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Revista de Empresários e Negócios

Trimestral • Edição Outubro / Novembro / Dezembro 2018 • N.º 118 • 3,5€

COMÉRCIO
O Futuro
do Setor
em Portugal

Brexit: CIP analisa impacto em Portugal

Trabalho: entre o direito e o mercado

Encontros Empresariais: Bélgica e Marrocos


EDITORIAL

Enfrentar riscos
e incertezas
ESCOLHEMOS o Comércio como tema moção do investimento, o fomento de Interviremos sempre no sentido de contra-
de capa desta edição da nossa revista. melhores condições de capitalização e riar o determinismo das projeções econó-
Os vários artigos que aqui apresentamos financiamento, a adequação do mercado micas, conscientes de que a melhor forma
dão-nos uma ideia abrangente das gran- de trabalho e a melhoria do ambiente de de prever o futuro é construindo-o, com
des tendências de fundo que estão a mol- negócios. coragem e ambição.
dar o futuro deste setor, como a digitaliza-
ção e a alteração de comportamentos das
novas gerações de consumidores, com
novas exigências e novas necessidades.
Decorrentes destas tendências, novos
desafios se apresentam às empresas,
destacando-se, como aqui afirma o Pre-
sidente do Conselho do Comércio da CIP,
a necessidade de processar e analisar a
enorme quantidade de dados que são
hoje gerados permanentemente pelos
consumidores, a adaptação das redes
logísticas, a proteção de dados pessoais
e – preocupação sempre presente na ge-
neralidade dos setores económicos – a
formação dos trabalhadores.
Nestas páginas, apresentamos também o
Plano de Atividades da CIP para 2019.
Será, como tenho já afirmado, um ano difí-
cil e particularmente rico em incertezas. Às
perspetivas de abrandamento da atividade
económica somam-se riscos externos que
pesam sobre a economia e que poderão
agravar essas mesmas perspetivas.
Estaremos atentos a esses riscos, em lar-
ga medida fora do nosso controlo, com o
objetivo de melhor os enfrentarmos, como
aliás já o demonstrámos com o estudo so-
bre os impactos potenciais do Brexit, cujas
conclusões sintetizamos nestas páginas.
Continuaremos a assumir a defesa do
crescimento económico, mantendo como
principal critério objetivo de avaliação das
políticas públicas os seus impactos na António Saraiva
produtividade e na competitividade das PRESIDENTE DA CIP
empresas e tendo como grandes eixos
estratégicos da nossa intervenção a pro-

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ÍNDICE

Diretor
António Saraiva

Diretor Adjunto
Daniel Soares de Oliveira

Conselho Editorial
Gregório Rocha Novo
Carla Sequeira
Pedro Capucho
Inês Vaz Pinto
Jaime Braga
Manuela Gameiro
Nuno Biscaya
Patrícia Gonçalves

Secretariado
Filomena Mendes

3 Editorial Administração, Propriedade e Redação


CIP – Confederação Empresarial de Portugal
Praça das Indústrias
6 Comércio 1300-307 Lisboa
- As tendências que vão determinar o futuro das empresas do Comércio em Tel.: 213 164 700
Portugal Fax: 213 579 986
E-mail: revista@cip.org.pt
- 10 números para conhecer o setor do Comércio em Portugal NIF: 500 835 934
- Entrevista a José Fortunato, Administrador da Sonae MC
- Opinião - Os Desafios do Comércio em Portugal, por Jorge Tomás Henriques N.º de registo na ERCS - 108372
Depósito Legal 0870 - 9602

16 Atualidade Estatuto Editorial


http://cip.org.pt/comunicacao/revista-cip/
- Estudo da CIP analisa impacto do Brexit na economia portuguesa
- Horizon Europe - A ciência e a inovação europeia ao serviço dos cidadãos Produção e Edição
- Conferência CES/OIT-Lisboa Trabalho: entre o Direito e o Mercado - O papel
histórico da negociação colectiva
- Encontro Empresarial Portugal-Bélgica reuniu 300 empresários na Gulbenkian
- Fórum Económico Portugal-Marrocos assinala um novo momento nas relações Bleed - Sociedade Editorial
e Organização de Eventos
comerciais dos dois países Av. das Forças Armadas 4 – 8 B
- Candidaturas para novas linhas de financiamento EEA Grants abrirão durante 1600-082 Lisboa
Tel.: 217 957 045
o ano 2019 www.bleed.pt
- CIP recebe delegação brasileira do Estado de Pernambuco info@bleed.pt
- Calendário de Ações de Internacionalização
Diretor Editorial
- CIP - Plano de Atividades 2019 Miguel Boavida
miguel.boavida@bleed.pt
34 Associados
Diretor Comercial
- Congresso APIFARMA 2018 - Medicamentos acrescentam valor a Portugal Mário Raposo
- Encontro APIGRAF 2018 - Mercado gráfico em transformação mario.raposo@bleed.pt
- Opinião - Há crescimento de mercado sem inovação? por Nuno Fernandes Gestor de Meios
Thomaz Diogo Camacho

Editor Fotográfico
42 Opinião Sérgio Saavedra
- Porto de Setúbal, por Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra
- Porto de Leixões, por APDL – Administração dos Portos do Douro, Leixões Design e Paginação
José Santos
e Viana do Castelo
- Revolução Digital e Aprendizagem - Qualificação Profissional e Crescimento Impressão
Grafisol
Económico, por Instituto do Emprego e Formação Profissional Núcleo Empresarial da Abrunheira
– Departamento de Formação Profissional Zona Poente - Pav.11 - Abrunheira
- Carreiras e trajetórias profissionais num tempo de incerteza, por Agência 2710-089 Sintra
Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional Periodicidade
- Qualificação profissional - Instrumento para o crescimento económico, Trimestral
por Vitor Dias
Tiragem
- Pessoas qualificadas para empresas competitivas, por Luísa Falcão 10.000 exemplares
- A analítica e inteligência artificial dão-nos excelentes respostas - Teremos nós
perguntas excelentes, por Ricardo Pires da Silva
- Profissionais qualificados que protegem a inovação, por Cristina Costa

39 Conjuntura Económica www.cip.org.pt

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COMÉRCIO

As tendências
que vão determinar
o futuro das empresas
do Comércio em
Portugal
A evolução tecnológica e as alterações demográficas estão a
provocar profundas mudanças nos padrões de consumo a nível
mundial e Portugal não está imune a esta transformação.
A Revista Indústria falou com diversos agentes do setor para
perceber como estão as empresas portuguesas do Comércio
a prepararem-se para o futuro

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Há 50 anos quem vivesse numa grande ci- e a comodidade fornecida pelas novas tec-
dade em Portugal não precisava de sair de nologias e valoriza fatores como a saúde e o
casa para fazer compras: o merceeiro do bem-estar.
bairro trataria de levar as compras do dia- Aliás, esta preocupação crescente com o
-a-dia a casa das pessoas, apontando num bem-estar é um claro exemplo do esforço de
caderninho o valor em dívida, que seria sal- adaptação e inovação do setor do comércio
dado pelo cliente no final da semana ou do para responder às novas necessidades dos
mês. Hoje, como há cinco décadas atrás, consumidores. “Veja-se, a título de exemplo,
os consumidores não precisam de sair de
NUM SETOR ONDE A a alimentação com recurso a suplementos
casa para terem as compras entregues em DIGITALIZAÇÃO ASSUME UMA alimentares, tão utilizada por desportistas e
sua casa. Mas o papel que antes era desem- outros públicos que perceberam que a ali-
MAIOR RELEVÂNCIA
penhado pelo merceeiro é hoje (e cada vez mentação é também um combustível que
mais) protagonizado pela tecnologia e pelo E ONDE OS PADRÕES DE deve ser doseado em função das nossas
e-commerce. CONSUMO ESTÃO EM caraterísticas e objetivos a alcançar”, afirma
Num setor onde a digitalização assume uma Ana Jacinto, Secretária-Geral da Associa-
maior relevância e onde os padrões de con- CONSTANTE MUDANÇA, ção da Hotelaria, Restauração e Similares de
sumo estão em constante mudança, o que O QUE PODERÃO FAZER AS Portugal (AHRESP). A mesma responsável
poderão fazer as mais de 200 mil empresas adianta ainda que para as empresas do setor
do setor do comércio que operam em Por-
MAIS DE 200 MIL EMPRESAS do comércio esta tendência é uma oportu-
tugal para garantir o crescimento da sua ati- DO SETOR DO COMÉRCIO QUE nidade. “Daí o sucesso das fórmulas bio e,
vidade? A resposta está na antecipação das OPERAM EM PORTUGAL PARA mais concretamente, dos alimentos biológi-
grandes tendências. cos, vegan, funcionais, dietéticos ou mesmo
Pedro Queiroz, diretor geral da Federação GARANTIR O CRESCIMENTO os produtos disruptivos e reinventados, bem
das Indústrias Portuguesas Agro-Alimen- DA SUA ATIVIDADE? como a ampliação de gamas. A inovação e
tares (FIPA), antevê grandes alterações nos a tecnologia são os motores da alimentação
padrões de consumo, com a emergência do futuro, levando sempre em conta a segu-
da nova geração de consumidores: os mil- rança alimentar e nutricional”, assegura Ana
lennials, aquela que é a primeira geração Jacinto.
“OS CONSUMIDORES
verdadeiramente digital. “A natural entrada Mas o surgimento de uma nova geração de
progressiva de novas gerações nas decisões ESTÃO HOJE EM consumidores, com padrões de consumo
de consumo, a par da evolução tecnológica, PERMANENTE MUDANÇA muito diferentes dos das gerações do pas-
estão a conduzir a novos padrões que as- sado, não é a única alteração sociodemográ-
sentam no recurso ao multicanal de forma E CADA VEZ fica, com implicações para a atividade das
complementar (grandes superfícies, comér- MAIS INTERESSADOS empresas do setor do Comércio. O presiden-
cio local e online). Os consumidores apostam te da Associação Portuguesa de Empresas
cada vez mais na conveniência e no consu-
EM EXPERIÊNCIAS de Produtos de Marca (Centromarca), Nuno
mo sustentável (…) Antecipa-se um consu- PERSONALIZADAS. AS SUAS Fernandes Thomaz, destaca ainda para ou-
midor cada vez mais experimentalista, muito tros fenómenos sociais: “Do ponto de vista
ESCOLHAS MUDAM COM UMA
vulnerável a modas, de duração cada vez demográfico e se é conhecido o impacto no
mais curta, e pouco fiel às marcas”, explica. ENORME RAPIDEZ, TEMOS consumo de millenials ou centenials, o fe-
A importância crescente do fator “experiência” QUE TER UMA ENORME nómeno mais relevante continua a prender-
é também um vetor salientado por Leonor -se com o progressivo envelhecimento da
Sottomayor, Head of Public Affairs da Sonae.
CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO população e com o peso crescente – mas
“Os consumidores estão hoje em permanente E DE RESPOSTA...” também o crescente poder de prescrição –
mudança e cada vez mais interessados em dos consumidores de maior idade. Por outro
experiências personalizadas. As suas esco- lado, é igualmente relevante o fenómeno que
lhas mudam com uma enorme rapidez, temos poderia designar como de desintegração fa-
que ter uma enorme capacidade de adapta- “O SURGIMENTO DE UMA miliar, convertendo a figura tradicional de ‘lar’
ção e de resposta. Os consumidores procu- numa outra de agregado habitacional, em
ram cada vez mais experiências únicas que NOVA GERAÇÃO DE que cada indivíduo funciona quase como um
lhes permitam personalizar produtos e servi- CONSUMIDORES (...) NÃO consumidor isolado, com escolhas específi-
ços. A aposta nesse tipo de serviços é fulcral e cas, compras específicas, produtos específi-
responde à procura”, assegura.
É A ÚNICA ALTERAÇÃO cos”, explica o responsável.
Recorde-se que 25% da população mundial SOCIODEMOGRÁFICA, COM
já é composta pela chamada Geração Y e IMPLICAÇÕES PARA A O comércio eletrónico vai
as previsões apontam para que os millen- ditar o fim das lojas físicas?
nials representem, em 2025, cerca de 75% ATIVIDADE DAS EMPRESAS E se é unânime entre todos os agentes que o
da força de trabalho a nível mundial. Trata-se DO SETOR DO COMÉRCIO” Digital é uma realidade incontornável para as
de uma geração cada vez mais preocupada empresas que operam no setor do comércio,
com as questões éticas e relacionadas com tal não significa que o futuro das lojas físicas
a sustentabilidade, que privilegia a facilidade esteja ameaçado. “Um dos erros mais co-

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COMÉRCIO

“UM DOS ERROS MAIS


COMUNS É PENSAR QUE A
LOJA FÍSICA TEM TENDÊNCIA 2019 marca a abertura
PARA DESAPARECER. PELO das primeiras lojas da
CONTRÁRIO, ASSISTIMOS AO Mercadona em Portugal
MOVIMENTO DE NEGÓCIOS
‘BORN-DIGITAL’ DE PESO A
FAZEREM O CAMINHO DE
CONJUGAREM A SUA
ATIVIDADE ESPAÇOS FÍSICOS”

muns é pensar que a loja física tem tendência


para desaparecer. Pelo contrário, assistimos
ao movimento de negócios ‘born-digital’ de
peso a fazerem o caminho de conjugarem Um dos eventos que irá marcar este novo ano e dinamizar o mer-
a sua atividade espaços físicos. A tendên- cado de retalho nacional é a abertura das primeiras lojas da Merca-
cia crescente do omnicanal pressupõe em dona em Portugal. O grupo líder no segmento de supermercados
si mesmo a junção do mundo físico com o em Espanha – com 1.620 lojas e perto de 84 mil trabalhadores
mundo digital”, assegura Leonor Sottomayor – prepara-se para abrir os primeiros supermercados no nosso país
da Sonae. no segundo semestre deste ano.
Por isso mesmo, os agentes do setor defen- Atenta às mudanças dos padrões de consumo do mundo global, a
dem que o comércio tradicional não só não Mercadona considera que “todas as empresas devem pensar em
irá desaparecer como poderá até beneficiar, como se adaptar e estar em constante comunicação com o cliente,
em determinados segmentos, à medida que em diferentes canais, seja no digital ou numa loja física, a chamada
um grande número de consumidores pro- ‘omnicalidade’”, garante Elena Aldana, Diretora de Relações Exter-
cura afastar-se dos grandes formatos e da nas da Mercadona em Portugal.
massificação excessiva da oferta. O diretor O grupo de retalho, que prevê investir 100 milhões de euros no
geral da FIPA considera mesmo que o co- arranque da operação em Portugal, explica ainda algumas das
mércio tradicional poderá assumir a liderança preferências dos consumidores do mundo moderno: “Atualmente
em áreas como a experiência personalizada o consumidor procura um serviço cada vez mais ajustado a si e
e a proximidade e trazer valor acrescentado às suas necessidades, privilegia a conveniência e a poupança de
através dos segmentos artesanal e do luxo. tempo. O aumento da venda online e a área disponível para o ‘take
Também o presidente da Centromarca des- away’ ou restauração nos supermercados são um exemplo disso
taca o esforço de modernização e adapta- mesmo. Inclusive na Mercadona abrimos este ano, uma zona de
ção do comércio tradicional aos novos há- pronto a comer, em alguns dos nossos supermercados, reagindo
bitos de consumo e aos novos grupos de deste modo a essas alterações dos padrões de consumo”, adianta
consumidores. “Parece-me que o papel do Elena Aldana.
Comércio a que chamaria “não massificado” Ainda sobre as alterações dos padrões de consumo, a Diretora de
e não tanto tradicional, será cada vez mais Relações Externas da Mercadona em Portugal adianta: “Trata-se
relevante na nova estruturação das nossas de um consumidor mais racional, que procura mais informação so-
cidades e na relação com os novos consu- bre os produtos que consome, com uma preocupação constante
midores, assente numa atitude empresarial pelo "saudável" e o cuidado do ambiente, sendo deste modo mais
distinta e na capacidade de oferecer espaços exigente e critico. Por último, o consumidor está muito mais conec-
e produtos e serviços igualmente distintivos”, tado e simpatizante das novas plataformas de venda online e com
conclui Nuno Fernandes Thomaz. Também a vasta oferta que existe neste campo, é normal que os padrões de
Leonor Sottomayor da Sonae acredita que consumo alterem de acordo com estes novos canais de compra
continuará a haver espaço para o comércio que vão emergindo no mercado”.
tradicional: “Se entendermos que o comércio As previsões da Mercadona, apontam que em 2019 a marca abra
dito “tradicional”, assenta numa relação per- entre 8 a 10 lojas em Portugal, situadas nos distritos do Porto, Bra-
sonalizada, de confiança e proximidade local, ga e Aveiro. No total, a marca prevê contar com 500 colaboradores
de conveniência, no fundo entre um negócio em Portugal.
e o seu cliente, então este comércio tende a
subsistir. No entanto, deve integrar, de forma
fluída e sem barreiras, a dimensão online to-
dos os outros canais”, conclui.

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Comércio
10 números para conhecer o setor do Comércio em Portugal
O Comércio é um dos principais setores empregadores em Portugal e um dos motores da economia nacional.
Aqui fica uma breve radiografia do setor, com base em 10 indicadores de atividade.

219,7 mil empresas 57,6%


Este é o número de empresas que, segundo Dentro do setor do Comércio, as empresas do
os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística Comércio a Retalho são as maiores empregadoras,
(INE), relativos ao final de 2016, compunham o setor abrangendo 57,6% dos trabalhadores do setor.
do Comércio nacional. Deste número, a grande
maioria (56%) são empresas em nome individual.

15,6%
+ de 80 mil Esta é a percentagem do volume de negócio gerado
pelo comércio eletrónico nas empresas de comércio
A região do Norte do país é aquela que agrega um
com 10 ou mais trabalhadores, segundo o INE.
maior número de empresas do setor do comércio:
são mais de 80 mil, o que corresponde a perto de
37% do número total de empresas. Já a Região
Autónoma dos Açores é aquela que apresenta um
número mais reduzido de empresas neste setor de
atividade (3.490 empresas).
4,73 mil milhões de euros
Segundo dados da E-commerce Foundation,
o volume de vendas realizadas através da internet
em Portugal totalizou 4,73 mil milhões de euros em
2017. Este número representa um crescimento de
127,5 mil milhões de euros 12,5% face ao ano anterior.
Volume de negócios gerado pelas empresas
do setor do Comércio em 2016, sendo que 48% deste
valor foi gerado pelas empresas do Comércio por
Grosso, seguidas pelas empresas do Comércio
a Retalho e do retalho automóvel. 3.402 UCDR
Número de estabelecimentos comerciais
classificados como unidades comerciais de
dimensão relevante (que integra as chamadas

580 mil euros grandes superfícies).

Valor médio do volume de negócios gerado


por cada empresa do setor do Comércio.

4,2 mil milhões de euros


Vendas geradas em 2016 pelos produtos de
745,7 mil funcionários marca própria vendidos nas unidades comerciais
Número de trabalhadores ao serviço das de dimensão relevante. Nesse ano, os produtos de
empresas do setor do Comércio. Este valor marca própria tiveram um peso de 48,5% nas vendas
representa, segundo o INE, cerca de 20% do do retalho não alimentar e um peso de 34% no
emprego total das empresas não financeiras. retalho alimentar.

Fonte: “Estatísticas do Comércio -2016” – INE; E-commerce Foundation

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COMÉRCIO

Quais são os grandes desafios para as


empresas do setor do Comércio em Portugal?
Quatro agentes importantes do setor dão a sua opinião sobre as tendências do futuro do
Comércio em Portugal e lançam pistas sobre como as empresas se podem preparar para as
grandes mudanças que se perspetivam na forma como os consumidores fazem as suas compras

piral descendente de preços que afetou diversas categorias de


produtos e que surge como uma ‘cauda’ da crise económica da
primeira metade da década e, finalmente, um terceiro passa pela
digitalização da economia e, ainda mais fortemente, do Comércio,
com a explosão do fenómeno do Comércio digital e da adaptação
rápida aos novos hábitos, não apenas de compra, mas também
de vivência, dos consumidores.

Nuno Fernandes Thomaz


Presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca
(Centromarca)

“O mercado nacional apresenta limitações


importantes, a começar pela estagnação ou mesmo
regressão demográfica e passando pela reduzida
recuperação do poder de compra do consumidor
nacional”

O setor do Comércio tem vindo, nos últimos dois/três anos, a


demonstrar um grande dinamismo, seja no retalho alimentar, seja Pedro Queiroz
Diretor Geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA)
no Comércio mais especializado.
No retalho alimentar e na moderna distribuição ligada a outras
áreas de atividade, multiplicou-se o número de aberturas de no- “As empresas do comércio terão de desenvolver
vos espaços, muitos deles com formatos diferenciados. No Co- novas estratégias de fidelização, personalizar as
mércio dito tradicional também o número de novas propostas não ofertas, garantir um atendimento diferenciador e
cessa de aumentar, muitas delas apostando na diferenciação de desenvolver práticas sustentáveis”
lay-outs ou de tipologias de serviço associadas.
Contudo, o mercado nacional apresenta limitações importantes, Para assegurar desde já a sua competitividade futura, o se-
a começar pela estagnação ou mesmo regressão demográfica tor do Comércio terá de procurar adaptar o seu modelo de
e passando pela reduzida recuperação do poder de compra do negócio aos novos desafios tecnológicos e aos consumidores
consumidor nacional, compensadas – até certo ponto – pelo aflu- emergentes.
xo de turistas que nos visita, seja pela via das suas compras dire- Não restam hoje muitas dúvidas de que as plataformas digitais
tas, seja pela via dos estabelecimentos (hotelaria, restauração…) são as novas montras do comércio e exigem uma interação per-
em que se alojam ou utilizam. manente. Acredita-se, no entanto, que esta presença online terá
Aquele dinamismo tem uma relação forte com a conquista desta um efeito sinérgico com as experiências em loja, pelo que a adap-
última faixa de mercado, sendo que um consumidor diferente e tação dos espaços físicos a um consumidor cada vez mais infor-
com um tipo de exigência distinto, leva a que o Comércio evolua e mado e exigente é também um desafio muito atual.
tenda a prestar um serviço de melhor qualidade, em benefício de As empresas do Comércio terão de desenvolver novas estraté-
quem nos visita, mas também dos nossos concidadãos. gias de fidelização, personalizar as ofertas, garantir um atendi-
Os grandes desafios que se colocam, hoje, ao setor do Comércio mento diferenciador, desenvolver práticas sustentáveis e nomear
no nosso país, passam pela capacidade de consolidar os inves- como principal ativo a capacidade de garantir a privacidade dos
timentos que têm sido feitos nos últimos anos, numa economia seus clientes no que respeita ao tratamento dos seus dados. In-
com uma razoável volatilidade e em que o fenómeno turístico tem ternamente, estas organizações vão encontrar grandes desafios
limitações, quer internas, quer de envolvente externa. ao nível do recrutamento, modelo laboral e formação dos seus
Um segundo desafio passa pela capacidade de ultrapassar a es- trabalhadores.

