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AS SOCIEDADES

INDÍGENAS
NA ÉPOCA DA
CONQUISTA
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AS SOCIEDADES INDÍGENAS NA ÉPOCA DA


CONQUISTA
AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA
OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO
A história de ocupação da Amazônia teve início quando levas de imigrantes asiáticos chegaram
ao vale do Amazonas há mais de 14 mil anos. No momento em que essas populações passaram a
desenvolver a agricultura e viver numa mesma área de terra, sociedades indígenas diversas e mais
complexas emergiram nessa região. Esses povos mais desenvolvidos viveram na Amazônia por cerca
de 2 mil anos antes da chegada dos europeus, manejando a floresta de forma adaptada. Dela, eles
extraíam os recursos necessários para a sua sobrevivência e desenvolvimento.
Assim, no século XVI, quando os europeus atingiram o rio Amazonas, encontraram uma flo-
resta habitada por povos indígenas diversos culturalmente que sustentavam populações numero-
sas. Infelizmente, durante a conquista e a colonização portuguesa desse território – baseadas nas
atividades de coleta de produtos naturais e agricultura –, as populações indígenas foram reduzidas
drasticamente, sobretudo por causa das doenças trazidas pelos europeus.
A hipótese mais aceita atualmente entre os historiadores é a de que o homem chegou às
Américas há mais de 20 mil anos pelo estreito de Bering. Essa conexão terrestre estava exposta
durante as últimas glaciações (100.000 – 10.000), quando o nível do mar era mais baixo. Isso
permitiu a travessia a pé de populações por uma ponte natural que ligava o continente asiático à
América do Norte.

FASES DO PERÍODO PRÉ-COLOMBIANO


O período conhecido como pré-colombiano (ou seja, antes da chegada de Cristóvão Colombo
às Américas em 1492) é dividido em três fases:
Fase Paleoindígena: a população era pouco numerosa, dispersa, nômade e estava baseada
na coleta de frutas e moluscos, na pesca e na caça.
as sociedades indígenas na época da conquista 3

Fase Arcaica: as populações indígenas estabelecidas ao longo do rio Amazonas começaram


a fabricar cerâmica. Essa prática se intensificou no final desse período. As técnicas utilizadas para
decorar as peças de cerâmica eram as de pintura e incisão. Algumas dessas peças apresentavam
figuras geométricas nas cores vermelha e branca. Certas áreas do baixo Amazonas, como Tapei-
rinha, próximo a Santarém, no Pará, apresentam sambaquis com exemplares de cerâmica desse
período. Ou seja, essa é uma indicação de que os povos indígenas da Amazônia começaram a pro-
duzir cerâmica um milênio antes dos povos andinos (populações que habitavam a cordilheira dos
Andes, principalmente os incas).
Também nessa fase pequenas povoações de horticultores começaram a ganhar importância na
Amazônia, e isso marca a transição das sociedades de caçadores e coletores para sociedades agríco-
las. A economia desses povos provavelmente era baseada na plantação de raízes como a mandioca.
Eram sociedades bastante desenvolvidas, que se encontravam hierarquizadas, densamente povoadas
e se estendiam ao longo das margens do rio Amazonas. Elas deixaram vestígios materiais de suas
práticas (os locais de Terra Preta Indígena, principalmente nos arredores da cidade de Santarém).
Fase Pré-Histórica Tardia: desenvolvem-se as culturas dos construtores de aterros artificiais
em áreas inundáveis (tesos) na Amazônia. Em seguida, aparecem sociedades ainda mais complexas
e hierarquizadas, que fabricavam um tipo de cerâmica muito refinado. Por exemplo, os marajoaras,
na ilha de Marajó, e os tapajônicos, na região de Santarém, ambas no Pará. A partir desses vestígios
dos povos antigos (pinturas rupestres, sambaquis, terra preta e aterros artificiais) estudados pela
arqueologia, alguns pesquisadores podem afirmar que havia na bacia amazônica uma vasta e diversa
rede de sociedades indígenas. Essas populações desenvolveram uma rica diversidade cultural que
incluía desde grupos nômades de caçadores-coletores até grandes aldeias de povos que praticavam
agricultura, pesca de larga escala e caça intensiva. Também criavam animais e realizavam comércio
e viagens de longa distância.

As pesquisas arqueológicas do século XX indicam que essas sociedades indígenas mais com-
plexas desenvolveram uma variedade de técnicas de uso da terra e de enriquecimento do solo
compatíveis com as condições naturais da Amazônia. Elas conseguiram se adaptar à vida em cada
um dos habitats amazônicos: florestas ao longo dos rios e lagos, planícies alagadas de várzea e matas
de terra firme. Portanto, a paisagem da região vista pelos primeiros exploradores europeus não era
apenas um produto da natureza, mas também resultado do manejo humano ao longo de milênios.
Entretanto, essa prática milenar indígena passou a ser afetada após a chegada principalmente de
espanhóis e portugueses na região a partir do século XVI.
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PRINCIPAIS GRUPOS
A linguística classificou cerca de 1492 línguas faladas em toda a América do Sul. Na Amazônia,
cerca de 718 línguas procediam dos troncos linguísticos dos seguintes povos: Jês, Tupis, Panos,
Caribes, Xirianas, Tucanos, Tucunas, Aruaques, Catuquinas.
A mandioca tornou-se a base alimentar dos povos primitivos da floresta amazônica porque apresenta
várias vantagens em seu plantio e colheita. Primeiro, para cultivá-la é preciso apenas replantar um talo
cortado. Em segundo lugar, ela pode ser plantada em qualquer época do ano, e, depois de colhida, pode
ser armazenada no subsolo ou debaixo da água por vários meses. Além disso, a mandioca rende várias
colheitas de tubérculos por ano. Ainda, como muitas variedades são tóxicas, a planta tornou-se resistente
aos insetos e doenças. Por último, ela é rica em carboidratos que fornecem energia para o corpo. Assim, a
mandioca permitiu que o homem primitivo amazônico evoluísse de coletor para agricultor.
CONQUISTA E
COLONIZAÇÃO
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CONQUISTA E COLONIZAÇÃO
CONTEXTO HISTÓRICO
A EXPANSÃO MARÍTIMA-COMERCIAL E O TRATADO DE TORDESILHAS
No final do século XV, Portugal e Espanha iniciaram a busca por novas rotas que levassem
até as Índias, atravessando o Oceano Atlântico, e pela consequente ampliação do comércio das
especiarias (pimenta, gengibre, canela). Enquanto os portugueses optaram por contornar o litoral
africano, os espanhóis investiram na proposta do navegador genovês Cristóvão Colombo de navegar
por linha reta até alcançar o Oriente.
Em 1492, a esquadra de Colombo encontrou novas terras a oeste do Atlântico. Apesar de se
acreditar que eram terras orientais, descobriu-se que se tratava de um novo continente. O navegador
Américo Vespúcio foi o responsável por constatar a extensão da nova descoberta e que se tratava
de um novo continente. Em sua homenagem, as novas terras receberam o nome de América.
Como Portugal e Espanha eram os únicos reinos europeus a navegarem pelo Oceano Atlântico,
ambos disputaram o controle das novas terras. Quando as disputas diplomáticas se encaminha-
ram para um conflito armado, foi preciso a intervenção do papa Alexandre VI para que se fizesse
um acordo entre os beligerantes. Em 1493, começaram as negociações para que portugueses e
espanhóis explorassem as novas terras a serem descobertas pelo Atlântico sem entrar em guerra.

Uma linha imaginária seria traçada no mapa-múndi da época, limitando a exploração dos dois
reinos na América. O primeiro esboço do tratado apontava que essa linha seria estipulada a 100
léguas da Ilha de Açores, mas os portugueses recusaram essa proposta. A negativa de Portugal até
hoje gera discussões entre os historiadores, pois demonstra que os portugueses tinham conheci-
mento prévio da existência de novas terras além dos limites primeiramente estipulados.
Em 1494, Portugal e Espanha chegaram a um acordo definitivo. A nova linha imaginária seria
traçada a 370 léguas a oeste da Ilha de Cabo Verde, sendo aceita pelos dois reinos. O Tratado de
Tordesilhas foi assinado em junho daquele ano e delimitou o raio das explorações portuguesa e
espanhola. Os territórios descobertos a leste pertenceriam a Portugal, e os a oeste, aos espanhóis.

UNIÃO IBÉRICA
Durante o século XVI, por conta da expansão marítima, do comércio nas Índias e da exploração
açucareira, Portugal se tornou uma grande potência política e econômica. É nesse momento que, o
então rei de Portugal, Dom Sebastião, decide travar uma guerra contra os mouros, a fim de tomar
o Norte da África, mais especificamente a região do Marrocos.
conquista e colonização 3

Mesmo contra a vontade da nobreza, o própRio Dom Sebastião viaja para guerrear. Ele participa
da chamada Batalha de Alcácer-Quibir, que contou com mais de 18 mil homens portugueses − que
acabaram derrotados em 1578. Dom Sebastião não volta para Portugal depois da batalha, o que
gerou a expectativa de uma parcela da população que não acreditava em sua morte e esperava seu
retorno da África. Essa esperança por sua volta ficou conhecida como Sebastianismo.
Ao contrário do que essa população esperava, Dom Sebastião não retorna e, sem herdeiros
para sucedê-lo, a coroa acaba na posse de Dom Henrique, seu tio-avô. Dom Henrique faleceu apenas
dois anos depois. Sem herdeiros diretos oficiais para o trono, Portugal enfrentou uma grave crise
de sucessão. É nesse momento que começam a aparecer parentes distantes de Dom Sebastião
como candidatos ao trono.
O mais expressivo e poderoso dentre esses candidatos foi Felipe II, que já era Rei da Espanha
no período. A tomada do poder por parte de Felipe II significaria a unificação de Espanha e Portu-
gal. Mais uma vez na História de Portugal, a iminência da unificação dividiu opiniões. Afinal, desde
a formação de Portugal, uma parcela da população portuguesa resistiu fortemente às investidas
espanholas de integrar os dois reinos.
Dessa vez, o rei espanhol foi apoiado por grande parte da burguesia, nobreza e clero, que que-
riam fazer parte desse grande Império Espanhol, seduzidos pelo prestígio conquistado pela Espanha
ao encontrar ouro na América. A maior parte do povo e uma minoria entre nobreza, burguesia e
clero, entretanto, colocaram-se contra a unificação.

Essa resistência não foi eficaz. Em 1581, Felipe II chega a Portugal e é declarado rei, formando
a chamada União Ibérica. Nessa ocasião, assinou o Tratado de Tomar, onde se comprometeu a não
interferir diretamente na administração portuguesa ultramarina e no seu comércio e colônias. Essa
medida deixou nobreza, clero e burguesia bastante satisfeitos, uma vez que garantia ainda sua
autonomia mediante a expansão marítima e processos de colonização.
O período da União Ibérica foi marcado por importantes acontecimentos políticos que defini-
ram os rumos da economia europeia e colonial. Um desses acontecimentos foi a flexibilização das
determinações do Tratado de Tordesilhas. Uma vez que Espanha e Portugal estavam unificados, a
divisão proposta em 1494 perdeu o sentido, e os colonos passaram a ultrapassar os limites impostos
anteriormente.
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EXPEDIÇÕES AO SANTA MARIA DE LA MAR DULCE – SÉCULO


XVI
FRANCISCO ORELLANA (1541-1542)

Em 12 de fevereiro de 1542, o explorador espanhol Francisco Orellana (1490-1550), vindo do


Peru por via fluvial, atingiu o Rio Amazonas, então chamado de Rio Grande, Mar Dulce ou Rio da
Canela. Foi o primeiro europeu a navegar o Rio Amazonas. Orellana participou com Francisco Pizarro
(1476-1541) da conquista do Peru submetendo o Império Inca ao domínio espanhol em 1532-1535.
Em 1541, concordou em participar, ao lado de Gonçalo Pizarro, irmão do conhecido conquis-
tador espanhol, de uma expedição a leste dos Andes em busca de canela e do lendário Eldorado,
a terra de ouro. Navegando Rio abaixo a bordo do bergantim Victoria com 57 homens armados,
Orellana fez a perigosa descida para as terras baixas da Amazônia. Depois de meses de busca e
perambulação na selva e com a correnteza do Rio cada vez mais forte em pleno período de chuvas,
Orellana concluiu ser impossível retornar conforme combinara com Gonçalo Pizarro.
Para seguir em frente, foi construído um segundo navio com ajuda dos índios nativos, os Cotos.
A bordo do San Pedro, Orellana e seus homens atingiram, no dia 12 de fevereiro de 1542 o Rio
Amazonas então chamado de Rio Grande, Mar Dulce ou Rio da Canela. No dia 3 de junho avista-
ram a desembocadura do Rio Negro e no dia 10, o Rio Madeira. No dia 24 de junho teria ocorrido
o violento encontro com as Icamiabas, índias belicosas que atacaram e expulsaram os espanhóis.
O episódio recriou a lenda das amazonas, mulheres guerreiras na mitologia grega, e inspirou a
imaginação dos aventureiros europeus. Por causa disso, o Rio recebeu seu nome atual, Amazonas.
Derrotados, os espanhóis fugiram navegando Rio abaixo. Em 26 de agosto de 1542 chegaram
ao enorme delta do Rio Amazonas. Apesar dos constantes ataques indígenas, somente doze homens
haviam morrido. Os espanhóis seguiram ainda navegando ao longo da costa em direção ao porto
espanhol mais próximo, Trinidad, ilha na costa da atual Venezuela. Orellana calculou ter percorrido
1.800 léguas, cerca de 7.500 quilômetros. Os detalhes de sua aventura foram registrados pelo cro-
nista da expedição, Frei Gaspar de Carvajal.
Orellana relatou sobre grandes cidades e milhões de pessoas instaladas nas margens do Ama-
zonas. Quando expedições posteriores navegaram pelo Rio, não encontraram nada além da floresta
tropical. Acreditou-se, então, que Orellana teria mentido. Pesquisas mais recentes, entretanto, têm
constatado que a Amazônia pode ter abrigado grandes populações conforme indica a existência de
amplas áreas de Terra Preta – um importante indicador de assentamento humano. Possivelmente,
o vazio demográfico relatado por exploradores posteRiores tenha sido resultado de epidemias
introduzidas pelos conquistadores europeus.
conquista e colonização 5

PEDRO DE URSÚA (1560)


Uma segunda expedição espanhola, comandada por Pedro de Ursúa (1525-1561), partiu de
Lima em fevereiro de 1559, ainda sonhando encontrar o Eldorado. Esta expedição enfrentou os
mesmos problemas da anteRior, mas ela fracassou justamente por reveses de outra natureza:
traição e assassinato.
Pedro de Ursúa não se parecia em nada com os brutais conquistadores da época. Era con-
siderado gentil, educado, honrado, perfeito cavalheiro, possuidor de gentileza e caráter, adorado
por todos, além de ser jovem. Mas, por outro lado, não tinha a capacidade de ver e entender o
verdadeiro caráter das pessoas. Essa falha foi fatal para ele. Sua tropa era formada por homens
rudes, mercenários de toda sorte, onde a ganância era a principal marca. Entre esses homens, um
se destacava com todas as piores qualidades: Lope de Aguirre.
Lope de Aguirre foi condenado diversas vezes por fraude, mercenário, lutou em muitas das
batalhas pela conquista dos novos territórios, tomou várias cidades a força e foi condenado diversas
vezes por crimes de toda ordem. Em uma dessas condenações, levou cem chibatadas nas costas;
sobre os ferimentos foi colocado sal – Aguirre ficou aleijado para sempre e jurou a todos que se
vingaria. Em outra expedição contra índios, acabou também aleijado de uma das mãos. Era um
tipo de pessoa que não se deveria ter por perto, mesmo num tempo tão duro como foi o início da
conquista das Américas e da Amazônia.
Uma expedição com um líder fraco e com homens tão terríveis, não poderia obter maiores
êxitos. Ao longo de váRios meses, motins de toda ordem levaram a uma sucessão de assassinatos,
inclusive o de Pedro de Ursúa, morto na noite de ano novo de 1561. Mas do que a fome, os ataques
de índios e toda a sorte de problemas que a floresta fosse capaz de produzir, o maior risco para
este punhado de aventureiros espanhóis eram os própRios espanhóis – “a expedição não foi de
geografia, mas de carnificina”, registrou um cronista da época.

