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INDÍGENAS
NA ÉPOCA DA
CONQUISTA
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As pesquisas arqueológicas do século XX indicam que essas sociedades indígenas mais com-
plexas desenvolveram uma variedade de técnicas de uso da terra e de enriquecimento do solo
compatíveis com as condições naturais da Amazônia. Elas conseguiram se adaptar à vida em cada
um dos habitats amazônicos: florestas ao longo dos rios e lagos, planícies alagadas de várzea e matas
de terra firme. Portanto, a paisagem da região vista pelos primeiros exploradores europeus não era
apenas um produto da natureza, mas também resultado do manejo humano ao longo de milênios.
Entretanto, essa prática milenar indígena passou a ser afetada após a chegada principalmente de
espanhóis e portugueses na região a partir do século XVI.
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PRINCIPAIS GRUPOS
A linguística classificou cerca de 1492 línguas faladas em toda a América do Sul. Na Amazônia,
cerca de 718 línguas procediam dos troncos linguísticos dos seguintes povos: Jês, Tupis, Panos,
Caribes, Xirianas, Tucanos, Tucunas, Aruaques, Catuquinas.
A mandioca tornou-se a base alimentar dos povos primitivos da floresta amazônica porque apresenta
várias vantagens em seu plantio e colheita. Primeiro, para cultivá-la é preciso apenas replantar um talo
cortado. Em segundo lugar, ela pode ser plantada em qualquer época do ano, e, depois de colhida, pode
ser armazenada no subsolo ou debaixo da água por vários meses. Além disso, a mandioca rende várias
colheitas de tubérculos por ano. Ainda, como muitas variedades são tóxicas, a planta tornou-se resistente
aos insetos e doenças. Por último, ela é rica em carboidratos que fornecem energia para o corpo. Assim, a
mandioca permitiu que o homem primitivo amazônico evoluísse de coletor para agricultor.
CONQUISTA E
COLONIZAÇÃO
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CONQUISTA E COLONIZAÇÃO
CONTEXTO HISTÓRICO
A EXPANSÃO MARÍTIMA-COMERCIAL E O TRATADO DE TORDESILHAS
No final do século XV, Portugal e Espanha iniciaram a busca por novas rotas que levassem
até as Índias, atravessando o Oceano Atlântico, e pela consequente ampliação do comércio das
especiarias (pimenta, gengibre, canela). Enquanto os portugueses optaram por contornar o litoral
africano, os espanhóis investiram na proposta do navegador genovês Cristóvão Colombo de navegar
por linha reta até alcançar o Oriente.
Em 1492, a esquadra de Colombo encontrou novas terras a oeste do Atlântico. Apesar de se
acreditar que eram terras orientais, descobriu-se que se tratava de um novo continente. O navegador
Américo Vespúcio foi o responsável por constatar a extensão da nova descoberta e que se tratava
de um novo continente. Em sua homenagem, as novas terras receberam o nome de América.
Como Portugal e Espanha eram os únicos reinos europeus a navegarem pelo Oceano Atlântico,
ambos disputaram o controle das novas terras. Quando as disputas diplomáticas se encaminha-
ram para um conflito armado, foi preciso a intervenção do papa Alexandre VI para que se fizesse
um acordo entre os beligerantes. Em 1493, começaram as negociações para que portugueses e
espanhóis explorassem as novas terras a serem descobertas pelo Atlântico sem entrar em guerra.
Uma linha imaginária seria traçada no mapa-múndi da época, limitando a exploração dos dois
reinos na América. O primeiro esboço do tratado apontava que essa linha seria estipulada a 100
léguas da Ilha de Açores, mas os portugueses recusaram essa proposta. A negativa de Portugal até
hoje gera discussões entre os historiadores, pois demonstra que os portugueses tinham conheci-
mento prévio da existência de novas terras além dos limites primeiramente estipulados.
Em 1494, Portugal e Espanha chegaram a um acordo definitivo. A nova linha imaginária seria
traçada a 370 léguas a oeste da Ilha de Cabo Verde, sendo aceita pelos dois reinos. O Tratado de
Tordesilhas foi assinado em junho daquele ano e delimitou o raio das explorações portuguesa e
espanhola. Os territórios descobertos a leste pertenceriam a Portugal, e os a oeste, aos espanhóis.
UNIÃO IBÉRICA
Durante o século XVI, por conta da expansão marítima, do comércio nas Índias e da exploração
açucareira, Portugal se tornou uma grande potência política e econômica. É nesse momento que, o
então rei de Portugal, Dom Sebastião, decide travar uma guerra contra os mouros, a fim de tomar
o Norte da África, mais especificamente a região do Marrocos.
conquista e colonização 3
Mesmo contra a vontade da nobreza, o própRio Dom Sebastião viaja para guerrear. Ele participa
da chamada Batalha de Alcácer-Quibir, que contou com mais de 18 mil homens portugueses − que
acabaram derrotados em 1578. Dom Sebastião não volta para Portugal depois da batalha, o que
gerou a expectativa de uma parcela da população que não acreditava em sua morte e esperava seu
retorno da África. Essa esperança por sua volta ficou conhecida como Sebastianismo.
Ao contrário do que essa população esperava, Dom Sebastião não retorna e, sem herdeiros
para sucedê-lo, a coroa acaba na posse de Dom Henrique, seu tio-avô. Dom Henrique faleceu apenas
dois anos depois. Sem herdeiros diretos oficiais para o trono, Portugal enfrentou uma grave crise
de sucessão. É nesse momento que começam a aparecer parentes distantes de Dom Sebastião
como candidatos ao trono.
O mais expressivo e poderoso dentre esses candidatos foi Felipe II, que já era Rei da Espanha
no período. A tomada do poder por parte de Felipe II significaria a unificação de Espanha e Portu-
gal. Mais uma vez na História de Portugal, a iminência da unificação dividiu opiniões. Afinal, desde
a formação de Portugal, uma parcela da população portuguesa resistiu fortemente às investidas
espanholas de integrar os dois reinos.
Dessa vez, o rei espanhol foi apoiado por grande parte da burguesia, nobreza e clero, que que-
riam fazer parte desse grande Império Espanhol, seduzidos pelo prestígio conquistado pela Espanha
ao encontrar ouro na América. A maior parte do povo e uma minoria entre nobreza, burguesia e
clero, entretanto, colocaram-se contra a unificação.
Essa resistência não foi eficaz. Em 1581, Felipe II chega a Portugal e é declarado rei, formando
a chamada União Ibérica. Nessa ocasião, assinou o Tratado de Tomar, onde se comprometeu a não
interferir diretamente na administração portuguesa ultramarina e no seu comércio e colônias. Essa
medida deixou nobreza, clero e burguesia bastante satisfeitos, uma vez que garantia ainda sua
autonomia mediante a expansão marítima e processos de colonização.
O período da União Ibérica foi marcado por importantes acontecimentos políticos que defini-
ram os rumos da economia europeia e colonial. Um desses acontecimentos foi a flexibilização das
determinações do Tratado de Tordesilhas. Uma vez que Espanha e Portugal estavam unificados, a
divisão proposta em 1494 perdeu o sentido, e os colonos passaram a ultrapassar os limites impostos
anteriormente.
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A aventura, agora comandada por Aguirre, terminou pouco mais de dois anos depois, com a
expedição chegando primeiro ao Atlântico e depois até a Isla Margarida, na Venezuela. Há dúvidas
históricas com relação ao ponto de chegada, se foi na foz do Rio Amazonas ou do Rio Orenoco, na
Venezuela (há uma ligação natural entre as duas bacias hidrográficas – o canal de Casiquiare, que
liga o Rio Negro ao Rio Orenoco); durante muito tempo os Rios Amazonas e Negro foram chamados
de Marañón. Uma pesquisa histórica detalhada do estudioso peruano Emiliano Jos, publicada em
1923 confirmou que a expedição seguiu até a foz do Rio Amazonas.
Lope de Aguirre e seus homens, que sonhavam retornar ao Peru para conquistá-lo, participaram
de levantes na Isla Margarida e depois no território da Nova Granada (Venezuela). As forças rebel-
des acabaram subjugadas; Aguirre foi morto em combate; seu corpo foi recuperado pelos soldados
coloniais, levado para a capital, esquartejado e os pedaços pendurados em locais diferentes para
servir de exemplo.
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Os franceses, que nunca aceitaram a divisão do Atlântico entre os países ibéricos, para eles
uma injusta política de Mare Clausum (“Mar Fechado”), desde o início do século XVI procuraram
firmar o preceito do “Direito de Navegar no Mar de Todos”, frequentando o litoral brasileiro onde,
com o apoio de inúmeras tribos indígenas, contrabandeavam pau-brasil.
Em 1555, auge das Guerras de Religião na França, entre protestantes e católicos, huguenotes
(calvinistas franceses), sob o comando de Nicolau de Villegaignon, ocuparam a baía da Guanabara,
onde foi fundada, com apoio dos índios Tamoios, uma colônia denominada de França Antártica,
que deveria servir de refúgio para os protestantes que eram vítimas de perseguições na França.
