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Estágio Supervisionado II

Profa. Marcia Felix da Silva Cortez


Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife

Cortez, Marcia Felix da Silva

C828e Letras: Estágio Supervisionado II/ Marcia Felix da Silva Cortez. -


Recife: UPE/NEAD, 2011.

36 p. il.

1. Estágio Supervisionado 2. Prática de Ensino 3. Formação Continuada 4.


Educação à Distância I. Universidade de Pernambuco, Núcleo de Educação à
Distância II. Título

CDU 370.71
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE
Reitor
Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado
Vice-Reitor
Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque
Pró-Reitor Administrativo
Prof. José Thomaz Medeiros Correia
Pró-Reitor de Planejamento
Prof. Béda Barkokébas Jr.
Pró-Reitor de Graduação
Profa. Izabel Christina de Avelar Silva
Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Viviane Colares S. de Andrade Amorim
Pró-Reitor de Extensão e Cultura
Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Coordenador Geral
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Coordenador Adjunto
Prof. Walmir Soares da Silva Júnior
Assessora da Coordenação Geral
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Coordenação de Curso
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Coordenação Pedagógica
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Coordenação de Revisão Gramatical
Profa. Angela Maria Borges Cavalcanti
Profa. Eveline Mendes Costa Lopes
.Profa. Geruza Viana da Silva
Gerente de Projetos
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Administração do Ambiente
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Coordenação de Design e Produção
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Equipe de design
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Gabriela Castro
Rafael Efrem
Renata Moraes
Rodrigo Sotero
Coordenação de Suporte
Afonso Bione
Prof. Jáuvaro Carneiro Leão

EDIÇÃO 2011
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Recife - Pernambuco - CEP: 50103-010
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5

Estágio
Supervisionado II
Profa. Marcia Felix da Silva Cortez
Carga Horária | 60 horas

Ementa
Concepção de Estágio e Pesquisa como fundamentais na união entre prática
e teoria; Papéis do docente no estágio e na pesquisa; Vivenciando projetos de
extensão interdisciplinares que abordem temas afins e os temas transversais. Re-
gência em turma de Ensino Fundamental (7º e 8º séries ou ciclo de estudo equi-
valente). Elaboração do plano de estágio. Construção da Identidade Profissional
do Docente. Elaboração e Execução do projeto de intervenção. Elaboração do
relatório de estágio.

Objetivo Geral
Ampliar os conhecimentos sobre a realidade escolar, articulando teoria e prática
mediante a reflexão na ação, reconhecendo a importância do estágio supervi-
sionado em diálogo com a pesquisa e a extensão para o exercício e a identidade
docentes.

Apresentação da Disciplina
Caro aprendente,

No decorrer da disciplina Estágio Supervisionado II, levaremos você, aluno-


-docente, a aprofundar reflexões a respeito da relação entre a teoria e a prática,
tendo como eixos norteadores a pesquisa no estágio e a construção de projetos
de extensão e de intervenção, além de refletir sobre a construção da identidade
profissional do docente.

O reconhecimento da realidade escolar; a observação e a regência em sala de


aula com alunos da 7º e 8º séries ou ciclo de estudo equivalente; a consciência
da importância de projetos de pesquisa, extensão e intervenção como instru-
mentos de imersão no contexto escolar do aluno para reconhecimento da sua
realidade histórico-social, bem como a prática pedagógica voltada para a reflexão
e a transformação de paradigmas socioeducacionais insatisfatórios, serão pontos
discutidos nesta disciplina.
Também instrumentalizaremos você a construir planos de estágio; projetos de intervenção pedagógica
e relatórios de estágio, documentos necessários ao diagnóstico escolar na sua totalidade, sem os quais o
(re)fazer pedagógico se torna incompleto, pois são dados concretos que podem orientar a nossa prática
metodológica.

Por fim, esperamos que você utilize os recursos disponíveis em nossa sala de aula virtual (e-mail, caixa
de mensagem, fóruns etc) para apresentar as suas dúvidas, interagir conosco, participar no processo de
aprendizagem colaborativa que a EAD sugere, enfim, comunique-se para que possamos auxiliá-lo/a no
desenvolvimento das atividades, obtendo êxito ao final do semestre.
Capítulo 1
Capítulo 1 7

A Pesquisa no Estágio:
Diálogos Entre
Teoria e Prática
Profa. Marcia Felix da Silva Cortez
Carga Horária | 15 horas

Objetivos Específicos
• Refletir sobre a importância da relação entre pesquisa e estágio para a forma-
ção do docente.

• Compreender a realidade escolar por meio da realização de projetos de pes-


quisa que problematizem as questões inerentes à prática pedagógica e ao
sistema educacional.

• Propor possibilidades de transformação da realidade escolar mediante a in-


tervenção pedagógica sugerida após a realização de projetos de pesquisa.

Introdução
Neste capítulo, trataremos da importância do Estágio Supervisionado para a sua
formação docente e por esse motivo, abordaremos a origem do movimento de
projetos de pesquisa no estágio para compreender as suas bases históricas e epis-
temológicas. Isso proporcionará a você fundamentação teórica para conceber a
necessidade de introduzir projetos de pesquisas diversos e, sobretudo, os que se
relacionam à investigação da realidade escolar.

Você também será capaz de distinguir, entre os métodos de ensinar e os métodos


de pesquisar, o que compreendemos ser de fundamental importância para sua
prática docente, além de poder acessá-los articulados ou isoladamente. Por outro
lado, algumas considerações da Epistemologia da Prática, sobretudo quando assi-
miladas de forma crítica e recontextualizada, tornam-se possibilidades de reflexão
sobre o sistema educacional e nos permite ampliar o papel do professor reflexivo
para o de professor pesquisador e crítico-reflexivo.

1. A Pesquisa no Estágio:
Diálogos Entre Teoria e Prática
A definição dos projetos realizados nos estágios depende, inicialmente, de algu-
mas características e dos objetivos a que se propõem, entre eles: a finalidade do
curso de formação; a disciplina a qual o projeto está relacionado; ao campo de
8 Capítulo 1

conhecimento mobilizado no estágio e, sobretudo, da práxis docente ao estágio, sobretudo quando for
ao interesse e ao desejo do docente em formação produzir e executar o seu projeto de extensão ou
em aprofundar determinado aspecto e tema do sis- de intervenção escolar.
tema educativo.
Entendendo ainda que a ação diz respeito ao su-
Neste capítulo, remetemo-nos a uma das possibi- jeito e a prática concernente às instituições, você
lidades de investigação da realidade escolar, que é pode conferir a sua prática docente à “atividade
a construção de projetos de pesquisa1, sobretudo de transformação da realidade” (Pimenta; Lima, p.
quando estes podem originar uma ação em forma 45), ao aproximar a teoria e a prática por meio de
de projeto (extensão ou intervenção) ou evento. projetos de pesquisa que, por sua vez, podem origi-
nar outros tipos de projetos, como mencionamos
O movimento de valorização do projeto de pesquisa anteriormente.
no estágio, iniciado em 1990, busca compreender
o estágio como “investigação das práticas pedagógi- 1.2 Estágio Como Pesquisa e a
cas nas instituições educativas” (Pimenta; Lima, p Pesquisa no Estágio
47), tornando-se importante para aprofundar ques-
tões que envolvem todo o sistema educacional. Desconstruindo a concepção de conhecimento
como verdade que explica situações observadas,
Por outro lado, é a imersão na realidade escolar o que muitas vezes levou os alunos-estagiários a
que oportunizará a você contextualizar as situações prescreverem o que os professores deveriam fazer
que envolvem o processo de ensino-aprendizagem, em sala de aula, gerando assim muitos conflitos,
adotando uma postura conciliadora entre a teoria você poderá seguir um caminho diferente, no qual
e a prática, à medida que a teoria for acessada para se busca o conhecimento surgido da relação entre
investigar e refletir sobre as situações concretas. as explicações existentes e os dados novos, estes
oriundos da realidade e percebidos na postura in-
1.1 Reflexões Sobre Teoria e vestigativa.
Prática no Estágio
A pesquisa no estágio como método de formação
Conceber o estágio como atividade teórica que de futuros professores perpassa pela mobilização
permite “conhecer e se aproximar da realidade” de pesquisas, potencializando a análise dos contex-
(Pimenta; Lima, p.44) tem levado a superação da tos em que os estágios são realizados. Além disso,
dicotomia entre os conceitos de prática e de teo- as habilidades de pesquisador que você desenvol-
ria. Assim, a reflexão sobre a realidade escolar, tão verá, o levarão a compreender e a problematizar as
necessária ao trabalho docente, deve ter por base situações observadas.
o envolvimento entre todos os que pertencem à
comunidade escolar. Então, nosso objetivo é você se tornar ciente de
que o processo de ensinar distingue-se do processo
Também por isso, você observará o cotidiano da de pesquisar, mesmo que possa haver uma relação
escola-campo que aceitou a sua proposta de estágio entre ambos. Assim, apresentaremos abaixo as
curricular2 e entrará em contato com professores, principais diferenças entre os métodos de ensinar
coordenadores, gestores e alunos para ter mais se- e os métodos de pesquisar para ampliar a sua com-
gurança quanto às atividades que serão desenvolvi- preensão sobre ambos:
das em nossa disciplina.