A aventura, agora comandada por Aguirre, terminou pouco mais de dois anos depois, com a
expedição chegando primeiro ao Atlântico e depois até a Isla Margarida, na Venezuela. Há dúvidas
históricas com relação ao ponto de chegada, se foi na foz do Rio Amazonas ou do Rio Orenoco, na
Venezuela (há uma ligação natural entre as duas bacias hidrográficas – o canal de Casiquiare, que
liga o Rio Negro ao Rio Orenoco); durante muito tempo os Rios Amazonas e Negro foram chamados
de Marañón. Uma pesquisa histórica detalhada do estudioso peruano Emiliano Jos, publicada em
1923 confirmou que a expedição seguiu até a foz do Rio Amazonas.
Lope de Aguirre e seus homens, que sonhavam retornar ao Peru para conquistá-lo, participaram
de levantes na Isla Margarida e depois no território da Nova Granada (Venezuela). As forças rebel-
des acabaram subjugadas; Aguirre foi morto em combate; seu corpo foi recuperado pelos soldados
coloniais, levado para a capital, esquartejado e os pedaços pendurados em locais diferentes para
servir de exemplo.
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O INÍCIO DA PRESENÇA PORTUGUESA


AS INVASÕES FRANCESAS

Os franceses, que nunca aceitaram a divisão do Atlântico entre os países ibéricos, para eles
uma injusta política de Mare Clausum (“Mar Fechado”), desde o início do século XVI procuraram
firmar o preceito do “Direito de Navegar no Mar de Todos”, frequentando o litoral brasileiro onde,
com o apoio de inúmeras tribos indígenas, contrabandeavam pau-brasil.
Em 1555, auge das Guerras de Religião na França, entre protestantes e católicos, huguenotes
(calvinistas franceses), sob o comando de Nicolau de Villegaignon, ocuparam a baía da Guanabara,
onde foi fundada, com apoio dos índios Tamoios, uma colônia denominada de França Antártica,
que deveria servir de refúgio para os protestantes que eram vítimas de perseguições na França.
Em 1560, o Governador Geral Mem de Sá – homem extremamente ligado às ideias contrarre-
formistas da Companhia de Jesus, atacou os franceses na Guanabara, destruindo suas fortalezas.
Burlando a ação militar de Mem de Sá, os gauleses fugiram para as matas que circundavam a baía,
onde edificaram novas fortificações. Cinco anos depois, Estácio de Sá, sobrinho do Governador
Geral, desfecha uma outra ofensiva contra os franceses, ocasião na qual funda a cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro.
No ano de 1612, o comandante francês Daniel de La Touche, senhor de La Ravardire, liderando
uma expedição militar, fundou o Forte de São Luís, origem da atual capital maranhense. Nascia,
na ocasião, a Franca Equinocial. No ano seguinte, Jerônimo de Albuquerque, apoiado por uma flo-
tilha naval, atacou os franceses, expulsando-os da região em 1615, quando foi criado a Capitania
do Maranhão, entregue a Jerônimo de Albuquerque, que incorporou ao seu nome o apelido de
“Maranhão”. A partir da cidade de São Luís teve início a expansão rumo à Amazônia, onde, em 1616,
Francisco Caldeira de Castelo Branco fundaria o Forte do Presépio, berço da atual cidade de Belém.

O FORTE DO PRESÉPIO
Forte do Presépio tem origem na segunda década do século XVII, quando da colonização da
Amazônia e da fundação de Belém e tinha como objetivo conter eventuais agressões dos indígenas
e ataques dos corsários ingleses e holandeses. Fundada em 1616, a cidade de Belém tem no Forte
o marco de sua fundação e a sua primeira construção. Construído primeiramente de madeira e
palha, era denominado Forte do Presépio, em alusão a 25 de dezembro de 1615, data de partida
da Frota de Castelo Branco do Maranhão.
conquista e colonização 7

Localiza-se na ponta do Maúri, na confluência do Rio Guamá com a Baía de Guajará, à margem
direita e junto à foz do Rio Guamá, na cidade de Belém, no estado brasileiro do Pará. Debruçado
sobre o Rio, tinha o domínio sobre qualquer embarcação que utilizasse o acesso pela Baía de
Guajará e que estivesse ao alcance de seus canhões. O Forte do Presépio, ao longo da sua história,
teve diversos nomes: Forte do Presépio de Belém, Forte do Senhor Santo Cristo, Forte do Castelo
do Senhor Santo Cristo e Forte do Castelo. Atualmente é conhecido pelo nome original, escolhido
pelos portugueses.

EXPEDIÇÃO DE PEDRO TEIXEIRA

De Gurupá partiu, em outubro de 1637, comandada por Pedro Teixeira, uma expedição ofi-
cial com o objetivo de explorar um Rio “dominado por mulheres cavaleiras e guerreiras” − o Rio
das Amazonas. Esta incursão, considerada por muitos como a maior façanha sertanista da região,
contava com 47 grandes canoas, 70 soldados e 1.200 índios flecheiros. Observando a área, Teixeira
buscou viabilizar o acesso à região peruana por via atlântica. Neste trajeto, Belém seria a porta de
entrada e, por isto mesmo, deveria ser muito bem guardada.
A expedição − composta, entre outros, pelo cronista Maurício de Heriarte e alguns religiosos
importantes, como o capelão franciscano Agostinho das Chagas −, subiu os Rios Amazonas e Negro
onde deixou parte do grupo. Prosseguindo, alcançou Quito, em outubro de 1638. Pedro Teixeira
tomava posse das terras em nome do rei de Portugal, embora este Reino ainda estivesse sob o
domínio espanhol.
Favorecidos pelas boas condições de navegação, aqueles homens aventureiros deparavam-se
a todo instante com riquezas naturais da flora amazônica como o urucu, primeira especiaria a ser
exportada para a Europa. Pousavam onde era possível, conduzidos por índios remeiros, montando
acampamentos improvisados e navegando sempre nas mesmas horas do dia. Já na viagem de volta,
em uma das margens do Rio Napo, na confluência com o Rio Aguarico, Pedro Teixeira fundou o
povoado da Franciscana (16 de agosto de 1639) que, conforme as instruções que constavam no seu
Regimento, deveria servir (...) “de baliza aos domínios das duas Coroas (de Espanha e Portugal)”.
Esta expedição foi descrita no livro Novo Descobrimento do Grande Rio das Amazonas, editado
em Madri em 1641. O governo espanhol mandou imediatamente recolher e destruir a publicação.
Preocupava-se com a divulgação da rota para as minas peruanas e com as pretensões territoriais
portuguesas relacionadas à sua Colônia na América, sobretudo no momento da Restauração. Esta
medida, entretanto, não impediu que, mais tarde, a expedição de Pedro Teixeira fosse usada pela
Coroa lusitana para reivindicar a posse da Amazônia.
Vista por outro ângulo esta incursão deu condições, pelo menos no que se refere à identificação
do território, para a ocupação do Vale do Amazonas, pela instalação de fortes e missões religiosas
nas margens dos Rios. No entanto, para o padre João Daniel, que ali já vivia, o verdadeiro “tesouro
escondido” eram os nativos, cujas almas podiam ser convertidas.
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Alguns capitães e sertanistas experientes, como Antônio Raposo Tavares, Manuel Coelho e
Francisco de Melo Palheta, passaram a percorrer o Amazonas e seus afluentes descobrindo comu-
nicações fluviais, atingindo aldeamentos espanhóis na região oriental da Bolívia, e coletando sem
cessar as especiarias, com ajuda dos nativos. Também estabeleceram algumas feitorias e postos
de pesca. Combateram e foram combatidos por diversas tribos; vencedores, escravizaram milhares
de índios. As atividades desenvolvidas por sertanistas e capitães, assim como por franciscanos,
carmelitas, mercedários e jesuítas, foram importantes na expansão territorial, na conquista e na
consolidação do domínio português.

MÃO DE OBRA INDÍGENA


A expansão do mercantilismo europeu transformou a Amazônia num palco de batalhas, onde
os principais protagonistas eram estrangeiros que disputavam a posse do território e as riquezas
nele contidas. Colonos de diferentes nacionalidades, armados, instalaram-se na área, realizando
um intenso comércio e a exploração da força de trabalho indígena.
Durante os séculos XVII e a primeira metade do XVIII, a legislação sobre os povos indígenas
mudava constantemente: ora impedia a escravização, ora permitia. Nos primeiros séculos de colo-
nização a base da economia amazônica foi o extrativismo das conhecidas drogas do sertão que
consistiam em uma gama varia da de frutos e raízes silvestres, principalmente cacau, baunilha,
salsaparrilha, urucu, cravo, andiroba, almíscar, âmbar, gengibre e piaçava.
Além disso, havia a pesca e a viração de tartaruga que atendiam, sobretudo, o mercado interno.
A base desta economia extrativista foi a mão de obra indígena. Os índios eram responsáveis pela
coleta sob o comando dos missionários nas missões ou aldeamentos. Em geral era permitida duas
formas de escravidão indígena: guerra justa e resgate.
» Guerra justa: Apesar das variações ao longo do período colonial a guerra justa pode-
ria ser declarada pelo poder real ou pelas autoridades locais nas seguintes situações:
quando os nativos impedissem a pregação evangélica, deixassem de defender os
colonos, atacassem os portugueses, estabelecessem alianças com os inimigos da
coroa, praticassem o canibalismo, impedissem o comércio e a circulação de colonos.
» Resgate: expedições realizadas com o objetivo de comercializar com tribos aliadas
os seus escravos, ou seja, os prisioneiros de guerra. Entre esses estavam os índios
presos a corda, em referência à corda que os Tupi atavam no pescoço de seus pri-
sioneiros destinados a serem devorados. Assim “resgatados” das mãos dos seus
captores, deviam a vida a quem os comprava, e eram obrigados a pagar-lhe com
seu trabalho por tempo determinado, de acordo com seu preço de compra. Durante
o período anterior ao Marquês de Pombal o resgate foi o meio mais utilizado de
escravizar os índios.
DESCIMENTOS
Eram expedições, em princípio não militares, realizadas desde o início da colonização do Brasil pelos missioná-
rios, com o objetivo de convencer os nativos para que “descessem” de suas aldeias de origem para os aldeamen-
tos dos religiosos. Os descimentos eram feitos através do convencimento dos nativos para saírem de suas terras
por livre e espontânea vontade.
Os missionários, para conseguirem tal objetivo, faziam inúmeras promessas de melhorias nas condições de vida
dos nativos caso fossem viver nos aldeamentos; quando isso não funcionava, usavam a coação, obrigando-os,
pelo medo, a aceitarem a convivência indesejada nos aldeamentos. Após o descimento os nativos eram armaze-
nados em “aldeias de repartições”, pois eram considerados “livres”, para daí serem alugados e distribuídos entre
os colonos, os missionários e o serviço real.
conquista e colonização 9

PAPEL DOS MISSIONÁRIOS


Os aldeamentos missionários possuíam uma certa classificação: aldeias dos serviços das ordens
religiosas, em que as rendas serviam para as ordens religiosas; aldeias do serviço real, onde os índios
aldeados eram utilizados para o serviço do Estado, aldeias de repartição onde eram destinados aos
moradores e missões afastadas dos núcleos urbanos que mesmo sofrendo desfalques de população
devido as demandas das expedições, eram unidades autônomas de produção.
Essa divisão dos índios entre Igreja, Estado e moradores não era harmônica, mas fonte de
constantes conflitos entre esses grupos. Neste contexto acentua-se a participação de destaque da
companhia de Jesus neste processo missionário. Verificou-se que nestes aldeamentos (missões)
os índios eram explorados pelos missionários, Estado e moradores. Através da evangelização esses
povos seriam “civilizados” nos moldes culturais europeus. Os missionários condenavam as práticas
religiosas dos índios, obrigava-os a abandonar seus costumes e obrigava-os a trabalhar em troca de
um irrisório soldo ou a troca de nada enriquecendo suas ordens religiosas.
Portanto, os índios foram brutalmente explorados das diversas formas: legais ou ilegais. Bem
sabemos que os “direitos” dos nativos não passavam de mera formalidade. A exploração do traba-
lho do índio livre que deveria receber uma forma de salário nem sempre era cumprida. As conse-
quências dessa exploração foi a dizimação das populações nativas, desorganização das sociedades
indígenas e imposição cultural.
Sistema de Capitães de Aldeia (1616-1686)
Quando Portugal decidiu ocupar a Amazônia, enquadrou-a no sistema legal de organização do trabalho indígena
vigente na época: o sistema de “capitães de aldeia”.
Tarefas do Capitão de aldeia: Atuar como juiz, civil e criminal, julgando e estabelecendo penas; comandar as
formas de recrutamento e escravização de mão-de-obra indígena; representar e fazer cumprir as atribuições
impostas pela Coroa portuguesa à aldeia; fiscalizar o pagamento dos “salários” aos índios, a fim de impedir que
esses fossem enganados pelos colonos; empreender a distribuição e aluguel dos índios entre colonos, missioná-
rios e o serviço real da Coroa portuguesa.
Essa divisão dos índios entre Igreja, Estado e moradores não era harmônica, mas fonte de
constantes conflitos entre esses grupos. Neste contexto acentua-se a participação de destaque da
companhia de Jesus neste processo missionário. Verificou-se que nestes aldeamentos (missões)
os índios eram explorados pelos missionários, Estado e moradores. Através da evangelização esses
povos seriam “civilizados” nos moldes culturais europeus. Os missionários condenavam as práticas
religiosas dos índios, obrigava-os a abandonar seus costumes e obrigava-os a trabalhar em troca de
um irrisório soldo ou a troca de nada enriquecendo suas ordens religiosas.
Portanto, os índios foram brutalmente explorados das diversas formas: legais ou ilegais. Bem
sabemos que os “direitos” dos nativos não passavam de mera formalidade. A exploração do traba-
lho do índio livre que deveria receber uma forma de salário nem sempre era cumprida. As conse-
quências dessa exploração foi a dizimação das populações nativas, desorganização das sociedades
indígenas e imposição cultural.