10 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
vez mais poluidores, e cada vez mais temos como desafio e obri-
gação, pensar em soluções que preservem e protejam o nosso
meio envolvente.

Ana Jacinto
Secretária-Geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal
(AHRESP)

“É a procura quem determina os grandes


desafios do setor do comércio”
Leonor Sottomayor
Head of Public Affairs da Sonae
Na minha opinião, mas também na perspetiva de quem represento,
as empresas do setor do comércio, e em particular aquelas que
se relacionam com as atividades económicas representadas pela “Manter o consumidor feliz e oferecer-lhe o maior
AHRESP, como é o caso do Alojamento Turístico, da Restauração leque de produtos e serviços, com a melhor relação
e Bebidas, e respetivas cadeias de valor, estão sujeitas, cada vez qualidade-preço, a qualquer hora e lugar – é hoje o
mais, a novos patamares de exigência por parte da procura que, desafio da distribuição moderna”
refira-se, é quem determina os grandes desafios deste setor.
Em primeiro lugar posso apontar os desafios que estão relaciona- O setor do Comércio em Portugal é globalmente muito desafiante.
dos com toda a cadeia de abastecimento, e aqui incluo não só os Do ponto de vista das condições para operar em Portugal, subsis-
produtos e as novas tendências, mas, acima de tudo, o serviço tem problemas ao nível da produtividade, que continua baixa, há
prestado, os prazos de entrega, e os ciclos de reabastecimento. uma grande instabilidade em termos legislativos, laborais e fiscais
Estes são aspetos que tendem a ser cada vez mais céleres, com para as empresas, ainda enormes encargos a nível de custos de
entregas de menor quantidade e maior variedade. Além disso, o contexto, que prejudicam a competitividade, e um défice de for-
setor do retalho, que trouxe para o grande público o conhecimento mação que persiste e que é maioritariamente combatido pelas
e o acesso a novos ingredientes alimentares, disponibilizados ao empresas.
longo de todo o ano e até mesmo os sazonais, os programas de Do ponto de vista do consumidor, a disrupção tecnológica provo-
televisão temáticos ligados à gastronomia e a própria imagem re- cou enormes alterações nos padrões de consumo e obrigou-nos
novada e valorizada da profissão de Chef, criaram a convicção que – ainda obriga – a reinventar o negócio todos os dias. Manter o
não há limites para se fazer mais e melhor. consumidor feliz e satisfeito e oferecer-lhe o maior leque de pro-
Em segundo lugar, a quarta revolução industrial, e mais especifica- dutos e serviços, com a melhor relação qualidade-preço, a qual-
mente a revolução digital, veio impor a todo o setor do comércio quer hora e em qualquer lugar – é hoje o desafio da distribuição
novos desafios que impõem um esforço de transformação digital moderna. Proporcionar uma experiência omnicanal, integrada,
que sabemos que já começou, mas que não sabemos até onde sem qualquer fricção entre a dimensão online e a dimensão física,
nos vai levar. Todos os dias surgem novos modelos de negócio, da loja, é um desafio que perpassa várias dimensões do negó-
novos formatos de comércio, serviços de entregas e encomendas cio, que abrange todas as etapas da cadeia e da experiência do
com informação em tempo real, e tudo à distância de um smar- consumidor, que deve ser minuciosamente estudada e posta em
tphone. Assiste-se hoje a uma alucinante e crescente cultura digital, prática pelo retalho.
já totalmente nativa nos consumidores com menos de 25 anos. Do ponto de vista da sustentabilidade, os fenómenos do aqueci-
Por fim, surgem os desafios inerentes à sustentabilidade ambien- mento global e da redução rápida de recursos do planeta colo-
tal, cada vez mais pertinentes. Somos, reconhecidamente, cada cam-nos uma enorme responsabilidade.

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 11
COMÉRCIO

José Fortunato, Administrador da Sonae MC

“O futuro do setor do
Comércio será muito
diferente do presente”

É impossível falar sobre a evolução do setor do Comércio em Portugal sem falar da


Sonae. O grupo, que é líder no retalho alimentar em Portugal, revolucionou a forma como
os portugueses fazem compras, com a abertura do primeiro hipermercado no país. José
Fortunato, administrador da Sonae MC – que agrega insígnias como o Continente e a
Wells – explica, em entrevista, como será o supermercado do futuro e como as empresas
do Comércio terão de adaptar-se para fazer face às exigências e necessidades dos novos
consumidores

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A Sonae veio revolucionar o setor do Co- -se ao momento de fecho da compra, com
mércio em Portugal, com a abertura do uma multiplicidade de alternativas quer nos
primeiro hipermercado. Desde então, horários de receção dos produtos quer nos
muito mudou na forma como os portu- meios de pagamento. As compras também
gueses passaram a fazer compras e a podem ser recolhidas em loja, se tal for mais
consumir. Quais são os grandes marcos conveniente.
que identifica na evolução do setor do Também as lojas mudaram. Hoje, são autên-
Comércio nas últimas décadas? ticos polos sociais e culturais, espaços que
Corria o mês de dezembro de 1985, quan- “[QUANDO ABRIMOS aliam modernidade ao tradicional, que apelam
do o Continente abriu a sua primeira loja, em O PRIMEIRO aos cinco sentidos e proporcionam experiên-
Matosinhos. A abertura do primeiro hipermer- cias de compra autênticas e cada vez mais
cado em Portugal marcou de facto o princí- HIPERMERCADO, EM confortáveis. Enfim, muita coisa mudou nos
pio de uma revolução no mercado da distri- 1985] DIARIAMENTE últimos 30 anos, mas a nossa dedicação e
buição nacional, onde até então o panorama paixão pelo retalho, permanecem inalteradas.
VENDÍAMOS MAIS DE 300
do retalho alimentar estava completamente
atomizado em pequenas mercearias de bair- APARELHOS DE VÍDEO E
ro. Pela primeira vez, em Portugal, podiam 500 BICICLETAS. AO FIM Cada vez mais a tecnologia é um “dri-
ser adquiridos no mesmo espaço todos os ver” determinante na experiência do
produtos do dia a dia necessários para as fa- DE SEMANA ERAM consumidor. De que forma a Sonae
mílias. O processo de fazer compras adquiriu VENDIDAS 36 MC tem incorporado a tecnologia nos
aqui um novo significado e transformou-se seus espaços e marcas?
num momento de lazer para os portugueses.
TONELADAS DE AÇÚCAR
Sem dúvida que a tecnologia é já um elemen-
Diariamente vendíamos mais de 300 apare- E 2000 CAIXAS DE to muito importante na experiência do con-
lhos de vídeo e 500 bicicletas. Ao fim de se- sumidor e que será cada vez mais prepon-
GARRAFAS DE MARTINI”
mana eram vendidas 36 toneladas de açúcar derante no futuro. Esta é uma realidade que
e 2000 caixas de garrafas de Martini… Hoje, nos coloca novos desafios e oportunidades,
tal seria impensável. Os padrões de consu- e que nos permite estar na vanguarda, levan-
mo e as preocupações dos consumidores do-nos ao contínuo crescimento com a cria-
alteraram-se. A sociedade evoluiu e a alimen- ção de novas e diferenciadoras ferramentas
tação mudou em Portugal. O consumidor e serviços. A aposta na vertente tecnológica
está hoje mais consciente, mais informado tem sido uma constante na Sonae MC, que,
“HOJE
e mais atento às suas escolhas. As mar- ao longo dos anos, tem desenvolvido uma
cas estão atentas a estas mudanças e têm [OS SUPERMERCADOS] gama diversificada de produtos e serviços
acompanhado com mestria as tendências e SÃO AUTÊNTICOS POLOS que resultam precisamente deste investimen-
necessidades dos clientes. to estratégico. Para o setor do retalho, facili-
A tecnologia veio também trazer aos retalhis- SOCIAIS E CULTURAIS, tar a vida dos consumidores através de apps
tas um sem fim de possibilidades. É visível ESPAÇOS QUE ALIAM multidevices representa uma obrigatorieda-
uma cada vez maior interligação do negócio de e se os operadores se quiserem manter
offline com o online. Hoje, o nosso consumi-
MODERNIDADE AO
ágeis, e, nesse contexto, a interligação do
dor pode comprar sem sair de casa, através TRADICIONAL, QUE negócio offline com o online é fundamental
do seu computador, e ter uma experiência de nos dias que correm. Como já mencionei,
APELAM AOS CINCO
navegação fluída, rica em alternativas de pro- os nossos clientes podem, por exemplo, ter
dutos e preços, tal como estava habituado SENTIDOS uma experiência de compra perfeitamente
na loja física. Pode fazer uma compra rápida, E PROPORCIONAM fluída e rápida através dos seus computa-
recorrendo às listas de compras e avançan- dores, smartphones ou tablets. Podem de-
do em poucos cliques para o momento do EXPERIÊNCIAS DE cidir investigar cuidadosamente toda a nossa
pagamento; pode aceder aos seus cupões COMPRA AUTÊNTICAS oferta, descobrindo novidades que podem
de desconto e verificar as faturas de com- estar em suas casas no espaço de algumas
E CADA VEZ MAIS
pras anteriores em qualquer parte do mun- horas, de forma absolutamente cómoda.
do, através da aplicação móvel do Cartão CONFORTÁVEIS” Com este investimento no desenvolvimento
Continente. Pode também decidir investigar de soluções e ferramentas tecnológicas, o
cuidadosamente a vasta oferta de produtos objetivo principal da Sonae MC é melhorar
e marcas, descobrindo assim novidades a experiência do consumidor e estamos, de
que podem estar em sua casa no espaço forma contínua, a analisar novas tecnologias
de algumas horas. A comodidade estende- e novas formas de o fazer. Sobre a questão

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 13
COMÉRCIO

da tecnologia, e em particular do e-commer-


ce, orgulhamo-nos de que a experiência de
compra que o Continente Online proporciona
aos seus clientes, esteja perfeitamente ao ní-
vel das best practices internacionais.
Sonae MC em Números
Temos vindo a assistir a uma cres-
cente aposta das grandes cadeias de • O grupo gere 709 lojas • Gere um total de cinco
distribuição na abertura de supermer- marcas no retalho alimentar
cados mais pequenos, junto a zonas re- • Ocupa a primeira posição no setor (onde se incluem os hipermercados
sidenciais. Esta tendência significa que do retalho alimentar Continente ou as lojas de
o modelo dos grandes hipermercados proximidade MeuSuper) e seis
• Tem perto de 30 mil marcas de formatos adjacentes
está ultrapassado? Ou continuará a ha-
colaboradores (onde se incluem a Wells; a
ver espaço para todos os formatos? Maxmat; a Note; a Go Natural,
É um facto que a aposta na abertura de su- • Perto de 88% das vendas entre outras)
permercados mais pequenos, junto das zo- da Sonae MC são feitas com
nas residenciais é uma tendência que tem a utilização do cartão de
vindo a crescer nos últimos anos. Esta é uma fidelização Continente Fonte: Sonae, dados de setembro de 2018
realidade que vai ao encontro das necessi-
dades demonstradas pelos consumidores,
que valorizam cada vez mais a conveniência de grande proximidade com os mesmos, preço, a zona onde foi plantada, as condições
e a possibilidade de realizar as suas compras serão absolutamente decisivos. E neste em de cultivo, nutrientes, calibre, calorias e até a
de forma rápida e cómoda, fazendo muitas particular, a marca Continente está muito pegada ecológica associada à sua produção.
vezes compras em menor volume, mas com bem posicionada. Os espaços serão modernos e transmitirão
maior frequência e ter um atendimento mais um cunho de Comércio tradicional que lem-
personalizado, o que não significa neces- Como será o supermercado/hiper- brará os mercados – amplos, com bancadas
sariamente que os grandes hipermercados mercado do futuro? baixas, que permitirão aos clientes ter uma vi-
estejam ultrapassados. A nossa perceção é A loja do futuro, independentemente da sua são global da loja. A tecnologia terá um papel
que continua a existir espaço para todo o tipo dimensão (supermercado ou hipermercado) fulcral na loja do futuro, que estará plenamente
de formatos, uma vez que cumprem diferen- será totalmente centrada no consumidor. preparada para uma customer journey inte-
tes propósitos e que são complementares. Servi-lo-á melhor, reduzindo os seus atuais grada e multidevice, onde todas as soluções
“desconfortos” e aumento a conveniência da desenvolvidas estarão interligadas no sentido
Como é que a Sonae MC antevê a for- experiência de compra, tornando este pro- de tornar os processos cada vez mais simples
ma como o setor do Comércio vai fun- cesso cada vez mais agradável. Esta loja será e ágeis. Além de caixas automáticas, outros
cionar daqui a 10 anos? Como é que os totalmente apelativa aos cinco sentidos, com robots irão automatizar processos como a re-
portugueses irão consumir e fazer as uma forte componente visual e olfativa, e pen- posição de alimentos, mas, sobretudo, o su-
suas compras no futuro? sada sob dois eixos fundamentais: a tecnolo- permercado do futuro será um supermercado
Não sendo fácil antecipar o funcionamento gia e a transparência para com o consumidor. verdadeiramente omnicanal e onde o cliente
do setor do Comércio a uma distância tem- Cada produto terá a informação sistematizada estará, mais do que nunca, no centro de tudo.
poral tão significativa, parece-nos, no entan- sobre o seu percurso desde a terra até à loja: o Só um supermercado que opere online e offli-
to, razoável afirmar que o futuro do setor será ne de forma totalmente integrada poderá ser-
muito diferente do presente. Tal como acon- vir o cliente no futuro.
tece atualmente, a loja do futuro relacionar-
“A LOJA
-se-á cada vez melhor com os consumido- [DO FUTURO] SERÁ Quais são os grandes objetivos da So-
res, fazendo-o de uma forma cada vez mais TOTALMENTE nae MC para a área do retalho alimen-
transparente e honesta. Acreditamos que o tar para 2019?
e-commerce estará muito mais desenvolvido APELATIVA AOS CINCO Para 2019, o grande objetivo da Sonae MC
e que as plataformas multidevices e a auto- SENTIDOS, COM para a área do retalho alimentar passa por con-
mação terão um peso muito considerável no tinuar a consolidar a estratégia de proximidade
que diz respeito à experiência de compra, e
UMA FORTE física e emocional com os clientes. Queremos
o leque de experiências e opções de com- COMPONENTE consolidar a posição de liderança e alargar a
pra será mais diversificado. É provável que presença no retalho de proximidade. Há uma
VISUAL E OLFATIVA
em 2028 já tenhamos atingido um estado estratégia ambiciosa de expansão que contri-
de maturidade no que diz respeito à comple- E PENSADA SOB DOIS bui para a criação de novos postos de trabalho.
mentaridade entre o mundo físico e digital, EIXOS FUNDAMENTAIS: É também nosso objetivo continuar focados
e em que os processos de compra sejam na área de Health & Wellness, onde temos
completamente personalizados, one to one, A TECNOLOGIA vindo a apostar muito nos últimos tempos,
conforme as preferências de cada consumi- E A TRANSPARÊNCIA através do aumento da área Bio & Saudável
dor. Acreditamos que, tal como no passado, em loja, do aumento de gamas e referências
o conhecimento profundo das necessidades
PARA COM dedicadas e também na aquisição de forma-
dos clientes e a capacidade de uma relação O CONSUMIDOR” tos especializados.

14 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
OPINIÃO

Os Desafios do Comércio
em Portugal
Por Jorge Tomás Henriques
Presidente do Conselho do Comércio da CIP


Não terá sido certamente ao acaso que
aquela que é hoje uma das maiores praças
da Europa seja conhecida como Praça do
Comércio. Situada na capital à beira-mar “O COMÉRCIO
plantada, por ela terão passado milhares
de mercadores e nas ruas hierarquizadas GLOBAL ESTÁ TAMBÉM
da baixa pombalina instalaram-se ofícios e CADA VEZ MAIS
vários estabelecimentos comerciais. A his-
DEMOCRATIZADO POIS
tória da “primeira aldeia global” confunde-se (pCommerce) onde os clientes podem per-
com os descobrimentos e o pioneirismo no PERMITE, DE FORMA sonalizar o seu próprio produto em montras
comércio marítimo internacional. CRESCENTE, QUE globais, como o Pinterest, ou plataformas
A atividade comercial ganhou ao longo dos de venda efetiva, como a Wish, das quais
séculos o seu espaço nas cidades, vilas e AQUELES QUE ERAM começa a ser difícil ficar de fora. Nesta pers-
aldeias, encerrando em muitos casos um ATÉ AGORA APENAS petiva, o comércio global está também cada
verdadeiro espólio cultural. Podemos dizer vez mais democratizado pois permite, de
que durante séculos, por necessidade ou
CONSUMIDORES forma crescente, que aqueles que eram até
simples curiosidade, quer as populações lo- PASSEM PARA A agora apenas consumidores passem para a
cais quer os seus visitantes têm procurado posição de vendedores, sendo disso exem-
POSIÇÃO DE
diariamente as zonas comerciais. plo o eBay e o OLX.
Chegados ao século XXI, quanto mais avan- VENDEDORES, SENDO A hiperconectividade é outro elemento que
çamos no tempo mais nos apercebemos da DISSO EXEMPLO O EBAY promete transformar profundamente o con-
velocidade a que as mudanças ocorrem e ceito atual de comércio, deixando de haver
o comércio não é exceção. Vários desafios E O OLX” apenas um momento de compra e passan-


batem à porta! O futuro do comércio está a do a haver uma ligação cada vez mais per-
ser conduzido por um consumidor cada vez manente entre os dispositivos adquiridos e
mais focado e dependente da tecnologia, as atualizações dos fabricantes.
que quer conveniência e personalização, Daqui resulta que o principal desafio do co-
que já não se limita em ir aos espaços co- quantidade de dados e perfis de consumi- mércio passa atualmente pela capacidade
merciais – querendo ter todas a montras na dores e estes querem progressivamente ser de processar e analisar dados que são hoje
palma da mão – e que é hoje influenciado alvo de ofertas personalizadas e alinhadas gerados permanentemente pelos consumi-
em tempo real. A forma como os produtos com os seus interesses. Assiste-se a uma dores e que serão os maiores ativos das
trocam de mãos está a mudar! rápida evolução do comércio eletrónico marcas nesta nova “batalha” digital. Mas
As compras eletrónicas começam, em vá- (eCommerce) - onde os consumidores não só! As redes logísticas, em particular no
rias categorias, a ultrapassar as compras usam as plataformas digitais para dar as que toca à eficiência do picking e dos tem-
físicas e perfila-se um cenário futuro em que suas ordens de compra – para o comércio pos de entrega, a formação dos trabalha-
as ordens de compra serão dadas cada social (sCommerce), onde as marcas usam dores e a proteção de dados pessoais, são
vez mais por dispositivos eletrónicos, tais as redes sociais para conhecer os hábitos e pilares importantes da adaptação ao futuro.
como os dash buttons, ou eletrodomésticos preferências de cada consumidor e lhe fazer Mas significará tudo isto o fim do comércio
adaptados à internet das coisas, tais como chegar as propostas de compra mais desa- físico? Tudo indica que não. Os espaços físi-
os já reais frigoríficos inteligentes. As mais fiantes. cos vão continuar vivos, mas forçosamente
recentes evoluções tecnológicas são certa- Estamos hoje perante um comércio conver- diferentes. Serão locais de experiência, de
mente apenas o começo de um mundo e sacional que está a evoluir para plataformas atendimento diferenciado, com consumi-
gerações de consumidores cada vez mais de realidade virtual e aumentada e para ti- dores ligados em tempo real, mas com a
digitalizados. pologias mais evoluídas como o comércio experiência ainda hoje única do contacto
O comércio enfrenta assim um conjunto de contextual, o comércio de voz e o comércio físico com o produto. As “praças do comér-
desafios aos quais Portugal não fugirá nem cognitivo. cio” continuarão a existir e a proporcionar
poderá ficar para trás. As empresas do se- Outro desafio muito atual é a proliferação experiências únicas, serão é cada vez mais
tor lidarão, cada vez mais, com uma enorme das plataformas participativas de comércio digitais e globais!

