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2a edição | Nead - UPE 2009

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife

xxxx, xxxxxxxxxxxx
xxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx. –
Recife: UPE/NEAD, 2011

60 p.

ISBN -

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxx
REITOR

Universidade de Pernambuco - UPE


Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado

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Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque

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Prof. José Thomaz Medeiros Correia

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NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


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Edição 2009
Impresso no Brasil - Tiragem 180 exemplares
Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro
Recife / PE - CEP. 50103-010
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Profª. Nadjane Coelho de Alencar Carga Horária | 60 horas

Ementa
Antecedentes históricos e perspectivas atuais da
educação de alunos com necessidades especiais.
Abrangência e pressupostos legais da educação in-
clusiva. Taxionomia das necessidades educacionais
especiais. Os serviços de apoio pedagógico especial-
izado. A prática pedagógica – currículo, metodolo-
gia e avaliação – no contexto da educação inclusiva.
A formação do professor e a educação inclusiva.

Objetivo geral
Propiciar aos discentes conhecimentos específicos
sobre a educação das pessoas com necessidades
educacionais especiais, nas dimensões sociocultur-
al, política, normativa e pedagógica, focalizando
o processo de inclusão como garantia da cidada-
nia, do acesso e da permanência desses sujeitos no
sistema regular de ensino.

Apresentação da disciplina
A Educação Inclusiva é uma prática inovadora que enfatiza a qualidade de ensino para todos os
alunos. É um “novo paradigma” que desafia a escola a reorganizar suas estruturas de ensino para
o acesso e sucesso de todos os alunos, e exige da comunidade educativa uma postura de respeito
e de tolerância frente à diversidade humana.

Iniciaremos o nosso estudo sobre essa proposta por meio do desenvolvimento histórico da educa-
ção de alunos com necessidades especiais, desde os primórdios até o momento atual de inclusão.
Também analisaremos os preceitos legais que embasam o paradigma da inclusão e as diversas
terminologias que foram utilizadas para nomear as pessoas com deficiência. Ainda veremos como
devemos nomeá-las, com base na opção que elas próprias querem ser tratadas, por ser este um
dos seus direitos.

capítulo 1 5
É um desafio para o professor educar conside-
rando a diversidade da sala de aula! Sabemos
que a inclusão envolve uma necessidade maior
de se pensar a respeito do próprio fazer ped-
agógico, pois exige que se revejam jeitos e for-
mas de ensinar. Aprofundaremos esses temas
estudando os serviços de apoio pedagógico
especializado e a prática pedagógica – currí-
culo, metodologia e avaliação – no contexto
da educação inclusiva. Com esta disciplina,
você é convidado a refletir sobre essas e outras
questões.

Sinta-se desafiado a compreender a educação


inclusiva e vamos juntos percorrer o caminho
que leva a educação a todos!

SUCESSO!

6 capítulo 1
HISTÓRIA,
NECESSIDADES
EDUCACIONAIS
ESPECIAIS
E EDUCAÇÃO
INCLUSIVA

Profª. Nadjane Coelho de Alencar OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Carga Horária | 15 horas
• Apresentar o desenvolvimento histórico
da educação das pessoas com deficiência,
desde os primórdios até os dias atuais;

• Refletir sobre as perspectivas atuais da
educação de alunos com necessidades
educacionais especiais.

INTRODUÇÃO
Neste capítulo, vamos fazer um rastreamento histórico da educação de alunos com necessidades
educacionais especiais, resgatando os diferentes momentos vivenciados e compreendendo os
fatos que influenciaram as conquistas alcançadas por esses indivíduos na prática do cotidiano es-
colar, desde os primórdios da história, com a eliminação ou o abandono, passando pela prática da
caridade na Idade Média, a visão da deficiência como uma doença, o processo de normalização,
integração e inclusão.

Conhecer essa história é importante para o pedagogo, na medida em que se trata de manifesta-
ções da sociedade que se refletem na escola, objeto e local de estudo desse profissional.

Veremos que a Educação Inclusiva não é um modismo. Ela é fruto de um contexto histórico que
resgata a educação como lugar do exercício da cidadania e da garantia de direitos; haja vista que
as escolas estavam ferindo esses direitos mediante os altos índices de exclusão escolar, principal-
mente dos mais pobres e das pessoas com necessidades educacionais especiais.

capítulo 1 7
não merecendo, portanto, permanecerem vi-
vas, pois não contribuiriam para a sociedade
e dariam muito trabalho. Elas eram eliminadas
por abandono ou atiradas em abismos.

1. HISTÓRIA
No decorrer da história da humanidade, fo-
ram diversas as atitudes assumidas pela socie-
dade em relação às pessoas com deficiência,
tais posturas foram mudando de acordo com
os fatores econômicos, culturais, filosóficos e
científicos.
Fig.1 - Pessoa com deficiência física
fazendo oferenda.
Não há indícios de como os primeiros grupos
humanos na terra se comportavam em relação
às pessoas com deficiência. Tudo indica que No entanto, a sociedade egípcia agia diferen-
essas pessoas não sobreviviam ao hostil am- te. Evidências arqueológicas mostram que no
biente da terra. Egito Antigo a pessoa com deficiência integra-
va-se nas diferentes e hierarquizadas classes
Na Pré-história, as tribos se formaram e com sociais. Os papiros, contendo ensinamentos
elas a preocupação em manter a segurança e morais, ressaltam a necessidade de se respeitar
a saúde dos integrantes do grupo para a so- as pessoas com nanismo e outras deficiências.
brevivência. Os estudiosos concluem que a so-
brevivência de uma pessoa com deficiência era Foi no Império Romano que surgiu o cristianis-
impossível porque essas pessoas representa- mo. A nova doutrina voltava-se para a carida-
vam um fardo para o grupo. Só os mais fortes de e o amor entre as pessoas. Nesse período,
sobreviviam. surgiram os primeiros hospitais de caridade,
abrigando indigentes e pessoas com deficiên-
Com a formação das primeiras civilizações, as cia.
pessoas com deficiência são deixadas à mar-
gem, totalmente negligenciadas pela maio- Na era cristã, o tratamento variava segundo
ria das comunidades. Os “defeituosos”1 são as concepções de caridade ou castigo, predo-
abandonados, perseguidos e eliminados por minantes na comunidade em que o deficiente
causa das suas condições atípicas, e a socieda- estava inserido.
de legitimava essas ações como normais.
Durante a Idade Média, já sob a influência do
Leis romanas autorizavam os patriarcas a ma- Cristianismo, as pessoas defeituosas ou “men-
tarem seus filhos “defeituosos”, ocorrendo o talmente afetadas” já não podiam ser mais
mesmo fato em Esparta, na Grécia, onde eram exterminadas, pois também eram criaturas de
cultivados os ideais da estética corporal. As pes- Deus. Elas eram largadas à própria sorte, de-
soas defeituosas ou com “fragilidade” contra- pendendo da boa vontade e da caridade huma-
riavam e frustravam as expectativas e as neces- na. A deficiência era considerada um déficit e as
sidades de toda a comunidade, porque eram pessoas com deficiência eram dignas de pena
estranhas ao padrão de normalidade instituído, por serem vítimas da própria incapacidade. A
literatura da época colocava os anões e os cor-
1 Os termos destacados neste capítulo eram os utilizados para nome-
ar as pessoas com deficiência na época citada.
cundas como diversão para os mais abastados.

8 capítulo 1
Na era Moderna, inicia-se o interesse da ciên-
cia, em particular a medicina, pelas pessoas
com deficiência. Apesar da manutenção do
atendimento segregativo, há uma preocupa-
ção com a educação, ainda que continue a
visão patológica do indivíduo com deficiência.

Por volta de 1500, iniciam-se os primeiros


movimentos para ensinar-lhes. Alguns edu-
cadores interessados se tornaram preceptores
de crianças deficientes: Girolamo Cardamo
(1501-1576), médico e matemático, inventou internadas junto com as que não tinham con-
um código para ensinar pessoas “surdas-mu- dições de terem professores particulares.
das” a ler e escrever. Apesar da relevância des-
se fato para os surdos, por causa da ruptura de Muito tempo se passou até que começassem
uma lógica dominante, o episódio teve pouca a surgir as primeiras instituições especializa-
repercussão, pois a educação, nessa época, se das. Na França, em 1760, foi criada o Insti-
destinava aos filhos de ricos e nobres da corte tuto Nacional de Surdos-Mudos e, em 1784,o
espanhola, que queriam garantir a continui- Instituto de Jovens Cegos. Com essas institui-
dade de seus bens materiais no próprio seio ções, a educação de surdos e cegos começou a
familiar, pois o filho surdo, em alguns casos, progredir, mesmo de forma lenta, por falta de
teria que ter conhecimento para administrar apoio da sociedade, já que a noção a respeito
os bens da família. Um exemplo prático está da deficiência ainda estava ligada ao misticis-
em Pedro Ponce de Leon (1510-1584), que se mo e ao ocultismo, não havendo base cien-
dedicou à educação desses surdos. De qual- tífica para o desenvolvimento de realizações
quer forma, o trabalho desenvolvido por Car- realísticas.
damo e Leon demonstrou que eram falsos os
argumentos médicos e filosóficos e as crenças Um jovem cego francês, Louis Braille (1809-
religiosas da época sobre a incapacidade dos 1852), estudante do instituto, em 1829, fez
surdos para o desenvolvimento da linguagem uma adaptação do código militar de comuni-
e, portanto, para qualquer aprendizagem. cação noturna para as necessidades dos cegos.
“Até hoje não foi encontrado outro meio de
Conforme Mazzota (1996), a primeira obra leitura e escrita mais eficiente e útil para uso
impressa sobre a educação de deficientes teve das pessoas cegas”(MAZZOTA, 1996, p.19).
autoria de Jean-Paul Bonet (1579-1633) e foi
editado em 1620, com o título Redação das
Letras e Arte de Ensinar os Mudos a Falar. Saiba Mais:
Para saber mais acesse:
No início de 1700, as pessoas cegas também
começaram a receber instrução. Já as crianças www.sac.org.br/APR_BR2.htm
com “problemas mentais” continuaram sendo

Fig.2 - Alfabeto manual apresentado por Bonet no seu livro Redação das Letras e Arte de Ensinar os Mudos a Falar.

capítulo 1 9
No início do século XIX, começou o atendimen-
to educacional aos “débeis” ou “deficientes Fig.3 - Instituto Benjamin Constant

mentais”. Jean Marc Itard (1774-1838), médico


francês, foi o primeiro a usar métodos sistema-
tizados para o ensino de “retardados mentais”. Três anos depois, D. Pedro II fundou o Impe-
rial Instituto dos Surdos-Mudos, hoje Instituto
As pessoas com deficiência física começaram a Nacional de Educação de Surdos – INES. Essa
receber educação em 1832 quando foi criado escola foi fundada por causa dos esforços de
o primeiro instituto na Alemanha, encarrega- Ernest Hüet (1822- ?), surdo francês, professor
do de educar coxos, manetas, paralíticos... e diretor do Instituto de Bourges, que chegou
ao Rio de Janeiro em 1855 com a intenção de
Somente em 1848, nos Estados Unidos, é abrir uma escola para pessoas surdas. Desde
que o atendimento da pessoa com deficiência o início, esse estabelecimento voltou-se para a
mental teve seu início oficial. Apenas as crian- educação literária e profissionalizante de me-
ças “retardadas mentais leve”2 passaram a ninos “surdos-mudos”.
receber treinamento para aprender comporta-
mentos sociais, no primeiro internato público
para essa clientela. Saiba Mais:
Para saber mais acesse:
No Brasil, o atendimento às pessoas com de-
ficiência iniciou-se em 1854, com o cego José www.ines.gov.br
Álvares de Azevedo (1834-1854). Ele estudou
no Instituto de Jovens Cegos em Paris e, de
volta ao país, obteve sucesso na educação de No final do século XIX, surgiu o modelo médi-
Adélia Sigaud, filha do médico da família im- co de atendimento às pessoas com deficiên-
perial. O trabalho de José Álvares despertou cia. Nesse modelo, os “anormais” passaram a
a atenção e o interesse do ministro do impé- ser pacientes com problemas orgânicos, que
rio, Conselheiro Couto Ferraz, que influenciou precisavam ser curados. Fazia-se todo o es-
D. Pedro II a fundar, pelo Decreto Imperial nº forço terapêutico para que melhorassem suas
1.428, no Rio de Janeiro, o Imperial Instituto condições de modo a cumprir as exigências
dos Meninos Cegos, hoje, Instituto Benjamin da sociedade. Vários médicos, como Edward
Constant - IBC. Seguin (1812-1880), Johann Guggenbühl
(1816-1863) e Maria Montessori (1870-1956),
Saiba Mais: desenvolveram pesquisas combinando tra-
tamento médico e educacional com crianças
Para saber mais acesse: “retardadas”.
www.ibc.gov.br
Montessori contribuiu bastante com a educa-
ção especial. Ela sinalizou que o problema das
crianças com deficiência não era clínico, e sim
2 A deficiência mental era classificada em: profunda, grave ou dependente,
moderada ou treinável e leve ou educável. Essa classificação foi instituída pedagógico. Dirigiu uma escola para alunos
pela Organização Mundial da Saúde-OMS e perdurou até 2004.

10 capítulo 1
com “retardamento mental”, na qual utilizou
as suas técnicas de ensino, enfatizando a “au-
toeducação” pelo uso de material didático que
incluía blocos, encaixes, recortes, objetos colo-
ridos, letras em relevo e outros.

Saiba Mais:
Para saber mais acesse:

www.ordemlivre.org/node/476

nica, com problemas de origem socioeconômi-


A Medicina foi evoluindo, produzindo e siste- ca no meio familiar, apresentavam dificuldades
matizando novos conhecimentos; outras áreas em acompanhar o programa escolar regular.
de conhecimento também foram se delinean- Em 1935, a Sociedade estabeleceu o Instituto
do, acumulando informações acerca da defici- Pestalozzi, escola para crianças “excepcionais”
ência, de sua etiologia, seu funcionamento e que viria a se tornar modelo na educação des-
seu tratamento. Entretanto, o modelo segre- sas crianças no Brasil. Os primeiros estudan-
gador da institucionalização das pessoas com tes recebidos pelo Instituto foram recrutados
deficiência continuou e ainda hoje é encontra- entre as crianças abandonadas que viviam no
do em diferentes países, inclusive no nosso. Abrigo de Menores de Belo Horizonte, e entre
crianças carentes que fracassavam nas escolas
A institucionalização caracterizou-se, desde o iní- públicas locais.
cio, pela retirada das pessoas com deficiência de
suas comunidades de origem e pela manutenção Em 1940, pais de crianças com paralisia cerebral
delas em instituições residenciais segregadas ou de Nova Iorque começaram a se organizar e fun-
escolas especiais, frequentemente situadas em daram New York State Cerebral Palsy Association.
localidades distantes de suas famílias. Segundo Mazzota (2001), os “pais levantaram
fundos tanto para centros de tratamento quanto
Somente em 1896, nos Estados Unidos, foi para pesquisa, além de estimularem organiza-
aberta a primeira classe especial diária para re- ções governamentais para uma nova legislação
tardados mentais e, a partir de 1900, começa- que proporcionasse recursos para pesquisa, trei-
ram a ser criadas as primeiras classes especiais, namento profissional e tratamento”.
dentro das escolas regulares, em que as crianças
podiam ser atendidas em caráter educacional. Por volta de 1950, os pais de crianças com
desenvolvimento mental retardado se orga-
No Brasil, de 1905 a 1950, muitas das institui- nizaram na National Associaton for Retarded
ções criadas para o atendimento das pessoas Children – NARC, cujo objetivo principal era
deficientes eram particulares, com acentuado proporcionar atendimento a essas crianças e
caráter assistencialista. Nessa época houve jovens nas escolas públicas primárias.
uma expansão de instituições privadas de cará-
ter filantrópico, sem fins lucrativos, isentando A NARC foi a inspiradora da criação da Asso-
assim o governo da obrigatoriedade de ofere- ciação de Pais e Amigos dos Excepcionais –
cer atendimento às pessoas com deficiência na APAE no Brasil, em 1954.
rede pública de ensino.
Somente em 1957, o atendimento educacio-
Em 1932, por exemplo, um grupo de intelec- nal aos indivíduos que apresentavam deficiên-
tuais, educadores e filantropos fundou a So- cia foi assumido explicitamente pelo governo
ciedade Pestalozzi, em Belo Horizonte, desti- federal de nosso país, em âmbito nacional,
nada à educação de crianças “excepcionais”. com a criação de campanhas voltadas especifi-
Para a sociedade, “excepcionais” eram aquelas camente para esse fim.
crianças que, por alguma anormalidade orgâ-

capítulo 1 11
A prática da integração social no cenário mun-
dial teve seu maior impulso a partir dos anos
80, reflexo dos movimentos de luta pelos di-
reitos dos deficientes. No Brasil, essa década
representou também um tempo marcado por
muitas lutas sociais empreendidas pela popu-
lação marginalizada.

A integração se constituiu numa modalidade de


Fig.4 - Foto do poster da Cam- atendimento da Educação Especial, organizan-
panha para Educação do Sur-
do Brasileiro
do-se de acordo com as diferentes capacidades
dos alunos: os com deficiências leves (dificulda-
de de aprendizagem, distúrbio de comporta-
A primeira foi a Campanha para a Educação
mento, deficiência mental leve) eram encami-
do Surdo Brasileiro, realizada pelo Instituto
nhados para as classes especiais. Os alunos que
Nacional de Educação de Surdos. Essa cam-
apresentavam deficiências graves (deficiência
panha tinha por objetivo promover medidas
mental moderada e severa, deficiência múltipla)
necessárias para a educação e assistência dos
eram encaminhados para as escolas especiais.
surdos, em todo o Brasil.
Logo o modelo de integração começou a en-
Em 1958 foi realizada a Campanha Nacional de
frentar críticas, tanto da comunidade científica
Educação e Reabilitação de Deficientes de Vi-
quanto das pessoas com deficiência, já orga-
são, vinculada ao Instituto Benjamin Constant.
nizadas em associações e outros órgãos de re-
presentação. A crítica maior refere-se ao fato
Por influência de movimentos liderados pela
do indivíduo com deficiência precisar se asse-
Sociedade Pestalozzi e Associação de Pais e
melhar ao não deficiente para integrar-se. Sas-
Amigos dos excepcionais, em 1960, foi reali-
saki (1997), criticando tal modelo, argumenta:
zada a Campanha Nacional de Educação e Re-
“...neste a pessoa deficiente é que precisa ser
abilitação de Deficientes Mentais.
curada, tratada, reabilitada, habilitada, etc. a
fim de ser adequada à sociedade como ela é,
Somente no século XX, por volta de 1960, é
sem maiores modificações”.
que a institucionalização das pessoas com de-
ficiência começou a ser criticamente examina-
Nos anos 90, essa tendência começa a se
da por parte da sociedade, em decorrência do
modificar, especialmente após a Conferência
processo de reflexão sobre os direitos huma-
Mundial de Educação para Todos, ocorrida em
nos e os movimentos organizados pelos seus
Jomtien-Tailândia.
pais, desejosos de lutar pelos direitos de seus
filhos, até então sem o direito de opinar.
O Programa Educação para Todos tinha como
propósito que o poder público, perante a co-
A Dinamarca deu apoio às associações de pais
munidade internacional, assumisse, como ob-
em relação às escolas segregadas e, incluiu
jetivos e compromissos oficiais, a erradicação
na sua legislação, o conceito de normalização
do analfabetismo e a universalização do ensi-
entendido como possibilidade do indivíduo
no fundamental. (BRASIL,2000)
com deficiência desenvolver um tipo de vida
tão normal quanto possível. A partir de então,
esse conceito estende-se por toda a Europa,
América do Norte e Canadá, tendo como con-
seqüência, no meio educativo, a substituição
de práticas segregadoras por integradoras.
Trata-se de integrar as pessoas “portadoras de
deficiência” no ambiente escolar dos indivídu-
os considerado normais.

