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Ciência e Tecnologia

dos Materiais
Professor Me. Marcus Vinícius Paula de Lima
Professora Me. Paloma Morais de Souza
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

L732c Lima, Marcus Vinicius Paula de


Ciência e tecnologia dos materiais / Marcus Vinicius Paula
de Lima, Paloma Morais de Souza. Paranavaí: EduFatecie,
2022.
105 p.: il. Color.

1. Resistência de Materiais. 2. Ciência dos Materiais. I.


Souza, Paloma Morais de. II. Centro Universitário UniFatecie.
III. Núcleo de Educação a Distância. IV. Título.

CDD: 23 ed. 620.112


Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

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Revisão Textual
Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Geovane Vinícius da Broi Maciel
Kauê Berto

Projeto Gráfico, Design e


Diagramação
André Dudatt
AUTORES

Professor Me. Marcus Vinícius Paula de Lima

● Mestre em Engenharia de Transportes com ênfase na área de Infraestrutura


de Transportes (pavimentos) pela EESC-USP (Escola de Engenharia de São
Carlos da Universidade de São Paulo).
● Bacharel em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
● Professor das disciplinas de construção civil e mecânica dos solos no curso de
Engenharia Civil na UniFatecie.
● Professor de diversas disciplinas no curso de Engenharia Civil na Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR-TD).
● Docente na pós-graduação em gerenciamento de obras da UniFatecie.

Experiência em obras de pavimentação, drenagem e contenção de taludes e na


elaboração de materiais didáticos e gravação de aulas para o ensino EAD em diversas
instituições dos estados do Paraná e São Paulo. Atuação na elaboração de projetos, em
consultorias técnicas e em avaliações e perícias.

CURRÍCULO LATTES:
http://lattes.cnpq.br/6510045811479557
Professora Me. Paloma Morais de Souza

● Mestre em Engenharia de Transportes com ênfase na área de Infraestrutura


de Transportes (pavimentos) pela EESC-USP (Escola de Engenharia de São
Carlos da Universidade de São Paulo)
● Bacharel em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Cariri (UFCA) com
período de graduação sanduíche na University of Illinois at Chicago (UIC)
● Cursando pós-graduação Latu Sensu - MBA em Gestão de Projetos na
Universidade de São Paulo (USP - Esalq)

Possui experiência em docência e vivência na ensaios laboratoriais de solos e mistu-


ras asfálticas. Já atuou na elaboração de projetos de drenagem urbana, projetos geométricos
de rodovias e em perícia para a avaliação das condições de pavimentos rígidos e flexíveis.

CURRÍCULO LATTES:
http://lattes.cnpq.br/0627052739373703
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo (a)!

Prezado (a) aluno (a), a partir de agora iremos iniciar uma grande jornada de in-
formação e conhecimento sobre este assunto cuja a aplicação interage com praticamente
todos os setores da ciência e tecnologia.
A ciência e tecnologia dos materiais está atrelada direta ou indiretamente ao coti-
diano de profissionais das mais variadas áreas, envolvendo desde o desenvolvimento de
sistemas eletrônicos cada vez mais avançados até a produção de novas próteses utilizadas
pela medicina, melhores aproveitamentos na construção civil, dentre outros.
Assim, juntos vamos conhecer os principais conceitos e definições que estão en-
volvidos neste assunto, estudar a evolução desta área ao longo do tempo e entender a
aplicação de mecanismos facilitadores na análise dos materiais, sempre relacionando o
conteúdo abordado com a realidade prática atual.
Na unidade I iniciaremos esta nossa jornada com uma introdução à ciência e a
engenharia de materiais, apresentando as definições e conceitos básicos da área, realizan-
do uma viagem temporal sobre a evolução do uso dos materiais e a sua classificação, e
introduzindo os princípios fundamentais de análise da estrutura química que compõe toda
a matéria, em sua escala atômica.
Prosseguindo, na unidade II aprofundaremos o nosso estudo sobre a composição
das microestruturas moleculares dos materiais, abordando a estrutura dos sólidos cristali-
nos e as imperfeições que nela existem.
Na unidade III vamos conhecer os princípios envolvidos nos mecanismos de difu-
são e a sua relevância para a diversidade de estruturas dos materiais. Você também será
apresentado a uma ferramenta extremamente útil para entendimento do comportamento
dos materiais, chamada de diagrama de fases. Iremos explicar o diagrama e analisar algu-
mas de suas aplicações.
Posteriormente, na unidade IV concluiremos a nossa disciplina abordando as pro-
priedades dos materiais. Você irá se aprofundar no significado de propriedade, compreen-
dendo a sua relação com a classificação dos materiais e conhecendo algumas técnicas
desenvolvidas para o seu melhor aproveitamento com base na resposta aos distintos
estímulos e esforços a que são submetidos, sejam eles mecânicos, elétricos, térmicos,
magnéticos ou ópticos.
Assim, convido você para que juntos possamos abordar os diversos tópicos desta
área da ciência imprescindível a humanidade, realizando um estudo de interligação entre
a teoria envolvida e a compreensão de sua aplicação prática, proporcionando um ótimo
desenvolvimento dos seus conhecimentos sobre a ciência e tecnologia dos materiais.

Muito obrigado e bom estudo!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 4
Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos
Materiais

UNIDADE II.................................................................................................... 31
Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos

UNIDADE III................................................................................................... 54
Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases

UNIDADE IV................................................................................................... 80
Propriedades dos Materiais
UNIDADE I
Introdução ao Estudo dos Materiais
para Engenharia e Estrutura dos
Materiais
Professor Me. Marcus Vinicius Paula de Lima

Prof.ª Paloma Morais de Souza

Plano de Estudo:
● Perspectiva histórica e o estudo da ciência dos materiais;
● Classificação dos materiais;
● Estrutura atômica;
● Ligações atômicas entre os sólidos.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conhecer um breve histórico da utilização de materiais
em engenharia e a classificação dos materiais;
● Compreender a estrutura atômica e os tipos
de ligações químicas dos átomos.

4
INTRODUÇÃO

Todos os aspectos presentes no nosso dia-a-dia sofrem influência, em maior ou


menor escala, dos materiais utilizados pela humanidade para a execução de suas diversas
atividades. A utilização de diferentes materiais é uma característica comum, por exemplo,
em questões de habitação, comunicação, produção alimentícia, transportes e vestimentas.
Pensando de um ponto de vista histórico, notamos que o desenvolvimento da
humanidade está vinculado à habilidade das diferentes sociedades em detectar, manipu-
lar e melhorar os materiais que tinham disponíveis para o atendimento de suas variadas
necessidades. Num cenário atual, de maneira geral a função dos cientistas e engenheiros
de materiais é de desenvolver novos materiais através de novas sintetizações de suas
estruturas, empregando-os por meio de novas técnicas.
Com a constante descoberta e desenvolvimento de novos materiais, é interessante
classifica-los de acordo com as suas características, de modo a facilitar o seu estudo e
aplicação. Estas classificações podem ser realizadas de diversas maneiras, como pela
forma das ligações químicas que compõe suas moléculas, pela função para qual são em-
pregados, entre outras variações.
Para entender as características dos materiais é necessário compreender a sua
composição. Por isso, caro (a) aluno (a), é importante que você entenda as bases dos
elementos que formam os materiais, através de um estudo sobre a estrutura atômica e as
ligações que existem entre os átomos, formando assim as moléculas e compostos.
Desta forma, nesta primeira unidade nós iremos abordar inicialmente uma introdu-
ção sobre a ciência e tecnologia dos materiais, fazendo uma breve viagem histórica sobre
a evolução temporal desta área, conhecendo os tipos de materiais existentes atualmente e,
por fim, compreendendo a estrutura básica que os compõe e a forma como essas estruturas
interagem com reações químicas e ligações.

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 5
1. PERSPECTIVA HISTÓRICA E O ESTUDO DA CIÊNCIA DOS MATERIAIS

É importante entender que todos os materiais, sejam eles encontrados em condi-


ções naturais (pedra, argila, madeira) ou obtidos através de diferentes processos (plástico,
vidro), são conseguidos através da utilização dos recursos presentes no planeta e que sua
extração implica, portanto, numa alteração, seja em maior ou menor grau, no meio ambien-
te. Neste sentido, é ainda mais necessário conhecer as características dos materiais, sua
forma de extração ou fabricação e as suas implicações para os recursos terrestres.
Aliando a necessidade de melhores soluções a cada dia para as diferentes ativida-
des, buscando conforto, economia, praticidade, entre outros aspectos, com as crescentes
preocupações com a utilização dos recursos do planeta (renováveis ou não), o conheci-
mento sobre as características peculiares dos diversos materiais é um ponto chave na
trajetória do desenvolvimento da humanidade.

1.1 Perspectiva histórica


Refletindo através de uma análise histórica, nota-se que o desenvolvimento da
humanidade esteve sempre fortemente atrelado à habilidade dos integrantes das diferentes
sociedades em detectar, manipular e melhorar os materiais que tinham disponíveis para o
atendimento de suas variadas necessidades. Não à toa, dada a importância dos materiais
para a humanidade, alguns períodos da história e as civilizações que neles ocorreram são
identificados segundo a sua capacidade de tratamento com os materiais. É provável, por
exemplo, que você já tenha encontrado termos como Idade da Pedra, ou Idade do Bronze.

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Inicialmente, os humanos empregavam os materiais assim como os encontravam
na natureza, ou seja, não os trabalhavam. Portanto, as primeiras sociedades possuíam
acesso a um número bastante reduzido de materiais: argila, peles, madeira, pedra, entre
outros que se apresentam no estado natural.
Ao longo do tempo, no entanto, foram descobertas e aprimoradas técnicas para tra-
balhar novos materiais que possibilitaram que o homem começasse a aprender a modelá-los
e adaptá-los às suas necessidades. Através do emprego dessas técnicas descobriram-se
novos tipos de materiais com propriedades mais atrativas do que as encontradas somente
nos materiais dispostos na natureza. Ainda assim, até a época dos Grandes Descobrimentos,
predominavam a pedra, a madeira e o barro, sendo os metais empregados em menor escala.
Seguindo o desenvolvimento histórico das habilidades do homem para lidar com
os materiais, percebeu-se também que através de diferentes ferramentas de tratamento,
principalmente térmicos ou com a junção a novos constituintes, um material podia ter as
suas propriedades alteradas e aperfeiçoadas. Porém, até este ponto, os materiais eram
empregados por meio de um processo inteiramente seletivo, onde um conjunto específico
e limitado de materiais era avaliado e escolhia-se o tal cujas características se adequassem
melhor a finalidade proposta.
No entanto, gradualmente, foi-se aumentando as exigências e os padrões requeridos,
elevando assim a demanda de materiais de maior resistência, durabilidade e aparência. Nos
últimos 100 anos, a compreensão da estrutura dos elementos componentes dos materiais
possibilitou o entendimento de suas relações e a influência de tais sobre as suas propriedades.
Esse entendimento observado e elevado especialmente no século anterior per-
mite que tenhamos condições para modelar, de maneira significativa, os materiais e suas
características, fornecendo uma diversidade capaz de atender as variadas necessidades
atuais. Pense, por exemplo, nos meios de transporte modernos, que proporcionam conforto
e sofisticação ao cotidiano. Seria possível produzir automóveis, aviões, trens de alta velo-
cidade, sem o domínio de tecnologia para produção de materiais como aço, vidro, fibras,
entre outros? Evidentemente não.
Note então que o melhor aproveitamento dos materiais se deve ao desenvolvimento
de tecnologias para a sua modelagem, baseadas no conhecimento cada vez mais pleno
de sua estrutura, o que, por sua vez, provoca o desenvolvimento de novos compostos,
promovendo assim um ciclo contínuo de melhoria gradativa no domínio dos materiais.

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Atualmente, observa-se que os avanços tecnológicos acontecem em uma veloci-
dade cada vez maior, devendo os profissionais estarem atualizados para poder aproveitar
as técnicas mais avançadas. Pensando na área da ciência e tecnologia de materiais, o uso
daqueles com melhor padrão e menor custo é imprescindível. Dessa forma, o profissional
que não deseja ficar desatualizado deve permanecer sempre atento aos novos conheci-
mentos e invenções, de modo que o estudo da Ciência e Tecnologia dos Materiais seja uma
constante em sua vida profissional.

1.2 O estudo da ciência dos materiais


Como você viu nos tópicos anteriores, conhecer as propriedades, limitações, van-
tagens e utilização dos materiais tem recebido grande foco de estudos. Um bom exemplo
de aplicação é a área de construção civil, onde não basta somente calcular a estrutura de
um edifício, sendo também necessário escolher e dosar o material que será usado, além
de realizar o controle de sua preparação, garantindo as propriedades da forma desejada e
a sua correta manutenção.
As qualidades dos materiais podem ser estabelecidas pela observação continua-
da, pela experiência adquirida ou por meio de ensaios laboratoriais, sendo, portanto, o
conhecimento dos materiais predominantemente experimental e tecnológico. Num cenário
atual, de maneira geral a função dos cientistas e engenheiros de materiais é de desenvol-
ver novos materiais através de novas sintetizações de suas estruturas, empregando-os
por meio de novas técnicas.
Nesse sentido, de acordo com Padilha (1997), a Ciência e Engenharia dos Materiais
é a área da atividade humana associada com a geração e a aplicação de conhecimentos
que relacionem composição, estrutura e processamento de materiais às suas propriedades
e usos, sendo que dentro dessa grande área estão presentes alguns termos muito corri-
queiros que merecem, portanto, uma explicação prévia para o seu melhor entendimento
(estrutura, propriedades, processamento e desempenho).

1.2.1 Estrutura
De forma resumida, a estrutura dos materiais refere-se à disposição das partes
internas que o constituem, ou seja, ao arranjo de seus elementos nas diferentes escalas
de análise. Partindo da análise da dimensão mais ampla, os constituintes estruturais que
somos capazes de visualizar a olho nu denominam-se macroscópicos, ou seja, trata-se da
estrutura macroscópica do material. Por sua vez, tem-se também a estrutura microscópica,
em que só é possível enxergar através da observação direta com um microscópio os grupos
maiores de átomos em geral conglomerados.

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Chegando ao nível atômico, a análise da estrutura do material refere-se à visua-
lização e estudo da forma como os átomos se dispõem e se organizam e a respeito das
moléculas que os compõem. Chegando ao fim, nessa escala decrescente de dimensões de
análise da estrutura, têm-se a análise dos átomos individuais, onde estuda-se o comporta-
mento interativo dos elétrons e também dos componentes do núcleo atômico, nesta que é
chamada de estrutura subatômica.

1.2.2 Propriedade
Podemos definir propriedade como uma característica de determinado material,
de acordo com o tipo e intensidade com a qual este responde a uma ação ou estímulo
específico imposto. Para entender melhor o termo, é preciso considerar que em seu uso
os materiais são submetidos a ações que, por consequência, geram uma resposta. Por
exemplo, um material submetido a uma corrente elétrica pode ou não conduzi-la, ou uma
determinada placa de metal, pode deformar-se sem se partir devido um estímulo externo,
enquanto uma placa de vidro, mesmo com dimensões equivalentes, pode responder ao
mesmo estímulo se quebrando.
Comumente as propriedades são definidas para um material de forma que inde-
pendam do tamanho da amostra ou da forma como suas dimensões estão distribuídas. Por
exemplo, uma superfície de aço polido reflete luz, independente do seu tamanho ou forma.
Em geral, as principais propriedades dos materiais podem ser distribuídas entre
as seguintes categorias: mecânicas, térmicas, elétricas, magnéticas e ópticas. Há ainda
cientistas que consideram uma outra categoria, que trata das propriedades de deterioração.
Para cada uma destas classificações há tipos específicos de estímulos que causam diver-
sos tipos de resposta.
Dentro das propriedades mecânicas são notadas respostas relacionadas a
deformação devido a uma força ou carregamento exercido e, a partir de tal, definem-se
características padrões como a resistência, tenacidade e o módulo de elasticidade. Já a
maneira como os sólidos se comportam devido a estímulos térmicos pode ser descrita em
propriedades com a condutividade térmica e a capacidade calorífica.
As propriedades elétricas, por sua vez, relacionam-se a resposta dos materiais de-
vido a estímulos como campos ou correntes elétricas, podendo ser citada como exemplo a
condutividade elétrica. De modo análogo, a aplicação de um campo magnético é o estímulo
que ocasiona as respostas demonstradas pelas propriedades magnéticas, sendo no caso
das propriedades ópticas, este estímulo uma radiação luminosa ou mesmo uma radiação
eletromagnética, sendo a refletividade uma propriedade óptica bastante citada.

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Por fim, as propriedades relacionadas a deterioração relacionam-se com a forma
de reagir dos materiais, do ponto de vista químico. A explicação sobre estas diferentes
classes de propriedades dos materiais mencionadas será realizada posteriormente nesta
disciplina, aprofundando-se em cada uma delas.

1.2.3 Processamento e desempenho


Já apresentamos então, em linhas gerais, a explicação sobre estrutura e proprie-
dades dos materiais. Prosseguindo, os dois outros componentes destacados no estudo
da ciência dos materiais são o processamento e o desempenho. O processamento pode
ser definido como o conjunto de procedimentos e técnicas para obter materiais com ca-
racterísticas e formas dentro de especificidades desejadas. Já o desempenho é a maneira
como um material se comporta respondendo a uma ação ou estímulo externo exercido em
condições normais de utilização.
Note que há uma relação pertinente entre os dois componentes citados no pará-
grafo anterior com a estrutura e propriedade dos materiais. De fato, os quatro estão forte-
mente relacionados, pois como podemos observar pela própria definição apresentada, o
processamento do material influenciará na forma como será disposta sua estrutura e no seu
desempenho, sendo este último fortemente influenciado também pelas suas propriedades.
A Figura 1 mostra esta interação.

FIGURA 1 - A INTER-RELAÇÃO DOS COMPONENTES DA CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DOS MATERIAIS

Fonte: O autor (2021).

Assim, os quatro componentes acima citados recebem a atenção dos cientistas e


engenheiros de materiais desde a etapa de projeto e análise teórica de novos materiais,
passando pela etapa de produção e chegando, finalmente, a utilização prática.

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2. CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS

Há diferentes formas de classificar os materiais, como pela forma das ligações


químicas que compõe suas moléculas, pela função para qual são empregados, entre
outras variações. Uma das classificações mais aceitas e utilizadas divide os materiais
com base na sua composição, sendo válida para os materiais sólidos. Os líquidos, devido
aos seus diferentes comportamentos, composições e propriedades, são alvo de toda uma
área de estudo a parte.
Atentando-se então aos materiais sólidos, comumente os agrupamos em quatro
categorias gerais: metais, cerâmicas, polímeros e compósitos. Cabe destacar que esta
última categoria por vezes não é considerada em algumas classificações, por ser composta
de materiais oriundos de manipulações combinadas de dois ou mais tipos diferentes.
Existe ainda a divisão em outra categoria utilizada por algumas literaturas e aceita
por parte dos profissionais da área, que trata dos materiais avançados. Este grupo é com-
posto por materiais semicondutores, materiais com aproveitamento biológico, chamados
biomateriais, materiais desenvolvidos e aplicados através de nanotecnologia, entre outros
que são empregados em serviços de alta tecnologia. A seguir conheceremos melhor cada
uma destas categorias.

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2.1 Metais
Os metais têm em sua composição a combinação entre um ou mais elementos
metálicos como por exemplo alumínio, ferro, níquel, cobre, ouro, entre outros, e por vezes
são compostos também pela combinação de elemento metálicos e não metálicos, como
oxigênio, carbono, nitrogênio, etc., estes em quantidades menores.
A estrutura atômica dos metais apresenta arranjos em formas de ligas com arru-
mação bastante ordenada e, por isso, são, em geral, mais densos quando comparados
aos polímeros e cerâmicas. Os metais possuem um número elevado de elétrons em sua
composição, e grande parte deles são considerados elétrons livres, pois não estão ligados
especificamente a qualquer átomo, compondo um chamado mar de elétrons dentro das
moléculas. Esta configuração eletrônica é responsável de forma direta por algumas proprie-
dades deste tipo de material.
Do ponto de vista mecânico, os metais têm a capacidade de se apresentar dúc-
teis, ou seja, podem ser intensamente deformados sem que ocorra sua fratura, além de
possuírem relativa rigidez e resistência elevadas. Por este motivo eles são aplicados em
larga escala em utilidades estruturais. Outras propriedades que se podem atribuir a esta
característica de elétrons livres dos metais são, por exemplo, a boa condutividade elétrica
e térmica apresentada em geral por estes materiais.
Com relação a propriedades ópticas, os metais são opacos à luz visível e em
superfícies polidas possuem um aspecto brilhoso. Alguns metais possuem também carac-
terísticas magnéticas que mostram bom proveito em aplicações, como o ferro, o níquel e o
cobre. A Figura 2 apresenta uma aplicação de metal no nosso cotidiano.