FONTES
www.imazom.org.br
www.portalamazonia.com
CONQUISTA E
COLONIZAÇÃO
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CONQUISTA E COLONIZAÇÃO
CONTEXTO HISTÓRICO
PERÍODO POMBALINO
Com a morte de Dom João V, em 1750, Dom José I ocupou o trono de Portugal. Para muitos
súditos e vassalos, o longo reinado de Dom João V assinalou o apogeu do absolutismo em Portugal.
Alguns chegavam mesmo a dizer que aquele rei tinha sido o Luís XIV português, comparando o
fausto e o poderio de seu reinado ao do soberano francês.
Por um largo período de tempo, o ouro e os diamantes chegados do Brasil criaram a sensação
de que a grave crise que o Reino vivera desde a Restauração estava superada. A proteção inglesa,
ainda que obtida ao custo de onerosos tratados e concessões comerciais, parecia garantir a esta-
bilidade do império colonial, cuja parte mais significativa era o Brasil.
Antes mesmo da morte de Dom João V, alguns sinais de crise voltaram a se manifestar. Dom
José I, o novo soberano bragantino, recebia, portanto, uma pesada herança. Com a finalidade de
enfrentar as novas dificuldades que se apresentavam, e que na opinião de muitos tendia a se agra-
var, Dom José I escolheu Sebastião José de Carvalho e Melo para o cargo de Secretário de Estado.
Aquele que receberia os títulos de Conde de Oeiras e Marquês de Pombal logo ficou conhecido
como um dos “déspotas esclarecidos”, por entender que a superação das dificuldades que o Reino
enfrentava somente seria possível por meio da realização de reformas por um soberano fortalecido,
ainda que, para tanto, devesse se apoiar nas novas ideias da Ilustração, que não poupavam críticas
a uma ordem política e social já considerada velha.
Enérgico, cruel e prepotente, Pombal buscou reerguer o combalido Reino, incentivando a
agricultura, o comércio, a navegação e a frágil manufatura portuguesa, ao mesmo tempo em que
protegia os cristãos-novos e reformava a Universidade de Coimbra. Em inúmeras oportunidades
entrou em conflito com membros da nobreza e do clero. Acusados da tentativa de regicídio, alguns
nobres foram condenados à morte, enquanto os padres da Companhia de Jesus foram expulsos
do Reino e de suas colônias, em 1759.
Voltando seus olhos para o Brasil, Pombal procurou reformar as relações entre a Metrópole e
a Colônia de modo a propiciar o reerguimento do Reino. Com a intenção de centralizar e controlar
ainda mais a administração colonial, extinguiu as capitanias hereditárias ainda existentes, e unifi-
cou os Estados do Maranhão e do Brasil, em 1774. Criou o Tribunal da Relação no Rio de Janeiro
e juntas de justiça nas demais capitanias reais; criou, ainda, as capitanias fronteiriças de São José
do Rio Negro, no extremo norte, e Rio Grande de São Pedro, ao sul, além da capitania do Piauí; e
determinou a transferência da capital da Colônia da cidade do Salvador, na Bahia, para a cidade de
São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1763.
Essa última medida visava, sobretudo, a melhor defender e proteger aquela que se tornava
então a única “porta” de acesso à região das Minas, combatendo o contrabando e os desvios do
ouro e diamantes em um momento em que a redução dos tributos sobre os metais e pedras pre-
ciosos já se fazia sentir em função do esgotamento das jazidas. Além disso, a localização da capital
na baía de Guanabara objetivava também facilitar o apoio militar às forças portuguesas nas lutas
contra as tropas espanholas em função da ocupação do litoral meridional.
Aproveitando-se de condições externas favoráveis como a expansão das fábricas de tecidos na
Inglaterra em decorrência da Revolução Industrial e a guerra de independência das Treze Colônias
inglesas da América do Norte, Pombal ordenou a criação de duas novas companhias de comércio:
conquista e colonização 3

a do Maranhão e Grão-Pará e a de Pernambuco e Paraíba. Essa última teve importante papel no


incremento da produção de algodão e açúcar.
Ao mesmo tempo em que foram adotadas medidas para melhor explorar as jazidas auríferas,
foi estabelecida a Real Extração dos diamantes. A construção naval foi incentivada, assim como
outras atividades de origem agrícola ou animal, como a do anil, a da cochonilha e a de laticínios,
devido à atuação do vice-rei Marquês do Lavradio.
Considerados os principais incentivadores da resistência dos nativos aldeados nos Sete Povos
à demarcação dos limites do Tratado de Madri, nas Guerras Guaraníticas, os padres jesuítas foram
também expulsos dos territórios portugueses na América. Os bens da Companhia de Jesus, em sua
maior parte propriedades rurais e urbanas, foram confiscados e leiloados, sendo arrematados por
comerciantes e fazendeiros.
A expulsão dos jesuítas do Brasil provocou, de imediato, a desorganização tanto da rede de
missões religiosas, em especial no Vale amazônico, quanto do sistema de ensino da Colônia, que os
padres jesuítas praticamente monopolizavam por meio de seus colégios e das “aulas de ler, escrever
e contar”. Pombal determinou a transformação das antigas aldeias indígenas em vilas, dando-lhes
nomes tipicamente portugueses, ao mesmo tempo em que entregou a administração dos nativos
ao Diretório dos Índios.
Execrada por muitos, exaltada por outros, a administração do Marquês de Pombal (1750-
1777) marcou profundamente as vidas de colonizadores e colonos, assim como a dos colonizados.
Como outros “déspotas esclarecidos”, Pombal realizou portentosas obras arquitetônicas e protegeu
artistas e literatos. Em Lisboa, deixou sua marca ao reconstruir a cidade após o terremoto de 1755.
No Reino e no mundo colonial, patrocinou obras de arte que defendiam as ideias ilustradas e,
ao mesmo tempo, perpetuavam sua memória. Foi o caso do poema épico O Uraguay, de autoria
do mineiro José Basílio da Gama. Nele, o papel de personagem principal e herói cabe ao próprio
Pombal, que aparece como o representante das forças da razão e das luzes contra o obscurantismo
personificado nos padres da Companhia de Jesus.
Quando Dom José I faleceu, em 1777, os grupos descontentes com a administração do Marquês
de Pombal articularam sua demissão. Com a “viradeira”, tinha início o reinado de Dona Maria I.
O período da administração pombalina corresponde à terceira fase da empresa colonial na Amazônia (1757 a
1798), marcada pela criação do Diretório dos Índios e pela expulsão de todos os jesuítas da região em 1759. Pom-
bal era contra o domínio dos padres jesuítas sobre os índios na colônia e os acusava de praticarem comércio
ilegal e de incitarem as populações indígenas contra a Coroa Portuguesa. O poder dos jesuítas, cada vez maior,
era, portanto, um desafio ao governo. Após a sua expulsão em 1759, toda a riqueza acumulada pelos jesuítas foi
confiscada e vendida: 135 mil cabeças de gado, 1.500 cavalos, 22 fazendas, edifícios, plantações de cacau, entre
outras benfeitorias.

DIRETÓRIO DOS ÍNDIOS


Os aldeamentos formados por indígenas catequizados durante o trabalho dos missionários
nos séculos XVI e XVII passaram no século XVIII para a condição de vilas ou aldeias. Nesse período,
Marquês de Pombal retirou o caráter religioso dessas formações populacionais e buscou transformar
o índio em um trabalhador livre. Um decreto de 1755 impedia que os missionários controlassem as
aldeias indígenas. Ou seja, qualquer colonizador europeu podia ter acesso a elas.
Embora esse decreto afirmasse que os índios deveriam ter os mesmos direitos que os cidadãos
livres comuns, na prática, não foi dado a eles o direito de administrar suas próprias aldeias. Isto é,
Pombal colocou, no lugar dos missionários, colonos portugueses (diretores) para conduzir a mão
de obra indígena nessas novas vilas e aldeias.
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Em meados do século XVIII, Portugal acelerou o trabalho de povoamento e demarcação das


fronteiras para garantir a posse do território. Nesse período, a Companhia Geral do Grão-Pará e
Maranhão (1755-1778) foi estabelecida e uma nova leva de escravos negros africanos foi introduzida
na Amazônia. O objetivo era intensificar os negócios na região. Os negros eram uma alternativa
necessária para a suposta liberdade dos indígenas. Além disso, eles eram mais resistentes às doenças
e eram considerados mais trabalhadores pelos portugueses.
Os escravos africanos trabalhavam na monocultura de produtos para a exportação, geralmente
cacau, café, arroz e açúcar. Os índios, em contrapartida, cultivavam mandioca e arroz para o consumo
local. E, principalmente, estavam envolvidos nas árduas expedições anuais de coleta nas florestas.

MENDONÇA FURTADO
O irmão do Marquês de Pombal, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, governava a Capita-
nia do Grão-Pará no início do Diretório dos Índios. Em sua administração, ele decidiu dividir essa
capitania para cortar gastos e obter um maior controle do território. Dessa forma, em 3 de março
de 1755 é criada a Capitania de São José do Rio Negro (atual estado do Amazonas e parte do estado
de Roraima), instalada na cidade de Barcelos. Assim, o agora denominado Estado do Grão-Pará e
Maranhão passou a compreender quatro capitanias: a de São José do Rio Negro, a do Grão-Pará,
a do Maranhão e a do Piauí.
Mendonça Furtado, em suas estadias na região do rio Negro e Amazonas, constatou que os
colonos e o governo real ainda dependiam fortemente do trabalho indígena, e, por essa razão,
afirmou que, se aos índios fosse dado o direito de cuidar das suas próprias vilas, eles passariam a
recusar o trabalho para outros. Em um decreto de 21 de maio de 1757 declarou:
“Devendo executar as duas leis de 6 e 7 de junho de 1755, pelas quais sua Majestade foi servido mandar declarar
a liberdade de todos os índios deste Estado (…), reconhecendo eu, como quem está lidando com eles conti-
nuamente, e como quem tem vivido nas suas povoações mais de dois anos, que as piíssimas intenções de sua
Majestade ficariam frustradas, se absolutamente se entregasse a estes miseráveis e rústicos ignorantes o
governo absoluto da quantidade de povoações, que constituem este grande Estado”.
Assim, nas vilas portuguesas, durante os quarenta anos do Diretório dos Índios, a população
indígena foi fortemente empregada. Os índios trabalhavam para os diretores de suas aldeias, para
os colonos particulares e para o governo. A taxa de pagamento pelo trabalho indígena foi fixada
em 1751 e era expressa em termos de dinheiro. Contudo, os colonos e os funcionários do governo
convertiam os valores correspondentes em metragens de tecido de algodão. Além disso, os indí-
genas submetidos ao Diretório sobreviviam com uma dieta de quase fome de cerca de 8 litros de
farinha de mandioca por família para um mês.
A legislação do Diretório considerava que os índios não eram capazes de lidar com o dinheiro.
Portanto, no século XVIII, não havia moeda corrente na Amazônia. O comércio nesta época era
baseado em mercadorias e crédito. Nesse sistema (aviamento), o comerciante adiantava (entregava)
bens de consumo (geralmente roupas simples de algodão e ferramentas de trabalho) ao empregado,
e este pagava com os produtos extrativistas e agrícolas. A troca era desigual porque o comerciante
entregava esses bens com preços mais altos e recebia como pagamento produtos extrativistas e
agrícolas com preços bem abaixo do mercado. Além disso, os trabalhadores indígenas recebiam
apenas uma parcela pequena do lucro da venda dos produtos, pois antes eram pagos os interme-
diários (diretor, cabo e Estado) e o dízimo para a Igreja. Assim, a força de trabalho nos anos do
Diretório era composta por índios virtualmente escravos e negros africanos legalmente escravizados.
Além disso, o governo das capitanias concedia licenças a colonos privilegiados para impedir
que os índios trabalhassem livremente para quem desejassem. O colono que possuía essas licenças
acabava escravizando os indígenas. Eles muitas vezes fugiam do trabalho duro, dos castigos brutais
e do modo de vida europeu e, assim como os negros escravos nesta época, formavam quilombos ou
conquista e colonização 5

mucambos. Outra causa comum das fugas eram as doenças. Entretanto, os indígenas que fugiam
das doenças, às vezes já infectados, acabavam por transmiti-las aos outros membros da tribo que
moravam no interior da floresta, provocando a morte de muitos indivíduos. Alguns mucambos
situavam-se nos tributários mais ao norte do Amazonas como o rio Trombetas, na serra do Tumu-
cumaque e na vertente das Guianas.

CAPITANIA DE SÃO JOSÉ DO RIO NEGRO


Francisco Xavier de Mendonça Furtado, governador e capitão general do Grão-Pará e Maranhão,
em correspondência com Lisboa, insistia na conveniência da criação de um novo governo, no sertão
amazônico fronteiriço com os domínios da Coroa espanhola. Vários fatores justificavam o projeto:
» a distância em que se encontrava em relação aos poderes de decisões, instalados
em Belém, pois as providências ali tomadas chegavam aos confins da colônia sempre
tarde, com graves prejuízos para as partes interessadas;
» facilitar a vida política e econômica da população aqui estabelecida e, ao mesmo
tempo, favorecer a obra de civilização dos índios;
» garantir a soberania de Portugal, completamente abandonada nesta parte da Amé-
rica portuguesa, cobiçada por holandeses, espanhóis e à mercê de foras da lei que
podiam criar futuros embaraços.
Por trás desses motivos, estaria também a vontade do governador em acompanhar de perto
a ação dos missionários, principalmente dos jesuítas, que, a esse tempo, estavam cuidando da
administração dos índios e sob a suspeição de manobras perigosas contra os interesses da Coroa
portuguesa na América. Durante os trabalhos das comissões de limites, ficou bem evidenciada a
necessidade de uma medida que resolvesse esses problemas.
A Capitania de São José do Rio Negro foi criada pela Carta Régia de 03 de março de 1755,
com capital na aldeia de São José do Javari, no alto Solimões. Por isso, passou a ser mencionada
oficialmente como Capitania de São José do Javari. Porém, quando a sua sede foi implantada de
fato, na aldeia de Mariuá, no médio rio Negro, voltou a ser chamada pela denominação original:
Capitania de São José do Rio Negro. Não obstante, a instalação do novo governo só ocorreu três
anos mais tarde, por ocasião da segunda viagem de Francisco Xavier de Mendonça Furtado ao rio
Negro (1758), quando nomeou o coronel-de-infantaria Joaquim de Melo e Póvoas, para cumprir
um mandato de três anos como governador da nova unidade administrativa colonial do Estado do
Grão-Pará e Maranhão.
Depois do governo de Melo e Póvoas (1758-1560), assumiu a administração da Capitania do
Rio Negro o tenente-coronel Gabriel de Souza Filgueiras (1760-1761), que, por morte, foi substituído
interinamente pelo coronel Nuno de Ataíde Verona (1761), que entregou os destinos da Capitania
ao coronel Valério Corrêa Botelho de Andrade (1761-1763), sucedido pelo coronel Joaquim Tinoco
Valente, que permaneceu no cargo por 16 anos, até sua morte, em 1779. Tinoco Valente foi suce-
dido, sucessivamente, por oito juntas governativas até o início do governo do coronel-engenheiro
Manuel da Gama Lobo d’Almada (1788-1799), que também deixou o governo por morte.
Foi durante a administração de Melo e Póvoas que os antigos aldeamentos missionários se
tornaram vilas ou lugares, com suas denominações portugalizadas. Por exemplo: a missão de Nossa
Senhora da Conceição de Mariuá passou a ser Vila de Barcelos.

DE MARIUÁ A BARCELOS
A aldeia de Mariuá, fundada em 1728 pelo carmelita frei Matias de São Boaventura, inicialmente
povoada pelos índios Manaus, Barés e Baníuas, foi indicada em 1754 para sediar as negociações das
demarcações de limites. A partir de 1755 começou a mudar de aspecto, com a chegada do pessoal
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das demarcações: de aldeia passou a ser o Arraial do Rio Negro, o qual a partir de um planejamento
urbano, sob a responsabilidade do engenheiro alemão Felipe Sturn, foram executadas diversas
obras de infraestrutura, tais como: os aterramentos das áreas alagadiças; as construções de pontes
ligando dois bairros; arruamento e uma grande praça, onde foi construído o prédio para residência
do demarcador espanhol; o Palácio das Demarcações, local de reunião dos plenipotenciários, e a
Casa da Espera, local das cortesias entre os dois demarcadores chefes.
O seminário dos carmelitas sofreu uma remodelação para hospedar o governador Mendonça
Furtado. A igreja de N. S. da Conceição também passou por reformas, construiu-se um grande
armazém para os víveres, e fez-se casa para moradia das famílias dos membros da comissão. Edi-
ficaram-se três quartéis: um para os oficiais, um para os soldados portugueses e outro para os
soldados espanhóis; para facilitar os embarques e desembarques foi também construído no porto
um cais de madeira. Estava prevista, também, a construção de um palácio para o representante de
Portugal, mas Mendonça Furtado desistiu da ideia porque seria muito dispendioso.
Mariuá, por volta de 1757, já contava com uma população de cerca de 2.000 habitantes e
apresentava um ar de prosperidade. Foi elevada à categoria de Vila pelo próprio Mendonça Fur-
tado, por ocasião da sua segunda viagem ao rio Negro, em 1758, quando passou a ser chamada de
Barcelos. A Vila de Barcelos ficou como sede da Capitania do Rio Negro até 1791, quando o então
governador Manuel da Gama Lobo D’Almada a transferiu para a Barra do Rio Negro, a 18 km da boca
do rio Negro. Voltou a ser novamente sede em 1798, mas, em 1808, a sede da capitania mudou-se
definitivamente para a Barra do Rio Negro.
Aliás, em 1783 o general João Pereira Caldas propôs ao ministro dos Negócios Ultramarinos,
em Lisboa, a mudança da sede da Capitania, de Barcelos para a boca do rio Negro. Nessa proposta
estava incluída também a mudança da Fortaleza da Barra do Rio Negro – fundada segundo a tradi-
ção, em 1669 – para o local sugerido, pois já se tinha percebido a ineficácia, como instrumento de
defesa, desse estabelecimento militar no local onde estava edificado. A localização sugerida por João
Pereira Caldas corresponde atualmente às adjacências da Refinaria de Manaus e o porto da Ceasa.

