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CENTRO UNIVERSITÁRIO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO

ITAJAÍ
ÁREA DE CIÊNCIAS SOCIALMENTE APLICÁVEIS
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
PROFESSOR: DANIEL MAYERLE

FICHA DESTAQUE DE OBRA CIENTÍFICA


1 NOME COMPLETO DO REALIZADOR DO FICHAMENTO:
Camila Zeferino

2 OBRA EM FICHAMENTO:
WARAT, Luis Alberto. O direito e sua linguagem. Porto Alegre RS: Sergio Antônio Fabris
editor.2º edição 2000.

3 ESPECIFICAÇÃO DO OBJETIVO:
Aspectos da teoria da linguagem do direito

4.RESUMO DO LIVRO:
“O primeiro momento, isto é, tentativa de considerar os signos como objeto específico de um
conhecimento científico, originou-se de estudos e investigações realizadas pelos linguistas
contemporâneos em torno da linguagem natural, e pelos lógicos-matemáticos com relação às
linguagens artificiais formalizadas.” (pág.11)
“A semiologia encarrega-se-ia de estudar as leis e os conceitos metódo-lógicos gerais que
poderiam ser considerados válidos para todos os sistemas sígnicos. Ou seja, seria um estudo
voltado à determinação das categorias fundantes e às regras metodológicas pertinentes à
constituição de uma ciência dos signos em sentido estrito.” (pág.11)
“Na constituição dos diferentes sistemas sígnicos das linguagens naturais, Sausurre elege,
como modelo analítico a linguística (teoria dos signos verbais).” (pág.12)

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“Então, desta forma, enunciados os limites atuais para a semiologia, o que equivale a dizer
que ela deve ser compreendida como uma prática complexa, que, no interior de cada discurso,
deve mostrar-nos, em um processo contra-discurso, as funções sociais dos diferentes âmbitos
e modos de significar.” (pág.13)
“Pierce, um dos criadores do pragmatismo, acentua a função lógica do signo para a
constituição da semiótica. Assim afirma que a lógica, em seu sentido geral, é apenas o outro
nome que designa a semiótica.” (pág.13)
“A semiótica, para esse químico matemático, deveria abranger em um cálculo lógico, o
conjunto dos sistemas significantes. Ao contrário de Saussure, preocupado com o tratamento
científico das linguagens naturais, as obsessões de Pierce estariam voltadas para as práticas
linguísticas da ciência.” (pág.14)
“Nesta ordem de ideias, o Positivismo Lógico assume o rigor discursivo como paradigma da
investigação científica. Acrescenta ainda que nenhuma proposição isolada fornece alguma
significação efetiva sobre o mundo.” ( pág.14)
“Tanto a semiologia quanto a semiótica, apesar da diferença de enfoque e, em parte, do objeto
temático, apresentam traços epistemológicos similares, pois ambas aderem a uma concepção
de objetividade exterior à história e submetem-se aos imperativos da sistematicidade.”
(pág.15)
“A problemática cientifica que as tendências axiomatizantes da linguagem nos impõem
constitui um discurso de arrogância, que, buscando a coerência das linguagens, nos obriga
optar pela razão contra história.” (pág.15)
“Na verdade, as linguagens não se esgotam nas informações transmitidas, pois elas
engendram uma série de ressonâncias significativas e normalizadoras das práticas sociais.”
(pág.15)
“As teorias linguísticas expostas pretendem construir uma ciência dos signos a partir de
modelos ideias, que nos aproximam racionalmente de uma compreensão coerente do
funcionamento efetivo das linguagens. Assim, por exemplo, Saussure distingue a língua da
fala, para entender as manifestações empíricas das linguagens.” (pág.16)