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 15
ATUALIDADE

Estudo da CIP analisa impacto


do Brexit na economia portuguesa

O estudo “Brexit: As Consequências para a Economia e para as Empresas Portuguesas”


conclui que no cenário mais otimista, o Brexit terá um efeito negativo de 15% nas exportações
portuguesas para o Reino Unido. As perdas potenciais poderão, no entanto, chegar aos 26%,
num cenário mais negativo, em que não exista qualquer acordo entre o Reino Unido e a União
Europeia. No total, é estimado um impacto negativo entre 0,5% e 1% no PIB nacional

“O QUE AQUI NOS TRAZ é a necessida- construção de cenários simples capazes de jogo “loose/loose”) conduzindo a aumen-
de nos prepararmos para um processo que identificar as grandes linhas de um novo re- to significativo do nível de incerteza.
sabemos ter consequências económicas lacionamento RU-UE no quadro mais geral A exposição aos desafios do Brexit é, por seu
negativas para todos.” Foi assim que Antó- da reorientação da própria construção eu- lado, muito assimétrica quando se compa-
nio Saraiva, Presidente da CIP, iniciou a sua ropeia e, também, do reequilíbrio de poder ra o Reino Unido com a UE27. A UE27 repre-
intervenção na sessão de apresentação do e funções entre o mundo desenvolvido e o senta, com efeito, mais de metade das im-
estudo da CIP “Brexit: As consequências mundo emergente. portações do RU (cerca de 53%) e um pouco
para a economia e as empresas portugue- O Brexit configura um processo de des- menos de metade das suas exportações
sas”, que teve lugar no passado dia 31 de construção de uma longa e profunda (cerca de 45%), enquanto o Reino Unido ape-
outubro, e que contou com a presença do integração económica com dificuldades nas representa cerca de 3% (0,5%) e 2,2%
Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augus- processuais relevantes, dada a inexistência (0,6%), respetivamente, das exportações e
to Santos Silva, na sessão de encerramento. de experiências similares, e com consequên- das importações de bens (serviços) da UE27.
O estudo, promovido pela CIP e realizado cias que podem ser mal avaliadas, dado o A atividade económica diretamente em risco,
pelos especialistas da Ernst & Young – Au- desconhecimento da dimensão efetiva de medida pelo PIB associado às exportações,
gusto Mateus & Associados, constitui um muitos dos mecanismos de transmissão dos é quatro vezes superior no RU (12%) face à
instrumento relevante para as empresas, seus efeitos económicos e sociais. UE27 (3%), com especial destaque para as
sobretudo as que operam no mercado bri- Desde que foi colocada a hipótese de saída atividades de serviços que são responsáveis
tânico. São identificados tipos de riscos e do Reino Unido da União Europeia diversos por um pouco mais de 40% das exportações
oportunidades por setor de atividade permi- estudos foram realizados, quer sobre os ce- do Reino Unido para os seus parceiros atuais
tindo classificá-los numa escala segundo o nários de relacionamento com a UE que po- da União Europeia.
nível de risco, proporcionando às empresas deriam vir a colocar-se no pós-Brexit, quer A CIP - Confederação Empresarial de
um melhor conhecimento prospetivo das sobre a própria dimensão potencial dos Portugal entendeu promover a realização
realidades que este novo enquadramento efeitos decorrentes do Brexit em cada um de um estudo sobre as consequências
económico irá determinar. desses cenários. económicas do Brexit, que melhore a sua
Transcreve-se seguidamente o Sumário O Brexit será sempre, no curto-médio pra- capacitação e dos seus associados na
Executivo deste estudo. zo, um processo de perdas assimétricas preparação das melhores respostas
Estudar as consequências do Brexit exige a para o Reino Unido e para a UE (um aos desafios decorrentes do Brexit.

16 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
A generalidade dos estudos efetuados coloca e a UE encerra um risco forte para as ex- mercado Europeu para os substituir nes-
Portugal na segunda linha de países po- portações de bens e serviços portuguesas, se mercado compensando assim parte dos
tencialmente mais afetados pelo Brexit: que pode resultar em reduções potenciais riscos que enfrentam no mercado britânico.
• Quer pela sua exposição ao Reino Uni- das exportações para o RU entre cerca de • Para outros produtos que dos resultados
do, na medida em que é um dos países 15% e 26%, dependendo do tipo de rela- conjugados das diversas análises resultam
para quem o mercado do Reino Unido tem cionamento comercial futuro que vier a ser como enfrentando risco elevado ou médio
maior relevância, estabelecido. alto é também importante destacar que os
• Quer por ser um dos mais afetados A generalidade dos produtos que enfrenta mesmos gozam de uma proteção decorrente
pela incerteza gerada pelo processo um risco médio alto e elevado de sensibili- da presença histórica que pode mitigar
(considera-se que a incerteza causada dade aos impactos do Brexit são produtos os efeitos. Estão neste caso o Mobiliário,
pelo Brexit terá maior impacto em econo- para os quais o efeito do novo quadro de as Máquinas e equipamentos, os Artigos de
mias com um maior gap negativo entre o relacionamento do Reino Unido com as di- borracha e de matérias plásticas e os Metais
seu output real e potencial, encontrando-se versas economias se pode traduzir na capa- de base. Esses produtos poderão explorar
nesta situação Portugal) cidade de outros países fora da UE ga- oportunidades associadas a novas formas
• Quer ainda por ser um dos países poten- nharem quotas de mercado em termos de segmentação e espacialização das ca-
cialmente mais afetados pela diminuição relativos no Reino Unido em detrimento deias de abastecimento e de valor que resul-
das contribuições do Reino Unido para das exportações portuguesas. tarão da reconfiguração do mercado interno
o orçamento da UE. • Confrontando a análise dos riscos com as europeu bem como do aprofundamento da
As análises efetuadas enquadram-se numa oportunidades é interessante verificar que, globalização para reforçar a sua presença no
lógica de avaliação de risco, mas também para dois dos produtos que enfrentam ní- Reino Unido ou no resto da UE27.
de oportunidades de que Portugal poderá veis de risco alto ou médio alto existem, no Os efeitos do Brexit podem ser influencia-
beneficiar. entanto, oportunidades que podem permitir dos por diversos fatores, entre os quais se
As duas linhas fundamentais de avaliação compensar os referidos níveis de risco. Es- podem referir:
dos impactos do Brexit incidem sobre: tão nesta situação os Veículos automóveis A. Os laços históricos existentes entre os
• A análise dos efeitos sobre a economia por- e os Produtos farmacêuticos que podem dois países,
tuguesa dos potenciais impactos do Brexit beneficiar da perda de posição concor- B. O elevado número de residentes portu-
em termos de contração da economia bri- rencial dos produtores britânicos no gueses no Reino Unido,
tânica; aqui são utilizados os resultados dos
principais estudos realizados para a econo-
mia do Reino Unido para analisar os efeitos Resultados da análise de sensibilidade das exportações portuguesas ao Brexit
macroeconómicos estimados da contração
da economia do Reino Unido na procura di-
rigida à economia portuguesa, com enfoque
particular nas exportações, no IDE, no turis-
mo e nas remessas de emigrantes.
• A análise de riscos e oportunidades para
os fluxos comerciais decorrentes da altera-
ção do quadro de relacionamento eco-
nómico do Reino Unido com a EU; aqui
avaliam-se os riscos e oportunidades para
os fluxos de bens e serviços bilaterais com
base em diferentes abordagens que procu-
ram identificar e quantificar os diversos im-
pactos potenciais.
A análise realizada permitiu concluir pela
relevância dos efeitos potenciais do
Brexit sobre a economia e as empresas
portuguesas, a saber:
• Decorrentes da contração prevista para
a economia britânica no horizonte do pe-
ríodo de transição podem ocorrer
- reduções de exportações portugue-
sas para o Reino Unido entre -1,1% e
-4,5%,
- reduções de fluxos de investimento
direto estrangeiro dirigidos a Portugal
entre -0.5% e -1,9% e
- reduções de remessas de emigrantes
entre -0,8% a -3,2%;
• A médio-longo prazo, a alteração do
quadro de relacionamento entre o RU

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 17
ATUALIDADE

C. A ligação da banca portuguesa ao fragilidade adicional, no quadro de um pro- • O quadro de impactos do Brexit na econo-
Reino Unido cesso mais radical, em que a situação do mia portuguesa assume reflexos de expressiva
D. As implicações em termos das altera- setor financeiro português resulte fragilizada, transversalidade: nos bens e nos serviços,
ções da governação macroeconómi- prejudicando as condições de financiamen- no comércio e no investimento internacional,
ca da Europa. to das empresas e, por essa via, influencian- nos fluxos migratórios e nas remessas de emi-
Com exceção do caso dos laços históricos, do a sua capacidade de internacionalização. grantes, no turismo e no imobiliário;
com um efeito positivo claro, os efeitos de • A configuração final do quadro de re-
cada um dos restantes efeitos não são cla- D. Por último, os impactos do Brexit podem lacionamento comercial futuro do RU
ros e dependem da dinâmica do processo ser mitigados ou amplificados em função com a UE no pós-Brexit é importante
de desconstrução. dos efeitos que o mesmo tiver nas altera- na fixação de expetativas de maior ou
ções da governação macroeconómi- menor sensibilidade da economia por-
A. Os laços históricos têm um potencial ca da Europa e nas transformações tuguesa aos riscos negativos e oportu-
de mitigação das piores consequências do das condições de financiamento e das nidades positivas de exposição ao Brexit.
Brexit, que importa considerar e potenciar, orientações das políticas europeias de Este quadro de sensibilidade é reforçado
• Seja permitindo a exploração de oportu- coesão e convergência. O Reino Unido pela dimensão financeira do Brexit (com a
nidades de substituição da posição de assumiu ao longo de toda a sua participação previsional diminuição dos fundos afetos a
outros estados membros da UE27 no no processo de construção europeia um Portugal resultante da saída do RU do grupo
mercado britânico no pós-Brexit; a ca- posicionamento particular, excluindo-se de de países contribuintes líquidos para o orça-
pacidade de substituição de outros países diversas dimensões desse processo, como mento comunitário) e pelas implicações que
enquanto fornecedores do Reino Unido no a UEM ou Schengen, e tendo um maior foco o novo quadro de governação económica
quadro da reconfiguração dos relaciona- nas dimensões de mercado interno da UE da UE poderá acarretar para Portugal.
mentos poderá permitir não só reduzir os que noutras. Era, no entanto, não obstante • Não devem ser desvalorizados os im-
riscos de desvio de comércio como poten- os rebates de que beneficiava, um impor- pactos qualitativos do Brexit, a somar aos
ciar mesmo a criação ou reforço de fluxos tante contribuinte líquido e um elemento de efeitos quantitativos diretos estimados no
com destino ao Reino Unido. algum equilíbrio em muitos posicionamen- Estudo, desde as diversas transformações
• Seja afirmando Portugal como o parcei- tos da UE. A redução do orçamento da UE inerente à turbulência internacional da re-
ro privilegiado do Reino Unido na UE27; que tenderá a resultar do Brexit bem como definição do posicionamento dos diversos
a questão em particular da afirmação de Por- eventuais alterações do quadro de políticas países na economia mundial, aos reflexos
tugal como parceiro do Reino Unido na UE europeias têm um potencial de amplificar o nos movimentos internacionais de pessoas,
pode contribuir para gerar novos fluxos de risco para Portugal muito significativo. turistas, trabalhadores, residentes, fluxos de
IDE para Portugal com origem no Reino Uni- investimento, espacialização das cadeias de
do associados à localização de entidades de Impactos regionais globalizadas de conceção, produção e dis-
capital britânico que necessitem de ter uma Em termos de impactos regionais, as regiões tribuição de bens e serviços e às formas de
presença na UE, contribuindo ainda para a que face à sua especialização produtiva enfren- relacionamento empresarial transnacional.
integração de unidades produtivas portugue- tam maiores riscos decorrentes do Brexit ao No que respeita às recomendações, os
sas em cadeias de valor ancoradas no Reino nível dos bens são o Alto Minho, Cávado, Ave resultados alcançados justificam quatro li-
Unido reforçando, por essa via a internacio- e Tâmega e Sousa. Seguindo-se as regiões de nhas de recomendações, conjugando a
nalização da economia portuguesa. Terras de Trás os Montes, Área Metropolitana mitigação dos riscos com a potenciação
do Porto e Beiras e Serra da Estrela. Ao nível de oportunidades. As ações e iniciativas a
B. No que respeita à presença de uma forte dos serviços, a Área Metropolitana de Lisboa, assumir por Portugal e pelas empresas por-
comunidade portuguesa no Reino Uni- Algarve e Madeira são as regiões com maior tuguesas enquadram-se em objetivos que
do, a mesma pode contribuir para manter exposição ao risco. A Área Metropolitana do visam oferecer um quadro de prioridades e
uma relação privilegiada entre os dois paí- Porto e a Região de Coimbra surgem também conteúdos para enfrentar o diagnóstico das
ses, mitigando efeitos adversos, no quadro sinalizadas pelo exercício realizado. ameaças e oportunidades do Brexit para a
de um relacionamento futuro mais próxi- economia portuguesa:
mo, mas no quadro de um processo de Conclusões e Recomendações • Assumir proatividade na valorização do
desconstrução mais radical, que envolva a Sistematizando, o Estudo permitiu, em ter- Reino Unido como parceiro económico
saída de imigrantes do Reino Unido, essa si- mos globais, estabilizar quatro linhas con- de Portugal;
tuação pode avolumar os efeitos negativos clusivas sobre a dimensão e a relevância • Assumir proatividade na aproximação de
dada a amplificação dos impactos e con- expectável dos impactos do Brexit sobre Portugal à matriz anglo-saxónica de es-
sequências detetados, por via de aspetos a economia e as empresas portuguesas e tratégia e prática empresarial;
associados aos direitos dos cidadãos com quatro linhas de recomendações para a mi- • Atribuir valorização estratégica a objetivos
relevância económica (trabalho, rendimento, tigação desses impactos. claros de diversificação do relaciona-
turismo, propriedade, fiscalidade,…). Em termos de conclusões, o Estudo per- mento económico de Portugal;
mite destacar que: • Antecipar uma abordagem necessaria-
C. Também a ligação da banca portu- • O Brexit será um processo assimétrico mente atenta às assimetrias dos impac-
guesa e do setor financeiro em geral quer entre o Reino Unido e a União Euro- tos do Brexit, quer em termos de ativida-
ao Reino Unido pode ajudar a explorar peia, quer no seio dos 27 parceiros que nela des/setores quer em termos regionais.
oportunidades de investimento e de in- permanecem, e de longa duração, quer nas
teração, no quadro de um relacionamento negociações envolvidas, quer nas respeti-
Estudo realizado por Ernest & Young / Augusto Mateus & Asso-
futuro mais próximo, mas pode ser fator de vas consequências e impactos ciados, Outubro de 2018

18 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
ATUALIDADE

HORIZON EUROPE

A ciência e a inovação europeia


ao serviço dos cidadãos

NÃO É EXAGERO afirmar que o Comis- zembro de 2018) que o próprio Parlamen- observarmos fenómenos de separação, de
sário português Carlos Moedas teve uma to Europeu teve o bom senso de perceber desconfiança e de descrença na Europa.
excelente prestação ao serviço da Comis- que o programa Horizon Europe deveria ter Mostrar com eficiência e verdade, os re-
são Europeia. um reforço de verbas alocadas no sentido sultados do enorme esforço financeiro eu-
Com uma agenda bem definida, mas so- de se potenciar o investimento europeu em ropeu nas áreas da ciência e inovação, é
bretudo com uma enorme capacidade de inovação e ciência. mostrar que o caminho que a Europa quer
mobilização e sensibilização para as ques- Esta foi claramente uma vitória de Carlos seguir faz sentido e tem consequências po-
tões essências da ciência e inovação, Car- Moedas. Mas, deve também dizer-se, foi sitivas para o bem-estar das populações.
los Moedas revolucionou definitivamente a uma vitória da Europa e dos cidadãos! Foi também por isso que o CESE salientou
abordagem a um tema que, embora tenha Numa altura em que não param de apare- que a ciência, a investigação e a inovação
acolhimento junto de várias comunidades cer algumas nuvens no processo contínuo têm de ser elementos essenciais do pro-
da economia real – universidades, Centros de construção europeia, poder evidenciar cesso europeu de criação de comunidades
de Inovação e Tecnológicos, empresas e junto das comunidades que a Europa in- e, por conseguinte, subscreveu a aborda-
comunidade de negócios – estava a ter veste em ciência e inovação para melhorar gem do programa Horizonte Europa para
pouca atenção da maioria da população, a vida real das pessoas, é de facto crucial. aproximar os cidadãos destas atividades
ie, do cidadão comum. Os extremismos e os inimigos da europa e realizações. Para o efeito, a comunica-
Como oportunamente foi afirmado no rela- alimentam-se do medo e das menores ção eficaz não só das oportunidades do
tório que pude escrever em representação condições de vida de algumas comuni- programa, mas também dos efeitos das
da CIP para o CESE – Comité Económi- dades. Essa é uma das justificações para atividades de inovação e investigação na
co e Social Europeu, a Comissão Europeia
deve ser felicitada por deixar claro que a
investigação e a inovação (I&I) devem conti-
nuar a ser uma prioridade essencial da UE, Gonçalo Lobo Xavier
também no contexto do próximo Quadro MEMBRO INDICADO PELA CIP PARA O COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU
Financeiro Plurianual para 2021-2027.
E já é possível afirmar à data de hoje (de-

20 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
vida dos cidadãos tem de fazer parte da
estratégia para angariar mais apoio dos
Estados-Membros para este esforço.
Note-se que o próximo programa de inova-
ção e ciência tem previsto uma abordagem
criativa e diferente para este esforço de
aproximação à comunidade.
NA verdade, as chamadas “missões” que
estão previstas no programa é uma con-
cepção que o CESE subscreveu e defen-
deu. A ideia de missões de investigação e
inovação (I&I) como parte da estratégia do
Horizonte Europa para produzir resultados
com maior impacto para a sociedade pode
efetivamente mudar a forma como os cida-
dãos encaram a ciência e as suas reper-
cussões no quotidiano.
A definição urgente de missões estratégi-
cas capazes de estimular ecossistemas de
investigação e inovação em toda a Europa
e que promovam a investigação em cola-
boração como principal veículo de trans-
missão de conhecimento e de criação de
impacto, é, pois, imperativa. As missões
devem concentrar-se numa meta específi-
ca, quantificável e alcançável e devem ser
abertas a todos os participantes possíveis,
captando os recursos de excelência pre-
sentes nas diferentes partes da Europa. E
refira-se ainda que as missões não devem
incidir apenas em modelos de inovação li-
near, que muitas vezes se limitam à inova-
ção incremental, devendo também incen-
tivar explicitamente modelos de inovação
disruptiva.
Com uma nova visão para a percepção da
inovação e ciência na comunidade, Carlos
Moedas recentrou a discussão e abriu o
debate para que naturalmente, o Horizonte
Europa incorpore as ciências sociais e hu-
manas (CSH) de forma sistemática. Há que
abordar estas ciências em articulação com
a abordagem tecnológica. A inovação vai
muito além da tecnologia, pelo que a con-
vergência de diferentes visões, soluções de
compromisso e desafios permitirá delinear
melhor o panorama de I&I na Europa. O
CESE considera que ir «para além da tec-
nologia» resultaria numa maior integração
das ciências sociais e humanas no Hori-
zonte Europa. Finalmente, diria eu.
Está, pois, nas mãos dos investigadores,
dos académicos, mas sobretudo da coo-
peração entre estes e a comunidade em-
presarial, dar sequência a esta vontade e a
este desígnio Europeu que pode definitiva-
mente unir os povos europeus no sentido
de lhes demonstrar que unidos e em coo-
peração, a Europa é imbatível na criação
de valor, riqueza e bem estar, através da
ciência e da inovação.
ATUALIDADE

Conferência CES/OIT-Lisboa Trabalho: entre o Direito e o Mercado

O papel histórico da
negociação coletiva
O CONSELHO ECONÓMICO e Social trabalho assumem um lugar de destaque económicas, sociais e políticas que a socie-
(CES) e a OIT-Lisboa organizaram, no passa- na nossa vida quotidiana, já que somos por dade vivencia.
do dia 22 de novembro, a Conferência “Tra- elas regidos ou afetados. Por exemplo, ao nível de empresa, a escas-
balho: entre o Direito e o Mercado. O papel Hoje, como no passado e certamente no fu- sez de encomendas faz tocar sinais de alar-
histórico da negociação coletiva”, que teve turo, as políticas que se encontram na base me que varrem toda a organização.
lugar na Assembleia da República e na qual a da orientação a imprimir ao sistema de rela- Mas também o inverso suscita movimenta-
CIP participou. A Confederação Empresarial ções laborais continuam a ser objeto de for- ções. O surgimento de novos negócios cria,
de Portugal teve lugar na Mesa Redonda de- te escrutínio não só por parte daqueles que tanto ao nível da gestão, como entre os co-
dicada aos Parceiros Sociais, destacando-se são os seus mais diretos destinatários, mas, laboradores, a perspetiva de melhorias que
da sua intervenção os seguintes pontos: também, por parte de toda a comunidade, a ninguém deixa indiferente.
mesmo na sua componente académica, da Vale isto por dizer que o domínio sócio-labo-
medicina ao direito, passando pela enge- ral é não só dinâmico como extremamente
nharia, a sociologia ou a psicologia. rico – o que acarreta consequências várias.
1 Como explicar tão vasta abrangência e con-
fluência de preocupações?
O sistema de relações que se estabelecem Desde logo, a amplitude das matérias em
entre trabalhadores e seus representantes, causa. 2
empresas e estruturas onde se integram e, Cabem neste âmbito domínios como: o
como terceiro vértice, o próprio Estado, ex- contrato individual de trabalho, o direito co- A Constituição consagra, e a Lei regula, o
travasa o nível das organizações envolvidas, letivo de trabalho, a segurança e saúde no direito de participação dos sujeitos das re-
repercutindo-se em toda a Sociedade. trabalho, a reparação na sequência de aci- lações laborais na elaboração da legislação
Um reflexo que emerge de modo ainda mais dentes de trabalho e doenças profissionais, do trabalho, entendida como fonte geral de
nítido quando observamos a intensidade a formação profissional, a segurança social direito do trabalho.
que marca as acaloradas discussões tidas ou as políticas ativas de emprego. Entre as fontes específicas deste ramo de
nos fora, mais públicos ou restritos, em que Depois e sobremaneira, o dinamismo de direito, ressaltam os instrumentos de regula-
têm lugar. que esta temática se mostra eivada. mentação coletiva de trabalho e, nestes, as
A par das temáticas relativas à saúde, edu- Um dinamismo que lhe é imposto pela sua convenções coletivas de trabalho.
cação, justiça e habitação, as questões do permeabilidade às sucessivas conjunturas O nosso Ordenamento Jurídico, ao prever,

