mouzayek, colaboradores desse livro, que contribuíram

de forma tão generosa para a realização e execução desse projeto.

Bárbara Ruivo
Seja bem-vindo(a) !

Nossa missão é promover o ensino da música para não-músicos de forma

agradável e com foco no aprendizado e nos resultados. Esse e-book surgiu

após uma ampla pesquisa na interface entre a dança e a música e, por esse

motivo, trazemos o presente material como base para orientação aos

professores de dança e alunos de um modo geral, com uma linguagem

acessível e de fácil compreensão. Nosso objetivo, com isso, é facilitar a

compreensão musical para os dançarinos e amantes da dança em geral

com informações técnicas, orientações de estudo e dicas de auto-avaliação.

Encontre sua melhor versão e conte com a nossa ajuda nesse aprendizado.

Boa leitura.
Orientações gerais
Musicalidade - definição e como desenvolvê-la
Construção de uma música
Percepção musical (adequar a dança de acordo com a música)
Conceitos gerais de teoria musical (ritmo, pulso, compasso, contagem de tempo, harmonia, melodia)
Música é matemática (contando os tempos)
Instrumentos musicais e suas tessituras
Leitura musical
Escuta passiva x ativa
Organização dos estudos

Teoria musical
Ritmo – notas em sequencia coerente ( + pausas)
Pulso – FC – bpm
Compasso – divisão da música em partes iguais
Melodia – alma da música – identidade
Harmonia – acompanhamento

Propriedades do som
Grave x agudo – altura
Forte x fraco – intensidade
Curto x longo – duração
Identidade – timbre

Leitura musical
Dança precisa ser coerente com a música
Filme de terror x filme de comédia (intenção do compositor)
Música – mensageira (sentimentos)
Introdução (tonalidade geral) – refrão – virada (notas de tensão) – finalização
Acorde maior (alegria) x acordes menores (tristeza) – em geral
Leituras: voz, melodia, base
Sketch (jazz), tarab (árabe)
Leitura do instrumento – depende de como ele é executado

Instrumentos musicais
Metais – trombone, trompete, tuba
Madeiras – flauta, clarinete, oboé, fagote
Percussão – tímpano, triângulo, pratos, xilofone
Cordas – violino, viola, violoncelo, contrabaixo, harpa, piano
O que é musicalidade?

Segundo o dicionário a musicalidade é


definida como "o talento e a sensibilidade
para criar e/ou executar música".
Na prática notamos que a musicalidade é a capacidade

de traduzir a música na linguagem corporal, podendo

ser aplicada a todas as modalidades de dança.

Portanto, um bom profissional da dança precisa

conhecer os conceitos básicos de teoria musical, os

conceitos de percepção musical e de harmonia para

que ele possa desenvolver sua dança e sua arte.


O que é música?

A música consiste na arte de se exprimir por meio

de sons, sendo variável de acordo com a

civilização e o seu contexto histórico. Desde os

primórdios das civilizações a música foi utilizada

tanto em contextos sociais quanto religiosos como

uma forma de expressão artística, inicialmente com

música vocal apenas e incorporando ao longo dos

séculos os instrumentos musicais gerando novas

possibilidades de interpretação execução.


Percepção musical

A música é construída em vários estratos: o alicerce, a alma


e a superfície, sendo que cada um desses estratos apresenta
suas particularidades e suas formas de estudo e execução,
que serão tratados nos capítulos subsequentes. O
conhecimento dos estratos musicais e seus detalhes é
fundamental para percepção musical e a sua tradução
corporal através da dança. A dança, por outro lado, usa as
ferramentas que a musica lhe dá para criar um espetáculo e
expressar sua arte. Dessa forma, não é possível dissociar o
estudo da dança ao estudo da música tendo em vista que
ambas as artes são complexas, mutáveis e complementares.
Conceitos gerais de teoria musical

O som, assim como qualquer onda eletromagnética ou


mecânica, possui algumas propriedades, sendo elas:

1- Frequência ou altura: é a grandeza física determinada pelo número de ciclos


na unidade de tempo, sendo descrita em Hertz, que é o número de ciclos por
segundo. A altura do som vai determinar se o mesmo é grave, médio ou agudo.

2- Duração: é a unidade de tempo relacionada ao som. A duração


do mesmo determina se uma nota musical é curta ou longa.

3- Amplitude ou intensidade: é grandeza relacionada ao tamanho da curva


matemática da onda sonora quando calculamos cada ciclo. Tal propriedade
determina se o som apresenta intensidade forte ou fraca ao ser reproduzido.

4- Timbre: consiste na identidade sonora, sendo específico e


particular para cada som vocal ou instrumento musical.
Conceitos gerais de teoria musical

A estrutura musical apresenta os seguintes elementos fundamentais: ritmo, melodia e harmonia

Ritmo
É a organização dos sons sequenciais em um intervalo de tempo, sendo determinado pela
duração das notas musicais e das pausas ao longo da música. Podemos perceber o ritmo
como o "cartão de visita" da música, sendo uma das primeiras características que
percebemos, e o que se relaciona exclusivamente com o tempo. É o esqueleto da música.

Melodia
É a alma da música, sendo determinada pelas alturas de cada nota associada às pausas
em uma sequência coerente. A coerência na melodia é alcançada respeitando a
tonalidade da música. Por exemplo: se a tonalidade de uma música é dó maior a base da
melodia terá as notas da escala de dó maior (que, no caso do piano, corresponde às
teclas brancas). O mesmo raciocínio se aplica às demais tonalidades possíveis.