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“Por esta corrente, a teoria da argumentação é a parte da semiologia comprometida com a
explicação das evocações ideológicas das mensagens. Os novos retóricos aproximam-se,
assim, da proposta de Elisio Verón, que, preocupado com as condições ideológicas dos
processos de transmissão e consumo das significações no seio da comunicação social, chama
de semiologia os estudos preocupados com essa problemática, deixando com objeto da teoria
linguística as questões tradicionais sobre o conceito, o referente e os componentes estruturais
dos signos.” (pág.17)
“A partir dessas afirmações, nasce a nossa proposta, denominada semiologia do poder, como
uma reflexão-que se pretende permanentemente auto renovar-, sobre o poder dos discursos e
dos saberes.” (pág.18)
“Em suma, a semiologia do poder pretende articular-se em torno de uma ideia muito simples,
a de que o consenso sobre a legitimidade do poder é decorrência de um trabalho discursivo, e
que só é obtido quando, adequadamente, manipulam-se as palavras.” (pág.18)
“O pressuposto fundante do universo discursivo de Saussure é a sua concepção de ciência,
que recebe influência de Kant e Durkheim.” (pág.19)
“Desta forma, existe uma importante distinção na teoria do conhecimento subscrita por
Saussure: o plano do real concreto e o plano do real reconstruído pelo ato de conhecimento.”
(pág.19)
“Em primeiro lugar, devemos indicar que tanto a noção de língua como a de fala são
utilizadas por Saussure de maneira ambígua, cabendo-nos analisá-las tanto como categorias
ordenadoras da constituição do objeto da ciência dos signos, como dados signos fáticos.”
(pág. 21)
“Na observação dos fatos sígnicos, Saussure aponta-lhes dois planos de manifestação: o social
e o individual. Por outro lado, toda enunciação exige um conjunto de normas que a regule. A
fim de compreender e fazer-se compreender, cada uso sígnico exige um sistema supra
contextual de regras que estabeleçam a ordem de sua enunciação.” (pág.22)
“Pode-se concluir, que no plano da língua, como objeto da ciência da linguagem, deve –se
recortar dos fatos sígnicos precisamente sua dimensão normativa: a língua como código das
enunciações individuais.” (pág.22)

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“Na teoria pura, não se encontra devidamente esclarecido o duplo papel significativo que
Kelsen atribui às normas jurídicas. Por outro lado, elas são o sentido dos atos de vontade e,
por outro, o como fatos empíricos do mundo do ser.” (pág.23)
“A partir da distinção entre signos motivados e imotivados, pode-se estabelecer uma distinção
entre signos naturais e signos artificiais ou convencionais. Os signos naturais, segundo Adam
Scarff, “ manifestam-se independentemente de toda atividade humana deliberada e só ex-post
são interpretados pelo homem como signos de algo.”(pág.24)
“Os signos convencionais, ao contrario, operam através de uma contiguidade instituída. São
adaptados por uma convenção de uso.” (pág.24)
“Entretanto, se investigarmos reflexivamente o caráter da linguagem, percebemos que ela se
constitui em um sistema de múltiplos signos articulados, onde a significação depende não
apenas de uma relação interna do próprio signo, mas também da relação de um signo com os
outros.” (pág.25)
“A relação de um signo com os outros signos estabelece-se através de um processo de
contrastes e oposições. Ou seja, são as distinções que possui uma palavra em relação ás outras
que a cercam e que explicam o seu valor; e a significação, em ultima instância, depende do
valor.” (pág.26)
“O caráter linear do signo surge em razão do principio da discrição que todo o signo acarreta.
O principio da discrição baseia-se no fato de que toda unidade linguística tem um único valor,
sem matizes intermediários.” (pág.27)
“Com respeito à mutabilidade do signo jurídico, deve-se indicar que o caráter histórico e
social a ele atribuído quando falamos de sua imutabilidade, nos obriga a verificar que as
forças sociais, em sua dinâmica, submetem à incessante mudança todos os processos de
significação.” (pág.28)
“O símbolo, afirma Saussure, ‘não está vazio; há sempre um rendimento de ligação natural
entre o significante e o significado. O símbolo da justiça, a balança, não podia ser substituído
por qualquer outro, por um carro por exemplo.” (pág.29)
“Para Saussure, as relações e as diferenças dos termos linguísticos no interior de um sistema,
pertencem a duas esferas diferentes. Cada esfera, por sua vez, determina uma certa ordem de
valores: as relações sintagmáticas e as relações associativas.” (pág.31)