OS TRATADOS DE LIMITES
No Norte, Portugal enfrentava tensões de limitações territoriais com a França, pois este país
constantemente enviava agentes a navegarem no Rio Amazonas. No Sul, o enfrentamento era com
a Espanha, que não concordava com a presença portuguesa na Colônia de Sacramento. Em 1681
era assinado o Tratado Provisional ou de Lisboa entre Portugal e Espanha, pelo qual os espanhóis
reconheciam as posições portuguesas no Prata. Em 1687 os espanhóis procuram reforçar suas
posições, fundando os Sete Povos das Missões, nos quais havia jesuítas espanhóis e índios guaranis,
que serviam como uma barreira humana aos portugueses.
Porém, a derrota franco-espanhola na Guerra de Sucessão do Trono Espanhol possibilitou que
portugueses estabelecessem vantagens territoriais na América. Com isso, foi assinado o Primeiro
Tratado de Utrecht (1713), no qual a França reconheceu o direito exclusivo de navegação no Rio
Amazonas e, em contrapartida, houve o reconhecimento de Portugal nas Guianas (Caiena). Em
1715, houve o Segundo Tratado de Utrecht, que a Espanha reconheceu, em definitivo, a Colônia
de Sacramento como portuguesa.
Em 1750, foi formulado o Tratado de Madri, utilizando o conceito de uti possidetis (critério da
ocupação efetiva), Portugal reivindicou parte do território ao oeste do Tratado de Tordesilhas, com
isso, a Espanha negociou o reconhecimento pela devolução da Colônia de Sacramento aos espa-
nhóis. A região de Sete Povos das Missões foi dada para Portugal, porém a forte presença de índios
guaranis armados e treinados com a conveniência de Jesuítas impossibilitaram a posse portuguesa
através das famosas Guerras Guaraníticas (1753-1756). Revoltado, em 1761, o ministro Marquês
de Pombal anulou o Tratado de Madri através do Tratado de El Pardo (voltando ao contexto dos
Tratados de Utrecht).
conquista e colonização 7

Em 1777, um novo tratado foi estabelecido, o Tratado de Santo Idelfonso. Com este tratado
houve praticamente a revalidação do Tratado de Madri. Entretanto, os espanhóis revalidaram a posse
sobre Sete Povos das Missões. Em troca, eles reconheceram a posse portuguesa sobre a margem
esquerda do Rio da Prata e devolveram a Ilha de Santa Catarina para Portugal.
Em 1801, o Tratado de Badajóz forçou a Portugal a acordar com um desvantajoso tratado
territorial que atingiu suas terras na Europa e na América. Na Europa, Portugal reconheceu a posse
espanhola pela região de Olivença. Na América cedeu parte do Amapá para França e, posteriormente,
concedeu em definitivo Sacramento para os espanhóis. Posteriormente, o avanço gaúcho sobre
Sete Povos das Missões permitiu que a região fosse incorporada oficialmente pelos portugueses.

FONTES:
www.multirio.rj.gov.br.
www.funag.gov.br.
INCORPORAÇÃO
DA AMAZÔNIA AO
ESTADO BRASILEIRO
2

INCORPORAÇÃO DA AMAZÔNIA AO ESTADO


BRASILEIRO
REVOLTAS NATIVISTAS

Durante a colonização do Brasil, muitos problemas foram se apresentando. Tais problemas


abrangiam situações, como a forma de concessão de terrenos para colonos e aventureiros que
vinham de Portugal para aqui se estabelecer, a extração de recursos naturais, como o pau-brasil, o
apresamento e o tráfico de indígenas, entre outras coisas. Essas situações acabaram promovendo
as chamadas contradições da colonização. De tais contradições, as Rebeliões Nativistas acabariam
por se tornar emblemáticas.
A expressão “Rebeliões Nativistas” refere-se às revoltas e tentativas de revoluções políticas
que se desenrolaram em solo brasileiro entre os séculos XVII e XVIII. Essas rebeliões aconteceram
nesse período, especialmente porque o sistema colonial (começado efetivamente em 1530) já estava
consolidado no Brasil, e a Corte Portuguesa já conseguia exercer sua autoridade na maior parte
do território que dominava, sobretudo naqueles que se tornaram os grandes polos de atividade
econômica: a Capitania de Pernambuco e a Capitania de Minas Gerais.
Contudo, o estabelecimento pela Coroa de regras e de exigências para os colonos, como a
cobrança de impostos sobre o que se produzia, chocava-se com as perspectivas dos próprios nativos,
que aqui passaram a seguir suas próprias regras, inclusive, em alguns momentos, articulando-se
com outros povos europeus, como os holandeses e os espanhóis. Esse choque de perspectivas
gerou situações extremas, provocando confrontos e tentativas de instituição de governos paralelos
com autonomia política.

A CABANAGEM
A província do Grão-Pará entre (1835 – 1840)
A Cabanagem, movimento que ocorreu na província do Grão-Pará, entre os anos de 1835 e
1840, pode ser vista como um prosseguimento da Guerra da Independência na região. Desde a
emancipação política, em 1822, a Província do Grão-Pará, vivia um clima agitado. Isolada do resto
do país, era a parte mais ligada a Portugal. Declarada a Independência, a Província só foi reconhe-
cê-la em agosto de 1823. A adesão ao governo de D. Pedro I foi penosa e violentamente imposta.
Administrada por juntas governativas que se apoiavam nas Cortes de Lisboa, os habitantes da
Província já estavam acostumados a ver todos os cargos públicos e recursos econômicos nas mãos
dos portugueses.
Incorporação da Amazônia ao Estado Brasileiro 3

A Independência não provocara mudanças na estrutura econômica nem modificara as péssimas


condições em que vivia a maior parte da população da região, formada por índios destribalizados ou
tapuios, índios aldeados, negros forros e escravos e mestiços. Dispersos pelo interior e nos arredores
de Belém, viviam marginalizados em condições miseráveis, amontoados em cabanas à beira dos
rios e igarapés e nas inúmeras ilhas do estuário do rio Amazonas. Essa população conhecida como
“cabanos”, era usada como mão de obra, em regime de semiescravidão, pela economia da Província,
baseada na exploração das “drogas do sertão”(cravo, pimenta, plantas medicinais, baunilha), na
extração de madeiras, e na pesca.
Desde a Guerra da Independência, quando mercenários, comandados pelo Lord Almirante
Grenfell, destituíram a Junta que governava a Província, o povo exigia a formação de um governo
popular chefiado pelo cônego João Batista Gonçalves Campos. No entanto, Grenfell, que recebera
ordens para entregar o Governo a homens da confiança do Imperador, desencadeou violenta repres-
são, fuzilando e prendendo muitas pessoas. O episódio ocorrido a bordo do brigue Palhaço, quando
cerca de 300 prisioneiros foram sufocados com cal, não conseguiu implantar a normalidade. Ao
contrário os ânimos ficaram ainda mais exaltados.
A própria Junta que assumiu o governo da Província, em agosto de 1823 confessava:
Sentimos não poder afirmar que a tranquilidade está inteiramente restabelecida porque ainda
temos a temer, principalmente a gente de cor, pois que muitos negros e mulatos foram vistos
no saque de envolta com os soldados, e os infelizes que se mataram a bordo do navio, entre
outras vozes sediciosas deram vivas ao Rei Congo, o que faz supor alguma combinação de
soldados e negros.
A situação da Província do Grão-Pará era, portanto, favorável ao surgimento de movimentos
que expressavam a luta de uma maioria de índios, mestiços e escravos, contra uma minoria branca
formada, principalmente, por comerciantes portugueses. Essa minoria concentrava-se em Belém,
cidade que na época abrigava cerca de 12 mil moradores dos quase 100 mil que habitaram o
Grão-Pará. Entre 1822 e 1835, a Província passou por momentos de intranquilidade. No interior e
na capital ocorreu uma série de levantes populares, que contaram com a adesão dos soldados da
tropa, descontentes com o baixo soldo, com o poder central e com as autoridades locais.
A Revolta dos Cabanos
A abdicação de D. Pedro I teve reflexos violentos no Grão-Pará. Sob a liderança do cônego
Batista Campos, os cabanos depuseram uma série de governantes nomeados pelo Rio de Janeiro
para a Província. Além disso, exigiam melhores condições materiais e a expulsão dos portugueses,
vistos como os responsáveis pela miséria em que viviam. Em dezembro de 1833, o Governo da
Regência Trina Permanente conseguiu retomar o controle da situação, e Bernardo Lobo de Sousa
assumiu o governo da Província.
Segundo o historiador Caio Prado Júnior, “é neste governo que propriamente se inicia a revolta
dos cabanos.” Logo após ser empossado, Lobo de Sousa iniciou uma violenta política repressiva.
Perseguiu, efetuou prisões arbitrárias e deportações em massa. No entanto, foi o recrutamento para
o Exército e a Armada imperiais, medida extremamente impopular, que precipitou uma rebelião
generalizada. O recrutamento permitiu que fossem afastados os elementos considerados “incômo-
dos” ao governo da Província. Para Domingos Antonio Raiol, contemporâneo dos acontecimentos,
a política de Lobo de Sousa conseguiu eliminar aqueles que “eram conhecidos por suas doutrinas
subversivas, que pregavam e inoculavam no seio da população e que ameaçavam a ordem pública
pela influência perigosa que exerciam entre as massas.”
As atitudes de Lobo de Sousa aumentaram a agitação e o descontentamento da população. A
revolta se alastrou pelo interior da Província. Os cabanos receberam o apoio dos irmãos Antônio e
Francisco Vinagre, lavradores do rio Itapicuru do seringueiro Eduardo Nogueira Angelim, e do jorna-
lista do Maranhão Vicente Ferreira Lavor, que, por intermédio do periódico A Sentinela, propagava
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as ideias revolucionárias. À medida que o movimento avançava, os revoltosos se dividiam: a ameaça


de radicalização fez com que muitos se retirassem, temendo a violência das massas populares,
enquanto outros, como o cônego Batista Campos, esperavam obter as reformas que defendiam na
recém-criada Assembleia Legislativa Provincial. A partir daí, a elite que liderara a revolta recuou e
os cabanos assumiram o controle.
Em janeiro de 1835, dominaram Belém, executando o governador Lobo de Sousa e outras
autoridades. O primeiro governo cabano foi entregue ao fazendeiro Félix Antonio Malcher, que,
com medo da violência das camadas mais pobres da população, entrou em choque com os outros
líderes perseguindo os elementos mais radicais. Chegou a mandar prender e deportar Angelim e
Francisco Vinagre. Além disso, manifestou a intenção de manter a Província ligada ao Império, ao
jurar fidelidade ao Imperador, afirmando que só ficaria no poder até à maioridade. Esse juramento
ia de encontro ao único ponto que unia os revoltosos: a rejeição à política centralizadora do Rio de
Janeiro, vista como preservadora dos privilégios dos portugueses. Malcher acabou sendo deposto
e executado.
Francisco Vinagre foi escolhido para o segundo governo cabano. No entanto, não foi capaz de
resolver as divergências entre os revoltosos, e foi acusado de traição por ter feito um acordo com
as tropas legalistas enviadas pelo Rio de Janeiro. Vinagre ajudou as tropas e navios sob o comando
do Almirante inglês Taylor, e prometeu entregar a presidência da Província a quem fosse indicado
pelo Governo Regencial. As forças regenciais retomaram Belém.
Os cabanos, vencidos na capital, retiraram-se para o interior. Aos poucos foram tomando
conta da Província. Profundos conhecedores da terra e dos rios, infiltraram-se nas vilas e povoados,
conseguindo a adesão das camadas mais humildes da população. Liderados por Vinagre e Ange-
lim, reforçaram suas tropas e retomaram Belém, após nove dias de lutas violentas. Com a morte
de Antônio, Eduardo Angelim foi escolhido para o terceiro governo cabano que durou dez meses.
Angelim era um cearense de apenas 21 anos que migrara para o Grão-Pará após uma grande seca
ocorrida no Ceará, em 1827.
No entanto, os cabanos, durante todo o longo período de lutas, não souberam organizar-se
com eficiência. Abalados por dissidências internas, pela indefinição de um programa de governo,
sofreram ainda uma epidemia de varíola, que assolou por longo tempo a capital.

A REPRESSÃO DA REGÊNCIA
O regente Feijó decidiu restabelecer a ordem na Província. Em abril de 1836, mandou ao
Grão-Pará uma poderosa esquadra comandada pelo brigadeiro Francisco José Soares de Andréia,
que conseguiu retomar a capital. Havia na cidade quase unicamente mulheres. No dizer de Raiol,
“a cidade despovoada apresentava por toda parte um aspecto sombrio e contristador”.
Os cabanos abandonaram outra vez Belém e retiraram-se para o interior, onde resistiram
por mais três anos. A situação da Província só foi controlada pelas tropas do Governo Central em
1840. A repressão foi violenta e brutal. Incapazes de oferecer resistência, os rebeldes foram esma-
gados. Ao findar o movimento, dos quase 100 mil habitantes do Grão-Pará, cerca de 30 mil, 30%
da população, haviam morrido em incidentes criminosos e promovidos por mercenários e pelas
tropas governamentais.
Terminava a Cabanagem que, segundo o historiador Caio Prado Júnior, “foi o mais notável
movimento popular do Brasil... o único em que as camadas mais inferiores da população conseguem
ocupar o poder de toda uma província com certa estabilidade. Apesar de sua desorientação, da
falta de continuidade que o caracteriza, fica-lhe, contudo, a glória de ter sido a primeira insurreição
popular que passou da simples agitação para uma tomada efetiva de poder”.
Incorporação da Amazônia ao Estado Brasileiro 5

REVOLTA DE BECKMAN (1684)

Encontramos como causas da Revolta de Beckman as divergências entre fazendeiros e jesuítas


quanto à escravização dos índios e a Oposição ao monopólio da Companhia de Comércio do Mara-
nhão. O desenrolar dos fatos se deram a partir de 1621, quando foi criado o Estado do Maranhão
(atuais Ceará, Piauí, Pará e Amazonas). As capitanias reais estavam diretamente subordinadas à
metrópole. No ano de 1641, os holandeses ocuparam a região do Maranhão. Com isso, a situação
da região era de pobreza, na qual a economia se baseava na agricultura de subsistência, criação de
gado, cultivo da cana, cacau e fumo (em escala modesta).
Sendo assim, faltava dinheiro para comprar escravos negros e a solução encontrada foi explo-
ração do trabalho indígena (missões). Para piorar, em 1682, foi criada a Companhia de Comércio do
Maranhão. Manuel Beckman, Tomás Beckman e Jorge Sampaio lideraram o movimento, que teve
o apoio de latifundiários, comerciantes luso-brasileiros, mascates, padres contrários aos privilégios
da Companhia de Jesus. O movimento se iniciou em 24/02/1684 e, depois, Revoltosos destituíram
as autoridades e constituíram uma junta. Com isso, organizou-se uma comissão representativa do
comércio, da lavoura e do clero. Maio de 1685, Portugal manda novo governador Gomes de Freire
de Andrade e que prendeu os revoltosos. Manuel Beckman e Jorge Sampaio são executados. Porém,
tiveram como resultado, a maioria dos objetivos alcançados.

