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ISBN 978-85-7856-048-5
CDD 410
Universidade de Pernambuco - UPE
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Linguística I
Prof.a Sônia Virgínia Martins Pereira
Carga Horária | 60 horas
Temática
Caminhos iniciais da linguística como a ciência da linguagem
Ementa
Estudo da ciência da linguagem: suas proposições teóricas, abrangência e alcance
de suas possíveis aplicações. Percurso da concepção clássica de língua à teoria do
signo. Modalidades oral e escrita da língua. O legado de Ferdinand Saussure e
de Chomsky para os estudos e métodos de ensino de língua. Formalismo e Fun-
cionalismo. Introdução aos estudos pragmáticos. Enfoque epistemológico dos
conteúdos.
Objetivo Geral
Refletir sobre as proposições teóricas, abrangência e aplicações da Linguística,
analisando o percurso dessa ciência, de seus postulados iniciais às teorias mais
recentes.
Apresentação
Prezado(a) aluno(a)
É com bastante satisfação que iniciamos este curso que pretende trilhar os ca-
minhos percorridos pela Linguística até adquirir o estatuto de ciência da lingua-
gem. E, para o percurso nessa trilha, sua companhia será indispensável, uma vez
que você, como estudante do Curso de Letras, deverá estudar as disciplinas que
embasam o seu curso de graduação, sendo a Linguística, dentre elas, um compo-
nente importantíssimo.
Por fim, colocaremos, em evidência, o legado de Saussure para a constituição desse domínio e do objeto
de estudo dessa ciência, uma vez que o mestre genebrino é considerado o “pai da linguística moderna”,
por ter proporcionado à linguística a condição de ciência independente.
Por essas vias percorridas, esperamos que você se encante com esta disciplina e que isso seja, apenas, o
primeiro passo de um agradável encontro com essa ciência.
Então, o que você está esperando? Que tal começarmos agora a caminhada?
Abraço,
Prof.a Sônia Martins
Capítulo 1
Capítulo 1 7
Linguística I
Prof.a Sônia Virgínia Martins Pereira
Carga Horária | 15 horas
Temática 1
Os Estudos da Linguagem e a Constituição do
Campo da Linguística
• Língua e linguagem
• Comunicação animal e linguagem humana
• Sistema, norma e fala
Língua
Caetano Veloso
O que faz neste contexto a emblemática foto de referência desse fenômeno o ser humano. Alguns
Einstein junto com trechos da canção de teóricos utilizam até uma denominação diferen-
Caetano? ciada, quando se referem à comunicação animal.
Este autor defende que os animais possuem o seu
Aparentemente, não há nenhuma relação entre próprio “sistema de signos” que, em comparação
uma coisa e outra, ainda mais quando se pretende com a linguagem humana, apresenta uma signifi-
falar sobre os princípios fundadores da Linguística. cativa distinção não só quantitativa mas também
Entretanto, quando se tem em mente que esses qualitativa.
princípios estão ancorados em conceitos sobre a
língua, não apenas como estrutura do aparelho Então, já estabelecemos a primeira fronteira nesta
fonador – embora isto seja importante para a Fo- disciplina, quando nos voltamos para os estudos
nética e a Fonologia, áreas da Linguística que estu- da Linguística como ciência da linguagem huma-
dam os sons da fala – e também sobre a linguagem, na. Agora, vamos nos ater a questões importantes
parece-nos importante entender os princípios que que dizem respeito ao surgimento desse fenômeno
regem esses conceitos. próprio das relações humanas, na tentativa de aju-
dar você a entender como surgiu essa linguagem.
Primeiramente, gostaria que você refletisse sobre o
que é a língua. Não o órgão mostrado por Einstein Mas será que podemos dar apenas uma
na foto, mas como o sistema cantado por Caetano explicação para a origem da linguagem humana?
em sua música.
Diante das mais diferentes teorias que tentam
E então, já pensou? explicar como surgiu esse fenômeno, nosso papel
como profissionais, que têm como instrumento de
É, embora o primeiro verso da canção de Caeta- trabalho a linguagem, é o de tentar elucidar como
no traga uma fabulosa ambiguidade que nos deixa estudos atuais, sob as mais diversas perspectivas,
pensar sobre a língua de Camões, não só como ór- embasadas em estudos antropológicos ou de ou-
gão mas também e, principalmente, como sistema tras ciências que tentam explicar essa origem.
vivo que contribui para a comunicação e interação
humana, a língua a que nos reportaremos é aque-
la com a qual podemos interagir com as pessoas e
que nos leva a práticas de linguagem. VOCÊ SABIA?
o
teorias que explicam
Teorias - Dentre as em hu ma na , há
lin gu ag
Então, vamos trabalhar conceitos fundamentais desenvolvimento da a
voltam, apenas, para
para a Linguística, procurando entendê-los à luz aquelas que não se o foc o em no s-
eno com
gênese desse fenôm co-
de concepções teóricas específicas. ces tra is, ma s igualmente, para o
sos an é ap ro-
essa linguagem
nhecimento de como
no.
Você já questionou sobre como surgiu a priada pelo ser huma
linguagem? se voltam para essa
úl-
Um dos teóricos que go tsk y, pa ra
a está Vy
tima questão apontad co mu nic aç ão qu e
Pois saiba que esta indagação faz parte da condição e de
quem é a necessidad , o de sen volvi-
me nte
humana, visto que nós, seres humanos, procura- impulsiona, primeira n-
humana. Seu livro Pe
mos sempre uma explicação para tudo o que existe. mento da linguagem da ori ge m e do
trata
samento e linguagem to
so de de sen vo lvi mento do pensamen
proces e, seg un -
ser humano, qu
e da linguagem no s e de sen vo l-
Questões sobre a Origem da Linguagem ns diferente
do o autor, têm orige e-
seg un do tra jet órias diferentes e ind
Humana da Comunicação Animal vem- se
e ocorra a estreita lig aç ão
pendentes, antes qu
is fen ôm enos.
entre esses do
Para se falar sobre a linguística como a ciência da
linguagem, é preciso delimitar, primeiramente, a
que tipo de linguagem estaremos nos referindo. Dentre as tendências atuais que abordam o tema,
Logicamente que, para algumas pessoas, essa deli- temos a que interrelaciona o crescimento cultural
mitação é bem nítida, uma vez que entendem que significativo ocorrido há cerca de 50 mil anos ao
só se pode falar em linguagem, se tivermos como desenvolvimento da linguagem verbal, uma vez
Capítulo 1 9
que seria impossível esse florescimento sem as formas de linguagem estarem estruturadas. Por meio de
estudos que pesquisam os objetos construídos pelos seres humanos ao longo de sua evolução e de regis-
tros pictóricos, a exemplo das pinturas rupestres encontradas em vários continentes, os antropólogos têm
sustentado hipóteses interessantes sobre os caminhos percorridos pelos seres humanos, na construção de
sua cultura material e simbólica, o que fortalece a ideia de que a origem da linguagem humana é bem mais
remota do que se imaginava.
A visão de Faraco, em seu artigo No rastro da fala, publicado no periódico Discutindo a língua portuguesa que
trata da origem da linguagem humana a partir de uma perspectiva antropológica, a questão da linguagem
está amplamente ligada à própria origem e evolução da humanidade, uma vez que se entende que o ser
humano só pode construir cultura por meio da mediação da linguagem.
Atividade | Diante disso, pesquise, em ou- Citamos no início deste tópico que, ao diferenciar
tras fontes, o que diferentes perspectivas teó- a linguagem humana da comunicação animal, al-
ricas apontam como o início desse fenômeno, guns teóricos chegam a denominar essa comuni-
que é a linguagem humana. cação como sistema de signos . Esse sistema seria
tão limitado que não permite comparar, sequer em
Após essa pesquisa individual, procure entender termos quantitativos, o que alcança a linguagem
o porquê da linguagem, como realidade material humana com seu poder de decompor e recombi-
que se apresenta por meio de uma língua, a qual nar os signos verbais, o que gera infinitos enuncia-
se organiza por meio de sons, palavras, frases, ser dos bem como o poder de substituir a mediação da
autônoma; e como expressão de emoções, ideias, experiência pela mediação desses mesmos signos.
propósitos ser a própria linguagem, orientada pela
visão de mundo, pelas condições do contexto so-
cial, histórico e cultural dos falantes. VOCÊ SABIA?
tópico será visto
Signos - No terceiro
E quanto à comunicação animal , o que dizem nte o que é o signo,
mais amplame
as teorias a respeito disso? reensão inicial
mas para uma comp
s defini-lo como
do conceito, podemo
qu e rep res enta ou ex-
um elemento
evento, uma
pressa um objeto, um
VOCÊ SABIA? situação.
or-
- Outra questão rec
Comunicação animal nh eci - r, por exemplo,
ística, além do co O termo computado
rente para a Lingu ma na, resenta o objeto
da lin gu ag em hu é um signo que rep
mento sobre a origem lo 1 é um signo
tra ta so bre a co municação animal. computador; o sím bo
éa qu e
tid ad e um ; o desenho
para a quan
gua- um x sobre ele
Emile Benveniste, Lin de um cigarro com
O polêmico texto de e é ou ambiente é um
da a de fin ir o qu em um determinado
gem das abelhas, aju tar o fun- ica “n est e local não se
itindo confron signo que ind
não linguagem perm do s an im ais
a de sig no s pode fumar ”.
cionamento do sistem gu ag em hu ma -
s da lin
com as especificidade
na.
Por outro lado, os sistemas
dos outros animais estão do-
Fonte: (Foto: H.R. Heilmann/Divulgando)
ou para a consecução de
Vejamos o que pode- procedimentos para outras
mos apreender sobre necessidades, tais como a
a forma como os ani- procriação.
mais de comunicam.
Comunicação elaborada ajuda animais a aproveitar
as melhores flores. Outra diferença significativa
10 Capítulo 1
entre os dois sistemas é no que se refere à significa- • o sistema, que é o conjunto de possibilidades
ção, ao aspecto semântico. Enquanto na comuni- de uma língua, definindo o que pode e não
cação animal os signos têm sentido único, ou seja, pode ser linguisticamente realizado;
são determinados semanticamente, na linguagem
humana, os signos tornam-se plurissignificativos • a norma, conjunto de imposições sociais e cul-
pelo seu uso na interação humana, que pode im- turais que favorecem o uso de determinadas
pulsionar a linguagem figurada, tornando, assim, a possibilidades do sistema em detrimento de
linguagem indeterminada semanticamente. outras.
Essas são apenas diferenças gerais que marcam a Na Linguística, os termos sistema, norma e fala re-
distinção entre a linguagem humana e a comuni- presentam realidades distintas, mas que mantêm
cação animal. Outros estudos sobre o tema podem entre si relações de interdependência.
levantar outras diferenças mais específicas a partir
da ótica adotada pelos pesquisadores. Leia abaixo o quadro que traz uma homenagem ao
Rio de Janeiro após esta cidade ter conquistado o
Acima destacamos a grande diferença que há entre direito de sediar as Olimpíadas de 2016:
a linguagem humana e a comunicação animal.
seja
Que diferenças são essas que apontam tanto
para uma distância quantitativa quanto quali-
tativa entre esses dois fenômenos?
maravilhosa
Pense nisso e aprofunde seus estudos sobre o
Parabéns, Rio de Janeiro. A cidade-sede dos Jogos
tema. Olímpicos de 2016.
veja
SAIBA MAIS! Ler é indispensável.