Esperamos que, ao articular todos os segmentos do


espaço escolar em seu plano de estágio, você atri-
bua uma concepção teórica de instrumentalização

1
Para aprofundar seus conhecimentos sobre projeto de pesquisa no estágio, leia “Formação de professores: a pesquisa e a política educacional”. In:
PIMENTA; CHEDIN (org.) Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002.

2
Ver anexo 2, p. 27 para conferir as partes e elementos da proposta de estágio curricular.
Capítulo 1 9

COMPONENTES MÉTODOS DE ENSINAR MÉTODOS DE PESQUISAR


Relação entre sujeitos é bem diversa. Tem a parceria de um orientador ou cole-
gas de pesquisa.

Professor se confronta com outros sujei- Pode ser efetivado individualmente, em


SUJEITO tos: pares institucionais, coordenadores, duplas ou em grupos.
colegas da área, alunos etc.

Interação entre sujeitos ocorre sistematica-


mente (semestre, ano etc).

Não é flexível, deve haver começo – meio e Apresenta certa flexibilidade.


fim em semestre ou ano.
TEMPO
Segue a organização curricular adotada e Comporta alterações com base em impre-
a legislação em vigor. vistos.

Deve proporcionar novas elaborações e Conhecimento é gerado com base em


novas sínteses sobre os conhecimentos problema pesquisado.
adquiridos.
Explicam as determinações da realidade.
RESULTADOS
Professores e alunos investigam e refletem Confirmam ou permitem a revisão total ou
sobre o conhecimento compartilhado. parcial da teoria existente ou do referen-
cial científico.

Depende da visão de ciência, de conhecimen- Definido com base na proposição do


to e de saber escolar do professor. problema a ser pesquisado.

MÉTODO Deve ser construído em parceria mediante Mantém relação com o objeto, com o
a responsabilidade partilhada e com ações campo de conhecimento ao qual se refere
diferenciadas entre alunos e professores. e com a maneira de apreensão de seus
determinantes.

1.3 Epistemologia da Prática Mais uma vez ressaltamos a importância do papel


da teoria para o trabalho docente que é, segundo
Schön foi um dos primeiros a tratar da Epistemo- Pimenta e Lima, “oferecer aos professores perspec-
logia da Prática, baseando-se nas considerações de tivas de análise para compreender os contextos
Jonh Dewey, Luria e Polanyi para concebê-la como históricos, sociais, culturais, organizacionais e de
a valorização da prática profissional e o momento si mesmos como profissionais” (p. 49, 2010), o que
de construção do conhecimento pela reflexão, pro- pode ser plenamente possível por meio de projetos
blematização e análise dessa prática. Outro aspecto de pesquisa nos quais ocorrem a análise e a proble-
importante pontuado por Schön refere-se ao “co- matização das ações e das práticas.
nhecimento tácito presente nas soluções que os pro-
fissionais encontram em ato” (Pimenta; Lima, p. 48). 1.4 Professor Reflexivo,
Professor Pesquisador e
Em 1999, Sacristán remete ao fato de serem inse- Professor Crítico-Reflexivo
paráveis prática e teoria no que concerne ao pro-
fessor, pois este sempre dialoga o conhecimento Oferecemos a você a possibilidade de acessar o
pessoal com a ação. conhecimento que envolve estudo, análise, proble-
matização, reflexão e proposições de soluções às
Assim, além da experiência concreta do sujeito, de- situações de ensinar e aprender. Sabemos também
vemos cooperar para a ampliação da cultura obje- que, aos poucos, você dominará todas essas habi-
tiva, traduzida, por exemplo, em teorias educacio- lidades e orientará a sua prática docente de forma
nais que podem ser levadas às situações concretas contextualizada ao compreender a importância
enfrentadas pelos professores. da pluralidade de saberes e de como a sociedade
é desigual, (re)orientando seu trabalho num fazer
Por isso, você compreenderá que as teorias são im- incessante.
portantes quando usadas para avaliar ou refletir
sobre contextos específicos e, ainda, entenderá que Podemos dizer que tudo começa com uma postura
os saberes propositivos se articulam com os saberes investigativa, proveniente das inquietações no coti-
da ação dos professores e da prática institucional, diano escolar e que vai se tornando mais sistemáti-
ressignificando-os e sendo ressignificados por eles.
10 Capítulo 1

ca no que se refere à reflexão. Schön foi o primeiro BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretri-
a cunhar a expressão “professor reflexivo” e neste zes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96
modelo se tenta compreender o trabalho docente, de 21 de dezembro de1996.
ao valorizar a experiência e a reflexão na experi-
ência, dando origem ao que já discutimos sobre BRASIL. Orientações Curriculares para o Ensino
epistemologia da prática. Médio: linguagens, códigos e suas tecnologias.
Brasília: SEB/MEC, 2006.
Apenas refletir sobre problematizações no espaço
escolar parece ser pouco, pois o trabalho docente ____. PCN+ Ensino Médio: Orientações Edu-
deve ir além, o que ocorre mediante uma ampla cacionais Complementares aos Parâmetros
contextualização das situações concretas de ensino- Curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEMTEC,
-aprendizagem e por pesquisas investigando tais 2002.
contextos.
____. Parâmetros Curriculares nacionais: ensi-
Assim, passamos do modelo de professor reflexivo no médio. Brasília: MEC/SEMT, 1999.
para “professor pesquisador”, que tem como ob-
jeto de investigação a sua prática. Por isso, os pro- ____.Parâmetros Curriculares Nacionais: tercei-
jetos de pesquisa são tão necessários ao trabalho ro e quarto ciclos do Ensino Fundamental – Lín-
docente, porque permitem adentrar na complexi- gua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.
dade prática e promover um diálogo entre estágio-
-pesquisa e teoria-prática. ____.Parâmetros Curriculares Nacionais: tercei-
ro e quarto ciclos do Ensino Fundamental – Te-
Finalmente, ampliamos ainda o papel do professor mas Transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998.
pesquisador-reflexivo para o de “professor crítico-
-reflexivo” quando este articula pesquisa a uma ____.Parâmetros Curriculares Nacionais: pri-
práxis, o que aponta para o conceito político-epis- meiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental
temológico, uma vez que a reflexão deu origem a – Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.
uma pesquisa, cujos dados serão analisados, e essa
investigação reorientou uma intervenção, uma CAUNDAU, V. M. (org.). Reinventar a escola.
ação ou uma proposta de mudança para uma re- Petropólis: Vozes, 2000.
alidade melhor.
CHIAPPINI, Lígia (Org.). Aprender e ensinar
Esperamos que este capítulo tenha ofertado a você com textos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
uma compreensão básica da importância de inves-
tigarmos a nossa prática pedagógica, aproximando DEMO, Pedro. Ironias da Educação: mudanças
teoria e prática por meio de projetos de pesquisa. e contos sobre mudança. Rio de Janeiro: DP&
No próximo capítulo, abordaremos outra maneira A, 2000.
de adentrar a realidade escolar pela realização de
projetos, focando a nossa atenção, sobretudo, nos FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São Pau-
projetos de extensão e na interdisciplinaridade. lo: Paz e Terra, 1985.

GERALDI, J.W. Portos de Passagem. 3.ed. São


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Paulo: Martins Fontes, 1995.