FONTES
www.multirio.rj.com.br
www.imazon.com.br
alfaconcursos.com.br

IMPÉRIO: PROVÍNCIA DO AMAZONAS


A AMAZONIA E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
No final de 1820, emergiu na Amazônia um grupo político insatisfeito com o sistema
colonial. Almejava-se mais oportunidades econômicas para aqueles que haviam nascido na
região, especificamente aqueles que migraram para as cidades e não receberam nenhuma
educação. Esse grupo queria um governo que realmente garantisse os direitos desses cidadãos.
A classe “superior” acusava essas pessoas de serem preguiçosas. Contudo, elas eram as
únicas que trabalhavam, e nem sempre eram pagas pelo grupo dominante. Os contestadores
haviam sido influenciados pelas ideias do Iluminismo francês, circuladas no Grão-Pará a partir
de 1809 por causa do conflito entre Portugal e França em Caiena, na Guiana Francesa.
Se você já foi a Belém deve ter visitado ou pelo menos ouvido falar nas Praças Felipe
Patroni e Batista Campos. Você sabe quem foram esses personagens e por que se destacaram
na história? Felipe Patroni e Batista Campos foram os dois grandes propagandistas da
Independência do Brasil na região amazônica.
A Proclamação da Independência do Brasil ocorreu em 1822. Contudo, somente em
meados de 1823 as capitanias do Grão-Pará e Rio Negro aderiram a ela. Isso porque, em 11 de
agosto deste ano, sob as ordens de Dom Pedro I, o almirante John Grenfell chegou a Belém com
um documento exigindo a adesão do Pará. Caso os governantes negassem tornar a região
independente de Portugal, uma esquadra em Salinas estaria pronta para fechar o acesso ao
porto de Belém, isolando o Pará do restante do Brasil.
Os governantes da época renderam-se, proclamando a adesão ao restante do País. No dia
15 de agosto, depois de uma assembleia no Palácio Lauro Sodré, a adesão foi proclamada por
Dom Romualdo Coelho e oficializada com a assinatura de um documento. A partir desse
momento, a capitania do Grão-Pará foi elevada à categoria de província do Império do Brasil. A
adesão à Independência do Brasil é comemorada no Pará com um feriado no dia 15 de agosto,
conhecido como Adesão do Pará.
O Grão-Pará e o Rio Negro inicialmente resistiram à Independência porque a relação da
Amazônia com Portugal era bem mais intensa e estreita do que com as outras províncias do
Brasil. O Rio Negro submeteu-se ao Império do Brasil em 9 de novembro de 1823, mas ficou
sujeito à administração da província do Grão-Pará até 1850, quando se tornou província do
Amazonas em 5 de setembro.
No dia 16/10/1823, uma portentosa agitação, agregando mais de mil
brasileiros, sacudiu a capital do Pará. A manifestação foi engendrada por elementos
que não eram favoráveis a adesão da Província do Pará à independência do Brasil e
apregoavam a formação de um governo popular. Vale lembrar, que em janeiro de
1823, quando a adesão do Para ainda não havia ocorrido, o Cônego Batista Campos,
apoiado principalmente por comerciantes brasileiros, chefiava um grupo de
revoltosos denominado Os Patriotas.
Os integrantes do grupo se diziam liberais radicais e contavam com o apoio do
povo das vilas de Cametá, Vigia Macapá, Mazagão, Monte Alegre e Santarém.
Formaram uma junta governativa, sob o comando do Cônego Batista Campos, que
foi destituída pelo Imperador Pedro I. No dia 11 de agosto, o oficial inglês John Pascoe
Greenfel, oficial da Real Marinha Britânica a serviço do Império do Brasil, chega a
Belém e declara os portos da cidade bloqueados. Notifica, então, os integrantes da
Junta Governativa Provisória, que agiu com extremo rigor para impor a paz na região.
Garante aos portugueses que aceitarem o desligamento do Brasil de Portugal como

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ponto pacifico a preservação de seus bens. Assegura que tinha vindo para oficializar
a definitiva condição do Brasil como nação livre e manter a ordem na província.
Pressionou a Junta Governativa para que a adesão paraense acontecesse com a
máxima brevidade possível. Isso ocorreu no dia 15 de agosto.
Voltando a apreciar o acontecido no dia 16 de outubro, dizemos que John
Greenfel determinou a prisão de supostos agitadores, inclusive integrantes das tropas
do 1º, 2º e 3º Regimentos de Infantaria e do esquadrão de Cavalaria, que se haviam
amotinado. Cumprida sua ordem, os agitadores foram dominados por força das
armas. No dia 17 de outubro em frente ao Palácio do Governo, ordenou a execução
sumária de cinco elementos que ele mesmo escolhera aleatoriamente dentre os
detidos. Por meio da brutalidade, Greenfel pretendeu amedrontar os sublevados. Tão
grande era sua fúria, mandou amarrar à boca de um canhão o Cônego Batista
Campos, só não consumando seu intento de matá-lo porque membros da Junta
Provisória interferiram, ponderando que o prisioneiro fosse remetido para o Rio de
Janeiro. Entretanto, no dia 19 de outubro o religioso foi colocado em liberdade.
No dia 20 de outubro, 256 presos que estavam na cadeia pública, fazendo
tremenda algazarra, foram transferidos para bordo de um brigue denominado
Diligente, que ancorou no meio da baia de Guajará. O porão tinha aproximadamente
30 palmos de cumprimento, por 20 de largura e doze de altura. As escotilhas foram
fechadas e apenas uma fresta ficou aberta para entrada de ar. O fortíssimo calor
levou os presos ao desespero. Reivindicando a abertura das escotilhas, pois a falta
de ar os fustigava, os presos irromperam em gritos, clamando por água e formulando
ameaças à guarnição do navio e demais autoridades do Pará.
A guarnição atirou sobre eles água de má qualidade. Mesmo assim, a disputa
entre os amotinados foi feroz. Os presos brigaram, apunhalaram-se, usaram unhas
e dentes para ver que primeiro se serviria do precioso líquido. Temendo que a turba
conseguisse sair do porão do navio, os guardas dispararam suas armas para dentro
do brigue e depois lançaram sobre aquelas pobres criaturas cal virgem. Por duas
horas, os presos debateram-se em agonia. Em três horas, reinava silêncio absoluto.
Na manhã do dia 22/10/1823, quando as escotilhas foram abertas, viu-se no
fundo do porão um monte com 252 corpos, cobertos de sangue e dilacerados. Aos
poucos os cadáveres foram sendo retirados e transportados para a margem esquerda
da baia de Guajará até o local do sítio Penacova. Uma longa vala comum foi escavada
para receber os corpos. Ao ser concluída a remoção dos mortos, a guarnição do
brigue Diligente constatou que ainda agonizavam quatro elementos. Levados para o
tombadilho deram sinal de melhora, o que motivou a transferência dos mesmos para
o hospital. Três deles morreram no transcurso de 4 horas. Apenas um rapaz de 20
anos escapou da morte, mas levou uma vida de constantes sofrimentos.

A notícia da proclamação da Independência do Brasil chegou em 9 de novembro de 1823


no Lugar da Barra do Rio Negro, e foi recebida com muita esperança pelo povo, que se reuniu
no largo da Trincheira e declarou a adesão da Província do Rio Negro ao Império. A sessão
solene de juramento de fidelidade e obediência ao Imperador realizou-se às nove horas da
manhã do dia 22. Primeiro juraram os vereadores da Câmara de Serpa, que já estava instalada
na Barra do Rio Negro desde o dia 19. Depois, a junta governativa e as autoridades civis e
militares.
No dia seguinte fez-se a eleição de nova junta de governo para o Rio Negro – a Junta da
Independência –, constituída exclusivamente de cidadãos brasileiros com acentuado
sentimento nativista: Bonifácio João de Azevedo, Raimundo Barroso de Bastos, Plácido Moreira

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de Carvalho, Luís Ferreira da Cunha e João da Silva e Cunha. No dia 18 de agosto de 1823, três
dias depois da adesão do Pará à Independência do Brasil, extinguira-se o Estado do Grão-Pará
e Rio Negro e a Capitania do Grão-Pará elevaram-se a Província.
Ao aderir à Independência, a Capitania de São José do Rio Negro deveria tornar-se,
também, Província do Império. Era essa a expectativa dos amazonenses diante da nova ordem
político-institucional, mas o decreto imperial que aboliu as juntas governativas e nomeou os
presidentes provinciais excluiu o Rio Negro, marcando a primeira decepção com o Império.
A segunda decepção viria com a Constituição Política do Império do Brasil, jurada a 25 de
março de 1824. A Constituição dividiu o território do Império em “Províncias na forma em que
atualmente se acha” (art. 2º). Prevalecia o elenco de províncias referido na Instrução nº 57, de
19 de junho de 1822, vinculada ao Decreto Régio de 3 de junho de 1822, que mandou “convocar
uma Assembléa Geral Constituinte e Legislativa composta de Deputados das Provincias do
Reino do Brasil...”. O Rio Negro não fazia parte desse elenco.
No dia 6 de fevereiro de 1825, os amazonenses juraram a Constituição Política do Império,
na presença da junta governativa e da Câmara de Barcelos, em solenidade realizada na pequena
matriz de Nossa Senhora da Conceição, no largo da Trincheira. O ato cívico não superava as
nossas frustrações diante da não-inclusão da Província do Rio Negro no elenco das províncias
do Império, nem solucionava as nossas dificuldades políticas administrativas domésticas.
Em ofício de 23 de julho de 1825, o governador Pereira Burgos comunicou sua decisão ao
Governo do Império e propôs a subordinação da Comarca de São José do Rio Negro ao Pará. O
Aviso nº 233, de 8 de outubro de 1825, da Secretaria de Estado dos Negócios do Império,
referendou a dissolução da junta governativa, anulando o pouco que restava da Capitania de
São José do Rio Negro, e incorporou o seu território à jurisdição do Pará.
A Comarca, criada junto com a Capitania de São José do Rio Negro, (carta-régia de D. José
I, de 3 de março de 1755) sobrevivia ao modelo administrativo-judiciário colonial, em
incômoda posição de subordinação ao governo do Pará.

MANIFESTAÇÕES AUTONOMISTAS
O LEVANTE DE 1832
A passagem pela Barra do Rio Negro do cônego Batista Campos e de nove deputados
paraenses que estavam sendo deportados para os presídios do Crato (Manicoré, rio Madeira) e
de São José de Marabitanas (alto rio Negro) influenciaria as manifestações de revolta que logo
seriam deflagradas. Na noite de 12 de abril de 1832 o soldado Joaquim Pedro da Silva liderou
um levante no quartel da Barra, motivado pela falta de pagamento de soldo.
O comandante militar Joaquim Felippe dos Reis tentou conter a revolta e foi morto pelos
praças amotinados. Dois meses depois (22 de junho), a Barra deu o seu grito de guerra contra
a subordinação ao Grão-Pará e proclamou a Província do Rio Negro. O movimento foi articulado
pelos frades José dos Santos Inocentes, Joaquim de Santa Luzia e Inácio Guilherme da Costa,
com a participação do tenente Boaventura Ferreira Bentes e de líderes civis, entre os quais João
da Silva e Cunha, que fizera parte da Junta da Independência.
O ouvidor Manoel Bernardino de Figueiredo foi aclamado presidente provisório da
Província do Rio Negro e desfilou pelas ruas da Barra do Rio Negro sob um pálio armado pelo
povo. Foram também aclamados os cidadãos Boaventura Ferreira Bentes – comandante militar;
Henrique João Cordeiro – secretário-geral; frei Joaquim de Santa Luzia – comandante das forças
rebeldes; e frei José dos Santos Inocentes – procurador.
As vilas de Serpa e Barcelos aderiram à Província do Rio Negro, mas Borba guardou
fidelidade ao governo do Grão-Pará. Frei José dos Santos Inocentes, enviado à corte como
representante da nova Província, tentou chegar ao Rio de Janeiro pelo rio Madeira (evitou
passar pelo Grão-Pará), mas o seu caminho foi interceptado em Mato Grosso. Os amazonenses
entrincheiraram-se nas Lages e na margem oposta do rio (sítio do Bomfim). Cerca de 1000

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homens armados com 30 peças de artilharia descidas de Tabatinga enfrentaram a expedição


legalista que veio do Grão-Pará na canhoneira de guerra Independência e em mais dois navios,
sob o comando do coronel Domingos Simões da Cunha Bahiana.
Os rebeldes quase afundaram a Independência, mas foram vencidos. A Província do Rio
Negro foi sufocada. Os amazonenses não conseguiram quebrar a subordinação política ao Pará.
No dia 14 de agosto o comandante Cunha Bahiana lançou um Manifesto aos habitantes do Rio
Negro, expressando o pensamento oficial do Grão-Pará, e anunciou a nomeação do novo
comandante militar da Comarca, o capitão Hilário Pedro de Gurjão, que exercera o cargo em
1825. Voltava-se ao status quo ante, com perspectivas ainda mais sombrias. No dia 29 de
dezembro de 1832, a Regência do Império promulgaria o Código do Processo Criminal, estatuto
destinado a reger a nova ordem judiciária do Império, consubstanciando os princípios liberais
garantidos pela Constituição. A aplicação desse monumento jurídico na Província do Grão-Pará
consumaria, porém, a redução da Província do Rio Negro a simples Comarca.
No dia 25 de junho de 1833, o governo do Grão-Pará decretou a Divisão das Comarcas e
Termos da Província do Pará, com 42 artigos, implantando o Código do Processo Criminal do
Império no território sob sua jurisdição, que ficou dividido em três comarcas: a do Grão Pará, a
do Baixo Amazonas e a do Alto Amazonas. Contrariavam-se as aspirações de autonomia
legitimamente alimentadas havia tanto tempo. A Comarca do Alto Amazonas correspondia à
antiga Capitania de São José do Rio Negro, rebaixada na hierarquia jurídico-institucional e
prejudicada em sua integridade territorial (os limites estabelecidos nos tempos coloniais
estavam sendo empurrados do outeiro de Maraca-Açu para a serra de Parintins).
A mudança beneficiou, porém, o Lugar da Barra, dando-lhe a prerrogativa de sede de um
dos quatro termos da Comarca do Alto Amazonas e foros de vila. A Barra mudou de nome –
chamou-se Manaus pela primeira vez – e pôde, enfim, eleger sua câmara municipal e organizar
sua estrutura administrativa e judiciária, formada por um juiz de direito, um juiz municipal, um
juiz de órfãos, um promotor público e um comandante militar, além de um administrador da
Recebedoria da Fazenda Nacional.
As vilas de Ega Luséa e Barcelos foram elevadas a sedes dos outros três termos da
Comarca do Alto Amazonas, retomando seus nomes primitivos: Tefé, Maués e Mariuá. As vilas
de Silves (Saracá), Serpa (Itacoatiara), Borba (Araretama), Moura (Itarendaua), Thomar
(Bararoá), São Paulo de Olivença (São Paulo dos Cambebas) e São José do Javari foram
reduzidas a simples freguesias. A relação de subordinação entre os quatro termos da Comarca
do Alto Amazonas e as respectivas freguesias e povoações ficou assim definida:
• Termo de Manaus (15.775 habitantes): freguesias de Saracá, Itacoatiara e Santo
Elias do Jaú (Airão); povoações de Amatari, Jatapu e Uatumã.
• Termo de Tefé (5.865 habitantes): freguesias de São Paulo dos Cambebas (São
Paulo de Olivença), Coari, Maripi, Taracoteua (Fonte Boa), Evirateua (São
Cristóvão de Maturá), São José do Javari e Tabatinga; povoações de Parauari,
Caiçara (Alvarães), São Matias, Boa Vista e Tonantins.
• Termo de Maués (8.132 habitantes): freguesias de Tupinambarana (Parintins),
Araretama (Borba) e Canomá; povoação de Maçari.
• Termo de Mariuá (10.811 habitantes): freguesias de Itarendaua (Moura), Bararoá
(Thomar), Carmo, Aracari (Carvoeiro), Caboquena (Moreira), Santa Isabel e São
José de Marabitanas; povoações de Boa Vista, Caldas, Camanáo, Camará, Capela,
Castanheiro, Coané, Curiana, Guia, Iparana, La-malonga, Loreto, Mabé, Maracabi,
Santana, Santa Bárbara, São Felipe, São Gabriel, São Joaquim, São José, São
Marcelino, Santa Maria e São Pedro.
PROCESSO PARA CRIAÇÃO DA PROVÍNCIA DO AMAZONAS

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Depois de longos anos de lutas e de tantas esperanças frustradas, foi atendida a grande
aspiração dos amazonenses. Motivações de ordem econômica com implicações nas relações
internacionais do Império tornaram inadiável a abertura da navegação a vapor no rio
Amazonas, demonstrando a necessidade de ser instituída uma unidade política do Império no
interior da Amazônia. A lei imperial que instituiu a autonomia política do Amazonas
restabeleceu a extensão e os limites territoriais da antiga Comarca do Rio Negro, que haviam
sido mutilados com a Divisão da Comarca e Termos da Província do Pará, em 25 de junho de
1833, e assegurou à nova província o direito de constituir a sua própria Assembléia Legislativa,
com 20 deputados, e eleger um senador e um deputado ao parlamento imperial.
O presidente João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha contabilizava décadas de
projeção no cenário político regional. Fora o relator das comissões nomeadas pela Província do
Pará em 1828 e em 1837, para analisar os projetos de instituições interessadas em explorar os
serviços de navegação a vapor no rio Amazonas; e, em 1840, apresentara proposta à Assembléia
Provincial do Pará, visando à concessão de incentivos, por dez anos, à empresa que
estabelecesse os serviços de navegação a vapor no rio Amazonas e águas do Pará. No
parlamento imperial, destacara-se como um dos mais ardorosos defensores da criação da
Província do Amazonas.
FONTES
www.tjam.jus.br.
www.diariodoamapa.com.br.