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“Observando a maneira como cultura juridicista resolve as questões linguísticas do direito,
percebe-se que ela amarra as suas crenças e representações ideológicas a partir de um
postulado que poderíamos denominar “egocentrismo textual.” (pág.32)
“A linguística, na proposta saussuriana, deve ser estruturada na perspectiva de dois métodos
opostos. Esta distinção é efetuada a partir da influência do fator tempo na determinação do
valor dos elementos linguísticos. Assim, abrem-se duas vertentes de determinantes: uma
estática e outra evolutiva ou histórica.” (pág.33)
“Os positivistas lógicos sustentam a ideia de que o conhecimento pode ser obscurecido por
certas perplexidades de natureza estritamente linguística.” (pág.37)
“Em outras palavras onde não há rigor linguístico não há ciência. Fazer ciência é traduzir
numa linguagem rigorosa os dados do mundo; é elaborar uma linguagem mais rigorosa que a
linguagem natural.” (pág.37)
“Por sua vez, a linguagem falada é a mais importante e, na maioria das vezes, constitui-se a
base de qualquer outra linguagem, no sentido de que se aprendem as outras linguagens com o
subsídio da linguagem falada.” ( pág.38)
“O signo, assim caracterizado, pode ser estudado sob três pontos de vista, atendendo ao fato
de que pode ser considerado como elemento que mantem três tipos de vinculações: com os
outros signos; com os objetos que designa; com os homens que o usam.” (pág.39)
“Portanto, caracterizamos sintaticamente uma linguagem como um sistema que se relaciona
conforme suas regras sintáticas (de formação e de derivação).” (pág.40)
“Na realidade, resulta mais conveniente, a partir das afirmações do positivismo lógico, falar
de uma condição positivista de sentido como critério de decidibilidade para os enunciados da
ciência, que se externa simultaneamente através de uma condição semântica e sintática de
sentido. A condição semântica é tão somente uma condição privilegiada de sentido.” (pág.41)
“Os conceitos só podem integrar e dar sentido a uma proposição se suas propriedades
designativas permitem a construção de uma denotação referida a estados de coisas existentes.
Carecendo o conceito de denotação referencial, o enunciado que o externa nunca poderá ser
verdadeiro ou falso.” (pág.43)

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“Esta mesma crítica é formulada, no direito, a Kelsen, em torno da norma fundamental, no
sentido de que ela estabelece condição de sentido para as normas positivas mediante um
critério de validade que, por sua vez, não pode ser validado.” (pág.43)
“No campo de ciência jurídica, o critério de determinação das normas descansaria numa teoria
análoga à verdade: a teoria da validade. A validade seria também uma relação e não uma
propriedade das normas.” (pág.45)
“Estes problemas, para o positivismo lógico, apresentam-se uma linguagem natural, sendo,
portanto, um tipo de estudo que foge á problemática assumida como relevante. Por outro lado,
os problemas pragmáticos são vistos como questões intencionais.” (pág.46)
“A pragmática, projetada ao direito, permite compreender que a ideologia é um fator
indissociável da estrutura conceitual explicitada nas normas gerais. A partir da análise
pragmática pode ser levantada a tese no sentido de que em um discurso normativo, para que
exista o efeito de uma univocidade significativa, deve haver uma prévia coincidência
ideológica.”(pág.47)
“A necessidade de estabelecer esses dois níveis de linguagem surge quando tomamos com
objeto de nossa reflexão a própria linguagem. O sentido desta distinção é dado, segundo o
lógicos positivistas, pela incapacidade das linguagens produzirem processos de autocontrole
sobre a lei de sua organização lógica.”(pág.48)
“As proposições, afirma Wittgenstein, nos dizem que as coisas são de uma determinada
maneira e relevam, por sua vez, sua forma lógica, a partir de um segundo nível
reflexivo.”(pág.49)
“Kelsen foi o primeiro autor que utilizou, para o campo jurídico, às noções de linguagem-
objeto e metalinguagem, ainda que sem mencioná-las expressamente”. A distinção que efetua
entre normas e regras de direito corresponde às mesmas necessidades que levaram
Wittgenstein a falar de “uso” e “menção” e Russell de “linguagem-objeto” e
“metalinguagem”. (pág.50)
“Para Kelsen as normas de direito positivo, com respeito aos comportamentos, são expressões
metalinguísticas, através das quais se pretende dar um sentido objetivo aos atos de interação
social, determinando seu caráter deôntico, sua significação normativa.” (pág.52)