Fig.5

12 capítulo 1
A Conferência Mundial de Educação para To-
dos foi secundada e fortalecida no que se re-
fere aos direitos das pessoas com deficiência
pela Declaração de Salamanca 3 (1994).

O Brasil concordou com as recomendações


contidas nesses documentos, comprometen-
do-se com o alcance dos objetivos propostos,
que visam à transformação dos sistemas de
educação em práticas inclusivas.
Fig.6

A discussão sobre a questão da pessoa com


necessidade educacional especial ser um cida-
Na Escola Inclusiva não há classe especial. A
dão como qualquer outro, ampliou-se e parte
base da Educação Inclusiva é considerar a de-
da sociedade reconheceu que não basta essas
ficiência como uma das muitas características
pessoas desejarem integrar-se; é necessário e
diferentes que os alunos podem ter. É respeitar
fundamental que a sociedade se organize, de
essa diferença e encontrar formas adequadas
forma a garantir o acesso de todos a tudo que
de o aluno se apropriar do conhecimento e de
a constitui e a caracteriza, independentemente
avaliar o aproveitamento de cada discente.
das peculiaridades individuais.
Segundo Edler Carvalho (2010):
O paradigma da inclusão surge como uma rea-
ção contrária ao princípio de integração, e sua “as escolas inclusivas são escolas para todos, im-
efetivação prática tem gerado muitas contro- plicando um sistema educacional que reconheça
vérsias e discussões, como veremos a seguir. e atenda às diferenças individuais, respeitando as
necessidades de qualquer dos alunos”.

2. INCLUSÃO Nessa perspectiva, não atende somente aos


alunos com deficiência, mas a todos os discen-
“Temos o direito a ser iguais quando a diferença tes que estão na escola.
nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes,
quando a igualdade nos descaracteriza”.
Sabemos que essa convivência na diversidade
Boaventura de Souza Santos proporciona aos alunos, com e sem necessi-
dade educacional especial, aos professores e
A Educação Inclusiva assume-se como respei- demais membros da comunidade escolar, a
tadora da cultura, da capacidade e das pos- prática saudável e educativa da administração
sibilidades de evolução de todos os alunos. das diferenças no exercício das relações inter-
Aposta na escola como comunidade edu- pessoais. Mas, porque a educação inclusiva
cativa, defende um ambiente de aprendiza- ainda não é consenso entre famílias, professo-
gem diferenciado e de qualidade para todos res e comunidade ?
os alunos. Reconhece as diferenças, trabalha
com elas para o desenvolvimento e dá-lhes um A comunidade educativa ainda tem arraigada
sentido. É um novo paradigma organizado em a ideia de que a inclusão é apenas para os alu-
conformidade com um conjunto de valores de nos de classes especiais passarem para turmas
respeito, solidariedade e qualidade para todos. do ensino regular. Por isso, familiares temem
Ela vem para substituir a escola tradicional, na que a inserção de seus filhos com deficiência
qual todos os alunos precisavam se adequar ao nas classes regulares não contribua para a sua
mesmo método pedagógico e eram avaliados aprendizagem. Alegam que as escolas não
da mesma forma. Quem não aprendesse, ou atendem aos discentes sem deficiência que
desistia de estudar, ou ficava repetindo até ser saem desses estabelecimentos sabendo bem
aprovado por ‘tempo na mesma série’, ou era menos do que deveriam. Os pais dos demais
encaminhado para a classe ou escola especial. alunos ponderam “que o nível de ensino se
prejudica, pois os professores precisam aten-
3 - Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais:
Acesso e Qualidade, realizada pela Unesco, em Salamanca - Espanha.

capítulo 1 13
COMO EFETIVAR A EDUCAÇÃO INCLUSIVA?
QUE PRINCÍPIOS ORIENTAM ESSE PARADIGMA?

Segundo Nakayama (2007) são princípios da


educação inclusiva:

1. ACEITAÇÃO DAS DIFERENÇAS – reconheci-


mento e aceitação das pessoas como elas
são, independentemente de suas peculiari-
dades. É o valor social da igualdade.

2. ACESSIBILIDADE – física, instrumental, co-


der aos ritmos e limitações na aprendizagem
municacional, atitudinal e curricular.
dos alunos com deficiência” (EDLER CARVA-
LHO, 2010). Os professores mencionam que
3. CURRÍCULO MULTICULTURAL CRÍTICO –
não tiveram formação para atender às necessi-
tornar crítico o currículo que é uniforme e
dades desses alunos.
sequencial, abrangendo toda a diversidade
do povo brasileiro.
Essas e outras barreiras precisam ser superadas
por todos: profissionais da educação, comuni-
4. OUTRA PEDAGOGIA – que implemente
dade, pais e alunos, para garantir o sucesso da
uma gestão da classe direcionada à diver-
educação inclusiva. Precisamos aprender mais
sidade dos alunos e favorecendo o ensino
sobre a diversidade humana, a fim de compre-
colaborativo.
ender os modos diferentes de cada pessoa ser,
sentir, agir, pensar e aprender.
5. AVALIAÇÃO – que preenche a necessidade
de o professor observar metodicamente os
A escola deve assumir o papel de propiciar
alunos e compreender melhor o funciona-
ações que favoreçam determinados tipos de
mento, de modo a ajustar de maneira mais
interações sociais, definindo, em seu currículo,
sistemática e individualizada suas interven-
uma opção por práticas heterogêneas e inclu-
ções pedagógicas.
sivas. Dessa forma, não é o aluno que se amol-
da ou se adapta à escola, mas é ela que, cons-
6. FORMAÇÃO DO PROFESSOR – que deve ter
ciente de sua função, coloca-se à disposição
a prática como o eixo principal do currículo
do aluno, tornando-se um espaço inclusivo.
de sua formação enquanto educador.
Nas diretrizes nacionais para educação espe-
7. GESTÃO PARTICIPATIVA – somente por
cial na educação básica, o conceito de inclusão
meio da participação de todos que fazem
implica
a comunidade escolar é que a escola pode-
... uma nova postura da escola comum, que pro- rá avançar na educação de qualidade para
põe no projeto pedagógico – no currículo, na os seus alunos.
metodologia de ensino, na avaliação e na atitude
dos educadores – ações que favoreçam a intera- 8. PARCERIA ESCOLA X FAMÍLIA X COMU-
ção social e sua opção por práticas heterogêneas.
A escola capacita seus professores, prepara-se,
NIDADE – para que os pais colaborem no
organiza-se e adapta-se para oferecer educação processo de aprendizagem dos seus filhos,
de qualidade para todos, inclusive para os edu- sejam orientados quanto ao avanço deles
candos que apresentam necessidades especiais. e os pontos necessitados de maior apoio; e
Inclusão, portanto, não significa simplesmente com a comunidade como forma de desen-
matricular todos os educandos com necessidades
educacionais especiais na classe comum, ignoran- volvimento mútuo.
do suas necessidades específicas, mas significa
dar ao professor e à escola o suporte necessário a 9. APOIO DE SERVIÇO ESPECIALIZADO – para
sua ação pedagógica(BRASIL, 2001). obter uma escola acolhedora e propulsora do
desenvolvimento, faz-se necessário a parceria
eficaz com os serviços educacionais especia-

14 capítulo 1
lizados, efetivando o apoio aos alunos com
necessidades educacionais especiais.

Somente com o apoio dos professores é que o


Brasil poderá oferecer uma Educação de Quali-
dade para Todos. Então, para que a educação
inclusiva se efetive, é necessário primeiramente
programas de formação continuada. Programas
que orientem o trabalho docente e desvaneçam
as resistências (legítimas-pela não formação ou
preconceituosas) dos educadores, para gradati-
vamente, se extinguir a exclusão escolar, benefi-
ciando a educação de todos.
Educação Especial, organizando-se de acor-
do com as diferentes capacidades dos alunos.
Saiba Mais: Nesse modelo de integração, esperava-se que
o aluno, valendo-se da educação especial, se
Acessibilidade diz respeito não apenas à elimi- tornasse competente o suficiente para acom-
nação de barreiras arquitetônicas, mas também panhar o ensino regular.
ao acesso à rede de informações, de comunica-
ção e de acesso físico, equipamentos e programas
adequados. Em meados da década de 1990, no Brasil,
começaram as discussões em torno do novo
modelo de atendimento escolar denominado
inclusão escolar. Esse novo paradigma surge
RESUMO como uma reação contrária ao processo de in-
tegração e declara que todos devem aprender
juntos, independentemente de suas capacida-
A leitura que a sociedade tem feito sobre a de-
des.
ficiência foi diversificando-se no decorrer dos
séculos, determinando suas ações. Variou da
Reconhecemos que trabalhar com classes het-
negligência da pessoa como ser humano, para
erogêneas que acolhem todas as diferenças
uma interpretação de “ocultismo” - possuída
traz inúmeros benefícios ao desenvolvimento
por maus espíritos; dessa para uma visão mé-
das crianças deficientes e também as não de-
dica e, a essa, somou-se a concepção educa-
ficientes, na medida em que estas têm a opor-
cional, social e agora sócio-histórica.
tunidade de vivenciar a importância do valor
da troca e da cooperação nas interações hu-
No Brasil, assim como nos demais países, a
manas. Portanto, para que as diferenças sejam
atenção às pessoas com deficiência iniciou-se
respeitadas e se aprenda a viver na diversidade,
com a criação de internatos. No século XIX, o
é necessária uma nova concepção de escola,
IBC e o INES foram criados pela intercessão de
de aluno, de ensinar e de aprender.
amigos ou de pessoas próximas ao Imperador,
que atendem às solicitações dadas à amizade
Sabemos que a inclusão não é um processo
que com eles mantinha.
fácil, mas com certeza é a garantia da edu-
cação de qualidade para todos. Cabe a todos
Essa prática do favor, da caridade, instituiu o
nós, dedicarmo-nos à efetivação desse desafio
caráter assistencialista que permeou a atenção
que, embora de difícil realização, é de nossa
às pessoas com deficiência no país desde seu
competência e obrigação.
início.
Nos próximos capítulos, estudaremos mais
A Educação Especial, durante muito tempo,
sobre a inclusão e a prática pedagógica ne-
adotou como objetivo a cura, a reabilitação,
cessária para a efetivação desse desafio!
em vez da construção do conhecimento. Ao
longo dos anos de 1970, a integração se cons-
tituiu numa modalidade de atendimento da

capítulo 1 15
Eu queria uma escola que lhes
ensinassem a pensar, a raciocinar,
a procurar soluções.

Eu queria uma escola que desde cedo


usasse materiais concretos para que vocês pu-
dessem ir formando corretamente os conceitos
matemáticos, os conceitos de números, as ope-
rações... pedrinhas... só porcariinhas!... fazendo
vocês aprenderem brincando...

Oh! meu Deus!


Deus que livre vocês de uma escola
Atividades: em que tenham que copiar pontos.
Deus que livre vocês de decorar
sem entender, nomes, datas, fatos...
1. Após a leitura da primeira parte deste capí-
Deus que livre vocês de aceitarem
tulo, elabore uma linha do tempo sobre a
conhecimentos “prontos”,
história das pessoas com deficiência, desta-
mediocremente embalados
cando como esses sujeitos eram percebidos
nos livros didáticos descartáveis.
pela sociedade em cada época.
Deus que livre vocês de ficarem
2. Considerando as primeiras informações so- passivos, ouvindo e repetindo,
bre Inclusão apresentadas neste capítulo, repetindo, repetindo...
e a poesia abaixo de Carlos Drummond de
Andrade, produza um texto a respeito do Eu também queria uma escola
tema: INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO: UM SO- que ensinasse a conviver, a cooperar,
NHO POSSÍVEL? a respeitar, a esperar, a saber viver
em comunidade, em união.
“Para Sara, Raquel, Lia e para todas as crianças”
Que vocês aprendessem
Eu queria uma escola que cultivasse a transformar e criar.
a curiosidade de aprender Que lhes desse múltiplos meios de
que é em vocês natural. vocês expressarem cada sentimento,
cada drama, cada emoção.
Eu queria uma escola que educasse
seu corpo e seus movimentos: Ah! E antes que eu me esqueça:
que possibilitasse seu crescimento Deus que livre vocês
físico e sadio. Normal. de um professor incompetente.

Eu queria uma escola que lhes


ensinasse tudo sobre a natureza,
o ar, a matéria, as plantas, os animais,
seu próprio corpo. Deus. REFERÊNCIAS
Mas que ensinasse primeiro pela ANDRADE,C.D. Para Sara, Raquel, Lia e para
observação, pela descoberta, todas as crianças. Disponível em <http://www.
pela experimentação.
espacoacademico.com.br/012/12drummond.
E que dessas coisas lhes ensinasse htm>.Acesso em 02 fev.2011.
não só o conhecer, como também
a aceitar, a amar e preservar. ARANHA, M.S.F. Projeto Escola Viva: garantin-
do o acesso e a permanência de todos os alu-
Eu queria uma escola que lhes
ensinasse tudo sobre a nossa história
nos na escola: necessidades educacionais es-
e a nossa terra de uma maneira peciais dos alunos. Brasília: MEC: SEESP, 2005.
viva e atraente.
BRASIL. Política Nacional de Educação Espe-
Eu queria uma escola que lhes
cial. Brasília: MEC:SEESP,1994.
ensinasse a usarem bem a nossa língua,
a pensarem e a se expressarem
com clareza. ______ . Declaração de Salamanca e Linha de
Ação. Brasília: CORDE, 1994.

16 capítulo 1
______. Diretrizes nacionais para a educa-
ção especial na educação básica. Brasília:
MEC:SEESP, 2001.

CARMO,S.M. Disponível em <www.pedago-


brasil.com.br>. Acesso em: 10 jan.2011.

EDLER CARVALHO,R. Educação inclusiva: com


os pingos nos “is”. 7.ed. Porto Alegre: Media-
ção, 2010.

MAZZOTTA,M.J.S. Educação especial no Bra-


sil: história e políticas públicas. 3.ed. São
Paulo:Cortez, 2001.

MANTOAN, M.T.E. Inclusão escolar: o que é?


Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna,
2003.

NAKAYAMA, A.M. Educação inclusiva:


princípios e representação. 2007. Tese de Dou-
torado. Faculdade de Educação. Universidade
de São Paulo. São Paulo, 2007.

SASSAKI, R.K. Inclusão:construindo uma socie-


dade para todos. Rio de Janeiro: WVA,1997.

CRÉDITO DAS IMAGENS

Figuras 1e 2 - http://www.ampid.org.br/Arti-
gos/PD_Historia.php

Figura 3 - http://www.flickr.com/pho-
tos/11359694@N08/2287587327/

Figura 4 -http://www.ines.gov.br/Paginas/his-
torico.asp

Figura 5 - http://tecnologia-juliana.blogspot.
com/2010/06/aula-de-educacao-especial_30.
html

Figura 6 - http://br.groups.yahoo.com/group/
foruminclusao/

capítulo 1 17
ABRANGÊNCIA E
PRESSUPOSTOS
LEGAIS DA
EDUCAÇÃO
INCLUSIVA

Profª. Nadjane Coelho de Alencar OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Carga Horária | 15 horas
• Conhecer os pressupostos legais vigentes
em termos de educação inclusiva;

• Identificar e caracterizar as principais ne-


cessidades educacionais especiais.

INTRODUÇÃO
A década de 90 foi marcada pelo início dos movimentos internacionais para a construção de siste-
mas educacionais inclusivos, na busca da garantia do acesso de todos à escola, respeitando-se as
peculiaridades de cada um.

Neste capítulo, veremos os pressupostos legais que embasam a Educação Inclusiva, como a Con-
ferência Mundial de Educação para Todos, ocorrida em Jomtien, na Tailândia, em 1990 - que é
o marco desse paradigma, haja vista tinha como objetivo satisfazer as necessidades básicas de
aprendizagem de cada pessoa; a Declaração de Salamanca (1994) que secundou e fortaleceu a
Conferência Mundial no que se refere aos direitos das pessoas com deficiência; bem como leis,
decretos, diretrizes e políticas nacionais que almejam a inclusão.

Analisaremos ainda a terminologia utilizada para com as pessoas com deficiência, pois a con-
strução de uma educação inclusiva passa também pelo cuidado com a linguagem, que pode
expressar o respeito ou a discriminação em relação a esses sujeitos e identificaremos quem são os
alunos com necessidades educacionais especiais no contexto da educação inclusiva.

Pronto para mais uma etapa de nosso estudo?! Disposição e ânimo farão a diferença neste pro-
cesso. Coragem!

capítulo 2 19
As escolas devem acolher todas as crianças, inde-
pendentemente de suas condições físicas, intelec-
tuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras.
Devem acolher crianças com deficiência e crianças
bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que
trabalham; crianças de populações distantes ou
nômades; crianças de minorias lingüísticas, étni-
cas ou culturais e crianças de outros grupos ou zo-
nas desfavorecidas ou marginalizadas (p. 17-18).