Problemas de lin-
O capítulo 5 do livro
nveniste, “Comu-
guística geral, de Be Fonte: Revista Veja Editora Abril edição 2133 – ano 42 – nº 40 7 de outubro de 2009
guagem humana”,
nicação animal e lin
s conhecimentos
para aprofundar seu
sobre esse tema. Esse enunciado mostra que por meio de uma úni-
ca unidade da língua, nesse caso, um grafema,
A partir do que foi exposto sobre língua e lingua- existe a possibilidade de variados sentidos serem
gem, vamos agora conhecer algumas definições im- construídos. A homenagem feita pela revista feli-
portantes acerca de sistema, norma e fala, que são cita o Rio de Janeiro, trocando, apenas, a palavra
aspectos das línguas. veja – numa referência ao nome do periódico - por
seja, aproveitando também o adjetivo atribuído à
Alguns linguistas conceituaram por diferentes cidade, chamada de maravilhosa.
perspectivas esses fenômenos, ampliando o que
Saussure – que estudaremos mais adiante - conce-
bia a respeito disso. Entretanto, o que nos interes-
sa neste momento é dar um panorama geral sobre VOCÊ SABIA?
eles, de forma mais didática. Em decorrência disso, a a unidade formal mí
-
vamos nos ater às concepções do linguista Eugénio Entende-se por grafem z sen do mí nim a,
uma ve
nima da escrita, que, r
Coseriu (1921-2002), que definiu assim os concei- div isív el, po is nã o pode se desmembra
não é m vir a ser
ais que pode
tos que estamos estudando: em dois ou mais sin abs-
gra fem as. É formal por ser
considerados to co nc ret am en-
de ser vis
Língua: sistema abstrato. trato, ou seja, não po ão . As-
a sua representaç
te, embora vejamos ilo s da let ra V
mas e os est
sim, as diferentes for um as oc orr ên cia s
Fala: realização concreta desse sistema. ões, alg
vvv são representaç
a.
possíveis de um grafem
Para Coseriu, a língua pode ser vista a partir de
dois níveis de abstração:
Capítulo 1 11
Isso serve para entendermos os conceitos vistos an- atos comunicativos, produzidos pelos falantes de
teriormente, uma vez que o sistema é o conjunto uma língua, a fim de atuarem interacionalmente
formado pelas unidades da língua que estão efeti- no mundo.
vamente em uso e também aquelas que podem vir
a ser usadas, segundo regras estabelecidas. Como E assim, “pegando carona” nos conceitos estuda-
no exemplo dado, há várias palavras na língua por- dos na temática 1, vamos iniciar os estudos sobre a
tuguesa em que a troca de um fonema/grafema temática 2 deste capítulo, discutindo sobre a natu-
pode representar aspectos bem distintos, e os usu- reza das modalidades oral e escrita da língua.
ários podem entendê-las, uma vez que os sentidos
desses vocábulos são construídos tacitamente pelos
usuários da língua, e não, pelos gramáticos, que, Temática 2
apenas, as descrevem. Embora a língua evolua com
a criação de novos termos que representam mais Modalidades Oral e Escrita da Língua
eficazmente a realidade de determinado contexto
sócio-histórico, as modificações no sistema linguís- Subtema: A linguagem oral e a linguagem escrita
tico só se concretizam, quando assumidas pela co- Subtema: A natureza da modalidade oral
letividade. Assim, o sistema é a própria língua ou Subtema: A natureza da modalidade escrita
código linguístico e corresponde ao conjunto das
possibilidades verbais dessa língua. Marcuschi (2001) ensina que a modalidade oral
e a modalidade escrita da língua não devem ser
vistas como realidades estanques, numa visão dico-
VOCÊ SABIA? tômica que tenta, por vezes, legitimar a superiori-
nor unida- dade da escrita sobre a fala.
O fonema é a me
gu a. A palavra
de sonora da lín
co ns titu ída a partir da Você concorda com essa visão de Marcuschi?
falada é
s un idades
combinação dessa
os fon em as.
mínimas de som, Para esse pesquisador, tais modalidades devem ser
vistas num contínuo1, em que as diferenças entre
Na visão de Cosèriu, norma consiste nos padrões elas se estabelecem pelas condições de produção
de uso da língua, na maneira como o sistema ou em que se manifestam.
código linguístico é utilizado pelos usuários. Em
decorrência da norma, os falantes utilizam certas Apesar de concordarmos plenamente com o que
possibilidades da língua ou descartam ou ainda diz Marcuschi, entendemos que tanto a fala quan-
nem utilizam outras. Daí, serem perfeitamente to a escrita apresentam particularidades de outras
aceitáveis manifestações sintático-semânticas como ordens que as tornam modalidades específicas
seja maravilhosa ou veja maravilhosa, ou ainda Para- da língua. Essas particularidades são, realmente,
béns, Rio de Janeiro ou Rio de Janeiro, parabéns. E não específicas de cada uma delas, a exemplo de ele-
serem aceitas construções como ler é maravilhosa. A mentos extralinguísticos, como a gesticulação, que
norma determina a aceitabilidade ou não de tais contribuem para a interação na fala ou a reescrita
construções. de um texto em que se pode apagar, literalmente,
trechos de texto anterior por meio de recursos do
Quanto à fala, esta é considerada a concretização computador ou de liquid paper e borracha, na lín-
ou realização do sistema. É a particularização, o gua escrita.
uso individual da língua pelos falantes. Por meio
da fala, a língua exerce o seu papel de instrumen- Em decorrência disso, apresentaremos, a seguir,
to de comunicação, de meio de interação entre algumas diferenças entre linguagem oral e lingua-
os usuários. Por isso, você, ao emitir a sequência gem escrita com base nos estudos de Chafe (1987),
[‘pa.ta], que se associa ao significado p a r a descritos por José Mário Botelho, o qual também
constituir o lexema ou palavra pata, está produzin- coloca em destaque a natureza dessas duas modali-
do fala. Esse fenômeno é constituído de infinitos dades da língua.
1
A ideia de contínuo em Marcuschi diz respeito ao que está fundado nos próprios gêneros textuais em que manifesta o uso da língua no dia-a-
dia. O princípio geral subjacente a isso é a visão não dicotômica entre oralidade e escrita.
12 Capítulo 1
Entretanto, outros estudos são importantes para limitada em extensão pela memória de curto prazo
essa compreensão sobre as particularidades dessas ou capacidade de consciência focal do falante como
modalidades, e, por isso, você deve procurar apro- também supõe o pesquisador, pela consciência que
fundar esse tema em suas pesquisas particulares. o falante tem das limitações de capacidade do ou-
vinte.
Botelho descreve o contexto, a intenção do falante
ou do produtor do texto escrito como sendo os fa-
tores responsáveis pelas diferenças entre oralidade VOCÊ SABIA?
ura
o é a variação de alt
e escrita. Entonação ou entoaçã bre um a pa lav ra
rec ai so
utilizada na fala que ba s. En -
fonemas e síla
Em resumo, apresenta as especificidades dessas di- ou oração e não sobre s da pro só dia
o elemento
tonação e ênfase sã .
ferenças a partir dos estudos de Chafe (1987), que ele me nto de estudo da Linguística
que é um
analisou produções discursivas da oralidade – con- (Wikipédia)
versação e conferência e produções discursivas da
escrita – carta e artigo acadêmico, buscando focali-
zar os modos como os produtores dos textos tanto
orais quanto escritos fazem suas escolhas lexicais VOCÊ SABIA?
a
ou sintáticas para exporem suas ideias. A partir mória existentes, há
Dentre os tipos de me me mó ria de tra-
dessas observações, temos pontuadas as primeiras zo ou
memória de curto pra ita-
com capacidade lim
diferenças entre as duas modalidades: balho, que é aquela inf orm aç õe s, de
to de
da de armazenamen xim o, de po uc os
, no má
• A escolha dos falantes é mais rápida enquan- alguns segundos ou
minutos.
to a dos produtores de textos escritos é mais
lenta, visto que estes podem desfrutar de mais
tempo para elaborar suas ideias e revisar suas O pesquisador tem por finalidade, através do seu
escolhas. estudo, demonstrar as propriedades da linguagem
oral e da linguagem escrita e, para isso, utiliza esses
• Em decorrência do processo mais longo na parâmetros que o ajudam a estabelecer as especifi-
escolha dos escritores, o vocabulário destes cidades de cada uma dessas modalidades: varieda-
tende a ser mais variado e adequado à sua con- de de vocabulário, nível de vocabulário, constru-
veniência. ção de oração, construção de frase, distanciamento
e envolvimento.
• Tanto a escolha lexical dos falantes quanto a
dos escritores resultam na formatação de um
estilo próprio e no monitoramento do grau de SAIBA MAIS!
formalismo e coloquialismo de suas produções ão descritos no artigo
Esses parâmetros est os
você pode estudá-l
discursivas. que sintetizamos e ch o do
uir. Leia o tre
acessando o link a seg
é Má rio Bo telho, disponível, na
• Quanto a esse monitoramento, a distinção artigo de Jos
entre fala e escrita não é precisa, visto que as íntegra, em: /03.htm
.br/ixcnlf/3
http://www.filologia.org
restrições operativas não estão ligadas propria- :
i Da fala para a escrita
mente à velocidade do processo. O livro de Marcusch a lei tur a
lização é um
atividades de retextua
ia pa ra o ap rofundamento sobre
de referênc l
• Em relação ao grau de formalismo ou de colo- o tre linguagem ora
en
a questão do contínu
quialismo, isso envolve escolas estilísticas e de
e linguagem escrita.
domínio do léxico que podem transferir-se de
um modo de produção para outro sem nenhu-
ma dificuldade. Vamos continuar nossa caminhada de estudos por
caminhos diferentes, mas perseguindo a mesma
O artigo ressalta que Chafe elege a prosódia como reta de chegada, pois ainda discutiremos funda-
a unidade relevante da fala, a qual chama de uni- mentos valiosos para os estudos linguísticos, foca-
dade de entonação . Na escrita, as unidades de en- lizando, apenas, as concepções de Ferdinand Saus-
tonação são mais longas do que na fala, sendo esta sure, o “pai da linguística moderna”.
Capítulo 1 13
Temática 3
Saussure e a Constituição do Domínio e do Objeto da Linguística
Primeiramente, vamos sintetizar algumas ideias gerais sobre a história da Linguística e os processos viven-
ciados por essa ciência, para que você comece a construir algumas noções básicas a respeito dela, com base
em alguns pesquisadores.
Segundo Weedwood (2002), o termo Linguística passou a ser utilizado em meados do século XX, para
distanciar a nova abordagem dos estudos da linguagem que se passava a fazer, a partir de então, de uma
abordagem centrada na filologia . Atualmente, entretanto, a Linguística abarca todas as perspectivas que
examinam os fenômenos da linguagem, inclusive os estudos gramaticais tradicionais e a filologia. Ela
afirma que a Linguística tal como é vista hoje passou a demarcar seu território a partir de 1950, sob a
influência das ideias estruturalistas de Ferdinand de Saussure.
VOCÊ SABIA?
JÚNIOR, 1986,
Ma tto so Câ ma ra Junior (CÂMARA r
Filologia - Joaqu im ica literalmente “amo
qu e filo log ia é um helenismo, que signif esp eci alm en te
117) afirma tido de erudição,
princípio, com o sen na, estrita-
à ciência”, usado, a se do s tex tos literários. Hoje desig
ge
quando interessada
na exe nto, da linguística.
o da lín gu a na lite ratura, distinto, porta
mente, o estud
Essa afirmação sobre a influência de Saussure para Corroborando essas afirmações, Peter (2002) diz
o processo de constituição dos domínios da Lin- que
guística é bem aceita pelos pesquisadores, visto que
é apenas, no início do século XX, com a divulgação “Antes disso, a Linguística não era autônoma, submetia-se
dos trabalhos de Saussure, que a investigação sobre à exigência de outros estudos, como a lógica, a filosofia, a
a linguagem passa a ser reconhecida como estudo retórica, a história ou a crítica literária. O século XX ope-
rou uma mudança central e total dessa atitude, que se ex-
científico, tornando-se uma ciência independente
pressa no caráter científico dos novos estudos linguísticos,
chamada Linguística. A obra fundadora dessa ci-
que estarão centrados na observação dos fatos de lingua-
ência, o Curso de Linguística Geral , foi publicada gem”.
em 1916, por dois alunos de Saussure, a partir de
anotações de aulas ministradas pelo mestre gene- Alguns autores dividem o campo da Linguística
brino. por meio de três dicotomias, sendo elas, a linguísti-
ca sincrônica e a diacrônica, a linguística teórica e
VOCÊ SABIA? a aplicada, a microlinguística e a macrolinguística.
ca Geral é
O Curso de Linguísti
ma organiza- Como lemos acima, a Linguística passou a ser con-
uma obra póstu
arl es Ba lly e Albert
da por Ch siderada ciência com a contribuição dos estudos
de Ferdi-
Sechehaya, alunos de Saussure, que, apesar de ter publicado poucas
re. Tal obra
nand de Saussu obras relevantes, o livro atribuído a ele, o Curso de
e est rut ura lista dos
inicia a fas
e apre- Linguística Geral, editado a partir de anotações de
estudos da linguagem
nto s teó rico-
senta os fundame aula de seus alunos Bally e Sechehaye, construiu as
os de ssa esc ola,
metodológic bases da linguística moderna. Em vista disso, Saus-
inf lue nc iar am ou tras
os quais sure é referência para qualquer teoria linguística
ciências.
atual.
