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CAPITULO 3 - TRATAMENTOS TERMICOS EM LIGAS DE ALUMINIO Os tratamentos térmicos tém como finalidade causar modificages nas propriedades dos materiais pela alteragao do tipo e proporcao das fases presentes, pela variagdo da morfologia dos microconstituintes ou pela variagao da concentragao e distribuigao de defeitos cristalinos. Segundo Pieske (1988), uma grande variedade de ligas é suscetivel de ter suas propriedades aprimoradas por meio de tratamentos térmicos. 3.1 — DESIGNAGOES DOS TRATAMENTOS TERMICOS DE LIGAS DE ALUMINIO A témpera 6 uma condigao aplicada ao material ou liga através de deformacao plastica a frio ou de tratamento térmico, propiciando estrutura e propriedades mecdnicas caracteristicas (ALLISTER, 2002) Ainda que a resisténcia original possa ser aumentada agregando-se certos elementos, as propriedades mecanicas das ligas, com excegéo de algumas ligas para fundigdo, nao dependem apenas da sua composigao quimica. Semelhante a outros metais, 0 aluminio e suas ligas endurecem e aumentam sua resistncia quando trabalhados a frio. Além disso, algumas ligas de aluminio possuem a valiosa caracteristica de responder ao tratamento térmico, adquirindo resisténclas maiores do que as que podem ser obtidas apenas através do trabalho a frio (ABAL, 2004). Assim, as ligas de aluminio s&o divididas em dois grupos: aquelas que sao tratadas termicamente, proporcionando-Ihes maior resisténcia, e as que nao sao tratadas termicamente, cuja resisténcia s6 pode ser aumentada através do trabalho a fio. De acordo com a ABAL (2004), as ligas trataveis termicamente podem ser trabalhadas a trio e, posteriormente, sofrer tratamento térmico para o aumento da resisténcia mecanica. As ligas nao-trataveis termicamente podem ser submetidas a outros tratamentos térmicos como o de estabilizacéo e recozimentos plenos ou parciais. As témperas sao classificadas conforme a NBR 6835 e de acordo com os processos aos quais séo submetidas, como apresenta a tabela 3.1. Tabela 3.1 — Designagao das Ligas de Aluminio. [Como fabricada: Aplica-se aos produtos obtidos através de processos de conformacéo em que nao se emprega qualquer controle especial sobre as condicées térmicas ou de encruamento. | Recozida: Aplica-se aos produtos acabados, no estado em que apresentam o menor valor de resisténcia mecanica. Encruada: Aplica-se aos produtos em que a resisténcia mecdnica foi aumentada por deformagao plastica a {rio e, que podem ou nao, ser submetidos a um recozimento x |complementar para produzir amolecimento parcial ou a um processo de estabilizacao. E utilizado para as ligas nao- trataveis termicamente. A letra "H’ deveré sempre ser __|seguida de dois ou mais digitos. 7 | Tratada termicamente: Aplica-se aos produtos que sofrem tratamento térmico com ou sem deformagao plastica complementar. A letra “T” deve ser seguida de digitos que indicam a seqiiéncia dos processos basicos realizados: __|tratamentos térmicos ou deformagées plasticas. Fonte: ABAL (2004) Como vimos, as designagées H e T sao seguidas de nimeros que indicam mais detalhes sobre o tratamento que a liga recebeu. Para as ligas fundidas, tratadas termicamente tem-se, como mostra a tabela 3.2: Tabela 3.2 — Designacao dos Tratamentos térmicos das Ligas Fundidas. T2 Liga recozida (aplicada somente para ligas fundidas) 14 Liga solubilizada e precipitada a temperatura ambiente (envelhecida naturaimente). 15 Precipitada artificialmente sem prévia solubilizagao, Te Solubilizada e precipitada artificialmente. 7 Solubilizada e estabilizada (por tratamentos de superenvelhecimento). Fonte: CALLISTER (2002). Estes simbolos (T2 a T7) designam um conjunto definido de tratamentos térmicos para se obter propriedades mecanicas especificadas. Os simbolos nao definem a temperatura e o tempo de tratamento térmico, e esses podem ser mudados conforme a conveniéncia, desde que as propriedades mecanicas finais obedegam as especificagées correspondentes (CALLISTER, 2002). 3.2 - TRATAMENTOS TERMICOS ‘A maioria das ligas de aluminio fundidas podem ter suas propriedades mecAnicas, estabilidade dimensional ou resisténcia & corrosao, melhoradas por meio de tratamentos térmicos, que tém por objetivo remover ou reduzir as segregagées e controlar certas caracteristicas metaltirgicas. O tipo de tratamento térmico a ser realizado depende, muitas vezes, das propriedades desejadas na pega fundida (VERRAN, 2005) E freqiiente em ligas de aluminio a aplicagao de uma seqiléncia de dois tratamentos térmicos: solubilizagao e precipitacdo (BRADASHIA, 1988). Segundo Coutinho (1980), a solubilizagao é um tratamento térmico, ciclico, preliminar que visa dissolver totalmente as fases microscépicas, simples ou intermediatias, presentes na matriz de uma liga