ANTUNES, Irandé. Língua, Texto e ensino: outra JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patolo-
escola possível.São Paulo: Parábola, 2009. gia dos saberes. São Paulo: Imago: 1986.

BAGNO, Marcos. Língua Materna: letramento, LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 18 ed. São
variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002. Paulo: Cortez, 2008.

BARREIRO, Iaríde Marques de Freitas. Prática de __________________. Adeus professor, adeus


Ensino e Estágio Supervisionado na Formação professora? novas exigências educacionais e
de Professores. São Paulo: Avercamp, 2006. profissão docente. São Paulo: Cortez, 2000.
Capítulo 1 11

MACHADO, José Nilson. Educação: projetos e


valores. São Paulo: Escrituras Editora, 2001.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a es-


crita: atividades de retextualização. São Paulo:
Cortez, 2001.

MOÇO, Anderson. “Como trabalhar com pro-


jetos?”. In: Revista Nova escola. São Paulo,
abril, 2011.

MORIN, Edgard. Os sete saberes necessários à


Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2003.

PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na forma-


ção de professores: unidade, teoria e prática. 7
ed. São Paulo: Cortez, 2006.

__________________; LIMA, Maria Socorro


Lucena Lima. Estágio e Docência. São Paulo:
Cortez, 2010.
2
Capítulo 2 13

Projetos de Extensão
e as Concepções de
Interdisciplinaridade
Profa. Marcia Felix da Silva Cortez
Carga Horária | 15 horas

Objetivos Específicos
• Refletir sobre a importância da proposta interdisciplinar para a formação do
docente.

• Compreender e intervir na realidade escolar por meio da realização de proje-


tos de extensão que envolvam os diversos atores do espaço escolar.

• Possibilitar a construção de Projetos de Extensão relacionados às áreas do


curso de Letras e/ou dos Temas Transversais.

Introdução
Neste capítulo, você compreenderá a importância dos projetos de extensão como
possibilitadores da relação entre teoria e prática, na medida em que eles podem
ser construídos à luz da interdisciplinaridade e da transversalidade, ofertando
propostas temáticas, afins ou não, ao curso de Letras, fazendo que você, docente,
seja inserido no ambiente escolar e extraescolar, ressignificando a sua prática
pedagógica e despertando a consciência cidadã do aluno.

1. As Dimensões dos Projetos de Estágio e a


Interdisciplinaridade
Continuando as nossas reflexões sobre o uso de projetos no estágio supervisio-
nado, apresentaremos, de modo geral, as suas diversas dimensões para que você
tenha conhecimento:

• Pedagógica – envolvendo currículo; alunos; práticas pedagógicas; avaliação;


sala de aula; metodologias de ensino e aprendizagem; disciplinas específicas; re-
forço escolar; arte e recreação; (in)disciplina; conduta dos alunos; violência etc.

• Organizacional – concernente às questões administrativas e financeiras; rela-


ções com os órgãos dos sistemas de ensino; composição das turmas; horário;
merenda; projeto político-pedagógico; formação em serviço; órgãos de ges-
tão; biblioteca; recursos em geral etc.
14 Capítulo 2

• Profissional – em torno da formação contí- tividade que ofereça uma compreensão global da
nua; condições de exercício profissional; pos- realidade, a proposta interdisciplinar implica res-
tura de professor e outros. peito à verdade de cada componente curricular e à
especificidade de cada um deste, em que o princí-
• Social – relacionada à: comunidade, cidade; pio da unidade repousa no movimento de ir e vir
saúde; cidadania; órgãos de governo e de po- das ciências.
der político e social etc.
Desse modo, a prática interdisciplinar ultrapassa
Diante de tantas possibilidades, ao mesmo tempo os limites da sala de aula e do saber dogmático,
em que se percebe que todas essas dimensões po- uma vez que se fortalece também na vida social e é
dem gerar uma mobilização entre os atores da esco- fundamentalmente esse aspecto da interdisciplina-
la e a comunidade, neste segundo capítulo aborda- ridade que propicia a sua relação com a construção
remos conhecimentos que levem você a aproximar de projetos de extensão.
teoria e prática mediante a construção e a gestão
de projetos de extensão que dialoguem com a in- Assim, o docente que recorre ao conhecimento de
terdisciplinaridade. ambos, interdisciplinaridade e projetos de exten-
são, poderá ampliar e aprofundar os seus conheci-
É por meio dessa perspectiva que o projeto de está- mentos pedagógicos, dotando sua prática de gran-
gio, no caso em questão o de extensão, ganha con- de significação socioeducativa.
tornos diferenciados por pressupor que a aquisição
de saberes pedagógicos (científico e didático) não Para que o projeto de extensão esteja bem funda-
ocorre de forma estanque, e sim pela interação en- mentado e legitime a prática docente de forma
tre as diversas áreas do conhecimento em diálogo consistente e coerente, o docente deve buscar no
com os diversos segmentos da sociedade. diagnóstico escolar informações necessárias para a
construção e a gestão do seu projeto de extensão.
1.1 Projetos de Extensão
Interdisciplinares Esse diagnóstico pode ocorrer mediante a investi-
gação de alguns aspectos, entre eles: caracterização
Refutando a ideia de fragmentação do ser huma- socioeconômica; estrutura física e material; pessoal
no, a interdisciplinaridade se pauta numa visão integrante da comunidade escolar; estrutura, orga-
unitária, na qual, para se chegar a essa, unidade é nização e funcionamento; planejamento escolar;
preciso que haja uma relação de troca e de recipro- organização geral da escola; direção e gestão da es-
cidade entre as diversas áreas do conhecimento, cola; avaliação etc.
porque os conteúdos escolares não têm um fim em
si mesmo, e sim permitem a explicitação da reali- Também podemos perceber que os projetos de ex-
dade concreta. tensão podem vincular-se a outros tipos de projeto.
Eles podem relacionar-se a um projeto de ensino,
É também fundamental compreender que a prá- no qual a sua gestão visa ao ensino-aprendizagem
tica interdisciplinar pressupõe: Troca – Recipro- de conteúdos que norteiam alunos-professores
cidade – Busca – Construção Coletiva. Por outro em contato com a comunidade bem como se ori-
lado, jamais você deverá conceber a interdiscipli- ginam, em alguns casos, de projetos de pesquisa,
naridade como: cujos dados coletados foram orientados para uma
ação concreta que objetiva amenizar algum proble-
a. simples colaboração entre diferentes áreas do ma existente.
conhecimento;
1.2 Projetos de Extensão que Abordam as
b. jogo de forças entre as ciências e Áreas Comuns do Docente de Letras

c. jogo de dirigentes, no qual há vencedores e Como você já pode perceber, a interdisciplinarida-


vencidos. de, entre outros aspectos, é originária de uma pos-
tura de imersão em contextos sociais que apontam
Despindo-se de uma postura positivista, que par- para práticas concretas, realizadas pelos indivíduos
cela o conhecimento na busca da necessária obje- na sociedade.
Capítulo 2 15

Quando levamos essa consideração para o contex- 1.3 Projetos de Extensão e os


to da sala de aula, não podemos esquecer que os Temas Transversais
nossos alunos vivem em sociedade e, também, são
responsáveis pelas atitudes que norteiam as ações Segundo os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacio-
concretas. nais para os terceiro e quarto ciclos do Ensino Fun-
damental), interdisciplinaridade e transversalidade
Para o docente do curso de Letras, então, cooperar se fundamentam na
para a inserção social pelo letramento, articulan-
do saberes propagados pela escola com os saberes “crítica de uma concepção de conhecimento que toma a re-
oriundos dos espaços extra-escolares torna-se im- alidade como um conjunto de dados estáveis, isso porque
prescindível. ambas apontam para a ideia de complexidade do real e a
necessidade de se considerar a teia de relações entre os seus
Entendemos por letramento uma prática comple- diferentes e contraditórios aspectos” (p, 31).
xa, que ultrapassa a mera decodificação do escri-
to, pois pensamos que o ser humano é capaz de Isso não quer dizer que interdisciplinaridade e
construir sentidos por meio de inúmeras formas transversalidade são análogas, mas elas se tornam
de comunicação, e esta última, por sua vez, pressu- mútuas, e é preciso distingui-las. Assim apresenta-
põe um dinâmico processo de interação constante, mos no quadro a seguir duas características que as
realizado com os diversos atores do meio social ao diferenciam:
qual está inserido.
Interdisciplinaridade Transversalidade