14 Capítulo 1
Então vamos conhecer um pouco mais sobre os ma de signos” – um conjunto de unidades que
fundamentos teóricos de Ferdinand de Saussure, se relacionam organizadamente no interior de
a começar da questão da língua como objeto da um esquema. É “a parte social da linguagem” e se
Linguística. apresenta exterior ao indivíduo, por isso não pode
ser modificada pelo falante, visto que obedece às
A Língua como Objeto da Linguística convenções sociais estabelecidas pelos usuários dos
sistemas linguísticos.
Um retorno – de novo, a língua, mas agora, sob a
visão de Saussure... Outro elemento importante para o binômio lin-
guagem-língua, conforme Saussure, é a fala. A fala
é um ato individual que resulta das combinações
“MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA” feitas pelo sujeito falante ao utilizar o código lin-
A LÍNGUA É MINHA PÁTRIA” guístico; expressa-se pelos mecanismos psicofísicos
(atos de fonação), necessários à produção dessas
combinações.
Lembra-se dos versos da canção do Caetano?
Assim, tem-se a clareza de que a distinção lingua-
Pois é, reportamo-nos a eles novamente para falar gem/língua/fala situa o objeto da linguística para
que a língua é, segundo Ferdinand de Saussure, Saussure. Dessa distinção, resulta a divisão do es-
um sistema de signos, ou seja, um conjunto de uni- tudo da linguagem em uma parte que investiga a
dades que estão organizadas formando um todo. língua e outra que analisa a fala. Essas duas partes,
entretanto, são inseparáveis, pois mantêm uma re-
Peter (2008) diz com relação à noção de língua lação de interdependência entre si, visto que a lín-
definida por Saussure que este considerou a lin- gua é condição para se produzir a fala, embora não
guagem “heteróclita e multifacetada” por invadir haja língua sem o exercício da fala. Por essa pers-
vários domínios, sendo ao mesmo tempo pectiva, há necessidade de duas linguísticas: uma
da língua e outra da fala. Ferdinand de Saussure
• física, fisiológica e psíquica; focalizou em seu trabalho a linguística da língua,
• individual e social. por ser esta, em sua perspectiva, “produto social
depositado no cérebro.
visto que ela “não se deixa classificar em nenhuma
categoria de fatos humanos, pois não se sabe como O Signo Linguístico
inferir sua unidade” (1969:17).
Para você entender o que Saussure quis dizer sobre
Pelo fato de a linguagem envolver uma diversidade o sistema de signos, observe as imagens abaixo:
de problemas bastante complexos e de diferentes
ordens, ela necessita da análise de outras ciên-
Figura 1
cias, além da investigação linguística. Em decor- Identificação Fônica
rência disso, Saussure a desprezou como objeto Significado
Palavra portuguesa
dessa ciência, por não se enquadrar naquilo que borboleta
signo linguistico
Para Saussure, a língua é, também, “um siste-
Capítulo 1 15
Fonte: studiofellixsatto.blogspot.com
Numa fórmula química ou de qualquer outro tipo,
há uma relação abstrata devido ao fato de tal rela-
ção ser apenas uma possibilidade de se concretizar
algo.
semiotica aplicada – Santaella
• emblemas são as figuras às
quais associamos conceitos,
Essas imagens, especialmente a figura 1, podem como a cruz, que nos remete
ajudar a esclarecer que signo é a combinação entre ao Cristianismo.
o significante (imagem acústica) e o significado (con-
ceito). É fundamental observar que, para Saussure, Ao vermos uma cruz cristã, reportamo-nos a uma
a imagem acústica não deve ser confundida com o série de conceitos referentes ao Cristianismo, seja
som, visto que ela, da mesma forma que o concei- aos que se ligam à morte e ressurreição de Cristo,
to, é psíquica e não, física. seja aos que nos induzem à ideia de expiação de
pecados, de perdão e outros que estão relacionados
A segunda imagem nos ajuda a esclarecer o que a fatos do Cristianismo. Assim, entendemos que o
Saussure afirma sobre a questão de que a ligação significado desse emblema como o de todo signo
entre o significante e o significado é arbitrária, depende da visão de quem o interpreta.
pois o sistema, que é a língua, é formado de uni-
dades abstratas e convencionais. Ou seja, não há • desenhos são os ícones e índices introduzidos
razão plausível para que cadeira se chame cadeira, por Peirce.
por exemplo.
ma que ocorra com os jogadores que estão no time Esses símbolos adquirem significação pelo que se
principal, o que lhes dá a chance de entrar nesse convencionou atribuir a eles socialmente e não
time – é que há o desejo velado ou não de que algo porque mantêm relação direta com o que repre-
aconteça com o titular (Lula) para que os reservas sentam.
(oposição) possam assumir a vaga no time princi-
pal (governo federal).
VOCÊ SABIA?
Peirce, símbo-
Na perspectiva de
que a relação
VOCÊ SABIA? los são signos em
na seu objeto
são aqueles signos
que, signo-objeto desig
Ícones para Peirce me nte da semelhan-
jeto, ind ica m qu ali da de independente
na relação signo-ob m ele - como
ob jet o po r po ssu írem ça que mantenha co ações
ou propriedade desse a no caso do ícone – ou da s rel
mum, no mínimo um
características em co o exe mp los de causais com o ob jet o – co mo no
entado. Sã o,
com o objeto repres i- caso do índice. Os
símbo los sã
me táf ora s e co mparações, figuras lóg itrá rio s cu ja
ícones rut ura s, portanto, signos arb
ros, desenhos, est e-
cas e poéticas, quad ligação com seu s ob jet os é est ab
modelos etc. cionadas.
lecida por leis conven
em
Peirce, são os signos
Índices, na teoria de há um a rel aç ão
-objet o,
que na relação signo ob jet o. O po ntei- • sinais são as imagens às quais estão associados
co m seu
direta, casual e real
índice. conjuntos de conceitos, como as placas de
ro de um relógio é um
r do
trânsito.
irce foi o fundado
Charles Sanders Pe no s, a Se-
ncia dos Sig
Pragmatismo e da Ciê Nesta imagem, está
miótica. conjugada uma série
de conceitos resultan-
• equivalências arbitrárias são os sím- tes de um único, que
bolos referidos por Peirce. é o exposto, proibido
virar à esquerda.
A partir desse
conceito geral,
outros decorrem Proibido virar à esquerda
e alertam para o
fato de que, caso você desconsidere a orienta-
ção, pode colidir com outro veículo, pode ser
multado, pode desviar-se muito do caminho
pretendido etc.
• Quando se analisa a relação entre o signo e Em Louis Hjelmslev, temos os conceitos de Saussu-
seus respectivos significados, estamos diante re vistos de forma mais complexa. Ele substitui os
de um signo semântico. termos saussureanos significante por expressão e o
significado por conteúdo. A expressão e o conteúdo
• Quando nos voltamos para o estudo do valor, possuem dois aspectos: forma e substância, que, em
das reações e do modo como o signo é utiliza- Saussure, são algumas vezes confundidos com sig-
do, temos um signo pragmático. nificante e significado. Assim, para Hjelmslev, os
signos são constituídos de quatro elementos, dife-
Nosso já conhecido Ferdinand de Saussure é também rentemente de Saussure, para quem são dois.
considerado o pai da Semiologia por ter criado
esse conceito e estabelecido o objeto de estudo des- Numa perspectiva diferenciada do que vimos até
sa ciência. Sua concepção de signo se opõe à de aqui sobre o signo, temos em Mikhail Bakhtin a
Peirce, pois distingue o mundo da representação concepção de signo linguístico à luz da obra Marxis-
do mundo real. Para ele, não há signos motivados, mo e Filosofia da Linguagem. A relação entre os usos
aqueles que apresentam uma relação de causa-con- da linguagem e as estruturas sociais fundamenta
sequência – com exceção da onomatopeia. os trabalhos de Bakhtin, pois coloca a consciência
individual e os fenômenos ideológicos – produzi-
Saussure classifica os signos em dois grupos: dos pelo discurso- como sendo influenciados pelas
estruturas sociais e econômicas.
• Relativamente motivados – a onomatopeia,
que para Peirce corresponde ao ícone. Em decorrência disso, Bakhtin concebe o signo
linguístico não como um sinal imóvel, neutro e
• Arbitrários, nos quais não existe motivação. univalente e sim, como um signo sócio-ideológico,
no qual se destacam alguns princípios:
• langue em oposição à parole. Ainda que o ter- mslev (1899-1965), distingue-se do estruturalismo
mo francês langue possa ser traduzido literal- americano, que tem outros representantes e algu-
mente por língua, segundo a autora, é melhor mas implicações diferenciadas, a partir do contex-
traduzi-lo por sistema linguístico, que seria to em que ele é empregado. Ainda assim, o estrutu-
mais técnico. E, como exposto em tópicos an- ralismo americano mantém variadas características
teriores, esse termo diz respeito ao conjunto do europeu, que, como vimos, se fundamenta no
de regularidades e padrões de formação que pensamento de Saussure.
estão no seio dos enunciados de uma língua.
Atividade | Uma reflexão rápida:
• parole, também termo francês que pode ser 1. Que ideias do estruturalismo europeu
traduzido por “comportamento linguístico” e podem ser ampliadas a partir do pensamento
que nomeia os enunciados reais. atual, sob diferentes enfoques teóricos a res-
peito de sistema linguístico e enunciado?
Para Saussure, dois enunciados podem ser con- 2. O que você entende por enunciado?
siderados diferentes um do outro, sob diferentes
prismas e, contudo, ser reconhecidos como ilustra-
ções, em certo sentido, do mesmo enunciado.
LEIA MAIS!
Curso de Linguística
Lembre-se dos versos da música Língua, de Caeta- A obra de Saussure
ada no sítio
no Veloso: Geral pode ser consult e.com/curso-de-linguis-
-engin
http//www.pdf-search
tica-geral.pdf.html
“MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA” Estas e outras questões são importantes para tra-
A LÍNGUA É MINHA PÁTRIA” balharmos a temática 4 que trata das dicotomias
saussereanas. Vamos a elas!
• Semiologia x Linguística
• Significado x Significante
• Arbitrariedade x Linearidade
• Língua x Fala
Fonte: torneirasdefreud.blogspot.com
• Sincronia x Diacronia
• Sintagma x Paradigma
• Semiologia e Linguística
Dois termos enfocam o mesmo objeto: Semiologia
Teoria geral dos signos que se volta para a análise – que surge na Europa, com Saussure – e Semióti-
sobre o que eles consistem e as leis que os coman- ca, nos Estados Unidos, com Peirce.
dam. Ela difere da Linguística, porque esta é ape-
nas uma parte daquela ciência geral. • Significado e Significante
Enquanto a Linguística restringe-se ao estudo cien- Já compreendemos que o signo linguístico é para
tífico da linguagem humana, a Semiologia, além Saussure a união do conceito, que o signo traz con-
de se voltar para esse tipo de linguagem, preocupa- sigo, e a imagem acústica.
se, também, com a dos animais e de todo e qual-
quer sistema de comunicação, seja natural ou con- O conceito, que também pode ser chamado de
vencional. ideia, é a representação mental de um objeto ou
da realidade em que o indivíduo está inserido, sen-
do tal representação condicionada pela formação
sócio-cultural que influencia nossa existência des-
de o nascimento.
RESUMO
Como reflexão final, gostaria de propor a você uma investigação mais aprofundada sobre
as temáticas que estudamos.