FIGURA 2 - APLICAÇÃO DE METAL EM TORRES DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA

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2.2 Cerâmicas
A composição das cerâmicas é formada pela combinação de elementos não me-
tálicos e metálicos, contendo na maioria das vezes óxidos, carbetos e nitretos. As ligações
que formam as moléculas dos materiais classificados como cerâmicas tem um caráter misto,
iônico – covalente, variando de acordo com cada tipo. Entre esta classe de materiais estão as
cerâmicas tradicionais (aqueles materiais compostos por minerais argilosos, como por exem-
plo a porcelana), cerâmicas de alto desempenho, vidros e vitro-cerâmicas e os cimentos.
Do ponto de vista mecânico, as cerâmicas são em geral, muito duras e relativamente
resistentes e rígidas, com valores para estas características por vezes equiparando-se aos
dos metais. Tradicionalmente estes materiais sempre apresentaram elevadíssima fragilidade,
em contraste com os metais (que são dúcteis), apresentando, portanto, alta susceptibilidade
para fraturas. No entanto, com o desenvolvimento da tecnologia e da ciência dos materiais,
tem sido desenvolvido e empregados novos tipos de cerâmica, desde itens de cozinha até
peças de automóveis que, ainda que continuem apresentando as propriedades cerâmicas,
são menos frágeis, melhorando assim a sua resposta em termos da ocorrência de fraturas.
Em geral, as cerâmicas são isolantes, tanto em termos térmicos quanto elétricos,
ou seja, não conduzem, ou dificultam a condução de calor e eletricidade, sendo também
mais resistentes a altas temperaturas do que os metais e os polímeros. Quanto à ótica, os
materiais cerâmicos podem ser transparentes (permitem quase totalmente a passagem de
luz), translúcidos (permitem parcialmente) ou opacos (não permitem a passagem da luz).
Do ponto de vista das propriedades magnéticas, algumas cerâmicas compostas por óxidos
apresentam um comportamento magnético.

FIGURA 3 - APLICAÇÃO DE CERÂMICAS NO NOSSO COTIDIANO

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 13
2.3 Polímeros
Grande parte dos polímeros são compostos orgânicos que têm o carbono como
base de sua estrutura química, e por vezes também o hidrogênio, oxigênio, nitrogênio,
entre outros elementos situados entre os não metais. Exemplos muito comuns de materiais
poliméricos encontrados no dia a dia são as borrachas e os plásticos. Entre eles estão o
silicone, o náilon, o poli cloreto de vinila (PVC), o polietileno, o policarbonato e o poliestireno.
Ainda sobre sua composição química, os polímeros apresentam cadeias de áto-
mos de carbono que tornam grande a sua estrutura molecular. Assim, a densidade (massa
especifica) destes materiais é geralmente reduzida e as suas propriedades mecânicas são
tipicamente diferentes das características apresentadas nos metais e nas cerâmicas, sendo
os polímeros, em geral, menos rígidos e com menor resistência a deformação. No entanto,
ao analisar a proporção de sua rigidez ou resistência para com sua densidade, este valor
relativo se equipara aos outros dois materiais mencionados.
Outra característica interessante de alguns polímeros que permite que sejam fáceis
de moldar em formas de alta complexidade é a elevadíssima flexibilidade e ductilidade
apresentada. Os plásticos são um bom exemplo deste tipo de polímero. Quanto aos aspec-
tos ligados a eletricidade e magnetismo, este tipo de material possui condutividade elétrica
pequena, e não apresentam comportamento magnético.
Já do ponto de vista térmico, há uma tendência dos materiais poliméricos de reagir
a exposição à temperatura, amolecendo ou até mesmo se decompondo, fator que se mos-
tra uma das principais desvantagens desta classe, pois limita a sua utilização. Porém, em
diversas circunstancias ambientais eles apresentam comportamento inerte, ou seja, não
sofrem reações ou reagem devido as características químicas presentes.

FIGURA 4 - APLICAÇÃO DE POLÍMEROS NO NOSSO COTIDIANO

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 14
2.4 Compósitos
Os compósitos são formados pela composição de mais de um material individual
que se encaixa em alguma das classificações que apresentamos anteriormente nesta se-
ção (metais, cerâmicas e polímeros). Este tipo de material é projetado e manipulado com
o propósito de obter um material que apresente qualidades que somam as características
dos materiais individuais que os compõem. Assim, a partir dessa nova composição, são
obtidos materiais com desempenho superior, que agregam as melhores características de
cada material utilizado.
A maior parte dos compósitos discutidos na ciência e engenharia de materiais é
sintético, ou seja, produzido pelo homem. Um número elevado desta classe de materiais
é desenvolvido a partir de várias combinações possíveis entre dois ou mais materiais de
classes distintas. No entanto, há também materiais que se formam e ocorrem naturalmente
que se enquadram nessa classificação, como é o caso do material ósseo e da madeira.

FIGURA 5 - APLICAÇÃO DE COMPÓSITOS NO NOSSO COTIDIANO

Fonte: Blog ESS (2021).

Entre os compósitos mais comuns, podem ser destacados alguns que recebem
o nome de fibras. A fibra de carbono, por exemplo, é um compósito constituído por um
polímero no qual é adicionado fibras de carbono como reforço. Essas fibras são inseridas
dentro do material, o tornando mais rígido e resistente para diversas aplicações como em
materiais esportivos de alto rendimento e peças de aviões, sendo, porém, mais caros que
os materiais convencionais.
Outro grupo de compósitos bastante utilizado e com um custo menor (mas também
menos resistente) que a fibra de carbono são as fibras de vidro, material individualmente de
classificação cerâmica em que é adicionado algum material da classe dos polímeros, com-
binando assim as qualidades de alta resistência e rigidez (típicas das cerâmicas) com uma
maior flexibilidade e reduzida massa específica (características dos polímeros). Note que,
a partir da mistura de dois materiais, obtém-se um material com melhores características, o
que leva a um melhor desempenho.

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 15
2.5 Materiais avançados
Com o elevado desenvolvimento da tecnologia, cada vez mais são apresentados
novos materiais, com desempenho superior e que exigem composição e processamento
sofisticados. Esse grupo, considerado o de materiais avançados, está em constante trans-
formação, visto que a velocidade de inovação é cada vez maior e um material considerado
teoricamente avançado hoje pode em pouco tempo ser superado por uma nova descoberta
da ciência. Podemos notar a presença destes materiais em equipamentos eletrônicos,
celulares, computadores, novas fibras e as variadas formas de aeronaves.
Pode ser citado como exemplo dos materiais avançados, os biomateriais, que tem
seu uso voltado a implantes no corpo humano, como em próteses, tendo estes materiais a
característica principal de não reagir aos estímulos biológicos, evitando assim problemas
para os seus usuários.
Os semicondutores são também materiais avançados que constituem um misto
de propriedades dos isolantes, como os polímeros e cerâmicas, e dos condutores, como
é o caso dos metais. Através das técnicas atuais sofisticadas é possível formar materiais
num intermédio entre essas duas condições e sua aplicação tem como grande exemplo o
emprego em computadores.
Outro grupo de materiais avançados é formado por aqueles desenvolvidos atra-
vés da nanotecnologia, podendo assim combinar todas as classes de materiais (metais,
cerâmicas, polímeros e compósitos), tendo por principal característica o seu tamanho
extremamente reduzido. O desenvolvimento deste grupo tornou-se possível através das
recentes melhorias em microscópios e demais equipamentos de laboratório, permitindo
que se trabalhe a composição dos materiais minunciosamente, em escalas cada vez mais
básicas, facilitando assim esse processo.

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 16
3. ESTRUTURA ATÔMICA

As interações existentes entre os átomos e moléculas que constituem os materiais


são determinantes para determinadas propriedades apresentadas por eles. Nesta seção,
iremos conhecer a estrutura atômica, modelos atômicos, configurações eletrônicas, entre
outros conceitos que são necessários para entender os fundamentos que irão reger as dis-
cussões posteriores da disciplina. É bastante possível que você já tenha sido apresentado
à alguns destes conceitos, então, faremos uma discussão contemplativa, porém sucinta,
focando nos aspectos mais importantes e necessários ao seu aprendizado.

3.1 Conceitos básicos


Os átomos são compostos por três tipos de partículas, organizadas em duas re-
giões diferentes: os prótons e nêutrons, situados no núcleo do átomo; e os elétrons, que
movimentam-se no entorno do núcleo. Os nêutrons são eletricamente neutros, como o
próprio nome sugere, enquanto os prótons e elétrons possuem carga positiva e negativa,
respectivamente, com magnitude de cerca de 1,602 × 10-19 Coulomb (C). Com relação a
massa, os prótons e nêutrons apresentam valores em torno de 1,67 × 10-27 kg, enquanto
os elétrons têm um valor de 9,11 × 10-31 kg. Note que, por serem partículas subatômicas,
as massas são extremamente pequenas. Atente-se também ao fato de que, apesar da
pequena massa das três partículas (prótons, nêutrons e elétrons), há uma diferença consi-
derável entre as partículas do núcleo atômico e os elétrons, sendo esta última uma partícula
muito menor. A seguir, são apresentados alguns conceitos sobre a estrutura atômica:

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 17
Prótons: partículas situadas no núcleo do átomo que possuem cargas positivas
(representadas por p);
Elétrons: partículas com cargas negativas que se movimentam em torno do núcleo
do átomo, numa região chamada de níveis de energia e apresentam também comporta-
mento de onda (representadas por e);
Nêutrons: partículas sem carga ou consideradas de carga neutra, que diminuem
a repulsão entre os prótons, localizando-se também no núcleo dos átomos (representadas
por n). Os nêutrons têm uma função importantíssima para a estrutura atômica, pois sem a
sua presença, os prótons não poderiam estar unidos formando o núcleo do átomo, já que
cargas iguais tem a tendência natural de se repelir.
Número atômico (Z): indica o número de prótons (p) presentes no núcleo do átomo
e o número de elétrons (e) presentes nos níveis de energia. Para um átomo eletricamente
neutro ou completo, o número atômico é igual ao número de elétrons. Esse número atômico
varia em unidades inteiras entre 1, para o elemento hidrogênio, até 92, para o elemento
urânio, que possui o maior número atômico entre os elementos que ocorrem naturalmente.
Número de massa (A): indica a massa presente no núcleo do átomo, que resulta
da soma do número de prótons (p) e do número de nêutrons (n). Para um dado elemento,
o número de prótons será sempre igual para todos os átomos. No entanto, o número de
nêutrons pode variar, podendo alguns elementos possuírem átomos cujas massas atômi-
cas são diferentes. Neste sentido, o peso atômico de um elemento corresponde à média
ponderada das massas atômicas destes átomos.

FIGURA 6 - ESTRUTURA DO ÁTOMO

Fonte: O Autor (2021).

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 18
Você pode ter ficado um tanto confuso sobre essa questão do número atômico e de
massa. Vamos então apresentar as seguintes definições:
Quanto à semelhança atômica, um mesmo elemento químico ou elementos quí-
micos diferentes podem ter seus átomos comparados quanto ao número de massa, número
de prótons, elétrons e nêutrons, existindo a seguinte classificação:
Isótopos: São átomos que apresentam mesmo número atômico; mesmo número
de prótons; diferentes números de massa; diferentes números de nêutrons;
Isóbaros: São átomos que apresentam diferentes números atômicos; diferentes
números de prótons; diferentes números de elétrons; mesmo número de massa; diferentes
números de nêutrons.
Isótonos: São átomos que apresentam diferentes números atômicos; diferentes
números de prótons; diferentes números de elétrons; diferentes números de massa; mesmo
número de nêutrons.
Retomando a discussão sobre a massa do átomo, algumas representações são
utilizadas para análise deste parâmetro, como a unidade de massa atômica (u.m.a), útil
para o cálculo do peso atômico. Através do estabelecimento de uma escala, tem-se que
1 u.m.a é equivalente a 1/12 da massa atômica do isótopo mais comum do carbono, o
carbono 12 (12C) (A = 12,00000). Assim, a massa atômica será aproximadamente a soma
entre o número de prótons (dado pelo número atômico - Z) e o número de nêutrons (n, que
nem sempre é igual ao número de prótons).

Outra forma para a representação da massa e do peso atômico é o mol. Em um mol


de uma substância existem 6,022 × 1023 (número de Avogadro) átomos ou moléculas. Estas
duas representações apresentam a seguinte relação:

Tomando como exemplo o gás sulfídrico (H2S) cuja molécula é constituída por dois
átomos de hidrogênio (massa atômica = 1,0 u.m.a) e um átomo de enxofre (massa atômica
= 32,1 u.m.a), temos que a massa molecular pode ser calculada por:

Assim, a massa molecular do gás sulfídrico é 34,1 u.m.a, e sua massa molar é 34,1
g/mol. Isso quer dizer que, em 34,1 g de gás sulfídrico, temos 6,02 x 1023 moléculas ou 1
mol de moléculas de gás sulfídrico.

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 19
3.2 Modelos atômicos
No final do século XIX, observou-se que a mecânica clássica não era capaz de
explicar diversos fenômenos envolvendo os elétrons. Assim, diversos cientistas passaram
a estudar e propor unidades capazes de explicar os fenômenos da matéria de um ponto de
vista cada vez mais aprofundado, buscando alcançar a raiz da matéria, ou seja, as menores
partículas que lhe formam.
A proposta inicial de John Dalton (1766 – 1844), que afirmava existir uma partícula
única, maciça e indivisível fora depois derrubada pela existência de cargas distintas, desta-
cando-se o modelo posterior de Joseph John Thomson (1856 – 1940) conhecido como pudim
de passas, que propunha o átomo como maciço, constituído de partes com cargas opostas.
Esse modelo fora também descartado principalmente após o experimento de Ernest Rutherford
(1871 – 1937), que provou que o átomo não era uma partícula única e maciça, sendo o seu
modelo o primeiro a considerar a existência do núcleo e de partículas denominadas elétrons
movimentando-se ao seu redor. Entretanto, este modelo ainda tinha muito o que explicar.
Seguiu-se então o estabelecimento de um conjunto de princípios e leis que regem os sis-
temas das entidades atômicas e subatômicas, que veio a ser conhecido como mecânica quântica.
Os conceitos por ela englobados são necessários para que haja o conhecimento e entendimento
do comportamento dos elétrons nos átomos, que, como você verá adiante, é a chave para que se
entendam as ligações químicas e, consequentemente, a composição dos materiais.
Um dos pioneiros da mecânica quântica foi o modelo atômico proposto por David
Bohr (1885 – 1962), conhecido como modelo atômico de Bohr que, apesar de simplifica-
do, foi um importante passo para as compreensões existentes atualmente sobre o átomo.
Neste modelo se considera que a posição de qualquer elétron particular está mais ou
menos bem definida em termos do seu orbital, e os elétrons circulam ao redor do núcleo
atômico nestes orbitais.
O modelo atômico de Bohr consiste numa forma inicial de explicar o comportamento
dos elétrons nos átomos, desde a sua posição (descrição do seu movimento em orbitais)
até a sua variação de energia (camadas ou níveis de energia quantizados). Ainda que a
tentativa de Bohr de propor um modelo para o átomo apresente consideráveis limitações,
deixando de explicar alguns fenômenos significativos, este modelo foi o primeiro passo
rumo aos conceitos hoje existentes.

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 20
3.3 Configuração eletrônica
O princípio da configuração eletrônica, também chamado de distribuição eletrôni-
ca, apresenta a disposição dos elétrons nas camadas de energia dos átomos de maneira
que este atinja o seu estado fundamental, ou seja, seus elétrons preencham os primeiros
níveis de energia disponíveis. Também chamado de estado estacionário, o estado fun-
damental do átomo é aquele no qual seus elétrons se encontram dispostos nos menores
níveis de energia disponíveis.
Partindo do modelo atômico de Bohr, que, como já vimos, é um aperfeiçoamento do
modelo de Rutherford, a introdução das ideias quânticas, conseguiu superar as limitações
deixadas por Bohr, permitindo que se compreendessem alguns fenômenos não explicados
de forma eficaz anteriormente.
Por meio de uma experiência que se baseou na emissão de luz utilizando átomos de
apenas um elétron, Bohr conseguiu mostrar que os elétrons estão confinados em determina-
dos níveis de energia quando em seu estado estacionário. No modelo proposto, cada estado
estacionário relaciona-se à um nível de energia, descrito pelo número quântico principal (n)
que varia de 1 a 7 (ou também denominados como camadas K, L, M, N, O, P e Q) e repre-
sentado por uma órbita localizada ao redor do núcleo do átomo. Cada uma destas camadas
é capaz de comportar uma quantidade limite de elétrons, como é apresentado na Tabela 1.

FIGURA 6 - CAMADAS OU NÍVEIS DE ENERGIA

Fonte: O autor (2021).

TABELA 1 - CAPACIDADE DE CADA CAMADA DE ENERGIA

Nível (n) 1 2 3 4 5 6 7

Camada K L M N O P Q
Capacidade máxima de elétrons 2 8 18 32 32 18 2
Fonte: O Autor (2021).

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 21
Prosseguindo com a mecânica quântica, Linus Pauling (1901 – 1994) elaborou um
mecanismo que torna mais fácil a compreensão da maneira como os elétrons ocupam os
níveis de energia e os orbitais, sendo comum que em cada camada os elétrons ocupem
quatro subníveis, identificados através das letras s, p, d e f, seguindo nesta ordem de energia.
De acordo com Callister (2016), a proposta de Linus Pauling, chamada de diagrama
de Pauling, facilita o entendimento da distribuição dos elétrons nos níveis e subníveis de
energia até a sua camada de valência, que é onde se encontram os elétrons que possuem
maior valor energético. Estes elétrons contidos na camada de valência são os responsáveis
pelas ligações entre os átomos, pois se encontram em instabilidade e procuram outros
elétrons para se estabilizar.
Para se tornar estável, a maioria dos átomos precisa de 8 elétrons em sua última
camada. No entanto, há átomos que possuem configuração de elétrons naturalmente está-
vel, ou seja, a camada de valência já está completamente preenchida. Observe na Figura
7 a estrutura proposta pelo diagrama de Pauling, mecanismo que permite a distribuição
eletrônica de todos os elementos químicos.

FIGURA 7 - DIAGRAMA DE LINUS PAULING

Fonte: O Autor (2021).

Como você viu, os átomos geralmente podem ocupar sete níveis ou camadas de
energia, sendo que estes níveis tem os seus subníveis associados ao orbital em que o
elétron se enquadra. Cada orbital é capaz de possuir no máximo dois elétrons, permitindo
que estes sejam distribuídos nos subníveis, como se vê na Tabela 2.

TABELA 2 - CAPACIDADE MÁXIMA DE ELÉTRONS POR SUBNÍVEL

Subnível s p d f
Número de orbitais por subnível 1 3 5 7
Capacidade máxima de elétrons 2 6 10 14

Fonte: O Autor (2021).

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 22
O entendimento da estrutura atômica permite compreender em linhas gerais as
ligações formadas pelos átomos, formando assim as moléculas que são trabalhadas na
etapa de processamento para a obtenção e melhoria de novos materiais. A seguir, veremos
os principais tipos de ligações que ocorrem entre os átomos dos elementos.

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 23
4. LIGAÇÕES ATÔMICAS ENTRE OS SÓLIDOS

A natureza das ligações que ocorrem entre os átomos depende das distintas con-
figurações eletrônicas existentes entre eles. Normalmente, todos os tipos de ligação se
originam devido a busca dos átomos por atingir a estabilidade eletrônica na camada de
valência. Esta estabilidade é ausente para a maioria dos elementos, com exceção dos
chamados gases nobres ou gases inertes, e ocorre quando a camada eletrônica externa,
chamada camada de valência, é totalmente preenchida.
As ligações atômicas primárias encontradas nos sólidos, também chamadas de
ligações químicas, classificam-se em três tipos: iônica, covalente e metálica. Além delas,
ocorrem também ligações ocasionadas por forças e energias secundárias, ou físicas. Estas
são menos fortes do que as anteriores citadas, porém ainda assim tem capacidade para
alterar as propriedades de alguns materiais. A seguir são abordadas as ligações primárias
que ocorrem entre os átomos.

4.1 Ligação Iônica


As ligações iônicas se dão principalmente entre elementos ou compostos que con-
tam com metais e não metais, elementos estes que se encontram nas duas extremidades
horizontais da tabela periódica. A ligação iônica é a mais simples de ser entendida, pois
nela combinam-se os átomos que precisam de poucos elétrons para atingir a estabilidade
na camada de valência (elementos não metálicos), com átomos que tem poucos elétrons
em sua camada mais externa (elementos metálicos).

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 24
Dessa forma, os elementos metálicos tendem a perder elétrons da sua camada
de valência com facilidade, enquanto os não metálicos tendem a recebe-los. Ao realizar a
ligação iônica, todos os átomos envolvidos passam a ter configuração eletrônica estável,
semelhante à dos gases nobres, com suas camadas preenchidas completamente. Através
desse processo, estes átomos com novas configurações passam a possuir carga elétrica,
tornando-se íons.
Um dos exemplos mais clássicos utilizados para explicar a ligação iônica, tanto
pela quantidade de elétrons envolvida, quanto pela presença da molécula formada num
composto muito comum no nosso cotidiano é o do cloreto de sódio (NaCl), o popular sal de
cozinha. Para a formação desse composto, o átomo de sódio (Na) cede o seu elétron da
camada de valência, adquirindo a configuração eletrônica do neônio, passando a ser então
um íon de carga positiva, com tamanho reduzido em comparação ao original, já que perdeu
um elétron e uma camada de energia. Por consequência, o cloro recebe este elétron e passa
a ter uma estrutura eletrônica de carga negativa (íon de carga negativa), com configuração
idêntica ao argônio, aumentando também o tamanho em relação ao átomo de cloro original.

