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A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PROFISSÃO MAGISTÉRIO NO BRASIL: O

ARCABOUÇO JURÍDICO (1822-1854)


Maria Inês Sucupira Stamatto
DEPED\ PPGED – UFRN

Não se esgota o conteúdo histórico de um sistema de ensino pelo


conhecimento da lei que o criou, o organizou e o controla. Mas, a
lei forma o substrato sobre o qual a dinâmica das instituições vai se
processar.

Casimiro dos Reis Filho (1998)

A institucionalização da profissão magistério no Brasil processou-se lentamente nos


embates para laicização do Estado, entre os debates sobre a formação das elites e a preparação
para o trabalho, em meio à defesa de antigos saberes escolares e de novas tendências
educacionais que se afirmavam, oscilando entre disponibilidade de recursos e escassez para o
financiamento das instituições escolares, entre políticas de formação para a docência e a
improvisação, permeando discussões sobre o público e o privado, na construção de discursos
sobre os espaços masculinos e femininos.
Na constituição da docência brasileira pode-se caracterizar três momentos chaves em que
se configura juridicamente a função de professor, estabelecendo-se a carreira, a formação, os
direitos e deveres, as ações e os procedimentos pertinentes à profissão, e a relação administrativa
deste profissional com o Estado.
É evidente que o primeiro instante ocorreu por ocasião da independência quando se
iniciava o processo de regulamentação do Estado brasileiro, incluindo-se as decisões sobre o
sistema de educação. A Lei de 15 de outubro de 1827 marcaria a presença do mestre-escola nas
escolas de primeiras letras inauguradas em vários lugares do território nacional.
A segunda fase do estabelecimento jurídico da profissão professor iniciava-se com a
instalação de serviços públicos de educação provinciais a partir Ato Adicional de 12 de agosto de
1834. Começava aparecer em todas as províncias legislação sobre a carreira dos professores:
licenças, concursos, aposentadorias, gratificações. Ao lado da estipulação dos direitos
conquistados, em lei, acontecia também a certificação, ou seja, o controle do estado sobre o
exercício do magistério.
Por fim, a reforma da Instrução Pública, através do Decreto n. 1.331A, de 17 de fevereiro
de 1854, realizada pelo ministro Couto Ferraz, para o Município da Corte, mas levada a termo
igualmente nas diversas províncias a partir desta data, se constituiria no momento de
consolidação da estrutura jurídica da profissão docente no Brasil.

A organização da profissão: a Lei de 15 de outubro de 1827

A primeira legislação específica para o magistério a partir da instalação do Estado


brasileiro, além dos princípios estabelecidos na Constituição do Império, foi a Lei de 11 de
agosto de 1827 instituindo os curso de Direito em Recife e em São Paulo e a figura do lente para
o ensino superior. Para o ensino primário, a Lei de 15 de outubro de 1827, conhecida como Lei
Geral, pois era válida para todo o território nacional, inaugurava na efígie do mestre-escola, a
profissão do magistério no Brasil. Em matéria de educação, a regulamentação estatal iniciava
pelo ensino superior, e depois passava ao elementar.

Desde as Reformas Pombalinas, no século anterior, a população acostumara-se a


terminologia de aulas régias ou cadeiras para as escolas públicas, onde o local em que o
professor pago pelo erário real ministrava o ensino, em geral sua própria residência, era a escola.
Para os anos iniciais, acrescentava-se de primeiras letras. Na legislação promulgada no Império
estas denominações são inicialmente mantidas, sendo, aos poucos, substituídas por escolas
primárias e instrução primária.
Publicada em três páginas, com 17 artigos, a Lei Geral mandava “criar escolas de
primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do Império”. Sempre
referenciada na bibliografia da área, a importância desta norma não foi somente por ter sido a
primeira e única válida para a escola primária em todo o país durante o período imperial, mas,
sobretudo, por ter se tornado a matriz jurídica para as demais regulamentações da instrução
elementar e carreira do professor até 1854.