Em 1560, o Governador Geral Mem de Sá – homem extremamente ligado às ideias contrarre-
formistas da Companhia de Jesus, atacou os franceses na Guanabara, destruindo suas fortalezas.
Burlando a ação militar de Mem de Sá, os gauleses fugiram para as matas que circundavam a baía,
onde edificaram novas fortificações. Cinco anos depois, Estácio de Sá, sobrinho do Governador
Geral, desfecha uma outra ofensiva contra os franceses, ocasião na qual funda a cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro.
No ano de 1612, o comandante francês Daniel de La Touche, senhor de La Ravardire, liderando
uma expedição militar, fundou o Forte de São Luís, origem da atual capital maranhense. Nascia,
na ocasião, a Franca Equinocial. No ano seguinte, Jerônimo de Albuquerque, apoiado por uma flo-
tilha naval, atacou os franceses, expulsando-os da região em 1615, quando foi criado a Capitania
do Maranhão, entregue a Jerônimo de Albuquerque, que incorporou ao seu nome o apelido de
“Maranhão”. A partir da cidade de São Luís teve início a expansão rumo à Amazônia, onde, em 1616,
Francisco Caldeira de Castelo Branco fundaria o Forte do Presépio, berço da atual cidade de Belém.
O FORTE DO PRESÉPIO
Forte do Presépio tem origem na segunda década do século XVII, quando da colonização da
Amazônia e da fundação de Belém e tinha como objetivo conter eventuais agressões dos indígenas
e ataques dos corsários ingleses e holandeses. Fundada em 1616, a cidade de Belém tem no Forte
o marco de sua fundação e a sua primeira construção. Construído primeiramente de madeira e
palha, era denominado Forte do Presépio, em alusão a 25 de dezembro de 1615, data de partida
da Frota de Castelo Branco do Maranhão.
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Localiza-se na ponta do Maúri, na confluência do Rio Guamá com a Baía de Guajará, à margem
direita e junto à foz do Rio Guamá, na cidade de Belém, no estado brasileiro do Pará. Debruçado
sobre o Rio, tinha o domínio sobre qualquer embarcação que utilizasse o acesso pela Baía de
Guajará e que estivesse ao alcance de seus canhões. O Forte do Presépio, ao longo da sua história,
teve diversos nomes: Forte do Presépio de Belém, Forte do Senhor Santo Cristo, Forte do Castelo
do Senhor Santo Cristo e Forte do Castelo. Atualmente é conhecido pelo nome original, escolhido
pelos portugueses.
De Gurupá partiu, em outubro de 1637, comandada por Pedro Teixeira, uma expedição ofi-
cial com o objetivo de explorar um Rio “dominado por mulheres cavaleiras e guerreiras” − o Rio
das Amazonas. Esta incursão, considerada por muitos como a maior façanha sertanista da região,
contava com 47 grandes canoas, 70 soldados e 1.200 índios flecheiros. Observando a área, Teixeira
buscou viabilizar o acesso à região peruana por via atlântica. Neste trajeto, Belém seria a porta de
entrada e, por isto mesmo, deveria ser muito bem guardada.
A expedição − composta, entre outros, pelo cronista Maurício de Heriarte e alguns religiosos
importantes, como o capelão franciscano Agostinho das Chagas −, subiu os Rios Amazonas e Negro
onde deixou parte do grupo. Prosseguindo, alcançou Quito, em outubro de 1638. Pedro Teixeira
tomava posse das terras em nome do rei de Portugal, embora este Reino ainda estivesse sob o
domínio espanhol.
Favorecidos pelas boas condições de navegação, aqueles homens aventureiros deparavam-se
a todo instante com riquezas naturais da flora amazônica como o urucu, primeira especiaria a ser
exportada para a Europa. Pousavam onde era possível, conduzidos por índios remeiros, montando
acampamentos improvisados e navegando sempre nas mesmas horas do dia. Já na viagem de volta,
em uma das margens do Rio Napo, na confluência com o Rio Aguarico, Pedro Teixeira fundou o
povoado da Franciscana (16 de agosto de 1639) que, conforme as instruções que constavam no seu
Regimento, deveria servir (...) “de baliza aos domínios das duas Coroas (de Espanha e Portugal)”.
Esta expedição foi descrita no livro Novo Descobrimento do Grande Rio das Amazonas, editado
em Madri em 1641. O governo espanhol mandou imediatamente recolher e destruir a publicação.
Preocupava-se com a divulgação da rota para as minas peruanas e com as pretensões territoriais
portuguesas relacionadas à sua Colônia na América, sobretudo no momento da Restauração. Esta
medida, entretanto, não impediu que, mais tarde, a expedição de Pedro Teixeira fosse usada pela
Coroa lusitana para reivindicar a posse da Amazônia.
Vista por outro ângulo esta incursão deu condições, pelo menos no que se refere à identificação
do território, para a ocupação do Vale do Amazonas, pela instalação de fortes e missões religiosas
nas margens dos Rios. No entanto, para o padre João Daniel, que ali já vivia, o verdadeiro “tesouro
escondido” eram os nativos, cujas almas podiam ser convertidas.
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Alguns capitães e sertanistas experientes, como Antônio Raposo Tavares, Manuel Coelho e
Francisco de Melo Palheta, passaram a percorrer o Amazonas e seus afluentes descobrindo comu-
nicações fluviais, atingindo aldeamentos espanhóis na região oriental da Bolívia, e coletando sem
cessar as especiarias, com ajuda dos nativos. Também estabeleceram algumas feitorias e postos
de pesca. Combateram e foram combatidos por diversas tribos; vencedores, escravizaram milhares
de índios. As atividades desenvolvidas por sertanistas e capitães, assim como por franciscanos,
carmelitas, mercedários e jesuítas, foram importantes na expansão territorial, na conquista e na
consolidação do domínio português.
FONTES
www.imazom.org.br
www.portalamazonia.com
CONQUISTA E
COLONIZAÇÃO
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CONQUISTA E COLONIZAÇÃO
CONTEXTO HISTÓRICO
PERÍODO POMBALINO
Com a morte de Dom João V, em 1750, Dom José I ocupou o trono de Portugal. Para muitos
súditos e vassalos, o longo reinado de Dom João V assinalou o apogeu do absolutismo em Portugal.
Alguns chegavam mesmo a dizer que aquele rei tinha sido o Luís XIV português, comparando o
fausto e o poderio de seu reinado ao do soberano francês.
Por um largo período de tempo, o ouro e os diamantes chegados do Brasil criaram a sensação
de que a grave crise que o Reino vivera desde a Restauração estava superada. A proteção inglesa,
ainda que obtida ao custo de onerosos tratados e concessões comerciais, parecia garantir a esta-
bilidade do império colonial, cuja parte mais significativa era o Brasil.
Antes mesmo da morte de Dom João V, alguns sinais de crise voltaram a se manifestar. Dom
José I, o novo soberano bragantino, recebia, portanto, uma pesada herança. Com a finalidade de
enfrentar as novas dificuldades que se apresentavam, e que na opinião de muitos tendia a se agra-
var, Dom José I escolheu Sebastião José de Carvalho e Melo para o cargo de Secretário de Estado.
Aquele que receberia os títulos de Conde de Oeiras e Marquês de Pombal logo ficou conhecido
como um dos “déspotas esclarecidos”, por entender que a superação das dificuldades que o Reino
enfrentava somente seria possível por meio da realização de reformas por um soberano fortalecido,
ainda que, para tanto, devesse se apoiar nas novas ideias da Ilustração, que não poupavam críticas
a uma ordem política e social já considerada velha.
Enérgico, cruel e prepotente, Pombal buscou reerguer o combalido Reino, incentivando a
agricultura, o comércio, a navegação e a frágil manufatura portuguesa, ao mesmo tempo em que
protegia os cristãos-novos e reformava a Universidade de Coimbra. Em inúmeras oportunidades
entrou em conflito com membros da nobreza e do clero. Acusados da tentativa de regicídio, alguns
nobres foram condenados à morte, enquanto os padres da Companhia de Jesus foram expulsos
do Reino e de suas colônias, em 1759.
Voltando seus olhos para o Brasil, Pombal procurou reformar as relações entre a Metrópole e
a Colônia de modo a propiciar o reerguimento do Reino. Com a intenção de centralizar e controlar
ainda mais a administração colonial, extinguiu as capitanias hereditárias ainda existentes, e unifi-
cou os Estados do Maranhão e do Brasil, em 1774. Criou o Tribunal da Relação no Rio de Janeiro
e juntas de justiça nas demais capitanias reais; criou, ainda, as capitanias fronteiriças de São José
do Rio Negro, no extremo norte, e Rio Grande de São Pedro, ao sul, além da capitania do Piauí; e
determinou a transferência da capital da Colônia da cidade do Salvador, na Bahia, para a cidade de
São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1763.
Essa última medida visava, sobretudo, a melhor defender e proteger aquela que se tornava
então a única “porta” de acesso à região das Minas, combatendo o contrabando e os desvios do
ouro e diamantes em um momento em que a redução dos tributos sobre os metais e pedras pre-
ciosos já se fazia sentir em função do esgotamento das jazidas. Além disso, a localização da capital
na baía de Guanabara objetivava também facilitar o apoio militar às forças portuguesas nas lutas
contra as tropas espanholas em função da ocupação do litoral meridional.