4.2 Ligação Covalente


Nas ligações entre átomos de elementos que possuem pouca diferença na quanti-
dade de elétrons da camada de valência, um outro tipo de ligação é mais comum: a ligação
covalente. Este tipo de ligação ocorre principalmente entre elementos que estão localizados
próximos um do outro na tabela periódica.
Diferente da ligação iônica, onde há perda e recebimento de elétrons entre os
átomos dos diferentes elementos, na ligação covalente o compartilhamento de elétrons
de valência entre os átomos vizinhos permite que sejam atingidas estruturas eletrônicas
com estabilidade. Assim, átomos que se ligam de maneira covalente compartilharão, cada
um, pelo menos um elétron para a ligação, sendo estes elétrons em comum entre os dois
átomos considerados como pertencentes a ambos.
A ligação covalente é direcional, ou seja, ela só existe na direção entre os áto-
mos específicos que estão se ligando através do compartilhamento de elétrons. Um bom
exemplo de ligação covalente é a água (H2O). Nesta ligação, o átomo de oxigênio, que
possui seis elétrons em sua camada de valência (precisa então de dois para a estabilidade)
compartilha um elétron com cada um dos dois átomos de hidrogênio (que, por ser um
átomo especial, precisa apenas de mais um para ser estável). Assim, há a superposição de
orbitais na região específica onde ocorre a ligação entre os átomos.

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 25
A ligação covalente está presente em materiais como o gás hidrogênio (H2), o gás
oxigênio (O2), o gás ozônio (O3), dióxido de carbono ou gás carbônico (CO2), entre outros.
Ao se falar desse tipo de ligação, merece um destaque especial o átomo do elemento
carbono (C), que possui quatro elétrons na camada de valência, o que o torna um elemento
com elevada capacidade de reação química através das ligações covalentes.

4.3 Ligação Metálica


O terceiro tipo de ligação primária entre os átomos é a ligação metálica, que ocorre,
como indicado pelo nome, nos metais e ligas metálicas. Diferentemente dos outros dois
modelos de ligação já apresentados, para as ligações metálicas uma configuração de liga-
ção diferente é aceita, num modelo onde não se considera especificamente a quantidade
de elétrons trocada ou compartilhada, mas sim uma nuvem de elétrons que seja formada.
Na ligação metálica, os elétrons de valência não se ligam especificamente a ne-
nhum átomo, e estão relativamente livres na estrutura das moléculas para movimentar-se,
enquanto os demais elétrons de cada átomo seguem unidos a tais. Ou seja, os elétrons de
valência que circulam livremente podem ser considerados pertencentes a todo o metal ou
liga metálica, daí vem o termo “nuvem de elétrons”. Quanto aos demais elétrons que ficam
presos aos átomos, constituem assim um núcleo iônico com uma carga resultante positiva,
cuja magnitude equivale aos elétrons de valência deste átomo.

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 26
SAIBA MAIS

Linus Pauling, um dos pais da ciência quântica

Considerado um dos pais da ciência quântica, Linus Pauling foi um cientista americano
que esteve entre os mais reconhecidos pesquisadores do século XX. Uma grande mos-
tra disso é o fato dele ter sido o único cientista homenageado com dois Prêmios Nobel
de maneira individual. O primeiro, em 1954, deveu-se a seus trabalhos sobre química
quântica, especialmente sobre a natureza das ligações químicas, ponto importantíssimo
para o posterior desenvolvimento alargado das técnicas em processamento e manipula-
ção de materiais. O segundo prêmio veio em 1962, sendo este um Prêmio Nobel da Paz,
em decorrência de suas ações contra o armamento nuclear e uso de bombas atômicas
como armas de guerra.

Fonte: Souza (2021).

REFLITA

O desenvolvimento dos materiais vem trazendo melhores condições para as atividades


humanas em todos os seguimentos, sendo um deles a construção civil. Já parou para
refletir no quanto as edificações evoluíram ao longo da história?

Fonte: O autor (2021).

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 27
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos aqui ao fim desta primeira unidade. Nela, você pôde ter um contato inicial
com a ciência e tecnologia dos materiais, conhecendo desde sua importância, amplitude prá-
tica e evolução, até os conceitos básicos presentes na menor escala de análise do material.
Por meio do primeiro tópico, pudemos perceber que a ciência dos materiais se
aplica em todas as áreas da atividade humana, desde as mais simples até as mais sofisti-
cadas e inovadoras. Fizemos também uma viagem temporal para entender a mudança no
aproveitamento dos recursos do planeta devido ao desenvolvimento progressivo de novas
técnicas para extrair, trabalhar e posteriormente manipular novos materiais.
No segundo tópico, trabalhamos as classificações distintas existentes para os mate-
riais, que podem ser realizadas de acordo com suas características e composição. Notamos,
também, reiterando o que foi introduzido no tópico inicial, que a composição, propriedades e
estrutura dos materiais estão fortemente atreladas, como fatores interativos entre si.
No terceiro e quarto tópico, abordamos a estrutura atômica, que é a base dos
elementos que compõem os materiais e as ligações que esses átomos promovem, for-
mando assim as moléculas e estruturas dos compostos, que resultam nos materiais que
conhecemos. Notamos que este entendimento na escala atômica e subatômica da ciência
é relativamente recente, e, com estas novas descobertas, a ciência em geral, e, logica-
mente, a ciência e tecnologia dos materiais tem avançado e apresentado inovações numa
velocidade cada vez maior.
Pode-se concluir desta unidade que o campo da ciência dos materiais é totalmente
alinhado com as descobertas atuais da ciência, provocando, através da engenharia, novas
invenções que elevam a qualidade das atividades desenvolvias pelo homem, tendo como
objetivo geral, contribuir para o desenvolvimento e a garantia de melhores soluções.

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 28
LEITURA COMPLEMENTAR

Diante da evolução cada vez mais rápida na ciência dos materiais, da alta explora-
ção dos recursos naturais e da recente preocupação com as questões de sustentabilidade,
Sookap Hahn (1994) apresenta um interessante panorama sobre a importância da ciência
dos materiais na garantia de um futuro sustentável. Através da leitura, que data da década
final do século XX, instigo você a refletir sobre as previsões e o diagnóstico dado no artigo,
comparando com a situação atual, após duas décadas do novo milênio.

Fonte: HAHN, Sookap. Os papéis da ciência dos materiais e da engenharia para uma socie-

dade sustentável. Dossiê Ciência e Desenvolvimento Sustentável, Estud. av. 8 (20), Abril, 1994.

Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/gY6LTM7LgHF5554hj4xNNYN/?lang=pt. Acesso em:

12 jan. 2022.

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 29
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Fundamentos de Engenharia e Ciências dos Materiais
Autor: William F. Smith (Autor), Javad Hashemi (Autor), Necesio
Gomes Costa (Tradutor).
Editora: AMGH; 5ª edição.
Ano: 2012.
Sinopse: Equilibrando teoria e prática sobre diversos tipos de
materiais utilizados em engenharia, o livro conta com explicações
textuais concisas, imagens relevantes e didáticas, exemplos
detalhados, problemas propostos e abordagem de tópicos extre-
mamente atuais.

FILME / VÍDEO
Título: Introdução à Ciência dos Materiais
Ano: 2020.
Sinopse: O vídeo faz uma abordagem introdutória da ciência e
engenharia dos materiais, trazendo uma contextualização do tema
na atualidade, somada a uma breve retrospectiva histórica e a
apresentação dinâmica dos principais conceitos envolvidos.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=U-3XFhrXs9k

UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 30
UNIDADE II
Estrutura de Sólidos Cristalinos
e Imperfeições em Sólidos
Professor Me. Marcus Vinicius Paula de Lima

Professora Paloma Morais de Souza

Plano de Estudo:
● Estruturas cristalinas;
● Materiais cristalinos e não cristalinos;
● Imperfeições em sólidos;
● Imperfeições pontuais e diversas.

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a estrutura e classificação de sólidos cristalinos;
● Conhecer as principais imperfeições ocorridas nos sólidos e os conceitos
básicos de suas análises microscópicas.

31
INTRODUÇÃO

Na primeira unidade, fizemos uma introdução ao estudo da ciência e tecnologia


dos materiais, percorrendo um caminho histórico de evolução desta área, passando pela
classificação dos materiais e introduzindo as bases de estudo da química que regem o
comportamento dos materiais.
Agora, iremos prosseguir o nosso estudo sobre os materiais de um ponto de vista
ainda mais ligado à sua estrutura microscópica e atômica, fundamentais para o entendi-
mento das propriedades e das reações manifestadas pelos distintos grupos de materiais
existentes. Mais especificamente, abordaremos um tipo muito comum de estrutura atômica,
que é a estrutura dos materiais cristalinos e sua relação com as imperfeições apresentadas
pelos materiais, bem como com os mecanismos de difusão.
Primeiramente, iremos conhecer e entender os aspectos que definem uma estrutu-
ra de sólido cristalino, sua diferenciação para outras estruturas atômicas e os exemplos de
materiais nos quais este tipo de arranjo é presente. Você poderá observar a importância do
conhecimento sobre os cristais através de exemplos como o de materiais que, ainda que
sendo compostos pelos mesmos tipos de átomos, mostram um comportamento e arranjo
estrutural diferente numa escala microscópica e atômica, comportando-se também de
maneira distinta, no que diz respeito a suas propriedades, quando se apresentam de forma
cristalina ou não.
Em seguida, serão apresentadas as classificações existentes dentro do grupo de
sólidos cristalinos e as características peculiares de cada uma dessas divisões. Aborda-
remos também a ocorrência da característica de anisotropia presente em boa parte dos
sólidos cristalinos e os efeitos que provoca.
Veremos ainda nesta unidade, que praticamente todos os materiais apresentam
imperfeições em suas estruturas moleculares. Essas imperfeições possuem capacidade de
alterar de forma significativa algumas de suas propriedades e, consequentemente, o seu
comportamento sob diversas ações. No entanto, nem sempre isso significa um problema para
os cientistas e engenheiros de materiais, sendo até utilizado em benefício do desempenho.

UNIDADE
UNIDADE I II Estrutura
IntroduçãodeaoSólidos
Estudo Cristalinos e Imperfeições
dos Materiais em eSólidos
para Engenharia Estrutura dos Materiais 32
1. ESTRUTURAS CRISTALINAS

Como vimos na unidade anterior, o desenvolvimento da ciência e engenharia dos


materiais está atualmente intimamente atrelado ao entendimento da sua composição quí-
mica em escalas cada vez mais reduzidas, chegando à escala de análise particular dos
átomos e suas ligações.
Você pôde notar que as diferentes características dos diversos materiais variam
de acordo com a estrutura dos átomos presentes e da forma como interagem em suas
ligações. Logo, o próximo nível de análise sobre a estrutura dos materiais é referente aos
arranjos que são notados em sua composição, para além da ligação propriamente dita
entre os átomos, ou seja, a maneira como as moléculas oriundas das ligações se arranja
formando a estrutura do material e como influenciam em suas propriedades.
Dentro deste contexto, uma classificação importante observada é aquela que divide
os materiais entre cristalinos e não cristalinos. Veremos ao longo desta seção do que se trata
uma estrutura cristalina, com exemplos de materiais nos quais este tipo de arranjo é presente.
A importância do estudo da condição cristalina de alguns materiais é vista, por
exemplo, na diferença entre características de compostos que, mesmo sendo formados
pelos mesmos elementos, comportam-se de maneira diferente, a depender se estão ar-
ranjados de forma cristalina ou não. Como exemplo, podemos colocar alguns polímeros
e cerâmicas, que quando apresentados num arranjo cristalino apresentam propriedades
ópticas com aspecto translúcido ou opaco e quando encontrados de forma não cristalina
são geralmente transparentes.

UNIDADE
UNIDADE I II Estrutura
IntroduçãodeaoSólidos
Estudo Cristalinos e Imperfeições
dos Materiais em eSólidos
para Engenharia Estrutura dos Materiais 33
Mesmo entre materiais com estrutura cristalina, a forma de arranjo de tais estrutu-
ras pode variar, provocando significativas diferenças em suas propriedades. Por exemplo,
o magnésio em sua forma pura e não deformada é muito mais frágil (que como vimos, quer
dizer que sofre fratura com maior facilidade) do que outros materiais também não defor-
mados e puros, que também são materiais cristalinos, como a prata e o ouro, por exemplo.
Isso ocorre, pois os materiais apresentam diferentes arranjos ou estrutura cristalina.
Caso você não tenha entendido ainda o sentido da classificação entre material
cristalino e não cristalino, fique tranquilo pois veremos a seguir alguns conceitos básicos
que ajudam a perceber em qual escala de análise se encaixa esta divisão. Serão apresen-
tados os conceitos de cristalinidade e célula unitária e será apresentado alguns arranjos
mais comuns de estruturas cristalinas. Veremos também do que se tratam os materiais
monocristalinos, policristalinos e não cristalinos, e a forma principal de determinação sobre
um material pertencer ou não a estas classes.

1.1 Conceitos básicos


Uma forma conhecida de classificação para os materiais em estado sólido baseia-
-se na maneira como os arranjos dos átomos dos elementos que os compõem apresentam
certa regularidade em comparação com os demais. Neste sentido, há materiais que apre-
sentam em sua composição uma estrutura composta por arranjos sequenciais e periódicos
de maneira repetitiva, através de elevadas distâncias (numa escala atômica), ou seja, há
uma ordenação de grande extensão de forma que, ao se solidificarem apresentam uma
composição cujos átomos distribuem-se num posicionamento que forma um padrão de
repetição, onde cada átomo repete junto ao átomo vizinho este mesmo padrão.
A este grupo de materiais, cuja descrição da estrutura foi apresentada no parágrafo
anterior, denominamos como materiais cristalinos. Dentro deste grupo encontram-se
diversos materiais cerâmicos, alguns polímeros e os metais em sua totalidade, formando
arranjos cristalinos em suas estruturas, quando apresentados em configurações normais de
sólidos. Daí tem-se também a denominação sólidos cristalinos. Os materiais que não tem
essa forma de organização com padrões de repetição de estrutura de elevada extensão
atômica recebem o nome de materiais amorfos ou não cristalinos.
Como vimos, o material cristalino apresenta uma repetição padrão no arranjo da
estrutura de organização de seus átomos. No entanto, este padrão varia de acordo com
o tipo de material, tendo assim formas diferentes, ou seja, todos os materiais cristalinos
apresentam padrões de arranjo repetitivos, mas estes padrões podem variar. Há, portanto,

UNIDADE
UNIDADE I II Estrutura
IntroduçãodeaoSólidos
Estudo Cristalinos e Imperfeições
dos Materiais em eSólidos
para Engenharia Estrutura dos Materiais 34
um elevado número de variações destes arranjos, que são chamados de estruturas cristalinas
e que possuem diferentes formas com elevado alcance e extensão em dimensões atômicas.
Estas estruturas cristalinas possuem influencia em diferentes propriedades dos materiais
cristalinos, pois, se o arranjo entre as ligações de átomos é diferente no espaço, essa variação
na configuração das moléculas deve provocar diferenças nas características de cada material.
Tais estruturas cristalinas podem se manifestar de diferentes maneiras, desde
arranjos considerados estruturas altamente complexas, como é o caso exibido por alguns
tipos de polímeros e algumas cerâmicas, até arranjos bem mais simplificados, como ocorre
para a maioria dos metais, com estruturas com grau bem menor de complexidade. O estudo
sobre a forma de organização das estruturas cristalinas para os diferentes grandes grupos
de materiais (metais, cerâmicas e polímeros) é um campo sob larga análise, no entanto,
nossa discussão será mais voltada ao entendimento geral sobre a cristalinidade e as estru-
turas cristalinas mais gerais.
Outro conceito importante neste assunto é o de redes cristalinas. No contexto das
estruturas cristalinas, o termo rede cristalina é usado para definir as posições coincidentes
com o arranjo espacial (tridimensional) de longo alcance entre os átomos que compõem os
padrões repetitivos das estruturas cristalinas. Para um melhor entendimento sobre os sóli-
dos cristalinos e suas estruturas, considera-se os átomos (ou íons) presentes na estrutura
molecular como esferas rígidas de diâmetro bem definido. Entende-se então que as esferas
(átomos) mais próximos estão unidas de forma a tocar-se, ou seja, os átomos vizinhos
estariam unidos de maneira a compor esta estrutura sólida. Esse modelo é conhecido como
o modelo atômico de esfera rígida, sendo apresentado na Figura 1.

FIGURA 1 - A) MATERIAL CRISTALINO; B) ESTRUTURA CRISTALINA;

C) REDES CRISTALINAS

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

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Para a descrição dos materiais cristalinos, mais especificamente da estrutura crista-
lina propriamente dita, normalmente dividimos os arranjos em entidades menores dentro da
estrutura, sendo que estas entidades se repetem (já dentro da estrutura repetitiva), mas são
consideradas particularmente para a análise, recebendo a denominação de células unitárias.
É conveniente fazer esta análise a partir de entidades menores, já que, como vimos
nos parágrafos anteriores, a forma de ordenação dos átomos que compõem os sólidos
cristalinos é caracterizada pela existência de padrões de repetição. Dessa forma, torna-se
mais prático considerar a entidade para estudo, já que o conjunto da estrutura será uma
repetição ou uma ampliação deste arranjo menor considerado. Note na Figura 1 c), que
dentro do aglomerado de átomos da rede cristalina está destacada uma entidade menor,
que pode ser repetida ao observarmos a figura como um todo. A partir de tal, todas as
considerações e análises para a estrutura cristalina presente nesta entidade será válida
para toda a rede cristalina, já que suas demais partes serão idênticas.
Na grande maioria das estruturas de materiais cristalinos essas entidades, ou
células unitárias possuem uma forma que conta com três blocos de faces paralelas, lem-
brando assim o formato de prismas ou paralelepípedos. Na Figura 1 b) note que a estrutura
cristalina formada apresenta aspecto de cubo (que também é um prisma). Entendendo que
a célula unitária é definida de maneira a representar um arranjo que se repete em toda rede
cristalina, toda a estrutura cristalina que forma tal rede (e, logicamente o material) possuirá
a mesma simetria. Assim, a rede poderá ser obtida a partir de translações da célula unitária
ao longo das suas arestas.
Mais uma vez analisando a Figura 1, observe que, sendo os átomos representados
pelas esferas, a célula unitária formada pelo paralelepípedo definido para a estrutura terá
seus vértices coincidindo com os centros das esferas (centros dos átomos) e, portanto,
para análise da estrutura cristalina, a célula unitária será a unidade básica para estudo, e
não o átomo propriamente dito.
É também necessário informar que há mais de uma maneira ou forma com a qual
se pode definir uma célula unitária para uma estrutura cristalina particular (poderíamos ter
escolhido prismas com comprimento maior do que os cubos, no caso do exemplo da Figura
1), no entanto, é mais usual e comum considerar a célula unitária como sendo o arranjo que
possui a simetria geométrica no nível mais elevado.

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1.2 Os metais e suas estruturas cristalinas
Ao estudarmos os sólidos cristalinos, uma grande atenção se deve ao grupo dos
metais, já que são materiais cujos arranjos de seus elementos tornam regra a ocorrên-
cia de estruturas cristalinas. Para este grupo, são muito pequenos, ou praticamente não
existentes, os limites ao respeito da proximidade, quantidade e posição dos átomos na
composição do material, levando assim a ocorrência de estruturas atômicas formadas por
arranjos mais compactos, com distâncias reduzidas entre os seus átomos constituintes, o
que consequentemente contribui para existência da própria estrutura cristalina.
Esta situação ocorre também devido a maneira como se dão as ligações entre
os átomos dos elementos metálicos, ou seja, a ligação metálica. Como você estudou na
unidade anterior, este tipo de ligação química tem natureza não direcional, havendo um
compartilhamento de elétrons que faz com que os átomos participantes da ligação estejam
unidos aos demais numa proximidade maior, sem definição específica de qual átomos se
liga a qualquer outro.
Geralmente são encontradas dentro das composições metálicas três diferentes
tipos de estruturas cristalinas, que se mostram relativamente simples e ocorrem entre os
elementos metálicos mais comumente encontrados: cúbica de faces centradas (CFC),
cúbica de corpo centrado (CCC) e hexagonal compacta (HC).
Na Tabela 1, são apresentadas as estruturas cristalinas que ocorrem de forma mais
comum para diferentes materiais metálicos e os raios atômicos para os núcleos iônicos (os nú-
cleos iônicos correspondem aos átomos originais que estão carregados pela nuvem de elétrons
formada na ligação metálica) destes materiais. Ao se trabalhar com o modelo de esferas rígidas
como representação das estruturas cristalinas, cada uma dessas esferas estará representando
um destes núcleos atômicos. Logo, os raios atômicos são referentes as dimensões represen-
tativas destas esferas. Na sequência, abordaremos também, ainda que de forma sucinta, cada
um dos tipos mais comuns de estrutura cristalina presentes nos metais.

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TABELA 1 - ESTRUTURAS CRISTALINAS COMUNS

E RAIOS ATÔMICOS PARA DIFERENTES METAIS

Metal Raio Atômico (nm) Estrutura Cristalina


Alumínio 0,1431 CFC
Cádmio 0,1490 HC
Chumbo 0,1750 CFC
Cobalto 0,1253 HC
Cobre 0,1278 CFC
Cromo 0,1249 CCC
Ferro (α) * 0,1241 CCC
Molibdênio 0,1363 CCC
Níquel 0,1246 CFC
Ouro 0,1442 CFC
Platina 0,1387 CFC
Prata 0,1445 CFC
Tântalo 0,1430 CCC
Titânio (α) * 0,1445 HC
Tungstênio 0,1371 CCC
Zinco 0,1332 HC

* A simbologia (α) significa que se trata de um elemento puro (ferro puro e titânio puro).

Fonte: O autor (2021).