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CICLO DA
BORRACHA
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CICLO DA BORRACHA�������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3
INTRODUÇÃO������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3
CONTEXTO HISTÓRICO�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3
CONSEQUÊNCIAS����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3
DECLÍNIO������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 4
CURIOSIDADES��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 5
CICLO DA BORRACHA 3

CICLO DA BORRACHA
INTRODUÇÃO
O Período da Borracha foi um momento de extrema relevância para a história socioeconômica
brasileira. O período está relacionado com a extração do látex, da seringueira e também com a
comercialização do produto, a borracha. O maior centro comercial do período foi a região amazônica
e todo o processo provocou o crescimento da colonização, atraindo riquezas, além de reformas
arquitetônicas, culturais e sociais.
Todo esse processo deu forte impulso no desenvolvimento das cidades de Belém, Manaus e
Porto Velho, capitais e maiores centros comerciais de seus respectivos estados, Pará, do Amazonas e
Rondônia, todos localizados no norte do país. Durante esse período, foi formado o Território Federal
do Acre, atual estado do Acre. A área desse estado foi obtida junto a Bolívia, através da compra
com valor de cerca de dois milhões de libras esterlinas, no ano de 1903.

CONTEXTO HISTÓRICO
O apogeu do chamado ciclo da borracha acorreu entre 1879 e 1912, tendo ainda, uma nova
etapa entre os anos de 1942 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A Revolução
Industrial e o desenvolvimento tecnológico foram os principais motivos que fizeram com que a
borracha natural, que até então era um produto exclusivo da região amazônica, se tornasse algo
mais buscado e valorizado, que gerava muitos ganhos e dividendos para seus investidores.
No início da segunda metade do século XIX, a borracha proporcionou grande atração e influên-
cia sobre aqueles empreendedores mais ousados. A extração da matéria-prima, o látex, na Amazô-
nia, se mostrou muita lucrativa, tão logo começou a ser explorada. A borracha natural logo atingiu
um patamar de destaque nas indústrias de países da europeus e norte-americanos e, com isso, o
produto ficou mais valorizado e alcançou uma boa elevação no preço.
Todo esse movimento em torno da borracha fez com que várias pessoas viessem ao Brasil,
com o intuito de conhecer a seringueira e, também, todos os métodos e processos utilizados na
extração da matéria-prima. O objetivo dessa visita era obviamente conquistar ganhos de alguma
maneira como essa riqueza local.
Com o início da extração da borracha, muitas vilas e povoados surgiram e, depois, por causa
do ciclo da borracha, se transformaram em importantes cidades. Belém do Pará e Manaus – Ama-
zonas já existiam, mas passaram por grande transformação e urbanização depois desse período
histórico. Belém e Manaus estão entre as primeiras cidades brasileiras que, ainda no fim do século
XIX, instituíram a energia elétrica na iluminação pública, gerando também, as condições para a
instalação dos bondes elétricos.

CONSEQUÊNCIAS
A exploração da borracha assegurou ganhos volumosos para a região Norte do Brasil e, a partir
desse período, se iniciou o processo de urbanização e modernização, com maior intensidade, nessa
região do país. Ocorreram momentos, em que as capitais dos Estados do Norte brasileiro foram as
mais desenvolvidas nacionalmente.
Influenciado pelos países europeus, construíram mais casas, teatros, portos, prédios públicos,
entre outras edificações. A população dos centros urbanos da região Norte teve acesso a eletrici-
dade, rede de esgoto e sistema de água encanada.
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Várias cidades foram fundadas e pequenos povoados se multiplicaram, na época do ciclo da


borracha. Enquanto cresciam, o comércio interno foi aumentando e a renda dos cidadãos foi melho-
rando gradativamente. Em conjunto com esses acontecimentos, aconteceu o fluxo migratório da
região Nordeste do Brasil, fazendo com que houvesse também um aumento rápido da população
regional, o que mudou a configuração das relações pessoais e do espaço como um todo.
O nordestino tem tido uma presença muito forte no Amazonas, em especial durante o apogeu da borracha,
principalmente por causa da mão de obra. No período da Segunda Guerra Mundial, o Nordeste passava por uma
fase difícil em relação à seca e, em decorrência disso, existia uma mão de obra muito farta, em especial os das
zonas rurais.
A migração para a chamada ‘Terra da Fartura’ foi sempre estimulada com o aval dos governos estaduais nordes-
tinos, porém com os Acordos de Washington assinados por Getúlio Vargas em 1943, esta passou a ser estimulada
e organizada pelo governo federal. O órgão responsável por este movimento migratório foi o Serviço Especial de
Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA). Calcula-se que mais de 60 mil pessoas migraram para a
região amazônica para trabalharem como Soldados da Borracha.

DECLÍNIO
Antes do início do ciclo da borracha, ocorreu algo que acabou determinando o seu futuro declí-
nio. No ano de 1877, foram roubadas e contrabandeadas para a Inglaterra mais de 70 mil sementes
de seringueira do estado do Pará, configurando um caso flagrante de biopirataria.
As sementes levadas foram plantadas na Ásia e, a partir de 1910, começaram a produzir e
dar frutos, literalmente. Com isso, os custos relacionados com a exportação brasileira tiveram uma
queda significativa. O mercado global da borracha teve a integração de empresas inglesas e holan-
desas. Essas empresas conseguiram engatar uma produção em larga escala e com preços bem mais
baixos. Na segunda década do século XX, o preço do produto despencou por causa da concorrência
e inviabilizou a exploração da borracha na Amazônia.
Com esse cenário, se estabeleceu a crise no ciclo da borracha. Esse momento histórico teve
fim e, por causa da falta de investimentos e prosperidade nessa e em outras áreas, muitas pessoas
perderam seus empregos. Com isso, as cidades ficaram vazias por causa do longo processo de
estagnação econômica.
O aviamento, termo cunhado na Amazônia, é um sistema de adiantamento de mercadorias a crédito. Come-
çou a ser usado na região na época colonial, mas foi no ciclo da borracha que se consolidou como sistema de
comercialização e se constituiu em senha de identidade da sociedade amazônica. Depois do ciclo da borracha,
o aviamento passou a ser reformulado em termos menos policiais, mas continuou sendo igualmente dominante
em todas as esferas da produção.
No sistema de aviamento, o comerciante ou aviador adianta bens de consumo e alguns instrumentos de trabalho
ao produtor, e este restitui a dívida contraída com produtos extrativos e agrícolas. É, pois, uma forma de cré-
dito – mais eficiente que o sistema financeiro formal, incapaz de chegar onde o produtor está. Mas esses dois
sistemas de crédito, o formal e o informal, não são excludentes. Ao contrário, o sistema bancário alimenta as
firmas aviadoras com créditos, de modo que o sistema informal não poderia subsistir sem a injeção creditícia do
capital financeiro.
A seringueira não foi inserida como monocultura na Amazônia, ao contrário do que ocorreu
na região sudeste da Ásia. Isso não aconteceu na Floresta Amazônica por causa de sua densidade
e pelos problemas referentes ao intemperismo químico dos solos. A produtividade brasileira era
baixa comparando com a produção asiática, perdendo assim poder de concorrência.
CICLO DA BORRACHA 5

CURIOSIDADES
No decorrer do primeiro ciclo da borracha, a região amazônica foi responsável por quase
metade de toda a exportação brasileira. O Reino Unido pagava o produto exportado com libra
esterlina. O produto da borracha é obtido através de uma simples coagulação da matéria-prima,
chamada de látex, extraído das seringueiras. No princípio do ciclo da borracha, esse produto não
tinha uma qualidade muito boa.
A partir da segunda metade do século XIX, o cientista e inventor estadunidense Charles Goo-
dyear (1800-1860) elaborou a vulcanização, um processo capaz de eliminar todas as propriedades
ruins e indesejáveis. A vulcanização foi um método criado no ano de 1839 e consiste na aplicação
de calor e pressão em uma composição de borracha. Esse método é responsável por dar forma
e propriedades para o produto final. Trata-se da modificação da borracha natural obtida por sua
combinação com o enxofre. Isso lhe atribui elasticidade, maior força e resistência a temperatura
tanto alta quanto baixa.
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MENSAGEM AO ALUNO
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FRONTEIRAS DO
BRASIL
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QUESTÃO DO ACRE
Desde a segunda metade do século XIX, alguns brasileiros, sobretudo nordestinos fustigados
por sucessivas secas em suas áreas instalam-se na bacia do rio Acre, para se dedicar à atividade
extrativista (leia-se extração do látex, matéria-prima da borracha, obtido das seringueiras,
árvores nativas do lugar). Sem conhecer ou se importar com títulos de propriedade, estes
migrantes começam a ocupar as terras, cuja maior parte pertencia à Bolívia. As fronteiras
permaneciam inexatas, apesar de estabelecidas reiteradas vezes por tratados internacionais.
Habitando em sua grande parte os altiplanos, os bolivianos não se mostravam aptos ou mesmo
interessados em tomar posse daquela isolada região de planície. Como consequência, as
incursões populacionais nessas áreas não preocupavam os países vizinhos. Este era o cenário
na região enquanto a borracha era apenas um item exótico das exportações amazônicas.

A RIQUEZA DA BORRACHA
As mudanças trazidas pela Revolução Industrial fizeram com que a região do Acre atraísse a
atenção de governos e particulares. Mais precisamente, a borracha começou a ser empregada
em larga escala na indústria, principalmente na fabricação de pneus de veículos, motocicle-
tas e bicicletas, uma prática viabilizada pelo processo de vulcanização inventado por Charles
Goodyear em 1839.

A REAÇÃO BOLIVIANA
Assim, em 1898, as autoridades bolivianas deixam de lado a indiferença em relação à ocu-
pação brasileira da fronteira. Em 1899 os bolivianos fundam Puerto Alonso, nome dado em
homenagem ao então Presidente Severo Fernandes Alonso. O governo brasileiro não se mani-
festa, buscando uma posição inerte em relação à questão. Naquele momento, predominava
o entendimento vindo do Tratado de Ayacucho, de 1867, onde Brasil e Bolívia entendiam que
o Acre era território boliviano.
A falta de reação brasileira era interpretada por seringalistas e seringueiros como a oficializa-
ção da soberania estrangeira na região, alimentando a primeira insurreição acreana. Em 1º de
maio de 1899, cerca de quinze mil brasileiros, a maioria residentes na região, sob o comando
do advogado José Carvalho e com o apoio do governo do Estado do Amazonas, levantaram-se
contra os bolivianos.

OS SERINGUEIROS SE REVOLTAM
A segunda insurreição deu-se em 14 de julho de 1899, chefiada pelo jornalista espanhol Luiz
Galvez Rodrigues de Arias. Em Puerto Alonso, já rebatizada Porto Acre, Galvez hasteia a ban-
deira acreana, proclamando a criação do Estado Independente do Acre. As autoridades federais
brasileiras, ainda buscando preservar o conteúdo do Tratado de Ayacucho, interpretam o gesto
como uma invasão territorial à Bolívia e enviam forças para desbaratar o Estado Independente.
Assim, a 15 de março de 1900, o Brasil promove a transição política, passando o controle da
região à Bolívia.
 3

BOLIVIAN SYNDICATE
Aparentemente resolvida a questão, eis que vem à tona a existência de um acordo militar entre
norte-americanos e bolivianos envolvendo a região, o que levantou preocupações do governo
brasileiro. Em 1901, a Bolívia, presidida pelo General José Manuel Pando, estava ansiosa por se
livrar dos problemas de administração das terras consideradas acreanas pelos brasileiros. Com
isso, elas foram arrendadas a um sindicato de capitalistas majoritariamente norte-americanos
e ingleses, o Bolivian Syndicate, que por trinta anos assumiria o controle total sobre a região,
incluindo a movimentação alfandegária e militar.
Para o lado brasileiro, tal acordo significava uma ameaça às soberanias tanto da Bolívia quanto
do Brasil. As tentativas diplomáticas do Brasil para conseguir a anulação do contrato provocaram
a pronta reação das autoridades governamentais em Washington e Londres. Em resposta, o
presidente Campos Sales decide fechar o rio Amazonas e seus afluentes à navegação, ignorando
os protestos dos EUA, Grã-Bretanha, França e Alemanha.

BARÃO DO RIO BRANCO


Quando a controvérsia em torno do Bolivian Syndicate se acirrou, surgiu na cena política a
figura de José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco, que havia sido convidado pelo
Presidente Rodrigues Alves a assumir a pasta do Ministério das Relações Exteriores e, de ime-
diato estudar o tema delicado. Rio Branco decidiu interpretar o Tratado de 1867 ao pé da letra,
e declarou o território do Acre litigioso com relação ao Brasil e ao Peru, com quem a Bolívia
acabara de firmar um tratado para submetê-lo à arbitragem da Argentina.
Com o real intento de forçar a Bolívia a negociar, o Barão apresentou a proposta de permuta
de territórios ou de compra do Acre pelo Brasil, que assumiria o compromisso de acertar-se
com o Bolivian Syndicate. Ambas as propostas foram rechaçadas pela Bolívia, que se fiava no
apoio norte-americano.

BRASILEIROS CONTRA BOLIVIANOS


Enquanto isso, no Acre, o gaúcho Plácido de Castro inicia um movimento armado contra a
Bolívia, pela posse da região. As tropas bolivianas são derrotadas, e é proclamada, pela ter-
ceira e última vez, o Estado Independente do Acre, o que soluciona militarmente o litígio. O
presidente boliviano, General Pando, percebendo que não poderia manter o controle sobre o
Acre, busca finalmente o entendimento diplomático. Em 21 de março de 1903, ele concordou
com a ocupação e administração brasileira na região até a conclusão dos termos do acordo
que culminaria com o Tratado de Petrópolis, assinado meses depois.

TRATADO DE PETRÓPOLIS
O Tratado de Petrópolis foi assinado a 17 de novembro de 1903 entre os governos do Brasil e da
Bolívia. É um Tratado de Permuta que resultou na entrega do território do Acre, efetivamente
ocupado pelos seringueiros brasileiros durante a corrida à borracha da floresta amazónica. Em
troca, o Brasil cedia as terras na foz do rio Abuña e na bacia do rio Paraguai. Tinha ainda de pagar
uma compensação monetária de 2 milhões de libras esterlinas. O Brasil também se comprometia
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a ceder a navegação nos rios brasileiros para chegar ao oceano Atlântico e a Bolívia adquiria o
direito de abrir alfândegas em Belém, Manaus, Corumbá e noutros pontos da fronteira.
O mesmo se passava com o Brasil em território boliviano. O estado brasileiro tinha ainda de
construir uma linha de caminho de ferro desde o porto de Santo António, no rio Madeira, até
Guarajá-Mirim, no Mamoré, com um ramal até território boliviano. Em consequência deste
tratado, os limites de fronteira com o Peru foram também redefinidos.