O primeiro passo na construção do seu projeto Abordagem epistemológica Diz respeito principalmente
dos objetos de conheci- à dimensão da didática.
de extensão é conscientizar-se de que a articulação mento.
dinâmica e reversível entre “descobrir a escrita”
(conhecimento de suas funções e formas de ma- Questiona a segmentação Diz respeito à possibilidade
entre os diferentes campos de se estabelecer, na prática
nifestação), “aprender a escrita” (compreensão de de conhecimento produ- educativa, uma relação en-
regras e modos de funcionamento) e “usar a escri- zidos por uma abordagem tre aprender conhecimentos
ta” (cultivo de suas práticas com base em um refe- que não considera a inter- teoricamente sistematizados

rencial culturalmente significativo para o sujeito) relação e a influência entre (aprender sobre a realidade)
eles — questiona a visão e as questões da vida real
é possível e necessário ao fazer docente, sobretu-
compartimentada (discipli- e de sua transformação
do, quando se objetiva ampliar a democratização nar) da realidade sobre a (aprender na realidade e da
linguística. qual a escola, tal como é realidade).
conhecida historicamente
se constituiu.
Em seguida, você poderá delimitar a área de atua-
ção do seu projeto de extensão. Ela pode se valer
dos estudos linguísticos e, por meio deles, você po- 1.3.1 Pontos da Transversalidade e
derá problematizar as questões referentes à aquisi- o Trabalho Pedagógico
ção de língua e escrita no contexto escolar. Assim,
diversas propostas temáticas podem interessar a Os temas transversais, portanto, dão sentido social
você, a exemplo da variação linguística; concepções a procedimentos e conceitos próprios das áreas
de língua e escrita; ensino de língua estrangeira nas convencionais, superando assim o aprender ape-
séries iniciais, entre outras. nas pela necessidade escolar de “passar de ano”.
Assim, torna-se fundamental para você conhecer
A área de estudos literários também pode ofer- os quatro pontos que norteiam o trabalho peda-
tar ricas abordagens ao seu projeto de extensão, a gógico com a transversalidade, enfatizados pelos
exemplo das questões de hábito e prazer pela lei- PCNs (p. 28):
tura por meio de gêneros literários; o ensino de
literatura na educação infantil; apreciação crítica • os temas não constituem novas áreas, pressu-
de obras infantis na educação infantil, entre outras pondo um tratamento integrado nas diferen-
possibilidades de propostas temáticas. tes áreas;

• a proposta de transversalidade traz a necessida-
de de a escola refletir e atuar conscientemente
16 Capítulo 2

na educação de valores e atitudes em todas as mos que a transversalidade pretende que seus te-
áreas, garantindo que a perspectiva político-so- mas integrem as áreas convencionais de forma a
cial se expresse no direcionamento do trabalho estarem presentes em todas elas, relacionando-as
pedagógico; influencie a definição de objeti- às questões da atualidade e que sejam orientadores
vos educacionais e oriente eticamente as ques- também do convívio escolar.
tões epistemológicas mais gerais das áreas, seus
conteúdos e mesmo as orientações didáticas; Os temas transversais são Ética; Saúde; Meio Am-
biente; Orientação Sexual; Pluralidade Cultural;
• a perspectiva transversal aponta uma trans- Trabalho e Consumo. Portanto, um trabalho pe-
formação da prática pedagógica, pois rompe dagógico de análise ou produção de/com gêneros
o confinamento da atuação dos professores textuais pode abranger um ou até mais de um
às atividades pedagogicamente formalizadas desses temas, de modo que o conhecimento te-
e amplia a responsabilidade com a formação mático e estrutural do gênero escolhido não seja
dos alunos. Os Temas Transversais permeiam desconsiderado.
necessariamente toda a prática educativa que
abarca relações entre alunos, entre professores Por isso, precisamos nos conscientizar de que optar
e alunos e entre diferentes membros da comu- por trabalhar com os temas transversais e as áreas
nidade escolar; deve ser da seguinte maneira:

• a inclusão dos temas implica a necessidade de 1. as diferentes áreas contemplem os objetivos
um trabalho sistemático e contínuo no decor- e os conteúdos (fatos, conceitos e princípios;
rer de toda a escolaridade, o que possibilitará procedimentos e valores; normas e atitudes)
um tratamento cada vez mais aprofundado que os temas da convivência social propõem.
das questões eleitas. Por exemplo, se é desejá-
vel que os alunos desenvolvam uma postura 2. haja momentos em que as questões relativas aos
de respeito às diferenças, é fundamental que temas sejam explicitamente trabalhadas e con-
isso seja tratado desde o início da escolarida- teúdos de campos e origens diferentes sejam
de e que continue sendo tratado cada vez com colocados na perspectiva de responder a elas.
maiores possibilidades de reflexão, compreen-
são e autonomia. Muitas vezes essas questões Por pressupor a intrínseca relação entre teoria e
são vistas da “natureza” dos alunos (eles são prática, a transversalidade abre espaço para a in-
ou não são respeitosos), ou atribuídas ao fato clusão de saberes extraescolares, possibilitando a
de terem tido ou não essa educação em casa. referência a sistemas de significado construídos na
Outras vezes são vistas como aprendizados realidade dos alunos.
possíveis somente quando jovens (maiores) ou
quando adultos. Sabe-se, entretanto, que é um É nesse sentido que os projetos, no caso em ques-
processo de aprendizagem que precisa de aten- tão os de extensão, surgem como uma das formas
ção durante toda a escolaridade e que a con- de aparelhar o trabalho didático e pode integrar
tribuição da educação escolar é de natureza diferentes modos de organização curricular.
complementar à familiar: não se excluem nem
se dispensam mutuamente. Por isso, conteúdos organizados em forma de pro-
jetos favorecem a compreensão da multiplicidade
Dessa forma, a transversalidade incorre numa de aspectos que compõem a realidade, uma vez que
abrangência significativa do conhecimento ao rela- permite a articulação de contribuições de diversos
cionar o sujeito do conhecimento e a produção deste campos de conhecimento.
pelo mesmo, superando a dicotomia entre ambos.
Por outro lado, ao usar os temas transversais em
1.3.2 Os Temas Transversais e os seu projeto de extensão, você pode direcioná-los
Projetos de Extensão na Escola para construção de metas objetivas, com a produ-
ção de algo que sirva como instrumento de inter-
Dialogar com os temas transversais não quer di- venção nas situações reais, além de articular todos
zer que você irá omitir os conteúdos referentes à os atores do espaço escolar.
sua área de atuação docente, ao contrário. Já vi-
Capítulo 2 17

Para isso, é importante que você planeje uma série ____. Parâmetros Curriculares nacionais: ensino
de atividades organizadas e direcionadas para as médio. Brasília: MEC/SEMT, 1999.
metas preestabelecidas, de forma que, ao realizá-
-las, os alunos tomem coletivamente decisões sobre ____.Parâmetros Curriculares Nacionais: tercei-
o desenvolvimento do trabalho em todas as suas ro e quarto ciclos do Ensino Fundamental – Lín-
etapas de execução. gua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.

Existem múltiplas possibilidades de projetos que ____.Parâmetros Curriculares Nacionais: tercei-


visam aos resultados voltados para a vida comu- ro e quarto ciclos do Ensino Fundamental – Te-
nitária e você pode oportunizar aos alunos envol- mas Transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998.
vidos se perceberem como verdadeiros cidadãos,
pois eles compreenderam claramente o que, por ____.Parâmetros Curriculares Nacionais: pri-
que e para que estão participando do projeto, meiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental
além do mais os alunos aprendem também a for- – Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.
mular questões e a transformar os conhecimentos
em instrumento de ação. CAUNDAU, V. M. (org.). Reinventar a escola.
Petropólis: Vozes, 2000.
Neste capítulo, tratamos da importância dos proje-
tos de extensão na formação docente, atrelando-os CHIAPPINI, Lígia (Org.). Aprender e ensinar
aos aspectos da interdisciplinaridade e transversa- com textos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
lidade. No próximo capítulo, nos remeteremos à
construção da identidade do profissional docente DEMO, Pedro. Ironias da Educação: mudanças
e à necessidade de investigação da realidade esco- e contos sobre mudança. Rio de Janeiro: DP&
lar, por intermédio dos projetos de intervenção A, 2000.
escolar. Assim, acreditamos que contribuiremos,
novamente, para apontar os diálogos entre teoria FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São Pau-
e prática. lo: Paz e Terra, 1985.