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“A linguagem da teoria jurídica tradicional é vista por seus produtores como uma linguagem
técnica que, sem formalizações concretas, fala de uma linguagem (ideologicamente) vista
como formal: a linguagem da lei.”(pág.54)
“ A preocupação fundamental do positivismo lógico, podem ser indiciados vários critérios
para a formulação de uma tipologia das definições. Por um lado, distinguem as definições em
designativas e denotativas.”(pág.55)
“Para a formulação das definições nas linguagens da ciência, a d e s i g n a ç ã o e a
denotação não concorrem com a mesma forca, pois nas definições científicas prevalece
a formulação designativa, ficando a formulação denotativa como recurso de algumas
situações da linguagem natural. É importante esclarecer que nas linguagens técnicas, ao
contrário das naturais, as propriedades designativas devem referir-se a uma c1asse de
elementos que tenha urna referencia objetiva, pois se a denotação for i d e a l s e r á
impossível fazer uma analise sobre a verdade e aceitar o enunciado no qual o termo figura
como uma proposição.”(pág.56)
“Para o Positivismo Lógico, a ciência deve ser vista a partir de sua linguagem, que surge
como um discurso resultante da transformação do senso comum, manifesto, por sua vez, por
uma linguagem natural. (0 que denominamos, em outros trabalhos, senso comum teórico
constitui um conjunto relativamente sistemático de definições estimativas tornadas
léxicas no uso da comunidade científica.”(pág.57)
“Na pré-história da ciência, Aristóteles definia a definição como a explicação da
e s s ê n c i a d e um objeto. Para Aristóteles, a essência se e strutura na definição, indicando
o gênero e as definições de varias subclasses de objetos. (pág.58)
“Kelsen, por sua vez, fundamentando-se em Kant. Propõe uma definição conceitual do
direito, que não deixa de ser uma forma de estipulação. Sua preocupação central e a de
constituir uma ciência em sentido est rito para o direito, apelando a um sistema de
conceitos fundantes, que permitem a delimitação precisa do campo jurídico. As teses
kelsenianas sobre as definições jurídicas, aparentemente plausíveis, apenas podem ser
aceitas após a concordância com os pressupostos epistemológicos do neopositivismo e
com os papéis que eles reservam as definições na ciência.”(pág.59)
“Outra exigência do Positivismo Logico com relação a linguagem da ciência, e a de contar
com um número mínimo de conceitos organizados sistematicamente. Por vezes, tais
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conceitos são estipuladamente introduzidos na linguagem da ciência, outras vezes, os
conceitos científicos são o produto de um processo de especificação de sentido, através do
qual tornam-se unívocas significações usadas na linguagem natural. Esse procedimento e
denominado elucidar.” ( pág.60)
“Uma diferença substancial entre a Filosofia da Linguagem Ordinária e o Positivismo
Logico estaria, desta maneira, no nível de análise privilegiado: pragmático, para os