pelo aquecimento a temperaturas elevadas e em seguida, resfriadas tao rapidamente para que se mantenha uma estrutura monofasica supersaturada, metaestavel. Esse tratamento ¢ tipico para ligas que sero endurecidas por precipitacao (também chamado de envelhecimento) © endurecimento por precipitacao é um tratamento térmico muito importante das ligas nao-ferrosas, sendo utilizado tanto em ligas trabalhadas como em ligas fundidas. A condigéo necessaria para que ocorra a precipitagao 6 a existéncia de uma solugao sélida supersaturada que é conseguida através da solubilizagdo (VERRAN, 2005) Nos tratamentos de precipitagdo, a escolha das varidveis temperatura e tempo deve ser feita com cuidado, pois os ciclos devem permitir obter combinagées desejadas de propriedades mecanicas, elétricas ou da resisténcia A corrosdo (PIESKE, 1988). De um modo geral, o tratamento térmico de ligas de aluminio fundidas (trataveis termicamente), consta entao de duas partes (BRADASCHIA, 1988) 1. Tratamento de Solubilizagéo: Aquecimento a temperatura da ordem de 480°C a 540°C, seguido de resfriamento em agua. 2. Tratamento de Precipitagao (ou envelhecimento artificial): A temperaturas variando de 150°C a 300°C. De acordo com Callister (2002), no tratamento térmico de solubilizagao, todos os Atomos de soluto sao dissolvidos para formar uma solugao sélida monofasica. Uma liga com composigao Co esta apresentada na figura 3.1, a solubilizagao consiste em tratar a liga até uma temperatura dentro do campo de fases a, neste caso To, e aguardar até que toda fase f que possa ter estado presente seja completamente dissolvida. Neste ponto, a liga consiste em apenas uma fase , cuja composigao ¢ Co. Depois, é realizado um restriamento rapido até a temperatura T;, indicada no diagrama. Para um grande niimero de ligas a temperatura T; é a temperatura ambiente. Esse procedimento é efetuado a fim de que qualquer difuso e a conseqtiente formagao de qualquer fragéo da fase B sejam evitadas. Assim, uma situagéo com auséncia de equilibrio é adquirida, onde somente a solucao sélida a, supersaturada com Atomos de B, estd presente a temperatura T; Temperatura t + i 1 i 1 Cu Co Cp Composigao (%p 8) Figura 3.1 — Diagrama de tases hipotético A-B. Fonte: CALLISTER (2002) No sistema Al-Cu pode-se observar uma grande regiao de solubilidade ‘sdlida (figura 3.2). O limite maximo de solubilidade sdlida é de 5,65% de Cu em Al, 0 que propicia que as ligas desse sistema sejam tratadas termicamente através de solubilizagao (VERRAN, 2005). TCO) Al + liquido 600 Al mt AX Limite de solubilidade 0) a Al+ALCu “OT? 345 67 89 Cu(%) Figura 3.2 — Diagrama de Equilibrio Al-Cu Fonte: GEMELL! (2001). Uma liga com 4% de cobre restriada sob condigées normais de equilibrio vai tender a apresentar uma microestrutura com formacao de precipitados de AlCu em uma matriz de solugdo sdlida Al a. Dependendo das condigées de restriamento, esses precipitados serio mais (ou menos) grosseiros; quanto mais lento o resfriamento mais grosseiros sero esses precipitados (VERRAN, 2005). Submetendo essa liga a um ciclo de aquecimento durante um periodo razoavel de tempo dentro dessa regiao de maxima solubilidade sdlida, serao propiciados mecanismos de difusdo que faréo com que o cobre entre em solugdo sélida dentro do reticulado cristalino do aluminio, eliminando assim, todo e qualquer precipitado presente no material (CALLISTER, 2002; VERRAN, 2005) Como resultado tem-se uma estrutura monofasica composta apenas por graos de solugdo sdlida a, Em seguida é realizado resfriamento rapido para que essa condigaéo se mantenha. Obtém-se assim, uma solugao sélida supersaturada, ou seja, uma condigaéo que nao é estavel (metaestavel). Submetendo-se esse material a longos ciclos de aquecimento a temperaturas mais baixas, ocorrera precipitagéo de Al,Cu extremamente finos e dispersos dentro da matriz de solugao sélida (CALLISTER, 2002; COUTINHO, 1980; VERRAN, 2005). A figura 3.3 apresenta a seqiiéncia de tratamentos. {processe de ‘envelnecimento} Figura 3.3 - Tratamentos térmicos de solublizagao e envelhecimento, Fonte: VERRAN (2005). 3.3 - CONSIDERAGOES Como visto, as ligas de aluminio s4o submetidas a uma variedade de tratamentos térmicos durante a sua produgao. Esses tratamentos visam a varios fins, desde ao aquecimento necessério na manufatura, como também ao controle das propriedades. Deve-se, entretanto, salientar que além das propriedades mecanicas, ha outras propriedades que podem igualmente ser modificadas, como por exemplo, propriedades elétricas, magnéticas ¢ resisténcia a corrosao (PIESKE, 1988). Tendo em vista a diversidade de beneficios possiveis de obter pelo tratamento térmico, esta técnica é de grande valor na atividade industrial.

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