Denominada formalmente de estrutura cristalina cúbica


de faces centradas, o CFC é um arranjo no qual a célula
unitária considerada possui um formato geométrico que se
assemelha a um cubo, possuindo átomos posicionados
em cada um dos vértices e nos centros de todas as faces
deste cubo. Ex: alumínio, cobre, ouro e prata.
Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

A estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (CCC)


possui formato cúbico e oito átomos dispostos nos vérti-
ces da estrutura, assim como o CFC. A diferenciação se
dá devida a distribuição espacial dentro da célula unitária,
já que no caso do CCC tem-se somente mais um átomo
por célula, que fica localizado no centro deste cubo. Ex:
Fonte: Callister e Rethwischi
(2016). Ferro e cromo.

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A estrutura cristalina hexagonal compacta (HC),
assemelha-se a um prisma hexagonal. Neste arranjo,
consideram-se três planos paralelos unidos por outras
seis faces ortogonais a estes planos: dois planos extre-
mos na forma de hexágono, compostos por seis átomos,
distribuídos um em cada vértice somados a um átomo no
centro do plano; e um plano intermediário, possuindo três

Fonte: Callister e Rethwischi


átomos, totalizando assim 17 átomos na célula unitária.
(2016). Ex: magnésio, zinco, titânio e cádmio.

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2. MATERIAIS CRISTALINOS E NÃO CRISTALINOS

Dependendo de sua estrutura, os diversos materiais podem se apresentar como


cristalinos ou não cristalinos, chamados também de amorfos, como vimos na primeira se-
ção desta unidade. Dentre os materiais cristalinos, além das diferentes formas de células
unitárias que são a base de análise para as estruturas cristalinas como um todo, há também
diferentes combinações que permitem outras classificações quanto a este aspecto para os
sólidos. Veremos agora um pouco mais sobre estas classificações e a forma de determina-
ção do pertencimento de um material a estas distintas classes.

2.1 Monocristais
A ocorrência de monocristais de maneira natural é um tanto limitada, pois somente
em ambientes com condições praticamente perfeitas este tipo de sólido cristalino ocorre, já
que em toda a amostra de material, o padrão de repetição e a forma de ligação entre tais cé-
lulas é idêntico e perfeito, sem interrupções ou falhas, seguindo sempre a mesma orientação.
Devido a esta exigência de sincronia em sua formação, raramente há a ocorrência
de cristais deste tipo na natureza. No entanto, é possível e viável a sua manipulação e de-
senvolvimento de forma artificial. Recentemente, tem-se dado uma maior importância para
os monocristais, que são utilizados em diversas tecnologias relativamente novas, como por
exemplo os microcircuitos de silício. Outros materiais monocristais também são utilizados,
principalmente em estudos com semicondutores.

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2.2 Policristais
Vimos até aqui que os materiais cristalinos que possuem um arranjo de células
unitárias perfeito e uniforme existem (monocristais), mas não são comuns. Portanto, o caso
onde há mais de uma forma de organização entre as células unitárias é o mais usual,
recebendo a denominação de materiais policristalinos.
A maior parte dos materiais cristalinos apresenta na sua composição diferentes gru-
pos de cristais em tamanho minúsculo, podendo chamar-se de grãos, sendo chamados de
policristais. A formação destes sólidos envolve a presença de distintos conjuntos de estruturas
cristalinas, que crescem e agrupam-se dando esta configuração híbrida ao material.
Primeiramente, os grãos de cristais se desenvolvem em posições variadas, com
orientação variável e aleatória. Estas partes menores iniciais vão ganhando volume a partir
da adição de novos átomos em sua estrutura devido às reações durante o processo de
solidificação. Ao ponto que este processo vai se aproximando da conclusão, os grãos já
com tamanhos maiores e em estado sólido tem as suas partes extremas forçadas umas
às outras, provocando assim regiões de menor ajuste entre grãos distintos. A esta área de
encontro entre dois grãos (conjuntos de mesmo tipo de célula unitária) dá-se o nome de
região de contorno de grão do cristal.
Os desajustes existentes nas estruturas policristalinas têm grande relevância para
algumas propriedades dos materiais, especialmente as propriedades mecânicas e em me-
nor ocorrência as elétricas e magnéticas. Faremos aqui uma breve explicação da influência
da estrutura cristalina sobre algumas propriedades, já que o estudo propriamente dito das
propriedades será feito em unidades posteriores.

2.3 Anisotropia
Em diversos materiais com estrutura policristalina, os grãos enquanto indivíduos
possuem orientações cristalográficas com distribuição altamente ou até totalmente alea-
tória. Diante destas condições, ainda que cada um dos grãos contidos na estrutura se
apresente com orientação distinta, a amostra geral do material, composta pelo conjunto
agregado de diversos grãos terá um comportamento similar para todas as suas regiões,
independentemente da sua direção.
Os materiais e substâncias onde o comportamento e resposta não variam de acor-
do com a direção de ocorrência ou medição são classificados como isotrópicos, ou seja,
as suas propriedades são independentes da posição ou orientação em que se analisa ou
submete o material a algum estímulo.

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Quando há variação nas propriedades do material de acordo com a direção de
análise do mesmo, têm-se então uma condição denominada anisotropia. Esta condição
está atrelada a diferentes distribuições espaciais dos átomos na composição da estrutura do
material, como ocorre nos casos de afastamento ou aproximação entre os íons das estruturas
cristalinas em decorrência da direção cristalográfica geral (para o caso dos monocristais) ou
das variações nas direções cristalográficas (caso se trate de material policristalino).
Assim, alguns tipos de materiais monocristais têm suas propriedades variando de
acordo com a direção de medida. Podemos usar como exemplo de tais propriedades va-
riáveis o módulo de elasticidade (propriedade mecânica), a condutividade elétrica (proprie-
dade elétrica) e o índice de refração (propriedade óptica), todos influenciados pela direção
cristalográfica dos cristais da amostra.
Para o caso dos monocristais, o nível de anisotropia se eleva a medida que a
simetria estrutural do material é reduzida. Logo, a magnitude e a abrangência dos efei-
tos oriundos da anisotropia serão vistas de acordo com esse nível apresentado. Como
vimos, os materiais policristalinos tendem a se comportar de maneira isotrópica, tamanha
a aleatoriedade das orientações cristalográficas presentes na estrutura como um todo.
Nestas circunstâncias, toma-se a média dos valores direcionais para medir a magnitude de
determinada propriedade.
Mas, atenção! O fato de se assumir que os materiais policristalinos com orientação
de cristais aleatória se comportem de maneira isotrópica, enquanto os monocristais são,
em alguns casos, anisotrópicos, não significa dizer que as propriedades do primeiro grupo
têm um melhor desempenho em comparação com o segundo, e vice versa. Essa condição
varia de acordo com os elementos constituintes de cada tipo de material.

2.4 Materiais não cristalinos


Os materiais não cristalinos ou amorfos, precisam apresentar, na sua condição
sólida, uma configuração de átomos e moléculas regular o suficiente para manter sua
estrutura, ao longo de extensões relativamente grandes, a nível atômico. O termo amorfo,
faz referência ao fato de não ter forma, ou seja, estes sólidos tem uma estrutura de agrupa-
mento molecular semelhante à de líquidos submetidos a temperaturas baixíssimas.
Para ilustrar melhor esta situação, observe a Figura 2, onde são mostradas duas
estruturas atômicas para o dióxido de silício (SiO2), material cerâmico que pode se apre-
sentar tanto na forma estrutural cristalina quanto na forma não cristalina. Na representação
bidimensional das estruturas, notamos diferenças entre os arranjos para o primeiro e o
segundo caso mencionado.

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Note que em ambos os casos a ligação atômica se dá na mesma proporção, onde
três átomos de oxigênio se ligam a cada átomo de silício. No entanto, para o material cristalino
(representado na Figura 2a) é observado uma organização muito maior na estrutura apresen-
tada, em que a disposição dos átomos, seu posicionamento e distância estão mais regulares
e uniformes em comparação com o esquema mostrado na Figura 2b (material não cristalino).

FIGURA 2 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA BIDIMENSIONAL PARA A ESTRUTURA DO

(A) DIÓXIDO DE SILÍCIO CRISTALINO E DO (B) DIÓXIDO DE SILÍCIO NÃO CRISTALINO

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

Você pode estar se perguntando o porquê de se obter dois materiais com organiza-
ção estrutural atômica distinta, se os elementos e a proporção de átomos nas ligações são
iguais. Isso pode ocorrer devido a diferentes fatores.
A ocorrência ou não da formação de um sólido cristalino está relacionada com a facilida-
de com que uma estrutura qualquer de átomos em seu estado fluido se transforma num arranjo
bem ordenado e estruturado no decorrer do processo de solidificação. Assim, as interferências
no processo de formação do sólido irão influenciar a organização de sua estrutura. Um exemplo
de influência neste processo se dá quando o resfriamento do material até temperaturas de
solidificação ocorre de maneira brusca, o que favorece a formação de estruturas sólidas com
nível inferior de ordenação, como é o caso das substâncias não cristalinas.
Em resumo, os materiais com estrutura atômica amorfa têm por característica
principal a presença de arranjos com alto grau de complexidade entre suas moléculas,
apresentando dificuldade para se organizar.
Os materiais poliméricos, por exemplo, podem se apresentar de forma totalmente
não cristalina, ou ainda numa condição intermediária, denominada semicristalina, variando
este grau de organização (e consequentemente de cristalinidade) entre os compostos deste
grupo. As cerâmicas também podem ser não cristalinas, como é o caso dos vidros inorgâni-
cos, enquanto os metais, em geral, constituem estruturas com organização atômica cristalina.

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3. IMPERFEIÇÕES EM SÓLIDOS

Nos materiais presentes na natureza e até mesmo naqueles desenvolvidos e fabri-


cados pelo homem estão presentes, quase sempre, anomalias ou imperfeições em sua es-
trutura. Assim, é de grande importância conhecer os diferentes tipos e formas de ocorrência
de sólidos imperfeitos, procurando entender as funções que são desempenhadas por tais
imperfeições e a maneira como afetam a forma de cada material se comportar.
As imperfeições presentes nas composições sólidas dos materiais possuem capaci-
dade de alterar de forma significativa algumas de suas propriedades e, consequentemente,
o seu comportamento sob diversas ações. Apesar de se tratar de uma imperfeição, como
o próprio nome já expressa, muitas vezes a sua ocorrência é benéfica para a utilização do
material original, a depender da finalidade buscada.
Um bom exemplo que podemos usar para o caso de situações onde as imperfei-
ções são inseridas artificialmente e intencionalmente nos materiais são os dispositivos mi-
croeletrônicos, encontrados nas peças de circuitos interligados de computadores. A partir
da presença controlada das substâncias diferentes (chamadas também de impurezas),
inseridas em concentrações calculadas e adaptadas junto ao elemento predominante,
tem-se um material com características especiais desejadas, como é o caso de alguns
semicondutores. Esta situação é vista também em outros dispositivos como utensílios
domésticos e calculadoras.

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De acordo com Callister e Rethwischi (2016), em alguns metais são verificadas va-
riações de grande significância nas suas propriedades mecânicas, especialmente no caso
dos metais puros, quando submetidos a ligações com outro tipo de material. Um exemplo
disto é o latão, metal obtido artificialmente que tem em sua composição aproximadamente
70% de cobre e os outros 30% de zinco e que, apesar de não ser um elemento puro,
possui maior resistência e dureza do que o cobre puro, já que foi gerado justamente afim
de explorar as imperfeições.
Até aqui, nós estudamos as estruturas cristalinas e temos imaginado e trabalhado a
sua ideia enquanto arranjos com composição perfeita ao longo de todo o material, manten-
do assim sempre a sua forma de ordenação. Agora, abordaremos a condição real existente,
que é aquela onde sólidos formados por qualquer tipo de material ou junção de materiais
distintos apresentam uma quantidade considerável de manifestações defeituosas em sua
estrutura, havendo também grande variação no tipo dessas imperfeições. Na próxima seção
iremos abordar um pouco mais sobre estas imperfeições, falando sobre os efeitos que tem
relação com os defeitos pontuais e os que se apresentam de maneira diversa.

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4. IMPERFEIÇÕES PONTUAIS E DIVERSAS

4.1 Defeitos pontuais


Os defeitos pontuais são aqueles onde a manifestação da imperfeição ocorre em
um ponto particular do volume da célula unitária da estrutura cristalina, sendo basicamente
divididos entre defeitos intersticiais e lacunas.

4.2 Defeitos intersticiais


O defeito intersticial se manifesta quando dentro da estrutura cristalina do material
há um átomo que se apresenta de forma comprimida envolvido em uma região ou sítio
intersticial, possuindo assim uma ocupação menor de espaço. O sítio intersticial é, por sua
vez, uma pequena região dentro da estrutura cristalina que se encontra vazia, e não deveria
estar ocupada considerando condições normais.
As alterações provocadas por este tipo de defeito podem variar de acordo com a
configuração de estrutura atômica do material. Para o caso dos materiais metálicos, como
as posições intersticiais (os espaços que em condições normais estariam livres) possuem
uma ocupação de espaço consideravelmente menor que o tamanho dos átomos, as al-
terações e efeitos provocados pela ocorrência dos efeitos intersticiais são relativamente
grandes. No entanto, a ocorrência deste tipo de defeito na estrutura atômica não é muito
alta e, normalmente, quando existe apresenta concentrações bastante pequenas, com um
tamanho muito menor que o das lacunas da estrutura.

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4.3 Lacunas
As lacunas configuram o mais simples defeito pontual que ocorre nos arranjos das
estruturas dos materiais, podendo ser definido como a ocorrência de uma vaga (ausência
de preenchimento) em uma região (também chamada de sítio) que deveria, em condições
normais, estar ocupada com a presença de um átomo da estrutura. Este defeito é comum,
estando presente na formação de todos os tipos de materiais. Na Figura 3 são mostrados
um exemplo de cada tipo de defeito estudados até aqui.

FIGURA 3 - DEFEITOS PONTUAIS (INTERSTICIAIS E DE LACUNA)

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

4.4 Impurezas
É impossível que exista uma estrutura cristalina pura formada por somente uma espé-
cie de átomo. Sempre estarão presentes na sua composição algumas impurezas ou mesmo
tipos diferentes de átomos, sendo alguns casos por meio de defeitos pontuais nos arranjos.
Muitos dos materiais que conhecemos e estão muito presentes em nosso cotidiano
não são sequer próximos de serem puros (formados somente por um elemento). Eles são
em sua maioria ligas, nas quais foram introduzidos átomos de outros tipos, de maneira
planejada e intencional (impurezas), para fornecer ao material melhores características em
determinadas especificidades.
No caso dos metais, estas ligas são utilizadas devido ao aumento observado na
resistência mecânica, resistência a corrosão e melhoramento em outras propriedades.
Um exemplo é a prata, que em condições ambientais normais (pura) apresenta uma
elevada resistência à corrosão, porém elevada maciez. Para contornar esta condição, é
comum fazer-se a mistura da prata (cerca de 92,5% do material total) com o cobre (os
7,5% restantes), formando assim a chamada prata de lei. Este novo material possui uma
resistência mecânica muito superior, sem diminuir de forma considerável a sua resistência
original (da prata) à corrosão.

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FIGURA 4 - IMPUREZAS

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

Nas estruturas atômicas cristalinas (metais em geral), devido à existência de impu-


rezas são encontrados alguns defeitos pontuais na solução sólida do material. Estes defeitos
são classificados também em dois tipos: o defeito substitucional e o defeito intersticial. No de-
feito substitucional, os átomos de impurezas substituem os átomos originais, enquanto que os
defeitos intersticiais são causados por impurezas nas regiões entre átomos (interstícios). Na
Figura 4 é mostrada uma representação destes dois tipos de defeitos oriundos de impurezas.

4.5 Imperfeições diversas


Para a situação das imperfeições diversas, parte das considerações quanto a ocor-
rência, a frequência com que se dão nos materiais cristalinos, a manipulação e a introdução
proposital na elaboração de materiais são semelhantes ao que foi apresentado para as
imperfeições pontuais.
Entretanto, neste caso, as imperfeições diversas assumem um caráter dimensional,
diferentemente do anterior, onde as considerações eram feitas para um único ponto visua-
lizado na estrutura atômica cristalina. Dentre as imperfeições diversas que são frequen-
temente observadas, podemos citar os defeitos lineares como é o caso da discordância,
onde um conjunto de átomos apresenta-se de forma desalinhada ao padrão da estrutura
cristalina como um todo.
Alguns tipos de discordância conhecidos são a discordância em cunha, a discor-
dância helicoidal e as discordâncias mistas, que como o nome sugere, mesclam mais
de um tipo deste defeito.

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Na prática, as discordâncias ocorrem em todos os materiais cristalinos em meio
ao processo de solidificação ou como consequência de tensões de caráter térmico (devido
a etapas de resfriamento acelerado no momento de deformação plástica). Este tipo de
imperfeição é encontrado no processo de deformação de materiais cristalinos metálicos e
também cerâmicos.
Outra categoria de imperfeição diversa se manifesta no aspecto de contornos que
detém duas dimensões e comumente se encontram separando distintas partes do material
que possuem as orientações cristalográficas de suas estruturas cristalinas diferentes.
Este tipo de imperfeição recebe o nome de defeito interfacial. Entre tais estão incluídas as
superfícies externas, contornos de fases, contornos de grão e falhas de empilhamento.
Ainda falando das imperfeições diversas, um outro grupo que merece destaque é
o dos defeitos de massa, ou defeitos volumétricos, que trata dos defeitos com dimensões
espaciais extremamente maiores que os pontuais e diversos. Entre os exemplos de defeitos
de massa estão os poros, as trincas, as inclusões exógenas e alguns outros, sendo estes
mais comuns no nosso cotidiano e podendo ser tratados fora do campo científico.

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SAIBA MAIS

A importância das imperfeições atômicas

As imperfeições encontradas nas estruturas atômicas têm por vezes boas consequên-
cias para o desempenho de materiais e até mesmo permitem o desenvolvimento de
tecnologias mais eficientes. Um exemplo muito interessante do aproveitamento da exis-
tência destes defeitos é observado na redução da poluição atmosférica através de au-
tomóveis. Os dispositivos utilizados para reduzir a emissão de gases poluentes, chama-
dos de catalisadores ou conversores catalíticos, situados no sistema de exaustão das
máquinas, tem na sua composição um tipo de mecanismo que aproveita os defeitos
atômicos para reter as partículas mais pesadas destes poluentes, prendendo-as nos
espaços gerados nas imperfeições e provocando em tais reações durante o tempo e
que ficam retidas, liberando por fim efluentes gasosos menos agressivos ou até não
poluentes para a qualidade do ar.

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

REFLITA

O conhecimento sobre a estrutura subatômica e as redes cristalinas formadas por diver-


sos materiais, incluindo todos os metais, permite que as indústrias aproveitem o melhor
de cada tipo de material, medindo cientificamente as variações das suas propriedades
devido as alterações realizadas artificialmente ou observadas naturalmente nos arranjos
existentes entre os átomos.

Fonte: O autor (2021).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após mais uma unidade de nossa disciplina, pudemos entender as características


presentes na estrutura de sólidos cristalinos. Sabemos agora onde este tipo de estrutura
está normalmente presente e que consequências ela traz, tendo sido possível também a
comparação entre os sólidos cristalinos e não cristalinos.
Você viu na primeira seção que a análise em escala microscópica e atômica dos
materiais vai muito além dos conceitos de ligação atômica e composição do átomo, conhe-
cendo ali o próximo nível de análise sobre a estrutura dos materiais, que trata de estudar
os arranjos, além da estrutura atômica propriamente dita. Vimos também que há diferentes
tipos de estrutura cristalina que ocorrem com frequência, especialmente nos metais.
Em seguida, estudamos as principais diferenças que a presença ou não da estrutu-
ra cristalina provoca nos materiais, classificando-os neste sentido. Outro ponto importante
que abordamos na segunda seção diz respeito a anisotropia, que trata da ausência ou não
de uniformidade na orientação das células unitárias que formam as redes cristalinas.
Dispondo do conhecimento agregado pelo entendimento das estruturas cristalinas,
foi possível entender o motivo da formação de imperfeições nos diversos materiais, e como
estas imperfeições podem influenciar nas propriedades, como por exemplo a resistência
mecânica dos sólidos. Por fim, vimos ainda que as imperfeições são muitas vezes aprovei-
tadas pelos engenheiros e cientistas de materiais para a obtenção de novos materiais com
melhores propriedades.

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LEITURA COMPLEMENTAR

Dentro desta unidade, nossa discussão esteve sempre atrelada a estrutura cristalina
apresentada por parte dos materiais, seja no aspecto propriamente dito de caracterização deste
tipo de estrutura ou nos processos ocorrentes entre os átomos que se ligam desta forma.
Porém, o estudo dos materiais cristalinos e das propriedades cristalográficas tem
aplicações práticas em diferentes setores e recebe atenção de um extenso grupo de pes-
quisadores, inclusive no Brasil. Assim, a leitura apresentada por Metri Corrêa et. al (2008)
traz alguns resultados obtidos em pesquisas com materiais cristalinos no território brasileiro,
permitindo a você um contato mais aprofundado com a experiência em estudos dessa área.
Link do artigo: https://www.scielo.br/j/rbcs/a/sdTZzRxVW9wYVj59tLddQZn/?lang=pt

Fonte: METRI CORRÊA, M. et al. Propriedades cristalográficas de caulinitas de solos do ambiente

tabuleiros costeiros, Amazônia e Recôncavo Baiano. Revista Brasileira de Ciência do Solo. v. 32, n. 5, Outubro, 2008.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Cristalografia: cristais e estruturas cristalinas
Autor: Richard J. D. Tilley (Autor), Fábio R. D. de Andrade (Tradutor).
Editora: Oficina de Textos; 1ª edição.
Ano: 2014.
Sinopse: Com abordagem atualíssima, a obra apresenta os con-
ceitos básicos no estudo de cristais e estruturas cristalinas como
simetria em duas e três dimensões, retículo, mosaicos, construção
de estruturas, difração, representação de estruturas cristalinas e
defeitos cristalinos, além de introduzir temas especializados, como
estruturas modeladas, quasicristais e proteínas.