Para perceber como a Lei de 15 de outubro de 1827 tornou-se o protótipo de


regulamentação do ensino primário, é suficiente comparar alguns artigos desta lei com as
primeiras leis provinciais sobre o assunto. Tomando-se, por exemplo, os artigos 6 e 12, que
estipulavam as matérias da escola de primeiras letras:

Os professores ensinarão a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, prática dos


quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a
gramática da língua nacional, e os princípios da moral cristã e da doutrina da religião
católica e apostólica romana, proporcionados à compreensão dos meninos; preferindo
para as leituras a Constituição do Império e a História do Brasil (Lei Geral, art.6).
As Mestras, além do declarado no artigo 6, com exclusão das noções de geometria e
limitando a instrução da aritmética só às suas quatro operações, ensinarão também as
prendas que servem à economia doméstica; e serão nomeadas pelos Presidentes em
Conselho, aquelas mulheres, que sendo brasileiras e de reconhecida honestidade, se
mostrarem com mais conhecimentos nos exames feitos na forma do artigo 7 (Lei Geral,
art.12).

com os artigos 3, 4 e 5 da Lei n.27 de 5 de novembro de 1836 da província do Rio Grande do


Norte:

Art. 3. Os Professores e Professoras serão examinados nas matérias em que forem


obrigados a ensinar.

Art. 4. Os Professores ensinarão a ler, escrever as quatro operações de Aritmética,


prática de quebrados, decimais, e proporções, a noções mais gerais de Geometria
prática, a Gramática da Língua Nacional, os princípios da moral Cristã e da Doutrina da
Religião Católica Apostólica Romana, proporcionados à compreensão dos alunos,
preferindo para as leituras a Constituição do Império, e a História do Brasil.

Art. 5. As Professoras, além do que fica dito no artigo antecedente, com exclusão das
noções gerais de Geometria, e limitando a instrução da Aritmética somente às suas
quatro operações, ensinarão também as prendas, que servem à economia doméstica.

observa-se que foi estabelecido o mesmo conteúdo nas escolas potiguares, com praticamente as
mesmas palavras.

As matérias a serem ministradas prescritas na Lei Geral e que serviam de programa para
os exames dos candidatos a professores permaneceram em muitas legislações provinciais, como
foi o caso de Sergipe em que a lei decretada em 25 de março de 1835 estipulava:

Tanto as cadeiras novamente criadas, como as existentes, serão postas em concurso para
serem providas ou aos mesmos professores e mestras ou em outros que bem satisfaçam
os requisitos da lei geral de 15 de setembro (sic) de 1827 (PRIMITIVO, 1939:1).

Isto significava que mesmo os professores em exercício deveriam passar por concurso e
dominar os conteúdos determinados pela lei de 15 de outubro de 1827. A reforma da Instrução
Pública na província do Ceará em 1849 ainda mantinha como programa das escolas primárias o
mesmo da Lei Geral.
Em 20 de março de 1838, a Assembléia Provincial de Sergipe revogava a lei anterior e
criava a Escola Normal, reorganizando o ensino público. Todavia, os conteúdos para os exames
dos professores ainda eram os da Lei Geral, com a mesma ressalva para as mestras:

Nas escolas de instrução primária para meninas serão ensinadas as mesmas matérias,
menos noções gerais de geometria e limitada a aritmética às quatro operações sobre os
números inteiros, e mais prendas próprias à economia doméstica (PRIMITIVO, 1939:6).

A lei de 16 de junho de 1858 que reformava a instrução na província de Sergipe ainda


fazia a mesma restrição para o ensino feminino. A resolução de agosto de 1850 da província da
Bahia, idem; a lei de 21 de janeiro de 1837 da província do Rio de Janeiro também, bem como a
lei n. 20 de 6 de maio do mesmo ano para a província da Paraíba. A lei n. 34 de 16 de março de
1846, na província de São Paulo igualmente.

Outro ponto estabelecido pela Lei de 15 de outubro de 1827 que permaneceu reeditado
em várias leis provinciais foi a regulamentação sobre a entrada no magistério por concurso
público, apesar de que houvesse permissão legal aos presidentes de províncias para a contratação
de professores não concursados se não tivessem sido aprovados candidatos para a vaga aberta em
concurso. Neste caso, ocupariam a função interinamente e com salários menores do que aquele
previsto na legislação em vigor.

