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FORMAS CLÍNICAS DA TENÍASE E DA CISTICERCOSE

O período de incubação da teníase é, em geral, de dois a três meses. Depois,


muitos pacientes se queixam de uma dor epigástrica, com caráter de ‘dor de fome’, e
que simula a dor de úlcera duodenal, melhorando com a ingestão de alimentos.
Inapetência e perda de peso são frequentes; mas, em outros casos, o apetite está
aumentado, com dores abdominais fugazes. Em um terço dos pacientes, as queixas
são de dor abdominal, náuseas, astenia e perda de peso. Em outros há cefaléia,
vertigens, constipação intestinal ou diarréia e prurido anal. Eosinofilia (entre 5 e
35%) costuma estar presente. Pode haver apendicite, por penetração do parasito no
apêndice, ou obstrução intestinal pela massa total da tênia.

Clinicamente, o parasitismo humano pelos vermes adultos de Taenia solium é


menos evidente que pela T. saginata, pois o estróbilo é menor e suas proglotes
menos ativas. E por saírem estas passivamente de mistura com as fezes, podem
passar despercebidas pelo paciente. O quadro clínico, quando presente, é
semelhante ao produzido pela tênia do boi, sendo mais frequentes as formas
assintomáticas ou as benignas.

A gravidade da Taenia solium está em poder o homem tornar-se


ocasionalmente o hospedeiro de sua forma larvária — o cisticerco — que determina
os quadros clínicos da doença denominada cisticercose humana. Donde a
necessidade de um diagnóstico rápido da espécie de tênia que parasita um paciente
e de seu tratamento imediato. Não há cisticercose humana atribuível à Taenia
saginata.

Como já foi dito anteriormente, as formas clínicas da cisticercose humana,


depende da localização, do número e da vitalidade ou não dos parasitos.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS TENÍASES


O diagnóstico é feito, muitas vezes, pelo próprio paciente ao observar a
expulsão de proglotes. Quando elas saem entre as evacuações sendo encontradas
nos lençóis ou na roupa íntima, trata-se de T. saginata. As de T. solium só saem
passivamente, durante as evacuações e, em geral formando cadeias com 3 a 6
segmentos unidos.

Quando é o médico quem levanta a suspeita, devem-se buscar as proglotes


nas fezes, para o que o bolo fecal será desfeito na água e tamisado em peneira de
malhas finas.

Nos três primeiros meses da infecção não se encontram proglotes nem ovos.
Depois, os ovos podem ser encontrados no exame de fezes ou, melhor,
pesquisados com a técnica da fita adesiva transparente. Os ovos chegam a ser
abundantes na pele do períneo, onde as proglotes, exprimidas ao passar pelo
esfíncter anal, deixaram sair muitos deles pelas superfícies de apólise. A fita
gomada, montada sobre uma lâmina de microscopia com a parte colante para fora
(a) deve ser aplicada contra o ânus; e as nádegas comprimidas contra ela, para que
os ovos situados na pele adiram. Colar depois a fita na lâmina e examinar ao
microscópio. O método só permite o diagnóstico de teníase, sem revelar a espécie e
o risco, eventual, de cisticercose.

Técnica da fita gomada. Ao lado ovos de tênia aderidos à fita gomada, vistos
ao microscópio. Fonte: Rey, 2005.
As teníases podem ser diagnosticadas também pelo exame de sedimentação
espontânea das fezes.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ENTRE T. SOLIUM E T. SAGINATA

Para o diagnóstico de espécie, as proglotes serão comprimidas entre duas


lâminas de vidro grosso; o conjunto posto a clarear no ácido acético e, depois,
examinado com lupa para ver as estruturas uterinas:

a) Se com 15 a 30 ramos uterinos em cada lado da haste e aspecto


dicotômico, é T. saginata. A proglote é mais retangular.
b) Se com 7 a 16 ramificações de cada lado e aspecto dendrítico, é T.
solium. A proglote é mais quadrada.

Diferenças nas proglotes de T. saginata (A) e T. solium (B). Fonte: Rey, 2005.

HIDATIDOSE

Os Echinococcus são cestoides da família Taeniidae, de pequenas


dimensões na fase adulta, que vivem em grande número no intestino de diversos
canídeos e de alguns felídeos.
BIOLOGIA DE ECHINOCOCCUS GRANULOSUS

Echinococcus granulosus, parasito habitual do cão doméstico, nas zonas de


criação de carneiros, é o mais importante para a medicina humana.
Pois, seus ovos e suas larvas podem desenvolver-se no organismo das
pessoas, crescendo como grandes tumores vesiculares ─ as hidátides ─, sobretudo
no fígado ou nos pulmões.