FILME / VÍDEO
Título: Imperfeições em sólidos - Introdução
Ano: 2021.
Sinopse: O vídeo fornece um resumo sobre as imperfeições nos
sólidos, abordando primeiramente a ocorrência e a importância da
existência destas imperfeições, usando exemplos de materiais bas-
tante conhecidos que só são obtidos através deste tipo de ocorrência,
entrando em seguida também na classificação das imperfeições,
falando dos defeitos pontuais e dos defeitos lineares, e tratando por
fim da necessidade do entendimento sobre as imperfeições para a
compreensão de outros fenômenos relacionados aos materiais.
Link dos vídeos: https://www.youtube.com/watch?v=NHJYIUkNluo

UNIDADE
UNIDADE I II Estrutura
IntroduçãodeaoSólidos
Estudo Cristalinos e Imperfeições
dos Materiais em eSólidos
para Engenharia Estrutura dos Materiais 53
UNIDADE III
Mecanismos de Difusão
e Diagrama de Fases
Professor Me. Marcus Vinicius Paula de Lima

Professora Paloma Morais de Souza

Plano de Estudo:
● Mecanismos de difusão;
● Diagrama de fases;
● Diagrama de fases unário e binário;
● O sistema Ferro-Carbono e as transformações de fases.

Objetivos da Aprendizagem:
● Entender de modo geral os mecanismos de difusão;
● Compreender os conceitos básicos referentes ao diagrama de fases;
● Conhecer e entender o sistema ferro-carbono;
● Entender os princípios básicos envolvidos
nas transformações de fases.

54
INTRODUÇÃO

Na unidade anterior, além de conhecer as estruturas cristalinas que formam grande


parte dos materiais que conhecemos, você também estudou as imperfeições presentes nos
materiais sólidos, e viu que elas são muitas vezes úteis para algumas finalidades específicas.
Nesta terceira unidade, iremos partir da ideia deixada sobre as imperfeições das
estruturas, de maneira a entender um dos principais mecanismos que ocorrem dentro da
estrutura microscópica dos materiais: a difusão, que acontece justamente devido a exis-
tência destas imperfeições. Sobre este tema, faremos uma abordagem sobre os tipos de
difusão e as características peculiares de cada um deles.
Prosseguindo, iremos estudar um tipo de representação largamente utilizado na
ciência e tecnologia dos materiais, que permite colher de forma prática diversas informa-
ções a respeito do comportamento dos materiais relacionados a diferentes parâmetros,
denominado diagrama de fases. Você será apresentado a importantes conceitos para o
entendimento desta ferramenta e compreenderá o porquê dela ser tão útil e importante no
estudo dos materiais, no desenvolvimento de novos compostos e no melhoramento das
propriedades de materiais existentes.
Dentro do estudo dos diagramas de fases, você irá, além de trabalhar com a inter-
pretação de gráficos de diferentes tipos, conhecer também distintas formas de represen-
tação por diagramas existentes, tendo contato, por exemplo, com o diagrama de fases do
sistema ferro-carbono, que como você irá descobrir, possui grande importância dentro do
estudo dos materiais.
Por fim, após compreender a lógica dos diagramas de fases, conhecer os seus dife-
rentes tipos em posse dos conceitos básicos envolvidos, faremos uma explanação sobre o
processo chamado de transformação de fases, que está atrelado ao mecanismo de difusão
citado acima e constitui um dos principais fenômenos de alteração nas propriedades dos
compostos. Você perceberá, ao final desta unidade, que a obtenção dos materiais sofisti-
cados permitidos hoje em dia, só é possível através de manipulações que tem como base
o entendimento dos processos que serão agora abordados.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 55


1. MECANISMOS DE DIFUSÃO

A difusão é o fenômeno onde ocorre o transporte de matéria por meio da movi-


mentação atômica. Na presente seção, iremos conhecer e discutir um pouco sobre esse
importantíssimo processo, inerente a diversas transformações nas estruturas dos materiais
dos mais variados tipos. Nossa discussão estará focada nos conceitos fundamentais e na
lógica simplificada do processo. Sendo assim, não iremos aqui nos aprofundar no debate
matemático que envolve este fenômeno, entendendo que este debate cabe para aborda-
gens mais específicas da química, que não é o contexto de nossa ementa.
A difusão está presente em diversos processos que envolvem o desenvolvimento,
tratamento e aperfeiçoamento de materiais, já que é por meio desse fenômeno que se dão
as transferências de átomos nas estruturas moleculares que os compõem. Assim, o seu
estudo ocorre a partir de análises num nível microscópico e atômico das variações e trocas
de massa no interior dos materiais (no caso da nossa abordagem, os sólidos).
É necessário então conhecer e entender os mecanismos dentro das estruturas
atômicas pelos quais ocorrem a difusão, bem como compreender os diferentes fatores que
influenciam no funcionamento destes mecanismos. Dentre alguns destes fatores podemos
falar da participação da temperatura como aspecto de influência, assim como os tipos de
elementos e a espécie de material que está sofrendo o processo.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 56


Há diferentes maneiras práticas de representar e estudar a difusão, sendo uma
delas o uso de distintos metais colocados em contato e submetidos a altas temperaturas,
sem atingir, no entanto, o seu ponto de fusão, sendo posteriormente resfriados lentamente
até a temperatura ambiente. A partir deste tipo de técnica, observa-se que alguns átomos
de cada um dos metais irá se transferir para o outro, de forma mútua. No caso do exemplo
dado, o movimento de átomos nos dois metais configura-se como um processo de difusão
chamado de interdifusão.
Para verificar que há realmente essa transferência ou troca de átomos entre os
materiais, faz-se um estudo sobre a concentração de tais durante o período de tempo em
que se dá a experiência.
Já o processo de autodifusão pode ocorrer não somente entre metais distintos, mas
também em metais puros. No entanto, em ambos os casos todos os átomos envolvidos (em
movimentação ou não) serão do mesmo elemento e, portanto, como não envolve átomos
de tipos diferentes, o estudo de concentração citado anteriormente não pode ser aplicado
para avaliar este caso.
Relembrando a definição de difusão apresentada no início da presente seção, este
processo trata-se da movimentação de átomos na estrutura dos materiais, levando assim ao
transporte de matéria. Realmente, para o caso dos materiais sólidos os átomos apresentam
constância de movimentação, havendo uma contínua troca de posicionamento na estrutura.
Para que seja possível a ocorrência da difusão, existem duas condições a se atender:

● Deve haver uma posição desocupada (vazia) situada numa região adjacente a
localização atual do átomo;
● É necessário que o átomo possua energia suficiente para que haja a quebra
das suas ligações com os átomos vizinhos, permitindo o seu movimento e a
posterior formação de novas ligações, de modo a evitar que o seu deslocamento
promova alterações significativas na estrutura do material.

Dessa forma, numa análise do ponto de vista atômico, pode-se resumir o pro-
cesso de difusão, como um simples movimento de troca de posição de átomos ao longo
da estrutura ou rede cristalina existente. A seguir, veremos as distintas formas que esse
processo pode ocorrer.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 57


1.1 Mecanismos de difusão
Diferentes formas de explicações e modelos para descrever este processo de
movimento dos átomos na rede (especialmente no caso da estrutura cristalina dos metais)
já foram apresentadas como propostas. Dentre tais, destacam-se como mais aceitos e
satisfatórios os dois mecanismos de difusão propostos que serão apresentados a seguir: o
mecanismo de difusão por lacunas e o mecanismo de difusão intersticial.

FIGURA 1 - DIFUSÃO POR LACUNAS

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

Como é autoexplicativo pelo nome dado ao mecanismo, a difusão por lacunas


consiste na movimentação de um átomo de seu ponto atual para uma posição nova na qual
existia uma lacuna, ou seja, um espaço vazio na estrutura cristalina.
Uma condição indispensável para que ocorra a difusão através deste mecanismo é
que de fato existam as lacunas dentro da estrutura, viabilizando assim o movimento dos áto-
mos. Esta ocorrência e quantidade de lacunas na rede cristalina pode variar, sendo bem mais
elevada quando há presença de elevadas temperaturas, o que irá indicar também a extensão
do processo. Quanto a expressão espacial do movimento, o sentido de deslocamento do
átomo será oposto ao sentido do aparecimento de novas lacunas, sendo mantida a direção.

FIGURA 2 - DIFUSÃO INTERSTICIAL

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 58


Este segundo tipo de difusão ocorre através da migração de átomos que estão
localizados em posições intersticiais para outras posições nos interstícios da estrutura cris-
talina, desde que esta segunda posição não esteja já ocupada. Raramente este processo
envolve os átomos do solvente (hospedeiros) que se encontram em maior quantidade, sen-
do muito mais recorrente para a difusão de impurezas, tendo como exemplos o oxigênio, o
hidrogênio, o carbono e o nitrogênio, que tem um tamanho suficientemente reduzido para
se alocar nos interstícios da estrutura.
A difusão intersticial se dá de forma muito mais rápida que a difusão por lacunas,
devido à presença mais elevada de vazios nos interstícios e ao tamanho menor encontrado
nos átomos que realizam este tipo de difusão, característica que lhes dá maior mobilidade.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 59


2. DIAGRAMA DE FASES

Os diagramas de fases consistem em representações, através de gráficos, do


comportamento dos materiais em suas diferentes fases familiares (sólida, líquida e gasosa)
de acordo com os parâmetros de pressão externa e de temperatura. Explicando de maneira
mais prática, podemos entender o diagrama de fases como uma espécie de mapa do mate-
rial em estudo, indicando as distintas regiões do gráfico onde o material se comportará em
cada uma das fases.

FIGURA 3 - DIAGRAMA DE FASES PARA A ÁGUA (H2O)

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 60


Os diagramas de fases contêm, portanto, informações de considerável importância
sobre os fenômenos observados nos materiais como a cristalização, a fundição, a fusão,
entre outros. Logo, compreender a forma como se deve interpretar essas informações
fornecidas pelo diagrama é de imprescindível importância.
Além disso, a microestrutura de um material relaciona-se com o seu diagrama de
fases e há uma forte correlação observada entre as propriedades mecânicas apresentadas
e essa microestrutura.
Você pode estar tentando entender o significado de alguns termos utilizados no início
de nossa abordagem sobre os diagramas de fases. Fique tranquilo, nesta seção, iremos
entender como interpretar o diagrama de fases, abordando inicialmente alguns conceitos
fundamentais necessários para este entendimento. Iremos também apresentar a terminologia
utilizada na interpretação dos diagramas e as análises com os parâmetros pressão-tempe-
ratura para alguns materiais, interpretando logicamente cada um deles para, posteriormente,
nas seções seguintes abordar os diagramas binários e as transformações de fases.

2.1 Conceitos básicos


Com vista a fornecer uma explanação sucinta, porém esclarecedora sobre o assun-
to, destacaremos aqui algumas definições muito úteis sobre os materiais que possibilitam o
melhor entendimento dos diagramas de fases.
Componente é um termo utilizado frequentemente na discussão dos diagramas de
fases. Explicando melhor através de um exemplo, imagine que temos uma liga metálica,
do tipo latão cobre-zinco. Os componentes são os materiais puros que compõem a liga,
ou seja, Cu e Zn. Na discussão sobre componentes é comum utilizar os termos soluto e
solvente, que já foram apresentados nas seções anteriores.
Outro termo também bastante usado no contexto em discussão é sistema, que
inclusive pode possuir dois significados. Usa-se este termo tanto para se referir a um corpo
ou parte específica do material em estudo, quanto para expressar uma classificação de
séries de eventuais ligas que se compõem através dos mesmos componentes, mas sem
apresentar uma dinâmica de composição igual (estrutura, quantidade, etc.). Um exemplo
desta segunda aplicação do termo se tem na expressão sistema ferro-carbono, que será
estudada posteriormente.
Por sua vez, a expressão solução sólida diz respeito a reunião de átomos de ao
menos dois diferentes tipos, onde os átomos do solvente constituem a estrutura cristalina
do material e os átomos de soluto ocupam as posições intersticiais dessa rede cristalina.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 61


Outro conceito importante de se entender é o limite de solubilidade. Diversos

sistemas possuem uma concentração máxima possível dos átomos de soluto que podem

ser dissolvidos no solvente e formar uma liga que constitui o material. O limite de solubili-

dade é justamente este valor limite de concentração de soluto, dada uma temperatura e/

ou pressão específica. Se for extrapolado este valor, a partir da adição de soluto se obterá

uma outra solução sólida ou outro material, que, apesar de ser formado pelos mesmos

componentes, possuirá outra estrutura de composição.

Para que você entenda melhor de que se trata o limite de solubilidade, imagine

uma solução comum entre água e açúcar. Tendo a princípio a água, a partir do momento

que se adiciona açúcar a mesma, vai se formando uma solução que podemos chamar de

xarope água-açúcar. Quanto mais açúcar for introduzido, mais concentrada estará a solu-

ção. No entanto, quando o limite de solubilidade é atingido, o açúcar para de dissolver-se,

estando assim a solução saturada. Se adicionarmos mais açúcar, ao invés deste seguir se

dissolvendo dentro do xarope existente, o mesmo irá sedimentar no fundo do recipiente,

e teremos assim, não mais só uma substância, mas sim duas: o xarope água-açúcar e o

açúcar do fundo do recipiente.

Antes de passarmos para os próximos conceitos básicos, para já familiarizar você

com a interpretação de diagramas, usaremos o exemplo anterior sobre o limite de solubili-

dade para exemplificar como um gráfico pode ser útil no entendimento do comportamento

de determinada liga, solução ou material puro.

Na Figura 4, temos a temperatura distribuída no eixo vertical, e a composição ao

longo do eixo horizontal, sendo este segundo expresso em percentual de peso de açúcar.

A linha traçada em vermelho é, portanto, o comportamento do limite de solubilidade relacio-

nado a estes dois parâmetros. Note que, a composição de uma solução que tem somente

dois componentes (água e açúcar para o caso em análise), será obtida da soma entre tais,

um resultado sempre igual a 100%.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 62


FIGURA 4 - DIAGRAMA PARA O LIMITE DE SOLUBILIDADE

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

Em termos de leitura e interpretação do gráfico, podemos ler por exemplo que,


para uma temperatura de 20ºC, o limite de solubilidade da solução é atingido quando a
concentração de açúcar está em torno de 65%. Vê-se então que, a esquerda da linha que
representa este limite, tem-se a região do gráfico onde para qualquer valor de temperatura
e concentração só haverá uma substância (o xarope água-açúcar), enquanto que a direita
tanto o xarope como o açúcar sólido em excesso serão encontrados.

2.2 Fase
Desde o início desta seção nós temos falado sobre os diagramas de fases, sua
importância e aplicação, com um breve exemplo introdutório do diagrama da Figura 3.
Entretanto, você pode estar se perguntando ainda do que se trata o conceito de fase.
Iremos agora tentar trazer de forma clara a sua definição.
Como o próprio título desta seção sugere, o conceito de fase deve ser bem en-
tendido para que possamos compreender os diagramas que as representam. Uma boa
definição utilizada trata fase como uma parte ou parcela que apresenta uniformidade em
suas características físicas e químicas, sendo assim uma porção homogênea dentro de
um sistema. Assim, qualquer material puro constitui uma fase, bem como as soluções
sólidas, líquidas e gasosas.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 63


Para fixar a ideia de fase, podemos usar novamente o exemplo da solução de
água-açúcar citado a pouco. Nele, o xarope água-açúcar constitui uma fase e o açúcar
sólido presente após a saturação da solução outra. Cada uma destas fases apresenta
distinções em suas propriedades físicas e químicas: o açúcar puro é um sólido, enquanto
a solução com água é líquida; a composição de ambas as fases é também distinta, sendo
uma delas um material puro (açúcar sólido) e a outra uma solução.
Para os casos onde em um mesmo sistema estiverem presentes mais de uma fase,
serão consideradas individualmente as suas propriedades, fazendo também a considera-
ção da existência de uma espécie de fronteira entre ambas. Esta fronteira que separa as
duas (ou mais) fases é uma espécie de limite através do qual se dão alterações de forma
descontínua e abrupta nas propriedades químicas e/ou físicas. Note que, para a existência
de fases distintas em um sistema, não é preciso que haja diferenças simultâneas tanto em
suas características físicas como químicas, já que havendo diferença em pelo menos um
dos tipos de características já se considera que estão presentes mais de uma fase.
Para ilustrar este último ponto, considere o seguinte exemplo: se tivermos em um
mesmo recipiente água e gelo (H2O em sua forma líquida e sólida), teremos então duas fa-
ses distintas. Apesar de ambas serem iguais em termos de sua composição química (cada
molécula com a mesma quantidade e tipos de átomos), a sua estrutura física é diferente, o
que nota-se facilmente pelo estado (líquido e sólido) em que se apresentam.
Podem existir também distintas fases para uma substância em um mesmo estado
físico da matéria. Ou seja, uma substância pode se apresentar em sua forma sólida mas
com arranjos distintos, como por exemplo o caso de materiais capazes de se organizar
numa estrutura CFC e também numa estrutura do tipo CCC, cuja organização de suas
redes é diferente, como vimos na unidade anterior.

2.3 Microestrutura
A microestrutura de um material diz respeito a organização das moléculas e átomos
que formam um padrão que se repete em parte ou em toda a estrutura. Para observar essa
microestrutura é necessário o auxílio de equipamentos ópticos de sofisticação e, por vezes,
alguns aparelhos eletrônicos, sendo em alguns casos também possível a visualização di-
retamente através de um microscópio. Esse aspecto tem grande relevância, pois em várias
ocasiões, o comportamento mecânico e também algumas outras propriedades físicas estão
intimamente atreladas a microestrutura.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 64


Para o caso específico de ligas metálicas, o número de fases contidas no material,
sua forma de distribuição e os arranjos presentes de acordo com cada porção apresentada
para as distintas fases, irão caracterizar a microestrutura deste material. Essa microestrutura
dependerá das fases existentes, que por sua vez tem relação também com alguns aspectos
variáveis como o tipo dos elementos que compõem a liga, seus níveis de concentração
e a forma como o material é trabalhado, já que alterações térmicas e de pressão influem
diretamente nos aspectos anteriores.

2.4 Equilíbrio de fases


Antes de falar propriamente sobre o equilíbrio das fases, é interessante atrelar este
conceito ao de energia livre do sistema, a fim de melhor entender do que se trata. Em linhas
gerais, a energia livre é uma função que leva em conta a entropia, que trata-se do quão alea-
tória é a distribuição dos átomos e moléculas na estrutura com a energia interna do sistema.
Assim, diz-se que o equilíbrio de um sistema é atingido quando as suas carac-
terísticas não sofrem variação ao decorrer do tempo, mantendo-se constantes de forma
indefinida. É comum chamar esta condição também de sistema estável e a sua relação
com o conceito de energia é que, num sistema em equilíbrio ou estável, dentro de uma
combinação específica dos fatores pressão, composição e temperatura, a sua energia livre
apresenta valor mínimo.
Logo, havendo variação nas condições de algum destes fatores (pressão, com-
posição, temperatura), o sistema que até então se encontrava em equilíbrio sofrerá um
aumento no nível de sua energia livre, provocando, possivelmente, uma alteração de seu
estado, com o objetivo de atingir novamente a condição de equilíbrio.
O equilíbrio de fases é, portanto, o termo utilizado para referir-se aos sistemas
que apresentam mais de uma fase com manutenção ou constância das características de
cada fase dentro deste sistema ao longo do tempo. Para reforçar este conceito, vamos
considerar um recipiente fechado com solução de xarope água-açúcar em contato com
açúcar sólido a uma temperatura de 20ºC.
Com o auxílio da Figura 4, observe que com o sistema em equilíbrio, a composição
da solução será de 35%p de água (H2O) e 65%p de açúcar (C12H22O11) e as quantidades
tanto do xarope quanto do açúcar sólido serão constantes ao longo do tempo. No entanto,
caso seja aumentada a temperatura de forma repentina para 100ºC, o equilíbrio do sistema
e das fases será perdido devido a perturbação ocorrida, havendo para essa nova tempera-
tura um aumento do limite de solubilidade, com a concentração limite do açúcar na solução
passando a ser de 80%.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 65


Assim, até que seja atingida essa nova concentração, o açúcar sólido seguirá sendo
diluído na solução e ambas as fases (açúcar sólido e solução) não estarão em equilíbrio.
Somente ao atingir o novo limite de solubilidade, o equilíbrio das fases será retomado nas
novas condições.
Para o exemplo utilizado, tem-se um sistema sólido-líquido. No entanto, em diversos
materiais trabalhados em indústrias e unidades fabris, como metalúrgicas e fábricas com
outras substâncias de interesse, as alterações no equilíbrio ocorrem envolvendo somente
sistemas com fases sólidas. Assim, a condição de cada sistema será observada na sua
microestrutura, envolvendo não somente as fases pré-existentes e suas distintas formas
de composição, mas também as novas fases e arranjos espaciais que podem ser obtidos.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 66


3. DIAGRAMAS DE FASES UNÁRIO E BINÁRIO

Há diferentes tipos de diagramas de fases, sendo possível representar o com-


portamento dos sistemas em termos de diferentes parâmetros e, ainda assim, continuar
apresentando distinções entre as fases existentes para os diversos sistemas existentes.
Neste material, vamos nos ater a discutir os mais comumente utilizados por cientistas e
engenheiros no estudo dos materiais.