1.PRESSUPOSTOS LEGAIS Ao aceitar a proposta de Educação para Todos,


o Brasil assumiu o compromisso de transfor-
É importante destacar que, com relação à inclu- mar seu sistema educacional, de forma a aco-
são, dois eventos foram mundialmente signifi- lher todos, indiscriminadamente, com qualida-
cativos e podem ser considerados marcos dessa de e igualdade de condições.
proposta, pois trataram de questões referentes
à viabilização de educação para todos. Esses Essas duas declarações passaram a influenciar
eventos foram “A Conferência Mundial sobre a formulação das políticas públicas da educa-
Educação para Todos”, realizada em Jontiem, ção brasileira, apesar de a Constituição Federal
na Tailândia, em 1990, que busca garantir a de 1988 já sinalizar para a implementação no
igualdade de acesso à educação a pessoas com nosso país da educação inclusiva. O artigo 208,
qualquer tipo de limitação, e “A Conferência III, de nossa Carta Magna prescreve que “o de-
Mundial sobre Educação Especial”, ocorrida em ver do Estado com a educação será efetivado
Salamanca, na Espanha, em 1994. Nessa confe- mediante a garantia de atendimento educacio-
rência, foi elaborado o documento “Declaração nal especializado aos portadores de deficiência,
de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessi- preferencialmente na rede regular de ensino”.
dades Educativas Especiais”, que, “inspirada
na igualdade de valor entre as pessoas, propõe Ainda em 1994, a Política Nacional de Educa-
ações a serem assumidas pelos governos em ção Especial orientou o processo de integração
atenção às diferenças individuais”. e condicionou o acesso às classes comuns do
ensino regular àqueles que “possuem condi-
ções de acompanhar e desenvolver as ativi-
Saiba Mais: dades curriculares programadas do ensino
comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos
“A Conferência Mundial sobre Educação normais” (p.19).
para Todos”
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação
http://unesdoc.unesco.org/
Nacional, Lei nº 9.394/96, no artigo 58, afirma
images/0008/000862/086291por.pdf
que “a educação especial como modalidade de
“A Conferência Mundial sobre Educação educação escolar, oferecida preferencialmen-
Especial” te na rede regular de ensino para educandos
com necessidades especiais”; e, no artigo 59,
http://unesdoc.unesco.org/ preconiza que os sistemas de ensino devem
images/0013/001393/139394por.pdf assegurar aos alunos “currículo, métodos, re-
cursos educativos e organização específica
para atender às suas necessidades”; assegura a
“terminalidade específica para àqueles que não
De acordo com a Declaração de Salamanca, o atingiram o nível exigido para a conclusão do
conceito de inclusão é um desafio para a edu- ensino fundamental, em virtude de sua defici-
cação, na medida em que estabelece que o di- ência”; e “a aceleração de estudos aos super-
reito à educação seja para todos e não só para dotados para conclusão do programa escolar”.
aqueles que apresentam necessidades educa-
cionais especiais, como podemos observar no
trecho abaixo:

20 capítulo 2
Os Parâmetros Curricu-
lares Nacionais, P.C.N.,
publicados em 1998,
vieram nortear e orien-
tar os profissionais da
Educação quanto à re-
lação professor e aluno,
no desenvolvimento de
um processo de ensino
e aprendizagem eficaz e
significativo.
Figura 1: Capa
Como passo subsequen-
Adaptações Curriculares

te a essa coletânea, o
MEC/SEESP1 publicou os P.C.Ns. - Adaptações
Curriculares em Ação, objetivando fortalecer o
suporte técnico-científico aos profissionais da A Lei 10.172/2001, que instituiu o Plano Na-
Educação de maneira geral. cional de Educação até 2010, ganha desta-
que quando assinala que o grande avanço a
Em 1999, o Decreto 3.298 regulamenta a Lei nº ser produzido na década da educação será a
7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para construção de uma escola inclusiva, de modo
a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, a garantir o atendimento à diversidade huma-
em que define a educação especial como moda- na. Embora ainda existam desafios nesse cam-
lidade transversal aos níveis e às modalidades de po, avanços podem ser registrados. É o que
ensino e, contraditoriamente, no seu artigo 24, demonstra o Censo Escolar/2009 acerca do
condiciona a matrícula compulsória na rede regu- ingresso dos educandos, público-alvo da edu-
lar de ensino às pessoas com deficiência conside- cação especial em classes comuns do ensino
radas ‘capazes de se integrar’. regular, representando 60% dessas matrículas.

Fig. 2: Tabela comparando as matrículas de alunos com deficiência em salas do ensino regular e especial.

1 MEC - Ministério de Educação. SEESP - Secretaria de Educação Es-


pecial, órgão subordinado ao MEC.

capítulo 2 21
Saiba Mais:
Convenção de Guatemala
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/gua-
temala.pdf

Esse Decreto tem importantes repercussões na


educação, exigindo uma reinterpretação da edu-
cação especial, compreendida no contexto da di-
ferenciação adotada para promover a eliminação
das barreiras que impedem o acesso à escolariza-
ção. Dessa forma, não se pode impedir ou anular
o direito à escolarização nas turmas comuns do
Acompanhando o processo de mudança, as ensino regular, pois estaria configurando discrimi-
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial nação com base na deficiência.
na Educação Básica, Resolução CNE/CEB2 nº
2/2001, no artigo 2º, determinam que “Os Na perspectiva da educação inclusiva, a Reso-
sistemas de ensino devem matricular todos lução CNE/CP3 nº1/2002, que estabelece as Di-
os alunos, cabendo às escolas organizarem-se retrizes Curriculares Nacionais para a Formação
para o atendimento aos educandos com ne- de Professores da Educação Básica, define que
cessidades educacionais especiais, asseguran- as instituições de ensino superior devem pre-
do as condições necessárias para uma educa- ver, em sua organização curricular, formação
ção de qualidade para todos”. docente voltada para “o acolhimento e o trato
da diversidade”, que contemple conhecimentos
No entanto, as Diretrizes como um dos do- sobre “as especificidades dos alunos com ne-
cumentos orientadores para a inclusão edu- cessidades educacionais especiais” (p. 291).
cacional, por um lado ampliam o caráter da
educação especial para realizar o atendimento A Portaria nº 2.678/02 do MEC aprova diretri-
complementar ou suplementar à escolariza- zes e normas para o uso, o ensino, a produção
ção e, por outro lado, reduzem esse potencial e a difusão do sistema Braille em todas as mo-
quando mantêm a educação especial como dalidades de ensino, compreendendo o proje-
modalidade substitutiva à educação comum. to da Grafia Braille para a Língua Portuguesa
Dessa forma, não fortalecem a adoção de uma e a recomendação para o seu uso em todo o
política de educação inclusiva e o enfrenta- território nacional.
mento dos desafios necessários.
A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasi-
O Decreto nº 3.956/2001 promulga a Conven- leira de Sinais como meio legal de comunica-
ção de Guatemala (1999), reafirmando que ção e expressão, determinando que sejam ga-
as pessoas com deficiência têm os mesmos rantidas formas institucionalizadas de apoiar
direitos humanos e liberdades fundamentais seu uso e difusão, bem como a inclusão da
que as demais, definindo discriminação como disciplina de Libras nos cursos de formação de
“toda diferenciação, exclusão ou restrição ba- professores, portanto parte integrante do cur-
seada em deficiência, antecedente de defici- rículo.
ência, consequência de deficiência anterior ou
percepção de deficiência presente ou passada,
que tenha o efeito ou o propósito de impedir
ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício
por parte das pessoas portadoras de deficiên-
cia de seus direitos humanos e suas liberdades
fundamentais”.
Fig. 3 - Capa material Direito à Diversidade
2 CNE – Conselho Nacional de Educação. CEB – Câmara de Educação Básica.

3 CP – Conselho Pleno do Conselho Nacional de Educação.

22 capítulo 2
Em 2003, o Ministério da Educação/Secreta-
ria de Educação Especial implanta o Progra-
ma Educação Inclusiva - direito à diversidade,
com o objetivo de transformar os sistemas de
ensino em sistemas educacionais inclusivos,
promovendo um amplo processo de sensibi-
lização e formação de gestores e educadores
nos municípios brasileiros para a garantia do
direito de acesso de todos à escolarização, à
promoção das condições de acessibilidade e à
organização do atendimento educacional es-
pecializado.

Saiba Mais: O Decreto nº 5.626/05 regulamenta a Lei nº


Programa Educação Inclusiva - 10.436/2002 e dispõe sobre a inclusão da Li-
direito à diversidade bras como disciplina curricular, a formação do
professor, instrutor e tradutor/intérprete de Li-
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/expe- bras, a certificação da proficiência em Libras,
rienciaseducacionaisinclusivas.pdf
o ensino da Língua Portuguesa como segun-
da língua para alunos surdos e a inclusão de
alunos surdos com a organização da educação
Em 2004, com base no Decreto nº 3.956/2001, bilíngue nos sistemas de ensino.
o Ministério Público Federal publica o docu-
mento “O Acesso de Alunos com Deficiência Em 2005, com a implantação dos Núcleos de
às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular”, Atividades de Altas Habilidades/Superdotação
com o objetivo de divulgar os conceitos e as di- – NAAH/S em todos os estados e no Distrito
retrizes mundiais da inclusão das pessoas com Federal, são organizados centros de referên-
deficiência na área educacional, reafirmando o cia na área das altas habilidades/superdotação
direito e os benefícios da escolarização de alu- para o atendimento educacional especializa-
nos com e sem deficiência nas turmas comuns do, para a orientação às famílias e a formação
do ensino regular. continuada dos professores, constituindo a or-
ganização da política de educação inclusiva de
O Decreto nº 5.296/04 que regulamenta as leis forma a garantir esse atendimento aos alunos
nº 10.048/00 e nº 10.098/00 estabeleceu con- da rede pública de ensino.
dições para a implementação de uma política
nacional de acessibilidade, trazendo consequ- A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
ências práticas que induzem uma mudança de Deficiência, aprovada pela ONU em 2006, da
postura na sociedade, para a garantia do aces- qual o Brasil é signatário, assume compromis-
so das pessoas com deficiência ou com mobi- sos para assegurar um sistema de educação
lidade reduzida. inclusiva em todos os níveis de ensino, garan-
tindo no seu artigo 24 que, “as pessoas com
deficiência não sejam excluídas do sistema
educacional geral sob alegação de deficiência
e que as crianças com deficiência não sejam ex-
cluídas do ensino fundamental gratuito e com-
pulsório, sob alegação de deficiência; as pesso-
as com deficiência possam ter acesso ao ensino
fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito,
em igualdade de condições com as demais pes-
soas na comunidade em que vivem” .

Fig. 4 - Frase no alfabeto digital.

capítulo 2 23
...especialmente devido às resistências por parte
das algumas pessoas com necessidades educa-
cionais especiais e das escolas regulares em se
adaptar para realmente integrar as crianças com
necessidades especiais. Isso vem acontecendo,
principalmente, devido aos altos custos para se
criar as condições adequadas, tanto no que diz
respeito às adaptações curriculares de grande
porte, como a construção de rampas e banheiros
adequados, quanto ao que se refere às adapta-
ções curriculares de pequeno porte, como a ela-
boração do currículo e a escolha de diversifica-
dos recursos metodológico. Além disso, alguns
educadores resistem a este novo paradigma, que
exige uma formação mais ampla e uma atuação
profissional diferente da que se têm experiência.
O Plano de Metas Compromisso Todos pela Para que as escolas sejam verdadeiramente inclu-
Educação, implementado pelo decreto nº sivas, ou seja, abertas à diversidade, há que se
rever o modo de pensar e de fazer educação nas
6.094/2007, assume o compromisso de forta-
salas de aula, de contextualizar o conhecimento,
lecer a inclusão, quando no artigo 2, IX, diz: de planejar e de avaliar o ensino e de formar e
“garantir o acesso e permanência das pessoas aperfeiçoar o professor. Trata-se, então, de incluir,
com necessidades educacionais especiais nas mas reconhecendo as diferenças, a multiplicida-
classes comuns do ensino regular, fortalecendo de dos saberes e das condições sobre as quais o
conhecimento é aplicado e de transitar por novos
a inclusão educacional nas escolas públicas.” caminhos, estabelecendo teias de relações entre
o que se conhece e o que se há de conhecer nos
A Política Nacional de Educação Especial na encontros e nas infinitas combinações desses
Perspectiva da Educação Inclusiva – MEC/2008, conteúdos disciplinares.
a qual conceitua a educação especial e defi-
ne como público os alunos com deficiência, Sendo assim, a Política Nacional de Educação
transtornos globais do desenvolvimento e al- Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva,
tas habilidades/superdotação; o Decreto Nº. que foi construída em um trabalho conjunto
6.571/2008, que dispõe sobre atendimento com a Secretaria de Educação Especial do Mi-
educacional especializado, complementar ao nistério da Educação e diversos atores da so-
ensino regular para os alunos público-alvo da ciedade, como gestores na área da educação,
educação especial e o seu financiamento por organizações da sociedade civil, conselhos
meio do Fundo de Manutenção e Desenvol- de direitos e outros órgãos governamentais,
vimento da Educação Básica e de Valorização propõe uma mudança de filosofia na forma
dos Profissionais da Educação – FUNDEB; e a de tratar e de educar, respeitando a diferença
Resolução Nº. 4/2009, do Conselho Nacional como a singularidade que torna todos os seres
de Educação, que institui as Diretrizes Ope- humanos, sujeitos à igualdade de direitos de
racionais para o Atendimento Educacional todos os cidadãos brasileiros.
Especializado na Educação Básica, modalida-
de Educação Especial, foram elaboradas para
fomentar a educação inclusiva em nosso país. 2.TERMINOLOGIA
No entanto, a inclusão tem encontrado difi-
“Amar não significa tornar o outro adaptado,
culdade em avançar. Segundo Batalha (2009),
submisso ou semelhante a nós.
isso acontece Amar significa libertá-lo, deixá-lo livre, deixá-lo viver”
Penny Mc Lean

Saiba Mais: As palavras utilizadas para nomear as pessoas


A Política Nacional de Educação Especial com deficiência, traduzem as percepções da
na Perspectiva da Educação Inclusiva época em que foram empregadas. “Inválidos”,
“incapazes”, “incapacitados”, “aleijados”,
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/poli- “mentalmente afetados”, “débeis”, “mudos”,
tica.pdf “surdos-mudos” foram amplamente utilizados
e difundidos até meados do século XX, indi-

24 capítulo 2
cando a percepção dessas pessoas como um
fardo social, inútil e sem valor.

As expressões usadas para referir-se ao aten-


dimento às pessoas com deficiência também
demonstram essa percepção: “Pedagogia de
Anormais, Pedagogia Teratológica, Pedagogia
Curativa ou Terapêutica, Pedagogia da Assis-
tência Social ou Pedagogia Emendativa” (MA-
ZZOTA, 2001).

A partir da década de 60, começam a utilizar o


termo “defeituoso” e “deficiente”, focalizan-
do a deficiência (física, intelectual, auditiva, vi- Fig. 5 - Capa da Convenção sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência.
sual e múltipla) e “excepcional”, significando
o indivíduo com deficiência intelectual.
trole da situação de sua vida. É, portanto, uma
As pessoas com deficiência, organizadas em expressão que não esconde a deficiência, ao
associações, questionaram esses termos e, na contrário, “mostra com dignidade a realidade
luta por seus direitos, conseguiram na ONU da deficiência, valoriza as diferenças e as neces-
que 1981 fosse o “Ano Internacional das Pes- sidades decorrentes dela e combate neologis-
soas Deficientes”. Pela primeira vez, a expres- mos que tentam diluir as diferenças, tais como
são “pessoas deficientes” foi utilizada, ajudan- “pessoas com capacidades especiais”, “pesso-
do a melhorar a sua imagem. as com habilidades diferenciadas”, “pessoas
deficientes”...”(SASSAKI, 2005).
No entanto, alguns não concordaram com a
terminologia “pessoas deficientes”, pois, para E, quem são as pessoas com deficiência? Na
eles, esse termo afirma que a pessoa inteira é Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
deficiente, o que não corresponde a realidade. Deficiência (BRASIL, 2006, art.1), essas são de-
Começaram, então, a substituí-lo por “pessoas finidas como
portadoras de deficiência”. Essa nova nomen-
clatura foi a utilizada nas Constituições federal “... aquelas que têm impedimentos de longo pra-
e estaduais, e em todos os documentos a partir zo, de natureza física, mental, intelectual ou sen-
sorial, os quais, em interação com diversas bar-
de 1988. Entretanto, essa expressão é também reiras, podem obstruir sua participação plena e
imprópria, haja vista que portador é “aquele efetiva na sociedade em igualdades de condições
que leva alguma coisa (carta, objeto), a mando com as demais pessoas”
ou a pedido de alguém, para entregar a outra
pessoa” (HOUAISS, 2007) e a deficiência não é Essa definição surgiu tomando-se por base o
algo que se carrega como se fosse um objeto chamado modelo social, que vê a deficiência
externo à pessoa. Ela a possui como parte in- resultante do modo como a sociedade está or-
tegrante do seu próprio ser. ganizada. Porque a sociedade não está bem
organizada, as pessoas com deficiência en-
Depois surgiu a expressão “necessidades espe- frentam diferentes tipos de discriminação e
ciais” para substituir “deficientes”. Dessa, deri- barreiras à participação. São barreiras atitudi-
vou “pessoas especiais” e, em 1994, a Declara- nais (expressas pelo medo, ignorância, estig-
ção de Salamanca utilizou a expressão “pessoas ma, preconceito e baixa expectativa), do meio
com deficiência”, que foi aprovada pela Con- (resulta na inacessibilidade física que afeta to-
venção Internacional para Proteção dos Direitos dos os aspectos da vida: escolas, lojas, prédios
e Dignidades das Pessoas com Deficiência como públicos, templos...) e institucional (discrimi-
o termo a ser utilizado para nomeá-las. O vocá- nação de caráter legal, como não pode casar,
bulo pessoa agrega o valor do empoderamento ter filhos, estudar etc).
– que consiste no uso de poder pessoal para
fazer escolhas, tomar decisões e assumir o con-

capítulo 2 25
Os estudos mais recentes no campo da educa-
ção especial enfatizam que as definições e uso de
classificações devem ser contextualizados, não se
esgotando na mera especificação ou categoriza-
ção atribuída a um quadro de deficiência, trans-
torno, distúrbio, síndrome ou aptidão.