Tendo em vista que os temas aqui trabalhados foram expostos de maneira introdutória, a
partir de agora você deve assumir o seu papel de pesquisador e descobrir muito mais sobre
os fundamentos da Linguística apresentados.
Outros princípios serão estudados no capítulo 2, sob novas perspectivas teóricas, especial-
mente com base no gerativismo. Que tal começar agora?
Abaixo, deixamos as referências e links que podem ajudá-lo a iniciar essa atividade de apro-
fundamento e de construção de novos conhecimentos.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. / VOLOCHINOV. Marxismo e fi- KRISTEVA, Julia. História da linguagem. Trad.
losofia da linguagem. Hucitec. São Paulo: São Maria Margarida Barahona. Lisboa: Edições
Paulo, 1997. 70, 1969.
_____________. Problemas de linguística geral MORI, Angel Carbera. Fonologia. In: MUSSA-
II. Campinas: São Paulo, Pontes Editores, 1989. LIN, Fernanda e BENTES, Anna Christina (orgs.)
Introdução à linguística: domínios e fronteiras.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que São Paulo: Cortez, 2008, v. 1, p. 11 a 24.
é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
MUSSALIM, F & BENTES, A. N. (orgs). Intro-
_____________Português ou brasileiro? Um dução à linguística: domínios e fronteiras. São
convite à pesquisa. São Paulo: Parábola, 2001. Paulo: Cortez, 2001. Vl. 1 e 2.
FIORIN, José Luiz. (org.). Introdução à linguís- TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma
tica: objetos teóricos. São Paulo: Contexto, proposta para o ensino de gramática no 1º e
2002. 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996.
Capítulo 1 23
SITES
http://www.uff.br/cadernosdeletrasuff/35/arti-
go7.pdf
http://www.alib.ufba.br/alib.asp
http://www.recantodasletras.uol.com.br/rese-
nhasdelivros/879104
2
Capítulo 2 25
Novos Percursos
para A Linguística:
As Contribuições
do Gerativismo
Prof.a Sônia Virgínia Martins Pereira
Carga Horária | 15 horas
Ementa
Estudo da ciência da linguagem: suas proposições teóricas, abrangência e alcance
de suas possíveis aplicações. Percurso da concepção clássica de língua à teoria do
signo. Modalidades oral e escrita da língua. O legado de Ferdinand Saussure e
de Chomsky para os estudos e métodos de ensino de língua. Formalismo e Fun-
cionalismo. Introdução aos estudos pragmáticos. Enfoque epistemológico dos
conteúdos.
Objetivos
Estudar as proposições teóricas, abrangência e aplicações da Linguística, analisan-
do o percurso dessa ciência de seus postulados iniciais às teorias mais recentes.
Apresentação
Prezado aluno, prezada aluna
Então nossa abordagem sobre o objeto de estudo da gramática gerativa considera-o como um fenômeno
que ocorre em várias línguas, inclusive a língua portuguesa, daí a importância dada neste capítulo a essa
perspectiva teórica que influencia a Linguística até os tempos atuais.
Desejo que estes estudos contribuam significativamente para a sua formação e que possam impulsioná-
lo a aprofundá-los no sentido de contribuir para o redimensionamento dos fundamentos teóricos aqui
apresentados.
Um abraço,
Desde suas primeiras manifestações que deram Trouxemos, resumidamente, as ideias gerais do
origem a seus fundamentos, o Estruturalismo to- Funcionalismo e do Distribucionalismo para in-
mou lugar de destaque, tendo contribuído com troduzir as primeiras noções sobre a teoria elabo-
diferentes ciências, além da Linguística. Na ciência rada por Noam Chomsky. Então, vamos conhecer
da linguagem, essa vertente teórica se solidificou um pouco sobre este cientista.
sob diferentes formas, sendo uma destas o Funcio-
nalismo. Teórico norte americano que revolucionou a lin-
guística ao se apoiar em modelos matemáticos para
descrever como se processa a comunicação huma-
VOCÊ SABIA? na.
á estudado
O Funcionalismo ser
nte no ca pítulo III.
detalhadame Ativista político que polemiza sobre questões pró-
prias do seu país, a exemplo de seu posicionamen-
Em linhas gerais, podemos dizer que o pensamen- to acerca dos atentados terroristas sofridos pelos
to funcionalista considera as funções desempenha- Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, mas
das pelos elementos linguísticos em seus diferentes igualmente sobre questões de ordem mundial,
aspectos: fônicos, gramaticais e semânticos. como seu apoio ao sionismo, o movimento religio-
so e político, originado no século 19, que pregava
O Distribucionalismo, que, segundo Orlandi o restabelecimento, na Palestina, de um Estado
(2007) também é uma outra forma de estrutura- judaico.
lismo, se constitui numa teoria de base estrutural
desenvolvida e sistematizada pelos alunos de L. • Filho de um casal de
Bloomfield, que sugere, nos Estados Unidos, uma judeus, Noam Avram
teoria geral da linguagem a qual se assemelha com Chomsky nasceu em 7
Fonte: dekku.nofatclips.com
Chomsky dividiu-se entre a filosofia e a lin- A imagem nos remete ao naturalista inglês Charles
guística. Darwin que, ao observar os seres vivos e entre eles
perceber nexos e continuidades, combinando as
• Teve como referência moral, política e cientí- ideias de seleção e de evolução natural, revolucio-
fica Zellig Harris, linguista judeu-americano, nou o mundo com a apresentação de novos para-
estruturalista de perspectiva distribucionalista. digmas que explicavam a origem da vida.
Chomsky aprendeu muito com ele, embora o
tenha superado. Da mesma forma, de Chomsky pode-se dizer o
mesmo, no que diz respeito à revolução que cau-
• É pai da chamada Teoria da Gramática Gerati- sou em sua área científica, a linguística, pois mu-
va, considerado o maior avanço da linguística dou o objeto de estudo dessa ciência. Na ciência da
do século 20. linguagem, poucos teóricos tinham se aventurado
a propor alguma teoria unificadora. Chomsky con-
• Possui mais de 70 livros publicados e mais de seguiu fazer isso.
1000 artigos.
No momento em que Chomsky apareceu no ce-
• Há 19 livros em inglês publicados sobre a im- nário científico, a linguística tinha conseguido,
portância de seu trabalho e, pelo menos, um apenas, dois avanços significativos. O primeiro foi
contra – The Anti-Chomsky Reader. a criação da tradição clássica baseada no mundo
grego e que perdurou até o final do século XIX. O
• Por ser um ativista político, diz receber todos segundo avanço foi o estruturalismo.
os dias pelo menos 4 e-mails, acusando-o de
pertencer a CIA (Serviço Secreto Americano), Na tradição clássica, o corpus de estudo da língua
Mossad (Serviço Secreto Israelense) ou da or- era apenas o texto escrito. O papel do linguista nes-
ganização terrorista Al Qaeda à qual pertence se contexto era o de rastrear registros escritos des-
Bin Laden. de as línguas antigas – latim, grego, aramaico até
alcançar o presente. Para o estudo de uma língua
• Descreve-se como socialista libertário e diz nessa abordagem, era preciso que os estudiosos do-
ter simpatia pelo movimento anarquista, mas minassem várias línguas a fim de que procedessem
quanto a este último, tem uma visão própria à descrição de cada caso. Pouco se conseguia de
do termo. generalização, ou seja, de se transpor o conheci-
mento acumulado pelo estudo de uma língua para
• É considerado um dos pensadores mais impor- outra. Pode-se considerar esta abordagem como
tantes da história contemporânea. enciclopédica, que considerava os registros escritos
de uma língua como seu ponto alto.
• Encontra-se entre os dez autores mais citados
de todas as ciências humanas. No começo do século XX, era essa visão normativa
que dominava o estudo da língua, na perspectiva
Observe a imagem: de que o que importava não era o conhecimen-
to sobre o funcionamento da
linguagem e sim, estabelecer
e perpetuar as formas corretas
como o sistema da língua se
apresentava.
a língua(gem). Chomsky posiciona-se radicalmente utilizar a ilustração que serviu ao próprio teórico
contra essa ideia, dada sua crença na criatividade em sua obra Linguística Cartesiana, na qual se apoia
humana. Em sua concepção, a linguagem é uma em Descartes no que este filósofo expõe sobre a
capacidade humana natural – este conceito será questão, quando advoga que, se uma criança for
visto ao longo deste capítulo – que já vem inscrita criada entre lobos, ela não desenvolverá a lingua-
no DNA de todos os indivíduos, indistintamente. gem, mas, se voltar para a convivência humana,
voltará a falar, pois tem predisposição para isso.
Como exemplo da tese defendida por Chomsky, O contrário acontece com alguns animais, que,
podemos trazer o caso de uma cambojana que teria mesmo sendo criados com seres humanos, jamais
passado 18 anos na selva. Leia a notícia sobre esse desenvolverão a linguagem, visto que esta não lhes
caso: é inata.
Fonte: http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4074618-EI8143,00-Camboja+mulher+que+viveu+anos+na+selva+se+recusa+a+comer.html
mulher que ser encontrada em 2007, só emitia “sons descone-
viveu 18 anos
xos, como os animais” e ainda hoje não consegue
na selva se
recusa a comer falar, segundo o que descreve a notícia, provavel-
31 de outubro de 2009 mente conseguirá comunicar-se com as pessoas em
• 13h41 • atualizado às
15h37 seu idioma, mesmo que esse processo seja longo,
Comentários como a situação parece assinalar. Ressalte-se que,
Rochom P’ngieng, nesse caso, existe a agravante de que a “Mulher da
conhecida como Selva” sofre de deficiência mental, e isto pode vir
Mulher da Selva, que a ser um fator determinante no seu processo de
foi encontrada em
2007 após passar desenvolvimento da linguagem.
18 anos perdida em
uma floresta.
31 de outubro de 2009
Com sua visão inatista, Chomsky muda radical-
Foto: AFP mente o foco do objeto de estudo da Linguística,
até então pautada no pensamento estruturalista de
Rochom P’ngieng, conhecida como “Mulher da Selva”,
que foi encontrada em 2007 após passar 18 anos per- que a língua seria algo externo ao ser humano.
dida em uma floresta entre o Vietnã e o Camaboja, foi
hospitalizada, porque se recusava a comer, afirmaram o
pai dela e um médico nesta sexta-feira no Camboja. Con-
tudo, após Rochom tentar fugir do local, o pai a levou de Temática 2
volta para casa.
A mulher desapareceu quando era uma menina em 1989 A Influência Biológica na Aquisição da
em Ratanakkiri, província a 600 km da capital Phnom
Penh. Ela foi encontrada em 2007 nua e suja, após ser
Linguagem: O Inatismo
pega tentando roubar comida de uma fazenda.
Afinal, qual o segredo
Rochom não dizia palavras inteligíveis e fazia apenas
“sons desconexos, como os animais”. Sal Lou, que diz ser da linguagem humana?
pai da mulher, afirma que Rochom foi internada em um
hospital na segunda-feira. “Ela se recusou a comer arroz Que fatores nos possibi-
por cerca de um mês. Ela está magra agora. Ainda não
consegue falar. Ela age totalmente como um macaco”, litam a fala?
disse.
“As crianças adquirem a linguagem de forma quase refle- Entretanto, defender a existência da faculdade de
xiva, muito antes de terem familiaridade com muitos as- linguagem como mecanismo inato não garante a
pectos de sua cultura. Por outro lado, tampouco existem inexistência de problema na análise da língua, ten-
dúvidas de que o ambiente influencia esse processo. É gra- do em vista esse fundamento. É preciso, antes de
ças aos fatores ambientais, por exemplo, que eu falo inglês tudo, descreverem-se as condições necessárias para
e não suaíli.” aprender línguas. É a competência que vai se de-
senvolvendo com o desempenho do falante.
30 Capítulo 2
Leia estas frases abaixo pronunciadas em diferen- da análise sintática das frases, feitas pelas correntes
tes contextos, para compreender melhor o que aca- teóricas até então. Chomsky mostrou que a análi-
bamos de expor. se das frases não eram adequadas, principalmente
porque não diferenciavam o nível de estrutura de
“S
No intuito de alcançar esse objetivo, Chomsky lan-
ou magrelo, mas isso não significa que ça mão de uma distinção fundamental entre o que
não seja durão.” ele denominou de competência (competence) e de
desempenho (performance).