Além da entrada no magistério, regulamentava-se também sobre o tempo de serviço e a


aposentadoria do professor designada como jubilação. As obrigações dos mestres foram
especificadas e cada vez mais detalhadas em legislação complementar, como por exemplo, o
envio obrigatório de mapas das aulas, a realização de exames dos alunos, o asseio das salas, a
proibição de ausência do professor sem a devida autorização do fiscal ou do inspetor.

Havia a previsão de alguns direitos, como gratificações e a entrada em associações.


Estipulava igualmente sobre as atribuições do governo, como a decisão do local de
funcionamento da escola, transferências e fiscalização das aulas.

Determinava o método mutual ou de Lancaster, em moda no Brasil nas décadas de 1820 e


1830. Apesar de não ter sido possível aplicá-lo conforme os cânones originais, encontra-se
legislação o abolindo ainda na década de 1840, como por exemplo, a lei n. 149 de 9 de junho de
1841 da província da Bahia que suprimia o ensino mutual nos municípios que ainda mantinham
escolas com este método:
A proporção que forem vagando as cadeiras do Ensino Mutuo desta cidade, nas
freguesias em que há duas, não será uma mais provida; e isto se praticará desde já com a
que vagou pela jubilação do professor Manoel Joaquim da Silva Guimarães (Art. 8).

Estes preceitos da Lei de 1827 que organizavam pela primeira vez a escola primária
brasileira foram complementados com outros decisões governamentais, como o decreto XXX
que permitia a contratação de professores não aprovados em concurso desde que recebessem
menos do que estipulava a legislação em vigor e a Lei de 1º de outubro de 1828 do Império que
regulamentava as Câmaras Municipais colocando entre suas atribuições a fiscalização das aulas
públicas dos municípios.

Porém, apesar desta legislação percebe-se a fragilidade da situação do corpo docente


nestes tempos iniciais de configuração da profissão, quando se observa a relação direta do
docente com o governo, sem intermediários ou instituições organizadas como sindicatos,
cooperativas ou associações congêneres. Cada professor deveria dirigir-se à administração
provincial para cada ato de sua carreira, como licença, transferência, remunerações não pagas,
entre outros. É comum, no âmbito das decisões e decretos imperiais, e posteriormente no
conjunto das legislações provinciais, se encontrarem leis determinando o pagamento a um
professor, a transferência a outro, uma licença por saúde ou uma autorização para ausentar-se de
sua aula por um tempo determinado para interesse particular.

Normatizando a profissão – o Ato Adicional

Em 1834, com o Ato Adicional de 12 de agosto, as decisões e legislações sobre o ensino


elementar e secundário passavam para a alçada das províncias, o que possibilitou a instalação de
serviços de instrução diferenciados. Entretanto, diferentemente do que se possa imaginar,
mantinha-se o esforço governamental, agora conferido aos governos locais, de enquadrar a
conduta dos professores e exercício do magistério nas normas estabelecidas. Em 1836 criava-se a
primeira inspetoria escolar para o Município da Corte. A função da fiscalização da profissão
surgia. Até então, o controle da profissão era moral e ideológico, feito a partir da conduta da vida
particular do mestre, dos livros empregados, da observância às práticas religiosas vigentes. A
partir de agora, o controle seria exercido também sobre suas práticas profissionais.
Todavia, as regulamentações provinciais conservaram os princípios da Lei Geral, que se
mantiveram como padrão até a Reforma Couto Ferraz, como se pode constatar na lei da primeira
Escola Normal brasileira, situada na província do Rio de Janeiro que fazia referência explícita a
esta legislação:

Haverá na capital da província uma Escola normal para nela se habilitarem as pessoas
que se destinarem ao magistério da instrução primária, e os professores atualmente
existentes que não tiveram adquirido a necessária instrução nas escolas de ensino
mútuo, na conformidade da lei de 15 de outubro de 1827 (Lei n. 10 de 4 de abril de
1835 apud PRIMITIVO, 1939:191).

A lei de 15 de outubro ainda foi referendada explicitamente em 1849, no art. 18 da lei n.