O meu intuito em identificar as deficiências


neste material é fazê-lo conhecer as neces-
sidades do sujeito que as possui. Até porque
não se pode partir do pressuposto de que to-
das as pessoas com a mesma deficiência têm
as mesmas necessidades. As pessoas com defi-
ciência também são diferentes.
Esses três tipos de barreiras tornam as pessoas Tipos de deficiência e principais características :
com deficiência incapazes de assumir o con-
trole de suas próprias vidas. • intelectual: a pessoa apresenta limitações
significativas, tanto no desenvolvimento in-
Antes de continuar seus estudos, pare para re-
fletir um pouco sobre o modelo social da defi-
ciência, na seguinte questão: Saiba Mais:
Deficiência mental - para saber mais leia
nas p.11 a 14 no endereço
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/def-
mental.pdf

telectual como na conduta adaptativa, na


forma expressa em habilidades práticas, so-
ciais e conceituais. Os alunos com Síndro-
Fig. 6 - Cadeirante estático diante da palavra “NÃO”.
me de Down fazem parte dessa categoria;

• visual: perda total ou parcial de visão, con-


gênita ou adquirida, variando com o nível
Uma pessoa que usa cadeira de rodas poderá ou acuidade visual da seguinte forma:
ser considerada deficiente, se ainda for capaz
de conduzir um veículo ou andar de motoci- - cegueira - ausência total de visão até a
cleta, e se a sua casa, ambiente de trabalho e perda da percepção luminosa;
outros edifícios forem acessíveis ?
- visão subnormal ou baixa visão – com-
Para os objetivos e as funções da educação, prometimento do funcionamento visual de
denominar as pessoas segundo categorias ambos os olhos, mesmo após tratamento
classificatórias de deficiência é questionável, já ou correção. Possui resíduos visuais que
que a presença da deficiência não implica sem- permitem a leitura de textos impressos am-
pre dificuldades de aprendizagem. De outro pliados ou com o uso de recursos ópticos;
lado, inúmeros alunos apresentam distúrbios
de aprendizagem sem serem necessariamente • auditiva: perda parcial ou total das possi-
pessoas com deficiência. Conforme a Política bilidades auditivas sonoras, variando em
Nacional de Educação Especial na Perspectiva graus e níveis, desde uma perda leve até
da Educação Inclusiva , no seu artigo V: a perda total da audição. A pessoa que

26 capítulo 2
utiliza o Aparelho de Amplificação Sonora
Individual – AASI (prótese auditiva), pode
ou não processar informações linguísticas
pela audição e, conseqentemente, tornar-
-se capaz de desenvolver a linguagem oral,
mediante atendimento fonoaudiológico e
educacional.

Alguns estudiosos distinguem o deficien-


te auditivo do surdo, denominando surdo
aquele que participa de uma comunidade
linguística minoritária, caracterizada por
compartilhar valores culturais, hábitos, e
Fig. 7 - Sala de aula inclusiva.
uma língua de sinais, a Língua Brasileira de
Sinais-Libras em nosso país;

• física: alteração completa ou parcial de Mas, quem são as pessoas com necessidades
um ou mais segmentos do corpo huma- educacionais especiais?
no, acarretando o comprometimento da
função física, apresentando-se sob forma Considera-se alunos com necessidades educa-
de paraplegia, paraparesia, monoplegia, cionais especiais aqueles manifestando com-
monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, tri- portamentos particulares que impeçam os
plegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, encaminhamentos rotineiros das praticas pe-
ostomia, amputação ou ausência de mem- dagógicas em sala de aula. São alunos dife-
bro, paralisia cerebral, nanismos, membros renciados pelo ritmo de aprendizagem, sejam
com deformidade congênita ou adquirida, mais lentos ou mais acelerados. Apresentam
exceto as deformidades estéticas e as que dificuldades de aprendizagem não vinculadas
não produzem dificuldades para o desem- a uma causa orgânica específica, como as sín-
penho das funções; dromes e as lesões neurológicas por falta de
oxigenação. Necessitam de sinais e de códigos
• múltipla: é a associação, na mesma pes- especiais para se comunicar ou para ler e es-
soa, de duas ou mais deficiências primárias crever. Têm características comportamentais
(mental /visual/ auditiva/ física); diferenciadas, como o transtorno por déficit
de atenção por hiperatividade e/ou impulsivi-
• surdocegueira: é uma deficiência única que dade. Os quadros de dificuldade de aprendiza-
apresenta a deficiência auditiva e visual gem como a dislexia, a disgrafia, a discalculia.
concomitantemente em diferentes graus,
necessitando desenvolver formas diferen- Podemos incluir, no elenco das necessidades
ciadas de comunicação para aprender e especiais, por exemplo, alunos:
interagir com a sociedade.
• com condições físicas, intelectuais, sociais,
Como a educação inclusiva tem como pressu- emocionais, sensoriais diferenciadas;
posto a educação para todos, aceitando a di-
versidade e trabalhando na heterogeneidade, • com deficiência física motora, intelectual,
seu propósito não é só as pessoas com defici- visual, auditiva ou múltipla;
ência. Ela assegura a igualdade de oportuni-
dade para todos, por isso a educação inclusiva • com condutas típicas de síndromes e qua-
se utiliza do termo pessoas com necessidades dros psicológicos, neurológicos e psiquiá-
educacionais especiais, para identificar o alu- tricos;
nado por ela atendido. Haja vista que necessi-
dades especiais traduzem as exigências experi- • com altas habilidades;
mentadas por qualquer indivíduo e que devem
ser supridas pela sociedade. • com dislexia;

capítulo 2 27
Síndrome de Rett - É uma anomalia de ordem
neurológica e de caráter progressivo, que aco-
mete em maior proporção crianças do sexo fe-
minino, mas também comprovada em crianças
do sexo masculino. Compromete o crescimen-
to craniano, acarreta em regressão da fala e
das habilidades motoras adquiridas, em par-
ticular o movimento ativo da mão, há altera-
ções comportamentais, aparecimento de crises
convulsivas em 50 a 70% dos casos, alterações
respiratórias e do sono e constipação intestinal.

• trabalhadores ou que vivem nas ruas; Transtorno Desintegrativo da Infância (Psicose


Infantil) - É um transtorno de personalidade de-
• de populações distantes ou nômades; pendente do transtorno da organização do eu
e da relação da criança com o meio ambiente.
• componentes de minorias linguísticas, étni-
cas ou culturais; Os com altas habilidades ou superdotação são
aqueles que demonstram potencial elevado em
• de grupos desfavorecidos ou marginalizados. qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou
combinadas: intelectual, acadêmica, liderança,
Apesar de todos os sujeitos citados, bem como psicomotricidade e artes, além de apresentar
outros serem alunos com necessidades edu- grande criatividade, envolvimento na aprendi-
cacionais especiais, a resolução CNE/CEB nº zagem e na realização de tarefas em áreas de
4/2009, no seu art.4º, define como público seu interesse.
alvo do Atendimento Educacional Especializa-
do - AEE, somente os discentes com deficiên- Para a concretização da Educação Inclusiva,
cia, transtornos globais do desenvolvimento e comunidade educativa, pais e professores pre-
altas habilidades/superdotação. cisam estar convencidos de que cada aluno é
diferente em relação ao estilo e ao ritmo da
Os alunos com transtornos globais do desen- aprendizagem; o fracasso do discente é um
volvimento são aqueles que apresentam um fracasso da escola, da comunidade e da famí-
quadro de alterações no desenvolvimento neu- lia, que não consegue atender às necessidades
ropsicomotor, comprometimento nas relações dele; os alunos podem efetivamente ensinar
sociais, na comunicação ou estereotipias mo- aos seus colegas, e a cooperação em sala de
toras. aula pode ser um fator importante para a in-
clusão de todos, pois permite interação e troca
São transtornos globais do desenvolvimento: entre os pares. Para que essa capacidade seja
exercida, é necessário que os professores lide-
Autismo Clássico - É um distúrbio congênito ca- rem o processo, acompanhando-os e encora-
racterizado por alterações no desenvolvimento jando-os.
infantil que se manifesta nos primeiros meses
de vida, caracterizando-se por um comprome-
timento das relações interpessoais e diversas
alterações de linguagem e dos movimentos.

Síndrome de Asperger - É uma síndrome que


está relacionada com o autismo, diferencian-
do-se deste por não comportar nenhum com-
prometimento no desenvolvimento cognitivo
ou de linguagem.

Fig. 8 - Somos todos iguais na diferença.

28 capítulo 2
RESUMO 2. Em “Terminologia para a imprensa”, Romeu
Sassaki apresenta alguns termos que são
A sociedade brasileira tem elaborado dispositi- obstáculos reais no processo de inclusão,
vos legais que, tanto explicitam sua opção po- mostrando como esses dificultam o entendi-
lítica pela construção de uma sociedade para mento sobre o conceito dos alunos com ne-
cessidades educacionais especiais. Comple-
todos, como orientam as políticas públicas e mente seus estudos lendo esse texto que se
sua prática social. Contudo, ainda que o Brasil encontra disponível em <http://www.fiemg.
possua uma legislação avançada, abrangente com.br/ead/pne/Terminologias.pdf>
e moderna, digna de títulos, como o recebido
em 2004, pela organização não governamen- 3. No texto abaixo, Mário Quintana conceitua
tal internacional - International Disability Rights as deficiências. Reflita sobre as palavras des-
se grande escritor.
Monitor - IDRM, como um dos cinco países
mais inclusivos das Américas (um dos seis re- DEFICIÊNCIAS
quisitos para a classificação era a existência de (do dicionário particular do Mário Quintana)
arcabouço legal que garantisse a adequada
“Deficiente” é aquele que não consegue modifi-
proteção das pessoas com deficiência), existe
car sua vida, aceitando as imposições de outras
ainda uma grande dificuldade em implementá- pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter
-la no país. consciência de que é dono de seu destino.

Além disso, sabemos que nem tudo o que “Louco” é quem não procura ser feliz com o que
possui.
consta na lei será efetivamente implementa-
do, mas não podemos perder o foco principal “Cego” é aquele que não vê seu próximo morrer
de educar com qualidade. Afinal, as crianças, de frio, de fome, de miséria. E só tem olhos para
independentemente das deficiências que te- seus míseros problemas e pequenas dores.
nham, são a futura geração de cidadãos, e nós,
“Surdo” é aquele que não tem tempo de ouvir
educadores, somos os principais responsáveis um desabafo de um amigo, ou o apelo de um ir-
por isso. mão. Pois está sempre apressado para o trabalho
e quer garantir seus tostões no fim do mês.
A aceitação da diversidade exige o desenvolvi-
“Paralítico” é quem não consegue andar na dire-
mento de uma pedagogia diferenciada. A es- ção daqueles que precisam de sua ajuda.
cola atual confronta-se com uma grande he-
terogeneidade social e cultural. Essa realidade “Anão” é quem não sabe deixar o amor crescer.
implica outra concepção de organização esco-
E, finalmente, a pior das deficiências é ser mise-
lar, que ultrapasse a via da uniformidade e que
rável, pois “Miseráveis” são todos que não conse-
reconheça o direito à diferença. É preciso - e guem falar com Deus.
urgente! - agir no nível das práticas pedagó-
gicas, da estrutura e organização das escolas.

É sobre a prática pedagógica e os serviços de


apoio especializado que discutiremos no próxi-
mo capítulo. Vamos em frente!

Atividades:
1. Leia a Política Nacional de Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva, dispo-
nível em <http://portal.mec.gov.br/seesp/
arquivos/pdf/politica.pdf> e elabore um
texto destacando os pontos principais desse
documento.

capítulo 2 29
______. Ministério da Educação. Lei Nº 10.172,
de 09 de janeiro de 2001. Aprova o Plano
Nacional de Educação e dá outras providên-
cias.

______. Decreto Nº 3.956, de 8 de outubro

REFERÊNCIAS de 2001. Promulga a Convenção Interameri-


cana para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de
BATALHA, D.V. Um breve passeio pela política Deficiência. Guatemala: 2001.
nacional de educação especial na perspectiva
da educação inclusiva brasileira. In:IX CON- ______. Ministério da Educação. Secretaria de
GRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDU- Educação Especial. Lei Nº. 10.436, de 24 de
CERE e III ENCONTRO SUL BRASILEIRO DE PSI- abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira
COPEDAGOGIA, 2009, Paraná:PUCPR. de Sinais – LIBRAS e dá outras providências.

BRASIL. Constituição da República Federativa ______. Ministério da Educação. Secretaria de


do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988. Educação Especial. Decreto Nº 5.296 de 02 de
dezembro de 2004.
______. Declaração Mundial sobre Educação
para Todos: plano de ação para satisfazer as ______. Ministério da Educação. Secretaria de
necessidades básicas de aprendizagem. UNES- Educação Especial. Decreto Nº 5.626, de 22
CO, Jomtiem/Tailândia, 1990. de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei Nº
10.436, de 24 de abril de 2002.
______. Declaração de Salamanca e linha de
ação sobre necessidades educativas especiais. HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico da Língua
Brasília: UNESCO, 1994. Portuguesa. Editora Objetiva, 2007.

______. Ministério da Educação. Secretaria de


Educação Especial. Política Nacional de MAZZOTTA, M.J.S. Educação especial no
Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP, 1994. Brasil: história e políticas públicas. 3.ed. São
Paulo:Cortez, 2001.
______. Ministério da Educação. Lei de Dire-
trizes e Bases da Educação Nacional, LDB NAKAYAMA, A.M. Educação inclusiva:
9.394, de 20 de dezembro de 1996. princípios e representação. 2007. Tese de Dou-
torado. Faculdade de Educação. Universidade
______. Ministério da Educação. Secretaria de de São Paulo. São Paulo, 2007.
Educação Especial. Decreto Nº 3.298, de 20 de
dezembro de 1999. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Con-
venção sobre os Direitos das Pessoas com De-
______. Ministério da Educação. Secretaria de ficiência,2006.
Educação Especial. Lei Nº 10.048, de 08 de
novembro de 2000. ROSA, S.P.S. et al. Fundamentos Teóricos e
Metodológicos da Inclusão. Curitiba: IESDE
______. Ministério da Educação. Secretaria de Brasil S.A., 2008.
Educação Especial. Lei Nº 10.098, de 19 de
dezembro de 2000. SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma so-
ciedade para todos. Rio de Janeiro: WVA,1997.
______. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Especial. Diretrizes Nacionais para a ______________. Terminologia sobre deficiên-
Educação Especial na Educação Básica. Secre- cia na era da inclusão. Revista Nacional de Re-
taria de Educação Especial - MEC/SEESP, 2001. abilitação, São Paulo, ano 5, n. 24, jan./fev.
2002, p. 6-9.

30 capítulo 2
CRÉDITO DAS IMAGENS

Figura 1 - http://portal.mec.gov.br/seesp/arqui-
vos/pdf/construindo.pdf

Figura 2 - http://portal.mec.gov.br/seesp/arqui-
vos/pdf/politica.pdf

Figura 3 - http://portal.mec.gov.br/seesp/arqui-
vos/txt/educarnadiversidade2006.txt

Figura 4 - http://www.conexaoprofessor.rj.gov.
br/temas-especiais.asp

Figura 5 - http://www.direitoshumanos.gov.br/
pessoas-com-deficiencia-1/convencao

Figura 6 - http://www.planetaeducacao.com.
br/acessodehumor/flog.asp

Figura 7 - http://inclusaobrasil.blogspot.
com/2010/07/cartilha-educacao-inclusiva-
fique-por.html

Figura 8 - http://www.pedagogiaaopedaletra.
com/2011/02/03/os-desafios-da-educacao-
inclusiva/

Figura 9 - http://www.planetaeducacao.com.
br/acessodehumor/ver_imagem.asp?id=48

capítulo 2 31
OS SERVIÇOS
DE APOIO
PEDAGÓGICO
ESPECIALIZADO

Profª. Nadjane Coelho de Alencar OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Carga Horária | 15 horas
• Entender o que vem a ser um atendimento
educacional especializado;

• Conhecer os serviços de apoio pedagógico


especializado;

• Ressaltar que, para a efetivação da inclu-


são, é imprescindível atendimento educa-
cional especializado para todos os alunos
que necessitem.

INTRODUÇÃO
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo
o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do de-
senvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, garantindo o atendimento
educacional especializado.

É o Atendimento Educacional Especializado – AEE o tema de nosso estudo neste capítulo. Ver-
emos que “a educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, todas
as etapas e modalidades, disponibilizando recursos e serviços e orientando quanto a sua utiliza-
ção no processo de ensino e aprendizagem, nas turmas comuns do ensino regular”, tendo como
função “identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem
as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas”.
Estudaremos, ainda, os serviços de apoio pedagógico especializado com vistas a atender às espe-
cificidades dos alunos que constituem seu público-alvo e garantir o direito à educação a todos.

capítulo 3 33
com autonomia e independência nas turmas
comuns do ensino regular. Apesar de terem
funções distintas, os professores comuns e
os da Educação Especial precisam se envolver
para que seus objetivos específicos de ensino
sejam alcançados, compartilhando um traba-
lho interdisciplinar e colaborativo. Para atuar
no AEE, o professor deve ter formação inicial
que o habilite para o exercício da docência e
formação específica para a Educação Especial.

Segundo o parecer CNE/CEB, nº 04/2009, ar-


1. SERVIÇOS DE APOIO tigo 13, são atribuições do professor do AEE:
PEDAGÓGICO I – identificar, elaborar, produzir e organizar servi-
ESPECIALIZADO ços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e es-
tratégias, considerando as necessidades específi-
Na perspectiva da educação inclusiva, a edu- cas dos alunos público-alvo da Educação Especial;
cação especial passa a integrar a proposta
II – elaborar e executar plano de Atendimento
pedagógica da escola regular, promovendo o Educacional Especializado, avaliando a funciona-
atendimento às necessidades educacionais es- lidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógi-
peciais de seus alunos por meio do AEE. cos e de acessibilidade;

Para a efetivação desse atendimento, os sis- III – organizar o tipo e o número de atendimentos
aos alunos na sala de recursos multifuncionais;
temas de ensino devem matricular os alunos
com deficiência, os com transtornos globais
IV – acompanhar a funcionalidade e a aplicabili-
do desenvolvimento e os com altas habilida- dade dos recursos pedagógicos e de acessibilida-
des/superdotação nas escolas comuns do en- de na sala de aula comum do ensino regular, bem
sino regular e no Atendimento Educacional como em outros ambientes da escola;
Especializado – AEE.
V – estabelecer parcerias com as áreas interseto-
riais na elaboração de estratégias e na disponibili-
Esse atendimento complementa e/ou suple- zação de recursos de acessibilidade;
menta a formação dos alunos com vistas à
autonomia e independência na escola e fora VI – orientar professores e famílias sobre os re-
dela. É realizado na escola comum, preferen- cursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados
cialmente onde ele estuda, num espaço físico pelo aluno;
denominado Sala de Recursos Multifuncionais.
VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva, de for-
ma a ampliar as habilidades funcionais dos alu-
“O motivo principal de o AEE ser realizado na
nos, promovendo autonomia e participação;
própria escola do aluno está na possibilidade de
que suas necessidades educacionais específicas
possam ser atendidas e discutidas no dia a dia VIII – estabelecer articulação com os professores
escolar e com todos os que atuam no ensino re- da sala de aula comum, visando à disponibiliza-
gular e/ou na educação especial, aproximando ção dos serviços, dos recursos pedagógicos e de
esses alunos dos ambientes de formação comum acessibilidade e das estratégias que promovem a
a todos.” (ROPOLI, 2010) participação dos alunos nas atividades escolares.