22 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
com ênfase registável, entre as fontes de aferida pela natureza dos instrumentos em
direito do trabalho, as convenções coletivas que se corporiza (contratos coletivos versus
de trabalho, comete aos Parceiros, em diá- 3 acordos coletivos ou acordos de empresa),
logo social bipartido, a responsabilidade de pela dimensão do seu âmbito subjetivo e
gerirem as tensões que emergem dos inte- No âmbito da Contratação Coletiva, enten- pelo relevo que este assume ao nível da ati-
resses, não raro antagónicos, que têm por dida como expressão do diálogo social ao vidade económica.
missão defender. nível setorial, regional e empresarial, têm Ao nível da atividade económica, é notório
Uma atribuição que assenta na confiança sido realizados muitos, diversificados e im- e indesmentível que muitos setores estão
que o Estado e a Sociedade depositam nos pactantes ajustamentos do quadro legal, hoje francamente melhores, mais modernos
parceiros sociais, sem dúvida os melhores visando a melhoria das condições de traba- e mais exportadores, com taxas de cresci-
conhecedores dos contornos da realidade lho, da produtividade e da competitividade mento e emprego há muito não verificadas.
em que os seus representados atuam. das nossas empresas. Esses setores aproveitaram as virtualidades
Como adicionais, são reconhecidas e, mes- A este propósito, é justo reconhecer que a propiciadas pelo novo quadro em que se
mo, impostas, aos parceiros, autonomia e confiança, subjacente à concretização do insere a contratação coletiva, renovando os
liberdade. diálogo social, não é alheia nem pode ser seus conteúdos, inovando regimes e disci-
Em contraponto, exige-se-lhes que ajam minimizada e, menos ainda, vista com indi- plinando, com pragmatismo, uma realidade
com responsabilidade, realismo e equilíbrio, ferença, relativamente ao objetivo da criação que não permanece imutável.
dentro dos parâmetros que, formal e infor- de riqueza e de mais e melhores empregos Setores como o metalúrgico, o têxtil, o
malmente, se lhes encontram colocados. e, sobretudo, na manutenção de um clima calçado ou o material elétrico e eletrónico
Foi, pois, de modo consequente que, na de paz social, indispensável à estabilidade – setores tradicionais da nossa economia
revisão do Código do trabalho de 2003, se da nossa sociedade. – ultrapassaram a crise, reforçaram-se, au-
introduziu, no âmbito da contratação co- No que à contratação coletiva diz respeito, mentaram as exportações e expandiram a
letiva, o princípio geral da negociabilidade, podem apontar-se dois grandes marcos sua força de trabalho.
propiciando os equilíbrios que as próprias desde o início deste século XXI: Nesta alavancagem, a renovação de con-
partes tenham por mais ajustados, permitin- • No Código do Trabalho de 2003, introdu- teúdos foi essencial.
do, dentro de certos limites, a negociação ziu-se o princípio geral da negociabilidade, e Como exemplo, as categorias profissionais.
para mais e para menos relativamente às procurou-se remover o marasmo e escas- Os antigos quadros descritivos das profis-
soluções constantes do Código. síssimo conteúdo em que muitos processos sões foram revistos e modernizados, tendo
Desde a Constituição de 1976 e até ao negociais haviam caído; sido suprimidas muitas profissões, que de
presente, após um período inicial mais ou • Com o Código do Trabalho de 2009, apro- real já nada espelhavam, e criadas outras
menos conturbado, o diálogo social bilateral fundou-se esse quadro tendente a contra- que se tornaram absolutamente indispen-
foi fazendo o seu caminho, com momentos riar imobilismo que a sobrevigência eterna sáveis.
mais altos e períodos menos pujantes. das convenções coletivas de trabalho po- Outro exemplo marcante respeita à promo-
Tudo num quadro em que a Constituição é tenciava. ção das qualificações dos trabalhadores e
referencial incontornável. A “reserva de con- Ao invés do que, frequentemente, se diz, a tratamento que a contratação coletiva tem
venção coletiva” integra o âmago desse re- contratação coletiva não está morta, nem conferido, sobretudo na última década, à
ferencial. Trata-se, no entender dos Profes- comatosa, nem sequer estagnada. formação profissional.
sores Gomes Canotilho e Vital Moreira, de E não é, não pode ser, apenas pelo número Prospectivamente, o acelerar da digitaliza-
“um espaço que a lei não só não pode vedar de convenções, que qualquer conclusão, a ção da economia e a designada “quarta”
à contratação coletiva, como deve confiar a esse respeito, pode ser extraída. revolução industrial, muito maiores exigên-
esta núcleos materiais reservados”. Já em 2006, a Comissão Europeia, no “Livro cias vão colocar à contratação coletiva.
A compreensão do conceito e o entendi- Verde - Modernizar o direito do trabalho para Exigências que se prendem, mormente,
mento do que essa reserva implica, não são, enfrentar os desafios do século XXI”, reco- com o ritmo vertiginoso com que se criam
porém, totalmente pacíficos. nhecia que: “As convenções colectivas já e destroem profissões e/ou categorias pro-
Dando como assente que não é a lei que não se limitam a desempenhar um papel au- fissionais.
cria ou reconhece poder normativo às asso- xiliar na complementação de condições de
ciações sindicais e aos empregadores e às trabalho previamente definidas por lei. Hoje,
suas associações, mas sim a Constituição, são instrumentos importantes, que servem
tem-se por inquestionável, como corolário para adaptar os princípios legais a situações 4
imediato da referida reserva, que não pode económicas concretas e circunstâncias par-
deixar de ser preservado um espaço de re- ticulares de sectores específicos.”. Concluiu, sublinhando que o sucesso do
gulação das relações laborais para a contra- O ajustamento do quadro legal que, por nosso sistema de relações laborais, em ge-
tação coletiva. via da Contratação Coletiva, tem sido feito ral mas também em sede de contratação
A Lei não pode, através de extensas e alar- às especificidades setoriais e empresariais, coletiva, tem de se alicerçar num “mix” de
gadas imperatividades, sejam elas de que perpassou por institutos do maior relevo, políticas e soluções que privilegiem a quali-
natureza forem, se não assentarem em como a organização do tempo de trabalho, ficação e evolução profissional dos nossos
manifestas razões de interesse e ordem a maternidade e paternidade, a formação trabalhadores, a capacidade competitiva
pública, esvaziar, por completo, ou reduzir profissional, a segurança e saúde no traba- das nossas empresas, o reforço da coesão
a mera excrescência, o conteúdo do direito lho, ou a mobilidade geográfica e funcional. social, tudo num clima de diálogo e paz so-
à negociação coletiva, sob pena de violação De realçar, ainda, que a avaliação do estado cial, com respeito pela liberdade e autono-
da Lei fundamental. da contratação coletiva tem também de ser mia dos respetivos parceiros.

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 23
ATUALIDADE

Encontro Empresarial Portugal-Bélgica


reuniu 300 empresários na Gulbenkian
A CIP – Confederação Empresarial de Portugal e a FEB – Fédération des Entreprises de Belgique,
organizaram, no passado dia 23 de outubro, o Encontro Empresarial Portugal-Bélgica, com o
apoio da AICEP e da Embaixada do Reino da Bélgica em Portugal. Ao evento, que teve lugar na
Fundação Calouste Gulbenkian, acresceu a importância da presença do Rei Filipe da Bélgica e
do Presidente da República portuguesa

OS CHEFES DE ESTADO dedicaram as nomias e sociedades fechadas. No final da favor do protecionismo e do unilateralismo
suas intervenções à defesa do setor empre- sua intervenção, o Presidente da República em detrimento da integração por meio da
sarial como meio de aproximação dos dois incentivou os empresários a celebrar acor- economia aberta. Respondendo diretamen-
países, e como resposta aos desafios euro- dos e a não esperar pela política para algo te ao mote do encontro, António Saraiva
peus na lógica da cooperação multilateral. acontecer. defendeu que as empresas portuguesas e
No seu discurso, o Presidente da Repúbli- O Rei Filipe da Bélgica dedicou parte do seu belgas esperam que a União Europeia pro-
ca salientou a relevante dimensão das rela- discurso à economia do mar, um ponto, na mova condições que permitam a inovação
ções comerciais entre Portugal e o Reino da sua opinião, fundamental, que os dois paí- e o aumento de competitividade das em-
Bélgica, o 9º país destino das exportações ses têm em comum. presas, nomeadamente através da redução
portuguesas, e o nosso 7º fornecedor. A dos elevados custos de contexto que afe-
seis meses das eleições europeias, Mar- Presidente da CIP espera dos líderes tam particularmente as PME. O Presidente
celo Rebelo de Sousa apontou os desafios europeus vontade política em fortalecer da CIP destacou a responsabilidade da UE
externos e internos da União Europeia, ad- a agenda europeia para o crescimento na promoção do investimento, sendo para
vertindo para a urgência em unir a Europa, e aumento da competitividade. isso essencial o aprofundamento da União
evitando-se a criação de várias europas, Na intervenção que marcou a abertura do Económica Monetária, mas também o de-
lembrando aos presentes que diferença não Encontro Empresarial, António Saraiva abor- senvolvimento do Mercado Único Europeu
significa incompatibilidade. Salientou tam- dou o tema do encontro: “What Portuguese em todas as suas dimensões.
bém a necessidade de atacar “problemas and Belgian Businesses expect from Euro- O Presidente da FEB, Bernard Gilliot, identi-
inadiáveis”, como a crise dos refugiados, ou pe?”. No seu discurso, o Presidente da CIP ficou margem para crescimento das trocas
a definição do papel da UE nas suas zonas sublinhou que o caminho para a prosperida- comerciais entre Portugal e a Bélgica, e par-
de vizinhança e no mundo, apontando a fal- de dos povos se faz através de uma intensa tilhou dos receios e exigências do Presiden-
ta de respostas políticas a estes desafios, e sólida relação económica internacional, te da CIP, defendendo que a solução para
o principal argumento dos movimentos eu- saindo em defesa da cooperação como a os desafios da Europa passa por um maior
rocéticos que defendem modelos de eco- melhor resposta às vozes que se levantam a aprofundamento do projeto europeu.

24 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
Fórum Económico Portugal-Marrocos
assinala um novo momento nas
relações comerciais dos dois países

CIP e congénere marroquina CGEM anunciam criação de um Grupo de Desenvolvimento


para reforçar vínculos nos setores Têxtil, Automóvel, TIC, Startups, Energia, entre outros

A CIP – Confederação Empresarial de Por-


tugal, e a CGEM – Confédération des Entre-
prises du Maroc, organizaram, no passado
dia 29 de novembro, o Fórum Económico
Portugal-Marrocos, que contou com o apoio
da Embaixada do Reino de Marrocos e da
AICEP, e com o patrocínio do ISQ – Instituto
de Soldadura e Qualidade. O Encontro reu-
niu 200 empresários no Hotel Pestana Pala-
ce Lisboa, entre os quais 70 representantes
de entidades e empresas marroquinas. Embaixador do Reino de Marrocos, e dos resse dos empresários marroquinos. Outra
No encontro bilateral CIP-CGEM que teve Diretores da AICEP e sua congénere marro- parte da delegação empresarial deslocou-se
lugar no dia anterior na CIP, os presidentes quina, AMDIE. à Rua da Prata para uma palestra na Star-
das confederações portuguesa e marroqui- tup Lisboa, onde os empresários ficaram a
na, António Saraiva e Salaheddine Mezouar, Empresários marroquinos visitam conhecer uma parte importante do ecossis-
acordaram a criação de um Grupo de De- o ISQ e a Startup Lisboa tema do empreendedorismo em Portugal,
senvolvimento Portugal-Marrocos com o No terceiro dia da visita da delegação marro- e onde foram explicados vários casos de
objetivo de fortalecer e intensificar as trocas quina, os empresários tiveram a oportunida- sucesso de startups portuguesas. Nesta vi-
comerciais bilaterais entre os dois países, de de conhecer as instalações e a atividade sita ficou claro que empreendedorismo e a
em setores estrategicamente selecionados: do ISQ – Instituto da Soldadura e Qualidade, inovação são uma prioridade para esta ge-
agroalimentar, turismo, automóvel, energia numa visita que despertou um grande inte- ração de empresários marroquinos.
e desenvolvimento sustentável, têxtil, digital
e novas tecnologias, empreendedorismo e
startups.
O anúncio da criação do Grupo de Desen-
volvimento Portugal-Marrocos coube ao Vi-
ce-Presidente da CIP, Armindo Monteiro, na
sessão de abertura do Fórum Económico,
que contou ainda com as intervenções da
Secretária de Estado dos Negócios Estran-
geiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro, do

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 25
ATUALIDADE

Candidaturas para novas linhas


de financiamento EEA Grants
abrirão durante o ano 2019

Fundo composto por doações de 3 Estados europeus não-membros da UE aloca 102,7milhões


de euros a Portugal. Conheça as áreas prioritárias do EEA Grants e saiba os próximos passos
para concorrer aos fundos

NO ÂMBITO do Acordo do Espaço Econó-


mico Europeu (“EEA – European Economic • Ambiente, apresentado por Susana
Area”), os três membros não pertencen- Escária, do Ministério do Ambiente
tes à União Europeia - Noruega, Islândia e Os principais objetivos deste programa
Liechtenstein - são os países doadores do são a promoção de uma economia de
Mecanismo Financeiro no valor de 2,8 mil baixo carbono, com especial destaque
milhões de euros, destinado aos 15 países à economia circular, à adaptação às
da UE com maiores desvios da média euro- alterações climáticas e à conservação
peia do PIB per capita. O objetivo de reduzir e biodiversidade. A este fundo estão • Conciliação e Igualdade de Género,
as disparidades económicas e sociais nos alocados 24 milhões de euros, sendo apresentado por Andreia Lourenço Mar-
países europeus de destino, e de aprofun- a Secretaria Geral do Ministério do Am- ques, da Comissão para a Cidadania e
dar as relações de cooperação bilaterais biente e Transição Energética a entidade Igualdade de Género
em áreas estrategicamente selecionadas. A operadora do programa, e o Innovation Apoiar projetos que visem a promoção
Portugal, foram atribuídos 102,7 milhões de Norway (IN) a entidade parceira do país da igualdade de género e que simul-
euros para projetos cujas candidaturas abri- doador. taneamente promovam a conciliação
rão brevemente. entre a vida pessoal, familiar e profis-
A CIP – Confederação Empresarial de Por- sional, incluindo uma maior partilha das
tugal, recebeu a equipa dos EEA Grants no • Economia do Mar, apresentado por responsabilidades parentais, são os ob-
passado dia 13 de novembro, e promoveu Sandra Silva, do Ministério do Mar jetivos deste programa. Destinados, 6
uma sessão de apresentação das linhas de Destinado ao setor do Mar, este pro- milhões de euros, sendo o operador do
financiamento, aberta a todos os Associa- grama pretende apoiar projetos que programa a Comissão para a Cidadania
dos da CIP. promovam o Crescimento Azul e sus- e Igualdade de Género (CIG), e o The
Nesta sessão foram apresentadas algumas tentável privilegiando as PME, tendo Quality and Anti-discrimination Ombud
das áreas prioritárias do fundo: igualmente uma vertente de apoio à in- (LDO) do lado dos países doadores.
vestigação, ciência e tecnologia, assim
• Fundo de Relações Bilaterais, como de apoio à educação e formação As candidaturas para projetos ainda não es-
apresentado por Susana Ramos, Coor- profissional. Este fundo é constituído tão abertas. As diferentes áreas abrirão em
denadora da Unidade de Gestão Na- por um total de 44,7 milhões de euros. diferentes momentos durante o próximo ano
cional O operador do Programa é a Direção de 2019, sendo aconselhável que as empre-
Fundo de 2 milhões de euros que se Geral de Política do Mar (DGPM), que sas portuguesas interessadas em concorrer,
destina a qualquer iniciativa que pro- conta com os seguintes parceiros dos comecem desde já a procurar estabelecer
mova o fortalecimento das relações países doadores: Innovation Norway; parcerias com empresas sedeadas em um
bilaterais entre Portugal e os Estados Icelandic Centre for Research; Resear- dos 3 países doadores, por ser este um im-
Doadores. O Gestor do fundo é a Uni- ch Concil of Norway; Norwegian Centre portante critério de seleção.
dade Nacional de Gestão do Mecanis- for International Cooperation in Educa- A CIP encontra-se em estreita cooperação
mo Financeiro do Espaço Económico tion and Quality Enhancement in Higher com a equipa EEA Grants, para que estas
Europeu (UNG-MFEEE). Education. verbas sejam aproveitadas o melhor possí-
vel pelos empresários portugueses.

26 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
CIP recebe delegação
brasileira do Estado
de Pernambuco

Fluxo comercial pouco intenso entre Portugal e Pernambuco constitui uma oportunidade
para as empresas portuguesas

NO PASSADO dia 19 de novembro, uma trocas comerciais entre Portugal e o Estado tencial da constituição de uma rota marítima
missão empresarial de 25 empresários bra- de Pernambuco, e identificadas oportunida- fixa entre o Porto de Suapé e Portugal, que
sileiros da FIEPE - Federação das Indústrias des de negócio na indústria transformadora, poderá passar a ser a rota comercial prin-
do Estado de Pernambuco, liderada pelo designadamente, agroalimentar e produtos cipal para a entrada de produtos brasileiros
Vice-Presidente Alexandre Valença, visitou a químicos, as principais indústrias deste es- na Europa. Também o estado avançado das
CIP, fazendo-se acompanhar pela Câmara tado brasileiro. negociações do Acordo de Livre Comércio
de Comércio e Indústria Luso-brasileira, na entre a União Europeia e o Mercosul, pro-
pessoa do seu Presidente Francisco Mur- Estabelecimento de rota comercial ma- moverá uma intensificação das trocas co-
teira Nabo, por membros da Embaixada do rítima fixa entre Pernambuco e Portugal merciais futuras entre a Europa e a América
Brasil, 2 elementos da FIEPI – Federação poderá trazer grandes vantagens para a Latina, da qual Portugal poderá beneficiar
das Indústria do Estado de Piauí, e que con- entrada de produtos brasileiros na Eu- pela sua posição geográfica, para além dos
tou ainda com a participação da AICEP. ropa. importantes laços culturais que unem o nos-
No encontro foram destacadas as reduzidas O representante da FIEPE desvendou o po- so país à região.

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 27
ATUALIDADE

Calendário de Ações de Internacionalização


MÊS DATA AÇÃO MERCADO ASSOCIADO

janeiro Missão Empresarial - Emirados Árabes Unidos EAU CCIP


janeiro Missão Empresarial - Moçambique e Tanzânia (Maputo; Dodoma) Moçambique; Tanzânia AEP
janeiro Missão Empresarial - Bulgária Bulgária CCIP
06/01 - 09/01 Children's Club NY (Nova Iorque) EUA ATP (ASM)
08/01 - 11/01 Pitti Uomo (Florença) Itália ATP (ASM)
08/01 - 11/01 Heimtextil (Frankfurt) Alemanha ATP (ASM)
09/01 - 10/01 The London Textile Fair (Londres) Reino Unido ATP (ASM)
09/01 - 10/01 Horecava 2019 (Amesterdão) Países Baixos AIDA
14/01 - 19/01 BAU (Munique) Alemanha AEP
13/01 - 15/01 Top Drawer (Londres) Reino Unido ATP (ASM)
15/01 - 16/01 Première Vision New York (Nova Iorque) EUA ATP (ASM)
15/01 - 16/01 Fashion SVP (Londres) Reino Unido ATP (ASM)
15/01 - 16/01 BAU 2019 (Munique) Alemanha AIDA
JANEIRO 15/01 - 17/01 Berlin Fashion Week (Berlim) Alemanha ATP (ASM)
16/01 - 17/01 Texfusion New York (Nova Iorque) EUA ATP (ASM)
16/01 - 19/01 AUTO ZUM Áustria AIDA
17/01 - 19/01 Pitti Bimbo (Florença) Itália ATP (ASM)
18/01 - 21/01 Who's Next (Paris) França ATP (ASM)
18/01 - 22/01 Maison & Objet (Paris) França ATP (ASM)
19/01 - 21/01 Sil Paris (Paris) França ATP (ASM)
22/01 - 24/01 Colombiatex (Medellín) Colômbia ATP (ASM)
25/01 - 28/01 Homi Milano (Milão) Itália ATP (ASM); AEP
26/01 - 28/01 PlayTime Paris (Paris) França ATP (ASM)
28/01 - 31/01 ARAB HEALTH (Dubai) EAU AEP; AIDA
29/01 - 31/01 Munich Fabric Start | Sourcing (Munique) Alemanha ATP (ASM)
29/01 - 31/01 Munich Fabric Start (Munique) Alemanha ATP (ASM)
30/01 - 01/02 CIFF (Copenhaga) Dinamarca ATP (ASM)

fevereiro Missão Empresarial - Etiópia Etiópia CCIP


fevereiro Automotive Meetings Tangier (Tânger) Marrocos AFIA / CEFAMOL
fevereiro Missão Empresarial - Colômbia Colômbia CCIP
01/02 - 03/02 FIMI (Madrid) Espanha ATP (ASM)
03/02 - 06/02 ISPO Munich (Munique) Alemanha ATP (ASM)
03/02 - 06/02 NY Now (Nova Iorque) EUA ATP (ASM)
04/02 - 07/02 Sourcing at Magic (Las Vegas) EUA ATP (ASM)
05/02 - 07/02 Magic/Project/Stitch (Las Vegas) EUA ATP (ASM)
05/02 - 07/02 Children's Club Las Vegas (Las Vegas) EUA ATP (ASM)
05/02 - 07/02 Milano Única (Milão) Itália ATP (ASM)
05/02 - 09/02 Stockholm Furniture & Light Fair (Estocolmo) Suécia ATP (ASM)
06/02 - 08/02 World Japan Japão AIDA
06/02 - 10/02 Intergift (Madrid) Espanha ATP (ASM)
FEVEREIRO
08/02 - 10/02 MOMAD (Madrid) Espanha ATP (ASM)
08/12 - 12/02 Feira Ambiente 2019 (Frankfurt) Alemanha NERLEI
10/02 - 12/02 Pure Origin (Londres) Reino Unido ATP (ASM)
10/02 - 12/02 PlayTime NY (Nova Iorque) EUA ATP (ASM)
10/02 - 12/02 INDX KidsWear (Birmingham) Reino Unido ATP (ASM)
10/02 - 12/02 Pure London (Londres) Reino Unido ATP (ASM)
12/02 - 14/02 Premiére Vision Manufacturing (Paris) França ATP (ASM)
17/02 - 19/02 Moda UK (Birmingham) Reino Unido ATP (ASM)
17/02 - 21/02 GULFOOD (Dubai) EAU AEP; AIDA
24/02 - 27/02 Alberta Gift Fair (Edmonton) Canadá ATP (ASM)
25/02 - 28/02 CJF (Moscovo) Rússia ATP (ASM)
25/02 - 28/02 CPM (Moscovo) Rússia ATP (ASM)
25/02 - 01/03 Missão Empresarial - Polónia Polónia CCIP