Barack Obama, presidente americano
Revista Veja, edição 2137, 04/11/09 • Competência é o conhecimento que o indiví-
duo tem sobre as regras de uma língua.
Ao se analisar as frases transcritas, percebe-se que
elas não podem ser tomadas em sua superfície, • Desempenho é o uso efetivo dessa língua em
sem considerar o significado dos termos que as situações reais.
compõem bem como o do contexto em que foram
pronunciadas. Para Chomsky, o papel da linguística é o de analisar
a competência e não se restringir ao desempenho,
Numa análise geral, entende-se que, ao dizer que como se fazia em estudos linguísticos anteriores
espera candidaturas verdes, o significado do último em suas amostras de fala, que seriam inadequadas
termo proferido pela senadora pode remeter a seu por apresentarem, apenas, uma parte mínima das
partido, o Partido Verde, mas igualmente à ques- inúmeras possibilidades de enunciados de uma
tão de que os candidatos à presidência da Repú- língua.
blica abracem a causa do meio ambiente em suas
propostas. Nisso, entende-se que os falantes na competência
que possuem sobre a língua podem ir muito além
Já a frase de Millor Fernandes que em sua super- do que for estabelecido por qualquer corpus. Essa
fície pode ser perfeitamente aceitável como uma competência lhes dá a capacidade de criar e iden-
atividade metalingüística que define dois termos tificar enunciados inéditos e de reconhecer erros
distintos, pode ser entendida como uma crítica ou ou inadequações de desempenho. Por isso, a des-
ironia a certos posicionamentos, não só políticos, crição das regras que comandam essa competência
em que as pessoas caracterizam certas posturas é que deveriam ser passíveis de estudo, conforme
como democráticas ou ditatoriais a partir de sua prega a teoria gerativa.
própria conveniência.
Assim, a noção de competência discursiva no gera-
Quanto ao que diz Obama, o termo durão é usa- tivismo é a tal capacidade que todo falante tem de
do em contraposição a magrelo, mas seu sentido produzir e compreender todas as frases da língua
vai além de significar o aspecto físico. Ressalta as e também do conhecimento que este tem da es-
atitudes que o presidente americano pode tomar, trutura das frases que fazem parte da língua. Por
podendo ser bastante severas. essa linha de entendimento, então, não importa o
desempenho linguístico, ou seja, o desempenho de
O que queremos elucidar com a análise das frases falantes específicos em seus usos concretos, mas a
é o que o gerativismo alerta quanto à inadequação capacidade que todo falante possui.
32 Capítulo 2
Nesse contexto, a gramática internalizada adquire papel central, pois compreende a competência linguísti-
ca do estudante, vindo daí a importância em estudá-la. Diante disso, o léxico também adquire importância
vital nessa competência, uma vez que ele se constitui numa espécie de dicionário mental ao qual nos repor-
tamos todas as vezes que precisamos construir sentenças. Nossa competência nos possibilita ter intuições
de como saber dividir esse dicionário, categorizando aspectos lexicais a partir de propriedades gramaticais
comuns entre eles. Essa intuição linguística nos ajuda também a categorizar itens lexicais em classes de
palavras a partir de critérios semânticos, morfológicos e distribucionais.
Para esclarecer esses critérios, tomemos como exemplo alguns verbetes do Dicionário Nordestino apresen-
tado a seguir:
24 Novembro 2007
A
ABUFELAR - Agarrar pela gola, agredir.
ACUNHAR - Chegar junto.
ADULAR - Agradar, bajular. Fazer a vontade de alguém
ALTEAR - Aumentar o volume do som. Subir algo.
ALUMIAR - Iluminar. Projetar luz sobre algo ou alguém.
AMOLEGAR - Apalpar ou apertar um corpo mole ou uma parte dele.
APERREAR - Encher o saco.
APOQUENTAR - Aborrecer, azucrinar, chatear.
ARRIBAR - Ir embora.
ARRUDIAR - Dar a volta.
ATAIAR - Atalhar. Ir por um caminho mais curto
AVALIE - Imagine.
AZULAR – Dar o fora.
Capítulo 2 33
Pode-se afirmar que qualquer falante de português inéditas, jamais pronunciadas antes pelo próprio
do Brasil reconhece que os itens lexicais listados falante que a produziu ou por qualquer um outro.
nesse dicionário pertencem à mesma categoria gra-
matical, porque todos eles possuem a propriedade É por isso que para ele a criatividade é o elemento
de assumir formas variadas, dependendo das mar- caracterizador do comportamento linguístico hu-
cas morfológicas de seus sujeitos, que, em geral, mano, o que vem a distinguir a linguagem humana
são os elementos que antecedem os verbos. dos sistemas de comunicação dos outros animais.
A pequena parte mostrada do dicionário nordes-
No exemplo dado, deve ficar claro que não esta- tino prova essa criatividade dos falantes de uma
mos analisando o campo do significado, pois esse língua, não somente por se querer inventar termos
aspecto mobilizaria outros que dizem respeito ao ou expressões sem sentido, mas, porque existe a
contexto de produção da palavra altear, por exem- necessidade de que os enunciados expressem mais
plo, ou o fato de o falante ser um nordestino que fielmente a realidade.
faz uso desse registro, uma vez que nem todos os
nordestinos são usuários desses termos, e outros
aspectos que ajudam na compreensão semântica Temática 4
dos termos. Estamos analisando os aspectos mor-
fológicos que independem do fato de que essas Negação ou Confirmação da
palavras estejam no suporte de um dicionário, e,
Teoria Gerativa?
mesmo estando, que não apresentam a definição
da classe gramatical a que pertencem, como nor-
Orlandi (2007) afirma que Chomsky, ao eleger a
malmente os dicionários apresentam. É da com-
competência como o elemento a ser analisado nos
petência inata do falante, que consegue identificar
estudos linguísticos, com sua base de estudo apoia-
marcas morfológicas de uma língua a que estamos
da no que considera o falante ideal, desconsidera
nos referindo.
o desempenho específico dos falantes no uso con-
creto da linguagem.
Do que temos visto até aqui, podemos entender
que a gramática gerativo-transformacional de
Outras críticas também são feitas no que se refere a
Chomsky se tornou um divisor de águas na linguís-
outras questões desconsideradas pelo gerativismo,
tica, pelo fato de ter trazido ao campo científico
dentre elas, os aspetos semânticos e pragmáticos
ideias opostas às ideias estruturalistas, que enten-
da análise, especialmente vistos nos trabalhos de
diam ser o aprendizado da língua construído por
Halliday, que propõe uma teoria mais sistemática
meio da imitação.
e abrangente da estrutura da língua, denominada
de linguística sistêmica. Nessa abordagem, a gra-
Em rejeição a esse modelo comportamentalista ou
mática é entendida como uma rede de sistemas de
behaviorista, no qual se entende a linguagem huma-
contrastes interrelacionados e nela se dá especial
na como um fenômeno externo ao indivíduo, um
atenção aos aspectos semânticos e pragmáticos, já
sistema de hábitos gerados como resposta a estí-
citados, e igualmente a fatores que a entonação
mulos e fixada pela repetição, o gerativismo expõe
acrescenta ao campo do significado.
a concepção de que o falante age criativamente no
uso da linguagem, visto que para Chomsky sempre
Além dessas ideias contrárias, outras surgem a par-
os seres humanos estão construindo frases novas e
tir de novas descobertas, como a que nos mostra
VOCÊ SABIA?
ericano behavior,
o do ter mo ing lês behaviour ou do am ba as
Behaviorista - Deriv ad eito geral que englo
co nd uta , co mp ort amento – é um conc Psi co log ia, inclu-
que significa dentro da
rad ox ais teo ria s so bre o comportamento, ort am en to’ . Os ram os
mais pa nif ica do da palavra ‘comp
ito ao sig mo Me to-
sive no que diz respe conceito são o Behavio
ris
s que se apoiam nesse
principais das teoria
rismo Radical.
dológico e o Behavio
34 Capítulo 2
o artigo da Revista Veja, edição 2004, publicado em 2007 que informa sobre o idioma dos pirahãs, povo
indígena da região amazônica. Leia o texto:
Ciência
O Mistério dos Pirahãs
s
não conhece os número
Tribo da Amazônia que
formação dos idiomas
desafia as teorias sobre a
Maici,
em às margens do Rio
ma da po r cer ca de 350 indígenas que viv os da reg ião , ele s são
A tribo dos pirahãs,
for
fio pa ra a ciê nc ia. Como muitas trib nic aç ão . Seu
u- se um desa icas no que diz respe
ito à comu
no Amazonas, torno ca rac ter ísti ca s ún lve u na s dif ere ntes
s, mas têm na se desenvo
caçadores e coletore a lin gu ag em hu ma
como o ameri no ca
as teorias sobre como criada por linguistas
idioma desafia todas o tem a,
tese hoje mais ac eit a so bre mática universal, com
culturas. Segundo a om as se pa uta por uma espécie de gra o permite
Noam Chomsky, a for
mação do s idi usar essas regras. Iss
ma no é do tad o de recursos inatos para os am pli ar seu voca-
regras comuns. O ser
hu
lav ras e da s fra ses e aos pouc s,
os significados da s pa m frases subordinada
às crianças perceber l faz co m qu e tod os os idiomas tenha sa” . O idi om a
bulário. Essa gramá
tica universa r, vou à sua ca
rac ioc íni os co mp lex os: “Depois de come bo rdi na da s, co ntr a-
que estariam na base
dos frases su
mundo que não tem
ah ãs é o ún ico até hoje identificado no
dos pir
gramática universal.
riando o conceito de indiquem
tempos verbais que
lav ras pa ra de scr ev er as cores. Não usam Tud o é dit o no presente.
Os pirahãs não têm
pa
a tra diç ão ora l de contar histórias. tip o de arte.
há entre eles ham e desconhecem
qualquer
ações passadas. Não pir ah ãs nã o de sen e nã o cu ltiv a ne-
existe. Os tropólogos, qu
A língua escrita não mu nd o, seg undo avaliação de an o us am nú me ros
da de no letar, os pirah ãs nã
Eles são a única socie a ori ge m. Pa ra co mp A au sên cia
para explicar su , que significa um ou
pequeno.
nhum mito da criação ún ica pa lav ra, “H ói” ista am eri ca no
– têm uma te pelo lingu
e não sabem contar os pir ah ãs foi estudada recentemen a de z, exp lica nd o
ca en tre nas a contar de um
da abstração aritméti en sin ar os ind íge ces so . As
tou pacientemente dia. Não obteve nenh
um su
Peter Gordon. Ele ten e su a utilidade no dia-a- n Wh orf de que o
o de nú me ros ca no Be nja mi
a eles o conceit ara m a teo ria do linguista ameri ma no só é capaz
n confi rm ava que o ser hu
pesquisas de Gordo an os 30 , afi rm .
raciocínio. Whorf, no s dência nas palavras
idioma condiciona o de ele me nto s qu e possuam correspon é im po ssí ve l
entos a partir números,
de formular pensam ras qu e os faç am chegar ao conceito de
o têm pa lav
Como os pirahãs nã
ten da m seu sig nificado.
que en selva
s se embrenhou na
Go rdo n, me ia dú zia de pesquisadore ma is as síd uo éo
Nas últimas década
s, além de iro deles e o
a lín gu a e a cu ltu ra dos pirahãs. O prime o po r set e
amazônica para estud
ar rou com a trib
Un ive rsi da de de Manchester, que mo nd o ac ad êm i-
l Everett, da nção do mu
etnólogo inglês Danie que chamaram a ate
sd e a dé ca da de 70 . Foram seus estudos e ela ap res en ta à ciência. “A teoria
da
anos, de pa ra os de sa fio s qu gra má tica
ades da tribo e a pirahã”, diz Evere
tt. “Sua
co para as particularid qu ad a para explicar o idiom
rsa l é ina de
gramática unive única”, completa.
m da su a cu ltu ra, que é absolutamente
ve
VOCÊ SABIA?
sta em etnolo-
Etnólogo - Especiali
ncia que estuda
gia, sendo esta a ciê
nto s levantados
os fatos e docume
ia no âm bit o da antro-
pela etnograf
cial, buscando
pologia cultural e so
alí tica e compa-
uma apreciação an
rativa das cultu ras .