O trabalho do professor na sala do ensino re- A organização do AEE não segue um modelo
gular é distinto do professor do AEE. Àquele é pronto. Não existe um guia, um roteiro previa-
atribuído o ensino das áreas do conhecimen- mente indicado. Ele considera as peculiarida-
to, e a este cabe complementar/suplementar des de cada aluno, pois pessoas com a mesma
a formação do aluno com conhecimentos e deficiência podem ter necessidades educa-
recursos específicos que eliminam as barreiras cionais distintas. O professor, ao organizar o
as quais impedem ou limitam sua participação atendimento educacional especializado dos
seus alunos, deve elaborar um plano de ação

34 capítulo 3
que garanta sua participação e aprendizagem
nas atividades escolares, definindo que tipo de
atendimento ele precisa, selecionando o tipo
de recurso a ser utilizado, a duração e fre-
quência do atendimento, se serão atendidos
individualmente ou em pequenos grupos - se
suas necessidades são comuns a todos, entre
outros elementos.

São conteúdos do AEE: Língua Brasileira de Si-


nais – LIBRAS; Tadoma; Língua Portuguesa na
modalidade escrita; Sistema Braille; Orienta-
ção e mobilidade; Informática acessível; Soro-
bã (ábaco); Estimulação visual; Comunicação
Alternativa e Aumentativa - CAA; Desenvolvi-
mento de processos educativos que favoreçam ra, tais como impressora Braille, máquina de
a atividade cognitiva. datilografia Braille, reglete de mesa, punção,
soroban, guia de assinatura, globo terrestre
As salas de Recursos Multifuncionais foram im- acessível, kit de desenho geométrico acessível,
plantadas através da Portaria Nº 13, de 24 de calculadora sonora, software para produção
abril de 2007, para o atendimento aos alunos de desenhos gráficos e táteis.
público-alvo da educação especial em turno
contrário à escolarização. Essas salas são or-
ganizadas com mobiliários, materiais didáti-
cos e pedagógicos acessíveis (livros, desenhos,
mapas, gráficos e jogos táteis, em LIBRAS, em
Braille, em caractere ampliado, com contras-
te visual, imagéticos, digitais, entre outros);
Tecnologias de Informação e de Comunicação
(TICS) acessíveis (mouses e acionadores, tecla-
dos com colmeias, sintetizadores de voz, linha
Braille, entre outros); e Recursos ópticos; pran-
chas de CAA, engrossadores de lápis, ponteira
de cabeça, plano inclinado, tesouras acessí-
veis, quadro magnético com letras imantadas,
entre outros.

O Programa de Implantação de Salas de Re-


cursos Multifuncionais disponibiliza salas do
Tipo I e do Tipo II, conforme a demanda dos
alunos participantes do AEE. As Salas de Re-
cursos Multifuncionais Tipo I são constituídas
de microcomputadores, monitores, fones de
ouvido e microfones, scanner, impressora la-
ser, teclado e colmeia, mouse e acionador de
pressão, laptop, materiais e jogos pedagógicos
acessíveis, software para comunicação alterna-
tiva, lupas manuais e lupa eletrônica, plano in-
clinado, mesas, cadeiras, armário, quadro me-
lanínico. As Salas de Recursos Multifuncionais Fig. 1 - Tesoura acessível, lupa, engrossador de lápis,
Tipo II são constituídas dos recursos da sala colméia para teclado.
Tipo I acrescidos de outros recursos específicos
para o atendimento de alunos com ceguei-

capítulo 3 35
• Momento do Atendimento Educacional
Especializado para o ensino de Libras na
escola comum, no qual os alunos com surdez te-
rão aulas de Libras, favorecendo o conhecimento
e a aquisição, principalmente, de termos científi-
cos. Esse trabalhado é realizado pelo professor e/
ou instrutor de Libras (preferencialmente surdo),
de acordo com o estágio de desenvolvimento da
Língua de Sinais em que o aluno se encontra.
O atendimento deve ser planejado com base no
diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a
respeito da Língua de Sinais.
1.1. SERVIÇOS DE APOIO
PEDAGÓGICO • Momento do Atendimento Educacio-
ESPECIALIZADO nal Especializado para o ensino da Lín-
PARA PESSOAS SURDAS gua Portuguesa, no qual são trabalhadas as
especificidades dessa língua para pessoas com
surdez. Esse trabalho é realizado todos os dias
As pessoas surdas enfrentam inúmeros entra- para os alunos com surdez, à parte das aulas da
ves para participar da educação escolar, devi- turma comum, por uma professora de Língua
do à forma como se estruturam as propostas Portuguesa, graduada nessa área preferencial-
educacionais das escolas. Existem posições mente. O atendimento deve ser planejado com
base no diagnóstico do conhecimento que o alu-
contrárias à inclusão de alunos com surdez nas
no tem a respeito da Língua Portuguesa.
turmas comuns, em decorrência da compreen-
são das formas de representação da surdez
O planejamento do AEE é elaborado e desen-
como incapacidade ou das propostas peda-
volvido conjuntamente pelos professores que
gógicas desenvolvidas tradicionalmente para
ministram aulas em Libras, professor de clas-
atendê-las que não consideram a diversida-
se comum e professor de Língua Portuguesa
de linguística. Como as práticas pedagógicas
como segunda língua:
constituem o maior problema na escolarização
das pessoas surdas, torna-se urgente repensar No planejamento para as aulas em Libras, há que
essas práticas, para que esses alunos não acre- se fazer o estudo dos termos científicos do con-
ditem que suas dificuldades para o domínio teúdo a ser estudado nessa língua. Cada termo
da leitura e da escrita são advindas dos limites é estudado, o que amplia e aprofunda o voca-
bulário. Na sequência, todos os professores se-
que a surdez lhes impõe, mas principalmente lecionam e elaboram os recursos didáticos para
pelas metodologias adotadas para ensiná-los. o Atendimento Educacional Especializado em
Libras e em Língua Portuguesa, respeitando as
O trabalho pedagógico com alunos surdos nas diferenças entre os alunos com surdez e os mo-
escolas comuns deve ser desenvolvido em um mentos didático-pedagógicos em que serão utili-
ambiente bilíngue, ou seja, em um espaço em zados. (DAMÁZIO, 2007)
que se utilize a Língua de Sinais e a Língua Por-
tuguesa. pretende-se no Atendimento Educacional Es-
pecializado:
Conforme Damázio(2007), para a execução do
Atendimento Educacional Especializado aos • fornecer a base conceitual da Libras e do
alunos surdos, é indicado um período adicio- conteúdo curricular estudado na sala de
nal de horas diárias de estudo. Nele destacam- aula comum, favorecendo ao aluno surdo
-se três momentos didático-pedagógicos: a compreensão desse conteúdo;

• Momento do Atendimento Educacional • ensinar e enriquecer os conteúdos curri-


Especializado em Libras na escola comum, culares, promovendo a aprendizagem dos
em que todos os conhecimentos dos diferentes alunos com surdez na turma comum;
conteúdos curriculares são explicados nessa lín-
gua por um professor, sendo este preferencial- • desenvolver a competência gramatical ou lin-
mente surdo. Esse trabalho é realizado todos os
dias e destina-se aos alunos com surdez.
guística bem como textual nas pessoas com
surdez, para que sejam capazes de gerar se-
quências linguísticas bem formadas.

36 capítulo 3
1.2. SERVIÇOS DE APOIO
PEDAGÓGICO
ESPECIALIZADO
PARA PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA MENTAL
Pela complexidade do seu conceito e pela
grande quantidade e variedade de abordagem
deste, a deficiência mental constitui um impas-
se para o ensino na escola comum e para a
definição do AEE. Gomes(2007) destaca que

A deficiência mental desafia a escola comum no


seu objetivo de ensinar, de levar o aluno a apren-
der o conteúdo curricular, construindo o conhe-
cimento. O aluno com essa deficiência tem uma
maneira própria de lidar com o saber, que não
corresponde ao que a escola preconiza. Na ver- seja incentivado a se expressar, pesquisar, in-
dade, não corresponder ao esperado pela escola ventar hipóteses e reinventar o conhecimento
pode acontecer com todo e qualquer aluno, mas
os alunos com deficiência mental denunciam a
livremente. Assim, ele pode trazer para os
impossibilidade de a escola atingir esse objetivo atendimentos os conteúdos advindos da sua
de forma tácita. Eles não permitem que a escola própria experiência, segundo seus desejos,
dissimule essa verdade. As outras deficiências não necessidades e capacidades. O exercício da
abalam tanto a escola comum, pois não tocam
atividade cognitiva ocorrerá com base nesses
no cerne e no motivo da sua urgente transforma-
ção: considerar a aprendizagem e a construção conteúdos.
do conhecimento acadêmico como uma conquis-
ta individual e intransferível do aprendiz, que não É função do professor do AEE organizar situa-
cabe em padrões e modelos idealizados. ções que favoreçam o desenvolvimento do alu-
no com deficiência intelectual e que estimulem
O Atendimento Educacional Especializado não é o desenvolvimento cognitivo e da aprendiza-
reforço escolar. Ele não deve ser uma atividade gem. É também seu papel produzir materiais
que tenha como objetivo o ensino escolar especial didáticos e pedagógicos, tendo em vista as
adaptado para desenvolver conteúdos acadêmi- necessidades específicas desses alunos na sala
cos, tais como a Língua Portuguesa, a Matemáti- de aula do ensino regular. Esse trabalho deve
ca, entre outros. O AEE refere-se à forma pela se realizar focalizando as atitudes do aluno
qual o aluno trata todo e qualquer conteúdo que diante da aprendizagem e propiciar o desen-
lhe é apresentado e como consegue significá-lo, volvimento de ferramentas intelectuais que fa-
ou seja, compreendê-lo. Portanto, para os alunos cilitarão sua interação escolar e social.
com deficiência mental, o AEE tem como obje-
tivo “propiciar condições e liberdade para que o No trabalho do AEE, o professor exerce um
aluno com deficiência mental possa construir a papel importante na construção do conheci-
sua inteligência, dentro do quadro de recursos mento do aluno. O aluno com deficiência in-
intelectuais que lhe é disponível, tornando-se telectual constrói conhecimentos exercitando
agente capaz de produzir significado/conhe- sua atividade cognitiva, que é estimulada pela
cimento” (GOMES, 2007). Com relação à Língua intervenção intencional desse professor. Para
Portuguesa e à Matemática, o AEE buscará o possibilitar a produção do saber, ele pode ser
conhecimento que permite ao aluno a leitura, a realizado em grupos, porém é preciso estar
escrita e a quantificação, sem o compromisso de atento às formas específicas de cada aluno se
sistematizar essas noções, como é o objetivo da relacionar com o saber. Esses grupos devem
escola. ser constituídos de alunos que pertencem à
mesma faixa etária e se apresentem em vários
Esse atendimento deve oferecer todas as opor- níveis do processo de conhecimento.
tunidades possíveis, para que nos espaços
educacionais em que ele acontece, o aluno

capítulo 3 37
Lupas manuais ou lupas de mesa e de
apoio: úteis para ampliar o tamanho de fontes
para a leitura, as dimensões de mapas, gráficos, dia-
gramas, figuras etc. Quanto maior a ampliação do
tamanho, menor o campo de visão com diminuição
da velocidade de leitura e maior fadiga visual.

Além dos recursos ópticos, os alunos de baixa


visão devem fazer uso dos auxílios não-ópti-
cos. Os auxílios não-ópticos referem-se às mu-
1.3. SERVIÇOS DE danças relacionadas ao ambiente, ao mobil-
APOIO PEDAGÓGICO iário, à iluminação e aos recursos para leitura e
ESPECIALIZADO escrita, como contrastes e ampliações, usados
de modo complementar ou não aos auxílios
PARA PESSOAS COM
ópticos, com a finalidade de melhorar o fun-
BAIXA VISÃO E CEGUEIRA cionamento visual. Incluem-se, também, auxí-
lios de ampliação eletrônica e de informática.
O aluno com baixa visão usa ou tem a pos-
Conforme Sá, Campos e Silva (2007), são auxí-
sibilidade de usar a visão para a realização de
lios não-ópticos:
atividades escolares e outras fora dela. No AEE,
com relação a esse aluno, o professor deve
Tipos ampliados: ampliação de fontes, de si-
considerar as características individuais, as nais e símbolos gráficos em livros, apostilas, tex-
reações emocionais, o tipo de perda, o tempo tos avulsos, jogos, agendas, entre outros.
decorrido desde a ocorrência do déficit visual,
as experiências visuais vivenciadas e aceitação Acetato amarelo: diminui a incidência de cla-
frente à deficiência visual. Assim, não se deve ridade sobre o papel.
estabelecer procedimentos padronizados ou
Plano inclinado: carteira adaptada, com a
uso desses recursos para todos os alunos com mesa inclinada para que o aluno possa realizar as
baixa visão. O atendimento é individualizado, atividades com conforto visual e estabilidade da
com base nas peculiaridades deste. coluna vertebral.

Segundo Sá, Campos e Silva (2007), para que Acessórios: lápis 4B ou 6B, canetas de ponta
o aluno com baixa visão desenvolva a capaci- porosa, suporte para livros, cadernos com pautas
pretas espaçadas, tiposcópios (guia de leitura),
dade de enxergar, o professor deve “despertar gravadores.
o seu interesse em utilizar a visão potencial,
desenvolver a eficiência visual, estabelecer o Softwares com magnificadores de tela e Pro-
conceito de permanência do objeto e facilitar gramas com síntese de voz.
a exploração dirigida e organizada”.
Chapéus e bonés: ajudam a diminuir o reflexo
da luz em sala de aula ou em ambientes externos.
Ao professor do AEE cabe contribuir para que
o aluno compreenda a relevância do uso dos Circuito fechado de televisão – CCTV:
recursos ópticos, solicitando a colaboração da aparelho acoplado a um monitor de TV monocro-
família e do professor do ensino comum para a mático ou colorido, que amplia até 60 vezes as
realização desse objetivo. São recursos ópticos: imagens e as transfere para o monitor.

Recursos ópticos para longe: telescópio: Para a pessoa cega, a discriminação tátil é uma
usado para leitura no quadro-negro, restringem habilidade básica que deve ser desenvolvida de
muito o campo visual; telessistemas, telelupas e
forma contextualizada e significativa. O tato é
lunetas.
uma via alternativa de acesso e processamento
Recursos ópticos para perto: óculos espe- de informações que não deve ser negligencia-
ciais com lentes de aumento que servem para da na educação.
melhorar a visão de perto. (óculos bifocais, lentes
esferoprismáticas, lentes monofocais esféricas, O AEE de alunos cegos deve constar de orien-
sistemas telemicroscópicos).
tação e mobilidade, ensino do Braille, sorobã e
informática acessível.

38 capítulo 3
Fig. 4 - Máquina de Braille.

O sorobã é um instrumento de cálculo, for-


mado por continhas de madeira ou de plástico
enfiadas em arames. Ele é vantajoso como
material de apoio ao ensino da matemática
por ser um recurso tátil, de fácil manejo e de
custo reduzido. Com ele, o estudante aprende
Fig. 2 - Mapa Tátil do Continente Americano. concretamente os fundamentos da matemáti-
ca, as ordens decimais e seus respectivos va-
lores, as quatro operações como também os
A orientação e mobilidade tem como objeti- cálculos mais complexos.
vo fazer com que a pessoa cega use todos os
outros sentidos de uma forma coordenada e Sá, Campos e Silva (2007) apresentam os meios
constante que a levem a saber onde está, por
onde deve ir e como reconhecer os vários lo-
cais. Dentro da proposta do AEE, no que tange
à orientação e mobilidade, caberá ao professor
especializado proporcionar a esse aluno o con-
hecimento dos espaços da escola.
Fig. 5 - Sorobã.

O ensino do braille deve ser introduzido grad-


ualmente, no contexto das atividades prelimi- informáticos como facilitadores das atividades
nares à leitura, considerando o interesse, a de educadores e educandos, já que esses pos-
habilidade e a necessidade do aluno. A escrita sibilitam a comunicação, a pesquisa e o acesso
braille é realizada por meio do(da): ao conhecimento. Eles destacam os programas
mais conhecidos e difundidos no Brasil, para
Punção - é um pino com uso das pessoas cegas:
ponta de metal afiada. É
com o punção que a pes- DOSVOX: sistema operacional desenvolvido
soa escreve; pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro. Possui um
Reglete - é uma régua de conjunto de ferramentas e aplicativos próprios,
madeira, metal ou plástico além de agenda, chat e jogos interativos. Pode
com um conjunto de celas Fig. 3- Punção e reglete. ser obtido gratuitamente, por meio de “down-
braille dispostas em linhas load”, com base no site do projeto DOSVOX:
horizontais, sobre uma base plana. O papel http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox;
fica preso entre essa régua. Com o punção,
perfuram-se os pontos que formarão as pala- VIRTUAL VISION: é um software brasileiro de-
vras em alto relevo; senvolvido pela Micropower em São Paulo,
concebido para operar com os utilitários e
Máquina braille - é a máquina de escrever as ferramentas do ambiente Windows. É dis-
usada pelas pessoas cegas. Possui nove teclas. tribuído gratuitamente pela Fundação Brades-
Para digitar, basta fazer as combinações de co e Banco Real para usuários cegos. No mais,
pontos em relevo, pressionando as teclas. é comercializado. Mais informações no site da
empresa: http://www.micropower.com.br;

capítulo 3 39
a. Uso da Comunicação Aumentativa e Alternati-
va, para atender às necessidades dos educandos
com dificuldades de fala e de escrita;

b. Adequação dos materiais didático-pedagógi-


cos às necessidades dos educandos, tais como
engrossadores de lápis, quadro magnético com
letras com ímã fixado, tesouras adaptadas, entre
outros;

c. Desenvolvimento de projetos em parceria com


profissionais da arquitetura, engenharia, técnicos
em edificações para promover a acessibilidade ar-
quitetônica. Não é uma categoria exclusivamente
JAWS: software desenvolvido nos Estados Uni- de responsabilidade dos professores especializa-
dos e mundialmente conhecido como o leitor dos que atuam no AEE. No entanto, são os pro-
de tela mais completo e avançado. Possui uma fessores especializados, apoiados pelos diretores
ampla gama de recursos e ferramentas com escolares, que levantam as necessidades de aces-
sibilidade arquitetônica do prédio escolar;
tradução para diversos idiomas, inclusive para
o português. No Brasil, não há alternativa de d. Adequação de recursos da informática: tecla-
subvenção ou distribuição gratuita do Jaws, do, mouse, ponteira de cabeça, programas espe-
que é o mais caro entre os leitores de tela exis- ciais, acionadores, entre outros;
tentes no momento. Outras informações sobre
esse software estão disponíveis em: e. Uso de mobiliário adequado: os professores
especializados devem solicitar à Secretaria de
http://www.lerparaver.com Educação adequações de mobiliário escolar, con-
http://www.laramara.org.br forme especificações de especialistas na área:
mesas, cadeiras, quadro, entre outros, bem como
1.4. SERVIÇOS DE APOIO os recursos de auxílio à mobilidade: cadeiras de
PEDAGÓGICO ESPECIALIZADO rodas, andadores, entre outros.
PARA PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA FÍSICA Os alunos com necessidades educacionais es-
peciais, como os paralisados cerebrais, que são
Para o aluno com deficiência física ser incluso, falantes funcionais ou não falantes1 , necessi-
é necessário criar condições adequadas à sua tam do uso da Comunicação Aumentativa e
locomoção, comunicação, ao seu conforto e Alternativa – CAA.
à sua segurança. Assim, ele terá acesso ao co-
nhecimento escolar e poderá interagir com o Saiba Mais:
ambiente o qual frequenta.
Para saber mais, leia Atendimento Educacional
O Atendimento Educacional Especializado Especializado-deficiência física, disponível em
para esse educando deverá realizar uma sele-
ção de recursos e técnicas adequados a cada http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/
tipo de comprometimento para o desempenho pdf/aee_df.pdf
das atividades escolares. O objetivo, segundo
Schirmer et al.(2007), é que “o aluno tenha um
A Comunicação Aumentativa e Alternativa – CAA
atendimento especializado capaz de melhorar é uma das áreas da tecnologia assistiva, que aten-
a sua comunicação e a sua mobilidade”. de pessoas sem fala ou escrita funcional ou em
defasagem entre sua necessidade comunicativa
Ainda, de acordo com Schirmer, o “Atendimen- e sua habilidade em falar e/ou escrever. Busca,
então, através da valorização de todas as formas
to Educacional Especializado faz uso da Tec- expressivas do sujeito e da construção de recursos
nologia Assistiva direcionada à vida escolar do próprios desta metodologia, construir e ampliar
educando com deficiência física, visando à re- sua via de expressão e compreensão. (BERSCH e
alização de tarefas acadêmicas e à adequação SCHIRMER, 2005 apud Schirmer et al., 2007)
do espaço escolar”. São tecnologias assistivas: 1 Pessoas são consideradas não-falantes em duas situações: quando
apresentam um comprometimento severo na fala por problemas físicos,
neuromusculares, cognitivos ou déficits emocionais e não possuem pre-
juízos na audição; quando, no presente tempo, usam fala independente
como primeira forma de comunicação, porém não são compreendidos
por outras pessoas que não são de convívio muito próximo. Nesta situ-
ação, podemos incluir pessoas com prejuízos sensoriais.