Aproveitando-se de condições externas favoráveis como a expansão das fábricas de tecidos na
Inglaterra em decorrência da Revolução Industrial e a guerra de independência das Treze Colônias
inglesas da América do Norte, Pombal ordenou a criação de duas novas companhias de comércio:
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MENDONÇA FURTADO
O irmão do Marquês de Pombal, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, governava a Capita-
nia do Grão-Pará no início do Diretório dos Índios. Em sua administração, ele decidiu dividir essa
capitania para cortar gastos e obter um maior controle do território. Dessa forma, em 3 de março
de 1755 é criada a Capitania de São José do Rio Negro (atual estado do Amazonas e parte do estado
de Roraima), instalada na cidade de Barcelos. Assim, o agora denominado Estado do Grão-Pará e
Maranhão passou a compreender quatro capitanias: a de São José do Rio Negro, a do Grão-Pará,
a do Maranhão e a do Piauí.
Mendonça Furtado, em suas estadias na região do rio Negro e Amazonas, constatou que os
colonos e o governo real ainda dependiam fortemente do trabalho indígena, e, por essa razão,
afirmou que, se aos índios fosse dado o direito de cuidar das suas próprias vilas, eles passariam a
recusar o trabalho para outros. Em um decreto de 21 de maio de 1757 declarou:
“Devendo executar as duas leis de 6 e 7 de junho de 1755, pelas quais sua Majestade foi servido mandar declarar
a liberdade de todos os índios deste Estado (…), reconhecendo eu, como quem está lidando com eles conti-
nuamente, e como quem tem vivido nas suas povoações mais de dois anos, que as piíssimas intenções de sua
Majestade ficariam frustradas, se absolutamente se entregasse a estes miseráveis e rústicos ignorantes o
governo absoluto da quantidade de povoações, que constituem este grande Estado”.
Assim, nas vilas portuguesas, durante os quarenta anos do Diretório dos Índios, a população
indígena foi fortemente empregada. Os índios trabalhavam para os diretores de suas aldeias, para
os colonos particulares e para o governo. A taxa de pagamento pelo trabalho indígena foi fixada
em 1751 e era expressa em termos de dinheiro. Contudo, os colonos e os funcionários do governo
convertiam os valores correspondentes em metragens de tecido de algodão. Além disso, os indí-
genas submetidos ao Diretório sobreviviam com uma dieta de quase fome de cerca de 8 litros de
farinha de mandioca por família para um mês.
A legislação do Diretório considerava que os índios não eram capazes de lidar com o dinheiro.
Portanto, no século XVIII, não havia moeda corrente na Amazônia. O comércio nesta época era
baseado em mercadorias e crédito. Nesse sistema (aviamento), o comerciante adiantava (entregava)
bens de consumo (geralmente roupas simples de algodão e ferramentas de trabalho) ao empregado,
e este pagava com os produtos extrativistas e agrícolas. A troca era desigual porque o comerciante
entregava esses bens com preços mais altos e recebia como pagamento produtos extrativistas e
agrícolas com preços bem abaixo do mercado. Além disso, os trabalhadores indígenas recebiam
apenas uma parcela pequena do lucro da venda dos produtos, pois antes eram pagos os interme-
diários (diretor, cabo e Estado) e o dízimo para a Igreja. Assim, a força de trabalho nos anos do
Diretório era composta por índios virtualmente escravos e negros africanos legalmente escravizados.
Além disso, o governo das capitanias concedia licenças a colonos privilegiados para impedir
que os índios trabalhassem livremente para quem desejassem. O colono que possuía essas licenças
acabava escravizando os indígenas. Eles muitas vezes fugiam do trabalho duro, dos castigos brutais
e do modo de vida europeu e, assim como os negros escravos nesta época, formavam quilombos ou
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mucambos. Outra causa comum das fugas eram as doenças. Entretanto, os indígenas que fugiam
das doenças, às vezes já infectados, acabavam por transmiti-las aos outros membros da tribo que
moravam no interior da floresta, provocando a morte de muitos indivíduos. Alguns mucambos
situavam-se nos tributários mais ao norte do Amazonas como o rio Trombetas, na serra do Tumu-
cumaque e na vertente das Guianas.
DE MARIUÁ A BARCELOS
A aldeia de Mariuá, fundada em 1728 pelo carmelita frei Matias de São Boaventura, inicialmente
povoada pelos índios Manaus, Barés e Baníuas, foi indicada em 1754 para sediar as negociações das
demarcações de limites. A partir de 1755 começou a mudar de aspecto, com a chegada do pessoal
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das demarcações: de aldeia passou a ser o Arraial do Rio Negro, o qual a partir de um planejamento
urbano, sob a responsabilidade do engenheiro alemão Felipe Sturn, foram executadas diversas
obras de infraestrutura, tais como: os aterramentos das áreas alagadiças; as construções de pontes
ligando dois bairros; arruamento e uma grande praça, onde foi construído o prédio para residência
do demarcador espanhol; o Palácio das Demarcações, local de reunião dos plenipotenciários, e a
Casa da Espera, local das cortesias entre os dois demarcadores chefes.
O seminário dos carmelitas sofreu uma remodelação para hospedar o governador Mendonça
Furtado. A igreja de N. S. da Conceição também passou por reformas, construiu-se um grande
armazém para os víveres, e fez-se casa para moradia das famílias dos membros da comissão. Edi-
ficaram-se três quartéis: um para os oficiais, um para os soldados portugueses e outro para os
soldados espanhóis; para facilitar os embarques e desembarques foi também construído no porto
um cais de madeira. Estava prevista, também, a construção de um palácio para o representante de
Portugal, mas Mendonça Furtado desistiu da ideia porque seria muito dispendioso.
Mariuá, por volta de 1757, já contava com uma população de cerca de 2.000 habitantes e
apresentava um ar de prosperidade. Foi elevada à categoria de Vila pelo próprio Mendonça Fur-
tado, por ocasião da sua segunda viagem ao rio Negro, em 1758, quando passou a ser chamada de
Barcelos. A Vila de Barcelos ficou como sede da Capitania do Rio Negro até 1791, quando o então
governador Manuel da Gama Lobo D’Almada a transferiu para a Barra do Rio Negro, a 18 km da boca
do rio Negro. Voltou a ser novamente sede em 1798, mas, em 1808, a sede da capitania mudou-se
definitivamente para a Barra do Rio Negro.
Aliás, em 1783 o general João Pereira Caldas propôs ao ministro dos Negócios Ultramarinos,
em Lisboa, a mudança da sede da Capitania, de Barcelos para a boca do rio Negro. Nessa proposta
estava incluída também a mudança da Fortaleza da Barra do Rio Negro – fundada segundo a tradi-
ção, em 1669 – para o local sugerido, pois já se tinha percebido a ineficácia, como instrumento de
defesa, desse estabelecimento militar no local onde estava edificado. A localização sugerida por João
Pereira Caldas corresponde atualmente às adjacências da Refinaria de Manaus e o porto da Ceasa.
OS TRATADOS DE LIMITES
No Norte, Portugal enfrentava tensões de limitações territoriais com a França, pois este país
constantemente enviava agentes a navegarem no Rio Amazonas. No Sul, o enfrentamento era com
a Espanha, que não concordava com a presença portuguesa na Colônia de Sacramento. Em 1681
era assinado o Tratado Provisional ou de Lisboa entre Portugal e Espanha, pelo qual os espanhóis
reconheciam as posições portuguesas no Prata. Em 1687 os espanhóis procuram reforçar suas
posições, fundando os Sete Povos das Missões, nos quais havia jesuítas espanhóis e índios guaranis,
que serviam como uma barreira humana aos portugueses.
Porém, a derrota franco-espanhola na Guerra de Sucessão do Trono Espanhol possibilitou que
portugueses estabelecessem vantagens territoriais na América. Com isso, foi assinado o Primeiro
Tratado de Utrecht (1713), no qual a França reconheceu o direito exclusivo de navegação no Rio
Amazonas e, em contrapartida, houve o reconhecimento de Portugal nas Guianas (Caiena). Em
1715, houve o Segundo Tratado de Utrecht, que a Espanha reconheceu, em definitivo, a Colônia
de Sacramento como portuguesa.
Em 1750, foi formulado o Tratado de Madri, utilizando o conceito de uti possidetis (critério da
ocupação efetiva), Portugal reivindicou parte do território ao oeste do Tratado de Tordesilhas, com
isso, a Espanha negociou o reconhecimento pela devolução da Colônia de Sacramento aos espa-
nhóis. A região de Sete Povos das Missões foi dada para Portugal, porém a forte presença de índios
guaranis armados e treinados com a conveniência de Jesuítas impossibilitaram a posse portuguesa
através das famosas Guerras Guaraníticas (1753-1756). Revoltado, em 1761, o ministro Marquês
de Pombal anulou o Tratado de Madri através do Tratado de El Pardo (voltando ao contexto dos
Tratados de Utrecht).
conquista e colonização 7
Em 1777, um novo tratado foi estabelecido, o Tratado de Santo Idelfonso. Com este tratado
houve praticamente a revalidação do Tratado de Madri. Entretanto, os espanhóis revalidaram a posse
sobre Sete Povos das Missões. Em troca, eles reconheceram a posse portuguesa sobre a margem
esquerda do Rio da Prata e devolveram a Ilha de Santa Catarina para Portugal.
