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a em a uma singular equacao_dramatico-filosef aida visto dar gua Preuss. ‘A Poesia e a Filosofia, na primeia 82 Pos ee majo se separam. E se lembrarmos que Poesy asensacio eae 4ximo de uma e outra Filosofia sao irmas, na medida em que 0 max Se situa no smo plano, apenas enfocado de modo diverso, a primeira, pela face este. m 5 ne : ca, sentimental. emocional, a segunda, pela face especulativa, racional ~ logy ‘far patenteado 0 alto valor da obra poética de Antero, par a par coma de Camoes, Bocage e Fernando Pessoa VELEIDADES PARNASIANAS o melhorno Apoesia revoluciondria, a do cotidiano e a metafisica constitue! oca do Realismo, Quanto a tendéncia parnasiana, nido lo grou estabelec em Portugal. De origem francesa, suas primeiras, smatiles tacées datam de 1866, quando um editor parisiense publica uma coletaneade poemas intitulada P emporain; em 1871 1876, saem outs dts Goletaneas. Reagindo contra o sentimentalismo romantico, os poetas partise Be eo bricipio da “arte-pela are”, isto ¢, defendem uma arte QUES inva a é opna, sitva a nada ¢ a ninguém, uma arte inutil, uma arte voltada para st POPE Para a sua condicao estétic: fe eave Seas ‘obra de arte procuraria captar a belezae™ een as, existiriam nos seres concretos, ¢ nao no sentimento do artist 1880, 0 belo confundir-se-ia com a for a a forma que o reveste, e nao com algo 3 existisse no seu interior. ees , Dai vem que OS parnasianos sej; sejam for i em 0 cul artistica como exigenci rmalistas € pre s encia preliminar. Para conse; pessoal da realidade. Em toda a parte, observa-se esse contra-senso inerente janismo.. Em Portugal, tentou-se introduzir 0 movimento parnasiano; certamente, impregnou alguns poetas, exerceu influéncia, mas nao passou de prurido, que pouco alterou o clima literario do tempo. Na verdade, o modo fortuito como alguns se deixaram contaminar pela nova moda poética revelava apenas veleida- de francéfila, em decorréncia de razdes de gosto pessoal ou de grupos testritos: faltou-lhes um intuito comum, organizado e combativamente anti-romantico, asemelhanga do que ocorria na poesia francesa e viria a ocorrer na brasileira. Por outro lado, as incidentais notas de formalismo parnasiano, encontraveis ra poesia portuguesa dos fins do século XIX, ainda corriam por conta de tar dias e mal assimiladas ligdes de purismo expressivo e de linguagem poética aprendida nos classico Para nao alongar demasiadamente a linhagem, pense-se na influéncia de Filinto Elisio sobre Garrett e, especialmente, sobre Castilho: este, como se sabe, tornou-se 0 porta-voz dos principios classicos que acabaram colaboran- do para o aparecim jeidades parnasianas ao redor de 1870. Por in- termédio de alguns poet finisseculares, o seu fascinio ndo se interrompeu: Eugénio de Castro, cor Cherdeiro de Castilho e d que confluiram para o a introduzido o Simbolismo em Portugal, icizantes (anti-revolucionarias também) 0 Parnasianismo portugues. Mais ainda: pelo cotejo das datas, depreende-se que os pruridos pamnasia- Ros existiam, em Portugal, a margem e no desconhecimento do que se vinha fazendo em Franca. E que, diga-se a modo de remate, o ideal de casticismo formal acompanha passo a passo a historia da poesia portuguesa. Assim, nao tre nds, apesar de ser duvidoso que tenh bem que temos em" . ; “Todos: ee duas escolas iterarias: a dos metrificadores do ai, teratura 1 neg boa; ea dos sacerdotes da idéia vaga, ou a de Coimbra. 