GERALDI, J.W. Portos de Passagem. 3. ed. São


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Paulo: Martins Fontes, 1995.

ANTUNES, Irandé. Língua, Texto e ensino: outra JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patolo-
escola possível.São Paulo: Parábola, 2009. gia dos saberes. São Paulo: Imago: 1986.

BAGNO, Marcos. Língua Materna: letramento, LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 18 ed. São
variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002. Paulo: Cortez, 2008.

BARREIRO, Iaríde Marques de Freitas. Prática de __________________. Adeus professor, adeus


Ensino e Estágio Supervisionado na Formação professora? novas exigências educacionais e
de Professores. São Paulo: Avercamp, 2006. profissão docente. São Paulo: Cortez, 2000.

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretri- MACHADO, José Nilson. Educação: projetos e
zes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 valores. São Paulo: Escrituras Editora, 2001.
de 21 de dezembro de1996.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a es-
BRASIL. Orientações Curriculares para o Ensino crita: atividades de retextualização. São Paulo:
Médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Cortez, 2001.
Brasília: SEB/MEC, 2006.
MOÇO, Anderson. “Como trbalhar com proje-
____. PCN+ Ensino Médio: Orientações Edu- tos?”. In: Revista Nova escola. São Paulo, abril,
cacionais Complementares aos Parâmetros 2011.
Curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEMTEC,
2002. MORIN, Edgard. Os sete saberes necessários à
18 Capítulo 2

Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2003.

PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na forma-


ção de professores: unidade, teoria e prática. 7
ed. São Paulo: Cortez, 2006.

__________________; LIMA, Maria Socorro


Lucena Lima. Estágio e Docência. São Paulo:
Cortez, 2010.
3
Capítulo 3 19

A Construção da
Identidade do
Profissional Docente,
os Projetos de
Intervenção e suas
Relações com o
Estágio Supervisionado
Profa. Marcia Felix da Silva Cortez
Carga Horária | 15 horas

Objetivos Específicos
• Refletir sobre a construção da identidade profissional do docente.

• Aproximar os diálogos entre teoria e prática mediante o uso de projetos de


intervenção.

• Perceber a importância dos projetos de intervenção para inserção na realida-


de escolar, reorientando a prática docente.

Introdução
Neste capítulo, você se tornará consciente da importância de construir sua iden-
tidade profissional docente, para assim perceber e legitimar o seu papel de pro-
fessor. Atrelado a essa percepção, o uso de projeto de intervenção possibilitará
a você ampliar seus conhecimentos e investigações sobre a realidade escolar ao
articular todos os atores da escola, especialmente, aluno e professor.

1. A Construção da Identidade do Profissional Docente


Ao aproximar o diálogo entre teoria e prática, não podemos deixar de refletir
sobre as posturas assumidas pelos professores, de modo que tal reflexão nos leve
a questionar sobre a identidade, os saberes e as posturas específicas do exercício
profissional docente.
20 Capítulo 3

Os aspectos mencionados acima também remetem De igual modo, o estudo e a análise da prática pe-
à concepção de estágio como campo de conheci- dagógica que ocorrem nas escolas por meio dos
mento e eixo curricular, apontando para a necessi- aportes dos campos da Didática, do Currículo e da
dade de explicitarmos os termos profissão e profis- Prática de Ensino são importantes na construção
sionalização docentes. identitária do docente.

Assim, você compreenderá que a identidade do Outro ponto fundamental é considerar os aspec-
professor é construída ao longo da sua trajetória tos subjetivos da profissão docente e eles dizem res-
como profissional no magistério e que o processo peito à identificação e à adesão dos sujeitos a sua
da sua formação docente, legitimada pelo seu cur- profissão a ponto de dizerem para si mesmos que
so, consolidará as opções e as intenções da profis- querem ser professores.
são escolhida por você.
É óbvio que os cursos de formação têm um papel pre-
Por isso, achamos oportuno que no seu estágio ponderante na construção identitária do docente,
você o compreenda como fundamental para se cer- à medida que possibilitam a reflexão e a análise crí-
tificar sobre a sua identidade profissional docente, tica das representações sociais historicamente cons-
concordando, assim, com o que Buriolla pontua, truídas e praticadas na profissão, e o estágio, por sua
porque, para ele, vez, contribui ao trabalhar a identidade em forma-
ção definida, sobretudo, pelos saberes adquiridos.
“o estágio é o locus onde a identidade profissional é gera-
da, construída e referida; volta-se para o desenvolvimento
de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve
Somos conscientes de que mesmo que você esteja
ser planejado gradativa e sistematicamente com essa finali- convicto da sua escolha como profissional docen-
dade” (apud Pimenta e Lima, p. 62). te, você poderá encontrar um contexto desfavorá-
vel, a exemplo de situações de desgaste, cansaço
Distinguir que profissão refere-se às características e desilusão dos profissionais de educação; das
e ao modo de se exercer uma determinada ativida- condições objetivas das escolas, diversas vezes po-
de, além das suas condições objetivas, e que pro- tencializadas pelos problemas sociais, cuja solução
fissionalismo é um termo mais complexo, pois, está longe da sua capacidade e da falta de reconhe-
segundo Libâneo cimento social da categoria por parte de alguns
segmentos da sociedade.
“significa o compromisso com um projeto político demo-
crático, participação na construção coletiva do projeto Os fatores mencionados anteriormente reforçam a
pedagógico, dedicação ao trabalho de ensinar a todos,
importância do preparo para um desempenho ade-
domínio da matéria e dos métodos de ensino, respeito (e
quado por parte do profissional docente, para que
consideração) à cultura do aluno, assiduidade, preparação
ele contenha os conhecimentos sobre a área da re-
de aula” (apud Pimenta e Lima, p. 64),
alidade que podem se converter em conteúdos de
oferece a dimensão da identidade docente. ensino e o domínio dos recursos teóricos e meto-
dológicos para transmissão, partilha e socialização
Por seu caráter complexo e interdisciplinar, as in- desses conhecimentos.
vestigações sobre a identidade profissional docente
recebem contribuições dos campos da Psicologia, Convidamos você, então, para refletir sobre as se-
da Sociologia e de outras ciências. No que concer- guintes questões:
ne à Psicologia Social, por exemplo, tal visão in-
terdisciplinar se confirma pela dimensão política Que significa ser professor?
ao considerar a produtividade de cada indivíduo
e as condições sociais e institucionais em que essa Que professores marcaram sua caminhada?
atividade ocorre.
Que fatos e oportunidades conduziram você a
Percebemos, também, que essa identidade profis- optar pelo magistério?
sional docente vai sendo configurada com base na
experiência e na história pessoal, no coletivo e na Acreditamos que esses questionamentos possibili-
sociedade, porque a identidade é produto de inú- tam a você investigar alguns motivos que o levaram
meras e sucessivas socializações. a optar pela profissão docente.
Capítulo 3 21