Figura - (A) Echinococcus adulto; (B) ovo; (C) hidátide, com vesículas
prolígeras (d - e) e hidátide-filha (h); (D) protoescólex invaginado e (E)
desinvaginado. Fonte: Rey, 2005.

O Echinococcus granulosus, na fase sexuada ou adulta, mede 4 a 8 mm


Possui um escólex com quatro ventosas e um rostro armado de acúleos que ficam
inseridos entre as vilosidades intestinais do cão.
Escólex de E. granulosus inserido entre vilosidades, na luz de uma glândula
de Lieberkuhn. Fonte: Rey, 2005.

O colo é muito curto e seguido de apenas três a seis proglotes: uma ou duas
jovens, outras maduras (hermafroditas) e a última grávida, que logo sofre apólise.
Esta é eliminada com as fezes do cão e contém 500 a 800 ovos que irão poluir as
pastagens e o solo do peridomicílio. O aspecto do ovo é semelhante ao de outros
tenídeos.

No solo úmido ou na água, os ovos resistem 3 semanas; 11 dias ao ar seco e


1 hora aos desinfetantes comuns. No interior já se encontra formado o embrião
hexacanto ou oncosfera, com 3 pares de acúleos e protegido por envoltório espesso,
o embrióforo ingerido com o pasto, pelos carneiros (hospedeiros intermediários
normais desta tênia), os embrióforos eclodem sob a ação dos sucos digestivos e da
bile e liberam as oncosferas. Essas oncosferas invadem a mucosa, com ajuda dos
acúleos (que perdem em seguida) e ganham a circulação sanguínea.

As pessoas infectam-se acidentalmente ao ingerir ovos do helminto


disseminados pelos cães no domicílio ou no peridomicílio.

As larvas são retidas, em geral, no fígado (onde chegam depois de 3 a 5


horas) ou no pulmão, lugares onde vão dar origem às hidátides. No tecido, a
oncosfera se vesiculosa e se transforma em um sincício que segrega a cutícula,
externamente, e líquido hidático, internamente. Em torno, desenvolve-se a reação
inflamatória que acabará por formar uma cápsula fibrosa envolvendo o parasito. A
velocidade de crescimento da hidátide depende do hospedeiro e do tecido, levando
meses para chegar a 1 cm de diâmetro. No homem, seguirá crescendo ao longo dos
anos.

Cisto hidático ou hidátide

A parede do cisto é formada por um sincício, rico em núcleos. Ele só é


reconhecível ao microscópio, mas empresta um aspecto aveludado à sua face
interna. É a membrana germinativa ou prolígera do cisto. Do lado externo, ela
segrega a membrana cuticular anista que, ao microscópio, mostra-se refringente e
finamente estratificada. A espessura da membrana anista aumenta com o tempo.
Ela é tensa e elástica, enrolando-se para fora quando rota. Na face interna, a
membrana germinativa forma, por brotamento, numerosas cápsulas prolígeras, que
crescem e formam no que lhe concerne os protoescóleces, a partir dos quais novas
tênias adultas terão origem, se comidos pelos cães.

Tanto as vesículas prolígeras íntegras como as rotas e os escóleces que


ficam livres no líquido hidático formam o que se chama “areia hidática” e constitui o
material infectante, na hidatidose canina.

FORMAS CLÍNICAS DA HIDATIDOSE

A infecção tem início por via digestiva e as hidátides vão localizar-se no


fígado em 75 a 80% dos casos ou nos pulmões em 10 a 20% deles. Nos músculos
encontram-se 4,7% de cistos, no baço (2,3%), no rim (2,1%) e no cérebro (1,4%). Os
cistos são múltiplos em 1/3 dos casos, mas fatores epidemiológicos, fisiológicos ou
outros devem impedir que eles fossem mais numerosos.

Mesmo a parede íntegra dos cistos permite a passagem de substâncias


antigênicas que levam à produção de anticorpos. Alguns são muito específicos,
outros de grupo. A sensibilização do paciente dá lugar a reação alérgica do tipo
urticária, edema angioneurótico, asma e choque anafilático, assim como à reação
intradérmica de Casoni.

As ações do parasito são de ordem física, por compressão ou desvio de


órgãos, ou metabólica. A reação inflamatória inicial consiste em infiltração de
eosinófilos e mononucleares. Eventualmente o parasito é destruído e fagocitado.
Senão, forma-se a hidátide e organiza-se a membrana adventícia do cisto, de
espessura variável segundo o tecido, e que o isola. Com o tempo ela necrosa e se
calcifica o que a torna visível radiologicamente.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA HIDATIDOSE

A hidatidose é uma parasitose que ora se mostra pobre de sinais e sintomas,


ora como doença polimorfa, capaz de produzir variadas síndromes sem
características específicas. O diagnóstico diferencial deve ser feito, sobretudo com
os processos tumorais do fígado ou dos pulmões.