40 capítulo 3
Assim, a comunicação é considerada aumen-
tativa quando o indivíduo possui alguma for-
ma de comunicação, mas esta não é suficiente
para manter elos comunicativos e estabelecer
trocas sociais; e alternativa quando o indivíduo
não apresenta outra forma de comunicação.

É função do professor do AEE possibilitar uma


via de comunicação na qual o aluno possa ex-
pressar seus sentimentos, questionamentos e
desejos. Com isso, ele passará da situação de que afetam, mais ou menos intensamente, o
não comunicador ou de comunicador passivo funcionamento individual e o relacionamento
para a situação de agente de comunicação. social.” (MEC/SEESP, 2002)

1.5. SERVIÇOS DE APOIO As pessoas com deficiência múltipla têm carac-


PEDAGÓGICO terísticas específicas que desafiam o professor
ESPECIALIZADO da escola comum e o do AEE a elaborarem si-
tuações de aprendizagem que, de fato, levem
PARA PESSOAS COM a resultados positivos. São alunos com caracte-
SURDOCEGUEIRA rísticas específicas e peculiares e, consequente-
E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA mente, com necessidades únicas.
As pessoas com surdocegueira têm dificuldade A interação do professor do AEE com o da es-
em observar, compreender e imitar o compor- cola comum visa compartilhar informações,
tamento de membros da família ou de outros orientações e realizar a avaliação conjunta das
que venham a entrar em contato em razão da necessidades do aluno e das adequações es-
combinação das perdas visuais e auditivas que pecíficas para os alunos com surdocegueira e
apresentam. com deficiência múltipla.
Por isso, são importantes estratégias de inter-
1.6. SERVIÇOS DE APOIO
venção para o estabelecimento da comunica-
ção com a criança com surdocegueira as téc-
PEDAGÓGICO
nicas “mão-sobre-mão” e “mão-sob-mão”. Na ESPECIALIZADO
primeira, a mão do professor é colocada em PARA PESSOAS COM
cima da mão do aluno, de forma a orientar o ALTAS HABILIDADES/
seu movimento. O professor tem o controle da SUPERDOTAÇÃO
situação. Na segunda, a mão do professor é
colocada embaixo da mão do aluno, de modo Sempre que falamos em superdotação, vem à
a orientar o seu movimento, mas não a contro- nossa mente a imagem daquela pessoa preco-
la, convida a pessoa com deficiência a explorar ce, que resolve qualquer tipo de problema, do-
com segurança. mina muitos assuntos e está sempre às voltas
com livros, fórmulas ou questões filosóficas.
Para a aprendizagem se efetivar, é necessário
incentivar e ensinar a pessoa com surdoceguei- Por termos essa ideia a respeito das pessoas
ra a usar sua visão e audição residuais, assim com altas habilidades, consideramos que elas
como outros sentidos remanescentes, proven- sozinhas são capazes de superar todos os obs-
do-a de informações sensoriais necessárias que táculos que a vida lhes oferece, não sendo, as-
suscitem sua curiosidade. sim, necessário um atendimento especializado.

São consideradas pessoas com deficiência Entretanto, essas pessoas também têm neces-
múltipla aquelas que “têm mais de uma defici- sidades educacionais especiais, que precisam
ência associada. É uma condição heterogênea, ser atendidas por profissionais especializados
que identifica diferentes grupos de pessoas, e professores com boa formação, a fim de que
revelando associações diversas de deficiências seu potencial se desenvolva plenamente.

capítulo 3 41
ticulação com programas das diferentes áreas,
o trabalho colaborativo com a educação regu-
lar, a interface com a família e a promoção da
acessibilidade, quando necessário”.

1.7. SERVIÇOS DE APOIO


PEDAGÓGICO
ESPECIALIZADO
PARA PESSOAS COM
TRANSTORNO GLOBAL
DO DESENVOLVIMENTO
Nesse sentido, o professor do AEE em intera-
ção com o professor da sala de aula comum O Transtorno Global
define o plano de atendimento, “contemplan- do Desenvolvimento
do a seleção e a organização de recursos e ser- - TGD diz respeito a
viços para a estimulação e o desenvolvimento diferentes transtornos
das altas habilidades/superdotação bem como que têm em comum as
a articulação de redes de colaboração, infor- funções do desenvolvi-
mação e conhecimento em diversas áreas que mento afetadas quali-
suplementam a proposta curricular.” (ROSA et tativamente. São eles:
al., 2008) Autismo, Síndrome de
Fig. 6
Rett, Transtorno ou
Delpretto, Giffoni e Zardo(2010) destacam Síndrome de Asperger,
que, em virtude dos interesses e das habilida- Transtorno Desintegrativo da Infância e Trans-
des dos alunos com altas habilidades/superdo- torno Global do Desenvolvimento sem outra
tação, os objetivos do AEE são definidos por: especificação. Quando falamos de alunos com
TGD, estamos falando de crianças e adoles-
a. Maximizar a participação do aluno na classe centes que, embora apresentem prejuízos nas
comum do ensino regular, beneficiando-se da in- mesmas áreas do desenvolvimento, podem ser
teração no contexto escolar; muito diferentes entre si.

b. Potencializar a(s) habilidade(s) demonstrada(s) A oportunidade de pertencer à escola para


pelo aluno por meio do enriquecimento curricular
previsto no plano de atendimento individual; aqueles que apresentam Transtornos Globais
do Desenvolvimento é muito recente. Por se
c. Expandir o acesso do aluno a recursos de tec- tratar de algo tão recente, as estratégias para
nologia, materiais pedagógicos e bibliográficos garantir o direito dessas crianças à educação
de sua área de interesse; se encontram ainda em gestação.
d. Promover a participação do aluno em ativida- Segundo Belisário Filho e Cunha (2010), o pro-
des voltadas à prática da pesquisa e desenvolvi-
mento de produtos; e fessor do AEE poderá contribuir:

e. Estimular a proposição e o desenvolvimento de orientando os profissionais da escola na elabora-


projetos de trabalho no âmbito da escola, com ção das estratégias no cotidiano escolar, na ela-
temáticas diversificadas, como artes, esporte, ci- boração de recursos e na organização da rotina,
de acordo com as peculiaridades de cada aluno e
ências e outras.
de cada escola; e propondo práticas novas, pau-
tadas na conciliação da organização do trabalho
E, entre as atribuições dos professores do AEE e dos tempos escolares ao tempo e necessidade
para a promoção e o desenvolvimento das al- dos alunos.
tas habilidades/superdotação, são compreen-
didas: “a elaboração do plano de atendimento Os discentes com Transtornos Globais do
dos alunos, a produção de materiais didático- Desenvolvimento deverão frequentar o AEE
-pedagógicos específicos, a identificação e a quando forem identificadas necessidades edu-
disponibilização de recursos de serviços, a ar- cacionais específicas que demandem a oferta

42 capítulo 3
desse atendimento, beneficiando-se das ativi-
dades e dos recursos pedagógicos e de acessi-
bilidade, disponibilizados nas salas de recursos
multifuncionais.

Para concluir este nosso estudo, fica uma su-


gestão: dê atenção aos Transtornos Globais
do Desenvolvimento, pois estes facilmente são
confundidos com problemas disciplinares, não
podendo, no entanto, receber tratamento pu-
nitivo, o qual só contribui para agravá-los.

RESUMO Atividades:
O atendimento Educacional Especializado é 1. Leia o texto “A Escola de Atenção às Dife-
garantia de inclusão, e o professor especializa- renças”, de Rita Vieira de Figueiredo, para
do tem um importante papel quando atua, de complementar seus estudos sobre os serviços
de apoio pedagógico especializado. O texto
forma colaborativa, com o professor da classe está disponível em
comum, definindo as estratégias pedagógicas
e disponibilizando recursos que favoreçam o <http://bancodeescola.com/a-escola-de-aten-
acesso do aluno ao currículo comum, sua inte- cao-as-diferencas.htm>
ração no grupo, participação em todos os pro-
jetos e atividades pedagógicas e acesso físico 2. Você conhece alguma escola que tem o ser-
viço de Atendimento Educacional Especial?
aos espaços da escola.
Busque conversar com profissionais que já es-
Os professores especialistas que atuam nas tejam desenvolvendo esse atendimento para
salas multifuncionais têm ainda como função complementar seus estudos.
preparar os materiais específicos e ensinar os
alunos a utilizarem recursos de tecnologia as-
sistiva, como os materiais escolares e pedagó-
gicos adaptados, comunicação alternativa, re-

REFERÊNCIAS
cursos de acessibilidade ao computador, entre
outros.

É interessante considerar que os serviços espe- BELISÁRIO FILHO, J.F.; CUNHA, P. A Educação
cializados e o atendimento das necessidades Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar:
específicas dos alunos garantidos pela lei ainda transtornos globais do desenvolvimento. Brasí-
estão longe de serem alcançados. Identifica- lia: MEC/SEESP; [Fortaleza]: Universidade Fede-
mos, no interior da escola, a carência de recur- ral do Ceará, 2010.
sos pedagógicos e a fragilidade da formação
dos professores para trabalhar com a diversi- BOSCO, I.C.M.G.; MESQUITA, S.R.S.H.; MAIA,
dade. Em lei, muitas conquistas foram alcan- S.R. A Educação Especial na Perspectiva da
çadas. Entretanto, precisamos garantir que Inclusão Escolar: surdocegueira e deficiência
essas conquistas, expressas nas leis, realmente múltipla. Brasília: MEC/SEESP; [Fortaleza]: Uni-
possam ser efetivadas na prática do cotidiano versidade Federal do Ceará, 2010.
escolar, pois o governo não tem conseguido
garantir a democratização do ensino, impe- DAMÁZIO, M.F.M. Atendimento Educacional
dindo o acesso, a permanência e o sucesso de Especializado - pessoa com surdez. SEESP/
todos os alunos na escola. SEED/MEC. Brasília/DF – 2007.

DELPRETTO, B. M. L; GIFFONI, F. A.; ZARDO,


S. P. A Educação Especial na Perspectiva da In-

capítulo 3 43
clusão Escolar: altas habilidades/superdotação.
Brasília: MEC/SEESP; [Fortaleza]: Universidade
Federal do Ceará, 2010.

DOMINGUES, C. A. et al. A Educação Especial


na Perspectiva da Inclusão Escolar: os alunos
com deficiência visual: baixa visão e cegueira.
Brasília: MEC/SEEP, [Fortaleza]: Universidade
Federal do Ceará, 2010.

GOMES, A.L. et al. Atendimento Educacional


Especializado - deficiência mental. SEESP/SEED
/ MEC. Brasília/DF – 2007.

ROPOLI, E.A. et. tal. A Educação Especial na


Perspectiva da Inclusão Escolar: a escola co-
mum inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, [Fortale-
za]: Universidade Federal do Ceará, 2010.

ROSA, S.P.S. et al. Fundamentos Teóricos e Me-


todológicos da Inclusão. Curitiba: IESDE Brasil
S.A., 2008.

SÁ, E. D.; CAMPOS, I.M.; SILVA, M.B.C. Atendi-


mento Educacional Especializado - deficiência
visual. SEESP/SEED/MEC. Brasília/DF – 2007.

SCHIRMER, C. R. et al. Atendimento Educa-


cional Especializado - deficiência física. SEESP/
SEED/MEC. Brasília/DF – 2007.

CRÉDITO DAS IMAGENS

Figura 1
http://itaprodutos.wordpress.com/2009/06/23/

Figura 2
http://www.mundoacessivel.com/cae-dv/ma-
teriais.php

Figuras 3 e 4
http://intervox.nce.ufrj.br/~fabiano/braille.htm

Figura 5
http://cegueiratotal.blogspot.com/2009/12/
soroban.html

Figura 6
http://www.universoautista.com.br/autismo/
modules/news/article.php?storyid=70

44 capítulo 3
A PRÁTICA
PEDAGÓGICA,
A FORMAÇÃO
DO PROFESSOR
E A EDUCAÇÃO
INCLUSIVA

Profª. Nadjane Coelho de Alencar OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Carga Horária | 15 horas
• Discutir as peculiaridades dos aspectos pe-
dagógicos – currículo, metodologia e ava-
liação - no contexto da educação inclusiva;

• Refletir sobre o currículo e as adequações


necessárias para atender às necessidades
educacionais especiais dos alunos;

• Estimular o processo de construção da au-


tonomia intelectual do professor.

INTRODUÇÃO
A diversidade no contexto escolar evidencia a necessidade de discutirmos a prática pedagógica
efetivada pelos sistemas educacionais assim como os significados dados aos processos de ensino-
aprendizagem desenvolvidos pelos professores, para que mudanças estruturais, organizacionais e
metodológicas aconteçam e respondam às necessidades educacionais de todos os alunos.

A Educação Inclusiva, entendida sob a dimensão curricular, significa que o aluno com necessi-
dades especiais deve fazer parte da classe regular, aprendendo as mesmas coisas que os outros
– mesmo que de modos diferentes – cabendo ao professor fazer as necessárias adaptações.

Portanto, a formação do professor precisa ser ampliada, enfatizando a dimensão pedagógica


voltada para os aspectos da prática cotidiana e orientando o trabalho docente na perspectiva da
diminuição gradativa da exclusão escolar, o que virá a beneficiar não apenas os alunos com neces-
sidades especiais mas também, de uma forma geral, a educação escolar como um todo.

Frente a esse desafio, estudaremos, neste último capítulo de nossa disciplina, os aspectos ped-
agógicas no contexto da educação inclusiva bem como a formação do professor.

capítulo 4 45
O Projeto Curricular da Escola enfocará a diver-
sidade como um elemento comum e não como
diferença de uma parte dos alunos em relação
à outra. Suas diretrizes afetarão todos e cada
um dos alunos e não somente aqueles com di-
ficuldades de ritmo, de capacidade, de moti-
vação e de estilos de aprendizagem. Com esse
enfoque, a qualidade do ensino se fortalece.

Na Educação Inclusiva, todos os alunos devem

1. CURRÍCULO ter a garantia de acesso a um currículo comum


com níveis diversificados, dando-lhes a opor-
tunidade de se envolverem, de forma positiva,
Entende-se por currículo o conjunto de expe- nas atividades em classe. O currículo comum é
riências, vivências e atividades desenvolvidas um meio para ajudar a igualdade de oportuni-
na escola. É um guia orientador da prática dade, mas ele não funciona isolado de todo o
pedagógica, um documento estruturado de resto da escola. Existem outros aspectos em re-
ensino-aprendizagem, o qual inclui objetivos, lação à sala de aula e à escola que influenciam
conteúdos, sequência de ações a serem de- a efetividade e o direcionamento do currículo
senvolvidas, metodologia e formas de avaliar, oferecido e de sua influência na promoção da
conforme Coll (1996 apud EDLER CARVALHO, Educação Inclusiva.
2010):
O Projeto Político-Pedagógico - PPP, por exem-
[…] o currículo é o projeto que preside as ativi- plo, pode ser a resposta para a formulação de
dades educativas escolares, define suas intenções
e proporciona guias de ação adequadas e úteis currículos diferenciados - que contemplem as
para os professores que são diretamente respon- possibilidades e potencialidades de cada indi-
sáveis pela sua execução. Para isso, o currículo víduo no contexto escolar. O PPP representa a
proporciona informações concretas sobre o que identidade da escola, sua filosofia de educação
ensinar, quando ensinar, como ensinar e como e
e as intenções que pretende concretizar, por-
quando avaliar. (Grifo da autora)
tanto é um poderoso instrumento para que o
currículo estabelecido possa receber as adap-
Sendo um dos elementos-chave para o sucesso
tações necessárias a fim de que atinja o obje-
educacional dos estudantes, o currículo preci-
tivo da Educação Inclusiva.
sa ser aberto, flexível e estar em permanente
construção. Não é um currículo fechado, de es-
trutura linear, com cunho predominantemente Saiba Mais:
conteudista, baseado em memorizações que
vai efetivar a inclusão. Esse currículo estanque, PPP - Entendido como um conjunto de decisões
sustentado na homogeneidade, não é mais tomadas pela comunidade acadêmica - gestores,
aceito, pois é um professores, apoio administrativo, representantes
potente recurso das famílias, da comunidade e do corpo discen-
de exclusão, haja te - e não, como um documento escrito por um
grupo de técnicos da escola.
vista não permi-
tir espaço para
discussões que
levem às adapta- Quando a escola elabora, com autonomia e de
ções curriculares forma participativa, o seu PPP, ela faz um diag-
necessárias para nóstico de sua demanda (quem são, quantos
o atendimento à são os alunos, onde estão e por que alguns
diversidade pre- evadiram, se têm dificuldade de aprendiza-
sente na sala de gem, de frequentar as aulas etc), assim como
aula. dos recursos humanos, materiais e financeiros
Fig. 1 disponíveis.