3.1 Diagrama de fases unário


A maneira mais comum de utilizar os diagramas de fases é relacionando o
parâmetro de temperatura com a pressão, ou relacionar o comportamento de distintos
materiais em um mesmo diagrama com a temperatura, fixando uma pressão específica
(normalmente se utiliza 1 atm.).
Certamente, o diagrama de fases de mais fácil compreensão é aquele no qual a
composição do sistema não varia, havendo somente um único componente, ou seja, os
diagramas de fases para substâncias puras. Para este tipo de representação, usa-se como
variáveis tanto a temperatura quanto a pressão.
Chamado de diagrama de fases unário, também denominado como diagrama
pressão-temperatura, esse tipo de representação que contempla sistemas com somente
um componente consiste num gráfico de duas dimensões, onde se tem no eixo horizontal
(também chamado de eixo das abscissas) a temperatura e no eixo vertical (ou eixo das
ordenadas) a pressão. É comum utilizar a escala logarítmica para colocar os valores do
eixo das pressões, facilitando assim o desenho do gráfico.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 67


Mesmo para o caso do diagrama de fases unário, o entendimento de sua repre-
sentação e das informações que o mesmo transmite só é possível através da visualização
prática deste instrumento. Veremos, a seguir, o exemplo de diagrama de fases unário para
a água pura, cuja representação é apresentada na Figura 5.

FIGURA 5 - DIAGRAMA UNÁRIO PARA A ÁGUA

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

Observe que o gráfico da figura indica uma separação da substância em três di-
ferentes fases – gelo, água e vapor d’água – que representam respectivamente o estado
sólido, líquido e gasoso da água. Através das faixas de pressão-temperatura apresentadas,
estão dispostas as fases existentes, que se apresentam sob condições de equilíbrio corres-
pondentes a estes dois parâmetros.
As fronteiras existentes entre cada uma das fases são representadas pelas curvas
destacadas em vermelho no gráfico (curvas aO, bO e cO). Sobre qualquer ponto que seja
escolhido em uma dessas curvas, as fases que são por elas limitadas coexistem, ou seja,
ambas as fases de cada um dos lados da curva se encontram em equilíbrio no mesmo
ponto escolhido sobre tal curva. Assim, tomando a curva cO como exemplo, todo ponto
sobre tal representa um estado de equilíbrio entre as fases líquida e gasosa.
É possível extrair também a partir do diagrama de fases em questão, que quando a
pressão e/ou temperatura são alteradas, tendo por consequência o cruzamento de uma das
fronteiras, ocorre uma transformação de fase, passando da atual para aquela cuja fronteira
foi ultrapassada.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 68


Por exemplo, considerando a água com pressão constante de 1 atm, enquanto
ocorre uma elevação de temperatura, a fase sólida se transforma na fase líquida (ocorrendo
assim a fusão) na interseção da linha horizontal tracejada com a linha de fronteira entre
as duas fases, onde é denominado o Ponto 2, correspondente a uma temperatura de 0ºC
(chamada comumente de temperatura de fusão da água).
De forma lógica, quando ocorre o caminho inverso, ou seja, se houvesse um res-
friamento nas mesmas condições de pressão, a transformação de fase inversa (da fase
líquida para a fase sólida, ou solidificação) ocorreria no mesmo Ponto 2. Observe ainda
que no ponto O, onde se encontram as três curvas de fronteira, as três fases podem se
encontrar em equilíbrio, ou seja, podem coexistir.
Veja que, a partir deste simples diagrama, transmite-se a informação sobre o com-
portamento da substância em questão (a água) para variadas condições de temperatura-
-pressão. No caso da água, a noção de seus três estados é mais comum ao conhecimento
geral. No entanto, para outros diversos materiais esse tipo de informação é de grande valia.

3.2 Diagrama de fases binários


Para os diagramas de fases binários, têm-se a temperatura e a composição como
parâmetros variáveis e a pressão é considerada constante em um valor específico (nor-
malmente igual a 1 atm.). Essa forma de uso de diagramas é bastante comum, existindo
não somente para os parâmetros de temperatura e composição, mas também para outros
parâmetros, dependendo do que se deseja representar.
É importante destacar que o termo binário não se refere aos parâmetros tempera-
tura e composição, mas sim devido ao fato da representação de dois componentes nesse
tipo de diagrama.
Apesar da maioria das ligas ser formadas por mais do que dois componentes, a re-
presentação de ligas binárias através dos diagramas de fases é útil para explicar boa parte
dos princípios que guiam as transformações e o comportamento das fases dos sistemas, já
que torna-se muito complicada a representação através de diagramas quando se trabalha
ao mesmo tempo com mais do que dois componentes, sendo difícil a sua interpretação, o
que torna pouco útil o uso da ferramenta.
Desta forma, pode-se comparar os diagramas de fases binários como mapas usa-
dos para mostrar as distintas relações observadas entre as quantidades de fases existentes
em equilíbrio com os parâmetros de composição e temperatura, que combinadas, tem
influência sobre a microestruturas presentas nas ligas.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 69


O processo de transformação de fases ocorre através das mudanças percebidas
na temperatura (principalmente no processo de resfriamento) que alteram também mui-
tas vezes a composição existente. A transformação de fases, por sua vez, é responsável
pela ocorrência de diversas microestruturas, apontando assim a relação existente entre
a estrutura do material e os fatores influentes, observados através do comportamento de
suas fases. Dentro desse contexto, pode-se observar desde a transição entre fases até o
desaparecimento ou surgimento de uma nova fase.
A utilidade dos diagramas de fase se verifica na antecipação, por meio da previ-
são que estes permitem a respeito das transformações de fases e os resultados que tais
implicam sobre as microestruturas dos materiais, bem como a observação da presença
ou ausência de equilíbrio nesses processos. Levando novamente nossa discussão para
uma observação prática, afim de firmar o seu entendimento, apresentamos na Figura 6 um
diagrama de fases binário para o sistema cobre-níquel, que é, talvez, o diagrama deste tipo
de maior facilidade de interpretação.

FIGURA 6 - DIAGRAMA DE FASES BINÁRIO PARA O SISTEMA COBRE-NÍQUEL

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 70


Considerando a pressão constante, o eixo das abscissas representa a composição
da liga, em termo de porcentagem atômica (escala superior) e porcentagem em peso (es-
cala inferior). Esta composição irá variar da seguinte forma: quando tem-se 0%p Ni, tem-se
100%p Cu (na extremidade esquerda do gráfico) e chegando a 100%p Ni obtém-se 0%p
Cu, sendo no eixo das ordenadas representada a temperatura.
São identificados três diferentes campos dentro do diagrama, representando cada
um deles distintas presenças de fases. O campo alfa (α), o campo líquido (L) e o campo
com duas fases (bifásico) α + L. Cada um desses campos são delimitados pelas curvas
de fronteiras existentes. É interessante destacar que para as ligas metálicas, as soluções
sólidas são comumente designadas por meio de letras gregas minúsculas (α, β, γ etc.).
Quanto as fases presentes nos campos, a fase α trata-se de uma solução sólida
que contém os átomos de cobre (Cu) e níquel (Ni), com estrutura cristalina do tipo CFC. O
líquido L é uma solução líquida de característica homogênea que tem sua composição de
cobre e níquel. Devido a fatores como a sua estrutura cristalina idêntica, semelhança em
seus raios atômicos e eletronegatividade, o cobre e o níquel são solúveis um no outro de
forma mútua para temperaturas abaixo de cerca de 1080ºC, onde ambos se encontram em
seu estado físico sólido. Como estes dois elementos também são mutuamente solúveis no
estado líquido, o sistema por eles composto é denominado como isomorfo.
Voltando a falar sobre nomenclatura, com relação as fronteiras expressas no dia-
grama, a curva que divide o campo onde se tem a fase L (líquido) daquele em que se tem
as fases α + L é chamado de linha liquidus, e para todas as temperaturas consideradas
acima dessa linha, estará presente a fase líquida. De modo semelhante, a linha que divide
os campos com a fase α + L e α é chamada de linha solidus, e abaixo dela se tem somente
a fase sólida representada pela letra α.
As temperaturas de fusão do cobre puro e do níquel puro são, respectivamente
1085ºC e 1453ºC. Note que estas são as temperaturas das extremidades das linhas de fron-
teira, onde as duas curvas se interceptam nas extremidades do gráfico. Note então, que para
o caso da composição de 60%p Ni – 40%p Cu, numa temperatura de 1100ºC (Ponto A do
gráfico), tem-se somente a fase sólida, como era de se esperar pela localização do Ponto A.
Para termos um outro exemplo de análise, considere que se aquece uma liga com
composição 50%p Ni – 50%p Cu. Neste caso, a fusão terá início numa temperatura de
cerca de 1280ºC, e a quantidade da fase líquida aumenta continuamente com a elevação
da temperatura até atingir cerca de 1320ºC, quando a liga fica completamente líquida.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 71


4. O SISTEMA FERRO CARBONO E AS TRANSFORMAÇÕES DE FASES

O sistema formado pelo ferro e pelo carbono é possivelmente o mais importante


devido sua larga utilização pelo homem. Os materiais mais utilizados em estruturas nas
indústrias e desenvolvidos pela tecnologia são os variados tipos de aço e os ferros fun-
didos, sendo todos eles, justamente ligas ferro carbono. Por conta disso, faremos aqui
nesta seção uma abordagem especial sobre este sistema e, posteriormente, sobre os
mecanismos de transformações de fases que estão presentes não só nos sistemas ferro
carbono, mas em todos os outros tipos.
Fazendo um adendo para a importância dos metais, é válido apontar aqui a relação
que sua vasta utilização tem com as suas propriedades mecânicas, que por sua vez estão
atreladas a sua composição, tratamento e comportamento de suas fases, cujo entendimen-
to é importantíssimo na produção destes materiais.
A imensa versatilidade apresentada pelos metais para fins estruturais pode ser
atribuída principalmente devido as suas propriedades mecânicas. Estas propriedades (duc-
tilidade, dureza, resistência, etc.) podem ser controladas e manipuladas por amplas faixas
de modificação, consideradas durante o desenvolvimento do material.
Dentre os processos comuns no tratamento e desenvolvimento dos metais estão o
refino do grão, a elevação do seu nível de resistência através do desenvolvimento de uma
solução sólida em suas ligas e o seu endurecimento devido as deformações. Todas estas
técnicas estão ligadas a alterações na microestrutura dos materiais, que estão intimamente
ligadas às fases dos sistemas e ao modo como ocorrem as suas respectivas transformações.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 72


Assim, vamos comentar na sequência, de maneira sucinta, sobre o diagrama de
fases do sistema ferro-carbono, fazendo considerações pontuais sobre as fases apresenta-
das por esse sistema. Observe a Figura 7:

FIGURA 7 - DIAGRAMA DE FASES PARA O SISTEMA FERRO-CARBONO

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

Considerando o diagrama apresentado, temos as seguintes observações sobre a


estrutura cristalina do ferro puro (extremidade esquerda do gráfico):
- Ao sofrer um processo de aquecimento, o material passa por duas alterações an-
tes de atingir a fusão. Estando em condições de temperatura ambiente, sua forma estável,
chamada de ferro α (ferrita) mostra uma estrutura do tipo CCC. Ao chegar à temperatura
de 912ºC, sofre uma transformação de fase, passando a ser o ferro γ (austenita), com
estrutura CFC.
- A austenita persiste até que se atinja a temperatura de 1394ºC, onde a mesma é
transformada em ferro δ, uma fase com estrutura novamente CCC, chamada também de
ferrita δ. Esta, por sua vez, atinge finalmente o ponto de fusão aos 1538ºC.
Note que, caso seja considerado as demais concentrações de carbono, aparecerão
novas fases. Não iremos aprofundar nossa discussão no estudo de cada uma delas, mas
perceba que o diagrama fornece para cada concentração e temperatura específica, as
fases ou a fase em que se encontrará o material. Esta informação é usada para controlar o
tratamento e a fabricação dos diferentes tipos de materiais obtidos do sistema ferro-carbo-
no, de acordo com as finalidades desejadas.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 73


Observe também que o eixo das abscissas, correspondente as composições de ferro
e carbono se estende somente até o nível de 6,70 %p C. Ao atingir esta concentração de
carbono, forma-se o composto conhecido como cementita (Fe3C), independentemente da
temperatura, representado pela linha vertical extrema da direita no diagrama de fases. Em
linhas gerais, praticamente todos os ferros fundidos e aços possuem concentrações de car-
bono inferiores a 6,70 %p C, e é por isso que apresentamos somente esta parte do diagrama.

4.1 Transformações de fases


O desenvolvimento de um conjunto de características mecânicas desejáveis para
um material resulta, com frequência, de uma transformação de fase, decorrente de um
tratamento térmico.
Os diagramas de fases podem ser utilizados, quando desejável, para ilustrar as
transformações de fases ao longo do tempo, com relação a temperatura, por exemplo.
Para que se possa elaborar e interpretar esses diagramas, com o intuito posterior de poder
estudar e desenvolver novas formas de controle térmico e obter novas propriedades a partir
dos comportamentos das fases dos materiais, é necessário entender também os processos
de transformação ocorridos.
A posse de informações deste tipo fornece um leque importantíssimo de opções de
ações a se tomar. Como exemplo, podemos falar do caso das ligas ferro carbono, que em
sua composição denominada eutetoide (0,76%p C), permite, através das variações possí-
veis com o tratamento térmico, variar a sua resistência à tração a valores elevadíssimos, de
cerca de 700 MPa a 2000 Mpa. Dessa forma, pode-se variar a própria aplicação do material
para determinados fins.
Geralmente, as transformações de fases não ocorrem de forma instantânea, sendo
necessários tempos para a concretização da transformação. A dependência do processo em
relação ao tempo leva ao conceito de taxa de transformação, que em linhas gerais, reflete a
quantidade de tempo utilizada para a ocorrência do processo em questão. O surgimento ou
alteração das microestruturas presentes nos materiais se dá dentro deste processo, e pode-
-se dizer que é a forma como surgirão as novas microestruturas, o foco dos estudos sobre a
influência dos tratamentos nos materiais, já que, basicamente, essas microestruturas são a
base para a formação da estrutura geral que irá influenciar fortemente diversas propriedades.
Em nossa discussão, classificaremos os tipos de transformação de fase em três grupos.
No primeiro deles, consideramos as transformações simples, que ocorrem dependentes do
mecanismo de difusão, e que não apresentam qualquer alteração na composição ou em termos
de quantidade nas fases existentes. Entre tais tipos de transformações estão por exemplo os
processos de solidificação de um metal puro e a reconstituição da estrutura cristalina.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 74


Num segundo conjunto de transformações, que também dependem do mecanismo
de difusão, estão aquelas onde há alguma alteração na composição das fases, e normal-
mente na quantidade de fases presentes, consistindo normalmente em duas fases compon-
do a microestrutura final. Por fim, no outro tipo de transformação de fase, o processo não
se dá através da difusão, sendo portanto uma transformação que vai além da alteração de
posição dos átomos na rede cristalina.
Nas transformações de fases, são obtidas geralmente novas fases onde as carac-
terísticas físicas e químicas diferem da fase original. Como já dito, não se trata de um pro-
cesso instantâneo, já que na verdade o processo de transformação ocorre com a contínua
geração de novas partículas pequenas, que ao longo do tempo aumentam de tamanho e
formam assim a nova fase. O progresso de uma transformação de fase pode ser dividido
em dois estágios distintos: nucleação e crescimento.
Na etapa de nucleação ocorre a aparição de novas partículas, também chamadas
de núcleos, de tamanho muito pequeno. Essas partículas, que são já da nova fase, nor-
malmente contém um número muito reduzido de átomos, porém possuem a capacidade de
crescer. Justamente no processo de crescimento, esses pequenos núcleos apresentam um
aumento em suas dimensões, o que vai resultando no desaparecimento da fase original.
A transformação chega ao fim quando as partículas possuem um tamanho que permite a
fração nova alcançar o equilíbrio.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 75


SAIBA MAIS

Manipulação de materiais através da difusão

No início de nossa unidade apresentamos o mecanismo de difusão e as vias pelas quais


se dá o seu funcionamento. O entendimento deste mecanismo proporcionou atualmen-
te a capacidade de melhorar as propriedades de materiais de distintos usos. Um bom
exemplo deste tipo de melhoramento obtido por manipulação é visto em engrenagens
e outras diversas peças metálicas de automóveis, onde através de um tratamento por
meio de difusão é elevada a dureza de alguns aços, por meio da introdução de átomos
de carbono nos interstícios e lacunas das estruturas cristalinas que compõem estes
metais. Além disso, ocorre também em outros tipos de tratamento a introdução de ten-
sões residuais compressivas nas áreas de superfície do material, processo que causa
o melhoramento da resistência da peça metálica a uma possível falha devido a fadiga.

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

REFLITA

Vimos que o gelo, a água e o vapor d’água constituem distintas fases para a mesma
substância formada pelo H2O. Pelo diagrama de fases, vimos que há uma combinação
de temperatura e pressão na qual coexistem as três fases da água. Sendo assim, as re-
giões polares, onde se vê simultaneamente a presença de nuvens (vapor), gelo e água
apresentam sempre essa mesma combinação? A resposta é não, pois mesmo apresen-
tando as três fases da água, o equilíbrio dessas fases não é atendido, portanto, todas
elas estão constantemente em estado de transformação.

Fonte: A autora (2021).

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 76


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegando ao final de mais uma unidade, você já passou até aqui por uma intro-
dução e classificação geral sobre os materiais, conheceu a estrutura atômica e também
as estruturas cristalinas presentes em diversos sólidos, sendo nesta unidade apresentado
a alguns dos principais mecanismos presentes na estrutura microscópica dos materiais,
como a difusão e a transformação de fases.
Vimos inicialmente nesta unidade, que as imperfeições dos sólidos permitem a
ocorrência do mecanismo de difusão, que consiste basicamente na movimentação dos
átomos dentro das estruturas e arranjos, ocasionando as trocas de posições e a formação
de novas estruturas com diferentes composições. Vimos que este mecanismo se dá geral-
mente de duas formas, por lacunas e por espaços intersticiais.
Na sequência, apresentamos os conceitos de fase, microestrutura, equilíbrio
e componentes, que são essenciais para o entendimento dos diagramas de fases que,
por sua vez, são representações gráficas largamente utilizadas para o entendimento do
comportamento das fases dos materiais. Utilizamos análises práticas para consolidar o
seu entendimento sobre o funcionamento e a lógica desta ferramenta, a partir da qual
você pôde notar que um mesmo material ou substância pode variar suas características de
acordo com a alteração nas condições de diferentes parâmetros, sendo os mais analisados
nos diagramas a temperatura, a composição e a pressão.
Vimos que os diagramas que descrevem o comportamento de um material puro são
chamados unários, enquanto aqueles que descrevem o comportamento para materiais com
dois componentes são chamados de binários. Fizemos também uma abordagem sobre o
sistema ferro-carbono, que abrange praticamente todos os principais tipos de materiais me-
tálicos utilizados em tecnologias estruturais atualmente, vendo, portanto, a importância de
entender o comportamento de suas fases para manipular o seu desenvolvimento, obtendo
assim materiais cada vez mais apropriados para as finalidades planejadas.
Por fim, fizemos uma sucinta análise sobre o processo de transformação de fases,
a importância do seu entendimento e as etapas em que este processo ocorre, desde a
nucleação ao crescimento, obtendo assim as novas fases para os materiais.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 77


LEITURA COMPLEMENTAR

Estudamos dentro desta unidade mecanismos cuja compreensão está ligada ao


melhoramento de diferentes tipos de materiais. Neste sentido, a leitura complementar su-
gerida trata de um estudo científico sobre o melhoramento de aço através do tratamento
térmico. A ideia da leitura não é fazer com que você entenda os pormenores das trans-
formações ocorridas, mas sim, a ideia geral dos resultados obtidos através da análise da
consequência da aplicação de tratamentos térmicos para este tipo de metal.

Fonte: RITONI, M. et al. Efeito do tratamento térmico na estrutura e nas propriedades mecânicas

de um aço inoxidável superaustenítico. Metalurgia Física Rem: Revista Escola de Minas, V.60, n.1, Março,

2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rem/a/KNQgmV47S5GgcbjY8btHvBn/?lang=pt.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 78


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Transformações de fases em materiais metálicos
Autor: Rezende Gomes dos Santos.
Editora: Unicamp; 1ª edição.
Ano: 2007.
Sinopse: Embasado em sua experiência de mais de 20 anos de
atuação na área de Concentração de Materiais e Processos de
Fabricação do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica
da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Rezende Go-
mes dos Santos apresenta nesta obra conceitos básicos relativos
às transformações de fases que ocorrem em materiais metálicos
fazendo-o de forma didática clara e detalhada facilitando assim
a compreensão do assunto por parte dos alunos de graduação
pós-graduação e especialização em Engenharia Metalúrgica e de
Materiais ou mesmo de graduados em outras Engenharias ou de
profissionais que atuem em indústrias metalúrgicas.