267 de 17 de dezembro de Maranhão.
Pode-se constatar o mesmo fenômeno tomando-se as primeiras leis para a escola
elementar de outras províncias. Com pequena variação nas frases, permanecia o que estava
prescrito na Lei Geral, nas seguintes leis provinciais:

LEI Art.6 e 12 Art.3, 10 e 13 Art.7, 8 e 9 Art.4, 5 e Art.2, 11,


15/10/1827 matérias ordenados/ Concurso/ 15 14, 16 e 17
(Lei Geral) gratificação exames método, Atribuições
17 artigos utensílios, do governo
Art.1 formação
nomenclatura:
escola de
primeiras letras
RN Resolução Art.4 e 5 Art.12 e 15 Art.1 e 3 Art.16 Art.8, 11,
n.27 de 5 de matérias ordenados/ Concurso/ utensílios 12, 13, 14
novembro de gratificação exames Atribuições
1836 – (diferente) do governo
19 artigos
Art.1
nomenclatura:
escola de
primeiras letras
MT Exames finais Escolas Não Concursos suspenso o Fiscalização:
Lei Provincial para os alunos regidas concursado públicos método câmaras
n.9, de 12 de pela Lei com menor mutual municipais
agosto de 1835 Geral salário
16 artigos Jubilamento:
Lei Provincial Art.1 e 3 12 anos, Art.18 a 22 Art.5 e 43 Art.2, 4, de
n.8 de 5 de matérias metade do e 41 Formação 23 a 31; 38 e
maio de 1837 – (as salário; 24 Concurso/ (previsão 40
45 artigos mesmas por inteiro; exames de Escola Atribuições
Art.1 divididas 30 anos c/ (mais Normal) do governo
nomenclatura: em dois gratificação detalhado) fiscalização
Cadeiras de graus)
primeiras Art.8 a 17
letras, ordenados/
instrução gratificação
primária, (diferente)
escolas de
primeiro e
segundo graus
Sergipe Estado das Prof. Concurso Ensino Atribuições
Lei de 25 de aulas: relação Concursados conforme mútuo do governo
março de 1835 de alunos, Vitalícios Lei Geral fiscalização:
Nomenclatura: aproveitamento Jubilação c/ câmaras
cadeiras / aulas de cada um; ordenado por c/ restrição municipais e
de primeiras freqüência; inteiro - 25 p/ meninas juízes de paz
letras/ aulas exames dos anos
públicas de alunos ao final Ordenados:
ensino do ano. 600$000
elementar/ (secundário)
escolas 200$000
primárias (primário)

Bahia Concurso Ensino Atribuições


Lei de 1836 público, mútuo/ do governo
Nomenclatura: exames simultâneo
Primeiras Obrigatório
letras/ aulas freqüência
primárias na Escola
instrução Normal p/
pública/ concurso
cadeiras Mesmas
matérias da
Lei Geral
c/ restrição
p/ meninas
Rio de Janeiro Escola Normal
Lei n. 10 de 4
de abril de
1835
Lei n.1 de 2 de Regulamenta a Concursados Mesmas Atribuições
janeiro de 1837 Instrução Vitalícios matérias da do governo
27 artigos primária 25 anos Lei Geral Diretor de
Nomenclatura:
jubilação c/ restrição Instrução
escolas
p/ meninas Pública e
públicas de
Inspetores
instrução
de ensino
primária
por
município
São Paulo
Lei n.9 de 24
de março de
1835
Nomenclatura:
Exames Concurso Mesmas Criação da Atribuições
Cadeiras de
públicos anuais público, matérias da Escola do governo
primeiras
p/ os alunos exames Lei Geral Normal
letras, escolas
Salário, c/ restrição Comissões
de primeiras
gratificações p/ meninas inspetoras,
letras
Jubilamento: Câmaras
Lei n. 35 de
25 anos Municipais
18/03/1836
ordenado por
Lei n. 34, de
inteiro; mais
16 de março de
5 anos, c/
1846
gratificação
Maranhão
lei n. 267 de
17 de
dezembro de
1849
32 artigos
Nomenclatura:
Ensino
público,
Cadeiras de
primeiras letras
Paraná
Cadeira de
primeiras letras
Escolas de
instrução
primária,
cadeiras
públicas de
instrução
primária, aula
de instrução
primária,
MG Determina As Concurso Criação da Atribuições
Lei n. 13 de 28 quem pode ser matérias público, Escola do governo
de março de professor e da Lei exames Normal Fiscalização:
1835 número Geral Salários: Delegado
34 artigos mínimo de divididas 1º grau – por
Regulamento alunos nas em dois entre comarca;
n. 3, de 22 de escolas graus 200$000 e visitadores
abril de 1835 300$000;
Lei 60 / 1837 2º grau –
Lei 232 / 1842 entre
Nomenclatura: 300$000 e
Cadeiras de 500$000
instrução
primária
ES
RS
AM