Nas áreas endêmicas ou para onde convergem seus pacientes, deve-se


pensar sempre nela. Noutros lugares o diagnóstico é mais difícil porque a suspeita
não ocorre. Exceto nos raros casos de hidatidoptise ou de punção exploradora
contendo areia hidática. Contribuem para o diagnóstico: a origem do paciente, seus
hábitos, eosinofilia moderada (ou alta, após punção ou ruptura de cisto).

Outros aportes vêm da radiologia ou é uma surpresa na sala de cirurgia.

A radiologia ─ mostra bem as imagens dos cistos localizados no pulmão ou


na face superior do fígado; mas não é suficiente para o diagnóstico específico.

Ela mostra também os cistos com as paredes calcificadas, no interior do


fígado ou de outros lugares.
Cistos com infecções anaeróbias ou aqueles onde o ar penetrou (punção,
abertura para um brônquio), ou as bolsas residuais pós-operatórias, mostram
imagens com nível líquido; ou o descolamento da membrana de sua loja primitiva.
As hidátides ósseas requerem estudo radiológico.

A cintilografia ─ permite localizar hidátides no interior do parênquima


hepático, mediante administração de radioisótopos e medida da radiação gama.

A tomografia e a ecografia ─ são as modernas técnicas, atualmente em uso,


que melhoraram notavelmente o diagnóstico da hidatidose humana.

Testes sorológicos ─ As principais técnicas são:

a) A imunoeletroforese (primeira a positivar-se);


b) A hemaglutinação indireta;
c) O teste de ELISA.

Ainda que muito específicos esses testes não tenha sensibilidade satisfatória,
podendo dar resultados falsamente negativos. Associá-los, portanto.

Reação de Casoni ─ É feita com líquido hidático de cistos férteis de carneiro


(conservado com mertiolato). Nos casos positivos, 5 a 10 minutos após a injeção
intradérmica, formam-se pápula de contornos irregulares (>2 cm de diâmetro) e,
após 24 horas, uma tumefação endurada no local.

HYMENOLEPIS NANA

Os cestóides da família Hymenolepididae são tênias de tamanho pequeno ou


médio, cujo escólex apresenta um rostro armado de acúleos ou não e as proglotes
têm 3 ou 4 testículos. As larvas são cisticercóides.
Hymenolepis nana (ou tênia anã) é parasito do intestino humano. Mede 2 a
10 cm de comprimento e o escólex possui uma coroa de pequenos acúleos no
rostro. As numerosas proglotes são mais largas do que longas, com o poro genital
sempre do mesmo lado.

Exemplar adulto de Hymenolepis nana

BIOLOGIA DE HYMENOLEPIS NANA

Os ovos são abundantes nas fezes, têm forma oval, duas membranas
separadas por um espaço ocupado por filamentos polares; dentro está a oncosfera
(seta). O ciclo é monoxeno: os ovos passam de uma pessoa a outra, ou dá-se uma
autoinfecção. No intestino, a oncosfera eclode dos ovos ingeridos e invade a
mucosa, onde se transforma em cisticercóide. Após 10-12 dias, volta à luz intestinal
e migra para o íleo onde cresce como verme adulto. O ciclo de ovo a ovo completa-
se em um mês e a longevidade da tênia é de poucos meses. A infecção é maior em
crianças que em adultos, parecendo que a resistência aumenta depois da
puberdade. Os anticorpos, que são produzidos na fase de cisticercóide, perdem sua
efetividade cinco a seis meses depois da cura.
Os distúrbios gastrintestinais só aparecem quando os parasitos são muitos e,
em geral, nas crianças menores de 10 anos. Anorexia, emagrecimento, inquietação
e prurido, são as manifestações mais frequentes. Nas formas graves, há congestão
e ulcerações da mucosa, diarréia, dor abdominal, náuseas e vômitos e, até mesmo,
um quadro toxêmico.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA HIMENOLEPÍASE

O diagnóstico é feito pelo exame de fezes (sedimentação espontânea), a


repetir se negativo.

Figura - Ovo de Hymenolepis nana. Observe os acúleos no interior.

ANCILOSTOMÍDEOS

Os ancilostomídeos são pequenos vermes da família Ancylostomatidae


(classe Nematoda) e parasitos obrigatórios de mamíferos. Duas espécies parasitam
frequentemente o homem sendo responsáveis por uma doença tipicamente
anemiante, a ancilostomíase ou ancilostomose. São elas: Ancylostoma duodenale e
Necator americanus, que produzem praticamente o mesmo quadro clínico.

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