4 0 Ultra-Romantismo de O Trovador ONon A primeira correspondia a : q vador oe AGrinalda (1855). A outra era a escola de Coimbra’, chef ‘Antero. Mais adiante: tudo, e que nao pertenco a nenhuma dasesni “Bu, que sou eclético em quase Jo € sempre belo, revista que formas rey in qe acho-as ambas excelentes: 0 be rer que oencaremos dum s6 lado, duma so face, ¢ querer obrigar-nos aman nia, ao bocejo, 20 sono.” Com efeito, Joao Penha aceitou a colaboracdo de Guerra Junqueito, Teétla Braga, Antero, Gomes Leal, Jaime Batalha Reis, Guilherme de Azevedo, Gam lo Castelo Branco, Alberto Pimentel, Goncalves Crespo e outros. Joao Penha publicou os seguintes volumes de versos: Rimas (1882), Nie gem por Terra ao Pais dos Sonhos (1898), Novas Rimas (1905), Ecos do Pasi (1.914), Ultimas Rimas (1919), O Canto do Cisne (postumo, 1923). Empast Por Montes ¢ Vales (1899). Na sua poesia, a nota mais impressiva € adap? jes da wale ees pore coincidentemente aparentado com o formalism ee a ae tal semelhanga certo pendor part asd sere Re que leva o poeta a substituir 0 tradicion® ncia provocadora do riso facil: artesanato rigoroso ¢ eficaz do soneto, dentro dos melhores mold hi smo na atmosfera piegas e sentimental deixada pelos cos eso esse de que proveio, como jé se notou, o imp gesiio Verde, y rail ute poets podem se alinidos sob a mesma epg ao lado defo pyulp. Um deles ¢ Goncalves Crespo, nascido no Rio de Janeiro, em 1846, falecido em” Lisboa, em 1883. Embora brasileiro, viveu desde os catorze anos em Portugal, onde alcangou nomeada gracas inclusive ao casamento com Ma- ria Amalia Vaz de Carvalho. Recebendo uma diversificada influencia de poetas franceseS, portugueses € brasileiros, Goncalves Crespo vacilou entre um Ro- mantismo tardio e a aceitagao de moldes novos. Com referéncia aos ultimos, preocupou-se em demasia com o lado marméreo, escultural, frio e apoético do Parnasianismo, de que foi um fervoroso adepto e propugnador. Escreveu Mi- riaturas (1870) ¢ Noturnos (1882), de que se destaca o soneto “Mater Doloro- sa’, em memoria de sua mae, uma janela aberta a espontaneidade que afasta os excessos de brilho formal, vazios de poesia, e utiliza reminiscéncias da in- fancia passada no Brasil, que encerram as notas melhores de sua poesia. “As Velhas Negras” e “Ao Meio-Dia” sao ainda outros dois cromos da realidade brasileira, pintados com os olhos da memoria e da saudade. Antonio Feijo (1860-1917) € certamente 0 mais bem dotado representan- te dessa tendencia, gracas aos dotes pessoais ¢ a uma Tica sensibilidade, que 0 defendeu de tombar na frieza perseguida pelos parnasianos. Escreveu. Transfi- guracies (1882), Liricas ¢ Bucolicas (1884), Jancla do Ocidente (1885), Cancio- neiro Chinés (1890), Itha dos Amores (1897), Bailatas (1907), Sol de Inverno (1922) ¢ Ultimas Bailgtas (1926), Poeta do amor e da morte, pendeu entre 0 Romantismo ¢ o Realismo, ao mesmo tempo que chegou a aflorar temas caros A poesia simbolista, Antonio Feijé granjeou nomeada pelo soneto, “Palida e ¢ o seu poder de captar nas ma- Loita’, em que conseguiu realizar plenament ia, com anuncios de Cesario Gui . de tas (1869), Os Falsos Apéstlos (1871), O Bispo (gra: Poesias_ (1898 obras cujo lastro de_apeténcias roménticas, a Victor contracena com uma. poesia pan! letaria e satirica, r_vulto ¢ como que constituinds , oetas, als le. ‘0. Antonio de Macedo Papanca (Conde de Monsan) (1952-1913), autor da Musa Alentejana (1908) e de outras obras. AntOnio Fy ne ‘gaca (1863-1888), autor de Verso da Mocidade (1887), nos quais uma image tica moderna e original faria supor um poeta capaz de ainda mais altos vos caso nao morresse (Ao prematuramente. Paulino