Grão-Pará
PB
Lei n. 116 de Concurso
19 de maio de conforme Lei
1835 Geral
Lei n. 20 de 6 Requisitos para Jubilação – Mesmas Atribuições
de maio de ser professor; 25 anos / matérias da do governo
1837 Mapa dos proporcional Lei Geral Inspetor
alunos ao tempo de c/ restrição nomeado
Regulamento serviço p/ meninas pelo
n.15 de 17 de (com governo
janeiro de 1849 modificações Diretor
Nomenclatura: posteriores Geral de
Aulas de pela lei n. 23 Instrução
primeiras de 21 de Pública/
letras/ novembro de comissários
Professores de 1840) municipais
ensino público/
escolas de
instrução
primária
PE
Lei n. 43 de 10
de junho de
1837
12/05/1851
Regulamento
Lei n. 369 de
Instrução
14 de maio de
Primária Concurso Atribuições
1855
dividida em 1º público, do governo
e 2º graus exames Conselho
Diretor
Diretoria
Geral da
Instrução

CE Estado das Salários: os Ensino Atribuições


Setembro de aulas: relação da capital e mútuo do governo
1836 de alunos, de Aracaty – Fiscalização:
Regulamento aproveitamento 6000$000;os Câmaras
da Instrução de cada um; das vilas de Municipais
Pública de freqüência; Sobral, Icó e Inspeção das
junho de 1837 Crato – escolas:
Regulamento Concursos p/ 5000$000; os direção do
de 1845 prof., prof. demais Liceu (1844)
Vitalício; 4000$000
jubilação = 20
anos

Lei 1846 Inspetor Geral


e de comarcas
Lei de 31 de Diretor da
julho de 1848 Instrução
Pública
Lei de 15 de Reparte as
novembro de escolas
1852 primárias em
quatro classes
conforme a
localidade

Resolução n.
665, de 4 de
outubro de
1854
Regulamento
de 2 de janeiro
de 1855
Lei n. 905, de
11 de agosto de
1859
Nomenclatura:
Primeiras letras
Cadeira de
instrução
primária
Escolas
primárias
PI
Município
Neutro

Em diferentes momentos, e por meio de variada legislação, o governo de cada província