46 capítulo 4
Segundo a cartilha organizada pelo Ministério
Público Federal (2004), é de suma importância
que a escola elabore o seu PPP com o objetivo
de estabelecer prioridades de atuação, objeti-
vos, metas e responsabilidades que vão definir
o seu plano de ação:

Sem que a escola conheça os seus alunos e os que


estão à margem dela, não será possível elaborar
um currículo escolar que reflita o meio social e
cultural em que se insere. A integração entre as
áreas do conhecimento e a concepção transver- f. o encorajamento de todos os alunos a ler histó-
sal das novas propostas de organização curricular rias ou informações do interesse deles e em seus
transformam as disciplinas acadêmicas em meios níveis de capacidade individual, e escrever (ou co-
e não em fins da educação escolar. As propostas municar de alguma outra maneira) informações
curriculares reconhecem e valorizam os alunos importantes para eles.
em suas peculiaridades étnicas, de gênero, cul-
tura; partem de suas realidades de vida, de suas
experiências, de seus saberes, fazeres e vão sendo Nessa perspectiva, o currículo torna-se eficaz
tramadas em redes de conhecimento que supe- quando apresenta uma estruturação que facil-
ram a tão decantada sistematização do saber. ita e oportuniza aos alunos o desenvolvimento
de competências e habilidades para lidar com
Para Stainback e Stainback (1999), na elabora- as características da sociedade atual, que en-
ção de um currículo inclusivo, alguns aspectos fatiza a autonomia do aluno para a busca de
são imprescindíveis, como: novas compreensões por meio da produção de
ideias e de ações criativas e colaborativas. A es-
a. o reconhecimento do aluno como o centro da cola deve propiciar ao aluno encontrar sentido
aprendizagem. A perspectiva holística começa e funcionalidade naquilo que constitui o foco
com o aluno e é construída a partir de suas po- dos estudos em cada situação da sala de aula,
tencialidades para facilitar a aprendizagem;
instigando a curiosidade. Essa forma de apre-
b. a ênfase reduzida em remediar os déficits e nder contextualizada é que permite ao edu-
as diferenças. Esses são tratados à medida que cando relacionar aspectos presentes na vida
os alunos se animam com a aprendizagem e se pessoal, social e cultural, mobilizando as com-
envolvem em projetos e atividades significativas; petências cognitivas e emocionais já adquiri-
das para novas possibilidades de reconstrução
c. o reconhecimento de que o conteúdo do currí- do conhecimento. Portanto, o currículo deve
culo deve levar em conta a natureza dinâmica das
necessidades dos alunos para serem bem-sucedi- congregar conceitos e estratégias, incluir
dos na vida e no trabalho em uma comunidade dinâmicas de trabalho que privilegiem a res-
(daí o enfoque em aprender a aprender); para a olução de problemas emergentes no contexto
informação ser aprendida, usada e lembrada, ela no qual estamos inseridos, sem se esquecer de
deve ser significativa e fazer sentido para quem
está aprendendo (daí o enfoque em se levar em
integrar as tecnologias. As tecnologias deman-
conta as experiências, o interesse e o nível de en- dam novas formas de interpretar e representar
tendimento do aluno); o conhecimento, estabelecendo a sala de aula
como um espaço de experiência de ensino e de
d. o professor como mediador dos alunos que aprendizagem ativa, de formação de cidadãos
estão ativamente envolvidos no processo de
e de vivência democrática.
aprendizagem de informações, em vez de trans-
missor de um currículo padronizado. O professor
pode ensinar ou compartilhar seu conhecimento Segundo Edler Carvalho (2010), em vista às
com os alunos através de miniaulas ou de outros adaptações curriculares, o currículo da escola
meios, mas seu enfoque primordial é apoiar e es- deve:
timular os alunos a envolverem-se ativamente em
sua própria aprendizagem;
- ser aberto e flexível para possíveis modificações;
e. a ênfase em atividades e projetos significativos - permitir análises sob os aspectos filosófico-ide-
da vida real; ológicos, antropológicos, sociológicos, psicológi-
cos, epistemológicos e pedagógicos;

capítulo 4 47
1.1. ADAPTAÇÕES
CURRICULARES
Adaptação Curricular é o conjunto de ações
voltadas para viabilizar o acesso, a permanên-
cia e a qualidade de ensino para os alunos que
apresentam necessidades educacionais espe-
ciais. É uma estratégia de planejamento e de
atuação dos docentes para tratar de responder
às necessidades de aprendizagem de cada alu-
- contemplar a aprendizagem significativa, a me-
morização compreensiva e a funcionalidade do
no. Não se trata de elaborar um outro currícu-
aprendido; lo e sim, de trabalhar com o que for adotado,
fazendo ajustes. Para Edler Carvalho (2010),
- estimular, no aluno, o aprender a aprender e o
saber pensar; em reconhecimento às características e necessi-
dades dos aprendizes e movidos pela crença na
- incluir todos os aspectos da realidade (fatos, possibilidade de desenvolver suas potencialida-
conceitos, procedimentos, normas, valores, apti- des, é que devemos adequar a proposta curricu-
dões); lar adotada para que nenhum aluno seja excluído
do direito de aprender e de participar. Trata-se
- abster-se de propor, apenas, um método de en- de mais uma estratégia para favorecer a inclusão
sino; educacional de quaisquer alunos.
- prever um conjunto de ações de avaliação (não
apenas as do aluno).

O currículo é o instrumento necessário para a


adaptação da escola à diversidade dos alunos
e para o atendimento de suas necessidades.
Para ser de fato esse instrumento de inclusão,
muitas vezes são necessários pequenos ajustes
para situações leves e transitórias, específicas Fig. 2
de determinados alunos, que podem se re-
solver no curso do trabalho pedagógico, por
meio de estratégias já familiarizadas pelo pro- A adaptação curricular está fundamentada em
fessor. No entanto, nem todos os alunos re- quatro critérios básicos:
spondem às intervenções didáticas da mesma
maneira. Todos eles apresentam singularidades 1. O que o aluno deve aprender;
em seus processos de aprendizagem, e alguns 2. Como e quando aprender;
requerem intervenções diferentes daquelas que 3. Que formas de organização do ensino são
se costuma fazer para a maioria. Há situações mais eficientes no processo de aprendiza-
mais graves e persistentes que requerem modi- gem;
ficações maiores e mais significativas. Modifi- 4. O que, como e quando avaliar o aluno.
cações que dependem da decisão de toda a
equipe escolar ou ainda de níveis hierárquicos Adequar currículos para todos os alunos é
superiores, pois necessitam recursos especiais uma tarefa extremamente complexa, mas é
para sua solução. É neste momento que, em uma necessidade que se impõe. Quanto maior
uma escola que pretende ser para todos, o cur- a dificuldade do aluno, maior a necessidade
rículo passa a cumprir um papel ainda maior de se adotarem medidas extraordinárias de
e mais importante, pois é ele que oferecerá os ajustes ou modificações que se efetuem nos
parâmetros necessários para as modificações objetivos, conteúdos, nas metodologias e ativi-
específicas necessárias, sem deixar de preservar dades de ensino-aprendizagem e nos critérios
as principais características e objetivos da apre- de avaliação para atender à diversidade. De
ndizagem de cada disciplina ou de cada série. acordo com o MEC/SEESP/SEB (1998), essas
adaptações acontecem em três níveis:

48 capítulo 4
• Adaptações no nível do projeto pedagógi-
co que devem focalizar, principalmente, a
organização escolar e os serviços de apoio,
propiciando condições estruturais que
possam ocorrer no nível de sala de aula e
no nível individual;

• Adaptações relativas ao currículo da classe,


que se referem, principalmente, à pro-
gramação das atividades elaboradas para 2. Não-significativas: modificações que se re-
sala de aula. Focalizam a organização e os alizam nos diferentes elementos da proposta
procedimentos didático-pedagógicos e de- curricular para todos os alunos, visando re-
stacam o como fazer, a organização tem- sponder à diversidade. São denominadas de
poral dos componentes e dos conteúdos Pequeno Porte (Não-Significativas), porque
curriculares, de modo que favoreça a efe- sua implementação encontra-se no âmbito de
tiva participação do aluno bem como sua responsabilidade e de ação exclusiva do pro-
aprendizagem; fessor, não exigindo autorização nem depen-
dendo de ação de qualquer outra instância
• Adaptações individualizadas do currículo superior, nas áreas política, administrativa e/ou
que focalizam a atuação do professor na técnica.
avaliação e no atendimento a cada aluno.
Elas podem ser implementadas em várias áreas
De um modo geral, essas adaptações podem e momentos da atuação do professor, sendo
ser de dois tipos: o Plano de Ensino a primeira instância na qual
o professor deve promover adaptação. Seu
1. Significativas: modificações que envolvem planejamento, assim, deverá considerar a di-
ações de natureza política, administrativa, fi- versidade, estando alerta às características in-
nanceira, burocrática, etc. São denominadas dividuais, envolvendo
de Grande Porte (Significativas), porque algu-
mas dessas estratégias compreendem ações • a organização do espaço e dos aspectos
que são da competência e atribuição das in- físicos da sala de aula;
stâncias político-administrativas superiores.
• a seleção, a adaptação e a utilização de
A implementação de adaptações curriculares equipamentos e mobiliários de forma a
de grande porte deve favorecer a aprendizagem de todos os alu-
nos;
• ser precedida de uma criteriosa avaliação
do aluno, considerando sua competência • o planejamento das estratégias de ensino
acadêmica; que pretende adotar em função dos obje-
tivos pedagógicos e consequentes conteú-
• fundamentar-se na análise do contexto dos a serem abordados;
escolar e familiar do aluno, buscando a
identificação dos elementos adaptativos • a pluralidade metodológica tanto para o
necessários para o desenvolvimento do ensino como para a avaliação;
aluno;
• a flexibilização da temporalidade. (ARA-
• contar com a participação de uma equipe NHA, 2000b)
de apoio multiprofissional no processo de
estudo de cada caso, análise e tomada de Nessa nova perspectiva curricular, a ênfase e a
decisão; responsabilidade pela aprendizagem são des-
locadas do aluno e dirigidas para os procedi-
• ser registrada documentalmente, integran- mentos de ensino. Ou seja, não é o aluno que
do o acervo de informações sobre o aluno. tem que adaptar, geralmente sem condições
(ARANHA, 2000a).

capítulo 4 49
mente organizado e estruturado proporciona
a aprendizagem para todos os alunos.

No desenvolvimento da aula, é necessário


que o professor inclua diferentes alternativas
para abordar o assunto do dia, de forma que
os vários “estilos” e interesses de aprendiza-
gem tenham vazão. Além disso, atividades de
caráter competitivo de-
vem ser substituídas por
para tal, sua forma de aprender ao ritmo da aquelas que incentivem a
aula, mas ao contrário, o ritmo e a dinâmica cooperação entre os alu-
da aula é que devem ser adaptados para per- nos.
mitir a participação e aprendizagem de todos
os alunos. A cooperação em sala
de aula pode ser um fa-
Fig. 3

2. METODOLOGIA
tor importante para a in-
clusão das pessoas com
E ESTRATÉGIAS deficiência, pois permite interação e troca en-
tre os alunos. O desenvolvimento de algumas
DE ENSINO estratégias pode ser decisivo para criar um am-
biente de cooperação em que aqueles alunos
A escola de hoje precisa utilizar uma metodo- que têm mais habilidades em alguma maté-
logia capaz de desenvolver a pessoa. O mode- ria possam ajudar aqueles com menos habili-
lo tradicional de transmissão de conhecimento dades.
não é o mais eficiente nem o mais democrático.
Os métodos de ensino atuais estão baseados Os educadores devem organizar seu trabalho
não no ensino, mas na aprendizagem; partem pedagógico, considerando a pesquisa como a
do pressuposto de que cada aluno é que con- maneira mais apropriada de educar, “estimu-
strói o seu próprio conhecimento com base lando nos alunos, o aprender a aprender e o
nas experiências propiciadas pelo professor. O saber pensar, ingredientes indispensáveis à (re)
educador “em vez de profissional do ensino se construção do conhecimento com formulação
assume como profissional da aprendizagem; própria, isto é, com autoria e progressiva auto-
em vez de transmissor ou inculcador de infor- nomia. (EDLER CARVALHO, 2010)
mações, passa a ser facilitador da construção
de conhecimentos e da competência inovado- Os métodos de ensino são o grande trajeto a
ra de seus alunos.” (EDLER CARVALHO, 2010) percorrer e se desenvolvem por etapas; estas
se concretizam por meio das chamadas téc-
Se o professor considerar as possibilidades de nicas de ensino, ou procedimentos didáticos.
desenvolvimento de cada discente e explorar A inclusão não prevê a utilização de práticas
sua capacidade de aprendizagem, ele vai apre- de ensino específicas para esta ou aquela defi-
nder até o limite ao qual consegue chegar. Isso ciência, mas sim recursos que podem auxiliar o
pode ocorrer por meio de atividades diversi- processo de aprendizagem.
ficadas. Segundo Nakayama (2007), “ensinar a
todos reafirma a necessidade de se promover- A seguir, são apresentadas algumas estratégias
em situações de aprendizagem diversificadas, que estão em consonância com os princípios
que expressem diferentes possibilidades de da prática inclusiva e que apoiam o docente
interpretação e de entendimento de um gru- nas salas de aula a implementar mudanças
po que atua cooperativamente”. É variar os que tornam o processo de ensino muito mais
estímulos oferecidos aos alunos, recorrendo agradável, participativo e efetivo:
menos à aula expositiva e a apenas uma ma-
neira de solicitar as atividades dos alunos. Um 1. Conhecimento do grupo: em sala de aula,
trabalho diversificado, bem elaborado, devida- as atividades devem ser planejadas pelo

50 capítulo 4
professor, levando em conta o conheci-
mento prévio de cada estudante na classe,
seus interesses, suas habilidades e neces-
sidades. Com esses dados em mãos, o do-
cente está mais preparado para planejar
aulas que consideram os alunos mais vul-
neráveis de exclusão, pois poderá pensar
formas de estimular o apoio mútuo entre
os estudantes e aumentar as chances de
aprendizagem, participação nas atividades
propostas e respeito às diferenças individ- erça, é necessário que os professores liderem o
uais na sala de aula; processo, encorajando-os. Portanto, professor,
para ensinar a turma toda,
2. Ajuste de expectativas e negociação de ob-
jetivos: a abordagem inclusiva é essencial- • Convença-se de que todos os seus alunos
mente participativa e, portanto, considera sabem alguma coisa e que todos podem
as perspectivas individuais em qualquer aprender, cada um de acordo com seu jei-
processo de aprendizagem. Assim, na sala to e tempo próprios;
de aula, é fundamental a participação do
aluno com relação à definição do conteú- • Tenha altas expectativas em relação a todos
do curricular a ser trabalhado, à clareza os seus alunos, pois eles só aprenderão, se
acerca do que o docente quer que seja você acreditar que isso é possível;
realizado durante a atividade, por que tal
atividade será realizada e a participação no • Renuncie à ideia de que somente você tem
trabalho colaborativo em grupo, garantin- algo a ensinar na classe e acredite que seu
do, dessa forma, um maior envolvimento e aluno também tem seu próprio saber;
uma aprendizagem mais significativa para
o estudante; • Dê oportunidades para o aluno aprender
com base no que sabe e chegar até onde é
3. Utilização de estratégias variadas: atender capaz de progredir. Afinal, os alunos apre-
às diferentes necessidades educacionais, ndem mais quando tiram suas dúvidas, su-
aos interesses e estilos de aprendizagem peram incertezas e satisfazem curiosidade;
de cada aluno exige necessariamente a uti-
lização de ampla gama de estratégias de • Promova o diálogo entre os alunos e suas
ensino e aprendizagem; diferentes características étnicas, religio-
sas, de gênero, de condição física;
4. Criação de um ambiente agradável para
a aprendizagem: um aspecto fundamen- • Faça com que todos interajam e construam
tal para a aprendizagem é a existência de ativamente conceitos, valores, atitudes, em
um clima acolhedor e prazeroso na sala de vez de priorizar o ensino expositivo em sua
aula. Pesquisas têm demonstrado que os sala de aula. (GIL, 2005)
alunos aprendem melhor em um ambiente

3. AVALIAÇÃO
positivo, no qual as relações de apoio e
cooperação, a valorização do outro, a con-
fiança mútua e a autoestima constituem
fatores essenciais à aprendizagem efetiva. As propostas curriculares atuais primam por
(DUK, 2006) conceder à avaliação o status de instrumento a
serviço da aprendizagem do aluno, fornecen-
O objetivo de uma rede de apoio entre colegas do informações sobre as ações em desen-
é enriquecer a vida escolar de todos os alunos. volvimento e, ao mesmo tempo, subsídios ao
É, sem dúvida, a capacidade que os alunos trabalho docente, possibilitando a tomada de
possuem para se ajudarem uns aos outros na decisão e a melhoria da qualidade de ensino.
escola, mas para que essa capacidade se ex-

capítulo 4 51
• Entendendo as situações avaliativas como
intervenções proativas em relação às
dificuldades e aos erros;

• Não sendo reduzida a um momento escol-


hido para esse fim nem às técnicas a serem
utilizadas;
No entanto, a prática avaliativa mais comum
nas instituições de ensino ainda é a que dá • Analisando todos os aspectos do processo
ênfase aos aspectos quantitativos. Avaliar, nes- de ensino e aprendizagem: em que con-
sas instituições, significa mensurar a quanti- texto se realizam os recursos didáticos, o
dade e o número de informações que o aluno projeto curricular, os objetos do conheci-
consegue reproduzir. O professor, valendo-se mento etc.
desses dados, classifica o aluno, aprovando-o
ou reprovando-o. Para o aluno, esse tipo de Portanto, a avaliação deixa de ser aferição e
avaliação é um ato de promoção e não parte passa a ser prática de contínuas observações,
do processo ensino e aprendizagem. Essa for- registros e análises do que for coletado em to-
ma de entender a avaliação não combina com dos os espaços de aprendizagem:
a inclusão, pois é excludente.
A avaliação, enquanto processo, tem como fina-
lidade uma tomada de posição que direcione as
providências para a remoção das barreiras identi-
ficadas, sejam as que dizem respeito à aprendiza-
gem e/ou à participação dos educandos, sejam as
que dizem respeito a outras variáveis extrínsecas
a eles e que possam estar interferindo em seu de-
senvolvimento global. (BRASIL, MEC/SEESP, 2006)