primeiros; sintático e semântico, para os segundos. No entanto, a analise pragmática da
Filosofia da Linguagem Ordinária não se estendeu aos fatores sócio-políticos. Com efeito,
apoiando-se em certos pressupostos psicologistas, ignoraram a necessária inserção histórica
da linguagem, assim como a articulação do nível pragmático de sua análise com a
sociedade, vista em sua totalidade.” (pág.64)
“A Filosofia da Linguagem Ordinária, apesar de admitir uma ampla gama de propósitos
que possam levar um emissor a empregar um termo(persuadir, dominar ,interrogar, suplicar,
fazer rir, etc.), reduz teoricamente todas estas intenções, conforme os autores, a três ou
quatro instâncias ou usos básicos: informativo, emotivo, diretivo e
performativo.”(p ág .6 6)
“ Recapitulando, o significado de base e o significado contextual são duas noções teóricas
nas quais se faz referencia a determinantes de diferentes naturezas para os processos
efetivos da produção das significações sociais. O significado de base nos remete, no
teórico, aos componentes estruturais e normativos da própria linguagem; o significado
contextual, aos componentes de situação (linguísticos e extralinguísticos) de um ato de
comunicação especifico. Assim, por exemplo, a expressão "Proibido Usar Tanga" tem um
significado padronizado que nos permite entender que a ordem esta relacionada a uma
peça do vestuário, e não, simplesmente, a qualquer objeto do mundo.” ( pág.67)
“Aceitando-se a relação significado de base/significado contextual, nos termos ora
propostos, resulta inevitável concluir pela inexistência da pretendida univocidade dos
textos jurídicos. Na verdade, existe urna ilusão de univocidade fornecida pela
inalterabilidade da instancia sintática dos textos legais. Por desconhecer tal fato, produz se
no direito uma febre legislativa, decorrente da falsa crença de que produzindo-se uma
alteração nas palavras da lei, transforma-se mecanicamente as praticas sociais e os
sentidos normativos.”( pág.68)
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“Os filósofos da Linguagem ordinária vinculam a questão das cargas valorativas, aos usos
emotivos da l i n g u a g e m . Todas as palavras da linguagem natural: a margem da sua
designação descritiva, veiculam o juízo, emotivo ou valorativo , que o emissor possui
frente a designação comunicada. Neste sentido, a carga emotiva e um Plus de significado
que acompanha o sentido descrito. Uma mesma palavra ou frase pode ter
simultaneamente uma significativa literal e um impacto emotivo.” (pág.69)
“Finalmente, em torno dos estereótipos, pode-se afirmar que esse não se subscrevem a o s
signos; as sentenças, as discursos, as pessoas ou classes de pessoas podem ser objetos de
processos de estereotipação. Pelé e Carmen Miranda são exemplos de pessoas empregadas
com função de estereotipo. “O trabalho dignifica o homem", a "carta testamento de
Getúlio Vargas" são, respectivamente, exemplos de sentença e discurso
estereotipados.” (pág.74)