28 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
SAIBA MAIS EM WWW.CIP.ORG.PT

MÊS DATA AÇÃO MERCADO ASSOCIADO

março Missão Empresarial - Vietname (Hanoi e Ho Chi Min) Vietname AEP


março Missão Empresarial - Panamá e Costa Rica (Cidade do Panamá; San José) Panamá; Costa Rica AEP
março Missão Empresarial - Chile Chile CCIP
março Missão Empresarial - Bolívia Bolívia CCIP
março Missão Empresarial - Angola Angola CCIP
02/03 - 05/03 International Home Housewares Show Chicago 2019 (Chicago) EUA NERLEI
05/03 - 06/03 Poznan Fashion Fair (Poznan) Polónia ATP (ASM)
05/03 - 08/03 Midest - Lyon (Lyon) França AIDA
MARÇO
12/03 - 14/03 Première Vision (Paris) França ATP (ASM)
12/03 - 14/03 Intertextile Shangai Home (Shanghai) China ATP (ASM)
13/03 - 15/03 Magic Japan (Tóquio) Japão ATP (ASM)
13/03 - 16/03 Motortec Automechanika 2019 (Madrid) Espanha AIDA; NERLEI
14/03 - 15/03 Elektrotechnika Polónia AIDA
20/03 a 21/03 Total Facilities Expo Austrália AIDA
26/03 - 28/03 Jitac (Tóquio) Japão ATP (ASM)
28/03 - 31/03 Morocco Fashion & Tex (Casablanca) Marrocos ATP (ASM)

abril Missão Empresarial - Canadá (Toronto) Canadá AEP


abril Missão Empresarial - México México CCIP
abril Missão Empresarial - Rússia Rússia CCIP
abril Missão Empresarial - Marrocos Marrocos CCIP
abril Misão Empresarial - Irão (Teerão) Irão NERLEI
ABRIL 01/04 - 05/04 Hannover Messe (Hannover) Alemanha AIDA
02/04 - 05/04 International Apparel Textile Fair (Dubai) EAU ATP (ASM)
02/04 - 05/04 MOSBUILD (Moscovo) Rússia AEP
04/04 - 06/04 Intertex Tunísia (Sousse) Tunísia ATP (ASM)
09/04 - 11/04 Emitex (Buenos Aires) Argentina ATP (ASM)
10/04 - 11/04 Advanced Factories (Barcelona) Espanha AIDA

maio Missão Empresarial - Cazaquistão (Astana) Cazaquistão AEP


maio Missão Empresarial - Israel (Telavive) Israel AEP
maio Salon de la Sous-Traitance Automobile (Tânger) Marrocos AFIA / CEFAMOL
maio Missão Empresarial - Costa do Marfim Costa do Marfim CCIP
maio Missão Empresarial - Alemanha Alemanha CCIP
maio Missão Empresarial - Vietname Vietname CCIP
maio Missão Empresarial - Argélia (Argel) Argélia NERLEI
maio Missão Empresarial - Emirados Árabes Unidos EAU NERLEI
04/05 - 09/05 IFFA 2019 (Frankfurt) Alemanha NERLEI
04/05 - 17/05 Texprocess (Frankfurt) Alemanha ATP (ASM)
MAIO
06/05 - 09/05 APAS Brasil (São Paulo) Brasil AEP
08/05 - 09/05 Performance Days (Munique) Alemanha ATP (ASM)
08/05 - 11/05 HOFEX (Hong Kong) China AEP
14/05 - 17/05 Techtextil Frankfurt (Frankfurt) Alemanha ATP (ASM)
19/05 - 22/05 ICFF (Nova Iorque) EUA ATP (ASM)
21/05 - 23/01 Global Automotive Components and Suppliers (Estugarda) Alemanha AEP / AFIA
21/05 - 23/05 Automotive Int. Expo (Estugarda) Alemanha ATP (ASM)
21/05 - 24/05 SEOUL FOOD AND HOTEL (Seoul) Coreia do Sul AEP
22/05 - 24/05 Metal Japan Japão AIDA
24/05 - 26/05 Eurosphere Vietnam (HO Chin Minh) Vietname ATP (ASM)

junho FILDA Angola 50 (Luanda) Angola AEP


junho Missão Empresarial "Learning Factories" (Lombardia) Itália AEP
junho Missão Empresarial - Peru Peru CCIP
junho Missão Empresarial - Estados Unidos da América EUA CCIP
junho Missão Empresarial - Japão Japão CCIP
JUNHO 04/06 - 06/06 Subcontratacíon (Bilbao) Espanha AIDA
04/06 - 07/06 NOR Shipping (Oslo) Noruega AIDA
18/06 - 23/06 FIA Argélia (Argel) Argélia AEP
20/06 - 26/06 ITMA (Barcelona) Espanha ATP (ASM)
24/06 - 28/06 CeBit 2019 (Hanover) Alemanha NERLEI
30/06 - 03/07 Outdoor by ISPO (Munique) Alemanha ATP (ASM)

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 29
ATUALIDADE

CIP - Plano de Atividades 2019


A CIP aprovou em Assembleia Geral, no dia 19 de dezembro, o seu Plano de Atividades
e Orçamento para 2019, que contempla as prioridades, as orientações e as principais
iniciativas que se propõe desenvolver, na prossecução da sua missão, estatutariamente
definida, e no cumprimento do Plano para o Triénio 2017-2019

O PLANO DE ATIVIDADES da CIP para promover o desenvolvimento das compe-


2019 estrutura-se de acordo com os três tências de liderança de profissionais femini-
compromissos assumidos pela CIP para o nas, através de uma metodologia de forma-
presente triénio: ção, mentoria e coaching.
• O compromisso com o crescimento eco- Assumindo globalmente todas as orien-
nómico tações definidas no Plano para o Triénio,
• O compromisso com uma Europa unida apresentam-se a seguir os aspetos sobre
em torno da competitividade os quais a CIP incidirá em particular a sua
• O compromisso com um movimento as- atenção e a sua intervenção, em estreita ar-
sociativo sólido e com valor para as em- ticulação com todos os seus associados e
presas contando com o contributo dos seus Con-
selhos Consultivos.
Em termos transversais, a CIP propõe-se
realizar, no ano de 2019 as seguintes inicia- COMPROMISSO COM
tivas: O CRESCIMENTO ECONÓMICO
Ao longo do ano de 2019, a CIP assumi-

1. Apresentação pública do estudo “O


Futuro do Trabalho”, numa corealiza-
ção do Concelho Estratégico para a Econo-
rá a defesa do crescimento económico em
consonância com as linhas orientadoras
definidas no Plano para o Triénio, mantendo
mia Digital da CIP com a Mckinsey e a EBS- como principal critério objetivo de avaliação
Nova School of Business and Economics. das políticas públicas os efeitos positivos ou
Abordando as implicações da crescente negativos que tais políticas venham a pro-
digitalização da economia e a introdução de vocar na produtividade e na competitividade
novas tecnologias nas tarefas e profissões das prioridades da CIP tanto para a Europa das empresas.
atualmente existentes, pretende-se identi- como para a próxima legislatura, nos domí- Tendo em consideração os sinais de abran-
ficar as principais transformações que esta nios que mais diretamente afetam a ativida- damento da atividade económica, de enfra-
evolução implicará na economia e tecido de empresarial, concretizadas num conjunto quecimento do dinamismo do mercado do
laboral e empresarial em Portugal. de propostas para e para o Governo que trabalho e de degradação da envolvente
Esta iniciativa terá lugar no próximo dia 17 resultar do ato eleitoral. externa que se fazem já sentir e que mar-
de janeiro, no Museu da Eletricidade, em carão previsivelmente o ano de 2019, a CIP
Lisboa, com a prevista participação de Sua
Excelência o Presidente da República, e
pretende alertar a sociedade, a comunida-
3. O Congresso Anual terá lugar no
4ºtrimestre 2019, como grande
evento de afirmação da CIP, enquanto voz
desenvolverá a sua intervenção no sentido
de contrariar estes sinais, defendendo uma
política económica centrada numa visão
de empresarial e as autoridades nacionais das empresas, envolvendo todos os asso- de médio e longo prazo e orientada para a
para as profundas transformações e re- ciados nos temas e políticas que afetam a criação de condições propícias a uma maior
conversões das profissões hoje existentes, atividade económica nacional, e que mere- competitividade, assente na produtividade
das necessidades de requalificação e para cem por isso a atenção da Confederação. das empresas.
a oportunidade em que a mesma se pode Consequentemente, na sua intervenção,
traduzir tendo em vista o ganho de produ-
tividade das empresas portuguesas, assim
contribuindo para o despertar da conscien-
4. A CIP vai desenvolver um projeto de
capacitação que visa apoiar as em-
presas a promover a igualdade de oportuni-
quer diretamente junto dos órgãos de sobe-
rania nacionais e das instituições europeias,
quer através da sua participação nas inúme-
cialização nacional sobre a necessidade de dades no acesso a cargos de alta direção. ras estruturas formais e informais em que
preparar o País para o embate que se avi- Este projeto, financiado pelo EEA Grants e está representada, a CIP defenderá pro-
zinha. inspirado no projeto Promocciona desenvol- postas com os objetivos de ultrapassar os
vido pela Confederação Patronal Espanhola fatores bloqueadores de um melhor desem-

2. Num ano eleitoral será dado princi-


pal relevo à apresentação pública
(CEOE), será desenvolvido em parceria com
uma Escola de Negócios e visa identificar e
penho da produtividade e de salvaguardar a
competitividade das empresas.

30 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
Esta intervenção focar-se-á em quatro gran- formação de ativos e no desenvolvimento já celebrados nesta sede, nomeadamente
des eixos estratégicos, definidos como os de competências através da aprendizagem o “Compromisso Tripartido para um Acor-
mais relevantes para a prossecução destes ao longo da vida, com particular atenção à do de Concertação de Médio Prazo”, de 17
objetivos: adequação da oferta de formação às neces- de janeiro de 2017 e o Acordo com vista a
• Promover o Investimento sidades das micro e pequenas empresas. “Combater a precariedade e reduzir a seg-
• Fomentar condições de capitalização e fi- Neste, como noutros domínios, é neces- mentação laboral e promover um maior di-
nanciamento sário colocar a empresa no centro estra- namismo da negociação coletiva”, de 18 de
• Adequar o mercado de trabalho tégico das políticas públicas, devendo o junho de 2018.
• Melhorar o ambiente de negócios Estado concentrar-se nas suas funções de O cumprimento efetivo do acordado cons-
No plano da fiscalidade, a CIP continuará a regulador e delegar nas Associações Se- titui condição sine qua non para a valoriza-
lutar pela redução da carga fiscal sobre as toriais e Empresariais e respetivos Centros ção e credibilização da Concertação Social,
empresas e por um sistema fiscal mais com- de Formação por elas geridos, bem como contribuindo, assim, para o desenvolvimen-
petitivo, mais previsível e simples, retirando- nas empresas, competências de gestão e to económico e para a paz social que de-
-lhe complexidade e opacidade, e conferin- execução dos programas de formação e fendemos.
do-lhe maior estabilidade. Mantendo a sua desenvolvimento empresarial. Por outro lado, a CIP pronunciar-se-á sobre
posição favorável a um compromisso no Coerentemente com as conclusões do Do- projetos de diploma com que venha a ser
sentido da retoma do calendário de redução cumento de Reflexão “O Conceito de Rein- confrontada, procurando preservar os aspe-
da taxa de IRC e eliminação das derramas, dustrialização, Indústria 4.0 e Política Indus- tos positivos verificados ao nível da legisla-
a CIP defenderá igualmente a discriminação trial para o Século XXI - O Caso Português”, ção laboral nos últimos anos, e que foram
positiva das empresas que investem com e contando com os contributos dos seus no sentido favorável à competitividade das
base em capitais próprios, bem como a cor- Conselhos Consultivos, a CIP intervirá junto empresas e à flexibilidade do mercado do
reção dos elementos mais distorcivos da tri- das entidades públicas das áreas da Econo- trabalho, não só para nos mantermos em
butação das empresas, nomeadamente no mia, do Ambiente e da Energia, bem como condições de igualdade concorrencial com
âmbito das tributações autónomas. Comité Estratégico da Plataforma Portugal os nossos mais diretos adversários, mas,
A CIP acompanhará a implementação no i4.0, com o objetivo central de uma política também, para atrair investimento produtivo
terreno do novo enquadramento dos apoios abrangente e transversal que incorpore a que fomente o crescimento e o emprego no
às empresas e às associações decorrente preocupação pela competitividade industrial nosso País.
da reprogramação do Portugal 2020, bem em todos os aspetos da intervenção do Es- Essa vertente de preocupação e ação não
como a definição das principais linhas es- tado na economia. colocará em causa a apresentação, quando
tratégias para o próximo período de pro- Esta preocupação estará presente, nomea- oportuno e adequado, de iniciativas relati-
gramação, intervindo à luz das posições já damente, no acompanhamento rigoroso da vamente aos aspetos que ainda se revelem
definidas. Estratégia Nacional para a Digitalização da credores de ajustamento.
Atentas a necessidade de recapitalização Economia, do Plano de Ação para a Eco- Entre tais aspetos, sublinha-se a alteração
das empresas e as dificuldades de acesso nomia Circular (PAEC), do Plano Estratégico do enquadramento normativo, bem como
ao financiamento, que permanecem um para os Resíduos Não Urbanos (PERNU), o funcionamento e financiamento do Fundo
sério constrangimento a um relançamento da estratégia do Governo em matéria de de Compensação do Trabalho, os quais,
mais forte do investimento, a CIP intervirá, política energética e, em geral, da política tendo em conta as discussões em sede de
junto do Governo, no sentido de: europeia e nacional no âmbito do binómio Concertação Social, deverão ser alinhados
• Proceder a uma avaliação exaustiva e es- Energia/Clima. no sentido de um menor consumo de recur-
clarecedora do Programa Capitalizar, quer A CIP continuará a insistir na regularização sos físicos e financeiros que incidem sobre
nos seus resultados, quer identificando as urgente, completa e definitiva dos paga- as empresas.
medidas ainda não executadas. mentos em atraso por parte das entidades
• Dar um novo fôlego a este Programa, com públicas, bem como na defesa de soluções COMPROMISSO COM UMA
particular ambição na sua dimensão finan- com vista a um melhor funcionamento do EUROPA UNIDA EM TORNO
ceira, definindo um calendário de implemen- sistema judicial, com particular atenção ao DA COMPETITIVIDADE
tação das medidas em falta e/ou outras que desenvolvimento os Tribunais de Comércio. O próximo ano será marcado pelas elei-
se venham a demonstrar convenientes face A CIP atuará no sentido de defender a con- ções europeias e pela saída do Reino Uni-
aos objetivos do Programa e à evolução da corrência e a não discriminação negativa do da União Europeia. Os temas tratados
realidade. das empresas portuguesas em concursos aos níveis Europeu e Internacional podem
• Focar os recursos da Caixa Geral dos De- públicos, nomeadamente pela inclusão de condicionar a atividade das empresas por-
pósitos no apoio ao setor produtivo e em es- requisitos técnicos injustificados. tuguesas e são determinantes na orientação
pecial às PME e às empresas exportadoras. Além da colaboração no Programa Simplex imprimida às políticas públicas nacionais.
• Alargar e impulsionar a ação da Instituição +, através de novas auscultações aos asso- Por isso, a CIP tem a responsabilidade e o
Financeira de Desenvolvimento como ins- ciados e da subsequente apresentação de dever de assegurar que a voz das empresas
trumento dinamizador de diversificação das propostas, a CIP insistirá na efetiva imple- portuguesas é tida em consideração nos
fontes de financiamento e da capitalização mentação do mecanismo de avaliação do organismos internacionais e, em particular,
das PME. impacto económico de novas iniciativas le- nos processos de decisão Europeus.
No domínio da qualificação dos recursos gislativas, em especial nas micro, pequenas Assim, em 2019, e no cumprimento das
humanos, a CIP procurará, nomeadamen- e médias empresas. orientações constantes do Plano para o
te no quadro da utilização dos fundos eu- A CIP, ao nível da CPCS, acompanhará e Triénio 2017-2019, no âmbito da sua inter-
ropeus, que a prioridade seja colocada na defenderá a implementação dos Acordos venção nos organismos internacionais, na

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 31
ATUALIDADE

preparação de posições e nas atividades da fluente. Continuará a apostar no reforço da • Conselho do Turismo Português – Conti-
BusinessEurope e outras entidades interna- representatividade e competências próprias, nuará a funcionar como um fórum de refle-
cionais, a CIP compromete-se a acompa- e das suas associadas, de forma a reforçar xão sobre o Turismo, entre a CIP e os seus
nhar os seguintes temas: o seu papel de Confederação Empresarial associados deste setor, de molde a propor-
• Materialização do Brexit e negociações para mais representativa a nível nacional, assen- cionar à CIP uma intervenção mais profícua
o relacionamento futuro entre o Reino Unido e te numa estrutura associativa forte, coesa junto das entidades oficiais.
a União Europeia, dando destaque às possí- e abrangente, que diariamente defende efi- • Conselho Estratégico Nacional da Energia
veis consequências elencadas no estudo da cazmente as empresas e as apoia a crescer – Continuará a acompanhar a questão da
CIP “Brexit – As consequências para a econo- sustentadamente. competitividade dos sistemas energéticos
mia e as empresas portuguesas”; No cumprimento das orientações cons- nacionais (eletricidade e gás natural) e a
• Acompanhamento e participação nas ati- tantes do Plano para o Triénio 2017-2019, sua dependência dos mercados, designa-
vidades de implementação do novo Progra- no sentido de apoiar os seus associados damente do europeu. Dará, ainda, a devida
ma de Trabalho Plurianual do Diálogo Social a crescer, a aumentar a qualidade e valor relevância à necessária interação com Go-
dos Parceiros Sociais Europeus para 2019- acrescentado dos serviços que prestam às verno, Administração Pública, Regulador e
2021 – após a sua aprovação –, no qual se empresas e a diversificar os seus serviços outros agentes deste setor.
prevê a realização de negociações destina- e produtos, a CIP propõe-se, em 2019, dar • Conselho Estratégico Nacional da Saúde
das a alcançar um acordo sobre a Digitaliza- continuidade ao projeto “Movimento Asso- – Manterá a defesa da relevância social e
ção dos Mercados de Trabalho; ciativo Empresarial Regional – um contributo económica da área da saúde no nosso País,
• Reforma da União Económica e Monetária, para o desenvolvimento integrado do país”, dado que Portugal deve ter um sistema de
com especial atenção ao desenvolvimento desenvolvido durante o ano de 2018. saúde de qualidade, eficiente, em que os
das propostas apresentadas pela Comissão Será promovida uma reunião com as Câ- portugueses confiem, e que este se possa
Europeia em 2018 – o Programa de Apoio maras de Comércio Bilaterais no sentido de constituir como um fator de competitividade
às Reformas e o Instrumento Europeu de promover a cooperação da CIP e suas As- nacional, criador de valor social e económi-
Estabilização do Investimento; sociadas com estas entidades. co. Neste contexto, a questão do subfinan-
• A defesa da Política de Coesão, no âmbi- A CIP continuará também a promover e a ciamento do setor da saúde será um dos
to do quadro das novas perspetivas finan- dar apoio técnico à atividade dos Conselhos focos da atuação deste Conselho.
ceiras da UE (Quadro Financeiro Plurianual Consultivos da Confederação, valorizando o • Conselho Estratégico Nacional do Am-
pós-2020); seu papel, contribuindo para a eficiência do biente – Continuará atento aos novos rumos
• A política comunitária para as PME, parti- seu funcionamento e para a eficácia do seu da sociedade, aos desafios da Economia
cularmente o financiamento das empresas, contributo para a intervenção fundamentada Circular e da sustentabilidade dos recursos,
a internacionalização e a melhor regulamen- da CIP nos respetivos domínios de atuação: em particular da água e dos seus usos. De-
tação; • Conselho Associativo Regional - Continua- dicará, também, uma especial atenção aos
• Evolução da política europeia em matéria rá a dinamizar a articulação entre a CIP, as diversos constrangimentos existentes no li-
de energia e clima, influenciada por deci- estruturas associativas empresariais regio- cenciamento das atividades.
sões provenientes do COP24 e, posterior- nais e os diversos agentes locais, e a de- • Conselho Estratégico para a Cooperação,
mente, em preparação do COP25; senvolver propostas que visem promover Desenvolvimento e Lusofonia Económica –
No âmbito das eleições europeias a CIP ela- uma eficaz reorganização e reforço das es- Continuará a acompanhar o processo de
borará um documento que reúna as priorida- truturas associativas empresariais regionais. negociação para o quadro pós-Cotonou
des da CIP para a nova Comissão Europeia, • Conselho da Indústria Portuguesa – Cons- e as oportunidades económicas no conti-
que será apresentado aos futuros Eurodepu- ciente da importância da reindustrialização nente africano, de modo a providenciar o
tados Portugueses, à Comissão Europeia e de Portugal, avaliará as políticas governa- melhor apoio aos Associados da CIP sobre
ao Governo. A CIP participará ainda na cam- mentais a partir do Documento de Reflexão estes temas. Aumentará a sua relevância (e,
panha da BusinessEurope, “Obrigado Euro- “O Conceito de Reindustrialização, Indústria por consequência, a da CIP) na atividade da
pa”, para promoção da Europa e incentivo ao 4.0 e Política Industrial para o Século XXI BusinessEurope, com a nomeação do Pre-
voto nas eleições europeias; – O Caso Português”. Temas como a Eco- sidente do CECDLE para presidir ao Grupo
O foco nestes aspetos não prejudicará a atua- nomia Circular (nomeadamente na vertente de Trabalho Africa Network, no âmbito dos
ção da CIP noutras discussões globais ou dos conceitos e dos setores prioritários) e trabalhos do Comité de Relações Interna-
temas pontuais onde esta se justifique, como os desafios dos futuros e atuais postos de cionais. Será ainda realizada uma primeira
o combate ao protecionismo económico atra- trabalho na indústria irão ser centrais nos reunião da CIP com os Presidentes das
vés da defesa do estabelecimento de acordos trabalhos deste Conselho em 2019. Câmaras de Comércio e Indústria Bilaterais,
comerciais e do processo de modernização • Conselho do Comércio Português – Con- tendo em vista o desenvolvimento da ativi-
da Organização Mundial do Comércio. tinuará a proporcionar a articulação entre a dade do Conselho das Câmaras de Comér-
CIP e os seus associados, tendo em vista cio e Indústria da CIP.
COMPROMISSO COM UM encontrar respostas para os novos desafios • Conselho Estratégico para a Economia
MOVIMENTO ASSOCIATIVO que se deparam a este setor, contribuindo Digital – Continuará a centrar-se nas te-
SÓLIDO E COM VALOR PARA desta forma, para uma atuação mais efi- máticas relacionadas com a transforma-
AS EMPRESAS ciente da CIP junto das entidades oficiais e ção digital e a dar o seu contributo para
Em 2019, a CIP mantém a sua aposta no das empresas. Continuará a promover e a que o País se afirme neste novo mundo
fortalecimento e consolidação do movimen- acompanhar a implementação do Código em que as tecnologias deverão ser uma
to associativo, com vista a uma defesa dos das Boas Práticas Comerciais para a Cadeia ferramenta de sucesso económico e de
interesses das empresas mais atuante e in- de Abastecimento Agroalimentar. justiça social.