Em 1801, o Tratado de Badajóz forçou a Portugal a acordar com um desvantajoso tratado
territorial que atingiu suas terras na Europa e na América. Na Europa, Portugal reconheceu a posse
espanhola pela região de Olivença. Na América cedeu parte do Amapá para França e, posteriormente,
concedeu em definitivo Sacramento para os espanhóis. Posteriormente, o avanço gaúcho sobre
Sete Povos das Missões permitiu que a região fosse incorporada oficialmente pelos portugueses.
FONTES:
www.multirio.rj.gov.br.
www.funag.gov.br.
INCORPORAÇÃO
DA AMAZÔNIA AO
ESTADO BRASILEIRO
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A CABANAGEM
A província do Grão-Pará entre (1835 – 1840)
A Cabanagem, movimento que ocorreu na província do Grão-Pará, entre os anos de 1835 e
1840, pode ser vista como um prosseguimento da Guerra da Independência na região. Desde a
emancipação política, em 1822, a Província do Grão-Pará, vivia um clima agitado. Isolada do resto
do país, era a parte mais ligada a Portugal. Declarada a Independência, a Província só foi reconhe-
cê-la em agosto de 1823. A adesão ao governo de D. Pedro I foi penosa e violentamente imposta.
Administrada por juntas governativas que se apoiavam nas Cortes de Lisboa, os habitantes da
Província já estavam acostumados a ver todos os cargos públicos e recursos econômicos nas mãos
dos portugueses.
Incorporação da Amazônia ao Estado Brasileiro 3
A REPRESSÃO DA REGÊNCIA
O regente Feijó decidiu restabelecer a ordem na Província. Em abril de 1836, mandou ao
Grão-Pará uma poderosa esquadra comandada pelo brigadeiro Francisco José Soares de Andréia,
que conseguiu retomar a capital. Havia na cidade quase unicamente mulheres. No dizer de Raiol,
“a cidade despovoada apresentava por toda parte um aspecto sombrio e contristador”.
Os cabanos abandonaram outra vez Belém e retiraram-se para o interior, onde resistiram
por mais três anos. A situação da Província só foi controlada pelas tropas do Governo Central em
1840. A repressão foi violenta e brutal. Incapazes de oferecer resistência, os rebeldes foram esma-
gados. Ao findar o movimento, dos quase 100 mil habitantes do Grão-Pará, cerca de 30 mil, 30%
da população, haviam morrido em incidentes criminosos e promovidos por mercenários e pelas
tropas governamentais.
Terminava a Cabanagem que, segundo o historiador Caio Prado Júnior, “foi o mais notável
movimento popular do Brasil... o único em que as camadas mais inferiores da população conseguem
ocupar o poder de toda uma província com certa estabilidade. Apesar de sua desorientação, da
falta de continuidade que o caracteriza, fica-lhe, contudo, a glória de ter sido a primeira insurreição
popular que passou da simples agitação para uma tomada efetiva de poder”.
Incorporação da Amazônia ao Estado Brasileiro 5
FONTES
www.multirio.rj.com.br
www.imazon.com.br
alfaconcursos.com.br
ponto pacifico a preservação de seus bens. Assegura que tinha vindo para oficializar
a definitiva condição do Brasil como nação livre e manter a ordem na província.
Pressionou a Junta Governativa para que a adesão paraense acontecesse com a
máxima brevidade possível. Isso ocorreu no dia 15 de agosto.
Voltando a apreciar o acontecido no dia 16 de outubro, dizemos que John
Greenfel determinou a prisão de supostos agitadores, inclusive integrantes das tropas
do 1º, 2º e 3º Regimentos de Infantaria e do esquadrão de Cavalaria, que se haviam
amotinado. Cumprida sua ordem, os agitadores foram dominados por força das
armas. No dia 17 de outubro em frente ao Palácio do Governo, ordenou a execução
sumária de cinco elementos que ele mesmo escolhera aleatoriamente dentre os
detidos. Por meio da brutalidade, Greenfel pretendeu amedrontar os sublevados. Tão
grande era sua fúria, mandou amarrar à boca de um canhão o Cônego Batista
Campos, só não consumando seu intento de matá-lo porque membros da Junta
Provisória interferiram, ponderando que o prisioneiro fosse remetido para o Rio de
Janeiro. Entretanto, no dia 19 de outubro o religioso foi colocado em liberdade.
No dia 20 de outubro, 256 presos que estavam na cadeia pública, fazendo
tremenda algazarra, foram transferidos para bordo de um brigue denominado
Diligente, que ancorou no meio da baia de Guajará. O porão tinha aproximadamente
30 palmos de cumprimento, por 20 de largura e doze de altura. As escotilhas foram
fechadas e apenas uma fresta ficou aberta para entrada de ar. O fortíssimo calor
levou os presos ao desespero. Reivindicando a abertura das escotilhas, pois a falta
de ar os fustigava, os presos irromperam em gritos, clamando por água e formulando
ameaças à guarnição do navio e demais autoridades do Pará.
A guarnição atirou sobre eles água de má qualidade. Mesmo assim, a disputa
entre os amotinados foi feroz. Os presos brigaram, apunhalaram-se, usaram unhas
e dentes para ver que primeiro se serviria do precioso líquido. Temendo que a turba
conseguisse sair do porão do navio, os guardas dispararam suas armas para dentro
do brigue e depois lançaram sobre aquelas pobres criaturas cal virgem. Por duas
horas, os presos debateram-se em agonia. Em três horas, reinava silêncio absoluto.
Na manhã do dia 22/10/1823, quando as escotilhas foram abertas, viu-se no
fundo do porão um monte com 252 corpos, cobertos de sangue e dilacerados. Aos
poucos os cadáveres foram sendo retirados e transportados para a margem esquerda
da baia de Guajará até o local do sítio Penacova. Uma longa vala comum foi escavada
para receber os corpos. Ao ser concluída a remoção dos mortos, a guarnição do
brigue Diligente constatou que ainda agonizavam quatro elementos. Levados para o
tombadilho deram sinal de melhora, o que motivou a transferência dos mesmos para
o hospital. Três deles morreram no transcurso de 4 horas. Apenas um rapaz de 20
anos escapou da morte, mas levou uma vida de constantes sofrimentos.
de Carvalho, Luís Ferreira da Cunha e João da Silva e Cunha. No dia 18 de agosto de 1823, três
dias depois da adesão do Pará à Independência do Brasil, extinguira-se o Estado do Grão-Pará
e Rio Negro e a Capitania do Grão-Pará elevaram-se a Província.
Ao aderir à Independência, a Capitania de São José do Rio Negro deveria tornar-se,
também, Província do Império. Era essa a expectativa dos amazonenses diante da nova ordem
político-institucional, mas o decreto imperial que aboliu as juntas governativas e nomeou os
presidentes provinciais excluiu o Rio Negro, marcando a primeira decepção com o Império.
A segunda decepção viria com a Constituição Política do Império do Brasil, jurada a 25 de
março de 1824. A Constituição dividiu o território do Império em “Províncias na forma em que
atualmente se acha” (art. 2º). Prevalecia o elenco de províncias referido na Instrução nº 57, de
19 de junho de 1822, vinculada ao Decreto Régio de 3 de junho de 1822, que mandou “convocar
uma Assembléa Geral Constituinte e Legislativa composta de Deputados das Provincias do
Reino do Brasil...”. O Rio Negro não fazia parte desse elenco.
No dia 6 de fevereiro de 1825, os amazonenses juraram a Constituição Política do Império,
na presença da junta governativa e da Câmara de Barcelos, em solenidade realizada na pequena
matriz de Nossa Senhora da Conceição, no largo da Trincheira. O ato cívico não superava as
nossas frustrações diante da não-inclusão da Província do Rio Negro no elenco das províncias
do Império, nem solucionava as nossas dificuldades políticas administrativas domésticas.
Em ofício de 23 de julho de 1825, o governador Pereira Burgos comunicou sua decisão ao
Governo do Império e propôs a subordinação da Comarca de São José do Rio Negro ao Pará. O
Aviso nº 233, de 8 de outubro de 1825, da Secretaria de Estado dos Negócios do Império,
referendou a dissolução da junta governativa, anulando o pouco que restava da Capitania de
São José do Rio Negro, e incorporou o seu território à jurisdição do Pará.
A Comarca, criada junto com a Capitania de São José do Rio Negro, (carta-régia de D. José
I, de 3 de março de 1755) sobrevivia ao modelo administrativo-judiciário colonial, em
incômoda posição de subordinação ao governo do Pará.