“A ambiguidade, por outro lado, é um caso particular de incerteza designativa. Podemos


caracterizar a ambiguidade nos casos em que um termo possui mais de um conjunto de
propriedades designativas, isto é , um mesmo rótulo ou significante veicula propriedades
designativas aplicáveis a âmbitos denotativos claramente diferenciáveis. (pag.78)
“Por outro lado, deve-se ressaltar que a despeito da literatura jurídica tradicional, que
enfoca a problemática da interpretação da lei a partir de uma bizantina discussão sobre
as vantagens e desvantagens dos diferentes métodos de interpretação , as principais
estratégias interpretativas surgem de um adequado emprego dos mecanismos redefinitórios
das palavras da lei.” (pág.80)
“A semiologia por sua vez, nos limites atuais de sua problernatica tenta no campo da
enunciação (da fala), problematizar a dimensão conotativa da linguagem, isto e, o jogo
das implicações e evocações significativas latentes, mas sim como de suas relações com o
sistema de significações explicitamente enunciado. Ela também incorpora ao seu campo
temático a estratégia dos argumentos do discurso, sua estrutura e tipologia.” ( pág.82)
“Como sugere Pecheux, a analise discursiva deve tornar possível os mecanismos através dos
quais se efetua a tomada de posição do sujeito falante em relação as representações das
quais ele é o suporte. Em outras palavras, Pecheux indica a necessidade de uma mudança
de problernatica, na qual a noção de sujeito cartesiano, psicológico.” ( p á g . 8 3 )
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“ O primeiro passo desta caminhada epistemológica constitui-se no fato de pensar os
discursos no interior de uma teoria critica da sociedade. E precisamente a partir desta
inclusão que se pode refletir sobre as condições de possibilidade dos discursos, ou seja,
as condições que permitem que, em um dado momento histórico, as palavras tenham
uma determinada significação e não outra. Como assinala Foucault, estas condições de
possibilidades estão inscritas nos próprios discursos, forçando-os a enunciar certas coisas,
indicando os objetos sobre os quais se pode falar. Foucault fala de informações
discursivas, unidade teórica construída pela proposta de interdependência dos discursos
e de suas condições de produção.” (Pág.84)
“A semiologia dominante é uma teoria da interpretação dos discursos, vistos como
argumentos. Tal abordagem reduz a analise a um plano imanente, comandado por leis
estruturais intradiscursivas, que levam a uma visão estática do processo argumentativo,
que por sua vez encontra-se fortemente condicionado pela relação emissor receptor.”
(p á g . 8 5 )
“ Segundo Barthes, a retorica do discurso nasceu por volta de 485 a.c., como
consequência dos processos de propriedade. Tais processos eram de um tipo novo,
mobilizavam juris populares diante dos quais era necessário ser eloquente. A retórica
nasce, assim, como uma reflexão sobre o discurso para a defesa da propriedade.”
( pág.86)
“A retorica de Perelman pode ser vista como retomada do pensamento aristotélico. Trata-se
fundamentalmente de uma teoria epistemológica sobre os discursos, uma vez que o seu
objeto principal é o de questionar as posturas epistêmicas do cartesianismo. A partir de
uma reflexão sobre as funções do discurso, Perelman procura estabelecer bases
diferenciadas para a teoria do conhecimento.” (pág.92)