Assim, o curso, o estágio, a aprendizagem das de- do docente na escola e oportuniza ambientes pro-
mais disciplinas e experiências e a vivência dentro pícios à transformação das práticas existentes.
e fora da universidade ajudam a construir a iden-
tidade docente. Ao promover a presença do aluno Eximir-se de vaidades ao se denominar como coau-
estagiário no cotidiano do ambiente escolar, o está- tor e não executor de um projeto de intervenção
gio amplia o espaço para a realidade, para a vida e fará você dialogar com dois componentes essen-
para o trabalho do professor na sociedade. ciais do projeto de intervenção: a questão educati-
va e o trabalho em conjunto.
Compreendemos, então, que o ensino de qualida-
de deve estar relacionado aos desafios da sociedade Nesse sentido, devemos priorizar a realização de
contemporânea e que a formação docente envolve projetos significativos para a comunidade escolar,
um duplo processo: o da autoformação dos profes- visando à melhor qualidade da escola ao se voltar
sores mediante a reelaboração constante de sabe- para a inclusão social em constante diálogo com
res que realizam em sua prática, confrontando suas seus participantes, ou seja, docentes e discentes.
experiências no contexto escolar, e o de formação
nas instituições escolares onde atuam. Por isso, concordamos plenamente com Pimenta e
Lima, que afirma
Para que a formação docente amplie o papel do
profissional docente, a ponto de fazê-lo consciente “Somente acreditando que as pessoas, juntas, têm a capa-
da necessária construção de sua identidade, contri- cidade de transformar a realidade é que o projeto pode
buem de modo particular, a gestão democrática e deixar de ser um instrumento burocrático para ser um
instrumento de ensino e de aprendizagem tanto do aluno
as práticas curriculares participativas que concor-
como do professor” (2010, p. 220).
rem para a criação de redes de formação contínua,
cujo primeiro nível é a formação inicial.
O trabalho com projetos vem despertando o inte-
resse de muitos profissionais da educação. O tema
1.2 Projetos de Intervenção Escolar no
chamou a atenção da revista Nova Escola, que, em
Estágio Supervisionado abril deste ano, foi abordado por Anderson Moço no
artigo “Como trabalhar com projetos”, responden-
Ciente de que ser professor remete a uma postura
do às dúvidas de 166 professores leitores da revista3.
de pertencimento a uma categoria profissional, e
objetivando, ainda, aproximar a teoria e a prática,
Assim, achamos oportuno trazer algumas infor-
trataremos do projeto de intervenção e a sua im-
mações dessa importante matéria para refletirmos
portância para consolidar o papel do profissional
com você, pois seu conteúdo trata da realização de
docente por meio da imersão na realidade escolar.
projetos de intervenção escolar, mencionados no
texto como projetos didáticos.
Após todas as considerações feitas, nos capítulos
anteriores, sobre a necessidade da realização de
Sabemos que não há um modelo preestabelecido
projetos durante estágio supervisionado, torna-se
para a construção de um projeto, isso porque eles
evidente que eles (os projetos) são possibilidades
podem ser planejados e organizados de inúmeras
metodológicas coerentes com a formação docente.
formas, mas algumas ações são fundamentais,
como poderemos perceber nas questões abaixo
Quando o projeto responde às demandas da comu-
pontuadas pela referida matéria:
nidade escolar, levando conhecimento produzido,
nutrindo-se da escola para elaborar propostas e, as-
1. Delimitar e conhecer bem o assunto que será
sim, construir um diálogo entre a universidade e a es-
estudado e pesquisá-lo previamente.
cola, estamos diante de um projeto de intervenção.
2. Escolher uma meta de aprendizagem principal
Configurando-se num processo de formação con-
e outras secundárias que atendam às necessi-
tínua, o projeto de intervenção desenvolve habili-
dades de aprendizagem.
dades que visam ao bom desempenho profissional

1
MOÇO, Anderson. Como trabalhar com projetos. In: Revista Nova Escola. São Paulo: Abril Editora, abril, 2011.
22 Capítulo 3

3. Ter clareza do que as crianças conhecem e desco- coautoria e corresponsabilidade, tornando os alu-
nhecem sobre o tema e o conteúdo do trabalho. nos conscientes de todo o processo de construção
do conhecimento, desde as etapas até a produção
4. Construir um cronograma com prazos para final e avaliação.
cada atividade, delimitando a duração total do
trabalho. Outros aspectos também são importantes para a
construção de projetos de intervenção, a exemplo
5. Selecionar previamente os recursos e o material da diagnose escolar, do planejamento, da organiza-
a serem usados, como sites e livros de consulta. ção, da sistematização de métodos e atividades em
cronograma e avaliação.
6. Deixar claro para a sala os objetivos sociais do
trabalho e quais os próximos passos. Assim questões como interdisciplinaridade, uso de
projetos já executados, quando optar por um pro-
7. Relacionar uma etapa à outra, em uma com- jeto, clareza de objetivos, apresentação da proposta
plexidade crescente. de projeto à turma, antecipação das dificuldades
dos alunos, replanejamento, aperfeiçoamento do
8. Antecipar quais serão as perguntas que você produto final são demandas necessárias para a ges-
fará para encaminhar a atividade. tão de projetos de intervenção.

9. Prever quais momentos serão em grupo, em Ao finalizar essa trajetória em torno do uso de pro-
duplas e individuais. jetos em seu estágio supervisionado, deixaremos a
seu encargo optar por aqueles (pesquisa, extensão
10. Escolher um produto final forte para dar visi- e intervenção) que melhor satisfaçam a sua postura
bilidade aos processos de aprendizagem e aos de profissional docente que apresenta uma práxis
conteúdos aprendidos. em sintonia com a sociedade contemporânea.

12. Prever os critérios de avaliação e registrar a par- No próximo capítulo, nos deteremos numa ativi-
ticipação de cada um ao longo do trabalho. dade fundamental para o professor que é relatar a
sua prática docente para concluirmos os objetivos
Escolas, organizações não-governamentais, associa- deste componente curricular.
ções entre tantas outras instituições educacionais
já perceberam a importância da realização de pro-
jetos de intervenção. Outros aspectos que Moço REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
pontua são a definição e os objetivos do projeto
didático e são importantes, porque, para ele, ANTUNES, Irandé. Língua, Texto e ensino: outra
escola possível.São Paulo: Parábola, 2009.
é um tipo de organização e planejamento do tempo e dos
conteúdos que envolvem uma situação-problema. Seu ob-
BAGNO, Marcos. Língua Materna: letramento,
jetivo é articular propósitos didáticos (o que os alunos de-
vem aprender) e sociais (o trabalho tem um produto final,
variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002.
como um livro, ou uma exposição, que vai ser apreciado
por alguém).(2011, p. 50.). BARREIRO, Iaríde Marques de Freitas. Prática de
Ensino e Estágio Supervisionado na Formação
Temos, assim, a dimensão das implicações peda- de Professores. São Paulo: Avercamp, 2006.
gógicas, sociais e culturais que o projeto de inter-
venção pode conter, oportunizando também que BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretri-
todos os atores envolvidos na configuração do pro- zes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96
jeto de intervenção possam ter voz e concretização de 21 de dezembro de1996.
de outras realidades.
BRASIL. Orientações Curriculares para o Ensino
Não podemos deixar de investigar o que acontece Médio: linguagens, códigos e suas tecnologias.
com jovens e crianças quando lhes são dadas opor- Brasília: SEB/MEC, 2006.
tunidades de protagonizarem saberes por meio da
Capítulo 3 23

____. PCN+ Ensino Médio: Orientações Edu- MOÇO, Anderson. “Como trabalhar com pro-
cacionais Complementares aos Parâmetros jetos?”. In: Revista Nova escola. São Paulo,
Curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEMTEC, abril, 2011.
2002.
MORIN, Edgard. Os sete saberes necessários à
____. Parâmetros Curriculares nacionais: ensi- Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2003.
no médio. Brasília: MEC/SEMT, 1999.
PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na forma-
____.Parâmetros Curriculares Nacionais: tercei- ção de professores: unidade, teoria e prática.
ro e quarto ciclos do Ensino Fundamental – Lín- 7ª. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
gua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.
__________________; LIMA, Maria Socorro
____.Parâmetros Curriculares Nacionais: tercei- Lucena Lima. Estágio e Docência. São Paulo:
ro e quarto ciclos do Ensino Fundamental – Te- Cortez, 2010.
mas Transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

____.Parâmetros Curriculares Nacionais: pri-


meiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental
– Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.

CAUNDAU, V. M. (org.). Reinventar a escola.


Petropólis: Vozes, 2000.

CHIAPPINI, Lígia (Org.). Aprender e ensinar


com textos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

DEMO, Pedro. Ironias da Educação: mudanças


e contos sobre mudança. Rio de Janeiro: DP&
A, 2000.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São pau-


lo: Paz e Terra, 1985.

GERALDI, J.W. Portos de Passagem. 3.ed. São


Paulo: Martins Fontes, 1995.

JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patolo-


gia dos saberes. São Paulo: Imago: 1986.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 18 ed. São


Paulo: Cortez, 2008.

__________________. Adeus professor, adeus


professora? novas exigências educacionais e
profissão docente. São Paulo: Cortez, 2000.

