Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O ciclo natalino inicia-se na véspera do Natal, 24 de dezembro, e vai até o dia de Reis, 6
de janeiro. Para acompanhar esse período, é preciso manter a ingenuidade de uma
criancinha, a esperança de um amanhecer ensolarado, a ternura de um botão de rosas e a
leveza de uma linda borboleta no ar. A emoção do povo é revelada nos folguedos
natalinos através de sua ação dramática. Temos vários folguedos natalinos, como o
pastoril, o bumba-meu-boi, a cavalhada, a chegança, que fazem referências à Noite de
Festas e ao grande dia em que Jesus nasceu. Desses folguedos, o mais tipicamente
natalino é o pastoril religioso, que tem em sua essência a temática da visitação dos
pastores ao estábulo de Belém onde Jesus nasceu.
Mas, o que ficou na tradição foi a queima da Lapinha, no dia 6 de janeiro, pois só por
volta do século XVI, três centúrias após a criação da simbologia do presépio, teve início
a dramatização da cena da Natividade, com contos populares, danças e produção
literária anônimas, como registra Geninha da Rosa Borges. Pereira da Costa relata que
"o pastoril era, a princípio, a representação do drama hierático, o nascimento de Jesus
Cristo, o presépio dos bailados e cantos próprios. Conta a lenda que São Francisco de
Assis, querendo comemorar de maneira condigna o nascimento de Jesus, no ano de
1223, entendeu de fazer uma representação do maior acontecimento da Cristandade.
Obteve licença do Papa e fez transportar para uma gruta um boi, um jumento e uma
manjedoura, colocando o menino Jesus sobre a palha, ladeado pelas imagens de Nossa
senhora e São José.
Dentro dessa gruta, celebrou uma missa, assistida por um grande número de frades e
camponesas das redondezas. Durante o sermão, pronunciou as palavras do Evangelho:
"colocou-o num presépio, apareceu-lhe nos braços um menino todo iluminado", e a
partir daí, a representação dos presépios tornou-se comum e espalhou-se por todo o
mundo. O aparecimento do présepio em Pernambuco vem, talvez, do século VI, no
Convento Franciscano em Olinda. Mário Souto Maior comenta que, "com o passar dos
anos, o presépio, que era representação estática do nascimento de Jesus Cristo, até os
fins do século VIII, começou a ter a sua forma animada pelas pastorinhas cantando loas,
com a participação do velho, do pedegueba". Câmara Cascudo define o pastoril como
"cantos, louvações, loas, entoadas diante do presépio na noite do Natal, aguardando-se a
missa da meia-noite. Representavam a visita dos pastores ao estábulo de Belém, ofertas,
louvores, pedidos de bênção. Os grupos que cantavam vestiam-se de pastores, e ocorria
a presença de elementos para uma nota de comicidade, o velho, o vilão, o saloio, o
soldado, o marujo, etc. Os pastoris foram evoluindo para os autos, pequeninas peças de
sentido apologético, com enredo próprio divididos em episódios que tomavam a
denominação quinhentista de "jornadas" e ainda a mantêm no nordeste do Brasil..." Nas
jornadas, que eram um grande atrativo do pastoril, realçava-se o estilo dramático,
fazendo com que os partidários atirassem flores, lenços de seda e até chapéus.
O Pastoril tem como corpo principal o grupo de pastoras, subdividido em dois cordões
(azul e encarnado). A Mestra dirige o cordão encarnado, e a Contramestra, o cordão
azul. Há também o Anjo, o Pastor, o Velho - personagem cômico, originário
provavelmente do pastor -; a Diana, que é a intermediária entre os dois cordões; a
Borboleta, personagem faceira; a Jardineira, que canta e dança uma jornada em solo,
referente às atividades da jardinagem; a Libertina, que é, em algumas variantes, a
pastora tentada pelo Demônio; o Demônio ou Diabo, que vem tentar as pastoras; a
Cigana, que representa o povo cigano que vem dizer o destino, a sorte de Jesus e que "às
vezes, lê a sorte das pastoras e das pessoas da platéia, lendo a mão na tradição da buena
dicha para recolher o dinheiro.