de Oliveira (1864-1914). aso mao morresse 120 prem” Abeta autor de Cnticos Sadinos (1888) e Dor (1893), Manuel Duarte de Almeidy (1844-1911), autor de Terra Azul (1933). Cristovao Aires, Hamilton de Arai- jo, Joaquim de Aratijo, Joao Saraiva, e tantos outros. A PROSA REALISTA. O ROMANCE Em consonancia com o pensamento revolucionario da geracao de 70, 07 mance abandona o esquema anterior, vigente no Romantismo, segundo 0 qual a prosa de ficcao, como alids a poesia em varios momentos, era baseada nail triga € visava ao entretenimento, além de ser a apologia do casamento ¢ de suas implicacées aletivas e morais, O romance passa a ser, no Realismo, ob de combate, arma de agao transformadora da Sociedade burguesa dos fins das novas descobertas cientificas € do século XIX. A Burguesia, como classe social dominante, a ‘como classe imperante € reinante, ¢ 0 Cleto, como forga ideolégi- 10 social, no eram capazes de transformar-se € adaptar-se _ Era forcoso abaté-los, destrut-los, substitut-los; de onde o gs nen © ’ sgntiburgues, antimonarquico € anticlerical do romance realista. il or a mostra 0 declinio da instituicdo burguesa, os realistas atacaram © casamento, trazendo a nu as misérias que o destroem cqoostorre da Burguesin _misérias essas condensadas no adultério, tornado jugrcomum cegante. © casamento deixa-se corroet pelo adultério precisa “gente porgue. em ligacao com 0 pensamento burgués, de sentido pragmatico sgoomodaticio, Se funda na luxuria, no conforto material trazido pelo dinhe' sealsta (eo naturalist tenha 0 adultério por nédulo dramatico ¢ narrativo. O ipsuurl ia diretamente a gra scale principal de moralizar, reformar, pela revelagao Sorpesiaa possibilidade de tomar consciéncia da situagao e de encontrar sat és bonrosa para cla Avesse intento saneador juntava-se a pr ande chaga social e expunha-a friamente, no intuito do erro, Dar-se-ia a Ao de criar obra artistica, © Jesconhecida dos ro tae implicava considerar o romance com uma serie minticos. A criacio estética nao se {aria mats em te f vu de fogosa inspiracéo, O trabalho Jiteranio entra a ser encarado como sendo to demora Poe paciente quanto o cientifico, nos laborat nas pesquisas de campo Dal que o romance seja concet Weexiste antes da tha matematicamente, nc Seiedade burguesa ¢ ser preciso reforma-la pela base. Por isso. o entrecho, a Lara demonstragao: camt ram Je que esta vai dara provar por a + b estar podre | I 1 pacao pelo estilo, © ’ “mentos que compoem a narrativa. E foi justamente essa pre que salvou alguns, como E¢a de Queirés, de cafrem na estreite; gidamente os postulados realistas, criando obra pessoal, acima, g das correntes cientificas e filosoficas em moda. O ROMANCE REALISTA EO ROMANCE NATURALISTA — Na}, tugt anca do que ocorre na Literatura Francesa, mite entre o romance realista e o romance naturalista, muito embor, ) i le contato, como nao oda deixar de set Ascoy nesse terreno nascem de nao se levar em conta alguns aspectos relevaney, romance naturalista ¢, cronologica e estetica umente, posterior 20 realist: e mancistas naturalistas surgem depois dos realistas, nunca antes, como = tambem na Literatura Francesa (Flaubert, autor de Madame Bowary, 1g5p « inicia o Realismo, e Zola, autor da Therese Raquin, 1867, com, com 0 que s que se principia 0 Naturalismo). _Em Portugal, as coisas nao se passam doutro modo: Eca publica oseupe sista em 1875 (O Crime do Padre Amaro), e o mais onadae meiro romance ! mele do Naturalismo, Abel Botelho, da a piblico suape O pormenor cronologico, emborania e acabado representante do Ne