Harmonia
A harmonia tem como objetivo o acompanhamento: são as notas musicais em formato de
acordes que dão sustentação à melodia. Os acordes podem ser formados de três (tríades) ou
quatro (tétrades) notas musicais tocadas simultaneamente. Para alcançarmos a harmonia é
necessário que esses acordes sigam uma escala padronizada mantendo a tonalidade da
música, de maneira que o resultado final seja agradável aos ouvidos. É a harmonia que dá o
sentimento da música: de um modo geral os acordes maiores imprimem uma sensação de
alegria enquanto os acordes menores imprimem uma sensação de tristeza e/ou introspecção.
Conceitos gerais de teoria musical

Compasso

O compasso é uma divisão da música em intervalos de tempo iguais, com o objetivo


de organizar a estrutura e facilitar a orientação para o leitor. Esse intervalo de tempo é
representado por barras verticais ao longo da partitura (assinaladas em vermelho).

A fórmula de compasso é expressa em uma fração que determina a regularidade do


pulso, e cada número usado na fração de compasso indica um elemento.O numerador
indica o número de tempos do compasso, enquanto o denominador indica em quantas
partes uma semibreve deve ser dividida para obtermos uma unidade de tempo. Na
prática os profissionais da dança precisam estar atentos ao numerador dessa fórmula,
pois é com ele que conseguimos determinar os tempos de cada compasso e, com isso,
determinar se a leitura musical será binária, ternária ou quaternária.
Conceitos gerais de teoria musical
Os compassos são divididos em simples e composto. O compasso simples significa que cada
um desses tempos pode ser dividido em 2 notas. Com isso sua leitura musical será feita em 2
tempos (ou 4 tempos que é um múltiplo de 2). Por outro lado, no compasso composto os
tempos são divididos por 3, alterando a leitura musical deste.

Acentos que se repetem a cada dois pulsos regulares


1______2______1______2______1______2______1______2
Casa – Cama- Carro- Bola- Bala

Acentos que se repetem a cada três pulsos regulares:


1____2_____3_____1_____2_____3_____1_____2_____3
Cárcere – Sílaba – Médico

Acentos que se repetem a cada quatro pulsos regulares:


1______2______3______4______1______2______3______4
Belacasa – Barcoverde – Mesagrande

Acentos que se repetem a cada seis pulsos regulares:


1______2______3______4______5______6______1______2______3______4_____5______6
PássaroMágico – MúsicaPóstuma - PéssimoTrânsito –ÚltimaMáquina

OBS Nos exemplos acima o tempo forte encontra-se no tempo 1, porém o mesmo
pode se localizar nos demais tempos a depender da música em questão.
Conceitos gerais de teoria musical

Na prática:

Dica : O compasso 4/4 apresenta uma leitura musical "quadrada"


enquanto que o compasso 6/8 apresenta uma leitura musical
"arredondada".
Conceitos gerais de teoria musical

Exemplos de compasso na pauta musical:

Nos exemplos acima o tempo forte se encontra no tempo 1 do compasso, porém


esse padrão é passível de modificação. Quando deslocamos o acento que seria
no tempo forte para o tempo fraco damos o nome de contratempo musical.

Dica: O estudo do tempo e do contratempo na dança é importante pois contribui para


novas possibilidades de leitura musical, tornando a dança mais elaborada e
diversificada.
Instrumentos musicais e sua leitura

Os Instrumentos musicais podem ser subdivididos de


acordo com sua estrutura e forma de produzir o som

1- aerofones - são os que produzem o som


usando o ar (flauta, trompete)

2- cordofones - são os que produzem o som


através de vibração de cordas (harpa, violino)

3- membranofones - são os que produzem o som através


da vibração deuma membrana (tambores em geral)

4 - eletrofones - são capazes de produzir ou


transformar o som através de sintetizadores (guitarra)
Instrumentos musicais e sua leitura
Além disso os Instrumentos musicais também são subdivididos em grandes
famiílias

1- metais
2 - madeiras
3 - percussão
4 – cordas
Instrumentos musicais e sua leitura

O conhecimento das particularidades de cada instrumento


e de sua execução é fundamental para a leitura musical,
uma vez que um mesmo intrumento é capaz de oferecer
diferentes possibilidades de execução resultando, dessa
forma, em diferentes possibilidades de leitura. Citamos
como exemplo o violino, que pode ser executado com o
arco friccionado sobre as cordas de formas diferentes (a
depender da intenção do músico ) além de poder ser
tocado sem o uso do arco e somente tocando as cordas.
Essas particularidades são importantes de serem
estudadas pois impactam diretamente na sua
interpretação e , com isso, na sua leitura musical.
Treinamento musica
Treinamento Musical
O treinamento musical passa pelo desenvolvimento de uma
escuta ativa: precisamos ouvir com atenção analisando
cada característica da música, de todas as discutidas
anteriormente, além de sermos capazes de vocalizar e
reproduzir o que foi aprendido com esse treinamento. A partir
do momento que conseguimos "cantar" a música, seja vocal
ou mentalmente, suas nuances são interiorizadas facilitando
a interpretação e a execução musical. E vale ressaltar que o
aprendizado resulta da repetição constante e consciente de
forma que o cérebro consiga ouvir o estímulo sonoro,
interpretá-lo e mandar o comando muscular para que o
mesmo seja executado. Dessa forma conseguimos aliar de
forma plena música e dança, complementando uma a outra,
que é o objetivo final da nossa arte.
Bárbara Ruivo
Licenciatura em música
Membro do Conselho Internacional de Dança - CID – Unesco
2021

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