“As afirmações de Viehweg escandalizaram os neopositivistas lógicos, pois como o


problema não pode ser enquadrado dentro de nenhum sist ema demonstrativo, jamais
se poderá decidir se uma enunciação constitui um pseudoproblema.” ( pág.94)
“As dimensões tópicas da ciência jurídica seriam, para Viehweg, uma forma de
aparecimento, neste tipo de discurso, da interessante busca do justo. Encobre, desta
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forma, as variáveis políticas que regulam a produção dos diferentes discursos nas
ciências sociais.” ( pág. 95)
“Por certo, o que fortalece as linhas de argumentação contraditórias e a possibilidade de que
os seus argumentos possam ser vistos como deriváveis (ou vinculados) a um mesmo
tópico, Observa-se , assim, um discurso construído a partir de tópicos fundantes que, em
geral, não aparecem manifestos no discurso.”( pág.96)
“Este trabalho constituiu-se em uma pesquisa crítica sobre os principais pontos de vista
linguísticos e semiológicos que incidiram no saber jurídico dominante. Entretanto, torna-se
necessário falar de uma conclusão para o presente estudo, pois com ele não se pretendeu
valorar os empreendimentos linguísticos ou semiológicos dos juristas. O nosso principal
objetivo foi ode compreender a situação atual, fornecendo algumas sugestões
introdutórias a um novo programa semiológico para o direito.” (pág.99)
“Com referência às análises pragmáticas das linguagens jurídicas, comprova-se uma certa
insuficiência analítica nas questões vinculadas a relação das enunciações jurídicas com as
praticas politicas e id eo ló gi ca s da s oc ie da de , assim, como de suas próprias dimensões
politicas. As abordagens pragmáticas ficam presas ainda a uma tarefa de desmistificação,
de denuncia do valor persuasivo dos discursos do direito, que é, em muitos aspectos,
insatisfatória, em virtude da sua persistência em tratar exclusivamente em termos linguísticos
os discursos. Assim é oportuno afirmar a necessidade de um estudo que tome
analiticamente manifestas as insuficiências pontadas.” (pág.100)
“Nesta ordem de ideias, a semiologia politica pretende situar a produção discursiva na
produção social geral. Na semiologia tradicional, perduram os marcos de um certo
positivismo linguístico, com os quais se pretende deduzir a eficácia persuasiva dos
discursos, através de uma analise autônoma (puramente linguísticas), que não analisa o
valor politico do discurso e não tematiza articulação do nível discursivo com o conjunto da
formação social.” (pág.100)
“Observa-se ainda na semiologia uma tendência perigosa em vincular o d iscurso, aos
sujeitos e as suas interações comunicacionais. Na verdade o discurso necessita ser
vinculado aos diversos elementos do todo social. O discurso e um dado social, que não
pode ser isoladamente abordado, principalmente se o interesse da pesquisa aponta a
determinação do valor social das significações.” (pág.101)
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“Focalizando a nova pro posta semiológica sobre o discurso e seu funcionamento político
na sociedade, deve-se afirmar que os gigantescos com plexos produtivos do nosso tempo
determinam processos comunicacionais distanciados onde os emissores e receptores
encontram-se mediatizados por solidariedades semiológico-produtivas normalizadoras
de seus corpos. A dinâmica deste processo exige a verificação dos argumentos e discursos
além dos seus efeitos persuasivos, como paradigma de convivência e manipulação político-
desejante da vida dos indivíduos.” ( pág.102)
“Examinado o conjunto de nossos trabalhos, nos últimos dez anos, não se pode dizer que
eles constituem uma contribuição para o desenvolvimento de um futuro campo disciplinar
(como se pretendia no início). Os dois omitimos a preocupação por fundar uma nova
disciplina. Não existe nada em nossas praticas de escritura e de oralidade que permita
afirmar uma constante preocupação por definir, em senti do estrito, o saber da Semiologia
Política. Unicamente se pode concordar que em toda nossa produção esta presente a
potencia das configurações de sentido como problema. E nosso denominador comum.
Desenvolvemos uma semiologia politica implícita, que agora permite, e convida propor,
uma articulação em varias tramas reflexivas. É o que farei neste posfácio.” ( pág.106)
“Chegamos assim ao ponto de redefinição da Semiologia Politica, ao ponto deslocamento
sobre o qual trabalhei nos últimos dez anos; o ponto de giro que fundamenta minha
passagem da semiologia do Poder para a semiologia do Desejo. A Semiologia Política
revista como Semiologia do Desejo. O polo da produção das significações libertarias. A
proposta de uma leitura psicanalítica das significações do poder e do poder das
significações. A leitura psicanalítica das linguagens (discursivas e extra discursivas) da lei
do poder, da verdade e da subjetividade. A semiologia que se ocupa do universo das
significações políticas em sua expressão mais ampla: as significações do Poder e do
Desejo.” (pág.107)
“É de lamentar que alguns jurista identifiquem o inesperado, como sentido, com um
abandono da preocupação pelas questões do Direito. O inesperado de meu pensamento
(filosofico-semiologico) não e outra coisa que a afirmação de que as significações do
Direito se fundam e se constituem no social histórico, e não ao contrario.” ( pág.108)

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A semiologia jurídica, desde seus inícios, sempre foi politica. Nasceu como um instrumental
de apoio para um positivismo desejoso de vencer a hegemonia do imaginário jus
naturalista. Começou como urna sofisticada arma de combate na guerra de teorias entre 0
jus naturalismo e o positivismo jurídico.” ( pág.109)