instituiu a função do Diretor da Instrução Pública, no sentido de organizar melhor o ensino. Em
1845, pela Lei nº 135 de 7 de novembro, foi o caso da província do Rio Grande do Norte. Três
anos depois, pela Lei nº 191, de 4 de novembro de 1848, colocava-se o Diretor do Ateneu
acumulando o cargo de Diretor da Instrução Pública, unificando-se, assim, o ensino primário e
secundário sob um único comando. Em 1852, pela Resolução nº 253 de 27 de março, o governo
provincial criava o cargo de inspetor para cada cidade e de delegado para povoados e, para o
estabelecimento de escolas particulares, seria necessária a licença governamental.
Na província do Maranhão, criava-se em 1838 um Liceu pela lei n. 77, de 24 de julho,
deste ano, cujo diretor em conjunto com a congregação do liceu tinha a fiscalização de todas as
aulas públicas da província (art. 5); Lei n. 156, de 15 de outubro de 1843 criava os lugares de
Inspetor e Secretário da Instrução Pública; a lei n. 267 de 17 de dezembro de 1849,
regulamentava a Instrução Pública mantendo-se a fiscalização. Na província da Bahia, em 1841
foi decretado o estatuto do Liceu e em 1842 o Conselho de Instrução Pública com atribuições
designadas, entre elas a de inspeção do ensino. Em São Paulo, Lei de 24 de julho autorizava um
novo regulamento, que saía a 8 de maio de 1851 instituindo o Conselho de Instrução e a
Inspetoria Geral.
Algumas províncias foram instalando seu serviço de educação através de inúmeras leis
como o caso de Sergipe: Lei n.225 de 31 de maio de 1849; lei 20 de março de 1838; Resolução
de 30 de maio de 1848; lei n. 328 de 21 de junho de 1854; lei n. 422 de 28 de abril de 1855;
Minas Gerais: Lei n. 13 de 28 de março de 1835; Regulamento n. 3, de 22 de abril de 1835; Lei
n. 60 de 7 de março de 1837; Lei n. 232 de 23 de novembro de 1842; lei n. 397 ? de 8 de abril de
1845; Lei 1846; Lei n. 435, de 19 de outubro de 1848; lei n. 516 de 10 de setembro de 1851;
regulamento n. 28 de 10 de janeiro de 1854; e Paraíba: Lei n. 116 de 19 de maio de 1835; Lei n.
20 de 6 de maio de 1837; Lei n. 23 de 21 de novembro de 1840; Regulamento n.15 de 17 de
janeiro de 1849; Regulamento de 20 de janeiro de 1849; Lei n. 16 de 7 de outubro de 1850; Leis
n. 12 e 13 de setembro de 1851; Regulamento de 11 de março de 1852; Lei n. 17 de 6 de julho
de 1852.

A Lei de 31 de julho de 1848 da província do Ceará determinava:

Nenhum professor público se poderá dirigir ao presidente da província senão por


intermédio do diretor da instrução, por cujo intermédio lhe serão transmitidas ordens e
comunicações. O diretor de instrução passará às mãos do presidente as petições e
requisições que receber dos professores, acompanhadas de informações (PRIMITIVO,
1939:315).

Isto indica que havia um quadro administrativo hierarquizado, instalado paulatinamente


em cada província de forma que o professor não poderia mais dirigir-se aos estratos mais altos de
poder sem passar pelos trâmites intermediários burocráticos para ser atendido pela
administração. Denota que a função de mestre-escola havia sido definida juridicamente e
ocupava posição social determinada na escala administrativa.

A consolidação do arcabouço jurídico - o Decreto n. 1.331A, de 17 de fevereiro de 1854


No ano de 1835, pela lei n. 13 de 28 de março e pelo Regulamento n. 3 de 22 de abril, na
província de Minas Gerais, foi estipulada a divisão das escolas primárias em dois graus sendo
esta a notícia mais recuada que se tem do uso desta classificação no Brasil:

A Instrução primária consta de dois graus: no 1º se ensinará a ler e escrever, e a prática


das quatro operações aritméticas; e no 2º a ler, escrever, aritmética até as proporções, e
noções gerais dos deveres morais e religiosos (art. 1º, lei n. 13).

Na província do Rio de Janeiro o Regulamento de 1847 estabelecia duas ordens de


escolas com 1º e 2º graus. Em dezembro de 1849 houve um novo regulamento para a instrução
primária e outro para a secundária, mas mantinha-se as escolas elementares divididas em duas
classes.

No entanto, foi a partir do Decreto n. 1.331A, de 17 de fevereiro de 1854, para o


Município da Corte, que se consolidava em lei a idéia de se repartir a escola primária em dois
graus e isto se difundiu para as demais províncias, aparecendo nas reformas de Instrução Pública.
Esta legislação incorporava em uma única norma o conjunto de leis e decretos que embasavam o
serviço de educação do Município Neutro. A partir de então, passava a ser o modelo jurídico
para as legislações províncias, às vezes de forma indireta, outras vezes explicitamente como foi o
caso da Lei n. 369 de 14 de maio de 1855 da província de Pernambuco:

Ao Exm. Conselheiro José Bento da Cunha e Figueiredo cabe a honra de haver


compreendido esta situação, e empreendido essa obra. Louvores lhe sejam dados e à
Assembléia Legislativa Provincial de 1855 pela promulgação da lei n.369 de 14 de maio
desse ano. Indo beber o que há de melhor, e nos pode ser aplicável, na Lei Francesa de
15 de março de 1850 e Regulamento Geral da Corte de 14 de fevereiro de 1854, contem
a nossa Lei disposições preciosíssimas, e converte em preceitos muitas idéias e medidas
apresentadas pelos escritores que se hão ocupado desta especialidade (RELATÓRIO,
1857:13).