meira obra em 1891 (0 Bardo de Lavos) ligado. Na sondagem dos problems 4 doente, o romanit condicione 0 outro, esta-lhe intimamente wa de que 0 organismo social est sociais, em busca da pro lista: este, leva até certo ponto, ¢ 0 DAME ‘naturalista comeca onde para 0 red vai além. Apenas com vistas r, tomemos o caso das cenas adulterinas: onista cerre as cortinas antesdt Jevado por sible idoe a exemplific nos romances realistas, € frequente que o ficei rsonagens, como que iniciar-se o encontro genesiaco das pel de que € por demais conheci pudor ou desinteresse, ou pela cert ‘de Taine, literatura de acao. wield e ae ¢ naturalistas, com algumas discrepancias de yen 1975 ¢ 1891, em Portugal, operou-se radical transformacé culta). Contudo, distinguem-se uns dos outros no modo one erefletem a comum fundamentagao ideolégica. para compreender a distincao entre eles, torna-se necessario nao perder de gata que 0702 romance nai naturalista veio a concretizar aquilo que era o intuito fun- gamental do romance realista, mas que este nao levara adiante por ver-se ain- jprolido pela pela influencia romantica. No romance realista, a base ideolégica como preparacao e fonte de argumentacao; esta antes e durante, no esti antes, jomance natu ciais, como alguém que se pusesse num camarote a analisar com binéculos as chagas sociais, OU, quando delas se aproximasse, fizesse-o com luvas de pelica. O ficcionista, como que tomado por nausea ao enfrentar as misérias humanas, ralista. O primeiro procura ver esteticamente os problemas so- detém a andlise em determinado ponto: as explicacoes filosoficas e cientificas setornam implicitas, ou indiretas; o drama das personagens resulta, nao Taro, da educacao e de outros fatores morais e sociais Por seu turno, o romancista naturalista achega-se direta e cientificamente aos problemas, colocando luvas de cirurgiao, e armado de instrumentos, como quem se dispusesse a perfurar as pustulas para libertar a sociedade de suas graves infeccdes; por isso, nao se contém, indo a ultima minucia, no intuito de conhecer toda a sintomatologia do caso clinico a sua frente. Quanto as expli- agbes cientificas e filosoficas, poe-nas no romance, quer na forma de didlogo, quer de intervengao ostensiva, suspendendo a narrativa para esclarecer 0s as- Péctos patologicos das cenas; e o drama das personagens resulta de causas pa- Tologicas, de taras genéticas uadi Tomancistas, mas também de mee entre o Realismo e o Naturalismo, e algumas , 5 Vezes con Impressionismo. No cultivo do romance da ser lembrados, embora em plano inferior, os se es fi : ‘Abel Botelho (185 — 17), seguindo na esteira de Zo] de trés sortes de faculdades, apenas, depende a solugao do Tee vida: — faculdades de sentimento, de pensamento e de acao” De tal : “o predominio [...] de qualquer dessas faculdades, no doseamento a & ter, origina desequilibrios, aberracdes e anormalismos Patologicos” = base nesses principios, buscou fazer “a andlise de [...] exemplares humangs ranizados pela diatese das faculdades afetivas”, numa série de } Aitulo de Patologia Social (O Bardo de Lavos, 1891; O Livro de Alda, 1805 nha, 1901; Fatal Dilema, 1907 e Prosp nha, 19 pero Fortuna, 1910), Fora da sie Soy Remédio... (1.900) e Os Lazaros (1904), ¢ um livro de contos, Mulheres da Beng (1898), situado entre o melhor que nos legou Teixeira de Queirds (1845-1919), a imitacao de Balzac, também pro sou erguer um painel da sociedade portuguesa coeva, com uma série deme mances € contos divididos em Comedia do Campo (Primeiros Contes, 1816 Amor Divino, 1877; Arvoredos, 