MACHADO, José Nilson. Educação: projetos e


valores. São Paulo: Escrituras Editora, 2001.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a es-


crita: atividades de retextualização. São Paulo:
Cortez, 2001.
4
Capítulo 4 25

A Construção do
Relatório de Estágio
Profa. Marcia Felix da Silva Cortez
Carga Horária | 15 horas

Objetivos Específicos
• Compreender a importância de relatar a prática docente.

• Atribuir significação aos procedimentos de observar e registrar para constru-


ção do relatório de estágio.

• Elaborar relatório de estágio.

Introdução
Neste quarto capítulo, você compreenderá a importância dos relatórios de es-
tágio para a sua prática docente com base na observação e no registro de da-
dos necessários para a realização do seu estágio, os quais, ao serem analisados e
contextualizados, permitem adentrar na complexidade do sistema educacional
orientando, assim, o seu (re)fazer pedagógico.

1. O Que é Relatar ?
A palavra relatar pode obter algumas significações que são muito pertinentes para
o trabalho docente e pesquisa. Pode significar “Narrar, contar ou expor o ocor-
rido” e, nesse sentido, a sua fidelidade com o real é tamanha que, ao lermos o
relatado, teremos uma noção dos fatos ocorridos em uma determinada situação.

Relatar também pode ser concebido como “resumir, verbalmente ou por escrito,
o conteúdo de um processo, de um projeto de lei etc e sobre ele manifestar-se,
para orientar a votação de seus pares em órgão de deliberação coletiva”; aqui a
palavra relatar já adquire outros contornos, também necessários ao trabalho do-
cente, já que está relacionado a uma situação que envolve uma decisão coletiva.
Relatar ainda pode ser interpretado como o “primeiro texto produzido após
uma pesquisa de campo ou laboratório”. Todas as acepções demonstradas nos
indicam que, para relatar uma situação qualquer, teremos que nos apropriar da
capacidade de observar e de registrar.

É certo que, ao fazer a diagnose da escola, você já realizou esses dois procedi-
mentos (observar e registrar), vamos apenas referir alguns aspectos que achamos
convenientes para a construção do seu relatório.
26 Capítulo 4

1.1 A Observação da Escola e a sua socialização favorecem o enriquecimento e


o aprimoramento da formação docente, já no pro-
Após as orientações teóricas sobre o estágio, você cesso da supervisão do estágio.
deverá se ater na observação da escola-campo que
aceitou a sua proposta de estágio. Deve, então, Assim, pela convivência com todos os atores envol-
observá-la plenamente, reconhecendo seu espaço vidos no processo educativo, você poderá registrar
físico e seu entorno, inteirando-se da sua estrutura, falas e ações que o possibilitarão visualizar como se
do seu funcionamento, da sua organização peda- inserir no ambiente escolar para contribuir com a
gógica e administrativa, das relações interpessoais resolução de uma situação-problema.
da escola e a relação da escola com a comunidade.

O interessante, neste momento, é que você assu- 2. Contribuição do Relatório de


ma uma postura investigativa e planeje em conjun-
to com o professor-supervisor da escola escolhida.
Estágio para a Formação
Por isso, algumas questões podem nortear as suas Docente
observações:
O relatório de estágio deve ser concebido como
Que informações serão necessárias levantar na um processo de elaboração que perpassa todas as
escola e no seu entorno? etapas do estágio, construído a cada momento,
porque é um instrumento de registros e de refle-
Que fontes (documentos, instituições, depoi- xões do que é essencial para a construção e a exe-
mentos, visitas a órgãos públicos etc) podem cução da sua proposta de estágio.
fornecer informações para essa investigação?
Nesse sentido, o relatório de estágio comporta aná-
Que procedimentos e/ou instrumentos serão lises e avaliações que permitem verificar se os obje-
usados para a coleta das informações, tivos propostos em seu plano de estágio foram atin-
considerando as especificidades do gidos, além de proporcionar a análise de eventuais
contexto em que a escola se apresenta? desacertos e como foram revistos, pois você deve
(Pode-se valer, por exemplo, de fotos; maquetes; sempre se perguntar sobre como fazer as atividades
livros de ocorrências; fichas de matrícula dos novamente mediante as situações (des)agradáveis
alunos; registro de reuniões; participações vivenciadas no decorrer do seu estágio.
em reuniões; entrevistas com alunos,
professores, pais; observação dos alunos Por isso, você deve elaborar sínteses decorrentes da
durante o intervalo etc). experiência prática-teórica, vislumbrando-se como
futuro profissional da educação. Diante disso, seu
Qual o cronograma e o período de observação? relatório deve ser claro para que outras pessoas, so-
bretudo aquelas que não acompanharam o seu tra-
balho, possam compreendê-lo de modo proveitoso.
1.2 A Importância do Registro das Ações
Assim, as suas considerações finais devem ser elu-
Saber como registrar e organizar os dados propor- cidativas, permitindo mostrar o movimento refle-
cionará a você fazer boas interpretações da realida- xivo que você estabelece com a experiência adqui-
de investigada a ponto de você atribuir significados rida e a sua prática docente.
ao conjunto desses dados, à medida que eles con-
tribuem para a investigação e a problematização
das questões que permearão o seu projeto de está- 3. Orientações para a Construção
gio, seja ele de ensino, pesquisa ou extensão. do Relatório de Estágio

É importante anotar as impressões e constatações De natureza descritiva, o relatório de estágio deve


a respeito do que os dados parecem revelar, ainda conter algumas partes que serão apresentadas a
que pareçam insignificantes, eles podem ser recu- seguir:
perados no decorrer da sua análise. Por isso, o re-
gistro das ações significativas do cotidiano escolar
Capítulo 4 27

1. Introdução 6. Apêndice

Descrevem-se a importância ou relevância (social, Qualquer documento elaborado pelo autor, ou


científica ou acadêmica) do trabalho, objetivos, as seja, por você.
relações com o contexto social. Pode-se elaborar
um histórico sucinto da área de atuação.
Anexos
2. Desenvolvimento
Anexo 1
2.1 Referencial Teórico
Relação do Material
É o texto resultante de levantamento bibliográfico,
de qualquer extensão, que indica ao leitor o trata- Material de Estágio:
mento científico atual do tema/problema. Inclui
definição de conceito, a menção de trabalhos já • PROPOSTA DE ESTÁGIO (3 vias – 1 para a
realizados a respeito do assunto, teoria que dá sus- Escola, 1 para o tutor e outra para a equipe de
tentação ao trabalho realizado etc. estagiários)

2.2 Metodologia • CARTA DE APRESENTAÇÃO DO
ALUNO/A - EAD (para manter contato com
Faz-se a descrição dos procedimentos desenvolvi- a escola):
dos no estágio, além dos recursos humanos e ma- - Ficha de Acompanhamento
terial envolvido. - Ficha de Avaliação
- Ficha de Visita à escola
2.3 Apresentação das Atividades - Ficha de Frequência
Desenvolvidas/Resultados
• Material que deve ser entregue ao tutor de es-
Relatam-se as atividades desenvolvidas, expondo tágio (encadernado em pasta classificadora):
os resultados obtidos e ordenados pelos objetivos - Proposta de Estágio (antes de iniciar o estágio)
do trabalho. Podem ser usados gráficos, tabelas e - Relatório
outros materiais que ilustrem aspectos quantitati- - Anexos
vos relevantes. Ficha de Acompanhamento
Ficha de Avaliação (parecer qualitativo)
3. Conclusão (Avaliação/Recomendação) Ficha de Frequência
outros
Devem constar, de forma sintética, os elementos
desenvolvidos no decorrer do corpo do trabalho. Anexo 2
Conclui-se, comparando esses dados ao objetivo
que norteou o estágio, estabelecendo-se o quanto Roteiro de Proposta de Estágio Curricular
foi conseguido em relação ao objetivo proposto.
Capa – Nome da Instituição, curso, nome do au-
4. Bibliografia tor, título do trabalho, local e data.
Conforme as normas da ABNT. Sumário – Divisões e subdivisões do trabalho.
5. Anexos Justificativa – Trata da relevância, das razões e
motivos para realização do estágio, considerando a
Documentos como programas, fotografias, gráficos sua importância, a forma como acontecerá, escola,
e tudo que considere importante para o seu trabalho período e carga horária.
e que não foi elaborado pelo autor, ou seja, por você.
Objetivos – Busca-se responder ao que é pretendi-
do com o estágio, que metas alcançar ao término
28 Capítulo 4