MANIFESTAÇÕES AUTONOMISTAS
O LEVANTE DE 1832
A passagem pela Barra do Rio Negro do cônego Batista Campos e de nove deputados
paraenses que estavam sendo deportados para os presídios do Crato (Manicoré, rio Madeira) e
de São José de Marabitanas (alto rio Negro) influenciaria as manifestações de revolta que logo
seriam deflagradas. Na noite de 12 de abril de 1832 o soldado Joaquim Pedro da Silva liderou
um levante no quartel da Barra, motivado pela falta de pagamento de soldo.
O comandante militar Joaquim Felippe dos Reis tentou conter a revolta e foi morto pelos
praças amotinados. Dois meses depois (22 de junho), a Barra deu o seu grito de guerra contra
a subordinação ao Grão-Pará e proclamou a Província do Rio Negro. O movimento foi articulado
pelos frades José dos Santos Inocentes, Joaquim de Santa Luzia e Inácio Guilherme da Costa,
com a participação do tenente Boaventura Ferreira Bentes e de líderes civis, entre os quais João
da Silva e Cunha, que fizera parte da Junta da Independência.
O ouvidor Manoel Bernardino de Figueiredo foi aclamado presidente provisório da
Província do Rio Negro e desfilou pelas ruas da Barra do Rio Negro sob um pálio armado pelo
povo. Foram também aclamados os cidadãos Boaventura Ferreira Bentes – comandante militar;
Henrique João Cordeiro – secretário-geral; frei Joaquim de Santa Luzia – comandante das forças
rebeldes; e frei José dos Santos Inocentes – procurador.
As vilas de Serpa e Barcelos aderiram à Província do Rio Negro, mas Borba guardou
fidelidade ao governo do Grão-Pará. Frei José dos Santos Inocentes, enviado à corte como
representante da nova Província, tentou chegar ao Rio de Janeiro pelo rio Madeira (evitou
passar pelo Grão-Pará), mas o seu caminho foi interceptado em Mato Grosso. Os amazonenses
entrincheiraram-se nas Lages e na margem oposta do rio (sítio do Bomfim). Cerca de 1000
Depois de longos anos de lutas e de tantas esperanças frustradas, foi atendida a grande
aspiração dos amazonenses. Motivações de ordem econômica com implicações nas relações
internacionais do Império tornaram inadiável a abertura da navegação a vapor no rio
Amazonas, demonstrando a necessidade de ser instituída uma unidade política do Império no
interior da Amazônia. A lei imperial que instituiu a autonomia política do Amazonas
restabeleceu a extensão e os limites territoriais da antiga Comarca do Rio Negro, que haviam
sido mutilados com a Divisão da Comarca e Termos da Província do Pará, em 25 de junho de
1833, e assegurou à nova província o direito de constituir a sua própria Assembléia Legislativa,
com 20 deputados, e eleger um senador e um deputado ao parlamento imperial.
O presidente João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha contabilizava décadas de
projeção no cenário político regional. Fora o relator das comissões nomeadas pela Província do
Pará em 1828 e em 1837, para analisar os projetos de instituições interessadas em explorar os
serviços de navegação a vapor no rio Amazonas; e, em 1840, apresentara proposta à Assembléia
Provincial do Pará, visando à concessão de incentivos, por dez anos, à empresa que
estabelecesse os serviços de navegação a vapor no rio Amazonas e águas do Pará. No
parlamento imperial, destacara-se como um dos mais ardorosos defensores da criação da
Província do Amazonas.
FONTES
www.tjam.jus.br.
www.diariodoamapa.com.br.
CICLO DA BORRACHA�������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3
INTRODUÇÃO������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3
CONTEXTO HISTÓRICO�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3
CONSEQUÊNCIAS����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3
DECLÍNIO������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 4
CURIOSIDADES��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 5
CICLO DA BORRACHA 3
CICLO DA BORRACHA
INTRODUÇÃO
O Período da Borracha foi um momento de extrema relevância para a história socioeconômica
brasileira. O período está relacionado com a extração do látex, da seringueira e também com a
comercialização do produto, a borracha. O maior centro comercial do período foi a região amazônica
e todo o processo provocou o crescimento da colonização, atraindo riquezas, além de reformas
arquitetônicas, culturais e sociais.
Todo esse processo deu forte impulso no desenvolvimento das cidades de Belém, Manaus e
Porto Velho, capitais e maiores centros comerciais de seus respectivos estados, Pará, do Amazonas e
Rondônia, todos localizados no norte do país. Durante esse período, foi formado o Território Federal
do Acre, atual estado do Acre. A área desse estado foi obtida junto a Bolívia, através da compra
com valor de cerca de dois milhões de libras esterlinas, no ano de 1903.
CONTEXTO HISTÓRICO
O apogeu do chamado ciclo da borracha acorreu entre 1879 e 1912, tendo ainda, uma nova
etapa entre os anos de 1942 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A Revolução
Industrial e o desenvolvimento tecnológico foram os principais motivos que fizeram com que a
borracha natural, que até então era um produto exclusivo da região amazônica, se tornasse algo
mais buscado e valorizado, que gerava muitos ganhos e dividendos para seus investidores.
No início da segunda metade do século XIX, a borracha proporcionou grande atração e influên-
cia sobre aqueles empreendedores mais ousados. A extração da matéria-prima, o látex, na Amazô-
nia, se mostrou muita lucrativa, tão logo começou a ser explorada. A borracha natural logo atingiu
um patamar de destaque nas indústrias de países da europeus e norte-americanos e, com isso, o
produto ficou mais valorizado e alcançou uma boa elevação no preço.
Todo esse movimento em torno da borracha fez com que várias pessoas viessem ao Brasil,
com o intuito de conhecer a seringueira e, também, todos os métodos e processos utilizados na
extração da matéria-prima. O objetivo dessa visita era obviamente conquistar ganhos de alguma
maneira como essa riqueza local.
Com o início da extração da borracha, muitas vilas e povoados surgiram e, depois, por causa
do ciclo da borracha, se transformaram em importantes cidades. Belém do Pará e Manaus – Ama-
zonas já existiam, mas passaram por grande transformação e urbanização depois desse período
histórico. Belém e Manaus estão entre as primeiras cidades brasileiras que, ainda no fim do século
XIX, instituíram a energia elétrica na iluminação pública, gerando também, as condições para a
instalação dos bondes elétricos.
CONSEQUÊNCIAS
A exploração da borracha assegurou ganhos volumosos para a região Norte do Brasil e, a partir
desse período, se iniciou o processo de urbanização e modernização, com maior intensidade, nessa
região do país. Ocorreram momentos, em que as capitais dos Estados do Norte brasileiro foram as
mais desenvolvidas nacionalmente.
Influenciado pelos países europeus, construíram mais casas, teatros, portos, prédios públicos,
entre outras edificações. A população dos centros urbanos da região Norte teve acesso a eletrici-
dade, rede de esgoto e sistema de água encanada.
4
DECLÍNIO
Antes do início do ciclo da borracha, ocorreu algo que acabou determinando o seu futuro declí-
nio. No ano de 1877, foram roubadas e contrabandeadas para a Inglaterra mais de 70 mil sementes
de seringueira do estado do Pará, configurando um caso flagrante de biopirataria.
As sementes levadas foram plantadas na Ásia e, a partir de 1910, começaram a produzir e
dar frutos, literalmente. Com isso, os custos relacionados com a exportação brasileira tiveram uma
queda significativa. O mercado global da borracha teve a integração de empresas inglesas e holan-
desas. Essas empresas conseguiram engatar uma produção em larga escala e com preços bem mais
baixos. Na segunda década do século XX, o preço do produto despencou por causa da concorrência
e inviabilizou a exploração da borracha na Amazônia.
Com esse cenário, se estabeleceu a crise no ciclo da borracha. Esse momento histórico teve
fim e, por causa da falta de investimentos e prosperidade nessa e em outras áreas, muitas pessoas
perderam seus empregos. Com isso, as cidades ficaram vazias por causa do longo processo de
estagnação econômica.
O aviamento, termo cunhado na Amazônia, é um sistema de adiantamento de mercadorias a crédito. Come-
çou a ser usado na região na época colonial, mas foi no ciclo da borracha que se consolidou como sistema de
comercialização e se constituiu em senha de identidade da sociedade amazônica. Depois do ciclo da borracha,
o aviamento passou a ser reformulado em termos menos policiais, mas continuou sendo igualmente dominante
em todas as esferas da produção.
No sistema de aviamento, o comerciante ou aviador adianta bens de consumo e alguns instrumentos de trabalho
ao produtor, e este restitui a dívida contraída com produtos extrativos e agrícolas. É, pois, uma forma de cré-
dito – mais eficiente que o sistema financeiro formal, incapaz de chegar onde o produtor está. Mas esses dois
sistemas de crédito, o formal e o informal, não são excludentes. Ao contrário, o sistema bancário alimenta as
firmas aviadoras com créditos, de modo que o sistema informal não poderia subsistir sem a injeção creditícia do
capital financeiro.