FILME / VÍDEO
Título: Diagrama de fases
Ano: 2012.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=aTKfUjKvYyI.
Sinopse: O vídeo apresenta uma explicação prática da interpreta-
ção do diagrama de fases, descrevendo todas as partes do diagra-
ma, as condições que são consideradas, os parâmetros utilizados,
pontos de importância específica dentro do gráfico trabalhado e a
explicação dos fenômenos que o diagrama descreve.

UNIDADE III Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases 79


UNIDADE IV
Propriedades dos Materiais
Professor Me. Marcus Vinicius Paula de Lima

Professora Paloma Morais de Souza

Plano de Estudo:
● Estudo das propriedades dos materiais;
● Propriedades mecânicas;
● Propriedades elétricas;
● Propriedades térmicas;
● Propriedades magnéticas e ópticas.

Objetivos da Aprendizagem:
● Entender as principais propriedades mecânicas, térmicas, elétricas,
magnéticas e ópticas dos diversos tipos de materiais;
● Relacionar a presença destas propriedades com as
aplicações dadas aos materiais.

80
INTRODUÇÃO

Ao longo das unidades anteriores fizemos uma viagem sobre o estudo dos materiais,
desde a sua classificação, evolução histórica, conceitos básicos sobre a sua microestrutura
até as transformações a que eles estão suscetíveis. Aqui, iremos seguir utilizando tudo o
que vimos, analisando mais diretamente o comportamento dos diferentes materiais, através
do estudo das suas propriedades.
Entendendo que as propriedades correspondem a forma como os materiais res-
pondem aos distintos tipos de estímulos a que são submetidos, abordaremos inicialmente
os estímulos mecânicos e a forma como os corpos respondem a tais. Na nossa discussão,
apresentaremos primeiramente os conceitos básicos, com uma introdução ao estudo das
propriedades dos materiais e sobre as propriedades mecânicas dos mesmos.
Em seguida, trataremos das propriedades elétricas dos materiais, a classificação
que é feita a seu respeito e quais os principais parâmetros usados para representar e
medir estas propriedades. Você verá que o conhecimento sobre a forma como os distintos
materiais se comporta sob estímulos elétricos é de grande importância nos mais diversos
setores da ciência e tecnologia.
As propriedades térmicas também serão abordadas, apresentando exemplos prá-
ticos que podem ser percebidos a nossa volta e explicando como a microestrutura dos
materiais, estudada em unidades anteriores, influi também nesse aspecto. Você perceberá
que existem materiais que apesar de aparentarem não possuir determinadas propriedades,
apenas as apresentam de formas distintas.
Por fim, iremos também abordar as propriedades magnéticas e ópticas dos mate-
riais, apresentando os conceitos básicos necessários para a compreensão de fenômenos
atrelados as variações existentes nas características dos materiais.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 81


1. ESTUDO DAS PROPRIEDADES DOS MATERIAIS

Vimos na primeira unidade de nossa disciplina uma breve introdução sobre a ciên-
cia e engenharia dos materiais, área na qual se consideram alguns componentes principais,
dentre os quais está o conceito de propriedade.
Revisando de maneira breve, você deve lembrar que as propriedades são as carac-
terísticas de um certo tipo de material, em termos da resposta deste aos estímulos que lhe
são empregados. Estes estímulos variam, e recebem classificações de acordo com essa
variação, sendo assim, as propriedades também classificadas em grupos.
Iremos então apresentar aqui as principais propriedades dos materiais e qual a
importância de entendê-las para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de novos produtos,
úteis ao nosso dia-a-dia. Estudaremos a seguir as propriedades mecânicas, térmicas, elé-
tricas, magnéticas e ópticas, observando também a sua variação para os diferentes tipos
de materiais, que, como vimos também na primeira unidade, é um dos principais fatores
influentes na sua divisão e classificação (cerâmicas, metais e polímeros).

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 82


2. PROPRIEDADES MECÂNICAS

O primeiro grupo que iremos estudar é o das propriedades mecânicas, que possuem
uma elevada variedade de diferenciações, que por vezes podem parecer insignificantes,
mas na verdade, têm o papel de apresentar, cada uma delas, distintas explicações sobre a
resposta a estímulos mecânicos impostos aos materiais. Para que se possa entender o que
cada propriedade corresponde, iremos também estudar estes distintos esforços que podem
ser causados a um material.
A compreensão das propriedades mecânicas dos materiais é competência exigida
de muitos ramos da ciência e engenharia. O entendimento do comportamento, a identificação
dos seus pontos de variação, a reação do material sob a presença de mais de um esforço
simultâneo, entre outros aspectos, são essenciais para que, na produção e desenvolvimen-
to dos materiais (cientistas e engenheiros de materiais, engenheiros químicos, engenheiros
de produção, etc.) ou na aplicação e avaliação prática (engenheiros aeronáuticos, civis,
mecânicos, etc.), possa se escolher e utilizar os materiais em sua proporção e dimensão
corretas, evitando assim as falhas ou deformações excessivas e indesejadas.
Para a análise e verificação das propriedades mecânicas dos materiais, os experi-
mentos e ensaios com equipamentos de laboratório são planejados e realizados de forma
muito cuidadosa, com o intuito de submeter os protótipos analisados às condições reais em
que serão aplicados, de maneira a reproduzir da forma mais idêntica possível a realidade,
essas condições de serviço dos materiais.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 83


Para tal, tomam-se em consideração diversos fatores, entre os quais estão as con-
dições ambientais, a forma e natureza dos esforços aplicados, a intensidade e a duração de
sua aplicação. Note então que, para que se consigam ensaios e estudos fieis a realidade, é
preciso entender da melhor maneira possível também os estímulos presentes no ambiente
a que será submetida a peça, ou estrutura do material.
Outro ponto importante a se considerar é que, para que se estabeleçam níveis de
segurança aceitos pelas diversas áreas de interesse, que vão desde a ciência que estuda e
projeta novos tipos de materiais, peças, estruturas, etc., englobando a indústria e as empre-
sas que fabricam e lhes empregam na prática, e chegando a comunidade em geral usuária
dos serviços e produtos atrelados aos mais diversos materiais, é necessário padronizar
os ensaios e análises mencionados no parágrafo anterior. Neste sentido, geralmente se
estabelecem normas gerenciadas e acompanhadas por entidades de abrangência regional,
nacional e até internacional.

2.1 Esforços mecânicos e deformações


Retomando a questão da variedade de esforços mecânicos à que as diferentes estru-
turas de materiais são expostas, iremos agora entender um pouco sobre os principais tipos:
compressão, tração, flexão, torção e cisalhamento. Mais que conhecer esta classificação, é
preciso que você enquanto profissional tenha em mente que há várias combinações destes
esforços, podendo a sua magnitude ser constante ou variável, durar por muitos anos ou
apenas frações de segundo, se alterar de acordo com a temperatura, entre outras questões.
A seguir são apresentadas ilustrações com diagramas representando os esforços e
a forma como interagem com a estrutura do material.

No esforço de tração a estrutura do material é submetida a


forças (F) em ambas as extremidades, com sentidos opostos,
como se estivessem tentando “estica-lo”. Note que o material
é induzido a se deformar aumentando o comprimento na
direção paralela as forças (comprimento l), e reduzindo suas
dimensões na direção ortogonal ao esforço.
Fonte: Callister e Rethwischi
(2016).

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 84


O esforço de compressão tem a mesma direção do esforço
de tração, mas sentido oposto, onde as forças agem apon-
tadas para o centro da estrutura. Veja que, como resultado,
a deformação é negativa (diminuição do comprimento) na
direção paralela aos esforços, e positiva na direção ortogonal,
Fonte: Callister e Rethwischi provocando uma espécie de achatamento.
(2016).
As tensões de cisalhamento, ou esforço cisalhante, de forma
geral agem num sentido tangente à estrutura. De forma práti-
ca, podemos imaginar o cisalhamento como a ação de “partir
em dois” um corpo, onde uma força age na linha tangente,
e há outra força de mesma magnitude, paralela à esta, mas
Fonte: Callister e Rethwischi com sentido oposto, provocando essa tensão característica.
(2016).
Há ainda o esforço de torção, que é provocado por um torque
em uma estrutura de material. Imagine que se tenha uma parte
fixa e uma livre de dado corpo sólido. Quando se aplica um
torque ortogonal ao comprimento, o corpo tende a se torcer,
provocando deformações rotacionais na sua estrutura. Note que
no exemplo usamos a representação de um cilindro, mas os
esforços de torção, bem como todos os demais mencionados,

Fonte: Callister e Rethwischi


aplicam-se a todos os modelos de formas de corpos sólidos.
(2016).

O esforço de flexão, apesar de ser tratado especificamente em diversos estudos, é


um estímulo que produz a combinação de estímulos simultâneos de tração e compressão
nas diferentes faces da estrutura, havendo também por vezes a presença da ação de cisa-
lhamento. Entretanto, o foco de nossa disciplina não é o entendimento pleno dos esforços
mecânicos. Apresentamos aqui de forma resumida, somente para que você entenda a
importância de reconhecer diferentes propriedades mecânicas atreladas as respostas do
material aos distintos estímulos.
Outro aspecto importante para o entendimento das propriedades mecânicas é a
compreensão do conceito de deformação. As deformações são os principais resultados
observados nos corpos de materiais devido aos esforços mecânicos aplicados. Dividimos
as deformações normalmente em elásticas e plásticas.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 85


A deformação elástica é o processo de deformação no qual se observa uma relação
proporcional entre a tensão provocada pelo esforço e a deformação. É muito comum utilizar,
para expressar essa relação, um parâmetro importante de projeto chamado de módulo de
elasticidade, comumente representado pela letra E.
O módulo de elasticidade é considerado como a medida de resistência à deformação
de um material. Assim, quanto menor for este módulo, menor será a sua resistência, menos
rígido será o material e maior será a deformação elástica observada, devido a tensões
aplicadas. O módulo de elasticidade é utilizado para medir a rigidez em termos de tensões
de tração, compressão e consequentemente flexão, fornecendo assim previsões e medidas
sobre as deflexões nos materiais.
Outro parâmetro com uma explicação semelhante ao módulo de elasticidade é o
módulo de cisalhamento. Como você já deve ter suposto pelo nome, este outro parâmetro
corresponde a medida de rigidez à deformação elástica sob tensões de cisalhamento. Em
geral, os valores do módulo de cisalhamento são menores que os do módulo de elasti-
cidade para os materiais. A Tabela 01 apresenta valores dos módulos de elasticidade e
cisalhamento para alguns materiais.
Outro ponto necessário de se colocar sobre a deformação elástica é sobre o seu
comportamento não permanente. Ou seja, após se retirar as cargas de tensões sobre a peça,
a mesma toma de volta a sua forma inicial, não ficando assim as deformações ocorridas.

TABELA 1 - MÓDULO DE ELASTICIDADE E CISALHAMENTO DE ALGUNS MATERIAIS

Módulo de Módulo de cisalhamen-


Material
elasticidade (GPa) to (GPa)
Aço 207 83
Alumínio 69 25
Cobre 110 46
Latão 97 37
Magnésio 45 17
Níquel 207 76
Titânio 107 45
Tungstênio 407 160
Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

Na Figura 1 apresentamos uma imagem de um corpo de prova de concreto subme-


tido a um ensaio de compressão. Na Figura 02 e Figura 03 é mostrado, respectivamente,
a máquina e o esquema de como funciona um ensaio de tração para um corpo de prova.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 86


FIGURA 1 - ENSAIO DE COMPRESSÃO NUM CORPO DE PROVA DE CONCRETO

FIGURA 2 - MÁQUINA UTILIZADA PARA O ENSAIO DE TRAÇÃO

FIGURA 3 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO MECANISMO PARA O ENSAIO DE TRAÇÃO

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 87


A deformação plástica ocorre a partir do ponto em que o material ultrapassa o seu
limite de elasticidade. A partir de então a deformação não é mais proporcional à tensão apli-
cada, ocorrendo assim uma deformação permanente, não recuperável, que é a deformação
plástica. O comportamento dos materiais a partir do seu ponto de elasticidade também
varia bastante, de acordo, inclusive com suas propriedades.
Existem casos como o das cerâmicas, que tem elevada fragilidade, ou seja, nor-
malmente a partir da elasticidade já ocorre a ruptura, e há casos como os metais e alguns
polímeros, onde mesmo após ultrapassar a zona elástica, o material segue se deformando
sem se romper. Para o caso da maior parte dos metais, a transição do comportamento
elástico para o plástico é gradual.

2.2 Principais propriedades mecânicas dos materiais


Agora que já apresentamos as ideias básicas referentes aos esforços e ao compor-
tamento mecânico de estruturas, vamos abordar as principais propriedades corresponden-
tes às respostas desses esforços.
Elasticidade (comportamento elástico): O comportamento elástico está atrelado
a forma como o dado material reage a esforços, dentro de sua capacidade elástica. Esta
pode ser considerada na verdade, um grupo de propriedades. Dentre as quais estão:
Resistência ao escoamento: a resposta do material contra as deformações que
tendem a ser provocadas por esforços. Nesse sentido, é importante conhecer o nível de
tensão a partir do qual se inicia o comportamento plástico, ou seja, onde começa a ocorrer
o escoamento. No caso de metais, que em sua maioria mostram uma passagem de forma
gradual do comportamento elástico para o plástico, define-se o ponto de escoamento como
aquele onde a curva tensão-deformação se distancia da linearidade (a relação tensão-de-
formação deixa de ser linear).
Resistência ao cisalhamento: a resposta do material ao esforço de cisalhamento.
A ideia desta resistência é semelhante a anterior, mas devido ao comportamento distinto do
esforço, observa-se também de forma distinta a resposta do material, que constitui assim
uma outra propriedade.
Anelasticidade: relaciona o retorno do material, dentro do regime elástico, a sua
forma original, com deformação zero. Até aqui, trabalhamos com a ideia de que após a
retirada dos esforços, os materiais voltam imediatamente a sua condição original. Entre-
tanto, há também uma parte da deformação elástica que depende do tempo. Ou seja,
após a aplicação da tensão, será necessário um intervalo de tempo finito para que haja a

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 88


recuperação por completo do corpo. A anelasticidade é justamente esse comportamento,
dependente do tempo, do retorno a configuração original. No caso dos materiais metáli-
cos, esse componente é comumente pequeno. No entanto, em alguns polímeros a sua
magnitude é expressiva.
Resiliência: a capacidade que um material detém, dentro do regime elástico, de
absorção de energia quando se deforma e, posteriormente, após a saída dos esforços, de
retornar a sua condição original por meio da recuperação dessa energia. O parâmetro que
está associado a esta propriedade é o módulo de resiliência, correspondente a energia de
deformação por unidade de volume necessária para promover uma tensão no material,
partindo de uma situação sem carga até a sua resistência ao escoamento.
Plasticidade (comportamento plástico): De forma análoga a elasticidade, a
plasticidade corresponde às respostas dos materiais quando se situam no regime plástico
de deformação.
Limite de resistência à tração: A partir do ponto em que se ultrapassa o limite de
resistência ao escoamento, o corpo passa a apresentar um comportamento plástico e o
valor de esforço que se precisa para continuar com a deformação até o ponto máximo antes
da ruptura constitui o limite de resistência a tração. Para alguns materiais, essa propriedade
não tem uma grande importância pois logo após a perda da elasticidade já se obtém a
fratura, como é o caso de materiais frágeis como as cerâmicas e parte dos polímeros.
Entretanto, para o caso dos metais essa tensão aumenta até um valor máximo, a partir do
qual inicia-se a ruptura.
Ductilidade: Fornece uma medida do nível de deformação plástica que é desen-
volvido no material até se atingir a fratura. Os materiais que sofrem deformações plásticas
muito reduzidas, ou mesmo os que não sofrem nenhuma deformação plástica antes de se
fraturar são chamados de frágeis.
É possível identificar pelo menos dois grandes motivos para dar importância a esta
propriedade. Primeiramente, o conhecimento da ductilidade de um material é muito útil para
que um engenheiro ou outro profissional projetista saiba, ou tenha uma boa indicação de
qual a tensão e deformação plástica máxima que o material resiste antes de sofrer fratura. O
segundo motivo reside na capacidade que o entendimento desta propriedade fornece para
especificar o quanto é permitido deformar plasticamente um dado material durante os proces-
sos de fabricação. De acordo com Callister e Rethwischi (2016), considera-se como material
frágil, aqueles que possuem uma deformação máxima antes da fratura de cerca de 5%.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 89


Tenacidade: Podemos definir a tenacidade como a capacidade de um material
de se deformar plasticamente absorvendo energia antes de ocorrer a fratura. O termo te-
nacidade pode ter diferentes interpretações dentro do contexto mecânico. No contexto de
propriedades, consideramos que a tenacidade à fratura indica a resistência que um material
apresenta quando é presente em sua estrutura uma trinca, ou defeito, que faça com que
haja uma concentração de tensões.
Como na prática é impossível desenvolver e fabricar materiais que não possuam
defeitos, esta propriedade é de elevada importância, devendo ser sempre levada em conta
quando se fazem considerações sobre qualquer tipo de material com fim estrutural.
Dureza: Independente do regime em que se encontre a estrutura (elástico ou
plástico), uma propriedade mecânica que recebe também grande atenção e fornece uma
medida de resistência do material é a dureza. A dureza pode ser definida como uma medida
de resistência a uma deformação plástica localizada, como um risco ou uma endentação.
Inicialmente, os ensaios de dureza basearam-se em materiais constituídos de mi-
nerais naturais, fornecendo assim uma escala em função do quão capaz um material é de
riscar outro, indo desde o material mais macio (que é riscado mais facilmente) ao material
mais duro. Com base neste conceito, foi concebido então um sistema de indexação da du-
reza, conhecido como escala Mohs, e que possui uma variação de 1, para o talco (material
que se encontra com o menor valor de dureza da escala) até 10, para o diamante.
Com o passar do tempo, buscou-se desenvolver outras técnicas quantitativas para
a dureza. Entre elas se tem um pequeno dispositivo chamado indentador, que é pressiona-
do contra a superfície do material em teste, controlando esta pressão exercida e a taxa de
aplicação. A partir da endentação resultante, mede-se o tamanho e a profundidade alcança-
dos, e relaciona-se o valor a um número de dureza de uma escala onde o mais macio tem
o menor número, e o mais duro o maior valor.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 90


3. PROPRIEDADES ELÉTRICAS

Nas etapas de projeto de uma peça, componente ou estrutura, ao selecionar os


materiais que iremos utilizar e a forma como iremos fabricar ou desenvolver o produto
esperado, é imprescindível realizar considerações acerca de suas características elétricas.
Enquanto há materiais que precisam apresentar uma ótima condução elétrica,
como é o caso dos fios de conexões, há outros que precisam ser totalmente isolantes (os
materiais que protegem os fios). Em muitos componentes, é preciso trabalhar tanto com
materiais condutores, quanto isolantes, como é o exemplo das placas de circuito integrado,
entre vários outros.
Assim, nesta seção, iremos trabalhar as principais propriedades elétricas apresenta-
das pelos materiais, entendendo este grupo de propriedades, de maneira geral, como aquele
que abrange as respostas dadas pelos distintos materiais à aplicação de um campo elétrico.
Iniciaremos nossa apresentação com as propriedades que envolvem o fenômeno
da condução elétrica. A explicação completa com todos os detalhes sobre este e outros
fenômenos da eletricidade exige uma discussão mais complexa e que ultrapassa o escopo
da nossa disciplina. Assim, iremos trabalhar aqui com conceitos básicos, apresentando
somente o essencial para que você possa entender em que se baseiam as propriedades
que iremos mencionar e descrever.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 91


3.1 Resistividade e condutividade elétrica
Na discussão envolvendo a eletricidade e os materiais, uma das principais ques-
tões diz respeito sobre o quão fácil é, ou o quão capaz um material é de conduzir através
de si uma corrente elétrica. Neste sentido, uma expressão muito comum, que relaciona a
corrente elétrica (I), com a voltagem aplicada (V) é a Lei de Ohm, expressa a seguir:
V=IR
Em que R corresponde a resistência do material através do qual a corrente está
passando.
As unidades para V, I e R são, respectivamente, volt, ampère e ohm. Para muitos
materiais, o valor de R é independente da corrente. Além disso, este valor sofre influência
da configuração da amostra de material coletada.
Assim, a resistividade elétrica (ρ), como o nome sugere, reflete a capacidade do
material de resistir a passagem de uma corrente elétrica. Esta propriedade é independente
da geometria da amostra, relacionando-se com R por meio da seguinte expressão:

Onde l corresponde a distância existente entre os dois pontos de medição da voltagem


e A é correspondente a área de seção transversal na direção ortogonal a direção da corrente.
Em alguns casos, considera-se também a propriedade de condutividade elétrica
(σ) com o intuito de especificar as condições e características elétricas de determinado
material. Em termos matemáticos, a condutividade é o inverso da resistividade, ou seja:

Esta propriedade fornece uma indicação da capacidade que um material possui


para conduzir uma corrente elétrica, indicando a facilidade pela qual um material é capaz de
conduzir eletricidade. As discussões a seguir sobre as propriedades elétricas utilizam tanto
a resistividade quanto a condutividade.
É provável que nenhuma outra propriedade física dos materiais possua uma am-
plitude de variação em sua escala como é o caso da condutividade elétrica. Os materiais
sólidos apresentam uma larga faixa de valores de condutividade que surpreende por ser tão
ampla, atingindo 27 ordens de grandeza.
Nem por isso deixa de ser válido e comum realizar a classificação dos materiais
sólidos de acordo com a capacidade que eles detêm de realizar a condução elétrica.
Dentro dessa classificação, distinguem-se os três grupos principais: os condutores,
isolantes e semicondutores.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 92


Em geral, os metais se classificam como melhores condutores, exibindo valores
de condutividade da faixa de 107 (Ω∙m) -1. Para que você perceba a amplitude nos valores
de condutividade que mencionamos acima, compare o valor dado para os metais com os
encontrados no outro extremo, os isolantes, com valores de condutividade variando entre
10-10 e 10-20 (Ω∙m) -1. Os valores intermediários apresentados pelos materiais em termos
de condutividade elétrica situam-se numa faixa entre 10-6 e 104 (Ω∙m) -1; e os materiais que
se encontram neste intervalo são denominados semicondutores.