32 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
ASSOCIADOS

CONGRESSO APIFARMA 2018

Indústria farmacêutica valoriza


o PIB português em 2,3%

O estudo da APIFARMA “O Valor do Medicamento em Portugal”, desenvolvido em colaboração


com a consultora McKinsey & Company, conclui que em 2016 o contributo das empresas
farmacêuticas para a economia portuguesa superou os 4 mil milhões de euros e emprega
mais de 100 mil pessoas
O estudo da Associação Portuguesa da consideramos o impacto na economia glo- custos operacionais anuais do Hospital de
Indústria farmacêutica deixa claro que os bal, incluindo os fornecedores ao longo da Santa Maria e do Hospital Pulido Valente.
medicamentos inovadores, produto do tra- cadeia de valor e o efeito induzido pelos co- O estudo – que disponibiliza pela primeira
balho da Indústria Farmacêutica, acrescen- laboradores da indústria farmacêutica, este vez dados da realidade nacional sobre o im-
tam valor significativo a Portugal e assumem número ascende a 100 mil empregos totais. pacto do medicamento referente ao perío-
um papel central na qualidade de vida das Apesar dos números, o estudo evidencia do entre 1990 e 2015 – analisa também a
populações no desempenho global dos sis- que a percentagem do PIB associado à in- importância dos medicamentos inovadores
temas de saúde. dústria farmacêutica em Portugal é metade na vida das pessoas. Só no tratamento de
Os medicamentos inovadores são respon- da espanhola e um terço menor que a italia- 8 doenças que atingem 20% da população
sáveis por um forte impacto direto na Eco- na. Na verdade, a indústria farmacêutica em portuguesa e representam 15% da carga de
nomia nacional. Em 2016 a atividade da Espanha e em Itália gera um valor superior doença no nosso país, permitiram ganhar 2
indústria farmacêutica representou 2,3% do ao de Portugal, 12 vezes mais e 14 vezes milhões de anos de vida saudável (dos quais
PIB português, o que equivale a um contri- mais, respectivamente. Por isso o estudo re- 180 mil apenas no ano de 2016), evitaram
buto de 4,3 mil milhões de euros para a eco- fere que um investimento adicional na indús- mais de 100 mil mortes e acrescentaram
nomia nacional. Este valor representa uma tria farmacêutica, alinhado alinhando Portu- 10 anos de esperança média de vida a es-
subida de 53,5% face ao ano 2000, ou seja gal com os países referidos, poderia gerar ses portugueses. O valor dos anos de vida
um reforço de 1,5 mil milhões de euros. um contributo adicional de 2,2% do PIB, ou saudável ganhos nas oitos doenças consi-
As empresas farmacêuticas representam seja mais 4 mil milhões de euros. deradas no estudo representa entre 5 a 7
assim um importante motor de crescimento No plano social, o estudo debruçou-se sobre mil milhões de euros/ ano, acima do gasto
global do PIB, crescendo mais rapidamente o contributo dos medicamentos para a pro- total em medicamentos, situado nos 3,8 mil
do que a economia global (2,7% versus 2,3% dutividade dos portugueses. As terapêuticas milhões de euros.
p.a.). Acresce que a indústria farmacêutica inovadoras permitiram que, no conjunto das Para avaliar os impactos humanos e sociais,
apresenta um rácio input/output de 2,1 ve- doenças analisadas, os doentes portugueses foram selecionadas oito áreas terapêuticas:
zes, acima da média de todos os sectores continuassem a ser produtivas, gerando cer- Cancro do Pulmão de células não peque-
em Portugal, o que significa que esta indús- ca de 280 milhões de euros/ ano de rendi- nas, Cancro Colo-Rectal, Esquizofrenia, In-
tria gera 2,1 euros por cada euro investido. mento adicional, o que representa cerca de feção pelo VIH/SIDA, Insuficiência Cardíaca,
Quanto à rúbrica emprego, o mesmo estudo 1.000 euros/ mês por família afetada. Diabetes, Artrite Reumatóide e Doença Pul-
refere que em Portugal as empresas farma- Outro dado interessante diz respeito ao con- monar Obstrutiva Crónica.
cêuticas 10 mil pessoas directamente. Este tributo dos medicamentos inovadores para O estudo “O Valor do Medicamento em Por-
número aumenta para 40 mil se considerar- o desempenho do sistema de saúde, permi- tugal” foi apresentado no Congresso API-
mos uma definição de indústria farmacêuti- tindo reduzir hospitalizações e outros custos FARMA “Compromisso com as Pessoas:
ca mais alargada, que inclui transporte e co- diretos com saúde em cerca de 560 milhões Mais e Melhor Vida”, no dia 30 de outubro,
mércio de produtos farmacêuticos. Quando de euros/ ano, valor suficiente para cobrir os no Centro de Congressos de Lisboa.

34 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
Encontro APIGRAF 2018

Mercado gráfico em transformação


A transformação pela qual passa o mercado gráfico atual foi o principal ponto de análise e debate
no Encontro APIGRAF 2018. A reunião, que junta anualmente os principais agentes de um setor
que representa 4% da indústria transformadora nacional, decorreu nos dias 12 e 13 de outubro,
no Hotel Montebelo, em Viseu, sob o lema “Preparar o Futuro com Confiança”

O ENCONTRO que a APIGRAF organiza, embalagens e da proteção de dados, a associação uma verdadeira representante
acontece anualmente há mais de 20 anos formação técnica e de soft skills, os pro- do sector, referiu que é porém importante,
e é um espaço de partilha de Informação, tocolos nas áreas da eletricidade e dos numa área como a da indústria gráfica e
discussão sobre a atualidade e o futuro da transportes, os diversos eventos – Encon- transformadora de papel, ter presente que
indústria e também um momento de ne- tro, SEPC, Empack, Portugal Print -, a con- existe uma enorme maioria de empresas
tworking para todos os participantes. O en- tratação coletiva, a representação interna de micro ou pequena dimensão, pelo que
contro faz também um balanço da ativida- e externa do sector e o desenvolvimento a mera referência ao número de empre-
de da associação e do próprio sector que, da área da comunicação foram alguns dos sas associadas não é suficiente. As aná-
segundo os dados mais recentes disponí- temas referidos, evidenciando o trabalho lises em termos de volume de negócios e
veis, emprega mais de 26 mil portugueses. efectuado. Teresa Borba reforçou também número de trabalhadores das empresas
A este propósito a Diretora Geral da API- a relevância do associativismo, sublinhan- associadas, incluindo o número médio de
GRAF, Teresa Borba, fez uma apresenta- do que se trata de uma associação que trabalhadores das empresas associadas
ção que incidiu sobre a atividade da Asso- quer representar o maior número de em- face ao das empresas não associadas,
ciação durante o ano de 2018 e algumas presas associadas possível e que é a mul- evidencia uma muito maior expressivida-
iniciativas previstas para 2019. A área da tiplicidade e variedade de dimensões, ati- de, que se situa acima dos 60% e atinge
informação e lobbying, em particular nas vidades e características dos associados indicadores mais expressivos em função
matérias de embalagens e resíduos de que contribui decisivamente para fazer da das segmentações que se façam.

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 35
ASSOCIADOS

Há crescimento de
mercado sem inovação?
No sector do grande consumo, em Portugal, a inovação não tem ocorrido em grau suficiente,
ou pelo menos, não tem tido a capacidade de gerar uma influência decisiva na performance
das principais categorias de produtos, porque tem sido relativamente escassa, não tem sido
suficientemente disruptiva e não tem conseguido mostrar a necessária capacidade de
alavancagem do mercado
HÁ UMA VELHA máxima que refere que “o deste texto – que um crescimento sustenta- vador deve corresponder uma comunicação
que não se consegue medir, não se conse- do do mercado deve assentar numa inova- igualmente inovadora e que motive à experi-
gue gerir”. O estudo, elaborado pela KPMG ção forte e contínua. mentação e à adopção.
para a Centromarca, que faz uma “Avalia- Sabemos, por exemplo, que nas categorias A inovação tem que estar acessível ao con-
ção do Impacto Económico da Inovação do de produtos onde a inovação não chega, os sumidor, a inovação tem que chegar aos li-
Sector de Fast Moving Consumer Goods lineares tornam-se amorfos, a compra trans- neares e ser visível nas prateleiras e se o seu
(FMCG)” 1 , vai nesse mesmo sentido. Com- forma-se numa maçadora rotina e as únicas sucesso é um objectivo, tem que existir aca-
pilar dados robustos que sirvam de base e dinâmicas obtidas resultam da acção promo- rinhamento e destaque no ponto de venda.
apoiem as nossas decisões. E com ele pre- cional (a que impulso nas vendas correspon- A capacidade de chegar ao mais alargado
tendíamos perceber se, nos últimos anos, a de a consequente perda de rentabilidade). leque de consumidores é, nos produtos de
inovação tem sido ou não o principal motor A inovação exige investimentos, investimen- grande consumo e para mercados da di-
do mercado. tos vultuosos e qualificados, seja na inves- mensão do português, um factor crítico de
No mercado FMCG, em Portugal, a inovação tigação prévia, seja na interacção com o sucesso… Estar presente em mais lojas, es-
efectivamente não tem ocorrido em grau su- consumidor aferindo dos seus gostos e ex- tar presente num maior espaço de prateleira,
ficiente. Contudo, em períodos de maiores pectativas. Investimentos com o produto e a incrementa exponencialmente as probabili-
dificuldades económicas – e uma parte im- sua embalagem. Investimentos na sua divul- dades de sucesso.
portante do período coberto pelo estudo cor- gação e colocação no mercado. A Inovação no mundo dos produtos ditos
responde ao ciclo da crise - a Inovação tem A inovação é uma actividade de risco eleva- de grande consumo não é entendida como
que percorrer um caminho mais complexo do. Os números são conhecidos e mostram ‘ciência atómica’ mas, para além de uma
para chegar ao consumidor. E num mercado como a inovação no sector dos produtos de complexidade por vezes surpreendente, é
onde imperam as políticas de baixo preço e grande consumo apresenta uma forte morta- fundamental para tornar a nossa vida mais
onde avulta uma forte pressão promocional, lidade, sendo não mais do que dois em cada fácil, mais conveniente e mais segura e se
a Inovação tem ainda mais dificuldades em dez os novos produtos que ultrapassam a for bem-sucedida é aportadora de valor para
conquistar um espaço nas prateleiras. barreira do segundo ano. Na verdade, é pre- todo o seu ecossistema.
Porém, se – como se refere no estudo – a ciso tentar muito, para falhar muitas vezes e Mas, na verdade, a Inovação nunca é sufi-
dinâmica inovatória tivesse seguido as pe- acertar de vez em quando. E o retorno obtido ciente! Se queremos um mercado dinâmico e
gadas do que ocorre na vizinha Espanha, é, demasiadas vezes, pouco atractivo. positivo, precisamos de uma Inovação contí-
naquele mesmo período os novos produtos Há, como todos sabemos, excelentes pro- nua, que seja suficientemente disruptiva, que
colocados no mercado teriam gerado vendas dutos de que nunca ninguém ouviu falar e adicione valor e que seja percebida e adopta-
adicionais de dois mil milhões de euros, um que como tal não tiveram qualquer sucesso da pelo Consumidor…
acréscimo ao nosso PIB de mil milhões de e, obviamente, a excelência do novo produto E para que aquele efeito de alavancagem seja
euros, 26.600 novos postos de trabalho ou pode ser ‘assassinada’ por uma má comu- alcançado, a maximização da inovação tem
mais 350 milhões de euros em receitas fis- nicação ou pela ausência de comunicação. que ser um objectivo prosseguido por toda
cais para o Estado. Não esquecendo que, O consumidor tem que perceber que a ino- a cadeia de abastecimento - produtores,
em Espanha, a indústria se queixa da menor vação chegou, que a inovação existe, que a transformadores, marcas, retalhistas - sem-
receptividade dos retalhistas relativamente à inovação lhe pode aportar valor. O consumi- pre com o objectivo de proporcionar a mais
inovação, mas que a pressão promocional é dor tem que conhecer e que reconhecer os ampla escolha, a maior qualidade e a melhor
aproximadamente metade da que se verifica novos produtos. Por isso, a um produto ino- proposta de valor para o consumidor.
em Portugal.
Há um alargadíssimo consenso sobre como
a Inovação é um factor muito positivo para
quem a promove, para os vários elos da ca-
Nuno Fernandes Thomaz
deia a montante e a jusante da fonte da ino- PRESIDENTE DA CENTROMARCA
vação e para o mercado como um todo. Na
verdade, acreditamos convictamente – até NOTA
1- O estudo encontra-se disponível em:
como resposta à questão colocada no título https://www.centromarca.pt/folder/conteudo/1979_3a_EstuudoKPMG.pdf

36 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
OPINIÃO - ECONOMIA DO MAR

Porto de Setúbal: Uma referência


internacional da região
O Porto de Setúbal beneficia de condições ímpares que lhe permitem oferecer a quase totalidade
dos serviços portuários exigidos a um porto exportador de média dimensão

ESTE PORTOP está integrado na Rede desenvolvimento tecnológico, ao reforço do Centro de Controlo Marítimo, de Melho-
Ferroviária Nacional e Rede Rodoviária da segurança e ao desenvolvimento de ria dos Acessos Ferroviários, em fase de
Principal, integradas na Rede Transeu- atividades paralelas que contribuam para desenvolvimento dos respetivos estudos
ropeia de Transportes (RTE-T). Tem uma o seu desenvolvimento e consolidação da técnicos, que permitirão ligações diretas
grande capacidade disponível instalada, sua atividade. mais eficientes, potenciando as exporta-
com possibilidade de expansão na frente No âmbito da concretização da Estratégia ções e a concretização da Melhoria das
marítima. Está inserido numa das mais im- para o Aumento da Competitividade da Acessibilidades Marítimas ao Porto, com
portantes zonas industriais e de consumo Rede de Portos Comerciais do Continente conclusão prevista no primeiro semestre
do país e tem uma centralidade geográfica - Horizonte 2026, aprovada pela Resolução de 2019, com o aprofundamento do Canal
que o coloca no cruzamento das principais do Conselho de Ministros n.º 175/2017, da Barra e do Canal Norte para -15m (ZH) e
rotas Norte/Sul, Este/Oeste. publicada no Diário da República n.º -13,5m (ZH), de forma a incrementar a se-
Tem como clientes empresas importantes: 227/2017, estão em curso os projetos de gurança e a eficiência do transporte maríti-
Autoeuropa Volkswagen, Portucel, Navi- Melhoria do sistema de VTS, que consiste mo e das operações portuárias e aumentar
gator, Siderurgia Nacional, Secil, Cimpor, na atualização da infraestrutura informática a sustentabilidade ambiental, permitindo o
entre outras. a nível de hardware e software dedicados acesso a navios mais modernos e menos
A Estratégia para o Desenvolvimento do
Setor Marítimo-Portuário, identifica um
conjunto de investimentos associados ao
setor, por forma a fortalecer a sua robus- Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra
tez e o seu crescimento, dotando-o de NOTA
infraestruturas modernas, associadas ao Este artigo representa a opinião pessoal do autor e não vincula a CIP - Confederação Empresarial de Portugal

38 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
OPINIÃO - ECONOMIA DO MAR

poluentes e criando escala para reforçar a de cimento a granel no terminal SECIL. vimento de mercadorias nos últimos meses
quota modal da ferrovia em detrimento do No Terminal Praias Sado, o movimento de do ano, pelo que as previsões de cresci-
transporte rodoviário. concentrados de cobre e zinco continua a mento do movimento de mercadorias no
Com a perspectiva de melhoria das aces- crescer (+7,9%), tal como antecipado pelo porto de Setúbal dificilmente deverão ser
sibilidades marítimas e do aumento da ca- concessionário. Em termos acumulados, a atingidas.
pacidade de receção de navios de maior carga contentorizada movimentou 120 mil O Porto de Setúbal é já um representan-
dimensão, abrem-se novas oportunidades TEU. te de referência internacional da região.
de atração de linhas e de serviços incre- Em volume, os terminais de serviço público A sua atividade comercial é estabelecida
mentando a oferta de serviços e potencian- representaram mais de 70% da carga mo- quase na totalidade com outros países, a
do a instalação de indústrias e de novas vimentada em porto, acentuando cada vez cabotagem tem muito pouco significado
atividades, nomeadamente logísticas na mais a associação da vertente comercial em termos de cargas. O porto é conheci-
região de proximidade do Porto de Setú- do porto face à sua vocação industrial. do internacionalmente pela sua eficiência
bal, tornando possível aos parceiros a ca- No mês de outubro movimentaram-se, no e competitividade, e também pelas suas
tivação de mais carga, mais navios e mais segmento Roll-on Roll-off de exportação, características únicas que permitem a na-
destinos. 15.400 viaturas, estando este valor acima vegabilidade todo o ano. É preferência de
da média mensal de 14.817 viaturas/mês algumas das maiores empresas exporta-
Crescimento significativo de exportação, não se tendo sentido ain- doras e importadoras de Portugal. É líder
O movimento total do Porto de Setúbal foi, da no movimento estatístico de outubro os nacional na movimentação de ro-ro no
em 2017, de cerca de 6,6 milhões de to- efeitos da greve da mão-de-obra portuária. segmento de veículos ligeiros novos e na
neladas. Por modos de acondicionamento, No entanto, a greve dos estivadores no movimentação de carga geral fracionada.
destaca-se a carga geral com 3,7 milhões Porto de Setúbal terá implicações provo- Por fim, é um parceiro ativo do desenvolvi-
de toneladas (fracionada: 1,7 milhões de cando o abrandamento esperado no mo- mento turístico da região.
toneladas; contentores: 1,6 milhões de to-
neladas; ro-ro: 351 mil toneladas), tendo os
granéis sólidos atingido os 2,6 milhões de
toneladas e os granéis líquidos as 275 mil
toneladas. Em unidades, nos contentores
foram movimentados 152 mil TEU e no ro-
-ro 224 mil veículos.
Em 2018 o movimento de navios no porto
de Setúbal continua a registar um cresci-
mento significativo, quer em número de es-
calas registadas (1.353), o que representa
um aumento de 1,5%, quer na dimensão
dos navios, que registou um crescimento
de 5% face ao período homólogo do ano
anterior.
Dados mais recentes, acumulados a Ou-
tubro, evidenciam ainda que o Porto de
Setúbal movimentou cerca de 5,5 milhões
de toneladas. Os segmentos carga Roll-
-on Roll-off e os granéis, sólidos e líquidos,
apresentaram variações positivas, sendo
que se destaca o crescimento de 42% no
movimento de carga Roll-on Roll-off, tota-
lizando 248 mil unidades movimentadas
através do porto, como resultado do au-
mento da exportação de veículos automó-
veis produzidos na unidade industrial VW
AutoEuropa (VW T-Roc, VW Sharan e SEAT
Alhambra), que representou cerca de 148
mil unidades.
No segmento dos granéis sólidos movi-
mentaram-se cerca de 2,4 milhões de to-
neladas até outubro, tendo-se registado
um crescimento de 2,6% face ao período
homólogo, como consequência dos au-
mentos verificados na movimentação de
sucata a granel e de coque de carvão no
TPS–Terminal SAPEC, de estilha de ma-
deira importada no terminal TERSADO e