“O poder é o produto das forças em jogo numa sociedade. O poder produzido consolida
suas condições reprodutivas através de "dispositivos de significação", que organizam a
sociedade e suas instituições, e asseguram a presença do poder quando a forca falta. É
através de seus "dispositivos de significação" que o poder disciplina os corpos fazendo
com que os membros de uma sociedade vinculem seus desejos ao poder.” (pág.110)

“A sociedade se institui como totalidade na constituição significativa de um "realismo


imaginário" que se apresenta como a realidade homogênea. Um universo de significações
que se simulam imodificáveis, com a forca de uma "evidência imaginária” chamada de
"realidade objetiva". ( pág.111)

“O polo da autonomia instaura a possibilidade de uma subjetividade reflexiva e


deliberante, que deixou de ser uma maquina pseudo-racional e socialmente adaptada. Urna
subjetividade que reconhece e liberta a imaginação radical no núcleo da psique.”
pág.113)
“A Semiologia politica, em suas origens, não considerou a criatividade (O "imaginário
radical") como objeto de suas preocupações. Nossa abordagem inicial esteve centrada nas
questões do poder. Desenvolvemos a Semiologia Política como semiologia do poder.”
(pág.115)
“A semiologia do desejo introduz, para a semiologia politica, a questão da subjetivação
como possibilidade de criação de novos estilos de vida .Uma forma de fugir de uma
semiologia que aprisiona a vida para uma semiologia que libere a vida.” ( pág.117)
“O objeto da semiologia do desejo é a subjetivação. E1a não é de modo algum uma
formação do saber ou uma função do poder. A subjetivação se distingue do saber e do poder

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;é u m processo que se desenvolve fora destes dois registros do polo de captura. É o
processo de construção do estilo de vida para a autonomia.” ( pág.117)
“Enfim, com a semiologia do desejo começo a propor uma pragmática da mobilidade, que
não se encontre fundada em universais que reprimam. Focos mutantes de significação
suscetíveis de fazer bifurcar a existência (pessoal e coletiva). Cortes de sentido, rasgões
de um conteúdo semiótico; polifonias, contrapontos, ritmos existenciais inéditos e
inusitados. Abalos no interior de tecidos significacionais coagulados.” (pág.118)

“O impossível falar do Direito sem a referência a instituição imaginária da sociedade, como


polo de imputação e de atribuição: é estabelecida segundo normas sem as quais não pode
haver sociedade. Assim, grande parte das significações imaginarias instituídas pode ser
considerada como mediações jurídicas. A validade efetiva de uma sociedade seu imenso
edifício instituído concerne ao Direito(positivo).” (pág.119)
5 OUTRAS OBSERVAÇÕES:
O Direito e sua linguagem aborda em sentido amplo, a teoria dos signos, do qual concebe o
modelo analítico das teorias verbais, a língua falada, suas atribuições, os paradigmas e a
história da semiologia dos signos referenciando a sociedade e o porte jurídico no engajar do
conteúdo literário histórico.
Para Sausurre a linguagem falada é a mais importante, pois interage através de gerações e
serve como base para demais atribuições linguísticas, igualmente o símbolo da justiça e de seu
significado e imutabilidade para o direito.
Através de grandes pensadores e filósofos, Saussure assimila suas ideias tais quais as de
Aristóteles que definia a essência do objeto através da definição do gênero e suas subclasses e
também ao positivismo lógico como uma linguagem natural resultante do senso comum. A
validade impulsionada por Kelsen também é criticada pelo Saussure pela invalidade das
normas positivistas. Através de basicidades lógicas e sócio-políticas da história do direito e da
ciência jurídica, Saussure relaciona aspectos da linguagem, fatores preponderantes e
correspondentes a seu ponto de vista e do saber jurídico, as relações no uso do senso comum
nas comunidades linguísticas e a cultura juridicista e suas crenças e ideologias.

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