O exemplo mais clássico para representar os materiais


condutores e os isolantes é o caso dos fios de circuitos
elétricos comuns. Note que, o material condutor (em geral se
utiliza o cobre, mas por vezes aplicam-se outros metais) está
envolvido por um isolante (polímero) de modo que a corrente
elétrica não seja transmitida para além do circuito de fios,
evitando assim choques elétricos, por exemplo.
Fonte: Shutterstock (2021).

Os materiais semicondutores, recebem uma atenção espe-


cial por situarem-se num intermédio entre os dois extremos.
Normalmente, eles são compostos por uma mistura de metais,
cerâmicas e por vezes alguns polímeros. É graças ao desen-
volvimento das técnicas com materiais semicondutores que
permitiu-se a invenção e aperfeiçoamento dos vários aparelhos
Fonte: Callister e Rethwischi
eletrônicos comuns ao nosso dia-a-dia.
(2016).

Outras propriedades elétricas que merecem ser citadas são a mobilidade eletrônica
e algumas peculiaridades como a ferroeletricidade.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 93


4. PROPRIEDADES TÉRMICAS

As propriedades térmicas de um material correspondem ao seu comportamento


diante de uma aplicação de calor. Ao passo que um corpo sólido recebe energia em forma
de calor, sua temperatura e suas dimensões apresentam também um aumento. Perma-
necendo esta aplicação de energia, há o transporte da mesma para as outras regiões do
corpo, havendo gradientes de temperatura da região mais aquecida à mais fria, e, por fim,
ocorre a fusão.
Entre as propriedades térmicas que podemos citar estão a capacidade calorífica, a
condutividade e a expansão térmica. Com frequência, faz-se uso dos conhecimentos sobre
estas propriedades dos materiais para fins práticos de fabricação e desenvolvimento de
peças, avaliação do comportamento de estruturas, entre outros produtos.

4.1 Capacidade calorífica


Ao passar por um processo de aquecimento, um material sólido apresenta uma
elevação em sua temperatura, o que representa que o material absorveu alguma quantidade
de energia. Neste sentido, a capacidade calorífica indica a capacidade que um dado material
possui para absorver calor em seu entorno. Esta propriedade representa o quanto de energia
é preciso para que se consiga um aumento na temperatura de um material sólido.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 94


Segundo as condições de ambiente que regem uma transferência de calor, há duas
diferentes formas através das quais se pode medir essa propriedade. Uma dessas formas
é medir a capacidade calorífica enquanto se mantém num valor constante o volume da
amostra trabalhada (chamada Cv). A outra forma, envolve a aplicação de uma pressão
externa constante para medir esse parâmetro (Cp).
Em geral, Cp apresenta uma magnitude mais elevada, ou pelo menos equivalente
a Cv. No entanto, a diferença entre esses dois parâmetros para a capacidade calorífica é
muito pequena para a grande parte dos materiais sólidos que se encontrem em temperatu-
ras equivalentes ou menores que a temperatura ambiente. Observe então que, para vários
estudos, como por exemplo, o estudo do comportamento térmico de uma estrutura de aço
a céu aberto, é indiferente utilizar uma ou outra forma de medição da capacidade calorífica.

4.2 Expansão térmica


Para a maioria dos materiais em estado sólido se observa uma expansão de suas
dimensões quando são aquecidos, e uma contração a medida que passam por um processo
de resfriamento.
O coeficiente de expansão térmica linear (representado por αl) é um parâ-
metro utilizado para representar uma propriedade do material que indique o grau de
expansão do mesmo quando passa por um processo de aquecimento, possuindo como
unidade o inverso da temperatura (se a temperatura estiver sendo trabalhada em termos
de ºC, será então ºC-1).
Ao aquecer ou resfriar um corpo de qualquer material sólido, todas as suas dimen-
sões são afetadas, causando assim uma alteração também em seu volume. Neste sentido,
o coeficiente de expansão térmica volumétrico, parâmetro representado por αy, possui
um valor anisotrópico, o que quer dizer que este valor é influenciado pela direção cristalo-
gráfica (lembre-se do que estudamos na Unidade II) que está ocorrendo a sua medição. Há
casos onde os materiais apresentam uma expansão térmica isotrópica. Para tais, o valor de
αy é de aproximadamente 3αl.
Quanto ao comportamento dos diferentes grupos de materiais com relação a ex-
pansão térmica, os polímeros apresentam expansões muito elevadas ao serem aquecidos.
Já em boa parte dos materiais cerâmicos notam-se elevadas forças de ligação entre os
átomos que se refletem em coeficientes de expansão térmica relativamente baixos. Para
o caso dos metais, desenvolveram-se diversas ligas de baixa expansão e que possibilitam
uma expansão controlada, sendo estas usadas onde se necessita de estabilidade dimen-
sional frente a variações na temperatura.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 95


As cerâmicas que são expostas a variações de temperatura precisam exibir coe-
ficientes de expansão térmica comparativamente pequenos e de característica isotrópica.
Caso essa configuração não ocorra, esses materiais, que, como vimos nas características
mecânicas, são frágeis, estarão mais suscetíveis a fraturas devido a ocorrência de dila-
tações ou compressões dimensionais sem uniformidade. Quando isso ocorre, diz-se que
houve um choque térmico.

4.3 Condutividade térmica


Podemos definir a condução térmica como o fenômeno onde o material transmite
o calor recebido das regiões do corpo situadas em alta temperatura para as que estão com
temperatura mais baixa. Assim, a capacidade de um material transferir calor como resposta
ao aquecimento ou resfriamento é denominada como condutividade térmica (k).
Há duas vias principais de transporte de calor nos materiais sólidos: através das
ondas de vibração da rede que ocorrem na microestrutura (chamadas de fônons) ou por meio
dos elétrons livres. Têm-se um tipo de condutividade térmica associado a cada um desses
mecanismos, e a soma dos dois componentes corresponde a condutividade total. Assim:

Onde k representa a condutividade total (ou somente condutividade), kr representa


a condutividade térmica devido à vibração na rede, e ke a condutividade térmica devido aos
elétrons livres. Em geral, uma ou outra é a predominante.
No caso dos metais puros, o mecanismo de transporte de calor mais eficiente é o
dos elétrons livres, pois os elétrons nessas estruturas moleculares não sofrem facilmente
com espalhamento e possuem maior velocidade. Ademais, devido ao número considera-
velmente elevado de elétrons livres dos metais, este tipo de material é normalmente muito
bom condutor de calor. Para o caso das ligas metálicas, onde são adicionadas diferentes
impurezas, normalmente vê-se uma redução da condutividade térmica.
Já no caso dos materiais não metálicos, não se observa a configuração com muitos
elétrons livres nas estruturas moleculares, o que faz deles isolantes térmicos. Assim, nestes
materiais, os fônons formam a principal via de transferência de calor. Esta via é predomi-
nante no material, mas possui uma eficiência muito menor que o caso anterior dos metais.
Comumente se empregam polímeros, e por vezes também materiais cerâmicos como iso-
lantes térmicos, devido a sua característica de baixa condutividade térmica. Um exemplo
de material utilizado nesse tipo de aplicação é a espuma de poliestireno, frequentemente
utilizada em garrafas, copos de bebidas e as chamadas caixas térmicas.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 96


5. PROPRIEDADES MAGNÉTICAS E ÓPTICAS

O entendimento do magnetismo e da óptica representaram grandes avanços tecno-


lógicos, desenvolvimento de novos e importantíssimos aparelhos e a melhoria da aplicação
de outros mecanismos já existentes. Assim, o estudo dos materiais deve envolver também
a análise sobre as características magnéticas e ópticas que tais apresentam.
Entretanto, a discussão plena sobre as propriedades magnéticas e ópticas requer
primeiramente o entendimento destes dois ramos, e este processo por sua vez, não é
algo simples e nem rápido de se executar. Logo, na abordagem sobre as propriedades
magnéticas e ópticas iremos levantar os princípios mais básicos envolvidos e como estes
são vistos no comportamento dos materiais.

5.1 Propriedades magnéticas


O conhecimento do fenômeno através do qual os materiais apresentam uma força
de atração ou repulsão sobre os outros é de uma história milenar, denominado hoje como
magnetismo.
Vários aparelhos e dispositivos tecnológicos que usamos hoje em dia só puderam
ser desenvolvidos a partir do conhecimento dos princípios que o fenômeno magnético
apresenta. Entre eles estão rádios, televisões, telefones, computadores, radares, os mais
variados componentes de sistemas de reprodução audiovisuais, geradores, transformado-
res, motores, entre vários outros.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 97


Alguns aços, o ferro e o material mineral magnetita, que ocorrem naturalmente, são
casos relativamente conhecidos de materiais que apresentam propriedades magnéticas.
Entretanto, é importante que se saiba que todas as substâncias que compõem os materiais
sofrem influência, em maior ou em menor grau, pela presença de um campo magnético.
As propriedades magnéticas macroscópicas dos materiais são uma consequência
dos momentos magnéticos que estão associados aos elétrons individuais. Os dipolos mag-
néticos podem ser considerados como pequenos ímãs compostos por um polo norte e um
polo sul, em vez de cargas elétricas positivas e negativas e esses dipolos sofrem influência
de campos magnéticos.
Dentro de um campo magnético, a força exercida pelo próprio campo causa um
torque que possui a tendência de orientar os dipolos em relação ao próprio campo. O mais
clássico exemplo para esta situação é o da bússola, onde a agulha está alinhada com o
campo magnético da terra.
Assim, as propriedades magnéticas variam entre os materiais devido à presença
e a intensidade com que os seus dipolos magnéticos são influenciados pelos campos
magnéticos externos. Há desde o caso conhecido como diamagnetismo, que possui um
efeito muito pequeno, até o ferromagnetismo, que apresenta magnetizações elevadas e por
vezes permanentes, ocorrendo geralmente em alguns metais.

5.2 Propriedades ópticas


Por propriedade óptica subentende-se a resposta de um material à exposição à uma
radiação eletromagnética e, em particular, à luz visível. Concentraremos a nossa discussão
sobre o comportamento dos materiais à luz visível.

5.3 Interações da luz com os sólidos


Há uma série de processos que ocorrem no momento em que a luz é passada
de um meio para outro (por exemplo, da atmosfera para dentro de um corpo sólido). É
possível transmitir por meio de um corpo sólido parte da radiação luminosa, sendo outra
parte absorvida e outra sofrendo reflexão através da interface com outros meios.
Os materiais classificados como transparentes são aqueles onde a transmissão de
luz é realizada com mínima absorção e reflexão, tendo como exemplos algumas cerâmicas
e polímeros. Por sua vez, os materiais capazes de transmitir a luz, mas de forma difusa,
(quando há uma dispersão da luz em seu interior ao atravessar o material), são classifica-
dos como translúcidos. Existem também os casos onde não se pode ver através do corpo
do material, denominando-se que o mesmo é pertencente ao grupo de materiais opacos.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 98


Os metais são opacos em todo o espectro da luz visível; ou seja, toda a radiação lu-
minosa ou é absorvida ou é refletida. Por outro lado, os materiais isolantes elétricos podem
ser fabricados para serem transparentes. Além disso, alguns materiais semicondutores são
transparentes, enquanto outros são opacos.
Desta forma, as propriedades ópticas dos materiais estão normalmente relacionadas
a quantidade de luz que é absorvida, refletida ou refratada, sendo comum usar parâmetros
como o índice de refração.

SAIBA MAIS

A importância do conhecimento das propriedades dos materiais

Considerando os três principais tipos de materiais (cerâmicas, metais e polímeros), as


cerâmicas são as mais suscetíveis a choques térmicos — fratura frágil originada pelas
tensões internas geradas no interior de uma peça como o resultado de rápidas mudan-
ças na temperatura (normalmente mediante um resfriamento). Normalmente, o choque
térmico é um evento indesejável, e a suscetibilidade de um material cerâmico a esse
fenômeno se deve às suas propriedades térmicas e mecânicas (coeficiente de expan-
são térmica, condutividade térmica, módulo de elasticidade e resistência à fratura). A
partir de um conhecimento das relações entre os parâmetros do choque térmico e das
propriedades envolvidas, é possível, em alguns casos, fazer as alterações apropriadas
nas características térmicas e/ou mecânicas para fazer uma cerâmica mais resistente a
este fenômeno, o que mostra a importância na engenharia de entender as propriedades
dos materiais.

Fonte: Callister e Rethwischi (2016).

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 99


REFLITA

Uma das combinações mais usadas atualmente na construção civil é o que chamamos
de concreto armado, que consiste numa combinação do concreto puro e de barras de
aço, agindo em conjunto na estrutura. Essa aplicação, no entanto, em termos históricos,
não é tão antiga, dada o uso há séculos do concreto puro. Você já pensou o que levou
a aplicação de outro material junto ao concreto, para reforçar as estruturas? Justamente
as propriedades do aço que, combinadas as do concreto, mostraram que essa junção é
muito proveitosa para os fins estruturais.

Fonte: Os autores (2021).

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 100


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fim desta unidade, pudemos estudar o comportamento dos materiais em termos


de suas propriedades mecânicas, elétricas, térmicas, magnéticas e ópticas. Vimos que
o conhecimento dessas propriedades é de grandíssima importância para que se possa
transferir os conhecimentos teóricos que partem desde as bases da química e física, para
a prática no desenvolvimento e aplicação dos materiais.
Abordamos primeiramente as características mecânicas dos materiais, desde os
conceitos básicos que envolvem os diferentes tipos de esforços mecânicos, até as consi-
derações sobre as respostas apresentadas pelos materiais quando submetidos a esses
esforços. Você notou então, que essas respostas configuram os parâmetros que medem as
propriedades mecânicas dos materiais.
Em seguida, entramos na discussão das propriedades elétricas, conhecendo os
principais parâmetros que dizem respeito ao comportamento dos materiais acerca de es-
tímulos elétricos a eles submetidos. Vimos também que os materiais, em termos de suas
propriedades elétricas, são classificados em condutores, isolantes e semicondutores, e que
o uso combinado desses materiais é imprescindível para diversas aplicações cotidianas.
Na sequência, abordamos as propriedades térmicas e, assim como para as pro-
priedades elétricas, viu-se que a combinação de materiais com diferentes características
promove o desenvolvimento de produtos com melhor funcionamento, evitando problemas
no seu desempenho.
Finalizando o estudo das propriedades, fizemos uma breve análise sobre as carac-
terísticas magnéticas e ópticas dos distintos materiais. Apesar de não entrarmos nos deta-
lhes destes dois ramos, devido a sua complexidade, você foi apresentado aos conceitos e
considerações fundamentais ligadas ao comportamento dos materiais neste sentido.
Chegando assim ao fim de nossa disciplina, note que, desde a primeira unidade,
estamos aplicando os conceitos iniciais sobre os materiais, sua classificação, sua estrutura,
o seu comportamento e variações, e como estes aspectos estão intimamente ligados ao
seu uso prático. Nos vários ramos da engenharia e ciência, recorrentemente você se verá
a frente de problemas envolvendo esses assuntos.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 101


LEITURA COMPLEMENTAR

Vimos nesta unidade que há diversas características do comportamento dos mate-


riais que são tidas como propriedades, e o seu conhecimento é essencial para o desenvol-
vimento da ciência e de soluções para nosso cotidiano.
Neste sentido, o artigo recomendado traz um estudo sobre a influência da inserção
de outro tipo de material na composição do concreto, avaliando essa inserção através das
propriedades apresentadas pelo material. O artigo foca na análise das propriedades mecâ-
nicas para a amostra de concreto estudada.

Fonte: TAFAREL, N. F. et al. Avaliação das propriedades do concreto devido à incorporação de

lodo de estação de tratamento de água. Matéria (Rio J.). V. 21 (04), Dez. 2016. Disponível em: https://doi.

org/10.1590/S1517-707620160004.0090. Acesso em: 08 nov.2021.

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 102


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Ensaio dos materiais
Autor: Amauri Garcia, et. al.
Editora: LTC.
Ano: 2012.
Sinopse: Mostra as principais técnicas do tema e sua aplicação
em exercícios. Seus eminentes autores reúnem vasta experiência
em ensino e pesquisa, repassando-a ao texto com conceitos e
metodologias utilizadas para caracterizar, por meio de ensaios,
propriedades mecânicas e comportamento mecânico em con-
dições estáticas e dinâmicas de aplicação de carga, bem como
a conduta de materiais durante processos de fabricação como a
conformação plástica, entre outros. Didaticamente organizado,
este livro-texto contém ainda informações adicionais sobre temas
específicos e cinco apêndices que servem à consulta imediata
permitindo ao estudante acesso mais aprofundado a esses temas.

FILME / VÍDEO
Título: Propriedades mecânicas – Ciência dos materiais
Ano: 2020.
Sinopse: O vídeo fornece um resumo sobre as propriedades
mecânicas dos materiais, abrangendo os conceitos básicos que
regem o seu entendimento e apresentando também aplicações
práticas que mostram a importância de se entender o comporta-
mento apresentado pelos materiais no seu aspecto mecânico.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=7WdI4YgTmSg

UNIDADE IV Propriedades dos Materiais 103


REFERÊNCIAS

Blog ESS. O que é material compósito. Disponível em: https://www.esss.co/blog/o-que-e-


-material-composito/ Acesso em: 13 set. 2021.

BRASIL ESCOLA. Os materiais condutores elétricos e isolantes. 2021. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/fisica/condutores-isolantes.htm. Acesso em: 27 out. 2021.

CALLISTER, W. D.; RETHWISCHI, J. D. G. Ciência e engenharia de materiais: uma intro-


dução. Rio de Janeiro, LTC editora, 2016.

EXPLICA Professor. Aula 01 - Introdução à Ciência dos Materiais. Youtube. 2020. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=U-3XFhrXs9k. Acesso em: 13 set. 2021.

EXPLICA Professor. Aula 20 - Imperfeições nos sólidos (introdução). Youtube, 2021. Dispo-
nível em: https://www.youtube.com/watch?v=NHJYIUkNluo. Acesso em: 26 set. 2021.

PADILHA, A. F., Materiais para Engenharia: Microestrutura e Propriedades. São Paulo,


Hemus Editora, 1997.

SOUZA, Líria Alves de. “Linus Pauling”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.
uol.com.br/quimica/linus-pauling.htm. Acesso em: 14 set. 2021.

TILLEY, R. J. D. Cristalografia: Cristais e estruturas cristalinas. Oficina de Textos, 2014. Dis-


ponível em: https://www.ofitexto.com.br/livro/cristalografia-cristais-e-estruturas-cristalinas/.
Acesso em: 26 set. 2021.

104
CONCLUSÃO GERAL

Prezado (a) aluno (a),

Chegando ao fim de nossa jornada na disciplina de ciência e tecnologia dos


materiais, perceba que percorremos um longo e amplo caminho, repleto de informação,
conhecimento e da abertura de novas oportunidades de interesse de sua atenção enquanto
potencial profissional.
Iniciamos a nossa disciplina trazendo para você os princípios básicos que compõem
esta área, entendendo a relevância do estudo dos materiais. Essa importância foi confirma-
da ao realizarmos a análise histórica, em que percebemos o papel do desenvolvimento dos
materiais nas melhorias vistas atualmente no cotidiano.
Você percebeu que para entender a aplicação dos conceitos apresentados foi pre-
ciso percorrer toda uma viagem sobre a estrutura que compõem a matéria, partindo de uma
escala atômica e passando pela compreensão das estruturas moleculares mais complexas
e dos mecanismos que permitem a formação destas estruturas.
Abordamos também a ferramenta chamada diagrama de fases, que é muito utili-
zada para a compreensão do comportamento dos diversos tipos de materiais conforme se
variam os parâmetros de análise. Mais que uma análise puramente conceitual, você pode
observar a aplicação da ferramenta através de exemplos práticos em nossa disciplina.
Para concluir a nossa jornada sobre a ciência e tecnologia dos materiais, estuda-
mos também o comportamento dos materiais, ou seja, a forma como estes respondem aos
estímulos externos que ocorrem a todo instante nos mais variados ambientes. Fizemos esta
análise de forma a entender as propriedades mecânicas, elétricas, térmicas, magnéticas e
ópticas que são distinguidas justamente pela forma de resposta apresentada pelos materiais.
Assim, esperamos que agora você esteja pronto para novos passos em sua forma-
ção profissional, tendo aqui compreendido as bases do conhecimento sobre os materiais,
o que deve lhe estimular a aprofundar-se em novos estudos onde, direta ou indiretamente,
as informações aqui transmitidas estarão presentes, sendo você então capaz de utilizá-las
com segurança.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

105
+55 (44) 3045 9898
Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro
CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR
www.unifatecie.edu.br

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