1895; Amores, Amores..., 1897; A Nossa Geii 1900; A Cantadeira, 1913) ¢ Comedia Burguesa (Os Noivos, 1879; Salistig Ns gucira, 1883; A Morte de D. Agostinho, 1895; O Famoso Galrao, 1898; AGH ime e que ase 1919), das quais a primeira parte contém maior inte c em gunda, visivelmente comprometida pelos esquematismos da critica social moda no tempo. ECA DE QUEIROS joe Mara ea de Queiros nasceu na Povoa de Varzim, em 25 de novernbro de 45, Em Coimbra, estuda Direito e liga 1a Tuidosa geracao academica, 4 mada com as idéias de Proudhon e de Comte, Conhece Antero e inicia sua carreira literaria a sa cre com a publicacdo de folhetins, mais tarde reunidos sob 0 aqulo de Prosas Barbaras (1905), Durante a Questo Coimb nanten eae .,como simples espectador. Formado, segue para Lisboa, a tentar a advoca- Ga, Mais adiante, liga-se a0 grupo do Cendculo (1868), liderado por Antero, depois de passar algum tempo dirigindo um jornal em Evora (Distrito de Evora, 1967). Em 1869, viaja ao Egito para fazer a reportagem da inauguragao do Ca- nade Suez, de que vai resultar O Egito, publicado postumamente (1926). No regresso, participa das Conferéncias do Cassino Lisbonense (1871), e em seguida estdem Leiria como administrador do Concelho, condigao para que possa in- gressar na carteira diplomatica, como € do seu desejo. De sua estada em Leiria (eis meses), nasce-Ihe a inspiracdo para escrever O Crime do idve Amaro (1875), Aprovado em concurso, é nomeado consul em Havana (1873), mas no ano seguinte esta em Bristol (Inglaterra), onde permanece até 1878. Finalmen- te, translada-se para Paris, realizando assim um vyelho sonho. Na paz bonangosa que alcanca em Neuilly, casa-se e entrega-se mals do que nunca a criagao litera- tia Eali que, cercado de familiares e amigos, falece a de agosto de 1900 Reunindo condicoes pessoais e historicas propicladoras do trabalho inte- Kectual, Eca de Queirés tornou-se dos maiores prosadores em Lingua Portus Bisa, alcancando ser, na esteira de Garrett, uma espécie de divisor de aguas Toda essa rica producao literaria pode ser arrumada em tres mentais, conforme o eixo em torno do qual girava a curiosidade de am meira fase da carreira queitosiana comeca com artigos e crdnicas ubk entre 1866 e 1867, na Gazeta de Portugal, e postumamente Coligidos to, me Prosas Barbaras, e termina em 1875, com a publicacgao de Q Crime do Amaro. Fase de indecisao, preparacdo e procura, dum escritor ainda jove, romantico, a mercé duma heterogénea influéncia, especialmente de a francesa, tendo a frente Baudelaire e Gérard de Nerval. De Mistura, 0 fascniy por Heine e Hoffman, tudo convergindo para atmosferas e ambientes de mis tério e desgarrada fantasia, expressas numa linguagem lirica e meliflua, Pertencem ainda a essa fase preparatoria: O Mistério da Estrada de Sintra uma espécie de romance policial, entre sério ¢ jocoso, escrito de parceriacom Ramalho Ortigho, e a colaboracao de E¢a as Farpas, jornal satiico ditigidoper Ramalho, mais tarde reunida em Uma Campanha Alegre. Em suma: um joven de talento, em disponibilidade para a aventura do espirito, experimentando armas, no encalgo dum caminho proprio. Do ponto de vista literirio, éalise menos importante da carreira de Eca, embora tenha interesse para 0 See nhecimento como homem durante a juventude, e do escritor num estigioa da primario, mas em que ja se vislumbra o prosador do futuro. Com a publicagio de O Crime do Padre Amaro (1875), que Ega vinhiae& cteyendo desde 1871, e de que em 1876 ¢ em 1880 sairam edigdes alt Mente revisadas, inicia-se a segunda fase