VEJA
Edição 2004
18 de abril de 2007
Capítulo 2 35
Segundo o artigo, o etnólogo inglês, Everett, afir- do linguista norte-americano. Com efeito, seus es-
ma que a teoria da gramática universal não se apli- tudos contribuíram significativamente para uma
ca ao idioma pirahã, sendo a explicação de Worf maior compreensão do fenômeno da linguagem
de que o idioma condiciona o raciocínio mais ade- humana, a partir de sua gênese.
quado à realidade linguística daquela etnia.
Atividade | Algumas Reflexões:
Barbosa (2008) assegura que qualquer língua desa- Diante do que foi estudado sobre a teoria gera-
fia as teorias sobre a formação dos idiomas, inclu- tiva, reflita sobre questões como:
sive a língua inglesa, o idioma mais divulgado no 1. Que evidências temos de que a faculdade
mundo, visto que todas as línguas possuem espe- da linguagem depende de herança biológica e
cificidades axiológicas. O que o articulista destaca de fatores sociais?
sobre a singularidade da cultura pirahã, que é a 2. Que outros teóricos defendem uma ou ou-
base de sua gramática, também é comum a outros tra perspectiva? Pesquise alguns deles e amplie
povos, não apenas indígenas, pois qualquer grupo seus conhecimentos sobre o tema.
etnolinguístico tem uma conceitualização bem par- 3. Qual o papel do contexto social no desen-
ticular do mundo e uma semiotização específica do volvimento da linguagem?
universo conceitual. 4. O que você pensa sobre o conceito de gra-
mática universal e de gramáticas particulares?
É da natureza dos grupos étnicos sustentar especi- Pense sobre essas questões e amplie seus co-
ficidades culturais. Entretanto, ao mesmo tempo nhecimentos acerca da temática estudada.
em que mantêm essas especificidades, estabelecem Bom estudo!
com outros grupos humanos relações intercultu-
rais e interlinguísticas. Daí se sustentarem em suas
características axiológicas, mas sofrerem influên-
cias axiológicas de outras culturas. REFERÊNCIAS
BENVENISTE, Emile. Problemas de linguística
VOCÊ SABIA? geral I. Campinas: São Paulo, Pontes Editores,
nstitui ou diz respe
ito a 5 ed., 2005.
Axiológicas - Que co s
esta qualquer um da a
uma axiologia, sendo cio do séc ulo
partir do iní _____________. Problemas de linguística geral
teorias formuladas a
en tes à qu estão dos valores. II. Campinas: São Paulo, Pontes Editores, 1989.
XX concern
A Língua em Sua
Forma, Função e
Variação: Questões
Sobre Formalismo,
Funcionalismo e
Variação Linguística
Prof.a Sônia Virgínia Martins Pereira
Carga Horária | 15 horas
Ementa
Estudo da ciência da linguagem: suas proposições teóricas, abrangência e alcance
de suas possíveis aplicações. Percurso da concepção clássica de língua à teoria do
signo. Modalidades oral e escrita da língua. O legado de Ferdinand Saussure e
de Chomsky para os estudos e métodos de ensino de língua. Formalismo e Fun-
cionalismo. Introdução aos estudos pragmáticos. Enfoque epistemológico dos
conteúdos.
Objetivos
Estudar as proposições teóricas, abrangência e aplicações da Linguística, analisan-
do o percurso dessa ciência de seus postulados iniciais às teorias mais recentes.
Apresentação
Prezado aluno, prezada aluna
Mais uma vez, trazemos para você temáticas importantes que vão contribuir para
a ampliação de seus conhecimentos sobre a linguística e, também, para que com-
preenda como essa ciência se fortaleceu por meio de suas abordagens sobre a
língua e a linguagem.
Vimos, nos capítulos anteriores, perspectivas teóricas que são, pode-se dizer, ver-
dadeiros divisores de água na constituição do arcabouço teórico da ciência da lin-
guagem e que, em decorrência disso, merecem destaque em qualquer disciplina
que se proponha a descrever a história da linguística, como está estabelecida em
seu currículo do Curso de Letras a Distância da UPE.
38 Capítulo 3
Diante disso, neste capítulo 3, vamos dar continuidade aos estudos iniciados, refletindo sobre mais temas
importantes para a evolução da linguística, os quais, de alguma forma, trazem, de volta à cena, outros
já trabalhados, visto que, na evolução dessa ciência, raras são as questões respondidas por completo ou
totalmente ignoradas. Mesmo que tais questões fiquem por algum tempo estabilizadas, a ponto de não
despertarem grande interesse para pesquisa, elas tendem a voltar ao cenário de discussões.
Assim, neste material didático, estudaremos aspectos gerais da tendência funcionalista em contraponto
com os fundamentos estudados da tendência formalista dos estudos linguísticos. Embora esta última ten-
dência tenha predominado no século XX, há outras que conviveram ou entraram em concorrência com
ela, as quais têm contribuído para a ampliação dos conceitos sobre a língua. Dentre essas tendências, além
do funcionalismo, refletiremos sobre a variação linguística, tema imprescindível para a compreensão da
heterogeneidade e diversidade próprias dos usos concretos da língua.
Aproveite bastante!
Um abraço
Prof.a Sônia Martins
Saussure, ao estabelecer a dicotomia entre langue e nas suas relações no decorrer do tempo e sim
e parole, estabeleceu, também, diferença entre o para aspectos cognitivos e comunicativos presentes
essencial e o acidental, o regular e o fortuito, uma na ação do indivíduo, quando este participa de um
vez que para a análise lingüística, apenas os fatos ato comunicativo. Esses aspectos apresentam-se de
relativos à língua (langue) eram considerados, dan- forma universal, uma vez que trazem à tona as po-
do-se pouca atenção à fala individual. Da mesma tencialidades e limitações da mente humana para
forma Chomsky, com sua linguística gerativa, que reter e transmitir informações.
pouco se distancia do estruturalismo saussureano,
quando distingue competência de perfomance.
Essas duas concepções assemelham-se quando se VOCÊ SABIA?
ão
voltam, apenas, para a língua e anulam a fala, con- ltar para a diferenciaç
pancrônica - Ao se vo Sa us su re qu estio-
cro nia ,
siderando esta somente como manifestação das entre sincronia e dia o pan-
u se nã o ha ve ria lugar para um estud
potencialidades de um sistema que consideram no ud o qu e se volte
seja, est
independente. crônico da língua, ou e sej am co ns tan-
gerai s qu
para as leis e regras
tes na língua
Por outro lado, o funcionalismo dá destaque ao
discurso individual entendendo-o como o que dá
origem ao sistema linguístico. Sendo este caracte-
rizado como moldável e em transformação cons- Temática 3
tante, não se pode separar a langue da parole. Em
vista disso, o acidental ou casual próprio do dis- Variação Linguística –
curso – desconsiderado por Saussure – torna-se,
A Realidade das Línguas
na proposta funcionalista, a origem do sistema, a
fonte alimentadora do discurso.
Fonte: revistadeletras.wordpress.com/
Outra dicotomia estruturalista revista pelo funcio-
nalismo é a distinção entre sincronia e diacronia,
vistas como eixos separados e não-intercambiáveis.
No estruturalismo, cada um desses eixos deve li-
mitar-se a seu campo de aplicação e, por isso, eles
se tornam incompatíveis. No entanto, pesquisas
em gramaticalização demonstram que, simultane-
amente a fenômenos mutáveis ao longo do tempo,
se revelam aspectos que parecem perdurar no de-
Esta tira nos apresenta uma dentre as muitas varia-
correr da evolução das línguas. Ou seja, há uma
ções linguísticas do português do Brasil. Como fato
certa regularidade sobre os elementos linguísticos
social, a língua – não apenas a portuguesa, mas to-
de alguns processos de mudança, que do ponto
das elas – está sujeita a transformações que dizem
de vista histórico ou diacrônico, pode-se entender
respeito a fatores de ordem temporal, geográfica e
como uma sequência de transformações ocorridas
sócio-cultural. Esses fatores são classificados por
ao longo do tempo; por outro lado, de uma ótica
Coseriu (1980) como formas de variação diacrô-
sincrônica, entende-se como um conjunto de polis-
nica, diatópica, diastrática e diafásica. É absoluta-
semias que coexistem numa língua.
mente normal haver variação na língua(gem), uma
vez que ela é parte constitutiva do ser humano e
O que se percebe como tendência da linguística
sendo este mutável, os fenômenos linguísticos, que
funcionalista norte-americana é a ênfase nos me-
estão diretamente relacionados a ele, também o
canismos que contribuem para a mudança como
são. Isso implica dizer que todas as línguas sofrem
oriundos de fatores comunicativos e cognitivos.
mudanças, sendo impossível em uma comunidade
Isso no que se refere aos trabalhos sobre gramatica-
de falantes de uma mesma língua que esses usuá-
lização. Assim, diz-se que esse funcionalismo assu-
rios falem da mesma forma, mesmo sendo contem-
me uma concepção pancrônica de mudança (Saus-
porâneos, pois existem variedades linguísticas que
sure, 1973), visto que se volta não para as relações
caracterizam um mesmo estrato social, a exemplo
sincrônicas entre os elementos de uma língua ou
dos grupos humanos – homens, mulheres, idosos,
para as transformações ocorridas nesses elementos
44 Capítulo 3
jovens, crianças - ou grupos profissionais, como o dos juristas, dos economistas, dos jornalistas e outros.
Também, seria, no mínimo, estranho, se falantes deste século XXI falassem da mesma forma que os falan-
tes dessa mesma língua no século XVI.
O filme brasileiro Desmundo, de Alain Fresnot, uma produção do ano de 2003, ilustra perfeitamente a
questão da variação linguística, visto que o diálogo entre as personagens é feito a partir do português
falado no século XVI. Veja o que a matéria publicada pela Revista Superinteressante diz sobre o trabalho
realizado, para que se conseguisse reproduzir nesses diálogos o idioma utilizado pelos falantes da língua
portuguesa do século em que se iniciou a colonização do Brasil.
Como Antigamente
uma história passada
réi a ne ste mê s nos cinemas, retrata
O filme de Alain Fre
snot, que est ção é baseado no
no Bra sil. O idi om a utilizado na produ
colonização
nos primeiros anos da
.
português do séc. 16
rita? Em português
em qu e lín gua esta frase está esc nessa
Hemos chus drento en
no sertão . Sa be fundo pro sertão. É
ulo 16 . A fra se qu er dizer vamos mais mê s no s cin em as,
séc que estreia est e
mesmo. Português do , de Ala in Fre sn ot, r us ar a
o filme Desmundo ização do Brasil. Fre
snot optou po
língua que é falado iro s an os da co lon ra tan to, foi
nos prime Afinal, pa
uma história passada o. Opção difícil, essa.
da ép oc a pa ra da r realismo à produçã exi ste ma is.
linguagem gua que nã o
diálogos para uma lín
necessário adaptar os lo-
e a ele adaptar os diá
lin gü ista He lde r Fe rreira, da USP. Coub u du ro. Pri me iro
mãos do Helder trabalho
O trabalho caiu nas co mo um português de 1570. via gra va do res
a fal ar do que nã o ha
gos e ensinar os atores a. Tarefa inglória, da fia. Viu,
mo essa gente falav les por erros de gra
teve que descobrir co a esc rito s an tig os e pro cu rou ne
qu e as pessoas
recorreu a, sinal de
na época. O lingüista se esc rev ia duda, em vez de dúvid su jei to é chama-
ita s ve zes um documento, um
por exemplo, que mu sse jei to. Em e
nciavam a palav ra de gueses se xingavam
provavelmente pronu so bre a for ma co mo os antigos portu lug are s co mo
e diz muito foi além. Fez pesquis
as em
do de fideputa, o qu nas palavras. Helder
síla ba s qu e co mi am rai s. Co mo ess es cantos do Brasil são
sobre as , em Mi na s Ge
ntina e de Urucuia dos dos portugueses.