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 39
OPINIÃO - ECONOMIA DO MAR

Porto de Leixões:
Eficiência operacional
e polivalência
O Porto de Leixões é um dos principais portos portugueses e uma das infraestruturas
portuárias mais competitivas do Noroeste Peninsular, que serve os seus clientes com
elevada eficiência operacional, polivalência, fluidez e conectividade

COM UMA TRAJETÓRIA de crescimento com os mais avançados sistemas de gestão dade de construção de 90.830 m2 e 83.560
constante, o Porto de Leixões fechou o ano e de segurança do tráfego portuário, ofere- m2 de área de armazéns logísticos, respe-
de 2017 com o melhor resultado de sempre cendo serviços eficientes a custos competi- tivamente.
no movimento de mercadorias, assumindo- tivos, essenciais para o escoamento de pro- Esta plataforma de elevado potencial pode
-se como o segundo maior porto nacional, dutos acabados e para o abastecimento de acomodar todos os segmentos do mercado
em termos de toneladas movimentadas, matérias-primas e bens de consumo. logístico, desde a carga contentorizada aos
como o maior porto exportador nacional de granéis, e todos os sectores, desde a logís-
hinterland em contentores e como o princi- Plataforma Logística do Porto de Leixões tica de stockagem, cross-docking, tempera-
pal porto do país em movimentação de car- A Plataforma Logística do Porto de Leixões tura ambiente ou refrigerada.
ga roll-on/rol-off. (PLPL) é um elemento-chave na cadeia de Como serviços complementares, o PLPL
Com exportações para 184 países e uma valor associada, que contribui de uma for- tem projetado um Centro de Serviços, num
média mensal de 1,6 milhões de tonela- ma decisiva para o crescimento do porto e edifício com espaços para escritórios, onde
das de mercadorias a circular, em 2017 o para a transformação da Área Metropolitana serão instalados os serviços aduaneiros, fi-
Porto de Leixões movimentou 19,5 milhões numa plataforma competitiva a nível ibérico, nanceiros, administrativos de transitários,
de toneladas de carga. Estes valores repre- com condições únicas para a atração e fi- agentes de navegação seguros, agências
sentaram um aumento de 8% face ao ano xação de polos logísticos e de distribuição. bancárias e restauração. A PLPL contempla
anterior e um novo máximo histórico que ul- A PLPL é constituída pelos polos 1 (Gon- também um núcleo com serviços de apoio
trapassa, em larga escala, o recorde alcan- çalves) e 2 (Gatões/Guifões) localizados na aos veículos pesados e aos seus motoris-
çado em 2015. envolvente da infraestrutura portuária, com tas, como parqueamento, lavandaria, vestiá-
Também o movimento de granéis líquidos áreas de 31 e 30 hectares e com a capaci- rios e cafetaria.
e de carga roll-on/roll-off atingiram valores
nunca antes vistos, ambos com um incre-
mento de 18% face a 2016.
Esta performance revela que o Porto de
Leixões tem um papel determinante na
competitividade e internacionalização das
empresas portuguesas, com contributos
diretos no desenvolvimento da comunidade
local, designadamente na alavancagem de
negócios de importação e de exportação de
mercadorias, com grande impacto na eco-
nomia nacional.
Leixões é um porto exportador por excelên-
cia, que serve praticamente todo o tipo de
navios e de cargas, bem como de cruzeiros.
Dispõe de diversos serviços de linhas regu-
lares para os principais portos europeus e
mundiais e tem ligações diretas para alguns
países Africanos.
Com cinco quilómetros de cais, 55 hecta- APDL – Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, S.A.
res de terraplenos e 120 hectares de área NOTA
molhada, o Porto de Leixões está equipado Este artigo representa a opinião pessoal do autor e não vincula a CIP - Confederação Empresarial de Portugal

40 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
OPINIÃO - FORMAÇÃO PROFISSIONAL

REVOLUÇÃO DIGITAL E APRENDIZAGEM

Qualificação Profissional
e Crescimento Económico
ASSISTE-SE, atualmente, a uma cada A análise do IDES – Índice da Digitalidade modo a responder à crescente procura
vez maior incorporação das Tecnologias da Economia e da Sociedade, publicado do mercado e promover a qualificação do
da Informação, Comunicação e Eletróni- pela UE, apresenta o seguinte panorama: emprego.
ca (TICE) em todas as dimensões da so- Neste contexto, foi recentemente assi-
ciedade, nomeadamente com o objetivo nado um Acordo de Cooperação com
de simplificar os procedimentos técnicos o Conselho Coordenador dos Institutos
em contexto laboral e aproximar os ser- Superiores Politécnicos e com 6 Institu-
viços públicos da população. As aprendi- tos Politécnicos, com o objetivo de de-
zagens, a produtividade e a competitivi- senvolver um programa de formação de
dade estão cada vez mais dependentes requalificação para a área digital, a minis-
de meios digitais. trar pelos ISP.
A Revolução Digital veio para ficar e este Este programa visa potenciar a integra-
desafio é de todos nós. ção qualificada de desempregados com
A tecnologia não vai eliminar o trabalho. Ciente desta realidade, o IEFP come- formação superior, cujas competências
Vai transformá-lo, como já está a trans- çou a desenhar estratégias formativas se revelem desajustadas face às exigên-
formar a aprendizagem e os modos de específicas, integrando tecnologias co- cias do mercado, proporcionando-lhes a
ensino, ao facilitar o acesso ao conheci- laborativas online nos seus processos aquisição de competências e ferramentas
mento através de estratégias informais e de aprendizagem e promovendo ações no domínio das TICE, que facilitem o seu
não formais. O desafio será preparar um de formação a distância, destinadas a ingresso ou regresso à vida ativa.
amanhã desconhecido, integrando as formadores a formandos; e apostando O progresso tecnológico é efetivamente
mudanças trazidas pela (re)evolução tec- no desenvolvimento das competências um desafio, e as empresas e sectores de
nológica e digital. digitais, cruciais para promover a em- atividade que não se adaptarem às novas
As competências digitais estão também pregabilidade, contribuir para a inclusão tecnologias estão condenadas a sair do
intrinsecamente ligadas à empregabilida- e coesão social e consolidar o exercício mercado, assim como os trabalhadores
de e a digitalização do mercado exige no- dos direitos de cidadania, nomeadamen- que não possuam as competências di-
vas competências. Uma população ativa te pela utilização dos serviços públicos gitais necessárias para trabalhar nestas
mais capaz dinamiza o mercado, torna-o online. “novas” empresas estão condenados ao
mais competitivo, cria emprego e produ- Desenvolver projetos especiais de forma- desemprego.
tos inovadores, enquanto que a falta de ção de requalificação dirigidos a licencia- Perspetivando-se que, em 2020, a nível
competências digitais a torna mais vulne- dos desempregados, dotando-os de com- europeu, 900.000 ofertas de emprego
rável ao desemprego, pobreza e exclusão petências digitais e potenciando o ingresso na área das TICE fiquem por preencher,
social. ou retoma do exercício de atividade pro- 15.000 das quais em Portugal, e consi-
Torna-se assim necessário proceder à fissional, bem como promover processos derando que em Portugal se encontram
qualificação da população ativa portu- de certificação reconhecidos internacional- cerca de 350.000 pessoas inscritas nos
guesa, dotando-a das competências mente ao nível das competências digitais, serviços públicos de emprego, é eviden-
adequadas às necessidades das empre- são outros projetos que permitem respon- te que há ainda muito a fazer. Contudo,
sas em domínios específicos das TICE, der a estes novos desafios. e apesar de ser necessário fazer mais e
através de formação de nível intermédio Pode inserir-se aqui o INCoDe.2030, melhor, não deixar escapar oportunida-
certificada ou da obtenção de certifica- uma iniciativa interministerial cujo Eixo 3: des e sensibilizar empresas e popula-
ções especializadas. Qualificação, co-coordenado pelo IEFP, ção ativa, o IEFP, enquanto executor das
Perspetiva-se que cerca de 90% dos fu- pretende estimular a empregabilidade e a políticas ativas de emprego e formação
turos postos de trabalho exijam algum ní- capacitação e especialização profissional profissional, está preparado para, etapa a
vel de literacia digital, sendo que 52% da em tecnologias e aplicações digitais, de etapa, enfrentar este enorme desafio.
população portuguesa não tem as com-
petências digitais básicas necessárias
para aceder à Internet (vs. 44% na UE),
30% não tem quaisquer competências IEFP
INSTITUTO DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL – DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL
digitais (vs. 19% na UE) e 22% dos adul-
tos empregados não possuem compe- NOTA
tências digitais (o dobro da média da UE). Este artigo representa a opinião pessoal do autor e não vincula a CIP - Confederação Empresarial de Portugal

42 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
OPINIÃO - FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Carreiras e trajetórias profissionais


num tempo de incerteza

Em novembro, a Plataforma Eletrónica para a Educação de Adultos na Europa (EPALE) deu


destaque ao tema que concilia a educação de adultos com o desenvolvimento de carreiras.
E, em Portugal, a Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (enquanto
serviço nacional de apoio da EPALE), numa parceria com a Fundação AIP, associou esta temática
à Semana Europeia da Formação Profissional, subordinada ao mote: “Descubra o seu talento”

ESTA ASSOCIAÇÃO foi conseguida atra- dá lugar ao trabalho. Hoje, a aprendizagem tem de ser encarada como um novo fardo
vés do encontro “Carreiras e trajetórias pro- é efetivamente feita ao longo da vida e, em que as empresas ou os colaboradores terão
fissionais: desafios e novas perspetivas”, grande medida, como forma de manter as de carregar, a par das múltiplas atividades
que decorreu no dia 5 de novembro, em pessoas capacitadas para uma cidadania laborais.
Lisboa, e que procurou dar resposta a várias plena e para continuarem a dar resposta às As empresas têm hoje a possibilidade de
questões: Qual vai ser o futuro do trabalho e necessidades que as empresas vão identifi- estabelecer parcerias com Centros Qualifi-
como se prospetiva o desenvolvimento das cando no ajuste que fazem para permane- ca, que poderão ser aliados na elaboração
carreiras na idade adulta? Qual o papel da cerem competitivas. Concomitantemente, de planos de formação ajustados à realida-
orientação para a empregabilidade num ce- hoje não são só as pessoas que terão de de dessas empresas e de todos os colabo-
nário de incerteza? Que literacias e compe- descobrir e de desenvolver talentos para se radores que ainda não sejam detentores do
tências poderão enriquecer as carreiras na afirmarem perante o mercado de trabalho, 12.º ano de escolaridade ou que necessitem
idade adulta? Como atrair para a qualifica- apostando na sua formação. Também as de obter uma qualificação profissional de ní-
ção e redesenhar/gerir carreiras para públi- empresas terão de proporcionar condições vel 2 ou 4.
cos mais desfavorecidos? Como responder para que esses talentos possam emergir en- Dotados de profissionais especializados,
aos desafios de conciliação da aprendiza- tre os seus colaboradores. estes Centros ajudam a definir percursos in-
gem ao longo da vida com a necessidade Como, na idade adulta, a aprendizagem dividuais de qualificação, que tenham como
de garantia de inclusão social para todos? ganha sobretudo significado em resposta a ponto de partida as competências que cada
Do debate e dos trabalhos deste dia ficou problemas concretos resultantes do contex- colaborador já possui, utilizando para o efei-
claro que todas as respostas convergem to laboral e sem as quais as empresas dificil- to o Passaporte Qualifica e proporcionando
para a necessidade de mais qualificação e mente são capazes de se posicionarem ou apenas o que possa estar em falta. Desta
de novas competências que promovam a de se reposicionarem num mercado cada forma, as formações poderão ser mais ade-
empregabilidade, mas também a inclusão vez mais global, competitivo e exigente, faz quadas quer às necessidades do colabora-
de todos, num tempo marcado pela mu- todo sentido que as estruturas empresariais dor, quer da empresa, respeitando, inclusi-
dança e pela necessidade de aprendermos percecionem as carreiras e as trajetórias ve, os ritmos de vida e de trabalho
a lidar com a incerteza. profissionais como um projeto de respon- Este poderá bem ser o primeiro passo para
Foi igualmente consensual que a qualificação sabilidade partilhada, com ganhos para uma gestão de carreiras ou para a constru-
é cada vez menos um assunto que apenas ambos os lados (empresa/colaboradores). ção de trajetórias profissionais eficazes e
diz respeito à escola e aos restantes opera- Mas, note-se, esta responsabilidade não bem-sucedidas.
dores de educação e formação, sobretudo
na idade adulta, pois as mudanças tecnoló-
gicas e societais acabaram, há muito, com ANQEP
AGÊNCIA NACIONAL PARA A QUALIFICAÇÃO E O ENSINO PROFISSIONA
a existência de um tempo exclusivo (nas pri-
meiras fases da vida) para a aprendizagem e NOTA
de um outro tempo em que a aprendizagem Este artigo representa a opinião pessoal do autor e não vincula a CIP - Confederação Empresarial de Portugal

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 43
OPINIÃO - FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Qualificação profissional
Instrumento para o crescimento económico
NA INDÚSTRIA SÃO 2 as variáveis mais re- Núcleos, apresenta 2 estratégias diferencia- respondendo assim à forte procura de mão-
levantes para o seu crescimento económico e das e inovadoras, adaptadas a cada um des- -de-obra qualificada muito reclamada pelo Se-
sustentado. tes públicos-alvo. tor, mas que não se compagina com períodos
A 1ª variável, depende da Inovação Tecnológi- Comecemos então pelo grupo dos adultos, de formação longos, clássicos num curso de
ca (a do crescimento económico) e a 2ª, passa mais velhos, também porque respeitamos os formação inicial e, neste caso, em vez de fazer
pela Qualificação Profissional (a do crescimen- valores básicos sociais, uma vez que formar um curso integral de, por exemplo, Operador
to sustentável) que tem que acompanhar essa também é educar para a vida. de Máquinas-ferramenta, este é desenvolvido
inovação. Assim, no quadro da educação dos adultos em ciclos aditivos; 1º o ciclo Torneamento, o
Por sua vez na inovação tecnológica são acrescentamos, ao modelo da Formação 2º de Fresagem…, e no final de cada ciclo
também 2 as varáveis a considerar, nomea- Modular que mantemos no ativo, 2 respostas já têm competências parciais para integrar o
damente a variável consumidor, que define a inovadoras, sendo uma a OIF - Oficina Indivi- mercado, sendo que no final dos ciclos têm
necessidade e a variável técnica, que define dual de Formação, cuja designação identifica direito ao seu Diploma técnico e escolar, gra-
a resposta. o foco da sua estratégia, o individuo. O slogan ças a esta Formação Aditiva.
Na qualificação profissional, temos de novo 2 da OIF é Uma nova forma de ensinar | Um Quando nos focamos na formação de jovens,
variáveis; a variável inovação tecnológica, aqui modo diferente de aprender, pois esta oferta aqueles que nos vão garantir o futuro, tam-
no papel de necessidade e a variável qualifica- inovadora, já premiada a nível Europeu como bém do Setor Metalúrgico e Metalomecânico,
ção, aqui no papel da resposta e, esta respos- projeto de referência, permite, por ora, ainda o CENFIM vai começar a implementar um mo-
ta é o grande desafio da inovação tecnológica, confinado ao CNC- Comando Numérico por delo inovador, designado AB4C.
pois se a inovação tecnológica não tiver uma Computador, que o formando, em regime in- Neste projeto o fio condutor de aprendizagem
resposta qualificada que a materialize, essa, a dividual, inicie a sua formação quando lhe for deixa de ser o mero alinhamento dos módu-
tecnológica, não passará de um mero projeto. mais conveniente, escolha o seu próprio horá- los/disciplinas e a aprendizagem passa a ser
A variável tecnológica tem por base ferramen- rio conforme a sua disponibilidade, evolua no baseada num Projeto.
tas técnicas e a variável qualificação, tem por processo de aprendizagem de acordo com o O projeto AB4C é orientado para as necessi-
base ferramentas pedagógicas, e estas por seu ritmo e usufrua de recursos de aprendi- dades do mercado, que se desenvolve tam-
se debruçarem sobre pessoas, não sendo zagem únicos, inovadores, interativos e esti- bém aqui centrado no saber-fazer, mas com
mais complexa que a técnica, é mais incerta mulantes e, releve-se que, não nos estamos um forte apelo aos designados “soft skills” que
e requer respostas diferenciadas para cada a referir ao e-learning mas sim a formação em tradução livre podemos designar por com-
contexto. presencial (sim porque estamos focados no petências sociais, que se desenvolvem cen-
Se é verdade que estamos sempre a par da saber-fazer) com estas características únicas. tradas nos já identificados 4C, nomeadamen-
inovação tecnológica, a tal necessidade, a Complementarmente temos a 2ª resposta te Comunicação, Cooperação, Criatividade e
força motriz para a nossa resposta, contudo inovadora, designada Formação Aditiva muito (pensamento) Critico, daí a sua designação
a nossa especialidade é a inovação pedagó- orientada para a reconversão profissional de AB4C, Aprendizagem Baseada nos 4C, sendo
gica, a força motriz da qualificação, pelo que ativos ou desempregados e neste modelo pe- que os 4C são a parte integrante no Projeto,
será sobre esta que centraremos a partilha da dagógico a formação é ministrada em “ciclos” isto é, aprendizagem baseada no projeto.
estratégia em curso para responder aos desa- com uma duração máxima de 300 horas, que É com estas estratégias inovadoras e diferen-
fios quotidianos característicos da Formação são orientados para competências parciais de ciadoras que o CENFIM pretende continuar a
Profissional, porque o cerne da mesma é a uma determinada saída profissional, permitin- garantir mais de 90% da empregabilidade dos
pessoa, o indivíduo, com todas as suas espe- do ao adulto ir complementando a sua cer- seus formandos e deixar o seu contributo para
cificidades e individualidades. tificação profissional, estando contudo já dis- o crescimento económico e crescimento pes-
Prosseguindo com este binómio no âmbito da ponível para o mercado em fases intermédias, soal de cada um dos seus Formandos.
qualificação, isto é da Formação Profissional,
teremos que diferenciar a formação de adultos
da formação de jovens. Vitor Dias
DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO DO CENFIM
É neste contexto que o CENFIM - Centro de
Formação Profissional da Indústria Metalúr- NOTA
gica e Metalomecânica, através dos seus 13 Este artigo representa a opinião pessoal do autor e não vincula a CIP - Confederação Empresarial de Portugal

44 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
OPINIÃO - FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Pessoas qualificadas
para empresas competitivas
O CINEL, Centro de Formação Profissional mação pós-secundária não superior, a
da Indústria Eletrónica, Energia, Telecomu- modalidade Cursos de Especialização
nicações e Tecnologias da Informação, pro- Tecnológica – o formando obtém nível de
cura acompanhar e antecipar a evolução qualificação 5 e créditos para prossegui-
tecnológica e, com os recursos técnicos e mento de estudos em determinados cur-
pedagógicos adequados, disponibilizar a sos do ensino superior;
melhor formação para as empresas. Tem • também para ativos empregados e de-
sede em Lisboa e delegação no Porto, mas sempregados, existe uma ampla oferta de
pode responder com formação de qualida- formação de curta duração, na modalida-
de em qualquer região do país. de Formação Modular.
O CINEL foi criado em 1985 através de um Toda a oferta formativa inclui uma compo-
protocolo entre o Instituto do Emprego e For- nente de formação prática em contexto de
mação Profissional, Instituto Público (IEFP) trabalho que permite aos formandos a inte-
e a Associação Portuguesa das Empresas estudos ou na integração imediata no mer- ração com a realidade laboral e a aplicação
do Setor Elétrico e Eletrónico (ANIMEE). Foi cado de trabalho. prática dos conhecimentos adquiridos.
criado com o objetivo de incrementar a qua- Essas oportunidades também se têm aberto Por outro lado, a formação pode ser ante-
lificação e atualização dos profissionais do ao conhecimento de outras realidades - em- cedida pelo reconhecimento, validação e
setor e também preparar novos trabalha- presas, formas de organização e métodos certificação de competências e orientação
dores, mais qualificados, contributo funda- de trabalho e produção, em outros países, para formação, no âmbito do Centro Qua-
mental para a modernização das empresas. nos setores ligados à eletrónica, através do lifica destinado a adultos com idade igual
Visava o setor da eletrónica, à época um programa de formação Erasmus+. ou superior a 18 anos, com experiência pro-
setor em grande e rápido desenvolvimento. Estamos convictos de que a formação teóri- fissional.
Em 2011, integrou o protocolo a Associa- ca e prática, aliada à formação cívica, prepa- Nos últimos anos, o CINEL tem vindo, de
ção para a Competitividade e Internacionali- ra os formandos e dota-os de ferramentas forma crescente, a realizar formação em
zação Empresarial (ACIE). Assumiu-se então de adaptabilidade aos diferentes e variados resposta a necessidades específicas
formalmente o alargamento do espetro de ambientes organizacionais e sociais com das empresas, cujos resultados se reve-
intervenção do CINEL para além da eletróni- que se vão deparar no futuro próximo. lam com impacte nas organizações. Para o
ca, também à energia, telecomunicações e A formação desenvolvida pelo CINEL visa centro de formação, é um desafio motivador
tecnologias da informação. Não mais que o um leque alargado de destinatários e tende e uma via de obtenção de receitas. A avalia-
reflexo do que foi sucedendo na indústria - a a adaptar-se às suas condições de partida e ção do desempenho do CINEL, feita pelas
integração da eletrónica nos vários domínios objetivos a alcançar: entidades clientes, tem sido extremamente
tecnológicos com enorme desenvolvimento • para a qualificação inicial de jovens com positiva, o que nos gratifica. E, sem dúvida,
nas últimas décadas, que o CINEL soube idade inferior a 25 anos e no mínimo o é a via mais eficaz de publicitação dos servi-
antecipar. 9º ano de escolaridade, a modalidade ços por nós prestados.
Nesta linha, refira-se que dois dos nossos Aprendizagem – formação em alternância No ano de 2018, perspetivamos atingir um
formandos dos cursos de qualificação inicial entre o centro de formação e a empresa número próximo de 2 300 formandos e cer-
ganharam, no mês passado em Budapeste, – o formando adquire o 12º ano e uma ca de 740 000 horas de volume de forma-
a medalha de bronze em ROBÓTICA móvel qualificação profissional de nível 4; ção.
na edição de 2018 dos Campeonatos Euro- • para os menos jovens, a partir dos 23 O CINEL foi objeto de certificação por um
peus das Profissões. anos, sem qualificação ou em processo conjunto de entidades, tais como, a APCER,
O CINEL tem vindo a reforçar o seu posi- de reconversão, Cursos de Educação e a ANACOM, a KNX, a CISCO e a MICRO-
cionamento em redes de conhecimento, Formação de Adultos – o formando ad- SOFT nas suas áreas de intervenção, sendo
desenvolvendo parcerias com instituições quire o 12º ano e uma qualificação profis- algumas destas únicas no País.
de ensino superior e com a indústria. A con- sional de nível 4; Dispõe, presentemente, de 23 laboratórios
solidação destes espaços de cooperação • para uma especialização científica ou equipados com a mais moderna tecnolo-
estratégica afigura-se fundamental para que tecnológica numa determinada área, for- gia.
se possa proporcionar as melhores condi-
ções de formação aos formandos que fre-
quentam o centro, isto é, a aquisição de Luísa Falcão
competências pertinentes tanto ao nível das PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO CINEL, REPRESENTANTE DO IEFP NESTE ÓRGÃO SOCIAL
tech skills como das soft skills, permitindo DESDE 13 DE DEZEMBRO DE 2012
maior flexibilidade e alargamento do campo NOTA
de ação no seu futuro, na continuação de Este artigo representa a opinião pessoal do autor e não vincula a CIP - Confederação Empresarial de Portugal

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 45
OPINIÃO - NOVAS TECNOLOGIAS

A analítica e inteligência artificial dão-nos excelentes respostas


Teremos nós perguntas excelentes?