de sua carreira, que se estende daqueles qualidades caracteristicas do seu estilo: naturalidade, : parrtiv0, precisio, oralidade, Teptidio as solucdes retoricas exageradas, pues © pendor inato para certo lirismo melancélico e para satirae a utilizadas estas com sutileza e graca, facilmente transformadas em riso, prota do ridiculo daquelas criaturas escolhidas pelo escritor como exem- glostipicos duma sociedade hipécrita, destituida de principios morais, em ca- rminho para a deliquescencia, Romances de “atualidade”, “cronicas de costumes”, ainda hoje parecem sivas, gracas a focalizacao de algumas mazelas constantes do homem (como oConselheiro Acacio, simbolo da vulgaridade pedante e viciosa, € o Primo fusilio, donjuan barato, e assim por diante). Certamente seguindo o exem- glode Balzac, ¢ aproveitando a experiéncia de Flaubert, Ea intenta oferecer um painel tao variado quanto possivel da sociedade portuguesa contempo- rinea: O Crime do Padre Amaro passa-se em Leiria, pequena vila de provin- cia, beatae soturna, onde um padre corrupto seduz e leva a morte a infeliz eingenua Amélia, sob a protecao do confessionario e da supersti¢ao: aqui, a andlise impiedosa do clero revela-o deteriorado, como, alias, estava toda a obtusa sociedade provinciana, erguida sobre velhos preconceitos e uma mo- tal de ocasiao. Com O Primo Basilio, Eca desloca-se para a cidade, a sondar as moléstias onista pene- degenerescentes no centro nevralgico da Nagao, a Capital: 0 fi ttaagora no recesso dum lar burgues pretensamente solido e feliz, e nele des- Cobre igual devassidao moral e fisica. Em meio a um matrimonio efetuado “no Luisa, fatil, entregue a uma vida imaginativa e vegetativa, revela-se fragil fm 0 afastamento do marido, Jorge, que vai para o Alentejo a fiscalizar as Stas “minas”, e a chegada do sedutor, o Primo Basilio. Composto o banal trio “MOTO, o miicleo da organizacdo burguesa, 0 casamento, deixa-se atingir __Moralmente pelo adulterio. il ‘Com Os Maias, volta ao cenario portugues, para examinar a lisboeta em suas principais camadas, de ee Politcas ratos, fidalgos, etc.: 0 romance tem como micleo um caso de incesta, desvenda quase ao fim, servindo de pistes para Eca pintar um largo, daaristocracia portuguesa em decomposi¢ao. ESonte ea defei quanto o primeiro volume é uma longa preparacao para um caso folhetinesco de amor fisico entre dois irmaos, o romance vale sobretudy documento social e pelo estilo em que Eca o construiu. E pouco, ¢ para justificar que o ficcionista gastasse quase dez anos em sua elaboracig, Algumas das obras dessa fase, especialmente as primeiras, documenta aparecimento do romance, stricto sensu, em Portugal, livre da contaminaggy novelesca ainda comum no Romantismo: atestam um momento de austerida. dena historia da ficcdo, transformada que foi em obra de rigor e estudo, eam, arma de aco revolucionaria e reformadora da sociedade Apesar do lado pers civel, algumas dessas obras, como O Crime do Padre Amaro e 0 Primo Basia, permanecerao como romances-modelo, ao menos num historica do romance. estagio da eval Aterceirae ultima fase da carreir: ‘a de Eca de Queirés Seguintes a publicacdo de Os Maias (1888) cangando a maturid; corresponde aosamis até A morte do escritor (1900)AE lade, o escritor resolve erguer uma obra de sentido coli ttutivo, fruto da consciencia de ter investido inutilmente contra o burguese® familia. Ao derrotismo e pessimismo analitico da etapa anterior, sue Momento de otimismo, de esperanca e fe, transubstanciado em idealismOnl mais cientifico, mas tendo Por base 0 culto