QUESTÃO DO PIRARA
Os britânicos reconheciam como brasileira a região dos rios formadores do rio Branco, um
deles o Pirara, bem como de outros afluentes da margem esquerda do Amazonas. Da mesma
sorte, reconhecíamos como inglesa a região drenada pelos formadores do Essequibo e do
Courantine, os rios com foz no Atlântico, não pertencentes ao Amazonas.
Robert Herman Schomburgk, geógrafo e explorador alemão, naturalizado inglês, em viagem a
serviço do governo se depara com a região do Pirara, uma região abundante em beleza natural,
habitada por indígenas, rica em metais preciosos e com o posto militar brasileiro desarmado.
O contexto interno brasileiro àquela altura era conflituoso. Era época de Cabanagem em que
o governo precisou dar maior atenção ao equilíbrio interno.
Nessa conjuntura, Schomburgk, sob a alegação de proteger as tribos que viviam na região dos
escravizadores brasileiros, conseguiu fomentar um movimento britânico apoiador da apro-
priação daquela área com a publicação de um livro – A Description of British Guiana -, bem
como com a ajuda do pastor anglicano Thomas Yond que logo se instalou no Pirara. O apelo
humanitário mobilizou a opinião pública britânica à época, já que o momento histórico inglês
era de fomento ao fim da escravidão por diversas razões que não nos caberá discutir agora.
Com esse discurso, estava claro que se estava a tratar de um conflito de fronteira. Em 1842,
os dois governos resolvem neutralizar a zona limítrofe em litígio, mas o fazem de forma pre-
judicial ao Brasil, pois se discutia não só a região do Pirara, mas também outros afluentes do
rio Branco, tais como os rios Contigo, Maú e Tacutu.
Em 1898, Lord Salisbury, então Primeiro-Ministro e Ministro das relações Exteriores britânico,
propôs uma fronteira natural que representava a metade da área discutida para cada parte
que, porém, não foi aceita pelo governo brasileiro que tinha a convicção de que possuía mais
títulos de posse que a Grã-Bretanha e, portanto, maior legitimidade sobre o território da região.
Entre 1890 e 1900, Souza Correia, então Ministro do Brasil em Londres, tenta uma última cartada,
mas não logra qualquer êxito. Para sair desse impasse, Grã-Bretanha e Brasil decidiram pela arbitra-
gem ao entregarem o caso ao então Rei da Itália, Vítor Emanuel III. O Brasil havia designado como
patrono da causa nada mais que Joaquim Nabuco que acabou por cumular a função de advogado
com o cargo de Ministro Plenipotenciário junto ao Reino Unido após a morte de Souza Correia.
A defesa de Nabuco foi um trabalho primoroso na opinião de diversos especialistas. Em sua
obra – O direito do Brasil – relativa à formação territorial brasileira ao norte do Brasil, Nabuco
explica os argumentos que embasou sua tese defensiva, quais sejam, os princípios inchoate
title (título nascente ou incompleto) e o watershed (separação das vertentes). O primeiro diz
respeito ao direito contra terceiros que o possuidor temporário tem sobre o território. O outro
princípio quer regular por extensão os direitos sobre os afluentes não ocupados daquele que
já ocupa um dos rios formadores de uma bacia hidrográfica.
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A partir desses princípios e da subsunção de fatos e títulos da ocupação portuguesa dos rios
Negro, Branco e afluentes, o Brasil demonstrou que a Inglaterra não tinha direito legítimo para
atravessar o Essequibo e se estabelecer na Amazônia.

A DECISÃO ARBITRAL
A decepcionante decisão arbitral vem à tona em 1904 quando Vítor Emanuel III dividiu o
território litígio em duas partes, dando a maior parte à Grã-Bretanha perfazendo uma faixa
territorial de 19600 km² correspondente a 60% da área discutida; a menor parte, ao Brasil que
ficou com a faixa territorial de 15500 km² correspondente a 40% da área.
Na sentença, o arbitro argumenta que nem o Brasil, nem a Grã-Bretanha conseguiram compro-
var a posse efetiva do território disputado. A partir dessas condições, resolveu fixar uma linha
arbitrária que parte do monte Roraima, junto à Venezuela, até a nascente do rio Maú, desce esse
rio até a foz no Tacutu; sobe o Tacutu até a nascente e, então, segue pelo divisor de águas das
bacias do rio Amazonas, por um lado, e dos rios Rupununi, Essequibo e Courantine, por outro.
Claramente, pela sentença, a Inglaterra ganhou mais do que havia proposto em negociações
anteriores, pois acabou levando a Guiana aos rios Tacutu e Maú, ampliando sua extensão
territorial até a valiosa bacia amazônica. A área do Pirara, origem do conflito, também foi
anexada pela Inglaterra.
A sentença arbitral foi, enfim, aceita pelo Brasil sem protestos. O mesmo não se pode dizer de
juristas de outras nações que acabaram por acusar o Reino Unido de ter influenciado a decisão
do árbitro, sob motivações imperialistas, já que era o país hegemônico da época.

A QUESTÃO DO AMAPÁ
Os problemas envolvendo a Questão do Amapá começaram ainda durante o período colonial,
no século XVIII. As fronteiras entre os domínios do rei da França (na região da Guiana) e de
Portugal foram determinadas pelo Tratado de Utrecht, assinado nos Países Baixos em 1713,
com o fim da Guerra de Sucessão Espanhola. Os franceses reabriram a questão 12 anos depois,
afirmando que o limite reconhecido por aquele acordo, o rio Oiapoque, corria mais ao sul do
que o tratado estipulava, portanto, os domínios franceses deveriam se estender na direção
do vale do rio Amazonas.
Com a Revolução Francesa, as pretensões francesas foram reforçadas e buscou-se deslocar a
fronteira dos territórios na América para o sul. Todas estas ambições que queriam legitimar a
expansão francesa foram invalidadas pelo manifesto de 1º de maio de 1808, através do qual D.
João VI, já vivendo em terras brasileiras, declarou guerra ao Império francês. Ao mesmo tempo,
as tropas portuguesas ocuparam Caiena, a capital da Guiana Francesa, que só foi devolvida à
França em 1817. Mesmo assim, os ideais franceses não foram sepultados.
Em 1835, as tropas francesas invadiram parte do atual estado do Amapá, depois que todas as
tentativas de negociação com a diplomacia imperial portuguesa foram fracassadas. Apenas
seis anos depois, em 1841, os dois governos alcançaram um acordo conhecido como “arranjo
para a neutralização do Amapá”, segundo o qual as duas nações reconheciam que o território
estava sob disputa litigiosa, ou seja, caberia à justiça internacional a definição de qual dos dois
países seria o soberano sobre a região, abrindo mão da guerra direta. Apesar da divergência,
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não houve problemas sérios na região. No entanto, a partir de 1894, foram descobertas jazi-
das de ouro na região do Rio Calçoene, levando legiões de aventureiros para o Amapá e, por
conseguinte, a insegurança e a violência chegaram ao território, fazendo com que uma solução
para o litígio fosse urgente. Após duras negociações, os dois países assinaram um tratado no
Rio de Janeiro, em 10 de abril de 1897, concordando que a questão seria submetida à decisão
do Conselho Federal Suíço.
Os direitos do Brasil couberam ao Barão do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos Junior.
Na defesa elaborada, solicitou ao juiz que fosse levado em consideração qual dos rios era o
verdadeiro Oiapoque do Tratado de Utrecht – aquele que os brasileiros apontavam ou o que
os franceses defendiam, sem que houvesse uma interpretação intermediária. Além disso, sua
defesa contava com a solicitação para averiguação sobre a linha leste-oeste. As negociações
para o arbitramento da questão do Amapá tiveram início em Paris, levando o Barão do Rio
Branco a escrever as memórias que deviam servir de defesa para o Brasil em solo francês. O
texto, contando com cinco volumes, foi entregue ao presidente da Confederação Suíça em abril
de 1899, contendo inclusive uma reedição da obra Do Oiapoque ao Amazonas, de Joaquim
Caetano da Silva. Em dezembro do mesmo ano, o Barão entregou uma segunda memória,
contando com seis volumes, contestando as razões expostas pela França. Sua defesa conju-
gava as habilidades de um advogado e as minúcias de um historiador, impressionando pela
pertinência e pela abundância de documentos.
Em 1º de dezembro de 1900, o Conselho Federal Suíço entrou aos representantes das duas
nações o resultado sobre a Questão do Amapá. Em um volume contando com mais de 800
páginas, escrito em alemão pelo conselheiro Eduardo Muller, a sentença final definia que a
solução brasileira deveria ser adotada integralmente. O presidente do Conselho, Walter Heu-
ser, definiu que o rio Oiapoque tratado nos acordos era também conhecido como rio Yapoc
ou Vicente Pinsão, e que ele deveria ser o limite entre os dois países, fazendo com que os
franceses recuassem milhares de quilômetros.
AMAZONAS
COSMOPOLITA
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A BELLE ÉPOQUE
Na Amazônia a belle époque deu-se por conta do boom provocado pela riqueza proveniente
da extração do látex (Borracha) extraído da árvore havea brasiliensis, e o período entre 1870
e 1913, foi uma época sem igual para Belém e Manaus, os centros da economia da borracha.
Após a queda do império e a implantação da república, os ideais positivistas, modernizantes
e progressistas do novo regime não demoraram a chegar a região, uma vez que com a implan-
tação do federalismo os estados ganharam autonomia para recolhimento e aplicação dos
impostos, o que possibilitou as elites locais avançarem ainda mais no seu projeto de civilização
européia em plena região amazônica.

A ECONOMIA DA BORRACHA E O SISTEMA DE AVIAMENTO


Para a consolidação do novo ciclo econômico, várias mudanças se fizeram necessárias, pri-
meiramente precisava-se de mão de obra para extrair o látex, na época abundante na floresta
amazônica, para suprir a falta de trabalhadores buscou-se no exterior e sobretudo no Nordeste
onde a população passava uma das piores secas da história. Criou-se o sistema de aviamento
que consistia na contratação de trabalhadores no nordeste e seu translado para a Amazônia,
chegando a região os mesmos eram submetidos a um sistema de escravidão, pois os mesmos
chegavam já endividados por conta das passagens e ainda pior só poderiam vender a borracha
e comprar produtos de sua necessidade no barracão do seringalista ou coronéis da borracha
(Donos de Seringais) o que obrigava os seringueiros (trabalhadores da borracha) a ficarem
eternamente em débito e presos ao seringal.
Os centros da economia da borracha eram Belém e Manaus, onde vinha toda a borracha produ-
zida nos seringais, as cidades serviam de entrepostos comerciais para compra e venda do látex,
uma vez que na época a Amazônia detinha o monopólio do produto, já que não existia havea
brasiliensis em nenhum outro lugar do mundo. Enquanto a moeda brasileira era o Réis, na Ama-
zônia a moeda da borracha era a Libra Esterlina da Grã-Bretanha, uma vez que era a moeda mais
valorizada da época e os britânicos eram os principais compradores, e na Europa a borracha era
utilizada na indústria automotiva, na fabricação de bolsas, sapatos e diversos outros produtos,
o que mostra a importância que o látex da amazônia tinha para a economia mundial.

REURBANIZAÇÃO DE BELÉM E MANAUS


O boom provocado pela riqueza advinda da extração da borracha e as custas da escraviza-
ção de milhares de seringueiros, trouxe para as principais cidades da Amazônia milhares de
imigrantes europeus e de outras regiões do Brasil, que vieram sobretudo para lucrar com o
pujante ciclo econômico, com isso a nova elite aristocrática-seringalista da região traçou um
projeto de civilização européia, importando além de produtos de luxo e a arquitetura, bem
como os costumes e tradições puramente europeus para a Amazônia. Dentro deste contexto
era necessário reurbanizar os centros da economia gomífera, e Paris serviu de modelo neste
período, um espelho de civilização de não deveria ser apenas imitado e sim copiado em todos
os seus aspectos. Criando uma certa dicotomia, pois se por um lado havia um forte dependência
econômica da Inglaterra, por outro havia uma forte ligação com a França. Dentro deste contexto
duas personalidades foram igualmente significativas para este processo de reurbanização,
Antônio Lemos em Belém e Eduardo Ribeiro em Manaus.
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BELÉM “A PARIS N’AMÉRICA”


Antônio Lemos, maranhense, implantou em Belém uma rígida administração objetivando moder-
nizar, sanear e embelezar a capital paraense, aos moldes de Paris, para isso criou um código
de postura que pretendia fazer a população adotar hábitos mais europeus, para isso construiu
grandes boulevards, arborizou ruas, construiu monumentos, implantou o primeiro sistema de
iluminação elétrica do país, construiu calçadas de mármore, praças e bosques, implantou e
expandiu o primeiro sistema de bondes elétricos do Brasil, além de estimular as construção de
palácios e palacetes em estilo neoclássico e art noveau, assim como da adoção de uma rígida
politica de cobrança de impostos e de controle dos gastos públicos, também mantinha os prin-
cipais locais públicos em constante vigilância, afim de garantir a proteção da elite seringalista.

MANAUS “A PARIS TROPICAL”


Eduardo Ribeiro, maranhense, transformou Manaus de uma vila em cidade em poucos anos,
durante sua gestão foi criado o primeiro plano diretor urbano de Manaus, além da implantação
do primeiro sistema de água e esgoto, sistema de telégrafo, bondes e iluminação elétrica, além
do Teatro Amazonas, Palácio do governo, Palácio da Justiça e o Porto Flutuante todo construído
em ferro importado da Inglaterra, durante sua gestão também houve uma austera política
de aumento da cobrança e bem como da arrecadação de impostos, durante sua gestão que
Manaus passou a ser conhecida como a “Paris dos trópicos”.

A QUEBRA DA ECONOMIA DA BORRACHA


O monopólio da borracha fazia com que os seringalistas da Amazônia cobrassem altíssimos
preços pelo produto, entretanto no início do século XX, os britânicos, maiores compradores,
passaram a traficar milhares de mudas de havea brasiliensis, para suas colônias na Malásia, uma
região tropical com um clima muito semelhante ao da região amazônica, as mudas traficadas
passaram a crescer lá, em menos tempo, e plantadas em série, coisa que era impossível de se
fazer na Amazônia a época, por conta das pragas, logo os custos e o tempo de produção era
mais baixos, a qualidade mais elevada, do que a borracha produzida na Amazônia, e os britâ-
nicos não tinham mais que pagar impostos uma vez que estavam agora produzindo borracha
em suas próprias colônias.
O ano de 1913 foi marcado pelo início da exportação da borracha produzida na Malásia e o
início da crise econômica da economia gomífera na Amazônia, que em 1912 registrou a maior
exportação da história e chegou a ser o segundo maior produto de exportação brasileira. O
rápido declínio fez desmoronar não apenas um ciclo econômico, mas uma sociedade inteira.
Sem atenção do governo federal para a crise, e sem haver como competir com o látex malasiano
os velhos e rudimentares seringais da Amazônia quebraram, e depois de décadas de absoluta
ostentação, não havia nada que os governos locais pudessem fazer, ao longo de décadas os
centros econômicos da região investiram muito mais em embelezamento das cidades ao invés
de industrias ou outras atividades econômicas, era tarde demais, a Amazônia estava quebrada,
e permaneceria em um estado de abandono pelas seis décadas seguintes.
DECADÊNCIA
DA ECONOMIA
GOMÍFERA
2

DECADÊNCIA DA ECONOMIA GOMÍFERA


A crise da borracha amazônica teve seu início nas últimas décadas do século XIX, quando foram
retiradas, da Amazônia, sementes de seringueiras que iriam constituir uma grande plantação
no continente asiático, o que acarretaria, anos mais tarde, uma desvalorização da borracha
no mercado mundial, diminuição da arrecadação de impostos nos Estados e Territórios da
Amazônia e uma desestruturação da organização espacial da produção de borracha. Contudo,
isso só ocorreria na primeira década do século XX.
Os documentos oficiais do final do século XIX, apontam nas entrelinhas uma preocupação dos
administradores do Estado do Amazonas com a única fonte de arrecadação que mantinha o
serviço público em funcionamento na cidade de Manaus. Nota-se que essa cautela não passou
de ato figurativo, pois, conforme se sabe sobre o período de 1880 a 1916, poucas ações foram,
de fato, realizadas em busca de novos meios de diversificar as finanças. Na cidade de Manaus,
ainda no século XIX, já surgiam os primeiros indícios da decadência econômica, a qual vem à
tona no início do século XX.
Observa-se que o contexto da crise se estabelece em quatro pontos bem destacados:
» o início da produção de borracha no continente asiático;
» o modo primitivo da extração do látex amazônico;
» a exportação de borracha como única via para se obter arrecadação do Estado;
» a ausência de investimentos no extrativismo da borracha.
Esses aspectos proporcionaram uma desvantagem quando se inseriu o látex mais rentável e
de maior oferta, provocando a desvalorização do produto e, consequentemente, afetando as
finanças do Amazonas. Apenas quando as arrecadações da exportação se tornaram escassas, o
poder público passou a tomar iniciativas para viabilizar outras fontes de arrecadação. Contudo
nenhum outro produto extrativista tinha tanta aceitação no mercado como a borracha devido
a sua empregabilidade na indústria naquele momento.
Esses inúmeros empecilhos acarretaram a desestruturação de uma cadeia de produção, afe-
tando diretamente os seringueiros dos Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Pará, e as
respectivas cidades amazônicas que garantiam sua manutenção urbana com capital oriundo
das exportações extrativistas.
(...) 1876, Henry Alexander Wickman largava de Belém, a bordo do navio Amazonas, no dia 29 de maio de 1876,
levando 70.000 sementes da Hevea brasiliensis, colhidas em Santarém e retiradas para o Jardim Botânico Kew
Gardens, em Londres, das quais germinaram apenas 2.397. De Kew Gardens as pequenas plantas foram expedi-
das em agosto de 1876 para o Ceilão e distribuídas para os Jardins Botânicos de Peradenya e Heneratgoda para
aclimatação. No ano seguinte procedia-se a sementeira em Cingapura e daí para Perak no norte da Península e
para os Estados Federados Malaios e Malaca em 1895.
(BENCHIMOL, 1999, p 208).