A seringueira não foi inserida como monocultura na Amazônia, ao contrário do que ocorreu
na região sudeste da Ásia. Isso não aconteceu na Floresta Amazônica por causa de sua densidade
e pelos problemas referentes ao intemperismo químico dos solos. A produtividade brasileira era
baixa comparando com a produção asiática, perdendo assim poder de concorrência.
CICLO DA BORRACHA 5
CURIOSIDADES
No decorrer do primeiro ciclo da borracha, a região amazônica foi responsável por quase
metade de toda a exportação brasileira. O Reino Unido pagava o produto exportado com libra
esterlina. O produto da borracha é obtido através de uma simples coagulação da matéria-prima,
chamada de látex, extraído das seringueiras. No princípio do ciclo da borracha, esse produto não
tinha uma qualidade muito boa.
A partir da segunda metade do século XIX, o cientista e inventor estadunidense Charles Goo-
dyear (1800-1860) elaborou a vulcanização, um processo capaz de eliminar todas as propriedades
ruins e indesejáveis. A vulcanização foi um método criado no ano de 1839 e consiste na aplicação
de calor e pressão em uma composição de borracha. Esse método é responsável por dar forma
e propriedades para o produto final. Trata-se da modificação da borracha natural obtida por sua
combinação com o enxofre. Isso lhe atribui elasticidade, maior força e resistência a temperatura
tanto alta quanto baixa.
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QUESTÃO DO ACRE
Desde a segunda metade do século XIX, alguns brasileiros, sobretudo nordestinos fustigados
por sucessivas secas em suas áreas instalam-se na bacia do rio Acre, para se dedicar à atividade
extrativista (leia-se extração do látex, matéria-prima da borracha, obtido das seringueiras,
árvores nativas do lugar). Sem conhecer ou se importar com títulos de propriedade, estes
migrantes começam a ocupar as terras, cuja maior parte pertencia à Bolívia. As fronteiras
permaneciam inexatas, apesar de estabelecidas reiteradas vezes por tratados internacionais.
Habitando em sua grande parte os altiplanos, os bolivianos não se mostravam aptos ou mesmo
interessados em tomar posse daquela isolada região de planície. Como consequência, as
incursões populacionais nessas áreas não preocupavam os países vizinhos. Este era o cenário
na região enquanto a borracha era apenas um item exótico das exportações amazônicas.
A RIQUEZA DA BORRACHA
As mudanças trazidas pela Revolução Industrial fizeram com que a região do Acre atraísse a
atenção de governos e particulares. Mais precisamente, a borracha começou a ser empregada
em larga escala na indústria, principalmente na fabricação de pneus de veículos, motocicle-
tas e bicicletas, uma prática viabilizada pelo processo de vulcanização inventado por Charles
Goodyear em 1839.
A REAÇÃO BOLIVIANA
Assim, em 1898, as autoridades bolivianas deixam de lado a indiferença em relação à ocu-
pação brasileira da fronteira. Em 1899 os bolivianos fundam Puerto Alonso, nome dado em
homenagem ao então Presidente Severo Fernandes Alonso. O governo brasileiro não se mani-
festa, buscando uma posição inerte em relação à questão. Naquele momento, predominava
o entendimento vindo do Tratado de Ayacucho, de 1867, onde Brasil e Bolívia entendiam que
o Acre era território boliviano.
A falta de reação brasileira era interpretada por seringalistas e seringueiros como a oficializa-
ção da soberania estrangeira na região, alimentando a primeira insurreição acreana. Em 1º de
maio de 1899, cerca de quinze mil brasileiros, a maioria residentes na região, sob o comando
do advogado José Carvalho e com o apoio do governo do Estado do Amazonas, levantaram-se
contra os bolivianos.
OS SERINGUEIROS SE REVOLTAM
A segunda insurreição deu-se em 14 de julho de 1899, chefiada pelo jornalista espanhol Luiz
Galvez Rodrigues de Arias. Em Puerto Alonso, já rebatizada Porto Acre, Galvez hasteia a ban-
deira acreana, proclamando a criação do Estado Independente do Acre. As autoridades federais
brasileiras, ainda buscando preservar o conteúdo do Tratado de Ayacucho, interpretam o gesto
como uma invasão territorial à Bolívia e enviam forças para desbaratar o Estado Independente.
Assim, a 15 de março de 1900, o Brasil promove a transição política, passando o controle da
região à Bolívia.
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BOLIVIAN SYNDICATE
Aparentemente resolvida a questão, eis que vem à tona a existência de um acordo militar entre
norte-americanos e bolivianos envolvendo a região, o que levantou preocupações do governo
brasileiro. Em 1901, a Bolívia, presidida pelo General José Manuel Pando, estava ansiosa por se
livrar dos problemas de administração das terras consideradas acreanas pelos brasileiros. Com
isso, elas foram arrendadas a um sindicato de capitalistas majoritariamente norte-americanos
e ingleses, o Bolivian Syndicate, que por trinta anos assumiria o controle total sobre a região,
incluindo a movimentação alfandegária e militar.
Para o lado brasileiro, tal acordo significava uma ameaça às soberanias tanto da Bolívia quanto
do Brasil. As tentativas diplomáticas do Brasil para conseguir a anulação do contrato provocaram
a pronta reação das autoridades governamentais em Washington e Londres. Em resposta, o
presidente Campos Sales decide fechar o rio Amazonas e seus afluentes à navegação, ignorando
os protestos dos EUA, Grã-Bretanha, França e Alemanha.
TRATADO DE PETRÓPOLIS
O Tratado de Petrópolis foi assinado a 17 de novembro de 1903 entre os governos do Brasil e da
Bolívia. É um Tratado de Permuta que resultou na entrega do território do Acre, efetivamente
ocupado pelos seringueiros brasileiros durante a corrida à borracha da floresta amazónica. Em
troca, o Brasil cedia as terras na foz do rio Abuña e na bacia do rio Paraguai. Tinha ainda de pagar
uma compensação monetária de 2 milhões de libras esterlinas. O Brasil também se comprometia
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a ceder a navegação nos rios brasileiros para chegar ao oceano Atlântico e a Bolívia adquiria o
direito de abrir alfândegas em Belém, Manaus, Corumbá e noutros pontos da fronteira.
O mesmo se passava com o Brasil em território boliviano. O estado brasileiro tinha ainda de
construir uma linha de caminho de ferro desde o porto de Santo António, no rio Madeira, até
Guarajá-Mirim, no Mamoré, com um ramal até território boliviano. Em consequência deste
tratado, os limites de fronteira com o Peru foram também redefinidos.
QUESTÃO DO PIRARA
Os britânicos reconheciam como brasileira a região dos rios formadores do rio Branco, um
deles o Pirara, bem como de outros afluentes da margem esquerda do Amazonas. Da mesma
sorte, reconhecíamos como inglesa a região drenada pelos formadores do Essequibo e do
Courantine, os rios com foz no Atlântico, não pertencentes ao Amazonas.
Robert Herman Schomburgk, geógrafo e explorador alemão, naturalizado inglês, em viagem a
serviço do governo se depara com a região do Pirara, uma região abundante em beleza natural,
habitada por indígenas, rica em metais preciosos e com o posto militar brasileiro desarmado.
O contexto interno brasileiro àquela altura era conflituoso. Era época de Cabanagem em que
o governo precisou dar maior atenção ao equilíbrio interno.
Nessa conjuntura, Schomburgk, sob a alegação de proteger as tribos que viviam na região dos
escravizadores brasileiros, conseguiu fomentar um movimento britânico apoiador da apro-
priação daquela área com a publicação de um livro – A Description of British Guiana -, bem
como com a ajuda do pastor anglicano Thomas Yond que logo se instalou no Pirara. O apelo
humanitário mobilizou a opinião pública britânica à época, já que o momento histórico inglês
era de fomento ao fim da escravidão por diversas razões que não nos caberá discutir agora.
Com esse discurso, estava claro que se estava a tratar de um conflito de fronteira. Em 1842,
os dois governos resolvem neutralizar a zona limítrofe em litígio, mas o fazem de forma pre-
judicial ao Brasil, pois se discutia não só a região do Pirara, mas também outros afluentes do
rio Branco, tais como os rios Contigo, Maú e Tacutu.
Em 1898, Lord Salisbury, então Primeiro-Ministro e Ministro das relações Exteriores britânico,
propôs uma fronteira natural que representava a metade da área discutida para cada parte
que, porém, não foi aceita pelo governo brasileiro que tinha a convicção de que possuía mais
títulos de posse que a Grã-Bretanha e, portanto, maior legitimidade sobre o território da região.
Entre 1890 e 1900, Souza Correia, então Ministro do Brasil em Londres, tenta uma última cartada,
mas não logra qualquer êxito. Para sair desse impasse, Grã-Bretanha e Brasil decidiram pela arbitra-
gem ao entregarem o caso ao então Rei da Itália, Vítor Emanuel III. O Brasil havia designado como
patrono da causa nada mais que Joaquim Nabuco que acabou por cumular a função de advogado
com o cargo de Ministro Plenipotenciário junto ao Reino Unido após a morte de Souza Correia.