as regiões de Diama de falar arcaicos, herda
ns erv am jei tos
isolados, eles co de falar
da que criar um jeito
só o co me ço . O pesquisador teve ain e seu nív el so cial. Um
Deu trabalho. Mas foi o co m su a ida de, sua origem de
m do filme, de ac ord tudo isso, nu graum
para cada personage A tar efa seg uin te foi ensinar aos atores ler os diá log os
beças. não só de
verdadeiro quebra-ca e pe rm itis se qu e eles fossem capazes ar.
nd e qu rem im pro vis
profundidade tão gra as frases, para pode
m de criar suas própri
do roteiro mas també ndadas
esas que foram ma
o co nh eci da his tór ia das órfãs portugu an hia do s bro ncos
Desmundo conta a
pouc
dre nto en no sertão na comp
rainha para ire m pa ra mens casasse com m
ao Brasil a mando da rtu ga l qu eri a evitar que esses ho mas
desbravadores do pa
ís. A coroa de Po riosidade lingüística
a raç a. Va le, po rta nto, não só pela cu
raria
índias, o que degene
bé m pe lo co nte úd o histórico.
tam
FIDEPUTA filme
jeito como se fala no
Alguns exemplos do
SAIBA MAIS!
o trabalho do lin-
e Desmundo e analise
Procure assistir ao film s do português do
r Fe rre ira em resgatar as forma
guista He lde s apontem equívocos
bo ra alguns pesquisadore
séc ulo XV I. Em guista, acusando-o
guês adotado pelo lin
com relação ao portu do que a época
po rtu gu ês muito mais arcaico
de adota r um a diacrônica, vale
dia , o tra ba lho , em basado numa pesquis
pe guesa.
sobre a língua portu
pelo resgate histórico
Como uma variedade especial da língua, a norma das as situações interativas, por isso não consegue
culta urbana corresponde ao modo de falar das ca- usar a língua materna da mesma maneira durante
madas sociais mais prestigiadas, daí ser esta moda- todo o tempo, havendo uma variação de estilos.
lidade a que está descrita nas gramáticas. O texto Tal variação resulta de fatores extralinguísticos,
As mariposa reproduz a fala popular, caracterizada, como formalidade, informalidade, contexto social,
nesse contexto, por diferenças de pronúncia, como ambiente, situação, interlocutor, dentre outros.
nos termos lâmpida, dispois, muié, entre outros. Ou- Além desses fatores, a utilização do idioma pelo
tro traço próprio da fala popular exposto pelo com- indivíduo se manifesta de acordo com o domínio
positor é a questão da concordância inadequada que ele tem dessa língua, decorrente de seu grau de
na maioria dos trechos do poema, que não atende escolaridade, de seus conhecimentos enciclopédi-
ao prescrito na gramática normativa, no que diz cos, de seu nível social, de seu campo de atuação
respeito às regras gerais da concordância nominal profissional etc.
e verbal:
3. Variantes Diafásicas
NOSSO CAPITAL DE
CONHECIMENTO PERMITE
A variação diafásica refere-se ALAVANCAR UM ECOSSISTEMA
às diversificadas situações dis- DE PARCEIROS PARA AMPLIAR O
VALOR AGREGADO NAS
cursivas das quais os falantes AÇÕES ESTRATÉGICAS COM
participam. Os falantes ajus- FOCO NO CLIENTE.
Fonte: https://4.bp.blogspot.com
de algumas línguas – os chamados es-
trangeirismos – e isso, de alguma ma-
neira, resultou em mudanças nelas.
Da mesma forma, os novos termos
que surgem – os neologismos – tam-
bém imprimem variações nas línguas,
que, assim, vão se renovando.
REFERÊNCIAS
A Perspectiva
Pragmática:
A Linguagem
Como Ação
Ementa
Estudo da ciência da linguagem: suas proposições teóricas, abrangência e alcance
de suas possíveis aplicações. Percurso da concepção clássica de língua à teoria do
signo. Modalidades oral e escrita da língua. O legado de Ferdinand Saussure e
de Chomsky para os estudos e métodos de ensino de língua. Formalismo e Fun-
cionalismo. Introdução aos estudos pragmáticos. Enfoque epistemológico dos
conteúdos.
Objetivos
Estudar as proposições teóricas, abrangência e aplicações da Linguística, analisan-
do o percurso dessa ciência de seus postulados iniciais às teorias mais recentes.
Apresentação
Finalizamos nossa série de estudos nesta disciplina com o capítulo 4 apresentan-
do para você alguns dos fundamentos da pragmática e sua instigante preocupa-
ção de analisar os fenômenos observados na língua em uso.
A pragmática ainda é uma ciência jovem, com ampla fronteira abarcada por seus
objetos e métodos e com muitos estudos e possíveis reformulações de concei-
tos passíveis de reformulações. Daí sua importância como ciência que se mostra
ainda em fase de consolidação e também de aceitação inquestionável no meio
científico.
Dessa forma, pretendemos lhe oferecer uma iniciação aos estudos da pragmática e uma pequena, mas
eficaz referência para que compreenda os conceitos implicados nela, os quais são imprescindíveis para sua
formação acadêmica, pois, apesar de ser uma ciência pouco explorada no universo acadêmico, a pragmá-
tica está em evolução e prova que pode funcionar como ferramenta imprescindível para diversas áreas de
estudo das teorias linguísticas.
PRODUTOR DE SIGNOS
OBJETO
A SER SIGNO
DENOTADO
INTÉRPRETE
INTERPRETANTE
SIGNO OBJETO
Segundo Ogden & Richards (relação triádica de (1839-1914, filósofo, matemático e físico es-
signo): tadunidense), que adotou essa denominação
(em 1905) para distinguir sua filosofia prática
Interpretante: é um segundo signo, equivalente a do pragmatismo de William James (1842-1910,
si mesmo ou, eventualmente, um signo mais de- psicólogo e filósofo estadunidense)
senvolvido, criado na mente do receptor.
Também o vocábulo pragmaticista refere-se à filoso-
Signo: é o que representa algo a alguém sob algum fia de Peirce caracterizando o que é relativo a essa
aspecto; filosofia ou quem a segue.
Em seu pragmaticismo, Peirce advoga que os fe- Adjetivo e Substantivo de Dois Gêneros
nômenos experimentais são os únicos capazes de
afetar a conduta humana, pois a soma desses fe- Rubrica: filosofia.
nômenos implicados numa proposição constitui o 1. m.q. pragmatista
alcance da conduta humana.
2. relativo ao pragmaticismo de Charles Sanders
Pragmaticismo Peirce (1839-1919, filósofo, matemático e físi-
co estadunidense) ou adepto deste.
Substantivo Masculino
Pragmático
1. m.q. pragmatismo
Adjetivo
2. Rubrica: filosofia.
doutrina filosófica de Charles Sanders Peirce 1. Rubrica: termo jurídico.
56 Capítulo 4
que interpreta as leis nacionais (diz-se de juris- vimentos dos corpos celestes eram impostos no cosmo de
ta) fora para dentro: a esfera mais externa era a morada da
sua versão de Demiurgo, o “Que Move Sem Ser Movido”,
responsável pelo movimento inicial que se propagava atra-
2. que contém considerações de ordem prática
vés do cosmo como as engrenagens de um relógio. Com
(diz-se de ponto de vista, resolução, modo de
isso, Aristóteles oferecia uma solução pragmática para o
pensar etc.); prático, realista, objetivo problema da Primeira Causa: como surgiu o mundo e seus
movimentos.(...)
3. relativo, pertencente ou pertinente à pragmáti- Adaptado.
http://marcelogleiser.blogspot.com/2007/07/entre-razo-e-o-
ca pragmatismo-representao.html - acessado em 22/01/2010.
O verbete pragmatismo empregado abaixo adere De forma geral, pode-se definir, do seguinte modo,
ao sentido de algo voltado para a prática: as relações que cada uma dessas dimensões dos es-
tudos da língua abrange:
O deputado federal Fernando Gabeira • Semântica: relações entre signo e seus objetos
(PV-RJ) afirmou hoje, durante sabatina
da Folha, que as próximas eleições serão • Pragmática: relações entre signo, seus objetos
muito mais “realistas”, sem a presença
e seu interpretante
de “grandes líderes”. “A tendência, ago-
ra, é de pragmatismo”, disse ele. “Não
há mais salvadores. Há processos de re-
cuperação, mas sem características mes-
siânicas”, afirma.
I
http://www.gabeira.com.br/todas-entrevistas/113-
gabeira-na-sabatina-da-folha acessado em 24/01/2010
É importante destacar a confusão didática que tem Um aspecto importante a se destacar quanto à
sido gerada em relação aos conteúdos abarcados definição do objeto de estudo da pragmática é a
pela semântica e pela pragmática. Isso decorre do questão de que são tão numerosos e diversificados
uso bastante comum do termo pragmática – que, os fenômenos decorrentes da linguagem em uso,
em geral, utiliza-se como adjetivo e toma-se como que a seleção desses fenômenos depende da pers-
sinônimo de prática – e de seus derivados, como pectiva teórica adotada pelos pesquisadores, daí a
constatamos anteriormente aqui neste trabalho. grande influência da filosofia e de determinados
Nisso se tende a confundir o estabelecimento de grupos filosóficos como critério para a escolha de
valores semânticos com inferências de valor prag- objetos e métodos, o que dá origem a diferentes
mático. abordagens nos estudos pragmáticos.
Para se estabelecer a fronteira entre a semântica e São estas as três correntes principais da pragmáti-
a pragmática, usa-se a noção de contexto, enten- ca:
dendo-se, porém, que as significações linguísticas,
a priori, independem do contexto, mas as significa- • o pragmatismo americano, que tem como base
ções pragmáticas emergem deste. os trabalhos de William James e sua perspecti-
va semiológica.
O vocábulo pragmática foi proposto por Morris
para designar uma das três dimensões do signo, • a teoria de atos de fala, produzida por John
numa perspectiva behaviorista. Austin, a partir de doze conferências proferi-
das por ele na Universidade de Harvard, nos
Assim, numa perspectiva do domínio da linguísti- Estados Unidos, em 1955 e publicadas depois
ca, a pragmática é o estudo da linguagem em uso e, de sua morte, em 1962.
por isso mesmo, um campo privilegiado dos estu-
dos sobre a linguagem humana. • os estudos da comunicação que se voltam para
as relações sociais e a influência exercida por
estas na prática linguística.
Temática 2
Quanto aos teóricos que são referência para os
Natureza e Objeto da Pragmática e a
estudos pragmáticos, além dos já citados nas três
grandes correntes teóricas, temos Ducrot, Benve-
Teoria dos Atos de Fala
niste e Grice, ainda que atualmente sejam coloca-
dos em campos de estudos e métodos independen-
Entendermos que a pragmática estuda o uso con-
tes da Pragmática.
creto da linguagem com o foco no que os usuários
fazem em suas práticas linguísticas e, em decor-
Por apresentar elementos importantes para o estu-
rência disso, analisa os elementos condicionantes
do proposto neste capítulo, será dado destaque, a
dessas práticas. Pinto (2009) assegura que aqueles
seguir, à teoria dos atos de fala em seus aspectos
que se voltam para os estudos pragmáticos inten-
gerais.
tam explicar antes a linguagem do que a língua.
Esse posicionamento coloca-se contrário à clássi-
A teoria dos atos de fala nasceu no interior da filo-
ca dicotomia saussureana língua X fala, em que a
sofia da linguagem, no início da década de 1960,
fala é subtraída da linguagem para a constituição
a partir de estudos de filósofos da Escola Analíti-
da língua como objeto de estudo da linguística. A
ca de Oxford, dentre eles, John Langshaw Austin
pragmática absorve também a fala nos estudos da
(1911-1960), Jonh Roger Searle (1932-) e outros,
linguagem para que a análise da língua seja feita a
que concebiam a linguagem como uma forma de
partir de sua produção social e nunca isolada des-
ação. Para esses filósofos, todo dizer é um fazer
ta. Dessa forma, são imprescindíveis os conceitos
e, a partir desse pressuposto, passaram, então, a
de sociedade e de comunicação – e neles se inclui
estudar os diversos tipos de ação humana que se
o falante da língua, desprezado pelo estruturalismo
realizam por meio da linguagem, os quais denomi-
– para se entender a natureza e o objeto daquela
naram de atos de fala.
abordagem teórica.