O extrativismo da borracha amazônica se caracterizava por um monopólio natural, livre de


concorrência, e era o maior fornecedor dessa matéria-prima. Esses vetores favoreciam uma
obtenção maior de lucro pela ausência de concorrência, ao vender suas mercadorias muito
acima do preço natural delas, auferindo ganhos que consistiam em uma obtenção de lucros
muito acima da sua taxa natural. Durante o período compreendido, de 1880 a 1910, o poder
DECADÊNCIA DA ECONOMIA GOMÍFERA 3

público não viabilizava a produção agrícola ou outras vias capazes de fornecerem ao Estado
receita igualável a borracha, consistindo está na única fonte de riqueza, e dependente direta
de sua exportação. Além disso, o enorme território era apontado como despovoado, isto
interferia, pois dificultava a extração.
A borracha foi a principal fonte de arrecadação de impostos, e sua queda representava uma crise
com enormes perdas para o Estado, que assim não teria recursos para continuar as inúmeras obras
de embelezamento, e, como consequência, traria o desabastecimento de gêneros alimentícios.
Além disso, provocaria mortes e deslustraria a miséria na cidade de Manaus, planejada apenas
no sentido de receber turistas e acomodar a sua população nobre e os investidores, deixando o
poder público de investir maciçamente na sua própria fonte de manutenção.
Os fatores que demonstram as diferenças na coleta da seiva no Amazonas frente às planta-
ções asiáticas podem assim ser descritos: na Amazônia, as seringueiras estavam espalhas pela
floresta; já no continente Asiático, foram plantadas em aglomerados, facilitando a colheita,
perdendo-se menos tempo para percorrer, sangrar e retirar o látex5 ; a floresta amazônica é
composta de inúmeros rios, pântanos e lagos, os quais além de serem quase intransponíveis,
constituem local de proliferação de mosquitos transmissores de doenças, como a malária;
doenças como paludismo, beri-béri e varíola eram endêmicas nos seringais em decorrência
da ausência de profilaxia e a má alimentação dos seringueiros; as distâncias entre os seringais,
que exigiam horas para chegar a determinadas localidades; na Ásia, a mão de obra era inferior
à empregada na Amazônia; a utilização, na Amazônia, de técnicas primitivas na extração do
látex, com esse contexto, torna-se dispendiosa a extração, e inviável ao mercado consumidor
devido à goma asiática ter custos menores, tornando-se mais rentável. A situação ficou mais
abalada com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, e a crise econômica se agravou mais ainda.
A crise da borracha foi um fator sustentado por inúmeros pilares, de tal maneira que o Estado não
mobilizou outra via que fornecesse lucros aos investidores e recursos aos cofres públicos. O resultado
da crise foi a ausência de investimentos na única fonte de renda, o que deu início ao descompasso
econômico, marcado pelo endividamento, queda vertiginosa nas arrecadações, o abandono nos
seringais como reflexo da situação que afetou também os seringueiros pela baixa cotação no mer-
cado mundial, esta última devido à concorrência e a oferta demasiada do produto no mercado.
Apesar de inúmeros relatos nos documentos do governo, antes de 1910 é possível observar que
os governantes estavam cientes da situação, mas continuaram optando pelo extrativismo da
borracha e não viabilizaram diversificar a economia, fazendo com que, em meados da primeira
década do século XX, a economia sofresse impactos com a diminuição no preço pago pela
tonelada de borracha e, consequentemente, o fechamento de estabelecimentos comerciais,
ligados ou não ao núcleo extrativista. Sem tomar qualquer medida para estabilizar a situação,
a crise se manteve num estado agravante até o final do governo de Jonathas Pedrosa, cujos
primeiros anos foram marcados pelo choque pelas baixas arrecadações, tendo chegado a
menos da metade do que se arrecadava, demonstrando a complexidade e a escala que chegou.
As medidas tomadas depois de 1912 podem ser caracterizadas como de caráter paliativo ape-
nas, não sendo sequer demonstrado viabilidade financeira, o que comprometeu ainda mais
o orçamento. Apesar da diminuição dos recursos do tesouro, as construções materializadas
no período áureo e aquelas construídas num ritmo mais lento durante a crise da borracha,
continuam a existir em uma fração territorial de Manaus, essas formas espaciais permanecem
e condicionam ações até o presente.
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SEGUNDO CICLO DA BORRACHA


Em um curto período, entre os anos de 1942 e 1945, houve um segundo ciclo. No contexto
da Segunda Guerra Mundial, em 1941, o governo de Getúlio Vargas realizou um acordo com
os Estados Unidos para a exploração do látex. No ano de 1942 a Malásia foi invadida pelos
japoneses, que tomaram o controle sobre todas as plantações de seringueira. Em resposta,
o Departamento de Guerra estadunidense repassou 100 milhões de dólares ao Brasil como
pagamento a artigos fundamentais para a defesa nacional, incluindo a borracha.
O Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia foi criado em 1943, para o
alistamento compulsório. Muitos nordestinos que sofriam com a seca participaram do momento
histórico que ficou conhecido como “Batalha da Borracha”, onde mais de 100 mil “Soldados
da Borracha” foram mobilizados. Contudo, ao término da guerra, a produção de borracha
sintética entrou em cena. A borracha natural da amazônia não foi páreo para o novo modo
de produção. A exploração foi enfraquecendo, até que no início dos anos 60 chegou ao fim.
Quando a 2.ª Guerra chegou ao Pacífico, o Japão – inimigo dos Estados Unidos – bloqueou os produtores asiáti-
cos de borracha a fornecerem matéria-prima aos Aliados. As autoridades norte-americanas temeram pelo pior.
Afinal, a borracha era utilizada em quase todos os armamentos e estava em falta na América do Norte.
As atenções se voltaram para a Amazônia, grande reservatório natural do látex, com cerca de 300 milhões de
seringueiras prontas para a produção de 800 mil toneladas de borracha por ano. O baixo número de seringueiros
em atividade – 35 mil – era insuficiente para atender a demanda. Esses trabalhadores produziam perto de 17 mil
toneladas por ano. Os cálculos dos EUA era de que seriam necessárias 70 mil toneladas.
A assinatura dos Acordos de Washington estabeleceu que o governo americano passaria a investir maciçamente
no financiamento da produção de borracha amazônica. Em contrapartida, caberia ao governo brasileiro o enca-
minhamento de contingentes de trabalhadores para os seringais.
REPÚBLICA NO
AMAZONAS
2

REPÚBLICA NO AMAZONAS
COMUNA DE MANAUS
A Comuna de Manaus fez parte da sequência de movimentos tenentistas ocorridos no Brasil,
entre os anos de 1920-1930. A primeira das revoltas aconteceu no Rio de Janeiro, com o nome
de Revolta dos 18 no Forte de Copacabana em 1922, no estado de São Paulo, dois anos depois
sucedeu a Revolução Paulista em 1924, e nesse mesmo ano no dia 23 de julho é promovida a
Comuna de Manaus, terceira revolta tenentista.
Liderada por tenentes e militares de baixa patente do exército, os fins de desenvolver a Comuna
de Manaus eram os mesmos das outras duas revoltas: voto secreto, reformas no ensino público,
poder político ao exército e destituição do presidente da república. Todavia, existiu um diferen-
cial nesta terceira revolta tenentista: a queda no preço da borracha. Nesse período a borracha
era o produto que movimentava a economia do estado do Amazonas, a queda no valor dessa
matéria prima teve início com o fim da Primeira Guerra Mundial. E a redução da exportação
de borracha teve impacto direto na vida dos amazonenses; desemprego e miséria eram os
agravantes dessa crise de produção.
Se não bastasse a desvalorização da borracha pelo motivo da crise mundial, em virtude do
fim da guerra, o presidente de estado César do Rego Monteiro disponibilizava empréstimos
a juros altos e aumentou os impostos. As ações praticadas por Monteiro foram a mando do
governo federal.
Diante dessa situação, surge na capital do estado do Amazonas a Comuna de Manaus, liderada
pelo tenente Alfredo Augusto Ribeiro Júnior. A primeira atitude do tenente foi tomar a sede do
governo, o Palácio Rio Negro. O governador César do Rego Monteiro estava na Europa, e seu
sucessor Turiano Meira que estava no palácio, fugiu. A revolta que iniciou na capital ganhou
adesão em regiões do interior do estado.
Ribeiro Júnior consegue isolar a cidade bloqueando as estações de Telégrafos e Telefônicas. A
revolta se estendeu por municípios do estado do Pará, Alenquer, Santarém e Óbidos. Nesse
último município os tenentistas conseguem tomar o forte. A revolta segue para o estado do
Maranhão, onde também tem apoio popular. O líder Ribeiro Júnior apreende propriedades de
empresas e fundos bancários de integrantes de oligarquias, assim o comandante da revolução
se tornou um herói para a população do norte do Brasil.
Durante os dias 23 de julho até 28 de agosto de 1924, a Comuna de Manaus conseguiu reali-
zar grandes atos para o cumprimento de suas reivindicações políticas e protesto contra ações
econômicas abusivas. Porém apesar dos feitos, a Comuna de Manaus foi reprimida por forças
federais. Diferentemente da Revolta Paulista ocorrida a poucos meses atrás onde muitos milita-
res foram mortos e feridos, na Comuna de Manaus os militares se renderam e receberam penas
brandas de prisão. O principal motivo para essa conduta do governo em julgar os rebeldes,
foi virtude que a população apoiava a revolta, podendo se unir e gerar novas revoltas futuras.
REPÚBLICA NO AMAZONAS 3

O GLEBARISMO
O Glebarismo (de gleba) foi um movimento regionalista de intelectuais e políticos do Amazonas
surgido na década de 1930 que reivindicava a retomada da liderança política e cultural para
os amazonenses natos. Com o ciclo da borracha (1866-1913), o Amazonas foi “invadido” por
pessoas de diferentes origens sociais e culturais, oriundas de várias partes do Brasil (princi-
palmente do Nordeste) e de outros países, como a Inglaterra. Todas foram, de alguma forma,
atraídas pelas oportunidades que a lucrativa extração do látex gerava então.
“Ao que parece, este era um movimento regional, de caráter federalista, articulado pelos políticos amazonenses,
que atacou a ilegitimidade constitucional do projeto de criação dos territórios federais de fronteira. O movi-
mento foi combatido pelo Alto Madeira, cuja contra ofensiva seguiu os ditames da grande imprensa nacional, por
meio de artigos “isentos”, publicando pareceres jurídicos favoráveis à medida, dando apoio incondicional às pos-
turas centralizadoras do governo federal, em relação ao desmembramento de áreas estaduais, para a formação
de territórios nas regiões de fronteira”.

Neste contingente de pessoas havia empresários, políticos, jornalistas, engenheiros, advoga-


dos e médicos, mas também trabalhadores braçais, lavradores e marinheiros. Estas pessoas
começaram a compor um grupo social, tanto na elite quanto nas classes baixas, que de certa
forma “usurpou” o espaço da sociedade amazonense nativa. O Glebarismo se dispôs a reclamar
este espaço de volta, associado às oligarquias tradicionais do estado.
O glebarismo fez oposição às intervenções federais no Amazonas, determinadas por Getúlio
Vargas, e exigia que os governadores do estado fossem sempre naturais amazonenses. Os
“glebaristas”, como eram conhecidos seus adeptos, se também opuseram à criação dos ter-
ritórios federais nas áreas de fronteira em 1943, principalmente porque o desmembramento
do Guaporé (Rondônia) e Rio Branco (Roraima) tirou do Amazonas um naco considerável de
terra e população (bem como o Amapá, do Pará).
Durante a Assembléia Constituinte de 1946, fizeram pressão para que todos os territórios cria-
dos três anos antes fossem extintos e as fronteiras voltassem à forma anterior. Isso aconteceu,
de fato, com os territórios de Ponta-Porã e Iguaçu (desmembrados de Mato Grosso e Paraná/
Santa Catarina, respectivamente), que foram reincorporados aos antigos estados. Mas os três
da Região Norte foram mantidos e viraram estados em 1988. Por seu caráter antigetulista, o
movimento se aproximou da UDN, partido que fazia oposição a Getúlio e ao trabalhismo. Um
dos principais líderes glebaristas foi o deputado federal Severiano Nunes, da UDN. Já um adver-
sário interno do glebarismo foi o interventor federal e depois governador Álvaro Maia, do PSD.

CLUBE DA MADRUGADA
O Período áureo da borracha no Amazonas chega ao fim, o ciclo de grandes negócios acaba e
por conta disso o estado entra num período de depressão econômica que irá servir de inspi-
ração para os escritores de tendências parnaso-simbolistas, modernistas, naturalistas. Então,
os escritores passam a produzir uma série de contos, romances, ensaios, crônicas a respeito
do que “restou” do Amazonas, baseados nos filões estilísticos da época, era a fase de ouro
dos novos pobres e a atmosfera local era a própria visão do inferno.
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O Clube da Madrugada tem seu início nos anos 50 inspirado na geração modernista de 45,
muito ligado à maneira de pensar regionalista, logo esse clube finca os pés em Manaus com
sua sede debaixo de uma árvore na Praça da Polícia e decide não mais fazer o êxodo, ou seja,
ninguém mais abandonaria o clube pra viver no sul do país, várias produções foram feitas a
partir dessa formação clubista. O clube chegou até a segunda geração e hoje em dia tenta
resgatar a maioria das obras produzidas no passado.
Por fim, a Literatura no Amazonas apresenta inúmeras fases, as quais sempre estão décadas
atrasadas aos movimentos e estilos em voga de cada época, pode-se dizer que a literatura local
está sempre alguns passos atrás do que se produz no momento. As personagens individuais
se destacam, mas não há uma corrente definida na região, não há um denominador comum
entre os que produzem e fazem literatura. É preciso mudar essa realidade, por isso é sempre
bom estarmos em contato com um Tenório Telles ali, Márcio Souza e Hatoum aqui, Tiago de
Melo mais ali e assim vai.
Manaus vivia um período de inércia econômica no final da década de 1940 do século XX quando um grupo de
jovens começou a se reunir em um porão na Rua Doutor Moreira. O grupo era formado por Carlos Fariasde Car-
valho, Jorge Tufic, Alencar e Silva, Luiz Bacelar, Antísthenes Pinto e Guimarães de Paula. A partir de 1951, esses
jovens começaram a viajar ao Sul do Brasil com a intenção de entrarem em contato com os meios culturais
do eixo Rio-São Paulo e para tentar estabelecer uma renovação cultural na sociedade amazonense. Em 1954,
outrogrupo de jovens com ansiedades, principalmente políticas, se reuniam em um banco da Praça Heliodoro
Balbie decidiram fundar uma associação de estudos políticos, sociais e literários, o qual deram o nome de Clube
da Madrugada, estavam presentes os jovens Saul Benchimol, Francisco Batista, Teodoro Botinelly, José Trindade,
Fernando Collyer e João Bosco Araújo, Celso Melo e Humberto Paiva, o nome escolhido pelo grupo para o clu-
beestava de acordo não só pelo adiantado da hora, como também significava o surgimento de um novo dia para
acultura do Amazonas, eles se reuniam sempre no mesmo lugar aos sábados e logo os poetas da Rua Doutor
Moreira ingressaram no clube, mais tarde, vieram Luiz Ruas, Élson Farias e Ernesto Penafort. Este trabalho teve
como objetivo averiguar o contexto histórico e artístico em que se inseria o Clube da Madrugada e sua importân-
cia para o desenvolvimento cultural em Manaus.

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