dos Casa de Ramires (1900), 4 Correspondencia de valores rechagados. A Fradique Mendes (I sepilog feliz deumaexstenca ; d -ascender politicamente por qualqu a tese segundo a qual o homem 56 é ve a Progresso, da Maquina, i civilizacto, do Progresso, da Maquina, isto €, no culto da latureza e da. simplicidade. Fea supera 0 esteticismo cientificista da fase anterior e admite : ‘uma concep- de vida mais livre e humanitaria. Assim, atingia o maximo de suas Ppossibi- jidades de artesdo da prosa, muito embora, € certo, o Tomancista desaparecess part ceder lugar a0 memorialista, ao idealista, a refletir maduramente no signi- ficado da existéncia humana. Eca alargava uma opeao ideolégica antes presente emJalio Dinis, e que, depois dele, sera frequente no Simbolismo. Ao longo da evolucao sofrida pela mundividencia de Eca de Queirés, vai-se operando analoga metamorfose em sua linguagem. Antes objetiva, definidora, repleta de pormenores indicativos de situacdes psicol6gicas e patologicas, ex- perimenta agora um processo de decantacao, de transfiguracdo, plasticizando- seem diafaneidades aladas, proximas do mais evanescente lirismo. Observe-se que Eca atinge, nessa quadra, o apogeu de estilista, mas em detrimento da es- trutura narrativa, colocada em segundo plano. Tal mudanea se presencia em al- guns de seus contos, verdadeiramente modelares no género (“Singularidades de uma Rapariga Loura”, “Perfeicao”, “Suave Milagre”, “José Matias”) e, ainda em Ultimas Paginas, biografias de santos, em que 0 estilo, fluindo sonoramente, Tuma suavidade de fonte secreta, ganha transparéncia de salmo. Ainda pertence a esse conjunto, num lugar de relevo, O Mandarim, gragas 'o $6 a linguagem como também ao seu recheio, puxado ao fantastico, em ue 0 poder da fantasia, do sonho, do sobrenatural, do idealismo e das alego- as, igualmente presente em A Correspondencia de Fradique Mendes, prevalece S0brea fotografia da realidade circundante, num cenatio mais proximo da fic- Homoderna do que as narrativas enfeudadas a teoria realista de arte, fe confundir escritor com romancista, que sag. escritor que 0 ficcionista, sobretudg y, da fase, apesar de se terem esquivado ge pelas qualidades de escrita, Pais, como, ferentes. Em Eca, atrai mais 0 ‘obras: os romances da tam ‘constrangil estético, valem ura I sestacnam a desejar, por seu esquematismo psicologicg ome Eca observava bem a sociedade do tempo, mas ‘do possuta 0s. done psicdlogo ea imaginacao transfiguradora que sae 0 ficcionista sy como Camilo Castelo Branco. Quanto ao dominio e brilho do estilo, gar de topo, legando um rol de solucdes expressivas de largo curso no <— XX, que emprestam a sua linguagem sabor inconfundivel. Por esse lado, Ey mantém-se vivo e atuante na memoria ainda dos leitores de hoje. Esta cane mais lidos em Lingua Portuguesa: ai reside, sem dtivida, 0 seu grande e pee manente mérito, E se Ihe juntarmos o de haver emprestado a ficc4o portugye saum modo peculiar de escrever romances, estaré sintetizada a sua importincy nos quadros literarios em nosso idioma. FIALHO DE ALMEIDA José Valentim Fialho de Almeida nasceu em Vila de Frades (Baixo Alenteoh ‘Z.de maio de 1857. Filho dum professor de primeiras letras, ainda menino il para Lisboa estudar. Forma-se em Medicina, enquanto trabalha numa farmi- cia para ganhar sustento diario, e gasta 0 mais do tempo nos primeit0s ele saios lterarios. Diplomado, foge de iniciar a vida profissional entregandost boémia dos cafés ¢ a uma crescente irritabilidade de fundo tempera

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