do estágio e por quê? O objetivo geral é mais amplo flexão e ação coletiva. Deve-se conseguir uma
sendo articulado aos objetivos específicos. análise conceitual dos problemas da escola,
intercambiando interpretações sobre suas pos-
Metodologia – Descrição formal das atividades síveis manifestações e consequências.
com indicações de opções de leituras a serem reali- Exemplo:
zadas pelo estagiário para facilitar a observação, o a) Baixo rendimento dos alunos;
registro e a análise do cotidiano escolar. b) Existência de um clima organizacional ina-
dequado;
Recursos – Material que o estagiário precisará para c) Classes pouco motivadas e participativas.
realizar o estágio com a equipe gestora da escola.
1.3 Hierarquização e especificação dos pro-
Cronograma blemas da escola:
DATA HORÁRIO CARGA HORÁRIA ATIVIDADES
A escola deve selecionar o problema de maior
importância – o principal ou fundamental –
tendo em conta que seu tratamento ou solu-
Avaliação – Procurar responder as seguintes ques-
ção permitirá melhorar o resultado do traba-
tões: o que, como, quando e quem avaliar.
lho pedagógico.

Bibliografia – Referenciar livros pesquisados, con-
1.4 A análise das causas que dão origem ao
forme as normas da ABNT.
problema:
_____________________________________
Assinatura do aluno/a Por “causas” se entenderá um conjunto de
fatores inter-relacionados que produz um pro-
_____________________________________ blema na aula, escola e comunidade. Muitas
Gestor/a da escola campo de estágio vezes os outros problemas identificados, além
do problema principal, podem ser causas do
_____________________________________ mesmo problema.
Professor colaborador de estágio supervisionado
1.5 Determinação dos recursos disponíveis da
Anexo 3 escola:

Como Elaborar a Diagnose da Escola Ao levar a cabo o diagnóstico da situação da


escola, deve-se recordar que dos múltiplos pro-
1. Diagnóstico da situação e problemas da Esco- blemas detectados para efeito de propor um
la (diagnose) projeto, deve-se eleger aqueles que são passí-
veis de resolver com os recursos disponíveis
1.1 Descrição da situação da Escola: na escola mais os aportes da Secretaria e/ou
comunidade. Nesse aspecto, ter-se-á em conta
Análise de aspectos quantitativos e qualita- que o desenvolvimento do projeto deve estar
tivos que caracterizem a escola, tais como: o dentro das possibilidades reais da escola, aqui-
número de alunos, professores, relações com lo que assegura seu adequado desenvolvimen-
autoridades e comunidade; meios materiais, to e finalização.
nível acadêmico dos docentes, atividades e
participação dos pais dos alunos, espaço físico Exemplos de identificação de Problemas:
e social em que ela se encontra. a) Da análise efetuada pelos professores da esco-
la, conclui-se que os principais problemas dos
1.2 Identificação dos principais problemas da alunos se referem à leitura e à escrita, tais como:
escola: -Deficiência na compreensão da leitura;
-Escrita inadequada, os alunos invertem e con-
Deve entender-se por “problema” uma situ- fundem signos com sentido semelhantes;
ação que demanda mudança e, portanto, re- -Escassez de vocabulário;
presenta uma oportunidade, um desafio à re- -Erros ortográficos.
Capítulo 4 29

b) Depois de uma análise dos diversos proble-


mas que uma escola tem, os professores con-
cordam que o problema principal é que os
alunos não aprendem processos de pensamen-
to como aqueles que exercitam o raciocínio
científico. Dentre as causas desses problemas,
podem identificar-se:
- Metodologia empregada muito tradicional;
-Uso excessivo de memorização de certos fatos
e fenômenos;
-Carência de recursos didáticos que fomentem
a investigação e a experimentação.
30 Capítulo 4

Anexo 4

Carta de apresentação do(a) aluno(a) – EAD – para manter contato com a escola:

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

Ofício circular nº ........../..............


Sr. (a) Diretor(a)

Encaminhamos o(s) aluno(s).............................................................................


.......................................................................................................................
matriculado(s) na Disciplina de Estágio Curricular do curso de......................
....................................................................... para realizar estágio nesse Es-
tabelecimento de Ensino, oportunizando uma articulação teórico/prática dos
conhecimentos profissionais. Os alunos deverão apresentar à escola uma pro-
posta ou projeto de estágio curricular sobre a orientação dessa unidade de
ensino.

Agradecemos sua colaboração.

Atenciosamente,

______________________________________________________________
Tutor da Disciplina de Estágio Curricular do NEAD

Ilmo. (a)Sr. (a)


Diretor(a) da Escola
Capítulo 4 31

Anexo 5

Ficha de visita à escola:

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
Ficha de Visita à Escola

1. Dados de Identificação

Ano Letivo _________________________________ Semestre Letivo _________________


Estágio Supervisionado______Período do Estágio ____/____/____ a____/____/____
Escola Campo de Estágio ____________________________________________________
Município __________________________________________________________________
Aluno ______________________________________________________________________
Disciplina __________________________________________________________________
Série ___________ Turma __________ Turno ______________ Nº de alunos _________
Professor Colaborador ______________________________________________________
Data da visita ____/____/_____ Horário de permanência: _________ às _________
Professor Tutor _____________________________________________________________

2. Situação da Escola Observada


____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

3. Desempenho do Gestor

3.1.Competências
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
3.2. Organização
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
32 Capítulo 4

3.3. Liderança
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

3.4. Tomada de Decisão


____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

3.5. Relações Interpessoais


____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

3.6. Relacione as principais dificuldades identificadas na escola


____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

4. Outras Considerações
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

__________________________, ______ de _________________________ 20____

___________________________________________
Assinatura do Aluno

__________________________________________
Assinatura do Professor Tutor
Capítulo 4 33

Anexo 7

Ficha de avaliação:

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

Aluno:______________________________________________Período:________________
Curso:_____________________________________ Semestre: _______________________
Escola Campo de Estágio:____________________________________________________
Professor:_____________________________________Disciplina: ___________________

Avaliação Qualitativa de Estágio Curricular

Emita o seu parecer qualitativa sobre o desempenho do(a) estagiário (a)

• Pontualidade
• Iniciativa/ criatividade
• Desenvolvimento das atividades propostas
• Organização
• Domínio dos conteúdos
• Interação com a comunidade escolar
• Outros

Carimbo da escola

______________________________________
Professor Colaborador

______________________________________
Professor da Escola
34 Capítulo 4

Anexo 8
Ata de frequência:

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
Campus Garanhuns
Polo ________________________

Aluno:_______________________________________________Curso:________________
Período:________Tutor de estágio curricular:__________________________________
Escola:______________________Professor Colaborador:_______________ Turno:____

Ficha de Acompanhamento do Aluno

Horário Ass. do Prof. Ass. do tutor


Data Carga Atividades
Classe Regente ou de estágio
Entrada saída horária Desenvolvidas
Superior curricular

Início do trabalho ___/____/____


Carimbo da escola Término do trabalho ___/___/___
______________________________________
Ass. do Diretor
_____________________________________
Ass. do Diretor
Capítulo 4 35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GERALDI, J.W. Portos de Passagem. 3.ed. São


Paulo: Martins Fontes, 1995.
ANTUNES, Irandé. Língua, Texto e ensino: outra
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variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 18 ed. São
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Ensino e Estágio Supervisionado na Formação __________________. Adeus professor, adeus
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Brasília: SEB/MEC, 2006. Cortez, 2001.

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PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na forma-
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__________________; LIMA, Maria Socorro
____.Parâmetros Curriculares Nacionais: tercei- Lucena Lima. Estágio e Docência. São Paulo:
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mas Transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

____.Parâmetros Curriculares Nacionais: pri-


meiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental
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CAUNDAU, V. M. (org.). Reinventar a escola.


Petropólis: Vozes, 2000.

CHIAPPINI, Lígia (Org.). Aprender e ensinar


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DEMO, Pedro. Ironias da Educação: mudanças


e contos sobre mudança. Rio de Janeiro: DP&
A, 2000.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São pau-


lo: Paz e Terra, 1985.

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