A defesa de Nabuco foi um trabalho primoroso na opinião de diversos especialistas. Em sua
obra – O direito do Brasil – relativa à formação territorial brasileira ao norte do Brasil, Nabuco
explica os argumentos que embasou sua tese defensiva, quais sejam, os princípios inchoate
title (título nascente ou incompleto) e o watershed (separação das vertentes). O primeiro diz
respeito ao direito contra terceiros que o possuidor temporário tem sobre o território. O outro
princípio quer regular por extensão os direitos sobre os afluentes não ocupados daquele que
já ocupa um dos rios formadores de uma bacia hidrográfica.
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A partir desses princípios e da subsunção de fatos e títulos da ocupação portuguesa dos rios
Negro, Branco e afluentes, o Brasil demonstrou que a Inglaterra não tinha direito legítimo para
atravessar o Essequibo e se estabelecer na Amazônia.
A DECISÃO ARBITRAL
A decepcionante decisão arbitral vem à tona em 1904 quando Vítor Emanuel III dividiu o
território litígio em duas partes, dando a maior parte à Grã-Bretanha perfazendo uma faixa
territorial de 19600 km² correspondente a 60% da área discutida; a menor parte, ao Brasil que
ficou com a faixa territorial de 15500 km² correspondente a 40% da área.
Na sentença, o arbitro argumenta que nem o Brasil, nem a Grã-Bretanha conseguiram compro-
var a posse efetiva do território disputado. A partir dessas condições, resolveu fixar uma linha
arbitrária que parte do monte Roraima, junto à Venezuela, até a nascente do rio Maú, desce esse
rio até a foz no Tacutu; sobe o Tacutu até a nascente e, então, segue pelo divisor de águas das
bacias do rio Amazonas, por um lado, e dos rios Rupununi, Essequibo e Courantine, por outro.
Claramente, pela sentença, a Inglaterra ganhou mais do que havia proposto em negociações
anteriores, pois acabou levando a Guiana aos rios Tacutu e Maú, ampliando sua extensão
territorial até a valiosa bacia amazônica. A área do Pirara, origem do conflito, também foi
anexada pela Inglaterra.
A sentença arbitral foi, enfim, aceita pelo Brasil sem protestos. O mesmo não se pode dizer de
juristas de outras nações que acabaram por acusar o Reino Unido de ter influenciado a decisão
do árbitro, sob motivações imperialistas, já que era o país hegemônico da época.
A QUESTÃO DO AMAPÁ
Os problemas envolvendo a Questão do Amapá começaram ainda durante o período colonial,
no século XVIII. As fronteiras entre os domínios do rei da França (na região da Guiana) e de
Portugal foram determinadas pelo Tratado de Utrecht, assinado nos Países Baixos em 1713,
com o fim da Guerra de Sucessão Espanhola. Os franceses reabriram a questão 12 anos depois,
afirmando que o limite reconhecido por aquele acordo, o rio Oiapoque, corria mais ao sul do
que o tratado estipulava, portanto, os domínios franceses deveriam se estender na direção
do vale do rio Amazonas.
Com a Revolução Francesa, as pretensões francesas foram reforçadas e buscou-se deslocar a
fronteira dos territórios na América para o sul. Todas estas ambições que queriam legitimar a
expansão francesa foram invalidadas pelo manifesto de 1º de maio de 1808, através do qual D.
João VI, já vivendo em terras brasileiras, declarou guerra ao Império francês. Ao mesmo tempo,
as tropas portuguesas ocuparam Caiena, a capital da Guiana Francesa, que só foi devolvida à
França em 1817. Mesmo assim, os ideais franceses não foram sepultados.
Em 1835, as tropas francesas invadiram parte do atual estado do Amapá, depois que todas as
tentativas de negociação com a diplomacia imperial portuguesa foram fracassadas. Apenas
seis anos depois, em 1841, os dois governos alcançaram um acordo conhecido como “arranjo
para a neutralização do Amapá”, segundo o qual as duas nações reconheciam que o território
estava sob disputa litigiosa, ou seja, caberia à justiça internacional a definição de qual dos dois
países seria o soberano sobre a região, abrindo mão da guerra direta. Apesar da divergência,
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não houve problemas sérios na região. No entanto, a partir de 1894, foram descobertas jazi-
das de ouro na região do Rio Calçoene, levando legiões de aventureiros para o Amapá e, por
conseguinte, a insegurança e a violência chegaram ao território, fazendo com que uma solução
para o litígio fosse urgente. Após duras negociações, os dois países assinaram um tratado no
Rio de Janeiro, em 10 de abril de 1897, concordando que a questão seria submetida à decisão
do Conselho Federal Suíço.
Os direitos do Brasil couberam ao Barão do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos Junior.
Na defesa elaborada, solicitou ao juiz que fosse levado em consideração qual dos rios era o
verdadeiro Oiapoque do Tratado de Utrecht – aquele que os brasileiros apontavam ou o que
os franceses defendiam, sem que houvesse uma interpretação intermediária. Além disso, sua
defesa contava com a solicitação para averiguação sobre a linha leste-oeste. As negociações
para o arbitramento da questão do Amapá tiveram início em Paris, levando o Barão do Rio
Branco a escrever as memórias que deviam servir de defesa para o Brasil em solo francês. O
texto, contando com cinco volumes, foi entregue ao presidente da Confederação Suíça em abril
de 1899, contendo inclusive uma reedição da obra Do Oiapoque ao Amazonas, de Joaquim
Caetano da Silva. Em dezembro do mesmo ano, o Barão entregou uma segunda memória,
contando com seis volumes, contestando as razões expostas pela França. Sua defesa conju-
gava as habilidades de um advogado e as minúcias de um historiador, impressionando pela
pertinência e pela abundância de documentos.
Em 1º de dezembro de 1900, o Conselho Federal Suíço entrou aos representantes das duas
nações o resultado sobre a Questão do Amapá. Em um volume contando com mais de 800
páginas, escrito em alemão pelo conselheiro Eduardo Muller, a sentença final definia que a
solução brasileira deveria ser adotada integralmente. O presidente do Conselho, Walter Heu-
ser, definiu que o rio Oiapoque tratado nos acordos era também conhecido como rio Yapoc
ou Vicente Pinsão, e que ele deveria ser o limite entre os dois países, fazendo com que os
franceses recuassem milhares de quilômetros.
AMAZONAS
COSMOPOLITA
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A BELLE ÉPOQUE
Na Amazônia a belle époque deu-se por conta do boom provocado pela riqueza proveniente
da extração do látex (Borracha) extraído da árvore havea brasiliensis, e o período entre 1870
e 1913, foi uma época sem igual para Belém e Manaus, os centros da economia da borracha.
Após a queda do império e a implantação da república, os ideais positivistas, modernizantes
e progressistas do novo regime não demoraram a chegar a região, uma vez que com a implan-
tação do federalismo os estados ganharam autonomia para recolhimento e aplicação dos
impostos, o que possibilitou as elites locais avançarem ainda mais no seu projeto de civilização
européia em plena região amazônica.
público não viabilizava a produção agrícola ou outras vias capazes de fornecerem ao Estado
receita igualável a borracha, consistindo está na única fonte de riqueza, e dependente direta
de sua exportação. Além disso, o enorme território era apontado como despovoado, isto
interferia, pois dificultava a extração.
A borracha foi a principal fonte de arrecadação de impostos, e sua queda representava uma crise
com enormes perdas para o Estado, que assim não teria recursos para continuar as inúmeras obras
de embelezamento, e, como consequência, traria o desabastecimento de gêneros alimentícios.
Além disso, provocaria mortes e deslustraria a miséria na cidade de Manaus, planejada apenas
no sentido de receber turistas e acomodar a sua população nobre e os investidores, deixando o
poder público de investir maciçamente na sua própria fonte de manutenção.
Os fatores que demonstram as diferenças na coleta da seiva no Amazonas frente às planta-
ções asiáticas podem assim ser descritos: na Amazônia, as seringueiras estavam espalhas pela
floresta; já no continente Asiático, foram plantadas em aglomerados, facilitando a colheita,
perdendo-se menos tempo para percorrer, sangrar e retirar o látex5 ; a floresta amazônica é
composta de inúmeros rios, pântanos e lagos, os quais além de serem quase intransponíveis,
constituem local de proliferação de mosquitos transmissores de doenças, como a malária;
doenças como paludismo, beri-béri e varíola eram endêmicas nos seringais em decorrência
da ausência de profilaxia e a má alimentação dos seringueiros; as distâncias entre os seringais,
que exigiam horas para chegar a determinadas localidades; na Ásia, a mão de obra era inferior
à empregada na Amazônia; a utilização, na Amazônia, de técnicas primitivas na extração do
látex, com esse contexto, torna-se dispendiosa a extração, e inviável ao mercado consumidor
devido à goma asiática ter custos menores, tornando-se mais rentável. A situação ficou mais
abalada com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, e a crise econômica se agravou mais ainda.