Austin (apud SILVA, 2005) estabelece critérios
Capítulo 4 59
para definir o caráter performativo da linguagem; Esses enunciados ao serem proferidos executam a
em outras palavras, o poder que a linguagem tem, ação denotada pelo verbo, realizam atos – de con-
através dos atos de fala, de praticar ações. Ele esta- denar, de casar, de abrir uma sessão. É nesse sen-
belece, inicialmente, dois tipos de atos de fala: os tido que todo dizer é um fazer, pois um padre, por
enunciados performativo e constativo. exemplo, dizer eu vos declaro marido e mulher não é
informar aos noivos sobre o casamento deles, mas
casá-los, torná-los oficialmente marido e mulher,
pelo menos perante as leis religiosas.
VOCÊ SABIA?
Ressalte-se, entretanto, que só o fato de se profe-
rir um enunciado performativo não se estabelece
ford - O que carac-
Escola Analítica de Ox como garantia de que ele seja realizado, pois é pre-
ssa Escola é a análise
teriza os filósofos de ciso que as circunstâncias em que esse enunciado
agem sob uma inter-
minuciosa da lingu é proferido sejam adequadas para que ele seja bem
pretação literal.
sucedido; ou seja, a ação designada seja, de fato,
realizada. Em outras palavras, uma situação inade-
quada, poderia ser exemplificada por meio de um
Segundo o pesquisador, são constativos os enun- cenário em que ao invés de um juiz proferir uma
ciados que descrevem ou relatam um estado de sentença de prisão perpétua a um réu, alguém sem
coisas. Para tanto, esses enunciados devem ser sub- o poder ou a autoridade para tal ato dizer eu conde-
metidos a critérios de verificabilidade, visto que no o réu à prisão perpétua. Nessa inadequação, o ato
podem ser verdadeiros ou falsos. Tais enunciados performativo não se realiza; embora o enunciado
são denominados popularmente como afirmações, não seja falso, ele é nulo, torna-se sem efeito.
descrições ou relatos como nos exemplos abaixo:
Para que um enunciado seja bem sucedido, alguns
Ele é uma grande promessa do tênis brasileiro. critérios devem ser obedecidos, segundo Austin.
O pião gira em torno de seu próprio eixo. São estas as principais condições de felicidade que ele
Caem todas as folhas da árvore no outono. estabelece para isso: a autoridade do falante para
executar o ato; as circunstâncias em que o ato é
Quanto aos enunciados performativos – o foco proferido devem ser apropriadas.
de interesse nos estudos de Austin –, este os co-
loca como opostos aos constativos visto que eles Em estudos posteriores, ao constatar que nem
não afirmam, descrevem ou relatam nada e por todo enunciado performativo possui verbo na pri-
isso não passam pelo critério de verificabilidade, meira pessoa do singular, no presente do indica-
uma vez que não são falsos nem verdadeiros. São tivo, na forma afirmativa e na voz passiva, e que
enunciados que concretizam uma ação, se estive- também nem todo enunciado dentro desse parâ-
rem configurados dentro dos seguintes princípios: metro gramatical é performativo, Austin constata
ditos na primeira pessoa do singular, no presente que um enunciado performativo pode existir sem
do indicativo, na forma afirmativa, na voz ativa. nenhuma palavra dele estar relacionada ao ato que
Podem ser exemplificados nesses enunciados: executa. É o que pode exemplificar a placa abaixo,
que equivale a dizer ao motorista advirto que a curva
Condeno o réu à prisão perpétua. é perigosa.
Eu vos declaro marido e mulher.
Declaro aberta a sessão ordinária da Câmara.
Fonte: flickr.com/photos/hitoriki/21458277
VOCÊ SABIA?
termo vem do verbo
Performativos - Este
e quer dizer realizar.
inglês to perform qu
60 Capítulo 4
Assim o teórico distingue performativo explícito, Os trabalhos de Austin foram posteriormente re-
que designa o enunciado com performatividade tomados por John R. Searle que aprofundou os es-
explícita, colocado como contrário ao performa- tudos sobre a teoria dos atos de fala focalizando a
tivo implícito ou primário para enunciado que não discussão sobre as consequências que a emissão de
apresenta performatividade explícita, sendo o determinados tipos de enunciados estabelece. Nos
performativo primário uma forma reduzida de do desdobramentos dos estudos sobre os atos de fala
performativo explícito. Segundo Silva (2005), em proposto por Searle, existe a ideia de que não bas-
decorrência dessa distinção, Austin constata que a ta considerar unicamente a intenção que o falante
denominação performativo primário também no- tem de realizar certas ações pela linguagem. Para
meia os enunciados constativos e assim desconsi- ele é preciso fazer uma distinção entre a produção
dera a distinção constativo-performativo visto que do enunciado, a intenção com que o enunciador
admite ser possível transformar qualquer enun- produz a sentença e as consequências que a produ-
ciado constativo em performativo, bastando ante- ção desse enunciado acarreta. Esses três aspectos
cedê-lo de verbos como declarar, afirmar, dizer e referem-se, respectivamente, aos atos locucionário,
outros. Nisso, reconhece que todos os enunciados ilocucionário e perlocucionário.
são performativos por realizarem alguma ação no
momento em que são enunciados e reconhece três A teoria dos atos de fala, que sintetizamos em seus
atos simultâneos que se realizam em cada enuncia- fundamentos gerais, tem com um de seus pressu-
do: o locucionário, o ilocucionário e o perlocucionário. postos, a ideia de que os falantes de uma língua são
sujeitos cooperativos. Isto é produto de uma visão
O ato locucionário é materializado quando se idealista da sociedade dos filósofos britânicos na
enuncia algo, constitui-se na emissão de um con- década de sessenta. Tal idealização está igualmente
junto organizado de sons. presente na proposta das máximas conversacionais
elaborada por Grice, que foi contemporâneo de
O ato ilocucionário tem como base uma determi- Austin e Searle. Estudos posteriores que se debru-
nada força relacionada a um significado. Nisso, o çam sobre outros fenômenos relacionados às ati-
enunciado pode ter a força de uma promessa, de vidades linguísticas, se apoiam nos fundamentos
um julgamento, de uma declaração, de uma per- elaborados por esses filósofos, mas agregam outros
gunta etc. conceitos, a exemplo do conceito de ideologia, que
estabelecem uma visão menos idealizada dos falan-
O ato perlocucionário consiste no efeito do enun- tes e dos usos que estes fazem da língua.
ciado sobre o interlocutor. Diante disso, são pro-
váveis enunciados em que o falante pronuncie “eu As máximas conversacionais de Grice serão traba-
argumento, ou eu esclareço...”, mas é improvável lhadas na próxima temática.
que ele diga “eu convenço você, ou eu assusto
você...”. Isso decorre do fato de a argumentação e
o esclarecimento serem forças ilocucionárias pró- Temática 3
prias de quem fala, enquanto que a efetivação de
um convencimento ou de um susto é o efeito de As Máximas Conversacionais de Grice
uma força sobre o interlocutor e, por isso mesmo,
um ato perlocucionário. A teoria das regras conversacionais de Grice inclui
o sujeito na enunciação. Com isso, o filósofo bus-
Para Austin, todo ato de fala é simultaneamente lo- ca analisar o sentido a partir da relação entre o
cucionário, ilocucionário e perlocucionário, pois, que é dito no enunciado e um estado de coisas no
ao se proferir uma frase, há o ato locucionário de mundo, visto que não basta se buscar o significa-
se enunciar cada elemento linguístico componente do/sentido na proposição apenas; pois é preciso
da frase, mas há igualmente um ato que se realiza encontrá-lo pela intenção.
na linguagem, o ilocucionário, e há, também, um
ato que se realiza na linguagem, mas por ela, o per- As máximas propostas por Grice têm como base
locucionário. Como exemplo, tem-se o enunciado a ideia de que os interlocutores cooperam mutua-
Prometo que isso não vai ficar assim em que se pro- mente entre si em suas relações. É o princípio coo-
nuncia cada elemento da frase, realizando-se o ato perativo entre falante e ouvinte –, possível de reger
de promessa e o que se pretende fazer.
Capítulo 4 61
a comunicação. De acordo com o princípio coope- Jarbas emite sua opinião sobre o fato, o que torna
rativo, as informações trocadas entre os interlocu- seu texto interpretativo; ele tem a intenção de que
tores fazem parte de conhecimentos compartilha- o leitor identifique a informação como um ato co-
dos, que dependem do contexto conversacional. municativo.
Vejamos o princípio da cooperação analisando a Com isso, percebemos que a leitura da charge é agi-
charge abaixo: lizada pela economia de palavras e pelas imagens,
o que a torna atraente a um público heterogêneo.
Este público, por sua vez, deverá fazer interpreta-
ções diversas sobre suas vivências e conhecimen-
to de mundo, especialmente com relação ao fato
abordado. Por isso, o leitor de charges é sempre co-
operativo, visto que ele está habituado a procurar
um sentido, a buscar o não-dito que não aparece
nos elementos não-verbais, nem nos enunciados
reduzidos, isoladamente.
• Lugar – pronomes demonstrativos - índices de te disso, você precisa ampliar seus conhecimentos
“ostentação” isto, aqui, lá, acolá, na esquina acerca da temática para entender, em suas minú-
etc. advérbios de circunstâncias complemen- cias, as bases dessa abordagem teórica.
tos “relativos” etc.
1. Distância
a) mínima: o sujeito se inscreve, adere total- Atividade | Algumas reflexões finais
mente ao enunciado. A partir do que foi estudado sobre a pragmáti-
Ex.: O eu reduz a distância. ca, reflita sobre as seguintes questões:
1. Qual a importância dessa corrente teórica
b) máxima: o sujeito considera seu enunciado para os estudos linguísticos contemporâneos?
como parte integrante de um mundo distinto 2. A pragmática já tem delimitado especifica-
dele mesmo, foge totalmente. mente seu campo e objeto de estudo?
Ex.: o uso da 3ª pessoa do singular no discurso 3. Que proposições traz a pragmática linguís-
acadêmico. tica para a linguística teórica?
4. Pesquise sobre o caráter transdisciplinar
2. Transparência da pragmática, uma vez que ela faz incursões
a) apagamento do sujeito da enunciação - por diferentes áreas e disciplinas.
transparência máxima: o enunciado marca um
fato geral da experiência.
Ex.: A Terra gira em torno do sol. APROFUNDE SUAS PESQUISAS E BOM ES-
TUDO!
b) presença do sujeito da enunciação: opacida-
de máxima.
Ex.: carta pessoal, poesia, diário.
REFERÊNCIAS
3. Tensão
Define a dinâmica da relação estabelecida en- BENVENISTE, Emile. (2005). Problemas de lin-
tre o falante e seu interlocutor, por meio do guística geral I. Campinas: São Paulo, Pontes
texto. Editores, 5. ed., 2005.
a) tensão máxima: querer, poder;
b) tensão mínima: ser/ estar, ter. _____________. Problemas de linguística geral
II. Campinas: São Paulo, Pontes Editores, 1989.
• Mascaramento – tentativa de enganar os des-
tinatários sobre quem se é, usando o modelo PINTO, Joana Plaza (2009). Pragmática. In:
de outrem. MUSSALIM, F & BENTES, A. N. (orgs). Intro-
dução à linguística: domínios e fronteiras. São
• Performance – tentativa de fazer esquecer o Paulo: Cortez, vol. 1.
que se é, deixando de utilizar o próprio mo-
delo, sabendo que o destinatário não ignora. PRETTI, Dino.(1982). Sociolinguística: os níveis
de fala. São Paulo: Companhia Editora Nacio-
Vimos, de forma geral, alguns dos pressupostos da nal.
pragmática linguística, mas outros de igual impor-
tância merecem um estudo mais detalhado. Dian-
Capítulo 4 65