As autoras da cartilha “O acesso de alunos


com deficiência às escolas e classes comuns
da rede regular”, organizada pelo Ministério
Público Federal, destacam a importância dessa
forma de avaliar, quando dizem:
Fig. 4
O processo ideal é o que acompanha o percurso
de cada estudante, do ponto de vista da evolu-
ção de suas competências, habilidades e conhe-
Para ser coerente com o processo de inclusão, cimentos. A meta é mobilizar e aplicar conteúdos
a avaliação precisa estar a serviço da apren- acadêmicos e outros meios que possam ser úteis
dizagem. Mas, como? para se chegar a realizar tarefas e alcançar os re-
sultados pretendidos pelo aluno. Apreciam-se os
seus progressos na organização dos estudos, no
• Tomando como base o potencial de apre- tratamento das informações e na participação na
ndizagem que o aluno possui e os avanços vida social. Desse modo, muda-se o caráter da
que alcança em relação ao próprio desem- avaliação que, usualmente, se pratica nas escolas
e que tem fins meramente classificatórios. Temos
penho, antes de compará-lo com outros
interesse em levantar dados para compreensão
alunos; do processo de aprendizagem e aperfeiçoamento
da prática pedagógica.
• Abandonando a ideia de que ERRO demon-
stra fracasso e DÚVIDA significa falta de Para alcançar sua nova finalidade, a avaliação
terá, necessariamente, de ser dinâmica, contínua,
conhecimento. O aparecimento de erros e mapeando o processo de aprendizagem dos alu-
dúvidas dos alunos é um elemento signifi- nos em seus avanços, retrocessos, dificuldades e
cativo ao desenvolvimento da ação educa- progressos.
cional, pois permitirá ao docente a obser-
vação de como o aluno se posiciona diante
do mundo, ao construir suas verdades;

52 capítulo 4
Saiba Mais:
O acesso de alunos com deficiência às
escolas e classes comuns da rede regular
Para saber mais, acesse: http://pfdc.pgr.mpf.gov.
br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/publicacoes/
pessoa-comdeficiencia/acesso_alunos_ensino_
publico_2004

Vários são os instrumentos que podem ser instrumento a serviço da aprendizagem, ele
utilizados para avaliar, de modo dinâmico, os precisa de uma formação teórico-metodológi-
caminhos da aprendizagem, como: os registros ca consistente.
e as anotações diárias do professor, os chama-
dos portfólios e demais arquivos de atividades
dos alunos e os diários de classe, em que vão 4. FORMAÇÃO
sendo colecionadas as impressões sobre o co- DO PROFESSOR
tidiano do ensino e aprendizagem. As provas
também constituem opções de avaliação de- “O educador nunca estará definitivamente pron-
sejáveis, desde que haja o objetivo de analisar, to, formado, pois que sua maturação se faz no
dia a dia, na meditação teórica sobre a prática.”
junto aos alunos e a seus pais, os sucessos e as
(Luckesi)
dificuldades escolares.

É importante também que os alunos se au- No atual cenário da educação, a formação


toavaliem, e, nesse sentido, o professor precisa dos professores é um dos fatores que norteia
criar instrumentos que os exercitem/auxiliem a os objetivos da inclusão. Formação entendida
adquirir o hábito de refletir sobre as ações que como processo contínuo e permanente de de-
realizam na escola e como estão vivenciando a senvolvimento, que depende, pelo menos, de
experiência de aprender. três variáveis: do professor - disponibilidade
para a aprendizagem; da formação - que o en-
Para que a avaliação seja processo contínuo e sine a aprender; e do estabelecimento onde ele
compartilhado, é necessário que a escola, re- atua - condições para continuar aprendendo.
serve
Segundo Denari (2008), “a efetividade do par-
espaços constantes para que os professores se adigma da inclusão está na dependência da
encontrem, em relações dialógicas, para avaliar atitude dos professores, de sua capacidade de
e aprimorar suas práticas, para analisar as neces- ampliar as relações sociais com base nas dife-
sidades educacionais especiais de alunos, trocan-
renças nas salas de aula e de sua predisposição
do sugestões e buscando alternativas para o en-
frentamento das dificuldades existentes. (BRASIL, para atendê-las com eficácia”. Para tanto,
MEC/SEESP, 2006) os professores necessitam de uma formação
teórico-metodológica consistente, que lhe per-
Concluímos, então, que a avaliação escolar mita ser um docente reflexivo e pesquisador.
é um componente do processo ensino-apre-
ndizagem, cujo intuito é recolher informa- Uma formação de professores que favoreça a
ções que possibilitem estabelecer uma cor- inclusão, segundo Mantoan (2003), é aquela
respondência entre os dados obtidos e os em que os professores são levados a uma re-
objetivos propostos, a fim de que o professor flexão sobre como se dá a inclusão e qual o
possa verificar o desenvolvimento do aluno em melhor método para que esta ocorra por meio
relação ao trabalho executado, orientando-o, da troca de conhecimentos e experiências ar-
assim, para uma tomada de decisões em rela- ticulados às necessidades vigentes, ressignifi-
ção às atividades posteriores. Para que o pro- cando, assim, o papel do professor, da escola,
fessor possa compreender a avaliação como da educação e das práticas pedagógicas até

capítulo 4 53
então utilizadas e essencialmente excluden-
tes. A formação do professor deve contemplar, Fig. 5
ainda, a reflexão sobre os valores da educa-
ção, vivência interdisciplinar, trabalho em equi-
pe, pesquisa e construção de competências. O A formação continuada do professor deve ser
professor necessita ter a capacidade de explicar um compromisso dos sistemas de ensino com-
o que sabia apenas reproduzir, a convicção de prometidos com a qualidade da aprendizagem
que todos os alunos são capazes de aprender, que, nessa perspectiva, devem garantir que
o compromisso com a aprendizagem de todos os educadores sejam aptos a elaborar e a im-
os seus alunos, as habilidades para apresentar plantar novas propostas e práticas de ensino
e explicar os conteúdos como interessantes, ou para responderem às características de todos
seja, suscitar o prazer de aprender. os seus alunos, assegurando sua permanência,
compreendida como aprendizagem e desen-
Para o professor atuar efetivamente em uma volvimento. Uma vez que a docência implica,
perspectiva inclusiva, ele deve ser, antes de segundo Mauri (2002, apud DUK,2006):
tudo, um pesquisador, planejando sistemati-
camente, coletando dados, analisando, refle- •Aquisição e desenvolvimento da capacidade
tindo e transformando a sua prática. É com de refletir sobre sua prática pedagógica: o pro-
base no saber-fazer do professor, nos conhe- fessor deve ser capaz de inovar cotidianamen-
cimentos que possui, nas experiências e cren- te a partir de sua experiência de sala de aula,
ças, que a formação desse profissional pode com o objetivo de aperfeiçoar e desenvolver
ser pensada e ampliada, baseando-se no seu sua prática de ensino, mediante processos de
aprimoramento por meio da reflexão, compar- reflexão e pesquisa da própria ação. A aprendi-
tilhamento de ideias, informações, sentimen- zagem da prática reflexiva exige que as ativida-
tos e responsabilidades. Essa formação deve des de formação dos docentes levem em conta
acontecer em quatro momentos: as características dos contextos nos quais eles
intervêm e os problemas reais que enfrentam
1. Continuada, por meio de cursos, extrassala na sua prática. A reflexão e análise da prática
de aula; baseiam-se em uma permanente construção
da realidade, o que implica contínua interação
2. Em serviço, com ênfase na preparação di- entre os conhecimentos que o docente possui
reta, por meio de supervisão; e a realidade na qual atua;

• Desenvolvimento da habilidade para trabalhar em


3. Com informações coletadas na sala de aula equipe com outros docentes e profissionais: o tra-
e discutidas entre os professores, promo- balho colaborativo visa à elaboração de um proje-
vendo a troca de procedimentos que de- to educacional conjunto, que assegure coerência e
ram certo; continuidade à ação educacional que cada docente
desenvolve na instituição educacional;

4. Com auxílio de profissionais externos à es- • Reconstrução crítica do papel da educação na nova
cola, que colaboram com os professores, sociedade do conhecimento e da informação: no
na tentativa de discutir, refletir e resolver atual contexto da globalização, os docentes terão
problemas ou dificuldades oriundas de en- de formar-se tanto no domínio dos recursos de in-
formação quanto em habilidades sociais, cognitivas
sino e aprendizagem em sala de aula.

54 capítulo 4
e linguísticas que lhes permitam responder critica-
mente à mudança. A formação em valores éticos e
morais é também fundamental para contribuir com
a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento
de sociedades mais justas.

À essas habilidades devem ser acrescidos conheci-


mentos, aptidões e atitudes para fazer face à diver-
sidade; ou seja, os professores e professoras devem
estar preparados para trabalhar com meninos e meni-
nas procedentes de diferentes contextos sociais e cul-
turais e com diferentes níveis de capacidade e ritmos
de aprendizagem, a fim de garantir a participação, a
aprendizagem e o sucesso escolar de cada um.
Além de se ocuparem com a formação dos
profissionais de educação, os sistemas de en-
Verifica-se a necessidade da formação perma- sino devem prever mudanças nas jornadas
nente do professor assim como do trabalho em de trabalho, para que os professores tenham
equipe nas escolas, em que os professores pos- condições de se dedicarem a projetos, estu-
sam juntos desenvolverem recursos comparti- dos, acompanhamento de suas ações etc. tão
lhados que implicarão melhoria do processo necessários à inclusão. A dupla ou tripla jor-
de ensino aprendizagem de todos os alunos. nada de trabalho dos professores precisam ser
combatidas. Isso requer mais recursos para a
RESUMO educação, com salários que assegurem, dentre
outras condições, ter um único vínculo empre-
gatício.
Acreditar no processo de inclusão é viabilizar
a possibilidade de se buscarem alternativas de
permanência do aluno na escola, respeitando Atividades:
seu ritmo de aprendizagem e elevando sua au-
toestima. É reconhecer que somos diferentes,
mas que devemos ter as mesmas oportunida- 1. As adaptações curriculares não-significativas
ou de pequeno porte são de responsabilida-
des de acesso a uma vida melhor. de do professor. Para seu conhecimento, veja
os exemplos de adaptações específicas para
As adequações curriculares são medidas pe- algumas necessidades educacionais especiais
dagógicas adotadas em diversos âmbitos (do no material produzido pelo MEC, páginas 13
a 22, disponível em
projeto político-pedagógico à sala de aula,
aplicadas ao aluno individualmente, quando <http://www.dominiopublico.gov.br/downlo-
necessário) e visam ao atendimento das difi- ad/texto/me000449.pdf>
culdades de aprendizagem e das necessida-
des educacionais especiais dos educandos e 2. A cooperação em sala de aula é primordial
ao favorecimento de sua escolarização. Essas para a inclusão. Perceba, no depoimento
abaixo, a importância do apoio dos colegas
medidas focalizam a diversidade dos alunos na vida de Luiz Alberto M. de Carvalho e Sil-
e pressupõem que o tratamento diferenciado va, cego, economista e professor. Após a lei-
pode significar, para os alunos que necessitam, tura do texto abaixo e baseando-se em nos-
igualdade de oportunidades educacionais. so estudo, liste ações que o professor deve
desenvolver em sala para que a cooperação
entre colegas seja uma prática.
Para esse paradigma, efetiva-se que é primor-
dial investir na formação de professores, para “Embora devamos procurar a inde-
que esses estejam preparados. Um professor pendência, precisamos entender que
bem preparado é aquele que tem claro e defi- ela é inalcançável em sua plenitude.
nido, na prática e na teoria, como conduzir o
processo de ensino, como explicar a aprendi- Isso é uma coisa de que não ouço falar, o
zagem, como avaliar e reformular seu plano de auxílio advindo dos colegas de classe. É tão
importante! Até hoje, lembro-me, com gra-
ensino frente ao planejamento preestabeleci- tidão, dos que liam para mim e que aprende-
do. É o professor que cria condições para que ram o braille apenas por observar-me escre-
o seu aluno consiga tomar posse do currículo
de que ele precisa.

capítulo 4 55
ver o que ditavam. Essa interação, que me foi
fundamental, era incentivada, sob o ponto
de vista privado, por minha mãe e, sob o
REFERÊNCIAS
ponto de vista público, pela escola de jesuítas
“Colégio São Luís”, onde estudei. Os padres
ALMEIDA, M.L. Currículo e Inclusão em
faziam questão de que os alunos fossem so- <http://www.ce.ufes.br/educacaodocampo/
lidários, e ajudar-nos era uma demonstração down/cdrom3/pdf/u3_texto1.pdf>, acesso
disso. Por outro lado, éramos cobrados na em: 20 abr.2011.
exata medida dos outros. Não havia o menor
privilégio. Física, Química, Matemática e Bio-
logia eram alvo de avaliação absolutamente ARANHA, M.S.F. Projeto Escola Viva: garantin-
idêntica à empregada para os demais alu- do o acesso e a permanência de todos os
nos. Eu usei curvas francesas para desenhar, alunos na escola - Alunos com necessidades
sempre com a ajuda dos demais estudantes, educacionais especiais, vol.5: Adaptações cur-
alguns deles amigos meus até hoje. Por ou-
tro lado, fazíamos colas incríveis em braille,
riculares de grande porte. Brasília: MEC: SEESP,
pois os professores nem sempre tinham ci- 2000a.
ência de que os demais estudantes também
pudessem entender aquilo. Chegávamos ao _____________. Projeto Escola Viva: garantin-
cúmulo de deixar folhas em braille no tampo do o acesso e a permanência de todos os
da mesa, sem que se dissesse coisa alguma
a respeito. alunos na escola - Alunos com necessidades
educacionais especiais, vol.6: Adaptações
Há vinte anos, quando Amyr Klink voltou de curriculares de pequeno porte. Brasília: MEC:
sua primeira viagem, fizemos um jantar no SEESP, 2000b.
Clube Paulistano. Havia alguns padres e pro-
fessores presentes. Começamos a contar-lhes
as peripécias que fizemos a esse respeito e ri- BRASIL Ministério da Educação. Secretaria de
mos por algumas horas. Isso é o que eu cha- Educação Especial. Saberes e Práticas da In-
mo de inclusão. É fazer com que os estudan- clusão – Avaliação para Identificação das Ne-
tes com deficiências participem da vida da cessidades Educacionais Especiais, SEESP/MEC,
escola, que estudem com os demais, viajem
com eles, vão às festas deles todos e “apron- Brasília, 2006.
tem” com todos também. Noto que todas
as discussões daqui visam a uma autonomia DENARI, F. E. Educação especial e inclusão es-
que ninguém tem. Nunca se fala em como colar: das dimensões teóricas às ações práticas
devemos nos relacionar com os colegas de
classe ou de escritório, ajudando-os no que
em Revista @mbienteeducação, São Paulo, v.
pudermos e pedindo ajuda para o que pre- 1, n. 2, p. 31-39, ago./dez. 2008.
cisarmos. Ilustro com um caso recente: um
outro professor e eu reprovamos um traba- DUK, C. Educar na diversidade: material de
lho de conclusão de curso em que os alunos formação docente. 3. ed. Brasília: MEC, SEESP,
esperavam obter um prêmio. Ocorre que ele
estava errado demais para que pudéssemos 2006.
relevar. Como é do direito deles, pediram
revisão de nota. A coordenação do depar- EDLER CARVALHO, R. Escola inclusiva: a re-
tamento pediu-nos pareceres individuais. organização do trabalho pedagógico. 3. ed.
Fizemos e entregamos no prazo. Os alunos
foram reprovados pelos revisores e entraram
Porto Alegre: Mediação, 2010.
com recurso na mantenedora que nos pediu
um parecer conjunto. Combinamos então GIL, M. (organizadora) Educação Inclusiva:
que eu redigiria e que o outro professor, por O que o Professor tem a ver com isso? em
não ter todas as obras em meio digital, fa- <http://saci.org.br/index.php?modulo=ake
ria a revisão bibliográfica. Resumindo, eu fiz
o que podia, e ele colaborou com o que eu mi&parametro=24969>, acesso em: 23 abr.
não podia fazer. É assim que eu entendo o 2011.
bem-viver. Embora devamos procurar a in-
dependência, precisamos entender que ela é Ministério Público Federal: Fundação Procu-
inalcançável em sua plenitude, o que torna
ainda mais importante aprender a viver em
rador Pedro Jorge de Melo e Silva (organiza-
sociedade. Podem estar certos de que não é dores). O Acesso de Alunos com Deficiência às
numa escola especializada que se vai chegar Escolas e a Classes Comuns da Rede Regular. 2.
lá.” ed. rev. e atualiz. Brasília: Procuradoria Federal
dos Direitos do Cidadão, 2004.

56 capítulo 4
MANTOAN, M. T. E. Inclusão Escolar: O que
é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna,
2003.
NAKAYAMA, A.M. Educação inclusiva:
princípios e representação. 2007. Tese de Dou-
torado. Faculdade de Educação. Universidade
de São Paulo. São Paulo, 2007.

PIETRO, R. G. Formação de profissionais da


educação para trabalhar com o atendimento
de alunos com necessidades educacionais es-
peciais no sistema regular de ensino. In: MAN-
TOAN, M. T. E.; ARANTES, V. A.(org.). Inclusão
escolar: pontos e contrapontos. São Paulo:
Summus, 2006. p. 56-71.

PISTÓIA, L. H. C. Adaptação Curricular em


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ROSA, S.P.S. et al. Fundamentos Teóricos e


Metodológicos da Inclusão. Curitiba: IESDE
Brasil S.A., 2008.

STAINBACK S. e STAINBACK W. (organiza-


dores) Inclusão: um guia para educadores.
Tradução: Magda França Lopes. Porto Alegre:
Artmed, 1999.

CRÉDITO DAS IMAGENS

Figura 1 - http://antoniotrombone.webnode.
pt/portfolio/tdc/

Figura 2 - http://edmarciuscarvalho.blogspot.
com/search?q=adapta

Figura 3 – inclusaobrasil.blogspot.com

Figura 4 - http://www.planetaeducacao.com.
br/acessodehumor/flog.asp

Figura 5 - www.imprensaoficial.com.br

capítulo 4 57

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