A crise da borracha foi um fator sustentado por inúmeros pilares, de tal maneira que o Estado não
mobilizou outra via que fornecesse lucros aos investidores e recursos aos cofres públicos. O resultado
da crise foi a ausência de investimentos na única fonte de renda, o que deu início ao descompasso
econômico, marcado pelo endividamento, queda vertiginosa nas arrecadações, o abandono nos
seringais como reflexo da situação que afetou também os seringueiros pela baixa cotação no mer-
cado mundial, esta última devido à concorrência e a oferta demasiada do produto no mercado.
Apesar de inúmeros relatos nos documentos do governo, antes de 1910 é possível observar que
os governantes estavam cientes da situação, mas continuaram optando pelo extrativismo da
borracha e não viabilizaram diversificar a economia, fazendo com que, em meados da primeira
década do século XX, a economia sofresse impactos com a diminuição no preço pago pela
tonelada de borracha e, consequentemente, o fechamento de estabelecimentos comerciais,
ligados ou não ao núcleo extrativista. Sem tomar qualquer medida para estabilizar a situação,
a crise se manteve num estado agravante até o final do governo de Jonathas Pedrosa, cujos
primeiros anos foram marcados pelo choque pelas baixas arrecadações, tendo chegado a
menos da metade do que se arrecadava, demonstrando a complexidade e a escala que chegou.
As medidas tomadas depois de 1912 podem ser caracterizadas como de caráter paliativo ape-
nas, não sendo sequer demonstrado viabilidade financeira, o que comprometeu ainda mais
o orçamento. Apesar da diminuição dos recursos do tesouro, as construções materializadas
no período áureo e aquelas construídas num ritmo mais lento durante a crise da borracha,
continuam a existir em uma fração territorial de Manaus, essas formas espaciais permanecem
e condicionam ações até o presente.
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REPÚBLICA NO AMAZONAS
COMUNA DE MANAUS
A Comuna de Manaus fez parte da sequência de movimentos tenentistas ocorridos no Brasil,
entre os anos de 1920-1930. A primeira das revoltas aconteceu no Rio de Janeiro, com o nome
de Revolta dos 18 no Forte de Copacabana em 1922, no estado de São Paulo, dois anos depois
sucedeu a Revolução Paulista em 1924, e nesse mesmo ano no dia 23 de julho é promovida a
Comuna de Manaus, terceira revolta tenentista.
Liderada por tenentes e militares de baixa patente do exército, os fins de desenvolver a Comuna
de Manaus eram os mesmos das outras duas revoltas: voto secreto, reformas no ensino público,
poder político ao exército e destituição do presidente da república. Todavia, existiu um diferen-
cial nesta terceira revolta tenentista: a queda no preço da borracha. Nesse período a borracha
era o produto que movimentava a economia do estado do Amazonas, a queda no valor dessa
matéria prima teve início com o fim da Primeira Guerra Mundial. E a redução da exportação
de borracha teve impacto direto na vida dos amazonenses; desemprego e miséria eram os
agravantes dessa crise de produção.
Se não bastasse a desvalorização da borracha pelo motivo da crise mundial, em virtude do
fim da guerra, o presidente de estado César do Rego Monteiro disponibilizava empréstimos
a juros altos e aumentou os impostos. As ações praticadas por Monteiro foram a mando do
governo federal.
Diante dessa situação, surge na capital do estado do Amazonas a Comuna de Manaus, liderada
pelo tenente Alfredo Augusto Ribeiro Júnior. A primeira atitude do tenente foi tomar a sede do
governo, o Palácio Rio Negro. O governador César do Rego Monteiro estava na Europa, e seu
sucessor Turiano Meira que estava no palácio, fugiu. A revolta que iniciou na capital ganhou
adesão em regiões do interior do estado.
Ribeiro Júnior consegue isolar a cidade bloqueando as estações de Telégrafos e Telefônicas. A
revolta se estendeu por municípios do estado do Pará, Alenquer, Santarém e Óbidos. Nesse
último município os tenentistas conseguem tomar o forte. A revolta segue para o estado do
Maranhão, onde também tem apoio popular. O líder Ribeiro Júnior apreende propriedades de
empresas e fundos bancários de integrantes de oligarquias, assim o comandante da revolução
se tornou um herói para a população do norte do Brasil.
Durante os dias 23 de julho até 28 de agosto de 1924, a Comuna de Manaus conseguiu reali-
zar grandes atos para o cumprimento de suas reivindicações políticas e protesto contra ações
econômicas abusivas. Porém apesar dos feitos, a Comuna de Manaus foi reprimida por forças
federais. Diferentemente da Revolta Paulista ocorrida a poucos meses atrás onde muitos milita-
res foram mortos e feridos, na Comuna de Manaus os militares se renderam e receberam penas
brandas de prisão. O principal motivo para essa conduta do governo em julgar os rebeldes,
foi virtude que a população apoiava a revolta, podendo se unir e gerar novas revoltas futuras.
REPÚBLICA NO AMAZONAS 3
O GLEBARISMO
O Glebarismo (de gleba) foi um movimento regionalista de intelectuais e políticos do Amazonas
surgido na década de 1930 que reivindicava a retomada da liderança política e cultural para
os amazonenses natos. Com o ciclo da borracha (1866-1913), o Amazonas foi “invadido” por
pessoas de diferentes origens sociais e culturais, oriundas de várias partes do Brasil (princi-
palmente do Nordeste) e de outros países, como a Inglaterra. Todas foram, de alguma forma,
atraídas pelas oportunidades que a lucrativa extração do látex gerava então.
“Ao que parece, este era um movimento regional, de caráter federalista, articulado pelos políticos amazonenses,
que atacou a ilegitimidade constitucional do projeto de criação dos territórios federais de fronteira. O movi-
mento foi combatido pelo Alto Madeira, cuja contra ofensiva seguiu os ditames da grande imprensa nacional, por
meio de artigos “isentos”, publicando pareceres jurídicos favoráveis à medida, dando apoio incondicional às pos-
turas centralizadoras do governo federal, em relação ao desmembramento de áreas estaduais, para a formação
de territórios nas regiões de fronteira”.
CLUBE DA MADRUGADA
O Período áureo da borracha no Amazonas chega ao fim, o ciclo de grandes negócios acaba e
por conta disso o estado entra num período de depressão econômica que irá servir de inspi-
ração para os escritores de tendências parnaso-simbolistas, modernistas, naturalistas. Então,
os escritores passam a produzir uma série de contos, romances, ensaios, crônicas a respeito
do que “restou” do Amazonas, baseados nos filões estilísticos da época, era a fase de ouro
dos novos pobres e a atmosfera local era a própria visão do inferno.
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O Clube da Madrugada tem seu início nos anos 50 inspirado na geração modernista de 45,
muito ligado à maneira de pensar regionalista, logo esse clube finca os pés em Manaus com
sua sede debaixo de uma árvore na Praça da Polícia e decide não mais fazer o êxodo, ou seja,
ninguém mais abandonaria o clube pra viver no sul do país, várias produções foram feitas a
partir dessa formação clubista. O clube chegou até a segunda geração e hoje em dia tenta
resgatar a maioria das obras produzidas no passado.
Por fim, a Literatura no Amazonas apresenta inúmeras fases, as quais sempre estão décadas
atrasadas aos movimentos e estilos em voga de cada época, pode-se dizer que a literatura local
está sempre alguns passos atrás do que se produz no momento. As personagens individuais
se destacam, mas não há uma corrente definida na região, não há um denominador comum
entre os que produzem e fazem literatura. É preciso mudar essa realidade, por isso é sempre
bom estarmos em contato com um Tenório Telles ali, Márcio Souza e Hatoum aqui, Tiago de
Melo mais ali e assim vai.
Manaus vivia um período de inércia econômica no final da década de 1940 do século XX quando um grupo de
jovens começou a se reunir em um porão na Rua Doutor Moreira. O grupo era formado por Carlos Fariasde Car-
valho, Jorge Tufic, Alencar e Silva, Luiz Bacelar, Antísthenes Pinto e Guimarães de Paula. A partir de 1951, esses
jovens começaram a viajar ao Sul do Brasil com a intenção de entrarem em contato com os meios culturais
do eixo Rio-São Paulo e para tentar estabelecer uma renovação cultural na sociedade amazonense. Em 1954,
outrogrupo de jovens com ansiedades, principalmente políticas, se reuniam em um banco da Praça Heliodoro
Balbie decidiram fundar uma associação de estudos políticos, sociais e literários, o qual deram o nome de Clube
da Madrugada, estavam presentes os jovens Saul Benchimol, Francisco Batista, Teodoro Botinelly, José Trindade,
Fernando Collyer e João Bosco Araújo, Celso Melo e Humberto Paiva, o nome escolhido pelo grupo para o clu-
beestava de acordo não só pelo adiantado da hora, como também significava o surgimento de um novo dia para
acultura do Amazonas, eles se reuniam sempre no mesmo lugar aos sábados e logo os poetas da Rua Doutor
Moreira ingressaram no clube, mais tarde, vieram Luiz Ruas, Élson Farias e Ernesto Penafort. Este trabalho teve
como objetivo averiguar o contexto histórico e artístico em que se inseria o Clube da Madrugada e sua importân-
cia para o desenvolvimento cultural em Manaus.