A Resolução n. 665, de 4 de outubro de 1854 da província do Ceará autorizava o


presidente da província a reformara a instrução primária “uniformizando-a o mais possível com o
regulamento expedido pelo governo para o Município Neutro do Rio de Janeiro” (art. 1º). Em
outubro de 1855 a classificação das escolas passava a ser de 1º e 2º graus, conforme a
nomenclatura da legislação para a cidade da Corte.
O Decreto n. 1.331A, de 17 de fevereiro de 1854, com 135 artigos, contava com
regulamentação para os seguintes assuntos: Inspeção; Magistério Público: condições para o
exercício da profissão, nomeação, demissão, vantagens dos professores, professores adjuntos,
substituição nas escolas, capacitação profissional; Escolas públicas, suas condições e regime,
matérias e método; Instrução secundária; Ensino particular; Falta dos professores e diretores,
penas, processo disciplinar, recursos; concursos, remoções e transferências; salários,
gratificações, tempo de serviço, jubilação; deveres e procedimentos; participação em Monte Pio.
No relatório do presidente da província de Sergipe em 1856, sugeria-se: “parece-me útil
dividir a instrução primária em dois graus, como está dividida no Ceará” (PRIMITIVO, 1939:22-
23). Várias leis em 1858 reformaram a instrução desta província, reorganizando-a como a
Resolução de 24 de maio, a lei de 16 de junho, a lei de 22 de junho, o decreto legislativo de 4 de
julho.
O Regulamento nº 4, de 13 de novembro de 1858, da província do Rio Grande do Norte,
procurava abranger muitos aspectos do ensino ainda não regulamentados e reorganizava a
instrução da província como um todo. Logo no primeiro capítulo, estabelecia o serviço de
inspeção e administração da educação primária executado pelo Diretor da Instrução e seus
agentes, os delegados, com atribuições próprias e definidas em lei. Fiscalizavam o
comportamento e a aptidão dos professores, admoestando, repreendendo e multando se
necessário. Podiam nomear os substitutos e designar os livros pelos quais se ministrariam as
aulas. Forneciam os atestados de freqüência dos professores para que estes pudessem receber
seus salários. Podiam também conceder licenças de três dias por mês para os professores e
controlavam a freqüência mínima de 10 alunos para a escola funcionar; caso contrário, poderiam
transferi-la.
Outras províncias iriam igualmente constituir um corpo legislativo enquadrando a
profissão do magistério, como por exemplo, as províncias do Ceará: Resolução n. 665, de 4 de
outubro de 1854; Regulamento de 2 de janeiro de 1855; Lei n. 762 de 8 de agosto de 1856; lei n.
814 de 11 de setembro de 1857; Lei n. 871 de 16 de setembro de 1858; Lei n. 905, de 11 de
agosto de 1859; a de Minas Gerais: Regulamento n. 41 de maio de 1857; Regulamento n. 44 de 3
de abril de 1859.
Embora, ainda se usasse a terminologia cadeira de primeiras letras na legislação
educacional até o final do Império, como atesta a lei n.259, de 29 de março de 1871, que criava
uma cadeira de primeiras letras na província do Paraná, e em março de 1889, na província de
Maranhão, o mestre-escola havia se transformado em professor juridicamente estabelecido e
enquadrado.

Referências

Decreto n. 1.331A, de 17 de fevereiro de 1854


Decreto n. 7.247, de 19 de abril de 1879

RESOLUÇÃO Nº 27 DE 05 DE NOVEMBRO DE 1836


Estatutos para as aulas de Primeiras Letras da Província do Rio Grande do Norte.

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