Imagine que, de todas as dúvidas que possa ter sobre o seu negócio, poderia escolher
uma delas para ser cabalmente respondida. Qual seria? E como formularia a pergunta?

AINDA NÃO ENCONTREI a bola de cristal Quem não gostaria de fazer uma previsão (unknown unknowns). Se a isso juntarmos
que preveja o futuro do meu negócio, nem muito mais precisa das suas vendas no os dados produzidos pelos equipamentos e
tive a felicidade de tropeçar numa lâmpada próximo trimestre? E, de forma integrada, pelas “coisas” que compõe as nossas linhas
mágica que me conceda três impagáveis realimentar as suas compras e a sua pro- de produção chegamos à AIoT: Artificial In-
desejos. Mas continuo incessantemente à dução para não deixar nunca de satisfazer telligence of Things.
procura das perguntas certas, porque sei uma encomenda, mas sem pagar por isso Num contexto de competição supra-nacio-
que a tecnologia actual, sobre a forma da com excesso de stock. E qual seria a rota nal, onde a diferenciação é difícil e os fac-
analítica, da inteligência artificial (IA) e da in- de distribuição mais optimizada? E quanto tores de vantagem competitiva podem ser
ternet das coisas (IoT) terão as minhas res- valeria prever as reais necessidades de ma- marginais e efémeros, é este kit de ferra-
postas. nutenção de um equipamento ou de uma mentas tecnológicas (analítica + IA + AIoT)
Na verdade, encontrar as perguntas certas, linha de montagem, maximizando o seu que nos pode conduzir à liderança, a mais
e formuladas da maneira certa, evitando tempo de utilização? Adiando manutenções crescimento e mais rentabilidade.
vieses precipitados e preconceituosos é, periódicas, enquanto estiver a operar den- No SAS estamos a trabalhar com clientes da
provavelmente, a tarefa mais desafiante, já tro de parâmetros considerados normais e, fileira industrial para resolver problemas co-
que ninguém conhece o nosso negócio nem por outro lado, antecipar intervenções assim nhecidos, como a previsão de vendas ou a
as suas idiossincrasias como nós próprios. que se detectarem desvios relevantes des- manutenção preditiva, mas temos a certeza
São esses conhecidos desconhecidos ses mesmos parâmetros. que há muitos mais desafios para os quais a
(known unknowns) que o SAS procura des- Temos hoje tecnologia disponível para res- nossa tecnologia é adequada, competitiva e
vendar há 42 anos através de sofisticados ponder a estas perguntas. Se historicamen- eficaz. Como acreditamos que, nesta nova
algoritmos matemáticos. te a analítica avançada resolveu conhecidos realidade, somos uma peça dum contexto
Vivemos, nos negócios e nas nossas vidas desconhecidos, a abundância de dados e maior, estamos a construir um ecossistema
pessoais, inundados em dados e suposta a computação acessível permitem treinar de parceiros de hardware (sensores, redes
“informação” mas, infelizmente, ainda nem modelos complexos que servem de base e computação), serviços (implementação e
tanto em conhecimento. Ouvimos por es- para que a inteligência artificial chegue à operação), universidades (inovação) e asso-
tes dias com frequência que os dados são indústria, e consigamos encontrar novos ciações do sector (capilaridade) para que,
o petróleo do século XXI. Contudo, não é padrões, novas possibilidades, novas van- juntos, estejamos prontos para novas per-
com petróleo que abastecemos os nossos tagens competitivas e possamos então res- guntas.
carros ou alimentamos as nossas linhas de ponder a desconhecidos desconhecidos Já sabe qual é a sua?
produção. Nem com sol, vento ou água re-
tida em barragens. É pela “refinação” des-
sas fontes de energia que as conseguimos Ricardo Pires da Silva
converter em combustíveis ou electricidade. DIRETOR GERAL DA SAS PORTUGAL
Da mesma forma é a analítica que refina
NOTA
os dados gerados pelos nossos negócios,
Este artigo representa a opinião pessoal do autor e não vincula a CIP - Confederação Empresarial
transformando-os em conhecimento e valor. de Portugal

46 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
OPINIÃO - PATENTES

Profissionais qualificados
que protegem a inovação
TÊM TANTO de desconhecidas como de im- Outra competência deste especialista em Outra função do Técnico de Pesquisas é fa-
prescindíveis – as profissões ligadas à Proprie- Patentes é a capacidade técnica de reda- zer uma vigilância contínua de marcas. Essa
dade Industrial são quase sempre uma mão ção do texto para o Depósito da Patente, vigilância consiste numa monitorização diá-
invisível no sucesso de qualquer negócio. que será apresentado nas instâncias oficiais, ria que compara as marcas registadas dos
Muito antes de se falar em formação e qua- seguindo-se o acompanhamento de todo o seus clientes com novas marcas que são
lificação profissional, já estes profissionais processo durante o ciclo de vida da Patente diariamente publicadas nos vários boletins
tinham formação e reconhecimento interna- (20 anos) e a vigilância de possíveis atos de oficiais. No fundo a vigilância é uma garantia
cional no início do Séc. XX. Hoje com a Revo- concorrência desleal. Também será capaz de de exclusividade num processo contínuo de
lução Tecnológica, o seu papel de bastidores criar uma estratégia de Internacionalização. assegurar que nenhum registo confundível
é mais importante que nunca. Conhecidos será registado com sucesso no futuro. Mar-
como especialistas em Marcas e Patentes, CONSULTOR DE MARCAS cas que estão no mercado mas não estão
vamos analisar algumas destas profissões. Quando um novo negócio ou novo produto em sistemas de vigilância correm o risco de
entra no mercado, não basta criar uma Mar- imitação por parte de um concorrente, sem
EXAMINADOR DE MARCAS, ca apelativa, é preciso registá-la para garantir que o empresário dê conta disso.
PATENTES E DESIGNS a exclusividade. É nesta fase, antes da entra-
Este profissional apenas pode trabalhar nas da no mercado, que entra o trabalho do Con- CONCLUSÃO
Instâncias Oficiais, que em Portugal é o sultor de Marcas (que pode ser ou não AOPI). Equipas especializadas em matérias de
Instituto Nacional da Propriedade Industrial As suas funções passam por analisar o ca- Propriedade Intelectual são a garantia de
(INPI). O Examinador verifica se os pedidos ráter distintivo, os riscos de semelhança e o exclusividade e equilíbrio no mercado, mas
de Marcas, Patente e outros cumprem as for- aconselhamento das formas mais eficazes e também um dissuasor para atos de má-fé e
malidades processuais e de conteúdo. Após económicas de proteger a marca, em espe- contrafação. Estes especialistas têm expe-
verificados todos os aspetos técnicos a Mar- cial quando esta for para exportação. Nesses riência e ferramentas de intervenção rápida
ca, Patente ou Design é concedida(o) e essa casos o consultor, que deve dispor de uma perante situações de concorrência desleal.
decisão é publicada oficialmente. Rede Global de parceiros em todos os países A necessidade de proteger a inovação através
do mundo. Depois de analisar os mercados- de Marcas, Patentes ou Designs é transversal
AGENTE OFICIAL DA PROPRIEDADE -destino, cria uma estratégia global de pro- a todas as atividades comerciais. A elevada
INDUSTRIAL (AOPI) teção da marca de modo a evitar problemas qualificação dos profissionais de Propriedade
O AOPI é um profissional reconhecido ofi- com a concorrência em cada mercado. Industrial constitui uma base de crescimento da
cialmente pelo INPI para junto deste exercer economia nacional, sendo cada vez mais im-
atos de propriedade industrial em nome e TÉCNICO DE PESQUISAS portante num mercado global onde se tornou
no interesse dos seus clientes. Alguns AOPI As empresas especializadas em consultoria usual inovar com base nas ideias alheias.
trabalham em consultoras de Propriedade em Propriedade Industrial têm necessidade
Industrial, outros em sociedades de advoga- de garantir que as marcas dos seus clientes
dos, outros como profissionais independen- não correm riscos. Assim, muitas investem
tes mas no geral as suas funções passam em sofisticadas ferramentas informáticas
por proporcionar ao cliente um serviço inte- especialmente concebidas para detetar
gral, não só de registo de marcas, patentes marcas semelhantes, inclusive foneticamen-
e do design, mas também de acompanha- te semelhantes. Por um lado este técnico
mento do processo durante todo o seu ciclo verifica se uma marca nova pode ser regis-
de vida, desde o pedido até à concessão, tada, tendo em conta os aspetos técnicos e
tomando precauções para garantir a exclusi- de semelhança, de modo a não criar situa-
Foto de certificação de Membro do Institute of Trademark Agents,
vidade e viabilidade do seu registo. ções de concorrência desleal com marcas já no Reino Unido, atribuída a Gastão da Cunha Ferreira em 1935.
O Chartered Institute of Trade Mark Attorneys (CITMA) é uma as-
existentes no mercado, por outro deve obter sociação de membros profissionais com a capacidade de influen-
ciar legislação e práticas nacionais e internacionais. Focado na
CONSULTOR DE PATENTES informação que alerte para o risco de a Mar- aprendizagem contínua Gastão Cunha Ferreira fundou em 1938
a consultora em Propriedade Industrial que ainda hoje mantém o
Sabemos que uma patente é um direito, um ca ser recusada pelo Examinador Oficial. nome do seu fundador.

ativo que é concedido por uma entidade ofi-


cial para invenções que possuem novidade,
atividade inventiva e que sejam suscetíveis de
aplicação industrial. Um consultor de Paten- Cristina Costa
tes, para além de ter as ferramentas técnicas GASTÃO DA CUNHA FERREIRA, LDA.
para efetuar as pesquisas prévias para indagar
NOTA
a viabilidade do pedido, também sugere a me-
Este artigo representa a opinião pessoal do autor e não vincula a
lhor e mais eficaz via de proteção da invenção. CIP - Confederação Empresarial de Portugal

48 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
CONJUNTURA

Conjuntura
Económica
ENVOLVENTE INTERNACIONAL Pela negativa, destaca-se a queda trimes- em torno do Orçamento para 2019. Nas
O FMI projeta, para 2018 e 2019, um cres- tral do PIB na Alemanha (-0.2%, após um duas últimas semanas de novembro, a co-
cimento global de 3.7%, menos 0.2 pontos crescimento de 0.5% no segundo trimes- tação do euro oscilou entre 1.145 e 1.128
percentuais (p.p.) relativamente às previ- tre) bem como os 0% registados na Itália. dólares.
sões do World Economic Outlook de julho. Pela positiva, salienta-se a aceleração do No período em análise, o preço do petróleo
Para além dos efeitos negativos das medi- PIB no Reino Unido (de 0.4% para 0.6%) prosseguiu a trajetória ascendente iniciada
das comerciais implementadas ou aprova- e a recuperação em França (de 0.2% para no verão, chegando a 81.05 dólares por
das entre abril e meados de setembro, esta 0.4%). barril, em outubro. No entanto, esta trajetó-
revisão reflete o arrefecimento da atividade Durante o terceiro trimestre de 2018, o PIB ria tem sofrido interrupções, devido a ten-
na Europa no primeiro semestre de 2018, nos EUA cresceu, em cadeia, 0.9% (depois sões comerciais e geopolíticas e à menor
depois de atingir os valores mais elevados de ter crescido 1% no segundo trimestre). coordenação entre os países exportadores
do presente ciclo no segundo semestre de Comparado com o mesmo trimestre do de petróleo (o acordo da OPEP que incen-
2017. ano passado, o PIB cresceu 3% (depois de tiva ao corte de produção, não está a ser
Segundo o FMI, os EUA continuam a cres- ter crescido 2.9% no trimestre anterior). cumprido).
cer, no curto prazo, devido a estímulos
fiscais, que irão desvanecer-se no médio COTAÇÕES INTERNACIONAIS PORTUGAL
prazo. A partir da última semana de setembro, o No terceiro trimestre, o crescimento homó-
No caso europeu, o mais preocupante é euro depreciou-se significativamente face logo do PIB foi de 2.1%, confirmando se
a fraqueza do seu crescimento potencial ao dólar norte americano, chegando a um o já esperado abrandamento, devido prin-
estar em torno de 1%, o que, representa mínimo de 1.122 dólares por euro, no dia cipalmente à desaceleração do consumo
metade da tendência evidenciada antes da 13 de novembro. Esta depreciação este- privado.
crise. ve associada aos riscos inerentes à crise Registou-se uma deterioração do cresci-
Para as economias emergentes e em de- aberta entre a Itália e a Comissão Europeia, mento em cadeia para 0.3% (0.6% no se-
senvolvimento, a revisão em baixa foi de
0.2 p.p. em 2018 e 0.4 p.p. em 2019.
Estes resultados refletem o agravamen-
to das suas condições de financiamento,
a diminuição do investimento estrangeiro
e (no caso das economias importadoras)
o aumento do preço do petróleo, que em
setembro alcançou os 80 dólares por barril
de brent.
De acordo com as estimativas do Eurostat
para o terceiro trimestre de 2018, o cres-
cimento homólogo do PIB foi de 1.7% na
Área do Euro e de 1.9% no conjunto da
União Europeia
A Alemanha surpreendeu pela negativa,
com um abrandamento muito pronuncia-
do, em termos homólogos (de 1.9%, no
segundo trimestre, para 1.2%).
Em cadeia, o crescimento na Área do Euro
foi de 0.2% e na União Europeia de 0.3%
(0.4% e 0.5% no trimestre anterior, respe-
tivamente).

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 49
CONJUNTURA

gundo trimestre), que, a manter se, coloca-


rá a evolução do PIB no computo de 2018
nos 2.1%, abaixo das últimas previsões do
Banco de Portugal.
A contribuição da procura interna para a
variação homóloga do PIB caiu de 2.7%
para 2.4%, tendo a procura externa líquida
registado um contributo negativo ligeira-
mente menos intenso que o observado nos
dois trimestres anteriores
A componente da procura interna que es-
teve na origem desta variação foi o con-
sumo privado de bens duradouros, que
desacelerou para 5.3% (8.8% no segundo
trimestre).
O crescimento do investimento estabilizou
em 4.4%.
Não obstante, apesar da ligeira melhoria da
procura externa líquida, o que mais preocu-
pa, nas contas nacionais do terceiro trimes-
tre de 2018, é a expressiva desaceleração
das exportações, de 7.1% para 3,1%, ape-
sar de acompanhada pelo abrandamento
(também de 4 p.p.) das importações.
Salienta-se ainda, como motivo de preocu-
pação, a maior deterioração dos termos de
troca com o resto mundo, que registaram
uma variação homóloga de -0.9% (-0.3%
no segundo trimestre), influenciada, em lar-
ga medida, pelo crescimento pronunciado
dos preços dos produtos energéticos.
Na ótica da oferta, o VAB a preços base
desacelerou de 1.9% para 1.5%, com a
generalidade dos ramos de atividade (à
exceção da Energia) a registar um cresci-
mento menos intenso do que no segundo
trimestre.
O PIB e o emprego aumentaram, neste tri-
mestre, em termos homólogos, ao mesmo
ritmo, refletindo, assim, uma variação nula
da produtividade do trabalho.
Em outubro, o indicador coincidente para
a atividade económica do Banco de Portu-
gal manteve-se estável, pelo segundo mês
consecutivo, em 1.9%.
O indicador de clima económico diminuiu
em novembro, após ter estabilizado no
mês anterior e de ter atingido entre junho
e agosto o valor máximo desde maio de
2002.
O indicador de confiança dos Consumido-
res também diminui em novembro, reto-
mando o movimento descendente iniciado
em junho, após ter atingido em maio o valor
máximo da série.
Quanto aos indicadores relativos à indús-
tria, o índice de produção industrial (IPI)
apresentou uma variação homóloga de
-0,3%, em outubro, idêntica à observada
no mês anterior, depois ter atingido um mí-
nimo, nos -3.7%, em agosto.

50 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018
Evolução do PIB na ótica da procura (taxas de variação homóloga) O volume de negócios da indústria recupe-
rou um pouco em outubro, depois do com-
3º Tr. 17 4º Tr. 17 1º Tr. 18 2º Tr. 18 3º Tr. 18
portamento mais fraco, particularmente
marcado no mercado externo, em agosto
PIB 2.4 2.4 2.1 2.3 2.1 e setembro - ver gráfico 5.
Os resultados do inquérito ao emprego
Consumo Privado 2.7 2.2 2.2 2.7 2.3 relativos ao terceiro trimestre de 2018 re-
velam algum arrefecimento do mercado
Consumo Público 0.6 0.6 0.7 0.9 0.7
do trabalho, com a taxa de desemprego a
FBCF 9.3 6.1 4.3 4.1 4.5 estabilizar nos 6.7% relativamente ao valor
registado no trimestre anterior.
Exportações 6.2 7.2 4.9 7.1 3.1 O número de desempregados reduziu-se
em 91.3 mil nos últimos 12 meses, mas
Importações 8.7 7.2 5.6 7.5 3.5
relativamente ao trimestre anterior a evo-
Fonte: INE
lução foi praticamente nula (mais 900 de-
sempregados), suspendendo a tendência
descendente observada desde o segundo
trimestre de 2016.
É de realçar a contínua diminuição da taxa
de desemprego de longa duração, quer em
termos homólogos (em 1.5 pontos percen-
tuais) quer em cadeia (em 0.1 p.p.).
Em contrapartida, a taxa de desemprego
de jovens diminuiu em termos homólogos
(de 24.2% no terceiro trimestre de 2017
para 20%) mas aumentou relativamente
aos 19.4% registados no segundo trimes-
tre de 2017. Note-se, contudo, que este
aumento de desemprego jovem se deveu a
um forte aumento da população ativa neste
escalão etário (mais 38.7 mil jovens) e foi
acompanhado por um aumento de 28.8 mil
jovens empregados, devendo-se por isso a
efeitos de sazonalidade.
A população empregada aumentou, em
termos homólogos 2.1% (mais 99.8 mil tra-
balhadores), o que denota, pelo terceiro tri-
mestre consecutivo, um abrandamento do
ritmo de criação líquida de emprego.
Em termos homólogos, os maiores acrés-
cimos absolutos verificaram-se no escalão
etário entre os 45 e 64 anos (mais 73.4 mil)
e nas pessoas que completaram o ensino
superior (mais 67.9 mil) ou o ensino secun-
dário e pós-secundário (62.4mil).
O emprego na indústria transformadora so-
freu uma nítida perda de dinamismo (com
um aumento de apenas 1.4%), evidencian-
do-se sobretudo o aumento do emprego
na construção e em determinadas ativida-
des dos serviços (atividades de informação
e de comunicação, administração pública
e educação e, em termos percentuais, nas
atividades imobiliárias).
O número de trabalhadores por conta de
outrem com contrato de trabalho sem
termo aumentou, em termos homólogos,
2.7%, tendo reforçado o seu peso no total
para 77.8% (77.5% no terceiro trimestre de
2017). Em contrapartida, o número de tra-
balhadores com contrato de trabalho sem

I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 51
CONJUNTURA

termo diminuiu ligeiramente, tendo aumen-


tado o recurso a outro tipo de contrato de
trabalho.
A taxa de inflação aferida pelo índice de
Preços no Consumidor (IPC) acelerou ligei-
ramente entre agosto e setembro (taxas de
variação homóloga de 1.2% e 1.4%, res-
petivamente). Todavia, desde setembro o
IPC tem vindo a abrandar (1% em outubro
e 0.9% em novembro) - ver gráfico 6.
A variação homóloga estimada do indica-
dor de inflação subjacente (índice total ex-
cluindo produtos alimentares não transfor-
mados e energéticos) situou-se em 0.6%
(0.4% no mês anterior). A taxa de variação
homóloga do índice relativo aos produtos
energéticos caiu de 7.3% em outubro para
4.9% em novembro.

CIP - Direção de Assuntos Económicos


(elaborado com informação até 10-12-2018)

52 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 I N D Ú S T R I A • D e z e m b r o 2018 52

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